Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Wolpe, J. (1978) - Prática Da Terapia Comportamental PDF
Wolpe, J. (1978) - Prática Da Terapia Comportamental PDF
TT7P A PT A
COMPORTAMENTAL
OUTRAS OBRAS DESTA EDITORA
PSICOLOGIA/PEDAGOGIA
Berelson, Bernard e - Comportamento Humano
Steiner, Gary
Bussab, Wilton e — Tábuas de Estatística e Matemática
Severo, José Camargo
Cain, Arthur — Jovens e Drogas
Cofer, Charles — Introdução à Psicologia
Despert, Louise - Crianças e Divórcio
Ellis, Albert - Sexo e o Homem Solteiro
Fitzgerald, Hiram, e — Psicologia do Desenvolvimento
Strommen, Ellen
Gaiarsa, José Ângelo — Estátua e a Bailarina (A)
Gervásio, Sabá — É Natural
— Sempre foi Assim
Gikovate, Flávio — Dificuldades do Amor
Jennings, Eugene — Liderança nas Organizações e na História
Leboyer, Frédérick — Nascer Sorrindo
McGregor, Douglas — Motivação e Liderança
Pappenheim, Fritz — Alienação do Homem Moderno
Reich, Wilhelm — A Função do Orgasmo
Roazen, Paul — Freud: Pensamento Político e Social
— Irmão Animal —A História de Freud e Tausk
Wolpe, Joseph - Prática da Terapia Comportamental
joseph wolpe
Professor de Psiquiatria da Escola de Medicina da
Universidade de Temple e do Instituto Psiquiátrico da
Pensilvânia
PRATICA DA
T T hT? à dt a
COMPORTAMENTAL
1? edição: 1976
2 a EDIÇÃO
editora brasiliense
1978
para A LLA N e D A V ID
Tradução:
WILLIAM GRAHAM CLARK Jr.
Revisão Técnica:
MARINA TSCHIPTSCHIN
Revisão Ortográfica:
WALDIR RODRIGUES CARRASCO
JOSÉ GENARO URSO
Capa:
MOEMA CAVALCANTI
P R E F Á C I O D A P R I M E I R A E D I Ç Ã O ........................................................ 9
P R E F Á C I O D A S E G U N D A E D I Ç Ã O ........................................................ 13
J. W O LP E, Doutor em Medicina
capítulo 1
Introdução
PERSPECTIVA HISTÓRICA
1963) que nos casos de fobias clássicas tratadas pela terapia de dessensi
bilização, há uma conexão matemática entre o número de apresentações
de cenas e o grau de recuperação obtido (vide Capítulo 6).
O poder de intervir racional e previsivelmente faz um grande con
traste com a incerteza da posição convencional do terapeuta. Uma vez
que o último dirige seus procedimentos num "processo interior" que
ele considera como responsável pelo comportamento impróprio, ao invés
de trabalhar no próprio comportamento, ele só pode permanecer ao lado,
passivamente, e esperar que efeitos comportamentais favoráveis resultem
de seus esforços.
Portanto, na literatura convencional sobre a psicoterapia, muito
foi atribuído ao relacionamento paciente-terapeuta. Uma crença ampla
mente predominante é a de que a qualidade do relacionamento terapêu
tico é mais básico ao resultado terapêutico que os métodos e técnicas
específicas do terapeuta, e isto é provavelmente verdadeiro nas terapias
convencionais. Como Frank (19 6 1) demonstrou, um relacionamento,
no qual o terapeuta é capaz de mobilizar a expectativa de ajuda e o desejo
de alívio do paciente é por si mesmo, um poderoso instrumento tera
pêutico. É provavelmente porque as terapias convencionais dependem
praticamente todas do relacionamento, que todas elas atingem os mesmos
resultados (Eysenck, 1952). Os procedimentos da terapia comportamental
têm efeitos adicionais àqueles efeitos relacionais que são comuns a todas
as formas de psicoterapia.
A prática da terapia comportamental pode ser, portanto, encarada
como um meio de "duplo efeito" para aliviar a aflição neurótica (ver
Capítulo 15).
Os estudos estatísticos dos efeitos da terapia comportamental
por terapeutas competentes demonstraram que quase 90 por cento de
recuperação ou progressos marcantes poderão ser esperados entre pacientes
que foram expostos em medida razoável aos métodos comportamentais.
Esses estudos são resumidos no Capítulo 15 , onde são também compa
rados com estatísticas de outras terapias. As comparações são claramente
favoráveis à terapia comportamental, mas vulneráveis à crítica quanto
à falta de controle. Os resultados de alguns estudos bem controlados dos
efeitos, entretanto, rendem também decisivamente para o lado da terapia
comportamental. Um ponto que deve ser enfatizadó é o de que a terapia
comportamental é eficaz em todas as neuroses e não apenas em fobias
esporádicas.
No conjunto, há motivos para a confiança na prática da terapia
comportamental. Ela é baseada na biologia e seus princípios e práticas
INTRODUÇÃO 25
minada técnica porque ele "sabe" que é certa e que "deve" ser bem
sucedida, se o paciente assirn o permitir. Só quando há evidência de
mudanças, o terapeuta comportamental se sente justificado a utilizar
a mesma técnica.
Alguns problemas morais são trazidos por pacientes. Uma boa parte
deles questiona quanto à moralidade do comportamento afirmativo,
quando este é necessário. Eles poderão ser tranqüilizados de diversas
maneiras. Uma aproximação útil tem sido a de indicar que existem três
aproximações diretas possíveis para a condução das relações interpessoais.
A primeira é considerar a si mesmo apenas, e não ter consideração para
com os demais, se necessário, para se conseguir o que deseja. A personali
dade psicopática é a expressão extrema dessa atitude básica e muitas
vezes, é claro, colide com a sociedade. Ele se comporta de maneira anti-
-social porque, aparentemente, não foi condicionado para sentir culpa
ou ansiedade em situações em que a maioria das pessoas sente. O resul
tado é que ele muitas vezes se lança sobre a sociedade. A segunda aproxi
mação possível nas relações interpessoais é a de sempre colocar as outras
pessoas antes de si. Tal altruísmo é o extremo oposto da personalidade
psicopática. As pessoas que seguem esta política ficam freqüentemente-
emocionalmente perturbadas, seus .sentimentos oscilando entre a culpa de
deixar de cumprir seus padrões de abnegação, e a falta de realização que
resulta da auto-abnegação. Não menos que aquele do psicopata, embora
de forma diferente, o seu comportamento tem resultados infelizes. O dizer
talmúdico, "Se eu não me valer, quem me valerá?" reconhece a verdade
biológica de que o bem-estar do organismo inicia com sua própria integri
dade. A terceira aproximação é o meio termo, dramaticamente transmi
tido nesta citação mais ampla do Talm ude: "Se eu não me valer, quem
me valerá? Mas se eu valer a mim apenas, então o que sou eu?" O indi
víduo se coloca em primeiro plano, mas leva os demais em consideração.
Ele age de acordo com as exigências da vida social, enquanto aquiesce
ao princípio biológico de que os ajustamentos do organismo individual
servem principalmente às necessidades e ao indivíduo, e não àquelas
dos demais. Ele cumpre as suas obrigações para com o grupo, mas reivin
dica e está preparado para defender aquilo que crê serem seus direitos
razoáveis.
Com base nesta filosofia prática, decidir qual comportamento é
adequado a circunstâncias especiais é geralmente uma questão simples.
Apesar de que a maior parte do comportamento resultante seria aceitável
para pessoas de diversas formações e crenças religiosas, há ocasiões em
que surgiriam discordâncias. Por exemplo, se uma infelicidade crônica
IN TRO DUÇÃO 27
NOTAS
Fundamentos
e Finalidades
ESTÍMULOS E RESPOSTAS
X X
EXTE ROCEPTI VOS
MOTORAS - PROPRIACEPTI VOS
(estímulos visuais,,
sonoros, olfativos
e táteis
ENDÖGENO
AUTÔNOMAS- VISCERAL
VISCERAL
(e.g. estímulos — e outros possíveis
produzidos pelas elementos da emoção
respostas
autônomas).
IMAGI- IMAGI-
NAL IM AGINAL-
NAL
P R IN C ÍP IO S B Á S IC O S D A A P R E N D IZ A G E M
1. Contracondicionamento
2. Recondicionamento Positivo
3. Extinção Experimental
1. Neuroses
4. Personalidade psicopática
5. Vício em drogas
NOTAS
Investigando
o caso: relações t
estímulo-resposta
a) A u tô n o m o
1. Hiperventilação Efeitos somáticos transitórios como:
(a) Tonturas
(b) Desmaios
(c) Parestesias
(d) Dores de cabeça
(e) Taquicardia
2. Inibição protetora Depressão
H h W U A '? / «s^-^Hiprrotizado) quando a ansiedade
' é muito prolongada e intensa
b) Motores
1. Tensão muscular proeminente, ge Distúrbios motores como:
ral ou local (a) Tremor
(b) Gagueira
(c) Dor 'fibrosftica' como dores nas
costas
(d) Disquinesia ocular
2. Condicionamento de esquiva mo Esquiva a estímulos eliciadores de ansie
tora (pode ser condicionada simul dade
taneamente com a ansiedade, ou
secundariamente a ela)
3. Comportamento motor complexo Compulsão
condicionado por suas*conseqüên- "Neurose de caráter" como:
cias de redução de ansiedade (a) Promiscuidade
(b) Ausência de objetivos
3. (a) Desvios sexuais, (como homosse
xualidade, pedofilia)
(b) Exibicionismo
(c) Voyeurismo
(d) Promiscuidade
(Continua. . .)
R ELA ÇÕ ES ESTIM ULO-RESPOSTA 41
Tabeia 1 — (Continuação)
c) Cognitivo
1. Distração cognitiva devida a estí Amnésia devida ao "não-registro" de
mulos produzidos por resposta de estímulos extrínsecos
ansiedade
2. Distorção cognitiva Comportamento paranóide e relaciona
dos
dizagem só pode ser obtida através de processos que envolvam esse nível
primitivo. A ansiedade neurótica não pode ser superada puramente pela
ação intelectual — argumentos lógicos, introspecção racional — exceto
no caso especial em que a ansiedade neurótica dependa de uma concepção
errônea — uma "equação errônea" conceptual.
Consideremos uma pessoa que tem medo de cobras inofensivas.
Quando a cobra (S ^ entra em sua linha de visão, produz efeitos neurais
que produzem uma percepção (imagem) da cobra (rSj) dentro dela
(Taylor, 1962) e, finalmente, o processo eferente demonstrado como
re leva a um padrão de ansiedade e respostas de esquiva (R e). Ha~ dois
caminhos através dos quais este rS j pode conduzir a R e. A percepção da
cobra poderá eliciar uma imagem secundária de perigo ou morte (rS2) à
qual as respostas de ansiedade e esquiva já foram condicionadas em quase
todo mundo. O hábito de resposta de ansiedade seria eliminado quebran
do-se a conexão entre rS j e rS2. Aqui teríamos a eliminação de uma
associação entre duas idéias: o rompimento de um hábito "cognitivo".
Isto é tecnicamente o que fazemos ao "corrigirmos concepções errôneas"
(Wolpe, 19 58 , p. 199).
Para ilustrar o que foi dito,com referência a um caso clínico comum:
um homem queixa-se de ansiedade cada vez que sente uma dor no lado
esquerdo de seu tórax. O estímulo real de sua dor poderá ser uma pressão
no diafragma devido a uma distensão gasosa do estômago ou intestinos.
Mas a dor conjura imagens eliciadoras de medo que transmitem a mensa
gem: "Estou tendo um ataque de coração: Eu vou morrer." Uma vez
que não é tão desarrazoado que se fique angustiado com o pensamento
de uma morte iminente, a ação terapêutica não será dirigida a esse hábito
emocional de resposta, e sim ao rompimento da associação errônea e
imprópria entre a percepção da dor no tórax e o pensamento da
morte.
A outra possibilidade é a de que a percepção ( rS J , imediatamente
e sem qualquer outro intermediário cognitivo, elicia a resposta de ansie
dade porque ela foi diretamente condicionada para fazê-lo. Nesse caso,
nenhuma operação no nível "cognitivo" será de qualquer utilidade para
superar o temor a cobras inofensivas. Será necessário obter o recondicio-
namento direto do hábito emocional a essa percepção. Na grande maioria
dos casos de neurose, essa é a tarefa com a qual nos defrontamos. Mas,
muitas vezes, ambos os tipos de operações são necessários — o paciente
tendo tanto uma concepção errônea das implicações do objeto percebido
quanto uma resposta autônoma irracional de ansiedade relativamente
a este.
R ELA Ç Õ ES ESTIM ULO -RESPO STA 43
H ISTÓRICO DE FUNDO
(* ) Existente na Educational and Testing Materiais, P.O. Box 7234, San Diego,
Califórnia (92107).
R ELA Ç Õ ES ESTIM U LO-RESPO STA 45
S R A . P .: Sim.
T E R A P E U T A : Que tipo de pessoa é seu pai, especialmente como
a senhora se lembra dele em sua infância?
S R A . P.: Delicado e acessível.
T E R A P E U T A : Sentiu que ele se interessava pela senhora?
S R A . P.: O senhor quer dizer quanto à escola e coisas assim?
T E R A P E U T A : Esteve o seu pai interessado na senhora pessoalmente
e naquilo que fazia?
S R A . P .: Não muito.
T E R A P E U T A : Ele jamais a castigou?
S R A . P.: Não.
T E R A P E U T A : E quanto a sua mãe?
S R A . P.: Bem, eu poderia dizer o mesmo quanto a ela. Eles eram
ambos bons, o senhor sabe. Ela. . . ela esteve interessada, fazia coisas como
levar-nos à escola. Ela não parecia muito interessada em como estávamos
indo ou no que fazíamos. E eu falhei e tive péssimas notas na escola.
Ela nunca conversou com a professora para saber se eu poderia ter feito
melhor, ou algo semelhante. Ela jamais ajudou nas lições de casa ou
coisas assim. Naturalmente, eu calculo que ela sempre tinha outras coisas
a fazer.11
T E R A P E U T A : Independente do fato de que seus pais eram pessoas
um tanto semelhantes, a senhora diria que eles se gostavam mutuamente
e que se comportavam com relação à senhora como se a amassem?
S R A . P.: Bem, eles tentaram fazer com que nós fizéssemos as coisas
certas, e posso me lembrar de que sempre nos levavam à Escola Dom ini
cal e à igreja.
T E R A P E U T A : Eles viviam bem juntos?
S R A . P.: Bem, sim. Até quanto sei. Eles tinham discussões.
T E R A P E U T A : Eles discutiam muito?
S R A . P.: Bem, não. A final, eles viveram juntos quarenta e poucos
anos.
T E R A P E U T A : Existiam outros adultos que tiveram alguma impor
tância em sua vida doméstica na infância tais como avós, tias ou pajens?
S R A . P.: Não, não me lembro de quaisquer avós ou tias.
T E R A P E U T A : Como se saía com seu irmão e irmãs?
S R A . P.: Muito bem, eu creio. Logicamente, sendo crianças eu penso
que se discute e briga muitas vezes. Agora eu penso que nós nos dávamos
muito bem.
T E R A P E U T A : A senhora teve quaisquer temores especiais, quandc
criança?
R ELA Ç Õ ES ESTIM ULO-RESPOSTA 51
SR A. P.: Bem, não, não que eu saiba. Mas quando eu estava com
oito anos de idade, a nossa casa se incendiou. Eu estava voltando para
casa da escola e os carros de bombeiros passaram por nós. Era Janeiro
e estava nevando e alguém nos disse que a nossa casa estava em chamas.
E então houve um receio. . . de que de fato estivesse. Meus pais perderam
quase tudo o que tinham. Eu sei que eles. . . oh, 5 ou 6 anos depois disso,
cada vez que eu ouvia uma sirena de bombeiros ficava tão nervosa, que
se estivesse na escola me levantaria e sairia. Eu não sairiá da escola, mas
teria que sair da sala de aula, mas coisas como essas não me incomodam
agora.12
T E R A P E U T A : A senhora teve mais dessas experiências, ou quais
quer outros temores quando era criança?
S R A . P.: Não.
T E R A P E U T A : Bem, a senhora diz que não se saiu muito bem na
escola. Independente do fato de que seus estudos foram difíceis, a senhora
gostava da escola?
SR A . P.: Eu gostava bastante. Quero dizer, eu só brincava o tempo
todo.
T E R A P E U T A : Bem, a senhora sempre se saiu mal nos estudos?
SR A . P.: Sim.
T E R A P E U T A : E quanto aos esportes? Como se saía neles?
S R A . P.: Eu devo ter puxado ao meu pai. Saí-me bem.
T E R A P E U T A : A senhora fez amizades na escola?
SR A . P.: Sim , eu tive muitas amizades na escola.
T E R A P E U T A : A senhora teve amizades íntimas?
SR A . P.: Bem, sim. Havia seis ou oito de nós que sempre andávamos
juntos, moças e . . .
T E R A P E U T A : Havia alguma pessoa na escola a quem a senhora
temesse? Quero dizer, entre moças e professores?
S R A . P.: Não.
T E R A P E U T A : Até que ponto a senhora foi na escola?
S R A . P.: Eu terminei o curso secundário.
T E R A P E U T A : Que idade tinha a senhora então?
SR A . P.: Dezoito.
T E R A P E U T A : O que fez então?
S R A . P.: Eu trabalhei para um médico durante três anos.
T E R A P E U T A : Como recepcionista?
S R A . P.: Eu fazia seu trabalho de laboratório e serviços de dactilo
grafia, estenografia. . . ajudava-o com seus pacientes.
T E R A P E U T A : A senhora gostava desse trabalho?
52 PR Á TICA DA TE R A P IA COM PORTAM ENTAL
SRTA. G.: A menos que estivesse muito escuro e ele não pudesse
me ver.
TERAPEUTA: Bem, então, é só quando ele consegue vê-la que
se sente atemorizada — porque pensa que ele pode enxergá-la.
SRTA. G,: Penso que sim.
TERAPEUTA: Além de a olharem, o que mais podem as pessoas
fazer para deixá-la nervosa? Você, penso, mencionou algo. Elas podem
criticá-la. Você teme que seu chefe a critique.
SRTA. G.: Qualquer crítica me perturba, mesmo que eu saiba
que estou certa. Eu não consigo replicar-lhes que estou certa29
nesse caso; eu simplesmente fico engasgada *e me sinto como se fosse
chorar.
TERAPEUTA: Há algo mais que as pessoas podem fazer para per-
turbá-la?
SRTA. G.: Bem, basta apenas me dizerem que estou errada — se
eu estiver errada ou se estiver certa, ainda assim isso me incomoda, Isso
me perturba.
TERAPEUTA: Esse é um tipo de desaprovação. Suponhamos que
as pessoas a elogiem?
SRTA. G.: Isso faz-me sentir bem.
TERAPEUTA: Isso a faz sentir-se bem. Quem é mais velha, você
ou sua irmã?30
SRTA. G .: Eu sou mais velha.
TERAPEUTA: Quanto?
SRTA. G.: Três anos.
TERAPEUTA: Que tipo de pessoa é seu pai?
SRTA. G.: Ele pende para o lado mais quieto, e ambos os meus
pais pendempara o nervosismo. Minha irmã, também. Toda a família,
na verdade.
TERAPEUTA: Foi o seu pai bom para você quando era pequena?
SRTA. G.: Sim.
TERAPEUTA: E sua mãe?
SRTA. G.: Sim, ela é a mais forte. Eu sou mais como meu pai e
minha irmã é mais como minha mãe.
TERAPEUTA: De que maneira é sua mãe mais forte?
SRTA. G.: Bem, as coisas não a incomodam, pelos menos exterior
mente, tanto como incomodam ao meu pai e a mim. Ela parece que
toma decisões.
TERAPEUTA: O que faz seu pai?
SRTA. G .: Ele é corretor de seguros.
RELAÇÕES ESTIMULO-RESPOSTA 63
NOTAS
(10) Isto ergueu a questão quanto a se, em geral, ela tinha uma tendência para a ira
e agressão, quando contrariada. Conforme suas afirmações seguintes, este não
foi o caso.
(11) Tendo pais tão pouco envolvidos, não é de se surpreender que a Sra. P. não
ficasse entusiasmada quanto a ter crianças.
(12) É comum que as fobias de infância sejam descondicionadas peias experiências
que a vida fornece, sem qualquer tratamento formal.
(13) Observe a insistência do terapeuta quanto a pelo menos uma resposta aproximada
o que, uma vez obtida, foram procurados detalhes.
(14) Claramente, a escolha de um marido foi feita em termos racionais, e não por
causa de sua atração emocional, em contraste com o homem casado, anterior
mente mencionado.
(15) A aparência física é obviamente de grande importância emocional pafa ela,
oontribuindo muito para a força de sua reação negativa para com a criança
recém-nascida.
(16) Esta afirmativa expressa a orientação central de um histórico comportamental.
Tudo deve ser visto do ponto de vista da sofredora, pois é ela que deve ser
mudada.
(17) Já nesta primeira entrevista, a paciente recebe a mensagem de que a terapia
ativa começará muito em breve.
{18) É importantB estabelecer a presença ou ausência de ansiedade contínua. Suas
origens são várias, as mais comuns sendo os conflitos contínuos, reflexões
quanto a possíveis catástrofes, e a ansiedade difusa (vide Capítulo 9). Aqui,
a afirmação da Srta. G. de estar sempre ansiosa foi posteriormente verificada,
como incorreta.
(19) Isto foi para inferir que sua reação não estava realmente “por fora".
(20) Isto nos diz que sua ansiedade interpessoal varia diretamente com a estranheza
das outras pessoas.
(21) Quando a ameaça de testes esteve presente, o nível de ansiedade foi
aumentado.
(22) Aqui nós temos uma ansiedade de origem totalmente diferente.
(23) Jtto torna importante saber em que direções a reatividade se espalhou.
(24) Ser observada por pessoas significa um contato maior do que quando elas não
estão observando.
(25) Isto aumenta ao máximo o efeito do estímulo de ser olhada.
(26) Muitos pacientes dizem que estão "perfeitamente à vontade” quando estão
moderadamente aflitos.
(27) A paciente deve aceitar suas reações como notórias. Elas não são "erradas"
ou "tolas".
(28) À primeira vista, esta ó uma exceção à regra. Mas, nas indicaçêos da conver
sação subseqüente, parece claro que ela reage à antecipação de ser olhada por
este tipo de imagem altamente eiiciadora de ansiedade.
(29) Outra fonte maior de ansiedade.
(30) Isto inicia o interrogatório quanto ao histórico geral.
(31) isto jâ foi observado e parcialmente explorado. Isto será logo diligenciado.
(32) Especialmente na infância, muitos temores são superados pelas experiências
da vida. A Srta. G. ainda tem algum grau de claustrofobia (em cubículos), mas
evidentemente relacionado com sua presente neurose séria.
RELAÇÕES ESTIMULO-RESPOSTA 69
(33) Este pode ter sido um evento crftico de condicionamento, mas o tremor em
suas mãos indica que houve um condicionamento preexistente de ansiedade.
(34) As respostas a estas perguntas lançam luz sobre as ansiedades interpessoais do
tipos que requerem treino afirmativo (vide Capítulo 5).
(35) Um princípio básico no treino afirmativo (ver Capítulo 5),
(36) 0 treino afirmativo está sendo, por enquanto, impedido por sua reação a
ser olhada.
(37) O que segue é o início da construção de uma hierarquia (ver Capítulo 6).
capítulo 4
]
Orientação
✓
e a correcão
*
de
concepções errôneas
Primeira Sessão
DR.: Pelo que disse Ed, seu marido, depreendo que há uma falta
de harmonia entre os dois.2 A questão é quanto a se há qualquer possi
bilidade prática de endireitar seu relacionamento e torná-lo mutuamente
desejável.
LiSA: Eu penso que somos pessoas muito diferentes. Logicamente,
quase todas as pessoas são diferentes; mas penso que casei com meu
marido por motivos muito neuróticos, e penso que houve algo semelhante
por parte dele, também. Eu tive dez anos de terapia. O senhor é o terceiro
médico que meu marido me faz consultar, não, não "fez-me consultar”.
Não devo colocar a coisa dessa maneira.
DR.: Bem, às vezes não é uma questão de terapia.3 De qualquer
ORIENTAÇÃO E CORREÇÃO DE CONCEPÇÕES ERRÔNEAS 77
e daí? Após dez anos de terapia, deveria certamente haver alguma mu
dança.
DR.: Eu concordo com a senhora.14
LISA: Aqui estamos na mesma situação e, por algum motivo, essas
mulheres são ainda muito perturbadoras para mim: sua mãe, sua irmã. ..
não fazem qualquer diferença, trata-se das mulheres em geral. Minha mãe
era minha concorrente, então qualquer mulher é minha concorrente.15
DR.: Bem, pensa que sentiria tanto isso se Ed a estivesse procu
rando?
LISA: Não. Sentir-me-ia mais segura.
D R.: Isso faz sentido.
LISA: Como está agora, sinto-me muito insegura. Sinto que qualquer
mulher é uma ameaça para mim. Há certos tipos de mulheres que são
muito femininas, que parecem bastante seguras em suas vidas. Elas não
representam uma ameaça. Mas então existem aquelas que subitamente tin
gem seus cabelos e ficam insatisfeitas com suas situações no tar. Para
mim elas são ameaçadoras.
D R.: Mas há uma base para isto. A senhora compreende que Ed
é uma pessoa e tem suas necessidades. Se ele não vem para a senhora,
talvez ele sinta que essas pessoas insatisfeitas são mais acessíveis.
LISA: Bem, se é isso, tenho disfarçado para mim mesma. Talvez
isso fosse demasiadamente horrível para encarar.
D R.: Mas a senhora está agindo como se sentisse dessa maneira,
não é?
LISA: Creio que sim.
DR.: Independentemente dessa parte sexual, como vão indo?
LISA: Horrivelmente. Estou constantemente irritada — somos como
duas pessoas ofendendo uma a outra.16 Eu amo de fato a Ed e temos
três crianças maravilhosas. Elas são muito estáveis, saudáveis de corpo e
espírito. É extraordinário para mim. Olho para elas e penso: "Com minha
condição mental, como poderiam ser essas crianças como são? " Ed jamais
esteve por perto durante doze anos. Calculo que para escapar de mim
ele se atira ao trabalho. Eu não sei. Penso que muitos homens fazem isso.
Talvez seja apenas um padrão de comportamento. Isso é comum em sua
família. Sua própria irmã jamais permanece em casa e ela tem quatro
filhos; e ela sai constantemente. E seu irmão, com 38 anos de idade,
já passou por três divórcios. Eu olho para todas essas coisas e penso:
"É tudo eu? " Eu disse a Ed, "Estou farta da terapia. Sinto como se
tivesse sido colocada aos cuidados médicos para que não^fizesse onda17
de maneira que você pudesse aproveitar a vida quanda eu estivesse ten
ORIENTAÇÃO E CORREÇÃO DE CONCEPÇOES ERRÔNEAS 81
tando impedi-lo." Creio que se chega a um ponto onde não se liga mais
para nada.
D R.: Seus pensamentos já se voltaram para outros homens?
LISA: No ano passado, estive fora com um estudante universitário
durante alguns dias. Ele se sentia infeliz com sua vida pessoal. Sua família
é vizinha à nossa. Ele veio falar comigo e eu fiquei envolvida. A realidade
pareceu sair de mim. Olho para isso agora e penso que jamais poderia
ter acontecido. Mas aconteceu.
DR.: Foi essa uma situação emocionalmente satisfatória?
LISA: Emocionalmente satisfatória, sim. Ela satisfez uma neces
sidade. Creio que venho procurando há anos, mas jamais pensei que seria
um rapaz de 20.
D R.: Bem, isso não importa.18 Teve orgasmos?
LISA: Não.
D R.: Bem, esteve perto de um?
LISA: Não.
D R.: O que pensa que está faltando, impedindo-a de ter um or
gasmo?
LISA: Bem, disseram-me que é um Complexo de Édipo.
DR.: Não importa isso.19 O que é que a senhora pensa?
LISA: Eu não acho que me sinta adequada- Não sei.
DR,: Pode descrever quaisquer circunstâncias que possam ingressar
num relacionamento que a deixariam. . .
LISA: Oh, sinto que tenho medo de perder contato com a realidade.
D R.: Uma espécie de medo de se soltar, não é?
LISA: É o seguinte. Não confio em ninguém o suficiente.20
D R.: Se tiver um orgasmo, é claro, a senhora não estará perdendo
contato com a realidade. A senhora está se envolvendo demais com a
realidade.21 Posso ver que a senhora pode sentir de outra forma, contudo.
Encontramos pessoas que têm receio até de relaxar.
LISA: Bem, eu também jamais me relaxo. Não quero dízer apenas
no sexo, e sim em qualquer situação. E eles me dizem, "Não fique ner
vosa." É muito bom dizer a alguém, o senhor sabe, não fique nervosa,
mas. . . j,
DR.: Bem, eu gostaria de pedir a Ed que entrasse e ver se conse
guimos mais algumas orientações.
Ed é chamado e entra.
por aproximação. Uma aproximação pode tomar muitas formas. Pode ser
apenas segurar sua mão. Pode ser ele entrando na cozinha e lhe dando um
abraço. Neste estágio, Ed está um pouco hesitante e a senhora um tanto
ressentida. Mas, uma vez que a afeição é recíproca, a ação deve começar.
LISA: Penso que isso seria muito suspeito. Eu sentiria que ele estaria
iniciando isso porque o senhor o determinou.
D R.: Sem, isso é verdade, mas ele também o deseja.
LISA: Não estou convencida disso.
DR.: Bem, como é que poderemos verificar?
LISA: Não sei. Passei dez anos em terapia e não descobri.
DR.: Eu realmente não vejo como a terapia poderia tê-la ajudado
a descobrir. A senhora disse que lhe agradaria se ele se aproximasse. Se não
h quisesse, ele poderia simplesmente deixá-la, não é verdade?
LISA: Sim, certamente.
D R.: Pensa que teria sentido ele mentir? Por que deveria ele fingir
que a deseja? Por que deve ele tolerar a insatisfação, a menos que real
mente espere que algo se resolva?
LISA: Bem, penso que isso é verdade.25
D R.: Portanto, penso que há uma razão fundamental para aceitá-lo.
Há o que podemos chamar de campo para uma experiência. Gostaria de
vê lo fazendo aproximações, pequenas aproximações, muitas aproxima
ções. Ele poderá ficar indeciso no começo, mas a senhora o reforçaria.
Então se tornaria mais fácil para ele fazê-!o.
LISA: Venho esperando desde o Natal, quando voltei para Ed.
DR,: Sim, mas quero dizer quando ele faz uma aproximação.
LISA: Eu tenho reforçado.
DR.: Mas a senhora disse que ele nunca se aproxima.
LISA: Ele tentou. Ele leu esse livro de Masters e Johnson, e então
desistiu novamente.
DR.: Por que desistiu novamente, Ed? Sentiu-se mal acolhido ou
o quê?
ED: Sim, até certo ponto, senti. Senti que era um fracasso, embora
no início nós tivessemos um bom relacionamento. Mas, então, depois
dliio, se eu atingisse um orgasmo, era prematuro, e Lisa dizia, "Por que
Vil ião rápido? " Às vêzes o ato era apenas um fracasso.
D R.: O mais importante aqui não é o sexo, mas o amor, do qual o
áto sexual é apenas uma expressão exterior, mas não a única.26 Também
há muitas pequenas coisas que ocorrem entre as pessoas — pequenas apro-
Hlmações onde o sexo não precisa acontecer, e talvez não pudesse acon-
Üeor. Se Ed fizer essas coisas e Lisa responder positivamente, um forte
84 PRÁTICA DA TERAPIA COMPORTAMENTAL
Segunda Sessão
Tercçira Sessão
DR.: Como é que tem se sentido desde nossa última sessão?
LISA: Senti-me muito, muito bem. Melhor do que venho sentindo
há muito tempo. É um estranho sentimento quando alguém lhe oferece
um abraço e se está pronto a aceitá-lo.30 Sinto-rrte como se estivesse a
meio caminho de casa.
DR.: Bem, devemos proceder sistematicamente agora. Quais tém sido
suas queixas? 31
LISA: Todas elas? O senhor quer dizer as queixas quanto ao meu
casamento ou quanto à minha personaiidade?
DR.: A senhora passou por tratamento psiquiátrico. Qual foi o pro
blema nesse sentido?
LISA: O fato é que não tenho sido capaz de produzir desde por
...—......... ....
volt3 dos treze anos de idade. Meus estudos começaram a falhar. Eu era
urna estudante muito brilhante — brilhante o bastante para passar por
cima do sexto ano. Então comecei a escorregar. Então fui enviada a uma
ótima escota para meninas, mas só que não era ócima para mim Tornei me
mais pesada, e meu trabalho fracassou. Fui retirada dessa escola e fuj
enviada a um ginásio público para fazer o último ano, onde também não
produzi. Fui aceita no Philadelphia Museum School of Art, mas nao permi
tiram que eu frequentasse. Fui então enviada à Penn State University,
mas ainda não conseguia produzir.
D R.: Muito bem, a senhora foi improdutiva. Qual acha que foi a
<"azão para isso?
L IS A : Recusava-me a competit porque nao desejava fracassar. Para
meu pai só havia uma medida, e esta era a mais alta; não havia meio termo.
Üu é 10 ou é nada. E estava cansada de minha mãe como competidora.
Sempre me saí como a segunda melhor, de qualquer maneira.
D R .: Agora, havia um tempo em que estava indo muito bem.
L IS A : Sim .
D R .: Então deixou de ir bem. Algo deve ter mudado. O que mudou?
L IS A : Não sei. Eu. . . eu tinha uma atitude sexual, calculo. Eu não
sei.
D R .: Por que diz uma ''atitude sexual"?
L iS A : Não sei. Deve ter havido. Não é essa a idade em que se
passa a ter. . .32
D R.: Talvez, mas eu quero saber o que realmente lhe aconteceu.
L IS A : Nada. Nada mesmo.33 Foi um período de. . . eu comecei
a mudar.
D R .: Bem, havia um tempo em que fazia seu trabalho e outro em
que não fazia. O que é que a impedia de fazer seu trabalho?
L I S A : Uma falta de desejo.
D R .: Perdeu o interesse pelo trabalho?
L IS A : Era uma forma de receber uma atenção completa, o motivo
porque nao o fazia.34
D R .: Nao, essa é uma teoria. Não me dê nenhuma teoria. Nós temos
muitas teorias.
L IS A : Eu não sei. Não saberia dizer-lhe. Foi há tantos anos. Eu es
tava tão nervosa. Talvez não conseguisse concentrar-me.
D R .: O que a deixava nervosa: Sobre o que estava nervosa?
L IS A : Talvez por ser aceita num mundo do qual não gostaria de
lo mar parte. Eu não sei. Creio que presenciei um mau relacionamento
entre meu pai e minha mãe. Talvez não desejasse crescer.
88 PRÁTICA DA TERAPIA COMPORTAMENTAL
DR.: Entao é apenas durante o próprio ato sexual que não consegue
nenhuma sensação?
LISA: Nenhuma.
DR.: 0 que acontece se seu clitóris é estimulado?
LISA: Nada.
D R.: Nada?
LISA: Não.
DR.: Mas a senhora me disse anteriormente que tinha se masturbado.
LISA: Sim.
DR.: Isso não significa que um orgasmo pode ser induzido pela
estimulação digital?
LISA: Até agora não foi, não.
DR.: E estando sozinha?
LISA: Não.
DR.: E quando era criança?
LISA: Não.
DR.: Nunca teve um orgasmo?
L IS A : Sim , tive, mas nunca me toquei.
DR.: Como consegue ter um orgasmo?
LISA: Cruzando minhas pernas e aplicando pressão em meus mús
culos.
DR.: Bem, o que é que isso estimula?
LISA: Creio que meu clitóris, eu não sei. Quero dizer, medicamente
eu não sei.
D R.: Tentarei não impor uma resposta á senhora.
LISA: Bem, eu não sei a resposta.
DR.: Mas se ele fosse comprimido pela mão, isso não teria o mesmo
efeito?
LISA: Não.
DR.: Com que frequência consegue obter um orgasmo dessa ma
neira?
LISA: Com que frequência? 0 que o senhor quer dizer com com
que frequência?
DR.: Bem, consegue fazê-lo todos os dias?
LISA: Oh, certamente.
DR.: Pode fazê-lo repetidamente?
LISA: Quatro ou cinco vêzes em seguida.
DR.: Faz regularmente esse tipo de coisa?
LISA: Não todos os dias.. . não, mas quando o faço, posso fazê-lo
quatro vêzes em seguida. Então, eu diria que sou uma mulher bastante
94 PRÁTICA DA TERAPIA COMPORTAMENTAL
saudável. Mas por alguma razão nao consigo construir uma intimidade
com outra pessoa. E não é apenas Ed. É qualquer outra pessoa.
D R .: Por que o diz dessa maneira? Diz que não consegue construir
uma intimidade. Quer dizer isso de maneira geral ou apenas num sentido
físico ?
L IS A : Quero dizer de qualquer maneira.
D R .: A senhora falou sobre esse tipo de coisa acontecendo quando
estava na escola. Havia uma espécie de temor quanto às pessoas. Ainda
se sente dessa maneira?
L IS A : Sim.
D R .: Bem, esse pode ser um indício. Deixe-me investigá-lo apenas
um passo adiante. Suponha que foi estimulada sexualmente e que nao
teve um orgasmo da maneira usual, conseguiria ir adiante e conseguir um
comprimindo suas coxas?
L IS A : Não.
D R .: Agora, porquê?
L IS A : Porque Ed está lá.47
D R .: Oh, percebo.
L IS A : Eu disse ao senhor que era algo embaraçoso quando era cri
ança e ainda é. Suponho que se tornou uma espécie de ação pessoal re
traída.
D R .: Que interessante. Na semana que vern começaremos o tratamen
to.
L IS A : O senhor quer dizer que existe urn tratamento para iso?
D R .: Oh, sim. Temos que ter um pouco mais de seu histórico, mas
não muito.
NOTAS
O treino
afirmativo
casos, quase que qualquer interação social pode ser adequada para o treino
afirmativo. Mas, nos outros, as indicações se relacionam a contextos
determinados. Encontramos pacientes que são competentemente capazes
de lidar com negociantes e estranhos, mas que são no entanto timoratos e
submissos com qualquer pessoa importante, como uma mãe, uma esposa,
uma namorada — ou a apenas uma destas. Em contraste, existem aqueles
que dominam (e ocasionalmente tiranizam) os associados próximos, mas
são temerosos, desajeitados, e em vários graus ineficazes em sua conduta
com estranhos.
MEDIDAS PRELIMINARES
Cada vez que o paciente, expressando sua ira, inibe sua ansiedade,
ele enfraquece até certo ponto o hábito de ansiedade. Mas a emoção
não é o único componente do comportamento instigado. Há também
um novo comportamento verbal. 0 paciente, agora, pela primeira vez,
diz a outra pessoa que vá para o fim da fila. Ele terá a aprovação daqueles
que estão na fila atrás de si; e o intruso geralmente irá para trás. Essas
coisas reforçarão a tendência do paciente de falar à altura, não apenas
nesta situação específica, como também em situações semelhantes. Uma
vez que o progresso na asserção depende do sucesso, o terapeuta deve
estar a par dos detalhes das situações em que a ação poderá ocorrer.
Prevenir-se-ia, por exemplo, o paciente contra a insistir na sua prioridade
na fila numa vizinhança de valentões.
Em pacientes que sentem muita ansiedade quanto à afirmação,
poderá ser necessário graduar as tarefas de maneira paralela à dessensibi
lização. De modo geral, é uma boa prática fazer disto uma regra geral.
Nas palavras de Salter (1949), o pioneiro das técnicas assertivas, !'A terapia
deve começar onde o nível de inibição do paciente for o mais baixo."
Salter propôs seis modos de comportamento de uso geral a pacientes
que precisam de treino afirmativo (em seus termos, "excitação"). São eles:
1. Fala de Sentimento. Com isto, Salter quer dizer a expressão
vocal deliberada de emoções espontaneamente sentidas. Um exemplo
que ele dá é, "Graças a Deus, hoje é sexta-feira e o fim de semana está
aí"; ao invés de dizer secamente, "Hoje é sexta-feira."
2. Fala Facial. Esta é a demonstração da emoção na face (e movi
mento) até o ponto em que for apropriado.
3. Contradizer e Atacar. Quando o paciente discorda de alguém,
TREINO AFIRM ATIVO 103
Expressões Afirmativas
A. "Hostis”
1. Por favor, telefone-me depois. Eu não posso falar-lhe agora.
2. Por favor, não fique na minha frente.
3. Quer, por favor, parar de conversar durante a peça/filme/música.
4. Esta é uma fila. Seu lugar é lá atrás,
5. Tem quaisquer privilégios especiais nesta fila?
6. Deixou-me esperando durante 20 minutos.
7. Importa-se em diminuir a temperatura do aquecedor?
8. Está muito frio para que eu saia.
9. Por favor, coloque esses pacotes pesados num saco duplo (num
supermercado).
10. O seu comportamento me repugna.
11. Detesto a sua duplicidade.
12. Eu desprezo a sua intolerância/irracionalidade.
13. Eu não suporto os seus resmungos.
14. Se não fôr incômodo, pegaria o meu pacote?
1 5. Sinto muito, mas não será possível.
16. (À aeromoça num vôo que está atrasado para uma conexão)
Pediria ao piloto que transferisse pelo rádio a minha conexão?
17. Eu preferiria não dizer.
18. Por que está atrasado(a)?
104 PR Á TIC A DA TE R A P IA COM PORTAM ENTAL
B. "Comendatórias”
1. Bonito vestido/broche, etc.
2. Está encantadora, extraordinária, arrebatadora, deslumbrante,
etc.
3. Essa fdi uma observação inteligente.
4. Que sorriso radiante.
5. Eu gosto de você.
6. Amo você.
7. Eu admiro sua tenacidade.
8. Isso foi resolvido de forma brilhante.
SRA. A.: Suponha que meu marido comece a dizer: "Não deve falar
assim com minha mãe. Você não está consolidando os relacionamentos;
você os está separando cada vez mais." Como lidar com essa situação?
TERAPEUTA: A senhora deve dizer: "Se sua mãe faz observações
injustas eu devo dizer-lhe, e eu o farei. Se sua mãe fizer críticas razoáveis,
eu estarei muito interessada naquilo que ela disser. Mas ela sempre me
provoca, e ela adquiriu esse hábito por que tenho permitido que ela
dissesse o que bem entendesse. Eu não vou mais aceitar isso."
Por exemplo, o paciente poderá ter uma forte reação de ansiedade condi
cionada, ao perceber-se atuando agressivamente {ou seja, culpa quanto à
agressão). Um programa preliminar de dessensibilização sistemática às
configurações relevantes de estímulo é então necessário. Um temor severo
quanto a agressões de outros (que é sempre uma reação possível à afir
mação) requer igualmente uma dessensibilização (ver abaixo).
A quinta-essência do comportamento assertivo consiste em fazer
para os demais o que é razoável e correto. Isso é bem destacado nos
seguintes excertos de uma declaração escrita por um paciente (Wolpe,
1958, pag. 118):
"RELACIONAMENTO" ("LIFEMANSHIP")
ENSAIO COMPORTAMENTAL
passasse o Natal com vovó e vovô na ceia de Natal, e eu desejava estar nos
dois lugares, mas achei que teria que dirigir muito.
TERAPEUTA: Sinto muito, mas devo interrompê-la novamente.
Como vê, você está se explicando. Está dando uma espécie de desculpa.
Na verdade, a parte importante desta conversação é salientar o ponto de
que não foi correto por parte dele precipitar-se em censuras que suben
tendiam que você tinha decidido a não ir.
PACIENTE: Que tal: Não penso que foi certo telefonar-me na outra
noite, e dizer o que disse, porque não penso que tinha os fatos esclarecidos
por mamãe. Penso que deveria ter averiguado com ela primeiro, assim
tendo certeza que compreendia os fatos. Eu tinha conversado com mamãe
antes, e senti que era isto que tínhamos decidido, e penso que você deveria
ter averiguado com ela e ter-se assegurado de que, . .
TERAPEUTA: É o bastante, o fato de continuar sugere que não
está muito confiante. Agora, deixe que ele diga alguma coisa.
tentar viver cada parte), ele exibe respostas autônomas na direção das
emoções que está simulando. Simonov afirma: "Os atores foram soli
citados a pronunciarem certas palavras sob várias condições mental
mente reproduzíveis. . . As mudanças nas taxas dos batimentos cardí
acos, registradas enquanto o ator cumpria a tarefa, confirmam que ele
estivera reproduzindo uma situação emocionalmente colorida, e que
não copiara entoações anteriormente notadas em outras pessoas, Esta
conclusão foi confirmada pela comparação com os resultados da análise
de conversas, em situações naturais.'' Contudo, há diferenças também,
porque se o ator estiver representando bem, ele recebe um sentimento
deleitante interpenetrado da ansiedade ou ira que está representando.
Um relato detalhado deste trabalho é, infelizmente, disponível apenas
em forma de manuscrito (Simonov, 1962).
Mais do que quaisquer outros métodos sob a rubrica da terapia
comportamental, o ensinamento do treino afirmativo tira proveito das
demonstrações práticas. As nuanças técnicas são mais prontamente
transmitidas por elas, do que por relatos escritos. Os filmes e gravações de
fita têm um papel muito útil. Uma fita minha que entre outras coisas
demonstra o treino afirmativo é o The Case of Mrs. Schmidt (1964).3
Dois filmes sobre a terapia comportamental que têm seções que
demonstram o treino afirmativo são o Behavior Therapy Demonstration,4
e o Behavior Therapy In A Case Of Overdependency.5
NOTAS
A dessensibilização
sistemática
INTRODUÇÃO
de ficar sozinho, este não será dim inuído pelo comportamento afirmativo
(principalmente porque a afirmação envolve a presença de outra pessoa).
Urn benefício ocasional é certamente observado em casos especiais em
que uma cadeia de outros hábitos poderão ser secundariamente alterados,
quàndo o temor interpessoal tiver sido dim inuído. De modo geral, con-
ludo, a afirmação em direção às pessoas é irrelevante onde as respostas
de ansiedade sejam dadas a conjuntos de estímulos não-pessoa is tais
como espaços fechados, animais, alturas, a visão de sangue — em resumo,
todos os estímulos clássicos a respostas fóbicas. Ela também é irrelevante
quando as respostas de ansiedade são relativas a pessoas a quem a ação
direta por parte do paciente seria imprópria como por exemplo, onde
o medo é eliciado pela simples presença de determinadas pessoas, por ser
o centro de atenção, ou por um sentimento de 'rejeição', tal como uma
situação social quando parece ao paciente que muito pouca atenção
lhe é dirigida. Um caso que exemplificou a irrelevância da expressividade
interpessoal foi o de uma mulher que ficava severamente ansiosa quanto
a todas manifestações de enfermidade em outras pessoas. Um treino
bem sucedido de comportamento expressivo falhou em dim inuir a sua
ansiedade e o caso foi lamentavelmente abandonado como um fracasso.
Naquela época, não conhecia nenhuma maneira de inibir ansiedades eli-
dadas por estímulos aos quais nenhuma resposta relevante poderia ser
proposta è paciente — estímulos que oprimem o paciente 'sem animus'.
Logo depois, tive a felicidade de ter em mãos o Progressive Rela
xation de Edmund Jacobson (1939). Nele foi descrita uma resposta
mibidora de ansiedade que não exigia do paciente qualquer tipo de ativi
dade motora em direção à origem de sua ansiedade. Comecei a dar treinos
de relaxamento a pacientes a cujas neuroses a afirmação não era aplicável.
Contudo, um enorme potencial de relaxamento era necessário para inibir
a ansiedade eliciada por um estímulo fóbico maior na vida real. Conjeturei
que os pacientes de Jacobson foram capazes de inibir altos níveis de ansie
dade em virtude de um treino prolongado e assíduo.
Comecei a organizar programas de exposição a estímulos fóbicos
tjraduados ao vivo para pacientes que tinham adquirido alguma facilidade
em relaxar, geralmente depois de 6 a 10 sessões. Mas esses programas
eram muitas vezes difíceis de executar, e comecei portanto a explorar
a possibilidade de fazer uso de situações imaginárias no lugar das reais.
Fui agraciado em verificar que as magnitudes da ansiedade experimentada
dim inuíam progressivamente nas apresentações repetidas de situações
imaginárias que eram fracamente eliciadoras de ansiedade. Além do mais,
estímulos imaginários cada vez mais fortes podiam ser despojados em seu
116 PRÁTICA DA TERAPIA COMPORTAMENTAL
0,18 -r
0,16 “
0,14 “
0,1 2 _
-g 0,10 -
n
| 0,08 -
0,06 “
O------------- — — O —
0,04 “
—O
0,02 “
0—
0 1
apresentação da cena
Fig. 4. Mostrando os valores lambda para três apresentações da mesma cena, durando
2 sucessivas sessões de dessensibilização. O diagrama mostra a média dos resultados
de quatro pacientes diferentes. Náo somente a intensidade das reações diminuiu
durante cada sessão, mas o decréscimo obtido no ftm da primeira sessão foi mantido
até o início da segunda sessão.
aos quais cenas fóbicas foram apresentadas três vezes em cada duas sessões.
O decréscimo de resposta de uma apresentação para outra deve ser obser
vado, assim como as "economias" entre a Sessão 1 e Sessão 2.
Portanto, não apenas os efeitos do relaxamento são opostos em tipo
àqueles da ansiedade, como, se contrapostos aos estímulos eliciadores
de ansiedade, eles diminuem as respostas de ansiedade que esses estí
mulos são capazes de eliciar. Van Egeren (1970) relata que, com as repe
tições dos estímulos fóbicos, a magnitude de seus efeitos diminuía progres
sivamente nos sujeitos relaxados, mas permanecia a mesma naqueles que
não estavam relaxados. Num estudo não terapêutico, comparando os
efeitos da apresentação de estímulos hierárquicos, numa maneira de repe
tição padronizada, a sujeitos relaxados e não relaxados (Wolpe e Flood,
1970), uma tendência descendente consistente de excitação autônoma,
tal como medida pela resposta galvânica da pele foi observada através das
1 18 PRÁTICA DA TERAPIA COMPORTAMENTAL
estímulos em continuidade
1. O treino do relaxamento
tato e pressão na mão. Pede-se também que ele observe a exata localização
das tensões do antebraço nas áreas flexoras e extensoras. Depois, o tera
peuta segura o pulso do paciente e pede-lhe que dobre o braço contra
esta resistência, deixando-o assim consciente da tensão de seu bíceps.
Então, instruindo-o no sentido-de esticar o braço contra resistência, ele
chama atenção para os músculos extensores do braço. O terapeuta pros
segue dizendo:
Com a prática ele aprende a julgar entre os diversos graus de tensão mus
cular.
A maioria dos pacientes tem um sucesso um tanto limitado, quando
tenta relaxar pela primeira vez, mas eles devem ser assegurados de que
um bom relaxamento é uma questão de prática, e ao passo que inicial
mente com vinte minutos de relaxamento poderá obter-se não mais que
um relaxamento parcial de um braço, será eventualmente possível relaxar
todo o corpo numa questão de um minuto ou dois. Contudo, existem
alguns indivíduos afortunados que, desde a primeira tentativa, experi
mentam um relaxamento profundo, como se fosse irradiando dos braços,
e acompanhado por efeito0 gerais, como a calma, sonolência ou calor.
Habitualmente, inicio a segunda lição de relaxamento dizendo
ao paciente que, do ponto de vista emocional, os mais importantes mús
culos do corpo estão situados na cabeça ou próximos a ela e que, portanto,
lidaremos com essa área primeiro. Nós começamos com os músculos da
face, demonstrando as tensões produzidas ao contrair os músculos da
fronte. Esses músculos se prestam a uma demonstração de caráter do
relaxamento progressivo. O terapeuta ergue simultaneamente o grupo
de músculos que franze as sobrancelhas muito intensamente, indicando
de passagem que foi assim produzida uma expressão ansiosa. Ele então
diz: "Vou relaxar estes músculos de forma controlada para lhe dar o
sentimento da forma gradativa que os decréscimos de tensão ocorrem
durante as tentativas de relaxamento profundo, embora no próprio rela
xamento, os passos sejam geralmente muito menos rápidos que na minha
demonstração." Os músculos são então relaxados como afirmei, dando
um passo a cada cinco segundos até que, após cerca de meia dúzia de
passos, nenhuma outra mudança seja evidente; porém é enfatizado ao
paciente que o relaxamento continua e que esse relaxamento ''sob a
superfície'' é a parte que importa para a produção dos efeitos emocionais
desejados. Fala-se então ao paciente para contrair os seus próprios mús
culos da fronte e lhe são dados cerca de dez minutos para relaxá-los
o tanto que puder. Os pacientes registram espontaneamente a ocorrência
da “regeneração do relaxamento" em suas frontes, que eles podem sentir
como que formigando, ou "uma sensação de grossura, como se minha
pele fosse feita de couro.” Essas sensações são como uma regra indicadoras
de um grau de relaxamento além do nível normal do tono muscular.
Esta lição geralmente conclui dirigindo-se a atenção aos músculos
da região do nariz, fazendo-se o paciente franzir o nariz; e aos músculos
em volta da boca, fazendo-o enrugar os lábios e então sorrir. Todos esses
músculos estão agora relaxados.
DESSENSIBILIZAÇÃO SISTEMÁTICA 125
2. A construção de hierarquias
A. Acrofobia
B. Claustrofobia
C. Agorafobia
tornasse iminente; mas ela não achara esta quantidade de ansiedade digna
de registro. Como em todos os outros casos, a dessensibilização não
poderia ser iniciada a menos que a quantidade de "perigo" contida nas
cenas da hierarquia estivesse sob controle. Portanto, um campo imaginário
fechado, dois quarteirões quadrados, foi desenhado numa folha de papel.
0 carro da paciente foi "colocado" num canto do campo e os primeiros
itens da hierarquia passaram a consistir de uma pessoa de confiança diri
gindo o seu carro até um ponto indicado em direção.ao carro dela, e então
a pontos cada vez mais próximos à medida que a paciente progredia.
O "perigo" ficou assim sempre circunscrito. Isto, e os passos posteriores
no tratamento do caso são descritos detalhadamente no relato total deste
caso no Capítulo IV.
Um outro caso em que foi difícil obter estímulos eliciadores de
ansiedade suficientemente fracos foi o de um paciente com uma fobia
quanto à morte, cujos itens abrangiam em ordem descendente desde
cadáveres humanos até procissões fúnebres de cachorros mortos. A apre
sentação de cenas de cachorros mortos produziu uma ansiedade acentuada
e não diminuída, mesmo quando elas eram imaginadas a distâncias de
duzentos ou trezentos metros (onde elas dificilmente seriam discerníveis).
A solução foi encontrada na utilização de uma dimensão cronológica,
iniciando com a sentença historicamente incorreta, "Guilherme, o Con
quistador, foi morto na Batalha de Hastings em 1066."
Um terceiro exemplo se refere a uma mulher que tinha reações
muito severas quanto à idéia de alguém desmaiando ou "perdendo o
poder”. O imaginar mesmo o sinal mais trivial de fraqueza, numa pessoa
ou num animal, produzia mais ansiedade do que seu relaxamento poderia
agir contra. A primeira cena a ser apresentada com sucesso em sua dessen-
libilização, deu-se no contexto dela estar sendo conduzida em volta de
um campus. Seu acompanhante indica uma plataforma e diz, "Foi ali
que, há cinco anos atrás, um animal recebeu uma injeção que o paralisou
durante 5 minutos." A dessensibilização posteriormente envolveu primeiro
á redução do espaço de tempo e então o aumento da duração da paralisia.
Uma questão sempre presente na construção de hierarquias é quanto
a se os itens constituem uma progressão uniformemente espaçada. Se os
x Itens forem demasiadamente semelhantes, o tempo será desperdiçado;
te os itens adjacentes diferirem demais no potencial eliciador de ansiedade,
o progresso cessará durante a mudança de um menor para um maior.
0 paciente poderá inclusive ficar mais sensibilizado como resultado de
ter sido eliciada uma severa ansiedade. (Não está claro porque, mas isto
dificilmente acontece com estímulos sociais à ansiedade.) Quando uma
134 PRÁTICA OA TERAPIA COMPORTAMENTAL
Hierarquias2
A. Série de Exames
1. A caminho da universidade num dia de exames.
2. 0 processo de responder numa folha de exame.
3. Diante das portas abertas da sala de exames.
4. Aguardando a distribuição das folhas de exame.
5. Co'm a folha de exame voltada para baixo diante de si.
6. A noite antes de um exame.
7. Um dia antes de um exame.
8. Dois dias antes de um exame.
9. Três dias antes de um exame.
10. Quatro dias antes de um exame.
11. Cinco dias antes de um exame.
12. Uma semana antes de um exame.
13. Duas semanas antes de um exame.
14. Um mês antes de um exame.
8. Série de Escrutínio
1. Ser observada trabalhando (especialmente desenhando) por
10 pessoas.
136 PRÁTICA DA TERAPIA COMPORTAMENTAL
C. Série de Depreciação
1. Um argumento que ela apresenta numa discussão é ignorado pelo
grupo.
2. Ela não é reconhecida por uma pessoa com que se encontrou
ligeiramente três vezes.
3. A sua mãe diz que ela é egoísta porque não está ajudando na
casa. (Estudando ao invés).
4. Ela não é reconhecida por uma pessoa com quem se encontrou
ligeiramente duas vezes.
5. Sua mãe a chama de preguiçosa.
6. Ela não é reconhecida por uma pessoa com quem se encontrou
ligeiramente uma vez.
Estímulos Externos
1. A visão de um acesso.
2. Movimentos convulsivos no braço de outra pessoa.
3. A visão de alguém desmaiando.
4. Um conhecido diz: "Aquele homem no outro lado da rua tem
alguma forma de insanidade."
5. A palavra "insanidade".
6. A palavra "loucura".
7. Risos parecendo insanos.
8. Um conhecido diz: "Aquele homem no outro lado da rua tem
um estado de ansiedade."
9. 0 som de um grito (quanto mais próximo mais perturbador).
10. Um homem com uma fratura deitado numa cama com cordas
e polias atadas à sua perna.
11. Um homem sentado ereto na cama com falta de ar devido à uma
moléstia cardíaca.
12. Um conhecido diz: "Aquele homem no outro lado da rua é um
epiléptico.”
13. A visão de um homem sentado ereto na cama com falta de ar
por causa de uma pneumonia.
14. Um homem andando com uma perna engessada.
15. Um homem com o mal de Parkinson.
16. Um homem com o rosto sangrando em virtude de um corte.
17. Uma pessoa com um tique facial.
Estímulos Endógenos
1. Ter um ataque.
2. Desmaiar.
3. Tremor nas mãos.
Estímulos Externos
1. A visão de uma deformidade física.
2. Alguém com dores (quanto maior a evidência da dor, mais per
turbadora).
3. A visão de uma hemorragia.
4. A visão de alguém seriamente doente (por exemplo, um ataque
do coração).
5. Acidentes automobilísticos.
138 PRÁTICA DA TERAPIA COMPORTAMENTAL
Estímulos Endógenos
1. Sensação tensa (explosiva) na cabeça.
2. Pés frios e úmidos.
3. Mãos suadas.
4. Boca seca e incapacidade de engolir.
5. Tontura.
6. Respiração apressada.
7. Taquicardia.
8. Sensação tensa na parte posterior do pescoço.
9. Fraqueza nos joelhos.
10. Estômago roncando.
Estímulos Externos
1. Uma criança com as duas pernas quebradas.
2. Homem caminhando vagarosamente, com falta de ar devido ao
coração fraco.
3. Homem cego operando um elevador.
4. Uma criança com uma perna quebrada.
5. Um corcunda.
6. Uma pessoa gemendo com dor.
7. Um homem com um pé torto.
8. Um homem com só um braço.
9. Um homem com apenas uma perna.
10. Uma pessoa com a temperatura elevada devido a uma doença
relativamente pouco perigosa, como uma gripe.
Estímulos Endógenos
1. Extrasístoles
2. Dores agudas no tórax e abdômem.
3. Dores no ombro esquerdo e nas costas,.
4. Dor na parte superior da cabeça.
5. Zumbido no ouvido.
d e s s e n s ib il iz a ç ã o s is t e m á t ic a 139
Balconista
Tio
F io ren ce Sharon G eraldin e que m al
Charlie
conhece
Usa as Pessoas 95 65 70 50 20
Irresponsável 90 75 50 40 20
Egoísta 90 75 40 50 20
Falível 80 60 30 40 10
Preguiçosa 60 50 10 20 0
Desleixada 50 40 20 10 0'
Inepta 40 30 10 10 0
140 PRÁTICA DA TERAPIA COMPORTAMENTAL
existem muitas que incorporam dois ou mais fatores. £ então útil orde-
ná-los na forma tabelar ilustrada pela Tabela 2, na qual os temores de
uma mulher, quanto a opiniões negativas de outros, variavam de acordo
com o adjetivo aplicado a ela e com a pessoa que o aplicava. Deve ser
observado que a verdadeira ordem hierárquica de impacto das palavras
varia um pouco de pessoa para pessoa. A maneira costumeira de se tratar
a$ hierarquias deste tipo é fazer a paciente imaginar-se ouvindo por acaso
a pessoa citada atribuir uma determinada qualidade a eia, enquanto essa
pessoa ignora que está sendo ouvida.
TERAPEUTA: Pare de imaginar essa cena. Até que ponto ela aumen
tou seu nível de ansiedade enquanto a imaginou?
SRTA. C.: Não aumentou em nada.
TERAPEUTA: Agora preste novamehte atenção ao seu relaxamento.
Esta cena foi apresentada duas vezes, depois que a paciente falou
sobre sua resposta quanto à última cena, terminei a sessão de dessen
sibilização.
ÀÍderações quantitativas
teve sessões diárias durante uma semana ou duas a cada 5 semanas apro
ximadamente, progrediu muito durante as fases de tratamento mas não
durante as semanas intermediárias. Vide caso 31.
O índice de mudança não é um puro acaso e nem simplesmente
uma questão individual. Pelo menos no caso da dessensibilização das
fobias clássicas ele segue leis quantitativas consistentes. Um estudo de
20 fobias de 13 pacientes (Wolpe, 1963) foi sugerido pela observação
casual que durante a dessensibilização o número necessário de apresen
tações de uma cena para levar o nível da ansiedade até zero não é
uniforme, mas que tende a aumentar ou diminuir à medida que se sobe
na hirarquia. Foi feita uma tentativa no sentido de estabelecer relações
quantitativas através de um estudo dessas fobias que variam junto com
uma dimensão física. Verificou-se que na claustrofobia e naquelas fobias
em que o paciente se torna mais ansioso com a proximidade crescente do
objeto temido, a curva acumulada alusiva ao número de apresentações
de cenas para o progresso terapêutico é uma função positivamente
acelerada. Nas agorafobias, acrofobias, e aqueles em que a ansiedade
depende do número de objetos, a curva acumulada é uma função nega
tivamente acelerada. Nenhuma exceção foi encontrada, como pode ser
observado pelo estudo das Figuras de 7 a 10, cada uma das quais contém
as curvas de um grupo em particular. De forma a torná-las comparáveis,
as curvas foram submetidas a transformações percentis. 0 eixo horizontal
indica a porcentagem obtida do critério de recuperação, e o eixo vertical
as apresentações de cenas como uma porcentagem do número total
empregado para superar toda a hierarquia.
A Figura 11 ilustra que não é a personalidade do paciente mas
sim o tipo de fobia que determina a formação da curva. As três curvas
desta figura foram obtidas de uma única paciente. Aquela que exibe
aceleração negativa (B) representa a dessensibilização da resposta de
ansiedade a um número crescente: túmulos a 180 metros de distância.
As curvas positivamente aceleradas pertencem respectivamente a fobias
de aproximação a um cachorro morto (A) e a um carro parado (C), e são
notavelmente concordantes.
A análise matemática das curvas revela que com exceção daquela
para agorafobia Caso A, e a curva C na Fig. 10 (que será comentada
posterioremente), elas expressam o mesmo tipo de relação funcional
como foi verificado por Stevens (1957, 1962) relacionando a magnitude
física de um estímulo à sua intensidade percebida — a "lei psicofísica".
Esta é uma lei empírica geral pela qual a magnitude psicológica (subjetiva)
é uma função de força da magnitude do estímulo. Isto significa que para
DESSENSIBILIZAÇÃO SJSTEMÁTICA 149
00
O
LL
O
GC
I—
O V)
> 3
5 °
D 2
5 w
3 ,<
o Or
Fig. 8
Z -
W CD
1/3
O uj
tL (/)
IU
UJ W w
° O
<3 m
> °
ff w
- J IU
8 o
<
oc
sieruuaojed Fig. 7
sjeniusojed
CURVAS DE PORCENTUAL CUMULATIVO: OPERAÇÕES DE CURVAS DE PORCENTUAL CUMULATIVO:
15 0
stBruuaDJod
s ie n j u s D J O d
PRÁTICA DA TERAPIA COMPORTAMENTAL
1
----1
---- 1
---- 1
---- i I I I --1
-- 1
--1
20 17 14 11 8 5 4 3 2 1 0
C ° *> distância do carro (metros)
' Fig. 11
P — kSn
_ log 0,3
n log 0,5
numa mulher que tinha medo de ser vista vomitando o temor crescia
com o número de testemunhas e com a proximidade. O conhecimento
de que a curva de número acelera negativamente e que a curva de apro
ximação positivamente promoveu a apresentação de números crescentes
em noventa metros. Isto permitiu que a dimensão de número fosse con
trolada com muito pouco esforço. Assim as numerosas testemunhas
poderiam ser gradualmente aproximadas. Se a ordem inversa tivesse sido
adotada, isto finalmente poderia ter significado o trabalho nas seções
íngremes simultaneamente de ambas as curvas.
sozinha, mesmo até uma distância de poucos quarteirões, Foi com esta
queixa, juntamente com diversas outras de natureza fóbica, que ela se
apresentou para tratamento. O próprio histórico proporcionou evidência
incomumente clara da relevância do casamento na agorafobia. Cerca de
três anos antes, a paciente encontrara um homem que se apaixonara
por ela e por quem se sentia muito atraída. Ela tinha ido viver com ele
durante um mês, em outra cidade, e durante esse tempo fora capaz de
sair sozinha a qualquer distância sem sentir qualquer desconforto.
Quando voltou para seu marido a agorafobia reapareceu com força total.
Seu tratamento seguiu três linhas paralelas: treino afirmativo, medidas
para capacitá-la a mover-se fora do domicílio comum com seu marido,
e dessensibilização dos outros temores. Sair tornou-se possível com base
num aumento de auto-suficiência, atingido principalmente pelo treino
afirmativo, combinado com arranjos para ela viver noutro lugar, que
levaram em conta seus direitos em termos das leis da Pennsylvania. Após
9 meses, ela se mudou para a casa de uma amiga, e no decurso da primeira
semana a agorafobia desapareceu gradativamente. Ela lá permaneceu
durante mais uma semana, e então, por razões legais, voltou a viver com
o marido. Não houve nenhum retorno da agorafobia porque ela agora
se sentia desapegada e livre de seu marido, e o pensamento de estar só
já não era ameaçador. Ela continuou a morar com ele durante diversos
meses, até que as providências para a separação permanente foram toma
das e, finalmente, o.divórcio.
Um exemplo não agorafóbico, Caso 10, é o de uma mulher de
34 anos de idade cuja queixa inicial foi a de uma sensação de estar cercada
e um impulso forte de escapar quando estava empenhada em conversações
com adultos, exceto em intercâmbios dos mais casuais, tais como per
guntar a hora. Esta reação tinha iniciado havia oito anos, durante a pri
meira gravidez da paciente, Quando a terapia de condicionamento come
çou, nenhuma causa precipitante satisfatória de neurose pôde ser perce
bida. Ela foi treinada no relaxamento e os estímulos fóbicos tomados
em seu valor nominal. A primeira hierarquia usada foi baseada no tema
de ser observada, com as reações da paciente aurtientando com a aproxi
mação da pessoa que observa. As cenas apresentadas para a sua observação
despertaram muito pouca ansiedade até que foi atingida a distância de
quatro metros e meio - e então houve uma forte reação. Várias outras
dimensões foram então respectivamente tentadas, inclusive o número
de pessoas a uma distância, a idade do observador, a duração da obser
vação e a intensidade da iluminação, em cada caso com a mesma conse
qüência. Era óbvio que algo estava faltando, mas isto não poderia ser
DESSENSIBILIZAÇÃO SISTEMÁTICA 157
embora as imagens possam ser formadas, elas não têm nenhum sentido
de realidade para o paciente. Ocasionalmente, a ação tomada pelo tera
peuta leva ao domínio da dificuldade. A ação é de diversas espécies —
fornecendo muitos detalhes verbais da situação a ser imaginada, indu
zindo um transe "profundo" com bons temas hipnóticos, ou pedindo
ao paciente que descreva o que está imaginando, Darwin e McBrearty
(1969) verificaram que em temas de ansiedade quanto à palavra há um
progresso mais rápido durante a dessensibilização se o paciente descrever as
cenas ao invés de simplesmente imaginá-las. Um programa aparentemente
eficaz para o treino deliberado da capacidade de imaginar realisticamente
foi proposto por Phillips (1971), Todos esses esforços podem ser inúteis;
e a mudança terapêutica dependerá então do uso de estímulos reais, ou
então de suas representações físicas. Alguns pacientes visualizam satis
fatoriamente até um ponto adiantado na hierarquia e então se separam
das situações imaginadas, visualizando-as do ponto de vista de um espec
tador desinteressado. Um exemplo é o Caso 34 no Capítulo 14. Ele tinha
uma compulsão quanto à limpeza, baseada num temor de contaminação
pela sua própria urina. Quanto deixou de ocorrer a transferência de situa
ções imaginárias para as reais, seu relaxamento foi contrabalançado com
estímulos reais ao invés dos imaginários. Nesta base a investida violenta
sobre a sua neurose trouxe a vitória final.
Paciente N ú m ero de
Tema de hierarquia Resultado Com entários
s^xo-idàde sessões
(Continua. . . )
160 PRÁTICA DA TERAPIA COMPORTAMENTAL
Tabela 3 - (Continuação)
(Continua. . . )
DESSENSIBILIZAÇÃO SISTEMÁTICA 161
Tabela 3 — (Continuação)
tivo significa uma melhora de resposta tal que a fobia é julgada pelo
paciente como tendo perdido pelo menos 80 por cento de sua força
original. A avalição de zero indica que não há nenhuma mudança defi
nida. Será notado que apenas as avaliações de 4-positivo, 3-positivo e
zero foram aplicáveis aos pacientes nesta série.
A Tabela 4 resume os dados fornecidos na Tabela 3. Houve 68
hábitos de resposta de ansiedade entre 39 pacientes, dos quais 19 tiveram
hierarquias múltiplas. 0 tratamento foi julgado eficaz em 35 pacientes.
Quarenta e cinco dos hábitos de resposta de ansiedade foram aparente
mente eliminados (avalição 4-positivo) e mais 17 marcadamente melho
rados (avalição 3-positivo), perfazendo um total de 90 por cento. É possí
vel que muitos do último grupo tivessem atingido um nível de 4-positivo
se houvessem sessões adicionais. Nos casos 16 e 29 o progresso diminuirá
quando as sessões foram interrompidas, mas não em nenhum dos outros.
Entre os fracassos, os Casos 8 e 18 foram incapazes de se imaginar
dentro das situações; o Caso 22 não conseguia confinar a sua imaginação
à cena exposta e repetidamente se expunha a imagens excessivamente
perturbadoras. Ela foi a paciente que posteriormente foi tratada com
16 2 PRÁTICA DA TERAPIA COMPORTAMENTAL
Pacientes...................................................................................................... 39
Número de pacientes respondendo ao tratamentode dessensibilização. . 35
Número de hierarquias............................................................................ 68
Hierarquias superadas.............................................................................. 45
Hierarquias melhoradassensivelmente....................................................... 17 9 1%
Hierarquias sem meíhora......................................................................... 6 9%
Número total de sessões de dessensibilização........................................ 762
Gasto médio de sessões por hierarquia................................................... 11,2
Gasto médio de sessões por hierarquia tratada com sucesso.................... 12,3
Número médio de sessões por paciente................................................ 10,0
NOTAS
(1) Um inventário muis extenso (Wolpe & Lang, 1969) está comercialmente
disponível. Knapp, San Diego.
(2) "D. S. por rei.” significa "dessensibilização sistemática peio relaxamento".
"Mod. decr. lig. 2,3" significa que as reações às cenas 2 e 3 foram moderadas,
decrescendo para ligeiras durante a repetição. Os números nos parênteses
demonstram quantas apresentações foram dadas.
O plano habitualmente seguido paro determinar índices numéricos às cenas é o
de usar um número inteiro para indicar a classe do tema, e as letras para as
variações de detalhes. Por exemplo, no caso da Srta. C. à situação imaginária
de estar em casa estudando 2 semanas antes dos exames foi dado o índice 1 a,
uma semana antes dos exames foi de 1 b, e assim por diante. As vantagens de
se empregar estes índices são: 11) Eles evidenciam repetidamente a necessidade
de escrever os aspectos das cenas, (2) Eles tornam fácil a procura de deter
minados cenas quando se consulta o registro, (3) Facilitam trabalhos poste
riores de pesquisas.
capítulo 7
A s variações
da dessensibilização
✓
sistemática
e cinco horas. Uma vez que cada sessão deve envolver cada paciente
de alguma maneira concentrada, é necessário permitir-se aproximadamente
45 minutos por paciente, embora o tempo não seja dividido em qualquer
forma determinada. Os procedimentos mais usados são: modelagem,
ensaio comportamental, e a dessensibilização ao vivo.
relatada há muitos anos (Wolpe, 1954), foi muito pouco usada embora
tenha uma base experimental muito acreditável. Foi sugerido, através
de uma observação feita por Mowrer e Viek (1948), que se o estímulo
desagradável aplicado a um animal for constantemente interrompido
quando o animal executar uma resposta motora definida, com a repe
tição da estimulação do animal desenvolverá uma inibição condicionada
de respostas autônomas que são eliciadas ao mesmo tempo. Por contraste,
uma dupla experimental que recebe a mesma duração de estimulação
desagradável interrompida a cada devido tempo, sem referência ao compor
tamento motor do animal, deixa de desenvolver qualquer inibição da
resposta emocional que, ao contrário, é capaz de aumentar.
Na aplicação clínica desta descoberta, o paciente com uma hierar
quia de ansiedade é solicitado a imaginar uma cena da maneira habitual,
e pede-se-lhe que indique com um sinal quando a imagem estiver clara.
O terapeuta aplica então um choque relativamente brando em seu ante
braço, em resposta ao qual o paciente flexiona seu braço, tendo sido
previamente instruído no sentido de fazê-lo. Num caso extremo de agora
fobia, que foi tratado através deste método e que foi descrito em outra
parte em detalhes (Wolpe, 1958, p. 174), verificou-se que 15 a 25 flexões
eram necessários para levar a resposta de ansiedade até zero diante uma
cena perturbadora.
No caso referido, a flexão do braço parecia indispensável para
o decréscimo da resposta de ansiedade. Mas, uma vez que sabemos que
uma estimulação elétrica fraca sem uma resposta motora também pode
enfraquecer hábitos de ansiedade (vide abaixo), nós podemos estar curio
sos por saber o quanto a resposta motora realmente contribuiu para a
mudança notada. Todavia, existem alguns dados clínicos que sugerem
que a atividade muscular pode ser um agente inibidor de ansiedade (Wolpin
e Raines, 1966; Farmer e Wright, 1971).
A possibilidade de utilizar este fenômeno (Pavlov, 1927, pag. 46)
tornou-se aparente para mim há poucos anos atrás observando o D r.
William M. Phipott de Takoma Park, Doutor em Medicina, executando
um procedimento um tanto elaborado para eliminar a ansiedade condi
cionada com o auxílio de choques elétricos brandos. O paciente se deitava
num divã com elétrodos afixados a seu antebraço e com os olhos cerrados.
Ele recebia uma cena para- imaginar, e, quando indicava que esta estava
claramente formada, dizia palavras do seguinte padrão: "Músculos dos
braços, respondam à vontade; relaxem-se." Alguns experimentos contro
lados que pouco tempo depois organizei na Universidade de Virgínia
demonstraram que a arenga verbal era desnecessária e por si ineficaz,
AS VARIAÇÕES DA DESSENSIBILIZAÇÃO SISTEMÁTICA 171
que tinha sido tão tediosa, decidi tentar a inibição externa. A estimulação
branda provou ser completamente ineficaz; mas os choques fortes bas
tante para causarem a contração muscular, enquanto ela se visualizava
naquele local crítico a oitocentos metros de casa, levaram a ansiedade a
um decréscimo. Com vinte repetições da cena a ansiedade caiu para zero.
0 procedimento foi repetido de ponto dos 1.200 metros. Quando poste
riormente se testou naquele ponto, ela verificou que estava completa
mente livre da ansiedade. Continuando este método, a paciente fez
progressos muito mais rápidos que tinha feito anteriormente com a dessen
sibilização convencional.
Vou agora descrever uma série de cenas para a senhora. Por favor,
escute com atenção enquanto as descrevo, mas não tente visualizá-
'/as até que receba o sina/ adequado para contar até três. A senhora
indicará que a visualização está acontecendo, erguendo seu dedo
indicador e deixando-o descer quando a visualização estiver
completa.
A primeira cena que gostaria que visualizasse é uma em que está
sentada para comer em sua própria cozinha. A senhora preparou
um fi/é mignon com ótimo aspecto e está com bastante fome.
Enquanto se senta para comer o filé, sente-se bastante à vontade
e relaxada, e é uma sensação muito agradável apreciçr a comida e
sentir-se relaxada. A senhora não está realmente preocupada. Sente
realmente um pouco de dor e desconforto na parte posterior de sua
cabeça e pescoço mas, apesar disto, sen fe-se muito bem.
É uma sensação muito agradável sentar-se iá sentindo-se relaxada e
apreciando a comida. Quando eu contar até três, a senhora come
çara a visualizar e indicará isto para mim erguendo o dedo indi
cador de sua mão esquerda, e o manterá erguido até que a visuali
zação esteja completa.
imagem diversas vezes por dia, e disse-lhe que ac embarcar no avião ele
devera focalizar sua atenção nos aspectos agradáveis e que deveria res
ponder exclusivamente a eles. Depois do vôo programado, ele telefonou
para dizer que inicialmente tivera uma ligeira ansiedade e depois nenhuma.
Quatro meses mais tarde, ele informou a um terapeuta comportamental
de Boston, a quem o indicara para outros tipos de problemas, quanto à
"cura miraculosa" de seu medo de voar numa única sessão, capacitando-o
d vohi livremente por todo o país.
Caso 11
Caso 12
(b) Modelação
O tratamento
de respostas
sexuais inibidas
0 TRATAMENTO DA IMPOTÊNCIA
Caso 13
O Sr. I., corrètor de imóveis com 36 anos de idade, sofria de ejacu
lação prematura desde o início de sua vida sexual com a idade de 16 anos.
o TRATAMENTO DE RESPOSTAS SEXUAIS INIBIDAS 193
Tabela 5 —
1 31 1 semana Recuperou-se
2 40 8 semanas Recuperou-se
3 46 10 semanas Recuperou-se
4 46 20 semanas Recuperou-se
5 40 4 semanas Recuperou-se
6 41 12 semanas (intermitente
e furtivo) Progrediu bastante
7 50 6 semanas Recuperou-se mas sem transferência
para a esposa.
8 49 2 semanas Recuperou-se (o maior fator foi a
remoção da ansiedade com a esposa
tomando pílulas anti concepcionais).
9 20 6 semanas Recuperou-se (o naior fator foi a
resolução dos temores sobre a
masculinidade através da leitura
psicanalftica).
10 49 10 semanas Progrediu de uma quase ausência
total de erecção a um funcionamento
suficiente para tornar o casamento
possível e para satisfazer e
engravidar a esposa.
11 35 6 semanas Progrediu marcadamente quundo o
terapeuta deixou o pafs. Sendo a
afirmação apropriada quanto à
esposa do maior fator.
12 36 5 semanas Recuperou-se (Caso 3)
13 44 16 semanas (oportunidades
infreqüentes) Não se recuperou. Nenhuma
ansiedade sexual aparente.
Hipersensibilidade da glande.
14 40 9 semanas Recuperou-se. (Detalhes em
Wolpe, Eysenck 1960)
15 35 8 semanas (precedidas por
12 semanas para o domínio
de temores interpessoais) Progrediu desde a ausência de
erecções até tê-las fortes. Os coitos
melhoraram quando o terapeuta
deixou o país.
16 18 66 semanas (oportunidades
muito irregulares no inicio) Recuperou-se
17 53 3 semanas Recuperou-se com nova consorte.
Anteriormente nenhuma melhora em
12 semanas, com uma consorte
não-cooperadora.
18 39 12 semanas Recuperou-se. No início, as erecções
ocorriam apenas apos as injeções
de testosterona.
198 PRÁTICA DA TERAPIA COMPORTAMENTAL
O TRATAMENTO DA FRIGIDEZ
Frigidez Essencial
Caso 14
Uma mulher que tivera, por diversos anos, relações sexuais muito
boas com o seu marido, desenvolvera uma vaginite que tornava as relações
dolorosas. Entretanto, por causa de sua grande afeição pelo marido ela
continuou permitindo as relações sexuais; mas isto foi tão adverso, que
ela se tornara completamente frígida, com vaginismo marcante. Mesmo
depois da vaginite ter sido tratada e as relações não serem mais dolorosas,
o vaginismo persistira de forma que era impossível para o marido conse
guir a penetração. Quando a vi pela primeira vez, este estado de coisas
persistia havia 3 anos.
Tomando como exemplo o caso de vaginismo acima descrito, o
espasmo foi parte de uma resposta de ansiedade quanto à introdução
de qualquer objeto na vagina. O tratamento consistiu de uma combinação
de dessensibilização convencional e uma dessensibilização ao vivo.
Instruí a paciente no sentido de relaxar e imaginar, a princípio,
um bastão muito fino (cerca de 3,2 mm) sendo inserido a uma profun
didade de 12,7 mm dentro da vagina. Isso produziu ansiedade. Continuei
repetindo a cena até que a ansiedade desapareceu. Então aumentei gradati-
vamente o comprimento da inserção, e subseqüentemente repeti a seqüên
cia com bastões progressivamente mais grossos. Quando a espessura do
bastão imaginário atingiu 12,7 mm, providenciei a fabricação de bastões
de cera (supositórios) que variavam em diâmetro de 3,2 mm a 38,1 mm,
os quais a paciente deveria usar em casa, iniciando com a inserção de um
supositório de 3,2 mm em sua vagina, lentamente, centímetro a centí-
ü TRATAMENTO DE RESPOSTAS SEXUAIS INIBIDAS 201
ente era uma mulher casada de 27 anos de idade, com diversos problemas
interpessoais neuróticos, acrescentados à frigidez. Primeiramente, tratei
das ansiedades interpessoais, ensinando-lhe como se afirmar. Ela com
preendeu a idéia rapidamente, e logo começou a executá»la. Depois da
quinta sessão, a maior parte da nossa atenção se voltou para a frigidez.
Embora ela tivesse trabalhado como atriz, e embora as atrizes sejam,
supostamente, um tanto livres e descontraídas, sexualmente falando, ela
tinha sido extremamente reservada. Ela foi muitas vezes orientada negati
vamente pela mãe quanto aos males do sexo. Essas advertências tinham
sido reforçadas por uma tentativa de agressão sexual por um homem muito
mais velho na época de sua puberdade. Após seu casamento, ela achou
o sexo desagradável e tentou tanto quanto possível evitá-lo. A essência
de seu problema foi um sentimento de repulsa tensa pelo órgão sexual
masculino. Ao tratar disso pela dessensibilização, comecei fazendo-a
imaginar estar olhando para uma estátua masculina nua num parque,
a uma distância de 9 metros. Após aproximar-se gradativamente da estátua,
ela eventualmente se imaginou manipulando o pênis de pedra com equa
nimidade. A série posterior de cenas começou com ela se imaginando
num extremo de seu dormitório, vendo o pênis descoberto do marido
a 4,5 metros de distância. A medida que a dessensibilização prosseguia,
ele foi trazido cada vez mais para perto. Então ela imaginou que tocava
rapidamente o pênis. Quando isto deixou de provocar ansiedade, eu gra
dualmente aumentei a duração do contato. Por volta da vigésima sessão
terapêutica, ela estava apreciando as relações sexuais e tendo orgasmos
em cerca de 50% das ocasiões.
É muitas vezes útil o uso de drogas tranqüilizantes, no descondi-
cionamento de ansiedades neuróticas em que a frigidez é baseada.
Brady (1966), que tratou a frigidez pela dessensibilização, mas usou
Brevital por via intravenosa como adjuvante ao relaxamento, obteve
a impressão de que seus casos progrediam mais rapidamente que
se tivesse usado apenas o relaxamento. Se esta impressão for confir
mada, a sua importância não será confinada ao campo especial da
frigidez.
Foi recentemente descrita, uma técnica que parece ser especial
mente aplicável a sujeitos sexualmente excitáveis a um ponto considerável
e muitas vezes notável, mas que jamais experimentaram um orgasmo
coital pleno. Muitas dessas mulheres são facilmente capazes de obter
orgasmos clitorais por fricção e algumas delas, mesmo durante o coito,
quando são então feitos esforços especiais para continuar a estimulação
clitoral. Mesmo assim, a experiência é insatisfatória, porque este tipo
0 TRATAMENTO DE RESPOSTAS SEXUAIS INIBIDAS 20 3
Frigidez Situacional
NOTAS
O uso
de drogas na terapia
comportamental
USOS SINTOMÁTICOS
com a gagueira, como foi demonstrado, por exemplo, nos efeitos “bom"
e "muito bom" do meprobamato em 13 de 18 pacientes tratados por
Maxwell e Paterson (1958).
Drooby (1964a) também usou com sucesso a imipramina e outras
drogas como Mellaril, Valium e Nardil (v.s.) (cada uma das quais às vezes
em combinação com a ergotamina) para refrear a ansiedade e retardar
a ejaculação nos casos de ejaculação prematura. Alguns relatórios confor
mando sua experiência têm sido publicados por outros (por exemplo
Singh, 1963). Às ve2es o desempenho repetido com sucesso da relação
sexual sob a influência dessas drogas capacita o paciente a um desempenho
posterior satisfatório sem elas (vide abaixo).
Em muitas pacientes femininas, especialmente aquelas na menopausa
ou dela próximas, as reações emocionais poderão ser acentuadas (senão
causadas) por fatores hormonais. Em muitos desses casos a exacerbação
de sintomas ocorre na semana antes da menstruação e poderá continuar
durante todo o período menstrual. Poderá ser obtida uma melhora acen
tuada com a administração de preparados de hormônios do sexo feminino.
Na maioria dos casos é suficiente se empregar os mesmos preparados
e dosagens como são usados para propósitos anticoncepcionais como
por exemplo Ovulen, Anovlar, Enovid, ou Ortho-novum (Guttmacher,
1961). Às vezes ficamos surpreendidos em verificar que a melhora dos
sintomas não é confinada a qualquer fase determinada do ciclo, e sim
que se estende durante ele todo. Alguns casos em que a medicação da
"pílula anticoncepcional" não é particularmente bem sucedida respondem
bem a grandes doses de progesterona por injeção intramuscular ou suposi
tório retal (Dalton, 1964), que afirma que os progestogens sintéticos orais
não são um substituto satisfatório.
Uma nova possibilidade interessante para o tratamento sintomático
surgiu de uma observação de Pitts e McCIure (1967) de que em pacientes
com neuroses de ansiedades os ataques de ansiedade podem ser produzidos
por infusões intravenosas de íon de lactato, e que os sintomas de ansie
dade podem ser geralmente prevenidos pela adição de pequenas quanti
dades de íon de cálcio em forma de cloreto de cálcio. Isto sugere que
a administração oral do cloreto de cálcio pode ser tentada para controlar
os sintomas de ansiedade.
O USO DE DROGAS NA TERAPIA COMPORTAMENTAL 209
Dióxido de Carbono-Oxigênio
Pig. 12. Paciente recebendo uma mistura de d ió xid o de cai bono-oxigênio. Até o
fim dü inalação, o paciente tem que esva?iar a bolsa cheia com u mistura de gases.
lado, Mack (1970) verificou que as inalações de nitrito de amilo são quase
tao eficazes quanto as de dióxido de carbono.
Muito mais trabalhos experimentais necessitam ser feitos. Atual
mente, parece provável que o dióxido de carbono diminua a ansiedade eli
dindo uma poderosa excitação inibidora de ansiedade por causa do fato de
que os efeitos excítativos do gás podem ser usados para descondicionar há
bitos específicos de ansiedade. Psicofisiologicamente, as indicações de uma
investigação em processo são as de que, após uma inalação, o pulso se
torna mais lento e a condutância da pele diminui (Shmavonian e Wolpe,
1972).
Hormônio masculino
De tempos em tempos aparecem relatos sobre o uso benéfico do
hormônio masculino no tratamento de casos de impotência (como Miller,
Hubert e Hamilton, 1938). No decorrer de 20 anos de prática psicotera-
pêutica, fui duas vezes bem sucedido no aumento de desempenhos sexuais
muito baixos em homens com injeções diárias de testosterona, até o ponto
em que o desempenho sexual se tornou possível e posteriormente pros
seguiu satisfatoriamente sem qualquer uso ulterior do hormônio. Presumi
velmente, a resposta sexual foi condicionada a estímulos contígüos.
(Ver também Cooper e outros, 1970.)
Procedimento
envolvendo uma forte
eliciação de ansiedade
"INUNDAÇÃO” EMOCIONAL
que totalmente incapaz de sentir receio. Tinha como que exaurido o afeto
de toda a situação e passou em seus exames sem dificuldade aparente.
A eliciação intensa de ansiedade tem sido empregada terapeutica-
mente por psiquiatras existencialistas como Frankl (1960) e Gerz (1966),
com o nome de intenção paradoxal. Logicamente, ao a usarem, eles
não são guiados pela idéia da extinção experimental ou qualquer outro
mecanismo de aprendizagem, mas pela expectativa de que "se o paciente
tentasse trazer intencionalmente esses sintomas, ele não apenas nao encon
traria dificuldades em fazê-lo, como também mudaria sua atitude quanto
a sua neurose." Seja qual for sua teoria, não há qualquer diferença essen
cial entre os seus procedimentos práticos e os de Malleson, descritos acima.
Em muitos casos os tratamentos são dados repetidamente durante diversos
meses. Um dos casos de Gerz foi o de uma mulher de 29 anos de idade
com medo de alturas, de estar sozinha, de comer num restaurante caso
vomitasse, de entrar em supermercados, trens subterrâneos e automóveis.
Ela foi instruída no sentido de externar o que pudesse temer que lhe
acontecesse. Ela deveria tentar vomitar quando jantando fora com seu
marido e amigos e criar a maior confusão possível. Deveria dirigir até
mercados, cabelereiros e bancos "tentando criar para si tanto pânico
quanto possível." No prazo de seis semanas ela tinha perdido os temores
em sua situação doméstica, e pouco depois dirigiu sozinha até o consul
tório de Gerz, a cerca de oito quilômetros de sua casa. Quatro meses
depois dirigiu com o seu marido até a cidade de Nova Iorque, a 160 km
de sua casa, através da George Washington Bridge, retornando através do
Lincoln Tunnel, e participou de uma festa de despedida no convés inferior
de um transatlântico. Gerz afirma que dois anos mais tarde ela ficou livre
de sintomas.
Stampfl tem empregado essencialmente as mesmas táticas, mas
usando principalmente a imaginação do paciente, chamando seu método
de terapia imp/osiva. Em suas primeiras obras, que não foram publicados,
aos quais London (1964) fez uma referência extensa, Stampfl expressou
o ponto-de-vista 'de que, se o paciente ansioso fosse exposto intensiva
mente a situações de estímulos eliciadores de ansiedade condicionados,
e a ansiedade nao fosse reforçada por um estímulo não condicionado),
a resposta de ansiedade se extingüiria. A essência da terapia implosiva
foi, então, a de arranjar o estímulo amedrontador para ser apresentado
em circunstâncias das quais o sujeito não poderia escapar. A oxposição
a este estímulo deveria causar a perda de toda a força de eltciar a ansie
dade. Stampfl defendeu o uso de cada recurso para atemorizar o paciente,
tanto tempo quanto possível, em cada sessão, pelo meio geral de persuadi-
FORTE ELICIAÇÃO DE ANSIEDADE 223
(por exemplo, de 90 para 80 suds num caso que temia ser visto urinando
e que foi tratado ao vivo).
ABREAÇÃO
NOT AS
Métodos
operantes
de condicionamento
REFORÇO POSITIVO
na qual ela era pesada. Às vezes, num esforço para cumprir o esti
pulado, a paciente se descartava de mais roupas que o necessário.
Quando isto ocorria, o estipulado era ajustado à passagem seguinte
para corresponder ao limite anteriormente imposto pela paciente.
No começo desta experiência, a paciente perdeu algumas refeições
porque deixou de cumprir o peso estipulado, mas logo depois grada-
tivamente se descartou de sua roupa supérflua. De início, deixou
para trás itens esporádicos que carregava em seus braços, tais como
pacotes, canecas e bolsas. Depois tirou o chapéu elaborado e "capas"
e xales variados que usava sobre os ombros. Embora tivesse usado
18 pares de meias em certa ocasião, eventualmente também as
deixou.
Mais e mais da refeição tinha qüe ser consumida para ser reforçada até que
eventualmente ela foi solicitada a comer tudo no prato.
Depois de dois meses, quando ganhou 6,5 kg, ela foi dispensada do
hospital, e o tratamento de reforço positivo foi prosseguido em casa com a
cooperação de sua família. Dezoito meses depois o seu peso era de 40 kg.
Numerosos outros casos tratados com sucesso pelos métodos ope
rantes foram relatados (por exemplo, Hallsten, 1965; Blinder, Freeman, e
Stunkard, 1970; Scrignar, 1971).
Embora os procedimentos operantes não tenham tido geralmente
um importante papel no tratamento de fobias, eles são provavelmente
muito relevantes naquelas em que a esquiva para a manutenção física
desempenha a maior parte. Este é um aspecto de certos casos de agora
fobia e, provavelmente de forma mais freqüente, de fobias à escola.
Ayllon, Smith, e Rogers (1970) relataram o tratamento operante de
uma fobia por escola numa criança de 8 anos de idade. O problema foi
definido como zero ou baixa probabilidade de freqüência è escola.
A execução das técnicas para aumentar a probabilidade envolvia fazer
com que a mãe da criança tirasse as recompensas de ficar em casa. Então
um sitema motivacional baseado na casa foi usado para reforçar a fre-
qüência à escola, e a recusa de ir à escola resultava em punição. A fre
qüência à escola foi rapidamente gerada e mantida, mesmo após os
procedimentos terem sido um mês depois suspensos. Nenhuma "substi
tuição de sintoma" foi observada pelos pais ou pelos funcionários da escola
numa constatação feita 9 meses depois.
Os programas operantes têm sido, nos anos recentes, aplicados de
modo crescente ao comportamento problemático em crianças. Muito do
trabalho tem sido dirigido ao comportamento em classe (como Homme e
outros, 1971; Patterson e Gullion, 1968), mas as síndromas psiquiátricas
específicas receberam também muita atenção.
Kimmel e Kimmel (1970) descreveram um método para tratar da
enurese noturna através do qual a criança, bebendo água e outros líquidos
sem restrição, é recompensada com doces ou outros itens desejados por
"prender" sua urina durante períodos crescentes. No início, a criança
recebe a recompensa por inibir a uri nação durante cinco minutos após sua
primeira informação quanto a uma necessidade de urinar e, mais tarde,
é estendido o período de inibição. Aparentemente, é estabelecido um
hábito de inibição do urinar pelo reforço positivo. Em três casos nos quais
foi usado este método, foi obtida completa cessação de molhadura de
cama em cerca de uma semana.
Neale (1963) curou diversos casos de encoprese, recompensando cada
MÉTODOS OPERANTES DE CONDICIONAMENTO 239
Parada de Pensamento
apertar o botão, que poderá ser abrupto como por exemplo, de 20 por
minuto para uma vez cada 2 minutos no decurso de um período de trata
mento de 15 minutos.
Há alguns anos, aproveitei uma oportunidade de observar os efeitos
deste procedimento em mim mesmo. Estivera envolvido numa disputa legal
que foi finalmente acomodada numa reunião de diretores e advogados.
Mais tarde naquele dia, refletindo sobre os procedimentos, fiquei muito
perturbado ao perceber que tinha tratado ineptamente de um intercâmbio.
Refletindo continuamente sobre o assunto fiquei cada vez mais angustiado.
Decidi tentar a parada de pensamento. Achei isso muito difícil, pois os
pensamentos pareciam ser conduzidos pela ansiedade que eles próprios
haviam incitado; porém trabalhei assiduamente, e depois de uma hora
verifiquei que o nível geral da ansiedade era distintamente menor. Após
duas horas ou mais, eu já não era perturbado por esses pensamentos.
Mesmo quando minha ansiedade era alta, parecia que a exclusão bem
sucedida de um pensamento a diminuía ligeiramente, mas quando a ansie
dade estava baixa este efeito era bastante claro.
Com base nesta experiência pessoal, sustentada até certo ponto
pelo testemunho de pacientes, sugeri que um hábito de inibição de pensa
mento era reforçado pela conseqüência redutora de ansiedade de cada
esforço bem sucedido na inibição de pensamento. A sugestão poderia ser
facilmente testada pelo controle psicofisiológico.
A parada de pensamento foi sugerida por J. G. Taylor em 1955
(ver Wolpe, 1958); mas sem o conhecimento dele, ela já tinha sido defen
dida por um escritor esquecido, Alexander Bain (1928). Taylor (1963)
descreveu também a aplicação da idéia no tratamento de um caso de
movimentos espasmódico das sombrancelhas, de 31 anos de duração.
O hábito foi superado em dez dias.
Embora a parada de pensamento seja freqüentemente mais usada
para o tratamento das preocupações episódicas, ela é ocasionalmente
de grande valia no tratamento de obsessões verdadeiras. Numa neurose
obsessiva de oito anos de duração relatada por Yamagami (1971), ela foi a
única agente da recuperação. O paciente era um estudante cuja obsessão
consistia em verbalizar no pensamento os nomes das cores, contar
números, e imprimir palavras na imaginação. A obsessão das cores era a
predominante, ocorrendo numa média de 110 vezes por dia. Bastões
coloridos, que desencadeariam a obsessão das cores, foram colocados
diante do sujeito. Ele deveria olhar para eles e não tentar reprimir quais
quer pensamentos obsessivos que lhe viessem à mente. Deveria fazer um
sinal ao assalto dos pensamentos obsessivos,. erguendo um dedo. Nesse
MÉTODOS OPERANTES DE CONDICIONAMENTO 243
ponto, o terapeuta gritava, "Pare", o que ele deveria repetir. Pela quarta
sessão, a obsessão tinha diminuído em cerca de 80 por cento. O trata
mento continuou durante um total de 17 sessões, no decorrer das quais
foram usadas 3 variações da técnica. Numa delas, foi substituído um
choque elétrico pelo grito da palavra "Pare". Por ocasião da décima-
-sétima sessão semanal a obsessão tinha decrescido para cerca de cinco
ocorrências diárias; e o paciente poderia controtá-la facilmente dizendo,
"Pare", para si, em qualquer ocasião. Numa constatação feita 7 meses
depois, verificou-se que ela não tinha reincidido, e que as outras obsessões
estavam decrescendo progressivamente.
REFORÇO NEGATIVO
EXTINÇÃO
NOTAS
Terapia
de aversão
«4
■< o R
< o-
comportamento de fuga
choque somado a respostas
autônomas
caminhos de excitação de R i
o- -< caminhos de inibição de R i
Estimulação Elétrica
Caso 24
Sensibilização Encoberta
NOTAS
Algumas
síndromes especiais
AGORAFOBIA
MEDO DE SINTOMAS
GAGUEIRA
DEPRESSÃO R EA TIVA 2
colocado em outra situação: uma caixa com tampa de correr, uma gaiola
dividida por uma barreira à altura do ombro. Foi ligada uma luz fraca e,
depois de 10 segundos, foi acompanhado de um choque 4,5 miliampères
no soalho, que era interrompido se o animal saltasse a barreira, ou então
depois de um espaço de tempo de 50 segundos. Nas dez experiências
realizadas, dois terços dos animais previamente tratados com os choques
inevitáveis deixaram de saltar a barreira em pelo menos nove. Em con
traste, 19 entre 20 animais que não foram previamente tratados fugiram
em nove ou mais das 10 experiências. Parece que durante o período
dos choque inevitáveis na rede, todo o repertório do comportamento
de fuga teria se extingüido.
Para superar esse "desamparo condicionado”, Maier tentou remover
a barreira da caixa, chamando o animal, e jogando comida no lado
não-eletrificado — tudo isso sem sucesso. (Maier notou a semelhança entre
essa negatividade intratável de comportamento e a observada nas depres
sões clínicas.) Eventualmente o resultado pareceu ser o de obrigar fisica
mente o animal, através de uma vara presa à sua coleira, a vir do lado
eletrificado da gaiola para o lado seguro. Mas a mudança veio lentamente.
Os animais tiveram que ser puxados de 20 a 50 vezes desta maneira, antes
que houvesse, antes de tudo, um decréscimo na quantidade de força
necessária para efetuar a passagem e, eventualmente, a passagem espon
tânea. Uma vez que isto ocorreu, a recuperação foi completa e duradoura.
Existem três estruturas distintas de circunstâncias em que é vista
a depressão neurótica: (1) Como um exagero e prolongação da reação
normal à perda, (2) Como uma conseqüência de uma ansiedade severa
e prolongada, e (3) Como uma conseqüência de uma falha em controlar
situações interpessoais, falha essa devida aos efeitos inibidores da ansie
dade neurótica.
DESVIOS SEXUAIS
NEUROSES DE CARÁTER
NEUROSES OBSESSIVAS
Caso 29
A inundação através do uso de imagens foi aplicada num professor
de História que estava incapacitado, devido a um temor obsessivo a uma
raiposta negativa por parte de um comitê ao qual deveria reunir-se meses
mais tarde, para ser deliberada uma posição que cobiçava muito. Foi
tratado imaginando-se na própria reunião com esse comitê, recebendo
raações negativas de toda parte. A cena elevou seu nível de ansiedade para
276 PRATICA DA TERAPIA COMPORTAMENTAL
OBESIDADE
NOTAS
Alguns
casos complexos
MEDO DE SINTO M AS
tivo. Comentou que 3 meses antes teria, durante um período tão longo,
saído para urinar cerca de 20 vezes. Todavia, ainda tinha que se forçar a
fazer coisas que estava acostumado a evitar.
Desse ponto em diante, o principal enfoque da terapia foi seu
problema quanto ao caso premarital de sua esposa. Primeiramente, chegou-
-se ao comum acordo, após referências a Kinsey e outros, de que as reações
do Sr. B. eram irracionais. Foi então feita uma tentativa para se empregar
imagens emotivas (pag. 172) como foi sugerido por uma discussão com
Akhter Ahsen (1965) que baseia algumas operações muito importantes,
que ele chama de "psicoterapia eidética", sobre um sistema conceptual
extremamente extravagante. A idéia prática central consiste em pedir
ao paciente que se imagine comportando-se de maneira nova numa
situação passada que tenha sido emocionalmente aflitiva. A idéia foi
aplicada, no caso presente, fazendo-se com que o Sr. B. se projetasse
ao tempo do "caso" de sua esposa e imaginasse que enquanto ela estava
amorosamente empenhada com seu amante num hotel, ele permanecia
no quarto vizinho. Ele deveria forçar a porta de ligação e agredir o amante.
Fazendo-o, supunha-se que as manifestações de ira seriam contrapostas
à ansiedade que esta imagem normalmente eliciava. Pediu-se ao Sr. B. que
praticasse esta seqüência imaginária 50 a 100 vezes por dia. Ele se encon
trou fazendo progressos por cerca de duas semanas, quando afirmou que
a sua obsessão caíra em vinte por cento quanto à incidência e quarenta
por cento quanto à intensidade emocional. Mas, continuando com o exer
cício por mais quatro semanas, não foi obtido mais nenhum benefício.
Depois da segunda semana lhe pedi também que se tentasse imaginar
atacando a Sra. B. na situação premarital, mas o único efeito que consegui
foi o de torná-lo de modo geral hostil quanto a ela.
Decidi, portanto, atacar o problema pela dessensibilização siste
mática. Para dessensibilizá-lo a esta situação há muito passada, empreguei
imagens de um filme fictício que deveriam ser supostamente tomadas
como as atividades amorosas premaritais pór uma câmera oculta na sala
de estar da família dela. Uma vez relaxado, com os olhos fechados, pedi
ao Sr. B. que imaginasse que a sua esposa se sentava num canapé com seu
amante que a beijava e colocava sua mão sobre um de seus seios por
cima do vestido durante exatamente cinco segundos. Ele não sentiu
qualquer ansiedade quanto a isso. Uma certa quantidade de ansiedade foi
eliciada pela cena seguinte na qual a duração do contato foi de 8 segundos;
mas na terceira apresentação desta cena, a ansiedade desapareceu. Duas
apresentações foram necessárias para imaginar a mão sobre o seio durante
10 segundos, e cinco apresentações foram necessárias para 20 segundos.
ALGUNS CASOS COMPLEXOS 283
morto. Depois de sua morte, ela perdeu por algum tempo o interesse
de formar outras associações. Sua seguinte associação séria foi com seu
marido, o qual encontrou em 1955. Casaram-se em Maio de 1957, cerca
de nove meses antes do acidente. Até o acidente, as relações maritais
tinham sido boas. As relações sexuais tinham sido satisfatórias, muitas
vezes com ambos atingindo o orgasmo. Desde seu acidente, contudo,
ela fora influenciada negativamente por comentários desfavoráveis que
seu marido fazia sobre suas incapacidades, de forma que seu comporta
mento sexual diminuiu. Porém, quando o coito ocorria, ela ainda tinha
bastante orgasmos.
Na segunda entrevista, foram iniciados tanto o treino de relaxa
mento como a construção de hierarquias. A Sra. C. aprendeu o relaxa
mento dos braços e dos músculos da testa. Foram construídas duas hierar
quias. A primeira relacionada com situações de tráfego no campo. Havia,
supostamente, uma reação mínima se ela estivesse num carro dirigido
por seu marido e se estivessem a 180 metros de um cruzamento e se
houvesse a 360 metros, em ângulo reto, outro carro se aproximando.
A ansiedade aumentava com a proximidade crescente. A segunda hierar
quia se relacionava com aproximações laterais de outros carros enquanto
aquele em que ela viajava parava num sinal de tráfego. Os primeiros sinais
apareciam supostamente quando o outro carro estava a dois quarteirões
de distância. (Esta foi, como será visto, uma indicação incompleta das
reações da paciente). A entrevista foi concluída com uma sessão de dessen
sibilização introdutória. Tendo hipnotizado e relaxado a Sra. C., apre
sentei à sua imaginação alguns estímulos supostamente neutros. Primeira
mente lhe pedi que se imaginasse atravessando um campo de basebol
e então que estava viajando num carro no campo sem outros carros à vista.
De acordo com isto, ela foi apresentada à situação fóbica, supostamente
fraca, de estar num carro a 180 metros de uma intersecção e ver outro
carro a 360 metros ao lado esquerdo. Ela, depois, não registrou nenhuma
perturbação quanto a nenhuma das cenas.
Na terceira entrevista, a instrução de relaxamento dos músculos
do ombro foi seguida por uma sessão de dessensibilização em que foram
apresentadas as seguintes cenas: 1. O carro da paciente, dirigido por seu
marido, para num cruzamento, e outro carro se aproximava em ângulo
reto a dois quarteirões de distância. 2. A cena da rodovia da sessão anterior
foi sugerida, mas seu carro estava agora a 140 metros do cruzamento
e o outro a 275 metros. Ficou evidenciado que estas cenas eliciavam
bastante ansiedade. Conseqüentemente, na quarta entrevista, sujeitei
a Sra. C. a mais indagações quanto à suas reações a automóveis, de onde
286 PRÁTICA DA TERAPIA COMPORTAMENTAL
ficou claro que ela ficara sempre tensa em automóveis mas que não achara
isto digno de nota, de tão insignificante que era ao lado do terror experi
mentado na aproximação lateral de um automóvel. Também afirmou
que as cenas de automóvel imaginadas durante as sessões tinham eliciado
ansiedade, mas muito pouca, e ela não as achou dignas de mencionar.
A seguinte cena apresentada foi a de estar prestes a percorrer dois quartei
rões numa estrada do campo. Isto eliciou ansiedade considerável!
Na quinta entrevista, ficou esclarecido que mesmo o pensamento
sobre uma viagem elevava a tensão da Sra. C. de forma que se, às 9.00 ho
ras seu marido tivesse que dizer, "Nós vamos sair de carro às 14.00 horas",
ela ficaria continuamente apreensiva, e ainda mais quando realmente
estivesse no carro. Durante a sessão de dessensibilização {quarta) nessa
entrevista, pedi-lhe que imaginasse que estava em casa esperando sair para
um passeio no campo no prazo de quatro horas. Esta cena, apresentada
cinco vezes, eliciou uma ansiedade que não diminuiu com as repetições.
Tornou-se agora evidente que as cenas com a mínima suspeita de exposição
ao tráfego produziam maior ansiedade que a que poderia ser dominada
pelo potencial de relaxamento da Sra. C.
Uma nova estratégia teria, portanto, que ser planejada. Introduzi
um artifício que se prestou à manipulação controlada. Desenhei numa
folha de papel um campo imaginário quadrado completamente fechado,
representado como tendo dois quarteirões (180 metros) de comprimento
(vide Figura 14). No canto sudoeste (em baixo, à esquerda) desenhei
seu carro, voltado na direção do norte (para cima), em que ela se sentava
com o seu marido e ao lado direito outro carro, supostamente o do Dr.
Richard W. Garnett, um psquiatra, que estava voltado para eles em ângulo
reto. O Dr. Garnett (daqui por diante, o "Dr. G.") foi "utilizado" porque
a Sra. C. o considerava uma pessoa digna de confiança.
Essa situação imaginária se tornou o foco das cenas apresentadas
nas sessões que se seguiram. Na quinta sessão de dessensibilização, foi
solicitado à Sra. C. que imaginasse o Dr. G. anunciando-lhe que iria dirigir
o seu carro a um quarteirão e meio de distância, enquanto ela se sentava
em seu carro estacionado. Como isto não eliciou nenhuma resposta,
pedi-lhe que imaginasse ele guiando à distância de um quarteirão em
sua direção, e então, como não houvesse nenhuma resposta, um quarteirão
e um quarto. Ao perceber uma reação a esta cena, repeti-a três vezes sem
obter nenhum decréscimo na resposta. Então "retrocedi", pedindo-lhe
que imaginasse o Dr. G. parando depois de ter viajado um quarteirão e
dois passos. Isto produziu uma resposta mais leve, que diminuiu com
a repetição da cena, desaparecendo na quarta apresentação. Esta foi
ALGUNS CASOS COMPLEXOS 287
2 quarteirões
Fig. 14. Rua imaginária onde o dr. Garneit aproxima se progressivamente cio carro
da sra. C.
2 quarteirões
Fig. 15. Rua imaginária com a inclusão de cruzamento e semáforo. Outros carros
passam enquanto o carro da sra. C parou na luz vermelha.
ALGUNS CASOS COMPLEXOS 289
0
c
a»
1 L._
I I I I I ! I I I í I
9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 26 27 28 »
junho julho agosto setembro
HOMOSSEXUALIDADE
sem a noite juntos. Embora fortemente atraído, ele se sentiu muito teme
roso, desculpou-se, e levantou-se para ir para casa. Mas quando abriu a
porta da frente estava chovendo pesadamente. Decidiu ir para cama com
ela e se arriscar à humilhação de um fracasso. Para sua surpresa, contudo,
o seu desempenho sexual foi totalmente bem sucedido. Até o momento
em que escreveu ele tinha feito amor a esta mulher quase todas as noites
durante um mês, sempre com sucesso completo, e com maior prazer
que jamais experimentou com homens. Ficou exultante. Considerou isto
a sua vindicação final, sentindo que agora jamais se sentiria inferior aos
outros homens.
Tive entrevistas posteriores com o Sr. R. em 1956 e novamente
em 1957. Ele continuava livre de reações neuróticas, permaneceu total
mente heterossexual e começou a estudar administração de empresas.
Em Janeiro de 1959, recebi uma carta sua dizendo que se casara com
uma moça sulamericana. Sua vida ainda estava de todos os modos satis
fatória, e sua esposa esperava um bebê.
A seqüência favorável de eventos deu-se como segue. As ansiedades
do Sr. R. começaram evidentemente em sua associação de infância com
sua mãe áspera e perpetuamente gritadora. Embora ele fosse temeroso
e subserviente quanto a todos, os homens encontravam-se mais afastados
que as mulheres, no gradiente de generalização de sua mãe. Durante a
adolescência ele teve um agradável sentimento de calor e afeição aos
homens, o que naturalmente o inclinou à procura duma proximidade
maior que determinou a expressão de seus impulsos sexuais. A satisfação
sexual com homens reforçou as suas tendências de associar-se a eles.
A instigação direta do comportamento afirmativo, abrangendo ampla
mente indivíduos, levou à uma extinção de seu temor pelas pessoas.
Quando isto foi conseguido, ele foi capaz de avaliar o mundo de homens
e mulheres sem ansiedade e a preferência pelas mulheres surgiu espon
taneamente - uma preferência talvez estabelecida por fatores sociais em
sua infância.
PEDOFIUA HOMOSSEXUAL
Ele encontrou pela primeira vez sua esposa quando estava na escola
de medicina. Cerca de seis meses depois que se encontraram, tiveram
relações. Isto o entusiasmou tanto, que ficaram noivos dois meses depois.
Durante umas breves férias na Flórida, em que ela "era toda sexo", tiveram
relações sexuais com freqüência. Depois do casamento efa passou a gostar
menos do sexo e, quase que imediatamente, passou a "ficar sentada
lamentando." Este comportamento inesperado começou a afastá-lo.
Mesmo assim, continuou a "tentar obter o sexo de todas as formas"
durante alguns meses. Gradativamente, porém, seus esforços diminuíram
e após cerca de um ano de casamento, a freqüência do coito tinha decres
cido para uma vez cada dois ou três meses. Dois anos depois, ela passou
a ver outro homem. Embora ela alegasse que o sexo não estava envol
vido, ele ficou muito contrariado com isso, e mandou que ela partisse.
Após uma separação legal de nove meses, eles se divorciaram. Dois
meses depois, casaram-se novamente. Sexualmente, era ela agora a agres
sora! Ele achou isso irritante; tanto assim que no prazo de um ano retor
naram ao coito uma vez cada dois ou três meses, uma freqüência que
persistiu. Foi nesse estágio de seu novo casamento que ele passou a se
voltar para seus filhos para dar vazão ao sexo.
0 relacionamento entre o Dr. V. e sua esposa era também preju
dicado por outros aspectos. Desde, os primeiros anos de casamento, eram
propensos a discussões. Ela vivia entendiada, mas era incapaz de começar a
praticar esportes, ler, ou de qualquer outra atividade. Ela desejava
divertir-se, mas não estava disposta a investir muito de si.
No final da primeira entrevista, foram feitas três coisas: (1) Desde
que mesmo quando nao estava empenhado num comportamento pedofí-
lico, era perturbado por pensamentos pedofflicos cada um ou dois dias,
demonstrou-se-lhe a parada de pensamento, e ele foi instruído no sentido
de usá-la cada vez que pensamentos pedofflicos viessem à sua mente;
(2) Foi instruído a não ter relações sexuais com ninguém durante o mês
que estivesse fora, e para se concentrar em tentar conhecer as pessoas,
ao invés; (3) Foram dadas as instruções iniciais quanto ao comportamento
afirmativo três vezes por semana ao retornar da Europa.
No seu retorno, afirmou que a parada de pensamento estava fun
cionando bem, tendo a freqüência de pensamentos pedofflicos diminuído
para uma ou duas vezes por semana. Ele tinha voltado para a esposa e
tivera diversas boas erecções mas, seguindo as instruções, ele não tentara
o coito. Pareceu relativarríente bem com o treino assertivo. Foi congra
tulado por isso e foi instruído quando à expressão de sentimentos posi-
ALGUNS CASOS COMPLEXOS 299
tivos. 0 terapeuta sorria cada vez que ele se referia à esposa como "a
esposa" como era seu hábito. Depois de cerca de três sessões disto, ele
passou a se referir habitualmente a ela pelo primeiro nome. Entrementes, o
sorriso trazia à tona mas alguns de seus sentimentos sobre ela. O que ele
não gostava sobre ela é que ela o tratava mal. Se ela o provocasse ele seria
incapaz de afirmar-se, e ficaria zangado durante diversos dias, sentindo-se
insatisfeito por não conseguir endireitar as coisas. Ele agora começava a
sentir que estava ganhando algum controle.
Uma vez que o Dr. V. parecia pronto para se aproximar da esposa
sexualmente, foi instruído no sentido de fazê-lo, mas que procurasse
assumir pelo menos uma igualdade no controle, não permitindo que ela
dominasse. Na quinta sessão, informou que haviam tido relações, as quais
ele iniciou, culminando em orgasmos simultâneos. Ele tivera uma expe
riência perturbadora: uma erecção enquanto estava assistindo a desenhos
animados com seus filhos. Receiou que isso continuasse, mas foi-lhe
assegurado que isso fora apenas um hábito que se extinguiria.
Ele informou na nona sessão que tinha interpretado mal uma con
versa particular entre sua esposa e seu filho mais velho numa das "sessões
subversivas'' de sua esposa. Embora ficasse zangado, ele deixou as coisas
correrem para ver o que acontecia. Ele verificou posteriormente que
esta fora uma medida sábia — o filho tivera algum problema de menor
importância com a polícia (quebrando pedaços de madeira numa cons
trução) enquanto o Dr. V. estava na Europa, e ela receava contar-lhe isto.
Sua esposa aconselhou ao filho que lhe contasse isso e, no dia seguinte,
sem ser incitado, ele o fez. O Dr. V. falou com sua esposa sobre suas
preocupações e se desculpou e, então, elogiou sua atitude. Ela continuou
a se aproximar dele.
Na décima-segunda sessão, o Dr. V. informou que sua esposa final
mente se convencera de que suas sessões com o filho mais velho eram
subversivas em termos da interação da família e que ela tinha concordado
em que elas deveriam terminar.
A décima-terceira sessão foi a última. Ele informou que tivera
uma pequena recaída. Ele tinha deixado três problemas se acumularem
e ficou demasiadamente zangado para falar. Contudo, ele reconheceu
isto em tempo e foi capaz de expressar ira a sua esposa, e em duas horas
tudo passou. Sentiu nesse ponto que seria uma boa idéia ele se desculpar
perante ela por deixar essas coisas se acumularem. Ele e sua família deve
riam partir para o Oregon em poucos dias. Foi-lhe aconselhado a telefonar
periodicamente e, se fosse necessário, retornar para consulta.
300 P R Á T IC A DA T ER A P IA CO M PO R TAM EN TAL
COMPULSÃO DE SE LAVAR
NOTAS
A avaliação
da terapia
comportamental
tente à qual ele se confia. Ninguém que esteja consciente destes efeitos
terapêuticos não-específicos deve alegar uma potência especial para suas
práticas particulares a menos que consiga uma porcentagem de recupe
ração substancialmente acima da média geral ou maior rapidez de
recuperação.
Portanto, a única base em que a terapia comportamental poderia
justificavelmente substituir as presentes práticas psicanaliticamente
orientadas, amplamente aceitas e bem organizadas, seria a evidência de que
ela é mais eficaz para superar perturbações neuróticas, o objetivo psico-
terapêutico mais compensador. É porque existem bases factuais para
se crer que a terapia comportamental de fato excede a média comum
tanto em porcentagem como na velocidade de recuperações que suas
técnicas são confiantemente oferecidas neste volume.
ESTUDOS CLÍNICOS
Aparente
Núm ero curados Porcentagem
Série de ou que de
casos m elhoraram recuperação
m uito
Terapia G e ra l de H ospital
Harnütón e Wall, (1941) 100 53 53,0
Classificação de Progresso"
Controle combinado X
Dessensibilização 2,57 (a) 2,12 (a) 2,19 (a) 1,25
Controle combinado X 15
3,26 (b) 3,44 (b) 3,99 (c) 2,52 (a)
ou mais
Controle combinado X menos
0,14 0,41 13 5 0,41
que 15
Menos que 1 5 X 1 5
2,33 (a) 3,28 (a) 5,00 (c) 2,26 (a)
ou mais
Pseudoterapia X nenhum
1,67 0,48 0,58 0,12
tratamento
■-
— -o
Q .
(U
.. .. . M .P .F . X 100
mudança na eficiencia da porcentagem--— ------------------- -------
M.P.F. após a isoprenalina
tivas. Paul afirma que "pela primeira vez na história dos tratamentos
psicológicos, uma bagagem terapêutica específica produziu confiante
mente benefícios mensuráveis para o paciente através de um amplo abran-
gimento de problemas aflitivos nos quais a ansiedade foi de importância
fundamental." A recaída e a substituição de sintomas estiveram "notavel
mente ausentes", embora muitos autores as procurassem.
1. Melhora sintomática
2. Produtividade no trabalho aumentada
3. Ajustamento e prazer aumentados no sexo
4. Relacionamentos interpessoais melhorados
5. Habilidade aumentada para cuidar de conflitos psicológicos
comuns e tensões de realidade razoáveis.
NOTAS
Tabela
de personalidade
de Willoughby
7. É acanhado (a)? —0 1 2 3 4
8. Sonha acordado (a) com freqüência? — 0 1 2 3 4
9. Fica desencorajado (a) com facilidade? — 0 1 2 3 4
10. Diz coisas num impulso repentino e searrepende depois?
- 0 1 2 3 4
11. Gosta de estar só? — 0 1 2 3 4
12. Chora com facilidade? — 0 1 2 3 4
13. Incomoda*o (a) ter pessoas observando o seu trabalho mesmo
quando o faz bem? — 0 1 2 3 4
14. As críticas o (a) perturbam muito? — 0 1 2 3 4
15. Atravessa a rua para evitar encontraralguém? —0 1 2 3 4
16. Numa recepção ou chá, evita encontrar uma pessoa importante
presente? — 0 1 2 3 4
17. Sente-se infeliz com freqüência? —0 1 2 3 4
18. Hesita em ser voluntário (a) numa discussão ou debate de
classe? — 0 1 2 3 4
19. Sente-se muitas vezes solitário (a)? — 0 1 2 3 4
20. Fica constrangido (a) diante de superiores? — 0 1 2 3 4
21. Falta-lhe autoconfiança? — 0 1 2 3 4
22. Falta-lhe autoconfiança quanto a sua aparência?—0 1 2 3 4
23. Se vê um acidente, algo o (a) impede de prestar auxílio?
- 0 1 2 3 4
24. Sente-se inferior? — 0 1 2 3 4
25. É difícil decidir-se até que a hora para a ação tenha passado?
- 0 1 2 3 4
apêndice 2
Questionário
revisado
de Willoughby para
auto-administração
Inventário
de temores
1. Ruídos de aspiradores
2. Feridas abertas
3. Estar só
4. Estar num lugar
estranho
5. Vozes altas
6. Pessoas mortas
7. Falar em público
8. Atravessar ruas
9. Pessoas que parecem
insanas
10. Cair
11. Automóveis
12. Ser provocado (a)
32C PRÁTICA DA TERAPIA COMPORTAMENTAL
$
apêndice 4
Escala S S &
chave para avaliação
de Bernreuter
Chave Bernreuteurx
Stephen B. Karpman, M. D.
University o f Califórnia.
OUTRO LANÇAMENTO DA
editora brasiliense
Im p re sso por
W. R oth Sí Cia. L tda.
P rofessor P ed reira de F re ita s, 580
Fones: 295-9684 e 295-9691
S ão P au lo
\I
/
PRATICA
DÀ
TERAPIA
CQMPORFAMENTAL
JOSEPH WCXPE
editora brasilien se
(D.