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convém evitar, reservando -se o emprego do termo ao significado com o qual se tornou
corrente na doutrina de hoje, ao menos entre os processualistas, a saber, o direito autônomo de
agir em face do Estado-juiz a fim de pôr em movimento o aparelho judiciário relativamente a
determinada situação jurídica concreta. [3] Há, pois, ações que dão origem a processos cuja
tramitação se submeterá a procedimento ordinário, sumário ou especial. [4]
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Não é correto, pois, afirmar-se que a distinção é meramente “externa e formal”.
Ou que o discrime adotado no atual Código de Processo Civil, ao adotar a denominação de
procedimentos para designar os de seu Livro IV, só se destinasse a sublinhar a presença,
neles, como característica própria, de atos específicos que os extremam do “procedimento
comum”. Não se perca de vista, aliás, que o diploma legal citado jamais fala de “processo
comum”, mas sim e sempre de procedimento comum, inclusive quando cuida de sua
subdivisão em ordinário e sumaríssimo.
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modificação de atos, donde resultarão procedimentos mais ou menos distanciados do
modelo fundamental, segundo a intensidade e n úmero dessas alterações.
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expressão econômica e jurídica de outras apresentam -nas ao espírito do legisl ador como
incompatíveis com a lenta, solene e onerosa tramitação ordinária (sumário formal). [9]
Não é provável que se possam sistematizar com êxito os vários motivos que
podem levar o legislador à adoção de procedimentos especiais. O que acima ficou dito
sobre a influência, nessa matéri a, da especial configuração da relação jurídica material
contenciosa apenas aponta o mais razoável dos critérios e o que talvez devesse ser o
único, pois só ele se justifica plenamente do ponto de vista doutrinário. Aliás, em
princípio, a generalização do procedimento ordinário deveria ser a mais ampla possível,
com a decorrente redução dos ritos especiais. Estes, ainda nos limites do aludido critério,
só estariam justificados quando aquele fosse absolutamente inadequado para o tratamento
em juízo da matéria considerada. [12]
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interpenetração, em um mesmo processo, de elementos de diversas modalidades de tutela
jurisdicional (de cognição, de execução e de cautela); razões de conveniência momentânea e
local, com caráter meramente emergencial; até mesmo a simple s impaciência do legislador
frente à morosidade do aparelhamento judiciário em contraste com a pressão da demanda
social - tudo influi no sentido de retirar da vala comum do rito ordinário um número crescente
de “ações”, em antagonismo com a recomendação d a doutrina, esta cada vez mais inclinada à
redução numérica dos tipos procedimentais como imperativo da simplificação e da
racionalização. [13] Não há negar, por certo, a possibilidade de uma correta sistematização,
seja a partir da intrínseca irredutibili dade de certos procedimentos ao ordinário, [14] seja
com base na idéia de “exceções reservadas”, embora esta acabe por conduzir à suposta
sumariedade de todo procedimento especial. [15] O que não se pode aceitar é a proliferação
caótica e indiscriminada, submissa a razões sem qualquer compromisso científico.
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Estes são conseqüência, em alguns casos, de invasão do processo de conhecimento por
elementos pertencentes ao executório ou ao cautelar. Disso tivemos exemplo na velha “ação
executiva” do nosso primeiro código nacional de processo, e ainda o temos na ação de
nunciação de obra nova, que bem poderia seguir o procedimento -padrão, não fora o fato de
incorporar medida de ordem nitidamente cautelar, que melhor se acomodaria no seu campo
específico, a exemplo do Direito Português. [17]
Ao lado dos procedimentos especiais de que temos até aqui tratado, cuja
justificação se encontra na especificidade da relação jurídico -material a ser tratada, vem -se
impondo rapidamente uma nova categoria, aquela d os procedimentos que, a mais de serem
especiais, devem ser conduzidos por juízos também especiais. Não se trata de simples
acréscimo à categoria dos processos que se precisavam acomodar formalmente à configuração
diferenciada do órgão julgador (feitos da c ompetência do Tribunal do Júri, processos da
competência originária dos colegiados etc.): aqui, procedimento e juízo são especificamente
criados um para o outro, com vistas a um determinado objetivo e no pressuposto de que a
operação de um supõe a presença do seu correspectivo. Tal é o caso dos juizados especiais e
de pequenas causas, umbilicalmente ligados ao procedimento que para eles se criou, especial
e exclusivamente. No Direito Comparado, seus equivalentes estariam, verbi gratia, nos small
claim courts da prática norte-americana e talvez nos multisseculares Tribunales de las Aguas
de Espanha, particularmente o de Valência. [18]
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No Brasil, a pioneira introdução desses procedimentos e juízos, ainda em
caráter absolutamente informal e sem respaldo legislativo, se fez no Estado do Rio Grande do
Sul, sob os auspícios da respectiva Associação de Juízes (AJURIS). [20] Mesmo despidos
de qualquer autoridade formal, os então chamados “conselhos” alcançaram notável êxito,
suscitando um debate nacional donde se originou a edição da Lei nº 7.244/84,
institucionalizadora dessa modalidade de prestação jurisdicional. Confirmando seu
pioneirismo no assunto, o Rio Grande do Sul veio a ser também o primeiro Estado a editar lei
local disciplinando o Sistema de Juizados de Pequenas Causas, que entraria em
funcionamento efetivo em 1986, novamente com absoluta primazia nacional. A experiência
viria a demonstrar que a idéia -força de melhorar as condições de acesso à jurisdição envolvia
necessariamente uma nova postura, uma nova filosofia e uma nova estratégia, tudo a
pressupor uma concepção também renovada da própria função jurisdicional, exatamente
como fora previsto, [21] como de igual modo antevista fora, por razões idênticas, a tenaz
resistência oferecida então e ainda hoje à inovação, por parte dos setores m ais ortodoxos da
doutrina processual e da comunidade forense. [22] Revelou o sistema, outrossim, uma
inesperada utilidade como fecundo laboratório de experiências para soluções e praxes que já
começaram a ser absorvidas pelo processo civil “geral” e incor poradas ao dia-a-dia da prática
judiciária.
A idéia se impôs pelos seus bons resultados, a ponto de subir sua expressão
legislativa à hierarquia de norma constitucional, já não como simples autorização, mas na
figura de determinação imperativa de implant ação dos novos órgãos judiciários, inclusive
com a extensão de sua competência, mutatis mutandis, à esfera criminal (Constituição da
República, art. 98, I). [23]
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doutrina vêem na existência de tais procedimentos uma concessão à idéia de subordinação do
Direito Processual ao Direito Material. Vista desse ângulo a questão, seria incompatível com a
idéia de autonomia a diferenciação de procedimento com base nas peculiaridades do direito
subjetivo material afirmado pelo autor: representaria isso uma intromissão dos critérios do
direito dito “substantivo” na solução de um problema estritamente processual. A crítica aduz,
outrossim, que a rigidez característica dos procedimentos especiais limita a atividade do órgão
jurisdicional, prendendo-a a regras rituais determinadas antes mesmo de se saber se as normas
de Direito Material invocadas são efetivamente aplicáveis ao caso concreto, dúvida que só o
julgamento de mérito poderá suprimir em definitivo. [24]
O primeiro ponto da objeção leva longe demais a idéia de autono mia, além de
desconsiderar o grande paradoxo de que o processo, sendo busca da verdade, nada mais é,
enquanto tramita, do que um sistema de verdades provisórias, continuamente aperfeiçoadas.
E, mais, dessa idéia extrai conseqüências que não são necessárias . Autonomia não é
antinomia. Os campos, ramos ou departamentos em que se distribui a ciência jurídica não são
estanques e incomunicáveis; ao contrário, interpenetram -se e mutuamente se influenciam.
Tenha-se presente, de resto, no atinente especificamente à s fronteiras entre Direito Material e
Direito Processual, que elas nem sempre se apresentam precisas e nítidas, existindo ainda
territórios disputados, como o da prova e o da legitimatio ad causam, apenas para
exemplificar. Nada há de estranho, portanto, e m que se atenda, na disciplina do procedimento,
a eventuais particularidades do Direito Material segundo afirmado pelo autor, que talvez
tornem a relação jurídico-substancial insuscetível de tratamento judicial eficiente e adequado
dentro do procedimento genérico. Para sustentar-se a autonomia do Direito Processual não é
necessário negar-lhe o caráter instrumental que todos lhe reconhecem.
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baseia, aliás, a doutrina contemporânea da ação e de suas condições. E nisso, de resto, talvez
residam todo o tormento e a glória toda dos operadores e estudiosos do processo.
Objeção semelhante pode ser feita ao art. 270, que, além de absolutamente
desnecessário, encerra proposição de todo em todo incorreta. Desnecessário porque não
precisa a lei anunciar previamente do que vai tratar a seguir; [27] incorreto por colocar a
categoria dos procedimentos especiais ao lado do processo de conhecimento, do exe cutório e
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do cautelar, como se constituíssem aqueles uma quarta classe pertencente à mesma
catalogação em que se inserem as demais. É de justiça ressaltar, já que o autor do anteprojeto
tem suportado sozinho e por vezes imerecidamente o peso da crítica, qu e a incongruência não
constava do texto remetido ao Congresso Nacional: foi na Câmara dos Deputados que o artigo
recebeu o esdrúxulo acréscimo da parte final.
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As codificações não costumam ser exaustivas, nem mesmo devem aspirar a
semelhante objetivo. Ainda pertencendo ao ramo do Direito cuja codificação se
empreende, determinadas matérias podem e outras devem merecer regulação em separado,
mediante leis especiais. Sucede que, embora tenham os Códigos também o escopo de
reunir em um só corpo de normas, de modo ordenado e sistemático, todas as disposições
pertinentes a determinada área jurídica, é igualmente certo que eles se vocacionam a uma
certa permanência temporal, a um mínimo de estabilidade e fixidez. Ora, é consabido que
determinados aspectos da realidade social podem achar -se, no momento da codificação,
em fase transitiva ou de rápida mutação, o que desaconselharia a sua inclusão no código.
Quando se fotografa uma realidade estática ou em movimento lentíssimo (uma montanha,
um cômoro de areia), pode -se contar com a fidelidade da representação fotográfica ao
modelo por longo tempo. Não assim quando o objeto fotografado está em mutação ou em
movimento rápido (o pôr -do-sol; um campo de neve). Também a realidade social
apreendida e normatizada pelo codificador permanecerá por maior ou menor tempo tal
como se achava em tal momento, segundo o grau de estabilidade que tenha alcançado em
cada um dos seus aspectos particulares.
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Não se pode negar legitimidade, em prin cípio, a essa vertente, desde que
efetivamente se trate de institutos diferenciados por alguma das notas apontadas. Cumpre
advertir, uma vez mais, que o condenável é o exagero e a desatenção do legislador ao
interesse da sistematização e relativa uniformiz ação dos procedimentos, a fim de que não se
caia na situação caótica denunciada por RAMOS MÉNDEZ [28] e muito semelhante
àquela que vivenciamos no Brasil.
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especiais, há exigência da prévia justificação de determinados pressupostos, sem o que o réu
sequer será citado (arts. 909 e 1.050 do CPC). Pode -se lembrar, mais, que o procedimento
especial das ações possessórias enseja ao réu, sem reconvir, postular a proteção interdital para
a sua própria posse e a indenização de danos (art. 922). Há que pensar duas vezes, portanto,
antes de afirmar-se que o rito especial só interessa ao autor e por isso é sempre
unilateralmente disponível. Em casos como os apontados, nem sempre é de se admitir, sem
anuência do réu, a substituição do rito, mesmo que para possibilitar cumulação.
Por outro lado -- e esse é o ponto que ora mais interessa -- há determinadas
“ações” intrínseca e irredutivel mente submetidas ao procedimento especial, impraticável a
conversão para o ordinário. Resulta, pois, que elas são também inacumuláveis com outras
sujeitas a diverso procedimento. Bastaria lembrar um exemplo dramático: o mandado de
segurança. Ou indagar-se da possibilidade de processar -se ordinariamente uma ação de
usucapião, com as imanentes e impostergáveis providências do art. 942 do CPC, [30] ou de
ajustar ao procedimento genérico atos e prazos como os do seu art. 915.
CONCLUSÕES.
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especiais se reduzam a número bem menor do que o atualmente existente, de acordo, aliás,
com uma tendência mundial.
(Abril de 1994)
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