Você está na página 1de 16

COMO PASSAR NO CONCURSO DO MPT - 1ª PARTE1

PHILIPPE GOMES JARDIM2

É preciso força pra sonhar e perceber


Que a estrada vai além do que se vê.
Além do que se vê, Marcelo Camelo / Los Hermanos

Uma introdução

Sim, o título é bastante ousado. Mas não espere encontrar aqui a fórmula mágica, a
solução ideal para a aprovação no concurso do Ministério Público do Trabalho. E isso por uma
razão bastante simples: não existe receita milagrosa. O resultado positivo é a combinação de
organização e método, empenho e dedicação, estudo e aprendizado. Ah, claro... e um pouco de
sorte também!

Quero compartilhar, aqui, a minha experiência com o desejo de que possa ajudá-lo a
tornar essa caminhada menos difícil e mais prazerosa. É comum nos sentirmos perdidos ou
inseguros. São sentimentos que atingem a todos em um momento ou outro. Não sabemos por
onde começar, como se preparar, de que forma organizar os estudos, qual a intensidade do
esforço, quando e quais cursos fazer, como saber se estamos evoluindo, qual o modo de realizar
as provas, enfim... São incontáveis as dúvidas e todas elas fazem parte da trilha a ser superada.

1 Texto escrito em fevereiro de 2015. É permitida a sua distribuição, cópia e citação desde que indicada a autoria.
2 Procurador do Trabalho em Porto Alegre, RS. Coordenador Nacional da Coordenadoria de Defesa do Meio
Ambiente do Trabalho do MPT desde 2012 (Codemat). Coordenador Pedagógico da área MPT do Curso Juslaboral.
Mestre em Direito das Relações Sociais pela Universidade Federal do Paraná (UFPR, 2007). Mestre em Derechos
Humanos, Interculturalidad y Desarollo, pela Universidad Pablo de Olavide, em Sevilla, Espanha (UPO, 2008).
Coordenador e autor da obra Meio Ambiente do Trabalho Aplicado. Homenagem aos 10 anos da Codemat,
publicado pela Editora LTr (2014). phil.jardim@yahoo.com.br / cursojuslaboral.com.br.

1
II

Um pouco da minha história

I've planned each charted course / Eu planejei cada caminho do mapa


Each careful step along the byway / Cada passo, cuidadosamente, no correr do atalho
And more, much more than this / E mais, muito mais que isso
I did it my way / Eu fiz do meu jeito
My Way / Meu jeito, Frank Sinatra

Costumo dizer que o MPT nunca foi meu sonho, mas se tornou minha realidade.
Desde a faculdade, sempre gostei de Direito do Trabalho. Aliás, somente eu. Éramos em
aproximadamente 40 colegas, e nenhum deles hoje trabalha na área. Não pensava em seguir a
carreira pública. Não tinha pretensão em fazer o concurso pra magistratura e, confesso, não
conhecia o MPT. Estudei no interior do Rio Grande do Sul, na Universidade Federal de Santa
Maria. Foi no final do ano de 1999 que eu me formei e, na época, o MPT ainda não tinha iniciado
o processo de interiorização. Havia Procuradorias do Trabalho apenas nas capitais dos Estados.

Sempre fiz estágios em escritórios de advocacia trabalhista e pensava que seguiria


naturalmente esse caminho. Quando me formei, me mudei para Porto Alegre e fui contratado por
um grande escritório. Era – e ainda é – um escritório bastante respeitado, com plano de carreira
para os advogados iniciantes, com bom engajamento político e sindical. Pensava que meu
caminho profissional já estava desenhado.

Advoguei por dois anos. E, com o tempo, comecei a questionar a minha escolha
profissional. Claramente não estava mais contente com o meu trabalho no escritório. Pensava
que trabalhava muito e ganhava pouco. Não tinha o reconhecimento que eu achava que
merecia. Era começo de 2002, e fico sabendo que o MPT lança o edital para o X Concurso para
Procurador do Trabalho. Apenas cinco vagas. Não costumo acreditar em sinais, sou até bastante
cético, mas uma luz surgiu... E se? E se eu mudar meus planos para o futuro? E se eu começar
a estudar? E se der certo? E se?

2
Decidi que iria estudar para essa prova. Trabalhava o dia inteiro e fazia uma pós
(especialização em Direito do Trabalho) nos finais de semana. Estudaria à noite. E no que
sobrasse de tempo nos finais de semana.

A primeira coisa que fiz foi analisar as provas objetivas dos anos anteriores. Assim
como um viajante que chega a uma cidade desconhecida e busca orientar-se por um mapa.
Procurar descobrir quais as matérias mais cobradas, os assuntos mais exigidos, os conteúdos
mais frequentes. Calculei o tempo que eu teria até a data da primeira prova e dividi os dias de
estudo conforme o que era mais importante. Somente avançava para a matéria seguinte quando
concluía o assunto.

Nesse meio tempo meu rendimento no escritório já não estava lá essas coisas.
Embora eu não tivesse comentado com ninguém que eu iria fazer o concurso do MPT, o pessoal
percebeu a mudança de foco. Quando me chamaram para uma conversa, abri o jogo quanto ao
meu descontentamento e disse que estava estudando para a prova. Em um diálogo franco,
resolvemos – o escritório e eu – que a melhor decisão para mim seria sair do escritório, parar de
advogar. Decidimos então que no último mês de trabalho, um mês antes da prova, eu poderia
fazer meio turno de expediente para conciliar com os estudos. Eu já era independente
financeiramente e havia guardado certa grana que me permitiria ficar “só” estudando por um
período de um ano e meio, talvez um pouco mais. Essa havia se tornado a minha meta: passar
em algum concurso na área trabalhista no prazo de um ano e meio. Se não desse certo, voltaria
a advogar ou venderia sanduíches na praia...

Bom... se você estiver mesmo prestando atenção nessa história, deve estar agora se
perguntando: se ele se formou no final de 1999, e o edital do concurso foi lançado no começo de
2002, como ele vai conseguir completar os três anos de atividade jurídica?

Eu respondo. Muito fácil. Simplesmente naquela época não se exigia os três anos.
Essa é uma inovação trazida com a Emenda Constitucional nº 45, de 30 de dezembro de 2004,
lembra? O requisito era apenas dois anos da graduação (artigo 187 da Lei Complementar nº
75/93), tempo de calendário, exatamente o período que eu tinha quando o edital foi lançado.
Mais um sinal?

Veio a primeira prova e... passei! Veio a segunda prova e... passei! Veio a terceira
prova e... passei!

3
Pera lá. Estou acelerando essa história. Vamos mais devagar.

Eu cheguei a dizer que também fiz o concurso para magistratura do trabalho? Pois é.
No meio dos estudos para MPT, o TRT 12 lançou o XI Concurso para Juiz do Trabalho
Substituto. E foi um concurso extremamente rápido. Entre a primeira fase e a prova oral, foram
pouco mais de quatro meses.

Cartão de identificação do MPT Cartão de identificação do TRT 12

O fato é cuidei de ambos os concursos ao mesmo tempo, mas sempre mantendo o


foco no concurso do MPT. E fui conseguindo vencer cada etapa, sem nenhuma reprovação.
Apenas para ter uma ideia, a prova oral do concurso da magistratura foi na sexta-feira seguinte
ao domingo em que ocorreu a terceira prova do MPT. Em pouco mais de seis meses de estudos
eu já havia conseguido ser aprovado em um concurso para Juiz do Trabalho e seguia estudando
para o concurso do MPT. Ao final de um ano de preparação, no dia 12 de março de 2003, em
Brasília, aos 25 anos de idade, eu tomava posse no cargo de Procurador do Trabalho. Festa na
família.

Confesso que sempre tive um pouco de timidez em contar que passei no primeiro
concurso que eu fiz, no primeiro da magistratura, no primeiro do MPT, aprovado em dois
concursos com um ano de preparação, que era o mais novo da minha turma na posse e tal...
Escutava as histórias dos colegas que se prepararam por cinco ou dez anos, que fizeram mais
de 20 concursos, que rodaram em provas orais e se reergueram até tomar posse em outro
concurso, que sofreram privações pessoais, que passaram com mais de 50 anos de idade. São
histórias incríveis, cativantes, que têm muito a ensinar sobre perseverança e coragem. Achava a
minha história pessoal desimportante. O tempo acabou me mostrando que todas as histórias de

4
quem é aprovado em um concurso público são histórias que merecem ser compartilhadas.
Todas elas trazem um legado interessante. E depois de que você toma posse, todos têm a
mesma carteira funcional vermelha e a placa com o nome na porta do gabinete.

Fiz a opção por assumir a carreira no MPT. Foi uma escolha acertada. Respeito muito
o trabalho dos magistrados. Minha esposa é Juíza do Trabalho. Julgar é uma arte. Mas é no
MPT que encontro a satisfação de ver que o resultado da minha ação pode mudar a realidade.
Fazer parte do Ministério Público do Trabalho traz pequenas alegrias diárias e também um
enorme senso de responsabilidade. Tenho a consciência de que somos a voz de uma parcela
importante da sociedade brasileira para a afirmação de seus direitos que são desrespeitados por
práticas como o trabalho escravo contemporâneo, trabalho infantil, fraudes trabalhistas,
discriminações e agressões à saúde e à vida dos trabalhadores. A atuação do Ministério Público
do Trabalho está sempre voltada para a proteção do interesse público e na defesa dos direitos
sociais cotidianamente violados. Temos a chance de contribuir para o empoderamento de grupos
historicamente marginalizados e carentes de uma sociedade mais justa, mais democrática e
mais igualitária.

III

Alguns conselhos

Tudo bem se você acha ruim receber conselhos de um desconhecido apenas porque
ele passou em um concurso público. Também tenho certa resistência a tudo que se afirma
apenas pela posição dominante. Sou um pouco iconoclasta. Você pode substituir por dicas,
palpites, pitacos. Definitivamente não são advertências ou avisos. Quero apenas apresentar
algumas sugestões que eu gostaria de ter ouvido quando iniciei a minha trajetória de estudos.

Acredito que as duas primeiras coisas que você precisa fazer é definir um objetivo e
estabelecer um prazo para conquistá-lo.

Pense em onde você quer se ver trabalhando daqui a 10 anos. Pense em como você
deseja a sua rotina daqui a 20 anos. Se você acredita que tem vocação para ser juiz, invista
nessa carreira. Se você tem o sonho de fazer parte do MPT, lute por ele. Ouço muitos alunos
dizerem que o que querem mesmo é passar no MPT. No entanto, acabam fazendo o concurso
para magistratura trabalhista porque é mais fácil para ficar perto de casa, porque tem mais

5
concursos no ano, porque a chance de passar é maior, porque não é um concurso tão difícil
quanto o do MPT. Quantas vezes você já escutou alguém falando “estou iniciando a minha
jornada em direção à magistratura e, quem sabe, ao MPT”? Meu caro, você quem sabe! Essa
decisão é somente sua! O concurso do MPT, sim, é um concurso difícil. Mas é um concurso
possível. E o fundamental para a sua aprovação depende de você mesmo: você tem que
acreditar que é capaz! Você deve acreditar no seu potencial! A sua autoconfiança é que ajudará
você a superar os desafios e as dificuldades, os obstáculos e os insucessos.

Não estou dizendo que você deve fazer apenas o concurso do MPT. Estou dizendo
que você deve se preparar para o concurso do MPT, que é algo bem diferente. E,
principalmente, não abandonar esse sonho antes mesmo de tentar, ou depois de algumas
reprovações. Se você conseguir manter o seu objetivo bem definido no MPT, fazer os concursos
da magistratura será um acréscimo.

Avalie com calma e tranquilidade qual a bagagem de estudos que você acumulou ao
longo da sua vida acadêmica. Considere o quanto você aproveitou da sua graduação, ou de
algum curso de pós-graduação. Analise a sua experiência profissional. Calcule quanto tempo
disponível você tem para se dedicar aos estudos, às aulas, às discussões em grupo, aos
exercícios práticos. Some tudo isso e defina qual o seu prazo para você conseguir atingir o
objetivo final de aprovação.

Acho engraçado quando escuto que a média de tempo para passar é de 2 a 3 anos.
Média para quem? Baseada em quê? Entrevistaram todos os candidatos? E aquele que desistiu
no meio da preparação, entra na média ou não? Qual a margem de erro do Ibope?

A verdade é que é você que tem que estabelecer o prazo para atingir a sua meta. Você
se conhece melhor do que ninguém. Só você sabe da sua experiência, do seu acúmulo, das
suas potencialidades e das suas dificuldades, no que você se destaca e no que ainda precisa
melhorar. São todos esses elementos bem valorizados por você mesmo que irão dar a resposta
de quanto tempo será suficiente para passar. Não terceirize a decisão de quando você chegará
ao seu grande objetivo!

Claro que tudo isso são dados subjetivos e a resposta não será precisa (bem...
somando tudo isso, descobri que demorarei 2 anos, 7 meses e 4 dias para passar). Mas a

6
resposta sempre será mais útil e próxima da realidade do que um suposto tempo médio afirmado
por outra pessoa.

A definição do prazo para atingir o seu objetivo é importante para você criar e executar
as metas de estudos. O cronograma de estudos. Dentro da janela de tempo que você definiu
para passar no concurso, divida todo o programa do edital. Os dois grandes referenciais de
estudos deverão ser o seu prazo para aprovação e o calendário das provas do concurso.
Dialogue com ambos e defina as suas metas de estudo.

Além do grande objetivo de aprovação final, crie também metas a curto e médio
prazos, sempre pensando no calendário do concurso que você busca. Mesmo que o edital ainda
não tenha sido lançado. Uma boa saída é definir metas de estudos diárias (podemos chamar de
micro metas ou de metas imediatas), semanais e mensais. Antes de sentar na cadeira pra
estudar, você precisa saber o quanto você deverá estudar naquele momento. É importante
estabelecer um limite prévio e respeitá-lo. Procure não desistir antes de completar aquela meta
específica, e também não adiante o objetivo do dia seguinte caso você termine antes. Esse limite
é fundamental para que você perceba que está evoluindo e cumprindo as metas. E o sentimento
de dever cumprido é muito importante nessa hora. Se você conseguir organizar o seu calendário
de estudos dessa forma, a satisfação de vencer cada micro meta/meta imediata será maior do
que o esforço diário para atingi-la. Caso você tenha dificuldade ou falta de experiência para
definir as suas metas, pense na possibilidade de contratar um profissional especializado na área,
um coach para concursos públicos.

No entanto, não seja severo com você mesmo. Permita-se errar. Seja critico sem
perder a suavidade, seja persistente sem perder a ponderação. Não se deixe dominar pelo medo
da derrota. Não seja um candidato “Regina Duarte”, aquele que tem medo. Cada tropeço deve
ser considerado como um incentivo para seguir adiante na caminhada. Encare o futuro.
Dedicação. Empenho. Comprometimento. E, sobretudo, não se leve tão a sério. Permita-se
reavaliar constantemente seus objetivos e metas. Corrigir o rumo é tão importante quanto seguir
no rumo correto.

Um erro bastante comum na preparação dos candidatos é se concentrar apenas para a


próxima fase. Geralmente esse equívoco é mais comum no início da preparação, quando se tem
o fantasma da primeira fase e se esquece de que o concurso seguirá em frente. Muitos
entendem que a prova objetiva é a mais difícil. Pode até ser. Mas é errado achar que a primeira
7
fase é a mais importante. Todas são importantes. Inclusive a prova de títulos, a sua classificação
final depende disso, ficar perto ou longe de casa. Os concursos do MPT guardam pouco tempo
entre a primeira fase e as seguintes. A segunda e a terceira provas são separadas por apenas
uma semana. Deixar para se preparar para as próximas etapas apenas após o resultado da
primeira pode ser insuficiente para acumular conhecimento para a prova subjetiva e aprender a
executar a peça prática. Na sua programação de estudos, reserve um período para praticar e
simular as respostas das etapas seguintes desde já. Treine as questões dissertativas.
Desenvolva as peças práticas. O estudo para todas as fases do concurso deve ser
concomitante, embora com intensidades distintas. Deixar tudo isso para depois pode ser tarde
demais.

Especialistas indicam que há várias técnicas de estudos. Se você chegou até aqui,
significa que terminou o ensino médio, passou no vestibular ou no ENEM, e se formou em
Direito. Provavelmente você já descobriu qual o seu melhor método. Para algumas pessoas
basta ler, outras precisam destacar ou grifar o conteúdo, e há também quem precise falar alto a
matéria. Eu preciso escrever. Fiz resumos de (quase) todo o programa, incluindo o texto de lei e
súmulas. Não vou entrar na discussão de qual a melhor técnica. A melhor técnica é a que você
se sente mais confortável e a com melhor resultado. Apenas adapte e concilie o seu cronograma
de estudos com o método escolhido. Provavelmente você demorará mais tempo para vencer
uma meta (micro meta ou meta imediata) se você precisar trans(es)crever o conteúdo, fazer
resumos. Paciência. Aceite que esse é o melhor modo para você adquirir e guardar
conhecimento. Não adianta ficar brigando com esse fato e desejar que você gostaria de estudar
apenas lendo os livros.

Outra questão interessante para conversarmos é sobre a realização das provas


anteriores. Principalmente a resolução de questões objetivas. Há duas escolhas. Ou você deixa
para fazer as provas objetivas após esgotar o estudo completo da matéria. Ou você resolve as
questões antes de estudar a matéria. É uma opção pessoal. Particularmente eu prefiro a primeira
alternativa. Responder as questões objetivas depois de estudado todo o conteúdo servia para
mim como avaliação de como eu estudei, qual a efetividade dos estudos, o quanto eu realmente
assimilei das matérias, quais as lacunas que ainda precisavam ser preenchidas. Isso também
evitava a angústia de tentar resolver a questão de uma matéria que eu não havia estudado
ainda. Porém, evite fazer as questões objetivas e também responder as questões subjetivas

8
imediatamente após estudar determinado conteúdo. Conceda um tempo para o seu cérebro
assimilar o estudo, para o cérebro perceber que deixou passar alguma coisa. Essa verificação
você irá fazer exatamente quando for testar o seu estudo com a resolução das questões.

Por outro lado, há quem consiga tirar bom proveito da segunda opção. Ao responder
as questões sem o estudo da matéria ainda, a pessoa aprende com o próprio erro e acaba
servindo como um modo válido de assimilar conhecimento. Enfim, escolha a forma que você
melhor se adapta.

Conheça bem, digo, muito bem a instituição Ministério Público do Trabalho. Saiba
quais são os seus principais órgãos, suas atribuições, seus precedentes, os membros que os
integram. Conheça as Coordenadorias Nacionais temáticas, saiba dos Projetos Nacionais, leia
as orientações, estude as grandes ações civis públicas, os termos de ajustamentos de conduta e
os pareceres, acostume-se com as teses defendidas. Informe-se sobre a carreira que você
decidiu seguir. Procure acessar diariamente as notícias das Procuradorias Regionais e da PGT
(www.pgt.mpt.gov.br). Não deixe de ler a Revista do MPT (www.anpt.org.br) e a Revista Labor
(www.pgt.mpt.gov.br). Assistir ao programa Trabalho Legal também pode ser interessante
(https://www.youtube.com/user/mptpgt). Hoje em dia é bastante fácil reunir informações sobre a
atuação institucional do MPT. No momento da prova, demonstrar que você está atualizado sobre
as principais questões que envolvem o MPT pode ser um diferencial positivo para a aprovação.

Tão importante quanto mostrar que você conhece o MPT é se apresentar com o perfil
da instituição. Vista a camiseta. Defenda o MPT. Na dúvida, ultrapasse. Deixe a cautela e a
ponderação para o concurso da magistratura. Está no DNA do MPT ser arrojado, criativo,
audacioso, propor soluções novas para velhos problemas. Procure demonstrar que você tem
esse perfil na prova. Muitas vezes as posições do MPT não estão de acordo com os
entendimentos dominantes do TST.3 Claro que isso não significa assumir compromissos com
teses irrealizáveis ou sem fundamentos. A sensatez e o discernimento sempre deverão
acompanhá-lo, seja durante o concurso, seja na atuação institucional.

Incorpore com prazer o papel de aluno e de estudante. Etimologicamente, aluno deriva


do verbo latim alere, que significa alimentar, nutrir. Olha que bela metáfora. Aluno é aquele que é
nutrido de conhecimentos. Não tem nada a ver com alguém sem luz, provavelmente uma

3O caso da OJ 130, principalmente em sua redação anterior, é emblemático quanto à divergência entre as posições
do MPT e do TST.

9
comparação equivocada entre aluno e a significando sem mais lumen, luz. Já estudante vem do
latim studium, entendido como aplicação e dedicação. Seja ao mesmo tempo aluno e estudante.
Seja determinado em busca de conhecimentos.

Você faz exercícios? Estou me referindo a exercícios físicos. Não? Então deveria.
Procure fazer alguma atividade física que lhe traga satisfação. Faça musculação, nade, corra,
jogue futebol, dance, pratique curling... Certo, praticar curling no Brasil é muito complicado. Mas
todas as outras, não. Se você não gosta de nada disso, caminhe. Procure reservar uns 40
minutos de caminhada dia sim, dia não. Incorpore alguma atividade física na sua rotina semanal.
Os benefícios da prática desportiva para o seu corpo, saúde e bem-estar são inúmeros. Mas
sobretudo será o seu momento de descontinuidade dos estudos, de recuperação da capacidade
intelectual, de reforço da concentração, de recondicionamento da energia.

E por fim, seja feliz! Busque encantamento e satisfação ao estudar. Pense que coisa
maravilhosa é ganhar conhecimento. Perceba que interessante é questionar-se e evoluir. Torne
essa caminhada a mais prazerosa possível.

IV

O concurso do MPT

O Concurso Público de Provas e Títulos para o ingresso na carreira do Ministério


Público do Trabalho atualmente é regulamentado pela Resolução CSMPT nº 108, de 05 de
março de 2013, alterada pela Resolução CSMPT nº 119, de 02 de dezembro de 2014. Nas
resoluções você encontrará todas as informações de ordem formal necessárias para prestar o
concurso. Nem preciso afirmar que é leitura obrigatória e completa, certo? Mas se você estiver
sem tempo, vou fazer um breve resumo.

São cincos fases no total, quatro eliminatórias e uma classificatória.

A primeira fase é escrita e objetiva, com 100 questões de múltipla escolha de “a” a “d”.
Tem a duração de 4 horas. O detalhe é que a cada 3 erros há o desconto de 1 questão certa.
Você precisa acertar pelo menos 50% da prova. Para o 19º Concurso houve alteração quanto ao
número de aprovados, que passou dos 300 candidatos que obtiverem a maior nota para os 200

10
candidatos. Todos os candidatos empatados no ducentésimo lugar serão admitidos à prova
seguinte, mesmo que ultrapassado o limite de 200 candidatos.

A segunda fase é escrita, subjetiva, composta de questões dissertativas e/ou resolução


de problemas. Costuma-se cobrar 5 questões/problemas. Novamente é necessário atingir a nota
mínima de 50. A duração é de no mínimo 4 e no máximo 5 horas, conforme será fixado pela
Comissão de Concurso. No concurso anterior, o tempo foi de 5 horas.

A terceira fase é escrita, de natureza prática, e corresponde a elaboração de uma ou


mais peças jurídicas próprias da atuação institucional do membro do MPT, na esfera judicial ou
administrativa. Geralmente é uma ação civil pública, mas nos concursos mais recentes caiu um
recurso ordinário e uma ação rescisória. Mais uma vez você será eliminado caso não obtenha a
nota mínima de 50. Igualmente o tempo da prova é de 4 a 5 horas, ainda a ser determinado. No
concurso anterior, o tempo foi de 4 horas.

A quarta fase é a prova oral, com questionamentos a serem respondidos para os cinco
examinadores da Comissão de Concurso. Ocorre no auditório da sede da Procuradoria Geral do
Trabalho, em Brasília, com presença de público. Ao contrário do que acontece na magistratura
do trabalho, não há o sorteio dos pontos do edital 24 horas antes da arguição. O sorteio é feito
no momento da própria arguição. Pela última vez você precisa tirar a nota mínima de 50 em cada
uma das matérias da prova oral.4 O tempo da arguição é de até 50 minutos.

A quinta fase é a aferição de títulos. O seu histórico acadêmico e profissional será


valorado com pontos relativos ao exercício da advocacia, em cargo ou função técnico-jurídico, de
magistério superior em direito, aprovação em concurso público, especialização, mestrado ou
doutorado, publicações de artigos, livros, teses, entre outros. A nota máxima a ser obtida nessa
fase é 100. Apesar de ser meramente classificatória, e não eliminatória, essa fase é muito
importante porque definirá a sua colocação final no concurso. E isso influenciará a sua vida
institucional dentro da carreira, para fins de remoção, promoção ou participação em cursos, por
exemplo.

Você encontrará o seu nome na relação de habilitados (aprovados) se tiver nota final
de aprovação igual ou superior a 60 considerando todas as fases eliminatórias do concurso. Já

4Os pontos a serem sorteados abrangem as matérias Direito Constitucional e Direitos Humanos, Direito Individual
do Trabalho, Direito Coletivo do Trabalho, Direito Processual do Trabalho, Direito Civil e de Empresa, Regime
Jurídico do Ministério Público, Direito Processual Civil e Direito Administrativo.

11
para saber a sua média final, é preciso somar a nota de títulos. Tanto para a nota final, como
para a média final, as provas escritas, as orais e a nota de títulos possuem pesos distintos. É a
média final que irá determinar a sua colocação na ordem de classificação. E correr para o
abraço.

O momento de você comprovar os três de anos de atividade jurídica é no requerimento


da inscrição definitiva. E a inscrição definitiva ocorre depois de publicado o edital com os
candidatos aprovados na 3ª prova prática. A exigência de três anos de atividade jurídica deverá
ser atendida até a data da posse. Perceba que há diferença entre quando você deverá cumprir o
tempo de atividade jurídica e quando você deverá comprovar o seu cumprimento.

Os concursos do MPT geralmente são realizados a cada ano, a cada ano e meio. Veja
que o 10º Concurso é de 2002. O 19º Concurso foi lançado no final de 2014. São exatamente 10
concursos no período de quase 13 anos.

Não se impressione com o pouco número de cargos vagos no edital. Geralmente


constam as vagas mínimas necessárias para o lançamento do concurso. Dentro do prazo de
eficácia do concurso, que é de dois anos da homologação, prorrogável uma vez pelo mesmo
período, todas as vagas que forem surgindo nesse tempo serão consideradas para o
preenchimento. Isso se houver candidatos aprovados, óbvio. São vagas que decorrem de
aposentadoria, morte, eleição para o quinto constitucional, promoção na carreira ou mesmo a
criação de novos cargos por lei.

Também não pense que as lotações indicadas no edital serão preenchidas pelos
colegas aprovados no concurso. Antes da posse dos novos colegas, as vagas disponíveis são
oferecidas pelo critério de remoção por antiguidade na carreira aos Procuradores já atuantes. As
localidades em que não houver interesse no preenchimento é que serão ofertadas aos novos
colegas. Como você já deve ter percebido, dificilmente haverá vagas nas capitais de Estados ou
grandes centros urbanos. Considere a possibilidade de ir para lugares como Picos (PI), Ji-
Paraná (RO), Bacabal (MA), Água Boa (MT), Três Lagoas (MS), Marabá (PA) ou Uruguaiana
(RS). Por isso, não se preocupe com isso agora. É absolutamente imprevisível saber com
antecipação onde haverá vagas para a lotação dos colegas aprovados no concurso. A carreira
no MPT deve ser atraente pela potencialidade de fazer a diferença na realidade, independente
de onde você esteja.

12
V

A Primeira fase

É muito comum escutar que para a primeira prova do concurso do Ministério Público do
Trabalho basta o estudo da lei seca. Ou seja, você precisa conhecer o texto da lei e das súmulas
e orientações jurisprudenciais dos tribunais superiores. Eu costumo dizer que para alcançar a
zona de segurança da aprovação o candidato deve ir além. Eu brinco que deve buscar a lei
molhada.

Além do texto das convenções e recomendações internacionais, da Constituição da


República, da legislação infraconstitucional, e das súmulas e orientações jurisprudenciais, o
candidato deve ter noção e conhecimento dos principais institutos e categorias jurídicas.
Considere a lei molhada como o complemento do conhecimento do texto normativo à doutrina
propedêutica, às principais teses relacionadas e aos julgamentos paradigmáticos. Claro que o
aprofundamento do conhecimento não deverá ser tão intenso como o estudo para as próximas
etapas. Mas a lei molhada/encharcada dos outros saberes vinculados é desejável para não
passar sufoco na primeira fase.

A prova do MPT é toda elaborada pelos próprios Procuradores que compõem a


Comissão Examinadora do concurso. Isso significa dizer que não se terceiriza a decisão quanto
ao nível de conhecimento que é exigido do candidato. O resultado é uma prova que vai além da
mera decoreba, embora o conhecimento do texto da lei continue sendo muito importante nessa
primeira fase. O perfil do candidato começa a ser selecionado já na prova objetiva.

Mas não basta apenas o conhecimento da lei molhada. É preciso metodologia para a
resolução da prova, definir um método que lhe auxilie a solucioná-la. Há vários métodos e
critérios para enfrentar essa fase. Provavelmente cada aprovado teve a sua técnica própria e
com resultado positivo. Quero apresentar a forma que eu escolhi para superar a prova objetiva
do MPT. “I did it my way”!

Para que esse critério dê certo, você precisa ser honesto com você mesmo na hora da
prova, ter a real consciência dos seus conhecimentos e nível de estudos. E também das suas
deficiências e das matérias que você não conseguiu estudar adequadamente. Não tente se
enganar.

13
Como você sabe, a primeira prova do MPT são 100 questões de múltipla escolha, da
letra “a” até “d”. A letra “e” é para ser marcada quando não se sabe a resposta. O diferencial
dessa prova do MPT em relação a todas as demais da carreira jurídica é que há o desconto de 1
questão certa para cada 3 erradas. A letra “e” serve exatamente para isso, para evitar a
contagem da questão errada.

O método consiste no seguinte. Durante a prova, divida as questões em 3 conjuntos:


aquelas em que você tem certeza absoluta da resposta, aquelas em que você está em dúvida
entre duas alternativas, e aquelas que você não tem a menor ideia da resposta certa. A dica é
levar 3 cores de canetas e assinalar cada conjunto de questão com uma cor. Se for permitido
levar apenas canetas nas cores azul ou preta, faça sinais gráficos distintos para cada conjunto
ao lado do número da questão, como círculos, quadrados, flechas etc. Você irá classificar a
questão em cada um dos 3 conjuntos no mesmo momento em que for ler e responder a questão.

No primeiro conjunto, assinale todas as questões daquelas matérias que você domina
com segurança, que você conseguiu estudar e assimilar o conteúdo, que você consegue explicar
a resposta para si ou para outra pessoa, que você já acertou em alguma prova ou exercício
anterior. Geralmente são as questões que o nosso inconsciente (aquele lugar onde guardamos
certas coisas, inclusive o conhecimento) identifica a resposta na primeira leitura e geralmente
nosso inconsciente acaba acertando.

Mas geralmente não significa sempre.

Pra esse conjunto, você deve acertar de 80 a 90% das respostas.

No segundo conjunto, estão aquelas questões que você tem grande chance de acertar,
mas não tem certeza absoluta da resposta. Você está próximo de descobrir a resposta certa,
mas falta convicção por algum motivo. Você examina e relê a questão com calma e acabam
sobrando duas alternativas. Há uma dúvida razoável entre duas respostas. É aquela questão tipo
"eu acho que é tal, mas não tenho certeza".

Para esse conjunto, calcule de 40 a 60% de acerto.

Se você está em dúvida entre 3 alternativas, então muito provavelmente você não está
em dúvida entre 3 alternativas. No fundo você não sabe a questão. Você está próximo do
terceiro conjunto.

14
E no último conjunto estão todas aquelas matérias que você não estudou, aquela lei
que você deixou pra última hora e não deu tempo, aquela teoria que você nunca ouviu falar – ou
se ouviu, fingiu que não escutou –, ou aquela súmula que você jamais pensou que fosse cair...
Enfim... Aquelas questões que parecem escritas em sânscrito.

Para essas, é letra "e" e assunto encerrado. O negócio é evitar um mal maior.

É impossível afirmar, antes da prova, qual será o ponto de corte. Nos dois últimos
concursos, ambos realizados pela atual administração da Procuradoria Geral do Trabalho, o
ponto de corte foi de 60 e 57 acertos. Nos dois passavam os 300 primeiros colocados. A
tendência é que o ponto de corte para o concurso atual aumente já que diminuiu o número de
aprovados, passando apenas os 200 candidatos com a maior nota. Mas, eu repito, é apenas
uma estimativa. O ponto de corte está ligado diretamente à dificuldade da prova.

O que você precisa é atingir a zona de segurança, aquele número de acertos em que
você não dependa de questões anuladas posteriormente e se mantenha longe do ponto de corte.
Podemos dizer que a zona de segurança inicia com 70 acertos líquidos. O cálculo dos 70 acertos
líquidos deve considerar o desconto de 1 questão certa para cada 3 erradas conforme a
estimativa do percentual de acertos dos conjuntos 1 e 2 de questões. É até provável que você
consiga a aprovação com a pontuação inferior e próxima a 70 acertos líquidos. Mas estamos
propondo atingir a zona de segurança, a situação ideal.

Pois bem. Quando você terminar toda a prova, antes de passar o resultado para a
folha de respostas, conte quantas questões você assinalou nos conjuntos 1 e 2 e faça os
cálculos considerando o percentual de acerto. Não se esqueça de considerar as questões
provavelmente erradas dentro da média, e descontar 1 questão certa para cada 3 erradas.

Se o seu resultado estiver próximo a 70 acertos líquidos, respire fundo, beba um gole
d´água, e comece a passar o resultado para o gabarito tranquilamente.

Se o resultado não estiver próximo a 70 acertos líquidos, procure retornar àquelas


questões do conjunto 2 e tente salvar mais algumas, diminuir a margem de erro, veja se
consegue reclassificar alguma questão do grupo 2 para o grupo 1. Vale mais a pena insistir com
alguma questão do conjunto 2 do que de uma questão do conjunto 3.

Ah, mas e se mesmo assim eu ficar longe dos 70 acertos líquidos? Bem, esse critério
sugerido não tem o poder de alterar o seu resultado na prova. O método não irá fazer você

15
acertar mais questões do que você estudou. Parece meio óbvio, mas a sua nota será resultado
do seu estudo. O método é apenas uma proposta de resolução de prova. Não há nenhuma
comprovação científica quanto à certeza de sucesso. Até porque está baseada em dados
subjetivos, que variam de uma pessoa para outra. A ideia foi apenas apresentar uma sugestão.
Fique à vontade para segui-la ou descartá-la.

Você terá 4 horas pra fazer a prova. São 240 minutos. A minha sugestão é deixar 20
minutos para a passagem do gabarito. Somente transcreva o gabarito para a folha de respostas
quando terminar completamente a prova. Isso ajuda a evitar o erro na marcação das respostas,
como pular uma questão. Se você mantiver a atenção e a concentração, é tempo suficiente.
Reserve 2 minutos para cada questão. Aí já temos 200 minutos (2 minutos x 100 questões = 200
minutos). Somando com os 20 minutos para passar o gabarito, totaliza 220 minutos. E você
ainda terá 20 minutos para rever as questões do conjunto 2 objetivando atingir os 70 acertos
líquidos da margem de segurança.

O controle do tempo é uma questão fundamental. No concurso do MPT, não é


permitido o uso de relógio pelo candidato. Mas é de praxe o fiscal da sala informar o horário e
anotá-lo na lousa a cada hora cheia. Use o tempo a seu favor ao invés de se tornar refém dele.
Tenha o controle do tempo como um amigo a lhe informar como você está evoluindo na
execução da prova dentro da sua programação. E não como mais um adversário pronto para
desestabilizá-lo, assim como o nervosismo, a insegurança, a pressão, a fome, o cansaço...

É apenas a primeira fase. A caminhada segue.

VI

A Segunda fase

(Continua...)

16

Você também pode gostar