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Pesquisa-intervenção
na infância e juventude
Psicanálise e adolescência
Desenvolvimento cognitivo
A pesquisa-intervenção no âmbito da
psicologia do desenvolvimento e da aprendizagem, 269
Márcia da Motta
A pesquisa-intervenção na investigação do aprendizado da escrita, 274
Jane Correa
Pesquisa-intervenção em psicologia do desenvolvimento cognitivo:
princípios metodológicos, contribuição teórica e aplicada, 294
Alina Galvão Spinillo e Síntria Labres Lautert
Favorecendo a aquisição e o desenvolvimento da linguagem oral:
teoria e evidências empíricas, 322
Julie E. Dockrell, Morag Stuart e Diane King
Instituições e coletivos
Pesquisa-intervenção em debate, 459
Cleci Maraschin
O método da cartografia e os quatro níveis da pesquisa-intervenção, 465
Virginia Kastrup
Mikhail Bakhtin e a ética das imagens nos estudos da infância:
uma proposta de pesquisa-intervenção, 490
Solange Jobim e Souza e Raquel Gonçalves Salgado
Contribuições de Mikhail Bakhtin para
a pesquisa-intervenção nas TVs comunitárias, 514
Luciana Lobo Miranda
Pesquisa-intervenção e novas análises no encontro da
Psicologia com as instituições de formação, 532
Marisa Lopes da Rocha e Anna Paula Uziel
Abordagens clínicas
Pesquisa-intervenção e seus efeitos transformadores, 559
Glacy Gonzales Gorski
O risco e a possibilidade: ser adolescente em contextos brasileiros, 567
Ana Cecília de Sousa Bastos, Mirela Figueiredo Iriart, Miriã Alves Ramos de
Alcântara, Feizi Milani e José Eduardo Ferreira Santos
Pesquisa-intervenção na clínica psicológica da infância e da adolescência, 587
Vera Regina Röhnelt Ramires e Sílvia Pereira da Cruz Benetti
A palestra é sobre o quê?
Falando para/com jovens sobre relacionamentos amorosos, 614
Jacqueline Cavalcanti Chaves
A iniciativa deste livro tem uma trajetória que remonta a 2006, quando
o Núcleo Interdisciplinar de Pesquisa e Intercâmbio sobre a Infância e a
Adolescência Contemporâneas – NIPIAC/UFRJ organizou sua Jornada anual
abordando esta temática. Diversos trabalhos, com orientações teóricas diferentes,
foram apresentados em três mesas-redondas que exploraram o modo de
compreender este método de pesquisa, assim como suas aplicações no campo
da infância e juventude. Pudemos constatar que, no âmbito de diferentes
perspectivas teóricas, a pesquisa-intervenção comparecia como o método de
investigação escolhido pelo pesquisador, ainda que cada abordagem teórica
modelasse um enquadramento distinto desse método. Ainda, verificamos
que a pesquisa-intervenção, como método, articulava o modo de construir o
próprio problema e a questão de pesquisa a serem investigados, de modo que
o entrelaçamento entre o que estava sendo investigado e o modo de investigar
se colocasse como aspecto marcante, sinalizando momentos analiticamente
distintos, porém inseparáveis, do ato da pesquisa. Assim, a diversidade de
caminhos que se abria por meio da utilização de tal método aparecia como
uma riqueza de possibilidades, mesmo que, naquele momento, se configurasse
como um horizonte ainda disperso.
O resgate da reflexão nesta área nos pareceu da maior importância, tal
como descortinado pela própria Jornada, como também pela experiência de
investigação acumulada pelo NIPIAC, que, há anos, vem trabalhando com este
método nos diferentes projetos de pesquisa dentro e fora da universidade: o
Projeto Jovem Total, realizado em parceria com o Governo do Estado do Rio de
Janeiro em 2003, vários projetos de pesquisa que utilizam os Grupos de Reflexão,
metodologia de pesquisa-intervenção desenvolvida pelo próprio NIPIAC;
projetos de pesquisa que fazem uso de outras metodologias de intervenção,
tais como as Oficinas de Leitura e Escrita, Oficinas da Cidade em Imagens,
Oficinas da Amizade, Oficinas da Cidade. O contato com pesquisadores de outras
universidades, no Brasil e no exterior, também nos indicava o quão prevalente
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10 Pesquisa-intervenção na infância e juventude
tem sido a escolha por esse método de pesquisa cujo campo se delineia em
uma multiplicidade de abordagens, conceitos e linguagens que, nem sempre,
concorrem para uma visão consistente da especificidade desse método em
relação aos demais.
A Jornada de 2006 instigou-nos a organizar uma publicação em que colegas
de diferentes áreas temáticas, trabalhando a partir de diferentes abordagens
teóricas, pudessem refletir sobre seu próprio trabalho de pesquisa-intervenção, não
apenas apresentando o modo como desenvolvem suas pesquisas como também
discutindo as dificuldades e impasses que enfrentam a partir da escolha dessa
abordagem teórico-metodológica. O empreendimento era de grande monta,
pois queríamos que o resultado pudesse oferecer ao leitor um panorama amplo e
diverso, refletindo o que se faz realmente na área; ao mesmo tempo, desejávamos
que esse campo se estruturasse por meio de um olhar crítico, de modo que a
complexidade, a riqueza e a especificidade, bem como as lacunas, inconsistências
e limitações, pudessem ser apontadas e discutidas. Ao longo dos dois anos de
preparação desta Coletânea, convocamos pesquisadores, e trabalhamos para reunir
o que existe de qualidade na área. Neste sentido, os 32 artigos - aglutinando 53
autores - que fazem parte dessa Coletânea representam um esforço significativo
para debater os caminhos atuais do método de pesquisa-intervenção no âmbito
da Psicologia, principalmente, e dar visibilidade às potencialidades de tal método
como um instrumento relevante e valioso na investigação.
A Coletânea está organizada em sete seções temáticas, a saber: Cotidiano
e Transformação Social; Psicanálise e Adolescência; Juventudes e Sociedade;
Desenvolvimento Cognitivo; Contextos Sociais e Diversidade Cultural;
Instituições e Coletivos; Abordagens Clínicas, cada uma delas abarcando artigos
que mostram enquadramentos diferentes do método de pesquisa-intervenção
no âmbito de sua utilização para distintos problemas de pesquisa, assim como
de sua aplicação em contextos diversos. Cada seção temática – tomada como
um conjunto – é introduzida por um artigo que discute questões, perspectivas e
problemas abordados nos diferentes textos que compõem a seção. s Esses artigos
foram escritos pelos consultores da Coletânea, que não apenas puderam avaliar
cegamente os artigos de sua seção, como também nos brindaram com uma
discussão mais ampla dos pontos que consideraram pertinentes comentar a partir
dos textos da seção. Os consultores nos trazem uma perspectiva ‘externa’, crítica,
dos encaminhamentos propostos nos relatos de pesquisa-intervenção, assim
como discutem pontos gerais suscitados pelo método pesquisa-intervenção.
O campo sobre o qual se constroem as contribuições desta Coletânea é o
da infância e juventude que consiste no ‘fio comum’ desta iniciativa de reflexão
Pesquisa-intervenção na infância e juventude: construindo caminhos 11
e instituições, mas que têm sido gradualmente substituídos por outros mais
afinados com uma construção sócio-cultural do que é investigado.
É no campo da infância e da juventude que a importância dos contextos da
pesquisa tem uma importância fundamental Se o artificialismo da situação de
pesquisa, em geral, pesa negativamente sobre os resultados da pesquisa, ainda
com mais razão nas pesquisas com crianças e jovens. A pesquisa-intervenção
mostra-se sensível a esse questionamento. Pesquisar é também buscar o que se
quer pesquisar no contexto onde isso acontece, e ao se procurar, então, estar
nestes contextos, as perguntas e propostas do pesquisador já constituem uma
intervenção (Sato, p.171, neste volume), uma vez que estão sujeitas a negociações,
mal-entendidos, esquecimentos, ou até, recusas. Significa, outrossim, que
na pesquisa com crianças e jovens os ‘desvios’ provocados pelas emoções,
sentimentos e afetos de ambas as partes, muitas vezes dispersando as intenções
retilíneas do pesquisador, convocam pesquisadores e pesquisados a refletir
sobre os acontecimentos deslanchados pela própria pesquisa, avaliando-a e
redirecionando-a.
Com a publicação da Coletânea sobre Pesquisa-Intervenção na Infância
e Juventude, o NIPIAC pretende contribuir para a divulgação de um método
de pesquisa que se afirma, cada vez mais, como um instrumento privilegiado
para a investigação nesse campo. Com isso, almeja fomentar o debate sobre essa
metodologia entre os pesquisadores brasileiros, esperando, ao mesmo tempo,
contribuir para o avanço e o aperfeiçoamento deste método de pesquisa, por meio
dessa publicação, pioneira no Brasil. Acredita que, com a diversidade e a qualidade
dos textos que ora publica, reunindo autores relevantes no cenário nacional e
internacional, coloca à disposição do público uma obra que promove o debate e
- por que não? - polêmica, mas, sobretudo, a discussão fecunda dos problemas e
dificuldades relacionados à investigação do campo da infância e juventude.
Nós, organizadoras desta Coletânea, pensamos que, no cenário atual,
de uma sociedade voltada para o descarte rápido dos bens que prometem a
felicidade sem dor, a contribuição do método de pesquisa-intervenção pode se
resumir como um modo específico de abordar crianças e jovens para, com eles,
e para eles, construir o conhecimento. Dentro dessa perspectiva, trabalhar em
torno dos textos que ora apresentamos nos fez aprender com cada autor, cada
consultor. Esperamos que o leitor possa se beneficiar, à sua maneira, do fruto
desse trabalho e, quem sabe, contribuir brevemente para o aprimoramento
deste método de pesquisa.
Cotidiano e transformação social
A pesquisa-intervenção e o diálogo com os agentes sociais
Francisco Teixeira Portugal
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Conhecer, transformar(-se) e aprender:
pesquisando com crianças e jovens
Lucia Rabello de Castro
uma antecipação clara e total dos fatores que podem ser relevantes e que podem
acometer o processo de pesquisa. O controle do processo não está roteirizado
e ordenado por meio de mecanismos dos quais o pesquisador pode lançar
mão, como, por exemplo, o grupo de controle, ou o uso de vários observadores
para um mesmo fenômeno. Talvez não se possa falar de controle dentro desta
perspectiva de pesquisa porque o objetivo não seria ‘limpar’ o processo de
pesquisa para que possamos enxergar o ‘dado em si’, ou a ‘realidade em si’ da
criança, já que essa realidade, como foi discutido antes, estaria sempre sendo
produzida dentro das práticas de significação propiciadas pelos processos
sociais, dentre os quais se encontra o dispositivo de pesquisa. Junto com
O’Kane (2002) penso que esta abordagem de pesquisa com crianças responde
à exigência de se dar voz às crianças e transformar as relações de poder entre
pesquisador adulto e a criança.
O processo de pesquisar adquire as marcas das condições que o produzem.
Uma das mais importantes conseqüências de se problematizar a desigualdade
estrutural resulta em outro posicionamento ético-político e epistemológico
do pesquisador. Não somente os temas de pesquisa deveriam se conformar
mais ao que as crianças podem enxergar como relevantes às suas próprias
vidas como também os métodos deveriam condizer com a premissa de que
crianças constroem suas experiências no âmbito das práticas de significação,
numa situação partilhada com outros, sejam adultos ou outras crianças. Neste
sentido, a estrutura de desigualdades que se explicita e se reconhece, ao se
pesquisar com crianças e jovens, estabelece, no entanto, outras direções para
o processo de pesquisa que não ‘naturalizam’ as relações diferenciadas entre
adulto e criança/jovem, mas a consideram um aspecto a ser constantemente
problematizado promovendo inflexões e rupturas. Uma delas consiste, por
exemplo, na exigência de estar com as crianças nos seus ambientes naturais,
acompanhando-as no que costumam ou gostam de fazer. Essa maior
abertura aos espaços públicos e privados onde, de fato, as crianças vivem e
transitam, favorece a emergência de outras questões de pesquisa na agenda
dos pesquisadores.
É a partir dessas considerações iniciais que nos propusemos a compreender
como a pesquisa-intervenção pode ser considerada como um paradigma de
pesquisa que, através de uma variedade de métodos (Thomas & O’Kane,
1998; Morrow & Richards, 1996), aproxima de forma singular pesquisador
e pesquisado, numa atividade em que ambos conhecem, aprendem e (se)
transformam.
Cotidiano e transformação social 29