Você está na página 1de 165

Friedrich Holderlin

BIBLIOTECA PÓLEN A MORTE DE EMPÉDOCLES


Para quem não quer confundir rigor com rigidez, é fértil considerar que a filosofia não é somente uma
exclusividade desse competente e titulado técnico chamado filósofo. Nem sempre ela se apresentou em público
revestida de trajes acadêmicos, cultivada em viveiros protetores contra o perigo da reflexão: a própria crítica
da razão, de Kant, com todo o seu aparato tecnológico, visava, declaradamente, libertar os objetos da Tradução e estudo
metafi'sica do "monopólio das Escolas': Marise Moassab Curioni
Ofilosofar, desde a Antiguidade, tem acontecido na forma defragmentos, poemas, diálogos, cartas, ensaios,
confissões, meditações, paródias, peripatéticos passeios, acompanhados de infindável comentário, sempre
recomeçado, e até os modelos mais clássicos de sistema (Espinosa com sua ética, Hegel com sua lógica, Fichte Prefácio
com sua doutrina-da-ciência) são atingidos nesse próprio estatuto sistemático pelo paradoxo constitutivo que Antonio Medina Rodrigues
os faz viver. Essa vitalidade da filosofia, em suas múltiplas formas, é denominador comum dos livros desta
coleção, que não se pretende disciplinarmente fzlosofica, mas, justamente, portadora desses grãos de
antidogmatismo que impedem o pensamento de enclausurar-se: um convite à liberdade e à alegria da
reflexão.

Rubens Rodrigues Torres Filho Edição Bilingue


Biblioteca Pólen
dirigida por Rubens Rodrigues Torres Filho e Márcio Suzuki

Copyright © 2008
Marise Moassab Curioni

Copyright © desta edição


Editora Iluminuras Ltda.

Capa ÍNDICE

Estúdio A Garatuja Amarela
sobre Dead Poet VI (1992), bronze pintado [54 x 45 x 25 cm], Jim Amaral.

Revisão do português
Ariadne Escobar Branco A HORA DO ORAL: SOBRE HOLDERLIN ................................................ 11
Virgínia Arêas Peixoto
Antonio Medina Rodrigues
(Este livro segue as novas regras do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa.)

SOBRE O EMPÉDOCLES DE HOLDERLIN .......................................... 1 7


Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Marise Moassab Curioni
( Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Hólderlin, Friedrich
A morte de Empédocles / Friedrich Hõlderlin
traduçáo e estudo Marise Moassab Curioni. —
Sáo Paulo : Iluminuras, 2008.
AS VERSÕES DO DRAMA ........................................................................... 81
Título original: Der Tod Des Empedokles
Edição bilíngue: português/alemão
Bibliografia
ISBN 978 - 85 - 7321 - 276 - 1
A MORTE DE EMPÉDOCLES 83
1. Hõlderlin, Friedrich, 1770-1843. A morte de PRIMEIRA VERSÃO
Empédocles - Crítica e interpretação 2. Teatro
alemão I. Título.

08-01145 CDD-832
A MORTE DE EMPÉDOCLES .................................................................. 243
Índices para catálogo sistemático: SEGUNDA VERSÃO

1. Teatro : Literatura alemã 832

A MORTE DE EMPEDOCLES .................................................................. 297


2008
TERCEIRA VERSÃO
EDITORA ILUMINURAS LTDA.
Rua Inácio Pereira da Rocha, 389 - 05432-011 - Sâo Paulo - SP - Brasil
Tel./Fax: 11 3031-6161
iluminuras@iluminuras.com.br
www. iluminuras. com . br
Dedico meu trabalho no drama A Morte de Empédocles a Dora Ferreira
da Silva a quem devo o incentivo, o estímulo e a ajuda. Com ela nos emocionamos
na releitura do texto, vivenciando horas de encantamento. Quis o destino que
ela se fosse e não escrevêssemos juntas a apresentação à tragédia.
A HORA DO ORAL:
SOBRE HOLDERLIN

Antonio Medina Rodrigues


Este livro não traz apenas a grande poesia (trágica) de Hõlderlin. Traz, por
igual, uma tradução excelente. Por isso, quem o compulsar, talvez em livraria,
poderá surpreender-se da expressão límpida e da fluência com que Marise Moassab
Curioni passa do alemão ao português esta sua versão do Empédocles. Há muitos
tipos de tradução poética. Há traduções que são exatas, e por isso pode-lhes faltar
certa elegância; há também as que são elaboradas, e se tornam difíceis por isso,
como há também as redutoras, as elementares, em que o princípio da facilidade é do
interesse alheio, e, portanto, alheio a todo princípio real. Quanto à naturalidade,
muita coisa poderá ser dita, e inclusive contra ela. Vou falar apenas de uma ideia,
que é a que mais me impressionou, e que é simples. Advirto que ela parecerá esquisita,
mas como também é simples, espero mostrar isso aos que me leem. Ou então que me
convençam do contrário disso um dia.
A saber, há muito tempo venho reparando em como o povo fala bem. E não
apenas o pobre. Os ricos também falam. E não estou dizendo que falam bem o que
falam, pois isto é relativo à precisão das coisas transmitidas. Estou falando em falar
bem, pouco importando o acerto ou desacerto do que se fale. Pois grandes tolices ou
genialidades são ditas com a mesma qualidade musical. Então é disso que eu estou
a falar: a qualidade musical da língua é a mais universal e a mais democrática
possível. É a que ocorre na fala descontraída e livre, naquela fala em que não
precisamos pensar em que estamos a falar. Portando, este não é o caso dos que
pensam para falar, dos que discutem, por exemplo, estética, fenomenologia,
jurisprudência etc. Porque a estes se impôe que dominem uma técnica que atue
pontualmente em sua fala. Então nesse caso o que nós temos é um tipo de arte ou
manipulação de recursos. Quanto a isto, quem falou melhor que Cícero? Foi
deslumbrante, um verdadeiro imperador do verbo, a crer que seus escritos foram
feitos após ter haver ele falado. Outros, porém, e com a mesma erudição de Cícero,
não conseguiram nada. Porque não foram criativos. De uma técnica, é possível se

13
Os medrosos, e cada um na morte
extrair paixões ou magias. O que significa que não é a técnica que determina a alta Retorna ao elemento; então
qualidade, é o talento criador que faz a técnica brilhar no palco. Eis aí, portanto, Se reanima como no banho lustral para uma
os dois aspectos de uma boa tradução: não contrariar a fala, essa fala em qualquer Nova juventude. Aos homens é concedida a grande
língua, tão modesta e eficaz que ninguém consegue percebê-la (só percebe quando o Dádiva de retornarem, rejuvenescidos.
artista força, ou enfatiza, ou chama para si atenção etc). Tudo, afinal, que é belíssimo
não se percebe. Ou só se perceberá depois. Claro, há belezas que encantam cara a A frase corre lisa, tudo concatenado a tudo, sem paradas para se rastrear alguma
cara. Impressionantes. Porém técnicas. coisa secundária. Na verdade, um único pensamento existe aí, que vai crescendo,
Quais técnicas, afinal, deve empregar um tradutor? Por certo as mínimas até chegar ao argumento da sensibilidade. É a sabedoria que fala, é o pensamento que
necessárias. Ou então aquelas que, por essência, participem da finalidade última se mostra. Hõlderlin é poeta de pensamento, é um filósofo, que viveu entre filósofos.
do texto a traduzir-se. Não posso traduzir o impressionismo sem as artes dessa Escola. Então o pensamento flui, pois a poesia brota junto dele mesmo, em pleno e mútuo
Tenho de curvar-me aos instrumentos. Pode-se traduzir Gôngora sem hipérbatos, coração. Para que a tradução transcorra plena (e não se perca nada) a leitura deve
sem rimas? Gôngora é o paraíso da técnica, e houve, por isso, muitos Gôngoras, nas ter uma iluminação da prosa (não prosa no original, é claro, mas força de prosa na
Espanhas e fora delas. Ora, toda técnica, em poesia, deve ser atravessada pela tradução). O poema deve transparecer em sua neutralidade. Nada que for intencional
bênção criativa, caso contrário, fica nisso. E nem nisso às vezes. Nem pode um serve no caso. Também nada que for muito fora dos hábitos comuns da boca.
tradutor ter a mente voltada para uma fanática concentração nas formas, para os
meios gramaticais e sígnicos por que se produzem os sentidos, uma vez que estas A tradução agora apresentada segue verso a verso o original. Se nós quisermos
f ermas, sendo consideradas esteticamente, garantem o original no original, mas entender como pôde a tradutora a ela chegar com eficácia tão visível, será preciso ver
não o original numa outra língua. Depois, há formas fossilizadas. Traduzi-las é o que ela mesma viu de essencial. Ouçamos Empédocles:
um bruto anacronismo, ou coisa pior.
Quando mencionei a qualidade extrema de toda e qualquer fala descontraída, Passemos o dia juntos e como
Adolescentes, conversemos sem parar. Seráfácil
não acrescentei que essa fala — nem sempre é tão natural quanto pensamos, pois
Encontrar uma sombra acolhedora,
tem duas coisas que podem falhar. São elas a sílaba sem música e o hiato asmático. Onde despreocupados, fiéis,
Não o hiato no meio das palavras, mas aquele que se posta entre as palavras de Manteremos uma conversa amáve l, como velhos e íntimos amigos! —
uma frase. Esse hiato descarrila a frase inteira, por exemplo em A freirinha ora ao Meu dileto! Muitas vezes saciamos o coração gentil
amanhecer. Creio ser impossível proferir essa frase de maneira natural, ou simples, Junto a Um cacho de uvas como meninos puros
ou atraente. E o fato de alguém perpetrá-la se funda no esquecimento do falar. Num belo momento,
E tinhas de acompanhar-me até aqui
Claro, um bom ator conseguiria dizê-la bem, mas com esforço artístico. No texto,
Para que nenhuma de nossas horas solenes,
entretanto, e escrita como está, indicará uma imperícia, um não saber, que, incluso Tampouco esta se perdesse por completo?
e injustamente, se poderá atribuir ao próprio autor do original, que geralmente Por certo pagaste um alto preço,
nada tem que ver com isso. Quando escrevemos, pensamos demais e perdemos o Mas também a mim os deuses pedem um pesado tributo.
ritmo. Como foi sábia a tradução de Marise. Sem qualquer hiato e sem tropeço:
O principal deste momento (e que se repete, sem medo de repetir-se) é que os
Não vos deixo perplexos, amigos são fiéis — (treuen) à acolhedora sombra, à conversa, e àquelas solenes
Caríssimos! Nada tendes a temer! Quase sempre horas, assíduas todas, como alguma Ananke, alguma fatalidade, válida, por
Os filhos da terra temem o novo e o desconhecido,
conseguinte, na poesia. Longe dos acordos, dos arbítrios, manifesta-se aqui uma
Só a vida das plantas e a do alegre animal
radical fidelidade às coisas, — não porque pertençam a nós de modo que delas
Aspiram ficar em seu canto, encerrados em si mesmos.
Confinados em seu âmbito, cuidam façamos gato e sapato, mas porque, ao contrário, nós é que pertencemos a elas.
De subsistir; sua mente nada alcança Despreocupados (unbesorgt) é que ficaremos, e o que vier — pois que então venha
Além, na vida. Mas devem sair por fim
15
14
sem excesso e sem carência. Cada coisa aí, cada elemento é só o que vier a ser, vale
dizer, é sem mistura: a sombra, o momento, o prosseguido conversar, o infalível da
presença, as solenes horas, tudo enfim que for da hora, e se a morte vier, não vem a
morte em hora errada. Estranho mesmo nesse mundo é o pesado tributo que produz
a cena trágica. Empédocles é, afinal, um perseguido.
Para sermos fiéis a Hõlderlin, nada do que aí se escreveu poderá ser ou querer ser
mais do que foi, ou, noutros termos, um absurdo viria a ser se ele quisesse, em qualquer
hora, para melhorar o seu poema, fosse com retórica, ou qualquer outro condimento. O
poema é o testemunho único da hora. O simples não pode ser planejado. Ou é ou não é.
Em Hõlderlin, não há poesia ingênua'; da que Schiller formulou, e que o poeta admirava. SOBRE O EMPÉDOCLES
Também nele não existe uma euforia ingênua (dessas que a ideologia alimenta) nem se
volta ele para os dados naturais como aos únicos possíveis, ou como aceitação do
Iluminismo, para quem a verdade e a natureza tendem a ser o mesmo. Ele a rigor não
DE HOLDERLIN
entendia a verdade como um imitar, ou obedecer a natureza, nos cânones da revisão
oitocentista de Aristóteles, e que sustentou uma poesia quase que sua contemporêna, nas
Arcádias e nas Academias. A ideia de Hõlderlin, diante desta situação, era diferenciar-
se, porque a diferença era seu próprio impulso, era ele mesmo a diferença. Não era o dele Marise Moassab Curioni
um caso de substância ou de categoria final do conhecer, mas um caso de werden, de vir
a ser da vida, onde o homem só determina por ser também determinado. Ele era
como Empédocles, que sabia tudo, mas aceitava tudo, para que nada precisasse
responder. Ele não 'responderia, por exemplo, à poesia de expressão verbal, aquela
em que as palavras são a última palavra.
Na poesia de Hõlderlin — muito mais do que verbais — os versos constituem
vivas ideias. O sentido (ou o pensamento) e as palavras nascem do mesmo impulso.
E tinha razão, dado aquilo que pensava. E a palavra prometeica é mais fácil de
entender pelo contrário dela: ela é única possível por não mais se repetir tal como
fora, por ter chegado a sua vez de dar seu salto para nunca mais, e, todavia, agora
e sempre. E concluamos com Pausânias:

Sim, certo,
Homem excepcional. Tão intimamente ninguém
Jamais amou, nem viu o mundo
Eterno, seus espíritos e forças
Como o fizeste; eis porque só tu também
Pronunciaste a palavra temerária e também sentes
Tanto, como por Uma palavra altiva
Te apartaste do coração dos deuses
Epor eles te sacrificas com amor,
Ó Empédocles!

16
Friedrich Hõlderlin foi quase esquecido por mais de cinquenta anos, no
século XIX, na Alemanha, apesar de haver sido aclamado calorosamente por
algumas vozes de renome, como, por exemplo, Achim von Arnim, Bettina von
Arnim, Clemens Brentano e Eduard Mõrike. Em 1861, Friedrich Nietzsche,
instado a escrever sobre seu poeta predileto, optou por Hõlderlin. Em 1873,
Nietzsche publicou Reflexões Extemporâneas', onde consta o esboço do drama
Empédocles, baseado na tragédia hõlderliniana. A escolha de Nietzsche do tema
da obra de Hõlderlin foi determinante para alterar o rumo e a profundidade
da pesquisa sobre o artista suábio nos últimos decênios do século XIX.
No início do século XX, o círculo literário de Stefan George encetou estudos
sobre os escritos de Hõlderlin, resultan do deles a publicação da produção completa
do poeta, em 1913, por Norbert von Hellingrath. Mesmo após o falecimento de
Hellingrath, em 1916, Friedrich Seebass e Ludwig von Pigenot continuaram a
edição da mesma. Este acontecimento cultural propiciou a análise e o
aprofundamento nos temas da obra do escritor, e, ao longo de qu ase três décadas,
surgiram muitos estudos críticos sobre o mesmo: foi encarado, a princípio, após a
Primeira Grande Guerra, como poeta da natureza; depois, durante o período nazista,
como se encarnasse o ideal do povo alemão. George Lukács levantou a discussão
em torno do trabalho artístico de Hõlderlin, sob o ângulo político.
Dos anos cinquenta a setenta, nos círculos literários franceses, os
Siglas utilizadas
pesquisadores Genevieve Bianquis, Maurice Delorme e Pierre Bertaux analisaram
Hjb: o anuário de Hõlderlin a composição literária hõlderliniana na mesma linha de Lukács. Sobretudo o
Kl StA: Kleine Stuttgarter Ausgabe: pequena edição de Stuttgart livro de Pierre Bertaux, Hõlderlin e a Revolução Francesa', levantou intensa
(página, verso (s)): padrão para citação de A Morte de Empédocles celeuma entre os pesquisadores alemães e estes prosseguiram a análise do escritor,
[ ]: Nota da autora
' NIETZSCHE, Friedrich. Unzeitgemasse Betrachtungen. I-III. Kroner, Stuttgart, 1873, pp. 18, 167 ss. e
Edição utilizada
228 ss. do v. 2. Id., 1861.
O texto da pequena edição de Stuttgart (K1 StA) serviu de base à tradução de Hõlderlin. 2
BERTAUX, Pierre. Hõlderlin and die Franzõsische Revolution. 2. ed. Frankfurt/M., Suhrkamp, 1970.
em especial da tragédia, sob o prisma histórico e sociológico nos anos setenta como à temática de parte de sua obra poética —, o interesse do autor pela Grécia
e oitenta. an tiga e pela Revolução Fr an cesa e o paralelismo existente entre eles.
Nos dias atuais, a crítica especializada volta-se, mormente, aos aspectos Ademais, os escritos do poeta demonstram a unidade de pensamento de
filosóficos dos escritos de Hõlderlin, a sua pertinência ao Idealismo alemão e a Hõlderlin, sua afinidade com o dos pré-socráticos, sobretudo no tocante à
facetas da poesia tardia e do período de insânia do autor suábio. É forçoso concepção de Tales de Mileto, defensor da ideia de que todas as coisas procedem
lembrar, neste contexto, a afirmação de Martin Heidegger: "Não existe o único da água, à de Heráclito, sobre a fluição de tudo, e à de Empédocles sobre os
caminho verdadeiro para se chegar à grandeza da poesia hõlderliniana" 3 . quatro elementos e o predomínio ora do ódio, ora do amor.
Em todo o mundo, continua-se a ler e a escrever, em número crescente, sobre Na obra A Morte de Empédocles ressaltam-se duas características primordiais
Hõlderlin, sua vida e obra. Peter Weiss escreve a peça Hõlderlin4 , em 1971, no dentre os atributos do elemento água: a de purificação e a de motricidade do
auge da efervescência em torno do as pecto político do trabalho literário hõlderliniano elemento. O movimento incessante e ascendente de todo o cosmo rumo à
e dedica uma cena do livro (segunda cena do segundo ato) ao drama A Morte de purificação, constitui a ideia central do drama hõlderliniano.
Empédocles. Peter Harding, no rom ance Hõlderlin. Um Romanceá, de 1976, elabora Esta dinâmica ascensorial do arquétipo da água impulsiona o protagonista
profundo processo de criação em base a criterioso material bibliográfico, do estado de escuridão ou inconsciência ao de consciência, ao afloramento da
reconstituindo a vida do autor suábio e toda a ebulição da época de 1789. missão poética, à amalgamação com o fogo e consequente alargamento da
Ao longo do século XX, poetas de várias origens, entre eles, em língua consciência. Passa, então, a preocupar-se com o bem-estar da comunidade,
alemã, Johannes R. Becher, Josef Weinheber e Rainer Maria Rilke, e em língua porquanto vislumbra o Um e Tudo (et Trayia). Destarte, o artista logra
portuguesa, Henriqueta Lisboa e Dora Ferreira da Silva, escrevem versos ao configurar tanto nos ensaios como na peça A Morte de Empédocles, o ideal de
escritor. atuar, de forma positiva, no coletivo, através da obra de arte, e, formular, com
Toda esta exaltação em torno da produção literária de Friedrich Hõlderlin antecedência de século e meio, questões concernentes à integração do
já revela a importância de seus escritos em nossos dias. No tocante à tragédia A inconsciente-consciente, tão atuais.
Morte de Empédocles, o dramaturgo transcende o real e revitaliza o mito em
consonância com o pensamento expresso por Sócrates, no Fédon, de Platão,
segundo o qual "um poeta para ser verdadeiramente um poeta deve empregar A VIDA DE FRIEDRICH HÕLDERLIN
mitos e não raciocínios". Tanto Sócrates como Hõlderlin tinham consciência
da missão do artista e este a extravasa com poderosa força criadora.
Nas cartas de Hõlderlin, elemento chave para a compreensão da vida e obra do "O ROSTO DE Hf5LDERLIN JOVEM
compositor, revela-se uma tessitura em que existência e arte se entrelaçam. Os O rosto de jovem: é táosomente um rosto estelar.
anseios mais intensos e os ideais do escritor exprimem-se nessas cartas, como A terra está sepultada sob as estrelas. É como se delas o rosto
manasse em profusao. Os olhos mal podem se abrir ante o
sementes que florescem em sua criação artística. As vicissitudes existenciais e o
chuvisco das estrelas. Mas a boca: um pouco aberta como a de
fervor do pensamento hõlderliniano que corre na linha fértil de uma plêiade de uma criança querendo sorver as gotas da chuva — assim a boca
filósofos e poet as que lhe são contemporâneos, ou o precederam imediatamente, está aberta a fim de sorver a chuva das estrelas ese detém no chuvisco
que delas cai. E se demora: um pouco aberta —, como se
encontram-se na produção epistolar do teatrólogo. Esta evidencia o entusiasmo
procurasse permanecer assim para detera estrela em seus lábios. " 7
revolucionário de Hõlderlin — subjacente ao tema de seu único drama, assim
"
HOLDERLINS JUNGLINGSGESICHT Das Jünglingsgesicht: es ist nur Sterngesicht. Die Erde ist vergraben unter den
"Den einzig wahren Weg in die Grosse des Hõlderlinschen Gedichtes gibt es nicht". HEIDEGGER, Sternen. Wie überrieselt von den Sternen ist es. Die Augen konnen kaum sich aufmachen vor dem
Martin. "Hilderlins Erde and Himmel". In: Erlauterungen zu Hõlderlins Dichtung. 4. ed. Frankfurt/ Rieseln der Sterne. Aber der Mund: er ist ein wenig geoffnet wie bei einem Kind, das vom Regen die
M., Klostermann, 1971, p. 153. A partir de agora: HEIDEGGER. Erlüuterungen zu Hõlderlins Dichtung. Tropfen einsaugen will —, so ist auch dieser Mund geoffnet, um den Regen. der Sterne einzusaugen, and
so halt er sich in das Rieseln, das von den Sternen auf ihn £á11t. Und wie er sich hinhált: ein wenig geoffnet
WEISS, Peter. Hõlderlin. Frankfurt/M., Suhrkamp, 1971.
—, so sucht er zu bleiben, damit auch der Stern auf den Lippen ihm bleibe." PICARD, Max. Das
HARTLING, Peter. Holderlin. Ein Roman. Darmstadt, Luchterhand, 1976.
Menschengesicht. Zürich, Rentsch, 1941, p. 190. A partir de agora: PICARD. Das Menschengesicht.
6 PLATÁO. Diálogos. Fédon. Sao Paulo, Abril, 1972, p. 67. A partir agora: PLATAO. Fédon.
O interesse de Hõlderlin voltou-se de modo especial para os estudos do
mundo helênico. Colaborou no campo da filosofia com Schelling e Hegel, na
formação inicial do Idealismo alemão. Escreveu os chamados "Hinos de
Tübingen", época em que sofreu acentuada influência de Schiller.
Em setembro de 1791, viu quatro de suas
poesias publicadas pela primeira vez no
Almanaque das Musas para o Ano de 1792
(Musenalmanach für das Jahr 1792) do amigo
Stãudlin. No ano seguinte, em setembro de 1792,
Stãudlin publicou os hinos mais importantes de
Tübingen no Florilégio Poético para o Ano de 1793
(Poetische Blumenlese fiir das Jahr 1793).
Em setembro de 1793, terminou o curso em
Georg Wilhelm Friedrich Hegel Tubingen.
Friedrich Gottlieb Klopstock
(1724-1803) (1770-1831) Por intermédio de Schiller e Stãudlin, o artista
foi convidado a trabalhar em Waltershausen, nas
proximidades de lena, como preceptor do filho
Friedrich Schiller
de Charlotte von Kalb, amiga de Schiller.
(1759-1805)
Hõlderlin enviou a Schiller o Fragmento de
Hipérion (Fragment von Hyperion), 8 em 1794, romance publicado na edição
de inverno da revista Nova Thalia (Neue Thalia), junto com a poesia O Destino
(Das Schicksal).
Em 1794, dirigiu-se a Iena com o filho de
Charlotte von Kalb, aí assistindo às preleçôes de
Fichte. Já então percebera o pouco talento do
Tübingen com a ponte sobre o Neckar, por pupilo e relatou o fato ao amigo e confidente, C.
volta de 1800 Ludwig Neuffer 9 . Ainda na mesma missiva de n.
88, o poeta contou-lhe do plano de escrever sobre
a morte de Sócrates, segundo os ideais dos dramas
gregos.

s HOLDERLIN, Friedrich. Briefe, v. 6. Sãmtliche Werke: Kleine


Stuttgarter Ausgabe. Beissner, Friedrich (ed.). Stuttgart,
Kohlhammer, 1965, carta 76, p. 124. A partir de agora: KI StA.
9
Ib., carta 88, p. 148 s., de dez de outubro de 1794. Hólderlin
manteve por longos anos a correspondência com o ex-colega do
convento de Tubingen, também poeta e mais tarde, pastor. Logo
nos primeiros tempos no convento, Hõlderlin, Neuffer e Rudolf
Gotthold Friedrich Striudlin F. H. Magenau, outro jovem que escrevia versos e depois tornou-
se pastor, firmaram um pacto de amizade, nos moldes utópicos
O convento evangélico de Tübingen, (1758-1796)
dos ideais de liberdade e amizade de Klopstock.
por volta de 1830
Estreitaram-se os laços de amizade entre Em fins de dezembro de 1795, assumiu o cargo de preceptor em casa do
iturtnailltalt4.
Hõlderlin e Schiller, porém, o primeiro sempre o banqueiro Gontard, em Frankfurt/M. Escreveu a Neuffer, em março de 1796, e
9',
considerou como mestre. Escreveu, em novembro la mentou o fato de Schiller não haver publicado o poema À Natureza em sua revista:
51;tbt 1 79 14
de 1794, a Neuffer acerca do desastroso encontro
qttasat•eies "parece-me que ele, Schiller, não teve razão nisso. Por sinal —, é-nos relativamente
com Goethe em casa de Schiller 10 . Sentiu-se cada
indiferente que uma poesia a mais ou a menos conste do Almanaque de Schiller.
vez mais desiludido com o discípulo; logo abandonou Oatttotb ariebrieb etaswi.. Seremos o que devemos ser, e assim nem a tua, nem a minha infelicidade nos afligirá." 14
o cargo de mentor". Ainda de Iena, a dezenove de
janeiro de 1795, escreveu a Neuffer sobre o convívio Hólderlin sentiu entretanto, no mais profundo do ser, o retraimento de
com Herder, Goethe e Schiller 12 . •tstttart,
Schiller em relação a ele, e exprimiu este sentimento ao artista eminente, em
- **its w ttst.t asot•
No final de maio de 1795, refugiou-se em carta de vinte de novembro de 1796 15
Nürtingen, abalado pela influência da filosofia de WNW t. ht se.t:1R114e5 Por estranha coincidência escreveu no mesmo dia à mãe e pela primeira vez
esAtrneeeN.
Fichte em seu espírito; deu vazão a esta emoção no lhe revelou sem rese rvas a convicção de que só poderia ser poeta. Disse:
poema intitulado À Natureza (An die Natur).
Revista de Sti udlin Almanaque
Escreveu de Nürtingen, a Schiller, a vinte e três de ju- "as ocupações que, por natureza e hábito, tornaram-se-me uma necessidade
das Musas para o Ano de 1792
lho de 1795, analisando seus sentimentos de discípulo: imprescindível e sem as quais não haveria para mim nenhuma ventura sobre a terra,
estas ocupações felizes ou pelo menos inocentes teriam de ser quase totalmente
"Tive de dizer a mim mesmo que nada sou para o senhor, de t an to querer significar- interrompidas se eu não transformasse toda meia-noite em did" 6
lhe algo." 13
Em carta a Schiller, de vinte de junho de 1797, de Frankfurt, expressou
com toda a franqueza seus sentimentos para com o dramaturgo, enfatizando
sobretudo apreensão pelo fato de sentir-se tão dependente da opinião do mestre
maduro, conforme o texto da mesma missiva:

"Tenho coragem e julgamento próprio suficientes para tornar-me independente


de outros juízes de arte e mestres; sigo meu caminho com a calma necessária, mas

^ "daran hat er, meines Bedünkens, nicht recht getan. Übrigens ist es ziemlich unbedeutend, ob ein Gedicht
mehr oder weniger von uns in Schillers Almanache steht. Wir werden doch, was wir werden sollen, und
so wird Dein Unglück Dich so wenig kümmern wie meines." Ib., carta 118, p. 221 s.
Frankfurt às margens do Meno í "Venerabilíssimo: (...) o total silêncio que o senhor mantém em relação a mim, faz-me sentir um tolo (...)
5

Lembro-me dos menores sinais de interesse do senhor para comigo. Certa vez, escreveu-me algumas
° Apresentado a um forasteiro em casa de Schiller, Hôlderlin não percebera quem fosse, nem lhe dera atençáo,
palavras, quando eu ainda habitava em Franken; sempre as relembro, todas as vezes que sou mal
entretendo-se apenas com Schiller, enquanto o desconhecido perm an ecia em silêncio. Schiller trouxe a
compreendido. O senhor acaso modificou sua opiniáo sobre mim? Abandonou-me? (...) Sei que não
revista Nova Thalia onde constavam o Fragmento de Hipérion e a poesia O Destino e mostrou-a a
descansarei até realizar algo de bem-sucedido e receber, de novo, um sinal de sua satisfação!"
Hõlderlin; porém o anfitrião ausentou-se da sala por uns intantes e o desconhecido, sem dizer uma
"Verehrungswürdigster: (...) Ihr gãnzlich Verstummen gegen mich macht mich wirklich blõde, (...) Ich
palavra, apanhou a revista da mesa e a folheou. Hõlderlin sentiu-se enrubescer e respondeu às perguntas
erinnere mich noch sehr gut jedes kleinsten Zeichens Ihrer Teilnahme an mir. Sie haben mir auch, da
da imponente personagem com frases monossilábicas. Só à nòite, veio a saber que o forasteiro era Goethe.
ich noch in Franken lebte, einmal ein paar Worte geschrieben, die ich immer wiederhole, so o ft ich
Apud: ib, carta 89, p. 152 s.
verkannt bin. Haben Sie Ihre Meinung von mir geãndert? Haben Sie mich aufgegeben? (...) Ich weiss,
" Charlotte von Kalb, reconhecendo profundamente o valor de Hõlderlin, escreveu a Schiller pedindo-lhe
dass ich nicht ruhen werde, bis ich durch irgend etwas Errungenes und Gelungenes wieder einmal ein
que recebesse o jovem poeta: "E que se transforme por fim em calma, moderaçáo e estabilidade a
Zeichen Ihrer Zufriedenheit erbeute." Ib., carta 129, p. 240 s.
inquietação desse homem. É uma roda que gira, rápida!!" "Und Ruhe, Selbstgenügsamkeit — und
"würden die Beschãfeigungen, die durch Natur und Gewohnheit, mir unentbehrliches Bedürfnis geworden
Stetigkeit werde doch endlich dem Rastlosen! Er ist ein Rad, welches schnell lãuft!!" Ib., comentário à
sind, und ohne welche für mich kein Glück auf der Erde geniessbar ist, diese frohen, wenigstens
carta 92, p. 537.
unschuldigen Beschãftigungen würden beinahe ganz unterbleiben müssen, wenn ich nicht jede
12
Ib., carta 93, p. 164-166.
Mitternacht zum Tage machen wollte," Ib., carta 130, p. 243.
13
"Weil ich Ihnen so viel sem wollte, musst ich mir sagen, dass ich Ihnen nichts ware." Ib., ca rt a 102, p. 190.
dependo muito do senhor; e porque sinto quão invencivelmente me é decisiva uma Revelou, em carta de doze de fevereiro de 1798 20 , ao irmão, o desejo de
palavra sua, muitas vezes procuro esquecê-lo para não me angustiar durante o trabalho.
;riar uma grande obra de arte que pudesse saciar sua alma sedenta de perfeição.
Pois estou certo de que justamente esta inquietação e este ac anhamento representam a
morte da arte; compreendo por isso muito bem porque é mais difícil exteriorizar a
Ao mesmo tempo, sofria profundamente o contraste que separava sua
natureza com exatidão num período em que já nos encontramos diante de obras- )ersonalidade do clima dos aristocratas de Frankfurt. Em novembro de 1797,
primas do que em outro em que o artista qu ase só se confronta com o mundo vivo. " 27 ;onfidenciou em carta à mãe:

Por outro lado, Hõlderlin enviou junto a esta carta alguns poemas, entre "devo lembrar-me sempre que a vida é uma escola, e que os momentos calmos,
eles: Ao Éter (An den Aether), além do primeiro volume do romance Hipérion. genuinamente ditosos, são apenas momentos (...) O ano todo tivemos visit as quase
continuamente, festas e só Deus sabe mais quê! Por certo minha insignificância sempre
Schiller publicou este poema em sua revista literária Almanaque das Musas de
arca com o pior, pois o preceptor, principalmente em Frankfurt, é sempre a quinta
1798 (Musenalmanach 1798), bem como O Peregrino e Os Carvalhos na revista
roda que, por decoro, deve estar presente. Amém! Não sei quantas vezes já lhe entoei
Horen de 1 79718. 0 primeiro volume do romance Hipérion saiu pela editora estas lamentações. Tem-se mesmo de pensar que se tem sempre de pagar com uma
Cotta. 15 quota de dor a honra de pertencer à classe mais culta. A ventura está atrás da charrua
O aedo apaixonou-se pela esposa do banqueiro (...) Para que eu possa ser julgado agora e futuramente é preciso que conheça
Gontard, Susette. Concebeu sua figura como o suficientemente as minhas circunstâncias." 21
exemplo da perfeição e do divino sobre a terra. No
romance Hipérion, ele a encarna na figura de Ao fim da permanência do artista em Frankfurt, em agosto de 1798, relatou

Diotima. em carta a Neuffer:


Acerca das ocupações deste período, Hõlderlin
"Direi que se não produzir algo de excelente neste mundo será por não me haver
escreveu uma carta ao irmão, dizendo:
compreendido o bastante.'

"Perguntas-me sobre meu estado de ânimo, minhas


ocupações. O primeiro é tecido de luz e sombra, como Tornou-se cada vez mais consciente da missão de poeta. A crença no divino
tudo (...) Minhas ocupações são cada vez mais iguais. que habita o homem permeia toda a poesia de Hõlderlin e se manifesta também
(...) Quem nunca passou por privações como eu não em suas cartas. Já em doze de março de 1795, escrevera à mãe, de Iena:
sabe quão valioso é um dia em que se consegue trabalhar
e permanecer de ânimo tranquilo." 19 "Quando aspiramos por algo e lutamos em consequência, vamos para onde nos
Susette Gontard (1769-1803)
escultor: Landolin Ohnmacht impele o impulso sagrado [que brota] do fundo de nosso peito, então tudo nos
23
pertence."

"Ich habe Mut and eignes Urteil genug, um mich von andem Kunstrichtern and Meistern unabhangig ° Apud: ib., carta 152, p. 283.
zu machen, and insofern mit der so niitigen Ruhe meinen Gang zu gehen, aber von Ihnen dependier 21
"Vorzüglich muss ich eben in Gedanken haben and behalten, dass das Leben eine Schule ist, and dass die
ich unüberwindlich; and weil ich fühle, wie viel ein Wort von Ihnen über mich entscheidet, such ich ruhigen, echtglücklichen Augenblicke auch nur Augenblicke sind. (...) dieses gauze Jahr haben wir fast
manchmal, Sie zu vergessen, um wãhrend einer Arbeit nicht ãngstig zu werden. Denn ich bin gewiss,
bestãndig Besuche, Feste and Gott Weiss! was alies gehabt, wo dann freilich meine Wenigkeit immer am
dass gerade diese Angstigkeit and Befangenheit der Tod der Kunst ist, and begreife deswegen Behr gut, schlimmsten wegkommt, weil der Hofmeister besonders in Frankfurt überall das fünfte Rad am Wagen
warum es schwerer ist, die Natur zur rechten Ausserung zu bringen, in einer Periode, wo schon
ist, and doch der Schicklichkeit wegen muss dabei sein. Amen! ich weiss nicht, wie viele Blãtter lang ich
Meisterwerke nah um einen liegen, ais in einer an dem, wo der Künstler fast allein ist mit der lebendigen
Ihnen einmal wieder ein Klagelied gesungen habe. Man muss eben denken, dass man die Ehre, unter
Welt." Ib., carta 139, p. 259 s.
die gebildetere Klasse zu gehoren, überall mit etwas Schmerz bezahlen muss. D as Glück ist hinter dem
15
Apud: ib., p. 560 e carta 144, p. 269, a Schiller, onde Hõlderlin agradece-lhe pela acolhida das citadas
Pfluge (...) Um mich für jetzt and künftig zu beurteilen, müssen Sie auch von meinen Umstanden das
poesias nestas revistas literárias. Nütige wissen." Ib., carta 148, p. 277.
19
"Du fragst mich über meine Gemütsstimmung, über meine Bescháftigungen. Die erste ist aus Licht and a2 "Ich werde sagen, dass ich mich nicht recht verstanden habe, wenn hienieden mir nichts Treffliches
Schatten gewebt, wie überall, (...) Meine Beschãftigungen sind um so mehr rich gleich. (...) Wer es nie gelingt." Ib., carta 163, p. 299.
entbehrt hat, wie ich, der weiss nicht, wie viel ein Tag, wo man so hinarbeitet, and ruhigen Gemüts '3 "
Wenn wir dahin trachten and ringen, wohin ein gõttlicher Trieb in der Tiefe unserer Brust uns treibt,
bleibt, wert ist." Ib., carta 142, p. 265. dann ist alies unser!" Ib., carta 96, 174.
Esta convicção e a da vocação poética levaram-no a privações financeiras, à nunca conseguisse exprimir bem a minha interioridade numa linguagem clara e exata,
luta incessante, de um lado, para agradar à mãe, e de outro, contra a alternativa pois isto depende muito do acaso, sei que o que quis — e o quis mais do que revelam
de abraçar outra profissão. De Homburg vor der Hõhe, a onze de dezembro minhas pouc as tentativas —, pode também esperar, pelo que me chega aos ouvidos,
que minha causa, mesmo [vazada] numa expressão inadequada e realizada de vez em
de 1798, após haver ab an donado a c as a Gontard, m an ifestou à mãe o desejo de:
quando num estado de espírito profético e [ansioso] por reconhecimento, me assegura
que minha existência deixará sua marca nesta terra."26
"Durante um ano viver com força vital entregue às ocupações mais altas e mais
24
puras, às quais Deus precipuamente me destinou."
Em carta a Neuffer, de quatro de dezembro de 1799, de Homburg,
Hõlderlin exprimiu o seguinte:

"É quase como se o poeta tivesse de pagar mais caro de que qualquer outro, a
ventura literária (...) Assim Deus me conceda boa disposição e tempo para alcançar o
que sinto e compreendo." 27

Em carta, sem data, a Susette Gontard, afirmou, de Homburg:

"Tenho de reevocar diariamente a divindade desaparecida. Quando penso nos


grandes homens, nos grandes momentos, como eles propagaram o fogo sagrado e
Homburg vor der Hõhe transformaram toda a coisa morta, a madeira e a palha do mundo em chama que com
eles se elevou ao céu, e quando entâo [penso], muitas vezes, em mim, bruxuleante
como uma pequena lâmpada a arder, gostaria de mendigar uma gota de óleo para, por
Em janeiro de 1799, na carta seguinte à mãe, de Homburg, disse: "28
algum tempo ainda, brilhar durante toda a noite —

"pois o pendor talvez infeliz para a poesia, pelo qual desde a juventude lutei lealmente,
Em poucas cartas do artista é possível constatar com tanta clareza o paralelo
por ele aceitando as assim ditas ocupações mais concretas, continua em mim e
25 entre sua modesta figura de preceptor, animado por um espírito de poeta
permanecerá enquanto eu viver."

b
A dezesseis de novembro de 1799, expressou à mãe o seguinte: "Ich bin mir tief bewusst, dass die Sache, der ich lebe, edel, and dass sie heilsam für die Menschen ist,
sobald sie zu einer rechten Ausserung and Ausbildung gebracht ist. Und in dieser Bestimmung and
diesem Zwecke leb ich mit ruhiger Tãtigkeit, and wenn ich oft erinnert werde (wie unvermeidlich ist),
"Sinto-me profundamente consciente de que a causa à qual me dedico é nobre e dass ich vielleicht billiger geachtet würde unter den Menschen, wenn ich durch ein honettes Amt im
salutar aos homens, enquanto orientada para uma expressão e um aperfeiçoamento bürgerlichen l eben für sie erkennbar ware, so trage ich es leicht, weil ichs verstehe, and finde meine
Schadloshaltung in der Freude am Wahren and Schõnen, dem ich von Jugend auf im stillen (sic) mich
corretos. E vivo com este intuito e com esta meta, em ocupação tranquila; quando às geweiht habe, and zu dem ich aus den Erfahrungen and Belehrungen des Lebens nur um so entschlossner
vezes me lembram (como é inevitável) que eu seria melhor aceito pelos homens se zurückgekehrt bin. Sollte auch mein Inneres nie recht zu einer klaren and ausführlichen Sprache
desempenhasse um cargo honesto na vida burguesa, suporto [esta situação] com kommen, wie man dann hierin viel vom Glück abhângt, so Weiss ich, was ich gewollt babe, — and dass
facilidade e a compreendo; sinto-me pago pela alegria [encontrada] no belo e no ich mehr gewollt babe, als der Anschein meiner geringen Versuche vermuten last, kann auch hoffen,
aus manchem, was mir zu Ohren kommt, dass meine Sache auch in einer ungeschickten Ausführung
verdadeiro, aos quais me dedico em silêncio desde a juventude, e aos quais retorno hie and da aus einem ahndenden Gemüte gefasst and gebilliget werden (sic), dass also in keinem Palle
mais decididamente depois das experiências e dos ensinamentos da vida. Mesmo que mein Dasein ohne eine Spur auf Erden bleiben wird." Ib., carta 199, p. 399 s.
2
' "Es ist fast, als müsste man durchaus kein Glück teurer zahlen als das schriftstellerische, besonders der
Dichter. (...) Gabe mir nur ein Gott so viel Bute Stimmung and Zeit, dass ich ausrichten künnte, was
24 "mit lebendiger Kraft ein Jahr Lang in den hôhern and reinem Beschaftigungen zu leben, zu denen mich ich einsehe and fühle. —" Ib., carta 202, p. 406-408.
Gott vorzüglich bestimmt hat." Ib., carta 170, p. 319. za
"Tãglich muss ich die verschwundene Gottheit wieder rufen. Wenn ich an grosse Manner denke, in
25 "weil nun einmal die vielleicht unglückliche Neigung zur Poesie, der ich von Jugend auf mit redlichem grossen Zeiten, wie sie, ein heilig Feuer, um Bich griffen, and alies Tote, Hõlzerne, das Stroh der Welt
Bemühn durch sogenannt gründlichere Beschãftigungen immer entgegenstrebte, noch immer in mir in Flamme verwandelten, die mit ihnen aufflog zum Himmel, and dann an mich, wie ich oft, ein
ist and nach alien Erfahrungen, die ich an mir selber gemacht habe, in mir bleiben wird, so lange ich glimmered Lampchen, umhergehe, and betteln mõchte um einen Tropfen Vii, um eine Weile noch die
lebe." Ib., carta 173, p. 334. Nacht hindurch zu scheinen Ib., carta 182, p. 362.
prometêico e a grandiosa personagem de Empédocles, através da qual ele deixa Em 1800, o escritor retornou a Nürtingen, passando o verão e o outono
seu legado e testemunho. em Stuttgart onde continuou a produção poética, compondo, então, odes.
Em 1799, apareceu o segundo volume do romance Hipérion 29 , pela editora Entre 1801 e 1808, elegias e hinos do poeta aparecem publicados de forma
Cotta. esparsa em almanaques e livros de bolso.

HYPERION

odor

der Eamir in Ciriecfirn

hbüisa •UiIdsflis

TaE■Igen .,vv.

Stuttgart: parte sul da cidade


Hipérion, v. 2 (1799) com dedicatória a Susette Gontard: A quem senão a Ti"

No início de 1801, após ocupar por cerca de três meses o cargo de preceptor
No final de 1799, escreveu Assim como num Dia de Festa... (Wie wenn am junto à família von Gonzenbach, em Hauptwil, na Suíça, regressou a
Feiertage...), só publicado em 1910. Nürtingen. Tentou sem êxito ministrar aulas na Universidade de Iena. Escreveu,
Neuffer deu a lume cerca de vinte poemas do amigo na revista Livro de entre 1800/01, As Grandes Elegias e parte das chamadas Canções Patrióticas
Bolso para Moças de Cultura (Taschenbuch fiir Frauenzimmer von Bildung), em 1799. (Die vaterlândischen Gesange). As elegias e as canções patrióticas marcam o
período áureo do artista.
TASCHFNBU(' 11 Hõlderlin compôs a
poesia Festa da Paz (Friedens-
1 feier), em 1801/02, tendo a
/K!//t/1..?//J%//1l' '
i .(11;/i/r7 publicação completa da
mesma, apenas em 1954 —
após o manuscrito haver
permanecido sumido por
quarenta anos —, causado
rf
sensação entre os pesquisa-
;- 47 dores e lançado luz sobre a
(. iiri//,' Hauptwil por volta de 1800
representação da figura de
Revista Livro de Bolso para Moças de Cultura, editada por C.L. Neuffer (1799)
Cristo para o poeta. A dez de dezembro de 1801, empreendeu misteriosa
29
Neste romance em forma de carta, Hipérion ou O Eremita na Grécia (Hyperion oder der Eremit in caminhada à França da qual não há documentação; chegou a Bordeaux a 28
Griechenland), Hólderlin expressa o desenc anto pela Alemanha de então e a nostalgia pela Grécia de um de janeiro de 1802. Permaneceu como mentor em casa da família do cônsul
dia em unidade com os deuses e a natureza: o herói, idealista grego, incentivado pelo amor de Diotima
(encarnação de Susette Gontard) e pela amizade de Alabama, luta pela libertação da Grécia do jugo turco Meyer, até junho, e então voltou a Nürtingen, já com sinais de desequilíbrio
(1770). Mas os horrores da guerra o repugnam, Diotima falece e o amigo se afasta. Enfim, Hipérion mental. A vinte e dois de junho de 1802, faleceu Susette Gontard.
retira-se ao seio da natureza que o revivifica.
Hõlderlin completou a poesia Patmos (Patmos), O ENTUSIASMO DO POETA PELOS IDEAIS DA REVOLUÇÃO FRANCESA E DA GRÉCIA
escreveu outras composições poéticas e, talvez no
outono de 1803, Mnemósine (Mnemosine). Também Quando Hõlderlin estudava no convento de Tübingen, vivenciava com os
nesta época traduziu fragmentos de Píndaro. O editor a migos Hegel e Schelling um clima de entusiasmo pela Revolução Francesa.
Friedrich Wilmans publicou, em 1804, as tragédias De acordo com a tradição corrente em Tübingen, os estudantes, entre eles os
de Sófocles: Édipo, o Tirano e Antígona. três amigos, teriam comemorado a queda da Bastilha erguendo uma árvore
Em junho de 1804, foi pela segunda vez a simbolizando a liberdade no pátio do convento, a quatorze de julho de 1793.
Homburg, lá permanecendo cerca de ano e meio. Em Hõlderlin sentia e reconhecia ser sua época a das grandes convulsões políticas.
1805, os médicos de Tübingen declararam-no doente A carta do escritor ao irmão, do começo de setembro de 1793, demonstra
mental incurável, aos 35 anos. De 1807 a sete de claramente seu ideal de liberdade:
junho de 1843, data da morte de Hõlderlin, foi
tratado na casa do mestre marceneiro Zimmer, em Elegia Páo e Vinho, "Meu amor é o gênero humano (...) Amo a geração dos séculos vindouros. Esta é
de Hõlderlin minha mais bem-aventurada esperança, a crença que me mantém forte e ativo; nossos
Tübingen. Mesmo durante esse longo período de
netos serão melhores do que nós, a liberdade tem de vir um dia, e a virtude prosperará
doença psíquica, continuou a produção poética.
melhor na liberdade, em luz que aquece mais do que no âmbito do despotismo.
Seckendorf publicou no Almanaque das Musas de 1807 (Musenalmanach 1807),
Vivemos numa época em que tudo procura atingir dias melhores. Estes germes de
a poesia Patmos (Patmos) e outras. esclarecimento, estes anseios silenciosos e desejos de pessoas isoladas de formar a geração
Em 1826, Gustav Schwab e Ludwig Uhland publicaram a primeira seleção humana expandir-se-ão, fortalecerão e darão frutos maravilhosos. Vê, caro Carlos! É a
da obra do escritor, nela incluindo cerca de sessenta poesias e fragmentos da isto que meu coração está afeiçoado agora. Esta é a meta sagrada de meus desejos e de
tragédia. A segunda edição dos mesmos saiu em 1843. minha atividade: desperto agora os germes que amadurecerão numa época futura. E
por isso, creio, acontece que me as socio com menos calor a pesso as isoladas. Gostaria de
Max Picard, no mesmo livro citado no início deste capítulo, também expôs
atuar no plano universal: o universal não permite que deixemos de lado o individual,
o rosto de Hõlderlin ancião, captando a essência de sua tragédia e as marcas
porém não vivemos com toda a alma as coisas isoladas, quando o universal se torna
deixadas por ela no semblante do artista: objeto de nossos desejos e anseios." 31

O rosto de Hõlderlin ancião: o raio derribou o rosto Os ideais de igualdade, liberdade e fraternidade marcaram intensamente o
estelar. Vê-se ainda como golpeou duas vezes o rosto,
artista e toda a sua obra.
ferindo a linha do perfil: primeiro, o olhar, e depois a
boca. O rosto esfacelado no olhar e na boca. É como se Outra constante ocupação de Hõlderlin foi a dedicação aos gregos, como
o raio houvesse penetrado o olhar até às profundezas e demonstram suas traduções de Píndaro e Sófocles. No prefácio da penúltima
lá derribado e queimado as estrelas da face —, e então versão do romance Hipérion, declarou:
tivesse voltado, hesitando, para ver se estrelas ainda
haviam permanecido no rosto e pela segunda vez
Meine Liebe ist das Menschengeschlecht, (...) Ich Liebe das Geschlecht der kommenden Jahrhunderte.
vibrasse neste derradeiro golpe, fazendo-o arder nas Denn dies ist meine seligste Hoffnung, der Glaube, der mich stark erhãlt and tãtig, unsere Enkel
profundez as ." 3° werden besser sein als wir, die Freiheit muss einmal kommen, and die Tugend wird besser gedeihen in
der Freiheit heiligem erwãrmenden Lichte als unter der eiskalten Zone des Despotismus. Wir leben in
Hõlderlin ancião einer Zeitperiode, wo alles hinarbeitet auf bessere Tage. Diese Keime von Aufklarung, diese stillen
Wünsche and Bestrebungen Einzelner zur Bildung des Menschengeschlechts werden sich ausbreiten
30 "HOLDERLINSALTERSGESICHT and verstãrken, and herrliche Früchte tragen. Sieh! Lieber Karl! dies ists, woran nun mein Herz hãngt.
Das Altersgesicht: der Blitz hat in das Sterngesicht eingeschlagen. Man sieht noch, wie er herunterfuhr Dies ist das heilige Ziel meiner Wünsche, and meiner Tãtigkeit — dies, dass ich in unserm Zeitalter die
an der Profillinie, zweimal einschlagend in das Gesicht, zweimal das Gesicht brechend: an den Augen Keime wecke, die in einem künftigen reifen werden. Und so, glaub ich, geschieht es, dass ich mit etwas
zuerst and dann am Mund. Eingestürzt ist hier das Gesicht am Auge and am Mund. Es ist, als hãtte weniger Wãrme an einzelne Menschen mich anschliesse. Ich miichte ins Allgemeine wirken, das
der Blitz, einfahrend in die Tiefe gerissen and sie dort verbrannt — , dann, zurückfahrend, als besãnne Allgemeine lãsst uns das Einzelne nicht gerade hintansetzen, aber doch leben wir nicht so mit ganzer
er sich, das doch noch Sterne geblieben seien im Gesicht, holte er noch die letzten and schiug zum zweitenmal Seele für das Einzelne, wenn das Allgemeine einmal ein Gegenstand unserer Wünsche and Bestrebungen
ein in das Gesicht, die letzten in der Tiefe verbrennend." PICARD. Das Menschengesicht, p. 191. geworden ist." Kl StA, v. 6, carta 65, p. 101 s.
32
"A Grécia foi meu primeiro amor e creio poder afirmar que será o meu último." "Fiz o plano bem detalhado de uma tragédia cujo assunto me arrebata." 36

O ferv or do poeta pelos ideais dos gregos advém da época de seus estudos De Homburg, enviou carta a Neuffer, a doze de novembro de 1798,
em Tübingen. Diziam até mesmo que parecia um deus helênico a caminhar dizendo:
33
pelas salas do convento
Relatou ao cunhado Breunlin em carta, na festa de Pentecostes de 1794: "Estou aqui há pouco mais de um mês, em tranquilidade, trabalh ando em minha tragédia,
convivendo com Sinclair, e fruindo os belos dias de outono." 37
"reparto-me agora, no que concerne ao aspecto científico, unicamente entre a filosofia
34
de Kant e os gregos, e também procuro produzir algo a partir de mim mesmo." De Rastatt, revelou à mãe, em carta de vinte e oito do mesmo mês:

Também se dirigiu a Hegel a dez de julho de 1794, na primeira carta ao "Na próxima primavera, porém, quando estiver concluído um trabalho que tenho
filósofo após a despedida do convento: em mãos (...) Meu trabalho atual, cara mãe, deve ser minha última tentativa de seguir
um caminho próprio, como a senhora diz, que me outorgue um valor; (...) " 38

" Minha ocupação está agora relativamente concentrada. Kant e os gregos são
quase minha única leitura."" Escreveu ainda ao irmão, no mesmo dia, aludindo à peça dramática 39 . A
vinte e quatro de dezembro de 1798, Hõlderlin contou em carta ao grande
Durante a primeira permanência de Hõlderlin em Homburg vor der amigo Isaac von Sinclair a leitura, naqueles dias, de Diógenes Laércio, ou seja,
Hõhe, de 1798 a 1800, quando se consagrou ao trabalho em seu único da principal fonte do drama hõlderliniano 40 . De novo em Homburg, referiu-
drama, aplicou-se, a par, ao estudo das tragédias dos antigos e dos modernos, se outra vez à tragédia, em longa carta à mãe em janeiro de 1799 41 . Na carta n.
e devotou-se de corpo e alma à elaboração da obra A Morte de Empédocles. 177, sem data, narrou à mãe o seguinte:
De sua consagração ao trabalho resultaram o assim chamado plano de
Frankfurt (Frankfurter Plan), três versões da tragédia, dois ensaios sobre o "Por enquanto a senhora deverá considerar até mesmo uma simples visita como
preciosa demais [em termos de tempo], na minha situação; tenho de dedicar-me à
assunto, O Transformar-se no Passar (Das Werden im Vergehen) e o Fundamento
minha ocupação todo o tempo possível. Gostaria de permanecer aqui pelo menos até
de Empédocles (Grund zum Empedokles), compostos entre a segunda e a
que o livro estivesse pronto, o que pode demorar ainda meio ano. O que empreenderei
terceira versão, além de um esboço para continuação da terceira versão. depois dependerá em parte, do sucesso ou insucesso de meu livro e em parte também
Suspendeu, de todo, o trabalho na peça, na primavera de 1800, deixando-a de outras circunstâncias."
42

incompleta, sem externar-se a respeito, em qualquer escrito.


Depositava todas as esperanças no texto dramático, como bem
comprovam as suas cartas. De Frankfurt, confessou ao irmão, talvez em e
"Ich habe den ganz detaillierten Plan zu einem Trauerspiele gemacht, dessen Stoff mich hinreisst." Ib., v.
agosto ou setembro de 1797, não se sabe ao certo, pois a carta não registra 6, carta 142, p. 266.
37

a data: "Es ist etwas über einen Monat, dass ich hier bin, and ich habe indessen ruhig, bei meinem Trauerspiel,
i m Umgang mit Sinclair, and im Genuss der schõnen Herbsttage gelebt." Ib., carta 167, p. 310.
38

"Nâchsten Friihling aber, wenn ich mit einer Arbeit, die ich unter den Hânden habe, fertig bin, (...)
Meine jetzige Arbeit soil mein letzter Versuch seira, liebste Mutter, auf eignem Wege, wie Sie es nennen,
mir einen Wert zu geben; (...)" Ib., carta 168, p. 314.
39 Ib., carta 169, p. 317.
40
Ib., carta 171, p. 323.
32 "Griechenland war meine erste Liebe and ich Weiss nicht, ob ich sagen soli, es werde meine letzte sein." Ib.,
Ib., carta 173, p. 336.
v. 3, p. 248
42 "Für jetzt werden Sie einen blossen Besuch selber in meiner Lage, wo ich alie Zeit, wo moglich, meinem
Apud: HAUSSERMANN, Ulrich. Hõlderlin. 6. ed. Reinbek bei Hamburg, Rowohlt, 1970, p. 50.
33

34
"Ich teile mich jetzt, was das Wissenschaftliche betrifft, einzig in die Kantische Philosophic and die Geschãfte widmen muss, für zu kostbar halten. Ich müchte wenigstens so lange hier bleiben, bis ich mit
Griechen, suche wohl auch zuweilen etwas aus mir selbst zu produzieren." K1 StA, v. 6, carta 81, p. 132. meinem Buche fertig bin, was wohl noch ein halbes Jahr tang dauern kann. Was ich dann weiter
35 "Meine Beschâftigung ist jetzt ziemlich konzentriert. Kant and die Griechen Sind beinahe meine einzige vornehme, wird zum Teil von dem Gelingen oder Nichtgelingen meines Buchs, teils auch von andern
Umstanden abhângen." Ib., carta 177, p. 343.
Lektüre." Ib., carta 84, p. 139.
Em carta de quatro de junho de 1799, Hõlderlin relatou a Neuffer a intenção Em carta sem indicação de data, expressou também a Susette Gontard sua
de publicar uma revista poética mensal: consagração ao texto teatral 49 .
Hõlderlin anela conciliar na tragédia A Morte de Empédocles a posição entre
"Os primeiros números conterão uma tragédia minha, A Morte de Empédocles que o homem grego e o cristão, porquanto comunga com o ideal grego de vida. A
43
já tenho pronta — menos o último ato — e poesias líricas e elegíacas." civilização helênica fundamenta-se na religião. Para o grego, o divino é convívio
permanente: não se trata de ato voluntário da imaginação criadora, mas da
No mesmo dia, enviou ao irmão excerto da segunda versão (versos 397- sensibilidade particular do grego para a sacralidade das manifestações cósmicas.
430) da obra teatral, dizendo: Os gregos foram singularmente dotados para perceber as súbitas manifestações
do divino, as epifanias ou hierofanias.
"Por fim, quero transcrever-te um trecho de minha tragédia, A Morte de Empédocles,
O grego sente a presença do divino em si e na natureza. Hõlderlin exprimiu
para que possas ver, mais ou menos, qual o espírito e o tom do trabalho ao qual estou
44 a mesma vivência na já citada carta ao irmão de quatro de junho de 1799 de
atualmente afeiçoado, com moroso amor e esforço"
Homburg:
Dirigiu-se também de Homburg a Friedrich Steinkopf, em missiva de
"particularmente a religião [produz tal coisa]: que o homem a quem a natureza se doa
dezoito de junho de 1799:
como material de sua atividade, e que faz parte dela em sua organização infinita, como
uma roda poderosa não se julgue mestre e senhor da mesma e se curve com toda a sua
"Utilizarei, no entanto, todo o tempo e todas as minhas forças para burilar e arte e atividade, devoto e modesto, ante o espírito da natureza, que ele traz em si, tem
aperfeiçoar o drama, pois este, sobretudo por seu conteúdo particular, necessita destes a seu redor, e lhe dá matéria e forças; pois a arte e a atividade dos homens, por mais que
esmeros mais que qualquer outro." 45 esta já tenha feito e possa fazer não conseguirá, no entanto, produzir algo de vivo —
a matéria original — que ela tr ansforma e trabalha — não pode criar de si mesma. Pode
Na carta de n. 189 a Neuffer, falou-lhe da impossibilidade de interromper o desenvolver a força criadora, mas a força mesma é eterna e não é trabalho das mãos dos
homens." o
5
trabalho que tinha em mãos 46 . Reiterou à mãe, a quatro de setembro de 1799, o
desejo de aplicar-se, ainda por algum tempo, ao texto dramático, a fim de revestir
a obra de toda a perfeição possíve147 . Em missiva sem data, revelou a Schiller: O teatrólogo alemão sentia-se fascinado pela "polis" grega do século V a.C.:
então, o espírito grego resplandecia, pois, no fundo de seus coraçôes, imperava
"Acreditei poder adotar, na forma trágica, da m aneira mais completa e mais natural, o perfeito acordo entre religião, Estado e indivíduo. O homem vivia na presença
aquele tom que desejei precipuamente tornar meu e ousei escrever uma tragédia, A do divino, no "dia dos deuses" (Gottestag). Para Hõlderlin, Cristo teria sido a
Morte de Empédocles, tenho dedicado o maior tempo de minha permanência aqui justo última aparição divina, anunciando a "noite" dos deuses mas, deixando, no
a esta tentativa.""
entanto, a esperança de seu futuro retorno 51 . A humanidade teria, então,
mergulhado na "noite dos deuses" (Gottesnacht), num abismo espiritual incapaz
43
"Die ersten Stücke werden von mir enthalten ein Trauerspiel, den Tod des Empedokles, mit dem ich, bis de extirpar a raiz de seus males.
auf den letzten Akt, fertig bin, and Gedichte, lyrische and elegische." Ib., carta 178, p. 347.
44 "Zum
Schlusse will ich Dir noch eine Stelle aus meinem Trauerspiele, dem Tod des Empedokles,
abschreiben, damit Du ungefahr sehen kannst, wes Geistes and Tones die Arbeit ist, an der ich
gegenwartig mit langsamer Liebe and Mühe hange" Ib., carta 179, p. 355. 49
Ib., carta 195, p. 394.
45
"Ich werde indessen alie Zeit and alie Kraft dahin verwenden, besonders auch, um dem Trauerspiele die so "besonders die Religion, dass sich der Mensch, dem die Natur zum Stoffe seiner Tatigkeit sich hingibt,
gehôrige Feile and Gefalligkeit zu geben, der es, um der Eigenheit seines Stoffes willen, weniger ais den sie, als ein machtig Triebrad, in ihrer unendlichen Organisation enthãlt, dass er sich nicht als
andere entbehren kann." Ib., carta 181, p. 361. Meister and Herr derselben dünke and sich in aller seiner Kunst and Tatigkeit bescheiden and fromm
46 Ib., p. 381. vor dem Geiste der Natur beuge, den er in sick tragt, den er um sick hat, and der ihm Stoff and Krafte
Apud: ib., carta 193, p. 387 s.. gibt; denn die Kunst and Tãtigkeit der Menschen, so viel sie schon getan hat and tun kann, kann dock
48
"Ich glaubte jenen Ton, den ich mir vorzüglich zu eigen zu machen wünschte, am vollstandigsten and Lebendiges nicht hervorbringen, den Urstoff, den sie umwandelt, bearbeitet, nicht selbst erschaffen, sie
natürlichsten in der tragischen Form exequieren zu künnen, and babe mich an ein Trauerspiel, den Tod kann die schaffende Kraft entwickeln, aber die Kraft selbst 1st ewig and nicht der Menschenhande
des Empedokles, gewagt, and eben diesem Versuche habe ich die meiste Zeit meines hiesigen Aufenthalts Werk." Ib., v. 6, carta 179, p. 354.
gewidmet.° Ib., carta 194, p. 391.
51
Rio e Vinho, oitava estrofe. In: ib., v. 2, p. 98 s.
O poeta tentou dar resposta a esta questão na tragédia, como o fez, ao de fatos excepcionais. Creio numa futura revolução de modos de pensar e de
54
imaginar que fará tudo [o que foi] até aqui [realizado] enrubescer de vergonha."
escrever, em 1800, a elegia Pão e Vinho (Brot und Wein). Nela anuncia o
reinado da ação unificadora do amor, força esta que se poderia identificar
Ao irmão, afirmou em longa carta de janeiro de 1799:
com o pneuma, o espírito santo universal". Hõlderlin escolheu como modelo
o protótipo do homem que prenunciaria tal revolução espiritual, o filósofo,
"se o reino das trevas tentar irromper com violência, atiraremos a pena embaixo da
poeta, taumaturgo e político grego Empédocles (495-435 a.C.), natural mesa e dirigir-nos-emos, em nome de Deus, para onde a necessidade for mais premente,
de Acragas, atual Agrigento. O filósofo grego encarnou todos os atributos lá onde formos mais necessários.""
que o próprio dramaturgo alemão anelava possuir: foi homem de ação,
porquanto livrou sua terra várias vezes de sucumbir ao jugo do despotismo Apesar das manifestações hôlderlinianas em cartas a amigos de uma possível
em prol da democracia. Como médico, pôde dedicar-se à melhoria do povo, participação ativa nos envolvimentos políticos da época, consagrou sua ação à
tendo sido famoso pelas curas milagrosas. A figura de Empédocles atraía a poesia, nesta encontrando possibilidade de atuação. Revelou à mãe a vinte e
admiração e o respeito dos agrigentinos; julgavam-no um semideus. Ele nove de janeiro de 1800, de Homburg:
próprio exigia a veneração dos discípulos como deidade. Expôe na obra
Purificaçôes (Katharmoi; Kcr&apio.): "no que concerne a motivos e pontos de vista mais elevados, acredito poder afirmar em
sã consciência que em minha ocupação atual, si rv o aos homens pelo menos tanto
"Eu, porém, caminho entre vós qual Deus imortal, e não mais como mortal, por como se estivesse no exercício piedoso de um sacerdócio, ainda que possa dar a impressão
todos honrado como me convém, coroado de guirlandas floridas."" contrária." 56

Hõlderlin, outrossim, exteriorizou em cartas sua viva participação nos Emprestou toda a pujança de emoções que gostaria de suscitar nos
acontecimentos que convulsionavam a época. De Frankfurt, dirigiu-se a Johann concidadãos à personagem Empédocles. Para Hõlderlin, o filósofo grego
Gottfried Ebel, a dez de janeiro de 1797: concentrava a característica essencial que permite transmitir à humanidade
uma grande mensagem renovadora e vivificante: era poeta, o escolhido pelas
"No que concerne ao universal, tenho Um consolo, ou seja, que toda musas, tal como o fora na Hélade, para entregar aos homens o raio divino, a
efervescência e dissolução devem necessariamente conduzir à destruição ou a uma
nova organização. Mas não há aniquilamento, assim a juventude do mundo deve 54
"Und was das Allgemeine betrifft, so hab ich Einen Trost, dass nãmlich jede Gãrung and Auflõsung
retornar de nossa decomposição. Com certeza, pode-se dizer que o mundo nunca entweder zur Vernichtung oder zu neuer Organisation notwendig führen muss. Aber Vernichtung gibts
pareceu tão colorido como agora. É uma imensa multiplicidade de contradições e nicht, also muss die Jugend der Welt aus unserer Verwesung wiederkehren. Man kann wohl mit
contrastes: velho e novo! cultura e rudeza! malícia e paixão! egoísmo em pele de Gewissheit sagen, dass die Welt noch nie so bunt aussah wie jetzt. Sie ist eine ungeheure Mannigfaltigkeit
von Widersprüchen and Kontrasten. Altes and Neues! Kultur and Roheit! Bosheit and Leidenschaft!
carneiro, egoísmo em pele de lobo! superstição e descrença! servidão e despotismo!
Egoismus im Schafpelz, Egoismus in der Wolfshaut! Aberglauben and Unglauben! Knechtschaft and
inteligência irracional, razão tola! sentimento insípido, espírito insensível! história, Despotism! unvernünftige Klugheit, unkluge Vernunft! geistlose Empfindung, empfindungsloser Geist!
experiência, tradição sem filosofia, filosofia sem experiência! energia sem princípios, Geschichte, Erfahrung, Herkommen ohne Philosophic, Philosophic ohne Erfahrung! Energie ohne
princípios sem energia! rigor sem caridade, caridade sem rigor! obsequiosidade Grundsãtze, Grundsãtze ohne Energie! Strenge ohne Menschlichkeit, Menschlichkeit ohne Strenge!
heuchlerische Gefãlligkeit, schamlose Unverschãmtheit! altkluge Jungen, lãppische Manner! — Man
hipócrita, insolência desavergonhada! jovens precoces, homens pueris! — Poder-
kõnnte die Litanei von Sonnenaufgang bis um Mitternacht fortsetzen and hãtte kaum ein Tausendteil
se-ia continuar a litania desde o nascer do sol até a meia-noite e mal se teria des menschlichen Chaos genannt. Aber so soil es sein! Dieser Charakter des bekannteren Teils des
enumerado uma milésima parte do caos humano. Mas tem de ser assim! Esta Menschengeschlechts ist gewiss ein Vorbote ausserordentlicher Dinge. Ich glaube an eine künftige
característica da parte mais conhecida do gênero humano é, sem dúvida, prenúncio Revolution der Gesinnungen and Vorstellungsarten, die alies Bisherige schamrot machen wird." Kt
StA, v. 6, carta 132, p. 246 s.
55 "wenn das Reich der Finsternis mit Gewalt einbrechen will, so werfen wir die Feder unter den Tisch and
gehen in Gottes Namen dahin, wo die Not am grõssten ist, and wir am nõtigsten sind." Ib., carta 172,
p. 331.
52 Pneuma, palavra grega que significa vento, espírito, sopro vivificante, corresponde ao Ruach hebraico.
5t "was hõhere Gründe and Gesichtspunkte betrifft, so glaube ich mit gutem Gewissen behaupten zu dürfen,
Apud: JUNG, Carl Gustav. El Yo y el Inconsciente. 5. ed. Barcelona, Miracle, 1972, p. 62.
dass ich den Menschen mit meinem jetzigen Geschãfte wenigstens ebenso viel diene and fromme ais im
BORNHEIM, Gerd (ed.). Os Filósofos Pré-socrdticos. São Paulo, Cultrix, 1967, p. 79. A partir de agora:
Predigtamte, wenn auch der Anschein dagegen sein soilte." Ib., carta 204, p. 412.
BORNHEIM. Os Filósofos Pré-socrdticos.
chama de entusiasmo capaz de alterar essencialmente o espírito de um povo 57 . "Pois eu já fui moço, e moça, e planta, e pássaro, e um mudo peixe do mar." 62

Como externou na poesia Assim Como num Dia de Festa... (Wie wenn am
Feiertage...) 58 : O poeta suábio escreveu em uma de suas cartas:

"Mas vós, ó poetas, deveis permanecer, "quando eu for um dia um menino de cabelos brancos, ainda deverão rejuvenescer-
A fronte nua, expostos à tormenta; me um pouco, dia a dia, a primavera, a manhã e a luz do anoitecer, até que eu sinta o
E tomando na mão o relâmpago divino último alento e me liberte e de lá me afaste — rumo à juventude eterna!" 63
Consagrá-lo, dádiva ao povo, envolto em cançôes." 59
Hõlderlin deixa entrever no texto teatral A Morte de Empédocles a lei do
Hõlderlin sentia-se imbuído da missão sagrada de, através do canto, eterno retorno; faz seu herói recordar-se dos tempos primordiais — chegar
transmitir ao povo a mensagem divina. Tanto o dramaturgo alemão na tragédia à unificação — no desenrolar da peça 64 . Hõlderlin identifica-se, outrossim,
A Morte de Empédocles quanto o filósofo grego Empédocles, expressaram a força com o pensamento do taumaturgo grego no tocante à intuição que nutria
congregadora do amor. sobre as idades do mundo. Como se sabe, a Teogonia de Hesíodo foi decisiva
Empédocles acreditava num estado pré-terreno da alma, em concórdia total para a evolução e configuração do pensamento grego e ocidental. O poeta
com o Uno — o sphairos (otliatpo() (momento de perfeita harmonia). Todavia, do século VII a.C. relata o reinado de Saturno (Cronos) como o período
por intervenção do ódio — o neikos (vELKoO (momento oposto ao sphairos, de em que o homem ainda não era subjugado pela cega força do destino, pela
total desarmonia), sempre ansioso por provocar a multiplicidade, a discórdia Moira, vivendo em paz e harmonia. Zeus, o filho de Cronos, arrebatou-lhe
— a alma era lançada do estado celeste ao sofrimento da terra. Nesta tinha de o trono e, desta forma, teve início o império dos deuses olímpicos, regidos
passar por toda a sorte de provações e por transmigrações sucessivas: por planta, pelo destino, instituidores de uma nova ordem do divino. Hõlderlin, na
animal, homem. A alguns eleitos era concedida a graça de se elevarem poesia Natureza e Arte ou Saturno e Júpiter (Natur und Kunst oder Saturn
gradualmente e retornarem à união do amor, tornando-se, assim, isentos do und Jupiter), opta pelo deus mais antigo. E na primeira versão da tragédia
sofrimento humano e imperecíveis 60 . Hipérion, o herói do romance A Morte de Empédocles, retoma o tema da era de Saturno, exaltando-a como
hôlderliniano, assim se exprime: a de um período de perfeição e concórdia.
Empédocles atinge o domínio de seu destino e torna-se livre para
"As plantas diz: também fui um dia como vós! E às estrel as puras: quero tornar-me ingressar no âmbito da natureza divina em eterna renovação. Hôlderlin,
como vós num outro mundo!"`'' em identificação com sua personagem Empédocles, escreveu a Neuffer esta
passagem:
Por outro lado, o taumaturgo grego dizia de si mesmo:
"nas horas divinas, quando retorno do regaço da natureza sublime, ou do bosque de
plátanos junto ao Ilissus quando, estendido entre os alunos de Platão, sigo o voo do
n HEIDEGGER, Martin. Erlauterungen zu Hõlderlins Dichtung. p. 33-48. No ensaio contido nestas
Sublime que percorre as sombrias distâncias do mundo originário ou, em vertigem,
páginas, "Hõlderlin und das Wesen der Dichtung" ("Hülderlin e a Essência da Poesia"), Heidegger cita
o trecho da carta 173 de Wilderlin à máe, de janeiro de 1799, quando o poeta nomeia a poesia a "mais acompanho as profundezas do profundo, aos mais recônditos confins da terra dos
inocente de todas as ocupações" (dies unschuldigste aller Geschãfte) (KI StA, v. 6, p. 335), e analisa um
esboço fragmentário do poeta de 1800, onde diz ser "portanto, a linguagem o mais perigoso dos bens
dados ao homem," (darum ist [sic.] der Güter Gefáhrlichstes, die Sprache [sic.] dem Menschen gegeben,)
ez
HEIDEGGER, op. cit., p. 35. BORNHEIM. Os Filósofos Pré-socráticos, p. 79. Fragmento 117. Atualizou-se a acentuação do texto do
8
KI StA, v. 2, p. 122-124. livro.
es
" "Doch uns gebührt es, unter Gottes Gewittern, / Ihr Dichter! mit entblõsstem Haupte zu stehen, / Des "und wenn ich einmal ein Knabe mit grauen Haaren bin, so soil der Frühling und der Morgen und das
Vaters Strahl, ihn selbst, mit eigner Hand / Zu fassen und dem Volk ins Lied / Gehüllt die himmlische Abendlicht mich Tag für Tag ein wenig noch verjüngen, bis ich das Leme fühle und mich ins Freie setze
Gabe zu reichen." Ib., p. 124, v. 3-7. Tradução de Dora Ferreira da Silva. In: Cavalo Azul, v. 6, p. 79. und von da aus weggehe — zur ewigen Jugend!" KI StA, v. 6, carta 188, p. 380 s.
6
Ó Apud: BORNHEIM. Os Filósofos Pré-socráticos, p. 81, Fragmento 147.
G4
O filósofo grego concebia a rememoração gradual através das transmigrações, até que o homem conseguisse
61
"Zu den Pflanzen spricht er, ich war auch einmal, wie ihr! und zu den reinen Sternen, ich will werden, wie ligar os fragmentos de sua história, obtendo a unificação. Há nesta diferença uma divergência entre o
ihr, in einer andren Welt!" KI StA, v. 3, p. 47. pensamento de Hõlderlin e o do filósofo grego.
espíritos, onde a alma do mundo envia sua vida às mil pulsaçóes da natureza, para UNIDADE DE PENSAMENTO HOLDERLINIANO
onde as forças dispersas retornam, após seu ciclo incomensurável." 65 O ELEMENTO ÁGUA NOS ESCRITOS TEÓRICOS E NAS CARTAS

A morte misteriosa do filósofo grego que se dirigiu ao Peloponeso e nâo No longo período de solidão e devotamento à filosofia grega, em
mais regressou a Agrigento serviu de fonte inspiradora para a peça teatral. Homburg vor der Hõhe, Hõlderlin planejava representar, na revista literária
Porém, ao dar forma a esta obra, Hõlderlin não se ateve à filosofia de que idealizara, a vida de Tales de Mileto (624 a.C.-547 a.C.), cuja doutrina
Empédocles. Conduz a ação do drama a uma apoteose da festa nos bosques ressalta que "a água é o elemento primordial de todas as coisas, e que a
sagrados, estando implícito na celebração desta o culto através do cântico. A terra flutua sobre a água" 66 . Também em Homburg, porém pouco antes, o
morte de Empédocles significava sua ressurreição na unificação da natureza. poeta salientara sua adesão ao caráter natural e simples da natureza, da
Esta era para Hõlderlin a unidade de tudo o que vive, homens, deuses e animais, água, origem de todas as coisas', assim como ao caráter afeito a este
em consonância com o pensamento grego pré-socrático. Exprimiu esta visão
elemento, em poesia, no ensaio Sobre os Diferentes Modos de Poetar (Über
do universo, através de toda a sua obra. Hõlderlin escolheu metaforicamente die verschiednen Arten, zu dichten):
Agrigento para figurar os eventos políticos e sociais de fins do século XVIII:
descreve os agrigentinos desorientados e afastados do divino, enquanto "Chamamos o caráter descrito, preferencialmente, de natural, e, rendendo-lhe
Empédocles na pré-ação do drama, em comunhão com os deuses e a natureza, homenagem, temos tanta razão quanto um dos sete sábios diz em sua linguagem
apaziguava-os. Advindo a cisão na alma do taumaturgo, este é afligido por e com suas imagens, que tudo — nasce da água. Pois, no mundo moral, a natureza,
provação extrema. Só após o despertar espiritual de Empédocles, ele fala das como de fato parece, parte sempre, em seu progredir, de relações e modos de vida
mais simples, e com razão deve-se chamar aqueles caracteres de originais e os mais
origens do ser ao povo, invadindo-o de harmonia interior. Vaticina a festa na
naturais" 68
natureza, onde, através do culto, todos os espíritos alçar-se-ão em uníssono,
como nos tempos remotos.
No romance Hipérion, o autor harmoniza-se com o conceito dos pré-
O fervor hõlderliniano pela Revolução Francesa no ideal de congraçamento
socráticos, ao afirmar, de forma explícita, a unicidade diversificante de todos
dos povos e, numa equiparação de planos, de toda a humanidade, patenteia-se
os seres:
na personalidade do Empédocles grego, no mito de Empédocles.
O filósofo grego pugnava, de forma ativa, pela democratização da "polis".
"A grande palavra, a Ev Si,aal)Epov cauto.) (o Uno diverso em si mesmo) de Heráclito,
O poeta alemão, por sua vez, lutava através da poesia, idealizando a volta ao só podia ser descoberta por um grego, pois é a essência da beleza."C 9
espírito da "polis" congregadora, através do cântico. O herói hõlderliniano
torna-se renovador do culto, no sentido de novo sopro de vida expresso na
canção e difuso no rito.

BORNHEIM. Os Filósofos Pré-socráticos, p. 22.


Também Nietzsche, mais tarde, filiou-se a este pensamento, quando no ensaio A Filosofia na Época Trágica
dos Gregos, questiona esta posição, confirmando-a em seguida: "a água é a origem e a matriz de todas as
coisas. Será mesmo necessário deter-nos nela e levá-la a sério? Sim, (...) porque nela, embora apenas em
estado de crisálida, está contido o pensamento: `Tudo é um'." CIVITA, Victor (ed.) Os Pré-socráticos. v.
1. Sáo Paulo, Abril, 1973, p. 16.
^e
" Wir nennen den beschriebenen Charakter vorzugsweise natürlich, und haben mit dieser Huldigung
wenigstens so sehr recht, ais einer der sieben Weisen, welcher in seiner Sprache und Vorstellungsweise
G 5 "in den Gütterstunden, wo ich aus dem Schosse der beseligenden Natur, oder aus dem Platanenhaine am behauptete, alies sei — aus Wasser entstanden. Denn wenn in der sittlichen Welt die Natur, wie es
Ilissus zurückkehre, wo ich unter Schülern Platons hingelagert, dem Fluge des Herrlichen nachsah, wie wirklich scheint, in ihrem Fortschritt immer von den einfachsten Verháltnissen und Lebensarten
er die dunkeln Fernen der Urwelt durchstreifr, oder schwindelnd ihm folgte in die Tiefe der Tiefen, in ausgeht, so sind jene schlichten Charaktere nicht ohne Grund die ursprünglichen, die natürlichsten zu
die entlegensten Enden des Geisterlands, wo die Seek der Welt ihr Leben versendet in die tausend Pulse nennen." KI StA, v. 4, p. 238.
69 "D as
der Natur, wohin die ausgestrümten Kráfte zurückkehren nach ihrem unermesslichen Kreislauf," Ib., v. grosse Wort, das ev StaIEpov Eauc o (das Eine in sich selber unterschiedne) des Heraklit, das konnte
6, carta 60, p. 94. nur ein Grieche finden, denn es ist das Wesen der Schünheit," Ib., v. 3, p. 85.
O escritor suábio evoca, assim, a teoria da motricidade de Heráclito 70 . Ademais, Só embebendo-se de toda a gama de sensações, o poeta consegue transpô-
vagueia pelo conceito de tempo, visualiz ando a torrente da mont anha e a nascente, las em plenitude e naturalidade para a obra de arte e, destarte, atingir o cerne
ao declarar no fragmento Palingênese, isto é, eterno retorno, o seguinte: dos seres.
No texto Reflexão (Reflexion), proclama:
"Mas também mora um Deus no homem de modo que ele vê passado e futuro e
passeia pelos tempos como da torrente à montanha acima à fonte"" "A partir da alegria, tens de entender o puro em geral, os seres humanos e os outros
seres, captar `tudo o de essencial e significativo' dos mesmos e reconhecer todas as
Neste trecho fragmentário, Hõlderlin adere, de forma incontestável, à crença circunstâncias uma após as outras," 73
nos vários ciclos de vida, passando por sucessivas purificações.
Em Homburg vor der Hõhe, no dia doze de novembro de 1798, na primeira Assim, Hõlderlin preocupa-se com a compreensão, expressão do puro e a

carta a Neuffer, após a saída abrupta de Frankfurt, narra ao ex-colega sua obtenção e o restabelecimento do estado de pureza, atributo fundamental da
ocupação desde a chegada à cidadezinha, ou seja, o trabalho no drama. Reflete água. Concebe tanto o puro como o impuro como vertentes variadas convergindo
sobre o artista, a produção literária, a importância da poesia em sua vida e para o caudal da natureza humana em si. Externa este pensamento na carta n.

revela o anseio por reproduzir o vivente na criação artística: 179, de quatro de junho de 1799, enviada ao irmão:

"Mas eu não posso renunciar a meu primeiro amor, às esperanças de minha "Mas há muito estamos de acordo que todas as torrentes que se perdem da atividade
juventude; prefiro perecer sem proveito a separar-me da pátria suave das musas, (...) humana correm para o oceano da natureza, assim como dela partem." 74
eu temo por demais o vulgar e o ordinário na vida real. (...) Por ser mais passível de ser
aniquilado que muitos outros, procuro tanto mais tirar proveito d as coisas que atuam Assim, tudo e todos, desempenham um papel no universo, e, afinal, tudo
em mim de forma destrutiva; tenho de aceitá-las não em si, mas pelo que possam ser conflui para a natureza, bem como se origina dela.
úteis à minha vida mais verdadeira. Onde as encontro, tenho de aceitá-las de antemão, Toda essa torrente do pensamento hõlderliniano brota, por outro lado, de
como material imprescindível, sem o qual meu ser mais íntimo nunca poderá
Platão (428 a.C.-348 a.C.). O poeta alemão nutria o desejo de representar a
representar-se inteiramente. Tenho de absorvê-las em mim para, no momento oportuno
vida deste filósofo, de forma simples. Refere-se, seja a ele como a sua obra,
(como artista, se quero ser e tenho de ser artista, um dia), compô-las como sombra a
minha luz, para reproduzi-las como tons subordinados sob os quais o vigor de minha repetidas vezes nas cartas, como na de n. 60 75 , quando se declara discípulo do
alma pode jorrar com tanto mais vida. O puro só pode ser representado no impuro e, se filósofo grego. Exprime-se, nesta última missiva, de maneira análoga à acima
tentares admitir o nobre sem o vulgar, resultará o mais afetado de tudo, o mais absurdo" 72 mencionada, de n. 179, ou seja, fala da alma do mundo aonde as forças
7
Õ Consta, no fragmento n° 12 do filósofo grego: 'Para os que entram nos mesmos rios, correm outras e novas torrenciais afluem, após ciclos desmedidos. Hõlderlin filia-se, assim, aos
águas." BORNHEIM. Os Filósofos Pré-socráticos, p. 36. Heráclito exprime ainda, a eterna fluidez de pensamentos contidos nos diálogos de Platão. Como se sabe, este filósofo
tudo, no fragmento n° 91: "Não se pode entrar du as vezes no mesmo rio. Dispersa-se e reúne-se; avança
e se retira." (Ib., p. 41.), e no n° 49a: "Descemos e náo descemos nos mesmos rios; somos e não somos." enuncia no Fédon 76 o ensinamento sobre a imortalidade da alma, descreve a
(Ib., p. 39.). morte como libertação do pensamento, purificação das almas 77 . E ainda, relata
71
"Aber es wohnet auch ein Gott in dem Menschen, dass er Vergangenes und Zukünftiges sieht und wie vom
Strom ins Gebirg hinauf an die Quelle lustwandelt er durch Zeiten" KI StA, v. 2, p. 319.
72
"Aber ich kann von meiner ersten Liebe, von den Hoffnungen meiner Jugend nicht lassen, und ich will "Aus Freude musst du das Reine überhaupt, die Menschen und andem Wesen verstehen, `alles Wesentliche
lieber verdiensdos untergehen als mich trennen von der süssen Heimat der Musen, (...) ich scheue d as und Bezeichnende' derselben auffassen, und alie Verhãltnisse nacheinander erkennen," Ib., v. 4, p. 245.
Gemeine und Gewõhnliche im wirklichen Leben zu sehr. (...) Weil ich zerstõrbarer bin als mancher
7'
"Aber wir sind schon tange darin einig, dass alie die irrenden Strõme der menschlichen Tãtigkeit in den
andre, so muss ich um so mehr den Dingen, die auf mich zerstõrend wirken, einen Vorteil abzugewinnen Ozean der Natur laufen, so wie sie von ihm ausgehen." Ib., v. 6, p. 353.
75

suchen, ich muss sie nicht an sich, ich muss sie nur insofern nehmen, als sie meinem wahrsten Leben Ib., p. 94.
dienlich sind. Ich muss sie, wo ich sie finde, schon zum voraus als unentbehrlichen Stoff nehmen, ohne
6
PLATÂO. Fédon, pp. 61-132.
den mein Innigstes sich niemals võllig darstellen wird. Ich muss sie in mich aufnehmen, um sie "Talvez, muito ao contrário, a verdade nada mais seja do que uma certa purificação de todas ess as paixões
gelegenheidich (als Künstler, wenn ich einmal Künstler sein will und sem soil) als Schatten zu meinem e seja a temperança, a justiça, a coragem; e o próprio pensamento outra coisa não seja do que um meio de
Lichte aufzustellen, um sie als untergeordnete Tone wiederzugeben, unter denen der Ton meiner Seele purificação. (...) Todo aquele que atinja o Hades como profano e sem ter sido iniciado terá como lugar
um so lebendiger hervorspringt. Das Reine kann sich nur darstellen im Unreinen, und versuchst Du, de destinação o Lodaçal, enquanto aquele que houver sido purificado e iniciado morará, uma vez lá
d as Edle zu geben ohne Gemeines, so wird es als d as Allerunnatürlichste, Ungereimteste dastehn" Ib., chegado, com os Deuses." Ib., p. 77.
7e
v. 6, p. 311 ss. Grifo da A. "Lá [no lago Aquerúsia, aonde o Aqueronte se precipita), então, passam a morar e a submeter-se a
o mito do destino das mesmas. Nele, discrimina, de maneira circunscrita, os Hõlderlin concebe a vida da natureza e a do taumaturgo convergentes,
quatro mais importantes rios do Tártaro 78 . Também Platão explicita, no mesmo uma só torrente de vida, originária do profundo, quando em harmonia com os
diálogo 79 , a unidade de tudo o que vive. O escritor suábio, filho espiritual do deuses, pensamento este consoante com os escritos dos pré-socráticos, como
filósofo, denomina-o "sagrado Plarão" 80 , no Hipérion; pouco antes, no mesmo exposto nos capítulos anteriores. Desfeita a concórdia em Empédocles, o poeta
romance, afirma: estanca, nos versos do primeiro solilóquio do protagonista, de golpe, esta
exuberância de vida. Inicia-se, com o abandono dos deuses, a via-crúcis do
"Todos nós percorremos uma via excêntrica, e, não há outro caminho possível da filósofo como ser sem vida, tendo sido arremessado ao Tártaro a fim de submeter-
infância à perfeição. se a purificações nos rios do inferno. A maldição de Hermócrates exclui a
A bem-aventurada unidade, o Ser, no sentido único da palavra, está perdido para
concessão de água ao peregrinante e este galga a montanha, como mendigo.
nós, e tivemos de perdê-lo (...)
Porém, as nuvens formam o abrigo de Empédocles na natureza. Surge, com
A meta de toda a nossa aspiração é terminar aquele conflito eterno entre nosso Si-
mesmo e o mundo, restabelecer a paz de toda a paz, maior que toda a razão, unir-nos estas i magens, a primeira esperança de sobrevida, como tênue fio de vida a ren ascer.
M as , em seguida, Pantéia imagina a luta do herói n as rochas escarpadas; e a segunda
81
com a natureza em Um todo infinito, queiramos entender isto ou não."
cena do segundo ato as sinala o momento de maior aridez espiritual para o peregrino.
Assim, nos textos em prosa, ou seja, no romance, nos ensaios, fragmentos, Transparece, nesta pas sagem, o deserto da natureza em si e o da alma. Escorre o
nas cartas, e, de forma inconteste, no drama, Hõlderlin expressa a unicidade sangue do taumaturgo vertido por causa do caminho íngreme; a corrente de vida
de tudo o que vive, da natureza humana e no mundo em derredor, através de quase se esvai. Na cena seguinte, ocorre a metanoia 82 do protagonista junto à
imagens do elemento água. nascente. Esta, prodigalizan do-se no alto da montan ha, denota o estado oposto ao
da sequidão, o momento da purificação do filósofo.
A pureza também promana das nuvens, umedecendo as árvores e a eterna
O ELEMENTO ÁGUA NO TEXTO TEATRAL: PRIMEIRA VERSA() fluência da água em sua simplicidade e humildade pervaga toda a natureza.
Macro e microcosmo alternam-se:
A água acompanha a ação do drama, como fio condutor do pensamento do
poeta. Manifesta-se, desde eventos anteriores à abertura da peça, sob as mais "/.../ Para dentro,
diversas formas, seja em contexto positivo, no âmbito individual: o influxo do Para dentro de mim, vós, Fontes da Vida, outrora
Confluíeis das profundezas do mundo — e eles vinham,
demiurgo sobre o cosmo e através da poção, quando cura Panteia, como na 83
Os sedentos, a mim /.../" (15, 12-15)
esfera coletiva, ao guiar a massa desorientada; seja em visão negativa, com
imagens de transbordamento das águas e inebriamento do povo.
A nascente mana das profundezas do universo, assim como o sangue permeia,
em todos os recessos, o corpo humano 84 . Com o retorno dos deuses à alma da
purificaçóes, quer remindo-se pelas penas que sofrem das ações de que se tornaram culpados, quer
obtendo pelas boas ações que praticaram recompensas proporcionadas aos méritos de cada um (...) mais forte, até a raiz de todas as faculdades do espírito humano (mentais, afetivas, volitivas), a fim de
Aqueles, enfim, cuja vida foi reconhecida como de grande piedade, sáo libertados, como de cárceres, reencontrar a integridade da natureza." EVDOKIMOV, Paul. A Mulher e a Salvaçáo do Mundo. São
dessas regiões interiores da terra, e levados para as alturas da morada pura, indo morar na superfície da Paulo, Paulinas, 1986, p. 324.
as
verdadeira terra!" Ib., p. 127 s. "/.../ in mit, / In mir, ihr Quellen des Lebens, strõmtet ihr einst / Aus Tiefen der Welt zusammen und
" Ib., p. 79. es kamen / Die Dürstenden zu mir /...1" (15, 12-15).
so "heiliger Plato" Kl StA, v. 3, p. 250. 84
No reino da imaginação, tudo o que flui — sangue, leite, lava de montanha — é água. Como assinala
s' "Wir durchlaufen alie eine exzentrische Bahn, und es ist kein anderer Weg móglich von der Kindheit zur Bachelard: "para a fantasia materializante todos os líquidos são água, tudo o que corre é água, a água é o
Vollendung. / Die selige Einigkeit, das Sein, im einzigen Sinn des Worts, ist für uns verloren und wir único elemento líquido. A liquidez é precisamente o caráter elementar da água" ("pour la rêverie
mussten es verlieren, (...) / Jenen ewigen Widerstreit zwischen unserem Selbst und der Welt zu endigen, matérialisante, tous les liquides sont des eaux, tout ce qui coute est de l'eau, 1'eau est l'unique élément
den Frieden alies Friedens, der hõher ist, denn alle Vernunft, den wiederzubringen, uns mit der Natur liquide. La liquidité est précisément le caractère élémentaire de 1'eau ." ) BACHELARD. L'Eau et les Rives.
zu vereinigen zu Einem unendlichen Ganzen, das ist das Ziel all unseres Strebens, wir mõgen uns Essai sur l'imagination de la matière. 11. ed. Paris, Corti, 1973, p. 127. A partir de agora: BACHELARD.
darüber verstehen oder nicht." Ib., p. 249. L'Eau et les Rives.
82 Metanóia: "Transformação intelectual, mudança, conversão. Arrependimento ou penitência no sentido 85 "A individuação é (...) um processo de diferenciação cujo objetivo é o desenvolvimento da personalidade
personagem, Hõlderlin restabelece o fluxo de vida na poesia, ou seja, a força Da dissolução do ser humano — microcosmo —, no fogo — macrocosmo
i mpetuosa que brota em exabundância do seio do profundo e harmoniza todo sobrevém a liberdade absoluta no terceiro elemento, mais elevado, puro e
o universo. Desta profusão de vida dimana o conhecimento das origens: ocorre universal, no éter. Os filósofos pré-socráticos consideram-no o elemento
a individuação 85 do herói. O protagonista libera-se da Moira, do destino. conciliador. Visualizam-no como quinto elemento, além dos quatro elementos,
Flui do ser unificado a palavra. Esta se torna torrente livre rumo ao oceano, ou seja, ar, terra, água e fogo, o Ruach hebraico, espírito. Hõlderlin filia-se a
no mais profundo e no infinito. Propaga-se a todos e se espraia no oceano este pensamento. Postula no ensaio Fundamento do Empédocles (Grund zum
linguístico. Processa-se uma dinâmica no inconsciente mobilizadora de todas Empedokles) :
as forças do ser, conduzindo à ideia de transformação incessante:
"Seu destino representa-se nele [Empédocles] como numa conciliação momentânea
"Perecer? Mas se a que, porém, deve dissolver-se para tornar-se mais (...) assim também, aqui, o subjetivo
88
Permanência é igual à torrente presa pelo e o objetivo trocam sua forma e tornam-se Unidade em um.°
Gelo. Criatura insensata! Ac aso dorme e se detém
O espírito da vida sagrada — o puro — Hõlderlin desencadeia com os atributos de pureza e dinamicidade, primeiro
Nalguma parte para que o pudesses atar?" (84 , 9-13)86
da água, a nível individual, então do fogo, na esfera cósmica e, afinal, do éter,
na dimensão do todo, revolução mais profunda e universal que a sublevação
A torrente de vida, além de maleável, é livre e pura, como se observa nos
por meio das armas, porquanto instrumentaliza uma linguagem arquetípica.
dois trechos acima mencionados. A água sutiliza-se ainda mais: pureza absoluta,
Movimenta camadas imas da alma do leitor, conseguindo por meio desta
é insopitável, sem limites. Empédocles, personificação de Hõlderlin, é tangido
linguagem primordial alterar os fundamentos do ser, tornando o homem livre.
pela dinâmica do arquétipo 87 da água. Esta escoa, como caudal ininterrupto
até à prefiguração da cena do filósofo atirando-se no vulcão. Incluso neste ato,
há um dinamismo sem cessar.
AGUA E AS PERSONAGENS: TER E SER

A desmedida, ou seja, hybris89 do taumaturgo levou-o a esquecer a condição


de mortal, conduzindo-o ao "deserto ilimitado" (grenzenloser ide), à fase de
individual. (...) Por individuação entende-se, pois, uma ampliação da esfera da consciência e da vida
psicológica consciente." JUNG, Carl Gustav. Tipos Psicológicos. 2. ed. Rio de Janeiro, Zahar, 1974, pp. ausência da água. Antevê a nascente; esta lhe restitui a harmonia com o mundo
525 e 527. A partir de agora: JUNG. Tipos Psicológicos. exterior e os deuses. Sobrevém, no tocante a Empédocles, um processo de
8G "Vergehn? ist doch / Das Bleiben, gleich dem Strome den der Frost / Gefesselt. Tõricht Wesen!
schlãft und halt / Der heilge Lebensgeist denn irgendwo, / Dass du ihn binden mõchtest, du purificação, induzindo-o à completitude do ser. Após a individuação do herói,
den Reinen?" (84, 9-13). ele se nomeia "nuvem da aurora" (Morgenwolke), sendo portador da
87 Segundo Jung, "os arquétipos são elementos estruturais numinosos da psique", constituindo-se o

númino na "energia específica própria do arquétipo". (JUNG, Carl Gustav. Símbolos da


transformação e da iluminação fecundante. O personagem-título seria o
Transformaçáo. Análise dos prelúdios de uma esquizofrenia. 2. ed. Petrópolis, Vozes, 1989, p. mensageiro dos deuses, espargindo aos agrigentinos, com a alocução a estes, a
221. A partir de agora: JUNG. Símbolos da Transformação.). Esta energia psíquica torna-se
dinâmica. Na obra Das Raízes da Consciência, Jung descreve o arquétipo: "ele não é tão só imagem
paz da qual eram tão sedentos. Opera-se, com esta imagem do protagonista
em si, mas, ao mesmo tempo, dinâmica". ("er ist eben nicht nur Bild an sich, sondern zugleich auch como nuvem, um movimento dos céus para a terra, para o âmbito humano.
Dynamis". (Ib. Von den Wurzeln des Bewusstseins. Studien über den Archetypus. v. 9, Zürich,
Rascher, 1954, p. 573 s. A partir de agora: JUNG. Von den Wurzeln des Bewusstseins.). Marie-
Louise von Franz, discípula de Jung, traça um histórico do conceito de arquétipo: "A noção de muss, um mehr zu werden. (...) so auch hierin das Subjektive und Objektive ihre Gestalt verwechseln,
energia e sua relação com força e movimento foi também formulada pelos antigos pensadores 89
und Eines werden in einem." 1(1 StA, v. 4, p. 162 e 169.
gregos e desenvolvida pelos partidários do estoicismo. Postulavam a existência de uma espécie de "HYBRIS(...) Com este termo, intraduzível para as línguas modernas, os gregos entenderam uma qualquer
`tensão' criadora de vida (tonos) que seria o fundamento dinâmico de todas as coisas. E evidentemente violação da norma da medida, isto é, dos limites que o homem deve encontrar em suas relações com os
um germe semimitológico do nosso moderno conceito de energia." FRANZ, Marie-Luise von. "A outros homens, com a divindade e com a ordem das coisas." ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de
ciência e o inconsciente." In: O Homem e seus Símbolos. 9. ed. Rio de Janeiro, Nova Fronteira, Filosofia. Tradução coord. e rev. por Alfredo Bosi. 2. ed., Mestre Jou, São Paulo, 1982, p. 495. A partir
s.d., p. 307. de agora: ABBAGNANO. Dicionário de Filosofia.
88 "Sein Schicksal stellt sich in ihm dar, als in einer augenblicklichen Vereinigung, die aber sich auflõsen
Panteia e Pausânias — personagens afins ao filósofo — representam, como Apenas Hermócrates, por encarnar o mal absoluto, movimenta-se para baixo,
este, o Ser, na tragédia. Panteia vê-se como pálido reflexo de Empédocles, rumo ao Tártaro, ou seja, ao lugar mais profundo do inferno.
"nuvenzinha da alvorada" (Morgenwõlkchen). A heroína, amante do puro, Crítias, no primeiro ato, deixa-se seduzir pelas palavras insidiosas do
padecia entre os bárbaros e adoecera. O taumaturgo, por meio de uma "poção" sacerdote, receando o soçobro das estruturas sociais ante o impacto da ação de
(Heiltrank), solvera a enfermidade no corpo da jovem. O herói, mesmo atingido Empédocles junto aos agrigentinos. Aos olhos de Crítias de então, o protagonista
pelo anátema, suplica a Crítias para levar a filha à Hélade, onde o espírito teria armado uma tempestade, grande agitação aos donos do poder político e
terno de Panteia poderá florescer alegre e se tornar portador de concórdia, em eclesiástico, ou seja, a ele e a Hermócrates. Porém, aos poucos (primeiro ato,
meio aos semelhantes a ela. O filósofo empenha-se em libertá-lo do mundo de 6a cena), a pureza de Empédocles convence-o. Também a intercessão pura de
solidão, em Agrigento, consciente do valor superior de um único ser voltado Délia e Panteia a favor do filósofo ajuda a induzir o arconte rumo ao Ser. No
ao belo, à essência, ao naufrágio de uma cidade inteira de indivíduos perdidos segundo ato, Crítias desprende-se do Ter: contempla o ser diáfano do
em aparências, no Ter. Empédocles compara Pausânias à nascente de onde taumaturgo e implora-lhe perdão.
provém o mais sábio e conclama o povo a seguir os conselhos do discípulo. O O povo move-se como torrente, ora convulsionado pelas forças
caráter deste é simples, direto e puro. desagregadoras, ora guiado pela força da harmonia. Opera-se um dinamismo
Já Hermócrates contrapõe-se a Empédocles, Pausânias e Pantéia, os três de por vezes transbordante, revolto, outras aplacador. Apenas por instantes, a
caráter puro, natural. Hermócrates, sacerdote, e Crítias, arconte (no primeiro ação benfazeja do herói servia de bálsamo aos agrigentinos, mas não chegava a
ato), figuram, outrossim, o Ter, o poder. O sacerdote, lacerado pela inveja, atingir o âmago de suas almas. Logo o íntimo deles conturbava-se, de novo, e
pelo temor de ser suplantado pelo filósofo, incita, com dissimulação, Crítias e deixavam-se fascinar pelas artimanhas do sacerdote. Só com a mensagem de
o povo, à dissensão. Hõlderlin revela este tormento na alma de Hermócrates Empédocles, os agrigentinos tocados pela força originária da palavra,
pela imagem do pântano: traiçoeiro, impuro, promete um caminho que se transformam-se no fundo do ser e passam, de "inebriados" (trunken) no primeiro
revela enganoso e destruidor. Viscoso, escorregadio, o pântano é o elemento de ato a "crianças" (Kinder), isto é, puros, livres.
junção entre terra e inferno. O sacerdote, antípoda de Empédocles 90 , macula No camponês, protótipo de indivíduo seco, fenece o sentimento e impera a
a veste sacerdotal, fazendo jus à crítica acerba de Hipérion aos alemães na rudeza, pois seu egoísmo resseca a corrente de vida. É a única personagem estática
penúltima carta deste ao amigo Belarmino, no romance Hipérion: que aparece por única vez no meio da tragédia e demarca o momento de maior
crueza da peça. Natureza inóspita, seja a exterior como a interior, simboliza o
' Ah, vós o que sabeis é matar e não dar vida! [...] Porque é que ninguém diz a esses indivíduo fechado em si mesmo, ao contato humano; não pertence, assim, a grupo
í mpios que entre eles tudo é assim tão imperfeito porque eles corrompem tudo o que social algum. Marca o contrário do sentimento de comunidade que institui a polis.
é puro, conspurcam tudo o que é sagrado com as su as desajeitadas mãos; que entre eles
Délia não evolui na peça, mas por outro motivo. Como o campônio, ela
nada medra porque eles ignoram a raiz donde tudo n asce, a natureza divina, que entre
eles a vida é realmente insípida, pesada e saturada de uma discórdia cort ante e surda,"' escapa ao sistema de vida de Agrigento, mas, trata-se, neste caso, de personagem
completa, harmônica. Délia encarna o espírito ateniense de congraçamento e
Este trecho corresponde ao teor da correspondência de Hõlderlin a Neuffer, confraternização; constitui-se, portanto, em personagem antípoda, em todos
de doze de novembro de 1798, transcrita antes: os sentidos, ao camponês. No ângulo histórico, floresceu em Atenas, como se
sabe, o espírito de comedimento. A ateniense pondera sobre a moderação e
"O puro só pode ser representado no impuro" 92 argumenta, adiante, em prol do equilíbrio. Por outro lado, Délia também
representa o estado oposto ao de Empédocles quando este incorre na hybris e
90
Até o nome Empédocles significa solidez. Apud: BINDER, Wolfgang. Hôlderlin Aufsatze. Frankfurt/M.,
Insel, 1970, p. 234. A imagem do filósofo é a do ca rv alho (die Eiche) (17, 16), elemento de ligação entre
ao espírito "inebriado" (trunken) dos agrigentinos, no primeiro ato da obra 93 .
céu e terra, símbolo de firmeza, consistência, majestade. 93
HOLDERLIN, Friedrich. "Assim me Encontrei entre os Alemães..." In: Literatura Alemã. Textos e A afirmação de Mircea Eliade, no livro Mito e Realidade, aplica-se ao povo de Agrigento, enquanto
Contextos (1700-1900). v. I: O século XVIII. Lisboa, Presença, 1989, p. 203 s. A partir de agora: extasiado: "A ignorância e o sono são igualmente expressos em termos de `embriaguez'." ELIADE,
HOLDERLIN. "Assim me Encontrei entre os Alemães..." In: Literatura Alemã. Mircea. Mito e Realidade. São
Paulo, Perspectiva, 1963, p. 115. A partir de agora: ELIADE. Mito e
92
"Das Reine kann sich nur darstellen im Unreinen" 1ü StA, v. 6, carta 167, p. 313. Realidade. Atualizou-se a acentuação do texto do livro.

52 53
Na cidadã ateniense, reina a sobriedade, qualidade sublime para os gregos, e, montanha, também com o elemento fogo. São eles: jardim com a nascente,
para o dramaturgo alemão. Na Hélade, a alma pura nutre-se no belo e, como caverna, encosta da montanha e nascente, cratera. Unificado, o protagonista
se exprime o escritor no romance Hipérion: vivia em participation mystique com a natureza, dela haurindo forças. Poder-se-
á compreender este intercâmbio de energias, no contexto da concepção de
"Oh, Belarmino! Quando um povo ama a beleza, quando sabe honrar o génio micro e macrocosmo. Encontra-se em Paracelso esta interpretação do homem
[sic.] dos seus artistas, ani ma-o, como sopro vital, um espírito envolvente, alargam-se-
à i magem do cosmo. No ser humano, refletir-se-ia toda a constituição do
lhe as ideias [sic.], desaparece a presunção, e todos os corações se tornam piedosos e
universo. " O homem microcosmo é uma quintessência do universo-
grandes e o entusias mo faz nascer heróis. Um povo assim é a pátria de todos os homens
e o forasteiro sente-se bem no meio dele." 94 macrocosmo, (...) reúne em si as forças cósmicas, espelhando-as em seu
íntimo" 97 . Assim, Empédocles serenava o povo, norteando-lhe o caminho, e se
E, na mesma obra, proclama: retemperava, de novo, no jardim. Sucumbindo à hybris, ou seja, à inflação, cai,
por enantiodromia 98 , no sentimento oposto: é preso de dor e desalento, dissocia-

"Pois a necessária disposição para a liberdade também resulta da beleza de espírito se, perdendo seus poderes.
dos atenienses." 95 A saída de Empédocles do jardim paradisíaco marca a perda da unidade anímica
e o início da expiação do herói que o leva a refugiar-se na grota, e desta o impele
Para Hõlderlin, Atenas simbolizava o esplendor e a presença dos deuses à encosta da montanha. Galga o Etna, onde encontra a fonte; por fim, avizinha-
no espírito de todos, onde os habitantes agiam livremente 96 , havendo se da cratera. A caverna, lugar escuro e profundo, sugere a segregação do
alcançado a liberdade interior. Tendo o homem adquirido o estado de protagonista a uma espécie de Hades. A montanha opõe-se à grota, na medida
equilíbrio, vive na região do belo e suas ações são pautadas pelo sentimento em que aponta para uma ação, se se considerar a dificuldade da subida, tanto
de profunda liberdade. no sentido físico como na acepção de elevação espiritual. Enquanto a caverna
significa involução e ocultação do ser, a montanha indica evolução e mesmo
regeneratio. A escalada empreendida pelo filósofo é o oposto da permanência
ÁGUA E ESPAÇO tranquila no jardim, onde, em espaço íntimo e conhecido, ele sorvera energia
ESPAÇO EXTERIOR. OS CENÁRIOS NA PEÇA: MICRO E MACROCOSMO espiritual da nascente; agora, encontra-se de p assagem na encosta da montanha,
em paisagem inóspita ao ser humano, curvado pel as dificuldades da subida, mortal
A tragédia propõe uma topologia simbólica, arquetípica, cujos marcos ferido pelos tormentos da vida. Hõlderlin, escreve à mãe, na carta n. 162:
principais manifestam-se em correlação com o elemento água e, no alto da
"E meu Hipérion diz: `Resta-nos, em tudo, ainda uma alegria: o sofrimento
94 HOLDERLIN. "Assim me Encontrei entre os Alemães..." In: Literatura Alemá, p. 204. autêntico exalta. Quem adentra o seu infortúnio, eleva-se. E é maravilhoso o fato de
95 "Aus der Geistesschónheit der Athener folgte denn auch der nótige Sinn für Freiheit."KI StA, v. 3, p. 84.

96 "Correspondendo à `divindade' da `criança', os `atenienses' encontram-se em sua perfeiçáo no estado de


que só no sofrimento sentimos verdadeiramente a liberdade da alma'." 99
liberdade e, ao mesmo tempo, num relacionamento imediato para com o fundamento unitário do
mundo, para com a natureza divina, não destruído por determinaçóes e separaçóes da consciência. Os
O poeta enaltece o sofrimento, pois, através dele, o ser humano purifica-se
homens (...) permanecem (...) no estado da `unidade bem-aventurada' (STA III, 236) (...) Só o
`ateniense' pode criar uma sociedade livre de dominação em virtude do idealismo de seu desenvolvimento e ascende a estágio superior, podendo, só então, desfruir de liberdade.
e não necessita de qualquer regulamento normativo do Estado, nem tampouco colocar-se em oposição ao
todo.
"Entsprechend der `Güttlichkeit' des `Kindes' befinden die Athener' sich in ihrer Vollkommenheit im "L'uomo microcosmo e una quintessenza dell'universo-macrocosmo (...) riunisce in sè le forte cosmiche,
Zustand der Freiheit und zugleich in einer nicht durch Bestimmungen und Trennungen des Bewusstseins rispecchiandole nel suo interno". PARACELSO, Teofrasto. Scelti Scritti. Milano, Bocca, 1943, p. 93.
98
zerstórten, sondem unmittelbaren Beziehung zum Einheitsgrund der Welt, zur `góttlichen Natur'. Die Enantiodromia é uma expressão de Heráclito e significa "`passar para o lado oposto' (...) Um nítido
Menschen (...) verbleiben (...) im Zustand der 'seeligen Einigkeit' (STA III, 236) (...) Nur der exemplo de enantiodromia é a psicologia de São Paulo e sua conversão ao cristianismo," Ver: JUNG. Tipos
Athener' kann aufgrund der Idealitãt seiner Entwicklung eine herrschaftsfreie Gesellschaft schaffen und Psicológicos, p. 496 s.
bedarf keiner staatlich-normativen Regelung, als er sich nicht in Gegensatz zum Ganzen setzen- kann."
"
Und mein Hyperion sagt: `Es bleibt uns überall noch eine Freude. Der echte Schmerz begeistert. Wer auf
PRILL, Meinhard. Bürgerliche Alltagswelt und pietistisches Denken im Werk Holderlins. Zur Kritik des sein Elend tritt, steht hõher. Und das ist herrlich, dass wir erst im Leiden recht der Sede Freiheit
Hólderlin-Bildes von Georg Lukacs [sic.]. Tiibingen, Niemeyer, 1983, pp. 127 e 130. fiihlen'." Kl StA, v. 6, p. 298.
Empédocles eleva-se da obscuridade da caverna à luz da montanha, do mais conjurar o deserto interior, conclamando o espírito das águas: antes, ele mesmo,
baixo ao mais alto, do fechado ao amplamente abertoloo fora fonte da vida. O deserto "ilimitado" (grenzenloser) existe na alma de
No alto da montanha, surge a fonte de Mnemósine; em suas águas, o herói Empédocles e se expressa no despojamento crescente a que se submete.
recuperará a harmonia e se remontará a estágio espiritual superior. Acredita-se O reaparecimento da água, após a expiação, na nascente da montanha é
que, no alto da montanha, a nascente indique as águas da memória, cuja virtude presságio de que o caminho árduo e árido chegou ao fim. O "deserto áspero"
era a de despertar o espírito, sobretudo para o conhecimento das origens e das (de Wildnis) secara anseios terrenos, assim, a alma do herói está predisposta a
genealogias. Ela teria como atributo a onisciência e, segundo Hesíodo receber as revelações: sente ora sede, sobretudo espiritual, anseio de restabelecer
( Teogonia, 32, 38), ela sabe `tudo o que foi, tudo o que é, tudo o que será"Ó . 1
a fonte interior. A nascente no alto da montanha, lugar das grandes revelações
Ao contrário da fonte do Letes cujas águas sombrias mergulhavam o ser humano e de intensa claridade, reunifica e purifica a alma da personagem. A fonte do
no sono e no esquecimento, as águas de Mnemósine restituíam a lembrança jardim edênico, morada primeira do taumaturgo, encontrava-se à sombra. A
das vidas passadas, conferindo-lhe a clara visão de seu destino e a coragem de nascente do alto resplandece, não mais às escondidas, mas nítida, "clara, /
abandonar-se a ele. Prodigiosa transformação transfigura-o. Fresca e viva" (Klar und kühlUnd rege /.../) como agora a alma do filósofo. Este
O peregrino encaminha-se à derradeira morada: integrar-se-á na totalidade momento é precedido por uma transformação da natureza que, do externo,
sacra da natureza. A vida do protagonista encontra seu fim e cumprimento na prepara o advento de uma metamorfose interior.
cratera do Etna. A cratera sugere um centro que a personagem atinge no alto Tal como a água eternamente se renova e mana à guisa de nascimento
da montanha. A harmonia vivenciada por Empédocles no jardim era contínuo, renasce para a vida o herói hõlderliniano marcado na aridez da morte.
circunscrita, tanto assim que necessitava voltar a seu silêncio profundo, enquanto O canto maduro empedocliano aos agrigentinos denota perfeita simbiose entre
a tranquilidade alcançada no alto do vulcão é ilimitada. No último monólogo, as manifestações de sentimento do protagonista e os elementos da natureza: o
nos versos finais do herói em cena, entretecem-se micro e microcosmo. A cântico, ofertado com ramalhetes de amor, metamorfoseia-se em torrente,
i magem do arco-íris, junção de todas as cores, símbolo da paz após a tormenta, seguindo o itinerário da natureza, desde a nascente ao oceano. Assim, a canção
consubstancia-se na alegria do filósofo. enternecida e livre de Empédocles, num crescendo, ressoa nas bordas, estremece-
as e as transfaz, arrebatando as profundezas, as imagens primordiais da psique
humana.
ESPAÇO INTERIOR DO HOMEM E DO COSMO Sobrevém o movimento dos extremos na paisagem interior da personagem:
da desventura interior do protagonista, brota-lhe a alegria, assim como o fruto
Para Hõlderlin, a natureza capta a essência da existência. O jardim da casa precioso advém do sombrio. Ou, expresso de outra forma: do fundo do
de Empédocles é paisagem real, e, ao mesmo tempo, exteriorização da própria inconsciente — elemento material, ctônico —, irrompe o fruto precioso; como
interioridade do taumaturgo, lugar de reflexão sobre si mesmo e a vida. na natureza externa, na interna, surge do sofrimento, a individuação da pessoa.
O jardim desperta a sensação de fecundidade, opulência da vegetação, Ocorre uma interiorização da natureza. Entrelaçam-se, assim, natureza exterior
presença de água farta. Nele, à sombra, jorra uma nascente oculta de energia e interior numa exuberância de imagens que se unem no profundo.
espiritual. O ser humano, desunindo-se das forças do divino, perde a pujança, A este aspecto individual das correspondências externas-internas da tragédia,
a clarividência; o mesmo ocorre com a natureza ao redor: a saída, em definitivo, homologa-se um ângulo coletivo. Impera um relacionamento entre o
do herói do jardim assinala a cisão no íntimo-do protagonista e a simultânea taumaturgo e os agrigentinos, de início positivo, interpretado com
instauração do clima seco. O filósofo, no primeiro monólogo da peça, procura malevolência pelos inimigos. Rompido o elo de Empédocles com o divino,
o povo perde qualquer direção e erra pelas ruas. A desordem e a loucura
100
Encontra-se na oitava elegia de Duino, de Rainer Maria Rilke, a concepção do aberto, das Offene, estado que estão ligadas à ideia do erradio, enquanto o conceito de peregrinação —
exclui a divisão entre sujeito e objeto. É uma visão superior, quase sobre-humana em que homem e
objeto se identificam. Ver: RILKE, Rainer Maria. Ausgewahlte Gedichte. Frankfurt/M., Suhrkamp, roteiro exterior e interior da personagem, desde sua ida à caverna —, indica
1966, p. 127. tensão para uma meta, cujas etapas não são alheias a um anseio de ordenação.
01 Apud: ELIADE. Mito e Realidade, p. 108.
A ida dos agrigentinos ao alto da montanha e o discurso do filósofo transforma- O outro princípio da psique humana é o feminino, ou o da anima, quando
nebriados" (trunken), em peregrinos: "a nova alma" (die
de seres erráticos,"inebriados" reinam as imagens tranquilas, a suavidade, o devaneio. Nele vigem o
neue Seele), ou seja, a paz, viceja agora no ânimo dos cidadãos. Assim como inconsciente, a noite, a lua, a água, o húmus fecundo, a criatividade, a fluidez
toda a natureza concilia os elementos e suas manifestações entre si, também os da linguagem. Na noite, a umidade fecunda as plantas: durante o sono, no
homens e as obras destes unir-se-ão em concórdia, igualdade de condições e domínio do inconsciente, os doentes recuperam-se de enfermidades, como no
propósitos. caso de Pantéia. Empédocles aderia, de forma incondicional, a esta esfera
Numa homologação de planos, poder-se-ia observar como o protagonista, noturnal, quando se sentia envolvido pelo pneuma. O universo inteiro co-
os agrigentinos e a humanidade perderam, no início, o esplendor do espírito, participava da exaltação profética da personagem:
da época da presença dos deuses ( Gottestag). O começo do drama assinala um
período de obscurecimento e sequidão ( Gottesnacht). O destino do herói "Tantas vezes, nas noites serenas, quando o mundo
simboliza o da humanidade. No final da obra teatral, eles voltam à plenitude Harmonioso se expandia sobre mim e o ar santo
Me circundava com todo o firmamento —
da vida: o âmbito da harmonia do jardim com a nascente de energia espiritual
O espírito repleto de alegres pensamentos —
do filósofo expande-se ao espaço universal do santuário da floresta, na festa da Sentia-me vibrante de vida;" (68, 19-23)
102

natureza. Não mais uma fonte com excepcional claridade — Empédocles —,

mas, nascentes vindo à luz do penhasco. Poder-se-ia ousar dizer: outros seres O taumaturgo lucubrava as grandes revelações, antes do princípio do drama,
individuados cujas vidas, como nascentes, começam a manifestar-se, propagando e se imaginava trasladá-las ao povo "nuvem dourada da aurora" (goldne
o espírito de paz universal. Morgenwolke), ainda sob o império noturno, com o orvalho fecundando a
terra.

AGUA E TEMPO
TEMPO PSICOLÓGICO UNIDADES TEMPORAIS NO DRAMA

Segundo a psicologia das profundezas, a psique rege-se por dois princípios: Poder-se-ia, ainda, dividir a criação teatral em quatro unidades temporais.
pelo princípio masculino, ou animus, quando imperam a vontade, as A primeira, anterior ao começo da ação, consiste na rememoração do clima de
preocupações, os projetos. Nele dominam o consciente, o dia, o sol, o exabundância de água, dos elementos. A segunda, marca a vivência atual de
racionalismo, a ação; quando o consciente se exacerba de forma excessiva, escassez. A terceira unidade temporal, a do domínio do elemento água, sobrevém
sobrevém a aridez. Empédocles, no início do segundo ato, andrajoso, traspassado após a metanoia do pensador. A quarta unidade temporal é ulterior ao enredo
de cansaço e sede, vivencia a ação nefanda do sol em demasia, ou seja, a da peça. O dramaturgo projeta o tempo para após o sacrifício do protagonista
consequência da luz da consciência em excesso coibindo o florescimento da no Etna e o prefigura no discurso da personagem-título aos agrigentinos. Na
vida. Estes momentos de desabrigo na natureza externa e humana são, outrossim, última aparição do filósofo em cena, ele acha-se no limiar para este quarto
de provação espiritual e sinal do desprendimento do herói de toda vaidade estágio: o tempo futuro já está se convertendo em realidade. O microcosmo,
humana, do ego. Na rudez espiritual prevalecente, o demiurgo evoca a época Empédocles, funde-se no macrocosmo, ou seja, no fogo. Este instante constitui-
de ouro da humanidade, da harmonia, ressaltando assim o contraste do tempo se como dinamismo puro, fulminante, alcançando, de forma tautócrona, os
atual em relação ao anterior: é a primeira alusão, no texto, à abundância daquele extremos das alturas, culminando no éter.
estágio de perfeição da humanidade e, ao simbolismo cristão do pão ("cereais
preciosos") e do vinho ("a uva purpúrea"). Esta invocação reaparecerá, no meio
da tragédia, no seu momento mais cruel e quando da reinstalação da idade de 1Õ2
"In heitern Náchten oft, wenn über mir / Die schõne Welt sich üffnet', and die heilge Luft / Mit ihren
Sternen alien als ein Geist / Voll freudiger Gedanken mich umfing, / Da wurd es oft lebendiger in mir;"
ouro. (68, 19-23).

58 59
TEMPO INTERIOR — ESTRUTURA QUATERNÁRIA DO DRAMA o povo gozara de sobreabundância e paz. O instante atual, de desagregação,
ausência, "noite dos deuses" ( Gottesnacht), equivale à privação destes e da água.
No primeiro momento, no predomínio do elemento ar, o demiurgo deslizara Nele, predomina o elemento terra no aspecto negativo, isto é, infértil, árido 103
pelo espaço-tempo num plano alto, permanecendo no jardim edênico na natureza humana e exterior. Constitui-se este momento, por outro lado, no
semelhante a um deus, daí ausentando-se, apenas para ajudar a turba, mas a devir da história em torrente caudalosa a impulsionar-se em direção ao mar
ele retornando a fim de revigorar-se, reequilibrar-se, em quietude e paz. O (tempo de mudança). O contínuo transformar-se deste líquido, das situações
tempo transcorrera de forma suave, sem se fazer sentir, em atmosfera atemporal. sinalizam, outrossim, para a efemeridade seja do momento de recrudescência
No segundo estágio, o filósofo desce à terra, e, em desassossego, move-se em do racional, como para a transitoriedade da existência. Hõlderlin acredita, no
ato contínuo; o peso da culpa verga-o à terra. O clima causticante, oposto ao recesso do ser, na aurora de dias melhores, como proclama na carta n. 132:
anterior, perdura como por séculos: este tempo carente de deuses, de profusão,
delonga-se em aflição e dor. Instaura-se a terceira etapa, quando o personagem- "Creio numa futura revolução de modos de pensar e de imaginar que fará tudo [o
104

título bebe a água da nascente e volta a vibrar em uníssono corn a natureza que foi] até aqui [realizado] enrubescer de vergonha."
eviterna, conscientizando-se da missão profética: fl ui, a partir da terceira cena,
no segundo ato, em toda a pujança, a limpidez, como se ele próprio escoasse E o futuro — época do retorno do dia dos deuses, domínio do fogo,
rumo ao destino de homem de exceção e poeta. entusiasmo, mas em interação com a água, vida —, povoa o imaginário do
O tempo e o protagonista, como rios, confluem em incessante devir, poeta, como a fase de amálgama entre indivíduo e sociedade, do renascimento
decorrendo em plena liberdade em rumo da amplidão do mar. O taumaturgo do homem em nível mais elevado, quando as relações sociais, alicerçadas no
passa ao quarto instante ao lançar-se nas labaredas do Etna e amalgamar-se, amor, propiciarão a vigência dos ideais da Revolução Francesa, isto é, da
em ato simultâneo, com a natureza, ascendendo ao éter, como próprio do fraternidade, igualdade e liberdade. É como se a obra, como torrente, fosse
espírito liberto, em energia puríssima, expansão infinita. O tempo, como transmudando-se nesse devir da História.
Empédocles, revolteia-se como num vórtice: é devir. O inconsciente,
fundindo-se com o consciente, atinge o Si-mesmo: estabelece-se a harmonia
do ser humano nas profundezas, ele ausculta as raízes da alma, capta a pureza TEMPO PROFANO E SAGRADO

do ser e vibra em sintonia com toda a natureza em si e humana, infundindo


em todos, ou seja, a nível coletivo, esta atmosfera interior de amor e paz, Observa-se, ainda, na criação dramática, outro tipo de tempo: para o poeta,
através da canção. o momento atual dos agrigentinos, o da criação dramática, é profano. Impera
a inarmonia no coração dos seres humanos afastados do convívio dos deuses;
dessacralizou-se o mundo, decorrendo deste fato enorme perda para a
TEMPO INTERIOR — TERCEIRO MOMENTO humanidade, o sentimento de desarvoramento dos agrigentinos e de
Empédocles, no início da tragédia. Quando se reinstala a harmonia no interior
Importa ao aedo o tempo como expressão, poder-se-ia dizer, da água, ou do protagonista e no seio da comunidade, restaura-se o tempo sagrado.
melhor, de um vir-a-ser, sempre em metamorfose, efêmero, inapreensível. Nesta No tornar-se Um com tudo e todos, Hõlderlin visualiza o herói não mais
perspectiva, o presente apresenta-se, de forma síncrona, como estado de perda restrito ao jardim paradisíaco, mas em unidade expandida a todo o universo
e de transformação rumo ao futuro auspicioso. O passado fora época da presença, — este transmuta-se em Éden —, e, concebe o regresso da época de ouro da
do "dia dos deuses" ( Gottestag), conforme mencionado antes, de bem-
"No romance Hipérion, conforme visto antes, assim como nas elegias Pio e Vinho, O Arquipélago, Hõlderlin
aventurança e equilíbrio, seja no âmbito da humanidade, seja no do texto teatral
lamenta-se inconformado, da aridez vigente no momento presente. Anuncia, porém, nas duas elegias, a
— infância e primavera tanto da vida humana como da natureza. No contexto volta dos deuses.
da peça, fora o período da atuação do demiurgo igual à era de Saturno, quando 1A4 "Ich glaube an eine künftige Revolution der Gesinnungen und Vorstellungsarten, die alies Bisherige
schamrot machen wird." Kl StA, v. 6, p. 247.
humanidade. O jardim edênico ocorrerá, então, em todo o tempo, no âmago "Mas também mora um Deus no homem de modo que ele vê passado e futuro e
da natureza humana e cósmica. Já prenuncia no romance Hipérion: passeia pelos tempos como da torrente à mont an ha acima e à fonte" 107

"Ser Um com Tudo, esta é a vida da deidade, o céu dos homens. Ser Um com tudo
o que existe para retornar ao todo da natureza em venturoso esquecimento de si RECORRÊNCIAS LINGUÍSTICAS
mesmo, este é o ápice dos pensamentos e das alegrias, o cume sagrado da montanha, o RECORRÊNCIAS DE CARÁTER PIETISTA
lugar da calma eterna. (...) Ser Um com tudo o que existe! (...) e todos os pensamentos
desaparecem ante a imagem do mundo eterno e uno como as regras do artista que
anela por sua Urânia, e o destino de bronze renuncia à dominação e, da união dos A energia incessante do arquétipo da água impulsiona o ser humano, o
seres, desaparece a morte, e, não separação e juventude eterna tornam ditoso o mundo, mais das vezes, para o alto, ou esparge-se como bênção, cântico, por sobre a
embelezam-no" 1 o
5
terra, levando à dinamização do texto poético. Os prefixos verbais de direção
constituem-se em resquícios da linguagem de cunho pietista, porquanto
O teatrólogo sacraliza o universo; assim fazendo, transcende, de forma Hõlderlin abso rveu este patrimônio cultural, religioso no ambiente familiar e
si multânea, o tempo profano, voltando à experiência religiosa dos tempos na formação no convento de Tubingen.
arcaicos, repetidos sempre em ritos e festas. Com a perpetuação da palavra Todo o vocabulário hõlderliniano manifesta-se no sentido de despertar o
empedocliana no rito, ela sedimenta-se no inconsciente das pessoas, como ser do profundo, como a nascente promana da terra, o sangue do coração.
goteira a pingar. Assim, mantém a força, e, ao mesmo tempo, unifica todos em Observa-se a unidade em toda a natureza — tudo convergindo à luz, ao alto.
torno de um ideal: Assim mescla-se à imaginação do leitor a chama humana à da natureza, como
no texto seguinte:
"Participamos da ideia da festa como evento de comunhão, no qual se instaura a
unidade. Um encontro onde todas as forças se reunem [sic.] numa vivência "/.../ Mas a chama brota
totalizante" 106 Com alegria de peito intrépido. /.../ "(85, 22-23) 108

A palavra vivífica do taumaturgo atingirá a "nascente calma" (stillen Quelle) Micro e macrocosmo correspondem-se; também na escolha dos vocábulos,
de onde surgiu o cântico e, todos consagrar-se-ão, de mãos dadas, na festa das imagens, patenteia-se o enlaçamento dos elementos, de todo o cosmo.
sacral. Restabelecido o tempo sacro, Empédocles torna-se ser no tempo. Quando Jorram da escuridão da terra, a água fresca e viva e a flor, sobressaindo-se no
os seres pulsam em sintonia, eles são, vislumbram a perfeição. Como a água estado de pureza original.
existente desde sempre, una, contendo o universo em si, sendo de todos e de Por outro lado, a escassez da água conduz ao despojamento, a privações, no
ninguém, fecundante, assim, a palavra revivificadora do poeta, universal e livre. período de distanciamento dos deuses, com o comparecimento no texto de
Não é mais estar no mundo, é ser, puro e dinâmico, igual à água, à criança. vocábulos como sede, deserto e correlatos. Deserto
Neste estado de limpidez, onipresença, aplica-se o texto fragmentário,
Palingênese: "é, no pietismo, primeiro, metáfora para o afastamento de Deus (...), mas, segundo,
para a união mística no fundo da alma" 109 ,

105 "Eines zu sein mit Allem, das ist Leben der Gottheit, das it der Himmel des Menschen. Eines zu sein mit disposição de espírito que propicia o ressurgimento da nascente.
Allem, was lebt, in seliger Selbstvergessenheit wiederzukehren ins All der Natur, das ist der Gipfel der
Gedanken and Freuden, das ist die heilige Bergeshõhe, der Ort der ewigen Ruhe, (...) Eines zu sein mit
Allem, was lebt! (...) and alie Gedanken schwinden vor dem Bilde der ewigeinigen Welt, wie die Regeln
107
"Aber es wohnet auch ein Gott in dem Menschen, dass er Vergangenes and Zukünftiges sieht and wie
des ringenden Künstlers vor seiner Urania, and das eherne Schicksal entsagt der Herrschaft, and aus vom Strom ins Gebirg hinauf an die Quelle lustwandelt er durch Zeiten" KI StA, v. 2, p. 319.
dem Bunde der Wesen schwindet der Tod, and Unzertrennlichkeit and ewige Jugend beseliget, 08
"/.../ Aber freudig quillt / Aus mutger Brust die Flamme./.../" (85, 22-23).
verschünert die Welt" Kl StA, v. 3, p. 9.
109
"1st im Pietismus einmal Metapher fur die Gottesferne (...), zweitens aber fur die Unio mystica i m
106 SILVA, Azevedo da Idalina. A Linguagem da Festa. Uma leitura de Hõlderlin. UFRJ, Rio de Janeiro, Seelengrund." LANGEN, August. Der Wortschatz des deutschen Pietismus. 2. ed. Tubingen, Niemeyer,
1983, p. 9. 1968, p. 171.
RECORRÊNCIAS OUTRAS
O poeta serve-se do vocábulo "água" ( Wasser, Gewãsser), em pontos-chave
do texto: ao descrever o poder demiúrgico de Empédocles, depois, no primeiro MUSICALIDADE DA ÁGUA E DA POESIA

monólogo do herói, onde próximo às nascentes sacras as "águas se unificam"


( Wasser sich sammeln) e após a reunificação da alma do taumaturgo, quando A água, como poesia e vida, penetra em todos os reinos da criação
este deseja descortinar todos os elementos unificados, do alto do Etna. interligando e integrando-os num substrato único.
Com o vocábulo "nascente" ( Quelle), Hõlderlin denota ainda a irrupção do Assim, o fluxo da água da maré corresponde ao do sangue esparramando-se
profundo e a confluência da paisagem externa com a interna, como no trecho pelo corpo no movimento de sístole e diástole, aos intercâmbios necessários
seguinte: entre consciente e inconsciente, produzindo os ritmos da vida. Espelha-se
também na poesia este movimento alternado, que imprime uma cadência na
"A alegria chegou-me do infortúnio e da penúria própria estrutura da cena, como no primeiro monólogo de Empédocles: esta
E forç as do céu desceram amavelmente. introduz-se de manso, cresce em exuberância de imagens, aliterações e
Unem-se no profundo, Natureza, musicalidade; a seguir, diminui o movimento, quase interrompendo-o. Forma-
As fontes de teus cimos e as tuas alegri as ; se, assim, uma cadência tal que vivifica o texto.
Tod as vieram aquietar-se no meu peito:
Na água está contido todo o universo: insinua-se nos mundos subterrâneos,
Eram um único deleite.(...)" (74, 22-27)"o
como a poesia e o inconsciente e se estende a todo o cosmo, corroborando,
assim, o axioma da unicidade de tudo, do eterno. Sendo a água o mais ruidoso
A representação pietista da chuva conclama secom o escrito da peça:
-

dos elementos, ela espalha alegria, porquanto sua dinamismo e musicalidade


contagiantes movem as entranhas do ser e a todos une.
/Seu teto
São as nuvens, o chão Hõlderlin emprega versos anacolúticos no texto, tornando-o ainda mais
Seu leito. Ventos eriçam-lhe os cabelos serpeante e musical. Ademais, emprega vocábulos provenientes de frescor e
E a chuva desliza em sua face com purificação, os quais concorrem para a dinamização e musicalidade da
As lágrim as ; o sol seca-lhe composição. Outrossim, palavras ligadas ao espessamento e à opacidade
As roupas no ardente meio-dia,
aquáticos demarcam a situação inversa, a da estagnação e morte, contrapondo-
Qu an do segue pela areia sem sombras. " "'

se ao movimento e à vida. Estas dicções impregnam a peça de forte colorido


visual.
Sobrevém, nesta passagem, a união mística com o mundo: os pingos da
Assim, as imagens repercutem nos arcanos da alma, pois dimanam das
chuva misturam-se às lágrimas de Empédocles. Pela dinamicidade das imagens
forças profundas do inconsciente. A água, como a poesia, defluindo de
— nuvem, chuva — todo o cosmo interpenetra-se de modo harmônico.
mansinho, pertence ao princípio feminino. Quando ela se transfaz em torrente
vigorosa, torna-se viril, masculiniza-se, podendo tudo levar de roldão. Hõlderlin
marca no próprio ritmo do drama e nos ápices do contexto, a veracidade desta
idéia.

O ritmo da poesia reverbera o estado de perfeita simbiose entre natureza


externa e interna.
Como diz Gaston Bachelard:
110 "So kam aus Müh and Not die Freude mir / Und freundlich stiegen Himmelskrãfte nieder, / Es sammeln
in der Tiefe sich, Natur, / Die Quellen deiner Hõhn and deine Freuden, / Sie kamen all in meiner
Brust zu ruhn, / Sie waren Eine Wonne, /.../" (74, 22-27). "A água é a sober an a da linguagem fluida, da linguagem sem tropeço, da linguagem
"/.../ Sein Hach / Sind Wetterwolken and der Boden ist / Sein Lager. Winde krausen ihm das Haar / Und contínua, continuada, da linguagem que abranda o ritmo, dá uma forma uniforme
Regen trãuft mit seinen Trãnen ihm / Vom Angesicht, and seine Kleider trocknet / Am heissen Mittag
aos diferentes ritmos. Não hesitaremos, port an to em dar seu sentido pleno à expressão
ihm die Sonne wieder / Wenn er im schattenlosen Sande geht."(47, 20-26).
que fala da qualidade de uma poesia fluida e animada, de uma poesia que corre da O dramaturgo também circunscreve o âmbito próprio de Hermócrates e
fonte. (...) Pensamos que a liquidez é o desejo mesmo da linguagem. A linguagem quer seu elemento, o pântano, na esfera mitológica — o Aqueronte.
fluir. Ela flui naturalmente. 12

Como "fúrias" ( Furien) 14 , demônios do mundo infernal, o sacerdote


dissemina o mal. Enlameia o taumaturgo e macula a própria alma com
pensamentos turvos; assim, a alma hermocratiana só pode direcionar-se para
RECORRÊNCIAS DE CARÁTER MITOLÓGICO
baixo, ao Hades, centro nodoso e lodoso da terra.
Os seres entorpecidos, em escuridão e cativeiro, ao perceberem seu estado,
Figuras e imagens arquetípicas aquárias comparecem ao longo do drama, e
padecerão como Níobe 15 . A deusa foi castigada por sua presunção, assim como
demonstram, de sobejo, a dinâmica ascencional em rumo da purificação gradual,
o personagem-título. Este, no decorrer do texto teatral, alça do estado de
seja de Empédocles como dos agrigentinos. Hõlderlin traça, sob outra
Tântalo, ctônico, no Tártaro, ao de Níobe, telúrico, e continua a trilha rumo
roupagem, em paralelo à ação da peça, o roteiro interior do herói.
ao autoconhecimento. No alto da montanha, sobrevém a conscientização do
No primeiro comparecimento do protagonista em cena, ele, só, na grota,
destino empedocliano, quando ele bebe a água da memória, Mnemósine.
menciona o "Tártaro opressivo" (scheuen Tartarus). Ao fazê-lo, o poeta insinua na •
mente do leitor o conjunto de circunstâncias envolvendo este lugar abissal no " MNÉMOSYNÉ. (Mvrl iooµvr).) (...) é a personificação da memória. É filha de
reino dos mortos, onde os amaldiçoados sofrem tormentos, em oposição à morada Urano e de Gaia, pertence ao grupo das titanides. (...) Zeus une-se a ela, no Pireu,
dos bem-aventurados. Esta alusão ao Tártaro marca o início da caminhada da durante nove noites seguidas , e, ao cabo de um ano, ela lhe dá nove filhas , as musas . "116
personagem, ou seja, do processo de purificação empedocliano; na parte final do
monólogo, o peregrino reconhece-se a si mesmo como Tântalo 13 As musas inspiram o herói e ele recorda-se de sua missão, a de profeta, a de
Em correspondência de planos, enquanto o filósofo está em desagregação e espalhar ao povo a mensagem retida, há tempos, no peito; a de unificar o
tormento, sucede o mesmo com o íntimo dos agrigentinos. Hõlderlin explicita homem com o divino. Despertará os agrigentinos para a vida.
o grau de desarmonia reinante no ânimo do povo, através de imagens As musas conferem a Empédocles o dom do canto,
mitológicas, como na metáfora das harpias.
"o poeta (...) tem por função gloriar, i.e. desvelar o que por essência reclama a
"2 "L'eau est la maitresse du langage fluide, du langage sans heurt, du langage continu, continué, du langage
qui assouplit le rythme, qui donne une matière uniforme à des rythmes différents. Nous n'hésiterons desvelação. — Mas por que o futuro e o passado? — Porque esta proclamação
donc pas à donner son piem sens à l'expression qui dit la qualité d'une poésie fluide et animée, d'une desveladora que o poeta exerce como o seu poder próprio é por excelência a profecia"' 17
.

poésie qui coule de source. (...) la liquidité est, d'après nous, le désir même du langage. Le langage veut
couler. II coule naturellement." BACHELARD. L'Eau et les Réves, p. 250 s.
13 Tântalo era amigo de Zeus e este lhe permitiu participar das festas olímpicas regadas a néctar e ambrosia. O demiurgo nomeia-se "a nuvem da aurora" (die Morgenwolke),
A ventura subiu-lhe à cabeça e Tântalo roubou o alimento divino para dividi-lo com os amigos mortais, correspondendo a palavra nuvem a profeta.
denunciando os segredos de Zeus a estes. Foi castigado pelo deus a tormentos eternos no Tártaro, ficando
dependurado, consumido pela sede e fome, dos ramos de uma árvore frutífera que se inclinava por sobre
um lago pantanoso. As ondas atingiam seus quadris e, às vezes, o queixo, mas, ao inclinar-se para beber, 4
"As Eríneas (...) sáo deusas violentas que os romanos identificaram com suas Fúrias. (...) castigam (...) a
elas desapareciam; quando ele conseguia juntar a mão cheia de água, ela escapava-lhe pelos dedos, ficando desmedida, a Hybris, que leva o homem a esquecer sua condição de mortal." Les Erinyes (...) sont des
com mais sede. Um ramo, carregado de fr utas reluzentes, pendia até suas costas; porém, sempre ao tentar déesses violentes, que les Romains identifièrent avec leurs Furies. (...) elles châtient (...) la démesure,
pegá-las, um vento soprava e as lançava longe de seu alcance. A água e os frutos inalcançáveis a Tântalo l' Hybris, qui tend à faire oublier à l'homme sa condition de mortel." GRIMAL.
Dictionnaire de la
simbolizam sua perda do sentido do real, o homem que havendo querido nivelar-se aos deuses, foi Mythologie, p. 146.
punido pelo sentimento atroz de sua impotência. Apud: CHEVALIER, Jean e GHEERBRANT, Alain.
t
' s Por ter quatorze filhos, Níobe julgava-se superior a Leto, com apenas dois, Apoio e
Artemis e provocou-
Dictionnaire des Symboles. Mythes, rêves, coutumes, gestes, formes, figures, couleurs, nombres. Paris, a. Estes vingam-na e matam todos os filhos e o marido de Níobe. Transformada em rocha pelos deuses,
Laffont, 1969, p. 734. A partir de agora: CHEVALIER. Dictionnaire des Symboles; GRANT, Michael seus olhos choravam, pois da rocha corria uma fonte. Apud: GRANT/HAZEL. Lexikon der antiken
e HAZEL, John. Lexikon der antiken Mythen und Gestalten. 5. ed. München, DTV/List, 1987, p. 381 Mythen, p. 294; GRIMAL. Dictionnaire de la Mythologie,
p. 317; RANKE/GRAVES. Griechische
ss. A partir de agora: GRANT/HAZLE. Lexikon der antiken Mythen; GRIMAL. Dictionnaire de la Mythologie, p. 234 ss.
Mythologie grecque et romaine. 4. ed. Paris, PUF, 1969, p. 435 s. A partir de agora: GRIMAL. " MNÉMOSINE.
(...) est la personnification de la Mémoire. Elle este filie d'Ouranos et de Gaia, et
Dictionnaire de la Mythologie; JENS, Hermann. Mythologisches Lexikon. Gestalten der griechischen, appartient au groupe des Titanides. (...) Zeus s'unit à elle, en Piérie, pendant neuf nuits de suite, et, au
rômischen und nordischen Mythologie. 2. ed. München, Goldmann, 1960, p. 86; RANKE-GRAVES, bout d'un an, elle lui donna neuf filies, les Muses." GRIMAL. Dictionnaire de la Mythologie, p. 300.
Robert von. Griechische Mythologic. Quellen und Deutung, 24. ed. Reinbek bei Hamburg, Rowohlt, " TORRANO, José Antonio Alves. O Mundo como Função de Musas. São Paulo, Faculdade de Filosofia,
1987, pp. 352-358. A partir de agora: RANKE-GRAVES. Griechische Mythologie. Letras e Ciências Humanas da USP, 1980, p. 17.
Pela força instituidora da palavra, a personagem vislumbra a imersão dos O trecho do drama A Morte de Empédocles revela como Hõlderlin, com a
agrigentinos na "água da vida", como Aquiles. Nota-se, neste excerto, a profunda morte purificada dos povos, vislumbra o universo em perfeita sintonia com as
convicção de Hõlderlin na palingênese e como o pensamento hõlderliniano filia-se forças cósmicas e reinstaura a festa ritual na natureza.
ao de Herder. Este escreve no livro Idéias para a Filosofia da História da Humanidade" . Empédocles encaminha-se, então, à "ação mais alta" (das Grõssre). Mas,
$

antes o povo, desperto para a vida através da mensagem do filósofo, deseja


"Sempre rejuvenescido em suas formas, o gênio da Humanidade volta a florescer coroá-lo rei, como o Numa Pompílio dos agrigentinos. Atribui-se a este último,
e prossegue em sua palingênese nos povos, nas gerações e nas estirpes. " segundo rei de Roma, a introdução do culto a Júpiter Elíseo, nesta cidade.
Segundo a lenda, o relacionamento de Numa Pompílio com a ninfa Egeria
Por outro lado, este trecho herderiano evoca o fragmento de Hõlderlin outorgava-lhe poderes mágicos.
Palingênese' . No artigo "A Ideia Vital de Hõlderlin", Clemens Heselhaus lembra
20
Empédocles pressagia sua ida à longínqua Ilha dos Bem-aventurados, aonde
a influência de Klopstock no espírito hõlderliniano, no tocante à imagem do se dirigem os heróis após a morte e onde reina o deus Saturno.
rejuvenescimento; ademais, em base ao ensaio herderiano, Iduna, ou a Maçã do O protagonista antevê sua sorte de homem extraordinário, a transfiguração
Rejuvenescimento (Iduna oder der Apfel der Verjüngung), publicado no Horen de após o fim corporal; este caminho do ser humano passa pelo fenecimento e
1796, o estudioso destaca o entrelaçamento entre as idéias de Herder e as de pode ser entendida como morte espiritual para o renascimento do ser, na origem.
Klopstock. Outrossim, salta à vista o intercâmbio destes conceitos com os de As musas ungem Empédocles seu filho e Júpiter, como livrou os titãs do
Hõlderlin, quando se pensa na intenção do mesmo de publicar uma revista literária, Tártaro abissal, libera, agora, a personagem para além da morte. O demiurgo
como mencionado an tes, com o título Iduna, ou seja, rejuvenescimento. Heselhaus conclama Júpiter a preparar-lhe o banquete.
vincula, ainda no ensaio acima citado, a ideia de rejuvenescimento a uma raiz mais O dramaturgo alude à elegia Pão e Vinho onde anuncia o retorno da época
longínqua, à de Paracelso, e de forma indireta, ao pietista Oetinger. Heselhaus, de ouro da humanidade e a vinda de Dioniso, deus do vinho, do êxtase, da
aprofunda a explanação da concepção de rejuvenescimento para o poeta: inspiração, renovação da vida e conhecedor dos mistérios da morte. Ao mesmo
tempo, o teatrólogo aventa o ritual da missa, o simbolismo da transubstanciação
"A ideia de rejuvenescimento toca intimamente com a ideia de transformação. (...) do pão e do vinho. A imagem da videira, arbusto consagrado a Dioniso na
Rejuvenescimento e transformação podem tornar-se ideias intercambiáveis, a saber,
Grécia, associa-se à ideia de pureza, imortalidade e vida, e, ainda ao
quando se entende o anterior como estado de vida, no fundo, completo. Isto está
renascimento. Ela prefigura o iminente sacrifício do herói na natureza.
ligado ao significado da palavra tr an sformação que, àquela época, significa metamorfose.
(...) Em especial, a metamorfose é um sinal e uma promessa de imortalidade. (...) Em Hõlderlin finaliza esta apologia ao espírito infindo, incitando Júpiter a
seu legado, ele [Empédocles] anuncia aos agrigentinos a experiência divina do louvarem juntos, com cânticos, as musas, na festa da poesia.
renascimento na ideia da vida. A transformação empedocliana no Etna ganha a certeza Arredondando o quadro das evocações mitológicas, o poeta ainda insere
"121
íntima e vencedora da imortalidade do espírito no retorno ao elementário. Urânia, uma das nove musas, segundo Hesíodo a "celestial", no entrecho da
118
Idee per la Filosofia della Scoria dell'Umanità. peça: Pausânias ao despedir-se do mestre, reconhece-o por filho da musa e
e prosegue nella sua palingenesi
119
"Sempre ringiovanito nelle sue forme, it genio dell'Umanità torna a florire Urânia significa a harmonia; Empédocles, como filho desta musa, prenuncia,
nei popoli, nelle generazioni e nelle stirpi." HERDER, Johann Gottfried. Idee per la Filosofia della Storia
dell'Umanitá. Roma, Laterza, 1992, p. 162.
na alocução ao povo de Agrigento, o retorno da era de Saturno, da presença
120HOLDERLIN, Johann Christian Friedrich. Palingenesie. KI StA, v. 2, p. 319, citado antes. dos deuses, da era de ouro da humanidade.
121 "Die Vorstellung von der Verjüngung berührt rich damit eng mit der Vorstellung von der Verwandlung

(...) Verjüngung and Verwandlung kônnen vertauschbaie Vorstellungen werden, wenn nâmlich der Portanto, no âmbito mitológico, a alma do filósofo ascende, de forma
Das hãngt mit der progressiva, das camadas ctônicas do Tártaro, passando pelas telúricas, às urânias,
frühere Zustand ais der eigentliche voile Stand des Lebens begriffen wird.
Sinnbedeutung des Wortes Verwandlung zusammen, die damals Metamorphose meint (...) Im besonderen a região de harmonia absoluta, além do tempo.
ist die Metamorphose ein Zeichen and ein Versprechen der Unsterblichkeit (...) In seinem Vermãchtnis
verkündet er den Agrigentinern die gõttliche Erfahrung der Wiedergeburt in der Idee des Lebens. Die
e mpedokleische Verwandlung auf dem
Ama gewinnt die innere Erfahrung and siegende Gewissheit von
der Unsterblichkeit des Geistes in der Rückkehr ins Elementische.", HESELHAUS, Clemens. "Hõtderlins
Idea Vitae". In: Hãlderlin-Jahrbuch. v. 6, 1952. BEISSNER, Friedrich e KLUCKHOHN, Paul (eds.).
Tubingen, Mohr, 1952, pp. 40-42.

68 69
RECORRÊNCIAS DE CARÁTER PSICOLÓGICO A heroína descreve, ainda, a ação de então, de Empédocles sobre o cosmo:
o simples contato de seu cajado, sua força vital exercia forte atração sobre as
Segundo relato de Panteia, na pré-ação, o taumaturgo salvara-a da doença plantas e as águas. O mero olhar do demiurgo dissolvia as nuvens, entendidas
por meio de uma poção; esta pertence ao âmbito de cura, à simbólica do como atividade celeste, de natureza confusa e maldefinida , símbolo do 125

feminino, da lua, ao tempo do sono, restabelecimento e da cura, à atuação do indeterminado. As nuvens representam, ainda, a formação de inquietude no
inconsciente com seu poder regenerativo, sem interferência do consciente, da seio da sociedade: o protagonista desanuviava o ambiente, com sua atuação,
vontade . O sofrimento físico panteiano é prenúncio do padecimento físico
122
constituindo-se, destarte, em propulsor do equilíbrio cósmico, seja a nível
e espiritual do protagonista e da subsequente purificação deste. A ação da ctônico como urânico.
bebida de Panteia corresponde à da água de Mnemósine para Empédocles. Panteia relata o jardim, símbolo de espaço espiritual, interior do filósofo,
Em linguagem psicológica, a imagem de Panteia como "nuvenzinha da com a fonte do taumaturgo: esta já brotava, então, em sentido figurado, no
alvorada" (Morgenwülkchen) na forma carinhosa de diminutivo, relacionar-se- seio de Empédocles. Infla-se e sai do aconchego do jardim, representação do
ia à de anima, ou seja, à disposição íntima, do filósofo. Por outro lado, a figura centro, ou seja, do temenos interno. Só, o peregrino, refugia-se na caverna,
de Panteia no leito de morte — espaço restrito —, sendo salva pelo demiurgo símbolo do inconsciente, como se voltasse, em linguagem psicológica, ao útero
— microcosmo através da poção — macrocosmo —, já conjura a de Empédocles materno. Mergulha no eu profundo. Na obscuridão, profundez e subjetividade
— microcosmo, no Etna, sendo curado pelo cosmo, posterior à ação da peça, em da grota, começa o movimento inverso em direção à luz, ao pressentir a
etapa — seja espacial como simbólica e psicológica — muito mais elevada. aproximação da morte física e psíquica "pó" (Staub). Refuta a ameaça de volta
Panteia prediz, como sacerdotisa, o fim do herói. Vendo-o no crepúsculo do ao estado de dissolução, ao inorgânico, e inicia o processo de individuação.
bosque, ou seja, no lusco-fusco entre consciente e inconsciente, ela nota a perda da Na antevisão de Panteia, a natureza oferece abrigo ao demiurgo: é envolto
unidade da alma do protagonista. Pelo direcionamento do olhar, expressão viva da pelo cosmo.
alma empedocliana, ora para baixo, ora para o alto, o leitor pressente, como Panteia, Visto sob o aspecto psicológico, quando a ação da peça principia, o herói já
a ação do texto teatral, isto é, o movimento posterior da alma do taumaturgo, se encontra fora de casa: no início da peregrinação, ele passa pela casa paterna,
a senda a ser trilhada por ele, da caverna ao alto da montanha: ambos vivenciam, sem entrar; a i magem da moradia furta-se a apresentar o aspecto de
na medida de cada um, um processo de purificação. familiaridade e proteção. Despede-se dos escravos, liberta-os e liberta-se, aos
Ainda de acordo com a narrativa panteiana, o personagem-título, como timoneiro poucos, das lembranças da infância. Trata-se de ato de desprendimento e
indômito pusera, tantas vezes, a multidão encapelada a salvo. O filósofo era o libertação material e afetivo-psicológica. Empédocles contrapõe-se à imagem
piloto a conduzir o navio, o condutor das almas pela viagem através do inconsciente do cosmo imutável das árvores e da casa símbolos de permanência e

— o mar equivale a inconsciente, segundo a psicologia das profundezas: estabilidade — como microcosmo mutável, fugaz em seu eterno passar:
esvazia se e despe-se das ilusões do ego. Sobe a escarpada montanha, o
-

123
"O navio é, como símbolo da salvação, um símbolo universal da humanidade." caminho do autoconhecimento, no domínio do princípio negativo
masculino; este está i mplícito até na aparição da cabana e do campônio,
Esta alusão ao navio, símbolo do caminho, já prefigura o do herói; como negando-se a oferecer guarida aos viandantes. O filósofo aceita mais esta
Homero na Odisseia representa a viagem simbólica de cada ser humano, assim provação e encontra paz em si mesmo; vê, então, a nascente. A natureza doa
elucida Jung, na obra Psicologia e Alquimia: " Q navio constitui o veículo que ao taumaturgo a água "viva" (rege), na "caneca, cabaça côncava" ( Trinkgefüss,
"124
conduz o sonhador através do mar e das profundezas do inconsciente. die hohle Kürbis). A caneca, como recipiente para a bebida, constitui um
126

122 Apud: NEUMANN, Erich. "Über den Mond and das matriarchale Bewusstsein". In: Aus der Welt der dos mais antigos símbolos do feminino. Trata-se do momento de
Urbilder. Eranos-Jahrbuch. v. 18. Zürich, Rhein, 1950, p. 360. transfiguração do herói. Empédocles liberta-se.
"Als Symbol der Rettung ist das Schiff ein allgemeines Menschheitssymbol." Ib., Die grosse Mutter. Eine
Phãnomelogie der weiblichen Gestaltungen des Unbewussten. 8. ed. Olten/Freiburg, Walter, 1988, p. 245. A
partir de agora: NEUMANN. Die grosse Mutter.
125 Apud: CHEVALIER.
Dictionnaire des Symboles, p. 543 s.
JUNG, Carl Gustay. Psicologia e Alquimia, v. 12. Petrópolis, Vozes, 1991, p. 212.
124
'26 Trata-se de equação arquetípica entre corpo e vaso, correspondendo o interior deste ao inconsciente.

70 71
Hólderlin expressa, na criação teatral, a dinâmica ascensorial da água, Como diz Bachelard: "A morte no vulcão é a menos solitária das mortes. É
correspondendo ao caminho da alma das trevas da inconsciência para a realmente uma morte cósmica" 129 . Ao jogar-se de ponta-cabeça, Empédocles,
luz. No instante da reunificação do demiurgo, é-lhe dado o dom da num segundo faz o movimento oposto ao que fizera em sua peregrinatio: agora,
linguagem. Forças criativas impelem à luz e a inspiração, até então em de forma ativa, lança-se à base do vulcão, ao magma, e se transforma em
fecundação, aflora. A palavra vigorosa e espontânea do protagonista pode, centelhas que se elevarão aos ares e espargirão por todo o universo, concebendo
como a nascente do cume da montanha 127 , espraiar-se planície abaixo, como o mistério da união dos opostos (água-fogo) — unio oppositorum e transfazendo-
torrente poética, rumo ao mar e atingir o oceano, ou seja, o inconsciente se em outro ser, mais elevado. Este casamento 130 alquímico, harmoniza os
coletivo, fundindo-se com ele. Condiz com este pensamento, o enunciado opostos, o consciente com o inconsciente e se eleva ao Si-mesmo. Neste
de Hõlderlin no ensaio Fundamento de Empédocles (Grund zum Empedokles): contexto, insere-se a afirmação de Jung:

"Tudo nele representa o poeta nato, parece assim já ter sua natureza subjetiva mais "A personalidade nova não é absolutamente algo de intermediário entre o
ativa aquela tendência excepcional à universalidade que, em outras circunstâncias, ou consciente e o inconsciente, ela é os dois. Como ela transcende a consciência, ela não
quando se compreenda ou se evite sua influência forte demais, torna-se aquela deve ser designada como eu, mas como Si-mesmo. (...) o Si-mesmo é eu e não eu,
contemplação tranqüila, aquela completitude e determinação contínua da consciência sujeito e objeto, individual e coletivo. É, enquanto grau supremo da total união dos
com a qual o poeta olha a uma totalidade. "128
opostos, o símbolo unificador' ."` 31

A poesia, sendo experiência totalizante, engloba presente, passado e futuro, Estas palavras de Jung remetem, de imediato, ao pensamento de Hólderlin
comove a todos, pulsa em todos, como o inconsciente e o sangue. expresso no final do ensaio Fundamento de Empédocles (Grund zum Empedokles):
Empédocles caminha rumo à integração total; cabe ao espírito purificado
eterna dinamicidade. A dinâmica do arquétipo vibra, desde a pré-ação da peça, "assim, também, aqui, o subjetivo e o objetivo trocam sua forma e tornam-se Unidade
até o precipitar-se do herói, no Etna, na pós-ação. em um. "132

Por outro lado, a cratera do vulcão poderia simbolizar a mandala, isto é, o


caminho que conduz ao centro, à individuação. Do mesmo modo, arrisca-se a afirmar que se trate, no ensaio O Transformar-
Na última imagem de Empédocles em cena, a do arco-íris que liga céu e se no Passar (Das Werden im Vergehen) da dinâmica da água, do inconsciente,
terra e o taumaturgo formando uma unidade, este já está sendo absorvido, por como símbolo da vida, do individual fundindo-se com o fogo, consciente,
assim dizer, pela natureza. Dá-se a junção dos elementos fogo e água em pleno
ar, uma prefiguração no âmbito da natureza cósmica, da iminente união de 129
"La mort dans la flamme est la moins solitaire des morts. C'est vraiment une mort cosmique (...)"
BACHELARD, Gaston. La Psychanalyse du Feu. France, Gallimard, 1972, p. 39.
Empédocles com as chamas do Etna. ' o Subsiste na psique humana a idéia original, ou seja, o arquétipo do rei e da rainha, impregnada em todos
3

Esta imagem lembra, ainda, no leitor, o extremo movimento oposto os indivíduos e personificada nos pais terrenos, representam o princípio masculino, o animus, e o
ascencional iniciado na caverna: lá o herói sentia-se envolto pela escuridão e feminino, a anima, em todo ser humano. Constitui-se o símbolo de cópula, p ar de opostos. A junção
do princípio ativo, fogo, com o passivo, a água, forma um casamento e leva à sublimação em nível mais
desesperança, ocluso, agora, rodeado pela luz, nas alturas, liberto, em sentimento elevado. Do mesmo modo, a união do consciente com o inconsciente conduz à elevação do nível de
de júbilo intenso. consciência do indivíduo, à integração do ser humano. Apud: JUNG, Carl Gustav. Aion. Estudos sob re
o simbolismo do Si-mesmo. v. IX/2, Petrópolis, Vozes, 1982, pp. 9-20 e 29-66; ib., Von den Wurzeln des
Bewusstseins, pp. 59-85; ib. Tipos Psicológicos, pp. 476-482; ib. La Psychologie du Transfert. Paris,
Michel, 1980, pp. 9-57 e 69-97. A partir de agora: JUNG. La Psychologie du Transfert; BACHELARD,
1 27 A nascente, ou seja, a palavra empedocliana jorra a todos, do alto da montanha, do lugar mais alto, também Gaston. La Poétique de la Réverie. 5. ed. Paris, PUF, 1971. pp. 15-19 e 48-83.
como autoconhecimento a fim de elevar a massa, o inconsciente coletivo. Em verdade, os agrigentinos 131
"La personnalité nouvelle n'est nullement quelque chose d'intermédiaire entre le conscient et l'inconscient,
sobem até o taumaturgo, também no aspecto simbólico, melhorando como seres humanos. elk est les deux. Comme elk transcende la conscience, elle ne doit plus être désignée comme moi, mais
123 "Er scheint nach aliem zum Dichter geboren, scheint also in seiner subjektiven tãtigern Natur schon jene comme Sai. (...) It Soi est moi et non-moi, subjectif et objectif, individuel et collectif. II est, en taut que
ungewõhnliche Tendem zur Allgemeinheit zu haben, die unter andem Umstãnden, oder durch Einsicht degré suprême de la totale union des contraires, le 'symbole unificateur'." JUNG. La Psychologie du
und Vermeidung ihres zu starken Einflusses, zu jener ruhigen Betrachtung, zu jener Vollstãndigkeit Transfere, p. 130.
und durchgãngiger Bestimmtheit des Bewusstseins wird, womit der Dichter auf ein Ganzes blickt," Kl 132
"so auch hierin das Subjektive und Objektive ihre Gestalt verwechseln, und Eines werden in einem." KI
StA, v. 4, p. 162. StA, v. 4, p. 169.

72 73
espírito e atingindo a "unidade harmonicamente oposta" 133 o almejado poesia perpassa o imo da alma em experiência arquetípica, desde épocas
mysterium coniunctionis dos alquimistas: imemoriais, em fluidez e transformação contínua. Livre e arrebatadora, a palavra
poética transmuta a realidade, elevando e harmonizando os semelhantes. Então
"a compreensão (...) do incompreensível (...) por meio do qual a vida percorre todos os
seus pontos, e para ganhar a soma toda não se demora em nenhum, diluindo-se em "reina liberdade geral e igualdade dos espíritos"'"
cada um, para se estabelecer no seguinte; (...) até, por fim, resulte da soma destas
sensações de desvanecimento e de surgimento percorridos infinitamente num
postula Hõlderlin no final do esboço acima mencionado.
momento, um sentimento de vida plena (...) e depois que esta lembrança do diluído,
individual for reunido com o sentimento de vida infinito (...) resultará então desta Como Jung afirma reiteradas vezes, tão só a partir do ser individual 139 pode-
união, (...) o novo estado em si." 134 se, de fato, melhorar todo o conjunto dos seres humanos. A força do ser
individuado é imensurável. Hõlderlin persegue esta meta de:
O ser humano adentra no eu mais profundo, efetuando intenso trabalho
de introspecção, de integração das múltiplas camadas da personalidade, em "atuar no pl an o universal (...), objeto de nossos desejos e anseios" 140

meio ao silêncio. Só através da morte espiritual surge o homem novo: libera-se


do eu antigo e vivencia um eu mais desenvolvido. Empédocles, havendo em todo o seu trajeto de vida, como consta na carta n. 65, transcrita antes. Ele
ultrapassado os estágios da evolução espiritual, prepara o caminho para os refuta aceitar o mundo regido pelo princípio masculino, árido, racionalista.
mortais, anunciando-lhes a necessidade de integrarem-se ao Ser, a fim de, Anuncia o equilíbrio dos dois princípios, do feminino, da anima e do
também eles, poderem pertencer ao Todo, sem espaço nem tempo, em vibração masculino, animus, convergindo para o amor. O dramaturgo manifesta, de
uníssona. Volta-se ao trecho do romance Hipérion: forma clara, entusiasmo pelo reinado da harmonia, quando o discípulo nomeia
Empédocles "filho de Urânia" (Sohn Uraniens), musa da harmonia, sendo,
"Ser um com tudo, isto é a vida da divindade, é o céu do ser humano." 135 portanto, missão sacra do poeta a de espelhar, através do canto, concórdia no
seio dos homens. Ressoa, neste contexto, o trecho da poesia Buonaparte:
A ideia do Um e Tudo (Ev xaiHav) ressoa na concepção do esboço do "mais
antigo programa do Idealismo alemão" (Das ãlteste Systemprogramm des deutschen "Os poetas são vasos sagrados
Onde o vinho da vida, o espírito
Idealismus) 136 onde a
Dos heróis, se conserva" 141

"poesia recebe uma dignidade mais alta, torna-se, de novo, no fim o que era no começo
— mestra da humanidade."' 37

Empédocles, tendo se individuado configura na palavra vivificativa as


aspirações do inconsciente coletivo. É puro ser. Como a água e a música, a

133 "harmonisch entgegengesetzt Eines". Ib., p. 298. 138 "herrscht allgemeine Freiheit und Gleichheit der Geister" Ib., p. 311.
139
"das Begreifen (...) des unbegreifbaren (...) wodurch das Leben alie seine Punkte durchlãuft, and um die Erich Neumann, discípulo de Jung, escreve na introdução ao livro A Grande Máe o seguinte: "O
gauze Summe zu gewinnen, auf keinem verweilt, auf fedem sich auflóst, um in dem nãchsten sich desenvolvimento de cada ser individuado a uma totalidade psíquica na qual seu consciente esteja ligado
herzustellen; (...) bis endlich aus der Summe dieser in èinem Moment unendlich durchlaufenen criativamente com os conteúdos do inconsciente é o ideal educativo da psicologia das profundezas do
Empfindungen des Vergehens and Entstehens, ein Banzes Lebensgefühl (...) and nachdem diese futuro. Só esta totalização do ser isolado possibilita um estar vivo fecundo da comunidade." ["Die
Erinnerung des Aufgelósten, Individuellen mit dem unendlichen Lebensgefühl durch die Erinnerung Entwicldung fedes Einzelmenschen zu einer psychischen Ganzheit, in der sein Bewusstsein schópferisch
der Auflósung vereiniget (...) ist, so gehet aus dieser Vereinigung (...) der eigentlich neue Zustand (...) mit den Inhalten des Unbewussten verbunden ist, ist das tiefenpsychologische Erziehungsideal der
hervor." Ib., p. 295 s. Zukunft. Erst diese Ganzwerdung des Einzelnen ermóglicht ein fruchtbares Lebendigsein der
135 "Eines zu sein mit Allem,
das ist Leben der Gottheit, das ist der Himmel des Menschen." Ib., v. 3, p. 9. Gemeinschaft."] NEUMANN. Die grosse Mutter, p. 16.
1 "ins Allgemeine wirken,
Ib., v. 4, pp. 309-311.
14
36
141. (...) ein Gegenstand unserer Wünsche und Bestrebungen" K1 StA, v. 6, p. 102.
137
"Poesie bekómmt dadurch eine hóhere Würde, sie wird am Ende wieder, was sie am Anfang war = Heilige Gefásse sind die Dichter, / Worin des Lebens Wein, der Geist / Der Helden, sich aufbewahrt,"
Lehrerin der Menschheit;" Ib., p. 310. Ib., v. 1, p. 245.

74 75
CONSIDERAÇÕES FINAIS Hõlderlin salienta, em sua linguagem poética, o afloramento do arquétipo,
nas múltiplas imagens aquáticas, surdindo da terra, no jardim, no alto da
Persiste, ao longo dos escritos do poeta suábio, a uniformidade de pensar m ontanha e, ainda, da inspiração, nas noites criativas de êxtase. Mas, o

quanto às questões primordiais acerca de renascimento individual e dos povos, t a umaturgo espera a maturação do fruto, assim, como a da palavra até o
da missão do poeta e de poesia. O teatrólogo visualiza esta como o brotar das momento propício, como cabe ao espírito regido pelo princípio feminino.
águas profundas e puras do inconsciente, capaz de, com a força da palavra Todo o universo co-participa deste processo de crescimento envolvendo a
primeva, num crescendo, juntar-se ao oceano linguístico, às experiências e aos totalidade do ser. Provindo das entranhas do inconsciente, a mensagem poética
símbolos ancestrais de toda a humanidade, e ecoar, repercutindo, de forma aglutina, como num caleidoscópio, traços de imagens primordiais coletivas, e
benévola, em todos abalando as margens, libertando o ser humano de limitações. possui, destarte, força transformadora e arrebatadora. Por este motivo, a poesia
O dinamismo do arquétipo da água, inconsciente, desvela-se, ao longo do deixa a marca no leitor, porquanto, fluindo em sintonia com os arcanos da
drama, do mais profundo ao sublime, e se funde com a labareda, o consciente. alma, roça o inconsciente coletivo, sendo como a música, a água, universal.
O ato de Empédocles lançar-se vulcão adentro corresponde, na imaginação Daí também se explica o caráter profético e imortal da poesia.
criadora, ao entranhar-se no imo da natureza para, ato tautócrono, "irromper", Infinitude de ideias jorram do inconsciente quando a pessoa, centrada,
com todo o ímpeto daí aos ares excelsos do cosmos, em processo perfeito de atingiu o Si-mesmo. Vivenciando no âmago da alma as agruras e alegrias dos
integração no todo, suscitando a esfera do éter, o todo movente, expandindo- semelhantes, ela integra, de modo harmônico, toda a multifacetada realidade
se ao universo, configurando o unus mundus, micro e macrocosmo a um só do universo. Os ideais de igualdade, fraternidade e liberdade passam a pautar,
tempo. Todos os reinos da criação, purificados, fluem no dinamismo próprio de forma espontânea as ações do homem. Este, autoestimulado, age
da Vida, rumo ao alto, em liberdade, em todos os sentidos. criativamente em prol da comunidade, utilizando o potencial insondável do
Esta trajetória ascensionária rumo à consciência e à liberdade coaduna-se, inconsciente para elevar o nível dos concidadãos. Autênticos guias,
por inteiro, com a ideia de renascimento contínuo a caminho da purificação transformadores da sociedade, norteados por valores oriundos da raiz do ser,
da alma, dos povos, de toda a natureza, de Herder e à concepção leibniziana despontam, então; eles espalham vida conjugada com a chama do entusiasmo,
da alma, como espelho do universo, liberta de tempo e espaço, em estado de preservando o bem-estar de todos, em ambiente de amor. Todos comungando
diafaneidade, enfim, ao conceito do homem como microcosmo de Paracelso. de um só fluir, tornando-se cidadãos do Universo, agora e sempre. Como diz
O pensamento da unicidade de todo o vivente, legado dos pré-socráticos, crença Hõlderlin:
mais arraigada do poeta, perpassa toda a tragédia. Como escreve Vicente Ferreira
da Silva na "Nota sobre Heráclito": "Tornar-se-á Uma beleza só; e humanidade e Natureza unir-se-ão em Uma
divindade toda abrangente."
143

"Tudo faz parte de um só tecido, tudo é ligado e uno. (...) `tudo flui'. (...) Heráclito
advoga um `fluidismo' absoluto em relação às províncias particulares do real, dissolvendo
todas as concreçóes rígidas e materializadas, tod as as ilhas do ser, no rio ilimitado do vir
" 142
a ser. Dilui o mundo em acontecer, num processo evolutivo infinito.

Neste contexto, poder-se-ia compreender toda a ação do drama. Ela se


origina do dinamismo da água e esta caminha rumo ao fogo. Integra-se neste,
e, os dois juntos, transfazem-se em éter. Constitui-se quase personagem, seu
simbolismo expressa-se de per si.

142 SILVA, Vicente Ferreira da. "Nota sobre Heráclito". In: Obras Completas. v. 1. São Paulo, Instituto 143 "Es wird nur Eine Schõnheit sein; und Menschheit und Natur wird sich vereinen in Eine allumfassende
Brasileiro de Filosofia, 1964, p. 58. Gottheit " KI StA, v. 3, p. 94.
BIBLIOGRAFIA . La Psychologie du Transfert. Illustrée à l'aide d'une série d'images alchimiques.
Paris, Michel, 1980.
Símbolos da Transformação. Análise dos prelúdios de uma esquizofrenia. v. 5. 2.
1. BIBLIOGRAFIA DO AUTOR ed. Petrópolis, Vozes, 1989.
. Tipos Psicológicos. 2. ed. Rio de Janeiro, Zahar, 1974.
HOLDERLIN, Friedrich. Briefe. v. 6. Sãmtliche Werke: Kleine Stuttgarter Ausgabe. BEISSNER, . Von den Wurzeln des Bewusstseins. Studien über den Archetypus. v. 9. Zürich,
Friedrich (ed.). Stuttgart, Kohlhammer, 1965. Rascher, 1954.
. Gedichte vor 1800. v. 1. Id.. Id. (ed.). Id., id, 1944. JUNG, Carl Gustav (org.-ed.) e FRANZ, Anne Marie von (ed. após a morte de Jung). O Homem
. Gedichte nach 1800. v. 2. Id.. Id. (ed.). Id., id, 1961. e seus Símbolos. 9. ed. Rio de Janeiro, Nova Fronteira, s/d.
. Hyperion. v. 3. Id.. Id. (ed.). Id., id, 1965. LANGEN, August. Der Wortschatz des deutschen Pietismus. 2. ed. Tubingen, Niemeyer, 1968.
.Der Tod des Empedokles. Aufsãtze. v 4. Id. Id. (ed.). Id., id., id. NEUMANN, Erich. "Ober den Mond and das matriarchale Bewusstsein". In: Aus der Welt der
Urbilder. Eranos-Jahrbuch. v. 18. FROBE-KAPTEYN, Olga (ed.). Zürich, Rhein, 1950.
. Die grosse Mutter. Eine Phãnomenologie der weiblichen Gestaltungen des
2. BIBLIOGRAFIA SUBSIDIÁRIA Unbewussten. 8. ed. Olten/ Freiburg, Walter, 1988.
NIETZSCHE, Friedrich. Unzeitgemãsse Betrachtungen. I-III. Stuttgart, Krõner, 1873.
ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. 2. ed. São Paulo, Mestre Jou, 1982. PARACELSO, Teofrasto. Scelti Scritti. Milano, Bocca, 1943.
BACHELARD, Gaston. L'Eau et les Rêves. Essai sur l'imagination de la matière. 11. ed. Paris, PICARD, Max. Das Menschengesicht. Zürich, Rentsch, 1941.
Corti, 1973. PLATAO. Diálogos. Fédon. São Paulo, Abril, 1972.
. La Poetique de la Rêverie. 5. ed. Paris, PUF, 1971. PRILL. Meinhard. Bürgerliche Alltagswelt and pietistisches Denken im Werk Hõlderlins. Zur Kritik
. La Psychanalyse du Feu. France, Gallimard, 1972. des Hõlderlin-Bildes von Georg Lukacs [sic.]. Tubingen, Niemeyer, 1983.
BARRENTO, João (seleção, tradução, introdução). Literatura Alemã, Textos e Contextos. (1700- RANKE-GRAVES, Robert von. Griechische Mythologie. Quellen and Deutung. 24. ed. Reinbek
1900). v. I: O século XVIII. Lisboa, Presença, 1989. bei Hamburg, Rowohlt, 1987.
BERTAUX, Pierre. Hõlderlin and die Franzõsische Revolution. 2. ed. Frankfurt/M., Suhrkamp, RILKE, Rainer Maria. Ausgewãhlte Gedichte. Frankfurt/M., Suhrkamp, 1966.
1970. SILVA, Dora Ferreira da. Recordação (Andenken), Assim Como num Dia de Festa... ( Wie wenn am
BINDER, Wolfgang. Hõlderlin-Aufsatze. Frankfurt/M., Insel, 1970. Feiertag...). In: Cavalo Azul. v. 6. São Paulo, s. ed., 1970.
BORNHEIM, Gerd. Os Filósofos Pré-Socráticos. São Paulo, Cultrix, 1967. SILVA, Idalina Azevedo da. Hõlderlin. A Linguagem da Festa. Uma leitura de Hõlderlin. Rio de
CHEVALIER, Jean e GHEERBRANT, Alain. Dictionnaire des Symboles. Mythes, rêves, coutumes, Janeiro, Universidade Federal do Rio de Janeiro, 1983.
gestes, formes, figures, couleurs, nombres. Paris, Laffont, 1969. SILVA, Vicente Ferreira da. "Nota sobre Heráclito". In: Obras Completas. v. 1. São Paulo, Instituto
CIRLOT, Juan-Eduardo. Diccionario de Símbolos. Barcelona, Labor, 1969. Brasileiro de Filosofia, 1964.
CIVITA, Victor (ed.) Os Pré-socráticos. v. 1. São Paulo, Abril, 1973. TORRANO, José Antonio Alves. O Mundo como Função de Musas. São Paulo, Faculdade de
DELORME, Maurice. Hólderlin et la Révolution Française. Monaco, Rocher, 1959. Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP, 1980.
ELIADE, Mircea. Mito e Realidade. São Paulo, Perspectiva, 1972. WEISS, Peter. Hõlderlin. Frankfurt/M., Suhrkamp, 1971.
EVDOKIMOV, Paul. A Mulher e a Salvação do Mundo. São Paulo, Paulinas, 1986.
GRANT, Michael e HAZEL, John. Lexikon der anti ken Mythen and Gestalten. 5. ed. Munchen,
DTV/List, 1987.
GRIMAL, Pierre. Dictionnaire de la Mythologie grecque et romaine. 4. ed. Paris, PUF, 1969.
HARTLING, Peter. Hõlderlin. Ein Roman. Darmstadt, Luchterhand, 1976.
HAUSSERMANN, Ulrich. Hõlderlin. 6. ed. Reinbek bei Hamburg, Rowohlt, 1970.
HEIDEGGER, Martin. Erlãuterungen zu Hõlderlins Dichtungen. 4. ed., Frankfurt/M., Klostermann,
1971.
HERDER, Johann Gottfried. Idee per la Filosofia della Storia dell'Umanitã. Roma, Laterza, 1992.
HESELHAUS, Clemens. "Hõlderlins Idea Vitae". In: Hõlderlin-Jahrbuch. v. 6. Ano 1952.
BEISSNER, Friedrich e KLUCKHOHN, Paul (ed.). Tubingen, Mohr, 1952.
JENS, Hermann. Mythologisches Lexikon. Gestalten der griechischen, rõmischen and nordischen
Gestalten. 2. ed. Munchen, Goldmann, 1960.
JUNG, Carl Gustay. Aion. Estudos sobre o simbolismo do Si-mesmo. v. IX/2. Petrópolis, Vozes,
1982.
. El Yo y el Inconsciente. 5. ed. Barcelona, Miracle, 1972.
. Psicologia e Alquimia. v. 12. Petrópolis, Vozes, 1991.

78 79
AS VERSÕES DO DRAMA

O plano de Frankfurt (FrankfurterPlan) 1


Hõlderlin concebeu o chamado plano de Frankfurt em 1797 com riqueza
de detalhes, dividindo a peça teatral em cinco atos. Discriminou o primeiro:
nele, comparecem alguns alunos além do povo, a mulher, os filhos; surge uma
desavença familiar, quando o herói decide deixar a cidade. No segundo ato,
especifica as quatro primeiras cenas: Empédocles recebe a visita dos alunos e
do discípulo dileto, no Etna, e despede-se deles, por último do predileto, de
forma afetiva. No terceiro ato, esposa e filhos visitam-no, na região do vulcão.
A mulher do taumaturgo participa-lhe a intenção dos agrigentinos de erguer
uma estátua em sua honra. No quarto ato, os inimigos de Empédocles, com
inveja, instigam os agrigentinos contra Empédocles; estes derrubam a estátua
do taumaturgo e expelem-no da cidade; nova despedida da mulher e dos filhos
e, no último ato, o filósofo prepara-se para a morte no vulcão. Seu discípulo
favorito aproxima-se, mas sucumbe à força espiritual de Empédocles e o deixa
a sós. Encontra, pouco depois, as sandálias do filósofo e mostra-as à família de
Empédocles e a seus sequazes; reúnem-se junto ao Etna para homenagear a
morte do grande homem. Todos estes elementos — mulher, filhos, alunos,
contrução de estátua, sandálias — desaparecem na primeira versão da tragédia.

A PRIMEIRA VERSÃO

A primeira versão, em particular, traça — em linguagem moderna — um


processo de individuação; nela concentram-se os temas básicos do pensamento
hõlderliniano.

^• StA, v. 4, pp. 151-154.

81
A SEGUNDA VERSAO

Hõlderlin, das personagens da primeira versão, troca Crítias por Mécades e


nomina três agrigentinos — na primeira versão eram anônimos.

A TERCEIRA VERSAO

Nesta versão surgem as personagens: Manes, o egípcio, e Strato, senhor de


Agrigento, irmão de Empédocles, o séquito e o coro dos agrigentinos. A MORTE DE EMPÉDOCLES*
Desaparecem: Hermócrates, Crítias — Mécades, na segunda versão —, Délia.
Panteia torna-se irmã de Empédocles.

PRIMEIRA VERSÃO
Na segunda e na terceira versões, o poeta restringe-se, cada vez mais, ao
essencial, eliminando todo elemento acidental com o objetivo de atingir "o
ideal de um todo com vida, tão curto e, ao mesmo tempo, tão completo e
substancioso quanto possível" . Procurando cingir-se ao essencial Hõlderlin
2

perde, sobretudo na segunda versão, por um lado, o colorido metafórico do DER TOD DES EMPED OKLES
texto, porém por outro, ganha em intensidade da linguagem, em modernidade.
Na terceira versão, o teatrólogo desloca o ângulo de visão da natureza em si e ERSTE FASSUNG
humana para a visão histórica da personagem central. Empédocles passa a ser
encarado como personificação do "espírito da época" Zeitgeist). (

OBSERVAÇÃO: Seguindo o manuscrito original de Hõlderlin, mantivemos


os mesmos espaços em branco deixados por ele.

"das Ideal eines lebendigen Ganzen so kurz und zugleich so vollstãndig und gehaltreich wie mõglich" Kl Tradução da primeira versão do drama A Morte de Empédocles, de Friedrich Hõlderlin, originalmente
StA, v. 6, carta 183, p. 364 s. apresentada como anexo à tese de doutoramento na Universidade de São Paulo, em 1995.

82
ERSTER AKT PRIMEIRO ATO

ERSTER AUFTRITT PRIMEIRA CENA

Panthea. Delia Panteia. Délia

PANTHEA PANTEIA
Dies ist sein Garten! Dort im geheimen Eis seu jardim! Lá, naquela sombra
Dunkel, wo die Queue springt, dort stand er secreta onde brota a fonte, estava ele,
jüngst, als ich vorüberging — du há pouco, quando passei.
hast ihn nie gesehn? Nunca o viste?

DELIA DÉLIA
O Panthea! Bin ich dock erst seit gestern mit dem O Pantéia! Se só ontem cheguei
Vater in Sicilien. Doch ehmals, da com meu pai, à Sicília. Mas outrora quando
ich noch ein Kind war, sah ich ainda criança, vi-o
ihn auf einem Kampfer- como auriga
wagen bei den Spielen in Olympia. nos jogos de Olímpia.
Sie sprachen damals viel von ihm, and immer Falavam então muito nele e nunca mais
ist sein Name mir geblieben. esqueci seu nome.

PANTHEA PANTEIA
Du muflt ihn jetzt sehn! jetzt.! Precisas vê-lo agora! Precisas!
Man sagt, die Pflanzen merkten auf Dizem que por onde anda, as
ihn, wo er wandre, and die Wasser unter der Erde plantas, atentas, o observam, e as águas sob a terra
strebten herauf da, wo sein Stab den Boden berühre! aspiram saltar fora lá, onde seu cajado toca o solo!
Das all mag wahr sein! Deve ser tudo verdade!
and wenn er bei den Gewittern in den Himmel blicke, e quando nos temporais olha o céu,
teile die Wolke sich and hervorschimmre der a nuvem se abre e cintila
o dia sereno.
heitere Tag. —
Doch was sagts? du mutt ihn selbst sehn! einen Mas, o que importa? Deves vê-lo com teus próprios olhos. Por um
Augenblick! and dann hinweg! ich meid ihn selbst — Instante! Depois, vamos embora! Eu mesma o evito —
ein furchtbar, allverwandelnd Wesen ist in ihm. há nele uma essência terrível que tudo transforma.

84 85
DELIA DELIA
Wie lebt er denn mit andem? Ich begreife nichts Como viverá com os outros? Não consigo compreender
von diesem Manne, este homem.
Hat er wie wir auch seine leeren Tage, Terá ele também, como nós, seus dias vazios
Wo man sich alt and unbedeutend dünkt? Quando a gente se julga velha e sem valor?
Und gibt es auch ein menschlich Leid für ihn? Também para ele existirá a dor humana?

PANTHEA PANTEIA
Ach! da ich ihn zum letztenmale dort Ah, quando o vi pela última vez, lá,
Im Schatten seiner Baume sah, da hatt er wohl à sombra de suas árvores devia sentir —
Sein eigen tiefes Leid — der Gôttliche. O divino — uma dor profunda, peculiar.
Mit wunderbarem Sehnen, traurigforschend Com nostalgia estranha, perscrutando tristonho,
Wie wenn er viel verloren, blickt' er bald Olhava ora para baixo, a terra, como se muito
Zur Erd hinab, bald durch die Dammerung Houvesse perdido, ora levantava os olhos através do
Des Haim hinauf, als war ins ferne Blau Crepúsculo do bosque, como se a vida lhe houvesse
Das Leben ihm en tflogen, and die Demut fugido no azul longínquo... e a humildade
Des kõniglichen Angesichts ergriff Do semblante real tocou
Mein ringend Herz — auch du mutt untergehn, Meu coração revolto — também conhecerás o ocaso,
Du schõner Stern! — and lange wahrets nicht mehr. Belo astro! e não durarás muito mais.
Das ahnte mir — Foi o que pressenti —

DELIA DELIA
Hast du mit ihm auch schon Também já falaste
Gesprochen, Panthea? Com ele, Panteia?

PANTHEA PANTEIA
O daf du daran mich erinnerst! Es ist nicht lange, Ah, do que me fazes lembrar! Não há muito,
daft' ich todeskrank daniederlag. Schon dammerte eu estava de cama, à beira da morte. O dia claro
der klare Tag vor mir, and um die Sonne escurecia diante de meus olhos e o mundo,
wankte, wie ein seellos Schattenbild, die Welt. como um espectro sem alma, vacilava em torno do sol.
Da rief mein Vater, wenn er schon Embora meu pai fosse inimigo
ein arger Feind des hohen Mannes ist, am hoff atroz do taumaturgo — confidente da natureza —
nunglosen Tage den Vertrauten der Natur, chamou-o nesse dia sem esperança;
and als der Herrliche den Heiltrank mir e quando o poderoso estendeu-me a
gereicht, da schmolz in zaubrischer Versõhnung poção, dissolveu-se em mim, em harmonia
mir mein kampfend Leben ineinander, and wie prodigiosa, a vida fremente e como se
zurückgekehrt in süfe sinnenfreie devolvida à doce infância
Kindheit schlief ich wachend viele Tage fort, despreocupada, continuei meio adormecida por muitos dias,

86 87
Quase sem precisar respirar — quando
Und kaum bedurft ich eines Othemzugs — wie
nun in frischer Luft mein Wesen sich zum erstenmale agora com nova alegria meu ser pela primeira vez de novo
wieder der langentbehrten Welt entfaltete, mein brotou para o mundo que por tanto tempo me faltou, e com
Auge sich in jugendlicher Neugier dem Tag er- curiosidade juvenil, meus olhos se abriram para
schlof da stand er, Empedokles! o wie gõttlich o dia, lá estava ele, Empédocles! Tão divino
and wie gegenwãrtig mir! am Lãcheln seiner Augen e próximo! Em seus olhos sorridentes,
blühte mir das Leben wieder auf.l ach minha vida de novo floresceu! Ah!
wie ein Morgenwõlkchen flof mein Herz dem como nuvenzinha da alvorada, fluiu meu coração
hohen süfen Licht entgegen, and ich war der zarte ao encontro da luz alta e suave e eu era seu
Widerschein von ihm. tímido reflexo.

DELIA DELIA
Oh, Panteia!
O Panthea!

PANTHEA PANTEIA
Der Ton aus seiner Brust! in jede Silbe O tom de sua fala! Em cada sílaba
klangen alle Melodien! and der soavam todas as melodias! E o espírito
Geist in seinem Wort! — zu seinen Füfen que animava suas palavras — gostaria de sentar-me
mi cht ich sitzen, stundenlang, als seine Schülerin, horas a fio a seus pés, discípula
sein Kind, in seinen Aether schaun, and e criança, contemplar o Eter,
zu ihm auf frohlocken, bis in seines Himmels e alegrar-me com ele, até minha alma perder-se
Hiihen sich mein Sinn verrirte. no céu que lhe pertence!

DELIA DELIA
O que ele diria, querida, se soubesse?!
Was würd er sagen, Liebe, wenn ers wüfte!

PANTHEA PANTEIA
Er weif es niche Der Unbedürftge wandelt Não sabe. De nada necessita, caminha
In seiner eignen Welt; in Leiser Gõtterruhe geht Em seu mundo próprio e, tranqüilo como um deus, vai
Er unter seinen Blumen, and es scheun Por entre as flores; a aragem
Die Lüfte sich, den Glücklichen zu stõren, Receia perturbar o abençoado,
and aus sich selber wiichst e de si propaga-se
O entusiasmo em júbilo crescente,
In steigendem Vergnügen die Begeisterung
Ihm auf, bis aus der Nacht des schõpfrischen Até que, tal uma faísca, salta
O pensamento da noite de êxtase fecundo.
Entzückens, wie ein Funke, der Gedanke springt,
Und heiter sich die Geister künfiger Taten Alegres, os espíritos de feitos vindouros
I mpulsionam sua alma; e o mundo,
In seiner Seele drãngen, and die Welt,
Der Menschen garend Leben and die grófre A vida borbulhante dos homens e a Natureza

88 89
Natur um ihn erscheint — hier fühlt er, wie ein Gott Mais alta surgem à sua volta — aí se acha, como um deus,
In seinen Elementen sich, and seine Lust Em seus elementos; e sua alegria
Ist himmlischer Gesang, dann tritt er auch É cântico celeste; às vezes caminha
Heraus ins Volk, an Tagen, wo die Menge Entre o povo, em dias em que a multidão
Sich überbraust and eines Müchtigern Se conturba, quando o tumulto incerto
Der unentschlossene Tumult bedarf, Pede a força de um ser mais forte:
Da herrscht er dann, der herrliche Pilot Então, ele, o piloto sublime domina o leme
Und hil hinaus and wenn sie dann erst recht E o socorre; nessas horas podem vê-lo
Genug ihn sehn, des immerfremden Manns sich Bastante e gostariam de habituar-se a este
Gewõhnen mõchten, ehe sie's gewahren, Homem sempre estranho, mas antes que se apercebam,
Ist er hinweg, — ihn zieht in seine Schatten Já se foi — atraem-no, às suas sombras,
Die stile Pflanzenwelt, wo er sich schõner findet, O mundo silencioso das plantas — onde sente-se mais belo —
Und ihr geheimnisvolles Leben, das vor ihm E sua vida misteriosa, presente a ele
In seinen Krãften allen gegenwiirtig ist. Na plenitude de suas forças.

DELIA DELIA
O Sprecherin! wie weif?t du denn das alles? O sibila! Como sabes tudo isto?

PANTHEA PANTEIA
Ich Sinn ihm nach — wie viel ist fiber ihn Meu pensamento persegue-o — quanto me falta ainda
Mir noch zu sinnen? ach! and hab ich ihn Para compreendê-lo? Ah! Mesmo se o compreendesse,
Gefaft; was ists? Er selbst zu sein, das ist De que serviria? Ele em si é
Das Leben and wir andern Sind der Traum davon. — A vida e nós somos apenas o sonho dela. —
Sein Freund Pausanias hat auch von ihm Além do mais seu amigo, Pausânias, já me
Schon manches mir erziihlt — der Angling sieht Contou muito dele — o jovem o vê
Ihn Tag vor Tag, and Jovis Adler ist wohl Dia após dia e não creio que a
Nicht stolzer, denn Pausanias — ich glaub es! Águia de Júpiter seja mais orgulhosa que Pausânias —

DELIA DELIA
Ich kann nicht tadeln, Liebe, was du sagst, Não posso censurar-te, querida, pelo que dizes,
Doch trauert meine Seele wunderbar Mas minha alma se entristece estranhamente,
Darüber and ich mõchte sein, wie du, Ora gostaria de ser como tu,
Und mõcht es wieder nicht. Seid ihr denn all Ora não. Sois todos assim
Auf dieser Insel so? Wir haben auch Nesta ilha? Nós também
An grof?en Miinnern unsre Lust, and Einer Alegramo-nos com os grandes homens, e agora
Ist itzt die Sonne der Athenerinnen, Um deles é o sol das atenienses:
Sophokles! dem von allen Sterblichen Sófocles, que dentre os mortais foi
Zuerst der Jungfraun herrlichste Natur O primeiro a reconhecer a natureza excelsa

90 91
Erschien and sich zu reinem Angedenken Das donzelas e de alma se entregou
In seine Seele gab — À sua memória virginal —
jede wünscht sich, ein Gedanke todas desejam ser um pensamento
Des Herrlichen zu sein, and mõchte gem Do sublime, tentando
Die immerschüne Jugend, eh sie welkt, Salvar, antes que feneça,
Hinüber in des Dichters Seele retten Na alma do poeta a juventude sempre bela.
Und fragt and sinnet, welche von den Jungfraun E perguntam a si mesmas, qual delas
Der Stadt die ziirtlichernste Heroide sei, Seria a heroína terna e grave
Die er Antigona genannt; and helle wirds Que ele chamou Antígona; e nossa fronte
Um unsre Stirne, wenn der Gõtterfreund Ilumina-se, quando o amigo dos deuses
Am heitern Festtag ins Theater tritt, Surge no teatro em dia de festa;
Doch kummerlos ist unser Wohlgefallen, Nosso contentamento é sem preocupação
Und nie verliert das liebe Herz sich so E o amável coração jamais se entrega
In schmerzlich fortgerifner Huldigung — À homenagem arrebatada pela dor —
Du opferst dich — ich glaub es wohl, er ist Ofereces-te em sacrifício — bem vejo, ele é
Zu übergrof um ruhig dich zu lassen, I mensurável e só pode inquietar-te;
Den unbegrenzten liebst du unbegrenzt, Mas de que te serve amar sem limite
Was hil es ihm? dir selbst, dir ahndete O ilimitado? Tu mesma pressentiste
Sein Untergang, du gutes Kind and du Seu declínio; e deves, criança,
Sollst untergehn mit ihm? Desaparecer com ele?

PANTHEA PANTEIA
O mache mich Oh, não me
Nicht stolz, and fürchte wie für ihn, für mich nicht! Envaideças, nem temas por mim como por ele.
Ich bin nicht er, and wenn er untergeht, Eu não sou ele e se ele sucumbir,
So kann sein Untergang der meinige Seu declínio não será igual
Nicht sein, denn grog ist auch der Tod der GroJ?en Ao meu; pois grande é a morte dos Grandes;
was diesem Manne widerfãhrt, o que acontece a este homem,
Das, glaube mir, das widerfãhrt nur ihm, Acredita-me, só a ele pode acontecer.
Und hãtt er gegen alie Gõtter sich E se ele houvesse pecado contra todos os
Versündiget and ihren Zorn auf sich Deuses e descarregado o ódio deles
Geladen, and ich wollte sündigen, Sobre si; e quisesse eu pecar
Wie er, um gleiches Los mit ihm zu Leiden, Como ele, para sofrer a mesma sorte dele,
So wars, wie wenn ein Fremder in den Streit Seria como se entre amantes em litígio
Der Liebenden sich mischt, — was willst du? sprãchen Um estranho se imiscuísse, — o que queres? diriam
Die Gõtter nur, du Tõrin kannst uns nicht Os deuses apenas, não podes, tola,
Beleidigen, wie er. Ofender-nos, como ele.

92 93
DELIA DELIA
Du bist vielleicht Assemelhas-te
Ihm gleicher als du denkst, wie fiindst du sonst A ele talvez mais do que pensas, senão, como
An ihm ein Wohlgefallen? Nele encontrarias aprazimento?

PANTHEA PANTEIA
Liebes Herz! Amado coração!
Ich weig es selber nicht, warum ich ihm Eu mesma não sei por que lhe
Gehõre — sãhst du ihn! — Ich dacht, er kãme Pertenço — se o visses! — Pensei que ele
Vielleicht heraus, Talvez saísse,
du hãttest dann im Weggehn ihn tê-lo-ias visto, então,
Gesehn — es war ein Wunsch! nicht wahr? ich sollte Saindo — foi um desejo! Não é verdade? Deveria
Der Wünsche mich entwõhnen, denn es scheint, Desabituar-me dos desejos, pois parece
Als liebten unser ungeduldiges Que aos deuses não agrada
Gebet die Glitter nicht, sie haben recht! Nossa prece impaciente; têm razão!
Ich will auch nimmer — aber hoffen mug Tentarei evitá-lo e — o espero,
Ich doch, ihr guten Glitter, und ich weig Mas, ó bons deuses, a nada mais
Nicht anderes, denn ihn — Conheço senão a ele —
Ich bate gleich den Ubrigen, von euch Se pudesse vos rogaria, como
Nur Sonnenlicht und Regen, kõnnt ich nur.! Os outros, apenas a luz do sol e a chuva!
O ewiges Geheimnis, was wir sind Oh, eterno mistério, o que somos
Und suchen, kõnnen wir nicht finden; was E procuramos não nos é dado encontrar; o que
Wir finden, sind wir nicht — wie viel ist wohl Encontramos, não é o que somos — que horas
Die Stunde, Delia? Serão, Délia?

DELIA DELIA
Dort kommt dein Vater. Lá vem teu pai.
Ich weig nicht, bleiben oder gehen wir Não sei, devemos ir ou ficar? —

PANTHEA PANTEIA
Wie sagtest du? mein Vater? komm! hinweg! O que disseste? Meu pai?! Vem! Vamos embora!

94 95
ZWEITER AUFTRITT SEGUNDA CENA

Kritias. Hermokrates Crítias. Hermócrates


Archon Priester Arconte Sacerdote

HERMOKRATES HERMÓCRATES
Wer geht dort? Quem está indo ali?

KRITIAS CRÍTIAS
Meine Tochter, wie mir dünkt, Minha filha, parece-me,
Und Delia, des Gastfreunds Tochter, der E Délia, a filha do hóspede que
In meinem Hause gestern eingekehrt ist. Ontem chegou em minha casa.

HERMOKRATES HERMÓCRATES
Ists Zufall? oder suchen sie ihn auch É acaso? Ou elas também o procuram
Und glauben, wie das Volk, er sei entschwunden? Acreditando tal como o povo que tenha desaparecido?

KRITIAS CRÍTIAS
Die wunderbare Sage kam bis itzt wohl nicht A fábula singular não deve ter chegado
Vor meiner Tochter Ohren. Doch sie hangt Ainda aos ouvidos de minha filha. Mas como todos
An ihm wie aloe: war er nur hinweg Afeiçoou-se a ele: tivesse ao menos
In Walder oder Wüsten, fibers Meer Se afastado, por florestas ou desertos,
Hinüber oder in die Erd hinab — wohin Atravessando mares ou descido à terra — aonde quer que
Ihn treiben mag der unbeschrankte Sinn. O ânimo ilimitado o pudesse impelir.

HERMOKRATES HERMÓCRATES
Mit nichten! Denn sie müften noch ihn sehn, Nunca! Pois teriam ainda de vê-lo
Damit der wilde Wahn von ihnen weicht. Para neles esmaecer a ilusão desenfreada.

KRITIAS CRÍTIAS
Wo ist er wohl? Onde estará?

HERMOKRATES HERMÓCRATES
Nicht fern von hier. Da sitzt Está lá sentado, não longe daqui,
Er seelenlos im Dunkel. Denn es haben Exausto, no escuro. Os
Die Gõtter seine Kraft von ihm genommen, Deuses o despojaram da força,

96 97
Seit jenem Tage, da der trunkne Mann Desde o dia em que, inebriado, diante de
Vor allem Volk sich einen Gott genannt. Todo o povo, se disse um deus.

KRITIAS CRÍTIAS
Das Volk ist trunken, wie er selber ist. Q povo está tão inebriado, como ele próprio.
Sie hõren kein Gesetz, and keine Not Não atendem às leis, a nenhum perigo,
Und keinen Richter; die Gebrãuche sind
A juiz algum; os costumes,
Von unverstãndlichem Gebrause gleich Como as praias pacificas, estão
Den friedlichen Gestaden überschwemmt. Submersos pelo tumulto revolto.
Ein wildes Fest sind alle Tage worden, Todos os dias se transformaram numa festa selvagem.
Ein Fest für alle Feste and der Gõtter
Uma festa por todas e as
Bescheidne Feiertage haben sich
Festividades discretas dos deuses
In eins verloren, allverdunkelnd hüllt Perderam-se numa só; o mago, tudo
Der Zauberer den Himmel and die Erd Obscurecendo, envolve o céu e a terra
Ins Ungewitter, das er uns gemacht,
Em temporal que nos armou,
Und siehet zu and freut sich seines Geists Olha-nos e alegra-se do próprio espírito
In seiner stillen Halle.
Em seu átrio silencioso.

HERMOKRATES HERMÓCRATES
Mãchtig war Poderosa era
Die Seele dieses Mannes unter euch. A alma deste homem entre vós.

KRITIAS
CRÍTIAS
Ich sage dir: sie wissen nichts denn ihn Digo-te: além dele nada sabem
Und wünschen alles nur von ihm zu haben, E só dele desejam obter tudo,
Er soil ihr Gott, er soil ihr Kõnig sein. Deve ser seu deus, seu rei.
Ich selber stand in tiefer Scham vor ihm, Senti-me, eu mesmo, profundamente envergonhado diante dele
Da er vom Tode mir mein Kind gerettet. Quando salvou minha filha da morte.
Wofür erkennst du ihn, Hermokrates? Por quem o reconheces, Hermócrates?

HERMOKRATES HERMÓCRATES
Es haben ihn die Gõtter sehr geliebt. Muito amaram-no os deuses.
Doch nicht ist er der Erste, den sie drauf Mas não é o primeiro que expulsam
Hinab in sinnenlose Nacht verstofen, Do ápice de sua benévola confiança
Vom Gipfel ihres gütigen Vertrauns, Ao fundo da noite insensata;
Weil er des Unterschieds zu sehr vergaf Em sua desmedida felicidade esqueceu-se
Im übergrofen Glück, and sich allein Demais da diferença, pensando apenas
Nur fühlte; so erging es ihm, er ist Em si mesmo; foi assim, e ei-lo

8 99
Mit grenzenloser Oede nun gestrafi — Condenado agora ao deserto ilimitado —
Doch ist die letzte Stunde noch für ihn Mas para ele, ainda não chegou a
Nicht da; denn noch ertriigt der Langverwõhnte Última hora; pois temo, o há tanto mimado
Die Schmach in seiner Seele nicht, sorg ich Não tolerará a calúnia em sua alma
Und sein entschlafner Geist entzündet E seu espírito entorpecido inflamar-se-á
Nun neu an seiner Rache sich De novo em vingança.
Und, halberwacht, ein fürchterlicher Trâumer spricht Meio desperto, visionário temível, fala
Er gleich den alten Übermütigen, Como os arrogantes de outrora
Die mit dem Schilfrohr Asien durchwandern, Atravessavam a Ásia com o bordão de junco:
Durch sein Wort sein die Gõtter einst geworden. Por sua palavra os deuses teriam um dia nascido.
Dann steht die weite lebensreiche Welt O vasto mundo de vida crepitante estende-se
Wie sein verlornes Eigentum vor ihm, Diante dele — riqueza perdida;
Und ungeheure Wünsche regen sich Desejos imensos agitam-se em
In seiner Brust and wo sie hin sich wirft, Seu peito e a chama, para onde quer que se
Die Flamme, macht sie eine freie Bahn. Lance, força um trajeto livre.
Gesetz and Kunst and Sitt and heilge Sage E o que antes dele maturou em hora propícia:
Und was vor ihm in guter Zeit gereift Lei, arte, costumes e santa tradição
Das stõrt er auf and Lust and Frieden kann Repele; nunca mais poderá tolerar
Er nimmer dulden bei den Lebenden. Paz e alegria entre os vivos.
Er wird der Friedliche nun nimmer sein. Nunca mais será o homem pacífico.
Wie alies sich verlor, so nimmt Assim como tudo perdeu, tudo
Er Alies wieder, and den Wilden halt Retomará; e nenhum mortal
Kein Sterblicher in seinem Toben auf. Deterá a fera em seu bramido.

KRITIAS CRÍTIAS
O Greis! Du siehest namenlose Dinge. Oh, ancião. Vês coisas inomináveis,
Dein Wort ist wahr und wenn es sich erfiilit, Tua palavra é verdadeira e, se cumprir-se,
Dann wehe dir, Sicilien, so schõn Pobre de ti, Sicília, tão bela
Du bist mit deinen Hainen, deinen Tempeln. Com teus bosques e templos.

HERMOKRATES HERMÓCRATES
Der Spruch der Gõtter trifft ihn, eh sein Werk Antes que inicie sua obra, a sentença dos deuses
Beginnt. Versammle nur das Volk, damit ich O alcançará. Conclama o povo! Mostrar-lhe-ei
Das Angesicht des Mannes ihnen zeige, A face deste homem que
Von dem sie sagen, daf er aufgeflohn Dizem ter transposto o
Zum Aether sei. Sie sollen Zeugen sein Éter divino. Devem testemunhar
Des Fluches, den ich ihm verkündige, A maldição que lhe anuncio,
Und ihn verstofen in die õde Wildnis, E expulsá-lo para o áspero deserto;

100 101
Damit er nimmerwiederkehrend dort Que nunca mais regresse,
Die büse Stunde bufe, da er sich Expiando a hora fatídica em que
Se disse um deus.
Zum Gott gemacht.

KRITIAS CRÍTIAS
Doch wenn des schwachen Volks Mas se o temerário
Der Kühne sich bemeistert, fürchtest du Se impuser ao povo fraco, não temes
Für mich and dich and deine Gõtter nicht? Por mim, por ti e por teus deuses?

HERMOKRATES HERMÓCRATES
Das Wort des Priesters bricht den kühnen Sinn. A palavra do sacerdote quebra o pensamento temerário.

KRITIAS CRÍTIAS
Und werden sie den Langgeliebten dann, Expulsarão então aquele há tanto amado
Wenn schmiihlich er vom heilgen Fluche leidet, De seus jardins aprazíveis,
Aus seinen Giirten, wo er gerne lebt, Da cidade natal,
Und aus der heimatlichen Stadt vertreiben? Quando sofrer, injuriado, o anátema sagrado?

HERMOKRATES HERMÓCRATES
Wer darf den Sterblichen im Lande dulden, Quem poderá tolerar no país este mortal,
Den so der wohlverdiente Fluch gezeichnet? Assinalado por tão merecido anátema?

KRITIAS CRÍTIAS
Doch wenn du wie ein Lüsterer erscheinst E se apareces como blasfemo
Vor denen, die als einen Gott ihn achten? Aos que o veneram como deus?

HERMOKRATES HERMÓCRATES
Der Taumel wird sich ãndern, wenn sie erst O delírio será outro quando virem de novo,
Mit Augen wieder sehen den sie jetzt schon Com os próprios olhos, quem já agora
Entschwunden in die Gõtterhühe wiihnen! Julgam desaparecido nas alturas divinas!
Sie haben schon zum Bessern sich gewandt. Mas já se voltaram para melhor.
Denn trauernd irrten gestern sie hinaus Ontem, enquanto vagavam aflitos
Und gingen hier umher und sprachen viel De um lado para outro, falavam muito
Von ihm, da ich desselben Weges kam. Dele, e eu seguia pelo mesmo caminho,
Drauf sagt ich ihnen, daf ich heute sie Dizendo-lhes que hoje os acompanharia
Zu ihm geleiten wolit; indessen soil Aonde ele estivesse; no momento,
In seinem Hause jeder ruhig weilen. Ficassem tranqüilos em suas casas.
Und darum bat ich dich, mit mir heraus Eis porque te pedi que viesses

102 103
Zu kommen, daf wir sãhen, ob sie mir Comigo, para ver se me
Gehorcht. Du fzndest keinen hier. Nun komm. Obedeceram. Não há ninguém aqui. Vem, agora!

KRITIAS CRÍTIAS
Hermokrates! Hermócrates!

HERMOKRATES HERMÓCRATES
Was ists? O que é?

KRITIAS CRÍTIAS
Dort seh ich ihn Lá, ei-lo,
Wahrhaftig. De fato!

HERMOKRATES HERMÓCRATES
Laf uns gehen, Kritias! Vamos, Crítias!
Daf er in seine Rede nicht uns zieht. Que não nos envolva em seu discurso!

DRITTERAUFTRITT TERCEIRA CENA

EMPEDOKLES EMPÉDOCLES
In meine Stile kamst du leise wandelnd, Acorreste a meu silêncio, perpassando de leve
Fandst drunten in der Grotte Dunkel mich aus, E me achaste no fundo na escuridão da gruta,
Du Freundlicher! du kamst nicht unverhofft Dia benigno; não vieste porém de longe
Und fernher, oben fiber der Erde, vernahm E de improviso por sobre a terra; senti
Ich wohl dein Wiederkehren, schôner Tag Teu retorno belo dia
Und meine Vertrauten euch, ihr schnellgeschâftgen E vós, minhas confidentes, forças do alto
Kriifte der Hõh! und nahe seid ihr Ativas e velozes! Como outrora, vos
Mir wieder, seid, wie sonst, ihr Glücklichen, Tenho de novo junto a mim, vós ditosas
Ihr irrelosen Biiume meines Haim! Árvores imperturbáveis do meu bosque!
Ihr wuchst indessen fort und tiiglich triinkte Enquanto isto crescíeis e o manancial celeste
Des Himmels Queue die Bescheidenen Banhava todos os dias as discretas criaturas;
Mit Licht und Lebensfunken sate Com luz e faísca de vida o Éter
Befruchtend auf die Blühenden der Aether. — Semeava, fecundando florescências. —
O innige Natur! ich habe dich Ó íntima Natureza! Tenho-te ante
Vor Augen, kennest du den Freund noch Meus olhos, e conheces ainda o amigo,

104 105
Den Hochgeliebten, kennest du mich nimmer? O muito amado, ou não me conheces mais?
O sacerdote que te ofertava cânticos vivos
Den Priester, der lebendigen Gesang,
Wie frohvergoffnes Opferblut, dir brachte? Como sangue do sacrifício vertido com prazer?

O bei den heilgen Brunnen, wo sich still Ah, junto às nascentes sacras onde, serenas,
Die Wasser sammeln, and die Dürstenden As águas se unificam e no dia fogoso
Am heiffen Tage sich verjüngen! in mir, Rejuvenescem os sedentos! Para dentro,
In mir, ihr Quellen des Lebens, strümtet ihr einst Para dentro de mim, vós, Fontes da Vida, outrora
Aus tiefen der Welt zusammen and es kamen Confluíeis das profundezas do mundo e eles vinham,
Die Dürstenden zu mir — vertrocknet bin Os sedentos, a mim — esgotei-me
Ich nun, and nimmer freun die Sterblichen Agora, e os mortais já não mais se alegrarão
Sich meiner — bin ich ganz allein? and ist Comigo — estarei tão só? E é
Es Nacht bier oben auch am Tage? weh! Noite aqui em cima também de dia? Ai de mim!
Der hõhers, denn ein sterblich Auge, sah, Quem viu mais alto que todo olhar mortal,
Der Blindgeschlagne tastet nun umher — Tateia agora em volta, ferido pela cegueira, —
Wo seid ihr, meine Gotter? weh ihr lafft Onde estais, ó deuses? Ai, como um mendigo
Wie einen Bettler mich and diese Brust Me abandonais e a este peito
Die liebend euch geahndet, stiefft ihr mir Que amando vos pressentia; me impelistes
Hinab and schlofft in schmãhlichenge Bande Para baixo forçando o nascido livre, que pertence
Die Freigeborne, die aus sich allein A si próprio e a mais ninguém, em grilhões ignóbeis
Und keines andern ist? Und dulden sollt ichs E apertados? Devo conformar-me
Wie die Schwiichlinge, die im scheuen Tartarus Como os fracos, forjados no Tártaro
Geschmiedet sind ans alte Tagewerk? Opressivo em antiga tarefa cotidiana?
Ich habe mich erkannt; ich will es! Luft will ich Reconheci meu erro! Quero respirar, sorver o
Mir schaffen, ha! and tagen soils! hinweg! Ar! Amanhecerá! Vamos!
Bei meinem Stolz! ich werde nicht den Staub Por meu orgulho, não beijarei o pó
Von diesem Pfade küssen, wo ich einst Deste atalho onde outrora
In einem schõnen Traume ging — es ist vorbei! Andei num sonho belo — já passou!
Ich war geliebt, geliebt von euch, ihr Gõtter, Era amado, amado por vós, ó deuses,
Ich erfuhr euch, ich kannt euch, ich wirkte mit euch, wie ihr Eu vos experimentei, conheci, atuei convosco, como
Die Seele mir bewegt, so kannt ich euch, Agitáveis minha alma, assim vos conheci,
Assim vivíeis em mim — oh, não! Não
So lebtet ihr in mir — o nein! es war
Kein Traum, an diesem Herzen fühlt ich dich Era um sonho, e tu, Éter silente,
Du stiller Aether.! wenn der Sterblichen Irrsal Tocaste meu coração! Quando o equívoco humano
Mir an die Seele ging and heilend du Penetrou-me a alma e curaste,
Die liebeswunde Brust umatmetest Este peito ferido de amor, envolvendo-o,
Du Allversiihner.! and dieses Auge sah O conciliador de tudo! Meus olhos viram
Dein gõttlich Wirken, allen tfaltend Licht! Tua ação divina, luz irradiante!

106 107
Und euch, ihr andem Ewigmãchtigen — E vós também, todo-poderosas —
O Schattenbild.' Es ist vorbei I magens da sombra! Tudo passou,
Und du, verbirg dirs nicht! du hast Não tentes dissimular! Tua
Es selbst verschuldet, armer Tantalus, É a culpa, pobre Tântalo,
Das Heiligtum hast du geschãndet, hast Profanaste o sagrado, rompeste
Mit frechem Stolz den schônen Bund entzweit, A bela união com orgulho insolente,
Elender! als die Genien der Welt Mísero! Quando, repletos de amor, os gênios
Voll Liebe sich in dir vergaten, dachtst du Do universo esqueceram-se em ti, pensaste em
An dich und wãhntest karger Tor, an dich Ti mesmo, pobre tolo, e julgaste
Die Gütigen verkauft, daff sie dir, Que se aviltando, os benévolos te
Die Himmlischen, wie blõde Knechte dienten! Servissem, os Celestes, como servos estúpidos!
Ist nirgends ein Riicher Não existe em lugar algum um vingador,
Und muf ich denn allein den Hohn und Fluch Devo evocar sozinho o escárnio e o anátema
In meine Seele rufen? Und es reift Em minha alma? Ninguém
Die delphische Krone mir kein Befrer Além de mim para arrebatar a coroa
Denn ich vom Haupt, und nimmt die Locken hinweg, Délfica da cabeça, puxando as mechas do cabelo,
Wie es dem kahlen Seher gebührt — Como diria um visionário calvo? —

VIERTER AUFTRITT QUARTA CENA

Empedokles. Pausanias Empédocles. Pausânias

PAUSÂNIAS PAUSÂNIAS
O all Ó vós, todas as
Ihr himmlischen Mãchte, was ist das? Forças celestes, o que está acontecendo?

EMPÉDOKLES EMPÉDOCLES
Hinweg! Vai embora!
Wer hat dich hergesandt? willst du das Werk Quem te enviou aqui? Queres completar
Verrichten an mir? Ich will dir alies sagen, A obra em mim? Dir-te-ei tudo,
Wenn dus nicht weift; dann richte was du tust Se não o sabes; depois, orienta as tuas ações
Danach — Pausanias! o suche nicht Por minhas palavras — Pausânias! O, não procures
Den Mann, an dem dein Herz gehangen, denn O homem ao qual teu coração se afeiçoou, pois
Er ist nicht mehr, and gehe, guter Jüngling.^ Não mais existe, vai, jovem bondoso!
Dein Angesicht entzündet mir den Sinn, Teu semblante me inflama o pensamento;

108 109
Und sei es Segen oder Fluch, von dir Bênção ou maldição, vindos de ti
1st beedes mir zu viel. Doch wie du willst! Sempre é em demasia. Mas, como queiras!

PAUSANIAS PAUSÂNIAS
Was ist geschehn? Ich babe lange dein O que houve? Há muito te esperava
Geharrt and dankte, da ich von ferne E ao ver-te, ao longe, agradeci à
Dich sah, dem Tageslicht, da find ich so Luz do dia. E te encontro assim,
Du hoher Mann! ach! wie die Eiche, die Zeus erschlug, Privilegiado! Ai! Como o carvalho ferido por Zeus,
Vom Haupte bis zur Sohle dich zerschmettert. Destruído da cabeça aos pés.
Warst du allein? Die Worte hõrt ich nicht, Estavas só? Não ouvi as palavras
Doch schallt mir noch der fremde Todeston. Mas ainda ouço ressoar o estranho tom da morte.

EMPEDOKLES EMPÉDOCLES
Es war des Mannes Stimme, der sich mehr, Era a voz do homem que inebriado
Denn Sterbliche, gerühmt, weil ihn zu viel Pela Natureza benévola, se vangloriou
Beglückt die gütige Natur. Mais do que os mortais.

PAUSANIAS PAUSÂNIAS
Wie du Nunca é
Vertraut zu sein mit allen Gõttlichen Demais ser íntimo, como tu és de
Der Welt, ist nie zu viel. Todos os deuses do Universo.

EMPEDOKLES EMPÉDOCLES
So sagt ich auch, Também eu assim dizia,
Du Guter, da der heilge Zauber noch Bondoso, quando o encanto sagrado ainda
Aus meinem Geiste nicht gewichen war, Não havia se retirado de meu espírito.
Und da sie mich den Innigliebenden Quando os espíritos do Universo ainda
Noch liebten, sie die Genien der Welt. Me amavam, a mim, seu íntimo amante.
O himmlisch Licht! — es batten michs Ó luz celeste! — Os humanos nunca
Die Menschen nicht gelehrt — schon lange, da Tal me ensinaram! — Há muito, quando
Mein sehnend Herz die Allebendige Meu coração ansioso buscava
Nicht finden konnte, da wandt ich mich zu dir, A Plenamente viva, volvi-me para ti;
Hing, wie die Pflanze dir mich anvertrauend, Às cegas me entreguei, por muito tempo,
In frommer Lust dir lange blindlings nach, Em gozo devoto, qual planta confiante;
Denn schwer erkennt der Sterbliche die Reinen, Dificilmente reconhecem os mortais as almas puras,
Doch als Mas quando
der Geist mir blühte, wie du selber blühst, floresceu meu espírito, como tu mesma floresces,
Da kannt ich dich, da rief ich es: du lebst, Clamei, reconhecendo-te: vives

110 111
Und wie du heiter wandelst um die Sterblichen, E perpassas, serena, entre os mortais
Und himmlischjugendlich den holden Schein Irradiando, celeste e juvenil,
Von dir auf jedes eigen überstrahlst, O brilho gracioso por entre os viventes
Daf alle deines Geistes Farbe tragen, Para que todos vistam a cor do teu espírito.
So ward auch mir das Leben zum Gedicht. Assim, em poesia, transformou-se-me a vida.
Denn deine Seele war in mir , and offen gab Pois tua alma era parte de mim e aberto como o teu
Mein Herz wie du der ernsten Erde sich, Meu coração se prodigou à terra grave,
Der Leidenden, and oft in heilger Nacht À padecente, e muitas vezes na noite consagrada
Gelobt ichs ihr, bis in den Tod Prometi a ela, à predestinada,
Die Schicksalvolle furchtlos treu zu lieben Amor fiel, intrépido até a morte,
Und ihrer Rãtsel keines zu verschmiihn E a jamais desdenhar os seus enigmas.
Da rauscht' es anders denn zuvor im Hain, Perpassava então outro sussurro no bosque consagrado
Und zãrtlich tõnten ihrer Berge Quellen. E suavemente ressoavam as nascentes de suas montanhas.
All deine Freuden, Erde! nicht wie du Todas as tuas alegrias, terra! Não como as que
Sie liichelnd reichst den Schwiichern, herrlich, wie sie sind, Estendes generosa sorrindo aos mais frágeis,
Und warm and wahr aus Müh and Liebe reifen, Mas cálidos e genuínos, amadurecendo em fadiga e amor.
Sie alle gabst du mir and wenn ich oft Todas as tuas alegrias me deste e muitas vezes,
Auf ferner Bergeshõhe saf and staunend Ao meditar no alto da montanha distante, atônito
Des Lebens heilig Irrsal übersann, Ante o sagrado equívoco da vida,
Zu tief von deinen Wandlungen bewegt, Por demais enternecido pelas tuas metamorfoses
Und eignes Schicksal ahndend, E pressentindo meu próprio destino;
Dann atmete der Aether, so wie dir, Ao respirar o Éter que envolvia o peito
Mir heilend um die liebeswunde Brust, Ferido de amor, curei-me como a ti mesma, terra,
Und zauberisch in seine Tiefe lõsten E magicamente, em suas profundezas,
Sich meine Rãtsel auf — Dissolviam-se meus enigmas —

PAUSÂNIAS PAUSÂNIAS
Du Glücklicher.! Ó privilegiado!

EMPEDOKLES EMPÉDOCLES
Ich wars! o kiinnt ichs sagen, wie es war, Já o fui! Se pudesse evocar o que passou,
Es nennen — das Wandeln and Wirken deiner Geniuskrãfte, Enunciar as metamorfoses e a eficácia das forças esplêndidas de teu gênio,
Der Herrlichen, deren Genof ich war, o Natur! O Natureza, das quais eu era companheiro!
Kiinnt ichs noch Einmal vor die Seele rufen, E ainda Uma vez, tudo invocando ante minha alma,
Daf mir die stumme todesõde Brust Assim pudesse meu peito calado nas areias da morte
Von deinen Tõnen alien widerkliinge! Ressoar teus múltiplos acordes!
Bin ich es noch? o Leben! and rauschten sie mir, Existo? O vida! E sussuravam para mim
All deine geflügelten Melodien and hõrt Todas as tuas aladas melodias e eu sentia

112 113
Ich deinen alten Einklang, grofe Natur? A tua antiga harmonia, grande Natureza!
Ach! ich der allverlassene, lebt ich nicht Ah! Eu, por tudo abandonado, não vivia
Mit dieser heilgen Erd und diesem Licht Com esta terra consagrada, com esta luz
Und dir, von dem die Seele nimmer laft, E contigo, a quem a alma jamais renuncia,
O Vater Aether! und allen Lebenden O pai Éter? E com todos os viventes
In einigem gegenwartigem Olymp? — Nalgum Olimpo presente? —
Nun wein ich, wie ein Ausgestofener, Agora choro como um rejeitado
Und nirgend mag ich bleiben, ach und du E não gostaria de ficar em lugar algum! Ai! Tu
Bist auch von mir genommen, - sage nichts! Também me foste arrebatado, — não digas nada!
Die Liebe stirbt, sobald die Gôtter fliehn, E amor extingue-se tão logo os deuses fogem,
Das weift du wohl, verlaf mich nun, ich bin Bem o sabes, deixa-me agora, não sou
Es nimmer und ich hab an dir nichts mehr. Mais quem era e nada mais prende-me a ti.

PAUSANIAS PAUSANIAS
Du bist es noch, so wahr du es gewesen. Não, tu ainda o és, tanto quanto o foste.
Und laf michs sagen, unbegreiflich ist Deixa que te diga, não compreendo
Es mir, wie du dich selber so vernichtest. Como podes aniquilar-te assim.
Ich glaub es wohl, es schlummert deine Seele Creio que às vezes tua alma descansa
Dir auch, zu Zeiten, wenn sie sich genug E dormita, depois de abrir-se demasiado
Der Welt geõffnet, wie die Erde, die Ao mundo, assim como a terra que amas
Du liebst, sich oft in tiefe Ruhe schlieft. Se recolhe, não raro, em repouso profundo.
Doch nennest du sie tot, die Ruhende? Podes chamá-la de morta, quando em repouso?

EMPEDOKLES EMPÉDOCLES
Wie du mit lieber Mühe Trost ersinnst! Com que afã amoroso procuras consolar-me!

PAUSANIAS PAUSANIAS
Du spottest wohl des Unerfahrenen Oh, zombas do inexperiente
Und denkest, weil ich deines Glücks, wie du, E visto que não senti como tu
Nicht inne ward, so sag ich, da du leidest, As tuas alegrias, pensas agora que eu diga, porque sofres,
Nur ungereime Dinge dir? sah ich nicht dich Apenas coisas insensatas? Não te vi
In deinen Taten, da der wilde Staat von dir Em teus feitos, dando forma e sentido
Gestalt and Sinn gewann, in seiner Macht Ao estado inculto? Em sua força
Erfuhr ich deinen Geist, and seine Welt, wenn oft Discerni teu espírito e seu mundo; muitas vezes
Ein Wort von dir im heilgen Augenblick Uma palavra tua dita no instante santo
Das Leben vieler Jahre mir erschuf Dava-me vida por muitos anos:
Daf eine neue schõne Zeit von da Para mim, jovem, uma época
Dem Jünglinge begann; wie zahmen Hirschen, Nova e bela se iniciava; como os mansos cervos

114 115
Wenn ferne rauscht der Wald and sie der Heimat denken, Recordam o país natal, quando ao longe sussurra a floresta,
So schlug mir oft das Herz, wenn du vom Glück Assim muitas vezes bateu meu coração, ao falares da ventura
Der alten Urwelt sprachst, and zeichnetest De origens remotas e ditosas. Não traçaste
Du nicht der Zukunft grofe Linien Grandes linhas do futuro
Vor mir, so wie des Künstlers sichrer Buick Diante de mim, assim como o olhar seguro do artista
Ein fehlend Glied zum ganzen Bilde reiht; Dispõe um elemento que falta ao quadro inteiro;
Liegt nicht vor dir der Menschen Schicksal offen? Não está aberto aos teus olhos o destino dos homens?
Und kennst du nicht die Krãfte der Natur, Não conheces as forças da Natureza,
Dag du vertraulich, wie kein Sterblicher, Que diriges como nenhum outro mortal
Sie, wie du willst, in stiller Herrschaft lenkst? Com poderio íntimo e secreto?

EMPEDOKLES EMPÉDOCLES
Genug! du weij?t es nicht, wie jedes Wort, Basta! Não sabes como cada palavra
So du gesprochen, mir ein Stachel ist. Tua me fere como um espinho.

PAUSANIAS PAUSANIAS
So muft du denn im Unmut alles hassen? Assim, em tua indignação, deves tudo odiar?

EMPEDOKLES EMPÉDOCLES
O ehre, was du nicht verstehst! Honra o que não entendes!

PAUSANIAS PAUSANIAS
Warum Porque
Verbirgst du mirs, and machst dein Leiden mir O escondes de mim, fazendo de tua dor
Zum Riitsel? glaube! schmerzlicher ist nichts. Um enigma? Creia-me, nada me é mais penoso.

EMPEDOKLES EMPÉDOCLES
Und nichts ist schmerzlicher, Pausanias! E nada é mais penoso, Pausânias,
Denn Leiden zu entriitseln. Siehest du denn nicht? Do que explicar a dor! Então não vês?
Ach! lieber ware mirs, du wüf.?test nicht Ai! Preferiria se nada soubesses
Von mir und alley meiner Trauer. Nein! De mim, nem de toda a minha tristeza. Não!
Ich sollt es nicht aussprechen, heilge Natur! Não deveria dizê-lo, Natureza consagrada!
Jungfr uliche, die dem rohen Sinn en tflieht.! Tu que foges ao espírito rude, ó virginal!
Verachtet hab ich dich und mich allein Desprezei-te, instituindo-me
Zum Herrn gesetzt, ein übermütiger Como único senhor, bárbaro e
Barbar! an eurer Einfalt hielt ich euch, Arrogante! Em vossa singeleza vos possui
Ihr reinen immerjugendlichen Mãchte! Forças puras, sempre juvenis!
Die mich mit Freud erzogen, mich mit Wonne genãhrt, Vós que me educastes com júbilo e nutristes de encantamentos,

116 117
Und weil ihr immergleich mir wiederkehrtet, Regressando continuamente a mim,
Ihr Guten, ehrt ich eure Seele nicht! Generosas, não venerei vossa alma!
Ich kannt es ja, ich hatt es ausgelernt, A vida da Natureza, eu a conhecia,
Das Leben der Natur, wie sollt es mir Nela me iniciara, como devia tê-la
Noch heilig sein, wie einst! Die Gõtter waren Mantido sagrada, como outrora! Os deuses
Mir dienstbar nun geworden, ich allein Estavam prontos a servir-me. Sentia-me o
War Gott, und sprachs im frechen Stolz heraus. Único deus, e o manifestei com orgulho insolente.
O glaub es mir, ich ware lieber nicht Oh, acredita-me, melhor seria nunca ter
Geboren! Nascido!

PAUSANIAS PAUSÂNIAS
Was? um eines Wortes willen? O que dizes? Por uma palavra?
Wie kannst so du verzagen, kühner Mann! Como podes esmorecer tanto, homem audaz!

EMPEDOKLES EMPÉDOCLES
Um eines Wortes willen? ja. Und mõgen Por uma palavra? Sim. E possam
Die Gõtter mich zernichten, wie sie mich Os deuses aniquilar-me, como me
Geliebt. Amaram.

PAUSANIAS PAUSÂNIAS
So sprechen andre nicht, wie du. Assim falam os outros, não tu.

EMPEDOKLES EMPÉDOCLES
Die andem! wie vermõchten sies? Os outros! Como poderiam fazê-lo?

PAUSANIAS PAUSÂNIAS
Ja wohl, Sim, certo,
Du wunderbarer Mann! So innig liebt' Homem excepcional! Tão intimamente ninguém
Und sah kein anderer die ewge Welt Jamais amou, nem viu o mundo
Und ihre Genien und Krãfte nie, Eterno, seus espíritos e forças
Wie du, und darum sprachst das kühne Wort Como o fizeste; eis porque só tu também
Auch du allein, und darum fühlst du auch Pronunciaste a palavra temerária e também sentes
So sehr, wie du mit Einer stolzen Silbe Tanto, como por Uma palavra altiva
Vom Herzen aller Gõtter dich gerissen, Te apartaste do coração dos deuses
Und opferst liebend ihnen dich dahin, E por eles te sacrificas com amor,
O Empedokles! — O Empédocles! —

118 119
EMPEDOKLES EMPÉDOCLES
Siehe! was ist das? Olha! O que está havendo?
Hermokrates, der Priester, and mit ihm Hermócrates, o sacerdote, e uma
Ein Haufe Volks! and Kritias, der Archon. Multidão o acompanha! E Crítias, o arconte.
O que querem de mim?
Was suchen sie bei mir?

PAUSANIAS PAUSÂNIAS
Sie haben lang Procuraram muito
Por ti.
Geforschet, wo du wãrst.

FÜNFTER AUFTRITT QUINTA CENA

Empedokles. Pausanias Empédocles. Pausânias


Hermokrates. Kritias. Agrigentiner Hermócrates. Crítias. Agrigentinos

HERMOKRATES HERMÓCRATES
Hier ist der Mann, von dem ihr sagt, er sei Eis o homem do qual dizeis que
Subiu em vida até o Olimpo.
Lebendig zum Olymp empor gegangen.

CRÍTIAS
KRITIAS
Und traurig sieht er, gleich den Sterblichen. Parece triste, como qualquer mortal.

EMPEDOKLES EMPÉDOCLES
Ihr armen Spotter! ists erfreulich euch, Pobres zombeteiros! Alegrai-vos em
Wenn einer leidet, der euch gro, geschienen? Ver sofrer quem vos parecia grande?
Und achtet ihr, wie leichterworbnen Raub, Considerais o forte enfraquecido
Den Starken, wenn er schwach geworden ist? Presa facilmente conquistada?
O fruto que cai maduro sobre a terra encanta;
Euch reizt die Frucht, die reif zur Erde fãllt,
Doch glaubt es mir, nicht alies reift für euch. Acreditai-me, nem tudo chegará para vós à maturação.

EIN AGRIGENTINER AGRIGENTINO


O que disse?
Was hat er da gesagt?

120 121
EMPEDOKLES EMPÉDOCLES
Ich bitt euch, geht, Ide, peço-vos!
Besorgt was euer ist, and menget euch Cuidai do que é vosso, e procureis não
Ins meinige nicht ein — Vos intrometer em minha vida —

HERMOKRATES HERMÓCRATES
Doch hat ein Wort Mas o sacerdote
Der Priester dir dabei zu sagen? Deve dizer-te sua palavra.

EMPEDOKLES EMPÉDOCLES
Weh! Ai!
Ihr reinen Gotter.! ihr lebendigen! Ó deuses puros, plenos de vida!
Muf dieser Heuchler meine Trauer mir Deve este hipócrita envenenar meu
Vergiften? geh! ich schonte ja dich oft, Tormento? Vai! Poupei-te muitas vezes,
So ist es billig, daf du meiner schonst. Portanto, é justo que me poupes.
Du weift es ja, ich hab es dir bedeutet, Bem o sabes, pois não te guardei segredo,
Ich kenne dich und deine schlimme Zunft. Conheço-te e a tua raça má.
Und lange wars ein Rãtsel mir, wie euch Sempre me pareceu um enigma que a
In ihrem Runde duldet die Natur. Natureza vos suportasse em seu regaço.
Ach! als ich noch ein Knabe war, da mied Ai! Era ainda menino, e meu coração devoto
Euch Allverderber schon mein frommes Herz, Já vos evitava, perversores de tudo.
Das unbestechbar innigliebend hing Íntegro, meu coração se afeiçoara, íntimo e amante,
An Sonn und Aether und den Boten allen Ao sol, ao éter e a todo mensageiro
Der grofen ferngeahndeten Natur. Da grande Natureza pressentida de longe.
Denn wohl hab ichs gefühlt, in meiner Furcht, Em meu temor, percebia que
Daf ihr des Herzens freie Gõtterliebe Queríeis persuadir a serviços ignóbeis,
Bereden mõchtet zu gemeinem Dienst, O amor intenso aos deuses nascido no coração,
Und daf ichs treiben sollte, so wie ihr. I mitando-vos.
Hinweg! ich kann vor mir den Mann nicht sehn Longe daqui ! Não posso ver diante de mim o homem
Der Heiliges wie ein Gewerbe treibt. Que exerce o sagrado como negócio.
Sein Angesicht ist falsch und kalt und tot, Seu rosto é falso, frio e morto
Wie seine Giitter sind. Was stehet ihr Como são seus deuses. Por que ficais
Betroffen? gehet nun! Perplexos? Agora, ide!

KRITIAS CRÍTIAS
Nicht eher bis Não antes
Der heilge Fluch die Stirne dir gezeichnet, Que a maldição sagrada te marque a fronte,
Schamloser Liisterer! Blasfemo impudente!

122 123
HERMOKRATES HERMÓCRATES
Sei ruhig, Freund! Calma, amigo!
Ich hab es dir gesagt, es würde wohl Eu bem te disse que ele
Der Unmut ihn ergreifen. — Mich verschmiiht Poderia deixar-se tomar pela ira. — Este homem
Der Mann, das hõrtet ihr, ihr Burger Ultraja-me, vós o ouvistes, ó cidadãos
Von Agrigent, and harte Worte mag De Agrigento! Desagrada-me trocar palavras
Ich nicht mit ihm in wildem Zanke wechseln. Ásperas com ele, em discussão feroz.
Es ziemt dem Greise nicht. Ihr mõget nur Não é próprio de ancião. Agora vós mesmos
Ihn selber fragen, wer er sei? Podeis perguntar-lhe quem é!

EMPEDOKLES EMPÉDOCLES
O laft.! Oh, cessai!
Ihr seht es ja, es frommet keinem nichts, Como vedes, de nada vale irritar
Ein blutend Herz zu reizen. Gõnnet mirs, Um coração que sangra. Concedei-me
Den Pfad, worauf ich wandle, still zu gehn, De agora em diante, que siga em silêncio a senda
Den heilgen stillen Todespfad hinfort. Da morte santa e silente, senda que transponho.
Ihr spannt das Opfertier vom Pfluge los Desatais da charrua a vítima para ser imolada
Und nimmer triffis der Stachel seines Treibers. E nunca mais o atingirá o aguilhão do condutor.
So schonet meiner auch; entwürdiget Assim, poupai-me; não degradeis
Mein Leiden mir mit bõser Rede nicht, Minha aflição com maledicências,
Denn heilig ists; and Taft die Brust mir frei Ela é sagrada. E que livre seja meu peito
Von eurer Not; ihr Schmerz gehõrt den Gõttern. De vossas misérias; sua dor pertence aos deuses.

ERSTER AGRIGENTINER PRIMEIRO AGRIGENTINO


Was ist es denn, Hermokrates, warum Mas o que é isto, Hermócrates? Por que
Der Mann die wunderlichen Worte spricht? Este homem está dizendo palavras tão estranhas?

ZWEITER AGRIGENTINER SEGUNDO AGRIGENTINO


Er heift uns gehn, als scheut' er sich vor uns. Manda-nos embora como se nos temesse.

HERMOKRATES HERMÓCRATES
Was dünket euch? der Sinn ist ihm verfinstert, O que pensais? Sua mente obscureceu-se
Weil er zum Gott sich selbst vor euch gemacht. Porque diante de vós fez-se a si mesmo deus.
Doch weil ihr nimmer meiner Rede glaubt, Como nunca acreditais porém no que vos digo
So fragt nur ihn darum. Er soil es sagen. Perguntai-lhe, então. Ele vos dirá.

124
125
TERCEIRO AGRIGENTINO
DRITTER AGRIGENTINER
Mas acreditamos em ti!
Wir glauben dir es wohl.

PAUSÂNIAS
PAUSÂNIAS
Acreditais nele?
Ihr glaubt es wohl?
Impudicos! — Vosso Júpiter
Ihr Unverschamten? — Euer Jupiter
Não vos agrada hoje; parece sombrio;
Gefallt euch heute nicht, er siehet trüb;
O ídolo tornou-se desconfortável
Der Abgott ist euch unbequem geworden
E por que dizeis acreditar nele? Enquanto
Und darum glaubt ihrs wohl? Da stehet er
Sofre, emudecendo o espírito que
Und trauert und verschweigt den Geist, wonach
Em tempos carentes de heróis os jovens
In heldenarmer Zeit die Jünglinge
Lembrarão com saudade, quando ele não mais aqui estiver,
Sich sehnen werden, wenn er nimmer ist,
Rastejais e sibilais em torno deste homem,
Und ihr, ihr kriecht und zischet um ihn her,
Como é possível? Sois tão embrutecidos
Ihr dürft es? und ihr seid so sinnengrob,
Que o olhar deste homem não vos inquieta?
Dag euch das Auge dieses Manns nicht warnt?
Atrevem-se, os covardes, por ser manso,
Und weil er sanft ist, wagen sich an ihn
A investir contra ele — Natureza sagrada! Como ainda
Die Feigen — heilige Natur! wie duldest
Suportas estes vermes em teu regaço? —
Du auch in deinem Runde dies Gewürm? —
Agora me olhais sem saber o
Nun sehet ihr mich an, und wisset nicht,
Que fazer comigo; tendes de
Was zu beginnen ist mit mir; ihr miigt
Perguntar ao sacerdote, que tudo sabe.
Den Priester fragen, ihn, der alies weif

HERMÓCRATES
HERMOKRATES
Oh, ouvis como o jovem insolente se afronta
O hõrt, wie euch and mich ins Angesicht Comigo e convosco? Por que não deveria fazê-lo?
Der freche Knabe schilt? Wie sollt er nicht?
Faz como o mestre, a quem tudo é permitido.
Es darf es, da sein Meister alies dart:
Quem conquistou o povo, fala
Wer sich das Volk gewonnen, redet, was
O que quer; bem o sei e não me oponho
Er will; das weif ich wohl and strebe nicht
Por vontade própria, pois os deuses
Aus eignem Sinn entgegen, weil es noch
Ainda o toleram. Muito os deuses toleram
Die Gõtter dulden. Vieles dulden sie
E se calam, até o temerário chegar
Und schweigen, bis ans Auferste gerat
Ao extremo. O sacrílego terá então de recuar,
Der wilde Mut. Dann aber mug der Frevler
Abismando-se na escuridão profunda.
Rücklings hinab ins bodenlose Dunkel.

TERCEIRO AGRIGENTINO
DRITTER AGRIGENTINER
Cidadãos! No futuro, não quero ter mais nada
Ihr Burger.! Ich mag nichts mit diesen Zween
Com esses dois.
Ins künftige zu schaffen haben.

127
126
ERSTER AGRIGENTINER PRIMEIRO AGRIGENTINO
Sagt, Dizei-me,
Wie kam es denn, da]? dieser uns betõrt? Como pôde este homem ofuscar-nos?

ZWEITER AGRIGENTINER SEGUNDO AGRIGENTINO


Sie müssen fort, der Anger and der Meister. Têm de ser expulsos, o discípulo e o mestre.

HERMÓKRATES HERMÓCRATES
So ist es Zeit! — Euch fleh ich an, ihr Furchtbarn! Então, é hora! — Suplico-vos, temíveis,
Ihr Rachegõtter.! Wolken lenket Zeus Deuses da vingança! Zeus conduz as nuvens
Und Wasserwogen zahmt Posidaon, E Posseidon abranda as vagas;
Doch euch, ihr Leisewandelnden, euch ist Mas a vós, que andais com passo leve, é
Zur Herrschaft das Verborgene gegeben Dado poder sobre o oculto
Und wo ein Eigenmachtiger der Wieg E quando surge um déspota
Entsprossen ist, da seid ihr auch, und geht Em seu berço, lá estais também silenciosos
Indes er üppig auf zum Frevel wachst, Meditando; ele cresce
Stillsinnend fort mit ihm, hinunterhorchend Exuberante, rumo ao sacrilégio, dando ouvidos
In seine Brust, wo euch den Gõtterfeind Ao peito que, inimigo dos deuses,
Die unbesorgt geschwatzige verrat — Distraído e loquaz, vos trai —
Auch den, ihr kanntet ihn, den heimlichen Também o conhecíeis, o sedutor
Verführer, der die Sinne nahm dem Volk Oculto, que embriagou o povo
Und mit dem Vaterlandsgesetze spielt; E zombou da lei pátria;
Und sie, die alten Gõtter Agrigents Nunca respeitou os deuses antigos
Und ihre Priester niemals achtete, De Agrigento e seus sacerdotes,
Und nicht verborgen war vor euch, ihr Furchtbarn! Nem dissimulou ante vós, ó temíveis,
Solang er schwieg, der ungeheure Sinn; Ao calar, o pensamento monstruoso;
Er hats vollbracht. Verruchter.! wahntest du, Assim o fez. Infame! Julgavas
Sie müftens nachfrohlocken, da du jüngst Que exultariam quando há pouco,
Vor ihnen einen Gott dich selbst genannt? Diante deles disseste ser um deus?
Dann Nit test du geherrscht in Agrigent,
-
Governarias, então, Agrigento,
Ein einziger allmiichtiger Tyrann Único tirano todo-poderoso
Und dein gewesen ware, dein allein E teus seriam, somente teus,
Das gute Volk und dieses schõne Land. A terra benfazeja e o povo generoso.
Sie schwiegen nur; erschrocken standen sie; Eles porém calaram, amedrontados;
Und du erblagtest, und es lahmte dich Empalideceste e a aflição perversa
Der bõse Gram in deiner dunkeln Halle, Imobilizou-te neste átrio escuro
Wo du hinab dem Tageslicht entflohst. Onde te escondeste, fugindo à luz do sol.
Und kõmmst du nun, und giefest fiber mich E agora, vens derramar teu rancor
Den Unmut aus, und lasterst unsre Gütter? Sobre mim, e blasfemas contra nossos deuses!

128 129
ERSTER AGRIGENTINER PRIMEIRO AGRIGENTINO
Nun ist es klar.! er gerichtet werden. Agora está claro! Deve ser condenado!

KRITIAS CRÍTIAS
Ich hab es euch gesagt; ich traute nie Já vos disse; nunca confiei
Dem Tri umer. No visionário.

EMPEDOKLES EMPÉDOCLES
O ihr Rasenden! Oh, alucinados!

HERMOKRATES HERMÓCRATES
Und sprichst Falas
Du noch and ahndest nicht, du hast mit uns Ainda sem pressentir que nada
Nichts mehr gemein, ein Fremdling bist du worden, Mais te une a nós, viraste estrangeiro,
Und unerkannt bei allen Lebenden. Ignorado por todos os viventes.
Die Quelle, die uns trãnkt, gebührt dir nicht A nascente que nos sacia a sede, não te é concedida,
Und nicht die Feuerflamme, die uns frommt, Nem a chama do fogo que nos aquece,
Und was den Sterblichen das Herz erfreut, De tudo te despojam os deuses sagrados da vingança
Das nehmen die heilgen Rachegõtter von dir. E o que aos mortais alegra o coração.
Für dich ist nicht das heitre Licht hier oben, No alto, para ti, não haverá luz serena,
Nicht dieser Erde Grün and ihre Frucht, Nem verás o vigor da terra e de seu fruto;
Und ihren Segen gibt die Luft dir nicht, O ar não te dará sua benção
Wenn deine Brust nach Kühlung seufzt and dürstet. Quando teu peito árido suspirar por frescor.
Es ist umsonst, du kehrest nicht zurück É inútil, não retornas
Zu dem, was unser ist; denn du gehõrst Ao que é nosso; pois pertences
Den Rüchenden, den heilgen Todesgõttern. Aos vingadores, aos deuses santos da morte.
Und wehe dem, von nun an, wer ein Wort E pobre de quem, a partir de agora, acolher com afeto
Von dir in seine Seele Freundlich nimmt, Uma tua palavra na alma,
Wer dich begrüf?t, and seine Hand dir beut, Quem te cumprimentar e estender-te a mão,
Wer einen Trunk am Mittag dir gewãhrt Pobre de ti e de quem conceder-te
Und wer an seinem Tische dich erduldet, Um trago ao meio-dia, ou te admitir
Dir, wenn du nachts an seine Türe kõmmst, À mesa, e sob seu teto propiciar-te o sono
Den Schlummer unter seinem Dache schenkt, Brando quando, à noite, bateres à sua
Und wenn du stirbst, die Grabesflamme dir Porta; ou quando morreres, preparar-te
Bereitet, wehe dem, wie dir! — hinaus! A chama funerária! — Longe de nós!
Es dulden die Vaterlandsgütter linger nicht, Os deuses pátrios não mais toleram o sacrílego,
Wo ihre Tempel sind, den Allverãchter. Nos lugares onde se elevam os seus templos.

130 131
AGRIGENTINER AGRIGENTINOS
Hinaus, damit sein Fluch uns nicht beflecke! Fora! Para que sua maldição não nos macule!

PAUSANIAS PAUSÂNIAS
O komm! du gehest nicht allein. Es ehrt Espera! Não vais só. Um ainda
Noch Einer dich, wenns schon verboten ist, Te venera, embora o proíbam,
Du Lieber! and du weif.?t, des Freundes Segen Caríssimo! Bem sabes, a bênção do amigo
Ist krditiger denn dieses Priesters Fluch. É mais forte que a maldição deste sacerdote.
O komm in fernes Land! wir finden dort Vem à terra distante! Lá também
Das Licht des Himmels auch, and bitten will ich, encontraremos a luz do céu; pedirei a ela
Daffreundlich dirs in deiner Seek scheine. Que amável brilhe em tua alma.
Im heiter stolzen Griechenlande drüben Além, na Grécia plácida e orgulhosa,
Da grünen Hügel auch, and Schatten gõnnt Verdes são também as colinas, a acerária te
Der Ahorn dir, and milde Lüfte kühlen Prodiga a sombra, as brisas suaves reanimam
Den Wanderern die Brust; and wenn du müd O peito dos viandantes. E quando cansado estiveres
Vom heifen Tag an fernem Pfade sitzest, Sentado à beira da senda distante, na ardência do dia,
Mit diesen Hiinden schôpf ich dann den Trunk Com estas mãos juntarei então alimentos e
Aus frischer Quelle dir and sammle Speisen, Trarei um pouco de água da nascente fresca;
Und Zweige wõlb ich über deinem Haupt, Protegerei tua cabeça com um teto de ramos,
Und Moos and Bliitter breit ich dir zum Lager, De musgo e folhas tecerei teu leito
Und wenn du schlummerst, so bewach ich dich; E, quando dormitares, vigiarei teu sono;
Und muf es sein, bereit ich dir auch wohl E, se for preciso, preparar-te-ei
Die Grabesflamme, die sie dir verwehren; A chama funerária a ti proibida;
Die Schündlichen! Os infames!

EMPEDOKLES EMPÉDOCLES
Oh! treues Herz! — Für mich, Coração fiel! — Para mim,
Ihr Bürger.! bitt ich nichts; es sei geschehn! Cidadãos, nada peço; seja consumado!
Ich bitt euch nur um dieses Jünglings willen. Só por este jovem eu rogo.
O wendet nicht das Angesicht von mir! Oh, não desvieis o vosso olhar de mim!
Bin ich es nicht, um den ihr liebend sonst Não vos reuníeis outrora amorosamente
Euch sammeltet? ihr selber reichtet da A minha volta? Não sou mais aquele? Vós mesmos nem
Mir auch die Hünde nicht, unziemlich dünkt' Me estendíeis a mão, julgando inoportuno
Es euch, zum Freund euch wild heranzudriingen. Aproximar-vos com ímpeto do amigo.
Doch schicktet ihr die Knaben, daf sie mir Mas os pacíficos, as crianças, enviáveis
Die Hiinde reichten, diese Friedlichen, Para estenderem-me as mãos,
Und auf den Schultern brachtet ihr die Kleinern E nos ombros trazíeis os menores,
Und hubt mit euern Armen sie empor — E os erguíeis nos braços —

132 133
Bin ich es nicht? and kennt ihr nicht den Mann, Não sou o mesmo? Não reconheceis o homem
Dem ihr gesagt, ihr kãnntet, wenn ers wollte, A quem prometestes acompanhar — se ele o pedisse —
Von Land zu Land mit ihm, als Bettler gehn, De país em país, como mendigos,
Und, wenn es mõglich ware, folgtet ihr E se possível fosse, mesmo para
Ihm auch hinunter in den Tartarus? Segui-lo até o Tártaro?
Ihr Kinder! alies wolltet ihr mir schenken E vós, crianças! Queríeis presentear-me tudo
Und zwangt mich tõricht oft, von euch zu nehmen, Obrigando-me às vezes a tolamente aceitar
Was euch das Leben heitert' and erhielt, E que vos alegrava e mantinha a vossa vida,
Dann gab ich euchs vom Meinigen zurück Eu vos retribuía então com meus dons
Und mehr, denn Eures, achtetet ihr dies. E os apreciáveis mais que os vossos.
Nun geh ich fort von euch; versagt mir nicht Deixo-vos agora; não me recuseis
Die Eine Bitte: schonet dieses Jünglings! Este único pedido: poupai este jovem!
Er tat euch nichts zu Leid; er liebt mich nur, Nada vos fez de mal; ama-me apenas
Wie ihr mich auch geliebt, and saget selbst, Como também vós me amáveis e dizei
Ob er nicht edel ist and schõn! and wohl Se não é nobre e belo! E por certo,
Bedürft ihr künftig seiner, glaubt es mir! No futuro recorrereis a ele, acreditai-me!
Oft sagt ich euchs: es würde nacht and kalt Muitas vezes repeti: a noite e o frio baixariam
Auf Erden and in Not verzehrte sich Sobre a terra, consumindo-se a alma
Die Seele, sendeten zu Zeiten nicht Em penúria, se os deuses benévolos não
Die guten Gõtter solche Jünglinge, Enviassem às vezes jovens como este,
Der Menschen welkend Leben zu erfrischen. Para reanimar a vida humana que definha.
Und heilig halten, sagt ich, solltet ihr E vos disse para honrar os espíritos alegres
Die heitern Genien — o schonet sein Como santos — oh, poupai-o
Und rufet nicht das Weh! versprecht es mir! E não provoqueis a dor! Prometei-me!

DRITTER AGRIGENTINER TERCEIRO AGRIGENTINO


Hinweg! wir hõren nichts von aliem, was Fora daqui! Nada mais ouvimos de tudo o que
Du sagst. Dizes!

HERMOKRATES HERMÓCRATES
Dem Knaben mug geschehn, wie ers Seja a sorte do jovem tal como
Gewollt. Er mag den frechen Mutwill büf.'en. A quis. Seja castigado por sua índole insolente.
Er geht mit dir, und dein Fluch ist der seine. Indo contigo, compartilhe o teu anátema.

EMPEDOKLES EMPÉDOCLES
Du schweigest, Kritias! verbirg es nicht, Crítias, silencias! Não dissimules,
Dich trifft es auch; du kanntest ihn, nicht wahr, Isto também te atinge; tu o conhecias, não é verdade?
Die Sünde lôschten Strõme nicht von Blut Rios de sangue dos animais não extinguiram

134 135
Der Tier? Ich bitte, sag es ihnen, Lieber! A culpa? Peço-te, fala com eles, amigo!
Sie sind, wie trunken, sprich ein ruhig Wort, Estão embriagados, diz uma palavra calma
Damit der Sinn den Armen wiederkehre! Para que o juízo retorne aos infelizes!

ZWEITER AGRIGENTINER SEGUNDO AGRIGENTINO


Noch schilt er uns? Gedenke deines Fluchs Ousa ainda insultar-nos? Lembra-te de tua maldição,
Und rede nicht und geh! wir mõchten sonst Cala-te e vai! Ou poderíamos
An dich die Hãnde legen. Levantar as mãos contra ti.

KRITIAS CRÍTIAS
Wohl gesagt, Dizeis bem,
Ihr Burger! Cidadãos!

EMPEDOKLES EMPÉDOCLES
So! — and mõchtet ihr an mich Ah, é assim! Queríeis ter-me
Die Hãnde legen? was? gelüstet es Em vossas garras? O quê?! Ainda
Bei meinem Leben schon die hungernden Vivo já me cobiçais, harpias
Harpyen? and kennt ihrs nicht erwarten, bis Famintas? Não podeis esperar que
Der Geist entflohn ist, mir die Leiche zu schãnden? O espírito se evole, para então profanar o meu cadáver?
Heran! Zerfleischt and teilet die Beut and es segne Vinde! Estraçalhai e dividi a presa! Abençoe
Der Priester euch den Genuf and seine Vertrauten, O sacerdote vosso gozo; e aos deuses vingadores,
Die Rachegõtter lad er zum Mahl.! — Dir bangt Seus íntimos, conclame para o banquete! — Tremes,
Heilloser! kennst du mich? and soil ich dir Maldito! Acaso me conheces? Terei de anular
Den bõsen Scherz verderben, den du treibst? A brincadeira pe rversa que estimulas?
Bei deinem grauen Haare, Mann! du solltest Por teus cabelos brancos, homem! Deverias
Zu Erde werden, denn du bist sogar Voltar ao pó, és tão ruim que não
Zum Knecht der Furien zu schlecht. O sieh! Serves nem mesmo para lacaio das fúrias. Vê!
So schãndlich stehst du da and durftest doch Ficas aí tão ignóbil; e dizer que pretendias
An mir zum Meister werden? freilich ists Ser meu mestre! Por certo é uma
Ein ãrmlich Werk, ein blutend Wild zu jagen! Tarefa digna de lástima caçar uma fera ensanguentada!
Ich trauerte, das wufte der, da wuchs Ele sabia da minha angústia e sua
Der Mut dem Feigen; da erhascht er mich Coragem impura se acendeu; prende-me,
Und hetzt des Põbels Zãhne mir aufs Herz. Acera os dentes da plebe contra meu coração.
O, wer, wer heilt den Geschiindeten nun, wer nimmt Quem, ó quem poderá curar o desonrado agora? Quem o
Ihn auf, der heimatlos der Fremden Hauser Acolherá, ao que perambula sem pátria em
Mit den Narben seiner Schmach umirrt, die Gõtter Casas alheias com cicatrizes do opróbrio, suplicando
Des Hains fleht, ihn zu bergen — komme, Sohn! Proteção aos deuses do bosque — vem, filho!
Sie haben wehe mir getan, doch hãtt Magoaram-me e o teria

136 137
Ichs wohl vergessen, aber dich? — ha geht Esquecido, mas também te feriram!
Nun immerhin zu Grund, ihr Namenlosen! Perecei agora, desumanos!
Sterbt langsamen Tods, and euch geleite Morrei de morte lenta e que o canto
Des Priesters Rabengesang! and weil sich Wolfe Agourento do sacerdote vos acompanhe! E como os lobos
Versammeln da, wo Leichname sind, so finde sich Se reúnem onde há cadáveres, haja
Dann einer auch für euch; der sâttige Um também para vós; que se sacie
Von eurem Blute sich, der reinige De vosso sangue e purifique a
Sicilien von euch; es stehe dürr Sicília de vós; seque
Das Land, wo sonst die Purpurtraube gem A terra onde outrora crescia farta para
Dem bessern Volke wuchs and goldne Frucht O povo bondoso, a uva púrpura e o fruto dourado
Im dunkeln Hain, and edles Korn, and fragen No bosque e cereais preciosos. Ao pisar
Wird einst der Fremde, wenn er auf den Schutt As ruínas de vossos templos, o estrangeiro
Von euern Tempeln tritt, ob da die Stadt Indagará um dia se aí existiu
Gestanden? gehet nun! Ihr findet mich Uma cidade. Agora, ide! Em uma hora
In einer Stunde nimmer. — (indem sie abgehn) Não mais me encontrareis. — (enquanto saem)
Kritias! Crítias!
Dir mocht ich wohl ein Wort noch sagen. Gostaria ainda de dizer-te uma palavra.

PAUSÂNIAS PAUSÂNIAS
(nachdem Kritias zurück ist) (depois do retorno de Crítias)
Laf Que
Indessen mich zum alten Vater gehn Eu vá no entanto ao velho pai
Und Abschied nehmen. E dele me despeça.

EMPEDOKLES EMPÉDOCLES
O warum? was tat Oh, por quê? Em que
Der Angling euch, ihr Gutter! gehe denn, O jovem vos ofendeu, ó deuses? Vá, então,
Du Armer! Draufen wart ich, auf dem Wege Pobre amigo! Espero-te no caminho
Nach Syrakus; dann wandern wir zusammen. Para Siracusa; seguiremos depois juntos.
(Pausanias geht auf der andern Seite ab) (Pausanias sai pelo outro lado)

138 139
SECHSTER AUFTRITT SEXTA CENA

Empedokles. Kritias Empédocles. Crítias

KRITIAS CRÍTIAS
Was ists? O que há?

EMPEDOKLES EMPÉDOCLES
Auch du verfolgest mich? Também me persegues?

KRITIAS CRÍTIAS
Was soil O que
Mir das? Dizes?!

EMPEDOKLES EMPÉDOCLES
Ich weiff es wohll Du mõchtest gern Bem sei! Gostarias de
Mich hassen, dennoch hassest du mich nicht: Odiar-me, contudo não me odeias:
Du fürchtest nur; du !mutest nichts zu fürchten. Temes, apenas; nada tinhas a temer.

KRITIAS CRÍTIAS
Es ist vorbei. Was willst du noch? Já passou. O que queres ainda?

EMPEDOKLES EMPÉDOCLES
Du hüttst Tu próprio
Es selber nie gedacht, der Priester zog Nunca terias chegado a tanto, o sacerdote
In seinen Willen dich, du klage dich Enredou-te em seus planos, não te
Nicht an; o hãttst du nur ein treues Wort Culpes; ah, se ao menos houvesses dito
Für ihn gesprochen, doch du scheuetest Uma palavra honesta em sua defesa, mas temeste
Das Volk. O povo.

KRITIAS CRÍTIAS
Sonst hattest du mir nicks Nada mais tinhas
Zu sagen? Überflüssiges Geschwiitz Para me dizer? Sempre amaste
Hast du von je geliebt. Conversas supérfluas.

140 141
EMPEDOKLES EMPÉDOCLES
O rede sanft, Oh, pondera as palavras,
Ich habe deine Tochter dir gerettet. Salvei tua filha!

KRITIAS CRÍTIAS
Das bast du wohl. É verdade!

EMPEDOKLES EMPÉDOCLES
Du striiubst and schiimest dich, Fremes e tens vergonha de
Mit dem zu reden, dem das Vaterland geflucht; Dirigir a palavra àquele que a pátria amaldiçoou;
Ich will es gerne glauben. Denke dir, Assim o creio. Imagina
Es rede nun mein Schatte, der geehrt Então que é a minha sombra que te fala
Vom heitern Friedenslande wieder kehre — Regressando honrada da região tranquila —

KRITIAS CRÍTIAS
Ich ware nicht gekommen, da du riefst, Eu não teria atendido a teu chamado
Wenn nicht das Volk zu wissen wünschte, was Se o povo não desejasse saber o que
Du noch zu sagen hiittest. Ainda terias a dizer.

EMPEDOKLES EMPÉDOCLES
Was ich dir O que tenho
Zu sagen habe, geht das Volk nichts an. A dizer-te, não diz respeito ao povo.

KRITIAS CRÍTIAS
Was ist es dann? O que é, então?

EMPEDOKLES EMPÉDOCLES
Du muft hinweg aus diesem Land; ich sag Deves deixar este país; por tua
Es dir um deiner Tochter willen. Filha o digo.

KRITIAS CRÍTIAS
Denk an dich Pensa em ti
Und Sorge nicht für anders! E não te preocupes com mais nada.

142 143
EMPEDOKLES EMPÉDOCLES
Kennest du Não conheces
Sie nicht? Und ist dirs unbewuft, wie viel Tua filha? Ignoras que é preferível
Es besser ist, daf eine Stadt voll Toren Naufragar uma cidade inteira de
Versinkt, denn Ein Vortreffliches? Tolos do que uma criatura de exceção?

KRITIAS CRÍTIAS
Was kann O que pode
Ihr fehlen? Faltar-lhe?

EMPEDOKLES EMPÉDOCLES
Kennest du sie nicht? Não a conheces?
Und tastest, wie ein Blinder an, was dir E tateias, buscando como um cego o que
Die Glitter gaben? and es leuchtet dir Os deuses te concederam? Em vão
In deinem Haus umsonst das holde Licht? Cintila em tua casa a luz graciosa?
Ich sag es dir: bei diesem Volke findet Digo-te: sua alma devota
Das fromme Leben seine Ruhe nicht Não encontrará nesta terra repouso algum
Und einsam bleibt es dir, so schõn es ist E conquanto seja bela, permanecerá só
Und stirbt dir freudenlos, denn nie begibt E morrerá sem alegrias, pois nunca
Die zdrtlichernste Güttertochter sich A terna e pensativa filha dos deuses
Barbaren an das Herz zu nehmen, glaub Acolherá um bárbaro em seu coração,
Es mir! Es reden wahr die Scheidenden. Acredita-me! Dizem a verdade, os que se vão!
Und wundere des Rats dich nicht! E não te admires do conselho!

KRITIAS CRÍTIAS
Was soil O que devo
Ich nun dir sagen? Dizer-te agora?

EMPEDOKLES EMPÉDOCLES
Gehe hin mit ihr Leva-a contigo
In heilges Land, nach Elis oder Delos À terra sagrada, a Elis ou Delos,
Wo jene wohnen, die sie liebend sucht, Onde habitam os que ela procura com amor;
Wo stillvereint, die Bilder der Heroen Onde, reunidos no silêncio, no bosque de loureiros,
Im Lorbeerwalde stehn. Dort wird sie ruhn, Assomam os vultos dos heróis; lá seu espírito
Dort bei den schweigenden Idolen wird Belo, contido e delicado,
Der schi ne Sinn, der zartgenügsame Repousará; lá junto aos deuses
Sich stillen, bei den edeln Schatten wird Silentes, adormecerá junto às nobres sombras
Das Leid entschlummern, das geheim sie hegt A dor que nutre em segredo no seio

144 145
In frommer Brust. Wenn dann am heitern Festtag Devoto. Quando, lá em dia alegre e festivo
Sich Hellas schãne Jugend dort versammelt, A bela juventude da Hélade se reunir
Und um sie her die Fremdlinge sich grüfien E a seu redor os estrangeiros se saudarem,
Und hoffnungsfrohes Leben überall E por toda a parte a vida alegre, plena de esperança
Wie goldenes Gewõlk das stille Herz Envolver luzindo, como nuvem de ouro, o coração
Umglünzt, dann weckt dies Morgenrot Sereno, esta aurora por certo despertará
Zur Lust wohl auch die fromme Trãumerin, Para o fruir da vida a sonhadora devota
Und von den Besten einen, die Gesang E ela escolherá um dentre os melhores
Und Kranz in edlem Kampf gewannen, wãhlt Vencedores de cânticos, coroados na luta nobre,
Sie sich, daf er den Schatten sie enOihre, Que a arrebatará das sombras
Zu denen sie zu frühe sich gesellt. As quais precocemente se reuniu.
Gefiillt dir das, so folge mir — Se isto te agrada, segue-me —

KRITIAS CRÍTIAS
Hast du der goldnen Worte noch so viel Sobram-te ainda áureas palavras
In deinem Elend übrig? Na tua miséria?

EMPEDOKLES EMPÉDOCLES
Spotte nicht! Não zombes de mim!
Die Scheidenden verjüngen alle sich Quem se despede gosta de retornar
Noch Einmal gern. Der Sterbeblick ists nur Uma vez jovem. É apenas o olhar mortiço
Des Lichts, das freudig einst in seiner Kraft Da luz que outrora em seu esplendor, brilhava
Geleuchtet unter euch. Es lõsche freundlich, Alegre entre vós. Que se apague agora amavelmente.
Und hab ich euch geflucht, so mag dein Kind Se vos amaldiçoei, abençoada seja tua
Den Segen haben, wenn ich segnen kann. Filha, se me for dado abençoar.

KRITIAS CRÍTIAS
O und mache mich zum Knaben nicht. Cala-te, não me trates como criança.

EMPEDOKLES EMPÉDOCLES
Versprich es mir and tue, was ich riet, Promete-me isto, faz o que te aconselhei
Und geh aus diesem Land. Verweigerst dus, E sai desta terra! Mas se te recusares,
So mag die Einsame den Adler bitten, Que a abandonada implore à águia
Daf er hinweg von diesen Knechten sie Para salvá-la das mãos destes lacaios
Zum Aether rette! Bessers weif ich nicht. Em direção ao Éter. Não vejo outra saída.

146 147
KRITIAS CRÍTIAS
O sage, haben wir nicht recht an dir Acaso não agimos de forma justa contigo?
Getan? Dize-me!

EMPEDOKLES EMPÉDOCLES
Wie fragst du nun? Ich habe es dir Por que perguntas agora? Perdoei-
Vergeben. Aber folgst du mir? Te. Seguirás o meu conselho?

KRITIAS CRÍTIAS
Ich kann Não posso
So schnell nicht wiihlen. Escolher tão depressa.

EMPEDOKLES EMPÉDOCLES
Wiihle gut, Escolhe bem,
Sie soil nicht bleiben, wo sie untergeht. Não a deixes onde sucumbirá.
Und sag es ihr, sie soil des Mannes denken, Dize-lhe que não se esqueça do
Den einst die Gõtter liebten. Willst du das? Homem outrora amado pelos deuses. Me atenderás?

KRITIAS CRÍTIAS
Wie bittest du? Ich will es tun. Und geh O que pedes? Está bem. Agora
Du deines Weges nun, du Armer! (geht ab.) Segue teu caminho, desditoso! (sai.)

SIEBENTERAUFTRITT SÉTIMA CENA

EMPEDOKLES EMPÉDOCLES
Ja! Sim!
Ich gehe meines Weges, Kritias, Seguirei meu caminho, Crítias,
Und weif.' wohin? Und schiimen muf ich mich E sei, para onde. Devo envergonhar-me
Dal; ich gezõgert bis zum Auffersten. Por ter hesitado até o último instante.
Was mutt ich auch so lange warten, Por que esperei tanto,
Bis Glück and Geist and Jugend wich, and nichts Até que se fossem espírito, ventura e juventude, nada
Wie Torheit überblieb and Elend. Restando a não ser sofrimento e desvario?
Wie oft, wie oft hat dichs gemahnt! Da war Quantas vezes foste advertido, quantas! Teria
Es schõn gewesen. Aber nun ists not! Sido belo então. Agora, só desvalimento!
O stifle! gute Götter! immer eilt Ó deuses bondosos e pacíficos! O mortal

148 149
Den Sterblichen das ungeduldge Wort Precipita a palavra impaciente e
Voraus and 1.0 die Stunde des Gelingens Não permite que amadureça intata
Nicht unbetastet reifin. Manches ist A hora do êxito. Muita coisa
Vorbei; and leichter wird es schon. Es hüngt Passou e já se torna mais fácil. O velho tolo
An allem fest der alte Tor! and da A tudo se apega! E quando
Er einst gedankenlos, ein stiller Knab Outrora se abandonava, menino tranquilo,
Auf seiner grünen Erde spielte, war Brincando na terra verde, era
Er freier, denn er ist; o scheiden! — selbst Mais livre do que agora; ó partir! — nem
Die Hütte, die mich hegte, lassen sie Mesmo me resta a cabana que
Mir nicht — auch dies noch? Gõtter! Me abrigou — até isto, deuses!

ACHTERAUFTRITT OITAVA CENA

Empedokles Empédocles
Drei Sklaven des Empedokles Três Escravos de Empédocles

ERSTER SKLAVE PRIMEIRO ESCRAVO


Gehst du, Herr? Vais embora, senhor?

EMPEDOKLES EMPÉDOCLES
Ich gehe freilich guter
, É verdade, meu caro, vou!
Und hole mir das Reisgerãt, soviel Apanha-me a bagagem, o quanto
Ich selber tragen kann, and bring es noch Eu mesmo possa carregar; leva-a
Mir auf die Straj?e dort hinaus — es ist Para mim até o caminho, lá fora — é
Dein letzter Dienst! Teu último serviço!

ZWEITER SKLAVE SEGUNDO ESCRAVO


O Gõtter! Oh, deuses!

EMPEDOKLES EMPÉDOCLES
Immer seid Sempre estivestes
Ihr gem um mich gewesen, denn ihr wart's Felizes a minha volta, habituados
Gewohnt, von Lieber Jugend her, wo wir A isto desde a amável juventude;
Zusammen auf in diesem Hause wuchsen, Juntos crescemos nesta casa,
Das meinem Vater war and mir, and fremd Minha e de meu pai; a palavra fria

15 0 151
Ist meiner Brust das herrischkalte Wort. E dominadora nunca habitou meu peito.
Ihr habt der Knechtschaft Schicksal nie gefühlt. Nunca sentistes o destino dos escravos.
Ich glaub es euch, ihr folgtet Berne mir Acredito, gostaríeis de seguir-me
Wohin ich mus Doch kann ich es nicht dulden, Aonde tenho de ir. Mas não posso tolerar
Dag euch der Fluch des Priesters i ngstige. Que a maldição do sacerdote vos angustie.
Ihr wilt ihn wohl? Die Welt ist aufgetan Bem a conheceis. O mundo abriu-se
Für euch and mich, ihr Kinder, and es sucht Para vós e para mim, crianças! Agora
Nun jeder sich sein eigen Glück — Procure cada um sua própria sorte —

DRITTER SKLAVE TERCEIRO ESCRAVO


O nein! Oh, não!
Wir lassen nicht von dir. Wir kõnnens nicht. Não queremos deixar-te. Não podemos!

ZWEITER SKLAVE SEGUNDO ESCRAVO


Was weig der Priester, wie du lieb uns bist. O que sabe o sacerdote o quanto nos sois caro.
Verbiet ers andem! uns verbeut ers nicht. Proíba aos outros! Não a nós.

ERSTER SKLAVE PRIMEIRO ESCRAVO


Gehüren wir zu dir, so lag uns auch Se te pertencemos, deixa-nos ainda
Bei dir! Ists doch von gestern nicht, dag wir Ficar junto de ti! Não é de ontem
Mit dir zusammen Sind, du sagst es selber. Que vivemos juntos, tu mesmo o disseste.

EMPEDOKLES EMPÉDOCLES
O Glitter.! bin ich kinderlos and leb O deuses! Não tenho filhos, vivo
Allein mit diesen drein, and dennoch hang Só com estes três, preso e
Ich hingebannt an diese Ruhesti tte, Apegado a este recolhimento: sou
Gleich Schlafenden, and ringe, wie im Traum, Como os que dormem e se agitam em sonho,
Hinweg? Es kann nicht anders sein, ihr Guten! Tentando escapar-lhe. Não pode ser de outra forma, meus caros!
O sagt mir nun nichts mehr, ich bitt euch das, Oh, peço-vos! Não digais mais nada agora,
Und lagt uns tun, als wãren wir es nimmer. E façamos como se não mais estivéssemos aqui.
Ich will es ihm nicht giinnen, dag der Mann Não quero permitir a este homem, que ainda
Mir alles noch verfluche, was mich liebt — Me maldiga e tudo o que me ama —
Ihr gehet nicht mit mir; ich sag es euch. Não ireis comigo; eu vos digo.
Hinein and nimmt das Beste, was ihr findet, Entrai em casa e vos aposseis do melhor que encontrardes;
Und zaudert nicht and flieht; es mõchten sonst Não hesiteis e fugi! Se assim não for, os novos
Die neuen Herrn des Hauses euch erhaschen, Donos da casa poderiam apanhar-vos
Und eines Feigen Knechte würdet ihr. E seríeis então lacaios de um covarde.

152 153
SEGUNDO ESCRAVO
ZWEITER SKLAVE Manda-nos embora com palavras duras?
Mit barter Rede schickest du uns weg?
EMPÉDOCLES
EMPEDOKLES Faço-o por ti e por mim! O libertos!
Ich to es dir and mir, ihr Freigelafnen! Enfrentai a vida com força viril,
Ergreift mit Mannes Kraft das Leben, laft Os deuses vos confortem com a honra, pois só
Die Glitter euch mit Ehre trôsten; ihr Agora começais. Os homens sobem
Beginnt nun erst. Es gehen Menschen auf E descem. Agora não demoreis mais! Fazei
Und nieder. Weilet nun nicht lânger! Tut, Como vos disse.
Was ich gesagt.
PRIMEIRO ESCRAVO
ERSTER SKLAVE Meu adorado senhor! Que viva
Herr meines Herzens! leb E não pereças!
Und geh nicht unter!
TERCEIRO ESCRAVO
DRITTER SKLAVE Dize, não mais
Sage, werden wir Te veremos?
Dich nimmer sehn?
EMPÉDOCLES
EMPEDOKLES Oh, não pergunteis, é
O fraget nicht, es ist Em vão. (ordena com energia)
Umsonst. ( mit Macht gebietend)
SEGUNDO ESCRAVO
ZWEITER SKLAVE (saindo)
(im Abgehen) Ai! Será que vagará agora pela terra
Ach! wie ein Bettler soli er nun das Land Como um mendigo sem encontrar arrimo em parte alguma?
Durchirren and des Lebens nirgend sicher sein?
EMPÉDOCLES
EMPEDOKLES (segue-os com o olhar, em silêncio)
(siehet ihnen schweigend nach) Despedi-vos
Lebt wohl.! ich hab Com indiferença, criaturas leais! Adeus!
Euch schnôd hinweggeschickt, lebt wohl ihr Treuen. E tu, casa paterna, onde cresci
Und du, mein viiterliches Haus, wo ich erwuchs ` E floresci! Vós, árvores amadas, consagradas pelo
Und blüht7 — ihr lieben Biiume! vom Freudengesang Cântico jubiloso do amigo dos deuses, calmas
Des Gõtterfreunds geheiligt, ruhige Confidentes de minha paz! Perecei e restitui
Vertraute meiner Ruh! o sterbt und gebt A vida aos ares, pois o povo rude faz
Den Liiften zurück das Leben, denn es scherzt Gracejos agora a vossa sombra e
Das robe Volk in eurem Schatten nun

155
154
Und wo ich Selig ging, da spotten sie meiner. Zombam de mim lá onde fui feliz.
Weh! ausgestoffen, ihr Gõtter? and ahmte Ai! Os deuses me expulsaram. O sacerdote
Was ihr mir tut, ihr Himmlischen, der Priester Indigno, sem alma, imitou o
Der Unberufene, seellos nach? ihr liefft Que me fizestes, deuses do céu! Vós
Mich einsam, mich, der euch geschmãht, ihr Lieben! Me abandonastes àquele que vos injuriou, caríssimos!
Und dieser wirft zur Heimat mich hinaus Agora ele me expulsa da pátria
Und der Fluch hallt, den ich selber mir gesprochen, E a maldição que eu mesmo proferi,
Mir iirmlich aus des Põbels Munde wider? Ressoa mesquinha na boca da plebe?
Ach der einst innig mit euch, ihr Seligen, Ai, aquele que já viveu em vossa intimidade,
Gelebt, and sein die Welt genannt aus Freude, Bem-aventurados, e de tanta alegria julgou o mundo seu
Hat nun nicht, wo er seinen Schlummer find' Não tem agora onde descansar,
Und in sich selber kann er auch nicht ruhn. Tampouco encontra repouso em si mesmo.
Wohin nun, ihr Pfade der Sterblichen? viel Para onde me levais agora, senda dos mortais? Sois
Sind euer, wo ist der meine, der kürzeste? wo? Longas; onde se encontra a minha, a mais breve de todas? Onde?
Der schnellste? denn zu zigern ist Schmach. A mais rápida? Hesitar é opróbrio.
Ha! meine Gõtter! im Stadium lenkt ich den Wagen Ah, deuses amados! Outrora, calmo conduzi
Einst unbekümmert auf rauchendem Rad, so will O carro no estádio, sobre rodas fumegantes; assim possa
Ich bald zu euch zurück, ist gleich die Eile geführlich. (Geht ab.) logo regressar a vós, mesmo sendo a pressa seja perigosa. (Sai.)

NE UN TERAUFTRITT NONA CENA

Panthea. Delia Panteia. Délia

DELIA DELIA
Stille, liebes Kind! Querida criança, acalma-te!
Und halt den jammer! daft uns niemand hõre. Contém o pranto, que ninguém nos ouça.
Ich will hinein ins Haus. Vielleicht er ist Entrarei na casa. Talvez ele
Noch drinnen and du siehst noch Einmal ihn. Ainda esteja lá dentro e o verás ainda Uma vez.
Nur bleibe still indessen — kann ich wohl No entanto, fica tranquila — posso mesmo
Hinein? Entrar?

156 157
PANTHEA PANTEIA
O tu es, liebe Delia. Oh, sim, Délia querida.
Ich bet indes um Ruhe, daf mir nicht Invocarei a paz, a fim de que
Das Herz vergeht, wenn ich den hohen Mann Meu coração não se desfaça, ao vir o homem
In dieser bittern Schicksalsstunde sehe. Sublime nesta hora amarga do destino.

DELIA DÉLIA
O Panthea! Oh, Panteia!

PANTHEA
PANTEIA
(allein, nach einigem Stillschweigen) (sozinha, após breve silêncio)
Ich kann nicht — ach es war Ah, não posso e, além disso,
Auch Sünde, da gelassener zu sein!
Seria pecado permanecer impassível nesta hora!
Verflucht? ich faf es nicht, und wirst auch wohl
Amaldiçoado? Não consigo imaginá-lo e bem podes
Die Sinne mir zerreifen, schwarzes Rdtsel.!
Dilacerar ainda meus sentidos, enigma sombrio!
Wie wird er sein?
Como ele estará?
(Pause. Erschrocken zu Delia, die wieder zurückkommt.) (Pausa. Espavorida, dirigindo-se a Délia que retorna.)
Wie ists? Dize-me!

DELIA
DÉLIA
Ach! alies tot
Ai! Tudo morto
Und ode?
E deserto.

PANTHEA
PANTEIA
Fort?
Terá ido embora?

DELIA
DÉLIA
Ich fürcht es. Offen sind Receio. As portas
Die Türen; aber niemand ist zu sehn.
Estão abertas, mas não se vê ninguém.
Ich rief, da hõrt' ich nur den Widerhall
Chamei; ouvi apenas o eco
Im Hause; lânger bleiben mocht ich nicht —
De minha voz; não quis permanecer mais tempo na casa
Ach! stumm und blaf ist sie und siehet fremd
Pobre de ti, está muda e pálida e me
Mich an, die Arme. Kennest du mich nimmer?
Olha estranhamente. Não me reconheces?
Ich will es mit dir dulden, liebes Herz!
Quero sofrer contigo, coração amado!

PANTHEA - PANTEIA
Nun! komme nuns
Vem, pois!

158 159
DÉLIA
DELIA
Aonde?
Wohin?

PANTHEA
PANTEIA
Wohin? ach! das, Aonde? Eu

weir ich freilich nicht, ihr guten Gõtter.! Mesma nem sei, bons deuses!
Das
Ai de mim, nenhuma esperança! O luz dourada
Weh! keine Hoffnung! and du leuchtest mir
Em vão brilhas para mim nas alturas? Ele
Umsonst, o goldnes Licht dort oben? fort
Se foi — e a abandonada não compreende
Ist er — wie soil die Einsame denn wissen,
Por que persiste a claridade diante de seus olhos.
Warum ihr noch die Augen helle sind.
Es ist nicht mõglich, nein! zu frech I mpossível! Este crime é
Ist diese Tat, zu ungeheuer, and ihr habt I mpudente, monstruoso demais; mas vós,
O consumastes. Devo ainda viver
Es doch getan. Und leben mur ich noch
E andar calada em meio a eles? Ai de mim! Chorar,
Und stille sein bei diesen? web! and weinen
Apenas chorar eu posso por tudo isto.
Nur weinen kann ich fiber alies das!

DÉLIA
DELIA
Chora, querida, chora, é melhor
O weine nur! du liebe, besser ists
Que calar ou falar.
Denn schweigen oder reden.

PANTHEA
PANTEIA
Outrora,
Delia!
Ele andava por aqui, Délia! E por sua causa,
Da ging er sonst! und dieser Garten war
Eu amava tanto este jardim. Ai, muitas vezes
Um seiner willen mir so wert. Ach oft,
Quando a vida me parecia pobre e
Wenn mir das Leben nicht genügt, und ich,
Esquivando-me dos outros, vagava
Die Ungesellige, betrübt mit andern
Triste pelas nossas colinas, olhando
Um unsre Hügel irrte, sah ich her
Os cimos destas árvores pensava: lá
Nach dieser Bãume Gipfeln, dachte, dort
Vive um Homem! — E minha alma se consolava
Ist Einer doch! — Und meine Seele richtet'
Junto à dele. Gostaria de mantê-lo
An ihm sich auf. Ich lebte gem mit ihm
Em minha mente; conhecia suas horas.
In meinem Sinn, und wurte seine Stunden.
Meu pensamento ligara-se a ele tão
Vertraulicher gesellte da zu ihm
Fundo que partilhava das inocentes tarefas
Sich mein Gedank, und teilte mit dem Lieben
Das kindliche Geschãft — ach! grausam haben sie's Do amado — ai! Tudo destruíram
Com crueldade, degradaram a imagem de
Zerschlagen, auf die Strare mirs geworfen
Meu herói, nunca o teria imaginado.
Mein Heldenbild, ich hãtt es nie gedacht.
Ingênua, muitas vezes desejei que a primavera
Ach! hundertjãhrgen Frühling wünscht ich oft
Perdurasse cem anos nele e em seu jardim!
Ich Tõrige für ihn und seine Gãrten!

160 161
DELIA DELIA
O konntet ihr die zarte Freude nicht Bons deuses, não podíeis deixar-lhe
Ihr Lassen, gute Gõtter.! Esta alegria terna?

PANTHER PANTEIA
Sagst du das? O que dizes?
Wie eine neue Sonne kam er uns Como um novo sol, aproximou-se de nós
Und strahlt' and zog das ungereifte Leben E irradiou; amavelmente, chamando a si, a vida imatura
An goldnen Seilen freundlich zu sich auf Para o alto, retesou-a em cordas de ouro.
Und lange hatt auf ihn Sicilien Sicília há muito o
Gewartet. Niemals herrscht' auf dieser Insel Esperava. Nesta ilha, jamais reinou
Ein Sterblicher wie er, sie fühltens wohl, Alguém como ele; perceberam que
Er lebe mit den Genien der Welt Vive em comunhão com os gênios
Im Bunde. Seelenvoller! and du nahmst Do mundo. Alma rica! E guardaste
Sie all ans Herz, weh! mutt du nun dafür A todos no coração! Ai de ti! Por este motivo, desonrado,
Geschiindet fort von Land zu Lande ziehn Terás de partir agora, de país em país, levando
Das Gift im Busen, das sie mitgegeben? No peito o veneno que te inocularam?

Das habt ihr ihm getan! o laft nicht mich O que fizestes com ele! Juízes sábios,
Ihr weisen Richter! ungestraft entkommen. Não me deixeis escapar impune.
Ich ehr ihn ja und wenn ihr es nicht wift, Sim, eu o venero e se não o sabeis,
So will ich es ins Angesicht euch sagen, Dir-vos-ei em face,
Dann stoft mich auch zu eurer Stadt hinaus. Expulsai-me, então, de vossa cidade.
Und hat er ihm geflucht, der Rasende E se meu pai, alucinado, o houver
Mein Vater, ha! so fluch er nun auch mir. Amaldiçoado, amaldiçoa-me também.

Ihr Blumen Florescências


Des Himmels! schõne Sterne, werdet ihr Do céu! Belas estrelas, perdereis
Denn auch verblühn? und wird es Nacht alsdenn Também o vosso brilho? Logo anoitecerá
In deiner Seele werden, Vater Aether! Em tua alma, pai Éter,
Wenn deine Jünglinge, die Gliinzenden Quando teus jovens, resplendorosos
Erloschen sind vor dir? Ich weif es mug, Apagarem-se diante de ti? Bem sei, o que é
Was gõttlich ist, hinab. Zur Seherin Divino conhece o ocaso. Tornei-me
Bin ich geworden fiber seinem Fall, Vidente em sua desventura,
Und wo mir noch ein schüner Genius E onde quer que ainda encontre um
Begegnet, nenn er Mensch sich oder Gott, Belo gênio, seja nome de mortal ou divino,
Ich weif? die Stunde, die ihm nicht gefiillt — Conheço a hora que lhe é desfavorável —

DELIA DÉLIA
O Panthea, mich schrõckt es, wenn du so Ó Panteia, assusta-me quando te
Dich deiner Klagen überhebst. 1st er Exaltas em teus lamentos. És também
Denn auch, wie du, daf er den stolzen Geist Como ele que nutre o espírito altivo
Am Schmerze ndhrt, und hefiger wird im Leiden? Na dor e se torna mais violento na aflição?
Ich mags nicht glauben, denn ich fürchte das. Não acredito nisto, tenho medo.
Was müft er auch beschliefen? O que ele ainda poderia decidir?

PANTHEA PANTEIA
Angstigest Queres angustiar
Du m ich? Was hab ich denn gesagt? Ich will A m i m ? O que eu disse? Já não quero
Auch nimmer — ja gedultig will ich sein, Mais — eu quero ser paciente,
Ihr Giitter.! will vergebens nun nicht mehr O deuses! Já não quero mais aspirar
Erstreben, was ihr ferne mir gerückt, Em vão, àquilo que arrebatastes de mim,
Und was ihr geben mõgt, das will ich nehmen. Aceitarei o que me concederdes.
Du Heiliger! and find ich nirgends dich, Homem santo! Mesmo que não te encontre mais em parte alguma
So kann ich mich auch freuen, daf du da Ainda assim me alegro, pois aqui
Gewesen. Ruhig will ich min, es miicht Estiveste. Ficarei tranquila embora
Aus wildem Sinne mir das edle Bild Tua imagem nobre escape à
Entfliehn, and daf mir nur der Tageslãrm Mente arisca; mas que o ruído do dia
Den brüderlichen Schatten nicht verscheuche, Não afugente a sombra fraterna
Der, wo ich leise wandle, mich geleitet. Que me acompanha, por onde vago suavemente.

DELIA DÉLIA
Du liebe Tri umerin! er lebt ja noch. Sonhadora dileta! Ele ainda vive.

PANTHEA PANTEIA
Er lebt? ja wohl.! er lebt! er geht Vive?! Certamente! Caminha
Im weiten Felde Nacht and Tag. Sein Dach Na vastidão dos campos noite e dia. Seu teto
Sind Wetterwolken and der Boden ist São as nuvens, o chão
Sein Lager. Winde krausen ihm das Haar Seu leito. Ventos eriçam-lhe os cabelos
Und Regen triiuft mit seinen Triinen ihm E a chuva desliza em sua face com
Vom Angesicht, and seine Kleider trocknet As lágrimas; o sol seca-lhe

164 165
Am higen Mittag ihm die Sonne wieder, As roupas no ardente meio-dia,
Wenn er im schattenlosen Sande geht. Quando segue pela areia sem sombras.
Gewohnte Pfade sucht er nicht; im Fels Não anda em sendas conhecidas; nas rochas,
Bei denen, die von Beute sich erniihren, Junto aos forasteiros e suspeitos que
Die fremd, wie er, and allverdiichtig sind, Assim como ele, se alimentam do butim,
Da kehrt er ein, die wissen nichts vom Fluch, Lá é acolhido, pelos que ignoram sua maldição.
Die reichen ihm von ihrer rohen Speise, Oferecem-lhe o alimento rude
Dag er zur Wanderung die Glieder stürkt. Revigorando-lhe os membros para o longo caminho.
So lebt er! weh! and das ist nicht gewifl! Assim vive! Como sofre! E mesmo isto é incerto!

DELIA DELIA
Ja! es ist schrõcklich, Panthea. Sim, Pantéia, é horrível.

PANTHEA PANTEIA
Ists schrõcklich? Horrível?
Du arme Trõsterin, vielleicht, es wiihrt Pobre consoladora! Talvez
Nicht lange mehr, so kommen sie, und sagen Logo venham, discutindo
Einander sichs, wenn es die Rede gibt, Uns com os outros quando se espalhar o rumor
Dag er erschlagen auf dem Wege liege. De que ele se encontra morto no caminho.
Es dulden's wohl die Gõtter, haben sie E os deuses o permitem! Também
Doch auch geschwiegen, da man ihn mit Schmach Se calaram quando ele foi expulso de
Ins Elend fort aus seiner Heimat wart: Sua pátria, em vergonhosa penúria.
O du! — wie wirst du enden? müde ringst E tu, como terminarás? Mesmo cansado
Du schon am Boden fort, du stolzer Adler! Continuas a lutar na terra, águia orgulhosa!
Und zeichnest deinen Pfad mit Blut, und es E desenhas teu caminho com sangue; e se um
Erhascht der feigen Jager einer dich, Caçador covarde agarrar-te e
Zerschliigt am Felsen dir dein sterbend Haupt Despedaçar tua cabeça agonizante contra um penhasco?
Und Jovis Liebling nanntet ihr ihn doch? E vós o chamáveis o favorito de Júpiter?!

DELIA DELIA
Ach Lieber schõner Geist! nur so nicht! Ah! espírito caríssimo e belo! Não!
Nur solche Worte nicht! Wenn du es wügtest, Não fales assim! Se soubesses
Wie mich die Sorg um dich ergreift.! Ich will Quanta preocupação sinto por ti! Quero
Auf meinen Knien dich bitten, wenn es hil. Pedir-te de joelhos, se preciso.
Besiinftige dich nur. Wir wollen fort. Acalma-te! Vamos.
Es kann noch viel sich iindern, Panthea. Muito ainda pode mudar, Panteia.
Vielleicht bereut es bald das Volk. Du weigt Talvez em breve o povo se arrependa. Bem
Es ja, wie sie ihn liebten. Komm! ich wend Sabes quanto o amavam. Agora, vamos! recorro

166 167
An deinen Vater mich und helfen sollst A teu pai e tu deves ajudar-
Du mir. Wir kõnnen ihn vielleicht gewinnen. Me. Talvez consigamos persuadi-lo.

PANTHEA PANTEIA
O wir, wir sollten das, ihr Giitter.! O deuses! Sim, deveríamos consegui-lo!

ZWEITER AKT SEGUNDO ATO

Gegend am Aetna Região junto ao Etna


Bauerhütte Cabana de camponês

ERSTERAUFTRITT PRIMEIRA CENA

Empedokles. Pausanias Empédocles. Pausanias

EMPEDOKLES EMPÉDOCLES
Wie ists mit dir? Como te sentes?

PAUSÂNIAS PAUSÂNIAS
O das ist gut, É bom
Dal; du ein Wort doch redest, lieber — Ouvir a tua voz, caríssimo —
Denkst du es auch? hier oben waltet wohl Aqui em cima já não reina a maldição,
Der Fluch nicht mehr and unser Land ist ferne. Não é verdade? Nosso país está distante.
Auf diesen Hõhen atmet leichter sichs, Respira-se mais levemente nas alturas
Und auf zum Tage darf das Auge doch E o olhar pode agora contemplar de novo
Nun wieder blicken and die Sorge wehrt A luz do dia e a preocupação não nos
Den Schlaf uns nicht, es reichen auch vielleicht I mpede o sono; quem sabe agora mãos humanas
Gewohnte Kost uns Menschenhande wieder. Nos voltem a estender o alimento cotidiano.
Du brauchst der Pflege, lieber! and es nimmt Precisas de cuidados, caríssimo! Por certo
Der heilge Berg, der vüterliche wohl Em sua calma acolherá o monte sagrado
In seine Ruh die umgetriebnen Gaste. E paterno estes hóspedes atormentados.
Willst du, so bleiben wir auf eine Zeit Se quiseres, ficaremos algum tempo
In dieser Hütte — darf ich rufen, ob Nesta cabana — posso chamar alguém,
Sie uns vielleicht den Aufenthalt vergõnnen? Pedindo hospedagem?

168 169
EMPEDOKLES EMPÉDOCLES
Versuch es nur! sie kommen schon heraus. Tenta! Eis que se aproximam.

ZWEITER AUFTRITT SEGUNDA CENA

Die Vorigen. Ein Bauer Os Precedentes. Um Camponês

BAUER CAMPONÊS
Was wollt ihr? Dort hinunter geht O que quereis? A estrada fica
Die Strafe. Lá embaixo.

PAUSANIAS PAUSANIAS
Gõnn uns Aufenthalt bei dir Hospeda-nos em tua casa;
Und scheue nicht das Aussehn, guter Mann. Não receies nossa aparência, bom homem,
Denn schwer ist unser Weg and offers scheint Nosso caminho é difícil e às vezes o
Der Leidende verdiichtig — mõgen dirs Sofredor parece suspeito — mas que os
Die Gõtter sagen, welcher Art wir sind. Deuses te digam de que índole somos.

BAUER CAMPONÊS
Es stand wohl besser einst mit euch denn itzt; Acredito que vossa situação já foi melhor
Ich will es geme glauben. Doch es liegt Do que agora, acredito. Mas a cidade
Die Stadt nicht fern; ihr solltet doch daselbst Não fica longe; lá tereis decerto
Auch einen Gas0.eund haben.Besser wars, Um amigo que vos hospede. Seria melhor
Zu dem zu kommen, denn zu Fremden. Recorrer a ele do que a estranhos.

PAUSANIAS PAUSÂNIAS
Ach! Ah,
Es schiimte leicht der Gastfreund unser sich, Talvez o amigo se envergonhasse de nós,
Wenn wir zu ihm in unsrem Unglück kiimen. Se recorrêssemos a ele em nossa desdita.
Und gibt uns doch der Fremde nicht umsonst Não é de graça que nos oferece o estranho
Das Wenige, warum wir ihn gebeten. O pouco que lhe pedimos.

BAUER CAMPONÊS
Wo kommt ihr her? De onde sois?

170 171
PAUSANIAS PAUSÂNIAS
Was nützt es, das zu wissen? A que serve saber isto?
Wir geben Gold and du bewirtest uns. Oferecemos dinheiro; dá-nos abrigo.

BAUER CAMPONÊS
Wohl õffinet manche Türe sich dem Golde, Muitas portas se abrirão para o ouro,
Nur nicht die meine. Mas não a minha.

PAUSANIAS PAUSÂNIAS
Was ist das? so reich O que dizes? Dá-nos
Uns Brot and Wein and fodre was du willst. Pão e vinho e pede o que quiseres.

BAUER CAMPONÊS
Das findet ihr an andrem Orte besser. Encontrareis alimento melhor em outra parte.

PAUSANIAS PAUSÂNIAS
O, das ist hart! Doch gibst du mir vielleicht Oh, como é penoso! Mas dá-me então
Ein wenig Leinen, daf? ichs diesem Mann Um pouco de linho, para atar-lhe
Um seine Füfe winde, blutend sind Os pés em sangue por causa
Vom Felsenpfade sie — o siehe nur Das sendas rochosas — olha-o
Ihn an! der gute Geist Siciliens ists Bem! É o espírito benigno da Sicília
Und mehr denn eure Fürsten! und er steht Maior do que vossos príncipes! Pálido
Vor deiner Türe kummerbleich und bettelt De desgosto, mendigando à tua porta
Um deiner Hütte Schatten und um Brot Pão e a sombra de tua cabana.
Und du versagst es ihm? und todesmüd Recusarás o que ele pede? E o deixas
Und dürstend lãssest du ihn drauf?en stehn Lá fora, morto de sede e cansaço,
An diesem Tage, wo das harte Wild Neste dia em que as feras rudes
Zur Hiihle sich vorm Sonnenbrande flüchtet? Se ocultam, fugindo ao ardor do sol?

BAUER CAMPONÊS
Ich kenn euch. Wehe! das ist der Verfluchte Eu vos conheço. Ai, é o maldito
Von Agrigent. Es ahndete mir gleich. De Agrigento, logo suspeitei.
Hinweg! Fora daqui!

PAUSANIAS PAUSÂNIAS
Beim Donnerer! nicht hinweg! — er soil Por Júpiter, não! — enquanto
Fur Bich mir bürgen, lieber Heiliger.! Me ausentar à procura de alimento,
Indes ich geh and Nahrung suche. Ruh Ele responderá por ti, amigo e mestre! Repousa

172 173
An diesem Baum — und hõre du! wenn ihm Junto a esta árvore — e tu, ouve! Se algo
Ein Leid geschieht, es sei von wem es wolle, Lhe acontecer, quem quer que o moleste,
So komm ich über Nacht, und brenne dir, Voltarei à noite e, sem
Eh du es denkst, dein strohern Haus zusammen! Hesitar, queimarei tua casa de palha!
Erwage das! Pensa bem!

DRITTERAUFTRITT TERCEIRA CENA

Empedokles. Pausanias Empédocles. Pausânias

EMPEDOKLES EMPÉDOCLES
Sei ohne Sorge, Sohn! Tranquiliza-te, filho!

PAUSANIAS PAUSÂNIAS
Wie sprichst du so? ist doch dein Leben mir Como podes falar assim? Para mim, tua vida
Der lieben Sorge were und dieser denkt, É digna de afetuosa inquietação! E este homem pensa
Es ware nichts am Manne zu verderben, Que àquele sobre o qual foi proferida, como a nós, tal sentença
Dem solch ein Wort gesprochen ward wie uns, Nada mais teria a perder
Und leicht gelüstet sie's, und war es nur Podendo até facilmente serem induzidos a matá-lo,
Um seines Mantels wegen, ihn zu tõten, Nem que fosse só por seu manto.
Denn ungereimt ists ihnen, daf er noch Parece-lhes absurdo que ele ainda
Gleich Lebenden umhergeht; weifl't du das Vagueie entre os viventes; acaso
Denn nicht? O ignoras?

EMPEDOKLES EMPÉDOCLES
O ja, ich weif es. Ah, bem sei.

PAUSANIAS PAUSÂNIAS
Lachelnd sagst E o dizes
Du das? o Empedokles! Sorrindo, ó Empédocles!

EMPEDOKLES EMPÉDOCLES
Treues Herz! Magoei-te,
Ich habe wehe dir getan. Ich wollt Coração fiel? Não era
Es nicht. Minha intenção.
PAUSANIAS PAUSÂNIAS
Ach! ungeduldig bin ich nur. Não, estou apenas impaciente.

EMPEDOKLES EMPÉDOCLES
Sei ruhig meinetwegen, lieber! bald Acalma-te, caríssimo! Logo tudo
1st dies vorüber. Estará terminado.

PAUSANIAS PAUSÂNIAS
Sagst du das? O que dizes?

EMPEDOKLES EMPÉDOCLES
Du wirst Tu
Es sehn. Verás.

PAUSANIAS PAUSÂNIAS
Wie ist dir? soil ich nun ins Feld Como estás? Devo ir ao campo
Nach Speise gehn, wenn du es nicht bedarfst, Em busca de alimento? Mas se não necessitas,
So bleib ich lieber, oder besser ists, Prefiro ficar aqui, ou melhor,
Wir gehn and suchen einen Ort zuvor Iremos juntos procurar abrigo
Für uns im Berge. Na montanha.

EMPEDOKLES EMPÉDOCLES
Siehe! nahe blinkt Vê! Perto brilha
Ein Wasserquell; der ist auch unser. Nimm Uma nascente, ela também nos pertence. Toma
Dein Trinkgefiif.^ die hohle Kürbis, daf der Trank Tua caneca, a cabaça côncava, para que a bebida
Die Seele mir erfrische. Me estimule a alma.

PAUSANIAS PAUSÂNIAS
an der Quelle junto à nascente
Klar und kühl Jorra clara,
Und rege sprofts aus dunkler Erde, Vater! Fresca e viva da terra escura, Pai!

EMPEDOKLES EMPÉDOCLES
Erst trinke du. Dann schõpf and bring es mir. Bebe primeiro. Então recolhe mais água e dá-me de beber.

PAUSANIAS PAUSÂNIAS
indem er ihm es reicht estendendo-lhe a água
Die Giitter segnen dirs. Os deuses ta abençoem.
EMPEDOKLES EMPÉDOCLES
Ich trink es euch! Bebo em vosso louvor,
Ihr alten Freundlichen! ihr meine Gõtter.! Velhos amigos, deuses que venero!
Und meiner Wiederkehr, Natur. Schon ist E por meu retorno, Natureza. Tudo
Es anders. O ihr Gütigen! und eh Mudou. Vós, benévolos! Sempre aqui estivestes
Ich komme, seid ihr da? und blühen soll Antes que eu chegasse. Haverá um florescer
Es, eh es reift! — sei ruhig Sohn! und hõre, Antes da maturação! — Fica tranquilo, filho! Ouve,
Wir sprechen vom Geschehenen nicht mehr. Não mais falemos do que aconteceu.

PAUSANIAS PAUSANIAS
Du bist verwandelt und dein Auge gliinzt Mudaste e teus olhos brilham
Wie eines Siegenden. Ich faf es nicht. Como os de um vencedor. Não compreendo.

EMPEDOKLES EMPÉDOCLES
Wir wollen noch, wie Jünglinge, den Tag Passemos o dia juntos e como
Zusammensein, und vieles reden. Findet Adolescentes, conversemos sem parar. Será fácil
Doch leicht ein heimatlicher Schatte sich, Encontrar uma sombra acolhedora,
Wo unbesorgt die treuen Langvertrauten Onde despreocupados, fiéis,
Beisammen sind in liebendem Gespriich — Manteremos uma conversa amável, como velhos e íntimos amigos! —
Mein Liebling! haben wir, wie gute Knaben Meu dileto! Muitas vezes saciamos o coração gentil
An Einer Traub, am schônen Augenblick Junto a Um cacho de uvas como meninos puros
Das liebe Herz so oft gesiittiget Num belo momento,
Und muftest du bis hier mich her geleiten, E tinhas de acompanhar-me até aqui
Daf unsrer Feierstunden keine sich, Para que nenhuma de nossas horas solenes,
Auch diese nicht, uns ungeteilt verlõre? Tampouco esta se perdesse por completo?
Wohl kauftest du um schwere Mühe sie, Por certo pagaste um alto preço,
Doch geben mirs auch nicht umsonst die Gõtter. Mas também a mim os deuses pedem um pesado tributo.

PAUSANIAS PAUSANIAS
O sage mir es ganz, daf ich wie du Dize-me tudo para que a minha alegria
Mich freue. Se iguale à tua.

EMPEDOKLES EMPÉDOCLES
Siehest du denn nicht? Es kehrt Não vês? O belo
Die schône Zeit von meinem Leben heute Período de minha vida
Noch einmal wieder and das Grõfre steht Hoje retorna; e a ação mais alta
Bevor; hinauf o Sohn, zum Gipfel É iminente; subamos, filho, ao cume
Des alten heilgen Aetna wollen wir. Do antigo e sagrado Etna,

178 179
Denn gegenwãrtger sind die Gôtter auf den Hôhn. Os deuses são mais presentes nas alturas.
Da will ich heute noch mit diesen Augen Lá quero ver com estes olhos ainda hoje
Die Strome sehn and Inseln and das Meer. As torrentes, as ilhas e o mar.
Da segne zôgernd über goldenen Lá me abençoe a luz do sol
Gewdssern mich das Sonnenlicht beim Scheiden, No ocaso, ao vacilar sobre as douradas águas,
Das herrlich jugendliche, das ich einst Luz esplêndida e juvenil que acima de tudo
Zuerst geliebt. Dann glanzt um uns and schweigt Amei um dia. Brilharão aí em silêncio
Das ewige Gestirn, indes herauf As estrelas eternas a nossa volta, enquanto surdirá à
Der Erde Glut aus Bergestiefen quilt Superfície o calor intenso das profundezas da montanha,
Und zartlich rührt der Allbewegende, E suavemente nos roçará o espírito,
Der Geist, der Aether uns an, o dann! O Éter todo movente!

PAUSANIAS PAUSÂNIAS
Du schrôckst Me assustas,
Mich nur; denn unbegreiflich bist du mir. Não te compreendo.
Du siehest heiter aus und redest herrlich, Pareces alegre e falas com entusiasmo,
Doch lieber war es mir, du trauertest. Quisera porém que te afligisses.
Ach! brennt dir doch die Schmach im Busen, die Ah, queima-te o peito a infâmia
Du littst, und achtest selber dich für nichts, Sofrida, e não te importas;
So viel du bist. És grandioso.

EMPEDOKLES EMPÉDOCLES
O Gôtter auch der Ó deuses, ele também não
Zuletzt die Ruh mir nicht and refit den Sinn Me deixa em paz e agita minha
Mir auf mit roher Rede, willst du das, Mente com palavras rudes — se quiseres,
So geh. Bei Tod and Leben! nicht ist dies Vai! Pela vida e pela morte! Já passou
Die Stunde mehr, viel Worte noch davon A hora de falar longamente
Zu machen, was ich leid and was ich bin. Sobre o que sofro e o que sou.
Besorgt ist das; ich will es nimmer wissen. Já me ocupei demais com isto! Basta, não quero
Hinweg! es sind die Schmerzen nicht, die lãchelnd, Mais saber. Não são os sofrimentos em meio a sorrisos
Die Fromm genãhrt, an traurig froher Brust Nutridos com devoção como crianças ora tristes, ora alegres
Wie Kinder liegen — Natterbisse sinds Aconchegadas ao seio — são mordidas de víbora,
Und nicht der erste bin ich, dem die Gôtter E não sou o primeiro a quem os deuses
Solch giftge Rãcher auf das Herz gesandt. Enviaram ao coração vingadores tão venenosos.
Ich habs verdient? ich kann dirs wohl verzeihn, Mereci esta dor? Mas posso perdoar-te,
Der du zur Unzeit mich gemahnt; es ist Que em hora importuna me advertiste; tens ainda
Der Priester dir vor Augen and es gellt Diante dos olhos o sacerdote, em teus ouvidos
Im Ohre dir des Põbels Hohngeschrei, Ressoam os gritos de escárnio da plebe e

180 181
Die brüderliche Nanie, die uns A nênia fraterna que nos
Zur lieben Stadt hinausgeleitete. Acompanhou fora dos muros da cidade.
Ha! mir -- bei allen Gõttern die mich sehn — Ah, pelos deuses que me contemplam —
Sie battens nicht getan, war ich Não me teriam perseguido se tivesse
Der Alte noch gewesen. Was? o schandlich Continuado a ser o homem de antes! Como?! Vergonhosamente
Verriet ein Tag von meinen Tagen mich Um só de meus dias atraiçoou-me diante
An diese Feigen — still! hinunter soils, Dos covardes — silêncio! Que seja
Begraben soil es werden tief so tief Sepultado t ã o profundamente
Wie noch kein Sterbliches begraben ist. Como nenhum mortal jamais foi sepultado.

PAUSANIAS PAUSÂNIAS
Ach! haglich stiirt ich ihm das heitre Herz Ah! Tanto mal lhe fiz em turvar o coração sereno,
Das herrliche, and banger denn zuvor Esplêndido; a inquietação me aflige agora
Ist jetzt die Sorge. Mais que antes.

EMPÉDOKLES EMPÉDOCLES
Lag die Klage nun Para de lamentar-te agora
Und store mich nicht weiter; mit der Zeit E não me perturbes mais; o tempo
Ist alles gut, mit Sterblichen and Gõttern Tudo cura. Com mortais e deuses
Bin ich ja bald versühnt, ich bin es schon. Logo estarei reconciliado; já estou.

PAUSANIAS PAUSÂNIAS
Ists mõglich? — heilt der furchtbar trübe Sinn É possível? O pensamento turvo e terrífico se esvai
Und wahnst du dich nicht mehr allein and arm, E não te julgas mais sozinho e pobre,
Du hoher Mann, and dünkt der Menschen Tun Homem sublime, e as ações dos homens te parecem
Unschuldig wie des Herdes Flamme dir, Inocentes como chama de lareira;
So sprachst du sonst, ists wieder wahr geworden? Outrora assim falavas; isto é de novo verdade?
O sieh! dann segn' ich den klaren Quell, Vê! Então a nascente límpida abençoo,
An dem das neue Leben dir begann, Junto à qual iniciaste vida nova
Und frôhlich wandern morgen wir hinab E alegres desceremos amanhã
Ans Meer, das uns an sichres Ufer bringt. Até o mar que nos conduz à margem segura.
Was achten wir der Reise Not and Mühn! O que importam o risco e as fadigas da viagem!
Ist heiter doch der Geist and seiner Giitter! Sereno é o espírito e o de seus deuses!

EMPEDOKLES EMPÉDOCLES
O Kind! — Pausanias, hast du dies vergessen? O Pausânias! És mesmo uma criança! Esqueceste?
Umsonst wird nicks den Sterblichen gewahrt. Nada é concedido de graça aos mortais.
Und Eines hil. — O heldenmütger Angling! Um ato apenas pode ajudar. — O jovem heroico,

182 183
Erblasse nicht! Sieh, was mein altes Glück Não empalideças! Vê: aquilo que me
Das unersinnbare, mir wiedergibt, Restitui a antiga, inimaginável ventura
Mit Gõtterjugend mir, dem Welkenden, Corando minhas faces emurchecidas com a juventude
Die Wange rõtet, kann nicht libel sein. Dos deuses, não pode ser um mal.
Geh, Sohn u —! Ich mõchte meinen Sinn Vai, filho u —! Não gostaria de revelar
Und meine Lust nicht gerne ganz verraten. Por inteiro meu intento e gosto.
Für dich ists nicht — so mache dirs nicht eigen, Não te concernem — portanto, deles não te apropries,
Und lasse mirs, ich lasse deines dir. Pertencem-me — deixa-os para mim, como deixo os teus contigo.
Was ists? O que está havendo?

PAUSANIAS PAUSÂNIAS
Ein Haufe Volks! Dort kommen sie Uma multidão! Vindo
Herauf Para cá!

EMPEDOKLES EMPÉDOCLES
Erkennst du sie? Reconhece-os?

PAUSANIAS PAUSÂNIAS
Ich traue nicht Não acredito em
Den Augen. Meus próprios olhos.

EMPEDOKLES EMPÉDOCLES
Was? soli ich zum Rasenden O quê? Devo ainda
Noch werden — was? in sinnenlosem Weh Enfurecer-me — Sucumbir em dor
Und Grimm hinab, wohin ich friedlich wollte? Absurda, em ira, nesse caminho que desejara de paz?
Agrigentiner sinds! São agrigentinos!

PAUSANIAS PAUSÂNIAS
Unmõglich! I mpossível!

EMPEDOKLES EMPÉDOCLES
Trãum Estarei
Ich denn? mein edler Gegner ists, der Priester, Sonhando? Meu nobre rival, o sacerdote
Und sein Gefolge — pfui! so heillos ist E seu séquito — arre! Tão desesperado é
In dem ich Wunden sammelte, der Kampf O embate em que se abrem as feridas,
Und würdigere Krãfte gab es nicht E não há forças mais dignas
Zum Streite gegen mich? o schrücklich ists Para lutar comigo? Oh, é terrível
Zu hadern mit Verãchtlichen, und noch? Contender com seres desprezíveis, e ainda,

184 185
In dieser heilgen Stunde noch! wo schon Ainda nesta hora consagrada, quando a alma
Zum Tone sich der allverzeihenden Se prepara, se afina ao tom da
Natur die Seele vorbereitend stimmt! Natureza que a tudo perdoa!
Da fállt die Rotte mich noch einmal an, Ainda uma vez assalta-me a matilha
Und mischt ihr wütend sinnenlos Geschrei E seu alarido absurdo, cheio de ódio se mistura
In meinen Schwanensang. Heran! es sei! A meu canto de cisne. Aproximai-vos! Assim seja!
Ich will es euch verleiden! schont ich doch Estragarei vosso prazer! Já poupei
Von je zu viel des schlechten Volks und nahm Demais o povo perverso, adotando
An Kindesstatt der falschen Bettler gnug. Como filhos falsos mendigos.
Habt ihr es mir noch immer nicht vergeben, Ainda não me perdoasteis o
Dag ich euch wohlgetan? Ich will es nun Bem que vos fiz? Agora
Auch nicht. O kommt, Elende! mug es sein, Basta. Vinde, miseráveis! Se necessário,
So kann ich auch im Zorne zu den Güttern. Furioso, alcançarei também os deuses.

PAUSANIAS PAUSÂNIAS
Wie wird das endigen? Como acabará tudo isto?

VIERTERAUFTRITT QUARTA CENA

Die Vorigen Os Precedentes


Hermokrates. Kritias. Volk Hermócrates. Crítias. Povo

HERMÓKRATES HERMÓCRATES
Befürchte nichts! Nada temas!
Und lag der Manner Stimme dich nicht schrõcken, E não te intimides com a voz dos homens
Die dich vertrieben. Sie verzeihen dir. Que te expulsaram. Perdoam-te agora.

EMPEDOKLES EMPÉDOCLES
Ihr Unverschiimten! anders wigt ihr nicht? Desavergonhados! Não sabeis fazer algo melhor?
Was wollt ihr auch? ihr kennt mich ja! ihr habt O que quereis ainda? No entanto, me conheceis! Vós
Mich ja gezeichnet, aber hadert Me marcastes, mas esta gente sem vida
Das lebenslose Volk, damit sichs fühl? Quer a rixa para sentir-se viva?
Und haben sie hinausgeschmiiht den Mann, Expulsaram com injúrias o homem que
Den sie gefürchtet, suchen sie ihn wieder, Temiam, e agora de novo o procuram
Den Sinn an seinem Schmerze zu erfrischen? Para reavivar a causa de sua dor?

186 187
O tut die Augen auf, and seht, wie klein Abri os olhos, vede como sois
Ihr seid, dag euch das Web die nãrrische, Mesquinhos, e a dor vos paralise
Verruchte Zunge liihme; kõnnt ihr nicht A língua ímpia e tola; não sabeis
Errõten? o ihr Armen! schamlos liigt Enrubesceis? Míseros! A Natureza
Den schlechten Mann mitleidig die Natur, Compassiva torna impudente o homem perverso
Dag ihn der GrOgre nicht zu Tode schriicke. Para que o mais valoroso não o atemorize à morte.
Wie kõnnt er sonst vor Grõgerem bestehn? Senão, diante do excelso, como poderia o perverso subsistir?

HERMOKRATES HERMÓCRATES
Was du verbrochen bügtest du; genug Pagaste tua culpa, vê-se em tua
Vom Elend ist dein Angesicht gezeichnet, Face a marca profunda do sofrimento;
Genes' and kehre nun zurück; dich nimmt Recupera-te e retorna; o povo benévolo
Das gute Volk in seine Heimat wieder. Acolhe-te de novo em sua pátria.

EMPEDOKLES EMPÉDOCLES
Wahrhaftig.! groges Glück verkündet mir É assim?! O piedoso mensageiro da paz
Der fromme Friedensbote; Tag für Tag Anuncia-me grande ventura! Participar
Den schauerlichen Tanz mit anzusehn, Dia a dia da dança horrenda
Wo ihr euch jagt und afft, wo ruhelos Onde vós caçais e arremedais, inquietos,
Und irr und bang, wie unbegrabne Schatten Desorientados, medrosos, atropelando-vos uns
Ihr umeinander rennt, ein ãrmliches Aos outros, como sombras insepultas, tropel
Gemeng in eurer Not, ihr Gottverlagnen, Lastimável, miseráveis, abandonados pelos deuses,
Und eure liicherlichen Bettlerkünste, Ocupados em ridículas artes de mendigos?
Die nah zu haben, ist der Ehre wert. Grande honra conviver convosco!
Ha! wügt ich bessers nicht, ich lebte lieber Ah, se não houvesse algo melhor,
Sprachlos und fremde mit des Berges Wild Antes viver à chuva e ao sol ardente,
In Regen und in Sonnenbrand, und teilte Calado e estranho, compartilhando o
Die Nahrung mit dem Tier, als dag ich noch Alimento rude com a fera da montanha do que
In euer blindes Elend wiederkehrte. Retornar à vossa miséria cega.

HERMOKRATES HERMÓCRATES
So dankst du uns? É assim que nos agradeces?

EMPEDOKLES EMPÉDOCLES
O sprich es einmal noch Oh, repete estas palavras
Und siehe, wenn du kannst, zu diesem Licht, Se puderes, e alça os olhos à luz
Dem Allesschauenden, empor! doch warum bliebst Que tudo vê! Por que não permaneceste
Du auch nicht fern, und kamst mir frech vors Aug, Afastado, mas surgiste, insolente, ante meus olhos,

188 189
Und nõtigest das letzte Wort mir ab, Obrigando-me a dirigir-te a última palavra
Damit es dich zum Acheron geleite, Para que te acompanhasse ao Aqueronte, .

Weift du, was du getan? was tat ich dir? Sabes acaso o que fizeste? E o que eu te fiz?
Es warnte dich, and lange fesselte Limitei-me a admoestar-te, e no entanto, há muito
Die Furcht die Hiinde dir, and lange griimt' O medo atou-te as mãos, e há muito angustiou-se
In seinen Banden sich dein Grimm; ihn hielt Tua ira em seus próprios laços; meu espírito a
Mein Geist gefangen, konntest du nicht ruhn, Reteve prisioneira, não podias repousar;
Und peinigte dich so mein Leben; freilich mehr Minha vida era o teu tormento; por certo, o mais
Wie Durst and Hunger quült das Edlere Nobre tortura, mais do que a sede e a fome a mente
Den Feigen; konntest du nicht ruhn? and muftest Do covarde; não encontravas paz! E tu,
Dich an mich wagen, Ungestalt, and wãhntest, Ente amorfo, pretendeste confrontar-te comigo na ilusão
Ich würde dir, wenn du mit deiner Schmach De que eu me teria tornado semelhante a ti
Das Angesicht mir übertünchtest, gleich? Revestindo minha face com a tua infâmia?
Das war ein alberner Gedanke, Mann! Parvo este pensamento, homem!
Und kônntest du dein eigen Gift im Tranke Se tivesses me oferecido teu próprio veneno
Mir reichen, dennoch paarte sich mit dir Para beber, nem assim meu espírito cordato
Mein lieber Geist nicht and er schüttete Se uniria ao teu e te rejeitaria
Mit diesem Blut das du entweiht dich aus. Com o sangue que tu mesmo profanas.
Es ist umsonst; wir gehn verschiednen Weg. É inútil, seguimos caminhos diversos.
Stirb du gemeinen Tod, wie sichs gebührt, Morre tua morte banal como convém
Am seelenlosen Knechtsgefühl, mir ist Ao que nutre sentimentos de escravo, sem alma; outro
Ein ander Los beschieden, andem Pfad Destino me é dado. Deuses,
Weissagtet einst, da ich geboren ward, Que me vistes nascer, outra
Ihr Gôtter mir, die gegenwiirtig waren — Senda outrora me predissestes —
Was wundert sich der allerfahrne Mann? Como pode surpreender-se homem tão experiente?
Dein Werk ist aus and deine Riinke reichen Tua obra terminou e tuas insídias não
An meine Freude nicht. Begreifest du das doch! Atingem minha alegria. Procura entendê-lo!

HERMOKRATES HERMÓCRATES
Den Rasenden begreif ich freilich nicht. Realmente não compreendo o enfurecido.

KRITIAS CRÍTIAS
Genug ists nun, Hermokrates! du reizest Agora basta, Hermócrates! Somente excitas
Zum Zorne nur den Schwerbeleidigten. A cólera de quem sofre pesadas injúrias.

PAUSANIAS PAUSÂNIAS
Was nimmt ihr auch den kalten Priester mit, Tolos, por que trazeis convosco o frio
Ihr Toren, wenn um Gutes euch zu tun ist? Sacerdote, se pretendeis fazer o bem?

190 191
Und wãhlt zum Versõhner Escolhendo como conciliador
Den Gottverlafnen, der nicht lieben kann, O abandonado pelos deuses, o que não sabe amar?
Zu Zwist and Tod ist der and seinesgleichen Ele e seus semelhantes vieram à vida
Ins Leben ausgesiiet, zum Frieden nicht! Semear a discórdia e a morte, nunca a paz!
Jetzt seht ihrs ein, o hãttet ihrs vor Jahren! Agora o percebeis, se houvésseis entendido anos atrás!
Es ware manches nicht in Agrigent Muitas coisas não teriam acontecido
Geschehen. Viel hast du getan, Hermokrates, Em Agrigento. Muito mal fizeste, Hermócrates,
So lang du lebst, hast manche Liebe Lust Ao longo de tua vida: angustiaste os mortais,
Den Sterblichen hinweg geiingstiget, Arrebatando-lhes ímpetos de amor,
Hast manches Heldenkind in seiner Wieg Asfixiando no berço crianças, futuros
Erstickt, and gleich der Blumenwiese fiel Heróis. A Natureza forte e jovial —
Und starb die jugendkriiftige Natur Campo de fl ores — sob tua foice descaiu
Vor deiner Sense. Manches sah ich selbst E pereceu. Muito vi eu mesmo,
Und manches hõrt ich. Soll ein Volk vergehn, E muito ouvi. Quando um povo deve sucumbir,
So schicken nur die Furien einen Mann, Basta às fúrias enviarem um homem
Der tiiuschend überall der Missetat Que por toda parte espalhe a ilusão
Die lebensreichen Menschen überführe. E induza os homens plenos de vida ao delito.
Zuletzt, der Kunst erfahren, machte sich Por fim, versado nesta arte, atacou o sufocador
An einen Mann der heiligschlaue Würger Astuto, com a auréola de santidade, o homem semelhante aos deuses
Und herzempõrend glückt es ihm, damit E, fato revoltante, consegue
Das GO' ttergleichste durch Gemeinstes falle. Fazê-lo cair do modo mais vil.
Mein Empedokles! — gehe du des Wegs Empédocles dileto! — Segue o caminho
Den du erwiihlt. Ich kanns nicht hindern, sengt Que escolheste! Não o posso impedir, ainda
Es gleich das Blut in meinen Adern weg. Que o sangue fe rv ilhe em minhas veias.
Doch diesen, der das Leben dir geschãndet, Mas ao pe rv ersor de tudo, profanador
Den Allverderber such ich auf, wenn ich De tua vida, a ele buscarei, quando de
Verlassen bin von dir, ich such ihn, flõh Mim te afastares; mesmo se ele fugir
Er zum Altar, es hil ihm nichts, mit mir Rumo aos altares, de nada adiantará; terá de vir
Muff er, mit mir, ich weif sein eigen Element. Comigo, terá! Conheço o elemento a que pertence.
Zum toten Sumpfe schlepp ich ihn — and wenn Arrastá-lo-ei ao pântano mortífero — e se
Er flehend wimmert, so erbarmt ich mich I mplorar gemendo, terei piedade
Des grauen Haars, wie er der andem sich De seus cabelos brancos, como ele a teve
Erbarmt; hinab! Dos outros; que suma no abismo!
(zu Hermokrates) (a Hermócrates)
hõrst du? ich halte Wort. Estás ouvindo? Mantenho a palavra.

ERSTER BURGER PRIMEIRO CIDADÃO


Es braucht des Wartens nicht, Pausanias! Não precisas esperar, Pausânias!

192 193
HERMOKRATES HERMÓCRATES
Ihr Burger.! Cidadãos!

ZWEITER BURGER SEGUNDO CIDADÃO


Regst du noch die Zunge? du, Ousas ainda mover a língua? Com
Du hast uns schlecht gemacht; hast alien Sinn As tuas , solércias nos aliciaste,
Uns weggeschwatzt; hast uns des Halbgotts Liebe Tornando-nos malvados; foste tu a roubar-nos
Gestohlen, du! er ists nicht mehr. Er kennt O amor do semideus. Não parece o mesmo. Nem nos
Uns nicht; ach! ehmals sah mit sanfien Augen Reconhece! Ai! Outrora nos olhava com os olhos
Auf uns der kõnigliche Mann; nun kehrt Plenos de doçura, o homem régio; agora seu
Sein Buick das Herz mir um. Olhar me despedaça o coração.

DRITTER BURGER TERCEIRO CIDADÃO


Weh! waren wir Ai de nós! Éramos
Doch gleich den Alten zu Saturnus Zeit, Como os antigos na era de Saturno,
Da freundlich unter uns der Hohe lebt; Quando o sublime amavelmente vivia entre nós;
Und jeder hatt in seinem Hause Freude E reinava a alegria em nossas casas,
Und alies war genug. Was ludst du denn Nada nos faltando. Por que atraíste
Den Fluch auf uns, den unvergef.^lichen, A inesquecível maldição que
Den er gesprochen, ach! er multe wohl, Ele proferiu? Ai, nós o forçamos
Und sagen werden unsre Same, wenn A isso, nossos filhos nos dirão quando
Sie grog geworden sind, ihr habt den Mann Crescerem: vós haveis assassinado
Den uns die Gõtter sandten, uns gemordet. O homem que os deuses nos enviaram.

ZWEITER BURGER SEGUNDO CIDADÃO


Er weint! — o gri f?er noch und lieber, Ele chora! — Parece-me hoje ainda
Denn vormals, dünkt er mir. Und striiubst Mais sublime e amado. E tu, continuas
Du noch dich gegen ihn, und stehest da, A opor-te a ele, em pé,
Als sãhst du nicht, und brechen dir vor ihm Como se não visses e teus joelhos não se vergam
Die Kniee nicht? Zu Boden, Mensch! Diante dele? Curva-te, criatura!

ERSTER BURGER PRIMEIRO CIDADÃO


Und spielst Ainda fazes-te
Du noch den Gõtzen, was? and miichtest gem Passar por ídolo! E gostarias de
So fort es treiben? nieder mutt du mir! Continuar o jogo? À terra, pois!
Und auf den Nacken setz ich dir den Fula Calcarei tua nuca
Bis du mir sagst, du habest endlich dich Até confessares que desceste ao Tártaro
Bis in den Tartarus hinabgelogen. I mpelido por tuas mentiras.

194 195
DRITTER BURGER TERCEIRO CIDADÃO
Sabes o que fizeste? Antes
Weifft du, was du getan? dir wiir es besser,
Du hiittest Tempelraub begangen, ha! Houvesses profanado o templo.
Wir beteten ihn an, and billig wars; Adorávamos Empédocles e era justo;
Teríamos com ele ascendido à liberdade dos deuses;
Wir wiiren gõtterfrei mit ihm geworden,
Da wandelt unverhofft, wie eine Pest, Mas eis que de improviso, como a peste,
Dein beser Geist uns an and uns verging Teu espírito pe rverso nos invadiu; e no delírio odioso
Das Herz and Wort, and alle Freude, die Perdemos o coração, a palavra e toda
Er uns geschenkt, in widerwiirtgem Taumel. A alegria que ele nos concedera.
Ha Schande! Schande! wie die Rasenden Ah, vergonha, vergonha! Como alucinados,
Frohlockten wir, da du zum Tode schmiihtest Exultávamos, quando ultrajaste à morte
Den hochgeliebten Mann. Unheilbar ists Homem tão amado. É irremediável,
Und stürbst du siebenmal, du kiinntest doch, Se morresses sete vezes, não poderias
Was du an ihm and uns getan, nicht iindern. Mudar o que fizeste a ele e a nós.

EMPÉDOCLES
EMPEDOKLES
O sol inclina-se ao poente;
Die Sonne neigt zum Untergange sich,
Und weiter muff ich diese Nacht, ihr Kinder. Esta noite, crianças, devo continuar meu caminho.
Deixai-lo em paz! Já discutimos
Lafft ab von ihm! es ist zu lange schon,
Demais. O passado
Daft wir gestritten. Was geschehen ist
Dissipa-se totalmente e no futuro nos deixaremos
Vergehet all and künftig lassen wir
Em paz, um com o outro.
In Ruh einander.

PAUSÂNIAS
PAUSANIAS
Tudo então é indiferente?
Gilt denn alies gleich?

TERCEIRO CIDADÃO
DRITTER BURGER
Oh, ama-nos de novo!
O lieb uns wieder!

SEGUNDO CIDADÃO
ZWEITER BURGER
Komm und leb Vem viver conosco
Em Agrigento; disse um romano
In Agrigent; es hats ein Rõmer
Que se tornaram poderosos
Gesagt, durch ihren Numa wiiren sie
Por causa de Numa Pompílio. Vem, divino,
So grof? geworden. Komme, Gõttlicher!
Sê nosso Numa. Há muito pensamos
Sei unser Numa. Lange dachten wirs,
Que deverias ser nosso rei. Aceita!
Du solltest Kõnig min. O sei es! seis!
Sou o primeiro a saudar-te, e todos me seguem.
Ich griiffe dich zuerst, und alie wollens.

196 197
EMPEDOKLES EMPÉDOCLES
Dies ist die Zeit der Kõnige nicht mehr. Esta não é mais a época dos reis.

DIE BURGER OS CIDADÃOS


(erschrocken) (atemorizados)
Wer bist du, Mann? Quem és, homem?

PAUSANIAS PAUSANIAS
So lehnt man Kronen ab, Assim se rejeita uma coroa,
Ihr Burger. Ó cidadãos!

ERSTER BURGER PRIMEIRO CIDADÃO


Unbegreiflich ist das Wort, Não conseguimos compreender
So du gesprochen, Empedokles. Tuas palavras, Empédocles.

EMPEDOKLES EMPÉDOCLES
Hegt Acaso
Im Neste denn die Jungen immerdar A águia resguarda para sempre os filhotes
Der Adler? Fur die Blinden sorgt er wohl, No ninho? Cuidará talvez dos cegos;
Und unter seinen Flügeln schlummern süf Sob suas asas dormitam suaves,
Die Ungefiederten ihr dãmmernd Leben. Os implumes, em vida alvorecente.
Doch haben sie das Sonnenlicht erblickt, Mas quando vêem a luz do sol,
Und sind die Schwingen ihnen reif geworden, Rija a penugem madura,
So wirft er aus der Wiege sie, damit Ela os arroja do berço, para que
Sie eignen Flug beginnen. Schãmet euch, Iniciem o próprio voo. Envergonhai-vos
Daf ihr noch einen Kõnig wollt; ihr seid Por desejardes ainda um rei. Sois velhos
Zu alt; zu eurer Viiter Zeiten wars Demais; teria sido diverso
Ein anderes gewesen. Euch ist nicht nos tempos de vossos pais. Impossível
Zu helfen, wenn ihr selber euch nicht hefl. Ajudar-vos, se não vos ajudardes a vós mesmos.

KRITIAS CRÍTIAS
Vergib! bei allen Himmlischen! du bist Por todos os deuses celestes, perdoa! És
Ein grofer Mann, Verratener! Grande e nós te traímos!

EMPEDOKLES EMPÉDOCLES
Es war Arconte,
Ein baser Tag, der uns geschieden, Archon. Foi triste o dia que nos dividiu!

198 199
ZWEITER BURGER SEGUNDO CIDADÃO
Vergib und komm mit uns! Dir scheinet doch Perdoa e vem conosco! O sol pátrio e
Die heimatliche Sonne freundlicher Afável te ilumina mais que
Denn anderswo, und willst du schon die Macht, Em terra estranha; se recusas o poder
Die dir gebührte, nicht, so haben wir Teu de direito, mesmo assim
Der Ehrengaben manche noch für dich, Muitas homenagens te aguardam:
Für Kriinze grünes Laub und schiine Namen, Para as guirlandas verde folhagem, belos nomes,
Und für die Siiule nimmeralternd Erz. E para as colunas, bronze imperecível.
O komm! es sollen unsre Jünglinge, Vem! Nossos jovens, os
Die Reinen, die dich nie beleidiget, Puros, nunca te ofenderam e
Dir dienen — wohnst du nahe nur, so ists Te servirão. Basta a tua
Genug, und dulden müssen wirs, wo du Presença. Suportaremos que
Uns meidst, und einsam bleibst in deinen Gi rten, Nos evites, permanecendo solitário em teus jardins,
Bis du vergessen hast, was dir geschehn. Até esqueceres o passado.

EMPEDOKLES EMPÉDOCLES
O Einmal noch! du heimatliches Licht, Oh, Uma vez ainda, luz pátria
Das mich erzog, ihr Gãrten meiner Jugend Que me viste crescer e vós, jardins de minha juventude
Und meines Glücks, noch soil ich eurer denken, ventura, devo ainda lembrar-me de vós,
Ihr Tage meiner Ehre, wo ich rein Dias de meu esplendor, quando puro,
Und ungekriinkt mit diesem Volke war. Ainda não me ressentira contra este povo.
Wir sind versõhnt, ihr Guten! — lafft mich nur, Estamos reconciliados, benévolos! Deixai-me ir,
Viel besser ists, ihr seht das Angesicht É melhor! Nunca mais vereis a
Das ihr geschmâht nicht mehr, so denkt ihr lieber Face que ofendestes e assim com mais afeto
Des Mann, den ihr geliebt, und irre wird Evocareis o homem outrora amado. Vossa
Dann euch der ungetrübte Sinn nicht mehr. Mente serena será imperturbável.
In ewger Jugend lebt mit euch mein Bild Conservareis minha memória eternamente jovem
Und schiiner tõnen, wenn ich ferne bin, E mais belos ressoarão os cânticos de júbilo
Die Freudensiinge, so ihr mir versprochen. Que prometestes, quando eu tiver partido.
O lafft uns scheiden, ehe Torheit uns Oh, separemo-nos antes que a insensatez
Und Alter scheidet, sind wir doch gewarnt, E a velhice nos separem, pois fomos advertidos,
Und Eines bleiben, die zu rechter Zeit Permaneçamos Um só ser, nós que, no momento justo,
Aus eigner Kraft die Trennungsstunde wühlten. Escolhemos com as próprias forças a hora da separação.

DRITTER BURGER TERCEIRO CIDADÃO


So ratios liissest du uns stehn? Deixa-nos, assim, perplexos?

200 201
EMPEDOKLES EMPÉDOCLES
Ihr botet Quisestes ofertar-me
Mir eine Kron, ihr Manner! nimmt von mir Uma coroa, homens! Recebei em troca, o
Dafiir mein Heiligtum. Ich spart es lang. Que tenho de mais sagrado. Há muito o reservo.
In heitern Niichten oft, wenn über mir Tantas vezes nas noites serenas quando o mundo
Die schõne Welt sich õffnet, and die heilge Luft Harmonioso se expandia sobre mim e o ar santo
Mit ihren Sternen alien ais ein Geist Me circundava com todo o firmamento —
Voll freudiger Gedanken mich umfing, O espírito repleto de alegres pensamentos —
Da wurd es oft lebendiger in mir; Sentia-me vibrante de vida;
Mit Tagesanbruch dacht ich euch das Wort, Ao romper do dia imaginava dizer-vos a
Das ernste langverhaltene, zu sagen. Grave palavra há tanto retida no peito.
Und freudig ungeduldig rief ich schon Alegre, impaciente, já evocava
Vom Orient die goldne Morgenwolke Do Oriente a nuvem dourada da manhã
Zum neuen Fest, an dem mein einsam Lied À nova festa, na qual meu cântico solitário
Mit euch zum Freudenchore wiird, herauf. Se unisse a vós em um coro de júbilo.
Doch immer schlof mein Herz sich wieder, hoffi' Mas meu coração sempre de novo se fechava
Auf seine Zeit, and reifen sollte mirs. Esperando a hora da maturação.
Heut ist mein Herbsttag and es fait die Frucht Hoje é meu dia de outono e o fruto cai
Von selbst. Por si.

PAUSANIAS PAUSÂNIAS
O hãtt er früher nur gesprochen, Ah, se ele houvesse falado antes!
Vielleicht, dies alies wãr ihm nicht geschehn. Talvez tudo isto não lhe tivesse acontecido.

EMPEDOKLES EMPÉDOCLES
Nicht ratios stehen lass ich euch, Não vos deixo perplexos,
Ihr Lieben! aber fürchtet nichts! Es scheun Caríssimos! Nada tendes a temer! Quase sempre
Die Erdenkinder meist das Neu and Fremde, Os filhos da terra temem o novo e o desconhecido,
Daheim in sich zu bleiben strebet nur Só a vida das plantas e a do alegre animal
Der Pflanze Leben and das frohe Tier. Aspiram ficar em seu canto, encerrados em si mesmos.
Beschrtinkt im Eigentume sorgen sie, Confinados em seu âmbito, cuidam
Wie sie bestehn, and weiter reicht ihr Sinn De subsistir; sua mente nada alcança
Im Leben nicht. Doch müssen sie zuletzt, Além, na vida. Mas devem sair por fim
Die fingstlichen, heraus, and sterbend kehrt Os medrosos, e cada um na morte
Ins Element ein jedes, daf es da Retorna ao elemento; então
Zu neuer jugend, wie im Bade, sich Se reanima como no banho lustral para uma
Erfrische. Menschen ist die groffe Lust Nova juventude. Aos homens é concedida a grande
Gegeben, daf sie selber sich verjüngen. Dádiva de retornarem, rejuvenescidos.

202 203
Und aus dem reinigenden Tode, den Ressuscitam os povos da morte purificadora
Sie selber sich zu rechter Zeit gewihlt, Que escolheram no momento justo,
Erstehn, wie aus dem Styx Achill, die Võlker. Como Aquiles ao sair do Estige.
O gebt euch der Natur, eh sie euch nimmt! — Oh, entregai-vos à Natureza, antes que ela vos arrebate! —
Ihr dürstet lingst nach Ungewõhnlichem, Há muito estais sedentos do inaudito
Und wie aus krankem Kõrper sehnt der Geist E o espírito de Agrigento anseia por sair
Von Agrigent sich aus dem alten Gleise.
Da antiga trilha como de um corpo doente.
So wagts! was ihr geerbt, was ihr erworben,
Ousai! O que herdastes, conseguistes,
Was euch der Viter Mund erziihlt, gelehrt, O que vos legou e ensinou a palavra paterna:
Gesetz and Brauch, der alten Gôtter Namen,
Lei e costume, os nomes dos antigos deuses,
Vergeit es kühn, and hebt, wie Neugeborne,
Tudo isto esquecei com ousadia, e como recém-nascidos
Die Augen auf zur gõttlichen Natur,
Erguei os olhos para a Natureza divina.
Wenn dann der Geist sich an des Himmels Licht
Quando o espírito inflamar-se em luz celeste,
Entzündet, süfer Lebensothem euch
Como pela primeira vez um suave
Den Busen, wie zum erstenmale trinkt,
Sopro de vida vos embeberá o peito;
Und goldner Früchte voll die Wilder rauschen
Ouvireis os murmúrios das florestas carregadas de frutos
Und Quellen aus dem Fels, wenn euch das Leben
Dourados e das fontes nascidas do penhasco, quando a vida
Der Welt ergreift, ihr Friedensgeist, and euchs
Universal, seu espírito de paz, vos invadir,
Wie heilger Wiegensang die Seele stillet, E como cantilena sagrada embalar a vossa alma;
Dann aus der Wonne schõner Dimmerung E quando brilhar de novo a terra verde
Der Erde Grün von neuem euch erglinzt
No deleite do belo anoitecer,
Und Berg and Meer and Wolken and Gestirn, E surgirem ante vossos olhos,
Die edeln Krãfte, Heldenbrüdern gleich,
Montanhas, mar, nuvens, constelações,
Vor euer Auge kommen, daf die Brust
Forças nobres, irmãos heroicos, a modo de
Wie Waffentrigern euch nach Taten klopft,
Escudeiro vosso peito ansiar por feitos
Und eigner schõner Welt, dann reicht die Hinde E por um mundo belo e singular, então estendei
Euch wieder, gebt das Wort and teilt das Gut,
Novamente as mãos, empenhareis a palavra e dividireis os bens.
O dann ihr Lieben teilet Tat and Ruhm
Partilhai, caríssimos, a façanha e a glória
Wie treue Dioskuren; jeder sei,
Como fiéis Dióscuros; que todos sejam
Wie alle, — wie auf schlanken Siulen , ruh
Iguais; repouse a vida renovada em
Auf richtgen Ordnungen das neue Leben
Justas ordenações como colunas graciosas.
Und euern Bund befestge das Gesetz. E a lei consolide vossa aliança.
Dann o ihr Genien der wandelnden
Oh, vós gênios da Natureza em
Natur! dann ladet euch, ihr heitern,
Metamorfose, por ela nutridos
Die ihr aus Tiefen and aus Hõhn die Freude nimmt
Com o júbilo do profundo e da altura,
Und sie wie Müh and Glück and Sonnenschein and Regen Trazendo ventura e fadiga, sol e chuva
Den engbeschrinkten Sterblichen ans Herz
Ao coração dos mortais de condição limitada
Aus ferner fremder Welt herbei bringt, Vindos de terras estranhas e longínquas;

204 205
Das freie Volk zu seinen Festen ein, O povo livre convida a vós, serenos, para as suas festas,
Gastfreundlich! fromm! denn liebend gibt Hospitaleiro e devoto! Do melhor de si
Der Sterbliche vom Besten, schlief?t and engt Oferece o mortal quando ama, se a escravidão
Den Busen ihm die Knechtschaft nicht — Não o impedir e constranger-lhe o peito —

PAUSANIAS PAUSANIAS
O Water! Pai!

EMPEDOKLES EMPÉDOCLES
Von Herzen nennt man, Erde, dann dich wieder Com o coração, terra, nós te invocamos de novo
Und wie die Blum aus deinem Dunkel sprofít, E como a flor brota de tua escuridão,
Blüht Wangenrot der Dankenden für dich Florescerá em ti o rubor das faces agradecidas,
Aus lebensreicher Brust and selig Liicheln. O peito transbordante de vida e o sorriso feliz.
Und E

Beschenkt mit Liebeskrãnzen rauschet dann Ofertado com grinaldas de amor rumoreja,
Der Quell hinab, wiichst unter Segnungen Nascente abaixo, cresce entre bênçãos
Zum Strom and mit dem Echo bebender Gestade Em torrente e estronda com o eco de margens
Tõnt deiner wert, o Vater Ocean, Estremecidas, o cântico em livre
Der Lobgesang aus freier Wonne wider. Deleite: digno de ti, ó pai oceano!
Es fühlt sich neu in himmlischer Verwandtschaft O deus solar, o gênio humano sente-se
O Sonnengott! der Menschengenius Renovado e em afinidade celeste
Mit dir, and dein wie sein, ist was er bildet. Contigo tudo configura.
Aus Lust and Mut and Lebensfülle gehn Com ânimo e alegria e vida plena correm
Die Taten leicht, wie deine Strahlen, ihm, Os feitos, ágeis, como teus raios,
Und schõnes stirbt in traurigstummer Brust E o belo não mais fenece no peito calado
Nicht mehr. Oft schlãft, wie edles Samenkorn, E triste. Muitas vezes adormece o coração dos homens,
Das Herz der Sterblichen in toter Schale, Grão de trigo precioso, em casca seca,
Bis ihre Zeit gekommen ist; es atmet Até o tempo propício; amoroso, respira
Der Aether liebend immerdar um sie, O Éter para sempre em torno deles,

and mit den Adlern trinkt e com as águias seus olhos bebem
Ihr Auge Morgenlicht, doch Segen gibt A luz da manhã; mas bênção não
Es nicht den Triiumenden and kiirglich niihrt Há para os que sonham; e seu ser
Vom Nektar, den die Gõtter der Natur Adormecido pouco se nutre do néctar

206 207
Alltãglich reichen, sich ihr schlummernd Wesen. Diário esparzido pelos deuses da natureza
Bis sie des engen Treibens müde sind, Até que se cansem do esforço limitado;
Und sich die Brust in ihrer kalten Fremde, E seu peito, como Níobe, padece, preso em
Wie Niobe, gefangen, and der Geist Frio estranhamento! O espírito sente-se
Sich krãftiger denn alle Sage fühlt, Mais forte que toda a lenda heroica,
Und seines Ursprungs eingedenk das Leben, E, lembrando-se de sua origem, busca a
Lebendge Schõne, sucht, and gerne sich Vida, beleza plena, e se deleita em
Entfaltet' an der Gegenwart des Reinen, Desdobrar-se na presença do puro:
Dann glãnzt ein neuer Tag herauf ach! anders Ah, então cintila um novo dia! À diferença
Denn sonst, die Natur De outrora, a Natureza

and staunend e pasmo,


Unglaubig, wie nach hoffnungsloser Zeit Incrédulo, como após um período sem esperança,
Beim heilgen Wiedersehn Geliebtes hãngt No bem-aventurado reencontro, aferra-se o amado
Am totgeglaubten Lieben, hãngt das Herz Ao ente querido, tido por morto, assim
An Seu coração

sie sinds! são estes!


Die langentbehrten, die lebendigen, Os deuses benévolos, viventes, há tanto
Die guten Gõtter, Desejados,

mit des Lebens Stern hinab! decline com o astro da vida!


Lebt wohl.' es war das Wort des Sterblichen, Adeus! Tal foi a palavra do mortal
Der diese Stunde liebend zwischen euch Que, amando, hesitou nesta hora entre
Und seinen Gõttern zãgert, die ihn riefen. Vós e os deuses que o chamaram.
Am Scheidetage weissagt unser Geist, O espírito é profético no dia da partida;
Und wahres reden, die nicht wiederkehren. Dizem a verdade aqueles que não regressam.

208 209
KRITIAS CRÍTIAS
Wohin? o beim lebendigen Olymp, Aonde vais? Pelos deuses viventes do Olimpo!
Den du mir alten Manne noch zuletzt, Abriste até mesmo os olhos de um homem
Mir Blinden aufgeschlossen, scheide nicht, Velho e cego. Não nos abandones!
Nur wenn du nahe bist, gedeiht im Volk Só com tua presença a nova alma viceja
Und dringt in Zweig' und Frucht die neue Seele. No povo e se insinua no ramo e no fruto.

EMPEDOKLES EMPÉDOCLES
Es sprechen, wenn ich ferve bin, statt meiner Quando eu me for, falarão por mim
Des Himmels Blumen, blühendes Gestirn Florescências do céu, constelações em flor,
Und die der Erde tausendfach entkeimen, E as que mil vezes irrompem da terra;
Die giittlichgegenwi rtige Natur A Natureza divina e presente
Bedarf der Rede nicht; and nimmer liift Não carece de fala; e jamais vos
Sie einsam euch, wo Einmal sie genaht, Abandona, quando Uma vez de vós se aproximou,
Denn unausliischlich ist der Augenblick Pois seu momento é
Von ihr; and siegend wirkt durch alie Zeiten Inextinguível; triunfante, seu fogo celeste
Beseligend hinab sein himmlisch Feuer. Atua através das eras, derramando ventura.
Wenn dann die glücklichen Saturnustage Quando então chegarem os dias felizes
Die neuen miinnlichern gekommen sind, De Saturno, renovados e mais viris,
Dann denkt vergangner Zeit, dann leb erwürmt Pensai nos tempos idos e revivei ao calor
Am Genius der Vãter Sage wieder! Do gênio a lenda dos ancestrais!
Zum Feste komme, wie vom Frühlingslicht Que o esquecido mundo dos heróis ascenda
Emporgesungen, die vergessene Do reino sombrio à festa,
Heroenwelt vom Schattenreich herauf Em cânticos de luminosa primavera;
Und mit der goldnen Trauerwolke lagre E se preserve a lembrança com a nuvem de
Erinnrung sich, ihr Freudigen! um euch. — Tristeza dourada, em torno de vós, ditosos! —

PAUSANIAS PAUSÂNIAS
Und du? und du? ach nennen will ichs nicht Mas, e tu? Ai! Não quero mencioná-lo
Vor diesen Glücklichen Diante desta gente feliz

Daft' sie nicht ahnden, was geschehen wird, Que não suspeitem do que vai acontecer!
Nein! — u — du kannst es nicht. Não! — u —não o podes.

EMPEDOKLES EMPÉDOCLES
O Wünsche! Kinder seid ihr, und doch wollt Ó desejos! Sois crianças: desejais
Ihr wissen, was begreiflich ist und recht, Saber e é compreensível e justo.
Du irrest! sprecht, ihr Tõrigen! zur Macht Enganas-te! Falai à força mais

210 211
Die miichtger ist, denn ihr, doch hil es nicht Poderosa que vós. Mas em vão, ó tolos!
Und wie die Sterne geht unaufgehalten A vida, como as estrelas, segue sem
Das Leben im Vollendungsgange weiter. Cessar seu rumo para a perfeição.
Kennt ihr der Gõtter Stimme nicht? noch eh Desconheceis a voz dos deuses? Antes mesmo que
Als ich der Eltern Sprache lauschend lernt, Meu ouvido se abrisse para a língua materna,
Im ersten Othemzug, im ersten Buick Ao primeiro respiro, ao primeiro olhar,
Vernahm ich jene schon und immer hab Pressenti os que sempre considerei
Ich hõher sie, denn Menschenwort geachtet. Superiores à palavra humana.
Hinauf! sie riefen mich und jedes Liiftchen Para o alto, chamavam! Cada aragem
Regt mãchtiger die bange Sehnsucht auf, Mais fortemente agitava a inquieta nostalgia.
Und wollt ich hier noch lãnger weilen, würs, Se eu quisesse permanecer aqui por mais tempo,
Wie wenn der Angling unbeholfen sich Seria como o jovem, desajeitado, entretido
Am Spiele seiner Kinderjahre letzte. Ainda nos jogos de infância.
Ha! seellos, wie die Knechte, wandelt ich Como um servo sem alma vagaria
In Nacht und Schmach vor euch und meinen Gõttern. Em trevas e vergonha diante de vós e de meus deuses.

Gelebt hab ich; wie aus der Biiume Wipfel Vivi; como a florescência se derrama
Die Blüte regnet and die goldne Frucht Da fronde das árvores e o fruto dourado
Und Blum and Korn aus dunklem Boden quillt, E flor e trigo brotam do chão escuro,
So kam aus Müh and Not die Freude mir, A alegria chegou-me do infortúnio e da penúria
Und freundlich stiegen Himmelskrãfte nieder, E forças do céu desceram amavelmente.
Es sammeln in der Tiefe sich, Natur, Unem-se no profundo, Natureza,
Die Quellen deiner Hõhn and deine Freuden, As fontes de teus cimos e as tuas alegrias;
Sie kamen all in meiner Brust zu ruhn, Todas vieram aquietar-se no meu peito:
Sie waren Eine Wonne, wenn ich dann Eram um único deleite. Meditando então
Das schõne Leben übersann, da bat Na vida plena, pedia amiúde,
Ich herzlich oft um Eines nur die Giitter: Aos deuses, intensamente, Uma só coisa:
Sobald ich einst mein heilig Glück nicht mehr Quando não suportasse mais com firmeza e
In Jugendstiirke taumellos ertrüg Vigor juvenil o júbilo sagrado, e a
Und wie des Himmels alten Lieblingen Plenitude do espírito se convertesse em desvario,
Zur Torheit mir des Geistes Fülle würde, Me advertissem — como aos antigos prediletos
Dann mich zu mahnen, dann nur Schnell ins Herz Do céu — me ferissem rápido o coração
Ein unerwartet Schicksal mir zu senden, Num destino inesperado, em
Zum Zeichen, daf die Zeit der Liiuterung Sinal de que era chegada a
Gekommen sei, damit bei guter Stund Hora da purificação, e em hora propícia
Ich fort zu neuer Jugend noch mich rettet Ainda me salvasse numa nova juventude,
Und unter Menschen nicht der Gõtterfreund E eu, o amigo dos deuses, não me tornasse
Zum Spiel and Spott and Aergernisse würde. Entre os homens, objeto de zombaria, escárnio e escândalo.

212 213
Sie haben mirs gehalten; mãchtig warnt' Cumpriram a promessa e me advertiram
Es mich; zwar Einmal nur, doch ists genug. Severamente; Uma só vez, é verdade, mas o bastante.
Und so ichs nicht verstãnde, war ich gleich Se não os houvesse compreendido, teria sido como
Gemeinem Rosse, das den Sporn nicht ehrt, Um cavalo sem raça, rebelde à espora
Und noch der nõtigenden Geifel wartet. E à espera do açoite necessário.
Drum fordert nicht die Wiederkehr des Manns Não peçais, portanto, que a vós retorne o homem
Der euch geliebt, doch wie ein Fremder war Que vos amou, nascido apenas por breve tempo,
Mit euch and nur für kurze Zeit geboren, E foi, entre vós, como estrangeiro.
O fodert nicht, daf er an Sterbliche Não peçais que aventure sua essência
Sein Heilges and seine Seele wage! Sacra e a alma entre os mortais!
Ward doch ein schõner Abschied uns gewãhrt, Já nos foi concedida uma bela despedida
Und konnt ich noch mein liebstes euch zuletzt E pude enfim dar-vos o que possuo de mais precioso:
Mein Herz hinweg aus meinem Herzen geben. O coração arrebatado do meu ser.
Drum vollends nicht! was sollt ich noch bei euch? Portanto, basta! A que se rviria ficar entre vós?

ERSTER BURGER PRIMEIRO CIDADÃO


Wir brauchen deines Rats. Precisamos teu conselho.

EMPEDOKLES EMPÉDOCLES
Fragt diesen Angling! schãmet des euch nicht. Não vos envergonheis, interrogai este jovem!
Aus frischem Geiste kommt das Weiseste, Do espírito puro provém o mais sábio,
Wenn ihr um Grofes ihn im Ernste fraget. Se indagardes com temor pelo sagrado.
Aus junger Quelle nahm die Priesterin Da nascente jovem acolhia a sacerdotisa,
Die alte Pythia die Gõttersprüche. A velha Pítia, as divinas palavras.
Und Jünglinge sind selber eure Gõtter. — E jovens são também os vossos deuses. —
Mein Liebling! gerne weich ich, lebe du Dileto! Afasto-me de bom grado para que vivas
Nach mir, ich war die Morgenwolke nur, Depois de mim; fui apenas a nuvem da aurora,
Geschãftslos und vergiinglich! und es schlief Inerme e passageira! O mundo estava ainda mergulhado
Indes ich einsam blühte, noch die Welt, No sono, enquanto eu, solitário, florescia;
Doch du, du bist zum klaren Tag geboren. Tu, porém, nasceste para o dia claro.

PAUSANIAS PAUSÂNIAS
O! schweigen mug ich!
Oh, ter de calar-me!

KRITIAS CRÍTIAS
Uberrede dich Não tentes, excelso,
Nicht, bester Mann! and uns mit dir. Mir selbst Persuadir a ti próprio e a nós! Meus olhos
Ists vor dem Auge dunkel and ich kann Se turvam, não posso

214 215
Nicht sehn, was du beginnst, and kann nicht sagen, bleibe! Ver o que tencionas, nem dizer-te: permanece!
Verschieb es einen Tag. Der Augenblick Espera mais um dia! Muitas vezes
Fafft wunderbar uns oft; so gehen wir O instante nos aprisiona como por encanto;
Die Flüchtgen mit den Flüchtigen dahin. Seres fugazes, perseguimos o fugaz.
Oft dünkt das Wohlgefallen einer Stund Muitas vezes o prazer de uma hora nos
Uns lange vorbedacht, and doch ists nur Parece há muito predestinado; mas é somente
Die Stunde, die uns blendet, daft wir sie O instante que nos ofusca, e só o compreendemos
Nur sehen in Vergangenem. Vergib! Quando passou. Perdoa!
Ich will den Geist des Mâchtigern nicht schmiihn, Não quero desonrar o espírito do mais forte,
Nicht diesen Tag; ich seh es wohl, ich muff Tampouco neste dia; compreendo, devo deixar-te,
Dich lassen, kann nur zusehn, wenn es schon Nada posso, senão ver-te partir, mesmo
Mich in der Seele kümmert, — De alma sofrida —

DRITTER BURGER TERCEIRO CIDADÃO


Nein! o nein! — Não, não! —
Er gehet zu den Fremden nicht, nicht fibers Meer, Ele não irá entre estranhos, nem atravessará
Nach Hellas Ufern oder nach Aegyptos, Os mares, às costas da Hélade ou do Egito
Zu seinen Brüdern, die ihn lange nicht Perto de seus irmãos que há muito não o
Gesehn, den hohen Weisen, — bittet ihn, Veem, dos grandes sábios — rogai a ele,
O bittet, daff er bleib'! es ahndet mir, Oh, rogai, que permaneça! Pressinto,
Und Schauer gehn von diesem stillen Mann, E o horror provém desse homem taciturno,
Dem Heiligfurchtbaren, mir durch das Leben, Santo e temível, atormentando-me a vida;
Und heller wirds in mir und finstrer auch Agora em mim tudo se torna mais claro e mais sombrio
Denn in der vorgen Zeit — wohl triigst und siehst Do que antes! Certamente carregas e percebes em ti
Ein eigen groffes Schicksal du in dir, Um destino grande e singular.
Und triigst es gem, und was du denkst ist herrlich. E o carregas de bom grado; sublime é teu pensamento.
Doch denke derer, die dich lieben auch Pensa porém naqueles que também te amam,
Der Reinen, und der andern, die gefehlt, Os puros, e nos outros, que falharam:
Der Reuigen. Du Gütiger, du hast Os arrependidos. Benévolo, muito
Uns viel gegeben, was ists ohne dich? Nos deste, o que será de nós sem ti?
O mõchtest du uns nicht dich selber auch Oh, não poderias permanecer conosco
Noch eine Weile gônnen, Gütiger! Ainda por algum tempo, benévolo?

EMPEDOKLES EMPÉDOCLES
O lieber Undank! gab ich doch genug Amável ingratidão! Dei-vos o bastante
Wovon ihr leben mõget. Ihr dürft leben Para que possais viver. Vivereis
Solang ihr Othem habt: ich nicht. Es muff O tempo de vosso fôlego, eu não. Deve despedir-se
Bei Zeiten weg, durch wen der Geist geredet. A tempo aquele através do qual o espírito falou.

216 217
Es offenbart die gõttliche Natur A Natureza divina muitas vezes manifesta-se
Sich gõttlich oft durch Menschen, so erkennt Sublime através dos homens, para que
Das vielversuchende Geschlecht sie wieder. De novo a reconheçam as gerações tateantes.
Doch hat der Sterbliche, dem sie das Herz Mas quando o mortal a desvela, o
Mit ihrer Wonne fiillte, sie verkündet, Coração saciado em suas delícias,
O Taft sie dann zerbrechen das Gefiif.' Deixai então que se quebre o vaso sagrado,
Damit es nicht zu andrem Brauche dien', Preservando-o de outros usos,
Und Giittliches zum Menschenwerke werde. E que o divino não se torne obra humana.
Last diese Glücklichen doch sterben, last Deixai estes ditosos morrerem, sem se
Eh sie in Eigenmacht and Tand and Schmach Dissiparem em arbítrios, futilidades, ignomínia.
Vergehn, die Freien sich bei guter Zeit Que os libertos, na hora justa,
Den Gi ttern liebend opfern. Mein ist dies. Sacrifiquem-se por amor aos deuses. E é este meu destino.
Und wohlbewuft ist mir mein Los and lãngst Bem o sei; há muito,
Am jugendlichen Tage hab ich mirs Na juventude, o
Geweissagt; ehret mirs! and wenn ihr morgen Predisse; respeitai-o! E quando amanhã
Mich nimmer findet, sprecht: veralten sollt Não me encontrardes, dizei: não deveria
Er nicht and Tage ziihlen, dienen nicht Envelhecer, nem contar seus dias, ou prestar-se
Der Sorg and Krankheit, À preocupação e à doença,

ungesehen ging partiu sem


Er weg and keines Menschen Hand begrub ihn, Ser visto; mão de homem não o enterrou,
Und keines Auge weif von seiner Asche, Ninguém sabe de suas cinzas;
Denn anders ziemt es nicht für ihn, vor dem Outra coisa a ele não convém: no dia sagrado,
In todesfroher Stund am heilgen Tage Na hora ditosa da morte, diante dele
Das Gõttliche den Schleier abgeworfen — O divino deixou cair o véu —
Den Licht and Erde liebten, dem der Geist, Luz e terra amaram-no; nele o espírito,
Der Geist der Welt den eignen Geist erweckte, O espírito do mundo despertou o próprio espírito. Luz e terra
In dem sie Sind, zu dem ich sterbend kehre. Nele se encontram e a ele retorno ao morrer.

KRITIAS CRÍTIAS
Weh! unerbittlich ist er, and es schiimt Ai! Inexorável é esse homem e até mesmo
Das Herz sich selbst ein Wort noch ihm zu sagen. O coração se envergonha de ainda dizer-lhe uma palavra.

EMPEDOKLES EMPÉDOCLES
Komm reiche mir die Hiinde, Kritias! Vem, Crítias, estende-me as mãos!
Und ihr ihr alI. — Du bleibest Liebster noch, E vós todos. — Tu, permanece ainda junto a mim,
Bei mir, du immertreuer guter Angling! Caríssimo, jovem bondoso, sempre leal!

218 219
Beim Freunde, bis zum Abend — trauert nicht! Junto ao amigo, até o cair da noite — não vos inquieteis!
Denn heilig ist mein End and schon — o Luft, Sagrado é meu fim — já te pressinto, ó ar,
Luft, die den Neugeborenen umfiingt, Ar que envolve o recém-nascido,
Wenn droben er die neuen Pfade wandelt, Quando no alto vagar por novos atalhos;
Dich ahnd ich, wie der Schiffer, wenn er nah Eu te pressinto, como o navegante sente
Dem Blütenwald der Mutterinsel kõmmt, O peito aliviado e mais amante ao avizinhar-se
Schon atmet liebender die Brust ihm auf À floresta em flor da ilha materna;
Und sein gealtert Angesicht verkldrt A lembrança do primeiro deleite
Erinnerung der ersten Wonne wieder! Transfigura seu semblante envelhecido!
Und o, Vergessenheit! Versõhnerin! — Ó esquecimento! Reconciliador! —
Voll Segens ist die Seele mir, ihr Lieben! Minha alma está plena de bênçãos, ó amados!
Geht nur and grüf.'t die heimatliche Stadt Ide agora e saudai a cidade natal
Und ihr Gefild7 am schõnen Tage, wenn E suas campinas! Quando um dia
Den Gõttern der Natur ein Fest zu bringen, Entrardes no bosque consagrado para
Vom Tagewerk das Auge zu befrein, Glorificar os deuses da Natureza em dia esplêndido
Ihr einst heraus zum heilgen Haine geht, E libertar os olhos do trabalho quotidiano,
Und wie mit freundlichen Gesdngen euchs Sereis acolhidos com amáveis
Empfdngt, antwortet aus den heitern Hõhn, Cânticos — respostas das alturas serenas;
Dann wehet wohl ein Ton von mir im Liede, Vibrará então o som do meu canto
Des Freundes Wort, verhüllt ins Liebeschor — Minha palavra amiga — encoberto no coro afetuoso
Der schõnen Welt, vernimmt ihr liebend wieder, Do belo mundo; de novo conhecereis o amor,
Und herrlicher ists so. Was ich gesagt, E tudo será mais esplêndido. O que eu disse,
Dieweil ich hie noch weile, wenig ists, Estando ainda entre vós, é pouco,
Doch nimmts der Strahl vielleicht des Lichtes zu Mas leva talvez consigo o raio luminoso
Der stillen Quelle, die euch segnen miichte, Que, atravessando as nuvens espessas do crepúsculo,
Durch diimmernde Gewõlke mit hinab. Chega à nascente calma e vos abençoa.
Und ihr gedenket meiner! Recordai-vos de mim!

KRITIAS CRÍTIAS
Heiliger! Santo homem!
Du bast mich überwunden, heilger Mann! Sim, santo! Conquistaste-me!
Ich will es ehren, was mit dir geschieht, Quero honrar o teu destino,
Und einen Namen will ich ihm nicht geben. Mas não pretendo dar-lhe um nome.
O muft es sein? es ist so eilend all Oh, tinha de ser assim? Tudo se transformou
Geworden. Da du noch in Agrigent Tão rápido. Quando ainda vivias em Agrigento
Stillherrschend lebtest, achteten wirs nicht, E reinavas tranquilo não o notávamos;
Nun bist du uns genommen, eh wirs denken. Agora nos foste arrebatado, quando menos esperávamos:
Es kommt und geht die Freude, doch gehõrt A alegria vai e vem pois não é

220 221
Sie Sterblichen nicht eigen, und der Geist Própria dos mortais; o espírito
Eilt ungefragt auf seinem Pfade weiter. Continua inalterável em sua senda.
Ach! künnen wir denn sagen, daf du da Ai! Poderemos dizer que estiveste
Gewesen? Entre nós?

FÜNFTER AUFTRITT QUINTA CENA

Empedokles. Pausanias Empédocles. Pausânias

PAUSANIAS PAUSÂNIAS
Es ist geschehen, schicke nun auch mich Está consumado. Agora, afasta
Hinweg! Dir wird es leicht! Também a mim! Ser-te-á fácil!

EMPEDOKLES EMPÉDOCLES
O nicht! Oh, não!

PAUSANIAS PAUSÂNIAS
Ich weif es wohl, ich sollte so nicht reden Eu bem sei, não deveria falar de tal modo
Zum heilgen Fremdlinge, doch will ich nicht Com o santo estrangeiro, mas não quero
Das Herz im Busen bi ndigen. Du hasts Refrear meu coração. Tu mesmo
Verwühnt, du hast es selber dir erzogen —
O viciaste, educando-o na tua escola —
Und meinesgleichen dünkte mir noch, da Quando eu era ainda um jovem inculto,
Ein roher Knab ich war, der Herrliche, Julgava o sublime igual a mim;
Wenn er mit Wohlgefallen sich zu mir Com agrado ele se inclinava
Im freundlichen Gespri che neigt; und mir Em conversa amável e suas
Wie lãngstbekannt des Mannes Worte waren, Palavras pareciam-me há muito conhecidas.
Das ist vorbei! vorbei! O Empedokles! Mas tudo, tudo passou! Ó, Empédocles!
Noch nenn ich dich mit Namen, halte noch Chamo-te ainda pelo nome e retenho ainda
Bei seiner treuen Hand den Fliehenden, O fugitivo pela mão fiel,
Und sieh! mir ist, noch immer ist es mir, Vê! é como se ainda não
Als kõnntst du mich nicht lassen, Liebender! Pudesses me deixar, amado!
Geist meiner glücklichen Jugend, hast du mich Espírito de minha ditosa juventude, em
Umsonst umfangen, hab ich dir umsonst Vão me envolveste, em vão te abri
Entfaltet dieses Herz in Siegeslust Meu coração triunfante
Und groffen Hoffnungen? Ich kenne dich Com grandes esperanças? Não mais
Nicht mehr. Es ist ein Traum. Ich glaub es nicht. Te reconheço. É um sonho: não posso acreditar.
222 223
EMPEDOKLES EMPÉDOCLES
Verstandest du es nicht? Não entendeste?

PAUSANIAS PAUSANIAS
Mein Herz versteh ich, Entendo meu coração
Das treu and stolz für deines zürnt and schligt. Que, fiel e orgulhoso, bate e freme pelo teu.

EMPEDOKLES EMPÉDOCLES
So günn ihm seine Ehre doch, dem meinen. Concede então pelo menos a honra ao meu.

PAUSANIAS PAUSANIAS
Ist Ehre nur im Tod? Só na morte há honra?

EMPEDOKLES EMPÉDOCLES
Du hasts gehürt, Entendeste
Und deine Seele zeugt es mir, für mich E tua alma testemunha:
Gibts andre nicht. Não há outra honra para mim.

PAUSANIAS PAUSANIAS
Ach! ists denn wahr? Ai de mim! Então é verdade?

EMPEDOKLES EMPÉDOCLES
Wofür Quem
Erkennst du mich? Reconheces em mim?

PAUSANIAS PAUSANIAS
(innig) (afetuoso)
O Sohn Uraniens! Ainda o perguntas,
Wie kannst du fragen? Filho de Urânia?

EMPEDOKLES EMPÉDOCLES
(mit Liebe) (com amor)
Dennoch soil ich Knechten gleich Devo então como um lacaio
Den Tag der Unehr überleben? Sobreviver ao dia da desonra?

PAUSANIAS PAUSANIAS
Nein! Não!
Bei deinem Zaubergeiste, Mann, ich will nicht Por teu espírito mágico, homem, não quero

224 225
Will nicht dich schmühn, gebõt es auch die Not Desonrar-te, dileto, mesmo se o amor
Der Liebe mir, du Lieber! stirb denn nur Me o ordenasse! Morre pois
Und zeuge so von dir. Wenns sein mug E dá testemunho de ti, se necessário.

EMPEDOKLES EMPÉDOCLES
Hab Sempre
Ichs doch gewugt, dag du nicht ohne Freude Soube, alma heroica, que não me deixarias
Mich gehen liegest, Heldenmütiger.! Ir, sem alegrar-me!

PAUSANIAS PAUSÂNIAS
Wo ist denn nun das Leid? umwallt das Haupt Onde está o sofrimento agora? A luz do amanhecer
Dir doch ein Morgenrot and Einmal schenkt Cinge-te a cabeça, e teu olhar mais
Dein Auge noch mir seine krüftgen Strahlen. Uma vez me concede seus raios vigorosos.

EMPEDOKLES EMPÉDOCLES
Und ich, ich küsse dir Verheigungen Beijo-te nos lábios estas
Auf deine Lippen: müchtig wirst du sein, Profecias: serás poderoso,
Wirst leuchten, jugendliche Flamme, wirst, Irradiarás, chama juvenil,
Was sterblich ist, in Seel and Flamme wandeln, Transformando o que é mortal em alma e chama
Dag es mit dir zum heilgen Aether steigt. Que contigo ascenderá ao Éter consagrado.
Ja! Liebster! nicht umsonst hab ich mit dir Sim, caríssimo, não foi em vão que
Gelebt, and unter mildem Himmel ist Vivemos juntos; sob o céu sereno
Viel einzig Freudiges vom ersten goldnen Desde o primeiro instante, áureo,
Gelungnen Augenblick uns aufgegangen, Abriu-se para nós um contentamento único;
Und oft wird dessen dich mein stiler Hain E deste te evocarão meu bosque silencioso
Und meine Halle mahnen, wenn du dort E o átrio, quando, na primavera, por lá
Vorüberkõmmst, des Frühlings, and der Geist Passares, e te envolverá o espírito
Der zwischen mir and dir gewesen dich Que reinou entre nós;
Umwaltet, dank ihm dann, and dank ihm itzt! Agradece-lhe então e agora!
O Sohn! Sohn meiner Seele! O filho, filho de minha alma!

PAUSANIAS PAUSÂNIAS
Water! danken Pai!
Will ich, wenn wieder erst das Bitterste Agradecerei, mas só quando houver saído
Von mir genommen ist. Deste extremo amargor.

226 227
EMPEDOKLES EMPÉDOCLES
Doch, lieber, schôn Mas também é belo,
Ist auch der Dank, solange noch die Freude, Caríssimo, o agradecimento, quando a alegria, prestes
Die Scheidende, verzieht bei Scheidenden. A deixar-nos, adia a despedida dos que se vão.

PAUSANIAS PAUSANIAS
O muf sie denn dahin? ich faf es nicht, Deverá a alegria esvair-se? Não compreendo,
Und du? was hill' es dir De que te serviria?

EMPEDOKLES EMPÉDOCLES
Bin ich Burch Sterbliche doch nicht bezwungen, Não são os mortais que me constrangem
Und geh in meiner Kraft, furchtlos hinab No ápice da minha força, desço, sem temor,
Den selbsterkornen Pfad; mein Glick ist dies, Pela senda escolhida; esta é minha alegria,
Mein Vorrecht ists. Meu privilégio.

PAUSANIAS PAUSANIAS
O and sprich nicht so Cala-te! não exprimas
Das Schrõckliche mir aus! Noch atmest du, O terrível! Ainda respiras,
Und hõrest du Freundeswort, and rege quilt E ouves palavras amigas; teu precioso
Das teure Lebensblut vom Herzen dir, Sangue de vida jorra ardente do coração,
Du stehst and blickst and hell ist rings die Welt Tu estás aqui e olhas: límpido é o mundo ao redor
Und klar ist dir dein Auge vor den Güttern. E claro é teu olhar na presença dos deuses.
Der Himmel ruht auffreier Stirne dir, Repousa o céu sobre tua fronte livre,
Und, freudig aller Menschen, überglãnzt, E feliz entre todos os mortais, resplandeces,
Du Herrlicher! dein Genius die Erd, Sublime! Teu gênio, a terra,
Und ales soil vergehn! Tudo deve perecer!

EMPEDOKLES EMPÉDOCLES
Vergehn? ist doch Perecer? Mas se a
Das Bleiben, gleich dem Strome den der Frost Permanência é igual à torrente presa pelo
Gefesselt. Tõricht Wesen! schiaft and halt Gelo. Criatura insensata! Acaso dorme e se detém
Der heilge Lebensgeist denn irgendwo, E sagrado espírito da vida em algum lugar
Daf du ihn binden môchtest, du den Reinen? Onde tu o pudesses reter, tu o puro?
Es iingsti get der Immerfreudige Sempre alegre, jamais se angustiará
Dir niemals in Gefiingnissen sich ab, Esvaindo-se em prisões
Und zaudert hoffnungslos auf seiner Stelle, Nem hesitando, sem esperança, no mesmo lugar;

228 229
Frdgst du, wohin? Die Wonnen einer Welt Perguntas, aonde? Deve atravessar
Mug er durchwandern, and er endet nicht. — Os deleites do mundo, ele, o infindo.
O Jupiter Befreier.! — gehe nun hinein, Ó Júpiter liberador! — Entra agora,
Bereit ein Mahl, dag ich des Halmes Frucht Prepara o banquete, para que ainda Uma vez
Noch Einmal koste, and der Rebe Kraft, Eu saboreie os cereais, a força da videira,
Und dankesfroh mein Abschied sei; and wir E grata e alegre seja minha despedida; devemos
Den Musen auch, den holden, die mich liebten, Celebrar ainda com cânticos as musas graciosas
Den Lobgesang noch singen — to es, Sohn! Que me amaram — é teu momento, filho!

PAUSANIAS PAUSÂNIAS
Mich meistert wunderbar dein Wort, ich mug Domina-me tua palavra de modo estranho, devo
Dir weichen, muggehorchen, wills, and will Ceder-te, sim, devo obedecer-te. Quero e ao mesmo tempo
Es nicht. (geht ab) Não quero. (sai)

SECHSTER AUFTRITT SEXTA CENA

EMPEDOKLES EMPÉDOCLES
(allein) (só)
Ha! Jupiter Befteier! ndher tritt Ah, Júpiter liberador! Avizinha-se sempre
Und ndher meine Stund and vom Geklüfte Mais a minha hora; das fendas dos penhascos
Kõmmt schon der traute Bote meiner Nacht Vem o mensageiro fiel da minha noite,
Der Abendwind zu mir, der Liebesbote. O vento do entardecer, amável.
Es wird! gereift ists! o nun schlage, Herz, É chegada a hora! Maduro é o momento! O coração, palpita agora
Und rege deine Wellen, ist der Geist E agita as tuas ondas; paira o espírito
Doch fiber dir wie leuchtendes Gestirn, Sobre ti como astro brilhante,
Indes des Himmels heimatlos Gewõlk Enquanto nuvens densas, apátridas do céu,
Das immer flüchtige vorüber wandelt. Vagueiam, passando sempre fugazmente.
Wie ist mir? staunen mug ich noch, als fang' O que me ocorre? Devo espantar-me como se
Ich erst zu leben an, denn all ists anders, Somente agora começasse a viver? Tudo mudou,
Und jetzt erst bin ich, bin — and darum wars, Somente agora existo — por isso
Dag in der frommen Ruhe dich so oft, A melancolia assaltou tantas vezes
Du Mügiger, ein Sehnen überfiel? Tua santa paz, ocioso?
O darum ward das Leben dir so leicht, Por isso tornou-se a vida, para ti, tão leve
Dag du des Uberwinders Freuden all Que enfim encontras em Um ato completo
In Einer vollen Tat am Ende fandest? Todas as alegrias do vencedor?

230 231
Aqui estou. Morrer? Apenas um passo para penetrar
Ich komme. Sterben? nur ins Dunkel ists
O escuro, mas gostarias, meu olhar, de ver ainda,
Ein Schritt, and sehen michtst du doch, mein Auge!
Tu que me serviste até o fim com diligência!
Du hast nun ausgedient, dienstfertiges!
A noite toldará por algum tempo
Es muf die Nacht itzt eine Weile mir
Esta cabeça. Mas a chama brota
Das Haupt umschatten. Aber freudig quilt
Com alegria do peito intrépido. Desejo
Aus mutger Brust die Flamme. Schauderndes
Apavorante! Como?! Por fim, a vida
Verlangen! Was? am Tod entzündet mir
Em mim se inflama diante da morte? E me
Das Leben sich zuletzt? and reichest du
Estendes o cálice fervilhante do pavor,
Den Schreckensbecher, mir, den giirenden,
Natureza, para que o teu aedo ainda
Natur! damit dein Slinger noch aus ihm
Beba o derradeiro entusiasmo?
Die letzte der Begeisterungen trinke!
Estou em paz agora, nada mais procuro
Zufrieden bin ichs, suche nun nichts mehr
A não ser meu lugar de sacrifício. Tudo está bem.
Denn meine Opferstãtte. Wohl ist mir. Como tu, arco-íris sobre a
O Iris Bogen fiber stürzenden
Torrente caudalosa, quando ergue vôo a vaga
Gewãssern, wenn die Wog in Silberwolken
Em nuvens prateadas — assim, minha alegria.
Auffliegt, wie du bist, so ist meine Freude!

SÉTIMA CENA
SIEBENTERAUFTRITT

Panteia. Délia
Panthea. Delia

DELIA
DELIA
Disseram-me: de modo diverso pensam deuses
Sie sagten mir: es denken anders Gõtter
E mortais. Tudo o que parece solene a uns,
Denn Sterbliche. Was Ernst den Einen dunk,
Brincadeira aos outros parece. Para os deuses
Es dünke Scherz den andern. Gõtterernst
Espírito e virtude são graves, mas, é brincadeira
Sei Geist and Tugend, aber Spiel vor ihnen sei
O longo tempo dos humanos em atividade frenética.
Die lange Zeit der vielgeschiiftgen Menschen.
E vosso amigo aparenta pensar mais como
Und mehr wie Gõtter, denn, wie Sterbliche,
Os deuses do que como os mortais.
Scheint euer Freund zu denken.
PANTEIA
PANTHEA Não me surpreende
Nein! Mich wundert nicht,
Que continue a buscar por seus deuses.
Dai? er sich fort zu seinen Giittern sehnt.
O que lhe deram os mortais? Ou o povo
Was gaben ihm die Sterblichen? hat ihm Néscio acaso lhe nutriu o nobre espírito?
Sein tõricht Volk genãhrt den hohen Sinn,

233
232
Ihr unbedeutend Leben, hat ihm dies Sua vida insignificante viciou-
Das Herz verwõhnt Lhe o coração?
Nimm ihn, du gabst ihm alies, gabst Tudo lhe deste, Natureza, e a
Ihn uns, o nimm ihn nur hinweg, Natur! Nós o enviaste: arrebata-o, agora!
Vergiinglicher sind deine Lieblinge, Bem sei que teus diletos
Das weif ich wohl, sie werden grof? São mais efêmeros; crescem
Und sagen kõnnens andre nicht, wie sies E ninguém sabe como!
Geworden, ach! and so entschwinden sie, Mas, ai de mim, de novo
Die Glücklichen, auch wieder! Desaparecem, os ditosos!

DELIA DELIA
Sieh! mir dünkt es Vê! Parece-me ser
Doch glücklicher, bei Menschen froh zu weilen. Mais ditoso quem permanece alegre entre os homens.
Verzeih es mir der Unbegreifliche. Ele, o incompreensível, que me perdoe.
Und ist die Welt doch hier so schôn. O mundo aqui é tão belo.

PANTHEA PANTEIA
Ja schõn Sim, é belo
Ist sie, und schãner itzt denn je. Es darf Agora mais belo do que nunca. O intrépido
Nicht unbeschenkt von ihr ein Kühner gehn. Não se afasta sem receber sua dádiva.
Sieht er noch auf zu dir, o himmlisch Licht? Ergue ele ainda os olhos para ti, ó luz celeste?
Und siehest du ihn, den ich nun vielleicht E o vês, àquele que eu talvez
Nicht wiedersehe? Delia! so blicken Não mais reveja? Délia! Assim os irmãos
Sich Heldenbrüder inniger ins Aug, De armas cravam, um no outro, profundamente o olhar
Eh sie vom Mahl zur Schlummerstunde scheiden, Antes de separarem-se para o repouso após o banquete,
Und sehn sie nicht des Morgens sich aufi neu? Esperando reverem-se na manhã seguinte.
O Worte! freilich schaudert mir, wie dir, Palavras! Sem dúvida, gentil criança, estremece-me
Das Herz, du gutes Kind! und gerne mõcht Como a ti o coração, gostaria que
Ichs anders, doch ich schãme dessen mich. Fosse diferente, mas isto me envergonha.
Tu Er es doch! ists so nicht heilig? Ele fará tal gesto! Será acaso sagrado?

DELIA DELIA
Wer ist der fremde Angling, der herab Quem é esse jovem desconhecido que
Vom Berge kõmmt! Vem descendo a montanha?

PANTHEA PANTEIA
Pausanias. Ach müssen Pausânias. Ai! Teremos assim
Wir so uns wiederfinden, Vaterloser? De reencontrar-nos, órfâo de pai?

234 235
OITAVA CENA
ACHTER AUFTRITT

Pausânias. Panteia. Délia


Pausanias. Panthea. Delia

PAUSÂNIAS
PAUSANIAS Está Empédocles aqui? Ó Panteia,
Ist Empedokles hier? o Panthea, Tu o veneras, e sobes, sobes para vê-lo,
Du ehrest ihn, du kõmmst herauf du kõmmst Ainda uma vez, o taciturno viandante
Noch enmal ihn den ernsten Wanderer Em sua trilha sombria!
Auf seinem dunkeln Pfad zu sehn!
PANTEIA
PANTHER Onde está ele?
Wo ist er?
PAUSÂNIAS
PAUSANIAS Não sei. Disse que me afastasse
Ich weif es nicht. Er sandte mich hinweg, E quando eu , não tornei a vê-lo.
Und da ich , sah ich ihn nicht wieder. Gritei, chamando-o nas montanhas, em
Ich rief ihn im Gebürge, doch ich fand Vão. Voltará por certo. No entanto
Ihn nicht. Er kehrt gewif Versprach Prometeu-me com afeto esperar até o anoitecer.
Er feundlich doch, bis in die Nacht zu weilen. Ah, se viesse! A hora mais desejada se evola
O kãm er nur! Die liebste Stunde flieht Mais veloz do que uma seta.
Geschwinder, denn die Pfeile sind, vorüber. Ainda Uma vez seria feliz com ele
Noch Einmal soil ich freudig sein mit ihm, E tu, Panteia! E ela também,
Und du auch wirst es, Panthea! und sie, A nobre estrangeira, se o vir
Die edle Fremdlingin, die ihn nur Einmal, Uma só vez, como uma esplêndida visão. Seu fim
Nur, wie ein herrlich Traumbild sieht. Euch schreckt Evidente a todos, apavora.
Sein Ende, das vor aller Augen ist, Ninguém ousa mencioná-lo, bem o vejo,
Doch keiner nennen mag; ich glaub es wohl, Mas isto esquecereis, ao virdes
Doch werdet ihrs vergessen, sehet ihr O prodigioso em sua plenitude.
In seiner Blüte den Lebendigen. O que aos mortais triste e terrível se afigura,
Denn wunderbar vor diesem Manne schwindet Por encanto desaparece diante deste homem.
Was traurig Sterblichen und furchtbar dünkt. Diante do olhar sagrado tudo é luz.
Und vor dem selgen Aug ist alies licht.
DELIA
DELIA Como o amas! E, no entanto, em vão
Wie liebst du ihn? and dennoch batest du Pediste, e muito o pediste,
Umsonst, du hast ihn wohl genug gebeten, Ao taciturno, que permanecesse e vivesse por mais
Den Ernsten, daf er bleib, and Binger noch Tempo entre os homens.
Bei Menschen wohne.
237
236
PAUSÂNIAS
PAUSANIAS
Como consegui-lo?
Konnt ich viel?
Ele domina minha alma ao
Er greift in meine Seele, wenn er mir
Dizer-me sua vontade. É bem isto!
Antwortet, was sein Will ist. O das ists!
Mesmo na recusa, ele oferece ventura
Da]? er nur Freude gibt, wenn er versagt,
E o coração bate mais forte no peito,
Und tiefer nur das Herz ihm widerklingt,
Vibrando em harmonia com ele, quanto mais ele, o homem
Und einig ist mit ihm, je mehr auf Seinem
Insondável, insiste em seu desígnio. Vã
Der Nieergriindete besteht. Es ist
Persuasão não é, acredita-me,
Nicht eitel Überredung, glaub es mir,
Quando ele dispõe de sua vida.
Wenn er des Lebens sich bemiichtiget,
Muitas vezes, quando ele, centrado em seu orgulho,
Oft, wenn er stille war in seiner Welt,
Ficava silencioso em seu mundo, eu o olhava
Der Stolzgenügsame, dann sah ich ihn
Com obscuro pressentimento; viva e plena era
In dunkler Ahnung, volt and rege war
Minha alma, mas não conseguia senti-la.
Die Seele mir, doch konnt ich sie nicht fühlen.
Angustiava-me a presença do puro,
Mich ãngstigte die Gegenwart des Reinen,
Do intocável, mas quando a palavra
Des Unberührbaren; doch wenn das Wort
Decisiva lhe saía dos lábios,
Entscheidend ihm von seinen Lippen kam,
Era como se um céu de ventura ressoasse
Dann wars, als tõnt' ein Freudenhimmel wider
Nele e em mim e sem resistir, abandonava-me,
In ihm and mir and ohne Widerred
Sentindo-me porém mais livre.
Ergriff es mich, doch fühlt ich nur mich freier.
Ah, pudesse ele enganar-se; mais profundamente
Ach! kõnnt er irren, um so tiefer nur
O reconheceria como o verdadeiro e inesgotável.
Erkennt ich ihn, den Unerschôpflichwahren,
Ao morrer, mais clara se alçará de suas cinzas,
Und wenn er stirbt, so flammt aus seiner Asche
A chama do gênio.
Mir Keller der Genius empor.

DÉLIA
DELIA
Alma nobre! A morte do sublime
Ha! grofe Seele! dich erhebt der Tod
Te exalta, a mim só dilacera. Por quê
Des Grogen, mich zerreift er nur. Was soil
Recordá-lo? Mal o mortal,
Es mirs gedenken, hat der Sterbliche
Estranho como uma criança aberta ao mundo
Der Welt sich aufgetan, der kindlich fremde,
Se aquece e se torna seu dileto amigo,
Und kaum erwarmt, and frohvertraut geworden,
Logo um frio destino o rechaça, ele,
Bald st-qt ihn dann ein kaltes Schicksal wieder,
O recém-nascido
Den Kaumgeborenen, zurück,
Nem mesmo aos eleitos é dado repousar
Und ungestõrt in seiner Freude bleiben
Tranquilos em sua alegria. Ai! Também os melhores
Darf auch das Liebste nicht, ach! and die besten,
Decidem-se pelos deuses da morte
Sie treten auf der Todesgôtter Seit,
E partem, alegres, suscitando
Auch sie, and gehn dahin, mit Lust, and machen
em nós a ignomínia de continuar entre os mortais.
Es uns zur Schmach, bei Sterblichen zu bleiben.

238 239
PAUSANIAS PAUSÂNIAS
O bei den Seligen! verdamme nicht Pelos bem-aventurados! Não amaldiçoes
Den Herrlichen, dem seine Ehre so O sublime, para quem a honra
Zum Unglück ward Transformou-se em desdita.
Der sterben mug, weil er zu schõn gelebt, Deve morrer, pois sua vida foi bela demais
Weil ihn zu sehr die Gõtter alie liebten. E todos os deuses o amaram.
Denn wird ein anderer, denn er, geschmâht, Ultrajar outro que não ele
So ists zu tilgen, aber er, wenn ihm É perdoável, mas se a ele

was kann der Gõttersohn? o que pode o filho dos deuses?


Unendlich trifft es den Unendlichen. Ele, o infindo é atingido infinitamente.
Ach niemals ward ein edler Angesicht Ai, nenhum rosto mais nobre sofreu ofensa
Empôrender beleidiget.! ich muft Mais revoltante! Eu teria de
Es sehn, Vê-lo,

240 241
A MORTE DE EMPÉDOCLES
Uma tragédia em cinco atos

SEGUNDA VERSAO

DER TOD DES EMPED OKLES


Ein Trauerspiel in fünfAkten

ZWEITE FASSUNG

PERSONAGENS PERSONEN

Empédocles Empedokles
Pausânias Pausanias
Panteia Panthea
Délia Delia
Hermócrates Hermokrates
Mécades Mekades
Anfares Amphares —
Demócles] Agrigentinos Demokles Agrigentiner
Hilas Hylas —

A cena desenrola-se em parte em Agrigento, em parte junto ao Etna.


Der Schauplatz ist teils in Agrigent, tells am Aetna.
ERSTER AKT PRIMEIRO ATO
ERSTER AUFTRITT
PRIMEIRA CENA

Chor der Agrigentiner in der Ferne Coro de Agrigentinos à distância


Mekades. Hermokrates Mécades. Hermócrates

MEKADES MÉCADES
Hõrst du das trunkne Volk? Ouves o povo embriagado?

HERMOKRATES HERMÓCRATES
Sie suchen ihn. Procuram-no.

MEKADES MÉCADES
Der Geist des Manns Poderoso entre eles é
Ist mãchtig unter ihnen. O espírito deste homem.

HERMOKRATES HERMÓCRATES
Ich weifs wie dürres Gras Bem sei, qual erva seca
Entzünden sich die Menschen. Inflamam-se os homens.

MEKADES MÉCADES
Daf Einer so die Menge bewegt, mir ists, Que apenas Um agite tanto a multidão, parece
Als wie wenn Jovis Blitz den Wald O raio de Júpiter ao varrer
Ergreift, and furchtbarer. A floresta, e até mais terrível.

HERMOKRATES HERMÓCRATES
Drum binden wir den Menschen auch Por isto vendamos
Das Band ums Auge, daf sie nicht Os olhos dos homens; que não
Zu krãftig sich am Lichte nãhren. Se nutram em demasia de luz.
Nicht gegenwãrtig werden O divino não pode
Darf Gõttliches vor ihnen. Mostrar-se a eles.
Es darf ihr Herz Não é permitido a seu corações
Lebendiges nicht finden. Encontrar o vivente.
Kennst du die Alten nicht, Desconheces os antigos
Die Lieblinge des Himmels man nennt? Que são chamados os prediletos do céu?

244 245
Sie niihrten die Brust Nutriam a alma
An Kràften der Welt Com as forças do mundo e
Und den Hellaufblickenden war O imortal estava próximo de quem
Unsterbliches nahe, Alçava o olhar luminoso para o alto;
Drum beugen die Stolzen Eis porque os orgulhosos
Das Haupt auch nicht Não baixavam a cabeça
Und vor den Gewaltigen konnt E nenhum outro podia
Ein Anderes nicht bestehn, Manter-se ante os poderosos:
Es ward verwandelt vor ihnen. Tudo transformava-se na presença deles.

MEKADES MÉCADES
Und er? E ele?

HERMÓKRATES HERMÓCRATES
Das hat zu miichtig ihn A intimidade com os deuses
Gemacht, daf er vertraut Tornou-o
Mit Gõttern worden ist. Demasiado poderoso.
Es tõnt sein Wort dem Volk, Sua palavra ressoa no povo,
Als kiim es vom Olymp; Como se viesse do Olimpo;
Sie dankens ihm, Agradecem-lhe
Daf er vom Himmel raubt Por arrebatar dos céus
Die Lebensflamm and sie A chama da vida,
Verriit den Sterblichen. Revelando-a aos mortais.

MEKADES MÉCADES
Sie wissen nichts, denn ihn, Nada querem saber além dele,
Er soil ihr Gott, Deve ser seu Deus,
Er soil ihr Kõnig sein. Deve ser seu rei.
Sie sagen, es hab Apoll Dizem que Apoio
Die Stadt gebaut den Trojern, Construiu a cidade para os troianos,
Doch besser sei, es helf Mas é melhor que um grande
Ein hoher Mann durchs Leben. Homem ajude os mortais a viver.
Noch sprechen sie viel Unverstiindiges Ainda falam muitas coisas insensatas
Von ihm and achten kein Gesetz Sobre ele; não respeitam leis,
Und keine Not and keine Sitte. Deveres e costumes.
Eir Irrgestirn ist unser Volk Nosso povo tornou-se
Geworden and ich fürcht, Um astro errante e temo
Es deute dieses Zeichen Seja isto presságio

246 247
Zukünftges noch, das er De algo futuro que ele
Im stillen Sinne brütet. Esteja tramando em silêncio.

HERMOKRATES HERMÓCRATES
Sei ruhig, Mekades! Acalma-te, Mécades!
Er wird nicht. Ele não o fará.

MEKADES MÉCADES
Bist du denn mãchtiger? Acaso és mais poderoso?

HERMOKRATES HERMÓCRATES
Der sie versteht, Quem entende os fortes
Ist starker, denn die Starken. É mais forte que eles.
Und wohlbekannt ist dieser Seltne mir. Conheço muito bem esse homem estranho.
Zu glücklich wuchs er auf; Cresceu demasiadamente feliz;
Ihm ist von Anbeginn Desde o início sua alma
Der eigne Sinn verwühnt, daf ihn Foi mimada: basta qualquer
Geringes irrt; er wird es büj?en, Insignificância para desconcertá-lo; pagará
Daf er zu Behr geliebt die Sterblichen. Por haver amado em demasia os mortais.

MEKADES MÉCADES
Mir ahndet selbst, Eu mesmo pressinto
Es wird ihm nicht lange dauern, Que não durará muito tempo,
Doch ist es lang genug, Mas terá sido o suficiente
So er erst fállt, wenn ihms gelungen ist. Se, ao cair, houver alcançado seu intento.

HERMOKRATES HERMÓCRATES
Und schon ist er gefallen. E ele já caiu.

MEKADES MÉCADES
Was sagst du? O quê?!

HERMOKRATES HERMÓCRATES
Siehst du denn nicht? es haben Não vês? Os pobres
Den hohen Geist die Geistesarmen De espírito enganaram seu nobre
Geirrt, die Blinden den Verführer. Espírito, e os cegos, o sedutor.
Die Seele warf er vor das Volk, verriet Entregou a própria alma ao povo, revelando
Der Gutter Gunst gutmütig den Gemeinen, À plebe, sem malícia, o favor dos deuses.

248 249
Doch rãchend üffte leeren Widerhalls Mas por fim, vingando-se, o eco vazio
Genug denn auch aus toter Brust den Toren. De corações sem vida arremedou o tolo.
Und eine Zeit ertrug ers, griimte sich Ele suportou por algum tempo, afligiu-se
Geduldig, wufte nicht, Paciente, não sabendo
Wo es gebrach; indessen wuchs Onde estava o erro; no entanto, aumentava
Die Trunkenheit dem Volke; schaudernd A embriaguez entre o povo; perceberam,
Vernahmen sie's, wenn ihm vom eignen Wort Estremecendo, quando o peito lhe fremia pelas próprias
Der Busen bebt', und sprachen: Palavras e diziam:
So hüren wir nicht die Gõtter.! Não é assim que os deuses falam!
Und Namen, so ich dir nicht nenne, gaben E ao orgulhoso e aflito os escravos
Die Knechte dann dem stolzen Trauernden. Deram nomes que não quero mencionar.
Und endlich nimmt der Durstige das Gift, O sedento, enfim, toma o veneno,
Der Arme, der mit seinem Sinne nicht O mísero que não consegue manter
Zu bleiben weif und Ahnliches nicht findet, Seu tino nem encontrar quem lhe seja semelhante,
Er trõstet mit der rasenden Consola-se com a furiosa
Anbetung sich, verblindet, wird, wie sie, Adoração; cego, torna-se como eles,
Die seelenlosen Aberglaubigen; Os supersticiosos sem alma;
Die Kraft ist ihm entwichen, A força escapou-lhe,
Er geht in einer Nacht, und weig sich nicht Caminha na noite, não sabe como
Herauszuhelfen und wir helfen ihm. Dela sair e nós o ajudaremos.

MEKADES MÉCADES
Des bist du so gewif?? Tens tanta certeza?

HERMOKRATES HERMÓCRATES
Ich kenn ihn. Conheço-o.

MEKADES MÉCADES
Ein übermütiges Gerede fiillt Lembro-me de um discurso
Mir bei, das er gemacht, da er zuletzt Arrogante que pronunciou por último
Auf der Agora war. Ich weiig es nicht, Na Agora. Não sei
Was ihm das Volk zuvor gesagt; ich kam O que o povo ter-lhe-ia dito antes; eu acabara
Nur eben, stand von fern — Ihr ehret mich, De chegar, mantendo-me distante — Me honrais,
Antwortet' er, and tuet recht daran; Retrucou, e é justo;
Denn stumm ist die Natur, Pois muda é a Natureza,
Es leben Sonn and Luft and Erd and ihre Kinder E vivem sol, ar, terra e seus filhos
Fremd umeinander, Estranhos um ao lado do outro,
Die Einsamen, als gehõrten sie sich nicht. Sós, como se não se pertencessem.

250 251
Wohl wandeln immerkrãftig Em torno da vida
Im Güttergeiste die freien Fugaz dos outros,
Unsterblichen Mãchte der Welt No espírito divino
Rings um der andern As forças livres e imortais do mundo
Vergãnglich Leben, Movem-se, sempre vigorosas.
Doch wilde Pflanzen Mas, plantas selváticas
Auf wilden Grund Em terreno selvático,
Sind in den Schof der Gõtter Estão todos os mortais,
Die Sterblichen alie gesãet Os malnutridos, semeados
Die Kãrglichgenãhrten and tot No seio dos deuses; e morto
Erschiene der Boden, wenn Einer nicht Pareceria o solo, se Um
Des wartete, lebenerweckend, Dele não cuidasse, suscitando vida,
Und mein ist das Feld. Mir tauschen E esse é meu campo. Em mim
Die Kraft and Seele zu Einem, Os mortais e os deuses trocam
Die Sterblichen and die Gõtter. Força e alma, tornando-se Um.
Und warmer umfangen die ewigen Mãchte E com mais calor as forças eternas abraçam
Das strebende Herz and krãftiger gedeihn O coração anelante e crescem mais fortes
Pam Geiste der Freien die fühlenden Menschen,
Os homens sensíveis de espírito liberto.
Und wach ists! Denn ich Tudo desperta! Pois eu
Geselle das Fremde, Concilio o que é estranho,
Das Unbekannte nennet mein Wort,
Minha palavra nomeia o desconhecido,
Und die Liebe der Lebenden trag Governa o amor dos
Ich auf and nieder; was Einem gebricht,
Viventes: o que falta a um,
Ich bring es vom andern, and binde
Tomo do outro; unifico
Beseelend, and wandle
Animando e transformo,
Verjüngend die zõgernde Welt
Rejuvenescendo o mundo vacilante,
Und gleiche keinem and Allen.
Igualando a nenhum e a todos.
So sprach der Übermütige.
Assim falava o arrogante.

HERMOKRATES
HERMÓCRATES
Das ist noch wenig. Aergers schlaft in ihm.
Ainda é pouco. Há nele coisas piores.
Ich kenn ihn, kenne sie, die überglücklichen
Conheço-o, assim como conheço aos afortunados,
Verwõhnten Sõhne des Himmels,
Filhos mimados do céu,
Die anders nicht, denn ihre Seele, fzihlen.
Que nada sentem além da própria alma.
Stõrt einmal sie der Augenblick heraus —
Se num átimo algo os turba —
Und leichtzerstõrbar sind die Zãrtlichen —
E os emotivos deixam-se facilmente fragilizar
Dann stillet nichts sie wieder, brennend
Nada mais os aquieta, uma ferida
Treibt eine Wunde sie, unheilbar gãrt
Ardente os açula, queimando-lhes o peito

252
253
Die Brust. Auch er! so still er scheint, E não há cura. Ele também! Parece tranquilo,
So glüht ihm doch, seit ihm das Volk miffdllt, Mas se o povo lhe desagrada, apoderam-se
Im Busen die tyrannische Begierde, De seu coração desejos de tirano.
Er oder wir! Und Schaden ist es nicht, Ele ou nós! Não é um dano
So wir ihn opfern. Untergehen mug Se o sacrificarmos. Afinal deve
Er doch! Perecer!

MEKADES MÉCADES
O reiz ihn nicht! Schaff ihr nicht Raum and laf Não o provoques, não alimentes a
Sie sich ersticken, die verschlogne Flamme! Chama contida! Que se apague por si.
Lag ihn! gib ihm nicht Anstog' findet den Deixa-o! Não lhe dês pretexto algum! Se o arrogante
Zu frecher Tat der Übermütge nicht, Não encontrar justificativas para um ato audaz,
Und kann er nur im Worte sündigen, Podendo pecar apenas pelas palavras,
So stirbt er, als ein Tor, and schadet uns Morrerá como um tolo não nos prejudicando
Nicht viel. Ein kriiftger Gegner macht ihn furchtbar. Muito. Um inimigo forte torna-o terrível.
Sieh nur, dann erst, dann fühlt er seine Macht. Pois vê, só então percebe seu poder.

HERMOKRATES HERMÓCRATES
Du fürchtest ihn and alles, armer Mann! Pobre homem, tens medo dele e de tudo!

MEKADES MÉCADES
Ich mag die Reue nur mir gerne sparen, Apenas gostaria de evitar o remorso
Mag gerne schonen, was zu schonen ist. E de salvar o que é possível.
Das braucht der Priester nicht, der alies wei í Não precisa disso o sacerdote que de tudo sabe,
Der Heilge der sich alies heiliget. O santo que tudo santifica.

HERMOKRATES HERMÓCRATES
Begreife mich, Unmündiger! eh du Tenta entender, jovem imaturo, antes de
Mich liisterst. Fallen mug der Mann; ich sag Ofender-me. Digo-te: esse homem deve
Es dir and glaube mir, wãr er zu schonen, Cair e acredita, se fosse possível salvá-lo,
Ich würd es mehr, wie du. Denn niiher ist Antes de ti o faria, sendo ele mais próximo de mim
Er mir, wie dir. Doch lrne dies: Que de ti. Procura aprender:
Verderblicher denn Schwert and Feuer ist O espírito do homem, o semelhante aos deuses
Der Menschengeist, der gõtteriihnliche, É mais pernicioso que espada e fogo
Wenn er nicht schweigen kann, and sein Geheimnis Quando não sabe calar e conservar
Unaufgedeckt bewahren. Bleibt er still Intacto seu segredo. Enquanto repousa
In seiner Tiefe ruhn, and gibt, was not ist, Quieto no profundo doando o necessário,
Wohltiítig ist er dann, ein fressend Feuer, É benéfico; mas torna-se fogo que devora

254 255
Wenn er aus seiner Fessel bricht. Quando rompe seus grilhões.
Hinweg mit ihm, der seine Seele blot Pereça o homem que revela a alma
Und ihre Giitter gibt, verwegen E seus deuses e, temerário,
Aussprechen will Unauszusprechendes Quer exprimir o inexprimível,
Und sein gefiihrlich Gut, als war es Wasser, Vertendo e desperdiçando, como se fosse água,
Verschüttet and vergeudet, schlimmer ists O bem perigoso que possui. É pior
Wie Mord, and du, du redest für diesen? Que assassínio. E ainda falas a favor dele?!
Bescheide dich! Sein Schicksal ists. Er hat Resigna-te! É seu destino. Ele o
Es sich gemacht and leben soil, Forjou e como ele,
Wie er, and vergehn wie er, in Weh and Torheit jeder, Quem trai o divino, tudo invertendo,
Der Gõttliches verrãt, and allverkehrend Entregando nas mãos dos homens
Verbo rgenherrschendes O poder oculto,
In Menschenhãnde liefert! Deve viver e morrer na dor e na loucura!
Er muf hinab! Tem de sucumbir!

MEKADES MÉCADES
So teuer büfen muf er, der sein Bestes Deve pagar tão caro quem confia o melhor
Aus volley Seele Sterblichen vertraut? De sua alma plena aos mortais?

HERMOKRATES HERMÓCRATES
Er mag es, doch es bleibt die Nemesis nicht aus, Que o faça, de qualquer modo a Nêmesis ocorrerá.
Mag grofe Worte sagen, mag Diga grandes palavras, avilte
Entwürdigen das keuschverschwiegne Leben, A vida casta e secreta, traga
Ans Tageslicht das Gold der Tiefe ziehn. À luz do dia o ouro do profundo.
Er mag es brauchen, was zum Brauche nicht Use o que não é dado usar
Den Sterblichen gegeben ist, ihn wirds Aos mortais; será o
Zuerst zu Grunde richten — hat es ihm Primeiro a tocar o fundo — já não lhe
Den Sinn nicht schon verwirrt, ist ihm Haverá confundido a mente? Como
Bei seinem Volke denn die voile Seele, Tornou-se selvagem junto a seu povo, ele,
Die Ziirtliche, wie ist sie nun verwildert? Alma plena e sensível?
Wie ist denn nun ein Eigenmâchtiger Como se transformou agora em tirano
Geworden dieser Allmitteilende? Quem tudo com todos dividia?
Der gütge Mann! wie ist er so verwandelt Esse homem benévolo! Como se converteu em
Zum Frechen, der wie seiner Hãnde Spiel Insolente a ponto de considerar deuses e homens
Die Gi tter and die Menschen achtet. Joguete em suas mãos?

256 257
MEKADES MÉCADES
Du redest schrõcklich, Priester, and es dünkt É espantoso o que dizes, sacerdote, tua obscura
Dein dunkel Wort mir wahr. Es sei! Palavra parece-me verdadeira. Assim seja!
Du hast zum Werke mich. Nur weif ich nicht, Podes contar comigo! Só não sei
Wo er zu fassen ist. Es sei der Mann Onde atingi-lo. Não é difícil
So grof.' er will, zu richten ist nicht schwer. Julgar um homem por maior que seja.
Doch miichtig sein des Übermãchtigen, Porém, Hermócrates, parece-me outra coisa
Der, wie ein Zauberer, die Menge leitet, Ter poder sobre um superpoderoso
Es dünkt ein anders mir, Hermokrates. Que, como um mago, conduz a multidão.

HERMOKRATES HERMÓCRATES
Gebrechlich ist sein Zauber, Kind, and leichter, Frágil é seu encanto, criança, e bem mais fácil
Denn nôtig ist, hat er es uns bereitet. Ele tornou nosso caminho.
Es wandte zur gelegnen Stunde sich Seu mau humor mudou na
Sein Unmut um, der stolze stillempõrte Sinn Hora propícia, a mente orgulhosa, em silêncio indignada,
Befeindet itzt sich selber, Mitt er auch Volta-se contra si mesma; tivesse ainda
Die Macht, er achtets nicht, er trauert nur, Poder, não se importaria. Aflige-se apenas
Und siehet seinen Fall, er sucht E contempla sua queda: lembrando o passado
Rückkehrend das verlorne Leben, Procura a vida perdida,
Den Gott, den er aus sich O deus que expulsou com
Hinweggeschwi tzt. Suas conversas.
Versammle mir das Volk; ich klag ihn an, Convoca o povo; acuso-o,
Ruf über ihn den Fluch, erschrecken sollen sie Invocando o anátema, ficarão abismados
Vor ihrem Abgott, sollen ihn Com seu ídolo,
Hinaus verstofen in die Wildnis Expulsá-lo-ão para o deserto
Und nimmer wiederkehrend soil er dort E de lá, jamais retornará,
Mirs büfen, daf er mehr, wie sich gebührt, Expiando por haver revelado aos mortais
Verkündiget den Sterblichen. Mais do que convém.

MEKADES MÉCADES
Doch wes beschuldigest du ihn? Mas de que o acusas?

HERMOKRATES HERMÓCRATES
Die Worte, so du mir genannt, Bastam as palavras
Sie sind genug. Que mencionaste.

258 259
MEKADES MÉCADES
Mit dieser schwachen Klge Queres, com esta frágil acusação,
Willst du das Volk ihm von der Seele ziehn? Arrancar o povo de sua alma?

HERMOKRATES HERMÓCRATES
Zu rechter Zeit hat jede Klge Kraft Na hora certa toda acusação tem força
Und nicht gering ist diese. E esta não é pouca.

MEKADES MÉCADES
Und klagtest du des Mords ihn an vor ihnen, Mesmo se diante deles o acusasses de homicídio,
Es wirkte nichts. Seria inútil.

HERMOKRATES HERMÓCRATES
Dies eben ists! die offenbare Tat De fato! Eles, os supersticiosos
Vergeben sie, die Aberglaubigen, Perdoam a culpa evidente,
Unsichtbar Aergernis für sie Mas o escândalo oculto
Unheimlich muf es sein! ins Auge muf es Os inquieta. Deve atingi-los
Sie treffen, das bewegt die Blõden. Nos olhos, só então os estúpidos se movem.

MEKADES MÉCADES
Es hãngt ihr Herz an ihm, das bi ndigest, Está no coração deles. Não te será
Das lenkst du nicht so leicht.! Sie lieben ihn! Fácil freá-los e dirigi-los! Amam-no!

HERMOKRATES HERMÓCRATES
Sie lieben ihn? ja wohl.! solang er blüht' Amam-no? Pois sim! Enquanto ele floresce
Und glãnzt' E brilha
naschen sie. desejam-no.
Was sollen sie mit ihm, nun er Mas o que farão com ele, agora que
Verdüstert ist, verõdet? Da ist nichts Está triste e desolado? Nada há
Was nützen kõnnt, and ihre lange Zeit Que se possa fazer e abreviar seu longo
Verkürzen, abgeerntet ist das Feld. Tempo. O campo está ceifado
Verlassen liegts, and nach Gefallen gehn E abandonado. Livremente atravessam-no,
Der Sturm and unsre Pfade drüber hin. Nossas sendas e a tempestade.

MEKADES MÉCADES
Empõr ihn nur! empiir ihn! siehe zu! Provoca-o! Provoca-o e verás!

260 261
HERMÓCRATES
HERMOKRATES
Assim o espero, Mécades! Ele é paciente.
Ich hoffe, Mekades! er ist geduldig.

MÉCADES
MEKADES
Sim, com sua paciência ele os conquistará!
So wird sie der geduldige gewinnen!

HERMÓCRATES
HERMOKRATES
De modo algum!
Nichts weniger!

MÉCADES
MEKADES
Nada respeitas! Perderás
Du achtest nichts, wirst dich
Tudo, a ti mesmo, a mim e a ele!
Und mich und ihn und alies verderben.

HERMÓCRATES
HERMOKRATES
Na verdade, não prezo mesmo
Das Trãumen and das Schdumen
Os sonhos e o fervilhar dos homens!
Der Sterblichen, ich acht es wahrlich nicht!
Gostariam de ser deuses, homenageiam-se
Sie mõchten Gõtter sein, and huldigen
A si mesmos como deuses, e isso dura por algum tempo!
Wie Giittern sich, and eine Weile dauerts!
Temes que o sofredor possa
Sorgst du, es mõchte sie der Leidende
Conquistá-los com sua paciência?
Gewinnen, der Geduldige?
Sublevará contra si os tolos,
EmpOren wird er gegen sich die Toren,
No sofrimento dele reconhecerão
An seinem Leide werden sie den teuern
O grave engano; sem misericórdia
Betrug erkennen, werden unbarmherzig
Agradecerão a ele, adorado,
Ihms danken, doss der Angebetete
Por ser até ele um fraco.
Doch ouch ein Schwacher ist, and ihm
Bem o merece, por misturar-se

Geschiehet recht, warum bemengt er sich
A eles,
Mit ihnen,

MÉCADES
MEKADES
Gostaria de não me envolver neste assunto, sacerdote!
Ich wollt, ich war aus dieser Sache, Priester!

HERMÓCRATES
HERMOKRATES
Confia em mim e não temas o que for necessário.
Vertraue mir and scheue nicht, was not ist.

MÉCADES
MEKADES
Ele vem vindo. Busca-te a ti mesmo,
Dort kõmmt er. Suche nur dich selbst,
Espírito desatinado! Estás pondo tudo a perder.
Du irrer Geist! indes verlierst du ales.

262 263
HERMOKRATES HERMÓCRATES
Laf ihn! hinweg! Deixa-o! Vamos embora!

ZWEITER AUFTRITT SEGUNDA CENA

EMPEDOKLES EMPÉDOCLES
(allein) (só)
In meine Stille kamst du leise wandelnd, Acorreste a meu silêncio, perpassando de leve
Fandst drinnen in der Halle Dunkel mich aus, E me achaste no fundo, na escuridão da sala,
Du Freundlicher! du kamst nicht unverhofft Dia benigno; não vieste porém de longe
Und fernher, wirkend fiber der Erde vernahm E de improviso; te senti retornar e
Ich wohl dein Wiederkehren, schõner Tag Agir sobre a terra, belo dia,
Und meine Vertrauten euch, ihr schnellgeschiiftgen E vós, minhas confidentes, forças do alto,
Krãfte der Ha)! — und nahe seid auch ihr Ativas e velozes! Como outrora vos
Mir wieder, seid wie sonst ihr Glücklichen Tenho de novo junto a mim, vós ditosas
Ihr irrelosen Bãume meines Haim! Árvores imperturbáveis do meu bosque!
Ihr ruhetet und wuchst und tãglich trdnkte Crescíeis no silêncio e o manancial celeste
Des Himmels Quelle die Bescheidenen Banhava todos os dias as discretas criaturas.
Mit Licht und Lebensfunken sate Com luz e faísca de vida o Éter
Befruchtend auf die Blühenden der Aether. — Semeava, fecundando florescências.
O innige Natur! ich habe dich Ó íntima Natureza, tenho-te ante
Vor Augen, kennest du den Freund noch, Meus olhos, conheces ainda o amigo,
Den Hochgeliebten, kennest du mich nimmer? O muito amado, ou não me conheces mais?
Den Priester, der lebendigen Gesang, O sacerdote que te ofertava cânticos vivos
Wie frohvergofnes Opferblut, dir brachte? Como sangue do sacrifício vertido com prazer?

O bei den heilgen Brunnen, Ah, junto às nascentes sacras


Wo Wasser aus Adern der Erde Onde as águas, das veias da terra
Sich sammeln and Se unificam e
Am heif?en Tag No dia fogoso
Die Dürstenden erquicken! In mir, Refrigeram os sedentos! Para dentro,
In mir, ihr Quellen des Lebens, strõmtet Para dentro de mim, vós, Fontes da Vida, outrora
Aus Tiefen der Welt ihr einst Confluíeis das profundezas do mundo
Zusammen and es kamen E eles vinham,
Die Dürstenden zu mir — wie ists denn nun? Os sedentos a mim — e agora?

264 265
Vertrauert? bin ich ganz allein? Angustiado?! Estarei tão só?
Und ist es Nacht hier aufen auch am Tage? E aqui fora é noite mesmo de dia?
Der hõhers, denn ein sterblich Auge, sah Quem viu mais alto que todo olhar mortal,
Der Blindgeschlagene tastet nun umher Tateia agora em volta, ferido pela cegueira —
Wo seid ihr, meine Gõtter? Onde estais, meus deuses?
Weh! laft ihr nun Ai! Como um mendigo
Wie einen Bettler mich Me abandonais agora
Und diese Brust E a este peito
Die liebend euch geahndet, Que amando vos pressentia;
Was stofit ihr sie hinab Me impelis ao fundo,
Und schlieft sie mir in schmiihlichenge Bande Forçando o nascido livre, que pertence
Die Freigeborene, die aus sich A si próprio e a mais ninguém, em grilhões ignóbeis
Und keines andern ist? and wandeln soil E apertados? E deve agora continuar
Er nun so fort, der Langverwõhnte, Vagando quem tanto tempo foi mimado,
Der selig oft mit allen Lebenden Ah, quem, feliz, em dias sagrados e belos
Ihr Leben, ach, in heiligschõner Zeit Muitas vezes sentia com todos os viventes, a eles
Sie, wie das Herz gefiihlt von einer Welt, E a sua vida como o coração de um mundo,
Und ihren kõniglichen Gõtterkriiften, O coração de régias forças divinas;
Verdammt in seiner Seele soil er so Tão condenado na alma tem de ser
Da hingehn, ausgestofen? freundlos er, Expulso e desaparecer? Sem amigos, ele,
Der Gõtterfreund? an seinem Nichts O amigo dos deuses? Deleitando-se
Und seiner Nacht sich weiden immerdar Para sempre em seu nada e em sua noite,
Unduldbares duldend gleich den Schwâchlingen, die Suportando o insuportável, como os fracos
Ans Tagewerk im scheuen Tartarus Forjados no Tártaro opressivo,
Geschmiedet sind. Was daherab Na tarefa cotidiana. A que ponto
Gekommen? um nichts? ha! Eines, Caí? Por nada? Ai! Ao menos
Eins muftet ihr mir Lassen! Tor! bist du Uma coisa deveríeis deixar-me! Tolo! És
Derselbe doch and trüumst, als wãrest du Sempre o mesmo e sonhas como se fosses
Ein Schwacher. Einmal noch! noch Einmal Um fraco. Uma vez ainda! Ainda Uma vez
Soil mirs lebendig werden, and ich wills! Devo sentir-me pleno de vida. Eu quero!
Fluch oder Segen! tiiusche nun die Kraft Maldição ou bênção! Jamais te enganes,
Demütiger.! dir nimmer aus dem Busen! O humilde, que não há forças em teu peito!
Weit will ichs um mich machen, tagen soils Quero espaço a minha volta! Amanhecerá
Von eigner Flamme mir! Du sollst Por minha própria chama! Ficarás
Zufrieden werden, armer Geist, Satisfeito, pobre espírito,
Gefangener! sollst frei and grog and reich Prisioneiro, sentindo-te livre, grande
In eigner Welt dich fühlen — E rico em teu próprio mundo —
Und wieder einsam, weh! and wieder einsam? E de novo só? Ai! E de novo só?

266 267
Weh! einsam! einsam! einsam! Ai de mim! Só! Só! Só!
Und nimmer find ich Nunca mais vos
Euch, meine Gõtter, Encontrar, ó deuses,
Und nimmer kehr ich Nem retornar
Zu deinem Leben, Natur! À tua vida, Natureza!
Dein Geãchteter! — weh! hab ich doch auch Expulsaste-me! Ai! É verdade, tampouco
Dein nicht geachtet, dein Te respeitei
Mich überhoben, hast du Tornando-me soberbo! Porém, foste tu, a
Umfangend doch mit den warmen Fittigen einst Abraçar-me um dia com as tuas asas tépidas
Du Zãrtliche! mich vom Schlafe gerettet? E a salvar-me do sono, ó terna!
Den Tõrigen ihn, den Nahrungsscheuen, Piedosa, atraíste com lisonjas o insensato,
Mitleidig schmeichelnd zu deinem Nektar Hesitante em aceitar o alimento, a beber teu néctar
Gelockt, damit er trank und wuchs Para crescer e florescer
Und blüht', und mãchtig geworden und trunken, E, tornando-se potente e ébrio
Dir ins Angesicht hõhnt' — o Geist, Escarnecesse diante de teu rosto — ó espírito,
Geist, der mich groggenãhrt, du hast Espírito, nutrindo-me tanto, criaste
Dir deinen Herrn, hast, alter Saturn, O teu senhor: velho Saturno,
Die einen neuen Jupiter Criaste um novo Júpiter
Gezogen, einen schwãchern nur und frechern. Só mais fraco e insolente,
Denn schmãhen kann die bõse Zunge dich nur, Pois essa língua malévola só pode injuriar-te.
Ist nirgend ein Rãcher, und mug ich denn allein Não existe em lugar algum um vingador, e devo sozinho
Den Hohn und Fluch in meine Seele sagen? Invocar o escárnio e o anátema em minha alma?
Mug einsam sein auch so? Devo estar só nisso também?

DRITTERAUFTRITT TERCEIRA CENA

Pausanias. Empedokies Pausânias. Empédocles

EMPEDOKLES EMPÉDOCLES
Ich fühle nur des rages Neige, Freund.' Sinto que o dia declina no poente, amigo!

268 269
Und dunkel will es werden mir and kalt! E será escuro e frio para mim!
Es gehet rückwarts, lieber! nicht zur Ruh, É como retornar, caro, não ao repouso,
Wie wenn der beutefrohe Vogel sich Como o pássaro que, feliz pela presa,
Das Haupt verhüllt zu frischer erwachendem Esconde a cabeça em um sonho beato e restaurador
Zufriednem Schlummer, anders ists mit mir! Até o despertar. Diverso é meu destino!
Erspare mir die Klage! laf es mir! Poupa-me os lamentos. Deixa-os para mim!

PAUSANIAS PAUSÂNIAS
Sehr fremde bist du mir geworden, Como te tornaste estranho,
Mein Empedokles! kennest du mich nicht? Meu Empédocles! Não me conheces?
Und kenn ich nimmer dich, du Herrlicher? — Ou sou eu a não mais te conhecer, esplêndido —
Du konntst dich so verwandeln, konntest so Como pudeste mudar tanto, nobre vulto,
Zum Rãtsel werden, edel Angesicht, Tornando-te um enigma,
Und so zur Erde beugen dal' der Gram E como pode a angústia prostrar tanto
Die Lieblinge des Himmels? bist du denn Os prediletos do céu? Acaso não és um
Es nicht? und sieh! wie danken dir es all, Deles? Vê! Como todos te agradecem,
Und so in goldner Freude miichtig war Em alegria sublime não houve outro
Kein anderer, wie du, in seinem Volke. Tão potente como tu entre seu povo.

EMPEDOKLES EMPÉDOCLES
Sie ehren mich? o sag es ihnen doch, Honram-me? Oh, dize a eles
Sie sollens lassen — Übel steht Que desistam — os ornamentos
Der Schmuck mir an and welkt Não condizem comigo e murcha
Das grüne Laub doch auch Também a verde folhagem
Dem ausgerif.'nen Stamme! No tronco desarraigado!

PAUSANIAS PAUSÂNIAS
Noch stehst du ja, und frisch Gewiisser spielt Ainda estás aí. A água fresca borbulha
Um deine Wurzel dir, es atmet mild Em tuas raízes e, suave, o ar
Die Luft um deine Gipfel, nicht von Vergãnglichem Exala em torno de teu cume, mas teu peito não
Gedeiht dein Herz; es waken fiber dir Se nutre do efêmero; forças bem mais imortais
Unsterblichere Kriáfe. Reinam acima de ti.

EMPEDOKLES EMPÉDOCLES
Du mahnest mich der Jugendtage, lieber! Caro, tu me lembras os dias da juventude!

270 271
PAUSÂNIAS
PAUSANIAS
Ainda mais bela parece a metade da vida.
Noch schõner dünkt des Lebens Mitte mir.

EMPÉDOCLES
EMPEDOKLES
E quando esta declina
Und gerne sehen, wenn es nun
Os agonizantes gostam de ainda
Hinab sich neigen will, die Augen
Uma vez olhar para trás,
Der Schnellhinschwindenden noch Einmal
Agradecidos. Ah, aquele tempo!
Zurück, der Dankenden. O jene Zeit!
Vós, delícias do amor, quando a alma,
Ihr Liebeswonnen, da die Seele mir
Dormitando como criança, foi despertada
Von Gõttern, wie Endymion, geweckt,
Pelos deuses, como Endimião, abriu-se
Die kindlich schlummernde, sich õffnete,
E sentiu vivos os sempre jovens e
Lebendig sie, die Immerjugendlichen,
Grandes gênios da vida —
Des Lebens grofe Genien
S o 1 esplêndido! Os homens não me haviam
Erkannte — schõne So n n e ! Menschen hatten mich
Ensinado, mas o meu próprio coração
Es nicht gelehrt, mich trieb mein eigen Herz
Que ama o imortal, impeliu-me aos imortais,
Unsterblich liebend zu Unsterblichen,
A ti, a ti, l u z silente; nada me parecia
Zu dir, zu dir, ich konnte Gõttlichers
Mais divino. E como tu
Nicht finden, stilles Licht! and so wie du
Não poupas a vida em teu dia,
Das Leben nicht an deinem Tage sparst
E despreocupado cumpres a plenitude
Und sorgenfrei der goldnen Fülle dich
Dourada, assim também eu, que te pertenço,
Entledigest, so gõnnt auch ich, der Deine,
Concedia com alegria o melhor de minha alma
Den Sterblichen die beste Seele gern
Aos mortais e meu coração liberto,
Und furchtlosoffen gab
Sem medo, como tu, se entregava à t e r r a grave,
Mein Herz, wie du, der ernsten Er de sich,
Plena de destino; tantas vezes, em hora de
Der schicksalvollen; ihr ein Jünglingsfreude
Confidência, prometi-lhe, em alegria juvenil,
Das Leben so zu eignen bis zuletzt,
Dedicar-lhe a vida inteira até o fim;
Ich sagt ihrs oft in trauter Stunde zu,
Assim estreitei com ela o pacto mortal.
Band so den teuern Todesbund mit ihr.
Perpassava então outro sussurro no bosque consagrado
Da rauscht' es anders, denn zuvor, im Hain,
E suavemente ressoavam as nascentes de suas montanhas —
Und zãrtlich tõnten ihrer Berge Quellen —
Todas as tuas alegrias, t e r r a! Genuínas
All deine Freuden, Er de! wahr, wie sie,
E cálidas, plenas, amadurecendo em fadiga e amor,
Und warm and voll, aus Müh and Liebe reifen,
Todas as tuas alegrias me deste. E muitas vezes,
Sie alle gabst du mir. Und wenn ich oft
Ao meditar no alto da montanha silenciosa, atônito
Auf stiller Bergeshõhe saf and staunend
Ante o mutável equívoco humano,
Der Menschen wechselnd Irrsal übersann,
Por demais turbado pelas tuas metamorfoses
Zu tief von deinen Wandlungen ergriffen,
E pressentindo próximo meu próprio declínio;
Und nah mein eignes Welken ahndete,
Ao respirar o Éter que envolvia o peito
Dann atmete der A ether, so wie dir,

272 273
Mir heilend um die liebeswunde Brust, Ferido de amor, curei-me como a ti mesma, [ terra , ]
Und, wie Gewõlk der Flamme, liiseten E, como nuvens de labareda, minhas preocupações
Im hohen Blau die Sorgen mir Bich auf. Dissolviam-se no azul sublime.

PAUSANIAS PAUSÂNIAS
O Sohn des Himmels! Filho do céu!

EMPEDOKLES EMPÉDOCLES
Ich war es! ja! and mücht es nun erzãhlen, Sim, o fui! E agora, eu, mísero,
Ich Armer! mücht es Einmal noch Gostaria de contar e evocar
Mir in die Seele rufen, Ainda Uma vez,
Das Wirken deiner Geniuskrãfte A eficácia das forças esplêndidas
Der Herrlichen deren Genof ich war, o Natur, De teu gênio, das quais eu era companheiro, ó Natureza!
Daf mir die stumme todesõde Brust Assim pudesse meu peito calado nas areias da morte
Von deinen Tõnen alien widerkliinge, Ressoar teus múltiplos acordes;
Bin ich es noch? o Leben! and rauschten sie mir Exist& O vida! E sussurravam para mim
All deine geflügelten Melodien and hõrt Todas as tuas aladas melodias e eu sentia
Ich deinen alten Einklang, grof?e Natur? A tua antiga harmonia, grande Natureza!
Ach! ich der Einsame, lebt ich nicht Ah! Eu, o abandonado, não vivia
Mit dieser heilgen Erd and diesem Licht Com esta terra consagrada, com esta luz
Und dir, von dem die Seele nimmer lãft, E contigo, a quem a alma jamais renuncia,
O Vater Aether, and mit allen Lebenden Ó pai Éter e com todos os viventes
Der Gõtter Freund im gegenwiirtigen No presente Olimpo, eu, o amigo
Olymp? ich bin heraus geworfen, bin Dos deuses? Fui expulso, estou
Ganz einsam, and das Web ist nun Completamente só, e agora o sofrimento é
Mein Tagsgefahrt' and Schlafgenosse mir. Meu companheiro diurno e convive comigo no sono.
Bei mir ist nicht der Segen, geh! Não há bênção para mim! Vai!
Geh! frage nicht! denkst du, ich trüum? Vai! Não perguntes! Pensas que estou sonhando?
O sieh mich an! and wundre des dich nicht, Olha-me! E não te espantes,
Du Guter, daf ich daherab Se me precipitei tão
Gekommen bin; des Himmels Siihnen ist, Baixo, ó benévolo; aos filhos do céu está
Wenn überglücklich sie geworden sind, Destinado um anátema singular
Ein eigner Fluch beschieden. Quando transbordam de felicidade.

PAUSANIAS PAUSÂNIAS
Ich duld es nicht, Tu? Com tais discursos?!
Weh! solche Reden! du? ich duld es nicht. Não posso suportá-los! Não posso!
Du solltest so die Seele dir und mir Não deverias angustiar assim

274 27 5
Tua alma e a minha. Parece-me mau agouro
Nicht ãngstigen. Ein biises Zeichen dünkt Que o espírito dos fortes, sempre feliz,
Es mir, wenn so der Geist, der immerfrohe, sich Se anuvie deste modo.
Der Miichtigen umwõlket.
EMPÉDOCLES
EMPEDOKLES Percebes? Significa que ele logo
Fühlst dus? Es deutet, daft' er bald Se precipitará na tempestade.
Zur Erd hinab im Ungewitter muf'
PAUSÂNIAS
PAUSANIAS Recupera o ânimo, caríssimo!
O laf' den Unmut, lieber! O deuses da morte, o que vos fez este puro
O dieser, was tat er euch, dieser Reine, Para sua alma obscurecer-se
Daf' ihm die Seele so verfinstert ist, A tal ponto?! Em parte alguma os mortais
Ihr Todesgótter! haben die Sterblichen denn Têm algo de próprio? E o terrível
Kein Eigenes nirgendswo, and reicht Os atinge até o coração?
ans Herz,
Das Furchtbare denn ihnen bis E o destino eterno reina também no peito
Und herrscht es in der Brust der Stãrkeren noch Dos mais fortes? Refreia a angústia,
Das ewige Schicksal? Biindige den Gram Exerce tua força; és mais
Und übe deine Macht, bist du es doch Potente que os outros, reconhece
Der mehr vermag, denn andere, o sieh No meu amor quem és,
An meiner Liebe, wer du bist, Pensa em ti e vive!
Und denke dein, and lebe!
EMPÉDOCLES
EMPEDOKLES Não conheces a mim, a ti, nem morte nem vida.
Du kennest mich and dich and Tod and Leben nicht.
PAUSÂNIAS
PAUSANIAS Conheço pouco a morte
Den Tod, ich kenn ihn wenig nur, Pois pouco tenho pensado nela.
Denn wenig dacht ich seiner.
EMPÉDOCLES
EMPEDOKLES Estar só
Allein zu sein, E sem deuses, é a morte.
Und ohne Gõtter, ist der Tod.
PAUSÂNIAS
PAUSANIAS Deixa-a! Conheço- t e , pelas tuas açôes
Laf' ihn, ich kenne dich, an deinen Taten Te reconheci; em sua força
Erkannt ich dich, in seiner Macht Discerni teu espírito e seu mundo;
Erfuhr ich deinen Geist, and seine Welt, Muitas vezes uma palavra tua dita
Wenn oft ein Wort von dir
277
276
No instante santo
Im heilgen Augenblick
Dava-me vida por muitos anos:
Das Leben vieler Jahre mir erschuf Para mim, jovem, uma época
Dag eine neue groge Zeit von da
Nova e grande se iniciava. Como os mansos ce rv os
Dem Jünglinge begann. Wie zahmen Hirschen,
Recordam o país natal, quando ao longe
Wenn ferne rauscht der Wald and sie
Sussurra a fl oresta, muitas vezes bateu meu coração,
Der Heimat denken, schlug das Herz mir oft,
Ao falares da ventura de origens remotas e distantes.
Wenn du vom Glück der alten Urwelt sprachst,
Conhecias o dia puro e diante de ti se abria
Der reinen Tage kundig and dir lag
Em sua inteireza o destino; não traçaste
Das ganze Schicksal offen, zeichnetest
Ante meus olhos grandes
Du nicht der Zukunft groge Linien
Linhas do futuro, como o olhar seguro do artista
Mir vor das Auge, sichern Blicks, wie Künstler Dispondo um elemento que falta ao quadro inteiro?
Ein fehlend Glied zum ganzen Bilde reihn?
Não conheces as forças da natureza,
Und kennst du nicht die Krãfte der Natur,
Que diriges como nenhum outro mortal
Dag du vertraulich wie kein Sterblicher
Com poderio íntimo e secreto?
Sie, wie du willst, in stiller Herrschaft lenkest?
EMPÉDOCLES
EMPEDOKLES
Certo. Tudo conheço e tudo posso dominar.
Recht! alies weig ich, alies kann ich meistern.
Como se fosse obra de minhas mãos,
Wie meiner Hãnde Werk, erkenn ich es
Senhor dos espíritos, reconheço tudo
Durchaus, and lenke, wie ich will
O que vive e o dirijo como quero.
Ein Herr der Geister, das Lebendige.
O mundo me pertence e todas as suas forças
Mein ist die Welt, and untertan and dienstbar
Me são submissas e serviçais,
Sind alle Krãfte mir,
a Natureza, necessitando
zur Magd ist mir
Um senhor, tornou-se minha se rv a.
Die herrnbedürftige Natur geworden.
E se ainda recebe honras, a mim o deve.
Und hat sie Ehre noch, so ists von mir.
O que seria do céu, do mar
Was wãre denn der Himmel and das Meer
Das ilhas e estrelas, de tudo o que se
Und Inseln and Gestirn, and was vor Augen
Descortina ante os olhos dos homens, o que seria
Den Menschen alies liegt, was war es,
Desta cítara calada, se eu não lhe infundisse
Dies tote Saitenspiel, gab ich ihm Ton
Som, alma e palavras? O que seriam
Und Sprach and Seele nicht? was sind
Os deuses e seu espírito, se eu não os
Die Gõtter and ihr Geist, wenn ich sie nicht
Proclamasse? Dize-me, agora, quem sou eu?
Verkündige? nun! sage, wer bin ich?

PAUSÂNIAS
PAUSANIAS
Escarnece com amargura de ti mesmo e de tudo
Verhõhne nur im Unmut dich and alies
Que torna esplêndidos os mortais:
Was Menschen herrlich macht,

279
278
Ihr Wirken und ihr Wort, verleide mir Sua eficácia e palavra; turva-me
O ânimo no peito, apavorando-me como se fora
Den Mut im Busen, schrõcke mich zum Kinde
Uma criança. Mas, fala afinal! Odeias a ti
Zurück. O sprich es nur heraus! du hassest dich
E a quem te ama e gostaria de assemelhar-se a ti;
Und was dich liebt und was dir gleichen mõcht;
Queres ser diverso do que és, não te contentas
Ein anders willst du, denn du bist, genügst dir
Com tua honra e te sacrificas ao desconhecido,
In deiner Ehre nicht und opferst dich an Fremdes.
Não queres permanecer, queres
Du willst nicht bleiben, willst
Zu Grunde gehen. Ach! in deiner Brust Sucumbir. Ai! Em teu peito há

Ist minder Ruhe, denn in mir. Menos paz do que no meu.

EMPEDOKLES EMPÉDOCLES
Unschuldiger! Inocente!

PAUSÂNIAS PAUSÂNIAS
De que te acusas?
Und dich verklagst du?
O que se passa, afinal? Não faças que tua dor
Was ist es denn? o mache mir dein Leiden
Continue sendo um enigma para mim e me atormente!
Zum Rãtsel Binger nicht! mich peinigets.

EMPEDOKLES EMPÉDOCLES
Mit Ruhe wirken soil der Mensch, Com calma deve agir o homem
Que pensa, ao manifestar a vida,
Der sinnende, soil en tfaltend
Deve promovê-la a seu redor e torná-la serena,
Das Leben um ihn fõrdern and heitern
plena de alto significado,
denn hoher Bedeutung voll,
Repleta de força silenciosa; a grande Natureza
Voll schweigender Kraft umfc ngt
Acolhe quem a pressagia a fim de plasmar
Den ahnenden, daf er bilde die Welt,
Die groffe Natur, O mundo
Daf? ihren Geist hervor er rufe, strebt E evocar o seu espírito; das
Tief wurzelnd Raízes profundas
Das gewaltige Sehnen ihm auf. Nele surge a aspiração poderosa.
Und viel vermag er and herrlich ist Muito ele pode e magnífica é
Sein Wort, es wandelt die Welt Sua palavra, transforma o mundo
Und unter den Hiinden E entre as mãos

281
280
DER SCHLUSS DES ZWEITENAKTES FINAL DO SEGUNDO ATO
( Zweiter Fassung) (da Segunda Versão)

PANTHEA PANTEIA

Hast du doch, menschlich Irrsai! Equívoco humano, tu, insignificante,


Ihm nicht das Herz verwõhnt, Não lhe terás viciado
Du Unbedeutendes! was gabst O coração? Mísero, o que
Du Armes ihm? nun da der Mann Lhe deste? Agora que este homem
Zu seinen Gõttern fort sich sehnt, Anseia retornar a seus deuses,
Wundern sie sich, ais hãtten sie Os tolos se admiram, como se
Die Tiirigen ihm, die hohe Seele, geschaffen. Eles houvessem criado sua alma sublime.
Umsonst nicht sind, o, die du alies ihm Ó Natureza, não é em vão que lhe
Gegeben, Natur! Deste tudo!
Vergãnglicher deine Liebsten, denn andre! Quem mais amas é mais efêmero que os outros.
Ich weif es wohl! Bem sei!
Sie kommen and werden grof and keiner sagt, Vêm, tornam-se poderosos e ninguém sabe dizer
Wie sie's geworden, so entschwinden sie auch, Como e, por sua vez, também eles desaparecem,
Die Glücklichen! wieder, ach! Taft sie doch. Os ditosos! Ai! Deixai-os, então!

DELIA DELIA
Ists denn nicht schõn, Não é belo
Bei Menschen wohnen; es weif Viver entre os homens? Meu coração
Mein Herz von andrem nicht, es ruht Não sabe de outra coisa e se aquieta
In diesem Einen, aber traurig dunkel droht Neste Ser único, mas diante de meus olhos
Vor meinem Auge das Ende O fi m do incompreensível
Des Unbegreiflichen, and du heifest ihn auch E iminente, triste e obscuro e também tu, Panteia,
Hinweggehn, Panthea? O exortas a partir?

PANTHEA PANTEIA
Ich mug. Wer will ihn binden? Devo fazê-lo. Quem o poderia reter,

282 283
Dizer-lhe: és meu?
Ihm sagen, mein bist du,
Pleno de vida, só pertence a si mesmo
Ist doch sein eigen der Lebendige,
E apenas o espírito é sua lei.
Und nur sein Geist ihm Gesetz,
E deveria acaso permanecer,
Und soil er, die Ehre der Sterblichen
Para salvar a honra dos
Zu retten, die ihn geschmãht,
Mortais que o ultrajaram,
Verweilen, wenn ihm
Quando o pai, o Éter,
Der Vater die Arme
Lhe abre os braços?
Der Aether õffnet?

DELIA
DELIA
Vê! A terra também é esplêndida
Sieh! herrlich auch
E amiga.
Und freundlich ist die Erde.

PANTEIA
PANTHEA
Sim, esplêndida e agora mais que nunca.
Ja, herrlich, und herrlicher itzt.
Um homem audaz dela
Es darf nicht unbeschenkt
Não pode separar-se sem dons.
Von ihr ein Kühner scheiden.
Ele talvez se demore ainda
Noch weilt er wohl
Em uma de suas verdes colinas, ó terra
Auf deiner grünen Hõhen einer, o Erde
Mutável!
Du Wechselnde!
E olhe além do ondular dos montes,
Und siehet fiber die wogenden Hügel
Lá embaixo, o mar livre
Hinab ins freie Meer! und nimmt
E desfrute a última alegria. Talvez nunca mais
Die letzte Freude sich. Vielleicht sehn wir
O vejamos. Meiga menina!
Ihn nimmer. Gutes Kind!
Por certo, isto também me atinge e gostaria que
Mich trifft es freilich auch und geme mõcht
Não fosse assim, porém envergonho-me disso.
Ichs anders, doch ich schiime dessen mich.
Ele cometerá tal gesto: não será pois sagrado?
Tut er es ja. Ists so nicht heilig?

DELIA
DELIA
Quem é esse jovem
Wer ist der Angling, der
Que vem descendo a montanha?
Vom Berge dort herabkõmmt?

PANTHEA PANTEIA
Pausanias. Ach! müssen wir so Pausânias. Ai, assim
Teremos de reencontrar-nos, órfão de pai?
Uns wiederfinden, Vaterloser?

284 285
ULTIMA CENA DO SEGUNDO ATO
LETZTER AUFTRITT DES ZWEITEN AKTES

Pausânias. Panteia. Délia


Pausanias. Panthea. Delia

PAUSÂNIAS
PAUSANIAS
Onde ele está, ó Panteia?
Wo ist er? o Panthea!
Tu o veneras e também procuras por ele,
Du ehrst ihn, suchest ihn auch,
Queres vê-lo ainda Uma vez,
Willst Einmal noch ihn sehn,
O viandante terrível, a quem
Den furchtbarn Wanderer, ihn, dem allein
É concedido percorrer sozinho com glória a senda
Beschieden ist, den Pfad zu gehen mit Ruhm,
Que mais ninguém trilha sem anátema.
Den ohne Fluch betritt kein anderer.

PANTEIA
PANTHEA
Fazer o que todos temem
Ists fromm von ihm and grof
É para ele algo piedoso e grande.
Das Allgefürchtete?
Onde estará?
Wo ist er?
PAUSÂNIAS
PAUSANIAS
Disse que me afastasse, no entanto, não
Er sandte mich hinweg, indessen sah
Tornei a vê-lo. No alto da
Ich ihn nicht wieder. Droben rief
Montanha gritei, chamando-o, em vão.
Ich im Gebürg ihn, doch ich fand ihn nicht.
Voltará por certo. Prometeu-me
Er kehrt gewif Bis in die Nacht
Com afeto esperar até o anoitecer.
Versprach er freundlich mir zu bleiben.
Ah, se viesse! Mais veloz que uma seta
O kãm er! Es flieht, geschwinder, wie Pfeile
Se evola a hora mais desejada.
Die liebste Stunde vorüber.
Mas seremos ainda felizes com ele
Denn freuen werden wir uns noch mit ihm,
Tu, Panteia, e ela,
Du wirst es, Panthea, und sie,
A nobre estrangeira, que o verá
Die edle Fremdlingin, die ihn
Apenas Uma vez, um esplêndido meteoro.
Nur Einmal sieht, ein herrlich Meteor.
Chorais, ouvistes
Von seinem Tode, ihr Weinenden,
Falar de sua morte
Habt ihr gehõrt?
E entristecestes? Olhai-o,
Ihr Trauernden! o sehet ihn
O sublime em seu florir,
In seiner Blüte, den Hohen,
Se acaso a tristeza
Ob trauriges nicht
E o que aos mortais parece terrível, não se
Und was den Sterblichen schrõcklich dünkt,
Suaviza ante seu olhar bem-aventurado.
Sich siinftige vor seligem Auge.

287
286
DELIA
DELIA Como o amas! E em vão lhe pediste,
Wie liebst du ihn! and batest du umsonst Ao homem austero? Mais forte que ele é
Den Ernsten? mãchtger ist, denn er A prece, jovem! Terias alcançado
Die Bitte, Angling! Und ein schõner Sieg Uma bela vitória!
Wars dir gewesen!
PAUSÂNIAS
PAUSANIAS Como eu teria podido? Ele
Wie konnt ich? trifft Toca minha alma ao
Er doch die Seele mir, wenn er Dizer-me sua vontade.
Antwortet, was sein Will ist. Mesmo uma sua recusa proporciona ventura.
Denn Freude nur gibt sein Versagen. E assim! Quanto mais o homem
.

Dies ists and es tõnt, je mehr auf Seinem Prodigioso insiste em seu desígnio,
Der Wunderbare besteht, Mais fundo lhe ressoa o coração. Vã
Nur tiefer das Herz ihm wider. Es ist Persuasão não é, acredita-me,
Nicht eitel Überredung, glaub es mir, Quando ele dispõe
Wenn er des Lebens sich De sua vida.
Bemiichtiget. Muitas vezes, quando ele, modesto
Oft wenn er stille war E grande, ficava
In seiner Welt, Silencioso em seu mundo, eu o olhava
Der Hochgenügsame, sah ich ihn Com obscuro pressentimento, viva e
Nur dunkel ahnend, rege war, Plena era minha alma, mas não conseguia
Und volt die Seele mir, doch konnt ich nicht Senti-la e quase me angustiava
Sie fiihlen, and es iingstigte mich fast A presença do intangível.
Die Gegenwart des Unberührbaren. Mas a palavra decisiva saía-lhe dos lábios,
Doch kam entscheidend von seiner Lippe das Wort, Então ressoava um céu de ventura nele
Dann tõnt' ein Freudenhimmel nach in ihm E em mim e sem resistir
Und mir and ohne Widerred Abandonava-me, sentindo-me porém mais livre.
Ergriff es mich, doch fühlt ich nur mich freier. Ah, pudesse ele enganar-se, no mais íntimo
Ach, kõnnt er irren, inniger Eu o reconheceria como o verdadeiro e inesgotável.
Erkennt ich daran den unerschõpflich Wahren Ao morrer, mais clara se alçará de suas cinzas
Und stirbt er, so flammt aus seiner Asche nur heller A chama do gênio.
Der Genius mir empor.
DELIA
DELIA Alma nobre! A morte do sublime
Dich entzündet, grof?e Seele! der Tod Te exalta, mas os corações
Des Grof.'en, aber es sonnen Dos mortais também gostam de aquecer-se
Die Herzen der Sterblichen auch Em luz tépida e fixam
An mildem Lichte sich gern, and heften

289
288
Die Augen an Bleibendes. O sage, was soil O olhar no que permanece. Dize-me, o que poderá
Noch leben and dauern? Die Stillsten reift Ainda viver e durar? O destino
Das Schicksal doch hinaus and haben Desenraiza os homens mais calados e se,
Sie ahnend sich gewagt, verstõft Afeiçoados a ele, ousaram, plenos de presságios,
Es bald die Trauten wieder, and es stirbt Logo são rechaçados para fora e a juventude
An ihren Hoffnungen die Jugend. Morre com a sua esperança.
In seiner Blüte bleibt Nada de mortal permanece
Kein Lebendes — ach! and die Besten, Em seu florir — Ai! E também os melhores
Noch treten zur Seite der tilgenden, Passam para o lado dos deuses da morte,
Der Todesgõtter, auch sie and gehen dahin Os exterminadores, também eles. E se vão
Mit Lust and machen zur Schmach es uns Com alegria, envergonhando-nos
Bei Sterblichen zu weilen! De permanecer entre os mortais!

PAUSANIAS PAUSÂNIAS
Verdammest du Condenas

DELIA DELIA
O warum liissest du Natureza, por que deixas
Zu sterben deinen Helden Teus heróis morrerem
So leicht es werden, Natur? Tão fácil?
Zu gem nur, Empedokles, Estás contente, contente demais
Zu gerne opferst du dich, De sacri fi car-te, Empédocles!
Die Schwachen wirft das Schicksal um, and die andern O destino abate os fracos e quanto aos outros,
Die Starken achten es gleich, zu fallen, zu stehn, Aos fortes, é indiferente sucumbir ou permanecer,
Und werden, wie die Gebrechlichen. Tornando-se no fim como os fracos.
Du Herrlicher! was du littest, O que sofreste, sublime,
Das leidet kein Knecht Nenhum servo poderá sofrer,
Und ãrmer denn die andern Bettler E percorreste esta terra
Durchwandertest du das Land, Mais pobre que qualquer outro mendigo.
Jet! freilich wahr ists, Sim, é bem verdade,
Nicht die Verworfensten Os mais abjetos não são
Sind elend, wie eure Lieben, wenn einmal Tão miseráveis como os vossos amados, ó deuses,
Schmiihliches sie berührt, ihr Gõtter. Quando a ignomínia os toca.
Schõn hat ers genommen. Ele aceitou de bom grado seu destino.

290 291
PAUSÂNIAS
PAUSANIAS
Assim festivo desce
So gehet festlich hinab
O astro e resplendecem
Das Gestirn and trunken
Os vales ébrios de sua luz?
Von seinem Lichte gliinzen die Tiler?

PANTEIA
PANTHEA
Por certo, desce festivo —
Wohl geht er festlich hinab —
O homem austero, teu dileto, ó Natureza!
Der Ernste, dein Liebster, Natur!
A tua vítima, fiel.
Dein treuer, dein Opfer!
Oh, os que temem a morte, não te amam,
O die Todesfzirchtigen lieben dich nicht,
A preocupação os engana e lhes venda
Tiiuschend fesselt ihnen die Sorge
Os olhos, seus corações
Das Aug, an deinem Herzen
Não batem mais contra o teu, separados
Schliigt dann nicht mehr ihr Herz, sie verdorren
De ti, murcham — Ó todo sagrado!
Geschieden von dir — o heilig All!
Vivente! Profundo! Para agradecer-te
Lebendiges! inniges! dir zum Dank
E testemunhar-te, tu, imortal,
Und daf er zeuge von dir, du Todesloses!
O audaz lança sorrindo as suas pérolas
Wirft liichelnd seine Perlen ins Meer,
Ao mar do qual vieram.
Aus dem sie kamen, der Kúhne.
Assim tinha de acontecer.
So mutt es geschehn.
Assim exigem o espírito
So will es der Geist
E o tempo da maturação,
Und die reifende Zeit,
Pois nós, cegos, necessitávamos
Denn Einmal bedurften
Uma vez o milagre.
Wir Blinden des Wunders.

294 295
A MORTE DE EMPÉDOCLES

TERCEIRA VERSAO

DER TOD DES EMPEDOKLES

DRITTE FASSUNG

PERSONAGENS PERSONEN

Empédocles Empedokles
Pausânias, seu amigo Pausanias, sein Freund
Manes, um egípcio Manes, ein Aegyptier
Strato, senhor de Agrigento, Strato, Herr von Agrigent,
irmão de Empédocles Bruder des Empedokles
Panteia, sua irmã Panthea, seine Schwester
Séquito Gefolge
Coro de Agrigentinos Chor der Agrigentiner
ERSTER AKT PRIMEIRO ATO

ERSTER AUFTRITT PRIMEIRA CENA

EMPEDOKLES EMPÉDOCLES
(vom Schlaf erwachend) (despertando)
Euch ruf ich fiber das Gefild herein Esquivando-se das lentas nuvens, ó raios ardentes
Vom langsamen Gewõlk, ihr heigen Strahlen Do meio-dia, os mais maduros, eu vos chamo
Des Mittags, ihr Gereiftesten, dal? ich Aqui, sobre os campos: fazei-me
An euch den neuen Lebenstag erkenne. Conhecer por vós o novo dia de vida.
Denn anders ists wie sonst! vorbei, vorbei Tudo mudou! Foram-se
Das menschliche Bekümmernis! als wüchsen As aflições humanas! Como se
Mir Schwingen an, so ist mir wohl and leicht Me crescessem asas, sinto-me bem e leve
Hier oben, hier, and reich genug and froh Aqui no alto, aqui, e rico, alegre,
Und herrlich wohn ich, wo den Feuerkelch Vivo esplendidamente, onde o pai Etna,
Mit Geist gefiillt bis an den Rand, bekriinzt Acolhedor, me oferece o cálice de fogo,
Mit Blumen, die er selber sich erzog, Pleno até às bordas de espírito, coroado
Gastfreundlich mir der Vater Aetna beut. De flores que ele mesmo cultivou.
Und wenn das unterirdische Gewitter E quando a tempestade subterrânea
Itzt festlich auferwacht zum Wolkensitz Desperta agora festivamente do profundo e se lança
Des nahverwandten Donnerers hinauf Rumo às nuvens, morada do fraterno
Zur Freude fliegt, da wãchst das Herz mir auch. Trovão, então, meu coração também se eleva.
Mit Adlern sing ich hier Naturgesang. Com as águias canto à Natureza.
Das dacht er nicht, da? in der Fremde mir Quando ele, meu régio irmão me expulsou
Ein anders Leben blühte, da er mich Com ignomínia de nossa cidade,
Mit Schmach hinweg aus unsrer Stadt verwies, Não imaginava que florescesse para mim
Mein kôniglicher Bruder. Ach! er wugt es nicht, No exílio uma vida nova. Ah, não sabia,
Der kluge, welchen Segen er bereitete, Ele, o inteligente, que bênção me proporcionava
Da er vom Menschenbande los, da er mich frei Desobrigando-me dos laços humanos, declarando-me
Erklãrte, frei, wie Fittige des Himmels. Livre, livre como asas no céu.
Drum gait es auch! Drum ward es auch erfüllt.^ Por isso tudo foi válido! Por isso tudo se cumpriu!
Mit Hohn and Fluch drum waffnete das Volk, Eis porque munido das armas do escárnio e da maldição, o povo
Das mein war, gegen meine Seele sich Que era meu, armou-se contra minha alma,
Und stief mich aus and nicht vergebens gellt' Expulsou-me e não em vão, ressoam
Im Ohre mir das hunderstimmige, Em meus ouvidos as centenas de vozes,
Das nüchterne Gelüchter, da der Triiumer, A risada sem sentido, eu, o sonhador,
Der nãrrische, des Weges weinend ging. O tolo, me afastava chorando pelo caminho.

298 299
Pelo juiz dos mortos! Bem o mereci!
Beim Totenrichter! wohl hab ichs verdient!
E foi salutar; o veneno cura os enfermos
Und heilsam wars; die Kranken heilt das Gift
E um pecado pune o outro.
Und eine Sünde straft die andere.
Pois muito pequei desde a juventude,
Denn viel gesündiget hab ich von Jugend auf,
Nunca amei os homens com calor humano,
Die Menschen menschlich nie geliebt, gedient,
Servia mais às cegas como só água e fogo podem se rvir,
Wie Wasser nur and Feuer blinder dient,
Eis porque também eles não me trataram
Darum begegneten auch menschlich mir
Humanamente, ultrajando
Sie nicht, o darum schiindeten sie mir
Meu rosto e considerando-me como a ti,
Mein Angesicht, and hielten mich, wie dich
O Natureza que tudo toleras! Agora sou teu!
Allduldende Natur! du hast mich auch,
Pertenço-te, entre ti
Du hast mich, and es dãmmert zwischen dir
E mim renasce o antigo amor,
Und mir die alte Liebe wieder auf,
Tu me chamas e me atrais para perto, sempre mais perto.
Du rufit, du ziehst mich nah and nãher an.
Esquecimento — sinto-me livre, feliz
Vergessenheit — o wie ein glücklich Segel
Como um barco à vela no infinito, onda da vida,
Bin ich vom Ufer los, des Lebens Welle
eu mesmo,
mich von selbst
E quando a onda subir e seu braço
Und wenn die Woge wãchst, and ihren Arm
Materno me envolver, o que mais
Die Mutter um mich breitet, o was mõcht
Poderia temer? Outros, por certo, podem
Ich auch, was mõcht ich fürchten. Andre mag
Amedrontar-se com ela: para eles é a morte.
Es freilich schrõcken. Denn es ist ihr Tod.
Conheço-a bem, ó chama encantadora,
O du mir wohlbekannt, du zauberische
Temível. Como vives silenciosamente
Furchtbare Flamme! wie so stille wohnst
Em toda a parte, temes a ti mesma
Du da and dort, wie scheuest du dich selbst
E te esquivas, alma de tudo o que vive!
Und fliehest dich, du Seele des Lebendigen!
Espírito cativo, tornas-te vivente e
Lebendig wirst du mir and offenbar,
Manifesto a mim, não mais te escondes
Mir birgst du dich, gebundner Geist, nicht Binger,
E te tornas claro, pois nada temo.
Mir wirst du helle, denn ich fiircht es nicht.
Quero morrer. É meu direito.
Denn sterben will ja ich. Mein Recht ist dies.
Ó deuses, tudo em torno já é aurora
Ha! Glitter, schon, wie Morgenrot, ringsum
E lá embaixo passa rugindo a antiga ira!
Und drunten tost der alte Zorn vorüber!
Longe de mim lamentações!
Hinab hinab ihr klagenden Gedanken!
Coração ansioso, já não preciso mais de ti,
Sorgfiiltig Herz! ich brauche nun dich nimmer.
Nem é possível hesitar. O deus
Und hier ist kein Bedenken mehr. Es ruft
Chama —

Der Gott —

(percebendo a presença de Pausânias)


(da er den Pausanias gewahr wird)
devo ainda liberar esta alma
and diesen Allzutreuen muf
Demasiado fiel; minha senda não é a dele.
Ich auch befrein, mein Pfad ist seiner nicht.


301
300
SEGUNDA CENA
ZWEITER AUFTRITT
Pausânias. Empédocles
Pausanias. Empedokles

PAUSÂNIAS
PAUSANIAS Pareces ter despertado contente, meu viandante.
Du scheinest freudig auferwacht, mein Wanderer.
EMPÉDOCLES
EMPEDOKLES Já explorei e não em vão
Schon hab ich, lieber, and vergebens nicht A nova pátria, amado.
Mich in der neuen Heimat umgesehn. Este lugar selvático me é propício, também te agradará
Die Wildnis ist mir hold, auch dir gefüllt, este nobre refúgio,
die edle Burg, nosso Etna.
unser Aetna.
PAUSÂNIAS
PAUSANIAS Eles nos exilaram, ultrajando-te
Sie haben uns verbannt, sie
haben dich, Em tua bondade; mas há tempos, acredita-me,
Du Gütiger! geschmiiht and glaub es mir, Não podiam mais suportar-te e no profundo
Unleidlich warst du ihnen lãngst and innig De suas ruínas, em sua noite, brilhava
In ihre Trümmer schien, in ihre Nacht Clara demais a luz aos desesperados.
Zu helle den Verzweifelten das Licht. Podem agora, sem estorvo, na tempestade sem fim,
Nun mõgen sie vollenden, ungestãlt Completar a obra, enquanto a nuvem cobre
Im uferlosen Sturm, indes den Stern O astro, gira em círculo seu navio.
Die Wolke birgt, ihr Schiff im Kreise treiben. Eu hem sabia, divino, desvia-se de ti
Das wugt ich wohl, du Gõttlicher, an dir
.
A flecha que a outros fere e abate.
Entweicht der Pfeil, der andre trifft and wirft. E sem dano, como na varinha mágica
Und ohne Schaden, wie am Zauberstab A cobra dócil, a multidão desleal
Die zahme Schlange, spielt' um dich von je Que criaste e nutriste no coração,
Die ungetreue Menge, die du zogst, Sempre se movia a teu redor, amado.
Die du am Herzen hegtest, liebender! Deixa-os, agora! Possam informes,
Nun! laf sie nur! sie mõgen ungestalt Tenebrosos, cambalear ao solo que os sustém,
Lichtscheu am Boden taumeln, der sie trãgt, E em infinitos desejos e angústias
Und allbegehrend, allgeiingstiget Extenuar-se de tanto correr; queime o incêndio
Sich müde rennen, brennen mag der Brand, Até extinguir-se — nós aqui vivemos tranquilos.
Bis er erlischt — wir wohnen ruhig hier!


303
302
EMPEDOKLES EMPÉDOCLES
Ja! ruhig wohnen wir; es õffnen grof? Sim! Vivemos tranquilos; imensos abrem-se
Sich hier vor uns die heilgen Elemente. Diante de nós, os elementos sagrados.
Die Mühelosen regen immergleich Incansáveis e constantes
In ihrer Kraft sich freudig hier um uns. Em sua força, movem-se alegres à nossa volta.
An seinen festen Ufern wallt and ruht O mar antigo ondula e repousa
Das alte Meer, and das Gebirge steigt Em suas praias firmes e se eleva a montanha
Mit seiner Strome Kiang, es wogt and rauscht Ao ressoar de seus rios; flutua e murmura
Sein grüner Wald von Tal zu Tal hinunter. A floresta verde de vale em vale.
Und oben weilt das Licht, der Aether stillt E no alto flameja a luz: o éter aplaca
Den Geist and das geheimere Verlangen. O espírito e os desejos mais secretos.
Hier wohnen ruhig wir! Aqui vivemos tranquilos!

PAUSANIAS PAUSÂNIAS
So bleibst du wohl Assim permanecerás
Auf diesen Hõhn, and lebst in deiner Welt, Nestas alturas, vivendo em teu mundo;
Ich diene dir and sehe, was uns not ist. Eu te servirei, provendo o necessário.

EMPEDOKLES EMPÉDOCLES
Nur weniges ist not, and selber mag De pouco preciso e eu mesmo desejo,
Ich gerne dies von jetzt an mir besorgen. De agora em diante, cuidar deste pouco.

PAUSANIAS PAUSÂNIAS
Doch liebe e hab ich schon für einiges, Mas, já providenciei, amado,
Was du zuerst bedarfit, zuvorgesorgt. Algo que logo necessitarás.

EMPEDOKLES EMPÉDOCLES
Weift du, was ich bedarf? Sabes do que necessito?

PAUSANIAS PAUSÂNIAS
Als wüft ich nicht, Como se não soubesse
Womit genügt dem Hochgenügsamen. O que basta ao grande e modesto.
Und wie das Leben, das zu lieber Not E como a vida, mesmo a mais insignificante,
Der innigen Natur geworden ist, Se transformou em grata necessidade da
Das kleinste dem Vertrauten viel bedeutet. Íntima Natureza, muito significa a seu confidente.
Indes du gut auf kahler Erde hier Enquanto estavas imerso no sono,
In heiffer Sonne schliefit, gedacht ich doch, Sob o sol ardente, sobre a terra nua,
Ein weicher Boden, und die kühle Nacht Pensei que para a noite fria fosse melhor

304 305
In einer sichern Halle ware besser. Um solo macio em abrigo mais seguro.
Auch sind wir hier, die Allverdãchtigen, Além do mais nós, suspeitos a todos,
Den Wohnungen der andern fast zu nah. Moramos perto demais dos outros.
Nicht lange wollt ich ferne sein von dir Para não permanecer muito tempo longe de ti,
Und eilt hinauf and glücklich find ich bald, Subi apressado e tive a ventura de
Encontrar um teto tranquilo, que nos convém.
Für dich and mich gebaut, ein ruhig Haus.
Ein tiefer Fels, von Eichen dicht umschirmt, Uma gruta profunda, circundada por densos carvalhos,
Dort in der dunkeln Mitte des Gebirgs, No meio sombrio da montanha;
Und nah entspringt ein Quell, es grunt umher Perto brota uma nascente, ao redor verdejam
Die Fülle guter Pflanzen, and zum Bett Plantas frutíferas em abundância e como leito
Ist Uberfluf von Laub and Gras bereitet. Há folhagens e ervas em profusão.
Da lassen sie dich ungeschmãht, and tief and still Lá não poderão ultrajar-te; e profundo silêncio
Ists wenn du sinnst, and wenn du schliifst, um dich, Te envolverá, ao meditares ou dormires;
Ein Heiligtum ist mir mit dir die Grotte. Contigo, a gruta parecer-me-á um santuário.
Komm, siehe selbst, and sage nicht, ich tauge Vem! Verás por ti mesmo; e não digas mais tarde que sou
Dir künftig nicht, wem taugt ich anders denn? Incapaz de servir-te. A quem mais poderia ser útil?

EMPEDOKLES EMPÉDOCLES
Du taugst zu gut. Sois útil demais.

PAUSANIAS PAUSÂNIAS
Wie kõnnt ich dies? Como assim?

EMPEDOKLES EMPÉDOCLES
Auch du
Bist allzutreu, du bist ein tõricht Kind. Fiel demais, uma criança tola.

PAUSANIAS PAUSANIAS
Das sagst du wohl, doch klügers weif ich nicht, Tu o dizes. Mas nada há de mais sábio
Wie des zu sein, dem ich geboren bin. Que pertencer àquele para quem nasci.

EMPEDOKLES EMPÉDOCLES
Wie bist du sicher? Tens certeza?

PAUSANIAS PAUSÂNIAS
Warum denn nicht? Por que não?
Wofür denn hiittest du auch einst, da ich, Por qual motivo me terias outrora,
Der Waise gleich, am heldenarmen Lifer Benévolo, estendido as mãos quando, como um órfão,

306 307
Mir einen Schutzgott sucht und traurig irrte, Errava triste ao longo da praia, sem heróis,
Du Gütiger, die Hãnde mir gereicht? Procurando um deus protetor?
Wofür mit irrelosem Auge wiirst du Por que em teu caminho silencioso
Auf deiner stillen Bahn, du edles Licht Terias surgido com olhar decidido
In meiner Diimmerung mir aufgegangen? Em meu crepúsculo, nobre luz?
Seitdem bin ich ein anderer, und dein A partir desse momento, sou outro; mais alegre
Und niiher dir und einsamer mit dir, E mais livre viceja-me a alma
Wiichst froher nur die Seele mir und freier. Por pertencer-te, estando mais próxima e só contigo.

EMPEDOKLES EMPÉDOCLES
O still davon! Cala-te!

PAUSANIAS PAUSANIAS
Warum? Was ists? wie kann Por quê? O que é isto? Como pode
Ein freundlich Wort dich irren, teurer Mann? Urda palavra amiga perturbar-te, meu caro?

EMPEDOKLES EMPÉDOCLES
Geh! Folge mir, and schweig and schone mich Vem comigo, em silêncio e me poupa
Und rege du nicht auch das Herz mir auf. — E não agites meu coração! —
Habt ihr zum Dolche die Erinnerung Não basta ter-me transformado a lembrança
Nicht mir gemacht? nun wundern sie sich noch Em punhal? Agora ainda se espantam,
Und treten vor das Auge mir and fragen. Aparecem diante de meus olhos e indagam.
Nein! du bist ohne Schuld — nur kann ich, Sohn! Não! Não tens culpa, filho — sou eu que não posso
Was mir zu nahe kõmmt, nicht wohl ertragen. Suportar que penetrem demais em minha intimidade.

PAUSANIAS PAUSANIAS
Und mich, mich stõfest du von dir? o denk an dich, E é a mim que repudias? Oh, pensa em ti,
Sei, der du bist, and siehe mich, and gib, Sê quem és, olha-me para dar-me
Was ich nun weniger entbehren kann, O que agora tanto necessito:
Ein gutes Wort aus reicher Brust mir wieder. Uma boa palavra de teu coração tão pródigo!

EMPEDOKLES EMPÉDOCLES
Erziihle, was dir wohlgefiillt, dir selbst, Dize a ti mesmo o que te aprouver;
Für mich ist, was vorüber ist, nicht mehr. Para mim, o que passou não mais existe.

PAUSANIAS PAUSANIAS
Ich weif es wohl, was dir vorüber ist, Bem sei o que passaste
Doch du and ich, wir Sind uns ja geblieben. Mas tu e eu, nos mantivemos próximos.

308 309
EMPEDOKLES EMPÉDOCLES
Sprich lieber mir von anderem, mein Sohn! Fala-me de outra coisa, filho!

PAUSANIAS PAUSÂNIAS
Was hab ich sonst? De que mais?

EMPEDOKLES EMPÉDOCLES
Verstehest du mich auch? Consegues compreender-me?
Hinweg! ich hab es dir gesagt und sag Vai embora! Eu te disse e
Es dir, es ist nicht schõn, daf du dich Repito, não é agradável que tu, não solicitado,
So ungefragt mir an die Seele dringest, Te insinues em minha alma,
An meine Seite stets, als wgtest du Sempre a meu lado, apegando-te a mim
Nichts anders mehr, mit armer Angst dich hiingst. Com deplorável angústia, como se não soubesses fazer mais nada.
Du muf.'t es wissen, dir gehõr ich nicht Tens de saber: eu não sou teu
Und du nicht mir, und deine Pfade sind Nem tu és meu; e a tua senda não
Die meinen nicht; mir blüht es anderswo. É a minha; meu futuro floresce noutra parte.
Und was ich mein', es ist von heute nicht, Este pensamento não é de hoje,
Da ich geboren wurde, wars beschlossen. Já estava decidido desde meu nascimento.
Sieh auf und wags! was Eines ist, zerbricht, Ergue os olhos e ousa! O Uno se
Die Liebe stirbt in ihrer Knospe nicht Fragmenta, o amor não morre em seu botão
Und überall in freier Freude teilt E por toda a parte a árvore esvoaçante
Des Lebens lufiger Baum sich auseinander. Da vida se ramifica em livre alegria.
Kein zeitlich Bündnis bleibet, wie es ist, Nenhum vínculo temporal permanece o mesmo;
Wir müssen scheiden, Kind! und halte nur Devemos separar-nos, filho!
Mein Schicksal mir nicht auf und zaudre nicht. Não hesites! Não detenhas meu destino!

O sieh! es glãnzt der Erde trunknes Bild, Olha! Esplende diante de ti, meu jovem,
Das gôttliche, dir gegenwãrtig, Angling, A imagem inebriada e divina da terra;
Es rauscht and refit durch alie Lande sich E por toda a parte murmura e faz-se sentir,
Und wechselt, jung and leicht, mit frommem Ernst E, vai-se alternando com devota gravidade, leve e jovem,
Der geschaftge Reigentanz, womit den Geist A dança operosa com a qual os mortais
Die Sterblichen, den alten Vater, feiern. Celebram o espírito, o antigo pai.
Da gehe du and wandle taumellos Vai também e humano e resoluto
Und menschlich mit and denk am Abend mein. Caminha ao lado deles; e, à noite, recorda-te de mim.
Mir aber ziemt die stille Halle, mir Mas a mim condiz o espaço silencioso,
Die hochgelegene, geriiumige, Elevado e amplo,
Denn Ruhe brauch ich wohl, zu trãge sind, Pois necessito paz; meus membros estão
Zum schnellgeschüftigen Spiel der Sterblichen, Preguiçosos demais para o jogo agitado e

310 311
Die Glieder mir und hab ich sonst dabei Operoso dos mortais e se outrora, na alegria
Ein feiernd Lied in Jugendlust gesungen, Da juventude, me uni a seu canto festivo,
Zerschlagen ist das zarte Saitenspiel. Em pedaços está agora a suave cítara.
Ó melodias do alto! Foi um gracejo!
O Melodien fiber mir! es war ein Scherz!
Und kindisch wagt ich sonst euch nachzuahmen, De modo pueril, ousei outrora imitar-vos
Ein fühllos leichtes Echo tiint' in mir, Ressoava em mim um eco tênue, imperceptível,
Incompreensível —
Und unverstiindlich nach —
Nun hõr ich ernster euch, ihr Gütterstimmen. Agora mais seriamente vos escuto, vozes divinas.

PAUSÂNIAS
PAUSANIAS
Ich kenne nimmer dich, nur traurig ist Não te conheço mais; e o que dizes
Mir, was du sagst, doch alies ist ein Riitsel. Me entristece, tudo é enigma.
Was hab ich auch, was hab ich dir getan, O que eu, o que eu te fiz?
Daf du mich so, wie dirs gefiillt, bekümmerst Por que te comprazes em afligir-me tanto
Und namenlos dein Herz, des Einen noch, E estranhamente teu coração se alegra
Des Letzten los zu sein, Bich freut and müht. Esforçando-se em livrar-se do único e derradeiro amigo?
Não esperava por isso, pois nós, banidos,
Das hofft ich nicht, da wir Geãchtete
Den Wohnungen der Menschen scheu vorüber Passávamos, furtivos, pelas casas
Dos homens na noite hostil;
Zusammen wandelten in wilder Nacht,
Portanto, meu caro, não era eu que estava a teu lado
Und darum, Lieber! war ich nicht dabei,
Quando a chuva do céu deslizava por tua face
Wenn mit den Triinen dir des Himmels Regen
Misturando-se com as lágrimas, olhava-te, e tu sorrias,
Vom Angesichte troff and sah es an,
Secando a roupa rude
Wenn liichelnd du das rauhe Sklavenkleid
De escravo no sol ardente do meio-dia,
Mittags an heifer Sonne trocknetest
Na areia sem sombras? E muitas vezes,
Auf schattenlosem Sand, wenn du die Spuren
Como animal ferido, desenhavas teus
Wohl manche Stunde wie ein wundes Wild
Rastros com sangue a escorrer
Mit deinem Blute zeichnetest, das auf
De teus pés descalços na senda rochosa.
Den Felsenpfad von nackter Sohle rann.
Ach! darum lief ich nicht mein Haus and lud Ai de mim! Não deixei minha casa, nem atrai
Sobre mim o anátema do povo e de meu pai,
Des Volkes and des Vaters Fluch mir auf,
Daf du mich, wo du wohnen willst and ruhn, Para me jogares fora como um jarro usado
Wie ein verbraucht Gefiif, bei Seite werfest. Querendo fixar domicílio e repousar.
Und willst du weit hinweg? wohin? wohin? Vais para longe? Aonde? Aonde?
Ich wandre mit, zwar steh ich nicht wie du Acompanhar-te-ei, embora não esteja como tu
Mit Krãften der Natur in trautem Bunde, Em estreita união com as forças da Natureza
Mir steht wie dir Zukünftiges nicht offen, Nem descortine o futuro como tu.
Doch freudig in der Gõtter Nacht hinaus Todavia meu espírito lança alegre
Schwingt seine Fittige mein Sinn, and fürchtet Suas asas na noite dos deuses, sempre sem

312 313
Noch immer nicht die miichtigeren Blicke. Temer os olhares mais potentes.
Ia! wiir ich auch ein Schwacher, dennoch war Sim! Mesmo se eu fosse um fraco, por amar-te
Ich, Weil ich so dich liebe, stark, wie du. Tanto, tornar-me-ia forte como tu.
Beim gõttlichen Herakles! stiegst du auch, Pelo divino Hércules! E se descesses das alturas
Und die Gewaltigen, die drunten sind, Para visitar os Titãs aplacando
Versõhnend die Titanen heimzusuchen, As potências lá embaixo,
Ins bodenlose Tal, vom Gipfel dort, Chegando ao vale sem fundo e ousasses
Und wagtest dich ins Heiligtum des Abgrunds, Entrar no santuário do abismo
Wo duldend vor dem Tage sich das Herz Onde, antes do alvorecer, se oculta paciente
Der Erde birgt and ihre Schmerzen dir O coração da terra: mãe sombria
Die dunkle Mutter sagt, o du der Nacht Confidenciando-te suas dores, filho da noite
Des Aethers Sohn! ich folgte dir hinunter. E do éter, eu te seguiria até lá!

EMPEDOKLES EMPÉDOCLES
So bleib! Então permanece!

PAUSANIAS PAUSANIAS
Wie meinst du dies? O que queres dizer?

EMPEDOKLES EMPÉDOCLES
Du gabst Tu te entregaste
Dich mir, bist mein; so frage nicht! A mim, és meu; portanto, não perguntes!

PAUSANIAS PAUSANIAS
Es sei! De acordo!

EMPEDOKLES EMPÉDOCLES
Und sagst du mirs noch einmal, Sohn, und gibst Queres dizer-me novamente, filho, que doas
Dein Blut und deine Seele mir fiir immer? Teu sangue e tua alma para sempre?

PAUSANIAS PAUSANIAS
Als Mitt ich so ein loses Wort gesagt Acaso eu disse palavras vazias,
Und zwischen Schlaf and Wachen dirs versprochen? Promessas entre sonho e vigília?
Unglaubiger! ich sags and wiederhol es: Incrédulo! Eu digo e repito:
Auch dies, auch dies, es ist von heute nicht, Não é de hoje isto também, não é!
Da ich geboren wurde, wars beschlossen. Já estava decidido, quando nasci.

314 315
EMPEDOKLES EMPÉDOCLES
Ich bin nicht, der ich bin, Pausanias, Não sou mais eu mesmo, Pausânias,
Und meines Bleibens ist auf Jahre nicht, Nem permanecerei aqui por muitos anos;
Ein Schimmer nur, der bald vorüber muf Sou simples vislumbre que logo passará,
Im Saitenspiel ein Ton — Som de cítara —

PAUSÂNIAS PAUSÂNIAS
So tiinen sie, Ressoam as notas,
So schwinden sie zusammen in die Lufi! Juntas esvanecem no ar!
Und freundlich spricht der Widerhall davon. E amavelmente o eco as repercute.
Versuche nun mich liinger nicht und laf? Não me tentes mais, deixa!
Und gõnne du die Ehre mir, die mein ist! Concede-me a honra que me pertence.
Hab ich nicht Leid genug, wie du, in mir? Já não sofri bastante, como tu?
Wie mõchtest du mich noch beleidigen! Como podes ainda ultrajar-me?

EMPEDOKLES EMPÉDOCLES
O allesopfernd Herz! and dieser gibt Ó coração disposto a todo sacrifício! Este rapaz
Schon mir zulieb die goldne Jugend weg! Renuncia por mim à dourada juventude!
Und ich! o Erd and Himmel! siehe! noch, E eu! Ó terra e céu! Vê, enquanto
Noch bist du nah, ides die Stunde flieht, A hora se vai, me estás ainda perto
Und blühest mir, du Freude meiner Augen. E floresces por mim, alegria de meus olhos.
Noch ists, wie sonst, ich halt im Arme, Como outrora, tenho-te ainda nos braços
Als wãrst du mein, wie meine Beute dich, Como se fosses meu, minha presa,
Und mich betõrt der holde Traum noch einmal. E ainda uma vez o doce sonho me seduz.
Ja! herrlich wars, wenn in die Grabesflamme Sim, seria esplêndido se na chama fúnebre
So Arm in Arm statt Eines Einsamen Em vez de Um Só subisse de braço dado
Ein festlich Paar am Tagesende ging, Um par festivo ao fim do dia;
and gerne niihm ich, was ich hier geliebt, E de bom grado levaria comigo o que na terra amei
Wie seine Quellen all ein edler Strom, Como um rio nobre todas as suas nascentes,
Der heilgen Nacht zum Opfertrank, hinunter. Para brindar em sacrifício à noite sagrada.
Doch besser ists, wir gehen unsern Pfad Melhor porém cada um trilhar
Ein jeder, wie der Gott es ihm beschied. A senda que Deus lhe destinou.
Unschuldiger ist dies, and schadet nicht. É mais inocente e inócua.
Und billig ists and recht, daf überall Pois justo e certo é que por toda a parte
Des Menschen Sinn sich eigen angehürt. E ânimo do homem a ele pertença.
Und dann — es triigt auch leichter seine Bürde Além do mais, estando só, o homem suporta com mais
Und sicherer der Mann, wenn er allein ist. Facilidade e maior segurança o próprio fardo.
So wachsen ja des Waldes Eichen auch Assim, crescem os carvalhos do bosque
Und keines kennt, so alt sie sind, das andre. E, mesmo antigos, nenhum conhece o outro.

316 317
PAUSANIAS PAUSÂNIAS
Wie du es willst! Ich widerstrebe nicht. Como quiseres! Não me oponho.
Du sagst es mir und wahr ists wohl und lieb O que dizes é, por certo, verdadeiro e bom,
Ist billig mir dies letzte Wort von dir. Justas são estas tuas últimas palavras.
So geh ich denn! und store deine Ruhe Vou-me então! E não mais perturbarei
Dir künftig nicht, auch meinest du es gut, Tua paz, tens razão
Da]'? meinem Sinne nicht die Stile tauge. O silêncio não condiz comigo.

EMPEDOKLES EMPÉDOCLES
Doch, lieber, zürnst du nicht? Zangaste comigo, amigo?

PAUSANIAS PAUSÂNIAS
Mit dir? Mit dir? Eu? Contigo?

EMPEDOKLES EMPÉDOCLES
Was ist denn? ja! weift du nun, wohin? O que foi? Então, já sabes aonde ir?

PAUSANIAS PAUSÂNIAS
Gebiet es mir. Dispõe de mim!

EMPEDOKLES EMPÉDOCLES
Es war mein letzt Gebot, Foi minha última ordem,
Pausanias! die Herrschaft ist am Ende. Pausânias! Meu poder chegou ao fim.

PAUSANIAS PAUSÂNIAS
Mein Vater! rate mir! Aconselha-me, pai!

EMPEDOKLES EMPÉDOCLES
Wohl manches sollt Deveria sem dúvida
Ich sagen, doch verschweig ich dirs, Dizer-te muitas coisas, mas prefiro calar-me.
Es will zum sterblichen Gespriiche fast À palavras vãs e à conversa mortal
Und eitlem Wort die Zunge nimmer dienen. A minha língua mal se presta a servir.
Sieh! liebster! anders ists and leichter bald Vê! Caríssimo! Tudo mudou! Logo
Und freier atm' ich auf, and wie der Schnee Respirarei mais leve e livre; como a neve
Des hohen Aetna dort am Sonnenlichte Do alto Etna, se aquece e resplendece
Erwarmt and schimmert and zerrinnt, and los À luz do sol e derretendo-se, escorre livre
Vom Berge wogt and Iris froher Bogen sich Pela montanha, assim o sereno arco-íris em fl or
Der blühende beim Fall der Wogen schwingt, Se desdobra ao descer das águas;

318 319
So rinnt and wogt vom Herzen mir es los, Assim solta-se e flui livremente meu coração,
So hallt es weg, was mir die Zeit gehiiuft, Diluindo o que o tempo acumulou.
Die Schwere fdllt, and fallt, and helle blüht Esvai-se a opressão; e, no alto floresce,
Das Leben, das iitherische, darüber. Clara e etérea, a vida.
Nun wandre mutig, Sohn, ich geb and küsse Caminha agora com coragem, filho; beijando-te
Verheissungen auf deine Stirne dir, À testa, eu te revelo estas profecias:
Es dãmmert dort Italiens Gebirg, Descortinam-se ao longe as montanhas da Itália,
Das Rõmerland, das tatenreiche, winkt, A terra operosa dos romanos te chama,
Dort wirst du wohlgedeihn, dort, wo sich froh Lá serás próspero, lá onde os homens
Die Miinner in der K^impferbahn begegnen, Alegres, enfrentam-se em competição.
O Heldenstâdte dort! and du, Tarent! Ó cidades de heróis! E tu, Tarento!
Ihr brüderlichen Hallen, wo ich oft Vós, pórticos fraternos, onde eu, outrora,
Lichttrunken einst mit meinem Plato ging Ébrio de luz, muitas vezes passeava com meu amigo Platão,
Und immerneu uns Jünglingen das Jahr E a nós, jovens, cada dia e cada ano
Und jeder Tag erschien in heilger Schule. Na escola sagrada, sempre novo parecia.
Besuch ihn auch, o Sohn, and grüf ihn mir, Vai visitá-lo também, filho; saúda-o por mim,
Den alten Freund an seiner Heimat Strom, O velho amigo que vive às margens floridas
Am blumigen Ilissus, wo er wohnt. Do Ilisso, rio de sua terra natal.
Und will die Seele dir nicht ruhn, so geh E se tua alma não encontrar paz, vai
Und frage sie, die Brüder in Aegyptos. E interroga meus irmãos no Egito.
Dort hõrest du das ernste Saitenspiel Lá escutarás a cítara solene
Uraniens and seiner Tõne Wandel. De Urânia e seus sons mutáveis.
Dort õffnen sie das Buch des Schicksals dir. Lá te abrirão o livro do destino.
Geh! fürchte nichts! es kehret alles wieder. Vai! Não temas! Tudo retorna.
Und was geschehen soli, ist schon vollendet. E o que deve acontecer, já se consumou.
(Pausanias geht ab) (Pausânias afasta-se)

DRITTER AUFTRITT TERCEIRA CENA

Manes. Empedokles Manes. Empédocles

MANES MANES
Nun! siiume nicht! bedenke dich nicht liinger. Pois bem! Não tardes! Não hesites mais.
Vergeh! vergeh! damit es ruhig bald Dissipa-te, fantasma, esvanece! Para que tudo
Und helle werde, Trugbild! Volte logo à luz e à calma!
EMPEDOKLES EMPÉDOCLES
Was? woher? O quê? De onde vens,
Wer bist du, Mann! Homem? Quem és?

MANES MANES
Der Armen Einer auch Como tu,
Von diesem Stamm, ein Sterblicher, wie du. Sou da mesma estirpe, um pobre mortal.
Zu rechter Zeit gesandt, dir, der du dich Enviado a tempo a ti que te
Des Himmels Liebling dünkst, des Himmels Zorn, Julgas predileto do céu, anunciando-te
Des Gottes, der nicht müfig ist, zu nennen. A ira celeste, do Deus sempre ativo.

EMPEDOKLES EMPÉDOCLES
Ha! kennst du den? Tu o conheces?

MANES MANES
Ich habe manches dir Muito te falei
Am fernen Nil gesagt. Às margens do longínquo Nilo.

EMPEDOKLES EMPÉDOCLES
Und du? du hier? És mesmo tu? Aqui?
Kein Wunder ists! Seit ich den Lebenden Não é de espantar! Desde que morri
Gestorben bin, erstehen mir die Toten. Para os vivos, ressurgem-me os mortos.

MANES MANES
Die Toten reden nicht, wo du sie fragst. Os mortos não respondem, se os interrogares,
Doch wenn du eines Worts bedarfit, vernimm. Porém, se pode uma palavra servir-te, escuta!

EMPEDOKLES EMPÉDOCLES
Die Stimme, die micht ruff, vernehm ich schon. Já percebo a voz que me chama.

MANES MANES
So redet es mit dir? Assim se fala contigo?

EMPEDOKLES EMPÉDOCLES
Was soil die Rede, Fremder! Para que a discussão, estrangeiro?


322 323
MANES MANES
Ja! fremde bin ich bier and unter Kindern. Sim, sou estrangeiro aqui, entre crianças
Das seid ihr Griechen all. Ich hab es oft Como todos vós, gregos. Muitas vezes
Vormals gesagt. Doch wolltest du mir nicht, O disse. Mas não gostarias de
Wie dirs erging bei deinem Volke, sagen? Contar-me o que se passou contigo entre teu povo?

EMPEDOKLES EMPÉDOCLES
Was mahnst du mich? Was rufit du mir noch einmal? Por que me fazes recordar? O que me evocas ainda uma vez?
Mir ging es, wie es soil. Aconteceu-me o que devia acontecer.

MANES MANES
Ich wuft es auch Eu também o
Schon liingst voraus, ich hab es dir geweissagt. Sabia, há muito e o predissera.

EMPEDOKLES EMPÉDOCLES
Nun denn! was hdltst du es noch au'? was drohst Pois bem! O que esperas? Por que me
Du mit der Flamme mir des Gottes, den Ameaças com a chama do Deus que
Ich kenne, dem ich gem zum Spiele dien, Eu bem conheço, a quem me presto como joguete;
Und richtest mir mein heilig Recht, du Blinder! E, cego, ousas julgar o meu direito sagrado?

MANES MANES
Was dir begegnen mug, ich ãndr' es nicht. Eu não mudarei o que te deve acontecer.

EMPEDOKLES EMPÉDOCLES
So kamst du her, zu sehen, wie es wird? Então vieste só para ver como se dará?

MANES MANES
O scherze nicht, and ehre doch dein Fest, Oh, não brinques, mas honra a tua festa,
Umkri nze dir dein Haupt, and schmuck es aus, Cinge de grinalda a tua cabeça e a enfeita,
Das Opfertier, das nicht vergebens fiillt. A vítima, para que não caia em vão,
Der Tod, der jiihe, er ist ja von Anbeginn, Bem o sabes, a morte súbita
Das weift du wohl, den Unverstiindigen Está desde o início reservada
Die deinesgleichen sind, zuvorbeschieden. Aos insensatos como tu.
Du willst es and so seis! Doch sollst du mir Queres assim? Assim seja! Porém não deves precipitar-te
Nicht unbesonnen, wie du bist, hinab, No abismo desatinado, como estás agora!
Ich hab ein Wort, and dies bedenke, Trunkner! Tenho uma palavra para dizer-te; reflete sobre ela, ébrio!
Nur Einem ist es Recht, in dieser Zeit, Só a Um se faz justiça neste tempo,
Nur Einen adelt deine schwarze Sünde. Só Um enobrece teu negro pecado,
Ein grõfrer ists, denn ich! denn wie die Rebe E ele é bem maior que eu! Como a videira
Von Erd and Himmel zeugt, wenn sie getriinkt Presta testemunho do céu e da terra, ao ser banhada
Von hoher Sonn aus dunklem Boden steigt, Pelo alto sol erguendo-se do solo escuro,
So wiichst er auf, aus Licht and Nacht geboren. Assim ele, nascido de luz e noite;
Es giirt um ihn die Welt, was irgend nur Faz o mundo fervilhar a sua volta, agitando
Beweglich and verderbend ist im Busen E revolvendo toda a corrupção e o tumulto
Der Sterblichen, ist aufgeregt von Grund aus. Que há no peito dos mortais.
Der Herr der Zeit, um seine Herrschaft bang, O senhor do tempo, afligindo-se por seu poder,
Thront finster blickend über der Empõrung. Domina a revolta com olhar tenebroso.
Sein Tag erlischt, and seine Blitze leuchten, Seu dia declina e lampejam seus raios,
Doch was von oben flammt, entzündet nur, Todavia tudo o que flameja do alto
Und was von unten strebt, die wilde Zwietracht. E pressiona de baixo, só acirra a feroz discórdia.
Der Eine doch, der neue Retter fait Mas Um, o novo salvador, recolhe
Des Himmels Strahlen ruhig auf, and liebend Sereno os raios celestes, estreitando
Nimmt er, was sterblich ist, an seinen Busen, Amorosamente em seu seio o que é mortal,
Und milde wird in ihm der Streit der Welt. Amenizando o conflito do mundo.
Die Menschen and die Gõtter sõhnt er aus E reconcilia homens e deuses
Und nahe wieder leben sie, wie vormals. Que voltam a viver próximos, como outrora.
Und dass, wenn er erschienen ist, der Sohn E a fim que, ao aparecer, o filho
Nicht grõfer, denn die Eltern sei, and nicht Não seja maior que os pais, e o
Der heilge Lebensgeist gefesselt bleibe Sagrado espírito da vida não permaneça prisioneiro e
Vergessen über ihm, dem Einzigen, Esquecido por causa dele, do Único,
So lenkt er aus, der Abgott seiner Zeit, Ele mesmo, o ídolo de seu tempo se desa rvora,
Zerbricht, er selbst, damit durch reine Hand Espedaçando a própria felicidade
Dem Reinen das Notwendige geschehe, Que lhe parece excessiva; e assim possa, com mão pura,
Sein eigen Glück, das ihm zu glücklich ist, Cumprir o que, para ele, puro, é necessário
Und gibt, was er besaf dem Element, E purificado, restituir ao elemento
Das ihn verherrlichte, geliiutert wieder. O que possuía e enaltecia.
Bist du der Mann? derselbe? bist du dies? És esse homem? Ele mesmo? Ele, és tu?

EMPEDOKLES EMPÉDOCLES
Ich kenne dich im finstern Wort, und du, Reconheço-te pelo falar obscuro e também
Du Alleswissender, erkennst mich auch. Tu, onisciente, me reconheces.

MANES MANES
O sage, wer du bist! and wer bin ich? Dize-me quem és, e quem sou eu?
EMPEDOKLES EMPÉDOCLES
Versuchst du noch, noch immer mich, and kümmst, Sempre e ainda me tentas e vens a mim,
Mein büser Geist, zu mir in solcher Stunde? Meu espírito malvado, justo nesta hora?
Was lãssest du mich nicht stille gehen, Mann? Por que não me deixas seguir em silêncio, homem,
Und wagst dich hier an mich and reizest mich, E te confrontas comigo aqui provocando-me,
Daf ich im Zorn die heilgen Pfade wandle? Assim que eu transponha em ira as sendas sagradas?
Ein Knabe war ich, wufte nicht, was mir Era menino e nada sabia das coisas estranhas
Urns Auge fremd am Tage sich bewegt; Que se agitavam aos meus olhos durante o dia,
Und wunderbar umfingen mir die grofen E as grandes e alegres formas
Gestalten dieser Welt, die freudigen, Deste mundo envolviam maravilhosamente
Mein unerfahren schlummernd Herz im Busen. Meu coração inexperiente, adormecido no peito.
Und staunend hiirt ich oft die Wasser gehn E muitas vezes ouvia, atônito, o fluir das águas
Und sah die Sonne blühn, and sich an ihr E via o sol florescer, acendendo
Den Jugendtag der stillen Erd entzünden. Em sua luz o novo dia da terra silenciosa.
Da ward in mir Gesang and helle ward Fez-se canto em mim e, na prece poética,
Mein diimmernd Herz im dichtenden Gebete, Aclarou-se meu coração turbado,
Wenn ich die Fremdlinge, die gegenwãrtgen, Quando dava nome aos estranhos,
Die Gõtter der Natur mit Namen nannt Presentes deuses da Natureza,
Und mir der Geist im Wort, im Bilde sich, O espírito resolvia na palavra, na imagem
Im seligen, des Lebens Riitsel lõste. Bem-aventurada o enigma da vida.
So wuchs ich still herauf and anderes Assim crescia tranquilo e já algo diferente
War schon bereitet. Denn gewaltsamer, Se preparava. Então, mais violenta
Wie Wasser, schlug die wilde Menschenwelle Que a água, a selvagem vaga humana
Mir an die Brust, and aus dem Irrsal kam Golpeou meu peito e do alvoroço me subia
Des armen Volkes Stimme mir zum Ohre. Aos ouvidos a voz do povo necessitado.
Und wenn, indes ich in der Halle schwieg, E quando, à meia-noite, estava no átrio
Um Mitternacht der Aufruhr weheklagt; Em silêncio, o lamento do povo em revolta
Und durchs Gefilde stürzt', and lebensmüd Precipitou-se pelos campos e, cansado de viver,
Mit eigner Hand sein eignes Haus zerbrach, Destruía com suas mãos a própria casa
Und die verleideten verlafnen Tempel, E os templos abandonados com desgosto;
Wenn sich die Brüder flohn, and sich die Liebsten Quando os irmãos se evitavam e os amantes
Vorübereilten, and der Vater nicht Se ignoravam e o pai não
Den Sohn erkannt, and Menschenwort nicht mehr Reconhecia o filho; e a palavra e as leis
Verstiindlich war, and menschliches Gesetz, Humanas não mais eram compreensíveis,
Da faffte mich die Deutung schaudernd an: Estarrecido, compreendi o significado:
Es war der scheidende Gott meines Volks! Era o deus a abandonar meu povo!
Den hi rt ich, and zum schweigenden Gestirn Eu o ouvi e alcei os olhos ao astro
Sah ich hinauf wo er herabgekommen. Silencioso, de onde descera.

328 329
Und ihn zu sühnen, ging ich hin. Noch wurden uns Fui oferecer-me a ele em expiação. Tivemos ainda
Der schõnen Tage viel. Noch schien es sich Muitos belos dias.Tudo parecia afinal
Am Ende zu verjüngen; and es wich, Rejuvenescer; e na lembrança
Der goldnen Zeit, der allvertrauenden, Da idade de ouro, plenitude de confiança,
Des hellen kriiftgen Morgens eingedenk, Manhã límpida e vigorosa, minha ira
Der Unmut mir, der furchtbare vom Volk, Cedeu e a cólera terrível do povo;
Und freie feste Bande knüpfen wir, Invocando os deuses viventes,
Und riefen die lebendgen Gõtter an. Contraímos laços sólidos e livres.
Doch oft, wenn mich des Volks Dank bekrânzte, Mas muitas vezes, quando por gratidão o povo me coroava,
Wenn niiher immer mir, and mir allein, E sua alma cada vez mais se aproximava
Des Volkes Seele kam, befiel es mich, De mim e só de mim, ocorreu-me:
Denn wo ein Land ersterben soil, da wãhlt Quando uma terra é destinada a perecer,
Der Geist noch Einen sich zuletzt, durch den O espírito escolhe afinal Um eleito, por meio
Sein Schwanensang, das letzte Leben ti net. Do qual entoa seu canto de cisne, a derradeira vida.
Wohl ahndet ichs, doch dient ich willig ihm. Bem o pressenti, mas o servi, de bom grado.
Es ist geschehn. Den Sterblichen gehiir ich Tudo se consumou. Já não mais
Nun nimmer an. O Ende meiner Zeit! Pertenço aos mortais. Ó fim do meu tempo!
O Geist, der uns erzog, der du geheim O espírito que nos nutriu, que reinas
Am hellen Tag and in der Wolke waltest, Em segredo no dia claro e nas nuvens,
Und du o Licht! and du, du Mutter Erde! E tu, luz! E tu, mãe terra!
Hier bin ich, ruhig, denn es wartet mein Aqui permaneço sereno, pois me espera
Die lãngstbereitete, die neue Stunde. A nova hora, longamente preparada:
Nun nicht im Bilde mehr, and nicht, wie sonst, Não mais em imagem como outrora
Bei Sterblichen, im kurzen Glück, ich find Entre os mortais, encontro o vivente
Im Tode find ich den Lebendigen Em efêmera bem-aventurança, mas sim na morte,
Und heute noch begegn' ich ihm, denn heute E ainda hoje o encontrarei; hoje
Bereitet er, der Herr der Zeit, zur Feier, Ele, o senhor do tempo, prepara para si e para mim
Zum Zeichen ein Gewitter mir and sich. Uma tormenta em sinal de festa.
Kennst du die Stile rings? kennst du das Schweigen Conheces esta calma que nos circunda? E o silêncio
Des schlummerlosen Gotts? erwart ihn hier! Do deus insone? Espera-o aqui!
Um Mitternacht wird er es uns vollenden. À meia-noite tudo estará consumado.
Und wenn du, wie du sagst, des Donnerers E se és como dizes, confidente do deus
Vertrauter bist, and Eines Sinns mit ihm Trovão e teu espírito Uno
Dein Geist mit ihm, der Pfade kundig, wandelt, Com ele que vagueia, conhecedor dos atalhos,
So komm mit mir, wenn itzt, zu einsam sich, Vem comigo; se agora, por demais solitário
Das Herz der Erde klagt, and eingedenk O coração se lamenta á terra, e a mãe
Der alten Einigkeit die dunkle Mutter Obscura, lembrando-se da antiga unidade,
Zum Aether aus die Feuerarme breitet Estende os braços de fogo ao éter

330 331
Vem agora o dominador em seu raio;
Und itzt der Herrscher kõmmt in seinem Strahl,
Sigamo-lo, então, às profundezas, às chamas sagradas,
Dann folgen wir, zum Zeichen, daf wir ihm
Em sinal de nossa afinidade.
Verwandte sind, hinab in hedge Flammen.
Se preferes, porém, permanecer à parte,
Doch wenn du lieber ferne bleibst, für dich,
Por que negá-lo a mim? Se este bem não te
Was gõnnst du mir es nicht? wenn dir es nicht
É destinado, por que usurpá-lo,
Beschieden ist zum Eigentum, was nimmst
Estorvando-me? Ó vós, gênios,
Und stõrst du mirs! O euch, ihr Genien,
Que estivestes próximos em meus primeiros passos,
Die ihr, da ich begann, mir nahe waret,
Vós, que projetais o futuro! Agradeço-vos por me
Ihr Fernentwerfenden! euch dank ich, dal; ihr mirs
Haverdes concedido terminar enfim
Gegeben habt, die lange Zahl der Leiden
A longa série de sofrimentos, livre de outros deveres
Zu enden hier, befreit von andrer Pflicht
Na morte livre, de acordo com a lei divina!
In freiem Tod, nach gõttlichēm Gesetze!
Fruto proibido para ti! Deixa-me portanto e vai,
Dir ists verbotne Frucht! drum la r; und geh,
E se não podes seguir-me, não julgues!
Und kannst du mir nicht nach, so richte nicht!

MANES
MANES
Pobre de ti, o sofrimento exaltou-te o espírito!
Dir hat der Schmerz den Geist entzündet, Armer.

EMPÉDOCLES
EMPEDOKLES
Por que não o curas, fraco?
Was heilst du denn, Unmãchtiger, ihn nicht?

MANES
MANES
Sabes com tal certeza o que será de nós?
Wie ists mit uns? siehst du es so gewif??

EMPÉDOCLES
EMPEDOKLES
Dize-me tu, que tudo vês!
Das sage du mir, der du alies siehst!

MANES
MANES
Fiquemos em silêncio, filho, e aprendamos sempre.
Laf still uns sein, o Sohn! and immer lernen.

EMPÉDOCLES
EMPEDOKLES
Já me ensinaste; hoje aprende de mim.
Du lehrtest mich, heut lerne du von mir.

MANES
MANES
Não me disseste tudo?
Hast du nicht alies mir gesagt?

EMPÉDOCLES
EMPEDOKLES
Oh, não!
O nein!

333
332
MANES MANES
So gehst du nun? Então, já vais embora?

EMPEDOKLES EMPÉDOCLES
Noch geh ich nicht, o Alter! Ainda não, velho!
Von dieser grünen guten Erde soli Meus olhos não devem afastar-se
Mein Auge mir nicht ohne Freude gehen. Sem alegria, desta terra verde e aprazível.
Und denken miichte ich noch vergangner Zeit, E gostaria de evocar ainda o tempo passado,
Der Freunde meiner Jugend noch, der Teuern, Os caros amigos de minha juventude
Die fern in Hellas frohen Stiidten sind, Que se encontram distantes, nas alegres cidades da Grécia.
Des Bruders auch, der mir geflucht, so musst E o irmão que me amaldiçoou; isto
Es werden; laf mich itzt, wenn dort der Tag Devia acontecer, deixa-me agora; quando o dia
Hinunter ist, so siehest du mich wieder. Declinar, me verás de novo.

SCHL USSCHOR CORO FINAL

DES ERSTENAKTES DO PRIMEIRO ATO


(Entwurf) (Esboço)

Neue Welt Mundo novo

and es hãngt, ein ehern Gewõlbe e pende — abóbada de bronze —


der Himmel über uns, es lãhmt Fluch o céu sobre nós, a maldição paralisa
die Glieder den Menschen, and die sti rkenden, die erfreuenden os membros do homem, e os dons regenerantes e
Gaben der Erde sind, wie Spreu, es jubilosos da terra são como joio;
spottet unser, mit ihren Geschenken, die Mutter com suas dádivas, a mãe zomba de nós
and alles ist Schein — e tudo é aparência —
O wann, wann O quando, quando
schon õffnet sie sich já se abre
die Flut über die Dürre. a torrente sobre a aridez.

Aber wo ist er? Mas onde ele está?

Dal; er beschwõre den lebendigen Geist Que evoque o espírito vivente

334 335

Você também pode gostar