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CrÁssrcosLatrNIo-AurrucANos

Roberto Scbwa.rz

O PAT DE FE.MÍLIA
E OUT RO S EST U D OS
C U L T U R A E P OL IT IC A . I9 ó 4- I969

ALGUNS ESQUEM AS

Nota. 1978.- As páginasque seguemforam escritasentre1969e


70. No principal,como o leitor facilmentenotará,o scu prognóstìco
estavaerÍado,o quc nâoasrccomenda. Do resto,acredito- atésegun-
da ordem- quealgumacoisaseaproveita.A tentaçâode reescrevãr as
passâgens que a realidadee os anosdesmentiram naturalmente existc.
Mas paraque substituiros equivocosdaquelaépocapelasopiniõesde
ho.1e,quc podemnâo cstarmenosequivocadas? Elaspor clas,o equi-
voco dos contemporâncos é sempremais vivo_Sobrctudoporquea
análisesocialno casotinha mçnosintcnçãode ciênçiaoue de reterc
explicarumaexpcriência feita,entrepessoale de gcraçâo,do momen-
to histórico.Era antesa tcntativade assumirliterariamçnte. na medi-
da de minhasforças,a atualidade de f.ntão.Assim,quandosediz ago-
.d , sãoobservações, crrose altcrnativasdaqueles anosque têm a pa-
lavra.O leitor verá quc o tempo passoue não passou.

Em 1964instalou-seno Brasil oregimemilitar, aÍìmdegaran-


tir o capital e o continentecontra o socialismo.O goveÍno populìsta
de Goulart, apesarda vasta mobilização esquerdizantea que pÍoce-
dera, temia a lutâ d€ classese recuou diante da possivelguerra civil.
Em conseqüênciaa vitória da direita pôde tomar â coslumeira for-
ma de acerto entÍe generais.O povo, na ocasião, mobilizado mas
sem armas c oÍganizâção própria, assistiupassivsmenteà troca de
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governos. Em seguidasofrcu as conseqüências: intervençãoe teÍror
o seu confinamcnto e a sua impotência, a intclcctualidadede es-
nos sindicatos,terror na zona rural, rebaixamenrogeral de salários, querdafoi estudando,ensinando, cditando,filmando,falandoetc.,
expurgo especialmentenos escalõcsbaixos das ForçasArmadas, in.
e semperccbercontribuira para a criaçâo, no interior da pequena
quérito militar na Unrversidade.invasâo de igrejas,dissoluçãodas
burguesia,dc uma geraçãomaciçamente anti-capitalista.
A impor-
organizaçõesestudantis,censura,suspensãode habeascorpus, etc.
tânciasociale a disposição dc luta dcstafaixaradicalda população
- EntÍetanto, para surpresadc todos. a pÍesençaculturâl da esquer-
revclam-seagora, cntre outÍas formas, na prática dos grupos que
da não foi liquidada naquela data, e mais, de lá para cá não parou
dcram início à propagandaarmadada rcvolução.O rcgimerespon-
de crescer.A sua produção é de qualidade notável nalguns campos,
dcu, em dezcmbro de 68, com o cndurccimcnto. Se cm ó4 fora
e é dominante. Apesar da ditodura da direitq há relativa hegemonia
possívela dircita "prescrvar"a produçãocultural,pois bastarali-
cultural do esquerdano país. Pode ser vista nas livrarias de São Pau- quidar o seuconlato com a massaoperáriac camponcsa, em ó8,
lo e Rio, cheias de marxismo, nas estréiastealrais, incrivelmente quandoo estudante e o públicodosmclhoresfilmes,do melhoÍtea-
iestivase febris, às vezesameaçadasde invasão policial, na movi.
tro, da melhormúsicac dosmelhoreslivrosjá constituimassapoli-
mentaçâo estudantii ou nas proclamaçõesdo clero avançado.Em
ticamentcperigosa,será necessáriotrocar ou censuraros professo-
suma, nos santuáriosda cultura burguesaa esquerdadá o tom. Esta
res,os encenadores, os escritores,os músicos,os Iivros,os editores,
anomalia - que agora periclita, quando a ditadura decretou penas
- nouras palavras,seránecessário liquidara própriacultura viva
pesadíssimas para a propaganda do socialismo- é o traço mais visí-
do momento.O governojá deu váriospassosnestesentido,e nâo se
vel do panorama cultural brasileiro cntre ó4 e ó9. Assinala, além de
sabequantosmaisdará. Em matériade destroçâruniversidades, o
luta, um compromrsso. seuacervojá é considerável: Brasília,S. Pauloe Rio, asrês maiores
Ant€s de apresentá-laem scus resultados,é preciso localizar do pais.
esta hegemoniae qualiÍìcá-la. O seu domínio, salvo engano, con-
centra-se nos grupos diretamente ligados à produção ideológica,
Paracompreender o conteúdo,a implantaçâoe as ambigüida-
tais como estudantes,artistas,joÍnalistas, parte dos sociólogos e desdestahegemonia, é precisovoltar às origens.Antesde ó4,o so-
e co nom is t as .a parte ra c i o c i n a n ted o c l e ro . a rqui tetosctc.. - mas cialismoque sedifundiano Brasilera forte em anti-impeÍialismo e
daí não sai, nem pode sair, por razõespoliciais. Os intelcctuaissão fracona propagandae organização da luta de clâss€s.A razãoeste-
de esquerda,e as matériasque preparam de um lado para as comis- ve €m parteao menosna estratégia do PartidoComunista,quepre-
sõesdo governo ou do grande capital, e do outro para as rádios, te- gavaaliançacom a burguesianacional.Formou"seem conseqüên-
Ievisõese os jornais do pais, não são. É de esquerdasomentea ma- cia uma espéciedesdentada e paÍlamentarde marxismopatriótico,
têÍia que o grupo - numeroso a ponto de formar um bom mercado um complexoideológicoao mesmotempocombativoe de concilia-
- produz para consumo próprio. Esta situaçãocÍistalizou-seem ó4,
facilmentecombinávelcom o populismonacionalis-
ção de classes,
quando grosso modo a intelectualidadesocialista,já pronta para ta então dominante,cuja ideologiaoriginal,o trabalhismo,ia ce-
prisào, desempregoe exílio. foi poupada. TortuÍados e longamente dendoterreno.O aspectoconciliatórioprevaleciana esferado mo-
presos forarn somente aqueles que haviam organizado o contato vimentooperário,onde o P.C. faziavalera sua influênciasindicai,
com operários, camponeses,marinheiros e soldados.Cortadas na- a fim de mantera luta dentrodos limitesda reivindicação econômì-
quela ocasião as pontes entrc o movimento cultural e as massas,o ca. E o aspectocombativoera reservadoà luta contrao capitales-
governo Castelo Branco não impediu a circulaçãoteórica ou artísti- trangeiro,à políticaexternãe à rcformaagrária.O conjuntoestava
ca do ideário esquerdista,que embora em árca r€stÍita floresceuex- sob medidaparaa burguesia populista,queprecisava da terminolo-
traordinariamente.Com altos e baixos esta solução de habilidade
gia socialpara intimidar a direitalatifundiária,e precisavado na-
durou até óE, quando nova massahavia surgido, capaz de dar força cionalismo,autenticadopela esquerda,para infundir bons senti-
nratcrial à ideologia:os estudantes,organizadosem semi-clandesti- mentosnos trabalhadores. Não sepensc,é claro,que o populismo
sejacriaçãodo P.C.: o populismo é queconsolidara nesteuma ten-
nidade. Durante estcsanos, enquanto lamentava abundantemente
dência,cujo sucesso prático muito grande toÍnava o Partido,como
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vcrcmosadiantc,invulnÊrávcl à csqucrda, OÍa, umavczconsumada gsçãocntrc impcÌislkmo c Ìcaçâoiotcrna, a suamancirade cspcci-
€staaliançatornou-scdiflcil a scparação dosbcns.Hojc tudo isto ÍictíJa foi scuponto fraco, I razlo do dca$tÍc futuro dc ó4. Muito
pareccclaro.Não obstantc,cstccomplcxodctcvça primaziatcórica maisanti-impcrialfutr qucanti-cspitalista,o P.C.distinguiano intè
no pals,scjacm facqdastcoriaspsico-sociológicas do ..carátcrna- rior dar classcsdominantccum sctor agÍârio,rctÍógradoc prô
cional",já anacrônicas então,sejaem faccdo nacionalismo sim- amcricsno,Gum sctorindwtrial,nacionalo progÍcssista, 8(' qual3c
plesda modcrnização, inoccntcdÊcontradiçõce, scjacm faccdossl- aliavacontra o primciro, OÍai cstaoposiçlo cxistia,mas3cms pÍ(}
mulacroscÌistãosdo manismo,quctraduziamimpcrialismo c capi- fundidrde quc lhc atÍibuiem, Gnuncapcraria maisdo quc a oposi-
tal cm tcrmosdc autonomiac hctcronomiada pcssoahumana,c Co cntrc a! clarscapÍoptictáÍias,cÍn bloco,e o pcriSodo comunirc-
scjafinalmcntcdiantcdosnarxismosrivais,qucbatiamincansavcl- mo. O P.C.cntrctsnto tÍanEfotmousm valto movimcntoidcológi-
ment€na tcclado lcninismoclÁssico, e dc hâbitoscbastavam coma co c toórico asEuasaliançsr,c acreditounclrs, cnquantoa burguc-
rccusaabstratado compromisso populista.O pontofoÍt€d€stapo- sia nlo rcrsditaysnclc.Em conscqüência chcgoudÊsprêpsrado à
sição,quc chcgoua pcnctrarasma$as,aprofundando nclaco sçn- bcira da gucrra civil. Ellc cntano est.v. ,D ccnlro ú vldaculrunl
tido polÍticodo patriotismo,estavana dcmonstração dc quc a do- bnsilcim dc l95Opm dó,c tinha s tcnacidadcdc scusuccsropráü-
minaçãoimpcrialistac a rcaçãointcrnacstiloligadas,quc não rc co. Ectr a dificuldrdc. A cÌltica dc aqucÍda não cons€guiadcrfazâ
mudaumascmmudara outra.Aliadaao momentopolítico,a rc- lo, poir todor os diasantcriorccao último davarn-lhcÍszão. Como
peÍcusseo dcstatcscfoi muitograndc.A litcÍaturaanti-impcrialista prcvirto,GoulaÉapoiava-rcmaisc mair no P.C.,cujainfluènciac
foi traduzidacrngrandccscalac osjornaisfcrvilhavamdccomcntá- cuforiacramcÌ6ocntc8.Só o quc nlo houvcmêiosdc prcvcniÍ,ns
rios.Foi a épocadeBrasilino,umapcÍsonagcm qucao longodc um prática,jú quc asprccauç&sncstctcrrÊnopcrturbariama disposF
livrinhointcironão conscguia movcÍum dcdoscmtopar no impc. ção "favorávcl" do prcsidcntc,foi o final militsr. Estrvs na lógica
rialismo.Scaccndiaa luz, pclamanhã,a forçacra da Light& po- dascoirar quc o P.C.chcga*c À rolcira da Ícvolu$o confiandono
wcr. Indo ao trabalho,consumiagasolinada Esso,numônibusda dispocitivomilitar da Prçridênciada Rcpública,Em tuma, tÍatava-
GcncralMotors.As salsichas do almoçovinhamda Svift & Ar- sc dc um cnganobcm fundado nagapadncia3.Scur tcrmor c lcu
mouÌ,ctc.Os Cademos do Poya,poÍ suavcz,v€ndidospor um cru- movirncntoforam a matériaprima da crÍtioa ê da apologéticado
zeiro,divulgavamamplamcntc asmanobras cm torno do pctrólco, pcrlodo, Sumariamcnto! crs o scguintc.- O aliadoprincipal dp im-
relaçõcscntrc latifúndioc docnçacndêmica,qu€stõcs dc rcfoÍma pcrialismo,.cpoÍtrnto o inimigo principel da crqucrda,roÍi.m os
agrária,dircutiamqucmfossc"povo" no Brasil,ctc. O paísvibrava 1'ff,f,';oratalcu da rociedadcbrasilcire,bacicsmcntco latifúndio,
c assua opçõcsdiantc da história mundial cram pão diário para o conra o qual dcvcriscrgu€r-lco poüo,compo o por todot squclcs
lcitor dos principaisjornais.Ncstcpcrlodoaclimatizou-sc ha fala intcrcssadosno progrcssodo pals. Rcsultouno plrno oconômico-
cotidiâna,qucscdcsprovincianizava, o vocabulárioc tambémo ra- polÍtico uma problanôticacrplosivamasburguqn úc modemiza-
ciocíniopolíticôda csqucrda. Daí umaccrtaabstração c vclocidade ção a d.mocrsttzação:mair prccisamentc,ttatavs-3cda ampliaçlo
cspccííicado novocinçmac tcatÍo,cm qucasopçõcsmundiaisapa- do mcrcadointcrno atÍsvé8da ÍrformÀ agrária, noe qusdÍos dc
rcccmdc dczcm dcz linhasc â propósitodc tudo, às vczcsds ma- uma polltic. crtcrns indcpcndentc.No plsno idcológicoÍrcsult.va
ncira dcaastrada,àsvczcsmuito engraçadas, masecmprccrgucndo urnanoçlo dc "povo" apologêticec $ntimcntslizávcl,quo.bÍrçr-
asqucstõ€s À suaconscqoência histórica,ou s umacaricsturadcla. vr indirtintemcntc asma$ar trabalhsdotsr,o lumpcnzinato,I in-
Quandonumapoçâtcatralum namoradodiz à namorada,inrufi- tclligcntzia,os magnat&tnacionaisç o cxército.O címbolodcsta
sicntcmcntc marristadiant€dascomplicaçõcr familiarcs:"gcncrali saladacstÁnasgrandcsfcstasdc €ntão,Ícgistrqdas poÍ Glaubct
za, pêrl- são cstesanosdc Áulklaerungpopular quc têm a pala- Rocha cm Tcrm cm Tnwc, onúc fr8tcÍnizayamas mulhcÍcado
vra. ' Mal voltcmog.Sco P.C.tcvco grandcmêritodc difundira li- grandccapit L o rcmbs, o grrndè capitrl clc mcrmo,a diplomacia
dor pahcr rocialirtar, o0 militaÍrs pÌogÍc.sittu, católicosc PrdÍc.
l. Anirrrolia,dc G. GurmicÍi. dc ccqucrde,intclçctuair do PaÍtido, poctar toÍr€nciait, prtÍiot r
g 65
cm gcral, uns cm tÍsjc dc rigoÍ, outros cm bluc jeans.Noutras pala- mo. lsto valc para o conjunto da atividadccultural (incluindo o cn-
vÍss, posts dc làdo a luts de class€sc a expÍopri8çâodo capital, Ícs- sino) quc prcciscdc mcios,valc para a administraçãopública, para
tava do msrrismo uma tintuÍa rôseariue aprovcitavaao interessc setorcsde pontâ nâ âdministÍação privada, c cspccificando-scum
dc sctorcs(burgucsiaindustrial?burocÍâõiacsratal?)dÂsclassesdo- pouco valcu mcsmo paÍa isoladoscapitalistasnacionaisc para ofi-
minantes.E dc fato, nestaforma, foi partc cm grau maiot ou menor ciais do cxército. Em conscqüênciaa tônica dc suacÍítica scráo na-
do arscnal idcológico dc Yargas, Kubitschck, Quadros e Goulart cionalismoanti-impcrialista,anti-capitalistanum scgundomomcn-
Assim, no Brasil, a dcformaçãopopulista do marxismo esteveen- to, scm quc a isto corrcspondaum contato natuÍal com os problc-
trclaçada com o podcÍ (paÍticularmcntedurante o govcrno Gou- masda massa.Um marxismocspecializado na inviabilidadcdo ca-
lart, quando chegoua ser idcologiaconfessadc figurasimportantes pitalismo, c não nos caminhosda rcvolução.Ora, como os intclcc-
na administração),multiplicandoos qui-pro-quósc implantando-se tuais não dctêmos scusmciosdc produção,cssatcoria não sc tÍans-
profundamcntc,a ponto d€ tomar-se â própria atmosfcraideológi- pôs para a sua atividadc proíissional, cmbora faça autoridadc c
ca do país.Dc maneiravária, sociologia,tcologia,historiografia,ci- oÍientc a suaconsciênciacrítica. Rcsultarampcqucnasmultidõcsdc
ncma, têatro, música popular, arquitctura etc., Ícfletiram os seus prohssionais imprcscindíveisc insatisfcitos,ligados profi ssional-
problcmas.Aliás, estaimplantaçãoteve tâmbémo seu asp€ctoco- menteao capital ou govcrno, mas scnsívcispoliticamcntcao hoÍi-
mercial - importante, do ponto dc vista da ultcrior sobrcvivência- zontc da rcvolução,- c isto por razõcstécnicas,dc dificuldadc no
pois a produção de esqucrdaveio a scÍ um grande negócio,e alte- crcscimentodas forças produtiyas, razõcs cuja tÍadução política
rou a fisionomia editorial e artistica do Brasil em poucos anos. - não é imediata,ou poÍ outÍa, é alealóriae dcpcndcdc scÍ câptada.
EntÍetanto,s€ ncstafasc a ideologiasocialistaserviaà rcsoluçãode Em suma,formara-scuma nova liga nacionalista dc tudo quc é 1o-
problemasdo capitalistmo,a cadaimpasscinvertia-sea diÍeção da vem. ativo e moderno - excluídosagora magnatase generais-
corrente.Agitavam-scas massas,a fim de prcssionara faixa latifun- quc seriao públicodosprimcirosanosda ditadurac o soloem quc
diária do Congrcsso,quc assustadaaprovaria mcdidasde moderni- dcitaria fruto a crítica aos compromissosda fascantcrior. Era tâo
zaçãoburgucsa,cm particulaÍ a rcforma agrária.Mas, o Congresso viva a presençadestâcorÍente,que não faltou quem rcclamasse -
não correspondia;c a dircita por sua vez,contÍaÍiamenteà esqu€r- apcsardos tanqucsda ditadurarolandopcriodicamentc pclasruas
da populista,quc cra modcradissima, promoviaÍuidosamenteo - contÍa o t€rroÍismocultural da esquerda.'
fantasmada socialização. Consolidava-se então,aquic ali, poÍ cau- at'l
sa mesmo da amplitude das campanhaspopularesoficiais, e por Este,esquematicamcntc, o mecanismoatravcsdo qual um dú-
causade seu fracasso,a convicçãode que as reformasnecessárias bio tcmário socialistaconquistouâ cena. EntÍctanto,rcsultados
ao pais não seriampossívcis nos limitesdo capitalismoe portanto culturaisc horizontcsdc uma ideologia,jáporquccla nuncaestásó,
do populismo.Estaconclusão, smboraespaÍsa, tinhao mesmovas- não sâo idênticoscm tudo à sua função. Do contato com as novas
to raio da pÍopagandagovernamental. Foi adotadapor quadrosde tendências intcrnacionaise com a Íadicalizaçãodo populismo,o
governo,quadrostécnicos,estudantes e vanguardas operárìas, que qual afinaldesembocava em mcsesde pré-rcvolução, nasciampers-
em seguida, diantcdo golpcmilitar de 64,não puseramem dúvidao pcctivasc formulaçõcsirrcdutíveisao movimentoideológicodo
marxismo,masa aplicaçãoqueo P.C.fizeradele.Esteesquemâ ex- princípio,e incompatlvciscom ele.Dadaa análisequefizernos,estc
plica aliás algumacoisado caráterc do lugar socialde partedo é mcsmoum critériodc valor: só na medidacm quc nalgumponto
marxismobrasileiro.Num paisdependente masdesenvolvimentis- rompcssecom o sistcmade conciliaçõesentão engrenado,quc nâo
ta, de capitalização fracae governoempreendedor, toda iniciativa obstantelhe davao impulso,a produçãode esqucrdaescapava dc
mais ousadase faz em contatocom o Estado.Esta mediaçãodá
perspectivâ nacional(e paternalista) à vanguardados váriosseto- L Prrr um apânhadohislóricodasorigcnsda cÍiscdc 64,vcr R. M. MaÍini, "Con-
l í d i ç ò e s n o B r : r s i f c o n t c mp o r á n co .i n R ? e l i to Te o Ìi a e Pr á ti ca ,S- Pa u l o ,|9 6 t.n ,l
rcs da iniciativa,cujos teóricosiÍiam encontraros seusimpasses Prr.r as |imiraç&s da burgucsianacionalc paÍa a cst.utuÍâ do podcÍ populistavcr
fundamentais já na esferado Estado,sob forma de limiteimpostoa respeclivrmenle os trabalhosdc F.H.Cardoso c F.C.Wcffort.in LesTempsModet-
ele pelapressãoimperialistae em seguidapelo marcodo capitalis- ,"r ourubrodË 1967
66 6j
ser pura ideologia.lsto dava-scdc muitasmaneiras.Por cxcmplo. sprcndcrhumilhado,aostÍinta aÍo6 dc idadc,quco vovôvê a uva,
as demagógicas emoçõcsda "política€xteÍnaindependente" (Janio o trabalhadoÍruralcntÌav8,dc um mcsmopa$orno mundod88lè
Quadroscondecorando Guevara)ou dascampanhas de Goulart cs- tr.a Ê no dos 3indicatG, da comütüção, da rcforrna sgÍáÍia' 3m
trmulavam,nas Faculdades, o €studode MaÍx e do imperialismo sumados rcus intcÍGrscshistóricos.Ncm o profcsoor,ncsta3itu8'
F-mconscqüênciavieram de ptofessor€s- dcstaslongínquastarta- ção, é. um pÍoífusionalburguêsquc cnsinasimplcsmcntc o quc
rugas - as primeirascxposiçôcsmais convinccntesc complctasda apÍ€ndcu,noma lsitura é um proccdimcnto quc qurliliquc sirnplcs"
inviabilidadedo reformismoe dc seucarátcrmistificador.Outro rc- mcnteparauma novaproÍir3ão,nemaspalsvÍar c muito mcnot os
Jultadooblíquo:paradoxalmcnle, o cstudoacadêmico devolviaaos alun6 são simplcsmcntco quc 3ão.Cada um d6t€s clomcnto! é
tcxros dc Marx c Lenin a vitalidadc quc o monopólio do P.C. lhcs ttansformadono intcÍioÍ do método,- cm quc dc fato pulsa um
haviatomado;saindoda aula.os militantcsdcfcndiamo rigor mar. momcntoda rÊvoluçeo contcmporânca: a noçãodc quÊa mi!éri8e
xistacontraoscompromissos dc seusdirigentes.
Em suma,comoos scu cimcnto. o analfabcúsmo, não são acidcntGr ou rcsídüo,mas
grupos dc I I c as ligascamponcsascscàpavamà máquinapopulis- paÍtc intcgFadano movimentoÍotinciÍo da dominaçãodo capital.
tâ, quc cntÌetanto eÍa a sua atmosfera,a cultura dispcrsavapor ve- AssimI conquistapolíticsds c8cÍitarompisosquadrosdcstinados
zcs,em obras isoladasou mcsmoem cxperimentoscoletivos,a fu- ao cstudo,à tÍansmirsãodo sabcrc à conrolidaçãoda ordcrnvigcn-
mâceirateóricado P.C.. que cntrclanto eÍa tambémo clima que lhc tc. Anslogamcntcpara o tcatÍo. CcÍta fcita o SovcrnoAÍÍaca pro-
gaÍantiaaudiênciae importânciaimcdiata.Finalmcntc,para um cuÍou cstcndero cÍédito agrlcola,quccm doismcscspersoua bene
cxcmplo mais complcxo destadisparidadecntre a prática rcformis- ficiar ,O.üD pcqucnosagÍicultoÍrs cm lugar dc lOd) aponar.Gru-
ta c scusrcsultadosculturais, vcja-sco Movimento dc Cultura Po- po3 tcatrair procuÍrvrm então os camponcscs,informgvam'rc c
pular cm Pernambuco(uma bcla evocaçãoencontra-scno romancc ultav8m &amúizaÍ cÍr| saguidaos prcblcmgsds ino\/aeão. Num ca'
dc Antonio Callado. Quarup,dc l9ó7). O Movimcnto comcçoucm so d.ú8, qtgn sia o rutor? Qtgn acnde? A bd.za afudaadomt
59, quando Miguçl AÍra€s €ra prcfcito c sc candidatâvaa gov€rna- ascl8sscsdominantos? f,t€ondcvcm cla?Com o público!mudavam
dor. A sua finalidadc imcdiatâ eÍa clcitoral, dc alfabctizaÍ as mas- oi tcmas,os matcrisis, as possibilidadcae s própÍia 6trutuÍa da
sâs,quc oertamçntevotariam nclc sc pudcsscm(no Brasil o analfa. produçlo cultuÍal. Durantc srtc bÍcvc pÊÍlodo, cm quc pollcia c
bcto, íPZ da população,não vota). Hâvia int€nçãotambémde esti. justiça não cstivcramlimplasmsntca scrviçoda propÍicdadc(nota'
mular loda sortc de organizaçãodo povo, cm torno dc intcÍcsscs vclriicntccm hrnambuoo), 8r qucttõGsdo ums oulturavcÍdadÊits'
rcais. dc cidadc. dc bairro, c mcsmo folclóricos,aÍìm dc contraba- mcntcdcmocrátisabÍotaÍ8m por todo canto,na maisalcgÍGincom-
lançar a indigênciac o marginalismoda maosa;scria um modo dc patibilidadÊcom rr fotmar c o prcrtigio da cultuÍ8 burgu6s. Aliâs,
fortaleoê-lapaÍâ o contato dcvastadoÍ com a dcmagogia€lcitoral. O é difçil dar-rc contg,crn cuavGrdgdsiÍ8crtcnrão,d&cumplicidrdG
pÍogÍama cra dc inspiraçãocristâ c rcformista, c a sua t€oria ccn- complcxa,da complcmcntaridadcquc muit8sYczcscxirte cntÍc es
tÍava na "pÌomoção do homcm". Entrctanto,cm scuscfcitossobrc formacaccitas,artlrticasou culturaís,c 8 Íçprcrslo policial' Forem
â cultuÍa c suas formas cstabal€cidas,a profundidade do M.C.P. trínp6 dc rlurta irrclcr,&rcia.No Rio dc Jancirooo C.P.C.(Ccotro
cÍa maior. A comcçaÍ p€lo método Paulo Frcirc, dc alfabctização Pojular de Cultura) impÍovisavamtcatro polÍtico cm portar dc
dc adultos,quc foi dcscnvolvidoncstaoportunidadc.Estc método, fóbrica,sindicotor,grêmiorcrtudanú c na favcls,comcçavama fa'
muito bcm succdidona prática, não conccbc a lcitura como uma zcr cincmac lançrt diloos,O vGntopÍúrÊvolucionáÍioddcompaÌ-
técnicaindifercntc,mal como força no jogo da dominaçãosocial. timêntrvs a consciêncianacional c cnchia or jornair de rsfonna
Em conscq0ênciaprocurâ ÂcoplaÍo accssodo camponêsà palavra agfáÌia, rgiteção camponcts,movimcntoopcróÍio, nacionglizrqio
cscritacom a consciênciadÊ sua situaçãopolltica. Os pÍofcssorcs, dc omprcraremcrican$ctc.O pals6trva irrcconhccivclmcntc intè
quc cram cstudant€s,iam às comunidadçsrurais,e a partir da cxpc- ligentc. O jornalirmo polltico dtve um cxtrsoÍdinúÌio srlto na!
riência viva dos moradorcsalinhavamassuntosc palavras-chavc- gÍandcr cidad6, bcm como o humorirmo. Mcamoalgum dcputr-
"palavrasgcradoras", na tcrminologia dc P. Frcirc - guc scrviriam dos fizcramdircurror com intÊÍçslc' Em pcqucno,cra a produçlo
simullencamcntc para discursão c âlfab€tização.Em lugar dc intclcctualquc comGçlvrr r€oricntsrs tua relseâoqtm l! ma!ra!.
ó8 6)
EnÚetantosobreveioo golpe,e com elea repressão e o silênciodas purgaraa bibliotecada Universidadedo Paraná,d€ que entãoera
primeirassemanas. Os gcnerais,em &rte,eram adeptosde uma li- Reitor; naquelaocasião mandara arrancaÍas páginasimoraisdos
nha mais tradicional.Em Sâo Paulo,por exemplo,vcrdadeque romances Na
de Eçade Queiroz. Faculdade de Mcdicina,um grupo
maistarde,o comandantedo SegundoExército- famosopelaex- inteiro de professores
foi expulsopor outÍo, menoscompetente,
clamaçãode que almoçariaa esquerdaantesque ela o jantasse- que aproveitavaa marolapolicialpara ajustede Íancoresantigos.
promoviacomentadosaráulitcrário,em quc recitousonêtosda la-
vÍa pateÍna,e no final,instadopelasociedade Em menospalavras:no conjuntode seuseÍeitossecundários, o gol-
presente, tambémal-
gunsde suaprópriapluma.No Recifeo M.C.p. foi fechadoem se- pe apresentou-se como uma gigantesca volta do que a moderniza-
guida,e suasedetransformada, ção haviarelegado;a revanche da provincia,dospequenos proprie.
como €ra incvitável,em secretaria
da assistênciasocial.A fasemais inteÍessante tários,dos râtosde missa,daspudibundas,dosbacharéis em lei etc.
e alcsrsda história
Paraconcebero tamânhodestaregÍessão, lembre-se que no tempo
brasilcírarecentehavia-setornado maiériapara reflexão.
de Goulart o debatepúblicocstiveracenlrado€m reformaagrária,
Agora,no rastroda rcpressão de 64,eÍaoutracamadageológi- imperialismo, saláriominimo ou voto do analfabcto,e mal ou bem
ca do paísquem tinha a palavra."Coraçõesantigos,escâninhos da resumira,não a experiência médiado cidadão,mas a experiência
hinterlândia,quem vos conhccc?"Já no pré-golpe,medianieforte organizada dossindicatos, operáriose rurais,dasassociações patro-
aplicâçãode capitaisc ciênciapublicitária,a direitaconseguira ati- naisou estudantis, da pequenaburguesiamobilizadaetc. Por con-
var politicamenteos sentimentos arcaicosda pequenaburguesia. fuso e tuÍvado que fosse,referia-sea questõesreaise fazia-senos
Tesourosde besticcrural c urbana sairamà rua, na forma dâs termosqu€ o proccssonacionalsugeria,de momentoa momento,
"Marchas da familia,com Deuspela Liberdade",movimentavam aosprincipaiscontendores. Depoisde ó4 o quadroé outro. Ressur-
petiçõescontradivórcio,rcformaagráriae comunização do clero, gem asvelhasfórmulasrituais,anterioresao populismo,em queos
ou ficavamem casamesmo,rczandoo "Terço em Familia",espécie setoÍesmarginalizados e maisantiquadosda burguesia escondem a
de rosáriobélicopara encorajaros generais.Deusnão deixariade suafalta de contatocom o que sepassano mundo:a celulada na-
atendeÍa tâmanhoclamor,públicoe caseiro,e de fatocaiuem cima çâo é a família,o Brasilé altivo,nossastradiçõescristãs,frasesque
dos comunistas.No pós-golpc,a correnleda opiniãovitoriosase não mais refletem realidade alguma, embora sirvam de passe-
avolumou,enquantoa repressão calavao movimentoopeÍáÍio e pariout para a afetividadee de cauçâopolicial-ideológica a quem
camponês. Curiosidadcs antigasvieramà luz, estimuladas pclo in- fala. À sua maneira,a contÍa-revolução repetiao que havia feito
quéÍitopolicial-militarquc csquadrinhava a subversão. - O profes- boa parteda maisÍeputadapoesiabrasileiradesteséculo;rcssusci-
sor de filosofiaacreditaem Dcus?- O senhorsabeinteiraa letrado tou o cortejodospreteridosdo capital.PobÍesos poetas,queviam
Hino Nacional?- Mas as meninas,na Faculdade, sãovirgens? - E seusdecantados maiorEsem procissão, brandindocacetes e suando
se foÍem prâticantes do amor livre?- Seráque o meu nomeestava obscurantismo! Entretanto,apesarde vitoriosa,estaliga dosvenci-
na lista dos que iriam para o paredão? Tudo se resumianas pala- dos nâo pode seimpor,s€ndopostade lado em seguidapelostem-
vrasde aÍdenteex-libeÍal:"Há um grandiosotrabalhoà frenteda pose pelapoliticatecnocrática do novogoverno.(Fezcontudofor-
ComissãoGeral dc Investigações". Na provincia,onde houvesse tuna artisticaainda uma vez,em forma de assunto.Seuraciocínio
ensinosuperior,o Íesscntimento locâl misturava-se de interêsse: estáimortalizado nos três volumesdo Febeapá- siglapara Festiva.
professores do secundárioe advogadosda teÍÍa cobiçavamos pos- de Besteiraque Assolao Pais- antologiacompiladapor Sianislaw
tos e oÍdenadosdo ensinouniversitário, quevia de regraeramde li- Ponte-Preta. E de maneiraindireta,o cspetáculo de anacronismo
cenciadosda capital.Em Sâo Paulo,speakersde rádio e televisão social,de cotidianafântasmagoriaque deu, preparoua matéria
faziamterrorismopolíticopor contaprópria.O Governadordo Es- para o movimentotropicalista -, uma vaÍiantebrasileirae comple-
tado, uma encarnação de Ubu. invocavaseguidamente a Virgem- xa do Pop, na qual se reconheceum núrnero crescentcde músicos,
s€mpreao microfone- a quem chamava"adorávelcÍiatuÍa". O escritorcs,cineastas,
enccnadores c pintoresdc vanguaÍda.Adiante
Ministro da Educaçãocra a mesmafigura que há poucosanosex- tentareiapresentá-la.)A suascgundachance,estaliga veio a tê-la
'to I
agora €m ó9, associadaao esforçopoliciale tloutrinário dos milita-
logia nacional cfctiva?Sc precisadela, é som€ntepara enfÍcntaÍ a
rcs, quc tentam construir uma ideologiapara opor à guerrarevolu-
subversão.Noutro caso,preferiadispcnsá-la,pois é no ess€ncialum
cionária nasccnte.Porém voltemos a ó4. O Governo que saia do governo associadoao impcrialismo, de dcsmobilizaçãopopular e
golpe, contrariamcnteà pequenaburguesiae â burguesiarural, que
soluçõestécnicas,ao q'ualtodo compromissoideológicoverificável
clc mobilizara mas não ia representar,não era atrazado.Era pró-
parecerásempreum entrave.Além disso há também a penetração
amcricanoe anti-popular, mas moderno. Levavaa cabo a int€gra-
instituÍda e maciçada cultura dos E.U.A., que não casabem com
çãoeconômicae militar comos E.E.U.U.,a conc€ntraçâo e a racio- Deus,pátria c família, ao menosem sua acepçâolatino-americana.
nalizaçãodo capital. Nestesentidoo relógio não andarapara trás, e
Po{tanto, a resistênciaà difusão de uma ideologia d€ tipo fascista
os cxpoentesda propriedadeprivada rural e suburbananão esta-
está na força das coisas.Por outÍo lado, dificilmentc ela estarána
vam no poder. Que interessepodc t€r um tecnocrata,comospolita
consciêncialiberal, que teves€usmomentosde vigor depoisde ó4,
por definição,nos sentimentos quc fazema hinterlândiamarchar?
mas agoraparcccquase€xtinta. Em ó7, por ocasiãode grandesmo-
Muito mais interessantcé ver o que vêm os seuscolegasem Lon-
vimentaçõescstudantis,foi trazida a São Paulo a polícia das docas.
dres,Nova York e Paris,Hair, Marat-Sade,Albee e mesmoBrecht.
A suabrutalidadesinistÍa,rotineiramcnte aplicadaaostrabâlhado-
Da mesmaforma, quando marchavampelas ruas contra o comu- res,voltava-sepor um mom€nto contra os Íilhos da burguesia,cau-
nismo,em saia,blusae salto baixo, as damasda sociedadenão pre- sando€spantoe revolta. Aquela violênciaera desconhecidana cida-
tendiam renunciar às suas tualetesmais elaboradas.A burguesia de e ninguém supuseraque a defesado regime neccssitasse de tais
€ntregouaos militaresa Presidência<laRepúblicae lucrativospos- espccialistas.Assim também hoje. Contrafeita,a burguesiaaceitaa
tos na administÍação,masguardavapadrõesinternacionaisde gos- programaçãocultural que lhe preparamos militares.
to. Orâ, nestemomento a vanguardacultural do Ocident€trata de
um só assunto,o apodrecimentosocialdo capitâlismo.Por suavez,
os militares quasenão traziam a público o seuesforçoideológico-
o qual serádecisivonâ etapaqueseiniciaagora- poisdispondoda
força dispensavama sustentaçãopopular. Nestevácuo, foi natural
que prevalecessem o mercadoe a liderançadosentendidos, quede- Sistcmatizandoum pouco, o quc sc rcpctc n€stasidas e vindas
volvcrama iniciativaa quem a tiverano governoanterior.A vida é a combinação,em momontosde crise, do modcrno e do antigo:
mais pÍecisament€, das manifestaçõ€smais avançadas da integra-
culturâl entrava€m movimento,com asmesmaspessoasde scmpre
ção imperialista intcrnacional
e da idcologiaburgucsamais antiga-
e uma posiqãoalteradana vida nacional.Atravésde campanhas
contratorturâ, rapinaamericana, inqueritomilitar € estupidez e obsoleta- centradano indivíduo,na unidadefamiliare em suas
dos
censores, do paísunia-see triunfavamoral e intelec-
a inteligência tradições.Superficialmente,esta combinaçãoindica apenasa coe-
xistência de manifestações fascsdo mesmosrste-
ligadasa diferentes
tualmentesobreo governo,com grandeefeito de propaganda.So-
mcntc em fins de ó8 a situaçãovolta a semodificar,quandoé ofi- ma. (Não interessaaqui,para o nossoaÍgumcnto,a famosavarìc-
cialmcntereconhecida de guerrarevolucionária
a cxistência no Bra- dadecultural do país,em que dc fato sc cncontÍam ÍcligiõesafÍica-
nas, tríbus indígenas,trabalhadoresocasionalmente v€ndidostal
sil. Paraevitarqueela sepopularize,o policialismotorna-severda-
dciramcnt€pcsado,com delaçãoestimuladae protegida,a toÍtuÍa comoescravost trabalhoa meiase complexosindustÍiais).O impor-
tante é o carátcrsist€mático c seusentido,que
destacoexistência,
assumindoproporçõespavorosas,e a imprensadc boca fcchada.
podevariar.Enquantona fascGoulart a modernização passariape-
Cresccem decorrência o pesoda esferaideológica,o que setradu-
las relações dc propriedadec podcr,e pelaideologia,quedeveriam
ziu em profusâode bandeiras nacionais,folhetosde propaganda, e
cederà pressãodas massasc dasneccssidades do desenvolvimento
na instituiçãode cursosde ginásticae civismopara universitários.
nacional,o golpede 64 - um dos momentoscruciaisda gucrrafria -
Subitamente renascida,em toda parteseencontraa fraseologia do
patÍiotismoordeiro.Quechancetem o govcrnode iorjar uma ideo- firmou-sepeladerrotadestemovimento,atravésda mobilizaçâoe
confirmação,entÌe outras,das formas tradicionaise localistasdc
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poder.Assima intcgraçãoimpcrialista, queem scguidamodcrnizou um público mcnos Ícstrito os arcanosfamiliares e dc classe.Noivas
para os seuspÍopósitosa cconomiado país,rcvivec tonificaa pârtc Datéricas, semblântes scnâtoÍiâis, frascs dc implacável digni-
do arcaismoideológicoc políticodc quenccessita paÍa a suacstabi- dade, paixões dc tango, - sem a Proteçâo da distância social e
lidade.De obstáculoe resíduo,o arcaísmopassaa instÍumcntojnten- do prestigio de seu contcxto, c gravadas nalguma matéria plástico-
cionalda oprcssãomais modcÍna,como aliása modcrnização, de metálico-fosforesccnte e €lctrônica,cstasÍi8uÍas refulgemestranha-
libertadorae nacionalpassaa forma de submissão. N€stascondi- mentc, e fica incerto sc cstâo dcsamparadasou são maliSnas,pron-
ções,cm ó4 o p€nsamcnto casciroalçou-scà eminênciahistórica tas para um fascismoqualquer. Aliás, cste fundo de imagenstradr-
Espetáculo acabrunhador cspccialmente paraosintelectuais, quejá cionais c muitas vezesrcprcscntado alravés dc seus dscalqucs em
se tinham desacostumado. Estaexperiência, com sua lôgicapró- rádio-novela,opereta,casinoe conSêncÍcs,o que dá um dos melho-
pria, deu a matériaprima a um cstiloartísticoimportante,ao tropi- res efeitosdo tropicalismo: o antigo e autêntico era ele mesmo tão
calismo, qve refletevaÍiadamcntea scu respeito,cxplorando c de- faminto de efeito quanto o debochecomercial de nossosdias, com a
marcandouma novasituaçãointelectual, artísticae de classe.
Tcnto diferençade cstar fora dc moda; é como sc a um cavalheiro de caÍ-
em segutdaum esquema, semquaÌquerccrteza,de suaslinhasprin- tola, que insistisseem sua sup€rioridade moral, Íespondess€mque
crpais.Arriscandoum pouco.talvezscpossadizerquco efeito-bási- hoje ninguém usa mais chapéu. Sistematizando:a crista da onda,
co do lropicalismoestájustamentena submissãode anacronismos quc é, quanto à forma, ondc os tropicalistascstão, ora alinha pelo
dessetipo, grotescosà primeiravista,inevitáveisà scgunda,à luz esforço crítico, ora pclo succssodo que se1amâis recentenas gran-
brancado ultra-modcrno, transformando-se o resultadoem alego- descapitais. Esta indifercnça,estevalor absoluto do novo, faz que a
ria do Brasil.A reservadc imagcnse emoçòcsprópriasao paispa- di sti nci a hi stóri caentre t écnicac t em a, f ixada na im agem - t ipodo
triarcal,rural€ urbano,é expostaâ formaou técnicamaisavançada tropicalismo, possatanto cxpÍimir ataque à reação,quanto o triun-
ou na modamundial- músicaeletrônica, montagemeisensteiniana, fo dos netos citadinos sobrc os avós intcrioranos, o mérito irrefutà-
côrese montagemdo pop,prosade FinnegansWake,cenaao mes- vel de ter nascido depois e ler revistasestrangeiras.Sobre o fundo
mo tempocrua e alcgórica,atacandofisicamente a platéia.É nesta ambíguo da modcrnização, é incerta a linha entre sensibilidadee
diferençainternaqueestáo brilho peculiar.a ."r.ã d. registroda oportunismo, entÍe crítica c integraçâo.Uma ambigüidade análoga
imagem tropicalista.rO resultadoda combinaçãoé estridente aparecc na conjugação de crítica social violenta e comercialismo
com_o um segredofamiliartrazidoà rua, comouma tÍaiçãode clas- atirado, cujos resultadospodem facilmcnte ser confoÍmistas, mas
se.E literalmenteum disparate- c cstaa primeiraimpressão - em podcm também, quando ironizam o seu aspecto duvidoso, rcter a
cujo desaccrto porémestálìguradoum abismohistóricoreal,a con- figura mais intima e dura das contÍadiçõesda produção intelectual
jugaçãode etapasdiferentesdo desenvolvimento capitalista.São presente.Aliás, a julgaÍ pela indignação da direita (o quc não e tu-
muitasasambigüidadcs e tcnsõesnestaconstrução. O veículoé mo- do), o lado irreverente,escandalosoc comercial pareceter lido' en-
dernoe o conteúdoé arcaico,maso passadoé nobreeo presente é tre nós, mais peso político que o Ìado politico delibcrado.- Qual o
com€rcial;por outro lado,o passado é iníquoe o presente é autônti_ lugar social do tropicalismo? Para apreciá-loé necessáriafamiliari-
co; etc.Combinaram-sc a politicae uma espéciecoletivade exibi- dade - mais rara para algumasformas de aÍte e menos Para outras -
cionismosocial:a força artísticalhe vem de citar semconivência com a moda inteÍnacional. Esta familiaridade. scm a qual sc perde-
como se viessemde MaÍte, o civismoe a moral que sairamà rua - ria a distância, a noção de impropriedade diantc da heÍança pa-
mascom intimidade, pois Marteficalá em casa- e vemlambemde triarcal. é monopólio de universitários e afins, que por meio dela
uma espéciede delaçâoamorosa,que tÍaz aos olhos profanosde podem fal ar uma l i ngua gemexclusiva.Com o já vim os, o t r opicalis-
mo submete um sistema de noções reservadase prestigiosasa uma
l i nguagemde outro ci rcuit o e out r a dat a, oper açâode que der iva o
I Nos c ã \ o s c m q u c o c j c m cn lo ..a n tiq u a d o ..é r e ccn lr sstm o
ros nc o - t o s s c t sd a s o c t cd a d cd ilâ d c cro Dsu m o
e r nternactonal oq hábt_ seu alento desmistificadore esquerdista.Ora, tambem a segunda
- o tr o p lca ljsmo coi D ci d€si mpl es-
mc nte c o m l b r m a s d o p o p . linguagemé reservada,embora a outro grupo. Não se passado par-
-t4
ticularao univeÍsal,masdc uma csfcraa outra, vcrdadequepoliti- mi co. em úl ti ma anál i sescm pr c or ient ado pelo inim igo. A dir eçà<. t
camcntcmuito maisavançada, quc cncontraaí uma formadc iden- troni cal i staé i nversa:rcglst r a.d( , pont o de vist a da vanguar dac du
tificação.Mais ou menos,sabcmosassima quem fala estecstilo; moda rnternaci onars. co m seuspr cssuposloseconôm r cos.com o coi-
masnão sabemos aindao quccle diz. Diantcdc umâimagemtÍopF sa aberrant€,o atrazo do pais. No primeiro caso,a técnica é politi-
calista,diante do disparateapaÍcntemcntesurrcalistaque resultada camcntedimensionada.No scgundo,o seu estágiointernacionalé o
combinaçãoquc descrevemos, o cspectadorsintonizadolançará oarâmctro aceito dâ rnfelicidadenacional: nós, os atualizados.os
mão dasfrasesda moda,quc seaplicam:dirâ queo Brasilé incríve-, articuladoscom o circurto do capital, falhada a tenlativa de modeÍ-
é a fossa,é o fim, o Brasilé dcmais.Por meio d€stasexpressões, cm nização social fcita de cima. reconhecemosqu€ o absurdo é a alma
quc simpatiae dcsgostoestãoindiscerníveis, filia-seao grupo dos do pais e a nossa.A noçâo de uma "pobreza brasileira". que vitima
que têm o "scnso"do carátcrnacional.poÍ outÌo lado,esteclima, igualmente a pobrc e ricos - própria do tropicalismo - rcsulta de
estaessênciaimpondcráveldo Brasil é dc construçãosimplcs,fácil uma generalizaçãosemelhantc.Uns índios num descampadomtse-
de rcconhecer ou produzir.Trata-sede um Lruquede linguagem, de rável. filmados em tccnicolor humoristico, uma cristaleira no meio
uma fórmula para visãosofisticada, ao alcancede muitos.eual o da auto-estradaasfaltada,uma fcsta grã-fina, afinal de contas pro-
conteúdodestesnobismode massas? Qual o sentimentoem que se vinciana.- em tudo estariaa mesmamiséria. Esta noção de pobreza
reconhecc e distingüea sensibilidadetropicalisra? Entreparêntesis, não é evidentementea dos pobres, para quem falta de comida e de
scndosimplesuma fórmulanâo é necessariamente ruim. Como ve- estilo não podem seÍ vexamesequivalentes.Passemosentretanto à
remosadiante,o efeitotropicalistatem um fundamentohistórico outra qucstão: qual o fundamento histôrico da alegoria tropicalis-
profundo e interessante;mas é também indicativo de uma posição ta Ì Respondendo,estaríamosexplicandotambém o interèsseverda'
dc classc,como veremosagora. Voltândo: por exemplo,no rnétodo deiramente notável quc cstas imagens têm. que rcssalta de modo
Paulo Frcire estãopÍcscnteso arcaísmoda consciênciarural e a re- ainda mais surpreendente se ocoÍre serem parte de uma obra
flcxão cslrccializadade um alfabetizador; cntÍetanto, a dcspeito mediocre. A coexistênciado antiSo e do novo é um ÍaÌo Scral (c
dcsta conjunção,nada menos tÍopicalista do quc o Método. por sempre sugestivo)de todas as sociedadescapitalistas e de muitas
que?Porquea oposiçãoentÍc os s€ustcÍmos não é insolúvel:podc outras tâmbém. Entretanto, para os países colonizados e dcpots
havcr alfabctização.Para a imagcm tÍopicalista, pelo contrário, é subdcsenvolvidos,ela écentralc tcm força de emblema. lsto porque
cssencial que a justaposição dc antigoc novo - sejaentreconteúdo cstespaísesforam incorporados ao mercado mundial - ao mundo
e técnica,scjano intcrior do contcúdo- componhaum absurdo,es- moderno - na qualidadc de econômica e socialmenteatrazados.de
tcja em forma dc aberração,a que sc referema melancoliae o hu- fornecedoresde matéria prima e trabalho barato. A sua ligaçâo ao
moÍ dcstccatilo. Noutras palavras,para obtcr o seu€feito artístico novo se faz atravlJ, estruturalmenteatravés de seu atrazo social,
c crítico o tropicalismo trabalha com a conjunçãoesdrúxulade ar- que se reproduz em lugar dc sc extingüir. ' Na composiçâoinsolúvel
câico c modcrno qu€ a contra-Ícvoluçãocristalizou,ou por outÍa mas funcional dos dois têÍmos, portanto, es!á figurado um destino
ainda, com o resutradods.aíle.Íior tcntativa fracassadade moderni- nacional,que dura dcsdcos inícios.Aliás, cultivando a "latinoame'
zação nacional. Houvc um momcnto, pouco antcsc pouco depois ricanidad" - cm quc lcnuemcntc rcssoao caÍáter contincntal da rc'
do golpc, cm quc ao mcnospara o cincma valia uma palavrade or- volução - o quc no Brasil dc fala portuguesaé raríssimo,os tropica-
dcm cgnhadapor Glaubcr Rocha (quc parccc cvoluir para longc listas mostÍam quc têm consciênciado alcancede scu cstilo. De fa'
dcla): "por umâ estéticada fomc". A cla ligam-scalgunsdos mc- to, uma vez assimiladocste scu modo de ver, o conjunto da Améri-
lhorcs filmes brasilciros,Vidas Secas,Deuse o Dioboe Os Fuzisem ca Latina é tropicalista. Por outro lado, a generalidadedestecsquc-
particrr;4Í.Rcduzindoao cxtÍcmo, pod€-scdizcr quc o impulso dcs-
ta cstéticâé rcvolucionário.O artista buscariaa sua força e moder-
nidadc na Êtapaprcscnteda vida nacional,e guardariaquanta inde-
pcndênciafosscpossívclcm facc do aparclhotccnológicoe econô- amplsdcstas
L Paraumacxposição du
noç&s,vcÌ GundcrFrank,L?divelopp.mcnt
sous-dévcloppcment, a Capilalisma .t tous'dáveloppem.nt
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ma é tal, queâbraçatodos os paísesdo continenteem todâsas suas muito bÍuta, e porqueo espaçoestavacxccssivamcntc rctalhadoe
etapashistóÍicas,
- o quepoderiapareceÌum defeito.O quedirá do racionalizado, semproporçãocom as finalidades dc uma casapârti-
Brasil de ó4 uma fórmula igualmenteaplicável,por exemplo,ao cular. Nesta dcsproporção, entretanto,estariaa sua honcstidade
séculoXIX argcntino?Contudo, porque o tropicalismoê alegórict cultural.o scu testcmunhohistórico.Duranteos anosdcscnvolvr-
a falta de especificação
não lhe é fatal(seria,num estilosimbólico). mentistas, ligadaa Brasiliae àsesperanças do socialismo, haviama-
Se no símbolo,esquematicamente, forma e conteúdosão indisso- turado a consciência do sentidocoletivistada produçãoarquitetô-
ciáveis,seo símboloé "apariçãosensível"e por assimdizernatura. nica.Ora, para qucm pcnsarana construçãoracionalc barata,€m
da idéia,na alegoriaa relaçãoentrea idéiae as imagensquedevem grandeescala,no interiordc um movimentode democratização na-
suscitá-laé externae do domínio da convenção. Significandouma cional,paraquempensarano labirintodasimplicaçõcs econômico-
idéiaabstÍatacom quenadatêm a ver,os elementos de uma aleso- políticasentrc tecnologiae imperialismo,o projetopâra uma casa
ria nãosãotransfigurados artisticamente: persistemna suamater]a- burguesa é inevitavelmente um anti-climax.' Cortadaa perspectiva
lidadedocumcntal,sãocomo queescolhosda históriareal,queé a políticada arquitetura,rcstavaentretantoa formaçãointelectual
sua profundidade.I Assim. é justamenteno esforçode encontrar queeladeraaosarquitetos,queiriam torturaro espaço,sobrecarre-
matériasugestiva e datada- coma qualalegorizama ..idéia"intem- gar de ìntenções e experimentos as casinhasque os amigosrecém-
poral de Brasil- que os tÍopicalistastêm o seumelhor resultado. casados, com algum dinhciro,às vezcslhesencomendavam. Fora
DaÍ o caráterde inventárioquetêm filmes,peçase cançõestropica- de seucontextoâdequado,realizando-se em esferarestritae na for-
lrstas,que apresentam quantamatériapossam,para que estasofra ma de mercadoria,o racionalismoaÍquitetônicotransforma-sc em
o pÍocessode ativaçãoalcgórica.Produzidoo anacronismo - com ostentação de bom-gosto- incompatívelcom a suadireçãoprofun-
seuefcitoconvencionalizado, de qu€ isto sejaBrasil- os readyma- da - ou em símbolomoralistae inconfortávelda revoluçãoquenão
desdo mundopatriarcale do consumoimbecilpõem-sea significar houve.Esteesquema, aliás,com mil variaçõesembora,pode-sege-
por contaprópria,em estadoindecoroso, não estetizado,sugerindo neralizarpara o periodo.O proccssocultural,que vinha extrava-
infinitamenteassuashistóriasabafadas, frustradas,quenão chegâ- zandoasfronteirasde classee o critériomercantil,Íoi reprezado em
remosa conhecer. A imagemtropicalistaencerrao passadona for- 64. As soluçõesformais,frustradoo contato com os explorados,
ma de malesativosou ressucitáveis, e sugerequesãonossodestino, para o qual se orientavam,foram usadasem situaçâoe para um
razãopela qual não cansamosde olhá-la.Creio que esleesquema públicoa que não se destinâvam, mudandode sentido.De revolu-
vrgoramesmoquandoa imagemé cômicaà primeiravista., cionáriaspassaram a símbolovendávelda revolução.Foramtriun-
falmenteacolhidaspelosestudantes e pelo público artisticoem ge-
*t, ral. As formaspolíticas,a sua atitudemaisgrossa,engraçadae di-
dática,cheiasdo óbvio materialistaque antesfora de máu-tom,
Comcntandoalgumascasaspostcrioresa ó4, construídaspor transformavam-se em símbolomorql da política,e era esteo seu
arquitetosavançados,
um críticoobservouqueeramruinsde morar conteúdoforte.O gesto didático,apesarde muitasvezessimplórioe
porque a sua matéria,principalmenteo concretoaparente,era nãoensinando nadaalémdo evidente à suaplatéiaculta- queexis-
que
ta imperiafismo, a justiçaé de classe- vibravacomoexemplo,
valorizavao que à culturaconÍinadanâo era permitido:o contato
politicocom o povo. Formava-se assimum comércioambiguo,que
L ldéi a e v o c a b u l á r i o s ã o e Ín p Íe sta d o sa q u i a o e slu d o d e Wal teÍ B enj ami n sobÍe o
de um lado vendia indulgênciasafetivo-politicas à classemédia,
dram â b a r r o c o a l c m ã o . cm q u e sc te o r iza a r e p e ito d â âl egori a.
d csta lin h a sã o , p a r a a m ú sjca . GilbertoGj l eC aetanoV c-
2. A ldu n s r e p r e s e n t a n t es
foso; para o tealro José Celso Martinez Correia. com O Rei da Vela e Roda yita.
no cinema há efementos de tÍopicalìsrno em Ma.unaíma de Joaquim PedÍo. Or
Herdciror ó. Catlos Diegtres, Rrcsil ano 2000 de Walter Lima Jí., ?.€rta etn Tron-te Ì. Sc.Srio
Ferro Pereira,'Arquit€túÍâNovâ" in Â"vÀr, Teo a?Prólìrut'l,S.PÀu'
e Ántonio das Morrer dc ClaubeÍ Rocha. lo, 196'l
.
78 79
masdo outro consolidavâ a atmosfcraideolôgicadc quc falamosno portantese oportunosentão,cntretânto cra vcrdadetambémque a
início. A infinita repetiçãodc argumentos, conhccidosde todos - esqucÍdavinha dc uma dcrrota, o que dava um tÍaço indevido de
nada mais rcdundante,a primcira vista, quc o tcatro logo cm segui- complacênciaao delírio do aplauso.Se o povo é corajosoc inteli-
da ao golpc - não eÍa redundantc:cnsinavaquc as pessoasconti- gente,por que saiu batido?E sc foi batido, poÍ quc tantâ congÍatu-
nuavamlá c não haviammudado de opinião, quc comjcito sepodc- lação?Como vcremos,a falta dc rcspostapolitica a G6tâquestãovi-
ria dizcr muita coisa,que cra possívclcorer um risco. Nestesespe- Íia a tÍansfoÍmaÍ-scem limit€ cstéticodo T€atro dc Arena. Rcdun-
táculos, a quc não comparcciaa sombra de um operário, a inteli- dante ncstc poírto, Opiniãoera novo noutros aspcctos.Scu público
genciaidcntificava-se com os opÍimidosc reaíìrmava-sc cm dívida era muito mais estudantilque o costumeiÍo,talvczpoÍ causada
com elcs,em qu€mvia a suacspcrança. Davam-sccombatesimagi- música,c portantomaispolitizadoe inteligent€, Daí cm diantc,gra-
náriose vibrantcsà desigualdadc, à ditaduÍae aosE.U.A. Firmava-
se a convicçãode quc vivo c poético, hoje, é o combateao capital e ças também ao contato organizadocom os grêmioscscolarcs,csta
passouâ s€r a composiçãonormal da platéia do tcatro dc vanguar-
ao imperialismo.Daí a importânciados gênerospúblicos,dc teatro,
afichcs,música popular, cincma e jornalismo, que transformavam da. Em conscqüênciâaumentou o fundo comum dc cultura entre
est€clima em comício e fcsta, cnquanto a litcratura propriamente palco e espcctadores, o que pcrmitia alusividadce agilidade,princi-
saiado primçiroplano.Os própriospoetassentiamassim.Num de- palmcntccm política,antesdcsconhccidas. Sccm mcio à suja tirada
bate público r€c€nte,um acusavaoutro de não ter um veÍso capaz de um vilão repontavamas fÍasesdo último discursopresidencial,o
de levá-loà cadeia.Esta procúraçãorevolucionáriaque a cultura teatÍo vinha abaixode prazcr.Essâcumplicidade tcm, é certo,um
passavaa si mcsmae sust€ntoupor algum tempo não ia natuÍal- lado fácil e tautológico; mascria o espaçot€atral - quc no BÍasil o
mcnt€ scm contradiçõca.Algumas podem ser vistas na evolução teatro comercialnão havia conhecido- para o aÍgumcntoativo, li-
teatral do pcríodo. vrc dc litcraticc. Dc modo gcral aliás, o contcúdo pÍincipal dcstc
A primcira rcspostado tcatro ao golpe foi musical,o qucjá cra movim€nto teÍá sido uma transformaçãodc forma, a alteraçãodo
um achado.No Rio dc Janciro, Augusto Boal - diÍetoÍ do Teatro lugar socialdo palco. Em continuidadecom o tcâtro dc agitaçãoda
de Ar€na dc S. Paulo,o grupo quc mais m€tódicae prontamcntese faseGoulart, a cenae com cla a língua e a cultura foram despidas
rcformulou - montava o show Opinião.Os cantores,dois de origem de sua clcvação"esscncial",cujo aspcctoideológico,dc oÍnamcnto
humildc e uma €studantedc Copacabana,cntremeavama história das classcsdominantes,estavaa nú. Subitamcntc,o bom tcâtro que
de suavida com cançõcpquc calhasçm bcm. N€stGcnÍcdo, a músF duÍantc anosdiscutira €m portuguê de escolao adultério, a liber-
ca rcsultavaprincipalmentccomo rcsumo,autêntico,dc uma expc- dâdc, a sngústia,pareciarecuadodc uma era. Estavafcita uma €s-
riência social, como a opinífu que tado cidadão tcm o dircito de for- pecicde rcvoluçãobrechtiana,a quc os ativistasda diÍcita, no intui-
mar € cantsr, mcsmo quc a ditadura não qucira. ldcntiÍicavam-sc to d€ rcstauÍaÍ a dignidadc das aÍtes, respondcramarrcbcntando
assimpaÍa cfcito idcológicoa músicapopular - quc é com o futebol cenâriosc cquipam€ntos,cspancandoatrizcsc atorcs.Scm espaço
a manifcstaçãochcgadaao coração brasilciro - c a dcmocracia,o ritual, mascom imaginação- e tambémscmgrandctradiçãode mé-
povo c a autcnticidad€,contÍa o rcgimc dos militarcs.O succssofoi tier e sematores v€lhos- o tcatro estavapróximo dos cstudantcs;
rctumbantc. Dc mancira mcnos inv€ntiva o mcsmo csqucmalibc- não havia abismo de idadc, modo de viver ou formação. Por sua
ral, dc rcsistênciaà ditadura, 8€Íviaa outro grandc suc€sso,liàer- vcz, o movimcnto estudantil vivia o seu momento áurco, dc van-
dade,Libcrdade,no qual cra apÍcscntadauma antologia ocidcntal 8uâÍda política do pais. Esta combinaçãoentÍc a ccna "rebaixada"
dc tcxtos lib€rtários, dc Yl a.C. a XX A.D. Apesar do tom quasc e um público ativista deu momcntosteatraiscxtraordinários,c rc-
cíyico d6tcs dois cspctâculos,dc conclamaçãoe encorajamcnto, punha na ordcm do dia as qucstõcsdo didatismo. Em.lugarde ofc-
era incvitávcl um ccrto mal-cstarBtético c político diant€ do total ÍêceÍ aoscEtudantcsa profundidadcinsondávcldc um tcxto belo ou
acordo quc sc produzia cntrc palco c platéia. A ccna não cstava dc um gÍandc ator, o tcatro ofercciaJhcsuma colc.çãode argumcn-
adiantcdo público. Ncnhum clcmcntoda crítica ao populismofora tos € compoÍtamcntosbcm pcnsados,para imitaçâo, crítica ou rc-
absorvido.A confirmaçãorccíprocac o cntusiasmopodiam scr im- ieição,A distânciaentreo especialista e o leigodiminuira muito.
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Digredindo, é um cxcmplo dc quc â dcmocratização,cm arte, não lhe acrescentouo sucesso- Zumbi repetiaa tautologiade Opinião:a
passa por barateamcnto algum, nem pcla inscrição das massas esqucrdaderÍotada triunfava semcrítica, numa sala repleta,como
numa cscola de artc dÍamática; passapoÍ transformaçõessociaise sea dcÍrota não fosseum defeito.Opiniõoproduziraa unanimidade
de critério, que não dcixam intocados os têrmos iniciais do proble- da platéiaatravésdâ aliançasimbólicaentremúsicae povo,contra
ma. Voltando: nalguma paÍtc Brccht recomendaaos atoÍes que re- o rcgime.Zumbi tinha esquemaânálogo,embora maiscomplexo.À
colham e analisemos mclhoresgestosque puderem observar, para oposiçãoentre escravose scnhorcspoÍtugueses,cxpostaem cena,
aperfeiçoare devolvê-losao povo, de ondc vieram. A prcmissades- corrcspondia outra, constantemente aludida,entreo povo bÍasilei-
te argumento, em que arte e vida estão conciliadas,é- que o gesto ro € a ditadura pró-imperialista. Este truqueexpositivo,que tem a
cxista no palco assrm como fora dele, que a razão de seu acerto não sua graçaprópria, pois pcrmite falar em públicodo queé proibido,
estejasomentena foÍma t€atÍal que o sustenta.O que é bom na vida combinavaum antaSonismo que hoje é apenasmotal - a questão
aviva o palco, e vice-versa.Ora, se a forma artística deixa de ser o escrava- a um antaSonismo político,e capitalizava parao segundo
nervo exclusivo do conjunto, é quc ela accita os efeitosda estrutura o cntusiasmodescontraído que resultado primeiro.Mais precisa-
social (ou de um movimçnto) - a que não mais se opõe no essencial mente,o movimentoia nos dois sentidos,que têm valor desigual
- como e4uivalentesaos seus. Em conseqüênciahá distensãofor- Uma vez,a revoltaescravaera referidaà ditadura;de outra, a dita-
mal, c a obra entra em acordo com o seu público; poderia divertí-lo dura erareencontradana rcpressãoàquela.Num casoo enrêdoé ar-
e educá-lo, em lugar de desmcntilo todo o tempo. Estasespecula- tificio para tratar de nossotempo. A linguagemnecessaÍiamente
ções,que derivam do idilio que Brccht imaginara para o teatro so- oblíquatcm o valor de suaastúcia,queé política.Suainadequação
cialista na R.D.A., dão uma idéia do que se passavano Teatro de
é a formade uma resposta adcquâdaà realidadepolicial.E a levian-
Arena, - onde a conciliaçâo era viabilizada pelo movimento estu-
dadecom que é tratadoo mateÍialhistórico- os anacronismos pu-
dantil ascendentc.A pesquisado que seja atraente, vigoroso e di-
vcrtido, ou desprezível- para uso da nova geração- fez a simpatia lulam - é uma virtudeestéticâ,poisassinalaalegremente o procedi-
extraordináÍia dos espctáculosdo Arena desta fase.Zumbí, um m!- mentousadoe o assuntorealem cena.No segundocaso,a luta en-
sical em que se nârÍa uma fuga e rebelião de escravos,é um bom tre escravosc senhoresportuguesesJena,já, a luta,do povo contra
exemplo. Não sendo cantores nem dançarinos, os atores tiveram
o imperialismo.Em conseqüência âpagâm-se as distinçõeshistóri-
que desenvolveruma dança e um canto ao alcanceprático do leigo. cas- as quaisnão tinhamimpoÍtânciaseo escÍavoé artifício,mas
que entretanto tivessemgraça e inteÍesse.Ao mesmo tempo impe- têm agora,seelcé origem- e valoriza-se a inevitávelbanalidadedo
dia-seque as soluçõesencontÍadasaderissemao amálgamasingular lugar-comum:o direitodos oprimidos,a crueldadedos opressores,
de ator e personagcm:cada personagemera feita por muitos atores, depoisde 64, como ao tcmpo de Zumbi (sec.Xvll), busca-se no
cada ator fazia muitas personagcns,além do que a personagem Brasila liberdade.Ora, o vago de tâl perspectivapesa sobre a lin-
principal era o coletivo. Assim, para que se pudessemÍetomaÍ, para guagem,cênicae verbal,que resultasemnervopolitico,orientada
q u e o at or pudes s eo ra s e r p ro ta g o n i s ta ,o ra m a s sa,as caracteri za- pela reaçãoimediatae humanitária(não-políticaPortanto)diante
ções eÍam inteiÍamente objetivadas,isto é, socializadas,imitóyeis. ào sofrimento.Onde Boal brinca de esconde-escondc, há poljlica;
Os gestospoderiam ser postos e tiÍados, como um chapéu, e por- onde faz política, há exortação. O Íesultado artístico do primeiro
tanto adquiridos. O espetáculoera verdadeirapesquisae oferenda movimentoé bom, do segundo é ruim. Sua expressão formal acaba-
das maneiras mais sedutorasde rolar e embolar no chão, de erguer da, estadualidade vai encontÍá-la no trabalho seguinle do Arenq' o
um braço, de levantar depressa,de chamar, de mostrar decisão, Tiradenles.Teorizando a Íespeito, Boal observava que o teâtro hoje
mas também das maneirasmais ordinárias que têm as classesdomi- tanto devecriticarcomoentusiasmaÍ. Em conseqüência, operacom
n a n tesde m ent ir , de ma n d a r e m s e u se mp re g a d osou de assi nal ar, o distanciamento e a identificação'com BÍecht e Stanislavski A
mediante um movimento peculiar da bunda, a sua importância so- oposiçãoentÍeos dois,que na polêmicabrechtiana tiverâ significa-
cial. Entretanto, no centro de sua relaçãocom o público - o que só dã históricoe maÍcavaa linhâ entreideologiae teatroválido,é re-
R' E3
duzidaa umaqucsüiodcoportunidadc doscstilos.' De fato,cm TÈ meis radicais e justas, que se bmam por assim dizer obrigarírias,.scm
radentese,gawaagcm principal- o mártir da indcpcndência brasi- que daí lhes venhe,como â honÌr ão mérito, a primazia qualitativa.'Mas
lcira, homcmdc origcmhumildc- é aprcscntadaatravéEdc umacs- nÃoprocuráìas conduzÀbanalização.
pécicdc gigantismonaturalista,umacncarnação míticado dcscjo TambemÀ esquerda,masnc antíPodâsdo,lrena, e ambíguoelé I
dc libcrtaçãonacional.Em contrastcasdemaispcrsonagcns, tsnto niz do cabelo,desenvolvia.* o Teatm@cina, dirigido por Icé Celso
seuscompanhciros dc conspiraçâo,homcnsdc boasituâçãoe pou. Martinez Con€a, Se o Arcna hetdarads.faseGoulan o impulso formal, o
co dccididos,quantoos inimigos,sãoaprcscntados comdistansia- intcressepela luta de classes,pla tevolução,e uma ceÌta limitâção po-
m€ntohumorístico, à manciradc Brccht,A intcnçãoé dc produzir pullsta,o Aficina ergueu-sea paÍir da experiênciainterior da desagrege-
uma imagcmcríticadasclasscs dominant€s, c outra,cssaempol- ção burguesaem 64. Ern seu palco esta desâgrcgaçãoÌcpete-seÍihul-
gantc,do homcmqucdá suavidapclacausa.O rcsultadocntrctan- mente, em fonna de ofensa. Os seus espcúculc fizeram histótia,
to é duvidoso:os abastados calculampoliticamentc, têm noçãode escândaloe enonne suc€ssoem São Paulo c Rio, onde foram os mris
scusintcÍ6scsmâtcriais,suacapacidadc cpigramática é formidável marcantesdos últimos ânc. Ligavam-seao público pela btutalização,e
e suaprcscnça €m ccnaé bom tcstro;já o mârtir corredcsvairada- não coÍno o Arcna, pla, simpatia; e seu recl[so pdncipal é o choque
mcntccm pósa libcrdadc,é desintcrcssado, umvcrdadciroidcalista profanador,e não o didatìsmo.A opGição no interior do leâtro engajado
cansativo,com rcndimcntotcatralmcnor.O métodobrcchtiano. nÃopodia ser mais completa.Sumariamente, Iosé Celsoergumentadada
cm quea intcligência tcm umpapclgrandc,ê aplicadoaosinimigos foma seguinte:se em 64 a pequenaburguesiaaliúou com a direita
do rcvolucionário;a €stcvÂi cabcro métodomenosint€ligente, o ou nãoresisúu,enquantoa grandesealiavaaoimperialismo,todoconsenti-
do cntusiasmo.Politicamcntc,cstc impasscformal mc parccccor- mento entre pslco e plaéia é um erro ideológico e estético.' E preciso
rcspondcra um momcntoaindaincomplctoda críticaao populis-
mo.Quâl a composição do movimcntopopu-
socialc dc intcrcsscs
lar?Estaé a pcrguntaa quco populismorcspondcmal. Porqucâ
composiçãodasmassasnãoé homogênca,parccc-lhcqucmaisvale
l. Ète aBumênlo é (hscnvotüdo poÍ Adorno, cm sat| ã|s.lo sobrc 6 cÍiÉlioc dâ misice
uní-laspclo cntusiasmo quc scparáìaspcla anâlisccÍÍticadc scus nova,qÌr'ndo confrqlts Schõôb€r8e Wcbem,ln tr at&/i8ltr. t, Sìthkrnp vcÍ'lt8
intcrcsscs.Entretanto,somcntcatravésdcsta crÍtica surgiriam os o
2. Num cnrGvista trâduzids cm Paíisars n 47 (Prrls, Mdspêto),t6é Cclso crPlic.:
vcrdadsiros temasdo tcatropolltico:asaliançasc osproblcÍnasde 'Fi.fim, é umr relaçãodc lutr, üma lüta enllt 6 itoírs ê o púbüco.(..') A pc,çeo e8.idc
organização, qucdcslocamnoçõcscomosinccridadc c cntusiasmo intelccturlmentc,foÍmalmentq sexualmenl,e, polltioÍtrGnrô.QueÌ dizer que al. quslifica
parafora do campodo univcrsalismo o Gspoctrdordê cÍEtino, rcprimirlo c reaciodrio E nó6 mcsmotanrbém€'rtrm6 nastc
burguês.PoÍ outrolado,isto banho" (pg 75). "sc tomamoceste público cm sat cúJunto. r única pcttbüidedc dc
não qucr dizcr qucchcgandoa catcsassuntoso tcatro vá mclhorar. $bmcltlo . umr .çÂo politicâ efi(rz Í€sidc rú dcatntiçõodc scl|s mêcanisno6dc t!È
Talvezncln scjapossívclcnccná-lo.É vcrdadctambémquc os mc- fcss. dc rodãsrs su&tJugficsçõ.s m.niqucúslrsGhidoticist s Crcluso qomdo chs sc
lhorcsmomcntosdo ,{rrra cstivcramligadosà sualimitaçãoidco- rÉi.m cm GÍeÍnscl, t)kács c otm6). Trrts-sc dê Êlo cir san lu8eÍ, dc .cduzi_lo .
lógica,à simpatiaincondicional pcloscupúblicojovcm,cujo scnso zcm, O piblico tcprscaia uÍn elc msis q| |tran6 privil€tldrs dcí! Pds, r .b quc
b€nefici& afuúa quc mediocí€mcoi€,dc todr r faltr dc históÍiô e dê toda r csL8nação
dcjustiça, cujaimpaciência,quetêmccrtam€ntÊvaloÍ polltico, Íize- dcse Siga.rtardonnccido quc é o BrGiL O tcâtÍo l,cmnccassldsdchoj€ de dasmiíilicar,
ram indcvldamcntcasvczccdc intrrcsscrcvolucionáriopuro c sim- dc colocar cstc público cÍtr scü €stedo oriSlnNl, frÊntc r fEntc com . su& trandc
plcs.Em fim dc contas,é um dcscncontro comumommatériaartís- miséúa, a misé.la do pe4uenoprivilégio.obtido cm túcâ dê tantasconccssões,tonlos
tica: a cxpcriênciasocial cmpurra o aÍtista para as formulações oponunismosrtanlrs castÍaçôcs,tantc recrlqucs, cm arocade loda s miúÍia dc üm
povo. O que imporrs é deirú esie pìiblico cÍn cstsdo dc nudez tolel, sêm defêss, c
tncití-lo ò iniclôlivâ, à cÍisgão de um câmiúo novo, inéilto, fom dc lodos 6 oporlu_
nismos csilbclccidG (que scjam qr não b6tiz.d6 da úarrislas)' A clidcia pollticr
quc sc podc cspcrar do tcatro Íro quc diz rcspclao! rstc !Éto. (pcqü.nr buEpcsis) 5ó
l. Pt Ílcio I nmd.ntcs.ApcerédçG.cu|r cri c A.8ql, Prn umr diruIo dê podc aí.r nr c.Fcìdsdc dc ajudsÌ rs P€ssoasr conpÍc.nd.r r ncc6sidtdc dr iÍricla-
"H.Íóir coodntrt" , qi Tcorb c Prótt@,
lllhfdi d.|tr tcoÍir vçÍ A. RoacÍ|íGld, tivô iídividurl, r inici.aiv. quc lcv.r{ 6d. qu.t rjotar r sur própri. Pcdti con_
nr 2.
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massacÍa-la. Ela, por outro lado,gostade scr nrassacrada ou vcr
massacrar,e asseguraao Olìcina o mais notávelêxlto comercial.É fila era aganadoc sacudidopelosatores,queinsistemparaque ele
o problcmadcstet€atro. Para compreendê-lo.convémlembrar que "compre!". No corrcdordo teatro,a poucoscentímetÍosdo nariz
nesscmcsmotcmpo se discutiumuito a peÍspectiva do movrmento do público,as atrizcsdisputam,estraçalham e comemum pedaço
estudantil: seria determinada por sua origem social, pequeno- de tígadocrú, quc simbolizao coraçãode um cântoÍmilionárioda
burguêsa,ou repÍ€sentauma função social peculiar - em crisc - TV, que acabade morÍcr. A pura noiva do cantoÍ, depoisde pÍosti-
com intcrcssesmais radicais?O ,lrezo adota estascgundareiposta, tuiÍ-sc, é coroada raínha do rádio e da televisão;a sua figura, de
em que funda a sua rclaçãopolítica e positivacom a platéia;em dc- manto e coroa, ê a da Virgem. Etc. Auxiliado pelosefeitosde luz, o
corÍênciaos seusproblemassão novos,ant€cipandosobreo teatro clima destasccnasé dc rcvelação,e o silèncio na sala é absoluto.
numa sociedadcrevolucionária; mas têm também um traço de Por outro lado, é claro também o elaboradomáu-gosto,evidente-
voto-pio, pois o suportereal destaexpcriênciasão os consumidores mcnte intencional, de pasquim, destas construções"terríveis".
que estão na sala, pagandoe rindo, em plena ditadura. O Ofcina, Terríveisou "teÍÍíveis"?lndignaçãomorâl ou imitaçãomalignai
queadotou na práticaa primeira rcsposta,põe sinal negativodiante lmitaçãoe indignação, levadasao extrêmo,transformam-se uma na
da platéia cm bloco, sem distinções.PaÍadoxalmente,o seu êxito outra,uma guinadade grandeefeitoteatral,em queseencerrae ex.
entr€ os estudantes,em esp€cialentre aquclcsa queo resíduopopu- põ€com forçaartísticaumaposiçãopolítica.A platéia,por suavez,
lísta do Árena irritava, foi muito grandc;estesnão seidentificavam choca-se tÍês,quatro,cincov€zescom a operação, c cm scguidafica
com a platéia,mascom o agressor.De fato, a hostilidadedo Of;cí deslumbrada, pois neo espeÍavatanto virtuosismoondc supuscra
na cÍa uma r€spostaradical, mais radical que a outra, à derrota de uma crise.Estejogo, em que a última palavraé sempredo pâlco,
64; mas não era uma respostapolítica. Em conseqüência, apesarda cstâcoÍÍida no interiorde um círculode posiçõesinsustcntávcis. é
agrcssividadc,o scupalco represcntaum passoatrás:é moral e inte- tafvez a cxperiênciaprincipal proporcionadapelo Olìcina. I)e mz-
rior à burgucsia,reatou com a tradição pré-brcchtiana,cujo espaço neira variada, ela se repetee deveser analisada.Nos cxemplosquc
dramâticoé a consciênciamoral dasclassesdominantes.Dentro do dei, combinam-sedois elementosde alcancec lógica artistica difc-
recuo,cntrctanto,houvecvolução,mesmoporque historicamentea rentes.Temâticamente sãoimagensde um natuÍalismode choquc,
rcpetiçâonâo existe:a crise burguesa,dcpois do banho de marxis- caricato€ moÍalista:dinheiro,sexo,e nadamais.Estãoligadascon-
mo que a intelcctualidadetomara, perdeutodo crédito, e é repetida tudo a uma açãodiretasobreo público.Estesegundoclementonão
como uma espécie de ritual abjeto,destinadoa tirar ao públicoo seesgotana intenção€xplícitacom que foi usado,de rompera cara-
gosto dc vivet. Cristalizou-seo sentidomoral que teria, para a faixa paçada platéia,para que a críticaa possaatingirefetivamcnte. SeL
de classcmédia tocadapelo socialismo,a reconvèÍsãoao horizonte alcanceculturalé muito mâior.e dificil de medirpoÍ enquanto.To-
burguês.Entreparêntesis, estacÍisetemjá suaestabilidade,e alber- candoo espectador, os atoresnão d€sÍesp€itam somentca linhaen-
ga uma populaçãoconsidcrávelde instalados.Voltando, porém. tÍe palco e platéia, como também a distânciafisica que é de rcgra
com violência desconhecida - mas autorizadapela moda cênicain- entrecstÍanhos,€ sema qual não subsiste a nossanoçãode indivi-
ternacional,pclo prestígioda chamadadcsagregâção da cultura eu- dualidade. A colossalexcitaçãoe o maFestarque se apossamda
ropéia, o que excmplifica as contÍadiçõ€sdo imperialismo neste sala vêm, aqui, do risco de generalização:se todos se tocassem?
campo - o OJìcinaatacavaas idéiase imagensusuaisda classemé- Tambémnos outrosdoisexemplosviolam-setabus.Porsualógica,
dia, os seusinstintos e sua pessoafïsica.O espcctadorda primeira a qual vem sendodesenvolvidaao que pareccpe.loLiving Theqret,
estesexperimentosseÍiaÍnlibertá os, e fazem parte de um movi-
mentonovo,em que imaginação e prática,iniciativaartisticae rea-
tÍa o rbsurdo baasilciro"','. "Em rclaçãoa cstcpúbliqo, gz?rlio di semanilestal
ção do públicoestãoconsteladas de maneiratambémnova.No Ol-
enquantoclasse,z eficàciapolitica dc urnapcçamcdc.scmcnospclajusiezaáe um cinr, contudo, são usadoscomo iniulÍr. O espectadoré tocadopara
cÍitériosociológrcodadoquc pclo scunivèldc agrcssividadc. Ëntrá nós.nadase que mostreo seumedo,não seudesejo.É fixadaa suafraqueza,e
laz com lrbcÍdade.e a aulpano casonâo é só da censura"r. não o seuimnulso.Seacasonão ficar intimidadoe tocar uma atriz

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por sua vcz, causadesarranjona cena.quc não cstá pÍcpaÍadapaÍa ao cnterrar o libcÍalismot€ria prcnunciadoe favorecidoo fascismo
isto. Ao quc pudc obscrvar. passa-sco s€guintc:paÍtc da platéia Hoje,dado o panoÍamamundial.a situaçãotalvczestcjainvcrtida.
idcntifica-scao agÍessor.às cxpensasdo agredido.Sc alguém,dc- Ao mcnosentÍc intel€ctuais,cm tcrra de libcralismocalcinadopa-
pois dc agarrado,sai da sala, a satisfaçãodos quc ficam é enormc. rcc€que nascrou nadaou v€gctaçãodc esqucrda.O O/cino foi ccr
A dcssolidarizacão diantc do massacrc. tamentc paÍtc ncsta campanhapela tcrra aftazada.
a deslcaldadc criadano in-
tcrior da platéiasâo absolutas,e repetcmo movimcntoiniciado at1
pclo palco.Origina-scuma cspécicde compctição,uma cspiralde
durcza em facc dos choquesscmprc rcnovados.€m quc a própria Em seu conjunto, o movimentocultural destesanos é uma
intcnçâopolíticae libcrtáriaquc um choquepossatcÍ sc perdec sc espéciede floraçãotardia,o fruto dc doisdecênios de dcmocratiza-
invcrtc. As situaçõesnâo vâlcm por si, mascomo partc dc uma pÍo- ção,quevcio amadutecer agora.em plcnaditâduta,quandoassuas
va gcral dc força, cujo idcal cstá na capacidadcindcíinida dc ic de- condiçõessociaisjá nãoexistcm,contcmporânco dosprimciroscn-
sidcntificar c de id€ntiíìcâÍ-scao agÍcssorcolctivo. É disto quc sc saiosde luta aÍmadano país.A diÍeitacumprea tarefainglóriade
rata, mais talvcz quc da supcraçãodc prcconccitos.Por seu con- lhe coÍtar a cabcça:os scusmelhorescântoÍcse músicosestivcram
teúdo,cstemovimcntoé dcsmoralizantc ao cxtremo:mascomo cs- prcsose estãono cxílio,oscineastas brasileiros filmamem Europae
tamosno tcatro,€lcé tambémimagcm.dondea suaforçacrítica.O África,professores vão
€ cientistas embora, quândo não vão paraa
que nclcseÍìgura,criticac cxcrcitaé o cinismoda cuhuraburguêsa à
cadeia.Mas, também csqucÍda a sua situação é complicada, pois
diantc de si mcsma.Sua bascformal,aqui, é a sistcmatização do se é pÍóprio do movimento cultural contcstar o poder, não tem
choque.o qual de recursopassoua princípioconstÍutivo.OÍa, a como tomá-lo.Dc quc servea heg€monia ideológica, se não s€tra-
dcspcitoe por causadc sua intcnçãopÍcdatóÍia, o choqu€sistcmati- duz cm forçaÍïsicaimcdiata?aindamaisagora,quandoé violcntís-
zado tcm compromissocsscncialcom a oÍdem cstabclccidana cabc- sima a rcprcssãotombando sobrc os militantes.Seacrescentarmos
ça dc scu público, o quc é justamenteo scu paradoxo como forma a enormc difusão da idcologia guerreira e voluntarista. começada
aÍtística. Não tem linguagcmpÍópria, tcm quc cmprcstáJascmprc com a gu€rÍilha boliviana,comprecndc-sc quc s€jabaixo o prestígio
dc sua vítima, cuja cstupidczé a carga de explosivo com quc clc da cscrivaninha. Pressionada peladiÍcita c pclaesqueÍda, a intclcc-
opera.Como forma, no caso,o choquercspondcà dcscspeÍada ne- tualidadeentraem criseaguda.O temadosromances e filmesPolí-
cessidadcde agir, dc agir diÍctament€sobrc o público; é uma espé- ticosdo p€ríodoé,justamentc,a convcÍsãodo intclcctualà mililân-
cic dc tiro cultuÍal. Em conscqüênciaos scus problcmas são do cia. ' Sc a suaatividadc,tal como historicamcnte sedefiniuno país,
domínioda manipulaçãopsicológica, da cficácia- a comunicação é não é maispossível, o que lhc rcstasenãopassarà luta dirctamcnte
procurada,como na publicidadc.pcla titilaçâo dc molas sccretas- política?Nos mcsesquc scpassaram cntreasprimeiraslinhasdcste
problcmas que não são artÍsticosno essencial.Qucm qucr chocar panoramac a sua conclusão,o cxpurSo univcrsitáriopÍosscguiu,c
não fala ao vento,a qucm cntrctantotodo artistafalaum pouco.E foi criadaa ccnsurapréviade livros,afim de obstarà pornograÍìa.
qucm faz política, não qucr chocar.-.Em suma, a distânciacntÍc A primeirapublicaçâoenquadradafoi a última cm que ainda se
palco c platéia está fÍanqucada, mâs numa só direção. Esta dcsi-
gualdadc,que é uma dcslealdade maisou mcnosconscntida,não
maiscorrcspondc a qualqucrprcstígioabsolutodc tcatroc cultura, |. Pessach, a lravettio,Íomancc dc CsÍlos HaitoÍ Cony (Ed. CivihzaçàoBÍaiilcir'):
ncm por outro lado a uma rclaçãopropÍiamentepolítica. Instalan- dc Chub'Í
Qturup, roííaítcaóc AntonioCallado( E C.B l. Tz,ro am Tmnse'Ílínc quc
R*hà; O Desalìo,filmê dc PsuloCcsaÌ Serraceni.É intcÍGssantc nolâr o cn'
do-seno dcscampadoquc é hojc a idcologia burguêsa,o OJìcinain-
rêdo dá convcriÀorcsultamaispolitico c artisticamcntclimpo sco scl' ccntÍo nào
venta c cxplorâjogos apropriadosao tcÍrcno, torna habitável,nau- é o irltclcctual,mas o soldadoi o camponês'como cm or FL,ri, dc Rüi Cucrre
scabundoc divcrtido o 6paço do nihilismo dc após:-ó4.Como en- Deus. o Diobo,dc Claut€Í Rocha ou /rdzs Sccas,dc Nclson P'rcl'a dos sentos
tão afirmar que cstctcatro conta à csqucrda?É conhccidoo "pessi- Ncstcscasoa.a dcspropoÍçãofantasmalda3cÍilas moÍ8is fica objctivadaou dcsa-
paaccc,impcdindo a trrma dc amaranhaÍ-scno incsscncial.
mismo dc olé" da Rcpúblicadc Wcimat, o Juchcepessimismus, 9úe
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manifestava,muito s€letivae dubiamente,o espíritocÍítico no país; nião, c só a partir dc scuscfcitos,hojc é provávelquc um de seusco-
o semanárioPasquim'. Noutras palavras,a impregnaçãopolítica e lcgassejamilitar. A longo prazo €stasituaçãolcva os problemasda
nacionâlda cultura,que é uma partegrandeda sua importância, vida civil para dcÍrtrodas ForçasArmadas.De imcdiato,porém,
dcvciácedero passoa outrasorientações. Em conseqüência ouve- tÍaz a autoridadedestaspaÍâ dentrodo dia a dia. Nestascircuns-
sedizerquea Univcrsidade acabou.cinemae teatroidem,dcmissão tâncias,uma fraçãoda intelectualidâd€ contÍáÍiaà ditadurâ,ao im-
coletivade professoresetc. Estascxpressõcs,que atestama coerên- pcrialismoe ao capital vai dedicar-seà rcvoluçâo,c a parte Ícstant€,
cia pessoalde qucm as utiliza, contêm um erro de Íâto: as ditâs ins- semmudar de opinião, fcchaa boca, trabalha, luta cm €sÍerarcstÍt-
tituiçõescontinuam,emboramuito controladas.E mais,é pouco ta e €spcÍapor temposmelhorcs.Naturalmcntehá defccções,como
provávelque poÍ agorao governoconsigatransformá-las substan- em abril de ó4, quandoo cmpuxetcórico do golpelcvou um bata-
cialmente.O quc a cadadcsapertopolicialse viu, em escalanacio- lhão de marxistasacadêmicos a convcÍterem-se ao €strutuÍalismo.
nal, de ó4 até agora,foi a maréfantásticada insatisfação populal, Um casointeressante de adesãoartísticaà ditaduraé o de Nelson
caladoa força,o paÍsestáigual, onde Goulart o deixara,agitável Rodrigues,um dramaturgodc grandereputação. Dcsdemeadosde
como nuncâ.A mcsmapermanência talvezvalhaparaa cultura,cu- óE esteescritoÍ cscreve diariamente uma crônica em dois grandes
jas molas profundassão dificeis dc tÍocar. De fato, a curto prazo a jornaisde SãoPauloe Rio, em que atacao cleroavançado, o movi-
opressãopolicialnada podcalémdc paralizar,pois não se fabrica mcntoestudantile a intelectualidade de esqucrda. Valea penamen-
um passadonovode um dia parao outro.Que chancetêm os milita- cioná-lo,pois tendorecuÍsosliteráriose uma certaaudáciamoral,
res de tornar ideologicamente ativas as suas posições? Os pró- pagaintegrale explicitâmentc - em abjeção- o prcçoquehojeo ca-
ameÍicanos, queesteono poder,nenhuma;a subordinação não ins- pital cobra de seuslacaiosliterários.Quandocomeçoua série,é
piÍa o canto,e mesmoseconseguem dar uma soluçâode momento fato que produziasuspense na cidade:qual a canalhiceque Nelson
à economia,é ao preçode não transfoÍmaremo paíssocialm€nte, Rodriguesteriainventadoparaestatardc?Seurecursoprincipalé a
nestascondições, de misérianumerosae visível,a ideologiado con- estilização da calúnia.Por exemplo,vai à meia-noitea um tcrÍeno
sumoserásempreum escárnio.A incógnitaestariacom os militares baldio,ao encontrode uma cabrae de um padrc de esquerda,o
nacionâlistas, que parâ fazeremfrenteaos EstadosUnidos teriam qual nestaoportunidadelhe rcvelaas razõesverdadciras e inconfes-
que levar a cabo algumareforma,que lhes desseapôio populaÍ, sáveisdc suaparticipaçãopolítica;e conta-lhetambémquc D. Hel-
como no Peru.É onde apostao P.C. PoÍ outro lado,os militarcs der suportamal o inalcançável prcstígiodc Cristo.NoutÍâ cÍônaca,
peruanospaÍcccmnão apreciaro movimentode mâssas... Existe afirma de um conhecidoadvcrsáriocatólicoda ditâdurâ.que não
contudo uma presençacultural mais simples,de eÍeitoideológico pode tirar o sapalo.Por que?Porqucapareceria o seupé de cabra.
imediato,quee a presença física.É um fatosocialtalvezimportante Etc. A finalidadecafageste da fabulaçãonãoé escondida, pelocon-
que os militaresestejamentrandoem massapara a vida civil, ocu- trário, é nela que está a comicidadedo recurso.Entretânlo,se é
pandocargosna administração públicae privada.Na provínciaco- transformadaem métodoe voltadasemprecontraos mesmosad-
meçamâ entrartambémpara o ensinouniversitário, cm disciplinas v€rsários - contÍaos quaisa políciatambéminveste- a imaginaçâo
técnicâs.Estapresença difusados ÍepÍesentantes da ordemalterao abertamcntemcntirosac mal-intencionada deixade ser uma bla-
clima cotidianoda reflexão.Ondeant€Íiormente o intelectualcon- gue,e operaa liquidação,o suicídioda literatura:como ninguém
versavae pensavaduÍanteanos,scmsofrcÍ o confrontoda autori- acreditanas razõesda dircita,mesmoestandocom ela, é desneces-
dade,a qual só de raro em raro o tornavaresponsável por suaopi- sárioargumentare convencer. Há uma certaadequação formal,há
verdadesociológicanestamalversaçâo dc recursoslitcrários:ela re-
gistra.com vivacidade, o vale-tudoem quc cntroua oÍdcm burgue-
sa no Brasil.- Falamoslongamcntcda cultura brasilcira.Entretan-
| . O Pasquitnnão foi lichado. Fica o crro scÍncorrigir. cm homcnâgcmros numcro- to, com regularidade e amplitude,ela não atingiÍá50.000pessoas.
sosfirlsosalarmesque atormcntlvamo cotidianodâ época, num paísde 90 milhões.É certoque não lhe cabea culpado impe-
90 ol
Íialismoe da socicdade de classes.Contudo.sendouma linguagem
exclusiva. é cerlotambémque.sobesteaspcctoao menos,contribui
paraa consolidação do privilégio.Por razõeshistóricas, de queten-
tamos um esbôço,cla chegoua reflctir a situaçâodos que cla ex-
clue.e tomou o seuDarlido.Tornou-seum abcesso no interiordas
classes dominantes. É claroque na basede suaaudáciaestavaa sua
impunidade.Não obstante.houveaudácia.a qualconvergindo com
a movimentação populistanum momcnto.e com a resistência po.
pular à ditaduÍanoutro,produziua cristalização de uma novacon-
cepçãodo pais.Agora,quandoo Estadoburguês- quenem o anar-
fabetismoconseguiureduzir,que não organizouescolaspassáveis,
que nãogcneralizou o acesso à cultura,queimpediuo contatoentre
os váriossetoresda população- cancclaaspróprialiberdades civis,
que sãoo elementovital de suacultuia.estavê nasforçasque ten-
tam derrubá-loa suaespcÍança. Em decorrência, a produçãocultu-
ral submete-se ao infra-vermelho cujo resultado
da luta de classes,
não é lisonjeiro. A culturaé aliâdanaturalda revoluçâo, masesta
nâo scráfeita para ela e muito menospaÍa os intcleciuais.É feita,
primariamente, afim de expropriaros mciosde produçâoc garantir
trabalhoe sobrcvivência digna aos milhôcse milhõesde homens
que vivem na miséria.Quc interessctcrá a revoluçãonos intelec-
tuais de esquerda,que eram muito mais anti-capitalistas elitários
que propriamentesocialistas? Deverãotransformar-se, reformular
as suasrazões,que €ntretantohaviam feito delesaliadosdela. A
Histórianãoé uma velhinhabenigna. Uma figuratradicional da li-
teraturabrasileiradestcséculoé o "fazendeirodo ar"': o homem
que vem da propricdadcrural paraa cidade,onde recorda,analisa
e crilica. em prosae verso,o contatocom a terÍa,com a família,
com a tradiçâo€ com o povo, queo latìfúndiolhe possibilitara. Éa
litcrrtura da decadência rural. Em Quarup,o romanceideologica-
nrentemais Íeprescntativo para a intelectualidade de esquerdare-
ccntc,r.ritinerárioé o oposto:um inielectual,no casoum padrc,via-
ja geogrúficue socialmente o país,despe-se de suaprofissãoe posr-
çìo social.à procura do povo, em cuja luta irá seintegrar- com sâ-
bcdoriuliterária- num capítuloposteriorao último do livro.

L Título dc um tivÍo dc pocmasdc Carlos Drummonddc AndÌadç.


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