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Neseli Dolzan
neselidolzan@terra.com.br
FURB
Resumo:Este trabalho tem por objetivo relatar a importância da utilização dos estudos de tempos e
métodos em setores produtivos, definindo o fluxo operacional mais adequado ao trabalho e identificar
gargalos produtivos. O foco é a definição do tempo padrão das operações envolvidas em um processo
produtivo através de ferramentas de cronoanálise e cronometragem, promovendo o controle do fluxo de
processo e possibilitando análises diversas tais como: carga máquina, carga homem, eficiência,
produtividade entre outros. Assim, foi realizado um estudo de caso em uma indústria têxtil de Santa
Catarina, no setor da embaladeira dos rolos de malha que seguem para a expedição, demonstrando que os
resultados obtidos dão consistência aos números necessários ao controle da produção. Descreveu-se a
aplicação e os resultados deste trabalho auxiliaram na identificação de pontos para melhorias
relacionadas ao método e tempo no posto de trabalho analisado. Verificou-se ainda a praticidade na
análise dos tempos de cada parte da embaladeira.
2. TEMPOS E MÉTODOS
Segundo Barnes (1977), os principais impulsos para o desenvolvimento dos sistemas
de tempos predeterminados partiram de Frederick W. Taylor e de Frank B. Gilbreth. O estudo
de tempos teve seu início em 1881 na usina da Midvale Steel Company e Taylor foi o seu
principal introdutor.
Frederick W. Taylor, o pai do estudo de tempos, escreveu no fim do século passado
que, para estabelecer um tempo padrão normal era necessário subdividir a operação
em elementos de trabalho, descrevê-los, medi-los com um cronômetro e adicionar
certas permissões que levem em conta esperas inevitáveis e fadiga (MAYNARD,
1970).
Alguns anos após Taylor ter iniciado seu trabalho com estudo de tempos, Gilbreth,
considerado o pai do estudo de movimentos, iniciou sua técnica de uso da câmara
cinematográfica para estudar os movimentos requeridos para a execução de certas tarefas
(MAYNARD, 1970). Gilbreth subdividiu os elementos de Taylor em movimentos básicos que
ele chamou de therbligs (conjunto de movimentos fundamentais necessários para o
trabalhador executar operações em tarefas manuais). Segundo Borba et al. (2011), esses
therbligs foram usados para estabelecer o tempo padrão de uma operação como Taylor o fez
com os seus elementos.
A decomposição de operações possibilitou eliminar movimentos inúteis e ainda
simplificar, racionar ou unir os movimentos úteis proporcionando assim economia de tempos
e esforço do operário. A partir disso, determina-se o tempo para a execução das tarefas
mediante o uso de um cronômetro. Meyers (1999) diz que Taylor foi a primeira pessoa a usar
o cronômetro para estudar o trabalho e portanto é chamado de “Pai do Estudo do Tempo”.
Segundo Furlani (2011) o estudo de tempos e métodos pode ser definido como um
estudo de sistema que possui pontos identificáveis de entrada – transformação – saída,
estabelecendo padrões que facilitam as tomadas de decisões. Assim, pode-se favorecer o
incremento da produtividade e prover-se de informações de tempos com o objetivo de
analisar e decidir sobre qual o melhor método a ser utilizado nos trabalhos de produção.
A obtenção de informações reais sobre um processo modifica a forma de tratar a
produtividade e a qualidade num processo produtivo. Os estudos de tempos e métodos
fornecem meios para obtenção de dados reais e somente assim pode-se obter indicadores
confiáveis. Takashina (1999) afirma que os indicadores são essenciais ao planejamento e
controle dos processos das organizações e, neste contexto, a cronoanálise é uma base para o
controle das diversas etapas do processo produtivo, fornecendo o parâmetro inicial, que é o
tempo padrão, para análises e indicadores da produtividade e qualidade. Juran (1991) cita a
importância do controle de processo para a prevenção de mudanças indesejáveis e adversas.
Neste controle, a cronoanálise toma grande importância. E segundo Toledo (2004b), a
cronoanálise vem do estudo de tempos e métodos. Ela define parâmetros tabulados de várias
formas, coerentemente, culminando no melhor planejamento e racionalização industrial.
O estudo de tempos padrão definido como o processo de determinação do tempo
necessário para a execução, em condições padronizadas dos trabalhos produtivos, necessita
sempre de especificações prévias do método empregado para essa execução, o qual deve ter
sido submetido a um estudo de métodos. Furlani (2011) diz que os princípios e técnicas do
estudo de métodos são universais, valendo para qualquer atividade que envolva o trabalho
humano. Porém, o conceito de "melhor método" depende de cada trabalho em cada situação
particular. Não significa obrigatoriamente "o mais econômico", podendo fatores não
econômicos intervir consideravelmente na decisão sobre qual é a melhor entre diversas
alternativas de execução de um trabalho.
Tabela 2: Levantamento de dados para a 1ª etapa dos processos da embaladeira. Fonte: O autor
Após a análise da primeira etapa, tornou-se necessário realizar alguns cálculos para
identificar indicadores que pudessem auxiliar no entendimento do processo. Assim, pela
Tabela 2 observou-se que um operador embalando 34 rolos/hora produziria um total de 272
rolos em um período de 8 horas por dia (tempo estimado, sem setups). Porém, identificou-se
que a meta de produção do setor da embaladeira para um trabalho de 8 horas diárias era de
460 rolos de malha. Considerando que para este posto de trabalho a empresa possui dois
funcionários, optou-se por calcular a eficiência do processo através da Equação 1 de Cardoso
(2008) abaixo:
PPD TP
Eficiência
TTP NP , onde (1)
NP = número de operadores, (no processo atual são dois operadores)
PPD = programa de produção por dia, (dados coletados 34 rolos/h x 8 h/dia = 272
rolos/dia)
TP = tempo padrão de fabricação por peça, (dados coletados 106,41 centmin)
TTP = tempo de trabalho por operador por dia, (8 h/dia = 28800 seg/dia)
272 106, 41
Eficiência
28800 2 = 0,50
Normalmente, busca-se uma eficiência mais próxima de 1.
Takt Time=
28800 3600 55s / unid
460 (2)
Pode-se ainda, avaliar o tempo padrão com Setup e Finalização baseado nas equações
de Cardoso (2008):
TP TS / Q Tp TF / L
, onde: (3)
TS = tempo padrão de setup (pela Tabela 4 = 5,72)
Q = quantidade de rolos para as quais o setup é suficiente (pelo processo 425 rolos)
Tp = tempo padrão da operação (pela Tabela 2 = 1,77)
TF = tempo padrão das atividades de finalização (pela Tabela 3 = 5,95)
L = lote de rolos para que ocorra a finalização (pelo processo 85 rolos)
Logo,
TP 5,72 / 425 1,77 5,95 / 85 TP 1,85min
4. CONCLUSÕES
Este trabalho contribuiu com a aplicação da metodologia para o estudo de tempos e
métodos através de revisão da literatura e de estudo de caso realizado no setor da embaladeira
de uma empresa têxtil. Com a utilização da cronometragem foi possível definir o tempo
padrão real para cada etapa do processo e estudo dos tempos, enquanto que com a
cronoanálise tratou-se as observações das melhorias possíveis deste estudo de tempo aplicado
ao setor em análise.
Com os estudos dos tempos verificou-se que a decomposição das operações possibilita
eliminar movimentos desnecessários e ainda simplificar, racionar ou fundir os movimentos
úteis, proporcionando economia de tempo e esforço do operário. De acordo com os resultados
obtidos como, uma eficiência em 0,50 podem-se constatar pontos passíveis de melhorias,
também a verificação da viabilização de aperfeiçoamentos e necessidade de ações imediatas
para melhorias do processo.
Assim, as observações levantadas para melhoria da eficiência do processo indicaram
propostas de alterações em processo de trabalho que podem ser aplicadas na indústria em
questão. Algumas delas são:
- Alocar os atuais operadores dentro do processo; observou-se durante o levantamento
dos dados que ao deslocar os operadores de posição estes melhoravam seu desempenho;
- Realizar treinamentos com os operadores;
- Desenvolver um modelo integrado do uso de ferramentas de melhoria contínua com
os sistemas de tempos pré-determinados;
- Padronizar as tarefas e responsabilizar o operador para o cumprimento dos tempos e
métodos;
- Definir a carga homem e carga máquina;
- Criar indicadores de produtividade e qualidade.
Este trabalho atingiu o resultado esperado ao descrever a aplicação do estudo de
tempos e métodos em uma aplicação prática no setor de uma embaladeira de uma na empresa
têxtil da região do Vale do Itajaí. Deixa-se aqui a proposta para a continuidade do trabalho,
visto que, com os valores históricos e o estudo realizado, pode-se criar uma sistemática de
análise e melhoria visando aperfeiçoar os métodos de trabalho e os processos produtivos com
números que sejam coerentes com a realidade.
Portanto este artigo contribui na constatação da importância desta metodologia,
aproveitando a contribuição da cronoanálise e cronometragem no que se refere aos estudos
dos tempos, modernizando e integrando as filosofias de trabalho e os novos modelos de
gestão.
5. REFERÊNCIAS
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Qualidade. Disponível em: <http://www.polimeroseprocessos.com/imagens/tempometodos.pdf>Acesso em 26
ago. 2011.
BARNES, R. M. Estudo de movimentos e de tempos: Projeto e medida do trabalho. São Paulo: Edgard Blücher,
1977.
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UAS: um estudo de caso junto a uma linha de montagem de telefones. Disponível em:
<http://www.peteps.ufsc.br/novo/attachments/078_artigo%20mtm%20telefone.pdf> Acesso em: 26 ago. 2011.
CARDOSO, Wagner. Engenharia de Métodos e Produtividade. Uberaba: Apostila de Aula, 2008.
FURLANI, Kleber. Estudos de Tempos e Métodos. Disponível em:
<http://www.kleberfurlani.com/2011/01/estudo-de-tempos-e-metodos_5257.html> Acesso em: 26 ago.2011.
JURAN, J..M. Controle da Qualidade (Handbook). São Paulo: 4° ed. Editora. Makron Books, 1991.
LIDÓRIO, Cristiane Ferreira. Curso Técnico de Moda e Estilismo. Módulo 1. Tecnologia da Confecção.
Araranguá, 2008. Disponível em: <http://pt.scribd.com/doc/49856761/55/CRONOMETRAGEM> Acesso em: 27
Ago. 2011.
MAYNARD, H.B. Manual de Engenharia de Produção – Seção 5: Padrões de tempos elementares pré-
determinados. São Paulo: Edgard Blücher, 1970.
MEYERS, F.E. Motion and Time Study: for lean manufacturing. New Jersey 2° ed. Editora Prentice Hall, 1999
SENAI. <http://www.sp.senai.br/portal/vestuario/conteudo/cronometragem.pdf>. Acesso em: 25 ago.2011.
TAKASHINA, Newton Tadachi. Indicadores da Qualidade e do Desempenho. Rio de Janeiro. Editora
Quaitymark, 1999.
TOLEDO, I.F.B. Cronoanálise. São Paulo 8° Ed. Assessoria Escola Editora, 2004a.
TOLEDO, I.F.B. Tempos & Métodos. São Paulo 8° Ed. Assessoria Escola Editora, 2004b.