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A Ancestralidade

IFAGBENUSOLA AWORENI

Sacerdote da Indigenous Faith of African Tradition,Isin Egúngún ati Orò..

Responsável pela Ègbé Awò Omo Egúngún Onífe.

Marica - RJ

Se você tem sua própria ancestralidade e, portanto raiz,


por que cultua somente a dos outros?

Não seria esta a hora de avaliar melhor a questão?

O que vem a ser a Ancestralidade e por que a devemos


Cultuar?

A Ancestralidade é algo concreto, e ao cultuarmos a mesma, abrimos um leque


de possibilidades e um constante ciclo de renovações de nossas energias, uma vez que a
manifestação energética do culto se encontra em constante movimento. É Raiz, portanto
caminho. Ela nos traz a realização pessoal e o sucesso! Nada se pode fazer sem a
Ancestralidade, pois sendo raiz é ela quem sustenta, toda a arvore. Então sem
Ancestralidade, sem RAIZ! Todos temos Ancestrais a louvar. Vamos agora definir o
que sejam os Ancestrais, são todos aqueles que um dia possuíram sua energia vital no
Aiye, e que repassa esta sua energia à sua descendência, garantindo assim a perpetuação
da mesma.

Ao Cultuarmos Bàbá Egún, reforçamos nossa crença na reencarnação, e através


desse fenômeno evocamos a sua presença uma vez que dentro da essência desse culto
cremos que todos, a principio sempre voltarão ao Ayé, pois nosso Emí é imortal. Por
mais poderosa que seja Ikú (ojegbe-alaso-ona), a mesma não destrói o homem, mas age
apenas como um agente de transformação e renovação dos ciclos entre o Òrun e o Ayé.
Podemos concluir que, enquanto existir o homem, tempo e o desejo, haverá o Culto a
Babá Egún.

Quem deve Cultuar a Ancestralidade?

Todos têm pai. Temos mãe. Temos avô. Temos avó. E assim por diante. Então
por certo temos Ancestralidade! Compreendido isso, podemos facilmente deduzir então
que não só podemos, como devemos cultuar nossos Ancestrais. Uma vez que somos o
resultado da soma de saberes de nossos Antepassados, destes herdamos o inconsciente
coletivo e com ele as informações legadas nele, e é por esta determinante maior, que os
devemos louvar. A diferença é que, nem todos devem se iniciar no Culto. Caso não
saiba qual é o seu caso, e deseje descobrir seu caminho, ou seja, se é Cultuar ou Iniciar-
se, basta consultar seu Ori. Iniciar-se ou não no Culto a Bàbá Egún, dependerá de
exclusivamente dele(ORI), pois é ele quem determina o que deve ou não ser feito. E a
resposta a esta questão nos é dada através do Oráculo, e é um procedimento válido para
os filhos de qualquer Òrìsà.

As diferenças entre Iniciação e Assentamento

A iniciação:

Numa iniciação, despertamos nos seres humanos características que já se


encontram presentes em seu Ori, então deve ser ele iniciado quando assim determinar
seu Ori através do Oráculo. Claro que isso só se dará se o postulante atender também
aos demais pré-requisitos exigidos pela Egbé a que for se submeter.

O assentamento:

E Quando devemos possuir o seu Assentamento?

O Igbá Ancestral tem a finalidade de suprir algo que não esteja presente em
nossa essência. Assim sendo é necessário que o possuamos em nossas Casas de Culto,
para que se possa efetivamente suprir uma eventual necessidade da Comunidade, ou até
mesmo pessoal. Pois um ancestral não dorme, não esquece as pessoas que deixou para
traz, e é ele a solução de todas as dificuldades em minha vida.

Onde se iniciou realmente o Culto?

O Culto de Egúngún surgiu em Oyo, foi fundado por uma família de bardos
(poetas itinerantes nômades), que antes eram contratados para cantar de forma
dramática as glórias das famílias nobres. Depois foram acrescentadas as roupas e rituais
de sacrifício transformando-se em mais um "colegiado" de culto Yorùbá, um dos mais
respeitados e exclusivos, aliás. Isso porque, provavelmente, no passado todos os mortos
ilustres se tornavam Òrìsàs e em Oyo, depois de Sàngó, apenas ele e pessoas da família
real passaram a ter este privilégio, daí esta função de divinização dos "plebeus" foi
atribuída à Sociedade Egúngún. Daí o fato de Egúngún, enquanto divindade, ser
considerado filho de Sàngó, e o Itan que conta que ele usou a roupa de Sàngó para se
fazer passar por ele. O Babá Egún que representa o clã original dos bardos chama-se
Bàbá Ologbojo ("o-bardo-que-comanda-a-chuva").

Em nosso modesto conceito, desde que o mundo é mundo, louvamos os


Ancestrais, tendo, portanto a Mãe África como ponto conhecido de partida. Na diáspora
brasileira, ele chegou na memória e no dia a dia de diversos Sacerdotes e das diversas
nações, pois todas têm "Ancestralidade". O que nos falta e compreender que todos
somos parte do todo, e que não há esta folclórica descendência indireta, descendente é
descendente. O discurso etno-centrista é ultrapassado e comprovadamente ineficaz,
afinal viemos todos da boa e velha mãe África, pois segundo o que se sabe, lá nasceu a
humanidade como a conhecemos hoje. A maior profusão de melanina não desqualifica
ou qualifica ninguém, muito menos a genética, pois hoje sabemos que pertencemos
todos a uma raça, a humana. O Culto a Ancestralidade procedente de Oyo, foi
"mantido" em Itaparica/Bahia, más isso não quer dizer que ele não tenha ocorrido
também em outros rincões do Brasil.

Há somente uma forma de Culto Ancestral?

Seria um lamentável engano, supor que entre as diversas levas de escravos


espalhados por nosso país, não houvesse dentre eles Sacerdotes de Ancestrais de
diferentes grupos étnicos e religiosos, afinal Cultuar a ancestralidade não é um
privilégio exclusivo dos Yorùbás, um exemplo disso é a Nação Bantu/Angola que faz o
Culto Ancestral calcado em suas próprias tradições.

Há um questionamento muito comum e até constante que gostaria de expor,


perguntam-me sempre se uma pessoa que teve, por exemplo, como Ancestral um
Budista, pode Cultuar sua Ancestralidade?
Em resposta a esta questão, costumo colocar que, muito mais importante que a
origem de uma crença pessoal, seja ela cristã, judaica, seja uma pessoa muçulmana ou
mesmo sem crença nenhuma é a Ancestralidade. O que difere nossos conceitos dos
demais? Creio simplesmente nada. Com que direito podemos pensar que uma pessoa
que nos deu a vida, independente de compartilhar de nossas crenças ou não, não possa
ser cultuada? Com que direito podemos questionar o fato de uma pessoa de qualquer
origem, que ao conhecer o culto e as possibilidades que o mesmo cria, sentir a
necessidade de pedir apoio a seus Ancestrais, mesmo os mesmos em vida não tendo
crença nenhuma. Ou pensam vocês que simplesmente pelo fato de uma pessoa possuir
ancestralidade judaica, ateia ou etc, a mesma é inexistente e por isso não deva ser
reverenciada. Um dos conceitos que aprendi no Benin, é que independente da crença
pessoal de qualquer um, a mesma deve ser respeitada, e jamais questionada, uma vez
que sabemos que, mesmo que a pessoa não creia em nada, ela possui um Ori, ela possui
um Òrìsà, e o fato do mesmo manifestar-se ou não, não é um fator determinante para
que isso lhe seja tirado.

Há perigo no Culto Ancestral?

Nossos Ancestrais andam nas ruas Nigerianas e Beninenses abraçando seus


descentes queridos! Por que vou cultuar uma energia que pode me gerar malefícios isso
seria no mínimo um contra-senso. Até pouco tempo, a visão generalizada era de que
estas eram energias perigosas e que o simples toque gerava um resultado nefasto, eu
mesmo mantive este dogma por algum tempo, buscando assim evitar um confronto
direto de opiniões, más devo as pessoas uma atitude de esclarecimento e divulgação,
pois este é meu caminho, e farei sempre o meu melhor quando levar a conhecimento
público o que pode ser dito sobre o assunto. Em nossa Egbé o Culto é um pouco mais
aberto, pois quem somos nós para proibir que as pessoas tenham acesso direto e
dividam seus problemas, desabafem, ou até mesmo busquem conselhos junto a
Ancestralidade. Estamos plantando uma semente e muito me alegra saber que em outros
espaços da diáspora brasileira existam pontos de vista semelhantes aos nossos.

Que são os Egúngún?

São os guardiões da herança ancestral de um determinado grupo e através de sua


manifestação, podem ajudar ou molestar, criar problemas ou nos encaminhar para a
felicidade. Cultuado enquanto espíritos coletivos de uma herança ancestral são
conhecidos como Ara Òrun kinkin, e possuem um papel fundamental, pois seus fiéis
crêem que o mesmo tem participação constante em tudo aquilo que acontece no Ayé.

Sendo assim, orientam, direcionam, protegem, pois de acordo com a crença


yorùbá, o Ancestral que deixa sua família no Ayé não dorme. Assim sendo, todas as
minhas aflições serão depositadas nas mãos de meus Ancestrais, pois da mesma forma
que uma árvore sem raiz não sobrevive, o mesmo acontece com um ser humano que não
reconhece a importância de sua ancestralidade. Enquanto Ancestrais, podem ser
evocados individualmente (Bàbá Egún) ou coletivamente (Bàbá Igúnnuku ) de acordo
com o momento e eventuais necessidades. Suas funções coletivas superaram a linhagem
de um determinado círculo familiar. Protegem a comunidade dos espíritos, das
epidemias, de feitiços e bruxarias, assegurando assim o bem estar geral.

O que vem a ser um Màrìwò?

Um filho da Palmeira do segredo, ou seja, uma folha da grande árvore ancestral,


irmanados pelo segredo(awò). Quanto à hierarquia, somos exatamente como o Iji Opé,
algumas folhas mais novas outras mais maduras, porém todos são folhas.
Compreendendo melhor, são todos os iniciados no Culto a Ancestralidade, desde o Omò
Isan até o Alapini.

Baba Egún passa pelo processo de Atunwá?

Como foi dito acima, segundo o conceito africano a morte não é o ponto final da
vida, más sim o início de outro nível da existência humana. Eles acreditam em Atunwá
(reencarnação), ou seja, no renascimento dentro da mesma família a qual pertencia,
retornando em um dos seus descendentes.

Porém para nós, os Màrìwò, há uma maneira diferente de ver esta questão, pois
entendemos que os "Omò Bibi (Bem Nascidos)" 'iniciados' neste Culto não
'reencarnarão', pois no ato de sua confirmação e segundo nossos dogmas, temos uma
trajetória diferenciada, pois ao falecermos, tornamo-nos 'Ancestrais Ilustres' Ará Orun
Kinkin ou como se diz aqui no Brasil, Bàbá Egún, isto claro, segundo nossos méritos
neste mundo. Então, compreende-se que nossa energia (essência), ao se desprender da
matéria que a envolve será agregada às outras já pré-existentes no panteão dos
'Ancestrais Divinizados' desta ou daquela família ou mesmo Egbé.

A participação da mulher no Culto:

Em contraste com o que se pratica na diáspora brasileira, na Tradição Indígena


Nigeriana e também na Beninense, acreditamos que todos, independentes de sexo, têm o
poder e a habilidade de se comunicar com aqueles que passaram além dessa vida, tendo
a mulher enquanto Ìyágan ou Ìyálasé, papel fundamental nos ritos iniciáticos, já que a
mesma é a manifestação viva da presença de Omulale ou Alale, a Mãe Terra. Assim
sendo, entendemos que a mulher possui um papel preponderante no Culto.

Dizia-se, até muito pouco atrás, que mulheres não participam do Culto a Bàbá Egún,
mas podemos perceber, em um dos mais variados Orikis - Ewi - Esa justamente o
contrário:

A mulher que conhece o segredo, não deve revela-lo.


O homem que conhece o segredo, não deve revela-lo.
Eles não devem abrir a boca.
Eles não devem falar.
Chegou Egúngún, que venerando seus Ancestrais afasta a pobreza e
a doença,
Estamos venerando nosso pai, esse tempo nos será favorável.

( * ) - Sem a força fecundadora feminina, a força inoculadora masculina não


poderia gerar descendência. Acho que seria importante avaliar e pesquisar melhor esta
questão, pois a teoria na prática é outra. Por ser um assunto controverso, merece uma
avaliação mais aprofundada por parte dos pesquisadores.

O Káábá [Isan] e o Oré Àtòrì Fínfín:

O objéto ritual káábá [isan] nos demonstra que a "união" é o caminho. sendo
esta, parte do que representa este objeto magnífico! a "união" do rebanho faz o leão ir
dormir com fome, ou seja, nossa força é nossa "união".

Na verdade há uma pequena confusão no Culto Ancestral da diáspora brasileira.


A longa, flexível, e resistente vara utilizada no Ritual dos Ancestrais
Divinizados denomina-se Àtòrí, na verdade seu nome é "Òrè Èwòò", Esta é uma planta
hermafrodita, que cresce até 2,5 mt de altura, textura parecida com a textura do couro,
sendo ligeiramente brilhosa, com folhas Verde-escuras, na parte superior; e verde-pálido
na parte inferior. Suas flores possuem a parte externa verde pálida, e são amarelas na
parte interna, já suas pétalas e estames são amarelos. Sua utilização se dá tanto em
África quanto na diáspora brasileira dentro do Culto Ancestral, porém com conotações
diferentes.

O Àtòrí (Glyphaea brevis (Sprengel) Monachino - família das "Tiliáceas") é


utilizado semi-descascado em forma espiralada na Tradição africana, e tem um papel de
ligação entre o Olojé e o Ancestre, enquanto que o ISAN pequeno feixe de certa árvore,
com determinado numero de unidades tem uma simbologia profunda representando as
nove famílias iniciais bem como a unidade perdida. O Itan que transcrevemos a seguir
nos demonstra a importância fundamental deste objeto sacro dentro do Culto Ancestral:

É história corrente em Ouidah (Benin), que foi Olokonso Alapini proveniente de Oyo quem
levou o Culto a Bàbá Egún aos Fon. Conta-se que o Roi du Benin(Rei do Benin) não acreditava na
existência dos Egúngún, e por mais que insistisse o Alapini não obtinha sucesso em convencer o dito rei
de que através do segredo da Roupa ou da roupa do segredo se podia mesmo trazer a sua presença seus
antepassados. Passado muito tempo e devido à insistência do olopa, foi determinado que este sacerdote
ancestral provasse o que dizia diante do Rei, claro que o awò concordou e imediatamente pediu os
"ingredientes" necessários para realizar o ritual, bem como solicitou um local "reservado" para guardar
estes ingredientes, e que estes deveriam ser lá trancados até o dia seguinte, ao que foi prontamente
atendido. Tendo recebido os itens pedidos (carneiros, galos, galinhas, akara, obí etc...), estes foram
guardados e vigiados até o dia seguinte, como pediu o awò.

Chegado o outro dia, o Alapini dirigiu-se ao "Quarto do Segredo", parou frente à entrada,
umedeceu e propiciou a terra, proferindo em seguida seus Orikis e Aduras, em ato contínuo golpearam a
terra por três vezes consecutivas. No quarto do awò, que permanecia fechado, ouve-se um grito gutural e
inarticulado, pois o Ancestre se fez presente, momentos depois abriu-se a porta, e veio ele visitar sua
descendência real. Ao deparar-se com seu Antepassado retornado através da Roupa do Segredo, o rei
emocionado o reconheceu, e determinou que desta feita em diante se instalasse o Culto aos Bàbá Egún no
Benin.
Mas, infelizmente ou felizmente, a história continua, pois os filhos de Olokonso Alapini não se
davam bem. Quando este veio a falecer, seu isàn foi entregue a seu amigo Orogbomba, para que este o
entregasse ao novo Alapini eleito. Devido ao interesse e ganância de seus descendentes, este objeto
permaneceu em poder do próprio Orogbomba, "desaparecendo" após sua morte.

O Isan, é um importantíssimo "objeto ritual" com que se evoca e invoca um


Ancestral, além do que, é ele que dá o nome aos neófitos em nosso Culto. Como
podemos notar não é um modernismo, e sim, Tradição Indígena Africana sendo
resgatada, e devidamente corroborada pelo fragmento do Itan Ifá descrito anteriormente.
Ele evoca a força através da União, afinal somados, somos "um" com o todo, e é
exatamente a União Ancestral o que representa este sagrado objeto ritual que estava
obscurecido.

O que há sob as roupas dos Bàbá Egún?

Quando me questionam o que há sob as vestes dos Bàbá Egún, costumo dizer
que há um Ancestral divinizado “incorporado” O que vem a ser isso? Somente os
iniciados sabem, haja vista que isso sim, é awò. Porém preocupam-se com o que há sob
a "roupa", quando o importante mesmo é a "simbologia da roupa", infelizmente algumas
pessoas não compreendem que é exatamente esta simbologia intrínseca ao Eku
Ancestral que propicia aos Màrìwò transcender a morte. E é exatamente aí que esta o
fator primordial, pois se o Sacerdote se der ao trabalho de esclarecer o leigo, dando-lhe
uma resposta equilibrada e coerente, este certamente passara a observar o que se diz
com mais propriedade e respeito, pois acabara por compreender o que se faz e o por que
se faz.

Na simbologia da roupa dos Ancestrais Masculinos, “os Egúngún”, estão


expressos todos os mistérios da transformação de um ser (Ará Aiyè) deste-mundo num
ser-do-além (Ará Orun), de sua convocação e de sua presença no Aiyè (o mundo dos
vivos). Esse mistério (Awò) constitui o aspecto mais importante do Culto.
Como claramente nos demonstra a Orin:

"GÉGÉ ORÒ ASÓ LA RI,LA RI, LA RÍGÉGÉ ORÒ ASÓ LÈMON,AKO MO BÀBÁ!"

Ojú egúngún ou os olhos de egúngún?

É um oráculo utilizado pelos Màrìwò Egúngún, trazendo respostas concretas


"sim" ou "não" diretamente da Ancestralidade a sua descendência. É a forma de se
"apurar", sem "perguntar".

Egúngún responde nossas perguntas através de movimentos do mesmo, e este


oráculo é uma espécie de pêndulo. Hoje, a Radiestesia já é uma ciência conhecida e
bastante usada, mas os antigos já conheciam este método de comunicação. Porém, há a
diferença do Ojú Egúngún para o pêndulo comum. No primeiro, há a presença de Bàbá
Egún respondendo. Já no segundo caso, existe um fenômeno anímico, onde as respostas
podem ser dadas pela própria mente inconsciente de quem pergunta, uma vez que o
inconsciente é coletivo e "sabe" tudo.

O que vem a ser Gbobaniyin?

O significado literal de Gbobaniyin, é "o rei deve ser honrado", tratasse de uma
Oògùn, medicina tradicional yorùbá, utilizada no culto a Bàbá Egún. Sabemos que a
Ancestralidade é algo concreto e que ao cultuarmos a mesma, abrimos um leque de
possibilidades e um constante ciclo de renovações de nossas energias, uma vez que a
manifestação energética do culto se encontra em constante movimento. Uma vez
entendido a essência dessa energia, podemos nos aprofundar um pouco no que vem a
ser realmente Gbobaniyin: Tradicionalmente a economia yorùbá era voltada para a
agricultura, a caça, a pesca e o mercado...
Sendo assim, devido às variações climáticas, como o calor intenso, a falta de
chuva que muitas vezes promovia a seca e invibializava o plantio ou mesmo as fortes
pancadas de chuva em determinadas épocas do ano eram fatores determinantes para que
houvessem sérios problemas e com isso uma constante desestabilidade econômica... E
sabido por todos que o Culto a Egúngún tradicional, possui um Osaniyin especifico,
conhecido como Oriki Isi. Os sacerdotes iniciados em seus fundamentos, conhecidos em
algumas partes como Olojes bi ewé, em outras como Oloriki agba, em outras ainda
como Isi ni Ewé, possuem um conhecimento avançado da pratica na magia e medicina
tradicional.

Sendo o Culto a Bàbá Egún, em muitos territórios yorùbás, de suma importância,


uma vez que os africanos acreditam que um ser-humano sem a proteção e o auxílio de
seus Ancestrais e o mesmo que uma arvore sem raiz, esses sacerdotes estavam sempre
em constante contato com os antigos Obás, e por isso foi desenvolvido uma medicina
que, sendo utilizada nas épocas de maiores variações climáticas, minimizassem os
danos, contribuindo assim para o restabelecimento da ordem, evitando que a conduta ou
a capacidade do rei fosse posta em dúvida.

Lésse Egún, Lésse Òrìsà: (Oto Egún x Oto Òrìsà)

Diferentemente do que se costuma praticar em alguns locais da diáspora


brasileira, na Nigéria e no Benin, os Cultos interagem juntos, são partes de um todo e a
verdade maior disso tudo esta na Igbá Odu, ou Cabaça da Existência, representando os
dois espaços, Céu e terra, Orun e Aye e as divindades e manifestações energéticas que
interagem em conjunto. Assim sendo não se deve diferenciar, nem segregar o Culto a
Ancestralidade, do Culto as Forças Vivas da Natureza, os Òrìsàs. Esta crença de que as
Forças Vivas da Natureza são Antagônicas a Ancestralidade, não procedem.

A Ancestralidade é raiz, portanto faz parte da construção de nossa própria


existência, haja vista que somos o resultado prático desse somatório. Não estar ligado a
sua Ancestralidade, em nossa modesta opinião, é não estar ligado á sua raiz. As obras já
publicadas sobre op assunto deveriam ser mais bem compreendidas, afinal não há
divisões, pois nos é inconcebível uma árvore sem raiz, e além do mais Ancestral e Òrìsà
não possuem fronteiras. Todos eles habitam em nosso Orí, e são interligados e se
complementam. O que deve mesmo ser observado é que Òrìsà tem um campo de ação e
Ancestral outro, somente isso, más os dois se locupletam sempre, para que se possa ter
uma existência equilibrada, e que se possa cumprir nosso destino neste plano.
Infelizmente ainda há um engano muito comum na interpretação de que onde há Òrìsà,
não pode haver Bàbá Egún, porém lembro que a maioria confunde Oku Orun com Bàbá
Egún e são duas coisas diferentes.

Por que há espelhos nas roupas de Bàbá Egún?

Ao levantar-me todas as manhãs travo uma batalha com meu pior inimigo, ou
seja, eu mesmo. Ao defrontar-me com o espelho, sou obrigado a encarar meus piores
pesadelos ou meus mais belos sonhos. Tudo dependerá da forma com que me porto
diante de minha Iwa(existência), os Ancestrais são os Guerreiros imortais, guardiões de
nossas Tradições e Religião, em última análise são a soma de todos aqueles que vieram
antes de mim, e isso se traduz na simbologia da roupa do segredo. Roupa esta que
permite um contato direto entre seus entes queridos, e a descendência deles neste plano,
os espelhos são um adorno geralmente encontrados na diáspora brasileira, pois em
áfrica não há costumeiramente este uso pelo que saiba.

As simbologias africanas e brasileiras são quase iguais, porém podemos afirmar


que sua finalidade é a mesma, transcender Ikú, daí sua fundamental importância em
nosso Culto, seja na costa ou aqui no Brasil. Finalizo dizendo que sua confecção é uma
magia de tal magnitude, que mesmo os iniciados mais novos desconhecem o seu
processo de preparo. Os Ancestrais de nossa Ilè Awò possuem traços das duas culturas e
também seus simbolismos, haja vista encontrar o Isan preso à roupa dos nossos velhos,
assim como o Atoori(Isan) por nós utilizado, é esculpido em espiral demonstrando
simbolicamente o movimento trazido as nossas vidas pelo Culto Ancestral. Enfim, os
espelhos da roupa refletem aquilo que somos, uns temem, já outros se regozijam. Más é
bom lembrar que sempre há mais a ser realmente conhecido, e que o todo jamais será
visto em web irmão. Lembro-me também de um determinado Itan Ifá onde se travou
uma batalha, e espelhos foram usados para refletir a imagem dos oponentes.

Num primeiro nível, a reflexão sobre o espelho sempre será um questionamento


do ego sobre si mesmo. Já numa observação mais Religiosa, podemos dizer que eles são
dispostos na Roupa Ancestral para que Ikú se mire neles e corra assustada com sua
própria imagem. E assim podemos compreender por que ela é a Magia que vence a
morte.

Finalmente assim compreendo e assim pratico, sei que não existe um pensar
único, nem uma única verdade, porém, se todos trilharmos o caminho do respeito às
particularidades de cada um, certamente, encontraremos mais afinidades que diferenças.

Awure awa!
Fotos:
Adaptação:

Luiz L. Marins

GRUPO ORIXAS

http://grupoorixas.wordpress.com

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