Você está na página 1de 239

Constelações Familiares

Quem
Somos

Como esta abordagem foi muito útil para nós, é de coração aberto que a
oferecemos a você !

Nosso caminho pessoal nos trouxe até este trabalho. Durante nossa formação
acadêmica na Medicina e na Enfermagem, fomos confrontados com perguntas sem
respostas e problemas que as abordagens tradicionais não nos atendiam.

Há 10 anos estamos envolvidos com esta abordagem. Fomos membros do 1º


Treinamento Sul-Americano em Terapia Sistêmica Fenomenológica segundo Bert
Hellinger. No total somamos mais de 600 horas de treinamento com experientes
terapeutas alemães e europeus ( Bert Hellinger, Jakob Schneider, Sieglinde
Schneider, Gunthard Weber, Mimansa, Marianne Franke-Gricksch, Peter e Tsuyuko
Spelter, Jam Jacob Stam, Cristine Essen, Guni Baxa e outros ), acumulando
experiência adequada para o trabalho com grupos tanto em questões familiares
quanto em organizações.

Também organizamos vários workshops para convidados estrangeiros em nosso


país (Bert Hellinger, Jakob e Sieglinde Schneider, Mimansa Erika Farny , Peter e
Tsuyko Spelter).

Participamos em congressos internacionais sobre essa abordagem no México em


2003, na Holanda em 2004, na Alemanha em 2005 e na Espanha em 2006 e 2008.

Fundamos, juntamente com outros colegas, a ABC Sistemas - Associação


Brasileira de Constelações Sistêmicas - da qual fomos o 1º Presidente e a 1ª
Secretária.
Fundamos, junto com sócios, a Editora Atman , editora brasileira voltada
exclusivamente para o tema das constelações sistêmicas, que já publicou no Brasil
vários títulos de Bert Hellinger e outros autores ligados ao tema.

Ultimamente estamos envolvidos na aplicação da técnica para fins específicos


como no âmbito educacional, casais, área de consultoria no âmbito do direito,
assistência social e empresas.

Temos artigos publicados em revistas internacionais sobre o tema das constelações


sistêmicas no Brasil.

Organizamos a vinda de Bert Hellinger ao Brasil em Agosto de 2005, Goiânia em


2006, Brasília em 2007, 1º e 2º módulos do Treinamento Avançado e ainda o II
Seminário Leis Básicas dos Relacionamentos Aplicadas aos Negócios, 2008 e
2009.

Já realizamos workshops em diversas localidades:

• Uberlândia-MG

• Brasília-DF

• Goiânia-GO

• Patos de Minas-MG

• Taguatinga-DF

• Governador Valadares-MG

• Belo Horizonte-MG

• Ipatinga-MG

• Florianópolis-SC

• Formiga-MG

• Unaí-MG

• Londrina-PR
• Porto Alegre-RS

• Vitória da Conquista-BA

• Salvador-BA

• São Borja-RS

• Oaxaca (México)

• Porto (Portugal)

• Sevilha (Espanha)

• Guaratinguetá - SP

• São Paulo - SP

Histórico:

Nós buscando difundir o trabalho com constelações sistêmicas. Alguns passos:

2010

Mudamos a sede do Instituto para Goiânia com a finalidade de facilitar o nosso


deslocamento e oferecer melhores serviços ao nosso público.

2009

Organizamos o 2o. módulo do Treinamento avançado em Águas de Lindóia e o II


Seminário de Leis Básicas dos Relacionamentos aplicadas aos negócios em SP,
para Bert Hellinger -- com grande sucesso. Conduzimos treinamentos em
constelações em São Paulo, Goiânia e Belo Horizonte.

2008
Organizamos o I treinamento Avançado em Constelações Familiares com Bert
Hellinger no Brasil -- composto de 3 módulos intensivos de 8 dias, e que será
ministrado no triênio 2008-2009-2010. O primeiro módulo aconteceu em Agosto de
2008 em Águas de Lindóia e foi um grande sucesso!

2007

Em Setembro de 2007 organizamos o V Seminário com Bert Hellinger e Maria


Sophie Hellinger no Brasil em Brasília, no Parlamundi -- foi um sucesso! Os temas
abordados incluiram: amor profundo entre pais e filhos, casais, nossa profissão e o
sucesso pessoal e também o trabalho com crianças doentes ou difíceis.

2006

Em Outubro estivemos em Sevilha, no II Congresso Internacional de Pedagogia


Sistêmica. Haviam 700 pessoas de todo o mundo.
Hellinger esteve no Brasil em Goiânia, de 14 a 16 de Julho de 2006 sob nossa
organização novamente. Que oportunidade! Dessa vez com o tema "Doença e
Saúde na Família".

2005

Organizamos 2 treinamentos em constelações sistêmicas, um se iniciou em


Outubro de 2005 em Belo Horizonte e outro em Goiânia em Fevereiro de 2006.

Em 12 a 15 de Agosto de 2005 organizamos a vinda de Bert Hellinger em Belo


Horizonte. Foi um sucesso! Ele tratou do tema dos relacionamentos de casal e
também da relação de ajuda. Houve o lançamento do Livro "Ordens da Ajuda" com
noite de autógrafos.
Em 4 a 7 de Maio de 2005 estivemos em Colônia - Alemanha - participando do 5o.
Congresso Internacional de Constelações Sistêmicas com a presença de figuras
importantes no cenário internacional das constelações. Foi uma experiência muito
enriquecedora para nosso Instituto.
Mudamos o nome do Instituto Holon para o nome atual "Inst. Bert Hellinger Brasil
Central " sob permissão expressa de Bert Hellinger.

2004

No dia 5 de Março de 2004 fundamos junto com vários colegas a ABC Sistemas -
Associação Brasileira de Constelações Sistêmicas segundo Bert Hellinger.
Associação voltada para a divulgação desta abordagem no Brasil. Visite o site!
www.hellinger.com.br

Fomos em Outubro de 2004 até a Holanda onde participamos do 1o. Seminário


Intensivo Internacional sobre Constelações Organizacionais promovidos pelo
Instituto Bert Hellinger da Holanda com "experts" sobre o assunto. ( Site do evento:
www.hellingerinstituut.nl ). Tivemos a oportunidade de estar em contato com os
maiores nomes da atualidade neste campo como Gunthard Weber, Jan Jakob
Stam, Klaus Grochoviak, etc.

Fundamos junto com o casal Peter e Tsuyuko Spelter a Editora Atman -- primeira
editora brasileira totalmente voltada para a difusão dessa abordagem. Publicamos
nosso primeiro livro -- de Bert Hellinger -- "O Essencial é simples".

2003

Estivemos em Novembro de 2003 no México no I Congresso Internacional de


Constelações Sistêmicas das Américas com Hellinger, Jakob Schneider, Gunthard
Weber, Sieglinde Schneider e outros importantes nomes que atuam na América
Latina. Contribuimos com uma discussão sobre a difusão do trabalho no Brasil e um
workshop sobre o tema "adoção".

Reportagem do "Estado de Minas" -- entrevista com Décio Fábio de Oliveira Júnior,


publicada em 23/11/2003. Clique aqui para fazer o download ( aproximadamente
400kb em formato jpg).

2002

Promovemos bastante o trabalho de constelações com palestras e vivências em


diversas cidades: Uberlândia, Patos de Minas, Belo Horizonte, Brasília, Goiânia,
etc.

Organizamos vários workshops para diversos convidados estrangeiros: Peter e


Tsuyuko Spelter, Sieglinde Schneider. Tivemos a honra de organizar o primeiro
workshop para o casal Peter e Tsuyuko Spelter no Brasil e iniciamos com eles grata
parceria que mais tarde frutificou na criação da editora Atman e até hoje nos rende
uma profunda e estimulante amizade.

2001

Organizamos workshops para Jakob Schneider e Mimansa Farny.

Iniciamos nossos primeiros passos na terapia sistêmica. Iniciamos nosso


treinamento e tivemos nosso primeiro contato com Bert Hellinger.
Nosso primeiro contato com Hellinger em SP - 2001

Fundamos o Instituto Holon

2000

Conhecemos a abordagem de Bert Hellinger pelas mãos do casal Jakob e Sieglinde


Schneider.

Encerramos nossa formação em cinesiologia aplicada, com a qual tínhamos grande


afinidade e muito contribuiu para nossa prática em terapia.

Currículo Breve

Décio Fábio de Oliveira Júnior

Médico (UFMG , 1989) - Cirurgião Pediátrico (UFMG , 1992). Dedicou-se nos


últimos 10 anos ao estudo de várias modalidades terapêuticas: medicina chinesa,
hipnose, Cinesiologia Aplicada ,entre outras. A abordagem familiar sistêmica
fenomenológica segundo Bert Hellinger tem sido seu principal tema nos últimos
anos.

Wilma Costa Gonçalves Oliveira

Enfermeira (UFMG , 1989) especializada em Sistematização da Assistência de


Enfermagem e Enfermagem do Trabalho. Nos últimos anos dedicou-se ao estudo
de técnicas como TFH, Reiki, NOT, tornando-se instrutora de One Brain. Tem se
dedicado junto com seu marido à abordagem sistêmica fenomenológica segundo
Bert Hellinger. Co-fundadora e sócia-administradora da Editora Atman – uma das
principais editoras dedicadas à divulgação dessa abordagem na língua portuguesa.

A quem se
destina

Escrito por Décio Fábio de Oliveira Júnior

Esse trabalho está aberto a todos os interessados. O trabalho não é comprometido


caso membros de uma mesma família queiram participar juntos de um grupo, bem
como não requer a presença de toda a família. Pode-se olhar a partir de uma única
pessoa, para todo o seu sistema familiar.

Através da colocação de sua constelação familiar, pode ser percebido se no


sistema familiar do cliente existe alguém que esteja emaranhado nos destinos de
membros anteriores da família. Através da constelação familiar esses
emaranhamentos podem vir à luz e a pessoa pode se soltar mais facilmente deles.

Descreveremos a seguir como se faz o trabalho com grupos.

O cliente vai até o facilitador, coloca sua questão(necessidade) e de acordo com o


que surge daí, ele é então convidado a escolher, entre os membros do grupo,
pessoas para representar alguns membros de sua família, segundo a orientação do
facilitador. Esses representantes são posicionados no espaço da sala, um em
relação ao outro.

Os participantes que servem como representantes dos membros de uma família, se


sentem como as pessoas reais, independentemente de tê-los conhecido. Não
existe uma explicação para esse fato, mas já foi constatado milhares de vezes nas
constelações.

Não obstante, o amor que emerge durante a constelação familiar é o mesmo amor
que adoece e o que tem a sabedoria da solução quando se torna consciente.

"Penetrar as Ordens do Amor é sabedoria. Segui-las com amor é humildade" (Bert


Hellinger)

Conceitos-chave

As ordens do
amor

Escrito por Administrador


Todos temos uma consciência pessoal, a qual percebemos como “leve” ou
“pesada”.
Sentimos essa consciência avaliar nossos atos. Muitos julgam inclusive ser essa
consciência o juiz do “certo” e do “errado”.
Esse é um engano muito comum.
Nossa consciência pessoal nada tem a ver diretamente com o certo ou o errado.
Ela se guia por outros princípios, que podem ou não estar ligados ao que é
denominado de moralmente “certo” ou “errado”.
A descoberta desses princípios por Anton Hellinger descortinou um universo de
percepções sobre a natureza de nossos relacionamentos familiares e por extensão,
a todos os demais grupos aos quais cada ser humano está ligado.
Investigando a forma como cada um se sentia muitas vezes inocentes (ou de
consciência “leve”) mesmo cometendo atos agressivos, violentos e que
prejudicavam a si e a outros , Hellinger percebeu que a consciência pessoal se liga
a três princípios, a saber:

• Um princípio vinculador, que estabelece o pertencimento ao grupo


• Um princípio de equilíbrio nas trocas, entre o dar e o receber
• Um princípio de ordem ou hierarquia dentro do grupo

Nos sistemas familiares, quando alguém faz algo que ameaça seu pertencimento
ao grupo sente imediatamente a consciência “pesada”. Por exemplo, se alguém se
depara com o fato de estar saudável, mas todos os membros de seu grupo familiar
estiverem muito doentes, vai se sentir “culpado”. Ou um membro de uma família de
criminosos, sente-se “culpado” se não comete ele também algum delito. Estranho,
não é? Especialmente estranho, porque nesses casos, essas pessoas se sentiriam
“inocentes” – ou de consciência leve – fazendo coisas que no primeiro caso
(adoecer junto com os demais membros da família) seria uma coisa “ruim” e no
segundo (não cometer nenhum delito) seria uma coisa “boa”.

Seguindo os dois princípios seguintes, podemos perceber que quando recebemos


algo bom, sentimos uma pressão interna para retribuir, o que é na verdade uma
forma de consciência pesada, percebida como dívida. No caso da ordem, se temos
que agir de forma a repreender alguém que está acima de nós na hierarquia,
percebemos isso como algo que nos deixa “de saia justa” – por outro lado, se o
fazemos com um subordinado, isso não nos pesa tanto.

Mas Hellinger ainda descobriu um outro fato surpreendente e que na maior parte do
tempo nos escapa da percepção. Ele descobriu a existência de uma consciência
grupal comum que atua sobre um grupo bem delimitado de pessoas de cada grupo
familiar.

Esse grupo é guiado por essa consciência de forma que só podemos perceber a
existência dela através de seus efeitos. Nós não a percebemos como “leve” ou
“pesada” da mesma forma como percebemos a consciência pessoal. Essa
consciência grupal também se guia pelos mesmos princípios anteriormente citados,
mas de forma diferente. Podemos explicar isso de forma simples assim:

• Em relação ao vínculo, a consciência grupal não permite que qualquer membro do


grupo seja esquecido, expulso ou excluído sem exigir uma compensação. Caso
ocorra, ela vai exigir que um descendente que vem mais tarde (e que
frequentemente nada sabe ou nem mesmo participou do fato) repita o destino do
excluído ou aja de forma similar a ele (sem o saber).
• Em relação ao equilíbrio, essa consciência exige uma compensação adequada
para o que foi dado e recebido. Se alguém recebe demais e não equilibra isso,
então um descendente tem a propensão de fazê-lo em seu lugar.
• Em relação à ordem, essa consciência não admite a interferência dos pequenos
nos assuntos dos maiores, sob pena de os primeiros se sentirem (sem perceber)
tentados a expiar sua interferência através do fracasso, da doença e de destinos
difíceis.

Dito isso, fica então muitas vezes claro que alguém, agindo de “boa consciência”,
frequentemente por amor, infringe as regras da consciência de grupo, chamada por
Hellinger de consciência arcaica ou também de “alma” (não no sentido religioso,
mas no sentido latino da palavra, “aquilo que empresta movimento a algo”). Ao
faze-lo sobrevém então os efeitos desastrosos, seja para si, ou mais
frequentemente para seus descendentes. Hellinger então denominou esses
princípios de “Ordens do Amor”. Pois eles atuam através do amor profundo entre
descendentes e antepassados.

Suas percepções abriram também as portas para aquilo que as vezes permite a
solução entre tais desordens, através de um amor mais amplo, consciente, que
ultrapassa os limites restritos da consciência pessoal.

É nesse âmbito que se desenvolvem as constelações familiares, buscando


restaurar a harmonia entre as ordens do amor dentro de cada grupo familiar.
Isso torna então muitas vezes compreensível o comportamento de cada membro
familiar, bem como encontra uma saída para a expressão de seu amor.
Amor que adoece e amor que
cura

Escrito por Administrador

Como nossa consciência pessoal nos liga a nossa família, ela desempenha um
papel fundamental em nosso amor.
Freqüentemente observamos nas crianças um amor especial, profundo e ilimitado
em sua entrega e ao mesmo tempo auto-centrado e cego para suas
conseqüências. Esse amor acredita no auto-sacrifício como modo de proteger as
pessoas amadas, mesmo que isso na verdade não passe de uma idéia mágica que
nada tem a ver com a realidade dos fatos observados. Esse amor, Hellinger
denominou de “amor cego”, e percebeu que nele reside a base de todas as
tragédias – daí a alcunha “amor que adoece”. Esse amor se insurge contra a ordem
estabelecida e contra a realidade, tal como se apresenta, até mesmo contra a
morte. Ele espera suplantar tudo com sua força. E por isso falha.
Em oposição a esse amor observamos um outro amor, mais amplo e abrangente
em sua visão e também mais comedido e humilde em seus atos. Hellinger
denominou esse amor de “amor ciente” ou também “amor que vê”. Esse amor flui
junto com a ordem e se detém face aos fatos impossíveis de serem mudados,
renunciando a agir além do que as condições permitem. Esse amor também
mantém em seu campo de visão o outro, o ser amado, e o amor que emana dele
para nós. É humilde e comedido, respeitoso. E por isso alcança.

Para ilustrar tal diferença entre esses dois amores, tomemos um exemplo.

Imaginem uma menina de 5 anos ao lado do leito de sua mãe, a qual se encontra
gravemente doente. A mãe sabe que suas chances de sobreviver são remotas e a
criança por sua vez percebe isso com facilidade, como todas as crianças.
Agora tomemos a imagem do primeiro amor, atuando no coração dessa menina.
Surge imediatamente o desejo de “salvar” a mãe. Isso é natural numa menininha de
5 anos. Ela talvez diga em segredo em seu coração “Quando você for para a morte
mamãe, eu a seguirei.” Ou “Eu morrerei em seu lugar mamãe, e assim você pode
ficar”.

E como se sente a consciência pessoal dessa menina? Leve! Se sente uma


heroína, pois sente que dá sua vida para salvar a da mãe. Porém, o efeito desse
amor é desastroso. A criança na verdade não pode fazer nada. Além disso, como
se sente a mãe, caso pudesse ouvir o que se passa no coração da menina? Muito
mal, com certeza.

Agora imaginemos um outro modo de amar. Imaginemos que a criança cresce,


vive, e depois de um tempo, diz em seu coração a sua mãe: “Querida mamãe! Você
é e sempre vai ser a minha querida mamãe! Você me deu a vida, e eu a tomo como
um presente precioso! E, com essa vida, irei fazer algo de bom. Se por acaso me
for dado também ter filhos, direi a eles sobre a mamãe maravilhosa que você foi
para mim. E, no meu tempo certo, morrerei também.”

Como se sente a filha agora? Como se sente a mãe? Como se sentirão os futuros
netos?

Ajudar com o
mínimo

Escrito por Administrador


Muitos daqueles que buscam ajuda e daqueles que ajudam, pensam na ajuda de
uma certa maneira. Essa maneira supõe que o ajudante é “grande” e o ajudado é
“pequeno”. Dessa forma, o ajudante é colocado como se soubesse o que é melhor
para o ajudado. E muitas vezes também o ajudante é encarregado de permanecer
a cargo do ajudado até que esse “fique bem”. Isso na verdade cria uma
dependência entre o ajudado e o ajudante, e transfere para esse último a
responsabilidade pela mudança e pelo resultado.
Esse tipo de ajuda “prende” ambos: ajudante e ajudado. E também eventualmente
diminui a dignidade do ajudado.

É claro que é um caminho de ajuda válido, e bem estabelecido que esse tipo de
ajuda tem seu lugar, por exemplo, entre um cirurgião e seu paciente. Porém esse
ajudar tem limites. Ele é especialmente limitado quando aquilo que precisa ser
modificado é algo que depende muito mais ou exclusivamente da atitude do
ajudado. Aí essa forma de ajudar tem pouco efeito. Por exemplo, quando alguém
precisa de ajuda a fim de mudar algo em seu próprio comportamento. Nesse caso,
esse tipo de ajuda pouco contribui.

A abordagem sistêmico-fenomenológica de Hellinger ajuda dentro de outra visão.


Nela, o ajudante e o ajudado estão num mesmo nível. E o ajudante inclusive chega
ao sistema do ajudado em último lugar. Aí ajuda exatamente por saber menos, e
não por saber mais. Porque não está atado aos pressupostos do ajudado, o
ajudante o auxilia a ver aquilo que está fora de seu campo habitual de visão. E uma
vez que o ajudado vê, então nada mais é necessário – o ajudante se retira.

Isso é ajudar com o mínimo. E é um dos conceitos essenciais desse trabalho.

Textos

Assentir e
soltar

Escrito por Bert Hellinger

Assentir e soltar

Que significa aqui vazio? Qual é o processo interno que leva a esse vazio e como
ele é sentido? Muito ao contrário das imagens que relacionamos ao vazio,
alcançamos aquele vazio que leva à sintonia com o espírito criador, assentindo
totalmente a tudo o que é tal qual é. E por quê? Porque esse espírito é a força
criadora original que a tudo impregna. Através desse assentimento nos
abarrotamos de tudo o que esse espírito cria, ordena e anima. E assim, através do
assentimento a tudo tal como é, alcançamos tanto a plenitude como o vazio.
Porque só podemos assentir totalmente quando soltamos aquilo que é próprio em
grande medida. Entretanto, ao soltá-lo, não nos esvaziamos, ao contrário. Como
não enfrentamos aquilo que é como nada próprio, nos esvaziamos para a plenitude
e nos tornamos um com a força que o move.

Só conseguimos soltar quando assentimos, e só conseguimos assentir quando


também soltamos. Só nos esvaziamos quando nos abrimos a essa plenitude. O
vazio e a plenitude se condicionam mutuamente. Ambas as coisas alcançamos em
um mesmo processo.

(Texto extraído do livro: La verdad en movimiento, Bert Hellinger, ed Alma Lepik,


2008.)

Constelações com o emprego de figuras tipo


Playmobil

Escrito por Jakob R. Schneider


Usando Figuras para fazer constelações familiares com clientes individuais [1]

Jakob R. Schneider

As constelações de famílias e outros sistemas se tornaram bem conhecidas em um


contexto de grupos. Este trabalho e as áreas de soluções psicoterapêuticas
orientadas sistemicamente e fenomenologicamente tem alcançado uma
significância fundamental nas áreas psicosociais e tem tido também efeitos em
varias abordagens na terapia individual.
Há muitos terapeutas e conselheiros trabalhando em situações nas quais não existe
permissão para o trabalho de grupo com constelações. Há também alguns que não
se sentem confortáveis ao trabalhar no contexto de um grupo. Além do mais, num
nível profundo, muitos desses terapeutas se sentem atraídos para os conceitos
subjacentes e ferramentas do trabalho de constelações e estão buscando modos
de integrar esta abordagem em seu trabalho com indivíduos, casais e famílias e
talvez mesmo em pequenos grupos de supervisão.

O trabalho de constelações com figuras ou objetos oferece um método direto e


simples. As figuras, representando membros da família ou pessoas importantes do
sistema em particular, são arranjadas numa mesa ou dentro de um espaço definido
do local de trabalho.

As figuras

O que se segue é baseado em minha experiência pessoal com constelações de


figuras. Desde o início após minha primeira experiência com as constelações
familiares de Bert Hellinger e minhas primeiras tentativas de trabalhar com esse
método em grupos, eu tomei uma bolsa com figuras playmobil de meu filho que há
muito tempo ele havia posto de lado. Eu comecei a carregá-las comigo a todos os
lugares onde não havia o apoio de um grupo para meu trabalho de aconselhamento
e terapia. Esses lugares incluíam um centro de aconselhamento para casados e
famílias, uma clinica psicossomática, pequenos grupos de supervisão, e minha
própria prática privada.
Eu fui compelido de certa forma a agir dessa forma. Após minha primeira
experiência com constelações familiares em grupo e já estava certo que este era
"meu" método e "meu" modo de fazer terapia, seja em grupos ou com indivíduos.
Alcançar isso pelos playmobil foi algo que aconteceu naturalmente, sem muita
consideração previa. Elas estavam simplesmente disponíveis, praticas, e fáceis de
carregar, e havia apenas mínimas diferenças entre elas, simplesmente, homens e
mulheres com algumas combinações de cor. Graças aso céus eu não pedi a
ninguém sobre isso naquela época pois eu fui capaz de ganhar experiência com as
figuras sem qualquer opinião ou objeção externa. Naqueles dias, eu não estava
nem mesmo seguro que você poderia ainda comprar as figuras playmobil simples
mas isso não era tão terrivelmente importante que tipo de figuras eram usadas,
Havia, por exemplo, um assim chamado "quadro familiar" com figuras de madeira
que está agora no mercado. Há alguns critérios que eu considero importante na
escolha das figuras:

-- Elas devem ser figuras com as quais o terapeuta possa trabalhar


confortavelmente. Não se preocupe se o s clientes aceitarão as figuras. Se o
método e as ferramentas estão certas para o terapeuta, os clientes sempre virão.

– As figures deverão ter o mínimo de "personalidade própria" possível, deste modo


mantendo-se tão livres de pré-conceitos quanto possível e também reduzindo
qualquer distração daquilo que não é essencial. As figuras não são importantes por
si mesmas, mas apenas como projeções espaciais dos membros do sistema.
Trabalhando com figuras é mais fácil se elas permitem algumas poucas distinções
básicas, como por exemplo, entre homens e mulheres, algum modo de indicar em
que direção a figura está olhando e talvez cores, ou alguma marca que permita
distinguir uma pessoa da outra. Usando figuras menores para crianças pode ser
uma forma de distração À medida que isso sugere uma orientação para uma
referência temporal que se afasta da qualidade "atemporal" do trabalho de
constelações.
Experiência anterior com grupos de constelações

Eu, por mim mesmo, trabalhei primariamente com grupos e meu uso das figures no
trabalho individual é baseado totalmente em meu trabalho com grupos de
constelação. Eu acredito que precisamos de experiência com grupos de forma a
trabalhar com competência usando constelações de figuras. Essa experiência não
precisa ser de trabalhar diretamente com grupos fazendo constelações. Eu
recomendaria experiência com uma constelação pessoal em um grupo, e
observação de constelações sistêmicas em grupos, ou vídeos daquelas que
possam fornecer algumas impressões de como elas são. Eu conheço terapeutas e
conselheiros que trabalham com figuras sem terem nem mesmo liderado um grupo
de constelações, mas eu não sei de ninguém que tentaria trabalhar com figuras
sem ter ao menos visto uma constelação em grupos.

Na próxima sessão eu entrarei em detalhes sobre quando uma constelação com


figuras é apropriado e como eu procedo em uma sessão individual quando eu estou
usando uma constelação de figuras, como eu a introduzo ao cliente e como eu
trabalho com a constelação de figuras. Eu então irei mostrar os riscos e as
oportunidades inerentes a este método e finalmente eu direi algo sobre
constelações de figuras e a "alma" do trabalho e o valor da abordagem a esse
respeito.

O lugar da constelação com figuras na terapia


Aconselhamento e terapia estão preocupados com apoiar um processo que se
move em direção a uma solução. Tais processos podem aparecer em uma
variedade de formas.

Primeiramente, há os problemas que podem ser resolvidos pelas mudanças de


comportamento, através de aprendizagem, criatividade espiritualidade. Aqui a
preocupação em uma certa extensão é com algum tipo de atividade mental que
libera o cliente de pensar e agir de formas que bloqueiam a solução.

Então há a área do trauma, as feridas profundas que usualmente tem a ver com a
ruptura do amor, o movimento interrompido em direção à mãe , ao pai, outras
pessoas importantes, ou para com a vida em si mesma. Tais injúrias traumáticas
muito frequentemente advém de experiências muito precoces na infância. Elas
podem ser resolvidas por um processo retroativo de cura na alma entre a criança e
uma outra pessoa essencial na vida desta. Finalmente, há uma ampla área de
ligação e liberação nas relações. Problemas advém das profundas ligações das
pessoas com o destino da comunidade, e as conseqüências que se seguem,
primariamente dentro da família e da família ampliada. A solução é encontrada
através do reconhecimento das ordens do amor.

O trabalho de constelações é focado nos processos de vínculo e liberação da alma.


Soluções emergem através do olhar para a integridade do sistema de
relações.Todo mundo no sistema tem um igual direito de pertencer e tem de ser
permitido tomar seu próprio lugar de direito. Todo mundo carrega seu próprio
destino por si e tem de se refrear de meter-se no destino dos outros, e todos os
membros do sistema tem que permitir que aquelas coisas que aconteceram no
passado pertençam realmente ao passado. Isso tem a ver com a vida e com a
morte, boa e má sorte, saúde e doença, sucesso ou fracasso nas relações,
pertinência e exclusão, dar e receber, recompensa e dívida, e auto-determinação
como um contraponto a ser um instrumento, sujeito às influências do sistema.

Em essência, há também o critério que indica quando uma constelação familiar


deve ser um método útil: quando quer que haja algo na "alma do grupo" que quer
ordem, paz e conclusão; quando emaranhamentos estão impedindo um processo
de solução; ou quando um destino difícil em uma família está gerando um fardo.

Procedimentos com Constelações de figuras

Muitos terapeutas e conselheiros vão querer integrar as constelações familiares


usando figuras em seu próprio modo de trabalhar com sua própria orientação
terapêutica básica. Para mim, quando há questões de vínculo e desenlace, eu
normalmente faço só uma sessão na qual o trabalho é concentrado plenamente na
constelação com figuras. Há , contudo, muito certamente uma ampla variedade de
procedimentos. Há certos elementos que são importantes no prosseguir com uma
constelação de figuras. Assim como em uma constelação de grupo, é essencial em
uma sessão individual que a constelação esteja lidando com uma questão séria e
seja carregada pela energia do cliente. O terapeuta é dependente desta energia
que leva em direção à solução e o "peso da alma" da questão do cliente. Como
ponto inicial, perguntas sobre a natureza da questão em tela e então sobre qual
seria um boa resolução trazem clareza e força que são críticas ao sucesso de uma
constelação familiar. O terapeuta e o cliente precisam saber desde o início para
onde devem dirigir sua energia. Ambos tem de ter algum sentido da "alma grupal"
que conduz seus esforços em busca de uma boa solução.

A questão real do cliente é frequentemente oculta no início da sessão individual,


como está também a força que deve ter um efeito positivo na solução. Uma
orientação é necessária no trabalho com constelações e o processo na alma que
apóia este trabalho. Essa orientação deverá ser mais curta, levando imediatamente
para fora de qualquer questões , ou distrações, evitando dispersar a atenção e
energia em direção aos processo familiares fundamentais e construindo confiança
para um trabalho conjunto. Eu usualmente comento brevemente sobre meu modo
de trabalhar, sobre emaranhamentos nos sistemas familiares, crises nas relações e
sobre coisas que nós iremos procurar. Se eu já tenho alguma idéia onde nosso
trabalho poderá ser orientado eu direi uma ou mais estórias apropriadas a partir de
outros casos anteriores que eu já trabalhei antes. Se eu não tenho a menor idéia de
qual direção o trabalho irá, algumas vezes será útil oferecer uma mistura de
exemplos curtos e prestar atenção à reação do cliente. A base para um passo que
resolve em uma constelação é construída a partir da informação relevante: os
eventos mais relevantes na história da família, a família de origem ou a família
atual, os destinos naqueles da família ou do clã. Esta informação e o modo como os
clientes compartilham–na freqüentemente levam a um profundo movimento através
das relações do sistema e a primeira vista um amor que atua, a um respeito e a
emaranhamentos. Ou, você pode sentir imediatamente que informação tem força e
qual não tem. Se algo é importante e foi omitido, ou se o cliente não tem uma
informação crítica.

Essa troca de informação é dialógica e ambos o cliente e o terapeuta precisam ter


contato com a "alma do grupo". O processo reside no essencial e existe a serviço
da solução. Ela pode ser alcançada só com respeito e consentimento relativos aos
eventos e fatos envolvidos.
O nucleio da orientação do trabalho sistêmico é a imagem da constelação em si
mesma: encontrar – permitindo a si mesmo ser tocado por – as dinâmicas das
relações do sistema, rearranjando as posições das figuras na "imagem de solução"
e falando as sentenças apropriadas de vínculo e liberação.

Introduzindo as constelações com figuras

Quando alguém já tem visto ou experimentado com constelações familiares em


grupos ou já conhece os livros ou vídeos de Bert Hellinger, uma constelação com
figuras raramente necessita de uma introdução. Você simplesmente pode pedir ao
cliente para posicionar os membros de sua família com as figuras. Aqui também ,
contudo, assim como com as pessoas não familiarizadas com as constelações
familiares, eu me refiro ao trabalho em grupo com constelações e descrevo
brevemente o curso de uma constelação em um grupo. Pelo menos para mim, isso
simplifica o trabalho se eu trabalho com figuras com numa constelação com
representantes.

Após eu ter estabelecido a conexão entre a constelação com figuras e a


constelação em grupos, eu determino com o cliente que pessoas são importantes –
ou pelo menos inicialmente importantes – para a constelação, e coloco as figuras
necessárias na mesa. Então , eu peço ao cliente que posicione as figuras em
relação uma à outra, sem falar ou explicar, de acordo com uma imagem interna,
sem ligar para qualquer tempo específico, sem qualquer justificativa, mas
simplesmente de tal forma que ele sinta que é apropriada. Na maioria das vezes, os
clientes podem posicionar a constelação sem nenhuma dificuldade.
Quando surgem problemas, eles não são diferentes do que acontece num grupo.
Pode não ser o momento certo de fazer uma constelação porque o cliente não tem
ainda a prontidão interna necessária, ou não confia no método ou no terapeuta ou o
que é realmente o tema é uma constelação de um sistema diferente, talvez a
família de origem ao invés da família atual, ou vice-versa. Isso revela uma das
grandes desvantagens da terapia individual quando comparada com a terapia em
grupos. Em um grupo você pode trabalhar primeiro com aqueles que estão prontos.
Outros que podem estar reticentes, indecisos ou em dúvida podem entrar no
trabalho lentamente através do processo na constelação dos demais ou atuando
como representantes no sistema familiar dos outros participantes. Eles podem
tomar tempo para o seu próprio processo interno. Se isso se provar difícil, que
alguém coloque as figuras umas em relação às outras, eu algumas vezes faço isso
para ele ou ela de acordo com o que me parece apropriado com as informações
que eu tenho. Eu então peço ao cliente que "corrija" a minha constelação. Se você
tem a impressão que a constelação está sendo posicionada com alguma idéia ou
se isso não bate de alguma forma com as informações dadas, ou se todas as
figuras são colocadas em linha viradas de face para o cliente na mesa, você deve
solicitar à pessoa que verifique o posicionamento novamente. A Dificuldade
mencionada por último, as figuras colocadas em linha, ocorre repetidamente, mas é
facilmente corrigida. Relembre o cliente que ele ou ela já está representado por
uma figura e que a constelação tem de refletir a relação de cada pessoa com as
demais da família.

Trabalhando com constelações de figuras

Uma constelação de figuras serve para revelar os emaranhamentos do cliente no


seu sistema familiar e tornar os vínculos e as soluções claros. Isso permite ao
indivíduo tomar uma posição apropriada na sua rede de relações, uma posição a
partir da qual seja possível tomar, honrar e respeitar ambos os pais. Isso permite à
pessoa deixar algo ou alguém ir com amor, ver quem tem de ser permitido ir em
paz, e tomar de volta todos que tenham sido excluídos de uma forma apropriada no
sistema e no coração do cliente.

As dinâmicas de vínculo e solução têm de se tornar claras pela constelação com


figuras sem o apoio dos sentimentos e depoimentos dos representantes, pois as
figuras não podem sentir ou falar. Fica a cargo do terapeuta ou conselheiro, usar a
constelação com figuras para sentir e expressar os sentimentos que refletem as
dinâmicas familiares presentes dentro do sistema. Naturalmente, você pode pedir
que o cliente faça isto por si mesmo, o que algumas vezes resulta em uma súbita
experiência do tipo "Aha!". Em minha experiência, contudo, clientes estão
freqüentemente cegos às dinâmicas essenciais de suas famílias. Eles trazem um
entendimento inconsciente ao processo ou eles não seriam capazes de posicionar
uma constelação propriamente e o terapeuta não seria capaz de obter uma
percepção do sistema, mas esse conhecimento inconsciente é oculto. A tarefa do
terapeuta, daquele que observa de fora, é ajudar a "alma de grupo" do cliente a
abrir-se de tal forma que aquilo que está oculto seja revelado e possa ser dito
abertamente. Já desde o começo, eu apresento o conceito de constelação em
grupos como nosso trabalho ideal e baseio meus comentários sobre as dinâmicas
familiares no processo em grupos. Como uma pessoa que olha a partir de fora, eu
proclamo os sentimentos para cada membro da família em cada posição particular.
Isso quer dizer, eu não digo como os membros da família eles próprios se sentem
naquela posição, mas o que os representantes provavelmente diriam sobre os
sentimentos naquela posição. Eu faço isso porque isso dá ao cliente alguma
distância de sua experiência dominante com os membros da família e porque isso
deixa a mim e ao cliente mais liberdade para experimentar e tomar aquilo que pode
ser visto na constelação. Isso também torna mais fácil para eu corrigir o que tem
sido dito para contornar possível resistência. Se o que eu digo sobre a dinâmica
familiar e os sentimentos dos representantes "encaixa" e toca em algo do cliente ele
estará em contato com sua família em um estado de transe de maior ou menor
grau.
Por assim dizer, eu presto atenção à reação do cliente. Algumas vezes eu pergunto
se meu modo de sentir as coisas parece correto e faz sentido para o cliente.
Quando tenho sucesso em penetrar dentro do sistema e suas dinâmicas, o cliente
está ganho e usualmente nada mais fica entre nós no caminho até uma boa
solução. Não é incomum que um cliente pergunte, atordoado, "Como você sabe
disso?".

Na próxima fase, eu continuo a trabalhar com as figuras assim como nas


constelações em grupos. Eu mudo as posições das figuras, eu digo em voz alta que
mudanças ocorrem nas dinâmicas e nos sentimentos, até que nós possamos ver
aquilo que está tentando se revelar por si mesmo. Eu continuo dessa forma até que
nós cheguemos a uma imagem de solução. Quando eu estou certo, porque meus
próprios sentimentos se deixam tocar assim como aqueles do cliente, eu
simplesmente permaneço com aquilo que emerge e falo isso em voz alta. Se eu
não sinto que está certo, eu interrompo o processo e pergunto o que o cliente está
sentindo, em termos de si ou de outros membros da família, ao olhar para os
movimentos das figuras. Eu peço informação adicional ou tento diferentes posições
das figuras para determinar o que parece mais correto. Eu continuo até que as
dinâmicas e a solução sejam reveladas com clareza suficiente.

Eu peço ao cliente para sentir-se na posição de solução e relatar seus sentimentos.


Eu observo para ver se nesse lugar há um alívio para o cliente e se isso parece
curar, resolver ou tornar mais leve. Eu algumas vezes paro a constelação com
figuras nesse ponto.

Eu frequentemente uso as sentenças de solução que seriam ditas numa


constelação em grupo quando o cliente substitui seu representante na constelação,
ou uma sentença que um representante possa dizer diretamente ao cliente. Eu faço
isso quando um cliente está experimentando dificuldade em tomar seu próprio novo
lugar no sistema ou quando a solução a qual nós temos chegado ainda não
"assentou" ou parece precisar de mais esclarecimento ou aprofundamento.

Frequentemente, a parte mais importante do processo em uma constelação com


figuras – como numa constelação em grupo – é ser tocado pelas sentenças que
revelam os profundos vínculos e o alívio e liberação nas frases de força. Eu
freqüentemente peço a um cliente para falar as palavras apropriadas,
silenciosamente ou em voz alta, e imaginar-se fazendo, ou realmente fazer, os
gestos que acompanham tais frases, por exemplo, um movimento de reverência.

Se acontecer que eu não consigo sentir o meu caminho através das dinâmicas do
sistema, se eu não tenho nenhum sentimento pelos membros da família
representados pelas figuras ou das dinâmicas do sistema, ou se o cliente
permanece intocável pela minha "imagem" da rede de relações, então eu
interrompo o processo da constelação e obtenho mais informação, conto estórias
curtas ou simplesmente paro o trabalho.

Riscos e oportunidades nas constelações com figuras

Os risco e erros que podem ser causados ao se fazer uma constelação com figuras
são basicamente os mesmos que se apresentam quando fazemos constelações em
grupos:

n Que você está trabalhando sem que o cliente esteja totalmente pronto para
trabalhar e sem a força do cliente;

n Que você está seguindo algum padrão pré-determinado que não permite que
aquilo que é novo e diferente surja.

n Que você está trabalhando com excesso de informação, ou está perdendo


informação crítica;

n Que você está sendo influenciado por padrões visuais e associações que não
estão em harmonia com a alma.

A principal desvantagem quando comparado a uma constelação em grupo é que


um terapeuta pode frequentemente encontrar dinâmicas sistêmicas ocultas através
de afirmações bastante surpreendentes dos representantes. Especialmente em
casos difíceis, com dinâmica novas e incomuns, isso é crítico. Por exemplo, se uma
pessoa no sistema está sendo levada a ir no lugar de outra, isso é freqüentemente
algo que não fica imediatamente claro numa constelação. É o relato dos
representantes que pode fornecer indicações dessa dinâmica. Se um terapeuta tem
uma suspeita sobre algo desse tipo, é mais fácil checar isso num grupo. A energia e
participação dos membros do grupo que observam a constelação também dão
importantes indicações sobre a acurácia das hipóteses levantadas.
Essas dificuldades, contudo, não são críticas. As dinâmicas da "alma de grupo" do
cliente não são reveladas pelos representantes, mas pela alma do cliente. Em uma
situação de atendimento individual você também pode sentir a força quando uma
hipótese traz algo essencial à luz. O último critério é o sentimento de harmonia e de
se sentir tocado, percebido tanto pelo cliente como pelo terapeuta. Isso pode ser
muito surpreendente numa constelação com figuras. O terapeuta vê a solução
através da compreensão do cliente. Compreensão significa introjetar aquilo que
emerge da profundidade oculta. A antiga palavra grega para verdade significa
aquilo que não está oculto à visão. As coisas que se desemaranham e resolvem
usualmente vem inesperadamente e calmamente. Elas tocam, servem à paz e elas
favorecem à ação. Elas honram todos e são benéficas a todos no sistema.

As constelações de figuras também oferecem uma oportunidade, quando um


terapeuta ou conselheiro não se sente competente para manejar um processo em
grupo. Uma constelação em grupo pode tomar uma dinâmica por si mesma que não
mais serve ao sistema do cliente se está faltando uma visão clara, uma percepção
precisa, e certa qualidade de liderança do terapeuta. Uma constelação de figuras
também evita o perigo dos representantes trazerem para dentro dela seus próprios
problemas pessoais. O preço pelo controle desse aspecto é que haverá menos
controle sobre os prejuízos e pontos cegos do terapeuta, e num atendimento
individual, um terapeuta é mais vulnerável aos caprichos do cliente, que podem ser
algumas vezes consideráveis.

Constelações com figures e o trabalho na Alma


Em constelações de grupo, aqueles que são posicionados na constelação estão
ressonando a alma do sistema. Figuras não podem fazer isso. Elas permanecem
como objetos representativos que funcionam para o olho da mente. Você não
precisa pedir às figuras que saiam de seus papéis ao final da constelação.

Uma constelação de figuras pode ser limitada a uma representação visual, que era
como eu trabalhava nos meus primeiros anos com a técnica. As figuras forneciam
uma ponte visual, um resumo gráfico do que havia sido discutido, um método que
talvez permitisse sugestões indiretas. Tudo isso pode ser muito útil, mas uma
constelação com figuras pode oferecer mais. É surpreendente o quão rapidamente
ela estabelece um espaço para a alma na qual a "alma do grupo" pode ressonar.
Essa ressonância é efetuada pelo terapeuta e pelo cliente. O trabalho de
constelação não é apenas trabalhar com imagens visuais. Ele toca e move porque
oferece espaço para as imagens. Imagens espacialmente representadas são
diferentes de imagens planas bidimensionais, não só por fornecerem as dimensões
corretas para as relações, mas mais importante que isso, ao permitirem que algo
surge para fora da imagem, algo difícil de descrever que não é visível através de
um simples olhar para a imagem. O que surge é como um campo de ressonância.

A ressonância do cliente e do terapeuta com a "alma do grupo" e suas dinâmicas


não vem das figuras, mas através delas. Ao mesmo tempo, uma constelação com
figuras apóia um processo terapêutico que é externalizado e levado a partir de
idéias e pensamentos internos. Ele vive mais perto da realidade do que
simplesmente "falar a respeito". A surpreendente profundidade dos sentimentos de
ser tocado não vem só da constelação. A "ressonância" é também conectada às
palavras: a palavras que refletem verdades básicas, a palavras que trazem clareza,
a palavras que ligam e palavras que desemaranham, a palavras de amor e força.
As experiências profundamente tocantes também emergem dos gestos, uma
expressão física dos movimentos da alma. Trabalhar com figuras tem um efeito
profundo só quando vai além dos aspectos visuais para o campo da rede de
relações, quando ao poder desse campo é permitido penetrar e abrir os diálogos e
gestos que curam.

O valor das constelações com figures como método

Qualquer um que esteja convencido da profundidade de alcance dos processos em


sistemas familiares e na alma pode também de fato, trabalhar em direção a solução
sem constelações, grupos de figuras, só através de um consciência dos fatos
essências e destinos, estando em harmonia com a alma da pessoa que busca
ajuda na procura por compreensão.

Normalmente, contudo, tais métodos fazem o trabalho do terapeuta mais fácil e


também dão ao cliente acesso a aquilo que é essencial e critico. Isso coleta
informação, estrutura os procedimentos e foca a atenção. Usando as constelações,
é mais fácil para o cliente e o terapeuta experimentar estar num caminho conjunto,
abrir ao que possa emergir das profundidades ocultas. Eles se juntam em um
espaço da alma do cliente, só o tanto necessário para achar uma solução. Em uma
constelação de figuras e em uma imagem de solução, o cliente experimenta algo
que pode ser levado para casa, -- algo que continua a trabalhar na alma e
frequentemente só se desdobra plenamente em seus efeitos plenos após um certo
período de tempo.
Talvez seja algo similar a uma apresentação teatral. Só ler a peça pode me manter
falando, mas a apresentação no teatro é usualmente uma experiência mais
profunda e mais impressionante. Isso é verdade, contudo, só quando permanece
fiel ao coração da peça, à realidade, e a uma transformação na audiência.

¨¨¨¨¨¨

[1] Publicado em : Weber, Gunthard (Ed.) (2000): Praxis des Familien-Stellens.


Beiträge zu Systemischen Lösungen nach Bert Hellinger. Heidelberg (Carl-Auer-
Systeme), traduzido para o português por Décio Fábio de Oliveira Jr. A partir de
uma versão inglesa do site www.constelationflow.com reproduzido aqui no site da
editora Atman ltda. com permissão expressa da Carl-Auer Verlag. A reprodução
desse artigo exceto para uso privativo ou distribuição por qualquer meio sem
permissão expressa do detentor do "copyright" constitui violação de direito de cópia
e fere a legislação brasileira e internacional em vigor.

As ordens da
ajuda

Escrito por Bert Hellinger


Uma síntese ampliada

(Maio, 2003)
Fonte: Home-page de Bert Hellinger:
www.hellinger.com

Tradução: Newton A. Queiroz


Setembro de 2003

Advertência do tradutor
Acho necessário dar um breve esclarecimento prévio sobre os dois vocábulos-
chave do presente texto.

1. Ajuda, ajudante

O título original do artigo é Die Ordnungen des Helfens, literalmente: As Ordens do


Ajudar, que prefiro traduzir por As Ordens da Ajuda, por ser mais consoante com
nosso uso. Assim, deve-se entender por ajuda, no presente texto, principalmente a
maneira de ajudar e a atitude de quem presta ajuda. Quem presta ajuda – no mais
das vezes, profissionalmente – é o que Hellinger denomina “der Helfer”, e que
traduzimos literalmente, na falta de termo melhor, por “o ajudante”. Nesta categoria
estão compreendidos principalmente os que profissionalmente prestam assistência
a outras pessoas (o médico, o terapeuta, o assistente social, o sacerdote...), como
também aqueles que o fazem voluntariamente, em caráter não profissional.

2. Ordens

As “ordens”, no sentido típico de Bert Hellinger, são as leis, princípios ou


ordenações básicas preestabelecidas, que devem presidir nossos comportamentos.
Assim, as "ordens do amor” são as leis que devem presidir nossos
relacionamentos, para que o amor seja bem sucedido, e cujo desconhecimento ou
desrespeito pode ocasionar conseqüências funestas.

No presente texto, Bert Hellinger fala das ordens que devem presidir toda iniciativa
de levar ajuda ao próximo e, de modo especial, a ação com objetivo ou efeito
terapêutico.
A ajuda é uma arte. Como toda arte, envolve uma capacidade que pode ser
aprendida e praticada. E envolve empatia em relação ao objeto, a saber, a
compreensão do que corresponde a esse objeto e, simultaneamente, daquilo que o
eleva, por assim dizer, acima de si mesmo, em algo mais abrangente.

Ajuda como compensação

Nós, seres humanos, dependemos, sob todos os aspectos, da ajuda dos outros,
como condição de nosso desenvolvimento. Ao mesmo tempo, precisamos também
de ajudar outras pessoas. Aquele de quem não se necessita, aquele que não pode
ajudar outros, fica só e se atrofia. O ato de ajudar serve, portanto, não apenas aos
outros, mas também a nós mesmos. Via de regra, a ajuda é um processo recíproco,
por exemplo, entre parceiros. Ela se ordena pela necessidade de compensar.
Quem recebeu de outros o que deseja e precisa, também quer dar algo, por sua
vez, compensando a ajuda.

Muitas vezes, a compensação que podemos fazer através da retribuição é limitada.


Isso ocorre, por exemplo, em relação a nossos pais. O que eles nos deram é
excessivamente grande, para que o possamos compensar dando-lhes algo em
troca. Só nos resta, em relação a eles, o reconhecimento pelo que nos deram e o
agradecimento que vem do coração. A compensação pela doação, com o alívio que
dela resulta, só se consegue, nesse caso, repassando essa dádiva a outras
pessoas: por exemplo, aos próprios filhos.
Portanto, o processo de tomar e de dar se processa em dois diferentes patamares.
O primeiro, que ocorre entre pessoas equiparadas, permanece no mesmo nível e
exige reciprocidade. O outro, entre pais e filhos, ou entre pessoas em condição
superior e pessoas necessitadas, envolve um desnível. Tomar e dar se
assemelham aqui a um rio, que leva adiante o que recebe em si. Essa forma de
tomar e dar é maior, e tem em vista também o que virá depois. Nesse modo de
ajudar, o que foi doado se expande. Aquele que ajuda é tomado e ligado a uma
realização maior, mais rica e mais duradoura.

Esse tipo de ajuda pressupõe que nós próprios tenhamos primeiro recebido e
tomado. Pois só então sentimos a necessidade e temos a força para ajudar a
outros, especialmente quando essa ajuda exige muito de nós. Ao mesmo tempo,
ela parte do pressuposto de que as pessoas a quem queremos ajudar também
necessitam e desejam o que podemos e queremos dar a elas. Caso contrário,
nossa ajuda se perde no vazio. Então ela separa, ao invés de unir.

A primeira ordem da ajuda

A primeira ordem da ajuda consiste, portanto, em dar apenas o que temos, e em


esperar e tomar somente aquilo de que necessitamos. A primeira desordem da
ajuda começa quando uma pessoa quer dar o que não tem, e a outra quer tomar
algo de que não precisa; ou quando uma espera e exige da outra algo que ela não
pode dar, porque não tem. Há desordem também quando uma pessoa não tem o
direito de dar algo, porque com isso tiraria da outra pessoa algo que somente ela
pode ou deve carregar, ou que somente ela tem a capacidade e o direito de fazer.
Assim, o dar e o tomar estão sujeitos a limites, e pertence à arte da ajuda percebê-
los e respeitá-los.

Essa ajuda é humilde, e muitas vezes, em face da expectativa e da dor, ela


renuncia a agir. O trabalho com as constelações familiares coloca diante de nossos
olhos o que deve exigir quem ajuda, tanto de si mesmo quanto da pessoa que
busca ajuda. Essa humildade e essa renúncia contradizem muitas concepções
usuais sobre a correta maneira de ajudar, e freqüentemente expõem o ajudante a
graves acusações e ataques.

A segunda ordem da ajuda

A ajuda está a serviço da sobrevivência, por um lado, e da evolução e do


crescimento, por outro. Todavia, a sobrevivência, a evolução e o crescimento
também dependem de circunstâncias especiais, tanto externas quanto internas.
Muitas circunstâncias externas são preestabelecidas e não são modificáveis: por
exemplo, uma doença hereditária, as conseqüências de acontecimentos ou de uma
culpa. Quando a ajuda deixa de considerar as circunstâncias externas ou se recusa
a admiti-las, ela se condena ao fracasso. Isto vale, com maior razão, para as
circunstâncias internas. Elas incluem a missão pessoal particular, o envolvimento
nos destinos de outros membros da família, e o amor cego que, sob o influxo da
consciência, permanece vinculado ao pensamento mágico. O que isso significa em
casos particulares eu expus exaustivamente em meu livro “ Ordens do Amor”, no
capítulo “Do céu que faz adoecer, e da terra que cura”.
Para muitos ajudantes, o destino da outra pessoa pode parecer difícil, e gostariam
de modificá-lo; não, porém, muitas vezes, porque o outro o necessite ou deseje,
mas porque os próprios ajudantes dificilmente suportam esse destino. E quando o
outro, não obstante, se deixa ajudar por eles, não é tanto porque precise disso, mas
porque deseja ajudar o ajudante. Então, quem ajuda realmente está tomando, e
quem recebe a ajuda se transforma em doador.

A segunda ordem da ajuda é, portanto, que ela se amolde às circunstancias e só


intervenha com apoio na medida em que elas o permitem. Essa ajuda mantém
reserva e possui força. Há desordem da ajuda, neste caso, quando o ajudante nega
as circunstâncias ou as encobre, ao invés de encará-las, juntamente com a pessoa
que busca a ajuda. Querer ajudar contra as circunstâncias enfraquece tanto o
ajudante quanto a pessoa que espera ajuda ou a quem ela é oferecida ou mesmo
imposta.

O protótipo da ajuda

O protótipo da ajuda é a relação entre pais e filhos e, principalmente, a relação


entre a mãe e o filho. Os pais dão, os filhos tomam. Os pais são grandes,
superiores e ricos, ao passo que os filhos são pequenos, necessitados e pobres.
Contudo, porque os pais e os filhos são ligados entre si por um profundo amor, o
dar e o tomar entre eles pode ser quase ilimitado. Os filhos podem esperar quase
tudo de seus pais. E os pais estão dispostos a dar quase tudo a seus filhos. Na
relação entre pais e filhos, as expectativas dos filhos e a disposição dos pais para
atendê-las são necessárias; portanto, estão em ordem.
Contudo, elas só estão em ordem enquanto os filhos ainda são pequenos. Com o
avançar da idade, os pais vão impondo aos filhos, em escala crescente, limites com
os quais eles eventualmente se atritam e podem amadurecer. Estarão sendo os
pais, nesse caso, menos bondosos para com seus filhos? Seriam pais melhores se
não colocassem limites? Ou, pelo contrário, eles se manifestam como bons pais
justamente ao exigirem de seus filhos algo que também os prepara para uma vida
de adultos? Muitos filhos ficam então com raiva de seus pais, porque preferem
manter a dependência original. Contudo, justamente porque os pais se retraem e
desiludem essas expectativas, eles ajudam seus filhos a se livrarem dessa
dependência e, passo a passo, a agirem por própria responsabilidade. Só assim os
filhos tomam o seu lugar no mundo dos adultos e se transformam de tomadores em
doadores.

A terceira ordem da ajuda

Muitos ajudantes, por exemplo, na psicoterapia e no trabalho social, acham que


precisam ajudar os que lhes pedem ajuda, da mesma forma como os pais ajudam
seus filhos pequenos. Inversamente, muitos que buscam ajuda esperam que os
ajudantes se dediquem a eles como os pais se dedicam a seus filhos, no intuito de
receber deles, tardiamente, o que esperam e exigem dos próprios pais.

O que acontece quando os ajudantes correspondem a essas expectativas? Eles se


envolvem numa longa relação. Aonde leva essa relação? Os ajudantes ficam na
mesma situação dos pais, em cujo lugar se colocaram com essa vontade de ajudar.
Passo a passo, eles precisam impor limites aos que buscam ajuda, decepcionando-
os. Então estes desenvolvem freqüentemente, em relação aos ajudantes, os
mesmos sentimentos que tinham antes em relação a seus pais. Assim, os
ajudantes que se colocaram no lugar dos pais, querendo mesmo, talvez, ser pais
melhores, tornam-se, para os clientes, iguais aos pais deles. Porém muitos
ajudantes permanecem presos na transferência e na contratransferência da relação
entre filho e pais. Com isso, dificultam ao cliente a despedida, tanto de seus pais
quanto dos próprios ajudantes. Ao mesmo tempo, uma relação segundo o modelo
da transferência entre pais e filhos impede também o desenvolvimento pessoal e o
amadurecimento do ajudante.

Vou ilustrar isso com um exemplo:

Quando um homem jovem se casa com uma mulher mais velha, ocorre a muitos a
imagem de que ele procura um substitutivo para sua mãe. E o que procura ela? Um
substitutivo para seu pai. Inversamente, quando um homem mais velho se casa
com uma moça mais jovem, muitos dizem que ela procurou um pai. E ele?
Procurou uma substituta para sua mãe. Assim, por estranho que soe, quem se
obstina por muito tempo numa posição superior e mesmo a procura e quer manter,
recusa-se a assumir seu lugar entre adultos equiparados.

Existem, porém, situações, em que convém que, por algum tempo, o ajudante
represente os pais: por exemplo, quando um movimento amoroso precocemente
interrompido precisa ser levado a seu termo. Contudo, diferentemente da
transferência da relação entre pais e filhos, o ajudante apenas representa aqui os
pais reais. Ele não se coloca em lugar deles, como se fosse uma mãe melhor ou
um pai melhor. Por esta razão, também não é preciso que o cliente se desprenda
do ajudante, pois este o leva a afastar-se dele e a voltar-se para os próprios pais.
Então o ajudante e cliente se liberam mutuamente.

Mediante a adoção desse padrão de sintonia com os pais verdadeiros, o ajudante


frustra, desde o início, a transferência da relação entre os pais e o filho. Pois,
quando respeita em seu coração os pais do cliente, e fica em sintonia com esses
pais e seus destinos, o cliente encontra nele os seus pais, dos quais já não pode
esquivar-se. A mesma coisa vale quando o ajudante precisa lidar com crianças ou
deficientes físicos. Na medida em que ele apenas representa os pais, e não se
coloca em seu lugar, os clientes podem sentir-se em segurança com ele.

A terceira ordem da ajuda seria, portanto, que, diante de um adulto que procura
ajuda, o ajudante se coloque igualmente como um adulto. Com isso, ele recusa as
tentativas do cliente para fazê-lo assumir o papel dos pais. É compreensível que
essa atitude do ajudante seja sentida e criticada, por muitas pessoas, como dureza.
Paradoxalmente, essa “dureza” é criticada por muitos como arrogância. Quem olha
bem, vê que a arrogância consistiria antes no envolvimento do ajudante numa
transferência da relação entre pais e filho.

A desordem da ajuda consiste aqui em permitir a um adulto que faça ao ajudante as


exigências de um filho a seus pais, para que o trate como criança e o poupe de algo
pelo qual somente o cliente pode e deve carregar a responsabilidade e as
conseqüências. É o reconhecimento dessa terceira ordem da ajuda que constitui a
mais profunda diferença entre o trabalho das constelações familiares e psicoterapia
habitual.
A quarta ordem da ajuda

Sob a influência da psicoterapia clássica, muitos ajudantes freqüentemente


encaram seu cliente como um indivíduo isolado. Com isso, também se expõem
facilmente ao risco de assumirem a transferência da relação entre pais e filho.
Contudo, o indivíduo é parte de uma família. Somente quando o ajudante o percebe
assim é que ele percebe de quem o cliente precisa, e a quem ele possivelmente
está devendo algo.

O ajudante realmente percebe o cliente a partir do momento em que o vê junto com


seus pais e antepassados, e talvez também junto com seu parceiro e com seus
filhos. Então ele percebe quem, nessa família, precisa principalmente de sua
atenção e de sua ajuda, e a quem o cliente precisa dirigir-se para reconhecer os
passos decisivos e levá-los a termo. Isto significa que a empatia do ajudante
precisa ser menos pessoal e – principalmente - mais sistêmica. Ele não se envolve
num relacionamento pessoal com o cliente. Esta é a quarta ordem da ajuda.

A desordem da ajuda, neste caso, consistiria em não contemplar nem honrar outras
pessoas essenciais, que teriam em suas mãos, por assim dizer, a chave da
solução. Incluem-se entre elas, sobretudo, aquelas que foram excluídas da família,
por exemplo, porque os outros se envergonharam delas.

Também aqui é grande o perigo de que essa empatia sistêmica seja sentida como
dureza pelo cliente, sobretudo por aqueles que fazem reivindicações infantis ao
ajudante. Pelo contrário, aquele que busca a solução, de maneira adulta, sente
esse enfoque sistêmico como uma liberação e uma fonte de força.

A quinta ordem da ajuda

O trabalho da constelação familiar aproxima o que antes estava separado. Nesse


sentido, ele está a serviço da reconciliação, sobretudo com os pais. O que impede
essa reconciliação é a distinção entre bons e maus membros da família, tal como é
feita por muitos ajudantes, sob o influxo de sua consciência e de uma opinião
pública presa nos limites dessa consciência. Por exemplo, quando um cliente se
queixa de seus pais, das circunstâncias de sua vida ou de seu destino, e quando
um ajudante se associa à visão desse cliente, ele serve mais ao conflito e à
separação do que à reconciliação. Portanto, alguém só pode ajudar, no sentido da
reconciliação, quando imediatamente dá um lugar em sua alma à pessoa de quem
o cliente se queixa. Assim, o ajudante antecipa na própria alma o que o cliente
ainda precisa realizar na sua.

A quinta ordem da ajuda é portanto o amor a cada pessoa como ela é, por mais que
ela seja diferente de mim. Dessa maneira, o ajudante abre a essa pessoa o seu
coração, de modo que ela se torna parte dele. Aquilo que se reconciliou em seu
coração também pode reconciliar-se no sistema do cliente. A desordem da ajuda
seria aqui o julgamento sobre outros, que geralmente é uma condenação, e a
indignação moral associada a isso. Quem realmente ajuda, não julga.
A percepção especial

Para poder agir de acordo com as ordens da ajuda, não é preciso qualquer
percepção especial. O que eu disse aqui sobre as ordens da ajuda não deve ser
aplicado de forma precisa e metódica. Quem tentar isso estará pensando, ao invés
de perceber. Ele reflete e recorre a experiências anteriores, em vez de se expor á
situação como um todo e apreender dela o essencial. Por isso, essa percepção
envolve ambos os aspectos: ela é simultaneamente direcionada e reservada. Nessa
percepção, eu me direciono a uma pessoa, porém sem querer algo determinado, a
não ser percebê-la interiormente, de uma forma abrangente, e com vistas ao
próximo ato que se fizer necessário.

Essa percepção surge do centramento. Nela, eu abandono o nível das


ponderações, dos propósitos, das distinções e dos medos, e me abro para algo que
me move imediatamente, a partir do interior. Aquele que, como representante numa
constelação, já se entregou aos movimentos da alma e foi dirigido e impelido por
eles de uma forma totalmente surpreendente, sabe de que estou falando. Ele
percebe algo que, para além de suas idéias habituais, o torna capaz de ter
movimentos precisos, imagens internas, vozes interiores e sensações inabituais.

Esses movimentos o dirigem, por assim dizer, de fora, e simultaneamente de


dentro. Perceber e agir acontecem aqui em conjunto. Essa percepção é, portanto,
menos receptiva e reprodutiva. Ela é produtiva; leva à ação, e se amplia e
aprofunda no agir.

A ajuda que decorre dessa percepção é geralmente de curta duração. Ela fica no
essencial, mostra o próximo passo a fazer, retira-se rapidamente e despede o outro
imediatamente em sua liberdade. É uma ajuda de passagem. Há um encontro, uma
indicação, e cada um volta a trilhar o próprio caminho. Essa percepção reconhece
quando a ajuda é conveniente e quando seria antes danosa. Reconhece quando a
ajuda coloca tutela ao invés de promover, e quando serve para remediar antes a
própria necessidade do que a do outro. E ela é modesta.

Observação, percepção, compreensão, intuição, sintonia

Talvez seja útil descrever aqui ainda as diferentes formas de conhecimento, para
que, quando ajudamos, possamos recorrer ao maior número delas que for possível,
e escolher entre elas. Começo pela observação.

A observação é aguda e precisa, e tem em vista os detalhes. Como é tão exata, é


também limitada. Escapa-lhe o entorno, tanto o mais próximo quando o mais
distante. Pelo fato de ser tão exata, ela é próxima, incisiva, invasiva e, de certa
maneira, impiedosa e agressiva. Ela é condição para a ciência exata e para a
técnica moderna decorrente dela.
A percepção é distanciada. Ela precisa da distância. Ela percebe simultaneamente
várias coisas, olha em conjunto, ganha uma impressão do todo, vê os detalhes em
seu entorno e em seu lugar. Contudo, é imprecisa no que toca aos detalhes. Este é
um dos lados da percepção. O outro lado é que ela entende o observado e o
percebido. Ela entende o significado de uma coisa ou de um processo observação
e percebido. Ela vê, por assim dizer, por trás do observado e do percebido, entende
o seu sentido. Acrescenta, portanto, à observação e à percepção externa uma
compreensão.

A compreensão pressupõe observação e percepção. Sem observação e percepção,


também não existe compreensão. E vice-versa: sem compreensão, o observado e
percebido permanece sem relação. Observação, percepção e compreensão
compõem um todo. Somente quando atuam em conjunto é que percebemos de
uma forma que nos permite agir de forma significativa e, principalmente, também
ajudar de uma forma significativa.

Na execução e na ação, freqüentemente aparece ainda um quarto elemento: a


intuição. Ela tem afinidade com a compreensão, assemelha-se a ela, mas não é a
mesma coisa. A intuição é a compreensão súbita do próximo passo a dar. A
compreensão é muitas vezes geral, entende todo o contexto e todo o processo. A
intuição, em contraposição, reconhece o próximo passo e, por isso, é exata.
Portanto, a relação entre a intuição e a compreensão é semelhante à relação entre
a observação e a percepção.

Sintonia é uma percepção a partir do interior, num sentido amplo. Como a intuição,
ela também se direciona para a ação, principalmente para a ação de ajuda. A
sintonia exige que eu entre na mesma vibração do outro, alcance a mesma faixa de
onda, sintonize com ele e o entenda assim. Para entendê-lo, também preciso ficar
em sintonia com sua origem, principalmente com seus pais, mas também com seu
destino, suas possibilidades, seus limites, e também com as conseqüências de seu
comportamento e de sua culpa; e, finalmente, com sua morte.

Ficando em sintonia, eu me despeço, portanto, de minhas intenções, de meu juízo,


de meu superego e de suas exigências sobre o que eu devo e preciso ser. Isso
quer dizer: fico em sintonia comigo mesmo, da mesma forma que com o outro.
Dessa maneira, o outro também pode ficar em sintonia comigo, sem se perder, sem
precisar temer-me. Da mesma forma, também posso ficar em sintonia com ele
permanecendo em mim mesmo. Não me entrego a ele, mas mantenho distancia na
sintonia. Com isso, ao ajudá-lo, posso perceber exatamente o que posso fazer e o
que tenho o direito de fazer. Por esta razão, a sintonia é também passageira. Ela
dura apenas enquanto dura a ação da ajuda. Depois, cada um volta à sua própria
vibração. Por esta razão, não existe na sintonia transferencia nem
contratransferência, nem a chamada relação terapêutica. Portanto, um não assume
a responsabilidade pelo outro. Cada um permanece livre do outro.

Sobre o movimento interrompido

Quando uma criança pequena não teve acesso à mãe ou ao pai, embora
precisasse deles com urgência e ansiasse por eles, por exemplo, numa longa
internação hospitalar, esse anseio se transforma em dor de perda, em desespero e
raiva. A partir daí, a criança se retrai diante de seus pais e, mais tarde, também de
outras pessoas, embora anseie por eles. Essas conseqüências de um movimento
amoroso precocemente interrompido são superadas quando o movimento original é
retomado e levado a seu termo. Nesse processo, o ajudante representa a mãe ou o
pai daquele tempo, e o cliente pode completar o movimento interrompido, como a
criança de então.

Contelações familiares em diferentes contextos


nacionais

Escrito por Berthold Ulsamer


Constelações familiares em diferentes contextos nacionais

Escrito por Berthold Ulsamer

SIMILARIDADES E DIFERENÇAS INTERNACIONAIS NA ESTRUTURA E NOS


PROBLEMAS FAMILIARES

Resultados Preliminares do Método da Constelações Familiares

Apresentado pelo Dr. Berthold Ulsamer no 10º Congresso Mundial de Terapia


Familiar em Dusseldorf, Alemanha

O que são Constelações Familiares?

O terapeuta alemão Bert Hellinger desenvolveu esse novo tipo de terapia breve,
que poderíamos descrever como uma árvore genealógica viva, englobando
elementos das esculturas familiares e do psicodrama. Em sua forma e em sua
abordagem teórica contudo, esse trabalho é único e novo e tem procedimentos e
efeitos surpreendentes. Esse tipo de terapia foi desenvolvido em áreas de língua
germânica e, Bert Hellinger originalmente limitou suas áreas de atuação às regras
e experiências que foram descobertas lá.
Esse tipo de terapia contém métodos que são apenas aplicáveis aos países de
língua germânica? Será que Hellinger encontrou ordens que são tipicamente
alemãs, ou elas são úteis em outros países?

A minha apresentação consiste em 03 partes:

1. Uma breve introdução ao trabalho prático envolvido e seu background .


2. Similaridades e diferenças nacionais com exemplos de vários países.
3. Considerações adicionais: existe uma unidade coletiva? Essa unidade coletiva
tem efeito sobre as pessoas e a terra natal?

O método da Constelação Familiar em uso prático

O cliente que deseja fazer uma constelação terá os resultados mais plenos em um
grupo. Primeiro é necessário para o cliente ter uma razão específica para colocar
sua constelação. O requisito é frequentemente uma pergunta a cerca de certos
sentimentos conflitantes (depressão, sentimentos de culpa, etc ) ou a cerca de
relações perturbadas na família.

Primeiro o cliente informa ao terapeuta fatos essenciais a cerca da sua família nas
últimas 02 ou 03 gerações. Perguntas importantes que precisam ser respondidas
são: Quem morreu cedo (antes de 25 anos)? Ocorreram crimes cometidos por
membros da família? Por acaso algum membro da família carrega um pesado
sentimento de culpa por alguma razão? Os pais tiveram relações amorosas prévias,
e elas tiveram consequências dignas de nota (ex: agressões, emigrações,
nascimentos fora do casamento, adoção, etc)?

Então o cliente escolhe entre os membros do grupo, pessoas para representar seus
pais, irmãos, a si mesmo e outros membros importantes da família. Também são
representados membros da família que já morreram. Espontaneamente e centrado,
o cliente posiciona cada representante, um em relação ao outro, na área de
trabalho assim como sua imagem interna.
Os representantes em seus respectivos lugares, sentem as relações desse sistema
e percebem os sentimentos das pessoas que elas representam. Esse efeito é ainda
um fenômeno inexplicável.

Durante o trabalho prático com constelações, o terapeuta aprende a confiar nesse


fenômeno mais e mais e a deixar-se levar por ele.

O efeito terapêutico das constelações advém de:

* Mostrar e posicionar a imagem interna da família do cliente com todas as suas


tensões e conflitos.
* trazer de volta pessoas importantes que foram esquecidas
* usar “frases de força” que trazem os conflitos à luz e os soluciona.
* Encontrar uma nova posição/ordem para as pessoas envolvidas. As posições
dos representantes serão diferentes no fim da constelação, gerando uma nova
imagem interna de solução.

Quando Bert Hellinger desenvolveu as Constelações Familiares ( nas regiões do


mundo de fala germânica ) ele descobriu ordens básicas subjacentes. De fato,
apesar de haver exceções a todas as ordens, algumas se repetem com bastante
regularidade.

Seis importantes ordens e princípios

1. Cada membro de uma família pertence a ela igualmente. Cada família tem um
vínculo interno muito forte, a despeito do quão desunida ela pareça quando
olhamos de fora. Todos os membros de uma família merecem atenção. Se alguém
é expulso, ele será representado por um membro que nascer mais tarde, o qual irá
impor a si mesmo um destino similar.
2. A morte precoce de um membro da família tem um forte efeito sobre todo o
sistema. Uma inclinação para morrer aparece nos irmãos do morto, devido a suas
conexões com ele. Isto é expresso através da frase “ Eu seguirei você”. Se alguém
carrega algo assim e mais tarde tem filhos, estes percebem isto e tentam aliviar os
pais. Isto é expresso pela frase “Melhor eu do que você”. Esta inclinação para a
morte se mostra através da doença e de comportamentos perigosos (esportes
radicais, uso de drogas).
3. Crianças tomam sentimentos de outros membros da família. Isto ocorre de dois
modos: ou elas compartilham fortes sentimentos com outros membros da família
(elas ajudam a carregar estes sentimentos por assim dizer) , ou elas tomam para si
sentimentos não expressos. Por exemplo, uma avó submissa é abusada
fisicamente por seu marido. Ela tem então uma neta que por sua vez fica
enraivecida com seu marido por nenhuma razão aparente. Na Constelação Familiar
torna-se claro que a neta carrega a raiva de sua avó.
4. As crianças são leais aos seus pais (pai e mãe). As crianças quase sempre
lidam com seu próprio destino de modo a impedir que elas mesmas tenham um
destino melhor que o de seus pais. Devido a esta lealdade elas tendem a repetir o
destino destes pais e seus infortúnios.
5. Há uma ordem na família que precisa ser respeitada. A pessoa que vem
primeiro, seja um irmão ou um parceiro, toma o primeiro lugar. Os outros seguem
esta ordem cronológica. Estes lugares precisam ser respeitados sem julgamento
ou valorização, apenas devem ser percebidos como são.
6. Há uma organização espacial básica que é preferível. Há uma ordem básica na
qual todos os membros de uma família se sentem bem, desde que se garanta que
todas a conexões negativas tenham sido resolvidas. Nesta ordem os pais ficam à
frente de seus filhos com o pai ficando no primeiro lugar e a mãe seguindo no
sentido horário a ele (quando olhamos de cima). As crianças devem ficar olhando
seus pais seguindo o sentido horário de acordo com sua ordem cronológica de
nascimento, do mais velho para o mais novo.

Existem traços nacionais típicos nas constelações?

Este trabalho emergiu nos últimos 20 anos na Alemanha. Uma pergunta que surge:
se ele é aplicável a outros países também. Esta pergunta foi respondida de modo
afirmativo por terapeutas que tem feito Constelações Familiares em paises como
Brasil, Eslováquia e França. Eu tenho feito trabalhos na Suiça, Espanha, Itália e
Argentina e também alguns grupos no Japão e Taiwan.

Tem se tornado claro que as ordens e princípios descritos acima se aplicam


também a famílias de outras nações e culturas. Quais são as similaridades e
diferenças? Eu só posso dizer que elas estão baseadas em experiências pessoais
e não em evidência estatística. Contudo, a experiência é informativa, porque ela
mostra as famílias e nações sob uma nova perspectiva.

As consequências da guerra.

Uma grande similaridade existe entre países que estiveram em guerra nas últimas 2
gerações. O resultado da guerra é a morte de soldados jovens. Pais perdem seus
filhos, irmãs perdem seus irmãos e crianças nascem, porém nunca conhecerão
seus pais porque eles morreram antes que elas nascessem.

Nas constelações alemãs, tem sido demonstrado o quão doloroso é a perda de um


irmão para uma irmã. É freqüente que uma inclinação para morrer nasça daí. Os
filhos destas irmãs sentem isto, tomam isto para si e eles próprios também
desenvolvem esta inclinação para a morte. Contudo, a mesma dor ocorre em
outras nações, como me foi mostrado na constelação de uma psicoterapeuta
espanhola. A despeito de anos de análise sobre a morte de seu pai, o qual havia
morrido antes de seu nascimento na guerra civil espanhola, ela só conseguia
imaginá-lo como um fantasma.

Contudo, a morte pode ter vários efeitos. Há tipos de morte que são
experimentados coletivamente e de uma forma especialmente traumática.
Consequentemente estas mortes são reprimidas na consciência tanto quanto
possível e tem um peso muito grande na família. Usualmente as pessoas que
tomam parte numa constelação chegam a ter calafrios quando tais mortes são
mencionadas. Na Alemanha estas são as mortes que ocorreram nos campos de
concentração nazistas. No Japão, são as mortes que ocorreram em decorrência
das bombas atômicas lançadas sobre Hiroshima e Nagasaki.

Uma perda é especialmente má quando a família não está certa da ocorrência da


morte. Este é, por exemplo, o caso do destino de vários homens na Argentina que
desapareceram e foram sequestrados sob o poder da ditadura – os
“desaparecidos”. Mesmo hoje, após muitos anos, as famílias dos mortos vão
regularmente a Buenos Aires para protestar.

Uma constelação na Alemanha me mostrou o quanto é difícil lidar com aqueles que
desaparecem. Nos anos 50, um homem cujo irmão estava desaparecido por 10
anos, teve a morte deste irmão declarada legalmente para que se pudesse fazer a
partilha da herança. Devido a isto o irmão sobrevivente sentiu uma culpa enorme –
quase como se ele fosse um assassino.

Quando nós olhamos para o mundo de hoje para países como a Iugoslávia ou
outros países do continente africano, só podemos especular acerca da extensão
das tragédias e suas conseqüências para as gerações futuras.

Países não envolvidos em guerras nas gerações recentes.

O que dizer das constelações em países que tem se mantido longe das guerras?
Eu passo agora a relatar minhas impressões obtidas num recente seminário de 6
dias com um grupo de pessoas da Suiça. Os primeiros 2 dias foram muito leves.
Isto é diferente das constelações na Alemanha, onde as mortes da II Guerra
Mundial aparecem com freqüência – pais, irmãos e crianças que morreram lá.
Parecia que circunstâncias favoráveis tinham protegido os suiços de tais tragédias.
A intensidade do seminário estava bem baixa.

No terceiro dia, aquele tipo de coisa que as famílias de classe média costumam
suprimir veio com muita força à superfície. Houve uma constelação na qual um
pastor cometeu adultério com a mulher que iria se tornar a sogra de seu filho. A
mulher deu a luz a uma criança (filha dela e do pastor) mas ela foi considerada
filha do marido desta mulher... Em várias famílias veio a luz casos de abuso.
Parecia que muitas famílias precisavam de pelo menos uma ovelha negra para
carregar os problemas da família.

Aqueles que tomaram parte controlaram suas emoções a um elevado grau e


usaram muita energia para fazê-lo. Quando eles não puderam mais manter o
controle, os sentimentos suprimidos vieram à tona, dramática e incontrolavelmente.

Outras culturas

Eu agora gostaria de entrar em detalhes sobre minha experiência com cerca de 20


constelações feitas com pessoas do Japão e de Taiwan.

As constelações foram em grande parte similares umas às outras – mais do que


entre as constelações alemãs. Os representantes do pai e da mãe mantiveram uma
certa distância entre si e algumas vezes ficavam de costas um para o outro.
Quando eram virados de modo a ficarem frente-a-frente se sentiram estranhos um
ao outro. Nenhum parecia realmente querer estar com o outro por amor. Muitos
casamentos foram arranjados. O resultado: desapontamento recíproco e frustração,
dos quais no melhor dos casos gerou uma certa “camaradagem” entre os parceiros
em meio a uma situação tão difícil. Uma frase que uma pessoa sentiu ser capaz de
trazer alívio foi: “ Você me frustrou e eu a você – nós estamos no mesmo barco.” As
mulheres estavam especialmente indispostas a assumirem responsabilidade por
terem casado com seus parceiros, pelo menos de início. Elas se viam como
vítimas. A força para assumir a responsabilidade só veio quando foi incluída a
representante da mãe ao lado de sua filha. Isto foi diferente do que foi observado
nas constelações alemãs.

Ao mesmo tempo houveram dinâmicas de transferência de sentimentos de amor na


família – quase sempre tendências eróticas entre a mãe e seu filho favorito ou o pai
e sua filha favorita. Nas constelações alemãs sentimentos eróticos muito fortes
entre os pais e suas crianças resultam da dinâmica na qual uma criança representa
um primeiro amor ou noivo de um dos pais. Em uma das constelações japonesas, a
relação erótica entre o pai e a filha foi tão forte que eu estava certo de que o pai
teve uma primeira mulher. A filha (a cliente cujo sistema estava sendo constelado)
não sabia nada a cerca da existência de tal mulher. Eu finalmente arrisquei um
experimento e posicionei uma mulher para representar este primeiro amor do pai. O
pai começou a considerar aquilo e então concluiu “esta é minha mãe”.

Se fosse para generalizar minhas percepções então eu diria que as conexões


eróticas profundas dessas crianças a seus pais acabam por impedí-la de ter
relações realmente satisfatórias mais tarde na vida. Ao invés disso elas também,
por sua vez, buscam uma criança para estabelecer uma relação que realmente
preencha o coração delas. Esse padrão é revivido de uma geração para a outra.
Mesmo as outras crianças – devido à lealdade ao destino dos pais – raramente têm
relações amorosas plenas.

Como nas constelações alemãs, chegou-se a uma ordem básica apropriada no final
– os pais lado a lado e as crianças de frente para eles, da mais velha para a mais
nova. Contudo, tanto para os pais quanto para as crianças foi necessário deixar
bastante espaço entre eles.

Eu presenciei uma fascinante constelação de uma mulher em Taiwan – que era


sobre a morte precoce de sua irmã. A irmã morta ainda pertencia à família. Até
mesmo um lugar na mesa era sempre reservado para ela. De início a irmã morta foi
vista como sendo perigosa e ameaçadora. A irmã sobrevivente estava com medo
dela muito mais do que numa situação similar observada em constelações alemãs.
Devido a esta experiência, eu suspeitei que a morte precoce tem o efeito “eu
seguirei você” também nas outras culturas (apesar delas lidarem com a morte de
maneira diferente do que fazemos). Uma irmã ou irmão morre e os outros vivem.
Mas os sentimentos de culpa dos sobreviventes não são aliviados pelos atos rituais.

Um terapeuta japonês que já tinha dado seus primeiros passos no trabalho de


constelações familiares com seus compatriotas, disse-me que o trabalho tinha
servido como uma espécie de escola para ensinar os homens japoneses a
entrarem em contato com os seus sentimentos. Eles reprimem completamente os
seus próprios sentimentos. Contudo, como representantes acham fácil perceber e
expressar sentimentos.

Agora eu gostaria de passar algumas experiências que meus colegas que


trabalham com outras nacionalidades contaram-me.

Jacob Schineider trabalhou muitas vezes no Brasil – principalmente com terapeutas


que são descendentes de imigrantes europeus. Vários temas vieram à luz em seu
trabalho. Um de tais temas é que as consequências da emigração e integração em
uma nova terra desempenham uma grande tarefa. Ele cita um exemplo de uma
constelação com um padre cujo pai estava morrendo, mas que por alguma razão
não podia ainda morrer. Na constelação, foi mostrado que o pai já tinha aceitado
sua morte iminente mas tinha ainda um problema com seu filho. Só quando o filho
posicionou seu representante alinhado com os representantes de seu pai e de seu
avô e garantiu a eles que honraria e manteria sua herança italiana foi que o pai
sentiu-se aliviado. Logo após a constelação desse filho, o pai morreu em paz tendo
o filho a seu lado.

Em muitas constelações o filho permanecia ao lado da mãe e a filha ao lado do pai.


As crianças pareciam muito envolvidas no casamento dos pais e inclinadas a
tornar-se parceiros afetivos substitutos. Muitos brasileiros vivem próximos à morte
sem que a dinâmica exata seja visível. Em nenhuma das constelações houveram
crianças prematuramente mortas na geração atual ou anterior – um fato que
Schineider achou ímpar. Em quase todas as famílias contudo, haviam mortes por
acidentes de tráfego. Os membros da família não tinham muito conhecimento sobre
eventos da história familiar, no que diferiam dos alemães.

A situação de brasileiros de classe social inferior e/ou ancestralidade africana ou


indígena era muito diferente. Nesses grupos sociais há uma enorme quantidade de
incesto e estrutura familiares desoladas, muitos irmãos desconhecidos e pouca
segurança social dada pelos pais. Nestes casos parecia haver pouca chance de se
obter uma ordem completa na família. De acordo com Schineider era imperativo ver
onde existia um lugar relativamente seguro para as crianças que as ajudasse a
seguir um destino obrigatoriamente diferente do de seus pais e ao mesmo tempo
reconciliá-las com seus pais.

Que relação tem as pessoas com seu próprio país e povo?

O trabalho com constelações revela que há muitas áreas bem definidas de conexão
humana. Subjacente a isso, certas ordens e princípios atuam. Um exemplo de
ordem importante a respeito das relações amorosas é que parceiros prévios
precisam ser reconhecidos e que cada um tenha seu lugar numa ordem
cronológica. Então existe a família cuja ordem já foi mencionada. Há também
princípios que atuam em organizações, tal como aquele que diz que pessoas que
estão numa organização há mais tempo precisam ter seu tempo de casa
respeitado.

Uma área desta conexão humana que está começando a se mostrar tem a ver com
nacionalidade e país de origem. Existe algo coletivo que se refere a uma conexão
com a terra natal? Que princípios funcionam aí?

Uma constelação levada a cabo por um colega e eu há poucos anos atrás ampliou
largamente meus horizontes. Até aquela época, eu ficava aborrecido pela constante
preocupação da mídia com o terceiro Reich. Eu era da opinião de que não
deveríamos nos preocupar com isso e, ao invés, olhar para o futuro. Embora eu não
fosse pessoalmente afetado por uma história familiar de nazismo, pois meus pais
tinham desenvolvido uma aversão a esta ideologia, por suas crenças católicas. Meu
pai foi médico durante a guerra e tinha sobrevivido ileso.

Nessa constelação, um homem de 40 anos cujo avô foi um nazista entusiástico,


colocou sua família. O homem e também seu representante estavam excitados e
atraídos pela força e poder da ideologia nazista. De maneira a trazer a realidade
criminosa do que aconteceu nos bastidores, nós acrescentamos alguns
representantes para os perpetradores nazistas e também suas vítimas à
constelação. Contudo, o homem ainda achou difícil aceitar a realidade e queria
permanecer cegamente atado às idéias sedutoras do nazismo. Somente após um
ano ele foi capaz de aceitar a realidade através de uma outra constelação similar.
Após essa constelação, eu subitamente senti que eu também estava no mesmo
barco que ele e precisava olhar para este passado. Desde então, minhas
impressões sobre os alemães e suas relações com o terceiro Reich mudaram.
Parece-me agora que um povo inteiro tornou-se culpado da destruição inclemente
de judeus e outros grupos raciais. Cada pessoa, quase todos, de uma forma ou de
outra carrega uma parte dessa culpa e deste modo colabora com ela. Como Bayohr
provou em sua tese de doutorado publicada recentemente, a propriedade total de
pelo menos 30000 casas pertencentes a judeus assassinados ou expulsos foi
leiloada, somente em Hamburgo. Ele calculou um total de 100000 compradores e
estimou que devem ter havido milhões de compradores similiares em todo o país.
Isto significa que milhões de alemães obtiveram vantagem às custas da morte dos
judeus.

Os filhos e netos da geração da guerra vivem, parece-me, uma das duas


alternativas. Ou não aceitam seus pais que estão carregados de culpa, e assim
permanecem sem força ou raízes

(neste caso, quando estão fora de seu país, sentem-se envergonhados de serem
alemães) ou eles colocam botas de combate, raspam a cabeça e espancam
estrangeiros ou outros grupos raciais (e desse modo aceitam seus pais, e têm a
mesma força, mas também a mesma culpa).

Quando observo outras nações européias, sua unidade e laços familiares,


parecem-me mais fortes do que na Alemanha. As raízes parecem mais intactas. O
único país cuja população parece ter ainda menos raízes é o EUA. Isto pode ser
percebido pelas constantes mudanças de carreira, vida privada e localização de
moradia. A terra foi ganha através da destruição ou expulsão da população nativa,
os índios americanos. Eu suspeito que um mecanismo similar ao que atua na
Alemanha esteja em funcionamento. A culpa dos ancestrais sobrecarrega a relação
que suas crianças ou descendentes posteriores tem com eles.

Dissolvendo as conexões com um crime.


As constelações fazem com que um passo significativo e gerador de cura em um
outro nível seja possível. Se o pai ou a mãe cometeu um crime sério, especialmente
assassinato, há duas coisas a serem feitas consecutivamente na constelação.

Num primeiro passo, o pai ou a mãe deve ser reconhecido em seu papel de ter
dado a vida. A criança então agradece aos pais pela vida que ela recebeu. A seguir
ela deve deixar a culpa ou responsabilidade pessoal dos pais com eles. Se alguém
se torna um assassino, ele tem de deixar a família na constelação. Então todos se
sentem aliviados – não apenas o resto da família, mas o agressor também. Se o
agressor não sai, então as crianças que nascerem depois tomarão a culpa e se
tornarão, ou agressores ou vítimas nas gerações futuras.

O passo que leva a um novo nível é possível através da constelação. Uma criança
reconhece o pai ou a mãe como aquele de quem recebeu a vida e ao mesmo
tempo deixa o agressor manter sua culpa e responsabilidade por suas ações. Então
a criança permanece intacta com suas raízes, sem tomar parte na culpa que não é
sua. Parece-me que este passo tem de ser feito por cada um, individualmente.

O que é “terra natal”?

Um pequeno episódio que aconteceu em Buenos Aires esclareceu a conexão que


as pessoas tem com sua terra natal. Uma mulher argentina de 60 anos, cujos pais
alemães emigraram para a Argentina antes dela nascer, contou-me a seguinte
história. Ela estava assistindo ao jogo entre Alemanha e Argentina pela copa do
mundo de futebol. Quando a Alemanha fez seu primeiro gol, ela espontaneamente
caiu no choro – e foi recebida com expressão de estranheza por seus amigos.

Durante as constelações, o tema “terra natal” aparece no “pano de fundo” quando


esta terra natal foi perdida. Para clientes, cuja família foi expulsa de um país ou
emigrou, é possível posicionar um representante para a terra natal, mesmo
quando os pais são de diferentes nacionalidades. O representante percebe
sentimentos claros em seu papel de terra natal – usualmente sentimentos de paz e
força.

A pessoa cuja terra natal é representada, sente também uma forte relação com a
mesma. Usualmente posicionar uma terra natal trás um sentimento de força e
alívio, como acontece, por exemplo, com alemães que tiveram que refugiar-se na
Prússia Oriental, após a II guerra mundial. Podemos sentir essa forte conexão com
a terra ancestral, a qual não se dissolve, mesmo quando se deixa essa terra.

O efeito desta perda é similar ao efeito de perder uma pessoa da família. Se essa
perda reprimida, é como uma ferida interna que permanece aberta, nos tornando
fracos. A ferida só pode se curar quando permitimos que a dor tenha um lugar. À
terra natal é dado um lugar na constelação, onde ela possa ser reconhecida e
apreciada.

Uma situação especialmente difícil, ocorre com filhos e netos de imigrantes. Alguns
rejeitam a terra natal de seus pais – eles querem virar as costas para a velha terra
natal e ficar de frente para a nova. Porém, com isso, perdem uma parte importante
de suas raízes e força. A frase que é apropriada e tem um bom efeito aqui, pode
ser por exemplo: “eu reconheço você como a terra natal de meus pais e lhe dou
um lugar em meu coração”. A criança então, ganha força através do
reconhecimento de suas raízes.

O tema terra natal se torna muito significativo quando trabalhamos com refugiados
ou estrangeiros que trabalham na Alemanha, cujas crianças querem se integrar à
sociedade alemã. O diretor de uma penitenciária para menores, contou-me a cerca
de um grupo de jovens curdos presos que repetidamente, irrompiam em situações
de violência abrupta e incontrolável. Os pais, ao contrário, viviam em paz e bem
adaptados na Alemanha. Eu conduzi uma constelação nessa prisão, com um jovem
que havia sido preso por estupro. Seus pais tinham vindo da Iugoslávia, e eu decidi
posicionar representantes para a Iugoslávia e Alemanha. O jovem não deu
nenhuma atenção para a terra natal de seus pais. Já o representante da Iugoslávia
disse que ele sentia que a chave para a solução estava nele – a terra natal.
Um grande campo de pesquisa está aberto nesse contexto. Uma constelação
familiar conduzida por Bert Hellinger, com um judeu alemão, em Frankfurt, fevereiro
de 1998, trouxe à luz esse tópico. No começo do terceiro Raich, seus pais
mudaram-se para Israel (que ainda era Palestina nesse tempo). O filho nasceu e
viveu lá até os 12 anos. Após isto, viveu na Alemanha e considerava-se um alemão.
Na constelação foram escolhidos representantes para Israel e Alemanha, e esses
foram posicionados. Israel sentiu-se não reconhecido e não visto. Um passo
importante até a solução para os pais e o filho veio quando Israel foi trazido e
reconhecido. Contudo, o filho judeu sentiu-se desconfortável ao lado de seus pais,
alguma coisa ainda parecia estar faltando, ele se sentia como se não tivesse terra
natal. Espontaneamente, Hellinger posicionou uma família que estava presente no
curso como representantes dos palestinos que foram expulsos de Israel. Ele os
posicionou de frente para Israel, e deixou o cliente mudar o lugar de seus
representantes, e este se posicionou ao lado dos palestinos expulsos. Aí, ao lado
dos expulsos, sentiu-se pertinente e pôde relaxar.

A expulsão é sempre uma injustiça contra aqueles que são expulsos. Os que
chegam depois e que tomam a terra nessas condições, aproveitam-se desta
injustiça. O desejo de compensar e expiar aparece então nos filhos e netos dos
agressores. Nessa constelação, a necessidade de compensar mostrou-se no fato
do filho judeu não aceitar Israel como sua terra, mas ao contrário tomar para si os
sentimentos das vítimas de não possuir uma terra.

O que mais nos conecta?

Simplesmente ser humano nos conecta a todos. A partir desse simples fato,
derivam várias ordens e princípios básicos. Usualmente tais ordens tornam-se
claras em uma constelação quando uma pessoa torna-se um assassino. Neste
caso, tudo o mais que se refira à família ou nação, não desempenha nenhum papel.
A culpa permanece forte do mesmo jeito. Ser humano é tudo que é necessário para
estabelecer tal conexão. Mesmo para casais, a nacionalidade não tem nenhum
valor em relação à conexão criada entre homens e mulheres. Ser apenas humano
já fornece uma conexão suficiente.
O que nos conecta? Haverá uma conexão entre todas as coisas vivas? Que ordens
funcionam aí? Poderão tais ordens serem reconhecidas através das constelações?
Quando plantas e animais são destruídos sem consideração ou motivo, ou
exterminados por lucro, então falta a atenção nescessária, e a culpa é o resultado.
Será que nossos filhos, netos ou bisnetos estão tomando essa culpa? E de que
modo? (será que poderíamos encontrar aí as causas para alergias que ocorrem
mais e mais frequentemente?) Até este momento, as ordens acima mencionadas
estão ainda ocultas e permanecem por descobrir. Mas talvez novas portas se
abrirão aqui também, e seremos capazes de ir mais fundo nas profundezas daquilo
que pode se mostrar a nós através das constelações.

Traduzido do inglês do texto original extraído do site do Dr Berthold Ulsamer, com


permissão do autor.

Tradutor: Décio Fábio de Oliveira Júnior

Palestra de Hellinger em
SP

Escrito por Bert Hellinger


Sumário

Muita gente julga que o amor tem o poder de superar tudo, que é preciso apenas
amar bastante e tudo ficará bem. Contudo, a experiência mostra que isto não é
verdade. Muitos pais são forçados a experimentar que, apesar do amor que dão a
seus filhos, estes não se desenvolvem como eles esperavam. São forçados a ver
seus filhos adoecerem, se drogarem ou suicidarem, apesar de todo o amor que lhes
dão. Para que o amor dê certo, é preciso que exista alguma outra coisa ao lado
dele. É necessário que haja o conhecimento e o reconhecimento de uma ordem
oculta do amor.
Ordem e amor

O amor preenche o que a ordem abarca.


O amor é a água, a ordem é o jarro.

A ordem ajunta,
o amor flui.
Ordem e amor atuam juntos.

Como uma linda canção obedece às harmonias,


assim o amor obedece à ordem.
Assim como o ouvido dificilmente se acostuma
às dissonâncias, mesmo quando são explicadas,
assim também nossa alma dificilmente se acostuma
ao amor sem ordem.

Muita gente trata essa ordem


como se ela fosse uma opinião
que se pode ter ou mudar à vontade.

Contudo, ela nos preexiste.


Ela atua, mesmo que não a entendamos.
Não é inventada, mas encontrada.
É por seus efeitos que a descobrimos,
Como descobrimos o sentido e a alma.

Muitas dessas ordens são ocultas. Não podemos sondá-las. Elas atuam nas
profundezas da alma, e freqüentemente as encobrimos com pensamentos,
objeções, desejos e medos. É preciso tocar no fundo da alma para vivenciar as
ordens do amor.

Tomar a vida
Direi primeiro alguma coisa sobre as ordens do amor entre pais e filhos e, do ponto
de vista da criança, isto é, do filho para com seus pais. Aqui menciono algumas
verdades banais. Elas são tão óbvias que eu quase me envergonho de citá-las. Não
obstante, são freqüentemente esquecidas.

O primeiro ponto é que os pais, ao darem a vida, dão à criança, nesse mais
profundo ato humano, tudo o que possuem. A isso eles nada podem acrescentar,
disso nada podem tirar. Na consumação do amor, o pai e a mãe entregam a
totalidade do que possuem. Pertence portanto à ordem do amor que o filho tome a
vida tal como a recebe de seus pais. Dela, o filho nada pode excluir, nem desejar
que não exista. A ela, também, nada pode acrescentar. O filho é os seus pais.
Portanto, pertence à ordem do amor para um filho, em primeiro lugar, que ele diga
sim a seus pais como eles são -- sem qualquer outro desejo e sem nenhum medo.
Só assim cada um recebe a vida: através dos seus pais, da forma como eles são.

Esse ato de tomar a vida é uma realização muito profunda. Ele consiste em assumir
minha vida e meu destino, tal como me foi dado através de meus pais. Com os
limites que me são impostos. Com as possibilidades que me são concedidas. Com
o emaranhamento nos destinos e na culpa dessa família, no que houver nela de
leve e de pesado, seja o que for.

Essa aceitação da vida é um ato religioso. É um ato de despojamento, uma


renúncia a qualquer exigência que ultrapasse o que me foi transmitido através de
meus pais. Essa aceitação vai muito além dos pais. Por esta razão, não posso,
nesse ato, considerar apenas os meus pais. Preciso olhar para além deles, para o
espaço distante de onde se origina a vida e me curvar diante de seu mistério. No
ato de tomar os meus pais, digo sim a esse mistério e me ajusto a ele.

O efeito desse ato pode ser comprovado na própria alma. Imaginem-se curvando-
se profundamente diante de seus pais e dizendo-lhes:"Eu tomo esta vida pelo preço
que custou a vocês e que custa a mim. Eu tomo esta vida com tudo o que lhe
pertence, com seus limites e oportunidades". Nesse exato momento, o coração se
expande. Quem consegue realizar esse ato, fica bem consigo, sente-se inteiro.
Como contraprova, pode-se igualmente imaginar o efeito da atitude oposta, quando
uma pessoa diz: "Eu gostaria de ter outros pais. Não os suporto como eles são."
Que atrevimento! Quem fala assim, sente-se vazio e pobre, não pode estar em paz
consigo mesmo.

Algumas pessoas acreditam que, se aceitarem plenamente seus pais, algo de mau
poderá infiltrar-se nelas. Assim, não se expõem à totalidade da vida. Com isto,
contudo, perdem também o que é bom. Quem assume seus pais, como eles são,
assume a plenitude da vida, como ela é.

E algo que é próprio

Mas aqui existe ainda um mistério que não posso justificar. Com efeito, cada um
experimenta que também tem em si algo de único, algo que é inteiramente próprio,
irrepetível, e não pode ser derivado de seus pais. Isso também ele precisa assumir.
Pode ser algo de leve ou de pesado, algo de bom ou de mau. Isto não podemos
julgar.

A pessoa que encara o mundo e sua própria vida com olhos desimpedidos pode ver
que tudo o que ela faz obedece a uma ordem. Tudo o que ela faz ou deixa de fazer,
tudo o que ela apoia ou combate, ela o realiza porque foi encarregada de um
serviço que ela própria não entende. Aquele que se entrega a tal serviço,
experimenta-o como uma tarefa ou como um chamado, que não se baseia nos
próprios méritos nem na própria culpa (quando for algo de pesado ou cruel). Ele foi
simplesmente tomado a serviço.

Quando contemplamos o mundo desta maneira, cessam as diferenças habituais.


Costumo descrever isto com o dito seguinte:

O mesmo

A brisa sopra e sussurra,


A tempestade varre e se enfurece,
E no entanto
é o mesmo vento,
o mesmo canto.

A mesma água
nos tira a sede e nos afoga,
nos carrega e nos sepulta.

Todo ser vivo se desgasta,


se mantém vivo e se aniquila.
Em ambos os casos,
a mesma força o impele.

Ela é que conta.

A quem servem então as diferenças?

Falei até aqui sobre a ordem fundamental da vida. Foi-nos concedido termos pais e
sermos filhos. E temos também algo de próprio.

Aceitar tudo o mais que nossos pais nos dão

Na verdade, os pais não dão aos filhos apenas a vida. Eles nos dão também outras
coisas: alimentam-nos, educam-nos, cuidam de nós e assim por diante. Convém à
criança que ela tome tudo isso, da forma como o recebe. Quando a criança o aceita
de bom grado, costuma bastar. Existem exceções, que todos conhecemos, mas via
de regra é suficiente. Pode não ser sempre o que desejamos, mas é o bastante.

Nesse particular, pertence à ordem que o filho diga a seus pais: "Eu recebi muito.
Sei que é muito, é o bastante. Eu o tomo com amor". Então ele se sente pleno e
rico, seja qual for a situação. Então ele acrescenta: "o resto, eu mesmo faço". Isto
também é um belo pensamento. Finalmente, o filho ainda pode dizer aos pais: "E
agora eu os deixo em paz". O efeito destas frases vai muito fundo: agora o filho tem
seus pais e os pais têm o filho. Pais e filho estão simultaneamente separados e
felizes. Os pais concluíram sua obra e a criança está livre para viver sua vida, com
respeito pelos seus pais mas sem dependência.

Imaginem agora a situação contrária, quando o filho diz aos pais: "O que vocês me
deram foi errado e foi muito pouco. Vocês ainda estão me devendo muito". O que
esse filho tem de seus pais? Nada. E o que têm dele os pais? Igualmente nada.
Esse filho não consegue soltar-se de seus pais. Sua censura e sua reivindicação o
vinculam a eles, mas de uma forma tal que ele não os tem. Ele se sente vazio,
pequeno e fraco.

Esta seria a segunda lei do amor entre filhos e pais.

O tamanho de criança

Existe algo que os pais adquirem por mérito pessoal. Se a mãe, por exemplo, tem
um dom especial - suponhamos que ela seja pintora e pinte quadros maravilhosos -
então isso pertence a ela e não ao filho. Este não pode reivindicar ser também um
bom pintor, a não ser que o tenha merecido por dotação própria e dedicação
pessoal.

A mesma coisa vale para a riqueza dos pais. O filho não tem o direito de reivindicá-
la, como é o caso da herança. O que ele vier a receber será puro presente.

Isto vale ainda para a culpa pessoal dos pais. Também esta pertence
exclusivamente a eles. Com freqüência, uma criança presume, por amor, tomar
sobre si essa culpa, carregá-la em nome dos pais. Também isto vai contra a ordem.
A criança se arroga um direito que não lhe compete. Quando os filhos querem
expiar pelos pais, estão se julgando superiores a eles. Os pais passam a ser
tratados como crianças, cuidadas por seus próprios filhos, que assumem o papel de
pais.
Uma senhora, que recentemente participou de um grupo meu, tinha um pai cego e
uma mãe surda. Os dois se completavam bem, mas a filha achava que devia cuidar
deles. Quando montei a constelação de sua família, ela se comportou como se
fosse ela a pessoa grande. Porém sua mãe lhe disse: "Esse assunto com seu pai
eu resolvo sozinha". E o pai lhe disse: "Esse assunto com sua mãe eu resolvo
sozinho. Não precisamos de você para isso". Aquela senhora ficou muito
desapontada, porque foi reduzida ao seu tamanho de criança.

Na noite seguinte, ela não conseguiu dormir. Aliás, ela sentia uma grande
dificuldade para adormecer. Perguntou-me se eu podia ajudá-la. Respondi: "Quem
não consegue dormir talvez esteja pensando que precisa vigiar". Contei-lhe então a
história de Borchert sobre o menino de Berlim que, no fim da guerra, tomava conta
de seu irmão morto, para que os ratos não o comessem. O menino estava
esgotado, porque achava que devia ficar vigiando. Nisto, passou por ali um senhor
simpático que lhe disse: "Mas os ratos dormem à noite". E a criança adormeceu.

Na noite seguinte, aquela senhora dormiu melhor.

Portanto, a ordem do amor entre filhos e pais estabelece, em terceiro lugar, que
respeitemos o que pertence pessoalmente a nossos pais e o que eles podem e
devem fazer sozinhos.

Receber e exigir

A ordem do amor entre pais e filhos envolve ainda um quarto elemento. Os pais são
grandes, os filhos pequenos. Assim, o certo é que os pais dêem e os filhos
recebam. Pelo fato de receber tanto, o filho sente a necessidade de pagar.
Dificilmente suportamos quando recebemos algo sem dar algo em troca. Mas, em
relação a nossos pais, nunca podemos compensar. Eles sempre nos dão muito
mais do que podemos retribuir.

Alguns filhos querem escapar da pressão de retribuir e dos sentimentos de


obrigação ou de culpa. Eles dizem então: "Prefiro nada receber, assim não sinto
obrigação nem culpa". Esses filhos se fecham para seus pais e, nessa mesma
medida, sentem-se pobres e vazios. Pertence à ordem do amor que os filhos
digam: "Eu recebo tudo com amor". Assim, eles irradiam contentamento para os
pais, e estes percebem a felicidade deles. Esta é uma forma de receber que é
simultaneamente uma compensação, porque os pais se sentem respeitados por
esse receber com amor. Eles dão, então, com um prazer ainda maior.

Quando, porém, os filhos dizem: "Vocês têm que me dar mais", o coração dos pais
se fecha. Por causa da exigência do filho, eles não podem mais cumulá-lo de amor.
Este é o efeito de tais reivindicações. Esse filho, por sua vez, mesmo quando
recebe alguma coisa, não consegue tomar o que exigiu.

A equiparação

A verdadeira equiparação entre o dar e o tomar na família consiste em passar


adiante o dom. Quando a criança diz: "Eu tomo tudo, e quando eu crescer, eu darei
por minha vez", os pais ficam felizes. A criança, no seu dar, não olha para trás, mas
para a frente. Os pais fizeram o mesmo. Eles receberam de seus pais e deram a
seus filhos. Justamente pelo fato de terem recebido tanto, sentem-se pressionados
a dar, e podem igualmente fazê-lo.

Até aqui, falei das ordens do amor entre filhos e pais.

O grupo familiar

Entretanto, nossa vinculação não se limita aos pais. Pertencemos também a um


grupo familiar, a uma estirpe, um sistema maior. O grupo familiar se comporta como
se fosse dirigido por uma instância comum e superior. Ele é comparável a um
bando de pássaros em formação. De repente, todos mudam a direção do vôo,
como se tivessem sido movidos por uma força superior comum.

No grupo familiar, essa instância superior atua quase como um comando


(Gewissen) interior partilhado por todos, e que atua de modo amplamente
inconsciente. Reconhecemos as ordens a que obedece pelos bons efeitos de sua
observância e pelos maus efeitos de sua violação.

Quero citar, para começar, o círculo de pessoas que são abarcadas e dirigidas por
esse comando interior (Gewissen), cuja amplitude podemos reconhecer por seus
efeitos. Estão nele incluídos:

* Todos os filhos, inclusive os que morreram ou foram abortados;


* Os pais e todos os seus irmãos;
* Os avós;
* Eventualmente, algum bisavô ou até mesmo um antepassado ainda mais distante,
principalmente se teve um destino mau.
* Incluem-se ainda pessoas sem relação de parentesco, a saber, aquelas de cuja
morte ou infelicidade pessoas da família se beneficiaram, como são, por exemplo,
antigos parceiros dos pais e dos avós.

O direito de pertencer

No interior de cada grupo familiar, vale a ordem básica, a lei fundamental: todas as
pessoas do grupo familiar possuem o mesmo direito de pertencer. Em muitas
famílias e grupo familiares, determinados membros são excluídos. Alguns dizem,
por exemplo: "Esse tio não vale nada, ele não pertence a nós", ou então: "Dessa
criança ilegítima nada queremos saber". Com isso, recusam a essas pessoas o
direito de pertencer.

Existem também os que dizem: "Sou católico, você é evangélico. Como católico,
tenho mais direito de pertencer que você". Ou inversamente: "Como protestante,
tenho mais direito, porque minha fé é mais verdadeira. Você é menos crente do que
eu, portanto tem menos direito de pertencer". Isto não é hoje tão freqüente como
antigamente, mas ainda acontece.

Ocorre ainda, quando um filho morre prematuramente, que seus pais dão seu nome
ao filho seguinte. Com isto, estão dizendo ao primeiro: "Você não pertence à
família. Temos um substituto para você". Assim o filho morto não conserva nem
mesmo o seu próprio nome. Com freqüência, não é mais contado nem mencionado.
Assim lhe é negado e retirado o direito de pertencer.

O excesso de moral de alguns, que se sentem melhores e superiores a outros, na


prática significa dizer-lhes: "Tenho mais direito de pertencer que você". Ou, quando
alguém condena uma pessoa ou a considera má, praticamente está lhe dizendo:
"Você tem menos direito de pertencer do que eu". "Bom" significa então: "Tenho
mais direitos", e "mau" significa: "Você tem menos direitos".

Os excluídos são representados

Essa lei fundamental, que assegura a todos o mesmo direito de pertencer, não
tolera nenhuma violação. Quando isso acontece, existe no sistema uma
necessidade inconsciente de compensação, que faz com que os excluídos ou
desprezados sejam mais tarde representados por algum outro membro da família,
sem que essa pessoa tenha consciência do fato.

Quando, por exemplo, um homem casado se relaciona com outra mulher e diz à
própria esposa: "Não quero mais saber de você", inventando falsas razões e
cometendo injustiça contra ela, e depois se casa com a segunda mulher e tem
filhos com ela, sua primeira mulher será representada por um desses filhos. Uma
menina, por exemplo, combaterá o pai com o mesmo ódio da parceira rejeitada,
sem que tenha a menor consciência dessa representação. Aqui atua uma força
secreta de compensação, para que a injustiça feita à primeira pessoa seja vingada
por uma segunda.

Muitos acontecimentos infelizes na família como, por exemplo, desvios de


comportamento dos filhos, doenças, acidentes e suicídios acontecem pelo fato de
que um filho inconscientemente representa um excluído e quer dar-lhe
reconhecimento. Nisso se revela ainda uma outra propriedade da instância
superior. Ela faz reinar justiça para com aqueles que vieram antes e injustiça para
os que vêm depois.
A solução

A solução de um tal emaranhamento torna-se possível quando a ordem básica é


restabelecida, isto é, quando os excluídos voltam a ser acolhidos e respeitados.
Neste caso, por exemplo, a segunda mulher deveria dizer à primeira: "Eu tenho
este homem às suas custas. Eu honro isto e reconheço que foi feita injustiça a
você. Por favor, queira bem a mim e a meus filhos". Desta forma, a primeira mulher
é respeitada. Nas constelações familiares, pode-se perceber então como se relaxa
o rosto da primeira mulher, como ela se torna amigável pelo fato de ser respeitada.
Com isso, é reconhecido o seu direito de pertencer.

A solução exige também que a menina, que imita essa mulher, lhe diga
interiormente: "Eu pertenço apenas à minha mãe e ao meu pai. Aquilo que se
passou entre vocês adultos não tem nada a ver comigo". Ela diz a seu pai: "Você é
meu pai, e eu sou sua filha. Por favor, olhe-me como sua filha". Então o pai não
precisa mais ver nela sua ex-mulher, não precisa mais defrontar-se com o ódio ou a
tristeza que ela possa ter. Ou, se ele ainda a ama, não precisa ver a criança como
sua amante, mas apenas como sua filha. Então a criança pode ser a filha, e o pai
pode ser o pai.

A criança precisa também dizer ao pai: "Esta aqui é a minha mãe. Com sua
primeira mulher não tenho nada a ver. Eu tomo esta como minha mãe. Esta é para
mim a certa". E então ela precisa dizer à mãe: "Com a outra mulher eu nada tenho
a ver". De outra forma, essa criança se tornará uma rival da mãe, e não poderá ser
filha. Talvez a mãe veja nela inconscientemente a outra mulher, e então mãe e filha
entram em conflito como se fossem duas amantes rivais. Mas quando a criança diz:
"Você é minha mãe e eu sou sua filha, com a outra não tenho nada a ver. Eu tomo
você como minha mãe", então a ordem é restabelecida.

Existem contudo emaranhamentos bem mais complicados. Quando, por exemplo,


numa família, um filho morre prematuramente, os filhos sobreviventes carregam
muitas vezes um sentimento de culpa pelo fato de estarem vivos, enquanto seu
irmão está morto. Acreditam que, por estarem vivos, possuem uma vantagem sobre
o irmão falecido. Então eles querem compensar isto, por exemplo, deixando-se ficar
mal, adoecendo ou mesmo desejando morrer, sem que saibam por quê.

Aqui pertence à ordem do amor que eles digam interiormente ao irmão morto:
"Você é meu irmão (minha irmã). Eu respeito você como meu irmão (minha irmã).
Você tem um lugar em meu coração. Eu me curvo diante do seu destino, da forma
como lhe aconteceu, e digo sim ao meu destino, da forma como me foi
determinado". Então a criança morta é respeitada, e a outra pode permanecer viva
sem sentimento de culpa.

A imagem mágica do mundo e suas conseqüências

Por trás da necessidade de compensação, que faz adoecer, atua uma fantasia
mágica, a saber, que eu posso salvar uma outra pessoa de seu pesado destino,
desde que eu tome também algo de pesado sobre mim. É o caso da criança que diz
à mãe gravemente doente: "Antes eu adoeça do que você. Antes morra eu do que
você". Ou ainda, quando a mãe quer abandonar a vida, um filho se suicida, para
que a mãe possa ficar viva.

Um exemplo disto é a magreza compulsiva. O anoréxico vai se tornando cada vez


menor, desaparece, por assim dizer, até a morte. Em sua alma, essa criança diz a
seu pai ou a sua mãe: "Antes desapareça eu do que você". Aqui atua um amor
profundo. Mas quando a criança morre, qual é o efeito desse amor? Ele é
totalmente inútil.

Quando trabalho com uma pessoa com essa compulsão, faço que olhe nos olhos
de seu pai ou de sua mãe e diga: "Antes desapareça eu do que você". Quando ela
os encara nos olhos a ponto de realmente os ver, ela não consegue mais dizer essa
frase, porque percebe que o pai ou a mãe não aceitará isto dela. É que o amor
mágico desconhece o fato de que também a outra pessoa ama e que ela recusaria
isto, independentemente da inutilidade de tal amor.
Quando a mãe morre no nascimento de uma criança, é muito difícil para essa
criança tomar a sua vida. Ela precisaria encarar a mãe nos olhos e dizer: "Mamãe,
mesmo por este alto custo eu tomo esta vida e faço algo de bom com ela, em sua
memória. Você precisa saber que não foi em vão". Isto é amor, num nível mais
elevado. Ele exige o abandono da fantasia mágica de poder interferir no destino de
outra pessoa e mudá-lo. Ele exige a passagem de um amor que faz adoecer para
um amor que cura.

A fantasia do amor mágico está associada a uma presunção, a um sentimento de


poder e superioridade. A criança realmente acha que, através de sua doença e de
sua morte, pode salvar da morte outra pessoa. Renunciar a essa idéia só é possível
pela humildade.

Até aqui falei da ordem do amor na relação entre filhos e pais.

Homens e Mulheres

Quero também dizer mais alguma coisa sobre a ordem do amor na relação do
casal. Este tema nos fala mais de perto. Muitos se envergonham disso, como se
fosse algo que a gente deveria ocultar. Aquilo que diferencia os homens das
mulheres, que realmente os diferencia, é escondido. Ou, pode-se dizer também, é
protegido. Pois é o lugar onde cada um é mais vulnerável. É o lugar próprio da
vergonha. Vergonha significa, neste contexto, que eu guardo alguma coisa, para
que nada de mau aconteça. E é o lugar onde nos sentimos mais entregues.

Alguns falam depreciativamente do instinto sexual e esquecem que ele é a força


real e mais profunda, que tudo mantém unido e dirige, que toma cada pessoa a seu
serviço, sem que ela possa se defender. Pela pura razão, ninguém se casaria ou
teria filhos. Só esse instinto consegue isso. É através dele que estamos em sintonia
mais profunda com a alma do mundo. Esse instinto é o que existe de mais
espiritual. Todo entendimento e toda consideração racional empalidecem diante da
força que atua por detrás desse instinto.
A ordem do amor entre homem e mulher exige portanto, em primeiro lugar, que o
homem admita que lhe falta a mulher, e que ele, por si só, jamais poderá alcançar o
que uma mulher tem. E exige igualmente que a mulher admita que lhe falta o
homem, e que ela, por si só, jamais poderá alcançar o que o homem tem. Então
ambos se experimentam como incompletos e admitem isto.

Quando o homem admite que precisa da mulher e que só através dela se torna um
homem, e quando a mulher admite que precisa do homem e só através dele se
torna uma mulher, então essa carência os liga um ao outro, justamente pelo fato de
a admitirem. Então o homem recebe o feminino como presente da mulher, e a
mulher recebe o masculino como presente do homem.

Imaginem agora um homem que desenvolve em si o feminino e uma mulher que


desenvolve em si o masculino, como muitos consideram ideal. Se esse homem
quiser se ligar a essa mulher, qual será a profundidade dessa relação? No fundo,
eles não precisam um do outro. Inversamente, quando o homem renuncia ao
feminino e a mulher ao masculino, então eles precisam um do outro e isto os
mantém juntos.

O vínculo

Quando o homem e a mulher se aceitam mutuamente como tais, a consumação de


seu amor cria um vínculo. Esse vinculo é indissolúvel. Isto nada tem a ver com a
doutrina moral da Igreja sobre a indissolubilidade do matrimônio. A realização do
amor cria uma ligação, independentemente do casamento e de qualquer rito
externo.

A existência de uma tal ligação é percebida pelos seus efeitos. Por exemplo, o
homem que se separa levianamente de uma parceira a quem estava vinculado
dessa forma pela consumação do amor, via de regra não conseguirá conservar
uma segunda parceira num outro relacionamento. Pois esta percebe o seu vínculo
com a parceira anterior, e não ousa tomá-lo plenamente. Quando um homem
abandona uma mulher e se casa de novo, talvez sua segunda mulher se considere
melhor que a primeira e diga: "Agora eu o tenho para mim". Ela entretanto o
perderá. Nesse próprio triunfo o perde, pois reconhece o vínculo desse homem com
a sua primeira mulher.

Então ela não o assumirá completamente. Nas constelações familiares, pode-se


perceber que uma segunda mulher se distancia um pouco do homem. Ela não ousa
colocar-se perto dele, pelo fato de não ser sua primeira ligação, mas a segunda.

A profundidade de um tal vínculo pode ser avaliada pelo seu efeito. A separação do
primeiro amor é a mais difícil de se conseguir. É a mais dolorosa. Quando uma
segunda ligação se desfaz, a dor é menor. Numa terceira, é ainda menor.

Essa ligação não é porém sinônimo de amor. O amor pode ser pequeno e o vínculo
profundo. Inversamente, o amor pode ser profundo e a ligação pequena. O vínculo
se origina do ato sexual. Por isto, ele também nasce de um incesto ou de um
estupro. Para que mais tarde uma nova ligação seja possível, é preciso que a
primeira seja corretamente resolvida. Ela é resolvida quando é reconhecida e
quando é honrado o respectivo parceiro. Quem amaldiçoa o primeiro vínculo
impede uma ligação ulterior.

A ordem de precedência

O fruto do amor entre o homem e a mulher são os filhos. Também aqui é importante
observar uma ordem do amor, uma ordem de precedência no amor. Ela se orienta
pelo começo. Isto significa que o que vem antes tem, via de regra, precedência
sobre o que vem depois. Numa família, existe primeiro o casal homem-mulher. Seu
amor funda a família. Por isso, seu amor como homem e mulher tem precedência
sobre tudo o que vem depois, portanto, sobre seu amor de pais por seus filhos.
Muitas vezes acontece nas famílias que os filhos atraem sobre si toda a atenção.
Então os pais não são antes de tudo um casal, mas pais. Com isto os filhos não se
sentem bem.

Quando a relação do casal tem prioridade, o pai diz a seu filho: "Em você, eu
respeito e amo também a sua mãe". E a mãe diz ao filho: "Em você, eu respeito e
amo também o seu pai". E a mulher diz ao homem: "Em nossos filhos, eu respeito e
amo a você". E o homem diz à mulher: "Em nossos filhos, eu respeito e amo a
você". Então o amor dos pais é a continuação do amor do casal. Este tem a
prioridade. Os filhos então se sentem muito bem.

Várias famílias são segundas e terceiras famílias, quando o homem e a mulher já


eram casados anteriormente e trouxeram filhos do matrimônio anterior. Como é
então a ordem de precedência?

Eles são primeiramente pai e mãe de seus próprios filhos, e só depois disso
constituem um casal. Por conseguinte, seu amor como casal não pode continuar
nos filhos, pois já foram pais anteriormente. Então, o novo parceiro deve
reconhecer que o outro é, em primeiro lugar, pai ou mãe dos próprios filhos, e que
seu maior amor e sua maior força fluem para eles e, neles, naturalmente, também
para o parceiro anterior. Só então seu amor e sua força fluem para o novo parceiro.
Quando ambos os parceiros reconhecem isto, seu amor pode ser bem sucedido.
Quando, porém, um parceiro diz ao outro: "Eu tenho prioridade em seu amor, e só
então vêm seus filhos", a relação fica em perigo. Essa situação não se mantém por
longo tempo.

Se eles mais tarde têm filhos em comum, então são, em primeiro lugar, pai e mãe
dos filhos do primeiro casamento; em segundo lugar, são um casal e, em terceiro
lugar, são pais de seus filhos comuns. Esta seria a ordem, neste caso. Quando se
sabe disto, pode-se resolver ou evitar conflitos em muitas famílias.

Falei até aqui sobre algumas ordens do amor na relação entre o homem e a mulher.
Para terminar, contarei a vocês uma história sobre o amor. Ela é assim:

Dois modos de ser feliz

Antigamente, quando os deuses ainda pareciam bem próximos dos homens, viviam
numa pequena cidade dois cantores que se chamavam Orfeu.
Um deles era o grande. Tinha inventado a cítara, um tipo primitivo de guitarra.
Quando tocava o instrumento e cantava, toda a natureza ficava enfeitiçada em
torno dele. Animais ferozes se deitavam mansamente a seus pés, árvores altas se
inclinavam para ele: nada podia resistir a seus cantos. Pelo fato de ser tão grande,
ele conquistou a mais bela mulher. E aí começou a descida.

Enquanto ele ainda festejava o casamento, morreu a bela Eurídice, e a taça cheia,
que ele erguia nas mãos, se partiu. Contudo, para o grande Orfeu, a morte ainda
não foi o fim. Com a ajuda de sua arte requintada, encontrou a entrada para o
mundo subterrâneo, desceu ao reino das sombras, atravessou o rio do
esquecimento, passou pelo cão dos infernos, chegou vivo diante do trono do deus
da morte e o comoveu com seu canto.

A morte liberou Eurídice -- porém sob uma condição, e Orfeu estava tão feliz que
não percebeu o que se escondia por trás desse favor. Orfeu pôs-se a caminho de
volta, ouvindo atrás de si os passos da mulher amada. Passaram ilesos pelo cão de
guarda do inferno, atravessaram o rio do esquecimento, começaram o caminho
para a luz, que já viam de longe. Então Orfeu ouviu um grito - Eurídice tinha
tropeçado - horrorizado, ele se voltou, viu ainda a sombra dela caindo na noite e
ficou sozinho. Esmagado pela dor, ele cantou sua canção de despedida: "Ai de
mim, eu a perdi, toda a minha felicidade se foi!"

Ele próprio voltou à luz. Entretanto, no reino dos mortos, passara a estranhar a
vida. Quando mulheres ébrias quiseram levá-lo à festa do novo vinho, ele se
recusou, e elas o despedaçaram vivo.

Tão grande foi sua desgraça, tão inútil foi sua arte. Entretanto, todo o mundo o
conhece.

O outro Orfeu era o pequeno. Era apenas um cantor de rua, aparecia em pequenas
festas, tocava para gente humilde, alegrava um pouco e curtia isso. Como não
conseguia viver de sua arte, aprendeu um ofício comum, casou-se com uma mulher
comum, teve filhos comuns, pecou eventualmente, foi feliz de modo comum, morreu
velho e satisfeito da vida.

Entretanto, ninguém o conhece - exceto eu!

-----------------------------------

Original: Wie Liebe gelingt,


Palestra proferida por Bert Hellinger, em S.Paulo, Agosto de 1999 em original
manuscrito.

Tradução: Anand Udbuddha (Newton Queiroz) , Rio de Janeiro


Revisão: Mimansa Erika Farny, Caldas Novas

Novembro de 2000

Alfa e ômega - palestra de Hellinger em NY


2001

Escrito por Bert Hellinger


Conteúdo

• 1. O Alfa e o Ômega
• 2. Diante do fim
• 3. Alma
• 4. Sobre a espiritualidade
• 5. Amor
• 6. Paz de espírito

Pronunciamento feito em um Workshop em Nova York – Junho / 2001 – Alfa e


Ômega
(veja mais acerca do Instituto Ômega mencionado acima, no site do Institututo
Ômega pra estudos hollísticos www.eomega.org , onde Bert Hellinger deu um
workshpop com Dietrich Klinghardt, de 04 a 08 de junho de 2001)

Tradução do inglês (com permissão expressa de Bert Hellinger) por Décio Fábio de Oliveira Júnior - reprodução proibida

1. O Alfa e o Ômega

Na última noite, quando eu cheguei no Instituto Ômega, eu estava um pouco


perdido. Enquanto eu esperava minha bagagem, decidi caminhar um pouco. Eu
cruzei com um homem. Ele era um estranho para mim, mas eu pensei que ele me
parecia de alguma forma familiar. De início, eu estava muito tímido para iniciar uma
conversa com ele. Então eu pensei que ele poderia ser Jesus. E assim eu perguntei
para ele “o que você está buscando aqui?” Ele disse, “eu estou procurando pelo
alfa”.

Então eu peguei a minha bagagem e perdi o homem de vista. Quando eu tentei


encontrá-lo novamente, ele tinha desaparecido. Mas por causa de sua resposta,
durante a noite inteira, eu pensei a cerca do alfa. O que é o alfa?

O alfa é o começo, a fonte. O que eu tenho buscado no meu trabalho é na verdade


o alfa, a fonte a partir da qual tudo emerge, da qual tudo brota. Deste modo, em
meu trabalho pessoal e em meu trabalho com os outros, eu sempre olho para ver
onde está o começo e onde está a força original.

Toda terapia, como eu a compreendo, tem que ir em direção à fonte. Para cada um
de nós, a fonte é, primeiro de tudo, nossos pais. Se nós estamos conectados com
eles, estamos conectados com nossa fonte. Uma pessoa que está separada de
seus pais, está separada de sua fonte. Quem quer que esses pais sejam, como
quer que eles se comportem, eles são a fonte de vida para nós. Assim, a coisa
principal, é que nós estejamos conectados a eles de tal forma, que aquilo que vem
deles para nós possa fluir livremente e, através de nós, para aqueles que vêm a
seguir.

Eu tenho uma imagem da fonte. Eu penso em um rio. Ele começa em sua fonte. Ela
brota a partir da terra, e então não tem que buscar um caminho. Ela encontra esse
caminho automaticamente, devido ao fato de sempre permanecer abaixo. O
progresso do rio é ir cada vez mais para baixo e permanecer baixo. Seu fluxo é
sempre para baixo, nunca para cima. Ele sempre segue para baixo. No final ele
encontra o oceano, onde é absorvido por algo maior.

Muitas experiências espirituais buscam o pico. “Experiências de pico”, é como são


chamadas. Mas estar no pico significa que não estamos mais conectados com a
fonte. Permanecer abaixo, penso eu, é o caminho real de estar em sintonia com
tudo o que é.

Agora, eu tenho um determinado sentimento quando eu fico em pé na frente dos


meus pais, quando eu permaneço ereto em frente a eles. Se eu me dobrar de
joelhos, eu tenho um sentimento diferente. E se eu deitar bruços em frente deles,
em reverência, eu tenho um outro sentimento. E este é o verdadeiro sentimento, no
fundo. Uma vez que nós deitamos de bruços, em reverência, totalmente entregues
em frente aos nossos pais, então tudo o que vem deles pode nos alcançar
livremente. Não há nenhuma resistência de nossa parte.

Não importa como nossos pais são agora ou eram quando éramos pequenos. Isso
não faz nehuma diferença. A vida e tudo o que vem com ela, veio para nós através
deles. Mas eles também, pertencem a uma longa linhagem. O que vem para nós a
partir dos pais vem de muito longe. Passa através de nós e vai para baixo. Todo o
tempo, vai para baixo. Se nós realmente vemos isto, se olhamos para a origem, a
fonte da vida em si mesma e observamos seu fluxo através de todas essas
gerações, podemos, então, estar abertos àquilo que nos é dado. Então não há mais
acusações, nenhuma queixa de nenhum tipo. Nós apenas tomamos a vida, e então
nos viramos e deixamos que o fluxo da vida passe através de nós indo para a
próxima geração, para nossas crianças, ou se não temos crianças, para a
comunidade, para a humanidade como um todo. Então, nós estamos realmente em
sintonia.

As constelações familiares realmente nos ajudam a encontrar essa conexão. Este é


o trabalho que está em nossas mãos, este é o objetivo. Se eu alcanço isso, eu
estou em contato com o alfa e também com o ômega.

2. Diante do fim
Após trabalhar com paciente canceroso, deixando-o em face à sua doença e sua
morte.

Vocês podem ver a diferença entre a força dele agora, comparado a como ele se
sentia antes. Nessa situação, isto é o que é necessário, ficar frente a frente com o
fim. Se somos realmente capazes de nos colocar de frente a ele, então nos
sentimos melhores, estamos em contato com a fonte da vida. Porque a vida e a
morte pertencem, juntas, à mesma coisa. Nós temos vida por que outros morreram
antes. A morte de outros abriu o caminho para nossa vida. E se nós morremos, a
vida irá para outros. Nós abrimos espaços para eles. Este é o ciclo do qual fazemos
parte. Nós podemos viver nossas vidas plenamente, se estamos em sintonia com o
nosso fim. Esta compreensão demanda do terapeuta, que ele ou ela, esteja em
sintonia com a sua própria morte e não tema a sua morte pessoal nem a morte do
cliente. Então ele se sente muito calmo. Isto é tudo o que eu tenho a fazer. Se eu
for tentar qualquer coisa mais, eu o afasto daquilo que ele tem experimentado.

3. Alma

Eu quero falar alguma coisa sobre “alma”. Nós, na sociedade ocidental, temos a
idéia de que possuímos uma alma. Isto vem da filosofia grega, em granda parte, de
Platão. A idéia é que nós temos um corpo, e este corpo envolve uma alma. Assim a
alma é prisioneira do corpo. Essa alma não se sente feliz no corpo. Ela tende a
deixar o corpo após um tempo. De modo a ajudar a alma a deixá-lo, nós primeiro,
temos que salvá-la. Você já ouviu acerca disso? Salvar a alma? Não é uma idéia
estranha quando você pensa sobre isso, que nós temos que salvar nossas almas?

Quando trabalhamos com constelações familiares, nos é mostrado que estamos


conectados a uma força maior. Essa força maior é plena de sabedoria e está
ativamente nos dirigindo para uma meta. Nós podemos vê-la em uma família.
Todos os membros da família agem como se guiados pela mesma força ou pela
mesma consciência, como se todos tivessem uma consciência comum. Isto, é
porque nós estamos conectados com as pessoas do passado que tiveram um
destino especial.

Em outras palavras, se, digamos, alguma injustiça foi feita para eles, nós podemos
agora estar emaranhados com eles. Como isto é possível? Como é possível que a
injustiça feita para alguém no passado seja tomada por outros membros da família
que nunca sequer conheceram essa pessoa? Como pode essa segunda pessoa ser
compelida a reparar uma injustiça feita na geração anterior? Tem de haver uma
força comum que atua sobre eles.

Eu também tenho a idéia de que nós só podemos viver como seres humanos se
estamos conectados todo o tempo com alguma coisa fora de nós. Qualquer troca
com o ambiente tem que ser guiada por alguma coisa que nos une, o ambiente e
nós, de tal forma que podemos interagir de um modo integrado. A evolução é
movida por uma constante troca, e há uma força que guia, que empurra a evolução
para a frente. Esta força maior eu chamo de alma.
Quando eu trabalho aqui, eu tenho que estar em contato com essa alma maior.
Essa alma me guia de tal forma que eu possa estar em sintonia com a outra
pessoa. Tão logo eu estou em sintonia, eu posso trabalhar com ele ou ela e fazer
exatamente aquilo que é necessário no contexto particular dessa pessoa. Deste
modo, eu não estou apenas pensando naquilo que é certo, eu não estou teorizando
acerca disto, eu acho os próximos passos necessários, pois estou em sintonia com
a pessoa.

A alma tem diferentes dimensões. Aquilo que eu vou falar agora são imagens
construídas para apenas tocar uma idéia, não são a verdade em si, mas algumas
observações sugerem que se pensamos nesses termos ou imagens, nós
compreendemos melhor o que acontece na terapia.

Nosso corpo é mantido unido por uma força comum. Todo o metabolismo é dirigido
por algo que sabe aquilo que é correto. Não é uma força cega que dirige o que
acontece no corpo. Essa força tem uma direção. Essa força é a alma. A alma
mantém os órgãos juntos e os guia de um certo modo, de tal forma que a vida é
preservada e continua. Esta é a minha noção de alma com respeito ao corpo.

A família como um todo é também guiada por uma alma comum, a alma da família.
Nós podemos ver o quão longe esta alma alcança, nós podemos descobrir a
fronteira dessa alma. E assim podemos perceber quem se encontra incluído ou
excluído dentro da alma desta família. Quem pertence à alma da família? Primeiro,
as crianças, todas elas.Mesmo aquelas que nasceram mortas estão incluídas.
Frequentemente, crianças abortadas, mesmo se foram abortos espontâneos,
também são incluídas. A seguir, os pais, seus irmãos e irmãs pertencem a esse
grupo, assim como os avós e algumas vezes os bisavós. Esses são os parentes de
sangue que são incluídos dentro da alma da família.

Além do mais, há outras pessoas incluídas na alma da família que não são
parentes. Aqueles que abriram caminho para que alguém entrasse no sistema. Por
exemplo, os parceiros anteriores de um dos pais ou avós, que por sua morte ou
divórcio, abriu espaço para uma outra pessoa entrar nesse sistema – nossa própria
mãe ou pai talvez, ou nossa avó ou avô. Aqueles que abriram espaço pertencem à
família, pois contribuiram para esse sistema em particular.

Como os trabalhos mais recentes têm tornado claro, todas as vítimas que sofreram
nas mãos de um membro da família, também pertencem a esse sistema. Eu vou
oferecer a vocês um exemplo: em São Paulo, Brasil, nós posicionamos a família de
uma mulher, cujo irmão era psicótico e usuário de drogas. Quando a família foi
posicionada, tornou-se claro que ele estava conectado com alguém que não havia
sido mencionado, nem lembrado. Ele olhava para fora. Assim sendo, eu perguntei o
que havia acontecido nas gerações anteriores. E veio que o bisavô era um
latifundiário e tinha escravos. O bem estar da família dependera em grande parte
do trabalho e sofrimento desses escravos. Então posicionamos seis representantes
para os escravos. Quando eles foram colocados, o representante do jovem homem
mostrou um profundo amor por eles. Ele foi até eles, abraçou-os, chorou e sentiu
uma conexão muito profunda com eles. Esses escravos pertencem a esse sistema
familiar.

Nós também posicionamos o bisavô, ele não tinha nenhuma compaixão pelos
escravos e a mãe, também não tinha compaixão por eles. E foi esse jovem homem,
usuário de drogas, que estava em conexão mais próxima com eles. Ele era movido
pela alma da família. Se há vitimas na família, (por exemplo, na Alemanha, as
vítimas do holocausto) é claro que essas vítimas pertencem à família, mas seus
assassinos também pertencem ao sistema da família. Isto é mostrado quando
posicionamos uma família de sobriventes do holocausto ou seus descendentes.
Nessas famílias um membro freqüentemente tem de representar os agressores.
Somente quando os agressores são incluídos, a família pode encontrar paz.

O que significa incluir os agressores? Eles precisam ser amados como seres
humanos, nós não podemos excluí-los através de nossas justificativas morais. Eles,
também, mesmo que isso nos pareça horrível, estão seguindo suas conciências.
Eles estão ligados ao seu grupo e, aquilo que fizeram foi feito a serviço do seu
grupo, muito frequentemente com uma boa consciência. Deste modo, eles são, de
certo modo, não muito difrentes de suas vítimas. Nós podemos ver nas
constelações familiares que as vítimas só encontram paz se os agressores são
aceitos por elas como iguais. E os agressores só acham a paz se eles se
posicionam ao lado de suas vítimas.

Tivemos uma constelação em Buenos Aires – Argentina – há 06 semanas atrás.


Havia um homem que disse temer ser, ele próprio, um perigo para suas crianças.
Quando ele estava dirigindo, subitamente percebeu que dirigia de maneira
descuidada, sem levar em consideração a segurança de seus filhos. Ele temia que
pudesse causar sua própria morte e a das crianças num acidente de carro. Ele era
um descencente de sobreviventes do holocausto. Deste modo, posicionamos
representantes das vítimas e representantes para os agressores. Quando eles
foram posicionados, o homem chorava aos gritos, totalmente preenchido de dor, e
socava o chão violentamente. Sua energia era a energia de um agressor, mas ele
não conseguia olhar para as vítimas. Levou muito tempo para que ele, finalmente,
fosse capaz de olhar pra elas.
Finalmente ele foi até cada um dos representantes das vítimas que estavam
deitados no chão e os abraçou com profundo amor. Ele então, foi até cada um dos
agressores e tocou suas faces com amor. Os agressores se tornaram muito mais
leves e a constelação terminou. Então o homem sentou-se sozinho por um tempo,
eu fui até ele e disse “agora imagine suas crianças na sua frente”. Ele as olhou e eu
disse “diga a elas: -- agora eu cuido de vocês”. Ele foi capaz de dizer a sentença de
uma maneira amável e totalmente em contato com o seu próprio coração.

Vêem como todos precisam ser incluídos no fim? O que isso mostra? Que todos os
seres humanos são guiados por uma força que está além deles mesmos. O que
quer que uma pessoa faça, seja o bem ou seja o mal, tem que ser visto não apenas
como sua própria responsabilidade (embora ela tenha uma certa responsabilidade),
tem que ser entendido dentro de uma visão mais ampla, onde atuam forças
maiores.

Como devemos lidar com essa força maior? Nós temos que nos curvar diante dela,
em profunda reverência e sermos muito humildes. Então, estaremos unidos naquilo
que eu chamo, a grande alma. Em conexão com esta grande alma seremos
capazes de fazer o trabalho aqui.

4. Sobre a espiritualidade

Eu quero dizer algo sobre a espiritualidade. O instituto Ômega é um lugar espiritual,


como eu aprendi aqui. Há muita busca por realização espiritual. Eu direi algo mais
sobre esta busca a partir de minha própria perspectiva, desenhada a partir de
minha própria experiência.

Como eu mencionei esta manhã, a busca por iluminação espiritual freqüentemente


reflete o desejo de alcançar a experiência de pico. O pico é um local altamente
solitário, muito solitário. Poucas pessoas podem permanecer lá por um longo
tempo. Mas, uma vez que elas tenham escalado o pico, ficam com medo de fazer o
caminho de volta para baixo. Subir ao pico custou tal quantidade de esforço, que
elas se preocupam com o que farão quando voltarem ao vale. Assim, elas
permanecem no meio do caminho, entre o pico e o vale, sem ter nem um, nem o
outro.

A maior realização espiritual é a mais humilde. Quando eu vejo pessoas que estão
fazendo meditação por muito tempo, esperando a iluminação , eu me pergunto: em
que elas estão contribuindo para a raça humana como um todo? E a resposta que
me retorna é: em nada.

Uma vez eu falei com um mestre Zen na Alemanha que muito freqüentemente ia
para Kyoto, no Japão, participar de sessões Zen. Eles tinham sessões por 10 dias,
meditando cada dia, 10 horas ou mais, alguns chegando a 16 horas ao dia. Ele me
disse que eles ficavam plenos de energia após isto. Eu perguntei o que eles faziam
com esta energia. Ele me respondeu: “Bem, vamos para a cidade e nos divertimos
com as gueixas.” Eu questiono se esta era a extensão da realização das sessões e
pensei que isto era estranho, muito estranho.

O Zen foi, originalmente, concebido como um caminho para os guerreiros


aprenderem como lutar efetivamente. Neste contexto, o Zen tem significado. Sem
ele, a meditação não tem significado.
Quando comparado com uma mãe que cria 5 crianças, que força tem um monge
que passa sua vida meditando? A tarefa da mãe é verdadeiramente espiritual,
humilde e humana, bem do “vale”.

Além do mais, quando as pessoas falam de espiritualidade, eu vejo que aquilo que
elas desejam realmente obter é – devo eu dizer isso tão abertamente? – sua
mamãe. A busca pela espiritualidade, por realização espiritual, muito
frequentemente, é a busca pela mamãe. O que ocorreu o Buda realmente? Ele
perdeu a sua mãe ao nascer. Isto foi o que aconteceu. Isto foi, mais tarde, nublado
por todo tipo de história, incluindo aquela de quando ele viu uma pessoa morta pela
primeira vez, ele mudou sua vida e deixou sua esposa e filho. Mas a primeira
pessoa morta que ele conheceu, na profundidade de seu coração, foi sua mãe, que
morreu no parto, durante o seu nascimento. Se temos isso em mente, podemos
entender seus ensinamentos sobre escapar do sofrimento. São os ensinamentos de
uma criança que perdeu sua mamãe ao nascer.

Agora, eu não digo que os ensinamentos do Buda devam ser descartados. O


budismo é um grande movimento e tem tido grandes efeitos na humanidade. Eu
não questiono isto de forma alguma. Apesar disto , se você olha deste ponto de
vista, voce vê que é algo comum também. É um movimento humano comum. Eu
não posso ver o que ele tem a ver com as coisas além. Eu também tenho
observado que quando as pessoas tomam um caminho espiritual e se tornam
esotéricas, elas freqüentemente se recusam a cuidar de suas crianças ou,
abandonam suas esposas. Elas se recusam a permanecer nas relações humanas
ordinárias e assumir responsabilidades comuns que custam algo. Elas se desviam
daquilo que é terreno para um nível chamado espiritual. Mas são totalmente auto-
centradas. Elas podem dizer acerca de perder seu ego, mas sobre o que elas estão
meditando? Sobre o seu ego, é claro. E o que dizer acerca do seu desejo de
iluminação? Para que elas querem isso? Para o seu ego, é claro. Há uma grande
decepção nisso tudo.

Agora, há um outro caminho espiritual: a noite escura da alma. Na Espanha, São


João da Cruz ensinou sobre a noite escura da alma. Este treinamento espirirual
leva um longo tempo. Você não pode exercitá-lo ou desejá-lo. Ele acontece com
você. A noite escura acontece com você. E uma vez que ela vem, você não sabe
mais para onde ir. Tudo é escuro, e você se sente desolado, sem direção. Mas
você é forte o suficiente para sustentar isso. E depois de um tempo, você
experimenta a noita escura da alma.

A noite escura da alma tem três partes. Primeiro, há a noite escura dos sentidos, na
qual você não está mais buscando algo que agrade aos olhos, ouvidos, ou qualquer
outro sentido. Isto não é porque você deva desvalorizá-los de qualquer modo, pois
então seria uma resposta num nível diferente. Não, isto é porque você está
conectado com algo mais profundo, um lugar onde é muito calmo, muito tranquilo.
Neste nível, você não precisa mais olhar para fora ou escutar algo. É um lugar
muito grande.

Em outras palavras, o caminho espiritual requer, especialmente abstenção de todas


as intenções de alcançar “altas realizações”. Você permanece no “vale” todo o
tempo.
A segunda parte desta noite é muito difícil. É a noite escura do espírito. Isto
significa que você deixa ir seu desejo de saber. Você não faz perguntas como: Por
que? O que é? O que foi? O que acontece depois? Não, você permanece separado
dessa nessecidade de saber.

Há ainda uma outra parte: a noite ecura do desejo. Você não mais quer alcançar
algo. Se você tem um plano, por exemplo, você quer aprender a fazer constelações
familiares e dar muitos cursos, isto é uma coisa boa, talvez. Mas se você tem um
plano de mudar o mundo através delas, você está desconectado da fonte real. Se
você deixar esses planos grandiosos irem embora – se você não quizer curar as
outras pessoas, ou fazer do mundo um lugar melhor, se você só permanecer
consigo mesmo – então um outro caminho se abre para você. Pode ser que você
tenha então, o impulso para dar apenas um pequeno passo, e seguindo esse
impulso, você descobre mais que todos os planos do mundo poderiam ter dado a
você.. Agora você está subitamente em conexão com algo mais, você está em
sintonia com alguma coisa maior. Assim, ao final desta discussão, estamos de volta
àquilo que eu falei esta manhã, o alfa.

5. Amor

Outro dia eu estava pensando sobre o amor. Eu imaginei que alguém dissesse a
outra pessoa “eu amo você”. Um marido diz isso para sua esposa, um homem fala
isso para sua mulher, “eu amo você”. Isto toca o coração de ambos. Mas isso tem
força? Será que o amor que é expressado neste momento, é forte o sufuciente para
durar uma vida, mesmo quando as dificuldades vierem? Não, ele é muito fraco.
Deve haver alguma coisa que precisa ser adicionada a esta sentença.”Eu amo
você” precisa ser seguido de “e aquilo que me guia e guia você”. ”Eu amo você e
aquilo que me guia e guia você”. Se ambos os parceiros dizem isso, a afirmativa
tem força. Mas o que isso significa na vida real? Significa que eles podem estar
juntos por um tempo, dividir um mesmo caminho por um tempo, mas então pode
acontecer que eles sejam levados em direções diferentes. Neste momento, quando
eles se separam, em um nível, eles podem ambos dizer ”Eu amo você e aquilo que
me guia e guia você”. Mesmo se há uma separação ou um distanciamento ligado a
isso, o amor permanece em um nível muito profundo. Este tipo de amor é a base do
respeito. Eu respeito uma pessoa, quando eu digo à ela ”Eu amo você e aquilo que
me guia e guia você. E eu amo você exatamente como você é, porque eu vejo
aquilo que nos guia”. E para o auto-respeito, é o mesmo. Eu olho para mim mesmo,
exatamente como sou, e digo “sim, eu amo a mim mesmo e àquilo que me guia”.

Entre pais e filhos temos a mesma situação. Os pais olham suas crianças e dizem
“eu amo vocês e àquilo que guia vocês e a mim”. E as crianças olham para seus e
dizem “eu amo vocês e àquilo que guia vocês e a mim”. Assim, eles são todos
indivíduos e ao mesmo tempo estão conectados de uma maneira muito profunda.

No primeiro dia deste seminário, um homem veio aqui para trabalhar e nós todos
vimos sua ansiedade. A pergunta para mim foi: “o que eu devo fazer?” E eu disse:
“eu amo você e àquilo que guia você e a mim”. E dessa forma, eu não vou além
daquilo que me é permitido por aquilo que me guia internamente. E eu concordo
com aquilo que o está guiando, mesmo que isto o leve à morte. Com base neste
profundo respeito mútuo e amor alguma coisa pode fluir entre o cliente e o
terapeuta. Não há diferença real entre eles. Estão todos no mesmo nível todo o
tempo. E eles se curvam a algo maior.
6. Paz de espírito

Eu quero dizer algo sobre a paz. Alguma vezes falamos sobre paz de espírito. O
que é paz de espírito? Se nós concordamos com tudo o que é dentro de nós, então
encontramos paz de espírito. Se não objetarmos a algo que está dentro de nós,
então temos paz de espírito. E se nós concordamos com tudo o que aconteceu em
nossa família, nossos pais, nossos irmãos, nossos ancestrais, nossos destinos,
então temos paz de espírito. Se nada está em oposição à alguma coisa, então nós
temos paz de espírito. E se nós temos paz de espírito, então temos paz com a
nossa família também. Se você tem crianças e concorda com elas como são,
exatamente como são, com seus destinos especiais, suas dificuldades, seus
talentos, seu amor especial, você então está em paz com a sua família. Se você
concorda com o seu parceiro deste modo, como ele ou ela é, sem qualquer desejo
de mudá-lo, você tem paz de espírito. E se você tem de lidar com outros grupos
que algumas vezes parecem ser difíceis ou estar em oposição a você, e você
concorda com eles como eles são, exatamante como são, você se torna irresistível.

De fato, você pode estender esta atitude para diferentes raças, religiões, nações.
Se você concorda com eles como são, exatamente como são, não há mais
nenhuma oposição. Você está em paz com eles, e eles, certamente, podem ficar
em paz com você.

Palestra de Hellinger em Kyoto


2001

Escrito por Bert Hellinger


Palestra em Kyoto – As constelações familiares e a consciência coletiva
Bert Hellinger

Pronunciamentos de Bert Hellinger em Outubro de 2001 num workshop de Kyoto –


Japão. (Bert Hellinger estava acompanhado por Harald Hohnen)

A consciência oculta

As diferenças culturais entre o ocidente e o oriente

A Consciência coletiva esquecida

A vinculação pelo sexo

A noite escura da alma

A atitude terapêutica

Eu quero dizer algo sobre este tipo de trabalho. É conhecido como constelação
familiar. A constelação familiar é um método que visto de fora parece muito simples.
Se um cliente tem um problema, é então solicitado a selecionar representantes para
membros de sua família e colocá-los uns em relação aos outros. Tão logo isto é
feito, os representantes sentem-se como as pessoas que estão representando,
mesmo sem saber nada sobre elas. Isto é um fenômeno muito estranho. Se nós o
tomamos seriamente, nós temos que dizer adeus a muitas de nossas noções sobre
a alma humana.

Eu quero explicar agora algo sobre o que está por trás de importantes insights que
vem à luz através deste método.

A consciência oculta

Durante um período de anos eu tenho visto que somos guiados por uma
consciência coletiva oculta (inconsciente). Isto significa que os membros de uma
família estão sob a influência de uma consciência que é comum a todos eles. Esta
consciência é oculta, inconsciente. Eu tenho pensado muito sobre a origem de tal
tipo de consciência. Eu imagino que no começo da raça humana, havia grupos
pequenos de pessoas, eles viviam em grupos de 20-30 pessoas. Eles todos agiam
de um certo modo. Eles TINHAM que agir do mesmo modo para sobreviver. Deste
modo, os membros individuais deste grupo , todos eles, olhavam (zelavam) pelo
benefício do grupo como um todo. Eles não poderiam manter desejos pessoais que
fossem contra o benefício do grupo como um todo. E, de fato, neste grupo, cada
membro era importante. Eles não podiam se dar ao luxo de perder um de seus
membros. E ninguém podia deixar o grupo sem ficar em perigo de morrer
rapidamente.

Assim, houve uma experiência básica na qual todos pertenciam juntos e um


dependia do outro. Eles não precisavam pensar sobre o que era certo para eles.
Havia uma força oculta que os movia nesta direção. Se eles não devotassem toda a
energia para o benefício do grupo, se sentiam mal, se sentiam culpados. Este
sentimento os motivava para mudar seu comportamento de modo que eles
pudessem novamente devotar toda sua energia para o benefício do grupo como um
todo.

As diferenças culturais entre o ocidente e o oriente

Agora compare isto a como nós nos comportamos na cultura ocidental – o povo
japonês é também afetado de certa forma por esta cultura – onde um indivíduo
pode dizer: “ Eu venho primeiro, meu desenvolvimento pessoal vem primeiro”.
Como a Constituição americana coloca : “ Cada pessoa tem o direito de ser feliz,
todos tem o direito de serem pessoalmente felizes”. Vocês vêem a diferença? Neste
grupo original, todos pertenciam igualmente e esta alma comum que os unia zelava
para que nenhum dos membros fosse perdido. E ela zelava para que todos os
membros estivesse servindo ao grupo como um todo.

Dentro deste grupo havia um outro tipo de lei ou ordem operando. Esta lei dava a
cada membro seu próprio lugar dentro do grupo. Havia uma hierarquia dentro deste
grupo que se opõe à noção democrática que nós temos dos grupos, usualmente.
Neste grupo aqueles que chegaram primeiro tinham o mais alto nível (hierárquico) e
aqueles que vieram depois o nível mais baixo. Assim a hierarquia dava a cada
membro um lugar de acordo com o tempo que ele ou ela entrou no grupo. Deste
modo não havia conflito acerca do lugar próprio de alguém. Todos sabiam seu lugar
certo. Mas aqueles que tinham vindo depois progrediam com o passar do tempo
atingiam uma posição superior na hierarquia. A criança caçula, por exemplo, tinha o
lugar mais baixo, mas quando ela crescesse e se tornasse velha, alcançaria um
lugar mais alto afinal. Assim as posições não eram fixas, elas tinham um certo
desenvolvimento. Por meio destas duas leis, estes grupos poderiam sobreviver
enquanto estivessem entre si.

Mas o que aconteceu quando eles encontraram outros grupos? Subitamente eles
tinha de diferenciar entre eles e os outros grupos. Então eles tiveram a noção: “Nós
somos melhores e os outros não são tão bons.” Assim, enquanto antes havia uma
igualdade entre os membros e onde tais divisões ou diferenciações não tinham
lugar, tais diferenciações foram agora introduzidas.

Após algum tempo, os membros de um mesmo grupo começaram a fazer tais


diferenciações. Eles disseram, “ Eu sou mais importante que outro membro, eu
tenho um maior direito de pertencer a este grupo do que ele.” Então eles seguiram
uma outra consciência que surgia, uma consciência pessoal em oposição àquela
consciência coletiva que dirigia o grupo antes. De fato, este é um importante passo
para a frente no desenvolvimento humano, sem dúvida. O indivíduo aprendeu a ver
a diferença entre si e os outros. Então começou entre os membros do grupo um
conflito ou uma competição pelo lugar mais alto na hierarquia. Este
desenvolvimento alcançou o seu pico quando as pessoas vieram a entender sua
consciência pessoal como a voz de DEUS em suas almas. Assim, quando elas
fizeram algo contra o grupo, elas fizeram isto de boa consciência porque elas
diziam que sua ação pessoal tinha a aprovação divina.

Agora, porque eu disse tudo isto aqui? O que isto tem a ver com as constelações
familiares?

A Consciência coletiva esquecida

Por causa do correr do tempo, as regras da consciência coletiva foram esquecidas.


Elas foram negadas, na verdade suprimidas. Mas a consciência coletiva, embora
inconsciente, ainda está atuante. E porque ela está ainda atuante? Ela vai contra
aquilo que as pessoas querem , desejam ou acham que seja certo. Deste modo,
quando alguém age de boa consciência e pensa que aquilo que quer é bom, tais
ações freqüentemente resultam em falha.

E o que é pior, agindo contra as regras da consciência coletiva , as pessoas podem


vir a ficar doentes ou ter acidentes sérios ou se tornarem criminosas ou propensas
ao suicídio. Como isto atua, vem à luz através das constelações familiares. Deste
modo nós podemos entender as constelações familiares somente se nós sabemos
algo acerca deste “pano de fundo”.

De fato, as constelações familiares não apenas trazem à luz estes


emaranhamentos, elas também mostram um modo de como resolvê-los. E este é o
motivo pelo qual elas tem seu efeito curativo e reconciliador.

Isto foi uma introdução difícil e longa e eu espero agora que vocês estejam prontos
para que trabalhemos.
A vinculação pelo sexo

Eu devo dizer agora algo sobre este vínculo. Se há um intercurso sexual entre um
casal adulto e ele é sem reservas, uma ligação é estabelecida entre ambos. Eu uso
o termo “sem reservas” para incluir muitas coisas e não desejo ser muito específico.
Esta ligação dura uma vida e após ela se estabelecer o casal não pode mais se
comportar como se não tivesse acontecido nada. A profundidade do vínculo pode
ser vista quando há uma separação. Após tal vínculo eles não podem se separar
facilmente. Eles só podem se separar com dor e sentimentos de culpa. Se eles se
separam e encontram outro(a) parceiro(a) com o(a) qual tem um intercurso sexual
também um novo vínculo se estabelece. Mas este novo vínculo é menos intenso
que o primeiro. Quando eles se separam a dor e os sentimentos de culpa são
menores que antes. Após o terceiro é ainda menor. E assim prossegue. Após
algum tempo eles são incapazes de estabelecer uma parceria estável e
permanecerão solteiros. Isto pode servir a um propósito especial em relação à
evolução talvez. De minha parte não há nenhum julgamento a respeito disto. Com
relação ao incesto, abuso sexual e estupro, nós temos que saber que um vínculo
também é estabelecido. Mas eu volto ainda para a relação de casal. Se houve um
relacionamento e ele foi rompido e os parceiros tomam nova relação com pessoas
diferentes, o parceiro anterior será representado na próxima relação por uma
criança, a menos que a separação tenha acontecido com amor. Então a segunda
relação pode ter sucesso. O mesmo se aplica ao incesto, estupro e caso de abuso
sexual. A menos que o vínculo criado seja reconhecido e haja uma separação com
respeito e amor os relacionamentos posteriores serão difíceis.

Com relação ao estupro, isto pode parecer muito estranho. Mas as constelações
familiares mostram uma imagem diferente (da habitual). Houve uma vez uma
mulher que colocou sua família. Ela havia me dito que tinha dificuldades sexuais.
Eu disse que não desejava lidar com isto em público. Mas quando ela posicionou a
família eu perguntei: “Houve algo especial?” Ela me disse então: “Eu fui estuprada 6
vezes.” Deste modo eu selecionei seis homens e os coloquei lá, lado a lado. Então
a representante daquela mulher se posicionou em frente de cada um deles e se
curvou, reverenciando-os, uns com mais profundidade que os outros. No final, ela
se colocou ao lado do último. E disse então: “Este é o meu lugar”. Muito estranho!
Isto vai contra o nosso pensamento moral. Mas as constelações familiares mostram
um quadro diferente.

Agora, quanto ao incesto. Se vocês são confrontados com casos de incesto, uma
dinâmica muito comum é que a esposa se retira do marido e lhe recusa uma
relação sexual. Então, como um tipo de compensação, uma filha toma seu lugar.

Isto é um movimento inconsciente, não é consciente. Mas você vê, com o incesto
há dois agressores, um oculto e outro às claras. Não se pode resolver isto a menos
que o agressor oculto venha à luz. Há então sentenças muito estranhas que vêm à
luz. A filha pode dizer a sua mãe “Eu faço isto por você.” E ela pode dizer ao pai
“Eu faço isso pela mamãe”. Qual é o efeito dessas sentenças? O incesto não pode
mais continuar. Se você quer pará-lo, este é o melhor modo, sem qualquer
acusação.

Se você levar o agressor à justiça, então a vítima expiará o que for feito ao
agressor. Eu dou um exemplo. Em um grupo, um assistente social relatou um caso
de abuso e incesto e ele disse que levaria os agressores à corte. Eu o adverti que
isto poderia ser perigoso para a menina. Mas ele se sentiu no direito de levá-los à
justiça. Então, depois eu o encontrei e perguntei a ele como estava indo a menina.
Ele me disse: “Ela sempre está querendo pular pela janela”. Este é o resultado da
ação justiceira dele.

Para o cliente: E isto também é importante para você.


A noite escura da alma

Eu quero dizer algo sobre a noite escura da alma. Este é um conceito da tradição
mística da Europa. Mas ele é muito próximo do pensamento asiático também. Ele
significa que eu me refreio de investigar , eu me refreio de qualquer curiosidade. E
qual é o efeito disto? Paz para todos os envolvidos. Eu fico em paz. Eu não estou
sobrecarregado pelos problemas alheios. E os demais não são mais perturbados
por mim. Eu não interfiro de forma alguma nos movimentos de sua alma. Nós
ambos podemos então respeitar-nos mutuamente. Se eu agora me entregasse À
curiosidade, eu perderia o respeito do outro. E ele sentiria que eu não o respeito.
Assim, este é um bom procedimento. Na verdade é um não-procedimento. Eu não
faço nada. E ainda assim, pelo não fazer nada, eu faço muito.

A atitude terapêutica

Eu quero dizer algo sobre a atitude terapêutica. Ontem, eu trabalhei com ela e eu
sabia das conseqüências, é claro.

Mas eu não interfiro. Eu só parei e esqueci dela. Eu não cuidei mais, não no sentido
de que eu não me preocupei mais. Ontem eu trabalhei com ela ( e apontou outra
mulher), eu parei e esqueci-a.Eu não fiquei preocupado, porque eu confio – alguma
coisa acontecerá. Há forças maiores operando aqui. Nesta manhã esta outra
mulher veio aqui e estava pronta para mais um pouco de trabalho. Eu trabalhei com
ela e não achei uma solução – superficialmente nós não achamos uma solução – e
eu parei. Após um tempo ela parecia feliz. Eu não sabia porque, eu não perguntei
também. Para mim aquilo estava terminado. Não é mais meu assunto e não é mais
da minha conta.
Agora ela veio por si mesma, porque a interrupção de ontem liberou algo em sua
alma. Ela veio aqui e eu confrontei-a com suas conseqüências. Quantos de vocês
ficaram chocados com o que eu disse a ela? Aquilo foi chocante. Mas foi verdade.
É a verdade e não se pode brincar com ela. Aquilo é o que acontece se alguém
deseja a morte de sua mãe.

Então eu tentei algo mais e não achei solução. Eu estava preparado para parar sem
fazer mais nada. Eu não me preocupei. Então Harald me apontou algo. OK, havia
uma outra oportunidade. Eu tomei-a e nós achamos uma solução. Agora, quem
achou a solução? A grande alma achou a solução. A grande alma me dirigiu e a
ele, a ela e ao grupo como um todo.

Estas mulheres aqui na constelação , elas foram boas? Elas foram inteligentes?
Elas foram competentes? Não , elas foram guiadas por algo que veio de muito além
delas mesmas. Elas apenas e permitiram serem movidas. Isto é o porque de nós
termos achado uma solução. Mas não houveram bons terapeutas aqui, nem mesmo
Harald foi um bom terapeuta, nem eu fui um bom terapeuta. Nós estivemos em
sintonia com algo maior. E esta é nossa grandeza. Você vê quanta confiança é
exigida para trabalhar desta forma? Quão cuidados nós temos que ser todo o
tempo para que nada interfira (como nossas idéias ou intenções) neste trabalho?

Se você tem esta atitude sem nenhum medo e sem nenhuma intenção pessoal e só
se permite ser guiado por algo maior, então você pode fazer este trabalho. Porque
não é mais você , é algo além de você e de mim.

Tradução do inglês para o português com permissão expressa de Bert Hellinger por
Décio Fábio de Oliveira Júnior.

Vontade e
Destino
Escrito por Jakob R. Schneider

Vontade e Destino – Aspectos Polêmicos das Constelações Familiares[1]

Jakob Robert Schneider

Abordarei a seguir, de uma perspectiva pessoal, alguns aspectos do trabalho com


constelações familiares que podem ser socialmente desafiadores. Deixo ao leitor
discernir o que nisso é realmente novo e leva a novos modelos da ajuda, e o que
apenas provoca os espectadores, embora já goze, de longa data, de aceitação
geral.

A constelação familiar

Para o nosso entendimento de processos psíquicos, a vivência de constelações é


de fato desafiante. Até mesmo consteladores experientes se surpreendem sempre
com o que nelas observam e experimentam. Como é possível que os
representantes se sintam, falem e apresentem sintomas como os membros da
família, embora não os conheçam e disponham de pouca ou nenhuma informação
sobre eles? Para esse fenômeno ainda não temos explicação, muito menos uma
explicação científica. Mas nos espantamos, descrevemos os processos e
procuramos, às vezes, imagens ou modelos que os façam aparecer como
compreensíveis e comunicáveis, sem postular explicações precipitadas.

Talvez a explicação mais simples seria esta: o cliente exterioriza sua imagem
interna, e a posição dos representantes reproduz uma certa estrutura de
relacionamento que está arquivada em nosso aparelho de percepção, com sua
respectiva dinâmica. Mas como se explica que os representantes sintam coisas tão
diversas em constelações de configurações semelhantes ou mesmo idênticas? Por
que razão surgem nas constelações processos que tocam emocionalmente o
cliente e fazem sentido para ele, mesmo quando o terapeuta escolhe e coloca os
representantes, ou quando se coloca apenas uma pessoa - para não falar das
chamadas “constelações invisíveis” -?

Uma teoria bem aceita entre os círculos de consteladores é a de Ruppert Sheldrake


e seus “campos morfogenéticos”. Entretanto, mesmo ela, só nos fornece, até o
momento uma explicação de caráter mais metafórico. Mas a falta de uma
explicação científica para um fenômeno observável não prova a inexistência desse
fenômeno. As observações de uma “participação psíquica” para além das
informações comunicadas são tão numerosas e tão independentes da
experimentação dos consteladores individuais que também pode ser útil a
observação atenta de pessoas externas à “cena”.

Por exemplo, um representante coloca de repente as mãos nos ouvidos e diz: “Não
estou escutando nada” e o cliente que colocou as pessoas diz, estupefato: “Meu
irmão, quando era pequeno, ficou soterrado na guerra e desde então ficou surdo”.
O que acontece num caso como este?
Outro exemplo: O representante do irmão de uma cliente é introduzido na
constelação dela, e a representante da cliente exclama: “Não tenho mais o
antebraço”, e a cliente exclama, espantada: “Meu irmão teve de amputar o
antebraço aos vinte anos depois de um acidente”. O que explica este caso?

Mais um exemplo: Numa constelação, o representante do avô da cliente leva


ambos os braços ao rosto. Perguntado sobre o que acontece, responde: “Algo me
atinge os olhos e me arranca a cabeça”. Com efeito, esse avô, quando mostrava à
sua tropa como desarmar uma granada, a fizera explodir por descuido e ela lhe
arrancou a cabeça. E não foi dada informação prévia sobre esse fato.

Tais exemplos poderiam prosseguir indefinidamente. Naturalmente, tais


observações dramáticas não constituem a regra nas constelações, porém são
suficientemente freqüentes para gerar confiança no que se manifesta nelas.

Um professor que veio participar de um grupo com ceticismo, escreveu


posteriormente numa carta: “... Embora me pareça haver muito de verdade na
forma de ver o mundo como uma união de almas, na necessidade de intervir
reconciliando e de proporcionar a cada criatura seu lugar condigno, parece-me um
mistério que pessoas estranhas fiquem disponíveis e caiam em bloco sob o feitiço
de pessoas inteiramente desconhecidas, comportando-se como elas. Minha própria
constelação atestou isso, na medida em que os representantes agiram de um modo
incrivelmente “autêntico”, inclusive em alguns detalhes que não puderam perceber
de nossa conversa preliminar, por exemplo, a reação de minha filha...” Todos os
consteladores conhecem declarações e surpreendentes concordâncias como esta,
mas essas experiências não constituem provas. Seria preciso sermos cegos se
pretendêssemos simplesmente ignorar esses fenômenos que questionam nosso
entendimento atual de processos de informação.
Explicar os fenômenos das constelações como frutos de sugestão pelo constelador
ou como uma espécie de mágica de grupo ou mesmo como charlatanismo seria
igualmente precário. Presume-se que, dentro de prazos previsíveis, os cientistas
irão examinar em que medida o recurso à constelação será válido para a pesquisa
socio-psicológica e para os processos terapêuticos, e irão desenvolver novas
teorias, talvez fundamentadas, sobre essa difusão de informação em contextos
anímicos e comunicativos. Também em muitos domínios das ciências naturais a
teoria freqüentemente se segue à observação. A falta de uma teoria não significa
ainda, que estamos nos movimentando em áreas esotéricas. Além do mais, muitas
teorias até aqui não confirmadas da moderna física, por exemplo, a teoria dos
universos paralelos, fazem um efeito bem mais espetacular e “esotérico” do que o
que observamos nas constelações.

A alma – o “campo dotado de saber”

As constelações familiares se referem de uma nova maneira àquilo que chamamos


de “alma”. Podemos denominar assim a força invisível que animando (ou pelo
menos no mundo animado) congrega partes num todo de uma tal maneira que o
todo é mais do que a soma das partes e de suas funções dentro dele. A alma não
se identifica com nossa consciência, pois inclui o inconsciente. E não se identifica
com os processos fisiológicos e físicos em nosso corpo e em nosso cérebro,
embora esteja inseparavelmente unida a eles. Não se identifica tampouco com
nossos sentimentos, embora o sentir seja o modo de expressão por onde se
experimenta a alma.
Ela é antes como o espaço ou o campo que une, ultrapassando espaço e tempo,
tudo o que constitui uma pessoa, criando uma identidade. A abordagem típica da
ciência natural atual, que busca o que “não difere”, a saber, as partes e partículas e
suas mútuas conexões, exclui por seu próprio método a possibilidade de descobrir
uma alma. Porém nossa experiência quotidiana se dirige ao que é “mais do que”.
Não há conversa, nem arte, nem política, nem vida de relacionamento sem
participação da alma. Como a experiência psíquica não pode ser reduzida ao que
material e quantificável, a língua desenvolveu “palavras da alma” como liberdade,
paciência, espírito, coragem, amor, etc. O que entendemos por “amor” não pode ser
adequadamente entendido a partir de genes ou de funções do cérebro.

Sabemos que para falar dos domínios da alma dependemos de imagens,


metáforas, imprecisões, vivências, experiências, intuições perceptivas, bem como
da função anímica da avaliação sensitiva e de coisas semelhantes. Por mais que as
ciências da natureza nos ajudem com seus conhecimentos e nos obriguem, por
exemplo, a repensar nossa liberdade de decisão, a ocupação com a alma, que
ultrapassa o âmbito da experiência da vida, pertence mais às ciências do espírito
ou à psicologia como ciência do espírito. O trabalho com as constelações familiares
se apresenta no concerto da teoria e da prática psicológica modernas de um modo
amplo e desafiador, descortinando a alma redescoberta e suas leis.

Da mesma forma como em nossa alma pessoal somos maiores do que aquilo que
percebemos conscientemente em nós, assim também em todos os níveis de
relações estamos envolvidos em contextos maiores, formados, em termos
anímicos, por “espaços” ou “campos” (tomados como metáforas), que juntam as
partes para constituir algo “mais” e “maior”: uma união familiar, um grupo de
amigos, uma empresa, uma comunidade social, um Estado - que se integra na
natureza e no cosmo como um todo. Essa nossa vinculação, em sua grandeza e
totalidade, recebe freqüentemente de Bert Hellinger a denominação de “grande
alma”. Isso não significa para ele algo místico ou do além, mas a totalidade da
existência individual e coletiva, que justamente através das conquistas das ciências
naturais nos aparece de modo cada vez mais misterioso, nos sustentando, ligando
e talvez mesmo dirigindo.

Entre os consteladores também existem divergências sobre a conveniência e a


medida em que se falar de alma. Para alguns isso envolve uma carga
excessivamente mística ou religiosa. Outros não partilham essas restrições. Pois
diariamente, ao abrirmos um jornal ou revista, lemos em diversos artigos, seja na
política, na economia ou na parte esportiva a palavra “alma” num contexto
imediatamente inteligível para cada caso. Por exemplo, em manchete: “O templo de
Ankor e a alma ferida do Camboja: em busca de nossa identidade”.

Quando se fala de “alma”, seja no trabalho com as constelações, seja de modo


geral na psicoterapia ou na vida quotidiana, isso não acontece com ânimo anti-
científico. Um consultor familiar não pode esperar que a ciência natural lhe forneça
dados e métodos exatos, cientificamente comprovados e universalmente
reconhecidos, para a solução de conflitos conjugais. Ele trabalha de uma forma
mais ampla, orientado por vivências e pelas “regras da alma”. Uma das realizações
de Bert Hellinger é ter condensado e desenvolvido um modelo preexistente de
constelações familiares, reduzindo ao essencial, de uma forma experimentável, os
processos anímicos e os complexos contextos de relações, abrindo o acesso a
mudanças profundas na alma. Quem se disponha a isso, pode comprová-lo pela
própria prática do próprio Bert Hellinger, amplamente documentada, e de milhares
de consultores e terapeutas.
O sistema

Por ocasião do aconselhamento matrimonial, no mais tardar, percebe-se que o


modelo puramente causal de explicação não é mais utilizável quando ouvimos um
dos parceiros e lhe damos razão, e ouvimos o outro parceiro e igualmente lhe
damos razão. As dinâmicas do relacionamento e os processos da alma são
contextos altamente complexos, que não podem ser suficientemente apreendidos
recorrendo a explicações e conexões causais lineares. Por esta razão, já vem
sendo colocada há mais tempo no domínio psicossocial a seguinte questão: “Como
é possível intervir adequadamente nos sistemas de relação sem se deixar apanhar
nas armadilhas do pensamento e do discurso causal, mas respeitando ao mesmo
tempo a determinação estrutural dos sistemas vivos? A psicoterapia sistêmica de
enfoque construtivista encontrou para isso um caminho muito elegante. Ela utiliza a
estrutura causal da linguagem, por exemplo, por meio de perguntas circulares, de
tal maneira que uma família já não consegue manter facilmente as descrições
causais que sustentam o comportamento sintomático. O sistema de relações é
estimulado por meio de perguntas hipotéticas a desenvolver por si mesmo
comportamentos novos e mais funcionais para a vida familiar.

Em que medida a constelação familiar é um método sistêmico? Primeiramente, ela


percebe o cliente, desde o início, em conexão com as pessoas relevantes de seu
campo relacional. As constelações permitem experimentar imediatamente como o
comportamento humano apresenta uma multiplicidade dos aspectos cambiantes,
conexões e interações. Até o momento, nenhum outro método visando informação
e intervenção possui uma perspectiva sistêmica tão ampla como as constelações
familiares, abrangendo gerações, embora se deva também mencionar Ivan
Boszormenyi Nagy, Helm Stierlin e outros, que direcionaram a terapia sistêmica
familiar para uma perspectiva multigeneracional.
O simples significado do “emaranhamento” basta para mostrar que nas
constelações não se manifestam apenas os fenômenos individuais causais lineares
do relacionamento. O olhar para o enredamento de destinos e para o efeito de
eventos traumáticos nos sistemas familiares, freqüentemente através de várias
gerações, ampliou e aprofundou, de modo impressionante, o pensamento sistêmico
e o correspondente procedimento terapêutico. Nenhum método na psicoterapia
conseguiu até hoje, como as constelações familiares, tornar visíveis e
experimentáveis os processos de compensação sistêmica que atravessam
gerações, colocando à disposição os procedimentos específicos adequados. A
complexidade do que acontece em relacionamentos humanos não contradiz a ação
de regularidades nos relacionamentos. O bater das asas da borboleta, utilizado
como exemplo na Teoria do Caos, introduz, é certo, alguma incerteza no evento
climático, mas não anula suas regularidades e as forças que atuam no conjunto.
Para dizer de outra forma: pertence à essência da sabedoria que ela é capaz de
articular inteligentemente e de modo esclarecedor a regularidade e a singularidade
da situação individual.

Em segundo lugar: Uma constelação se compõe de imagens. Os sistemas, na


medida em que não podem ser descritos de um modo causal, só podem ser
expressos por meio de imagens, linguagem imaginativa e histórias. Através de uma
imagem, um grande número de informações e de processos pode ser percebida
simultaneamente e como um todo. Desta maneira procedemos constantemente de
forma sistêmica em nossa percepção. Dificilmente um método terapêutico utilizará
isso de uma forma processual e mais concentrada do que as constelações
familiares.

As frases de ligação e solução, às vezes ritualizadas, atuam igualmente associadas


a imagens. Uma constatação ou descrição causal obtida a partir do que acontece
numa constelação serve para trazer à luz uma “verdade”, mas não é essa verdade.
Observações gerais de consteladores, por exemplo, sobre anorexia, câncer ou
psicoses, não são modelos causais de explicação – mesmo quando são
apresentadas como tais -, mas indicações, adquiridas por experiência, destinadas a
instigar no cliente uma atitude de busca que o leve adiante e faça descobrir. Uma –
impossível – dissolução do que acontece na constelação em passos individuais de
causação linear atuaria justamente como obstáculo para a sua eficácia. As
constelações, pelo menos de consteladores experientes, estão se tornando cada
vez menos faladas e comentadas, e confiam cada vez mais no que as pessoas
podem ver. Portanto, a dinâmica sistêmica não é ocultada, soterrada ou coarctada
pelas palavras. A evidência sistêmica se introduz na alma do cliente e pode “vibrar
em uníssono” no constelador e nos participantes do grupo, justamente porque não
é fragmentada em observações individuais e em argumentos “compreensíveis” que
seriam – justamente – passíveis de crítica.

Fenomenologia e verdade

O que significa “verdade” numa constelação? Seria uma grande incompreensão do


que acontece nela tomá-la como concordância entre a realidade objetiva e o
conhecimento, ou como sua expressão em linguagem. A verdade nas constelações
é antes comparável à verdade de uma peça teatral. Ela se faz presente, de forma
condensada, na imagem e na linguagem, permitindo que venha à luz a realidade
oculta. As constelações não são uma reprodução da realidade de um
relacionamento. Elas des-velam uma realidade, no sentido do conceito grego de
verdade (a-létheia). Esta é também a essência da arte. E, como muitas formas de
terapia ou de aconselhamento, as constelações dão muitas vezes um passo além
disso. Elas ajudam a assumir a realidade, tal como ela se apresenta e atua, e a
preenchê-la com amor.

Fenomenologia significa, de modo geral, perceber e descrever a realidade tal como


ela se manifesta. Num sentido filosófico mais elaborado, a fenomenologia se refere
a uma forma de experiência, em que a realidade – através de sua forma de
manifestação – se dá a conhecer em sua essência, seu sentido e seu ser mais
profundo. A percepção fenomenológica é nosso último recurso quando queremos
olhar para fenômenos da alma que se ocultam por trás da superfície de suas
aparências. Quem busca ajuda precisa de um conselho ou de uma terapia para
encarar o que ele não pode saber, e para entendê-lo em sua razão mais profunda.

Na grande maioria das relações sociais dependemos do conhecimento


fenomenológico. Até mesmo uma grande parte de nossas ciências naturais começa
por uma visão do fenômeno. Aquilo que se manifesta nas constelações sob a forma
de conhecimento fenomenológico só se comprova, em última análise, por seus
efeitos e pelo fato de que também outras pessoas vêem, de repente, o que antes
estava oculto. Presumir nos participantes de uma constelação uma submissão
completa ao dirigente do grupo seria enganar-se redondamente. Os participantes,
em sua maioria, olham com muita atenção o que se passa, e o dirigente do grupo
com freqüência percebe isto de imediato quando interpreta erradamente o que
acontece na constelação ou quando faz afirmações implausíveis, contrariando a
percepção dos participantes e do cliente.

Para ver precisamos de um “artista” que vê o que se esconde na profundidade – e


aqui “profundidade” não quer dizer algo místico. Ele é comparável a um rastreador
que descobre e interpreta vestígios que permanecem ocultos a um espectador
inexperiente. Como Bert Hellinger e a maioria dos consteladores não realizam
controles posteriores sobre o efeito das constelações, a percepção dos “rastros”
muitas vezes carece de comprovação. Mas existem suficientes informações de
retorno, imediatas ou posteriores, por parte dos clientes, que atestam a veracidade
e a eficácia desse rastreamento.

Naturalmente, a contemplação fenomenológica está sujeita a fantasias,


interpretações equivocadas, erros, construções mentais e pressões de grupos. Por
esta razão, muitos consteladores se treinam constantemente para voltar a ser
receptivos e livres diante da realidade da alma, da forma como ela se manifesta. As
constelações requerem uma extrema contenção do terapeuta no que toca a
perceber, interpretar e agir. Fenomenologicamente verdadeiro é o que se realiza
imediatamente numa constelação e, além dela, na vivência pessoal imediata, e não
o objeto da crença num terapeuta ou numa instância superior. “O presente é
irrefutável”, no dizer de Kafka.

O método fenomenológico aparece como provocante somente quando se aplicam a


uma dinâmica social, padrões científicos inadequados e incompatíveis, ou quando
se acredita que a verdade pode ser manejada e produzida em discursos. A
fenomenologia só é provocante para o puro construtivista que se limita a apurar se
“a chave serve”, sem reconhecer uma certa cognoscibilidade à fechadura e à
própria chave. O construtivismo e sua compreensão da realidade se apresenta
associado a um impulso ético. Numa entrevista ao jornal Die Zeit, Heinz von
Förster, um dos epígonos do construtivismo, afirmou que seu conceito de verdade é
o contrário da mentira ou da inverdade. Por razões éticas, disse ele, excluiria do
dicionário a palavra “verdade”, em razão de toda mentira e infelicidade que já
aconteceram em nome dela.

Perguntado sobre o que lhe restaria nesse caso, respondeu: em lugar da “verdade”
(truth), “a confiança” (trust), a confiança que nasce quando utilizamos nossos olhos
e nossos ouvidos. Aliás, esta é uma perfeita descrição da atitude fenomenológica.

A ordem

As relações não se configuram de um modo caótico e arbitrário, mesmo quando às


vezes são experimentadas dessa forma. Como toda realidade, elas se subordinam
a determinadas ordens. Isto é indiscutível. A questão está em saber como se
originam essas ordens e se podem ser reconhecidas. Freqüentemente, Bert
Hellinger e outros consteladores são acusados de declarar universalmente válidas e
tentar impor ordens arcaicas, culturalmente condicionadas e há muito
ultrapassadas.

Essa crítica parece compreensível à primeira vista, quando, por exemplo, se fala da
“hierarquia pela origem”, do significado da união conjugal, de uma mudança de
nome ou de uma reverência aos pais. Estamos acostumados a desconfiar de
ordens culturalmente preestabelecidas e a reivindicar nossa autonomia e
emancipação. Quando vemos – e não só em constelações – o que acontece nas
relações, deparamos com algo desafiador, a saber, que nelas atuam forças
ordenadoras, ancoradas em nossa alma como uma marca biológica e uma
realidade coletivamente ordenada, presente no fundo de nosso inconsciente. Essas
forças estão apenas encobertas devido a nossa evolução em termos individualistas
e de razão esclarecida. Uma das conquistas do trabalho das constelações foi ter
nos levado a experimentar essas ordens ou regulamentações que atuam
independentemente de nosso pensamento consciente, permitindo-nos assim lidar
sabiamente com elas. Entretanto, são ordens vivas, que estão a serviço da
sobrevivência, do crescimento e do progresso nos relacionamentos. Além disso,
são ordens que fazem sentido em termos de evolução. Podemos descobri-las,
direta ou indiretamente, nas descrições da realidade humana presentes na literatura
de todos os séculos.

À semelhança das leis da física, essas ordens de relacionamentos são sempre


atuantes. Por exemplo, quem não respeita a lei da gravidade, cai redondamente no
chão, porém aquele que a respeita e percebe em conexão com outras leis, pode
construir aviões. Assim também as regulações da alma permitem uma série de
possibilidades de manipulação, não porém ao bel-prazer.

A hierarquia pela origem, por exemplo, é uma simples ordem básica: primeiro vem
quem chegou primeiro, em seguida vem quem chegou depois. Ela vale no interior
de um sistema familiar e indica a cada um sua posição e seu lugar dentro da
família. Primeiro vêm os pais, depois os filhos. Entre os filhos, primeiro vem o mais
velho, depois o segundo e o terceiro. Em primeiro lugar vêm os pais. Isto significa
que sua sobrevivência tem precedência sobre a sobrevivência dos filhos. Isso é
compreensível em função da sobrevivência do grupo, pois a sobrevivência dos pais
assegura uma nova geração mais rapidamente que a sobrevivência dos filhos.
Todo o restante que faz parte das transformações culturais da hierarquia da origem
resulta disso e deve ser medido por sua função original. Entretanto, em épocas de
superpopulação sua avaliação pode obedecer a critérios diferentes.

A hierarquia pela origem é completada pela “hierarquia pelo progresso”. Por outras
palavras: entre dois sistemas diferentes, o novo sistema tem precedência sobre o
anterior. Assim, quando os filhos deixam seus pais e se casam e têm filhos, essa
nova família tem precedência sobre a família de origem. Isso também faz sentido
em termos de evolução e de abertura para o futuro.
É sempre emocionante experimentar como são úteis essas ordens, básicas mas
fundamentais, para configurar relacionamentos e resolver conflitos. Todo mundo
percebe imediatamente, por exemplo, como é útil quando uma mãe grávida diz à
sua filha de três anos: “Você vai ganhar um irmão. No início eu precisarei cuidar
muito dele, do mesmo jeito como você mesma precisou muito de mim quando era
bebê. Mas você será sempre a minha primeira filha e a mais velha”.

As ordens do amor contribuem para o sucesso dos relacionamentos. Elas são


geralmente imediatamente compreensíveis e fundam numa base confiável as
relações entre pais e filhos, homem e mulher, e dentro do clã familiar. Aqui as
constelações familiares realmente proporcionam ajuda e orientação. O grande
interesse delas se prende à capacidade de solucionar que possuem as “ordens do
amor”. Muitas oposições contra essas ordens se relacionam menos à emancipação
cultural e pessoal do que a outros contextos, muitas vezes inconscientes.

Uma mulher foi a um grupo devido a problemas no casamento. Tinha mantido


“naturalmente” o seu sobrenome de solteira e também o filho único conservou o
sobrenome da mãe.[2] Era a mais nova de três irmãs. Quando o terapeuta disse:
“Talvez vocês conservaram o seu nome de solteira para que seu pai tivesse um
descendente de sua estirpe”, - vieram-lhe lágrimas e ela confirmou com a cabeça.

Será mostrado em que medida essas ordens mudam de acordo com a evolução
humana. Mas deve ficar claro que a realidade não se orienta de acordo com o
nosso arbítrio e a nossa opinião. O movimento ecológico demonstrou que, quando
nossa ação desrespeita as regulamentações e seus efeitos de longo prazo, ela
acarreta resultados danosos e até funestos. As “ordens do amor” representam
talvez uma transposição do pensamento e da ação ecológica para o domínio das
relações. Elas também nos permitem levar em conta em nossos relacionamentos,
os efeitos de longo prazo que nosso comportamento produz nas gerações
subsequentes. Como podemos estruturar nossas relações, de modo que nossos
filhos e os filhos de nossos filhos não precisem pagar o seu preço? Mesmo em
nossa época, com toda a aparente amizade pelos filhos, temos a tendência de
sacrificá-los não só por necessidade, mas também por vergonha, medo, interesse
próprio e falsa autonomia e emancipação.

O destino

A compreensão de nosso destino e o assentimento a ele estão no cerne do trabalho


das constelações. Chamamos de destino as forças que, vindas do passado, nos
ligam inelutavelmente ao efeito bom ou funesto de certos eventos. O efeito dos
acontecimentos nos é imposto, quer o queiramos ou não, e não temos a
possibilidade de interferir nele. A força do destino se revela, em relação a
acontecimentos traumáticos numa família, de uma forma às vezes inquietante. Nas
constelações experimentamos constantemente, e de modo impressionante, que
somos muito pouco livres e reeditamos em nossa própria vida, sem saber nem
querer, destinos passados e acontecimentos dolorosos, numa espécie de
compulsão repetitiva. O efeito maior das constelações consiste em nos fazer
perceber como, sem necessidades próprias, revivemos necessidades passadas e
não aquietadas de outras pessoas, como se o que passou tivesse de ficar em paz e
se tornar definitivamente passado. Este é o pão habitual do trabalho com
constelações.
A concordância com a ligação ao destino significa por acaso fatalismo? De maneira
nenhuma. Pelo contrário. É verdade que a configuração de nossa vida pelos
destinos anteriores não pode ser anulada, mas para o futuro nos tornamos mais
livres através do que se mostra nas constelações. Então, o destino alheio poderá
ser de algum modo exteriorizado, tornando-se uma interface à qual já não estamos
cegamente entregues. Pois a alma não liga indissoluvelmente a destinos, ela nos
libera deles através de um insight, de um movimento próprio inconsciente ou, às
vezes, de um modo totalmente casual (com ou sem constelação).

Numa época em que às vezes julgamos que nossa vida está completamente em
nossas mãos - uma ilusão de muitos individualistas -, o reconhecimento do destino
e o assentimento à ligação com o destino próprio e alheio constitui um desafio.
Tanto nos acostumamos à idéia de uma livre razão e de uma autonomia individual
que nos recusamos a reconhecer o que em épocas passadas foi descrito como
daimonía e eudaimonía – a triste sina e a felicidade presenteada. O trabalho das
constelações é seguramente uma afronta a uma psicoterapia que valoriza acima de
tudo a autonomia e a emancipação individual e considera a humildade como uma
submissão. Porém basta ler jornais e romances para perceber como atua o destino
e como o nosso poder e a nossa impotência partilham a realidade.

Muitas pessoas sentem instintivamente como um processo benéfico a reverência


diante do destino ou diante de pessoas a que somos ligados pelo destino. Uma
reverência autêntica é quase sempre experimentada por nós como solução e
liberação. Quem precisa se curvar não é a criança pequena, mas o adulto. E a
reverência abarca vários processos: o ato de curvar-se, o deixar que algo morra, e
o ato de erguer-se. Bem longe de ser um processo humilhante, a reverência exige
coragem. Ela proporciona força, alívio da respiração e abertura de espaço.
O destino, como força que inelutavelmente dispõe, não faz caso de nossa vontade:
ele a toma de roldão, sem esperar o nosso consentimento. O destino não é uma
pessoa, embora freqüentemente seja representado por uma pessoa nas
constelações. É um acontecimento direcionado a partir do passado, um movimento
que nos liga, através da alma, à realidade maior. Quantas vezes os clientes falam
de sua luta para não se tornarem iguais a seu pai ou a sua mãe, e quantas vezes
acrescentam que essa luta resultou em fracasso! Quantos clientes quiseram fazer
melhor que seus pais, e quantos confessam que não o conseguiram! Um dos
paradoxos da vida humana é que a luta contra o destino nos liga ainda mais a ele, e
o assentimento ao destino nos torna mais livres. É como um redemoinho num rio.
Quem luta contra a sua sucção é puxado ainda mais para o interior, e quem sem
pânico se entrega à sua força é muitas vezes impelido para fora.

Reconhecimento do destino não significa entregar-se à doença sem vontade e com


resignação. Significa acompanhá-la com as forças do corpo e da alma. Então, como
num redemoinho, elas são de novo liberadas da atração da doença ou da morte.
Aqui, muitas vezes, faz sentido perguntar: O que há na doença que quer curar?
Naturalmente, o doente precisa de apoio externo. E muitas constelações ajudam
pessoas enfermas a se confiarem aos serviços médicos. Mas as constelações
também as fazem confrontar-se com a morte. Uma senhora, gravemente doente de
câncer, procurava saber através de uma constelação as causas de sua doença. O
representante da morte, colocado diante dela, olhou-a com carinho, colocou-se ao
lado dela e abraçou-a pelo ombro. Ela se defendeu com lágrimas, mas o
representante da morte não cedeu. Dois anos depois, essa senhora escreveu ao
terapeuta: “Eu me defendi muito contra a morte, e finalmente a aceitei. Agora ela
está a meu lado já há algum tempo, e estou viva”.

Mas também existe o movimento oposto. Outra mulher com câncer em estado
grave, que se sentia fortemente atraída a seguir na morte seu pai, enredado em
grave culpa, pediu ao terapeuta que se esforçava por desprendê-la da morte: “Por
favor, deixe-me ir para meu pai!” Ela se deitou junto do representante do pai,
apertou-o nos braços, sorriu para ele com amor entre lágrimas, até que se acalmou
completamente. Na continuação do grupo ela atuou com alegria e energia e
colocou muitas questões práticas sobre seu comportamento em relação ao marido
e aos filhos. Notou-se que ela se preparava para sua morte. Que vontade
terapêutica teria aqui a força e o direito de se opor à sua morte?

Os mortos

Num filme amador, perguntaram a um curandeiro do Nepal, quem procurava um


médico em caso de necessidade, e quem vinha até ele. O curandeiro respondeu
que os que tinham doenças comuns procuravam um médico, e aqueles sobre quem
pesava a maldição de algum morto vinham até ele. O encontro com os mortos, a
quem somos existencialmente ligados, toma um grande espaço nas constelações.

Sem constrangimento, os consteladores tomam pessoas vivas para representar


mortos, para que possa ser esclarecido, com seus efeitos, um envolvimento cego
ou um seguimento amoroso para a morte. Acontecem então impressionantes
encontros entre vivos e mortos, e são iniciados curtos diálogos que ajudam a união
de corações, a paz recíproca e a liberação mútua. Será um fantasma?

Nada sabemos sobre a existência dos mortos em torno de nós ou num outro
mundo. Porém, todos sabemos que um laço entre vivos e mortos permanece na
alma para além da morte. Falamos com mortos, lembramo-nos deles nos cemitérios
ou em discursos, continuamos a amá-los e a temê-los como se não tivessem
morrido. Nossas questões existenciais, em sua maioria, abordam, além do amor, a
morte. E quem olha em torno com certa atenção pode perceber diariamente como a
morte e os mortos sobressaem em nossa vida.

O trabalho das constelações retoma, de uma forma não mágica e realizável pelo
homem moderno, antigos ritos xamânicos em favor da paz entre vivos e mortos.
Como é tocante quando numa constelação, uma mulher adulta se deita nos braços
da mãe que perdeu quando criança em virtude de um acidente! As emoções da
criança, talvez bloqueadas pela carência e pela dor, passam a fluir, e o amor e a
despedida podem ser agora realmente vividos. Como se sentem aliviados os
representantes de mortos que são reconhecidos pela primeira vez como
pertencentes à família, ou dos que, porque honrados em seu sofrimento, se livram
de uma maldição! Como se sentem liberados os representantes de criminosos ou
de vítimas quando sua condição de culpados ou de vítimas já pode ficar com eles, e
os vivos renunciam a se intrometer nisso! Como se sentem redimidos os
representantes de mortos quando se sentem acolhidos entre outros mortos e já
podem realmente ser acolhidos na “grande morte”!

Não é de hoje que tendemos a reprimir a morte e as ligações carregadas de dívidas


que por amor, medo ou dor mantemos com os mortos e com as histórias de suas
vidas. Isso já é, de longa data, conhecido pela psicoterapia. No decurso de nossa
evolução cultural, perdemos o acesso a muitas formas rituais e sociais de
superação da morte e de respeito pelos antepassados. Mesmo sem as
constelações familiares, e muito tempo antes delas, existe um profundo anseio de
lidar com o morrer, a morte e os mortos de uma forma liberadora e pacificadora. E
para isso, as pessoas sempre precisaram de um apoio, por exemplo, através de um
sacerdote ou com a ajuda da psicanálise ou da assistência ao morrer. Nesse ponto,
o trabalho das constelações assume uma necessidade profunda e supre talvez uma
lacuna de rituais e de luto coletivo.

Além disso, as constelações abrem a perspectiva para o enquadramento psíquico


maior do encontro com a morte e com os mortos na alma. Elas fazem ver o fato
individual enquanto enquadrado no contexto e na história da família, ou de um
grupo de camaradas que viveram juntos coisas terríveis na guerra, ou no destino
comum de perpetradores e vítimas, e sempre transcendendo a morte. Ou elas
abrem a alma para a “grande morte”. Isto só parece estranho e até mesmo absurdo
quando é encarado de longe e não no contexto da contemplação e da experiência
imediata. Para os clientes envolvidos e os participantes de grupos, o encontro entre
vivos e mortos geralmente se realiza como que naturalmente e é muito
emocionante e curativo. E mesmo que não saibamos ao certo o que acontece nas
constelações nos domínios fronteiriços dos vivos e dos mortos, podemos perceber
o seu efeito e nos apoiar nisso. Neste particular, as constelações atuam como uma
“cura de almas”.

A reconciliação

A palavra grega therapêuein significa, em sua acepção original, “servir aos deuses”.
Embora em nossa época a terapia seja vista de uma forma profana, nela
permanece algo do sentido primitivo da palavra, na medida em que, decaídos de
uma ordem ou abandonado uma opinião e um bel-prazer que nos prejudicam,
retornamos a uma ordem saudável. Em nosso linguajar coloquial, exprimimos isso
com as palavras: “Preciso pôr alguma coisa em ordem”. Os conflitos da alma
surgem quando forças contrárias nos dividem inconciliavelmente e conservam-se
em oposição irredutível em nós ou entre nós. A psicoterapia é sempre um trabalho
de mediação e reconciliação, embora várias tendências terapêuticas tenham
enveredado pelo caminho oposto, enfatizando a auto-afirmação, uma perspectiva
unilateral da autonomia pessoal, a separação e a luta, por exemplo, contra os pais,
os destinos funestos ou as pessoas consideradas más.

Bert Hellinger, ousando chegar a limites extremos, trilhou imperturbavelmente um


caminho que pode abrir dimensões novas (ou retomar antigas, de uma nova
maneira) para a solução de conflitos e o trabalho de reconciliação.

Os passos para a reconciliação, embora basicamente simples, geralmente nos


parecem difíceis. O procedimento inicial faz com que os perpetradores reconheçam
o mal que fizeram às vítimas. Precisam assumir as conseqüências de suas ações e
encarar as vítimas e seus sofrimentos. Um segundo procedimento induz as vítimas
a encarar os perpetradores e a aceitar sem reservas sua ligação de destino com
eles. A vítima precisa abandonar a atitude de se julgar melhor e de se colocar,
mesmo perdoando, acima do perpetrador. Num terceiro procedimento, tanto as
vítimas quanto os perpetradores e os descendentes de ambos honram o
acontecimento funesto. Reconhecendo suas oposições, todos eles, em sua
condição de vítimas ou de perpetradores e com seus sentimentos de vingança e de
expiação, se entregam a uma força maior que é “indiferente” para com bons e
maus, assim como o sol brilha sobre ambos, e a morte os trata com igualdade.

A dificuldade de aceitar criminosos em condição de igualdade e em sua dignidade


humana é uma experiência comum para os consteladores. Um exemplo: Uma
mulher contou que sua mãe, quando era jovem, foi violentada e quase morta.
Confrontada na constelação com o representante do perpetrador, essa mulher
gritou para ele, cheia de ódio: “Eu mato você!”. Quando o terapeuta observou que
sua frase fôra a mesma do agressor diante de sua mãe, ela ficou profundamente
impressionada. Ela viera ao grupo porque os homens sempre a abandonavam,
alegando terem medo dela. Vê-se como é difícil conceder ao criminoso um lugar na
própria alma e no sistema familiar, e reconhecê-lo como equiparado à sua mãe. Às
vezes, as próprias vítimas são mais capazes de fazer isso do que seus amorosos
descendentes, que não dispõem dos mecanismos de elaboração da pessoa
envolvida, e por isso ficam entregues à indignação ou ao desejo de vingança e de
cega compensação.

Outras vezes é mais fácil para os descendentes, devido ao maior intervalo de


tempo, atuar na reconciliação, ajudando as almas do agressor e da vítima a se
encontrarem face a face e a se reconciliarem. Às vezes, só resta aos atingidos o
esquecimento e, reconciliados ou não, o assentimento e a reverência diante do
destino que os associou como vítima e agressor. E aos pósteros, só resta às vezes
a reverência diante dos antepassados, reconciliados ou não. Talvez eles possam se
tornar “permeáveis” a algo maior no que toca ao efeito do destino de vítimas e
agressores, para que esse efeito possa ser abolido nessa realidade maior.

É o próprio processo da constelação que determina como iniciar a reconciliação ou


o que é preciso observar em cada passo. O terapeuta limita-se a olhar e a escutar a
alma do cliente e de sua família, abrindo espaço, com suas poucas intervenções, às
forças que resolvem os conflitos e atuam de forma reconciliadora. Seja qual for o
caso, abuso ou assassinato de filhos, trapaça financeira, paternidade clandestina,
traição, atrocidades de guerra, extermínio de judeus ou terrorismo de qualquer
espécie, as constelações mostram uma força incrivelmente reconciliadora e
liberadora, em que pesem as imperfeições e as tentativas frustradas, superficiais ou
mesmo traumáticas dos consteladores.
Acusar de anti-semitismo ou de tendências fascistas esses procedimentos das
constelações é uma atitude absurda e degradante. Que, depois de homenagear as
vítimas, também se encare a dignidade dos perpetradores e as fronteiras
imprecisas entre criminosos e vítimas, é uma atitude que choca muitas pessoas, e
os próprios consteladores enfrentam dificuldades na presença de graves injustiças.
Mas quem lê as publicações mais recentes percebe também a manifestação de um
novo empenho, não somente para que sejam honradas as vítimas e seu destino,
mas também para que os criminosos sejam considerados como seres humanos e
seja respeitada sua dignidade. Foi um rabino judeu que afirmou: “Não haverá paz
até que o último judeu faça a oração dos mortos por Hitler”. Embora Bert Hellinger e
os consteladores não estejam sozinhos nesse trabalho de reconciliação que honra
tanto as vítimas quanto os criminosos, o significado do “amor aos inimigos”
dificilmente é experimentado no domínio da psicoterapia e do aconselhamento de
forma tão sensível como nas constelações.

Entretanto, não existem realmente diferenças objetivas entre bons e maus? E a


observação de que tanto as vítimas quanto os criminosos estão a serviço de um
destino maior, não abre ela as portas para a arbitrariedade e a injustiça no
comportamento humano? Não podemos dizer que temos sempre uma resposta
para isso, mesmo abstraindo de destinos concretos. Muitas vezes, porém, um
primeiro passo importante para a reconciliação e a paz, apesar das oposições e
mesmo da luta pela própria causa, que freqüentemente é necessária, é
reconhecermos o adversário como igual a nós e não nos considerarmos melhores
do que ele.

Diariamente experimentamos que a realidade costuma ser maior do que nossa


vontade. Mesmo quando criamos uma realidade, nem sempre podemos controlar
as conseqüências de nossas ações. Um dos efeitos profundos do trabalho das
constelações é que nos ajuda a confiar no desenvolvimento do sentimento humano,
para além da culpa e das incriminações, renunciando a flagelar nossos
semelhantes como desumanos. Só entramos em sintonia com a realidade quando
também reconhecemos o funesto e o terrível como fazendo parte dela, e lhes
damos um lugar. Muitos desenvolvimentos positivos recebem sua força e seu
direcionamento desse reconhecimento e respeito pelo terrível.

A ajuda

Como prestadores de ajuda, somos obrigados a colaborar no desenvolvimento de


algo bom que faça progredir aqueles que se encontram em necessidade. A ajuda[3]
é uma faculdade que se baseia em treinamento e experiência. Estamos
acostumados a ver a faculdade terapêutica encaixada em instituições de
psicoterapia e aconselhamento e em sua respectiva administração, que velam pelo
desenvolvimento dessa faculdade e para impedir abusos em seu exercício. O
trabalho das constelações familiares, como originariamente muitos outros métodos
de ajuda, se desenvolveu fora da psicoterapia estabelecida e não reivindica lugar
como um método terapêutico reconhecido. O que muitos teóricos e praticantes
sentem como afronta no domínio da terapia é a observação de Bert Hellinger,
partilhada por muitos consteladores – não por todos – que o trabalho com
constelações vai muito além da psicoterapia.

Os críticos objetam que com isso se abrem amplamente as portas para tolices
esotéricas. Afirmam que o trabalho com as constelações visa realmente efeitos
terapêuticos e que por isso ele deve sujeitar-se às leis que regulam a terapia e às
normas de uma terapia cientificamente controlada, ou deve deixar de existir.
Neste particular, importantes discussões também vêm acontecendo entre os
consteladores, e o campo está aberto para o desenvolvimento. As “Ordens da
Ajuda” de Bert Hellinger [4], que resumem sua longa experiência e suas convicções
sobre o tema da ajuda, contém matéria explosiva que exerce provocação, tanto
sobre a esfera externa quanto sobre o “cenário” dos consteladores:

Somente é capaz de ajudar quem assumiu plenamente os próprios pais e a vida.


Só é capaz de ajudar quem renuncia a dar ao cliente mais do que ele precisa. Só
pode ajudar quem tem a capacidade de dar o que o cliente necessita. Muitos
ajudantes[5] correm o risco de que seu impulso de ajudar resulte de sua própria
carência, de uma simpatia que se restringe aos fracos e às vítimas, e da pretensão
de estarem á altura de todos os destinos de seus clientes. Toda ajuda deve ajustar-
se às circunstâncias na vida do cliente e só pode intervir em caráter de apoio, e
quando o permitam as circunstâncias. Somente respeita a dignidade do cliente a
ajuda que não se coloca acima dessas circunstâncias, do destino do cliente e de
sua vocação pessoal, de suas aptidões e de sua capacidade de decisão.

Na psicoterapia tradicional infiltraram-se padrões de pensamento segundo os quais


os terapeutas poderiam ser mecânicos, juizes, cônjuges ou pais.

Principalmente esta última tendência foi grandemente reforçada através do modelo


teórico e do prático de transferência e contratransferência, com a “elaboração” de
conflitos e a idéia de acompanhamento posterior com o correspondente
prolongamento da terapia.

A constelação familiar não trabalha com transferência e contratransferência,


embora não conteste a existência desses processos. Mas o constelador se
desprende deles, da melhor forma possível. O terapeuta ou o aconselhador conduz
o cliente, quando isso é necessário, diretamente para os pais dele. Ele só os
representa transitoriamente e por pouco tempo, apoiando, por exemplo, a
recuperação do movimento amoroso, sem colocar-se, entretanto, no lugar dos pais.
Ele renuncia a acompanhar o cliente durante um período de sua vida e a oferecer-
lhe um espaço de substituição ou de proteção para seu crescimento na segurança
do espaço terapêutico. Ele só lhe dá um estímulo para o crescimento, geralmente
sem acompanhar a realização de seu crescimento na vida concreta.

A constelação familiar, entendida desta maneira, não é uma terapia. Ela se


assemelha realmente a uma “predição”, um “oráculo” ou um “vaticínio”, na medida
em que traz à luz laços de destino e seus efeitos. Ela ajuda a “ver”, sem buscar
influenciar o que o cliente fará com ela, e sem que o ajudante desempenhe um
papel nisso. Para além de uma “predição”, a constelação também ajuda as pessoas
a sentirem o próprio amor, freqüentemente oculto no destino cego. Ela possibilita
abrir os olhos para o amor, estabelecendo relações cara a cara. E também aqui, o
terapeuta se coloca, antes a serviço do diálogo do cliente com seu sistema de
relações, do que a si mesmo como interlocutor do diálogo.

A constelação familiar mostra os caminhos para uma compensação positiva em vez


de uma compensação funesta. Ela fornece indicações sobre o que ordena as
relações, tanto para o mal quanto para o bem. Ela faz confrontar, às vezes
duramente, com a realidade, mas não diz o que a pessoa deve fazer ou deixar, ou
como será seu futuro. Nesse particular, ela deixa a pessoa que busca auxilio
sozinha, ou no círculo de sua família e de outras relações existenciais. Isso muitas
vezes parece ser chocante para as pessoas no exterior, se bem que muitos clientes
experimentem justamente essa atitude como confiável, aliviadora e fortalecedora,
pois com ela são tomados a sério e se sentem livres.
Outra coisa que incomoda observadores externos, é que os consteladores às vezes
olham menos para o que o próprio cliente precisa do que para as necessidades de
outros membros do sistema, principalmente dos excluídos ou incriminados. A
principal atenção se dirige para a incorporação dos que estão separados num
sistema de relações, e não apenas para o cliente e sua autonomia. O autêntico
ajudante, no sentido de Bert Hellinger, resiste à diferenciação entre o bem e o mal
e, com isso, à consciência pessoal do cliente. Ele antecipa a necessária ação do
cliente, na medida em que dá em sua alma um lugar aos excluídos ou incriminados.

Ao abrirem um espaço para além dos efeitos da consciência do grupo, os


consteladores têm em vista o que sugere a “grande alma” – um contexto que
aponta para além dos grupos individuais – numa determinada situação de vida,
como conveniente para o crescimento ulterior. Tanto a consciência pessoal quanto
a coletiva são acolhidas numa espécie de consciência “universal”, direcionada para
o todo maior. Aqui a configuração de sistemas de relações também se distancia de
uma psicoterapia e um aconselhamento puramente orientados para soluções. Abre-
se um nível mais espiritual, na medida em que se encara a ligação com algo
“maior”, que está fora de nossa disponibilidade e possibilidade. Orienta-se no
sentido do crescimento e do desenvolvimento na direção de um “espaço aberto”.
Nisso reside o que na constelação familiar é “mais que uma psicoterapia” .

A ajuda que ocorre no interior desse “mais”, dificilmente se enquadra nas


instituições de ajuda e em seus regulamentos. Nesse ponto se insere, talvez, a
crítica dos teólogos e a luta contra o método das constelações, como se ele fizesse
parte de uma cena esotérica. Como esse “mais” abrange aconselhamento e
psicoterapia, e o trabalho das constelações se processa tanto dentro quanto fora
das correspondentes instituições, os conflitos são facilmente compreensíveis e
quase programados por antecipação.

A responsabilidade em constelar

Em razão da euforia fundada na profundidade das vivências e na densidade


humana de muitas constelações, muitos consteladores correm o risco de se
descuidar, justificando as críticas. O que nos ajuda para trabalhar
responsavelmente com constelações familiares?

O cuidado significa aqui agir com sobriedade e clareza, correção e plausibilidade.


Além da atitude e da reserva fenomenológica, constantemente aconselhada,
precisamos nos direcionar para a vida comum. Não se trata de direcionar os
clientes ou suas famílias a um padrão único, de acordo com nossas concepções,
mas de colaborar para que o que é “maior”, seja o que for, possa atuar como
incentivo e solução no dia-a-dia do cliente. O milagre não está na unidade do
múltiplo, mas na multiplicidade do uno.

Toda a sabedoria é inútil quando não se refere a situações individuais ou coletivas.


Por mais que encaremos a alma humana como uma espécie de “campo”, ela não
deixa de abranger pessoas individuais. Ela só existe e se mostra através de
indivíduos. Por mais que os movimentos sistêmicos permaneçam no primeiro plano
das constelações, eles não existem sem os indivíduos num sistema, isto é, sem a
mãe prematuramente falecida, sem o avô suicida, sem o cliente com sua
necessidade ou doença. “You cannot kiss a system”. Para corresponder realmente
à necessidade do cliente, a atenção do terapeuta deve realmente passar através de
seu sistema de relações, porém sem perder de vista o cliente e suas necessidades
concretas, e absolutamente sem feri-lo.

No tocante aos efeitos externos do trabalho das constelações, recomenda-se


considerar os seguintes aspectos:

Quem oferece constelações como psicoterapia também precisa possuir habilitação


legal para a prática da psicoterapia. Quem não a possui não deve despertar a
impressão de praticar terapia, nem atender a expectativas terapêuticas no sentido
tradicional e legal. Precisa limitar-se ao aconselhamento, que até agora –
felizmente – não foi regulamentado. Naturalmente, no trabalho concreto fica difícil
definir os limites entre psicoterapia e aconselhamento, entre curar e aconselhar.

Seguramente não se justifica enaltecer a constelação familiar como o único método


capaz de resolver tudo e trazer felicidade. Por mais liberador e saudável que seja
seu efeito para a alma, ela não produz redenção nem salvação. Por mais espiritual
ou religiosa que possa ser, ela não é uma religião. O êxito de um método tende a
colocá-lo em evidência, em lugar da intenção ou da necessidade do cliente, ao qual
o método serve. Muitos clientes preferem fazer uma constelação a descrever seu
problema, seja ele uma briga entre irmãos, um conflito conjugal, a busca do lugar
certo em sua vida ou o risco de suicídio de um filho. Mas a participação numa
constelação não significa, por si só, uma receita de sucesso.

O “mais” do trabalho das constelações é em muitas situações também um “menos”.


Por exemplo, a constelação familiar não substitui o tratamento psiquiátrico, embora
freqüentemente seja útil para famílias onde se manifesta um comportamento
psicótico. Não substitui o tratamento médico em casos de doenças. Não substitui o
atendimento social, com as decisões de sua competência. Não substitui todas as
instituições que se dedicam a intervenções em casos de crises. Nem substitui os
métodos de ajuda à alma, quando alguém precisa apreender o que necessita para
o domínio de sua vida e que, pelas circunstâncias de sua história, ainda não
aprendeu. As constelações não são úteis para mudanças de personalidade, embora
possam interferir profundamente no processo de crescimento da pessoa. Elas não
substituem o treinamento ou a disciplina espiritual, quando alguém quer se
desenvolver nesse sentido. E não substituem os domínios da experiência
quotidiana dos clientes a que servem, mesmo que possam proporcionar-lhes luzes
extraordinárias.

O cuidado no trabalho com constelações também envolve a aprendizagem. Nesse


particular, muito se discute nos círculos de consteladores sobre o que é necessário
aprender para dirigi-las. Até o momento pertence a cada um testar-se para sentir se
está pronto e capaz de assumir a responsabilidade por esse trabalho. Note-se que
a atitude fenomenológica que abre mão do saber só tem significado para aquele
que sabe algo. Ela não significa “sem capacidade”, “sem experiência” ou “sem
competência”. A atitude de agir “sem medo” não significa ausência de respeito
pelas forças com que temos de lidar nas constelações. A atitude de atuar “sem
intenção”, não significa que nos deixemos arrastar nas constelações pela
arbitrariedade e pelo acaso. E o atuar “sem amor” se refere ao domínio da
transferência e da contra-transferência, e não significa falta de amorosidade.

Também de nós, consteladores, continua exigindo um constante esforço assumir


cada pessoa, cada família, cada sistema, cada realidade como ela é, de modo que
também o cliente possa reconhecer mais facilmente o que necessita para a solução
de seus problemas e para o seu próprio crescimento.
Agradecimento

Muito agradeço aos amigos e colegas que me apoiaram neste artigo com valiosos
estímulos e correções: Bernhard Haslinger, Eva Madelung, Albrecht Mahr, Wilfried
de Philipp, Katharina Stresius,Gunthard Weber e Berthold Ulsamer.

Tradução: Newton Queiroz

Rio de Janeiro, fevereiro de 2004

[1] A tradução, autorizada pelo Autor, reproduz quase integralmente o artigo “Wille
und Schicksal” (Vontade e Destino), publicado originalmente em resposta a críticas
levantadas recentemente na Alemanha contra o trabalho de Bert Hellinger. Foi
excluída da presente tradução a página inicial, pelas referências a um contexto para
nós desconhecido. (N.T.)

[2] Na Alemanha apenas se usa o sobrenome paterno, que as mulheres


normalmente substituem no casamento pelo sobrenome do marido. (N.T.)

[3] Entendida num sentido profissional. (N.T.)

[4] Publicado nesse site onde existe uma tradução de nossa autoria. (N.T.)

[5] No original, Helfer. Entendem-se aqui sobretudo os profissionais da ajuda. (N.T.)

Caminhos para os
casais

Escrito por Jakob R. Schneider


Caminhos na terapia de casal

Jakob Robert Schneider(*)

As constelações familiares também funcionam sempre como terapia de casal.


Juntamente com os processos entre pais e filhos, a relação entre o homem e a
mulher é o coração da Psicoterapia. É bem verdade que, nos chamados
“movimentos da alma”, nosso horizonte se estendeu para além da constelação
familiar, abrangendo nossa inserção em contextos existenciais mais amplos: a
relação entre vivos e mortos e entre agressores e vítimas, a guerra, conflitos de
nacionalidades e religiões. Não obstante, as constelações voltam sempre a afetar
em seus efeitos a relação conjugal e as relações familiares.

O sucesso do amor entre o homem e a mulher talvez seja o nosso anseio mais
profundo, e o fracasso desse amor faz parte de nossos medos e sofrimentos mais
profundos. Surpreende-me sempre constatar que a pressão pelo sucesso das
constelações nos grupos para casais é muito maior do que nos seminários para
pessoas doentes, onde freqüentemente se trata de vida e de morte. No
aconselhamento de casais percebe-se também, de modo especial, uma alta
expectativa dirigida ao terapeuta ou ao aconselhador. Pois trata-se de decisões
sobre o prosseguimento da vida em comum e das conseqüências que acarretam
para os parceiros, os filhos e as bases materiais da vida. Trata-se também das
mágoas e dos medos associados ao amor, onde somos ainda mais vulneráveis do
que no tocante à nossa integridade física.
Na seqüência, abrirei uma perspectiva de conjunto sobre os caminhos da terapia de
casal, a partir da experiência com as constelações familiares e do trabalho com os
fatores que as condicionam.

Pressupostos para o bom êxito de uma terapia de casal

Os casais procuram ajuda em suas necessidades, mas freqüentemente com idéias


que estragarão qualquer ajuda se forem acolhidas pelo terapeuta. O denominador
comum dessas idéias é o abandono da responsabilidade pelo sucesso do
aconselhamento. Neste particular, a fantasia usual de um ou de ambos os parceiros
é que algo se deteriorou em seu relacionamento e que cabe ao terapeuta, como
perito e especialista, repará-lo em sua “oficina”. Ou então o casal procura um juiz
para resolver o seu caso, alguém que ouça os argumentos das ambas as partes e
dê o seu justo veredicto. Alguns buscam no terapeuta, de um modo mais pessoal,
uma autoridade cheia de amor que, à maneira de um aliado, um pai ou uma mãe,
saiba o que se deve fazer e se imponha ao outro parceiro.

Conflitos de casal assumem freqüentemente a forma de um desacordo em decisões


relevantes, onde cada um procura mudar o outro para que se ajuste a sua
experiência de vida, a seus desejos e convicções. Como, apesar de intensos
esforços, não lhe bastou para isso a força de sua persuasão, ele transmite ao
terapeuta, de forma aberta ou velada, o seu real desejo: “Convença-o você, eu não
consigo”. Mormente no atendimento individual, quando apenas um dos parceiros
procura conselho, transparece este apelo: “Meu parceiro não me dá o que preciso,
não me dá atenção, não está disponível para mim. Por favor, dê-me atenção, esteja
disponível para mim, seja para mim uma pessoa familiar e confiável”. Assim, o
terapeuta é solicitado a preencher uma lacuna para a satisfação das necessidades
infantis ou conjugais do cliente.

A montagem da constelação familiar, em sessão de grupo ou na consulta individual,


com a preservação da atitude fenomenológica que fundamenta esse trabalho, ajuda
o terapeuta a não acolher esses desejos com a intenção de ajudar o casal. Em vez
disso, ele deve manter a atitude imprescindível para se alcançar uma solução. Ele
entra em sintonia com a alma ou com o campo de relacionamento do casal.
Acompanha a vibração do sistema do relacionamento, através da constelação ou
de outro método que lhe permita ver e entrar em contato. E faz com que se
manifeste, através daquilo que se mostra, algo que seja importante para o casal e o
faça avançar. O terapeuta apenas transmite uma indicação ou um conselho
essencial, e depois se retira. Não acompanha o processo do casal até a solução.
No máximo, comporta-se como um navegador experimentado que, de acordo com
o objetivo do casal, indica o caminho ou mesmo assume o comando em seu trecho
inicial.

Terapeutas não são mecânicos, juizes, correligionários, pais ou familiares. Um


aconselhamento de casal não tem por função modificar a personalidade dos
parceiros. Ele permanece sempre incompleto e visa apenas o que é exigido para o
próximo passo. Permanecem com o casal o objetivo e o caminho da solução, bem
como a responsabilidade e a força para resolver o problema. Assim se preserva a
dignidade do casal, bem como a do terapeuta.

O que o aconselhador pode fazer de mais importante pelo casal em sua


necessidade, antes mesmo de abrir-lhe uma nova perspectiva sobre sua mútua
relação, é interromper os padrões que impedem e destroem o relacionamento. Da
mesma forma como recusa acolher as idéias dos parceiros sobre a maneira de
ajudá-los, ele interrompe rapidamente os padrões de pensamento e de
comportamento que são parte do problema e não trouxeram ajuda até o momento.
As constelações familiares, seja em grupo ou em sessões individuais, são uma
grande ajuda metódica, já pelo simples fato de que afastam imediatamente os
parceiros de discursos estereotipados sobre o relacionamento, levando-os a um
olhar conjunto sobre a constelação e, consequentemente, sobre os movimentos
mais profundos que fazem progredir o seu relacionamento.

Soluções com vistas às ocorrências dentro do relacionamento do casal

A atenção do aconselhador ou do terapeuta deve se voltar inicialmente para o que


ocorreu na história do casal, investigando o que aconteceu por obra do destino ou
por responsabilidade pessoal de um ou de ambos os parceiros e os levou aos
limites de seu relacionamento. Cito aqui alguns pontos mais importantes, com
breves exemplos.

Vínculos anteriores não honrados

Relacionamentos anteriores que criaram vínculo através de um profundo e


marcante exercício da sexualidade e foram desfeitos com mágoas ou sentimentos
de culpa, pelo menos de um dos parceiros, interferem nas relações ulteriores.
Quando o amor, a dor e o preço pago na ligação anterior não são honrados no novo
relacionamento, isso não apenas induz filhos dos novos relacionamentos a
representar ex-parceiros dos pais que não foram devidamente respeitados, como
também impede, muitas vezes, os novos parceiros de assumir sua relação, pelo
preço que custou aos parceiros anteriores. O ciúme, por exemplo, é uma forma
inconsciente de lealdade a uma ligação anterior do parceiro. Quando um homem
abandona sem necessidade sua mulher para viver com uma amante, o ciúme desta
freqüentemente destrói a nova ligação. Ela não consegue assumir a relação pelo
preço que custou à parceira anterior, e torna-se igual a ela no medo de perder o
homem para uma outra mulher.

As ligações anteriores são muitas vezes esquecidas, reprimidas ou não


reconhecidas em seus efeitos posteriores. Um homem se queixou de que, depois
de dois casamentos e de um terceiro relacionamento mais longo, apaixonara-se de
novo, mas a mulher não queria casar-se com ele. Em sua constelação verificou-se
que todas as mulheres estavam zangadas com ele, inclusive as duas filhas de seu
primeiro matrimônio. Só após um persistente interrogatório ele revelou, com um
gesto depreciativo da mão, que aos 17 anos tivera um amor de juventude com
intenso envolvimento sexual e que, pouco depois de ter-se separado dessa moça,
ela foi internada numa clínica psiquiátrica. Uma representante dessa mulher foi
então incluída na constelação. Ela chorou amargamente e todas as outras mulheres
tinham lágrimas nos olhos. Somente quanto o homem a encarou como seu amor de
juventude, falou-lhe como a sua primeira mulher, mostrou compaixão com seu
destino e a abraçou de novo com amor é que ela ficou tranqüila e sorriu. As outras
mulheres também abriram sorrisos e a última delas disse: “Agora já posso pensar
em casar-me com ele”. E, de fato, os dois se casaram depois.

Ocorrências traumáticas no relacionamento conjugal


Entre as ocorrências que atuam como graves ofensas na relação de um casal e
com freqüência acarretam a separação, porque o destino não pode ser carregado
em comum, enumeram-se: filhos prematuramente falecidos, abortos provocados,
abortos espontâneos em grande número, ausência de filhos, sexualidade deficiente,
doenças graves, acidentes, culpa real ou imaginária em relação ao parceiro ou a
outras pessoas, ameaça às bases da existência e graves ameaças à integridade do
corpo ou da alma. Com a ajuda de uma constelação é possível conjurar forças que
possibilitem aos parceiros a superação conjunta do evento traumático, reforçando o
vínculo ou então levando-os a aceitar o fato de que já não podem assumir em
comum o destino ou a responsabilidade.

Uma mulher procurou um grupo porque buscava um caminho para dissolver o


“profundo mutismo” que havia entre ela e o marido. A constelação de sua família
atual mostrou realmente que havia um abismo entre o casal, o que fez com que a
atenção se desviasse imediatamente dos filhos para os pais. Perguntada sobre que
fatores de separação houvera entre ela e o marido, a mulher logo disse que tinha
havido ainda uma quarta criança, bem mais nova, fruto de uma noitada, que eles
decidiram abortar. Foi colocado um representante para essa criança, que sentou no
chão, entre os pais. Os representantes dos pais olharam imediatamente para a
criança, colocaram-se juntos atrás dela, puseram espontaneamente as mãos sobre
sua cabeça, olhavam alternadamente para a criança e entre si e deixaram
silenciosamente correr suas lágrimas. A mulher que colocara sua família estava
sentada na roda e também chorava em silêncio. Os representantes dos filhos
deram um passo para trás, afastando-se dos pais, e simplesmente ficaram olhando.
Terminada a constelação, a mulher agradeceu e disse que ela tinha salvado a sua
vida. Admirado, o terapeuta lhe perguntou o que ela queria dizer com isso. Ela
respondeu: “Pouco depois do aborto apanhei um grave reumatismo e
imediatamente reconheci que esta era a minha forma de expiar pelo aborto”. No dia
seguinte, ela contou que, na noite do próprio dia da constelação, seu marido
regressou de uma longa viagem de negócios e ela lhe contou o que se passara.
Então ele se sentou no sofá, chorou muito e disse: “Eu sempre me senti muito
culpado”. E passaram toda a noite conversando.

Num grupo de constelação familiar, um homem manifestou, como seu problema,


que sua mulher se esquivava dele e tratava sem amor a filha e um filho mongolóide,
que estava internado num asilo. Na constelação, a mulher realmente se mostrou
isolada e totalmente fria. Os três filhos – pois tinha havido um outro filho
mongolóide, o mais novo, falecido aos quatro anos de idade– se distanciaram dos
pais, afastando-se, e a filha se colocou entre a mãe e os irmãos, como se quisesse
protegê-los. O terapeuta perguntou então ao homem se tinha havido recriminações
pelos filhos que nasceram mongolóides. O homem engoliu em seco e disse: “Sim,
meus pais fizeram graves acusações à minha mulher, dizendo que ela trouxera da
família uma péssima herança genética e jamais deveria ter-se casado comigo. E eu
defendi meus pais e suas acusações”. Então o terapeuta colocou esse homem
diante da representante de sua mulher e pediu aos dois que se olhassem
demoradamente, realmente encarando-se. Isso entretanto era visivelmente difícil
para eles. Finalmente o homem conseguiu dizer à mulher: “Sinto muito. Coloquei
em você todo o peso do destino de nossos filhos doentes. Juntamente com meus
pais, responsabilizei você e sua família e a magoei muito. Se você ainda puder
aceitar isto, estou disposto agora a retirar minha acusação e a carregar com
responsabilidade e amor, junto com você, o destino de nossos filhos”. – Então a
representante de sua mulher se lançou em seus braços e chorou por longo tempo.
Em seguida ela o encarou amorosamente, caminhou para os filhos e os abraçou.
Quando o pai se aproximou, por sua vez, e juntamente com sua mulher abraçou os
filhos, eles finalmente aceitaram a proximidade da mãe.

Na terapia de casal e nas constelações que revelam a dinâmica dos


relacionamentos verificamos portanto quais são os eventos que atuam como fatores
de separação num relacionamento e que caminho se oferece ao casal no sentido
de carregar algo em comum, restaurar a ligação, assumir a dor da perda e deixar
que o passado seja passado. E verificamos como um casal pode lidar com tais
eventos. Mesmo quando for inevitável a separação, os acontecimentos que
separam podem, passado algum tempo, descansar em paz e a relação pode
terminar com amor e dignidade.

A ordem confiável na família

Freqüentemente o amor entre o homem e a mulher é impedido por não serem


reconhecidas as condições para o crescimento da relação. Neste caso, a
constelação é útil para encontrar as formas de restabelecer a ordem no sistema.

Por exemplo, uma das condições mais importantes para o bom êxito do amor é
que, no processo de dar e tomar, se volte sempre a alcançar uma compensação
positiva. Quem toma, também deve dar; se ama, deveria dar um pouco mais do que
recebeu. Assim, através do amor, a troca recíproca é estimulada no sentido de um
alto investimento de vida. A isto chamamos felicidade. Mas essa felicidade é
também difícil. Ela exige muita coisa dos parceiros, que então dificilmente podem
separar-se. Às vezes, alguém já não consegue sustentar a troca crescente do dar e
tomar, e talvez se sinta atraído por um outro parceiro, com quem possa trocar
menos. Ou então minimiza com críticas o que recebe, para sentir-se menos
obrigado.

A compensação entre o dar e o tomar funciona nos relacionamentos como uma lei
natural. Se o desequilíbrio cresce demais, a relação não consegue suportá-lo. Se,
por exemplo, a mulher custeou para o marido uma formação superior, sustentando-
o, é freqüente que ele a deixe depois, porque a compensação se torna muito
grande e difícil para ele. Quando um dos parceiros traz um grande peso em bens,
relacionamentos anteriores, filhos, destino, caminho de vida, e o outro não pode
contrapor-lhe nada de equivalente, isso pode destruir o relacionamento depois de
algum tempo. A gratidão e o amor podem aliviar parte do desequilíbrio, mas muitas
vezes é difícil.

Também as ofensas exigem compensação. Enquanto o parceiro ofendido quiser


permanecer inocente não haverá possibilidade de compensação. Se, inversamente,
o revide for tão grande que cause ao outro um sofrimento ainda maior, a relação
entrará num círculo vicioso de brigas e ofensas recíprocas, que só conhecerá
pausas pelo esgotamento e geralmente sobreviverá a uma separação. A solução,
neste caso, é buscar a compensação através de uma zanga ou de uma exigência
menos ofensiva, que respeite o parceiro e o convide a retomar o amor, dando-lhe a
oportunidade de reparar algo amorosamente e de dar algo bom de um modo
diferente.

Citarei aqui, de modo sucinto, outras formas das ordens do amor. A primeira é a
primazia da relação do casal sobre o cuidado dos filhos – pois o cuidado dos pais
pelos filhos aumenta com o amor recíproco entre os pais. Se este é sacrificado em
benefício do cuidado com os filhos, isto separa os pais e os filhos não o aceitam,
porque os pais pagam o preço em sua relação.

Já nos sistemas familiares complexos, onde existem filhos de relações anteriores, a


ordem correta confere primazia ao cuidado pelos filhos dessas relações. Contudo,
no que toca à relação entre o homem e a mulher, prevalece o novo sistema.

Naturalmente resultam conseqüências de peso para uma relação e para os filhos


quando um parceiro que tem um filho de uma relação anterior silencia este fato e
não provê a criança. Para além da ignorância do fato, isso pesa também sobre o
relacionamento seguinte e os filhos subsequentes.

Obviamente, é muito importante que a relação do casal seja confiável como relação
entre um homem e uma mulher. Por outras palavras, o homem deve ser e
permanecer homem e a mulher deve ser e permanecer mulher. Os parceiros devem
sentir necessidade e confiança mútua, sobretudo no que se refere à sexualidade e
ao provimento das condições de vida.

Devemos considerar também outra ordem do relacionamento, fruto da percepção


que Bert Hellinger exprime com esta frase: “A mulher deve seguir o homem (em sua
família, em seu país, em sua cultura) e o homem deve servir ao feminino”.

Na terapia de casal devemos, portanto, ter em vista o que está em desequilíbrio na


relação e como é possível restaurar uma troca positiva e aberta para o futuro, ou
então conseguir uma compensação que possibilite uma boa separação.
Verificamos, ainda, o que precisa ficar em ordem na relação, de modo que ela volte
a ser vivida de uma forma confiável.

Soluções com vistas a acontecimentos e destinos nas famílias de origem


Talvez o aspecto mais importante na terapia conjugal seja a percepção dos
envolvimentos dos parceiros nas respectivas famílias de origem. Esta é
freqüentemente a zona menos perceptível para os parceiros e é aí que as
constelações lhes fornecem o maior esclarecimento. De fato, a terapia de casal
sempre levou em conta a interferência de necessidades infantis insatisfeitas e de
traumas de infância. Entretanto, foi somente através das constelações familiares
que foram percebidos, em toda a sua amplitude e em seus efeitos trágicos, os
envolvimentos profundos dos parceiros em destinos que abrangem várias gerações
e em temas familiares não resolvidos. A maioria dos problemas sérios de
relacionamento nada tem a ver com o próprio casal e com seu amor recíproco.
Cegamente absorvidos em conflitos não resolvidos, e muitas vezes inconscientes,
de antepassados das famílias de origem, os parceiros carecem de compreensão e
sensibilidade em seu relacionamento e projetam ou procuram resolver um no outro
o que malogrou em seus antepassados por força do destino ou por
responsabilidade pessoal.

Comportamento cego de ambos os parceiros com respeito a destinos e eventos


anteriores

Num grupo para casais, um deles constelou o seu sistema atual. A mulher trouxera
para o novo casamento um filho de um matrimônio anterior. Na nova relação,
embora recente, já havia muita briga. Na constelação evidenciou-se que a mulher
tinha muito pouca consideração pelo ex-marido e uma grande esperança de que o
novo marido viesse a ser um pai melhor para a filha dela. A relação entre a mãe e a
filha era muito estreita, e o marido atual se sentia estranho e olhava para fora.
Nessa constelação, a filha assumiu e honrou seu pai. O marido atual ficou aliviado
e encontrou um lugar ao lado de sua esposa. Parecia que a constelação tinha
funcionado e trazido solução.

Entretanto, à noite o marido procurou o terapeuta. Disse que se sentia muito mal e
que também não revelara o mais importante: que tinham sérios problemas no
relacionamento sexual, onde ela fazia muitas exigências que ele não podia
satisfazer. No dia seguinte, o terapeuta fez com que o marido montasse a
constelação de seu sistema de origem. Ela evidenciou que o homem tinha uma
estreita ligação com sua mãe e assumia junto dela o lugar do pai. O representante
do pai olhava para fora do sistema, totalmente fascinado por algo terrível.
Averiguou-se que, no decurso de uma longa fuga da prisão, que durou três anos,
ele fuzilou um homem que lhe barrara o caminho. Na compreensão desse evento,
que foi muito comovente para o casal, evidenciou-se que o marido não ousava
aceitar o amor de uma mulher nem gerar um filho, porque o regresso do pai ao lar e
seu conseqüente casamento com sua mãe só foram possíveis através do
assassinato de uma pessoa. Este era um importante quadro de fundo para os
problemas sexuais por parte do marido. Um cartão postal enviado pelo casal, nas
férias que se seguiram, dava a entender que algo se resolvera em sua relação.

Mas esta história ainda teve prosseguimento. Algum tempo depois, a mulher ligou
para o terapeuta. Disse que houvera muitas melhoras no casamento e que o marido
mudara muito e estava muito afeiçoado a ela. Mas ela se sentia de novo intranqüila
e insatisfeita quanto à relação sexual. Então, através de duas breves ligações
telefônicas, entrou em contato com uma avó que, depois da morte de seu primeiro
marido, por quem tinha muito amor, tivera uma vida muito infeliz e uma relação
muito insatisfatória com os homens que se seguiram. Percebendo sua estreita
ligação com essa avó, a mulher conseguiu acolhê-la amorosamente em seu destino
e desidentificar-se dela. Num outro cartão de férias comunicou que agora estava
muito satisfeita e que estava bem com o marido.
A dupla transferência

Um fenômeno freqüente em conflitos sérios entre parceiros aparece no que Bert


Hellinger chamou de “dupla transferência”. Se uma injustiça cometida entre um
homem e uma mulher, numa geração anterior, não teve a devida compensação,
esta é transferida para seus descendentes. Ela atinge então pessoas totalmente
inocentes, acrescentando uma nova injustiça à primeira. Assim, por exemplo, uma
mulher “bondosa” e compassiva tolera, por anos a fio, os casos públicos de seu
marido que muito a magoam, mas sua filha assume a vingança em nome da mãe.
Entretanto, como também ama e protege o pai, vinga-se em seu marido,
molestando-o abertamente com um namoro. A transferência no sujeito significa aqui
que ela age em lugar de sua mãe. E a transferência no objeto significa que a
compensação não se dirige à pessoa do pai, mas ao marido. Embora inocente, este
é chamado a pagar por uma injustiça na família de sua mulher. Ao mesmo tempo a
filha torna-se semelhante ao pai em seu comportamento, não agindo melhor do que
ele.

Certa mulher estava sempre muito irritada com seu marido e, como ela própria
notou, sem razão. Na constelação, ficou claro que ela representava uma tia que,
como primeira filha de mãe solteira, fora totalmente excluída da família por seu avô.
Em substituição a essa tia, a mulher assumiu a raiva pela injustiça mas, poupando
o avô, dirigiu-a contra o próprio marido. Ao mesmo tempo, e sem consciência do
fato, deu à sua filha mais velha o mesmo nome da tia. A história somente lhe foi
revelada por uma conversa telefônica posterior com o próprio pai.
Uma outra mulher, que era bonita mas tinha uma fisionomia muito carregada, era
seguidamente abandonada pelos homens. Não dava a impressão de ser agressiva,
mas comportava-se como uma vingadora cautelosa, aguardando o momento certo
para o golpe. As informações sobre sua família revelaram que sua mãe, aos doze
anos de idade, fora estuprada e quase morta. Na constelação a mulher
experimentou o medo pânico de sua mãe e, assumindo o papel de sua
representante diante do agressor, bradou-lhe no rosto: “Eu mato você!” Foi somente
o reconhecimento desse agressor como primeiro homem da mãe, e uma profunda
reverência da mãe e da filha diante do destino que uniu a mãe e seu agressor como
homem e mulher num evento terrível e sem saída, que trouxe alívio e luz ao
semblante da jovem mulher. Então ela pôde entender seus impulsos de vingança
diante dos homens, e em que medida nisso ela se ligava à mãe e ao mesmo tempo
se tornava semelhante ao agressor.

A fascinação de um parceiro pela morte

Uma dinâmica usual que separa os parceiros resulta do fato de que um deles, de
algum modo, está mais perto da morte do que da vida. Essa pessoa não está
realmente presente, e toda a luta do outro para retê-lo apenas agrava o conflito.
Assim, certa mulher ficou muito tocada quando, numa constelação, pôde ver em
que direção olhava o ex-marido do qual acabara de separar-se como sua quinta
mulher (ele vivia trocando de mulheres). Na constelação, seu representante não
olhava para nenhuma de suas mulheres e namoradas, cujas representantes tinham
sido colocadas ali, mas apenas para uma antiga noiva que, pouco antes do
casamento, morreu num acidente. Ele queria seguir essa mulher na morte, como se
só assim pudesse consumar-se esse grande amor.
Um homem muito bem sucedido e, não obstante, solitário, ficou muito assustado
quando se revelou em sua constelação que ele, no meio de todos seus casos,
levava consigo esta frase: “Antes te amar do que morrer”.

Sentia-se atraído por sua mãe, que morrera muito cedo, e na constelação só
encontrou paz junto dela. É como se tivesse sentido toda a sua vida através dessa
atração por sua mãe, e tivesse se defendido dela através desses amores. E talvez
também tivesse procurado encontrar neles sua mãe viva, naturalmente não a
encontrando.

Nas camadas profundas da alma de homens violentos e mulheres agressivas


manifesta-se, às vezes, um grande desespero, o medo de perder o parceiro pela
morte e uma luta impotente contra isso. Muitos casamentos fracassaram no pós-
guerra porque o homem não conseguia aceitar o fato de ter sobrevivido, em face
dos numerosos companheiros mortos com quem diariamente lutara pela
sobrevivência. Mesmo voltando para casa, ele desejava, no íntimo, juntar-se aos
companheiros mortos. Abala-nos sempre perceber, no decurso de constelações,
em quantos conflitos de casal existe, bem no fundo, uma questão de vida e de
morte, e quanto de emoção e de entendimento mútuo se libera quando isso vem à
luz e, na medida do possível, pode ser resolvido.

Gostaria de mencionar aqui, muito rapidamente, uma dinâmica que se revela cada
vez mais, logo que ficamos atentos a ela. Dois parceiros se encontram, em muitos
casos, devido à existência de destinos semelhantes em suas famílias de origem.
Quando, por exemplo, há um filho presumido na família de um dos parceiros, o
mesmo ocorre, com freqüência, na família do outro, muitas vezes com diferença de
uma geração. Se numa das famílias os homens têm uma posição desfavorável, isso
também acontece freqüentemente na outra família. Se uma das famílias sofre os
efeitos de destinos envolvendo criminosos e vítimas, o mesmo ocorre geralmente
na outra família. Parece que instintivamente percebemos no parceiro os destinos de
sua família, no que têm em comum com os destinos da nossa. São bem diferentes,
entretanto, os padrões de lidar com tais destinos. Assim, com freqüência as
pessoas se completam pelo lado funesto: por exemplo, um dos parceiros se
identifica com as vítimas de um avô no regime nazista, enquanto o outro se envolve
com um avô que pertenceu às forças de choque do regime.

Quando ambos os parceiros comparecem a um trabalho para casais, em grupo ou


num aconselhamento privado, as conexões que vêm à luz proporcionam muita
compreensão recíproca e uma visão do quadro de fundo das dificuldades de
relacionamento. Também para o terapeuta é emocionante presenciar quando o
auto reconhecimento de um casal envolvido nos destinos familiares se manifesta de
uma forma que reforça seu vínculo no amor.

O movimento amoroso interrompido

Uma dinâmica importante nos conflitos de casal se mostra quando há um


movimento precocemente interrompido no amor dirigido à mãe. Isto não constitui,
em sua origem, um conflito sistêmico, e só se torna tal quando é transferido para a
relação conjugal. Uma interrupção no movimento amoroso origina-se na criança
pequena quando ela é separada da mãe nos primeiros anos de vida, geralmente
por força do destino, por exemplo, porque a mãe teve de ficar hospitalizada por
várias semanas depois do nascimento, ou porque a criança de um ano precisou ser
internada para uma operação, ou porque a mãe morreu quando a criança tinha três
anos. Trata-se portanto de uma separação prematura que sofre a criança,
principalmente em relação à sua mãe, às vezes também ao seu pai. O efeito que
isso terá sobre a vida posterior da criança, e principalmente sobre os seus
relacionamentos, será tanto maior quanto mais existencialmente ameaçada esteve
a criança e quanto mais ela teve de abandonar a esperança de recuperar a
proximidade da mãe.

Quando um homem ou uma mulher olha para o seu parceiro, sente o desejo de
amá-lo e de ser amado por ele. Entretanto, ao se aproximar do parceiro, surge na
pessoa, como num reflexo, o antigo medo da criança, de perder sua mãe e de não
poder mais confiar nela, junto com uma grande dor e uma profunda resignação.
Esse padrão é transferido inconscientemente ao parceiro e uma luz vermelha se
acende: “Não quero sofrer isso de novo. Prefiro me retirar logo disso”. Entretanto,
como todo mundo gosta de amar e de ser amado, a pessoa volta a tomar um
impulso e a procurar o parceiro. Mas, logo que se chega ao amor, emerge
novamente o medo da criança pequena e a pessoa torna a recuar. Isto foi descrito
por Bert Hellinger como o círculo vicioso da neurose. A maior parte dos chamados
conflitos de proximidade e distância têm assim sua origem num movimento
precocemente interrompido em direção à mãe. Esses conflitos não podem ser
resolvidos na própria relação conjugal, mas exigem que a criança presente no
adulto, numa experiência retroativa, seja acolhida com força e amor por sua mãe ou
por um terapeuta que a substitua. Isso exige uma experiência de transe ou uma
vivência corporal em que o adulto se sinta de novo como uma criança pequena e
que, como uma criança pequena, experimente um abraço que lhe permita
atravessar a dor e recuperar a confiança em sua mãe.

Quando, na terapia de casal, trazemos assim à luz, de uma forma liberadora, fatos
passados, isso ajuda o “amor à segunda vista” (Bert Hellinger), a saber, as
dimensões mais profundas de um amor dotado de visão. Representa uma ajuda
para o futuro e para um amor bem sucedido do casal (mesmo que, no caso de uma
separação, apenas para o tempo em que ainda havia amor). Uma compreensão
retroativa só tem sentido na medida em que abre para o casal novos passos para o
futuro, no sentido do título de um dos livros de Bert Hellinger: “Vamos em frente”.
A dimensão espiritual da terapia de casal

Quando as constelações na terapia de casal são bem sucedidas, elas abrem para
os parceiros um caminho espiritual para o bom êxito de seu relacionamento. O
“espiritual” é entendido aqui num sentido mais amplo, como uma espécie de
purificação do relacionamento, e como uma forma de inserir-se no espaço maior da
alma, que transcende o próprio relacionamento. Também neste particular apontarei
brevemente os pontos essenciais.

A fila dos antepassados

A vida nos vem através de nossos pais, mas não se origina neles. Ela vem de
longe. Às vezes, podemos colocar os parceiros de frente um para o outro (e isso
costuma ser muito útil quando há problemas sexuais) e, atrás de cada um deles,
uma fila de antepassados. Isso permite perceber a força da vida que vem de longe
e é transmitida através dos antepassados, e também a alegria de viver. Esta
conexão, através dos antepassados, com a ampla totalidade da vida é um ato
religioso fundamental. Ao realizá-lo nesse espírito, cada um pode sentir, em si
mesmo e no parceiro, o que isso proporciona em termos de afluxo de força, de
movimento amoroso para o parceiro e de uma união aberta, no sentido de uma vida
mais ampla.
O ato de encarar-se

Só conseguimos manter muitos conflitos de relacionamento porque realmente não


nos encaramos. Os sentimentos que não podemos manter quando nos olhamos
nos olhos não contribuem para o bom êxito do relacionamento. Eles nos mantêm
presos a todo tipo de fantasias e de padrões antigos, que nada têm a ver com a
relação conjugal. É realmente um exercício espiritual diário desprender-se
continuamente desses sentimentos e pensamentos que não conseguimos manter
de olhos abertos.

O respeito pelos mais antigos e a primazia do novo

Para o êxito do amor existe um processo indispensável, que tem a ver com o
respeito pelos mais antigos e com o progresso. O primeiro passo é este: “Respeito
os meus pais e a minha família, e tudo o que vale nessa família”. O segundo passo
diz: “Respeito os teus pais e a tua família, e tudo o que vale em tua família”. O
terceiro passo costuma ser doloroso. Ambos os parceiros olham para seus pais e
lhes dizem interiormente: “Preciso deixar vocês e me desprender também de muita
coisa que era importante para vocês. Preciso deixar o que está em oposição ao que
traz o meu parceiro em termos de hábitos, normas, valores, fé ou cultura, e o que
me impede de dar prioridade à minha união atual e à minha família atual”. E, num
quarto passo, os parceiros se encaram e dizem um ao outro: “Vamos fazer algo de
novo a partir do antigo que trouxemos, algo que acolha e transcenda o que ambos
trouxemos, algo de novo que una e que leve ao futuro, e no qual possamos crescer
juntos como pessoas autônomas.”

Da necessidade de partilhar

Muitos conflitos de casal resultam do desejo de que o parceiro satisfaça as nossas


necessidades infantis, como se ele tivesse de dar-nos o que deixamos de receber
de nossos pais. Isto, porém, sobrecarrega o parceiro, principalmente quando
veicula esta mensagem: “Sem você não posso viver!” A solução espiritual reside em
ficar em paz com os próprios pais e em dizer ao parceiro: “O que recebi de meus
pais basta, e isso eu partilho de boa vontade com você. E o que você traz dos seus
pais basta, e eu me alegro se você o repartir comigo. E o que ainda nos falta nós
conseguiremos por nossas próprias forças”. Quando este nível adulto de partilhar e
de comunicar-se tem força, podemos nos permitir, às vezes, acessos de
necessidades infantis, como em situações de estresse e doença. O parceiro estará
presente por algum tempo, suportando e dando, até que melhoremos.

Liberdade através do relacionamento

Aqui direi algo de ousado. Às vezes pensamos que, se estivéssemos sós, seríamos
mais livres em nosso desenvolvimento e em nossas possibilidades. A realidade é o
inverso. A evolução nos ensina que a associação dos parceiros (não a
uniformização associada a uma compulsão totalitária) diferencia cada indivíduo,
torna-o mais variável em seu pensar e agir do que quando fica confinado à própria
individualidade. Quando, com vistas ao parceiro, temos de nos defrontar com
coisas novas e procurar novas formas de equilíbrio interno e externo, isto nos libera
um pouco dos próprios esforços, que são freqüentemente cegos, em nosso interior.
Ganhamos em variedade e equilíbrio, que são pressupostos imprescindíveis para
um certo grau de liberdade. Talvez a melhor maneira de descrever a realização
espiritual e simultaneamente a realização sistêmica básica na relação do casal seja
utilizar, num sentido um pouco mais amplo, as palavras de Bert Hellinger: “Eu amo
você e amo aquilo que suporta, dirige e desenvolve a você e a mim”.

(*) Original: “Wege in der Paartherapie”, em: Praxis der Systemaufstellung, 1/2002.
Versão elaborada de uma conferência proferida no 3º Congresso Internacional de
Constelações Sistêmicas (Würzburg, Alemanha, 2001). Traduzido por Newton
Queiroz, Rio de Janeiro, jan. 2003.

Constelações em Pacientes
Psicóticos

Escrito por Gunthard Weber & Diane Drexler


Conteúdo

• 1. Sobre a teoria e a técnica do trabalho sistêmico com constelações



○ 1.1. O desenvolvimento do trabalho com constelações familiares
○ 1.2. Comprensão do sistema e dos sintomas
○ 1.3. O processo da constelação
○ 1.4. A inserção da constelação familiar no processo terapêutico
• 2. Elementos terapêuticos do trabalho com constelações familiares

○ 2.1. Esclarecimento da solicitação
○ 2.2. A representação
○ 2.3. A vivência da imagem
• 3. Experiências já resultantes do trabalho de constelações com pessoas com
diagnóstico de psicose

○ 3.1. Fragilidade na diferenciação entre o „eu“ e os „outros“.
○ 3.2. Ligação profunda e identificação

 3.2.1. Identificação transsexual
 3.2.2. Identificações duplas
○ 3.3. Segredos e tabus
○ 3.4. Sequelas de culpa e de violência na família
○ 3.5. Outros dilemas que pesam
• 4. Conclusão

.
1. Sobre a teoria e a técnica do trabalho sistêmico com constelações

O trabalho com constelações familiares é um procedimento psicoterapêutico


relativamente recente e controvertido. Ainda menos numerosas são até agora as
experiências realizadas através dessa abordagem com pessoas que exibem
comportamento psicótico. Tais experiências, contudo, são animadoras a ponto de
justificar nosso relato a seu respeito. Dispensamos-nos aqui de apresentar os
principios que fundamentam esse trabalho, (“ordens do amor”, consciência pessoal
e consciência do grupo familiar, etc).[1] Apresentamos apenas uma breve
introdução, dedicando maior atenção aos aspectos que nesse trabalho com
pacientes com diagnósticos de psicose nos aparecem como especialmente
importantes.

1.1. O desenvolvimento do trabalho com constelações familiares

A técnica das constelações familiares foi desenvolvida em seus elementos básicos


por Bert Hellinger, sobretudo nos anos 80 [2]. Desenvolveu-se e expandiu-se
rapidamente no espaço cultural de lingua alemã e, nos últimos anos, também em
escala internacional. Tem suas raízes na abordagem da terapia familiar através de
várias gerações [3]. Abordagens da terapia familiar orientadas para o crescimento
já utilizavam há mais tempo representações espaciais para entender constelações
de relacionamentos e para estimular modificações.[4] Depois que Bert Hellinger
entrou em contato com representantes da terapia familiar, nos Estados Unidos, e
com o trabalho de escultura familiar, na Alemanha, ele começou a condensar
insights sobre a dinâmica familiar, - sobretudo os que tinham caráter estrutural e
envolviam várias gerações -, com procedimentos da análise transacional [5], numa
terapia breve de grupo, sob a condução de um diretor. Essa terapia ele denominou
“Familien-Stellen” (método de “colocar” ou de “constelar” famílias). Esse trabalho
era complementado, nas assim chamadas “rodadas”, por intervenções
hipnoterapêuticas ou outras, de que se valia Hellinger, através do humor, da
confrontação ou da narração de histórias para quebrar padrões rotineiros de
pensamento e estimular novas alternativas de ação. Infelizmente, essa técnica de
rodadas, onde os participantes relatavam, cada um por seu turno, seus sentimentos
e suas questões, teve de ser abandonada quando Bert Hellinger passou a trabalhar
com grupos muito numerosos.[6]

1.2. Comprensão do sistema e dos sintomas

Numa constelação são levados em conta todos os membros de um sistema familiar


no âmbito de três gerações, de maneira a incluir os vivos e os mortos. Todos os
membros da família tomam parte numa ordem básica[7] à qual estão
permanentemente vinculados. Essa ordem básica inclui, por exemplo, o direito de
todos a pertencer ao sistema e a precedência dos que vêm antes sobre os que vêm
depois. As famílias onde os sintomas aparecem estão frequentemente em
“desordem” no que toca a essas leis.

Os sintomas que estejam condicionados por implicações sistêmicas sistêmicas


manifestam a existência de um profundo amor resultante do vínculo, uma ligação
inconsciente do indivíduo com seu grupo de origem. Isto faz com que alguns
repitam os destinos de outros e queiram, em lugar deles, assumir algo de pesado,
expiar ou até mesmo morrer. Tal necessidade de compensar se radica num
pensamento mágico de caráter infantil, já que tal atitude não tem o poder de redimir
essas pessoas nem de aliviar ou de anular seus destinos. Outra base para o
desenvolvimento de problemas é a perda de conexão com as fontes dos laços
familiares. Isto acontece, por exemplo, quando membros da família não são
respeitados ou são esquecidos. Além da implicação sistêmica, devem ser ainda
considerados, na geração de dificuldades psíquicas, os aspectos associados à
evolução pessoal, por exemplo, a interrupção do movimento precoce da criança,
dirigido geralmente para a mãe. No presente trabalho focalizamos
preferencialmente as dinâmicas sistêmicas, dando menos espaço ao significado da
história individual da vida e do processo da aprendizagem.

1.3. O processo da constelação

Em nossos seminários, que duram de dois dias e meio a quatro dias, trabalhamos
com grupos de 12 a 14 participantes e com um máximo de 10 observadores
participantes. Na constelação familiar cada participante do grupo monta
espacialmente sua imagem interna de um dos seus sistemas (o de sua família de
origem ou da atual, ou ainda de suas relações de trabalho), com a ajuda de
representantes, escolhidos entre os integrantes do grupo. Esses representantes
geralmente possuem pouquíssimas informações prévias sobre as circunstâncias da
vida e da história das pessoas representadas. O terapeuta interroga os
representantes sobre suas sensações e sentimentos nos lugares que ocupam. As
percepções dos representantes fornecem indicações importantes sobre as
dinâmicas familiares e as conexões sistêmicas, pois é incrível como refletem
exatamente, muitas vezes, as pessoas representadas, que não são conhecidas
pelos representantes. O dirigente do grupo tenta a seguir mudanças de posição
para os interessados, buscando, na medida do possível, o „melhor“ lugar para cada
um do sistema. Quando se consegue isto, o terapeuta geralmente introduz o próprio
cliente em seu lugar (até então ocupado por seu representante). Em conexão com
determinadas frases[8] que diz às pessoas importantes de suas relações, ele
muitas vezes experimenta de novo uma dor antiga e emoções que aliviam, e ganha
novas perspectivas. A “imagem da solução”, quando ele a consegue acolher e
interiorizar, desenvolve nele frequentemente efeitos que perduram por longo tempo.

1.4. A inserção da constelação familiar no processo terapêutico

Evolução progressiva ou experiência de iluminação?

A forte expansão do trabalho com constelações tem despertado junto ao público, de


um lado, expectativas fora da realidade e, de outro, críticas de simplificação sem
seriedade. De acordo com nossas experiências, o trabalho da constelação familiar,
justamente com pacientes que exibem comportamento psicótico, só se recomenda
no contexto de uma relação terapêutica e com uma acurada preparação. Os
pacientes se inscrevem para os seminários de forma autônoma e sob a própria
responsabilidade, mas geralmente são advertidos dessa possibilidade por seus
terapeutas, que frequentemente também os acompanham nos seminários. Não
devem apresentar sintomas psicóticos agudos. Muitos pacientes comparecem
inicialmente a seminários, uma vez ou várias, como observadores participantes,
não fazendo incialmente suas próprias constelações mas presenciando as de
outros ou delas participando como representantes. Os terapeutas que lhes
recomendam o trabalho ou os acompanham nele deveriam conhecer o trabalho
com as constelações e suas premissas, e o terapeuta que conduz a constelação
deveria ter experiência com pacientes desses grupos de diagnóstico. Em
seguimento a uma constelação familiar podem eventualmente surgir no paciente
reações depreciadoras ou agressivas e até mesmo episódios psicóticos. Tais
reações, que inicialmente interpretávamos como sinal de insucesso, hoje
encaramos como medidas distanciadoras, que visam restabelecer a autonomia do
paciente para poder lidar com o intenso desejo de estar próximo e de ser olhado,
que se reavivou nesses seminários e foi satisfeito apenas por um curto período de
tempo. Ultimamente, justamente em seguida a tais “pioras”, temos recebido com
frequencia excelentes retornos de terapeutas relatando desenvolvimentos positivos
depois de constelações familiares.

2. Elementos terapêuticos do trabalho com constelações familiares

2.1. Esclarecimento da solicitação

Um fator importante do seminário de constelações é o esclarecimento do que se


deseja do terapeuta. Quanto mais concretamente forem formuladas as questões e
os objetivos, tanto melhor se poderá decidir qual corte do sistema deverá ser
representado ou levado em consideração. A ampla dispensa de uma anamnese
detalhada e o enfoque dirigido para soluções e recursos choca-se, às vezes com
resistências, justamente por parte de pacientes com longa história de tratamento,
como se estes tivessem de “defender” seu status de doentes e justificar seus
problemas. Contudo, se os pacientes com diagnósticos de psicose recebem nos
seminários o mesmo tratamento como todos os demais, eles logo mostram, muitas
vezes, incríveis habilidades sociais e geralmente se integram em problemas ao
grupo.

2.2. A representação

O que se exige dos representantes nas constelações é que se desprendam em


larga medida de suas histórias pessoais, que percebam “sem intenções” e
comuniquem as reações corporais, sentimentos ou sensações que emergem nos
lugares que ocupam como representantes. Esta exigência de deixar “de fora” a
própria história e as hipóteses de uma psicologia corriqueira (por exemplo, „Aquela
pessoa está longe de mim - com ela não devo ter muito a ver), e de se entregar
sem reservas ao que se sente, oferece a cada participante um exercício de
percepção que no decurso do seminário vai sendo cada vez melhor dominado.
Tem-nos surpreendido, repetidas vezes, a maneira diferenciada e sensível que
exibem, como representantes, pacientes que antes apresentavam um
comportamento psicótico. Alguns ainda precisam de uma ajuda inicial, tanto para
entrarem num papel quanto para se “despedirem” dele, mas muitos vão apreciando
cada vez mais a possibilidade de vivenciar papéis e lugares totalmente diferentes
nas famílias. Numa constelação é possível perceber onde esses pacientes
frequentemente encontram problemas: em viver relações intensas e em seguida
voltar a si mesmos (quando, depois de uma constelação, abandonam os papéis que
representavam).

2.3. A vivência da imagem

Através do método de posicionar membros da família, com a ajuda de


representantes, manifesta-se um aspecto vivencial que, à exceção do trabalho com
esculturas familiares, raramente aparece em outras abordagens terapêuticas: a
experiência subjetiva direta, realizada simultaneamente em muitos canais
sensórios, envolvendo o lado fisiológico, o expressivo-motor, o emocional e então
também o cognitivo. Através dessa experiência direta que envolve o corpo e os
sentidos, as imagens consteladas têm muitas vezes fortes efeitos emocionais e
com isto podem ser revividas e trabalhadas. O que se procura, em termos de
imagem sensível, é um lugar melhor para o protagonista. As mudanças nas
sensações corporais e nas emoções dos representantes e do próprio cliente
servem de instrumentos para validar a solução. Na imagem da solução ganham um
lugar informações e pessoas até então excluídas. Quando o processo da
constelação, com a imagem da solução, é significativo para o cliente, ele ativa
novas formas de ver e de proceder em constelações familiares até então
experimentadas como problemáticas. Como num rito de passagem, os passos
individuais (as imagens intermediárias) são condensados numa experiência que se
pode apreender e compreender.[9]
3. Experiências já resultantes do trabalho de constelações com pessoas com
diagnóstico de psicose

Em contraposição às teorias e procedimentos de abordagens terapêuticas


estabelecidas, exaustivamente formuladas e diferenciadas através de decênios, o
trabalho com constelações, especialmente com pacientes de psicoses, só
apresenta algumas experiências iniciais.[10] Essas experiências indicam que
determinados padrões de relacionamento e determinadas dinâmicas sistêmicas
aparecem mais frequentemente em sistemas com pacientes de psicose do que em
outros sistemas. Isto não implica em afirmar que esses padrões estejam
condicionando o aparecimento de psicoses. Entretanto, podemos verificar que
processo de trazê-los à luz e resolvê-los através das constelações frequentemente
influencia positivamente e de forma duradoura o comportamento dos envolvidos.

Descrevemos a seguir algumas dessas características e dinâmicas de


relacionamento em pacientes com diagnoses de formas esquizofrênicas, inclusive
alguns exemplos de casos.

3.1. Fragilidade na diferenciação entre o „eu“ e os „outros“.


Nestas constelações, com mais frequência e de modo mais drástico do que em
outras, os representantes expressam percepções que, num sentido mais amplo, se
relacionam ao tema da „diferenciação entre si mesmo e outras pessoas no
sistema“. Os representantes se confundem com outros, sentem-se enredados e
ligados como se fossem siameses e carecem de um espaço próprio perceptível; ou
então se sentem colocados inteiramente diante do sistema ou para fora dele.
Exprimem-se com marcada ambivalência, oscilam entre sentimentos de estarem
fundidos, amarrados e obrigados, desejando ter autonomia e espaço livre, ou então
se apresentam desorientados, desesperados ou mudos. Estas manifestações de
participantes „ingênuos“ do curso em posições de representantes correspondem às
descrições da dinâmica psíquica nas abordagens da terapia individual.[11] Nas
constelações pode-se mostrar com frequencia que esses estados psíquicos
perturbadores, opacos e quase insuportavelmente contraditórios possuem o seu
equivalente em acontecimentos e processos relacionais obscuros, traumáticos e
cercados de segredos do sistema familiar, em que os interessados estão implicados
de forma muitas vezes inconsciente. Trata-se aí de dinâmicas que atuam através
de gerações. Nas constelações, o comportamento psicótico se manifesta como um
esforço ativo para dominar inconciliáveis tensões e oposições, de caráter
interpessoal e intrapsíquico.

3.2. Ligação profunda e identificação

Denominamos „identificada“ uma pessoa que, de modo inconsciente, está implicada


com aspectos de um ou de vários membros da família e tenta imitar ou superar
aspectos da vida dele(s). Segundo nossa experiência, tais identificações surgem
principalmente quando membros do sistema tiveram um destino especial, ou
quando não são respeitados ou foram excluídos. Membros que se seguem no
sistema familiar caem então em contextos de relacionamento em que muitas vezes,
de forma inconsciente, repetem aspectos do destino dessa(s) pessoa(s) ou sentem
a necessidade de resolver algo em seu lugar. Em famílias com formações
sintomáticas esquizofrênicas, encontramos frequentemene formas especiais de
identificação que descrevemos a seguir.

3.2.1. Identificação transsexual

Exemplo 1:

A mais velha de duas filhas desenvolvera um comportamento psicótico ao terminar


seus estudos superiores. Apaixonara-se por um de seus professores, mas também
não estava certa de que ela própria não fosse um homem, e durante semanas
apresentou-se em suas aulas com trajes masculinos. Jamais conseguira trabalhar
em sua profissão. Na constelação, sua representante se postou ao lado da mãe e o
pai afirmou que não tinha nada a ver com aquilo. Através de perguntas apurou-se
que a mãe tivera um noivo e que o casamento fora impedido pelas injunções da
guerra. Durante toda a sua vida, ela rejeitara seu marido, desvalorizando-o em
presença das filhas e também idealizando o noivo por sua melhor instrução. A
cliente tinha cursara a mesma disciplina do antigo noivo da mãe e, como ela própria
dizia, tomara o lugar dele junto da mãe.
Ela se sentiu liberada quando o noivo foi introduzido na constelação e quando ela
disse, tanto a ele quanto à sua mãe, que nada tinha a ver com ele e que só queria
viver a própria vida e aceitar-se plenamente como mulher. Em seguida colocou-se
junto do pai e disse-lhe que ele era o responsável pela mãe.

Exemplo 2:

Um paciente, que vinha sendo diagnosticado como doente psíquico crônico e que
fora criado num círculo de muitas mulheres, após um seminário assumiu-se
abertamente como homossexual. A partir daí passou a mostrar sintomas bem mais
raramente, completou com acompanhamento terapêutico uma exigente formação e
há dois anos exerce sua profissão.

3.2.2. Identificações duplas

Particularmente pesada é a identificação simultânea com dois excluídos. Uma


forma especial dela é a identificação simultanea com vítima(s) e autor(es).
Um exemplo:

Uma participante de um seminário, de cerca de 50 anos, com uma carreira


psiquiátrica de muitos anos, tinha um pai de mãe solteira, que entrou na policia
especial nazista e mais tarde foi vigia num campo de concentração. Através de
perguntas, apurou-se durante a constelação que o pai dele era judeu e que nada se
sabia sobre seu destino. Com isto a paciente passou a compreender melhor seus
sintomas, que já duravam anos, de ser simultaneamente simultaneamente
perseguida e perseguidora.[12] Essa dinâmica foi por nós encontrada diversas
vezes, por exemplo, nos chamados doentes mentais transgressores. Seja frisado,
neste contexto, que com muita frequência tomamos à letra conteúdos de manias,
que se revelam carregados de sentido. Se alguém se sente perseguido ou
envenenado, perguntamos: quem na família foi perseguido ou envenenado? Ou, se
alguém sente compulsão de lavar-se, perguntamos: quem na família precisava
lavar-se? Não dispomos aqui do espaço necessário para entrar mais fundo nesta
matéria.

3.3. Segredos e tabus

Em constelações de pacientes de psicoses pudemos verificar repetidas vezes que


provocavam perturbação nesses pacientes relacionamentos confusos e mal
definidos, como paternidade obscura, adoções mantidas em segredo, ocultação de
um irmão gêmeo que morreu no parto ou durante a gravidez,[13] causas de morte
obscuras ou ocultadas (por exemplo, um suicídio apresentado como um acidente).
Devido a sentimentos de lealdade, os pacientes frequentemente não se atrevem a
comunicar as incertezas que experimentam, fazer perguntas sobre elas ou
investigá-las.

3.4.
Sequelas de culpa e de violência na família

Em famílias onde há psicoses parece também haver um número bem maior de


segredos de família e de tabus relacionados com atos de violência, crimes e
injustiças de que participaram, como autores ou como vítimas, membros da famía
(geralmente de gerações precedentes). A culpa cometida ou experimentada
geralmente não era encarada nem exteriorizada.

Ilustro com um exemplo de um seminário de constelações familiares:

Um homem de 33 anos, após uma grave tentativa de suicídio, procurou-me para


uma terapia. Contou que nos últimos meses, quando estava se separando de sua
namorada, retraiu-se de todo contato social e desenvolveu fantasias de perseguido
e de perseguidor. Finalmente abriu a própria veia jugular e só foi salvo devido a
circunstâncias felizes. Na época do início da terapia não mostrava sintomas
psicóticos agudos, mas todos os sinais de uma grave crise de identidade e de
autovalorização. Estava fortemente deprimido e padecia de sentimentos massivos
de culpa, insuficiência e fracasso.Experimentava uma forte diminuição de seus
impulsos e um retardamento motor, falava por monossílabos e estava grandemente
limitado em sua expressão.Durante um ano de acompanhamento psicoterapêutico
aconteceram vários episódios de crise e conversas em família com o pai e o irmão
mais novo, que sempre exprimiam medo de uma recaída e pela vida dele. Ele se
estabilizou, mas voltou a viver com os pais e cortou quase todo contato com o
mundo exterior. Ele mesmo se queixava de falta de acesso emocional a si mesmo e
à tentativa de suicídio, experimentava-se como se estivesse cortado de alguma
coisa e não „sentisse“ mais a si mesmo.

Sua participação num seminário de constelações familiares tinha o objetivo principal


de retomar contato com outros (interessados). No decurso do seminário ele
constelou sua família de origem (os pais, ele próprio e um irmão mais novo). Os
representantes de todos eles disseram que tinham pouco contato com os próprios
sentimentos. Como o representante do pai, na constelação da família, se virou e
olhava para fora, interrogamos o cliente sobre destinos ou acontecimentos
especiais em sua família de origem. Apuramos que dois de seus irmãos tombaram
na guerra e que seu avô voltara para casa ferido por um tiro na barriga. Fizemos
com que o cliente incluísse na constelação os dois tios e o avô. Ele reverenciou
cada um deles. Os representantes dos tios se sentiram olhados e honrados em seu
destino, mas o representante do avô disse que não se devia reverenciá-lo pois
cometera algo muito grave. Paralelamente já se tinham modificado antes os
sentimentos dos demais representantes da família, de forma incomum e dramática.
Todos eles se afastaram do representante do avô e mostravam um forte medo.
Respondendo às perguntas, o cliente só pôde informar que o avô tinha sido um
participante entusiasta da guerra. Experimentalmente foram então introduzidos
representantes de vítimas da guerra, que se deitaram no chão. Sua presença
provocou no representante do cliente uma veemente compaixão, enquanto o
representante do avô permaneceu frio e distante. O representante do cliente se
inclinou diante das vítimas, despediu-se também do avô, que fora colocado à parte
da família, e deixou com ele a culpa. Em seguida foi colocado ao lado do pai.

Depois da constelação o cliente contou que da herança do pai ele tinha pedido para
si a mochila de guerra (na ocasião, tinha sete anos). Essa mochila continha, entre
outros objetos de uso, o livro de Hitler „Mein Kampf“ (Minha Luta) e uma velha
pistola. Foi com essa arma que ele tentou suicidar-se e só recorreu à faca quando a
pistola falhou. Foi profundamente tocante, para o cliente, sua vivência num grupo
onde nem ele nem seu avô foram moralmente julgados, e no qual ele, de forma
comovente, se dirigiu a seu pai e seu pai a ele. Por desejo próprio, ele terminou a
terapia, depois umas cinco sessões adicionais, separadas por intervalos mais
longos.

Dois anos depois, apareceu no consultório do terapeuta com um ramo de flores nas
mãos. Relatou que tinha prestado com êxito seus exames finais como engenheiro,
assumido um emprego e iniciado uma nova relação. Sentia que tinha „aterrissado
bem na vida“. Disse que o seminário da constelação tinha sido a coisa mais difícil
que conseguira na vida, e que fora incrivelmente importante para ele.

3.5. Outros dilemas que pesam

Certas situações se tornam também insustentáveis para tais pacientes quando,


além das implicações sistêmicas, se defrontam com vários dilemas de
relacionamento. Podem estar colocados, por exemplo, entre duas pessoas
relacionadas que estejam em conflito total entre si (por exemplo, seus pais ou a
mãe e uma avó que também more em casa). Pode ser ainda que alguém tenha
colocado para eles expectativas comportamento totalmente contraditórias e
inconciliáveis, ou que várias pessoas ao mesmo tempo lhes tenham colocado
expectativas diferentes e estressantes.[14]

Isto aconteceu, por exemplo, com uma paciente simultanemente identificada com
agressora e vítima. Na constelação ela ficou em posição transversa entre a
representante da mãe e a da avó paterna, que se odiavam mutuamente. Tais
triangulações adicionais marcantes dessas crianças foram frequentemente
encontradas por nós nas constelações. Suas soluções proporcionaram claros
alívios adicionais. Quando os pais provinham de países diferentes ou pertenciam a
diferentes comunidades religiosas, isto trazia aos filhos novos dilemas.

4. Conclusão

Requer-se uma grande experiência terapêutica para se lidar cuidadosamente com


as “informações” reveladas nas constelações, tomando-as, sim, a sério, não porém
excessivamente à letra. Talvez mais do que em outros métodos, existe aqui,
conforme a formação e a mentalidade do praticante, o perigo da simplificação, de
uma abreviação sem seriedade e da manipulação. Além disto, cada família tem o
direito de manter seus segredos. Pode ser útil que, depois de uma constelação,
familiares acrescentem às percepções, até então tomadas como “loucas”,
informações que esclareçam os acontecimentos já registrados. Quando, porém,
aquilo que emerge nas constelações passa a ser considerado como a única
verdade válida, a confusão e as manias apenas ficam piores. Em nossa apreciação,
o trabalho da constelação familiar, com sua perspectiva sistêmica que abrange
gerações e a utilização da representação espacial, é uma complementação e um
prolongamento essencial do espectro terapêutico no tratamento de pessoas que
exibem um comportamento psicótico. Nossas experiências apoiam as tentativas de
pessoas versadas em assuntos psíquicos, no sentido de buscar um entendimento
de seus sintomas aparentemente incompreensíveis como “mensagens do mundo
interior”[15]. Nossa tendência é de interpretá-los, antes, como indicações de
implicações sistêmicas até então não compreendidas.

Tradução: Newton Queiroz

Rio de Janeiro, julho 2002

Citações

Baxa, G.-L. (2001): Aufstellungen als Übergangsrituale (Constelações como ritos de


passagem). In G. Weber (editor): Derselbe Wind lässt viele Drachen steigen -
Systemische Lösungen im Einklang (O mesmo vento faz surgir muitos dragões –
soluções sistêmicas em sintonia). Heidelberg (Carl-Auer-Systeme), p. 130-142

Berne, E. (1972): Was sagen Sie, nachdem Sie guten Tag gesagt haben?
Psychologie menschlichen Verhaltens. (O que você diz depois de dizer Boa noite?
A psicologia do comportamento humano). München (Kindler)

Boszormenyi-Nagy, I. e G.M. Spark (1973): Unsichtbare Bindungen (Vínculos


invisíveis) Stuttgart (Klett Cotta 1981)
Duhl, F., Kantor, D. e B. Duhl (1973): Learning, Space and Action in Family
Therapy: A Primer of Sculpture (Aprendizagem, espaço e ação na terapia familiar.
Uma introdução à escultura familiar). In D. Bloch (editor): Techniques of Family
Psychotherapy (Técnicas de Psicoterapia Familiar). New York (Grune and Stratton)

Hellinger, B. (1994): Ordnungen der Liebe (Ordens do Amor) Heidelberg (Carl-Auer-


Systeme), 7ª edição revista, 2000. Edição brasileira em preparação pela Editora
Cultrix, São Paulo.

Hellinger, B. (1995): Verdichtetes - Sinnsprüche, Kleine Geschichten, Sätze der


Kraft (Coletânea- Ditos, pequenas histórias, frases fortes). Heidelberg (Carl-Auer-
Systeme). 5ª edição, 2000

Hellinger, B. (1998): Der Abschied. Nachkommen von Tätern und Opfern


stellen ihre Familien. (A Despedida. Descendentes de Vitimadores e de Vítimas
constelam suas famílias) Heidelberg (Carl-Auer-Systeme)

Hellinger, B. (2001a): Liebe am Abgrund. Ein Kurs für Psychose-Patienten (O Amor


à beira do abismo. Um curso para pacientes de psicose). Editado por Michaela
Kaden 2001, Heidelberg (Carl-Auer-Systeme)

Hellinger, B. (2001b): Einsicht durch Verzicht (A Compreensão através da


Renúncia). In G. Weber (editor): Derselbe Wind lässt viele Drachen steigen -
Systemische Lösungen im Einklang (O mesmo vento faz surgir muitos dragões –
soluções sistêmicas em sintonia). Heidelberg (Carl-Auer-Systeme)

Hildenbrand, B. (2002): Familienaufstellungen und die Struktur sozialisatorischer


Interaktion (Constelações Familiares e a Estrutura da Interação Socializante). In
Praxis der Systemaufstellung (Prática de Constelações Sistêmicas) 1/2002.

Langlotz, R. (editor) (1998): Familien-Stellen mit Psychosekranken. Ein Kurs mit


Bert Hellinger (Constelações Familiares com Doentes de Psicoses. Um Curso com
Bert Hellinger). Heidelberg (Carl-Auer-Systeme)

Mayer, N. (1998): Der Kain-Komplex. Neue Wege systemischer Familientherapie (O


Complexo de Caim. Novos Rumos da Terapia Familiar Sistêmica) Bern (Scherz)

Mentzos, S. (19 ):

Moreno, J. L. (1959): Gruppenpsychotherapie und Theater (Psicoterapia de Grupo e


Teatro). Stuttgart (Thieme)

Nelles, W. (2002): Liebe, die löst. Einsichten aus dem Familien-Stellen (O amor que
libera. Insights da Constelação de Famílias). Heidelberg (Carl-Auer-Systeme); a sair
em Outubro de 2002

Papp, P. (1976): Family Choreography (Coreografia Familiar) . In P. Guerin (editor.):


Family Therapy- Theory and Practice (Terapia Familiar – Teoria e Prática). New
York (Gardner Press)

Ruppert, F. (2002). Verwirrte Seelen. Der verborgene Sinn von Psychosen.

Grundzüge einer systemischen Psychotraumatologie (Almas Confusas. O Sentido


Oculto de Psicoses. Fundamentos de uma Psicotraumatologia Sistêmica). München
(Kösel)

Satir, V. (1972): People Making (Fazendo Gente). Palo Alto (Science and Behaviour
Books)

Scheflen, A. (1972): Body Language and Social Order (Linguagem Corporal e


Ordem Social). Englewood Cliffs, N.Y. (Prentice Hall)

Simon, F. B. , Weber, G. , Stierlin, H. , Retzer, A. , Schmidt, G. e H. Stierlin (1989):


"Schizo-affektive" Muster: Eine systemische Beschreibung (Padrão “esquizo-
afetivo”: uma descrição sistemática) In: Familiendynamik 14,3: 190-213
Stierlin, H. (1978): Delegation und Familie. Frankfurt /M. (Suhrkamp)

Stratenwerrth, und Bock, (1998)

Ulsamer, B. (2001): Das Handwerk des Familienstellens. Eine Einführung in die


Praxis der systemischen Hellingertherapie (O Instrumento da Constelação Familiar.
Uma introdução à Prática da Terapia Sistêmica de Hellinger). München (Goldmann)

Weber, G. (Hrsg.) (1993): Zweierlei Glück. Die systemische Psychotherapie Bert


Hellingers. Heidelberg (Carl-Auer-Systeme). 14ª edição, 2001. (Edição brasileira: A
Simetria Oculta do Amor, Editora Cultrix, São Paulo).

[1] Ver a respeito Weber (1993)

[2] ver Weber (1993); Hellinger (1994), (2001), Ulsamer (2001), Nelles (2002)

[3] ver Boszormenyi-Nagy e Spark (1972), Stierlin (1981) e no psicodrama de


Moreno (Moreno 1959)

[4] ver Satir (1972), Scheflen (1972) , Duhl et al. (1973), Papp (1976)

[5] ver Berne (1972)

[6] Para conhecer o trabalho com rodadas, recomendamos a edição de vídeo “Wie
Liebe gelingt”(Como o amor dá certo), Carl-Auer-Systeme Verlag, Heidelberg.

[7] Ver também Hildenbrand (2002)

[8] Ver Hellinger (1995)

[9] Ver Baxa (2001)

[10] Ver Langlotz (1999), Hellinger (2001), Ruppert (2002)


[11] Ver Mentzos (19 ).

[12] Ver também relatos sobre famílias alemãs onde familiares foram envolvidos em
ações criminosas na época nazista, ou foram vítimas de crimes: Hellinger (1998
und 2001a), Ruppert (2002).

[13] Ver também Mayer (1998)

[14] Ver também Simon et al. (1989) sobre dissociação sincrônica.

[15] Ver Stratenwerrth e Bock (1998)

Cristãos - Judeus - Alemães: Curando a alma


2001

Escrito por Bert Hellinger


Cristãos / Judeus – Alemães /Judeus – Curando a alma

Bert Hellinger

Palestra proferida no terceiro Congresso Internacional de Constelações Familiares


de Sistemas Humanos - Würzburg – Alemanha - 1 a 4 de Maio de 2001.

Tradução: Décio Fábio de Oliveira Júnior

Revisão: Tsuyuko Jinno-Spelter & Wilma Costa Gonçalves Oliveira


Os escolhidos e os rejeitados

Jesus , o Cristo

O mesmo Deus

Alemães e Judeus

Recompensa

História: A volta

O título da minha palestra hoje é "Cristãos /Judeus — Alemães /Judeus — Curando


a alma". O que considero alma neste contexto é alma dos cristãos e dos alemães.
Em vista do sofrimento do povo judeu durante a era do nazismo, estou focando
nesta questão específica, nos termos do impacto dela sobre a alma dos alemães,
distinguindo-os dos cristãos em geral.

Os escolhidos e os rejeitados

Na alma de ambos, cristãos e judeus, o conceito de pessoas escolhidas por Deus


desempenha um papel central. Os cristãos tomaram esta imagem dos judeus e
subseqüentemente, se identificaram como os novos escolhidos. Como resultado,
eles viram o povo judeu como o povo rejeitado, abandonado por Deus. A imagem
de um povo escolhido, necessariamente, atribui a Deus o fato de ele preferir um
povo aos demais, eleva este grupo acima dos outros, e confere a ele, poder para
reger sobre os demais, em Seu nome.
Como poderia, tal imagem de Deus, encontrar um lugar em nossas almas?
Podemos mesmo falar de Deus aqui? Tal Deus, que escolhe e abandona, é
ameaçador, porque mesmo os escolhidos, vivem com medo de serem expulsos a
qualquer momento. Estas são imagens que vêm da profundidade da alma, em
primeiro lugar da alma de cada indivíduo, e então, das grandes profundezas
daquela alma compartilhada pelo grupo maior. As imagens de ser escolhido e
abandonado vêm desta alma comum e são elevadas a um estado celestial onde
elas parecem estar acima de todos, como algo "divino", algo a ser temido.

Aqueles que consideram a si mesmos escolhidos identificam-se com um Deus que


seleciona e rejeita e assim eles também selecionam e rejeitam os demais. Neste
processo eles se tornam algo terrível aos olhos daqueles que são rejeitados.

Mas o que acontece quando outros grupos e outros povos também agem de acordo
com imagens internas similares? O resultado fica claro nas guerras religiosas. Tais
grupos não estão nem conscientes de si nem dos outros como pessoas individuais.
Ambos os lados se comportam como se possuídos por uma loucura coletiva.

Mas na alma dos cristãos há um fator adicional: os cristãos acreditam no mesmo


Deus dos judeus. Assim, os cristãos, em nome do Deus dos judeus, vêem os
judeus como o povo rejeitado e roubado de seus direitos por este Deus comum. As
dimensões terríveis que tal presunção pode assumir foram demonstradas em nossa
era pela tentativa dos nazistas de destruir o povo judeu como um todo.
Alguém agora poderia levantar aqui, a objeção de que os líderes nazistas e o
movimento nazista não foram cristãos em qualquer sentido da palavra. Nós não
podemos permitir a nós mesmos sermos cegados a esse ponto, porque a idéia
nazista de ser "escolhido" refletiu essencialmente uma característica cristã. O
"Führer"NT sentiu-se chamado pela providência a liderar o novo povo escolhido —
neste caso a imagem da raça superior — à dominação mundial e ao longo deste
caminho, eliminar os povos escolhidos anteriormente. Não importando o quanto
distorcido ou cego isso possa nos parecer agora, o Socialismo Nacional, junto com
uma grande parcela da população alemã, retirou energia para ir à Segunda Grande
Guerra, primariamente, deste senso de missão. As atrocidades perpetradas por
suas mãos foram essencialmente efetuadas a serviço de um "juízo divino".

Este senso de missão não se encerrou com o colapso do Terceiro Reich. Nós
podemos vê-lo mesmo agora, nos movimentos radicais de esquerda ou direita.
Esses movimentos demonstram um senso de missão similar e como conseqüência
uma prontidão cega para usar a violência contra os outros.

Jesus, o Cristo

Ainda, a oposição entre o novo e o velho povo escolhido não pode, sozinha,
explicar a aversão de muitos cristãos ao povo judeu, nem a crueldade dos pogroms
e as deportações. Entretanto há ainda uma outra raiz que me parece a mais
importante de todas. Tem a ver com a irreconciliável diferença entre Jesus o
homem de Nazaré e a crença em sua ressurreição e ascensão à mão direita de
Deus.

Para os primeiros cristãos, Jesus, como homem, sumiu rapidamente de cena. A


imagem de um Cristo que ascendeu foi sobreposta a do Jesus homem até que ele
encolheu e se tornou irreconhecível. Isso permitiu aos cristãos reprimir a dolorosa
realidade de que Jesus se sentiu abandonado por Deus na cruz e que o Deus em
que ele acreditava não apareceu.

Elie Wiesel, o notável autor judeu, relata um enforcamento público de uma criança
num campo de concentração. Olhando para esta atrocidade, alguém perguntou:
"Onde está Deus aqui?" Elie Wiesel respondeu: "É aquele que está pendurado lá".

Quando Jesus na cruz chorou alto: "Meu Deus, meu Deus, porque me
abandonaste?" alguém poderia ter também perguntado: "Onde está Deus aqui?" E
a resposta poderia ter sido a mesma: "É aquele que está pendurado lá".

Os discípulos não puderam suportar a realidade de seu Jesus abandonado por seu
Deus. Eles escaparam disso através da crença em sua ressurreição, através da
crença em Jesus como Cristo sentado à direita de Deus e em sua segunda vinda
para julgar os vivos e os mortos. E ainda, o homem Jesus e seu destino humano
não teriam sido apagados por esta crença na ressurreição. Isto continua na imagem
dos judeus. O judaísmo na alma dos cristãos, primeiramente, representa Jesus o
homem, que o cristão, acreditando na ressurreição dos mortos e na ascensão de
Jesus à direita do Pai, não consegue ver. Os cristãos temem olhar o Jesus
esquecido por Deus, temem que o seu medo os torne maus.

Assim, na medida em que viram as costas para o Jesus o homem, então eles se
viram contra os judeus como uma manifestação do Jesus que eles temem e contra
o Deus de Jesus e dos judeus, que eles também temem. Esta é a imagem que eu
obtenho quando olho para o que acontece nas almas de muitos cristãos. Eu vou dar
a vocês um exemplo:

Um incidente ocorreu durante um curso de dinâmicas de grupo para cristãos muito


devotos. Os participantes eram todos teólogos e serviam em altas posições em
suas respectivas igrejas. O líder do grupo sugeriu que se colocasse uma cadeira
vazia no meio do grupo, e os membros do grupo deveriam imaginar Jesus sentado
nessa cadeira. Cada pessoa poderia dizer algo a ele. Um participante
imediatamente colocou a cadeira no centro e os outros começaram a falar com
Jesus. A ira contra Jesus que irrompeu dos participantes foi inacreditável. A um
certo ponto, um participante correu até a cozinha e, pegando uma faca, começou a
golpear com ela a cadeira. Quando terminou, todos ficaram chocados com aquilo
que emergiu das profundezas de suas almas e, se sentiram terrivelmente
envergonhados.

O líder do grupo, que tinha sido considerado não-cristão por estes dedicados
cristãos, disse: "Eu não vejo nenhuma culpa neste homem".

Se eu olho para os judeus durante sua perseguição pelo Terceiro Reich, e permito
que esta imagem trabalhe em mim, eu os vejo sendo arrebanhados juntos, e
enviados para sua morte. Eu os imagino concordando sem resistência, gentis e
humildes, e vejo Jesus neles. Jesus, o homem; Jesus, o judeu.
As vítimas do holocausto estavam num papel, notavelmente como o Jesus cristão
em face aos judeus. Como um povo, em seu comportamento e em seu destino, elas
incorporaram o comportamento e o destino do Jesus cristão em face aos
Conselheiros e Pilatos. Desta vez, os cristãos foram os brutos e os judeus
exemplificaram as características de Jesus.

O mesmo Deus

Voltando à idéia de um Deus que "escolhe", eu gostaria de dizer algo sobre o início
da religião na alma e acerca do que acontece nas almas dos cristãos quando eles
se tornam cristãos e nas almas dos judeus quando se tornam judeus.

Uma criança nasce em uma família específica, tem pais específicos, dentro de uma
família estendidaNT1 também específica. A criança tem uma cultura específica, é
parte de um povo específico e uma religião específica. A criança não pode escolher
nenhuma dessas coisas.

Se a criança toma esta vida como ela vem para ela ou ele, sem qualificações — se
a criança toma esta vida com tudo o que está incluído nesta família — o destino
desta família, as possibilidades, os limites, a alegria e o sofrimento – então a
criança está aberta, não só a estes pais, não só a este povo, não só a esta cultura
específica, não só a esta religião em particular; mas esta criança está aberta a
Deus e o que quer que seja que possamos sentir que esteja além deste nome.
Tomar a vida deste modo é um ato religioso. É o ato religioso.

Alguém que nasce numa família judia não pode fazer nada mais, e não pode fazer
nada além de começar sua caminhada até Deus de um modo judeu. Esse é o único
caminho aberto a esta pessoa, e , deste modo, o único correto. O mesmo é verdade
para um cristão acerca do caminho cristão. Quaisquer que sejam as diferenças de
crença entre cristãos e judeus, eles são iguais quando se chega a este ato religioso
essencial. Esse movimento é independente do conteúdo de suas religiões e não
pode e nem deve ser abdicado, mesmo que a pessoa adote uma religião diferente
depois.

Eu vou dar um exemplo:

Uma vez um jovem, em um curso, veio buscar ajuda porque se sentia


desconectado da vida. Os fatos que emergiram foram que seu avô nascera judeu,
mas o jovem neto se considerava cristão, não um judeu. Quando nós posicionamos
sua família, eu coloquei cinco representantes próximos a seu avô para representar
as vítimas do Holocausto. O representante do avô espontaneamente deitou sua
cabeça no ombro do representante mais próximo. Após um instante, ele disse:
"Este é o meu lugar". Quando foi solicitado ao jovem que dissesse a seu avô: "Eu
também sou judeu e permaneço judeu", ele só conseguiu dizê-lo com grande
ansiedade e tremendo. Entretanto, uma vez que ele foi capaz de dizer isso, sentiu
seu próprio peso, pela primeira vez na vida.
O que foi verdadeiramente religioso neste caso? Sua identificação com a
cristandade ou seu retorno com suas raízes judias? O ato religioso mais básico foi o
seu reconhecimento: "Eu sou judeu e permaneço judeu".

Uma árvore não pode escolher onde cresce. Ainda assim, o lugar onde sua
semente cai na terra é o lugar certo para aquela árvore. A mesma coisa é
verdadeira para nós. O lugar onde os pais estão, é o único lugar possível para cada
ser humano e, deste modo, o lugar certo. Cada pessoa pertence a um povo, tem
uma língua, uma raça, uma religião e uma cultura que são as únicas possíveis e,
deste modo, as certas. Quando um indivíduo concorda com isso em um senso
profundo e humildemente toma isso a partir do que é maior que todos os indivíduos
e quando o individual se desenvolve então apropriadamente, dando tudo o que é
possível, então ele ou ela se sente igual a todos os demais. Ao mesmo tempo vem
o reconhecimento de que esta força superior, como quer que nós a chamemos, tem
de olhar para todos nós , igualmente. Não importa quão diferentes os povos do
mundo possam ser, eles são todos iguais perante esta grandeza.

Alemães e Judeus

Dado este cenário, alguém poderia perguntar: "Como podem os cristãos , acima de
tudo os alemães , lidar com sua culpa perante os judeus? O que eles podem fazer e
o que eles tem que fazer para superar esta culpa e dar ao povo judeu um lugar de
valor entre eles? E como pode o povo judeu lidar com a culpa dos cristãos e dos
alemães?"

Eu tenho tido algumas experiências em vários cursos, que indicam como a


reconciliação pode ser possível entre as vítimas e os agressores e , num sentido
mais amplo, entre alemães e judeus. Uma das mais dramáticas experiências foi
num curso em Bern. Um homem posicionou a constelação de sua família atual e
então no final ele disse que tinha algo importante a acrescentar — ele era judeu. Eu
reagi a isto posicionando sete representantes para vítimas do Holocausto e atrás
delas, sete representantes para agressores mortos. Eu pedi então aos
representantes das sete vítimas que se virassem e olhassem nos olhos dos
agressores.

Após isto, não fiz mais nada. Deixei o movimento inteiramente por conta deles,
como se desenvolvia, naturalmente. Alguns agressores caíram, se enrolaram no
chão e choraram alto em dor e vergonha. As vítimas se viraram para os agressores
e olharam para eles. Elas ajudaram aqueles que estavam no chão a se levantarem,
colocaram-nos nos braços e os confortaram. Finalmente, houve um indescritível
amor que emergiu entre eles.

Um dos agressores estava completamente rígido e não podia se mover de forma


nenhuma. Eu coloquei então, uma pessoa atrás dele para representar o agressor
por trás do agressor. O primeiro representante apoiou suas costas contra este novo
representante e foi capaz de relaxar um pouco. O homem disse mais tarde que ele
tinha se sentido como um dedo de uma mão gigante, totalmente a sua mercê. Isto
também foi relatado pelos outros nessa constelação. Todos, vítimas e agressores,
sentiram-se dirigidos, mas, também, carregados por uma força maior — uma força
cujos efeitos não estavam claros.
Após essa constelação, solicitei a todos os participantes que me enviassem um
relato do que haviam experimentado durante a constelação. Um representante de
um agressor me escreveu:

À medida que você colocou sete de nós atrás das sete vítimas, eu fui tomado por
um sentimento muito estranho e desagradável. Eu, intuitivamente, antecipei alguma
coisa ruim, mesmo que não estivesse ainda claro para mim até aquele momento
quem eu estava representando. Quando você disse que nós representávamos os
agressores, um calafrio correu pela minha espinha. Quando as vítimas se viraram e
eu olhei o homem que estava oposto a mim, toda a energia foi drenada do meu
corpo. Eu nunca senti tanta vergonha na minha vida. Eu só olhava para ele e isto ia
me tornando menor, na medida em que ele ia se tornando maior. Eu não queria
nada, exceto, desaparecer em um buraco no chão, de preferência um buraco de
rato bem fundo na terra.

Dentro de mim eu estava gritando "NÃO, NÃO, NÃO, isto não pode ser verdade".
Eu senti a necessidade de pedir desculpas, mas ao mesmo tempo uma voz interna
me disse que não havia meio de fazê-lo, nada poderia ser mudado, eu mesmo tinha
que carregar tudo. A única palavra que eu pude pronunciar foi "por favor", neste
momento minha vítima me tomou em seus braços. Sem este apoio eu teria caído
no chão de vergonha. Em seus braços, minha voz interna mantinha-se dizendo "eu
não mereço isto, eu não mereço isto tudo — ser amparado por ele.” Por sorte, eu
fui capaz de deixar minhas lágrimas fluírem. De outro modo, a coisa toda teria sido
insuportável.

Após minha vítima ter me deixado ir novamente, eu me senti um pouco melhor. Eu


podia sentir vagamente o chão sob meus pés e podia respirar um pouco mais
livremente. Ao mesmo tempo, estava consciente de que ele era somente a primeira
vítima e havia ainda muito mais vítimas em minha consciência. Não só duas ou
três, não — dezenas ou mesmo centenas ! Eu senti a forte necessidade de olhar
cada uma delas nos olhos, e assim encontrar minha própria paz interior.

Quando você colocou um super-agressor atrás de nós, imediatamente ficou claro


para mim que eu tinha de carregar sozinho a responsabilidade por tudo o que eu
tinha feito. Não havia nenhum alívio que viesse deste agressor que estava atrás de
mim. Eu também senti fortemente que teria sido muito melhor ter ficado do outro
lado e não ter assumido toda esta culpa insana.

Minha necessidade de olhar a próxima vítima ficou mais intensa, mas de fato, o
próximo contato de olhos, literalmente, me jogou no chão. Eu não podia mais ficar
de pé. Eu chorei amargamente. Eu "fui". Eu estava apenas consciente de uma voz
bem distante que dizia: "Agora volte lentamente", e fui voltando bem devagar. Para
mim, havia ainda muita coisa inacabada, muitas vítimas não tinham sido vistas.
Havia ainda uma poderosa urgência para trazer ordem a este negócio inacabado.

Após a constelação gastei pelo menos uma hora para voltar totalmente a mim
mesmo de novo e sentir a minha força total.

Para mim, essa foi verdadeiramente um dos papéis mais difíceis que eu já tinha
experimentado em uma constelação familiar. Foi também estranho o modo pelo
qual os pensamentos emergiam tão cristalinos em minha consciência. Por exemplo,
que era impossível empurrar a responsabilidade de minhas próprias ações para um
outro alguém, mesmo que fosse algo pequeno na máquina. Após tal experiência,
você sabe que não há nada mais a discutir, ou perguntar, ou explicar. É
simplesmente como é.

Em uma constelação como esta, também fica claro que não há grupos, no sentido
de que estas são as vítimas e aqueles os agressores. Só existem as vítimas
individuais e os agressores individuais. Cada agressor individual tem de encarar a
sua vítima individualmente, e cada vítima individual tem de encarar seu agressor
individual.

O que se torna claro é que não há paz para as vítimas mortas até que os
agressores mortos tenham tomado seu lugar próximo a elas — até que os
agressores mortos tenham sido tomados por suas vítimas. E, não há paz para os
agressores até que eles tenham deitado ao lado de suas vítimas como iguais. Se
isto não acontece, se isto não é permitido acontecer, os agressores serão
representados por alguém na próxima geração. Por exemplo, enquanto aos
agressores da última guerra for negado um lugar nas almas dos alemães, eles
serão representados pelos radicais de direita. Nas constelações de famílias judias,
onde há descendentes de vítimas do Holocausto, eu tenho visto freqüentemente,
uma criança identificada com um daqueles agressores. Não há nenhuma alternativa
de reconciliação real, mesmo com os agressores.

Nestas constelações também fica claro que emaranhamentos só são resolvidos


entre aqueles que foram realmente afetados, isto é, entre o agressor específico e
sua vítima específica. Ninguém mais pode se interpor entre eles, ninguém mais tem
o direito ou tarefa ou poder de fazê-lo. Nas constelações os representantes das
vítimas mortas e os agressores mortos não querem os vivos interferindo em seus
assuntos. Eles querem os vivos fora destas coisas e querem que a vida continue,
sem ser limitada ou sobrecarregada com suas recordações. Do ponto de vista dos
representantes das pessoas mortas, a vida pertence aos vivos que estão livres para
tomá-la.

Eu tenho uma fantasia disto em termos de que efeito isto teria na alma dos cristãos
se eles imaginassem Jesus morto, encontrando no reino dos mortos todos aqueles
que o traíram, julgaram e executaram. Quando nós olhamos para eles como seres
humanos, todos iguais em face aos grandes poderes que controlam seus destinos,
então damos a todos eles nosso respeito, embora isto possa ser um pensamento
repulsivo para muitos de nós. Acima de tudo, nós temos de honrar e respeitar o
grande poder por detrás deles e de todos nós, como um mistério incompreensível.

Submeter-se a este mistério deste modo é algo verdadeiramente religioso e


humano. Certa vez, eu fiz um exercício, nesse sentido, com uma mulher judia em
cuja família muitos tinham sido assassinados.

Ela se sentiu chamada a reconciliar os vivos e os mortos. Eu pedi a ela que


fechasse os olhos e fosse imaginariamente ao reino dos mortos. Ela deveria ficar
entre os seis milhões de vítimas do holocausto e olhar para frente, para trás e para
os lados direito e esquerdo. Em torno desta enorme massa de seis milhões de
mortos, estavam deitados os agressores. Então todos se levantavam, as vítimas
mortas, os agressores mortos e todos se viravam em direção ao horizonte, para o
leste. Lá, eles viam uma luz branca e todos se curvavam a esta luz. A mulher
também se curvou com todos os mortos e quando ela terminou, retirou-se
lentamente, deixando os mortos na memória diante daquilo que apareceu no
horizonte, mas que permanecia oculto. Então ela se virou de costas para os mortos
e olhou para a vida de novo.

Recompensa
Algumas vezes os vivos precisam encarar os mortos. Olhá-los e serem vistos por
eles — principalmente aqueles que são culpados em relação aos mortos, mas
também aqueles que obtiveram alguma vantagem às custas do destino terrível de
seus vizinhos judeusNT2. Em muitas constelações o que tem emergido é que
aqueles indivíduos que sofreram com os erros de outros, afetam a alma dos
indivíduos que cometeram tais erros, ou as almas daqueles que se beneficiaram
destes erros, assim como as almas de seus descendentes.

Esta influência continua até que o erro tenha sido reconhecido e visto e até que as
vítimas sejam reconhecidas como pessoas de igual valor, sejam respeitadas e seja
feito luto por elas. Quando isto é feito, a ferida pode fechar e os efeitos terríveis de
tais erros cessam.

Em conclusão, eu contarei a vocês uma estória que os levará a uma viagem pela
alma se vocês desejarem segui-la.

A volta

Alguém nasce em sua família, em sua pátria, em sua cultura e já desde criança
ouve falar de seu modelo, professor e mestre, e sente um desejo profundo de
tornar-se e ser como ele.
Junta-se a um grupo de pessoas que pensam da mesma forma, exercita disciplina
por muitos anos e segue seu grande modelo, até que se torna igual a ele e pensa,
fala, sente e quer como ele.

Entretanto, pensa que ainda falta uma coisa. Assim, parte por um longo caminho,
buscando transpor, talvez, uma última fronteira na mais distante solidão. Passa por
velhos jardins, há muito abandonados. Ali apenas florescem rosas silvestres e
grandes árvores dão frutos todos os anos, mas eles caem esquecidos no chão
porque não há ninguém aí que os queira. Dali em diante, começa o deserto.

Logo é cercado por um vazio desconhecido. Parece-lhe que, aí, todas as direções
são iguais e, as imagens que às vezes vê diante de si logo se mostram vazias.
Caminha impulsionado para adiante e quando já tinha perdido, há muito tempo, a
confiança nos seus próprios sentidos, avista diante de si a fonte. Ela brota da terra
e nela imediatamente se infiltra. Porém, até onde a água alcança, o deserto se
transforma num paraíso.

Olhando à sua volta, vê, então, dois estranhos se aproximarem. Tinham feito
exatamente como ele. Tinham seguido seus modelos, até se tornarem iguais a eles.
Tinham empreendido, como ele, um longo caminho, buscando transpor, talvez, uma
última fronteira na solidão do deserto. E encontraram, como ele, a fonte. Juntos, os
três se curvam, bebem da mesma água e acreditam estar quase na meta. Depois
dizem seus nomes: "Eu me chamo Gautama, o Buda". — "Eu me chamo Jesus, o
Cristo". — "Eu me chamo Maomé, o Profeta".
Mas, então, chega a noite e, acima deles, como sempre, brilham as estrelas
inalcançáveis, distantes e silenciosas. Os três se calam e um deles sabe que está
mais próximo do seu grande modelo como nunca. É como se pudesse, por um
momento, pressentir o que Ele sentira quando o soube: a impotência, a frustração,
a humildade. E como deveria ter sentido, se tivesse conhecido também a culpa.

Na manhã seguinte, ele volta, saindo salvo do deserto. Mais uma vez, seu caminho
o leva por jardins abandonados, até que acaba em um jardim que lhe pertence.
Diante da entrada está um homem velho, como se estivesse esperando por ele. Ele
diz: "Quem de tão longe encontra, como você, o caminho de volta, ama a terra
úmida. Sabe que tudo o que cresce também morre e, quando cessa, nutre". —
"Sim", responde o outro, "eu concordo com a lei da terra". E começa a cultivá-la.

NT Literalmente o "lider"— no caso, Hitler.

NT1 Hellinger distingue a família nuclear— pai, mãe e irmãos — do conceito de


família dentro do trabalho fenomenológico, aqui chamado de família "estendida",
por seus efeitos no destino de alguém. Sugerimos ler nos livros de Hellinger já
publicados em português, quem pertence a esta família "estendida".

NT2 Na Alemanha nazista, muitos judeus tiveram seus bens confiscados pelo
estado e "leiloados" a preços muito baixos entre a população, que assim adquiriu
apartamentos, casas, fazendas e outros bens por um valor muito vantajoso às
custas dos judeus.

Conflitos étnicos e reconciliação - A paz começa na alma


2004

Escrito por Bert Hellinger


A paz começa na alma: Conflitos étnicos e reconciliação
Bert Hellinger
na Forham University, 4 de Outubro de 2004

Texto traduzido por Décio Fábio de Oliveira Júnior com a permissão expressa do
Sr. Dan Booth Cohen, conforme o original em inglês no site
http://www.hiddensolution.com/whatsnew.htm

* A raiz do conflito étnico é uma "Boa consciência"


* Primeira Demonstração
* Observações sobre a primeira demonstração
* Perguntas
* Segunda Demonstração
* Observações sobre a Segunda Demonstração

A raiz do conflito étnico é uma "Boa Consciência"

Qual é a origem dos conflitos étnicos ? Se você olhar para isto bem de perto , você
ficará surpreso ao perceber que na raiz de todos estes grandes conflitos está uma
"boa consciência". Todos estes conflitos obtêm sua energia de uma boa
consciência.

Nós somos ensinados desde a mais tenra infância , que nós temos que seguir
nossa consciência. Algumas pessoas chegam a dizer que a consciência é a voz de
Deus em nossa alma. Mas uma olhada bem superficial na consciência no mostra
que pessoas de diferentes famílias e diferentes culturas têm diferentes consciências
em relação a nós. Muito freqüentemente, seguindo sua própria boa consciência
elas expressarão diferentes valores, apresentarão diferentes comportamentos e
manterão diferentes atitudes do que nós teríamos dentro de nossa própria família e
nossa própria cultura.

Um teste bem fácil para verificar isto: quando você vai até seu pai, você tem uma
consciência diferente do que quando você vai até a sua mãe. Se você fica perto da
mãe você se sente de má consciência em relação a seu pai. Se você fica perto do
pai você se sente de má consciência em relação a sua mãe.

Assim, a consciência, na verdade, não nos diz o que é bom ou mau. Ela nos diz o
que nós temos de fazer de modo a pertencer a um grupo particular ou a uma
pessoa particular. A consciência tem uma função básica: ela nos liga nossa família
de origem, especialmente a este grupo que é essencial para a nossa sobrevivência.
Deste modo, quando nós seguimos nossa consciência, não é uma consciência
pessoal, é a consciência de nosso grupo. Se nós seguimos tal consciência, nós nos
sentimos seguros dentro de nosso próprio grupo.

Mas ao mesmo tempo que a consciência nos liga a nosso grupo, ela nos separa de
outro grupo. Assim, divisões, entre pessoas e famílias e grupos maiores, vêm da
boa consciência. Esta consciência é um pré-requisito para a sobrevivência. Para
nossa sobrevivência e para a sobrevivência de nosso grupo.

Se há um inimigo de for a, ameaçando nosso grupo, a consciência se torna muito


ativa e nos liga bem próximos a nosso grupo e mobiliza a energia para lutar com os
outros pelo bem da sobrevivência de nosso próprio grupo. Se você olha para estes
conflitos, você vê que ambos os lados têm uma boa consciência. Ambos os lados
sentem que sua consciência é a voz de Deus. Sua causa é algo sagrado. Isto é o
motivo pelo qual os conflitos entre grupos são defendidos como uma guerra santa.
Sempre, uma guerra santa. Muito estranho, hum ?

A pergunta agora é: Nós podemos achar caminhos que podem superar os limites
de nossa própria boa consciência e incluir dentro de nossas almas e nossos
corações os valores de outras pessoas? Então nós teremos de ter uma má
consciência. Através de ter uma má consciência nós podemos amar mais do que
antes. Por causa deste tipo de amor, que vem da boa consciência, diz ao mesmo
tempo , "Sim e não". O amor que leva à reconciliação seria o amor que pode dizer
"Sim" para todo mundo e para tudo.

Isto não é politicamente factível. Os líderes políticos tem de seguir a consciência de


seus grupos. Nós não podemos esperar deles que cruzem as fronteiras de sua boa
consciência. Nos tempos recentes, há dois líderes políticos que fizeram isto, o
presidente Sadat do Egito e o primeiro ministro Rabin de Israel. Ambos foram
mortos por seu próprio povo que agiu de boa consciência, é claro. Superar as
fronteiras de nosso próprio grupo é perigoso. Nós temos que saber disto.

Uma vez que você seguiu sua consciência, você não mais pode ver as outras
pessoas. Voe nunca as vê. Elas são apenas "Os inimigos, os outros, o outro grupo".
Deste modo a paz começa quando nós vemos as outras pessoas, nossos inimigos,
como seres humanos exatamente como nós somos.
Todos os esforços para servir à paz têm de ser feitos bem devagar. Tem de
começar na alma. Primeiro de tudo em nossa própria alma e então nós podemos
encontrar outros que se unem em um certo movimento de paz. Isto pode alcançar
momentum e ao longo do tempo alcançar alguma coisa boa a serviço da paz.

Primeira Demonstração

Aqui, eu gostaria de demonstrar o que acontece se nós seguimos nossa boa


consciência e se nós vamos além do limite de nossa consciência. Eu farei algo que
pode ser muito radical. Eu tomarei algumas pessoas para representar vítimas do
Holocausto e algumas pessoas para representar os assassinos do Holocausto.
Deixaremos que elas fiquem face-a-face. Nós olharemos o que acontece se nós
permitimos a elas olharem-se mutuamente.

Eu preciso de cinco representantes para as vítimas do Holocausto. Alguém se


dispõe? [Seleciona então os representantes] Você fica aqui. Só fiquem de pé, lado
a lado. Então eu tomarei cinco representantes para os assassinos. [Seleciona os
representantes].

[Hellinger coloca a linha de vítimas de frente para uma linha de agressores. Ele não
dá nenhuma explicação adicional ou instruções. Isto não é um psicodrama ou uma
encenação. Os representantes não falam nada. Após algum tempo, eles começam
a exibir reações. Alguns começam a chorar, alguns se tornam fracos e caem,
alguns se viram, alguns se movem para perto dos outros e alguns apenas ficam de
pé, no lugar.
Hellinger permite o processo se desenvolver por cerca de 10 minutos. Então ele
traz alguns representantes para cada lado, que ficam atrás dos outros. Ele não diz
a eles nada, mas à medida que o processo se desenvolve eles podem ver os
representantes dos descendentes das vítimas e dos agressores. Após algum
tempo, eles também começam a reagir de vários modos.

O processo inteiro dura mais de 20 minutos sem nenhuma fala. Lágrimas fluem
livremente, dos representantes das vítimas , dos agressores, dos descentes de dos
observadores da audiência. Nós vemos que muito lentamente, os membros das
duas linhas originais se misturaram uma com a outra. Muitos, mas não todos, se
abraçaram em pequenos grupos. Alguns deitaram no chão sozinhos. Ninguém ficou
imóvel.]

Eu acho que aqui eu posso interromper isto.

Observações sobre a primeira demonstração

Eu direi algo sobre o procedimento. Se nós não interferirmos com qualquer


julgamento ou intenções, então em uma constelação como esta, os representantes
são movidos por uma força mais profunda. Isto é "a alma" em um sentido muito
mais amplo do que nós usualmente falamos sobre ela. Os movimentos básicos da
alma são sempre os mesmos. Eles unem o que foi antes separado. Você pode ver
isto muito lindamente.
Aqui alguma coisa muito importante aconteceu. Um dos agressores não pode ir.
Nós o vimos ficar de pé dom seus pulsos cerrados. O jovem homem lá ,
obviamente, era um descendente de um agressor. Nós pudemos ver isto. Quando o
agressor virou-se para seu descendente, o jovem homem veio e colocou sua mão
no ombro do velho homem. Isto foi o começo de um movimento onde ele poderia se
abrandar. O agressor não pode ficar brando a menos que ele seja amado. Isto foi
mostrado. Não há mudança a menos que os agressores também sejam olhados
como seres humanos que seguem sua consciência assim como os outros o fazem.
Isto precisa ser reconhecido, que eles são chamados por um destino especial,
como outros também.

No final, nenhum grupo mais, apenas pessoas. Apenas pessoas conectadas pelo
amor e pelo profundo pesar que vocês puderam ver aqui, pelo que aconteceu. A
principal força que traz paz entre pessoas e nações querelantes é um pesar
compartilhado por aquilo que aconteceu .

Eu quero apontar algo muito importante. Alguma coisa que está no caminho da paz.
Muitos daqueles que sofreram, ou que pertencem ao grupo que sofreu muito, estão
com raiva dos agressores. Eles reprovam-nos. Eles não querem esquecer de
nenhuma forma. O que acontece ? Aqueles que rejeitam os agressores em sua
alma se tornam como eles. Subitamente, eles têm a energia dos agressores e
continuam o conflito de alguma forma a sua volta. Como a roda que gira, mas é
sempre a mesma, sem nenhuma solução. Além do mais, aqueles que são
reprovados são reforçados em sua agressão. Assim, todas as acusações e todas
as reclamações pelos sobreviventes dos conflitos étnicos contra os agressores
apenas alcançam o propósito oposto ao qual almejam. Eles permanecem no
caminho da reconciliação.
Uma vez que nós compreendemos isto e permitimo-nos em nossas almas desejar o
bem a cada pessoa, mesmo aos agressores, mesmo àqueles que cometeram
injustiças contra nós, mesmo na vida cotidiana, se nós aprendemos isto, nós
crescemos. Se nós adotamos esta atitude nossa simples presença em uma dada
situação promoverá a reconciliação e a paz. Há duas sentenças ditas por Jesus que
explicam o que isto significa no final. Ele disse, " Tenha clemência, como meu pai
no Céu; ele faz o sol nascer sobre os bons e os maus , igualmente. E Ele deixa a
chuva cair sobre os justos e injustos, igualmente." Esta é a paz de Deus, realmente.

Perguntas

P: Houve um representante das vítimas que se moveu para longe dos outros.
Quanto mais longe ele caminhou para longe, mais ele parecia colapsar. Enquanto
isto, os representantes que se aproximaram dos agressores permaneceram de pé e
eventualmente se moveram em harmonia com os outros. Eu me preocupo com o
que aconteceu com o representante da vítima que se afastou.

Hellinger: Eu primeiro direi algo sobre todo o processo. Cada representante é um


indivíduo que está sintonizado como alguma coisa por si mesmo. Nós não podemos
explicar seus movimentos. Foi assim como foi, isto é tudo. E ainda, nós pudemos
ver estes movimentos revelar algo sobre as forças internas que influenciam aqueles
que tem experimentado contato com o Holocausto.
Neste exemplo, nós podemos ver que muito freqüentemente os descendentes das
vítimas do Holocausto querem morrer. Muitos deles são atraídos para a morte. Aqui
voê pôde ver um exemplo. Aqueles que são ousados o suficiente para encontrar os
agressores, estes tem força. Você pôde ver isto também. Muito estranho, de fato.
Isto é como é. Isto não foi planejado ou imaginado de forma alguma. Isto não pode
ser imaginado. Algo da profundidade simplesmente surge, e vem à luz e nos é
mostrado. Nós só assistimos.

P: Os representantes não usam quaisquer palavras. O que , em termos do


procedimento, significa esta falta de diálogos ?

Hellinger: Estes movimentos só podem ser revelados sem o uso de palavras. Só


então as profundezas da alma se movem. Muito freqüentemente nós queremos
desafiar ou questionar aquilo que vemos porque nós temos em mente a idéia que
isto deveria ser de uma certa forma. Se nós ouvimos estas idéias, somos cortados
da conexão com estes movimentos profundos, imediatamente. Isto só pode ser feito
sem palavras. E isto mostra que não há interferências de fora. Assim que usamos
palavras, vocês são desconectados dos movimentos.

P: Você instrui os representantes para não falar?


Hellinger: Você viu, desde que eu não disse nada, eles não disseram nada também.

P: Você usou a palavra "consciência" para descrever a consciência baseada no


pertencimento a um grupo particular que freqüentemente se vira , então, contra um
outro grupo. Me parece que há também uma consciência baseada na identificação
com toda a raça humana. Estas pessoas trabalham para a paz mundial. Pode não
existir uma consciência como esta? Um grupo comprometido ce pessoas que são
amantes da paz e não se identificam com um grupo religioso, nacional ou étnico
particular, mas com a humanidade como um todo?

Hellinger: A consciência tem a ver com pertencimento. Pertencimento a um


pequeno grupo ou à humanidade como um todo, sintonizar-se com o mundo como
um todo. A consciência pessoal é sentida como culpada ou inocente; é como ela se
mostra. Ela dirige nossas ações e comportamentos por meio destes sentimentos.
Podemos também sentir o que é ficar em sintonia com todas as pessoas. Estar em
sintonia é percebido como um sentimento de calma e centramento. Não estar em
sintonia é sentido como intranqüilidade. Se nós trabalhamos para a paz, e nós
somos muito calmos, confiamos no movimento maior do qual nós somos uma parte,
então nós nos sentimos muito calmos e centrados. Então nós não temos nenhuma
ansiedade. Tão logo as pessoas se tornam ansiosas e desejosas de alcançar algo,
elas seguem sua consciência pessoal. Elas não estão em sintonia. Quando nós
estamos em sintonia como o todo, estamos centrados. Nós confiamos que as
coisas se desenvolverão no tempo devido; nós não nos apressamos. Deste modo o
teste é: estamos calmos ou inquietos ?

Uma outra coisa a se notar é que quando você segue sua consciência pessoal e se
sente ligado a seu grupo, você se sente conectado em uma relação muito íntima.
Uma vez que você estiver em sintonia com a humanidade, você perde esta
intimidade. Você está aberto ao amplo; você está conectado, mas não intimamente.
Há um preço a ser pago. Você se sente de certa forma sozinho, ainda que
conectado.

P: Como o pesar promove a reconciliação ? Além do sentimento de pesar, que


outros promovem a paz?

Hellinger: A vida está sempre se movendo para a frente. O pesar é só por um curto
tempo. Pela experiência do pesar [do luto], algo do passado se completa. Então
você se move para a frente. Se nós carregamos nosso pesar e remorso conosco
todo o tempo, nós perdemos nossa própria vida. Na alma, se estamos em conexão
com aqueles com quem estivemos previamente em oposição, e compartilhamos
juntos o pesar, então podemos estar completos. Então podemos nos mover para a
frente com a vida, sem a necessidade de vingar os erros do passado na próxima
geração.

Muito freqüentemente, as pessoas rejeitam algo em si mesmas. Chamam isto de


sua sombra, ou o que quer que seja. Nossa alma contém uma imagem ou um
reflexo da história de nossa família, nossa cultura, nossa religião, nossa raça, nossa
nacionalidade. O que quer que seja que rejeitemos em nós mesmos, representa
uma pessoa rejeitada. Muitas doenças, por exemplo, são conexões ocultas com
uma pessoa excluída dentro de nosso sistema familiar. Se esta pessoa excluída é
tomada em nosso coração, a doença pode ir. Muito freqüentemente.

A reconciliação começa em nossa alma. Quando o que quer que seja que
rejeitamos, ou do qual temos vergonha é reconhecido e mesmo amado, então nós
podemos nos tornar mais completos e em paz. Infelizmente, isto significa também
que temos de deixar de lado nossa boa consciência.

Segunda Demonstração

Hellinger coloca uma segunda demonstração. Dez vítimas do Holocausto Armênio-


Turco deitam-se no chão no centro do círculo. Eles são margeados de cada lado
por cinco representantes dos descentes das vítimas armênias e cinco
representantes dos agressores turcos. Nenhuma instrução adicional é dada.

Após vinte minutos, muitos representantes se movem em grupos com alguns de


cada lado juntando-se para lamentar os mortos. Muitos estão chorando; no final
estes grupos começam a rir juntos.

Observações sobre a segunda demonstração

Olhando para esta constelação, nós podemos ver como é difícil alcançar a
reconciliação no final. Muito difícil. É muito difícil alcançar isto em larga escala. Só é
possível entre uns poucos indivíduos. O principal obstáculo é que os descendentes
de ambos os lados estão ligados a suas consciências. Mesmo agora, após tantos
anos, eles estão ligados a suas consciências.
Há um importante aspecto a ser levado em consideração. Muitas pessoas que
sofreram muito, como os armênios, ou na América do Sul, os índios, os incas ou os
escravos nos Estados Unidos, e os nativos americanos especialmente, eles estão
ligados por aquilo que aconteceu no passado. Sua energia é atraída do presente
para o passado. Há uma esperança secreta que algo que foi terrivelmente mau no
passado possa ser refeito e corrigido, até mesmo desfeito totalmente. Este desejo
de mudar o passado impede os descendentes de olharem para frente.

Na Alemanha, nós freqüentemente encontramos com israelenses para discutir o


Holocausto Judaico-Alemão. Eles nos dizem que nós nunca devemos esquecer o
que aconteceu. Eles dizem, "Nunca esqueça." Mas quando você faz isto, nada
pode acabar. Por relembrar o passado, sempre repensando o que aconteceu, a
energia é removida da vida presente. O que acontece àqueles descendentes que
são admoestados a se lembrar ? Eles ficam com raiva. Então, justamente o oposto
daquilo que se deseja obter é alcançado.

Na última demonstração, se os turcos que vivem hoje são forçados a expressar


remorso e arrependimento por terem matado os armênios noventa anos atrás, eles
se recusarão a fazê-lo e ficarão resistentes e hostis. Eles não poderão ficar
brandos. O conflito continua e nunca poderá terminar.

Ano passado eu trabalhei na Flórida. Havia uma mulher no workshop que disse que
se sentia desconectada de seu corpo. Ela sentia como se sua cabeça estivesse
cortada do resto dela. Eu soube que ela era uma inca peruana. Então eu pensei no
rei inca que foi decapitado pelos conquistadores espanhóis. Eu coloquei alguns
representantes do povo inca deitados no chão. Então eu tomei um representante
para o rei inca. Também coloquei três representantes para os conquistadores
espanhóis. Eu coloquei esta mulher com eles. Após um momento, ela se moveu e
uniu-se aos mortos, especialmente ao rei inca. Ela queria revivê-lo. Mas de fato, ele
não podia ser ressuscitado. Ele apenas afundou mais e mais profundamente.
Quando a mulher viu que nada podia ser feito, absolutamente nada, aí realmente
acabou. Ela foi até os representantes dos espanhóis e segurou a mão de um deles.
Então começou a chorar. Eles ficaram brandos.

No dia seguinte, ela me escreveu uma carta dizendo que ela era uma descendente
direta do último rei inca. Através desta experiência, ficou claro para ela que
qualquer tentativa de reviver o passado priva a geração presente de seu futuro.

Em alguns dias eu estarei indo ao Canadá onde eu fui convidado por um grupo de
pessoas nativas a trabalhar com elas. Todos eles perderam suas terras e costumes
tradicionais e eles também vêem que não há nenhum caminho para o futuro a
menos que seja permitido encerrar o passado.

Há muitos obstáculos que ficam no caminho dos indivíduos deixarem o passado


para trás. Um deles é a consciência, como eu já disse. Outro é o desejo de justiça.
Nós todos temos uma premência para que algo tenha de ser equilibrado. Dar e
tomar, ganhar e perder tem de ser colocados em equilíbrio. Este é um desejo forte
e é muito útil para as relações humanas. Mas não é útil de forma alguma quando
nós tentamos forçar a justiça na história. Assim, muitas guerras são iniciadas de
modo a fazer justiça para aqueles que já morreram ou punir os mortos que
cometeram crimes no passado. Isto nunca foi alcançado. Nunca !
Justiça, nessas circunstâncias, é uma grande ilusão. Isto está no fundo de muitos
conflitos. Para criar paz nós temos que deixar de lado nosso desejo de justiça
dirigido ao passado. De outro modo, o conflito futuro é inevitável.

Justiça é uma preocupação só dos vivos. Os mortos, cujo destino nós podemos
querer vingar, não podem ser ajudados desta forma. A busca por alcançar a justiça
para aqueles que sofreram e morreram nos dá o sentimento de que nós estamos
fazendo a coisa certa; isto nos deixa de boa consciência. Mas o efeito é continuar
uma luta sem fim.

Estes são alguns dos insights que vieram deste tipo de trabalho que eu demonstrei.
Como vocês viram, não há nenhuma influência de fora. As camadas profundas da
alma funcionam de uma forma diferente de nossos desejos e de nossa consciência.
Se nós aprendemos a confiar nestes movimentos e vamos com eles, alcançamos
algo e deixamos muita coisa ir embora.

Sobre as
consciências

Escrito por Bert Hellinger


O QUE FICA E O QUE PARTE
A constelação familiar espiritual
Congresso em Reit im Winkl, Alemanha
14 a 17 de dezembro de 2006
Bert Hellinger
O QUE FICA
Tudo aquilo que fica, fica por um tempo. Muitas vezes, nos alegramos que fique
porque nos faz bem e nos presenteia com algo.
Por isso, nos alegramos quando as pessoas que amamos ficam, e nos
alegramos com um sucesso que fica.

Contudo, ninguém e nada permanecem por si mesmo. Nós mesmos precisamos


fazer algo para que fique. Fica, se fizermos algo com ele. Curiosamente, fica por
mais tempo se o multiplicamos. Permanece, quando algo é acrescentado
continuamente. Por isso, o que fica está simultaneamente em movimento.
Permanece, se nós também expandirmos com ele. Assim, uma árvore
permanece enquanto cresce. Assim, o amor permanece enquanto cresce, enquanto
continua dando mais e recebendo mais.
O que acontece com aquilo que parte? Parte porque terminou, porque não
cresce e não se expande mais. Parte, porque precisa ceder espaço ao novo que se
expande.
Assim também acontece com aquilo que ainda permanece, porque ainda está
crescendo. Aquilo que fica termina no momento em que não cresce mais.
O que acontece com o espírito? O que acontece com o movimento do espírito?
Ele sempre fica porque não chega a nenhum fim.
O movimento do espírito também deixa algo para trás por continuar
infinitamente? Ou inclui o anterior no movimento seguinte de modo que continue
dentro dele, de uma nova maneira? Por isso, o que fica agora também parte após
um tempo para que fique de uma outra forma. Permanece, na medida em que
caminha para frente.
A DIFERENCIAÇÃO DA CONSCIÊNCIA
As diferentes consciências são campos espirituais. A primeira delas, a consciência
pessoal, é estreita e tem o seu alcance limitado. Através de sua diferenciação entre
o bom e o mau reconhece o pertencer só de alguns e exclui outros.
A segunda, a consciência coletiva, é mais ampla. Também defende os
interesses dos que foram excluídos pela consciência pessoal. Por isso, está
freqüentemente em conflito com a consciência pessoal. Contudo, essa consciência
também tem um limite porque abrange somente os membros dos grupos que
dependem dela.
A terceira, a consciência espiritual, supera os limites das outras consciências
que colocam limites através da diferenciação entre bom e mau e da diferenciação
entre pertencimento e exclusão.
A CONSCIÊNCIA PESSOAL
O vínculo
Vivenciamos essa consciência estreita como boa e má consciência. Sentimo-nos
bem quando temos boa consciência e mal quando temos má consciência.
O que acontece quando temos uma boa consciência e o que acontece quando
temos uma má consciência? O que precede à boa e à má consciência para que
sintamos uma boa ou uma má consciência?
Se observarmos exatamente, quando temos uma boa consciência e quando
temos uma má consciência, podemos perceber que ficamos com má consciência
quando pensamos, sentimos e fazemos algo que não está em sintonia com as
expectativas e as exigências das pessoas e grupos aos quais queremos pertencer
e que freqüentemente também precisamos pertencer. Isso significa que nossa
consciência vela para que fiquemos conectados com essas pessoas e grupos.
Percebe, de imediato, se nossos pensamentos, desejos e ações colocam em perigo
nossa ligação e nosso pertencer a essas pessoas e grupos. Quando a nossa
consciência percebe que nos afastamos dessas pessoas e grupos através de
nossos pensamentos, sentimentos e ações, ela reage com o sentimento de medo
de perdermos nossa ligação com essas pessoas e grupos. Sentimos esse medo
como má consciência.
Inversamente, quando pensamos, desejamos e agimos de uma forma que nos
movimentamos em sintonia com as expectativas e exigências dessas pessoas e
grupos, sentimo-nos pertencentes e temos a certeza de podermos pertencer. O
sentimento de termos assegurado o nosso pertencer, sentimos como benéfico e
bom. Não precisamos ficar preocupados de sermos cortados, de repente, por essas
pessoas e grupos e nos experimentarmos sós e sem proteção. Sentimos como boa
consciência, o sentimento seguro de podermos pertencer.
A consciência pessoal nos liga, portanto, a pessoas e grupos que são
importantes para o nosso bem-estar e nossa vida. Contudo, porque essa
consciência nos liga somente a determinadas pessoas e grupos e,
simultaneamente, exclui outros, é uma consciência estreita.
Essa consciência nos foi de suma importância quando crianças. As crianças
fazem de tudo para poderem pertencer, pois sem essa ligação e sem esse direito
de pertencer estariam perdidas. A consciência pessoal assegura nossa
sobrevivência junto às pessoas e grupos que são importantes para a mesma.. Por
isso, a sua importância só pode ser altamente apreciada. Vemos também a
importância que a consciência pessoal ocupa na nossa sociedade e cultura.
Bom e mau
Neste contexto podemos observar que as diferenciações que fazemos entre bom e
mau são diferenciações dessa consciência. Elas estabelecem em que medida algo
assegura o nosso pertencer e em que medida isso o coloca em perigo.
O que assegura o nosso pertencer, vivenciamos como bom. Vivenciamos isso
como bom através da boa consciência sem que precisemos refletir muito se é
realmente bom quando observado mais exatamente a uma certa distância, ou se
isso pode ser até ruim para outros. Aqui o denominado bom é somente sentido, é
sentido como algo bom.
Portanto, sentimos e defendemos o bom, de modo irrefletido, como bom, mesmo
que para um observador que está fora desse campo espiritual pareça ser algo
estranho que coloca mais em perigo a vida de muitos do que a serviço.
Evidentemente que o mesmo é válido para o mau. Contudo, sentimos o mau
mais fortemente do que o bom, porque está ligado ao medo de que percamos o
pertencer e, ao mesmo tempo, também nosso direito de viver.
A diferenciação do bom e do mau serve, portanto, à sobrevivência dentro do
próprio grupo. Serve à sobrevivência do indivíduo no seu grupo.
A CONSCIÊNCIA COLETIVA
Atrás da consciência que sentimos ainda atua uma outra consciência. É uma
consciência poderosa muito mais forte no seu efeito do que a consciência pessoal.
Entretanto, em nossos sentimentos nos é relativamente inconsciente. Por que?
Porque nos nossos sentimentos a consciência pessoal tem precedência em relação
a essa consciência.
A consciência coletiva é uma consciência grupal. Enquanto que a consciência
pessoal é sentida por cada indivíduo e está a serviço do seu pertencer e da sua
sobrevivência pessoal, a consciência coletiva tem em seu campo de visão a família
e o grupo como um todo. Está a serviço da sobrevivência do grupo inteiro, mesmo
que para isso alguns precisem ser sacrificados. Está a serviço da totalidade desse
grupo e das ordens que asseguram a sua sobrevivência da melhor forma possível.
Quando o interesse de cada indivíduo se contrapõe ao interesse de seu grupo, a
consciência pessoal também se contrapõe à consciência coletiva.
A totalidade
A consciência coletiva está a serviço de que ordens, e como as impõe?
A primeira ordem, a qual essa consciência serve, é: todo membro de uma família
tem o mesmo direito de pertencer. Se um membro for excluído, não importam quais
sejam os motivos, mais tarde, um outro membro precisa representar a pessoa
excluída.
A consciência coletiva se mostra, comparada à consciência pessoal como imoral
ou amoral. Isso significa que não diferencia entre bom e mau nem entre culpado e
inocente. Por outro lado, protege todos da mesma forma. Quer proteger o seu
direito de pertencer ou reestabelecê-lo se isso lhe for negado.
O que acontece quando esse direito é negado a um membro familiar? De certa
forma, ele é reconduzido ao grupo por essa consciência, na medida em que outro
membro dentro da família precisa representá-lo, sem que esteja consciente disso.
Como essa volta se mostra? Um outro membro familiar assume o destino da
pessoa excluída, representando-a. Ele pensa como essa pessoa excluída, tem
sentimentos semelhantes, vive de forma semelhante, fica doente de forma
semelhante, até mesmo morre de forma semelhante. Esse membro familiar está,
dessa forma, a serviço da pessoa excluída e representa os seus direitos. É
apossada, por assim dizer, pela pessoa excluída, entretanto, sem se perder a si
mesmo. Quando a pessoa excluída recupera o seu lugar, esse membro familiar se
libera dessa pessoa.
Não é que a pessoa excluída queira que seja representada dessa forma, embora
isso também aconteça algumas vezes, se ela deseja algo de mau para alguém da
família. Em primeira instância, é essa consciência que atua e deseja a
representação e o emaranhamento. Ela quer reestabelecer a totalidade do grupo.
O instinto
Aqui, existe o perigo que nós imaginemos essa consciência como uma pessoa,
como se ela tivesse metas pessoais e as seguisse após reflexões profundas.
Essa consciência atua como um instinto. Um instinto grupal que quer somente
uma coisa: salvar e reestabelecer a totalidade. Por isso é cego na escolha de seus
meios.
O pertencimento para além da morte
Podemos reconhecer as pessoas que são influenciadas e impulsionadas por essa
consciência, quando são atraídas ou não para representar membros familiares
excluídos. Nesse sentido, precisamos considerar que ninguém perde o seu direito
de pertencer através de sua morte. Isso significa que os membros familiares mortos
da família são tratados por essa consciência da mesma forma que os vivos.
Ninguém é separado de sua família através de sua morte. Ela abrange igualmente
seus membros familiares vivos e mortos. Essa consciência também trazer de volta
os membros mortos para a família, se foram excluídos, sim; principalmente estes.
Portanto, isso significa que alguém, com efeito, perde a sua vida através de sua
morte, contudo nunca o seu pertencimento.
Quem pertence?
Agora está na hora de eu enumerar quem pertence à família que é abrangida e
conduzida por uma consciência coletiva comum. Vou começar com os que nos
estão mais próximos:
Aos membros familiares que estão sujeitos a essa consciência, pertencem:
1. Os filhos. Portanto, nós e nossos irmãos e irmãs. Aos nossos irmãos pertencem
também os natimortos, também os irmãos que foram abortados e freqüentemente
também os abortos espontâneos. Justamente aqui existe freqüentemente a idéia de
que podemos excluí-los. Também fazem parte os filhos que foram ocultos e dados.
Para a consciência coletiva todos eles fazem parte completamente, são
lembrados por ela e trazidos de volta à família. Eles são trazidos de volta
cegamente, sem levar em consideração justificativas e desejos.
2. No nível superior aos filhos fazem parte seus pais e seus irmãos biológicos. Aqui
também todos seus irmãos e irmãs, como eu já enumerei antes para os filhos.
Também os parceiros anteriores dos pais fazem parte. Se são rejeitados ou
excluídos, mesmo que estejam mortos, serão representados por um dos filhos, até
que sejam lembrados e reconduzidos à família com amor.
Só o amor libera
Agora gostaria de interromper a enumeração e falar como os excluídos podem ser
trazidos de volta. Só o amor é capaz disso.
Que amor? O amor preenchido. Ele é sentido como dedicação ao outro, como ele
é. Ele é também sentido como luto pela perda. É sentido especialmente como dor
por aquilo que porventura fizemos de mal para o outro.
Sentimos também se esse amor alcança o outro, se o reconcilia, se o deixa em
paz, se ele assume o seu lugar, permanecendo nele. Então essa consciência
coletiva também encontra a paz.
Aqui nós vemos que essa consciência está a serviço do amor, a serviço do
mesmo amor por todos que fazem parte dessa família.
Quem pertence ainda à família?
Agora vou continuar com a enumeração de quem pertence à família, porque eles
também são abrangidos e protegidos por essa consciência.
3. No próximo nível superior fazem parte os avós, mas sem seus irmãos, a não ser
que eles tenham tido um destino especial. Os parceiros anteriores dos avós
também fazem parte.
4. Também fazem parte um ou outro dos bisavós, mas isso é raro.
Até agora enumerei sobretudo os parentes consangüíneos, e ainda os parceiros
anteriores dos pais e dos avós.
5. Além disso, também faz parte de nossa família aqueles que através de sua morte
ou destino, a família teve uma vantagem. Por exemplo, através de uma herança
considerável. Também fazem parte aqueles que a custa de sua saúde e vida a
família enriqueceu.
6. Nesse contexto fazem parte de nossa família também aqueles que foram vítimas
de atos violentos através de membros de nossa família, especialmente aqueles que
foram assassinados. A família precisa olhar também para eles, com amor e dor.
7. Por último, algo que para alguns pode ser um desafio. Se membros de nossa
família foram vítimas de crimes, principalmente se perderam a vida, os assassinos
também fazem parte de nossa família. Se foram excluídos ou rejeitados, serão
também representados por membros familiares sob a pressão da consciência
coletiva.
Talvez possa aqui chamar a atenção de que tantos os assassinos se sentem
atraídos para suas vítimas como também as vítimas para seus assassinos. Ambos
se sentem totalmente inteiros quando se encontram. A consciência coletiva também
não faz diferenciações aqui.
O equilíbrio
Antes de continuar quero dizer algo sobre o equilíbrio nessas duas consciências. A
necessidade do equilíbrio entre o dar e o tomar e entre o lucro e a perda é também
um movimento da consciência.
A consciência pessoal que sentimos como boa e má consciência e como culpa e
inocência, vela sobre o equilíbrio com sentimentos semelhantes, portanto também
com sentimentos de culpa e inocência e com o sentimento de uma boa e má
consciência. Só que aqui sentimos a culpa e a inocência de um forma diferente.
A culpa aqui é sentida como dever, quando eu recebo algo ou tomei algo, sem
devolver com algo equivalente. A inocência aqui é sentida como estar livre de um
dever. Temos esse sentimento de liberdade quando tomamos e também damos, de
uma forma que o dar e o tomar esteja equilibrado.
Aqui devo ainda acrescentar que podemos alcançar o equilíbrio também de uma
outra forma. Ao invés de devolver com algo equivalente, como não podemos
algumas vezes, por exemplo perante nossos pais, podemos também passar adiante
algo equivalente. Por exemplo aos nossos filhos.
A expiação
Nós equiparamos através do sofrimento. Isso também é um movimento da
consciência. Se causamos sofrimento a alguém, também queremos sofrer para
equilibrar e depois do sofrimento temos novamente uma boa consciência.
Essa forma de equilíbrio conhecemos como expiação. Entretanto, devemos
observar aqui que é uma auto-necessidade, porque ela não pode realmente dar
algo para o outro, e com isso, equilibrando. Contudo, através dessa expiação o
outro freqüentemente não se sente mais sozinho em seu sofrimento.
Esse maneira de equilibrar tem pouco ou nada a ver com o amor. É antes de
mais nada, instintivo e cego.
A vingança
Temos a necessidade do equilíbrio quando alguém nos fez algo de mau. Então
queremos também fazer algo de mau a ele. Aqui a necessidade de equilíbrio se
transforma em uma necessidade de vingança. Entretanto, a vingança equilibra
apenas no momento, porque ela desperta em todos os envolvidos outras
necessidades de vingança, prejudicando-os no final.
A cura
Também na consciência coletiva existe o movimento de equilíbrio, contudo, está
amplamente oculta de nossa consciência. Quem precisa representar um excluído,
não sabe que está equilibrando.
O equilíbrio é aqui o movimento de um todo superior que equipara
impessoalmente porque aqueles que são atraídos para equilibrar são inocentes, no
sentido da consciência pessoal.
Podemos comparar essa forma de equilíbrio a um processo de cura. Aqui
também algo que foi ferido é reestabelecido sob a influência de poderes superiores.
A consciência coletiva quer reintroduzir algo que foi perdido e dessa forma trazer
novamente a ordem em tudo e curar.
A hierarquia
Volto a falar das ordens da consciência coletiva e direi algo sobre a segunda
ordem, que está a serviço da consciência e que tenta restaurá-la, quando foi ferida.
Essa ordem exprime que cada indivíduo de um grupo deve e precisa assumir o
lugar que lhe pertence de acordo com a sua idade. Isso significa que aqueles que
vieram antes, têm precedência em relação aos que vieram mais tarde. Por isso, os
pais têm precedência em relação aos filhos, e o primeiro filho tem precedência em
relação ao segundo. Portanto, cada um tem o seu próprio lugar que pertence
somente a ele. No decorrer do tempo ele se desloca dentro da hierarquia de baixo
para cima, até que cria sua própria família e nela assume imediatamente com seu
parceiro o primeiro lugar.
Aqui se impõe uma outra ordem de hierarquia, uma heirarquia entre as famílias,
por exemplo, entre a família de origem e a própria família nova. Aqui a nova família
tem primazia perante a antiga.
Esta ordem também é válida se um dos pais inicia, durante o casamento, um
relacionamento com um outro parceiro, do qual nasce uma criança. Com isso ele
cria uma nova família que tem prioridade em relação à primeira.
A família posterior não anula o vínculo com a anterior, assim como a família nova
não anula o vínculo com a família de origem. Contudo, ela tem prioridade em
relação à anterior.
1. A violação da hierarquia e suas conseqüências
A hierarquia é violada quando alguém que veio mais tarde quer assumir uma
posição superior a daquela que lhe cabe de acordo com a ordem hierárquica. Essa
violação da ordem hierárquica é, na verdade, como se sabe, um orgulho que
precede a queda.
As violações mais freqüentes da hierarquia observamos nas crianças. Em
primeiro lugar quando se elevam acima de seus pais. Por exemplo, quando se
sentem melhores que os seus pais e se comportam de forma correspondente. Isso
é uma violação da hierarquia sem amor.
Essa hierarquia é principalmente violada quando a criança quer assumir algo
pelos pais. Por exemplo, quando ficam doentes no lugar deles e querem morrer.
Aqui a hierarquia é violada com amor. Entretanto, esse amor não protege a criança
das conseqüências da transgressão da ordem.
O que existe de trágico nisso é que a criança transgride a ordem de boa
consciência. Isso significa, sob a influência da consciência pessoal a criança se
sente especialmente inocente e boa, através dessa transgressão. Isso também
significa que com isso também se sente pertencente de uma forma especial.
Portanto, aqui essas duas consciências se opõem. A hierarquia, que impõe e
protege a consciência coletiva, é violada em sintonia com a consciência pessoal.
Nesse sentido ela é conscienciosa. Aqui a consciência pessoal impele alguém a
transgredir essa ordem e sofrer as consequências dessa transgressão.
Quais são as conseqüências dessa transgressão? A primeira conseqüência é o
fracasso. A pessoa que se eleva em relação aos pais, seja sem amor ou com amor,
fracassa. Isso é válido não tão somente dentro da família, mas também em outros
grupos, por exemplo, em organizações.
Muitas organizações fracassam através de conflitos internos, nos quais uma
pessoa que é admitida depois ou um departamento que é criado posterioriormente
se eleva, dentro da hieraquia, em relação a um anterior que tem precedência.
Na verdade, o fracasso, como conseqüência da violação da hierarquia é a morte.
O herói trágico quer assumir algo por aqueles que lhe precedem. Contudo, ele não
apenas fracassa, ele morre.
Vemos algo semelhante com as crianças, que carregam e querem assumir algo
pelos pais. Elas lhes dizem internamente: “Melhor eu do que você.” O que
realmente está contido nisso? Significa, por fim: “Eu morro no seu lugar.”
A hierarquia é a ordem da paz. Ela está a serviço da paz na família e no grupo.
Ela está, no final, a serviço do amor e da vida.
O alcance
Até que ponto a consciência coletiva alcança? Somente os mortos que conhecemos
pertencem? Ou essa consciência quer trazer de volta também os excluídos de
muitas gerações anteriores? Talvez até nós, como éramos em uma vida anterior?
Talvez até esteja a serviço de um movimento cósmico para o qual nada pode ficar
perdido, nada que tenha existido? Nós também violamos essa hierarquia através de
nossa crença de progresso como se nós fôssemos melhores do que nossos
antepassados? Como se fôssemos superiores a eles?
O que acontece conosco se nos colocarmos internamente no nosso lugar
adequado, humildemente no último lugar?
Se nós incluirmos no nosso presente todos aqueles que foram excluídos, não
importam quais os motivos e aqueles que precisaram morrer antes de ter cumprido
o seu tempo total, com aquilo que ainda lhes falta, então não estaremos também
completos com eles?
A CONSCIÊNCIA ESPIRITUAL
A consciência espiritual reage a que? Ela responde a um movimento do espírito,
aquele espírito que movimenta tudo, se movimenta e que movimenta tudo de uma
forma criativa. Tudo está submetido a esse movimento, não importando se isso seja
ou não o nosso desejo, não importando se nos submetemos ou resistimos a ele. A
pergunta é apenas, se nós nos percebemos em sintonia com esse movimento, se
nós nos submetemos a ele de boa vontade e permanecemos em sintonia com ele,
de maneira sábia. Quer dizer, se nós somente nos movimentamos, pensamos,
sentimos e agimos até o ponto em que percebemos que estamos sendo
conduzidos, levados e movimentados por ele.
O que acontece conosco quando sabemos estar em sintonia com esse
movimento? O que acontece conosco quando talvez o nosso desejo seja o de nos
afastarmos desse movimento porque a sua reivindicação nos pareça ser grande
demais, nos provocando medo? Experimentamos aqui, em relação à consciência
espiritual, aquilo que podemos comparar com a consciência pessoal.
Se experimentamos estar em sintonia com os movimentos do espírito, nos
sentimos bem. Sobretudo, nós nos sentimos calmos e sem preocupações.
Sabemos do nosso próximo passo e temos a força de dá-lo. Isso seria, por assim
dizer, a boa consciência espiritual.
Como em relação à consciência pessoal aqui também sabemos imediatamente
se estamos em sintonia. Contudo, esse conhecimento aqui é espiritual. A boa
consciência é a entrega sábia a um movimento espiritual.
O que é, sobretudo, esse movimento espiritual? É um movimento de dedicação a
tudo, assim como é, que está de acordo com a dedicação do espírito a tudo, assim
como é.
Como é que experimentamos então uma má consciência espiritual, aqui
novamente de modo análogo ao sentimento de culpa da consciência pessoal?
Como sentimos a má consciência espiritual? Nós a sentimos como inquietação,
como bloqueio espiritual. Nós não nos conhecemos mais, não sabemos o que
podemos fazer e nos sentimos sem força.
Quando é que temos sobretudo uma má consciência espiritual? Quando nos
desviamos do amor espiritual. Por exemplo, quando excluímos alguém de nossa
dedicação e de nossa benevolência. Nesse momento, perdemos a sintonia com o
movimento do espírito. Estamos entregues a nós mesmos e temos uma má
consciência.
Contudo, como na consciência pessoal, a má consciência também está aqui a
serviço da boa consciência. Ela nos reconduz através de seu efeito para a sintonia
com os movimentos do espírito, até que fiquemos novamente calmos e nos
tornemos um com o seu movimento de dedicação e amor por todos e por tudo,
assim como é.
AS DIFERENTES CONSCIÊNCIAS E
AS CONSTELAÇÕES FAMILIARES
Quando alguém quer entender e solucionar um problema pessoal com a ajuda das
constelações familiares, um problema de relacionamento com um parceiro ou na
família com uma criança, reconhecemos imediatamente, qual é a consciência que
esse problema provoca e conserva, e o que esses problemas exigem de cada
indivíduo e de sua família para uma solução. Aqui precisamos ver as diferentes
consciências unidas umas às outras no sentido de que todas estão a serviço de
nossas relações. Elas são erigidas umas sobre as outras e se complementam, de
forma que precisamos ver um problema e a sua solução relacionadas a várias
consciências e por último, a todas.
Por exemplo, se alguém pede a nossa ajuda, podemos reconhecer
imediatamente, quais as consciências que estão envolvidas no seu problema e de
que forma, e quais as soluções que estão disponíveis.
Inversamente, se um ajudante tem um problema com um cliente, ele pode se
perguntar, quais as consciências relativas a ele que estão envolvidas nesse
problema e o que elas também lhe oferecem como solução.
A consciência espiritual
Em primeiro lugar, observo aqui as Constelações Familiares partindo do fim do
caminho percorrido por elas, portanto, do ponto de vista da consciência espiritual.
Em retrospectiva ao caminho percorrido até agora, reconhecemos de forma mais
clara o significado das outras duas consciências. Reconhecemos também onde é
que chegam aos seus limites. A consciência espiritual nos conduz para além
desses limites.
A diferenciação das consciências
O que diferencia sobretudo as diferentes consciências, e o que lhes impõe limites?
É o alcance de seu amor.
A consciência pessoal está a serviço do vínculo a um grupo limitado, exclui outros
que não pertencem a esse grupo. Não une somente, também separa. Não ama
somente, também rejeita.
A consciência coletiva vai para além da consciência pessoal, pois também ama
aqueles que foram rejeitados e excluídos dentro da família e dentro de grupos
similares pela consciência pessoal. A consciência coletiva quer também trazer de
volta os excluídos, para que possam fazer parte novamente. Por isso, o seu amor
vai além. Não exclui ninguém.
Contudo, em seu campo de visão não tem tanto o bem-estar de cada um.
Senão, não poderia obrigar um inocente que não estava envolvido na exclusão, a
representar um excluído, embora com isso lhe imponha algo pesado. Aqui se
mostra que essa consciência não é pessoal, mas coletiva, que deseja
principalmente a totalidade e a ordem em um grupo.
Os movimentos do espírito, ao contrário, se dedicam igualmente a todos. Quem
entra em sintonia com os movimentos do espírito não pode fazer de outra forma a
não ser se dedicar igualmente a todos com benevolência e amor, não importando
qual seja o seu destino. Este amor não conhece fronteiras. Supera as
diferenciações entre o melhor ou o pior e entre o bom e o mau. Por isso, supera os
limites da consciência pessoal e os limites da consciência coletiva. Está dedicado
de forma igual a cada um e a todos em sua família e nos outros grupos dos quais
faz parte.
A consciência espiritual vela sobre este amor. Entra em jogo, quando nós nos
desviamos dela.
As Constelações Familiares Espirituais
O que isso significa para as constelações familiares? Como esse amor se mostra
nas constelações familiares?
Em primeiro lugar, chamo a atenção para o fato de que os movimentos do
espírito nas constelações familiares se manifestam de uma forma expressiva. Eles
são vivenciados e se tornam visíveis através dos representantes, igualmente para
aqueles que observam esses movimentos. Isso significa que os movimentos do
espírito são percebidos, em primeiro lugar pelos representantes e através deles
também por aqueles que observam esses movimentos e talvez eles mesmos sejam
atraídos e apanhados por eles.
Por isso, o procedimento das constelações familiares espirituais é um outro,
diferente daquele que muitas pessoas associam a elas. Aqui não se coloca mais a
família de forma que alguém escolhe de um grupo, representantes para os diversos
membros da sua família e depois os coloca num espaço uns em relação aos outros.
Aqui se coloca somente uma pessoa, por exemplo, o cliente ou um representante
para ele, e talvez ainda uma segunda pessoa, por exemplo, seu parceiro. Contudo,
não que este seja colocado no sentido habitual em relação ao outro. Ele também é
apenas colocado, por exemplo, a uma certa distância em sua frente. Aqui não
existem regras e intenções. O cliente ou seu representante e as outras pessoas
adicionais são apenas colocadas.
De repente, são apanhados por um movimento sem que possam conduzi-lo.
Esse movimento vem de fora, embora também seja vivenciado como se viesse de
dentro. Isso significa que essas pessoas vivenciam estar em sintonia com um
movimento que coloca algo em movimento através delas. Entretanto, isso acontece
somente se ficarem concentrados, sem intenções próprias e sem medo daquilo que
talvez se mostre. Tão logo entrem em jogo as próprias intenções, por exemplo, a
intenção de ajudar alguém ou o medo daquilo que possa vir à luz e para onde isso
talvez vá conduzir, a ligação com os movimentos do espírito se perde. Também o
centramento dos observadores se perde. Por exemplo, ficam inquietos.
Após um certo tempo, através dos movimentos dos representantes mostra-se se
é necessário ainda acrescentar uma outra pessoa. Por exemplo, quando um deles
olha para o chão, isso significa que está olhando para uma pessoa morta. Então se
escolhe um representante e ele é solicitado a se deitar no chão de costas em frente
ao outro. Se um representante olha intensamente para uma direção, coloca-se
alguém em frente a ele, para onde está olhando.
Os movimentos dos representantes são bem lentos. Tão logo uma pessoa se
movimente depressa, está sendo movido por uma intenção e não está mais em
sintonia com os movimentos do espírito. Ele não está mais centrado e não é mais
confiável, precisamos substituí-lo por um outro representante.
Sobretudo o constelador precisa abster-se de suas intenções e interpretações.
Ele também se deixa ser apanhado pelos movimentos do espírito. Isto é, ele só
age, deixando ser movimentado claramente para um próximo passo ou para uma
frase, que ele mesmo diz ou deixa que um representante a diga.
Além disso, recebe continuamente através dos movimentos dos representantes
indicações daquilo que está acontecendo dentro deles e para onde os seus
movimentos conduzem ou devem conduzir.
Por exemplo, quando um representante se afasta do representante de uma
pessoa morta que está deitada à sua frente ou quer se virar, o constelador interfere,
depois de um certo tempo e o conduz de volta. Contudo, não de uma forma que, ao
seguir esse procedimento, o constelador deva deixar tudo ao critério dos
movimentos dos representantes. Ele está, como eles, a serviço dos movimentos do
espírito e os segue, muitas vezes irresistivelmente, quando interfere de uma
determinada forma ou diz algo.
No final para onde conduzem esses movimentos do espírito? Eles unem o que
antes estava separado. São sempre movimentos do amor.
Esses movimentos não precisam ser levados sempre até o fim. É o suficiente
quando fica visível para onde conduzem. Por isso, essas constelações muitas
vezes permanecem incompletas e abertas. É o suficiente que tenham entrado em
movimento. Nós precisamos confiar que elas prosseguirão. Pois estes movimentos
não mostram apenas algo, por exemplo, a solução para um determinado problema.
Eles já são os movimentos de cura decisivos, e como a cura, precisam, via de
regra, também o seu tempo. São o início de um movimento de cura.
As constelações familiares em sintonia com os movimentos do espírito
pressupõem que sobretudo o constelador permaneça em sintonia com esses
movimentos. Isto é, que em primeiro lugar permaneça dedicado a todos com o
mesmo amor, para além dos limites da diferenciação entre o bom e o mau. Ele só
pode fazer isso, se tiver aprendido a prestar atenção aos movimentos do espírito
dentro de si, de forma que percebe imediatamente quando se desviou do amor. Por
exemplo, quando quer internamente atribuir a culpa a um acontecimento ou quando
tem pena da pessoa por aquilo que ela precisa sofrer. Desvios desse amor
vivenciamos conosco continuamente. Entretanto, nós seremos reconduzidos à
sintonia com o seu movimento do amor por tudo aquilo, assim como é, depois que
tivermos aprendido a prestar atenção aos movimentos da consciência espiritual e
nos sujeitarmos à sua disciplina.
A consciência pessoal
Os limites mais estreitos contra o amor são traçados pela consciência pessoal. Pois
as nossas diferenciações usuais entre o direito de pertencer ou a sua perda são
determinadas e aprovadas por essa consciência.
É evidente, que essa diferenciação tem um significado importante para a nossa
sobrevivência, não podendo ser substituída por nada, dentro de determinados
limites.
Essa consciência coloca seus limites principalmente em relação às crianças.
Para as crianças, a realização das formas de pensamento e comportamento
exigidas por essa consciência é importante para a sua sobrevivência, inclusive a
desconfiança em relação àqueles que seguem uma outra consciência pessoal,
porque estão ligadas a um outro grupo, rejeitando-os e lutando contra eles.
Essa consciência, como uma boa consciência, por um lado, possibilita e
assegura a sobrevivência; por outro lado, a coloca em perigo logo que o nosso
grupo entra em conflito com outros, estabelecendo disputas mortais com eles.
Na consciência pessoal também reside a necessidade do equilíbrio. Essa
necessidade é um movimento da consciência, pois temos uma boa consciência,
quando devolvemos algo equivalente àqueles que nos deram algo, de forma que
exista um equilíbrio entre o dar e o receber. Temos também a mesma boa
consciência quando não podendo devolver algo equivalente, transmitimos a outros
algo equivalente.
Em conformidade com isso temos uma má consciência, quando recebemos sem
dar algo equivalente ou quando fazemos exigências que não nos competem.
Aqui também a consciência pessoal tem uma tarefa fundamental a serviço de
nossas relações. Sim, essa necessidade é que torna isso possível. Essa
necessidade também está a serviço de nossa sobrevivência, entretanto apenas
dentro de determinados limites.
Em sua função de equilíbrio, a consciência pessoal, de modo semelhante à sua
função de nos ligar à nossa família, também serve tanto à vida e à sobrevivência,
como também serve ao oposto, quando determinados limites forem transgredidos.
Aqui leva também à morte.
A consciência pessoal com referência ao vínculo, foi a separação de outros
grupos que pode levar a conflitos graves, inclusive à guerra.
Com referência à necessidade do equilíbrio, é a expansão dessa necessidade de
equilíbrio quanto ao prejuízo e ofensa mútuos, chegando até à vingança mortal, por
exemplo, a vingança pelo sangue.
A necessidade de expiação segue a mesma direção, quando para expiar pelo
sofrimento e prejuízo que causamos a outros, também nos inflingimos um
sofrimento, nos limitamos e nos prejudicamos.
Nesse contexto pertence também a expiação substitutiva. Por exemplo, quando
uma criança expia pelos pais, mas também quando a mãe ou o pai espera de uma
criança que ela expie por eles. Por exemplo, quando fica doente ou morre no lugar
deles, como podemos observar muitas vezes nas constelações familiares.
Entretanto, isso acontece de forma inconsciente de ambos os lados, pois aqui a
consciência coletiva também é importante.
Contudo, sempre se trata de um equilíbrio, que se opõe à vida, que a prejudica
ou até mesmo a sacrifica – de boa consciência ou com o sentimento de inocência.
Ao que precisamos prestar atenção nas constelações familiares, para que fiquemos
dentro dos limites da consciência pessoal que está a serviço da vida? Precisamos
ter deixado para trás os limites da diferenciação entre o bom e o mau. Se nas
constelações familiares permanecermos na esfera da consciência pessoal, por
exemplo, quando junto com o cliente rejeitamos outros, estaremos a serviço da vida
de uma forma limitada. Então, como essa consciência estaremos a serviço, por um
lado, da vida e por outro, da morte.
A consciência coletiva
A que devemos prestar atenção nas constelações familiares em relação à
consciência coletiva?
Em primeiro lugar, que não excluamos ninguém nem em nossa nem na família
do cliente e que procuremos na família dele e na nossa pelos excluídos, olhemos
para eles com amor e os coloquemos, com amor, em nosso coração. Podemos
fazer isso somente se tivermos deixado para trás a diferenciação entre o bom e o
mau e se também colocarmos as nossas crianças não nascidas no nosso campo de
visão, mesmo que isso seja difícil para nós. Aqui é necessário tanto a coragem
como também a clareza.
Em segundo lugar, que nós nos atenhamos à hierarquia. Isto é, que em primeiro
lugar fiquemos conscientes de que através de nossa ajuda nos tornamos
temporariamente um membro da família do cliente. Contudo, nós chegamos nessa
família como o último e por isso temos o último lugar dentro dela.
O que acontece, quando um ajudante se comporta como se tivesse o primeiro
lugar, até ainda antes e acima dos pais do cliente? Ele fracassa. O cliente também
fracassa, quando ele fere a hierarquia e o ajudante talvez até o apóie nisso. Por
exemplo, quando junto com o cliente de uma ou outra forma se coloca contra os
seus pais.
A violação da hierarquia algumas vezes coloca a vida em perigo também. Por
exemplo, quando o cliente assumiu algo pelos pais, o que não lhe competia, de
acordo com a hierarquia. Então algumas vezes, diz para seus pais: “Eu, no lugar de
vocês...”
Também para o ajudante a violação contra a hierarquia pode ser perigoso. Por
exemplo, quando ele se arroga assumir algo pelo cliente, algo que ele precisa
carregar sozinho. Então se eleva acima do cliente, como talvez acima dos seus pais
e como o ajudante tenha tentado fazer quando criança aos seus pais. Mas,
principalmente, quando o ajudante se arroga, que poderia virar o destino de um
cliente ou proteger o seu cliente.
Somente dentro da hierarquia o ajudante permanece em sua força e o cliente
encontra a solução que lhe é adequada, aqui em sentido duplo.
Com referência à consciência coletiva só precisamos ficar dentro dos limites que
ela nos coloca nas constelações familiares, pois esses limites são amplos e
abertos.
CONCLUSÃO
Nas constelações familiares a consciência espiritual, através de seu amor por
todos, nos conduz para além dos limites da consciência pessoal. Também nos
protege para não desrespeitarmos os limites da consciência coletiva, pois ela está
dedicada a todos da mesma forma. Ela presta especial atenção à hierarquia porque
sabemos, quando seguimos os movimentos do espírito, que somos todos iguais e
equivalentes, com todos no mesmo nível, embaixo.
Nas constelações familiares espirituais permacecemos sempre no amor, sempre
no amor total. Somente as constelações familiares espirituais estão sempre a
serviço, em todos os lugares e unicamente a serviço da vida – e do amor – e da
paz.
Tradução de Tsuyuko Jinno-Spelter – Mar/Abr. 2007.
Revisão: Wilma Costa G. Oliveira

Constelações em
Homeopatia

Escrito por Dr. Johannes Latzel


Constelações com os Remédios Homeopáticos

Pelo Dr. Johannes Latzel

Tradução do inglês por Dr. Décio Fábio de Oliveira Júnior (Com permissão
expressa do autor)

A História das Constelações com os Remédios Homeopáticos

O método sistêmico-homeopático chamado de “Constelações com os remédios


homeopáticos” ( daqui para a frente referidos neste texto traduzido como
“Constelações Homeopáticas”) foi iniciado pelo Prof. Matthias Varga von Kibéd
(Diretor de uma Escola de trabalho Sistêmico) e Friedrich Wiest (Terapeuta
sistêmico e Naturopata) em Munique.

Anos atrás estes dois espíritos pioneiros convidaram vários médicos homeopatas e
junto com eles experimentaram constelações para estudar os “campos de
informação” dos remédios homeopáticos. Vários grupos de trabalho evoluíram
desta combinação entre homeopatia e terapia sistêmica , como por exemplo, em
Munique (Friedrich Wiest), Stuttgart (Sybille Chattopadday), e Freiburg (J.Latzel,
Beatrix Gessner). Neste ponto eu descreverei minha própria experiência com a
abordagem da “homeopatia sistêmica”.

Em 1996 eu participei de um dos workshops experimentais mencionados acima. Eu


fiquei maravilhado pela forma como a constelação demonstrou tão claramente as
características médicas da Carcinosine, em um processo animado como se fosse
de um filme. A Carcinosine produziu uma imagem exatamente como é bem
conhecido na prática clínica, e experimentamos isto num contexto vivo de uma
constelação melhor do que qualquer texto de homeopatia. O método desenvolvido
pelos dois facilitadores de Munique pode ser resumido como se segue. Um
participante é escolhido para representar a consciência do cliente: ele é o foco do
trabalho. Então vários representantes são escolhidos para representar os sintomas-
chave do remédio. Com a Carcinosine, p. ex. isto seria desejo de viajar, gosto pela
dança, história familiar de doenças graves, agressão reprimida, desejo de comer
chocolate, etc. A constelação é colocada e então o facilitador muda a disposição
até que todos os representantes se sintam tão bem quanto possível. Este método
revela a imagem da doença mais o processo de cura específico que o acompanha
como foi conhecido da prática homeopática – assim em movimentos acelerados (
N.T. Fast Motion = movimento acelerado como aquele que é visto quando
aceleramos um filme , p.ex. como nos filmes do cinema mudo antigo) e concentrado
nos pontos essenciais.

Inspirado por este workshop em Munique eu me juntei a minha colega homeopata


Dra. Beatrix Gessner (Konstanz, Alemanha) para organizar um trabalho médico em
grupo, e nós começamos a experimentar com constelações homeopáticas em
bases regulares.

Os resultados destes grupos nos surpreenderam:

Como regra, as constelações dos remédios mostraram aspectos essenciais das


características do remédio. Algo como a “essência” , o tema principal, o significado
profundo da doença tornou-se visível.

Começando a partir do quadro clínico e sem uma intervenção aparente de fora, a


constelação desenvolveu um caminho de cura específico para o remédio. Os
sintomas da doença foram quase sempre transformados em recursos e qualidades
e assim mostraram um processo dinâmico de cura específico e característico deste
remédio.

Os efeitos das constelações nos participantes foram ampliadores da percepção,


inspiradores, benéficos e algumas vezes claramente curadores. Nós
freqüentemente sentimos , com uma clareza tangível, a presença de um “campo de
cura” , que nos fortaleceu no nível da alma, e nos ajudou em nossos processos de
crescimento pessoais.

Nós notamos que o poder das constelações foi freqüentemente enfraquecido


quando nós ativamente queríamos alcançar uma resolução ou uma cura.
Comparável ao tratamento homeopático, a constelação parecia produzir seu efeito
mais forte quando o facilitador evitou interferir tanto quanto possível. E isto parece
um paradoxo: o efeito da constelação foi claramente mais forte quando o facilitador
se refreou de fazer mudanças específicas e focou nas atividades de perguntar e
observar, muito parecido com o procedimento da anamnese homeopática ( tomada
da compreensão).

Foi notável que, mesmo percebendo que nós nos concentramos em um único
remédio por reunião em nosso grupo, o efeito benéfico foi usualmente sentido por
todos os participantes. Na homeopatia clássica o médico procura um remédio
específico para a situação também específica do paciente. Ao invés de focar no
problema específico de um indivíduo, em nosso experimento focamos no remédio,
apesar disto o campo de cura do respectivo remédio pareceu alcançar cada
participante. Ele mostrou-se em seu essencial padrão interior, um padrão
arquetípico próprio que foi de certo modo familiar para cada um dos participantes.

Com o remédio Sulphur, p. ex. , nós vimos uma vívida demonstração da tendência
a simplesmente excluir tudo o que incomoda, e fingir que tudo está bem. Com Tuia,
nós testemunhamos uma fixação quase fanática em um ponto específico e uma
perspectiva também específica. Com Medorrinum, nós experimentamos a
dificuldade de se entregar. Com Sépia, nós vimos a luta da mulher contra as regras
do homem. Dentro das constelações os fatores característicos dos remédios
apareceram em um estilo perfeitamente claro. Um filme criado especialmente para
ilustrar as características do remédio não poderiam ter mostrado isto melhor.

Isto nos fez ponderar em que extensão estes efeitos dependiam do nível de
conhecimento dos participantes acerca da matéria. Contudo, experimentos
conduzidos com grupos de participantes não treinados em homeopatia produziram
os mesmos efeitos característicos dos remédios com clareza igual ou mesmo
maior. Nós podemos confiar na presença do campo de informação e de cura dos
remédios nas constelações. Isto nos impressionou muito profundamente, e nós
decidimos continuar com nossos experimentos.

Um tremendamente excitante pensamento surgiu: Se um remédio pode se tornar


presente como um campo tão logo saibamos seu nome e sejamos capazes de
colocar vários de seus sintomas-chave, da mesma forma poderia o campo
específico de informação e cura de um remédio específico apropriado a um
participante tornar-se presente em uma constelação ? Poderíamos nós colocarmos
uma constelação específica para o remédio homeopático de um cliente, mesmo se
nós não soubéssemos seu nome ? Seria suficiente apenas colocar os vários
sintomas que são essenciais ao caso – como com as constelações dos remédios
conhecidos – mais a variável “ o remédio homeopático do cliente X” ? E se, por
meio da colocação da constelação, for ao contrário possível permitir que o campo
informacional e curativo de um remédio se torne presente para um cliente? Como
facilitar isto da melhor forma? Quais são as possibilidades, quais são os riscos ?
Que tipo de benefícios podemos esperar e onde nós devemos esperar encontrar os
limites da aplicação deste método ? Como pode o trabalho com os campos
informacionais e curativos dos remédios homeopáticos ser usado para o benefício
das pessoas que sofrem ?

Nossas experiências mostraram que as constelações homeopáticas se provaram


especialmente benéficas se o facilitador assume uma postura “fenomenológica”,
sem qualquer intenção, e não aspira resolução ou cura. Nós temos assim, chamado
de constelações homeopáticas um método de aumentar a auto-descoberta e o
próprio crescimento pessoal , e não chamamos isto de terapia.

Mas porque , precisamente, esta postura não-intencional do facilitador provou ser


tão claramente benéfica para tantos participantes? Em que medida pode uma
jornada de auto-descoberta que não é terapeuticamente orientada ser curativa?
Existe alguma coisa como um campo de inteligência inerente aos remédios e na
homeopatia em geral que, uma vez presente no recinto , estimule processos de
cura em cada membro do grupo? Muitas questões mais advém destes
experimentos, por exemplo:

- Qual é o modo de ação dos remédios homeopáticos? Será que eles funcionam
através de campos morfogenéticos?

- Serão as formulações dos remédios uma conexão intermediária com estes


campos morfogenéticos?
- Será que um dia dispensaremos remédios que não serão administrados na forma
de substâncias, mas que revelarão seu efeito na forma de trabalho puramente
mental, por meio de uma constelação?

Até então eu estava qualificado como clínico geral e homeopata. Para explorar
estas questões eu decidi, junto com minha esposa Suzanne Latzel, completar o
treinamento em terapia sistêmcia e constelações familiares com Sneh Victoria
Schnabel. Nós então fundamos um instituto para treinamento e pesquisa em
Freiburg: das Institut für Systemische Homöopathie.

O Instituto tem sido um local onde o método das constelações homeopáticas tem
sido aplicado de múltiplos modos. Embora o método esteja ainda no estágio
experimental, e muitas perguntas ainda esperem uma resposta, os seminários
sucessivos tem sido sempre um grande sucesso, com muitas experiências
divertidas e muito curativas para todos. Eu desejo acrescentar aqui os colegas que
tem também experimentado a combinação do trabalho sistêmico e da homeopatia:
o já mencionado antes naturopata e terapeuta sistêmico Friedrich Wiest em
Munique, os médicos homeopatas Hans Baitinger em Nuremberg, Sibylle
Chattopaddhay em Stuttgard e Andreas Krüger , naturopata e diretor da escola
Samuel-Hahnemann em Berlim.

Os elementos essenciais do trabalho do Instituto podem ser resumidos como se


segue:

A aplicação das constelações homeopáticas como é implementada no nosso


instituto (ISH Freiburg) :

- Como parte integral das reuniões do nosso círculo de médicos homeopatas, em


intervalos assíduos e regulares.
- Como parte integral de nossos workshops em educação continuada.

- Como workshops de desenvolvimento pessoal em finais de semana.

- Como elemento de grupos que estão se desenvolvendo e treinando em trabalho


sistêmico.

Definição:

As constelações homeopáticas são um método para promover crescimento pessoal


e auto-conhecimento. Elas ativam e reforçam a capacidade do corpo par aa auto-
cura.

As constelações homeopáticas não são terapia no sentido clássico do termo e não


objetivam substituí-la. Elas podem entretanto suplementar tais terapias e melhorar
as condições sobre as quais tais terapias podem se tornar mais efetivas. Elas são
úteis como um elemento de educação continuada em homeopatia e outros campos
relacionados.

Modo de ação das constelações homeopáticas

De acordo com o princípio básico da homeopatia, o similar cura o similar, a alma


busca encontrar na doença e no sofrimento algo que seja similar à causa de seu
sofrimento.

A alma está olhando para uma imagem de similaridade – algo que reflete sua
situação patológica e problemática como foi – de modo a se conhecer melhor. Pelo
reconhecimento de si nesta imagem os poderes inerentes de auto-cura da alma são
ativados. Dentro da tradição da homeopatia clássica, tal imagem é transmitida à
alma pelos remédios homeopáticos.
As constelações homeopáticas mostram que é possível receber tais imagens em
situações de grupo. O pré-requisito para isto é a existência de campos
informacionais. Nas constelações homeopáticas nós usamos o poder do grupo para
penetrar em tais campos de informação. Através do convite ‘a consciência dentro
do contexto da doença estes campos podem se tornar efetivos. A constelação
trabalha com o campo informacional e de cura da homeopatia ou de um remédio
específico. ( veja Rupert Sheldrake, The Presence of the Past, para informações
sobre a teoria dos campos morfogenéticos).

Os remédios homeopáticos revelam seus efeitos de uma forma muito específica;


eles são desenhados para o indivíduo. Em um tratamento dentro da homeopatia
clássica é deste modo necessário conduzir uma anamnese ampla e abrangente. Ao
mesmo tempo, contudo, os campos informacionais e de cura tem um efeito coletivo.
Cada alma humana ressonará em uma certa extensão com cada remédio
homeopático, ou encontrará nele um aspecto correspondente. Em uma
constelação, os campos informacionais e curadores podem alcançar, tocar e
influenciar cada participante individual do grupo, tanto quanto ele ou ela esteja
aberto a isto. Neste contexto o campo funciona menos como terapia para doenças
e mais como algo que fortalece a alma e o corpo.

Formas de constelações homeopáticas

As constelações homeopáticas podem ser gerais ou pessoais. Elas ou se referem a


um contexto geral de um remédio homeopático bem conhecido ou a um contexto
pessoal de um remédio especificamente indicado para um indivíduo participante de
um grupo. O nome do remédio requerido pelo participante nem precisa ser
conhecido.

Grupo-Alvo

As constelações homeopáticas são indicadas para pessoas que estejam desejosas


de tomar responsabilidade por si mesmas, que estejam abertas a novas
experiências e que querem promover seu próprio processo de cura assim como o
de outra pessoas. As constelações homeopáticas podem ainda ser usadas como
elemento de treinamento nas carreiras médica, social ou de ensino.

Usos das constelações homeopáticas

As constelações homeopáticas são um caminho para aumentar o auto-


conhecimento e desenvolvimento pessoal, e deste modo não são orientadas para
um efeito curativo direto. Elas podem contudo fortalecer as forças de auto-cura e
apoiar os processos de cura. Elas nos ensinam a ser mais presentes, ter mais
percepção, nos comunicar melhor e ser mais precisos em nossa linguagem. Elas
ainda nos treinam em nossa intuição, criatividade e espontaneidade. Para pessoas
interessadas em homeopatia e que aplicam a homeopatia terapeuticamente, as
constelações fornecem uma excelente forma de aprender acerca dos princípios da
homeopatia e sobre os remédios individuais através de uma experiência direta.

Pré-requisitos para o facilitador de constelações homeopáticas

Para se qualificar a facilitar constelações homeopáticas você precisa ter


considerável conhecimento e experiência com trabalho terapêutico. E, ao mesmo
tempo, uma vez que comece com a constelação, você precisa esquecer todos os
conceitos terapêuticos. Você deveria ter um conhecimento considerável de
homeopatia e do princípio que o similar cura o similar. Tanto constelações gerais
como pessoais em homeopatia requerem que você domine com maestria a arte de
encontrar alguns sintomas ou problemas característicos. Uma parte crucial das
constelações homeopáticas é encontrar aquilo que é essencial.

Peculiaridades das constelações homeopáticas

- As constelações homeopáticas não se referem primariamente ao passado ou ao


futuro. Elas funcionam com o poder do momento. Elas não tem um propósito
específico ou uma forma claramente definida. Elas não tem um objetivo ou meta
- Elas levam a um profundo entendimento dos princípios básicos da cura
homeopática

- Elas não são complicadas. Elas são simples.

- Elas desenvolvem-se com uma cooperação de todos os participantes do grupo e


dá espaço a aquilo que se desenvolve dentro deste espírito de comunhão e sem
qualquer intervenção direta.

- Elas não objetivam uma solução rápida e não se espera que o terapeuta forneça
uma solução. Ele honra o caminho que surge em pequenos passos e confia nos
poderes de cura inerentes da alma.

- Elas não devem ser interpretadas como universalmente válidas. Ao contrário, elas
permitem diferentes interpretações dos participantes e estas diferenças devem ser
respeitadas.

- Elas buscam por uma qualidade oculta na dificuldade, por um poder de cura qeu
funciona através da doença por uma nova força que advém da fraqueza.

- Elas são um meio sério de trabalhar em busca da cura e do auto-


desenvolvimento. E ao mesmo tempo são divertidas e leves, e despertam a alegria
interior.

O Autor:

Johannes Latzel, M.D. é um homeopata clássico e clínico geral. Ele dirige uma
clínica em Freiburg/Breisgau, Alemanha. Junto com sua esposa Susanne
(professora de música e terapeuta crânio-sacral ), ele dirige o Institut für
Systemische Homöopathie Freiburg.

Você pode contactá-los em :


Hartkirchweg 69b

79111 Freiburg Germany

Phone : ++ 49 (0)761 476-2143

Fax: ++ 49 (0)761 476-2168

e-mail: info@ish-freiburg.de Este endereço de e-mail está protegido contra


SpamBots. Você precisa ter o JavaScript habilitado para vê-lo.

web: http://www.ish-freiburg.de

Ajudando crianças
difíceis

Escrito por Bert Hellinger


Conteúdo

• 1. O amor que sabe


• 2. A boa e a má consciência
• 3. O emaranhamento
• 4. O amor cego
• 5. A ordem

. Ajudar as Crianças

1. O amor que sabe

A idéia de que devem e podem assumir algo pelos pais ou ancestrais faz parte do
pano de fundo que causa dificuldades aos filhos. Isso leva a problemas
intermináveis para eles. E de certa forma também para os pais. Para entendermos
isso é necessário que saibamos algo sobre a diferença entre as diversas
consciências.

2. A boa e a má consciência

Nós sentimos a nossa consciência como boa e má consciência, como inocência e


culpa. Muitos pensam que isso teria a ver com o bom e o mau. Contudo, não é
assim. Isso tem a ver com o vínculo à família e com a separação dela. Cada um de
nós sabe, intuitivamente, com a ajuda de sua consciência, o que deve fazer para
fazer parte dela. Uma criança sabe, intuitivamente, o que deve fazer para pertencer
à família. Caso se comportar de maneira correspondente ela tem uma boa
consciência. Uma boa consciência significa então: eu sinto que tenho o direito de
pertencer.

Se uma criança se desvia disso ou se nós nos desviamos disso, temos medo de
perder o pertencimento. Sentimos esse medo como uma má consciência. Uma má
consciência significa, portanto: tenho medo de ter colocado em jogo o meu direito
de pertencer.

Sentimos a boa e a má consciência de formas diferentes em diferentes grupos. Até


as sentimos de forma diferente, conforme cada pessoa. Por isso temos, por
exemplo, em relação ao pai uma consciência diferente da que temos em relação à
mãe e na profissão uma outra consciência diferente da que temos em casa.
Portanto, a consciência muda continuamente porque temos de grupo a grupo e de
pessoa a pessoa uma outra percepção, pois de grupo a grupo e de pessoa a
pessoa o que devemos fazer ou deixar de fazer é algo diferente, para podermos
pertencer.

Com a ajuda da consciência também diferenciamos aqueles que nos pertencem


daqueles que não nos pertencem. Na medida em que a consciência nos vincula à
nossa família, ela nos separa de outros grupos ou pessoas e exige de nós que nos
separemos deles. Por isso, devido à nossa consciência temos freqüentemente
sentimentos de rejeição e até de inimizade em relação a outras pessoas e a outros
grupos. Essa rejeição tem a ver com a necessidade do pertencimento e tem pouco
ou quase nada a ver com o bom e o mau. Portanto, essa consciência é uma
consciência que sentimos. Com a ajuda dessa consciência, diferenciamos entre o
bom e o mau, mas sempre apenas em relação a um determinado grupo.
3. O emaranhamento

Contudo, existe ainda uma outra consciência oculta, uma consciência arcaica, uma
consciência coletiva. Essa consciência segue outras leis diferentes daquelas
ditadas pela consciência que sentimos. É a consciência do grupo. Essa consciência
vela para que numa família todos se submetam a determinadas ordens que são
importantes para a sua sobrevivência e união.

Em primeiro lugar, o que faz parte dessas ordens, é que cada um que pertence tem
o mesmo direito de pertencer. Contudo, sob a influência da consciência que
sentimos, algumas vezes excluímos algumas pessoas da família. Por exemplo,
aqueles que pensamos que são maus, também aqueles dos quais temos medo.
Nós os excluímos porque pensamos que sejam perigosos para nós. Contudo,
através dessa outra consciência oculta, aquilo que fazemos de boa consciência,
seguindo a consciência que sentimos, será condenado. Pois esta outra consciência
não tolera que alguém seja excluído. Entretanto, se isso acontecer, alguém será
posteriomente condenado, sob a influência dessa consciência oculta, a imitar e
representar um excluído em sua vida, sem que tenha consciência disso. Denomino
essa ligação inconsciente com uma pessoa excluída de “emaranhamento”.

Por isso, podemos entender que muitos filhos, os quais pensamos que estão se
comportando de forma estranha ou estariam em perigo de se suicidar, ou se tornam
drogaditos ou não importa o que seja, estão conectados com uma pessoa excluída.
Estão emaranhados com essa pessoa. Por isso só podemos ajudá-los se eles e
outras pessoas na família tiverem em seu campo de visão essa pessoa excluída,
colocando-a novamente na família e no próprio coração. Depois disso, os filhos
estarão liberados do emaranhamento.

Para ajudar esse tipo de filhos, outros membros familiares que até então ignoraram
essas pessoas precisam finalmente olhar para elas. E aqueles com os quais
estavam zangadas ou rejeitaram precisam se dedicar a elas com amor e acolhê-las
novamente na família. Esse é o pano de fundo para muitas dificuldades que as
crianças têm, e também a preocupação que algumas vezes seus pais têm por elas.

4. O amor cego

Contudo, existe para essa consciência oculta ainda uma outra lei. Essa lei também
traz dificuldades às crianças. Essa lei exige que aqueles que pertenceram antes à
família, tenham precedência em relação àqueles que vieram mais tarde. Portanto,
existe entre os membros anteriores e os posteriores uma hierarquia. Essa
hierarquia precisa ser obedecida. Contudo, muitas crianças tomam a liberdade de
assumir algo pelos pais para ajudá-los. Com isso transgridem a hierarquia. Então a
criança diz para a mãe ou pra o pai, sob a influência dessa consciência, frases
internas, tais como: ”Eu assumo isso por você.” “Eu expio por você.” “Vou adoecer
em seu lugar.” “Vou morrer em seu lugar.” Tudo isso acontece por amor, mas por
um amor cego. Esse amor cego leva às drogas ou ao perigo de vida e
comportamentos agressivos. Entretanto, estes tipos de comportamento e esses
perigos têm a ver com a tentativa de assumir algo pelos pais. Essa ordem é violada
e ferida dessa forma.

5. A ordem

Quando ficamos sabendo dessa ordem, podemos restabelecê-la novamente. Isso


significa, por exemplo: os pais assumem as conseqüências de seu próprio
comportamento, de seu próprio emaranhamento e os carregam sozinhos. Então a
criança estará livre. Ela não precisa assumir nada daquilo que é da alçada dos
outros.

Contudo, a transgressão da ordem de origem é castigada duramente por essa


consciência oculta. Toda criança que tenta assumir algo pelos pais ou por outros
que vieram antes dela, fracassa. Nenhuma tentativa de assumir algo pelos pais tem
sucesso. Está sempre fadada ao fracasso e, na verdade, para todos os envolvidos.
Nós precisamos saber disso. Por isso, ajudamos as crianças a se soltarem dessa
intromissão. Ao invés de olhar para as crianças, olhamos primeiro para os pais e
deixamos que eles mesmos resolvam os problemas. Se os pais resolverem isso, os
filhos se sentem livres. Eles ficam novamente tranqüilos e se sentem acolhidos.
Portanto, estas são duas leis básicas que devemos ter no nosso campo de visão e
estar em acordo interno quando se quer ajudar crianças difíceis.

Você também pode gostar