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Constelacoes Familiares PDF
Constelacoes Familiares PDF
Quem
Somos
Como esta abordagem foi muito útil para nós, é de coração aberto que a
oferecemos a você !
Nosso caminho pessoal nos trouxe até este trabalho. Durante nossa formação
acadêmica na Medicina e na Enfermagem, fomos confrontados com perguntas sem
respostas e problemas que as abordagens tradicionais não nos atendiam.
• Uberlândia-MG
• Brasília-DF
• Goiânia-GO
• Patos de Minas-MG
• Taguatinga-DF
• Governador Valadares-MG
• Belo Horizonte-MG
• Ipatinga-MG
• Florianópolis-SC
• Formiga-MG
• Unaí-MG
• Londrina-PR
• Porto Alegre-RS
• Vitória da Conquista-BA
• Salvador-BA
• São Borja-RS
• Oaxaca (México)
• Porto (Portugal)
• Sevilha (Espanha)
• Guaratinguetá - SP
• São Paulo - SP
Histórico:
2010
2009
2008
Organizamos o I treinamento Avançado em Constelações Familiares com Bert
Hellinger no Brasil -- composto de 3 módulos intensivos de 8 dias, e que será
ministrado no triênio 2008-2009-2010. O primeiro módulo aconteceu em Agosto de
2008 em Águas de Lindóia e foi um grande sucesso!
2007
2006
2005
2004
No dia 5 de Março de 2004 fundamos junto com vários colegas a ABC Sistemas -
Associação Brasileira de Constelações Sistêmicas segundo Bert Hellinger.
Associação voltada para a divulgação desta abordagem no Brasil. Visite o site!
www.hellinger.com.br
Fundamos junto com o casal Peter e Tsuyuko Spelter a Editora Atman -- primeira
editora brasileira totalmente voltada para a difusão dessa abordagem. Publicamos
nosso primeiro livro -- de Bert Hellinger -- "O Essencial é simples".
2003
2002
2001
2000
Currículo Breve
A quem se
destina
Não obstante, o amor que emerge durante a constelação familiar é o mesmo amor
que adoece e o que tem a sabedoria da solução quando se torna consciente.
Conceitos-chave
As ordens do
amor
Nos sistemas familiares, quando alguém faz algo que ameaça seu pertencimento
ao grupo sente imediatamente a consciência “pesada”. Por exemplo, se alguém se
depara com o fato de estar saudável, mas todos os membros de seu grupo familiar
estiverem muito doentes, vai se sentir “culpado”. Ou um membro de uma família de
criminosos, sente-se “culpado” se não comete ele também algum delito. Estranho,
não é? Especialmente estranho, porque nesses casos, essas pessoas se sentiriam
“inocentes” – ou de consciência leve – fazendo coisas que no primeiro caso
(adoecer junto com os demais membros da família) seria uma coisa “ruim” e no
segundo (não cometer nenhum delito) seria uma coisa “boa”.
Mas Hellinger ainda descobriu um outro fato surpreendente e que na maior parte do
tempo nos escapa da percepção. Ele descobriu a existência de uma consciência
grupal comum que atua sobre um grupo bem delimitado de pessoas de cada grupo
familiar.
Esse grupo é guiado por essa consciência de forma que só podemos perceber a
existência dela através de seus efeitos. Nós não a percebemos como “leve” ou
“pesada” da mesma forma como percebemos a consciência pessoal. Essa
consciência grupal também se guia pelos mesmos princípios anteriormente citados,
mas de forma diferente. Podemos explicar isso de forma simples assim:
Dito isso, fica então muitas vezes claro que alguém, agindo de “boa consciência”,
frequentemente por amor, infringe as regras da consciência de grupo, chamada por
Hellinger de consciência arcaica ou também de “alma” (não no sentido religioso,
mas no sentido latino da palavra, “aquilo que empresta movimento a algo”). Ao
faze-lo sobrevém então os efeitos desastrosos, seja para si, ou mais
frequentemente para seus descendentes. Hellinger então denominou esses
princípios de “Ordens do Amor”. Pois eles atuam através do amor profundo entre
descendentes e antepassados.
Suas percepções abriram também as portas para aquilo que as vezes permite a
solução entre tais desordens, através de um amor mais amplo, consciente, que
ultrapassa os limites restritos da consciência pessoal.
Como nossa consciência pessoal nos liga a nossa família, ela desempenha um
papel fundamental em nosso amor.
Freqüentemente observamos nas crianças um amor especial, profundo e ilimitado
em sua entrega e ao mesmo tempo auto-centrado e cego para suas
conseqüências. Esse amor acredita no auto-sacrifício como modo de proteger as
pessoas amadas, mesmo que isso na verdade não passe de uma idéia mágica que
nada tem a ver com a realidade dos fatos observados. Esse amor, Hellinger
denominou de “amor cego”, e percebeu que nele reside a base de todas as
tragédias – daí a alcunha “amor que adoece”. Esse amor se insurge contra a ordem
estabelecida e contra a realidade, tal como se apresenta, até mesmo contra a
morte. Ele espera suplantar tudo com sua força. E por isso falha.
Em oposição a esse amor observamos um outro amor, mais amplo e abrangente
em sua visão e também mais comedido e humilde em seus atos. Hellinger
denominou esse amor de “amor ciente” ou também “amor que vê”. Esse amor flui
junto com a ordem e se detém face aos fatos impossíveis de serem mudados,
renunciando a agir além do que as condições permitem. Esse amor também
mantém em seu campo de visão o outro, o ser amado, e o amor que emana dele
para nós. É humilde e comedido, respeitoso. E por isso alcança.
Para ilustrar tal diferença entre esses dois amores, tomemos um exemplo.
Imaginem uma menina de 5 anos ao lado do leito de sua mãe, a qual se encontra
gravemente doente. A mãe sabe que suas chances de sobreviver são remotas e a
criança por sua vez percebe isso com facilidade, como todas as crianças.
Agora tomemos a imagem do primeiro amor, atuando no coração dessa menina.
Surge imediatamente o desejo de “salvar” a mãe. Isso é natural numa menininha de
5 anos. Ela talvez diga em segredo em seu coração “Quando você for para a morte
mamãe, eu a seguirei.” Ou “Eu morrerei em seu lugar mamãe, e assim você pode
ficar”.
Como se sente a filha agora? Como se sente a mãe? Como se sentirão os futuros
netos?
Ajudar com o
mínimo
É claro que é um caminho de ajuda válido, e bem estabelecido que esse tipo de
ajuda tem seu lugar, por exemplo, entre um cirurgião e seu paciente. Porém esse
ajudar tem limites. Ele é especialmente limitado quando aquilo que precisa ser
modificado é algo que depende muito mais ou exclusivamente da atitude do
ajudado. Aí essa forma de ajudar tem pouco efeito. Por exemplo, quando alguém
precisa de ajuda a fim de mudar algo em seu próprio comportamento. Nesse caso,
esse tipo de ajuda pouco contribui.
Textos
Assentir e
soltar
Assentir e soltar
Que significa aqui vazio? Qual é o processo interno que leva a esse vazio e como
ele é sentido? Muito ao contrário das imagens que relacionamos ao vazio,
alcançamos aquele vazio que leva à sintonia com o espírito criador, assentindo
totalmente a tudo o que é tal qual é. E por quê? Porque esse espírito é a força
criadora original que a tudo impregna. Através desse assentimento nos
abarrotamos de tudo o que esse espírito cria, ordena e anima. E assim, através do
assentimento a tudo tal como é, alcançamos tanto a plenitude como o vazio.
Porque só podemos assentir totalmente quando soltamos aquilo que é próprio em
grande medida. Entretanto, ao soltá-lo, não nos esvaziamos, ao contrário. Como
não enfrentamos aquilo que é como nada próprio, nos esvaziamos para a plenitude
e nos tornamos um com a força que o move.
Jakob R. Schneider
As figuras
Eu, por mim mesmo, trabalhei primariamente com grupos e meu uso das figures no
trabalho individual é baseado totalmente em meu trabalho com grupos de
constelação. Eu acredito que precisamos de experiência com grupos de forma a
trabalhar com competência usando constelações de figuras. Essa experiência não
precisa ser de trabalhar diretamente com grupos fazendo constelações. Eu
recomendaria experiência com uma constelação pessoal em um grupo, e
observação de constelações sistêmicas em grupos, ou vídeos daquelas que
possam fornecer algumas impressões de como elas são. Eu conheço terapeutas e
conselheiros que trabalham com figuras sem terem nem mesmo liderado um grupo
de constelações, mas eu não sei de ninguém que tentaria trabalhar com figuras
sem ter ao menos visto uma constelação em grupos.
Então há a área do trauma, as feridas profundas que usualmente tem a ver com a
ruptura do amor, o movimento interrompido em direção à mãe , ao pai, outras
pessoas importantes, ou para com a vida em si mesma. Tais injúrias traumáticas
muito frequentemente advém de experiências muito precoces na infância. Elas
podem ser resolvidas por um processo retroativo de cura na alma entre a criança e
uma outra pessoa essencial na vida desta. Finalmente, há uma ampla área de
ligação e liberação nas relações. Problemas advém das profundas ligações das
pessoas com o destino da comunidade, e as conseqüências que se seguem,
primariamente dentro da família e da família ampliada. A solução é encontrada
através do reconhecimento das ordens do amor.
Se acontecer que eu não consigo sentir o meu caminho através das dinâmicas do
sistema, se eu não tenho nenhum sentimento pelos membros da família
representados pelas figuras ou das dinâmicas do sistema, ou se o cliente
permanece intocável pela minha "imagem" da rede de relações, então eu
interrompo o processo da constelação e obtenho mais informação, conto estórias
curtas ou simplesmente paro o trabalho.
Os risco e erros que podem ser causados ao se fazer uma constelação com figuras
são basicamente os mesmos que se apresentam quando fazemos constelações em
grupos:
n Que você está trabalhando sem que o cliente esteja totalmente pronto para
trabalhar e sem a força do cliente;
n Que você está seguindo algum padrão pré-determinado que não permite que
aquilo que é novo e diferente surja.
n Que você está sendo influenciado por padrões visuais e associações que não
estão em harmonia com a alma.
Uma constelação de figuras pode ser limitada a uma representação visual, que era
como eu trabalhava nos meus primeiros anos com a técnica. As figuras forneciam
uma ponte visual, um resumo gráfico do que havia sido discutido, um método que
talvez permitisse sugestões indiretas. Tudo isso pode ser muito útil, mas uma
constelação com figuras pode oferecer mais. É surpreendente o quão rapidamente
ela estabelece um espaço para a alma na qual a "alma do grupo" pode ressonar.
Essa ressonância é efetuada pelo terapeuta e pelo cliente. O trabalho de
constelação não é apenas trabalhar com imagens visuais. Ele toca e move porque
oferece espaço para as imagens. Imagens espacialmente representadas são
diferentes de imagens planas bidimensionais, não só por fornecerem as dimensões
corretas para as relações, mas mais importante que isso, ao permitirem que algo
surge para fora da imagem, algo difícil de descrever que não é visível através de
um simples olhar para a imagem. O que surge é como um campo de ressonância.
¨¨¨¨¨¨
As ordens da
ajuda
(Maio, 2003)
Fonte: Home-page de Bert Hellinger:
www.hellinger.com
Advertência do tradutor
Acho necessário dar um breve esclarecimento prévio sobre os dois vocábulos-
chave do presente texto.
1. Ajuda, ajudante
2. Ordens
No presente texto, Bert Hellinger fala das ordens que devem presidir toda iniciativa
de levar ajuda ao próximo e, de modo especial, a ação com objetivo ou efeito
terapêutico.
A ajuda é uma arte. Como toda arte, envolve uma capacidade que pode ser
aprendida e praticada. E envolve empatia em relação ao objeto, a saber, a
compreensão do que corresponde a esse objeto e, simultaneamente, daquilo que o
eleva, por assim dizer, acima de si mesmo, em algo mais abrangente.
Nós, seres humanos, dependemos, sob todos os aspectos, da ajuda dos outros,
como condição de nosso desenvolvimento. Ao mesmo tempo, precisamos também
de ajudar outras pessoas. Aquele de quem não se necessita, aquele que não pode
ajudar outros, fica só e se atrofia. O ato de ajudar serve, portanto, não apenas aos
outros, mas também a nós mesmos. Via de regra, a ajuda é um processo recíproco,
por exemplo, entre parceiros. Ela se ordena pela necessidade de compensar.
Quem recebeu de outros o que deseja e precisa, também quer dar algo, por sua
vez, compensando a ajuda.
Esse tipo de ajuda pressupõe que nós próprios tenhamos primeiro recebido e
tomado. Pois só então sentimos a necessidade e temos a força para ajudar a
outros, especialmente quando essa ajuda exige muito de nós. Ao mesmo tempo,
ela parte do pressuposto de que as pessoas a quem queremos ajudar também
necessitam e desejam o que podemos e queremos dar a elas. Caso contrário,
nossa ajuda se perde no vazio. Então ela separa, ao invés de unir.
O protótipo da ajuda
Quando um homem jovem se casa com uma mulher mais velha, ocorre a muitos a
imagem de que ele procura um substitutivo para sua mãe. E o que procura ela? Um
substitutivo para seu pai. Inversamente, quando um homem mais velho se casa
com uma moça mais jovem, muitos dizem que ela procurou um pai. E ele?
Procurou uma substituta para sua mãe. Assim, por estranho que soe, quem se
obstina por muito tempo numa posição superior e mesmo a procura e quer manter,
recusa-se a assumir seu lugar entre adultos equiparados.
Existem, porém, situações, em que convém que, por algum tempo, o ajudante
represente os pais: por exemplo, quando um movimento amoroso precocemente
interrompido precisa ser levado a seu termo. Contudo, diferentemente da
transferência da relação entre pais e filhos, o ajudante apenas representa aqui os
pais reais. Ele não se coloca em lugar deles, como se fosse uma mãe melhor ou
um pai melhor. Por esta razão, também não é preciso que o cliente se desprenda
do ajudante, pois este o leva a afastar-se dele e a voltar-se para os próprios pais.
Então o ajudante e cliente se liberam mutuamente.
A terceira ordem da ajuda seria, portanto, que, diante de um adulto que procura
ajuda, o ajudante se coloque igualmente como um adulto. Com isso, ele recusa as
tentativas do cliente para fazê-lo assumir o papel dos pais. É compreensível que
essa atitude do ajudante seja sentida e criticada, por muitas pessoas, como dureza.
Paradoxalmente, essa “dureza” é criticada por muitos como arrogância. Quem olha
bem, vê que a arrogância consistiria antes no envolvimento do ajudante numa
transferência da relação entre pais e filho.
A desordem da ajuda, neste caso, consistiria em não contemplar nem honrar outras
pessoas essenciais, que teriam em suas mãos, por assim dizer, a chave da
solução. Incluem-se entre elas, sobretudo, aquelas que foram excluídas da família,
por exemplo, porque os outros se envergonharam delas.
Também aqui é grande o perigo de que essa empatia sistêmica seja sentida como
dureza pelo cliente, sobretudo por aqueles que fazem reivindicações infantis ao
ajudante. Pelo contrário, aquele que busca a solução, de maneira adulta, sente
esse enfoque sistêmico como uma liberação e uma fonte de força.
A quinta ordem da ajuda é portanto o amor a cada pessoa como ela é, por mais que
ela seja diferente de mim. Dessa maneira, o ajudante abre a essa pessoa o seu
coração, de modo que ela se torna parte dele. Aquilo que se reconciliou em seu
coração também pode reconciliar-se no sistema do cliente. A desordem da ajuda
seria aqui o julgamento sobre outros, que geralmente é uma condenação, e a
indignação moral associada a isso. Quem realmente ajuda, não julga.
A percepção especial
Para poder agir de acordo com as ordens da ajuda, não é preciso qualquer
percepção especial. O que eu disse aqui sobre as ordens da ajuda não deve ser
aplicado de forma precisa e metódica. Quem tentar isso estará pensando, ao invés
de perceber. Ele reflete e recorre a experiências anteriores, em vez de se expor á
situação como um todo e apreender dela o essencial. Por isso, essa percepção
envolve ambos os aspectos: ela é simultaneamente direcionada e reservada. Nessa
percepção, eu me direciono a uma pessoa, porém sem querer algo determinado, a
não ser percebê-la interiormente, de uma forma abrangente, e com vistas ao
próximo ato que se fizer necessário.
A ajuda que decorre dessa percepção é geralmente de curta duração. Ela fica no
essencial, mostra o próximo passo a fazer, retira-se rapidamente e despede o outro
imediatamente em sua liberdade. É uma ajuda de passagem. Há um encontro, uma
indicação, e cada um volta a trilhar o próprio caminho. Essa percepção reconhece
quando a ajuda é conveniente e quando seria antes danosa. Reconhece quando a
ajuda coloca tutela ao invés de promover, e quando serve para remediar antes a
própria necessidade do que a do outro. E ela é modesta.
Talvez seja útil descrever aqui ainda as diferentes formas de conhecimento, para
que, quando ajudamos, possamos recorrer ao maior número delas que for possível,
e escolher entre elas. Começo pela observação.
Sintonia é uma percepção a partir do interior, num sentido amplo. Como a intuição,
ela também se direciona para a ação, principalmente para a ação de ajuda. A
sintonia exige que eu entre na mesma vibração do outro, alcance a mesma faixa de
onda, sintonize com ele e o entenda assim. Para entendê-lo, também preciso ficar
em sintonia com sua origem, principalmente com seus pais, mas também com seu
destino, suas possibilidades, seus limites, e também com as conseqüências de seu
comportamento e de sua culpa; e, finalmente, com sua morte.
Quando uma criança pequena não teve acesso à mãe ou ao pai, embora
precisasse deles com urgência e ansiasse por eles, por exemplo, numa longa
internação hospitalar, esse anseio se transforma em dor de perda, em desespero e
raiva. A partir daí, a criança se retrai diante de seus pais e, mais tarde, também de
outras pessoas, embora anseie por eles. Essas conseqüências de um movimento
amoroso precocemente interrompido são superadas quando o movimento original é
retomado e levado a seu termo. Nesse processo, o ajudante representa a mãe ou o
pai daquele tempo, e o cliente pode completar o movimento interrompido, como a
criança de então.
O terapeuta alemão Bert Hellinger desenvolveu esse novo tipo de terapia breve,
que poderíamos descrever como uma árvore genealógica viva, englobando
elementos das esculturas familiares e do psicodrama. Em sua forma e em sua
abordagem teórica contudo, esse trabalho é único e novo e tem procedimentos e
efeitos surpreendentes. Esse tipo de terapia foi desenvolvido em áreas de língua
germânica e, Bert Hellinger originalmente limitou suas áreas de atuação às regras
e experiências que foram descobertas lá.
Esse tipo de terapia contém métodos que são apenas aplicáveis aos países de
língua germânica? Será que Hellinger encontrou ordens que são tipicamente
alemãs, ou elas são úteis em outros países?
O cliente que deseja fazer uma constelação terá os resultados mais plenos em um
grupo. Primeiro é necessário para o cliente ter uma razão específica para colocar
sua constelação. O requisito é frequentemente uma pergunta a cerca de certos
sentimentos conflitantes (depressão, sentimentos de culpa, etc ) ou a cerca de
relações perturbadas na família.
Primeiro o cliente informa ao terapeuta fatos essenciais a cerca da sua família nas
últimas 02 ou 03 gerações. Perguntas importantes que precisam ser respondidas
são: Quem morreu cedo (antes de 25 anos)? Ocorreram crimes cometidos por
membros da família? Por acaso algum membro da família carrega um pesado
sentimento de culpa por alguma razão? Os pais tiveram relações amorosas prévias,
e elas tiveram consequências dignas de nota (ex: agressões, emigrações,
nascimentos fora do casamento, adoção, etc)?
Então o cliente escolhe entre os membros do grupo, pessoas para representar seus
pais, irmãos, a si mesmo e outros membros importantes da família. Também são
representados membros da família que já morreram. Espontaneamente e centrado,
o cliente posiciona cada representante, um em relação ao outro, na área de
trabalho assim como sua imagem interna.
Os representantes em seus respectivos lugares, sentem as relações desse sistema
e percebem os sentimentos das pessoas que elas representam. Esse efeito é ainda
um fenômeno inexplicável.
1. Cada membro de uma família pertence a ela igualmente. Cada família tem um
vínculo interno muito forte, a despeito do quão desunida ela pareça quando
olhamos de fora. Todos os membros de uma família merecem atenção. Se alguém
é expulso, ele será representado por um membro que nascer mais tarde, o qual irá
impor a si mesmo um destino similar.
2. A morte precoce de um membro da família tem um forte efeito sobre todo o
sistema. Uma inclinação para morrer aparece nos irmãos do morto, devido a suas
conexões com ele. Isto é expresso através da frase “ Eu seguirei você”. Se alguém
carrega algo assim e mais tarde tem filhos, estes percebem isto e tentam aliviar os
pais. Isto é expresso pela frase “Melhor eu do que você”. Esta inclinação para a
morte se mostra através da doença e de comportamentos perigosos (esportes
radicais, uso de drogas).
3. Crianças tomam sentimentos de outros membros da família. Isto ocorre de dois
modos: ou elas compartilham fortes sentimentos com outros membros da família
(elas ajudam a carregar estes sentimentos por assim dizer) , ou elas tomam para si
sentimentos não expressos. Por exemplo, uma avó submissa é abusada
fisicamente por seu marido. Ela tem então uma neta que por sua vez fica
enraivecida com seu marido por nenhuma razão aparente. Na Constelação Familiar
torna-se claro que a neta carrega a raiva de sua avó.
4. As crianças são leais aos seus pais (pai e mãe). As crianças quase sempre
lidam com seu próprio destino de modo a impedir que elas mesmas tenham um
destino melhor que o de seus pais. Devido a esta lealdade elas tendem a repetir o
destino destes pais e seus infortúnios.
5. Há uma ordem na família que precisa ser respeitada. A pessoa que vem
primeiro, seja um irmão ou um parceiro, toma o primeiro lugar. Os outros seguem
esta ordem cronológica. Estes lugares precisam ser respeitados sem julgamento
ou valorização, apenas devem ser percebidos como são.
6. Há uma organização espacial básica que é preferível. Há uma ordem básica na
qual todos os membros de uma família se sentem bem, desde que se garanta que
todas a conexões negativas tenham sido resolvidas. Nesta ordem os pais ficam à
frente de seus filhos com o pai ficando no primeiro lugar e a mãe seguindo no
sentido horário a ele (quando olhamos de cima). As crianças devem ficar olhando
seus pais seguindo o sentido horário de acordo com sua ordem cronológica de
nascimento, do mais velho para o mais novo.
Este trabalho emergiu nos últimos 20 anos na Alemanha. Uma pergunta que surge:
se ele é aplicável a outros países também. Esta pergunta foi respondida de modo
afirmativo por terapeutas que tem feito Constelações Familiares em paises como
Brasil, Eslováquia e França. Eu tenho feito trabalhos na Suiça, Espanha, Itália e
Argentina e também alguns grupos no Japão e Taiwan.
As consequências da guerra.
Uma grande similaridade existe entre países que estiveram em guerra nas últimas 2
gerações. O resultado da guerra é a morte de soldados jovens. Pais perdem seus
filhos, irmãs perdem seus irmãos e crianças nascem, porém nunca conhecerão
seus pais porque eles morreram antes que elas nascessem.
Contudo, a morte pode ter vários efeitos. Há tipos de morte que são
experimentados coletivamente e de uma forma especialmente traumática.
Consequentemente estas mortes são reprimidas na consciência tanto quanto
possível e tem um peso muito grande na família. Usualmente as pessoas que
tomam parte numa constelação chegam a ter calafrios quando tais mortes são
mencionadas. Na Alemanha estas são as mortes que ocorreram nos campos de
concentração nazistas. No Japão, são as mortes que ocorreram em decorrência
das bombas atômicas lançadas sobre Hiroshima e Nagasaki.
Uma constelação na Alemanha me mostrou o quanto é difícil lidar com aqueles que
desaparecem. Nos anos 50, um homem cujo irmão estava desaparecido por 10
anos, teve a morte deste irmão declarada legalmente para que se pudesse fazer a
partilha da herança. Devido a isto o irmão sobrevivente sentiu uma culpa enorme –
quase como se ele fosse um assassino.
Quando nós olhamos para o mundo de hoje para países como a Iugoslávia ou
outros países do continente africano, só podemos especular acerca da extensão
das tragédias e suas conseqüências para as gerações futuras.
O que dizer das constelações em países que tem se mantido longe das guerras?
Eu passo agora a relatar minhas impressões obtidas num recente seminário de 6
dias com um grupo de pessoas da Suiça. Os primeiros 2 dias foram muito leves.
Isto é diferente das constelações na Alemanha, onde as mortes da II Guerra
Mundial aparecem com freqüência – pais, irmãos e crianças que morreram lá.
Parecia que circunstâncias favoráveis tinham protegido os suiços de tais tragédias.
A intensidade do seminário estava bem baixa.
No terceiro dia, aquele tipo de coisa que as famílias de classe média costumam
suprimir veio com muita força à superfície. Houve uma constelação na qual um
pastor cometeu adultério com a mulher que iria se tornar a sogra de seu filho. A
mulher deu a luz a uma criança (filha dela e do pastor) mas ela foi considerada
filha do marido desta mulher... Em várias famílias veio a luz casos de abuso.
Parecia que muitas famílias precisavam de pelo menos uma ovelha negra para
carregar os problemas da família.
Outras culturas
Como nas constelações alemãs, chegou-se a uma ordem básica apropriada no final
– os pais lado a lado e as crianças de frente para eles, da mais velha para a mais
nova. Contudo, tanto para os pais quanto para as crianças foi necessário deixar
bastante espaço entre eles.
O trabalho com constelações revela que há muitas áreas bem definidas de conexão
humana. Subjacente a isso, certas ordens e princípios atuam. Um exemplo de
ordem importante a respeito das relações amorosas é que parceiros prévios
precisam ser reconhecidos e que cada um tenha seu lugar numa ordem
cronológica. Então existe a família cuja ordem já foi mencionada. Há também
princípios que atuam em organizações, tal como aquele que diz que pessoas que
estão numa organização há mais tempo precisam ter seu tempo de casa
respeitado.
Uma área desta conexão humana que está começando a se mostrar tem a ver com
nacionalidade e país de origem. Existe algo coletivo que se refere a uma conexão
com a terra natal? Que princípios funcionam aí?
Uma constelação levada a cabo por um colega e eu há poucos anos atrás ampliou
largamente meus horizontes. Até aquela época, eu ficava aborrecido pela constante
preocupação da mídia com o terceiro Reich. Eu era da opinião de que não
deveríamos nos preocupar com isso e, ao invés, olhar para o futuro. Embora eu não
fosse pessoalmente afetado por uma história familiar de nazismo, pois meus pais
tinham desenvolvido uma aversão a esta ideologia, por suas crenças católicas. Meu
pai foi médico durante a guerra e tinha sobrevivido ileso.
(neste caso, quando estão fora de seu país, sentem-se envergonhados de serem
alemães) ou eles colocam botas de combate, raspam a cabeça e espancam
estrangeiros ou outros grupos raciais (e desse modo aceitam seus pais, e têm a
mesma força, mas também a mesma culpa).
Num primeiro passo, o pai ou a mãe deve ser reconhecido em seu papel de ter
dado a vida. A criança então agradece aos pais pela vida que ela recebeu. A seguir
ela deve deixar a culpa ou responsabilidade pessoal dos pais com eles. Se alguém
se torna um assassino, ele tem de deixar a família na constelação. Então todos se
sentem aliviados – não apenas o resto da família, mas o agressor também. Se o
agressor não sai, então as crianças que nascerem depois tomarão a culpa e se
tornarão, ou agressores ou vítimas nas gerações futuras.
O passo que leva a um novo nível é possível através da constelação. Uma criança
reconhece o pai ou a mãe como aquele de quem recebeu a vida e ao mesmo
tempo deixa o agressor manter sua culpa e responsabilidade por suas ações. Então
a criança permanece intacta com suas raízes, sem tomar parte na culpa que não é
sua. Parece-me que este passo tem de ser feito por cada um, individualmente.
A pessoa cuja terra natal é representada, sente também uma forte relação com a
mesma. Usualmente posicionar uma terra natal trás um sentimento de força e
alívio, como acontece, por exemplo, com alemães que tiveram que refugiar-se na
Prússia Oriental, após a II guerra mundial. Podemos sentir essa forte conexão com
a terra ancestral, a qual não se dissolve, mesmo quando se deixa essa terra.
O efeito desta perda é similar ao efeito de perder uma pessoa da família. Se essa
perda reprimida, é como uma ferida interna que permanece aberta, nos tornando
fracos. A ferida só pode se curar quando permitimos que a dor tenha um lugar. À
terra natal é dado um lugar na constelação, onde ela possa ser reconhecida e
apreciada.
Uma situação especialmente difícil, ocorre com filhos e netos de imigrantes. Alguns
rejeitam a terra natal de seus pais – eles querem virar as costas para a velha terra
natal e ficar de frente para a nova. Porém, com isso, perdem uma parte importante
de suas raízes e força. A frase que é apropriada e tem um bom efeito aqui, pode
ser por exemplo: “eu reconheço você como a terra natal de meus pais e lhe dou
um lugar em meu coração”. A criança então, ganha força através do
reconhecimento de suas raízes.
O tema terra natal se torna muito significativo quando trabalhamos com refugiados
ou estrangeiros que trabalham na Alemanha, cujas crianças querem se integrar à
sociedade alemã. O diretor de uma penitenciária para menores, contou-me a cerca
de um grupo de jovens curdos presos que repetidamente, irrompiam em situações
de violência abrupta e incontrolável. Os pais, ao contrário, viviam em paz e bem
adaptados na Alemanha. Eu conduzi uma constelação nessa prisão, com um jovem
que havia sido preso por estupro. Seus pais tinham vindo da Iugoslávia, e eu decidi
posicionar representantes para a Iugoslávia e Alemanha. O jovem não deu
nenhuma atenção para a terra natal de seus pais. Já o representante da Iugoslávia
disse que ele sentia que a chave para a solução estava nele – a terra natal.
Um grande campo de pesquisa está aberto nesse contexto. Uma constelação
familiar conduzida por Bert Hellinger, com um judeu alemão, em Frankfurt, fevereiro
de 1998, trouxe à luz esse tópico. No começo do terceiro Raich, seus pais
mudaram-se para Israel (que ainda era Palestina nesse tempo). O filho nasceu e
viveu lá até os 12 anos. Após isto, viveu na Alemanha e considerava-se um alemão.
Na constelação foram escolhidos representantes para Israel e Alemanha, e esses
foram posicionados. Israel sentiu-se não reconhecido e não visto. Um passo
importante até a solução para os pais e o filho veio quando Israel foi trazido e
reconhecido. Contudo, o filho judeu sentiu-se desconfortável ao lado de seus pais,
alguma coisa ainda parecia estar faltando, ele se sentia como se não tivesse terra
natal. Espontaneamente, Hellinger posicionou uma família que estava presente no
curso como representantes dos palestinos que foram expulsos de Israel. Ele os
posicionou de frente para Israel, e deixou o cliente mudar o lugar de seus
representantes, e este se posicionou ao lado dos palestinos expulsos. Aí, ao lado
dos expulsos, sentiu-se pertinente e pôde relaxar.
A expulsão é sempre uma injustiça contra aqueles que são expulsos. Os que
chegam depois e que tomam a terra nessas condições, aproveitam-se desta
injustiça. O desejo de compensar e expiar aparece então nos filhos e netos dos
agressores. Nessa constelação, a necessidade de compensar mostrou-se no fato
do filho judeu não aceitar Israel como sua terra, mas ao contrário tomar para si os
sentimentos das vítimas de não possuir uma terra.
Simplesmente ser humano nos conecta a todos. A partir desse simples fato,
derivam várias ordens e princípios básicos. Usualmente tais ordens tornam-se
claras em uma constelação quando uma pessoa torna-se um assassino. Neste
caso, tudo o mais que se refira à família ou nação, não desempenha nenhum papel.
A culpa permanece forte do mesmo jeito. Ser humano é tudo que é necessário para
estabelecer tal conexão. Mesmo para casais, a nacionalidade não tem nenhum
valor em relação à conexão criada entre homens e mulheres. Ser apenas humano
já fornece uma conexão suficiente.
O que nos conecta? Haverá uma conexão entre todas as coisas vivas? Que ordens
funcionam aí? Poderão tais ordens serem reconhecidas através das constelações?
Quando plantas e animais são destruídos sem consideração ou motivo, ou
exterminados por lucro, então falta a atenção nescessária, e a culpa é o resultado.
Será que nossos filhos, netos ou bisnetos estão tomando essa culpa? E de que
modo? (será que poderíamos encontrar aí as causas para alergias que ocorrem
mais e mais frequentemente?) Até este momento, as ordens acima mencionadas
estão ainda ocultas e permanecem por descobrir. Mas talvez novas portas se
abrirão aqui também, e seremos capazes de ir mais fundo nas profundezas daquilo
que pode se mostrar a nós através das constelações.
Palestra de Hellinger em
SP
Muita gente julga que o amor tem o poder de superar tudo, que é preciso apenas
amar bastante e tudo ficará bem. Contudo, a experiência mostra que isto não é
verdade. Muitos pais são forçados a experimentar que, apesar do amor que dão a
seus filhos, estes não se desenvolvem como eles esperavam. São forçados a ver
seus filhos adoecerem, se drogarem ou suicidarem, apesar de todo o amor que lhes
dão. Para que o amor dê certo, é preciso que exista alguma outra coisa ao lado
dele. É necessário que haja o conhecimento e o reconhecimento de uma ordem
oculta do amor.
Ordem e amor
A ordem ajunta,
o amor flui.
Ordem e amor atuam juntos.
Muitas dessas ordens são ocultas. Não podemos sondá-las. Elas atuam nas
profundezas da alma, e freqüentemente as encobrimos com pensamentos,
objeções, desejos e medos. É preciso tocar no fundo da alma para vivenciar as
ordens do amor.
Tomar a vida
Direi primeiro alguma coisa sobre as ordens do amor entre pais e filhos e, do ponto
de vista da criança, isto é, do filho para com seus pais. Aqui menciono algumas
verdades banais. Elas são tão óbvias que eu quase me envergonho de citá-las. Não
obstante, são freqüentemente esquecidas.
O primeiro ponto é que os pais, ao darem a vida, dão à criança, nesse mais
profundo ato humano, tudo o que possuem. A isso eles nada podem acrescentar,
disso nada podem tirar. Na consumação do amor, o pai e a mãe entregam a
totalidade do que possuem. Pertence portanto à ordem do amor que o filho tome a
vida tal como a recebe de seus pais. Dela, o filho nada pode excluir, nem desejar
que não exista. A ela, também, nada pode acrescentar. O filho é os seus pais.
Portanto, pertence à ordem do amor para um filho, em primeiro lugar, que ele diga
sim a seus pais como eles são -- sem qualquer outro desejo e sem nenhum medo.
Só assim cada um recebe a vida: através dos seus pais, da forma como eles são.
Esse ato de tomar a vida é uma realização muito profunda. Ele consiste em assumir
minha vida e meu destino, tal como me foi dado através de meus pais. Com os
limites que me são impostos. Com as possibilidades que me são concedidas. Com
o emaranhamento nos destinos e na culpa dessa família, no que houver nela de
leve e de pesado, seja o que for.
O efeito desse ato pode ser comprovado na própria alma. Imaginem-se curvando-
se profundamente diante de seus pais e dizendo-lhes:"Eu tomo esta vida pelo preço
que custou a vocês e que custa a mim. Eu tomo esta vida com tudo o que lhe
pertence, com seus limites e oportunidades". Nesse exato momento, o coração se
expande. Quem consegue realizar esse ato, fica bem consigo, sente-se inteiro.
Como contraprova, pode-se igualmente imaginar o efeito da atitude oposta, quando
uma pessoa diz: "Eu gostaria de ter outros pais. Não os suporto como eles são."
Que atrevimento! Quem fala assim, sente-se vazio e pobre, não pode estar em paz
consigo mesmo.
Algumas pessoas acreditam que, se aceitarem plenamente seus pais, algo de mau
poderá infiltrar-se nelas. Assim, não se expõem à totalidade da vida. Com isto,
contudo, perdem também o que é bom. Quem assume seus pais, como eles são,
assume a plenitude da vida, como ela é.
Mas aqui existe ainda um mistério que não posso justificar. Com efeito, cada um
experimenta que também tem em si algo de único, algo que é inteiramente próprio,
irrepetível, e não pode ser derivado de seus pais. Isso também ele precisa assumir.
Pode ser algo de leve ou de pesado, algo de bom ou de mau. Isto não podemos
julgar.
A pessoa que encara o mundo e sua própria vida com olhos desimpedidos pode ver
que tudo o que ela faz obedece a uma ordem. Tudo o que ela faz ou deixa de fazer,
tudo o que ela apoia ou combate, ela o realiza porque foi encarregada de um
serviço que ela própria não entende. Aquele que se entrega a tal serviço,
experimenta-o como uma tarefa ou como um chamado, que não se baseia nos
próprios méritos nem na própria culpa (quando for algo de pesado ou cruel). Ele foi
simplesmente tomado a serviço.
O mesmo
A mesma água
nos tira a sede e nos afoga,
nos carrega e nos sepulta.
Falei até aqui sobre a ordem fundamental da vida. Foi-nos concedido termos pais e
sermos filhos. E temos também algo de próprio.
Na verdade, os pais não dão aos filhos apenas a vida. Eles nos dão também outras
coisas: alimentam-nos, educam-nos, cuidam de nós e assim por diante. Convém à
criança que ela tome tudo isso, da forma como o recebe. Quando a criança o aceita
de bom grado, costuma bastar. Existem exceções, que todos conhecemos, mas via
de regra é suficiente. Pode não ser sempre o que desejamos, mas é o bastante.
Nesse particular, pertence à ordem que o filho diga a seus pais: "Eu recebi muito.
Sei que é muito, é o bastante. Eu o tomo com amor". Então ele se sente pleno e
rico, seja qual for a situação. Então ele acrescenta: "o resto, eu mesmo faço". Isto
também é um belo pensamento. Finalmente, o filho ainda pode dizer aos pais: "E
agora eu os deixo em paz". O efeito destas frases vai muito fundo: agora o filho tem
seus pais e os pais têm o filho. Pais e filho estão simultaneamente separados e
felizes. Os pais concluíram sua obra e a criança está livre para viver sua vida, com
respeito pelos seus pais mas sem dependência.
Imaginem agora a situação contrária, quando o filho diz aos pais: "O que vocês me
deram foi errado e foi muito pouco. Vocês ainda estão me devendo muito". O que
esse filho tem de seus pais? Nada. E o que têm dele os pais? Igualmente nada.
Esse filho não consegue soltar-se de seus pais. Sua censura e sua reivindicação o
vinculam a eles, mas de uma forma tal que ele não os tem. Ele se sente vazio,
pequeno e fraco.
O tamanho de criança
Existe algo que os pais adquirem por mérito pessoal. Se a mãe, por exemplo, tem
um dom especial - suponhamos que ela seja pintora e pinte quadros maravilhosos -
então isso pertence a ela e não ao filho. Este não pode reivindicar ser também um
bom pintor, a não ser que o tenha merecido por dotação própria e dedicação
pessoal.
A mesma coisa vale para a riqueza dos pais. O filho não tem o direito de reivindicá-
la, como é o caso da herança. O que ele vier a receber será puro presente.
Isto vale ainda para a culpa pessoal dos pais. Também esta pertence
exclusivamente a eles. Com freqüência, uma criança presume, por amor, tomar
sobre si essa culpa, carregá-la em nome dos pais. Também isto vai contra a ordem.
A criança se arroga um direito que não lhe compete. Quando os filhos querem
expiar pelos pais, estão se julgando superiores a eles. Os pais passam a ser
tratados como crianças, cuidadas por seus próprios filhos, que assumem o papel de
pais.
Uma senhora, que recentemente participou de um grupo meu, tinha um pai cego e
uma mãe surda. Os dois se completavam bem, mas a filha achava que devia cuidar
deles. Quando montei a constelação de sua família, ela se comportou como se
fosse ela a pessoa grande. Porém sua mãe lhe disse: "Esse assunto com seu pai
eu resolvo sozinha". E o pai lhe disse: "Esse assunto com sua mãe eu resolvo
sozinho. Não precisamos de você para isso". Aquela senhora ficou muito
desapontada, porque foi reduzida ao seu tamanho de criança.
Na noite seguinte, ela não conseguiu dormir. Aliás, ela sentia uma grande
dificuldade para adormecer. Perguntou-me se eu podia ajudá-la. Respondi: "Quem
não consegue dormir talvez esteja pensando que precisa vigiar". Contei-lhe então a
história de Borchert sobre o menino de Berlim que, no fim da guerra, tomava conta
de seu irmão morto, para que os ratos não o comessem. O menino estava
esgotado, porque achava que devia ficar vigiando. Nisto, passou por ali um senhor
simpático que lhe disse: "Mas os ratos dormem à noite". E a criança adormeceu.
Portanto, a ordem do amor entre filhos e pais estabelece, em terceiro lugar, que
respeitemos o que pertence pessoalmente a nossos pais e o que eles podem e
devem fazer sozinhos.
Receber e exigir
A ordem do amor entre pais e filhos envolve ainda um quarto elemento. Os pais são
grandes, os filhos pequenos. Assim, o certo é que os pais dêem e os filhos
recebam. Pelo fato de receber tanto, o filho sente a necessidade de pagar.
Dificilmente suportamos quando recebemos algo sem dar algo em troca. Mas, em
relação a nossos pais, nunca podemos compensar. Eles sempre nos dão muito
mais do que podemos retribuir.
Quando, porém, os filhos dizem: "Vocês têm que me dar mais", o coração dos pais
se fecha. Por causa da exigência do filho, eles não podem mais cumulá-lo de amor.
Este é o efeito de tais reivindicações. Esse filho, por sua vez, mesmo quando
recebe alguma coisa, não consegue tomar o que exigiu.
A equiparação
O grupo familiar
Quero citar, para começar, o círculo de pessoas que são abarcadas e dirigidas por
esse comando interior (Gewissen), cuja amplitude podemos reconhecer por seus
efeitos. Estão nele incluídos:
O direito de pertencer
No interior de cada grupo familiar, vale a ordem básica, a lei fundamental: todas as
pessoas do grupo familiar possuem o mesmo direito de pertencer. Em muitas
famílias e grupo familiares, determinados membros são excluídos. Alguns dizem,
por exemplo: "Esse tio não vale nada, ele não pertence a nós", ou então: "Dessa
criança ilegítima nada queremos saber". Com isso, recusam a essas pessoas o
direito de pertencer.
Existem também os que dizem: "Sou católico, você é evangélico. Como católico,
tenho mais direito de pertencer que você". Ou inversamente: "Como protestante,
tenho mais direito, porque minha fé é mais verdadeira. Você é menos crente do que
eu, portanto tem menos direito de pertencer". Isto não é hoje tão freqüente como
antigamente, mas ainda acontece.
Ocorre ainda, quando um filho morre prematuramente, que seus pais dão seu nome
ao filho seguinte. Com isto, estão dizendo ao primeiro: "Você não pertence à
família. Temos um substituto para você". Assim o filho morto não conserva nem
mesmo o seu próprio nome. Com freqüência, não é mais contado nem mencionado.
Assim lhe é negado e retirado o direito de pertencer.
Essa lei fundamental, que assegura a todos o mesmo direito de pertencer, não
tolera nenhuma violação. Quando isso acontece, existe no sistema uma
necessidade inconsciente de compensação, que faz com que os excluídos ou
desprezados sejam mais tarde representados por algum outro membro da família,
sem que essa pessoa tenha consciência do fato.
Quando, por exemplo, um homem casado se relaciona com outra mulher e diz à
própria esposa: "Não quero mais saber de você", inventando falsas razões e
cometendo injustiça contra ela, e depois se casa com a segunda mulher e tem
filhos com ela, sua primeira mulher será representada por um desses filhos. Uma
menina, por exemplo, combaterá o pai com o mesmo ódio da parceira rejeitada,
sem que tenha a menor consciência dessa representação. Aqui atua uma força
secreta de compensação, para que a injustiça feita à primeira pessoa seja vingada
por uma segunda.
A solução exige também que a menina, que imita essa mulher, lhe diga
interiormente: "Eu pertenço apenas à minha mãe e ao meu pai. Aquilo que se
passou entre vocês adultos não tem nada a ver comigo". Ela diz a seu pai: "Você é
meu pai, e eu sou sua filha. Por favor, olhe-me como sua filha". Então o pai não
precisa mais ver nela sua ex-mulher, não precisa mais defrontar-se com o ódio ou a
tristeza que ela possa ter. Ou, se ele ainda a ama, não precisa ver a criança como
sua amante, mas apenas como sua filha. Então a criança pode ser a filha, e o pai
pode ser o pai.
A criança precisa também dizer ao pai: "Esta aqui é a minha mãe. Com sua
primeira mulher não tenho nada a ver. Eu tomo esta como minha mãe. Esta é para
mim a certa". E então ela precisa dizer à mãe: "Com a outra mulher eu nada tenho
a ver". De outra forma, essa criança se tornará uma rival da mãe, e não poderá ser
filha. Talvez a mãe veja nela inconscientemente a outra mulher, e então mãe e filha
entram em conflito como se fossem duas amantes rivais. Mas quando a criança diz:
"Você é minha mãe e eu sou sua filha, com a outra não tenho nada a ver. Eu tomo
você como minha mãe", então a ordem é restabelecida.
Aqui pertence à ordem do amor que eles digam interiormente ao irmão morto:
"Você é meu irmão (minha irmã). Eu respeito você como meu irmão (minha irmã).
Você tem um lugar em meu coração. Eu me curvo diante do seu destino, da forma
como lhe aconteceu, e digo sim ao meu destino, da forma como me foi
determinado". Então a criança morta é respeitada, e a outra pode permanecer viva
sem sentimento de culpa.
Por trás da necessidade de compensação, que faz adoecer, atua uma fantasia
mágica, a saber, que eu posso salvar uma outra pessoa de seu pesado destino,
desde que eu tome também algo de pesado sobre mim. É o caso da criança que diz
à mãe gravemente doente: "Antes eu adoeça do que você. Antes morra eu do que
você". Ou ainda, quando a mãe quer abandonar a vida, um filho se suicida, para
que a mãe possa ficar viva.
Quando trabalho com uma pessoa com essa compulsão, faço que olhe nos olhos
de seu pai ou de sua mãe e diga: "Antes desapareça eu do que você". Quando ela
os encara nos olhos a ponto de realmente os ver, ela não consegue mais dizer essa
frase, porque percebe que o pai ou a mãe não aceitará isto dela. É que o amor
mágico desconhece o fato de que também a outra pessoa ama e que ela recusaria
isto, independentemente da inutilidade de tal amor.
Quando a mãe morre no nascimento de uma criança, é muito difícil para essa
criança tomar a sua vida. Ela precisaria encarar a mãe nos olhos e dizer: "Mamãe,
mesmo por este alto custo eu tomo esta vida e faço algo de bom com ela, em sua
memória. Você precisa saber que não foi em vão". Isto é amor, num nível mais
elevado. Ele exige o abandono da fantasia mágica de poder interferir no destino de
outra pessoa e mudá-lo. Ele exige a passagem de um amor que faz adoecer para
um amor que cura.
Homens e Mulheres
Quero também dizer mais alguma coisa sobre a ordem do amor na relação do
casal. Este tema nos fala mais de perto. Muitos se envergonham disso, como se
fosse algo que a gente deveria ocultar. Aquilo que diferencia os homens das
mulheres, que realmente os diferencia, é escondido. Ou, pode-se dizer também, é
protegido. Pois é o lugar onde cada um é mais vulnerável. É o lugar próprio da
vergonha. Vergonha significa, neste contexto, que eu guardo alguma coisa, para
que nada de mau aconteça. E é o lugar onde nos sentimos mais entregues.
Quando o homem admite que precisa da mulher e que só através dela se torna um
homem, e quando a mulher admite que precisa do homem e só através dele se
torna uma mulher, então essa carência os liga um ao outro, justamente pelo fato de
a admitirem. Então o homem recebe o feminino como presente da mulher, e a
mulher recebe o masculino como presente do homem.
O vínculo
A existência de uma tal ligação é percebida pelos seus efeitos. Por exemplo, o
homem que se separa levianamente de uma parceira a quem estava vinculado
dessa forma pela consumação do amor, via de regra não conseguirá conservar
uma segunda parceira num outro relacionamento. Pois esta percebe o seu vínculo
com a parceira anterior, e não ousa tomá-lo plenamente. Quando um homem
abandona uma mulher e se casa de novo, talvez sua segunda mulher se considere
melhor que a primeira e diga: "Agora eu o tenho para mim". Ela entretanto o
perderá. Nesse próprio triunfo o perde, pois reconhece o vínculo desse homem com
a sua primeira mulher.
A profundidade de um tal vínculo pode ser avaliada pelo seu efeito. A separação do
primeiro amor é a mais difícil de se conseguir. É a mais dolorosa. Quando uma
segunda ligação se desfaz, a dor é menor. Numa terceira, é ainda menor.
Essa ligação não é porém sinônimo de amor. O amor pode ser pequeno e o vínculo
profundo. Inversamente, o amor pode ser profundo e a ligação pequena. O vínculo
se origina do ato sexual. Por isto, ele também nasce de um incesto ou de um
estupro. Para que mais tarde uma nova ligação seja possível, é preciso que a
primeira seja corretamente resolvida. Ela é resolvida quando é reconhecida e
quando é honrado o respectivo parceiro. Quem amaldiçoa o primeiro vínculo
impede uma ligação ulterior.
A ordem de precedência
O fruto do amor entre o homem e a mulher são os filhos. Também aqui é importante
observar uma ordem do amor, uma ordem de precedência no amor. Ela se orienta
pelo começo. Isto significa que o que vem antes tem, via de regra, precedência
sobre o que vem depois. Numa família, existe primeiro o casal homem-mulher. Seu
amor funda a família. Por isso, seu amor como homem e mulher tem precedência
sobre tudo o que vem depois, portanto, sobre seu amor de pais por seus filhos.
Muitas vezes acontece nas famílias que os filhos atraem sobre si toda a atenção.
Então os pais não são antes de tudo um casal, mas pais. Com isto os filhos não se
sentem bem.
Quando a relação do casal tem prioridade, o pai diz a seu filho: "Em você, eu
respeito e amo também a sua mãe". E a mãe diz ao filho: "Em você, eu respeito e
amo também o seu pai". E a mulher diz ao homem: "Em nossos filhos, eu respeito e
amo a você". E o homem diz à mulher: "Em nossos filhos, eu respeito e amo a
você". Então o amor dos pais é a continuação do amor do casal. Este tem a
prioridade. Os filhos então se sentem muito bem.
Eles são primeiramente pai e mãe de seus próprios filhos, e só depois disso
constituem um casal. Por conseguinte, seu amor como casal não pode continuar
nos filhos, pois já foram pais anteriormente. Então, o novo parceiro deve
reconhecer que o outro é, em primeiro lugar, pai ou mãe dos próprios filhos, e que
seu maior amor e sua maior força fluem para eles e, neles, naturalmente, também
para o parceiro anterior. Só então seu amor e sua força fluem para o novo parceiro.
Quando ambos os parceiros reconhecem isto, seu amor pode ser bem sucedido.
Quando, porém, um parceiro diz ao outro: "Eu tenho prioridade em seu amor, e só
então vêm seus filhos", a relação fica em perigo. Essa situação não se mantém por
longo tempo.
Se eles mais tarde têm filhos em comum, então são, em primeiro lugar, pai e mãe
dos filhos do primeiro casamento; em segundo lugar, são um casal e, em terceiro
lugar, são pais de seus filhos comuns. Esta seria a ordem, neste caso. Quando se
sabe disto, pode-se resolver ou evitar conflitos em muitas famílias.
Falei até aqui sobre algumas ordens do amor na relação entre o homem e a mulher.
Para terminar, contarei a vocês uma história sobre o amor. Ela é assim:
Antigamente, quando os deuses ainda pareciam bem próximos dos homens, viviam
numa pequena cidade dois cantores que se chamavam Orfeu.
Um deles era o grande. Tinha inventado a cítara, um tipo primitivo de guitarra.
Quando tocava o instrumento e cantava, toda a natureza ficava enfeitiçada em
torno dele. Animais ferozes se deitavam mansamente a seus pés, árvores altas se
inclinavam para ele: nada podia resistir a seus cantos. Pelo fato de ser tão grande,
ele conquistou a mais bela mulher. E aí começou a descida.
Enquanto ele ainda festejava o casamento, morreu a bela Eurídice, e a taça cheia,
que ele erguia nas mãos, se partiu. Contudo, para o grande Orfeu, a morte ainda
não foi o fim. Com a ajuda de sua arte requintada, encontrou a entrada para o
mundo subterrâneo, desceu ao reino das sombras, atravessou o rio do
esquecimento, passou pelo cão dos infernos, chegou vivo diante do trono do deus
da morte e o comoveu com seu canto.
A morte liberou Eurídice -- porém sob uma condição, e Orfeu estava tão feliz que
não percebeu o que se escondia por trás desse favor. Orfeu pôs-se a caminho de
volta, ouvindo atrás de si os passos da mulher amada. Passaram ilesos pelo cão de
guarda do inferno, atravessaram o rio do esquecimento, começaram o caminho
para a luz, que já viam de longe. Então Orfeu ouviu um grito - Eurídice tinha
tropeçado - horrorizado, ele se voltou, viu ainda a sombra dela caindo na noite e
ficou sozinho. Esmagado pela dor, ele cantou sua canção de despedida: "Ai de
mim, eu a perdi, toda a minha felicidade se foi!"
Ele próprio voltou à luz. Entretanto, no reino dos mortos, passara a estranhar a
vida. Quando mulheres ébrias quiseram levá-lo à festa do novo vinho, ele se
recusou, e elas o despedaçaram vivo.
Tão grande foi sua desgraça, tão inútil foi sua arte. Entretanto, todo o mundo o
conhece.
O outro Orfeu era o pequeno. Era apenas um cantor de rua, aparecia em pequenas
festas, tocava para gente humilde, alegrava um pouco e curtia isso. Como não
conseguia viver de sua arte, aprendeu um ofício comum, casou-se com uma mulher
comum, teve filhos comuns, pecou eventualmente, foi feliz de modo comum, morreu
velho e satisfeito da vida.
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Novembro de 2000
• 1. O Alfa e o Ômega
• 2. Diante do fim
• 3. Alma
• 4. Sobre a espiritualidade
• 5. Amor
• 6. Paz de espírito
Tradução do inglês (com permissão expressa de Bert Hellinger) por Décio Fábio de Oliveira Júnior - reprodução proibida
1. O Alfa e o Ômega
Toda terapia, como eu a compreendo, tem que ir em direção à fonte. Para cada um
de nós, a fonte é, primeiro de tudo, nossos pais. Se nós estamos conectados com
eles, estamos conectados com nossa fonte. Uma pessoa que está separada de
seus pais, está separada de sua fonte. Quem quer que esses pais sejam, como
quer que eles se comportem, eles são a fonte de vida para nós. Assim, a coisa
principal, é que nós estejamos conectados a eles de tal forma, que aquilo que vem
deles para nós possa fluir livremente e, através de nós, para aqueles que vêm a
seguir.
Eu tenho uma imagem da fonte. Eu penso em um rio. Ele começa em sua fonte. Ela
brota a partir da terra, e então não tem que buscar um caminho. Ela encontra esse
caminho automaticamente, devido ao fato de sempre permanecer abaixo. O
progresso do rio é ir cada vez mais para baixo e permanecer baixo. Seu fluxo é
sempre para baixo, nunca para cima. Ele sempre segue para baixo. No final ele
encontra o oceano, onde é absorvido por algo maior.
Não importa como nossos pais são agora ou eram quando éramos pequenos. Isso
não faz nehuma diferença. A vida e tudo o que vem com ela, veio para nós através
deles. Mas eles também, pertencem a uma longa linhagem. O que vem para nós a
partir dos pais vem de muito longe. Passa através de nós e vai para baixo. Todo o
tempo, vai para baixo. Se nós realmente vemos isto, se olhamos para a origem, a
fonte da vida em si mesma e observamos seu fluxo através de todas essas
gerações, podemos, então, estar abertos àquilo que nos é dado. Então não há mais
acusações, nenhuma queixa de nenhum tipo. Nós apenas tomamos a vida, e então
nos viramos e deixamos que o fluxo da vida passe através de nós indo para a
próxima geração, para nossas crianças, ou se não temos crianças, para a
comunidade, para a humanidade como um todo. Então, nós estamos realmente em
sintonia.
2. Diante do fim
Após trabalhar com paciente canceroso, deixando-o em face à sua doença e sua
morte.
Vocês podem ver a diferença entre a força dele agora, comparado a como ele se
sentia antes. Nessa situação, isto é o que é necessário, ficar frente a frente com o
fim. Se somos realmente capazes de nos colocar de frente a ele, então nos
sentimos melhores, estamos em contato com a fonte da vida. Porque a vida e a
morte pertencem, juntas, à mesma coisa. Nós temos vida por que outros morreram
antes. A morte de outros abriu o caminho para nossa vida. E se nós morremos, a
vida irá para outros. Nós abrimos espaços para eles. Este é o ciclo do qual fazemos
parte. Nós podemos viver nossas vidas plenamente, se estamos em sintonia com o
nosso fim. Esta compreensão demanda do terapeuta, que ele ou ela, esteja em
sintonia com a sua própria morte e não tema a sua morte pessoal nem a morte do
cliente. Então ele se sente muito calmo. Isto é tudo o que eu tenho a fazer. Se eu
for tentar qualquer coisa mais, eu o afasto daquilo que ele tem experimentado.
3. Alma
Eu quero falar alguma coisa sobre “alma”. Nós, na sociedade ocidental, temos a
idéia de que possuímos uma alma. Isto vem da filosofia grega, em granda parte, de
Platão. A idéia é que nós temos um corpo, e este corpo envolve uma alma. Assim a
alma é prisioneira do corpo. Essa alma não se sente feliz no corpo. Ela tende a
deixar o corpo após um tempo. De modo a ajudar a alma a deixá-lo, nós primeiro,
temos que salvá-la. Você já ouviu acerca disso? Salvar a alma? Não é uma idéia
estranha quando você pensa sobre isso, que nós temos que salvar nossas almas?
Em outras palavras, se, digamos, alguma injustiça foi feita para eles, nós podemos
agora estar emaranhados com eles. Como isto é possível? Como é possível que a
injustiça feita para alguém no passado seja tomada por outros membros da família
que nunca sequer conheceram essa pessoa? Como pode essa segunda pessoa ser
compelida a reparar uma injustiça feita na geração anterior? Tem de haver uma
força comum que atua sobre eles.
Eu também tenho a idéia de que nós só podemos viver como seres humanos se
estamos conectados todo o tempo com alguma coisa fora de nós. Qualquer troca
com o ambiente tem que ser guiada por alguma coisa que nos une, o ambiente e
nós, de tal forma que podemos interagir de um modo integrado. A evolução é
movida por uma constante troca, e há uma força que guia, que empurra a evolução
para a frente. Esta força maior eu chamo de alma.
Quando eu trabalho aqui, eu tenho que estar em contato com essa alma maior.
Essa alma me guia de tal forma que eu possa estar em sintonia com a outra
pessoa. Tão logo eu estou em sintonia, eu posso trabalhar com ele ou ela e fazer
exatamente aquilo que é necessário no contexto particular dessa pessoa. Deste
modo, eu não estou apenas pensando naquilo que é certo, eu não estou teorizando
acerca disto, eu acho os próximos passos necessários, pois estou em sintonia com
a pessoa.
A alma tem diferentes dimensões. Aquilo que eu vou falar agora são imagens
construídas para apenas tocar uma idéia, não são a verdade em si, mas algumas
observações sugerem que se pensamos nesses termos ou imagens, nós
compreendemos melhor o que acontece na terapia.
Nosso corpo é mantido unido por uma força comum. Todo o metabolismo é dirigido
por algo que sabe aquilo que é correto. Não é uma força cega que dirige o que
acontece no corpo. Essa força tem uma direção. Essa força é a alma. A alma
mantém os órgãos juntos e os guia de um certo modo, de tal forma que a vida é
preservada e continua. Esta é a minha noção de alma com respeito ao corpo.
A família como um todo é também guiada por uma alma comum, a alma da família.
Nós podemos ver o quão longe esta alma alcança, nós podemos descobrir a
fronteira dessa alma. E assim podemos perceber quem se encontra incluído ou
excluído dentro da alma desta família. Quem pertence à alma da família? Primeiro,
as crianças, todas elas.Mesmo aquelas que nasceram mortas estão incluídas.
Frequentemente, crianças abortadas, mesmo se foram abortos espontâneos,
também são incluídas. A seguir, os pais, seus irmãos e irmãs pertencem a esse
grupo, assim como os avós e algumas vezes os bisavós. Esses são os parentes de
sangue que são incluídos dentro da alma da família.
Além do mais, há outras pessoas incluídas na alma da família que não são
parentes. Aqueles que abriram caminho para que alguém entrasse no sistema. Por
exemplo, os parceiros anteriores de um dos pais ou avós, que por sua morte ou
divórcio, abriu espaço para uma outra pessoa entrar nesse sistema – nossa própria
mãe ou pai talvez, ou nossa avó ou avô. Aqueles que abriram espaço pertencem à
família, pois contribuiram para esse sistema em particular.
Como os trabalhos mais recentes têm tornado claro, todas as vítimas que sofreram
nas mãos de um membro da família, também pertencem a esse sistema. Eu vou
oferecer a vocês um exemplo: em São Paulo, Brasil, nós posicionamos a família de
uma mulher, cujo irmão era psicótico e usuário de drogas. Quando a família foi
posicionada, tornou-se claro que ele estava conectado com alguém que não havia
sido mencionado, nem lembrado. Ele olhava para fora. Assim sendo, eu perguntei o
que havia acontecido nas gerações anteriores. E veio que o bisavô era um
latifundiário e tinha escravos. O bem estar da família dependera em grande parte
do trabalho e sofrimento desses escravos. Então posicionamos seis representantes
para os escravos. Quando eles foram colocados, o representante do jovem homem
mostrou um profundo amor por eles. Ele foi até eles, abraçou-os, chorou e sentiu
uma conexão muito profunda com eles. Esses escravos pertencem a esse sistema
familiar.
Nós também posicionamos o bisavô, ele não tinha nenhuma compaixão pelos
escravos e a mãe, também não tinha compaixão por eles. E foi esse jovem homem,
usuário de drogas, que estava em conexão mais próxima com eles. Ele era movido
pela alma da família. Se há vitimas na família, (por exemplo, na Alemanha, as
vítimas do holocausto) é claro que essas vítimas pertencem à família, mas seus
assassinos também pertencem ao sistema da família. Isto é mostrado quando
posicionamos uma família de sobriventes do holocausto ou seus descendentes.
Nessas famílias um membro freqüentemente tem de representar os agressores.
Somente quando os agressores são incluídos, a família pode encontrar paz.
O que significa incluir os agressores? Eles precisam ser amados como seres
humanos, nós não podemos excluí-los através de nossas justificativas morais. Eles,
também, mesmo que isso nos pareça horrível, estão seguindo suas conciências.
Eles estão ligados ao seu grupo e, aquilo que fizeram foi feito a serviço do seu
grupo, muito frequentemente com uma boa consciência. Deste modo, eles são, de
certo modo, não muito difrentes de suas vítimas. Nós podemos ver nas
constelações familiares que as vítimas só encontram paz se os agressores são
aceitos por elas como iguais. E os agressores só acham a paz se eles se
posicionam ao lado de suas vítimas.
Vêem como todos precisam ser incluídos no fim? O que isso mostra? Que todos os
seres humanos são guiados por uma força que está além deles mesmos. O que
quer que uma pessoa faça, seja o bem ou seja o mal, tem que ser visto não apenas
como sua própria responsabilidade (embora ela tenha uma certa responsabilidade),
tem que ser entendido dentro de uma visão mais ampla, onde atuam forças
maiores.
Como devemos lidar com essa força maior? Nós temos que nos curvar diante dela,
em profunda reverência e sermos muito humildes. Então, estaremos unidos naquilo
que eu chamo, a grande alma. Em conexão com esta grande alma seremos
capazes de fazer o trabalho aqui.
4. Sobre a espiritualidade
A maior realização espiritual é a mais humilde. Quando eu vejo pessoas que estão
fazendo meditação por muito tempo, esperando a iluminação , eu me pergunto: em
que elas estão contribuindo para a raça humana como um todo? E a resposta que
me retorna é: em nada.
Uma vez eu falei com um mestre Zen na Alemanha que muito freqüentemente ia
para Kyoto, no Japão, participar de sessões Zen. Eles tinham sessões por 10 dias,
meditando cada dia, 10 horas ou mais, alguns chegando a 16 horas ao dia. Ele me
disse que eles ficavam plenos de energia após isto. Eu perguntei o que eles faziam
com esta energia. Ele me respondeu: “Bem, vamos para a cidade e nos divertimos
com as gueixas.” Eu questiono se esta era a extensão da realização das sessões e
pensei que isto era estranho, muito estranho.
Além do mais, quando as pessoas falam de espiritualidade, eu vejo que aquilo que
elas desejam realmente obter é – devo eu dizer isso tão abertamente? – sua
mamãe. A busca pela espiritualidade, por realização espiritual, muito
frequentemente, é a busca pela mamãe. O que ocorreu o Buda realmente? Ele
perdeu a sua mãe ao nascer. Isto foi o que aconteceu. Isto foi, mais tarde, nublado
por todo tipo de história, incluindo aquela de quando ele viu uma pessoa morta pela
primeira vez, ele mudou sua vida e deixou sua esposa e filho. Mas a primeira
pessoa morta que ele conheceu, na profundidade de seu coração, foi sua mãe, que
morreu no parto, durante o seu nascimento. Se temos isso em mente, podemos
entender seus ensinamentos sobre escapar do sofrimento. São os ensinamentos de
uma criança que perdeu sua mamãe ao nascer.
A noite escura da alma tem três partes. Primeiro, há a noite escura dos sentidos, na
qual você não está mais buscando algo que agrade aos olhos, ouvidos, ou qualquer
outro sentido. Isto não é porque você deva desvalorizá-los de qualquer modo, pois
então seria uma resposta num nível diferente. Não, isto é porque você está
conectado com algo mais profundo, um lugar onde é muito calmo, muito tranquilo.
Neste nível, você não precisa mais olhar para fora ou escutar algo. É um lugar
muito grande.
Há ainda uma outra parte: a noite ecura do desejo. Você não mais quer alcançar
algo. Se você tem um plano, por exemplo, você quer aprender a fazer constelações
familiares e dar muitos cursos, isto é uma coisa boa, talvez. Mas se você tem um
plano de mudar o mundo através delas, você está desconectado da fonte real. Se
você deixar esses planos grandiosos irem embora – se você não quizer curar as
outras pessoas, ou fazer do mundo um lugar melhor, se você só permanecer
consigo mesmo – então um outro caminho se abre para você. Pode ser que você
tenha então, o impulso para dar apenas um pequeno passo, e seguindo esse
impulso, você descobre mais que todos os planos do mundo poderiam ter dado a
você.. Agora você está subitamente em conexão com algo mais, você está em
sintonia com alguma coisa maior. Assim, ao final desta discussão, estamos de volta
àquilo que eu falei esta manhã, o alfa.
5. Amor
Outro dia eu estava pensando sobre o amor. Eu imaginei que alguém dissesse a
outra pessoa “eu amo você”. Um marido diz isso para sua esposa, um homem fala
isso para sua mulher, “eu amo você”. Isto toca o coração de ambos. Mas isso tem
força? Será que o amor que é expressado neste momento, é forte o sufuciente para
durar uma vida, mesmo quando as dificuldades vierem? Não, ele é muito fraco.
Deve haver alguma coisa que precisa ser adicionada a esta sentença.”Eu amo
você” precisa ser seguido de “e aquilo que me guia e guia você”. ”Eu amo você e
aquilo que me guia e guia você”. Se ambos os parceiros dizem isso, a afirmativa
tem força. Mas o que isso significa na vida real? Significa que eles podem estar
juntos por um tempo, dividir um mesmo caminho por um tempo, mas então pode
acontecer que eles sejam levados em direções diferentes. Neste momento, quando
eles se separam, em um nível, eles podem ambos dizer ”Eu amo você e aquilo que
me guia e guia você”. Mesmo se há uma separação ou um distanciamento ligado a
isso, o amor permanece em um nível muito profundo. Este tipo de amor é a base do
respeito. Eu respeito uma pessoa, quando eu digo à ela ”Eu amo você e aquilo que
me guia e guia você. E eu amo você exatamente como você é, porque eu vejo
aquilo que nos guia”. E para o auto-respeito, é o mesmo. Eu olho para mim mesmo,
exatamente como sou, e digo “sim, eu amo a mim mesmo e àquilo que me guia”.
Entre pais e filhos temos a mesma situação. Os pais olham suas crianças e dizem
“eu amo vocês e àquilo que guia vocês e a mim”. E as crianças olham para seus e
dizem “eu amo vocês e àquilo que guia vocês e a mim”. Assim, eles são todos
indivíduos e ao mesmo tempo estão conectados de uma maneira muito profunda.
No primeiro dia deste seminário, um homem veio aqui para trabalhar e nós todos
vimos sua ansiedade. A pergunta para mim foi: “o que eu devo fazer?” E eu disse:
“eu amo você e àquilo que guia você e a mim”. E dessa forma, eu não vou além
daquilo que me é permitido por aquilo que me guia internamente. E eu concordo
com aquilo que o está guiando, mesmo que isto o leve à morte. Com base neste
profundo respeito mútuo e amor alguma coisa pode fluir entre o cliente e o
terapeuta. Não há diferença real entre eles. Estão todos no mesmo nível todo o
tempo. E eles se curvam a algo maior.
6. Paz de espírito
Eu quero dizer algo sobre a paz. Alguma vezes falamos sobre paz de espírito. O
que é paz de espírito? Se nós concordamos com tudo o que é dentro de nós, então
encontramos paz de espírito. Se não objetarmos a algo que está dentro de nós,
então temos paz de espírito. E se nós concordamos com tudo o que aconteceu em
nossa família, nossos pais, nossos irmãos, nossos ancestrais, nossos destinos,
então temos paz de espírito. Se nada está em oposição à alguma coisa, então nós
temos paz de espírito. E se nós temos paz de espírito, então temos paz com a
nossa família também. Se você tem crianças e concorda com elas como são,
exatamente como são, com seus destinos especiais, suas dificuldades, seus
talentos, seu amor especial, você então está em paz com a sua família. Se você
concorda com o seu parceiro deste modo, como ele ou ela é, sem qualquer desejo
de mudá-lo, você tem paz de espírito. E se você tem de lidar com outros grupos
que algumas vezes parecem ser difíceis ou estar em oposição a você, e você
concorda com eles como eles são, exatamante como são, você se torna irresistível.
De fato, você pode estender esta atitude para diferentes raças, religiões, nações.
Se você concorda com eles como são, exatamente como são, não há mais
nenhuma oposição. Você está em paz com eles, e eles, certamente, podem ficar
em paz com você.
A consciência oculta
A atitude terapêutica
Eu quero dizer algo sobre este tipo de trabalho. É conhecido como constelação
familiar. A constelação familiar é um método que visto de fora parece muito simples.
Se um cliente tem um problema, é então solicitado a selecionar representantes para
membros de sua família e colocá-los uns em relação aos outros. Tão logo isto é
feito, os representantes sentem-se como as pessoas que estão representando,
mesmo sem saber nada sobre elas. Isto é um fenômeno muito estranho. Se nós o
tomamos seriamente, nós temos que dizer adeus a muitas de nossas noções sobre
a alma humana.
Eu quero explicar agora algo sobre o que está por trás de importantes insights que
vem à luz através deste método.
A consciência oculta
Durante um período de anos eu tenho visto que somos guiados por uma
consciência coletiva oculta (inconsciente). Isto significa que os membros de uma
família estão sob a influência de uma consciência que é comum a todos eles. Esta
consciência é oculta, inconsciente. Eu tenho pensado muito sobre a origem de tal
tipo de consciência. Eu imagino que no começo da raça humana, havia grupos
pequenos de pessoas, eles viviam em grupos de 20-30 pessoas. Eles todos agiam
de um certo modo. Eles TINHAM que agir do mesmo modo para sobreviver. Deste
modo, os membros individuais deste grupo , todos eles, olhavam (zelavam) pelo
benefício do grupo como um todo. Eles não poderiam manter desejos pessoais que
fossem contra o benefício do grupo como um todo. E, de fato, neste grupo, cada
membro era importante. Eles não podiam se dar ao luxo de perder um de seus
membros. E ninguém podia deixar o grupo sem ficar em perigo de morrer
rapidamente.
Agora compare isto a como nós nos comportamos na cultura ocidental – o povo
japonês é também afetado de certa forma por esta cultura – onde um indivíduo
pode dizer: “ Eu venho primeiro, meu desenvolvimento pessoal vem primeiro”.
Como a Constituição americana coloca : “ Cada pessoa tem o direito de ser feliz,
todos tem o direito de serem pessoalmente felizes”. Vocês vêem a diferença? Neste
grupo original, todos pertenciam igualmente e esta alma comum que os unia zelava
para que nenhum dos membros fosse perdido. E ela zelava para que todos os
membros estivesse servindo ao grupo como um todo.
Dentro deste grupo havia um outro tipo de lei ou ordem operando. Esta lei dava a
cada membro seu próprio lugar dentro do grupo. Havia uma hierarquia dentro deste
grupo que se opõe à noção democrática que nós temos dos grupos, usualmente.
Neste grupo aqueles que chegaram primeiro tinham o mais alto nível (hierárquico) e
aqueles que vieram depois o nível mais baixo. Assim a hierarquia dava a cada
membro um lugar de acordo com o tempo que ele ou ela entrou no grupo. Deste
modo não havia conflito acerca do lugar próprio de alguém. Todos sabiam seu lugar
certo. Mas aqueles que tinham vindo depois progrediam com o passar do tempo
atingiam uma posição superior na hierarquia. A criança caçula, por exemplo, tinha o
lugar mais baixo, mas quando ela crescesse e se tornasse velha, alcançaria um
lugar mais alto afinal. Assim as posições não eram fixas, elas tinham um certo
desenvolvimento. Por meio destas duas leis, estes grupos poderiam sobreviver
enquanto estivessem entre si.
Mas o que aconteceu quando eles encontraram outros grupos? Subitamente eles
tinha de diferenciar entre eles e os outros grupos. Então eles tiveram a noção: “Nós
somos melhores e os outros não são tão bons.” Assim, enquanto antes havia uma
igualdade entre os membros e onde tais divisões ou diferenciações não tinham
lugar, tais diferenciações foram agora introduzidas.
Agora, porque eu disse tudo isto aqui? O que isto tem a ver com as constelações
familiares?
Isto foi uma introdução difícil e longa e eu espero agora que vocês estejam prontos
para que trabalhemos.
A vinculação pelo sexo
Eu devo dizer agora algo sobre este vínculo. Se há um intercurso sexual entre um
casal adulto e ele é sem reservas, uma ligação é estabelecida entre ambos. Eu uso
o termo “sem reservas” para incluir muitas coisas e não desejo ser muito específico.
Esta ligação dura uma vida e após ela se estabelecer o casal não pode mais se
comportar como se não tivesse acontecido nada. A profundidade do vínculo pode
ser vista quando há uma separação. Após tal vínculo eles não podem se separar
facilmente. Eles só podem se separar com dor e sentimentos de culpa. Se eles se
separam e encontram outro(a) parceiro(a) com o(a) qual tem um intercurso sexual
também um novo vínculo se estabelece. Mas este novo vínculo é menos intenso
que o primeiro. Quando eles se separam a dor e os sentimentos de culpa são
menores que antes. Após o terceiro é ainda menor. E assim prossegue. Após
algum tempo eles são incapazes de estabelecer uma parceria estável e
permanecerão solteiros. Isto pode servir a um propósito especial em relação à
evolução talvez. De minha parte não há nenhum julgamento a respeito disto. Com
relação ao incesto, abuso sexual e estupro, nós temos que saber que um vínculo
também é estabelecido. Mas eu volto ainda para a relação de casal. Se houve um
relacionamento e ele foi rompido e os parceiros tomam nova relação com pessoas
diferentes, o parceiro anterior será representado na próxima relação por uma
criança, a menos que a separação tenha acontecido com amor. Então a segunda
relação pode ter sucesso. O mesmo se aplica ao incesto, estupro e caso de abuso
sexual. A menos que o vínculo criado seja reconhecido e haja uma separação com
respeito e amor os relacionamentos posteriores serão difíceis.
Com relação ao estupro, isto pode parecer muito estranho. Mas as constelações
familiares mostram uma imagem diferente (da habitual). Houve uma vez uma
mulher que colocou sua família. Ela havia me dito que tinha dificuldades sexuais.
Eu disse que não desejava lidar com isto em público. Mas quando ela posicionou a
família eu perguntei: “Houve algo especial?” Ela me disse então: “Eu fui estuprada 6
vezes.” Deste modo eu selecionei seis homens e os coloquei lá, lado a lado. Então
a representante daquela mulher se posicionou em frente de cada um deles e se
curvou, reverenciando-os, uns com mais profundidade que os outros. No final, ela
se colocou ao lado do último. E disse então: “Este é o meu lugar”. Muito estranho!
Isto vai contra o nosso pensamento moral. Mas as constelações familiares mostram
um quadro diferente.
Agora, quanto ao incesto. Se vocês são confrontados com casos de incesto, uma
dinâmica muito comum é que a esposa se retira do marido e lhe recusa uma
relação sexual. Então, como um tipo de compensação, uma filha toma seu lugar.
Isto é um movimento inconsciente, não é consciente. Mas você vê, com o incesto
há dois agressores, um oculto e outro às claras. Não se pode resolver isto a menos
que o agressor oculto venha à luz. Há então sentenças muito estranhas que vêm à
luz. A filha pode dizer a sua mãe “Eu faço isto por você.” E ela pode dizer ao pai
“Eu faço isso pela mamãe”. Qual é o efeito dessas sentenças? O incesto não pode
mais continuar. Se você quer pará-lo, este é o melhor modo, sem qualquer
acusação.
Se você levar o agressor à justiça, então a vítima expiará o que for feito ao
agressor. Eu dou um exemplo. Em um grupo, um assistente social relatou um caso
de abuso e incesto e ele disse que levaria os agressores à corte. Eu o adverti que
isto poderia ser perigoso para a menina. Mas ele se sentiu no direito de levá-los à
justiça. Então, depois eu o encontrei e perguntei a ele como estava indo a menina.
Ele me disse: “Ela sempre está querendo pular pela janela”. Este é o resultado da
ação justiceira dele.
Eu quero dizer algo sobre a noite escura da alma. Este é um conceito da tradição
mística da Europa. Mas ele é muito próximo do pensamento asiático também. Ele
significa que eu me refreio de investigar , eu me refreio de qualquer curiosidade. E
qual é o efeito disto? Paz para todos os envolvidos. Eu fico em paz. Eu não estou
sobrecarregado pelos problemas alheios. E os demais não são mais perturbados
por mim. Eu não interfiro de forma alguma nos movimentos de sua alma. Nós
ambos podemos então respeitar-nos mutuamente. Se eu agora me entregasse À
curiosidade, eu perderia o respeito do outro. E ele sentiria que eu não o respeito.
Assim, este é um bom procedimento. Na verdade é um não-procedimento. Eu não
faço nada. E ainda assim, pelo não fazer nada, eu faço muito.
A atitude terapêutica
Eu quero dizer algo sobre a atitude terapêutica. Ontem, eu trabalhei com ela e eu
sabia das conseqüências, é claro.
Mas eu não interfiro. Eu só parei e esqueci dela. Eu não cuidei mais, não no sentido
de que eu não me preocupei mais. Ontem eu trabalhei com ela ( e apontou outra
mulher), eu parei e esqueci-a.Eu não fiquei preocupado, porque eu confio – alguma
coisa acontecerá. Há forças maiores operando aqui. Nesta manhã esta outra
mulher veio aqui e estava pronta para mais um pouco de trabalho. Eu trabalhei com
ela e não achei uma solução – superficialmente nós não achamos uma solução – e
eu parei. Após um tempo ela parecia feliz. Eu não sabia porque, eu não perguntei
também. Para mim aquilo estava terminado. Não é mais meu assunto e não é mais
da minha conta.
Agora ela veio por si mesma, porque a interrupção de ontem liberou algo em sua
alma. Ela veio aqui e eu confrontei-a com suas conseqüências. Quantos de vocês
ficaram chocados com o que eu disse a ela? Aquilo foi chocante. Mas foi verdade.
É a verdade e não se pode brincar com ela. Aquilo é o que acontece se alguém
deseja a morte de sua mãe.
Então eu tentei algo mais e não achei solução. Eu estava preparado para parar sem
fazer mais nada. Eu não me preocupei. Então Harald me apontou algo. OK, havia
uma outra oportunidade. Eu tomei-a e nós achamos uma solução. Agora, quem
achou a solução? A grande alma achou a solução. A grande alma me dirigiu e a
ele, a ela e ao grupo como um todo.
Estas mulheres aqui na constelação , elas foram boas? Elas foram inteligentes?
Elas foram competentes? Não , elas foram guiadas por algo que veio de muito além
delas mesmas. Elas apenas e permitiram serem movidas. Isto é o porque de nós
termos achado uma solução. Mas não houveram bons terapeutas aqui, nem mesmo
Harald foi um bom terapeuta, nem eu fui um bom terapeuta. Nós estivemos em
sintonia com algo maior. E esta é nossa grandeza. Você vê quanta confiança é
exigida para trabalhar desta forma? Quão cuidados nós temos que ser todo o
tempo para que nada interfira (como nossas idéias ou intenções) neste trabalho?
Se você tem esta atitude sem nenhum medo e sem nenhuma intenção pessoal e só
se permite ser guiado por algo maior, então você pode fazer este trabalho. Porque
não é mais você , é algo além de você e de mim.
Tradução do inglês para o português com permissão expressa de Bert Hellinger por
Décio Fábio de Oliveira Júnior.
Vontade e
Destino
Escrito por Jakob R. Schneider
A constelação familiar
Talvez a explicação mais simples seria esta: o cliente exterioriza sua imagem
interna, e a posição dos representantes reproduz uma certa estrutura de
relacionamento que está arquivada em nosso aparelho de percepção, com sua
respectiva dinâmica. Mas como se explica que os representantes sintam coisas tão
diversas em constelações de configurações semelhantes ou mesmo idênticas? Por
que razão surgem nas constelações processos que tocam emocionalmente o
cliente e fazem sentido para ele, mesmo quando o terapeuta escolhe e coloca os
representantes, ou quando se coloca apenas uma pessoa - para não falar das
chamadas “constelações invisíveis” -?
Por exemplo, um representante coloca de repente as mãos nos ouvidos e diz: “Não
estou escutando nada” e o cliente que colocou as pessoas diz, estupefato: “Meu
irmão, quando era pequeno, ficou soterrado na guerra e desde então ficou surdo”.
O que acontece num caso como este?
Outro exemplo: O representante do irmão de uma cliente é introduzido na
constelação dela, e a representante da cliente exclama: “Não tenho mais o
antebraço”, e a cliente exclama, espantada: “Meu irmão teve de amputar o
antebraço aos vinte anos depois de um acidente”. O que explica este caso?
Da mesma forma como em nossa alma pessoal somos maiores do que aquilo que
percebemos conscientemente em nós, assim também em todos os níveis de
relações estamos envolvidos em contextos maiores, formados, em termos
anímicos, por “espaços” ou “campos” (tomados como metáforas), que juntam as
partes para constituir algo “mais” e “maior”: uma união familiar, um grupo de
amigos, uma empresa, uma comunidade social, um Estado - que se integra na
natureza e no cosmo como um todo. Essa nossa vinculação, em sua grandeza e
totalidade, recebe freqüentemente de Bert Hellinger a denominação de “grande
alma”. Isso não significa para ele algo místico ou do além, mas a totalidade da
existência individual e coletiva, que justamente através das conquistas das ciências
naturais nos aparece de modo cada vez mais misterioso, nos sustentando, ligando
e talvez mesmo dirigindo.
Fenomenologia e verdade
Perguntado sobre o que lhe restaria nesse caso, respondeu: em lugar da “verdade”
(truth), “a confiança” (trust), a confiança que nasce quando utilizamos nossos olhos
e nossos ouvidos. Aliás, esta é uma perfeita descrição da atitude fenomenológica.
A ordem
Essa crítica parece compreensível à primeira vista, quando, por exemplo, se fala da
“hierarquia pela origem”, do significado da união conjugal, de uma mudança de
nome ou de uma reverência aos pais. Estamos acostumados a desconfiar de
ordens culturalmente preestabelecidas e a reivindicar nossa autonomia e
emancipação. Quando vemos – e não só em constelações – o que acontece nas
relações, deparamos com algo desafiador, a saber, que nelas atuam forças
ordenadoras, ancoradas em nossa alma como uma marca biológica e uma
realidade coletivamente ordenada, presente no fundo de nosso inconsciente. Essas
forças estão apenas encobertas devido a nossa evolução em termos individualistas
e de razão esclarecida. Uma das conquistas do trabalho das constelações foi ter
nos levado a experimentar essas ordens ou regulamentações que atuam
independentemente de nosso pensamento consciente, permitindo-nos assim lidar
sabiamente com elas. Entretanto, são ordens vivas, que estão a serviço da
sobrevivência, do crescimento e do progresso nos relacionamentos. Além disso,
são ordens que fazem sentido em termos de evolução. Podemos descobri-las,
direta ou indiretamente, nas descrições da realidade humana presentes na literatura
de todos os séculos.
A hierarquia pela origem, por exemplo, é uma simples ordem básica: primeiro vem
quem chegou primeiro, em seguida vem quem chegou depois. Ela vale no interior
de um sistema familiar e indica a cada um sua posição e seu lugar dentro da
família. Primeiro vêm os pais, depois os filhos. Entre os filhos, primeiro vem o mais
velho, depois o segundo e o terceiro. Em primeiro lugar vêm os pais. Isto significa
que sua sobrevivência tem precedência sobre a sobrevivência dos filhos. Isso é
compreensível em função da sobrevivência do grupo, pois a sobrevivência dos pais
assegura uma nova geração mais rapidamente que a sobrevivência dos filhos.
Todo o restante que faz parte das transformações culturais da hierarquia da origem
resulta disso e deve ser medido por sua função original. Entretanto, em épocas de
superpopulação sua avaliação pode obedecer a critérios diferentes.
A hierarquia pela origem é completada pela “hierarquia pelo progresso”. Por outras
palavras: entre dois sistemas diferentes, o novo sistema tem precedência sobre o
anterior. Assim, quando os filhos deixam seus pais e se casam e têm filhos, essa
nova família tem precedência sobre a família de origem. Isso também faz sentido
em termos de evolução e de abertura para o futuro.
É sempre emocionante experimentar como são úteis essas ordens, básicas mas
fundamentais, para configurar relacionamentos e resolver conflitos. Todo mundo
percebe imediatamente, por exemplo, como é útil quando uma mãe grávida diz à
sua filha de três anos: “Você vai ganhar um irmão. No início eu precisarei cuidar
muito dele, do mesmo jeito como você mesma precisou muito de mim quando era
bebê. Mas você será sempre a minha primeira filha e a mais velha”.
Será mostrado em que medida essas ordens mudam de acordo com a evolução
humana. Mas deve ficar claro que a realidade não se orienta de acordo com o
nosso arbítrio e a nossa opinião. O movimento ecológico demonstrou que, quando
nossa ação desrespeita as regulamentações e seus efeitos de longo prazo, ela
acarreta resultados danosos e até funestos. As “ordens do amor” representam
talvez uma transposição do pensamento e da ação ecológica para o domínio das
relações. Elas também nos permitem levar em conta em nossos relacionamentos,
os efeitos de longo prazo que nosso comportamento produz nas gerações
subsequentes. Como podemos estruturar nossas relações, de modo que nossos
filhos e os filhos de nossos filhos não precisem pagar o seu preço? Mesmo em
nossa época, com toda a aparente amizade pelos filhos, temos a tendência de
sacrificá-los não só por necessidade, mas também por vergonha, medo, interesse
próprio e falsa autonomia e emancipação.
O destino
Numa época em que às vezes julgamos que nossa vida está completamente em
nossas mãos - uma ilusão de muitos individualistas -, o reconhecimento do destino
e o assentimento à ligação com o destino próprio e alheio constitui um desafio.
Tanto nos acostumamos à idéia de uma livre razão e de uma autonomia individual
que nos recusamos a reconhecer o que em épocas passadas foi descrito como
daimonía e eudaimonía – a triste sina e a felicidade presenteada. O trabalho das
constelações é seguramente uma afronta a uma psicoterapia que valoriza acima de
tudo a autonomia e a emancipação individual e considera a humildade como uma
submissão. Porém basta ler jornais e romances para perceber como atua o destino
e como o nosso poder e a nossa impotência partilham a realidade.
Mas também existe o movimento oposto. Outra mulher com câncer em estado
grave, que se sentia fortemente atraída a seguir na morte seu pai, enredado em
grave culpa, pediu ao terapeuta que se esforçava por desprendê-la da morte: “Por
favor, deixe-me ir para meu pai!” Ela se deitou junto do representante do pai,
apertou-o nos braços, sorriu para ele com amor entre lágrimas, até que se acalmou
completamente. Na continuação do grupo ela atuou com alegria e energia e
colocou muitas questões práticas sobre seu comportamento em relação ao marido
e aos filhos. Notou-se que ela se preparava para sua morte. Que vontade
terapêutica teria aqui a força e o direito de se opor à sua morte?
Os mortos
Nada sabemos sobre a existência dos mortos em torno de nós ou num outro
mundo. Porém, todos sabemos que um laço entre vivos e mortos permanece na
alma para além da morte. Falamos com mortos, lembramo-nos deles nos cemitérios
ou em discursos, continuamos a amá-los e a temê-los como se não tivessem
morrido. Nossas questões existenciais, em sua maioria, abordam, além do amor, a
morte. E quem olha em torno com certa atenção pode perceber diariamente como a
morte e os mortos sobressaem em nossa vida.
O trabalho das constelações retoma, de uma forma não mágica e realizável pelo
homem moderno, antigos ritos xamânicos em favor da paz entre vivos e mortos.
Como é tocante quando numa constelação, uma mulher adulta se deita nos braços
da mãe que perdeu quando criança em virtude de um acidente! As emoções da
criança, talvez bloqueadas pela carência e pela dor, passam a fluir, e o amor e a
despedida podem ser agora realmente vividos. Como se sentem aliviados os
representantes de mortos que são reconhecidos pela primeira vez como
pertencentes à família, ou dos que, porque honrados em seu sofrimento, se livram
de uma maldição! Como se sentem liberados os representantes de criminosos ou
de vítimas quando sua condição de culpados ou de vítimas já pode ficar com eles, e
os vivos renunciam a se intrometer nisso! Como se sentem redimidos os
representantes de mortos quando se sentem acolhidos entre outros mortos e já
podem realmente ser acolhidos na “grande morte”!
A reconciliação
A palavra grega therapêuein significa, em sua acepção original, “servir aos deuses”.
Embora em nossa época a terapia seja vista de uma forma profana, nela
permanece algo do sentido primitivo da palavra, na medida em que, decaídos de
uma ordem ou abandonado uma opinião e um bel-prazer que nos prejudicam,
retornamos a uma ordem saudável. Em nosso linguajar coloquial, exprimimos isso
com as palavras: “Preciso pôr alguma coisa em ordem”. Os conflitos da alma
surgem quando forças contrárias nos dividem inconciliavelmente e conservam-se
em oposição irredutível em nós ou entre nós. A psicoterapia é sempre um trabalho
de mediação e reconciliação, embora várias tendências terapêuticas tenham
enveredado pelo caminho oposto, enfatizando a auto-afirmação, uma perspectiva
unilateral da autonomia pessoal, a separação e a luta, por exemplo, contra os pais,
os destinos funestos ou as pessoas consideradas más.
A ajuda
Os críticos objetam que com isso se abrem amplamente as portas para tolices
esotéricas. Afirmam que o trabalho com as constelações visa realmente efeitos
terapêuticos e que por isso ele deve sujeitar-se às leis que regulam a terapia e às
normas de uma terapia cientificamente controlada, ou deve deixar de existir.
Neste particular, importantes discussões também vêm acontecendo entre os
consteladores, e o campo está aberto para o desenvolvimento. As “Ordens da
Ajuda” de Bert Hellinger [4], que resumem sua longa experiência e suas convicções
sobre o tema da ajuda, contém matéria explosiva que exerce provocação, tanto
sobre a esfera externa quanto sobre o “cenário” dos consteladores:
A responsabilidade em constelar
Muito agradeço aos amigos e colegas que me apoiaram neste artigo com valiosos
estímulos e correções: Bernhard Haslinger, Eva Madelung, Albrecht Mahr, Wilfried
de Philipp, Katharina Stresius,Gunthard Weber e Berthold Ulsamer.
[1] A tradução, autorizada pelo Autor, reproduz quase integralmente o artigo “Wille
und Schicksal” (Vontade e Destino), publicado originalmente em resposta a críticas
levantadas recentemente na Alemanha contra o trabalho de Bert Hellinger. Foi
excluída da presente tradução a página inicial, pelas referências a um contexto para
nós desconhecido. (N.T.)
[4] Publicado nesse site onde existe uma tradução de nossa autoria. (N.T.)
Caminhos para os
casais
O sucesso do amor entre o homem e a mulher talvez seja o nosso anseio mais
profundo, e o fracasso desse amor faz parte de nossos medos e sofrimentos mais
profundos. Surpreende-me sempre constatar que a pressão pelo sucesso das
constelações nos grupos para casais é muito maior do que nos seminários para
pessoas doentes, onde freqüentemente se trata de vida e de morte. No
aconselhamento de casais percebe-se também, de modo especial, uma alta
expectativa dirigida ao terapeuta ou ao aconselhador. Pois trata-se de decisões
sobre o prosseguimento da vida em comum e das conseqüências que acarretam
para os parceiros, os filhos e as bases materiais da vida. Trata-se também das
mágoas e dos medos associados ao amor, onde somos ainda mais vulneráveis do
que no tocante à nossa integridade física.
Na seqüência, abrirei uma perspectiva de conjunto sobre os caminhos da terapia de
casal, a partir da experiência com as constelações familiares e do trabalho com os
fatores que as condicionam.
Por exemplo, uma das condições mais importantes para o bom êxito do amor é
que, no processo de dar e tomar, se volte sempre a alcançar uma compensação
positiva. Quem toma, também deve dar; se ama, deveria dar um pouco mais do que
recebeu. Assim, através do amor, a troca recíproca é estimulada no sentido de um
alto investimento de vida. A isto chamamos felicidade. Mas essa felicidade é
também difícil. Ela exige muita coisa dos parceiros, que então dificilmente podem
separar-se. Às vezes, alguém já não consegue sustentar a troca crescente do dar e
tomar, e talvez se sinta atraído por um outro parceiro, com quem possa trocar
menos. Ou então minimiza com críticas o que recebe, para sentir-se menos
obrigado.
A compensação entre o dar e o tomar funciona nos relacionamentos como uma lei
natural. Se o desequilíbrio cresce demais, a relação não consegue suportá-lo. Se,
por exemplo, a mulher custeou para o marido uma formação superior, sustentando-
o, é freqüente que ele a deixe depois, porque a compensação se torna muito
grande e difícil para ele. Quando um dos parceiros traz um grande peso em bens,
relacionamentos anteriores, filhos, destino, caminho de vida, e o outro não pode
contrapor-lhe nada de equivalente, isso pode destruir o relacionamento depois de
algum tempo. A gratidão e o amor podem aliviar parte do desequilíbrio, mas muitas
vezes é difícil.
Citarei aqui, de modo sucinto, outras formas das ordens do amor. A primeira é a
primazia da relação do casal sobre o cuidado dos filhos – pois o cuidado dos pais
pelos filhos aumenta com o amor recíproco entre os pais. Se este é sacrificado em
benefício do cuidado com os filhos, isto separa os pais e os filhos não o aceitam,
porque os pais pagam o preço em sua relação.
Obviamente, é muito importante que a relação do casal seja confiável como relação
entre um homem e uma mulher. Por outras palavras, o homem deve ser e
permanecer homem e a mulher deve ser e permanecer mulher. Os parceiros devem
sentir necessidade e confiança mútua, sobretudo no que se refere à sexualidade e
ao provimento das condições de vida.
Num grupo para casais, um deles constelou o seu sistema atual. A mulher trouxera
para o novo casamento um filho de um matrimônio anterior. Na nova relação,
embora recente, já havia muita briga. Na constelação evidenciou-se que a mulher
tinha muito pouca consideração pelo ex-marido e uma grande esperança de que o
novo marido viesse a ser um pai melhor para a filha dela. A relação entre a mãe e a
filha era muito estreita, e o marido atual se sentia estranho e olhava para fora.
Nessa constelação, a filha assumiu e honrou seu pai. O marido atual ficou aliviado
e encontrou um lugar ao lado de sua esposa. Parecia que a constelação tinha
funcionado e trazido solução.
Entretanto, à noite o marido procurou o terapeuta. Disse que se sentia muito mal e
que também não revelara o mais importante: que tinham sérios problemas no
relacionamento sexual, onde ela fazia muitas exigências que ele não podia
satisfazer. No dia seguinte, o terapeuta fez com que o marido montasse a
constelação de seu sistema de origem. Ela evidenciou que o homem tinha uma
estreita ligação com sua mãe e assumia junto dela o lugar do pai. O representante
do pai olhava para fora do sistema, totalmente fascinado por algo terrível.
Averiguou-se que, no decurso de uma longa fuga da prisão, que durou três anos,
ele fuzilou um homem que lhe barrara o caminho. Na compreensão desse evento,
que foi muito comovente para o casal, evidenciou-se que o marido não ousava
aceitar o amor de uma mulher nem gerar um filho, porque o regresso do pai ao lar e
seu conseqüente casamento com sua mãe só foram possíveis através do
assassinato de uma pessoa. Este era um importante quadro de fundo para os
problemas sexuais por parte do marido. Um cartão postal enviado pelo casal, nas
férias que se seguiram, dava a entender que algo se resolvera em sua relação.
Mas esta história ainda teve prosseguimento. Algum tempo depois, a mulher ligou
para o terapeuta. Disse que houvera muitas melhoras no casamento e que o marido
mudara muito e estava muito afeiçoado a ela. Mas ela se sentia de novo intranqüila
e insatisfeita quanto à relação sexual. Então, através de duas breves ligações
telefônicas, entrou em contato com uma avó que, depois da morte de seu primeiro
marido, por quem tinha muito amor, tivera uma vida muito infeliz e uma relação
muito insatisfatória com os homens que se seguiram. Percebendo sua estreita
ligação com essa avó, a mulher conseguiu acolhê-la amorosamente em seu destino
e desidentificar-se dela. Num outro cartão de férias comunicou que agora estava
muito satisfeita e que estava bem com o marido.
A dupla transferência
Certa mulher estava sempre muito irritada com seu marido e, como ela própria
notou, sem razão. Na constelação, ficou claro que ela representava uma tia que,
como primeira filha de mãe solteira, fora totalmente excluída da família por seu avô.
Em substituição a essa tia, a mulher assumiu a raiva pela injustiça mas, poupando
o avô, dirigiu-a contra o próprio marido. Ao mesmo tempo, e sem consciência do
fato, deu à sua filha mais velha o mesmo nome da tia. A história somente lhe foi
revelada por uma conversa telefônica posterior com o próprio pai.
Uma outra mulher, que era bonita mas tinha uma fisionomia muito carregada, era
seguidamente abandonada pelos homens. Não dava a impressão de ser agressiva,
mas comportava-se como uma vingadora cautelosa, aguardando o momento certo
para o golpe. As informações sobre sua família revelaram que sua mãe, aos doze
anos de idade, fora estuprada e quase morta. Na constelação a mulher
experimentou o medo pânico de sua mãe e, assumindo o papel de sua
representante diante do agressor, bradou-lhe no rosto: “Eu mato você!” Foi somente
o reconhecimento desse agressor como primeiro homem da mãe, e uma profunda
reverência da mãe e da filha diante do destino que uniu a mãe e seu agressor como
homem e mulher num evento terrível e sem saída, que trouxe alívio e luz ao
semblante da jovem mulher. Então ela pôde entender seus impulsos de vingança
diante dos homens, e em que medida nisso ela se ligava à mãe e ao mesmo tempo
se tornava semelhante ao agressor.
Uma dinâmica usual que separa os parceiros resulta do fato de que um deles, de
algum modo, está mais perto da morte do que da vida. Essa pessoa não está
realmente presente, e toda a luta do outro para retê-lo apenas agrava o conflito.
Assim, certa mulher ficou muito tocada quando, numa constelação, pôde ver em
que direção olhava o ex-marido do qual acabara de separar-se como sua quinta
mulher (ele vivia trocando de mulheres). Na constelação, seu representante não
olhava para nenhuma de suas mulheres e namoradas, cujas representantes tinham
sido colocadas ali, mas apenas para uma antiga noiva que, pouco antes do
casamento, morreu num acidente. Ele queria seguir essa mulher na morte, como se
só assim pudesse consumar-se esse grande amor.
Um homem muito bem sucedido e, não obstante, solitário, ficou muito assustado
quando se revelou em sua constelação que ele, no meio de todos seus casos,
levava consigo esta frase: “Antes te amar do que morrer”.
Sentia-se atraído por sua mãe, que morrera muito cedo, e na constelação só
encontrou paz junto dela. É como se tivesse sentido toda a sua vida através dessa
atração por sua mãe, e tivesse se defendido dela através desses amores. E talvez
também tivesse procurado encontrar neles sua mãe viva, naturalmente não a
encontrando.
Gostaria de mencionar aqui, muito rapidamente, uma dinâmica que se revela cada
vez mais, logo que ficamos atentos a ela. Dois parceiros se encontram, em muitos
casos, devido à existência de destinos semelhantes em suas famílias de origem.
Quando, por exemplo, há um filho presumido na família de um dos parceiros, o
mesmo ocorre, com freqüência, na família do outro, muitas vezes com diferença de
uma geração. Se numa das famílias os homens têm uma posição desfavorável, isso
também acontece freqüentemente na outra família. Se uma das famílias sofre os
efeitos de destinos envolvendo criminosos e vítimas, o mesmo ocorre geralmente
na outra família. Parece que instintivamente percebemos no parceiro os destinos de
sua família, no que têm em comum com os destinos da nossa. São bem diferentes,
entretanto, os padrões de lidar com tais destinos. Assim, com freqüência as
pessoas se completam pelo lado funesto: por exemplo, um dos parceiros se
identifica com as vítimas de um avô no regime nazista, enquanto o outro se envolve
com um avô que pertenceu às forças de choque do regime.
Quando um homem ou uma mulher olha para o seu parceiro, sente o desejo de
amá-lo e de ser amado por ele. Entretanto, ao se aproximar do parceiro, surge na
pessoa, como num reflexo, o antigo medo da criança, de perder sua mãe e de não
poder mais confiar nela, junto com uma grande dor e uma profunda resignação.
Esse padrão é transferido inconscientemente ao parceiro e uma luz vermelha se
acende: “Não quero sofrer isso de novo. Prefiro me retirar logo disso”. Entretanto,
como todo mundo gosta de amar e de ser amado, a pessoa volta a tomar um
impulso e a procurar o parceiro. Mas, logo que se chega ao amor, emerge
novamente o medo da criança pequena e a pessoa torna a recuar. Isto foi descrito
por Bert Hellinger como o círculo vicioso da neurose. A maior parte dos chamados
conflitos de proximidade e distância têm assim sua origem num movimento
precocemente interrompido em direção à mãe. Esses conflitos não podem ser
resolvidos na própria relação conjugal, mas exigem que a criança presente no
adulto, numa experiência retroativa, seja acolhida com força e amor por sua mãe ou
por um terapeuta que a substitua. Isso exige uma experiência de transe ou uma
vivência corporal em que o adulto se sinta de novo como uma criança pequena e
que, como uma criança pequena, experimente um abraço que lhe permita
atravessar a dor e recuperar a confiança em sua mãe.
Quando, na terapia de casal, trazemos assim à luz, de uma forma liberadora, fatos
passados, isso ajuda o “amor à segunda vista” (Bert Hellinger), a saber, as
dimensões mais profundas de um amor dotado de visão. Representa uma ajuda
para o futuro e para um amor bem sucedido do casal (mesmo que, no caso de uma
separação, apenas para o tempo em que ainda havia amor). Uma compreensão
retroativa só tem sentido na medida em que abre para o casal novos passos para o
futuro, no sentido do título de um dos livros de Bert Hellinger: “Vamos em frente”.
A dimensão espiritual da terapia de casal
Quando as constelações na terapia de casal são bem sucedidas, elas abrem para
os parceiros um caminho espiritual para o bom êxito de seu relacionamento. O
“espiritual” é entendido aqui num sentido mais amplo, como uma espécie de
purificação do relacionamento, e como uma forma de inserir-se no espaço maior da
alma, que transcende o próprio relacionamento. Também neste particular apontarei
brevemente os pontos essenciais.
A vida nos vem através de nossos pais, mas não se origina neles. Ela vem de
longe. Às vezes, podemos colocar os parceiros de frente um para o outro (e isso
costuma ser muito útil quando há problemas sexuais) e, atrás de cada um deles,
uma fila de antepassados. Isso permite perceber a força da vida que vem de longe
e é transmitida através dos antepassados, e também a alegria de viver. Esta
conexão, através dos antepassados, com a ampla totalidade da vida é um ato
religioso fundamental. Ao realizá-lo nesse espírito, cada um pode sentir, em si
mesmo e no parceiro, o que isso proporciona em termos de afluxo de força, de
movimento amoroso para o parceiro e de uma união aberta, no sentido de uma vida
mais ampla.
O ato de encarar-se
Para o êxito do amor existe um processo indispensável, que tem a ver com o
respeito pelos mais antigos e com o progresso. O primeiro passo é este: “Respeito
os meus pais e a minha família, e tudo o que vale nessa família”. O segundo passo
diz: “Respeito os teus pais e a tua família, e tudo o que vale em tua família”. O
terceiro passo costuma ser doloroso. Ambos os parceiros olham para seus pais e
lhes dizem interiormente: “Preciso deixar vocês e me desprender também de muita
coisa que era importante para vocês. Preciso deixar o que está em oposição ao que
traz o meu parceiro em termos de hábitos, normas, valores, fé ou cultura, e o que
me impede de dar prioridade à minha união atual e à minha família atual”. E, num
quarto passo, os parceiros se encaram e dizem um ao outro: “Vamos fazer algo de
novo a partir do antigo que trouxemos, algo que acolha e transcenda o que ambos
trouxemos, algo de novo que una e que leve ao futuro, e no qual possamos crescer
juntos como pessoas autônomas.”
Da necessidade de partilhar
Aqui direi algo de ousado. Às vezes pensamos que, se estivéssemos sós, seríamos
mais livres em nosso desenvolvimento e em nossas possibilidades. A realidade é o
inverso. A evolução nos ensina que a associação dos parceiros (não a
uniformização associada a uma compulsão totalitária) diferencia cada indivíduo,
torna-o mais variável em seu pensar e agir do que quando fica confinado à própria
individualidade. Quando, com vistas ao parceiro, temos de nos defrontar com
coisas novas e procurar novas formas de equilíbrio interno e externo, isto nos libera
um pouco dos próprios esforços, que são freqüentemente cegos, em nosso interior.
Ganhamos em variedade e equilíbrio, que são pressupostos imprescindíveis para
um certo grau de liberdade. Talvez a melhor maneira de descrever a realização
espiritual e simultaneamente a realização sistêmica básica na relação do casal seja
utilizar, num sentido um pouco mais amplo, as palavras de Bert Hellinger: “Eu amo
você e amo aquilo que suporta, dirige e desenvolve a você e a mim”.
(*) Original: “Wege in der Paartherapie”, em: Praxis der Systemaufstellung, 1/2002.
Versão elaborada de uma conferência proferida no 3º Congresso Internacional de
Constelações Sistêmicas (Würzburg, Alemanha, 2001). Traduzido por Newton
Queiroz, Rio de Janeiro, jan. 2003.
Constelações em Pacientes
Psicóticos
.
1. Sobre a teoria e a técnica do trabalho sistêmico com constelações
Em nossos seminários, que duram de dois dias e meio a quatro dias, trabalhamos
com grupos de 12 a 14 participantes e com um máximo de 10 observadores
participantes. Na constelação familiar cada participante do grupo monta
espacialmente sua imagem interna de um dos seus sistemas (o de sua família de
origem ou da atual, ou ainda de suas relações de trabalho), com a ajuda de
representantes, escolhidos entre os integrantes do grupo. Esses representantes
geralmente possuem pouquíssimas informações prévias sobre as circunstâncias da
vida e da história das pessoas representadas. O terapeuta interroga os
representantes sobre suas sensações e sentimentos nos lugares que ocupam. As
percepções dos representantes fornecem indicações importantes sobre as
dinâmicas familiares e as conexões sistêmicas, pois é incrível como refletem
exatamente, muitas vezes, as pessoas representadas, que não são conhecidas
pelos representantes. O dirigente do grupo tenta a seguir mudanças de posição
para os interessados, buscando, na medida do possível, o „melhor“ lugar para cada
um do sistema. Quando se consegue isto, o terapeuta geralmente introduz o próprio
cliente em seu lugar (até então ocupado por seu representante). Em conexão com
determinadas frases[8] que diz às pessoas importantes de suas relações, ele
muitas vezes experimenta de novo uma dor antiga e emoções que aliviam, e ganha
novas perspectivas. A “imagem da solução”, quando ele a consegue acolher e
interiorizar, desenvolve nele frequentemente efeitos que perduram por longo tempo.
2.2. A representação
Exemplo 1:
Exemplo 2:
Um paciente, que vinha sendo diagnosticado como doente psíquico crônico e que
fora criado num círculo de muitas mulheres, após um seminário assumiu-se
abertamente como homossexual. A partir daí passou a mostrar sintomas bem mais
raramente, completou com acompanhamento terapêutico uma exigente formação e
há dois anos exerce sua profissão.
3.4.
Sequelas de culpa e de violência na família
Depois da constelação o cliente contou que da herança do pai ele tinha pedido para
si a mochila de guerra (na ocasião, tinha sete anos). Essa mochila continha, entre
outros objetos de uso, o livro de Hitler „Mein Kampf“ (Minha Luta) e uma velha
pistola. Foi com essa arma que ele tentou suicidar-se e só recorreu à faca quando a
pistola falhou. Foi profundamente tocante, para o cliente, sua vivência num grupo
onde nem ele nem seu avô foram moralmente julgados, e no qual ele, de forma
comovente, se dirigiu a seu pai e seu pai a ele. Por desejo próprio, ele terminou a
terapia, depois umas cinco sessões adicionais, separadas por intervalos mais
longos.
Dois anos depois, apareceu no consultório do terapeuta com um ramo de flores nas
mãos. Relatou que tinha prestado com êxito seus exames finais como engenheiro,
assumido um emprego e iniciado uma nova relação. Sentia que tinha „aterrissado
bem na vida“. Disse que o seminário da constelação tinha sido a coisa mais difícil
que conseguira na vida, e que fora incrivelmente importante para ele.
Isto aconteceu, por exemplo, com uma paciente simultanemente identificada com
agressora e vítima. Na constelação ela ficou em posição transversa entre a
representante da mãe e a da avó paterna, que se odiavam mutuamente. Tais
triangulações adicionais marcantes dessas crianças foram frequentemente
encontradas por nós nas constelações. Suas soluções proporcionaram claros
alívios adicionais. Quando os pais provinham de países diferentes ou pertenciam a
diferentes comunidades religiosas, isto trazia aos filhos novos dilemas.
4. Conclusão
Citações
Berne, E. (1972): Was sagen Sie, nachdem Sie guten Tag gesagt haben?
Psychologie menschlichen Verhaltens. (O que você diz depois de dizer Boa noite?
A psicologia do comportamento humano). München (Kindler)
Mentzos, S. (19 ):
Nelles, W. (2002): Liebe, die löst. Einsichten aus dem Familien-Stellen (O amor que
libera. Insights da Constelação de Famílias). Heidelberg (Carl-Auer-Systeme); a sair
em Outubro de 2002
Satir, V. (1972): People Making (Fazendo Gente). Palo Alto (Science and Behaviour
Books)
[2] ver Weber (1993); Hellinger (1994), (2001), Ulsamer (2001), Nelles (2002)
[4] ver Satir (1972), Scheflen (1972) , Duhl et al. (1973), Papp (1976)
[6] Para conhecer o trabalho com rodadas, recomendamos a edição de vídeo “Wie
Liebe gelingt”(Como o amor dá certo), Carl-Auer-Systeme Verlag, Heidelberg.
[12] Ver também relatos sobre famílias alemãs onde familiares foram envolvidos em
ações criminosas na época nazista, ou foram vítimas de crimes: Hellinger (1998
und 2001a), Ruppert (2002).
Bert Hellinger
Jesus , o Cristo
O mesmo Deus
Alemães e Judeus
Recompensa
História: A volta
Os escolhidos e os rejeitados
Mas o que acontece quando outros grupos e outros povos também agem de acordo
com imagens internas similares? O resultado fica claro nas guerras religiosas. Tais
grupos não estão nem conscientes de si nem dos outros como pessoas individuais.
Ambos os lados se comportam como se possuídos por uma loucura coletiva.
Este senso de missão não se encerrou com o colapso do Terceiro Reich. Nós
podemos vê-lo mesmo agora, nos movimentos radicais de esquerda ou direita.
Esses movimentos demonstram um senso de missão similar e como conseqüência
uma prontidão cega para usar a violência contra os outros.
Jesus, o Cristo
Ainda, a oposição entre o novo e o velho povo escolhido não pode, sozinha,
explicar a aversão de muitos cristãos ao povo judeu, nem a crueldade dos pogroms
e as deportações. Entretanto há ainda uma outra raiz que me parece a mais
importante de todas. Tem a ver com a irreconciliável diferença entre Jesus o
homem de Nazaré e a crença em sua ressurreição e ascensão à mão direita de
Deus.
Elie Wiesel, o notável autor judeu, relata um enforcamento público de uma criança
num campo de concentração. Olhando para esta atrocidade, alguém perguntou:
"Onde está Deus aqui?" Elie Wiesel respondeu: "É aquele que está pendurado lá".
Quando Jesus na cruz chorou alto: "Meu Deus, meu Deus, porque me
abandonaste?" alguém poderia ter também perguntado: "Onde está Deus aqui?" E
a resposta poderia ter sido a mesma: "É aquele que está pendurado lá".
Os discípulos não puderam suportar a realidade de seu Jesus abandonado por seu
Deus. Eles escaparam disso através da crença em sua ressurreição, através da
crença em Jesus como Cristo sentado à direita de Deus e em sua segunda vinda
para julgar os vivos e os mortos. E ainda, o homem Jesus e seu destino humano
não teriam sido apagados por esta crença na ressurreição. Isto continua na imagem
dos judeus. O judaísmo na alma dos cristãos, primeiramente, representa Jesus o
homem, que o cristão, acreditando na ressurreição dos mortos e na ascensão de
Jesus à direita do Pai, não consegue ver. Os cristãos temem olhar o Jesus
esquecido por Deus, temem que o seu medo os torne maus.
Assim, na medida em que viram as costas para o Jesus o homem, então eles se
viram contra os judeus como uma manifestação do Jesus que eles temem e contra
o Deus de Jesus e dos judeus, que eles também temem. Esta é a imagem que eu
obtenho quando olho para o que acontece nas almas de muitos cristãos. Eu vou dar
a vocês um exemplo:
O líder do grupo, que tinha sido considerado não-cristão por estes dedicados
cristãos, disse: "Eu não vejo nenhuma culpa neste homem".
Se eu olho para os judeus durante sua perseguição pelo Terceiro Reich, e permito
que esta imagem trabalhe em mim, eu os vejo sendo arrebanhados juntos, e
enviados para sua morte. Eu os imagino concordando sem resistência, gentis e
humildes, e vejo Jesus neles. Jesus, o homem; Jesus, o judeu.
As vítimas do holocausto estavam num papel, notavelmente como o Jesus cristão
em face aos judeus. Como um povo, em seu comportamento e em seu destino, elas
incorporaram o comportamento e o destino do Jesus cristão em face aos
Conselheiros e Pilatos. Desta vez, os cristãos foram os brutos e os judeus
exemplificaram as características de Jesus.
O mesmo Deus
Voltando à idéia de um Deus que "escolhe", eu gostaria de dizer algo sobre o início
da religião na alma e acerca do que acontece nas almas dos cristãos quando eles
se tornam cristãos e nas almas dos judeus quando se tornam judeus.
Uma criança nasce em uma família específica, tem pais específicos, dentro de uma
família estendidaNT1 também específica. A criança tem uma cultura específica, é
parte de um povo específico e uma religião específica. A criança não pode escolher
nenhuma dessas coisas.
Se a criança toma esta vida como ela vem para ela ou ele, sem qualificações — se
a criança toma esta vida com tudo o que está incluído nesta família — o destino
desta família, as possibilidades, os limites, a alegria e o sofrimento – então a
criança está aberta, não só a estes pais, não só a este povo, não só a esta cultura
específica, não só a esta religião em particular; mas esta criança está aberta a
Deus e o que quer que seja que possamos sentir que esteja além deste nome.
Tomar a vida deste modo é um ato religioso. É o ato religioso.
Alguém que nasce numa família judia não pode fazer nada mais, e não pode fazer
nada além de começar sua caminhada até Deus de um modo judeu. Esse é o único
caminho aberto a esta pessoa, e , deste modo, o único correto. O mesmo é verdade
para um cristão acerca do caminho cristão. Quaisquer que sejam as diferenças de
crença entre cristãos e judeus, eles são iguais quando se chega a este ato religioso
essencial. Esse movimento é independente do conteúdo de suas religiões e não
pode e nem deve ser abdicado, mesmo que a pessoa adote uma religião diferente
depois.
Uma árvore não pode escolher onde cresce. Ainda assim, o lugar onde sua
semente cai na terra é o lugar certo para aquela árvore. A mesma coisa é
verdadeira para nós. O lugar onde os pais estão, é o único lugar possível para cada
ser humano e, deste modo, o lugar certo. Cada pessoa pertence a um povo, tem
uma língua, uma raça, uma religião e uma cultura que são as únicas possíveis e,
deste modo, as certas. Quando um indivíduo concorda com isso em um senso
profundo e humildemente toma isso a partir do que é maior que todos os indivíduos
e quando o individual se desenvolve então apropriadamente, dando tudo o que é
possível, então ele ou ela se sente igual a todos os demais. Ao mesmo tempo vem
o reconhecimento de que esta força superior, como quer que nós a chamemos, tem
de olhar para todos nós , igualmente. Não importa quão diferentes os povos do
mundo possam ser, eles são todos iguais perante esta grandeza.
Alemães e Judeus
Dado este cenário, alguém poderia perguntar: "Como podem os cristãos , acima de
tudo os alemães , lidar com sua culpa perante os judeus? O que eles podem fazer e
o que eles tem que fazer para superar esta culpa e dar ao povo judeu um lugar de
valor entre eles? E como pode o povo judeu lidar com a culpa dos cristãos e dos
alemães?"
Após isto, não fiz mais nada. Deixei o movimento inteiramente por conta deles,
como se desenvolvia, naturalmente. Alguns agressores caíram, se enrolaram no
chão e choraram alto em dor e vergonha. As vítimas se viraram para os agressores
e olharam para eles. Elas ajudaram aqueles que estavam no chão a se levantarem,
colocaram-nos nos braços e os confortaram. Finalmente, houve um indescritível
amor que emergiu entre eles.
À medida que você colocou sete de nós atrás das sete vítimas, eu fui tomado por
um sentimento muito estranho e desagradável. Eu, intuitivamente, antecipei alguma
coisa ruim, mesmo que não estivesse ainda claro para mim até aquele momento
quem eu estava representando. Quando você disse que nós representávamos os
agressores, um calafrio correu pela minha espinha. Quando as vítimas se viraram e
eu olhei o homem que estava oposto a mim, toda a energia foi drenada do meu
corpo. Eu nunca senti tanta vergonha na minha vida. Eu só olhava para ele e isto ia
me tornando menor, na medida em que ele ia se tornando maior. Eu não queria
nada, exceto, desaparecer em um buraco no chão, de preferência um buraco de
rato bem fundo na terra.
Dentro de mim eu estava gritando "NÃO, NÃO, NÃO, isto não pode ser verdade".
Eu senti a necessidade de pedir desculpas, mas ao mesmo tempo uma voz interna
me disse que não havia meio de fazê-lo, nada poderia ser mudado, eu mesmo tinha
que carregar tudo. A única palavra que eu pude pronunciar foi "por favor", neste
momento minha vítima me tomou em seus braços. Sem este apoio eu teria caído
no chão de vergonha. Em seus braços, minha voz interna mantinha-se dizendo "eu
não mereço isto, eu não mereço isto tudo — ser amparado por ele.” Por sorte, eu
fui capaz de deixar minhas lágrimas fluírem. De outro modo, a coisa toda teria sido
insuportável.
Minha necessidade de olhar a próxima vítima ficou mais intensa, mas de fato, o
próximo contato de olhos, literalmente, me jogou no chão. Eu não podia mais ficar
de pé. Eu chorei amargamente. Eu "fui". Eu estava apenas consciente de uma voz
bem distante que dizia: "Agora volte lentamente", e fui voltando bem devagar. Para
mim, havia ainda muita coisa inacabada, muitas vítimas não tinham sido vistas.
Havia ainda uma poderosa urgência para trazer ordem a este negócio inacabado.
Após a constelação gastei pelo menos uma hora para voltar totalmente a mim
mesmo de novo e sentir a minha força total.
Para mim, essa foi verdadeiramente um dos papéis mais difíceis que eu já tinha
experimentado em uma constelação familiar. Foi também estranho o modo pelo
qual os pensamentos emergiam tão cristalinos em minha consciência. Por exemplo,
que era impossível empurrar a responsabilidade de minhas próprias ações para um
outro alguém, mesmo que fosse algo pequeno na máquina. Após tal experiência,
você sabe que não há nada mais a discutir, ou perguntar, ou explicar. É
simplesmente como é.
Em uma constelação como esta, também fica claro que não há grupos, no sentido
de que estas são as vítimas e aqueles os agressores. Só existem as vítimas
individuais e os agressores individuais. Cada agressor individual tem de encarar a
sua vítima individualmente, e cada vítima individual tem de encarar seu agressor
individual.
O que se torna claro é que não há paz para as vítimas mortas até que os
agressores mortos tenham tomado seu lugar próximo a elas — até que os
agressores mortos tenham sido tomados por suas vítimas. E, não há paz para os
agressores até que eles tenham deitado ao lado de suas vítimas como iguais. Se
isto não acontece, se isto não é permitido acontecer, os agressores serão
representados por alguém na próxima geração. Por exemplo, enquanto aos
agressores da última guerra for negado um lugar nas almas dos alemães, eles
serão representados pelos radicais de direita. Nas constelações de famílias judias,
onde há descendentes de vítimas do Holocausto, eu tenho visto freqüentemente,
uma criança identificada com um daqueles agressores. Não há nenhuma alternativa
de reconciliação real, mesmo com os agressores.
Eu tenho uma fantasia disto em termos de que efeito isto teria na alma dos cristãos
se eles imaginassem Jesus morto, encontrando no reino dos mortos todos aqueles
que o traíram, julgaram e executaram. Quando nós olhamos para eles como seres
humanos, todos iguais em face aos grandes poderes que controlam seus destinos,
então damos a todos eles nosso respeito, embora isto possa ser um pensamento
repulsivo para muitos de nós. Acima de tudo, nós temos de honrar e respeitar o
grande poder por detrás deles e de todos nós, como um mistério incompreensível.
Recompensa
Algumas vezes os vivos precisam encarar os mortos. Olhá-los e serem vistos por
eles — principalmente aqueles que são culpados em relação aos mortos, mas
também aqueles que obtiveram alguma vantagem às custas do destino terrível de
seus vizinhos judeusNT2. Em muitas constelações o que tem emergido é que
aqueles indivíduos que sofreram com os erros de outros, afetam a alma dos
indivíduos que cometeram tais erros, ou as almas daqueles que se beneficiaram
destes erros, assim como as almas de seus descendentes.
Esta influência continua até que o erro tenha sido reconhecido e visto e até que as
vítimas sejam reconhecidas como pessoas de igual valor, sejam respeitadas e seja
feito luto por elas. Quando isto é feito, a ferida pode fechar e os efeitos terríveis de
tais erros cessam.
Em conclusão, eu contarei a vocês uma estória que os levará a uma viagem pela
alma se vocês desejarem segui-la.
A volta
Alguém nasce em sua família, em sua pátria, em sua cultura e já desde criança
ouve falar de seu modelo, professor e mestre, e sente um desejo profundo de
tornar-se e ser como ele.
Junta-se a um grupo de pessoas que pensam da mesma forma, exercita disciplina
por muitos anos e segue seu grande modelo, até que se torna igual a ele e pensa,
fala, sente e quer como ele.
Entretanto, pensa que ainda falta uma coisa. Assim, parte por um longo caminho,
buscando transpor, talvez, uma última fronteira na mais distante solidão. Passa por
velhos jardins, há muito abandonados. Ali apenas florescem rosas silvestres e
grandes árvores dão frutos todos os anos, mas eles caem esquecidos no chão
porque não há ninguém aí que os queira. Dali em diante, começa o deserto.
Logo é cercado por um vazio desconhecido. Parece-lhe que, aí, todas as direções
são iguais e, as imagens que às vezes vê diante de si logo se mostram vazias.
Caminha impulsionado para adiante e quando já tinha perdido, há muito tempo, a
confiança nos seus próprios sentidos, avista diante de si a fonte. Ela brota da terra
e nela imediatamente se infiltra. Porém, até onde a água alcança, o deserto se
transforma num paraíso.
Olhando à sua volta, vê, então, dois estranhos se aproximarem. Tinham feito
exatamente como ele. Tinham seguido seus modelos, até se tornarem iguais a eles.
Tinham empreendido, como ele, um longo caminho, buscando transpor, talvez, uma
última fronteira na solidão do deserto. E encontraram, como ele, a fonte. Juntos, os
três se curvam, bebem da mesma água e acreditam estar quase na meta. Depois
dizem seus nomes: "Eu me chamo Gautama, o Buda". — "Eu me chamo Jesus, o
Cristo". — "Eu me chamo Maomé, o Profeta".
Mas, então, chega a noite e, acima deles, como sempre, brilham as estrelas
inalcançáveis, distantes e silenciosas. Os três se calam e um deles sabe que está
mais próximo do seu grande modelo como nunca. É como se pudesse, por um
momento, pressentir o que Ele sentira quando o soube: a impotência, a frustração,
a humildade. E como deveria ter sentido, se tivesse conhecido também a culpa.
Na manhã seguinte, ele volta, saindo salvo do deserto. Mais uma vez, seu caminho
o leva por jardins abandonados, até que acaba em um jardim que lhe pertence.
Diante da entrada está um homem velho, como se estivesse esperando por ele. Ele
diz: "Quem de tão longe encontra, como você, o caminho de volta, ama a terra
úmida. Sabe que tudo o que cresce também morre e, quando cessa, nutre". —
"Sim", responde o outro, "eu concordo com a lei da terra". E começa a cultivá-la.
NT2 Na Alemanha nazista, muitos judeus tiveram seus bens confiscados pelo
estado e "leiloados" a preços muito baixos entre a população, que assim adquiriu
apartamentos, casas, fazendas e outros bens por um valor muito vantajoso às
custas dos judeus.
Texto traduzido por Décio Fábio de Oliveira Júnior com a permissão expressa do
Sr. Dan Booth Cohen, conforme o original em inglês no site
http://www.hiddensolution.com/whatsnew.htm
Qual é a origem dos conflitos étnicos ? Se você olhar para isto bem de perto , você
ficará surpreso ao perceber que na raiz de todos estes grandes conflitos está uma
"boa consciência". Todos estes conflitos obtêm sua energia de uma boa
consciência.
Nós somos ensinados desde a mais tenra infância , que nós temos que seguir
nossa consciência. Algumas pessoas chegam a dizer que a consciência é a voz de
Deus em nossa alma. Mas uma olhada bem superficial na consciência no mostra
que pessoas de diferentes famílias e diferentes culturas têm diferentes consciências
em relação a nós. Muito freqüentemente, seguindo sua própria boa consciência
elas expressarão diferentes valores, apresentarão diferentes comportamentos e
manterão diferentes atitudes do que nós teríamos dentro de nossa própria família e
nossa própria cultura.
Um teste bem fácil para verificar isto: quando você vai até seu pai, você tem uma
consciência diferente do que quando você vai até a sua mãe. Se você fica perto da
mãe você se sente de má consciência em relação a seu pai. Se você fica perto do
pai você se sente de má consciência em relação a sua mãe.
Assim, a consciência, na verdade, não nos diz o que é bom ou mau. Ela nos diz o
que nós temos de fazer de modo a pertencer a um grupo particular ou a uma
pessoa particular. A consciência tem uma função básica: ela nos liga nossa família
de origem, especialmente a este grupo que é essencial para a nossa sobrevivência.
Deste modo, quando nós seguimos nossa consciência, não é uma consciência
pessoal, é a consciência de nosso grupo. Se nós seguimos tal consciência, nós nos
sentimos seguros dentro de nosso próprio grupo.
Mas ao mesmo tempo que a consciência nos liga a nosso grupo, ela nos separa de
outro grupo. Assim, divisões, entre pessoas e famílias e grupos maiores, vêm da
boa consciência. Esta consciência é um pré-requisito para a sobrevivência. Para
nossa sobrevivência e para a sobrevivência de nosso grupo.
A pergunta agora é: Nós podemos achar caminhos que podem superar os limites
de nossa própria boa consciência e incluir dentro de nossas almas e nossos
corações os valores de outras pessoas? Então nós teremos de ter uma má
consciência. Através de ter uma má consciência nós podemos amar mais do que
antes. Por causa deste tipo de amor, que vem da boa consciência, diz ao mesmo
tempo , "Sim e não". O amor que leva à reconciliação seria o amor que pode dizer
"Sim" para todo mundo e para tudo.
Uma vez que você seguiu sua consciência, você não mais pode ver as outras
pessoas. Voe nunca as vê. Elas são apenas "Os inimigos, os outros, o outro grupo".
Deste modo a paz começa quando nós vemos as outras pessoas, nossos inimigos,
como seres humanos exatamente como nós somos.
Todos os esforços para servir à paz têm de ser feitos bem devagar. Tem de
começar na alma. Primeiro de tudo em nossa própria alma e então nós podemos
encontrar outros que se unem em um certo movimento de paz. Isto pode alcançar
momentum e ao longo do tempo alcançar alguma coisa boa a serviço da paz.
Primeira Demonstração
[Hellinger coloca a linha de vítimas de frente para uma linha de agressores. Ele não
dá nenhuma explicação adicional ou instruções. Isto não é um psicodrama ou uma
encenação. Os representantes não falam nada. Após algum tempo, eles começam
a exibir reações. Alguns começam a chorar, alguns se tornam fracos e caem,
alguns se viram, alguns se movem para perto dos outros e alguns apenas ficam de
pé, no lugar.
Hellinger permite o processo se desenvolver por cerca de 10 minutos. Então ele
traz alguns representantes para cada lado, que ficam atrás dos outros. Ele não diz
a eles nada, mas à medida que o processo se desenvolve eles podem ver os
representantes dos descendentes das vítimas e dos agressores. Após algum
tempo, eles também começam a reagir de vários modos.
O processo inteiro dura mais de 20 minutos sem nenhuma fala. Lágrimas fluem
livremente, dos representantes das vítimas , dos agressores, dos descentes de dos
observadores da audiência. Nós vemos que muito lentamente, os membros das
duas linhas originais se misturaram uma com a outra. Muitos, mas não todos, se
abraçaram em pequenos grupos. Alguns deitaram no chão sozinhos. Ninguém ficou
imóvel.]
No final, nenhum grupo mais, apenas pessoas. Apenas pessoas conectadas pelo
amor e pelo profundo pesar que vocês puderam ver aqui, pelo que aconteceu. A
principal força que traz paz entre pessoas e nações querelantes é um pesar
compartilhado por aquilo que aconteceu .
Eu quero apontar algo muito importante. Alguma coisa que está no caminho da paz.
Muitos daqueles que sofreram, ou que pertencem ao grupo que sofreu muito, estão
com raiva dos agressores. Eles reprovam-nos. Eles não querem esquecer de
nenhuma forma. O que acontece ? Aqueles que rejeitam os agressores em sua
alma se tornam como eles. Subitamente, eles têm a energia dos agressores e
continuam o conflito de alguma forma a sua volta. Como a roda que gira, mas é
sempre a mesma, sem nenhuma solução. Além do mais, aqueles que são
reprovados são reforçados em sua agressão. Assim, todas as acusações e todas
as reclamações pelos sobreviventes dos conflitos étnicos contra os agressores
apenas alcançam o propósito oposto ao qual almejam. Eles permanecem no
caminho da reconciliação.
Uma vez que nós compreendemos isto e permitimo-nos em nossas almas desejar o
bem a cada pessoa, mesmo aos agressores, mesmo àqueles que cometeram
injustiças contra nós, mesmo na vida cotidiana, se nós aprendemos isto, nós
crescemos. Se nós adotamos esta atitude nossa simples presença em uma dada
situação promoverá a reconciliação e a paz. Há duas sentenças ditas por Jesus que
explicam o que isto significa no final. Ele disse, " Tenha clemência, como meu pai
no Céu; ele faz o sol nascer sobre os bons e os maus , igualmente. E Ele deixa a
chuva cair sobre os justos e injustos, igualmente." Esta é a paz de Deus, realmente.
Perguntas
P: Houve um representante das vítimas que se moveu para longe dos outros.
Quanto mais longe ele caminhou para longe, mais ele parecia colapsar. Enquanto
isto, os representantes que se aproximaram dos agressores permaneceram de pé e
eventualmente se moveram em harmonia com os outros. Eu me preocupo com o
que aconteceu com o representante da vítima que se afastou.
Uma outra coisa a se notar é que quando você segue sua consciência pessoal e se
sente ligado a seu grupo, você se sente conectado em uma relação muito íntima.
Uma vez que você estiver em sintonia com a humanidade, você perde esta
intimidade. Você está aberto ao amplo; você está conectado, mas não intimamente.
Há um preço a ser pago. Você se sente de certa forma sozinho, ainda que
conectado.
Hellinger: A vida está sempre se movendo para a frente. O pesar é só por um curto
tempo. Pela experiência do pesar [do luto], algo do passado se completa. Então
você se move para a frente. Se nós carregamos nosso pesar e remorso conosco
todo o tempo, nós perdemos nossa própria vida. Na alma, se estamos em conexão
com aqueles com quem estivemos previamente em oposição, e compartilhamos
juntos o pesar, então podemos estar completos. Então podemos nos mover para a
frente com a vida, sem a necessidade de vingar os erros do passado na próxima
geração.
A reconciliação começa em nossa alma. Quando o que quer que seja que
rejeitamos, ou do qual temos vergonha é reconhecido e mesmo amado, então nós
podemos nos tornar mais completos e em paz. Infelizmente, isto significa também
que temos de deixar de lado nossa boa consciência.
Segunda Demonstração
Olhando para esta constelação, nós podemos ver como é difícil alcançar a
reconciliação no final. Muito difícil. É muito difícil alcançar isto em larga escala. Só é
possível entre uns poucos indivíduos. O principal obstáculo é que os descendentes
de ambos os lados estão ligados a suas consciências. Mesmo agora, após tantos
anos, eles estão ligados a suas consciências.
Há um importante aspecto a ser levado em consideração. Muitas pessoas que
sofreram muito, como os armênios, ou na América do Sul, os índios, os incas ou os
escravos nos Estados Unidos, e os nativos americanos especialmente, eles estão
ligados por aquilo que aconteceu no passado. Sua energia é atraída do presente
para o passado. Há uma esperança secreta que algo que foi terrivelmente mau no
passado possa ser refeito e corrigido, até mesmo desfeito totalmente. Este desejo
de mudar o passado impede os descendentes de olharem para frente.
Ano passado eu trabalhei na Flórida. Havia uma mulher no workshop que disse que
se sentia desconectada de seu corpo. Ela sentia como se sua cabeça estivesse
cortada do resto dela. Eu soube que ela era uma inca peruana. Então eu pensei no
rei inca que foi decapitado pelos conquistadores espanhóis. Eu coloquei alguns
representantes do povo inca deitados no chão. Então eu tomei um representante
para o rei inca. Também coloquei três representantes para os conquistadores
espanhóis. Eu coloquei esta mulher com eles. Após um momento, ela se moveu e
uniu-se aos mortos, especialmente ao rei inca. Ela queria revivê-lo. Mas de fato, ele
não podia ser ressuscitado. Ele apenas afundou mais e mais profundamente.
Quando a mulher viu que nada podia ser feito, absolutamente nada, aí realmente
acabou. Ela foi até os representantes dos espanhóis e segurou a mão de um deles.
Então começou a chorar. Eles ficaram brandos.
No dia seguinte, ela me escreveu uma carta dizendo que ela era uma descendente
direta do último rei inca. Através desta experiência, ficou claro para ela que
qualquer tentativa de reviver o passado priva a geração presente de seu futuro.
Em alguns dias eu estarei indo ao Canadá onde eu fui convidado por um grupo de
pessoas nativas a trabalhar com elas. Todos eles perderam suas terras e costumes
tradicionais e eles também vêem que não há nenhum caminho para o futuro a
menos que seja permitido encerrar o passado.
Justiça é uma preocupação só dos vivos. Os mortos, cujo destino nós podemos
querer vingar, não podem ser ajudados desta forma. A busca por alcançar a justiça
para aqueles que sofreram e morreram nos dá o sentimento de que nós estamos
fazendo a coisa certa; isto nos deixa de boa consciência. Mas o efeito é continuar
uma luta sem fim.
Estes são alguns dos insights que vieram deste tipo de trabalho que eu demonstrei.
Como vocês viram, não há nenhuma influência de fora. As camadas profundas da
alma funcionam de uma forma diferente de nossos desejos e de nossa consciência.
Se nós aprendemos a confiar nestes movimentos e vamos com eles, alcançamos
algo e deixamos muita coisa ir embora.
Sobre as
consciências
Constelações em
Homeopatia
Tradução do inglês por Dr. Décio Fábio de Oliveira Júnior (Com permissão
expressa do autor)
Anos atrás estes dois espíritos pioneiros convidaram vários médicos homeopatas e
junto com eles experimentaram constelações para estudar os “campos de
informação” dos remédios homeopáticos. Vários grupos de trabalho evoluíram
desta combinação entre homeopatia e terapia sistêmica , como por exemplo, em
Munique (Friedrich Wiest), Stuttgart (Sybille Chattopadday), e Freiburg (J.Latzel,
Beatrix Gessner). Neste ponto eu descreverei minha própria experiência com a
abordagem da “homeopatia sistêmica”.
Foi notável que, mesmo percebendo que nós nos concentramos em um único
remédio por reunião em nosso grupo, o efeito benéfico foi usualmente sentido por
todos os participantes. Na homeopatia clássica o médico procura um remédio
específico para a situação também específica do paciente. Ao invés de focar no
problema específico de um indivíduo, em nosso experimento focamos no remédio,
apesar disto o campo de cura do respectivo remédio pareceu alcançar cada
participante. Ele mostrou-se em seu essencial padrão interior, um padrão
arquetípico próprio que foi de certo modo familiar para cada um dos participantes.
Com o remédio Sulphur, p. ex. , nós vimos uma vívida demonstração da tendência
a simplesmente excluir tudo o que incomoda, e fingir que tudo está bem. Com Tuia,
nós testemunhamos uma fixação quase fanática em um ponto específico e uma
perspectiva também específica. Com Medorrinum, nós experimentamos a
dificuldade de se entregar. Com Sépia, nós vimos a luta da mulher contra as regras
do homem. Dentro das constelações os fatores característicos dos remédios
apareceram em um estilo perfeitamente claro. Um filme criado especialmente para
ilustrar as características do remédio não poderiam ter mostrado isto melhor.
Isto nos fez ponderar em que extensão estes efeitos dependiam do nível de
conhecimento dos participantes acerca da matéria. Contudo, experimentos
conduzidos com grupos de participantes não treinados em homeopatia produziram
os mesmos efeitos característicos dos remédios com clareza igual ou mesmo
maior. Nós podemos confiar na presença do campo de informação e de cura dos
remédios nas constelações. Isto nos impressionou muito profundamente, e nós
decidimos continuar com nossos experimentos.
- Qual é o modo de ação dos remédios homeopáticos? Será que eles funcionam
através de campos morfogenéticos?
Até então eu estava qualificado como clínico geral e homeopata. Para explorar
estas questões eu decidi, junto com minha esposa Suzanne Latzel, completar o
treinamento em terapia sistêmcia e constelações familiares com Sneh Victoria
Schnabel. Nós então fundamos um instituto para treinamento e pesquisa em
Freiburg: das Institut für Systemische Homöopathie.
O Instituto tem sido um local onde o método das constelações homeopáticas tem
sido aplicado de múltiplos modos. Embora o método esteja ainda no estágio
experimental, e muitas perguntas ainda esperem uma resposta, os seminários
sucessivos tem sido sempre um grande sucesso, com muitas experiências
divertidas e muito curativas para todos. Eu desejo acrescentar aqui os colegas que
tem também experimentado a combinação do trabalho sistêmico e da homeopatia:
o já mencionado antes naturopata e terapeuta sistêmico Friedrich Wiest em
Munique, os médicos homeopatas Hans Baitinger em Nuremberg, Sibylle
Chattopaddhay em Stuttgard e Andreas Krüger , naturopata e diretor da escola
Samuel-Hahnemann em Berlim.
Definição:
A alma está olhando para uma imagem de similaridade – algo que reflete sua
situação patológica e problemática como foi – de modo a se conhecer melhor. Pelo
reconhecimento de si nesta imagem os poderes inerentes de auto-cura da alma são
ativados. Dentro da tradição da homeopatia clássica, tal imagem é transmitida à
alma pelos remédios homeopáticos.
As constelações homeopáticas mostram que é possível receber tais imagens em
situações de grupo. O pré-requisito para isto é a existência de campos
informacionais. Nas constelações homeopáticas nós usamos o poder do grupo para
penetrar em tais campos de informação. Através do convite ‘a consciência dentro
do contexto da doença estes campos podem se tornar efetivos. A constelação
trabalha com o campo informacional e de cura da homeopatia ou de um remédio
específico. ( veja Rupert Sheldrake, The Presence of the Past, para informações
sobre a teoria dos campos morfogenéticos).
Grupo-Alvo
- Elas não objetivam uma solução rápida e não se espera que o terapeuta forneça
uma solução. Ele honra o caminho que surge em pequenos passos e confia nos
poderes de cura inerentes da alma.
- Elas não devem ser interpretadas como universalmente válidas. Ao contrário, elas
permitem diferentes interpretações dos participantes e estas diferenças devem ser
respeitadas.
- Elas buscam por uma qualidade oculta na dificuldade, por um poder de cura qeu
funciona através da doença por uma nova força que advém da fraqueza.
O Autor:
Johannes Latzel, M.D. é um homeopata clássico e clínico geral. Ele dirige uma
clínica em Freiburg/Breisgau, Alemanha. Junto com sua esposa Susanne
(professora de música e terapeuta crânio-sacral ), ele dirige o Institut für
Systemische Homöopathie Freiburg.
web: http://www.ish-freiburg.de
Ajudando crianças
difíceis
. Ajudar as Crianças
A idéia de que devem e podem assumir algo pelos pais ou ancestrais faz parte do
pano de fundo que causa dificuldades aos filhos. Isso leva a problemas
intermináveis para eles. E de certa forma também para os pais. Para entendermos
isso é necessário que saibamos algo sobre a diferença entre as diversas
consciências.
2. A boa e a má consciência
Se uma criança se desvia disso ou se nós nos desviamos disso, temos medo de
perder o pertencimento. Sentimos esse medo como uma má consciência. Uma má
consciência significa, portanto: tenho medo de ter colocado em jogo o meu direito
de pertencer.
Contudo, existe ainda uma outra consciência oculta, uma consciência arcaica, uma
consciência coletiva. Essa consciência segue outras leis diferentes daquelas
ditadas pela consciência que sentimos. É a consciência do grupo. Essa consciência
vela para que numa família todos se submetam a determinadas ordens que são
importantes para a sua sobrevivência e união.
Em primeiro lugar, o que faz parte dessas ordens, é que cada um que pertence tem
o mesmo direito de pertencer. Contudo, sob a influência da consciência que
sentimos, algumas vezes excluímos algumas pessoas da família. Por exemplo,
aqueles que pensamos que são maus, também aqueles dos quais temos medo.
Nós os excluímos porque pensamos que sejam perigosos para nós. Contudo,
através dessa outra consciência oculta, aquilo que fazemos de boa consciência,
seguindo a consciência que sentimos, será condenado. Pois esta outra consciência
não tolera que alguém seja excluído. Entretanto, se isso acontecer, alguém será
posteriomente condenado, sob a influência dessa consciência oculta, a imitar e
representar um excluído em sua vida, sem que tenha consciência disso. Denomino
essa ligação inconsciente com uma pessoa excluída de “emaranhamento”.
Por isso, podemos entender que muitos filhos, os quais pensamos que estão se
comportando de forma estranha ou estariam em perigo de se suicidar, ou se tornam
drogaditos ou não importa o que seja, estão conectados com uma pessoa excluída.
Estão emaranhados com essa pessoa. Por isso só podemos ajudá-los se eles e
outras pessoas na família tiverem em seu campo de visão essa pessoa excluída,
colocando-a novamente na família e no próprio coração. Depois disso, os filhos
estarão liberados do emaranhamento.
Para ajudar esse tipo de filhos, outros membros familiares que até então ignoraram
essas pessoas precisam finalmente olhar para elas. E aqueles com os quais
estavam zangadas ou rejeitaram precisam se dedicar a elas com amor e acolhê-las
novamente na família. Esse é o pano de fundo para muitas dificuldades que as
crianças têm, e também a preocupação que algumas vezes seus pais têm por elas.
4. O amor cego
Contudo, existe para essa consciência oculta ainda uma outra lei. Essa lei também
traz dificuldades às crianças. Essa lei exige que aqueles que pertenceram antes à
família, tenham precedência em relação àqueles que vieram mais tarde. Portanto,
existe entre os membros anteriores e os posteriores uma hierarquia. Essa
hierarquia precisa ser obedecida. Contudo, muitas crianças tomam a liberdade de
assumir algo pelos pais para ajudá-los. Com isso transgridem a hierarquia. Então a
criança diz para a mãe ou pra o pai, sob a influência dessa consciência, frases
internas, tais como: ”Eu assumo isso por você.” “Eu expio por você.” “Vou adoecer
em seu lugar.” “Vou morrer em seu lugar.” Tudo isso acontece por amor, mas por
um amor cego. Esse amor cego leva às drogas ou ao perigo de vida e
comportamentos agressivos. Entretanto, estes tipos de comportamento e esses
perigos têm a ver com a tentativa de assumir algo pelos pais. Essa ordem é violada
e ferida dessa forma.
5. A ordem