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LITERA RAE

AUTOBIOGRAFIA:
a questão
do suj eito na narrativa*

Verena Alberti
,

lado, a possibilidade mesma de constituição


objetivo deste artigo é levantar algu­ de tais narrativas está fortemente vinculada
questões sobre a posição do à existência de um "indivíduo" sujeito da
sujeito na produção de narrativas criação, origem legítima da produção do
autobiogrdficas A relação do escritor com discurso.
aquilo que Coi no passad , a reconstituição O que pretendemos ressaltar desde já,
da experiência vivida numa construção entretanto, é que tal ancaramento ao "indi-
-

"para a leitura"jc as diferentes posições vfduo" - que em princípio se destaca ainda


,

atualizadas pelo sujeito no ato de escrever mais no caso da autobiografia -Eão implica
são algumas das preocupações deste traba­ uma posição "monolítica" e "linear" do su-
lho,'"? o eito da criação, uma vez que o escritor, no
Como pano de fundo para o desenvol­ processo de produção da narrativa, se move
vimento da questão, definimos, de infcio, o continuamente entre o ue "é" e o que
espaço do "literário" em nossa cultura, in­ "poderia ser", E essa ambigüidade chega a
-
-

vestigando de que Conna se relaciona com ser tão profunda a ponto da "alteridade"
a questão do "suj�ito moderno", Isto por­ criada ganhar estatuto de "realidade", tor­
que, se não se pode dizer que autobiografia, nando possível, por exemplo, chorar e tre­
literatura e mesmo os relatos de viagem mer pela morte de alguém que não existe:
constituem "novidade" na cena "moderna"
- uma vez que se tem notícia de produçães "Sim, eusabia que, num dado momento,
análogas desde a Antiguidade -, de outro tinha que matá-Jo e não ousava. O

• Este lItigoretoma algum


.. qUCIlõcs de IlOSU diuerllçio de mealndo. A ülOIl;dr"U no processo tk CTiaçdo lilcrdri4:

DU1obWVa{lO efict;60 _ tJOO C4S03' dD úuratura bra,rileira cOftleryor4Mo, defendida DO Programl de põ..oraduaçioem
Antropdo';. Social do Museu Nacional em abril de 1988, 111 qual Cll udamoa li eltpc:riénciaa de Mlroclo Pai .... e Eliane Macid
na produçio de suas IUlobiop6u e VUI romanea de fic:çio. Agrad CJCClTlOl oinoe.ntivo c oacomplllhamenlo de Âncell de

CutroGOIDCI dw'Inlc I dltxlI'Içio do trabalho, Luiz Fecnando Duarte, nono oricntldor, Gli
C.SIl'Ot membros di banca. lambém coIlboraram Iluvé$ dlS �ÇÕCI impallntC5 que rlZCt'un lotnobalho oriaiNlI.

Es/lufos Hist6ricos, Riodc Janeiro, vai, 4, n. 1, 1991, p. 66-81


U1ERAnJIlAEAUTOBIOGRAftA 67

coronel já estava velho, fazendo os seus largo delas, e é parte constituinte da cultura
peixinhos de ouro. E uma tarde pensei: acumulada pelos homens.
4Agora sim que não tem mais jeito!' Comecemos a investigar a questão a r
Tinha que maÚ-lo. Quando terminei o partir de um texto de Walter Benjamin,
capítulo, subi tremendo para o segundo sobre a "narração" e o 'Iromance" (1969).
andar da casa, onde estava a Mercedes. De acordo com Benjamin, o surgimento do
Soube o que havia ocorrido quando viu romance está estreitamente vinculado ao
a minha cara. 10 coronel já morreu" contexto de consolidação da burguesia,
disse. Deitei-me ria cama e fiquei cho­ momento em que a narração teria começa-
rando duas horas" (Garcia Márquez, do lia retroceder bem devagar para o arcai-
1982:37). co�' (Benjamin, 1969:60), sendo uma das
razões dessa transformação a instauração
o trecho anterior, apesar de deslocado do domínio da imprensa, que retira da nar­
no que diz respeito l autobiografia - onde ração a função de informar e explicar acon­
o "personagem" que morre efetivamente tecimentos de forma plausível,.e do narra-
existiu -, ilustra, no universo amplo da cria­ dor, a atribuição de difundir (e ensinar)
ção literária (e,. seria possível dizer, da . experiências para serem apropriadas pelos
criação artística em geral), a dimensão da ouvintes (como na tradição oral, no conto­
l) relação de contigüidade entre IImador" e de-fadas, na saga e em outras fonnas de
Ucriatura", como se esta última fosse tão "gênero" épico). Essa lenta transfonnação
I real quanto o primeiro. ão esses udesliza­ ucria", segundo Benjamin, uma nova situa-
mentos" entre a Uidentidade" do autor e sua
-
ção, reservada ao romancista, que Usegre­
aiação que aqui nos inter�am e que ire- gou-se. O local de nascimento do romance
.

I mos discutir no caso especifico da autobi9- é o indivíduo na sua solidão, que já não
consegue exprimir-se exemplarmente", co-
\ grafi'hAntes, porém, gostaríamos de levan­
tar algumas questões sobre o lugar da mo exemplo de ensinamento usobre seus
literatura na modernidade. interesses fundamentais, pois ele mesmo
está desorientado e não sabe mais aconse-
Ibar. Escrever um romance significa levar o
incomensurável ao auge na representação
da vida humana. Em meio à plenitude da
I. UTERATURA NA MODERNIDADE vida e através da representação dessa pleni-
tude, o romance dá noticia da profunda
"Que é, pois, tal linguagem, que nada desorientação de quem vive" (Benjamin,
diz, jamais se cala e a que se chama 1969:60).
'literatura'?" O que esta caracterização do romance e
(Foucault, 1966:399). do romancista tem de comum com a idéia
que fazemos de literatura e lIescritor"? São
A pergunta feita por Foucault parece aquela linguagem de que fala Foucault e o
condensar aquilo que, aos olhos dos pensa­ sujeito que a cria construções específicas da
dores contemporâneos, diz respeito illitera­ "modernidade", produzidas e consumidas
tura: algo difícil - ou impossível- de defi­ pelo "indivíduo" em sua solidão?
nir e que, ao mesmo temHo, diz e não diz. É claro que a designação "literatura"
( Uma linguagem esj>ecífi C!!l a que se voltam não se aplica apenas a llromance", e mesmo
escritores e leitores, que precisa do ulivro", o aparecimento deste último não significou
atravessa a editora, as livrarias, é objeto de um corte irreversível que inviabilizasse o
circulaçã.o, levanta questões, ou passa ao desenvolvimento de outro tipo de "gênero"
6. ES1UIXlS HISTÔRICXlS -1991/1

literário, ou de '4gáleros anteriores" lque1e tão, que aquele que copia não t lutor. Por
'
que então se instituía. Mas o simples apa­ outro lado, se o "escritor" era até esse mo­
recimento da idéia do individuo-sujeito mento o "copista' , coma novl acepção se
aiador já nos convida a estabelecer um tomará termo laudatório para designar os
paralelo com a possibilidade de emergSncia aiadores de literatura de arte, ultrapassan-

desse individuo solitirio em sua criação (e do ou mesmo suplantando o "autor" como


na leitura). termo referente a u m prestigio. Assim, se
Pode-se falar de "literatura" fora da tão "autor" man�m-se como autoridade, origi­
controvertida "modcmidade'� Ou sen que nalidade e autoria I esaitor' pasSl a ser
- .

em relação a culturas nlo marcadas pelo reservado apenas aos "autores" que tem u m
"individualismo" seria mais apropriado fa· valor a mais, à ueles que juntam l aia - o
lar de "namção": a (in)formação dos ou­ a arte da forma.
vintes atrav& de relatos que dão conta de
experiências, acontecimentos, explica-
- ?
çoes .
-

? Historicamente, segundo Alain Viala


(1985), a "literatura" teria surgido apenas
em meados do século XVll, com a criação "L '�cril aecide em ce tempos au rang de
das principais academias, o surgimento dos valeur culturelle majeure en m2me
direitos autorais e o crescimento do com�r· temps que la qualué d'écrivain acc�de
cio de obras, quando então a arte de escre­ au rang de tUre de dignaé. Ne pou"a
ver começo1.1. I separar-se do saber erudito être distingué c omme tel que celui qui
e as expressões gens de Lettres ou homme aura pris le risque de s�exposer au ju­
de Leares ji nio eram suficientes para ex­ gemempublic, de mettre son nom en jeu
pressar • diferença então esboçada. A dis­ sur le marché littérair"" (V iaJI,
tinção lexical mais imediata foi dada então 1985:278).
pelo...tenno�� ta· que se diferenciava do
letrado ou especialista do saber, mas se Daí portan�o, a forte seleção daqueles
aplicava a todos os "mestres da fonna'\ que têm acesso a essa condição.
fossem eles autores de obras em verso ou É nessa época também que Viala locali­
em prosa, de literatura de arte ou de entre­ za o início da emancipação da "literatura",
.. - -

tenimento. A substituição dessa designação que, apesar de constar nos dicion'rios como
abrangente pelo�ermoresaitor' parece lo­ sinônimo de Udoutrina" e "erudição" - isto
calizar-se ainda no século XVll, quando �, saber daqueles que leram muito e muito
"esaitor" começa a ganhar o sentido de retiveram das leituras; saber dos "letrados" I

criador de obras com objetivo estético, o enfim -, começa a aproximar-se das belle9
qual passou a se impor sobre a aplicação em Lettres, em oposição às Lettres savantes.
vigor até então, de '4escriba", "copista". Entretanto, essa mutação iniciada em
É interessante observar a sobreposição meados do século XVII não deve levar-nos
do tenno uesaitor' 10 de "autor", Viala a inferir a existência do "Jitcr6rio" nl socie­
chama atenção para a etimologia do segun­ dade clássica: o autor sublinba que sua au­
do lermo, que reúne as acepções grega e tonomia estava apenas se esboçando, no

latina de "criador", "autoridade" e "aumen- conjunto de contIitos e efeitos de um movi­


tar" (aquele que traz alguma coisa a mais), mento que s6 seria consumado no século
formando um sistema semântico onde a seguinte. A produção "literária" do século
autoridade. do autor se apóia sobre sua qua­ XVII ain a seria marcada pela ambigüida­
lidade de originalida4c, concluindo-se, co· de de duplicidade e da "consagração con-
UlERA11JRA E AtITOBIOGRAflA .,

fiscada", OU seja, a consagração do escritor linguagem, e a primeira como compensa­


confiscada pelo Estado, a censura e coopta­ ção desse nivelamento.
çóes diversaQ Com efeito, a opinião de Foucaul!, ape­
Uma segunda interpretação do nasci­ sar de perconer um caminho diverso do de
mento da literatura - a de Foucault - situa Viala e de sugerir um marco mais recente
esse momento ainda mais próximo de nós, para a constituição do "literário", reforça a
especificamente no século �, coinciden­ idéia de que, se a "modernidade" pode não
te com o que, para este autor, foi o surgi­ deter exclusivamente a "paternidade" da
mento do "homem" (Foueaull, 1966): literatura, ao menos é nela que nossa repre·
sentação do "literário" se consubstancia,

"( ...) desde Dante, desde Homero, coincidindo com aquilo que, segundo Ben-
jamin, caracterizaria o romance: � indiví·
-

existiu, realmente, no mundo ocidental


duo·sujcito da criação, o livro e o leitor em
uma forma de linguagem que n6s outros, - -

sua solidão (em oposição à narração, que se


agora, denominamos 'literatura'. Mas a
atualiza no "ouvinte", prescindindo do livro
palavra é de fresca data, como � recente
e da solidão da leitura), e além disso e
também na nossa cultura o isolamento
de uma linguagem particular cuja moda­ articularmente, uma "nova" modalidade
de criação, cuja específicidade é ada pela
lidade própria é ser 'litenlria'. É que, no
inicio do século XIX, na época em que
atua aação de uma linguagem singular, a
Uliterária", fazendo de seu autor um uescri-
a linguagem se entranhava na sua espes­
tor".
sura de objeto e se deixava, de parte a
parte, atravessar por um saber, reconsti­
tuía-se ela alhures, sob uma fonua inde­
pendente (...) inteiramente referida ao
ato puro de escrever" (Foucault,
1966:393). 1. Uteratura e "Indivíduo"

A oposição entre "narração" e "roman·


A literatura, assim, teria surgido como a
. ce" desenvolvida por Benjamin sugere uma
principal compensação ao nivelamento da
correlação do tipo narração : sociedade ::
linguagem - e aqui o nivelamento corres­
romance: indivíduo, na medida em que o
ponde à sua fragmentação em dominios
-
romance, ao contrário da na nação, seria o
como ftlologia, fonnalismo, exegese e a
lugar do indivíduo revelar-se independente
própria literatura -, o qual, apesar de seme­
de uma sociedade que (in)forma, aconse­
lhante ao esfacelamento ocorrido com a
lha, difunde e resguarda a tradição. O r0-
história natural e � análise das ri uezas,
.q mancista, condicionado pelo contexto his­
diferencia-se destes últimos por impedir al­
tórico em que surgiu, não poderia falar de
guma forma de reagrupamento: para Fou­
outra coisa a não ser de sua desorientação,
caul!, a unidade da linguagem foi impossi­
tendo a sociedade, os acontecimentos épi-
vel de ser restaurada. E s fragmentação cos, e os conselhos para a esfera
.
em domínios múltiplos, tornando-se objeto pública da contudo, que
de conhecimento, é, para o autor aquilo � uma das ucria-
pennitiu O �parecimento do uhomc�' co­ ��= ::=:::;:=':c"' on=- a partir
mo objeto dilIcil e sujeito soberano de todo :;.;;: de um "contrato social" entre indi·
conhecimento. Sendo assim, ara Fouca�ul� víduos iguais e autônomos, diferenciando·
a literatura e o homem são coetâneos, o se, assim, como sacie/as, da Imiversitas,
último tendo surgido do nivelamento-da modelo de sociedade derivado do princípio
70 ES1UIlOS IDSTÓRICOS -199lfl

de bienlrquia (Viveiros de Castro & Araúj o, algumas das id�ias sobre a arte de escrever
1977:139). Sendo assim, num primeiro nl- da modernidade: criaçio solilAria, envol­
-7 vel, ni � sslvel pensar o indivldu9 como vendo uma "psicologia" dos personagens e
2Posto 1 sociedade, uma vez que tal "COII­ uma "psicologia" do .Iutor, axiada sobre o
trato" pressupõe sua existência e autonomia tema da "inspiraçlo Intima", devendo bro­
anteriores, sendo firmado com base nos tar das profundezas do indivlduD-lutor
direitos e deveres dos indivlduos como su­ (Duarte,1981:43); al�m disso e especifica­
jeitos morais e pollticos. Entretanto, como mente, uma linguagem pr6pria ao individuo
bem mostram Viveiros de Castro e Araújo, criador (e, portanto, contrária 1 norma), de
ao lado do ser moral autÔnomo, signalArio funçlo expressiva (e não estritamente co­
. rontrato socid, a modernidade tamb�m' municativa), onde se privilegia a polisse­
do -

_.,,
� cria o individuo único e singular, o ser mia (em detrimento da clareza) e efeitos de
. - - -
.

icol lco, qu�a parççe quando o social deslocamento; linguagem esta que por mui­
$SI • se� visto como estatal, o oficiã., � to tempo foi associada li Uconotaçio", em
central, aquilo que � essencialmente exte­ oposiçAo l "denotaçAo",utilizada na comu­
rior 1 dimensio interna dos indivrauos, on-' nicaçlo cotidiana, não "p�tica", da socie­
o amor e senbm.entos_ dade (Costa Lima, 1973:3-6)-0ssim,.al�m

cit.:161), permitindo­ de solitária e


-
tam�m na
nos, entlo, num segundo nível, falar de eifieidade - o
.

::
:
oposiçlo entre individuo e sociedade. a arte de esc= ,=
e::'
ve::r :i-':::::
. É em grande parte a este "individuo" que nossa cultura, revela seu ancoramento ao
se pode relacionar o espaço da literatura na primeiro termo da dicotomia ind.irid�uo x
modernidade; e não SÓ O deI., como tam­ soeiedadfj"
�m o da arte como um todo,da genialidade E, se fonnos um pouco adiante, veremos
e da loucura. O gEnio, o louco, •o artista e o que, se � no "Íl@vldllo" (sujeito criador ou
escritor destacam-se, por assim dizer, do sujeito leitor) que a literatura se consJ!1>s-
"todo" social e podem falar além dele, fora laneia é nele tam�m .9ue ela pYa; ou seja:

dele, sobre ele t, principalmente, com mais se o desvio � valorizado como manifestaçio
"sabedoria" "razão" e "originalidade". do da individualidade única em sua plenitude,
I

que os indivíduos comuns. Se, num primei­ s6 o � enquanto limitado 1 dimensão indi­
ro movimento, constituem expressões de viduai; enquanto escritor e sociedade parti­
um "desvio" 1 nonna,nio se ooe esquecer Ibarem "da mesma convicçlo quanto à
que esse mesmo "desvio" vem aCOIl'!-pa�a: 'normalidade' do não-po�tico, isto �, da
do de elevada valorizaçlo em nossa cultura, sociedade" (Costa Lima, 1973:7) e a cria­
-

que, ao mesmo tempo em que privilegia a ção Iiter4ria nio incidir sobre objetos udo_
. .

segmentaçio/individualizaçlo,7paradoxal­ tados de po�ncia modificadora" (id., ibid.).


mente promove o "pluralislllP': - a Ualter· Assim, uma vez valorizada e enquadrada
nativa" a umudanC':ll". cultural" , a udiferen- como desvio, a literatura adquire legitimi-
- --

,
" -

ça -, pan preservar o valor encomp�ssa­ dade pr6pria, queJbe confere plena liberl!!-
dor do individualismo (Duarte, 1980:8 e aede .
-

12). e
O espaço da literatura, da criação literá­ por isso mesmo e nestes re-
ria, em nossa cultun, então, encontraria velar 1 sociedade sua loucura, propor ques­
paralelo com aquilo que confere ao indivi­ tões, permitindo o prazer na dúvida (COSia
duo, como ser único e singular, lugar espe­ Lima, 1972:65; 1984:71): "Discurso do
cial e privilegiado, destacado da sqciedade. desvio, por excelência (... ), a literatura pode
E não t em outra direçlo que caminham sê-lo sob o preço de nunca se tomar o
UIERAnJRA E AUTOBIOORAFlA 71

discurso da sociedade" (Costa Lima, antropologia social e outns disciplinas das


1972:65). E, mais u1"a vez, verifica-se co­ ciências humanas atentaram pan a especi­
mo o espaço da literatura na modernidade ficidade d I identidade da essoa a cultura I
faz pesar o primeiro termo da dicotomia ocidental moderna, marcada pela idtia de
indivíduo x sociedade, a ele se alinhando. um indivíduo independente e autônomo.

Surgia então a necessidade de distinguir
entre duas n -
-es de individuo: o ser empl-
.!ico,_ membro da espécie bU
-

à -

na, encontra-
do em todas as sociedades e O individuo
�-
2. A literatura como "valor"
-

como "valor", sustentado pelos ideaiS Cle


� -

liberdade e igualdade próprios à moderni-


Areflexão empreendida att aqui sobre o dade. Este último distinguia-se, então, da
espaço da literatura na modernidade permi-' "pessoa 11 como categoria de identidade pr6.­
tiu identificar esse 'espaço com aquele con- pria a culturas bolistas, nas quais predomi­
\ ferido ao indivíduo 6nico e singular, o su­ navam a hierarquia e a diferenÇJ.
ue se c�nfigurou. No pensamento dumontiano, a categoria
) oUtico e moral . "valor" vincula-se estreitamente � bierar-
As-

e ao mesmo tempo acima da sociedade, que


se �de relacionar a literatura - o escritor, conhecido dessa rela­
o leitor e a própria criação - como expres­ ção seria o da hierarquia entre a mão direita
são desviante e Iivrel não mais "narração" e a esquerda (estudado por Hertz, 1960,
e
de informaçóes e da tradição, mas criação Dumont, 1983): a relação entre ambas não
Intima de possibilidades incomensuráveis; é uma relação de igualdade à que depois
não mais "responsabilidade social", e sim seria acrescido um valor, tomando· a hierár­
I !!!gar da questão e da d6vida. quica; ao contrário, o valor já nasce junto
lá terá sido possível verificar que este com as mãos e a relação entre as duas t de
"indivíduo" em questão t aquele que divi­ anlemdo marcada pelo encompassamento
.
de, com seu "homônimo- quantitativo", os da esquerda pela
bastidores dos uparadoxos" da modernida­ umont t o ue funda a reia - o hierár ui­
de. Ou seja, estamos nos reportando não ao ca a qual, no entanto, tendemos a descon­
indivíduo "igual perante todos", signatário siderar em virtude da racionalidade formal
do "pacto social", e sim �quele que � parti­ própria à modernidade: ao invts de hierar­
cular em sua diferença (cf. Simmel, 1902). quia, pressupomos a igualdade; ao invés de
É claro que ambos são coetãneos -. e daí a valor, pressupomos a existência do fato, da
"graça" e a justificativa do paradoxo -, e "natureza", que gannte a igualdade primei­
não podemos nos referir a um sem mencio­ ra entre mão direita e mão esquerda.
nar seu complemento (de que inclusive nos Entretanto, apesar de nossa racionalida­
servimos para dermir o primeiro). º- que de excluir hierarquia e valor, pandoxal­
rimporta registrar aqui é que tal "indivíduo" mente tIlosslvel referir-se a um valor indi-.
,
- e talvez, como tencionamos, a própria �lduQ em uma cultura o!lde o q� se.
literatura - constitui o espaço da "totalida: ressupõe é ele ser um fato.sue mantém
t de" emAOS§.! cu tura. uma relação de igualdade com outros fatos
É provavelmente
o

Foi principalmente a partir da obra de iguais a ele. em virtude


Louis Dumont, fortemente inspirada no tra­ dessa racionalidade formal, que nos condi­
balho pioneiro de Mareei Mauss, que a ciona a separar fato de valor, que se toma
72 ES1lJIXlS IDSTÓRICOS -1991/1

difícil considerar que çom o nascimento do ao fato, com que aprendemos a conceber o
"individuo" ocidental moderno deu-se a
-
mundo.
E, se é possível reconhecer neste "indi_
víduo" o espaço da totalidade em nossa
cultura, acreditamos poder avançar um
pouco e supor que tal espaço seja também,
ocupado pela literatura.
Em primeiro lugar, isso ocorre porque a \
I
literatura constitui uma das modalidades de
expressão e operação daquela totalidade: I
seja porque, no processo de criação, o es­
critor procure, em seu "foro {ntimo", na
completude da solidão, uma lógica cósmica
que reúna ao mesmo tempo sua experiência
de vida, a experiência do mURdo e o inco+
mensurável, dando-lhe sentido e conferin­
do uma totalidade própria àquilo que antes
parecia fragmentado; seja porque uma tota­
lização semelhante é operada pelo leitor,
na solidão da leitura, e a partir de uma
experiência de vida distinta; seja ainda, por­
que a própria obra impressa, independente
e solitária, guarda em si uma totalidade
secreta, é possível identificar na literatura1
uma vontade .de totalização, articulada �
que se deposita no indivJ­
como valor.
Em segundo lugar, porque não deve ser
,
por acaso que conferimos à literatura atri- ..
bUlaS "sagrados", emprestados, portanto,
ao domínio da religião, "categoria de nossa
cultura segmentada com que procur[amos)
entender o espaço da totalidade" (Duarte,
1980:5). O escritor tocado pela inspiração
atinge um estado sublime, pura levitação de
espírito, a que o leitor E também levado,
numa espécie de sagração purificadora do
que nele há de mais íntimo. Nesse "culto"
a que chamamos literatura, a obra literiria,
se consagrada, transforma-se em uma espE­
cie de "escritura", e o escritor, assim como
os deuses, toma-se um imortal, porque de­
tém, indecifrável, um dom especial: "Ela [a
criação artística) não se reduz (00') a uma
transcrição dos aspectos formais ou forma­
lizados da experiência de vida do artista, ela
se enriquece da expressão de alguma quali-
mERATIJRA E Atrro BIOGRAFlA 73

da de impalpável, sobre cujas característi­ grafia: as Con[lSs6es de Rousseau, texto no


cas tantos se deterão, ansiosos da disseca­ qual, pela primeira vez, o eu se fala na
ção desse resíduo sagrado da inspiração intimidade e se põe a nu, à disposição do
(...)" (Duarte, 1981:43; grifo nosso). julgamento dos leitores.2
Se, num olhar inicial para a "modernida­ Se retomannos, entretanto, a oposição
de", o que vemos é a marca do lCindividua­ de Benjamin entre "romance" e "narra­
lismo" (em oposição ao ICholismo"), o mun­ ção", lembrando que o "romance" também'
do fragmentado em diversos domínios, a "nasceu" no contexto de separação do "in_
ciSneia dividida em "disciplinas", a racio­ divíduo" da "sociedade", sendo, portanto,
nalidade caracterizada por Descartes, a "so­ coetâneo à autobiografia, teremos uma pri­
ciedade complexa" enfim, um segundo meira relativização do lugar desta última na
't9) olhar mais aprofundado e algo "esquizo­ modernidade. É certo que a autobiografia,
frênico", nos leva necessariamente para o ao falar do sujeito em sua dimensão íntima,
reino da ambigüidade. E é neste terreno, em também "dá notícia", como o "romance"
que "indivíduo", ICliteratura" e a própria
- -

"da profunda desorientação de quem vive"


ICmodernidade" adquirem configurações
I mais complexas, que tencionamos investi... (Benjamin, 1969:60). De outro lado, contu-
do, ela também difunde e exemplifica a
gar a questão do sujeito na narrativa auto­
experiência do autor, a partir de seu ponto
biográfica.
de vista singular, e, nesse sentido, tal qual a
"narração" aconselha e ensina o

uma moda-
11. O SUJEITO NA NARRATIVA •

lidade discursiva, que, segundo Benjamin,
AUTOBIOGRAFICA - '-
..

. c.:o..:,
�taria retrocedendo ara o uac: .
-

antes, a "narração" explicava a "tradiç.ão"


,::
"Existe um elemento muito difícil de
e os acontecimentos do onto de vista da
ser captado por um leitor médio:
comunidade que lhe foi tomada
- -
-

o narrador de uma história não é nunca


pela o
o aulor. É sempre uma invenção".
Vargas Llosa (apud Paiva, 1986:5).
modernidade: não mais a universitas e sim
o uindivíduo" em sua dimensão única e
Narrativa centrada no sujeito que a cria,
simultaneamente ponto de partida e objeto :' -=t""
a ô" :'
om
""'" :'
. 0-"

do texto, aLautobiografia are� ser a atua­ Esse quadro paradoxal, em que convi­

lização do "indivíduo moderno" no espaço vem uma manifestação discursiva Utípica"


da literatura. É como se, ao lado da poesia; da modernidade - a autobiografia - e outra
do romance, da peça teatral, da crônica, identificada com o 'Carcaico" - a IInarração"
.--

enfun, se reservasse àquele indivíduo, a -, pode ser explicado através do que se /


convencionou chamar de c�aradoxo da mo; !­
-

suas reflexões e experiências particulares,


-

um "gênero" literário es�cífico que per­ dernidade": se a autobiografia é o espaço,


mitisse a expressão de sua unidade e auto- "'por excelência, de expressão do "indiví­
nomla. duo", não se deve esquecer que esse mesmo

Historicamente, inclusive, a sintonia en­ uindivíduo", antes de ser um 11 [a to", é um


tre autobiografia e Usujeito moderno" é "valor", aproximando a modemidade, mar­
confinnada pelo marco inicial a que se cos­ cada pelo uindividualismo", do "arcaico",
tuma atribuir o "nascimento" da autobio- marcado pela .c'hierarquia".
74 ESTIJIlOS HlSTÓRICXlS -1"117

tIos da "realidade", mas, antes, à sua lrans-


-

1. O sujeito na ficção gressao_(p. 226)


.

Al�m disso, enquanto a fantasia, como


atividade compensatória, se configura em
Para chegarmos mais perto da questão uma vontade de uesquecer a realidade" (p.
do sujeito na narrativa autobiográfica, é 195), OÜ!!!ginário elabora semJ
necessário estabelecer uma comparação sdo, uma vez que a uirrealização" de "outra
com a namtiva ficcional. Lembremo-nos coisa" nao anula o plano da realidade (p.
do relato de Garda Márquez sobre a morte 194-5). Nesse sentido, o "outro mundo"
do coronel Aureliano Buendía: no início produzido na ficção não se opõe à "realida­
deste artigo ressaltamos o fato de que, na ,de"; "ficção", segundo Costa Lima, não � ­
autobiografia, o "personagem" que morre como se cosruma definir - simplesmente o
efetivamente existiu, ao contrário do que "avesso" da realidade, nio l. "mentira", ao
ocorre na ficção, que não fala daquilo que, contrário: "o plano da realidade penetra no
para escritor e leitor, pertence à esfera do jogo ficcional ( ... ), porquanto o que nele
"real", Nesse sentido, a narrativa ficcion�1 está se mescla com o que poderia ter havi­
�e "istingue da autobiográfica por não se do; o que nele há se combina com o desejo
referenciar a uma "realidade" anterior e do que estivesse; e que por isso passa a
exterior ao texto (a vida do autor)! e sim haver e a estar" (p. 195; grifo nosso).
produzir um "outro mundo", imaginário,. No que diz respeito ao escritor, tal tensão
onde se movimenta, atua e morre Aureliano entre o imaginário e o real sofre um rebati­
Buendea. mento para o plano do "eu", Ainda segundo
Vejamos agora como a produção desse Costa Lima, o imaginário tem relação direta
"outro mundo" incide sobre a posição do com a possibilidade de ampliar o que chama
sujeito na narrativa ficcional. Tendo como de "ângulo de retraça0" das experiências
energia constitutiva justamente o imaginá­ pessoais do escritor (1984a:228), expressão
rio, a criação de ficção se caracteriza, se· usada para contestar a noção de reduplica­
gundo Iser (1979), por transformar, através ção especular, segundo a qual as figuras
dos "atos de fmgir", esse mesmo imaginá· compostas pelo escritor seriam meros refle­
rio,de inicialmente difuso na "imaginação" xos ou projeções de seu eu (p. 232). Assim,
do escritor, em determinado (em algo que, ao mesmo tempo em que o imaginário per­
pelo processo mesmo da criação,passa a ser mite a ICtransfonnação" do escritor em per­
tão real quanto o "real", dirfamos), "irreali· sonagens que nada têm a ver com ele, tal
zando·o", transformação f. alimentada pela refraçao
contudo,de acordo com de sua experiência pessoal (esta, vivida no
ser tomado por ufa�· plano da "realidade"),o ângulo de refração
tasia", porquanto esta última � "fundamen­ sendo o espaço no interior do qual se esta·
talmente uma atividade compensatória" (se belece a lensdo entre o eu imaginário e o eu
sinto sede, fantasio um copo d'água), "per· "real ":
tencente à mesma ordem da realidade vivi­
da", satisfazendo expectativas sem oferecer "O ficcional, portanto, implica uma dis­
"lugar para o questionamento e a criticida· sipação tanto de uma legislação genera·
de" (Costa Lima, 1984a:223 e 224). O ima· lizada," (ele não reflete uma verdade de
ginário, ao contrário, "supõe a irrealizaçdo ordem geral) "quanto da expressão do
do que toca; a aniquilação das expectativas eu" (não reflete tampouco os valores do
habituais" (p. 224-5; grifo do autor) e não escritor). "Nele, o eu se lOrna m6ve� ou
corresponde a uma submissão aos parâme- seja, sem se fixar em um ponto, assume
UlERAruRAE AtrrOBl00RAFlA

diversas nuc1eaçães, sem dúvida, con­ tobiografia, ao invts de suscitar a dissipa-


tudo, possibilitadas pelo ponto que o ção do eu em múltiplos "outros", parece, ao
autor empírico ocupa. É aessa movêneia contrário, reafirmar sua
do ficcional - que, simultaneamente, Para o que ca-
implica a dissipaçao do eu e afirma os racteriza a autobiografia a identidade en­
limites da re[raçao de seus próprios va­ tre narrador e autor, expressada atrav�s do
lores - que temos chamado de angulo de acro aurobio rti /Co estabelecido com o
refraçao. Assim, tal dissipaçao do eu le.tor, es�cie de declaração do tipo "isto é
n40 o torna mexistente, como se escre­ autobiografia".
ver ficção fosse anular seus próprios va­ A partir de uma defmição inicial de au­
lores, normas de conduta e sentimentos. tobiografia - "Récir rerrospectif en prose
A imaginaçao permite ao eu irrealizar­ qu'une personne réellle [air de sa propre
se enquanto sujeito, para que se realize" existence, lorsqu'elle mel ('accent sur sa
em uma proposta de sentido (... ) Pela vie individueI/e, enparriculier sur I'hisroire
ficção, o poeta se inventapossibilidades, de sa personaliré" (1975:14) .-,
sabendo-se nao confundido com nenhu­ procura inferir o que, nesta defmição, per­
ma delas; possibilidades contudo que' manece restrito à autobiografia, se a com­
nao Inventanam sem uma motlvaç80 pararmos com
_ . . , -

biográfica" (Costa Lima, 1984a: grifos curso


nossos).

Desse modo, o "eu" do escritor na nar­ co, o


-
e o auto-retrato ou en-
_ .. -

rativa ficcional se dissipa no espaço aberto saio. comparação resulta que a auto-
pelo ângulo de refração, permitindo ao es­ biografia t principalmente uma narrativa
aitor "irrealizar-se enquanto sujeito", "in_ (récir), com perspectiva retrospectiva e cu-
ventar-se múltiplas possibilidades", imagi­ jo assunto tratado é a vida individual� e
1:)
nar-se, enfim, "outro de si mesmo", E, no implica necessariamente a identidade entre
extremo dessa "movêneia" do eu, é dada ao autor, narrador e personagem (p. 14-5).
escritor (e ao leitor, que também se trans­ A gradação sugerida pelos adv�rbios
porta para o imaginário) a possibilidade de grifados significa dizer que os três elemen­
chorar pela morte de um personagem, como tos podem não constar em todas as páginas
se estivesse sendo "possuido" por, ou se de uma autobiografia, sendo apenas predo­
"metamorfoseando" em sua aiação? minantes, mas que

non
,
rio pacto a identidade entre
o nome exposto na capa e na folha de rosto
2. A construção autobIográfica (um nome que equivale a uma assinatura) e
o nome que o narrador se dá como persona-
Investiguemos agora, como contraponto gem principal, acrescida na maioria das
a essa modalidade de "possessão" do sujei­ vezes da indicação, na capa, na folba de
to moderno, o que ocorre com o "eu" do rosto, nas orelbas e na contracapa, de que
escritor na criação autobiográfica..E!'l se trata de uma autobiografia. O pacto au­
p!."incí2i. o. poder-se-ia dizer que, na recons­ tobiográfico se dá, então, quando a identi­
tituição de sua experiêneia de vida,1!.ã-º dade entre autor, narrador e personagem é
cabe ao autor' e "irrea-
-�
assumida e tomada explícita pelo autor, ao
I�r" um persona sentido, a al;(- . contrário do ·� to,-" ..an�sc�", declara-
,:;;

..
� .::
76 ESTIJDOS HlSTÓRlr05-199111

ção de negação daquela identidade e ates­ mentos, omissões e deformações na his16-


tado do caráter de ficção. rin do personagem; possibilidades, alih,
É por isso também' que uma autobiogra­ que muitas vezes o autor mesmo - num
fia nunca pode ser anônima, porquanto Ibe movimento de sinceridade próprio A auto­
faltaria assim o nome do autor, daquele que biografia -levanta: esaeverá sobre sua vi­
atualiza o pacto. . da aquilo que lhe E permitido, seja em fun­
E, como contraprova dessas afirmações, ção de sua memória, de sua posição social,
Lejeune aponta o fato do leitor muitas vezes ou mesmo de sua possibilidade de conheci­
procurar a ruptura de tais contratos: por um mento.
lado, julga encontrar, na ficção, semelhan­ Resa espécie de u�eclaração d� princl- 1
ças entre o texto (os persongens, as situa­ Rios", mesmo não expressa, faz' parte do 1
ções) e a vida do autor e, por outro, na contrato autobiográfico com o leitor e dife­
autobiografia, busca defonnações e ufuros" rencia a autobiografia dos demais textos
que atestem a não correspondência entre referenciais, uma vez que a exime da seme·
autor, narrador e personagem (p. 25_7).4 Ihança estrita ao referente,
Entretanto, se o pacto autobiográfico
(> confere à identidade entre autor, narrador e
_

personagem um cadter manifesto, isso não


significa, ainda segundo
nível do discurso, nã o==:
:=, texto, narrador e
personagem remetem, respectivamente, ao
sujeito da enunciação e ao sujeito do enun­
ciado: o narrador narra a história e o perso­
nagem é o sujeito sobre o qual se fala.
Ambos, por�m, remetem ao autor, que pas­
sa então a ser o referente,fora do texto.
Do ponto de vista da relação entre autor
e narrador, tedamos uma identidade clara,
assumida, que se mani esta no presente da
enunciação: f. o autor que escreve aquelas
linhas; � ele que narra, no momento presen­
S
te, a história. lá entre autor e personagem,
o que teriamos não constitui identidade,
mas, antes, uma relação de �e.!!JJlhança.
uma vez que o sujeito do enunciado (perso­
nagem), apesar de inseparável da pessoa
.'

que produz a narração (o autor-narrador


esU falando dele mesmo), dela está afasta­
do, o que se compreende principalmente ao
verificar.a distância temporal eOGQpre­
.sente da enunçjaçio e orelatode aconteci.
mentos passados: o personagem com a ida-
e de três anos assemelha-se ao autor com·
a idade de três anos. É por isso que, do ponto
de vista do enunciado, o pacto autobiográ­
fico prevê e admite falhas, erros, esqueci-
UlERA1lJRA E AuroBIOGRAFlA 17

cação do sujeito coincide com a própria síntese (um concebido)? Isso acontece num
significação da autobiografia, uma vez que movimento tal que esse "semelhante" de si
"on ne peut assumer sa vie sans d'une cer­ mesmo toma-se um "indivíduo" único e
taine maniere en {rxer le sens; ni I'englober totalizado, o sujeito "psicológico", cuja
suns en [ave la synthese; expliquer qui on constituição "mítica" já foi inclusive suge­
élai4 sans dire qui on esl (p. 174)..
"
rida por Lévi-Strauss ao final de sua análi­
Assim. se alguém se põe a escrever uma se sobre a cura xamanfstica: "sabe-se bem
autobiografll
l , que todo mito � uma procura do tempo
.um sentido em sua vida e dela operar uma perdido.
síntese. Síntese que envolve omissões. se­ Esta forma moderna da técnica xamanís­
eção de acontecimentos a serem relatados tiça, que é a psicanálise, tira, pois, seus
e desequilíbrio entre os relatos (uns adqui­ caracteres particulares do fato de que,na
rem maior peso, são namdos mais longa­ civilização mecânica, não há mais lugar
mente do que outros), operações que o autor
para o tempo mELico; senão no próprio 110-
s6 é capaz de fazer na medida em que se
mem" (Lévi-Strauss, 1949:236; grifo nos­
orienta pela busca de uma significação:
so). Ou seja, sobre o pano de fundo da
busca essa que lhe dirá quais acontecimen-·
modernidade, é possível dizer que o esforço
tos ou reflexões devem ser omitidos e quais
autobiográfico, análogo ao psicanalítico,
(e como) devem ser narrados. É essa busca
constitui também a "procura do tempo per­
também que prevalece na estrutura do tex­
dido", expressão e atualização do tempo
to, os relatos ganbando sentido à medida
mítico, localizado, na "civilização mecâni­
que vão sendo narrados, acumulando-se
no "próprio homem".
"
uns aos outros, de modo que a significação
ca ,

se constrói no momento mesmo em que o


É esse quadro que também sugerimos
no início deste item, ao aproximar a auto­
autor escreve a autobiografia.
biografia da "narração" nos tennos de Ben­
Assim, se na "irrealização" da ficção
jamin: é como se na modernidade, de modo
ocorre uma dissipaçdo do eu, na "significa­
análogo ao que ocorreu com o "tempo mí­
ção" da autobiografia pode-se dizer que o
tico", s6 tenha restado lugar para a IInarra-
que ocorre é sua fIXação. Pois, se, na pri­
meira, é possível imaginar alteridades e ção" que fala de, e sobre, o "eu".

concretizar fonnas de vida diversas ("ou­ E tomando-se o próprio lexlO autobio­


tras"), na segunda, ao contrário, a movência gráfico, � possível supor que, çomo texto,
do sujeito se circunscreve ao espaço da também se aproxime do relato mítico: uma
semelhança, resultando na construção de história narrada, na qual se justapõem con­
uma "imagem" .de si mesmo, à qual se tradições, que 'caminha em direção a uma
conlere\ese fi,za) umseritldo.. solução 'final, es écie de alívi para a con-
-

Dito assim, não é difícil supor a relação tradição antes experimentada entre o que
entre a construção autobiográfica e um mo­ "fui" e o que "sou":
vimento "mítico,,6 do eu do autor, na medi­

da em que a "energia constitutiva" da auto­ "Pois memórias e autobiografias são


biografia parece ser, não o imaginário, e substitutos dos espelbos. Se estes, metá­
sim o signifICado. Iicos e implacáveis, assinalam o desgas­
E o que faz o escritor de autobiografia te dos traços, o torpor dos olhos, a
senão imprimir descontinuidades à sua vi­ redondez do ventre, fechamo-nos contra
da, selecionando episódios "significativos"· a maldade dos espelhos e procuramos
que se encaixem na "estrutura" do texto, nos rever no que fomos, como se o per­
para elaborar (no texto e de si mesmo) uma curso da antiga paisagem nos capacitas-
-

78 ESnJDOS HISTÓRICOS -1991/7

se I nos explicar ante nós mesmos"


(Costa Lima, 1985:244). 3. O. limIte. de expre ••Ao do "eu"

História M"ada, na medida em que � Se é no Iinútado espaço da seme/ha�a


conslrUlda também para a leitura, porque o que se move o "eu" autobiogr'fico e se,
autor nlio se significa apenas para si mes· nessa movencia, ele produz uma imQem
mo, mas tamb�m para os outros, � capaz de mítica de si mesmo, fixando-se como "eu
contar sua hist6ria, transmitir sua experien­ 1
para si" e "eu para os outros' de outro lado,
cia - no que a conslrUçio autobiográfica se contudo, essa conslrUçio da identidade nio
aproxima da noçio de "projeto" desenvol- se faz sem ambigüidades. E se MO se pode

vida por Gilberto Velho, como sendo uma dizer que o escritor de autobiografia é "pos­
elaboraçio consciente, posslvel de ser co­ suído" por, ou se "metamorfoseia" no ima­
municada, d. tentativa "de dar um sentido ginário, de alguma forma é posslvel reco­
nhecer, em seu afã de expressar e resgatar I
ou uma coerência" • "experiencia fragmen­
experiencia de vida, uma �ntativa de su­
tadora" do individuo nas sociedades com­
plantar as descontinuidades que o separam
plexas (Velho, 1981:31). •
do sujeito do enunciado.
E � por esse ato de conlar, justamente,
Ao analisar a produçio de autobiogra­
que o projeto autobiográfico parece tomar­ fias na terceira pessoa, em que o autor refe­
se passlvel, na medida em que exige do re-se a si mesmo como se fora outro, Phi­
escritor o esforço dç tomar inleleg(vel para lippe Lejeune (1980) adverte que tal figura
os outros sua experiência "fragmentada", (a terceira pessoa) MO deve ser tida como
Caso contrário, se teria, no limite da busca uma forma "indireta" de falar de si mesmo,
de sentido para a própria vida, um "veto 11 em oposição ao cariter "direto" da primeira
comunicação", uma "radicalização do au­ pessoa, pois "elle uI une mani�re de réali­
tobiográfico, implicando a impossibilidade ser, sous la forme d'un dédoublement, ce
de partilhar os seus significados" (Costa que la premi�re personne réalise sous la
Lima, 1985:307), uma vez que s6 o autor forme d'une confusion: I'inéluclable duaU­
seria capaz de signfficar-se a si mesmo,não lé de la 'personne'gramalicale. Dire 'je'UI
dando condições ao leitor de "partilbar o plus Iulbituel (dane p/us 'nalurel') que dire
que ali se oferece" (p. 306). 'U' quand on parle de so� mais n'eSI pas
plus simple" (Lejeune, 1980:34; grifos do
Nesse sentido, talvez, a funçio da narra­
tiva na autobiografia seja análoga Aquela autor).
que adquire na concepçio moderna de his­ Isto acontece porque "eu" � sempre uma
figura aproximativa nos discursos (1 exce­
tória: a de elaborar uma ex Iica o (um
çio dos enunciados performativos), por­
concebido) para o passado,na qual o tempo
que, nela, se confundem e se mascaram as
linear finalmente pára, aceitando uma con-

distincias e as divisões da identidade múl­


clusão: "o tempo narrativo parece trabalhar tipla do sujeito que fala: a distincia entre o
paralelamente a estas ciencias "(naturais)" sujeito da enunciaçio e o sujeito do enun­
- e ao método critico - complementando­ ciado, que, como vimos, marca a especifi­
as, pois enquanto elas se obrigam a um cidade do texto autobiográfico. Neste, a
progresso contínuo, equivalente ao inces­ dualidade da voz narrativa corresponde, se­
sante movimento do tempo linear, 8 narra­ gundo Lejeune (1980:37), As distincias de
tiva confecciona um real no qual este tem­ perspectiva entre o narrador e o persona­
po, esta Oecha, finalmente pára, aceitando gem, que fazem com que coexistam diver­
uma conclusão" (Araújo, 1986:49). sos jogos de focalização e de voz, como a
UlERA111RA E AtrrOBIOGRAFlA 19

restrição 10 personagem, ou a intrusão do Isso nos leva a supor que, se efetivamen­


nanador, que pode comentar acontecimen� te o escritor de autobiografia não estabele­
tos com ironia, por exemplo, ou tratá-los ce, como o de ficçio, uma continuidade7

liricamente etc. Compensando ou mesmo com O Uimaginário", tal continuidade, na

mascarando essas distincias, tensões e mu­ verdade, é buscada em relação ao "vivido",


à experiência de vida que o autor tenta
danças constantes de perspectiva, o empre­
go da primeira pessoa, mais comum na reconstruir, procurando, sem sucesso, IIex_

autobiografia e quando se fala de si mesmo,


primer tota/ement /apersonne". É como se
apenas estaria promovendo a ilus40 da os diversos de �;::::
unidade do eu, de que, parece, necessita�
mos, haja visto o incômodo e a sensação
artificial que provoca a leitura de uma au­
fossem
tobiografia em terceira pessoa. Assim, a
pordivi-'
análise do emprego da terceira pessoa na
narrativa autobiogrifica conduz àquilo que
mento da continuide vivido: E, como tal
se esconde detrás do emprego do "eu" e 1
expressãodo eu emsua "inteireza" é impos�
profunda tensão inerente a todo esforço au- .
sívcl, o mito construído pelo sujeito 8Uto�
tobiográfico:
biográfico deixa sempre um residuo que
não se "encaixa" na estrutura concebida, de
"Tom sepasse comme si dans l'aUlobio·
modo que, não fora sua construção para a
graphi2, aucune combinaison du syste­ leitura (sua narração), a Oecha do tempo
me despersonnes dans J'énoncialion ne vivido não parava e se teria um j'veto li
pouvait de maniere salisfaisante 'expri� comunicação".
mer totalement' la personne. Ou pllltõt,
E se antes haviamos localizado a especi­
pour dire les choses moins nafvement,
ficidade da autobiografia justamente na
tomes les combinaisons imaginables ré·
identidade entre autor e narrador, agora esse
velent plus ou moins clairement ce qui
mesmo nanador, incapaz de ser a expressão
est le propre de la personne: la tension
do autor em sua "inteireza", desloca�se,
entre I 'irnpossible unité et I 'intolérable
como o personagem, para o plano da cons�
division, et la coupure fondamentale qlli
trução : passa 8 ser uma imagem do autor,
fait du sujetparlant un Rtre de fuite" (p.
construida e gravada nas linhas do livro.
38; grifos nossos). Desse modo, é possível dizer, como Vargas
Llosa, que o narrador de uma história é
Sendo assim, aquilo que havfamos situa� sempre uma invenção, mesmo que essa his­
do como sendo próprio do "eu" autobiográ­ tória seja aquela do "microtempo funda­
fico - a fixação de uma significação do. mentaI" que o autor protagoniza.
sujeito - antes de constituir a tota lização
mitica da identidade do autor, toma-se, pelo
olhar "esquizofrênico", uma ilusão de uni­
dade, com a qual o escritor se depara duran�
te a construção de seu texto autobiográfico, Notas
experimentando a distância entre o sujeito
do enunciado e o sujeito da enunciação, a 1. Um dos exemplos dessa possibilidade po.
pluralidade de perspectivas da voz narrati­ de ser encontrado em Costa Lima, "Mito e pro­
va e as divisões internas ao eu que se pro­ vérbio em Guimarães Rosa" (1972), onde se

clama único. verifica que a afta incidência de provérbios na


80 ES1tJDOS HISTORIOOS -1"1I7

obra de Guimarães Rosa levou o autor a aproxi­


má-Ia da narração e do relato mítico. Blbllografta
2. Sobre o "surgimento" da autobiografia e
as Con.fissõu de RouS-Seau, ver Costa Lima,
ALBERTI, Verena. 1990. No giro do caleidos­
1985:250-95, e Lejeune, 1975:13, 49-263 e 340.
cópio: a questão da identidade na criaç40
Em Costa Uma, 19848 e 1985, encontram-se
literária. Rio de Janeiro, PPGAS Museu Na­
tam�m referências às ConfissõudoAgostinho,
aonal.
que merecem destaque- DI "genealogia" do "gê­
ARAUJO, Ricardo Benzaquen de. 1986. "Ron­
,

nero'" autobiogréfico, na medida em que tam�m


da noturna: nanativa, aftia e verdade em
constil\)em narrativa sobre a experiência do au­
Capisttano de Abreu.'" Estudos Hist6ricos.
tor diante de "algo capital'" - sua conversão
Rio de Janeiro, Associ ação de Pesquisa e
(Costa Lima, 1984a:237). Entretanto, de acordo
com te. J. Weintraub, citado por Costa Uma. . I BENJAMIN, Walter. 1969. "0 narrador. Obser­
Documentaçio Histórica, (1):28-54, 1988.

embora Agostinho "certamente estivesse 0008- vações sobre a obra de Nik:olai LeskoW-, em
ciente da i4iossincra.sia pessoal, não a via como BENJAMIN, W. el alii, Texlos escolhidos. •
algo Cle valor em si mesmo ou merecedora de São Paulo, Abril CUltural, 1980. (Os Pensa-
cultivo' (Costa Lima, 1985:257), de modo que dores) .
8 "singularidade" da experiência "individual" COSTA LIMA, Luiz. 1972. "Mito e provérbio
não entrava a( em questão. .
em Guimarães Rosa"� emA mdamorfose do
3. R'SSa analogia entre a ormovênci a" do sujei­ si/i.ncio. Rio de Janeiro, Eldorado, 1974.
to e fenômenos de "possessão" ou "metamorfo­ (Enfoque)
se" foi desenvolvida em nossa dissertação de _. 1 973. "Poética da denotação", emA mela­
mestrado a partir do conceito de "ritual" e "sa� morfose do silêncio. Rio de Janeito,
ajUcio" de Lévi-Strauss. Para um aprofunda� Eldorado, 1974. (Enfoque)
mente da questão, induindo a relação entre, de --,'1984. "Literatura e sociedade na América
um lado, a literatura e, de outro, a oposição Hispania", em Sociedade e discursa pccio­
'évi�straussiana entre "mito" e "ritua''', ver Al� nal. Rio de Janeiro, Guanabara, 1986,
berti, 1990. _. 1984a, "Documento e ficção", em Socieda­
4. A respeito dessa identidade, ver, também, de e discurso ficcional. Rio de Janeiro,
Costa Lima (1985:252-3). Guanabara, 1986.
S. Em sua análise, Lejeune lança mão de uma
quarta figura, o modelo, aquilo ao qual o enun� j _. 1985. "Júbilos e misérias do pequeno eu",
em Sociedade e discurso ficcionaL Rio de
Janeiro, Guanabara, 1986.
dado pretende assemelbar�se, como forma de
instrumentalizar a oontraposiç2io da autobiogra� DUARTE, Luiz Fernando. 1980. "O culto do eu
no templo da razão", em "Três ensaios sobre
fia à biografia. Como, entretanto, modelo e autor
se confundem na a utobiografia (Lejeune,
pessoa e modernidade", Bolelim do Museu
NacionaL Rio de Janeiro, (41):2-27, 1983.
1975:40), optamos por adotar a figura "autor"
(N. Série-Antropologia.)
quando se trata da relação de semelhança no
_. 1981. "A oonstrução social da memória
nível do enunciado.
moderna-, em "Três ensaios sobre pessoa e
6. Utilizamos aqui principalmente a noção de

modernidade". Boldim do Museu Nacional.


"mito" desenvolvida por Lévi-Strauss, que' re�
Rio de Janeiro, (41):28-54, 1983. (N. Série­
mete à ordem do "pensado", da "estrutura", do
Antropologia.)
"concebido" e do "desoontínuo", pela qual ela�
_' 1982. "Pluralidade rel igiosa nas sociedades
boramos o que o autor chama de "texto" do real
complexas e 'religiosidade' das dasses tra­
(cf. principalmente Lévi-Strauss, 1970). balhadoras urbanas", em "Três ensaios sobre
1. Sugiro aqui a relação entre tal "oontinui­ pessoa e modernidade':". Boletim do Museu
dade" e a noção de "ritual" de Lévi-Strauss, que, Nacional. Rio de Janeiro, (41):55�9, 1983.
opondo-se ao "mito", constitui uma outra mo­ (N. Série-Antropologia)
dalidade de elaboração do "texto' do real, da __o 1986. Da vida nervosa nas classes Iraba­
ordem do "vivido", do "acontecimento", do Ihadoras urbanas. Rio de Janeiro; Jorge
"contínuo" (cf. principalmente Lévi-Strauss, Zahar; Brasflia; CNPq. (Antropologia So­
1970). elal.)
UlERAruRA E AlfTOBlOQRAFlA 81

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