O filme é baseado em fatos reais, narrado pela enfermeira Eunice Evers que relata a história de um estudo, o qual fez parte, desenvolvido com seres humanos iniciado em 1932 na cidade de Tuskgee, Estados Unidos, para estudar uma doença em avanço na época: a Sífilis. Inicialmente, foi criado um programa de tratamento no único hospital negro da localidade, sendo liderado por dois médicos e contava com a ajuda de uma enfermeira. Posteriormente, houve um corte nos custos de financiamentos do programa pelo governo, o que impossibilitou a continuidade do tratamento da maneira como estava sendo realizado. Diante disso, a enfermeira Eunice foi excluída da equipe. Em meio a esta situação, o governo dos EUA propôs financiar um estudo com portadores de Sífilis na cidade de Tuskgee com o objetivo de comparar a progressão da doença entre negros e brancos. Foi acordado que o estudo seria realizado em um prazo de 6 meses a 1 ano, e após esse período os pacientes teriam prioridade em iniciar o tratamento. Para captação dos indivíduos foram ocultadas as informações acerca da interrupção do tratamento submetendo-os a procedimentos sem esclarecimento prévio, assim, a enfermeira teve um papel importante uma vez que a mesma foi o elo entre a equipe de saúde e a população, mantendo-os encorajados e crentes de que estavam recebendo o melhor tratamento possível. Aproximadamente 400 negros, foram utilizados como cobaia num experimento sobre a evolução da sífilis não tratada. Em 1942 a Penicilina passou a ser usada no tratamento de infecções, no entanto, os pacientes submetidos ao estudo não tiveram a oportunidade de recebe-la, a partir desse momento a enfermeira fortalece o dilema entre esclarece-los de sua real condição de saúde ou permanecer em silêncio oferecendo seu conforto e carinho. Ao longo do tempo, os pacientes foram definhando e receberam um certificado de agradecimento junto com uma pequena quantia em dinheiro oferecidas pelo governo americano. Após 40 anos o estudo tem sua interrupção após denúncia da imprensa, onde os envolvidos são levados a julgamento. Como saldo nesse estudo, de 412 pacientes com Sífilis apenas 127 sobreviveram, nenhum dos envolvidos recebeu punição e os sobreviventes e familiares receberam indenizações. O filme demonstra como a sociedade na época trazia arraigada em seu cotidiano a diferença racial e o princípio da supervalorização do branco sobre o negro, isso é corroborado pela aprovação de um estudo exclusivamente com negros. O mesmo também levanta a reflexão sobre até que ponto um profissional pode agir contra os princípios éticos e morais, e qual o limite ético entre o indivíduo ao mesmo tempo profissional de saúde e pesquisador, colocando em foco a situação onde o ponto principal deixa de ser o paciente/assistência e passa a ser o resultado final da pesquisa. O estudo Tuskegee, assim como tantos outros estudos realizados antigamente de forma atroz, contribuíram para a atenção maior às pesquisas envolvendo seres humanos, gerando subsídios para reformulação de normas vigentes assim como criação de novos regulamentos. No Brasil, essas pesquisas têm sido regulamentadas graças à Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde que garante a proteção aos envolvidos na pesquisa. Sendo assim, fatos inadmissíveis como o fato histórico retratado no filme, devem ser combatidos com criação de normas fundamentadoras de pesquisas que preservem a dignidade da pessoa humana, em conformidade principalmente com os princípios bioéticos da beneficência e autonomia.