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Articulação do texto

A presença de coesão e de coerência é essencial à formulação de um texto bem articulado e, por isso,
facilita a transmissão da mensagem e a consequente interpretação por parte do receptor.

No que se refere à distinção entre coesão e coerência, podemos dizer que, grosso modo:

A coerência está no campo da


relação entre os significados, as idéias de
um texto, enquanto a coesão se refere à
forma, pontuação e estruturação de
palavras e frases dentro dele.

Porém, a seguinte ressalva deve ser feita: muitas vezes é difícil a tarefa de separar um processo do
outro, pois, se por um lado, o uso correto de mecanismos de coesão textual facilita a transição de idéias de
uma frase à outra (coerência), por outro, um texto sem coesão resulta na perda da coerência. Em “Acordei
cedo para não me atrasar, porém cheguei cedo”, o conectivo não foi bem empregado, causando um
estranhamento à frase e dificultando seu processamento por parte do receptor (coerência). Se o conectivo
utilizado fosse “por isso”, os dois problemas seriam resolvidos de uma só vez.

A outra face da relação coesão/coerência é podermos encontrar frases bem articuladas do ponto de
vista da coesão, mas cuja coerência não conseguimos captar, como em “Era uma casa muito estranha, pois
havia um homem nela.” (Redação de aluno de 6a. série). Neste exemplo, apesar de termos uma forma bem
estruturada, as idéias não fluem: o simples fato de haver um homem no interior da casa não a torna estranha.

Assim, a coerência é definida normalmente como a ausência de contradições em um texto e a


presença de ordem e inter-relação entre os comentários deste.

Quanto à coesão, existem alguns mecanismos básicos que garantem o encadeamento semântico das
frases de um texto. Primeiramente, tomemos o seguinte exemplo:

“O ex-presidente Itamar Franco almoçou com o amigo José Aparecido no Rio e encontrou-se com
parentes. Lá, ele voltou a criticar a equipe econômica do governo federal.” (Adaptado de O Globo, 07/06/98,
p.13)

1- Coesão por referência pronominal: pronomes demonstrativos, pessoais, relativos, adverbiais e outros são
frequentemente utilizados na retomada de uma informação previamente citada no texto, colaborando com o
fluxo de idéias. No exemplo temos: o pronome adverbial “lá”, que recupera “no Rio”, e o pronome pessoal
“ele”, referente a “o ex-presidente Itamar Franco”. Outra possibilidade de uso de pronome adverbial seria: “O
ex-presidente Itamar Franco viajou ao Rio, onde almoçou com o amigo José Aparecido e encontrou-se com
parentes.”

2- Coesão por elipse: na oração “... e encontrou-se com parentes”, o sujeito não aparece explicitamente, mas
o leitor consegue retomá-lo para interpretá-la, voltando à oração anterior. Ou seja, está subentendido que “o
ex-presidente Itamar Franco” é o sujeito elíptico desta oração.
3- Coesão pelo uso de sinônimos: um recurso bastante utilizado para evitar a repetição de palavras e
expressões é a sinonímia: substituição destas palavras por termos análogos. Adaptando o exemplo acima,
teríamos: “O ex-presidente Itamar Franco almoçou com o amigo José Aparecido no Rio e encontrou-se com
parentes. Na cidade maravilhosa, ele voltou a criticar a equipe econômica do governo federal.” Outro
exemplo: “O presidente esteve recentemente em Washington. Esta foi a primeira visita não agendada de um
presidente do Brasil à capital dos EUA.” (Adaptado de O Globo, 07/06/98, p. 10).

4- Coesão pelo uso de hiperônimos: os hiperônimos são um tipo de sinônimo. Por isso, são também
chamados de sinônimos superordenados. O hiperônimo diz respeito à classe ou ao gênero da palavra
retomada: gato/animal; violão/instrumento; física/ciência; etc. No texto acima, poderíamos ter: “O ex-
presidente Itamar Franco almoçou com o amigo José Aparecido no Rio e encontrou-se com parentes.
Naquela cidade, ele voltou a criticar a equipe econômica do governo federal.” Logo, o referente ‘Rio’ é
retomado no texto através de seu hiperônimo: ‘cidade’.

5- Coesão pelo uso de metonímia: ao usar esta figura de linguagem, o autor se refere a uma parte do
elemento para designar o elemento em seu todo. Em textos jornalísticos é muito comum esse tipo de recurso.
Por exemplo, ‘Brasília’ e ‘Planalto’ são muitas vezes redigidas significando o governo do Brasil, enquanto a
expressão ‘Casa Branca’ é utilizada na referência ao governo dos EUA. Exemplo: “O presidente Fernando
Henrique visita os EUA. Segundo a Casa Branca, o encontro com o presidente norte-americano será
informal.” (Adaptado de O Globo, 07/06/98, p. 10)

6- Coesão por meio de substituição por expressões resumitivas: uma das estratégias mais eficientes de
coesão consiste em retomar predicados extensos substituindo-os por outros mais curtos, como em: “Políticos
aliados ao governo sugerem que o presidente reduza o ritmo de suas viagens internacionais, mas é muito
improvável que ele o faça.” (Adaptado de O Globo, 07/06/98, p. 10)

7- Coesão por meio de redução: se o referente de que trata o texto for composto por duas ou mais palavras,
este poderá ser retomado utilizando-se uma de suas partes. Exemplo: “O ex-presidente Itamar Franco
almoçou com o amigo José Aparecido no Rio e encontrou-se com parentes. Lá, Itamar voltou a criticar a
equipe econômica do governo federal.” (Adaptado de O Globo, 07/06/98, p.13)

8- Coesão por meio de ampliação: estratégia inversa à redução, a ampliação consiste em retomar um
referente que havia aparecido no texto, em forma de sigla ou com apenas uma palavra, e estendê-lo.
Exemplo: “Itamar almoçou com o amigo José Aparecido no Rio e encontrou-se com parentes. Lá, o ex-
presidente Itamar voltou a criticar a equipe econômica do governo federal.” (Adaptado de O Globo, 07/06/98,
p.13).

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