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IFAGBENUSOLA AWORENI
Marica - RJ
Todos têm pai. Temos mãe. Temos avô. Temos avó. E assim por diante. Então
por certo temos Ancestralidade! Compreendido isso, podemos facilmente deduzir então
que não só podemos, como devemos cultuar nossos Ancestrais. Uma vez que somos o
resultado da soma de saberes de nossos Antepassados, destes herdamos o inconsciente
coletivo e com ele as informações legadas nele, e é por esta determinante maior, que os
devemos louvar. A diferença é que, nem todos devem se iniciar no Culto. Caso não
saiba qual é o seu caso, e deseje descobrir seu caminho, ou seja, se é Cultuar ou Iniciar-
se, basta consultar seu Ori. Iniciar-se ou não no Culto a Bàbá Egún, dependerá de
exclusivamente dele(ORI), pois é ele quem determina o que deve ou não ser feito. E a
resposta a esta questão nos é dada através do Oráculo, e é um procedimento válido para
os filhos de qualquer Òrìsà.
A iniciação:
O assentamento:
O Igbá Ancestral tem a finalidade de suprir algo que não esteja presente em
nossa essência. Assim sendo é necessário que o possuamos em nossas Casas de Culto,
para que se possa efetivamente suprir uma eventual necessidade da Comunidade, ou até
mesmo pessoal. Pois um ancestral não dorme, não esquece as pessoas que deixou para
traz, e é ele a solução de todas as dificuldades em minha vida.
O Culto de Egúngún surgiu em Oyo, foi fundado por uma família de bardos
(poetas itinerantes nômades), que antes eram contratados para cantar de forma
dramática as glórias das famílias nobres. Depois foram acrescentadas as roupas e rituais
de sacrifício transformando-se em mais um "colegiado" de culto Yorùbá, um dos mais
respeitados e exclusivos, aliás. Isso porque, provavelmente, no passado todos os mortos
ilustres se tornavam Òrìsàs e em Oyo, depois de Sàngó, apenas ele e pessoas da família
real passaram a ter este privilégio, daí esta função de divinização dos "plebeus" foi
atribuída à Sociedade Egúngún. Daí o fato de Egúngún, enquanto divindade, ser
considerado filho de Sàngó, e o Itan que conta que ele usou a roupa de Sàngó para se
fazer passar por ele. O Babá Egún que representa o clã original dos bardos chama-se
Bàbá Ologbojo ("o-bardo-que-comanda-a-chuva").
Como foi dito acima, segundo o conceito africano a morte não é o ponto final da
vida, más sim o início de outro nível da existência humana. Eles acreditam em Atunwá
(reencarnação), ou seja, no renascimento dentro da mesma família a qual pertencia,
retornando em um dos seus descendentes.
Porém para nós, os Màrìwò, há uma maneira diferente de ver esta questão, pois
entendemos que os "Omò Bibi (Bem Nascidos)" 'iniciados' neste Culto não
'reencarnarão', pois no ato de sua confirmação e segundo nossos dogmas, temos uma
trajetória diferenciada, pois ao falecermos, tornamo-nos 'Ancestrais Ilustres' Ará Orun
Kinkin ou como se diz aqui no Brasil, Bàbá Egún, isto claro, segundo nossos méritos
neste mundo. Então, compreende-se que nossa energia (essência), ao se desprender da
matéria que a envolve será agregada às outras já pré-existentes no panteão dos
'Ancestrais Divinizados' desta ou daquela família ou mesmo Egbé.
Dizia-se, até muito pouco atrás, que mulheres não participam do Culto a Bàbá Egún,
mas podemos perceber, em um dos mais variados Orikis - Ewi - Esa justamente o
contrário:
O objéto ritual káábá [isan] nos demonstra que a "união" é o caminho. sendo
esta, parte do que representa este objeto magnífico! a "união" do rebanho faz o leão ir
dormir com fome, ou seja, nossa força é nossa "união".
É história corrente em Ouidah (Benin), que foi Olokonso Alapini proveniente de Oyo quem
levou o Culto a Bàbá Egún aos Fon. Conta-se que o Roi du Benin(Rei do Benin) não acreditava na
existência dos Egúngún, e por mais que insistisse o Alapini não obtinha sucesso em convencer o dito rei
de que através do segredo da Roupa ou da roupa do segredo se podia mesmo trazer a sua presença seus
antepassados. Passado muito tempo e devido à insistência do olopa, foi determinado que este sacerdote
ancestral provasse o que dizia diante do Rei, claro que o awò concordou e imediatamente pediu os
"ingredientes" necessários para realizar o ritual, bem como solicitou um local "reservado" para guardar
estes ingredientes, e que estes deveriam ser lá trancados até o dia seguinte, ao que foi prontamente
atendido. Tendo recebido os itens pedidos (carneiros, galos, galinhas, akara, obí etc...), estes foram
guardados e vigiados até o dia seguinte, como pediu o awò.
Chegado o outro dia, o Alapini dirigiu-se ao "Quarto do Segredo", parou frente à entrada,
umedeceu e propiciou a terra, proferindo em seguida seus Orikis e Aduras, em ato contínuo golpearam a
terra por três vezes consecutivas. No quarto do awò, que permanecia fechado, ouve-se um grito gutural e
inarticulado, pois o Ancestre se fez presente, momentos depois abriu-se a porta, e veio ele visitar sua
descendência real. Ao deparar-se com seu Antepassado retornado através da Roupa do Segredo, o rei
emocionado o reconheceu, e determinou que desta feita em diante se instalasse o Culto aos Bàbá Egún no
Benin.
Mas, infelizmente ou felizmente, a história continua, pois os filhos de Olokonso Alapini não se
davam bem. Quando este veio a falecer, seu isàn foi entregue a seu amigo Orogbomba, para que este o
entregasse ao novo Alapini eleito. Devido ao interesse e ganância de seus descendentes, este objeto
permaneceu em poder do próprio Orogbomba, "desaparecendo" após sua morte.
Quando me questionam o que há sob as vestes dos Bàbá Egún, costumo dizer
que há um Ancestral divinizado “incorporado” O que vem a ser isso? Somente os
iniciados sabem, haja vista que isso sim, é awò. Porém preocupam-se com o que há sob
a "roupa", quando o importante mesmo é a "simbologia da roupa", infelizmente algumas
pessoas não compreendem que é exatamente esta simbologia intrínseca ao Eku
Ancestral que propicia aos Màrìwò transcender a morte. E é exatamente aí que esta o
fator primordial, pois se o Sacerdote se der ao trabalho de esclarecer o leigo, dando-lhe
uma resposta equilibrada e coerente, este certamente passara a observar o que se diz
com mais propriedade e respeito, pois acabara por compreender o que se faz e o por que
se faz.
"GÉGÉ ORÒ ASÓ LA RI,LA RI, LA RÍGÉGÉ ORÒ ASÓ LÈMON,AKO MO BÀBÁ!"
O significado literal de Gbobaniyin, é "o rei deve ser honrado", tratasse de uma
Oògùn, medicina tradicional yorùbá, utilizada no culto a Bàbá Egún. Sabemos que a
Ancestralidade é algo concreto e que ao cultuarmos a mesma, abrimos um leque de
possibilidades e um constante ciclo de renovações de nossas energias, uma vez que a
manifestação energética do culto se encontra em constante movimento. Uma vez
entendido a essência dessa energia, podemos nos aprofundar um pouco no que vem a
ser realmente Gbobaniyin: Tradicionalmente a economia yorùbá era voltada para a
agricultura, a caça, a pesca e o mercado...
Sendo assim, devido às variações climáticas, como o calor intenso, a falta de
chuva que muitas vezes promovia a seca e invibializava o plantio ou mesmo as fortes
pancadas de chuva em determinadas épocas do ano eram fatores determinantes para que
houvessem sérios problemas e com isso uma constante desestabilidade econômica... E
sabido por todos que o Culto a Egúngún tradicional, possui um Osaniyin especifico,
conhecido como Oriki Isi. Os sacerdotes iniciados em seus fundamentos, conhecidos em
algumas partes como Olojes bi ewé, em outras como Oloriki agba, em outras ainda
como Isi ni Ewé, possuem um conhecimento avançado da pratica na magia e medicina
tradicional.
Ao levantar-me todas as manhãs travo uma batalha com meu pior inimigo, ou
seja, eu mesmo. Ao defrontar-me com o espelho, sou obrigado a encarar meus piores
pesadelos ou meus mais belos sonhos. Tudo dependerá da forma com que me porto
diante de minha Iwa(existência), os Ancestrais são os Guerreiros imortais, guardiões de
nossas Tradições e Religião, em última análise são a soma de todos aqueles que vieram
antes de mim, e isso se traduz na simbologia da roupa do segredo. Roupa esta que
permite um contato direto entre seus entes queridos, e a descendência deles neste plano,
os espelhos são um adorno geralmente encontrados na diáspora brasileira, pois em
áfrica não há costumeiramente este uso pelo que saiba.
Finalmente assim compreendo e assim pratico, sei que não existe um pensar
único, nem uma única verdade, porém, se todos trilharmos o caminho do respeito às
particularidades de cada um, certamente, encontraremos mais afinidades que diferenças.
Awure awa!
Fotos:
Adaptação:
Luiz L. Marins
GRUPO ORIXAS
http://grupoorixas.wordpress.com