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CURSO PREPARATÓRIO PRÉ-CEFET

COORDENADOR: VAGNER EUSTÁQUIO DRUMOND

ALUNO:___________________________________________________DISCIPLINA: Língua Portuguesa


PROFESSOR: Rachel Tavares DATA:______/______/_________
NATUREZA DA ATIVIDADE: Revisão – Gêneros e tipos textuais

TIPOLOGIA TEXTUAL
Os principais tipos textuais são:

TIPOS TEXTUAIS CARACTERÍSTICAS LINGUAGEM EXEMPLOS


Narrativo Conta uma história, apresentando Variação nos tempos verbais, uso de Conto, notícias,
os seguintes elementos: advérbios e dos três tipos de discurso histórias em
personagem, tempo, espaço, (direto, indireto e indireto livre). quadrinhos.
sequência de acontecimentos.
Descritivo Descreve objetos, pessoas, Emprego de substantivos e adjetivos. Verbete de
ambientes e situações. enciclopédia,
cardápio de
restaurante.
Argumentativo Apresenta comentários, ideias e Uso de substantivos abstratos e Artigo de opinião
argumentos defendendo um conjunções que estabelecem relações de jornais e
ponto de vista com o objetivo de de causa e efeito. revistas.
convencer o leitor.
Expositivo Apresenta informações sobre o Emprego de frases diretas e objetivas, Artigo científico,
(Dissertativo ou assunto, divulgando dados que além de expressões explicativas. notícias de jornais e
Explicativo) podem ser verificados. revistas.
Instrucional Desenvolve-se por meio de Uso de verbos no imperativo, infinitivo Receita culinária,
(Injuntivo) orientações ou comandos. ou no futuro do presente. bula de remédio,
manual de
instrução.

Gêneros textuais
Um conjunto de textos pertence a um determinado gênero textual quando apresenta aspectos comuns, tais como
estrutura, estilo e assunto. Além disso, esses textos são caracterizados por determinados contextos de produção e
circulação, público-alvo e função social. São exemplos de gêneros textuais: conto, editorial, cartaz, bilhete, anúncio
publicitário etc.

Leia os textos e responda às questões a seguir.

TEXTO 1
TEXTO 2

DRUMMOND DENUNCIOU A MINERAÇÃO PREDATÓRIA E A VALE EM VERSOS E CRÔNICAS


Tinha um poeta no meio do caminho

Lira itabirana*
I
O Rio? É doce.
A Vale? Amarga.
Ai, antes fosse
Mais leve a carga.

II
Entre estatais
E multinacionais,
Quantos ais!

III
A dívida interna.
A dívida externa
A dívida eterna.

IV
Quantas toneladas exportamos
De ferro?
Quantas lágrimas disfarçamos
Sem berro?

O poema acima, assinado por Carlos Drummond de Andrade (1902-1987), circulou nas redes
sociais no último fim de semana, após o rompimento da barragem da Vale S.A. em Brumadinho, Minas
Gerais. Pouco mais de uma centena de quilômetros separam Brumadinho de Itabira, onde nasceram o
poeta e a Companhia Vale do Rio do Doce, criada em 1942 por Getúlio Vargas para explorar a riqueza
mineral do Quadrilátero Ferrífero e privatizada em 1997 por Fernando Henrique Cardoso. A Fazenda do
Pontal, onde Drummond passou a infância, é hoje um depósito de rejeitos da Vale. A “Lira itabirana” foi
publicada no jornal O Cometa Itabirano em 1984, mas não aparece em nenhuma antologia poética de
Drummond. Os versos mencionam a Vale e o Rio Doce, inundado pela lama mineradora depois do
rompimento da barragem da Samarco (empresa controlada pela mineradora anglo-australiana BHP
Billiton e pela Vale) em 2015, em Mariana; a gula das mineradoras nacionais e estrangeiras que depredam
a serra mineira, arrancam o rico minério da terra e vão embora para os mercados internacionais deixando
para trás a terra arrasada; e a dívida impagável da mineração com as populações mineradoras e o meio
ambiente: Quantas toneladas exportamos/De ferro?/Quantas lágrimas disfarçamos/Sem berro? .
Se Drummond vivesse ainda hoje, não seria difícil imaginá-lo assistindo à lama de Brumadinho pela
televisão, com suas retinas tão fatigadas, e escrevendo esse poema, talvez com outro título, como “Lira
mineira”. Drummond compôs um punhado de poemas sobre a mineração, versos que jogavam pedra nas
mineradoras e nos governos dispostos a sacrificar a geografia e os trabalhadores mineiros pelo vil (e
lucrativo) metal. Quem não se lembra da “pedra de ferro, futuro aço do Brasil”, evocada na “Confidência
do Itabirano”? As relações conturbadas de Drummond com a mineração estão muito bem esmiuçadas em
Maquinação do mundo, o belo livro de José Miguel Wisnik publicado pela Companhia das Letras no ano
passado. Do casarão de sua família, o poeta, ainda menino, avistava o Pico do Cauê, serra riquíssima em
minério de ferro que foi reduzida a uma cratera após décadas de exploração da Vale. O pico aparece no
poema “Itabira”, de Alguma poesia, estreia editorial de Drummond, de 1930: Cada um de nós tem seu
pedaço no Pico do Cauê. A montanha de ferro era o orgulho dos itabiranos, sólida promessa de
prosperidade que o poeta sabia que jamais se cumpriria. No último verso do poema, Tutu Caramujo, um
comerciante decadente de Itabira, olha a mina e “cisma na derrota incomparável” que já se anunciava.
Drummond não aceitou a derrota de cabeça baixa. Nos anos seguintes à criação da Vale, ele usou
seu espaço na imprensa para denunciar as consequências desastrosas da mineração. O poeta aproveitou
que 1955 era um ano eleitoral (que terminou com a eleição de um mineiro, Juscelino Kubitschek) e
investiu numa campanha diligente contra a Vale, contrastando os lucros bilionários da companhia com a
pobreza e o abandono das cidades mineradoras. As crônicas de Drummond no Correio da Manhã, lembra
Wisnik, cobravam “instalação de siderurgia, participação dos empregados nos ganhos da empresa,
critérios mais justos de participação municipal no preço do ferro e reversão do excedente em benefício
da região”.
Numa crônica, Drummond acusou as mineradoras de “indústria ladra, porque ela tira e não põe,
abre cavernas e não deixa raízes, devasta e emigra para outro ponto”. Embora as preocupações principais
do poeta fossem os direitos dos trabalhadores e a prosperidade do Quadrilátero Ferrífero, ao acusar a
Vale de “indústria ladra”, Drummond denunciou também a propensão das mineradoras ao crime
ambiental. A Vale, é claro, não gostava das pedradas do poeta e resolveu revidar. No dia 20 de novembro
de 1970, estampou no Globo uma peça publicitária que fazia troça do poema mais famoso de Drummond
ao dizer que “Há uma pedra no caminho do desenvolvimento brasileiro” e depois se congratular por
“transformar pedras em lucros para a Nação”.
A propaganda ufanista da Vale lembra uma série de reclames que o governo de Minas veiculou em
2010 em homenagem às cidades mineradoras. Os filmetes (não os encontrei no YouTube, cito de
memória), exibiam imagens orgulhosas das cidades mineradoras, desde as mais famosas, como Ouro
Preto, Sabará e Mariana, até cidades esquecidas do Sul de Minas onde há extração de bauxita, urânio e
feldspato (o que não deixa de ser surpreendente, uma vez que a até a Serra da Mantiqueira sabe do
desinteresse da elite política de Belo Horizonte pelas províncias do estado). As peças publicitárias
seguiam uma narrativa meio “cada um de nós tem seu pedaço no Pico do Cauê”, insinuando que cada
mineiro era de fato um mineiro, um orgulhoso trabalhador que retira das profundezas das montanhas as
riquezas do estado. Propagandas como a da Vale e a do governo de Minas só servem para oferecer
narrativas compensatórias e simbólicas: o pedaço que cada um tinha no Pico do Cauê, na verdade, foi
expropriado pelo capital estrangeiro, virou só uma imagem publicitária oficial; e o lucro das pedras não
serviu para estancar a lama. Mariana e Brumadinho cismam ainda a “derrota incomparável”, confirmando,
lamentavelmente, a urgência dos versos e das pedradas de Drummond.

Disponível em: <https://epoca.globo.com/drummond-denunciou-mineracao-predatoria-a-vale-em-versos-


cronicas-23413471> Acesso em Jan. 2019

* Imagem: Operários extraem hematita no Pico do Cauê, em Itabira: Drummond denunciou os efeitos da
mineração em sua cidade natal Foto: Arquivo Público Mineiro

QUESTÕES

1. Embora os textos 1 e 2 apresentem linguagens diferentes, é possível perceber que eles dialogam quanto
ao assunto/tema. Tendo em vista os acontecimentos recentes em Brumadinho-MG, faça uma análise dos
textos considerando a linguagem não verbal e a linguagem verbal. Nesta reflexão, estabeleça a relação
existente entre ambos os textos.

2. Relacione os versos do poema de Drummond (Lira itabirana) com o texto 1. Se fosse possível traduzir
a imagem do texto 1 por meio de um verso do poema, qual deles seria mais apropriado? Explique a sua
escolha.

3. O poema de Drummond foi escrito em 1984, há 35 anos. Mesmo assim sua temática é atual.
Considerando essa constatação, qual o papel da escrita para a sociedade?

4. Produza um parágrafo argumentativo que apresente a sua opinião sobre o impacto das mineradoras
no estado de Minas Gerais. Para isso, lance mão dos textos lidos nesta atividade. A sua produção deve
conter entre 8 a 12 linhas.

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