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TRATAMENTO DE MINÉRIOS

A mineração é uma atividade que é e continuará sendo a principal


provedora de materiais para a humanidade. Os desafios técnicos, sociais e
ambientais que se colocam para a industria mineral, em nível mundial,
requerem o aperfeiçoamento e o continuo desenvolvimento de novos métodos
de mineração e de processamento de minerais que permitam minimizar os
impactos ao meio ambiente e, ao mesmo tempo, fornecer os recursos
necessários para a economia.
O tratamento de minério pode ser conceituado como o conjunto de
operações básicas que são realizadas em uma matéria prima mineral (minério
bruto) com o objetivo de se obter sua adequação, ou seja, produtos
comercializáveis. A terminologia técnica inclui diversos termos que podem ser
empregados para conceituar esse conjunto de operações.

O conjunto de operações realizadas no processamento de uma matéria


prima mineral inclui, dentre outras:

Fragmentação: Redução do tamanho de blocos e/ou partículas.

Separação por tamanho: Colocação dos materiais dentro de uma faixa


adequada de tamanho.

Concentração: separação de espécies mineralógicas de valor econômicos das


demais.

Separação Sólido/liquido: Recuperação da água utilizada nas operações e


disposição de rejeito.

Outras Operações Auxiliares: Manuseio, transporte, amostragem e


estocagem de minérios.

As aplicações industriais do tratamento de minérios, devem estar


dispostas de forma conjunta, arranjadas sequencialmente de modo a
maximizar a recuperação dos minerais úteis contidos no minério e adequar os
produtos obtidos aos seus usuários.

Mineral: È uma substância sólida, natural, inorgânica, que possui composição


química definida e arranjo atômico ordenado.
Ex: Quartzo (SiO2) e Hematita (Fe2O3).

É importante esclarecer que o carvão mineral encontrado na crosta terrestre


não é um mineral (apesar da denominação carvão mineral), pois essa
substancia é de origem orgânica. Da mesma forma, os rubis sintéticos não são
se enquadram no conceito pelo fato de serem produtos artificiais.

Mineral Minério: É a espécie mineral da qual se pode extrair


economicamente, uma ou mais substancias úteis, sejam metais, elementos ou
compostos químicos.

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Exemplo:
Blenda: (ZnS) – da qual se extrai economicamente o zinco;
Hematita: (Fe2O3) – da qual se extrai economicamente o ferro;
Galena: (PbS) – da qual se extrai economicamente o chumbo;
Apatita: (PO4)3Ca5F – da qual se extrai economicamente o P2O5;
Garnierita: (Ni, Mg)O.SiO2.H2O+(Fe2O3) – da qual se extrai
economicamente o Níquel.

Ganga: São os minerais inúteis ou de valor secundário, que ocorrem


associados ao mineral-minério. As gangas podem ser metálicas ou não
metálicas.
Considerando a associação mineral: Ouro, pirita e Quartzo.
Para fixação dos conceitos, tem-se: Ouro como mineral-minério (mineral
nativo);
Pirita como ganga metálica (FeS2) e Quartzo como ganga não metálica (SiO2).

Minério: É a associação de mineral-minério e ganga, da qual podemos extrair


economicamente, pelos processos tecnológicos atuais, uma ou mais de uma
substancia útil, sejam metais (minérios metálicos), sejam elementos ou
compostos químicos (minérios não metálicos ou minérios químicos).

Minério Industrial: É o mineral utilizado tal como se encontra na natureza (não


se extrai do mesmo nenhuma substancia útil).
Exemplo:
Quartzo (utilizado na industria de ótica, fundição elemento de liga e na industria
eletrônica);
Topázio (Utilizado como gema);
Asbesto (Utilizado como isolante térmico).

Beneficiamento dos Minerais: É o processamento dos minerais brutos, para


a obtenção de produtos de diferentes valores, sem alterar a identidade física e
química dos mesmos.
Compreende aquelas operações que se aplicam aos bens minerais para
modificar as suas condições de composição ou de forma, exigidas ou
convenientes ao seu uso ou aplicações.
É oportuno salientar que o beneficiamento se diferencia, por exemplo, dos
processamentos hidrometalurgicos (em que se tem tratamentos químicos para
se conseguir produtos aptos à metalurgia, como é o caso da produção de
alumina a partir das bauxitas impuras) ou mesmo dos processamentos
hidrometalurgicos (em que tratam minérios brutos: Pelotização, calcinação,
sinterização, etc.).

Tipos de beneficiamentos
• Beneficiamento necessário: Quando o minério não pode ser
aproveitado tal como se encontra.

• Beneficiamento conveniente: Quando o minério beneficiado apresenta


um maior lucro.

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Campo de Ação do Beneficiamento:

• Eliminação das espécies químicas não desejáveis, obtendo-se um


produto mais rico denominado concentrado.
• Eliminação das partículas de tamanho inconveniente, obtendo-se um
produto mais selecionado.

Estágios do Beneficiamento:

A) Sob o ponto de vista físico:


• Redução de tamanhos
• Separação das partículas de características físicas diferentes
B) Sob o ponto de vista químico:
• Liberação das partículas de diferentes composições químicas;
• Separação das partículas de diferentes composições químicas;

Obs: Liberar quer dizer: desunir, tornar livres os minerais de uma asociação
mineral.
Separar quer dizer: Isolar, afastar uma espécie mineral de outra.

Para se conseguir a liberação, tem que haver fragmentação ou cominuição


(redução de tamanho) da associação mineral (exceto para os casos em que
ocorre a liberação natural; minerais de aluvião, por exemplo). Para se
conseguir a separação das espécies minerais, necessita-se liberar esses
minerais.

Problema Geral do Beneficiamento:

É o de separar as partículas minerais de um minério em função da espécie.


Separa as espécies minerais úteis (minerais-minério) das espécies minerais
inúteis (gangas).
Considerando uma associação mineral constituída de espécies minerais úteis e
inúteis (ganga). Sendo submetida ao beneficiamento (operações de
fragmentação e separação), tem-se:

Solução Ideal:
• Concentrado ideal – produto constituído somente de partículas úteis;
• Rejeito ideal – produto constituído somente de partículas inúteis (ganga).

Solução Real:
• Concentrado real – produto constituído predominantemente de
partículas úteis (partículas úteis contaminadas com partículas de ganga);
• Rejeito real – produto constituído predominantemente de partículas de
ganga (partículas de ganga com presença de úteis);
• As vezes obtém-se um produto de valor intermediário: misto ou médio.

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Propriedades dos Minerais Utilizadas no Beneficiamento:

a) Propriedades Físicas
• Cor e brilho: cata ou catação manual, seleção automática;
• Densidade: concentração gravimétrica ou gravítica;
• Susceptibilidade magnética: concentração magnética;
• Condutividade elétrica: concentração eletrostática;
• Tamanho, Forma, Densidade: Peneira, classificação.

b) Propriedades Físico - Químicas de Superfícies:


• Tensão supeficial: Flotação
• Molhabilidade: Flotação
• Adsorção: Flotação

È necessário haver, entre as espécies minerais de uma associação mineral,


uma propriedade diferenciadora, para ocorrer a separação das mesmas.

Operações Unitárias (ou fases Operatórias) do Beneficiamento:

Cominuição ou Fragmentação: Visa a redução de tamanho da associação


mineral e divide se em Britagem e Moagem.

Britagem: É a primeira etapa de redução de tamanho. É aplicada ao material


mais grosseiro e é realizada a seco. Os aparelhos utilizados são os britadores
e o produto é chamado de britado.

Moagem: É a segunda etapa de redução de tamanho. É aplicada para


materiais mais finos e é realizada quase sempre a úmido (polpa aquosa –
minério + água) e, excepcionalmente a seco quando material beneficiado não
pode ser molhado, como é o caso de moagem de carvão mineral para a
preparação de carga na produção do ferro níquel e moagem de minérios
lateríticos para produção carbonato de níquel. Os aparelhos utilizados são os
moinhos e o produto é chamado de moído.

Graduação (Classificação por Tamanho):

Visa á separação das partículas minerais por ordem de tamanho. É realizada


por peneiramento industrial ou por classificação.

Peneiramento Industrial: separa as partículas por ordem de tamanho. Baseia-


se no princípio de que as partículas com diâmetro maior que a abertura de uma
peneira (por exemplo), nela ficam retidas, e as partículas de diâmetro menor
que a abertura da peneira, a atravessam. Os aparelhos utilizados são as
peneiras, grelhas, crivos, etc. e os produtos oversize (partículas retidas) e
undersize (partículas passantes).

Classificação: Separa as partículas por ordem de tamanho, forma e


densidade. Baseia-se no principio de que as partículas de diferentes diâmetros

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e forma possuem diferentes velocidades de sedimentação em um meio fluido.
Os aparelhos utilizados são os classificadores no qual citamos: o Espiral de
Akins e os Ciclones e hidrociclones. Os produtos são denominados Overflow
(partículas flutuantes) e Underflow (partículas que afundam).

Concentração: Visa ao aumento relativo dos minerais inúteis, baseando-se na


diferença de propriedades físicas ou físico-químicas de superfície entre as
espécies minerais a serem separadas. Os aparelhos utilizados são os
concentradores e os produtos são denominados concentrado sendo o produto
de maior valor, rejeito sendo o produto inútil e as vezes se obtém um produto
de valor intermediário ou seja misto denominado middling.

Separação Sólido Líquido: Visa à eliminação da água que acompanha o


material sólido, para obtenção de um produto seco. Os processos envolvidos
na separação sólido liquido compreende em espessamento, filtragem (ou
filtração) e secagem.
Espessamento: É a primeira da eliminação da água. Consegue-se uma
eliminação grosseira da água (como se fosse uma decantação). Os aparelhos
utilizados são os tanques especiais denominados espessadores. Os produtos
são chamados de Overflow (partículas flutuantes) e Underflow (partículas que
afundam).

Filtragem: É a segunda etapa de eliminação de água. O produto ainda contém


7 a 20 % de água. Os aparelhos utilizados são os filtros e os produtos são
chamados de filtrado, bolo ou torta (cake).

Secagem: É a ultima etapa de eliminação de água. O produto ainda contém de


1 a 5% de água. Os aparelhos utilizados são os fornos secadores e o produto é
chamado de produto seco.
Obs: Em se tratando de minérios a etapa de secagem já marca uma transição
entre o tratamento de minérios e/ou beneficiamento e a metalurgia.

Operações Auxiliares:

São operações complementares às do beneficiamento e/ou tratamento mineral.


Tem se:
Armazenamento: Na qual é feito em silos e proporciona uma reserva de
material para possíveis paradas na lavra, no transporte, no peneiramento, na
moagem, etc.

Transporte: Na qual utiliza desde caminhões, até correias transportadoras,


bombas (para polpas), etc.

Amostragem e Pesagem: São necessárias para fins de controle, como


verificação do andamento dos processos (concentração por exemplo).

Condicionamento: Possibilita a introdução de reagentes adequados (nos


condicionadores) para auxiliar na flotação dos minerais.

Justificativas Econômicas do Tratamento de Minérios e\ou Beneficiamentos


A finalidade primordial do beneficiamento é a obtenção do lucro através de:

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• Economia com transporte (frete): com a eliminação dos produtos menos
valiosos ou indesejáveis, transporta-se somente aquele de maior valor.
• Redução das despesas metalúrgicas: Grande parte das impurezas são
eliminadas pelo beneficiamento, havendo pois, uma economia de combustíveis,
de fundentes, de energia elétrica, etc., na obtenção do metal.
• Menores perdas de metal nas escórias: Na produção do metal, há a
produção da escória (produto constituído de impurezas eliminadas pela
metalurgia). Essa escória sempre possui uma certa porcentagem de metal.
Evidentemente, se há menos impurezas a eliminar, há um menor volume de
escória no processamento metalúrgico e, portanto, menor perda de metal
direcionando para um maior resultado de redução ou metalização.

Terminologia do Beneficiamento e/ou Tratamento Mineral

a) Usina (planta ou engenho):

É qualquer instalação que se destina ao beneficiamento e/ou tratamento de


minérios. Em outras palavras, é a instalação que se destina ao
beneficiamento dos minerais.

b) Fluxograma:

É uma representação esquemática que indica a seqüência das operações a


que se submete o minério ou associação mineral na usina, bem como os
aparelhos utilizados. O fluxograma pode ser qualitativo (simplificado) ou
quantitativo (detalhado).

• Fluxograma qualitativo (simplificado): quando o fluxograma


representa a seqüência das operações e os aparelhos, sem
especificação do numero, bem como da capacidade desses.

Exemplo:

Representação esquemática de um fluxograma qualitativo (simplificado):

Britador Britador Etc.


silo Peneira 1ª Peneira 2ª
Primário Secundário

• Fluxograma quantitativo (Detalhado):

Quando além da seqüência das operações e dos aparelhos, há referencia


à capacidade e numero desses, bem como outros detalhes.:

Britador
Secundário Peneira 2ª
Britador
silo Primário Peneira 1ª Etc.
Britador
Secundário
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Peneira 2ª

Fluxograma típico de beneficiamento:

LAVRA

MINÉRIO

BRITAGEM

PENEIRAMENTO

MOAGEM

CLASSIFICAÇÃO

CONCENTRAÇÃO

CONCENTRADO REJEITO

ESPESSAMENTO ESPESSAMENTO

FILTRAGEM DEPÓSITO DE
REJEITO

SECAGEM

PRODUTO FINAL

POCESSAMENTO PEÇAS E
METALURGICOS UTENSILIOS
PRONTOS PARA
USO 7
c) Circuito:

É o caminho seguido pelo material dentro da usina. Pode ser aberto ou


fechado.

• Circuito Aberto: É quando o material não é retratado, isto é quando o


material não sofre repetição de tratamento. Esse circuito é usado
quando não há necessidade de um controle rigoroso da faixa
granulométrica do produto.

Representação esquemática de um circuito aberto:

N. A  Moagem 1ª  Moagem 2ª 

• Circuito Fechado: É quando apenas parte do material sofre repetição


de tratamento, ou seja, recircula. O material que recircula é denominado
carga circulante. Esse circuito é usado quando há um controle rigoroso
da faixa granulométrica do produto.

Exemplo de circuito Fechado: Moinho/Classificador

Representação esquemática de um circuito fechado de


britagem/peneiramento:

N.A.

AB - alimentação do britador
Britador NA - nova alimentação
PB – produto britado
AP – alimentação da peneira
OS - oversize
US - undersize
B CC- carga circulante
CC

OS
Peneira

US

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Nesse circuito tem-se:

AB = NA + OS = PB; Relação 1
AP = US + OS = PB; Relação 2

Relação 1 = Relação 2
NA + OS = US + OS; NA = US

A nova alimentação do britador é igual ao produto efetivo da peneira


(undersize).

d) Alimentação:

È a quantidade de material que uma usina ou um determinado aparelho


recebe para tratar.

Tipos de alimentação:

• Alimentação global (Run of mine – ROM ou Run of quarry – ROQ):


Material bruto que vem diretamente da mina ou pedreira para ser tratado na
usina.

• Alimentação regulada: quando o material que chega ao aparelho


possui velocidade de fluxo constante.

• Alimentação não regulada: quando a velocidade é intermitente.

• Alimentação afogada: quando o material que chega ao aparelho vem


em quantidade maior que a capacidade do mesmo, havendo sobra de
material.

• Alimentação escalpelada: quando o material que chega ao aparelho


passa antes por uma classificação, não contendo partículas abaixo de
uma granulometria especificada.

e) Teor

Refere-se ao conteúdo de um material útil em um determinado produto,


sendo geralmente expresso em % e em peso. Define-se como teor a massa
de um elemento ou substância pura, referido à massa total em
consideração. É determinado em laboratório químico.

Ex: Alimentação com 1% de Cu e concentrado com 36% de Cu.

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