a. Direito e Economia
“As relações econômicas são reguladas por conceitos jurídicos ou, ao contrário, são as
relações jurídicas que derivam das relações econômicas?” (p. 28), questiona-se retoricamente Marx
ao debater as relações jurídicas de trabalho em uma sociedade capitalista e em uma sociedade
comunista. Na sociedade capitalista, segundo o autor, “os meios de trabalho são monopólio dos
proprietários fundiários (...) e dos capitalistas” (p. 27); na sociedade comunista, por sua vez, a
divisão do trabalho é colocada em xeque e a distribuição salarial é reconfigurada segundo as
capacidades e as necessidades de cada um. Entre esses dois pólos, contudo, há um processo de
desenvolvimento e adequação dialética onde o “objeto aqui é uma sociedade comunista, não como
ela se desenvolveu a partir de suas próprias bases, mas, ao contrário, como ela acaba de sair da
sociedade capitalista, portanto trazendo de nascença as marcas econômicas, morais e espirituais
herdadas da velha sociedade de cujo ventre ela saiu” (p. 29-30).
No âmbito das relações de trabalho, esse processo envolve modificações nas relações
jurídicas que passaria de um direito igualitário (igualdade na liberdade, ou “todos são iguais perante
a lei” – igualdade jurídica formal) para um direito “desigual”, que, na verdade, garantiria igualdade
substantiva ao ponderar elementos de desigualdade entre indivíduos. Essa passagem dialética entre
direito e economia acompanha a tese materialista de que “o direito nunca pode ultrapassar a forma
econômica e o desenvolvimento cultural, por ela condicionado, da sociedade” (p. 32-33).
b. Organização partidária
O texto marca a importante definição da organização partidária como internacionalista, mas
de forma nacional: “Lassalle, ao contrário do Manifesto Comunista e de todo o socialismo anterior,
concebeu o movimento dos trabalhadores sob a mais estreita ótica nacional. Aqui, o programa [de
Gotha] segue seus passos – e isso depois da ação da Internacional! É evidente que, para poder lutar
em geral, a classe trabalhadora tem de se organizar internamente como classe, e a esfera nacional é
o terreno imediato de sua luta. Nesse sentido, sua luta de classe é nacional, não segundo o conteúdo,
mas, como diz o Manifesto Comunista, „segundo a forma‟” (p. 36). O tema será motivo de debate
entre futuros teóricos marxistas, como Lênin, Trotsky e Stálin.
LOWY, M. Prefácio à edição brasileira. In: MARX, K. Crítica do Programa de Gotha. São
Paulo: Boitempo, 2012. pp. 13-17.