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UNIVERSIDADE CIDADE DE SÃO PAULO

PÓS-GRADUAÇÃO EM ESPECIALIZAÇÃO DE ESTRUTURAS DE


CONCRETO E FUNDAÇÕES

MÁRIO AUGUSTO VILAR TORRES

ESTUDO DE CASO:
CONTENÇÕES EM DOIS CONJUNTOS RESIDENCIAIS

RECIFE - PERNAMBUCO
2014
MÁRIO AUGUSTO VILAR TORRES

ESTUDO DE CASO:
CONTENÇOES EM DOIS CONJUNTOS RESIDENCIAIS

Monografia apresentada ao Curso de


Especialização em Estruturas de
Concreto e Fundações, Universidade da
Cidade de São Paulo, como requisito
parcial para obtenção do título de
Especialista.
MÁRIO AUGUSTO VILAR TORRES

ESTUDO DE CASO:
CONTENÇOES EM DOIS CONJUNTOS RESIDENCIAIS

Monografia apresentada ao Curso de


Especialização em Estruturas de
Concreto e Fundações, Universidade da
Cidade de São Paulo, como requisito
parcial para obtenção do título de
Especialista.

Área de concentração:
Data da apresentação:

Resultado: ______________________

BANCA EXAMINADORA:

Prof. Dr.
Universidade Cidade de São Paulo
______________________________________

Prof. Dr.
Universidade Cidade de São Paulo
______________________________________
À minha família que sempre me
apoiou nos meus estudos e trabalhos
AGRADECIMENTOS

Aos professores do Curso de Pós-Graduação em Especialização em


Estruturas de Concreto e Fundações da Universidade Cidade de São Paulo –
UNICID e em especial à minha orientadora, Prof. Dra. Juliana Von Schmalz
Torres, pela ajuda fornecida na construção desse trabalho.
“UM LEMBRETE

Aqui começamos a estudar as estruturas dos


edifícios para as quais vamos determinar as
fundações. Depois analisaremos as condições
dos locais de implantação. E, das análises
“estruturas versus locais”, sairá a solução
para as fundações, caso a caso.

Se você encontrar dificuldade de


compreensão, procure a Ficha Técnica
(Parte III).

Uma nota:

É necessário alertar os jovens colegas uma


verdade da vida que por vezes passa
despercebida. Se vamos construir uma
edificação, adotaremos alguns cuidados
técnicos. Se formos construir mil casas
(conjunto habitacional) os tipos de cuidados
são outros, ou seja a quantidade altera a
análise relacionada com o assunto”. A Ficha
Técnica existe para isso, e para facilitar sua
consulta. Complemente esta consulta com a
leitura das normas e de outros livros.
MANOEL HENRIQUE CAMPOS
BOTELHO E LUIS FERNANDO
MEIRELLES CARVALHO, em seu livro “4
edifícios x 5locais de implantação = 20
soluções de fundações
RESUMO

Este trabalho apresenta os projetos estruturais dos 03 (três) tipos de estruturas de


contenções que se apresentaram como soluções para a devida implantação de dois
empreendimentos habitacionais, construídos na região metropolitana do grande
Recife. Para avaliar as características do subsolo da área objeto de estudo, foram
executadas investigações geotécnicas através de sondagens à percussão. Com base
nessas informações, foi feito o perfil do terreno, determinado os parâmetros do solo e
desenvolvidos os cálculos. Neste projeto foram utilizadas duas metodologias de
cálculo das estruturas de contenção: o manual (resolvido por meio de equações de
equilíbrio), o cálculo computacional (resolvido por meio do programa computacional
AltoQui Eberick. De posse dos esforços de momentos e dos esforços de
cisalhamento, fornecidos pelos métodos de cálculo, foi realizado o dimensionamento
estrutural das estruturas de contenção. Apresenta as etapas de concepção, cálculo
dos esforços e dimensionamento dos elementos principais das estruturas de
contenção projetadas para os referidos conjuntos residenciais, tudo elaborado
segundo a NBR 6028/2003.

Palavra-chave: Contenção. Empuxo. Estaca Justapostas


ABSTRACT

This paper presents the design strength of 03 (three) types of structures


contentions that presented as solutions to the proper implementation of two housing
developments built in the metropolitan region of Recife. To evaluate the
characteristics of the subsurface of the study area, geotechnical investigations were
performed using probes to percussion. Based on this information, was made the
terrain profile, determined soil parameters and calculations developed. In this project
two methodologies for calculating containment structures were used: manual (solved
by means of equilibrium equations), the computational calculation (resolved by the
computer program AltoQui Eberick. Possession of the efforts of moments and shear
stress, provided by the methods of calculation, the structural design of retaining
structures was performed. Presents the stages of design, stress calculations and
design of the main elements of the containment structures designed for such housing
projects, all prepared according to NBR 6028/2003.

Palavra-chave: Contencion. Buoyancy. Stake Juxtaposed.


SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 14

1 CÁLCULO DAS ESTRUTURAS DE CONTENÇÕES 18

1.1 Histórico 18

1.2 Estado de equilíbrio plástico em solos 19

1.3 Capacidade de carga dos solos 23

1.3.1 Introdução e definições 23

1.3.2 Pressão de ruptura x pressão admissível 25

1.3.3 Fórmula de Rankine 27

1.3.4 Fórmula de Terzaghi 29

1.3.5 Fórmula generalizada (Fórmula de Meyerhof) 36

1.3.6 Relação entre tensão admissível e N (SPT) 38

1.4 Empuxo de terras 39

1.4.1 Generalidades 39

1.4.2 Coeficientes de empuxo 41

1.4.3 Tensões em um ponto 46

1.4.4 Diagrama de Mohr 49

1.4.5 Critérios de Rutura 50

1.4.6 Teoria de Rankine 51

1.4.6.1 Hipóteses fundamentais 51

1.4.6.2 Empuxo no repouso 51

1.4.6.3 Empuxo em solos coesivos 52

1.4.6.3.1 Estado ativo 52

1.4.6.3.2 Estado passivo 53


1.4.6.4 Empuxo em solos coesivos, equação de Mohr 56

1.5 Teoria de Coulomb 58

1.5.1 Equação de Coulomb 58

1.5.2 Critério de Mohr - Coulomb 59

1.5.3 Condição analítica de ruptura 60

2 TIPOS DE ESTRUTURAS DE CONTENÇÃO 64

2.1 Muros de arrimo 64

2.1.1 Histórico 65

2.1.2 Tipos de muro de arrimo 65

2.1.3 Condições de estabilidade dos muros de arrimo 67

2.1.3.1 Segurança contra o Tombamento 69

2.1.3.2 Segurança contra o escorregamento 69

Segurança contra ruptura e deformação excessiva


2.1.3.3 70
do terreno de fundação

2.1.3.4 Segurança contra ruptura do conjunto muro-solo 73

2.1.4 Drenagem 73

2.1.5 Encontro de Pontes 75

2.2 Muros por flexão 75

2.3 Cortinas 77

2.3.1 Cortinas sem ancoragem 77

2.3.2 Cortina ancorada 79

2.3.3 Muro escorado 81

DIMENSIONAMENTO DAS SEÇÕES


3 82
ESTRUTURAIS

3.1 Introdução 82

3.2 Conceito de concreto armado 83

3.3 Diagrama Tensão-Deformação 86


3.4 Fissuração no concreto armado 88

3.5 Estádios de Cálculo 91

3.5.1 Domínios e deformações 93

3.5.1.1 Reta A 94

3.5.1.2 Domínio 1 95

3.5.1.3 Domínio 2 96

3.5.1.4 Domínio 3 96

3.5.1.5 Domínio 4 97

3.5.1.6 Domínio 4A 98

3.5.1.7 Domínio 5 99

3.5.1.8 Reta B 99

3.5.1.9 Determinação de x2lim e x3lim 100

Dimensionamento das barras de concreto armado


3.6 101
submetidas a momento fletor
Dimensionamento das barras de concreto armado
3.7 105
submetidas a força cortante
3.7.1 Cálculo da tensão de cisalhamento 105

3.7.2 Comportamento resistente 111

3.7.3 Modelo de treliça 112

3.7.4 Modos de ruina 114

3.7.4.1 114
Ruínas por flexão
3.7.4.2 Ruptura por falha de ancoragem no apoio 114

3.7.4.3 Ruptura por esmagamento da biela 115

3.7.4.4 Ruptura da armadura transversal 115

Ruptura do banzo comprimido devida ao


3.7.4.5 116
cisalhamento
3.7.4.6 Ruína p/flexão localizada da armadura longitudinal 116

3.7.5 Modelos de cálculo 117


3.7.5.1 Verificação da compressão na biela 118

3.7.5.2 Cálculo da armadura transversal 119

3.7.6 Armadura transversal mínima 121

3.7.7 Força cortante relativa à taxa mínima 122

3.7.8 Detalhamento dos estribos 122

4 METODOLOGIA E RESULTADOS 122

Memória de Cálculo para muro de arrimo de


4.1 125
alvenaria de pedra argamassada (Ver Apêndice 1)

4.1.1 Dados 125

4.1.1.1 Materiais 125

4.1.1.2 Drenagem 125

4.1.1.3 Elementos do projeto 126

4.2 Memória de Cálculo para Cortina em estacas 127


rotativa justapostas (Ver Apêndice 2)

4.2.1 Dados 127

4.2.1.1 Materiais 127

4.2.1.2 Elementos do projeto 128

4.3 Memória de Cálculo para muro de arrimo de flexão 131


(Ver Apêndice 3)

4.3.1 Descrição geral 132

4.3.2 Características 132

4.3.3 Métodos de análise 133


4.3.4 133
Verificação do equilíbrio do muro

4.3.5 136
Verificação das pressões no solo
4.3.6 136
Verificação da resistência dos elementos do muro
4.3.7 Dados de entrada 137

4.3.8 137
Definição dos carregamentos atuantes

4.3.9 137
Definição da geometria

4.3.10 139
Análises e resultados

4.3.10.1 139
Empuxos ativos

4.3.10.2 Verificação da segurança ao tombamento e ao 144


deslizamento

4.3.10.3 148
Empuxo passivo

4.3.10.4 151
Verificação ao Deslizamento

4.3.10.5 152
Verificação das pressões na fundação

4.3.10.6 153
Deslocamento

4.3.10.7 Dimensionamento dos componentes estruturais do 154


muro

4.3.10.8 157
Cuidados especiais

CONSIDERAÇÕES
161
FINAIS

REFERÊNCIAS 163
APÊNDICES 165

Memória de Cálculo do muro de arrimo de alvenaria


Apêndice 1
de pedra argamassada

Apêndice 2 Memória de Cálculo da cortina de estacas

Apêndice 3
Memória de Cálculo do muro de flexão

Anexos 165

Anexo 1 Plantas de Locação das Sondagens dos furos 01 a


07

Plantas de Localização do empreendimento, do


Muro de arrimo de pedra argamassada, Forma e
Anexo 2 armação da cortina de estacas, e forma e armação
do muro de flexão.

Anexo 3 Declaração de direitos autorais

Anexo 4
Declaração de direitos autorais
14

INTRODUÇÃO

Este trabalho tem como objetivo geral, tomando-se como base para os
cálculos os parâmetros e reações presentes nos fundamentos de mecânica dos solos
e no método da rigidez, o dimensionamento e o detalhamento de uma estrutura de
contenção de alvenaria de pedra argamassada, uma cortina de cortina de contenção

em estacas escavadas e armadas justaposta em balanço, que permitirá a delimitação


entre os dois conjuntos residenciais para a construção de um subsolo de pavimento
de garagens, e um muro de flexão, para arrimar metade do bloco A.
A Região Metropolitana do Recife está aumentando a cada dia devido ao
crescimento econômico e populacional, e, com isso, surge à necessidade de construir
mais moradias baratas e práticas. Com este crescimento é necessário construir em
locais mais afastados na tentativa de esvaziamento dos grandes centros urbanos,
dando por se buscar os locais topográficos mais variados como, encostas, aclives e
declives, onde é necessário aplicar alguns tipos de contenções.

Os empreendimentos a serem implantados têm as seguintes características:

RESIDENCIAL DA FAMÍLIA I:

O empreendimento é um Condomínio formado por dois Blocos de Edifícios,


exclusivamente residenciais, denominados Blocos A e B, e chamados de
RESIDENCIAL DA FAMÍLIA I, tendo ambos, apenas dois Pavimentos cada um,
sendo um Pavimento Térreo com 928,68 m² e um Pavimento Superior com 856,92
m², totalizando uma área de 1.786,60 m². Cada bloco é composto de 08 (oito)
unidades autônomas por andar, totalizando 32 (trinta e dois) apartamentos, sendo
que existem dois tipos de apartamentos, o apartamento do tipo 01 (zero um) com
área privativa de 46,78 m², e o tipo 02 (zero dois) com 48,52 m², tendo cada
apartamento uma VAGA DE GARAGEM de 11,00 m² (2,20x5,00 m), tendo ainda o
condomínio uma PORTARIA na entrada do mesmo com 16,41 m² de área de
construção e uma ÁREA DE APOIO localizada entre os dois blocos de edifícios, com
área total de construção de 56,35 m², totalizando uma área total de construção de
1.786,60 m²., e área coberta de 995,03 m², tendo ainda cada bloco 1(uma)CAIXA D'
15

ÁGUA SUPERIOR de 21.600 l e 1(uma) CAIXA D' ÁGUA inferior de 21.000 l para
atender aos dois blocos de edifícios residenciais.

RESIDENCIAL DA FAMÍLIA II:

O empreendimento é um condomínio formado por dois Blocos de Edifícios,


exclusivamente residenciais, denominados Blocos A e B, e chamados de
RESIDENCIAL DA FAMÍLIA II, tendo o Bloco A um pavimento Pilotis, com 111,00 m²,
com vagas cobertas de Garagem de 2,20x5,00 m, para 07 (sete) automóveis e mais
três Pavimentos cada um, sendo um Pavimento Térreo com 929,68 m² e dois
Pavimentos Superiores com 856,92 m².

Cada bloco é composto de 08 (oito) unidades autônomas por andar,


totalizando 48 (quarenta e oito) apartamentos, sendo que existem dois tipos de
apartamentos, o apartamento do tipo 01 (zero um) com área privativa de 46,78 m², e
o tipo 02 (zero dois) com 48,52 m², tendo cada apartamento uma VAGA DE
GARAGEM de 11,00 m² (2,20x5,00 m), tendo ainda o condomínio uma PORTARIA
na entrada do mesmo com 16,41 m² de área de construção e uma ÁREA DE APOIO
localizada entre os dois blocos de edifícios, com área total de construção de 56,35
m², totalizando uma área total de construção de 2.755,12,52 m²., e área coberta de
942,73 m², tendo ainda cada bloco 1(uma)CAIXA D' ÁGUA SUPERIOR de 21.600 l e
1(uma) CAIXA D' ÁGUA inferior de 61.200 l para atender aos dois blocos de edifícios
residenciais.

Muros de arrimo são estruturas destinadas a conter massas de solo,


provenientes do terreno natural, do corte de um talude ou do aterro de um terreno,
evitando que o solo assuma a sua inclinação natural. Os muros são solicitados
através de um empuxo passivo ou ativo. Passivo quando o muro atua sobre a terra
(escoramento de valas e galerias) e ativo quando a terra atua sobre o muro.

Nas obras civis, a contenção de taludes é necessária e da maior importância,


a exemplo das obras de escavações, principalmente naquelas localizadas em áreas
limitadas, áreas urbanas. A necessidade de realização destas contenções nesse tipo
de obra está diretamente relacionada à segurança, uma vez que as escavações são
16

feitas geralmente no solo, um material muito heterogêneo, cujas propriedades podem


variar drasticamente, tornando-o susceptível a desmoronamentos que põem em risco
toda a obra, inclusive os equipamentos, mas, principalmente, as vidas humanas que
nela trabalham.

Há necessidade de obras de contenção, também em encostas, onde a


execução de cortes provoca alterações no estado de tensões atuantes no maciço, o
que tende a instabilizar a região a montante do talude. As tensões de tração que vêm
a ocorrer podem provocar o aparecimento de trincas, às quais podem preencher-se
de água, fato esse associado a inúmeros casos de escorregamentos.

RELEVÂNCIA DA MONOGRAFIA

Neste trabalho, serão identificados os tipos de muro de arrimo que devem ser
projetados para a execução das contenções no referido residencial, norteados pelos
itens abaixo:
 Descrever os tipos de muro de arrimo e sua aplicação;
 Listar alternativas encontradas por este estudo;

Nesse sentido, acredita-se que ao identificar o tipo adequado de muro arrimo
e os devidos controles da execução verificados nas coordenadas do projeto e
confronta-los com o controle dos materiais empregado para os tipos de solos
encontrados, proporcionará maior segurança na realização do mesmo.
Optou-se por esta pesquisa para melhor compreender como os muros de
arrimos de gravidade, de flexão e cortinas podem ser recomendáveis como soluções
para a construção, racionalizando o processo, reduzindo custos e prazos, com maior
produtividade e segurança.
Além da utilidade prática cotidiana dos profissionais de engenharia este
trabalho também servirá como fonte de pesquisa para pesquisas semelhantes e
continuidade para aprofundamento do assunto hora versada, como forma de
complementar os resultados desta investigação.

Confronta-los com o controle dos materiais empregado para os tipos de solos


encontrados, proporcionará maior segurança na realização do mesmo.
17

Optou-se por esta pesquisa para melhor compreender como os muros de


arrimos, de flexão e cortinas podem ser recomendáveis como solução para a
construção, racionalizando o processo, reduzindo custos e prazos, com maior
produtividade e segurança.
Além da utilidade prática cotidiana dos profissionais de engenharia este
trabalho também servirá como fonte de pesquisa para pesquisas semelhantes e
continuidade para aprofundamento do assunto hora versada, como forma de
complementar os resultados desta investigação.

ESCOPO DA MONOGRAFIA

O presente estudo é dividido em 4 capítulos, sobre os quais são apresentados


uma breve descrição a seguir:

No primeiro capítulo faz-se a introdução ao assunto com apresentação de


problemas relacionados à instabilidade de taludes, sejam eles em casos de encostas
naturais ou em obras de engenharia, e apresentamos o caso a ser estudado, bem
como também é dado ênfase à importância das obras de contenção.

O segundo consiste no histórico e na descrição dos tipos de estruturas de


contenções do trabalho, além de apresentar uma revisão bibliográfica dos temas a
serem tratados.

No terceiro é feita a introdução dos conceitos iniciais para entendimento do


projeto e dimensionamento das estruturas de concreto armado

O quarto representa a metodologia empregada no trabalho, caracterizando as


principais etapas para a elaboração do estudo. É feita a enumeração dos tipos de
obras de contenção consideradas, bem com a descrição dos parâmetros utilizados
para o pré-dimensionamento das estruturas.

Por fim, no quinto são apresentadas as conclusões do trabalho.


18

1 CÁLCULO DAS ESTRUTURAS DE CONTENÇÕES

1.1 Histórico

Estruturas de contenção são construídas para contraporem-se aos empuxos


gerados em maciços de terra onde as condições de equilíbrio foram alteradas por
escavações, cortes ou aterros.
Estas estruturas estão entre as mais antigas construções humanas (Carvalho,
1991). No entanto, o seu dimensionamento utilizando modelos teóricos, só se
desenvolveu a partir do século XVIII (Hachich e outros 1998). Os registros mais
antigos de obras de contenção apontam para muros de alvenaria de argila contendo
aterros na região sul da Mesopotâmia construído por sumerianos entre 3200 e 2800
A.C. no entanto, o seu dimensionamento utilizando modelos teóricos, só se
desenvolveu a partir do século XVIII.
Em 1773, Coulomb apresentou seu trabalho “Essai sur une dês régles de
maximis ET minimis à quelques problémes de statique, relatifs à I’achitecture”. O
trabalho de Coulomb constitui-se, ainda hoje, numa das bases principais dos
métodos de dimensionamento de muros de arrimo.
Mesmo com o desenvolvimento da mecânica dos solos, o modelo idealizado
por Coulomb continua a ser amplamente aplicado
Conforme descrito por Almeida Barros (Obras de Contenção – Maccaferri –
Agôsto/2005) estruturas de contenção são obras civis construídas com a finalidade
de prover estabilidade contra a ruptura de maciços de solos. São estruturas que
fornecem suporte a estes maciços e evitam o escorregamento causado pelo seu
peso próprio ou carregamentos externos. Exemplos típicos de contenções são os
muros de arrimo, as cortinas de estacas prancha e as paredes diafragma. Embora a
geometria, construção e os materiais utilizados nas estruturas citadas sejam muito
diferentes, todas elas são construídas para conter a ruptura do maciço, suportando
as pressões laterais exercidas por ele.
É frequente a utilização de estruturas de contenção em escavações de solos a
céu aberto, execução de fundações, de obras públicas subterrâneas, estabilização de
taludes rodoviários, criação de plataformas, entre outros (Hachich e outros 1998).
19

Tomando-se como base para os cálculos os parâmetros e reações presentes


nos fundamentos de mecânica dos solos e no método da rigidez.
Há vários tipos de estruturas de contenção. O primeiro estágio no projeto de
destas estruturas é avaliar quais delas são as mais adequadas para a necessidade
da proposta.
. A intensa ocupação urbana, nas grandes cidades, gera a necessidade de
execução de obras subterrâneas. As escavações em obras subterrâneas provocam a
movimentação da massa de solo próxima às mesmas, devido à perda de material,
variação no estado inicial de tensões, rebaixamento do lençol freático, com eventual
adensamento de solos saturados. A determinação dos parâmetros de resistência ao
cisalhamento do solo, para solicitação horizontal, e a metodologia de cálculo para
determinação dos esforços causados pelo empuxo do solo, são de fundamental
importância, para execução de uma construção com segurança adequada.
A análise de uma estrutura de contenção consiste na análise do equilíbrio do
conjunto formado pelo maciço de solo e a própria estrutura. Este equilíbrio é afetado
pelas características de resistência, deformabilidade, permeabilidade e pelo peso
próprio desses dois elementos, além das condições que regem a interação entre
eles. Estas condições tornam o sistema bastante complexo e há, portanto, a
necessidade de se adotarem modelos teóricos simplificados que tornem a análise
possível. Estes modelos devem levar em conta as características dos materiais que
influenciam o comportamento global, além da geometria e das condições locais.
Do lado do maciço devem ser considerados seu peso próprio, resistência,
deformabilidade e geometria. Além disso, são necessários dados sobre as condições
de drenagem local e cargas externas aplicadas sobre o solo. Do lado da estrutura
devem ser considerados sua geometria, material empregado e sistema construtivo
adotado. Finalmente, do ponto de vista da interação devem ser consideradas na
análise as características das interfaces entre solo e a estrutura.

1.2 Estado de equilíbrio plástico em solos

Uma massa de solo está em estado plástico se cada partícula se encontra na


borda da linha de ruptura.
Rankine investigou os estados de tensão correspondentes aqueles que se
produzem simultaneamente em todos os pontos de uma massa semi-infinita de solo
20

sujeita ao seu próprio peso denominando-os de estados de equilíbrio plástico de


Rankine.
Os estados de equilíbrio plásticos de Rankine estão representados na Fig. 2.1,
onde, ab representa a superfície horizontal de uma massa semi-infinita de areia, em
coesão, de peso unitário Ɣ, e E representa um elemento de areia de altura z e com
área unitária.
Como o prisma é simétrico em relação a qualquer plano vertical, a pressão
normal na base e a pressão normal nas paredes verticais são tensões principais.

Figura 1.2.1 - Estado de equilíbrio plástico (MARCHETTIi, 2008) Comentado [R1]: O NOME DA FIGURA É NA PARTE
SUPERIOR DA ILUSTRAÇÃO E A FONTE NA PARTE
INFERIOR. ALTERAR NO TEXTO COMPLETO

A tensão normal na base, na altura z vale σv= Ɣ.z e é uma tensão principal. As
tensões σh perpendiculares a σv são também principais e existe uma relação entre

σv e σh dada por:
K = δh/ δv (eq. 01) .

O valor K, de acordo com os ensaios de compressão axial, pode assumir


qualquer valor entre os limites Ka e Kp sendo :

Ka = tan² (45 – ø/2), e Kp = tan² (45 – ø/2), (eq. 02)


21

A relação entre as duas tensões principais de um material granular, Nø não


deve exceder ao valor de P1/P2 = Nø = tan² (45 – ø/2), onde ø é o ângulo de atrito
interno do solo.
A pressão vertical pv da massa de areia indicada na figura 1, pode ser tanto a

tensão principal maior como a menor, assim a relação K=σh/σv pode assumir
qualquer valor entre os limites:

Ka = ph /p v = 1/ Nø = tan2 (45 – ø/2) (eq. 03)


Kp = ph /p v = Nø = tan2 (45 + ø/2) (eq. 04)

Em uma massa de areia em repouso, depositada pela natureza, ou


artificialmente pelo homem, K adquire um valor k0 intermediário entre Ka e Kp de
modo que:
ph = k0 . p v , (eq. 05)

onde K0 é uma constante empírica que se denomina coeficiente de pressão


lateral do solo em repouso, e cuja magnitude depende da densidade relativa da areia
e do processo de formação do depósito.
O valor de Ka se denomina de coeficiente de empuxo ativo. Quando a massa
de terra se expande em duas seções, o valor de K0 diminue até que alcança o valor
de Ka , neste preciso momento, a areia entra em estado ativo de Rankine, e a uma
profundidade z a pressão horizontal é igual a :

ph = Ka . p v = Ka .Ɣ.z = Ɣ.z.(1/ Nø), (eq. 06)

Uma compressão de toda a massa produz um aumento de valor de Ky,


quando este valor se faz igual a Kp , se chega ao estado passivo de Rankine, e a
uma profundidade qualquer z a pressão horizontal é de :

ph = Kp.p v = Kp.Ɣ.z = Ɣ.z.Nø, (eq. 06)


22

em que kp é o coeficiente de empuxo passivo.

O equilíbrio entre os grãos de um solo, fazendo-se abstenção da presença


d’água, é expresso pela equação de resistência, determinada em laboratório:

Τ = c + δ. Tg ø (eq. 07)

Τ = Tensão de cisalhamento
δ = Tensão normal
Ø = ângulo de atrito entre os grãos
C= coesão entre os grãos

Desprezando-se o valor de c (coesão), ou admitindo o seu valor muito baixo, temos:

Figura 1.2.2 (MOLITERNO,, 1980)

Para que não haja ruptura, é necessário que ω< ø, sendo ø também
designado como ângulo de repouso do material ou talude natural, ou ângulo de atrito
interno do material (solo).

Na situação limite , tg ø = τ/δ (eq. 08)


23

1.3 Capacidade de carga dos solos

1.3.1 – Introdução e definições

O problema da determinação da capacidade de carga dos solos é dos mais


importantes para o engenheiro, que atua na área de construção civil, particularmente
para o desenvolvimento de projeto de fundações.

As fundações superficiais são aquelas em que a profundidade de


assentamento da fundação no solo é menor ou igual à sua largura. Um outro tipo de
fundação, chamada profunda, possui o comprimento maior que sua largura (figura
1.3.1).

Figura. 1.3.1 - Principais tipos de fundações. Superficiais: bloco, sapata, viga e radier,
Profundas: estacas metálicas, pré-moldadas, moldadas “in situ”, escavadas -
tubulões. (MOLITERNO,1980)

Para este estudo são previamente definidos dois critérios de ruptura: ruptura
“generalizada” – frágil (curva C1) e ruptura “localizada” – plástica (curva C2), definidos
mais adiante no item 1.3.2, ilustrado na figura 2.6.

* Capacidade de carga de ruptura (ou limite) – Qr: é a carga limite (ou máxima) a
partir da qual a fundação provoca a ruptura do terreno e se desloca sensivelmente
24

(ruptura frágil ou “generalizada”), ou se desloca excessivamente (ruptura plástica ou


“localizada”), o que pode provocar a ruína da superestrutura.

* Capacidade de carga de segurança à ruptura – Qseg: é a maior carga (transmitida


Pela fundação) a que o terreno resiste, com segurança, à ruptura,
independentemente das deformações que possam ocorrer.

Qseg = Qr / FS, sendo FS, o fator de segurança (eq. 09)


.
* Capacidade de carga admissível – Qadm: é a maior carga transmitida pela fundação
que o terreno admite, em qualquer caso, com adequada segurança à ruptura e
sofrendo deformações compatíveis com a sensibilidade da estrutura aos
deslocamentos da fundação:
Deve-se ter, portanto: Qadm < Qseg (eq. 10)

Figura. 1.3.2 - Curva carga-recalque de uma fundação em um dado terreno (solo com
ruptura do tipo frágil – valor máximo bem pronunciado) (CAPUTO, 2013)

No caso de fundações diretas tanto se pode trabalhar com carga Q como


pressões médias p, sendo a pressão média:

P = Q/área da base = Q/B*L, (eq. 11)


25

Não são muito comuns os acidentes de fundação devidos à ruptura do terreno. Mais
comuns são os causados por recalques excessivos. Um exemplo clássico da
literatura técnica, relatado pelo professor Homero Pinto Caputo, é o caso indicado
esquematicamente na figura 7. 03. Trata-se de um conjunto de silos construído sobre
um radier geral, com 23 x 57 m.

Figura. 1.3.3 - Acidentes de fundação: ruptura do terreno (CAPUTO, 1986)

Em consequência de uma dissimetria de carregamento, houve a ruptura do


solo e o colapso da obra, que em 24 horas tombou para a posição mostrada.

Provavelmente a elevação lateral do nível do solo ajudou a mantê-lo,


impedindo que tombasse completamente. Entre nós, um exemplo de acidente devido
à ruptura de fundação foi o caso do Edifício São Luiz Rei, no Rio de Janeiro, ocorrido
em 30/01/58. O controle de recalques, iniciado no dia 27 do mesmo mês, registrou
uma velocidade de recalques de 2 mm/h, atingindo no dia do acidente a 4 mm/h.

1.3.2 – Pressão de ruptura x pressão admissível

A pressão de ruptura ou capacidade de carga de um solo é, assim, a pressão


pr, que aplicada ao solo causa a sua ruptura. Adotando um adequado coeficiente de
segurança, da ordem de 2 a 3, obtém-se a pressão admissível, a qual deverá ser
“admissível” não só à ruptura com também às deformações excessivas do solo.
26

O cálculo da capacidade de carga do solo pode ser feito por diferentes


métodos e processos, embora nenhum deles seja matematicamente exato.

Coeficiente de segurança – Não é simples a escolha do adequado coeficiente


de segurança nos cálculos de Mecânica dos Solos. Na literatura técnica encontramos
numerosas regras particulares à natureza de cada obra. Para um estudo moderno do
assunto vejam-se os “critérios” de Brinch Hansen, como mencionado pelo Professor
Dirceu de Alencar Velloso em uma conferência. Um estudo abrangente do assunto é
apresentado pelo Prof. A. J. da Costa Nunes em Acidente de Fundações e Obras de
Terra (Conferência na Sociedade Mineira de Engenheiros – 1979).
Tendo em vista que os dados básicos necessários para o projeto e execução
de uma fundação provêm de fontes mais diversas, a escolha do coeficiente de
segurança é de grande responsabilidade. A tabela 7. 01 resume os principais fatores
a considerar, e a tabela 7. 02 apresenta valores sugeridos de fatores de segurança a
considerar.

Tabela 1.3.1– Fatores que influenciam na escolha do coeficiente de segurança

Tabela 1.3.2 – Valores de Fatores de segurança a considerar


27

A determinação da capacidade de carga pode ser feita tanto teoricamente,


empregando fórmulas teóricas ou semí-empíricas existentes ou experimentalmente,
através da execução de provas-de-carga. A seguir serão apresentadas as teorias de
Rankine e a teoria de Terzaghi para o cálculo da capacidade de carga dos solos

1.3.3 - Fórmula de Rankine

Para deduzi-la, consideremos em um solo não coesivo uma “fundação


corrida”, ou seja, uma fundação com forma retangular alongada.
Em correspondência ao vértice A, assinalemos as três zonas da Figura 7. 04.
Escrevendo a condição de equilíbrio entre a pressão da zona 1 que suporta a
fundação e a pressão da zona 2 contida pela altura h de terra, tem-se:

δ’ = pr * Ka (eq. 12)

δ’ = pr*= tan2 (45 – ø/2) (eq. 13) e

δ’’ = δ’ * tan2 (45 – ø/2) (eq. 14)

Figura. 1.3.4 – Fórmula de Rankine (CAPUTO, 2013)

Admitindo-se que se estabeleçam os estados de Rankine.


28

Como se sabe, quando uma massa de solo se expande (pressões ativas) ou


se contrai (pressões passivas), segundo Rankine, formam-se planos de ruptura
definidos por um ângulo de (450 + ø/2) ou (450 - ø/2) com a horizontal, de acordo *

Figura. 1.3.5 – Inclinação dos planos de ruptura (CAPUTO, 2013)

Para que não ocorra ruptura do terreno deve-se ter

δ’’ < Ɣ * h , ou pr* tg4 (45 – ø/2) < Ɣ * h (eq. 15)

Dai Pr = ɣ * h * tg4 * (450+ ø/2) = Ɣ * h * Kp 2 (eq. 16) ,

que é a pressão limite de ruptura de Rankine

Pela aplicação do teorema dos estados correspondentes de Caquot, pode-se


generalizar esta fórmula aos solos coesivos. Com efeito, substituindo pr por:

, (eq. 17)

que é a expressão para o empuxo


Para solos puramente coesivos (ø = 0º): pr = ɣh + 4c.
29

Para h = 0: pr = 4c, valor considerado bastante conservador

1.3.4 - Fórmula de Terzaghi

A teoria de Terzaghi (1943), desenvolvida baseada nos estudos de Prandtl


(1920) para metais, é a mais difundida para o caso de fundações diretas ou rasas.
Terzaghi estudou a capacidade de carga de ruptura para este tipo de
fundações em solos de diversas categorias, ou seja, solos com atrito e coesão (c, j),
solos não-coesivos ou granulares (c = 0) e solos puramente coesivos (j= 0).
Para seu estudo foram definidos dois critérios de ruptura: ruptura
“generalizada” –frágil (curva C1) e ruptura “localizada” – plástica (curva C2), definidos
na figura 1.3.6.

F igura. 1.3.6 – Critério de ruptura de Terzaghi (CAPUTO, 2013)

Nos solos de ruptura tipo C1, à medida que a carga (ou pressão) aumenta, o
material resiste, deformando-se relativamente pouco, vindo a ruptura acontecer
quase que bruscamente. É como se toda a massa rompesse a um só tempo,
generalizadamente. A pressão de ruptura é, nesse caso, bem definida, dado pelo
valor pr do gráfico. Quando atingida, os recalques tornam-se incessantes e é
denominada por ruptura generalizada, sendo típica de solos pouco compressíveis
(compactos ou rijos).
30

Nos solos de ruptura tipo C2, as deformações são sempre grandes e


aceleradamente crescentes. Não há uma ruptura definida. É como se o processo de
ruptura fosse dado paulatina e constantemente, desde o início do carregamento, em
regiões localizadas e dispersas na massa do solo. A pressão de ruptura para este
caso é dada por p’r que, segundo Terzaghi, corresponde ao ponto “a”, em que há
uma mudança no gráfico, com passagem da curva inicial para um trecho
aproximadamente retilíneo final. Este tipo de ruptura é denominado por ruptura
localizada, sendo típica de solos muito compressíveis (fofos ou moles).

Quando a ruptura é atingida, o terreno desloca-se, arrastando consigo a


fundação , como mostrado na fig. 1.3.7. O solo passa, então, do estado “elástico” ao
estado “plástico”. O deslizamento ao longo da superfície ABC é devido à ocorrência
de tensões de cisalhamento maiores que a resistência ao cisalhamento do solo

Figura. 1.3.7- Solo arrastando a fundação (CAPUTO, 2013)

Recentemente tem sido mencionado um outro tipo de ruptura, que ocorre por
puncionamento. A teoria de Terzaghi parte de considerações semelhantes às de
Prandtl, relativas à ruptura plástica dos metais por puncionamento. Retomando esses
estudos, Terzaghi aplicou-os ao cálculo da capacidade de carga de um solo
homogêneo que suporta uma fundação corrida e superficial.

Segundo esta teoria, o solo imediatamente abaixo da fundação forma uma


“cunha”, que em decorrência do atrito com a base da fundação se desloca
verticalmente, em conjunto com a fundação. O movimento dessa “cunha” força o solo
adjacente e produz então duas zonas de cisalhamento, cada uma delas constituída
por duas partes: uma de cisalhamento radial e outra de cisalhamento linear (figura
1.3.8).
31

Figura 1.3.8 – Zonas de cisalhamento radial e linear (CAPUTO, 2013)

Assim, após a ruptura, desenvolvem-se no terreno de fundação três zonas: I, II


e III, sendo que a zona II admite-se ser limitada inferiormente por um arco de espiral
logarítmica, como mostra a fig. 1.3.9

A capacidade de suporte da fundação, ou seja, a capacidade de carga, é igual


à resistência oferecida ao deslocamento pelas zonas de cisalhamento radial e linear.
Da Figura 1.3.9, obtém-se:

Figura 1.3.9 – Zonas de ruptura segundo teoria de Terzaghi (CAPUTO, 2013)


32

Para equilíbrio da cunha, de peso P0, tem-se:

Ou ainda:

Entrando-se com a consideração do valor de Ep, que omitiremos para não


alongar, a expressão final obtida por Terzaghi escreve-se:

, (eq. 18)

A fórmula obtida refere-se a fundações corridas, onde Nc, NƔ e Ng são fatores


de capacidade de suporte, função apenas do seu ângulo de atrito (ø) do solo e
definidos por:

Estes valores são apresentados na tabela 2.3.4


33

Os termos adimensionais NC, Nˠ , e Nq, podem ser escritos, da seguinte forma:

, (eq. 19)

,(eq. 20)

, ,(eq. 21) e:

Para os dois tipos de ruptura obtém-se, em função de ø, os valores de Nc, Nq e


Nˠ, fornecidos através da 1.3.10, segundo Terzaghi e Peck, (1948).

Figura 1.3.10 – Valores dos fatores de capacidade de carga (CAPUTO, 2013)

Para fundações de base quadrada de lado 2b :


prb = 1,3 * c * Nc + 0,8 * Ɣ * b * Nˠ + Ɣ * h * Nq , ,(eq. 21)

e de base circular de raio r :


34

prr = 1,3 * c * Nc + 0.6 * Ɣ * r * Nˠ + Ɣ * h * Nq , (eq. 22)

que são fórmulas semí-empíricas

A análise até aqui exposta refere-se ao caso de “ruptura generalizada”. Em se


tratando de “ruptura localizada”, os fatores a serem usados serão Nc’, Nˠ’ e Nq’
(Figura 1.3.10), adotando-se um ’ dado por Os valores N’
são obtidos entrando-se com ’ nas linhas cheias ou com  nas linhas tracejadas.t

Explicitando o significado dos termos da fórmula de Terzaghi, pode-se escrever,


de acordo com a fig. 1.3.11, a expressão de cálculo da capacidade de carga do solo
como a soma de três parcelas, sendo elas referentes à contribuição da: Coesão do
solo de contato da fundação, Atrito do solo de contato da fundação e sobrecarga do
solo acima da cota de assentamento da fundação

, (eq. 23)

Figura 1.3.11 – Definições de parâmetros a serem considerados na determinação da


capacidade de carga do solo de uma fundação superficial (direta ou rasa) (CAPUTO,
2013)

Para os solos puramente coesivos, com ø = 00, Nq =1 e Nˠ =0 e Nc =5,7,


obtem-se: pr = 5,7*c + Ɣ*h, (eq. 23)
35

Se h=0 : pr =5,7*c, o que dará : pr =5,7*c, (eq. 24) para fundações corridas e
:
:prb = prr = 5,7*c x 1,3*c = 7,4*c, (eq. 25), para fundações quadradas e circulares

Para as areias (c=0), tem-se: pr=Ɣ1*b*Nˠ+Ɣ2 *h*Nq , (eq. 25), mostrando que a
capacidade de carga das areias é proporcional à dimensão da fundação e aumenta
com a profundidade.
-
No caso da ocorrência do N.A :

Abaixo do nível d’água deve-se usar o peso específico de solo submerso, o que
reduzirá o valor da capacidade de carga.

Vimos que para as fundações corridas de comprimento L e largura 2b, em argilas


(ø = 00): pr = c * Nc + Ɣ * h

Introduzindo agora as razões 2*b/L e h/2*b que deverá ser menor que 2,5), o
valor de Nc é obtido pela fórmula de Skempton :

Para fundações quadradas e circulares, constata-se experimentalmente que o


valor máximo de Nc , é igual a 9
, (eq. 26)
Nc = (5 + 2b/L) * (1 + h/10b)

Para fundações de seção diferente (não corrida), e para fundações de base


quadrada de lado b, tem-se:
, (eq. 27)

E para fundações com base circular de raio r:

, (eq. 28)
36

1.3.5 - Fórmula generalizada ( Fórmula de Meyerhof)

Pela fórmula de Terzaghi vimos que para carga vertical centrada e fundação
alongada, a capacidade de carga dos solos é dada pela fórmula:
, (eq. 29)

onde B, neste caso, é a largura total da fundação.


Obs.: Veja que b = ½ B, sendo “b” a semi-largura

Generalizando-a para as fundações de diferentes formas, que tem a sua


origem principalmente nos estudos de Meyerhof, ela se escreve :

, (eq. 30)

Os fatores de capacidade N são dados pela tabela 1.3.3 (proposição de


Meyerhof como se vê na figura 2.14) e os coeficientes de forma pela tabela 1.3.4.

Figura 1.3.12 – Zonas de ruptura segundo a proposição de Meyerhof


(CAPUTO, 2013)
37

Tabela 1.3.3. – Valores dos fatores de capacidade segundo proposição de Meyerhof,


a partir de Vésic (1975)

Tabela 1.3.4 – Valores dos coeficientes de forma

1.3.6 Influência de ø na extensão e profundidade da superfície de deslizamento:

De especial interesse é observar a influência da variação do ângulo de atrito


interno ø na extensão e profundidade da superfície de deslizamento, como indicado
na figura 1.3.13.

Figura 1.3.13 – Influência do ângulo de atrito e profundidade (CAPUTO, 2013)


38

1.3.7 - Relação entre tensão admissível e N (SPT)

Sondagem SPT também conhecido como sondagem à percussão ou


sondagem de simples reconhecimento, é um processo de exploração e
reconhecimento do subsolo, largamente utilizado na engenharia civil para se obter
subsídios que irão definir o tipo e o dimensionamento das fundações que servirão de
base para uma edificação. A sigla SPT tem origem no inglês (standard penetration
test) e significa ensaio de penetração padrão.SPT Standard Penetration Test O
ensaio consiste na cravação vertical no solo, de um cilindro amostrador padrão -
Barrilete, através de golpes de um martelo com massa padronizada de 65 kg, solto
em queda livre de uma altura de 75 cm. São anotados os números de golpes (N)
necessários à cravação do amostrador em três trechos consecutivos de 15 cm sendo
que o valor da resistência à penetração (NSPT) consiste no número de golpes
aplicados na cravação dos 30 cm finais. Após a realização de cada ensaio, o
amostrador é retirado do furo e a amostra é coletada, para posterior classificação que
geralmente é feita pelo método Tátil-visual.

Entre os projetistas brasileiros de fundações tem sido empregado com certa


freqüência o índice de medida da “resistência” (na verdade não é valor de resistência
e sim apenas um índice) à penetração do amostrador padrão utilizado nas
sondagens à percussão (valor do SPT).

As tabelas a seguir (1.3.5 e 1.3.6), publicadas pela Maria José Porto, em


Prospecção Geotécnica do Subsolo (1979), traduzem relações entre o índice de
resistência à penetração (SPT) com taxas admissíveis para solos argilosos e
arenosos
Tabela 1.3.5 - Relações entre índice de resistência à penetração (SPT) com as taxas
admissíveis para solos argilosos (Maria José Porto)
39

Tabela 1.3.6 - Relações entre índice de resistência à penetração (SPT) com as taxas
admissíveis para solos arenosos (Maria José Porto)

Segundo Botelho e Carvalho (2007) :

O critério tanto para sapatas corridas quanto para sapatas isoladas :

δadm = (10 SPT/5T/m2) = (SPT/5) kgf/cm2 , válido para 5 < SPT < 20 golpes

onde : SPT corresponde à camada, sobre a qual iremos assentar a fundação


Note-se que esta fórmula é válida para as fundações rasas.

Para maiores profundidades (caso de tubulões) ocorre a chamada “fundação


confinada” e para o mesmo SPT a capacidade de carga do solo cresce.

1.4 Empuxo de terras

1.4.1 Generalidades

Entende-se por empuxo de terra a ação produzida pelo maciço terroso sobre
as obras com ele em contato.
A determinação do valor do empuxo de terra é fundamental na análise e
projeto de obras como muros de arrimo, cortinas de estacas-pranchas, construções
de subsolos de edifícios encontros de pontes, etc.
É um dos temas mais intricados da Mecânica dos Solos. Todas as teorias
propostas admitem hipóteses simplificadoras que não expressam totalmente a
realidade dos solos.
40

O empuxo geralmente é calculado por uma faixa de largura unitária da


estrutura de arrimo, não se considerando as forças que atuariam sobre as superfícies
laterais dessa faixa.
A magnitude do empuxo depende do desnível vencido pela estrutura de
arrimo, tipo e das características do solo, da deformação sofrida pela estrutura, da
posição do nível de água, da Inclinação do terrapleno, etc.

O valor do empuxo de terra, assim como a distribuição de tensões ao longo do


elemento de contenção, depende da interação solo-elemento estrutural durante todas
as fases da obra. O empuxo atuando sobre o elemento estrutural provoca
deslocamentos horizontais que, por sua vez, alteram o valor e a distribuição do
empuxo, ao longo das fases construtivas da obra.

Os termos ativo e passivo são usualmente empregados para descrever as


condições limites de equilíbrio correspondente ao empuxo do solo de retro-aterro
contra a face interna (tardoz1) do muro de arrimo ou contenção.

As figuras abaixo, mostram a variação de empuxos em função do


deslocamento. A pressão horizontal diminui ou aumenta, conforme o muro aproxima-
se ou afasta-se do maciço de terra.

Figura 1.4.1 – Movimento da parede ((CAPUTO, 2013)


41

FIgura 1.4.2 – Diagramas de pressões ativas e passivas

FIgura 1.4.3 – Empuxos ativos e passivos

1.4.2 Coeficientes de empuxo

Consideremos uma massa semi-infinita de solo e calculemos a pressão


vertical σv em uma profundidade z:
Onde ɣ é o peso especifico do solo, ver figura 1.4.4

A relação entre σh e σv, em repouso é chamado de K, que é o coeficiente de


empuxo
, (eq. 30)

Suponhamos agora, figura 1.4.5, que se elimine uma parte do material semi-
infinito e se a substitua por um plano imóvel, indeformável e sem atrito. Assim, o
estado de tensões da outra parte do maciço não variara

Fig. 1.4 4 – Grão no interior do solo,


42

Fig 1.4.5 – Estado de tensões,


( CAPUTO, 2013)

Nestas condições a pressão sobre o plano será horizontal, crescerá


linearmente com a profundidade e valerá: δh = K0 * δv = K0 * Ɣ*z

Tais pressões denominam-se pressões no repouso e K0 coeficiente de


empuxo no repouso, os seus valores obtidos experimentalmente pelo quadro 1 são:

QUADRO 1
SOLO K0 SOLO K0
0,70 a Areias 0,40 a
Argila
0,75 0,80
0,45 a Argilas 0 a 1,00
Areia solta
0,50
0,40 a Solos 0,50 a 1,00
Areia compacta
0,45 compactados
Argilas pastosas 1,00
Água 1,00
Autor: Homero Pinto Autor: M. Vargas
Caputo

Valor teórico de K0 - Consideremos fig. 1.4.4, um paralelepípedo elementar de


solo situado no interior de um maciço e a uma profundidade z. Confinado
lateralmente, a sua deformação horizontal unitária terá que ser nula e, portanto:
43

, (eq. 31)

Onde E é o modulo de elasticidade (ou melhor, módulo de deformabilidade) e


μ o coeficiente de Poisson do solo considerado.

Figura 1.4.6 – Paralelepípedo no interior do solo (CAPUTO, 2013)


Daí obtém-se , (eq. 32)

Os empuxos sobre estruturas que por sua natureza essencialmente rígida não
possam ou não devam sofrer deslocamentos apreciáveis, serão calculadas
utilizando-se o coeficiente K0.
A expressão “empuxo no repouso” Er foi introduzida por Donath em 1981.

O estado de repouso corresponde à pressão exercida pelo solo de retroaterro


sobre um muro de contenção rígido e fixo, ou seja, que não sofre movimentos na
direção lateral.

Admitamos agora que a parede AB (fig.1.4.7) sofra um pequeno deslocamento


Δ de sua posição primitiva. Em consequência, o terrapleno (maciço que está sendo
suportado) se deforma e aparecem tensões de cisalhamento, as quais conduzem a
uma diminuição do empuxo ativo sobre a parede.
44

Fig. 1.4.7 – Parede AB (CAPUTO, 2013)

Fig. 1.4.8 Parede AB deslocada de Δ(CAPUTO, 2013)

Se ao contrário, a parede AB desloca-se (fig. 1.4.8) de encontro ao terrapleno


(deslocamento C), também se produzem tensões de cisalhamento no solo, as quais,
agora fazem aumentar o empuxo sobre a parede. Quanto maior Δ, maior o empuxo.

Estes estados limites de equilíbrio ou estados plásticos – o primeiro, estado de


equilíbrio inferior, e o segundo equilíbrio superior, são também chamados de estados
de Rankine.

O empuxo de terra que atua sobre um suporte que, porém cede uma certa
quantidade que depende de suas características estruturais, denomina-se Empuxo
ativo (Ea). Ao contrário, quando a parede é que avança contra o terrapleno, teremos o
45

chamado Empuxo passivo (Ep). As pressões correspondentes chamam-se ativa e


passiva e os coeficientes, ativo (Ka) e passivo (Kp).

Pode-se dizer que o estado ativo é aquele que corresponde a uma distensão
do solo e estado passivo o que corresponde a uma compressão.
O gráfico da figura 1.4.9 mostra a variação dos empuxos em função dos
deslocamentos

Figura 1.4.9 – Variação dos empuxos, (CAPUTO, 2013)

Se a solicitação imposta ao solo envolver deformações laterais de compressão


ou de extensão, o equilíbrio é alterado e o solo se afasta da condição de repouso.

Dependendo da magnitude das deformações laterais, o estado de tensões no


solo pode situar-se entre as condições de repouso e de ruptura. Quando a solicitação
levar a uma condição de tensões com a circunferência de Möhr tangenciando a
envoltória, a resistência ao cisalhamento disponível do solo passa a ser integralmente
mobilizada e o elemento atinge o estado de equilíbrio plástico ou equilíbrio limite.

Terzaghi mediu o valor da força necessária para manter o anteparo estático,


denominado de “empuxo em repouso” (Eo), denominou a força sobre o anteparo no
momento da ruptura, de “empuxo ativo” (Ea), afastando o anteparo da massa de solo
e a força empurrando o anteparo contra a massa de areia até a ruptura de “empuxo
passivo” (Ep).
46

Figura 1.4.10 – Anteparos em deslocamento, (CAPUTO, 2013)

1.4.3 Tensões em um ponto

Nos estudos dos esforços por unidade de área, que atuam sobre um plano que
passa por um ponto de um corpo submetido a um campo tridimensional de forças
exteriores, consideram-se em geral a componente normal (σ) e as componentes
tangenciais (τ).

Por outro lado, sabe-se – o que consiste um dos princípios fundamentais da


Mecânica – que por um ponto qualquer é sempre possível encontrar três planos
cortando-se ortogonalmente entre si, tais que os esforços tangenciais, neles sejam
nulos.
Esses planos denominam-se planos principais e as tensões normais que
atuam sobre eles, tensões principais. Por ordem decrescente de valores, essas
tensões são conhecidas como tensão principal maior (σ1), intermediária (σ2), e menor
(σ3).
A figura 1.4.11, representa um ponto O qualquer de um corpo submetido a
esforços, com a indicação dos planos de tensões principais

Figura 1.4.11 Corpo sujeito a tensões, (CAPUTO, 2013)


47

Muitos problemas que envolvem maciços terrosos permitem considerar σ2 = σ3,


reduzindo-os, assim, a problemas planos.
A figura 1.4.12, representa um ponto O dentro de uma massa sujeita a
esforços, com OA o traço do plano principal maior e OB o do plano principal menor.
Vajamos como determinar as tensões σ e τ sobre qualquer plano normal à figura e
definido por sua inclinação α em relação ao plano principal maior.

Figura 1.4.12 - Planos de tensões, (CAPUTO, 2013)

Considerando OAB como um elemento infinitesimal, e tendo em vista as


indicações dadas na figura 1.4.13, escrevamos as equações de equilíbrio dessas
forças.

Figura 1.4.13 Equilíbrio das forças, (CAPUTO, 2013)

tem-se, assim, respectivamente, nas direções normal e tangencial à AB:

δ * ds = δ1 * ds * cos2 + δ3 * ds * sen2 e

τ * ds = δ1 * ds * sen cos - δ3 * ds * sen * cos , ou simplificando:


48

δ = δ1 * cos2 + δ3 * sen2 e,

τ = ( δ1 - δ2 ) * sen cos , ou ainda após simples transformações

trigonométricas:

, (eq. 33) e ,

, (eq. 34)

que são as fórmulas que permitem conhecer, em função de σ3 e σ1 , os valores de σ


e τ sobre qualquer plano AB definido por α.

A Figura 1.4.14 mostra-nos a variação dos σ e dos τ para os diferentes valores

de α; para α = 45° ocorre o valor máximo

Figura 1.4.14 – Variação dos δ e Ƭ, função de ø, (CAPUTO, 2013)


49

1.4.4 Diagrama de MOHR

, (eq. 35)

Gràficamente, os valores de σ e τ, para um determinado α, podem ser obtidos,


pelo círculo de tensões ou círculo de Mohr (1870).

Para traçá-lo, tomam-se dois eixos ortogonais, figura 1.4.15, representando-se


os σ em abcissas e os τ em ordenadas, e para coordenadas do centro (( δ1 + δ2)/2 ,
0) e para valor do raio, r =( δ1 - δ3)/2.

Figura 1.4.15 Cículo de Mohr, (CAPUTO, 2013)

O círculo em questão goza da seguinte propriedade: todo raio, que forma com
c eixo das abscissas um ângulo 2α, corta o círculo num ponto D, cujas coordenadas
são os valores de σ e τ. Desta forma, facilmente se obtém do diagrama:

O que verifica a propriedade.


50

1.4.5 Critérios e ruptura

Os chamados critérios de rutura da Resistência dos Materiais têm por objetivo


estabelecer, com base nas informações experimentais, as condições de ruptura de
um material.
Dos vários critérios que têm sido propostos, o de Mohr é o que normalmente se utiliza
na Mecânica dos Solos.
Critério de Mohr – este critério supõe que a tensão de cisalhamento τ=τr
correspondente à ruptura do material, ou seja, ao início do seu comportamento
inelástico é função unicamente da tensão normal, σ, sobre o plano de ruptura, isto é :
τr = f (σ) , (eq. 36)
esta equação é graficamente representada pela curva intrínseca de ruptura AB,
assim denominada por Caquot, figura 1.4.16, obtida traçando-se a envoltória dos
círculos de Mohr correspondentes a pares de tensões principais, σ1 e σ3 , causadoras
da ruptura do material.

Figura 1.4.16 Curva de ruptura AB, (CAPUTO, 2013)



Assim, para que um corpo resista, é suficiente que o círculo de Mohr (C')
correspondente às tensões principais atuantes, fique no interior da curva intrínseca.
Se o círculo (C) é tangente em T, à curva (AB), há possibilidade de ruptura do
material, por deslizamento, ao longo do plano que forma um ângulo α com o plano
principal maior pois, nesse caso, a tensão de cisalhamento atingiu a resistência ao
cisalhamento do material (τ = τr ).
51

1.4.6 Teoria de RANKINE

Esta teoria baseia-se na equação de ruptura de Mohr :

Onde σ1 e σ3, são tensões principais, com ø o ângulo


de atrito interno e c a coesão do material e

Inicialmente observemos que no interior de uma massa de solo, considerada


como um espaço semi-infinito, limitada apenas pela superfície do solo e sem
nenhuma sobrecarga , uma das tensões principais tem a direção vertical eo se valor
é dado pelo peso próprio do solo. A direção da outra tensão principal será
consequentemente, horizontal
Rankine baseou-se na hipótese de que uma ligeira deformação no solo é
suficiente para provocar uma total mobilização da resistência de atrito, produzindo o
estado ativo se o solo sofre expansão e passivo se sofre compressão.

1.4.6.1 Hipóteses fundamentais

I. Terrapleno homogêneo;
II. Superfície plana;
III. Válida a Teoria de Möhr;
IV. Sem pressão de percolação;
V. Movimento livre do anteparo;
VI. Não há atrito entre solo e muro.

1.4.6.2 Empuxo no repouso

Figura 1.4.17 - Diagrama da pressão no repouso, (CAPUTO, 2013)


52

Estado de Equilíbrio Plástico:

, (eq. 36)

1.4.6.3 Empuxo em solos coesivos

1.4.6.3.1 Estado ativo

Figura 1.4.18 - Diagrama de pressão no estado ativo, (CAPUTO, 2013)

Admitindo-se que a parede AB, fig. 1.4.18 se afaste do terrapleno, a pressão


horizontal σh diminuirá até alcançar um valor mínimo:
σh = σ3 = Ka .ɣ.h, , (eq. 37)
A pressão vertical σv será, nesse caso, a pressão principal maior :
σv = σ1 = ɣ.h , (eq. 38)

Continuando o deslocamento de AB, deixará de haver continuidade das


deformações e se produzirá o deslizamento ao longo da linha BC que, como
sabemos, forma um ângulo de 45º - ø/2 , com a direção da pressão principal maior ou
45º + ø/2 com a da pressão principal menor.
53

A relação K = σh/ σv , assim para solos coesivos, o valor :

K = σ3/ σ1 = Ka = 1/Nø = tg² (45º - ø/2 ), (eq. 39)

que é o chamado coeficiente de empuxo ativo.

A expressão do empuxo ativo total, Ea , igual a área do triângulo ABD,


será:
Ea = (½ ).ɣ.h².Ka , (eq. 40)
aplicada esta força no terço inferior da altura h

1.4.6.3.2 Estado passivo

Figura 1.4.19 (CAPUTO, 2013) - Diagrama de pressões no estado passivo,


(CAPUTO, 2013)

Admitamos agora o problema inverso, isto é que a parede AB, fig. 1.4.19, se
desloque contra o terrapleno.
Para que se produza o deslizamento, o empuxo deverá ser maior do que o
peso do terrapleno. Assim pode-se supor que a pressão principal maior é a
horizontal, e a menor, a vertical. Nestas condições o valor de K passará a ser :

K = σ1/ σ3 = Kp = Nø = tg² (45º + ø/2 ); (eq. 41)


54

que é o chamado coeficiente de empuxo passivo.

De maneira análoga obtém-se para expressão do empuxo passivo total :

Ep = (½ ).ɣ.h².Kp , (eq. 42)


aplicada esta força no terço inferior da altura h

No quadro II indicam-se os valores de Ka e Kp, para os diferentes ø.

QUADRO II
ø Ka Kp
0° 1,00 1,00
10° 0,70 1,42

20° 0,49 2,04

25° 0,41 2,47

30° 0,33 3,00

35° 0,27 3,69

40° 0,22 4,40

45° 0,17 5,83

50° 0,13 7,55

60° 0,07 13,90

Como se observa, entre os três valores de K, podemos escrever:


Ka < K0< Kp , com Kp = 1/Ka, (eq. 43)

Na figura Fig. 1.4.20 representamos segundo o critério de Mohr, os três


estados de tensões: em repouso, ativo e passivo :
55

Figura 1.4.20 – Estado de tensões (CAPUTO, 2013)

Se a superfície livre do terrapleno tem uma inclinação β, Fig. 1.4.21, os


valores dos empuxos serão segundo dedução analítica de Rankine, respectivamente
:

Figura 1.4.21- Diagrama de tensões de Rankine (CAPUTO, 2013)

, (eq. 44)

, (eq. 45)

Com seus pontos de aplicação ainda no terço inferior da altura h


56

1.4.6.4 Empuxo em solos coesivos , partindo da equação de Mohr

Para os solos coesivos partindo da equação de Mohr, podemos escrever,


considerando o estado ativo de equilíbrio limite (σ1 = σh = ɣ*z e σ3 = σh):

Esta equação nos mostra, para :

, (eq. 46)

que a pressão horizontal se anula, sendo negativa acima de z0 e positiva abaixo dessa
profundidade, ver fig. 1.4.22

Figura 1.4.22 – Empuxo em solos coesivos (CAPUTO, 2013)

Calculando o empuxo total, obteremos a expressão

, (eq. 47)
57

pela qual, a uma profundidade


, (eq. 47)

ou :

, (eq. 47)

A equação anterior é chamada altura crítica, o empuxo ativo sobre a a parede


AB se anula.
Note-se, assim, que para esta altura o maciço se mantém estável, sem
nenhuma contenção

Para as argilas moles, com ø=0, esses valores serão:

, (eq. 48)

Considerando agora o estado passivo, a equação de ruptura para σ1=σh e σ3 =


σv = ɣ.z + q , levando-se em conta uma “sobrecarga uniformemente distribuída q“ , se
escreve:
, (eq. 49)

A expressão do empuxo passivo total será, então, como facilmente se obtém,


(fIg.1.4.23) :
, (eq. 50)

Figura 1.4.23 (CAPUTO, 2013) Figura 1.4.24(CAPUTO, 2013)


58

1.4.6.5 Influência do lençol d’água - A influência do lençol d’água sobre


o cálculo das pressões pode ser levada em conta considerando-se que a pressão
total (no caso dos solos permeáveis) é igual a soma da pressão da água mais a do
solo, com um peso específico submerso (cerca de 1,0 t/m²); no caso de solos pouco
permeáveis, aconselha-se calcular a pressão considerando o solo com um peso
específico saturado (da ordem de 1.9 t/m²).

Efeito da sobrecarga – Quanto ao efeito da sobrecarga q aplicada sobre o


terreno, ele pode também ser considerado como uma altura equivalente de terra, h0 ,
escrevendo-se : h0 = q/ɣ.h , sendo ɣ o peso especifico do terreno.
A pressão numa profundidade z será então K.ɣ.z + K.y .h0 sendo K igual a Ka
ou Kp conforme o caso que se considere.
O diagrama da fig. 1.4.24 será nesse caso, trapezoidal, e a resultante estará
acima do terço inferior da altura da parede.

Observação:
Notando-se que a teoria de Rankine admite que não haja atrito entre o
terrapleno e a parede, conclui-se que os resultados obtidos não correspondem à
realidade, embora em geral a favor da segurança (mas contra a economia) em se
tratando de empuxo ativo. Apesar disso a teoria de Rankine, sendo de fácil e rápida
aplicação, continua sendo empregada, mesmo porque nesse gênero de cálculos não
se pode ainda pretender grande rigor.

1.5 Teoria de Coulomb

1.5.1 Equação de Coulomb - A resistência ao cisalhamento de um solo é dada pela


clássica equação de Coulomb:

A representação gráfica desta equação é uma reta, que assume as posições


indicadas na figura fig. 1.5.1 conforme os valores de c e ø:

τ = τr = c + δ * tg ø, (eq. 51)

onde :
59

τ = τr = resistência ao cisalhamento;
δ = tensão normal ao plano de cisalhamento;
c = coesão do solo
ø = ângulo de atrito interno do solo

Figura 1.5.1 - Representação gráfica, Equação de Coulomb(CAPUTO, 2013)

1.5.2 Critério de Mohr-Coulomb - Este critério, assim denominado por muitos autores,
é na realidade um caso particular do critério de Mohr, supondo-se na equação τr =f
(σ) uma variação linear entre esses esforços.

Em Mecânica dos Solos, este é o critério tradicionalmente usado, assimilando-


se a reta de Coulomb à envoltória de Mohr.

Segundo este critério haverá ruptura do maciço (de características c e ø,


coesão e ângulo de atrito interno) quando em cada ponto P ao longo da superfície de
ruptura (Fig. 1.5.2), a "tensão" de cisalhamento for igual à "resistência" ao
cisalhamento, isto é, quando:
τ = τr = c + δ * tg ø,

Figura 1.5.2 – Tensões de ruptura - (CAPUTO, 2013)


60

1.5.3 Condição analítica de ruptura- Reconsideremos a equação de Coulomb ,


representando a graficamente pela reta NM, a qual (Fig. 2.18) tangencia o círculo de
Mohr de centro C e caracterizador das condições de tensões em torno de um ponto P
do maciço solicitado.

Figura 1.5.3 – Reta de Coulomb tangenciando o Círculo de Mohr (CAPUTO, 2013)

Sendo T o ponto de tangência, isto indica, como sabemos, que no plano que
forma o ângulo com o piano principal maior, a tensão de cisalhamento atingiu a
resistência ao cisalhamento. Nessas condições a ruptura do material está iminente no
ponto P, e segundo o plano que forma o ângulo α..
Se esta condição de ruptura incipiente existe em todos os pontos da massa de
solo, diz-se que ela está em um estado de equilíbrio plástico.

2* = 900 + ø. , daí : = 45 + ø/2

donde se conclui que o plano de ruptura forma um ângulo : = 45 + ø/2

com o plano principal maior ou, então, : = 45 - ø/2 com o plano principal menor,

uma vez que eles são perpendiculares entre si.


Substituindo, vem :
61

, da trigonometria sabe-se que :

= tg2 (450 + ø/2) = Nø, tal como o designa Terzaghi. Assim :

, ou

Do triângulo OEN, tem-se:

, substituindo:

Como facilmente se demonstra:

, finalmente:

, (eq. 51),

que é a equação de ruptura de Mohr

Solos não coesivos – Na teoria de Coulomb – apresentada por este notável


físico em sua célebre memória à Academia de Ciências da França, em 1773 – o
terrapleno é considerado como um maciço indeformável, mas que se rompe segundo
superfícies curvas, as quais se admitem planas por conveniência, fig. 1.5.4

Figura 1.5.4 – Cunha de ruptura ABC, (CAPUTO, 2013)


62

Considerando-se uma possível cunha de ruptura ABC, em equilíbrio sob a


ação de :
P – peso da cunha, conhecido em grandeza e direção;
R – reação do terreno, formando um ângulo ø com a normal à linha de ruptura
BC;
Ea – empuxo resistido pela parede, força cuja direção é determinada pelo
Ângulo δ, de atrito entre a superfçie rugosa AB e o solo arenoso (divergem as
opiniões quanto ao valor atribuído a δ , sabendo-se no entanto que ele não
pode exceder ø; admite-se, segundo Muller Breslau, se muito δ = (4/3).ø) ;
é imediata a determinação de Ea traçando-se o polígono de forças, tal como
desenhado na figura.

Admitindo-se, então vários possíveis planos de escorregamento, BCi, será


considerada como superfície de ruptura aquela que corresponder ao maior valor de
Ea, que é o valor procurado.
Partindo das condições de equilíbrio das três forças P, R e Ea, Coulomb
deduziu analiticamente as equações gerais abaixo, para os empuxos ativo (E a) e
passivo (Ep), este último correspondendo à superfície de deslizamento, também
suposta plana, que produz o prisma de empuxo mínimo. A curvatura da superfície de
ruptura tem aqui maior importância que no caso ativo e é tanto mais acentuada
quanto maior for o δ em relação a ø, o que torna admissível a aplicação da teoria de
Coulomb para o cálculo do empuxo passivo, somente aos solos não coesivos quando
δ < ø/3.

Figura 1.5.5 Planos de escorregamento (CAPUTO, 2013)


63

, (eq. 52),

, (eq. 53),

, (eq. 54),

, (eq. 55),

A teoria de Coulomb, que apenas estamos considerando para o caso de solos


não coesivos, leva em conta, ao contrário da teoria de Rankine, o atrito entre o
terrapleno e a superfície sobre a qual se apoia.

Essas equações, para α = 90° e β=δ=0°, transformam-se nas conhecidas


expressões de Rankine:

, ( eq. 56 )

,
, (eq. 57 )

2 Tipos de Estruturas de contenção

O dimensionamento geotécnico foi baseado em teorias que permitem o cálculo de


empuxos ativos e passivos com base apenas nos seguintes parâmetros geotécnicos:
coesão, ângulo de atrito interno e massa específica.
64

2.1 Muros de arrimo

2.1.1 Histórico

A construção de muros de arrimo é obra que frequentemente se apresenta ao


engenheiro.
Muros de Gravidade são estruturas que se opõem aos empuxos pelo peso próprio
e pelo atrito em sua fundação (Carvalho, 1991).
Segundo DOMINGUES (1997), o muro de arrimo por gravidade deve ser
dimensionado de forma a não apresentar tensões de tração. Neste tipo de muro, os
materiais comumente empregados são: concreto ciclópico, alvenaria de pedra e solo-
cimento ensacado.
Os perfis mais usuais neste tipo de muro são: retangular, trapezoidal e
escalonado.
` Segundo MOLITERNO (1982), os muros de perfil retangular são geralmente
concebidos para alturas de ate 2,0m e feitos de concreto ciclópico.
Os muros de perfil trapezoidal são utilizados para alturas superiores a 2,0 m e
o paramento inclinado deve sempre que possível ser o externo, fazendo com que o
centro de gravidade do muro fique voltado para o lado do terreno. Também é
comumente utilizado concreto ciclópico.
Os muros com perfil escalonado são executados em alvenaria de pedra,
conforme vemos na figura 2.1.1, apresentando economia de material. As figuras 2.1.2
e 2.1.3 mostram os perfis de muros por gravidade, segundo Moliterno:

Figura 2.1.1 – Muro de arrimo de alvenaria de pedra, escalonado


65

2.1.2 Tipos de muro de arrimo

Para se equilibrar a resultante lateral das pressões que provocam o empuxo


de terra, torna-se necessário fazer com que as cargas verticais sejam pelo menos
iguais ao dobro da grandeza do empuxo. Isto somente poderá ser observado, em se
tratando de muros de arrimo, contando-se com o peso próprio do muro, ou então com
parte do próprio peso da terra, responsável pela carga lateral. No primeiro caso
temos o tipo por gravidade, estrutura maciça ou ciclópica, e no segundo caso
estrutura elástica, de concreto armado

2.1.2.1 Muro de perfil retangular


Econômico para pequeníssimas alturas
b
Pré-dimensionamento:
a) Muro de alvenaria de tijolos: b=0.40*h
b) Muro de alvenaria de pedra ou de
h

concreto ciclópico: b= 0,30*h

Figura 2.1.2 (Moliterno)

2.1.2.2 Muro de perfil trapezoidal

bº b
a) Construção em concreto ciclópico,
Pré-dimensionamento:
h

b0 =0.14*h
ou
b= b0 +h/3

b b
Figura 2.1.3 (Moliterno, 1980)
66

b
b) Construção em alvenaria de pedra
ou concreto ciclópico
1:10 ou

Pré-dimensionamento:
1:15
1:10 ou

b = (1/3) * h
1:15

10
h

15 t = (1/6) * h
1
d>t

t b t

45°
d

Figura 2.1.4 (Moliterno, 1980)

O projeto é conduzido assumindo-se um prévio dimensionamento e, em


seguida, verificando-se as condições de estabilidade (Moliterno, 1980).
As forças que atuam sobre o muro de gravidade são: o peso próprio da
estrutura, o empuxo ativo, o empuxo passivo e as tensões de cisalhamento e normais
que atuam na base do muro, Figura 1 (Lambe & Whitman, 1969).
Como o solo que contribui para o empuxo passivo pode ser erodido ou mesmo
não existir em determinada fase da construção, recomenda-se adotar empuxo
passivo igual a zero (Marchetti, 2008).
Ao se projetar um muro de arrimo, podemos admitir que possamos faze-lo em
dois passos:
a) Determinação ou estimativa das dimensões
b) Verificação da estabilidade do muro em relação aos esforços atuantes

Para a escolha das dimensões o projetista lança mão de sua experiência, e se


orienta por fórmulas empíricas.
Determinadas as forças que atuam na estrutura, tais como o seu peso próprio,
empuxos causados pela pressão da terra, e eventuais cargas aplicadas no topo do
muro, e as reações do solo, podemos ter a ideia da estabilidade.
Conhecimentos da mecânica dos solos, são importantes em duas fases do
projeto:
a) A avaliação da pressão da terra atuando no muro;
67

b) Verificação da capacidade de suporte do solo das fundações.

Neste tipo de muro, o muro, de grande espessura, equilibra as pressões


laterais que provocam o empuxo com o próprio peso. São normalmente utilizados
onde o solo apresenta elevada capacidade de suporte,

A fig. 2.1.5 ilustra três exemplos de aplicação.

Figura 2.1.5 (Moliterno, 1927)

2.1.3 Condições de estabilidade dos muros de arrimo

Figura 2.1.6 – Esquema de forças atuantes no muro de gravidade (Bowles, J.


E.,1968),
68

Figura 2.1.7 – Esquema de forças atuantes abrangendo estabilidade contra


tombamento e deslizamento (Bowles, J. E., 1968)

Na verificação da estabilidade de um muro de gravidade, seja de seção


trapezoidal ou do tipo escalonado como representamos na fig. 2.1.3.3, ou com
qualquer outra seção, devem ser investigados as seguintes condições de
estabilidade:

Figura 2.1.8 - Tipos de muro de arrimo (MOLITERNO, 1980),


69

2.1.3.1 1ª condição: - Segurança contra o tombamento – Evidentemente, a


condição para que o muro não tombe em torno da extremidade externa A, da base,
fig. 3.7, é que o momento do peso do muro seja maior que o momento do empuxo
total, ambos tomados em relação ao ponto A. É aconselhável que a resultante de
todas as atuantes, R* , passe dentro do “núcleo central” (terço médio da seção) da
base AB e, tanto quanto possível próximo do ponto médio O, quando o muro
repousar sobre o terreno muito compressível.
Para que o muro não tombe em torno da extremidade externa da base (pé do
muro) é necessário que o momento gerado pelo peso do muro seja maior que o
momento do empuxo total, ou seja, o momento resistente (Mr) deve ser maior do que
o momento solicitante (Mo) (Caputo, 1973). A relação entre os momentos é definida
como FS e não deve ser inferior a 1,5. De acordo com a Figura 2.1.7, a equação
correspondente à verificação ao tombamento é:

, (eq. 58 )

Figura 2.1.9 – Diagrama das pressões na fundação ( CAPUTO, 2013)

2.1.3.2 2ª condição: - Segurança contra o escorregamento – A segurança


contra o deslizamento consiste em verificar se há desenvolvimento de atrito suficiente
entre a base da estrutura e o solo (Bowles, 1968). O fator de segurança, FS, obtido
70

pela razão entre os somatórios das forças resistentes (F) e solicitantes (Ph), deve ser
igual ou superior a 1,5. De acordo com a Figura 2.1.7 (Bowles, 1968) a equação
referente à verificação ao deslizamento é:

(eq. 59 )

Ou, segundo Caputo, desprezando-se a contribuição do empuxo passivo, Ep o


que é a favor da segurança, esta condição será satisfeita quando, pelo menos :
1,5 H = V tgø’ , (eq. 60 )

sendo ø’ igual ao ângulo de atrito interno entre o muro e o solo, o qual pode ser
tomado da ordem de 30° se o solo é areia grossa pura e aproximadamente 25° se o
solo é areia grossa argilosa ou siltosa.

2.1.3.3 3ª condição: - Segurança contra ruptura e deformação excessiva do terreno


de fundação – Quando a força R cair no núcleo central da base, o diagrama de
pressões no solo será – o que é uma aproximação – um trapézio; o terreno estará,
pois submetido apenas a tensões de compressão, ver fig. 2.1.9

Figura 2.1.10 – Diagrama da pressão máxima ( CAPUTO, 2013)


71

As equações de equilíbrio, fig. 2.1.9 serão :

ou

ou

e:

, (eq. 61 )

, (eq. 62 )

A condição a ser satisfeita, portanto, é que a maior das pressões (δ1) seja
menor ou igual à pressão admissível do terreno.

Estas equações agrupam-se na fórmula única :

Com M = Ve e designando-se por W o momento resistente da base ( área S = b * 1)


em relação ao eixo baricentrico:

, (eq. 63 )

, (eq. 64 )

tem-se : , (eq 65 ), que é a conhecida fórmula de flexão composta


72

Quando a força R cair fora do núcleo central, a distribuição será triangular (fig.
2.1.8), mas limitada à parte que dá compressão.

Nesse caso, teremos:

donde : , (eq. 65 )

Nota : Estas condições de estabilidade deverão ser também ser satisfeitas para as
demais seções do muro

Com a finalidade de garantir a existência de esforços de compressão na base


da estrutura é calculada a posição da resultante vertical na base. Esta deve estar
localizada no terço central da base da estrutura. A localização da resultante dos
esforços verticais na base é determinada por meio da divisão do momento, em
relação ao ponto O (Fig.2.1.7), pela componente vertical das ações atuantes (Craig,
2004), conforme a equação a seguir:

, (eq. 66 )

A verificação capacidade de carga garante a segurança contra a ruptura da


fundação.
A capacidade de carga é a tensão que provoca a ruptura do solo da fundação
e é constituída, normalmente, por três parcelas que consideram a coesão do solo, a
área da fundação e a sobrecarga atuante na estrutura (Cintra, Aoki, & Albiero, 2003).
O valor aproximado da capacidade de carga é determinado pela seguinte
equação:

, (eq. 67 )
)
73

A condição a ser satisfeita, em relação à segurança contra a ruptura da


fundação, considerando o coeficiente de segurança igual a três, corresponde a
seguinte equação:

, (eq. 68 )

Em que e é a distância entre o ponto de aplicação da força resultante e o


centro da base do muro (Figura 2.1.7).

De acordo com Meyerhof (1963) Nq e Nc podem ser calculados pelas equações

( eq. 69 )

(5)

E, de acordo com Spangler and Handy (1982), tem-se:


Nγ = 1,1(Nq - 1) tg (1,3ø ) ( eq. 70 )

2.1.3.4 4ª condição: - Segurança contra ruptura do conjunto muro-solo – A


possibilidade de ruptura do terreno segundo uma superfície de escorregamento ABC,
fig. 2.1.7, também deve ser investigada.

Figura 2.1.11 – Curva de deslizamento ( MOLITERNO,2013)


74

2.1.3 Drenagem
Na construção de um muro, a fim de evitar o acúmulo das águas pluviais
infiltradas no lado da terra, é de boa técnica prever um sistema de drenagem dessas
águas. Normalmente utilizam-se barbacans de 100 cm² de seção, cada 1 m,
conforme indicado na fig. 2.10.

Figura 2.1.12 – Drenagem do muro ( MOLITERNO, 2013)

Drenagem mais eficiente será obtida com o sistema da fig. 2.1.12.


A rigor, no exame da influência da água nas pressões sobre as obras de
contenção (muros de arrimo, cortinas e escoramentos), deverá ser conhecida
a rede de percolação de água no terrapleno. Só assim se poderá determinar a
resultante U do diagrama das pressões neutra sobre o plano de ruptura, para
então considerá-la com as demais forças no estudo do equilíbrio da cunha
deslizante e obter o valor do empuxo (fig. 2.1.14)

Figura 2.1.13 ( MOLITERNO, 2013) Figura 2.1.14 MOLITERNO, 2013)


75

2.1.4 Encontro de pontes

O que vem de ser exposto aplica-se também aos encontros de pontes,


bastando levar em conta a reação Ra proveniente da ponte (fig. 2.1.15)

Figura 2.1.15 Encontro de pontes ( MOLITERNO, 2013)

2.2 Muros de flexão

Muros de Flexão são estruturas mais esbeltas com seção transversal em forma
de “L” que resistem aos empuxos por flexão, utilizando parte do peso próprio do
maciço, que se apóia sobre a base do “L”, para manter-se em equilíbrio.

Em geral, são construídos em concreto armado, tornando-se anti-econômicos


para alturas acima de 5 a 7m.

A laje de base em geral apresenta largura entre 50 e 70% da altura do muro.

A face trabalha à flexão e se necessário pode empregar vigas de enrijecimento,


no caso de alturas maiores, figura 2.2.2.
76

Figura 2.2.1 - Muro de flexão (MARANGON, 2013)

Para muros com alturas superiores a cerca de 5 m, é conveniente a utilização de


contrafortes (ou nervuras), para aumentar a estabilidade contra o tombamento
(Figura 2.2.2).

Tratando-se de laje de base interna, ou seja, sob o retro-aterro, os contrafortes


devem ser adequadamente armados para resistir a esforços de tração. No caso de
laje externa ao retro-aterro, os contrafortes trabalham à compressão. Esta
configuração é menos usual, pois acarreta perda de espaço útil a jusante da estrutura
de contenção. Os contrafortes são em geral espaçados de cerca de 70% da altura do
muro.

.2.2.2 - Muro com contraforte ( MARANGON, 2013)

Muros de flexão (Figura 2.2.3) podem também ser ancorados na base com
tirantes ou chumbadores (rocha) para melhorar sua condição de estabilidade. Esta
solução de projeto pode ser aplicada quando na fundação do muro ocorre material
competente (rocha sã ou alterada) e quando há limitação de espaço disponível para
77

que a base do muro apresente as dimensões necessárias para a estabilidade.

Figura 2.2.3 - Muro de concreto ancorado na base: seção transversal ( MARANGON,


2013)

2.3 Cortinas

São estruturas flexíveis em que o peso próprio é desprezível em relação às


demais forças atuantes. Resiste ao empuxo devido ao seu engastamento no solo,
obtido através de uma ficha e também por meio de ancoragem.

2.3.1 Cortina sem ancoragem

Este tipo de estrutura é comumente utilizada quando a altura de contenção for


relativamente baixa. No caso dos solos arenosos essa estrutura pode ser utilizada
como obra permanente, mas em geral é utilizada como temporária (Craig, 2004).

O dimensionamento inicia-se com o cálculo dos coeficientes de empuxo


passivo e ativo, pelo método de Coulomb. Determina-se o ponto a no qual o empuxo
passivo iguala-se ao empuxo ativo (Figura 2.3.1).
Por meio do somatório de forças horizontais e somatório de momentos em
relação à base do muro (Figura 2.3.1), obtém-se as seguintes equações (Bowles,
1968):

( eq. 71 )

( eq. 72 )
78

Substituindo a equação 71 na equação 72, considerando algumas


manipulações para simplificação da equação, forma-se a equação de quarto grau.

, ( eq. 73 )

Após o cálculo de Y, determina-se a profundidade da ficha D. Usualmente,


acrescenta-se 20 a 40% à profundidade da ficha calculada como margem de
segurança, ou então, divide-se o coeficiente de empuxo passivo por um coeficiente
de segurança (Bowles, 1968) para aumentar o valor calculado da ficha, o que é
menos recomendado.

Figura 2.3.1 Diagrama de tensões para solo granular. ( BOWLES,1968)

A ficha total é a soma de Y, o acréscimo dado e a profundidade a. A


implantação de cortinas em solos coesivos é abordada de forma similar aos solos
granulares. Porém, apresenta algumas modificações decorrentes do comportamento
coesivo do solo. Trincas de tração podem ser formadas na região de empuxo ativo,
alterando consideravelmente a tensão lateral, assim como a localização da resultante
(Bowles, 1968). A distribuição de empuxo é dada conforme a Figura 2.3.2.
79

Figura 2.3.2 Diagrama de tensões para solo argiloso. ( BOWLES,1968)

Por meio do equilíbrio das forças horizontais e dos momentos, obtêm-se a


seguinte equação de segundo grau que estabelece o tamanho da ficha:

( eq.73 )

Ao valor D calculado pela equação 10, deverá ter acréscimo de 20 a 40% como
margem de segurança ou então, divide-se a coesão por um fator de segurança para
aumentar a profundidade calculada (Bowles,1968).

2.3.2 Cortina ancorada

Estruturas ancoradas são aquelas cuja estabilidade é garantida através de


tirantes ancorados no terreno. A estrutura pode ser contínua, em grelha, em placas
ou em contrafortes (NBR 11682:2009).
No dimensionamento de cortinas com tirante, a ficha calculada é acrescida em
20 a 40%.
No caso de solos arenosos, outra alternativa seria dividir o coeficiente de
empuxo passivo por um coeficiente de segurança antes da realização dos cálculos.
No caso de solos argilosos, pode-se dividir o valor da coesão por um
coeficiente de segurança (Bowles, 1968).
Os diagramas de empuxo são definidos de acordo com o tipo de solo: granular
ou argiloso, e estão apresentadas na Figura 2.3.1 e Figura 2.3.2 respectivamente.
80

Figura 2.3.3 Diagrama de tensões para solo granular. ( BOWLES,1968 )

No caso dos solos arenosos, determina-se a distância a em que o empuxo é


nulo (Bowles, 1968), a partir da equação:

( eq.74 )

A partir do somatório de momentos em relação ao tirante (Figura 5) obtém-se a


seguinte equação (Bowles, 1968):

( eq.75 )

A ficha é calculada por: ( eq. 76 )

A força resultante no tirante é obtida pelo somatório de forças horizontais:

Ft = Ra − Rp (eq. 76)

Para solos coesivos (Figura 2.3.4), é realizado o somatório de momentos em


relação ao ponto de aplicação do tirante, obtendo-se a seguinte equação para a
determinação da ficha (Bowles, 1968):

(eq. 77)
81

O procedimento para determinação da força resultante no tirante,


considerando solo argiloso, é o mesmo demonstrado para solos arenosos (equação
73).

Figura 2.3.4 - Diagrama de tensões para solo argiloso. ( BOWLES,1968)

Quando é prevista a implantação de tirantes adicionais, devem ser seguidos


alguns passos para o cálculo da estrutura: assumir que a escavação atinja a posição do
próximo tirante; para todos os tirantes, com exceção do último, determina-se a
profundidade de penetração da estrutura estabelecendo um fator de segurança
correspondente a 1,0; a força resultante em cada tirante é determinada com base no
equilíbrio de todas as forças horizontais; para o último tirante, a reação deverá ser
calculada por meio do equilíbrio de forças horizontais e a profundidade calculada será
adotada para o projeto da estrutura.

2.3.3 Muro escorado

O cálculo do empuxo de terra difere das demais estruturas que seguem a


teoria de Coulomb ou de Rankine, devido à maneira na qual é idealizado o
desenvolvimento do empuxo sobre a parede (Bowles, 1968).
Os diagramas de tensão propostos por Terzaghi e Peck são empíricos e
dependem do tipo de solo: areia densa, areia fofa e argila. Os diagramas estão
esquematizados na Figura 2.21. Neste tipo de estrutura de contenção, deseja-se
calcular o esforço resultante nas estroncas e, para isto, assume-se que a estrutura
comporta-se como viga.
A solução é obtida através do método da rigidez.
82

Figura 2.3.5 - Diagramas de tensão empíricos de acordo com Terzaghi e Peck .

3 Dimensionamento das seções estruturais

3.1. Introdução

Nesta capítulo encontram-se os conceitos iniciais e diversas informações que


são base para o entendimento do projeto e dimensionamento das estruturas de
concreto armado. Em linhas gerais o texto segue as prescrições contidas na nova
norma NBR 6118/2003 (“Projeto de estruturas de concreto – Procedimento”),
conforme a versão corrigida de março de 2004, para o projeto e dimensionamento
dos elementos de concreto armado., e nova NBR 6118 - Projeto de Estruturas de
Concreto - Procedimento, publicada pela Associação Brasileira de Normas Técnicas
(ABNT) de abril de 2014.

O projeto estrutural de edifícios consiste, resumidamente, nas seguintes


etapas: concepção do sistema estrutural (horizontal e vertical) do edifício, juntamente
com o pré-dimensionamento das dimensões dos elementos, determinação e análise
dos deslocamentos e esforços solicitantes da estrutura, considerando-se
obrigatoriamente os efeitos da ação do vento, dimensionamento e detalhamento das
armaduras e desenhos finais. Nos últimos anos ocorreu um grande avanço no
desenvolvimento dos programas computacionais para projeto estrutural, e hoje,
praticamente a totalidade dos projetos são desenvolvidos por meio dos programas.
83

Até março de 2003 a principal norma para o projeto de estruturas de concreto


armado era a NBR 6118/80, ou NB1/78. Após passar por vários anos em processo
de revisão, a NB 1/78 foi substituída por uma nova versão, a NBR 6118/2003 “Projeto
de Estruturas de Concreto – Procedimento”, que incluiu também as estruturas de
Concreto Protendido. As recomendações para a execução das estruturas de concreto
passaram a fazer parte da norma NBR 14931/03 e agora a nova NBR 6118 - Projeto
de Estruturas de Concreto - Procedimento, publicada pela Associação Brasileira de
Normas Técnicas (ABNT) em abril de 2014.

Todo o conteúdo aqui descrito segue as determinações constantes da NBR


6118/03. e da nova NBR 6118 - Projeto de Estruturas de Concreto - Procedimento,
publicada pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) de abril de 2014.

A normativa, que trata especificamente de projetos de concreto simples,


armado e protendido, começou a ser revisada no ano passado (2013) pela comissão
de estudos CE 02:124.15. A última revisão da NBR 6118 havia sido feita em 2007.

A principal mudança ocorrida agora no conteúdo da norma é a introdução do


concreto de resistência acima de 50 MPa, que já é utilizado em obras importantes
mas não havia formulação específica. No novo texto, é incluso todo o detalhamento
para o concreto de resistência de 55 MPa a 90 MPa.
A norma se aplica a estruturas de concretos normais, com massa
específica seca maior que 2.000 kg/m3 , não excedendo 2.800 kg/m3 , do grupo I
de resistência (C10 grupo I de resistência (C10 a C50), conforme classificação da
NBR 8953.
Concretos normais são também chamados convencionais, e excluem os
“concretos especiais” com características particulares, como os concretos leves,
de alto desempenho, auto- adensável, massa, rolado, colorido, entre tantos outros
existentes.
Segundo a NBR 6118/03 (item 1.5), “No caso de estruturas especiais,
tais como de elementos pré-moldados, pontes e viadutos, obras
hidráulicas, arcos, silos, chaminés, torres, estruturas off-shore, ou em que
se utilizam técnicas construtivas não convencionais, tais como formas
deslizantes, balanços sucessivos, lançamentos progressivos e concreto
84

projetado, as condições da NBR 6118/03 ainda são aplicáveis, devendo


no entanto ser complementadas e eventualmente ajustadas em pontos
localizados, por Normas Brasileiras específicas”.

Outras normas também importantes e de interesse no desenvolvimento dos


conteúdos são as estrangeiras: MC-90, do COMITÉ EURO-INTERNATIONAL DU
BÉTON, o Eurocode 2/92, do EUROPEAN COMMITTEE STANDARDIZATION, e o
ACI 318-05, do AMERICAN CONCRETE INSTITUTE.

3.2 Conceito de Concreto armado

O concreto é um material que apresenta alta resistência às tensões de


compressão, porém, apresenta baixa resistência à tração (cerca de 10 % da sua
resistência à compressão). Assim sendo, é imperiosa a necessidade de juntar ao
concreto um material com alta resistência à tração, com o objetivo deste material,
disposto convenientemente, resistir às tensões de tração atuantes. Com esse
material composto (concreto e armadura – barras de aço), surge então o chamado
“concreto armado”, onde as barras da armadura absorvem as tensões de tração e o
concreto absorve as tensões de compressão, no que pode ser auxiliado também por
barras de aço (caso típico de pilares, por exemplo).

No entanto, o conceito de concreto armado envolve ainda o fenômeno da


aderência, que é essencial e deve obrigatoriamente existir entre o concreto e a
armadura, pois não basta apenas juntar os dois materiais para se ter o concreto
armado. Para a existência do concreto armado é imprescindível que haja real
solidariedade entre ambos o concreto e o aço, e que o trabalho seja realizado de
forma conjunta.

Em resumo, pode-se definir o concreto armado como “a união do concreto


simples e de um material resistente à tração (envolvido pelo concreto) de tal modo
que ambos resistam solidariamente aos esforços solicitantes”. De forma esquemática
pode-se indicar que concreto armado é:
Concreto armado = concreto simples + armadura + aderência.
Com a aderência, a deformação εs num ponto da barra de aço e a deformação
εc no concreto que a circunda, devem ser iguais, isto é: εc = εs . A Figura 11 mostra
85

uma peça de concreto com o concreto sendo lançado e adensado, devendo envolver
e aderir à armadura nela existente.

Figura 3.1 – Preenchimento de uma fôrma metálica com concreto aderente à


armadura. (BASTOS, 2006)

A NBR 6118/03 (item 3.1.3) define:

Elementos de concreto armado: “aqueles cujo comportamento estrutural depende da aderência


entre concreto e armadura e nos quais não se aplicam alongamentos iniciais das armaduras
antes da materialização dessa aderência”.
Armadura passiva é “qualquer armadura que não seja usada para produzir forças de protensão,
isto é, que não seja previamente alongada”.

A armadura do concreto armado é chamada “armadura passiva”, o que


significa que as tensões e deformações nela aplicadas devem-se exclusivamente aos
carregamentos aplicados nas peças onde está inserida.
Como armadura tem-se que ter um material com altas resistências mecânicas,
pincipalmente resistência à tração. A armadura não tem que ser necessariamente de
aço, pode ser de outro tipo de material, como fibra de carbono, bambu, etc.
O trabalho conjunto, solidário entre o concreto e a armadura fica bem
caracterizado na análise de uma viga de concreto simples (sem armadura), que
rompe bruscamente tão logo surge a primeira fissura, após a tensão de tração
atuante alcançar e superar a resistência do concreto à tração (Figura 3.2a).
Entretanto, colocando-se uma armadura convenientemente posicionada na região
86

das tensões de tração, eleva-se significativamente a capacidade resistente da viga


(Figura 3.2b).

Figura 3.2 - Viga de concreto simples (a) e armado (b) (PFEIL, 1989).

O trabalho conjunto do concreto e do aço é possível porque os coeficientes de


dilatação térmica dos dois materiais são praticamente iguais. Outro aspecto positivo é
que o concreto protege o aço da oxidação (corrosão), garantindo a durabilidade do
conjunto. Porém, a proteção da armadura contra a corrosão só é garantida com a
existência de uma espessura de concreto entre a barra de aço e a superfície externa
da peça (denominado cobrimento), entre outros fatores também importantes relativos
à durabilidade, como a qualidade do concreto, por exemplo.

3.3 Diagrama Tensão-Deformação

Os diagramas σ x ε dos aços laminados a quente e trefilados a frio apresentam


características diferentes, como mostradas na Figura 3.3.1. Os aços laminados, ao
contrário dos trefilados, mostram patamar de escoamento bem definido, ou seja, a

resistência de escoamento (fy) fica bem caracterizada no diagrama, o que não ocorre
nos aços trefilados. Por este motivo, nos aços trefilados, a resistência de escoamento
é convencional, é escolhido um valor para a resistência de escoamento
correspondente à deformação residual de 2 ‰. Isto significa que, se o aço for
87

tensionado até o valor de fy e a tensão for completamente retirada, o aço não voltará
ao seu estado natural pré-tensão, pois haverá no aço uma deformação de 2 ‰,
chamada residual ou permanente.

Figura 3.3 – Diagrama real σ x ε dos aços: a) laminados; b) trefilados, (PFEIL, 1989).

Segundo a NBR 6118/03 (item 8.3.6), para cálculo nos estados-limites de


serviço e último pode-se utilizar o diagrama simplificado mostrado na Figura 86, para
os aços com ou sem patamar de escoamento. O diagrama é válido para intervalos de
temperatura entre – 20ºC e 150ºC e pode ser aplicado para tração e compressão.

Figura 3.4 - Diagrama tensão-deformação para aços de armaduras passivas com ou


sem patamar de escoamento, (PFEIL, 1989).

As deformações últimas (εu) são limitadas a 10 ‰ (10 mm/m) para a tração


(alongamento), e 3,5 ‰ para a compressão (encurtamento), em função dos valores
máximos adotados para o concreto.
88

O módulo de elasticidade do aço é dado pela tangente do ângulo α, figura 3.4


assumido como pela norma como 210.000 MPa.
Considerando a lei de Hooke (σ = ε E), a deformação de início de escoamento
do aço (εyd – valor de cálculo) correspondente à tensão de início de escoamento é
dada por:

(Eq. 78)

Os valores para a deformação de início de escoamento de cálculo (εyd) para os


aços categorias CA-25, CA-50 e CA-60 são mostrados na Tabela 3.1.

Tabela 3.1 – Deformação de início de escoamento de cálculo (εyd - ‰) os


aços laminados e trefilados.

Quaisquer deformações menores que a de início de escoamento resultam em


tensões menores que a máxima permitida no aço (fyd), caracterizando um sub-
aproveitamento ou uso antieconômico do aço (ver Figura 3.4).

3.4 Fissuração no concreto armado

Segundo SILVA (2003), “A fissuração nos elementos estruturais de concreto


armado é causada pela baixa resistência à tração do concreto. Apesar de
indesejável, o fenômeno da fissuração é natural (dentro de certos limites) no concreto
armado. O controle da fissuração é importante para a segurança estrutural em
serviço, condições de funcionalidade e estética (aparência), desempenho
(durabilidade, impermeabilidade, etc.). Deve-se garantir, no projeto, que as fissuras
89

que venham a ocorrer apresentem aberturas menores do que os limites


estabelecidos considerados nocivos..”
Eliminar completamente as fissuras seria antieconômico, pois ter–se-ia que
aplicar tensões de tração muito baixas na peça e na armadura. Isso leva a que o
concreto armado deve conviver com as fissuras, que não serão eliminadas e sim
diminuídas a valores de abertura aceitáveis (geralmente até 0,3 mm) em função do
ambiente em que a peça estiver, e que não prejudiquem a estética e a durabilidade.
No projeto de elementos estruturais o procedimento é verificar o
comportamento da peça nos chamados Estados Limites de Serviço, como os
Estados Limites de Formação de Fissuras (ELS-F) e de Abertura das Fissuras (ELS-
W), em função da utilização e desempenho requeridos para o elemento estrutural.
No concreto armado, a armadura submetida a tensões de tração alonga-se,
até o limite máximo de 10 ‰ (1 % = 10 ‰ = 10 mm/m), imposto pela NBR 6118/03 a
fim de evitar fissuração excessiva no concreto.
Pode-se imaginar um tirante com 1 m de comprimento tendo dez fissuras com
abertura de 1 mm, distribuídas ao longo do seu comprimento (Figura 3.5).
Estribo

Armadura

longitudinal

Diagrama de
deformações

Fissuras c/abertura de 1 mm sd,máx


= 10 ‰

1m

Figura 3.5 – Fissuras num tirante com deformação de alongamento de 10 ‰ .

O concreto, aderido e adjacente às barras da armadura, fissura, porque não


tem capacidade de alongar-se de 10 ‰ sem fissurar, de modo que as tensões
90

de tração têm que ser totalmente absorvidas pela armadura.

Segundo LEONHARDT & MÖNNIG (1982), dispondo-se barras de aço de


diâmetro não muito grande e de maneira distribuída, as fissuras terão apenas
características capilares, não levando ao perigo de corrosão do aço.

As fissuras surgem no concreto armado também devido à retração do


concreto, que pode ser significativamente diminuída por uma cura cuidadosa nos
primeiros dez dias de idade do concreto, e com a utilização de armadura suplementar
(armadura de pele), como será estudado adiante.

Figura 3.6 – Fissuras de flexão num dormente ferroviário de concreto


protendido.

A Figura 3.6 ilustra peças de concreto protendido já rompidas e fissuradas.

3.5 Estádios de Calculo

Os estádios podem ser definidos como os vários estágios de tensão pelo qual
um elemento fletido passa, desde o carregamento inicial até a ruptura.

A Figura 3.7 descreve o comportamento de uma viga simplesmente apoiada


submetida a um carregamento externo crescente, a partir de zero. Em função dos
91

estágios de tensão mostrados na viga da Figura 3.5, classificam-se os estádios em


quatro, cada um apresentando uma particularidade:

Figura 3.7 – Diagramas de tensão indicativos dos estádios de cálculo.

No estádio Ia o carregamento externo aplicado é ainda pequeno, de modo que


as deformações e as tensões normais são também pequenas. As tensões se
distribuem de maneira linear ao longo da altura da seção transversal. As dimensões
das peças no estádio Ia resultam exageradas em função de se considerar a
resistência do concreto à tração, que é muito pequena.
Com o aumento do carregamento, as tensões de tração perdem a linearidade,
deixando de serem proporcionais às deformações. Apenas as tensões na zona
comprimida são lineares. A um certo valor do carregamento as tensões de tração
superam a resistência do concreto à tração, é quando surge a primeira fissura, o que
corresponde ao estádio Ib, ou seja, o término do estádio I e o início do estádio II.

No estádio II as tensões de compressão ainda se distribuem linearmente, de


zero na linha neutra ao valor máximo na fibra mais comprimida.
Aumentando ainda mais o carregamento a linha neutra e as fissuras
deslocam-se em direção à zona comprimida. As tensões de compressão e de tração
aumentam; a armadura tracionada pode alcançar e superar a tensão de início de
escoamento (fy), e o concreto comprimido está na iminência da ruptura
(esmagamento).
Cada estádio tem a sua importância, sendo as principais descritas a seguir:
a) Estádio Ia: verificação das deformações em lajes calculadas segundo a
teoria da elasticidade, pois essas lajes geralmente se apresentam pouco fissuradas;
92

b) Estádio Ib: cálculo do momento fletor de fissuração (solicitação que pode


provocar o início da formação de fissuras);
c) Estádio II: verificação das deformações em vigas (seções
predominantemente fissuradas) e análise das vigas em serviço;

d) Estádio III: dimensionamento dos elementos estruturais no estado limite


último.

3.5.1. Domínios e deformações

Os domínios são representações das deformações que ocorrem na seção


transversal dos elementos estruturais. As deformações são de alongamento e de
encurtamento, oriundas de tensões de tração e compressão, respectivamente.
Segundo a NBR 6118/03 (item 17.2.2), o estado limite último (ELU) de elementos
lineares sujeitos a solicitações normais é caracterizado quando a distribuição das
deformações na seção transversal pertencer a um dos domínios definidos na Figura
3.7

Figura 3.8 – Diagrama possíveis dos domínios de deformações.

O estado limite último pode ocorrer por deformação plástica excessiva da


armadura (reta a e domínios 1 e 2) ou por encurtamento excessivo do concreto
(domínios 3, 4, 4a, 5 e reta b).
O desenho mostrado na Figura 3.8 representa vários diagramas de
deformação de casos de solicitação diferentes, com as deformações limites de 3,5 ‰
93

para o máximo encurtamento do concreto comprimido e 10 ‰ para o máximo


alongamento na armadura tracionada. Os valores de 3,5 ‰ e 10 ‰ são valores
últimos, de onde se diz que todos os diagramas de deformação correspondem a
estados limites últimos.
As linhas inclinadas dos diagramas de deformações são retas, pois se admite
a hipótese básica das seções transversais permanecerem planas até a ruptura.
A capacidade resistente da peça é admitida esgotada quando se atinge o
alongamento máximo convencional de 10 ‰ na armadura tracionada ou mais
tracionada, ou, de outro modo, correspondente a uma fissura com abertura de 1 mm
para cada 10 cm de comprimento da peça.
Os diagramas valem para todos os elementos estruturais que estiverem sob
solicitações normais, como a tração e a compressão uniformes e as flexões simples e
compostas.
Solicitação normal é definida como os esforços solicitantes que produzem
tensões normais nas seções transversais das peças. Os esforços podem ser o
momento fletor e a força normal.
O desenho dos diagramas de domínios pode ser visto como uma peça sendo
visualizada em vista ou elevação, constituída com duas armaduras longitudinais
próximas às faces superior e inferior da peça.
A posição da linha neutra é dada pelo valor de x, contado a partir da fibra mais
comprimida ou menos tracionada da peça. No caso específico da Figura 88, x é
contado a partir da face superior. Em função dos vários domínios possíveis, a linha
neutra estará compreendida no intervalo entre - ∞ (lado superior do diagrama no
desenho da Figura 3.7) e + ∞ (lado inferior do diagrama). Quando 0 ≤ x ≤ h, a linha
neutra estará passando dentro da seção transversal.
São descritas a seguir as características da cada um dos oito diferentes
domínios de deformações.

3.5.1.1 Reta A

O caso de solicitação da reta a é a tração uniforme (também chamada tração


simples ou tração axial), com a força normal de tração aplicada no centro de
gravidade da seção transversal (Figura 3.9). A linha neutra encontra-se no - ∞, e
todos os pontos da seção transversal, inclusive as armaduras estão com deformação
94

de alongamento igual à máxima de 10 ‰. As duas armaduras, portanto, estão com a


mesma tensão de tração, a de início de escoamento do aço, fyd (ver diagrama σ x ε
dos aços na Figura 86). Como exemplo existem os elementos lineares chamados
tirantes.

Figura 3.9 – Tração uniforme na reta A.

3.5.1.2 Domínio 1
O domínio 1 ocorre quando a força normal de tração não é aplicada no centro
de gravidade da seção transversal, isto é, existe uma excentricidade da força normal
em relação ao centro de gravidade. Neste domínio, ocorre a tração não uniforme, e a
seção ainda está inteiramente tracionada, embora com deformações diferentes
(Figura 3.10). Também se diz que a solicitação é de tração excêntrica com pequena
excentricidade, ou flexo-tração.

Figura 3.10 – Tração não uniforme no domínio 1: a) linha neutra com valor – x;
b) linha neutra com x = 0.

A deformação de alongamento na armadura mais tracionada é fixa e vale 10 ‰.


A linha neutra é externa à seção transversal, podendo estar no intervalo entre – ∞
(reta a) e zero (limite entre os domínios 1 e 2), com x tendo um valor negativo. A
95

capacidade resistente da seção é proporcionada apenas pelas armaduras


tracionadas, pois o concreto encontra-se inteiramente fissurado.
Como exemplo de elemento estruturais no domínio 1 há o tirante.

3.5.1.3 Domínio 2

No domínio 2 ocorrem os casos de solicitação de flexão simples, tração


excêntrica com grande excentricidade e compressão excêntrica com grande
excentricidade.
A seção transversal tem parte tracionada e parte comprimida (Figura 3.11). O
domínio 2 é caracterizado pela deformação de alongamento fixada em 10 ‰ na
armadura tracionada.
Em função da posição da linha neutra, que pode variar de zero a x2lim (0 ≤ x ≤
x2lim), a deformação de encurtamento na borda mais comprimida varia de zero até
3,5 ‰.
Quando a linha neutra passar por x2lim, ou seja, x = x2lim, as deformações na
armadura tracionada e no concreto da borda comprimida serão os valores últimos, 10
‰ e 3,5 ‰, respectivamente.
No domínio 2 diz-se que a armadura tracionada (As2) é aproveitada ao
máximo, com εsd = 10 ‰, mas o concreto comprimido não, com εcd ≤ 3,5 ‰.
O domínio 2 é subdividido em 2a e 2b em função da deformação máxima de
encurtamento no concreto comprimido. No domínio 2a considera-se a deformação
variando de zero a 2 ‰ e no domínio 2b de 2 ‰ a 3,5 ‰.

Figura 3.11 – Casos de solicitação e diagrama genérico de deformações do


domínio 2.
96

3.5.1.4 Domínio 3

Os casos de solicitação são os mesmos do domínio 2, ou seja, flexão simples,


tração excêntrica com grande excentricidade e compressão excêntrica com grande
excentricidade. A seção transversal tem parte tracionada e parte comprimida (Figura
3.12).
O domínio 3 é caracterizado pela deformação de encurtamento máxima fixada
em 3,5 ‰ no concreto da borda comprimida.
A deformação de alongamento na armadura tracionada varia da deformação
de início de escoamento do aço (εyd) até o valor máximo de 10 ‰, o que implica que
a tensão na armadura é a máxima permitida, fyd (ver Figura 3.12).

Figura 3.12 – Casos de solicitação e diagrama genérico de deformações do


domínio 3.

A posição da linha neutra pode variar, desde o valor x2lim até x3lim (x2lim ≤ x ≤
x3lim), que delimita os domínios 3 e 4. A deformação de encurtamento na armadura
comprimida é menor mas próxima a 3,5 ‰, por estar próxima à borda comprimida,
onde a deformação é 3,5 ‰.
Na situação última a ruptura do concreto comprimido ocorre simultaneamente
com o escoamento da armadura tracionada.

3.4.1.5 Domínio 4

Os casos de solicitação do domínio 4 são a flexão simples e a flexão composta


(flexo-compressão ou compressão excêntrica com grande excentricidade).
A seção transversal tem parte tracionada e parte comprimida (Figura 3.13).
97

O domínio 4 é caracterizado pela deformação de encurtamento máxima fixada


em 3,5 ‰ no concreto da borda comprimida.
A deformação de alongamento na armadura tracionada varia de zero até a
deformação de início de escoamento do aço (εyd), o que implica que a tensão na
armadura é menor que a máxima permitida, fyd (ver Figura 3.13).
A posição da linha neutra pode variar de x3lim até a altura útil d (x3lim ≤ x ≤ d).

Figura 3.13 – Casos de solicitação e diagrama genérico de deformações do


domínio 4.

3.5.1.6 Domínio 4A

No domínio 4a a solicitação é de flexão composta (flexo-compressão).


A seção transversal tem uma pequena parte tracionada e a maior parte
comprimida (Figura 3.14).
O domínio 4a também é caracterizado pela deformação de encurtamento
máxima fixada em 3,5 ‰ no concreto da borda comprimida.
A linha neutra ainda está dentro da seção transversal, na região de
cobrimento da armadura menos comprimida (As2), ou seja, d ≤ x ≤ h. Ambas as
armaduras encontram-se comprimidas, embora a armadura próxima à linha neutra
tenha tensões muito pequenas.

Figura 3.14 – Solicitação e diagrama genérico de deformações do domínio 4A.


98

3.4.1.7 Domínio 5

No domínio 5 ocorre a compressão não uniforme ou flexo-compressão com


pequena excentricidade (flexão composta).
A linha neutra não corta a seção transversal, que está completamente
comprimida, embora com deformações diferentes.
As duas armaduras também estão comprimidas. A posição da linha neutra
varia de h até + ∞ (Figura 3.15). O que caracteriza o domínio 5 é o ponto C a 3/7 h ,
como mostrado na Figura 3.15.
A linha inclinada do diagrama de deformações passa sempre por este ponto
no domínio 5. A deformação de encurtamento na borda mais comprimida varia de 2
‰ a 3,5 ‰ e na borda menos comprimida varia de 0 a 2 ‰, em função da posição x
da linha neutra. Com exceção do caso da linha neutra x = h, a forma do diagrama de
deformações será a de um trapézio.

Figura 3.15 – Compressão não uniforme no domínio 5.

3.1.8 Reta B

O caso de solicitação da reta b é a compressão uniforme (também chamada


compressão simples ou compressão axial), com a força normal de compressão
aplicada no centro de gravidade da seção transversal (Figura 3.16).
A linha neutra encontra-se no + ∞, e todos os pontos da seção transversal
estão com deformação de encurtamento igual a 2 ‰. As duas armaduras, portanto,
estão sob a mesma deformação e a mesma tensão de compressão
99

Figura 3.16 – Compressão uniforme na reta b.

3.5.1.9 Determinação de x2lim e x3lim

Tendo como base os diagramas de domínios mostrados na Figura 3.17, os


valores limites de x2lim e x3lim podem ser deduzidos.
Da Figura 3.17 deduz-se o valor de x2lim:

Figura 3.17 – Diagrama de deformações para a dedução de x2lim.

(Eq 79)

( Eq 80)

Com procedimento análogo pode-se deduzir o valor de x3lim. Da Figura 3.18


encontra-se:
100

Figura 3.18 – Diagrama de deformações para a dedução de x3lim.

Como se observa nas Equações . 79 e 80 os valores de x3lim e βx3lim dependem


de εyd, isto é, dependem da categoria do aço da armadura passiva.

A Tabela 3.5.6.1 mostra os valores de x3lim e βx3lim em função da categoria do aço

3.6 Dimensionamento das barras de concreto armado submetidas a momento fletor

Sabe-se que o concreto é um material que apresenta boa resistência à com


pressão e uma resistência muito baixa à tração, daó a necessidade de se utilizar um
segundo material, o aço para absorção desse esforço, resultando em um terceiro
material , o concreto armado.

Sabe-se, também, que a resistência do concreto é especificada por dois

números: o fc28, que é a tensão de ruptura aos 28 dias, obtida pelo ensaio de ruptura

dos corpos de prova com 28 dias de cura: e o fck, denominada resistência


característica, que é a resistência de ruptura usada para projeto da estrutura. A
101

nroma mais recente recomenda que o concreto usado nas estruturas tenham fck >
20Mpa ou 200 kgf/cm2.

O valor do fck = f28 – 1,65 Sd , ( eq. 81 )

Onde 1,65 é um coeficiente usado para garantir que somente 5% dos corpos

de prova se rompam com resistência menor que fck e Sd é um fator estatístico que
depende da quantidade de corpos de prova ensaiados.

O valor Sd é estipulado pela Norma em função do tipo de controle exercido


sobre a execução da estrutura, ou seja:

Sd = 40 kgf/cm2, quando o controle for rigoroso (concreto de usina)

Sd = 55 kgf/cm2, quando o controle for razoável

Sd = 70 kgf/cm2, quando o controle for regular (concreto feito na obra)

É bastante difícil detectar a diferença entre os controles razoável e regular. Por


isso sugere-se que na dúvida sejam usados apenas os limites Sd = 40 kgf/cm2 e Sd =
70 kgf/cm2.

Para o aço, o limite considerado é o escoamento, pois a partir do escoamento


o aço deforma muito provocando a abertura de grandes fissuras na peça de concreto

armado. Como se sabe, a tensão de escoamento do aço é especificada pela sigla fy.

O concreto armado, antes de chegar ao seu limite máximo de resistência, ou


seja antes de romper por compressão no concreto ou de apresentar grandes fissuras,
por escoamento no aço, passa por vários estágios de solicitação, denominados de
estádios.

Para efeito de segurança, procura-se sempre dimensionar a peça de maneira


que o escoamento do aço ocorra antes que se atinja a ruptura a compressão do
concreto, denominada “ruptura com aviso”. Neste caso, a linha neutra sempre estará
acima do valor x = 0,63 * d. Por isso iremos adotar como valor limite da linha neutra,
a metade da altura útil da seção, ou seja, x = 0.5 * d. Assim tem-se:
102

Figura 3.19 – Tensões da seção transversal de uma peça retangular, (REBELLO,


2005)

Se : Tensão = Fôrça / Área , então Fôrça = Tensão x Área ,


Logo : Fc = (Fôrça de compressão no concreto)

Fc = 0.85 * fcd * b *0,8 * b * x = 0.68 * fcd * b * x e (Eq. , ( eq. 81 )

Ft = (Fôrça de tração no aço)


Ft = fyd * Af (Eq. 82)

Para que haja equilíbrio na seção, deve-se ter Fc = Ft , e o binário constituído


por Fc e Ft deve resultar em um momento igual ao momento atuante Md , logo :

Md = Fc * Z (Eq. 83)
ou Md = Ft * Z
Z = d * ( 0,8 * x ) / 2 se x = 0,5 * d (limite imposto)
Z = d * ( 0,8 * 0,5 * d ) / 2 = d – 0,20 * d = 0.8 * d

O primeiro passo é garantir que a compressão no concreto não supere a tensão


de ruptura. Para isso usa-se a equação 03

Md = Fc * Z
103

Md =0,68 * fcd * b * x * Z = 0,68 * fcd * b * 0.5 * d * 0.8 * d =

Md = 0,27 * * fcd * (b * d2)

Usando MK = Md /1,4 e fcd = fck /1,4,

Tem-se: 1,4 * MK = 0,27 *( fcd / 1,4 ) * b * d 2

MK = 0,14 * fck * b * d 2

Chamando C = 0,14 * fck

Então : MK = C * b * d 2 , donde C = MK / b * d 2 ,(Eq. 84)

C é um coeficiente que depende do momento atuante de cálculo MK e das


dimensões da peça, largura b e altura útil d.

O coeficiente C controla a compressão no concreto, para garantir que não

ocorra ruptura sem aviso. Esse limite depende da resistência fck do concreto.

Assim, para que não ocorra no concreto tensão de compressão superior à


tensão que ele resiste, deve-se ter a seguinte condição::

C < 0,14 * fck , (Eq. 85)

Se esta condição for verificada, pode-se então calcular a armação.

C < 0,14 * fck deve-se alterar as dimensões da seção, aumentando a largura b e


a altura h . É bastante claro que aumentar a altura da peça é mais eficiente.

O cálculo da armação é feito usando-se a equação Md = Ft * Z

Md = Ft * Z = Fyd * AF * 0.8 * d
104

1,4 * Mk = Fy / (1,15 * Z ) = Fyd * AF * 0.8 * d , (Eq. 86)

3.7 Dimensionamento das barras de concreto armado submetidas a força cortante

3.7.1 Cálculo da tensão de cisalhamento

As vigas, em geral, são submetidas simultaneamente a momento fletor e a força


cortante. Vai ocorrer sempre que houver variação de momento fletor entre duas
seções. Suponhamos a situação da figura abaixo:

Figura 3.20 – Gráfico do Momento fletor e do Esforço cortante em uma viga com
determinado carregamento , (REBELLO, 2005)
105

Lembrar que a forma do gráfico do momento fletor é idêntica à do funicular das


forças atuantes, o que facilita uma visualização rápida da sua forma.
Sabe-se também, que a força cortante produz a tendência de escorregamento
das seções longitudinais e transversais, resultando em tensões de cisalhamento
horizontais e verticais
Note-se que a tendência de escorregamento entre as fatias horizontais (tensão
de cisalhamento horizontal) é produzida pela variação das tensões normais causadas
pela variação do momento fletor entre duas seções adjacentes, ver figura 3.7.2

Figura 3.21 – Escorregamento entre as fatias horizontais de uma viga, (REBELLO,


2005)
106

Para facilitar o raciocínio, considere-se inicialmente a seção transversal


retangular

Figura 3.22 – Seção transversal retangular de uma viga sujeita a esforços,


(REBELLO, 2005)

Os gráficos da figura 3.22, podem ser substituídos pelo gráfico das tensões
normais entre as duas seções, pois é justamente essa variação que provoca o
cisalhamento

variação da tensão de compressão;

variação do momento fletor;

variação da tensão de tração;

momento fletor na seção 1;

momento fletor na seção 3 ;


107

tensão de tração e de compressão na seção 1;

tensão de compressão na seção 2;

tensão de tração na seção 2;

tensão de cisalhamento na fibra à distância de y1 da linha neutra

(escorregamento das fibras longitudinais, nesta posição)


distância entre seções 1 e 2

Figura 3.23 – Tensões normais entre duas seções, (REBELLO, 2005)

A força de compressão equilibra a força devida ao cisalhamento, assim :


Fcisalhamento = Fcompressão
Lembrando que Forca = Tensão * Área, tem-se:
108

Lembrando que δ = Mxy / I é a tensão normal, decorrente do momento fletor


que atua em uma fibra distante y da linha neutra (LN). Assim :

Δδ = ΔMxy / I

Δδmáx = (ΔM * ymáx ) / I , ( para seção retangular ymáx = h/2 )


ou
Δδmáx = (ΔM * h/2 ) / I e ΔδCI = (ΔM * y1 ) / I

Assim de tem-se :

Com a variação do momento fletor ( ΔM ) ao longo do trecho da peça (ΔX ),


origina força cortante, tem-se:

( ΔM / ΔX )= Q (força cortante), logo :


109

, (Eq. 87)

Vê-se por essa relação que , quando y = h/2 , ou seja , considerando-se a fibra
mais afastada da peça de seção retangular, tem-se :

, (Eq. 88)

Quando y1 =0 , ou seja, na fibra da linha neutra, tem-se

, (Eq. 89)

Isso significa que nas fibras mais externas, tanto superiores como inferiores, a
tensão de cisalhamento é nula, e é máxima na linha neutra. O que é exatamente o
contrário das tensões normais devidas ao momento fletor.

Como o valor de Y1 varia ao quadrado, a forma do gráfico de variação da tensão


de cisalhamento ao longo da altura da seção é uma parábola, ver figura 3.24

Figura 3.24 – Tensão de cisalhamento ao longo da altura da seção

Para uma seção retangular, tem-se os seguintes valores:


110

, momento de inércia da seção

, (Eq. 90)

3.7.2 Comportamento resistente

Considere-se a viga bi-apoiada (Figura 3.25), submetida a duas forças F`iguais


e eqüidistantes dos apoios, armada com barras longitudinais tracionadas e com
estribos, para resistir os esforços de flexão e de cisalhamento, respectivamente.
A armadura de cisalhamento poderia também ser constituída por estribos
associados a barras longitudinais curvadas (barras dobradas).
Para pequenos valores da força F, enquanto a tensão de tração for inferior à
resistência do concreto à tração na flexão, a viga não apresenta fissuras, ou seja, as
suas seções permanecem no Estádio I. Nessa fase, origina-se um sistema de
tensões principais de tração e de compressão.
Com o aumento do carregamento, no trecho de momento máximo (entre as
forças), a resistência do concreto à tração é ultrapassada e surgem as primeiras
fissuras de flexão (verticais). Nas seções fissuradas a viga encontra-se no Estádio II
e a resultante de tração é resistida exclusivamente pelas barras longitudinais. No
início da fissuração da região central, os trechos junto aos apoios, sem fissuras,
ainda se encontram no Estádio I.
Continuando o aumento do carregamento, surgem fissuras nos trechos entre as
forças e os apoios, as quais são inclinadas, por causa da inclinação das tensões
principais de tração σI (fissuras de cisalhamento). A inclinação das fissuras
corresponde aproximadamente à inclinação das trajetórias das tensões principais,
isto é, aproximadamente perpendicular à direção das tensões principais de tração.
111

Com carregamento elevado, a viga, em quase toda sua extensão, encontra-se no


Estádio II. Em geral, apenas as regiões dos apoios permanecem isentas de fissuras,
até a ocorrência de ruptura.

A Figura 3.25 indica a evolução da fissuração de uma viga de seção T, para


vários estágios de carregamento

Figura 3.25 – Evolução da fissuração de uma viga de seção T,


(PINHEIRO, 2003)

3.7.3 Modelo de treliça


112

O modelo clássico de treliça foi idealizado por Ritter e Mörsch, no início do


século XX, e se baseia na analogia entre uma viga fissurada e uma treliça.

Considerando uma viga biapoiada de seção retangular, Mörsch admitiu que,


após a fissuração, seu comportamento é similar ao de uma treliça como a indicada na
Figura 3.26, formada pelos elementos:

• banzo superior → cordão de concreto comprimido;


• banzo inferior → armadura longitudinal de tração;
• diagonais comprimidas → bielas de concreto entre as fissuras;
• diagonais tracionadas → armadura transversal (de cisalhamento).

Na Figura 3.26 está indicada armadura transversal com inclinação de 90°,


formada por estribos.

Figura 3.26 Analogia de treliça, (PINHEIRO, 2003)

Essa analogia de treliça clássica considera as seguintes hipóteses básicas:

 fissuras, e portanto as bielas de compressão, com inclinação de 45°;


 banzos paralelos;
 treliça isostática; portanto, não há engastamento nos nós, ou seja, nas
ligações entre os banzos e as diagonais ;
 armadura de cisalhamento com inclinação entre 45° e 90°.
113

Porém, resultados de ensaios comprovam que há imperfeições na analogia de


treliça clássica. Isso se deve principalmente a três fatores:

 a inclinação das fissuras é menor que 45


 os banzos não são paralelos; há o arqueamento do banzo comprimido
principalmente nas regiões dos apoios;
 a treliça é altamente hiperestática; ocorre engastamento das bielas no banzo
comprimido, e esses elementos comprimidos possuem rigidez muito maior que
a das barras tracionadas.

Para um cálculo mais refinado, tornam-se necessários modelos que considerem


melhor a realidade do problema.
Por esta razão, como modelo teórico padrão, adota-se a analogia de treliça,
mas a este modelo são introduzidas correções, para levar em conta as imprecisões
verificadas.

3.7.4 Modos de ruina

Numa viga de concreto armado submetida a flexão simples, vários tipos de


ruína são possíveis, entre as quais: ruínas por flexão; ruptura por falha de
ancoragem no apoio, ruptura por esmagamento da biela, ruptura da armadura
transversal, ruptura do banzo comprimido devida ao cisalhamento e ruína por
flexão localizada da armadura longitudinal.

3.7.4.1 Ruínas por flexão


Nas vigas dimensionadas nos domínios 2 ou 3, a ruína ocorre após o
escoamento da armadura, ocorrendo abertura de fissuras e deslocamentos
excessivos (flechas), que servem como “aviso” da ruína.
Nas vigas dimensionadas no Domínio 4, a ruína se dá pelo esmagamento do
concreto comprimido, não ocorrendo escoamento da armadura nem grandes
deslocamentos, o que caracteriza uma “ruína sem aviso”.

3.7.4.2 Ruptura por falha de ancoragem no apoio


114

A armadura longitudinal é altamente solicitada no apoio, em decorrência do


efeito de arco. No caso de ancoragem insuficiente, pode ocorrer o colapso na
junção da diagonal comprimida com o banzo tracionado, junto ao apoio.
A ruptura por falha de ancoragem ocorre bruscamente, usualmente se
propagando e provocando também uma ruptura ao longo da altura útil da viga.
O deslizamento da armadura longitudinal, na região de ancoragem, pode
causar ruptura por cisalhamento da alma. A rigor, esse tipo de ruptura não decorre da
força cortante, mas sim da falha na ancoragem do banzo tracionado na diagonal
comprimida, nas proximidades do apoio.

3.7.4.3 Ruptura por esmagamento da biela

No caso de seções muito pequenas para as solicitações atuantes, as tensões


principais de compressão podem atingir valores elevados, incompatíveis com a
resistência do concreto à compressão com tração perpendicular (estado duplo). Tem-
se, então, uma ruptura por esmagamento do concreto, figura 3.27).
A ruptura da diagonal comprimida determina o limite superior da capacidade
resistente da viga à força cortante, limite esse que depende, portanto, da resistência
do concreto à compressão. (Figura 3.27)

Figura 3.27 – Ruptura por esmagamento da biela , (PINHEIRO, 2003)


115

3.7.4.4 Ruptura da armadura transversal

Corresponde a uma ruína por cisalhamento, decorrente da ruptura da


armadura transversal (Figura 3.28). É o tipo mais comum de ruptura por
cisalhamento, resultante da deficiência da armadura transversal para resistir às
tensões de tração devidas à força cortante, o que faz com que a peça tenha a
tendência de se dividir em duas partes.
A deficiência de armadura transversal pode acarretar outros tipos de ruína,que
serão descritos nos próximos itens. (Figura 3.28)

Figura 3.28 – Ruptura da armadura transversal ,(PINHEIRO, 2003)

3.7.4.5 Ruptura do banzo comprimido devida ao cisalhamento

No caso de armadura de cisalhamento insuficiente, essa armadura pode entrar


em escoamento, provocando intensa fissuração (fissuras inclinadas), com as fissuras
invadindo a região comprimida pela flexão. Isto diminui a altura dessa região
comprimida e sobrecarrega o concreto, que pode sofrer esmagamento, mesmo com
momento fletor inferior àquele que provocaria a ruptura do concreto por flexão (Figura
3.29)

Figura 3.29 – Ruptura do banzo comprimido, decorrente do esforço


cortante, (PINHEIRO, 2003)
116

3.7.4.6 Ruína por flexão localizada da armadura longitudinal

A deformação exagerada da armadura transversal pode provocar grandes


aberturas das fissuras de cisalhamento. O deslocamento relativo das seções
adjacentes pode acarretar na flexão localizada da armadura longitudinal, levando a
viga a um tipo de ruína que também decorre do cisalhamento (Figura 3.30).

Figura 3.30. Ruína por flexão localizada da armadura longitudinal,


(PINHEIRO, 2003)

3.7.5 Modelos de cálculo

A NBR 6118 (2003), item 17.4.1, admite dois modelos de cálculo, que
pressupõem analogia com modelo de treliça de banzos paralelos, associado a
mecanismos resistentes complementares, traduzidos por uma parcela adicional Vc.

O modelo I admite (item 17.4.2.2):

 bielas com inclinação θ = 45o ;


 Vc constante, independente de VSd.
117

VSd é a força cortante de cálculo, na seção.

O modelo II considera (item 17.4.2.3):

 bielas com inclinação Ɵ entre 30o e 450 ;


 Vc diminui com o aumento de VSd.

Nos dois modelos, devem ser consideradas as etapas de cálculo:

 verificação de compressão na biela;


 cálculo da armadura transversal;
 deslocamento al do diagrama de força no banzo tracionado.

Na seqüência, será considerado o modelo I.

3.7.5.1 Verificação da compressão na biela

Independente da taxa de armadura transversal, deve ser verificada a condição:

VSd < VRd2

VSd é a força cortante solicitante de cálculo (ɣf , VSk ); na região de apoio, é o


valor na respectiva face (VSd = VSd, face) ;

VRd2 é a força cortante resistente de cálculo, relativa à ruina da biela; no modelo


I (item 17.4.2.2 da NBR 6118, 2003) ;

VRd2 = 0,27 * V2 * fcd * bw * d

, fck em MPa
118

ou
, fck em kN/cm2

3.7.5.2 Cálculo da armadura transversal


119
120

3.7.6 Armadura transversal mínima

Tabela 3.6.6 -

A armadura mínima é calculada por meio da equação :


121

, Eq. 91

3.7.7 Força cortante relativa à taxa mínima

A força cortante solicitante VSd,min relativa à taxa mínima é dada por:

VSd, min = Vsw, min + Vc

Com :
, Eq. 91

3.7.8 Detalhamento dos estribos

Apresentam-se as prescrições indicadas na NBR 6118 (2003), item 18.3.3.2.

a) Diâmetro mínimo e diâmetro máximo

O diâmetro dos estribos devem estar no intervalo: 5 mm < øt ≤ bw /10.


Quando a barra for lisa, φt ≤ 12mm.
No caso de estribos formados por telas soldadas, φt,min = 4,2 mm, desde que
sejam tomadas precauções contra a corrosão da armadura.

b) Espaçamento longitudinal mínimo e máximo

O espaçamento mínimo entre estribos, na direção longitudinal da viga, deve ser


suficiente para a passagem do vibrador, garantindo um bom adensamento.

Para que não ocorra ruptura por cisalhamento nas seções entre os estribos, o
espaçamento máximo deve atender às seguintes condições:

VSd ≤ 0,67 VRd2 → smáx = 0,6 d ≤ 300 mm;


VSd > 0,67 VRd2 → smáx = 0,3 d ≤ 200 mm.
122

c) Número de ramos dos estribos

O número de ramos dos estribos deve ser calculado em função do


espaçamento transversal máximo, entre ramos sucessivos dos estribos:

VSd ≤ 0,20 VRd2 → st, max = d ≤ 800 mm;


VSd > 0,20 VRd2 → st, max = 0,6d ≤ 350 mm.

d) Ancoragem

Os estribos para cisalhamento devem ser fechados através de um ramo


horizontal, envolvendo as barras da armadura longitudinal de tração, e ancorados na
face oposta.
Portanto, nas vigas bi-apoiadas, os estribos podem ser abertos na face
superior, com ganchos nas extremidades.
Quando esta face puder também estar tracionada, o estribo deve ter o ramo
horizontal nesta região, ou complementado por meio de barra adicional.

Portanto, nas vigas com balanços e nas vigas contínuas, devem ser adotados
estribos fechados tanto na face inferior quanto na superior.

e) Emendas

As emendas por transpasse são permitidas quando os estribos forem


constituídos por telas.
Embora não sejam usuais, as emendas por traspasse também são permitidas se
os estribos forem constituídos por barras de alta aderência, ou seja, de aço CA-50 ou
CA-60.
123

4 Metodologia e resultados

O projeto em questão trata-se da implantação de dois conjuntos residenciais


padrão de acabamento baixo , em dois lotes de terrenos, cuja separação entre os
dois lotes existia um desnível da ordem de 6,00m,conforme perfil abaixo, figura 4.1,
de forma que ao se projetar os residenciais, houve a necessidade de se projetar um
arrimo ao longo de todo um lado do limite entre os dois lotes, conforme fig. 4.2
Perfil da Seção AB Esc. Horiz: 1/200
P1
Cota 18
Esc. Verti.: 1/200
PERFIL LONGITUDINAL
A P2
Cota 17
P3 Escala: 1/200
Cota 16
P4
Cota 15
P5
Cota 14
P6
9.58

Cota 13
8.58

P7
7.58

Cota 12
6.58

P8
5.58

Cota 11
4.58
3.58

P9
Cota 10
P10
Cota 11
B
10.55 5.30 6.10 2.80 0,91m 4.71 19.04
0,87m 0,97m

Figura 4.1 – Perfil do terreno

CSR ENGENHARIA
E LOCAÇÕES LTDA
Engº Civil: MÁRIO A. V. TORRES
CREA PE3793-D
Tel.: (81) 3032.1805.
Cel.: (81) 9946.4985.
E-mail: mvilartorres@hotmail.com
Rua Sideral, nº 145, Boa Viagem
Recife-PE. CEP: 51030-630

Projeto : Eng° Mário Augusto Vilar Torres - CREA 3793-D/PE

MURO DE ARRIMO EM ALVENARIA DE PEDRA IMPLANTADO


80,00 M DE C OMPRIMENTO E 6,00 M DE ALTURA 80.00

30.60
1.70 10.65 1.70 2.50 B 1.70 10.65 B 1.70 14.05 2.50 B 14.05
B
3.30

.65

2.03

RESERVATÓRIO RESERVATÓRIO
SUPERIOR SUPERIOR
5.00

16.40
9.80

5.75
4.15

2.03
5.80
3.30

2.43 2.50 B B 2.50 B


B

Figura 4.2 – Planta de locação do muro


124

Após implantado o arrimo de alvenaria, e com projeto do Residencial da


Família I, construído e com as famílias morando nos 32 apartamentos, passamos a
implantar o Residencial da Família II, quando então, no processo de demarcação dos
novos blocos a serem construídos, constatamos que o terreno era menor que o que
estava na planta, não possibilitando com isso, as vagas para seis veículos dos
edifícios, tendo assim que modificar o projeto arquitetônico, de forma a que se
pudesse alocar os seis veículos no terreno.

Optamos por criar um meio subsolo em dos blocos.

Para a implantação deste meio subsolo teríamos que proteger o arrimo já


implantado, em um trecho de 15,00 m, além de ter que se criar um arrimo para
proteção de 50% do bloco.

A solução encontrada para o caso de proteção do arrimo de alvenaria de


pedra, foi o projeto de uma cortina de estacas escavadas justapostas, com 6,00 m de
comprimento, e no trecho de proteção do bloco, projetamos um arrimo de concreto
armado. Assim sendo passamos a ter três objetos de pesquisa, muro de arrimo de
alvenaria de pedra argamassada, cortina de estacas escavadas, e muro de flex.

A figura 4.3 representa o delineamento seguido no projeto pesquisa, sendo


que inicialmente, procurou-se um entendimento do tema, utilizando como base,
referências teóricas e consultas a profissionais especializados na área e da
experiência do autor no ramo da construção civil, então foi dado prosseguimento no
dimensionamento das contenções citadas..
125

PROJETO DAS CONTENÇÕES

De alvenaria de pedra
DADOS
APRESE
NTADOS
FIXAÇÃO DAS DIMENSÕES

VERIFICACÃO DA ESTABILIDADE

EQULÍBRIO EQULÍBRIO DE VERIFICAÇÃO DO EQULÍBRIO DE

ESTÁTICO TRANSLAÇÃO ELU E DO ELS ROTAÇÃO

Figura 4.3 – Delineamento seguido da Pesquisa

4.1 Memória de Cálculo para muro de arrimo de alvenaria de pedra argamassada


(Ver Apêndice 1)

4.1.1 Dados

4.1.1.1 Materiais – Pedras de mão, ou rachão, perfeitamente limpas, adequadamente


assentadas, em juntas verticais superpostas, com argamassa de cimento e areia no
traço 1:4

4.1.1.2 Drenagem – Em tubos de PVC, com diâmetro de 100 mm, atravessando o


muro, dispostos nos espaçamentos de cada 2,00 m, no sentido horizontal e a cada
1,00 m ao longo da altura, sendo que do lado da terra, esses tubos deverão ser
tampados com tela de naylon, malha de 1/8” (3 mm), para evitar a fuga do material
filtrante, composto de pedra britada ømáx =25 mm, e pedrisco, adequadamente
colocados, na espessura de 10 cm, ao longo da altura do muro.
126

4.1.1.3 Elementos do projeto:

Altura do muro H=5,00 m

Inclinação do terreno adjacente α =0

Carga aplicada no topo ( muro de alvenaria de 15 cm de espessura, G0 =6,00 kN


e 3,00 m de altura, rebocado = 200,00 kg/m2 x3,00 = 600,00 kg/m)

Sobrecarga no terreno junto ao muro q = 5 kN/m2

Ângulo de talude natural Ø =300

Paramento interno ( tardoz vertical ) Ɵ1 =0

Ângulo de rugosidade (paramento interno liso) Ø1 =0

Massa específica aparente do terreno ɣ1 =16 kN/m3

Taxa do terreno de fundação əs = 2 kgf/cm2

Coeficiente de atrito concreto - concreto μ =0,70

Coeficiente de atrito concreto - solo μ =0,55

Coeficiente de segurança contra escorregamento ε1 > 1,5

Segurança contra a rotação ε2 > 1,5

Muro a ser assentado a 1,00 m de profundidade em terreno argiloso


cinza escura de consistência média a rija e dura, com SPT 20
20 golpes
golpes
127

.60

.50 .20 .30


Filtro em pedregulho,
c/areia fina e
grossa, em camadas
uniformes
de 20 cm de esp.
de pedra rejuntada

1.00
c/arg. de cimento/
areia no traço 1:6

Parede em alvenaria

1.00
de pedra rejuntada
c/arg. de cimento/
areia no traço 1:6

6.50
6.20
1.00

7.30
Barbacans de tubos
.10
de PVC Ø 75 mm,
espaçados a c/2,00 m.
1.00
1.00

St = 12,62 m²

N.T.
N. Terreno
.60 2.40 .60
.25

.80
.05

3.60
Concreto magro de 5 cm
CORTE VERTICAL- Esc. : 1/50

Figura 4.4 Corte vertical do muro projetado


128

Figura 4.5 – Muro de arrimo de alvenaria de pedra, concluído


4.2 Memória de Cálculo para Cortina em estacas rotativa justapostas (Ver Apêndice
2)

4.2.1 Dados

4.2.1.1 Materiais

Estacas Raiz, Ø300mm, em concreto armado, cravadas no solo/rocha


alterada, tomando-se como base o Projeto Executivo de Contenção de autoria de
Cláudio Soares Mota, onde serão executadas 59 estacas raiz, Ø300mm, todas com
6,0m de comprimento.
. As estacas raízes serão executadas com tricone, nos respectivos diâmetros, e
depois revestidas com tubo metálico até a cota de projeto.
Concluída a perfuração e limpeza total do furo, instala-se a armação da estaca
dentro do tubo de revestimento em todo o seu comprimento.
“A concretagem da estaca é executada através da injeção de argamassa por
um tubo de PVC Ø1 ½”, o qual é introduzido no interior da armação até a cota de
ponta da estaca. A injeção de argamassa é executada no sentido ascendente até que
este alcance a boca do tubo de revestimento.
Concluído o preenchimento da estaca, aplica-se, na estaca, golpes de
argamassa, com pressões de até 0,30 Mpa, através de bombas de alta
pressão/vazão.
A injeção de argamassa é executada com bombas de argamassa de alta
vazão (~120 litros/min.) e motor elétrico de 7,5HP e misturadores de argamassa de
alta turbulência com motor elétrico de 10HP.
A argamassa utilizada na confecção das estacas terá um consumo médio de
cimento mínimo de 600Kg/m e um fck igual ou superior a 20 Mpa, de modo a atender
a Norma NBR-6122. O fator água/cimento será entre 0,45 a 0,55.
Todos procedimentos de execução deverão obedecer às normas vigentes e
especificações do projeto.
129

4.2.1.3 Elementos do projeto:

Altura do muro H=2,60 m

Inclinação do terreno adjacente α =0

Carga aplicada no topo ( muro de alvenaria de 15 cm de espessura, G0 =0,00 kN


e 3,00 m de altura, rebocado = 200,00 kg/m2 x3,00 = 600,00 kg/m)

Sobrecarga no terreno junto ao muro q = 10 kN/m2

Ângulo de talude natural Ø =200

Paramento interno ( tardoz vertical ) Ɵ1 =0

Ângulo de rugosidade (paramento interno liso) Ø1 =0

Massa específica aparente do terreno ɣ1 =18 kN/m3

Taxa do terreno de fundação əs = 2 kgf/cm2

Coeficiente de atrito concreto - concreto μ =0,70

Coeficiente de atrito concreto - solo μ =0,55

Coeficiente de segurança contra escorregamento ε1 > 1,5

Segurança contra a rotação ε2 > 1,5

Os furos de sondagem, relativos ao estaqueamento são os furos 06 20 a 25


e 07, que nos indicam, a uma profundidade de 8,5 a 9,00 m da cota golpes
0,00 m, em um terreno de “formação de rocha decomposta argilosa,
cor variegada, de consistência rija a dura, com SPT de 20 a 25
golpes

Estacas a serem assentadas a 9,00 m de profundidade, com SPT


20 golpes
130

30 t/m²
10 t/m²
qm = 20 t/m²

L = 260cm

qA qB
2
Figura 4.6 – Empuxos atuantes na cortina, acima do terreno

T
b=100
h'=24
h=30
X

As
Figura 4.7 – Fôrça atuante na cortina
131

Figura 4.8 – Cortina de estacas em fase final de conclusão

4.3. Memória de Cálculo para Muro de Flexão em concreto armado (Ver Apêndice 3)

Para estudo deste arrimo e seu dimensionamento, será usado como recurso
computacional o programa AltoQui Eberick V8. N

Figura. 4.3.1.- Diagrama do muro de flexão , EBERICK, V9


132

Figura.4.3.2.- Diagrama com os dados do muro de flexão , EBERICK,


V9

4.3.1 Descrição geral

O módulo Muros é usado para analisar, dimensionar e detalhar muros de


arrimo por gravidade (alvenaria de pedra, ciclópicos, etc) e muros de arrimo de
concreto armado do tipo engastado (cantilever), projetados para conter maciços de
terra.

O módulo Muros realiza a análise por métodos clássicos, assumindo que o


muro se comporta como um corpo rígido em conjunto com o solo no qual ele é
apoiado.

O programa verifica a estabilidade global do muro considerando o equilíbrio


estático e assume que o empuxo ativo, devido ao solo arrimado, se desenvolve
plenamente. O empuxo passivo de reação na base e na frente do muro pode ser
considerado plenamente de acordo com uma configuração do projetista.
133

O programa não considera o dimensionamento de muros submetidos ao


empuxo de solo neutro, denominado também de empuxo em repouso. Este tipo de
empuxo ocorre em muros muito rígidos e indeslocáveis em rotação e translação, no
qual não é possível nenhuma deformação do solo arrimado. Neste caso, nenhum
empuxo ativo é desenvolvido e o empuxo atuante, de valor bem mais elevado é
governado pelas condições do terreno em repouso.

4.3.2 Características

As principais características do módulo Muros são:

 Tipos de muros: diversos tipos de muros podem ser projetados, por


Gravidade (concreto ciclópico e alvenaria de pedra) e em Concreto armado,
com diferentes paramentos e disposições de bases;
 Perfil do solo: o programa permite a consideração de apenas um tipo de solo
no projeto do muro;
 Características geotécnicas do solo: diferentes parâmetros podem ser
utilizados na configuração do solo a ser arrimado e para o solo da fundação do
muro;
 Nível d'água no solo: o empuxo hidrostático devido a presença de um lençol
freático pode ser considerado através da definição de um nível d'água;
 Cargas aplicadas: cargas verticais lineares podem ser aplicadas no topo do
muro;
 Sobrecarga no terreno arrimado: cargas uniformes e concentradas lineares
podem ser aplicadas no solo arrimado atrás do muro;
 Reforço para segurança ao deslizamento: nos muros de concreto armado,
do tipo engastado, é possível projetar um reforço para aumentar a resistência
ao deslizamento com um "dente" de concreto armado na base.

4.3.3 Métodos de análise

O módulo Muros realiza a análise por métodos clássicos, assumindo que o muro
se comporta como um corpo rígido em conjunto com o solo no qual ele é apoiado. O
dimensionamento é feito com base nos seguintes critérios:
134

 Verificação da segurança ao estado limite último por perda de equilíbrio do


muro, considerado como corpo rígido. Neste critério são verificadas as
seguranças ao tombamento e ao deslizamento;
 Verificação da resistência e recalque excessivo do solo de fundação sob a
base do muro, feita pelo método das tensões admissíveis;
 Verificação do esgotamento da capacidade resistente dos elementos do muro,
devido às solicitações normais e tangenciais nas seções de concreto armado e
nos muros por gravidade;
 Verificação ao estado limite de serviço por deslocamento excessivo do topo do
muro, somente para os muros de concreto armado.

Obs: O engenheiro responsável pelo projeto do muro deverá realizar todas as


verificações adicionais que sejam necessárias em todos os casos, inclusive a
verificação da estabilidade global do talude.

4.3.4 Verificação do equilíbrio do muro

Os muros de arrimo são dimensionados com uma adequada segurança ao


estado limite último por perda de equilíbrio ao tombamento e ao deslizamento. Nesta
verificação, o muro é considerado como corpo rígido bem como o solo em volta dele.

Figura. 4.3.3 - Verificação do equilíbrio do muro de flexão , EBERICK, V9


135

As distribuições de pressões devidas ao empuxo do solo são obtidas a partir


da definição de limites virtuais na parte da frente e atrás do muro.

A magnitude e distribuição destas pressões é função dos deslocamentos do


muro e do estado de deformação do solo e geralmente é um problema
indeterminado. O problema tem sido resolvido por métodos clássicos, como por
exemplo, pela Teoria de Empuxos de Coulomb e Rankine, considerando o solo em
um estado de equilíbrio plástico.

No caso de muros rígidos que podem se mover levemente para frente, um


empuxo ativo é despertado no solo na parte detrás do muro e um empuxo passivo se
desenvolve na parte da frente. A relação entre o deslocamento no topo do muro e a
sua altura determina a quantidade de rotação em relação à base. A magnitude das
pressões ativas e passivas depende do valor dessa rotação, O empuxo ativo diminui
com o aumento da rotação e o empuxo passivo na frente do muro, ao contrário,
aumenta. Uma rotação pequena, da ordem de 0,001, já é suficiente para despertar o
empuxo ativo máximo.

É importante em situações de projeto determinar previamente o tipo de


movimento do muro e a magnitude da rotação. Para muros de arrimo em que a
rotação pode ser considerada desprezível a pressão de empuxo em repouso deve
ser utilizada.

A verificação da segurança ao equilíbrio do muro por tombamento e deslizamento é


calculada com a consideração de todos os esforços envolvidos, que são os
seguintes:

Forças verticais

 Forças devidas ao peso próprio do muro;


 Forças devidas ao peso de solo sobre a base do muro;
 Forças externas aplicadas no topo do muro e no solo;
 Forças devidas à pressão no solo sob a base do muro;
 Forças devidas à pressão hidrostática na base do muro.
136

Forças horizontais

 Empuxo ativo devido ao solo arrimado;


 Empuxo passivo devido à resistência do solo na frente do muro e no dente;
 Empuxo hidrostático.

A verificação da estabilidade do muro ao tombamento, como corpo rígido, é feita


pelo equilíbrio de todos os momentos das forças verticais e horizontais envolvidas,
em relação ao ponto de intersecção entre o limite do modelo na frente do muro e o
plano que passa pela base do muro.

A verificação da estabilidade do muro ao deslizamento, como corpo rígido, é feita


pelo equilíbrio de todas as forças horizontais envolvidas.

Figura. 4.3.4.- Verificação ao deslizamento do muro de flexão , EBERICK, V9


137

4.3.5 Verificação das pressões no solo

A verificação da resistência e recalque excessivo do solo de fundação sob a


base do muro é feita pelo método das tensões admissíveis. A pressão máxima no
solo na base do muro é comparada com uma pressão admissível, sendo de
responsabilidade do usuário a definição desse valor.

O valor correto a ser adotado para a pressão admissível deve ser em função
do tipo de solo a partir da tabela de tensões básicas da NBR 6122, outras tabelas de
correlações entre pressões admissíveis no solo e tipos de solo ou a partir de ensaios
e estudos geotécnicos específicos.

4.3.6 Verificação da resistência dos elementos do muro

Os momentos fletores, esforços normais e esforços cortantes são calculados


em seções nas quais os valores são máximos ou a combinação dos esforços for mais
desfavorável, para a verificação das tensões últimas e dimensionamento das
armaduras no caso de muros de concreto armado.

No caso de muros por gravidade, a verificação é feita para o comportamento


de concreto simples e alvenaria não armada.

4.3.7 Dados de entrada

O módulo Muros permite lançar, dimensionar e detalhar muros de arrimo em


concreto armado e de gravidade. Eles são lançados graficamente no croqui,
conjuntamente com a estrutura.

4.3.8 Definição dos carregamentos atuantes

Através do diálogo de edição dos muros, o usuário define os parâmetros do solo


(propriedades físicas e geométricas), acessando a Guia "Empuxo". Além disso, é
possível incluir no dimensionamento a presença de água.
138

Além dos parâmetros do solo, o usuário poderá definir outros carregamentos que
terão influência direta no empuxo solicitante. Para tanto, é necessário acessar a Guia
"Cargas", podendo-se definir os seguintes itens: sobrecargas totais e parciais e carga
concentrada linear no terreno.

Através da Guia "Cargas", é possível definir também uma carga concentrada linear
no topo do muro. No entanto, ela não gera empuxo ativo. Pelo contrário, contribui
para estabilizar a estrutura de arrimo.

4.3.9 Definição da geometria

Uma vez definidas convenientemente as propriedades e a altura do solo e os


carregamentos atuantes no muro, é necessário definir também a geometria da
parede, a citar: altura (h) , largura do topo (do) e da base (di) e as respectivas
inclinações (qi e qe).

Nos muros em concreto armado que possuem dente, define-se ainda a largura
desse elemento e nos muros por gravidade escalonados, é necessário definir
também a largura e altura do escalonamento.

Figura. 4.3.5.- Verificação ao deslizamento do muro de flexão , EBERICK, V9


139

A geometria do muro é definida através da Guia "Geometria" do diálogo de


lançamento.

Com base nos valores configurados pelo usuário para o solo e os


carregamentos, o Eberick calcula iterativamente as dimensões da base interna e
externa do muro como também a altura do dente (quando houver), para que a
condições de estabilidade (verificação ao tombamento e deslizamento) e pressões na
base sejam atendidas.

O processo iterativo utilizado pelo Eberick tem início em um valor mínimo e


encerra em um valor máximo, arbitrados pelo usuário em menu

Figura. 4.3.6.- Metodologia p/ cálculo da base do muro de flexão , EBERICK,


V9

Caso o Eberick não consiga satisfazer as condições de estabilidade do muro


com as dimensões máximas configuradas pelo usuário para a base, será emitido o
Erro D44 - Lado da sapata maior que o permitido pela configuração e o elemento não
poderá ser dimensionado nem detalhado.

As modificações realizadas na geometria do muro podem ser facilmente


visualizadas no próprio diálogo de lançamento do elemento, o qual possui um
desenho que é atualizado a cada alteração.
140

4.3.10 Análises e resultados

4.3.10.1 Empuxos ativos

Com o módulo Muros, o Eberick calcula os empuxos atuantes em um muro de


arrimo com base na altura de terra e nos carregamentos configurados pelo usuário, a
citar: sobrecarga, sobrecarga distribuída em uma região e carga concentrada linear
no terreno. Além disso, permite também adicionar ao empuxo final a parcela referente
ao nível d´água elevado, caso houver.

A seguir serão explicados detalhadamente os efeitos isolados de cada ação


apresentada no parágrafo acima, sendo que, quando atuam concomitantemente,
formam o diagrama de empuxo total no muro de arrimo.

Empuxo somente devido ao solo

A partir da altura de solo a ser arrimada pelo muro de arrimo, o programa


calcula o empuxo devido ao solo. O diagrama de empuxo nesse caso tem uma
variação linear, com o valor mínimo no nível do solo e máximo na base do muro.

Empuxo devido somente à sobrecarga + solo

Figura. 4.3.7- Empuxo devido à sobrecarga do muro de flexão , EBERICK, V9

A ação da sobrecarga adicionada sobre o terreno aumenta o empuxo atuante


no muro. Pode-se tratar a sobrecarga como qualquer ação distribuída por unidade de
área que esteja atuante junto ao solo (ex.: estacionamento de veículos).
141

Figura. 4.3.8.- Sobrecarga total do muro de flexão , EBERICK, V9

A influência da sobrecarga no empuxo é tanto maior quanto maior for seu


valor. O gráfico é análogo ao apresentado no item anterior, para o solo
(carregamento triangular). A diferença está no valor do empuxo inicial, que é diferente
de zero, cujo efeito aumenta linearmente o empuxo máximo na base do muro.

Figura. 4.3.9 - Gráfico do empuxo devido ao solo + sobrecarga, EBERICK, V9

Empuxo devido somente à sobrecarga distribuída em uma região

Com o módulo Muros, é possível adicionar uma sobrecarga distribuída em


uma área específica do terreno (sobrecarga parcial). Para tanto, é necessário
142

informar uma distância de aplicação e a extensão do carregamento. Trata-se,


portanto, de uma carga distribuída parcialmente por unidade de área no solo.

Figura. 4.3.10.- Diagrama das forças devido a trechos de sobrecarga, EBERICK, V9

A ação devido a uma sobrecarga parcial têm influência direta no empuxo final
atuante, cujo diagrama é mostrado a seguir:

Figura. 4.3.11.- Gráfico do empuxo devido a trechos de sobrecarga, EBERICK, V9


143

Empuxo devido somente ao carregamento concentrado linear no terreno

Pode-se adicionar ao solo, além das sobrecargas totais e parciais, um


carregamento concentrado linearmente distribuído sobre o terreno a uma
determinada distância do topo do muro.

Figura. 4.3.12.- Gráfico do empuxo devido a carga concentrada, EBERICK, V9

Assim como ocorre para uma sobrecarga parcial, o empuxo máximo nem
sempre ocorrerá na base do muro de arrimo. A influência desse carregamento na
estrutura de arrimo será tanto menor quanto mais longe ele estiver do elemento.
144

Empuxo devido somente a presença da água

A presença do lençol freático não drenado gera um empuxo hidrostático sobre


o muro. O diagrama de empuxo nesse caso tem uma variação linear, com o valor
mínimo no nível da água e máximo na base do muro.

Figura. 4.3.14.- Gráfico do empuxo devido a agua, EBERICK, V9

A presença do lençol freático não drenado gera um aumento na inclinação do


diagrama de empuxo final, o que poderá ser visualizado no gráfico de empuxo final.

Pressão hidrostática na base

A presença do lençol freático não elevado gera também uma pressão


hidrostática sob a base do muro, proporcional ao nível d´água. Esse efeito aumenta o
momento de tombamento do muro e será tanto maior quanto maior for as dimensões
da base.

Figura. 4.3.15.- Gráfico do empuxo devido a pressão hidrostática, EBERICK,


V9
145

Empuxo total atuante (solo + carregamentos + água)

O diagrama de empuxo final no modelo adotado será obtido com a soma dos
empuxos atuantes descritos anteriormente, conforme mostrado na figura a seguir:

Figura. 4.3.16.- Gráfico do empuxo total, EBERICK, V9

Pode-se notar que o gráfico de empuxo total assume a configuração de todas


as parcelas isoladas agindo em conjunto. Quanto maior for a influência de cada
carregamento, mais facilmente ele será notado no gráfico.

A parcela devido a pressão hidrostática na base não está inclusa no gráfico


acima, cujo efeito será somado para se obter o momento total de tombamento.
146

4.3.10.2 Verificação da segurança ao tombamento e ao deslizamento

A verificação da segurança ao estado limite último por perda de equilíbrio do


muro, considerado como corpo rígido é feita ao tombamento e ao deslizamento.

As forças resistentes são obtidas através das cargas verticais e ao empuxo


passivo. As cargas verticais são: o peso próprio do muro, a carga concentrada linear
no topo do muro, o peso da terra sobre a base externa e o peso de terra sobre a base
interna.

A denominação "base externa" se refere ao lado que contém o solo e vice-versa.

Para o cálculo dos momentos resistentes, todas as cargas verticais são


consideradas atuando em relação ao ponto de giro do muro, conforme mostrado na
figura a seguir:

Figura. 4.3.17 - Esquema das carga atuantes, EBERICK, V9

Além das cargas verticas, o empuxo passivo também contribui para o


equilíbrio do muro, conforme apresentado na figura a seguir:
147

Figura. 4.3.18.- Esquema das carga do empuxo passivo, EBERICK, V9

Para desenvolver o empuxo passivo completamente é necessário um


deslocamento compatível com a compressão total do solo na frente do muro. Como
este deslocamento pode ser relativamente grande, geralmente a contribuição do
empuxo passivo não é considerada em projeto.

A seguir, serão apresentados detalhadamente a ação das cargas verticais e do


empuxo passivo.

Cargas verticais

Conforme já informado, as cargas verticais que equilibram o muro são: o peso


próprio do muro, a carga concentrada linear no topo do muro, o peso da terra sobre a
base externa e o peso de terra sobre base interna. Elas serão descritas
isoladamente:

Peso próprio do muro

O momento resistente devido ao peso próprio do muro é calculado com o peso


total do muro em relação ao ponto de giro da base.
148

Figura. 4.3.19.- Geometria do muro, EBERICK, V9

Carga concentrada linear no topo do muro

A partir do valor da carga configurada pelo usuário e do ponto de aplicação (no


centro da largura do topo da parede), pode-se encontrar a parcela do momento
resistente devido a essa ação.

Figura. 4.3.20.- Carga concentrada muro, EBERICK, V9


149

Terra sobre a base externa

Através da área de solo localizada acima da base externa e do seu ponto de


aplicação, pode-se calcular a parcela de momento resistente devido ao peso do solo
sobre a base externa.

Figura. 4.3.21.- Peso da terá sobre a base externa do muro, EBERICK, V9

O peso de terra considerado no cálculo é equivalente à área sobre a base


externa. Em muros de concreto armado com a denominação interno, e em muros por
gravidade, a parcela de terra sobre a base externa não é considerada.

Terra sobre a base interna

É possível adotar, além da terra sobre a base externa, uma altura de terra
sobre a base interna. Para tanto, é necessário configurar corretamente o item "Altura
lado interno" na guia "Empuxo" do diálogo de edição dos muros.

O valor da altura configurada pelo usuário é considerada a partir da altura


maior da base do muro (H1), conforme figura a seguir:
150

Figura. 4.3.22.- Peso da terá sobre a base interna do muro, EBERICK, V9

Analogamente, em muros de concreto armado com a denominação "externo" e


em muros por gravidade, a contribuição do peso de terra sobre a base interna para o
cálculo dos momentos resistentes não é considerada.

4.3.10.3 Empuxo passivo

O empuxo passivo somente será considerado no cálculo do muro caso o item


"Considerar empuxo passivo" em menu Configurações - Dimensionamento - Muros
estiver habilitado.

Figura. 4.3.23.- Empuxo passivo do solo da base do muro, EBERICK, V9


151

Conforme já informado, para se desenvolver completamente o empuxo


passivo é necessário um deslocamento compatível com a compressão total do solo
na frente do muro.

O empuxo passivo pode ter seu efeito aumentado quando houver altura de
solo sobre o lado interno, cujo valor é configurado pelo usuário através do item
"Altura lado interno" na guia "Empuxo" do diálogo de edição dos muros. Dessa
maneira, tem-se o diagrama a seguir:

Figura. 4.3.024 - Empuxo passivo do solo da base do muro + altura de solo interna,
EBERICK, V9

O efeito do empuxo passivo poderá ser ainda maior caso se tenha, além de
uma altura de terra sobre a base interna, um formato de muro com dente. Nesse
caso, o diagrama será
152

Figura. 4.3.25.- Empuxo passivo do solo da base do muro + altura de solo interna +
dente, EBERICK, V9

A opção de adotar muros de arrimo com dente é disponível somente em


elementos de concreto armado.

É possível definir valores negativos para o item "Altura lado interno" na guia
"Empuxo" do diálogo de edição dos muros. Caso se utilize o valor negativo igual a
altura maior da base do muro, o empuxo passivo ocorrerá somente no dente.

Caso o item "Considerar empuxo passivo" em menu Configurações -


Dimensionamento - Muros estiver desabilitado, a opção de muros em concreto
armado com dente não ficará disponível, ficando apenas três tipos para a escolha:
Base interna, Base externa e Base total.

Os resultados apresentados pelo programa poderão ser visualizados na forma de


relatórios, conforme apresentado no Relatório Detalhado.

Como resultado, tem-se um momento total resistente (devido às cargas verticais +


empuxo passivo), uma força vertical total (somatório de todas as cargas verticais) e
uma força horizontal devida ao empuxo passivo.

Com os empuxos atuantes e os esforços resistentes, são feitas as verificações da


estrutura de arrimo: tombamento, deslizamento, pressões e flechas.
153

Verificação ao Tombamento

A verificação ao tombamento consiste em avaliar se os momentos resistentes


são superiores aos momentos de tombamento.

A razão entre o momento resistente e o momento de tombamento determina


um fator de segurança (FS) ao tombamento, o qual deverá ser superior ao valor
arbitrado em menu Configurações - Dimensionamento - Muros, grupo "Coeficiente de
segurança".

Resumindo, tem-se:

e1 >= FS

Onde:

 e1 = Mresistente/Mtombamento
 FS - fator de segurança

O fator de segurança recomendado, para muros considerados como estrutura


permanente, varia de 1,5 para solos arenosos até 2 para solos coesivos.

4.3.10.4 Verificação ao Deslizamento

A verificação ao deslizamento consiste em avaliar se a resultante das forças


horizontais atuantes são resistidos pelo muro.

Para o cálculo da força horizontal resistente, é necessário configurar


inicialmente o tipo de solo, acessando o menu Configurações - Dimensionamento -
Sapatas. Solos coesivos levarão em conta o parâmetro "coesão" e solos arenosos o
"ângulo de atrito interno".

O empuxo passivo também contribui para a força resistente do muro, caso seu
efeito for considerado no cálculo.
154

Assim como ocorre para a verificação ao tombamento, a razão entre a força


horizontal total resistente e a atuante determina um fator de segurança "FS", o qual
deverá ser superior ao arbitrado pelo usuário em menu Configurações -
Dimensionamento - Muros, grupo "Coeficiente de segurança".

Resumindo, tem-se:

e2 >= FS

Onde:

 e2 = Fresistente/Fatuante
 FS - fator de segurança

O fator de segurança recomendado contra o deslizamento, para muros


considerados como estrutura permanente, é de 1,5.

4.3.10.5 Verificação das pressões na fundação

A verificação da resistência e recalque excessivo do solo de fundação sob a


base do muro é feita pelo método das tensões admissíveis.

Como regra geral, a pressão máxima que solicitará o solo não poderá ser
superior ao valor admissível arbitrado pelo usuário, acessando o menu Configurações
- Dimensionamento - Sapatas.

O programa calcula duas pressões, uma máxima e uma mínima em função da


carga vertical total atuante na base, dos momentos resistentes, momentos atuantes e
da área da base do muro.

Se a pressão mínima for negativa, ou seja, se houver tração em qualquer parte


da base, essa parcela será desprezada, o que conseqüentemente aumenta a
pressão máxima, conforme mostrado na figura a seguir:
155

Figura. 4.3.26.- Esquema de verificação da pressão na base, EBERICK, V9

Resumindo, tem-se:

Sigmax >= Sigadmissível

Conforme já informado, o comprimento da base do muro é calculado


automaticamente pelo Eberick, através de um processo iterativo, que considera os
valores mínimos e máximos configurados pelo usuário em menu Configurações -
Dimensionamento - Muros. Caso não seja possível encontrar uma dimensão em que
a pressão no solo seja menor ou igual à admisível, o programa apresentará o Erro
D44 - Lado da sapata maior que o permitido pela configuração

4.3.10.6 Deslocamento

Além de garantir a estabilidade do muro e o dimensionamento ao Estado


Limite Último, o módulo Muros verifica as condições em serviço por um processo
simplificado, avaliando o valor da flecha final no topo do muro. Esse valor é a soma
das parcelas referente ao deslocamento da parede e do giro da base, conforme
apresentado na figura a seguir:
156

Figura. 4.3.27.- Deslocamento do muro, EBERICK, V9

Deslocamento da parede

O programa considera o muro como uma barra engastada na base, e calcula o


deslocamento elástico, imediato (considerando a fissuração) e diferido (considerando
o efeito da fluência), sendo esse último o valor da flecha teórico final.

O deslocamento da parede é calculado somente para muros em concreto armado.

ao tentar detalhar o elemento.

Giro da base

Além do deslocamento da parede, o programa calcula também a parcela


devido ao giro da base, função do coeficiente de recalque vertical (configurado
através da Guia "Empuxo" do diálogo de edição do muro) e do tipo de solo (coesivo
ou arenoso).

O valor final para o deslocamento no topo do muro é a soma das parcelas


referente ao giro da base e do deslocamento diferido da parede.

O comportamento do muro em serviço pode ser visualizado no Eberick através


da área de CAD da janela de dimensionamento dos muros, desde que esteja
selecionado o ícone .

A verificação ao deslocamento do muro é feita tendo como base o limite de


deslocamento previsto em projeto, configurado pelo usuário através do item "Avisar
para flecha > L/" em menu Configurações - Dimensionamento - Muros. Caso o valor
do deslocamento no topo do muro seja superior ao limite imposto, o programa emitirá
o Aviso 30 - Deslocamento excessivo no topo ao detalhar o elemento.
157

Mesmo que o muro tenha deslocamento excessivo, o programa dimensionará


e detalhará o elemento. Será apresentado um aviso e o engenheiro do projeto
poderá, a seu critério, aceitar ou não as condições em serviço da estrutura.

4.3.10.7 Dimensionamento dos componentes estruturais do muro

Muro em concreto armado

No caso dos muros de concreto armado, o programa realiza o


dimensionamento dos elementos estruturais, que são a parede, a base do muro e o
reforço para a resistência ao deslizamento (dente). As seções consideradas no
dimensionamento destes elementos são mostradas na figura a seguir:

Figura. 4.3.28.- Verificação dos pontos de resistência, EBERICK, V9

Parede

A parede vertical é dimensionada como um elemento em balanço, engastado


na base e livre no topo.

A armadura é obtida com base nos diagramas de esforços que solicitam a


parede do muro (obtidos pelo diagrama de empuxo), o qual está engastado na base
158

e livre no topo. O programa faz diversas verificações a longo da altura da parede,


adotando a pior situação, a qual resultará na maior área de aço.

Base

O Eberick adota o critério de rigidez proposto por BOWLES (1968), no cálculo


da altura da base do muro, para garantir que a sapata seja rígida. Este critério
depende do coeficiente de recalque vertical (configurado através da Guia "Empuxo"
do Diálogo de edição de um muro), da base da sapata e do módulo de elasticidade
do muro.

A altura maior (h1) da base do muro será o maior valor entre a largura da base
do muro (di), o valor mínimo configurado pelo usuário no item "Altura maior (h1)" em
menu Configurações - Dimensionamento - Muros, grupo "Dimensões mínimas" e o
valor calculado conforme explicação do parágrafo anterior.

A armadura é calculada por flexão, verificando-se o momento máximo que


solicita a base do muro. A verificação ao cisalhamento também é realizada conforme
definido pelo item 19.5.3.1 da NBR 6118:2003.

Dente

A armadura do dente também é calculada a partir dos esforços que solicitam o


elemento (obtidos pelo diagrama de empuxo passivo), sendo um elemento engastado
na base do muro e livre no topo.

O usuário define uma altura mínima e máxima para o dente, acessando o


menu Configurações - Dimensionamento - Muros. A partir desses valores, o Eberick
calcula automaticamente a altura do dente através de um procedimento iterativo, no
qual inicia na altura mínima configurada, e encerra quando as condições de
estabilidade (verificação ao deslizamento e tombamento) forem atendidas.

Caso a altura calculada para o dente para estabilizar o muro seja maior que o
valor máximo configurado, o programa continuará a emitir o Erro D44 - Lado da
sapata maior que o permitido pela configuração
159

Gravidade

No caso dos muros por Gravidade, as verificações ao tombamento e ao


deslizamento também são feitas ao longo da altura do muro, fazendo-se seções do
muro em espaçamentos (S) pré-determinadas pelo usuário, como mostrado na figura
a seguir:

Figura. 4.3.29.- Verificação das seções intermediárias, EBERICK, V9

O valor do espaçamento (S) é determinado pelo usuário, acessando o menu


Configurações - Dimensionamento - Muros, grupo "Muro de gravidade", item
"Verificação das juntas", definindo-se um espaçamento máximo. Em função do
espaçamento (S), o programa calcula automaticamente o número das seções
intermediárias.

O critério de verificação das seções intermediárias é diferente para muros por


gravidade lisos ou com dente, a citar:

 Muros com dente: as seções serão feitas em cada degrau. O Eberick


considerará juntas adicionais entre a base e o primeiro degrau e em cada
degrau, quando a altura for maior que o espaçamento máximo definido.
 Muros lisos: o cálculo do número de seções será feito considerando o
espaçamento máximo definido nessa configuração.
160

Se o tem "Altura interna solo" da guia "Empuxo" do diálogo de edição de um muro


for maior que zero, uma seção sempre será nessa altura, dividindo o muro em duas
partes.

Se, em alguma seção do muro, as verificações ao tombamento ou ao


deslizamento não passarem, o programa emitirá o Erro D44 - Lado da sapata maior
que o permitido pela configuração ao detalhar o elemento. Os valores numéricos
poderão ser consultados através do Relatório Detalhado, acessado pela janela de
dimensionamento de muros, menu Relatórios.

4.3.10.8 Cuidados especiais

Alguns cuidados adicionais devem ser levados em consideração no


dimensionamento de um muro através do Eberick, a citar:

Parâmetros geotécnicos do solo

Todos os parâmetros referente ao solo deverão ser cuidadosamente


analisados pelo usuário, seja através de um projeto geotécnico ou através de laudos
de sondagens. Eles representam para o Eberick dados de entrada, e como tais serão
um dos fatores responsáveis pelo dimensionamento da estrutura de arrimo.

Os parâmetros do solo devem ser configurados pelo usuário através da Guia


"Empuxo" do Diálogo de edição de um muro. O tipo de solo (coesivo ou arenoso) é
configurado através do menu Configurações - Dimensionamento - Sapatas.

Os valores default apresentados pelo Eberick não representam


recomendações do programa, nem necessariamente valores típicos, usuais ou
recomendados. Portanto, não significam que devem ser necessariamente utilizados
pelo usuário, sem que sejam verificados com as condições reais do projeto e da obra.
161

Sistema de drenagem

O programa não dimensiona a drenagem inerente ao muro de arrimo. A


indicação apresentada no detalhamento dos muros por gravidade é apenas um valor
mínimo e que não dispensa um projeto de drenagem específico para cada caso.

Interação entre os muros

Apesar de ser possível o lançamento de muros ligados entre si, o programa os


considera como isolados, não avaliando a influência que um transmite ao outro. Cita-
se como exemplo:

 Caso de muros com diferentes alturas, lançados justapostos ao longo do


terreno;
 Lançamento de muros nas extremidades do terreno, perpendiculares entre si,
etc.

Influência do muro na estrutura

Apesar do muro poder ser inserido no Eberick em um contexto que inclui uma
estrutura previamente lançada, com seus pavimentos e alturas correspondentes, o
muro não adiciona qualquer tipo de influência no modelo estrutural. Isso pode
acarretar alguns problemas do dimensionamento dos elementos componentes da
estrutura, incluindo mas não se limitando aos exemplos a seguir:

 Casos em que houver pavimentos em subsolo e o muro for inserido logo


acima deles. Dependendo da localização do muro, a pressão que ele exercerá
no solo poderá ter influência direta na edificação, aumentando os esforços
solicitantes nos elementos componentes da estrutura.
 O mesmo exemplo do item acima pode ser estendido para as fundações.
Dependendo da localização do muro, ele terá influência direta nos esforços
solicitantes das sapatas e/ou blocos, o que trará implicações no
dimensionamento desses elementos.

Os dois itens acima são apenas alguns exemplos da influência do muro na


estrutura e que o Eberick não leva em consideração. Qualquer ação extra produzida
162

pelo muro na edificação, deverá ser cuidadosamente avaliada pelo engenheiro


projetista e devidamente incluída no modelo estrutural.

Figura 4.3.30 – Muro de flexão em conclusão


163

CONSIDERAÇÕES FINAIS

É esperado que um trabalho de conclusão de curso proporcione uma


oportunidade de melhorar os conhecimentos adquiridos na graduação, em uma das
diversas área da engenharia. Ao realizar o projeto estrutural em concreto armado
pode-se vivenciar todo o problema de ajustes necessários entre o projeto
arquitetônico e o projeto estrutural, resolvendo e superando as dificuldades
encontradas.

A comparação entre as três opções arrimos estudadas mostrou que não há


como predizer qual a melhor ou mais econômica solução, sem antes projetar e
dimensionar as estruturas, que dependem do grau de dificuldade encontrado.

Pode-se constatar a importância dos programas especializados em projetos de


estrutura de concreto armado hoje disponíveis (softwares). Mas a necessidade de
conhecimento do engenheiro na definição do projeto de estruturas é indispensável
para a correta avaliação sendo que a ausência desta pode vir a acarretar
inconvenientes futuros.

O julgamento de engenharia é fundamental para que a concepção estrutural


se realize de maneira racional. A sensibilidade do engenheiro civil é de caráter
decisivo na avaliação dos resultados fornecidos pelo programa computacional.

Portanto, está cada vez mais provado que os métodos numéricos são
confiáveis em seus resultados e, sendo assim, aplicáveis em qualquer problema de
engenharia, tendo o cuidado de definir bem o modelo matemático.
164

Referencias

 TSCHEBOTARIOFF, Gregory Porphyriewitch, 1899. FUNDAÇÕES


ESTRUTURAS DE ARRIMO E OBRAS DE TERRA. Editora McGraw-Hill do
Brasil LTDA: São Paulo, 1978.

 CAPUTO, Homero Pinto, 1923. MECÂNICA DOS SOLOS E SUAS APLICAÇÕES,
Exercícios e Problemas resolvidos, VOLUME 3, 4ª EDIÇÃO. Rio de Janeiro: LTC,
2013.

 CAPUTO, Homero Pinto, 1923. MECÂNICA DOS SOLOS E SUAS APLICAÇÕES,
Exercícios e Problemas resolvidos, VOLUME 2, 6ª EDIÇÃO. Rio de Janeiro: LTC,
2013.

 MOLITERNO, Antonio, 1927. caderno de MUROS DE ARRIMO. São Paulo:
Editora Edgard Blucher Ltda, 1980.

 ALONSO, Urbano Rodriguez, 2010. Exercícios de Fundações, 2ª edição,
2010. Editora Edgard Blucher Ltda, São Paulo, 2010.

 MARCHETTI, Osvaldemar, MUROS DE ARRIMO, 1ª Edição, 2008. Editora
Edgard Blucher Ltda, São Paulo, 2010.

 BOTELHO, Manoel Henrique Campos, QUATRO EDIFICIOS, CINCO LOCIAS
DE IMPLANTAÇÃO, VINTE SOLUÇÕES DE FUNDAÇÕES, 1ª Edição, 2007.
Editora Blucher Ltda, São Paulo , 2007

REBELLO, Yoapanan Conrado Pereira, 1949, ESTRUTURAS DE AÇO,


CONCRETO E MADEIRA, Zigurate Editora, São Paulo, 2005

 ALONSO, Urbano Rodriguez, EXERCÍCIOS DE FUNDAÇÕES, 2ª EDIÇÃO,


Editora Blucher Ltda, São Paulo , 2012

 GERSOVICTH, Denise M S Departamento de Estruturas e Fundações.
FEUERJ. PGECIV. disponível em
http://www.eng.uerj.br/~denise/pdf/muros.pdf

 HELENO, Aline Fernandes, CÁLCULO AUTOMÁTICO DE ESTRUTURAS DE
CONTENÇÃO, disponível em a_heleno@uol.com.br

 GASPAR, Paulo Francisco , CONTENÇÃO DE TALUDE DE ESCAVAÇÃO COM
ESTACAS JUSTAPOSTAS ESTUDO DE CASO, disponível em
pafraga7@gmail.com

 BARROS, Almeida , OBRAS DE CONTENÇÃO- Maccaferi, disponível em
https://pt.scribd.com/doc/..

 BASTOS Paulo Sérgio dos Santos , FUNDAMENTOS DO CONCRETO ARMADO
disponível wwwp.feb.unesp.br/pbastos
165

 PINHEIRO, M. Pinheiro, CISALHAMENTO EM VIGAS, disponível em


www.fec.unicamp.br/~almeida/cv714/Cisalhamento.pdf

 NBR 11682 (2009) Estabilidade de Encostas,


 BOWLES, J. E. (1968) FOUNDATION ANALYSIS AND DEISGN, McGraw-Hill,


New York, NY, USA
 CRAIG, R.F. (2004) CRAIG’S SOIL MECHANICS, 7th ed., Spon Press,
London , and New York J. E.

 Cintra, J.C.A.; Aoki, N. e Albiero, J.H. (2003) TENSÃO ADMISSÍVEL EM


FUNDAÇÕESS DIRETAS, Rima , São Carlos
166

APÊNDICES

APÊNDICE 1

1.1 MEMÓRIA DE CÁLCULO DO MURO DE ALVENARIA DE PEDRA


ARGAMASSADA

APÊNDICE 2

2.1 MEMÓRIA DE CÁLCULO DA CORTINA DE ESTACAS

APÊNDICE 3

2.1 MEMÓRIA DE CÁLCULO DO MURO DE FLEXÃO

ANEXOS

ANEXO I – PLANTAS DE LICAÇÃO DAS SONDAGENS E FUROS 01 A 07

ANEXO II – PLANTAS DE LOCALIZAÇÃO DO EMPREENDIMENTO, MURO DE


ARRIMO DE PEDRA ARGAMASSADA, FORMA E ARMAÇÃO DA
CORTINA DE ESTACAS, E FORMA E ARAMAÇÃO DO MURO DE
FLEXÃO.

ANEXO III – DECLARAÇÃO DE DIREITOS AUTORAIS

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