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exclusivo

MonoBR e FPSO-BR
Novos desenvolvimentos
em plataformas flutuantes

E
m 2002, pesquisadores dos maiores centros de desenvolvimento em
engenharia oceânica do país se uniram para formar o CEENO – Cen-
tro de Excelência em Engenharia Naval e Oceânica -, com o objetivo
de alavancar a indústria naval brasileira utilizando como instrumen-
to básico a inovação tecnológica.
Envolvidos neste centro estão a Universidade de São Paulo (USP),
a Coordenação dos Programas de Pós-graduação de Engenharia da
Universidade Federal do Rio de Janeiro (COPPE), o Instituto de Pes-
quisas Tecnológicas do Estado de São Paulo (IPT),
e a Petrobras.
Em 2003 tiveram início os primeiros resultados
desta parceria, através do desenvolvimento de dois
novos conceitos de plataformas flutuantes: a
MonoBR e o FPSOBR.
A MonoBR é uma plataforma do tipo monocolu-
na, conceito inovador que vem sendo estudado em
alguns centros de desenvolvimento ao redor do
mundo. Este tipo de construção prima pela segu-
rança e flexibilidade, apresentando vantagens com-
petitivas frente aos conceitos atuais de plataformas
sem armazenamento de petróleo.
Já o FPSOBR combina o know-how brasileiro
em FPSO´s com melhorias no principal ponto fra-
co deste conceito: os movimentos. Através da uti-
lização de um casco otimizado, sob o ponto de vista
hidrodinâmico, e da utilização de redutores de mo-
vimento, pretendeu-se atingir níveis de compor-
tamento em ondas melhores que os encontrados
atualmente, reduzindo os custos e riscos de ope-
ração do sistema.
A MonoBR vem sendo desenvolvida pela USP,
através dos grupos TPN (Tanque de Provas Numé-
rico) e Oceânica, ambos internos ao Departamento
de Engenharia Naval e Oceânica da Escola Poli-
técnica da Universidade de São Paulo – DEN
EPUSP, diferente do FPSOBR, desenvolvido pelo
Departamento de Engenharia Naval e Oceânica da
COPPE. Ambos os projetos estão sendo orientados
de acordo com os critérios e experiência da gerên-
cia de métodos científicos (MC) do Cenpes com
suporte da Divisão de Tecnologia de Transportes
(DITT) do IPT.

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A MonoBR
As plataformas do tipo
Álvaro Maia é
monocoluna têm como carac- gerente de Métodos
terística marcante a utilização Científicos do Cenpes
e acompanhou toda
de um casco com apenas uma a evolução da Bacia
coluna, diferente das semi- de Campos, atuando
em diversas funções
submersíveis. Neste sentido,
na Petrobras, onde
o conceito assemelha-se às ingressou em 1978. É
plataformas do tipo SPAR, engenheiro civil com
mestrado e doutorado nesta área (Coppe/
porém com calado menor. UFRJ) e curso de aperfeiçoamento na
Em relação aos conceitos Universidade Minnesota,USA. Tem cerca de
150 trabalhos e artigos técnicos publicados
atuais, a plataforma monocolu- em congressos nacionais e internacionais.
na apresenta vantagens signi-
ficativas. Entre as quais, pode- Isaias Quaresma
mos listar: Masetti é engenheiro
naval (USP/1979),
• Menores movimentos, possi- Mestre em
bilitando a utilização de SCR Engenharia Civil (UFRJ/
COPPE/1984), Doutor
em catenária livre. em Engenharia Civil
• Maior reserva de estabilida- (UFRJ/COPPE/1997), é
engenheiro de
de avariada.
Equipamentos da
• Flexibilidade operacional; Petrobras (desde 1980), especialista em
• Boa relação Peso de convés projeto naval de estruturas marítimas e projeto
com transferência de tecnologia
por Deslocamento.
Kazuo Nishimoto é
Projetada para um deslo- professor livre-
docente da USP, onde
camento de mais de 120.000
leciona desde 1986,
toneladas, com largura de matérias
aproximadamente 70m no relacionadas a
projetos de
corpo principal e calado de embarcações e
45m, suficientes para supor- plataformas. Tem
como linha principal
tar uma planta de processo de de pesquisa temas ligados a sistemas
mais de 35.000 toneladas oceânicos, sendo o idealizador do Tanque de
Provas Numérico (TPN).
(adequada para a produção de 200.000 barris de óleo pesado por
dia), estando entre as maiores já projetadas no mundo.
Marcos Cueva é
engenheiro naval e
Características técnicas oceânico pela USP,
onde trabalha desde
Um dos principais focos no desenvolvimento do projeto MonoBR 2000, como
foi a obtenção de um excelente comportamento em ondas, superior pesquisador na área
de óleo & gás através
à outras concepções equivalentes. Como resultado, obteve-se na
do grupo de projetos
região de períodos de ondas até 18s movimentos da ordem de 15% Oceânica.
da altura das ondas. Isso significa, que para um mar de altura cen- Atualmente realiza o
doutorado na área de engenharia
tenária (8m), a plataforma terá movimento vertical de aproximada- simultânea em sistemas marítimos.
mente 1m. Característica melhor que de uma semi-submersível.
Daniel Cueva é
Para atingir tal característica o casco foi desenvolvido baseado engenheiro naval e
em estudos hidrodinâmicos complexos, sendo sua forma concebi- oceânico pela USP,
onde trabalha desde
da de modo que a força de ondas no casco fosse minimizada, em 2000, como
todos os graus de liberdade. pesquisador na área
offshore através do
Além do formato do casco, dispositivos redutores de movimen-
grupo de projetos
to, chamados de “saia” e de moonpool, foram dimensionados para Oceânica. Tem como
melhorar ainda mais esta característica. tema do doutorado o
gerenciamento de
A “saia” é uma estrutura na parte inferior do casco, que produz projetos de
efeitos semelhantes às bolinas de navios, aumentando a massa plataformas.

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sistema que simplifica essa instalação,


deixando-a mais ágil e econômica.
Sendo o objetivo do CEENO contribuir
na alavancagem da indústria naval bra-
sileira, manteve-se, desde o início do pro-
jeto, a possibilidade de construção do casco e con-
vés no Brasil.
Para isso, o projeto levou em consideração as
capacidades dos canteiros e estaleiros existen-
tes, para que a construção fosse possível sem
grandes modificações nas facilidades.
Tal fato reduz o custo de construção, além de
permitir a alocação de mão-de-obra brasileira e a
geração de divisas ao país. Outro fator importante
adicional e o amortecimento do sistema. Por se é a diminuição do prazo de entrega do casco, au-
tratar de um sistema estacionário, sua dimensão mentado quando existe a necessidade de trans-
não fica limitada à resistência ao avanço, e sim à porte de outro local de construção para o Brasil.
limitações estruturais. Todas essas vantagens permitem a redução do tem-
O moonpool também é baseado em sistemas já po desde o início da construção até o primeiro óleo.
conhecidos, sendo utilizado para a passagem de
equipamentos em navios de perfuração. Seu Metodologia
dimensionamento usual é feito de modo que o mo- Além de estar inovando no produto, o projeto
vimento interno da água seja mínimo. Já o moonpool MonoBR é também diferenciado no modo em que
da MonoBR, visa um comportamento distinto, atu- está sendo conduzido. Utilizando conceitos de
ando como um redutor passivo de movimentos,
devido a uma diferença de fase entre os movimen-
tos de heave da plataforma e da água interna ao
moonpool, semelhante a um sistema massa-mola.
Essa defasagem é provocada pela inclusão de uma
restrição de área no fundo do tanque, alterando a
dinâmica da água interna.
Com movimentos baixos viabilizados, além do
aumento da vida de fadiga, existe a possibilida-
de de utilização de risers de maiores diâmetros e
espessuras de isolamento térmico, sejam eles fle-
xíveis ou SCR.
Outro ponto abordado com muita ênfase no
projeto foi a segurança. A plataforma atende a
critérios internacionais em estabilidade intacta e
avariada, na qual apresenta grande reserva, de-
vido às características do casco. Além disso, é pos-
sível retornar a condição sem inclinação após uma
avaria apenas com a movimentação de lastro.
Pontos como a passagem de tubulações também
foram abordados. Toda a tubulação deverá pas-
sar por fora do casco, seja dentro do moonpool
ou ao lado do costado. Isso evita a inundação de
tanques caso alguma tubulação se rompa.
Características da operação, como o pull-in dos
risers e hook-up da ancoragem também recebe-
ram atenção. Através da colaboração de engenhei-
ros de campo da Petrobras, foi desenvolvido um

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gerenciamento de projetos base-
ados em engenharia simultânea,
foi possível integrar os colabo-
radores, cada um contribuindo
com a sua especialidade. A
PETROBRAS, através do
CENPES contribuiu com a ori-
entação dos grupos, utilizando
sua experiência adquirida em
projetos anteriores; a USP, atra-
vés do conhecimento agregado
em pesquisas e desenvolvimen-
tos oceânicos, participou como
executora. O IPT apoiou o pro-
jeto na realização de ensaios
com modelos reduzidos.
Além, destas três principais institui-
ções envolvidas, foram agregadas empre-
sas privadas para participar da execução deste
projeto, além de engenheiros de campo da
PETROBRAS que contribuíram com sua experi-
ência, trazendo para a MONOBR uma filosofia
segura de operação e instalação.
Desde o início do desenvolvimento, procurou-
se trazer para a fase conceitual a maioria dos pro-
blemas que podem ocorrer ao longo do projeto
completo. A grande vantagem é efetuar as modi-
ficações necessárias quando os gastos para corri-
gi-las ainda são baixos, diminuindo as horas de
retrabalho e, conseqüentemente, o custo final do
empreendimento.
Para atingir objetivos tão ambiciosos foi em-
pregada uma metodologia de gerenciamento de
projetos rígida, na qual reuniões sistemáticas
eram realizadas entre todas as disciplinas envol-
vidas. Cronogramas sempre atualizados eram
mantidos e acompanhados, além de uma equipe
dedicada integralmente a este trabalho.
Estes itens possibilitaram que as metas defi-
nidas fossem atendidas, e o produto saísse exa-
tamente como o esperado pela PETROBRAS.
Os projetos conceituais da MonoBR e da
FPSOBR ainda estão em andamento, devendo ser
entregues ao final deste ano. Para 2004 está pre-
visto início do projeto básico, que consolidará me-
lhor os conceitos.
Apoiada no desenvolvimento das plataformas
MONOBR e FPSOBR, a PETROBRAS prepara-
se para explorar reservatórios localizados em
águas ultraprofundas e, com isso, vencer o desa-
fio de produzir óleo pesado a mais de dois mil
metros de profundidade.

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