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Antônio Houaiss

ELEMENTOS DE
BffiLIOIDGIA
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ELEMENTOS DE BIBLIOLOGIA
ANTôNIO HOUAISS
!Da Academia Brulleira)

ELEMENTOS DE BIBLIOLOGIA

Reimpressão fac-similar

EDITORA HUCITEC
em convênio com o
INSTITUTO NAOIONAL DO LIVRO
FUNDAÇÃO NACIONAL PRó-MEMóRIA
São Paulo, 1983
Direitos de publicação adquiridos pela Editora de Humanismo, Ciência e
Tecnologia ''Hucitec" Ltda., Rua Comendador E,duardo Saccab, 342-344
04602 São Paulo, Brasil . Telefone: (011)61~19. Capa de Luis Diaz.

CIP-Brasil
Houaiss, Antônio, 1915-
H83e Elementos de bibliografia I Antônio Houaiss. - São Paulo :
HUCITEC ; [Brasilia] : INL. Fundação Nacional Pró-Memória, 1983.
Reimpressão fac-similar .
Bibliografia .
1. Artes grãficas 2. Editoração 3 : Livros 4. Preparação de
originais (Autoria) I. Instituto Nacional do Livro . ll. Titulo.
17 . CDD :655
18. :686
17. e 18 . :001.552
17 . e 18. :808 .02
CCF/ CBL/ SP-83-0661 CDU:655
lndices para catálogo sistemático (CDD):
1. Artes do livro 655 (17. ) 686 (18. )
2. Bibliologia 655 (17.) 686 (18.)
3 . Editoração 808 . 02 (17. e 18 . l
4 . Livros :· Comunicação 001.552 (17 . e 18.)
5. Livros : Editoração : Artes gráficas . 655 (17. l 686 (18.)
6. Preparação de originais : Técnicas de autoria e editoração
808.02 (17. e 18.)
A memória de
Malvina
minha mãe

De tudo fica um pouco

um pouco. Não está nos livros.


CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE
DUAS PALAVRAS

Estes Elementos de Bibliologia foram publicados, pela primeira


vez, em 1967, em edição própria do Instit·uto Nacional do Livro,
gestão do escritor Augusto Meyer, seu primeiro e maior diretor.
Ainda não fora introduzido o sistema de ct:redições, koje cobrindo,
praticamente, todas a., atividades editoriais do órgão. Sob esse .~is­
tema reaparece agora, dezesseis anos depois, esta notável obra de
pesquisa e de erudição de Antônio Houaiss, em convênio com a
Editora H ucitec, de São Paulo.
Não se trata, porém, a rigor, de uma reedição, mas de uma
reimpressão fac-similar, qUJe reproduz, intocado, o texto da pri-
meim. Mencione-se, contudo, com.o item editorial novo, a nota
pré'l/ta que o autor escreveu especialmente para esta reimpressão.
Que se exclua, pm·ém, por circunstancial, esta nota do atual diretor
do INL, com propriedade intitulada. "Dttas Palavras".
Evidentemente, em seus aspectos extratextuais, esta reimpres-
são dos Elementos de Bibliologia foi alterq.da_, com a substitu1"ção,
pelas da Editora Hucitec, das características de editoração da edi-
ção do INL. As normas de co-edição preservam, nos C()nvênios com
o INL, as peculiaridades gráficas de cada edito-ra. Afinal o livro
co-editado é um produto da editora, ao qual o INL se associa apenas
para efeito de viabilização operacional.
A mtmeração das páginas segue a edição original, em dois
volumes, parantida a ordem respectiva de cada volume, que aqui
se somam num -único.
Velko amigo de Antônio H ouaiss, e seu colega n4 Academia
Brasileira de Letras, o direto-r do INL considera um privilégio
pode1· participar desse importante acontecimento editorial qtte· se
assinala com a reimpressão dos Elementos de Bibliologia. Eles ago-ra
se colocam, com maior abrangência de divttlgação, ao acesso dos
leitores, seja nas livrarias, seja nas bibliotecas públicas que compõem
a rede mantida em todo o país com a colaboração bibliográfica e
técnica do Instituto Nacional do Livro.
Manteve--se na reimpressão d.a obra, comoo seria óbvio, o ma-
gistral prefácio de Thiers Martins Moreira, realmente indispensá-
VI ELEMENTOS DE BIBLIOLOGIA

veZ para um conhecimento pormenorizado e amplo deste livro -


sua$ origens, seu desenvolvimento, S'U4 realização. Ao mesmo tempo,
é um depoimento humano de extraordinário valor, uma página de
afeto emparelhado com uma profunda e desinteressad-a admiração.

HERBERTO SALES
Diretor do INTJ
NOTA PR~VIA DESTA REJ::MlPRESSAO

Há alguns anos esgotado este livro, tenho sido solicitado a


preparar-lhe uma. segunda edição - aventura que não podia correr
de novo, tamanhos foram os cuidados que vários profissionais ami-
gos tiveram de pôr na sua boa composição e revisão, condições indis-
pensáveis, no caso de um livro desta natureza, para que poSBa
circular idoneamente.
A Editora de Humanismo, Ciência e Tecnologia - HUCITEC
Ltda. aceitou a boa ·proposta, a saber, uma reimpressão fac-similar
(ainda que, desse modo, subsistam na ortografia os diacríticos eli-
minados por lei de 1971) . Com isso, meus escrúpulos ficaram
atendidos.
Esta reimpressão mantém todas as características da impre~o
original, salvo em páginas preliminares e no fato de que as tábuas
da matéria que precediam cada um dos dois volumes primitivos
foram eliminadas, mantendo-se neste tomo agora único apenas a
tábua final, que em verdade acumula as duas· outras.
Possa o livro, nesta reimpressão, continuar a merecer a boa
acolhida que teve da crítica e dos seus principais leitores e usuá-
rios - os bibliólogos, bibliógrafos, bibliotecários, biblioteconomistas,
tipógrafos, compositores, impressores, editores, editoradores e
amantes e artistas e profissionais dos livros em geral.

Rio d~ Janeiro, 25 de outubro de 1982.

ANTONIO HoUAISS

PREFACIO
A CAUSA DO PREFACIO

O trabalho que ora o Instituto Nacional do Livro edita e o


Sr. Antônio Houaiss escreveu tem suas raízes na tentativa de um
outro bem menor, previsto para a Casa de Rui Barbosa, quando
da organização do seu Centro · de .Pesquisas. A isso o autor
generosamente se refere em suas Palatvras prwias. E assim se
expiica que seja eu quem faça êste prefácio, atendendo ao que,
generosamente também, pediu o Diretor daquele Instituto.
E se, dêsse modo, o .assunto é da história dêstes Elementos de
bibliologia, que marcarão ponto alto na cultura nacional de linha
erudita, especialmente na universitária de letras, vamos dar os
fatos que estão naquelas raízes e os motivos que os criaram.
Assim foi: com o objetivo de dar à Casa de Rui Barbosa uma
projeção maior, o seu Diretor obteve a constituição de um Centro
que ali funcionasse tràbalhando sôbre matéria jurídica e de
linguagem, os dois títulos que mais se destacam no renome de
seu patrono. Como se sabe, ao lado da lição política e do papel
histórico, a figura de Rui Barbosa permanece como o grande
mestre do direito, sobretudo o público, e como autoridade da
língua portuguêsa, não só em sua arte de escrever, como nos
estudos que fêz e na constante tarefa de enriquecê-la. Ora, um
Centro científico que sob seus antigos tetos elaborasse monografias,
fizesse publicações de várias naturezas, deveria estar à altura dos
propósitos para que fôra criado. Para tal, um dos problemas
seria o do cuidado das ·suas edições, nas qua:s, com segurança, se
refletisse o conhecimento das ciências da língua, das técnicas e
possibilidades de impressão, e nas quais se mantivesse um critério
uniforme e fundamentado em seus preceitos normativos, a partir
dos têrmos de uma fôlha de rosto ao pormenor de uma citação,
de uma sigla, de uma abreviatura, de uma referência, de uma
minúcia ortográfica.
Estávamos diante dos problemas assim colocados em n06110
espírito, sobretudo em mim que dirigia as pesquisas, quando o
Sr. Antônio Houa:ss, por circunstâncias de sua vida profissional,
foi pôsto a serviço da Casa de Rui Barbosa. Já o conhecíamOs
da vida universitária, onde, no seio dos estudos superiores de
letras que mal se iniciavam no Brasil, êle, môço, se destacava
entre os novos que abriam os caminhos. da filologia.. e traziam
XII ANTÔNIO HOUAISB

para o seu campo a preocupação de novas áreas de seu domín?o


Lembro-me de que a primeira vez que ouvi seu nome, foi enun .
ciado por San Tiago Dantas, então Diretor da Faculdade Nacional
de Filosofia, que me propunha que publicasse, numa coleção que
a Faculdade iniciava e depois se interrompeu, o . trabalho que o
jovem estudante de letras fizera de restauração textual e análise
crítica de um escrito do Padre Anchieta. Foi em 1942. Talvez
em 1943. Depois a carreira diplomática o absorveu. E ali, no
Itamarati, coube-lhe a preparação, creio ·que em 1947, do Ma;nual
de Serviço do MiniStério das Relações Exteriores, que conhecemos.
Obra de destinação burocrática, onde, no entanto, o propósito da
ordem sistemática, o cuidado na apresentação, o escrúpulo nos
textos, todo o zêlo de quem prepara um livro confirmava. o
universitário que sabia que o livro, qualquer que seja, é uma
unidade . que exige acabamento e obedece a princípios que, se
abandonàdos, com mais dificuldade se comunica com o leitor e, se
é de consulta, prejudica o encontro ·da informação que se pretende
dar. E é claro que o Sr. Antônio Hoúaiss já então era conhecido,
não só por causa dêsses dois elementos a que me refiro: um texto
de Anchieta e um manual de serviço. Nos meios culturais, sua
presença se vinha impondo. Nitidamente se configurava o eRpecia-
l;sta, sabendo e amando o que sabia.
Ora, se trazia tais títulos e nós estávamos diante do problema
de assegurar aquela uniformidade em nossas edições, pedimos-lhe
que elaborasse, para o Centro de Pesquisas, o que então chamáva-
mos N armas para a preparaç-ão de textos e publicações. Quería-
mos coisa bem simples, ainda que complexa nas ciências que a
fundamentassem, à semelhança do que conhecíamos de universi-
dades e instituições européias, como as normas de Oxford e do
Conselho de Investigações Científicas de Madrid. Começávamos
a trabalhar com textos de lei, de jurisprudência, de crítica, de
prosadores antigos e modernos, e trabalhávamos, também, com
estudos e textos medievais, o que agravava a solução de critérios
normativos para as edições. A idéia o seduziu e, prontamente,
o vimos iniciar os arranjos para o que iria fazer. Mas, para seu
espírito, nenhum problema se isola, e logo se dilata e se encadeia
com outros, ·sobretudo com os que estão próximos e· sujeitos à
sua crítica. Fixar normas para tratamento de textos, e discipEna
científica e estética de publicações, importava não só matéria de
natureza filológica, como conhecimento dos meios todos que são
possibilidades do livro. E vimos, daí em d!ante, sôbre uma das
mesas do Centro de Pesquisas, em pouco tempo, avolumarem-se
trabalhos, gráficos, densa bibliogt"a:fia, desenhos, catá~ogos de tipos,
exemplos de marca de papel e de suas côres, fôlhas dobradas em
ELEMENTOS DE BIBLIOLOGIA XIII

doze, em oito, em dezesseis, em quatro. Preocupava-se, simultânea-


mente, com o liwo e com a preparação do original que dá a base
tipográfica, e ia até ao estudo dos recursos novos da máquina de
~rever, em confronto com os antigos dos manuscritos e das
formas caligráficas. Nesse pequeno dilúvio de coisas técnicM,
apareciam as notas de linguagem, as de observação de um fenô
meno lingüístico e, sobre11Jdo, os cuidados com a apresentação
textual, assunto em que iria torn&r-ile mestre incontestável entre
nós. A êle se deve, aliás, a difusão, em língua português&, d<>
têrmo ecdótica, isto é, ciência ou arte que orienta o conhecimento
e a crítica do texto que à máquina ou à mão se escreve, ou que-
impresso já foi e que agora se vai editar.
'É, pois, daí, disso que acabo de contar, que resultam 0!1
Elementos de bibliologia, . obra que, evidentemente, s6 tem, de
comum com o esboçado trabalho antigo, êsse pequeno . traço histó-
rico, que deixo registrado pela importância do livro que a êle se
prende.

O AUTOR DOS ELEMENTOS

O Sr. Antônio Houaiss, se já era a pessoa indicada para o


trabalho que não se concluiu ali, na CMa de Rui Barbosa, hoje ·
possui autoridade tão acrescida que, antecipadamente, assegura ao
leitor o mérito dêstes Elementos de b~'bliologia. Veja-se a rápida
enumeração que vou fazer de algumas de suas obras, somente
daquelas que conheço e tenho.
Em 1959 nos dá a Tentativa de descrição do sistema vocálico
do português culto M 4rea dita .carioca, obra de segura ciência
no ca:q~.po da fonética. Não sou; um conhecedor de tão particular
matéria, mas creio que qualquer leitor poderá, com facilidade,
concluir que essa Tentativa é mais do que uma tentativa. 'É uma
contribuição fundamentada ao estudo de um rico fenômeno de
linguagem na área que maior poder tem de irradiar influências
no falar brasileiro.
'É nesse mesmo ano de 1959 que publica a Introdução ao
texto crítico das Mem6rias p6st1tmas de Brás Cubas. O trabalho
fixa, em definitivo, os critérios de crítica textual que se hão de
adotar para a edição não s6 das Memórias, como de tôda a obra
de Machado de Assis. Também aí, como sempre, há a segurança
na observação dos fatos, metódica disciplina na sua distribuição
e, para cada norma, o fundamento assente nas ciências da língua
e no princípio máximo de fidelidade possível Aquilo que o autor
deixou como sua vontade de criação artística. No ano seguinte,
ANTÔNIO HOUA.I88

1960, reúne num pequeno livro, sob o título Seis poetcu e um


problema, vários trabalhos de interpretação e crítica de alguns
de noBSos ·maiores ·poetas, antigos e · atuais. Qualquer dêles nos
.diz da sensibilidade do Sr. Antônio Houai88 para surpreender o
poeta e o poético, e vê-los através de uma minuciosa visão da
linguagem, do ritmo, das ima~ns, dos pequenos fenômenos do
estilo. É livro que 11e enquadra plenamente nas concepções, hoje
dominantes, d~ análise da criação literária. E desejo destacar
neBSe livro o estudo sôbre poesia concreta. Quando o concretismo
poético começou a aparecer em exemplos e eiQ teoria estética nas
páginas do Jornal do Brasil e em outras publicações, aqui e em
São Paulo, a violência renovadora com que o movimento se
a
apresentava provocou ora perplexidade ora o intenso desejo de
melhor se conhecer o que era essa a.rte do verso que decompunha
a palavra, tinha prazer em seu esfacelamento e tentava uma
mensagem profundamente contrária à tradição poética existente.
Valorizaram-se os grandes ou pequenos espaços em branco e os
recursos tipográficos, o ritmo das manchas e uma musicalidade,
se música vai aí bem, onde a nota isolada era mais importante do
que a melodia. Pois bem, o trabalho do Sr. HouaiBS, escrito na
mais acesa fase de discussão da ousada escola, constitui a melhor
coisa que conheço de enquadramento teórico e de observação sob
um ângulo profundo de ciência e compreensão crítica daquilo que
os poetas e teóricos do conc~:etismo desejavam criar e doutrinavam
para que se cri&88e. Aliás, os concretistas e o Sr. Antônio HouaiBS
parecem, por vêzes, perteneer a uma mesma atitude do espirito
em relação à arte, uns fazendo, outro criticando, mas todos atentos
à palavra, ·atentos à sintaxe, atentos ao fonema, ate~tos à visuali-
dade material, atentos ao espaço e aos ritmos formais dentro
dêle. A arte para êles não resulta do esperà.do e querido sõpro
da criação. É um analisar, um decompor, um tirar da .min6.cia a
idéia mais alta onde se encontra a unidade do enteB'dimento.
Bom livro êsses Seis poetcu e um problema. Ficará na biblio-
grafia do Sr. Antônio Houaiss, como ficará entre os bons tra-
balhos diBSo que andamos chamando de Nova Critica.
Um P9Uco nessa mesma linha, embora em padrão menor de
critério de estudo, é a Crítica avulsa, publicada em 1961. M
estão reunidas críticas feitas na imprensa diária, imjeitas, por-
tanto, às leis de limitação ou de informação que o jornalismo
exige. Mas em qualquer delas há a observação erudita e a com-
-preensão do fa.to literário. E já que falo de seus trabalhos, devo
citar duas publicações, de objetivo didático, pois pertencem A
coleção. Nossos clássicos, da Editora Agir: Silva AlvorengiJ -
poesia e Augusto dos Anjos- poesia. Em ambos os livros, sobre-
ELEMENTOS DE BIBLIOLOGIA XV

tudo no .de Augusto düs Anjos, as suas notas revelam, como seria
fatal, o especialista do problema dos textos, o crítico, e o conhe-
cedor dêsse intrincado mundo das coisas da linguagem.
~ para se destacar, também, a sua obra de tradutor. Cito
aqui somente, como disse, as que conheço e tenho : O negro na
literatura brasileira, de Raymond Sayers, 1958; Do Lat·im ao
português, de Edwin B. Williams, 1961 e, Ultimamente, Ulisses
de James Joyce. No UUsses, em verdade, o Sr. Antônio Houaiss
recria uma obra de arte. Dá em língua portuguêsa, com o
mesmo sentido literário, aquilo que, em inglês, é a obra de J oyce.
~ a mesma a técnica de narrativa e são os mesmos, em línguas
diversas, aquêles jogos de palavras e frases. Tradução, evidente_-
mente, trabalhosa e difícil, 'pois J oyce ama a sobreposição e a
mistura dos planos de criação e das imagens, e não foge à sedução
de deixar livre certo automatismo do processo criador. Nesse
mundo novelístico e de captação da realidade tão existenCial, onde
o rápido entendimento lógico fAcilmente nos escapa, o Sr. Antônio
Houaiss se impregna de sua realidade literária e traz, para a
língua portuguêsa, o que em língua inglêsa se encontrava como
técnica do dizer aquilo que, não raro, se perde nas incertas
camadas do subconsciente.
E é preciso que se diga, ainda, quando se olha em panorama
a contribuição do Sr. Antônio Houaiss aos estudos literários e de
linguagem no Brasil, que é imenso o seu trabalho nas reuniões
dos especialistas, como, por exemplo, no Primeiro Congresso
Brasileiro da Língua Falada no Teatro, que houve na Baía, em ·
1956 ; no Simpósio de Filologia Românica, havido em minha
Faculdade, em 1958, e no Congresso Brasileiro de Dialectologia e
Etnografia, em 1958 também, em P~rto Alegre. A edição da
obra de 'Lima Barreto, em 17 volumes, aparecida em São Paulo
em 1956, tem no Sr. Antônio Houaiss um dos responsáveis pelo
estabelecimento dos textos e . por muitas de suas notas.

OS ELEMENTOS
thste trabalho é, ao mesmo tempo, uma obTa didática e crítica.
Com êle se aprende a /(J'g)etf" e se amplia o conhecimento do livro,
desde o original ao tomo impresso. Um largo caminho por que o
Sr. Antônio Houaiss leva o leitor, ou melhor: leva o estudioso.
Diante das provas já paginadas que tenho em minha frente, em
face dê~es dois volumes e dos seus onze capítulos, onde ciência
e observação de minúcias técnicas se encÕntram, visando a um
mesmo e níti4o fim, compreendo que trabalho tão amplo e sério
XVI ANTÔNIO HOUAISS

decorre do reconhecimento do lugar dominante que o livro im-


presso ocupa hoje na form&ção da cultura, na sua divulgação e
até na própria criação literária que, de algum modo, se sente
condicionada por aquilo que lhe dará sua forma final. A imensa
área que o livro progressivamente toma, seja no ga.bi~ete dos
eruditos, seja no seio das massas, até em suas camadas mais
incultas, o tornam o grande instrumento e fato material mais
poderoso no campo das idéias e nas formas de transmitir a emoção
duradoura. É o veículo. Certa é, pois, a atitude que lhe dá · O
tratamento que sua responsabilidade exige. O próprio têrmo
bibliologia que aquj se adota, já conhecido mas de uso não muito
corrente, deve agora difundir-se para que se fixe a compreen~ão
de que há um logps para o livro e não só uma grafia enumerativa.
Um dos principais resultados do trabalho do Sr. Houaiss, o que
se decantará dos outros mais particulares, será êsse que faz do
livro, êle próprio, objeto de conhecimento, talvez mesmo o funda-
mento de uma futura teoria do livro, quando, do que agora se
tem como norma ou juízo · crítico, surgirem os princípios e as
fórmulas mais gerais.
Faço um prefácio e não uma crítica, mas não ppsso omitii· a
impressão que me deixam êsses Elementos de btoliologia. A obra
revela a cultura do autor, a inteligência e objetividade com que
trata matéria nova entre' n6s, pelo menos nova na maneira com
qu~ é encarada, mas revela, tiunbém o amadurecimento do meio
nacional que, pelo menos aí, não se pode chamar subdesenvolvido.
Desejo advertir o leitor· que, por acaso, êste prefácio leia, e·
que não seja um conhecedor da maneira de escrever do Sr. Antônio
Houaiss, que deparará, freqüentemente, palavras a que não está
habituado. É que o Sr. Houaiss as usa sob a carga de seus ele-
mentos de formação. Sente-se que êle busca para o significante
(uso o têrmo que se fêz corrente na ciência da linguagem) uma
contextura formal que corresponda a valôres de um entendimento
nítido. Para êle, o · vocábulo existe não P,Sra a indispensável
comunicação com o leitor, mas para que se forme uma noção
precisa do · que se quer dizer. Dêsse modo se incorporará na
língua portuguêsa uma série de têrm~ indispensáveis ao entendi-
mento preciso das coisas e conceitos relacionados com o escrever,
e com · o livro. e sua fábrica. Da obra resulta uma terminologia
bibliológica, por vêzes nova e, por vêzes, com o sentido mais
rigoroso do que já era antigo.
Rio de Janeiro, outubro de 1966.

THIERS MARTINS MoBEIBA.


PALAVRAS PR~VIAS

Escusa ressaltar que o presente trabalho, embora aparente-


mente amplo, é em verdade lacunoso - por deliberação e por
omissão. Livro sôbre o livro, o que a respeito há de técnicas,
artesanias e bibliografia ultrapassa as possibilidades de domínio
por parte de uma s6 pessoa. Dêsse modo, o objetivo subjacente
num trabalho desta natureza - a codificação possível de normas
sôbre a feitura de livros e a indicação de caminhos quando não
os havia antes .:.... deveria ser atingido colegiadamente, contri- .
buindo cada co-autor com a soma de seus conhecimentos e expe-
riência para cada parte nêle versada. A elaboração de uma obra
colegiada é, entretanto, não apenas onerosa, senão que laboriosa
e lenta - acrescendo, talvez, que, se um tentame assim não
repontou em nosso meio, será porque devamos ter ainda ensaios,
parciais ou globais, prévios : que êste seja um dos primeiros.
~ste livro nasceu de uma fase de trabalhos do autor quando
à disposição da Casa de Rui Barbosa, pelos ·idos de 1958. Quase
ultimado, circunstânci&s de vida do autor o obrigaram a diferir
sua publicação indefinidamente; solicitado que foi por outras
t9brigações, algumas das quais no exterior. Dois amigos, que
tanto estimularam o autor na execução da tarefa naquele então
- Américo Jacobina Lacombe e Thiers Martins Moreira -, que
sofram receber público agradecimento aqui. E que Augusto
Meyer e Crisanto Martins Filgueiras - a cujos cuidados devo a
ressurreição do projeto e sua ultimação _:_ me permitam juntar
o seu àqueles dois nomes, num comum agradecimento. E por fim
quero agradecer a Mamede de Souza Freitas o esfôrço da revisão,
em que pôs tanta. competência. e zêlo, bem como a. Oswaldo Farias
de Souza a. mestria. com que acompanhou o feiçoamento tipográfico
do livro. ·

Rio de Janeiro, agôsto de 1966.

A. H.
I VOLUME

DO ORIGINAL
CAPÍTULO I
CORRELAÇÃO DO ORIGINAL COM A
TIPOGRAFIA

1. CONCEITO DA . CORRELAÇÃO
Para que um futuro livro se apresente com as características
tipográficas desejáveis - dentro das. disponibilidades técnicas
existentes numa situação concreta -, deve o seu autor preparar
ou presidir ao preparo da cópia destinada à leitura e composi~ão
por parte do tipógrafo-compositor com tal precisão convencional,
com tal rigor, legibilidade e compreensibilidade, que a correlação
entre a cópia e o futuro livro seja uma e uma só, prefigurada e
predeterminada na cópia.
1.0.0.1 O conceito de autor, no caso em aprêço., deve ser to-
mado em sentido amplo, abarcando também o de diretor-do-texto
ou editor-do-texto. Com estas duas expressões, designar-se-ão neste
livro os ·conceitos expressOs em inglês por chief editor e editor,
opostos a publisher. A êste último corresponde, normalmente, em
francês éditeur, em espanhol editor, em italiano editore, em por-
tugriês "editor" - mas nestas quatro línguas românicas, tomadas
a mero título de exemplo, também os vocábulos citados englobam,
não raro, a área !J(lmântica do inglês editor. Neste livro, "editor"
fica, p()is, restrito ao seu sentido usual de pessoa sob cuja res-
ponsabilidade, geralmente comercial, corre o lançamento, distri-
buição e venda · em grosso do livro, ou de instituição, oficial ou
não, que, com objetivos comerciais ou sem êles, arca com a res-
ponsabilidade do lançamento, distribuição e, eventualmente, venda
do livro. A relação supra poder-se-ia acrescentar "compilador",
"organizador" e palavras afins, que, se não· implicam o cuidado
de estabelecer o texto, não merecem referência para o problema
vertente (cf. LEMA, s.v. editor, "english index") .
1.1 DA CORRELAÇÃO - Dessa maneira, a tarefa tipográfica será
incomparàvelmente menor e facilitada; e tempo e trabalho dedica-
4 ANTÔNIO HOUAISS

dos a provas e revisões sucessivas muito diminuídos ( cf. JENN:,


220-231; MELC, s.v. copy writing).
1.1.1 Inteligibilidade do original - É mister que o autor -
ou diretor-de-texto ou editor-de-texto - compreenda que entre êle
e o leitor intermedeia uma série :Qlaior ou menor de profissionais,
que vão emprestar ao seu trabalho o concurso de seus conheci-
mentos, experiência, sabedoria, técnica e operosidade. E que, por
isso, a cópia que merecer sua aprovação para ser transformada
em livro deve encerrar tais características que - pelo menos
tipogrAficamente - possa ser compreendida fácil e imediatamente
pelos profissionais por cujas mãos vai transitar, até fazer-se livro
propriamente dito, ainda que a substância nocional dela seja tão
obscura ou hermética, que só o autor e Deus a percebam.
1.1. 2 M anuseadores do original - Abstraindo dos trabalha-
dores que fizeram as máquinas, os instrumentos, as tintas, os papéis,
os locais, abstraindo dos trabalhadores graç.as aos · quais as maté-
rias-primas - ainda brutas, ou já semi-elaboradas, ou elaboradas
- se tornariam máquinas, instrumentos, tintas, papéis, locais; toman-
do, em· suma, como já existentes em prévia ao início da feitura
do livro os elementos materiais que lhe irão dar forma - o
autor, ou diretor-de-texto ou editor-de-texto, do livro deve pensar
em alguns dos seguintes profissionais, muitos dos quais, se não
todos, irão lidar com a sua cópia, direta ou indiretamente: co-autor,
colaborador, conselheiro, auxiliar; secretário, pesquisador; esten6-
grafo, dactilógrafo; editor, leitor editorial, cbnselheiro editorial;
chefe de oficina, tipógrafo-compositor, tipógrafo-corretor, tip6-
grafo-paginador; revisor; impressor; costurador, capeador - sem
contar artistas e técnicos gráficos outros, desenhistas, ilustradores,
indiciadores ... (cf. ENCF, 18·14-15 a 18·16-2).
1.1. 3 V ias do original - Sendo, destarte, grande a cadeia
humana que lida com a cópia destinada à impressão, o mravio
ou perda dela, em parte ou no todo, é uma con~ncia que
sempre deve ser levada em consideração. Importa, .po'r conse-
·guinte, que da cópia destinada à impressão exista sempre, pelo
menos, uma segunda via, em tudo igual à outra, para cobr!r
aquêle risco eventual. E ninguém melhor do que o autor, ou
diretor-de-texto ou editor-de-texto, é o guardião indicado dessa
via, enquanto ela se fizer possivelmente . nec~ria, na fase de
feitura do livro.
1.1 . 4 01uJ..rda do original - Terminado o livrp, verificada a
sua perfeita - ou quase - correlação dêle com a cópia privi-
legiada - valendo, como se viu, a primeira tanto quanto a ou
ELEMENTOS DE BIBLIOLOGIA 5

as outras -, poderá ela dormir o remanso das coisas que atingi-


ram sua finalidade, pelo menos sua finalidade imediata. Mas
nela - assim como no original propriamente dito, manuscrito
ou dactilografado - perduram eventualmente valôres históricos,
sociais, lingüísticos, filológicos, estilísticos, bli.ográficos, psicológi-
cos, grafológicos, grafoscópicos, e outros, pelo menos para os
pósteros. É sempre possível que se trate de material de que,
num futuro, a humanidade não se venha a interessar. Mas, por .
maior que· seja a sua humildade para com o futuro, um criador
é sempre, potencialmente, matéria de interêsse futuro. Por isso,
não há destino Inais honroso para um original ou uma daquelas
cópias, ou ambos, do que . a chamada - assim ou equivalente-
mente - seção de manuscritos das bibliotecas públicas de pes-
quisa, cujo padrão, no Brasil, por seu acervo, pelas preciosidades
· que encerra e pelo muito que deve merecer, é a Biblioteca Na-
. cic;mal, no Rio de Janeiro, sem embargo de outras que existem
no país, como a Municipal, da cidade de São Paulo. Como,
entretanto - e com razão -, o entesouramento nesses locais
presume um julgamento histórico de valor, as casas editaras de-
veriam chamar a si, sempre, a guarda de uma dessas cópias -
preferentemente aquela com que · trabalhou .:- até que num futuro
essas coleções possam ter aquêle destino.
1.1. 5 Arquivo de originais - Com efeito, não se deve es-
quecer que no Brasil, conforme prática que se está universali-
zando, os editôres tendem a arquivar no seu acervo patrimonial
a cópia sôbre a qual se fêz o livro. ~sses acervos tendem a
crescer de· valor documental com o ·passar dos anos, cumprindo aos
editôres nacionais ter sempre em conta a possibilidade de os doa-
rem a entidades oficiais, quando a mensagem dos seus editados
cair no domínio público. O problema do espaço de guarda, nas
condições modernas, vai sendo superado, como se verá oportuna-
mente na parte competente dêste livro.
1.1. 6 Precisão CO'MJencional - A precisão convencional da cópia
destinada à impressão presume, antes, a elaboração definitiva -
ou quase - da obra. Quando a · elaboração definitiva da obra
inteira, dada a sua extensão, não é possível senão ao cabo de
vários anos, deve ela ser precedida de um planejamento geral e
particular tão preciso, que suas diversas e sucessivas partes le-
vadas à impressão possam ser tratadas como futuros livros autô-
nomos, harmônicos entre si no seu plano. Uma cópia, por melhor
que seja, se traduz um estado de espírito provisório por parte do
autor, ou diretor-de-texto ou editor-de-texto, · uma cópia nessas
condições é, justificadamente, o horror dos editôres e muito par-
ELEMENTOS DE BIBLIOLOGIA 5

as outras - , poderá ela dormir o remanso das coisas que atingi-


ram sua finalidade, pelo menos sua finalidade imediata. Mas
nela - assim como no original propriamente dito, manuscrito
ou dactilografado - perduram eventualmente valôres históricos,
sociais, lingüísticos, filológicos, estilísticos, Mográficos, p!Úcológi-
cos, grafológicos, grafoscópicos, e outros, pelo menos para os
p6steros. É sempre possível que se trate de material de que,
num futuro, a humanidade não se venha a interessar. Mas, por .
maior que · seja a sua humildade para com o futuro, um criador
é sempre, potencialmente, matéria de interêsse futuro. Por isso,
não há destino In.ais honroso para um original ou um~ daquelas
cópias, ou ambos, do que . a chamada - assim ou equivalente-
mente - seção de manuscritos das bibliotecas públicas de pes-
quisa, cujo padrão, no Brasil, por seu acervo, pelas preciosidades
· que encerra e pelo muito que deve merecer, é a Biblioteca Na-
. cic;mal, no Rio de Janeiro, sem embargo de outras que existem
no país, como a Municipal, da cidade de São Paulo. Como,
entretanto - e com razão -, o entesouramento nesses locais
presume um julgamento histórico de valor, as casas editaras de-
veriam chamar a si, sempre, a guarda de uma dessas cópias -
preferentemente aquela com que · trabalhou '- até que num futuro
essas coleções possam ter aquêle destino.
1.1. 5 Arquivo de originais - Com efeito, não se deve es-
quecer que no Brasil, conforme prática que se está universali-
zando, os editôres tendem a arquivar no seu acervo patrimonial
a cópia sôbre a qual se fêz o livro. ~sses acervos tendem a
crescer dé. valor documental com o ·passar dos anos, cumprindo aos
editôres nacionais ter sempre em conta a possibilidade de os doa-
rem a entidades oficiais, quando a mensagem dos seus editados
cair no domínio público. O problema do espaço de guarda, nas
condições modernas, vai sendo superado, como se verá oportuna-
mente na parte competente dêste livro.
1.1. 6 Precisão co-nvenci0'1&6l - A precisão convencional da cópia
destinada à impressão presume, antes, a elaboração definitiva -
ou quase - da obra. Quando a · elaboração definitiva da obra
inteira, dada a sua extensão, não é possível senão ao cabo de
vários anos, deve ela ser precedida de um planejamento geral e
particular tão preciso, que suas diversas e sucessivas partes le-
vadas à impressão possam ser tratadas como futuros livros autô-
nomos, harmônicos entre si no seu plano. Uma cópia, por melhor
que seja, se traduz um estado de espírito provisório por parte do
autor, ou diretor-de-texto ou editor-de-texto, · uma cópia nessas
condições é, justificadamente, o horror dos editôres e muito par-
6 ANTÔNIO HOUAISS

ticularmente dos tipógrafos. É que autores, diretores-de-texto ou


editôres-de-texto tais não vacilam em trocar palavras, . alterar a
redação, cortando, acrescentando, invertendo; e a decorrência mí-
nima é que, assim, se tumultua a composição tipográfica já feita,
com recorridos para mais ou para me:r;tos, que não raro repercutem
na paginação, em uma, duas, três páginas, e, algumas vêzes, na
própria página capitular seguinte, conforme fôr o estágio da re-
·VIsao. Uma mera troca de palavras, de número de letras subs-
tancialmente diferente, pode acarretar a recomposição de duas,
quando não de três ou mais linhas; e, o que é pior, de linhas já
compostas eventualmente corretas. Ora, nova composição é nôvo
risco de se filtrar nôvo êrro - o que significa, na prática, voltar
de nôvo à estaca zero. Se "errare typographicum est ... ", como
diz ANoat THtRIVE, glosando um apotegma conhecido {ENCF,
18·16-2), propiciar, ensejar, como que forçar o ·ê rro tipográfico
é não apenas diabólico, é índice de irresponsabilidade para com
a própria obra. · ·
1.1. 7 Original precário - É, aliás, pelo consabido descuido
com que, no Brasil màs não apenas nêle, se preparam as cópias des-
tinadas à impressão, que nos contratos modernos que ligam editô-
res e editados ou· editan.dos vêm cláusulas que proscrevem aos últi-
mos o arbítrio de alterarem o texto fornec!do, se não impender
razão de fôrça maior (cf. UNWI).
1.1. 8 Original perfeito - Não é, por conseguinte, descabido
desejar, como preliminar a tudo que venha a transformar-se em
livro, que - em sendo possível - seus originais se feiçoem de
tal arte, que a cópia destinada à impressão seja, idealmente, per-
feita.
1. 2 RECURSOS MANUSCR'ITORES - 0 material sôbre O qual se
manuscreve oferece possibilidades diversas. Sem remontar ao pas-
sado - dos tijolos de argila, dos diversos tipos de ardósia, . dos
papiros, dos pergaminhos -, no mundo presente a ques-
tão gira tão-sômente em tôrno do papel: (a) mais ou menos
fôsco, mais ou menos transparente, mais ou menos liso, mais ou
menos absorvente, a ponto de ser ou não h·radiador da tinta; (b)
de formatos variáveis; (c) de "manchas" variáveis, em branco,
com linhas-guias impressas, interlineado, pautado, quadriculado,
numerado em colunas verticais e em espaços horizontais. Quem
manuscreve profissionalmente, com vistas a um livro futuro, deve
previamente, de acôrdo com os seus pendores e as possibilidades
reais oferecidas pelo seu meio e a êle accessívéis, examinar aquelas
questões, pois o tt:abalho de escrever - no sentido mais meclnieo
ELEMENTOS DE BIBLIOLOGIA 7

possível - pode transformar-se em operação penosa para o ma-


nuscritor, se não são examinados, em função de suas aptidões
ópticas e de seu temperamento e hábitos psicológicos, aquêles as-
pectos - ainda que tenhamos de admitir os . que escrevem, in-
clusive, sôbre o joelho ou nas prisões - Mas a questão, como
sempre, não é apenas individual. Todo êsse exame prévio pode
impor-se por um passado individual vicioso e seu resultado se
integrará numa rotina, que a qualquer momento pode ser corri-
gida, se o manuscritor perder alguns minutos num auto-exame
devido. O que, porém, importa é que seu manuscrito possa, ao
cabo, ser lido, e ser lido com relativa facilidade - não apenas
pelo manuscritor, já que nesse terreno cumpre sempre atender
ao lado social.
1.2.1 Traçado dos manuscritos- No traçado dos manuscritos
há tendências ou dom:nâncias culturais, nacionais, periódicas, in-
dividuais. Os tratados e compêndios de .paleografia, assim como,
accessôriamente, os de grafoscopia e grafologia (cf. DAIN, OOHE e
FEVR) mostram, por exemplo, (a) que os traçados dos manuscritos
ocidentais - para nos atermos só ao Ocidente -, dentro de sua
diversidade através dos tempos, revelam constâncias de uma como
cultura pré-nacional - o carolíngio, o lombardo e tantos ·mais
têm denominadores comuns que os distinguem, em cada espécie
(monumental, uncial, cursiva), dos medievais dos séculos imedia-
tamente anteriores ao advento da imprensa, pode~do-se, em suma,
periodizar perfeitamente tais denominadores comuns ou tais estilos
caligráficos ou meramente quirográficos; e isso de ·tal modo que,
ao cabo, seja possível, em muitos casos, presumir com pequena
margem de êrro quando um manuscrito foi vazado; (b) que, ainda
assim, há tendências "nacionais" cedo manifestadas, isto é, antes
da estruturação das nacionalidades modernas, tendências hoje tão
bem caracterizadas, que se pode identificar a nacionalidade (ou
mais precisamente a formação cultural naciOn!J.l) dos manuscrito-
res, sobretudo contemporâneos; (c) que, dentro de um só país
ou uma só nação, é possível, também, escalonar no tempo os deno-
minadores comuns dos manuscritos, · na sua evolução, sem contar,
em não poucos casos, os fatos de regionalização; e ( d) que não
são raros os casos em que, por cotejo, se possa afirmar com quase
segurança, na base de tão-sõmente dois manuscritos (um dos quais
sabidamente autêntico), por meio de técnicas grafoscópicas ou
grafológicas, se o outro manuscrito é ou não de tal manuscritor.
1. 2 .1.1 Feição particular dessa problemática é a que se re-
fere à América. Quanto à América espanhola, dispõe-se já agora,
8 ANTÔNIO HOUAISS

de bom guia ( cf. MILL), pendendo algo semelhante para as co!sas


da América portuguêsa.
1. 2 .1. 2 Os documentos falsos são questão conexa, que inte-
ressa ao campo da historiografia e, sob o aspecto textual, à filo-
logia lato sensu (cf., sôbre a questão dos falsos, em particular
na arte e na história, ouYG). JosÉ_HoNÓRIO RoDRIGUES, em obra
metodológica capital para a história do Brasil, trata de vários
aspectos da questão ( cf. RODR). ÂFONSO ÂRINOS DE MELO FRANCO
discute excelentemente um problema particular de falso na his-
tória moderna do Brasil (cf. FRAN).
1.2.2 Material manuscritor- Assim como importa o material
sôbre o qual modernamente se escreve - o papel -," importa
também o instrumento com que se escreve - lápis, caneta, lápis-
tinta, lapiseira, caneta-tinteiro, lápis-tinteiro, caneta esferográ-
fica, estilográfica; doces, meio-doces, duros; finos, meio-finos,
grossos; flexíveis, ·rígidos - de cuja eleição pode decorrer maior
ou menor rendimento físico e maior ou menor eficácia. . . mental.
J:unte-se a isso a natureza da tinta - fluida, semifluida, pastosa;
azul, azul-negra, vermelha, verde, e também a cadeira, a escri·
vaninha ou mesa, o cinto, o sapato, o cachorro amigo, a gata do
vizinho, o barulho ambiente ...
1. 2 . 3 Caracteres manuscritos - Pequenos vezos pessoais, com
um mínimo de atenção, podem aumentar notàvelmente a legibili-
dade, ou diminuí-la, do manuscrito. Há uma sistemática que,
observada, é caminho p.a ra aquilo. Os caracteres manuscritos -
na história da escrita assim como contemporâneamente, o que
continua a ser história - ou são traçados um a um, isoladamente,
· o que diminui o rendimento e torna · a operação saltitante e
demorada, ou são escritos por meio de ligações. Essas ligações se
fazem graças a pequeninas extensões do traçado final do caráter
anterior para o tr.açado inicial do caráter seguinte, ambos iritra-
vocabulares. De um modo geral, os manuscritos de tôdas as épocas
evitam 'os traçados necessAriamente autônomos, desde que, aban-
donando o caráter monumental ou uncial, entrem no cursivo prõ-
prillmente dito: note-se que dá trabalho - figurado ou real -
pôr os pingos nos ii, como o corte horizontal da barra oblíqua
(ou vertical) do t é um problema resolvido diferentemente de
manuscritor ·a manuscrito'r. São, nesse sentido, verdadeiros obs-
táculos à eficácia do rendimento do manuscrito em caracteres
latinos aplicados à ortografia portuguêsa: (a) os acentos gráficos
c"' J A
00

J 'I I - ); (b) as letras i, j e t; (c) pelas confusões que


podem gerar entre si as letras, dentre outras, n e u; k e k (con-
ELEMENTO.S DE BIBLIOLOGIA 9

fusão em franca desmoralização, pelo raro emprêgo atual da pri-


meira : letra rara, via de regra, letra clara) ; m e n (o que pode
em certos manuscritos tumultuar trlplicemente : m, * e u) ; e e
i (quando se omite o pingo do segundo) ; g e j (quando se omite
o pingo do segundo) e, sobretudo nos finais de vocábulos, a. e
o, seguidos ou não de -s (letra freqüente, via de regra, confusão
corrente) - tudo isso sem falar dos vezos pessoais dos traçados.
A história da leitura tipográfica consigna, por deficiências manus-
critas daqueles e outros tipos, que aumentam de porte . quando
combinadas ou acumuladas, exemplos de falsas palavras, que
constituem tropeços correntes nos trabalhos de diplomática e
ecdótica: "duas" pode ser lido "almas";. "pllgar" pode ser lido
" pojar" ou " jogar". Escusa exemplificar, que haveria demasia-
das abonações para isso. Se a ligação é uma necessidade imposta
pela eficácia, a não ligação, n?!l sinais de pontuação, seria uma
vantagem que deveria ser cultivada, já que, na avassaladora
maioria dos casos, a pontuação corresponde a uma pa~ maior
ou menor, no débito rítmico-melódico-re.s piratório e - r que
não T - no próprio débito da mentação, em~ra haja que pense
com notável antecipação ao que está escrevendo, o que é causa
consabida de omissões e saltos nos manuscritos autógrafos_
1 . 2. 3 .1 Se o manuscrito pode ser fonte de leituras indeseja-
das, pode-o em dupla direção: na acima apontada, em que há
deformação do corrente pelo corrente; e numa inversa, que con-
siste em transformar o inusitado em corrente, como a lição ca-
moniana "Ci pião africano" transformada. em "Capitão africano"
ou como a deliberada formação neológica de .VALEBY LABBAUD "in-
suination" lida pelo tipógrafo "regularmente" ·como "insinuation"·
(MABI, 1256).

1.2.4 Caligrafia - Nas escolas, a prática eventual da cali-


grafia deveria ser acompanhada de conselhos sistemáticos tenden-
tes a valorizar, mais do que qualquer aspecto pretensamente belo
ou bonito ou estético, a regularidade do traçado, com vistas a ·
conseguir que (a) os caracteres diferentes sejam traçados sempre
distintiva e jamais confundivelmente; (b) as ligações sejam eco-
nômicas e jamais objeto de floreios, que tampouco devem sobre-
carregar os caracteres de traços supérfluos, e (c) os sinais de
pontuação sejam sempre isolados e nítidos.
1 . 2. 5 Ligatura.s - Também de grande antiguidade __:. revela-o
a história da escrita - são as ligaturas, isto é, reduções da es-
crita de fim de palavras freqüentes ou mesmo de vocábulos fre-
quentes. As ligaturas exerceram um papel capital como fonte
10 ANTÔNIO HOUAISS

das notas tironianas, para lembrar o caso de que se or~gmaram,


por vias diversas, os vários sistemas taquigráficos e estenográficos
contemporâneos. Mas, adquirido o vêzo da ligatura, ·tendem elas
de tal modo a avassalar os manuscritos que, como no passado e
mesmo para os coetâneos dêsse passado, os transformam quase em
enigmas não figurados. As ligaturas, cujo estudo importa tanto
em paleografia, são um mal necessário, inclusive como origem das
reduções - abreviações, abreviaturas, siglas, signos - , mal que
na medida do possível deve ser evitado nos manuscritos contem-
porâneos. E tudo isso sem falar da falsa ligatura, a do rabisco
longo final apenas modulado, com que se evita, em verdade, o
traçado dos Caracteres de um vocábulo.
1.2.6 Autor manuscritor - O manuscritor - como autor
potencial - , ao rascunhar seus livros in fieri, tem, como é natu-
ral, todos os direitos a todos os arbítrios. Ao manuscrevê-lo.
porém, . para a dactilografia ou - •hipótese progressivamente eva-
nescente - para a tipografia, deixa, em boa moral, de tê-los.
Como o uso ab'llSivo do cachimbo entorta a bôca, deveria em
qualquer caso diminuir o abuso e examinar problemas como os
aqui aflorados, a fim de penitenciar-se e lucrar pessoalmente e
coletivamente.
1. 3 DECÚNIO DO MANUSCRITO - Alegar-se-á - com razão plau-
SÍVel em parte - que a operação de manuscrever está em vias de
desaparecimento. Como no passado clássico e medieval estadis-
tM eminentes podiam ser "iletrados" mas cultos, mercês de
seus secretários letrados, escribas, num futuro pode-se anteci-
par o culto "auditivo", em função da "máquina auditivo-falante-
impressora-leitora". É pôr o carro adiante dos bois com uma an-
tecedência demasiada. É certo, com efeito, que o manuscrito em
muitos casos está sendo substituído já pela dactilografação direta,
· já pela indireta, pelo ditado. O fato, porém, está preferencial-
mente circunscrito à vida burocrática e administrativa - pública
e privada ( come~cial, industrial, de serviços). Mas ainda aí, via
de regra, às formas ou fórmulas verbais mais ou menos padroni-
zadas. · Até que o homem culto se libere da necessidade de for-
mular seu pensamento em função ·de um instrumento que pigmente
com o traçado de seu manuscrito a superfície br~nca do papel,
muitas facilidades poderão sobrevir, ainda que accessíveis ao
bôlso de todos, sem que logrem a universalização suspeitada com
certa precipitação. Convenha-se, entretanto, em que·, por sua
enorme afinidade psicológica e mesmo manual com a operação de
manuscrever - por aparentemente estranha que pareça a afirma-
tiva - , a dactilografia pode, aos poucos, ir desbancando ou divj.
ELEMENTOS DE BIBLIOLOGIA 11

dindo a supremacia da operação ·manuscritora profissionalizada.


Com efeito, há já não poucos escritores que, de posse de um
roteiro - indicação de t6picos para desenvolvimento -, podem
vazar seus escritos diretamente à máquina de escrever. Outros
podem ir além e - com roteiro ou sem êle - ditar a máquina!!
registradoras de som sua mensagem. Tais máquinas, geralmente
acionadas por energia elétrica, gravam em fitas de fibra sintética
ou em fios nietAlicos os sons de um modo geral e, ipso facto, os
fone~ da cadeia falada, apresentando, comparativamente às
técnicas ligadas ainda ao disco de matéria plást!ca, a superiori-
dade de serem de manejo rápido e simples, portáteis, e de pode-
rem, por sobregravação, apagar automAticamente a mensagem
antes gravada e reter a nova. São em geral chamadas dictafones
ou magnetofones e têm a favor de si, também, a vantagem de
poderem, num rôlo de fita ou fio de pequenas dimensões, arma-
zenar um ditado, em cadência normal, de meia a duas horas,
consoante a rotação que se lhes imprimi!.
1.3.1 Magnetofones- Nas condições atuais do Brasil são um
instrumental de máxima importância, dentre outros fins, para a
coleta ou recolha do nosso material oral folclórico e dialectol6gico,
sobretudo com o uso de pilhas sêcas, que liberam tais máquinas
das assimetrias de correntes elétricas em uso no país, permitindo,
ademais, a gravação em pontos em que ainda não há energia
elétrica instalada. Embora tais gravações não ofereçam por ora
características de alta fidelidade - hoje s6 obtidas em estúdios
de gravação em condições especiais de acústica - são elas de
enorme utilidade para aquêles fins, e o serão em breve futuro
mais ainda, com os aperfeiçoamentos técnicos que irão certamente
recebendo. E são-no, com mais razão, para os autores fecundos
e facundos ou liberados da operação manual e digital de escrever
- operação, entretanto, que no adulto, em lugar de ser obstáculo,
· 6, por seu ritmo mecânico, um estímulo, tão condicionada pode
estar sua psicologia ao processo ( cf. KELC, s.v. recordings).
1.3.2 ''Civtlil:ação escriÜI" - Seja como fôr, nas condições
presentes de nossa evolução e tanto quanto se possa antecipar, a
matéria ditada e gravada tem, depois, de ser transformada em
matéria escrita - já pelo próprio autor, já por profissionais
específicos -, o que nos leva, de nôvo, ou ao manuscrito ou,
mais provAvelmente, à dactilografia. A automatização do cir-
cuito fala-registro- (tradução) -audição, embora já nos planos téc-
nicos prospectivos da humanidade, wm existir, presume,· ainda,
para cabal eficácia, a resolução de tais e tantos problemas de
eletrônica, cibernética, fonética, fonologia, que é melhor não so-
12 ANTÔNIO HOUAISS

nhar por ora com sua difusão, ainda que o sonho possa ser
eventualmente realizado mu!to em breve e a tenhamos ao alcance
dos usos práticos (cf. LOCK, 313-317). Isso, porém, não desban-
cará a "civilização· escrita", 'vale dizer, o livro e seus associados,
os jornais e as revistas, antes a estimulará por um largo perfodo
ainda, probabillssimamente.
1. 4 RECURSOS DACTILOGRÁFICOS - Todo dactilógrafo capaz ê
senhor dos recursos de sua máquina de escrever. E .ser dactiló-
grafo capaz, para si mesmo, é aprendizado de curtíssima duração
a esfôrço. O autor - e na medida do necessário o diretor-de-
texto ou editor-de-texto - devé também sê-lo, em certa medida
pelo menos, no que tange às possibilidades da máquina de escre-
ver, para facilitar a tarefa do dactilógrafo e não lhe pedir o que
não lhe é dado realizar com a sua máquina. Essen~ialmente, os
caracteres de uma máquina de escrever ou correspondem ao ro-
mano - redondo com predomínio de retas verticais, com ou sem
cerifas - ou correspondem ao itálico - redondo con:t predomínio
de retas oblíquas do superdestro ao soto-sini.s tro - , de modo ex-
clusivo : não há, normalmente 1 máquina de escrever que conjugue
romano com itálico, nem, menos ainda, com negrito. Cada mo-
dêlo ou série de máquinas de escrever, de determinada marca, tem
para os seus caracteres determinado corpo, que pode variar, em
geral, entre seis a doze pontos tipográficos. Seu tablado - de-
finido quanto ao desenho e ao número de caracteres - apresenta
uma ordem completa de .letras minúsculas, outra de maiúsculas,
uma outra de algarismos arábicos e uma variedade, mais ou me-
nos rica, segundo o porte da máquina (de escritório, de contabili-
dade, meio-portátil, portátil), d~ letras com sinais diacríticos, de
diacríticos autônomos e de sinais de pontuação e outros. ~ óbvio
que cada caráter não corresponde a uma só tecla ; ao contrário, a
cada .tecla correspondem dois caractere@. Uma última possibili-
dade de variação é representada pela fita bicolor, com o que o
original dactilográfico pode ser escrito, uniforme ou alternativa-
mente, em prêto (ou azul) e em vermelho - recurso, entretanto,
. que tem· contra 11i o fato de que, nas cópias a papel carbono, a
alternância não se reproduz. Dentre os sinais autônomos da má-
quina de escrever exerce pape] relevante o travessão sotoposto
(via de regra ocorrente na pressão da maiúscula do algarismo
arábico "6"). Com a repetição do travessão sotoposto, contínua
ou alternativamente, se obtém a linha sublinhada contínua ou
espacejada. A máquina de escrever dispõe também de aspas dú-
plices (que também pode suprir a falta, quase geral, do trema) e do
apóstrofo, que pode funcionar como aspas simples. Algumas, por
ELEMENTOS DE BIBLIOLOGIA 13

fim, dispõem de asterisco e de alguns signos matemáticos e contá-


beis, especiais, que não possam ser supridos pelos outros caracte-
res. Sumàriamente, são êsses os recursos disponíveis de uma
máquina de escrever, com os quais deve ser figurado o original
dactilográfico (cf. MELe, s.11. typewriter).
1. 4.1 Tablados - Os tablados das máquinas de escrever, ba-
seados nos caracteres latinos, são apresentados em bases nacionais
e numa base geral dita universal - base ·esta que sofre algumas
alterações e adaptações consoante o sistema ortográfico a que se
destina. A base universal tem como princípio a freqüência do
uBo dos caracteres. ficando os mais batidos em posição privilegiada
com relação ao traquejo digital. Com o tablado universal adap-
tado às características da ortografia portuguêsa, mesmo nas obras
de erudição em que ocorram citações ou transcrições em espanhol,
galego, catalão, basco, francês, provençal, italiano, sardo, rético,
romeno, inglês, alemão, sueco, norueguês, finlandês, danês, fla-
mengo - não se esgota a lista ·-, se pode obter razoável satis-
fação, que se estende, ainda, aos casos mais normais de translite-
ração dos caracteres hebraicos, árabes, cirílicos, gregos, sanscríticos
- não se esgota a lista (cf., por exemplo, CARV).
1. 4. 2 Tábuas e afins - O uso da máquina de escrever para
a organização de tábuas, tabelas, quadros em geral, estatísticos e
afins, exige uma pequena adaptação ou especialização técnica do
dactilógrafo, aprendida, entretanto, na sua rotina profissional.
Para trabalhos constantes dêsse gênero, há máquinas de escrever
de carro maior ou máximo, bem como outras, quase especializadas
ou especializadas, assim como para fins contábeis e actuariais.
1. 4. 3 Pauta dactilográfica - Consoante a uniformização que
se venha a desejar quanto ao cabeçalho, margens, parágrafos,
citações, ou biasta o recurso ao tabulador, ou se criam pautas
especiaiB - pauta de página capitular, pauta de página ordinária
- , com as quais . a tarefa de obedecér à uniformização se faz
mais fácil. Essas pautas são empregadas proveitosamente sobre-
tudo em trabalhos normalizados e na chamada padronização
oficial. Desta é bom exemplo a seguida pelo Ministério das
Relações Exteriores ( cf. MINI, s.v. "pauta dactilográfica").
1. 5 RECURSOS TIPOGRÁFICOS - Tipografia é a arte de compor
e imprimir livros - no amplo sentido da palavra - por meio
de caracteres móveis ou processos afins, portadores; em última
análise (na civilização ocidental e grande parte da humana) dos
ingredientes vocabulares da linguagem verbal. As fases para
gerar o livro em condições de atingir a sua finalidade normal
14 ANTÔNIO HOUAISS

imediata, que é a le:tura, são as seguintes, claramente distintas


- presumido pronto o seu original - : a) a composição, scüicet,
tipográfica, (b) a impressão e (c) o revestimento.
1. 5 .1 Tipo - Dentre os recursos tipográficos, cumpre, preli-
minarmente, saber· o que é um tipo. Trata-se, originalmente, de
um caráter móvel, autônomo, via de regra a representar uma
letr~, com cujas combinações sucessivas se formam sílabas, vocá-
bulos, frases, parágrafos, textos. Sua estrutura - no passado,
inclusive de madeira - hoje em dia é de uma liga metálica, cujos
componentes podem entrar em quantidades variáveis ( cf.. ECTA1
s.v. tipografia). A nomenclatura das partes de um caráter móvel
ou tipo é meio de descrevê-lo; grosso modo, trata-se de um pe-
queno paralelepípedo, cujas sés faces têm as seguintes . caracte-
rísticas:
a) face inferior ou base - chamada normalmente "pé",
com um sulco reentrante de face lateral a face lateral, chamado
11
ranhura";
b) face superior, onde se localiza, em relêvo, a "letra" ou
o "sinal tipográfico" propriamente ditos; essa "letra" ou "sinal
tipográfico" tem uma "face" ou superfície superior, que recebe
a cutícula de tinta graças à qual se faz a impressão sôbre o
papel; o relêvo é determinado por excisão, cuja altura se chama
"ôlho"; êsse "ôlho" ou relêvo formador da "letra" ou "sinal tipo-
gráfico" apresenta extremidades em linha vertical, chamadas "re-
barbas", enquanto as extremidades em linha horizontal, quando
moduladas, se chamam "cerifas", "remates", "ápices", "filêtes",
"rabiscos" (cf. PORT, s.v. remate); na face superior do caráter
móvel, sôbre a qual se assenta a "letra" ou "sinal tipográfico"
em relêvo, ficam alguns campos livres: os campos livres superior
e inferior constituem os "ombros", de tal modo que um "ombro"
inferior de um tipo mais o "ombro" superior de um tipo que lhe
seja sotoposto formam a distância branca entre duas linhas de tipo,
distância chamada "entrelinha" ou "branco interlinear"; os cam-
pos liwes esquerdo e direito se chamam "avizinhamento", de tal
modo que um "avizinhamento" direito de um tipo mais o "avizi-
nhamento" esquerdo do tipo que se lhe segue formam o "branco
interliteral" - que, por outros motivos adiante explicados, nem
sempre é regular e uniforme; o campo livre interno que aparece
em certas letras, como o, b, c, d, e e tantas mais, é chamado "cen-
tro" ou "vazio" ;
c) face posterior, lisa, sem quaisquer outras características j
ELEMENTOS D]l; BIBLIOLOGIA 15

d) face anterior, que via de regra apresenta um sulco -


ou dois, ou mais, paralelos - no sentido horizontal, a altura
variável de fundição a fundição, mas constante em cada fundição,
sulco denominado "corte", "crã" ou "toque", graças ao qual, na
composição manual, o tip~grafo-compositor, pelo tato, sabe em que
posição deve ser colocado o tipo, a fim de que alguns não o sejam
às avessas - invertidos ou deitados - , assim como serve para
distinguir, no mesmo corpo, as diversas famílias de uma mesma
caiXa tipográfica ou de uma mesma fonte; fundições há que
colocam o "corte" na face posterior;
e) faces laterais, iguais, geralmente lisas, eventualmente
com um furo de face lateral a face lateral, de altura e profun-
didade constantes em cada fundição, denominado "furo de guia".
1.5.2. Desenho das letras - Quanto ao desenho das letras,
de um modo geral, nos caracteres móveis das línguaS européias
ou sob sua inflpência ou irradiação, po.dem-se figurar idealmente
quatro paralelas horizontais, um tetragrama, das quais as duas
do centro dão a média da grandeza das letras, cada uma · das
quais tende a ocupar aí um quadrado ideal i mas certas letras -
b, à, f, h, k, l, t - apresentam uma "haste" ou "cabeço" que se
dirige para a linha superior do tetragrama ideal, enquanto outras
- g, j; p, q, y e em certos desenhos z - apresentam uma "cauda"
que se dirige, contràriamente, pMa a linha inferior do tetragra-
ma ideal ( cf. coHE, 95-96).
1.5 .3 Medidas do tipo - No conjunto, o paralelepípedo do
tipo ou caráter móvel tem a base, chamada "tronco" ou "árvore",
e, superpostas, a "letra" ou "sinal tipográfico"; a medida que
vai do "pé" à "face" da "letra" ou "sinal tipográfico" chama-se
"altura" ou "altura do tipo", e a que vai da face anterior à face
posterior "fôrça do corpo" ou simplesmente "corpo" (cf. KABT,
67-68 i PRAT, 71 i ENCF, 18· H•-4 i ECTA, S. V. tipografia; AREZ, S.VV.
varia; liEDE, s.vv. passim; MELe, s.v. type).
1. 5. 4 Feição gráfica geral do livro - Para a caracterização
da feição gráfica geral de um livro, é indispensável fixar, logo
de início, certos critérios, que deverão prevalecer constantemente
durante a sua feitura tipográfica. 1!::sses critérios são quanto (a)
à eleição do corpo ou corpos da composição, (b) concomitante-
mente, à família, gênero e desenho, e (c) à adoção do padrão da
"mancha" ou, quando não desta, da largura da linha, ficando a
altura da mancha para determinação posterior.
1. 5. 5 Corpos dos tipos - A fôrça do corpo, ou corpo sim-
plesmente, de um tipo é, como se viu, a distância entre a face
16 A N T ÕN I O H O U•A I 8 8

anterior e a posterior de um tipo ou caráter móvel. Isso postula,


como é lógico,, um padrão mensurativo, que não é o metrológico
decimal "universal", mas um próprio aos usos tipográficos, redu-
tível - é óbvio - ao citado.
1. 5. 5.1 No início da tipografia, os fundidores - q-qe eram
em geral os próprios tipógrafos - não se preocupavam muito com
a uniformidade dos tipos, quanto à altura e à fôrça do corpo.
Mesmo até o século XVIII a nomenclatura das medidas tipográ-
ficas foi flutuante, cabendo aos tipógrafos franceses a primeira
tentativa de racionalização da matéria, com os nomes de PIERRE-
SIMON FOURNIEB (1712-1768) e FRANÇOI8-AMBROISE DmOT (1730-
1804). O primeiro - em 17!37 - , tendo em conta os ca-
racteres empregados em várias obras impressas, estah-eleceu a
primeira escala de pontos tipográficos, cuja unidade foi o "cícero",
o corpo 11 com que se compusera, em 1469, em Veneza, as Epis-
tolae ad familiares, de CfcERo. O "cícero" figurava na classifi-
cação em décimo lugar, pois havia tipos de corpo 3, 4, 6, 7Yz
8, 9,. 10 e 11, havendo uma série de superiores. DIDOT - em
1757 - modificou o sistema, adotado o "cícero" de 12 pontos,
que é o que hoje ainda é assim conhecido, como unidade tipográ-
fica fracionária do pied-de-roi, medida de comprimento então
legal em França: 6 pontos tipográficos correspondem a uma linha,
como medida de comprimento, 6 cíceros a uma polegada e 72
cíceros a um pé-de-rei - donde 12 pontos Didot equivalerem a 13
pontos Fournier. Mas o fato é que o ponto tipográfico continuou
sendo a unidade mínima tipográfica de mensuração ( cf. MART,
30; LARO, s.v. Didot e 1J'01trnier, Pierre-Simon).
1.5.5.2 O ponto tipográfico corresponde a mm 0,376 ou a
0,013837' - havendo, por conseguinte, menos de três pontos num
milímetro e cêrca de 72 numa polegada. Pode ser equiparado ao
milímetro no sistema métrico decimal, no sentido de que o milí-
metro é um décimo do centímetro e o ponto tipográfico é um
duodécimo do cícero: o sistema mensurativo tipográfico é, pois,
duodecimal. Modernamente, o número de pontos tipográficos do
corpo de um tipo é o melhor meio de designá-lo, mas a tradição
nomenclatora do tempo de DIDOT perdura. :eJ fácil, com recurso
dos locais abaixo citados, levantar um quadro da nomenclatura e
suas corresp·ondências, em seis línguas. Quanto à portuguêsa se
verá que, tal como se divulgou entre nós, há acintosa influência
da origem francesa, patenteada pelas formas vocabulares pura-
mente francesas ou híbridas - franco-portuguêsas ( cf. ENBR, s.v.
printing; ECTA, s.t•. tipografia; EESP, s.v. tipografia; AREZ, passin'l;
PORT, S.V. corpo; CHAU, passim).
ELEMENTOS DE BIBLIOLOGIA 17

1 . 5. 5. 3 A partir do corpo 18, os co,rpos maiores são para uso


nos rostos ou, preferentemente, nos impressos de propaganda,
cartazes, cabeçalhos e manchetes de jornais. ~sses corpos podem
ser fundidos até 144 pontos - doze cíceros. EntTetando, consi-
dera-se desaconselhável fundir em liga metálica tipos de corpo
superior a 72 pontos. Reversivamente, os corpos abaixo de 6,
t:xclusive, são preferentemente usados em livros de pequeno for-
mato ou de dupla coluna, até os liliputianos ou anões.
1. 5. 5 . 4 O número de pontos tipográficos da fôrça ·do corpo
(ou, simplesmente, corpo de um tipo) faz que os tipos sejam, cada
vez mais, apenas citados como "tipo corpo 1'', "tipo corpo 2",
"tipo corpo 3", "tipo corpo n". Mas, assim como um tipo corpo 12
tem doze pontos - 12 X 0,376 = mm 4,513 -, semelhantemente
se pode fazer a redução de qualquer corpo ou dispor-se de um
quadro já elaborado. Entretanto, por meio de uma "régua tipo-
gráfica" ou "tipômetro", que também pode ser da feição de uma
trena, essas reduções podem ser fàcilm.ente obtidas, assim como
quaisquer correspondências de corpo a corpo ; trata-se de uma
espécie de duplo-decímetro, geralmente metálico, com escalas lon-
gitudinais, em em, 2 pontos, 8 pontos, 10 pontos, 12 pontos, 48
·pontos- variam os critérios-, com as quais se podem, inclusive,
medir os corpos já impressos. ~. assim, possível também reduzir
a milímetros ~s pontos tipográficos;' e, sabendo-se a relação 12
pontos = 0,45 (ou, mais rigorosamente, 0,451, ou, mais rigorosa-
mente ainda, 0,4513), se obtêm centímetros: seja uma composição
vertical de 42 linhas de 12 pontos cada uma: 42 X 0,45 = 18,90;
a coluna terá em 18,90, quase em 19 ou m 0,19 (cf. ECTA, s.v.
tipografia,; MELe, s.v. type mea.surefMnts). ·
1. 5. 5. 5 Para identificar o corpo de uma composição tipográ-
fica, basta o ôlho experimentado dos artistas e artífices grAficos.
Para os que não o têm, o tipômetro é o elemento por excelência.
Traçam-se duas linhas horizontais e paralelas que passem exata-
mente pelas extremidades das letras com cabeça e com cauda; o
espaço entre as duas linhas - medido pelo tipômetro - indica
o corpo ; e, se a linha divisória dos cabeças coillcide com a linha
divisória das caudas das letras superiores, é que a composição não
tem entrelinhas especiais, mas a ordinária dos próprios tipos ( cf.
»ABT, 33). Destarte, usualmente, um corpo 6 equivale a dizer
"corpo 6/6" ou "corpo : ", isto é, que o ôlho do tipo é de corpo
6 montado sôbre um tronco ou árvore de tipo de corpo 6; pode,
eventualmente, ser "corpo 6/8" ou corpo :, isto é, o ôlho ser
de corpo 6 montado sôbre um· tronco ou árvore de corpo 8 - o
que supõe a existência, no parque ou fo:J?-te tipográfica, de tipos
18 ANTÔNIO HOUAISS

assim fundidos; mas a mesma indicação serve para designar que


os tipos de corpo 6 foram entrelinhados a mais com brancos de 2
pontos tipográficOoS (cf. M:ART, 29-33).
1. 5. 5. 6 Como se vê, pois, a unidade de medida tipográfica, o
ponto, serve de base de mensuração para tipos, espaços em branco,
interliterais e interlineares, assim como para outros usos tipográ-
ficos - linhas, enfeites, signos, sinais (cf. ECTA., s.v. tipografia).
1. 5. 5. 7 As fundições tipográficas - com seu corpo técnico em
que entram desde operários metalúrgicos qualificados atá dese-
nhistas especializados com alto grau de cultura bibliológica se-
gundo uma tradição que remonta às origens da tipografia mo-
derna - suprem as casas impressoras de parques tipográficos,
parques constituídos de fontes tipográficas - isto á, de "caixas"
de tipos. Essas caixas .variam de pêso, em função do corpo dos
seus tipos. Uma caixa de determinado corpo tem determinado
pêso global, mas o que importa 6 a distributividade dos seus ca-
racteres móveis, segundo relação determinada pela freqüência de
ocorrência média de cada um dêles. Essa relação á, via de regra,
função do número de "AA" - com o que se fixa o número de
unidades de cada letra, sinal tipográfico, entrelinhas e outras
espécies de brancos e enfeites; cada caixa, ademais, além do gê-
nero predominante, tem unidades de outras famílias, variando,
destarte, de riqueza maior ou menor de recursos, segundo as dis-
ponibilidades da fonte. As tipografias, de regra, lançam mão de
várias caixas, com duas ou mais fontes mais ou menos ricas -
conjunto êsse que constitui o seu parque tipográfico. As impres-
soras bem organizadas fazem, periõdicamente, uma edição do seu
"catálogo", em que são apresentados, classüicadamente, todos os
recursos do seu parque tipográfico. Destarte, para trabalhos de
alta complexidade gráfica, a preliminar, na elaboração de uma
cópia destinada à impressão, é saber, mercê do catálogo, de que
recursos se pode dispor - para nessa base se estabelecer a cor-
relação cópia-versão impressa. As fundidoras, por sua vez, têm
também - e com mais razão - seu catálogo, ·discriminando, in-
clusive, as formas de pedido, as interdependências de certas uni•
dades e a possibilidade de fundirem sob encomenda certos caracte-
res desejados (cf., por exemplo, M:ERG, SOCI, BAUE, I'UNT). Há,
excelentes fundidoras nos Estados Unidos da América, na Alema-
nha, na Grã-Bretanha, na França, na Itália, sobretudo para os
caracteres latinos e gregos, assim como na União das Repúblicas
Socialistas Soviéticas e Tchecoslováquia, para os cirílicos, latinos
e gregos. Mas nesses países o avanço tecnológico lhes permite
fundir quaisquer caracteres, em quaisquer alfabetos - sânscrito, he-
ELEMENTOS DE BIBLIOLOGIA 19

braieo, árabe, gueze ( etiópico), chinês, japonês - e em quaisquer


adaptações nacionais dos alfabetos gerais.
1.5.5.8 Na composição manual a "caixa" é, via de regra, um
tabuleiro dividido em compartimentos ou escaninhos ou cai.~otins,
de tamanhos variáveis. O princípio geral que rege a fixação do
tamanho dos caixotins, e a localização dos caracteres móveis em
cada um dêles, é o da freqüência de uso de determinado caráter:
quanto maior fôr ela, tanto maior deve ser o caixotim e tanto
mais ao alcance econômico da pinça ou dedo do tipógrafo-com-
positor deve estar. O tabuleiro, em regra; é dividido em duas
partes: uma, para as minúsculas, os sinais de pontuação, algaris-
mos e os brancos - é a chamada "caixa baixa"; a outra, para
as maiúsculas ( versais e versaletes), algumas letras acentuadas de
pouco uso e outros sinais de pouco uso - é a "caixa alta". Até
o IIOOulo XIX, a caixa alta era geralmente dividida em 98 com-
partimentos, enquanto a caixa baixa o era em 53; os da caixa alta,
em geral, eram do mesmo tamanho e, no ·que se refere à disposição·
das letras, iam elas, quase sempre, em ordem alfabética, separadas
as versais .dos versaletes (cf. ECTA, s.v. tipografia; liART, 60).
Hoje em dia, há caixas adaptadas - dentro dêsses princípios
gerais - aos alfabetos nacionais, variando o número de caixotins
de 111 a 154. Nas origens da composição manual, os caixotins
parece terem sido do mesmo tamanho, provàvelmente em ordem
alfabética a colocação dos tipos - havendo, já pelo correr do
século XVII, provàvelmente, sido feitas as . primeiras inovações,
que terão sido consolidadas, na feição ainda vigente, por PIEBRE-
SIKON FOUBNIER, com o que foi costume chamar o sistema uni-
versal de caixa tipográfica (cf. MELC, S.V. oase; JENN, 45-48; POBT,
I.V. caixa; liART, 59-65; ECTA, S.V. tipografia).

1.5.5.9 No que se refere às caixas tipográficas, cumpre ainda


referir certa nomenclatura usual até hoje em dia, nas tipo-
grafias que delas fazem uso: a "caixa cega" é um tabuleiro sem
caixotins, com os tipos de raro uso à disposição das necessidades
eventuais; a "caixa de sinais" é um caixotim, em certas caixas,
destinado aos signos, sinais, abreviaturas e símbolos de uso ci-
entifico; a "caixa de sobras" ou "gaveta(s) de sobras", em ver-
dade gavetas de reserva de tipos excedentes das necessidades
imediatas de uso, também chamada "caixa de sortes" ou "caixa
de sortimento"; "caixa dos espaços", caixotim onde são colocados
brancos interlineares ou espaços interliterais, de corpos diversos ;
"caixa perdida", seção direita da caixa alta, com dois ou mais
caixotins, destinada a conter as letras acentuadas e os sinais de
pouco uso ( ABEZ, passim; POBT, s.v. caixa) .
20 ANTÔNIO HOUAISS

1. 5. 5 .10 Segundo uma usança tradicionalizada, quando o


tipógrafo-compositor está encarregado da composição de um ori-
ginal, coloca~o - ficam de lado os vezos individuais - perto da
caixa alta, via de regra, e, retendo de memória um certo número
de vocábulos, vai apanhando os tipos ou caracteres m6veis, um
a um, com a pinça ou com seus dedos, e colocando-os, na mesma
ordem, no "componedor" -barra de metal de comprimento médio
de em 30, por cêrca de em 6 de largura, com rebôrdo num ex-
tremo da extensão longitudinal por um dos lados, e outro rebôrdo,
no outro extremo, m6vel, que fixa a medida de extensão da linha,
arbitrada para a composição. Entre cada vocábulo insere o
branco intervocabular correspondente e, terminada a linha, "jus-
tifica-a", isto é, intercala, perto dos brancos intervocabulares,
brancos mais finos, para que a linha ocupe a justa extensão ado-
tada. Dessa maneira, pode ir compondo, de um s6 turno, diver-
sas linhas no componedor, até que êste, cheio, é desembaraçado
sôbre a "galé", ou "galera", ou "galeota" - quando pequena -,
retângulo formado por uma prancha de madeira ou de metal,
com uma esquadria ou rebôrdo em dois lados, formando ângulo
reto, ou em três lados. As linhas compostas num componedor
são as "tomadas", que, reunidas, constituem o paquê - que no
passado, teoricamente, se compunha de mil tipos e que, no pre-
sente, é não mais do que um conjunto de linhas compostas, que
são "amarradas" ou "atadas", efetivamente atadas a barbante;
segundo técnica especial para não se desfazerem ; e sôbre o qual
se "tira" a primeira "prova". O "paqueteiro" - isto é, o grá-
fico habilitado a atar os paquês - armazena-os depois no "pa-
queteiro", armário ou estante onde ficam aguardando, à medida
que prossegue a composição, seu destino. Durante a · composição,
os tipos, por vêzes, sobem, alçam, alceiam, e com o "abaixador"
comprimem-se os mesmos para baixo, ou, ao revés, baixam, e então
opera-se inversamente.
1. 5. 5 .11 Tôdas as fases e recursos da composição manual são,
com o advento das máquinas compositoras, mecanizados, hoje em
dia. As máquinas reservam, na sua estrutura, os tipos - substi-
tuindo as caixas - e pinçam automàticamente os tipos, ordenan-
do-os, fundindo-os um a um - monotipia - ou linha a linha -
linotipia -, justificando-os previamente, substituindo assim o
tipógrafo-compositor pelo monotipista ou linot!pista, que, como
seu antecessor, lê o original, mas, em lugar de retirar da caixa
as unidades, bate-as no teclado da máquina, que procede ao res-
tante trabalho de criar as linhas. Dêsse momento em diante, isto
é, a partir da feitura dos paquês, as duas sor~es de atividade
ELEMENTOS DE BIBLIOLOGIA 21

confluem . e passam a ter igual evolução na feitura do livro.


Dêsse modo, a composição manual tende progressivamente a confi-
nar-se aos centros impressores mais pobres ou, polarmente, aos
trabalhos de alto requinte gráfico, para pequenas tiragens de
gra;nde luxo e preço, da adoração dos bibliômanos, mai:s do que dos
bibliófilos.
1. 5. 5 .12 Cumpre-nos, ainda, saber que a altura dos tipos -
que deve ser a mesma em cada parque ou pelo menos em cada
fonte tipográfica - é variável. Duas são as mais consagradas
na imprensa ocidental, a altura francesa, de 62 pontos, fixada
já desde o tempo de FRANÇOIS-AMBROISE DIDOT, e a altura
anglo-norte-americana, ou "inglêsa-americana", de 63 pontos, ha·
vendo, porém, várias outras, adotadas em diferentes países. A
situação presente de adoção da altura dos tipos, pelos países que
usam dos caracteres latinos e gregos, é aproximadamente a se-
guinte ( cf. ECTA1 S.V. tipografia; ENBR, S.V . printing j MANI;
MART, 31) :
r altura Didot, ou fran-1 Alemanha, Espanha, França,
cesa, dita normal, 62,66 Grécia, Portugal, Suíça, Sué-
1) pontos = mm 23,566 cia, Turquia, em parte na
Áustria, na Itália, na América
\ latina, sobretudo no Brasil
altura Fournier, 62,92 J
2) { pontos =
mm 23,677 l Bélgica
r altura italiana, 66 pon- {
3)
l tos = mm 24,877 Holanda e em parte na Itália

altura anglo-norte-ame- r Inglaterra, Estados Unidos

l
ricana, 62,03 pontos = da América, países de lín-
4) mm 23,318 gua inglêsa ou de predomínio

l
anglo-norte-americano, parte
da América )atina, inclusive
seção no Brasil.

1. 5. 6 Estilos dos tipos - Assentada a noção de corpo de


um tipo e as suas conexões imediatas, impõe-se-nos fixar a de
família, gênero e desenho dos mesmos, como segunda condição
para a eleição da feição gráfica de um livro (v. 1. 5 .4, supra).
Exemplário in concreto pode-se obter nos diferentes capítulos
editados por PAUL A. BENNET, Books anà Printing, A Treasury for
Typopkiles (cf. BENN).
1 ; 5. 6 .1 Pelo tempo da invenção dos caracteres móveis ociden-
tais, o manuscrito europeu - a atividade editorial de então -
estava em franco processo de renovação. As idéias artísticas,
22 ANTÔNIO HOUAISS

literár!as, científicas do Renascimento, derivadas da herança clás-


sica greco-romana, formuladas em latim e em grego, vinham sendo
transmitidas em belos manuscritos de tradição carolíngia, e os
escribas e scriptores, os copistas, em breve se acostumaram não
apenas a "copiar" os aut6grafos ou os ap6grafos, mas a repro-
duzir-lhes mimeticamente até o traçado do manuscrito. Daí re-
sultou o manuscrito neocarolíngio, que se consolida provAvelmente
em Florença - o centro econômico e culturalmente mais avan-
çado da Europa no tempo, foco de uma burguesia mercantil em-
preendedora e de vocação dominadora e universalista. Nela,
Nzccow NICCOLI, célebre humanista, dirige, por 1425, uma escola
de copistas, ensinando-lhes um manuscrito muito nítido, redondo,
de fato uma versão revista e melhorada do carolíngio do século
IX. Essa letra gozou de grande favor nos círculos letrados flo-
rentinos e europeus, e já nos meados do século XV um grupo · de
cultos e eruditos, artistas e nobres, apaixonadamente interessados
na cultura e civilização clássicas, praticou-a. A letra que inter-
mediaria entre a carolíngia e a neocarolíngia foi por êles reputa-
da negra, pesada, grossa, angulosa e pouco nítida - pouco con-
veniente, pois, à divulgabilidade que os novos tempos impunham
-, e por isso lhe deram o epíteto pejorativo de "g6tica" - isto
é, bárbara. Dessa forma, a neocarolíngia - a Zittera · antiqw.r. ou
antiqua pura e simplesmente, como passou a chamar-se - foi
aceita nos manuscritos seculares, vindo, com o tempo, a invadir
os eclesiásticos e administrativos. Ora - como sempre acontece
no uso do traÇado, que de regra apresenta uma dúplice (diga-
mos, uncial ou de aparato, e cursiva ou corrente) quando não
uma tríplice estilização (monumental ou uncial, dois níveis de
aparato, e cursiva ou corrente) (cf. COHE, 91-97) - durante
séculos o g6tico fôra formal ou informal; do mesmo modo se fêz
com relação à littera antiqua, formal para os textos importantes
e informal para os de uso col'rente - origem do "romano" e do
"itálico" atuais, respectivamente. Pela época de GuTENBBBG, por
conseguinte, os manuscritos em uso na Europa eram-no (a) na
velha versão chamada "g6tica" ou (b) na nova, Zittera GMiqua,
·chamada pelos seus adeptos, de um ponto de vista digamos cul-
tural, "humanística", veículo que era do Humanismo renascen-
tista; e esta humanística ou littera antiqua, como a anterior g6tica,
se dicotomizava em romana e itálica ( cf. ENBR, s.tl. prin.ting type;
STEI, 29-37) .

1. 5. 6. 2 A letra g6tica dicotomizada - denominador comum


dos manuscritos da baixa Idade Média européia (séculos I.X a
XV) - desde o século XIII, pelo menos, já apresentava caracte-
ELEMENTOS DE BIBLIOLOGIA 23

res diferenciados, "nacionais", conforme fôsse usada na Alema-


nha, na França, na Inglaterra, na Espanha, em Portugal, e essa
diferenciação perdurava, enquanto a humanística dicotomizada já
avassalava a Itália. Era essa em linhas gerais a situação "cali-
gráfica" na época da i~venção 4os caracteres móveis na Europa.
Sem diséutir a prioridade d.a invenção dêsses caracteres - se do
holandês CosTER, se de JoBANN GuTENBEBG, de Mogúncia (al., ing.
Mainz, fr. Mayence) -, o que se deve reconhecer é que o objetivo
da imprensa foi reproduzir, o mais fielmente possível, os manus-
critos : é a chamada época dos ·incunábulos, dos livros cujos tipos
imitavam tão mais ou menos bem os manuscritos, que, .a olhos
inexpertos, por vêzes, é difícil saber qual seja a sua forma de
impressão. Há, dentre outras, uma bela monografia sôbre in-
cunábulos ilustrados que imitam os manuscritos, na passagem do
manuscrito ao livro impresso, pelo erudito editor LEo S. OLSCBKI
( cf. OLSC). . Ora, como a tradição gótica era ainda a que perdu-
r,.va maioritàriamente, foi natural que os primeiros tipos fÔSBem
de desenho gótico. Isso não impediu que desde os primeiros textos
de GUTENBEBG fôssem êles, embora ainda angulosos, mais finos e
proporcionados, qualidades que se positivaram cada vez mais nos
seus impressos subseqüentes; aliás, mais tarde, na linha do itálico,
produziu êle um texto impresso também excelente - o De induZ..
gentia - segundo a inovação italiana. Mas à Igreja coube a
primazia de ser a fundidora e negociante dos melhores caracteres
móveis góticos de aparato. ~ que, paralelamente com a divulga-
ção das obras seculares .clássicas, processava-se o incremento e
multiplicação, em . número bem maior, de obras sacras, produção
em série de saltérios, breviários, rituais, livro-de-horas. Se a
principal oposição entre os caracteres góticos e os humanísticos
era a grossura e angulosidade daqueles em relação a êstes, o fato
é que os góticos trpicos, ao entrarem nt: Itália, foram, ao influxo
das novas correntes caligráficas, pouco a pouco sendo arredon-
dados e afinados. ~ o que se patenteia desde o início da ativi-
dade de CoNBAD SWEYNBEIJ( e de ARNOLD P ANNABTZ no mosteiro
beneditino de Subiaco, perto de Roma, já em 1464: êsses dois
alemães usaram de um tipo realmente intermédio do gótico e do
humanístico cursivos. Outros alemjies, emigrando para o sul
através do atual Tirol austríaco, encaminharam-se para Veneza e
também imprimiram em caracteres "góticos arredondados". Qua-
tro anos depois da impressão de um LACTÂNCIO em letra kuma-
nistica, foi fundida em Veneza uma outra que já merece, positi-
vamente, o nome de humanística do ponto de vista tipográfico,
uma pura "romana". Essa letra foi primeiro usada em 1469 por
24 ANTÔNIO HOUAISS

dois alemães que vieram de Speier, na Renania, e foi tão bem


traçada que é por assim dizer moderna, aos nossos olhos atuais.
De fato, com JOHANN e WENDELIN DE SPEIER entramos em contato
com o livro moderno - embora a fôlha de rosto e outras partes ·
ou pormenores extratextuais devessem ainda vir a ser desenvol-
vidos e consolidados. ~sse romano, entretanto, foi antes usado
na própria Alemanha, por AooLF Ruscu, de Estrasburgo, em 1464.
E, se seu exemplo tivesse sido seguido; a Alemanha teria conl.l8-
grado o triunfo do gótico, de GuTENBERG, SENSENSCHMIDT e
STUcHs, com um triunfo romano não menos, quiçá mais expres
sivo. Dessa maneira, Veneza, com os DE SPEIER, ficaria com a
primazia de centro impressor, se um ano depois sua letra não fôsse
superada pelos tipos do francês NxcuoLAs JENSON, tão elegantes
e legíveis que as autoridades em tipografia não vacilaram em
considerá-los os mais bem talhados até então; seu romano foi
muito copiado na Itália e somente vinte e cinco anos depois
apareceu um rival que lhe pôde fazer concorrência ( cf. ENBR,
S.V. printing type; STEI, 51-66).

1.5.6.3 Entretanto, em 1495, fundava-se em Veneza uma


tipografia cuja reputação se destinava a crescer enormemente.
ALDus MANUTIUS lWMANus, seu fundador, era a um tempo erudito
e negociante ~ mais do que tipógrafo, cujos problemas enfrentou
sempre em função das ·suas dominantes espirituais. Sua paixão
era a erudição clássica, e devotou-se, por isso, à impressão de iné.
ditos gregos e latinos. Seu mérito, como tipógrafo, é controver-
tido, pois certos críticos · lhe chegam a desconhecer qualidades
primárias no particular. Seus tipos, inspirados nos manuscritos
gregos, são, com efeito, um pouco sobt"ecarregados de floreios e
ligações desnecessários ou pouco funcionais ; e o seu prestígio teria
contribuído para perpetuar uma caixa baixa defeituosa de carac-
teres gregos. Mas não há dúvida de que os seus romanos são
muito menos censuráveis do que os seus gregos ou itálicos. E o
dizer-se que seu mérito lhe advém antes do talho do que do
desenho não procede, pois nesse particular os de JENSON são
considerados justamente superiores, ainda que as maiúsculas dêste
tivessem uma desnecessária ·falta de unidade (cf. ENBR, s.v. prin-
ting type; MART, 229-236).
1. 5. 6. 4 A impr~ssão aldina começou com uni. Erotema.ta, que
CONSTANTINUS LASCARIS lançou em março de 1495, cujas maiús-
culas reaparecem depois, no mesmo ano, em combinação com umas
minúsculas que são de primeira importância histórica. A fonte
inteira aparece primeiro num opúsculo, De A.etna, dum dos mais
preeminentes humanistas do tempo, PIETRO BEMBO, mais tarde
ELEMENTOS DE BIBLIOLOGlA 25

cardeal. As maiúsculas do Erotemata, embora bem desenhadas,


eram por demais mal talhadas para combinar agradAvelmente com
a bela caixa baixa já obtida. Os tipos do De Aetna representam
apenas um primeiro estágio. ALDus M.ANUTIUS reteve-os para o
Diário de ÂLEXANDRE BENEDICTUS, em 1496. Em junho de 1497
editou a obra de um médico veneziano, NICHOLAUS LEONICENUS, in-
titulada De · epidemia, que era composta nos mesmos tipos em corpo
menor. Não se trata de dizer que eram tipos perfeitos: o 'L' é
inferior em desenho ao de JENSON e o 'G' quase tão feio, mas os
tipos revelam de fato uma apresentação muito equilibrada, que
teria ganho muito se o tipógrafo-compositor que os manejou fôsse
particularmente hábil. ~sses tipos tiveram nova oportunidade de
uso em 1500, nas preliminares de um fólio policiano de quinhen-
tas ou mais páginas, compostas no corpo Bembo. Nas prelimina-
res em aprêço, uma epístola de recomendação é composta em
caixa baixa Bembo, aliada a uma nova série de maiúsculas mais
largas. Os fatos parecem indicar que --:- não como alguns que~e­
riam, a saber, que ÂLDUS MAll<lJTIUS era um homem de notável
mau gôsto para o seu tempo - seus interêsses convergiam menos
para a tipografia do que para a erudição. O tipo Bembo do De
Aetna foi, em todo caso, a origem do desenho hoje em dia conhe-
cido pelos impressores inglêses como old face ou old style, francês
style ancien, sendo em português ora usada a expressão inglêsa,
ora a francesa, ora "medieval". Basta comparar as fontes de
JENSON, ÂLDUS, GARAKOND e CASLON para ver que as formas das
letras contemporâneas derivam em linha direta das de ÂLDUS,
através de GARAMOND, que por sua vez não se inspirou de JENSON
(cf. ENBR, s.v. printing type).
1. 5. 6 . 5 Em 1500, a oficina de ÂLDUS MANUTIUS talhava o
caráter móvel por êle denominado cancelleria, ingl. ckancery, fr.
ckancellerie, port. "chancelaria", que aos poucos foi sendo deno-
minado "itálico", ing. italic, fr. italique, esp. itálico. Não se tra-
tava, do ponto de vista do desenho, de letra muito satisfatória,
mesmo para redução a tipo metálico; não menos de 68 ligações
foram nela contadas ~os primeiros volumes de sua estante de
clássicos, para os quais ALDus especificamente a destinou. Foi
fundida pelo mesmo FRANCESCO (GRIFFI) DA BoLOGNA -'-- donde
o seu sinônimo de "grifo", que é, pois, uma adaptaçflo do apelido
do fundidor e não de "grifo" como sublinhado ou m.a rca sotoposta
pela pressão da unha (gr. g,.Ypkos) - que já talhara os tipos do
De Aetna. Por causa dos baixos preços e da novidade dos clás-
sicos aldinos, os tipos em que foram impressos lograram uma
quiçá não merecida reputação, do que resultou, apesar das pro-
teções legais de que quis rodeá-los ÂLDUS MANUTIUs, sua cópia e
26 ANTÔNiO HOUAISS

imitação por vários impressores italianos, inglêses, holandeses e


franceses. Se seu mérito artístico é pequeno - reconhecem os
entendidos - , funcionam com muita economia, a qualidade fun-
damental a que visava ALI>us para a difusão dos autores clássicos
a baixo preço. As deficiências caligráficas dos itálicos aldinos
são ostensivas, quando cotejadas com os que foram desenhados
em Roma por um impressor da Chancelaria vaticana, Luoovmo
.ABRiaHI, dito VICENTINo, e impressos pelo ourives BARTHOLOMJ!lO
DEI RoTBLLI, de Perúsia. A fama do itálico aldino decorre da
prioridade no tempo, mas o itálico de AmuaHI é muito melhor
de desenho, mais grácil, mais legivel e foi de influência mais
duradoura. A forma do itálico hoje em dia empregada em co-
nexão com o oZd face provém de .ABRiaHI. A extensão do uso
dos tipos itálicos talhados segundo o modêlo de .ARluaJ:{I preparou
sua utilização pelos impressores de Paris, RoBERT EsTIENNE e
SIKON DE CoLINES. Um cotejo do itálico de CoLINES remonta a
sua origem diretamente ao de .ABRiam (cf. ENBB, s.v. prin.ting
type).
1. 5. 6. 6 GABAKoND, ao idear o seu romano, tinha evidente-
mente diante de si o De Aetna como modêlo, e os trabalhos de
.ABRiam, quanto ao itálico. · E os artifices e artesãos do seu tempo
uniram êsses dois tipos originalmente independentes numa fonte
única, do que proveio a tradição de haver numa só fonte romanos
e itálicos. ~sses desenhos franceses são a origem dos oZd facu
ou old styles inglêses, espanhóis, portuguêses - cuja introdução
na Inglaterra foi com JoHN DAY e que ficou sendo característico
dos impressos inglêses, através dos trabalhos de VOSKENs, V.A.N
DYCK e CASLON, até o advento de BABKERVILLE e dos desenhistas
modernos. . Se os primeiros tipos de GARAMOND foram ou não
· por êle desenhados ou em colaboração com GEOPFBEY ToaY é
questão aberia, embora a hipótese de colaboração seja credenciada
por autoridades. A bela Bíblia in folia (1532) de RoBERT Es-
TIBNNBS, cuja elaboração tipográfica deve ter levado entre três a
quatro anos, revela talvez o mais inteligente uso dessa fonte. O
tipo Garamond rApidamente se projetou e em curto prazo reper-
cutiu nas tipografias de Veneza e Florença. Destarte, pelos mea-
dos do sécuio XVI o Garamond lograra alijar o desenho veneziano,
que, como se viu, se origina dos dois DE SPEIEB e dos de JENSON,
GUILLAuME LB B,, discipulo de GABAMOND, entre 1541 e 1550 es-
têve em Veneza e sem dúvida forneceu tipos franceses aos im-
pressores venezianos. E foi outro francês, RoBERT GBANJON, que
talhou, para uma nova oficina ligada à Santa Sé, numerosos ca-
racteres orientais e romanos, inspirados nos moldes de GABAMOND,
ELEKENTOS DE BIBLIOLOGIA. 27

numa estada de vários anos em Roma, a co~vite do papa GREGÓRIO ·


XIII. Mas o itálico remonta ao de .AimrGHI, via de regra. GA.-
BAJIOND fêz pelo menos um ensaio com tipos deliberadamente
copiados dos itálicos aldinos e imprimiu com êles três ou· quatro
livros por 1545, que parece agradaram ao gôsto do tempo. O
itálico, em realidade, já desde então tende a ser reservado para
as matérias preliminares, para a citação e para a ênfase. Obser-
ve-se também que, por 1540, a caixa alta das fontes itálicas são
inclinadas, enquanto as de .Aimlom e de EsTIENNES são verticais
(cf. ENBB, s.v. printing typ6; J(A.BT, cap. VIII; aTEI, 37-76).
1. 5. 6. 7 Dos meados até o fim do século XVI poucas inovações
ee acusam no desenho dos tipos. Os bons êxitos da impressão
italiana se localizam ·entre 1470 e 1520; os da francesa, entre
1525 e 1550. CHBISTOPHE PLANTIN, de Antuérpia, trabalhando
com tipos de GA.BA.KOND e de GBA.NJON, conseguiu um certo nú-
me.ro de obras elegantes ;. e, embora sua arte possa ter sido supe-
restimada, sua BibZia poZygZottica é uma notável realização a um
tempo de erudição e de tipografia. Nada contribuiu para o ro-
mano ou para o itálico. E como o A.mbito de variedades dos tipos
estava asfixiado. pelas características dos incunábulos - reprodu-
ção tanto fiel quant~ possível dos manuscritos medievais ou,
sobretudo, renascentistas, ·ideal apenas ·revolucionado por GAllÃ-
KOND - , a hegemonia tipográfica se transferia para Paris, e o
seu desenho fêz f6 durante cento e cinqüenta anos, quase inaltera-
damente. O skulo XVII não fêz ~ais do que reproduzir seus tipos
e os dos EsTIENNES, geralmente com certa perda de beleza -
excetuando CHBISTOPHEB VA.N DYox, um fundidor-talhador de
cunha que, como franco-atirador na profissão, trabalhou em Am.s-
terdão para diversas fundidoras, talhando tipos menos importan-
tes para a história da tipografia do que os de GAllÃKOND, mas
por certo mais belos - caso não singwar de letra calcada sôbre
um prot6tipo que supera o pr6prio prot6tipo. Dessa forma, o
desenho de GA.BA.KOND estava sendo aperfeiçoado já, primeiro, por
RoBEBT GBA.NJON, já, em seguida, por CHBISTOPHEB VA.N DYox
(cf. ENBB, S.tJ. prinfiflg fype; KA.BT, 244-254).
1. 5. 6. 8 A reputação dos tipos holandeses está intimamente
ligada a VA.N DYox, sobretUdo porque seus tipos foram usados
pelos ELZJlVIBES. As edições dessa famosa firma de Leyden não
têm a importância das obraS do século precedente, mas seus tipos
são inegAvelmente mais del!cados de desenho e de técnica. Outros
cunhadores como BABTHOLOKEW VOSXENS e seu irmão Dmox con-
tribuíram para o renome da fundição holandesa, enquanto a arte-
sania inglêsa, por causa de uma legislação repressiva, existia
28 ANTÔNIO HOUAISS

apenas precàriamente; na Inglaterra os livros eram anunciados


como sendo impressos com tipos holandeses. MoxoN considerou os
tipos de VAN DYCK os melhores e fêz uma fonte de desenho seme-
lhante. Quando, em 1660, o bispo FELL chamou a si o encargo
de obter tipos para uso da tipografia da Universidade de Oxford,
foi para a Holanda que de pronto volveu as vistas. Seu agente,
THOMAS MARSHALL, procurou cunhas e matrizes dos VosKENS,
mas não os logrou obter de VAN DYCK. E com o século XVIII se
chega aos tipos chamados "modernos", em que BoDONI passa a
desempenhar o papel principal. GIAMBATTISTA BoooNI, de Parma,
era um inovador, mas não criou -como em geral se supõe - a
cerifa "moderna", porque a mesma cerifa, delgada e magra, se
encontra em códices escritos trezentos anos antes do seu nasci-
mento. Algumas letras modeladas segundo manuscritos dêsse
tempo, as de DA LIGNAMINE, possuem cerifas magras e não an-
gulosas, embora mais pesadas. A cerifa delgada e magra aparece
nas cópias de vários mestres-copistas venezianos, por exemplo, a
lettera antiqua tonda, desenhada por G. A. T AGLIENTE, como a
revelam outros livros italianos e franceses. A cerifa "moderna"
é, de fato, apenas um pormenor renascentista esquecido, contem-
porânea da cerifa pequena, atarracada e angulosa, que se encon-
tra no tipo Bembo ( cf. ENBR, s. v. printmg type ; MART, 238-240
e 243-244).
1. 5. 6. 9 Quando a então mais importante instituição impres-
sora, a Imprimerie Royale, se estabeleceu no Louvre em 1640, por
determinação de RrcHELIEU, seus tipos eram talhados sucessiva-
mente segundo os originais vieux style de GARAMOND, de Bt e
GRANJON. Entretanto, sob Lufs XIV, aprovou-se a criação de
um nôvo parque, com fontes totalmente novas para os romanos e
itálicos, que seria reservado exclusivamente às oficinas tipográfi-
cas do Louvre. O projeto foi sancionado em 1692, e uma comis-
são de técnicos foi nomeada pela Académie Royale des Sciences
para estudar a feitura de uma letra romana perfeita. O presi-
dente da comissão, JAUGEON, incorporou os resultados dos estudos
num vasto relatório, em que se preconizava uma fonte do romano
tradicional disciplinado em rígidos desenhos geométricos a régua
e compasso. As letras da comissão a que presidia J AUGEON eram
delineadas numa área com não menos de 2 400 quadrículas. A
estrada real para uma romana perfeita era, teoricamente, mate-
mática, mas, quando PHILIPPE GBANDJEAN entrou na execução
das cunhas, executou a tarefa com ampla margem de independb-
cia, seguindo de preferência seu cr~tério visual. O romtm du roi
Louis XIV, como foi chamado (l nôvo desenho, comparado com
ELEMENTOS DE BIBLIOLOGIA 29

o romano de GARAMOND, mostra um contraste mais definido entre


os ramos grossos e os finos, é ma!s regular e melhor na sua justi-
ficação. As diferenças gerais mais importantes se relacionam com
a condensação da forma e a novidade da cerifa. Pela primeira
vez esta aparece em tipo na variedade fina, magra, não angulosa.
No tôpo do cabeço dos romanos em caixa baixa "b", "d", "i", "j",
"k", "1" a cerifa extravasa em ponta para os dois lados. Uma
feição interessante do itálico de GRANDJEAN é o seu distanciàmento
da forma vieux style da caixa baixa do "b", que deriva de modifi-
cação da maiúscula quadrada romana conhecida como uncial.
Talvez não se tenha observado, em geral, ·que a caixa baixa do
"h", de GARAMOND e de CASLON, remonta a uma tipo do quatro-
centos, enquanto a de GRANDJEAN é contemporânea de Lufs XIV
(cf. BTEI, 120-121).
1. 5. 6 .10 O roman du roi exerceu, inevitAvelmente, grande
influência. Mas a ação dos fundidores foi em grande parte im-
pedida pelo decreto que proibia as suas contrafações. O recurso
de FoURNIER foi de estreitar as proporções de suas letras e mo-
dificar ligeiramente a cerifa. Suas modificações no itálico podem
ser vistas no espécime de delicado f6lio oblongo publicado em
1742. Embora o monop6lio real do roman du roi fôsse salva-
guardado pela ação penal contra sua reprodução pelos comerci-
antes fundidores, as vantagens de um corpo estreito foram logo
compreendidas, e os métodos .de GRANDJEAN foram seguidos pelos
holandeses ( cf. STEI, 121).
1. 5. 6 .11 J. M. FLESHMAN talhou uma nova série para os
ENSCHEDES, de Haarlem, entre 1730 e 1768; cêrca de vinte dos
seus alfabetos foram em letras alongadas, de linhas finas e ceri-
fas finas. FouRNIER as copiou. como o admitiu em sua descrição
do gôsto tipográfico holandês. Quando BoDONI começou a im-
primir, usou dessas e de outras letras e ornamentos de· Fou&NIER .
.Mais tarde, fêz suas pr6prias versões e mais tarde ainda talhou
variedades ·em que os contrastes entre o fino e o grosso eram
acentuados. Há muito que aprender no cuidado de impressão
e no senso de estilo tipográfico de BODONI, e sua influência foi
merecida e devida na Europa, pelos fins do século XVIII. Pela
mesma época, FRANÇOIS-AMBROISE DIDOT, fundador de uma gran-
de dinastia de impressores, editôres e fabricantes . de papel,
experimentava tipos talhados nos moldes de GRANDJEAN e de
Louis LucE, cunhadores e talhadores das primeiras letras con-
densadas, na lmprimerie Royale. A Inglaterra, morosa no seguir
as inovações, continuava com as fontes de CASLON e BASKERVILLE.
e
Os tipos que WILLIAM CASLON, o velho, talhou entre 1720 1726

.,
30 ANTÔNIO HOUA~SS

foram e são excelentes expressões do olà face proveniente de


ALnus MANUTIUS. Os tamanhos "inglês", pica e "breviário"
foram notAvelmente bem talhados. Alguns dos corpos maiores
fundidos por WILLIAH CASLON, o segundo do nome, eram pelo
menos agradáveis, embora cada corpo acima do two-line pica
contenha mais de um caráter mal planejado. CASLON conseguiu,
por sem dúvida, belas letras, na base de modelos holandeses, que
manifestamente teve diante de si. Mas a JoHN BABKEBVILLE cabe
o privilégio da iniciativa própria - sendo seu romano uma letra
aberta, legível e expressiva, de muita individualidade, ainda .que
o &filado itálico que tomou para companheiro na mesma fonte
fôsse menos feliz. Os tipos de BASKERVILLE, não obstante, não
lograram especial bom êxito ao seu tempo ; mas BoDONI · e os
DIDOTS admiravam sua impressão e papel. Mais tarde, porém,
a influência dos tipos de BASKEBVILLE começou a irradiar-se na
Inglaterra, do que são testemunhos os caracteres de FaY e WILSON.
Um dos CABLONs, separado da firma paterna, fêz também uma
letra semelhante à de BABKERVILLE : tipos redondos, embora com
contrastes diminutos entre os finos e grossos, continuam a tradi-
ção do olà face; mas a graça e a precisão do corte refletem o
"moderno" de GRAND.JEAN. Comparativamente, BABKEBVILLE era
mais impressor e CAsLON mais desenhador-fundidor (cf. STEI, 138).
1.5 . 6.12 O primeiro DIDOT, como se viu, que se engajou em
tipografia foi FRANÇOIB-AKBROISE (1730-1804), que dirigiu a im-
prensa oficial francesa durante um certo tempo e a quem a
Europa deve seu sistema de pontos tipográficos de mensuração.
Seus tipos de faces leves foram gravados pelo fundi dor W Al"LARD
e marcou um avanço sôbre FoURNIER e Booom na linha dos de-
senhos de GRANDJEAN. Seus filhos e sucessores retrabalharam
seus tipos, tornando-os mais estáveis, mais magros e mais con-
densados (cf. M:ART, 254-257; STEI, 121).
1. 5. 6.13 Os tipos inglêses "modernos" podem ser inicialmente
encontrados nos livros de Wn.LIAM: BuLM:ER (1758-1830), da Im-
prensa Shakespeare - bem ajuntados, estreitos, de linhas finas,
com a cauda arredondada do "R" maiúsculo (que jamais ocorre
nos estilos old face autênticos), preferido por GRANDJEAN, BAS-
KERVILLB e BoooNI. Tais tipos foram fundidos por Wn.LIAJ(
MARTIN. Depois de BULMER, apareceram diversos desenhos, sem-
pre de linhas finas. Desde a época de CAXTON, a Inglaterra
dependeu dos tipos estrangeiros, holandeses e franceses. O pri-
meiro tipo inglês que repercutiu no exterior foi um "gordo gro-
tesco" de THORNE, produzido de 1800 a 1803, provocando reação
favorável na França, Alemanha, Holanda. A própria Imprime-
ELEMENTOS DE BIBLIOLOGIA 31

rie Nationale encomendou a THORNE, já em 1804, um desenho


semelhante. Os tipos Bodoni engordaram, em conseqüência, nos
corpos maiores, e em Paris as impressoras começaram a ser su·
pridas de Didots gras, em lugar de maigres. Depois de · THORNE
- a partir de 1803 - sobreveio um fluxo heterogêneo de dese-
nhos gordos e magros. Com a expansão industrial britânica,
houve também a venda de suas máquinas impressoras e dos seus
tipos, que começaram a invadir o mundo, mas com padrões pouco
credenciáveis de desenho, pelo menos entre 1820 e 1860, com exce-
ção dos do editor WILLIAM PrcKERING e seus impressores, os
WHITTINGHAMS, com desenhos "modernos" e old faces. O re-
tôrno a padrões con.dignos foi lento. Em 1846, realça-se o tra-
balho de um ·erudito e impressor, Lours PERRIN, de Lyon, que
talhou os tipos desde então denominados Renaissance, segundo o
modêlo das inscrições latinas, tão abundantes em sua cidade natal,
a Lugdunum dos romanos. O romano caixa baixa assémelha-se
ao de CASLON, mas o itálico, derivado de GRANDJEAN e FoURNIER,
ganha em elegância, por haver-lhes PERRIN incluído umas maiús-
culas floreadas. Os elegantes impressos de PERRIN nesses carac-
teres augustauz deram a êstes importância notável na França,
e em Paris foram copiados por BEAUDOmE, que lhes chamou,
arbitràriamente, "Elzevir", desde então o nome aplicado na Eu-
ropa a todos os old faces. As maiúsculas de BEAUDOmE, impor-
tadas pela Chiswick Press quando dirigida por WHITTINGHAM e
WILKINS, são ainda hoje usadas na Inglaterra com o nome de
Lyons capitals (cf. ENBR, s.v. printing type).
1.5.6.14 O chamado movimento de Orlord na Igreja Angli-
cana, as novelas de W ALTER SCOTT, o medievalismo e os pré-rafae-
litas abriram o caminho para o advento da obra de WILLIAM
MoRRrs, poeta e artesão. Conseguiu êle imprimir seu Roots o/
the M()Untain (1889) com uma velha fonte da Chiswick Press,
talhada por WILLIAM HowARD em 1858, dando, porém, ao livro
feição gráfica tão pr6pria que os tipos, inclusive, pareciam origi-
nais. MORRIS, como tip6grafo ao menos, era um medievalista, que
admirava os velhos impressos, com o que seus tipos eram ar-
caizantes; julgava o romano de JENSON o melhor e sôbre êle cal-
cou uma fonte, o goUlen type. Ensaios subseqüentes seus foram al-
ternados com de outros desenhistas, fundidores e gráficos que, re-
montando muitas vêzes às origens dos tipos ou mesmo aos manus-
critos, criaram uma galeria de fontes vária, expressiva, multifor-
me, colocando a Inglaterra em primeira plana no movimento grá-
fico. Movimentos semelhantes, em breve, se manifestavam na
32 ANTÔNIO HOUAISS

Alemanha e nos Estados Unidos - cabendo a êste país a posição


pioneira e hege19ônica ainda hoje no que tange, pelo menos, aos
corpos muito grandes, para usos da propaganda em geral ( cf.
ENBR, S. V. pf'inting type; 8TEI1 217-220; DEVI, passim).
1. 5. 6 .15 Os primeiros tip6grafos que aparecem na Península
Ibérica são alemães ( cf. VIND). Mas, enquanto na França e na
Itália souberam guardar por algum tempo traços da origem na
sua arte, nas Espanhas e em Portugal cedo se curvaram à origi-
nalidade e peculiaridade locais. Iniciando com caracteres roma-
nos, retornaram ao g6tico, na tradição dos manuscritos peninsu-
lares. E, embora a economia de sua arte em grande porção de-
pendesse do patrocínio eclesiástico, em breve compunham em ver-
náculos, em número superior de livros aos em latim. Os princi-
pais centros impressores foram Valênc!a, já. a partir de 1473,
Barcelona, 1475, e Saragoça. Castela, em verdade, foi, no parti-
cular, tributária de Aragão. E um dos traços diferenciais da
tipografia das Espanhas com relação à de Portugal foi que na-
quelas foram muitos os grandes centros impressores : além dos
citados, podem ser referidos Burgos, Salamanca, Alcalá de Hena-
res, Sevilha, Madrid. Em Lisboa, já em 1495 aparece a arte
tipográfica, onde pela primeira vez em português 'se vai imprimir
em quatro volumes a tradução da Vita Christi, que o Centro de
Pesquisas da Casa de Rui Barbosa reeditou, sob os cuidados de
AuGUSTO MAGNE, reedição em que se reproduz em fac-símile a
impressão original em tipo· g6tico, de três corpos, importados da
Alemanha (cf. CART, XVI et passim). Mas é quase certo que a
primazia tipográfica cabe, em Portugal, a Leiria, já em 1465,
segundo a exaustiva demonstração de AMDICO CoRTEZ PINTO ( cf.
PINT, 488-490). Digno de nota 6 que até 1492 as impressões na
Península Ibérica em hebraico são em número considerável, quase
ombreando com as em latim e em vernáculos (sTEI, 66-70). O
fato é que a arte tipográfica espanhola e português& não perdeu
em brilho através dos tempos, chegando a produzir obras de grande
merecimento, dentre outros com JOAQUfN !BARRA, no século XVIII
(cf. VIND; KART, 244). E certa tradição manuelina vem sendo
tenazmente defendida em Portugal, com produções que, embora
algo carregadas de floreios, enfrentam um honroso cotejo com o
que de melhor se possa querer, inclusive no equilíbrio e sabedoria
das fontes.
1. 5. 6 .16 O conspecto hist6rico relativo aos caracteres m6veis
tipográficos no Ocidente, embora sumário, como acima resumido
(ver 1. 5. 6 .1 a 1. 5. 6 .15), permite-nos estabelecer o seguinte
ELEMENTOS DE BIBLIOLOGIA . 33

quadro genealógico de sua formação, até a obra do primeiro


DIDOT, pois a partir de então a matéria é por demais múltipla
para poder ser considerada esquemàticamente :

tradição manusoritora latina

(omcl&l~.....,.., - ·
livro manus-
crito [. . . a.C.
a c. a6e. XV]
[sk. V r
Carolingeo
VDI}
gótico
(séc. VIII - XVI

neocarolfngeo aiemão francês normando lombardo fJ


[renascimento italiano)
[littera anliqua - .humanfatiQc&]

.l [Connal] e [informal]

[romano)
SPSIRel (1469)
incuntbulos SWEYNHEIIl Gtm:NI\ERG [sée. XVI
[séc. XV até ·
JENSON (1470r e CosTER [séc. XV}
1470] ·PAIOfAll'l'l:
caracteres gótico-ro-
manos)

[romano] [itálico)
· ALDus MANunus
(1495) [1500]

livro moderno
l
7GB!
[14iO, àls vê-
zes mais tar-
de,aosn~ G.ARAKON»
dias}

Bol>ti
["moderno' ')

GBANDJE.t.Jr
[rOitlcm du ~]
I
DI.D(Yf
34 ANTÔNIO HOUAISS

1. 5. 6 .17 Compreende-se, assim, como e por que se desenvolve-


ram, através de uma necessidade expressional crescente, de uma
tendência à sistematização e racionalização, e, dentro dêsses limi~
tes, de uma liberdade de criação individual, as famílias, os gêne-
ros e os desenhos das letras tipográficas. As finalidades do uso,
consagração e perpetuação, distinguindo o moninnental, do uncial,
do cursivo, são a origem, embora difusa, das maiúsculas - monu-
mentais e unciais - e das minúsculas - cursivas - , de um lado;
e, ainda dentro dessas determinantes, das versais e dos versaletes
- maiúsculas - . A cada fixação, porém, os imperativos cotidia-
nos do uso obrigavam sempre a uma nova duplicação: uma escrita
formal, caprichada, vertical, arredondada; e uma escrita ligada,
contínua, deitada, informal - originaram o romano e o itálico,
respectivamente. Mas, grosso modo, o romano e a sua comple-
mentação ou variante, o itálico, destinguiam-se do g6tico, por ser
êste, a par com mais anguloso e florido, mais gordo, mais negro.
Ora, a pr6pria evolução do romano nos dá a chave de que &te
tanto tendeu para as linhas grossas quanto para as linhas finas,
em que se fixou : essa possibilidade diferencial implícita e a re-
cordação das características do g6tico permitiram, assim, a con-
solidação do terceiro gênero - negrito. Destarte, podemos, já
agora, definir uma letra tipográfica (a) por sua família, (b) por
seu gênero, (c) por seu desenho e ( d) por seu corpo :

1) maiúsculas ou capitais veraaia


a) por famflia { veraaletea
(
2) minúsculas
1) romano, dito também redondo, normal
b) por gênero
( 2)
3)
itálico, dito também grifo
negrito, dito também normando, gótico
1) Garamond
2) Bodoni
3) aldino
c) por desenho 4) Didot
5) elzeviriano
6) Baskerville
n)
( 1
2
3
d) por corpo 4
5
6
7
ELEMENTOS DE BIBLIOLOGIA 35

1. 5 . 6 .18 As dificuldades de uma classificação conspectiva dos


diferentes desenhos de tipos são notórias. Mesmo os entendidos
especializadamente o reconhecem. Um exemplo é a confissão de
V. P. VIcTOR-MicHEL, em delicioso livrinho, tratando tão-somente
dos romanos (VICT, 69-70):

Que eu saiba, as grandes famílias de caracteres são :


as antíquas, mais correntemente chamadas grotescas, as
mais simples de tôdas; as egípcias, letras de linhas bar-
radas horizontal e uniformemente, quase sempre sem di-
ferença de espessura nas linhas ; as elzevires - que levam
o nome deformado de uma grande família de tipógrafos
do século XVIII, os Elzevires -, letras que são formadas
por seções de linhas grossas e finas; as didots, das quais
se pode aproximativamente dizer que estão para as el-
zevires como as egípcias estão para as antíquas .

acrescentando considerações outras sôbre as que êle chama famílias,


que correspondem, na nossa nomenclatura, aos gêneros. Já DA-
NIEL MELcHEB e NANCY LABBICK, em utilíssimo manual, enfren-
tam de forma prática, por funcional, para fins usuais, o problema
da classificação, nos seguintes têrmos (MELe, 343):
Os tipos variam às centenas segundo os desenhos, ta-
manhos e pesos, mas é possível classificá-los grosso modo
como segue:
tipos de texto versus tipos de anúncios
romanos versus itálicos
finos vers'I,I.S grossos
velho estilo versus modernos
com cerifa versus sem cerifa
cerifa redonda versus cerifa quadrada.

1. 5. 6 .19 Escusa ressaltar que o parque tipográfico de ne-


nhuma tipografia do mundo, assim como os catálogos de nenhuma
fundidora do mundo, oferecem tôdas as combinações possíveis de
tipos. Ao contrário, há limitações espontâneas, por necessárias,
já que não há limites para tais combinações e já que semelhante
riqueza de recursos se transformaria em pletora irracional da
arte tipográfica, pela infinita variedade que se apresentaria de
livro para livro, o que quebraria o mínimo de ordem, economia
e comunicabilidade que há nas obras humanas com destino social,
sem falar nos ônus sociais que daí adviriam.
36 AN T ÔN I O H O U AI S S

1 . 5. 6. 20 Uma boa fonte tipográfica em geral tem · caracteres


-disponíveis de quatro corpos, digamos, 6, 8, 10 e 12 : se a com-
posição corrida á em corpo 8, as notas e as citações - quando
estas deverem ter contraste material de corpo - serão em corpo 6 ;
· se a composição é em corpo 10, as notas poderão ser em corpo 6
e as citações em corpo 8 ; se a composição é em corpo 12, as notas
poderão ser em corpo 10 ou 8, digamos 8, e as citações em corpo
10 ou 8, digamos 10. Uma boa fonte tipográfica é de um e s6
um desenho, quaisquer que sejam as famílias, gêneros ou
corpos nela representados, desenho denominado - modernamente
- ao arbítrio das emprêsas fundidoras de tipos; êsse arbítrio, não
obstante, é parcial, pois em bom número de casos os nomes, com
serem tradicionais, remontam às características principais do de-
senho da tradição tipográfica . . Uma boa fonte tipográfica manual
tem, em geral, versais, versaletes e minúsculas, as primeiras e as
últimas imperativamente; e ·as versais, via de regra, apresentam-se
em dois gêneros, em romano e em itálico, podendo também ooor-
rer em negrito, enquanto os versaletes via de regra são apenas em
romano, podendo, contudo, sê-lo também em itálico e, mais rara-
mente, ainda também em negrito, enquanto as minúsculas são em
romano, itálico e negrito, as duas primeiras imperativamente.
1.5.6.21 Nas condições da composição mecânica mais· corren-
tes, vale dizer, com linotipos ou monotipos, a variedade que uma
fonte manull'l pode oferecér, quando rica, raramente pode ser
ombreada por fontes mecânicas. Na prática, as linotipos existen-
tes entre nós são de duas espécies de fontes : (a) . fontes com
grifo, isto é, as que, além dos versais e dos romanos, ademais dos
versaletes, oferecem itáli~os; (b) fontes com .negrito, isto é, que
não dispõem de versaletes, pois as matrizes dêstes são substituídas
pelas de negritos.
1. 5. 6. 22 Misturadoras são as máquinas linotípicas, raras ainda
no Brasil, por sua complexidade de manejo e conservação, que
podem compor numa mesma linha os grifos - e portanto os
versaletes - com o negrito.
1. 5. 6. 23 Os teclados de uma monotipo permitem que se tra-
balhe, à escolha, (a) com itálicos e versaletes, ademais dos ver-
sais e romanos, (b) com itálicos e negritos, ademais dos versais e
romanos. Mas em quaisquer dos dois casos pode-se suprir o gê-
nero que falta por processo semimanual - trabalhoso, aliás -
BLEKBNTOS DE BIBLIOLOGIA 37

que consiste em produzir os tipos desejados nas monotipos de um


teclado e enxertá-los com os de outro teclado.
1. 5. 6. 24 Ao observador atento não terá escapado que se po-
deria pensar em outras combinações, como, por exemplo, versais,
versaletes e itálicos em negrita, ou versais e versaletes em itálico
- mas salvo exceção eventual, sobretudo em linhas isoladas, para
subtitulação, não se cogita dêsses tipos.
1 . 5. 6. 25 Salvo quando a matéria é por sua natureza mais
bem representada por rica variedade de tipos, os autores devem
ter presente que (a) um livro será tanto mais fácil e fielmente
composto quanto mais recorrer a um só desenho, um só corpo, um
só gênero e duas famílias - versais e romanos; (b) um livro, num
segundo grau de exigência, pode r.ecorrer a um só desenho, dois
corpos (um, via de regra, para notas), dois gêneros (romano e
itálico), e a três famílias; (c) entretanto, melhor será, na medida
do possível, que o negrito seja evitado, pelo menos no corpo do
texto propriamente dito, dos textos paragráficós.
1. 5. 6. 26 Cumpre, todavia, com relação aos gêneros, ressaltar
que, além do romano, do itálico e do negrito, há muitos outros,
para fins tipográficos quase sempre não livrescos ou, no máximo,
episõdicamente livrescos; com efeito, as fundidoras, nos seus ca-
tálogos, freqüentemente oferecem, para fins diversos, caracteres
imitantes do manuscrito dito inglês, caracteres imitantes dos
dactilográficos, caracteres g6ticos propriamente ditos (isto é, tais
como· fixados na tradição manuscritora medieval post-carolíngia e
não neocarolíngia, encetada por ULFILAs, de que derivaram os
tipos m6veis de GuTENBERG e em cuja linha se fixou o alfabeto
latino enxertado de traçados gregos e rúnicos Usado entre os ale-
mães, via de regra segundo larga variedade de desenhos) (cf. OOBE,
75-76), assim como uma ampla galeria de caracteres de dispZa1J,
de desenhos fantasiosos e caricaturescos.
1. 5 . 7 Nomenclatura dos desenhos - Já agora poderíamos
falar dos desenhos dos tipos - sôbre cujas origens já se tratou
supra, de 1.5.6.1 a 1.5.6.14 -. A. nomenclatura, com efeito,
hoje em dia, segundo as fundidoras, representa uma conciliação
de três tendências: (a) o respeito da tradicional, (b) a inovação,
quando não arbitrária, puramente comercial e (c) a necessidade
de uma sistematização descritiva. A. êste último respeito, é muito
expressivo o critério seguido pela Società Nebiolo, fundidora de
tipos, fabricante de máquinas tipográficas e xilográficas, de Tu-
38 ANTÔNIO HOUAISS

rim, na Itália. Compulsando-se o extrato de seu catálogo (soOI,


passim), vê-se que cada desenho, a par de nomes próprios mais
ou menos. expressivos por seu conteúdo gráfico tradicional -:-
Quirinus, Neon, Cicogna, Landi, Nilo, Semplicità, Fluidum, G.B.
Bodoni, Orlando, Normandia, Paganini, Tiziano ... - , é descrito
por uns quantos epítetos particularmente visuais ou plásticos,
como tonda (redonda), ckia.ra (clara), nonnale (normal via de
regra correspondendo a romano), nera (negra), corsiv a ( cursiva,
via de regra correspondendo a itálico), neretta (negrinha), stret-
tissima (estreitíssima), microscopica, ombrata (sombreada), li-
near, stretta (estreita), nerissima (negríssima), sem falar em lo-
cuções também fortemente descritivas. Já no catálogo da Cia.
Lanston do Brasil, S.A. ( KEBG, passim), distribuidora no Brasil
dos tipos e material tipográfico conhecidos em geral sob o título
"monotipo" ou suas variantes nacionais, os epítetos ocorrem com
menos freqüência, havendo, entretanto, ocorrência de nomes tra-
dicionais e de nomes inovadores - Alternate Gotkic, Franklin
Gotkic, Ckeltenkam Bold Ez. Cond., &ns Serif, Bodoni, Ultra
Bodoni, ]Jroadway, Goudy, Stymie, Ben Franklin, Cusking Old
Style, condensed, bold, · ligkt, medium, Bookman. . . -. Já no
catálogo da firma Bauersche Giesserei, de Frankfurt sôbre o :Meno,
Alemanha (BAUE, passim) as três tendências nomenclatoras se mis-
turam- Weiss-Antiqua, Weiss-Kursiv Einfacke Versalien, Halb 7
fette W eiss·Antiqua, Bodoni-Antiqua, Corvmus mager, Sckneidlef"-
Mediaeval, Baskerville-Antiqua, Noblesse, Futura ... -, E no ca-
tálogo de uma fundidora brasileira, Manig Manufatura Industrial
Gráf:ca S.A. (KANI, passim), também se repetem as características ·
das três tendências em aprêço - grotesca meio-preta estreita, gro-
tesca gorda apertada, medieval, medieval grifo, romano grifo,
Bodoni, moderno normal. . . - Escusa aumentar a lista. -
1. 5. 7 .1 Por êsse motivo, julgamos de melhor alvitre - em
lugar de estabelecer uma longa lista de nomes de desenhos, se-
gundo as fundidoras, com as respectivas caracterizações e descri-
ção- tratar da matéria do ponto de vista de sua funcionalidade
na própria composição tipográfica, tendo em vista certas constân-
cias ou certas referências gerais - as características comparativas
dos desenhos, em suma. Isso não obstante, vão alguns nomes de
desenhos, extraídos de locais vários; pela quantidade, embora a
coleta tenha sido limitadíssima, pode-se ter uma idéia da nomen-
clatura sem limites usada modernamente, o que obsta a qualquer
sistematização por êsse lado. E note-se, ainda, que os nomes vão
ELEMENTOS DE BIBLIOLOGIA 39
sem os adjetivos, muitos também arbitrários, com que podem ser
acompanhados:

Adtype Filigrana Noblesse


Albertua Fluidum Normandia
Alternate Fournier Old Style
Antiqua Fournier-le-jeune Orlando
Arco na Franklin Ornata
Azuré Futura Orphid
Barnum Garamond Paganini
Baskerville G.B. Bodoni Perpetua
Bastone Gill Sane Philadelphia
Bell Gladiola Plantin
Bembo Globe Plate
Ben Franklin Goudy Powell
Beton Grotesca Quirinus
Bodoni Hastile Resolut
Bodonia Hi dalgo Rochester
Bookman Imprint Romano
Brasil Ionic Ronde
Broadway Kabel Rondine
Caslon Kennerley Sane Serif
Centaur Landi Schneidler
Centenário Lombardic Scotch
Century Lyons Semplicitl
Cheltenham Mediaeval Sirena
Chisel Medieval Stéphanie
Cicogna Mênfis Stylescript
Clearface Moderno
Cochin Mundial Stymie
Corvinus Monotype Stylus Symphonie
Cushing Monza Times
Ehrhardt Moreau-le-jeune Tiziano
Elisabeth Narciso Ultra Bodoni
Etrusco Nilo Veltro
Excelsior Neon Walbaum

1. 5. 8 Funcionalidade dos desenhos - São as características


comparativas - correlativas ou oponenciais - dos desenhos dos
tipos o que importa ter sempre presente, em face das disponibili-
dades de um parque tipográfico, para a eleição do desenho ade-
quado a um livro. A êsse respeito, as características principais
são as seguintes (cf. SIKO, 12):
a) a largura das letras;
b) as medidas do ôlho em relação ao corpo ;
c) o sombreado do traço do ôlho;
d) o comprimento da cauda e do cabeço das letras;
e) as medidas das versais ;
f) o pêso ponderai óptico da carga de negro de cada ôlho
de tipo;
40 ANTÔNIO HOUAISS

g) o floreio ou a secura de seu desenho, particularmente a


presença ou não de cerifas.
1. 5. 8 .1 ·Ainda que do mesmo corpo, o comprimento total das
letras do alfabeto, medidas uma após outra, varia, de fonte para
fonte. ~ que os padrões de medida de um tipo são fixos com
relação à sua altura e à sua profundidade, mas não com relação
A sua largura. Essa variação permite que varie o número de
letras - e, pois, de vocábulos - que podem normalmente ser
impressas numa linha determinada, independentemente de quais-
quer necessidades de "justificação", tipogràfieamente falando.
Trata-se, portanto, de uma característica importante do desenho
dos tipos, pois ê ela que pode condicionar a rejeição ou a aceitação
de uma séri~ de desenhos, em função, de um modo geral, do
tamanho da página e, nesta, da mancha, mas sobretudo em função
de largura ou comprimento da linha, particularmente nas com-
posições de duas, três ou mais ·colunas por página. ~ nesse sen-
tido que se fala de fontes largas, médias, estreitas, estreitíssimas.
A letra que dá, por si só, a melhor idéia da largura dos caracteres
de uma fonte é o "m", havendo fontes em que um "m" pode ser
quase o dôbro de largura do "m" de outra fonte - ambos do
mesmo corpo (cf. IIDW, 12-13). Está-se aí em face da chamada
largura "m ".
1. 5. 8. 2 Se, num mesmo corpo, os olhos variam de dimensões
s6 com relação à largura, segue-se que, no mesmo corpo, em deter-
minada área, cabe igual número de letras, ressalvada a variação
da largura. Entretanto, o efeito visual não ê o mesmo. Se o
ôlho dos tipos de uma fonte comporta vazios e avizinhamentos,
superior e inferior, generoso, mercê da espessura das curvas e
retas e cerifas do desenho, decorrentemente a legibilidade será
maior ou menor. Numa composição cerrada, os desenhos leves,
pesados, brilhantes, negros, negríssimos, gordos ou magros permi-
tem diferente legibilidade. ~ assim que, em função das margens,
dos brancos intervocabulares médios, dos brancos seguintes aos
pontos e dos brancos interlineares e interparagráficos, a escolha
do desenho poderá ser decisiva, para obter o maior rendimento
de legibilidade. Os .pontos de referência, no particular, para dar
a medida do ôlho em relação ao tipo, são os seguintes: para a
sua largura, como vimos supra, o "m"; para a altura, o "x" -
chamada altura "x" - já que esta letra, sem cabeço nem cauda,
é a que mais idealmente se aproxima, pelo cruzamento de diago-
nais, do quadrado ideal médio dos desenhos de uma fonte, dentro
do conceito das quatro paralelas ideais que guiam a estruturação
dos caracteres manuscritos ou móveis (v. supra 1.5.2). Decor-
ELEliENTOS DE BIBLIOLOGIA 41

rência disso, uma fonte pode ser eventualmente (a) larga no seu
desenho, mas estreita no seu corpo ; (b) larga de desenho e de
corpo; (c) estreita de desenho e estreita de corpo, e (d) estreita
de desenho mas larga de corpo - características que influem
capitalmente no contraste prêto-no-branco de uma mancha de
página ( cf. smo, 18 ; COHE, 96) .
1. 5 . 8. 3 Por sombreado do ôlho entende-se o contraste entre
as seções (retas ou curvas) finas e as seções (retas ou curvas)
grossas do traço do desenho da letra, nos seus contornos essenciais,
contrabalançados pelo vazio de branco inten;to ao ôlho. Quando
as seções grossas predominam em sentido vertical, a composição
dos tipos com tais desenhos sem brancos interliterais fica carrega-
da de negro ; quando as seções grossas e finas não acusam pre-
dominância· no sentido vertical ou horizontal, a distribuição da
massa do negro já se toma por assim dizer natural; .enquanto,
por fim, quando o traço é predominante ou exclusivamente fino,
no sentido vertical e horizontal, a intercàlação de brancos interli-
terais pode acarretar o aparecimento de veios de brancos, ditos
lagartos ou caminhos-de-rato, que desequilibram a mancha da
página, estriando-a de sulcos, dividindo-a em campos desiguais e
não funcionais, quebrando-lhe, em suma, a unidade visual que lhe
é própria. As considerações acima são feitas em função do
romano; tratando-se do itálico, os princípios são os mesmos, em
função dos sentidos oblíquo e horizontal; tratando-se dos negritos,
a decorrência natural é que o seu uso extenso como que pede a
contrapartida inteligente do uso de bxancos interliterais e de
brancos intervocabulares ad hoc (cf. SIHO, 16) .
1. 5. 8. 4 Como vimos, normalmente, nas maiúsculas, há cinco
letras com cauda - "g", "j", "p", "q" e "y" - e sete ·com
cabeço - "b", "d", "f", "h", "k", "1" e "t" (v. supra 1.5.2).
O cabeço e a cauda, dentro da distribuição do desenho das letras
nas quatro linhas paralelas ideais, fazem que a franja branca
superior e a franja branca inferior sejam menos freqüentemente
ocupadas de traços, enquanto a franja branca média o seja conti-
nuamente, ou quase. Daí decorre que, ordinAriamente, o próprio
desenho dos caracteres determine uma entrelinha natural entre
duas linhas de uma coluna. Se o cabeço e a cauda, num desenho
dado, são particularmente longos, a entrelinha parece maior, se
não o são, parece menor, e, reversivamente, as letras de altura
"x" parecem menores no primeiro caso e maiores no segundo. Se
a impressão visual é essa - como de fato é e é facil compreender
- sua aplicação é óbvia, em função do tamanho da página, da
42 ANTÔNIO HOUAISS

mancha, das dimensões da linha, do corpo - havendo um jôgo


de compensações, ipso facto, muito lógico. Por exemplo, se se
trata de um livro de página pequena, com mancha enquadrada
dentro de margens relativamente grandes, o que torna a mancha
particularmente pequena e assim também a linha, é justo que o
corpo do tipo seja pequeno, digamos 8 ou 10; em contraposição,
num tipo assim e com a economia do branco que as dimensões
estão a determinar, é justo que se eleja um desenho estreito ou
médio, nunca largo, para que nessa linha haja a possibilidade
de entrarem uns quantos vocábulos inteiriços e a necessidade de
partição vocabular - que gráfica e, quiçá, psicológica e õptica-
mente é um mal - seja limitada ou reduzida; mas um desenho
estreito ou médio pediria, compensatoriamente, brancos interlite-
rais - que no caso em aprêço seria contraproducente - ou um
desenho em que os traços verticais não fôssem predominantemente
grossos; por fim, se a coluna planejada para a mancha supuser
um número relativamente grande de linhas, para maior rendi-
mento de cada mancha, é justo que o desenho escolhido . seja de
cabeços e caudas longos, a fim de que a entrelinha natural dis-
pense o interlineamento por brancos interlineares especiais, que
iriam anular a economia desejada ( cf. SIMO, 16).
1. 5. 8. 5 De um modo geral, os caracteres móveis de altura
"x" são de meia fôrça do corpo; destarte, no corpo 12, por
exemplo, via de regra as letras de altura "x" - "a", '"c", "e",
"m", "n", "o", "r", "s", ·"u", "v", "z" - têm seis pontos; as
letras com cabeço ou cauda têm três quartos da fôrça do corpo,
seja, na hipótese considerada, oito pontos. As versais - as mai-
úsculas típicas - são, via de regra, das dimensões de três quartos
da fôrça do corpo, com sua massa distribuída como as letras
com cabeço. Alguns desenhos, porém, infringem, nas versais,
para menos êsse princípio, a fim de, presuntivamente, obterem
maior homogeneidade ; é que, com efeito, dentro daquela ortodo-
xia, as capitais, reunidas, parecem discrepar para mais do corpo
das letras minúsculas correspondentes. Dêsse modo uma das de-
corrências mais lógicas disso é a de procurar - quando se trate
de livro em que, com freqüência, se deva lançar mão de vocábulos,
expressões ou linhas compostas, na mancha, com versais ....:.... um
desenho cujas capitais sejam ligeiramente menores do que as le-
tras com cabeço; caso contrário, as versais como que saltam, gri-
tam na mancha. ~sses desenhos são, por isso mesmo, preconizados
para bibliografias, catálogos, certos tipos de livros com .averbação
por versais, certos dicionários (cf. sn.w, 17).
ELEMENTOS DE BIBLIOLOGIA 43

1. 5. 8. 6 Pôsto de lado o fato de que, segundo as var:edades


individuais, há leitores que preferem os tipos mais negros e outros
os menos, pôsto ainda de lado o fato de que as crianças,. via de
regra, propendem para os tipos mais negros - importa-nos pre-
cisar o conceito de mais ou menos negro e de como se pode obter
o mais negro e o menos negro. Num mesmo corpo dado, digamos
12, a mesma letra, digamos "a", tem uma área total de negro do
seu traço - retas, curvas, cerifas - diferente segundo seja o
desenho; e,. ainda, dentro do mesmo desenho, essa diferença pode
ser mais ou menos acentuada pela grossura relativa do seu traço
- daí os caracteres gordos, os leves, os negros, os negríssimos.
Pode-se, pois, mensurar a carga "absoluta" de negro de um tipo
dado: n mm2 . • • ~sse dado, em si, pouco ou nenhum valor tem,
senão em função dos brancos que o rodeiam, brancos "naturais",
isto é, que .decorrem da composição ordinária e cerrada da fonte
a que pertence, ou brancos "especiais", isto é, que decorrem da
interposição de brancos interliterais, intervocabulares, interlinea-
res, interparagráficos, paragráficos, marginais, entradas à esquer-
da, entradas à direita. Se, pois, determinada composição possa
parecer demasiado negra, há recursos para minorar essa demasia,
havendo-os também para o reverso. Um princípio, porém, parece
existir que oriente, do ponto de vista do cansaço 6ptico, a matéria:
é o de que, quanto menor fôr o corpo, menos carga de negro
relativa deve haver, e, pois, quanto maior fôr o corpo, mais carga
de negro relativa pode haver. É a mediania da "consciência vi-
sual da leitura" - essa segunda natureza a que aderem os hábitos
dos homens feiçoados aos e pelos livros desde a infância - que
continua sendo a medida da carga de negro menos exaustiva ou
cansativa e - talvez por isso mesmo - mais estética, a menos que
se busquem efeitos contrários (cf. SIMO, 17).
1. 5. 8. 7 É ainda a consciência visual da leitura, e o seu cortejo
de hábitos, e a fôrça da hist6ria e da produção passada exemplar,
que levam os artistas gráficos - guardadas as possíveis equiva-
lências de dois desenhos de mesmo corpo e de aproximativamente
iguais resultantes ou soluções para a feitura do plano de um livro
- a desejarem os de feição tradicional, ou os de feição moderna,
ou os de feição fantasiosa. Um raciocínio exclusivamente impes-
soal, objetivo, não hist6rico, pode fàcilmente propender para o
conceito de que as cerifas são absolutamente excrescentes, não
funcionais, inúteis, quiçá onerosas ou cansativas para os olhos.
Entretanto, para a universalização dos desenhos sem cerifas há
obstáculos contínuos, inclusive quanto à o legibilidade, legibil~da­
o o

de que, contudo, s6 pode ser rigorosamente aferida quando se leva


44 ANTÔNIO BOUAIBB

em conta que estão incorporados os dois elementos - a cerifa e a


não-cerifa - ao patrimônio mental da consciência visual. De um
modo geral, obtém-se o efeito sugestivo do arcaizante, em artes
gráficas, com tipos com cerifas marcadas, de traço mais ou menos
de igual espessura, sem falar de capitulares, subcapitulares e
vinhetas e iluminuras e molduras ; obtém-se o efeito sugestivo do
moderno com tipos com cerifas, de traço contrastante entre suas
seções finas e grossas, ou com tipos sem cerifas, de traço sem
contrastes - o que, porém, de fato já havia no passado da tipo-
grafia, embora de raro uso, o chamado "grotesco"; obtém-se efeito
inovador com caracteres de desenho audacioso, em que certos prin-
cípios rotineiros são deliberadamente violados, ainda que a pre-
texto de uma observação mais exata das origens - e o exemplo
por excelência é o desenho Peignot, de CABBANDRE, e a fundamen-
tação que lhe é dada. . . ( cf. KARL; DEVI; JENN, 447-453 ; CABB,
"Introduction").
1.5.9 MMtcha - Cumpre-nos conhecer, já agora, os padrões
de mancha. Por mancha, entender-se-á o complexo impresso ge-
ralmente em negro sôbre a superfície geralmente branca do papel,
dentro, êste último, do formato ou dimensões do livro. Dessa
tentativa de definição decorre a necessidade de fixar as noções
adiante. Para efeitos da resolução dos problemas da mancha,
admitamos que o papel já tenha sido escolhido e que o formato
já tenha sido fixado.
1.5.9.1 O problema da .mancha é, essencialmente, o problema
do prêto-no-branco. Interferem na caracterização . dessa função
prêto-no-branco os seguintes elementos :

a) os gêneros, famílias e desenhos dos tipos;


b) os brancos interliterais;
c) os brancos intervocabulares;
d) os brancos interlineares;
e) os brancos interparagráficos;
f) os brancos paragráficos;
g) os brancos capitulares;
h) os brancos subcapitulares;
i) outros brancos seccionais;
j) a colocação das ilustrações;
k) a colocação das notas;
I) as margens.

1. 5. 9. 2 Ao estudar os desenhos dos tipos em tôd.as as suas


Tariedades e em sua longa e interessante história, há o
ELBXBNTOS DE BIBLIOLOGIA.

perigo de superestimar os tipos como problema central da


impressão dos livros, ante os quais todos os outros as-
pectos paasam a ter importlncia secundária -

dis, com razão, BBBNA.BD H. N:.wDIGA.TB (N:.wD, 43), ac~­


tando, logo a seguir:

Entretanto, a maneira pela qu&l os tipos são usados


importa ainda maia do que ·o seu desenho. Um livro pode
ser razoAvelmente bem impresso em qualquer tipo que
seja leglvel e nio aliene do texto a aten~ do leitor, por
algo estranho ao seu aspecto usual ou por algum pormenor
de sua· fei~ geral. De outro lado, uma página bem
montada com o maia recomendável dos tipos pode deixar
de agradar, pode mesmo provocar repulsa, se composta e
impressa sem cuidado. Para obter boa impressão, 6 mia-
ter compor e impor bem as páginas, o que, maia· do que
qualquer outra coisa, empresta qualidade e boa aparência
ao livro impresso - ·

conceitos êsses que reputamos particularmente válidos para as con-


dições brasileiras, em que o problema da escolha do tipo fica na
· maioria dos casos relegado a uma sele~ entre poucos desenhos
diferentes- pouquidade que, nem por isso, justifica o mau (tipo-
grAficamente falando) livro.
1. 5. 9. 3 Examinando os elementos referidos em 1. 5. 9 .1, que
interferem na função prêto-no-branco caracterizadora da mancha,
consideremos, por ora, apenas as margens. São elas, numa pãgina,
a margem superior, a margem inferior ou rodapé ou base, a mar-
gem externa (direita nas páginas de numeração ímpar~ esquerda
nas de numeração par) e.a margem interna (esquerda nas pãginas
de numeração ímpar, direita nas de numeração par). As margens
constituem a moldura branca da mancha, e êsse conceito de mol-
dura aproxima o problema do enquadramento de desenhos, gra-
vuras, certas obras plásticas de superfície, fotografias. Em ambos
os casos · - o plástico e o gráfico, que 6 um aspecto daquele -, .
respeitando-se ·certas proporções, procura-se pôr em evidência ópti-
ca e psicológica a parte pigmentada. E segundo um ritmo visual
que quiçá provenha de bã.bitos adquiridos, da consciência visual a
que já tivemos oportunidade de nos referir, uma primeira obser-
vaçio se depreende : a de que, se a margem superior tiver a
mesma área branca que a margem inferior, a mancha (como o
quadro, a fotografia, o desenho, a gravura) fica "caída", "pesa",
46 ANTÔNIO HOUAISS

"tomba" - noutros têrmos, a equivalência matemática das áreas


brancas superior e inferior acarreta um desequilíbrio óptico e
psicológico da mancha. Por êsse motivo, tradicionalmente, obser-
va-se que .a mancha vem sendo enquadrada dentro de margens
superior e inferior de áreas diferentes, a primeira sensivelmente
menor que a segunda. A origem, pelo menos tipográfica, dessa
fixação talvez seja puramente mecânica: é que nos primeiros tem-
pos, ao pé da mancha, vinha um reclamo ou registro, consistente
em palavra ou parte de palavra impressa após a última linha,
para estabelecer conexão com a linha inicial da página seguinte ;
e o reelamo ou registro era incluído na estimação da área da
mancha, do · que decorria um campo branco visualmente maior na
margem inferior, pois a linha do reclamo ou registro era mínima.
A observação tem tantos mais visos de procedência quanto mais
se verifica que, no passado como no presente, para o cálculo
da mancha devem ser levados em conta o cabec;o da página assim
como sua numeração - quer colocada em cima, quer embaixo
da página. Não pareceria lógica, de outro lado, a razão por que
a margem interna sempre foi menor do qut> a externa ; invoca~
ram-se sempre três explicações: (a) a de que a externa era mais
larga para que o manuseio e folheamento das páginas do livro
não viesse a deteriorar ou atingir ·a mancha - o que seria uma
explicação racional para uma larga mancha externa, mas não
explica a assimetria da medida para com a interna; (b) a de
que, originalmente, a margem externa era maior para ~obrir as
necessidades de cortar as aparas, em novas encadernações do livro ;
(c) a de que, originalmente, não houvera a intenção da assime-
tria, que era mera decorrência da costura das fôlhas e da ·enca-
dernação do livro. Coube . a WILLIAx MoRRia a melhor explica-
ção para o fato: a "mancha" tS uma unidade composta de duas
manchas, noutros têrmos, tipogràficamente (e óptica, e psicol6-
g.ica, e esteticamente) o enquadramento da mancha sempre foi
feito como se se tratasse da parte de uma unidade maior, o prêto-no-
branco de duas páginas abertas, par à esquerda, ímpar à direita:
dentro dêsse conceito mais funcional, com efeito, vê-se que as
duas páginas constituem um corpo único dicotômico, com uma
raia branca vertical intermédia (as chamadas margens internas)
(cf. SDIO, 21; NEWD, 43-51).
I. 5. 9. 4 Dessa forma, a superior deve ser menor do que a
inferior, mas não tão pequena que não comporte a pressão doa
dedos do leitor sem que invada o campo da mancha - o que
pode, a longo prazo e a várias leituras, deteriorá-la - , quando
está lendo as linhas finais da página ; a raia central, ou margens
ELEMENTOS DE BIBLIOLOGJA 47

internas, deve ser menor do que as margem& externas, já que


duas páginas abertas (par à esquerda e ímpar à direita) funcio-
nam como uma unidade e já que nas margens externas den
haver campo para. folheamento e manipulação, aem que se ofenda
a mancha, ·e deve, adema:s, haver recursos para guilhotinamento
eventual em caso de encadernação ou reencademação, assim como
para anotações do leitor - hábito que tem a seu faTor séculos
de tradição e que, metódico, não injuria o lino. A margem
inferior deve, por fim, ser suficientemente ampla para que a ma-
nipulação e a pressão dos dedos do leitor, durante a leitura, se
possa fazer sem invadir a mancha. Em têrmos proporcionais,
e a título puramente indicativo, se a raia central tem a medida ·
10 (de uma unidade ideal), a margem superior será equilibrada-
mente entre 11 a 12, a externa entre 13 a 14 e a inferior entre
15 a 16 - para os livros de médio e grande formato. Mais su-
mária e menos exata, a indicação seguinte também pode senir
de guia para uma página isolada, par ou ímpar: do branco total
reservado para as margens, dois quintos cabem à superior e à
interna, e três quintos à externa e à inferior. A matéria, ~omo
quer que seja, comporta latitude para TBriações de gôsto pessoal,
mas as tentativas modernas para quebrar essa como ortodoxia das
proporções das margens têm sido malogradas ( cf. sr:u:o, 21; NEWD,
·3-51; ENBR, S.V. typograpky; ECTA, S.V. tipografia).
1. 5. 9. 5 Quando a mancha comporta notas marginais - em
nrdade, notas laterais - , estas se integram na medida da man-
cha, devendo o cálculo ser feito a partir das medidas externas
das notas marginais. O que se dá com estas, dá-se, aliás, com
quaisquer elementos impressos integrados regularmente na man-
cha de determinados livro. :---· e é a partir dessa regularidade
global que devem ser calculadas ás manchas. Quanto a essas
notas marginais, importa também ter presente que o l:mite ver-
tical externo de sua própria coluna pode ser ligeiramente irre-
gular.
1. 5.10 Provas tipográficas - Como vimos ( 1. 5 supra.) as
fases do trabalho tipográfico podem ser distribuídas pela compo-
sição, impressão e revestimento. A composição, por sua vez, com-
preende duas operações complementares e interpenetradas: (a) a
composição stricto se'ltSu e (b) a prova, entendendo-se por com-
posição stricto se·n.su o agrupamento dos tipos em seqüência tal
que reproduza o original cuja composição se tem em vista. Na
medida em que se avança na composição, os paquês, que vão sendo
ac:umulados em estantes ou paqueteiros, vão sendo objeto de
48 ANTÔNIO HOUAISS
'
provas. Tira-se uma prova esparzindo-se tinta de impressão
sôbre o paquê e obtendo-se uma impressão provisória em papel
de prova. ~ primeira prova é objeto de uma primeira revisão,
do que decorre a correção do paquê segundo as determinações
dessa revisão, do que decorre uma segunda prova, para uma
segunda revisão, compor~do o processo n correções sucessivas.
1. 5 .10 .1 A revisão consiste, essencialmente, no cotejo do ori-
ginal com a prova, e da anotação, nesta, por meio de signos
convenciona:s adequados, daquilo em que a prova discrepar do
original, não o reproduzindo fielmente. Quando o processo de
correção da · composição, por meio de provas e revisões, já vai
avançado, intervém a fase da paginação, ou redução dos paquês
a unidades com um número determinado de linhas ou com uma
determinada medida de coluna. Colaboram, fundamentalmente,
nesse processo os seguintes trabalhadores: o chefe de oficina. o
tipógrafo-compositor - na composição manual, ou de tipos pin-
çados um a um na caixa tipográfica - ou monotipista ou lino-
tipista - na composição mecânica da monotipo ou da linotipo,
respectivamente -, o tipógrafo-paginador e o revisor, bem como,
em certos casos. o auxiliar de revisor ou leitor-revisor.
1. 5 .10. 2 O chefe de oficina, de posse do original - e con-
forme forem as diretrizes ma~ ou menos precisas que recebe do
editor ou, se fôr o caso, do autor -, estabelece-lhe a guia, a
saber, indica as características tipográficas a que deve 'Obedecer
o tipógrafo-compositor, monotipista ou linotipista: corpo (a), gê-
nero ( s), famfiia (a) , desenho (a) dos tipos ; tamanho das linhas,
da coluna, das margens especiais, d~ entradas, dos parágrafos,
das gargantas, características dos títuios, subtítulos, notas, legen-
das etc.
1. 5.10. 3 O tipógrafo-compositor, ou compositor simplesmente,
compõe efetivamente, isto é - e repitamos -, no processo dito
manual apanha ou pinça tipo a tipo, espaço a espaço, da caixa
tipográfica, em que se acham, e vai ordenando-os no componedor,
formando uma, duas, três, n linhas, que vão sendo dispostas na
galé. No processo mecânico, da monotipia ou linotipia, o tipó-
grafo-compos!tor chama-se monotipista ou linotipista; e é compa-
rável a um dactilógrafo, com qualificações especiais; fica séntado
em face de um tablado, semelhante ao de uma máquina de es-
crever com maior complexidade e maior número de teclas, cada
uma das quais corresponde via de regra a duas famfiias de tipo
ou a dois sinais tipográficos; e opera por pressão dessas teclas,
encarregando-se a máquina, quase instantâneam~nte, de p~ceder
BLBKBNTOS DE BÚILIOLOGIA 49

. à fundição do tipo e sua colocação na seqüência batida das te-


clas, com o que se forma a linha de tipos autônomos ou inde-
pendentes - monotipia - , ou a fundição dos tipos todos, juntos,
de uma linha, com o que se formam as linhas de tipos fundidos
numa s6 unidade - Iinotipia - . Em ambos êstes casos, tam-
bém, as linhas são agrupadas, depois, sôbre a galé em colunas
verticais - os paquês.
1. 5.10. 4 O tip6grafo-paginador, ou pa,ginador simplesmente,
encarrega-se, de regra, do material já .composto, daí em diante, até
a imposição, sendo sua tarefa diferenciada. Num primeiro está-
gio, amarra, com técnica tradicional, as colunas verticais de linhas .
dispost!lS na galé, a fim de poder transportá-las, sem empaste-
lá-las, para lugares de guarda, adequados, os paqueteiros. E
obtém, com espar:Zimento de tinta sôbre a composição já feita, com
escôva ou rôlo, a primeira prova, que se destina, como se viu
acima, à primeira revisão. Retomada .essa- prova ao seu poder,
com as correções assinaladas pelo revisor e recompostas pelo com-
positor, procede o paginador às correções indicadas, pinçando na
composição manual ou de monotipia cada um dos tipos errados
e enxertando em substituição os tipos corretos, e, na composição
-de linotipia, pinçando tôda a linha em que se assinalou um
único êrro que fôsse e enxertando; em substituição, tôda a linha
de nôvo composta · e presumivelmente correta. Ato · ·contínuo,
obtém segunda prova, para segunda revisão, e assim sucessiva-
·mente. Quando, nessa sucessão, a prova, retomada do reTisor, já
se apresenta prAticamente limpa, isto é, isenta ou quase isenta
.de erros assinalados, o paginador procede à partição das colunas
verticais de núinero arbitrário de linha& em colunas verticais de
número fi:.i:o de linhas ou de medida vertical fixa - a coluna da
mancha - segundo o critério adotado · na guia, atendendo à dife-
rença que existe entre as páginas capitulares e as páginas ordi-
nárias, assim como ao fato de que, idealmente, a página ordinária
que antecede uma .página capitular deve ser de . número par.
Pelo processo já descrito, obtém as$im a enésima prova, p:r:imeira
prova de página, para a qual o revisor deve atentar para quanto
à disposição se referir preferentemente, sem, porém, · deixar de
fa,zer mais uma revisão do material composto. 1D que, conforme
fôr o processo de composição, alguns tipos ou algumas linhas
podem ficar acima ou abaixo do nível ou superfície comum, o
que acarreta uma impressão carregada ou leve em setores assi-
.métricos da página - com a decorrência de que uns tipos pare-
cem em negritos ou borrados e outros parecem pobres de tinta.
50 ANTÔNIO HOUAISS

O levantamento ou abaixa~ento dêsses tipos, assim como o ajus-


tamento do conjunto por meio de alças e barras no estôjo em que
se emolduram, é que se chama alçamento ou alceamento. N~
medida em que a precisão mecânica e instrumental tem progre-
dido na factura dos meios tipográficos, os problemas de. alcea-
mento (a palana tem também curso em técnic!l de enc-adernação,
noutro sentido) vêm diminuindo de importância, sendo possível
sua eliminação em breve futuro. · É de presumir que, estojada,
a página por compor esteja limpa de "pastéis", "gralhas", "gatos"
~u "piolhos" - têrmos da linguagem especial da tipografia que,
genericamente, significam êrro tipográfico e, especificamente e
respectivamente, (a) inversão de sílabas, vocábulos, linhas ou
parágrafos ; (h) presença indevida de letras ou sinais tipográficO'Il ;
(c) erros de composição por troca de sinais ou tipos, e (d)
parasitismo gráfico consistente na repetição indevida de sinal,
letra, sílaba, vocábulo, linha ou treçho (cf. AREZ, s.vv. citt.).
1. 5.11 Impressão - A impressão, propriamente dita, não se
faz, porém, da matriz de página uma a uma. É que as máquinas
impressoras, de um lado, comportam o conjugamento, num grande
estôjo único, de diversas páginas por imprimir, e, de outro lado,
as fôlhas de papel têm de regra · dimensões muito maiore.'i do
que as de uma página de livro. E, consoante fôr o formato ou.
tamanho dêste, isto é, as dimensões do livro e, pois, da página,
em lugar de se cortar a fôlha nas dimensões da página, agru-
pam-se, ao contrário, tantas matrizes de páginas quantas pude-
rem ser impressas, de unia s6 vez, sôbre uma face de fôlha de
papel - o que se chama imposição.
1. 5 .11.1 A impressão 'tato sensu supõe, por ·conseguinte, duas
fases: (a) a imposição, e (b) a impressão propriamente dita.
1. 5 .11. 2 A imposição, como já esboçamos, é função do tama-
nho ou formato do livro e do papel. Escusa dizer que o formato
do livro é que deveria determinar a e~olha das dimensões do
papel, mas, nas condições do mercado brasileiro, muitas vêzes é
o contrário que se dá. A imposição consiste, essencialmente, em
dispor as matrizes da página, no prelo ou estôjo da máquina
impressora automática, em seqüência e ordem tais que, feita a
impressão l,lnma face e na outra do papel, e dobrado êste suces-
'>ivamente ao meio, novamente ao meio o já dobrado e assim por
diante, a sucessão numérica das fôlhas se faça correta e exata-
mente. Concomitantemente, ao estojar as matrizes para a im-
pressão, é feita a fixação das medidas das margens da mancha,
por meio de barras móveis, de nínl inferior ao dos tipos, é
óbvio.
ELEMENTOS DE BIBLIOLOGlA 51

·1. 5 .11. 3 .A justa imposição presume alguns cuidados : (a) a


numeração das páginas deve ser feita de .tal modo que - caso
não sejam os números colocados em cima ou embaixo da linha
ideal nrtical central da mancha - devem êles ficar à direita,
· em cima ou embaixo, da mancha, quando ímpares, e à esquerda·
quando pares; (h) a disposição das faces deve ser tal que no
·nrso do rosto de n. 0 1 fique o n.0 2, no verso do rosto n.0 3 fique'
o n.0 4, no veno do rosto de ~.0 n ímpar fique o n. 0 n + 1 par·
(cf. zoTA, s.11. tipografia). E, remontando à tradição original da ti-
pografia, note-se que, via de regra, na primeira página de cada
caderno, ou fólio, ou fôlha de impressão, ocorre um número, eha<-·
mado aSBinatura, têrmo de referência ainda hoje para a dobragem
das fôlhas, o agrupamento dos cadernos e o revestimento ·do livro:
1. 5 .11. 4 Terminada a imposição das páginas para a impres-
são numa fôlha, nas suas duas faces - em duas operações, que
presumem, de permeio, a secagem da pr:meira face, ou numa só
operação, consoante fôr o tipo de máquina impressora disponível
- a multiplicação se fará ràpidamente, acumulando-se as fôJ.hu
já impressas para subseqüente dobragem, agrupamen110l, cmstur111
(ou grampeagem, ou colagem) e revestimento.
1. 5 .12 . Formato ou tamanho - O formato ou tamanho do
livro estêve, desde as origens da tipografia, em estreita relação
de interdependência com a fôlha de papel de elaboração manual.
Informa AMÍ:RIOO CoaTEZ PINro (PINT, 18, nota 1):
O molde em que se faziam as fôlhas do papel pr:mi-
tivo era constituído de um tabuleiro com um fundo for-
mado por uma rêde quadrangular. Uma série de fios de
arame, muito finos e encostados uns aos outros, era fixada
de espaço a espaço por outtos arames de latão, pel,"pendi-
culares aos primeiros que se iam inserir aos lados do,
caixilho: a "frasqueta" -

acrescentando (PINT, 19, nota 2) :


Mergulhava-se êste tabuleiro na tina, para colher a
massa de papel. Em seguida, comprimia-se a massa com
a "tampa" de encontro à rêde metálica - o "tear". A
água escorria por entre os fios de latão que ficavam mar-
cados na pasta, formando as "vergaturas", contidas de
espaço a espaço pelos arames perpendiculares: os "pon-
tusais". Ao meio do tear colocava-se, muitas vêzes, um
desenho feito de arame, que deixava na fôlha a "marca
de água" ou "filigrana" (filu.m, granum) -
52 ANTÔNIO BOUAISS

esclarecendo, por fim, logo a seguir:

Pelo dispositivo das filigranas, vergaturaa e pontusais


se reconhece o número de f6lhas do caderno:
4J Pontusais verticais com a filigrana ao meio -
in jólio.
4J Pontusais horizontais com filigrana ~ dobra -
in 1/4.
4J Pontus&is verticais com f,i.Jigrana ao cimo - m
1/8 e assim sucessivamente.

1 . 5 .12 .1 A produção dos f6lios ou fôlhas, porém, não propen-


deu· para ·uma padronização dimensiva, ocorrendo, ao con:tririo,
desde cedo, tendência para as medidas mais variáveis, de acôrdo
com o produtor. Tal . estado de coisas não melhorou com a me-
canização da produção papeleira e do papel contínuo ou em rôlo
(cf., por exemplo, WURZ, cOLL) .; de8tarte, ao mesmo tempo que
certos papéis se tomavam notáveis por sua qualidade e se im-
punham por seu nome ou por sua marca de água, impunha-se
a necessidade de saber em que medidas eram ou podiam .ser
disponíveis, fazen!lo-se, assim, aos poucos, acompanhar de uma
sôbre-indicação dimensiva. O Congresso do Livro, realizado -em
março de 1917, em Paris, sem abolir a nomenclatura tradicional
arbitràriamente adotada p.elos fabricantes, prescreveu a obriga-
toriedade da sôbre-indicação, que, aliás, já se vinha fazendo im-
perativa; concomitantemente com a de pêso para determinado
número de fôlhas - geralmente a resma -, pêso que é, por sua
vez, uma indicação aproximativa da espessura e eventual trans-
parência do papel; colateralmente, foram sendo usados epítetos
descritivos para o · polimento da superfície, áspero, liso, macio;
para a luminosidade da superfície, fôsco, luminoso; assim como
para a matéria-prima de que eram feitos, linho, sêda, algodão, ce-
lulose de madeiras, de vegetal em geral. A resolução do Con-
gresso do Livro foi seguida, porque correspondia às vantagens da
indústria e do comércio papeleiros, e, nos países que não adotavam
ou não adotam o sistema métrico decimal, a sôbre-indicação pas-
s~u a s~r feita por êsse sistema e pelo nacional de cada país
produtor (cf. EEBP, s.-v .. tatMno,na).
1. 5 .12. 2 Isso não obstante, a caracterização 'do papel livresco
continua a ser um ·problema que vem d~afiando os esforços da
raéionalizaÇão. ~.. que, ·para . efplf:os de tal caracterização, interfe-
ELEMENTOS DE BIBLIOLOGIA 53

rem elementos de várias naturezas, (a) comerciais e industriais,


e (b) tipográficos, pelo menos, sem .falar de muitos outros aspectos
técnicos ou estéticos sugeridog pelo problema. Ássim, são indica-
ções importantes, consoante o ponto de vista, (a) a matéria-prima
de que é feito - linho, sêda, algodão, celulose vegetal, pastas
mistas; (b) a nomenclatura tradicional com elementos de cotação
mercantil; (c) as dimensões · de superfície ; ( d) a espessura da
fôlha, em função do seu· pêso ; (e) a transparência da fôlha; (f)
a sua aspereza, (g) a sua luminosidade; (h) o grau de rapidez
de absorção da tinta e de sua secagem definitiva; (i) sua resis-
tência à torção, à fricção, à fratura e ao corte; (j) sua umectabi-
lidade, e - sem esgotar nem de leve a questão - (k') sua inalte-
rabilidade, e (1) sua durabilidade. Apenas na Alemanha se
tentou, muito parcialmente aliás, enfrentar os problemas da ra-
cionalização relacionados com a produção e consumo livrescos do
papel. ~sses motivos são bastantes para que nos limitemos a
essas referências, quanto ao particular · do papel (cf. LEKA, 114;
EESP, s.v. tamOifto,fia).
1.5.12.3 Para, de certo modo, orientarem-se os interessados
na questão, vem-se divulgando a prática de indicar, na justifica-
tiva da tiragem ou no colofão dos livros, o nome do papel em que
são impressos, se de produção manual ou mecânica. E uma co-
missão britânica, encarregada de investigar a durabilidade dos
diversos tipos de papel, che~ou - por 1930 - à conclusão de que
s6 eram "perenes", capazes de "atingir imortalidade prática", os
feitos de puro linho ou de trapos de algodão (cf. NEWD, 101).
1. 5 .12. 4 Os desenhos de carga leve de negro, via de regra,
pedem papéis mais absorventes; em' oposição,. os menos absorven-
tes são mais indicados para os desenhos pesados e pejados de
negro. O mais indicado papel para o livro corrente não ilustrado
~ o flexível, espêsso, maleável, odoroso, claro, sem ser ofuscante.
·A escolha do papel para livros ilustrados é condicionada pelo
tipo· da ilustração, que o pode .requ~rer mais sensível, mais absor-
vente, mais polido, mais brilhante. Quando as ilustrações são
kors texte - fora do texto - o problema consiste em conjugar o
papel adequado a estas que não grite, que não se divorcie do
papel destinado ao texto (cf. BIKO, 85).
1.5.12.5 Nas fases do trabalho de impressão de um livro, o
tamanho da fôlha de papel teve e tem grande importância -
porque, conforme forem êle e as dimensões da mancha e, correla-
t-amente. da vâgina, a imposição se fará de tal sorte · que numa
54: ANTÔNIO HOUAISS

fôlha se obtenham duas, quatro, seis, oito, doze, dezesseis, n pá-


ginas impressas - o que dá o formato do livro. Mas como desde
o início da tipografia as fôlhas não tiveram dimensões rt>gulare!l;
desde sempre a denominação de formato não correspondeu neces-
sàriamente a determinadas dimensões. Dêssc modo, o "formato
tipográfico" não coincide com o "formato bibliográfico", que me-
lhor se diria "tamanho bibliográfico" ou, como se verá adiante,
quiçá melhor e mais preciso ainda "tamanho bibEoteconômico ".
Está já claro que a palavra "formato" corresponderia mais exata-
mente a noções como a de "livro francês" (que propende, por
tradição, para o formato quadrado visto da capa), a de "livro
inglês" (retangular alongado no sentido Tertical), a de " atlas"
(retangular alongado no sentido horizontal), enquanto a palavra
"tamanho" corresponde ·a noções expressas em têrmos dimensivos
de um sistema de mensuração qualquer.
1. 5 .12. 6 O formato t!pográfico é, em geral, subdividido em
dois grupos: (a) os formatos regulares e (b:) os formatos Irre-
gulares:
in plano 2 páginas

I
o •••• • • o o.

in folio . ... . o •• • •• 4 páginas


a) formatos regulares ia
in
•••
s.o


o


o


o
o

o

o

o
o


o

••
o 8
16
páginas
páginas
in .16.0 •••• • •• o . o 32 páginas
in S2.o o. o o •• o • • • 64 páginas

in s.• o •• o . o • • o o 6 páginas
in 6.• .... .. .... 12 páginas
b) formatos irregulares in 12.0 o • • o o •• o • • 24 páginas

1in
in
11l.0
24.0
••

••
o


0

0
••••

• • o ••
o 36
48
páginas
páginas

em que, no in pl4no, o fólio, de fôlha inteiriça, recebe numa face


a impressão de uma página ímpar e no verso dela a impressão da
página par seguinte em numeração; no in folio há o in plano·
dobrado ao meio, donde quatro faces ou quatro páginas; no in
4. 0 há o in fol;i,o dobrado ao meio, donde oito faces ou oito páginas;.
no in 8. 0 há o in 4. 0 dobrado ao meio, donde dezesseis faces ou
dezesseis páginas; no in 16. 0 há o in 8. 0 dobrado ao meio, donde·
trinta e duas faces ou trinta e duas páginas; no in 32. 0 há o .in.
16. 0 dobrado ao meio, donde sessenta e quatro faces ou sessenta
e quatro páginas. Já no in 3.0 há o in folio dobrado em três.
bandas iguais razão por que se chama, também, tríptico, com
seis faces ou páginas; no in 6. 0 há o in 3. 0 dobrado ao meio, donde
doze faces ou páginas; no in 12. 0 há o in 6. 0 dobrado ao meio,.
ELEHENTOS DE BIBLIOLOGIA 55

donde vinte e quatro faces ou páginas; no in 18. 0 há o in 6. 0


dobrado com a técnica do trípt!co, donde trinta a· seis faces e ou
páginas; no in 24. 0 há o m 12.0 dobrado ao meio, donde -quarenta.·
e oito faces ou páginas. A leitura das indicações da nomencla-
tura dos formatos tipográficos 6 vacilante em português, havendo
duas tendências : (a) uma, antiga, em que os ordinais são lidos
à latina, embora na pronúncia tradicional - quarto, octavo, de-
oimo sexto, tf'igesimo secundo; tertio, sexto, duodecimo, decimo
oeta.vo (em ablativo) ; (b) outra, posterior, em ordinais portu-
guêses, ou em cardinais para os acima de oitavo, donde u in quar-
to", uin oitavo", ui~ décimo sexto" ou uin dezesseis", ut11.. trigé-
simo segundo" ou ui,.. trinta ·e dois" etc.
1.5.12.7 O "formato bibliográfieo" ou melhor, "tamanho bi-
bliográfico", ou melhor ainda, "tamanho biblioteconômico", é um
conceito que decorre daa necessidades bibliográficas, primeiro, e
biblioteconômicas, depois, com que, por formato, ou melhor, ta-
manho, se· pudP-BSe ter uma indicação dimensiva precisa ou &pro-
:J:imativamt'UtA precisa, não apenas para a classificação, mas so-
bretudo para a identificação e para a locaPzação (problemas d.e
espaço) dos livros, já que a referência ao formato tipográfico do
livr.o podia despistar ou desorientar os não iniciados, visto que,
consoante forem as dimensões do f6lio, bem pode ocorrer um in 4. 0
que seja menor, se de determinado f6lio relativamente pequeno,
do que nm in 8. 0 , de outro tipo maior de papel. A resolução
do problema ainda não foi atingida, por vários motivos, em que
pesam (a) o fato de se querer estabelecer uma relação dimensiva
entre os formatos tipográficos e os tamanhos bibliográficos, e (b)
o fato de não se ter chegado a um acôrdo quanto a se as dimensões
devt>m referir-se às da mancha ou às da pág!na ou às do revesti-
mento, nos dois últimos casos havendo o problema a mais de se
ter de saber, previamente, ante determinado livro, se suas páginas
on revestimento não foram recortados ou diminuídos do seu tama-
nho primitivo ou original. Até onde os critérios tipográficos po-
dem servir de ponto de referência para a solução da questão,
importa ter em conta (a) que o formato jamais foi indicação
dimensiva precisa, não devendo, por conseguinte, sua nomencla-
tura ser assoc:ada à do tamanho bibliográfico; (b) as medidaa da
mancha sempre tiveram tanta importância quanto as da págiÍla,
na gênese de cada livro, embora as primeiras sejam perduráveis
no livro, enquanto as segundas podem sofrer reduções, em reenca-
dernações sucessivas, sem qne a missão ou finalidade do livro em
aprêc;o cesse ou deixe · de funcionar. A resolução talvez venha,
efetivamente, a · ser esta: indicação. prec!sa das medidas da man-
56 ANTÔNIO HOUAISS

cha de página inteira (isto é, não capitular, ou subcapitular, ou


antecapitular), seguida, entre parênteses, das dimensões precisas
da página, quando se tiver certeza de que ela não foi redwlida,
cortada, amputada, guilhotinada; ou seguida, entre colchêtes, das
dimensões precisas da página que se suspeitar ou de que se tiver
cerieza de que foi aparada (cf. EESP, S.V. tamaiio,fia).
1.6 NORMAS PARA A CORRELAÇÃO - Nos parágrafos anteriores,
procurou-se dar uma idéia, sintética mas o menos deformada
possívél, do conjunto de recursos, manuscritores, dactilográficos e
tipográficos, de que se dispõe para se poder estabelecer uma
correlação entre (a) o manuscrito e a dactilografia, como transi-
ção para a impressão tipográfica; (b) o manuscrito e a tipografia
e (c) a dactilografia e a típografia. Pode-ae, mesmo, excluir a
correlação (b) referida, já que na primeira, (a), o manuscrito
deve ser apresentado ou representado em condioõea tais que, fal-
tando a poBSibilidade de dactilografá-lo,- estar6. êle em condições
de "ser tipografado. Impor-se-ia, em contrapartida, estabelecer
uma quarta - que será, pois, a terceira - eorrelac;io, a que
pode existir entre a tipografia e a tipografia, o que se elucidará
linhas adiante. -
1.6.1 Correlações e guias - Nas· correlações, hi uma ~rie de
indicações que podem ser feitas ou deixar de o eer, ji que na
guia da oficina tipográfica constarão elas, caso j6. nlo ettejam na
cópia por imprimir. A guia, destarte, cujo modêlo ou critério
varia de tipografia para. tipografia, de chefe de oficina para
ehefe de oficina, de tipógrafo-chefe para tipógrafo-chefe, de
mestre gráfico para mestre gráfico, a guia 'pode, por con~eguinte,
encerrar elementos obrigatórios e .outros facultativoa - e eer&o
facultativos os que já estiverem explícitos na cópia por imprimir.
São êles, entre os de uma e outra espécies:
a) os corpos dos tipos, não s6 para as p&rtel extratextuais
- a saber, as preliminares (sobrecapa, capa, lombada, ante-rosto,
rosto, prefácio) e as finais (índices, colofão) - , maa também para
as diferentes partes textuais (composição corrida, citações, notas)
. ($Upra 1.5.5 a 1.5.5,12);
b) as famüias, os gêneros e os desenhos dos tipos, quando
·não estiverem indicados na cópia por imprimir, cumprindo, en- ·
tretanto, ressaltar que i88o é, incontestAvelmente, da competência
primacial do autor, ou diretor-de-texto, ou editor-de-texto, ou do
~ditor (supra 1. 5 . 6 a 1. 5 . 8 . 7) ;

c) os padrões da mancha, com medida das linhas e du


colunas; co~ medida das margens; com medida dos branoos ee-
ELJ!lHENTOS DE BIBLIOLOGIA. 57

peciais se os houver (interliterais, intervocabulares, interlineares,


interparagráficos, paragráficos) ; com localização das notas (de
rodapé, marginais, finais); com localização das ilustrações e re-
serva de brancos especiais para as mesmas, quando fôr o caso;
com medida das páginas capitulares, das subcapitulares e dos
brancos seccionais, quaisquer, se os houver (supra, para parte da
matéria, 1.5.9 a 1.5.9 . 5);
d) as dimensões e localização das letras capitulares e sub-
capitulares e mesmo pontuais, se fôr o caso.
1 . 6. 2 Evolução da guia - Escusa ressaltar que, nas oficinas,
a guia, via de regra, não se estabelece, íntegra e definitiva, desde
o primeiro momento. Correspondendo suas indicações a todo o
processo tipográfico da composição ao revestimento do livro, e
havendo ao longo dêsse processo pontos permanentes de intera-
ções, conflitos e ajustes - trabalho tipográfico e revisão, traba-
lho tipográfico e direção editorial, trabalho tipográfico e autoria,
ademais dos entrecruzamentos interativos de revisão e direção edi-
torial, revisão e autoria, direção editorial e autoria -, as indi-
cações da guia vão-se fixando gradativamente, na ordem das
prioridades das tarefas. Mas, dentro do "estilo" tipográfico da
oficina - estilo condicionado pela aptidão técnica do seu pessoal
e pelos recursos tipográficos disponíveis - há uma como guia
ideal, cujos dados vão sendo determinados ao longo do processo
acima referido.
1.6.3 Indicações na guia- O fato é que, na guia, indic·ações
como "1. 18 c.", "c. 8/10", "n. c. 6", "§ 2 c.", "cap. 5 1.",
"subcap. 3 1. ", "[barra vertical à esquerda de uma parte do
original] 5 c.", e assim muitas outras, podem significar, numa
oficina, respectivamente: "linha de 18 cíceros", "corpo 8 com
entrelinha 10", "notas em corpo 6", "os parágrafos iniciam com
2 cíceros de branco na margem inicial", "as letras capitulares
medem 5 linhas de texto", "as letras subcapitulares medem 3
linhas de texto", "onde houver indicação de barra vertical à
esquerda de uma parte da c6pia por imprimir deve-se fazer com-
posição entrada de 5 cíceros". Note-se a freqüência da palavra
tradicional "cícero", que; como vimos, corresponde a 12 pontos
·tipográficos ; a área quadrada de 12 pontos tipográficos de lado é
chamada "quadratim", palavra que também é muito usada para
os mesmos fins, geralmente indicada por "q".
1.6.4 S'mbolos de correlação do man.uscrilo - No original
manuscrito, diversos símbolos indicam os elementos da correlação
manuscrito-dactilografia:
58 ANTÔNIO HOUAISS

a) um sublinhado sob letra, vocábulo, frase, linha, pará-


grafe, trecho, significa que a matéria deverá &er composta em
itálico;
h) dois sublinhados significam que a matéria den iiCr com-
posta em versalete ;
c) três sublinhados significam que a matéria deTe ser com-
posta em versa! ;
d) um sublinhado de linha . quebrada ou sinuosa significa
que a matéria den ser composta em negrito; .
e) . o comb!natário far.e-6. pela combinação dos símbolos
acima referidos;
f) uma barra vertical, à esquerda do manuscrito, abarcando
um número preciso de linhaa, com indicação, mais à esquerda 'de,
por exemplo, "c. 8" significa que a matéria barrada deve ser
composta em corpo 8, presumindo-se, pois, que a composição vem
sendo feita em corpo que não 8; se, dentro do campo barrado~
houver, no início, I e, no fim, I, compreender-se-á que os dois
verticais referidos limitam a matéria barrada;
g) duas barras verticais, à esquerda do manuscrito, abar·
eando um número preciso de linhas, com indicação, mais l ~
querda de, por exemplo, "5 c!' ou "8 q.", significam que a maté-
r :a l>arrada deve ser composta com margem reentrante, à esquerda,
de cinco cíceros ou cinco quadratins; se, dentro do campo bar-
rado, houver, no início, 1·e, no fim, I, compreender-se-á qu~ os
traços verticais referidos lim:tam a matéria barrada;
h) se o processo anterior se faz à direita - realce material
desaconselhável, ver-se-á no lugar próprio, adiante - a reentrân-
cia se fará por êsse lado ou margem;
i) se os dois processos anteriores se conjugam, a composição
será feita em meio da mancha, distante cinco quadratins à es-
querda e cinco à direita da margem ordinAriamente seguida até
então;
j) um círculo ou ovóide, ·dito cartucho, em tôrnq de letra,
sílaba, vocábulo, linha, trecho, com repetição de círculo ou ovóide
na margem (não necessAriamente do mesmo tamanho ou formato),
dentro do qual se inscreve uma orientação, significa que o dacti-
ló~rt"afo ou o tipógrafo deve respeitar a indicação marginal;

k) um sublinhado por meio de linha pontilhada significa


que o local pontilhado, ainda que estranho, ainda que errad{),
ainda que anômalo, deve ser respeitado ;
ELEMENTOS DE BIBLIOLOGIA 59

I) um sublinhado descontínuo, por meio de sucessivos tra-


·cinhos horizontais, significa que o local assim sublinhado den
-ser dactilografado ou impresso com o "grifo alemão".
1.6.4.1 Exemplifiquemos com o trecho seguinte:

Neg,~s condições, no presente manuscrito composto


no corpo 10, salvo indicação em contrário-- com desenho
~rt!Y ~ da fundidora ~
~
muito capri-
~-
s; ....... ~ .
chosamente, cerehrina.mente, mesmo, estão
= sendo
fcit.a.s quase tôda.s as indicações acima referidas, com
alguns combinatórios possfvcis, para melhor ilustrar a
~ 6í)Iicaç~ da convenção, convenção que tem a seu
favor o fato de, nas suas linhas essenciais, vir sendo
seguida há muitas décadas não apenas na tradição
tipogrMica. luso-brasileira, mas ocidental, quiçá. \!!!!-
~

O presente espécime ficará - permita-se-me a ex-


pressão - delicio~amente monstruoso, et pottr cause,
já que é tipicamente ad hoc!... Jnvoçar autoridades, como
Brederodes E~t-anásio ou Facund-º Boa-M~, é de
nenhuma valia para os. nossos objetivos presentes.

1. 6. 4. 2 Eis a resultante tipográfica; dispensada a transição


dac.tilográfica eventual, do trecho anterior:

Ne.,Sa$ condiÇões, no PRESENTE manuscrito composto


·no corpo 10, salvo indicação em contrário- com desenho
B o do n i, da fundidora N e b i·o lo, ·muito CAPRI-
CHOSAMENTE, cerebrinamente, mesmo, estão sendo
feitas quase tôdas as indicações acima referidas, com
alguns combinatórios possíveis, para melhor ilustrar a
60 A.NTÔ ;t HO BOUA.IBB

'aplicação' da convenção, convenção que tem a seu


favor o fato de, nas suas linhaà essenciais, vir sendo
seguida há muitas d~cadas nio apenas na tradição
tipográfica luso-brasileira, mas ocidental, quiçá UNI-
VERSAL.
O presente espécime ficará - permita-se-me a ex-
pressão - deliciosamente monstruoso, et pour caUle,
já que é tipicamente ad hoc!... Invocar autoridades, como
B.REDERODES EUTANÁSIO ou F ACUNDO BoA-MORTE, é de
nenhuma valia para os nossos objetivos presentes.

1. 6. 4. 3 Escusa frisar que, no manuscrito, se poderá, em se


tratando de original de complexa factura gráfica, adotar pauta-
padrão: tratar-se-á, em verdade, tão-somente, de critérios fixos
para (a) iniciar páginas capitulares, ·a n centímetros, fixos, do
limite superior de fôlha-padrão, enquanto as páginas não-capitu-
lares, ou ordinárias, iniciarão quase no cabeço da página; e seme-
lhantemente para quaisquer seccionamentos da obra; (b) deixar
amplas margens laterais, onde possam caber quaisquer orientações
para a dactilografia ou para a tipografia; (c) respeitar sistemA--
ticamente um tipo de branco paragráfico, digamos, a cinco centí-
metros da margem esquerda; de brancos interparagráficos, diga-
mos, com saltar em branco o espaço correspondente a uma linha
em branco; (d) manter uma entrelinha regular, com branco
bastante para até quádruplo sublinhado·; (e) seguir, unitàriamente,
uma medida de reentrância para as citações e transcrições que a
merecerem, medida de reentrância A esquerda, ou A direita, ·ou de
ambos os lados, reservando, dentro da reentrância A esquerda,
uma reentrância ainda maior para os parágrafos internos das
citações ou transcrições, digamos, sete e dez centímetros, res-
pectivamente; (f) atentar na rígida observância das regras de
referência, citação, remissão, transliteração, redução e outras, ge-
ral ou especialmente adotadas, a fim de resguardar no manuscrito
a máxima coerência e harmonia. ·
1. 6. !J Símbolos de correlação da dactilogtafia - Segundo o
roteiro adotado para os símbolos de correlação do original ma-
nuscrito, a cópia dactilográfica pode, pràticamente, encampar a
ELEMENTOS DE BIBLIOLOGIA 61

todos, por meio dos seus recursos próprios, já sumàriamente des-


critos antes (supra 1.4 a 1. 4. 3). Com efeito, examinando os sím-
bolos preconizados em 1. 6 . 4 para o manuscrito, vê-se que :
a) o itálico pode ser representado por uma linha contínua
sotoposta (obtida, de regra, pela pressão reiterada da tecla 6 com
posição de maiúscula) ;
b) o versalete pode ser representado por duas linhas con-
tínuas sotopostas;
c) o versal pode ser irepresentado por três linhas sotopostas;
d) o negrito pode ser representado, já pelo rebatimento dos
caracteres com forte pressão (o que é muito pouco aconselhável,
pela possível rápida deterioração dos tipos, fita e tambor da má-
quina de escrever), já pelo manuscrito sotoposto de linha quebrada
ou sinuosa;
e) o combinatório exige, decorrentemente, uma fase dacti-
lográfica (linha ou linhas contínuas sotopostas) e o adendo ma-
nuscrito (linha qnebrada ou sinuosa); ·
f) a mudança de corpo tem de ser indicada como se para o
manuscrito ;
g), h) e i) as reentrâncias são operações ordinárias de uso
do tabulador e/ou de pauta;
j) as indicações marginais, por meio de círculo ou ovóide,
são como se para o manuscrito;
k) a indicação de respeito do original dactilográfico pode
ser feita por uma linha pontilhada sotoposta, o que exige manobra
de giro do tambor com liberação dêste do entrelinhador automá-
tico e que pode acarretar düiculdades de recolocação do papel
na linha devida, ou melhor será feita como se para o manuscri~ .;
1) o ".rrifo alemão" pode ser feito com o espacejador ou
pela linha sotoposta descontínua, isto é, com pressão alternativa
do espacejador - o que só é aconselhável quando não haja possi-
bilidade de ser ambíguo o símbolo, pois poderá ser tomado como
ind:cação de grifo para as letras com a linha sotoposta; nesta
última hipótese, a operação deverá ser como se para· o manuscrito.
1. 6. 5.1 Escusa ressaltar que, no trabalho dactilográfico, em
se tratando de cópia de factura gráfica complexa, múltiplas van-
tagens são obtidas, tais e tantas, aliás, que se torna quase obriga-
tória a preparação da cópia por imprimir em vias dactilográficas.
Dentre essas vantagens, ressalta a de se obter mais de uma cópia,
por meio do papel carbono, o que dá imediata satisfação à con-
veniência de se dispor sempre de uma cópia de reserva da obra
que se vá imprimir. Além disso, mercê do fato de que o entre-
62 ANTÔNIO HOUAISS

linhador automático da máquina de escrever pode ser calibrado


para um espaço simples de entrelinha, para dois espaços, para
três e, consoante o porte da máquina, para quatro e mais espaços;
de que o· espacejador, e o teclado, avança o carro de uma unidade
.exata de medida; de que, nas máquinas de médio para grande
porte, sempre se dispõe de um tabulador, com uma ou mais teclas
.correspondentes, tabulador que permite fixar rigidamente quan-
tas medidas marginais fixas se ·queiram à esquerda (a ordinária,
a paragráfica, a de citação ou transcrição, a paragráfica interna
à citação ou transcrição, a de colunas outras na trama do texto) ;
mercê de todos êsses recursos, é incontestável que os serviços pres-
tados pela máquina de escrever se patenteiam, em determinad&s
condições, como indispensáveis ou insubstituínis. ReleTa mesmo
ponderar que certas operações mais trabalhos&s, como o 'tríplice
·sublinhado sotoposto para a obtenção de versais, não é necesslirio
.já que as máquinas de escrever dispõem de uma série de Tersais,
geralmente em romano, de modo que suas versais, com linha con-
tínua sotoposta, equivalerão a versais em itálico; com duas linhas
sotopostas, a nrsais em negrito. Ter-se-á, também, observado que
não se preconiza, para fins tipográficos,' o uso da fita bicolor,
pelo simples - mas fundamental - fato de que somente o ori-
-ginal dactilográfico pode gozar dos benefícios da dupla côr, o
que exigiria uma notação especial de equivalência nas cópiu.
1. 6. 5. 2 Quaisquer, porém, que sejam as Tantagens de uma
-cópia dactilográfica para a impressão tipográfica, tai~ como evi-
·denc:adas linhas acima, é' do manuscrito honesto, coerente e har-
monioso, que decorrerá a possibilidade de rígida observância dos
signos de referência, citação, remissão, transliteração, redução e
outros, geral ou especialmente adotados em obras destinadas à
impressão. O uso inteligente dos recursos dactilográficos possi-
ldita a consecução de aspas simples (por ineio do apóstrofo, ge-
ralmente em posição de maiúscula da tecla do n.0 8), a consecução
de aspas duplas próprias ao teclado (em geral na posição de
maiúscula da tecla do n. 0 2), sem' falar nos parênteses, nas barras
·ou traços oblíquo, vertical e horizontal ( trnessão), no hífen ou
traço de união, e nos combinatórios possíveis, mercê do espaço
simples obtido por avanço ou recuo do giro do tambor na entre-
linha da medida simples.
1. 6 . 6 SímbQlos de correlação tipográfica - Bem pode ocor-
rer que, como editor-de-texto ou diretor-de-texto, possa alguém
aproveitar material impresso precedentemente, para a preparação
de uma nova edição, se. possível atualizada nos seus aspectos ex-
tralingiiísticos, se possível expungida de erros, defeitos, falhas e
ELEMENTOS DE BIBLIOLOGIA 63

imperfei~ões tipográficos anteriores. Se fôr disponível êsse texto


impresso para ser sacrificado em aras de um bom trabalho, a
operação poderá ser muito s!mplificada com dois· exemplares,
cujas páginas sejam coladas em fôlhas bTancas, deixada, de pre-
ferência, ampla margem à direita, outra menor à esquerda. Na
da direita, então, indicar-se-ão as correções e modificações cabíve!s,
os símbolos e as oonvenções anteriormente propostos. Casos ha-
verá, porém, em que, de preferência, se usará de círculos ou ovóides
ou cartuchos, como de regra repetidos à direita e em cujQ centro
se inscreverão, abreviadamente mas sistemàticamente -- "V" por
-ver sal ; "v" por versalete; "r" por romano ou redondo ; "i" por
itálico; "n" por negrito; e os combinatórios - " Vi" por wr&al
itálico; "vi" por versalete itálico etc. Outra parte da tarefa con-
sistirá 110 uso dos sinais de revisão, tratados no lugar próprio
dêste livro; mas cumpre, desde já, para êsses efeitos, lembrar que
- como se trata de indicações para uma composição tipográfica
totalmente nova - mu:tos dos signos .de revisão podem ser pura
e simplesmente dispensados de indicação marginal, desde que a
corr~ã.o na mancha fique explícita, sem ambigüidade possível.

• - 1.• v.•
CAPÍTULO II

QUESTõES COMUNS AOS DIFERENTES


ORIGINAIS

2. DOS ORIGINAIS
Do passado remoto até a alta Idade Média - depois do
advento da escrita entre os homens, há cêrca de 6 000 anos ( cf.
OOBB, 7-8) - não restam originais manuscritos do próprio punho
do autor, isto é, os autógrafos, nem escritos por outrem, mas que
tenham merecido sua aprovação pessoal, o que valeria por autó-
grafo (cf. KAAS, 1). A partir do fim da Idade Média, os autó-
grafos vão sendo, em número crescente, preservados para a pos-
teridade. Depois da difusão relativa da máquina de escrever, nos
centros que sofrem mais diretamente o influxo dos avanços tecno-
lógicos industriais, há uma tendência progressiva para fazer base
do autógrafo um texto dactilográfico, sobretudo naqueles autores
que são dactilógrafos de si mesmos.
2 .1 A PRODUÇÃO DO ORIGINAL - Em quaisquer casos, porém, a
obra escrita não é, de regra, vazada numa primeira e única demão.
O ajustamento entre o pensamento exato procurado por ensaio e
êrro, por aproximação sucessiva., por autocrítica permanente, e a
forma verbal desejada é, em cada autor, produto de um processo
que, quase sempre, atravessa duas ou mais fases de formulação,
ressalvados os raros casos de autores de primeira e única demão,
ou de escritos históricos de única demão, por fôrça das contin-
gências ou conjunturas que os determinaram - incluindo-se nesta
categoria um número não pequeno de escritos de natureza íntima,
diários, às vêzes memórias, e um largo montante do material epis-
tolográfico.
2.1.1 R~es prévias - Embora freqüentes vêzes tenham
grande valor, como ~abedal formativo informativo, os manuscritos
correspondentes às demãos anteriores àquela que foi ou teria sido
66 ANTÔNIO HOUAISS

reputada definitiva pelo autor não têm a mesma significação do


manuscrito definitivo. Essas Tedações prévias, consoante . sua le-
gibilidade, compreensibilidade, extensão e completude em rela-
ção ao manuscrito definitivo, recebem nome de "apontamentos",
"borrões", "notas", "anotações", "rascunhos", "primeira ( segun-
da, terceira, enésima) redação (provisória) do autógrafo (origi-
nal)".
2 .L 2 Atttógrafos - Cumpre, porém, sempre distinguir autó-
grafo (e também tudo quanto seja redação prévia) de autor
morto do d.e autor vivo. O autógrafo de autor morto, inédito ou
édito - e, se édito, quer em vida, quer após a morte do autor -
merece um tratamento pelo menos mais respeitoso do que o autó-
grafo de autor vivo, já que êste está em condições, a . qualquer
momento, em situações normais, de defender a integridade do
seu escrito ou da sua mensagem. O autógrafo de autor vivo po-
derá constituir sempre - enquanto vivo o autor - uma redação
pré-definitiva, mesmo se publicado. O mais que poderá acontecer,
em certos casos, é que os estudos históricos, críticos, exegéticos,
heurísticos, hermenêuticos, estilísticos, Engüísticos - filológicos,
em suma- possam distinguir, entre duas ou mais fases ou feições
da elaboração da obra, duas ou mais situações de espírito criador,
que se completem, aperfeiçoem, contradigam, não se harmonizem,
entrem em divergência e conflitos - o que, aliás, pode ocorrer
também com redações suces'sivas on retocadas de autor morto;
mas tais escritos e seu estudo, se por mais não valessem, valem
como caracterizadores de uma evolução espiritual documentada
dentro da trama mental de uma época ou momento histórico
coletivo.
2 .1. 3 "Edição definitiva" - O fato é que, em tôdas as litera-
turas modernas, são freqüentes as obras de autor vivo, em pri-
meira, segunda, terceira, enésima edição, que trazem menção de
"edição definitiva", ou "texto definitivo", ou equivalentes - o
que traduz um compromisso do autor para consigo mesmo e para
com o seu público e o que servirá de excelente guia, na posteri-
dade, para o tratamento crítico de sua obra, se ela o merecer ...
2. 2 AUTORES vxvos - O autógrafo de autor vivo é, por conse-
guinte, acima de tudo um documento de valor potencial, ·Sujeito
.ao arbítrio do . tratamento do próprio autor. Isso, contudo, não
impede que, na versão definitiva - ou pensada até aquêle mo-
mento como tal - , o autor possa dar-lhe uma feição que o seu
.co-autor, ou seu secretário, ou seu auxiliar, ou seu colaborador,
ou - sobretudo - seu dactilógrafo possa compreendê-lo em sua
ELEMENTOS DE BIBLIOLOGIA 67

plenitude e com o menor esfôrço possível. Destarte, apresentá-lo


com generosas margens à esquerda e à direita, em entrelinha-
mento regular e largo, ademais de uma grafia, não se dirá calí-
gráfica, mas claramente inteligível, é, senão um dever; uma van-
tagem para o próprio autor, que assim ganhará tempo, já que
sua releitura na revisão demandará pouco esfôrço, visto que as
achegas pela dactilografia do autógrafo ter-se-ão feito em função·
de matéria bem entendida e bem compreendida.
2. 2 .1 Consciência autoral - Nesses casos, o que se poderia>.
esperar, particular e enfàticamente, é que o autor fôsse não ·
apenas consciente da substância do seu escrito, mas também da·
forma do mesmo ~ quer-se dizer, da forma lingüística; e, assim,
em lugar de relegar a questão ortográfica, a pontuação, as múl-
tiplas dúvidas quanto ao sincretismo vocabular, ao critério de·
um revisor, com tinturas ou com apurado conhecimento dêsses.
problemas, melhor fôra que êle mesmo tivesse suas op!niões e ·
convicç(ies firmadas a respeito, que seriam fàcilmente observadas
de um manuscrito limpo. A questão não deve de modo nenhum.
ser considerada de somenos importância. A realidade é que,
através de escritos que traduzissem mais fielmente as caracterís--
ticas substanciais e formais da criação literária, melhor se con-
signariam os fatos coletivos da língua - em sua fonética, fonolo--
. gia, morfologia, sintaxe, vocabulário, ritmo, melodia, estilística -,
assim como os traços dó estilo de uma língua, de uma época, de
uma corrente, de um autor; e não apenas os fatos evolutivos a<>
longo de determinado lapso de tempo, pura e simplesmente, mas:
também as vacilações e flutuações individuais e coletivas, a luta
entre o velho e o nôvo, a interpenetração do popular e do erudito,
no momento mesmo dessa dinâmica social. E assim tantos outros
fatos importantes seriam consignados, fatos que hoje em dia já
são ou não são estudados, mas que poderão servir de documentação
·para tantos e tão aprofundados estudos futuros - estudos de
capital importância para o conhecimento, domínio e aperfeiçoa-
mento do instrumento de comunicação e expressão por excelência ·
dos homens entre si, vale dizer, a linguagem falada e, pois, a
escrita, nas suas diversas formas objetivas, as línguas, e, em cada
uma destas, nas suas diversas diferenciações temporais, sociais,
geográficas, individuais. . . '
2. 2. 2 "Correção" do original - Mas na . prática atual, sobre-
tudo no · Brasil, raro é o original por imprimir que não sofra o
crivo de um corretor - não o revisor tipográfico, mas corretor
da "língua" do autor, na. ortografia, pontuação, colocação, formas
vocabu1ares, sintaxe, concordância regência, que sei mais. . . Não
68 ANTÔNIO HOUAISS

me refiro, está claro, à solução dos problemas que o autor a si


· mesmo propõe, cuja resolução pode depender de consultas a pes-
soas que, aos seus olhos, sejam idôneas ou recomendáveis, visto
que viver é aprender. Refiro-me a essa "correção" compuls6ria,
que decorre de pressupostos rígidos no que se refere aos. fatos de
linguagem, quando não aos fatos estilísticos. OLIVEB SIKON re-
lembra, no seu ótimo livrinho, Introductio"" to Typography, um
conceito de THEODORE Low D:E VINNE que vem a prop6sito
(smo, 2) :
É crença hoje em dia, como o era nos tempos de
MoxoN, o primeiro escritor inglês sôbre a técnica da im-
pressão, que é dever do tipógrafo obviar às negligências
do escritor -

conceito bem mais moderado, como se vê, do que o nosso de corre-


tor, que aliás vive vida discreta. pois o autor via de regra tem
consciência de culpa e procura sonegar essa: sua importante cola-
boração. ANDRÉ THÉRIVE, por sinal, ressalta o papel capital do
coNetor, numa outra estrutura social (ENcF, 18·16-2):

Sabe-se que a colaboração entre escritores e impres·


sores é talvez menos estreita hoje do que na idade
clássica. . . Paradoxo T Não. . . Nossos antepassados ti-
nham uma ortografia muito fantasista, mesmo os autores
geniais; desprezavam aparentemente com razão as grafias
arbitrárias que se entronizaram em nossa língua. E, ade-
mais, êles contavam com os impressores para porem seu
texto em condições convenientes, em uniforme regulamentar,
se esta metáfora militar cabe. Basta lembrar o papel capital
que desempenhava o corretor antes do século XIX. Hauria
êle, aliás, seus títulos de nobreza da própria tradição.
Desde o século XV os impressores eram forçosamente
a um tempo artesãos e eruditos, como sucessores, de resto,
dos empresários da cópia manuscrita, os quais foram, fa.
talmente também, latinistas, graduados universitários, clé-
rigos. O mais antigo nome conhecido dessa corporação 6
o de P. PRIELis, de Mogúncia, que corrigiu o Psalterius
benedictinus de 1459, impresso por FusT e ScHOEJ'li'D,
concorrentes de GuTENBERG; e numerosos dignitários
eclesiásticos figuram nos anais da correção nos tempos
dos incunábulos : deviam estabelecer o texto, no sentido
científico da palavra, em suma, escolher uma espécie de
vulgata definitiva. Encontraram-se,· nos acervos das
grandes bibliotecas, manuscritos que tinham sido prepa-
ELEMENTOS DE BIBLIOLOGIA 69

rados para a composit;ão, na Alemanha, na Inglaterra, na


Frant;a. Nada mais comovedor do que manusear êsses
documentos de uma profissão venerável, em que a
inte-
lectualidade e a técnica se unem mais visivelmente do
que alhures.
Em contraposit;ão, exemplares de provas córrigidas
são muito raros para todo o período anterior ao século
XIX. Possuem-se, entretanto, obras inglêsas assim, que
~emontam a 1626 ; .as correçoes nelas são feitas com
grafita ou a lápis vermelho. Sabe-se o bastante para aÍU'-
mar que a correção se tornou uma profissão desde fins
do século XVI. Essa profissão alimentou, nos seus, inícios,
escritores notáveis'; na França, AMYOT, GUI PATIN, SuABD,
MICHELET, PROUDHON nela se amamentaram. Essa pro-
fissão pode . ser qualificada de auxiliar natural da profis-
são literária. ·

2. 2. 3 Corretor - A longa citação deliberadamente longa,


por tão instrutiva e por tão polemizável - merece-nos alguns
comentários: (a) o corretor a que se refere, na época dos incuná-
bulos, era na verdade um dos antepassados do editor-de-texto,
moderno, imbuído hoje das técnicas da ecd6tica, que se feiçoaram
desde antes, passando pela experiência de então; (b) o corretor
do texto de autor moderno, sem vinculações profundas de ami-
zade com o autor, pode dar ao seu texto um máximo de colorido
impessoal, o que o desriatura necessAriamente; (c) o corretor, na
citação, por vêzes s~ identifica eom o revisor, que, êste sim, é
um profissional umbilicalmente ligado às profissões . literárias
criadoras. Não deixa de comover, de outro lado, a referência
final a alguns revisores eminentes, tornados grandes escritores
franceses, e vêm-nos, inevitAvelmente, à lembrança casos seme-
lhantes entre n6s, os de MAcHADO .DE Assis, GRACILIANO RAMos,
EDUARDO FRIEmo ...
2 .2.4 Man1ucrito definitivo - Se o manuscrito não é - em
autor vivo - mera fase de elaboração da obra, mas a versão defini-
tiva - ou pelo menos pensada como tal -, deve ser vazado
numa s6 face de cada fôlha. A tradição brasileira para a fôlha
- genericamente falando ~ é o chamado formato-ofício ou papel-
pfício ( 327 x 220 mm aproximadamente), formato, aliás, menos
freqüente em outros países, onde inclusive a poupança de papel
determina dimensões menores. A fôlha pode ser em branco ou
entrelinhada; ocorre ·mesmo quadriculada, nas redações de re-
70 ANTÔNIO HOUAISS

vistas e jornais mais categorizados ou mais ricos. ~ que a qua-


driculação é feita de tal modo que, com facilidade, se pode cal-
cular o número de letras dactilográficas empregadas no original e,
assim, do número de letras, palavras, linhas· que lhes podem cor-
responder, em determinado corpo tipográfico, o que importa muito
para a feitura do "espelho" ou da "boneca" do· jornal ou revista
- espelho ou boneca que, na lingúagem da imprensa, no ato de
realizá-los sôbre o estôjo da máquina impressora automática, se
diz "retranca". Essa técnica poderia ser, com enormes vanta-
gens, usada para dactilografação das cópias por imprimir - como
se compreende pelo que vai dito e se compreenderá melhor quando
se tratar de páginas capitulares ou seccionais ímpares do livro
1'n fieri.

2.2.5 Características materiais do manuscrito - No original


manuscrito, em sua versão definitiva, visar-se-á fundamentalmente
à le~ibilidade pelo maior número possível de pessoas - -o que cons-
titui uma contraprova dessa qualida4e. Em conseqüênc:a, em
princípio, devem ser evitados:
a) borrões, rasuras, inserções, acresCimos, glosas, interlinea-
inentos e quejandos que possam dificultar a leitura do dactiló-
grafo e muito mais ainda a leitura do tipógrafo-compositor;
b) omissão de indicações precisas sôbre o seccionamento da
obra;
c) espaços em branco, intralineares, interlineares, inter-
seccionais, sem função explícita.
2. 2. 6 Legibilidade - É óbvio que, com procurar ev;tar tais
características negativas, não se preconiza um respeito passivo
disso. Há excelentes manuscritos com tais defeitos, mas que per-
duram como excelentes, porque a condição precípua ficou res-
guardada - a legibilidade relativamente fácil.
2. 2. 7 Indicaçõe6 . no manuscrito - Correlatamente, no origi-
nal manuscrito, em sua versão definitiva, devem ser respeitadas
as seguintes características:
a) haver indicações precisas quanto à paragrafação e ao
lieccionamento da obra; quanto ao uso das maiúsculas; quanto
à pontuação; quanto ao emprêgo de reduções; quanto ao sistema
de remissivas, notas, citações, referências;
b) em havendo espaços em branco, não explicitamente
funcionais,· preenchê-lol!l de círculos, ovóides ou cartuchos, de pre-
ferência a lápis - se possível com côr que realce - , dentro dos
quais se fará menção do seu destino ou finalidade, v.g., "s~m
valor", "deixa~ n entrelinhas ein branco", "a página seguinte
l!ILEllENTOS DE BIBLIOLOOIA 71

continua aqui" etc.; · quando o círculo, ovóide ou cartucho não


comporte, por ser sua área pequena, tais indicações, repeti-los
marginalmente, à direita, de preferência maiores, e inscrever a
indicação adequada ; o uso do óbelo supre muitos dos fins !ndi-
cados. ·
2. 2·.8 Revisão final do manuscrito - Consideradas as ind:ca-
c;ões anteriores, o manuscrito, antes de ser dactilografado1 ou~
mais importantemente ainda, antes de ser tipografado, deve ser
objeto de cnidada releitura, para que tôdas as convenções de corre-
la<}ão ma,nuserito-dactilografia - se fôr o caso - ou da correla-
ção manuscrito-tipografia sejam caracterizadas com rigor e ade-
quação.
2. 3 AUTORES KORTOS - Os autógrafos de autor morto e os
apógrafos - cópias de cópias que se remontàm sucessivamente,
em princípio, até o autógrafo, supérstite ou perdido - de copista
morto merecem, em teoria, os mesmos cuidados e respeito, ainda
que de valia diferente: são material que' pertencem à história e
cuja intangibilidade e inadulterabilidade devem ser preservadas.
A publicação moderna, atual, de tais escr:tos constitui, quando se
visa à fided:gnidade e à fidelidade, o problema central da ecdótica
e das técnicas e ciências afins. Não se justificam, dêsse modo, a
título nenhum, por piedoso, moral, eufêmico que seja o pretexto,
quaisquer que sejam as razões invocadas ou invocáveis, adjunções.
ao próprio documento, de esclarecimentos, retoques, avivamentos,
glosas, rasuras - ainda que os móveis disso sejam os mais hones-
tos e apa:rentemente legítimos. A preliminar mesma para que o ma-
nuseio de tais documentos seja facultado a quem quer que seja é
que $..sse quem ·quer que seja estej~ imbuído dessas noc;ões.
2. 3.1 Recuperação dos autógrafos e a.pógrafos - Se seme-
lhante autógrafo ou apógrafo está em vias de perder-se, esfari-
nhando-se, ou deteriorando-se sua legibilidade, urg;rá, tão-so-
mente, submetê-lo a um tratamento que, entretanto, deve ser pre-
, cedido de uma providência capital: esta consiste - no esta-
do em que se encontre o documento - em reproduzi-lo, por
processos mecânicos, em fac-símile, por meio de uma das diferentes
técnicas fotográficas, após o. que poderá ser êle submetido ao
tratamento preconizável, ou conveniente, ou possível. Obra no-
tável e por muitos títulqs pioneira vem realizando o Istituto di
patologia dei libro "Alfonso Gallo", de Roma, inclusive com a
d;fusão do seu Bolletimo (cf. ISTI).
2. 3. 2 Pttblica9iio de autógrafos e apógrafos - Dada a intan-
gibilidade do autógrafo ou apógrafo de autor ou copista morto,
ao se cuidar de sua impressão em livro, deve-se (a) manuscrevê-lo
72 ANTÔNIO HOUAISS

de nôvo, com os requisitos convencionais da correlação manus-


crito-tipografia, e/ou (b) dactilografá-lo, com os requisitos con-
vencionais da correlação dactilografia-tipografia. As duas fases,
aliás, coexistem modernamente ainda, como já o vimos, salvo os
raros casos em que o autor e os raríssimos em que o editor-de-
texto dactilografam diretamente a cópia autorizada, dispensando
a operação do manuscrito.
2.4 ·REPRESENTAÇÃO GRÁFICA - A criação literária - seja de
que natureza fôr, cientüica, técnica, didática, artística -, vazad&
em linguagem, presume, além dos problemas de mentação e for·
mulação no contexto social, os de representação num texto gràfi-
cameute inteligível. Nesse texto se corporifica a formulação que
interativamente exprime a mentação.
2.4.1 Problemas textuais genéricos - Seja vivo o autor, seja
morto, o texto de obra sua apresenta, quando se destina à im-
pressão, para ser transformado em livro, problemas comuns aos
textos em geral - sua ·representação ortográfica, sua pontuação
e o uso de várias outras convenções de vária natureza, que, con-
suetudinàriamente ou normalizadamente, se incorporam aos hábi-
tos, costumes, regras gráficas de nossa tradição cultural e, de um
modo mais amplo, da tradição cultural da humanidade.
2. 4. 2 Solução dos problemas ~ . ~ases problemas comuns,
assim como os critérios convenientes para resolvê-los, são suscita-
dos sempre pelas necessidades (a) de inteligibilidade e (b) de
economia - determinando a primeira um esfôrço de explic!tação
no sentido de superar as Íimitações que a realidade viva do pen-
samento e da fala encontram na representação gráfica, e determi-
nando a segunda uma redução de recursos, dentro das possibili-
dades cognitiva..c:;, técnicas e científicas, do tempo e part!cularmente
da tipografia, tudo a fim de que a eficácia gráfica seja obtida
com o menor dispêndio relativo de trabalho e energia.
2. 5 ORTOGRAFIAS - Cada língua que atinge o estágio escrito
fonético lato sensu se rege por um sistema ortográfico ___:. sistema
fixado, via de regra, por uma convenção tácita imposta e elabo-
rada pela tradição, ou sistema estruturado por uma convenção
explícita por meio de especialistas, nominalmente lingüistas e fi-
lólogos, particularmente ort6grafos - especialidade que, a ser
idônea, presume um conhecimento genér!co satisfatório- dos. diver-
sos ramos da ciência da linguagem. Seguindo observações lumi-
nosa.s de MARCEL COHEN (cf. OOHE, 83-90) e apoiando-nos ainda,
dentre outros, em trabalhinho de M. ILINE e nos compêndios de
JAMES G. FfVRIER e de I. J. GELB (cf. ILIN, passim; FEVR, passim,
e GELB, passim), podemos falar :
ELEM]l:NTOS DE BIBLIOLOGI.A. 73

a) na idade ortográfica de uma língua, se comparado o seu


sistema ortográfico, num determinado momento, com a pr6pria
língua que representa, donde decorrerem:
1) ortografias jovens, isto é, de línguas que, não
tendo . sido escritas anteriormente, recebem um certo sis-
tema de escrita que condiz essencialmente com as suas
necessidades atuais - ortografias jovens que podem ser
consideradas novas, se seu sistema é organizado de ma-
neira original, por fôrça das necessidades e sobretudo com
um número de letras suficientes - tal o caso do armênio
moderno - , ou que podem ser consideradas gastas, se se
serve de material escrito de outra língua, com a conser-
vação, ainda · que parcial, de hábitos ortográficos dessa
outra língua - tal o caso de quase tôdas as línguas ro-
mânicas, quando da forte latinização (e, por essa via,
helenização) que sofreram em tôrno e a partir do século
XVI;
· 2) ortografias velhas ou envelhecidas, quando, mal-
grado a evolução da pronúncia de uma dada língua, são
mantidos os caracteres e suas combinações em conformi-
dade com o estágio anterior dessa língua - tal o caso do
francês e do inglês modernos ;
3) ortografias rejuvenescidas, quando, sentidos os
inconvenientes de uma ortografia velha ou envelhecida, se
muda radicalmente de caracteres ou de sistema - tal o
caso do turco, que adotou modernamente os caracteres la-
tinos, tal o caso, muito mais revolucionário ainda, do
chinês, que, saindo de um estágio fono-ideográfico com-
plexo, está transitando rApidamente para a universaliza-
ção dentro de suas fronteiras dos caracteres latinos -, ou
então, com os mesmos caracteres, se reforma o sistema -
tal o caso do espanhol, do italiano e do português moder-
nos;
4) ortografias fora do tempo, das línguas mantidas
em sobrevida - ordinAriamente chamadas línguas mortas
- , cuja pronúncia se faz segundo os valôres fonéticos
dados aos seus caracteres pelos vernáculos dos que as
pronunciam - tal o caso do latim, objeto de estudos que
lhe reconst!tuíram aproximadamente a pronúncia - ou
en:tão das línguas que desapareceram totalmente e cuja
ressurreição artificial decorre da decifração de inscrições
documentais supérstites - tal o caso do egípc.io antigo;
sôbre a reconstituição da pronúncia do latim há umas
74: ANTÔNIO HOUAISS

poucas obras entre nós, de alto valor, que dão plenitude-


de satisfação para quem quiser pôr-se em dia com a ma-
téria; além do trabalho pioneiro de VICENTE DE SousA,.
são tôdas elas de autoria de ERNESTO FARIA ( cf. FARA,.
FARE, FARI 1 passirn);

b) nas enfermidades ortográficas e sua correção, tendo em.


vista que nenhuma escrita, mesmo a fonética dos especialistas,.
representa tudo o que se pronuncia ou tudo o que é significativo·
em amplo sentido numa língua dada, donde decorrem:
1) ortografias deficientes, isto é, de línguas em que·
nem tôdas as voga!s ou consoantes ou alguns dos seus.
modos são grafados, deficiência de que os indivíduos fa-·
lantes têm consciência - tal o caso do árabe para as;
vogais, ou do inglês para a acentuação intensiva dos:
vocábulos;
2) ortografias completadas, isto é, aquelas que, es-
tando nas condições anteriores, são objeto de complemen-
tações, via de regra por eruditos - tal o caso do árabe·
e do hebraico, com notação das vogais breves, para a lei-
tura do Corão e da Bíblia, e para o ensino; ou do latim e·
do grego, com notação didática e filológica das quantida-
des vocálicas, complementos que passam às vêzes à cate-
goria de reformas, tal o caso dos acentos gráficos gregos,.
generalizados a partir do século VII d. C. ;

c) nas ortografias em relação com a fonologia e a fonética,


atendendo ao fato de que os alfabetos são essencialmente fonoló-
gicos, isto é, seus caracteres notam os fonemas significativamente
d!ferenciais, não os apenas auditivamente diferenciais; quando, no·
curso de evolução de uma língua, os seus sons se modificam, o
Talo r dos caracteres muda decorrentemente ; se a modificação de
um som ligado a uma letra se verifica, numa língua dada, uni-
versalmente, a relação . absoluta não muda, mas muda a relativa;
se, porém, o sóm ligado a uma letra se modifica s6 em determi-
nadas situações ou posições, a mesma letra pode vir a representar
dois ou mais sons, o que é um traço de envelhecimento das orto-·
grafias, tal o caso típico do "s" latino, seguramente com um só··
valor fonêmico e aproximativamente com um só valor fonético·
(no período de maior estabilização do latim padrão, o chamado
latim clássico), letra que, entretanto, em português tem pelo•
menos dois valôres fonêmicos - como em sábio e asa - e vários·
valôres fonéticos - como, na área carioca (que aproximatinm.ente-
ELEMENTOS DI: BIBLIOLOGIA 75

.coincide com a pronúncia padrão do português de Portugal), com


quatro valôres, a saber, sábio, asa, êste, êsmo; de observações
dêsse tipo, podem-se reconltecer sistemas ortográficos fonologizan-
tes e sistemas ortográficos foneticizantes;
d) em elementos intelectuais das ortografias, elementos ou-
iros ligados não à mera representação dos sons ou fonemas, o que
:se verifica :
1) com ortografias etimologizantes, geralmente em
ortografias envelhecidas - tal o caso do t no francês
port -, ou mesmo em ortografias parcialmente rejuvenes-
cidas - tal o uso distintivo em português do j e g antes
de e e i; do ch e x; do ç, ss e s antes de a, o e 1t; do s, c
e ss antes de e e i;
2) · com ·ortografias gramaticais, com letras não pro-
nunciadas, mas que servem para indicar valôres grama-
ticais, geralmente flexões, tal o caso da grafia das formas
verbais francesas em que, via de · regra, o "-s" ("s" final)
representa a segunda pessoa do singular, só pronunciado
eni certas ligações vocabulares;

e) nas relações da fonologia com a ideografia, que determi-


·naram a escrita autônoma dos vocabulos, cujas partes iniciais e
fina:s muito freqüentemente se embebem nas finais e iniciais dos
vocábulos contíguos, o que determina heterografias para os casos
·de homofonia, ainda que tais heterografias se justifiquem em
razões etimologizantes - como no francês sain:, saint, sein, seing,
ceint, ou no português cento e sento;
f) no traçado da frase, o que determinou o aparecimento
·dos signos de pontuação, ainda geralmente sentidos como insufi-
cientes;
g) na utilização do material para as grafias, o que determina
a formulação de desenhos numa ortografia nova, ou o -aproveita-
mento do material caduco de ortografia anterior, tal o caso do
4
'j", oriundo do "i" latino, tal também o caso do "u" e do "v"
oriundos do "u" (consonântico e vocálico) latino, tal a:nda o do
"h" latino, aproveitado em mais de uma língua românica para,
nos chamados dígrafos, representar um som distinto românico;
h) na influência da ortografia sôbre a pronúncia, o que
determinou, nas ortografias velhas etimologizantes, o aparecimento
de sons já inexistentes em certos vocábulos, tal o portugÚês fl eua-
ma, digno e um sem-número de probabilíssimas restaurações na
pronúncia do português do Brasil, sob a influência ortográfica
( cf. HOUE, pa.ssim) ;
76 ANTÔNIO BOUAISS

i) no grau de comodidade das ortografias, em que são ele-


mentos ponderais .para o fácil manejo e difusão a natureza do
traçado, a tendência a uma transcrição fonetizante - ficando
num extremo a escrita arábica, sobretudo para as lfnguas não se-
míticas, como o persa e o turco, e noutro extremo o espanhol e o
italiano, e a meio caminho, numa ala, o francês e o inglês, na
outra, o português ;
j) nas condições de emprêgo das ortografias, em que ten-
dências democratizantes ou aristocratizantes militam no sentido
da fonetização ou da etimologização.
2. 5.1 Orlografia fO'nética "stncto seMU" - Um sistema or-
tográfico que reproduzisse a realidade e~Xpressa oralJ:nente, um
sistema ortográfico fonético, enfim, é ideal que ainda ·não pôde
ser atingido - e não o será tão cedo - pela humanidade, não
apenas para fins de transcrição científica, mas sobretudo para
fins comuns de comunicação escrita. É que, por trás da maior
ou menor riqueza de sinais que semelhante transcrição exigiria,
haveria, nas condições objetivas das línguas hoje etn dia faladas
pela humanidade, o problema da diferenciação delas na sua ex-
tensão geográfica, nas suas camadas culturais, nas suas classes
sociais, e, mesmo, ~as variantes de realizações fônicas individuais
- o que aoorretaria, em última :análÍise, a pé,rsonalização da
transcrição fonética, noutros têrmos, a quase obliteração do pro-
ceSSQ social da comunicação, e tudo isso sem levar em conta o
elemento tempo, a criar ·a moldura evolutiva para tôdas aquelas
diferenciações. Considere-se, também, segundo o depoimento au·
torizado de · MARcEL CoBEN ainda, que, s6 de lfnguas prôpri~
mente ditas, há hoje eni dia na humanidade cêrca de três mil,
das quais cêrca de vinte e cinco faladas cada uma por mais de dez
milhões de indivíduos, e das quais apenas entre vinte a quarenta
com tradição escrita e literatura de certa monta para o patri-
mônio cultural, documentado literalmente, da humanidade ( ef.
OOBO, 336 ; KEIL, pasmn).
2. 5. 2 Orlogro.fia& -út~ - Se, de um ponto de vista, essa
realidade parece válida, de outro ponto de vista, já não f9nétieo,
já não apenas fonológico, mas fonético-fonológico, à diversidade
referida acima se superpõe outra realidade, que é a oonscimcia
comum de grandes coletividades, as culturalizadas ao influxo da
conserva gráfica ( cf. GABA, 187 ; suo:, passim) de que certas va-
riedades fonéticas têm um valor circunstancial, pelo menos nUDi
dado momento histórico~ e de que subjazem a uma outra de valor
mais genérico. Essa a razão por que qualquer língua pode ter
E L E H .E N TO 8 D 1!1 . B I B L I O L O G I A 77

um sistema ortográfico mais ou menos simples, se atenta a com-


plexidade fônica de cada uma.
2 .6 ORTOGRAFIA PORTUGU~SA - 0 problema ortográfico em
língua portuguêsa foi, em linhas gerais, objeto de uma sistemati-
zação tradicional até fins do século XIX, quando se esboçaram
as primeiras tentativas de racionalização ou sistematização conve.n-
cional' explícita, que culminaram, no que tange ao Brasil, com o
chamado acôrdo ortográfico de 1943 - consubstanciado no Pe-
que-no vocabulário ortográfico da. Ung'UQ. porluguêsa, da Acade-
mia Brasileira de Letras ( cf. ACAD). Não nos interessa aqui dis-
cutir os aspectos técnicos dessa sistematização; os vícios profundos
que a crivaram de düiculdades cotidianas quase insuperáveis, e
certos traços típicos de bizantinismo, mandarinismo ou aristocra-
tismo que a feiçoaram. Representa, apesar de tudo, um p8880 à
frente, que deve ser preservado para uma futura simplificação
mais racional, simplificação que poderá levar décadas, não importa,
mas que virá fatalmente. ·
2. 6 .1 A ~tuação brasileira - As normas que informam o
Pequeno vocabulário ortográfico da Ungua porluguêsa, da Academia
Brasile!ra de Letras, de 1943, são as que se encontram atualmente
em vigor - por fôrça da Lei n.0 2 623, de 21 de outubro de
1955. ~sse vocabulário fof preparado em virtude de sugestão, de
janeiro de 1942, do então ministro da l!lducação e Saúde, GusTAVO
CAPANEHA, tendo ti~o por base o Vocabulá.rio, da Academia · das
Ciências de Lisboa, de 1940 ( cf. ACAL). As instruções para a
.Órganização do vocabulário de 1943 foram aprovadas unânime-
mente pela Academia Brasileira de Letras, na sessão de 12 de
agôsto do mesmo ano, encontrando-se na presidência da agremia-
ção José CARLOs DE MAcEDO SoARES. Terminada a sua elaboração,
o vocabulário tomou-se oficial em 30 de maio de 1944, por fôrça
de comunicado da Secretaria da Presidência da República, da-
quela data - Diário Oficial, de 1.0 de junho de 1944 -, "até que
a definitiva solução da matéria, depois de mútuo entendimento das
duas Academias, possa ser estabelecida". Em 18 de janeiro de
1944, pelo Decreto n.0 14 533, o govêrno brasileiro determinou a
aplicação oficial obrigatória da convenção ortográfica assinada
a
em Lisboa pelos dois países 29 de dezembro de 1943, convenção
que determinava, na sua cláusula II:

As Altas Partes Contratantes obrigam-se a estabele-


cer, como regime ortográfico da língua português&, o que
resulta do sistema fixado pela Academia Brasileira de
78 ANTÔNIO HOUAISS

Letras e a Academia das Ciências de Lisboa, para orga-


nização do respectivo vocabulário, por acôrdo entre as
duas Academias -

em cuja conformidade o Brasil env:ou a Lisboa uma comissão de


membros da Academia Brasileira de Letras, ·com o fim de elaborar
com a Academia das Ciências de !Jisboa as bases definitivas da
ortografia da língua. Pelo Decreto-Lei n. 0 8 286, de 5 de de-
zembro de 1945, foi aprovado o acôr.~o resultante dos tràbalhos
da Conferência Interacadêmica de Lisboa - em que a delega~ão ·
brasile!ra era composta dos acadêmicos PEDRO CALMON, Um RI-
BEIRO CouTo e 0LEG ..\.aro MARIANO e um especialista, Josf DE SÁ
NuNES, sendo composta a delegação portuguêsa (pelo menos com
um grande filólogo, o último designado) por GusTAvo CoRDEIRO
RAMos, Josf MARIA DE QuEIRÓs VELOSO, Lufs DA CuNHA GoNÇAL-
VES e FRANCisco D.-t Luz REBÊLO GoNÇALVES. Em 1947, em obe-
diência ao artigo 3.0 do citado decreto-lei, a Academia Brasileira
de Letras, em colaboração com a Academia das Ciências de Lisboa,
publicou um vocabulário ortográfico "resumido", ·para ser utili-
zado provisoriamente, isto é, até a ultimação do vocabulário orto-
gráfico da língua portuguêsa, previsto na cláusula II da mesma
.Convenção. Estabelecia o mesmo decreto-lei, em seu artigo 5.0 , que
, o Ministério da Educação e Saúde baixaria oportunamente porta-
ria sôbre a obrigatoriedade do vocabulário "resumido", portaria
que não. chegou a ser baixada, continuando, assim, em vigor, o
Vooabttlário de 1943, anterior ao acôrdo interacadêmico. O pro-
jeto da Câmara dos Deputados, de n.0 395, de 1952, vetado pelo .
presidente da República e, depois de mantido pelo Congresso Na-
cional, tornado Lei n. 0 2 623, de 21 de outubro de 1955, "restabe-
lece" o sistema ortográfico do Vocabulário de 1943 e revoga o
Decreto-Lei n.0 8 286, de 5 de dezembro de 1945, tendo, por conse-
guinte, dois alcances : (a) retirar da alçada do ministro da Edu-
cação e Saúde a competência de tornar obrigatório o uso dêste
ou daquele vocabulário, (b) revogar a vigência dos resultados da
Conferênc!a Interacadêmica de Lisboa. Essa lei, pelo seu artigo
2.0 , reza, porém:

Art. 2.0 - O sistema referido no artigo anterior vi-


gorará até que seja dado cumprimento ao artigo II da
Convenção Ortográfica assinada em Lisboa, pelo Brasil e
Portugal, em 29 de dezembro de 1943 - ·

sendo de notar que essa lei reconhece como em vias de observância


a convenção firmada em Lisboa na data referida. Entretanto,
ELEMENTOS DE BIBLIOLOGIA 79

essa Convenção não entrou nunca na plenitude de sua fôrça jurí-


dica no Brasil, por ter sido posta errôneamente em vigor por
Decreto n.0 14 533, de 18 de janeiro de 1944, que não era instru-
mento hábil. Tanto é assim que foi encaminhada a Mensagem
n.0 312, de 20 de julho de 1948, ao Congresso Nacional, acom-
panhada de exposição de motivos do ·então ministro das ·Relações
Exteriores, RAUL FERNANDES, para o fim expresso de que fôssem
observadas as disposições constitucionais brasileiras, que condicio-
navam a sanção da Convenção a prévio pronunciamento do Con-
gresso Nacional, pronunciamento que impende até hoje. Na si-
tuação presente, por conseguinte, verifica-se que o Brasil (a)
segue as normas do PequB'OO vocabulário ortográfico da língua
porluguêsa, da. Academia Brasileira de Letras, de 1943 ; (b) re-
conhece a Convenção Ortográfica entre o Brasil e Portugal fir·
mada em Lisboa a 29 de dezembro de 1943; essa Convenção, en-
tretanto, ainda não foi objeto de sanção do Executivo, por não a
ter, até agora, promulgado o Legislativo ; mas a determinação de
reconhecê-la em tempo hábil, por parte dêsse corpo legislativo,
estã explícita na expressa menção que lhe faz a Lei n.0 2 623, de
21 de ·outubro de 1955, que situa nos têrmos atuais a matéria.
Não violou, nessa conformidade, o Brasil nenhuma convenção,
acôrdo ou tratado, já que não se ultimou entre n6s a processação
legislativa necessária. Nem parece pretender violar, antes pelo
contrário, já que é de seu ânimo confessado observar a Conven-
ção firmada em Lisboa. Mas é óbvio, também, que o espírito
vigente condiciona a sua aprovação e entrada em vigor à elabo-
ração e ultimação do vocabulário ortográfico da língua portu-
gu&a, que lhe dará corpo definitivo, não podendo, para tal fim,
ser invocado o Vocabulário "resumido", que não estava previsto
nos seus têrmos.
2. 6. 2 Razões de discrepâncias - Para cabal orientação, cum-
pre ponderar que é na elaboração e processação do vocablolário
previsto pela Convenção acima referida que se encerra a aceita-
bilidade, por parte da opinião pública brasileira, leiga e especia-
lizada, da mesma Convenção, já que até a data a consubstanciação
dos tê~os da citada Convenção em um "Acôrdo Ortográfico",
da Conferência Ortográfica Interacadêmica, de Lisboa, em 1945,
tem merecido contínuas objeções dos meios competentes e dos
meios interessados - editôres, industriais e comerciantes do livro,
autores, jornalistas - brasileiros. A unificação de vistas no res-
peito permitirá, assim, a desejada oficíalização - e mais que isso,
unificação relativa - de uma ortografia comum aos dois países,
caminho para uma unificação ortográfica da língua comum. Essa
80 ANTÔNIO HOUAISS

unificação, ao que parece, deve basear-se em alguns pressupostos,


já hoje inalienáveis, dos brasileiros ( cf., a propósito, MONT; GONC;
HOUA, 75):
a) a lí~gua português& não é propriedade dos portuguêses
e empréstimo aos brasileiros; é um patrimônio comum de ambos
·os povos e de todos os que dela façam uso;
b) em conseqüência, nas relações de dependência entre o
fato ortográfico e o fato fonético da pronúncia, não pode preva-
lecer o padrão falado português - do chamado "eixo Lisboa -
Coimbra" - nem um eventual padrão falado brasileiro, que lhe
é necessàriamente discrepante (cf. BmL); ao contrário, o fato
ortográfico ou se diferenciará nesses casos ou, o que seria infinita-
mente mais correto, será um denominador comum que sirva a
ambas as realidades faladas como padrão, sem trair a · nenhuma
delas;
c) é imperativo que a eiva de classificação, de aristocratis-
mo, tão característica na preocupação de distinções ditas etimoló-
gicas, seja tanto quanto possível banida das cogitações - a
exemplo do passo pioneiro dado pela própria Academia Brasi-
leira de Letras, na sua, hoje mais do que nunca sentida com tal,
memorável simplificação ortográfica de 1907 (cf., por exemplo,
MONT, 18-22).
2. 6. 3 O sistema vigente - O estágio de sistematização tra-
dicional da ortografia pot:tuguêsa pode ser grosso modo subdivi-
dido em dois períodos: o chamado "fonético", que abarca as pro-
duções escritas em português dos seus primeiros monumentos lite-
rários propriamente ditos, pelos inícios do século XIII, até o
século XV inclusive; e o chamado "pseudo-etimológico" ( cf. siLv,
14 e 24), que vem desde então até as primeiras convenções orto-
gráficas explícitas, nas quais sobrelevam nomes de filólogos e
ortógrafos eminentes, como os de ANICETO nos REIS GoNÇALVES
VIANA, JosÉ LEITE DE VASCONCELOS, em Portugal, e, no Brasil,
ainda que injustamente esquecido, o de MEDEIROs E ALBuQUERQUE,
de rara intuição para os aspectos cruc:ais do problema. Mas, tal
como se acha a questão ortográfica no Brasil, é o chamado acôrdo
de 1943 que deve ser e vem sendo observado - para tudo o qut>
se refere ao estágio atual de desenvolvimento da língua e para
tudo o que dêle fôr aplicável, sem violência d~ realidade lingüís-
tica, aos estágios anteriores da língua.
2. 6. 4 Formas optativas - Dado que o estágio atual da lín-
gua não é, porém, uniforme, quiçá mesmo fonolôgicamente, e
dado que há ainda como e por que ·optar preferencialmente, o
ELEMENTOS DE BIBLIOLOGIA 81

sistema ortográfico em causa permite ao autor eleger entre duas


- ou três, ou quatro ou mesmo n - formas a de seu uso habi-
tual ou a de sua seleção estilística.
2. 6. 4.1 11l assim que são legitimas dualidades como as refe-
ridas na mera amostragem adiante, sôbre as quais, em consciên-
cia própria, o autor deveria eleger (supra 2.2.1), muitas das
quais averbadas no Pequeno vocabulário ortográfico da Ungva
porluguêsa, da Academia Brasileira de Letras, e outra.CJ tantas
arbitrária, injusta, indevida, inexplicàvelmente omitidas - u
dualidades que vão antecedidas do sinal + :

abaeatuaia abacatuia
aba!adoaro aba!adoiro (omitem-se os demais exemplos do
sincretismo ou/oi)
+ abaf abaim
+ abajeru - abajiru
abaré avaré
abdome abdômen (e o sincretismo -e/en)
abatocar abotocar
abecoinba avecoinha
aberém abarém
+ aberinjelado abrinjelado
+ abetarda avetarda
+ abexim
abóbora
abexi
abobra
aboborinba abobrinha
abrazõ ambrazõ
absenteismo absentismo
absentefsta absentista
+ abside
absinto
absida
absintio
abutua butua
+ açaf
acantodáctilo
açaim
acantodátilo (omitem-se os demats exemplos do
sincretismo -t/-ct-)
acant6pterix acantoptérige
+ ação acção
+ aceder acceder
+ acelga celga
+ acepção
acessão
accepção
+ accessão
+ acessar accessar
+ acessibilidade accessibilidade
+ acessimal accesstmal
+ acessfvel accessfvel
+ acesstvo accessivo
+
+
acesso
acessório
accesso
accessórto
+ acessual accessual
+ acidência accidência
+ acidentação accidentação
+ acidentado accidentado
82 ANTÔNIO HOUAISS

+ acidentalidade accidentalidade
+ acidentaliamo accidentalismo (omitem-se oa demais exemplos
do sincretismo -cc/-c- e ct;/-t;-)
acrobata acróbata
acropata acrópata
+ acrópode acrópodo
+ actinosquisto actinocisto
acutibóia acutirnbóia
+ acutipum acutipu
+ adaga daga
+ adaptabilidade
adaptação
adatabilidade
adatat;ão
+
+ adaptado adatado
+ adaptativo adatativo
+ adaptável adatável
ademanea adernães
adenópata adenopata
+ adenosclerose adenoesclerose
+ advocacia advogacia
+ advocatório
advocatura
advoga tório
advogatura
+
aerofone aerofono
+ aerograma aerogramo
+ aerópode aerópodo
&flechado afrechado
&flechar &frechar
+ afleumado afleugrnado
+ afleumar afleugrnar

2. 6. 4. 2 Com a exemplificação, que está longe de ser exaus-


tiva, mesmo até o último verbête arrolado, "afleumar" - numa
rápida consulta na ordem alfabética -, o ·que se tem em vista é
inculcar no autor ou editor-de-texto ou diretor-de-texto a noção
de que a realidade lingüística, mesmo quando contra ela militem
razões aparentemente lÓgicas e filológicas, deve - se amparada
por uma fôrça de tradição ou por uma larga radicação nos usos
cultos ou populares - ser aceita ou pelo menos não ser passiva-
mente rejeitada, porque a rejeição se faça recomendar pela im-
ponência da autoridade. E nisso n~a vai de desrespeito ao tra-
balho alheio, tanto mais que na crítica procedente está uma das
condições para o aperfeiçoamento do trabalho coletivo.
2. 6.4. 3 Alguns exemplos podem, muito menos numerosos, ser
invocados para sincretismos múltiplos (supro 2. 6 .4 .1) :

+ abanheérn - avanheérn - abanheenga - avanheenga


+abóbada -abóboda - abóbeda - abóveda - bóveda
+ aeromoto - aerernoto - aerimoto
+ afegane -afegão - afegã - afgane - afgão - afgã

exemplos colhidos até o último arrolado em 2. 6. 4.1 supra.


ELEMENTOS DE BIBLIOLOGIA. 83

2. 6. 4. 4 Cabe ao autor, melhor do que a ninguém, escolher a


forma, dentre os sincretismos, que mais seja adequada à sua ex-
pressão ; ou, consoante as circunstâncias de sua formulação, eleger
aqui uma delas, adiante outra - sobretudo nos casos em que
reproduz o discurso direto de personagens de níveis sociais, cul-
turais, regionais diferentes ou de tensões psíquicas ocasionais.
2. 6. 4 . 5 A prática freqüentemente seguida por autores vivos
brasileiros - já de ·obras de criação literária, já de obras de cria-
ção científica, técnica ou didática - de deixarem essas opções ao
critério de um corretor ou revisor, embora justificável como mos-
tra de impotência pessoal de superar uma pequena dificuldade,
é, entretanto, lamentável, porque quase sempre obscurece a luta
viva de que é palco o vocabulário, a fonologia, a morfologia, a
sintaxe, a semântica, a estilística de uma língua na sua contínua
tendência à organização de um sistema idealmente coerente -
sobretudo quando se atente ao fato capital de que a lexiogra-
fação e canônica gramatical têm sido, principalmente entre n6s, es-
tabelecidas por normas nem sempre autênticas ou cientificamente
fundamentadas. A prática lexicográfica, por exemplo, tende, em
cuos de sincretismos e equivalentes, a assumir, entre duas ou
mais formas, uma atitude francamente preferencial, a ponto de,
sob alegações muitas vêzes cerebrinas ou subjetivistas, proscrever
uma ou mais formas em liça. ~ essa prática lex,icográfica arbi-
trária que tem criado "erros" freqüentes e, em lugar de ordenar,
desordena o processo lingüístico.
2. 6. 4. 6 Essa, ainda, a razão por que se afigura monstruosa a
hipótese de "tradução" ou "adaptação" de· obras escritas em "bra-
sileiro" ao "português", ou vice ...versa. Os que assim o fazem,
ou com isso concordam, contribuem para o empobrecimento ex-
pressionai da língua, nas suas infinitas potencialidades.
2. 6. 4. 7 Se, com relação a autor vivo, é recomendável inculcar
o hAbito da escolha ou eleição pessoal das variedades possíveis dos
eincretismos, com relação a autor morto j~ não se trata apenas
disso, mas de verdadeiro dever de respeitar a forma - e, pois,
a substância - do escrito transmitido à posteridade. O editor-
de-texto, ou diretor-de-texto, a quem incumba a tarefa de prepa-
rar o texto de um autor morto, não pode, em boa razão e lógica
(a) nem alterar as 'formas encampadas pelo escrito, ainda que
francamente "erradas", (b) nem unificar a flutuação de formas
de um mesmo vocábulo .:...._ a não ser quando, de modo incontro-
verso, possa provar que se trata de um dos múltiplos processos
de deformação ocasional, mecânica, incidental, acidental, e ainda
84 ANTÔNIO HOUAISS

assim quando possa, para o caso concreto, dar cabal justificativa


para a sua correção. Em lugar oportuno dêste livro, trataremos
mais detidamente dêsse assunto ( capp. III, IV e V).
2.6.4.8 Dentre as variedades atuais de sincretismo vocabular,
é recomendável que se atente para os dos tipos seguintes - sin-
cretismos para os quais, felizmente, o chamado acôrdo de 1943 não
adotou um critério optativo ou coercitivo preferencial, no que fêz
muito bem, pois a rigor são variedades em luta que não compor-
tam por ora uma determinação ou fixação arbitral, cabendo, pois,
aos autores optarem por "sua" forma e aos editôres-de-texto, ou
diretores-de-texto, respeitarem a forma "do autor" :
a) os· sincretismo& em que a dualidade ou a multiplici-
dade formal dos vocábulos decorre do fato de êstes terem sido
introduzidos na língua por via erudita, havendo, assim, pelo
menos uma forma que mais se aproxima do eruditismo original e
outra que já está mais consentânea com· a adaptação que tais
vocábulos vêm sofrendo aos padrões fonéticos e fonológicos mais
gerais ou correntes da língua: isso se verifica, sobretudo, com
vocábulos dos tipos 'relacionados em 2. 6. 4 .1, a que acrescenta-
mos, ao acaso, alguns exemplos mais :

+ gastrintestinal gastrointestinal
+ gastrenterite , gastroenterite
+ faringeo faringeu
+ faringea faringéia
+ esquimó
cisto
esquimau
quisto
xisto esquis to
xis toso esquistoso
+ tireóide tiróide
+ orquidea orquidéia
+ ruptura
aspecto
rutura
aspeto

b) os sincretismos regionais, regionalizados ou "nacionais"


do tipo ou I oi: "oiteiro I outeiro"; "matadouro I matadoiro",
"cousa I coisa", "ouro I oiro" - ou do tipo "quer I quere", ou
do tipo "muxirão I mutirão I muxirom I inutirom I muxirum
I butirão", "Capibaribe I Capiberibe", "Tietê I Tieté", "sapê I
sapé", "tiê I tié", "mendubi I mindubi I mendubim I mindu-
bim", "lua I luma I lua";
c) os sincretismos históricos, isto é, de vocábulos que Ja
tiveram ·uma forma hoje em dia geralmente abandonada - pelo
menos na língua literária - em favor de outra forma, que via de
regra representa uma evolução da anterior ou uma restauração
.ELEMENTOS .DE BIBLJOLOOJA 85

da anterior nos moldes de sua forma erudita, tipo "üa I uma",


"prougue I prouve I prazeu ", "jougue I jouve 1 jazeu" ; "dino :
dign<~", "sino I signo", "malino 1 maligno".
2.6.5 Fatoa e11enci<Umente yráficoa - Quanto ao aspecto pu-
TRmente gráfico - ortográfico -, cumpre notar que há
"formas gráficas" que não traduzem, por trás de si, nenb'uma rea-
lidade fonética ou fonológica; assim, na grafia 'huma ', não haverá
nenhuma violência lingüística passá-la, modernizadamt'nte, para
'uma', visto ser certo que o h inicial é sem nenhum valor foné-
tico, agora como ao tempo em que era usado; entrt'tanto, uma
grafia como "hüa" s6 poderá sP.r simplificada até "üa", não mais,
pois daí para "uma" há já uma substancial modificação de forma
lingüística. Podemos, poi's, falar em "erros puros" de ortografia
- em face, por .exemplo, do padrão do chamado acôrdo de 1943
- quando se vê, por exemplo, modernamente, num escrito a
grafia "feissão", ein lugar de "feição"; é que os dois "ss" do
primeiro caso têm o mesmo valor representativo que o "ç" do
segundo caso, sendo que, pelo cânon atual, não têm fundamento
ortográfico ou convencional. Inúmeros "erros puros" dêsse tipo
podem ser ensejados pelo chamado acôrdo de 1943 ; deixando de.
lado os casos que decorrt'm de um acintoso desprt'paro t'lementar,
.q uando se pode topar com formas gráficas as mais arbitrárias e
inusitadas - "deichar', "flexa", "caza", "qentura", "fregês",
"hati:vo" -, as dificuldades fundamentais do nosso sistema orto-
gráfico ~ atual são notórias e decorrt'm, essencialmentt', do fato de
que para o mesmo fonema comum da língua há mais de uma
representação, sob a fnvocação de um fundamento etimológico.
Com efeito, escrever, por exemplo, "jeito", porque provém do
latim iactu(m), e "gente", porque provém do latim gente(m), é
etimológico (e fonético e fonológico) enquanto "jeito" f o! pronun-
ciado como o foi, "djeito" [I~YtQ] ou [~6'tu], enquanto "gt'nte"
o foi como "gente" mesmo (íé" tç] ou [ié" ti]. Tão pronto, po-
rém, a distinção fonética e fonolQgica desapareceu da língua
<'Omum, ficando confinada. a áreas restritas do domínio dialectal
da língua, ao que parecE' ai pelos fins do século XV, daí em
diante a distinção deixou de ter os fundamentos e a necessidade
primitivos - tanto assim que nos séculos seguintes até o pre-
sente se tumultua sempre o emprêgo das duas letras E'm causa,
nas situa~ões provenientt's de heterografias homofônicas pseudo-
etimológicas, para cujo emprêgo correto o uso do vocabulário
deve ser constante (a ponto de poder-se, em princípio, admitir
que não haja um só ortógrafo na língua portuguêsa que, sem a
consulta de · um vocabulário, seja capaz de safar-se impunemt'nte
de suas dificuldadt'S). Com êsse parêntese o que se visa ê à se-
86 ANTÔNIO HOUAISf!

guinte realidade, experimentada por nós em ·mais de uma circuns-


tância: as três ortografias românicas que foram rejuvenescidas
por fôrça de uma convenção explícita são as do espanhol, do
italiano e do português. Apreendida a convenção ortográfica de
cada uma delas, verifica-se o seguinte: a um ditado - pronun-
ciado segundo o padrão ortoépico, vale dizer, o do espanhol co-
mum com base no castelhano, o do italiano comum com base no
toscano-romano e o do português comum com base no conímbrigo-
lisboeta ou com base no padrão do Primeiro Congresso Brasileiro
de Língua Falada no Teatro (Salvador, de 5 a 12 de setembro
de 1956 - cf. BmL) - o indivíduo escrevente pode, na prática,
deixar de cometer êrro em espanhol, cometê-los em baixíssima
porcentagem em italiano, mas não deixa de cometê-los em portu-
guês, nos pontos (digamos assim) de estrangulamento da nossa
ortografia, pontos a que se refere o parágrafo que estamos con-
siderando.
2.6.6 Fatos gráfíoo-morfol6gicos - Do "êrro puro" de or-
tografia se desliza, fàcilmente, para o "êrro gráfico-morfológico"
- tomada "morfologia" lato stnctoque sen.su -. Assim é que,
em quase todos os pontos da extensão da língua português&, há
certas flutuações ou oscilações que, se dentro do sistema fonoló-
gico particular de uma área ou de uma seção social não têm valor
oponencial, dentro do sistema fonológico geral da língua o têm ;
destarte, cumpre atentar rigorosamente na distinção entre tais
fonemas oscilantes ou flutuantes (cf. HOOA, 4.2.4 a 4.2.12):
a) emprêgo disthitivo de "e" e "i" pretônicos: emigrar,
imigrar, digladiar, degladiar, denigrir, denegrir, imissão, emissão,
privilégio ;
b) emprêgo distintivo de "en" ("em") e "in" ("im"): en-
carnado, incarnado,. encanto, indivíduo, empório, entus!asmo,
imperador;
c) emprêgo distintivo de "o" e "u" pretônicos: jabuti, ja-
boti, jaboticabal, jabuticaba!, tomate, sinusite ;
d) emprêgo distintivo de "on" ("om") e "un" ("um") pre-
tônicos: comprimento, cumprimento, compadre, acompanhar;
e) emprêgo distintivo de "e" e "i" postônicos: crânio, idô-
neo, oxigênio, consentâneo ; ·
f) emprêgo distintivo de "o" e "u" postônicos: óbolo, discó-
bolo, glóbulo, amêndoa, fátua ;
g) emprêgo distintivo de "e" e "ei": bandeja, caranguejo,
primeiro, beijo, inteires, peneira ;
h) emprêgo distintivo de "o" e "ou": pôde, soube, estouro,
estouramos.
ELEMENTOS DE BIBLIOLOGIA 87

2.6.6.1 Do "êrro gráfico-morfológico" se desliza fAcilmente


para o êrro decorrente de cacoepias, dialectalismos, rusticismos
- cacografias, em geral - , assim como para as ultracorreções
- quando uns e outros não são voluntá~s ou para fins aà hoc
- ; mas, em casos tais, o que é mister e dispor de um conheci-
mento mínimo da língua falada e escrita. Um jôgo de vocabu-
lários, dicionários e exposições sistemáticas das dificuldades orto-
gráficas é de uso recomendável com a freqüência possível e na
ocasião mesma da dúvida (por exemplo, ACAD, KONT, GONC, I'EBB).
2. 6. 7 Tratamento ortográfico d{)s textos - Em se tratando
de texto de autor morto, porém, as dificuldades de estabeleci-
mento da boa lição e da boa simplificação ortográfica vão em
crescendo, na medida em que aumenta o número de anos da morte
do autor. De autor morto contemporâneo, poder-se-á dizer que
oa problemas, no particular, são semelhantes aos de autor vivo,
com a única diferença de que falta o árbitro em causa própria
para dirimir as dúvidas e fazer as opqões possíveis. Se o autor
está morto há poucas decadas, seja um AFoNso HENBIQUBS DE
Lnu BABBETo (t 1922), um JOAQUDl MABu MAcHADO DE Assis
( t 1908), já não há, em certos casos, como optar; no primeiro,
por exemplo, num mesmo livro (ou manuscrito), numa mesma
página, numa mesma intervenção coloquial da mesma persona-
gem, flutuam as formas coisa, C()'IUIGj impossível nêle, por ora,
saber se, ao escrever "didáctica", pronunciava "didáctica" ou "di-
dática", já que ambas aà formas eram e são válidas; impossível
saber se pronunciava "inquérito" . ou "inqüérito"; no segundo,
embora incomparAvelmente mais disciplinado nos seus escritos,
dúvidas semelhantes assaltarão inevitAvelmente um editor-de-texto
que queira fazer obra honesta, escrupulosa e perdurável. Em
EUCLIDES DA CUNHA (f 1909), em RUI BARBOSA (f 1923), em VI-
CENTE DE CABVALHO (f 1924), em AUGUSTO DOS ANJOS (f 1914)
- para não alongar demasiado a lista - os problemas dêsse tipo
se multiplicam.
2. 6. 7 .1 Tais problemas - que aumentam, como se disse, na
medida em que a morte do autor ocorreu mais recuada no tempo
- constituem um dos objetos centrais da critica dos textos, crí-
tica textual, ou ecdótica, . que modernamente se orienta, eiD prin-
~ipio, por duas coordenadas fundamentais:
a) quando, de um texto, se têm duas ou mais versões mais
ou menos autorizadas, o texto que se estabelecer ou o será de
acôrdo com a versão ·mais autorizada, qual a revelada pela este-
mátiea, ou o será de acôrdo com a versão provAvelmente mais
autorizada, de tal modo que o texto estabelecido não deve, voca-
88 ANTÔNIO HOUAISS

tivamente, jamais constituir uma nova versão combinada das


outras, versão que nunca terá existido, ainda que para isso se
possam arrolar argumentos de vária natureza;
b) quando, num texto, ocorrem formas e estruturas tais que
sua simplificação ortográfica ou ordenação metódica e unificada
não se possa fazer seguramente - isto é, asseverar que então era
como agora - , devem-se manter tais formas ou estruturas tais
como aparecem no texto objeto da crítica, de maneira conserva-
dora.
2. 6. 7. 2 · Exigindo a ecdótica uma preparação filológica geral
altamente satisfatória e uma experiência particular muito séria,
seria de todo recomendável que os editôres-de-texto improvisados
(e vai êste epíteto sem nota pejorativa, mas apenas como expres-
são das contingências do nosso meio, cujos centros de ensino su-
perior não produziram ainda um número bastante de profissio-
nais daquele tipo e cujos centros editoriais ainda não compreen-
deram cabalmente a importância primacial dessas questões) se
imbuíssem, pelo menos, da idéia de que existem os problemas e
não se fizessem levianamente árbitros dos seus editados - o que
tem acarretado o aparecimento, entre nós, de impressos que me-
lhor fôra nunca tivessem vindo à luz pública, tão indignos são
de fé ou confiança.
2. 6. 7. 3 Simplificação ortográfica de textos - De um modo
geral, é mais fácil - no que tange à grafia - indicar os. fatos,
nos textos de autores mortos, que podem sem risco ser objeto de
simplificação ortográfica, do que aquêles que não o podem, senão
após um crivo atento de filólogo. A vista de semelhante princí-
pio, cabe perguntar, então, se não seria mais prudente reprodt:.zir
o texto tal como se acha no autor. Com efeito, em se tratando de
impresso de autor morto, cuja reedição se cogite fazer, ou bem se
edita segundo os preceitos da ecdótica, ou bem se edita fac-simi-
larmente, vale dizer, por meio de uma das técnicas de réprodução
fotográfica, isto é, em que não haja nova composição tipográfica.
Ocorre, contudo ainda, ponderar que às vêzes não se trata de
edição, mas de citação; nesses casos, ou se cita criticamente, isto
é, com o crivo ecdótico, ou se cita diplomàticamente, isto é, com
a reprodução idealmente ipsis litteris do texto citado.
2. 6. 7. 4 Reprodução diplomática - A reprodução diplomática
de um texto íntegro é, hoje em dia, fortemente desaconselhada -
como se verá no local próprio dêste livrinho -, salvo quando,
eventualmente, se trate de texto de tal modo complexo e obscuro,
que o mínimo, isto é, a contraprova de. sua inteligibilidade ime-
ELEMENTOS DE BIBLIOLOQIA 89

diata, é o que se objetive. Em não havendo tal rara circunstân-


cia, impõe-se, did.ática, normativa e cientificamente, a simplifica-
ção, com a observância e o respeito dos fatos da língua na sua
essencial historicidade. ·
2. 6. 7. 5 Indicações para a simplificação - Podem, sem risco,
ser 'objeto de simplificação ortográfica, em textos escritos no pe-
ríodo pseudo-etimol6gico da língua (supra 2. 6. 3) :
a) as letras consonânticas dobradas, salvo, entretanto, os
"nn" e os "mm", os "cc" ("cç"), e os "rr" e os "ss"; no primeiro
caso porque podem representar fonemas ou segmentos fônicos dis-
tintos, e nos dois últimos porque representam fonemas distintos
de "r" e "s"; são, pois, simplificáveis sem vacilação "bb", "dd",
"fl", "gg", "11", "pp", "tt"; para os "nn" há a possibilidade de
o primeiro "n" ser índice de nasalidade da vogal anterior, tal o
caso, v.g., de con.nosco, isto é, "cõnosco", de en.n.astrar, isto é,
"énastrar"; para os ."mm", mesmas circunstâncias, v. g. emmalar>
isto é, "émalar"; para os "cc" ("cç") ocorre a possibilidade de o
primeiro "c" ser também pronunciado, t•.g. access6rio, isto é,
"acess6rio/akcess6rio"; e, enquanto em casos tais o complexo pro-
blema de saber a realidade da pronúncia de semelhantes letras
consonânticas dobradas através dos tempos não fôr resolvido em
língua portuguêsa, é de tôda a prudência não proceder à simpli-
ficação, salvo fundamento concreto, num escrito, num autor, numa
época, que a justifique numa palavra dada ( cf. HOOA, passim) ;
b) os chamados dígrafos helenizantes - "ph", "th", "rh"
- , que nunca representaram na língua fonemas distintos dos
representados por "f", . "t" e "r", respectivamente; quanto ao
dígrafo .helenizantt! "ch", pode, eventualmente, haver dúvidas, já
eom vocábulos de origem grega '- por exemplo, "chisto" pode
ser "xisto", ou "quisto" ou "cisto" num texto dado -, já com
palavras de origem outra - por exemplo, em certo tempo, An-
chieta, dúvida já hoje dirimida em favor de "ch = x";
c) o "k", que sem receio, conforme o caso, pode ser substi-
tuído por "c" ou "qu", em não se tratando de vocábulo que
mereça o tratamento de realce material de estrangeirismo ;
d) o "y", que sem receio pode ser substituído por "i", salvo
em estrangeirismo& que mereçam o tratamento de realce material
eorrespondente;
e) o "w", que pode, conforme o caso, ser substituído por
"v" ou "u" - o que, por isso mesmo, já postula certa reserva
crítica, embora sua ocorrência seja moderna e de valor quase
incontroverso - v.g. wa~sa, que o será seguramente por "valsa",
e assim wagon., por "vagão", se se tiver certeza de que, no caso
90 ANTÔNIO HOUAISS

concreto, a representação ·não deva ser, eventualmente, wago-n,


isto é, a de uma pronúncia aproximadamente estrangeira", ou
"vagon" ou "vagom" (equivalente a "vagõ"), como intermediária
de "vagão" atual; ou v.g. wau ou wano, que sem dúvida, se no
original não mereça realce material de estrangeirismo, pode ser
representado por "uau".
2. 6. 7. 6 Constituem, reciprocamente, pontos de dúvida sôbre
os quais o editor-de-texto deve madurar duas vêzes antes de pro-
ceder à simplificação ortográfica os relacionados em 2 . 6 . 4 .1,
2.6.4 . 3, 2.6.4.8, 2.6.6, 2.6.7.
2. 7 PONTUAÇÃO - Conexo com o problema ortográfico é o
da pontuação. A hist6ria da pontuação revela ( cf. coHE, 25, 32,
41, 66, 88, 89, 99, 109), no mundo ocide~tal (o sânscrito, por
exemplo, apresenta caracteres diferenciais de evolução), uma lenta
conquista. Num primeiro estágio - ap6s um período de total
continuidade das notações e/ou das letras intervocabulares ou
intravocabulares, da direita para a esquerda, , da esquerda para a
direita, bustrofédon (combinação das duas direções anteriores),
de cima para baixo, em círculo, em espiral -, separam-se por
um ponto, colocado na linha de base, em meio ou em cima da·
altura das letras, sistemàticamente, os vocábulos (ou então o fim
dêstes é caracterizado por desenho diferencial de sua letra final),
até que, em lugar do ponto em aprêço, apareça pura ~ simples-
mente uma grande conquista- o espaçó branoo funcional. Num
segundo estágio, principiou-se a distinguir, de nôvo, por um ponto
em altura variável, a separação do que corresponde grosso modo
à noção atual do parágrafo. Terceiro estágio é o dos gramAticos,
fi16logos, glosadores alexandrinos, que principiaram a intercalar
signos de pausa respirat6ria, numa aproximação do débito decla-
mat6rio do texto, se lido - época a partir da qual, aliás, a pon-
tuação moderna em esbôço se fêz acompanhar, nos manuscritos,
de símbolos de atenção, de matéria importante, de matéria secun-
dária, de matéria ·que poderia (e até mesmo, em certos casos,
"deveria") deixar de ser lida, de matéria que não deveria origi-
nalmente pertencer ao texto (possivel ou seguramente uma glosa),
de matéria que por sua eventual dificuldade e importância devia
ser lida e relida ( cf. EESP, s.v. lib,.o). Tais efeitos, moderna-
mente, ou não são consignados (pois que o homem culturalizado
vem progressivamente tomando consciência, como segU.nda· natu-
reza, da grafosfera) ou o são por meio de realces materiais na
composição tipográfica, isto é, nas famflias, nos gêneros e nos
corpos dos tipos. A tradição medieval - ora continuando, ora
não (caso em que não pontuava, mas via de regra separava muitos
ELEMENTOS DE BIBLIOLOGIA. 91

vocábulos, salvo via de regra os proclíticos e os enclíticos) - deu-


nos o sistema iniciado pelos alexandrinos, e o Renascunento se
limitou a herdar, em linhas essenciais, os principais signos de
pontuação modernos, embora empregando-os num sentido progres-
sivamente lógico-gramatical, enquanto antes se fazia preferente-
mente subordinado ao perfil melódico da cadeia falada e às pau-
sas respiratórias mais nítidas.
2. 7 .1 Po-ntuação em português - DuARTE Nuli."'ES oo Lão,
por exemplo, em 1576, diz em sua Ortografia da língua porlu-
guêsa (LIAO, 74v.-75r.) :
E os pontos que neste tempo se usam, no partir e
dividir as cláusulas, assim na escritura de mão, como na
estampada, são três .se [ilicet]. vírgula, coma, cólon que
teem estas figuras.
Vírgula
Coma
Cólon
E a diferença que há entre êstes três pontos é, que
a vírgula se põe, e faz distinção, quando ainda não está
dito tal cousa, que dê sentido cheo, mas somente descansa
para dizer mais.
O segundo se põe, quando está ·dito tanto, que dá
sentido mas fica ainda mais para dizer, para perfeição,
e acabamento da sentença. O qual ponto se chama coma,
que quer dizer cortadura. ·
O terceiro se põe, quando temos cheia a sentença, sem
ficar dela mais que dizer. E chama-se cólon, que quer
dizer membro.
2 . 7 .1.1 E o mesmo tratadista diz, na sua obrinha (LIA.o, 76v.) :
Além dêstes pontos, que servem de demarcar as cláu-
sulas, há outros mais para outros efectos, cujas figuras
são as seguintes:

Interrogativo T Hffeo.
Admirativo
§
Aateriaoo •
·Parllgrafo Obeli100
Parêntesis {) Braquia v
Meio clrculo Divido
Ápioés Ângulo /'...
92 ANTÔNIO HOUAISS

explicando a seguir os seus usos - no que se vê, em parte, a


continuação da tradição medieval de copistas e glosadores, que se
embebe, claramente, na alexandrina e bizantina (supra 2.7).
2. 7. 2 Coordenadas da pontuação porluguêsa - Desde o Renas-
cimento, porém, se manifesta a tendência de condicionar a pon-
tuação a duas coordenadas, às vêzes coincidentes, às vêzes não:
a do débito rítmico-melódico-respiratório e à da sistemática ló-
gico-gramatical; dessa forma, em função da predominância da
primeira coordenada, se vêem sujeitos separados por vírgula do
predicado ; e em função da predominância da segunda, a tendên-
cia à vírgula sistemática antes da conjunção "e" (ou "&"), ou
da palavr.a "que", a primeira quer em função de conectivo ora-
cional, quer não, quase nunca coincidindo - no que é possível
muito provAvelmente presumir - com o débito rítmico-melódico-
respiratório, e a segunda quer como conjunção, quer como pro-
nome, em que aquela coincidência ora se daria ora não.
2. 7. 2 .1 ~sse sistema .perdura, prAticamente, até fins do sé-
culo XIX, com c.aracterísticas de uso individual por vêzes assina-
láveis, embora desde o advento em Portugal da influência da
gramaticalização de Port-Royal principiassem a aparecer certos
princípios proscritores, isto é, antes negativos que positivos, na
sua formulação. · ·
2. 7. 2. 2 Modernamente, a sistematiza«;)ão da pontuação se vem
tentando no sentido de racionalizar, conjugadamente, na medida
do possível, aquelas duas coordenadas. Nessa formulação, feita
em grande parte em função dos conceitos de "prótase" e "apó-
dose", eminentemente retóricos e declamatórios, há sempre, subja-
cente, o fato de que o uso dos sinais de pontuação está ligado a
uma intonação (ou, como quer ACAD, "entonação") ascendente ou
descendente, embora essa into nação e sua pausa.· correspondente
possam apresentar diferenças quantitativas, de sinal, quando di-
ferentes ou mesmo quando iguais.
2. 7. 3 SiM:Í$ de pontuação - Exaustivamente, são os seguin-
tes os sinais de pontuação usados em português, nos nossos dias:
( 1) vfrgula
( 2) ponto-e-vfrgula
( 3) ponto
a) ponto (simples)
b) ponto-parágrafo
c) ponto final
( 4) dois pontos
( 6) travessão
a) de abrir
b) de fechar
ELEMENTOS DE BIBLIOLOGIA 93

( 6) parênteses ()
a) de abrir
b) de fechar
( 7) colchêtes []
a) de abrir
b) de fechar
( 8) reticências
( 9) ponto de interrogação ?
(lO) ponto de exclamação

euja característica comum fundamental é a de notarem, concomi-


tantemente, uma pausa (maior ou menor), uma intonac;ão (ascen-
dente, desoondente, ascendente-insistente, 8$Cendente-descendente) e,
por vêzes, uma mudança geral da intensidade, quando não da al-
tura, do segmento da cadeia falada. De lado ficam duas categorias
de sinais, por vêzes considerados juntamente com os sinais de pon-
tuação: (a) os sinais diacríticos, isto é, anotações literais para
imprimirem· valor fônico diferente do usual a uma letra - os
chamados acento agudo (' ), graye ( ,), circunflexo (.... ), o
trema ( •• ), a cedilha sob o "c" ("c;"), o til("') , em cuja cate-
goria, entram, a rigor, os "dígrafos diacríticos" ("rr", "ss", "ch",
"Ih", "nh") e um "dígrafo tradicional" (o "qu" antes de "e"
e "i"), assim como, em certos casos, o hífen ou traço de união
(-) ; (b) os símbolos de estruturação tipográfica, para convenções
bibliográficas, bibliol6gicas e tipográficas, o principal dos quais é
o hífen na partição vocabular final da linha, sendo que, contudo,
também podem exercer aquelas funções, dentre outros, o traves-
são, os parênteses, os colchêtes, as reticências, o ponto de interro-
gação, o ponto de exclamação, os dois pontos, o ponto e a vírgula.
Os sinais diacríticos e os sÍII\bolos de estruturação tipográfica não
são aqui considerados, mas no lugar próprio dêste livro.
2. 7. 3 .1 Pode-se considerar eixo nodal da sistemática da pon-
tuação português& moderna o jôgo oponencial da vírgula contra
o ponto - a primeira equivalente à concomitância de uma pausa
menor, com uma intonação ascendente e com um não impedimento
lógico-gramatical, e o segundo equivalente a uma pausa maior,
com uma intonac;ão descendente e um imperativo lógico-gramatical.
Alterado qualquer um dos três fatôres dos elementos oponenciais,
cai-se no campo do emprêgo de outro sinal de pontuação ou no
campo do não emprêgo de sinal de pontuação.
2 . 7. 3. 2 O impedimento lógico-gramatical acima referido pode
ser assim enunciado : não se separam por sinal de pontuação os
elementos sintàcticamente necessários e mutuamente dependentes,
94 ANTÔNIO HOUAISS

se êles se sucedem em ordem direta, isto é, não enfática, não opo-


nencial ao ordinário, ao correntio, ao despojado .de matiz afetivo.
Destarte, (a) formulado o sÜjeito, segue-se o predicado; entre
ambos não deve, se nessa ordem e sem intercalações ou elementos
parentéticos, haver sinal de pontuação: "eu vou", "o Senhor
Francisco Amaro Fernandes de Abreu Castanhede Cunha e Bueno
assinou"; (b) formulado o verbo, segue-se seu objeto necessário;
entre ambos não deve, se nessa ordem e sem intercalações de
elementos parentéticos, haver sinal de pontuação: "vimos o es-
petáculo", "assistimos à cena", "estávamos vendo o grandioso
espetáculo", "vínhamos procurando assistir aos jogos olímpicos",
"forneci os elementos solicitados ao encarregado". Duas decor-
rências do exposto são as seguintes: (1) se a ordem dos elementos
sintácticos necessários não fôr a consuetudinária, ordinária, habi-
tual, não enfática, direta, mas ao contrário indireta, enfática,
ocasional, excepcional, dessa ordem poderá não decorrer pontua-
ção correspondente - "vou eu", "assinou Francisco Amaro" (se
a intenção do autor é não consignar pausa e intonação ascendente),
ou poderá, ao contrário, decorrer pontuação correspondente -
"vou, eu", "vamos, nós", "assinou, Paulo" (se a intenção do autor
é consignar pausa e intonação ascendente); (2) se houver inter-
calações ou elementos parentéticos entre os elementos sintácticos
necessários, essas intercalações ou elementos parentéticos poderão
ser ou não consignados por um jôgo intercalativo ou parentético
de pontuação, dúplice (correspondente ao abrimento da intercala-
ção ou el~mento parentético e ao seu fechamento), segundo haja
pausa e intonação ascendente corres~ondente - "eu hoje vou"
ou "eu, hoje, vou", "Paulo com entusiasmo declarou ontem os
seus sentimentos" ou "Paulo, com entusiasmo, declarou, ontem,
os seus sentimentos". Podemos, já agora, examinar os casos mais
correntes de uso dos sinais de pontuação na boa prática moderna
(isto é, naquela que melhor traduz os fatos de ritmo, cadência,
intonação de um trecho escrito), quando não há razões estilísticas
de base afetiva que rompam os princípios canônicos - casos em
que se entra no campo da estilística da pontuação.
2. 7. 4 Elementos normativos de pontuação - A canônica da
pontuação pode ser haurida nos compêndios sistemáticos da lín-
gua, que raro discrepam modernamente entre si (o que dá uma
medida do alcance de convenção a que se chegou), embora sejam
por vêzes omissos quanto ao tratamento exaustivo da questão.
Nem nos aventuraríamos a fazê-lo aqui, pois desbordaríamos dos
nossos objetivos ( cf., por exemplo, ALis, CUNH, LIMA, LIMO, MACI,
ELEMENTOS DE BIBLIOLOGIA 95

passim). Vejamos, entretanto, gra-


NASC, OITI, PASS, PERE, RIBE,
duadamente, uma esquematização dos aspectos fundamentais do
cânon (em aditamento ao que vai dito supra 2.7.3.2)'.
2 . 7 . 4.1 Uma série de elementos gramaticais de igual valor e
função, coordenados entre si, apresenta-se assim :
____ e ____
(a)---
sendo cada linha sfmbolo de qualquer elemento lingüfstico, qualquer
e mesmo, como valor e funçio tsubstantivo, ou adjetivo, ou pronome,
ou verbo, ou advérbio, ou oraçio de igual natureza; o primeiro como
sujeito, ou como objetor ou corno apOsto etc.; o segundo como adjunto
limitativo, ou explicativo etc.; o terceiro •.. ): é o que se chama uma
41
série normal" (conceptualme~te, qualquer deBSaB séries pode ser
g~ativa-ascendente, descendente,· asceodente~escendente, par-
ticularizante, generalizante,- ou nio gradativa, isto é, desordenada,
caótica, gradaçio ou nlo-gradaçio cujo emprêgo é matéria da estilfs-
tica). Essa série pode, porém, vir em seqüência chamada asSindética
(assfndeton):

- (b) - - -
ou em seqüência chamada polissindética {Polissfndeton):
(c) ____ e ____ e ____ e ____ e - - - -

polissfndeton que, por sua natureza, retoma ao esquema (b) ante1·ior,


càbendo-lhe, em c-onseqüência, enfAticamente, a disposiçio:
_ _ _ ,e _ __
(d) _ _ _ ,e _ _ _ ,e _ _ _ ,e
disposiçlo que - é óbvio, pois é ·enfática - é menos usual. Se,
porém, os elementos em série têm vfrgulas internas (uma, duas, . três,
-n), autolilàticamente as vfrgulas separat6rias dos elementos em série
transitam para ponto e· vfrgula:
(a') ..-1.--'-- , ' . , e
devendo também observar que (a) está para (a') assim eomo (b) está
para {b'), a saber:
(b') _......_.___

assim como (c) está para:


96 ANTÔNIO HOUAISS

(c') -:........t-, e-....!...-, e _:........;_,e . . . , e _ _,__


assim como (d) está para;
(d') ___;:......t- ; e --L-- ; e ---''--"- ; e .....;.........:......_,__; e _ _.__
2 . 7 . 4. 2 Tomada qualquer uma das séries acima consideradas
(digamos a mais simples _l_, ~,.,.....L_, _ L e _L_),
podemos admitir que entre os elementos seriados sejam interpolados
ou incluídos paren~ticamente elementos estranhos à série (digamos
entre _1_ e _ L , e entre _a_ e _4_) o que - .O á que
as interpolações ou elementos parentéticos são indicados por dupla
vírgula., a de abrir e a de fechar, v. supra 2. 7. 3. 2)- teôrica.mcnte
daria o seguinte esquema:
__!__.,,_L_,_2_,_L, i ,-!.-e 5
esquema que, entretanto, se reduz (pela fusão das vfrgula.s dúplices) a:
_L,_._._, _2_, _ L , _L, , i _ e 5
mas esquema de tal natureza eventualmente ambígua que, moderna-
mente, é wbstitufdo por um dos dóis seguintes:
(e) _1_- __i_-,__!_,___!_-......!,_-, _L. e 5

(f) _I_ LU, -L, _3_ L!...J, _L e _5_

em que a opção corresponde, via de regra, em (e), a um elemento


parentético ou interposto que deve, na eventual elocução da ca-
deia escrita, ser dito na mesma intensidade e altura do resto da
cadeia falada, e, em (f), a um elemento parentético ou interposto
que deve, na eventual elocução da cadeia escrita, ser dito em in-
tensidade e altura diferente (via de regra menor e mais baixa)
do resto da cadeia falada.
2. 7. 4. 3 Se, normal~ente, nas suas funções separat6rias ou
parentéticas, a vírgula, o ponto-e-vírgula, o travessão e o parên-
tese - bem como o colchête, que, emparelhado, corresponde, na
função de pontuar, a parênteses dentro de -pa.rênteses- aio acom-
panhados de intonação ascendente, também o são, normalmente,
os dois pontos, com a conotação subjetiva discriminatória do enun-
ciado anterior, bem como as· reticências como reticências, isto é,
como suspensão subitânea, de incompletude, da cadeia falada ...
e escrita. De intonação ascendente ainda é a exclamação, mas
com uma sílaba de acento insistente, variável no segmento fônico
ELEMENTOS DE BIBLIOLOGIA 97

segundo seja o vocábulo de valor: "quém dera!", "quem déra!";


"peguemos as armas, companhéiros !"; "peguemos as ármas, com-
panheiros!"; "peguémos as arma~, companheiros!".
2. 7 .4 .4 O ponto de interrogação se caracteriza, marcadamente,
pela modulação típica da cadeia falada, com seu perfil · melódico
ascendente-descendente - correspondente ao suspensivo da in-
completude (ascendente), que por parte do indivíduo falante não
tem resposta, pois, de sua parte, está terminada a enunciação
(descendente). Não confundir, é óbvio, com as chamadas inter-
rogações indiretas, que são, conceptualmente, confissões assertivas
de desconhecimento com volição de conhecimento; compare-s<>
"qual é o seu nomef" com "quero saber qual é o seu nome" .
2. 7 .4.5. Normalmente, pois, há um só sinal de pontuação de
típica intonação descendente, de completude assertiva (afirmativa
ou negativa) de seção da cadeia falada: é o ponto. Em verdade,
porém, três sinais de pontuação exercém essa função, sendo que
o ponto, por si, é trlplicemente distinguido. Ao cabo, a distinção
é tipicamente lógica:
a) ponto final - a intervenção é definitiva, sem acréscimos
outros;
b) ponto-parágrafo - supõe uma nova ordem de idéias;
c) ponto simples- supõe um enlace de idéias corroborantes;
d) ponto-e-vírgula (fora das funções de intonação ascen-
dente, vistas supra) - supõe um enlace estreito de idéias com-
pletas;
e) dois pontos - supõe o coroamento assertivo de uma enun-
ciação analítica assertiva, como, por exemplo, no início dêste nú-
mero.
2. 7. 4. 6 Os autores vivos lucrariam - dada a latitude que há
para os usos e vezos pessolris - com seguir as indicações acima,
em proveito da própria inteligibilidade e da coletivá. E repre-
senta aspecto mais atinente à estilística e à estética do verso a
questão suscitada depois de certos poetas modernos - SriPBANB
MAu.n:ad principalmente - de se os versos deveriam ser ou
poderiam deixar. de ser pontuados . canônicamente. :9, porém,
ponto pacífico que - se não intervém intuito de deliberada cons-
trução anfibol6gica, ambígua, supersugestiva ou difusa, ou, noutro
extremo (e, no caso, os extremos se tocam), concretista e pseudo-
concretista, com todo o seu cortejo de postulações metalingüís-
ticas - a pontuação não pode senão contribuir para a eficácia
da vivência do verso.
98 ANTÔNIO HOUAISS

2. 7. 5 Critica textual e· pontuação - Nos textos de autores


mortos, a questão da pontuação se propõe em têrmos diferentes -
aumentando, como já. vimos, a dificuldade, na medida em que
está recuada no tempo a sua morte. A preliminar ecdótica,
porém, é a eleição motivada de um dos dois seguintes critérios
extremos: (a) ou se segue a pontuação do autor através do aut6-
grafo, ou do copista, através de . apógrafo, ou de edição autori-
zada, segundo os casos, (h) ou se pontua à moderna, segundo as
possibilidades existentes para os autores vivos.
2. 7. 5 .1 A pontuação original não parece, a certos editôres-
de-texto, dever ser seguida, porque (a) varia, de autor para
autor, numa mesma fase da língua; (h) varia no tempo; (c) nem
sempre apresenta uma feição sistemática apreensível, e (d) não
parece, via de regra, encerrar indicações, lingüísticas, filológicas,
hermenêuticas·, de maior monta. Nessas condições, não há como
e por que segui-la, devendo, ao contrário, adotar-se a pontuação
moderna, que pelo seu caráter sistemático facilitará. a inteligibili-
dade do texto e a intelecção do contexto. Na verdade, a tarefa
de modernizar uma pontuação nem é operação simples, nem deixa
de encerrar graves riscos, pois é notório o fato de que não poucas
passagens textuais diversificam de sentido, consoante seja a pon-
tuação que se lhe der. Ora, numa edição crítica, quer se adote
a pontuação original, quer se modernize a pontuação, o essencial
é que as passagens daquele tipo sejam elucidadas ou, pelo menos,
discutidas, para que a edição crítica seja merecedora do nome.
Isso tudo equivale a dizer que essa circunstância nem favorece
nem desfavorece um dos dois critérios oponenciais.
2. 7. 5. 2 Outros editôres-de-texto propendem a seguir a pon-
tuação original, sob a alegação de que (a) a variedade, de autor
para autor, até no mesmo autor, através dos tempos, é elemento
que, embora não aproveitado ainda para aprofundadas pesquisas
filológicas, deve encerr.a r algum valor indicativo de alcance parti-
cular e, por via de conseqüências, de alcance geral; (h) a conexão
que sempre houve entre ·a pontuação e o jôgo rítmico-melódico-res-
piratório poderá., quiçá., permitir que algbm dia os estudos filoló-
gicos venham a elucidar a evolução do ritmo, da melodia, da
cadência, de marcha da expressão falada, conjunto de fatos êsse
que se sente não ser estranho de modo nenhum à evolução geral
de uma língua, como condicionado e condicionante dessa evolução.
Ora, no momento em que se descobrir a metodologia capaz de
interpretar o "arbítrio" da pontuação do passado para a eluci-
daeão dos fatos acima referidos - nesse momento as edições crí-
ELEMENTOS DE BIBLIOLOGIA 99

ticas em que se adotou o critério da modernização da pontuação


não terão, no particular, nenhuma ou quase nenhuma valia.
/
2 .7.5.3 Em suma, a questão se cifra, essencialmente, em saber
se numa pontuação dada há um fato de valor lingüístico funda-
mental ou não o há - equiparável aos dígrafos helenizantes ou
equiparável ao problema dos grupos consonânticos, para estabele-
cermos uma analogia com a questão ortográfica, tal como se exa-
minou neste livro.
2. 7. 5 . 4 O autor destas linhas, pessoalmente, tem posição de-
finida e crê que a pontu~ção original deve, em princípio, ser
respeitada - porque nos textos do passado, qualquer que seja
a elucidação que dos mesmos se puder atingir, sempre há algo
de nôvo por elucidar, interpretar, descobrir, particularizar, gene-
ralizar, não s6 em caráter restrito a: um texto dado, mas também
em caráter extensivo à língua, seu sistema de valôres e evolução
dêsse sistema.
2. 7. 5 . 5 Qualquer que seja, porém, a posição ou o critério do
editor-de-texto no particular, deve êle sempre indicar as normas
que o nortearem, explicitando (a) se modernizou no todo a pon-
tuação, a tal ponto que se dispensa de distinguir os sinais do
original dos por êle colocados ; (b) se modernizou parcialmente
a pontuação, distinguindo, assim, os sinais originais dos que o
não são, ou vice-versa; (c) se respeitou a pontuação original, dis-
cutindo os poucos lugar~s em que não o fêz; (d) se respeitou
integralmente a pontuação original, discutindo as passagens obs-
curas que decorrerem dêsse respeito integral, e (e) se respeitou,
pura, simples e integralmente, o original sem comentar. Todos
êsses critérios, justificando-se ou não, motivando-se ou não, de-
correm, em verdade, da situação do texto original, no que tange
ao particular da pontuação, pois há (a) textos sem nenhuma pon-
tuação, (b) textos com pontuação precária em face da moderna,
(c) textos com pontuação excessiva em face da moderna, (d)
textos com pontuação satisfatória em face da moderna, (e) textos
com passagens correspondentes aos diversos tipos anteriores.
2. 7. 5. 6 Prudencialmente, o editor-de-texto que se sentir ina-
bilitado para enfrentar ·o problema deve optar sempre pelo res-
peito integral da pontuação original, se a houver, discutindo, se
fôr o caso, os pontos obscuros; em não a havendo, poderá sim-
plesmente consignar o fato e pontuar, com menção, no lugar ade-
quado do livro, dessa circunstância, v.g., "o texto apresenta-se
sem nenhuma pontuaÇão no original, cabendo ao editor-de-texto a
responsabilidade da pontuação".
100 ANTÔNIO HOUAISS

2. 8 MAIÚSCULAS - Conexo, ainda, com o sistema ortográfico


é o do emprêgo das letras maiúsculas. Cabe, liminarmente, con-
siderar que, por maiúscula, designa os o caráter em capital que
se distingue dos caracteres minúsculos. Se um texto fôr vazado
em minúsculas - romanas, itálicas ou negritas - as maiúsculas
poderão ser as capitais da caixa alta correspondentes, em versais
ou em versaletes, preferentemente as primeiras; se, porém, um
texto fôr vazado em versalete, as maiúsculas o serão em versal ;
se ainda, o texto todo fôr vazado em versais - a chamada com-
posição (ou ·impressão) lapidar -, as maiúsculas poderão sê-lo
em subcapitulares ou então em: versais de corpo ligeiramente
maior.
2.8.1 Tendências de uso - O emprêgo .das maiúsculas como
realce material para caracterizar nomes próprios ou noções emi-
nentes é já encontrável na tradição alexandrina - e de certo
modo, num remoto passado anterior, desde o realce material dos
cartuchos, que na escrita hieroglífica egípcia foram os predeces-
sores dêsse emprêgo - para caracterizar um emprêgo fonetici-
zante dos caracteres ideografantes ( cf. COHE, passim; CLEA, 29).
Sem rigorosa observância a norma alexandrina foi seguida na
Idade Média e no Renascimento tomou feição quase definitiva,
perdurando até hoje. Os códices medievais iluminados, requin-
tando o desenho das letras capitulares, foram estendendo êsse realce,
em dimensões menores, para as subcapitulares - e porque nem
sempre paragrafavam - para as letras paragráficas, realce que,
também, apresentava, às vêzes, iguais desenhos e floreios para as
iniciais de nomes próprios. O sistema do emprêgo das maiúsculas
acabou por ser resolvido diferentemente em línguas diferentes oci-
dentais, havendo dois extremos de solução: a do alemão, que
adotou as maiúsculas para todos os substantivos, comuns ou pró-
prios, e o da maioria das outras línguas, que as adotam aparente-
mente para os nomes próprios apenas.
2. 8. 2 Problemas de normalização - A questão - ainda que
aparentemente sem importância - encerra inúmeros problemas
para uma cabal sistematização e normalização, podendo-se asse-
gurar que através dos escritos da língua se flutuou sempre entre
uma tendência ao excessivo uso das maiúsculas - que atinge seu
auge nos escritos oficiais, áulicos, palacianos ou reverentíssimos
- e uma tendência à sua quase proscrição .. ou extrema limitação,
como nos códices medievais profanos. Nos manuscritos e impres-
sos em vida de Rm BARBOSA - e no caso não refletem, no uso
pessoal dêsse brasileiro, senão uma das duas tendências de seu
tempo - intitulativos como "supremo tribunal federal" vão em
ELEMENTOS DE BIBLIOLOGIA 101

minúscula, por serem visivelmente associados a outros intitulati-


vos da mesma natureza na nomenclatura vigente ao tempo, como
"supremo tribunal militar": eram duas espécies do mesmo. gênero
que só se d:stinguiam pelo último epíteto.
2. 8. 3 Ma·iúsculas e nomes próprios - Não é demais, preliminar-
mente, lembrar que o emprêgo das maiúsculas como elemento di-
ferencial das minúsculas é um realce material que não está ligado
apenas à identificação dos chamados nomes próprios. Ao contrário,
podemos reconhecer três ordens de emprêgo das maiúsculas:
a) emprêgo situacional na cadeia escrita;
b) emprêgo convencional para fins ·científicos, técnicos e
afins;
c) emprêgo notacional dos chamados nomes próprios e afins.
2.8 .3.1 O emprêgo situacional das maiúsculas independe das
palavras como significante e/ ou significado. A ocorrência das
maiúsculas se dá ou deixa de dar-se por fatos externos. É assim
que ocorrem maiúsculas : ·
a) no início dos escritos;
b) depois de ponto ; por vêzes · depois de outros sinais de
pontuação, como as reticências, o ponto de interrogação, o ponto
de exclamação e até os do!s pontos;
c) nas intervenções coloquiais do discurso direto, cada uma
antecedida de um travessão (ou de aspas de abrir, menos habi-
tualmente, entre nós, em língua portuguêsa) ;
d) nos inícios de versos, segundo períodos, fases, autores.
2. 8. 3. 2 O emprêgo convencional das maiúsculas para fins
científicos, técnicos e afins ocorre, por exemplo:
a) quanto à classificação científica, em zoologia, botânica,
antropologia;
b) em reduções de vária natureza;
c) em normas bibliológicas e tipográficas.
2 . 8. 4 Emprêgo notacional - O emprêgo das maiúsculas no-
tacional dos nomes próprios e afins constitui o terceiro campo de
uso das maiúsculas. tlsse uso, antes do mais, exige uma concei-
tuação de "nome próprio". No respeito caberia um aviso prévio
quanto à sua complexidade, lembrándo a opinião de MABCEL Co-
HEN, a um tempo sôbre maiúsculas e nomes próprios ( COHE,
98-99):

A coexistência das formas maiúsculas e minúsculas


em grego e em latim fêz introduzir o emprêgo das maiús-
culas na escrita minúscula, com dois valôres diferentes:
102 ANTÔNIO BOUAISS

O· primeiro é para distinguir certas categorias de


palavras: em francês atual, os nomes próprios (Pierrt!
[Armando, Rosa], pierre [armando, rosa]); em francês
de outros tempos (até o século XVIII), tambéin certos
substantivos como Religião (o que não permite a separa-
ção conseqüente dos nomes próprios). O segundo · valor é
de pontuação : maiúsculas iniciais de frase e iniciais de
verso-

opinião que deveríamos, entretanto, contra-regrar com a larga bi-


bliografia que sôbre a questão dos nomes próprios poderia ser
arrolada, em parte aproveitada por EuGENIO CosERIU, para um
problema afim, no seu artigo "El plural en los nombres propios",
que se conclui assim (cosE, 15) :

. . . Em conclusão, a opostçao um-muitos é, sem dú-


vida, demasiado simples e insuficiente, sobretudo porque
não permite distinguir a unidade da unicidade e da uni-
dimensi<malidade ( ... ) . Sem embargo, ela não é nem "po-
pular" nem "arbitrária", se se entende que: (a) a uni-
dade e a unicidade do designado pelo nome próprio não
são a unidade e a unicidade dos objetos naturais; (b) os
nomes próprios são palavras e não meras palavras; (c)
com respeito ao apelativo, o nome próprio é um nome de
outra ordem.

2. 8 .4 .1 É de tôda a conveniência trazer a cotejo o conceito


que subjaz nos substantivos comuns ou apelativos em oposição ao
que subjaz nos substantivos ou nomes próprios. Limitemo-nos,
tentativamente, à noção genérica de, por exemplo, "homem":
dentro dela, podemos incluir noções como "ferreiro", "atirador",
"inglês", "médico", "escritor", "ladrão", etc.; em qualquer dês-
se& casos mesmo que não associemos à idéia de "ferreiro" um
ferreiro determinado que . conheçamos, mesmo que não conheçamos
um ferreiro, a noção "ferreiro" convém à noção "homem" acres-
cida, aquela, de uma noção particularizante, de tipo social, pro-
fissional; igual raciocínio serve para cada caso. Admitamos, ago-
ra, nomes como "Paulo", "Pedro", "Antônio", "João", "Severo",
"Gaudêncio" etc.; em qualquer dêsses casos, mesmo que não asso-
ciemos à idéia de "João" um João nosso conhecido, mesmo que
não conhecêssemos um João, a noção "João" convém à noção
"homem", não lhe acrescentando - sem o conhecimento objetivo
e concreto de um João determinado e concreto - nenhuma outra
ELEMENTOS DE BIBLIOLOGIA 103

noção particularizante ou generalizante. Noutros têrmos, "fer-


reiro", além de ser um significante com significado, é um signi-
ficado que provém de uma abstração de nossa experiência cogni-
tiva em face da variedade objetiva cognoscível, no nosso caso,
no campo da vida social, profissional; mas em "João" o signifi-
cante só tem significado enquanto ligado à noção "homem" (=
ser humano) ; dentro de uma língua, se eu disser, em lugar de
"ferreiro", outro nome como "dentista", "carrasco" etc., a rela-
ção muda; mas não . muda se um "João" não fôr "João", mas
sim "Joaquim", "Francisco", "Fernando". No easo, no apela-
tivo, o significante é signo e símbolo ; no próprio, o significante
é índice ou indicador, isto é, está em função aproximativamente
dêictica. O fato é que o nome próprio se aproxima do Ifronome,
na sua função indicadora, distinguindo-se também dêste, porém,
pois o pronome é, em verdade, um dêictico pejado de relações
gramaticais, já que de regra enlaçado com as pessoas gramaticais,
dêictico que continua como tal ainda que anafórico ( cf. CAMA,
s. vv. nmne, substantivo, pranome e dêixis).
2.8.5 Maiúscuws na onomástica- O emprêgo de maiúscula é
sistemático na onomástica ou onomatologia - parte da lexicogra-
fia que trata dos nomes ou substantivos próprios por oposição aos
nomes ou substantivos comuns -. Importa, porém, considerar
que nos onomásticos compostos os elementos intermediários da ca-
tegoria geral das partículas (artigo, preposição, conjunção e par-
tículas propriamente ditas) ficam em minúscula (cf. use, NASA,
e WEBS).
2. 8. 5 .1 Os principais tipos de antropônimos - nomes pró-
prios designativos individuais, atribuídos a um ser humano, hu-
manizado ou equiparado a ser humano, vivo, morto, existente,
existido, imaginado, admitido, suposto, encoberto - são os seguin-
tes:
1) prenome, que no coloquial e na linguagem distensa se
diz pura e simplesmente nome - o primeiro dos antropônimos
que, numa família atual que usa da língua portuguêsa como
vernáculo, distingue civilmente um membro dos demais - Car-
los, Júlio, Túlio, Washington, Francisco, Paulo, Saul, Saulo, Tan-
crecinda, Laudite, Dix-Huit, Otávio, Tomás, Jefferson, Fuad,
Georges, Jorge, V era, Sônia, Sandra, Leonardo etc. ; (os romanos
do período real e dos primeiros tempos da república usavam pro-
:vàvelmente de dois nomes, nas classes altas, como se pode pre-
sumir das listas de reis, e de um só nome, nas classes humildes.
Nas classes altas, a partir dos fins do século IV a. C., prevaleceu
o uso de três nomes, o praenomen, o nomen ou nomen gentilicium,
104 ANTÔNIO HOUAISS

e o cognomen, o nome da consangüinidade em ordem patrilinear


- Caius Iulius Caesar, Marcus Tullius Cícero. Pelo fim do im-
pério, a generalização do signum - o que, entre nós brasileiros,
pode às vêzes equiparar-se ao apelido, às vêzes à alcunha, às vêzes
ao hipocorístico - acarretou tumulto e decadência do sistema
anterior: As mulheres e os escravos geralmente eram designados
pelo praenomen, seguido, quando necessário, do do homem de
quem dependiam - pai, marido, senhor. Os libertos geralmente
guardaram seu praenomen original, adotando seu nomen como
cognomen e interpondo o nomen dos seus senhores como nôvo
nomen. Nas adoções, processo semelhante foi seguido, após uma
fase em que o cognomen era transformado em adjetivo - Scipio
Aemilianus. Importa ter presente, para a questão, a patria po-
testa& no que vai de história, propriamente dita, romana, como
evolução do conceito e da instituição hoje conhecida como "famí-
lia" [cf. OXFO, s. vv. names e patria potestas; THOM, especialmente
de pp. 58-86] ) ;
2) sobrenome, também designado em contextos tensos no
Brasil como nome ou apelido - o segundo dos antropônimos na
moderna família brasileira e portuguêsa ; pode, em verdade, ocor-
rer como segundo e terceiro, designando, nesse caso, a vinculação
de parentesco matrilíneo e patrilíneo, respectivamente, no Brasil,
sendo o último, civilmente, o mais importante, último mais im-
portante, também, entre portuguêses, franceses, italianos, inglê-
ses, norte-americanos e u~p. sem-número de ocidentais, inclusive os
soviéticos e povos de democracia popular; entre espanhóis,
quando a dualidade acima referida ocorre (com extensão na maio-
ria dos. hispano-americanos), vem, via de regra, na ordem in-
versa, o patrilíneo antes do matrilíneo - Monteiro, Ferreira, da
Graça, dos Santos, da Silva, Abreu, Barata, Figueira, sem con-
tar os compostos de dois, três e mais vocábulos;
3) cognome, que, na família romana, corresponde ao atual
nosso sobrenome p.atrilíneo, é, em linguagem· literária e não raro
jornalística, hoje em dia usado entre nós como o era entre os
romanos o signum (também chamado agnomen, português "cogno-
me", empregado na linguagem da historiografia como correspon-
dente formal e semântico do agnomen), vale dizer, comó antro-
pônimo que se ·agrega em geral nobilitativamente a nome genérico
de alguém, com redução dêste ao mero prenome - Manuel, o
Venturoso; Filipe, o Belo; Ricardo Coração de Leão; João sem
Terra; Henrique. o Navegador; por extensão, é possível denomi-
nar cognome a certos adjetivos que modernamente se vêm agre-
gando ao nome. genérico para distinguir homônimos de uma linha
ELEMENTOS DE BIBLIOLOGIA. 105

sangüínea - Neto, Sobrinho, Filho, Júnior (Jr., jr.) (neste últi-


mo respeito, há preconceitos puristas entre os de língua portu-
guêsa, . que vêem nesse uso galicismos ou anglicismos formais
e semânticos e, . digamos mesmo, institucionais; em verdade, é uma
nova forma de prosá pia noblilitante de caráter quase universal;
os nossos puristas preferem, nesses casos, que ao nome genérico se
siga vírgula, ap6s a qual, em minúscula, tal tipo de cognome;
ainda não atingimos, no particular, o perfeccionismo das "dinas-
tias" plutocráticas norte-americanas, que já têm até Henry Ford
III e quejandos) ;
4) alcunha, ou, entre n6s, mais comumente designada como
apelido ou vulgo ( êste último provindo do emprêgo em ablativo,
como latinismo, na linguagem do aparelho judicial e depois poli-
cial), no fundo um tipo de cognome (como conceituado acima)
de caráter v!a de regra pejorativo - Trinca-Fortes, Sete-Dedos,
Mão-Ligeira (em regra, também, a alcunha é sucedânea integral
do nome genérico) ;
5) hipocorístico, também entre n6s dito apelido, cognome
de curso via de regra familiar ou de grupo, via de regra carinhoso,
via de regra de estrutura morfol6gica infantilizante - Zé, Zezé,
Zuzé, Zeca, Mimi, Tintim, Tontom, Nonô, Vavá, Lelé, Cazuza,
Cazuquinha, J uca, Chico (e Xico) etc. ; ·
6) patronímico, originalmente, em português, cognome pa-
trilíneo, hoje sem êsse v.alor, que é lembrado apenas pela erudição,
hoje tornado !'m.erot sobr~nome - He~ues, 'Sancbies, Peres,
Pires, Vasques, Alves,. Nunes, Fernandes, Alvares, Rodrigues
(como se vê, já hoje, entre n6s os patronímicos não existem, salvo
em formas populares tais como "João do Francisco" em que "do
Francisco" se refere ao pai de "João") . Os nomes que designam
não apenas filiação ou descendência, mas também linhagem, tais
como "atrida" [de Atreu], "pelida" [de Peleu], "afonsino" [di-
nastia portuguêsa], "aglábidas" [dinastia islâmica], "antoninos"
[dinastia romana], são em verdade Vividos em português normal-
mente como adjetivos, podendo, pois, ser usados como substanti-
vos, mas em ostensiva situação de nomes comuns, que recebem maiús-
cula apenas por realce técnico em linguagem da historiografia, mas
ainda aí de forma pouco constante [ cf. ACAD, XXII; do tipo "João
do Francisco", "Maria do João", há muitos outros, já não "patro-
nímicos", mas "possessivos" apenas, relação marido-mulher, mu-
lher-marido, mulher-filho [a] -mãe etc.] ) ;
7) antonomásicos ou antonomásticos, que, conforme a pró-
pria definição da antonomásia como figura de ret6rica, é a subs-
tituição de um nome antroponímico por um nome ou locução
nominal apelativa, mas usados por fôrça de consagração via de
106 ANTÔNIO HOU·AISS

regra nobilitante, e empregados já absoluta já apositivamente -


a Águia de Haia, o Marechal de Ferro, o Flagelo de Deus, o
Patriarca da Independência etc. ; a antonomásia, sem fôrça de
consagração tradicional, normalmente é empregada como recurso
eventual de retórica sem letras maiúsculas ;
8) pseudônimos, nomes presuntivos, não raro originalmente
criptônimos, para substituir, evitando-o e omitindo-o, o nome civil,
por motivos de segurança pessoal ou de grupo, por repugnância
ao nome civil, por timidez, por outras circunstâncias comparáveis
- Lênin (Lênine), Stálin ( Stáline), Mólotov (Molotov), Mar-
ques Rebêlo, Tristão de Ataíde, Stendhal, Voltaire, George Sand,
Antonil, João do Rio;
9) criptônimos, que, via de regra, estão no caso anterior,
sem que se tenha, com o tempo, revelado ou identificado a pessoa
que estava por trás; usados já p'ela própria pessoa para velar-se
ou por autores para, via de regra nos romans à clef ou produções
equiparáveis - s~tiras, críticas, humor -, velarem personalida-
des que caracterizaram a seu modo ; há problemas criptonímicos
notáveis ao longo da história literária e artística - William Sha-
kespeare, Critilo, Thomas a Kempis ( cf., por exemplo, para êste
e o número anterior, CAsx, s. vv. anonymous anà pseudonymo-us
Ut eroture).
2. 8. 5. 2 Se, nas suas linhas essenciais, o emprêgo das maiús-
culas, nos antropônimos em português, não apresenta maiores di-
ficuldades, há contudo diversos aspectos particularizados que
podem acarretar dúvidas; por exemplo :
a) nos substantivos comuns compostos, em que um ou al- ·
guns dos seus componentes são originalmente antropônimos; as
disposições ortográficas do chamado acôrdo de 1943 ( cf. ACAD,
XLII-XLIII) determinam que, quando formam unidade semA.n-
tica, devem ser escritos com minúsculas - "joão-de-barro",
"maria-rosa" (palmeira); "maria-vai-com-as-outras";
b) nos antropônimos de largo curso metafórico, em que a
transposição metafórica já não é vivida com · a consciência do
valor histórico original - "mecenas", "tartufo", "sósia" (neste
caso, o gênero, de originalmente masculino, passou a comum de
dois, "o sósia", "a sósia"; também "o anfitrião", "a anfitriã/
anfitrioa"). ·
2. 8. 5. 3 .os astrônimos, enquanto designativos de unidades
autônomas do cosmos, são, em verdade, nomes apelativos, subs-
tantivos comuns, pois em verdade gozam das características dêstes
nas suas relações de significante e significado; mas, atendendo
à singularidade absoluta com que se apresentam no universo, sio
ELEMENTOS DE BIBLIOLOGIA 107

equiparados aos nomes próprios, razão por que vão grafados com
maiúscula - Órion, Escorpião, Abutre, Cruzeiro do Sul, Alde-
barão (Aldebarã), Vésper, Marte, Netuno (Neptuno), Júpiter;
deve-se, entretanto, observar que a maiúscula deixa de ter razão
de ser:
1) no emprêgo analógico - "as luas que giram em redor
de Saturno", "os milhões de sóis que há no universo"; "as vias
lácteas do cosmos";
2) nos que são mentados em função de seu aspecto epife-
nomenal, nos seus efeitos, nas suas características apenas sen-
suais ao observ.a dor - .particularmente (quiçá apenas) "terra",
"lua" e "sol" ("a lua despontava", "o sol estava abrasador", "a
terra girava indiferente aos sofrimentos dos homens");
3) nos designativos astronômicos de grandeza por meio de
caracteres gregos - "alfa do Cruzeiro do Sul", "beta do Escor-
pião." etc.
2. 8. 5. 4 Os bibliônimos são os intitulativos particulares a cada
título editorial; a matéria se torna objeto de convenções biblio-
lógicas, biblioteconômicas, bibliográficas e afins, e é considerada
em lugar próprio dêste livro.
2. 8. 5. 5 . Os cronônimos são os nomes indicativos de seções do
tempo; são, normalmente, substantivos comuns na sua relação de
significante e significado. Mas na prática há tumulto no em-
prêgo de sua notação :
a) o emprêgo das maiúsculas é quase de rigor quando pe-
jado de caráter técnico, sobretudo na linguagem da historiogra·
fia lato sensu - Idade Antiga, Idade Média, Idade Moderna,
Idade Contemporânea, Renascença (Renascimento), Oitocentos,
Setecentos, Seiscentos, Quinhentos, Quatrocentos, Trezentos,
Duzentos (e italianismos afins), Quinhentismo, Seiscentismo, Se-
tecentismo ( Septecentismo), Oitocentismo ( Octocentismo) ; trata-
se, pois, de emprêgo não necessário, quando em linguagem dis-
tensa, e obrigatoriamente não necessário, quando em linguagem
figurada - "era a verdadeira renascença (era o verdadeiro re-
nascimento) da ourivesaria", "naquele lugarejo de Goiás vivia-se
uma plena idade média", "no Brasil coexistem a idade antiga, a
média, a moderna e a contemporânea";
b) o emprêgo das maiúsculas é em geral observado nas pe-
riodizações técnicas - Cinozóico, Mesozóico, Paleozóico, Cam-
briano, Cretáceo, J uráss~co, Permiano, Siluriano, Alpino, Armo-
ricano, Caledoniano, H uroniano ; Eufuísmo, Conceitismo ( Concep-
tismo), Classicismo, N eoclassicismo, Parnasianismo, Romantismo,
Arcadismo ; entretanto, fora das rigorosas circunstâncias técnicas,
108 ANTÔNIO HOUAISS

em que .sua conceituação se faz quase unívoca, não há por que


seguir êsse uso, mormente quando se trata de adjetivos qualifi-
cativos - "era uma bela bacia cretácea", "êsses terrenos per-
mian<lo'S têm aflorações estranhas"; "afinal de contas, é um eufuís-
mo fora do tempo", "num torneio verdadeiramente de parnasia-
nismo", "é um romantismo forçado";
c) enquanto as maiúsculas podem de certo modo coonestar-se
nos casos anter!ores, pela singularidade absoluta com que, tecni-
camente, se inserem no seccionamento do tempo histórico, já nos
cronônimos reiterativos, vale dizer, nas divisões perdurantes de
calendário, não têm, ao que parece - salvo por arbítrio conven-
cional -, nenhuma razão de ser ; é assim, aliás, o critério do
chamado acôrdo ortográfico de 1943, quando prescreve m~úsculas
não somente para "segunda-feira", "têrça-feira", "quarta-feira",
"quinta-feira", "sexta-feira", "sábado" e "domingo", senão que
também para "janeiro", "fevereiro", "março", "abril", "maio",
"junho", "julho", "agôsto", "setembro", "outubro", "novembro"
e "dezembro" e, por via de conseqüência, e com maior razão ainda,
'~primavera", "verão", "outono" e "inverno" (cf. ACAD, XLIII);
a realidade, porém, é que em todos os casos de cronônimos o uso
da minúscula seria perfeitamente adequado; e se voto se · pode
fazer é o de que, de futuro, a normalização venha ~ ser nesse
sentido, já que ficará, eventualmente, facultada a possibilidade
de notá-los com maiúscula por razões de reverência, convicção
doutrinária, afetiva, moral, religiosa, no que se seguirá, provàvel-
mente, a praxe mais geralmente observada em português através ·
dos tempos.
2. 8. 5. 6 Os heortônimos são os nomes com que se ·designam·
festividades reiteradas periOdicamente, por tradição popular, di-
tames cívicos, nacionais, demótioos, religiosos, patrióticos. São
nomes enlaçados, porque inscritos no tempo e mesmo quando de
relativa mobilidade no calendário, com os _cronônimos e pQr isso
mesmo equiparáveis a êles, quanto à normalização do emprêgo da
maiúscula. Entretanto, constituem precisamente terreno em que
as razões de reverência, convicção doutrinária, afetiva, moral,
religiosa, cívica, patriótica, mais interferem. Disso dá prova o
chamado acôrdo ortográfico de 1943, quando recomenda o em-
prêgo das maiúsculas, exclusive para os heortônimos pagãos, ·v.g.,
"carnaval" (cf. ACAD, XLIII). A solução parece ser, enquanto
não se normaliza em minúsculas, facultar o emprêgo das maiús-
culas quando o emprêgo fôr técnico (historiográfico) ou pejado
de uma daquelas razões acima enunciadas; fora dai, seria permis-
sível e mesmo preferível o uso de minúsculas - olimpíadas,. lace-
ELEMENTOS DE BIBLIOLOGIA 109

demônias, saturnais, bacanais, sete de setembro, quinze de novem-


bro, carnaval, quaresma, semana santa, ramadã.
2. 8. 5. 7 Os hierônimos são os chamados nom~ sagrados, tanto
certos heortônimos, do ponto de vista de cada religião, quanto,
sobretudo, as entidades ou sêres que são objeto da adoração.
Como heortônimos - Natividade, Assunção, .Ascensão," Natal,
Ressurreição, Hégira, Ramadã - já foram antes considerados -
nada obstando a que se grafem tais vocábulos com minúscula.
Como nomes sagrados de sêres ou entidades, nesses casos se equi-
param, vAlidamente, aos antropônimos - Jeová, Alá, Deus;
Cristo, Jesus Cristo, Abraão, Moisés, Maomé (Maamede, Mafoma,
Mafamede), Buda, Lao-tsé, Zaratustra (Zaratrusta, Zaratrustra,
Zoroastro). Nas religiões duais, com o princípio polar do bem
e do mal, pode haver incoerência quanto ao emprêgo dos hierô-
nimos negativos - diabo ou Diabo. O princípio deve ser coerente,
apenas ocorrendo que, na antropomorfização, pode prevalecer o ca-
ráter monoteísta - Deus - ou politeíSta - deus, deuses, deusa,
deusas - , e, reciprocamente, monodemonológico - Diabo, Ari-
mã, Asrael, Exu -, ou polidemonológico- diabo, com seus múl-
tiplos eufemismos e disfemismos - diabo, dianho, diogo, cape-
ta, cão. .
2 .· 8. 5. 8 Os etnôninos são os chamados, também, nomes pá-
trios, étnicos, raciais, gentílicos. São, estruturalmente; adjetivos
em português, pois apenas em alguns casos revelam morfologia
eventualmente diferencial entre o 11ubstantivo e o adjetivo -
"judeu (judia)" em face' de "judaico(a)", "arameu/araméia" em
face de ''aramaico(a)", "caldeu/ealdéia" em face de "caldaico
(a)". Arbitràriamente se procura distinguir entre os de grandes
extensões territoriais ou políticas dos de pequenas extensões, re-
gionais, locais, citadinos (cf. ACAL, XXIII). Embora flutuante
na tradição da língua, o uso vem predominando das minúsculas
' e, por sua natureza,. é uso consentâneo com a melhor direção, razão
por que deveria ser preferido, em quaisquer situações, mesmo em
linguagem técnica. Afim é o designativo dos glossônimos - por-
tugu&l, francês, inglês, espanhol, italiano, árabe, hebraico, latim,
grego, alemão, eslavo, ·eslavônieo, báltico, hitita, tocariano, sâns-
crito, japonês, chinês", ritico, romanche, valáquio, romeno; hún-
garo, gueze etc.
2.8.5.9 Os hagiônimos são de duas ordens - uns, verdadei-
rO. antropônimos (por conseguinte, com a grafia conforme com
êstea) - José, 'J oio, Francisco, Lúcia, Madalena, Ana, Maria
etc., conforme nômina· do hagiológio predominantemente cristio ;
110 ANTÔNIO HOUAIBB

outros, nomes comuns, designativos da hierarquia canônica - são


(santo), santa, beato(a), bem-aventurado(&). Não intervindo
razões reverentes, doutrinárias, afetivas, não há por que grafar
com maiúscula os últimos, quando antecedem os primeiros - são
João, são LucaS, são Mateus, santo Tomás, santo Antônio, santa
Ana (mas Santana), são Tiago (mas Santiago); beato Ludolfo,
beata Cristina, beata Jesuína; bem-aventurado Paulo, bem-aven-
turada Joaquina. Os angelônimos - a meio caminho, se assim
se pode dizer, entre os hierônimos e os hagiônimos - estão em
situação precisamente igual - arcanjo Miguel. ·
2. 8. 5 .10 · O mitônimos são os nomes designativos dos deuses
das religiões não monoteístas, principalmente grega e romana, mas,
por extensão, daquelas outras que participam do lendário, popu-
lário, exemplário e folclore, como heróis, semideuses, .deuses, es-
píritos, duendes, gnomos, fôrças, potências etc. Quase sempre,
se não que sempre, antropomorfizados, total ou parcialmente, se
enquadram no tràtamento típico dos antropônimos - Zeus, Jú-
piter, Juno, Géia, Cronos, Saturno, Urano, Apolo, Hermes, Mer-
cúrio; Siegfried; Ormuzd, Arimã; Xiva; Exu, Ogum; Saci, Ne-
grinho do Pastoreio, Iemanjá, Iara etc. Como os antropônimos,
mais particularmente, como certos hierônimos, podem ser vividos
oomo substantivos comuns - saci, iara.
2. 8. 5.11 Não há que considerar · os prosônimos, já que equi-
valem, rigorosamente, aos cognomes e antonomásticos considera-
dos IUpra em 2.8.5 .1.
2. 8. 5 .12 A designação dos animais se faz, em português, .por
substantivos comuns, com as características fundamentais de sua
relação de significante e significado - cabra, porco, boi, tOuro,
vaca, cão, cadela, cachorro, zebra, hipopótamo, unicórnio, búfalo,
búbalo, ovelha, carneiro, leão, tigre, pantera, lince, galo, galinha,
tizio, curió, quero-quero, perdiz, tucano, pardal, beija-flor etc.
Alçados ao convívio humano, alguns são objeto de tratamento ho-
minizado, entram, então, na categoria de verdadeiros antropô-
nimos e, como os homens, com ~omes próprios tradicionais ou
consuetudinários, consoante as coletividades - Fiel, Bonito, Fa-
ceira, Alvarado, Arisco, Raio, Chispa, Conjurado, Tilinca, Rebeca,
LOt, Veneza. Nas práticas turfistas, nas_ criações de animais de
raça, em que se operam verdadeiros registros civis e genealógicos,
pode-se mesmo falar em prenomes e sobrenomes zooriímicos - com
tôdas as características antroponímicas. E alguns zoônimos de
caráter antroponimicóide, como certos antropônimos ( v.g. "Mece-
nas"), passam a nomes comuns (v.g. "bichano"). O mecanismo
de qualificação antroponimicóide vai além, verificando-se, mesmo,
ELEMENTOS DE BIBLIOLOGIA 111
com certos instrumentos, v.g. "Durandal", com certas pedras,
v.g. "Caaba", "Bendengó", com certos engenhos, v.g. "Zoé" (a
primeira pilha atômica dos J oliots-Curies), "Zeta" (a primeira
pilha termonuclear inglêsa), e assim com muitos outros objetos,
instituições, circunstâncias, instrumentos, momentos da e . na vida
social (cf. MAÇA).
2. 8. 5 .13 Os topônimos são verdadeiros nomes próprios. Po-
der-se-ia, incidentemente, falar nas idades da antroponímia, den-
tro de cada língua, por influências histórico-culturais. Sob o
influxo do cristianismo triunfante, não poucos nomes antroponí-
micos novos nasceram, que estavam vinculados estreitamente ao
vocabulário comum vivo e corrente ao tempo - Deodato, Renato,
Deusdedit. E na base de quase tôda antroponímia se pode ver
a fonte comum, a ponto de os gregos os haverem distinguido em
antropônimos teofóricos - que vinham ou provinham de nomes
de deuses - ou antropônimos ateus - que vinham ou provinham
de profissões, de virtudes pessoais, de qualidades morais, de no-
mes locativos. O mesmo se pode dizer · com relação aos topônimos,
sendo que um vínculo os une em comum, que é o fato de que
antropônimos e topônimos - num caso, na sucessão das gerações,
noutro, na evolução do local - subsistem ainda qu,e as razões
objetivas que determinaram sua eleição não subsistam - meros
índices dentro de um gênero ou de uma espécie que são. Não
seria baldado tentar distinguir diferentes tipos de topônimos ( cf.
NASA; WEBS):
a) corônimos, nomes de países, de continentes, de regiões,
de Estados, de províncias, de cantões, de divisões administrativas
quaisquer - Brasil, Europa, França, Asia, Oceania (Oceâ.nia),
Africa, Suíça, Confederação Helvética, índia, Paquistão, Estados
Unidos da América, Estados Unidos Mexicanos, México, Estados
Unidos Colombianos, Colômbia, Pará, Ceará, Maranhão, Savóia,
Alta Savóia ;
b) nesônimos, nomes de ilhas - Madeira, Marajó, Chipre,
Cerigo, Cagarras, Grande, Sardenha, Córsega, Sicília, Ceilão,
Java;
c) orommos, nomes de montes, montanhas, maciços, cordi-
lheiras - Apeninos, Alpes, Andes, Himalaia, Gaurizâncar, Pa-
mir, Bandeira, Rochosos, Altai;
d) politônimos, nomes de cidades - Paris, Londres, Rio de
Janeiro, São Paulo, Madri (Madrid), Berlim, Moscou (Moscova),
Cantão, Xangai ;
e) potamônimos, nomes de rios - Amazonas, Nilo, Loira
(Loire), Mississípi, Tejo, Mondego. Guadalquivir (Guadalquibir),
Tigre, Tibre ;
112 AN.:rÔNIO HOUAISS

f) limnônimos, nomes ' de lagos - Titicaca, Santa, Azul,


Lemano (Lemamno), de Genebra, dos Quatro Cantões, Vitória,
Ontário;
g) crenônimos, nomes de fontes - Hipocrene, dos Amôres; ,
h) eremônimos, nomes de desertos - Sàara, Gobi, Atacama,
da Arábia;
i) talassônimos, nomes de oceanos e mares - Mediterrâneo,
Báltico, Jônio, Egeu, Tirrênio, Adriático, das Antilhas, Atlân-
tico, Pacüico, 1ndico, Morto ;
j) outros - a península do Peloponeso, a península Itálica,
a península Ibérica, o estreito de Gibraltar, o estreito de Beh-
ring, o planalto Brasileiro, o planalto Central, a fossa de Sonda,
a depressão do mar Morto. ·
2.8.5.14 Se, nas suas linhas essenciais, o emprêgo das maiús-
culas, nos antropônimos em português, não apresenta maiores
dificuldades, há contudo dive~os aspectos particularizados que
podem acarretar dúvidas, por exemplo :
a) nos substantivos comuns composios, em que um ou al-
guns dos seus componentes são originalmente topônimos; as dis-
posições ortográficas do chamado acôrdo de 1943 ( cf. ACAD, XLII-
XLIIIJ) determinam que, quando rormam 'unidade semântica,
devem ser escritos com minúsculas - "pinho-do-paraná", "água-
de-colônia"; trata-se de aplicação do mesmo princípio que faz
escrever "damasco" (para o fruto), "xantungue" (para o tecido);
entretanto, o critério é algo ' lasso, pois, por momentos, a "unidade
semântica" que se quer é algo ambígua, quando, por exemplo, em
"pinho-do-paraná" se pensa a um tempo no objeto e na sua pro-
cedência, que justificaria também "pinho do Paraná" tal como
"pinho de Riga" (v. supra 2.8.5.2);
b) nos nomes dos acidentes geográficos que antecedem os
topônimos, quando tais nomes de acidentes não se incorporam ao
topônimo. propriamente dito: "o cantão de Genebra", a "cidade
de São Paulo", a "ilha da Madeira", os "montes Apeninos", o
"rio Amazonas", a "fonte dos Amôres", o "cabo Verde", o ·"pla-
nalto Brasileiro", o "planalto Central"; mas "a Bahia", "o Ha-
vre", a "ilha do Cabo Verde", o "rio da Ribeira de Iguape", "o
município do Monte Aprazível", a "localidade de Monte Belo";
c) · nos topônimos, ainda, há que observar que, sendo adje-
tivo qualificativo, s6 êste fica em maiúscula - o "planalto Bra-
sileiro", os "montes Apeninos", o "planalto Central"; se, porém,
se tratar de designativo oficial, passa a maiúscula - a "ilha do
Cabo Verde", embora o "cabo Verde", a "localidade de Monte
ELEMENTOS DE BIBLIOLOGIA 113

Belo", embora o "monte Belo" (mas não, é 6bvio, em "Monte


Belo", se se entende a braquilogia de "localidade Monte Belo");
d) nos epítetos dos topônimos, bem como em preposições que
os relacionam no espaço, bem como nos adjuntos que lhes delimi-
tam a extensão ocasional em que são tomados, tais elementos.ficam
em minús<lula - o "alto Nilo", o "médio Nilo", o "baixo Nilo",
"aquém Andes", "além Ganges", o "Brasil meridional", o "Brasil
central", o "Brasil setentrional"; opositivamente, quando tais ele-
mentos se integram no topônimo, oficial ou consuetudinàriamente,
são êles escritos como topônimos, isto é, com maiúscula - "Trás-
os-Montes", "África Equatorial Francesa", "África Ocidental
.Francesa", "Confederação Helvética", "Uniá9 Francesa"; dai,
oposições do tipo: "ilhas britânicas" para des!gnarem quaisquer
ilhas que estejam, pelo. mundo, sob dominio britânico, mas "ilhas
Britânicas", para designarem aquelas que constituem a Grã-Bre-
tanha {eu;l oposição potencial a "Ilhas Britânicas", se assim fôsse
o designativo oficial da Grã-Bretanha) :
2. 8. 5 .15 Os nomes topográficos são, em verdade, verdadeiros
topônimos, que talvez difiram dêstes por estarem ligados ao fato ·
da urbanização, em que a ação denominante humana se faz mais
deliberadamente, não raro oficialmente (ao contrário dos outros,
em que a consagração oficial é post factum, via de regra). En-
tram nesse grupo os nomes dos logradouros - verdadeiros topôni-
moa urbanos ou periféricos das cidades - ; para êstes, o chamado
acôrdo de 1943 dispôs que os designativos comuns que os antece-
dem sejam grafados com maiúsculas, num lamentável arbítrio
que entra em conflito ostensivo com as normas encampadas sôbre
os designativos comuns que antecedem os topônimos (y. supro)
(cf.A.cAD, XLIII) - "Rua das Marrecas", "Praça Paris", "Beco
das Cancelas", "Avenida Rio Branco", "Bulevar Vinte e Oito de
Setembro", "Avenida Suburbana", "Rua São Clemente'', "Ala-
mêda de São Boaventura", salvo se não se trata de designativo
oficial- "estrada Rio- Petrópolis", "estrada São Paulo- Belo
Horizonte", "caminho do Corcovado". Não se precisa ressaltar
quão especiosa é a distinção, razão por que não vacilamos em
recomendar frontal discrepância para com a dispOsição em causa,
usando a minúscula em todos os casos.
2. 8. 5 .16 sio locativos por excelência de orientaçio astronô-
mica "norte", "sul", "leste" ("este") e "oeste" e seus vários com-
postos; seus sinônimos, do tipo "meridiio", "mei<Hiia", "seten-
triio" ("aeptentrião"), "oriente", "ocidente", "naaeente", "poen-
te", "extremo oriente", "extremo ocidente", "meio oriente", "meio
114 ANTÔNIO HOUAISS

ocidente", "médio oriente", "médio oc!dente", "oriente remoto",


"oriente próximo", "próximo oriente", "remoto oriente". São
objeto de disposição explícita do chamado acôrdo ortográfico de
1943 (cf. ACAD, XLV), que prescreve o emprêgo da maiúscula
"quando designam regiões" e de minúscula "quando designam
direções ou limites geográficos"; trata-se, como se vê de pronto,
de uma distinção tão sutil, que não há como observá-la com sis-
tema; com efeito, quando se diz, aproveitando o exemplo abonador
do lugar citado, "o falar do Norte é diferente do falar do Sul",
deve-se, pela prescrição, usar de maiúscula; mas dever-se-á escre-
ver "o falar do norte do país é diferente do falar do sul do país"
ou "o falar do Norte do país é diferente do falar do Sul do país" f
E já então, como "limites" ou "direções", como grafar "os limites
do Norte do país" ou "os limites do norte do país"f Do mesmo
modo, lavrariam dúvidas quanto às chamadas regiões e sub-re-
giões: se "Norte, Sul, Leste, Oeste, Nordeste, Centro, Centro-Sul,
Centro-Oeste, Centro-Leste" devem ser, por serem "regiões", grafa-
dos com maiúscula, pois são substantivos, como grafá-los em em-
prêgo apositivo ou adjetivado - "região Norte, região Sul, região
Centro-Oeste"f Mas se em lugar de "região" se empreguem sinô-
nimos ou equivalentes, "faixa", "banda", "zona", "marca", "pon-
to", "território", "área", usar-se-á de maiúscula - "faixa Norte",
"banda Oriental", "zona Centro-Leste" f Trata-se, como se vê, de
um recurso ordinário da língua portuguêS& - provAvelmente de
quaisquer línguas -. A :realidade, pura e simples, é que nada
obsta a que - sem nenhum prejuízo da inteligibilidade e com
vantagem de ganhar em coerência - tôdas essas palavras sejam
sistemAticamente usadas com minúscula, salvo, bem entendido,
quando se integrem num topônimo típico - "Rodésia do Sul",
"República Oriental do Uruguai", "África Ocidental Francesa",
"União Sul-Africana", "União Centro-Americana".
2. 8. 5 .17 Os intitulativos compreendem uma grande série de
designações particularizantes e individualizantes, nio raro, em
face dos códigos legais das nações organizadas, protegidas contra
quaisquer imitações, como no caso de marcas de fábrica, títulos
de patentes, marcas de comércio e afins. Alguns tipos são os se-
guintes:
a) intitulativos de instituições de ensino, de pesquisa, de
serviços oficiais, de departamentos administrativos: Colégio Pedro
li (Colégio de Pedro 11), Faculdade Nacional de Filosofia, Uni-
versidade do Brasil, Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas, Casa
de Rui Barbosa, Centro de Pesquisas da Casa de Rui Barbosa,
ELEMENTOS DE BIBLIOLOGIA 115

Serviço de Assistência aos Menores, Ministério da Educação e


Saúde, Ministério da Justiça e Neg6cios Interiores, Departamento
Administrativo do Serviço Público, Conselho Nacional de Pesqui-
sas, Organização das Nações Unidas, Organização dos Estados
AmeriCanos;
p) intitulativos de estabelecimentos comerciais, industriais,
artesanais, agrícolas, de serviço: A Barateira do Catete, Ao Ga-
rôto do Mercado, A Favorita, A Imperial, Companhia Fluminense
de Tecidos Sociedade Anônima, Indústria Reunidas Francisco
Matarazzo, Companhia Siderúrgica Nacional, Granjas Modêlo
União; Serviços Gerais· de Propaganda Sociedade Anônima;
c) intitulativos de periódicos, em circulação ou já fora de
circulação, assim como de livros em geral; intitulativos de poemas,
contos, capítulos, seções de obras ; intitulativos de artigos, colabo-
rações, contribuições - matéria tôda essa que é tratada em lugar
próprio dêste livro ;
d) intitulativoli de obras de arte - pintura, escultura, ar-
quitetura, música etc. - a Gioconda, a Mona Lisa, o Laocoonte,
as Cenas da Vida Boêmia, a Perséfone, o Galo de Ouro; nestes
casos, há duas ordens de denominação, a dada pela tradição ou,
em certos casos, pelo própr:o autor, fora de qualquer seqüência
sistemática indicativa da produção, quando se trata, via de regra,
de verdadeiros intítulativos, e a que caracteriza a produção numa
ordem qualquer, sistemática, em geral uma descrição técnica; no
primeiro caso, a maiúscula é de ri~or, o Angelus, o Béijo, a Ma-
ternidade ; no segundo caso, o melhor critério é o uso da minús-
cula - mancha n. 0 1, croquis 192, sinfonia em dó menor, opus
47, dita Heróica etc. ; ·
e) intitulativos de coisas singulares, objetos de culto, admi-
ração, estranheza e valia, quando vistas na sua singularidadE.' · e
unicidade, a Caaba, o Bendeng6 (Bendeg6, Bedengó), o diamante
Azul, o diamante Cruzeiro do Sul, a locomotiva Baronesa ;
f) intitulativos de produtos agrícolas, industriais, marcas
de fábrica, de comércio, enquanto não entrados no curso corrente
como apelativos: meias Olga, alimentos Peixe, um Baccara, um
Rozenthal, um Havilland, um Cadillac, mas "maizena", "oodaque",
"gilete", "fordeco ".
2 . 8.5.18 a) Nos)ntitulativos há um tipo de flutuação quanto
ao emprêgo das maiúsculas: é quando, integrando-o, é êle antece-
dido de artigo ou de substantivo comum designativo · de sua es-
pécie: "fui à Favorita" ou "fui a A Favorita"; "escreveu um
artigo no Globo" ou "escreveu um artigo em O Globo"; "citou
um verso dos Lusíadas" ou "citou um verso de Os Lu.síadaa'';
116 ANTÔNIO HOUAISS

"entrou nas lojas Americanas" ou "entrou nas Lojas America-


nas"; "procurou a Oficina Mecânica Mimosa do Andaraí" ou
"procurou a oficina mecânica Mimosa do Anda.raí"; ''foi destaca-
do para servir no encouraçado Minas Gerais" ou "foi destacado
para servir no Encouraçado Minas Gerais". O emprêgo das mai-
úsculas, em tais casos, deve respeitar o intitulativo tal como ado-
tado efetivamente pelo intituladores -autorizados (autores, govêrno,
proprietários etc.) .
b) Outro tipo de flutuação é o que decorre de intitulativos
administrativos efetivamente comuns, partes normais de um todo
maior, como; no serviço público, "divisão do pessoal", "divisão
do material", "departamento administrativo" e assim outros; o
emprêgo quase sistemático da maiúscula na correspondência ofi-
cial não dl've ser têrmo de referência, porque, como vimos, um
dos traços típicos dêsses escritos é o emprêgo quase abusivo de
maiúsculas; fora, pois, dessa correspondência oficial ou de situa-
ções equiparáveis, não há como observar semelhante emprêgo, so-
bretudo em obras de arte literária. O critério da singularidade
é, porém, difícil, numa unidade nacional como o Brasil, pois que,
enquanto se pode falar num só "Ministério da Guerra", "Minis-
tério das Relações Exteriores" e de muitas "divisões de peBBoal",
"divisões do material", "departamentos jurídicos", se poderá,
também, em âmbito estadual, falar de uma só "Secretaria de
Finanças", que, porém, em âmbito federal, serão· várias.
2. 8. 5 .19 Os axiônimos, considerados lato sensu, são palavras
ou locuções de reverência e hierarquia social, havendo que distin-
guir entre as foBBilizadas ou estereotipadas e 8s ocasionais. Como
processo de tratamento interlocucional, é, via de regra, inicial-
mente indireto (referência a um dos atributos ou qualidades vis-
tos, presumidos ou incensados de um interlocutor para o outro),
tornado, pela constância do emprêgo, direto, mas guardando, em
muitas línguas, o traço de sua origem indireta na morfologia
verbal e na pronominal que lhe correspondem (cf. couo, 175-176).
Na língua portuguêsa são ainda hoje. freqüentemente usados nas
relações oficiais, oficiosas, eclesiásticas, comerciais e mundanas
(vestígio de arcaísmo estrutural não democrático na nossa socie-
dade) - vossa excelência, vossa senhoria, vossa eminência, vOBBa
alteza, vossa magnificência, o senhor, a senhora dona -:-, a,lguns
dos quais origin~ram, inclusive, verdaderi.as formas pronominais
- você, vossemecê, vancê, nhor, nhô, seu, sinhá, sa -, além de
duas outras originalmente de vocativos latinos - dom . e dona.
Traço de seu largo uso estereotipado é o fato de que desde ·cedo
foram objeto de reduções, verdadeiras abreviaturas, e traço do
ELEMENTOS DE BIBLIOLOGIA 117

caráter reverente e hierárquico com que foram - e em muitos


casos ainda o são - empregados é o uso das maiúsculas que os
vêm acompanhando, . e!Jlbora as formas contractas apresentem a
tendência ao uso não abreviado e com minúsculas, equiparando-se
aos demais pronomes pessoais. A normalização do emprêgo das
maiúsculas é naturalmente tumultuada por duas ordens de razão:
a mostra, ainda, de reverência e de eminência, e o fato de que
freqüêntemente são usadas em discurso direto para com o inter-
locutor eminente (ou presuntivamente tal, ou oficialmente tal),
não raro na epistolografia, que, como a linguagem oficial, quando
cerimoniosa, é eminentemente abusiva do emprêgo de maiúscula.
Nessas condições:
a) fora das razões arroladas supra in fine, não há por que
grafar com maiúsculas os axiônimos do tipo "vossa senhoria",
"vossa majestade", "vossa excelência", "vossa alteza", "vossa pa-
ternidade" etc.;
b) não há tampouco por que grafar com maiúsculas as for-
mas pronóminadas- você, o senhor, seu, sa;
c) nem as formas de reverência indiretas - sua excelência,
suas majestades, suas altezas, sua paternidade, sua santidade.
2. 8. 5. 20 Há ainda uma ampla galeria de nomes ou locuções
axionímicas, que se empregam absoluta ou ·anteposit!vamente, que
dispensam maiúscula, não intervindo reverência:
a) hieronímicas: "onipotente" ( "omnipotente"), "redentor", ·
"salvador" ;
b) hagionímicas: "são", "santo", "santa", "arcanjo", "anjo",
"beato", "bem-aventurado";
c) eclesiásticas : "padre", "frei", "frade", "irmão", "irmã"
"abade", "abadêssa", "cônego", "papa~;
d) nobiliárquicas: "rei", "duque", "conde", "marquês", "ba-
rão", "visconde", "baronete";
e) dignitárias: "cavaleiro", "comendador", "grã-cavaleiro",
"mestre";
· f) culturais: "acadêmico", "decano", "deão";
g) profissionais: doutor, bacharel, licenciado, JUIZ, desem-
bargador, corregedor, ministro, cônsul, secretário, embaixador,
deputado, senador, vereador, conselheiro, presidente, professor,
escriturário, dactilógrafp, servente, almoxarife, diretor, diretor-
geral, operário, contramestre, mestre, oficial, chefe, subchefe, as-
sistente, aspirante, cabo, soldado, sargento, tenente, capitão, coro-
nel, general, marechal, generalíssimo, marechalíssimo, almirante,
guarda-marinha, capitão-de-mar-e-guerra, capitão-de-fragata, almi-
rante-de-esquadra, brigadeiro, brigadeiro-do-ar.
118 ANTÔNIO HOUAISS

2. 8. 5. 21 Ligados ainda aos axiônimos, há uma série de adje-


tivos, que com êlea mantêm correlação: "excelentíssimo" para
. "vo~ excelência" (e "sua excelência"), "ilustrí88imo". (para
"vossa· ilustridade", "vossa ilustração", "sua ilustridade", "sua
ilustração" e, hoje em dia, para "vossa senhoria~', "sua senho-·
ria"), "digníssimo", "meritíssimo" - que, de regra, são uaadoa
ou não com, maiúscula, consoante o sejam ou não os substantivos
eom que se relacionam.
2. 8. 5. 22 Por convicções lógica, afetiva, moral, religiosa, dou-
trinária e afins, quaisquer substantivos, quaisquer adjetivos subs-
tantivados, quaisquer locuções substantivas podem vir empregados
com maiúsculas (ressalvadas as partículas - artigos, preposição,
conjunção -, que ficarão com minúsculas) . O chamado acôrdo
de 1943 explícita alguns casos : (a) o dos "nomes que designam
altos conceitos religiosos, políticos, nacionalistas" (AO~D, XLIII) ;
(b) o dos "nomes que designam artes, ciências, ou disciplinas,
bem como nos que sintetizam, em sentido elevado, as manifestações
do engenho e do saber" (ACAD, XLIII); (c) o dos "nomes de
fatos históricos e importantes, de atos solenes e de grandes ' em-
preendimentos públicos" (ACAD, XLIV-XLV) ; ( d) o dos "nomes
comuns, quando personificados ou individuados, e de sêres morais
ou fictícios" (AcAD, XLV); (e) o das 'palavras que, no estilo
epistolar, se dirigem a um amigo, a um colega, a uma pessoa
respeitável, as quais, por deferência, consideração ou respeito, se
queira realçar por esta m~meira" ( ACAD, XLVI).
2. 8. 5. 23 A braquilogia é um processo metafórico pelo qual
UU1 designativo locucional pode ser feito por um dos seus elemen-
tos apenas; consoante o caráter objetivamente concreto de uma
situação lingüística, como é sabido, um simples "vou" pode signi-
ficar, concretamente, "vou amanhã às duas horas, de terno prêto
e camisa branca, com oitocentos cruzeiros no mínimo, para dar
um passeio com você à ilha de Paquetá, onde ficaremos até se-
gunda-feira, para voltarmos na barca das dez da manhã'', desde
que, no desenvolvimento da situação lingüística concreta configu-
rada, tôdas as condicionantes de resposta foram formuladas e,
a88im, encampadas na afirmação de "vou". Por um exemplo
como êsse, quisemos tigurar os casos correntios em que, na lin-
guagem falada ou escrita, se trata de "instituto", de "centro",
de "Flor", de "Ferreira" - "vou ao instituto", "estarei no cen-
tro", "dançaremos :no Flor", "venderei ao Ferreira" - , quando,
na interlocução, indivíduos falante e ouvinte mentani, respectiva-
mente, por hipótese, "Instituto Soroterápico de Campinas", "Cen-
tro Espírita Amor e Verdade", "Flor do Abacate Recreativo das
E L E K E N TO8 .D E B I B L I OLOGI A 119

Viçosas de Irajá", "Silva, Santos, Ferreira & Cia.". . . O cha-


mado acôrdo de 1943, sem explicar o caso, subentende-o na exem-
plificação que acompanha uma de suas disposições (ACAD, XLV,
12:0 ), com exemplos do tipo "Moro na Capital", "os habitantes
da Península", prescrevendo, como se vê, pelo menos em certos
·casos, o uso de maiúscula. Trata-se, em verdade, de um dos
pontos de maior flutuação ou dúvida no emprêgo de maiúsculas.
~ que, com dizer, por hip6tese, "trabalho no ministério das cinco
às seis", tanto pode ficar subentendido "trabalho no local para
que estou designado, ou onde sirvo como funcionário público, das
cinco às seis", quanto "trab&lho no Ministério x das cinco às
seis". Se se admitir uma correlação entre a maiúscula da expres-
são in extenso e . a braquil6gica, obviamente deverei optar por
"trabalho no Ministério das cinco às seis"; mas um trecho como
êste - "Ela ·morava ·na ·rua das Acácias. A ma era, em verdade 7
florida de maricás, de cabo a rabo" - , de nôvo se tumultuou o
processo de correlação, pois, ditado o trecho a vinte pessoas, de
variados níveis culturais, nenhuma grafou a passagem "a rua era"
com maiúscula, embora, nove o fizessem com maiúsculas para "na
Rua das Acácias", pois que imbuídas da disposição, a respeito, do
chamado acôrdo de 1943. Em compensação, ditado o trecho "vou
ao Centro, descerei na Lapa, atravessarei o Passeio Público e
darei uma volta pela Avenida até a Praça Mauá", nove grafaram
"Centro", todos, grafaram "Lapa", um s6 grafou "passeio Pú-
blico" mas também "praça Mauá" · (tem princípios coerentes com
J1 noção de topônimos tal como figurada supra 2. 8 . 5 .14, letra b)
e "avenida", e nove grafaram "Avenida". Como amostragem, o
campo é mínimo, mas já permite fazer uma idéia das dificul-
dades. Um princípio de constância se pode depreender nas bra-
quilogias eventuais : a maiúscula da expressão in extenso se
transfere para a braquilog!à, se esta se baseia num vocábulo que
nocionalmente não é afim l6gico com o seu emprêgo braquil6gico
ocasional; destarte, para a hip6tese de um intitulativo como "Flor
do Abacate Recreativo das Viçosas do Irajá", a braquilogia em
"Flor", em "Viçosas", .em expressões como "vou dançar no Flor"',
"vou dançar no Abacate" ou "vou dançar na Viçosas" foi sempre
grafada, experimentalníente, com maiúscula; já em "vou dançar
no recreativo", houve vacilação. Em "Instituto Soroterápico de
C!lmpinas", houve vacilação em "trabalho no instituto", mas não
(!Dl "trabalho no Soroterápico". Em "Ministério das Relações
Exteriores", houve vacilação em "trabalho no ministério", mas
não em "trabalho no R,elações Exteriores". Em "Companhia
Andorinha de Viação", houve vacilaçãe em "sirvo na companhia",
120 ANTÔNIO HOUAISS

mas não em "sirvo na Andorinha" ou "sirvo na Viação" . .Em


"Discurso do método" não houve vacilação em "leio ultimamente
o Discurso". Em ·" Sociedade Anônima de Armazéns Gerais",
houve vacilação em "trabalho na sociedade anônima", em "traba-
lho nos armazéns gerais", mas não em "trabalho na Armazéns
Gerais". Há. esbôço de preferência definida pelo emprêgo das
maiúsculas nas braquilogias usuais, se, no pensamento do indiví-
duo falante, prevalece a noção de singularidade com intenção de
unicidade. Com efeito, perguntados por que escreveram "vou &C\
Centro" - aqui no Rio de Janeiro -, .a resposta foi de que se
tratava de único "centro" do Rio; por que escreveram "darei
uma volta pela Avenida", a resposta foi de que se tratava da
avenida Rio Branco ou avenida Central, ela e tão-sõmente ela.
Já em "ela morava na rua das Acácias ; a rua era", a resposta
foi de que em "a rua era" se tratava de descrever um logradouro
no seu aspecto físico, independentemente do seu nome. Em não
havendo, pois, a noção de singularidade com unicidade, mas pre-
valecendo, tão-somente, o conceito genérico, a tendência predomi-
nante é para o uso das minúsculas.
2 . 8 . 5. 24 Notar-se-á, por fim :
a) que nos usos experimentais, instrumentais, lúdicos e ar-
tísticos para fins expressos, o não-uso das maiúsculas, ou das
minúsculas, ou o seu uso às avessas, ou contra as normas e expec-
tativas, é recurso ad hoc, sempre lícito;
b) que em certas sistemáticas especializadas o preconizar-se
o uso das maiúsculas em certas situações não acarreta o mesmo
emprêgo para fins não especializados - assim, se em antropolo-
gia, se recomenda "os Mawé" (maiúscula e ausência do signo de
plural), a recomendação nada tem que ver com o uso normal na
língua de "os maués", como "os boror6s" ou "os bororos" (contra
o especializado "os Bororo");
c) incidentemente, que o plural é normal nos nomes pró-
prios e nos antecedidos de maiúsculas, de um modo geral - os
Brasis (como país, não como nativos), os Portugais, os Dantes
Alighieris, os Williams Shakespeares, os Gustaves (ou Gustavos)
.F lauberts.
2. 9 REDUÇÕES - Sempre conexo com a questão ortográfica é
o problema do emprêgo das reduções das palavras ou expressões
de uso freqüente geral ou particular. O fato de êsse fenômeno
ocorrer em ful!ção da freqüência do uso de certas palavras acar-
reta, automàticamente, a circunstância de que essas reduções
possam fazer-se necessárias ou úteis em dcterminad~ obras, mas
ELEMENTOS DE BIBLIOLOGIA 121

não noutras. Ademais, atravês dos tempos, certas pal11.vras que


foram freqüentes deixaram de o ser, de modo que há reduções de
valor histórir.o e outras de valor presente e atual. Na palco-
grafia, por exemplo, ocorrem reduções em número considerável,
que hoje em dia, na maioria dos casos, têm curso limitadíssimo
ou nenhum, salvo, é 6bvio, no estudo de sua técnica; em compen-
sação, no mundo moderno, é impossível ignorar que "m" é "metro"
ou "metros", que "em" é "centímetro" ou "centímetros". e rm
língua portuguêS& que "V." pode significar "vocês", qu<' "V .l\1. ··
significa "vossa majestade" ou "mercê", que "V. A." significa
"voF.sa alteza", que "p." ou "pág." significam "página", f'JIH?
"v." pode significar "verso", ou "veja", ou "volume" ete.
2. 9.1 Co?&ceito de redução - Na sistemática dêste Evro, todos
os fenômenos de t:epresentação literal parcial dos vocábulos
- por exemplo, "p." por "página''-; de representação literal-alga-
rfsmica - por exemplo "em•" por "cen~etro (s) cúbico(s)" -; de
representaçlo pictogrMica realista -por exemplo <íi). por "casa"
- ; de repreaentaçlo picto-ideográfico-simb61ica - por exemplo "t"
por "morte", "morto", "falecido", "falecida" -; de repreaentaçlo
convencional cientffica - por exemplo, "~", que na técnica da
zoolog~ indica individuo do sexo masculino --., todos êsaes recursos
são denominados "reduções".
2. 9. 2 SISTEMÁTICA DAS REDUÇÕES - As reduções SE'rão aqui
consideradas conforme os grupos seguintes (alternarPmos o ele-
mento - grafia com o elemento - gra·m a, indicando com o pri-
meiro o processo e com o segundo um caso concreto de realização
do processo; o adjetivo subjetivo correspondente a ambos será rm
gráfico):

reduções
braquigrafiaa

ideografias
r 2)
3)
4)
6)

{ 6)
abreviações
abreviaturas
siglas
acrografias
sim bolos

signos
7) sinais
'8) ideogramas mistos

2. 9. 2 .1 As abreviações são reduções literais, geralmente de


uso circunstancial, variáveis de obra para obra, de autor para
autor. Na medida em que se tornam de uso geral, entram na
122 ANTÔNIO BOUAISS

categoria das abreviaturas. Apresentam, · et;n comum, a caracte-


rística de refletirem as flexões, se de palavras flexionadas, e estão
enlaçadas ao sistema de uma lingua - já, entre nós, a · portu-
guês&, já. a latina, por fôrça de tradição. As siglas são reduções
literais via de regra de intitulativos, sobretudo bibliônimos, ba-
seadas nas letras iniciais de cada um ou de alguns dos compo-
nentes do intitulativo a que se referirem ; revestem a forma de
acrografias quando não são reduções apenas de letras iniciais,
mas de sílabas iniciais, que podem combinar-se com letras iniciais.
Os símbolos braquigráficos são ainda reduções literais, autonomi-
zados, por convenção, das flexões das palavras a que se referem.
Entre as reduções ideográficas - verdadeiros ideogramas - dis-
tinguimos os signos, representações gráficas de conceitos,. de ações
ou de significações, dos sinais, representações gráficas de signos
que por sua vez se ligam a conceitos, ações ou significações. Os
ideogramas mistos são signos acompanhados de letras ou algaris-
mos. Escusa relembrar que, de um modo geral, as braquigrafias
. - e seus respectivos braquigramas - são literais e se referem ao
sistema ortográfico de uma lingua dada, enquanto as ideográ.ficas
- e respectivos ideogramas - não são literais (pelo menos nu-
clearmente) e se referem ao sistema ideológico geral dos homens
eulturalizados, independendo das ortografias nacionais.
2. 9 . 3 Abreviações - As abreviações, como vimos, são redu-
ções braqÚigráficas - braquigramas - de valor circunstancial,
variável de obra para obra, de autor para autor, em função da
freqüência de certos vocábulos empregados, reduzidos por econo-
mia, em geral. Se se consultarem as listas de abreviações que
antecedem, de regra, as enciclopédias, diçionários, glossários, vo-
cabulários, obras técnicas gerais e afins, ver-se-á que, segundo a
sua natureza - historiografia, lingüística, ciências naturais - ,
variam as palavras ·abreviadas. Há, entretanto, no passado his-
tórico das abreviações praticadas em português - e no ocidente
de base gráfica latina, em geral - alguns princípios constantes
dentro de cada sistema de abreviações de cada obra :
1.0 ) evitam-se abreviações iguais para vocábulos diferentes,
pois, caso contrário, haveria ambigüidade;
2.0 ) abrevia-se econômicamente e não por amor da abre-
viação ; noutros têrmos, usar da abreviação "pag." por "pago" é
algo sem sentido, pois tipogrà.ficamente, ao menos, compor "pag."
é o mesmo que compor "p~";
3.0 ) abreviam-se palavras freqüentes no corpo da obra, pois
de outra forma a abreviação pode tornar-se obscura ou incompre-
J!lLElriENTOS DE BIBLIOLOGIA 123

ensS:vel, além. de ser quase nula a economia que decorre de uma


abreviação muito episódica.
2. 9. 3 .1 Em português, as normas abreviantes podem ser de-
preendidas da prática abreviante e de certas observações já com
tendências s!stemáticas (ACAD, XLVII, 53); essas normas abre-
viantes são, .essencialmente, as seguintes:
1.0 ) o ponto (.) indica o local em que ocorre a abreviação,
por exemplo, "p." quer dizer "p ( ágina)" ;
2.0 ) se, porém, além dêsse particular, ocorria a inclusão do
elemento final do vocábulo abreviado, êsse era adj~ido super-
postamente; por exemplo, "s.r" ou "S.r", de "s(enho)r" ou
"S(enho)r"; "obr.do", "obr.g.do", de "obr(iga)do" ·OU "obr(i)g
(a)do"; "am. 0 " ou "am.10", de "am(ig) 0 " ou "am(i)IO"; "cap.am"
ou "Cap.am", · de "·cap(it)am" ou "Cap(it)am" (na grafia, em
certo tempo, "capitam", do atual "capitão") ;
3.0 ) no primeiro caso, de regra, o plural era indicado pela
duplicação da última ou única consoante grafada; assim o plural
de "pag." era "pagg.", de "seg." era "segg.", de "p." era "pp.",
de "v." era "vv."; no segundo caso, porém, a flexão de plural ou
de feminino era explicitada na terminação, donde "s.ru" ou
"S.ru"; "obr.dos", "obr.du"; "am.ru", "am.ros".
2.9.3.2 De uma forma como "s.r" ou "S.r" transitou-se para
"sr" ou "Sr" - porque ou houve má leitura do ponto, pingado
displicentemente, pois que em condições não ordinárias (já que
não indicativo de intonação .descendente com pausa), ou porque
os tipos menores para superposição já eram sotopostos na matriz
pela barrinha (em verdade, o segundo membro da alternativa
deve ter decorrido da adoção do exposto no primeiro membro) ;
intermediàriamente, houve (e há ainda) formas como "s.r" ou
"S.r". A realidade, por~, é que, modernamente, as letras super-
postas são geralmente evitadas em tipografia, primeiro, porque
os parques tipogrl.ficos no Brasil são em geral de fabricação es-
trangeira; segundo, · porque a superposição de letras via de regra
exige manobras especiais por parte do linotipista ou do monoti-
pista; terceiro, porque os tipos superpostos, de uso muitíssimo
restrito, determinam caracteres móveis ou matrizes especiais em
disponibilidades tipográficas que, no Brasil, podem ser dedicadas
a matrizes de valor funcional mais importante; quarto, por fim,
porque, do cotejo com as línguas mais conhecidas e divulgadas
tipogràficamente entre nós, se segue a observação rótineira da
quase inexistência de caracteres superpostos, que é o que se
verifica, regularmente, em francês e inglês, e com visível espora-
dicidade em espanhol e italiano. Daí, podemos afirmar que j~
124 ANTÔNIO HOUAISS

estejam quase consagradas entre n6s abreviações do tipo "sr." ou


"Sr." que foram, por vêzes, antecedidas por abreviações do tipo
"s.r" ou "S.r". Tudo leva a crer que igual evolução se deu em
francês, inglês, espanhol, italiano, no particular. A resolução,
porém, se fêz diferentemente: em inglês, por exemplo, tanto ocorre
a forma "Mr." (cf., por exemplo, HONB, l.tl . mister) quanto a
forma "Mr" (cf., por exemplo, FOWL, 1.t1. mister), com os corres-
pondentes phirais "Messers", e "Messrs"; em francês, mtmlieur
se abrevia "M.", me11Íe1M's "MM.", enquanto madame, "M-" ou
"Mme", meltdamu, "Mma" ou "Mmes" e mad.emoiselle, "WJe" ou
"Mlle", mesdemoiselle1, "M11e•", "Mlles" (cf. LARO, s.v. abrévia-
tions). O uso do ponto em meio à abreviação é, modernamente,
de todo estranho e ocasional ; a superposição da parte final do
vocábulo é contra-indicada, nas condições tipográficas . :vigentes
em conformidade das tendências geralmente manifestadas hoje em
dia; o emprêgo do ponto depois de abreviaçõep estruturadas com
a parte final do vocábulo abreviado, embora divulgadíssimo, é
quase injustif!cável, a não ser para caracterizar a abreviação
como tal;< atendendo, entreta.nto, neste particular, ao fato de que
a abreviação não deve 8er um despistamento, mas apenas uma
economia para o 6bvio e freqüente, optamos decisivamente pela
proscrição do ponto em tais casos. Damos, assim, a seguir, os
princípios que podem - na base do exposto e fundamentado -
servir como normas para a abreviação em português :
1.0 ) devem-se abreviar palavras em função da freqüência de
seu uso numa obra e do · seu caráter preferencialmente técnico;
a maiúscula ou minúscula inicial do abreviando se .t ransfere · à
abreviação ;
2.0 ) se a abreviação fôr por suspensão ou corte de elemen~
gráficos, inclusive a parte final do vocábulo, deve ela teruÍinar
por J)C?nto: "ree.". por "recurso", "fig." por "figura", "est." por
"estampa", "mod." por "modêlo";
3.0 ) se a abreviação fôr por corte ou suspensão de elementos
apenas internos do abreviando, não haverá uso do ainal de pon-
tuação, mas em contraposição se deverá evitar emprestar à abre-
viação caráter de vocábulo. autônomo ou qualquer homofonia com
voeábolo, existente e não abreviado, da língua: "reqte", por "re-
querente", "reqto", por "requerimento", "acdo" por "aeôrdo",
"acdão", por "acõrdão";
4.0 ) as abreviações de vocábulo composto por justaposição,
com hífen, guardarão o hífen; das locuções, perífrases, circunl6-
quios que não tenham hífen, não o terão ; mas em quaisquer casos
os elementos da composição deverão ser abreviados na conformi·
ELEJ(ENTOS DE BIBLIOLOGIA. 125

dade dêstes princípios, como se fôssem vocábulo autônomos, salvo


no particular adiante referido: "g-m", por "guarda-marinha",
"ang.-sax." por "anglo-saxão";
5.0 ) note-se que os vocábulos autônomos via de regra não
têm abreviação terminada por vogal (embora haja um que o
seja por uma só vogal, "a.", por "assinado", cujo plural é "aa.",
por "assinados"); entretanto, nos casos anteriores. os elementos
componentes podem ser abreviados por uma só vogal : "u. t.c. ",
por "usado (usa-se) também como", "a.-s.", por "anglo-saxão"
r alternativa, ver o número anterior) ;
6.0 ) · as abreviações de palavras nominais comportam, quan-
do necessária, a indicação de ·número e, conforme o caso, a indi-
cação de gênero; o plural de abreviação terminada por ponto se
fará pela duplicação de sua· última e ou única letra - que,
regular e normalmente também, é uma consoante (salvo o indicado
no número anterior) ; o plural das abreviações terminadas pela
parte final do vocábulo se fará. como se o ·mesmo não tivesse sido
abreviado: "seg.jsegg.", por "seguinte/seguintes", "p./pp. ", por
"pãgina/pá.ginas", "vol./voll.", por "volume/volumes"; "obrdo/
obrdos", por "obrigado/obrigados"; o gênero indicar-se-á só nes-
tes últimos casos, isto é, quando a abreviação fôr com a parte
final do vocábulo: "obgda/obgdas", por "obrigada/obrigadas";
7.0 ) os vocábulos de quatro letras ou menos só deverão ser
objeto de abreviação se puderem, sem ambigüidade, ser reduzidos
a uma s6 letra seguida de ponto: "v.", por "verjvejajvêde";
8.0 ) se a abreviação, para que se evite a ambigüidade, não
se possa fazer senão com ás duas letras finais, que serão substi-
tuídas por ·um ponto, nesse caso convém não abreviar, pois que o
princípio da economi!'- será insignificante, já que de um s6 tipo
gráfico.
2. 9. 3. 3 Dada a distinção - no fundo, arbitrária, mas útil -
aqui adotada entre abreviação e abreviatura, cujos princípios
abreviantes são os mesmos, vão relacionadas, a seguir, apenas umas
qU&I).tas abreviações, colhidas em algumas obras que, por sua
natúreza, fazem delas uso. A exemplificação - longe de exaus-
tiva, o que seria impossível - visa a mostrar que, de regra, os
eritérios acima são, atéum certo ponto, da tradição. Deve-se ter
em conta que cada abreviação se enxerta numa série de palavras
abreviadas, dentro do mecanismo abreviatório de w:na certa obra ;
ora, se esta, por acaso, lida com um número reduzido embora
freqüente de palavras abreviandas, nada obsta a que as suas
abreviações sejam mais contractas ainda em casos tais, critério
126 ANTÔNIO HOUAISS

que não é o do exemplário a seguir, que tem feição digamos


enciclopédica, quer dizer, de obra que usa de um rol considerável
de abreviações (foram fontes FREI, MAGN, ACAD, ACAL, OONc, AULE,
ECBB, FERR) :

abreviaDdo eomo na fonte abreviaçio


abecedário abc. abc.
abissfnio abissfn. a bis.
ablativo abl. abl.
abreviação abrev. abrev.
abreviatura abrev., abr. abr.
absolutamente abaol. abaolnte
absoluto aba. absol.
abstracionismo abatr. abstramo
abstração abatr. abatr.
academia Acad. acad.
acadêmico acad. acadêm.·
academi ( ci) amo academ. acadamo
acepção (aecepçio) acep. ( accep.) acep. (accep.)
acusativo ac.· ac.
acústica acúat. acúst.
adágio ad. (adágio)
adaptação adapt. adapt.
adjetivo adj. adj.
adjetivo biforme ab. adj. bif.
adjetivo de doia gêneros adj. 2 gên. adj. 2 gên.
adjetivo de doia gêneros
e dois números ad. 2 gAn. 2 núm. adj. 2 gên. 2 núm.
adjetivo feminino adj. fem. adj. fem.
adjetivo uniforme au. adj. unif.
administração adm. adm.
administração romana adm. rom. adm. rom.
administrador admatrdor admdor
admiração admr. admir.
admirador admrdor admirdor (admirador)
advérbio adv. adv.
advérbio de afirmação adv. af. adv. af.
advérbio de confirmação adv. conf. adv. conf.
advérbio de designação adv. deaign. adv. deaign.
advérbio de dúvida adv. dúv. adv. dúv.
advérbio de exclusão adv. excl. adv. excl.
advérbio de lugar ai., adv. lug. adv. lugar
advérbio de modo am., adv. mod. adv. modo
advérbio de negação adv. neg. adv. neg.
advérbio . numeral adv. num. adv. num.
advérbio de quantidade adv. quant. adv. quant.
advérbio de tempo at., adv. temp. adv. tempO
advocacia Adv. advoc.
aeronáutica aer~m. aeron.
aerostática aeroat. aerost.
aerovia Aer. (aerovia)
aférese afér. afér.
afluente ~- a fi.
ELEMENTOS DE BIBLIOLOGIA. 127

abreviando como na fonte abre'ria~lo


aforismo afor. afor.
africano afr. afr.
africanismo afr. afrsmo
afro-lusitano afrolua afro-lua.
afro-lusitanismo afrolus. afro-lussmo
aglutinaçio agi. agi. ·
agrário agr. agr.
agricultura agr. agric.
agrimensura agrim. agrim.
agrologia agroI. agroI.
agronomia agron. agron.
alatinado alat. alat.
albanês alb. alb.
alemio ai. ai.
alentejano alt. alentej.
alfabeto alf. alf.
alfabeto arábico alf. aráb. alf. aráb.
alfabeto cirflico alf. cir. alf. cir.
alfabeto grego alf. gr. alf. gr.
alfabeto hebraico alf. hebr. alf. hebr.
alfabeto latino alf. lat. alf. lat.
alfaiataria alfaiat. alfaiat.
algarismo alg. algar.
algarvio alg. algv.
álgebra álg. álg.
algoritmo alg. algor.
almanaque Alm. alm.
alopatia Alop. alop.
alpinismo alpin. alpin.
alquilaria alquil. alquil.
alquimia alq. alq.
altanaria altan. altan.
alteração alter. ai ter.
alternação altern. altern.
altitude alt. altit.
altura alt. alt.
alto-alemio alt. ai. a.-al.
alusão literária alua. lit. alusão lit.
alusivo alus. alus.
alveitaria alveit. alveit.
alvenaria alven. alven.
americano am. amer.
americanismo am. amersmo
anais an. an.
análise Anál. anál.
anarquismo anarq. anarqsmo
anatomia anat. anat.
anglicismo angl. angl.
anglo-saxão a.s. a.-s.
animal anim. (animal)
anônimo anôn. anôn.
antecedente antee. antec.
antigo ant. ant. ·
antigo alto-alemão ant. alt. ai. ant. a.-al.
128 ANTÔNIO HOUAISS

abreTiando como na fonte abreTia~io


antiguidade antig. antig.
antiquado antiq. antiq.
antiquário antiq. (antiquário)
antologia Antol. antol.
antônimo antôn., ant. antôn.
antonomásia antonom. antonom.
antropografia antropogr. antropogr.
antropologia amtrop. antropol.
antroponimia antropon. antropon.
antropônimo antropôn., antr. antropôn.
antropônimo feminino antr. f. antropôn. fem.
antropônimo masculino antr. m. antropôn. masc.
anual an. (anual)
anuário anu. (anuário)
apêndice ap. apênd.
apicultura apic. apic.
aplicado apl. apl.
aportuguesamento aportg. aport.
aproximadamente aprox. aproxnte
aquavia Aq. (aquavia)
árabe ár. á r.
arábico aráb. aráb.
aracnideo Aracn. aracn.
aram eu ara. (arameu)
aramaico aram. aram.
arboricultura arboric. arboric.
arcaico arcai c. are.
arcaismo are. arcamo
arcebispado Arceb. arcebd.
arcebispo. areeb. arceb.
arciprestado Á:J:Cip. arcipd.
areipreste areip. arcip.
argentino arg. arg.
aritmética arit. aritm.
aritmologia Aritmol. aritmol.
armaria arm. arm.
armênio arm. (arm~nio)
arqueologia arqueol., arq. arqueol.
arquidioeese Arquid. arquid.
arquipélago arquip. arquip.
arquitetura arquit. arquit.
arquitetura hidráulica arquit. hidrául. arquit. hidr.
arquitetura militar arquit. mil. arquit. mil.
arquitetura naval arquit. nav. arquit. naval
arquivo arq. arq.
arte decorativa art. dec. arte dec.
arte dramática art. dram. arte dram.
arte militar art. mil. arte mil.
artesanatos Artes. artesan.
artigo art. art.
artigo definido art. def. art. def.
artigo indefinido art. ind. art. indef.
artilharia artilh. artilh.
artístico art. artist.
ELEMENTOS DE BIBLIOLOGIA 129
abreviando como na fonte abreviação
aruaque aru. (aruaque)
ascetismo ascet. ascet.
asiático as. asiát.
ásio-lusitanismo asolus. ásio-lussmo
ásio-lusitano asolus. ásio-lus.
assembléia . Assem. assemb.
assimilação asa. assim.
assistência Assist. assist.
associação Assoe. assoe.
astrologia AstroI. astrol.
astronimia astronfm. ( astronimia)
astrônimo astr. astrôn.
astrônimo feminino astr. f. astrôn. fem.
astrônimo maac:ulino astr. m. astrôn. masc.
astronomia astr., astron. astron.
atividade Ativ. ativ.
ativo at. at.
atletismo atl. atlet.
atmosfera atm. atm.
atômico atôm. atôm.
átomo át. át.
atualidade atual. atualid.
aumentativo a um. aum.
austral austr. (austral)
australiano austral. austral.
austrlaco austr. austr.
automobilismo autom., auto. automb.
automóvel auto., autom., autom.
auxiliar aux. aux.
avenida a v. aven.
aviação av., aviaç. a v.
avicultura avie. avie.
axiônimo ax. axiôn.
bacteriologia bact., bacter. bacteriol.
baixo latim b. lat. b. lat.
balanço bal. bal.
balística balfst., bal. balfst.
báltico bált. bált.
belas-artes bel. art. b.-artes
bengali beng. beng.
berbere berb. berb.
bíblico bfb. bfbl.
bibliofilia Bibliof. bibliof.
bibliograf"J& bibliog. bibliogr.
bibliologia bibliol. bibliol.
bibliônimo feminino bibl. f. bibliôB. fem.
bibliônimo masculino bibl. m. bibliôn. masc.
biblioteca bibl. bibliot.
bibliotecnia bibliot. bibliotec.
biblioteconomia bibliotec. bibliotecon.
bimensal bimen. bim.
biodinimica biodin. biodin.
biofísica Bioffs. bioffs.
biogênese Biogên. bio~ên.
130 ANTÔNIO HOUAISS

abrmando como na fonte abreriaçio


biogenético biogen. biogen.
biogeografia Biogeog. biogeogr.
biografia biogr. biogr.
biologia biol. biol.
biometria biom. biom.
bioquímica Bioqufm. bioquím.
biotaxia Biot. biot.
biotipologia biotipo!. biotipo!.
birrelativo birrel. birrel.
bispado Bisp. bispd.
bitransitivo bitr. bitrans.
boêmio boêm. (boêmio)
boletim bol. bol.
boliviano boliv. boliv.
bordado bord. bord.
bort~al bor. bor.
borguinhão borg. borg.
botânica bot. bot.
brasileirismo br., bras. bras.
brasileiro br., bras., bra11il. br.
bretão bret. (bretão)
brigadeiro brig. brig.
britânico brit. brit.
budismo bud. bud.
búlgaro Wlg. Wlg.
burlesco burl. burl.
burocracia bur., buroe. buroc.
caderno · Cad. cad.
ea!re ca!. (eafre)
calco grafia calcog. calcogr.
cálculo Cálc. cálc.
caldeu cald. (caldeu)
caldaico cald. cald.
calendário cal., Calend. cal.
caligrafia calig. caligr.
calorimetria calor. calorim.
calvinismo Cal v. calvin.
ei.mara Câm. eâm.
canadense can. canad.
canalizaçio Canal. canaliz.
cantaria Cant. cant.
capital cap., C. c.
capitalismo Capit. capit.
capitão cap. capt.
capítulo cap. cap.
capixaba capix. capix.
cardeal card. card.
caribe car. car.
carpintaria carp. carp.
cartaginês cart. eart.
cartografia cart. cartogr.
castelhano cast. cast.
casuística casufs. casufst.
catalão cat. cat.
ELEMENTOS DE BIBLIOLOGIA 131
abreviando como na fonte abreviação
catálise catai. (catálise)
catálogo cat. cat.
catarinense catar. catarin.
categoria categ. categ.
catolicismo Catol. catelic.
católico catól. catól.
catóptrica Catóp. catÓpt.
causal caus. (causal)
causalidade causal. causalid.
causalismo causal. causal.
cavalaria cav. cav.
cearense cear. cear.
céltico célt. célt.
cênico cên. cên.
central centr. (central)
cerâmica cer., cerâm. cerâm.
chancelaria chance!. chance!.
chapelaria chapel. chapel.
chileno chil. chil.
chinês chi.n. (chinês)
chulo chul. (chulo)
chulismo chul. chul.
cibernética Ciber. cibern.
ciclismo Cid. cicl.
cigano cig. cig.
ciências ciênc. ciênc.
cinegética cin. cineg.
cinema cinem. cin.
cinematografia cinem. cinematogr.
cingalês cing. cing.
circulo círc. circ.
cirurgia cir., cirurg. cir.
citação cit. (citação)
citologia Citol. cito!.
classicismo Clas. classmo
clássico clás., cláss. clás.
climatologia Climatol. climatol.
clínica cHn. cHn.
código cód., C. cód.
código de águas c. Ág. cód. águas
código civil c. c. cód. civil
código comercial C. Com., cód. com. cód. com.
código de contabilidade C. Cont., cód. cont. cód. cont.
código militar C. Mil. éód. mil.
código de minas C. M. cód. minas
código penal cód. pen. cód. penal
código de processo cód. pro~. cód. proc.
cognome cogn. cogn.
coleção col. col.
colégio Col. (colégio)
coletivismo Colet. coletsmo
coletivo colet. colet.
colombiano colomb. colomb.
comandante com te. com te
132 ANTÔNIO HOUAISS

abreviando como na fonte abreviação


combinação Comb. combin.
combinatório comb. combinat.
combustão comb. (combustão)
combustível comb. combust.
comendador comend. comdor
comércio com. com.
comercial comere. comere.
comparativo comp. compar.
complemento compl. compl.
composto comp. comp.
comprimento compr. compr.
comum com. (comum)
comunicação comunic. comunic.
comunismo Com. comsmo
concani cone. (concani)
conceito cone. cone.
concretismo Concret. concret.
cônego côn. côn.
confederação Confed. confed.
confeitaria confeit. confeit.
conferência conf. conf.
confluêntia confl. confl.
conguês cong. (conguês)
conhecimentos conhec. coDhec.
conjugação conj., conjug. conjug.
conjunção conj. conj.
conjunção adversativa conj. adv. conj. adven.
conjunção causal conj. cau. conj. causal
conjunção comparativa conj. comp. conj. compar.
conjunção concessiva conj. cone. conj. conces.
conjunção conclusiva conj. concl. conj. concl.
conjunção condicional conj. cond. conj. condic.
conjunção consecutiva conj. coDB. conj. consec.
conjunção coordenativa conj. coord. conj. coord.
conjunção copulativa conj. cop. conj. copul.
conjunção disjuntiva conj. disj. conj. disj.
conjunção final conj. fin. conj. final
conjunção integrante conj. int. conj. integr.
conjunção subordinativa conj. sub. conj. subord.
conjunção temporal conj. temp. conj. temp.
conquiliologia conquiliol. conquiliol.
conselheiro consel. conselh.
conseqüente conseq. conseq.
consoante cons. cons.
constituição Const. const.
constitucionalista const. constta
construção constr. constr.
contabilidade cont. cont.
contemporâneo cont. contemp. ·
contração contr. contr.
copulativo cop. copul.
coreografia coreog. coreogr.
corografia corog. corogr.
correção, correição corr., correi. corr.
ELEMENTOS DE BIBLIOLOGIA 133
abreviando como na fonte abreviação
correios cor. cor.
correspondência corresp. corresp.
corrupção (corrução) corr. corrup. (corrução)
corruptela ( corrutela) corr. corrupt. ( corrut.)
cosmogonia cosmog. cosníog.
cosmografia cosmog. cosmogr.
cosmologia Cosm. cosmoI.
costa-riquenho (costa-
ricense) c. riq. costa-riq. (costa-ric.)
costura cost. cost.
criminologia Crim. criminol.
cristalografia crist. cristalogr.
cristandade Crist. cristand.
cristianismo Cristian. cristian.
crônica crôn. crôn.
cronologia cron. cronol.
cronometria cronom. cronom.
cronônimo feminino cron. f. cronôn. fem.
cronônimo masculino cron. m. cronôn. masc.
culinária cul., culin. culin.
cultura Cult. cult.
cutelaria (cutilaria) cutel. (cu til.) cutel. · (cu til.)
dactilografia . Dactilog. dactilogr.
dactiloscopia Dactilos. dactilosc.
dadaísmo Dad. (dadaísmo)
dasimetria dasim. dasim.
dasonomia Dason. dason.
dativo dat. dat.
declinação decl. decl.
decoração Dec. decor.
decreto de c. dec.
defectivo def. defect.
definição defin. defin.
definido def. def.
definitivo · definit. definit.
democracia Democr. democr.
demografia demog. demogr.
demonstra tivo dem. dem.
departamento Dep. dep.
depreciativo deprec. deprec.
derivação der. deriv.
derivado der. der.
desembargador Desemb. desemb.
desembocadura desemb. · desemboc.
desenho desen. (desenho)
desinência desin. de siri.
desportos despor., desp. desp.
desusado des., desus. desus.
determina tiv o det. determ.
dialectal (dialetal) diaI. dialect. ( dialet.)
dialectologia dialect. dialectol.
dialética dialét. dialét.
dialeto diaI. dial.
dicionário di c. di c.
134 ANTÔNIO HOUAISS

abreviando como na fonte abreviação


didática didát. didát.
düerente dü. dü.
diminutivo dim., dimin. dimin.
dinamarquês din.,dinam. dinam.
dinâmica din., dinam. dinâm.
diocese Dioc. dioc.
dióptrica Diópt. diópt.
diplomacia dipl. dipl.
diplomática diplom. diplom.
direito di r. dir.
direito administrativo dir. adm. dir. adm.
direito canônico dir. can. dir. can.
direito civil dir. civ. dir. civil
direito comercial dir. com. dir. comere.
direito constitucional dir. const. dir. const.
direito consuetudinário dir. consuet. dir. consuet.
direito corporativo dir. corp. dir. corp.
direito criminal dir. crim. dir. crim.
direito eclesiástico dir. ecl. dir. ecles.
direito fiscal dir. fisc. dir. fiscal
direito internacional dir. intern. dir. intern.
direito parlameqtar dir. parl. dir. parl.
direito penal dir. pen. dir. penal
direito politico dir. pol. dir. pol.
direito processual dir. proc. dir. proc.
direito romano dir. rom. dir. rom.
discurso di se. di se.
disaertação diss. dissert.
dissilábico diss. dissiláb.
dissflabo diss. dissíl.
dissimilação diss. dissim.
distribuição distr. distrib.
distrito distr. distr.
diversões div. divers.
diversos div. di v.
divulgação div., divulg. divulg.
documentação Docum. doeum.
documento doc. doc.
do~tica dogm. dogmát.
dogmatismo dogm. dogmsmo
doméstico dom. dom.
dominicano dom., domin. dom in.
domfnico dom. domín.
dórico dór. dó r.
dramático dram. dram.
dravfdico drav. drav
dualidade dualid. dualid.
dualismo dual. dual.
duriense dur. dur.
eclesiástico ecl., ecles. ecles.
eclético ecl. ecl.
ecologia eco}. ecol.
economia econ. econ.
economia polftica econ . . pol. econ. pol.
,
ELEMENTOS DE BIBLIOLOGIA 135
abreviando como na fonte abreviação
economia rural econ. rur. econ. rural
edição Ed. ed.
edifício ed., edif. edif.
educação ed., educ. educ.
efeméride efem. efem.
egipcio egip. egíp.
elemento el. el.
elemento adjuntivo el. adj. el. adjunt.
elemento adverbial el. adv. el. adv.
elemento antroponimico el. antr. el. antropon.
elemento articular el. art. el. art.
elemento ·de composição el. comp. el. comp.
elemento nominal el. nom. el. nom.
elemento participial el. part. el. partic.
elemento protético el. prot. el. protét.
elemento substantivo el. subst. el. subst.
elemento toponimico el. top. el. topon.
eletricidade eletr. eletr.
ele (c) trodinâmica ele(c)trodin. ele(c)trodin.
ele(c)trologia ele(c)trol. ele(c)trol.
ele(c)trometria ele(c)trom. ele(c)trom.
ele(c)trônica ele(c)trôn. ele (c) trôn.
ele (c) troterapia ele (c) trot. ele (c) trot.
eliptico elipt. elípt.
embriologia embrio!. embriol.
emigração emigr. emigr.
empírico empir. empir.
empirismo empir. empir.
emprêsa Emp. empr.
encíclica encicl., enc. encicl.
enciclopédia encicl. encicl.
enciclopedismo Encicl. enciclsmo
energética energét. energét.
energia Energ. (energia)
engenharia eng. eng.
enologia enol. enol.
ensino ens. ens.
entomologia entorno!. entorno!.
epigrafia epig., epigr. epigr.
epístola epist. epist.
equatoriano eq., equat. equat.
equitação equit. equit.
equivalente equiv. equiv.
ergologia ergo!. ergo!.
erudito erud. erud.
escandinavo escand. escand.
escocês escoe., esc. esc.
escolar esc., escol. (escolar)
escolástir.a Escol. escolást.
escrito escr. escr.
~tor escr. (escritor)
escultura escult. escult.
esgrima esgr. esgr.
eslavo esl. esl.
.
136 ANTÔNIO HOUAISI't

abreTiando como na fonte abreviac;ão


eslavônico e si. eslav.
eslovaco eslov. eslov.
esloveno eslov. (esloveno)
espanhol esp. esp.
especial esp., espee. espec.
especialmente especialm. especnte
espécie esp. (espécie)
especificação especif. especif.
espeetrografia espectrogr. espectrogr.
espeleologia espeleol. espeleol.
espiritismo espirit. espirit.
espiritualismo espiritual. espiritual.
estação est. est.
estadismo estad. estad.
estadista estad. (estadista)
estado (Estado) e. (E.) e. (E.)
estado-maior e.-m. e.-m.
estática estát. estát.
estatistiea estatist. estatíst.
estenografia estenog. estenogr.
estereografia estereogr. estereogr.
estética estét. estét.
estoniano eston. eston.
estrada estr. estr.
estrada de ferro e. f. e. f.
estrangeirismo estrangeir. estrangeir.
estran~eiro estrang. estrang.
estratégia estratég. estrat.
estremenho estrem. estrem.
estudante estud. estud.
ética ·ét. ét.
etimologia etimol. · etimol.
etiópico etióp. etióp.
étnico· étn. étn.
etnografia etnogr. etnogr.
etnologia etnolog. etnol.
etologia etol. etol.
eufêmico eufêm. eufêm.
eufemismo eufem. eufem.
eufônico eufôn. eufôn.
eufonia eufon. (eufonia)
euforia eufor. (euforia)
exclamação exclam. exclam.
. exclamativo exclam . exclamat.
excursionismo excurs. excurs.
exército ex., exérc. exérc.
experiência exp., Exp. exper.
exoerimental exp., exper. experim.
exploração explor. explor.
explosivo ·~xplós. explos.
exportação export. export.
exnressão expr. expr. .
expressionismo expression. expresslon.
extenSão ext. ext.
ELEMENTOS DE BIBLIOLOGIA 137

abreviando como na fonte abreviação


extensivo ext. extens.
extrativo extrat. extrat.
extrato extr. extr.
fábrica fáb. fáb.
faculdade fac. fac.
falcoaria fale., falcoar. fale.
familiar fam. fam.
farmácia farm. farm.
farmacologia farmac. farmacol.
farmacopéia farmac. farmacop.
fauvismo (fulvismo, fo- Fauv. fauv. (fulv., fov.)
vismo)
federação fed. feder.
federal fed. fed.
feminino f., fem. f em.
feminismo· fem., Fem. femsmo
fenicio fen. fen.
fenomenalismo fenom. fenom.
fenômeno fenôm. fenôm.
ferrovia fer. (ferrovia)
feudalismo Feud, feu. feud.
figura fg., fig. fig.
figurado figur. figd.
figurativismo figurat. figurativ.
figurativo figurat. figurat.
filatelia filat. filat.
filologia fil., filol. filol.
filosofia fil., filos. filos.
finanças fin. f in.
finlandês finl. finl.
fiscal fisc. (fiscal)
fiscalidade fisc. fi se.
fisica fis. fis.
fisiocraeia fisioc. fisiocr.
fisiocratismo fisioc. fisiocrat.
fisiologia fisiol. fisiol.
fitografia fitog. fitogr.
fitologia fitol. fitol.
flamengo flam. flam.
flexão flex. (flexão)
flexionai, flexivo flex. flex.
florestal Fl. (florestal)
floricultura flor. flori c.
fluminense flum., flumin. fiumin.
fluvial fluv. fluy.
folclore Folcl. fole.
fonética fon., fonét. fonét.
fonologia fon., fonol. fonot.
forense for. ror.
forma f. fm.
forma adverbial f. adv. rm. ad\
forma nominal f. nom. fm. nom.
forma paralela f. paral. fm. parai.
forma verbal f. verb. fm. verbal
138 ANTÔNIO HOUAISS

abreviando como na fonte abreviacão


formação form. form.
formação portuguêsa form. port. form. port.
formulário form. formul.
fortificação fort. fort.
fóssil fós. fós.
fotoanálise fotoan. fotoanál.
fotografia fot., foto. fotogr.
fotometria fotom. .f otom.
francês fr. fr.
franco franc. (franco)
frase f., fr. (frase)
frenologia frenol. frenol.
freqüentativo freq. freq.
fundição fund. fund.
futebol fut., futeb. (futebol)
futebolismo futeb. futeb.
futurismo Futur. futur.
futuro fut. fut.
futuro do conjuntivo fut. conj. fut. conjunt.
futuro do indicativo fut. ind. fut. indic.
gaélico gaél. gaél.
galicismo gal. gal.
galvanismo galv. galv.
gaul~s gaul. (gaulês)
genealogia gen., geneal. geneal.
gênero g ., gên. gên.
geodésia geod. geod.
geografia geo., geog. geogr.
geologia geol. geol.
geometria geom. geom.
germânico germ. germ.
germanismo germ. germsmo
gerúndio ger. ger.
ginástica gin. ginást.
ginecologia ginec. ginecol.
giria gír. (giria)
gíria de ciganos gir. cig. giria cig.
gíria de ladrões gir. lad; giria lad.
gliptografia gliptog. gliptogr.
gliptologia gliptol. gliptol.
gliptoteca gliptot. gliptot.
glossário gloss. gloss.
glótico glót. glót.
glotologia glotol. glotol.
gnomônica gnom. gnomôn.
gótico gót. gót.
govêmo gov., Gov. gov.
gráfico gráf. gráf.
grafologia graf., grafo!. frafol.
grafoscopia grafosc. grafosc.
gramática gram. gram.
grande grd. gde
gravura grav. grav.
grego gr. gr.
ELEMENTOS DE BIBLIOLOGIA 139
abreviando como na fonte abreviação
grego bizantino gr. biz4 gr. biz.
grego moderno gr. mod. gr. mod.
groenlandês groen. groenl.
guarani guar. guar.
guatemalteco (guate- guat. guatem.
malense)
guinéu (guineense) guin. guin.
guzarate guz. guz.
habitante hab. hab.
hagiografia hag., Hagiog. hagiogr.
hagiologia hag., hagiol. hagiol.
hagiológio hagiol. ( hagiológio)
hebdomadário hebd. hebd.
hebraico (hebreu) hebr. hebr.
helmintologia helmin. helmintol.
heortônimo feminino heort. f. heortôn. fem.
heortônimo ma.aculino heort. m. beortôn. masc.
heráldica her., heráld. heráld.
herpético herp. herpét. .
herpetografia herpet. herpetogr.
herpetologia herpetol. herpetol.
hibridismo hibrid. hibrid.
hfbrido hfbr. hfbr.
hidráulica hidr., hidráal. hidrául.
hidrografia hidrog. hidrogr.
hidrologia hidrol. hidrol.
hidrometria hidrom. hidrom.
hidrostática hidrost. hidrost.
hidroterapia hidrot. hidrot.
hierônimo hier. hierôn.
hierosolimitano hier. hieroaolim.
higiene hig. hig.
hindustani hind. hind.
hipiatria . hipiat. hipiat.
hfpico hfp. hfp.
hipismo hip. hip.
hipnoterapia hipnot. hipnoter.
hipnotismo hipnot. hipnot.
hipoeorfatico hipoe. hipoeo~.
hipótese Hip. hipót.
hipotético hip. hipot.
hispano-americano hisp.-amer. hisp.-amer.
histologia histol. 'hiato}.
história Hist. hist.
história antiga Hist. Ant. hiat. ant.
história bfblica hist. bfb. hist. bfbl.
história contemporânea H. Cont. hist. contemp.
história eclesiástica hist. eeles. hist. ecles.
história moderna ' H. Mod. hiat. mod.
história natural h. n., hist. nat. hist. nat.
história sagrada H. Sag. hist. aagr.
historiografia historiog. Historiogr.
holandês boi. h oi.
homeopatia bom. homeop.
140 ANTÔNIO HOUAISS

abreviando como na fonte abreviação


homofonia homof. homof.
homografia homog. homogr.
homônimo hom., homôn. homôn.
hondurenho (hondu- hond. hond.
rense)
horticultura hort., hortic. hortic.
hotentote hot., hotent. bot.
hotentotismo hot. hotsmo
húngaro húng. húng.
iatismo Iat. iat.
ibérico ibér. ibér.
ibero ib. (ibero)
iconografia iconog. iconogr.
ictiologia · ictioloszia ictiol.
idiotismo idiot. i.diot.
idolatria (idololatrill) idol. ( idolol.) idol. ( idolol.)
igreja I., igr._ igr.
ilusionismo ilus. ilusion.
ilustração 11., il. il.
imigração imigr. imigr.
imperativo imper. imper.
imperfeito imperf. imperf.
imperfeito do conjuntivo imp. conj. imperf. conjunt.
imperfeito do indicativo imp. ind. imperf. indic.
imperial imp. imp.
impessoal impess., impes. impes.
importação import. import.
imprensa impr. impr.
impressionismo Impres. impression.
impropriamente imprõp. imprõpr.
incoativo inc. incoat.
inculto inc. inc.
indefinido ind., indef. indef.
indeterminado ind., indet. indet.
indianismo indian. indian.
indiano indian. (indiano)
fndio fnd. (fndio)
indo ind. (indo)
indonésio ind., indon. indon.
indostano (industano) ind., indost. indost. (indust.)
indumentária in dum. in dum.
indústria indús. indúst.
infantil inf., infan. (infantil)
infantilismo infant. infant.
infinitivo inf., infin. infinit.
infinitivo pessoal inf. pesa. infinit. pes.
infinito inf. · infin.
infixo inf. .inf.
influência infl. infl.
informação inform. inform.
inglês ing. ing.
inseparável insep. insep.
instituição inst. instit.
instituto Inst. inst.
ELEMENTOS DE BIBLIOLOGIA 141
abreviando como na fonte abreviação
insular ins. ins.
integralismo Integr. integr.
intensivo intens. intens.
internacional intem. internac.
interamnense interamn. interamn.
interjeição interj. interj.
interjeição exclamativa interj. excl. interj. exclam.
interjeição vocativa i~terj. voc.- interj. voe.
interrogação interrog. interrog.
interrogativo interr. interrogat.
intransitivo intr. intrans.
inusitado inus. inus.
invariável inv. invar.
invenção inv., invenç. inv.
investigação invest. investig.
iraniano iran. iran.
iraquiano iraq. iraq.
irlandês i ri. irl.
ironia ir., iron. (ironia)
irônico irôn. irôn.
irregular irr., irreg. irreg.
islamita islam. islam.
islandês, islandense isl., island. island.
israelita isr., israel. isr.
italianismo it., ital., italian. italian.
italiano it., ital. ital.
itálico it., itál. itál.
ítalo it. it.
jamaicano jam., jamaic. jamaic.
japonês jap. jap.
jardinagem jard. jardin.
javanês, jau jav. (jau) jav. (jau)
jesuitismo jes. jes.
joalheria joalh. . joalh.
jôgo jôg. (jôgo)
jornal jorn., J . j.
jornalismo jorn. jorn.
judeu (judaico) jud. jud.
judaísmo jud. judsmo
jurídico jur. jur.
jurisprudência jur., jurisp. · jurispr.
laboratório Lab. laborat.
laborterapia Labor. labort.
lapão (laponês, lapônio) lap. lap.
lapidário . lap., lapid. lapid.
latim lat. · lat.
latim bárbaro lat. bárb. lat. bárb . .
latim científico lat. cient. lat. cient.
latim hipotético lat. hip. lat. hipotét.
latim vulgar lat. vulg. lat. vulgar
latino lat. (latino)
latitude lat., latit. latit.
latoaria latoar. (la toaria)
legislação Legisl. legisl.
142 ANTÔNIO HOUAISS

abreTI&Ddo como na fonte ab•evia!;io


legislativo leg. leg.
leitura leit. leit.
letio (leto, letonh, le- let. let.
tanio)
libanh' lib. lib.
ligação lig. lig.
ÜJ\gu& Ung. (lingua)
linguagem ling. ling.
ling(lfstiea ling., lingflfst. lingflfst.
liquido Uq. Uq.
literal lit. (literal)
literalidade liter. literal.
literatura lit., liter. lit.
litografia litog. litogr.
litologia litol litol.
lituano (lituinio, litua- lit. lituan.
nenae)
liturgia liturg. (liturgia)
liturgia eat6liea lit. eat. liturgia eat6L
livraria Livr. livr.
livro liv., livr., I. (livro)
local loe. (local)
loeuçio loe. loe.
logaritmo log. logar.
lógica 16g. 16g.
lombardo Iomb. Iomb.
longitude long. long.
lugar lug. (lugar)
lundêa lund. (lundês)
lusitanismo lusit. lusit.
lusitano lua. lua.
luso lua. (luso)
luta lut. (luta)
máçonaria maçon. ma!;OD.
madeirense mad., madeir. madeir.
magia· mag. (magia)
magnetismo magn:, magnet. magnet.
maia que perfeito m. q. perf. m. q. perf.
maidac:ula maidse. maiúse.
malabárieo, malabar mal., malab. malab.
malaeologia Malaeol. malaeol.
malaiala malai. (malaiala)
· malaio mal. mal.
malgaxe malg. malgaxe
manufatura manuf. manuf.
maometano maomet. maomet.
mapuehe map. map.
· máquina máq. máq.
maquinofatura maquinof. maquinof.
maranhense maranh. maranh.
marata mar. (marata)
marcenaria mare. mareen.
marchetaria mareb., marehet. marehet.
marginal marg. marg.
ELEKENTOS DE BIBLIOLOGIA. 143

abre\'iando como na fente abre\'iaçlo


marinha mar. mar.
marnotllgem mam. mamot.
mamotos mam. (mamotos)
marroquino marr. marroq.
martinicano martin. martin.
marxismo marx. marx.
masculine m., mase. masc.
matemática mat., matem. matem.
matéria mat. mat.
materialismo Material. material.
ma to-grossense matogros. mato-gros.
mecânica mee., mecân. mecân.
mecanografia mecan. meeanogr.
medicina med. med.
medicina legal med. leg. med. legal
médico méd. méd.
médio alto alemão m. alt. al. m. a.-al.
memorandum (JI!.emo- Memo. memor.
rando)
memória mem. mem.
memorial mem. (memorial)
mensal mens. (mensal)
mercado merc. merc.
mercúrio Mere. (mercúrio)
meridiano mer., merid. (meridiano)
meridional merid. merid.
metafísica metaf., metafís: metafís.
metafórico metaf. metafór.
metáfora metáf. metáf.
metalurgia met., metal. metalur.
metátese met., metát. metát.
meteorologia meteor. meteo rol.
metrificação metr. 0 metrif. metrif.
métrica métr. métr.
metrologia metroI. metroI.
mexicano mex., mexic. mex.
microbiologia mierob., microbiol. microbiol.
microfotografia microf. mierofot.
micrografia microg. microgr.
micrologia microI. microI.
micrometria microm. microm.
microscopia microse. microsc.
microscópico microscóp. microscóp.
militar mil. mil.
mineração Miner. miner.
mineral min. (mineral)
mineralogia min., miner. mineral.
minhoto mi. minh.
minúsculo min\is. minúsc.
misticismo miat. mist.
místico mfat. mist.
mitologia mit., mitol. mitoI.
mitônimo mit. mitôn.
D\itônimo feminino mit. f. mitôn. fem.
144 ANTÔNIO HOUA.ISS

abreviando como na fonte abreviaçio


mitônimo masculino mit. m. mitôn. masc.
mobiliário mob. mob.
modernamente mod. modnte
modernismo mod. modsmo
moderno mod. mod.
modo mod. (modo)
monografia mon., monog. monogr.
montaria mont. mot.
moral mor. (moral)
moralidade mor. moralid.
moralismo mor. morsmo
morfema morf. morf.
morfologia morf. ~orfol.
movimento mov. mov.
municipio mun. mun.
municipal mun. munic.
museologia mus. museol.
museu mus. (museu)
música mús. mús.
nacional nac. nac.
nacionalismo nac. nacsmo
napolitano nap. nap.
natação nat. nat.
naturalismo nat. natur.
nauatle nau. (nauatle)
náutica náut. náut.
nazismo naz: naz.
navegação nav. nav.
navegação fluvial nav. fluv. nav. fluv.
navegação marítima nav. mar. nav. marlt.
neerlandês neerl. neerl.
negativo neg. neg.
neo-árico neo-ár. (neo-árico)
neoguinéu (neogui-
neense) neoguin. neoguin.
neologia neol. neol.
neologismo neol. neolog.
neozelandês neozel. neozel.
nepalês nep. nep.
neutro n. (neutro)
nicaragüense nicar., nicarag. nicarag.
nigeriano nig., niger. niger.
nome n. (nome)
nome próprio n. pr. nome pr.
nominativo nom. nom.
nórdico nórd. nórd.
normando norm. norm.
· normalização normal. normal.
normativo . normat. normat.
norueguês nor., norueg. nor.
noticiário Notic. notic.
numeral num. num.
numismática numism. numism.
obras públicas Obr. Púb. obras pób.
BLEKENTOS DE BIBLlOLOGIA 145
abrce'riaDdo COIJIO na fonte ab.-~~iaçio
obsoleto obsol. obsol.
obstetrfeia obst. obstet.
oceanografia Oeean. oceanogr.
ocidente ocid. ocid.
oculista oeul. ocul.
ocultismo . ocult. oeult.
odontoiogia Odontol. odontol.
oficial of. of.
offeio of. (offeio)
ofidismo ofid. ofid.
oftalmologia oft., oftalm. oftalmol.
oligarquia Olig. olig.
oneologia oneol. oneol.
onomástica onom., onomáat. onomáat.
onomaiopéieo onom., onomatop. onomatop.
onomatopéia onom., onomat. onomat.
óptica 6pt. 6pt.
oratória Orat. orat.
ordem ord. (ordem)
ordinal ordin. ord.
ordiilário ordin. ordin.
organismo org. org.
organizaçio organiz. organiz.
organogenia organog. organog.
oriental or. or.
origem or., ori«. (origem)
original orig. orig.
originário orig., origin. origin.
ornitologia omit., omitol. omitoI.
orografia orog., orogr. orogr.
ortografia ortog., ortogr. ortogr.
ortográfico ortog., ortogr. ortográf.
ortopedia ortop. ortop.
otorrinolaringologia otorrino. otorrin.
ourivesaria ouriv. ouriv.
paganismo Pag. pag.
palavra pal. pal.
paleograf"Ja paleog., paleogr. paleogr.
paleontologia paleont. paleontol.
panamenho pan., panam. panam.
pan-americaniamo pan-amer. pan-amer.
paquiatano (paquista-
nês, paquistanenae) paq. paq.
paraense par., paraens. par.
paraguaio parag. parag.
paraibano paraib. paraib.
paranaense paran. paran.
parlamentar parl. parl.
parnasianismo pam., pamas. pamas.
parônimo parôn. parôn.
partiefpio part., partie. partie.
partfeula part. part.
passado pa81. pass.
p&SiiVO pass. (passivo)
146 ANTÔNIO HOUAISS

abrnia11do abreviação como na fonte


patologia patol. patol.
patronímico patron. patron.
patrônimo patrôn. pa.trôn.
paulista paul. paul.
paulistano paulist. paulist.
:pedagogia ped., pedag. pedag.
·pediatria ped., pediat. pediat.
pedologia ped., pedol. pedol.
pejorativo pej. pej.
jlequeno peq. peq.
perfeito perf. perf.
perífrase perff. perff.
pernambucano pem., pemaab. pemamb.
persa pen. (persa)
perspectiva penpeet. perspect.
perspectivism11 perspeetiT. perspectiv.
;peruano per. per.
peru via no peru v. peruv.
pescaria pese. pese.
pessoa pess. (pessoa)
pessoal pess. pess.
petrografia petr., petroi'. petrogr.
piauiense piaui., piauien. piauien.
pintura pint. pint.
pirotecnia pirotec. pirotec.
pirotécnica pirotéc. pirotéc.
piscicultura pise., piscic. piscic.
planejament11 Planej. plnej.
plebeísmo pleb. pleb.
plural pl. pl.
poesia poes. (poesia)
poética, poético poét. poét.
polaco (polonês) pol. pol.
política, político polít. polít.
população pop. popul.
popular pop. pop.
porto-riquenho (porto-
ricense) porto-riq., porterr. porto-riq., porto-ric.
português port. port.
positivismo Posit. posit.
possessivo possess., poss. poss.
pouco usado p. us. p. us.
povoação pov. pov.
povoado pov. povd.
prático prát. prát.
precedente prec., preced. preced.
predicativo pred. pr.edic.
prefixo pref. pref.
pré-hist. P. Hist. pré-hist.
preposição prep. prep.
prepositivo prep., prepos. prepos.
prescrição presc. presc.
presente pres. pres.
presidente Pres. presid.
J:LEJrllllNTOS DE BIBLIOLOGJA 147

abreviando como na fonte abreviaçio


previdência Previd. previd.
primitivo prim., primit. primit.
principal princ. princ.
privativo priv. priv.
problema Probl. probl.
problemático problem. problem.
precesso proc. proc.
produção prod. prod.
professor prof., Prof. prof.
profissão profiss. profis.
profissionalismo profission. profission.
pronome pron. pron.
pronominal pronom. pronom.
propaganda propag. propag.
proposição propos. propos.
próprio pr. pr.
prosódia pros. pros.
prosônimo prosôn. prosôn.
prostético prost. prostét.
prótese prót. prót.
protestantismo Protest. protest.
protético protét. protét.
protocolo prot. pro toe.
provençal prov. prov.
provérbio prov. provb.
província prov. prove..
provincial pro v. provinc:.
provincianismo prov. prov~smo•
psicanálise psic., psican. psican.
psicologia psic., psicol. psicol.
psicogonia Psicogri. psicogn..
psiquiatria psiq. psiquiat..
publicação pub., public. public.
qualificativo qual., qualif. qualif.
quantidade quant. quant.
quantitativo quantit. quantit;..
questionário quest. quest.
quichua· qui. (quíchua)
· quimbundo quimb. quimb.
quimica quím. quím.
quinzenal quinz. quinz.
quinzenário quinzen. quinzen.
quiromancia quirom. quirom.
racional r a c. rac.
racionalismo racion. racional
racismo rac. (racismo)
radical rad. rad.
radicalismo rad. radical.
rádio Rd. (rádio)
radioatiVidade radioat. radioat.
radiodifusão radiodif. radiodif.
radiografia radiogr. radiogr.
radiograma radiog. radiog.
radiologia radiol. radiol.
148 ANTÔNIO HOUAISS

abreviando como na fonte abreviação


radiotecnia radiotec. radiotec.
radiotéénica radiotée. radiotéc.
racü·o terapia radiot. radioter.
raro ·r. (raro)
realidade real. realid.
realismo real. real.
reciproco redp. recip.
reciprocidade reeip. recip.
redução red. red.
referência ref. ref.
referente ref. refte
reflexivo, reflexo refi. refi.
reformismo Ref. reform.
regência r. reg.
região reg. (região)
regimento reg., regim. regim.
regionalismo region. region.
registro Reg. rg.
relatividade rei., relat. relativ.
relativo rei. rei.
relatório rei., relat. relat.
religião Rei., rei. relig.
relojoaria reloj. reloj.
remo rem. (remo)
repartição rep. repart. repart.
repertório repert. repert.
reportagem report. report.
república rep., Rep. repúb.
restritivo. restr. restr.
resultado result. result.
retórica retór. retór.
retrospectiv<.. retrosp. retrosp.
reversivel revers. revers.
revista rev. rev.
rio-grandense do norte rg. n. rio-gr. n.
rio-grandense do sul rg. s. rio-gr. sul
rodésio rod. rod.
rodovia rod. (rodovia)
românico rom. român.
romano rom. rom.
romeno (vide rumeno) rom. (romeno)
· roteiro rot. rot.
rumeno rum. rum.
runl rur. (rural)
ruralismo rur. rural.
russo rus., russ. (russo)
rústico rúst. rúst.
salinas sal. sal.
sânscrito san., sânsc. sânsc.
sapataria sap., sapat. sapat.
secretaria sec., secr. secr.
secretário sec., secr. secret.
sectarismo sect. sect.
seleção sei. sei.
ELEMENTOS DE BIBLIOLOGIA 149

abreviando como na fonte abreviação


semântica sem., semânt. semânt.
seminário sem., semin. sem in.
semítico sem. (semít.) sem. (semít.)
semitismo semit. semit.
sentido sent. sent.
sericultura (serici-
cultura seric. ( sericic.) seric. ( sericic.)
sergipano serg. serg.
serralharia (serralhe--
ria) serr., serralh. serralh.
serviço serv. serv.
setentrional (septen-
trional) set., setent. setent. (septent.)
siberiano sib. sib.
siderografia siderogr. siderogr.
siderotécnica siderotéc. siderotéc.
siderurgia sider. si der.
significação sign. sign.
silaba sfl. síl.
silogismo silog. silog.
silvicultura silvic. silvic.
simbólico simb. simból.
simbolismo simb. simbol.
símbolo simb. símb.
simbologia simbol. simbol.
singular sing., sg. sing.
sinônimo sinôn. sinôn.
sintaxe sint. sint.
síntese sínt. sint.
sirfaco sir. si r.
sírio sír. (sírio)
sistema sist. sist.
situado sit. sit.
socialismo social. social.
sociedade soe. soe.
sociologia sociol. sociol.
sólido sól. sól.
soviético sov., soviét. soviét.
subafluente subafl. subafl.
subjuntivo subj. subjunt.
substantivo subst. subst.
sueco sue. (sueco)
sufixo suf. suf.
sul-africano sul-af. sul-afr.
sul-americano sul-amer. sul-amer.
sulista sul. sul.
superfície superf., sup. superf.
superior sup. sup.
superlativo superl., superl.
suplemento supl. supl.
surrealismo surr. surreal.
tabela tab. tab.
táboa táb. (táboa)
tailandês tail. tail.
150 ANTÔNIO HOUAISS

abrevia noJo como na fonte abreviacã.,


·taíno taí. (taíno)
tâmul tâm. (tâmul)
tanoaria tanoar., tan. tanoar.
taquigrafia taquigr. taquigr.
tática tát. tát.
tauromaquia taur., taurom. taurom.
taxidermia Taxid. taxid.
tchecoslovaco tchec. tchec.
teatro teat. (teatra)
tecelagem tec., tecei. tecei.
técnica téc., técn. técn.
tecnografia tecnog. tecnogr~
tecnologia tecnol. tecnol.
telefone tel., telef., tele. teI.
telefonia tel. tele!. telef.
telégrafo telégr. telégr.
telegrafia telegr. telegr.
telecomunicações telecom. telecom.
telemetria telem. telem.
televisão T·.v., telev. telev.
temperatura temp. tem per.
teologia teol. teol.
terapêutica terap., terapêut. terap.
teratologia terat., teratol. teratol.
terminação term. term.
terminologia termin., termin.oi. terminoJ.
têrmo t. (têrmo)
território terr., territ. territ.
têxtil tê:rt. (têxtil)
tibetano tib., tibet. tibet.
tinturaria tint. tint.
tipografia tip., tipogr. tipogr.
tiragem tir. tir.
titulo tit. tft.
tônico tôn. tôn.
tópico tóp. tóp.
topografia topog., topogr. topogr.
topologia topoI. topoI.
toponimia topon. topon.
topônimo topôn. topôn.
toxicologia toxicol. toxicol.
toxiologia toxiol. ·toxiol.
trabalhismo trabalh. trabalh.
trabalho trab. trab.
tradicional tradic. tradic.
tradicionalismo tradic. tradicsmo
tradução trad. trad.
tráfego trá!. tráf.
transitivo trar..s. transit.
transjordano transj. transj.
trasmontano trasmont. trasmont.
tratado trat. trat.
tribuna! Trib. trib.
tribulos trib. (tributos)
ELEMENTOS DE BIBLIOLOOIA 151

abrnisndo como na fonte abreTiacão


trigcnom~tria trigon. trigonom.
trimestral Trim. trimest.
trimestre trim. trim.
trivial triv. triv.
tropical trop. trop.
tunisiano tunis. tunis.
tunisino ~mis. tun.
tupi-guarani tupi-guar. tupi-guar.
turco Tur. (turco)
turismo tur., turism. tur.
ucraino ucrain. ucr.
ucraniano ueran. ucran.
unidade un. un.
uniforme un., unif. unif.
universal uni v. uni v.
universidade univ., Univers. univers.
urbanismo Urb. urbsmo
urbanista urb. urban.
urbano urb. urb.
urologia urol. urol.
uruguaio urug. urug.
usado us. us.
utilidade utn. utilid.
utilitarismo Util. utilit.
utópico utóp. utóp.
utopismo Utop. utop.
vademeco (vademecum) vad. vadm.
valão val. (valão)
vari~o var. var.
variante var. (variante)
vasconço vase. v a se.
vaticano vat. vat.
vegetal vcg. veg.
velocidade vel. vel.
venatório '\;en. venat.
·veneziano venez. venez.
venezuelano ( venezo- vencz. venezuel. ( venezol.)
lano)
voerbal verb. (verbal)
verbalismo vet·bal. verbal.
verbête verb., Verb. verb.
verbo v., verb., vb. vb.
vernaculismo Vem. vemsmo
vernáculo vem. vem.
verossimilhança veross. veros.
versificação versif. versif.
veterinária vet., veter. veterin.
vidraria vidr. vidr.
vinicultura vinic. vinic.
viticultura vitic. vi tie.
vocabulário Voe. voe.
vocalismo voe. voes mo
vocativo voe. vocat.
vogal vog. (vogal)
152 ANTÔNIO HOUAISS

abrevianclo eomo aa fonte abreviaclo


v olataria volat. volat.
vuleinico vulc. vulc.
vulgar vulg. (vulgar)
xenofobia xenof. xenof.
xerografia xerog. xerogr.
xilogravura xilog. xilog.
xintofsta Xin. xint.
zende zend. (zende)
zoologia zo., zool. zool.
zootecnia zootec. zootec.
zootécnica zootéc. zootéc.

2. ~. 4 Abreviaturas - Os princípios que parecem reger as


abreviaturas são prAticamente os mesmos que os das abreviações,
como vimos supra. Distinguimo-las tão-somente porque as abre-
viaturas são formas como que fossilizadas e de emprêgo genêric~
tão tradicionalizado, que, embora possam acarretar ao leitor ou
autor desprevenido certas dificuldades para a sua eventual com-
preensão, isso não se justifica entre os que estejam, de certo modo,
afeitos ao manuseio, uso e jôgo dos livros. Os caracteres tradi-
cionais mais típicos nas abreviaturas são, do ponto de vista lin-
güístico, o fato de que não poucas se referem a palavras ou
expressões latinas; do ponto de vista tipográfico, o fato de que
nelas se faz amplo uso de tipos superpostos, que as práticas abre-
viantes modernas tendem a proscrever cada vez mais, por como-
didade e por economia. Não seria demais reconhecer .que dentre
as abreviaturas seria possível grupar (a) as que, com raízes na
tradição manuscritora medieval, que foi altamente abreviadora,
são reduções de palavras ou expressões latinas e, por isso mesmo,
de curso geral no ocidente, independentemente dos vernáculos;
(b) as que, ligadas aos usos sociais classificat6rios e aristocráticos,
se enlaçam de um modo ou de outro com os axiônimos, com . ex-
pressões axionímicas ou com torneios hierárquicos, nobiliárquicos,
dignitários. inclusive das profissões ligadas às classes dirigentes;
(c) as ligadas às linguagens especializadas, como a comercial, a
forense, a náutica, a musical, e assim sucessivamente. Na impos-
sibilidade de esgotar a~ abreviaturas de curso. corrente em obras
em português, na impossibilidade, ainda, de grupar em quadros
sistemáticos exaustivos as abreviaturas, passamos a relacionar, a
seguir, uinas quantas abreviaturas, segundo afinidades temáticas
mais ou menos marcadas: ( 1) abreviaturas axiol6gicas, compreen-
dendo as relacionadas com as fórmulas de tratamento, os títulos
nobiliárquicos, profissionais, eclesiásticos e afins, e as ideologica-
mente associadas; (2) abreviaturas autorais, de palavras latinas
exclusivamente, que antecedem os nomes de autores de obras dP
ELEMENTOS DE BIBLIOLOGIA 153

arte, na idade moderna, a partir do momento em que o anoni-


mato de regra desapareceu; (3) abreviaturas bibliológicas, que
se relacionam com as técnicas de remissão, indicação, seccionação,
anáfora, dêixis, na estruturação de uma obra escrita; (4) abre-
viaturas comerciais, industriais e afins (e ·algumas esportivas) ;
( 5) · abreviaturas crononímicas, relacionadas com a referenciação
a tempo e s.o calendário; (6) abreviaturas forenses, judiciárias,
tabelioas, áulicas, cortesãs, eufêmicas (e algumas institucionais) ;
(7) abreviaturas médicas, farmacológicas e posológicas; (8) abre-
viaturas musicais, na sua totalidade de origem italiana, mas de
curso pràticamente geral ·n as línguas ocidentais; ( 9) abreviaturas
náuticas mais correntes, pois que a terminologia própria compor-
taria muito mais, de curso restrito; (10) abreviaturas teatrais,
tão-somente as relacionadas com a referência à marcação do ce-
nário. Insistamos em que não poucas, em cada grupo acima, po.
deriam ser agregadas e que, ademais, não poucos grupos outros
poderiam ser juntados, parecendo-nos, p9rém. que o principal aí
está. Excluímos, deliberadamente, uma imensa galeria de valor
restritamente paleográfico, isto é, sem utilidade corrente nos dias
de hoje, que poderá ser haurida em tratados ou compêndios dessa
técnica (cf., por exemplo, CAPP, GRON, MALL, MILL, MILM). Notar-
se-á, ainda, que não poucas abreviaturàs são totalmente homo-
gráficas para palavras ou expressões diferentes, no campo de
amostragem que se segue, amplo aliás; a ambigüidade ou con-
fusão decresce, chegando a desaparecer completamente, na medida
em que, em cada obra que faz uso de determinadas abreviaturas,
seu uso necessàriamenie se confina a um daqueles grupos ou se
reduz a um número limitado. Ademais, para obviar às possíveis
confusões, o texto e o contexto em que se inserem as abreviaturas
são elementos de elucidação ou clarificação (foram fontes FREI,
KAGN, ACAD, ACAL, AULE, ECBR, FERR, LARO, CASX, ENBR, ECTA, EESP,
LEMA, HILL, MILM, OXFO, WEBS, WEBT, WEBU).

2 .9 .4 .1 Abreviatu-ras axiol6gicas
A.B. Artium Baeealaureu~ bacharel de artes, bacha-
charel em artes; expressão criada em latim me-
dieval, universitário, segundo molde geral fre~
qüente para indicação de graus de formatura de
cursos superiores; hoje em dia viva sobretudo
entre povos de lingua inglêsa
Adv", Adv.• advogado
A.M. Artium Magister, mestre de arte, mestre em
artes; ver BUprG A.B.
A.M. Ave Maria; expressão e abreviatura ligadas l
igreja católica
154 ANTÔNIO HOUAI S S

A.M.D.G. Ad maiorem Dei gloriam, para a maior glória•.


de Deus; lema da Sociedade de Jesus
B.A. Baccalaureus Artium; o mesmo que A.B., q. v. .
Brllo, Bar. barão
Bel bacharel
B. Lit. Baccalaureus Literarum (Litterarum), bacharel
de letras, bacharel em letras; ver supra A.B
B.M.V. Beata Maria Virgem, Beata Maria Virgo; ver ·
supra A.M.2
Brig•, Brig.• brigadeiro
B.V.M. o mesmo que B.M.V, q.v.
Cap.••. Cap. capitão
Cap. CGrv. capitão de corveta
Cap. Fr.· capitão de fragata
Cap. M. G. capitão de mar e guerra
Cav•, Cav.• cavaleiro
C.B. Chirurgiae Baccalaureus, bacharel em cirurgia;:
ver supra A.B.
Cde, C.de conde
Cdes~, C,dessa condessa
Cel coronel
Ch.B. o mesmo que C. B., q.v.
Ch.M. Chirurgiae Magister, mestre de cirurgia, mestre·
em cirurgia, também C.M.; ver supra A.B.
Cem••, Com.••• comendador
Côn•., Côn• cônego
Cont.. , Cont!•• contador
D. dom, às vêzes também dona; digno
D.•, D•, Da, Da. dona
DD. dignissimo
Des .., Des!•• desembargador
D.G. Dei cratia, pela graça de Deus, graças a Deus;·
ver supra A.M.2
D.G. Deus guarde; ver supra A.M.2
D. Lit. Doctor Litterarum, doutor de literaturas, doutor·
em literaturas; ver supra A.B.
D.•, D•, Dr, Dr. doutor
D.• M. doutor em medicina
D.N.S. Deus Nosso Senhor; ver supra A.M.2
D.••, D.. , Dra, Dra. doutôra
D.• Deus, como latinismo, e assim Deus
D.V. Deo uolente, em querendo Deus, se Deus quiser;·
ver supra A~M.2
E.E.M.P. enviado extraordinirio e ministro plenipotenciário..
(na atual carreira de diplomata do serviço p11- .
blico brasileiro U dois gêneros de funções, a di-
plomitica e a consular, para as quais, em prin-
cipio, os seus ocupantes podem ·s er designados~ .
quando em função no exterior; a hierarquia é .
a seguinte: terceiro secretário [função diplomá-
tica] ou cônsul de terceira classe, vice-cônsul;
segundo secretário [função diplomática] ou·
cônsul de segunda classe, cônsul adjunto ou,
eventualmente, cônsul; primeiro secretário [fun-.
ção diplomltica] ou cônsul de primeira classe,.
ELEMENTOS DE BIBLIOLOGIA 155

cônsul ou, eventualmente, cônsul adjunto; mi-


nistro de segunda classe [função diplomática]
ou cônsul-geral, e; por fim, ministro de pri-
meira classe, dentre os quais são comissionados
embaixadores. Os ministros são ditos "minis-
tros plenipotenciários", distintivamente, mas
quando no exercício de chefia de missão diplo-
mática, "enviados extraordinários e ministros
plenipote-nciários").
:-E.E.P. ·embaixador extraordinário e plenipotenciário, de-
signação usada em chefia de missão diplomática
Emb., Emb•• Embaixador
Em.•, Em• Eminência
Em."'•, Em•• Eminentíssimo
Eng.•, Eng• engenheiro
Ex.•, Ex•, Ex c.• excelência
Ex.••, Ex•• .excelentíssimo
F.D. fidei defensor, defensor da fé; diversos reis e
imperadores assi~ se disseram; hoje ainda o da
Grã-Bretanha
G.••, G•', Gen. general
G.de Of., Gele Of. grande oficial
G.M., g .m., g.-m. guarda-marinha
G.P. Gloria Patri, glória ao pai, isto é, Deus; ver
supra A.)l.2
h.c. honoris causa, por motivo de honra, por causa
honorífica; abreviatura que pode acompanhar
títulos como A.B., M.A. e outros, quando con-
feridos por motivos politicos ou reconhecimento
de saber alto ou específico por universidades a
quem não freqüentou os seus cursos regu-
larmente
:H.J.S., H.I.S. hic jacet sepultus (sepulta), hic iacet sepultus
(sepulta), aqui jaz sepulto(a), sepultado(a);
abreviatura corrente, em certo período, em início
de epígrafes f!lDerárias, sobretudo cristãs
I.H.S., J.H.S. Jesus hominum saluator, Jeaas hominam aalva-
tor, Jesus, salvador dos homens; ver supre~ A.M.2
II."··, n·· ilustríssimo
I ma c.•, Imac• imaculada, em relação à mãe de Jesus; nr .supre~
A.M.2 .
I.N.R.I., J.N.R.J. lesua Nazarenus Rex ladaeorum, Jesus Nazare-
nas Rex JudEOrum, Jesus Nazareno rei dos ju-
deus; inscrição que teria sido superposta à cruz
em que foi crucificado Jesus
J.C. Jesus Cristo: ver suprCI A.M.
..J.D., I.D. Juris Doc:tor, luria Doctor, Jurum Doctor, lurum
Doctor, doutor de direito, em direito, doutor de
direitos, em direitos; ver supra A.B .
.-.J.M.J. Jesus, Maria, José; ver supra A.M.2
Jf!, J•, Jr, Jr. junior, iunior, júnior, o mais jovem
.J.•, J• jub ·
L.••, L••, Lic.•• licenciado
Litt. D., D. Litt. Litterarura Doc:tor, Doctor Litterarum, doutor
de, em letras; ver supra A.B.
156 ANTÔNIO BOUAISS

LL.B. Legum Baeealaureus, bacharel de, em leis; ver


.upra A.B.
LL.D. Legum Doctor, doutor de, em leis; ver aupra A.B.
M.; MM. francês monsieur, senhor; messieurs, senhores
M.•t, Mat marechal
M.B. Medieinae Baeealaureus, bacharel de, em medi-
cina, ver supra A.B.
M.D. Medieinae Doctor, doutor de, em medicina; ver
aupra A.B.
M•, M• mestre, mestra
Ml!•, M.l!•; M.eea marquês, marquesa
Mil•, Mlle francês mademoiselle, senhorita
MM. meritissimo
Mme, Mme francês madame, senhora
Mona. monsenhor
Mr., Mr; Messers inglês mister, senhor; é o plural
Mrs., Mra inglês mistress, senhora
M.R.P.M. muito reverendo padre mestre; ver supra A.M.Z
Mus. B. Musieae Baeealaureus, bacharel de, em música;
ver supra A.B.
Mus. D. Musieae Doctor, doutor em, de música; ver au-
pra, A.B.
N.P. nosso padre; ver aupra' A.M.2
N.R.P. nosso reverendo padre; ver supra A.M.Z
N.S. Nosso Senhor, em relação a Jesus; ver aupre~
A.M.2
N.S.• Nossa Senhora, em relação à mie de J esús; ver
supra A.M.2
N.S.P. nosso santo padre; ver aupra A.M.Z
N.SS.P. nosso santissimo padre; ver aupra A.M.Z
P.•, pe padre
Ph.B. PhiJosophiae Baeealaureua, bacharel de, em fi-
losofia; ver aupra A.B.
Ph.D. Philosophiae Doctor, doutor de, em filosofia; ver
supra A.B.
P.M. padre mestre; ver aupra A.M.2
Rev.••, Rev•• reverendissimo
Rev.•, Rev• reverendo
R.I.P. requieseat in pac:e, repous., (descanse) em P'-Z;
geralmente em fim de epigrafes funerárias
cristãs
R.P. reverendo padre
S.; SS. são; santos
S.A.; SS.AA. sua alteza; suas altezas
S.A.C.; SS.AA.CC. sua alteza eristianissima; suas altezas eristianfs-
simas
Sae.•• C. J. Sacratíssimo Coração de Jesus; ver aupra A.M.2
S.A.F.; SS.AA.FF. sua alteza fidelissima; suas altezas fidelissimas
S.A.I.; SS.AA.II. sua alteza imperial; suas altezas imperiais
S.A.S.; SS.AA.SS. sua alteza sertmíssima; suas altezas serenissimas
S.A.R.; SS.AA.RR. sua alteza real; suas altezas reais
S.B.; Se. B. Sc:ientiae Bac:c:alaureua, bacharel de, em ciência;
ver supra A.B.
S.D.; Se.D. Sc:ientiae Doctor, doutor de, em ciência; ver au-
pra A.B.
ELEMENTOS DE BIBLIOLOOIA 157

S. Ex.•; SS. Ex ... sua excelência; suas excelências


S. Ex.• Rev.m•; SS. sua excelência reverendíssima; suas exce1ências
Ex... Rev.mao reverendíssimas
S.G.; SS.GG. sua graça, sua grandeza; suas graças, suas
grandezas
S.H.; SS.HH. sua honra; suas honras
S.ll. ma; SS.Il. ma sua ilustríssima; suas ilustríssimas
S.J.D.; S.I.D.; Se. Sc:ientiae Juridicae (laridicae) Doctor, doutor
J.D.; Se. I.D. em, de ciência jurídica; ver supra. A.B.
S:M.; Se. M. Scientiae Magister, mestre de, em ciência; ver
supra A.B.
S.M.; SS.MM. sua majestade; suas majestades
S.M.I.; SS.MM.II. sua majestade imperial; suas majestades impe-
riais
S.M.F.; SS.MM.FF. sua majestade fidelfssima; suas majestades fi-
delfssimas
Sór., s.·· sóror
S.P.; SS. PP. sua paternidade; suas paternidades
S.•, S•, Sr, Sr.; S...., senior, o mais velho, quando posposto ao nome
Sree, Sres, Sres. do indivíduo; senhor, quando anteposto; res-
pectivos plurais para a segunda significação
S. Rev.•; SS. Rev.•• sua reverência; suas reverências
S. Rev.••; SS. Rev.••• sua reverendíssima; suas reverendíssimas
S .. •, Sr••, s.•• senhorita
ss. santíssimo
S. S.; ss.ss. sua santidade; suas santidades
s.s., s.s.•; ss.ss., sua senhoria; suas senhorias
ss.s ...
SS.C.M. Santíssimo Coração de Maria; ver eupra, A.M.2
S.T.D.; Sc.T.D. Sacrae Theologiae Doctor; Scientiae Theologicae
Doctor; doutor de, em teologia sacra; doutor de,
em ciência teológica; ver supra A.B.
S.T.L.; Sc.T.L. Sacrae Theologiae Licentiatus; Scientiae Theo-
logicae Licentiatus; licenciado de, em teologia
sacra; licenciado de, em ciência teológica, ver
supra A.B.
s•·, s.••, sta., sta santa
s••, s.••, Sto., sto santo
T.te, Tte, Ten. tenente
Tte. Cel, T.te C.el tenente-coronel
v. Virgem, ver suprCII A.M.2; e também você
v.•, v· viúva
V.A.; VV.AA. vossa alteza; vossas altezas
V. Caride; VV. Caricift vossa caridade; vossas car~dades
Vde, V.de visconde
Vdeoaa, V.d- viscondessa
V. Ex.m•; VV.Ex.••• vossa excelentíssima; vossas excelentíssimas
V. Ex.•; VV. Ex... vossa excelência; vossas excelências
V.G.; VV.GG. vossa graça; vossas graças
V.H.; VV.HH. vossa honra; vossas honras
Vig•, Vig.•, Vig. vigário
v.n.m•; vv.n.mu vossa ilustríssima; vossas ilustríssimas
V.M. Virgem Maria, Virgo Maria; ver supra A.M.2
V.M.; VV.MM. vossa majestade; vossas majestades
V.Mag.•; VV.Mag.•• vossa magnificência; vossas magnificências
158 A N T ÔN I O H O U A I S· S

vmcê, vmcês Tosmecê(s); vossemecê(s)


V.M.ci!; VV.Mcês Tossa ' mercê; vossas mercês
V.P.; VV.PP. vossa paternidade; Tossas paternidades
V.Rev.•; VV.ReT.. vossa reverência; vossas reverências
V.Rev.••; VV.Rev.•u vossa reverendíssima; vossa reverendissimas
v.s. vossa santidade
v.s., v.s.•: vv.ss., vossa senhoria; vossas senhorias
vv.s...
v.S.II"'", v.s.· li."'"; vossa senhoria ilustríssima; vossas senhorias
VV.SS.II"' .., ilustríssimas
vv.s.·· li .....
2.9.4 .2 Abre11iaturas autorais
aet., aetat. aetate, na idade de; inscrição com que os pin.
tores, de preferência, indicavam em que idade
se achava o retratado; às vêzes aet. s11a, seguida
de um numeral, vale dizer "na sua idade de
x anos"
comp.' composuit, compôs, em algumas partituras mu·
sicais antigas ·
dei.', dei. delineauit, delineaTit, "desenhou", seguido do
nome do autor
• t
pmx. , px. t , pmx.

pinxit, "pintou"
se.', scul., sei. • sculpsit, "esculpiu"
scrps.', scp.' scripsit, "escreveu"

2.9.4.3 Abreviaturas bibliológica,s ·


a, a., (a), (a.) assinado(a)
aa, aa., (aa), (aa.) assinados(as)
A.; AA. autor; autores
ab init. ab initio, a partír do inicio, desde o infçio (apa·
rece, verifica·se, ocorre determinado fato refe·
rido com a abreviatura)
ad. fin. ad finem, até o fim
ad inf., ad infin. ad infinitum, até o infinito, inumeràvelmente
ad init. ad initium, no infcio, logo no inicio
ad loc. ad locum, ao lugar, para o lugar
ai. alias, aliter, por outras (palavras, maneiras, mo·
dos), de outro modo (maneira)
ap. apud, em, de entre; emprega-se fundamental·
mente quando se dão as referências de um con·
ceito, noção, citação, hauridos não diretamente
na fonte, mas em autor ou fonte intermediária,
com dupla finalidade, a) de honestidade, es·
crú pulo científico, ~) de ressalva por eventual
malversação do conceito, noção, citação, malver·
sação que correrá à conta da fonte intermediária; .
é óbvio que o recurso se torna legítimo .somente
quando a fonte primeira é de certo modo inacces.
sível
br. brochura
cet. par. ceteris paribus, sendo iguais (semelhantes, equi·
valentes) as outras coisas
ELEMENTOS DE BIBLIOLOGIA 159

cf. confer, confere, confira, verifique; o uso biblio-


lógico mais correto é o de empregar essa
abreviatura antes de referências bibliográficas
quando não são feitas em função de citação, mas
do livre aproveitamento das idéias ou palavras
indicadas no lugar da fonte; se, ao revés, se
trata de citação, nesse caso as referências biblio-
gráficas devem vir, geralmente entre parênteses
ou em rodapé, sem serem antecedidas de ne-
nhuma abreviatura remiflsiva
cit. citação
eit.; eitt. citatus, citata, citatum, citado, citada, citado
(neutro); citati, citatae, citata, citados, citadas,
citados (neutro)
cód. ·códice
-eon., cont., contr. contra, contra, em oposição (para estabelecer
cotejo ou confronto· opositivo, oponencial, não
correia ti v o ou associa ti vo)
ep. compara, compare, coteje, confronte; é abrevia-
tura de palavra portuguêsa sucedânea de cf., q.v.,
com a mesma função
dele. deleatur, apague-se, destrua-se, elimine-se; indi-
cação hoje rara, supérstite em revisão num sím-
:Qolo - a, q, ou lj - para. indicar que determi-
nado tipo composto deve ser elimi.nado na cor-
reção tipográfica
ed., edd. edidit, ediderunt, editou, editaram, em sentido
não editorial, mas ecdótico, isto é, daquele que
se encarregou de preparar e presidir ao cuidado
científico de fixar o texto ou coordenou a fixação
de um texto coletivo; quando o responsável é
um só, emprega-se ed.; quando dois ou mais,
seria de esperar edd., cujo emprêgo é cada vez
mais raro.
-ed. edição
E., EE. editor, editôres, como equivalente de editorador,
editoradores
-e.g. exempli gratia, por exemplo, por amor do exem-
plo (isto é, da clareza, da concretizàção do que
se vinha expondo teoreticamente; em português
via de regra vem entre duas vírgulas)
et al et alii, et aliae, et alia, e outros, e outras, e
outros (neutro); associa-se a "etc." e "et cat.";
mas et al. indica que se suspende a enunciação de
uma série de elementos que se presumem des-
conhecidos do leitor, mas cujo conhecimento não
parece ao autor lhe seja necessário; "etc." indica
que se suspende a enunciação de uma série !fe
elementos presumivelmente do conhecimento do
leitor; e et cat. indica suspensão de uma "mul-
tidão", de um "bando" de elementos secundários,
dai, desprezíveis, noção consentânea com o .ma-
tiz que "caterva" já possuía em latim
d al et alibi, e em outro lugar (que o autor desconheça
ou queira silenciar)
160 ANTÔNIO HOUA.ISS

etc. etcetra, etcétera, forma por assim dizer aportu-


guesada (e .por isso sem grifo) do latim et
coeteri, et coeterae, et coetera, e os outros, e as
outras, e os outros (neutro); ver supra et al.l
et eat. et caterua, et caterva; ver supra et ai. 1
et seq.; et seqq. et sequens; et sequentes, et sequentia; e o se-
gttinte; e os seguintes {masculino ou feminino)
e os seguintes (neutro); às vêzes se usa de et
seq. também como et seqq.
ex. exemplo
ex. exemplo, em exemplo, por exemplo
f., fo., f.•, f•; ff. fos., f6lio; f6lios
f.••, f••
f., fl.; ff., fs., fls. fôlha; fôlhas
fase.; fascc., fases. fascículo; fascículos
f.r., f•r• fólio recto, fólio reto, isto é, a face ou pagoma
impar · atual de uma fôlha, quando estas eram
numeradas por fólio, só na primeira face, a
impar, quando então a remissão a essa face tinha
de ser da maneira em causa ·
fs. fac-sfmile
f.v., f-v• f6lio verso, a face par do f6lio; ver supra f.r.
ib., ibid. ibidem, isto é, no mesmo lugar, lugar como indi-
cativo apenas da obra, quando seguido de nú-
mero outro que o anteriormente referido após a
citação anterior da obrs, lugar como indicativo
da obra e da página, quando não se segue nôvo
número
id. idem, o mesmo, isto é, autor antes referido; se
a indicação fôr id. ib. ou id., ib. é porque se
trata do mesmo autor e de sua mesma obra
antes referidos; id. usa-se também, sobretudo
cometeialmente, como equi\ralente de "d0 ", q.v.
id. q. idem quod, isto é, "o mesmo que" referido a
coisa no singular (trata-se de gênero neutro e
segundo a tradição não se emprega para auto-
res); cf. id.
i.e. id est, isto é (emprega-se entre virgulas)
i.é. isto é (emprega-se entre vírgulas)
imp. imprimatur, imprima-se; despacho ou sanção de
autoridade censora competente para permitir a
impressão de obra; hoje ainda vigente em certas
situações eclesiásticas
incog. incognJto, de forma não conhecida, como des-
conhecido
inf. infra, abaixo, quer dizer, em local da obra que
ainda está por ser lido
in loe. in loeo, no lugar, nesse mesmo lugar
L; IL linea; lineae; linha, linhas; tanto para as
impressas em prosa, quanto para as em verso, e
também em manuscritos
1., 1•, J.•, liv. livro
L., lib. liber, livro
ELE M E N TOS DE -~ I B L I O L.O G I A 161

l.e., loe. eit. loco eitato, em ablativo, no lugar citado, loeus


citatus, em nominativo, lugar citado; emprega-se
quando, citando-se passagens sucessivas de um
mesmo autor (id.) numa mesma obra (ib.), já
não se faz mister isso, mas tão-somente a indi-
cação da página; em ocorrendo, a seguir, a
mesma página, cabe o emprêgo da abreviatura
em causa
lit. litteraliter, literalmente, o mesmo que ipsis lit-
teris
loq. loquitur, disse, vale dizer, o personagem de que
antes se vinha tratando; abreviação ocasional em
obras teatrais impressas, ocorrente nos códices
L.Q. lege, quaeso, "lê, peço-te (ó leitor)"; marcação
de interêsse em códices; usada em epistologra-
fia, no passado
mem. memento, memento, lembrete
ms, ms., Ms, Ms., MS manuseriptus, manuscrito, códice, autógrafo,
apógrafo
mBB, m88., Mss, Mss., manuscripti, manuscritos, códices, autógrafos,
MSS apógrafos (a forma do singular também é usada
pelo plural, quando não é imperativa a dis-
tinção)
rns, Ms, ms., MS. manuscrito
rnss, Mss, rns11., MSS. manuscritos (a forma do singular também é
usada pelo plural, quando não é imperativa a
distinção)
N. do A. nota do autor
n.b., N.B. nota bene, o mesmo que
n.b., N.B. note bem
N. do E. nota do editor (tanto como ed. como editorador)
n., n°, n. 0 , n!1, N° número ou numero, numerus (só empregado
quando antecedendo algarismo); corno flexão
gramatical, a abreviação corrente é "núm."
N. Obs. nihil obstat, "nada obsta (do ponto de vista
doutrinai ou censório), a que se imprima ou
circule a obra''; antecedia, e às vêzes antecede,
o processo implícito na abreviatura imp., q.v.
N. da R. nota da redação
non seq. non sequitur, não segue, obra em publicação fas-
cicular, parcelada, ou então periódico que deixa
de circular em meio; pode-se usar também, para
fim equivalente, quando, de um periódico, se sabe.
a data de início de circulação, mas ignora-se a
data de cessação: "non seq. c. 1932", "não pros-
segue cêrca de 1932"
N. do T. nota do tradutor
ob. obiit, morreu; em verbêtes biográficos sintéticos,
quando não se trata de cristãos (para os quais
é tradição antepor na data de morte uma t),
pode-se usar de outra convenção ou da abrevia-
tura em causa
ob. cit. o mesmo que op. cit., "obra citada"
Obs.; obss. observação; observações
162 ANTÔNIO HOUAISS

o.d.e., O.D.C., ou offert, dicat, conse(a)crat; oferece, dedica, con-


o.d.c., O.D.C. sagra; em geral, em dedicatória impressa de um
livro
op. cit.; opp. eitt. opus citatum; opera citata; obra citada; obras
citadas; recapitulemos: 1) referência a autor
imediatamente antes citado, id.; 2) e com a
mesma obra, id. ib.; 3) mas na mesma página
citada, apenas loc. cit.; 4) já no caso vertente,
o autor é referido no texto, de modo que a
remissiva, em lu6rar de reportar-se a ib., se se
tratar da mesma obra antes citada, reporta-se
a op. cit., que, se fôr no mesmo local (página),
poderá ser op. cit. loc. cit. ou op. loc. cit.; as
abreviaturas em causa foram referidas, no inicio,
em nominativo, mas podem ser interpretadas em
ablativo, respectivamente opere citato, na obra
citada, e operibus citatis, nas obras citadas
o m. q o mesmo que; ver supra id. q.
p., pag.; pp., pagg., pagina; paginae, ou págin11, páginas
ow p., pág; pp., ps.,
págg., pags.
p. ex. por exemplo
P.P.S. post post scriptum, depois do que foi escrito
depois ; é a segunda anotação a seguir a
P.S. post scriptum, escrito depois de terminado um
escrito (carta, a1·tigo, livro)
·q.e.d.; Q.E.D. quod erat demonstrandum, o que se queria de-
monstrar, vale dizer, fecho de. coroamento de
uma demonstração, arrazoado,· tese, resolução
cujo desenlace se antecipara
q.v.; qq.v. quod uide (quod vide); quae uide (quae vide),
o qual se veja; os quais se vejam (no lugar
competente) o pronome relativo fica no sin-
gular, isto é, q., quando a remissiva se refere
a um vocábulo único ou expressão única; se se
trata de duas unidades, o pronome relativo, no
plural, é indicado por qq.
rad. radix·, raiz
se. scilicet, a saber, saiba-se, é lícito saber, convém
saber, abreviatura explicativa que via .de regra
vem entre vírgulas
.s.d., s/d sem data
w.d. sine die, sem dia, isto é, sem fixação de data
para nova convocação, nova reunião e afins
seg.; segs., segg. seguinte; seguintes
aeq.; seqq. sequells (masculino, feminino ou neutrQ), se-
guinte; sequentes (masculino ou feminino), se-
quentia (neutro), seguintes
11n. n/d sem lugar nem data
s.p. sine .p role, sem filhos, sem àescendentes diretos
consangüíneos de primeiro grau; em verbêtea
biográficos sintéticos
BUP. supra, acima; emprega-se oponencialmente a
inf., q. v.
E L E H . E N TOS DE B I 13 L I O L O G I A 163

•.v.; s. vv. sub uoce (sub voce); sub uocibus (sub Yocibus):
sob o verbête (que é em seguida à abreviatura
indicado), sob os verbêtes (que são em seguida
à abreviatura indicados), isto é, "para compreen-
são, maiores esclarecimentos, complementação
de conceitos, verificação, veja-se o que se di:ll
sob o verbête x, sob os verbêtes x, y, z"
t.; tt., ts. tomo; tomos
a.s., u.sup. ubi supra, lugar acima mencionado, no lugar
acima indicado; oponencialmente, mais raro, u.i.,
u.inf., ubi infra, lugar abai.'Co indicado
V., v., vid. uide (vide), uidete (videte), vê, vêde; daí, veja
veja-se, vejam
T., Til. uersus (versus), contra, para estabelecer cotejo
contrastante; · ver .upra· con.
...... vv. uersus (versus), uersi (versi); verso, versos
(de poemas), abreviatura seguida do número do
verso
v., vv. verso, versos, como acima
T.g. uerbi (verbi) gratia, por amor da palavra, por
exemplo; equivale a e;g. hoje em dia, embora
rigorosa distinção· queira que em v.g. os exem-
plos sejam palavras isoladas, em e.g., expres-
sões, casos e equivalentes
viz. uidelicet (videlicet), convém ver, vale conhecer,
a saber, saiba-se; emprega-se como se., q.v., mas
é, hoje em dia, sobrewdo freqüente entre os de
língua inglêsa; a forma decorre de abreviatura
paleográfica com ligatura
v.l., vv.ll. nria (uaria) lectio, uariae (variae) lectiones,
lição vária, lições várias; "lição" em sentido
ecd6tico, ·como variante textual
v<', vo., v.• verso, isto é, face (atualmente) par de um fólio,
de uma fôlh~ apenas numerada no recto; ver
supra f.r.
voL, voll. uolumen (Yolumen), uolumina (volumina), vo-
lume, volumes
vol.; vols., v oli. volume; volumes
vos: pop.; voe. pop. uox (vox) populi; uoce (voce) populi; a voz do
povo, na voz do povo, isto é, segundo a tra-
dição oral, consuetudinàriamente, em opinião ge-
ral, segundo fama, conforme clamor
v. s., v. sup. uide (vide) supra, vê, veja acima
X., x. indicação de autor anônimo; usa-se, também,
quando há mais de um, Y. ou y., Z. ou z. e
combinatórios, X.Y., X.Z., X.X., Y.Z., Y.X.,
Y.Y., etc.
2.i.4.4 AbreviaturAs comerciais, industria,is e a;fins
ad vai. acl aalorem (valorem), pelo valor, segundo o
valor, isto é, estimação, ponderação, tributação,
taxação percentual que se faz na base do valor
venal
B/L bill of lading, nota de embarque
164 ANTÔNIO BOUAISS

c/ com, conta
c/c conta corrente
C.G.S. centímetro-grama-segundo, abreviatura indicati-
va de pesos e medidas segundo as unidades re-
feridas
c••, C... , Cia., Cia companhia, na indicação de firmas comerciais,
industriais e afins
C.I.F. inglês cost, insurance and freight, custo, seguro
e frete, compreendidos nos preços por que sio
vendidas as mercadorias
Col.o, Col• colégio
Cx., Cx, ex., ex caixa
D., D dever, deve, como abreviatura contábil
d/ dias
d., d denarius, dinheiro, isto, penny, pence
d/d dias de data
dz. dúzias(s)
d/v dias de vista
F.O.B. inglês free on board, livre a bordo, isto é, as mer-
cadorias ficam fora da responsabilidade do ven-
dedor a partir do momento que êste as faz co-
locar a bordo d<> navio em que deverão ser
transportadas .
G/P ganhos e perdas, como abreviatura contábil
H., H, Her haver, como abreviatura contábil
H.P. inglês horse-power, fôrça de . cavalo, vale dizer,
cavalo vapor, c.v.
K.O. inglês knock out, na linguagem do esporte
(box), pôsto fora de combate
lb. latim libra, abreviatura inglêsa para a libra-
pêso; plural lbs.
Ltd.~ L.. , L ... , Ltda limitada, na razão social de organizações co-
merciais, industriais e afins
m/a meu aceite
m/c minha conta
m/d meses de data
m/o minha ordem ·
m/p meses de prazo
n/c nossa conta
n/o nossa ordem
n/s nosso saque
o/ ordem
p/ por
p/, p" para
P.B. pêso bruto
pg. pago, pagou
P.L. pêso líquido
rs. réis
s/ seu, sua, seus, suas
S.A. sociedade anônima, na razão social de organi-
zações comerciais, industriais e afins
s/f seu favor
s/o sua ordem
T.S.F. telefonia 11em fio; telegrafia sem fio
V/ vosso, vossa, vossos, vossas
ELEMENTOS DE BIBLIOLOGIA 165
2 . 9.4 . 5. A.breviatunu crononímicas
a.C., A.C. antes de Cristo (evite-se a segunda forma da
abreviação, A.C., q.v.)
.A.C. 8/llno Ohristi, no ano de Cristo, isto é, na era
cristã
A.D. anno Domini, no ano do Senhor, isto é, na era
cristã
a. H. antes da Hégira, na cronologia muçulmana
A.H. anno Hegirae, no ano da Hégira, isto é, na era
islâmica
ad int. ad interim, interinamente, no ínterim
A.M. anno mundi, no ano do mundo, isto é, na cro-
nologia que conta os anos a partir do dia da
criação do mundo, segundo exegese biblica
a.m. ante meridiem, antes do meio-dia, na indicação
de horas da manhã
A.U.C, A.V.C. anno urbe condita ou ab urbe condita, 'no ano
da fundação da cidade' ()U 'da fundação da ci-
dáde'; subentenda-se sempre a indicação, antes,
de um número, na cronologia romana, sendo a
urbs a cidade de Roma
b.i..d. bis in di e, duas vêzes ao dia; geralmente empre-
gado em receitas médicas no passado ainda rela-
tivamente recente
cirea, cêrca, em tôrno de, por volta de (e se-
gue-se determinado ano)
d.C. depois de Cristo, isto é, o mesmo que A.C. ou
A.D.
E.C. era cristã
fi. floruit, floresceu; nos relatos biográficos sin-
téticos e ,em situações afins, emprega-se a abre-
viação seguida de indicação de determinado ano
para localizar no tempo o período em que o
biografado atinge o auge de sua atividade ou
em que está em atividade madura
G.M.T. Greenwich nieridian time, tempo (hora) do me-
ridiano de Greenwich
jan. janeiro - nas reduções dos nomes dos meses, há
que distinguir algumas tendências, ao longo da
história, em português; quando se trata de da-
tação: 1.0 ) no período arcaico, o uso de abre-
viações dos nomes latino!! dos meses, de início,
depois dos nomes portuguêses dos meses; 2. 0 )
no período moderno da língua, o uso de abre-
viaturas como '7••••, •g•ro•, •9•ro•, •x•ro•, uso que
cedo se revelará contraditório, quando se passa
a empregar algarismos romanos, em que X será
'outubro' enquanto •x•ro• era dezembro; 3.0 )
contemporâneamente, o uso, já de algarismos ro-
manos, já de algarismos arábicos; de início,
entre duas barras oblíquas, a primeira, ante-
cedida de número indicativo do dia, a segun-
da, seguida de número indicativo do ano; mais
tarde, sem proscrição das barras oblíquas, mas
166 ANTÔNIO HOUAISS

alternando como essa prática, uso do núme-


ro indicativo do mês entre dois travessões ou
dois traços de união. Acrescentemos que, hoje ·
em dia, sobretudo para fins bibliográficos se
cogita de normalizar abreviaturas dos no~es
dos meses numa base triliteral, a) já seguida
de ponto - jan., fev., mar., abr., mai., jun., jul.,
agô., set., out., nov., dez., b) já sem ponto -
jan, fev, mar, abr, mai, jun, jul, agô, set, out,
nov, dez, e) já com os radicais latinos, para
alcance generalizado além dos vernáculos - Ian
(Jan) (de Ianuarius), Feb (de Februarius), Mar
(de Martins), Apr (de Aprilis), Mai (de Maius),
Iun (Jun) (de lunius), Iul (Jul) (de lulius),
Aug (de Augustas), Sep (de September), Oct
(de Oetober), Nou (Nov) (de Nouember), Dec
(de Deeember)
p.f. próximo futuro (referido a mês)
p.m. post meridiem, depois do meio-dia, para a indi-
cação das horas do dia, as ·da · tarde, por opo-
sição a a.m., q.v.
p.p. próximo passado (referido a mês)
pro temp. pro tempore.. para o tempo em que fôr opor-
tuno, para o tempo que convier
prox. proximo [mense], no próximo mês
q.i.d. quater in die, quatro vêzes ao dia; ver BUpra
b.i.d.
qs.i.d. quinquies in di e, cinco vêzes ao dia; ver supra
b.i.d.
séc. • século
s.i.d. sexties in di e, seis vêzes ao dia; ver BUpra. b.i.d.
s.n. sine die, sem dia, na indicação de nova reunião,
convocação, de adiamento, transferência, sem
dia prefixado ainda
temp. tempore, no tempo, ao tempo de, q•~ando de
t.i.d. ter in di e, três vêzes ao dia; ver supra b.i.d.
•lt. ultimo [mense], no mês passado

2.9.4.6 Abreviaturas forenses, ;udiciá.ria.s etc.

.......
a/c, A/C aos cuidados
ad . muitos annos, por muitos anos, em felicita-
ções votivas
B.F. boas festas
c.c. confere, conforme
doc., does. documento, documentos
e.c.f. é cópia fiel
E.D. espera deferimento
E.H. em mão, em mãos
E.M.P. em mão própria, em mãos próprias
E.R. espera resposta
E.R.M. espera receber mercê
O.K. norte-americanismo, inglês presumlvelmente ali
correet, tudo correto, tudo bem
P .E.F. por especial favor
ELEMENTOS DE BIBLIOLOGIA. 167

P.E.O. por especial obséquio


P.F. por favor
p.f.v. por favor, volte ·
P.J. pede justiça
P.M. prefeitura municipal
P.R. popalas romanas, povo romano
Q.G. quartel-general
R. rex, regina, rei, rainha
R & I; R. & I. rex et imperator, regina et imperatrix, rei e-
imperador, rainha e imperatriz
R.S.V.P. répondez, s'il vous plait, respondei, por favor
s.e.o., S.E.O. salvo êrro ou omissão
s.f.f. se faz favor
s.m.j., S.M.J. salvo melhor juizo
S.P. serviço público
S.P.Q.R. senatua popalasqae romanas, o senado e o· povo-
romano
s.r., s/r, S.R., S/R sem residência
S.V.P. s'il vous plait, por favor
v. visto, vista, vistos, vistas
v.s.f.f. volte, se faz favor ·
X.P.T.O. excelente, magnifico, sem par (presumivelmente,.
'Cristo', parcialmente, em caracteres latinos
transliterados do grego)
W.C. inglês water closet, para latrina

2.9.4.7 Abreviaturas médica.s, farmacológicas, posológica•


ãã aná, em partes iguais
ad lib. ad libitum, à vontade, a gôsto
q.l. quantum libet, quanto queira, quanto se queirlt
q.s. quantam satis, quanto satisfaça, baste
quant. suff. quantum sufficit, quanto baste, quanto sejlt
suficienw
q.v. quantum uis (vis), quanto queira
R. recipe, recebe, toma
u.e. uso externo
"ll.i. uso interno
2.9.4.8. Abreviatura• musica.ú
accel. accelerando, acelerando
adag. adario, lenta, docemente
and. andante, andante,
crese. crescendo, crescendo, em crescendo
D.C. da eapo, do inicio, repita-se a partir do iniciO>
decrese. decreacendo, decrescendo, em decrescendo
di•. diminaendo, diminuindo
f. forte; forte
f f. fortiuimo, fortissimo
m.f.
mod.
••zo forte, meio forte
•ederato, moderado, moderadamente
p. piano, docemente
p.f. piu forte, mais forte
168 ANTÔNIO HOUAISS

pizz. 'J)izzicato, mordiscado


pp. pianissimo, dulclssimamente
rall rallentando, ficando progressivamente mais va-
garoso
rit. ritardando, ficando progressivamente mais lento
em relação a
sf. sforzando, imprimindo progressivamente mais
fôrça
sost. sostenuto, sustido, mantido
stac. staccato, estacado, com parada súbida
trem. tremolo, com tremor, trêmulo
2.9.4.9 Abreviatura.. náutica.s
BB,B.B. bombordo
bm. baixamar
BV, B.V. . barlavento
s.o.s., s.o.s. inglês save our soul, quiçá também save our ship,
salve nossa alma, -salve nosso navio, em apêlo
de socorro
pm. preamar
sv, s.v. sotavento
2.9.4.10 .4.breviatunu teatraiB
D. direita
lD.A. direita alta
D.B. direita baixa
E. esquerda
E.A. esquerda alta
E.B. esquerda baixa
F. fundo
N.N. nemo, ninguém, vale dizer, figurante geralmente
mudo, sem valor de fala ou de marcação

2 .9 .5 Siglas e abreviaturas - As siglas, no sentido restrito


em que se emprega aqui êsse vocábulo, são reduções braquigráficas
literais, braquigramas consistentes das letras iniciais do abrevi-
ando, locucional ou circunloquial. O abreviando, em geral, são
intitulativos, oficiais ou oficiosos, nacionais ou internacionais, de
emprêgo freqüente ou prestigioso, que, ademais, se caracterizam
por serem, quase sempre, materialmente longos, extensos, com o
que sua repetição tanto nos textos quanto na elocução se faz
enfadonha, cansativa, antieconômica e até fonte de confusão.
Estão entre os intitulativos também os bibliônimos, títulos de
livros ou de p eriódicos de consulta e referência freqÜ!lnte, de
emprêgo presumível em trabalhos escritos desta ou daquela na-
tureza, obras, em suma, cujo conhecimento é de supor nos leitores
de trabalhos tais. O crescente emprêgo das siglas - e de suas
decorrencias - é traço inelutável da organização do mundo mo-
derno, por duas (pelo menos) razões fundamentais: pela neces-
ELEMENTOS DE BIBLIOLOGIA 169

sidade, por meio da sigla, de criar um "sinal" eficaz e de certo


modo mais dir~to para designar instituições cujos intitulativos
são necessàriamente longos e, por isso, incômodos para se torna-
rem populares e para poderem ser localizados no sentido concreto
ou referenciados com facilidade - circunstância, aliás, que está
na base de uma das mais vetustas siglas, S. P. Q. R., senat.US po-
pulusque romanus, por imperativos epigráficos, imperativos epi-
gráficos que determinam, em verdade, na epigrafia de · todos os
tempos e de tôdas as línguas o emprêgo das reduções, inclusive no
mundo moderno; e pela necessidade, por meio da sigla, de obter
um sucedâneo do intitulativo que, nas organizações internacionais,
sobretudo, possa funcionar como "palavra", independentemente
dos vernáculos, como é o caso, por exemplo, · de "Unesco", que
hoje em dia se usa como tal em pelo menos tôdas as línguas de
alfabeto latino, sem sequer se romontar, nas mais das vêzes, ao
seu "étimo", que é "United Nations Educational Scientifie and
Cultural Organization", ou como- mais longe ainda- foi o caso
de "radar", "radio detection and ranging" (digamos " detecção
e enquadração pelo rádio"), originalmente uma como sigla, como
se vê. Embora fenômeno relativamente recente no mundo con-
temporâneo, a generalização do processo de siglação se fêz quase
ínstantâneamente, malgrado protestos de certos inconformes puris-
tas, que viam nisso uma tumultuação da inteligibtilidade. E,
porque houvesse generalização, com ela houve um fenômeno para-
lelo de capital importância: a estruturação da sigla em s:labação
-possível, como se fôsse vocábulo normal da língua - assim,
"C. G. T. " (" Confédération générale du travail"), _pitada por ser
uma das primeiras siglas de uso . corrente em língua francesa que
vieram a ser vividas pelo povo francês como "palavra", em
breve passou a ser cégété, donde cégétiste; do mesmo modo
"P .R.P." ("Partido Republicano Paulista"), na chamada repú-
blica velha passava em breve a ser "perrepê", donde "perre-
pista", "perrepismo". Essa potencialidade de a sigla poder es-
truturar-se como vocábulo era, em breve, consciente e deliberada-
mente explorada pelos criadores circunstanciais dP. siglás, que,
calcando-se no princípio de que o concurso das letras que formam
a sigla pode ser pronunciado como vocábulo com estrutura silá-
bica da língua ( cf. CAKA, s.v. aerografia), em breve procuravam
tal efeito de propósito; assim, quando entre nós se criou a Supe-
rintendência da Moeda e do Crédito, do Banco do Brasil, sua
sigla, em lugar de ser " S . M . C." (cuja fortuna silábico-v6cabular
.poderia vir a ser algo como smec, esmeque, semecê, semece ou
mesmo essimecê, essiemicê), foi deliberadamente fixada em "Su-
170 ANTÔNIO HOUAISS

moc" (vale dizer, "Superintendência da Moeda e do C,rédito").


Da sigla, pois, com sua potencialidade vocabular, é que se origina
a aerografia, na acepção restrita em que êsse vocábulo é tomad0o
neste livro - redução consistente da junção da primeira sílaba
de cada vocábulo de um todo locucional- tipo "Mesbla", "Mestre-
& Blatgé". Dado o passo, entrava-se, qu11se concomitantemente, em
hemiacrografias, meias acrografias, misto de sigla e aerografia
- tipo "Varig", "Viação Aérea do Rio Grande do Sul", com o•
fim expresso de formar estrutura vocabular (e no estudo que, n<>
respeito, se vier monogràficamente a fazer em língua portuguêsa·,.
e quiçá em qualquer língua, não será de estranhar que se venha.
a verificar que, não raro, os forjadores de estruturas vocabulares
tais se comprazem em dar a elas um certo sabor "internacional" ...
para prestígio das mesmas). Seria, já agora assim considerado O·
conjunto do problema, ocioso e inútil, na exemplificação que -
limitad'issimamente - se dá a seguir, viéssemos a separar as siglas,
das acrografias, das hemiacrografias. O exemplário as mistura de·
propósito. Pendem, entretanto, dois (pelo menos) problemas -
o de sua representação gráfica e o de sua grupação.
2. 9 . 5 .1 Partindo de um tipo como "M. R. E . " ("Ministério
das Relações Exteriores"); não se vê como melhor representá-lo
que por "M. R. E." mesmo, já que com tal tipo de sigla não se
chega, não se chegou ainda à vocabulização : ninguém diz senã()
"ministério das relações exteriores" em lendo-a, se tanto "eme-
erre-é". Dessa sigla típiça se transita para o padrão "Unesco'~,.
no outro pólo, que ninguém diz senão "unesco" mesmo, não raro
ignorando as palavras originais que motivaram a sigla. Já no
padrão hemiacrográfico "Sumoc", a grafação, fora da que foi dada,
é equívoca, porque em "SUMOC" não haveria razão para o "U"
e o "O" (ademais da circunstância de que o uso da composição
lapidar é inconveniente no jôgo do prêto-no-branco quando a.
fonte não é de versal de fôrça de corpo ligeiramente menor do
que a altura máxima do cabeço das minúsculas), e em "SuMoC"
criar-se-ia um padrão extemporâneo e inusitado (justificável ape-
nas em acrografias ·alfabetizantes "visuais" para fins exclusiva-.
mente remissivos). Do exposto, poder-se-ia chegar às convenções.
seguintes:
1.0 ) nos impr~os oficiais, não há como seguir aenão O·
padrão oficial, que, no Brasil, não raro vem sendo regulado na-
própria lei que cria a entidade, como, para só citar um exemplo,..
se dá com "C.N.Pq."- Conselho Nacional de Pesquisas;
2. 0 ) fora dêsses casos, poder-se-ia
ELEMENTOS DE BIBLIOLOGIA 171

1) observar o processo da siglação sempre, nas siglas


stricto sensu, mesmo quando se tivesse vulgarizado,
generalizado o processo da sua pronúncia vocabuliza-
da: T.V.A., U.D.F., U.B., P.D.C., P.S.B., e tam-
hém U.N.E.S.C.O., D.A.S.P., admitindo. porém, se
de pronúncia vocabulizada, isto é, com estrutura si-
lábico-vocabular, a alternativa gráfica UNESCO,
DASP (se possível, do ponto de vista tipográfico, com
versal-versalete, se a ·fonte . comportar - UNEsco,
DASP, SAMDU);
2) observar o· processo de vocabulização nas acrografias
típicas e · hemiacrografias - Varig, Sumoc, Cacex,
com, se tanto, a alternativa do versal-versalete -
VARIG, SuMoc, CACEX; (observe-se, porém, que o uso
do . versal-versalete, neste como no caso anterior, se
faz contra-indicado, se êsse · jôgo de famílias tipoló-
gicas fôr o escolhido para . realce material dos antro-
pônimos abonados no texto impresso, como é a prática
seguida neste livro, por exemplo) ;

3. 0 ) não se deve silenciar o fato de que os princípios supra


exi~m da parte do usuário r.elativo conhecimento original das
siglas e .ácrografias (e hemiacrografias), mas afina~ de contas é
exigência que condiz com e é inerente a todo processo de apren-
.dizado.
2. 9. 5. 2 Para comodidade de exemplificação, não se separarão,
,aqui, como já se disse, as siglas das acrografias (e hemiacrogra-
fias). Insistamos, ainda (e não nos cansemos de fazê-lo), que
,a lista da exemplificação é limitadíssima (exauri-la, mesmo que
nos confinássemos a umas poucas ljnguas do ocidente, é tarefa.
impossível) (cf. FROE). Os grupos temáticos a seguir, para re-
lativa coerência de busca, são: (1) de intitulativos do serviço
público brasileiro e afins, (2) de alguns bibliônimos (com a
ressalva, ~esde já, de que a matéria será ainda considerada neste
livro, com relação aos problemas de normalização bibliológica) ;
(3) de intitulativos de organizaÇões internacionais e alguns es-
trangeiros ; 4) de .alguns ~ronônimos, e ( 5) de partidos, associa-
ções, princípios, firmas e afins.
172 ANTÔNIO HOUAISS

2.9.5.3 De intitulativos do se.rviço público brasileiro e afins


A.M.A.N., Aman Academia Militar de ·Agulhas Negras
B.B., B.B.S.A. Banco do Brasil, Banco do .Brasil So~iedade
Anônima
B.N.D.E. Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico
Cades, Cades Campanha de Aperfeiçoame'!'lto do Pessoal do
Ensino Superior
C.A.P.E.S., Capes Campanha de Aperfeiçoamento do Pessoal do
Ensino Secundário
Cemig Centrais Elétricas de Minas Gerais
C.I.O.R.M., Ciorm Centro de Instrução de Oficiais de Reserva da
Marinha
C.N.E. Conselho N acionai de Energia
C.N.I. Confederação N acionai da; Indústria
C.N.P. Conselho N acionai de Petróleo
C.N.Pq Conselho Nacional de Pesquisas
C.I.S., Cis Comissão do Impôsto Sindical
Cofap Comissão Federal de Abastecimento e Preços
C.P.O.R. Centro de Preparação de Oficiais da Reserva
D.A.S.P., Dasp Departamento Administrativo do Serviço Público
D.F.S.P. Departamento Federal de Segurança Pública
D.N.E.R., Dner Departamento Nacional de Estradas de Rodagens
· D.N.O.C.S., Dnocs Departamento N acionai de Obras contra as Sêcas
D.O.P.S., Dopa Divisão da Ordem Política e Social
E.F.C.B. Estrada de Ferro Central do Brasil
E.F.L. Estrada de Ferro Leopoldina
'E.F.S. Estrada de Ferro Sorocabana
E;F.S.-J. Estrada de Ferro Santos-Jundiai
E.M.F.A., Emfa Estado-Maior das Fôrças Armadas
F.A.B., Fab Fôrça Aérea Brasileira
. F.E.B., Feb Fôrç_a Expedicionária Brasileira
Frimiaa Frigoríficos de Minas Gerais Sociedade Anônima
I.A.A. Instituto do Açúcar e do Álcool
I.A.P.B. Instituto de Aposentadorias e Pensões dos Ban-
cários
I.A.P.C. Instituto de Aposentadorias e Pensões dos Co-
merciários
I.A.P.E.T.C. Instituto de Aposentadorias e Pensões dos Em-
pregados de Transporte e Carga (a pronúncia
vocabulizada é contra a sigla - iapeteque)
I.A.P.I, Iapi Instituto de Aposentadorias e Pensões dos Indus-
triários
l.A.P.M. Instituto de Aposentadorias e Pensões dos Ma-
rítimos
I.B.C. Instituto Brasileiro do Café
I.B.G.E. Instituto Brasileiro. de Geografia e Estatística
I.H.G.B. Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro
I.N.E.P., Inep Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos
I.P.A.S.E., Ipase Instituto de Previdência e Assistência dos Ser-
vidores do Estado
I.R.B. Instituto de Resseguros do Brasil
I.S.E.B., Iseb Instituto Superior de Estudos Brasileiros
M.Aer. Ministério da Aeronáutica
ELEMENTOS DE BIBLIOLOGIA.. 173

M.E.C. Ministério da Educação e Cultura


M.F. Ministério da Fazenda
M.G. Ministério da Guerra
M.J.N.I. Ministério da Justiça e Negócios Interiores
M.M. Ministério da Marinha ,
M.R.E. Ministério das Relações Exteriores
M.S. Ministério da Saúde
M.T.I.C. Millistério do Trabalho, .Indústria e Comércio
M.V.O.P. Ministério da Viação e Obras fóblieaa
P.D.F. Prefeitura do Distrito Federal
Petrobrás Petróleo Brasileiro Sociedade Anônima
S.A.M.D.U., Bamda Serviço de Assistência Médica Domiciliar de
Urgência
S.A.P.S., Ba.- Serviço de Alimentação ida ' Previdência Social
~ Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial
8eac Serviço Social do Comércio
8esl Serviço Social da Indústria
U.B. Universidade do Brasil
U.D.F. Univenidade do Distrito Federal
2.9.6.4.

As siglas biblionímicas - de livros e periódicos - são em


número vultosíssimo, nas ciências, técnicas e artes do mundo
contemporA.neo. E têm~ ao revés · das outras, uma finalidade pri-
macialmente bibliológica, destinando-se, primacialmenté~ · à leitura
silenciosa, sendo, pois, fundamentalmente "visuai~"; além disso,
destinam-se acima de tudo à economia, da parté do autor e da
tipografia. Por fim, quase sempre, além de set:'em destinadas a
um público essencialmente especializado, faz~m-se acompanhar
(não tanto em artigos de revistas especializ~;~á.as), no próprio
livro em que· são usadas, de um índice de decifração (digamos
assim), geralmente associado às obras referenc~adas no mesmo.
Tudo isso lhes dá um caráter algo diferencial', em relação às
outras siglas, acrografias (e hemiacrografias). E porque, apesar
de tudo, não pequeno tumulto tem advindo das reduções dêsse tipo,
a I.S.O. (International Standardization Organization), e sua
afiliada brasileira, a A. B. N. T. (Associação Brasileira de No r-
mas .Técnicas), aquela em âmbito internacional, esta no nacional,
vêm estudando um código de abreviações de títulos de periódicos,
a fim de que a matéria possa enveredar por um caminho de
racionalização que a possa fàzer menos caótica e sobretudo menos
arbitrária, de autor para autor, de corpo redatorial de revista
especializada para corpo redatorial de outra revista especializada.
E . êsse código- esperemos- deverá ser o pioneiro de um código
dé abreviações de títulos de livros. Vai, assim, a seguir um
pequeníssimo exemplário de siglas e acrografias (e hemiacrogra-
fias) de bibliônimos :
174 ANTÔNIO HOUAISS

'C IA Corpus inscriptionum atticarum (1825-)


'CIE Corpus inscriptionum etruscarum (1893-)
CIL Corpus inscriptionum latinarum ( 1863-)
CI Sem Corpus inscriptionum semiticarum (1881-)
·CPL Corpus poetarum latinorum (1894-1920)
CMG Corpus medicorum graecorum ( 1908-)
'CML Corpus medicorum latinorum ( 1915-)
·CSEL Corpus scriptorum ecelesiast"icorum latinorum
(1866-)
DELP Dicionário etimológico da língua portuguêsa, de
Antenor Nascentes
'EGF Epicorum graeeorum fragmenta (1877), ed. G.
Kinkel
FGrH Fragmente der griechisehen Historiker (1923),
ed. F. Jacoby
FHG Fragmenta historicorum graecorum (1841-1870),
ed. C. Müller
FPG Fragmenta philosophorum graecorum (1860-
1881), ed. F.W.A. 'Mullach
GGM Geographici graeei minores (1855-1861), ed.
C. Müller
lG Inseriptiones graeeae ( 1873-)
lGRom Inscriptiones graecae ad res romanas pertinen-
tes (1906-) ·
MGH Monumenta Germaniae historica
PGM Papyri graecae magicae, ed. Karl Preisendanz,
2 voll., 1928-1931
PLG Poetae lyrici graeci (1882), cd. T. Bergk
PLM Poetae la tini minores (1879-1883), ed. E.
Baehrens, revista parcialmente por F. Vollmer
(1911-1935)
PMH Portu_galiae monumenta historica •
PW A. Pauly, G. Wissowa e W. Kroll, Real-Encyelo-
padie d. klassisehen Altertumswissenschaft
(1893-)
"REW Romanisehen Etymologischen Wõrterbuch, de
W. Meyer Lübke
SEG Supplementum epigraphicum graecum ( 1922-)
SMSR Studi e materiali di storia delle religioni ( 1925-)
TGF Tragicorum graeeorum fragmenta ( 1889'2), ed.
A. Nauck
·vcu Victoria County History
2.9.5.5 De intitulativos de organizações internacionais e estrangeiras

"B.I.T. Bureau International du Travail


'C.E.P.A.L., Cepal Comissão Econômica para a América Latina,
Comisión Económica para la América Latina
Eeoaoe Economic and Social Council
F.A.O. Food and Agriculturai Organization
F.B.I. Federal Bureau of Investigation
·G.A.T.T., Gatt General Agreement on Tariffs and Trade
t .C.A.O., lcao lntemational Civil Aviation Organization
1.L.O., Ilo Intemational Labour Organization
ELEMENTOS DE BIBLIOLOGIA 175

I.R.O., Iro International Refugee Organization


I.T.O., Ito International Trade Organization
I.T.U., Itn International Telecommunications Organization
M.I.T. Massachusetts Institute of Technology
M.V.D. Ministertsvo Vnutrennikh Del
N.A.T.O., Nato North Atlantic Treaty Organization
N.K.V.D. · Narodnyi Komissariat Vnutrennykh Del
O.E.A. Organização dos Estados Americanos
O.E.E.C. Organization for European Economic Coope-
ration
O.I.R. Organização Internacional de Refugiados
O.I.T. Organização Internacional do Trabalho
O.N.U., Onn Organização das Nações Unidas
O.T.A.N., Otan Organização do Tratado do Atlântico Norte
R.A.F., Raf Royal Air Force
R.A.A.F., Raaf Royal Australian Air Force
R.I.T., Rit Repartição Internacional do Trabalho
S.E.A.T.O., Seato Southeast Asia Treaty Organization
T .A.S.S., Tass Telegraphnoye Agentsvo Sovyetskovo Soyuza
U.N. United Nations
U.N.O., Uno United Nations Organization
U.N.I.C.E.F., pnicef United Nations Interilational Children's Emer-
gency Fund
U.N.R.R.A, Unrra United Nations Relief and Rehabilitation Admi·
nistration
2.9.6.6 De alguns corônimos

a) brasileiros, com algumas abreviaturas administrativas,


segu,ndo o padrão fixado pelo Inst:tuto Brasileiro de Geografia
e Estatística:
D., DD. distrito, distritos
M., MM. município, municipios
T., TT. têrmo, têrmos
c., CC. comarca, comarcas
E., EE. Estado, Estados
E.U.B. Estados Unidos do Brasil; EE.UU.B. foi a abre-
viação de passado relativamente recente, mar-
cada a flexão de n1imero
AL, AL. Alagoas,
AM, AM. Amazonas
BA, BA. Bahia
CE, CE. Ceará
ES, ES. Espírito Santo
GB, GB. Guanabara
GO, GO. Goiás
MA, MA. Maranhão
MT, MT. Mato Grosso
MG, MG. Minas Gerais
PA, PA. Pará
PB, PB. Paraiba
PR, PR. Paraná
PE, PE. Pernambuco
PI, PI. Piauí
176 ANTÔNIO HOUA1SS

R.J, R.J. Rio de Janeiro


RN, RN. Rio Grande do Norte
RS, RS. Rio Grande do Sul
se, se. Santa Catarina
SP, SP. São Paulo
SE, SE. Sergipe
AC, AC. Acre
AP, AP. Amapá
RO, RO. Rondônia
RB, RB. Rio Branco
FN, FN. Fernando de Noronha

b) estrangeiros (quase todos os Estados do mundo moderno


estão, de poucas décadas a esta parte, adotando, para os nomes
de suas unidades político-administrativas, siglas fortemente sinté·
ticas, sobretudo por necessidades postais, administrativas, de tele-
comunicações; arrolá-las seria um nunca acabar; menção basta:
os interessados poderão colhê-las preferentemente em guias · de
organizações postais de cada país ; a lista é imensa. Dão~e alguns
exemplos apenas, aguardando a fixação que, para as Nações
Unidas, cujo número supera de cento e trinta unidades, se está
em vias de processar, em caracteres latinos, para fins de teleeo·
municações, turismo, automobilismo e outros):

Benelux Belgium, Nederland, Luxenbourg


C.H., CH Confederação Helvética (Confoederatio Helue-
tiea)
E.U.A. Estados Unidos da América
E.U.C. Estados Unidos Colombianos
E.U.M. Estados Unidos Mexicanos
G.B. Grã-Bretanha
N.L. Nederlands (Pafses Baixos, Holanda)
R.D.A. República Democrática Alemã
R.D.P. República Democrática Polonesa (Polaca)
R.S.S.F.R. República Socialista Soviética Federativa Russa
U.F. União Francesa.
U.R.S.S., Ursa União das Repúblicas Socialistas Soviéticas
U.S.A. United States of America

2.9.5.7 De partido•, IUiociagõn, princípúJ•, firmu e afim


A.A.A. Automobile American Association
A.A.B.B. Associação Atlética do Banco do Brasil
A.B.C. Argentina, Brasil e Chile
A.B.C. American Broadcasting Company
A.B.N.T. Associação Brasileira de Normas Técnicas
A.F.L. American Federation of Labor
A.M.A. American Medicai Assoctiation
A.P.R.A, Apra Associação Peruana Revolucionária Autêntica
A.S.C.E. American Society of Chemical Engineers
A.S.M.E. American Society of Mechanical Engineers
ELEMENTOS DE BIBLIOLOGIA 177

B.B.C. British Broadeasting Corporation


B.O.A.C British Overseas Airways Corporation
C.B.D. Confederação Brasileira. de Desportos
C.B.S. Columbia Broadcasting System
C.G.T. Confédération Générale du Travail
C. I. O. Congress of Industrial Organizations
D.A.R. Daughters of the American Revolution
I.P.A., lpa InternatioBal Phonetic Association
I.R.F.M. Indústrias Reunidas Francisco Matarazzo
I.S.O., Iso International Stándardization Organization
K.L.M. Kominlijke Luchtvaart Maatschapp;r voor
Nederland en Kolonien N.V.
M.B.S. Mutual Broadeasting System
M.R.P. Mouvement Républicain Populaire
N.B.C. National Broadcasting Company
N.D. New deal
N.E.P. Nova economia polftica
N.S.D.A.P. Nationalsozialistische Deutsche Arbeitpartei
P.A.A. Pan-American Airways
P.C.B. Partido Comunista do Brasil
P~C.U.S. Partido Comunista da União Soviética
P.D.C. Partido Democrata Cristão
P.E.N. (Club) Poets, ,Playwriters, Editors, Essayists and No-
velistas (lnternational Association of -)
P.O.T. Partido de Orientação Trabalhista
P.R. Partido Republicano
P.R.P. Partido de Representação Popular
P.S.B. Partido Socialista Brasileiro
P.S.D. Partido Social Democrático
P.S.P. Partido Social Progressista
P.S.T. Partido Social Trabalhista
P.T.B. Partido Trabalhista Brasileiro
P.T.N. Partido Trabalhista Nacional
S.E.D. Sozialistische Einheitpartei Deutschlands
U.D.N. União Democrática Nacional
U.M.E., Ume União Metropolitana de Estudantes
U.N.E., Une União Nacional de Estudantes
Varig Viação Aérea do Rio Grande do Sul
V.A.S.P., Vasp Viação Aérea de São Paulo

2. 9. 6 Símbolos - Os símbolos braquigráficos são, essencial-


mente, abreviações, mas fixadas por convenções explícitas de valor
geralmente internacional - uma de cujas decorrências é a regu·
lamentação de todos os aspectos materiais dêsses símbolos. :til o
que se verifica, por ex~mplo, com o sistema métrico decimal, que,
regulamentando as "abreviaturas" de suas unidades, propende
por lhes emprestar características de verdadeiros símbolos liter&d
ou algarismo-literais, a fim de liberá-los das contingências dM
ortografias, morfologia& e hábitos abreviantes de língua para líll-
gua. Dessa forma, não se disputará em "km" quanto ao fato (a)
de ser "abreviado" com· k, ainda que a palavra já seja tão portu-
guês&, quanto francesa, quanto inglêsa, quanto espanhola, quanto
178 ANTÔNIO HOUAISS

alemã, quanto ... ; (b) de não ser seguido de ponto (.), quando,
em abreviaturas e abreviações dêsse tipo, tôdas as línguas expli-
citamente citadas deveriam usar dêle no caso vertente ; (c) de
não ter jamais indicação de plural, ainda que comporte não apenas
a noção. mas possua inclusive o morfema de plural. Por mera
disposição didática, convém lembrar que semelhantes símbolos
braquigráficos podem ser literais e mist9s, incluindo, nestes, os
usos em que às letras se combinam algarismos ou signos científicos
outros que não literais.
2. 9. 6 .1 Símbolos metrológicos - A Comissão de Metrologia,
do Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio, na realização da
lei de metrologia - Decreto-lei n. 0 592, de 4 de agosto de 1938
-, haurimos os principais símbolos metrológicos do quadro de
unidades legais no Brasil e observados, no essencial, em todos os
países que adotam oficialmente o sistema métrico decimal ( cf.
OOMI). Das grandezas, unidades, nomes, múltiplos e submúlti-
plos, escolhemos tão-sõmente uns poucos, que possam ter curso
não especializado, remetendo o eventual interessado nas parti-
cularidades e definições às publicações especializadas :

ampere(s) A
ampere(s)-hora
angstrom(ns)
.
Ah
A
ing1o1lo(s) reto(s) r
are(s) a
atmosfera(s) atm
caloria(s) cal
candela(s) cd
eavalo(s)-vapor c. v.
eentiare ( s) ca
eentígrado(s) cgr
eentigrama ( s) cg
eentilitro(s) cl
eentimetro(s) em
eentimetro(s) cúbico(s) cm3
eentimetro(s) por segundo ern./s
eentimetro(s) quadrado(s) cm2
eoolomb(s) c
tlecagrama(s) dag
tleealitro ( s) dal
tlecâmetro(s) dam
decâmetro(s) quadrado(s) dam2
deeastéreo(s) dast
deeigrado(s) dgr
tlecigramo(s) dg
decilitro ( s) dl
deeimetro(s) dm
declmetro(s) cúbico(s) dm3
deefmetro(s) quadrado(s) dm2
ELEMENTOS DE BIBLIOLOGIA 179

decimilimícron(8 ou -e8) dm14


deci8téreo ( 8) dst
dia(8) d ou da
dina(8) dyn
dioptria ( 8) di Oll d
erg(8) por segundo erg/s
e8teno(s) stb
estéreo(s) st
farad(8) F
fot(s) f
frigoria(s) fg
grado(s) g 011 gr
grama(s) g
grama(s)-fôrça gf g• ou g
grama(s) por metro cúbico g/mJ
grau(s) ou grau(s) sexagesimal(is) o
grau(s) Celsius °C ou o
grau(s) Kelvin OK
hectare(s) ha
hectolitro ( s) hl
hectograma(s) hg
hectômetro ( s) hm
hectômetro ( s) quadrado ( s) bm2
henry (henries) H
hora(s) h
joule(s) por segundo ou watt(s) J/s ou W
litro(s) 1
lúmen(8 ou -es) lu
lux lux
megadina(s) Mdyn
megajoule(s) MJ
megohm(s) MO
metro(s) m
metro(s) cúbico(s) mJ
metro(s) de coluna d'água m d'água
metro(s) por minuto m/min
metro ( 8) por segundo m/s
metro(s) por segundo ao quadrado m/s2
metro(8) quadrado(s) m2
metro(s)-quilograma(s)-fôrça m.kg ou
m.kg• m.kgf ou m.kg.
microampere(s) JA.A
microhm(s) ).1.0
micromicron (s ou -es) J.LI.'
mfcron(s ou -es) 14
micro-radiano(s) JA.rd
microvolt(s) J.A.V
milha(s) maritima(s) internacional(is) M
miliampere ( s) mA
miligrado(s) mgr
miligrama(s) mg
mililitro ( s) ml
milimetro(s) mm
milimetro(s) cúbico(s) mmJ
milimetro(s) de coluna de mercúrio mm de mercúrio
180 ANTÔNIO ROUAJSS

milimetro(s) quadrado(s) mm2


milimicron(s ou -es) · ml'
milivolt(il) mV
minuto(s) (de ângulo) •
minuto(s) (de tempo) m ou min
newton(s) N
ohm(s) ~
piezo(s) ou esteno(s) perímetro quadrade pz
quiloampere(s) kA
quilocaloria(s) kcal
quilograma(&) kg
quilograma(s)-fôrça por centfmetro quadrado kgf/cm2 ou kg*/cm2
ou kg/cm2
.mJograma(s)-fôrça por metro cúbico kgf/ml ou kg*/ml
ou kg/ml
..Uograma(s)-metro(s) quadrado(&) kgm2
IIUilogrâmetro ( s) kgfm ou kg*m ou kgm
IIUilogrâmetro(s) por segundo kgfm/s .ou kg*m/s
ou kgm/s
quilojoule(s) kJ
quilômetro(s) km
qm1ômetro(s) cúbico(s) kml
qnilômetro(s) por hora km/h .
quilômetro(s) quadrado(s) km2
quilovolts (a) kV
quilowatt(s) kW
quilowatt(s)-bora kWh
:radiano(s) rd
:radiano ( s) por segundo rd/s
adiofot(s) rdfot
radiolux rdlux
JIOtação(ões) por minuto r.p.m
JPOtação ( ões) por segundo r.p.s
1eg11ndo(s) (de ângulo) •
segundo(s) (de tempo) a ou seg
atilb(s) sb
tonelada ( s) t
tonelada(s)-fôrça tf ou t• ou t
vela(s) internacional(ais) v
volt(s) v
watt(s)-hora Wb
watt(s)-segundo Ws
weber(s) Web

2.9.6.2 Caberia, com relação ao . assunto, lembrar os têrmos


de resolução da citada Comissão de Metrologia sôbre o modo de
escrever os números e os símbolos (cf. COMI):
1) deve ser empregada exclusivamente a vírgula para se-
parar a parte inteira da parte decimal dos números ;
2) a parte inteira dos números deve ser separada em classes
de três algarismos, da direita para a esquerda ; na parte decimal
essa separação far-se-á da esquerda para a direita ; em ambos os
ELEME~TOS DE BIBLIOLOGIA 181

casos tal separação poderá ser feita pelo uso do ponto ou de um


pequeno intervalo. Tanto a vírgula como o ponto deverão ficar
sempre na mesma linha horizontal em que o número está escrito.
A recomendação relativa à separação em classes de três algarismos
não é necessAriamente aplicável aos números reunidos em tabelas
ou quadros;
3) não acrescentar ponto abreviativo ~o símbolo composto
já previsto no quadro ;
4) não usar a letra "s" junto de um símbolo como sinal de
plural; ·
5) os símbolos representativos das unidades não devem ser·
escritos em forma de expoentes e sim na mesma linha horizontal
em que o número está escrito. Excetuam-se os símbolos das
unidades de temperatura, de tempo e das unidades sexagesimais
de ângulo; ·
6) quando o valor numérico de uma grandeza apresentar
parte fracionária, o símbolo da unidade respectiva não deve ser
intercalado ~ntre a parte inteira e a parte fracionária do número,
mas deve ser levado imediatamente à direita desta parte fracioná-
ria; esta recomendação não se aplica à representação de impor-
tâncias em dinheiro nacional, cujo símbolo, de acôrdo coin o
Decreto n. 0 4. 791, de 5 de outubro de 1942, deve preceder ao nú-
mero indicativo da importância 7 e, ilustrando essa resolução,
papel avulso distribuído pela Comissão de Metrologia citada junta
alguns exemplos. de:
como se deve escrever como não se deve escrever
37,2 37.2
1.291,253.47 ou 1291,253 47 1291,25347 ou 1291.25347
25m 25 m. ou 25 mts
80 kg 80 kgs
3 atm 3....
134,289 tn -134,.. 289
5• to• 7" ou 5h 10 m 7s 5" 10' 7"
15 12' 14' 15° 12.. 14"
14 16 18,2" 14 16' 18" 2
50, 350 g sog, ·ssó
0,25 g 0,25 gr
50 cmJ 50 cc ou 50 c/c
2mm 8 m/m
120 mm2 120 mmq
96 A ou 96 ampéres 96 amp. ou 96 amps
12 kg ou 12 quilogramas 12 quilos
40 km/h (para exprimir velocidade) 40 kms.

2. 9. 6. 3 Porque os símbolos aqui tratados se ligam essencial-


mente a unidades legais brasileiras relacionadas com o sistema
métrico decimal, não seria ocioso transcrever a abreviatura de uni-
182 ANTÔNIO HOUAISS

dades inglêsas imperiais e norte-americanas, já que ainda são


de curso
muito extensivo, oferecendo, destarte, alguma utilidade
seu conhecimento geral (cf. JAPO, passim):

a c. acre(s)
ae. ft. acre-foot (feet)
bbl. . barrel(s) of petroleum
B.T.U. British thermal unit(s)
bu. bushel(s)
eh. ehain(s)
eu. ft. eubie foot (feet)
eu. in. eubic inch(es)
eu. yd. eubic yard(s)
dr. av. dram(s) avoirdupois
dr. ap. drachm(s) apothecary
dry pt. dry pint(s)
dry qt. dry quarter (s)
dwt. penny weight troy
fi. dr. fluid dram(s)
fi, oz. fluid ounee(s)
f),, se, fluid seruple(s)
ft. foot (feet)
ft. p. min. foot (feet) per minute
gal. gallon(s)
gi. gill(s)
gr. grain(s)
H.P.-h. horse-power-hour (s)
in. inch(es) ·
lb. av. pound(s) avoirdupois
lb. tr. pound(s) troy
ln, tn. long · ton(s)
lq. pt. Iiquid pint ( s)
lq. qt. liquid quarter(s)
m. mile(s)
min. minim(s)
m. p. h. mile(s) per hour
n. m. nautieal mile(s)
oz. av. ounee(s) avoirdupois
oz. tr. ounce(s) troy
pdl. poundal(s)
pk. peek(s)
pt. pint(s)
qt. quarter(s)
se. ap. scruple(s) apothecary
sh. tn. short ton(s)
sq. ft. square foot (feet)
sq. in. square ineh(es)
sq. m. square mile(s)
sq. rd. square rod(s)
S'q. yd. square yard(s)
yd. yard(s)
yd. p. sec. yard(s) per second
ELEMENTOS DE BIBLIOLOGIA 183

2.9.6.4 Símbolos da rosa quadrantal ejou da circular -Afim,


·ainda, com os símbolos ideográficos são certas convenções fi-
xadas para adoção geral - tal, por exemplo, a de indicação
internacional da orientação astronômica . ·,pelos pontos cardeais.
Preliminarmente, observe-se que os quatro símbolos fundamentais
em alfabeto de base latina são: N - para norte; S - para
sul; E - para este; e W - para oeste. A forma este alterna, em
português, com leste, e esta é a geralmente adotada na marinha,
militar e ·civil, brasileira. 11'::sses símbolos podem, em conseqüência,
ser também representados por N, S,:·L · e O, mas vêm progressiva-
mente entre nós prevalecendo os símbolos inicialmente referidos,
com curso pràticamente internacional. Os principais símbolos,
tanto da rosa quadrantal quanto da rosa circular, são os seguintes
( cf. EESP, s.v. rosa) :

N norte
1
N -NE norte quarto para nordeste
4
NNE nor-nordeste
1
NE - N nordeste quarto para norte
4
NE nordeste
1
NE- E nordeste quarto para leste (este)
4
1
NW-W noroeste quarto para oeste
4
NW noroeste
1
NW-N noroeste quarto para norte
4
NNW nor-noroeste
1
N-NW norte quarto para noroeste
4
ENE lés-nordeste (és-nordeste)
1
E-NE leste (este) quarto para nordeste
4
E leste (este)
1
E· - SE leste (este) quarto para sueste (sudeste)
4
ESE lés-sueste (és-sudeste)
184 ANTÔNIO BOUAISS

1
SE - E sueste (sudeste) quarto para leste (este)
4
SE sueste (sudeste)
1
SE - S sueste (sudeste) quarto para sul
4
SSE su-sueste (su-sudeste)
1
S - SE sul quarto para sueste (sudeste}
4
S sul
1
S - SW sul quarto para sudoe.s te
4
SSW su-sudoeste
1
SW - S sudoeste quarto para sul
4
SW sudoeste
1
SW - W sudoeste quarto para oeste
4
~ oeste
1
W - NW oeste quarto para noroeste
4
· WNW oés-noroeste
WSW oés-sudoeste
1
W - SW oeste quarto para sudoeste
4

2. 9. 6. 5 Símbolos de elementos químico&

actínio Ac
alumínio AI
amerlcio Am
antimônio Sb
argônio Ar
arsênico vide arsênio
arsênio As
astatinio At
bário Ba
bercélio vide berquélio
berquélio Bk
berílio :H6
bismuto Bi
boro B
bromo Br
cádmio Cd
cálcio Ca
califôrnio Cf
cálio vide potássio
ELEMENTOS DE BJBL10LOG1A 1&5

carbono c
cério Ce
césio <.,s
chumbo Pl
cloro Cl
cripto Kr
cromo Cr
cobalto Co
cobre Cu
colúmbio vide nióbio
cúrio Cm
disprósio Dy
-elnstêinio Es
enxôfre s
érbio Er
escândio Se
estanho Sn
estíbio vide antimônio
estrôncio Sr
európio Eu
férrnio Fm
ferro Fe
flúor F
fósforo p
frâncio Fr
gadolínio Gd
gálio Ga
germânio Ge
háfnio Hf
hélio He
hidrargírio vide mercúd0
hólmio Ho
hidrogênio H
índio In
indium vide índio
iôdo I
iridio Ir
· itérbio Yb
i trio y
lant:inio La
lítio Li
lutécio Lu
magnésio Mg
manganês Mn
manganésio vide manganês
mendelévio Mv
merc11r1o Hg
mollbc1ento Mo
nátrio vide sódio
neodimio Nd
néon vide neônio
neônio Ne
neptúnio Np
níquel Ni
nióbio Nb
186 ANTÔNIO HOUAISS

nitrogênio N
no hélio No
ósmio Os
ouro Au
oxigênio o
paládio Pd
platina Pt
plutônio Pu
polônio Po
potássio K
praseodímio Pr
prata Ag
promécio vide prométio
prométio · Pm
protactínio Pa
rádio Ra
rádium vide rádio
radônio Rn
rênio Re
ródio Rh
rubídio Rb
rutênio Ru
samário Sm
selênio Se
silicio Si
sódio Na
súlfur Wde enxôfre
tálio Tl
tantálio Ta
tântalo vide tantálio
tecnécio Te
telúrio Te
térbio Tb
titânio Ti
tório Th
túlio Tm
tungstênio w
urânio u
vanádio v
volfrâmio vide tungstênio
xênio Xe
zinco Zn
zircônio Zr

2. 9. 7 Signos - Como vimos, os signos não são neste livro


tomados como braquigramas, isto é, como reduções por meio de
letras, mas ideogramas, isto é, reduções ideográficas, não raro
estilizações ou simplificações de primitivos pictogram·as. ·Isso se
vê perfeitamente com os signos de zodíaco u8ados em astrologia
no passado e, ainda hoje, em astronomia. Os signos do zodíaco
são, até o século XV, freqüentemente representados por verdadei·
ELEMENTOS DE BIBLIOLOGIA 187

ras pictografias. Relacionam-se, a seguir, alguns signos que na


tradi~:ão tipográfica tiveram ou têm ainda algum uso, consoante
as ciências, artes, ou técnicas a que se liguem.
2. 9. 7 .1 Signos astronômicos - Os principais signos astronô-
micos são os seguintes (cf. EESP, s.v. signo):
4J) zodiacaia:

rr· Ariea - port. Bode


~ Ta~ - port. Touro
:n: Gemmioea - .Port. Gêmeo~
® Oaneer - port.
Câncer ou Caranguejo
lJ Leo - port.
Leão
1l1 Virgo - port.
Virgem
'"""' Libra - port.
Balança
11\. Scorpio - port.
Escorpião
jlf Saggitariua - port. Sagitário ou Frecheiro
}.7
= Capricomius .
Aquariua
- port. Capricórnio
- port. Aquário

*à Piseea - port. Peixes


Conj'Únção de doia astros
o quadratura de dois .astros, isto é, sua longitude difere
de 90"
Ó' oposição de dois astros, isto é, sua longitude .difere d~.
180"

n6 ascendente
nó descendente
b) designativos dos corpos celestes:
0 Sol
o Juno
<C Lua
.! Vesta
~ Mereório
~ Cerea
~ Vênus
~ Palas
ô Tem o Urano
cf'
21.
'f?
Marte
Jápitei'
Saturno

)
Lua nova
Quarto ereacente
®
w Nep~o CI
Lua cheia
Quarto minguante

*
~
estrêla
cometa
188 ANTÔNIO HOUAISS

2.9.7.2 Signos tipográfico-bibliol6gicos


Alguns sig_nos tipográficos perduram ainda que remontam à
tradição manuscritora medieval, em cujos c6dices apareciam com
funções várias. Através dos incunábulos, não poucos foram sendo
usados para fins outros que os primitivos, como signos acess6rios
de pontuação, como realces materiais, como lembretes de valor
textual ou como, por fim, signos de remissivas. Além dos refe-
ridos em 2. 7 .1.1 supra, relacionemos mais os seguintes ( cf. EESP,
s.vv. libro e signo) :
1) * ·*-~ -asterisco
a) figurava, nos c6dices, em passagens em que se acredi-
tava haver alguma omissão de vulto;
b) usado, depois, como remissiva recíproca do texto ao
rodapé e vice-versa, para notas, .um, dois, três, quatro ou mais;
c) usado em metrologia (v. 2 .9 .6.1, wpra);
á) usado, em lingüfstica, para indicar formas hipotéticas,
isto é, não documentadas por escrito ou em coleta dialecto16gics.; vai,
nesses casos, ante e superposto à forma hipotética;
e) usado em documentação para indicar o lug~;~.r do timbre,
carimbo ou sêlo, nas referências, impresso aos autógrafos; .
j) usado, por vêzes, em verbetes biográficos para ,anteceder'
data. do nascimento;
g) usado em convenções próprias ou ad 1wc em livros de
vária natureza;
2) - -6belo ou obelisco
·a) servia, nos c6dices, para indicar palavras ou frases apa-
rentemente repetidas sem razão ou para indicar passagens, inter-
caladas ou não, cuja falsidade parecia ser. noi6ria;
b) usado, posteriormente, como equivalente de indicador
(ver 3, injra);

3) ..- - indicador ou índice (fndex)


provável variante do anterior, s6 da tradição tipográfica:
relativamente moderno, US$.do como remissivo ou lembrete para
chamar especial atenção para lugares outros-da obra em que se trate
mais amplamente da matéria;
ELEMENTOS DE BIBLIOLOGIA 189

4) ~ - 6belo ou obelisco pontuado


servia, nos c6dices, para designar passagens de cujo res-
peito havia dúvida quanto a se devia, ou· não, ser suprimida, por
ser ou não glosa ou interpolação;
5) * --+- asterisco-óbelo (asterisco-obelisco)
ou 6belo-asterisco (obelisco-asterisco) ~mpregava-se, nos
c6dices, para indicar versos que deviam estar fora de sua provável
posição original;
6) --;.. ..:..:.. - lemnisco
anotava passagens, em c6dices das Sagradas Escrituras,
explicadas ou traduzidas no mesmo sentido, isto é, sem discrepância
de exegese, por· intérpretes da.~ mesmas;
7) Y. - antfgrafo
marcava, em c6dices das Sagradas Escrituras, passagens de·
que se conheciam versões de sentido diferente ou discrepante;
8) p- Y'lr - parágrafo
a) colocado, nos c6dices, depois de um ponto (quandv o
havin.) e antes de um trecho, estabelecia sua separação do trecho
anterior - o que, nos incunábulos, ocorre, depois sob a forma de
mudança de linha com a sua antecipação e por fim como mudança
de linha e sua omissão - deixado em branco, porém, o lugar que
lhe devia corn!sponder (origem do atual branco paragráfico);
b) usado, em tipografia, como indicativo de remissão reci-
proca do texto ao rodapé da página, como um dos vários recursos
alternativos do asterisco nessa função;
c) usado, em tipografia, como indicativo de seções de um
todo:
9) , '( -, - positura ~u pontusal
colocado, nos c6dices, em certos casos, como elemento
oponencial complementar do parágrafo, para indicar o término do
mesmo, o que equivalia, a rigor, a n6vo parágrafo;
10) ....:.. - criia
figurava, nos c6dices, à margem de passagens que, por sua
obscuridade, não haviam logrado interpretação conveniente;
190 ANTÔNIO HOUAISS

11) ) - antissigma
nos c6dices, entre dois versos, indicava que a ordem pro-
vável dêstes devia ser inversa;
12) > - diplo
indicava, nos c6dices de escritos eclesiásticos, p8.888.gens
citadas das Escrituras;
13) .... - diplo truncado
indicava, nos c6dices, as diferentes intervenções das per-
sonagens nos diálogos dramáticos, origem do travessão coín a mesma
função nos impressos tipográficos;
14) *{- - ceráunio
indicava, nos. c6dices, como supérfluas, extensas passagens
de versos;
15) ~ - cresfmon
chamava atenção, nos c6dices; sôbre um ponto qualquer
importante;
16) cB - frôntis
advertia, nos c6dices, que se lesse com detimento a passa-
. gem, por ser de diffcil inteligência;
17) T - Ancora inversa
a) chamava atenção, nos c6dices, para passagens-part.icular-
mente notáveis, no que se confundia, em parte, com o cresúnon;
b) usado, depois, em tipografia, para· remissio reciproca,
do texto ao rodapé- e vice-versa, nae notas;
c) usado em técnicas náuticas pam signo de portos ou
de navegabilidade, já.· nessa .forma, . já na seguinte;
18)l . . :._ Ancora .
a) indicava, nos c6dices, passagens repugnantes ou ino-
portunas, escatológicas, imorais, obscenas, inadequadas;
b) usado, depois, em tipografia, para. remissão recíproca
do texto ao rodapé e vice-versa, nas notas;
c) usado em técnicas náuticas como o anterior;
19) 3 Y r - coroa, coroni8
nos c6dices, marcava ordinàriamente o fim da obra: "finis
coronat opus".
ELEMENTOS DE BIBLIOLOGIA 191
20) j ~ - versículo
indicava, nos escritos sagrados, sobretudo biblicos, os
versículos;
21) ~ 1\ - responso
indicava, nas litanias, nas antffonas, no cantochão, os
responsos;
22) • ~ cris~ (dita, também, cruz de Malta)
a) servia, em tipografia, para remissão recfproca de notas,
do texto ao rodapé, e vice-versa;
b) servia, também, para indicar o batismo, em certos ver-
betos biográficos;
_23) t - cruz
a) -serve, -em tipografia, para remissão reciproca de notas,
do texto ao rodapé, e vice-versa;
b) serve, também, para anteceder a data de falecimento,
em certos dicionários ou enciclopédias, nos verbetes biográficos;
24) t - adaga.
servia, em tipografia, para remissões recfprocas, do texto
ao rodapé, nas notas; variante da cruz, .uprca;
25) f - adaga dupla ou dupla adaga
mesma função, com figuraçlo distintiva, da anterior;
26) t - cruz dupla (dita, também, cruz de Lorena)
mesma função, oom figuração distintiva, da anterior;
27) Jt--+ - seta
variante do óbelo, do pbnto de vista tipográfico (em ver-
dade, parece que o 6beló é nio mais que uma estilizaçio da seta);
função indicativa;
28) > - Angulo maior
a) indica que a unidade à esquerda é maior do que a da
direita, em matemáticas;
b) em etimologia, que a unidade à esquerda origina a da
direita, ou é forma anterior (no tempo) desta;
29) < - Angulo menor
a) indica que a unidade à esquerda é menor do que a da
direita, em matemáticas; ·
b) em etimologia, tem a mesma função que o Angulo maior, .
invertidas as posições do originante e do originado;
192 A N T ÔN I O ·u OU A I S S

30) Obs.: Outros signos - aproveitados, por exemplo, da


notação matemática, da notação musical - podem, eventualmente,
ser usados para fins tipográficos e bibliológicos, quando então o
autor que dêles faz uso estabelece em sua obra a convenção. ade-
qmida. Ademais, sempre, obviamente, ter em conta que um sem-
núniero de signos é hoje em dia empregado em cada técnica cuja
exposição impressa exige economia e eficácia.
2 . 9 .8 Sinais -Na acepção restrita em que está sendo usado
o vocábulo "sinal" neste livrinho, deveriam ser aqui estampados,
a título de exemplificação, alguns dos mesmos. São êles, de re-
gra, vinculados com as convenções de sinalização rodoviária,. com
a sinalização semafórica visual - cromática e luminosa - , co·m
as sinalizações navais, militares, aeronáuticas e outras. Daí, des-
cambaríamos para os sistemas de telecomunicações, com as suas
conexões criptográficas. Dado, entretanto, seu caráter por de-
mais especializado, fica aqui .s ua ~era constância, remetendo-se
o leitor para obras técnicas ou mesmo enciclopédias modernas,
que são satisfatórias, sob certos particulares (v., por exemplo,
ENBR, s.vv. railways e signal commtmication).

2 .10 ALGARISMOS E NÚMEROS - Ainda afim e conexo com a


questão ortográfica é a do uso dos algarismos e números. Como
é sabido, na tradição · ocidental perduram e coexistem dois tipos
principais de algarismos - o romano e o arábico. A Bua deno-
minação é fiel às origens. Os números podem sempre ser escritos
literalmente por extenso, mas ordinàriamente se usa dos algaris-
mos, que são, essencialmente, notações ou signos ideográficos, legí-
veis em línguas diferentes diferentemente (cf. COBE, 101) . .
2 .10 .1 Algarismos - Os algarismos romanos, de que nos ser-
vimos ainda em certos casos, correspondem a um tipo de notação
sistemática mais primitiva. O sistema baseado no valor posicio-
nal já havia sido compreendido pelos babilônios e, independente-
mente, pelos maias, por exemp1o. ~ Sua pedra de toque de relativa
perfeição foi-lhes dada pela invenção do "zero", que podia ocorrer
em qualquer lugar em que faltassem determinadas unidades.
Tudo leTa a crer que os primeiros a se servirem cabalmente dêsse
sistema posicional foram os hindus; em seguida, adotaram-no os
árabes nos primeiros séculos da Hégira, de forma que já era
corrente entre êles pelo século IX; transmitiram-no para a Eu-
ropa, em que se generalizou tardiamente, . pelo século XIV em
d,iante ( cf. oou:E, 102). Mas enquanto os algarismos do sistema
romano guardam os caracteres formais de suas origens, por sua
vinculação com o alfabeto latino, o sistema de algarismos arábicos
ELEMEN'rOS DE BIBLIOLOGIA. 193

sofreu uma adaptação sensível na sua figuração ocidental. Ea-


cusa lembrar os signos ideográficos (l!Ue são usados nos dois sis-
temas: a) romano·- I - V - X - L - C- M; b) arábico-
1 - 2 - 3 - 4 - 5 - 6 - 7 - 8 - 9 - o.
2 .10. 2 Os sistemas _:__ Dada a avassalltdora superioridade do
sistema árabico, cuja eficácia se patenteou sobretudo no cálculo e
nas operações matemáticas numéricas definidas, é possível tentar
uma sistematização dos seus empregos prefennciais, limitando-nos
a enunciar os casos em que a tradição vem continuando a preferir
os algarismos romanos, com o que, implicitamente, se esclarece e
campo de emprêgo dos algarismos arábicos. Embora nos eaaoa
adiante relacionados haja por vêzes episódicas discrepâncias no
emprêgo do sistema arábico com os números cardeais ou com os
ordinais, o fato é que se usa mais geralmente na nossa tradição
do sistema romano nos casos seguintes, cuja observância, · por isso
mesmo, preconizamos : .
a) na numeração dos "livros" (como seccionamento de uma ·
obra), "seções", "capítulo" e "números" (como seccionamento ju-
rídico);
b) na indicação da seqüência nominal, no tempo, de reis,
membros de famílias nobres, papas, patriarcas, altos dignitárioa
e. . . membros de dinastias plutocráticas norte-americanas;
c) na indicação de séculos, tendo como eixo o nascimento ~
Cristo, de Maomé e assimiláveis.
2 .10. 3 Algarismos romOIMs - Com relação ao sistema de al-
garismos romanos, note-se que há discrepâncias, de origem re-
mota, para a figuração de certos números, tal o caso de "quatrO",
que tanto pode vAlidamente ser representado por "IIII" como por
"IV"; observe-se, também, que os inglêses e os norte-americanoa,
pelo menos, preferem a primeira figuração, enquanto os "latinos"
e alemães a segunda, modernamente; note-se, ainda, que os pri-
meiros usam tanto da série com minúsculas - i, ii, iü, iiii, v, vi,
vii, viii, viiii, x etc. - , quanto da série com maiúsculas - I, 11,
III, IIII, V, VI, VII, VIII, VIIII, X etc. - obtendo, assim,
variedade para efeitos de realce material ou para efeitos de see-
cl.onamento, enquanto nos outros povos ·os usos adscrevem-se u
maiúsculas. Com relação à ordem "século I/ I século", "século XV
/XVI século", "século XX/XX século", não há, em português,
como optar, pois ambas se justificam, aí havendo tão-sõmentt
que levar em conta a seguinte particularidaide de leitura:
nos romanos de I a X é de regra, aí, lê-los em ordinal, qual-
quer que seja a ' ordem ; assim, "século I I I século" ler-se-á
"século primeiro I primeiro século" e do mesmo modo até "sécul•
194 ANTÔNIO HOUAISS

X I X século", "século décimo I décimo século"; a partir do ro-


mano X, exclusive, conforme fôr a ordem, ler-se-á em ordinal ou
eardinal; assim "século XI, XII, XV, XX" lê-se "século· onze,
doze, quinze, vinte", enquanto "XI, XII, XV, XX século" se lê
"décimo primeiro (ou undécimo), décimo segundo (ou duodéci-
mo), décimo quinto, vigésimo século".
2 .10. 4 Algarismos arábicos - Com relação ao jjÍstema arábico
6 de notar que : ··
a) a técnica numerol6gica prescreve o uso da vírgula sepa-
rat6ria entre a parte inteira e a parte decimal; estas, por sua
vez, da vírgula. para esquetda, no primeiro caso, e de vírgula
para a direita, no segundo caso, preconiza a separação das ordens
em classes de três algarismos, separação que pode ser indicada já
por um ponto já por um branco e espacejamento; esta última
disposição pode deixar de ser observada nos números indicativos
de cronologia, com eixo no nascimento de Cristo, da Hégira de
Maomé, ou equivalentes, a saber : 1 956 d. C. ou 1. 956 d. C. ou
1956 d. C. ; 1 325 d. H. ou 1. 325 d. H. ou 1325 d. H. ;
b) nos quadros estatísticos e em colunas numéricas, tanto a
vírgula quanto o ponto podem ser omitidos, se o cabeçalho que
es encima define ou previne a constância de sua posição; essa
«lisposição, mais moderna, visa a evitar a superposição da vírgula
Jtormal ou invertida, que costumava ocorrer até muito tempo
(10'546 ou 10'546), pois com isto não se evitava o estreitamento
cio branco interlinear ;
c) lei ou praxe, no que tange às moedas, fixa sua indicação
e separação de suas ordens; para o cruzeiro o símbolo é Cr$ e suas
partes se indicam assim: Cr$ 3 545 674,60 ou Cr$ 3.545.674,60,
enquanto para os d6lares •arte-americanos se faria U. S.$
3,545,674.60 ou US.$ 3 545 674.60;
d) por praxe também é de observar que, nos impressos de
qualquer natureza, a figuração dos números, em função de quais-
quer ~nidades, não seja partida ; destarte, um número como, por
exemplo, 10.437.594 (ou 10 437 594), se ocorrer em fim de linha
onde não aaiba todo inteiro, êsse espaÇo insuficiente deve ·, ser
pontilhado ( ...... ) (melhor, tipogrAficamente, ·será recorrer de
modo que se evite o pontilhado) e o número todo inteiro transposto
para a linha seguinte; se o número fôr antecedido do símbolo de
· IIIUa unidade, êsse símbolo poderá, entretanto, ficar separado do
•úmero (Cr$ . .. .. I 10.437.594,00) (a barra oblíqua anterior
indica a muda:i:t.ça de linha).
2.10. 5 Algarismos em geral - Com relação aos números em
geral, isto é, figurados por algarismos romanos ou por algarismos
E L ' E H B N TOS DE B I B L I OL OGI A 195

arábicos, obse:r;ve-se que é de uso prático evitar tais figur&ÇÕel


e escrevê-los por extenso, palavra por palavra:
a) .quando a figuração numérica devesse ocorrer em inicial
absoluto ou ap6s ponto;
b) quando a figuração numérica é de aproximação, a saber,
"três mil e poucos" e não "3.000 e poucos" ou "3 mil e poucos;
c) quando a figuração numérica é de estimativa, a saber.,
"o número da ordem de quatro mil e duzentos e cinqüenta" e nãe
"o número da ordem de 4.250", salvo em cronologia, quando se
porá, por exemplo "por volta de 1600, aconteceu· o fato" ou "e.
1.600" e não por extenso.
2 .10. 6. Ortografia e morfologia dos n-úmeros
Escusa lembrar que, no escrever o número por extenso, pala-
vra por palavra :
a) é dispensável o emprêgo do hüen;
b) é dispensável o emprêgo de qualquer sinal de pontuação
intermédio;
c) deve-se usar adequadamente do "e" conjuncidnal, cujaa
regras, no caso, são as seguintes :

1) dentro de cada classe, cada ordem deve ser, se existir


verbalmente, antecedida de "e": "435" serão "quatro-
centos e trinta e cinco"; "405" serão "quatrocentos e
cinco";
2) entre as classes não haverá "e", a saber.,
"7 .437. 950. 430" serão "sete biliões quatrocentos e
trinta e sete milhões novecentos e cinqüenta mil qua-
trocentos e trinta"; se, porém, as classes não tiverem
ordens expressas verbalmente, a última classe sem
ordens será antecedida de "e", a saber, "1.550.600.700"
serão "um bilião quinhentos e cinqüenta milhõell
seiscentos mil e setecentos", ou "12. 700.000. 000"
serão "doze biliões e setecentos milhões"
e escusa, ainda, lembrar que as formas ortográficas e morfológi-
cas seguintes são de respeitar, nos numerais, consoante seja e
original (coloca-se em primeiro lngar a forma preferível, por
mais correntia, no Brasil, quando de emprêgo preferencial e nãe
alheio, se não impender razão em contrário) :
1) dois, dous
2) catorze, quatorze
3) dezesseis, dezasseis
4) dezessete, dezassete
5) dezoito, dezóito
196 ANTÔNIO HOUAISS

6) dezenove, dezanove
7) cinqüenta, cincoenta
8) milião, milhão
9) bilião, bilhão
10) trilião, trilhão
11) quatrilião, quatrilhão
12) quintilião, quintilhão
13) sextilião, sextilhão
14) septilião/setilião, septilhão/setilhão
15) octilião/oitilião, octilhão/oitilhão
16) nonilião, nonilhão (alternando, em t6das as formas referidas,
os radicais "novi-" com "noni-")

observando-se que entre a classe dos "milhões" e dos "biliões"


tem havido, modernamente, a tendência, pelo menos no Brasil, de
incluir a dos "milhares de milhões", para conformar a esta com
o francês milZiard e o inglês milliard, ficando o nosso "bilião"
a corresponder ao francês biUion. e ao inglês billio'fl..
2.10. 7 Ordinais - Escusa, ainda, lemlilrar que os ordinais em
português têm figuração de abreviatura, consistente na ·. superpo-
aição à direita de 0 , a, 01 , . ., assim, ou com barrinha horizontal por
baixo (os ordinais são flexionáveis, normalmente, em gênero
e número). Por pobreza evetrtual dxl parque tipográfico,
tem-se generalizado o uso dos ·ordinais abreviados sem a superpo-
aiçio em aprêço, numa tendência comum, como vimos, às abrevia-
~ e abreviaturas. Escusa lembrar que na leitura dos ordinais
jamais se usa do "e" conjuncional intermédio; e que a figuração
abreviada; no texto, é de ·valor fundamentalmente técnico e de
precisão matemática, razão por que em obras essencialmente dis-
cursivas seu cabimento é mínimo, salvo, por acaso, em historio-
palia, quando se fala de "34.a legislatura", por exemplo, quando
eaberia perfeitamente também "trigésima quarta legislatura",
mesmo em título de capítulos. Escusa, ainda, lembrar as formas
dos ordinais em português :
1") primeiro
1") primeira
t••) primeiros
1.. )primeiras
2•) segundo (omitem-se as flexões, iguais às anterio-
res, daqui por diante) .
3•) terceiro
4•) quarto
5•) quinto
&•) sexto
7•) sétimo
8") oitavo
9•) nono
to·> décimo
ELEMENTOS DE BIBLIOLOGIA 197

11") décimo primeiro, undécimo


12") décimo segundo, duodécimo
13") décimo terceiro ·
20") vigésimo
21") vigésimo primeiro
30") trigésimo
32") trigésimo segundo
40") quadragésimo
43") quadragésimo terceiro
50") qüinquagésimo, quinquagésimo
54") qüinquagésimo (quinquagésimo) quarto
60") sexagésimo
70") septuagésimo
80") octogésimo
90") nonagésimo
100") centésimo
200") ·ducentésimo
300") tricentésimo
400") quadringentésimo
500") qüingentésimo ( quingentésimo)
600") seiscentésimo
700") septingentésimo
800") octingentésimo
900") nongentésim~
1000") milésimo
2000") segundo milésimo.
1 ooo·ooo·> milionésimo
3 ooo ooo•) terceiro milionésimo
1000 000 000") bilionésimo

devendo-se notar, com relação aos ordinais:


a) que a pronúncia da sua terminação foi, entre eruditos,
flutuante [ézimu] ou [ésimu], mas hoje tende avassaladora para
a esperável [ézimu] ; .
b) que têm curso vivo os ordinais até "décimo", nas seria-
ções de volumes, de séculos, de reis, de andares, mas não de dinas-
tias ; a questão, àliás, como vimos, flutua quanto à posição do
numeral, pois se anteposto, sempre é lido como ordinal.
2 .10. 8 Fracionários - Os fracionários decimais já vimos
como devem. ser representados, assim como a posição devida da
vírgula, v.g. 12 437,573 42 - cuja leitura é "doze mil quatro-
cento~ e trinta e sete (unidades inteiras) cinqüenta e sete mil
trezentos e quarenta e dois centésimos milésimos". As ordens
fracionárias, pois, são indicadas por décimo, centésimo, milésimo,
décimo milésimo, centésimo milésimo, milionésio, décimo milioné-
simo, centésimo milionésimo, bilionésimo, décimo biljonésimo etc.
Tratando-se de fracionários ordinários, usa-se do símbolo - ou I
para indicar a fração, v.g. 1 ! ou 2/13, em que a segunda dis-
posição, para certos fins tipográficos ocasionais, é melhor por não
198 ANTÔNIO HOUAISS

exigir algarismos de corpo menor ou, caso contrário, entrelinha-


manto especial. A leitura dos fracionários se faz por meio de
um provável sufixo substantivado "avo(s)" após o denominador,
lido o numerador e o denominador como números cardinais, v. g.
"dois treze avos", "23/47", "vinte e três quarenta e sete avos"
etc .. salvo, entretanto, os denominadores de 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9
10, 100, 1 000, 1 000 000 e múltiplos decimais exatos ·superiores,
que podem ser lidos quanto ao denominador, assim:
1/2 um meio, meio
3/2 três meios
2/3 dois terços
1/4 um quarto
2/6 dois quintos
3/6 três sextos
4/7 quatro sétimos
6/8 cinco oitavos
7/9 sete nonos
9/10 nove décimos
10/11 dez onze avos
10/12 dez doze avos
32/100 trinta e dois centésimos
2/1000 dois milésimos
326/2 000 trezentos e vinte e cinco dois mil avos
100/1 000 000 cem milionésimos

ocorrendo, porém, a possibilidade, para evitar eventual figuração


por parte de outrem de fração decimal em lugar de fração ordi-
nária, a leitura com avos em casos como os admitidos acima, v.g.
"cem um milhão de avos", para corresponder à. figuração 1001
1 000 000, pois se dito "cem milionésimos" poderia ser 0,000 100.
2.10.9 · Multiplicativos - Escusa, ainda, por fim, lembrar a
existência, na língua, dos chamados numerais multiplicativos
duplo/dôbro, triplo, quádruplo, quíntuplo, séxtuplo, séptuplo,
6ctuplo, nônuplo, décuplo, cêntuplo e certas formas analógicas,
Tíntuplo I vigíntuplo, trigíntuplo, quarêntuplo I quadragíntuplo,
cinqüêntuplo I qüinquagíntuplo etc. (segundo sejam os radicais
derivantes portuguêses ou latinos), que não têm figuração sim-
bólica nem abreviaturas, . assim como de coletivos numéricos, subs-
tantivos ou adjetivos, v.g. com radicais de "dia", "mês", "ano".
ou não: centúria, qüinqüêndio, decêndio, decendiário, mensal, se-
mestral, semestrário, qüinqüenário, cinqüentenário, centúrio, mi-
lenário, centenar, milhar etc.
CAPÍTULO III
TRADIÇÃO DA DOCUMENTAÇÃO ESCRITA

3. DOS IMPRESSOS
Os livros - uma vez impressos - têm var1a fortuna. As
vêzes, caem de tal modo no gôsto dos leitores ou correspondem
de tal modo às necessidades dos consumidores, que sua reimpres-
são ou sua reedição se· torna muito freqüente ; às vêzes, são de
tal modo infelizes, que jamais lograni uma segunda edição ou
mera reimpressão ; mas, em certo número de casos, conseguem
obter, de tempos em tempos, uma nova edição. Na tradição li-
vreira do Brasil, ainda não é hábito distinguir rigorosamente a
reimpressão ila reedição, e êsse fato se deveu, em grande parte,
à circunstância de que, não logrando . os livros grande procura,
isto é, grande tiragem, com o seu complemento natural, que seria
o seu rápido esgotamento, raro ocorreu ao editor guardar as ma-
trizes com que pudesse reproduzir novos exemplares com identi-
dade total de características tipográficas. A guarda das matrizes,
monotípicas ou linotípicas, supõe a paralisação eventual de um
capital, representado pelo metal que poderia, fundido, ser apro-
veitado para composição de outro livro, e supõe locais de guarda
- o que se traduz por despesas e por lucros cessantes, que só
aleatõricamente poderiam vir a ser compensados, se o livro. em
causa viesse a demandar novas· e rápidas tiragens sucessivas.
1!lsse mal, modernamente, vai, porém, sendo superado, com novas
técnicas de guarda da composição, graças a matrizes econômicas
(papel, cartão, papelão, plástico, fitas perfuradas, magnéticas e
afins) que ocupam mínimo espaço. Tal inovação té·cnica, aliada
à circunstância de que as matrizes em causa comportam correções,
revisões e mesmo melhora, materializa a possibilidade de poder-
mos, em futuro não remoto, atingir o "livro perfeito", não do
ponto de vista da substância ou de sua feição estética, sempre
variável ao sabor do avanço do conhecimento e da evolução do·
gôsto, mas "livro perfeito" do ponto de vista da correlação do
original com o impresso. Prevalece, em conseqüência, no Brasil,
a reedição do livro, quando a há, razão por que, nos raros casos
200 ANTÔNIO HOUAISS

de reimpressão se fala também, entre nós, de reedição, ao passo


que em livros da língua inglêsa são freqüentes menções em se-
qüência, para um livro, como estas: fírst impression, second im-
pression, tkird impression, second edition, reprintend in (data),
reprinted in (data), tkird edition revised and enlarged etc.; em
francês: premiere édition, réimpressiO'n en (data), deuxieme édi-
tion, réimpression en (data) ... troisieme édition refondue et re,
maniée etc., ocorrendo também, sobretudo em francês, o hábito de
indicar aditivamente ou meramente o número de milheiros de re-
impressão.
3 .1 ACUMULAÇÃO DE ERROS - Os livros - salvo quando não
logram reimpressão ou reedição - sofrem de uma contingência
que a técnica moderna apenas agora principia a habilitar-se a
superar, como vimos acima; essa contingência consiste em que o
número de erros tipográficos - que pode ser maior ou menor na
primeira edição (e não há livro que não tenha erros tipográficos,
por mais perfeito que seja!) - tende a aumentar com as reedi-
ções. Em breve, o texto de uma reedição qualquer pode deixar
de merecer fé, pelo menos para certos fins, não é fidedigno em
suma, a não ser para os leitores de folheio em diagonal ; já o
leitor "vertical" pode sentir-lhe os deslizes, que são mais patentes
para o leitor "horizontal" e mais ainda para o leitor "vocabular",
o "silábico", o "literal"... ~ em conseqüência dessa contingên-
cia que se postula o problema dúplice da fidedignidade e da
fidelidade textual. Com efeito, quando a interpretação de um
texto, de um excerto, de uma passagem, de um vocábulo, de uma
vírgula, pode ser a chave para a elucidação de um pormenor que,
por seu alcance, pode repercutir na visão ··de conjunto que se
tem de um problema, uma mera vírgula, uma omissão ou defor-
mação vocabular e, com mais razão, uma adulteração, uma la-
cuna, uma alteração do texto são de enorme relêvo e importância.
Daí, para o filólogo, para o historiógrafo, para o exegeta, ·para
o hermeneuta, para, em suma, o cientista, o erudito, o culto, o
sábio, o ésteta, a necessidade imperativa de lidar com textos fi-
dedignos e fiéis. Daí, também, o aparecimento de lima ci~cia
e técnica da edição-de-texto, a chamada, modernamente, ecdótica,
com suas particularidades de hermenêutica e de exegética.
3 .1.1 Edições-de-texto no Brasil - Cabe, liminarmente, con-
signar ·àqui um·a realidade conjuntural brasileira; se nos países
de alta tradição cultural a disponibilidade de textos fidedignos e
fiéis é ainda pequena relativamente, o fato está, no Brasil, em
situação muitíssimo mais precária, podendo-se afirmar, sem som-
bra de êrro, que entre nós nem a velha ecdótica - salvo eventual-
ELEMENTOS DE BIBLIOLOGIA 201

mente com FRANCISCO DE ADOLFO VARNHAGEN, ALFREDO DO V ALE


CABRAL e JoÃo CAPISTRANo DE Â.BREU (não sem razão homens de
sentido historiográfico) ( cf. RODR) - nem a nova - salvo com
SousA DA SILVEIRA ( cf. ABRE ; ABRF; MAGA) e CELSO FERREIRA DA
CuNHA (ef. cuNA, cuND, cUNF) - produziram seus frutos siste-
máticos. Ao contrário, Ultimamente entre nós não poucos têm sido
os autores, mortos ou vivos, reeditados em obras de conjunto ou
em coleta de esparsos, mas sem a mais remota preparação inte-
lectual específica por parte dos editôres-de-texto. Há •honrosas
exceções e, a mero título ilustrativo, sem pretender esgotar listas,
lembremos MANUEL BANDEIRA (cf. DIAs), AURfLio BuARQUE DE
HOLANDA FERREIRA ( cf. LOPE), AUGUSTO MAGNE ( cf. CART), DARCY
DAMASCENO (cf. PENA), ADRIANO DA GAMA KuRY (cf. BARB), NIEL
AQUINO CAssEs (cf. CASY), ANTÔNIO HouAiss (cf. DIAT, ANJo),
bem como o trabalho entre de nós de M. RoDRIGUES LAPA (cf., por
exemplo, LAPE). Merece também realce, pelo montante e comple-
xidade relativa da tarefa, a edição das obras de LIMA BARRETO
(cf. BARR), em dezessete volumes, feita sob a organização de FRAN-
CISCO DE Assis BARBOSA, com a colaboração de ANTÔNIO HouAISS
e MANUEL CAVALCANTI PROENÇA, mas com as ressalvas críticas
formuladas no prefácio do XI volume, em que o principal res-
ponsável do texto mostra até onde a edição é fidedigna e onde é
fidedigna e fiel. Na prática, em sum.a, quase todos os autores
brasileiros e portuguêses que merecem ser reeditados merecê-lo-iam
sob critérios críticos, ecdóticos, mormente os de porte para a
história cultural nacional, como, sem exaurir lista, MANUEL Bo-
TELHO DE OLIVEIRA, NuNo MARQUES PEREIRA, SEBASTIÃO DA RocHA
PITA, MANUEL DE SANTA RITA ITAPARICA, ANTÔNIO JosÉ DA SILVA,
DOl(lNGOS CALDAS BARBOSA, CLÁUDIO MANUEL DA COSTA, JOSÉ BA-
SÍLIO DA GAMA, FRANCISCO DE MELo FRANOO, MANUEL INÁCIO DA
SILVA ALVARENGA, JosÉ DA SILvA LisBOA, ANTÔNIO PEREIRA DE
SouSA CALDAs, JosÉ BoNIFÁCio DE ANDRADA E SILVA, FRANcisco
DE SÃo CARLOs, FRANCisco DE MoNTE ALVERNE, Jost DA NATIVI-
DADE SALDANHA, MANUEL ÜDORICO MENDES, FRANCISCO SOTERO DOS
REis, JoÃo FRANCisco LISBOA, DoMINGOs Jost GoNÇALVES DE MA-
GALHÃEs (salvo para com os Suspiros poéticos e saudades, edita-
dos por SousA DA SILVEIRA, cf. MAGA), MANUEL JosÉ DE ARAúJo
PôRTO ALEGRE, Â,NTÔNIO FRANCISCO DUTRA E MELO, ANTÔNIO PE-
REGRINO MAciEL .MoNTEIRO, ANTÔNIO GoNÇALVES TEIXEIRA E SouSA,
FRANCISCO ÜTAVIANO DE ALMEIDA RosA, JosÉ MARTINIANO DE
ALENCAR, BERNARDO .JOAQUIM DA SILVA GUIMARÃES, JOAQUIM
MANUF.L DE MAcmo, Luís NICOLAU F AGUNDES V A.ItELA, CAsTRo
ALVEs, Az.ufsiO DE AzEYEDo: EucLIDES DA CuNHA ( cf. CARP). Isto
202 A . N T Ô N I O. H OU A1S S

sem referir, por exemplo, os verdadeiros casos complexos, como o


de GREGÓRIO DE MATO$, . cuja futura edição crítica provàvelmente
constitui o mais belo problema de . ecdóÜca brasileira, com ·os para
cêrca de catorze apógrafos supérstites, segundo creio possuir
CELSO FERREIRA DA CuNHA: oxalá a tarefa seja empreendida, n()
que, de um lado, será o que se aventurar auxiliado pelos trabalhos
apologéticos em geral do poeta brasileiro e, de outro lado, · pelos
restritivos, como o d~ SfLvm JÚLIO ( cf. JULI), muitas de cujas
restrições, se despojadas do azedume com que são feitas, ·ajudarão
à tarefa da crítica de atribuição, preliminar fundamental para o
ulterior esfôrço de ·estabelecimento do texto. ·
3 .1 .1.1 É provável que a consciência de que necessitamos já
nesta altura de nossa evolução cultural de textos fidedignos e
fiéis, de um lado, e de que, infelizmente, de outro, não dispomos
de editôres-de-texto em qualidade e quantidade hábeis, seja a ra-
zão de havermos em muitos casos seguido a melhor solução. A
melhor solução foi a das reedições fac-similares, dentre as quais-,
pelo vulto e oportunidade da obra, cabe ressaltar o Dicioflá.rio da
língua portuguêsa, de ANTÔNIO DE MoRAIS SILVA, por iniciativa
de LAUDELINO FBEIRE (cf. SILQ), após a qual saíram por iniciativa
da Acadeinia Brasileira de Letras e depois por iniciativa do Ins-
tituto Nacional do Livro outras tantas. reedições fac-similares (cf.,
por exemplo, ABRA CASA), sem contar a reedição fac-similar da
Constituição d{)s Estcuks Unidos do Brasil, promulgada a 24 d&
fevereiro de 1891 ( cf. CONG).
3 .1. 2 Erros, 6bvios e latentes - A acumulação de erros num
texto decorre da verificação empírica de que não há livro sem
êrro tipográfico, 6bvio ou latente. O limite entre um tipo de
êrro e o outro é difuso e flutuante, mas os casos extremos são
perfeitamente característicos, consoante os períodos da língua, ou
a escola literária, ou o autor. É êrro óbvio - caracterizada que
seja a tensão lingüística geral de um autor · - uma forma como
preguntar, que nouiro autor, noutra época, pode ser não apenas
justa, mas a "correta"; é êrro 6bvio, qualquer que seja o autor
ou a época, uma forma como lwvro ·ou como ·reduçãos, salvo, no
segundo caso, se se tratar de forma tJd h.oc ou de escrito circuns-
tancial de escriba semiliteratado - o que confirma o asserto. Os
erros latentes, porém, são muito mais difíceis de vislumbrar e
localizar, pois podem apresentar feições graduadas: · (a)' pode
ocorrer que a forma ou ·o esquema considerados sejam em si cor-
·retos, conio, por exemplo, "êles digladiavam-se", quando na reali-
dade o autor quisera "êles se degladiavam", o que s6 se poderá
apurar do cotejo com a fonte autorizada; (b) pode ocorrer que a
ELEMENTOS DE BIBLIOLOGIA 203

forma seja, à luz de certo cânon gramatical, "errada", quando


o autor a quis exatamente assim, isto é, divergir consciente ou
inconscientemente do cânon, como, por exemplo, quando um poeta
diz "se a amada pedir-te uns vel'ISOs tristes"; (c) pode ocorrer que a
forma considerada seja correta e clara, mas contra o contexto,
como, por exemplo, quando o texto oferecer "êle se parece comigo"
onde o contexto pediria exatamente "êle não se parece comigo" ...
Escusa ensarilhar hipóteses de erros latentes, que se caracterizam
muitaa vêzes por não parecerem erros .. . (cf. KARI).
3 .1 . 3. Correr;~ e ctWreção de erros - Latentes ou óbvios, os
erros tipográficos de um livro já impresse mas não fmalizado,
quando localizados em tempo pelo autor ou pela revisão, são fre-
qüentemente objeto de um erra.tum (ou de uns errata, ou de uma
'errata') na própria edição. Na reedição, é elementar que a
errata seja levada em linha de conta; se, porém, não figurar
impressa, é de presumir - salvo os óbvios, flagrantes e gritantes
- que os erros pasSarão para a segu11.da edição, acrescidos dos
erros próprios a esta; numa terceira edição, a tranAJDissão de
erros será cumulativa, acrescida, em -n edições, de um nôvo fator
de · adulteração do texto: o arbítrio com que serão "corrigidos"
pelos l"evisores os erros reais e os imaginários, sem consulta da
primeira edição ou do original, se existir. Em breve, um texto
em edição comercial corrente é, a priori, merecedor de tôdas as
reservas, e qualquer observação de pormenor deve, se baseada em
tais te,:xtos, ser precedida de uma preliminar: vale a pena fazer
a observação ou não será melhor antes verificar se o local em
causa é tal como consta na edição I .Generalizada, como deve ser,
essa dúvida sistemática, éompreende-se de pronto a dificuldade de
trabalhar com tal texto, salvo se; ao cabo de -n verificações, se
puder concluir que, a posteriori., tal edição merece fé. ·
3.1.4 . Te:dos e erros - Um texto pode ser - correntemente
- reputado bom ou mau. Por mau - numa gradação que vai
do péssimo ostensivo, por visíveis incoerências internas e externas,
ao mau latente, em que à primeira vista não se podem depreender
suas adulterações - entende-se o texto que se distancia do origi-
nal, ou da primeira edição, ou da edição autorizada, sem a chan-
cela do autor. Já o bom texto seria o fidedigno e o fiel - duas
noções que, embora :qlUito próximas, se devem distinguir, dentre
outras razões, pela impóssibilidade freqüente de ambas as quali-
dades poderem coexistir; nas condições históricas da transmissão
~ herança literária. Fidedigno é o texto que merece fé, con-
. fiança e respeito, porque foi estabelecido com rigorosa observância
das características · encerradas no manuscrito, ou no original, ou
204 ANTÔNIO HOUAISS .

na edição príncipe, editio princeps, ou em edição autorizada.


Fiel é o texto que, pelo menos, não tendo sido estabeiecido com
rigorosa observância daquelas fontes, :por hnpedimento desta ou
daquela natureza, o foi com rigorosa observância de edição ante-
rior, da qual há plausíveis razões para lhe supor qualidades de
fiel, quando não · d~ fidedigna. É óbvio que, se ao menos a fide-
lidade de uma edição fôsse obtida com relação a uma anterior, a
cadeia progressiva de erros que daí decorresse ·seria truncada de
um · elo, o que seria a garantia de um número consideràvelmente
menor de erros acumulados, sobretudo num país como o nosso,
em que â maioria dos livros publicados logra um número restrito
de reediÇões.
3. 2 cRiTicA TEXTUAL ou ECDÓTICA - A ecdótica, por conse-
gl;l.inte, cuida da edição-de-texto, em grau de complexidade de-
creseente que vai do passado ao presente, de autor morto a vivo.
Sua problemática pode escalonar-s~ nas seguintes fases :
1.0 ) na prilneir.a fase, cuida-se da estemática, isto é, do
estabelecimento do seu estema ou classificação genealógica das
versõés do texto· segundo as cópias, impressões ou edições que
teve; ·
2. 0 ) na segunda fase, estabelecido o · estema, quando não se
caracteriza incontroversamente o manuscrito autógrafo original ou
definitivo, obtém-se o protótipo ou, melhor, arquétipo (na tradi-
ção manuscrita), ou . a edição de base (na tradição impressa),
devendo-se notar que, neste caso, existindo a edição príncipe
única em vida do autor, esta é, via de regra necessária, a edição
de base; se, poréin, houver duas ou mais editiones principes, o
problema se torna mais delicado, pois ou elas correspondem a
duas ou mais gestações conceptuais de certo modo autônomas da
obra, ou a duas ou mais fases distintas de sua apresent~ão, ser-
vindo de típicos exemplos os problemas relacionados com as obras
de TOBQUATO TAsso, Gerusalemme Liberata e Gerusalemme Con-
quistata.
3. 0 ) numa terceira fase, fixado o protótipo ou arquétipo,
ou a edição de base, pode-se, então, tratar do estabelecimento do
texto, estabelecimento de que decorre, na grande maioria dos
casos, a necessidade de um aparato crítico que justifique as so-
luções seguidas pelo editor-de-texto, ademais da enunciação dos
princípios críticos gerais que o norteiam nessa tarefa, aparato
crítico que não raro ultrapassa os problemas meramente lingüís-
ticos e invadem os históricos lato sensu, institucionais, morais, ·
culturais, e são por isso mesmo, explanados nesse aparato ou em
seções anexas ao aparato.
ELEMENTOS DE BIBLIOLOGIA 205

3. 2 .1 Estabelecimento de texto - O estabelecimento do texto


é, pois, a um tempo um problema de ecdótica, de hermenêutica
'e de exegese. É impossível, em princípio, estabelecer um texto
que não seja totalmente compreendido pelo editor-de-texto, ainda
que alguns aspirem a uma como objetividade mecânica na opera-
ção ou ainda que êsse grau .de compreensão possa ser aprofun-
dado por outrem. Dessa forma, a inteligência de um texto Stl
logra por um crivo :
a) de tôdas as particularidades do texto, para que eventu-
almente qualquer uma dessas particularidades sirva de lição para
qualquer outra do mesmo texto;
b) de tôdas as particularidades e generalidades do contexto
- no que, inclusive, a história, a erudição ·em geral, a geografia,
a filologia, as idéias coetâneas, os ideais coetâneos, do autor, da,
sua geração, do país, da nação, do mundo, até o seu tempo, do
passado, possam trazer suas luzes ;
c) dos textos alheios anteriores e contemporâneos do autor,
na dupla operação (a) e (b) acima configuradas;
d) destarte, na base do protótipo ou arquétipo, ou da edição
de base, é factível volver o mais verossimilmente possível ao ori-
ginal ou à .edição príncipe ideal.
3. 2. 2 A crítica textual no passado - As mais antigas edições
críticas, ao menos no âmbito da cultura européia, são as dos poe-
tas gregos pré-helenísticos, feitas pelos críticos alexandrinos,
ZENÓDOTO, ARISTÓFANES DE BIZÂNCio, ARISTARCO. Seus trabalhos
incidiram preferentemente sôbre os poemas homéricos, com textos
não anotados, mas acompanhados de signos que exprimiam dú-
vida quanto à autenticidade da tradição ou que remetiam ao co:.
mentário, comentário que encerrava indicações sôbre os manus-
critos de que os críticos se haviam servido e sôbre as lições que
haviam adotado. A recensio se fazia segundo critérios internos,
as emendas não eram acolhidas no texto, a tendência era pura-
mente conservadora; entretanto, os versos reconhecidos como ~ão
autênticos eram transcritos no texto, embora com signos indica-
tivos de não autenticidade. Um trabalho grandioso de crítica do
texto foi empreendido, sôbre a Bíblia, por outro alexandrino, no
século III. ORfoENEs. Os métodos alexandrinos foram transpor-
tados para Roma, inicialmente por VARRÃO, o reatino, e depois,
na época imperial, por PROBO. JERÔNIMO aplica os métodos de
ORfGENES à Vulgata, representando, pelo amor do livro, um dos
marcos básicos na evolução moderna dêste, inclusive no seu ideal
normalizador (cf. ARNS). Signos críticos se encontram semelhan-
temente em manuscritos medievais. A época carolíngia, na Idade
206 ANTÔNIO HOUAISS

Média, conhece também a ·recensão de textos; mas os meios de


· que dispõe não lhe permitem verdadeiras edições críti~s. Avi-
zinha-se, entretanto, disso o exemplar da Regula sancti Bemdicti.
Os próprios humanistas pouco superam nesse respeito os doutos ca-
rolíngios ( cf. PA.SQ) •
3. 2. 3 A crítica textual moderna - A edição crítica no sen-
tido moderno progride a partir do século XVI, com estudos sôbre
a Bíblia grega e latina, de eruditos principalmente franceses.
Mas o fundador do método que teve curso em tôda a idade mo-
derna foi KA.RL LACHMA.NN (1793-1851), cuja obra-prima, no par-
ticular, é o conhecido prefácio à sua edição de LucRÉCIO, de 1850
( cf. LUCR). As características do método de LA.cHMANN são : ( 1)
a elaboração dos conceitos de recen.sio e emtmdatio; (2) a ela-
boração · do conceito de arquétipo; (3) o sistema de agrupar gene-
ticamente os manuscritos por meio dos erros comuns; ( 4) o pro-
cedimento mecânico na reconstrução do arquétipo, sob o funda-
mento de determinadas concordâncias; ( 5) a eliminação dos ma-
nuscritos suspeitos de interpolação; (6) a tentativa de reconstruir,
por considerações diplomáticas e por testemunhos externos, a his-
tória e 8 fortuna de um texto. o pressuposto do método de
LACHMA.NN era o da transmissão, da tradição restrita e prevalen-
temente mecânica, como seria a daqueles difíceis escritores e
poetas latinos tratados preferentemente por LA.cHKA.NN, como
PBOPÉRcro, CATULO, TmuLO, GENÉSIO, TERENciA.No MAURO, BIBruo,
AVIANO, GA.Io : e especialmente LucRÉCIO. Mas o próprio LAcH-
KA.NN COmpreendeu que O seu método não seria aplicável a um
texto não transmitido digamos mecânicamente, mas sim através
de recensões antigas, como o do Nôvo testamtmto, e assim havia
acenado com todo um outro método já a partir de 1824. Mas .
neste particular não teve LA.cHKA.NN continuador durante muitos
anos, pois ao contrário foi a lição do seu prefácio de LuCRÉciO
que exerceu poderosa influência não s6 entre germanistas, mas
também entre romanistas ( cf. PABQ).
3. 2. 4 A crítica textual atual - Os metódos da edição crítica
progrediram lentamente. ~ de data relativamente recente a
superação do preconceito contra os códices interpolados, já que,
como se pôde verificar, êstes podiam conservar, e conservaram,
tradições . genuínas, que com o seu abandono poderiam ser per-
didas. As publicações de catálogos, de fac-símiles, maiores faci-
lidades de transporte, maior liberalidade das bibliotecas públicas
e privadas na concessão de fotocópias e microfilmes, possibilita-
ram uma exploração mais ampla da tradição com menor consumo
de tempo. E só recentemente tamQém - graças àqueles recursos
ELEKENTOS DE BIBLIOLOGIA 207

- se pôde ver que a própria tradição do início da Idade Média


de textos gregos e latinos, que parecia una, mecânica, derivava de
fato de contaminações, de recensões. · Fundamental, a tal respeito, é
a moderna edição da H isto ria ecclesiastica, de EusÉBIO ( cf. EUSE),
assim com os trabalhos e estudos de HENRI QuENTIN (cf. QUEN).
Nos textos dessa natureza, a linha ordenadora do crifério tem
sido. cada -vez mais interna, por meio da lect1·o difficilior e do
usus scribenâi, embora também se socorra, como não podia deixar
de ser, de circunstâncias culturais e reais ligadas ao texto e af)
contexto. E - para não 11ermos demasiado omissos neste rápi "
e.sbôço como que histórico da crítica textual - aqui caberia d ... ·
a palavra a HENRI QuENTIN (QUEN, 9), citando os têrmos intro-
dutórios do seu prefácio:
A ecdótica é a parte da crítica relativa ao estabele-
cimento e à edição dos textos. Nela geralmente não se
vê senão uma arte exercida com mais ou menos virtuo-
sismo pelo editor, conforme possua êste mais ou menos
conhecimentos, faro e habilidade técnica. O objetivo dos
P!esentes Ensa·ios é de dar um método, mais positivo e,
se ouso dizer, mais científico às suas primeiras fases: a
elassificação dos manuscritos e a reconstituição do texto
do arquétipo. A arte vem em seguida, quando o estado
do arquétipo é tal que lhe são necessárias correções para
atingir o texto presumido original. Ou melhor, é o lugar
de uma outra eiência: a dos erros e de sua ~ênese, a que
Loms HAVET consagrou seu Ma.n1tel de critique verbale.
Meus Ensaios, bem mais modestos, não repetem essa úl-
tima obra: sua tarefa termina exatamente onde o Manuel
começa-
tênnos a que juntaríamos, do mesmo, o seguinte ( QUEN, 27) :
Pareceria que a crítica de edição seja uma arte que
não necessita de ser aprendida. De fato, ela não é ensi-
nada senão nas conferências práticas do Senhor J OSEPH
BÉDIER, no Colégio de França. A paleografia, a diplo-
mática, a 0ronologia, a gramática, a. filologia, tôdas as
ciências úteis ao editor, são objeto de ensino, mas, quando
se trata de fazer sair dos manuscritos antigos um texto
contido em um certo número dentre êles e de escolher
entre as diversas lições que apresentam, os guias passam
a falt«r ou quase isso; cada um deve ser seu próprio
mestre e fazer suas experiências. Trata-se de uma grave
lacuna na ciência crítica.
208 ANTÔNIO HOUAISS

3. 2. 5 A crítica verbal - A melhor elabora~ão de crítica ver-


bal - no que se refere, particularmente, ao latim, mas com al-
cance, por sua técnica, não apenas ao grego, -senão que a quaisquer
línguas de tradição escrita - continua sendo a de Loms HAVET,
no seu indispensável Manuel de critique verbale appliquée aux
textes latins (cf. HAVE), do qual diz MAAS, de forma concisamente
lapidar, ser "obra fundamental, mas as louváveis partes teóricas
estão dispersas num amontoado de exemplos ociosos e inoportu-
nos" (MAAS, XV). Essa opinião é sentida como tanto mais exata
quando se procura tentar dar as linhàs nodais do trabalho de
HAVET. Considerando, entretanto, seu caráter aplicado ao latim,
procuraremos, linhas adiante, ressaltar tão-sõmente aquêles as-
pectos teóricos da crítica verbal que têm alcance genérico, para
não apenas qualquer tradição manusctita, mas também para a
tradição impressa - já que um denominador de base psicofisioló-
gica comum subsiste ou subjaz nos erros, enganos e atos falhados
que, em essência, geram, no campo da tradição daquela ordem, as
causas e os objetivos da crítica verbal. A crítica verbal tem sua
razão de ser - sublinhemo-lo mais uma vez desde o início - no
fato de que qualquer tradição, manuscrita ou impressa, necessA-
riamente acarreta, gera, gesta, enseja, propicia erros, de vária
natureza e de causas várias - estas ligadas à pessoa do copista,
ou do tipógrafo-compositor, às suas condições de trabalho, ao
estado de apresentação do que se copia ou compõe. O fundo do
método da crítica verbal é a reconstituição hist6rica da transmis-
são do texto, da tradição do texto, desde o autógrafo, geralmente
perdido (pois caso contrário a crítica verbal pequena ou nenhuma
razão de ser teria), até os manuscritos ou impressos existentes
(cf. HAVJJ, 3). A necessidade da crítica verbal estabelece-se sem
refutação pela existência de variantes - isto é, lições diferentes
de uma palavra, de uma passagem, de um local do texto, pois que
na ·tradição manuscrita dois apógrafos de um mesmo texto jamais
coincidem exatamente, se se toma em consideração de cotejo uma
extenaão do mesmo mais ou menos grande ( cf. HAVE, 11).
3_.2.5.1 Em presença _das variantes, a tarefa da crítica verbal
não é a mesma, impondo-se, de regra, um critério resolutor na
base, em grande parte, do estema; entretanto, se êste não tiver
sido sobejamento estabelecido, pode acontecer que:
a) as variantes dão, cada uma, um sentido admissível -
caso em que a crítica verbal, mantendo-se dubitativa, consiste em
eleger a mais antiga, se fôr possível fixar sua ascendência, ou,
não o sendo, em motivar a preferência do ed:tor-de-texto em
função de crítico verbal;
EL:i:MENTOS DE BIBLIOLOOIA 209

b) u~a variante, preferida pelos editôres-de-texto anterio-


res, se revela, à luz de novas noções filológicas, de difícil acei-
tação - razão por que (1) será necessário apontar a dificuldade·
e suas causas, (2) coonestar, motivadamente, outra variante e·
( 3) optar por esta ;
c) uma variante, preferida pelos editôres-de-texto anterio-·
!'e@, vem a ser contrariada por outra variante descoberta poste-·

riormente, que é verossimilmente pior - razão por que se deverá·


(1) fundamentar a inaceitabilidade da "nova" variante, (2) ve-·
rificar se ela, eventualmente, não dá indício de uma variante·
hipótetica, conjetura}, se combinadas as duas atestadas, (3) ten-
tar explicar a variante "nova" inaceitável, para evitar certo grau
de incerteza que; caso contrário, perdurará na variante aceita;:
d) as variantes são complexas, tudo aparentando que elas
deverão ser combinadas entre si para a obtenção de uma lição·
compósita oriunda de lições diferentes - razão por que a lição·
compósita será fundamentalmente suspeita, ainda que admissível;:
e) nenhuma das variantes é admissível, o que leva via de-
regra à solução antes citada, de uma lição de.preendida das .va-
riantes inadmissíveis, lição que será suspeita, ainda que aceitável;.
f) as passagens sem variantes podem, entretanto, não ser·
satisfatórias; mesmo que todos os apógraf0s concordem quanto a
uma passagem, é possível admitir perda de ramo ou ramos da
tradição - impondo-se, assim, correções necessàriamente conje-
turais, independentes de cotejo de variantes (inexistentes), na
base da teoria dos erros possíveis; êsse raciocínio fundamenta-se
também para com a tradição fundada num só e único apógrafo
(cf. HAVE, 11).
3.2.5.2 ·A diversidade de variantes permite que sejam gra-
duadas desde as obviamente erradas - .erradas em relação ao
autor, à obra, ao tempo, à língua -até as provàvelmente erradas
ou provàvelmente certas. De todos os modos, o critério de valor
em relação às variantes não é um critério normativo geral de
significação e referência permanentes, antes um critério necessA-
riamente ·flutuante ou contingente em face daquelas coordenadas
- obra, autor, língua, tempo. Podem-se, genericamente, confundir
os têrmos "variante". e "êrro" - confusão que funciona em dois.
sentidos: (a) ou bem se despoja a palavra "êrro" do conceit()o
oponencial de "correto", (b) ou bem se impregna o vocábulo "va-
riante" de um conceito flutuante e gradativo, em que se inclui,
Potencialmente, desde o obviamente errado até o provàvelmente
certo, original, isto é, do autor. Dentre as variantes há, pois,
uma ou algumas seguramente erradas. A certeza de que existem
~10 A N T ÔN I 0 H O U A I S S·

-erros é que leva ao critério, de um lado, de eleger a variante ad-


missivel, isto é, a presuntivamente não errada ou a verosslmÜ-
mente menos errada, ou, de outro lado, de criar uma forma outra,
não documentada, proveniente tão necessàriamente quanto possí-
vel do cotejo de tôdas as variantes, quando tôdas são inadmissí-
veis, ou do cotejo mesmo de uma tradição única, sem variante,
por conseguinte, . oom as variantes potenciais que .ge inserem no
texto único, isto é, como se êste fôsse variante de um protótipo
ou arquétipo que, sendo hipoteticamente de determinada forma
admissível, essa .forma seria tal que poderia originar a forma
inadmissível documentada na tradiÇão única. A conjetura, vari-
ante conjetura! ou forma conjetura! é, também, portanto, noÇão
flutuante, que ·engloba desde uma variante admissível elegida
dentre várias variantes, até, de permeio, a variante conjetura!,
não documentada, oriunda do cotejo de tôdas as variantes, do-
cumentadas mas inadmissíveis tôdas, ou do cotejo da tradição
única, tomada esta como uma, documentada, dentre variantes
<mtras, não documentadas, de um protótipo ou arquétipo inÜ:erior
de que a variante única poderia ser oriunda. Afora 1t critério
pura e simplesmente conservador do texto, que consiste em aceitar
uma tradição sem sôbre ela exercer nenhuma dúvida, todos os
demais critérios são conjeturais: (a) conjetura!, se se suspeita a
existência de erros, sem assinalá-los; (b) conjetura}, se se sus-
peita a existência de erros, ·assinalando-os ; (c) conjetura!, se se
assinalam os erros, dando-lhes a forma admissível, . mais ou menos
eivada de suspeição. Filosoficamente, .a conjetura textual bem
fundada é tão legítima quanto qualquer conjetura de qualquer
ciência histórica, que não possa obter contraprova objetiva expe-
rimental, 11enão no aleatório achamento posterior da contraprova,
que, não existindo em época em que foi formulada a conjetura,
-vem posteriormente confirmá-la, o que tem freqüentes vêzes ocor-
rido. ·Ademais, a conjetura formulada com o rigor desejável se
insere com absoluta eficácia · dentro de um conjunto que em mui-
tos outros aspectos não é conjetura], dando-nos, pois, margem 8
um limite de certeza incerta que macula percentualmente o todo
de margem relativamente pequena de êrro provável - o êrro
provável que pode existir (e para isso é levado em linha de
-conta) mesmo nas ciências e técnicas exatas e experimentais.
Por fim, importa lembrar que, em favor da conjetura, milita 8
circunstância de que é ela sempre uma aproximação relativa da
verdade, que o avançÓ do coiihecimento vai, pelos caminhos mais
inesperáveis, aperfeiçoando. ConTém ainda ter em linha de conta
que a própria tradição, por sua natureza mesma, na leitura de
ELEMENTOS DE BIBLIOLOGIA. 211

um apógrafo para. a escritura de um nôvo apógrafo; é conjetura!,


num processo mais ou menos lúcido, mais ou menos inconsciente,
de copiar compreensiva ou mecânicamente ( cf., sôbre certos res-
peitos, HAVE, 17-23). Sôbre a questão puramente vocabular de
emprêgo da palavra "êrro" no contexto acima, é ilustrativo con-
siderar como, para fins de documentação, JAMES D. MAcK e R<JBERT
S. TAYL<>R fixaram o seu verbête (cf. MACK, s.v. êrro):

~rro [Error]. Computadores. - O montante de


perda de precisão numa quantidade; a diferença entre
uma quantidade exata e sua aproximação calculada. Os-.
erros ocorrem em métodos numéricos ;
Os enganos ocorrem em programas, codificações,.
transcrições de dados e no operar ;
. Os enguiç~~,> [malfunctions] ocorrem nos eomputado-
res.

3. 2. 5. 3 Os apógrafos apresentam erros porque os copistas;


cometem enganos, que passam, via de regra, a ser fontes dé
dificuldade na compreensão dos textos. Os livros apresentam
erros porque os tipógrafos-compositores - ~ após êles os reviso-
res, e após êstes os tipógrafos-corretores - cometem enganos,
.que passam, via de. regra, a ser fontes de dificuldade na com-
preensão dos textos. A crítica verbal cabe apontar tais erros.
para impedir falsos julgamentos de estética, moral, história,, .
língua, falsos procedimentos técnicos, cientüicos, artesanais .. ..
Apontando.. os erros, a crítica verbal pode · aspirar a corrigi-los ..
Só uma crítica utilitária cultiva as · correções em face de um cri-
tério absoluto de valor: edições gramático-normativamente cor.re--
tas, para fins ditos didáticos, edições truncadas ou expurgadils; .
para fins ditos morais - crítica utilitária que pode t er suat fun-
ção, embora contestável, mas de provável pequeno valor cienttífico •.
Quando a ·crítica verbal formula uma conjetura, procura, nessa·
formulação, o máximo de coerência · interna, de rigor lógico e·
histórico, de modo que a conjetura possa ter caráter necessário.
O caráter necessário de uma conjetura pode, entretanto, ser ape--
nas meio caminho para uma conjetura posterior mais necessária,
t!Ubseqüente, apresentando; assim, a marca de tôda · verdade cien-
tüica, que se insere como relativa no quadro de uma ver.dade·
absoluta de que os homens se aproximam relativa mas continua--
mente. O ·a parato crítico em geral se limita a indicar o êrro·
presumido e a correção admissível correspondente, subentendendo-
a exposiçã_o minuciosa ·da dificuldade, deixando-a. à capacidad~
212 ANTÔNIO HOUAISS

-do leitor - salvo quando a dificuldade é de tal modo irregular


-que precise de ser objeto de explicação mais explícita. ~sse
'Subentendimento decorre do pressuposto de que o leitor · esteja de
~erto modo a par dos gêneros principais possíveis de erros . e
-dificuldades. A presunção de êrro varia segundó os espíritos -
·o que é um fato irremediável em face da natureza humana ou da
natureza das obras humanas. Mas o essencial por considerar é
-que há indícios de erros. Se se trata de um indício único, a
presunção de êrro é restrita, pode se tanto ser verossímil; se há
vários indícios, de certo modo convergentes, de êrro, indícios , que
podem ser raciocinados como concordantes, essa concordância
poderá fornecer um elemento objetivo de critério, passando o êrro
à categoria de verossímil. O crítico verbal deve, por conseguinte,
se possível, procurar vários indícios para um êrro presumido, em
lugar de apoiar-se num único. E, segundo o texto seja em prosa
ou em verso, a obtenção dos indícios é, via de regra, menor ou
maior, já que a linguagem do verso é tão reciprocamente apoiada
nos seus valôres, que, de regra, um êrro em verso apresent~t mais
de um indício, mesmo no chamado libremetrismo ou nos versículos
ditos de estrutura bíblica. Ademais, importa considerar que -
em se tratando de um indício único concordante em vários · a pó-
grafos ou edições de presumível filiação independente, como o
venha a revelar a estemática ·- bem pode tratar-se, aí, de engano
ou êrro do próprio autor, engano ou êrro que deve ser objeto de
nota do crítico, mas jamais de uma correção conjetura!. Erros
dessa natureza são em geral produto de cruzamento, de citação
ode memória, de precipitação, de citação de textos inidôneos e
:assim por diante, mas integram-se no texto e contexto do original,
são partes intangíveis. Dentre os indícios de erros de copistas e
·de tipógrafos, podem ser arrolados os seguintes principais :
a) deformações verbais e frásicas, vale dizer, aparecimento
·de formas ou fra11es aparentemente inexistentes, até o momento
nistórico em que se localiza o autor, ou a obra, ou ao. longo de
tôda a história da língua, deformações que não se fundamentam
no dialectal, no lúdico, no deliberado, no intencional - aspectos
·êsses que quase sempre são revelados pela própria tensão estilís-
tica do texto e do contexto;
b) seqüências interditas, vale de regra dizer, · cacofônicas,
independentemente de qualquer noção de sentido ou de gramática,
·senão que de equívoco ou de estética, em sentido restrito à fono-
1ogia; ês.se tipo de êrro só se indicia como tal na base de universal
(ou quase) prática em contrário no autor, na obra ou na língua
·de ao tempo, pois o cacofônico é eminentemente arbitrário -
ELEMENTOS DE BIBLIOLOGIA 213

como hoje em dia (sobretudo entre nós) ainda quando se


eomprazam· certos pseudoerítieos literários em apontá-lo e ver-
berá-lo;
e) . erros factuais, do tipo "Reno" (nome do . rio) por "Remo"
(nome de um dos dois fundadores míticos de Roma), quando
ocorrem em circunstâncias em que se tornem inadmissíveis, se-
gundo seja o autor; ·
d) vícios de sentido ou de sintaxe, como quando ocorre,
segundo a tensão da linguagem, em determinado autor ou obra,
"facun,do" em lugar de "fecundo", ou vice-versa (e assim um
número indefinido de paronímias), ou como quando de conse-
cuções temporais totalmente infundadas, de discordâncias gritan-
ti!s, para as quais não militem eventuais razões de sentido ( syl-
lepses, ad synesem) ;
e) vícios de estilo, eomo obscuridades, disparates, assime-
trias sintácticas, ilógjcas ou inusitadas, sobretudo segundo o autor
~u a obra,~ aÍms;
f) vícios métricos, rítmicos, rímicos ou rimáticos, prosódicos,
licenças extemporâneas, sobretudo segundo o autor c;ni a obra, e
afins;
g) disposição, ordem, seqüência insólitas, indícios êsses que
se corroboram como veementes presunções .de êrro na medida em
que se apresentam com maior ou menor riqueza de variantes,
segundo as linhas estemáticas autônomas, o que via de .r egra con-
verge para um ponto de estrangulamento do texto mecânicamente
transmitido de forma igual em cada linha mas diferente entre si
(porque não compreendido) ou conceptualmente "corrigido" pelôs
copistas na tradi~ão manuscrita e os tipógrafos na tradição im-
pressa (cf., sôbre vários respeitos,' HAVE, 25-97). ·
3. 2. 5. 4 Dentre duas ou mais variantes, optar por uma va-
riante é supor (a) que a lição de determinado apógrafo é errônea
(o que · se indicia, já de si, pelas variantes), (b) que a lição de
determinado · outro apógrafo é a correção admissível ou conveni-
ente para a erronia. Quanto à lição que se rejeita, cumpre pro-
curar metodicamente os indícios. de êrro que a ela se aplicam e,
se possível, a concordância dêsses indícios. Quanto à lição que se
aceita, cumpre verificar se ela acarreta o desaparecimento de
todos os indícios de êrro. que maculavam a outra lição, verificando,
ao mesmo t<'mpo, se a lição aceita não leva a outros indícios de
êrro. Partindo de um crivo binário, pôr-se-ia de um lado uma
varianté - a preferencialmente di~;;cutív.el - e de outro a(s)
outra(s) e assim, sucessivamente, uma a uma, contra a variante
discutida, afastando-s~ destarte as variantes ostensivamente inarl-
214 ANTÔNIO HOUAISS

miss1veis. O resíduo de variantes, ao cabo, se limita a (quase


sempre) duas possíveis, ainda assim de diferentes graus ·de ad-
missibilidade, consoante êste ou aquêle indício de êrro que per-
dure; escolhida a do texto, por mais verossímil, o aparato crítico·
não deverá deixar de consignar a ou as outras residuais ( ef. HAVE,
98-100).
3.2.5.5 Descoberta a área do êrro, pouco a pouco, por apro-
ximações, se localiza o mesmo o mais exatamente possível. Erros
há que se cometem e se corrigem na mais completa - d~gamos
- inconsciência; são os que, embora existam, não se vêem numa
leitura correntia, normal, feita ainda que não raro duas e mais
vêzes, por duas ou mais pessoas ; são de regra os que se praticam
por verdadeiros lapsos da pena - lapsus calami - e suas varian-
tes atuais, os lapsos dactilográficos e os l~rpgos tipográficos, lapsos
do dedo - lapsus digiti. Tais erros, assim como são cometidos,
assim também podem ser corrigidos, na tradição manuscrita ou
na tradição impressa - porque, pelo fato mesmo de que se pode
ler o que não está, a rigor, escrito, também se pode escrever ou
compor o que, a rigor, está "sendo" lido. A realidade, porém,
é que tais tipos de erros óbvios no geral não . são freqüentes, pre-
cisamente porque podem ser corrigidos· por quem quer que sej"a,
desde que o manuscrito ou o impresso tenha sido. feito com relativo
cuidado - o que é a regra, em ambos os casos, 'Salvo quando se
trate de ·c opista ou tipógrafo canhestro, inábil ou incapaz. Por
essa circunstância, os etros dignos dêsse nome apresentam, em
geral, as características da dificuldade - na compreensão e na
correção. Os indícios para a localização do êrro fluem em grande
parte da dificuldade de compreensão e da existência de variant~s
(cf. HAVE, 101-108).
3. 2. 5. 6 A tradição manuscrita e a impressa merecem, a pt-iori,
uma tal dose de confiança, que a natural decorrência seja a de
que, no conjunto, um· texto, mesmo mau, comporta razoável com-
preensão glol:al. A verdade é que, nas condições da tradição, os
textos vêm comportando análises cuidadosas de gramáticos, estilis-
tas, metricistas, historiadores, exegetas, hermeneutas, os quais têm
podido dêles depreender constâncias, princípios, coerências, lógica
e documentalidade. (a) Daí a regra geral em face de u1n texto, do
ponto de vista dos erros: supor-se-lhes um mínimo - antes ne-
nhum do ·que um, antes um do que dois, antes dois do que três
etc. (b) Decorrentemente, supor-se-á no êrro antes um simples do
que um complexo. (c) Portanto, um êrro para cuja gestação se
encontre explicabilidade é mais admissível do que um êrro que
ELEMENTOS nE BIBLIOLOGIA.

possa - não sendo do tipo de lapso ----, parecer gratuito. ( d) E:


porque qualquer êrro tende a obscurecer o texto - muito natu-:
ralmente tende a provocar nôvo ou novos erros, não raro próximos,
às vêzes distantes, mas quase sempre conexos ; assim, pois, · doi$.
erros sucessivos, próximos ou distantes, deverão ser examinados
de tal' modo que a explicabiEdade de um possa ajudar a do outro,.
sendo um dêles em grande parte explicável pela explicabilidafie
do outro - embora isso não se verifique necessàriamente, porque
nada impede que sejam erros autônomos (cf. HAVE, 109-112).
3. 2. 5. 7 A crítica verbal - na autorizada opinião de J.JOUis-.
HAVET, que vimos resenhando - não considera propriamente
conjetura!, mas simplesmente interpretativa, (a) a pontuação, que·
de regra não é, jamais, de. origem antiga, salvo, para a prosa,,
na separação de versículos; (b) a separação de certas palavras.
vale dizer, uma nova separação de palavras, já que freqüentes
vêzes, sobretudo na escrita· lapidar ou na epigráfica, os vocábulos
não apresentam brancos intervocabulares; (c) o emprêgo das
maiúsculas, com o que se pode mudar um substantiYo comum
em próprio, ou vice-versa (cf. HAVE, 113-118). Essa opinião -
em que são concordantes, de modo geral, os filólogos especialistas
em línguas clássicas - deve, entretanto, merecer custódia, no que
se refere à tradição impressa, e com mais. razão na medida em
que esta se aproxima de nós, como em outros locais Qêste livro-
se discute.
3. 3 O PROBLElU DA ECDÓTICA. - 0 problema da ecdótica é;
essencialmente o mesmo; quaisquer que sejam as culturas e ~s.
línguas. ·Entretanto, .há especifiaidades que permitem separar,
na tradição humana, a tradição ocidental de cunho europeu. E
esta, por sua vez, comporta uma periodização em quatro unidades,.
pelo menos, a saoor: (a) o problema ecdótico clássico (grego e
la tino) ; (b) o problema ecdótico medieval; (c) o problema ecdó-
tico moderno, e d) o problema ecdótico contemporâneo. Repita-
mos : é óbvio que a essência e a finalidade da ecdótica são as.
mesmas, mas a complexidade, as técnicas e os conhecimentos ne-
cessários, diferentes, daí a periodização. É natural, ainda, que a
essência e a finalidade da ecdótica se .apliquem, de um lado, às
línguas e literaturas· ex,tremo-orientais, médio-orientais ou próxi-
mo-orientais, do passado como do presente, como é natural, ainda
que se apliquem, mutatis m1ttandis, à publicação do material
folclórico ou popular - embora, neste caso, ocorra considerar o-
problema sob um ângulo diferente, como se discute em lugar pró-
prio dêste livro.
216 ANTÔNIO HOUAIS~

3.3.1 Estemática - Na doutrina da relação de depE:'ndência


dos manuscritos (e, similarmente, na de dependência das ediÇões
de um livro), doutrina que é já hoje geralmente denominada es-
temática, têm importancia capital os erros cometidos de cópia a
cópia, nos apógrafos (e, similarmente, de edição a ·edição de um
determinado livro). As pesquisas sôbre os erros vinham, em g~­
ral, sendo feitas em tôrno a dois pontos: (a) como e por que
nascem os erros dos copistas e (b) quais poderiam ser eliminados
num texto crítico - a crítica verbal. A estemática, entretanto,
se limita a verificar a existência das variantes ou discrepâncias
- ditas não raro naqueles casos "erros", o que presume a noção
do "certo", que é o que precisamente se procura caracterizar -
~ com tais discrepâncias procura estabelecer o estE:'ma ou árvore
genealógica dos apógrafos, ou impressões e edições de um texto .
.3. 3 .1.1 Como os geólogos se servem de expressão técnica
"fósseis-guia" para porem em evidência as petrificações caracte-
rísticas dos estratos de determinadas periodizações geÔlógicas.
também na estemática se vem divulgando - graças à sistemati-
zação moderna de PAUL MAAS, cujas linhas serão' aqui estreita-
mente seguidas no particular ( cf. :r.r.us) - a denominação das
variantes ou discrepâncias como "erros-guia", "erros diretivos"
ou error( es) significati1t1tS (ui).
3. 3 .1. 2 A dependência de um testemunho para com outro não
é, de regra, demonstrável diretamente, mas apenas através da ex-
clusão de sua independência. É, pois, em geral, demonstrável
direlamente somente (a) a indepêndencia de um testemunho para
com outro; (b) a conexão de dois testemunhos entre si contra
um terceiro. ·
'3. 3 .1. 3 A dependência de um testemunho ( B) para com um.
outro (A) é demonstrável por meio de uma discrepância de A
contra B que seja de tal natureza que - por tudo .quanto se ·
possa saber pelo estado da crítica conjetura! no ·tempo inter-
corrido entre A e B - não pôde ser eliminada por conjetura
naquele lapso de tempo. Tais discrepâncias .podem chamar-se
4
'erros sepafativos" ou errores separatiui.
3.3.1.4 A conexão entre dois testemunhos (B e C) contra um
terceiro (A) é demonstrável por meio de uma discrepância co-
mum aos testemunhos B e C que seja de tal natureza que,· por
tôdas as probabilidades, B e C não puderam incidir naquela dis-
crepância que lhes é comum independentemente um do outro.
Tais discrepâncias podem ser ch!lmadas "erros conjuntivos" ou
~rrores conittnctiui.
ELEKENTOS DE . BIBLIOLOGJA 217

:3.3 .1. 5 Dessa forma, os errares significatiui, subdivididos nos


·dois tipos essenciais, errares separatitti e errares caniunctíui, são
elementos aplicáveis para a constituição dos principais tipos de
estema.
:3. 3 .1. 6 · Se, por exemplo, se dispõe de dois apógrafos de um
·mesmo texto, ·denominando, arbitràriamente, um de A e outro de
B, o respectivo estema pode, hipoteticamente, ser um dos três
tipos seguintes:
(a) (b) (c)

r
B
B

A
1
A
a

/\ B
(arquétipo perdido)

(compreendendo-se que a seta indica, sempre, que o elemento an-


terior é tão-somente anterior na genealogia, mas não necessària-
Eente na cronologia, isto é, no tempo de feitura do apógrafo, nem
de modo nenhum necessàriamente aquêle de que direta ou indire-
i.amente se origina o segundo).
3. 3 .1. 7 1.0 ) Se se encontra um errar separatiutts de A contra
B, fica excluída a hipótese (b) ; se se encontra um errar separa-
tiutt! de B contra A, fica excluída a hipótese (a). Se se encon-
trarem, cumulativamente, um errar separatiuus de A contra B e
um de B contra A, ficam excluídas as hipóteses (a) e (b), e só
:assim, indiretamente, demonstrada a hipótese (c), que deve ser
adotada.
2.0 ) Se B é manifestamente mais recente do que A, não é
mister um errar separatiuus de B contra A para excluir a hipó-
tese (b).
3.0 ) Se se acha um errar sepa.rotiuus de B contra A mas
nenhum de A contra B, então é de presumir, para testemunhos
·de uma certa extensão, que nos achamos em fase da hipótese (a).
4. 0 ) Para testemunhos de menor extensão, contra a presun-
. ·ção acima, perdura a probabilidade, ainda que pequena, de se
estar em fase da hipótese (c), graças a quaL se poderia presumir
-que entre a e A talvez houvesse um errar separatitms contra B.
·a. 3 .1. 8 1.0 ) Se os testemunhos de que se dispõe são três, o
número de hipóteses estemáticas sobe a vinte e dois. Em ta.l
·caso, preliminarmente, deve-se procurar ~ seguindo o processo
anteriormente descrito ....:..._ se um dos três testemunhos é a fonte
·de um dos dois ou ·de ,mn:bos os outros. Se um dêles fôr .a fonte
218 ANTÔNIO HOUAISS

de outro, por exe:q~.plo, A -+ C, êstes dois funcionarão como a.


un!dade A dos estemas referidos em 3. 3 .1. 6 supra. Se, porém,
um dêles fôr a fonte de ambos os outros, achamo-nos em presença
de uma das duas hipóteses seguintes:

(a) (b)
A
A

B
1\O t
Í\(apógralo perd;do)

B C
c para deeidir entre os ' dois tipos cumpre Yer f'C há um errar·
coniunctimts de B e C (o que presume. a fonte li) . contra A, ou
se não há, o que nos leya à hipotese (a).
2. 0 ) Se se puder d«.>monstrar que nenhum dos três testemu-
nhos é á fonte de um outro, restam dezoito das Yinte e duas
h!póteses possh·eis (isto é, seis nas quais um. testemunho é fonte
de nm dos dois outros, e doze nas quais um testemunho é fonte-
de ambos os outros), e restam as seguintes quatro hipóteses:
(a) (b)
a a
/ 1\B
Â
13 13
1\q
B 1\
(e) (d)
a a

13
1\c A
/l"'-
B C·

A
1\B
3. 3 .1. 9 Para decidir entre êsses quatro tipos, cumpre ver se
se pode localizar um error coniwnctiuus de ~ois dos testemunhos
contra um terceiro - o que leva às hipóteses (a.) e· (c) - ou não
E L E){ E :>l· T OS OE B I BL JOLOGI A 219

- o ·que leva à hipótese (d) -. Mas êsse ert·or coniu·n ctitws deve
ser também, concomitantemente, um error separatiuus; porque,
·se fôr de tal natureza que pudesse ter sido eliminado pela crítica
conjetura!, em tal caso não poderá ser eliminada a hipótese (d).
3. 3 .1.10 É, por vêzes, conveniente introduzir no estema pon-
'tos do texto ou "passos diretivos", em que se encontram os errores
significatiui. Se, por exemplo, se está em face da hipótese (a)
'supra, obtém-se o seguinte estema:
a
3/ '\4
Â/ '\..{J
2/ "\..1
/ ."\..
B C

-em ·que~

1 - indica erro r separatiuus de c contra B, para excluir


C+ B;
2 - indica et·ror separatiuus de B contra C, para excluir
B -+ ·c ;
3- indica erro1· scparatitms de A contra f' (= B + C),
par.a .excluir A
Á

1
fJ

B
/\O
4 - indica error coniunctiu1ts, que é ao mesmo tempo error
separatiuus, de f' (= B +
C) contra A, para excluir
220 ANTÔNIO HOUAISS

3 . 3. 2 Testemunhos múltiplos - Se ie têm quatro testemunhos.


(A., B, C e D), em conseqüência da inclusão de D no .estema
anterior, ocorre verificar se D participa de um dos quatro errores
significatiui ou não. Se, por exemplo, participa do error sepa- .
ratúws de A. contra ~. em tal caso cumpre ainda verificar ma~s
exatamente, conforme o procedimento já descrito, a relação de
D para com A.. Se D não participa de nenhum dos quatro errn-
res significatiui, então deve ser examinada a relação de D para
com a. Neste caso, D pode ser: (1) fonte de a, (2) igual a
a ou (3) derivar de a independentemente de A. e ~. assim, alterna-
tiva e exclusivamente:

a a
I\
A /I"
y D
f3 D 1\
/'\.. A
I\
/3
B C
B C
3.3.2.1 Se D é manifestamente mais recente que A., B e C,
então ficam excluídas as duas primeiràs possibilidades referidas.
s1tpra. Para decidir entre as duas últimas hipóteses configuradas
no mesmo local, cumpre verificar se há um error coniunctiuus-
com valor de error separntiuus de A. + ~ contra D, ou não.
3 . 3. 3 Se se dispõe de quatro testemunhos, o número dos tipos·
estemáticos . possíveis é de úuzentos e cinqüenta; no caso de cinco
testemunhos, é de cêrca de quatro mil, e assim por diante, em.
progressão mais ou menos geométrica ( cf. lUAS, 53-60).
3 .4 ESTEMÁTICA IlllPRESSA - As liçoes da estemática expostas.
supra são, como se pode compreender, cabíveis para tudo .quanto·
se refere à tradição manuscrita - através dos apógrafos - , desde
o advento da escrita e, particularmente, no mundo ocidental, desde·
os clássicos até o fim da Idade Média.
3. 4.1 A partir da tipografia, o problema estemático reveste·
- pelo aumento de documentação e dos testemunhos ---:- um
aspecto ligeiramente diferenciado, via de regra menos difícil,.
embora por vêzes complexo. ·
3.4.2 Na estemática editorial - isto é, por meio de livros -
via de regra não se dispõe do . manuscrito: de um lado, quanto-
aos do passado, quase sempre se acha êle perdido; quanto ao
ELEMENTOS ' DE ' BIBLIOLOGIA 221

presente atual, quase sempre é êle substituído pelo original daeti-


lográfico, em que a operação da dactilografia ou é do próprio autor
ou de profissional a que se encomenda a tarefa. Quer se dispo-
nha do manuscrito, . quer de seu sucedâneo pelo original l;lactilo-
gráfico, o tipo estemático é relativamente simples, via de regra
(designando por A, B, C etc. as sucessivas ed~ões ou reimpressões
datáveis do texto) :

3. 4. 3 Ocorrem, porém, hipóteses mais complexas de tlStemas:


como, por exemplo, quando o ms gera a edição príncipe A e
esta, por motivos vários, é objeto de uma contrafação "perfeita"·
(ilusoriamente) como se fôra A mesmo, inclusive na datação (se
a houver); dessa dualidade, em que a príncipe .chamamos A e a.
eontração A', podem gerar-se duas linhas estemáticas, enquanto
não ficarem evidenciadas as discrepâncias de A e A' e a priori-
dade e fidedignidade de A, período em que as unidades de cada
uma dessas linhas poderão ser confrontadas e determinar uma
edição contaminada das duas tradições, até que se volte à boa
tradição, por via diplomática, fac-similar ou crítica - do que
tudo pode dar conta o seguinte estema hipotético:

A• (ediçlo prlncipe)

A~'\A'~(contrafaçlo do prlncipe)

•. - /
///f\
Dp(~içio
dtplom,tiao) .
D
j
B'
\_C' .
Fa (edição facsi'7'ifar
IIDp i A"(ediçlo c~ da contrafetta)"
Fa ( ediçlo ,.• \ temi nada) w
/ facsimilar) B"
./ \
ar. c"
\
C? (edição
I crltica) •....
í
i
.Cr
:222 ANTÔNIO HOUAISS

sem contar eventuais edições (em quaisquer das linhas, pura ou


contrafeita) didáticas, expurgadas etc., nem as traduções, das
diferentes linhas.
·a.4 .4 Entretanto, os fatos estemáticos editoriais mais corren-
tes são os figurados em 3 .4. 2 supra ou o seguiu te (em que hâ,
é óbvio, figurações hipotéticas de história externas ao estema teó-
rico) :

ms

~ ( odiçio prlncipe)
fJ . ( ~undo odiçio perdid.)
I
(.; ( morrou oautor)
I
D (caiu om doml~lo público)
I
E
;.\
o· (odiçio comercio!, m•)
I
H
I
J (boa edição, gerol· I
! mente criticl)

" '
'3.4.5 Estabelecimento do texto - Para o bom estabelecimento
de um texto, é óbvio que, à vista do estema depreendido pelas
características extrínsecas das edições, se deve:
a) ver se existe o manuscrito ou o texto original;
b) recorrer, em existindo, à edição príncipe (que é o caso
normal) ou às edições príncipes (que é caso episodicíssimo) ;
c) recorrer às edições em vida do autor, observando, porém,
<JUe a última destas, ·se revista, ou refundida, ou aprovada pelo
.autor, é a mais fidedigna em princípio para o estado geral e
particular do texto ; se não revista ou não feita sob suas vistas,
deve-se recorrer à príncipe ou à mais próxima da príncipe - em
-faltando esta - .
-3.4. 5.1 Para o estabelecimento de edição crítica, ademais dos
cuidados acima preconizados, se deve levar sempre em conta, em
·existindo, o manuscrito, já que a edição príncipe - se existiu -
ELEMENTOS DE BIBLIOLO ·GIA 223

pode encerrar diserepâncias originais que o manuscrito elucide,


salvo os casos· correntíssimos de alterações oriundas da própria
revisão das provas da edição pelo autor. Além disso, numa edi-
ção crítica, tôdas as edições em vida são de cotejo .e referência
necessários, devendo sê-lo, também, inclusive as traduções que em
vida do autor se fizeram de sua obra, com sua aprovação. Quan-
do, porém; intermedeia entre a edição crítica e o autógrafo, ou
apógrafo, ou edição adotado como base para a edição crítica, um
·Jai'go J.apsa de tempo tal que a intelecção do texto e do contexto
da obra possa oferecer dificuldades para o editor-de-texto, o co-
teja e referência a tôdas as edições e traduções e citações dispo-
níveis da obr.a p6dem oferecer uma ajuda capital para o estabele-
cimento do texto.
3.4.5.2 O estabelecimento do estema de um livro pode, porém,
por vêzes, revelar-se pràticamente impossível pelas meras carac-
terísticas extrínsecas da obra - ou porque as edições não são
datadas, ou porque os exemplares supérstites são faltos da fôlha
de rosto ou dos locais da obra em que se poderia concluir de
imediato quanto à sua sucessão relativa no tempo. Em tais casos,
o estema por estabelecer-se é objeto, êle também, de uma análise
intrínseca da obr.a, na base de suas características gráficas, orto-
gráficas ou tipográficas, e gramaticais, léxicas, estilísticas, em que
os erros, melhor, as discrepâncias dessa natureza são pontos de
referência capitais p.ar.a o estema, para a genealogia ou, em último
~aso, para a cronologia das edições, cabendo encarecer que o es-
tema genealógico é o preferencial, . só se devendp recorrer apenas
.ao cronológico (que está implícito no anterior nias não o esgota),
quando não -é possíYel- por não se dispor, por não se conhecerem
()U por se saberem perdidas edições intermediári~s.

'3. 4. 5. 3 É fáeil compreender que o estema de certas. obras é


de dificílimo estabelecimento, tal o caso para com Os l1uiadas,
de Luís de Camões, em que há duas edições príncipes - com
·uma, probabillssimamente, contrafeita - , uma linha "pura" em
que diversos elos estarão provàvelmente perdidos, uma linha
... impura" (pela príncipe contrafeita) em que terá ocorrido tam-
bém a perda de elos intermediários, uma linha contaminada das
. duas linhas anteriores, além de edições conjeturais, isto é, cujo
texto foi "eorrigido" por mera presunção do editor-de-texto;
ademais o estema de Os lusíadas apresenta edições expurgadas,
~dições didáticas mais ou menos idôneas, e, modernamente, edições
224 ANTÔNIO HOUAISS'

fac-similares, das duas príncipes, e edições críticas, eom texto


pela provável verdadeira, tudo sem contar o sem-número de tra-
duções, totais ou parciais, já feitas do poema em muitas línguas
de cultura no mundo inteiro. Em grau menor - ·no âmbito da
língua portuguêsa - outros exemplos complexos de estabeleci-
mento estemático podem ser citados.
3.4.5.4 A estemática, com suas ·regras essenciais, é têrmo de
referência importante para o estabelecimento idôneo dos textos e
para a valorização da editoração entre nós - ·que já se inicia ·-
do acervo de capital significação, sob muitas aspectos ideológicos
e lingüísticos, do material folclórico stricto semu (tradiçio oral)
e do material folclórico lato aen.su (tradição escrita, popular,
popularesca). Aqui, porém, o problema apresenta uma comple-
xidade de natureza diferente: as variantes "textuais" podem,
eventualmente (é presunção do autor destas linhas), muitas vêzea,
se não quase sempre, traduzir uma progressiva adaptação do
"texto" - ainda que de criação individual - à linha de pre-
ferências ou necessidades sociais, entrando assim cada vez mais a
refletir o gôsto ou incorporação de elementos que mais se ajustem
à expressão dêsse gôsto e dessas idéias ( cf. ALKE; OARN ; sm1; cABE;
CASI).

3.4.5.5 Nesse sentido, uma discoteca repl."esentativa das músi-


cas e letras populares, populescas, populizadas, por exemplo, é um
documental de valor excepcional, pela linguagem, pelas melodias,
pelos ritmos; mas o enorme acervo não gravado, encontrável nos
folhetos de "modinhas" ou "jornais de modinhas" constitui seu
complemento natural; e, nessa direção, a coleta de ritmos, melodias
e letras do cancioneiro brasileiro - desafios, emboladas, recitativos,.
aboios, cantilenas, rondas, preces, mezinhas verbais, breves, exorcis-
mos, fórmulas eneantatórias, e afins - , nas suas variantes locais,
intertemporais, regionais, nacional, passa a ser uma das tarefas
capitais da etnologia e dialectologia brasileiras, cujo encetamento
em moldes sistemáticos e cientüicos é um dos objetivos do maiS
alto alcance para o conhecimento de nossa formação histórica,
ideológica, mental, lingüística, emocional, estética, e chave, inclu-
sive, para uma política cultural, lingüística, agrária, urbana. De-
não menor - de igual importância - é o en~rme repertório re-
presentado pelos folhetos em prosa e em verso da chamada litera-
tura de cordel dos "cantadores" e "historiadores" (cf. CASE, OASI)
cujo baricentro está no nordeste brasileiro, cujas irradiações re-
percutem em quase todos os pontos de território brasileiro, para
ELEMENTOS DB BIBLIOLOGIA 225

um público leitor subliteratado ·de milhões de indivíduos, que se-


multiplicam, se considerado o público ouvinte iliteratado.
3 ; 4 . 5. 6 Ás variantes - no caso da tradição oral - assim
como as edições - no caso da tradição literária de cordel - po-
dem e devem merecer, de um lado, um tratamento textual como
preconizaao aqui (com as características específicas eventuais que
a prática viva fôr inoT&ndo ou impondo).
C.\PÍTULO IV
TEXTOS CLÁSSICOS

4.. FONTES
Não se dispõe de .a utográfos dos clássicos gregos ou latinos,.
nem de apógrafos que tenham sido diretamente confrontados com
o original, mas apenas de cópias que derivam do original por
intermédio de um número desconhecido de cópias intermédias e
por isso mesmo de uma segurança mais ou menos duvidosa. o
ebjetivo da . ecd6tica é estabelecer um texto que se avizinhe o
mais possível do original - é o que se chama a constitutio textus
("constituição ~o texto" ou· mesmo "reconstituição do texto").
4.0.1 Um ditado, urna cópia alheia, revistos pelo autorf têm
em princípio, o mesmo valor · de um manuscrito do próprio punho
do autor.
4. O. 2 Um texto original é, conforme fôr o caso, transmitido
aos pósteros ou não - há tradição ou não há tradit;ão. Se trans.
mitido, a preliminar é saber como se verificou a tradição - é o
que se chama recensio ("recensão", como conceito ecdótico, que
não deve ser confundido com "recensão", conceito de crítica, no-
ticiário ou informação literários relacionados com o aparecimento
de um livro). Depois deve-se examinar se essa tradição, tal como
. Vjlrificada pela recensi9, deve valer como original __: é ·o que se
chama examinatio ("exame"); se se verificar que não vale, deve-se
procurar reconstituir o original por conjetura, por crítica conje-
tura} - é o que se chama diuinatio ("conjeturação") -, ou
devem-se ao menos localizar os pontos em que provàvelmente hou-
ve dano, deformação, deterioramento ou equivalentes, na tradição.
4.0.3 No passado, a ecdótica se dividia em duas operações
fundamentais: a da recensio (tal como referida supra) e em
seguida - excetuados os casos em que a recensio chegasse à con-
clusão de que a tradição era sã, ou não era sanável - a da emen-
datio, isto é, a da correção dos danos, def(!rmações, deterioramen-
tos ou equivalentes. E a emenàatio podia ser feita exclusiva-
mente pela diuinatio (tal como referida supra) ou então pela
228 ANTÔNIO HOUAISS

selectio, isto é, pela escolha das passagens ou locais reputados


mais corretos no cotejo de dois ou mais testemunhos considerados
de igual valor estemático.
4 .1 CÓDICES - A recensão pode ser fundada sôbre um s6
testemunho - o codex unicus - ou sôbre mais de um testemu-
nho. No primeiro caso, a recensão consiste na descrição e na de-
cifração o mais exatas possíveis do testemunho '\Ínico; no segundo
caso, a recensão é um trabalho muito mais delicado, mas eventual-
mente mais fecundo.
4.1.1 Todo testemunho deriva de um testemunho anterior, de
uma fonte ("fonte" no con,ceito ecdótico, isto é, de testemunho
anterior ; se os testemunhos são, por hipóteses, A + B + C - ...
+ n, o testemunho C tem como fonte o testemunho B, o testemu-
nho B tem como fonte o testemunho A; "fonte" é, pois, conceito
ecdótico que não deve ser confundido com o conceito de crítica
das fontes, isto é, das obras, passagens, locais sôbre ou em função
dos quais uma obra se ergueu ou nelas se inspirou). Essa fonte
pode ter sido conservada ou perdida; no primeiro caso, a fonte
conservada tem não raro o valor de codex unicus. privilegiado ;
no segundo caso, o testemunho existente pode permitir ou não a
reconstituição do testemunho perdido, da fonte. Se é possível
a reconstituição do testemunho perdido, da fonte, essa recQnstitui-
ção ou só se faz com a ajuda do testemunho existente ou se pode
fazer sem a ajuda do testemunho existente porque haja outros
ou outros que melhor permitam a reconstituição. Torna-se,
assim, evidente que um testemunho é sem valor testemunhal, se
êle depende exclusivamente de um outro testemunho conservado
ou reconstruído sem a ajuda do testemunho em causa. Se se
chega, com relação a tal testemunho, a demonstrar Í$80, o teste-
munho deve ser pôsto de lado - é o que se chama eliminatio
codicum descriptorum ("eliminação de códigos descritos").
4.1.2 Se após a eliminação dos códigos elimináveis - codices
eli'min.andi -, perduram ainda diversos testemunhos, em tal caso
achar-nos-emos em face de ramificação da tradição. Essa rami-
ficação pode ter-se dado apenas com o fato de uma fonte haver
derivado duas ou mais cópias ; os ramos de uma tradição assim
formada patenteiam-se em testemunhos conservados já sem rami-
ficações ulteriores, já com outras ramificações - ramificações
secundárias. . A fonte com que começou a primeira ramificação
se chama arquétipo. O texto dêsse arquétipo é imune de todos
09 erros nascidos depois da ramificação ; por isso se avizinha do
original mais do que quaisquer outros testemunhos. Se se chega,
ELEMENTOS D 'E BIBLIOLOGIA 229

pois, a reconstituir o texto do arquétipo perdido, avizinha-se no-


tAvelmente do original perdido. O alcance de atribuir a um
exemplar nessas condições o valor de arquétipo é incontestável e
nada .há que acrescentar no respeito. Não se deve, por isso, dar
valor de arquétipo a nenhum outro elo da tradição entré o origi-
nal .e as cópias conservadas, qualquer que seja a importância dêsse
elo em determinadas circunstâncias.
4.2 PRESSUPOSTOS FUNDAMF:NT.US - Como fundamento para a
constituição do estema e do arquétipo há os pressupostos de que;
a) as cópias posteriores à primeira ramificação da tradição .
mantenham sempre, cada uma, somente uma linha de tradição,
um dos ramos- noutros têrmos, o copista· não "contaminou", não
fundiu numa s6 os ·.dois ramos da tradição ;
b) de outro lado, eada copista, a sabendas ou não, se dis-
tancia de sua fonte - isto é, comete erros próprios, seus, exclu-
sivos.
4. 2 .1 Sob tais pressupostos em geral:
. a) pode-se demonstrar com segurança a relação de depen-
dência de todos os testemunhos co~ervados e o número e a po-
sição de tôdas· as ramificações intermédias supérstites ;
b) pode-se reconstruir com segurança o texto do arquétipo
em todos os lugares discrepantes (salvo exceções motivadas por
causas particulares), se a ram~ficação originária (isto é, provinda
do arquétipo por reconstruir-se) é pelo menos tríplice;
c) pode-se reconstruir o texto do arquétipo somente naque-
les lugares em que não se tenha de escolher entre mais do que
duas lições ou variantes (salvo exceções motivadas por causas
particulares) , se a ramificação originária (isto é, provinda do
arquétipo por reconstituir-se) é apenas dúplice.
4. 2. 2 Ocorrendo considerar os testemunhos A e. J (e não
K), ambos de idade diversa e de natureza diversa (manuscritos,
estampas, estratos, paráfrases, citações, imitações, traduções etc.)
e nenhum dos 'dois dando expressamente notícia de sua fonte, o
estema pode ser de uin tipo complexo como o da página 230.
a) se o testemunho J revela todos os erros de um outro
conservado, F, e ademais ao menos um que lhe seja próprio, em
tal caso J deve derivar de F. Leve-se em conta, contudo, que
algumas vêzes se pode demonstrar a dependência de um testemu-
nho para com outro conservado ainda que somente sob o funda.-
mento de uma passagem singular do texto e isto no caso em que
a condição exterior do texto na fonte conservada seja evidente-
men,te a causa do êrro particular da cópia derivada; por exemplo,
230 ANTÔXIO HOUAISS

x (original)
II
I
/a (arquético)

_,/~"''';"( \'
 JJ p (D) \

Y (subarquético) K

"-cl
I ' ·. . . .
E
E P
1G/I"' H '·,I
J
se um dano mecânico do texto da fonte levou ao desaparecimento
de letras ou grupos de letras que também faltem na cópia deri-
vada, sem outros motivos exteriores ; ou ainda se· na cópia deri-
vada há falta de uma linha que quebra a unidade lógica etc. ;
ou ainda se se pode preCisar a idade da escrita, já que a cópia
tem . de ser posterior à fonte ;
b) se dois testemunhos G e H mostram em comum, em face
de todos os outros testemunhos, erros particulares, mas ademais
dêsses erros particulares comuns aos dois um dêles apresenta ao
menos um êrro que lhe · seja próprio,· exclusivo, em tal caso ambos
devem derivar de uma fonte E, da qual os demais testemunhos
conservados não d<lrivam. O texto de E é reconstituível:
I) por meio da concordância de G e H;
11) por meio da concordância de G e H com um dos tes-
temunhos conservados - de tal modo que os erros particulares
.exclusivos de G e H não possam em geral tornar duvidosa a
restituição de E. Se, porém, G e H não concordam entre si nem
com um dos outros testemunhos ou se G e H puderam incidir no
mesmo êrro independentemente um do outro, nesses casos, o texto
reconstituível para E é duvidoso;
c) se . três (ou mais) testemunhos A, B, C (D) revelam
em comum erros particulares em face de todos os outros testemu ~
nhos conservados e além disso cada um dos três (ou mais) encerra
ainda erros própr!os exclusivos, mas dois dos três (ou mais) não
reYelam em comum erros particulares contra o terceiro (ou restan-
tes), em tal caso A, B, C (D) devem depender, independente-
mente um do outro, de uma fonte comum ~. O texto de ~ é re-
constituível:
ELEMENTOS DE B.IBLIOLOGIA 231

I) por meio da concordância. de dois quaisquer dos tes-


temun:hos A, B, C (D) ;
II) por meio do acôrdo de qualquer um dêsses teste-
munhos com y ; e somente se A, B, C (D) dissentem todos entre si
e com y· é que o. texto de e será duvidoso;. por isso, tôdas as lições
particulares de A, B, C, (D), E, ~ (e naturalmente também as de
F, G, H, I) são em geral sem valor para a restituição de li e y ;
d~Tem, pois, ser eliminados - eliminatw Zectionum singularium
·(""eliminação das lições singulares");
d) fica daí claro que, ainda que depoi!l .de li e y tivesse
ocorrido um número qualquer de ramificações secundárias ulte-
riores, poderia ser com -igual segurança estabelecida a relação de
dependência, o estema dos testemunhos, e assim restituídos os
textos de li e y ;
e) outro é o caso para a restituição de a ; Se a tradição
de a se dividiu apenas em fi e y e li e y concordam entre si, em
tal caso o seu texto comum também o é de a; mas se não concor-
dam, cada uma das duas lições, já a de fi, já a de y, pode ser
a de a: dão-'!le variantes ou discrepâncias, dentro da metodologia
aqui indicada, sôbre as quais não há como eleger. Os textos re-
constituídos que encerram variantes sobre as quais não se pode
eleger preferencialmente podem ser chamados subarquétipos;
f) com igual segurança se poderia reconstituir a, se das
linhas de li e y · fôsse, para cada uma, conservado um s6 repre-
sentante, digamos A e J - pois êstes seriam os que encerravam
as variantes. Haveria, entretanto, uma deterioração essencial se
· numa passagem do texto já alterado de fi e y se produzissem outras
alterações, no curso ulterior da tradição, ou se, ao contrário, em
· ·J vie'-se à luz uma corruptela mais tardia numa passàgem do
texto , alterado de li, mas ainda são de y ;
g) o mesmo se daria se, por exemplo, fôssem conservados ·
apenas A, E e J. Se E e J concordassem entre si contra: A, A
e y ( = E e J) seriam os que encerravam variantes. Se con-
cordassem . entre si A e J contra E, ou A e E contra J, em tais
casos as lições isoladas seriam sem valor. Somente se· A, E e J
divergissem entre si é que nã(t poderi~m ser restituídos .nem y
nem a, com os meios aqui deseriios. Deve-se então procurar, por
meio das subvariantes E e J, a lição de y , de tal modo que o
testemunho reconstituível y venha a ficar em relação a A como
variante de valor igual do ponto de vista da recensão;
232 ANTÔNIO HOUAISS

h) se, porém, ficassem conservados, por exemplo, somente


A e B, ou E e G, ou G e H, em tais casos poder-se-iam reconsti-
tuir somente OS testemunhos iniciais de linha ~' OU y OU E; e
relativamente a cada um dêsses testemunhos iniciaia de linha,
cada dois testemunhos conservados para cada um daqueles seriam
encerradores de variantes;
i) até o presente não se tem um têrmo de referência para
estabelecer quantos graus intermediários da tradição existem
entre os diversos pontos das ramificações e quantos não existem
entre os últimos e os testemunhos conservados: o fato é, de outro
lado, de certo modo irrelevante; salvo nos casos considerados em
f) supra.
4. 2. 3 Se a, ademais daa ramificações de ~ e y , se ramifica
ainda em K (ou mesmo em outros ramos mais), em · tal caso o
texto de a será restituível pelo acôrdo de dois daqueles ramos.
Somente se os três (ou mais) ramos divergirem entre si, ou se
r. acôrdo de dois puder decorrer do fato de que tenham incidido
em igual êrro independentemente um do outro, é que o texto
ode a será duvidoso. Análogo será o raciocínio para com a resti-
tuição de ~. se não se conservarem nem y nem K.
4 .3 A CONTAKINAÇÃO - Se o pressuposto (a) referido mais
acima em 4. 2 não se verifica, isto é, se cada copista contaminou
:a sua cópia por haver recorrido a mais de uma fonte de tradição
diferente, em tal caso, no campo de tais contaminações, a eliminatio
se torna dificílima, como impossível.
4. 3 .1 A contaminação se revela no fato de que, por um
lado, o testemunho contaminado não apresente erros particulares
à fonte principal de que derive, pois que o copista, para sanar
tais erros, recorreu a outra fonte subsidiária, e, por outro lado,
apresenta erros particulares àquela fonte de que não depende
essencialmente. Se, por exemplo, de três cópias conservadas -
~. y , K -, ora ~ e y têm um êrro comum contra K, ora K e ~
têm-no contra y, ora K e y têm-no contra ~. em tal ca.c;o fi; y e
K estão contaminados entre si, e suas lições isoladas, que em
condições normais são sem valor, tornam-se tôdas variantes presu-
mh•eis para a restituição de a.
4. 3. 2 Não é necessário imaginar que a contaminação seja
oriunda do fato de que um copista tenha diante de si duas fonte"
e reproduza, contaminando-os, ora o texto de uma, ora o da outra.
Na maioria dos casos o fato teria tido a seguinte origem: num
manuscrito - que chamaremos F' - vêm anotadas, à margem ou
nas entrelinhas, lições divergentes de um outro, que não é a fonte
ELEKENTOS DE BIBLIOLOGIA 233

ode F e que chamaremos A; o copista, ria "reprodução" do nôvo


- que será J - seguirá ora a lição primária ora a secundária
(marginal, interlinear) de F. Se, em seguida, Â e F' se perdem,
·então as relações de dependência de J já não serão claras, porque
.J mostrará tanto erros particulares de ô (mas não todos os erros
·de &) , quanto erros particulares de ll (mas não todos os erros de fi).
4.3.3 Até um certo ponto, há alguma garantia contra a
·contaminação, se uma obra se continua em diferentes ·ramos de
tradição sob nome mudado, de modo que os ramos da forma
primária já não sejam acessíveis aos diferentes ramos da forma
secundária. Ademais, as deteriorações evidentes; especialmente la-
cunas, são também transmitidas ulteriormente em linha reta, malii
dificilmente por contaminação; em tais erros particulares, a rela-
ção primária de dependência poderá freqüentemente demonstrar-se
verossímil.
4. 3. 4 Se o pressuposto (b) referido em 4. 2 não se verifica
e assim um testemunho não se distancia da sua fonte, em tal caso
a relação dêsse testemunho para com a sua fonte e para com as
restantes cópias derivadas dela freqüentemente não se pode esta-
belecer. Se, por exemplo, F, ao copiar 11, não cometeu nenhum
êrro próprio, em tal caso não se pode decidir se J remonta a ô
através de F' ou independentemente de F'. Se, pois, apenas F' e
.J são conservados, em tal caso J torna-se o presuntivo encerrador
de variantes, enquanto, se não pudermos ver claro .no estado de
·coisas, deveremos eliminá-lo sumàriamente. Tôdas as suas lições
particulares, por conseguinte, deverão ser sujeitas à examinatio,
;ainda que possam em verdade ser simples erros particulares.
isso mostra ·a importância que possa ter o fato de encontrarem-·se
provas positivas para a dependência de um testemunho para com
O\}tro conservado.
4. 3. 5 Há outros casos não típicos. Se um copista. corrige um
êrro de sua fonte precisamente por conjetura, sem declará-lo ex-
·pressamente, em tal caso pode parecer que essa correção tenha d·e-
. pmdido de uma outra fonte ou que tenha contaminado o seu texto
eom essa outra fonte. As lições justas que possam ser localizadas
]lOr conjetura não podem, por conseguinte, ser postas em campo
contra uma elimiMtio que se apóie em outros argumentos. Dife-
renciar o que o copista poderia ter corrigido (ou erratio) por
eonjetura do que o que não teria sido por conjetura cabe à
examinatio das variantes presuntivas.
4. 4 RELAÇÕES DE DEPENDÊNCIA - As relações de dependências
dos apógrafos dos clássicos não estão ainda em grande parte
investigadas de modo definitivo tal que poosam dispensar os fre-
234 ANTÔNIO HOUAISS

qüentes casos em que a contaminação não deixe esperar um resul-


tado satisfatório.
4.4 .1 A' recensão, pois, de regra leva a um único códice con--
servado, ou a um arquétipo que se pode restituir com segurança
em todos os pontos, ou a duas fontes com ''ariantes conservadas·
ou restituíveis, que dão fé .quanto ao texto do arquétipo somente·
se concordam entre si, mas não se divergem. Se prescindirmos'
por ora da última hipótese (ver 4.7), deve-se examinar a tradição·
unitária dos outros casos, para ver se é original.
4.. 5 TR.unçio UNITÁRIA - Dêsse exame, depreende-se que a
tradição é (a) ou a melhor que se possa conceber, (b) ou equiva-
lente a outra imaginável, (c) ou pior do que outra imaginável,.
mas ainda assim tolerável, (d) ou intolerável.
4. 5 . 1 No primeiro dêsses quatro casos, a tradição deve ser
considerada como original, no último como corrompida, nos dois
intermédios se pode ou se deve ficar em dúvida. Naturalmente,
o critério do bom e do mau, em relação a êsse exame, não pode
ser absoluto ; no que se refere à forma, é decisivo o estilo da
obra; no que se refere ao fundo, . o presumível conhecimento da
matéria (ou o modo de ver) do autor. No que se refere ao
conteúdo, o filólogo, muito freqüentemente, não pode fazer mais
do ·que recorrer ao auxílio de outros ramos do conhecimento, dis-
ciplinas especiais etc. ; no que se refere ao estilo, a responsabili-
dade· é tôda sua, .e durante tôda a vida deverá esforçar-se con-
tinuamente e por todos os modos para aguçar o seu senso estilístico,
ainda que deva reconhecer que a vida inteira de um· homem não
baste para chegar a um perfeito assenhoramento dêsse campo.
4. 5. 2 Se o arquétipo de uma obra inteira se revela comple-
tamente imune de deteriorações, pode ocorrer que seja o original,
isto é, a ramificação pode ter derivado do próprio original. MA.As
confessa não conhecer nenhuma obra, qualquer que seja a sua
extensão, de clássico, para a qual se possa contar com essa possi-
bilidade ; e para os .escritos mais breves acrescenta que nada se
ganha com ela.
4. 5. 3 · Se a tradição se revela corrompida, deve-se tentar
saná-la por meio da conjetura - diuinatio. Essa tentativa con-
duz (a) ou a uma evidente emenda, (b) ou a mais de uma hipó-
tese de emendas mais ou menos iguapnente satisfatórias, (c) ou,
porém, a reconhecer que o san~amento conjetura! não é possível
- a cr1tx • .
ELE :UE~TOS DE BIBLIOLOGIA 235

-4.5.3.1 A conjetura típica consiste na .emenda de uma ano-


:malia. Ora, há anomalias que o autor procurou .deliberadamente
.ou que se permitiu pura e simplesmente, enquanto há outras que
ieão oriundas de deteriorações. O pressuposto da conjetura é, por
conseguinte, o de que a anomalia não tenha sido deliberada ou
.do próprio autor. Se fôr êste o caso, comparar-se-á a anomalia
.com outra muito notável ou se compararão em conjunto anomalias
.de menor importância. Mas como se procederá para com as
:irregularidades de pequena monta f 1!: natural que com relação a
·isso muitas dúvidas perdurem; mas em casos semelhantes as dúvidas
,.serão eliminadas por via conjetural - que em tais cMos se torna
o pressuposto de si mesma - e na base das seguintes considera-
ções: nenhum escritor cria uma anomalia pelo amor da anomalia;
~ta será, ao contrário, conseqüência do fato de que êle parecia
.dizer algo de tal modo particular que a norma lingüística não
lhe bastava ; se se pode, por conseguinte, demonstrar que lhe teria
.sido possível exprimir de modo normal e sem dispêndio maior de
esforços o que a tradição revela de módo anormal, em tal caso
.a anomalia se fundará, verossimilmente, numa deterioração tex-
·tual. Ou ao menos fundamentará a questão de saber por que o
escritor evitou a expressão normal, e, enquanto tal questão perdurar
.sem resposta satisfatória, o texto continuará d'uvidoso. Por oposição,
o grande valor de muitas conjeturas "supérfluas" consiste em que
permitem reconhecer por que o escritor evitou a expressão normal.
Na examinatio, dever-se-iam formular de nôvo tais conjeturas, caso
já não tivessem sido antecipadas. Se o editor-de-texto havia
pensado - "o escritor déve ter escrito assiui", ou se havia pen-
.sado - "o escritor deveria melhor ·ter escrito assim" -, isso tem
relátivamente escassa importância. O essencial é que a pesquisa
· seja estimulada, tenha recebido freqüentemente um impulso de-
.cisivo, e isso de modo o mais exaustivamente atento.
-4.5.3.2 Deve-se, porém, cuidadosamente distinguir entre ano-
,malia e singularidade : o que é isolado como singularidade é por
si mesmo isento
. <
de suspeição.
4.5.3.3 Não emendável - ou (o que do ponto de vista do
'lllé-todo tem quase o mesmo valor) emendável sõmente com a ajuda
·.de um caso singularmente- feliz - é o texto não apenas fortemente
.deteriorado, mas até ainda o que revela uma anomalia usada
intencionalmente pelo autór, ou ainda qualquer expressão rara ou
distante do uso comum <JUe revista certa obscuridade. Ora, já
que precisamente as anomalias, particularidades e equivalentes são
especialmente expostas . a deteriorações ou raramente se pode ex-
.cluir delas sejam uma deterioração, não é difícil compreender que
236 ANTÔNIO HOUAISS

a impossibilidade de chegar a uma conjetura evidente não. pode·


ser decisiva em face da mera presunção de uma deterioração.
4.5.4 Conjeturas - Entre as várias conjeturas que possallh
ser formuladas pelo crítico textual, deverá mere<:er eleição aquelac
que melhor atente ao estilo e ao conteúdo; em segundo lugar,.
aquela por meio da qual se explica mais fàcilmente a origem d81
deterioração. Para decidir quanto à segunda, à que melhor ex-.
plica a origem da deterioração, devem-se ter presente :
a) os erros que podem ser esperados, no trabalho dos co-.
pistas, do ponto de vista da psicologia geral, por exemplo, a tri--
Tialização; razão por que, de regra, se deve pre.f erir a lectio-
difficilior;
b) as deteriorações que se notam com mais freqüência numa-
mesma tradição ;
c) as deteriorações que são mais fàcilmente presumíveis, sob.
fundamento de outras considerações, no tempo que intermedeia
entre o original e o arquétipo - história da tr81dição do autor·
em causa, história geral da tradição, história da língua, · da es--
crita, da ortografia, da filologia, da técnica editorial, da arte-
librária, da cultura etc.
4. 5. 4.1 A motivação dos erros supostos por di'tllinatio tem na.
crítica textual um papel notável, mas ainda assim secundário.
Ocasião para semelhante motivação se oferece somente se se deve·
escolher entre várias conjeturas mais ou menos equivalentes quanto..
ao est!lo e ao conteúdo, ou se se trata de decidir entre conjetura
e crvx. O objetivo principal - que é de estabelecer o que é
tolerável ou o que é solicitado pelo estilo e pelo conteúdo - ·não.
se fundamenta apenas pelo reconhecimento da verossimilhança de-
um êrro. ~ que, ademais disso, uma lição pode estar longe de·
ser falsa s6 pelo fato de que não se possa achar uma explicação-
satisfatória do êrro presumível na tradição; é que os erros, se--
gundo sua natureza, são apreciáveis tão-sõmente num . complexo,
num todo contextual, não nos seus casos singulares, já que se-
deve levar em conta a tendência de difundir e multiplicar os.
erros. Nenhum êrro é tão impossível quanto possa ser necessária_
uma lição, mesmo uma lição que seja encontrada pela diuinatio.
4. 5. 4:.2 Em verdade, a experiência ensina que diferentes es-
pécies de êrro ocorrem com freqüência variável; por isso, 'em casos
de dúvida, é vária a sua verossimilhança. Mas para julgar, caso.
a caso, quais erros podem ser considerados como mais prováveis,
não se possui ainda um critério seguro. A coleta de exemplos de-
que até hoje se dispõe limitou-se a citar documentos para c81d&.
ELEKENTOS DE BIBLIOLOGIA 237

classe singular de erros, de cuja possibilidade, aliás, Ja não per-


dura dúvida;· mas tais classes e seus exemplos não oferecem ne-
nhuma idéia da diversidade de freqüência e, sobretudo, não re-
velam o principal: a classe de erros para a qual não se dispõe-
ainda de exemplos.
4. 5 . 4. 3 · Para poder e9tabelecer mais sólidos fundamentos nesse
terreno, dever-se-ia compilar, por época, por gêneros literários, por
regiões paleográficas, um exemplário de todos os erros particula-
re!!!, ordenados segundo suas espécies e classes, e fundados no
testemunho de que se tivessem conservado as fontes _de sua linha-
gem - cujas lições particulares vêm, por isso mesmo, e com
razão, geralmente omitidas nas edições críticas; depois, dever-se-ia
passár aos erros particulares daqueles testemunhos cujas fontes'
de linhagem fôssem J:estituíveis seguramente por meio da recensio ;·
só em última instância seriam alegados aquêles erros cujas fontes
de linhagem se devessem exclusivamente à selectio ou à diuinatio.
4. 5. 4. 4 Particularmente desejável seria um exemplário dêsse
tipo no que tange às interpolações - a saber, para aquelas dete-
riorações l.extuais, via de regra insertas no texto, que não deri-
vam do cansaço psicológico e fisiológico do copista, mas sim da
sua deliberada vontade de reconstituir o original alterando cons-
cientemente a tradição, sem, porém, declará-lo, e sim também da
determinação de apresentar como original um texto falsificado.
Tais deteriorações são particularmente perigosas, porque um text()
que se erga sôbre elas com freqüência é dificilmente demonstrá-
Te! como corrompido - enquanto o .cansaço do copista ordinAria-
mente leva a incoerências e contra-sensos óbvios; de outro lado,
nos textos em que se demonstra a manipulação interpoladora, mui-
tas ·outras passagens que eventualmente não tenham sido objeto de
manipulação passam a ser olhadas com suspeição ; a conseqüência
~ que a atétese - ou o método de expungir as interpolações de
um texto - se revela, ao cabo, cômoda, e por isso falsa e arbi-
trária. ~ que em qualquer original há lugares que, sem dúvida,
poderiam merecer suspeita ou pelo menos a demonstração de lfU&
não fôssem indispensáveis. Destarte, surgem os mais espinhosos
problemas da crítica textual. A hist6ria da interpolação está es-
treitamente ligada à da falsificação de obras inteiras - história,
aliás, _que está ainda por ser escrita.
4.5.4.5 Se um arquétipo- ou Uin codez _unicus --:• restituíd()
por meio de testemunhos que remontam a uma mais antiga rami-
ficaÇão, deve ser, por certas características, capitulado como en-
cerrador de variantes ou simplesmente como codez descriptus, em
238 ANTÔNIO HOUAISS

tal caso as espécies de êrro que podem ser evidenciadas nessas


características devem ser também presumidas nos lugares em que
por acaso não ocorram. Disso depi'eende-se:. o grande valor das
citações, quando estas remontam a ·.uma ramificação mais antiga.
4. 5. 4:.6 De outro lado, pode ocorrer a necessidade de coleta
e agrupamento de todos os erros particulares de um coiex d~s­
cripttts, com o objetivo de ter uma idéia de seus presumíveis erros
particulares para aquêles casos em que o mesmo testemunho seja
·encerrador de variantes ou codex Ulnicus. Na verdade, por seu
meio podem-se conhecer apenas os estratos de erros mais recentes.
4.5.4:. 7 Torna-se, pois, importante, em determinadas circuns-
tâncias, estabelecer a idade do arquétipo restituído, a fim de que
não se tomem em consideração deteriorações que, por seu · caráter,
-são verossímeis apenas para uma data posterior à do arquétipo.
'Ü arquétipo deve ser mais antigo do que a mais antiga variante
que possa ser datada - e não apenas mais antigo do que a idade
·do mais antigo encerrador de variante; mas deve ser mais re-
.cente do que a idade da deterioração mais recente que possa ser
datada.
4.6 VALOR DO MÉTODO - Que grau de segurança se pode espe-
rar conseguir com a examinatio, particularmente por meio da
.diuinatio! Uma conjetura pode ser confirmada ou ao menos
.apoiada pelo acôrdo de todos os especialistas - conceito difícil
·de delimitar -, ou por novos argumentos que escaparam ao autor
·da conjetura, ou pela descoberta, sobrevinda mais tarde, de um
testemunho que representa um ramo da tradição suspenso em
idade anterior à do arquétipo - salvo se a lição dêsse testemu-
nho possa ser também devida a conjetura; uma conjetura pode,
:ao revés, ser refutada ou com a demonstração de que a tradição
era sã, ou por meio de uma lição melhor, por sua vez achada
por meio da diuinatio ou de testemunhos de tradição mais antiga
posteriormente vindos à luz. As últimas décadas da ecdótica
:achegaram um grande número de confirmações e refutações, mas
falta ainda uma obra que evidencie o progresso metódico obtido
neste campo. Tal obra seria de grande utilidade, porque -
-embora tenha sido confirmada a agudeza crítica de muitos editô-
res-de-texto pelas pesquisas posteriores aos seus trabalhos - as
:Surprêsas que a descoberta de quase todos os papiros acarreta,
mais ainda as profundas discrepâncias das edições mais autori-
zadas, mesmo quando a tradição não sofre modificações, não são
~m atestado de que o grau de segurança da examinatio no seu
ELEMENTOS DE BIBLIOLOOI.& 239

conjunto. seja muito elevado. Não poucas vêzes os mais compe-


tentes editôres-de-texto, mesmo nos textos mais lidos, deixaram
escapar deteriorações, suspeitaram injustamente de uma tradição
si, aceitaram uma conjetura errada como segura restituição do
original, rejeitaram uma emenda justa. A questão consiste em
saber se a origem de tais erros dos editôres-de-texto foi devida
sõmente à atenção pouco concentrada nos casos singulares, ou se
se está em face de defeitos do próprio método. Em geral, a M.us
- cuja proficiência no particular estamos seguindo pari passu -
lhe parece que os editôres-de-texto propendem muito freqüente-
mente a conjeturas que pressupõem profundas deformações do texto
(deformações, por isso, não sanáveis) e, de outro lado, são muito
inclinados a passar em branca nuvem sôbre as lacunas da tra-
dição ou da vulgata, porque não se conseguiu ainda superá-las de
modo evidente. Ambos os fatos se devem ao temor de confessar
que não se obteve ainda um resultado plenamente satisfatório.
Mas o que apresenta como seguro o que é inseguro distancia-se
do objeto da ecd6tica mais do que o que confessa suas dúvidas.
O primeiro necessita, em verdade, de menos palavras para ex-
plicar-se, mas sua brevidade é enganadora; o segundo, com igual
brevidade, assevera sua dúvida. E assim, entre as duas posições
opostas, s6 uma terceira maneira de apresentar os fatos é a ade-
quada à realidade, que é a dúvida. É evidente que tais fatos
ocorrem em todos os campos de pesquisa, e o exame demasiado
escrupuloso da probabilidade pode, afinal, sufocar o germe do
progresso. Mas os testemunhos, como fundamento de qualquer
pesquisa filológica, deveriam ser tratados de tal modo que rei-
nasse a maior clareza possível quanto ao. grau de segurança que
lhes fôsse atribuído. Naturalmente, é muito menos científico en~
cobrir uma dificuldade de um texto do que conjeturar-lhe uma
emenda ainda que injusta. É que qualquer conjetura provoca
eventual refutação . ou discussão, graças ao que sempre se melho-
rará a inteligência da passagem, impondo-se, assim, as melhores
conjeturas; entretanto, e. deterioração que não é indicada com-
promete .a idéia que do conjunto estilístico se possa ter : quem
desconhece uma conjetura justa expõe-se acima de tudo ao labéu
de injusto ou de invejoso ; quem teme dar um texto não seguro,
melhor fará se se ocupe sõmente de autógrafos.
4. 7 TIW>Içlo BINÁRIA - Em uma tradição de dois ramos (ou
duas linhas), a recensão freqüentemente. leva a duas variantes
(v. 4.5). A e2:ammatio deve, por conseguinte, estabelecer se uma
das duas ou nenhuma é original.
240 ANTÔNIO BOUAISS

4. 7 .1 Caso típico é quando uma das duas variantes . se pode


explicar como êrro que pressupõe como lição do arquétipo a outra
variante. Em tal caso essa lição do . arquético, achada pela se-
lectio, é base para uma ulteriQr exammatio.
4. 7 .1.1 Decide-se, segundo os pontos de vista referidos em
4.5.4, qual espécie de ârro é principalmente presumível, num en-
cerrador de variante ; apenas deve-se levar em conta que, entre
o lapso de tempo que decorre entre o original e o arquétipo, deve
inserir-se o lapso de tempo que decorre entre o arquétipo e o
encerrador . de variantes.
4. 7. 2 Casos atípicos são os seguintes:
a) ambas as variantes podem ser interpretadas como erros
que se fundamentem numa mesma lição do arquétipo. Em tal
caso. essa lição do arquétipo, que se deve achar ·por êrro da
diuinatio (a combinatio), 6 base para ulterior examinatio. ~te
ca8o não se pode chamar típico, porque se pode apresentar sO-
mente quando uma passagem do texto que at6 o arqu6tipo se
mantivera sã (pois de outra forma a lição do arquétipo não
poderia ser obtida por meio da diuinatio), foi diversamente de-
formada em ambos os ramos;
b) não se pode achar nenhuma lição graças à qual se possam
explicar ambas as variantes. Em tal caso, a restituição do ori-
ginal é duvidosa, mesmo se o seu texto, obtido por meio de se-
lectio ou de diuinatio, satisfaça inteiramente tanto o estilo quanto
o conteúdo, e explique a origem de uma das variantes. :Bl que
a variante cuja origem continua obscura pode remontar a uma
lição melhor, do original, que não tenha ainda podido achar-se
por meio da diuinatio. Deve-se ainda ter em conta a polisibili-
dade de uma dupla redação do original; deveriam, pois, ter sido
contaminadas as duas redações no arquétipo ;
e) com relação a uma variante se apresentam duas subva-
riantes (ver 4.2.2 g); em tal caso, antes · de tudo não se pode
acolher entre as três lições, mas apenas entre a lição do portador
de variante conservado e a lição do segundo encerrador de variante
recomtituída por meio das subvariantes. A lição original por
achar por meio da selectio ou diuinatio deve em tal caso ser
obtida de modo que se torne inteligível o original das trêf;r. lições
atestadas na sua relação de dependência estabelecida por meio da
recensio.
4. 7. 2 .1 Por mais diversos que sejam os encerradores de vari-
antes entre si, a selectio deve processar-se caso a caso; nenhuma
variante deve ser rejeitada sem e:ume. O pressuposto do reco-
BLE.Y:ENTOS DE BIBLIOLOOIA 241

nhecimento de um testemunho como encerrador de variante é,


como vimos, o de que não encerre pelo menos um êrro em comum
com o outro encerrador de variante ; mas se um encerrador de
variante conserva por si só, ainda que num s6 lugar, o texto ori-
ginal, deve-se presumir a mesma possibilidade em tôdas as lições
que lhe são particulares.
4. 7 . 2. 2 Da mesma maneira que as variantes, devem ser exa-
minadas as variantes presuntivas que aparecem no campo de re-
lações incertas de tradição (v 4.3 e 4.3 . 4), e semelhantemente
devem ser examinadas as variantes de .uma tradição de dois ou
mais ramos, nos casos em que todos os testemunhos divergem entre
si (v. 4.2.3).
4. 7. 3 O método de exame das variantes acima referido é hoje
em dia predominantemente usado em ecd6tica, mas tem vigência
faz não muito tempo. Antes, ou se seguia a vulgata (o assim
chamado tea;tus receptus), sem preocupação das qualidades do
testemunho; ou se seguia o maior núinero de testemunhos, sem
levar em conta o fato de que, entre cem manuscritos ap6grafos
que remontam a um s6 ap6grafo, êste tem mais autoridade que
os cem e êstes cem não têm mais autoridade do que um s6 que
não remonte àquele único ; ou se seguia o mais antigo, o mais
completo, o mais bem tratado caligràficamente, como se não todos
os copistas pudessem errar. Isso era absolutamente arbitrá-
rio e já não se lhe procura dar uma justificação metódica. O
êrro de tratar o codea; optimus como se fôsse codex wnicus não
está, entretanto, ainda superado ; todavia, êsse êrro é freqüente-
mente de pequena monta, pel!> fato de que o codex optimus em
última análise se revela pelo codex unicus.
4. 7. 4 Os métodos ecd6ticos - que se apresentam em vias de
aperfeiçoamento contínuo - são estreitamente afina dos métodos
da crítica histórica das fontes. Mas, enquanto a tradição literá-
ria remonta a um original que é da mesma natureza de todos os
testemunhos, enquanto, ademais, é um manuscrito, na tradição
histórica, ao revés, está o evento, o acontecimento, que por sua
natureza colide com a tradição escrita e se acha alterado ou adul-
terado já no primeiro testemunho, não poucas vêzes a sabendas
do próprio testemunhante. E enquanto o organismo fechado das
obras literárias, cujos elementos componentes todos podem ser sen-
tidos como necessários, pode sobreviver por milênios sem graves
danos, especialmente no revelar uma cultura que condicionou essa
obra de arte, no evento histórico, ao revés, sobrevive apenas, sub-
traída à dúvida, geralmente a parte mais bruta e ostensiva, por
vêzes nem esta. ·
242. AK'l' ÔNIO HOUAISS

4. 7 .4 .1 É ilustrativo também confrontar os métodos da ar-


queologia, que reconstrói uma obra de arte perdida por meio de
cópias, ou então os métodos da .pesquisa literária ou folclórica, que
procura a redação originária de um motivo. Mas em nenhuma
disciplina o caminho é tão claro e o objetivo se pode atingir com
tanta segurança como- na ecdótica, na crítica do texto dos clássi-
cos e, com mais razão, dos autores pós-clássicos.
4.8 APRESENTAÇÃO DO MATERIAL - Para a apresentação do
material, gráfica, tipográfica, de uma edição crítica de clássico
grego ou latino - e de quaisquer autores, mutatis mutandis -,
podem ser observadas as seguintes normas gerais; quanto ( 1) ao
prefácio, (2) ao texto, e (3) ao aparato crítico.
4. 8 .1 O prefácio deve :
a) descrever todos os testemunhos, mesmo os excluídos,
mesmo os que possam ser levados em consideração apenas em
alguma passagem singular; e, de maneira mais completa, os tes-
temunhos principais - os codices unici, os encerradores de va-
riantes;
b) pôr evidência, preferentemente por meio de um estema,
a relação entre si, e deixar clara essa relação de dependências
com a citação de alguns erros particulares característicos;
c) delinear a qualidade do arquétipo e dos encerradores de
variantes, na base de uma classificação das corrupções, segundo
suas espécies ;
d) mondar a matéria de tôdas as incertezas ortográficas sem
conteúdo lingüístico e de tôdas as influências dialetais não origi-
nais.
4. 8. 2 No texto devem ser assinalados:
a) os acréscimos conjeturais por meio de < >;
b) as exclusões (atéteses) conjeturais por meio de { ) · · · ·
ou ~ . ~i
c) as complementações, nos casos de danos mecânicos, por
meio de [ ];
d) as determinações não sanáveis mas que podem ser locali-
zadas, por meio de t.
4.8.2.1 Nos textos latinos, podem ser indicadas as modifica-
ções conjeturais de palavras ou de parte de palavras por meio do
grifo ou itálico.
4. 8 . 2 . 2 A distinção entre < > e [ ] é essencial. O primeiro
feixe de signos indica por si que a lacuna é fundada em conjetura,
o segundo, que uma lacuna testemunhada é preenchida em relação
com sua extensão. O mesmo feixe [ ] pode usar-se no caso em
E L E ~I E X T O S DE BI BL I O GR A F I A

que a tradição revele expressamente que no seu original havia


uma lacuna. O mesmo feixe [ ] , por fim, pode ser adotado para
a atétese, quando não se trate de seções manuscritas danificadas
mecânicamente.
4. 8. 3 No aparato crítico, que deve localizar-se sob o texto e
em estreita relação de dependência com o estampamento do texto,
devem ser indicados :
a) tôdas as discrepâncias para com o arquétipo, quando
estas já não estiverem· indicadas no próprio texto;
b) tôdas as variantes rejeitadas - inclusive as de grafia
e escritura, não porque estas possam ser tomadas em consideração
para a constituição do texto, mas para chamar a atenção do leitor
sôbre o fato de que .:nesse ponto não se funda sôbre o arquétipo,
mas sôbre uni grau inferior de tradição ;
c) as subvariantes que não sejam elimináveis;
d) as lições concordantes entre si de mais de dois encerra-
dores de variantes, no caso em que êstes tenham sido rejeitados
em favor· de outro encerrador de variante; se a lição aceita no
texto deve ser considerada como conjetura do encerrador de va-
riante aceito, nesse .caso deve o fato ser indicado como tal ;
e) as dúvidas quanto à justa lição do texto.
4. 8. 3 .1 · O aparato crítico deve ser pÕsto sob o texto em aten-
ção às exigências e necessidades tipográficas e especialmente ao
formato dos livros. :Mais cômodo, para clareza, era o uso dos
copistas da antiguidade e medievais, que usavam para êste fim
a margem externa dos c6dices. Poder-se-ia, com efeito., tentar o
formato de álbum oblongo nos casos particularmente apropriados,
por exemplo, na tragédia grega, mas naturalmente apenas para
as observações mais importantes.
4. 8. 4 Em complemento ao considerado acima, devem ser le-
vadas em conta as seguintes normas particulares. No caso em
que haja anotações na tradição - acréscimos, decréscimos ou
alterações temporâneas, juntadas ou desaparecidas de importantes
ramos da tradição - , deve-se levá-lo em conta nas modificações
que acarreta no texto e no aparato crítico. Se o arquétipo, por
causa das mutações, fica mais alto no estema, em tal caso o que
era arquétipo passa a encerrador de variante ou mesmo ap6grafo
de grau inferior, e conforme fôr isso deverá. assim ser ·êle tratado
no aparato crítico - eliminação das subvariantes etc. Se, ao
contrário, pelas mutações, o arquétipo ficar colocado em grau in-
ferior do estema - pelo desaparecimento de um encerrador de va-
244 ANTÔNIO HOUAISS

riante -, em tal caso, conforme a circunstância, se deverá acolher


os testemunhos até então eliminados.
4.8.4.1 As lições seguramente elimináveis não devem ser re7
feridas no aparato crítico. Quanto às variantes presuntivas, o
melhor será acolhê-las em um apêndice.
4. 8. 4. 2 Se as variantes, combinações e conjeturas rejeitadas
são mais ou menos de igual valor às aceitas, em tal caso as aceitas
devem ser realçadas materialmente - com o grifo alemão ou
grifo espacejado.
4.8.4.3 Ocorre ainda referir o uso de pôr junto às conjeturas
o nome de seu autor. Mas· a justiça e a 16gica exigem que de
igual modo sejam mencionados os que tornaram inteligível o texto
transmitido ou os que pela primeira vez tenham preenchido seus
claros. Na verdade, dever-se-ia fazer uma e outra coisa com um
critério rigoroso de seleção; de outra parte, em certas circuns-
tâncias, dever-se-ia juntar uma breve justificação. Por exemplo,
as modificações verificadas apenas por causa do metro deveriam
ser indicadas como tal, pois que nos aparatos críticos isso em
geral não é ressaltado.
4. 8. 5 O objetivo de tornar inteligível o texto constituído na
base da recensio e da examinatt"o, por meio da separação dos pa-
rágrafos, dos versos, da pontuação, das iniciai.s maiúsculas etc.,
pertence ainda ao campo da ecd6tica, formando parte da mter-
pretatio, cujo escopo é svjeito às modificações do tempo e em
quaisquer casos não pode ser sujeito a normas fixas como as do
estabelecimento crítico do texto.
4. 9 ORIENTAÇÃO BmLIOORÁFICA MllHlU - A bibliografia clás-
sica 6 imensa e objeto de publicaçõetr especializadas, havendo co-
leções de autores gregos e latinos, dos diferentes períodos, algu-
mas já famosas, que consagram as respectivas editôras pelo
escrúpulo gráfico com que são publicadas. Nessas coleções se vê
ao vivo a aplicação dos métodos ecd6ticos aos autores clássicos,
constituindo alguns prefácios verdadeiros guias para a matéria.
Dado o caráter deliberadamente elementar dêste capítulo - pois
a preparação de textos críticos clássicos no Brasil está ainda longe
de poder ser cogitada de forma sistemática -, limitamo-nos a
·sugerir ao leitor a consulta de manuais mais acessíveis, como o
dicionário clássico da Oxford e o conhecido manual de estudos de
LAURAND ( cf. OXFO; LAUR), cujas indicações bibliográficas são
assaz satisfatórias para o não especialista, permitindo-lhe, ade-
mais, em querendo-o, indicações para progressivo aprofundamento
dos problemas específicos.
CAPÍTULO v
TEXTOS MEDIEVAIS

5. CóDICES MEDIEVAIS
No que se refere à (a) leitura e (b) disposição editorial de
um texto medieval - preferentemente português -, dispomos,
já hoje, de um bom guia geral e particular em obra de SERAFIK
DA SILvA NETO, editada pela Casa de Rui Barbosa (cf. siLv), cujas
indicações serão extratadas, glosadas e por vêzes discutidas linhas
adiante, mas com a recomendação ao leitor de prévia consulta à
mesma· obra e de cotejo com as recomendações, complementares
ou suplementares a ela, aqui feits,s. Importa-nos, preliminarmen-
te, considerar alguns aspectos relacionados com os manuscritos me-
dievais portuguêses. Como frisa SERAFIM DA SILVA NETO (SILv, 21) :

Tão escasso é o repertório de textos medievais portu-


guêses, que raro é aquêle de que dispomos de mais de
um manuscrito. ·Estão nesse caso o Orto do espôso, O
castelo perigoso, de que conhecemas dois códices, os Diá-
logos de São Greg6rio - de que possuímos três, e as
crônicas de FERNÃO LOPES, das quais possuímos vários
manuscritos, embora· nem todos do mesmo valor.· Não me
refiro aos manuscritos da Regra de São BefJ-to, porque é
muito possível que correspondam a versões independentes.
Além disso, é preciso ter na devida c01ita que muitos
dêsses manuscritos únicos são apógrafos tardios, isto é,
cópias de cópias muito posteriores ao original. A maio-
ria, no entanto, compõe-se de cópias do séc. XV, mas de
manuscritos anteriores - embora um ou outro tenha che·
gado até nós em cópia moderna, como é o caso do Livro
de montaria, de D. João I, hoje apenas conhecido por
um apógrafo do século XVII.

5 .1 PRINCfFIOS ESTEMÁTICOS - As considerações acima levam-


nos autoinàticamente a três conclusões principais, relacionadas
C'Om os princípios estemáticos :
246 ANTÔNIO HOUAISS

1.0 ) a inexistência de autógrafo - na quase totalidade dos


casos da documentação manuscrita medieval .:.._ induz-nos a aban-
donar a pretensão de remontarmos ao original da obra, via de
regra perdido, mas permite-nos trabalhar ou com o codex wnicus,
ou a eleger, quando a cronologia claramente o permite, o codex
optimus, ou a tentar remontar ao arquétipo;
2.0 ) os apógrafos, embora datáveis por circunstâncias ex-
ternas - material gráfico lato sensu empregado ( códice, tinta,
datação, reconhecimento coetâneo ou posterior idôneo, história
literária) -, deverão ser objeto de uma datação interna, isto é,
baseada na própria estrutura lingüística e estilística, de tal ma-
neira que um posterior, quanto ao tempo em que tenha sido
copiado, possa encerrar características formais de uma linhagem
anterior;
3.0 ) a constituição do arquétipo só poderá ser idônea se
rigorosamente baseada numa genealogia que permita, por meio
dos errores significatiui, a certeza de sua constituição; em perdu-
rando dúvida, evitar-se-á sua constituição, pois esta redundará no
estabelecimento de um texto que seguramente nunca existiu, de-
vendo-se, assim, trabalhar sôbre o codex optim.w, que deverá
ser, a um tempo, caracterizado por sua maior antiguidade e, se
possível, completude.
5 .1.1 Disponibilidade dos códices - Se até antes do advento
das técnicas de reprodução mecânica, a edição-de-texto medieval
no Brasil era uma tarefa .difícil, por não se dispor, via de regra,
dos apógrafos senão através de cópias modernas · (manuscritas ou
dactilográficas, e, pois, sujeitas à adjunção de novos erros mo-
dernos), já hoje em dia êsse óbice não perdma. Destarte, se-
melhante tarefa só se justifica quando o editor-de-texto brasileiro
dispõe de reprodução fac-similar de to-:l<Js os apógrafos conheei-
dos, para em sã consciência poder firmar seus critérios ecdóticos,
oom relação a determinada obl"a. Semelhante e:D~ncia não é
impossível de ser preenchida. Cabe ainda a SERAFill DA SILVA NETo
a primeira tentativa de tombamento bibliográfico dos códices
medievais em língua portuguêsa, muitos dos quais, entretanto,
diz êle (SilfV, 55):
terão escapado à nossa pesquisa; e muitos mais decerto
se escondem avaramente nas bibliotecas portuguêsas, cuja
imensa riqueza ainda não foi integralmente explorada.

5 .1. 2 Leitura dos códices - Importa-nos, ainda, relembrar


que a tarefa do editor-de-texto medieval português supõe uma
preparação filológica altamente idônea, preparação a que não é
ELEMENTOS DE BIBLIOLOGJA :24í

estranha, de modo nenhum, grande habilidade de leitura paleo-


gráfica. Para isso, é de todo o interêsse que o editor-de-texto se
compenetre da natureza possível, provável e habitual de erros de
leitura paleográfica. A êsse respeito, SElU.Fill DA SILVA NETO ex-
põe, com exemplificação, alguns aspectos que devem permanente-
mente estar presentes ao espírito do editor-de-texto, capitulando
tais erros em (a) erroa devidos à má compreensão de letras, (b)
erros devidos a desconhecimentos de fatos lingüísticos, (c) erros
devidos a ignorância de siglas e .abreviaturas, ( d) salta-bordões,
(e) erros devidos à má separação das sílabas ( cf. siLv, 27-36).
5 .1. 3 Crltioa 'Verbal - Mas assim como há erros devidos à
leitura atual por parte do editor-de-texto, há erros nos próprios
textos, devidos ao trabalho de cópia, do autógrafo para apógrafo,
ou de ap6grafo para ap6grafo. A correção de semelhantes erros
deve ser objeto, mais do que qualquer outra operação ecdótica
medievalística, de seguro faro filol6gico, de cuidado extremo, im-
pondO-se sempre que o aparato crítico· faça dela a menção mais
explícita possível. ·Quando se trata de códice único, PII!Sas corre-
ções são de muito difícil fundamentação, devendo o editor-de-texto
reservar-se a um mínimo possível de correções, s6 ousando-as
quando haja razões de interpretatio sobejas e altamente convin-
centes; mas mesmo que não ouse corrigir, deve sempre o aparato
crítico consignar as dúvidas concernentes a passagens que possam
parecer erronias dêsse tipo. Em se tratando, porém, de vários
códices ou da restituição de um arquétipo, dada a existência de
têrmos ou elementos de comparação nas variantes, as correções
dêsse tipo tornam-se, via -de regra, mais plausíveis, embora se
deva sempre evitar o escolho d!l constituição do texto que jamais
existiu. A tradição ecdótica do passado, sobretudo firmada no
estabelecimento do texto da Bíblia - cuja complexidade é ime-
diatamente compreensível, pela variedade de línguas interferentes
(hebraico, grego, latim e vernáculos), pela multiplicidade de
versões em cada uma das línguas interferentes -, a tradição
ecd6tica do passado, com relação aos erros dos copistas, foi con-
solidada no fim do século XVIII por JoHANN JACOB GRIESBACH
(1745-i812) e pode servir de indicações, mutatis muta-ndis, ao
editor-de-texto medieval português - considerado, naturalmente,
o que, sôbre crítica verbal, já dissemos. Vão elas, em tradução
nossa, segundo a versão francesa que lhes dá Ib:NRI QUENTIN
(QUEN, 30-31):

Quando nos achamos em presença de lições diferentes


sôbre um mesmo passo, escreve GRIESBACH, é necessário
antes examinar cada lição em si mesma, para julgar de
248 ANTÔNIO HOUAISS

sua bondade intrínseca, depois considerar a gravidade e


o jôgo de acôrdos dos testemunhos que, cada um de seu
lado, oferecem lições rivais.
A bondade intrínseca de uma liçãa· decorre primeiro
do fato de que ela concorda com os hábitos do autor, suas
idéias, seu estilo, seu fim, e também das circunstâncias
exegéticas ou históricas do caso; reconhecemo-la também
pelo fato de que ela permite explicar fàcilmente as outras
lições que não provenham, no fundo, senão de erros ou de
más correções de que ela é o ponto de partida. São essas
as ·suas características fundamentais ; mas h.á várias ou-
tras circunstâncias que, bem observadas, podem permitir
o discernimento da boa lição :
1) a lição mais curta, a menos que ela não tenha
testemunhos antigos, deve ser preferida à lição
mais longa;
2) a lição mais difícil e mais obscura é melhor do
que a lição mais clara, que o copista compreen-
de fàcilmente ; ·
3) a lição mais dura vale mais do que aquela gra-
ças à qual o texto flui sem tropeços;
4) a lição mais rara deve prevalecer sôbre aquela
a que se está geralmente habituado;
5) as lições enfáticas são suspeitas;
6) igualmente, as lições pias;
7) se uma lição parece à primeira vista dar sentido
falso, mas no fundo, ap6s exame, dá sentido
justo, deve ser preferida ;
8) entre várias lições de um mesmo passo, a que
favorece demasiado claramente a doutrina orto-
doxa é por isso mesmo suspeita;
9) a · lição que repete uma palavra ou uma idéia
vizinha é inspirada por essa vizinhança e não
tem valor;
10) igualmente, o produto do homeotelêuton;
11') entre várias lições, a melhor é a que explica
melhor a origem de tôdas as outras;
12) é necessário rejeitar as lições que sugerem · glosa;
13) as que se explicam pelos comentários patrísticos
ou pelas notas dos escoliastas ;
14) as que aparecem pela primeira vez nos leccio-
nários;
13) as que, enfim, têm por fonte a versão latina.
ELEMENTOS DE DIBLIOLOGIA 24!)

5. 2 TIPOS DE EDIÇÃO - Cabe, ainda, discutir o tipo de texto


que pode ser oferecido à leitura moderna. Sem remontar à his-
tória dêsses tipos, lembramos que, nas condições técnicas e cultu-
rais contemporâneas, a leitura de um texto medieval (e clássico,
e qualquer - manuscrito ou já impresso) pode ser reproduzida :
a) por meios mecânicos, ditos fac-similares, na base em
geral do princípio da fotografia - é a "edição fac-similar" ;·
b) por meio de nova composição tipográfica, que reprodua,
eom absoluta (é o desejo subjacente) fidedignidade, o texto sôbre
o qual se trabalha, isto é, que se quer editar - é a "edição
diplomática";
c)· por meio de nova composição, que, respeitando fidedigna
e fielmente o texto que se quer editar, o submeta a um crivo crí-
tico seguindo os critérios e métodos ecdóticos, a fim de que, a
um tempo, (a) se respeite a essência lingüística lato sensv do
texto e (b) se apresente êsse texto liberto de excrescências extra-
lingüísticas, de modo que sua inteligi.bilidade e intelecção sejam
as mais exatas e incontroversas possíveis ....... é a "edição crítica".
5. 2 .1 Adeq'UMU'fio dos tipos de eà4ção - SERAFIM DA Sn..u NETo
discute o alcance da chamada "edição diplomática" nestes têrmos
(sn..v, 21-22) :

Hoje, em virtude dos progressos técnicos da fotogra-


fia e da reprodução fac-similada, a transcrição puramente
diplomática é um atraso, pois com ela ficamos sempre na
estrita dependência do critério e da perícia do editor,
que, no entanto, pode ler mal e não compreender algu-
mas palavras. Nesse particular há edições más, pôsto
que diplomáticas, como a de Bulaão e Josafá, devida aos
cuidados de G. VASCONCELOS .ABREU (1898).
Por. outro lado, em muitos passos, as edições mera-
mente diplomáticas são deficientes e imperfeitas, já que
as tipografias modernas são incapazes de reproduzir cer-
tos sinais medievais. Com o atual progre'sso da tknica
só se justifica a edição diplomática quando ela vem do
lado da fac-símile. Dessa maneira o leitor pode acom~
!J>anhar e policiar a leitura - o que, todavia, mais parece
um exercício paleográfico do que um-a tarefa de caráter
filológico.
Achamos muito razoáveis, por isso, estas ponderações
do Professor JosEPH 'M. PIEL:
250 A~TÔNIO BOUAISS

"Em nosso entender, uma edição de um texto h-


terário quatrocentista não pode nem deve ser conce-
bida como exercício da paleografia, com reprodução
servil de todos os pormenores gráficos, casuais ou
individuais, de quem redigiu ou copiou o códice,
trabalho de que um filólogo nunca se poderá, aliás,
desempenhar tão bem como uma máquina fotográ-
fica" (Livro dos Ofícios, Introdução) -

opinião que é, também, a doutrina consagrada pelas normas de


transcrição de textos, organizadas pelo Conselho Superior de In-
vestigações Científicas da Espanha ( cf. OONS):

Carece de utilidad la edici6n paleogr!fiea total, pe-


sada para la eomposici6n en la imprenta y suplida ~ta­
joS&D}ente eon la reproducci6n fotomecániea del manuscrito
o de la parte pertinente a êl.

5. 2 .1.1 Não obstante a autoridade citada e as em que se


abona, convém, entretanto, abrir uma exceção de cabimento para
a edição diplomática, nas condições da conjuntura cultural bra-
sileira. Essa exceção se cifra no seguinte: entre uma edição di-
plomática, que exige tão-somente (o que não é pouco, aliás) uma
boa leitura paleográfica, e uma edição crítica, que exige apro-
fundado conhecimento filológico, há situações em que melhor será
aquela do que esta - em não sendo possível a reprodução fac-
similar. Aquêles autores, pois, que, por necessidade de do-
cumentação, deverem citar excertos longos, passagens, locais de
textos medievais portuguêses que ainda não tenham sido objeto
de edição crítica, e que, por se haverem especializado noutros
campos de saber, não puderem, pelo rigor de seu espírito crítico .
decidir sôbre o estabelecimento crítico de tais excertos longos,
passagens, locais, melhor será que recorram, então, ao critério
diplomático. ~ óbvio que esta restrição redunda em apoio inte-
gral do ponto de vista de que se faz porta-voz SERAFIM DA SILVA
NETo no lugar acima referido - pois lá, como ficou explícito, se
cogita de edição íntegra de um texto medieval. Uma segunda ex-
ceção de cabimento para a edição diplomática pode ocorrer: é
quando, precisamente, a leitura em si mesma paleográfica é que é
objeto de controvérsias, nos casos em que autógrafo, ou apógrafo,
é tão obscuro ou tão corrompido que a preliminar é a validade ab-
soluta da própria leitura que lhe é proposta. Em semelhante caso,
é óbvio que a impressão lado a lado do texto fac -similRr, dR ediç.ão
ELEMENTOS DE BIBLlOLOGIA 251

(ou leitura) diplomática é o critério que se recomenda, necessA-


riamente, salvo se a reprodução fac-similar já tiver sido feita em
obra suposta de fácil acesso e consulta. Problema outro é a
reprodução fac-similar de raridade venerável - critério que
guiou I. S. RÉVAH na sua bela edição de Ropicapnefma.• de JoÃo
DE BARROS (cf. BABS). Na medida, porém, em que os textos me-
dievais portuguêses forem, progressivamente, sendo esgotados por
edições críticas, idôneas, melhor será. sempre citá-los segundo sua
versão crítica, tarefa prévia do filólogo, oferecida ao uso do his-
toriador, do cientista em geral, do culto, em suma, para fins cul-
turais.
5. 3 TEXTO c&fTrco - Para o estabelecimento de um texto crí-
tico, devem-se levar em conta as seguintes ordens de fatos de
crítica verbal e de interpretação, pelo menos: (a) critério geral
de seu tratamento; (b) critério particular do seu tratamento or-
tográfico ; (c) critério particular do seu tfãtamento de pontuação ;
(d) critério normativo de figuração dos' critérios anteriores.
5. 3 .1 · Critério geral de tratamento - O critério geral de
tratamento de um texto medieval transmitido por autógrafo ou
apógrafo presume os seguintes princípios ( cf. SILR, 25; RODR,
591-593):
1.0 ) o texto não deve, do ponto de vista lingüí$tico, omitir
nada,. nem encerrar nada que nêle não esteja explícito ou implícito;
2. 0 ) tôdas as características materiais dos apógrafos, for-
mato, tinta, mão, mutilações,· corrupções devem ser indicadas em
lugar adequado;
3. 0 ) um sistema rígido e fixo de indicações relacionadas com
os fólios, reto e verso, com as suas colunas, deve ser adotado;
4.0 ) um sistema rígido e fixo de indicações relacionadas
com acréscimos ou cortes críticos deve ser adotado. '
5.3 .1.1 O segundo princípio supra pode entrar já. no aparato
crítico da edição, já. nas notas críticas, já no prefácio, conforme
fôr mais expedito. O terceiro e quarto princípios devem ser obser-
vados no próprio texto crítico, podendo-se seguir as seguintes
normas (estando ou . não o texto crítico impresso ao lado do fac-
símile do autógrafo ou de apógrafo de base) :
a) as mudanças de f6lio ou de face serão indicadas por
duas barras verticais - li -, seguidas, se na impressão do
fac-símile não o houver, necessàriamente de um jôgo de colch.êtes,
.dentro dos quais deverá. ocorrer "f. n v." ou "f. n r.", assim
[f. n v.) ou [f. n r.] (entendendo-se por n o número de f6lio);
252 ... NTÔNIO BOUAISS

as mudanças de colunas serão indicadas por uma barra vertical


- I - i se não houver senão uma colnna, a mudança de fólio ou
de face poderá ser indicada por uma só barra vertical;
b) os acréscimos conjeturais deverão ser intercalados entre
< > i as exclusões conjeturais deverão ser intercaladas entre
{ }, ; as exclusões homeotelêuticas deverão ser intercaladas
entre [Ç ~; os acréscimos decorrentes de completações orinndas
de outras fontes ou apógrafos que não o de base deverão ser
intercalados entre [ ] ; as deterioraçõeS ou mutilações, não saná-
veis por . acréscimos do tipo < > ou do tipo [ ] , deverão ser
assinaladas por meio da t, convindo fazê-la seguir de uma linha
pontilhada que guarde, no impresso tipográfico do texto crítico, a
relação de distância que existe no texto manuscrito, salvo quando
a extensão da mutilação ou da deterioração fôr W que, por eco-
nomia, melhor se fará indicando-a entre colchêtes antecedidos da
t, assim- t [faltam n linhas] - o u - t [falta um fólio] -. ~
óbvio que, se o aparato crítico ou o prefácio puderem dar conta,
clara e seguramente, dêsses fatos, em sendo êles pouco numerosos
num texto crítico, tal expediente dispensará as indicações no texto;
se, porém, houver a constância no prefácio, o local que corres-
ponda, no aparato crítico, aos fatos deverá receber uma remissiva
ao prefácio.
5.3.2 Critério orlográfico - O critério particular de trata-
mento ortográfico vem sendo diversamente adotado pelos editô-
res-de-texto em língua português& mais credenciados. Partindo
do princípio fundamental de que o revestimento literal das pala-
vr&~~ assume a um tempo um valor fonético-fonológico, de um
ladb, e, de outro, está. sujeito a injnnções tradicionalizantetl de
tipo pseudo-etimológico, vêm os filólogos mais abalizados de nossa
língua di,vidindo a ortografia português& em duas fases princi-
pais, uma · que vai até os fins do século XV, de predominância
fonético-fonologizante, e outra que vai dos inícios do século XVI
até o advento da atual simplificação ortográfica, pelos inícios do
~éculo XX, de predominância pseudo-etimologizante. Em ambas
as fases, porém, há um laivo excrescente, por vêzes arbitrário, de
grafismo ou de etimologismo, que comporta lima nítida simplifica-
çll.o, com a condição - fique bem claro - de que essa· simplifi-
cação não traia os fatos propriamente lingüísticos implícitos no
revestimento literal. Para a adoção de um critério particular
(ou de critérios particulares, segnndo as épocas) de tratamento
ortográfico que poBB& servir a quaisquer textos portugu&les,
falta-nos ainda um estudo exaustivo da história da ortografia, ou
ELEMENTOS DE BIBLIOLOOIA 253

meramente da grafia, portuguêsa, desde os seus primeiros teste-


munhos ·aos nossos dias - história que, por sua vez, teria que
estar. necessà.riamente vinculada à história da pronúncia portu-
guêsa, empreendimento que apenas agora se inicia de forma sa-
tisfatOriamente sã com as pesquisas de I. S. RÉVAH, sem fazer
menção dos trabalhos de GoNÇALVES GUIMARÃES e outros, sôbre
a pronúncia português& no século XVI, a muitos títulos hoje su-
perados.
5. 3. 2.1 Caberia, aqui, uma honrosa menção ao critério se-
guido por ÜSKAR NoBILINO na sua edição de As cantigas de
D. Jo01n Garcia de Guilkade (cf. NOBI), o qual discute com feliz
detimento o padrão ortográfico que adotou para a sua edição
crítica e que por isso mesmo deve ser consultado. Preferimos,
entretanto, por apresentarem seu critério de forma sistemática,
transcrever os seguidos pelos filólogos JOSEPH M. PIEL (cf. PIEL)
SEBAFIM DA SILVA NETO (cf. siLR), Lufs FILIPE LINDLEY CINTRA
( cf. CINT) e CELSO FEBBEmA DA CUNHA (cf. CUND). Esclareçamos,
desde já, que, ao transcrever o critério dos filólogos referidos, acha-
mos de melhor alvitre não lhes separar os assuntos; destarte, serão
transcritos englobadamente os que se relacionam com o particular
ortográfico, assim como com o da pontuação e com o do que denomi-
namos critério geral.
5.3.2.2 O Sr. JOSEPH M. PIEL fixa assim o critério que se-
guiu no estabelecimento do texto do Livro dos ofkimt (PIEL,
XXXVIII - XL) :

No estabelecimento 'do texto seguimos um critério que,


por aehá-lo razoável e não termos encontrado melhor, já
adoptámos em duas outras publicações deste gênero 1, e
que consiste em reduzir a um mínimo, para quem con-
sultar o livro, as dificuldades de ordem puramente exte-
rior e material do manuscrito, aliando a êste procedimento
um máximo de fidelidade quanto à essência de linguagem
do original. Em nosso entender, uma edição de um texto
literário quatrocentista não pode nem deve ser concebida
como exer~ício <l_e paleografia, com reprodução servil de
todos os pormenores gráficos, casuais ou individuais, de
quem redigiu ou copiou o códice, trabalho de que um
filólogo nunca se poderá, aliás, desempenhar tão bem
como uma máquina fotográfica. Se muitas publicações
1 LecJJ OoueJII..Cro e !Awo cJ. BMftCitl!IG ele ocawJgcar tGclo .~, de
D . Duarte, 19•2 e 19«.
254 AN1.' ÔNIO ROUAISS

de autores antigos têm hoje um número de leitores tão


reduzido, isto em grande parte se deve ao aspecto rebar-
bativo que apresentam, com o seu aparato hiper- e, não
raro, pseudocientífico, que faz desanimar ·O estudioso mais
beni. intencionado.
Por êste motivo, o primeiro cuidado que tivemos foi
de intervir racionalmente na pontuação, com pontos, vír-
gulas, ponto-e-vírgulas, aspas, pontos de exclamação e de
interrogação, hífenes e parênteses, sinais que são da nossa
inteira responsabilidade. No manuscrito usou-se, prAtica-
mente, só de pontos, colocados a meia altura das linhas,
e caldeirões, que mantivemos 1,1a medida em que se justi-
ficam e auxiliam a inteligência do texto. Qualquer in-
tervenção nossa, que não seja de o;rdem meramente grá-
fica, afetando o próprio texto ou a linguagem, vai sempre
caracterizada como tal. O que figura entre parênteses
( ) são letras e palavras que, em nossa opinião, devem
ser suprimidas; o que vem abrangido por colchetes [ ] ,
aquelas que propomos sejam acrescentadas, ou substituí-
das a outras. Tivemos o escrúpulo de intervir no texto
o mais parcimoniosamente possível, e s6 quando ist~ nos
parecia absolutamente indispensável, tendo o leitor sem-
pre a possibilidade de conferir a lição sugerida com aquela
do manuscrito, que vem reproduzida em nota. Inútil será
dizer que fixámo's o texto, tendo o original latino cons-
tantemente à vista, ao qual nos referimos freqüentemente
nas notas para facilitar a compreensão da versão portu-
guesa.1 Os asteriscos, disseminados no texto, marcam o
princípio de um novo fólio (recto e verso), os números
romanos impressos à margem remetem para a numeração
moderna dos capítulos do original latino, permitindo en-
contrar rApidamente, para confronto, dois passos corres-
pondentes. Nem os fólios, . nem os capítulos do manus-
crito apresentam numeração própria. Também o índice é
acrescento nosso.

1 Devido àa dltlculdadea do momento, não noa pudemo• procurar


a ediçio de C. ATZDT, Jl. Tu"' Ckero"'- .teriptG quae mat~H1"Uftt om"CG
Fase. f8: · •De Oflk«a" 'terum f'eoog". C. At.nrt (juntamente com De
Vtrlutnnu, recogn. O PLASBDO) Llpala, B. G. Teubner, 1982, tendo r•
corrido 1 edição de CH. A.PPUHN, na coleçio C~ GarMer (junta-
mente com De Settectute • De Am~tto), que reproduz o tflltto dado
por HI:!NB, Berlim 1885.
EL.EM:ENTOS 'DE BIBLIOLOGIA 255

Devido à falta de elementos de comparação, não foi


possível dedicar a nossa atenção ao problema de saber
até que ponto a divisão dos capítulos da versão portu-
guesa obedece a uma antiga, usada em manuscritos latinos
do tempo de D. Pedro. ·
No que toca às outras intervenções, são as seguintes
as normas adotadas:
1.8 Separaram-se as. palavras, que no manuscrito
vêm juntas, menos quando a segunda é enclítica : ahusarn-
ça - a. h usança; oque - o que ; entoda idade - em toda
idade, etc., mas seguensse, poderssea, todoUos, etc., grafias
em que não julgámos conveniente separar os diferentes
elementos por meio de hífen. No primeiro caso, mante-
mos as duplas consoantes, que são frequentes a seguir ao
artigo : arrepublica - a rrepublica; alluxuria - a lluxu-
.ria; ~ooretes - .a Ssocretes; af!Qf'ça - a !força.
2.• Em nomes próprios sul;lstituímos as iniciais mi-
núsculas por maiúsculas. Na sua transcrição, adoptámos
o critério de manter lapsos gráficos que, por serem siste-
máticos, deviam pertencer ao ms. latino, como Temostides
por Temútocles, e Sophedem por 86focles. Também não
normalizámos a grafia, quando através dela se reflecte
ou pode reflectir uma tendência fonética do português,
como em 86cretes, por 86crates.
a.a Desdobraram-se todas as abreviaturas, que não
são, aliás, numerosas, correspondendo às normalmente
usadas em c6dices contemporâneos.
4.8 Substituíram-se as letras u e i por v e j, res-
pectivamente, quando aquelas grafias indicam estas con-
soantes: ouujndo - ouvindo.
5.8 Introduziram-se acentos agudos e circunflexos
em fo1111as. cuja acentuação pode oferecer .dúvida, ou que
fàcilmente se confundem com hom6nimas : dévello "deve-
lo", fkesse "fez-se", f'equéresse "requere-se", desvairasse
"desvaira-se", dôbrezes, pl. de dôbrez "duplo", móveo
"move-o", terrá - fut. de teer, etc. Tem a mesma fina-
lidade o apóstrofo, p. ex. em d'obrar "de obrar", sem o
qual pode haver confusão com dobrar.
6.8 O til foi substituído por n. e m, quando
está de facto por estas consoantes, não representan-
. do apenas um timbre nasal da vogal : tãto - tanto;
tépo - tempo . Recorremos a caracteres apropria·-
dos e fundidos de propósito, para reproduzir as vogais
duplas nasaladas ii, õo, ãa, uu e ée: víir, mamidõoe,
mãaos, algüus, bies.
256 ANTÔNIO HOUAISS

7.• Não nos arrogámos, evidentemente, o direito de


intervir em grafias . etimolôgi!lamente não justificadas.
Lembraremos ainda que o h tem frequentemente a função
de marcar o hiato : soU(W,kos "soltou-os", Mme.key "no-
meei", crekudo "crido", ou de dar corpo a uma palavra,
quando reduzida a uma única vogal: ki "ai" (na usadís-
sima expressão hi ha)l, ku "onde", ke "é".
5.3 .2.3 SERAFIM DA SILVA NETO fixa assim o critério que seguiu
no estabelecimento do texto dos Diálogos de São Greg6rio (BILR:
VIII-IX):
Na transcrição seguimos estas normas, que nos pare-
cem mais a propositadas à edição de textos ·medievais :
1 - substituir as letras u e i, quando em função
consonântica, por v e j ;
2 - separar as palavras que no manuscrito vêm jun-
tas; assim, transcrever alluxuria por a lluxuria, e-ntoda
por en toda;
3 - escrever os nomes próprios com letra maiúscula;
4 - desdobrar as abreviaturas;
5 - com parcimônia, introduzir acento!!! agudos e
circunflexos, sempre que isso puder evitar confusões ·e
dúvidas;
6 - respeitar religiosamente as formas lingüísticas,
não modernizar, em nenhum caso, qualquer JXJ'lalvf'.a;
7 - pontu!f.r o texto, paragrafar por traços nos diá-
logos;
8 - respeitar, salvo os casos aqui referidos, a grafia
medieval; deve manter-se o y, os f! -, rr - -, ss - ini-
ciais; os- ll finais de sílaba (vj. LEITE DE VASCONCELOS,
Opúsculos, I, págs. 350-1); qua-, lJU(J-, {l'I.UJ-, guo - ,
em veguada, quomo, quaderno, etc.;
9 - no tocante às vogais nasais - caso muito me-
lindroso e complexo - somos de opinião que, nos textos
não posteriores ao século XV, deve respeitar-se rigorosa-
mente a grafia medieval e manter-se, portanto, o til, em
escritas como tépo, viho, testemõiko, etc.; com relação às
vogais duplas nasaladas (ãa, eé, etc;) é aconselhável co-
locar o til entre ambas. ·
5. 3. 2. 4 Lufs FILIPE L!NDLEY CINTBA fixa assim o eritério que
seguiu no estabelecimento do texto da Crómca geral de Espanha
de 1344 (ciNT, DXLV-DXLVI) :
1 Ocorre nada menos de quatro vílzea a aegulr no flm do 1• cap. do
2' livro.
ELEMENTOS DE BIBLIOLOGIA 257

1) Desdobrei as abreviaturas. Não pus em itálico


as letras desdobrad~, visto que as abreviaturas que apa-
recem. tanto no c6di e L como na maior parte da extensão
de P, são, como ti~ ocasião de dizer, dos tipos mais cor-
rentes em manuscrito.s da época. S6 as que emprega o
copista 3 do segundo c6dice são de tipo menos vulgares.
Nos casos em que alguma abreviatura podia oferecer dú-
vidas quanto à sua resolução, reproduzi-a em nota.
2) Mantive a grafia das nasais tal como se encontra
nos c6dices. Há grande vacilação da parte dos escribas,
nos casos de vogal simples nasalada, quanto ao emprego
do til ou de vogal seguida de consoante nasal e, neste
último caso, quanto ao emprego de m ou n : não se pode
determinar uma preferência por uma ou por outra forma.
Atendendo a êste facto e a que o til representa em qual-
quer posiÇão a nasalação da vogal, mesmo quando, em
determinadas situações, além dessa nasalação, representa
uma consoante nasal seguinte, decidi mantê-lo onde o en-
contrava. Nos casos de vogal dupla, em que os manus-
critos apresentam normalmente o til sobre as duas vogais
e, excepcionalmente, sobre a primeira ou sobre a segunda,
emprego o til entre as duas vogais 91.
3) · Substituí u por v e i por j, quando em função
de consoantes, e v por u e j por i, quando em função
de vogais, tendo em vista a simplificação da leitura e
atendendo a que nenhum. prejuízo de aí advém para o
valor linguístíco do texto.
4) Usei maiúsculas para os nomes pr6prios.
5) Seguindo uma norma que a Academia Portu-
guesa de Hist6ria decidiu aplicar a todas as suas publi-
cações de textos, reduzi a simples as abundantes conso-
antes duplas iniciais do manuscrito.
6) Separei as palavras que vêm unidas no c6dice ;
·mantive no entanto as enclíticas ligadas à palavra t6nica,
a . cujo acento se subordinam, como é uso constante dos
copistas, evitando deste modo o emprego do hífen. Man-
tive unido à palavra seguinte o d da preposição de nos
usos de elisão consagrados pela ortografia actual : deste,
daquele, daqui etc. Separei-o com um ap6strofo nos ou-
tros casos: d;Espa.nha. Separei também por um ap6s-
(91) Nu citações que fiz do texto da Cr6n,ca neste volume de
Introdução, tive, por dificuldades tlpogré.flcaa, de substituir o til entre
as vogais pelo til sobre a primeira vogal.
258 ANTÔNIO HOUAISS

trofo todas as outras palavras em que, pelo contacto na


frase com uma palavra seguinte iniciada por vogal, se
deu a elisão de vogal final (por exemplo : entr'ambas).
7) Pontuei e abri parágrafos, procurando interpre-
tar com fidelidade o texto e tomando a responsabilidade
dessa interpretação. Usei da vírgula, do ponto, dos dois
pontos, do ponto e vírgula, dos pontos de interrogação e
de exclamação e do traço. Nos manuscritos só se usa,
como disse, o ponto e o ponto e vírgula invertido. Em-
preguei abundante pontuação, pensando deste modo fa-
cilitar a compreensão do texto e torná-lo mais acessível e
vivo a leitores modernos.

5. 3. 2. 5 CELSO FERREIRA DA CUNHA fixa assfm o critério que


seguiu no estabelecimento do texto de O cancioneiro de Martin
Codax (cuND, 37-38):
1.0 Eliminamos tôdas as particularidades gráficas
dos códices que se não relacionam com a pronúncia das
palavras, pois, como diz muito bem ALBERTO ClJIARI, "solo
gli inesperti possono credere di fare una edizione crítica,
lasciando scrupulosamente grafie antiquate. . . . non sa-
pendo distinguere cio che e fatto puramente grafico, da
non rispettarsi, da cio che e fatto propriamente fonetico
e che va rispettato"3.
2.0 Desenvolvemos tôdas as abreviaturas dos códices.
3.0 De acôrdo com a gramática e o sentido, isolamos
os vocábulos conglomerados e juntamos os elementos da
mesma palavra quando desunidos.
4.0 Suprimimos o h- de 'M, hir81J e hu.
5.0 Empregamos as letras ramistas j e v onde se
encontram i e u simbolizando aquelas consoantes.
6.0 Ligamos por hífen os pronomes mesoclítícos às
formas verbais de que dependem e tamhém o artigo eZ
à palavra re-y.
7.0 Indicamos por apóstrofo a elisão vocálica, bem
como a perda do -s de formas verbais, assimilado a Z- do
artigo Zo.
8.° Conservamos aglutinadas as combinações do,
eno, no e na, que já no século XIII não se separavam.
3. La 6cU.ewne criUct~. In POCLLT [Problemi 6d ori6ntamentj
critlci di Zingua 6 di Z6tteratura italiana] , II [ T6cnicCJ 6 t6oriCJ Z6tterCJriCJ.
a cura de G. Gll'l'l'o, A. CHIAJU, B. MJOLIORINI, M. FUBINI, V . Pm!NICON•,
Mllano, 11M8], p . 145.
ELEKENTOS DE BIBLIOLOGIA 259

9.0 Usamos maiúsculas não s6 nos casos em que a


pontuação anterior as exige, mas também no topônimo
Vigo e nome Deus. ·
10.0 Adotamos um sistema de acentuação semelhante
ao atual.
11.0 Pontuamos à moderna. sobriamente, mas sem
prejuízo das características tonais do enunciado.
12.0 Damos ao i somente o valor de vogal, deixando
ao y o de semivogal. Assim, escrevemos mia, irmana, etc.,
mas ba.ylava, wey, etc.
13.0 Resolvemos em o a vogal velar reduzida em
sílaba final, que também se representava por u 1•
14.0 Não havendo distinção ·quanto à nasalidade fi-
nal, que or~ é expressa por m, ora por n, ora por ti l, uni-
formizamo-la em -n, para evitar as grafias -am e -em que,
hoje, simbolizam respectivamente o ditongo -iWJ átono e
o ditongo -éy (ou -ãy, em certas regiões de Portugal).
15.0 A nasalidade mediai, indicamo-la de acôrdo
çom os hábitos modernos : por m, quando a vogal moderna
antecede as consoantes p e b, e por n, quando precede
outr$8 consoantes.
16.0 Escrevemos nk e lk, conforme a lição de B e
V, e não nn e n, como está no PV, pela evidente vanta-
gem daquelas grafias (de origem occitânica), introduzi-
das em fins do século XIII no ooidente peninsular, sôbrll
as últimas, não raro causadoras de ambigüidades2•
17.0 Por constarem do aparato crítico das cantigas
as variantes dos manuscritos e a justificação de nova lei-
tura, julgamos desnecessário indicar por colchêtes os ele-
mentos introduzidos no texto e por parênteses os que dêle
foram eliminados.

5. 3. 2. 6 O mero cotejo dos critérios acima transcritos põe de


manifesto certas discrepâncias. Em verdade, essas discrepâncias
(a) ou bem decorrem da especificidade do texto para o qual o
critério foi fixado, (b) ou lrem decorrem da diferença ou inter-
pretação do valor literal lingüístico ou extralingüístico. Por
exemplo, (a) no primeiro caso, pôde CELSO FERREIRA pA CuNHA
1 . Quanto ao pronome átono da 1• pesaoa do plural o PV [Per·
gamlnho Vlndel] e1111lna que a boa leitura no teatto de .MC [Martln
Codax] 6 Ma e, não, t&ua, como alguna Interpretaram o " doa apógratoa
Itallanoa.
2 . Cf. Mlchaells [Carolina - de Vasconcelos], OA [OancroMiro da
Ajuda], I , p. XXVII; BFB [Remata de Filologta Bapaftola], ll, p . 266.
260 ANTÔNIO BOUAISS

- superando tôdas as dificuldades inerentes ao emprêgo das


maiúsculas em português - fixar seu emprêgo nas palavras
"Vigo" e "Deus" ou-depois de ponto, e pontos de exclamação e
interrogação, porque em tôdas as sete cantigas de Marlin. Codax
s6 ocorrem aquêles dois nomes próprios - mais nenhum - e
porque, quanto ao mais, se cifra ao uso canônico atual ligado à
pontuação ; (b) no segundo caso, discrepam as autoridades citadas
em múltiplos pontos, dois dos quais relevantes: a representação
da nasalidade e as letras dobradas iniciais. Partindo, porém, do
princípio fundamental de que o revestimento gráfico pode ser ·
simplificado, atualizado, modernizado, desde que não altere, adul-
tere, subverta ou traia os fatos lingüísticos intrínsecos de um
texto r tentamos, a seguir, um critério para a leitura .e a edição
dos textos medievais portuguêses, no que toca à sua grafia:
I - o uso das vogais, em princípio, deve ser integralmente
respeitado, salvo ocasional, incidental e totalmente assistemático
êrro de copista, de tipo lapnu calami, lapso que, entretanto, deve
ser referido no aparato crítico; destarte:
a) as vogais orais simples iniciais, acentuadas (tônicas) ou
não acentuadas (átonas), não devem ser neui substituídas nem
uniformizadas; a substituição, entretanto, deve ser sistemática-
mente feita quando ocorrem em função vocálica as letras ramistas
v- e j-, e o 1h que deverão ser representados, respectivamente,
por u- (em lugar de v-) e i- (em lugar de j- ou 11-) ; a flutuação
ocorre sobretudo entre e- e i- (j-, y-), de um lado, e o- e u- (v-),
de outro lado, flutuaÇão que, malgrado o critério de Lufs FILIPE
LINDLEY CINTBA (ciNT, DXLIII), pode encerrar a chave para a
elucidação do problema de caracterização dialectal das vogais
pretônicas do português do Brasil, pelo menos, e possivelmente
de outras regiões do domínio dialectal português; quanto a apa-
rentes flutuações do tipo entre •I antre, pelo I polo e equivalen-
tes, é obvio que não deve haver alteração ou uniformização ;
b) as vogais orais simples mediais não devem tampouco ser
substituídas ou uniformizadas, quer quando acentuadas, quer
quando não acentuadas,· salvo no que tange às letras ramistas;
c) as vogais orais simples finais, acentuadas -QU não acen-
tuadas, não devem ser substituídas nem uniformizadas, salvo no
que tange às letras ramistas ;
d) as vogais orais dúplices, iniciais. mediais ou finais, em
princípio, acentuadas ou não acentuadas, não devem ser reduzidas
a simples; entretanto, a ocorrência usual ou episódica de form~s
vocabulares com vogais dúplices já representadas regular e ordi-
E L E .M E N TO 8 D l!: B I BL I OLOGI A 261

nàriamente no ap6grafo por for~as vocabulares correspondente<;~


com vogais simples pode comportar simplificação, desde que o
aparato crítico consigne o fato;
e) os ditongos, crescentes ou decrescentes, deverão, · em prin-
cípio, comportar uniformização ; destarte, se no ap6grafo ocorre-
ram duas formas - kirei e kirey, por exemplo - gráficas, nada
mais natural do que a ·simplificação; caso. particularmente . im-
portante, porém, é o da linguagem de ritmo fixo, especialmente
no verso, quando então se deverá, eventualmente, distinguir o
i- do y-, aquêle em função vocálica, êste em função semivocálica
ou semiconsonântica: destarte, mka, mia ou mya poderá resol-
ver-se já como mia - dissilàbicamente - já como mya - mo-
nossilàbicamente ; raciocine-se igualmente para com os ditongos
decrescentes;
f) as vogais nasais simples, acentuadas ou não acentuadas,
em quaisquer posições, apresentam, ao longo do período do por-
tuguês arcaico, três flutuações típicas na representação da nasa-
lidade, ora por til - vio -, ora por m - tempo -, ora por n
- tenpo - ; sub jazem, pelo menós, duas questõ~ capitais por
elucidar nessas representações : primeiro, a de saber se a nasali-
dade era seguida de um prolongamento consonântico e, segundo,
a de saber, em havendo êsse prolongamento, se êste se · assimilava
ao ponto de articulação da consoante seguinte, noutros têrmos, se
êsse prolongamento consonântico, em havendo, seria bilabial (re-
presentável por m.) ou línguo-dental (representável por n); per-
durando, como perduram, essas dúvidas, cuja elucidação poderá
permitir de futuro critério simplificador e uniformizador (assim
como, eventualmente, o esclarecimento da diferença do · regime
nasal nas diversas áreas dialectais portuguêsas), tudo milita em
favor da mais estrita observância da representação das nasais;
se, porém, não houver regularidade manifesta, ou mesmo prefe-
rência definida, em cada vocábulo considerado isoladamente num
ap6grafo, será admissível •a uniformização, devendo, porém, o
critério uniformizador constar explicitamente das edições, com
menção, se possível, a cada caso, no aparato crítico, das discre-
pâncias;
g) as vogais nasais dúplices, acentuadas ou não acentuadas,
via de regra são, com relativa regularidade, representadas pelo
til sobreposto a meio de ambas as vogais ; é o critério que deve
ser seguido na edição crítica, embora importe reconhecer a ne-
cessidade de fundir tipos especiais para tal fim; se, porém, o
ap6grafo fôr regular já no uso do til sôbre a primeira vogal, já
262 ANTÔNIO HOUAISS

no seu uso sôbre a segunda, nada obstará a que essa regularidade


seja respeitada - devendo constar do aparato crítico as eventuais
discrepâncias ;
h) os ditongos nasais se regulam, via de regra, pelo seu
respeito puro e simples, tal como aparecem nos ap6grafos, pois
via de regra é sôbre a vogal base do ditongo ~ue vem o til; se,
porém, êste vier regularmente sôbre o meio das duas ou sôbre
ambas, bastará representá-lo com o til sobreposto a meio;
II - O uso das consoantes, entretanto, comporta algumas
simplificações e regularizações sistemáticas, ressalvados os casos 'de
lapsus calami; destarte :
i) as consoantes simples, iniciais, mediais ou finais não
devem ser modificadas ;
j) as consoantes dúplices iniciais podem ser ísistemàtica-
mente simplificadas, pois tudo nos autoriza, já hoje, a crer que
sua duplicação antes decorria da conglomeração da escrita e do
esfôrço de distinguir o traçado delas mais do que o revelar quais-
quer matizes fonéticos diferenciais; sua simplificação deve fazer-se
também quando ocorriam como mediais, em conseqüência de es-
crita conglomerada com uma palavra proclítica;
k) as consoantes dúplices mediais também podem ser siste-
màticamente simplificadas, salvo, é óbvio, nos casos de -ss- e
-rr-; não há no período arcaico, salvo exceção ocasional, -oo- ou
-cç-, que poderiam postular dúvidas quanto à pronúncia; quanto
ao -R- (erre maiúsculo mediai - ou inicial - para indicar o
equivalente de -rr- ou r-),· não há por que respeitá-lo, devendo
ser transcrito já por -r- (honRa), já por -rr- (coRo) ; quanto aos
-ll-, cumpre sempre atentar, conforme o ap6grafo, se se trata
de simplificáveis a -l- ou de transcrição equivalente a -lh-, que
deverá ser a seguida; o equivalente se dirá de -nn-; quanto aos
-mn-, nas raras ocorrências, convém mantê-los, pois - coerente com
o princípio (f) supra - o primeiro -m-. pode ser (quase sempre
é) sinal de nasalação da vogal anterior ;
1) as consoantes dúplices finais podem, sem vacilação, ser
simplificadas, pendendo eventual dúvida quanto aos raros casos
de -ll, respeitáveis eventualmente;
m) os grupos consonânticos, isto é, duas ou mais conso-
antes diferentes sucessivas efetivamente pronunciadas na mesma
sílaba, quer iniciais, quer mediais (não os há finais), não com-
portam simplificaçâo ;
n) os dígrafos - duas consoantes que represeniam um só
fonema· - são normalmente ch- ou -ch-, lh- ou -lh- e nh- ou -nh-,
além dos referidos em (k) supra; o primeiro, ch- ou -ch-, deve
E LEME N . TOS DE B I BL I OLOGI A 263

sistemAticamente ser respeitado, pois jamais se confunde, no pe-


ríodo, COm X- OU -X- (e, em OCOrrendo semelhante confusão, deve
ela ser respeitada, pois se tratará de indícios primeiros da tran-
sição de [c] para [s] ; caso, porém, se queira "restaurar" a gr~fia,
deve o aparato crítico, indispensàvelmente, consignar o parti-
cular) ; o segundo, th- ou -lh-, deve também ser respeitado, ser-
vindo também para a transcrição de ll- ou -ll- com êsse valor,
conforme (k) supra; o terceiro, nh- ou -nh-, deve também ser
respeitado, servindo também para a transcrição de nn- ou -nn-
com êsse valor, conforme (k) supra; nos dois últimos usos, ou
se faz menção do critério no prefácio, ou se faz a cada caso no
aparato crítico da edição, conforme fôr mais cômodo, vale dizer,
conforme fôr sistemática ou não a representação dos fonemas tais
no apógrafo ;
o) quanto a u- ou -u- com valor consonântico, deve ser re-
presentado por v- ou -v-; i- ou -i- com valor consonântico, por j-
ou -j-; v- ou -v- com valor vocálico · deve ser representado por
u- ou -u-, e j-. ou -j- ou -Y- com valor vocálico, por i- ou -i-; de
tudo, mera menção no prefácio da edição crítica;
p) o regime das maiúsculas deve ser modernizado, se pos-
sível segundo um cânon coerente; ·
q) os números, figurados em algarismos arábicos ou roma-
nos, devem ser respeitados nessa figuração, explicando-se, em
nota, se fôr o caso, as eventuais dificuldades de interpretação; os
romanos, ainda que em caracteres minúsculos no apógrafo, podem
ser tipografados em versais ou, se fôr o caso, em versaletes ;
r) as abreviaturas e abreviações, os signos, de um modo
geral, as reduções, devem ser desfeitas; os casos dubitativos, se
desdobrados, deverão no aparato crítico ser objeto de figuração,
podendo-se, porém, deixá-los como tais no texto, justificando-se
em .nota a razão · da manutenção e a dúvida que a determinou;
s) o h- ou -h-, em função de mero encorpamento (hi, hu)
e de hiatização ( soltouhos; sem o -h- poderia ser soltouos, que
poderia 11er lido solto-vos ou soU ou-os), pode ser sistemàticamente
proscrito, impendendo, porém, respeitá-lo nos casos duvidosos; em
contrapartida, às formas que hoje postulam, pela convenção orto-
gráfica vigente, h- ou -h-, se no apógrafo ocorrem sem êle, sem
êle devem ficar : ·a ver, omé;
t) as conglomerações gráficas - todallacousas, entOdavida
-, as aglomerações de proclíticos - acerteza - , ou de enclíticos
- fezelhe - podem ser sistemàticamente desfeitas, segundo a
separação vocabular atual, desde que não comportem deformação
264 ANTÔNIO HOUAISS

do fato lingüístico; assim, em tôda vida, mas todaku cousas, a


certeza, feze-lke; há uma alternativa: separar tão-somente as pa-
lavras acentuadas - tôda vida -, as proclíticas às palavras acen-
tuadas - a certeza, em tôda vida - , mas não as enclíticas a
formas verbais - fezelke- ;
. u) usar do hífen tão-somente para as enclíticas (e mesoclí-
ticas) às formas verbais, como critério único sistemático, se se
adotar a separaÇão das enclíticas; não abrir quaisquer exceções,
nem para el, salvo se ocorrer no próprio ap6grafo (o que não
será de esperar) o hífen; seu outro uso será na partição vocabu-
lar, de fim de linha tipográfica, que se poderá fazer segundo o
cânon atual, caso não se postule problema de divisão silábica, pois
então deverá ser evitada a partição vocabular de fim de linha,
com a "justificação" (para mais ou para menos) tipográfica;
v) o ap~trofo deverá ser usado s6 para fins distintivos, a
saber, em formas que poderiam, ser mal interpretadas: d'obrar
(no ap6grafo, dobrar), para distinguir de dobrar; e tais casos
devem ser mencionados no aparato crítico ;
x) as formas estropiadas, quando sistemáticas ou predo-
minantes, deverão ser respeitadas; quando casuais, poderão ser
corrigidas, se forem típicos lapsus calami ou lapBUS mentis expli-
cáveis, o que será· mencionado no :aparato crítico; os estabeleci-
mentos de textos de base arquetípica pressupõem a correção de
tais formas, segundo os cânones ecd6ticos, quando fundada;
y) os dígrafos qu- (e -qu-) e gu- ( -gu~), quando represen-
tarem, incontroversamente, um s6 fonema, respectivamente [k] e
[g], deverão seguir a norma ortográfica atual: quer, segue, mas
sigo (por siguo) e fico (por fiquo); se, porém, houver dúvida
quanto à pronúncia de então, v.g., quaderno, auguada, deverá ser
mantida a forma do ap6grafo ;
z) a acentuação gráfica poderá conformar-se ao cânon orto-
gráfico vigente, mas com tresdobrada vigilância, pois duas ordens
de adulterações lingü.ísticas podem advir de seu uso indiscrimi-
nado ou pouco prudencial, a saber; primeiro, não serão poucos
· os casos de modificação de timbre de certas vogais tônicas, de
modo que tanto o acento agudo quanto o circunflexo poderão,
inadvertidamente, ser colocados sôbre vogal então de timbre fe-
chado ou aberto, respectivamente, podendo tampém ocorrer even-
tual inconveniência no uso do trema, a indicar pronúncia de u
(em qu-, gu-, ou -qu- ·ou -gu-) em que tenha ocorrido restauração
tardia sob influo gráfico ; segundo, não serão raros os casos em
ELEMENTOS DE BIBLIOLOGIA 265 '

que a acentuação gráfica diferencial - tipo reboco/rebôco -


constituirá um anacronismo, um verdadeiro procronismo, pois que
o uso da diferenciação se postularia a rigor dentro da sincronia,
o que exigirá do acentuador verificar se o vocábulo oponenciado
ao acentuado existe ao tempo em que se coloca o texto.
5. 3. 2. 8 Com relação à pontuação e - decorrentemente -
seccionamento do texto (partes, livros, capítulos, parágrafos; unida-
des poéticas, versos, disposição estrófic.a.), o critério fundamental
é respeitar, na medida do possível, as indicações do apógrafo.
Estas, via de regra, são parcas, limitando-se, freqüentes vêzes, às
partes, livros, capítulos, de um lado, e a unidades pOéticas (poemas,
cantigas, canções), de outro lado, no período arcaico. Em con-
seqüência, cabe ao editor-de-texto proceder ao resto: de um lado,
paragraf.ar, de outro, ver as unidades estróficas, os versos, e, em
ambos os setores, de prosa e de verso, proceder à introdução de
vírgulas, pontos e vírgulas, pontos, pontos de interrogação, de
exclamação, travessões dialogais, travessões parentéticos, parên-
teses, reticências e o mais. Quando, porém, o apógrafo encerrar
aspectos característicos do ponto de vista da pontuação, elucida-
tivos para a ''cadeia melódica ~ rítmica do texto, será de tôda a
<!onveniência que isso possa ser objeto de um esclarecimento, já
no prefácio, já em lugar adequado das notas, já no aparato
crítico, se fôr o caso.
5. 3. 3 Disposição editorial - A d:sposição editorial de um
texto crítico, a disposição de uma edição crítica, em suma, deve
apresentar certas características, normativas, para maior comodi-
dade do leitor e racional distribuição da matéria. É óbvio que
· essa disposição varia, segundo a magnitude do texto e os pro-
blemas que a sua constituição ou estabelecimento suscitarem. Em
língua portuguêsa, modernamente, é modelar o padrão - para os
usos de textos complexos - apresentado por Luís FILIPE LINDLEY
CINTRA, na sua edição crítica da Cró-nica geral de EspaM.a de
1344 (cf. ciNT); modelar, também, é a edição crítica de O can-
cioneiro de Martin Codax de CELSO FERREmA DA CuNHA (cf.
CUND). No passado, em língua portuguêsa, dentre outros, mere-
ceriam referência especial a veneranda CAROLINA MICHAELIS DE
V ASOONCELOS, com a sua monumental edição crítica do Cancio-
neiro da .A.juda (cf. VASA) e O bom ÜSKAR NOBILING (cf. NOBI).
E, modernamente ainda, quaisquer edições críticas, de textos me- .
dievais ou modernos, de MANUEL RoDRIGUES LAPA (cf., por exem-
plo, LAPA).
266 ANTÔNIO HOUAISS

5. 3. 3 .1 Dois padrões principais de disposição editorial · devem


ser considerados : (a) quando se estampam o fac-símile do a pó-
grafo (ou de um incunábulo) e o texto crítico, (h) quando se
dá, tão-somente, o texto crítico. No primeiro caso, ou o fac-símile
é estampado htdo a lado com o texto crítico, ou o é antes, ou o
é depois; dos três critérios escusa ressaltar a vantagem (com a
correspondente dificuldade) do estampamento lado a lado.
5. 3. 3 . 2 Os elementos seccionais, pois, de uma edição erítica
compreendem as seguintes partes:
a) prefácio, ou introdução, ou nota prévia, ou concomitan-
temente; uma das três unidades apenas, quando a matéria que
deve servir de explicação ao leitor é reduzida; duas a três uni-
dades, consoante fôr a extensão da explicação. Sendo esta longa,
o prefácio, de regra, historia as circunstâncias externas do ten-
tâmen editorial e, de regra, consigna os agradecimentos do editor-
de-texto às entidades e pessoas que lhe e_m prestaram o concurso
de seu apoio, amparo, estímulo ou colaboração; a introdução,
subdividida em tantas partes quantas forem necessárias - uma
du quais pode ser o equivalente do conteúdo da nota prévia, que,
assim, desaparece como unidade .própria -, dá, necessAriamente,
a história do .autógrafo ou dos apógrafos, sua localização, suas
características formais, materiais e intrínsecas, as fontes de ela-
boração do texto-crítico, o critério editorial para a restituição ou
estabelecimento do texto ; a nota prévia, em ocorrendo, via de
regra lle limita a um de vários valôres de que se . componha a
obra, e nela se recapitulam ou se consignam certos fatos gerais
ou particulares diretamente relacionados com o volume; ·
h) o texto crítico, que deve ser acompanhado de seu apa-
rato crítico; o aparato crítico, por sua vez, ou bem se constitui
de um só corpo, ou bem de vários corpos - consoante fôr sua
extensão e a natureza das notas que encerre - ; essas notas, se
forem exclusivamente ecdóticas, isto é, se consignarem apenas as
variantes e justificarem sumAriamente a . lição crítica, poderão
reduzir-se a um corpo; se, porém, forem longas, poderão ser dis-
tribuídas em subunidades próprias, segundo um plano sistemá-
tico; em ambos os casos, o ideal será que tais notas fiquem no
rodapé do próprio texto crítico ou venham após cada. unidade
seccional do texto-crítico, tal o critério seguido por CELso FER-
REIRA DA CUNHA, que na obra invocada ( cf. CUND) faz estampar,
após cada uma das sete cantigas de MARTIN CODAX, o aparato
crítico subdividido em (a) classificação, (h) manuscritos, (c) va-
riantes dos manuscritos, (d) lição crítica e (e) traduções.,
ELEMENTOS DE BIBLIOLOGIA 267

c) decorrências sistemáticas da ediçlo crítica, tais como


glossário, vocabulário, dicionário do texto-crítico, gramática, esti-
lística, história literária, material êste subdividido em tantas uni-
dades próprias quantas forem as conveniências determinadas pela
exposição metódica e ordenada dos fatos;
d) bibliografia ;
e) siglas e abreviaturas;
f) índices;
importando, porém, quanto às três últimas ordens de fatos ( d, e,
f), levar em consideração o que a respeito se diz no lugar próprio
dêste livro.
CAPÍTULO VI
ORIGINAIS MODERNOS

6. PORTUG~S MODERNO
Os fil6logos ligados ao estudo da língua portuguêsa reconhe-
cem com certo unanimismo que o estado lingüístico da mesma,
na transição do século XV para o XVI, sofre uma alteração quan-
titativa e qualitativa substancial, que permite separá-la em pe-
ríodo arcaico, até fins do século XV, e período moderno, a partir
do século XVI. A alteração quantitativ~ é essencialmente ca..
racterizada pela incorporação maciçamente crescente de vocábulos
de proveniência erudita, preferentemente latinismos no início, em
breve helenismos, e g.alicismos e espanholismos,. mais tarde angli-
cismos, sem citar incidências de outras origens. No que se refere
aos latinismos, o processo - mais ou menos geral em tôdas as
línguas românicas e mesmo não românicas, mas de cultura na-
cional ocidental - chegou a tal ponto, que, num dado· momento,
como que ficou implícita na mente dos escritores e dos culturali-
zados a noção de que, potencialmente, todo o vocabulário latino
era transferível para o da língua portuguêsa, mediante adaptações
mínimas aos padrões morfol6gicos portuguêses. :&se - e o das
outras origens também - afluxo vocabular, na medida em que
se divulgava na língua escrita, se tomava potencialmente popular.
E a disseminação de vários dêsses originalmente eruditismos na
linguagem coloquial dos centros urbanos iria violentar os padrões
fonéticos da língua, precipitando o processo da pr6pria deriva
na transição do período arcaico para o moderno e na caracteriza-
ção dêste. Destarte, além de certas alterações qualitativas da
deriva mesma da língua, assistiu-se à subversão dos padrões fo-
néticos,' dos morfol6gicos e dos sintácticos, sem falar nas varie-
dades estilísticas potencializadas e .· r,ealizadas com êsses elementos
qualitativamente novos. No plano-fonético, divulgaram-se ritJDQs
voca,bulares pouco freqüentes anteríormente - a não ser com a
adjunção de vocábulOs encliticos às formas verbais -, tais os
proparoxítonos ; principiaram a aparecer novos grupos consonân-
ticos, próprios e impr6prios, êste últimos, aobretudo, represen-
270 ANTÔNIO BOUAISS

tando verdadeira inovação estrutural, com um número considerá-


vel de consoantes implosivas at.é então desconhecidas na língua
- digno, apto, abdicar, pacto, adscrever, afta, amnésia, hífen,
ritmo, fixo; no plano morfológico - além da síncope do [d] das
desinências número ·pessoais verbais, que, com ditongações decor-
rentes, já era fator· de diferenciação na transição em aprêço -,
inovaram-se padrões de formação de gênero, número e grau, mor-
mente nas formas sintéticas do adjetivo e de tipos eruditos no
substantivo, sem contar a disseminação de umas quantas prepo-
sições e locuções prepositivas, conjunções e locuções conjuntivas;
introduziram-se formas, para os numerais, eruditas, nos próprios
cardinais, nos ordinais, nos multiplicativos, nos fracionários ; no
plano sintáctico, a um tempo, verificaram-se novas inversões, por
vêzes violentas, novas concordâncias e regências, presidindo, mui-
tas vêzes, a essas modificações um critério predominantemente
lógico-gramatical, com arbitrárias, . às vêzes, proscrições de tor-
neios sintagmáticos e sintácticos afetivos ou de relações subjetivo-
gramaticais. A expansão ultramarina português& coroaria, por
fim, êase processo, com a adjunção de novos conceitos, objetos e
coisas e os nomes originais que os designavam nas línguas em
contacto demográfico, malgrado á separãção geográfica entre elas
existente (cf. VASD, SILT, WILL, DUNN, DIIS, COUT, ALIP, passim,
entre outros).
6 .1 EDIÇÕES CIÚTICAS DE AUTORES MODERNOS - :Qsse quadro,
sumaríssimo, explica o estágio ortográfico divulgado na língua
português& a partir do século XVI - em que, à tendência fone-
tizante anterior, se sucede a tendência pseudo-etimologizante.
Neste livro, já foram considerados os aspectos fundamentais da
questão ortográfica e os critérios que devem presidir ao estabele-
cimento ortográfico dos textos críticos modernos, entre o século
XYI e os nossos dias. O estabelecimento de textos críticos de
autores modernos, embora encerrando as peculiaridades dos textos
medievais, não pode ser considerado fácil ou de secundária im-
portância. Aliás, há, é óbvio, uma gradação diferencial segundo
a cronologia: assim, um texto crítico de um FRANCisco DE SÁ DE
MIRANDA, de um Luís DE CAMÕES, no século XVI, de um ANTÔ-
NIO VIEIRA, um GREGÓRIO DE MATos, no século XVII, de um
TOMÁS ANTÔNIO GoNZAGA, um CLÁUDIO MANuEL DA CosTA, no
século XVIII, de um CASIMIRO DE ABREU, de um MARTINS PENA,
no século XIX, de um EucLIDES DA CuNHA, um LIMA BARRETO,
no século XX, não apresenta as mesmas peculiaridades e as mes-
mas dificuldades. Nada mais ilustrativo, destarte, do que ver
como se desencumbem da tarefa do estabelecimento de texto, crí-
ELEMENTOS DE BIBLIOLOGIA 271

tico ou simplesmente idôneo, conhecedores eminentes da língua


como CAROLINA MrcHAELIS DE VASCONcELOs, AuGusTo EPIFÂNio DA
SILVA DIAs, JosÉ MARIA RoDRIGUES, HERNÂNI CIDADE, ÂNTÔNIO
SÉRGio, I. S. RÉVAH, Luís FILIPE LINDLAY CINTRA, MANUEL Ro-
DRIGUES LAPA, ou SousA DA SILVEmA, CELSO FERREmA DA CuNHA,
ÂURÉLIO BUARQUE DE HOLLANDA FERREIRA, DARCY DAMASCENO,
citados ao acaso dentre representativos. Â propósito, tarefa
crítico-bibliográfica de louvável importância seria proceder ao
levantamento das obras já publicadas em português sob critérios
ecdóticos ou idôneos, a partir de 1900 por exemplo, quando se
pode considerar como relativamente consolidada a moderna con-
cepção crítica textual. ~sse tombamento, se feito êle também
criticamente, seria de extrema utilidade. para o feiçoamento de
uma escola brasileira de crítica textual, de que estamos tão ne-
cessitados. Faltando, infelizmente, guias sistemáticos de boa ini·
ciação na matéria, suficientemente genéricos, impõe-se o recurso
aos de língua estrangeira, do tipo de CHAUNCEY SANDERS ( cf.
SAND) OU de BOWERS FREDSON ( cf. FRED). Ótimo balanço
geral da. questão é feito por EDWARD B. HAM, cuja bibliografia
crítica final é excelente (cf. HAME).
6 .1.1 Estemát-ica - O trabalho ecdótico para autores do
século XVI para cá apresenta, do ponto de vista estemático, as
seguintes situações principais: (a) há o manuscrito autógrafo da
obra, (b) há a editio princeps (ou, acaso, editiones principes
para uma só obra), não subsistindo o manuscrito, (c) não há os
dois elementos anteriores.
6 .1.1.1. Quando há, supérst!te, o manuscrito, podem ocorrer
três hipóteses, (a) a ideal, em que, além do manuscrito, há a
editio princeps e edições em vida do autor e após sua morte; (b)
a excelente, em que há o manuscrito e edições em vida, e (c) a
boa, em que há o manuscrito e edições póstumas. O estema con-
sistirá, em todos êsses casos, em partir da origem, o "ms", como
base do texto por estabelecer, importando, porém, capitalmente o
cotejo de editio princeps, na primeira hipótese, assim como das
edições em vida: . § que, não raro, na impressão da princeps e,
não raro ainda, nas subseqüentes, vivo o autor, êste se permite
- o que lhe é direito inalienável - alterar a versão manuscrita
sôbre as provas tipográficas. O trabalho crítico deve partir do
pressuposto de que a melhor versão da obra se encerra nas con-
cordâncias lingüísticas e estilísticas dessas peças, importando, para
as discrepâncias, duas ordens de critérios: o manuscrito, depois
a princeps, por fim as edições em vida apresentam-se, sucessiva-
mente, em grau de prioridade para as variantes tipográficas tí-
272 ANTÔNIO HOUAISS

picas, enquanto, para as conceptuais, nocionais e estilísticas. a


prioridade parece, via de regra, dever ser concedida em ordem
inversa: no primeiro caso, subsana-se ao princípio de que não
há impressão tipográfica e nova composição tipográfica sem ad-
junção de erros tipográficos; no segundo caso, respeita-se o prin-
cípio de que ao autor assiste o direito de melhorar, do seu ponto
de v~sta, a sua mensagem. Em ambos os casos, porém, os fatos
externos à obra - os biográficos do autor, os históricos do im-
})ressor, a conjuntura da época (censura, sanção, fraude, contra~
fração) - podem subverter a ordem de _prior!dade. Nestas con-
dições, o aparato crítico deve levar em conta as discrepâncias
conceptuais e nocionais, e discuti-las motivadamente, para ·a ado-
ção de um padrão. Na segunda hipótese, em que há o manus-
crito e edição ou ed!ções em vida, mais o conhecimento histórico
da perda da princeps, se pode ser levado, do cotejo do manuscrito
com as edições em vida, a restituir a princeps, na sua lição
arquetípica, ou bem se pode ser levado ao critério anter!or, em
que o elo da princeps não é levado em conta, pura e simplesmente,
no estabelecimento do texto, mas tão-sõmente na motivação do
aparato crítico. Na terceira hipótese, em que há o manuscrito e
lpenas edições p6stumas, dificilmente se poderá - sobretudo nas
condições editoriais da língua português& - chegar à restituição
do arquétipo, salvo exceção felicíssima, devendo assim o manus-
crito servir de base para o estabelecimento do texto e podendo
as edições póstumas - estabelecido o seu estema - servir para
a motivação do aparato crítico.
6 .1.1. 2 Quando não resta o manuscrito, o autógrafo da obra,
podem ocorrer também três hipóteses: (a) a excelente, pois se
conta com a princeps e edições em vida; (b) a boa, em que se
conta com a edição princeps e póstumas, e (c) a razoável, em
que se conta imicamente com a pri~ps. Em tôdas as três hi-
póteses, a base para a constituição do texto crítico é, necessària.-
mente, a edição príncipe; mas, na primeira, as discrepâncias na-
cionais e conceptuais podem ser subsanadas pelas edições em vida,
o mesmo ocorrendo com certos erros tipográficos; e, na segunda,
elementos para . a boa interpretação crítica são não raro propi-
ciados pelas edições póstumas, que podem servir, pois, como mo-
th·ação para o aparato crítico; na terceira, o editor crítico se
atém, necessàriamente, ao texto único. Se em princípio se pode
(ou deve) dar prioridade à edição príncipe, trata-se, em verdade,
ie princípio não mecânico, pois sua prioridade tempóral não
significa, necessAriamente, prioridade qualitativa : ao contrário, o
ELEMENTOS DE BIBLIOLOGfA 273

exame interno das edições em vida (inclusive a príncipe) pode,


aliado à história externa e biográfica, levar o editor-de-texto a
uma edição em vida outra, que tanto poderá ser a segunda,· como
a terceira, como a enésima, como a última.
6 .1.1. 3 Há, por fim, a situação em que não se conta nem
com o manuscrito, nem com a edição príncipe. A edição em vida,
via de regra, merece prioridade, combinada com as considerações
conjeturais acima expendidas. Se, porém, não há edição em vida,
o estema das póstumas dará o critério informador do texto cons-
tituído, critério em que, via de regra, o estema acaba por militar
pela mais antiga edição póstuma, embora não necessàriamente,
pois eventualmente a mais antiga em data pode não remontar a
uma fonte mais antiga.
6 .1.1. 4 Cumpre, nas condições da estemática para as obras
impressas, levar em extrema consideração uma possibilidade: a
de que existà um texto i~presso, de edição príncipe ou de ediçãG
em vida do autor, por êste revista, texto impresso revisto que
pode, ocasionalmente, não ter vindo à luz em forma de nova
edição; e, complemento da hipótese anterior, cumpre levar em
extrema consideração, como base de texto por constituir, a edição
em vida que leva a menção de "definitiva" ou equivalente por
parte do autor.
6. 2 EDIÇÕES CIÚTICAS E EDIÇÕES FIÉIS - Nas condições das
obTas escritas depois do século XVI, é costume procurar-se uma
distinção entre aquelas que devam ser editadas com fins extralin-
güísticos daquelas que o devam com fins lingüísticos - compre-
endendo-se neste conceito (o que oponencialmente esclarece aquêle}
as obras que, ademais de sua mensagem conceitual e significativa.
· estética ou estritamente cognitiva, são editadas com rigor tal, que
seus elementos constitutivos possam servir de fundamentação,
exemplificação, abonação e sustentação de fatos lingüísticos e de
hipóteses, teorias e doutrinas filológicas. Com relação às obras
anteriores ao século XVI, a distinção parece modernamente ser
ociosa: as dificuldades críticas que encerram são de tal natureza,
que, em sendo o seu editor-crítico um filólogo, seu texto deverá
ser seguramente bom para fins extralingüísticos; em sendo o seu
editor-crítico não filólogo, será êle possuído de espírito científieo
bastante para apelar para o concurso de um filólogo. Como,
porém, a partir do século em causa, o acervo do material publi-
cável aumenta progressivamente de monta, bem pode ocorrer ou
que as vantagens comerciais ou que as urgências da documentação
exijam sua publicação sem a prévia constituição do texto crítiClO
274- ANTÔNIO HOUAISS

6·. 2·.1 Textos fiéis e textos fidedignos - Ora o texto crítico,


o texto fiel, se caracteriza pelo processo de seu estabelecimento e
de sua motivação : além da recensão, do estema, da colação, da
interpretação. encerra o aparato crítico, sem falar da introdução,
em que se fixam os critérios gerais e especiais, em havendo-os.
Isso, além do rigor científico com que é de presumir seja feito, é
trabalhoso, moroso e, pois, dispendioso. Economia e urgência
podem, por conseguinte, determinar edições de textos posteriores
ao século XVI em que a totalidade das normas ecdóticas não sejá
observada. Quais são aquelas que podem ser legitimamente dis-
pensadas, sem que, contudo, cesse a validade científica, a fidedig-
nidade da publicação T A resposta é alternativa: (a) ou bem se
reproduz, ipsis litteris, o texto, segundo a estampação fac-similar
(modernamente ainda - e por muito tempo - justificável) ou
a composição diplomática (com os riscos e as contra-indicações
já vistas para êste último critério), (b) ou bem se estabelece um
texto idôneo, fidedigno, porém sem a totalidade do rigor ecdótico.
6.2.1.1 Tal texto idôneo, fidedigno - não propriamente crí-
tico -, deve basear-se nos seguintes princípios:
1.0 ) deve ser calcado sôbre um único exemplar-fonte - que
a história externa do texto determinará pura e simplesmente como
base;
2.0 ) deve ter uma indicação prévia do critério que presidiu
ao seu estabelecimento, critério em que se porão de manifesto
quais as regras ecdóticas que foram observadas e quais deixaram
de o ser;
3.0 ) dispensará o aparato crítico indicador de variantes e
discrepâncias, mas poderá encerrar um sucedâneo dêsse aparato,
para o fim informativo fundamental que orientar sua publicação,
com a indicação, se fôr o caso, das variantes de formulação que
possam dar margem a interpretação diferente do texto estabele-
eido, do ponto de vista conceitual e nacional.
6.3 COMISSÃO MACHADO DE ASSIS - A 8 de setembro de 1958
·o Consultor Geral da República, A. GONÇALVES DE OLIVEIRA -
hoje membro do Supremo Tribunal Federal - , dirigia ao pre-
sidente da República, JusCELINO KUBITSCHEK DE OLIVEIRA., pa-
recer referente aos direitos autorais da obra de MAcHADO DE Assis,
eoncluindo que caíra a mesma em domínio público. Reconhecida
pública e notoriamente a baixa qualidade editorial com que a
çande obra vinha sendo posta no mercado ledor brasileiro, foi
eonstituída, por recomendação do presidente da República, no
Ministério da Educação e Cultura, a Comissão Machado de Assis,
ELEMENTOS DE BIBLIOLOGIA

com o fim de consolidar o seu texto. Criada a Comissão por por-


taria de 19 de setembro de 1958, vem ela trabalhando desde então,
havendo sido baixada a 19 de julho de 1965 nova portaria minis-
terial que amplia o âmbito de atividades da Comissão a quaisquer
escritores da língua portuguêsa que, a critério da Comissão, me-
reçam ter o seu cânon textual estabelecido criticamente. Se vá-
rias entidades culturais brasileiras, públicas ou privadas, se pro-
punham tarefa assemelhável, a Comissão Machado de Assis pôde
ter continuidade até os dias de hoje. E, embora até agora s6
haja publicado um volume da coleção machadiana projetada - o
VI, Memórias póstumas de Brás Cubas, em 1960 (cf. ASSI) - já
pôde (.a ) estabelecer o melhor corpo de doutrina sôbre edição
crítica de autor moderno da língua, extrapolável, mutatis mu-
tandis, a quaisquer outros escritores do período moderno e con-
temporâneo do nosso domínio lingüístico, e (b) preparar cêrca de
catorze volumes, que não viram a luz por ora apenas por difi-
culdades financeiras.
6. 3 .1 Sob inspiração da Comissão Machado de Assis, além do
volume acima citado, foram também tornados públicos (1) ReltJ...
tório da Comissão MlUhado de Assis, que historia a vida da
Comissão até março de 1959 (cf. COMA), (2) a Introdução M texto
crítico das Memórias póstumas de Brás Cubas, de Machado de
Assis, de ANTÔNIO HOUAISS (cf. HOOA), (3) a Introdução a.o texto
crítico do Quincas Borba, de Machado de .Assis, de ANTÔNIO Josi
CHEDIAK ( cf. CHED), ( 4) um Plano do Dicionário das obras de
Machado de .Assis, de ANTÔNIO HouAiss (cf. noou), sem contar
estudos e pesquisas inéditos de importância de J. GALANTE DE
SousA, mimeografados, e os que oportunamente serão publicados
integrando os volumes regulares da coleção projetada.
6. 3. 2 Atendendo a que o segundo dos trabalhos citados acima
constitui o padrão que serviu de base para os trabalhos da Co-
missão Machado de Assis; constituindo êle uma súmula de prin-
cípios ecdóticos modernos ap.licáveis a qualquer texto de valGI'
lingüístico e literário comparável no âmbito da língua portug:uêsa
na feição assumida .no Brasil, parece ao autor dêste livro .bom
alvitre reproduzi-lo na íntegra, tal como foi apresentado à .co-
missão Machado de Assis - reprodução que se faz desacompa-
nhada do texto mesmo a que se refere, porque o que se tem em
vista, no caso vertente, é antes dar um exemplo concreto de cri-
tério informador de um texto crítico. A minúcia de remissões,
embora não verificáveis contra o texto omitido, serve para mos-
trar como uma introdução, quando exaustiva, pode .aliviar de
muito o aparato crítico de um texto dado.
276 ANTÔNIO HOUAISS

6.4 UMA APLICAÇÃO CONCRETA - Eis a introdução em causa.


6.4.1.1 O texto das Memórias Póstumas de Brás Cubas• foi
estabelecido do cotejo das edições a seguir referidas, antecedida
eada uma da sigla remissiva que para ela se adota:

A - Memorias Posthumas de BrM Cubas, folhetim, na Revista Bra-


sileira, Rio de Janeiro, tomo UI, 15 de março de 1880, pp. 353-
'372; tomo IV, 1.0 de abril de 1880, pp. 5-20; tomo IV, 15 de
abril de 1880, pp. 95-114; tomo IV, 1.0 de _m aio de 1880, pp.
165-176; tomo IV, 15 de maio de 1880, pp. 233-242; tomo IV,
1.0 de junho de 1880, pp. 295-305; tomo V, 1.0 de julho de 1880,
pp. 5-20; tomo V, 15 de julho de -1880, pp. 125-138; tomo V,
1.0 de agôsto de 1880, pp. 195-210; tomo V, 15 de agôsto de
1880, pp. 253-272; tomo V, 1.0 de setembro de 1880, pp. 391-
401; tomo V, 15 de setembro de 1880, pp. 451-462; tomo VI,
1.0 de outubro de 1880, pp. 5-17; tomo VI, 15 de outubro de
1880, pp. 89-107; tomo VI, 1.0 de novembro de 1880, pp.· 193-
207; tomo VI, 1.0 de dezembro de 1880, pp. 357-370; tomo VI,
15 de dezembro de 1880, pp. 429-439;
B - Memorias Posthumas d6 Braz Cubas, por Machado de Assis,
Rio de Janeiro, Typographia N:acional, 1881;
C - Memorias Posthumas de Braz Cubas, por Machado de Assis,
Terceira Edição, Rio de Janeiro, H. Gamier, Livreiro Edit01·,
71, Rua do Ouvidor, 71 e 6, Rua dos Saints-Peres, 6, Paris;
D - Memorias Posthumas de Braz Cubas, por Machado de Assis,
da Academia Brasileira, Quarta Edição, H. Garnier, Livreiro
Editor, 71, Rue Moreira-Cezar, 71, Rio de Janeiro, 6, Rue . des
Saints-Peres, 6, Pariz;
F - Collecção dos Autores Celebres da Litteratura Brasileira, Me-
moria11 Posthumas de Braz Cubas, por Machado de Assis, da
Academia Brasileira, Livraria Gamier, 109, Rua do Ouvidor,
109, Rio de Janeiro, 6, Rue des Saints-Peres, 6, Paris;
G - Collecção .dos Autores Celebres da Litteratura Brasileira, Me-
marias Posthumas de Braz Cubas, por Machado de Assis, da
Academia Brasileira, Livraria Garnier, 109, Rua do Ouvidor,
109, Rio de Janeiro, 6, Rue des Saints-Peres, 6, Paris;
O - Obras de Machado de Assis, Memórias Póstumas de Brás
Cubas, W. M. Jackson Inc. Editôres, Rio de Janeiro, São Paulo,
Pôrto Alegre.
(•) Anteprojeto apresentado por Antônio Houaiss, como . membro
da subcomisBão . integrada por êle mesmo, ANTONIO Jos& CHEDIAK, cm.so
:FIIJulBnlA .OA CUNHA e Josf: GALANTII DI: SOUSA, à Comissão de Machado
de Assis, instituída por portaria do Ministro da Educação e Cultura, de
D• 483, de 19 de setembro de 1958, e composta de AUSTRIXliSILO Dll ATAlDJ:,
Joá RENATO SANTOS PERII:IRA, ÁNTÕNJO CANDIDO Dll MELO E SOUSA, ANTOND
HOUAISS, ANTONIO Jos& CHEDIAK, AUGUSTO MIIYIIIl, Aua&uo BUAilQUII Dll
HOLLANDA FI:RRBIRA, BARRiri'O FlLHO, BRITO BROCA, CIIILBO FERREIRA DA CUNHA,
CIRO DOS ANJOS, EuGitNJO GoiiiiS, J. GALANTII Dll SOUSA, Josi SllllilXO l.KAL,
L"OCIA MlOUII:L PII:RII:IRA, MARCO AUÚLIO Dll MOURA MATOS, M.úuo GONÇALVES
Jlll MATOS e PII:RJXJRINO J ú NIOR,
ELEMENTOS DE BIBLIOLOGIA 277

6. 4 .1 . 2 A é, ·incontroversamente, a primeira edição absoluta,


mas não em livro, sim na Revista Brasileira, do Rio de Janeiro,
tomos referidos supra, de 15 de março a 15 de dezembro de 1880,
em dezessete folhetins.
6. 4 . 1. 2 .1 A impressão é em corpo 10 pequeno~ linhas de 222
pontos aproximativamente, cada coluna de mancha completa com
37 linhas - o que dá um predomínio do sentido vertical na
mancha dito geralmente formato inglês. Nos cabeçotes há, nas
páginas pares, "Revista Brasileira", nas páginas ímpares, "Me-
mórias Posthumas", sendo a numeração nos cantos superiores ex-
ternos de cada página. Cada folhetim foi - como se pode de-
preender · da numeração citada supra - cuidadosamente iniciado
em página nobre, vale dizer, ímpar, com abertura de branco am-
plo, o que tudo revela a preocupação de permitir que os leitores
viessem a fazer, .ev:entualmente, separatas, que, reunidas e enca-
dernadas, dariam uni volume íntegro. Como, porém, alguns f<Y
lhetins não terminaram em página par; a reunião das separatas
obriga à presença de matéria impressa estranha. Cada folhetim
termina com a menção de " continua", a seguir ao nome do autor
em versal-versalete; mas no início de cada folhetim não há menção
de enlace, que fica à conta da referência do capítulo. Não há
erratas em parte nenhuma da revista, relacionadas com o texto
do romance. A composição e impressão é da Tipografia Nacional,
o atual Departamento de Imprensa Nacional, do Ministério da
Justiça e Negócios Interiores - composição e impressão que, em-
bora de periódico, honram as oficinas daquele estabelecimento
oficial e a direção da revista.
6. 4 .1 . 2 . 2 Trata-se - como já foi dito - da primeira redação
tornada pública do romance, redação que, depois, virá a sofrer
alterações relevantes, embora de modo nenhum substanciais. Cum-
pre ressaltar, de uma vez por tôdas, que a ·composição é cuidadosa,
com erros de revisão muito episódicos, se se leva em conta que a
matéria era para uma revista quinzenal. A presumir, pelo que
se sabe do autor como revisor de si mesmo, parece que êsse tra-
balho, se não foi cometido a outrem, deve ter tido criteriosa co-
laboração.
6 .4 .1. 2. 3 Os fÔlhetins de que nos servimos para o trabalho
de colação são propriedade do Senhor AuousTo M:EYER; e, sepa-
rados da Revista Brasileira, formam um volume bem encadernado.
Trazem duas notas manuscritas, do mesmo punho, nas guardas,
uma de 1930 e outra de 1932, pelas quais o então proprietário
do volume declara que o mesmo pertencera a alguém que o ano-
278 ANTÔNIO BOUAISS

tara. ~sse · alguém deve ser "G. CAMPISTA", cuja assinatura está
ao alto da segunda guarda, recto, letra e tinta que se reiteram
freqüentes vêzes no corpo do volume, em anotações geralmente de
cotejo com a quarta edição, que é de 1899 : o manuscrito dêsse
anotador deve ser de pouco depois, em tôrno da primeira década
do século.
6. 4 .1. 3 B é, incontroversamente, a primeira edição em livro,
embora a segunda como publicação.
6.4.1.3.1 É a m~ma composição de A, com apresentação
diferente no geral e modificações no particular, o que autoriza a.
reputá-la segunda redação pública - embora convenha relembrar
que sem alterações ou modificações substanciais. As característi-
cas tipográficas são as · apontadas supra, 6. 4 .1.1, visto tratar-se
da mesma composição. Entretanto, a mancha difere, pois a co-
luna vertical 6 de 30 linhas, o que aproxima o volume do formato
francês, embora não se trate de um típico carré, . dada a curteza
da linha. Enquanto na impressão de A os capítulos não abriam
necessAriamente página, nesta abrem, par ou ímpar, conforme o
término do anterior. O cabeçote é "Memorias Posthumas de
Braz Cubas", mas não ocorre nas páginas capitulares. O volume
tem um índice in fine, em corpo 8, cujas páginas são numeradas
à romana; a última destas é destinada a uma errata, que acusa
êrro igual ao de A, no mesmo local da composição. Além do
índice e do cabeçote, há também, como composição nova, os títulos
dos capítulos e a numeração das páginas, que se faz, ainda, como
em A, nos cantos superiores externos.
6.4.1.3.2 Embora mesma composição que a de A, a impres-
são foi objeto de maiores cuidados, precedida, como dissemos, de
retoques na redação. As principais alterações são as seguintes,
em relação a A :
1) introduz a dedicatória (1) •
2) elimina a epígrafe (7);
3) altera a composição ou a redação em: 9, 14, 18, 21, 30,
75, 78, 87, 88, 91, 102, 103', 104, 160', 246, 248, 272, 274, 276,
295, 316, 318, 319, 320, 322, 324, 327, 352, 435, 459, 478, 485,
487, 490, 491, 492, 493, 500, 569, 601, 604, 625, 63E!, 654, 684,
702, 706, 714, 723, 725, 726, 781, 808, 814, 819, 893, 897, 899,
900, 901, 940, 942, 943, 945, 946, 951, 952, 961, 971, 975, 991,
(•) M remiMivas em n6meros inteiros da série natural são para
os parágrafos do texto critico do romance, bem como para a parte
correapondente do aparato, Mtampado em rodapé.
ELEMENTOS DE BIBLIOLOGIA 279

992, 995, 1002, 1006, 1018, 1019, 1022, 1025, 1033, 1041, 1042,
1047, 1048 - alterações essas que são de extensão e importância
diversas••. Dentre elas, porém, há inclusive cortes de capítulos
inteiros, tudo consignado no rodapé.
6 .4 .1. 3. 3 O exemplar de B de que se lançou mão para o
cotejo é do acervo da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, à
qual é oferecido autõgrafamente pelo autor. O papel, infeliz-
mente, é de qualidade inferior ao de A., está amarelecendo e tende
a partir-se com facilidade a qualquer dobra.
6. 4 .1. 4 C traz impressa a declaração de terceira edição, com-
putando, pois, como primeira a da RevisttJ Bra.sileirtJ. 1ll que o
pr6prio autor define a situação desta edição no pr6logo a ela
destinado e que, por circUnstâncias ainda não esclarecidas, nela
não figurou, mas sim na q,uarta, com uma contradição ostensiva,
lá. ~sse pr6logo diz:
A -primeira edição destas Memórias póstumas de Bráa
Cubas foi feita aos pedaços na Revista Brasileira, pelos anos
de 1880. Postas mais tarde em livro, corrigi o texto em
vários Jogares. Agora que tive de o rever para a terceira
edição, emendei ainda alguma cousa e suprimi duas ou três
dúzias de linhas. Assim composto, sai novamente à luz esta
obra que alguma benevolência parece ter encontrado no
público.

Trata-ae, com efeito, (a) da segunda composição tipográfica, (b)


da terceira redação pública, (c) da terceira impressão, (d) da ter-
ceira edição e publicação. A composição e impressão, já agora,
são de Paris, como se vê do colofão a páginas 387: "Paris. -
Typ. Garnier Irmão~ 6, rua dos' Saints-Peres. - 447. 7.96.", sendo
os dois últimos números, como é sabido, os indicativos do mês e
ano da impressão, isto é, juiho de 1896. Trata-se, também, de
( .. ) :1!: dispensável, em principio, compulsar um exemplar de .A. e
outro de B para estabelecer, 11 poateriorl, o cotejo em e&Wia. Basta.
consultar o aparato nos números indicados e examinar as inscrições de
variantes que estiverem sob a sigla A, única e tão-aomente - isto é,
pela lição que B alterou, a qual llção A, já não constando do texto critico,
consta, por isso mesmo, do aparato.
Analoglcamente, a sigla B sõzinha ou as combinações de siglas que
tlv•em B, mas não ·edições posteriores - isto 6, B, ou A, B - dão
os textos inovados por O. A sigla C sozinha ou as combinações de
siglas que tiverem C, mas não edições posteriores - isto 6, C, ou .A., B, C,
ou .A., C, ou B, C - dão os textos inovados por D. A sigla D sozinha
ou as combinações de siglas que tiverem D, mas não edições posteriores
-~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~
.A., D, ou C, D - dão os texto!! que seriam Inovados por B; não cons-
tituindo E, porém, elemento de nolll& colação, supomos [E] -+ 11'.
280 ANTÔNIO HOUAISS

um corpo 10, mas de ôlho maior que o de A + B, razão por


que a entrelinha é mais fechada. O comprimento da linha é li-
geirissimamente menor, -pois é de cêrca de 220 pontos, e a coluna
é de 31 linhas. Com margens menores em todos os sentidos que
B, inclusive com brancos reduzidos nas páginas capitulares, é um
típico exemplar econômico do tempo. O cabeçote é, salvo nas
páginas capitulares, onde não ap.arece, o mesmo - "Memorias
Posthumas de Braz Cubas" - e a numeração é no canto superior
externo. O volume não contém errata.
6. 4 .1. 4.1 Enquanto entre A e B há um número ponderável
de retoques na redação, mas sobretudo de cortes, entre B e C
há modificações que, não sendo quantitativamente iguais, são su-
periores qualitativamente, no fundo e na forma - até onde se
pode falar nesses têrmos dicotômicos. ' Essas modificações, deve.
mos antecipá-lo, já aqui, são também definitivas, visto como D,
que é a última edição em vida do autor, as .encampará quase
totalmente, com um mínimo de alterações. Mais de quinze anos
eram passados da primeira redação, o autor pudera aferir critica-
mente o mérito do romance, a edição -ne varietur poderia ser
pensada - é o que explica o prólogo para ela, que historia exter-
namente o livro, em poucas palavras, p11ólogo de .· que -citamos,
supra, uma passagem. O título dêsse prólogo, aparecendo como
vai aparecer apenas na quarta edição, vai ser modificado neSBa
conformidade, mas só aí, guardando, no corpo, a íntegra da reda-
ção original, em que o autor explícita - "Agora que tive de o
rever para a terceira edição ... " - terceira edição a cujo respeito
não cabe especular, pois as duas anteriores estão bem claramente
referidas no mesmo prólogo. Enviada, quiçá, com a última prova,
a recomendação de inseri-lo na edição que se revia, terá escapado,
ou a urgência comercial terá determinado deixá-lo para depois,
visto como já então deveria estar no ânimo dos editôres guardar
a composição dessa edição para as futuras - o que efetivamente
aconteceu.
6. 4 .1. 4. 2 Essa hipótese - essa· certeza, digamos - é corro-
borada veementemente pelo fato de que C, no seu índice, a pá-
ginas 383, diz, logo no início : "Prólogo da terceira edição ..... .
VII". E a página VII- melhor, a fôlha VII/VIII - das partes
preliminares da edição em causa até hoje não foi vista ou localizada
em nenh_um exemplar de C.
6.4.1.4.3 · Nova composição, pois, e com retoques importantes,
porque exprimem a maturidade literária do autor, convém rela-
':!ionar aqui os parágrafos em que se verificaram: 5, 6, 9, 11,
E L E M E N T OS D~ B I BL I OL OGI A 281

13, 14, 19, ~1, 24, 25, 26, 28, 29, 30, 43, 45, 47, 52, 58, 64, 70,
74, 75, 87, 88, 89, 92, 95, 96, 98,· 100, 103, 103', 104, 112, 115,
117, 129, 131, 132, 133, 135, 141, 144, 147, 161, 169, 172, 177,
189, 200, 201, 202, 203, 207, 211, 212, 215, 220, 221, 222, 224,
233, 238, 239, 241, 242, 245, 250, 261, 278, 280, 281, 289, 290,
291, 293, 3()1, 310, 311, 312, 313, 315, 318, 321, 322, 326, 327,
328, 332, 334, 337, 338, 339, 346, 349, 352, 356, 372, 373, 376,
378, 382, 386, 395, 399, 400, 401, 402, 403, 407, 415, 423, 424,
428, 431, 432, 433, 434, 437, 439, 441, 448, 449, 452, 453, 454,
457, 461, 466, 468, 470, 471, 472, 479, 490, 493, 495, 500, 502,
504, 522, 525, 533, 535, 537' 541, 544, 548, 552, 562, 565, 566,
577, 594, 601, 606, 607, 609, 611, 614, 62"5, 630, 631, 633, 635,
637, 639, 640, 644, 648, 650, 651, 653, 654, 655, 657, 661,
669, 672, 684, 685, 686, 695, 697, 698, 703, 706, 711, 712, 714,
718, 719, 724, 733, 734, 737, 738, 739, 745, 746, 747, 749, 750.
751, 753, . 754, 757, 759, 762, 764, 770, 776, 778, 781, 786, 787,
792, 794, 795, 797, 799, 801, 806, 807, 809, 810, 816, 820, 824,
832, 844, .. 845, 848, 850, 854, 855, 856, 857' 859, 868, 869, 883,
887, 889, 891, 893, 896, 897, 898, 900, 901, 902, 903, 909, 911,
912, 913, 914, 918, 919, 927, 928, 929, 931, 932, 934, 936, 938,
940, 941, 942, 943, 951, 952, 954, 955, 957, 962, 965, -968, 969,
971, 972, 974, 975, 978, 988, 989, 991, 992, 997, 998, 999, 1000,
1009, 1014, 1016, 1017, 1018, 1019, 1023, 1027, 1031, 1033, 1035,
1037, 1039, 1045. Nova composição, se de um lado o trabalho
estilístico pôde fazer-se, sendo respeitado pelos compositores, de
outro - fatalidade da tradição manuscrita ou impressa -, nov01
erros e erros novos aparecem. Nos lugares acima referidos vão,
de um modo geral, as diferenças - voluntárias ou não .- que
aparecem em C em face de A + B.
6.4.1.4.4 O exemplar de C de que se lançou mão para o
trabalho de cotejo é do acervo da Biblioteca Nacional do Rio de
Janeiro. De mau pa.pel, amarelece e é quebrável nas dobras.
6. 4 .1. 5 D também traz explícita a sua edição, quarta. Como
C, sua datação está no colofão da página 387: "Pari~. - Typ.
Garnier Irmãos, 6, rue des Saints-Peres. - 379.7. 99", sendo,
como se disse acima, os dois últimos números indicativos do mês
e ano da impressão, isto é, julho de 1899. Nesta é que vem
impresso o "Prólogo da quarta edição", que, em verdade, se des-
tinaria à terceira, conforme consideramos em 6.4 .1.4.1 a 6.4.1.4.2,
.supra. Trata-se de (a) uma reimpressão da segunda composição
tipográfica, (b) da quarta redação pública, (c) da quarta impres-
282 ANTÔNIO BOUAISS

são, e (d) da quarta edição e publicação. Tôdas as características:


tipográficas da sua composição original, consideradas em 6.4.1.4,.
cabem para esta, inclusive nó não contar com errata.
6. 4 .1. 5 .1 Os retoques de O + D são, tipográfica e lingüis-
ticamente, em número muito reduzido, confirmando a asserção de
que o ânimo autoral defintivo já estava atingido em O - ver
6 .4.1. 4.1, supra.
6. 4 .1. 5. 2 Importa, isso não obstante, consignar as principais
poucas modificações trazidas a D em relação a O : 5, 112, 282,
399, 599, 778, 871, 889, 913. Escolhida, que foi, D como texto
de base, por ter sido o último em vida do autor, mas caracteriZado
como foi, o ânimo autoral definitivo em O, cumpre examinar se
a tradição O + D não detei'iorou o texto, de modo que devamos,
agora, lamentar a escolha de D como texto de base: Sendo J)
mera reimpressão da composição de O, importa ver que tipos
variantes se verificam entre ambas; e estas, acima localizadas,
são as seguintes :
1) no parágrafo 5, O diz "achar nêle", êrro tipográfico
que D corrige para "achará nêle";
2) no parágrafo 112, O diz . "minha família en ter", êrro
tipográfico que D corrige ;
3) no título do capítulo XXVIII, cujo primeiro parágrafo
é o 282, O diz "Contanto que" (sem reticências), que D corrige
para "Contanto que ... "·;
4) no parágrafo 285, O (seguindo Á e B) põe "O Conse.
lheiro Dutra; não conheces", que D p,assa para "O Conselheiro
Dutra, não conheces", lição esta que não parece constituir ·corre-
ção deEberada;
5) no parágrafo 399, O (seguindo Á e B) põe "e o colocam
em cima, e o traspassam", que D passa, corrigindo fundamental-
mente, para "e o colocam em cima e traspassam";
6) no parágrafo 599, O (seguindo a boa lição de A e B)
tem "de ter saído. A baronesa", lição que, por acidente de ma-
nipulação dos paquês tipográficos, passa, com perda do ponto, a
"de ter saído A baronesa";
7) no parágrafo 778, O diz "em diálogo como o embrião",
que D corrige para "em diálogo com o embrião" ;
8) no parágrafo 871, O divide a palavra "super-/fina" em
fim da linha, tal como é indicado pela barra oblíqua; mas a
sílaba fi inicial de linha está de pernas para o ar, o que D cor·
rige;
ELEMENTOS DE BIBLIOLOGIA 283

9) no parágrafo 889, C adultera lição característica de A


--+· B e do vocabulário do romance, alterando uma táctil e gusta-
tiva "tenrura de carnes !" para uma eufêmica "ternura de car-
nes! ", adulteração que D corrige;
10) no parágrafo 913, C adultera (caindo involuntAria-
mente num precioso caso dialectal que aqui não pode, de modo
nenhum, ser assim considerado) A e B, pondo "logo adiente",
que D corrige devidamente para "adiante"; e
11) no parágrafo 954, C, adulterando a tradição A + B,
deforma o texto, pondo "ou, por outra, explicou-o", que D, coe-
rentemente, corrige para "explico-o".
Vê-se, assim, que das onze variantes entre C e D, há, pelo
<menos, nove correções necessárias, contra uma duvidosa, a do
parágrafo 285, e unia lição adulterante, a do parágrafo 599, fe.
lizmente, esta, do tipo de êrro tipográfico óbvio.
A crítica interna confirma, no caso do romance em aprêço,
.a exatidão do critério de se haver, por motivos de história externa,
-escolhido a última edição em vida do autor, D, como a do texto
de base.
Tratando-se de composição manual de tipos soltos, ou de com-
posição em monotipo, as duas únicas que comportam o êrro con·
signado no parágrafo 871 de C, o uso dos paquês de página per·
mitiu, na reimpressão de D - o que irá ocorrer, antecipemos,
-com P e G - , a queda de um ou outro sinal, que geralmente
-deixa pequenos brancos característicos do vazio, sobretudo em fins
de linha · ej ou fim de página. Em certos casos, houve - como
nos exemplos acima aduzidos - nova composição de linha ou,
pelo menos, nova ajustagem de página, para a boa imposição,
o que se vê, por exemplo, com mais clareza nas páginas 385 a
:387, do índice. Além da substituição do colofão, na página 38,
há um apertamento no título do capítulo XC, na página 385,
em D, contra C, do mesmo modo que o número do caderno - 22
- fica mais junto da mancha.
·6 .4 .1. 5. 3 O exemplar usado na colação pertence ao acervo
·da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro.
6.4.1.6 F e G são a composição de C, através da versão por
.esta assumida em D. Se E• efetivamente existe, não tendo sido
tomada em linha de conta, aqui, pode, entretanto, explicar algu-
<•> De fato, existe. :S: o que se verificou, tão pronto terminado o
trabalho presente. Tratá-se de um exemplar da propriedade do Senhor
Joú Sl:aulo LBAL, cuja fôlha de rosto é absolutamente igual à de P
.e de G, ver 6.4 .1 .1, aupra. O colofão, entretanto, como é natural, é
284 ANTÔNIO HOUA.ISS

ma adulteração veja-se bem, adulteração - de F, que as ex.


plica de G. A importância de E, entretanto, não é grande, jé
que representa um elo da tradição de C, mas um elo post mortem·
at~tctoris, para o qual, sabidamente, não ficou recomendação de
errata (que aliás teriam repercutido em F + G).
6.4.1.6.1 F traz em seu colofão, a páginas 387, "Imp. A.
Dersé, 9, rue Edouard-Jacques, Paris, 5-21", isto é, maio de 1921.
Trata-se, como se vê, de nova tipografia, mas que terá tido apena!l
função estr!ctamente impressora (e os trabalhos subseqüentes),
pois a composição é, sem remota sombra da mais longínqua ·d úvida,
a de C ·+ D.
6.4.1.6.2 G traz em seu colofão, a páginas 387, "Imp. d'Edi·
tions, 9, r. Edouard-Jacqnes. Paris France. 9-24", isto é, setem.
bro de 1924. A mesma observação feita supra cabe aqui, com
relação à função da tipografia.
6. 4 .1. 6. 3 Concordantes entre ·si pràticamente em tudo -
salvo acidente de manejo dos paquês -, discordam muito ligeira·
mente do elo anterior, D. Um dos traços diferenciais mais os-
tensivos - porém externos - é que F e G têm nova fôlha de
rosto, bem como nova numeração dos cadernos, no canto inferior
esquerdo, quando ocorre.
diferente: "Paris. - Typ. Garnier Irmãos, 6, rue des Saints-Perea. -
301.1.1914" isto é, janeiro çle 1914 (e "1914" por extenso); comparar
com 6.4 . 1. 6 .1 e 6.4 .1 .6.2, supra. AB características da impreSBão foram
cotejadas, nos pontos principais, com os dois elos em que se insere êste
E, a saber, o anterior, D, e o posterior, F. E se depreende que IJJ
continua a tradição de D - herdando as correções e os defeitos de
sua origem, isto é, os apontados em 6 . 4.1.5.2, .upra, noa parágrafos
5, 112, 282, 285, 399, 599, 778, 871, 889, 913 e 9M. Ao mesmo tempo -
no que se refere aos caracteres adulterantes de pequena monta que
até então reputáramos especifico& de F -+ G nesta introdução - E
fica entre ambos os elos em que se insere, isto é, ora apresenta a
igualdade E = F em algumas lições, ora apresenta a igualdade D = E
em outras lições.
Com efeito, E é igual a D, formando a continuidade a + D + E,
no parágrafo 762 (referido npra em 6 . 4 .1 . 7 .1), enquanto é igual a F,
formando a continuidade divergente de D seguinte: E -+ .F ~ G, no
parágrafo 850 (referido, também, em 6 . 4 .1. 7.1 .upra), bem como no
parágrafo _90, referido em 6 . 4.3.2 .1 .
Seja como fôr, porém, a situação de E, é ela intermediária, o que
a faz estar, inapelàvelmente, ou em D (e, eventualmente, também em
0) ·ou em F {e, eventualmente, também em G). E, sendo como é,
aBBlm, o seu achamento posterior à colação não altera a validade desta
no mais mínimo pormenor, salvo por ·absurdo - de que aqui . não se
cogita.
ELEMENTOS DE BIBLIOLOGIA 285

6. 4 .1. 6. 4 Os exemplares de P e G usados na colação perten.


cem ao Senhor J. GALANTE DE SouSA.
6.4 .1. 7 No que se refere às Memórias Póstumas de Brás
Cubas, por conseguinte, a suspeição de infidelidade que eiva cer·
tas edições Garnier - suspei~ão por vêzes apriorística, porque
a composição foi feita em Paris - não tem cabimento, pois que
tôdas as edições em causa são de uma e única compos1çao, C,
feita com alterações fundamentais da redação, reiteradas, em
menor quantidade, sobretudo do ponto de vista da revisão, em
D, vale dizer, em duas oportunidades da· vida amadurecida de
MACHADO DE Assrs, .em 1896, cêrca de quinze anos depois da
primeira publicação, e em 1899, cêrca de dezoito anos depois.
As edições F, de 1921, e G, de 1924, são, pois, tão valiosas quanto
aquelas, salvo pormenores de pequena monta, que aparecem sem-
pre no aparato crítico e que não são, aqui e agora, indicados, por
irrelevant'es.
6. 4 .1. 8 O é, como vimos, uma das edições de W. M. J ackson
Inc. Editôres. Trata-se, explicitamente, de composição e impres-
são novas, a fiar-nos de declaração no rodapé do verso da fôlha
de rosto:
Composto e impresso na Gráfica Editora Brasileirs Ltda.,
à rua Luís Gama, 185 - São Paulo, Brasil, em 1955..

Mas também pode ser que, em verdade, se trate, malgrado aquela


declaração, de reimpressão de uma edição anterior, de 1953, adi-
ante referida como N. Tanto no verso da fôlha de rosto de O,
quanto no de N, consta o seguinte:
Tanto a fidelidade do texto do presente livro como a sua
forma vernácula, fixada pelo cotejo das mais autorizadas
edições, são da responsabilidade de
Ary de Mesquita.

declaração que não isenta a edição - referimo-nos particular-


mente a O - de falhas substanciais tanto de concepção do que
seja o trabalho de cotejo das "mais autorizadas edições", quanto
do que seja "forma vernácula". Além disso, há falhas outras,
umas de revisão pura e simples, outras decorrentes de uma fixa-
ção de critério lingüístico• essencialmente errônea para: os nossos
tempo - em que o princípio mais grave foi o de ter procurado
a "melhor" lição, às vêzes no autor, às vêzes na língua ( !), o
que empresta à edição uma fisionomia imobilista, falseando a
essência da historicidade da linguagem de MACHADO DE Assrs,
como fenômeno cambiante, vacilante às vêzes, flutuante quase
286 ANTÔNIO BOUAI88

sempre, da expressão de uma personalidade. Nem didàticamente


se justificaria - se por didático se quer coonestar a falsificação
deliberada dos fatos - o critério ou os critérios indicados. Essa
edição, não obstante, na qualidade de instrumento de trabalho,
foi também objeto da colação, como não podia deixar de o ser,
porque oferecia a obra em causa pela primeira vez na ortografia
vigente entre n6s.
6.4.1.8.1 O aparato crítico que se estampa no rodapé desta
edição não consigna senão uns poucos pontos - e, isso mesmo,
assistemàticamente - em que O diverge das edições anteriores.
Não foi, nem devia ser, nosso intuito evidenciar as deficiências
dos elos da tradição do romance depois da morte do seu autor,
noutros têrmos, não · podia interessar-nos maiormente uma edição
que não explicitava sua origem - sobretudo quando esta não era
complexa - nem indicava seus critérios. O cotejo, nesta, mesmo,
a ter sido feito, foi epis6dico, incidente, para casos concretos e
determinados. A origem de O, aliás, se pode . estabelecer como
sem cotejo segundo o estema seguinte :

o~--{;
isto é, O provém de um exemplar de F ou G•, apenas, por dois
erros diretivos comuns que excluem a consulta a A, B, C, e D.
~sses erros são os seguintes :

(•) A loealimçio de E - como dito na nota de rodapé anterior -


torna inconcussa esta auerção. Com efeito, enquanto no pad.grato 8líO
a distribuição das siglas, com o achamento de E, p1U188. a ser:
A,B "oferecia trinta contos, o Vtegas exigia"
C,D "oferecia trinta contos, Viegas exigia"
E,F,G "oferecia trinta contos Viegas exigia"
O "oferecia trinta contos. Viegas exigia"
podendo O, por conseguinte, ter aldo feita sôbre ou E, ou :B', ou G, já
no parágrafo · 762 a dlatrtbulçio paua a ser:
A,D "por que tem de resolver-ee na lama, ou no sangue, ou nas
lágrimas '!"
C,D,E "porque tem de resolver-se na lama, ou no sangue, ou nas
lágrimas '!"
:B',G "porque tem de reaolver-ee na lama ou no sangue, ou nas
lágrimas '!"
O "porque tem de resolver-se na lama ou no sangue, ou nas
lágrimas '!"
o que mostra, já. agora, a exclusão de E também, deixando-nos, sem
apêlo, como origem do O ou F ou G .
ELEMENTOS DE BIBLIOLOGIA 287

1) no parágrafo 762 :
A.,B "oferecia trinta contos, o Viegas exigia"
C,D "oferecia trinta contos, Viegas exigia"
F, G "oferecia trinta contos Viegas exigia"
o "oferecia trinta contos. Viegas exigia"

2) no parágrafo 850:
A, B"por que tem de resolver-se na lama, ou no sangue,
ou nas lágrimas T"
C, D "porque tem de resolver-se na lama, ou no sangue, ou
nas lágrimas T"
F, G "porque tem de de resolver-se na lama ou no sangue,
ou nas lágrimas T"
o "porque tem de resolver-se na lama ou no sangue, ou
nas lágrimas.

enquanto há um terceiro êrro que, filiando aparentemente O em


C, se revela, entretanto, de tipo autônomo, pela possibilidade in·
terna de coincidir, autônomamente, com a lição de C, deformando
acidentalmente a boa lição que estava restaurada em D e daí em
F e G, mas que, pela associação com os dois exemplos anteriores,
temos de supor em F ou G apenas; é no parágrafo 889:
A, B "Que requinte de temperos! que tenrura de carnes!"
O "Que requinte de temperos! que ternura de carnes!"
D, F, G "Que requinte de temperos! que tenrura de carnes!"
O "Que requinte de temperos! que ternura de carnes!"

6. 4 .1. 8. 2 Em O praticaram-se sistemáticas deformações lin·


güísticas: além da inesperável deliberação de grafar oi quanto
sincretismo houvesse do tipo ou I oi na língua, no tempo, no
autor ou na obra; além de modernizar e fixar a flutuação das
pretônicas e I i, o I u, em I im, om I um ; além de fazer desa-
parecer certos grupos consonânticos de possível pronúncia ao
tempo, enquanto mantinha outros porque hoje pronunciados (não
necessàriamente por todos, no Brasil ; e muitíssimo menos em
Portugal), incide em deslizes outros, dois dos quais já verberados
de público, o do parágrafo 9, em que "cláusula" se transforma
em "clausura", e o do parágrafo 9'80, mais grave ainda, em que
uma reflexividade se transforma em ação transitiva, com alterar
um "Quis arrancar-me" - algo egoístico, se se quiser - num
"Quis arr.ancá-lo" - muito altruístico, se se quiser, de Brás
Cubas para com Quincas Borba.
288 ANTÔNIO HOUAISS

G.4.1.8.3 Precisamente porque O é edição . post mortem e sem


maior idoneidade, . o aparato crítico desta edição não podia, sob
pena de ficar muito atravancado, dar senão uma pequena amos.
tragem das alterações sofridas pelo texto. E adotou um critério
misto de amostragem: (a) foi sistemático, não omitindo nenhuma
alteração, no que se refere ao sjncretismo do ditongo ou I oi,
em que, por exemplo, a palavra cousa(s), que ocorre como ta]
muitas dezenas de vêzes, ocorre como coisas apenas duas vêzes -
interjectivamente, o que lhe é a explicação estilística imediata -
mas é em O sistemàticamente e01:Sa(s), em que, por exemplo, a
palavra dous, que ocorre como tal muitas dezenas de vêzes, ocorre
como dois apenas uma vez, mas em O é sistemàticamente dois;
('b) foi assistemático, omitindo freqüentíssimas vêzes os fatos,
para outras alterações.
6 .4 .1. 9 Ordenando cronologicamente as edições do romance
segundo o levantamento de J . GALANTE DE SousA na sua Biblio-
grafia de Machado de Assis, até uma edição mais, a aqui desig-
nada como O, indicamos lateralmente as siglas que lhes corres.
pondem, pondo, entretanto, em grifo aquelas que entraram na
colação para esta edição crítica :

1880- A
1881- B
1896- c
1899- D
1914- E
1921- F
1924- G
1937- H
1943 - I
1944 - J
1946- K
1946- L
1950- M
1953- N
1955- o
6. 4 .I. 9.1 Importa, antes do mais, considerar o conceito de
redação, para os fins críticos presentes. Além de significar a
operação de pôr em linguagem, por escrito, determinada substân.
cia mentada, significa, ademais, cada fase por que um texto
passa, com solução de continuidade temporal, até atingir a demão
final com que se apresenta à posteridade; essas fases representam,
na intenção do autor, aperfeiçoamentos ou aprimoramentos, de
conjunto ou de pormenor. Assim, a primeira fase, de elaboração,
bem como cada uma fase de aperfeiçoamento ou aprimoramento,
ELEMENTOS DE BIBLIOLOGIA 289

em relação à anterior, com solução de continuidade temporal,


constitui o que é, aqui, chamada uma redação. E esta é redação
pública quando foi impressa. As Memórias Póstumas de Bníl
Cubas tiveram, destarte, além da redação constituída pelo ma.
nuscrito, não pública, as seguintes redações públicas:

ms+A +B+C +D

6 . 4 .1. 9 . 2 Essas redações bem como as edições do romance


foram, entretanto, objeto de apenas algumas composições tipo.
gráficas, a saber, A, C, H, I, L, N•. A já foi objeto de descrição,
bem. como C, ambas em 6.4.1.1, supra. H é a primeira composi-
ção, impressão e edição de W. M. Jackson Inc., Editôres. I é uma
edição dos Cem Bibliófilos. L é uma edição do Clube do Livro
e N é a primeira edição de W . M. J ackson Inc., Editôres, em ·
ortografia ora vigente entre nós, conforme já foi dito, no lugar
devido, em 6. 4 .1. 8, supr.a.. As edições referidas estão devidamente
descritas na parte competente dêste volume (3 .1.1 e seguintes).
Há, pois, seis tradições de composição, própria ao que "tudo deixa
crer, seja:
1) primeira tradição A +B
2) segunda tradição C+ D + (E) + F + G
3) terceira tradição H+J+ K +M
4) quarta tradição I •
5) quinta tradição L
6) sexta tradição N+O
Entre essas tradições, podem-se - porque estudadas aqui - esta-
belecer algumas conexões (marcadas ~ em horizontal ou ver~
tical) :
A + B + + C + D + (E) + F + G

+ t
+ N+O
I

mas ficando sem conexões : 1) a terceira tradição : f ~ H


+ J + K + M ; 2) a quinta tradição:! + L.
6 .4 . 1. 9. 3 É fácil compreender que est.a edição crítica con-
tinua o estema linear da primeira tradição, de modo que a po-
deríamos estabelecer, chamando a esta P, da seguinte conformi~
dade:
ms + A + B + + C + D [ + (E) + F+ G l + P
( 0) Para N e O, ver as ressalvas de 6.4.1.8, 814-pra.
(0) Segundo se declara no seu prefácio, foi baseada em D.
290 ANTÔNIO HOUAJSS

~ estema linear poderia ser compreendido, entretanto, como


um somatório em que em P se acumulassem, ao arbítrio dos
editôres-de-texto, as lições dos elos anteriores, ou (quando não 8e
acumulassem) se excluíssem ou se contaminassem também a êsse
arbítrio. Na verdade, com êsse estema linear, quer-se dizer que
em A se acham as características do manuscrito, com mais ou
com menos as características superimpostas pelo autor e com
mais ou com menos as características decorrentes dos acidentes da
composição; em B se acham as de A, com mais ou com menos as
superimpostas pelo autor e com mais ou com menos as decorrentes
dos acidentes de reimpressão; em C se acham as de B, com mais
ou com menos as superimpostas pelo autor e com mais ou com
menos as decorrentes dos acidentes da nova composição; em D
as de C, nas condições observadas, e assim sucessivamente. Para,
entretanto, ficar definido o caráter não contaminado do texto
crítico estabelecido, melhor seria figurar seu estema simplesmente
usim:
A-+B+-+C-+D++P
isto é, a primeira tradição (A -+ B) serviu, pelo seu elo àperfei-
~oado (B), à segunda tradição, aperfeiçoada no seu conjunto (O
+ D), a qual, também pelo seu elo aperf~içoado (D), serviu de
base à atual edição.
6. 4. 2.1 A base geral estabelecida para o tratamento crítico
do texto dêste romance é a mesma que se adotou para os nove
romances de Machado de Assis. Essa base crítica geral é a seguir
estampada, entre 6.4 .2.2 e 6.4.2.14.
6.4.2.2 No fundamental, tôdas as obras do autor publicadaa
em vida têm seu perfil estemático perfeitamente caracterizado,
aegundo um estema linear do tipo :
ms + P + S -+ T + ...
em que o primeiro membro - o manuscrito - em grande número
de casos está perdido. A adoção do texto de base para o estabele-
cimento crítico será a mera eleição de um dos membros supérstites,
4fUalquer, que apresente razões de prioridade:
a) já por fatos de cronologia externa incontroversos, aliados
a circunstâncias de história interna que provem ter sido o mem-
bro aquêle que melhor corresponde ao ânimo autoral;
b) já pelo cotejo interno das lições textuais, caso a crono.
logia não possa ser seguramente estabelecida, de par com a ca-
racterização do melhor ânimo a.u toral.
ELEMENTOS DE BIBLIOLOGI"..l

6. 4. 2. 2 .1 Obtido, naquelas condições, o texto de base, seri


êle, necessàriamente, cotejado :
a) com o manuscrito ou os manuscritos, se os houver;
b) com tôdas as demais edições em vida;
c) com algumas edições póstumas, totais ou parciais, que par-
ticularmente se recomendaram pelo tratamento textual, se M
houver;
d) com as traduções mais idôneas, nos casos de dúvidas de
interpretatio, caso a8 haja dêsse tipo.
6.4.2.2.2 Com relação às obras publicadas em vida mas nãe
estruturadas em livro, o estema linear se repete:
ms+P+ ...

em que o primeiro membro - o manuscrito -, como no case


anterior, em grande número de casos, se não que na quase totali-
dade, está perdido. A adoção do texto · de base para o estabele-
cimento crítico será a mera eleição de u~ dos membros supérs-
tites, nas condições anteriores, cumprindo, entretanto, desde o
início, ponderar quanto à possibilidade de não haver senão P.
6 .4. 2 . 2 . 3 Nestas condições, e resumindo, o texto de base, em.
princípio, tanto poderá ser um manuscrito quanto uma das edições
em vida, importando que a eleição seja fundada:
a) já em fatos da história externa que habilitem a certeza
de que a tradição, o membro em causa, era a preferida do autor
ou foi aquêle em que melhor sentiu a forma melhor de sua
comunicação ;
b) já, nos casos em que tôdas as tradições mereceram oa
cuidados pessoais do autor, do cotejo interno das . variantes e
diferenças das lições textuais.
6.4.2.3 Uma vez eleito o texto de base:
a) êste será o da edição crítica, observadas as normas p~
conizadas nestas instruções ;
b) seu aparato consignará tôdas as variantes textuais em
cotejo;
c) o aparato consignará os pontos efetivamente obscuros ou
duvidosos quanto à intelecção, tentando elucidá-los, . por abonações
internas abundantes e cronologicamente estabelecidas, ou por con-
jecturas fortemente verossímeis, ou por interpretatio. A eluci-
dação fica a critério do editor-crítico, mas conjectura ou inler-
pretatio será discutida em comissão. Em qualquer caso a modi-
ficação textual básica só poderá ser incorporada, ao texto esta-
292 ANTÔNIO HOUAISS

belecido definitivamente, por aprovação da comissão, devendo o


aparato conter minuciosa, ainda que concisa, explicação do fato
e suas circunstâncias ;
d) tôdas as interpretações de caráter luxuoso, erudito, tau.
tol6gico, sinonímico, remissivo ou ilustrativo que não foram im-
perativamente determinadas .ou motivadas por variante, falha,
omissão, lacuna, diferença, êrro tipográfico ou lapsus calami
6bvios, incoerência ostensiva nã.o estética, serão excluídas da
edição crítica e seu aparato - devendo, se tanto, poder constar
do glossário, da gramática e do esbôço de estilística objetiva que
da obra se fizerem ;
e) as formas inusitadas, arcaizantes, inovantes, pessoais mais
freqüentes, de época, contrárias aos cânones vocabulares, morfo-
lógicos ou sintácticos mais consabidos não serão objeto de nenhu-
ma referência no aparato crítico, nem mesmo a de sic, já que
tõdas deverão ser discutidas ou no glossário, e/ou na gramática,
e/ou n~ esbôço de estilística objetiva que da obra se fizerem
estudos à parte que a comissão recomendará a membros seus ou
a especialistas convidados ;
f) tratando-se, pois, do autor que é, a "atualização" lingüís-
tica não terá acolhida nem no texto nem será discutida no aparato.
6. 4. 2. 4 O texto estabelecido deverá, destarte, respeitar nodal,
fundamental, essencial e ativamente a realidade lingüística - e
tudo o que dela decorre na comunicação - criada pelo autor, de
tal modo que em nada seja ela desnaturada. A versão textual
estabelecida deverá necessàriamente :
a) simplificar o revestimento gráfico, da ortografia, do texto
de base, mas de tal arte que não se traia nenhum fato lingüístico
propriamente dito, subjacente na ortografia que se simplifica;
dêsse modo, todos os valôres realmente diferenciais, bem como
todos os valôres potencialmente diferenciais de fatos lingüísticos
que existam por baixo da ortografia original devem ser respei-
tados e, por conseguinte, nos casos duvidosos, ainda insanáveis
ou não superáveis, também ;
b) corrigir os chamados erros óbvios, isto é, aquêles que,
numa paráfrase da fórmula do crítico verbal Loms lliVET, são
erros em que e leitor mediano não atenta, numa leitura espon-
tânea, tão óbvia é a lição verdadeira que não está impressa ;
c) conservar tôdas as formas duvidosas, desde que passíveis
de uma interpretação satisfatória, ainda que algo inverossímil.
6 .4. 2 .4 .1 Tudo isso de tal modo que o texto crítico estabele-
tido~
ELEMENTOS DE BIBLIOLOGIA 293

a) seja uno e verdadeiro, isto é, não decorra da combinação


de · duas ou mllis tradições, de um lado; e corresponda, efetiva-
Jilente, ao ânimo final do autor, de outro lado;
b) seja histórico, isto é, fiel ao fato de que, .embora de
autor moderno, é um documentário de uma fase de uma evolução ·
lingüística, com peculiaridades de um lapso de vida e de lapsos
de tempo dentro dessa vida;
c) seja, em suma, textualmente, fidedigno e fiel, para todos
os fins - lingüísticos; estilísticos, estéticos, morais, históricos ..
6. 4. 2.4. 2 O editor-crítico deverá, por conseguinte, dentre
outros, ter sempre presentes alguns princípios de base, ·tais como:
a) qualquer simplificação não deve, a título nenhum, trair
forma, valor ou .função lingüística, seja esta evidente ou poten-
cial;
b) em casos duvidosos, deve optar pela lição conservadora,
isto é, aquela que permita duas interpretações ou mais e não
apenas uma, que o editor-crítico supuser, subjetivamente, a ver-
dadeira ou melhor;
c) o conceito de êrro óbvio (fundamentalmente tipográfico,
na tradição impressa, e de lapsus calcmi, na tradição manuscrita)
só será acolhido quando outro não couber, incontroversamente,
caso em que o texto crítico estabelecido terá em seu aparato,
sempre, a constância do fato e suas circunstâncias.
6. 4. 2. 5 A seccionação do texto base será respeitada, nos seus
capítulos, parágrafos e quaisquer outras divisões; nas suas estro-
fes e disposições de versos.
6. 4. 2. 6 Embora em tradições manuscritas antigas a pontua-
ção possa ser, legitimamente, reputada um problema de interpre-
tatio, cabendo, .assim, ao editor-crítico adotar a que possa fun-
damentar melhor, no caso do autor em aprêço se está em pólo
oposto. Destarte, se a pontuação é interpretatio, nenhuma in- ·
terpretatio pode ser melhor do que a do próprio autor. Seguir-
se-á, assim, a sua, embora, com menção do fato e suas circuns-
tâncias no aparato-, possam ocorrer casos de êrro óbvio, o princi-
pal dos ·quais; em textos de jornais e revistas, é a perda, por
queda, da vírgula em ·fim de linha composta em caixa móvel.
6. 4. 2. 7 · A separação vooabular do autor é, no essencial, atua-
líssim&. Nos pontos em que discrepar, será respeitada. Não
entra neste particular a divisão silábica de ·fim de linha tipográ-
fica, que será atualÍzada segundo os ,cânones ortográficos vigentes,
ao sabor das circunstâncias da composição.
294 ANTÔNIO ' BOUAISS

6.4.2.8 A ortografia será simplificada, em harmonia com o


·sistema vigellte entre nós. TFata-se, porém, de simplificação
ativa, em que devem pn-yaleOOl' os princípios e não as averbações
do vocabulário oficial, averbações notoriamente tendentes a um
·fixismo e imobilismo vocabulares, válidos, talvez, como preceptiva
presente, ·mas de todo em todo infundados para uma vivência his-
tórica dos textos do passado, ainda que de passado recente.
6.4.2.8.1 Não comportarão, por conseguinte, vacilação, sim-
plificações ortográficas em que se procure distinguir :
a) emprêgo do j e do g;
b) emprêgo do ck e dó x;
c) emprêgo do ss, c e ç;
d) emprêgo do k- e nos derivados prefixais;
e) emprêgo do s e z.
6. 4. 2. 8. 2 Deverão, entretanto, ser objeto de respeito :
a) emprêgo da pretônica e/i (tipo degZadiar/digZadwr, de-
negrirI denigrir, previlégio/ privilégio) ;
b) emprêgo da pretônica em(en)/im(in) (tipo informar/
e'fl.{ormar, emperador/imperador);
c) emprêgo do o/u pretônicos (tipo jabotijjabuti, sinusite/
sinosite) ;
d) emprêgo de om(on)/um(un) pretônicos (tipo compri-
mento/ cumprimento) ; ·
e) emprêgo de e/ ei (bandeija/bandeja, caranguejo/caran-
gtteijo, inteires/interes) ;
f) emprêgo de o/ott (espocar/espoucar, espoco/espouco, pôde
/povile);
g) emprêgo de e/i postônicos (crâneo/crâ'fl.io);
h) emprêgo de o/11, postônicos ( discóbulo I discóbolo).
6 .4. 2. 8. 3 Podem, sem risco, ser simplificadas :
a) as letras consonânticas dobradas, salvo, entretanto, (1)
os"""" e mm, os cc e cç, e (2) os rr e ss. No primeiro caso, porque
podem representar fonemas ou segmentos fônicos distintos, e no
segundo, porque representam fonemas distintos de r e s;
são,
pois, simplificáveis sem vacilação bb, dd, ff, gg, ZZ, pp, tt. Para
os n'fl. há a possibilidade de o primeiro n ser índice de nasalidade
da vogal anterior, tal o caso, v. g., de ennastrar; para os mm,
mesma circunstância, v. g., emm.al.ar; para os cc e os cç, ocorre
a possibilidade de o primeiro c ser pronunciado. Enquanto, em
casos tais, o complexo problema de saber a realidade da pronún-
ELEMENTOS DE BIBLIOLOGIA 295

cia de semelhantes letras consonânticas dobradas não fôr resol-


vido, é de tôda a prudência não proceder à. simplificação, salvo
fundamento concreto que a justifique numa dada palavra;
b) os chamados dígrafos helenizantes - pk, tk, rk - , que
nunca representaram na língua fonemas distintivos dos represen-
tados por f, t e r (ou rr), respectivamente; quanto ao ck (como
dígrafo helenizante), podem, eventualmente, ocorrer dúvidas -
por exemplo, sckisto (xisto ou quisto ou cisto ou esquisto) ;
c) o k, que sem receio pode ser substituído por c ou qu,
conforme o caso, em não se tratando de vocábulo que mereça o
tratamento de realce material de estrangeirismo ;
d) o y, que sem receio pode ser substituído por i, salvo em
estrangeirismo que mereça o tratamento de realce material cor·
respondente;
e) o 10, que pode, conforme o caso, ser substituído por v
ou u - o que, por isso mesmo, já pQstula certa reserva crítica,
embora a sua ocorrência seja moderna e de valor quase incontro-
verso.
6.4.2.8.4 Os estrangeirismos - que não devem ser confun-
didos com citações ou alusões em língua· estrangeira, citações ou
alusões que, consoante os casos, merecerão tão-sõmente o realce
material do jôgo de aspas - os estrangeirismos aparecerão, como
recurso vocabular, ou sucedâneo de deficiência vocabular da lín-
gua, ou matização semântica, em grifo, mesmo que assim não
.estejam no texto de base, não devendo, a título nenhum, ser
aportuguesados, se razões ponderáveis em contrário não ocorrerem.
Se os estrangeirismo& estiverem impropriamente grafados, segundo
a ortografia do tempo da língua estrangeira em causa, poderão
ser corrigidos, de tudo havendo menção no aparato crítico.
6. 4. 2. 9 O emprêgo das letras maiúsculas conformar-se-á com
o texto de base. Ressalve-se a observação concernente às reduções.
6. 4. 2 .10 As reduções serão desdobradas, salvo quando o texto
tiver caráter tecnicista. Neste ·caso, serão elas conformadas às
convenções universais, dêsse caráter, ou às convenções nacionais,
se as houver.
6. 4. 2 .11 Atentar-se-á particularmente no respeito passivo do
emprêgo da chamada crase. Fenômeno particularmente signifi-
cativo de certos matizes ortoépicos brasi1eiros, em que lavram
preconceitos gramaticais inúmeros, melhor será assumir, em face
dêle, uma atitude conservadora, em .lugar de procurar uma uni-
296 ANTÔNIO HOUAISS

formidade e coerência que nenhum autor brasileiro do período


do autor parece consignar.
6 .4. 2.12 O editor-crítico será particularlssimamente atento às
formas vocabulares sincréticas, não as alterando. no seu substrato
formal, a nenhum título, ainda quando os dicionários e vocabulá-
rios sejam omissos. Não se procurará, de modo nenhum, coerên-
cia ou sistemática no particular, ainda que em locais muito pró-
ximos (tipos cousa/ coisa, bacatuaia/abacatuia, aberém/ aba.rém,
absenteúta I absentista, gastroalgia I gastralgia, absinto f abrintio,
acessível/accessível, acepç!io/ aceção/ accepção/a.cceção, apoftegma
I apotegma/ apoftema, adaga/daga, afleumado/afleugmado, · farin-
geo jfa.ringeu, rupt1traj rutura, aspectof aspeto).
6. 4. 2.13 A acentuação gráfica conformar-se-á ao sistema orto-
~:ráfico vigente entre nós, proscritos, entretanto, todos os acentos
que, já indicativos da sílaba acentuada, já de seu timbre, possam
ser objeto de controvérsias com relação ao tempo ou ao autor.
6 .4. 2 .14 Estas bases gerais, estabelecidas a priori, deverão ser
objeto de periódicas alterações, no sentido de serem progressiva-
mente particularizadas, ao sabor do desenvolvimento da tarefa de
estabelecimento do texto crítico, em face das ocorrências concretas.
As subcomissões de trabalho de tal estabelecimento deverão p~­
riõdicamente reunir-se, por motivação de uma delas, nesse sentido.
Atingido um certo número de alterações, a critério dessas sub-
comissões, a comissão deve;rá ser convocada para tomar conheci·
mento das alterações convencionadas, a fim de aprová-las ou im-
pugná-las.
6. 4. 3 .1 Nas precárias condições em que se acham, ainda, os
estudos históricos da língua portuguêsa, de um modo geral, no seu
período moderno e contemporâneo, e da língua português& no
Brasil, a partir do século XVI ; nas precárias condições em que,
também, se acham os estudos da língua literária, sobretudo no
Brasil, não havia - como vimos - o que décidir, quanto a certos
fatos. A realidade mesma é que serão as edições como esta que
irão carrear, pouco a pouco, os elementos factuais necessários a
estudos mais ou menos conclusivos, mormente para o período · da
língua que vai do .século XVI aos nossos dias, num crescendo de
obscuridáde, quanto aos séculos XVIII e XIX. Destarte, a co-
missão achou de imperativa necessidade lançar mão das soluções
suspensivas propiciadas pela lição chamada conservadora, em inú-
meras situações do texto crítico ora estabelecido. Com isto, o
cânon fuachadiano que se inicia poderá vir a assumir uma feição
diferente da que tem agora, neste primeiro volume. ~ que a
ELEMENTOS DE BIBLIOLOGIA 297

lição conservadora só se justifica - é mesmo imperativa - en-


quanto não se obtém internamente a opção crítica, distintiva,
preferencial. Essa opção poderá vir a ser propiciada, na medida
em que se aprofundar a pesquisa analítica da ob-ra, inclusive na
.sua . historicidade. Algumas observações, entretanto, devem ser
· feitas para a melhor compreensão do conceito de lição conserva-
dora.
6 .4. 3 .1.1 As seguintes ordens de fatos principais de dificul-
dades parecem dever ser vencidas para que se consiga a resolução
de uma série de dúvidas suscitadas pelo problema do estabeleci-
mento do texto do autor: (a) sua linguagem não apresenta, de
modo nenhum, uma fisionomia uniforme, estável ou coerente; de-
corrência do seu caráter eminentemente criador, decorrência de
ser expressão, veículo e instrumento de um psiquismo solicitado
por múltiplas camadas sociais, culturais, profissionais, decorrên-
cia de seu convívio com tôdas as fases literárias da língua, de-
corrência de sua convivência com indivíduos de áreas as mais
diferenciadas do português do Brasil, e de Portugal - de onde
provinha uma das mais prestigiosas criaturas do seu cotidiano, a
partir de certo momento de sua vida, DONA CAROLINA - , essa
linguagem é flutuante num mesmo tempo, é diferenciada através
dos tempos, modifica-se, varia; seria insensato procurar, destarte,
uma forma preferencial, ainda que existente, para adotá-la com a
proscrição das formas concorrentes : procurar - repitamos sempre
- uniformidade em situação assim configurada é dar uma visão
imobilista, estática, parada, de uma linguagem que, por certo, se
diversificou consideràvelmente; (b) grande criador literário, quan-
titativa e qualitativamente, grande esmiuçador do seu instrumento
de expressão, grande estudioso do mesmo, é natural que êsse ins-
trumento, ao longo de mais de quarenta anos de aperfeiçoamento
e perfectibilização, tenha encerrado tendências que se entrecho-
cavam violentamente num tempo e através dos tempos - ten-
dências arcaizantes contra tendências inovadoras, tendências lusi-
tanizantes contra tendências brasileirizantes, tendências eruditas
contra tendências populares, tendências à observância passiva das
regras puristas contra tendências da libertação dessas ·regras; de
nôvo, tudo isso milita contra ·a posse, vivência e domínio de
expressão e de linguagem com feição uniforme, incontroversa, de-
finida, optada, razão por que nada mais natural é do que admitir
que no autor conviviam elementos lingüísticos sincréticos e formas
díspares concomitantes, sobretudo quando o conceito da norma e
do cânon gramatical se fazia mais e mais purista, exigente e pea-
dor das possibilidades lingüísticas, mormente para fins de criação
298 ANTÔNIO HOUAISS

literária; (c) escrevendo a partir de um momento em que o ro-


mantismo ainda florescia até um momento em que o regionalismo-
repontava, atravessando, pois, um período de realismo-parnasia-
nismo, MACHADO DE Assis sai de um período de características
lingüísticas algo indisciplinadas para um período em que a gra-
maticalização da língua chega a atingir o bizaBtino e o cerebrino i
nesse longo período há uma larga tarefa de pesquisa da língua
literária por fazer, em relação aos padrões praticados e os teori-
camente admitidos, prática e teoria que se vão gradativamente
mudando no interregno da vida útil do autor: o conhecimento·
dêsses padrões está por fazer, ainda, de forma satisfat6ria, de
modo que certas características de época, do autor, de lapso de·
tempo na vida do autor, s6 poderão ser mais bem percebidas e
apreendidas e compreendidas na medida em que tais padrões fo-·
rem sendo estudados.
6 .4. 3 .1. 2 Numa conjuntura lingüística e literária como a·
delineada assim, o estabelecimento de um texto crítico do autor,
com absoluta idoneidade, exigiria condições que s6 gradualmente·
serão preenchidas: (a) em lugar de se estabelecer o câ.non cronolo-
gicamente, com tôdas as variantes válidas, desde o primeiro tra--
balho literàriamente considerável até sua última produção -
foi-se ob-rigado a aceitar a divisão da tarefa, e sofrer os riscos de·
sua publicação parcelar, o que significa que, ao meio ou ao cabo·
dos trabalhos, a comissão venha a reconhecer que outras soluções
poderiam ter sido tomadas para as dúvidas pendentes ou perdu-
rantes i (b) em lugar, de ·outro lado, de procurar estabelecer o
cânon poético antes do da prosa, câ.non aquêle que deveria pre--
sumivelmente dar a chave para um sem-número de dúvidas voca-
bulares quanto aos aspectos fonéticos e fonol6gioos - foi impe-
rativo adotar um planejamento de trabalho em que, também, se-
ensejasse uma fase de adestramento dos colaboradores nas tarefas.
da edição crítica dês te tipo i (c) em lugar, por fim, de principiar
a editoração propriamente dita ao cabo de tôda a tarefa feita -
foi-se obrigado a aceitar os riscos da publicação gradual, à medida.
que fôssem sendo aprontados os volumes, o que os eiva, inevità-·
velmente, de uma forte dose de perfectibilidade, não apenas a
perfectibilidade intrínseca a tôda obra de homem, senão que a
perfectibilidade que a pr6pria comissão poderia imprimir aos seus
pr6prios trabalhos, se acumulados os elementos de convicção para,.
apenas ao fim, estabelecer as soluções.
6. 4. 3 .1. 3 A êste último respeito, entender-se-á bem o alegado-
se se considerar que está nos planos da comissão dicionarizar
exaustivamente tôda a obra de MACHADO DE ASSis; que está nos.
ELEMENTOS DE BIBLIOLOGIA. 299

seus planos levantar sua gramática, em tôdas as particularidades


possíveis; que está no seu plano, inclusive, proceder a alguns, pelo
menos, estudos estilísticos relativamente exaustivos, na base do
material carreado naquela conformidade. É claro, de outro lado,
que se estas Mem6rias Póstumas de Brás Cubas viessem, no estado
em que se acham, ante os leitores, neste volume, a entrar em
quarentena, para que, ao cabo do trabalho conjunto, se voltasse
e elas, .a fim de . dirimir as dúvidas com que são ora oferecidas ao
público - é claro que, nestas condições, seriam elas estampadas
~om as características melhores que a comissão lhes poderia im-
primir. Mas isso seria, também, diferir, no tempo, o lançamento
dos volumes, com os riscos que tal decisão encerra. Ademais,
nm ponto importante milita em favor da publicação parcelar ime-
diata. É que, assim, serão propiciadas as melhores oportunidades
para que se exerça nma crítica fecunda aos trabalhos da comissão,
~rítica que, em última análise, s6 poderá ter repercussão benéfica
sôbre o conjunto da tarefa. Esta razão é, destarte, tão ponderá-
vel, que ela s6 por si bastaria a sobrelevar às demais em contrário.
S6 assim, repitamos, tôda. a erudição crítica brasileira e estran-
geira poderá ir trazendo suas luzes, permitindo, assim, que a obra
venha a beneficiar-se do esfôrço não apenas dos integrantes da
comissão.
6.4.3.1.4 Tais, em conjunto, as .razões que determinaram a
adoção consciente, por parte da comissão, da chamada lição con-
servadora, em todos os casos em que a crítica textual fôsse con-
troversa, duvidosa, equívoca, insegura, optativa, ambígua. Uma
versão textual conservadora não é um texto diplomático, que
supõe a reprodução ipsis verbis litterisque, com as mesmas pala-
vras e letras, ou quase, da edição de- base (na tradição impressa)
ou dos autógrafos - os escritos do próprio punho ou os escritos
aprovados com os próprios olhos do autor - ou dos apógrafos -
as cópias alheias dos autógrafos. Uma versão textual conserva-
dora deve, necessAriamente, (a) simplificar o revestimento gráfico,
a ortografia, do texto-fonte, mas de tal arte que não se traia
·nenhum fato lingüístico propriamente dito, subjacente ou super-
jacente na ortografia que se simplifica; dêsse modo, todos os
valôres ·realmente diferenciais, bem como todos os valôres poten-
cialmente diferenciais de fatos lingüísticos que existiam por baixo
e por cima da ortografia original devem ser respeitados e, por
conseguinte, nos casos duvidosos, o mesmo critério se seguirá, e
com maior razão ; (b) corrigir os chamados erros óbvios, isto é,
aquêles que, como já o lembramos acima, numa paráfrase da
fórmula de LoUis HAVET, são erros em que o leitor não atenta,
300 ANTÔNIO HOUA.ISS

numa leitura espontânea, tão óbvia é a lição verdadeira que nü


está impressa; (c) conservar tôdas as formas duvidosas, desde que
passíveis de uma interpretação satisfatória, ainda que algo inve-
rossímil.
6.4. 3 .1. 5 O presente texto crítico beneficia-se, por conse-
guinte, dos recursos da lição conservadora. O critério é triplica-
mente justo, parece-o à comissão : (a) a lição conservadora, encer-
rando a potencialidade de duas ou mais interpretações para 08
valôres lingüísticos nela conservados, sugere também a disputa,
discussão crítica em tôrno da necessidade de ser ela seguida, a
cada caso ~oncreto ; isso promoverá, espera-o a comissão, uma
intensificação de certas pesquisas em certas direções e sôbre certos
assuntos concretamente sugeridos · pelos textos de certos· autores
que inserem sua atividade criadora precisame~te numa fase im-
portante de nossa formação e evolução literárias, que, exatamente,
encerram certas obscuridades, do ponto de vista de sua história ;
(b) a lição conservadora constitui, por si mesma, uma direção para
a coleta sistemática de todos os dados que, a respeito, puderem ser
respigados no autor, sendo, por isso, um . momento de solução
suspensiva nos trabalhos da comissão, solução que, ao cabo, poderá
ser no sentido de confirmar a forma da lição conservadora, ou
infirmá-la; confirmando-a, a lição conservadora deixará de ser
conservadora, ipso facto, pois a confirmação deverá ser excludente
de tôdas as potencialidades liJigüísticas menos uma ; infirmando-a,
a infirmação levará a outra lição crítica, com outra fol'ma; (c)
a lição conservadora, sendo aquela que corresponde a um revesti-
mento gráfico cumulativo de diferentes potencialidades, é também
a lição definitiva quando o cumulativo é intrínseco ao valor lin-
güístico usado no texto.
6 . 4. 3 .1. 6 Duas palavras finais sôbre êsse conceito crítico-
textual tão necessário aos trabalhos, nesta altura de seu desenvol-
vimento. A lição conservadora é, essencialmente, a versão textual
original, atualizada ou modificada criticamente apenas naqueles
particulares cujas atualização ou modificação externas, gráficas,
extrínsecas sejam incontroversas e - tanto quanto se possa ante-
cipar -, incontroversíveis como lição conservadora. Controvérsia
- e controvérsia desejável, no caso - será a de que tal lição
conservadora concretamente não tenha razão de ser, porque tais
e quais fatos militam por uma solução determinada não conser-
vadora. Onde puder haver dúvida quanto aos valôres lingüísti-
cos propriamente ditos de um revestimento gráfico, nesse caso o
revestimento gráfico deverá ficar respeitado. :Qste, precisamente,
não quer definir uma opção, pelo contrário, define a ausência -
ELEMENTOS DE BIBLIOLOGIA 301

provisória - de opção. Por exemplo, mantida a versão textual


de producção, com essa lição conservadora quer-se, precisamente,
dizer que não se opta entre (a) produção sem o grupo consonânti-
co [ks] ou (b) produção (com o grupo, consonântico em aprêço).
O que se quer, com isso, é reconhecer o princípio essencial da
.historicidade, da individualidade e da personalidade que existe
no fenômeno social da linguagem - e das línguas, e de uma
língua -, cuja norma, com isto, não se quer impugnar, desco-
nhecer, invalidar, menosprezar. A norma, ao contrário, emerge,
nessas condições, como necessidade da própria luta da individua-
lidade e personalidade dentro da historicidade. A norma passa,
também, a ser o ponto de referência implícito para a aferição do
funcionamento do fenômeno lingüístico no plano literário, por seu
sistema, que se equilibra e concretiza como língua e como fala,
como língua e como discurso, como língua e como estilo. Todos
os casos de lição conservadora são, por conseguinte, dúvidas não
dirimidas pela comissão neste estág!o dos seus trabalhos, dúvidas
perdurantes, em suma. A comissão nutre a esperança . de que, se
não tôdas, pelo menos a grande maioria dessas dúvi9-as serão
dirimidas no correr dos seus trabalhos - para o que apela, . in-
clusive, para os estudiosos que não a integram. Por essa razão,
acha imperativo relacionar todos os casos dessa natureza existentes
no texto crítico que ora apresenta, á. fim de que, de futuro,
qualquer solução de qualquer dúvida aqui consignada possa ser
adotada, sem maiores tropeços para a sua localização, por parte
de quantos quiserem beneficiar-se do presente texto crítico -
eruditos, críticos, estilistas, professôres, editôres, lexicógrafos,
estudiosos e leitores em geral.
G.4. 3. 2 Com relação à pontuação, seguiu-se, fielmente, a
prescr1çuo do critério geral, enunciada em 6.4. 2. 6. E' seguiu-se
porque aquela recomendação se revelou absolutamente procedente.
Matéria que merece ser estudada longamente, para fins de · apro-
fundamento do sistema rítmico da prosa de MACHADO DE Assrs, a
sua pontuação, entretanto, é atualíssima, no sentido de que se
exerce onde o cânon geral da pontuação hoje vigente o autoriza,
.ao mesmo tempo que deixa de exercer-se onde também o cânon
em causa lhe faculta a opção. No jôgo dêsse equilíbrio entre o
obrigatório e o facultativo e o optativo, a pontuação do autor
assume aquela feição pessoal que todos os observadores lhe re-
conhecem. Mas esta edição propicia .a vantagem aos estudiosos
de lhes oferecer tôdas as variantes entre as diversas edições váli-
das das Memórias póstuma-s de · Brás Cubas, variantes que reve-
lam, numa primeira aproximação, notável evolução de hábitos
302 ANTÔNIO HOUA1SS

entre a tradição A + B e a tradição C + D, evolução que, sus-


pectivamente, pode dar a chave de certos aspectos do sistema
rítmico-melódico pessoal do autor. Aqui nos permitimos chamar
atenção para os seguintes lugares do texto crítico relacionados
com o problema da pontua~ão, lugares que, por excepcionais,
representam precisamente pontos de fratura da regularidade :
1) § 190 : "olhando para a porta, vi na calçada, três dos
correeiros"; normalmente, o autor observa a não separação por
vírgula do ob:jeto direto posposto ao verbo : observa também, fa-
cultativamente, a intercalação entre verbo .e objeto direto por du-
pla vírgula; destarte, dentro do sistema que segue, seria de esperar
"vi. na calçada, três dos correeiros" ou, comó corrigiu O, "vi na
calçada três dos correeiros"; não se tratando de ocorrência única
do tipo, achou-se prudente seguir a lição conservadora, pois alte-
rá-la seria optar por uma solução das possíveis soluções rítmicas;
2) 194: "o capitão, que junto à amurada, tinha os olhos
fitos"; a lição é sem variante e mesmo O a respeitou; a separação
do sujeito do verbo, mesmo havendo intercalação, por uma só
vírgula é episódica no texto, mas ocorre, razão por que se respei-
taram os exemplos, em lição conservadora;
3) 235: "soluçava a pobre senhora apertando-me ao peito";
as or~ões reduzidas de gerúndio funcionam, ao que parece, no
seu sistema de pontuação, como verdadeiros advérbios, ficando-lhe,
destarte, aberta a possibilidade rítmica e melódica de inserir uma
pa.usa com entonação ascendente - "soluçava a pobre senhora,
apertando-me ao peito" - ou não fazê-lo; o autor, quando não
o faz, é que, de regra, a oração reduzida de gerúndio é de ação
concomitante com a da or~ão .a que se refere;
4) 249: "e se não chegares a entendê-la, podes concluir
que"; a interpretação canônica é de que a conjunção e é o co-
nectivo pertencente à or~ "podes concluir"; destarte, a inclu-
são da oração condicional deveria aparecer marcada por dupla
vírgula, a final, lá posta, e uma anterior, após o e; a omissão
parece ser do autor, numa tendência a observar o fato rítmico e
melódico mais do que a convenção lógico-gramatical;
5) 321: "logo que esgotámos, o último gole"; A e B não
trazem a vírgula, o mesmo acontecendo em O, mas por resolução
autônoma, é de supor; trata-se da separa~ão do verbo do . objeto
direto, mas sem elemento intercalado ; a vírgula é tão ostensiva
e clara na tradição C+ D +F' + G, que sua continuidade não
foi, pelo menos, objeto de sanção negativa do autor, que se exerceu
nessa tradição nuns poucos casos;
ELEHlllNTOS DE BIBLIOLOGIA 303

6) 335: 11 Ora aconteceu, que, oito dias depois": a vírgula


entre o verbo e a conjunção integrante, sem elemento intercalado,
não se enquadra na generalidade do sistema do autor; ·importa,
-entretanto, lembrar que o capítulo "O caminho de Damasco" é,
pelo menos no início, de sabor bíblico, o que explica aquela pon-
tuação não diremos arcaizante, mas arcadizante;
7) 349: 11 mas a doença e uma velhice precoce, destruíram-
lhe a flor das graças"; está-se, aparentemente, em face de caso
comparável ao (2) supra; importaria, entretanto, considerar aqui
~ valor incontroversamente expressivo desta pontuação;
8) 378: "stigmada pelo mesmo flagelo, que devastara o rosto
da espanhola"; geralmente & autor observa a distinção melódica e
lóg:co-gramatical entre as orac.:ões adjetivas explicativas, que põe
entre vírgulas, e as restritivas, em que não .o faz - isso como
enunciação genérica; há episódicas inobservâncias, mas sensivel-
mente não acidentais, senão que expressivamente deliberadas;
9) 4)36 : "mas veio um dia, em que; estando a rumiD.ar êsses
e outros pontos obscuros de filosofia, atinei"; ver o caso (8)
supra;
10) 458: "Mas se fôsse rico, o meu dever fica.ra o mesmo";
ver o caso ( 4) supra;
11) 642 : "exclamou a boa dama alçando as mãos para o
te cto" ; ver o caso ( 3) supra;
12) 646: "e, depois de o· despedir, chorou muito"; é a lição
de C+ D, proveniente de uma de A + B "e depois de o despedir
chorou muito", que corroboram ambas o mecanismo, quando
regular, apontado em (4) supra;
13) 664: "depois veio a mim, que estava sentado, deu-me
pancadinhas na testa, com um só dedo, a repetir ; - Isto, isto ; -
e eu não tive remédio senão rir também"; é a lição de A, B, C,
D, F, G; O interpreta, mais verossimilmente, pondo do~s pontos
depois de "repetir";
14) 708: "replicou êle daí a um instante. - E depois de
outro silêncio: - Seja como fôr"; o primeiro travessão é inusi-
tado, nes!!a função no autor; talvez chegue a ser, no respeito, um
caso único no romance, hápax de pontuação no romance; nada
impediria, pois, que fôsse trocado. por ponto (pois tal troca, em
qualquer caso, não redundaria em modificação do valor da pausa
nem da entonação aí existente); ver, também, o número (14) f'm
6 . 4.3.2.1, infra;
15) 733: " por motivo que só lhe disse, a ela, pedindo-lhe";
·~mas em suma, é motivo poderoso para mim"; o primeiro exemplo
t em como variante, em A + B, "por motivo que só disse a ela",
304 ANTÔNIO BOUAISS

variante que explica a forma enfática do texto definitivo ( expres-


são talvez de um diálogo interior do autor, respondendo a objeção
de si mesmo); o segundo exemplo é comparável ao caso (10),·
supra;
16) 738: "~ste era o caso do Lôbo Neves com o acréscimo
da dúvida e do terror de haver sido ridículo",· exemplo que pro-
vém de uma lição anterior, de A + B, em que havia ponto e
vírgula depois do nome próprio; como ficou, é segmento fônico-
visual inusitadamente longo no autor, pelo menos nesse romance;
a razão provável é que tivesse trocado o ponto e vírgula por
vírgula, tendo esta ido de cambulhada; a vírgula, aí, satisfazendo
o lado visual, satisfaria também a marcação da entonação ascen-
dente no trecho final da pr6tase, inicial da apódose;
17) 753: "Ela era menos escrupulosa que o marido: ma-
nifestava claramente as esperanças que trazia no legado, cumu-
lava"; é lição que provém de A + B, em que, em. lugar dos dois
pontos, ocorre ponto e vírgula; a mudança da pontuação no caso
serve para mostrar - a mero título de ilustração em meio a
vários outros - a equivalência rítmico-melódico dos dois sinais,
mais a diferença de valor psicológico entre os dois, do ponto de
vista visual ;
18) 753: "a palavra doce, a mesma fraqueza física dão à.
acção lisonjeira da mulher, uma côr local, um aspecto legítimo";
a pontuação aí, do ponto de vista do cânon lógico-gramatical, é
violentada pelo menos no . não incluir a primeira vírgula do ele-.
mento intercalado entre "dão" e "uma côr local"; mas, se se
admitir a entonação ascendente depois do sujeito, normal dada a
sua extensão, nesse caso a pontuação é, aí, predominantemente,
senão que exclusivamente, rítmico-melódica : "a palavra doce I
a mesma fraqueza física I I dão à acção lisonjeira da mulher I
uma côr local I um aspecto legítimo "-";
19) 809 : "eu fujo ao Damasceno que me espreita ali da
porta do camarote"; seria o caso apontado em (8) e (9), supra;
aqui, no entanto, ou a função explicativa é óbvia ou a função
restritiva é deliberadamente suscitada para fins de humor ou
ironia;
20) 845: "Mas depois f que ia acontecer em casa de Vir-
gília f matá-la-ia o marldo f espancá-la-ia f encerrá-la-ia T expul-
sá-la-ia T"; o exemplo é perfeita amostragem de um traço muito
do autor, no regime do uso das letras maiúsculas, depois do ponto
de interrogação, mormente se se leva em conta a variante de
A+ B em que a pergunta depois de "Virgília" é formulada com
uma inicial maiúscula; é, assim, claro que o autor pode distinguir
ELEMENTOS DE BIBLIOLOGIA 305

três níveis de interrogação extensa: (a) "Mas depois, que ia acon-


tecer em casa de Virgília, matá-laqa o marido, espancá-la-ia, en-
cerrá-la-ia, expulsá-la-ia f"; (b) é o do exemplo do caso vertente;
(c) "Mas depois f Que ia acontecer em casa. de Virgília f Matá-
la-ia o marido f Espancá-la-ia f Encerrá-la-ia f Expulsá-la-ia f";
o veio expressivo potencialmente distintivo é evidente, embora o
poder expressivo decorra de textos e contextos;
21} 847: "Se êle estiver em casa não entro"; é associável
ao caso (3), supro, no sentido mais amplo de que as orações
adverbiais são potencialmente tratadas como advérbios, cuja se-
paração fica, assim, optativa, condicionada a fatos expressivos;
22) 855: "~sse puxar e empuxar de cousas opostas, dese-
quilibrava-me"; é, também, fato associável ao caso (7), supro,
por semelhança, e ao caso (18), supra, por contraste;
23} 897: "todos os sentimentos belicosos, são os mais ade-
quados à sua felicidade"; é lição que tem variante, 'de A + B,
sem vírgula; .é associável ao caso (22),· supro;
24) 900: "essa predisposição, é que constitui a base da ilu-
são humana''; enquanto o caso (23) supra ocorre em discurso
direto de Quincas Borba, êste, em situação comparável, é de dis-
curso indireto, ou, melhor, de discurso indireto aparente, também
de Quincas Borba - em situação demonstrativa dos méritos do
Humanitismo, com certo calor e cer:ta ênfase magistral;
25) 1001 : "O Ministério, não s6 lhe parecia excelente" ;
discurso indireto em que a argumentação sôfrega do personagem
- o Cotrim - é expressa com ênfase; é o caso (24) BUpro, que
remete ao (22) e (23) supra;
26) 1012: "Não esqueças que, sendo tudo uma irradiação
de Humanitas, o benefício e seus éfeitos, são fenômenos perfeita-
mente iguais" ; é discurso direto de Quincas Borba, nas mesmas
condições de (24) supra;
6. 4. 3. 2.1 Porque conexo principalmente com os fatos de
transmissão tipográfica da pontuação, nas condições do trabalho
em caixa m6-rel ou em monotipo, e porque antecipados em 6. 4. 2. 6,
in fjM, são a seguir referidos, como ilustração, os casos consigna-
dos de acidente de fim de linha, já na tradição A + B, já na
tradição O + D + (E) + F + G:
1) § 5: O traz "achar nêle", contra a lição de  + B e do
contexto; D corrige para a boa lição "achará nêle", correção que
consiste em inserir o á no branco vazio de fim de linha ; não se
trata de questão de pontuação, é claro, mas de fim de linha em
geral;
~06 ANTÔNIO HOUAISS

2) 19: A e B trazem "bom caráter I meu pai", indicando


;a barra oblíqua fim de linha onde falta a vírgula; a boa lição,
entretanto, não foi restaurada conjecturalmente, mas na base da
~le"C + D;
3) 90: em F'+ G, "a um bispado ... verdade, um bispado";
'contra a li«:ão "a um bispado... É verdade, um bispado"; o
É caiu precisamente em fim de linha e de página, deixando o
branco que lhe corresponde vazio ;
4) 135: "os rapazes. Era filha"; em C + D + F' + G o
ponto não aparece, em fim de linha;
5) 272 : · A + B "Mata-cavalos" (em meio de linha) ; C +
D + F' + G "Mata-/cavalos" (em fim de linha, que se marca
com a barra oblíqua); O "Matacavalos" presumível má leitura
tipográfica daquela divisão; a boa leitura advir ia de uma divisão
do tipo "Mata-l-cavalos");
6) 318: A, B "imediatamente desço I ainda que"; no lo-
eal barrado, fim de linha, falta a vírgula, restaurada a partir
de C; ·
7) 324 : "para não lhe pergun/ tar" ; o local barrado é fim
de linha onde falta o traço de união;
S) ~4: "ficar com a prata; eu· ia dizer"; F' e G não têm o
poato e vírgula, que caiu em fim de linha ;
~) 435: "alguma cousa, corria", A, B não trazem a vírgula,
em fim de linha;
10) 435: "algum trabalho novo, e eu dizia-lhe"; O não traz
a vírgula, que coincide com o fim de linha, mas note-se que B,
embora reimpressão de A, corrige a omissão ; a êste ;respeito, ver
4.39;
11) 599 : "o que era, falavam, olhavam" ·; na tradi~:ão ini-
ciada em C, a segunda vírgula falta, mas em fim de linha;
12) 609: na tradição' A + B, A traz "fugirmos, insinuei",
contra B "fugirmos, insinue"; mas o i falta em fim de linha,
com o branco correspondente vazio;
13) 706: A + B "interrupção, por que eu andava"; lição
divergente da tradição de C, com "porque"; esta é preferível,
porque naquela a palavra está dividida em "por I que" em fim
de linha, fim em que teria, eventualmente, caído o traço de união,
come em(7) supra;
14) 708: A, B, C, D, F, G "replicou êle daí a um instante
- E depois de outro"; apesar de tratar-se de duas composições
tipográficas, iniciadas em A e C, respectivamente, coincidem em
terminar, apertada, a linha em "instante - ", podendo, assim, a
.falta de ponto correr à conta, aí, dêsse fim de li;nha; o que ex-
ELEMENTOS DE BIBLIOLOG 'IA 307

J>licaria o caso an~malo comentado no número (14) de 6.4.3.2,


sttpra;
15) 806 : em .A as três primeiras linhas dêsse parágrafo ter-
minam por "com I aventu- I afinal"; em B, o l que termin~
a . terceira se deslocou para a primeira, de modo que as três pri-
meiras passaram a terminar por "comi I aventu- I afina";
16) 991: .A "espirituais; e I conquanto a minha"; no lu-
gar indicado por barra, fim de linha, falta a vírgula ; B pôde-
incluí-la (não esquecer que A + B), porque a linha em causa
era folgada ;
17) nesse mesmo parágrafo 991, há uma lição da tradição-
iniciada e~ C - "E, chapéu, na cabeça, bengala, sobraçada" - ·
que tem ~ma vírgula visivelmente louca; adiante há outra liçã0o
- "Porquanto o facto da morte limita" - com falta, em face de·
A, B, de1 vírgula depois de "Porquanto", falta em fim de linha;
o' tipo móvel, caindo, foi pôsto sôbre o paquê a que pertencia,
algo folgado, para depois ser devidamente localizado; e entrou
onde não devia ... ; -
18) o leitor é convidado a ver, também, lls observações que,
sôbre f:m de linha, ocorrem em 812, 871, 900 e 998.
6 . 4. 3. 3 Como previra o critério geral, em 6 .4. 2. 7, a separa-
ção vocabular do autor é, no essencial, atualíssima, havendo, en-
tretanto, a recomendação de que fôsse respeitada onde discrepasse.
A comissão acha procedente o critério porque está convencida. ·
de qne ainda não se tiraram as ilações que podem decorrer df'·
um estudo sistemático da separação vocabular, do ponto de vi~ta .
histórico, comparativo e estilístico, para o aprofundamento dos ;
problemas rítmicos e, eventualmente, melódicos na língua. Mo--
dernizar os pontos em que MACHADO DE Assrs não é atual pode ·
signifillar. por acaso, a escamoteação de elementos factuais para
aquêles tipos de estudo, no autor. ·Seguiu-se, portanto, a lição·
conservadora, salvo observação em contrário, o que se verifica
com as palavras abaixo relacionadas, acompanhadas dos locais em
-que ocorrem:
' 1)afim (conjunção): 713, 826;
2)amor-próprio: 861;
3)amor-paixão: 951;
4)anjo-cantor: 479;
6)anti-asmáticas: 768;
6)anti-gregos: 868;
7)anti-hig~ênicos: 963;
8)beija-flor: 334;
9)bem-aventurança: 340 (ver, entretanto, a explicação noo
aparato);
10) bem-estar: 632;
308 A N T Ô N 1'0 H OU AI S S

11) bom tom: 919;


12) capitão-mor: 786;
13) castelo-feudal: 24;
14) cõr de rosa: 604, 912;
16) de certo: 49, 66, 334, 927;
16) de mais: 233, 842;
17) de vagar: 639, 963;
18) embaixo: 622;
19) em quanto: 67, 220, · 496, 622, 898;
20) enquanto: 74, 167, 187 (não se esgota a exemplifi-
cação);
21) guarda-sol: 917;
22) hade: 478, 821, 822: (adotamos "há-de");
23) heide: 826: (adotamos "hei-de");
24) há de: 910, 1011;
26) juiz de fora: 118;
26) Jogar-comum: 2392;
27) meio dia: 696, 814;
28) mil réis: 466;
29) obra-prima: 998;
30) papa-fina: 786;
31) pé-rapado: 786;
32) porque (= por que): 66, 72, 110, 120, 121, 166, 197,
233, 816, 827, 366, 432, 468, 494, 4962, 694, 669, 660, 670,
706, 720, 721, 729, 816, 848, 860, 8662, 982, 1012;
33) por que: 324, 366, 487, 942, 943 (nio se esgota a
exemplificação);
34) sargento-mor: 226;
36) segunda-feira: 886;
36) semi-demência: 1042, 1048;
37) se nio ( = senio) : 72 (não se esgota a exemplificaçio) ;
38) senão: 133, 811, 8442 (nio se esgota a exemplifieaçio);
89) sexta feira: ·8;
40) sub-gregos: 868;
41) têrça feira: 98;
42) Ursa-Maior: 269;
43) ventrfloco-cerebral: 946;
44) vira-volta: 814.

6.4.3.4 A parte relativa à ortografia prõpriamente dita -


para continuarmos a glosa das seções do critério geral, que no
caso são as de 6.4.2.8, 6.4.2.8.1, 6.4.2.8.2, 6.4.2.8.3, 6.4.2.8.4,
6.4.2.9, 6.4.2.10, 6.4.2.13 - oferece alguns aspectos que me-
recem referência aqui.
6.4.3.4.1 CoJil relação ao tópico 6. 4. 2. 8 .1, notemos alguns
exemplos:
a) 489: "tachava", que provém de um "taxava", e~ A,
B, C, D, F, G; trata-se de distinção sabidamente semi-histórica,
a rigor distinção de hom6fonos para fins semânticos; essa distin-
ção parece não ser de MACHADO DE AssiS; esclareçamos: o voca-
bulário de MACHADO DE AssiS comportava, com uma s6 forma, as
ELEMENTOS DE BIBLIOLOOIA 309

duas noções semânticas básicas de "manchava" e de "impunha


lcobrava] taxas, emolumentos";
b) xícara : 852, 972 (no original "chícara") ;
c) "musulmano": 938 e 1037; não foi, logicamente, grafado
"muçulmano"; no primeiro exemplo, tanto a tradição de A + B
quanto a de a + D traziam a mesma forma, a adotada no texto
crítico; no segundo exemplo, a tradição de A+ B trazia "mussul-
mano", que a e derivados corrigiram para "musulmano"; nada
autoriza a supor gratu!dade nessa preferência; cêrca de quarenta
anos antes e cêrca de quarenta anos depois, GONÇALVES Das e
LIMA BARRETO grafavam - quando não sistemAticamente, pelo
menos preferentemente - "musulmano", que cremos ser grafia e
pronúncia galicista, com o -s- intervocálico- sonoro•;
d) o grupo intervocálico -se- bem como o grupo -'zc- mere-
cem extremo cuidado no tratamento crítico porque parecem, am-
bos, essencialmente dois latinismos gráf.icos ; como seqüências fô-
nicas, a linguagem popular talvez não possua, em nenhuma situa-
ção (nem mesmo intervocabular), em nenhuma parte e em nenhum ·
nível, uma sibilante surda seguida de outra sibilante surda, salvo,
com relativa modernidade, no português padrão de Portugal, em
que formas como nascer, descer são pronunciadas, figurativa-
mente, nas-cer, àes-cer (com decorrências conhecidas do tipo, fi-
gurativamente, naz-cer, àez-cer, . bem como nazer, dezer); no
Brasil, tanto quanto até agora se saiba, êstes últimos fatos não
existem; no plano da linguagem culta tampouco, sendo de regra
reputados hiperurbanismos, ou, se quiserem, ultracorreções formas
como, figurativamente, nas-cer, des-cer (que, entre nós, na área
carioca, pelo menos, assumem, pela determinação "cultista", for-
mas como nais-cer, deis-cer) . Presuntivamente, o padrão portu-
guês é um refazimento, uma restauração por influência gráfica,
podendo o fenômeno vir a ter curso também no Brasil ; exatamente
por êsse motivo, é da maior necessidade observar a grafia adotada
pelos autores. GoNÇALVES Das grafa, por exemplo, freqüente-
mente n.acer, em que se deve, está claro, ver uma indicação in-
concussa de pronúncia. MACHADO DE AssiS, entretanto, neste ro-
mance, desde A (1881), observa fielmente a grafia latinizante
(sem que se possa, nem remotamente, daí supor que sua pronún-
cia marcasse duas sibilantes surdas sucessivas). Ponto importante
para a história da pronúncia padrão do Brasil e de Portugal, a
fiel observância da grafia originária, nesses casos, é achega que
0
( ) Grafamoe, entretanto, "muçulmano", em 897, porque provém,
Eem variante de A, B, C, D , F , G "mussulmano", sintoma de provável
flutuação de pronúncia.
310 ANTÔNIO HOUA!::H:>

poderá contribuir para o esclarecimento dessa particularidade;:


'1'ão, em conseqüência, exemplos, em c6pia relativamente abun-
dante, embora não exaustiva, da prática de MACHADO DE Assr~
com os grupos gráficos intervocálicos em causa (os verbos vão no
infinitivo ; os nomes vão, quando possível, no masculino singular) :
1) desvanecer: 183;
2) acrescer: 233, 963, 992;
3) acrescentar: 113, 236, 332, 452, fi54, 577, 654, 746, 749,
798, 913, 930, 960, 967, 969, 1000, 1025;
4) acréscimo: 7382, 802;
5) adolescência: 104;
6) ascetismo: 852;
7) crescer: 992, 472, 820, 870, 899;
8) crescimento: 472;
9) Damasceno: 914 et passim;
10) descer: 140, 169, 187, 294, 295, 296, 313, 3182, 329,
331, 332, 336, 338, 399, 712, 7443, 759, 787, 855, 858.
901, 916, 9552;
11) descida: 318, 328, 335;
12) discernir: 280, 851;
13) efervescência: 995;
14) excelente: 452, 1039;
15) excelso: 437;
16) excêntricos: 172;
17) excepção: 848, 957;
18) excepcional: 614, 981;
19) excepto: 786, 787;
·20) excitado: 536, 565', 587;
21) excitar: 106, 897;
22) fascinação:· 270, 613, 654;
23) fascinar: 68, 1742, 569;
24) florescer: 18 (mas A - B "floreceu");
25) lascivo: 69, 340, 487;
26) nascença: 323;
27) nascer: 89, 103, 109, 145, 472, 85S, 896, 899;·
28) obscenidade: 104;
29) rejuvenescência: 956;
30) renascença: 238;
31) rescendente: 236;
32) víscera: 899.

6.4. 3.4. 2 Com referência ao tópico &. ..4. 2 .&.2,. notemos, tam-
bém, alguns exemplos, o primeiro dos quais o fato de não se ter
achado de modo nenhum relevante lingiüsticamente, na fase da
língua, na área e no autor, a distinção gráfica entre -o e -u átonos
finais, entre -e e -i átonos· finais donde' havermos desconsiderado.
casos como "tribu", tornado "tribo" (438), e "quasi", tornado
"quase" (passim) :
a) com relação à flutuação da pretônica e/i, malgrado certa
tendência a ver nela apenas um sintoma1 d'e fustabilidade gráfica
J!!LEliENTOS DJ!I BIULIOLOGIA 311'

quo traduzisse, essencialmente, luta de convenções ortográficas,.


há razões para supor que, quando não na totalidade dos casos,
por certo em um grande número dêstes a flutuação em causa·
tem raízes mais profundas, ·embebendo-se em um ou mais dos.
seguintes motivantes: (a) opos!ção entre a convenção ortográfica·
tradicional, praxista, consuetudinária, e a pronúncia real; (b) con-.
comitância de dois tipos de pronúnc:a, uma inovante e outra ar-
caizante; (c) concomitância de dois tipos de pronúncia, a tradicio-.
nal transmitida oralmente e a "restaurada" sob a influência da.
representação gráfica; (d) concomitância de uma. pronúncia culta
. contra uma pronúncia popular, aquela quase sempre mais próxima
da representação literal, sobretudo porque nela prevalecem feixeS<
do oposição baseados, fonolõgicamente, na distinção do tipo "emi-
grar/imigrar", "deferir/diferir"; tais concomitâncias, que se ma-
nife.otam num indivíduo, podem, entretanto, ser expressão de con-.
vicções ou .tendênc!as de grupos dentro da deriva fonética popu-
lar da área ou da língua; destarte, apesar de que, do ponto de·
vista da história da língua no seu aspecto macroscópiro, muitas
das flutuações consignadas tenham tido sua opção já no século
XVI, quando não antes, aqui são mantidas, pois pode tratar-se
de arcaísmos populares de pronúncia da área ou inovações eru-
ditas por restauração gráfica, ou concomitâncias dêsse ou dos·
outros tipos acima referidos. Eis os principais casos e sua exem-
plificação : ·
l) 11e (conjunção condicional ou integrante): 734, 897, 955, .
1039;
2) adeante: 3, 108, 221, 233, 312, 464, 781;·
3) adeantar: 133;
4) adiante: 400, 751, 913, 914;
5) adiantar: 352, 424;
6) antecipado: 986; '
7) anticipação: 372;
8) anticipar: 20, 794;
9) ceremônias: . 209, 1017, 1045;
10) creação: 142, 278, 895;
11) r.reado: 436;
12) creador: 316;
13) creadora: 901;
14) crear: 77, 737;
15) creatura: 103, 145, 278, 328, 343 (creaturinha), 472~.
655, 801, 875, 980, 1012, 1048;
16) criado: 192, 695, 1030, 10332;
17) criança: 115, 147, 625;
18) desegual: 23, 988, 1018;
19) deante: 825, 842, 848;
20) diante: 94, 514, 802;
21) edade: 43, 77, 220, 303, 430, 644, 753, 778, 914, 929·,.
943, 961, 1013;
22) egreja: 93, 106, 489, 896, 975;
312 AN TÔN IO H OU AI SS

23) egual: 4, 30, 57, 77, 439, 452, 611, 684, 746, 781, 869,
887, 1006;
24) egualar: 28;
26) egualdade: 45;
26) egualmente: 812, 869, 897;
27) igualmente: 855, 932, 941;
28) peor: 25, 118, 134, 327, 3732, 594, 639, 687, 845, 961,
982, 1036, 1039;
29) proereação: 440;
30) sequer: 58, 191.

sem contar casos como "Virgília" (passim), "Virgflio", que jamais


flutuam no autor (e quiçá no tempo, parecendo a forma diver·
gente um eruditismo latinista recente) ;
b) as considerações feitas em (a) supra quanto à flutuação
eji pretônica podem também ser feitas quanto à flutuação em
( en) /im (in) pretônica, embora, neste caso, s6 se consigne o exem-
plo de "impertigados" (1033), divergente da norma atual;
c) as considerações feitas em (a) supra podem, também,
ser feitas, mutatis mutandis, à flutuação das pretônicas o/u, cujo
exemplário é o seguinte no texto do romance :
1) borborinhar: 811;
2) borborinho: 115, 941;
3) engolir: 335, 472;
4) engulidas: 490;
5) engulir: 992;
6) joeundo: 73;
7) logar(es): 2, 7, 102, 234, 238, 2392, 264, 265, 313, 395,
489, 786, 819, 991, 1012, 1047;
8) lugares: 768;
9) supitado: 954.

d) as considerações feitas em (a) supra podem, também,


ser feitas, mutatis mtttandis, para com a flutuação om(on)/um
( un) pretônica, emborà neste caso os exemplos sejam em número
reduzido:
1) comprimento (= cumprimento): 312, 376, 869;
2) comprimentar: 835;
3) cumprimentos: 452 (ver também o aparato), 648;

e) com relação ao t6pico 6 .4. 8. 2 do critério geral 8Up1'a,


importa, aqui, considerar um caso, lá consignado sob a alínea
(f); é o da alternância, às vêzes documentada, de ou/o já pretô-
nicos, já tônicos; no romance que nos ocupa, não há casos dessa
natureza, nem mesmo do verbo "poder", cuja terceira pessoa do
singular no pretérito perfeito é sempre "pôde", sem discrepân-
cia: 28, 89, 113, 143, 155, 310, 395, 669, 1008. Conexo com êsse
ELEMENTOS DE BIBLIOLOGIA. 313

exemplo - embora foneticamente subordinado aos considerados


em (c) supra, - há um caso de "Podera não!" (518);
f) com relação ao mesmo tópico supra referido, ·alínea (g),
·que se refere à flutuação de e/i postônioos, os exemplos consigna-
dos no roma'nce são a seguir citados; essa flutuação s6 deve re-
presentar di.tinção de pronúncia entre bem falantes, mas é de
convir que, eJDbora não observada freqüentemente pelos poetas do
parnasianismo, era, ainda assim, considerada por alguns rima
imperfeita; essa simples consideração já atesta a necessidade de
preservar as formas em que se verifique aquela flutuação :
1) erlneo: 768;
2) eseárneo: 74, 190, 327;

convindo, entretanto, ressaltar que num ponto MACHADO DE AssiS


não encampou, no romance, a flutuação, então (e ainda) muito
encontradiça, nos casos do sufixo -iam>/-eano:
1) eesariano: 143, 386;
2) horaeiano: 197, para cotejo;

g) com relação_ ao mesmo tópico supra. referido, alínea (h),


há um único exemplo que consignar : "mágua" ( 383).
6.4.3.4.3 Nas observações relac!onadas com o vocalismo do
romance, conviria acrescentar, aqui, as que incidem sôbre o -v-
nas seqüências gráf_icas que, qui, gue, gui. Prudencialmente, são
elas grafadas sem o trema, embora tudo faça crer que algumas
delas teriam êsse -1t- pronunciado:
1) arguir: 5772, 927;
2) consequência: 174, 813, 848, 898;
3) consequentemente: 963;
4) eloquência: 88;
5) eloquente: 964;
6) ensanguentada: 918;
7) frequência: 810, 927; ·
8) frequentar: 467;
9) frequente: 614, 963;
10) redarguir: 56, 104, 419;
11) tranquilamente: 11, 57, 541, 853;
12) tranquilo: 77, 326, 394, 657, 744, 809;
13) tranquilizar: 536; ·
14) tranquilidade: 802, 1014.

6. 4. 3. 4. 4 Com relação ao consonantismo, a que se refere o


tópico 6. 4. 2. 8. 3 e alíneas, do critério geral supra, poucas obser-
vações há, aqui, por fazer :
314 ANTÔ:~no HOUAISS

a) apesar de o critério geral recomendar. espec!al cuidado.


na simplificação dos -mm- e dos -nn-, não se achou, subseqüente-
mente, indispensável respeitar tal preceito, visto como, nos casos:'
nrtentes, abaixo relacionados, o m ou o ·n comportam ou não a.
na!!alização da vogal anterior; por êsse motivo, os quatro vocábulos.
dêste texto crítico, sôbre os quais poderia haver dúvida, vão a
segu!r indicados com os lugares correspondentes:
1) comigo: 8, 25, 28, 77, 110, 143, 14-t, 152, 165, 1722, 176,
182, 193, 200, 207, 224, 255, 264, 294, 312, 315, 3162~
325, 335, 359, 373, 431, 432, 453, 454, 467, 469, 487, 493,.
526, 545, 593, 645, 6522, 693, 708, 712, 725, 754, 786, 846,.
869, 920, 943, 1032, 1047;
2) emagrecer: 648, 853;
3) conosco: 562, 672, 708;
4) enegrecer: 629.

b) no que se refere ao consonantismo há que acrescentar-


ainda uma lista de interpretações :
1) prorromper: 683;
2) regímen: 220;
3) verosímil: 316 (aparato).

c) o mesmo ocorrendo com o chamado s- impuro:


1) Smirna: 334;
2) Spinoza: 718;
3) stática: 895;
4) stigmada: 378;
5) stoicismo: 782.

d) o mesmo ocorrendo com consoantes finais:


1) Bagdad: 190;
2) Jacob; 7475, 7492, 7513;
3) Job: 76;
4) Madrid: 135.

6. 4. 3. 4. 5 Com relação ao tópico 6. 4. 2. 8 . 4 do critério geral


.supra, que se refere ao realce material dos estrangeirismos, obser-
vemos que a prática seguida pelo autor no romance em causa &
de dar-lhes grifo - tratamento consentâneo, aliás, com as reco-
mendações preferíveis, hoje em dia. Note-se, porém, que seguindo
a norma do próprio autor, preferimos hão dar a marca de estran-
geirismos a certos axionímicos, quando acompanhados do antropô~
nimo a que se referem, tal o caso com "lady" ( 942). Sôbre O·
grifo, de um modo geral, notar-se-á que MACHADO DE AssiS lhe-
dá os valôres usuais de caracterizador do estrangeirismo, de em-.
fatizador e de caracterizador de carga emotiva muito fbrte soõre- .
ELEJLENTOB DB BIBLIOLOGIA 315

o conceito ( 472, 482, soa; 561, 584, 638, 640, 753, 848, 854, 895,
900, 927, 942, 954, 971, 1033, 1047). Todos os casos em aprêço
~oincidem com os usos atuais, de um modo ~eral.
6. 4. 3. 5 As reduções não merecem considerações maiores, aqui,
em atenção ao tópico 6. 4. 2 .10 supra. As de vocábulos portuguêseí>
foram desdobradas, conforme o preceito, mantido o regime original
das letras maiúsculas, o que determinou formas como- "Don.a ".
"Dom", "Senhor", "Senhora", "Do:utor" e afins. Sôbre uma
abreviação francesa, houve vacilação original, que foi uniformi-
zada - M e Mr ( 887, 888), de monsieur. Acrescentemos o
desdobramento de "São", "Santo", salvo num caso, em que se
hesitaria quanto a se "São Tomás" ou "Santo Tomás". A locali-
zação de tais fatos é muito expedita, consultando-se o aparato, que
·os põe em evidência.
6. 4. 3. 6 Com relação ao tópico 6. 4. 2 .11 do critério geral
supra, reconhecer-se-á, com efeito, que no romance em aprêço o
regime da chamada crase atinge tal equilíbrio que é, priltica-
·mente, atual em tudo, salvo pormenor de monta secundária. Des-
tarte, por exemplo, enquanto "a sós" é ortodoxo em dois casos ( 684,
·747), não o é num, "à s6s" (544), que foi por isso considerado des-
piciendo. Irrelevantes são, também, certos usos episódicos ( 653).
6. 4. 3. 7 Capital para caracterizar o texto crítico ora oferecido
ao público é o critério que se adota para com os chamados grupos
consonânticos impróprios. Sua pronúncia, ao influxo da orto-
grafia, foi restaurada em um sem-número de casos, enquanto em
outros terá sofrido simplificação, do tempo do autor ao atual.
Nessa conformidade, é efetivamente arbitrária, por ora, qualquer
atitude que não seja mais ou menos sistemática - com base em
lição conservadora. A própria chavé proporcionada pelas rimas,
em poeta como l!ACHADO DE Assis, não esgota a matéria, por
duas razões principais: primeiro, porque as palavras em rima
são em número muito reduzido, comparadas com aquelas ~;ôbre as
quais pode pender dúvida; segundo, porque nada impede que em
certos casos, mesmo de rima perfeita, se esteja em face de um
sincretismo potencial. A metodologia para a caracterização da
pronúncia de tais grupos consonântiéos em cada período da língua
literária ainda não está firmada. Mas nada impede que o venha
a ser, sobretudo se se considerar que há certas tendências organi-
zadoras, além da geral, ou seja a de proscrever tais grupos, na
medida em que a palavra que o encerrava penetra. no uso popular
)ntensivo ou correntio. Uma dessas tendências organizadoras é a
do tratamento uniforme, em princípio, dos mesmos elemt>ntoe
mórf!cos; outra, a dos mesmos grupos consonânticos; Enquanto,
316 ANTÔNIO HOUAISS

por exemplo, o radical dign se estabiliza na língua nessa forma


erudita refeita, o grupo consonântico -mn- tende a confinar-se a.
umas poucas palavras de curso restrito de origem grega ( mne-
mônica, amnésia) ; nas latinas, como coluna, solene, e mesmo lati-
nizadas, como hino, não há por que vacilar na simplificação, salvo
se se tratasse de neologismo recentíssimo ao tempo do autor, tal
o caso de ômnibus, que se fortalece porque o radical-prefixo omn-
continua sincrético ainda hoje ( onipotentejomnipotente, onis-
ciente/omnisciente). Vão, pois, relacionados, a seguir, com 08
lugares de ocorrência, os principais, se não que todos os casos.
Notar-se-á que em não poucos se verifica uma coincidência com o
padrão ortogrãfico preconizado pelo chamado acôrdo de 1945 ; mas,
ao passo que por êsse acôrdo, pelo menos na pronúncia padrão
portuguêsa, se quer indicar timbre da vogal anterior ao grupo
consonântico, na notação aqui adotada se tem em mira resguardar
a eventualidade de duas pronúncia.~ sincréticas, com o grupo con-
sonântico ou sem êle, ou de uma delas:
1) abjeeção: 431, 513;
2) abjeeto: 528;
3) abaorpçio: 1037;
4) aeção: 169, 242, 469, 546, 602, 753, 812, 817, 927, 980,
1012;
5) acceitar: 851;
6) accender: 1017;
7) accentuar: 219, 971;
8) accesso: 7602, 762, 775;
9) aceitar: .759 (com um a6 c em A, B, C, D, F, G);
10) activar: 807;
11) actividade: 870;
12) acto: 233, 4612, 810, 8132, 10102;
13) actor: 810;
14) actual: 958, 967, 998, 1006;
15) adjeetivo: 1152, 7462;
16) adop~r: 3, 5, 7, 823;
17) adoptado: 964;
18) afeetaçio: 383, 734, 1001;
19) afeeto: 110, 147, 281, 870;
20) afectuosamente: 493;
21) afectuosa: 712;
22) aflicção: 544, 969, 1025;
23) aflicta: 726, 820, 1004, 1015;
24) aflictivo: 71, 681;
25) ajuntamento: 615;
26) anecdota: 23, 1042, 467 (notar, af, a divido silábica
tipográfica), 770, 819, 941;
27) anti-asmáticas (de "anti-astbmaticaa"): 758;
28) asma (de "asthma"): 600, 746, 756;
29) aspecto: 45, 71, 541, 753, 845;
30) assignar: 143, 900;
31) assignatura : 988;
ELEKENTOS Dl!l BIBLIOLOGIA 317

82) auunto: 903, 919, 966;


38) atraeçio: 496;
84) augmentar: 62, 932;
86) baptismo: 697;
36) baptizado: 93;
37). baptizar: 93;
38) ealónia: 946, 961;
89) caluniosa: 964;
40) captar: 940;
41) eaptiveiro: 133, 496;
42) eaptivar: 1362;
43) earácter: 19, 468, 747, 927;
44) característico: 854;
45) circunspecto: 318;
46) coleetor: 10185;
47) coluna: 5, 759;
48) concepção: 794, 901, 1037;
49) condigna: 807;
60) eonducçio: 57;
51) conflicto: 734, 777;
52) conjectura: 625;
53) eonjuncção: 653;
54) conjuncto: 382;·
55) conjunto: 490;
56) construcção: 764;
57) eontracção: 805;
58) contractiva: 895, 1037;
59) contaeto: 115, 805;
60) contemptor: 101;
61) contracção: 634;
62) contricto: 169;
63) convicção: 392, 785, 1012, 1019;
64) correcção: 161;
65) correcta: 988;
66) correctamente: 463;
67) danoso: 928;
68) deducção; 274, 869;
69) deductivamente: 1012;
70) defuncto: 3, 246, 256, 776, 804;
71) defunto: 4, 72, 31, 49;
72) delicto: 118;
73) desconjuntados: 746;
74) diccionário: 638;
75) direcção: 236, 238, 479;
76) directo: 1006, 1047;
77) direetamente: 858;
78). distincçio: 482, 938;
79) distracção: 818, 819;
80) dito: 8, 19, 104, 112, 224, 261, 671, 813, 917, 943, 953,
1018;
81) efectiva: 234;
82) efectivamente: 77, 209, 222, 529, 686, 868, 941, 965;
83) Egipto: 23;
84) enigmática: 1007;
85) erecta: 310, 963;
318 ANTÔNIO HOUAISS

86) escripto: 5, 7, 23, 131, 221, 4522, 869, 952, 1042;


87) Escriptura: 335, 828;
88) escripturar: 491;
89) esculptura: 713;
90) espectáculo: 9, 25, 71, 742, 76, 201., 207, 242, 849, 852,
916, 931, 958, 9802, 982;
91) estructurK: 768;
92) estupefacção: 129., 242, 662;
93) estupefacto: 58, 898;
94) exacta: 478;
95) exactamente: 320;
96) excepção: 848, 957;
97) excepcional: 614, 981;
98) excepto: 786, 787;
99) extincção: 9, 991;
100) facto: 812, 813, 870, !27, 938, 963, 978, 1010, 1031;
101) fictício: 753;
102) fluctuar: 24, 496;
103) fructas: 115, 640;
104) fructo: 782;
105) funcção: 639, 897;
106) funccionário: 113;
107) ignaro: 892;
108) impugnar: 965;
10!) inaccessivel: 811;
110) incógnito: ·794;
111) indignação: 798, 801, 816, 974;
112) indigno: 963;
113) indirecto: 1006;
114) inducção: 869, 969;
115) infracção: 106, 897, 951;
116) ininterrupto: 640;
117) inspeetor: 88;
118) insecto: 828;
119) instincto: 350;
120) instinctiva: 855, 954;
121) intacto: 117;
122) interrupção: 706, 971;
123) jactanciosa: 785;
124) juntinhas: 808;
125) junto: 43, 2til, 839;
126) juntura: 88;
127) lucta: 855;
128) luta: 8972, 940;
129) lutar: 977, 980;
130) manuscripto: 901, 1042;
131) Rocturno: 137;
132) objecção: 726, 898, 981, 1019Z;
133) objecto: 77, 608, 779, 940, 963, 971, 980;
134) objectar: 710;
135) practicar: 19, 1010;
136) producção: 435;
137) producto: H, 18, 871;
138) projectar: 794;
139) projecto: 193, 2642, 669, 675;
ELEMENTOS DE BIBLIOLOOIA 319

140) prontamente: 113, 325;


141) pronto: 178, 318, 823, 843, 869;
142) protecção: 358;
143) recepção: 467;
144) rectificar: 24, 782, 951;
145) reducção: 74, 897;
146) reflectir: 41, 183, 245, 270, 355, 751, 845, 91~;
147) reproducção: 896;
148) respectivo: 870, 918;
149) restricção: 965;
150) retrospectivo: 870, 943;
151) sancção: 434;
152) seducção: 644;
153) selecto: 113;
154) sétimo: 932;
155) signal: 770, 801, 916;
156~ solene: 580;
157) sono: 71;
158) ·sonolento: 175;
159) subjectivo: 1039;
160) subscripção: 648; .
161) subtil: 2492; 745, 807, 897;
162) subtileza: 625, 813, 967;
163) subtilmente: 916;
164) succeder: 117, 746;
165) successivamente: 569;
166) successão: 961;
167) successo: 20, 133, 432, 848, 1047;
168) táctica: 601;
169) tecto: 113, 189, 405, 642, 770;
170) trajecto: 1017;
171) transacção: 569;
172) uncção: 490;
173) víctima: 135;
174) victória: 24;
17.5) voluptuoso: 811.

~. 4 . 3. 8 O tópico 6. 4. 2 .13, do critério geral, preceitua que a


.acentuação gráfica se conformará ao sistema vigente entre nós,
proscritos os acentos que possam ser objeto de controvérsia quanto
ao tempo ou ao autor.
,i ) .4. 3. 8 .1
Em verdade, a comissão acolhe, assim, uma das
reservas que se vêm levantando contra êsse sistema.
6.4.3.8.2 Essa reserva consiste essencialmente em três obje·
·ções:
1. 0 ) todo o sistema gráfico, inclusive na acentua~ão, é fun-
damentalmente mecânico, salvo no que se refere . a certas letras
-cujo uso é dito etimológico - j e g, z e s, ch e x, etc., em certas
-situações - e salvo também para com a acentuação gráfica dife-
rencial de homógrafos que na vogal tônica tenham timbre dife-
320 ANTÔNIO HOUAISS

rente; enquanto a restrição feita ao emprêgo .das letras etimoló-


gicas é de importância relativa - porque a ortografia das pala-
vras escritas com elas, uma vez estabelecida, fica inalterável,
quaisquer que venham a ser os novos vocábulos da língua -, é,
entretanto, de grande monta a restrição que se faz para com a
acentuação diferencial - porque a ortografia de um sem-número
de palavras fica instável, pois tão pronto apareça nôvo vocábulo
que seja homógrafo de um anterior da língua, poderá impor-se a
alteração dêsse anterior, como se, para exemplificar, parede e
peredes passassem a ser parêde e parêdes desde que verüicasse
a existência do verbo paredar;
2.0 ) do ponto de vista histórico, a distinção homográfica é,
muitas vêzes, aqacrônica, porque procura distinguir duas (ou,
raro, mais) existências vocabulares, que, ao tempo, talvez não
coexistissem, coexistência ou não coexistência de dificílima confi-
guração em nossa língua, dada a pobreza de datação do apareci-
mento e curso dos seus elementos ·léxicos;
3.0 ) finalmente, a acentuação diferencial em causa tem sido,
também, um escolho para a desejável unificação ortográfica entre
o Brasil e Portugal, porque nesse país, reconhecendo-se a infeli-
cidade do princípio, procurou-se-lhe dar uma interpretação prá-
tica, isto é, restringir o emprêgo do acento gráfico diferencial a
uns poucos vocábulos de uso muito freqüente. No Brasil, porém,
êsse tipo de distinção se requintou a tal ponto que veio a cria:r
uma "especialização", domínio exclusivo de uns poucos iniciados.
Essas três razões, e sobretlldo a inserta no item 2.0 , supra, mili-.
tariam no sentido de que, na presente edição crítica, se fizesse
uso parcimonioso da distinção homográfica que vimos apreciando.
Não se querendo, entretanto, deixar mais caracterizado do que
já está o presente texto crítico quanto às reservas que lhe vimos
fazendo de atualização ou modernização, preferiu-se observar pura
e simplesmente a distinção homográfica, com deixar aqui manüesta
a reserva - como estímulo a uma futura melhor interpretação
do problema, por parte de quem de direito. São a seguir rela-
cionadas as palavras em que ocorre a distinção no presente texto :
1) aeêrea: 452, 869;
2) aeêrto: 468;
3) aeôrdo: 897;
4) agôsto: 8;
5) . alamêda: 190Z;
6) alfinête: 317, 394,
7)' almôço: 129, 204, 3722, 393, 394, 851, 8522; 995;
8) alvorôço: 102, 258, 296, 693, 911;
9) amôres: 43, 45, 135, 145, 161, 207, !20, 632, 655, 698,
7182, 810, 852, 868, 889, 953, 954, 995;
ELEKENTOS DE BIBLIOLOGIA 321

10) apêlo: 998;


11) aprêço: 270, 434;
12) aquêle: passim;
18) bêsta: 100, 878, 618;
14) bôea: 100, 110, 3202, 827, 541, 661, 679, 688, 618, 628,
661, 768, 760, 796, ·801, 8063, 816, 889;
16) bôlsa: 67; ·
16) bôlso: 197, 230, 233, 467;
17) eêrca: 8, 115, 463;
18) ehôeha: 88, 871;
19) eôehe: 272, 399Z;
20) eôeo: 110, 116, 644;
21) eolête: 280, 233, 431, 4962, 527;
22) eolhêr: 648;
28). eomêço: 886, 868, 895;
24) eoneêrto: 706;
26) eonfôrto: 207;
26) eôr: 817, 4962, 604, 612, 753, 831, 9122, 914, 1016;
27) eotovêlo: 177;
28) dêle: pauim;
29) desacôrdo: 786;
80) desafôro: 5942;
81) desespêro: 169, 172, 8042, 860, 887, 980, 969;
82) desfôrço: 869;
88) desgôsto: 242, 728;
84) despôjo: ·209, 861 ;
86) desprêzo: 828, 819;
86) dêsse: passim;
87) d&te: passim;
88) destempêro: 1007;
89) dôbro: 883;
.O) êle: pauim;
41) emprêgo: 183, 949;
42) emprêaa: 1013;
48) enfêrmo: 27, 62, 67, 204, 241, 762, 764, 767, 763, 77!;
44) enlêvo: 828;
46) entêrro: 267, 980, 10152, 1017;
46) êrmo: 811; ~
47) êrro: 77, 718, 10012;
48) esbôço: 17;
49) esfôrço: 88, 168, 222, 681, 703, 823, 919;
50) espê1111o: 68, 989;
51) espôsa: 242, 270, 332, 1041;
52) êsse: pauim;
58) êste: pauim;
54) estêve: 169, 248, 268, 644, 694, 725;
56) estrêla: 843, 662, 787, 901;
56) fêz: pauim;
57) flôres: 117, 817, 826, 784, 7964, 820, 956;
68) fôlhu: 11, 26, 57, 256, 317, 432, 635, 726, 890, 892,
957, 1006, 1007;
59) fôl"J': pauim (mas notar que se trata de distinção
do autor e do tempo);
60) fôrea: 64;
322 ANTÔNIO HOUAISS

61) fôrça: 77, 106, 109, 173Z, 199, 242, 246, 248, 312, 384,
434, 440, 453, 454, 601, 628, 684, 685, 762, 764, 81~
894, 902, 927, 952, 965, 9692, 1007, 1042;
62) fôsse(m): 45, et passim;
.63) fôsso: 246;
64) fôste: 131, 142, 341, 734;
65) garôto: 466;
66) gôsto: 14, 328, 491, 759, 781, 786Z, 816, 850, 902, 906;
67) gôta: 29;
68) govêmo: 14, 143, 786, 816, 935, 961, 962, 963;
69) gôzo: 340, 719, 1010, 1039;
70) impôsto: 24;
71) inglêses: 24, 786Z;
72) jôgo: 163, 468, 848;
73) lavôres: 4;
74) Lôbo (Neves): passim;
75) lôdo: 11;
76) malôgro: 776;
77) mêdo: 50, 131, 145, 200, 2012, 278Z, 312Z, 316, 472,
489, 600, 650, 770, 8512, 861, 8693, 1019;
78) modêlo: 490, 927;
79) morcêgo: 956;
80) môrno: 373;
81) môsca: 8242, 828Z, 8912, 992;
82) muxôxo: 31;
83) namôro: 368, 596;
84) .nêle: passim;
85) ôlho: 21, 639, 801, 916;
86) ôvo: 220, 852;
87) paquête: 807;
88) pêca: 472 (oposição, ao tempo, "peca/pecca");
89) pêga: 718. (sem oposição, ao tempo);
90) pêlo: 496;
91) pêso: 670, 927, 931, 963, 1015;
92) planêta: 828, 958;
93) pôde: passim;
94) podêres: 143;
95) pôsto: 113, 298, 395, 869, 901., 980, 1006;
96) prêso: 149, 222, 242, 394, 533, 744;
97) prêto: 28, 131, 238, 296, 399, 424, 615, 619;
98) professôres: 242;
99) rêde: 175, 431, 463, 639, 891;
100) refrêsco: 169;
101) relêvo: 219, 919;
102) rôto: 496;
103) sêcamente: 354;
104) !êco: 429, 473, 845, 927;
105) sêda: 113, 144, 175, 496, 569, 604, 958;
106) segrêdo: 137, 733;
107) sêres: 64, 71, 74;
108) sôbre: passim;
109) sôlta: 88, 104, 311;
110) sonêto: 199;
111) surprêsa: 714;
112) tapête: 614, 1030, 1031;
ELEMENTOS DE BIBLIOLOGIA 323

113) têrça: 93, 366;


114) têrço: 161;
116) têrmos: 640, 644, 724;
116) têsa: 88;
117) tôda: passim;
118)" tôla: 651;
119) tôlamente.: · 468;
120) tôrno: 60, 313, 316;
121) tôrre: 238;
122) tôrvo: 625;
123) transtôrno: 75, 224;
124) travêsso: 133, 304, 305, 703;
125) trôco: 911;
126) vapôres: 961;
127) vêzes: passim;
128) zêlo: 224;
6.4.3.8.3 No que se refere a uma questão conexa com a da
acentuação diferencial, notem-se os casos seguintes:
a) avôs: 991;
b) consolo: 400, 681 (móvel);
é) decoro (substantivo) : 614 (originalmente com acento-
agudo sôbre .a sílaba tônica, o que não impediu que O pusesse
"decôro") ;
d) de envolta: 104;
e) dezoito: 142;
f) estroina: 221, 248;
g) féretro: 1015;
h) interesse(s): 115, 201, 246, 418, 490, 491, 706, 721, 82S,
921, 9544, 957 (trata-se do substantivo ; não se pôs nunca o acento•
circunflPxo pois é probabilíssimo que a pronúnc:a do tempo e a.
do autor fôssem com e tônico aberto) ;
i) Leda: 141;
j) Módena: 245 (é o topônimo ;italiano) ;
k) Nli.ã-lóló: 787, 807, 894 (no texto pôs-se "Nhã-Ioló") (é
provável que a notação original de MACHADO DE ASSis visasse a
caracterizar a um tempo a linguagem infantilizante e a nordestina,
de onde é originária a personagem e sua família).
6. 4. 3. 8. 4 Sôbre o timbre, ainda, há uma observação de ordem
geral: usa-se, nos textos atuais, de forma pacífica, o acento cir-
cunflexo, quando se impõe um acento gráfico antes das vogais·
antenasais a, c e o ; merece, entretanto, verificação e estudo êsse-
fato, ao tempo do autor e no autor. A mero título de exemplo1
lembremos algumas ocorrências ao acaso :
1) Sêneca: 782;
2) ânimo: 694 (apesar de ocorrer numa ediçãct "ánimo"·,
em que se admitiu que o acento agodo ~esentl188e
apenas a vogal tônica);
324 ANTÔNIO HOUAISS

3) anônima: 797, 1016;


4) Antônio: 110;
5) atônito: 249, 392, 448;
6) bibliômano: 638;
7) botânica: 718;
8) cômica: 382;
9) êmulo: 1037;
lO) gênero: 897;
11) trêmula: 797.

6 .4. 3. 8. 5 Ainda conexo com o timbre, mas de valor lingüís-


tico indisputável, embora de padrão_ presUJllivelmente artificial já
ao tempo na área, respeitou-se a notação com á da primeira pessoa
do plural do pretérito perfeito:
1) acabámos: 450;
2) achámos: 914;
3) acordámos: 200;
4) almoçámos: 261;
5) amámos: 27;
6) assentámos: 997;
7) chamámos: 6532;
8) chegámos: 23, 449;
9) começámos: 744;
10) convencionámos: 613;
11) conversámos: 449;
12) cortejámos: 448, 493;
13) divisámos: 744;
14) encarámos: 797;
15.) encontrámos: 809;
16) entrámos: 983;
17) esgotámos: 321;
18) falámos: 261, 8092, 869, 943;
19) familiarizámos: 310;
20) ficámos: 30, 797;
21) ganhámos: 164;
22) jantámos: 426;
23) levantámos: 565;
24) reatámos: 744;
25) respirámós: 751;
26) separámos: 452, 525;
27) tornámos: 739;
28) tratámos: 481;
29) travámos: 644;
30) valsámos: 4492, 453.

6. 4. 3 . 8. 6 Mero lembrete para o problema da sílaba tônica,


são a seguir relacionadas algumas palavras sôbre as quais a ques-
tão pode ser suscitada:
1) antffona: 1045;
2) bênção: 92, 235, 363, 619;
3) bibliômano: 6382;
ELEMENTOS DE BIBLIOLOGIA 325

4) Cleópatra: 334;
5) Dânae: 141;
6) :S:squilo: 811;
7) florida: 379;
8) Hélade: 1026;
9) Módena: 245;
10) Priamo: 942;
11) . sótão: 80, 812.

6.4.3.9 Porque particular em que se vem verificando rápida


consolidação de preferência, entre a época do autor e a atuali·
dade, são a seguir referidos, em .pormenor e com tôdas as ocorrên·
cias, os casos de flutuação do ditongo O'Ujoi e aquêles que, não
acusando tal flutuação no texto, discrepam da opção preferencial
hoje em dia no Brasil:
1) afouto: 858;
2) . coisa: 7862;
3) cousa: 2, 5, 6, 9, 11, 15, 232, 522, 57, 60, 66, 743, 76,
863, 88, 892, 92, 93, 100, 103, 1182, 133, 136, 137, 138,
140, 141, 143, 144, 145, 147, 158, 161, 1632, 193, 197, 207,
234, 238, 245, 2492, 255, 270, 286, 289, 320, 325, 328,
3342, 343, 351, 365, 369, 373, 3822, 3842, 391, 392, 4(}7,
413, 424, 431, 435, 437, 443, 449, 456, 462, 468, 469,
470, 479, 487, 490, 492, 495, 503, 5042, 533, 535, 537,
543, 561, 577, 6112, 6143, 621, 637, 638, 640, 648, 661,
662, 669, 6942, 697, 712, 719, 733, 734, 737, 738, 7392,
745, 7532, 759, 770, 773, 7762, 778, 7812, 7822, 785, 7863,
805, 806, 810, 8112, 812, 814, 819, 824, 828, 832, 836,
845, 847, 849, 851, 852, 855, 870, 887, 8953, 900, 9023,
9383, 942, 943, 954, 957, 960, 962, 969, 970, 971, 975,
9812, 982, 985, 998, 1003, 10123, 1019, 1025, 1039, 1048;
4) doido: 1019;
5) dois: 439;
6) doudo: 22, 25, 179, 192, 200, 515, 587, 626, 673, 873,
10193;
7) dous: 17, 21, 28, 302, 43, 84, 107, 133, 136, 141, 147,
185, 1922, 197, 199, 222, 245, 264, 293, 317, 473, 479,
482, 504, 533, 611, 632, 644, 669, 696, 703, 762, 768, 778,
828, 844, 879, 891, 901, 913, 9162, 941, 978, 1014, 1018,
1026, 1040.

6 .4. 3.10 A seqüência vocálica -ea-, segundo seja a posição do


acento tônico - e o mesmo se diria de ·-eo-, -ee- - é representada
por forte flutuação. Se, no plano da hist6ria da língua vista
macroscopicamente, o hiato em causa, quando a tônica está na
primeira vogal, recebe desde o início do século XVI a interposição
da vogal i - na realidade um iode -, nas condições da língua
literária o fenômeno apresenta caracteres mais complexos, ou pelo
menos diferentes, para ·os quais cabem as considerações feitas em
326 ANTÔNIO HOUAISS

6. 4 . 3 .4. 2 (a). Por êsse motivo, foram seus casos respeitados no


corpo do texto crítico, os quais são a seguir relacionados, com
tôdas as ocorrências:
1) aldêa: 77;
2) alheia: 80, 197;
3) alheiado: 811;
4) alteando: 770;
5) apeei: 141;
6) apeou: 590,591;
7) apeadas: 958;
8) apeando: 1017;
9) arêa: 746;
10) arearam: 112;
11) arreios: 224;
12) aaseiadinho: 466;
13) aaaeiado: 133;
14) boleeiro: 3732, 374, 407, 408, 423;
15) cadeia: 811;
16) candieiro: 648;
17) contrabandeado: 927;
18) corrêa: 399;
19) correeiro: 1902;
20) creiam: 29;
21) derreava: 579;
22) despentear: 569;
23) encadear: 811;
24) folheia: 639;
25.) golpear: 72;
26) hasteiam: · 24;
27) lisonjeei: 312;
28) nomeação: 813;
29) passeiava: 74;
30) passeava: 183;
31) passear: 759;
32) passeia: 9422;
33) passeiar: 400, 679;
34) receies: 63;
35) receiaram: 823;
36) receioso: 684, 718;
37) recreio: 317;
38) relanceei: 463;
39) saborear: 197, 473, 961;
40) saboreava: 117;
41) saboreias: 1010;
42) veias: 93.

6. 4. 3 .10 .1 Problema afim do anterior, e por isso tratado logo ·


aqui, é o da terminação -éa, hoje -é·ia; aparece a mesma com al:so-
luta regularidade no texto original, isto é, sempre -éa, sem exem-
plo da flutuação correspondente à de -êa/-eia vista supra, regula-
ELEMENTOS DE BIBLIOLOGIA 32T

ridade que deve, cremos, ser interpretada como sintoma de esta-


bilidade de pronúncia no autor (pelo menos). Os exemplos d()
texto si'io os seguintes:
1) assembléa: 115;
2) boléa: 190;
3) idéa: 8, 12, 13, 142, 215, 222, 23, 2(, 25, 33, (9, 77, 110,
124, 146, 166, 172, 174, 188, 1912, 220, 242, 2602, 264,
312, 316, 3172, 320, 332, 340, 346, 446, 454, 464, 4952,
529, 536, 644, 569, 577, 578, 640, 691, 7062, 782, 785, 786.
792, 861, 902, 911, 963, 9642, 976, 998, 1001, 1004, 1006,
1006, 1018, 1033, 1039;
4) lduméa: 897;
5) Nicéa: 106;
6) panacéa: 935;
7) platéa: 246, 491, 8092.

6. 4. 3 .11 Algumas formas características do presente texto


são, aqui, objeto de rápidos comentários:
a) a terceira pessoa do plural do presente do indicativo de
"ter" ocorre, como é de esperar no tempo e no autor, já como
"tem" (81, 871), já como "têm" (951, 969); a presumível inter-
pretação l~ngiiíst:ca é que, sob "tem", se encerra uma equivalência
fôuica [tey], enquanto sob o "têm", [tééy], contrapartida espe-
rável é "dêm" (958), o atual "dêem";
b) no parágrafo 63 ocorre "contra Holanda", em que tanto
pode verificar-se o emprê~o histórico de "Holanda" sem artigo
como o prolongamento fonético do final de "contra", o que equi-
vale a "contra (a) Holanda";
c) o emprêgo de "todo o", "tôda a" (distintivo na canônica
gramatical moderna de "todo", "tôda") é, esperàvelmente, flu-
tuante no autor, como o é até hoje em dia; o fato é que o preceit()
gramatical esbarra ante a realidade fonética, já que existe uma
igualdade potencial entre "todo/todo o", "tôdajtôda a", pois fo-
neticamente podem ser equivalentes apenas a [ todu] e [toda]. Al-
guns casos apenas são a seguir referidos :
1) "chamava-me para tôda a parte" (193);
2) "tôda a resistência era inútil" (190);
3) · "meteu mêdo a tôda a gente" (200);
4) "todo o homem público deve ser casado" (289);
5.) "vimos tôda a chácara" (325);
6) Yejam-se, também, entre outros, os parágrafos 340
("tôda a sabedoria"), 680 ("tôda a minha"), 895 ("tôda
a criação") ;
328 ANTÔNIO HOU.A.I88

d) un;t~ forma não foi alterada, já que, dentre outros


motivos, o grifo lhe realçava o caráter onomatopaico: "tic-f(U}"
(473); aliás, também o critério adotado para com as consoantes
finais militava em favor da conservação, bem como a pronúncia
viva, que ainda comporta aquela representação ; . é que, em fatos
de onomatopéia, mesmo convencionais, como nos de interjeições,
o fonetismo de uma língua, área ·ou individuo pode apresentar
caracteres particulares ;
· e) pelas razões aduzidas no fim da alínea anterior, convém
cmisignar duas interjeições, conservadas na forma original :
"Amf ... " (772) e "hemT" (461);
f) características ainda dêste texto são as seguintes fonnas:
1) bêbado: 616, 622, 624 (tôdas em b~ de Prudêncio,
o ex-moleque de Brás Cubas, mas jã adulto, ao espan-
car um escravo seu);-
2) borbismo: 781 (de Quineas Borba);
3) calafrio: 651 (embora em A -+ B "ealefrio");
4) cancro: 239 (correspondente à forma hoje em · dia
mais em uso no Brasil "cincer");
5) ehoramigas: 961;
6) cincoenta: 5, 9552, 956, 957, 961, 967;
7) c6caras: 914;
8) emplastro (no aparato): 9022;
9) êxtasis: 978;
10) godemes: 786; (de goddam! + God damn (yoa)l);
11) lentejoulas: 246;
12) mau estar: 745;
13) ministro d'Estado: 968;
14) o que?: 990;
15) preguntava: 432 (contra "pergunta}:'" e flexões em
436, 468, 746, 799, 809, 848, 863, 931, 963, 972, 1043);

g) o romance, como é sabido, encerra uma pequena contra-


dição de MAcHADO DE Assis, que O ousou corrigir; trata-se do
emprêgo do topônimo "Gamboa" no parágrafo 988, por "Bota-
fogo"; do ponto de vista crítico, a contradição é um elemento
indicativo de psicologia do autor e também de estrutura, razão
por que se respeita.
6 . 4 . 3 .12 Perduram - além dos problemas de ordem geral . e
particular suscitados nesta introdução - algumas pequenas ques-
tões dubitativas, a saber:
1) A lição do parágrafo 70, parágrafo que se insere no
capítulo do delírio, diz, na tradição de C -+ D (E) -+ F -+ G :
Quando esta palavra ecoou, como um trovão, naquele
imenso vale, afigurou-se-me que era o último som que che-
gava .aos meus ouvidos; pareceu-me sentir a decompoeiçio
súbita do mim mesmo. Entio, encarei-a com olhos súplices,
e pedi mais alguns anos (o realce é nosso) .
ELEMENTOS DE BIBLIOLOGIA 329

contra a tradição de A + B, encampada autônomamente por O,


"pareceu-me sentir a decomposição de mim mesmo". óbvia a
Çonstrução de ...4., B, é ela, entretanto, incomparàvelmente menos
eficaz do que a da segunda tradição; importa, em verdade, admi-
tir que o' aprofundamento do mundo subjetivo que é feito por
MAcHADO DE AssiS tivesse necessidade de substantivar êsse mundo
subjetivo íntimo, o eu, o mim mesmo, sobretudo na situação de
contemplador de si mesmo em que se coloca no delírio visto de
além-tumba e sobretudo quando a psicologia da introspecção ainda
não havia divulgado a substantivação do eu e do ego, popularizada
depois da psicanálise ;
2) "Digam o quiserem" (712), que, embora da tradição de
C, foi interpretada, em favor da tradição de A, como um salta-
bordão tipográfico, uma haplologia tipográfica;
3) no parágrafo 403, do diálogo sôbre a herança do velho
Cubas, ocorre :
Olhe, se esta vale os cincoenta contos, quantos não vale
a que você deseja para si, a do Campo!

que interpretamos, acreditamos com pouca probabilidade, como


"de campo", referindo-se a "casa" do contexto;
4) no parágrafo 765, a tradição iniciada em A diz:
Veja, é de graça, concluiu êle depois de lida a última conta

contra a tradição iniciada em C, que diz "e de graça", lição esta


seguida no texto crítico ;
5) no parágrafo 88, há :
E vejam agora com que destreza, com que arte faço eu
a maior transição dêste livro. Vejam: o meu delírio come-
çou em presença de Virgflia; Virgília foi o meu grão pecado
da juventude; não há juventude sem meninice (o grüo é
nosso).

parágrafo em que é presumível um grão de suspeição para com o


lugar grifado ; é que, em verdade, não parece ser da linguagem
de MAcHADO DE Assrs o adjetivo "grão", enquanto o é, caracteris-
ticamente, o substantivo "grão", sobretudo com a noção qe quan-
tum : "grão de arêa" ( 26, em A, B), mas "grão de sandice"
626), "grãozinho de sandice" (1025).
6. 4. 3 .13 Damos a seguir uma relação dos mais característicos
nomes próprios que ocorrem no romance, nas formas com que
ficaram no texto crítico: Aquiles (942), Bagdad (190), Bak-
330 ANTÔNIO HOUAISS

barah (190), Buda (1037), Casino (888), Cleópatra (334), Dânae·


(141), Diógenes (1026), Ésquilo (8_11), EsteJa (806, de "Estella"),.
Otelo (807), Fígaro (781), Filopêrnen (963), Gulliver (811) •.
Hélade (1026), Herakles (896), Hércules (896), Hipócrates (963),
Idurnéa (897), Jacob (745 5 , 749 2 , 750, 7513), Job (76), Leda
(141), Madrid (135), :Modena (245), Muharnrned (940, 998) •.
Pangloss (901, 1046), Príarno (942), Prudhon (887), Scheherazade
(744), Sêneca (782), Shakespeare (249) e Shakspeare (145, 850),
Smirna (334), Spinoza (718), Tróia (942), Virgília (passim), Vir-
gílio (245, 274, 275, 277), Zenon (782).
6. 4. 4 .1 O sistema remissivo dêste volume é o que, de um modo·
geral, será usado nos volumes de romances desta coleção. É :
sistema planejado de tal forma que preencha os seguintes requisi-
tos: (a) cria um padrão 1\IACHADO DE Assrs; (h) !mpõe uma
numeração progressiva cujas segões passam a ser iguais nos nove
volumes; (c) atribui a tôdas as partes impressas nos nove volumes
em causa - tanto as de autoria de l\IACHADO DE Assrs, quanto as.
da comissão - um número que passa a ser de referência cons-
tante para a remissão rE.'cíproca, dentro dE.' cada volume, ou de
volume para volume, ou dos índicE.'s gerais finais da coleção para
cada volume da mesma.
6 .4.4 .2 O padrão de apresentação dos nove romances de MA-
CHADO DE Assrs presume, para cada volume correspondente, urna
relativa auto-suficiência. Essa auto-suficiência relativa - no·
sentido de que ministra sôbre o autor e sua obra um mínimo de.
dados qne bastem para a leitura autônoma do volume - é con-
SCI!U ida l,!raças às seguintes partes : 1. a) um prefácio conciso que·
se r elaciona essencialmente com o romance e o período particular
da vida do autor durante a sua elaboração; 2.a) uma ficha bio-
bib liogrítfi(•a de MAcHADO DE Assrs comum a todos os livros da
coleção e igual em todos êles; 3. a) urna bibliografia particular·
ao liHo em causa, div!dida em duas partes, uma ~o livro, outra
sôbre o Jiyro; 4.a) uma introdução crítico-filológica explicativa
do critério crítico-textual, g-eral e particular, de cada livro, e, por
fim, 5.a) a obra que se edita de MACHADO DE AssiS interpretada
t>sta eom todos os seus componentes preliminares (prefácios, pró-
logo!", dedicatórias, introdm:ões) e a sua parte substancial.
G. 4. 4 . 3 Adotado ~sse padrão de apresentação, a numeração ·
progressiva dêsses nove volumes terá as seguintes correspondên-
cias:
l.a) para o prefácio conciso - 1.1.1 e nÚrnfrOs subseqüen-·
tes (subseções: 1.1.1.1, 1.1.1. 2, 1.1.1..3, . etc.; · seções: 1.1. 2,.
ELEMENTOS DE BIBLIOLOGIA 331

1..1.3, 1.1.4, cada uma delas com subseções semelhantes às refe-


ridas antes; t~picos : 1. 2 .1, 1. 3 .1, 1. 4 . 1, etc.) ;
2.•) para a ficha biobibliográfica - 2.1.1 e números sub-
.seqüentes;
3. a) para a bibliografia particular ao livro - 3 .1.1 e nú-
meros subseqüentes;
4.•) para a introdução crítico-filológica - 4.1.1 e números
subseqüentes, como é, in concreto, a exemplificação aqui propor-
cionada;
5.•) para a obra de MACHADO DE Assis que se edita - 1,
2, 3, 4 ... n, isto é, os números inteiros da série natural.
6. 4. 4. 3 .1 Entender-se-ão por parágrafo, na obra de MACHADO
DE Assis:
a) os parágrafos comuns, caracterizados pelo ponto pará-
grafo e, na linha seguinte, pelo recorrido para a direita ;
b) aR citn<;ões que forem objeto de recorrido tipográfico
com mudança de linha, merecendo um . só número uma série de
versos ou de estrofes que constituam citação contínua;
c) os parágrafos de citações em prosa, bem como as citações
de citações que ' fiquem na situação configurada em (b) Sltpra;
d) cada intervenção coloquial caracterizada por mudança de
linha e travessão dialogal e/ou aspas dialogais.
6 .4 .4 . 3. 2 O sistema remissivo aqui configurado, dentro de
cada volume, passa a ser fàcilmente remissivo, também, dentro
da coleção, porque cada remissivo, nesse caso, será antecedido do
número romano correspondente ao volume da coleção ou, em caso
mais adequado, de uma sigla.
6.4.4.3.3 Num ponto, apenas, o sistema remissivo é ambíguo,
deliberadamente: é o que remete, em números inteiros da série
natural, para os parágrafos de obra de MACHADO DE Assrs, porque
remete também para a parte correspondente do aparato crítico.
Com efeito, (a) notar-se-á que o aparato se localiza na base ou
rodapé do texto crítico; (b) notar-6e-á que a conexão entre o pará-
grafo e as notas, em cada página, se fará pela reiteração no
rodapé do número do parágrafo; (c) notar-se-á que depois dê!ite
número segnir-se-ão as siglas das diversas edições, com as Yarian-
tes respectivas; ( d) notar-se-á que essas variantes são ordenadas
segundo sua ocorrência paralela ao texto do parágrafo a que se
referem; (e) notar-se-á, por fim, que a variante fica, de regra,
entre dois extremos invariantes, isto é, a variante é iniciada por
um trecho do parágrafo a que se refere em concordância com
êsse trecho, seguindo-se-lhe, discordante, a variante propriamente
dita e depois nôvo trecho concordante.
332 ANTÔNIO HOUAII!IS

6.4.4.4 O aparato crítico não deve ser objeto de compreen-


são equivocada por parte dos leitores menos avisados quanto à
técnica do ~tabelecimento crítico de texto de autor moderno, quase
contemporâneo. Visa-se, com êsse texto, a fornecer a quem quer
que dêle necessite a versão mais próxima do que teria desejado e
realizado o autor - com suas contradições de pessoa que, vivendo
num ambiente lingüístico, o assimilou em contatos culturais os
ma:s vários, de classes, de profissões, de instruções, de idades,
de sexos, de meios, ademais de tentar, até certo pontO, intempora-
lizar-se, com encampar características lingüísticas de épocas lite-
rárias pregressas, sem falar na provável eventualidade de qU:e
terá tido contato com indivíduos falantes de outras áreas dia-
lectais da língua, e de outras línguas. Essa versão textual, se
obtida - como o espera a comissão - , é fonte sôbre a qual,
legitimamente, se podem exercer tôdas as pesquisas e estudos -
lingüísticos, estilísticos, estéticos, éticos, históricos, sociais, e o que
mais fôr -. Não se trata, numa edição como esta, de resolver
todos os problemas que um texto, e um contexto, e uma obra
encerram - coisa, aliás, que não se esgota nunca, pelas poten-
cialidades de atuaiização (isto é, de eficácia para a ação presente)
que se aninham em obras tais. Trata-se, isto sim, de ministrar
a base mínima fundamental - mas sólida - que tôda comunica-
ção lingüística exige para sôbre ela poder tomar-se alguma con-
clusão válida: a fidedignidade e a fidelidade ao seu criador, na&
condições essencialmente contraditórias de sua contingência hu-
mana.
6.4.4.4.1 Assim, o aparato critico é fiel ao critério geral e
a esta introdução, cuja consulta pedimos ao leitor fazer sempre,
antes de julgar, lembrando-lhe, ao fim, mais reverentemente do
que o fêz Brás Cubas, mas com MAcHADO DE Assis ainda, que
"a obra em si mesma .é tudo" e glosando que - se te agradar,
fino leitor, pagamo-nos da tarefa; se te não agradar, pagamos-te
com o nosso desconsôlo, pois o piparote de uma comissão seria
excessivo - e adeus.
PALAVRAS PRÉVIAS

Éste segundo volume dos Elernentos de biblwlogia - em opo-


sição e complementação ao primeiro, que versava sôbre os originais
trata do livro, como conceito e instrumento histórico-cultural
da documentalística.
As palavras prévias do primeiro volume são, é evidente, exten-
sivas a êste, sobTetudo em quanto se refira aos agradecimentos do
autor.

Rio de Janeiro, agôsto de 1966.


A. H .
II VOLUME

DO LIVRO
CAPÍTULO VII
NORMALIZAÇÃO EDITORIAL

7. CANON EDITORIAL
Tôdas as considerações precedentes - constantes do primeiro
volume dêste livro· - assim como as subseqüentes buscam, quando
não explicitamente, a evidenciar não só a possibilidade mas tam·
bém a necessidade de se observar uma regra, um cânon, uma co·
dificação para a editoração, já do ponto· de vista do editor-publi-
cador, já do ponto de vista do autor, já do ponto de vista do
editor-crítico. E aqui também, como em todos os outros setores
da ação e do conhecimento, cabe antecipar, para um futuro mais
ou ;menos remoto, que os três pontos de vista, hoje em dia às
vêzes colidentes ou discrepantes, venham a ser o mesmo e um
único, para proveito do leitor, convergindo nos seus fins de apre-
sentarem livros que - nocional e tipogràficamente - sejam os
mais perfeitos, os mais acabados possíveis.
7 .1 GRAFOSFERA - Essa tirada tem sua função definida neste
contexto. A noosfera - êsse envoltório de idéias, ideologias e
ideais que é a resultante, ou a vocação, ou a condição, ou mesmo
a finalidade da humanidade planetizada, como a ponta da flecha
a orientar-se para um ômega (e que TEILHARD , DE CHARDIN e os
seus fiéis me perdoem a heterodoxia) - é em grande parte e
cada vez mais uma grafosfera, vale dizer, um envoltório escrito que,
salvando o passado para o presente, tornando atual - isto é, que
serve ou sirva para a ação - .o bom do passado, dá a essa mesma
humanidade uma tal soma de situações novas e irrepetitivas que
se torna impossível antecipar o que será o seu grau ou o seu
quantttm ou a sua qualitas de fazer e saber, nela tôda e em
cada indivíduo feito pessoa inalienável na construção da Ci-
dade de amanhãs que, nesta escuridade, já principiam a can-
tar. Dois problemas gráficos capitais enfrenta a humanidade
contemporâneamente, em tôaas as latitudes e longitudes: sistema·
tizar a documentação da civilização escrita e a documentação
prévia e presente ainda da civilização não escrita (temporalmente
4 ANTÔNIO HOUAISS

muito maior), imenso repositório de fatos e de lições, de certo


modo ainda informe e caótico; crivar, do sistema assim obtido,
o definitivamente caduco ou superado (se o hou~er), como con-
dição de progresso, salvar o aparentemente caduco e superado
entretanto atual. A bibliologia, humildemente, procura contri-
buir com sua cota-parte nessa dupla operação. Compreende-se já
hoje que para a realização de um livro, de um documento qualquer
em que se encerre tradição-transmissão, a complexificação de es-
truturas e fatos atingiu tal ponto que se impõe - para a máxima
liberdade e eficácia criadoras - um máximo de princípios re-
guladores do já édito, conhecido, adquirido, incorporado, princí-
pios que permitirão a democratização crescente do livro, sua uni-
versalização, sua assimilação máxima e sua rejeição máxima.
Sua ação bigume - moral e imoral, útil e maléfica, criadora e
perversora - se manifestará em tôda a claridade.
7 .1.1 Normalização do livro - A normalização do livro na-
queles aspectos que não concernem à substância de sua mensagem,
mas que informam a substância de sua mensagem, é, por conse-
guinte, tarefa que também merece o esfôrço e a pena de quantos
·quiserem dedicar-lhe um pouco de boa vontade. A urgência
social .dêsse fato, por suas implicações econômicas, culturais, mo-
rais, se manifesta .pela profusão de guias impressos para a elabo-
ração de livros, de teses, de comunicações, de colaborações, de
artigos. E neste momento mesmo, em que o Brasil tenta a ousada
emprêsa de erigir a EnciclopédüJ, brasileira - que possamos
com pulsar seu primeiro volume neste século! - , devemos debru-
çar-nos sôbre seu plano prospectivo, sob muitos títulos mítico, por
que é ela anunciada ( cf. ECBR) . ~ plano e planos que tais
decorrem da imperativa necessidade de normalização, que se faz
sentir cada dia mais, e já antes de 1939 era comentado por · ANDRf
THÉRIVE, cujo nome s~ invoca .aqui pela segunda vez, nestes ·têr-
mos (ENCF, 18·16-2) :

A Sociedade B.eneficente dos Chefes de Oficina e


Revisores da Impressão de França publicou, após vinte
anos de estudo, um Código tipográfico, que começa a ser
universalmente conhecido e respeitado e que substitui as
instruções sumárias afixadas outrora nas oficinas das
grandes tipografias. No estrangeiro, os manuais e códi-
gos de correção são, de longa data, muito numerosos: um
dos melhores é o da tipografia da Universidade de Chicago
(Manual of Style, Containing Typograpkical Rules .. . ,
University of Chicago Press, 1936), que oferece conselhos
EI,EMENTOS DE BIBLIOLOGIA 5

aos corretores de cópias e revisores de provas. Note-se


que na América o leitor da cópia, isto é, o auxiliar que
diz em voz alta o texto que o corretor lê, continua a
existir, enquanto na França, salvo . nos grandes jornais,
seu emprêgo desapareceu, talvez por descabida economia.
Citemos aind& as Rules f<Yr Compositors and Readers, da
tipografia universitária de Oxford, e os breviários de
tipografia e de revisão que proliferam ria Rússia. Sovié-
tica, pela imensa difusão do impresso e pela necessidade
de constituir um corpo de artesãos qualificados. Alguns
dêsses manuais são para uso dos autores, que, lá ao menos,
são advertidos quanto aos seus deveres e iniciados na ..
tecnicidade indispensável.

7 .1.1.1 Depois das considerações feitas nos capítulos imedia-


tamente anteriores quanto à publicação de textos, o que se pode
dizer, com relação aos textos de autoreli contemporâneos vivos -
pois, se mortos, já foram considerados - é pouco: o árbitro por
excelência para dirimir as dúvidas aí está, à disposição do editor
e, sobretudo, de si mesmo e da sua obra. Já vimos, entretanto,
que nem sempre - muito infelizmente - os autores chamam a
si os cuidados de preparação dos originais de forma tal que a sua
correlação com o texto impresso já venha pré-figurada e predeter-
minada. Trata-se, porém, de atitude que, visi~elmente, tende
a desaparecer com a pr~fissionalização crescente da função escri-
tora e com a divulgação crescente das normas formadoras e in·
formadoras do livro. Assistimos, em decorrência, à recrudescên·
cia de publicações normativas, no mundo inteiro, tal como refere
a citação acima feita.
7 .1.2 Normalização especializada - No livro contemporâneo
- no amplo sentido da palavra "livro" - há problemas de nor·
malização particulares a certos setores do conhecimento ou a certas
finalidades. Com efeito, é de imediata compreensão o fato de
que uma tese de topologia, uma monografia de eletrônica, a ex-
posição de uma pesquisa de física atômica, uma explicação em
profundidade de certo pormenor de histologia - de um lado, e a
méro · título exemplificativo muito parcial - ; e de que uma obra
de conjunto, um dicionário, uma enciclopédia, gerais ou especiali-
zados - de outro lado, e a mero título exemplificativo muito
parcial - , possam (e devam) ser objeto de normalização especí-
fica. No Brasil exemplos expressivos podem ser abonados em
favor dessa tendência. Tomemos dois exemplos que se . colocam
nos extremos das hipóteses acima c.onfiguradas .


6 ANTÔNIO BOUAISB

7 .1. 2 .1 De um lado, podemos citar, do Instituto Zimotécnico


da Escola Superior de Agricultura Luís de Queirós, da Universi-
dade de São Paulo, suas quase modelares normas destinadas a
regulamentar a feitura de teses e publicações do citado instituto
( cf. INSZ). Essas normas dispõem, sucessivamente, quanto aos
seguintes aspectos :
1) seu tipo de impressão (mimeográ~ica ou tipográfica);
2) seu capeamento:
a) ao alto, em caracteres de pequeno corpo, o nome do
autor, na linha seguinte, em iguais caracteres, o título principal
do autor e o departamento a que pertence ; ·
b) no centro, o título do trabalho, em caracteres no máxi-
mo três vêzes maiores do que os anteriores;
c) embaixo, demais especificações, em corpo igual ao do
de autor e, na linha final, a data, em mesmo corpo;_
3) a página de rosto, em tudo igual à capa;
4) o índice geral da matéria, com . as disposições previstas
para a primeira página do texto, devendo as páginas que com-
põem o índice ser numeradas em algarismos romanos;
5) o texto:
a) com margens de 4 em à esquerda, 2 em à direita e 3 em
em cima e embaixo;
b) as páginas, numeradas de "2" em diante, ao alto, à di-
reita, em algarismos arábieos;
c) face única por fôlha, duplo espacejamento de entrelinha,
paragrafação de 10 espaços para dentro ;
d) a primeira página, não numerada, iniciar-se-á a 10 em
do bordo superior;
e) "nenhuma sentença poderá ser iniciada por algarismo"
no texto; vale. dizer, em início de parágrafo ou após ponto os
números que eventualmente forem referidos cont.extualmente de-
verão ser escritos literalmente, i11o extenso;
f) "usar-se-á sempre o pronome majestático" [sic], vala
dizer, "nós";
g) "as abreviações [símbolos] de unidades de. pesos e me-
didas respeitarão as convenções internacionais ·. e nacionais em
vigor";
h) "os gráficos, gravuras, fotografias, figuras e esquemas
constantes do texto serão numerados com algarismos arábicos,
enquanto que as tabelas e os quadros o serão em algarismos ro-
manos. Tanto quanto possível, estas características deverão ser
inclusas no t'exto e não colocadaii em separado";
ELEMENTOS DE BIBLIOLOGIA 7

6) as teses e publicações dos técnicos "serão iniciadas com


o índice geral da matéria, ordenada segundo a classificação de-
cimal, sendo facultativa a apresentação dos índices de autores e
alfabético, no fim das mesmas"; ·parece entender-se por "a clas-
sificação decimal" uuma classificação decimal" e por "alfabético"
l' "temático", que deve ser estruturado alfabeticamente, como,
aliás, também o de autores ;
7) o texto, na medida do possível, se dividirá nos capítulos
assim ordenados:
a) introdução, que constará da apresentação do problema e
da sua justificação ;
b) "revisão da literatura", vale dizer, "depois de uma per-
feita pesquisa bibliográfica, ordenará [o autor] os trabalhos con-
sultados por ordem cronol6gica", citando apenas de cada um as
conclusões que interessem ao assun~o da pesquisa;
c) material e métodos, especificando, localizando e caracte-
ril;ando o primeiro, para sua fácil identificação, e especificando,
ordenadamente, os segundos, sua origem e modificações seguidas ;
d) resultados obtidos, sempre que possível ilustrados;
e) interpretação estatística, sempre que possível e necessá-
ria, de modo que possa ser repetida por terceiros;
f) discussão dos resultados, isto é, das técnicas, dos apare-
lhos usados etc., em face dos citados resultados, para que se possam
tirar conclusões precisas e justas;
g) conclusões, ordenadas numericamente, evitadas as inter-
pretações dúbias;
h) resumo e conclusões, em inglês, facultada a tradução para
uma outra língua estrangeira ;
i) "bibliografia citada", vale dizer, "obras consultadas",
com normas pr6prias consideradas a seguir ;
j) agradecimentos, "caso hajam [sic], deverão ser apresen-
tados de modo simples e elegante, concluindo o texto do trabalho";
8) as referatas apresentadas, para serem aceitas pelo Conse-
lho de Planejamento, Publicação e Seminários, deverão obedecer
às seguintes normas:
1 - nome do autor, e enderêço quando possível;
2 - data;
3 - nome do trabalho, no original ;
4 - tradução do nome do trabalho;
5 - ~itação bibliográfica- de acôrdo com as normas do Ins-
tituto;
8 ANTÔNIO HOUAISS

6 - resumo claro do trabalho referido :


7 - nome do referatista;
8 - data de apresentação.

7 .1. 2. 2 As normas bibliográficas próprias seguidas na publi-


cação que ora apreciamos são as seguintes:
a) nome do autor, "abreviado, como nos exemplos seguintes:

AYREs, G. C. de M.
MARTINELLI, A. - (F 0 )
MARAVALHAS, N .";

b) nome dos autores, com as formas de abreviação antes


referida, "sendo os nomes dos colaboradores citados em ordem
direta e em caracteres minúsculos, como nos exemplos :

BoBBIO, P. A., S. Joly e R. de Camargo


VERONA, 0., P. L. Verona e A. Martinelli (F 0 )
MARAVALHAs, N. e P. A. Bobbio";

c) data dos trabalhos citados, "sempre abaixo do nome do


primeiro autor [ou único], no quinto espaço, como nos exemplos:

LIMA, v. DE A.
1953 -
FALANGHE, H.
1954-
PASTEUR, L.
1890 -";

d) duas ou mais citações do mesmo autor, "isoladamente ou


com colaboradores, proceder da seguinte forma:

SERZEDELLO, A.
1954 -
SERZEDELLO, A. e G. C. de M. Ayres
1954 -";

e) citação de livros, constando, "após a data, o nome do


livro, volume, edição, casa editôra e as páginas consultadas, comrJ
no exemplo seguinte:
E L E :!ll E N T O S DE n I ll L I O L O G I A 9

BROWNE C. A. e F. W. Zerban
1941 - Physical and Chemical l\lethods of
Sugar Analysis, th:rd ed., rewritten and
reset, John Wiley & Sons, Inc., K Y.,
109-111, 1.017";

f) citação de periódico, "deverá constar o título do trabalho


no original, seguido do nome do 'periódico abreviado segundo
normas do World List of Scientific Per~odicals 1900-1930

(SMr.rH, W. A., F. J.J. Kente e G. B. Stralton


1952 - W orld List of Scientific Periodicals
1900-1950, third edition, Buttworth
Scient:fic Pnblication, London),

separados por vírgulas, como nos exemplos:


KENDREW, J. C., R G. Parri!ih, J. R. l\Iarrach e
E. S. Orlans
1954 - The species specificity of myoglobin,
Nature, Lond., 174(4438): 946-9-!9
BARBOSA, P. E.
1954 - Análise Isotópica per Espectroscopia,
Sciênc. e Cult., 6(1): 10-12
FERNIEH, H.
1!)54 - Un Bombardia nonveau snr l\Ianioc, Rev.
de Mycol·, Paris, Suppl. colonial, N. 1,19
(16) : 1-19
Suprimir-se-á o número entre parênteses, correspondente ao nú-
mero do fascículo ou o número da revista, quando desnecessário";
g) citação de autores on de bibliografia no texto, podendo
"adotar uma das duas fórmulas, conforme as necessidades: Scr-
zedello ('30) ou apenas ( 30)";
h) citação de trabalhos "não consultados no original", sendo
"obrigatório fazer a ressalva, colocando, em último lugar, o nome
da fonte de oncle foi colhida a informação citada", como nos exem-
plos:
LocsiN, C.
1953 - Marketiug of sugar caue, Sug .•J., N.
Orleans, 16(3): 12-18, Ipt. Snp. J., 1954,
56(667): 194
10 .~NTÔNIO HOUAISS

JANENSH, I.
1937 - Pasteurization and turbidity in pale
beer, Wschr. Brau., 54:115-16, Chem. Abstr.,
1938, 32(3): 1.042
PHICE. w. H .
1952 - Bacterial viruses, Annu. Rev. Microbiol.,
G:333-348, Buli. Inst. Pasteur, 1954, 52(11) :1.454;

i) "na elaboração da bibliografia citada, embora numerados,


todos os nomes· dos autore.s serão citados em ordem alfabética".
7 .1. 2. 3 O exemplo, analiticamente referido S1tpra, de norma-
lização, louvável sob muitos aspectos, como critério eficaz para o
melhor aproveitamento do esfôrço coletivo, deveria sez: tomado
como estímulo por quai'ilquer entidades oficiais, 'oficiosas ou pri-
vadas de pesquisa e publicação no Brasil. Mas o ideal é que as
normas particulares, na medida do possível, se conformassem com
as normas gerais, isto é, aquelas que pudessem ser extensivas a
quaisquer publicações de quaisquer gênero~'! - objetivo preten-
sioso mas viável, a que muito modestamente . procura dar sua
achega êste livro.
7 .1. 3 Em fr<Lncês - Em inglês, além dos já citados, podería-
mos acrescentar excelente obrinha de JoHN BENBOW (cf. BENB).
Em francês merecem referência especial um folheto e um livro de
objetivos muito afins com as normas acima referidas; enquanto
aquelas, porém, como convém a um país ainda sem tradição
universitária e editorial de pesquisa mas interessado em desênvol-
vê.-la o mais ràpidamente possível, têm caráter coercitivo dentro
da instituição a que se destinam, o folheto e o livro em causa se
apresentam em forma de melhor codificação de hábitos e costum~s
geralmente observados por muitos e muitos anos. Referimo-nos,
no caso do folheto, ao de MAURICE DENIS-PAPIN, e, no caso
do livro, ao de DANIEL 1\iORNET.
7.1.3 . 1 0 folheto de DENIS-PAPIN (cf. DENI); após rápida
introdução em que mostra os objetivos da publicação, apresenta
as seguintes partes: I - formatos e qualidades de papel; II -
caracteres ; III - protocolo de correções; IV - manuscrito ; V
- títulos, tábuas, índices, "chapéus", bibliografias, prefácios, de-
dicatórias; VI - figuras; VII - correção de provas; VIII -
errata e addenda; ·IX - cintas, prospectos, serviços de imprensa;
· <'Xemplares ·e honorários de autores; X - maneira exata de es-
crever o valor numérico de uma grandeza e abreviação de sua
11nidade; XI - bibliograf:a sumária; XII - alfabeto grego.
ELEMENTOS DE BIBLIOLOGIA 11

7 .1. 3. 2 O livro de DANIEL MoRNET ( cf. MORN), destinando-se,


particularmente, a ministrar conselho e sugestões para o desen-
volvimento temático das dissertações aos candidatos à licenciatura
em letras das faculdades francesas, pode servir como lembrete para
a elaboração de guias normativos em determinadas instituições,
combinadas as suas características aproveitáveis com as anterio-
·res, · particulares, e as gerais. O plano do livro em causa é o
seguinte: 1.a parte - preparação de autores e questões: a)
preparação geral; b) preparação particular dos autores ou ques-
tões do programa ; 2. a parte - pesquisa das idéias necessárias
a uma dissertação: a) compreender bem o assunto proposto; 3.a
parte - ordenação das idéias ou composição: a) a composição
por hierarquia; c) a composição estética; d) outras formas de
composição; 4.a parte·- o estilo: a) a espontaneidade; b) o mo-
vimento; c) a côr.
7 .1 . 4 Planos brasileiros - De outro lado, podemos citar, do
Instituto Nacional do Livro, o volume prospectivo da Enciclopé-
dia brasileira ( cf. ECBR), cujas partes dão uma idéia prévia do
conjunto de problemas que já tiveram de ser examinados e pla-
nejados, quando não normalizados: a) apresentação; b) diretri-
zes da Enciclopédia brasileira; c) introdução ao seu planejamento;
d) plano geral; e) normas regimentais de funcionamento: 1 -
do funcionamento dos órgãos de elaboração da Enciclopédia bra-
-~ileira; f) normas administrativas de contrôle: 1 - das normas
gerais; 2 - do· recenseamento das entradas; 3 - rotina dos
trabalhos dos recenseadores; 4 - da estrutura geral dos verbêtes;
5 -- do contrôle da elaboração dos verbêtes; 6 - da enumeração,
classificação e codificação de abreviaturas; 7 - dos ajustes para
colaboração; 8 - da organização do roster; g) normas técnicas
básicas: 1 - instruções gerais para os verbêtes de lingüística e
filologia; 2 - instruções gerais para os verbêtes de filosofia; 3
- instruções gerais para os verbêtes de religião; 4 - instruções
gerais prura os verbêtes de ciências históricas e sociais; 5 - ins-
truções gerais para os verbêtes de lógica, ciências físicas e mate-
máticas; 6 - instruções gerais para os verbêtes de ciências natu-
rais; 7 - instruções gerais para os verbêtes de questões tecnoló-
gicas; 8 - instruções gerais para os verbêtes de arte; 9 - instru-
ções gerais para os verbêtes de literatura.
7 .1. 4.1 Uma recensão crítica de certos aspectos dêsse projeto
....:.... aspectos conexos na maioria dos . casos com as questões ventila-
das neste livro - pode ser lida em trabalho do autor ( cf. HOUA) .
12 ANTÔNIO HOUAISS

7 .1. 4 . 2 De outro lado, do autor ainda há um plano, encam-


pado em princípio pela Comissão Machado de Assis, que confi-
gura a elaboração do Dicionário das obras de Machado de Assis
(cf. HOOU).
7 .2 NORMAS DE REVISTAS - Guias normativos para colaboração
em revistas ou periódicos científicos são freqüentemente elabora-
dos e oferecidos como padrão àqueles que devem emprestar seu
concurso intelectual aos mesmos. Por muito ilustrativos, repro-
duzem-se, por tradução, o da The Romanic Review ( cf. ROMA)
e o da St1ulies in Philology ( cf. STUD) - ambos sob o título
"notes for contributors" - "notas para os colaboradores":
a) de The Romanic R evie1.v:
1. Todos os originais devem ser dactilografados em espaço
interlinear duplo, com amplas margens.
2 . As citações em qualquer língua de mais de quatro ou
cinco linhas dactilográficas serão geralmente impressas em romano
pequeno como parágrafo .autônomo, corrido para a direita. No
original tais excertos deverão ser dactilografados em parágrafo
autônomo em espaço interlinear simples, sem aspas de abrir e de
fechar.
3. Os títulos dos livros e dos periódicos deverão vir em
itálico, sendo sublinhados na dactilografia. Os títulos de artigos,
capítulos e poemas deverão ser em romano entre aspas.
4. Nos títulos de publicações inglêsas, nos · de periódicos em
quaisquer línguas, menos o alemão, e nas divisões de obras em
inglês (partes, capítulos, seções, poemas, artigos etc.,), a primeira
palavra e tôdas as palavras principais deverão ser em maiúscula.
Ex.:
The Oomedy of Errors
In the [sic] Romanic Review there appeared an article
entitled "Flaubert 's Correspondence with Louise Colet, Chronology
and Notes." [si c] .
Such a repetition may be found in the Preface. (Mas: James
Gray wrote the preface for the second edition.)
5. Numa passagem em inglês, os títulos franceses de-
verão ter o artigo [inicial] em letra maiúscula e sublinhado como
parte do título. Ex.: "He read La Fra!fl.ce vivante." Numa passa-
gem em francês;· o artigo não deverá ter maiúscula nem ser sub·
linhado. Ex.: Il a lu la France vivante et l' Histoire de la litté-
rature fra.nçaise de Lanson.
ELEMENTOS DE BIBLIOLOGIA 13

6. Numa passagem em inglês, os títulos em francês e em


italiano deverão ter maiúsculas, como segue. A primeira palavra
sempre a terá. Se se seguir imediatamente um substantivo a um
artigo inicial, definido ou indefinido, aquêle também terá maiús-
cula. Se o substantivo é precedido de um adjetivo, êste também
terá maiúscula. Se o título se inicia com qualquer outra palavra
que não um artigo ou um adjetivo, as palavras seguintes serão
com letra minúscula. Ex. : Les Femmes savantes; La F'olle J our-
née; L'Age ingrat; De la terre à la lime,- Sur la piste; La Leda.
senza cigno; Scrittori del tempo nostro,· I NMratori; Nell'azzurro;
Piccolo Mondo antico.
7. Os títulos em espanhol deverão ter maiúscula somente na
primeira palavra, a menos que o título encerre um nome próprio.
Ex. : Cantigas de · amor e de maldizer [sic] ; La perfecta casada.
8. Palavras ou locuções numa língua que não a do artigo
e ainda não naturalizadas, deverão vir em itálico, sublinhadas na
dactilografia. Consulte o dicionário em caso de dúvida: genr·e,
piece à these, ancien régime, Zeitgeist. ·
9. Tôdas as citações deverão corresponder exatamente ao
original, nas palavras, grafia e pontuação. Palavras ou locuções
citadas deverão não ser postas em grifo, ou sublinhadas, a menos
que o esteja:tn no original ou a menos que uma nota de rodapé
indique que o itálico não existia no original. Qualquer inter-
polação numa citação deve ser indicada com vir entre colchêtes;
qualquer omissão deve ser indicada por três pontos sucessivos.
Ex. "It is this work [Le .Lys dans la vallée] which -"; "Il
est. . . absorbé par des travaux -." [ sic].
10. As notas de rodapé devem ser numeradas consecutiva-
mente em cada artigo ou recensão. No texto a remissiva deve
ser impr.essa como número superposto (ligeiramente acima da
linha d~ctilografada) ; à cabeça da nota propriamente dita, deve
vir o· número em corpo normal seguido de ponto (no nível re-
gular da linha dactilografada). Ex. : At eighteen, he moved to
Paris. 1
·1., John Palmer, Studies in the Contemporary Theatre,
p. 4,8.
.11. As notas de rodapé podem ser dactilografadas no pró-
prio artigo, separadas do texto por uma barra horizontal, ou
anexadas ao fim do texto, em páginas separadas das do texto do
artigo propriamente dito.
12. Os números remissivos das notas deverão no texto se-
guir-se ao final de pontuação. Ex. : There is no question as to
the date of this edition. 2 As Flaubert stated, 3 he was willing
to-.
14 ANTÔNIO BOU.AISB

13. Referências curtas, incluídas no texto para economizar


notas de rodapé, deverão ser postas entre parênteses e não devem
conter abreviações. Nas recensões, essa ê via de regra a maneira
mais fácil de referir-se diretamente ao trabalho que está sendo
recenseado. Ex.: In the Introduction (page 10), the author re-
marJrs -.
14. Os nomes próprios não devem nunca ser abreviados.
Mesmo o nome do autor cuja obra esteja sendo recenseada deve
ser escrito, cada vez que seja empregado, por extenso.
15. Tôdas as notas de rodapé devem principiar por letra
maiúscula e terminar por . ponto ou outro sinal de pontuação.
Cada nota deve conter exata referência à página ou páginas em
causa; o título raramente é de si bastante. Se uma nota de ro-
dapé se refere ao mesmo título citado na nota precedente, ioid.
deve ser usado para evitar a repetição do título. Se a nota se
refere a trabalho já citado, mas não na -nota precedente, op. eif
deve ser usado com relação a livro, Zoe. oit. com relação a artigo.
Tais abreviações não devem, ordinàriamente, ser usadas para se
reportarem retrospectivamente além da página precedente. Já
que o objetivo disso, contudo, é de meramente evitar ambigüi-
dade, não é mister estabelecer regra a respeito. Ex. :
10. Cross, Slover, .Ancienf Irisk Talu, p. 35.
11. Loomis, Oeltie Mytk and .Artkurian BOfPWI.tWt, p. 90.
12. Ibid., pp. 96-97.
13. W. A. Nitze, ''Lancelot and Guinevere", Speculum,
VIII, 240.
14. Loomis, op. cit., p. 131.
15. Nitze, Zoe. cit., p. 294.
16. Na citação das referências, a soma de pormenores bi-
bliográficos é deixada · à discrição do colaborador, mas a ordem
dos itens deve ser apresentada como se indica abaixo. A inclusão
dos itens (3), (4) e (5) é de opção do colaborador No caso de
livros citados, a forma das referências deve ser a seguinte ( 1)
nome do autor, precedido do seu prenome ou das suas iniciais;
(2) o título em itálico (sublinhado); (3) qua.ndo necessário, a
edição; ( 4) o lugar de publicação; ( 5) o nome do editor; ( 6) a
data da publicação; (7) referência ao volume em número romano
com maiúsculas, sem ser precedido de 'Vol.' ou 'V'; (8) referên-
cia à página, em números arábicos precedidos de 'p.' ou 'pp.'
somente quando não houver referência anterior ao volume. Cada
item, salvo o último, Mve ser seguido de vírgula; o último item,
de ponto. Ex. :
ELEMENTOS DE BIBLIOLOGIA 15

Albert Th!baudet, Histoire de la littérature française de


1789 à nos jours, Paris, Stock, 1936, p. 60.
H. O. Taylor, The Mediaeval Mind, 4th. ed., New York,
Macmillan, 1925, li, 221-225.
17. A referência aos periódicos deve compreender, sempre
que possível, o número do volume e o número 'ou números de
página. Quando fôr conveniente indicar também o ano, deve
êste entre parênteses seguir-se ao número do volume. Quando
fôr impossível dar o número do volume, a data do exemplar de-
verá vir em seu lugar. Ex: La Nouvelle Revue Française, li
( 1909), 224; Lcs N cuvelles L-ittéraires, 30 juillet 1932, p. 8.
18. Os periódicos segu!ntes devem ser abreviados nas notas
de rodapé como segue:

Grobers Gntndriss der romanischen Philologie - GG


Modern Language Journal - MLJ
Modern Language Notes ~ MLN
Modern Philology -MP
Publications of the Modern Language Association -
PMLA
Romania- R
Revtte d'Histoire Littéraire de la Fr.a.ncB - RHL
Revue de Littérature Comparée - RLC
Romanic Review - RR
Zeitschrift fiir franzosische Sprache und Literature
ZFSL
Zeitschrift für romanische Philologie - ZRP

19. As seguintes palavras e abreviações latinas devem


Her empregadas em itálico, sublinhadas na dactilografia; poderão
ter maiúscula inicial somente quando iniciarem nota de rodapé:
ca (cêrca, nas datas), e.g. (por exemplo), et al. (e outros),
ibid. (não ib. ou idem; a mesma referência), i. e. (isto é), loc.
cit. (lugar citado), op. cit. (obra citada), passim (aqui e ali,
em passagens várias), sic (assim mesmo), vs. (versus, contra).
São exceções: etc., viz.
20. As abreviações seguintes aparecerão em romano e por
conseguinte não serão sublinhadas na dactilografia: cf.; f., ff.
(seguinte-s) ; fol., foll. (fólio, fólios); L, 11. (linha, linhas) ; p.,
pp.; vol.; vs., vss. (verso, versos). Mme e Mlle, MS e MSS
(manuscrito, manuscritos) deverão ser dactilografados sem ponto.
21. O cabeçalho das recensões deverá seguir os seguintes
modelos:
16 ANTÔNIO HOUAISS

J1tles Sandea-u, l'hornme et la vie. Par Mabel Silver, Paris,


Boivin, 1936. Pp. 247.
A History of Fre-nch Dramatic Litterature in the Sevente-
enth Cent1try. By Professor Henry Carrington Lancaster. Bal-
timore, The John Hopkins Press. Part. I (1610-1634), 2 vols.,
1929. Pp. 785. Part li (1635-1651), 2 vols., 1932. Pp. 804.
Part III ( 1652-1672), 2 vols., 1936. Pp. 896.
22. Tôdas as referências, completado o original, deverão ser
reverificadas, antes de ser o original submetido à publicação.
23. Os colaboradores devem guardar consigo uma cópia fiel
em carbono do seu original;

b) da Studies in Philology:
Os originais submetidos à Studies in Philology devem
ser remetidos por via postal com porte de retôrno. Todos os
originais df;lvem ser dactilografados em papel branco de formato
padrão. As cópias de carbono não são adequadas. Os originais
devem ter duplo espaço interlinear, salvo para matéria citada e
para as notas de rodapé, e devem vir isentos de acréscimos inter-
lineares.
As notas de rodapé, em espaço interlinear simples, devem ter
sua primeira l!nha com entrada paragráfica, e sua numeração
consecutiva no artigo todo inteiro.
A primeira referência de rodapé a um livro deverá conter
os seguintes itens, pela ordem: (a) o nome do autor, com o pre-
nome ou as iniciais antes do sobrenome, tudo seguido de vírgula;
(b) o título do livro, sublinhado; (c) o lugar e a data de publi-
cação entre parênteses; ( d) o número do volume em algarismos
romanos com maiúsculas, seguido de vírgula; (e) o número da
página, ou os números, em algarismos arábicos, seguidos de um
ponto. Omitem-se as formas 'Vol.' e 'd.' quando ambos os dados
ocorrem numa mesma referência. Se o nome do editor é dado,
deverá ser inserto entre o lugar e a data da publicação.
1 J. M. Manley, Smne New Light on Chaucer (New York,
1926), p. 25.
2 W. J. Courthope. History of English Poetry (London and
New York: Macmillan, 1904), li, 49-51.
A primeira referência de rodapé a um artigo de um perió-
dico deve conter os seguintes dados, pela ordem: (a) o nome do
autor, com o prenome ou iniciais antes, seguido de vírgula; (b)
o título do artigo, entre aspas; (c) o título do periódico, ou
sua abreviação, sublinhados, seguidos de vírgula; ( d) o número
ELEMENTOS DE BIBLIOLOGIA 17

do volume em algarismos romanos com maiúsculas; (e) o ano da


publicação, entre parênteses, seguido de vírgula; (f) o número
da página, ou números, em algarismos arábicos, seguidos de ponto.
3 G. A. Harrer, "Some Characteristics of Roman Lettering

and Writing", Studies in Philology, XXVIII (1931), 15-16.


Reporte-se ao capítulo sôbre "Footnotes" em A Manual
of Style (9th ed.; Chicago: The University of Chicago Press,
1927) para outros exemplos e para explicações quanto a abrevia-
ções tais como ibid. e op. cit. Abreviações convencionais, tais
como DNB, MLN, e PMLA, são aceitas.
7. 3 TIPOLOGIA ESPECIALIZADA - Alguns aspectos modernos da
editoração sobrelevam quanto às dificuldades tipográficas: o da
composição de certos gêneros de trabalhos científicos (matemáti-
cos, físicos, químicos; estatísticos, cibernéticos) em que símbolos,
signos, esquemas, diagramas, e afins ou conexos, ou podem ser
compostos com tipos móveis especialmente fundidos, ou podem ser
estampados mediante processos mecânicos de reprodução íntegrá
de matrizes completas desenhadas expressamente; o da composi-
ção de certas pautas musicais, já na base do pentagrama, já na
de outra,s formas de notação musical, antigas ou inovadoras; o
da composição para fins fonéticos, na representação da chamada
"cadeia falada", "continuum falado", "fala", com seus matizes
de enunciação e de expressão -.já na linguagem dita coloquial,
já na discursiva, já na declamativa, já na recitativa, já na ora-
tória, rítmicas preponderantemente ou não. Consideremos a com-
posição para fins fonéticos, dentre outros motivos porque é sua
solução um dos meios instrumentais mais indicados para a repre-
sentação da linguagem de base oral, como tal e como metalingua- _
gem.
7. 3 .1 Tipologia fonética - Essa composição visa a repre-
sentar a cadeia falada desde um grau fonológico comum a um
grau fonético pessoal: o que equivale a pressupor o conhecimento
de certos conceitos científicos tais como "som", física (acústica),
fisiológica e foneticamente considerado, e como "fonema", fÕnética
e fonolôgicamente considerado. O fato é que, sem se querer es-
miuçar · as muitas particularidades que apresenta o problema da
transcrição fonética da linguagem oral ou da fala, podem ser
levados em linha de aprêço os seguintes fatos principais:
a) o da ortografia de uma língua comum, sistema de trans-
crição que, por tradição ou convenção, procura atribuir a cada
fonema fonolõgicamente considerado um signo - de uma só
letra, de mais de uma· letra, com sinais- adjutórios ou sem êles -,
signo que poderá ser interpretado e realizado foneticamente
18 ANTÔNIO HOUAISS

de forma diferenciada de região dialectal para reg1ao dialectal,


de camada social para camada social, de indivíduo para indivíduo,
apesar de seu caráter social e culturalmente indiferenciado para
os fins de inserção num sistema de valôres comunicantes;
b) o da transcrição da cadeia falada de uma dada região
dialectal, ou de uma seção de uma dada região dialectal, ou do ·
conjunto de regiões e seções dialectais de uma dada unidade lin-
güística comum, de uma língua comum em suma, segundo suas
diferenci?lções regionais e sociais - de tal forma que a cada som
diferenciado, segundo seus caracteres já gerais à unidade maior,
já particulares a uma região, seção ou camada, corresponda um
signo único, representado sempre por uma e tão-somente uma letra
ou sinal conv1mr.iona1, que pode ser acompanhado de elementos
adjutórios, conforme o princípio fonético stricto sensu de que a
cada som deve ·corresponder um signo e a cada signo um som,
univocamente;
e) o da representação de uma fala individual, princípio que
se insere no anterior, mas em que fica patente a possibilidade de
que a cadeia falada individual transcrita o é segundo determinada
realização havida num espaço e num tempo por um indivíduo.
7. 3 .1.1 Um quarto grau crescente de rigor na transcrição da
cadeia falada, personalíssimo, é tã(l difuso e fugidio, e ao mesmo
tempo tão oneroso, moroso e complexo, que modernamente se
reconhece não se dever procurar atingi-lo literalmente, sendo de
todo ponto conveniente fixá-la por meios mecânicos de gravação
&onora - desde os hoje correntes com magnetofones, até a apa-
relhagem em estúdios acUsticamente condicionados, em discos,
fibras, fitas, fios de matéria-prima sensível, com características
de alta fidelidade na reprodução sonora - prática, em suma, que
se credencia cada vez mais como objetivo inclusive arquivológico
de capital importância para os estudos atuais das realizações fô-
uicas nes-se capitalíssimo problema do conhecimento humano que
é o da penetração profunda da linguagem humana de base oral;
mas não apenas para os estudos atuais, senão que também futuros,
quando as gerações de amanhã disporão em plenitude daquilo
que as modernas não dispõem: o chamado "museu da palavra",
que pode encerrar mais do que diz, a saber, e pelo menos, dis-
cotecas (palavra e música), fonotecas (outras gravações daquele
tipo que não em discos), tenidiotecas (gravações quaisquer de sons
quaisquer, ruídos etc., produtos da vida social) (cf. THEV).
7. 3 .1 . 2 Os fonet!cistas e fonologistas - teóricos e experi-
mentais - vêm procurando enfrentar o problema da representa-
ção fonética, já internacional, já nacional, já regional, já classal,
\ \

ELEMENTOS DE BIBLIOLOGlA 19

já local, já individual, de maneira diversa e às vêzes concorrente,


quando não discrepante. Grande passo foi dado pelo "alfabeto
fonético internacional", da Associação Fonética Internacional,
reconhecendo os entendidos que, dentre os alfabetos "nacionais",
merece especial relêvo o sueco, que pode ser também aplicado
para fins extranacionais, isto é, não suecos. Para evitar dificul-
dades maiores, dispensamo-nos de reproduzi-los aqui, remetendo o
leitor para obra não-especializada mas de fácil consulta, a Ency-
clopaedia Britannica (cf. ENBR, s. v. phonetics; cf. também JONE).
7. 3 .1.3 Em língua portuguêsa, em Portugal, merecem refe-
rência dois alfabetos fonéticos pelo menos: o do Laboratório de
Fonética Experimental, da Faculdade de Letras, da Universidade
de Coimbra, e o do Boletim de filologia, do Centro de Estudos
Filológicos, de L:sboa (cf. REVI e BOLE). No Brasil, merecem re-
ferência o seguido pelo jovem mestre foneticista e dialectologista
NELSON Rossr, na elaboração do magní.fico Atlas prévio dos fala-
res baianos ( cf ROss), baseado naquele primeiro citado, e o se-
guido nos Anais do primeiro congresso brasileiro de língua falada
no teatro ·(cf. BmL). Qua:squer que sejam os méritos de cada
sistema em causa, em si ou em confronto com o "alfabeto foné-
tico internacional", seria de extrema utilidade para os estudiosos
da língua portuguêsa em todo o seu domínio que uma tentativa
de normalização, isto é, de aceitação comum de um só sistema
fôsse lograda. Um colóquio, simpósio ou congresso para só êsse
fim seria perfeitamente justificável e extremamente útil. tlsses
especialistas congregados poderiam ir além e sugerirem a adoção
de um sistema de transcrição fonética para fins folclóricos - que
consistiria, em essência, na simplificação do que lograssem como
objetivo principal.
7 . 3. 2 Transcrição fonética folclórica - Com efeito, urge,
para fins etnológicos e etnográficos - sobretudo os relacio-
nados com as manifestações folclóricas verbais - um sistema de
transcrição fonética que atenda, num grau de máxima simplici-
dade possível, a caracterização de certos fatos fonéticos típicos.
Não se trata, é obvio, de transcrição fonética exaustiva, já exis-
tente para os foneticistas e dialectologistas.
7. 3. 2.1 Entre os folcloristas nacionais, há duas tendências
manifestas : (a) uma que, baseando-se na ortografia do sistema
convencional em vigor, representa os vocábulos da cadeia falada
segundo aquêles cânones, indo, numa extremação dêsse princípio,
ao rigor de conformar tôda a cadeia falada folclórica ao padrão
culto, deformando, em conseqüência, a tal ponto a realidade repre-
20 ANTÔNIO HOUAISS

sentada que dela só se possa aproveitar o conteúdo nocional; (b)


a outra que, ainda na base da ortografia vigente, tenta melhor
representar a realidade folclórica ouvida, e colhida, procurando,
destarte, dar maior rigor de aproximação e, assim, certo valor
documental para quaisquer fins lingüísticos ao material repre-
sentado. Cingindo-se criteriosamente ao princípio de que uma
transcrição fonética para tais fins deve ser lata, vale dizer, não
entrar em particularidades excessivas - sobretudo quanto às
variantes posicionais fonemáticas - e deve procurar lançar mão
dos recursos tipográficos usualmente disponíveis na ortografia
comum, J. MATOSO CÂMARA JR. elaborou um sistema que cumprP
ter presente (cf. CAMO). Já antes, R. S. Booos propusera, dentro
de idéias afi:u.s, mas com criação de signos fonéticos não disponí-
veis nas fontes tipográficas usuais, uma transcrição para fins
folclóricos, com vistas sobretudo aos falares hispano-amer!canos
(cf. BOGG).
7. 4 PROBLEMAS DE TRADUÇÃO - Imperativo da interdependên-
cia das sociedades humanas - crescente interdependência na me
dida em que as regiões ecumênicas se fazem menos isoladas e mais
saturadas demogràficamente -, pode-se afirmar que, desde o
.advento da escrita, já não ideográfica, mas fonográfica, a tradu-
ção vem aumentando de importância para os contactos de cultura,
àa civi.lização, de tecnologia, nas artes e nas ciências, nas religiões
e nas ideologias. Os dados estatísticos modernos são incontrover-
síveis e revelam um auge tal dêsse processo, que se afigura, às
vêzes, impossível que êle possa vir a aumentar, quando é certo
que aumentará. Tanto quanto produzir originalmente, traduzir
é, contemporânea e futuramente, uma das condições da criação
de "um mundo só" - na certeza de que a ignorância das reali-
dades alheias é dupla fonte de mal, pela subestimação das reali-
dades alheias e pela supervalorização, por vêzes agressiva, das
realidades próprias. A consciência plena da diversidade parece
dar maior fôrça à convicção profunda da unidade humana - sem
preconceitos de falsos valôres, raciais, éticos, morais, culturais,
materiais e até mesmo tecnológicos, tanto é verdade que, neste
particular, em que a complexificação e divisão dos instrumentos
de ação parecem dar uma medida do progresso, mesmo dos povos
ditos atrasados há formas e estruturas sociais que podem dar
lições de eficácia aos. povos ditos avançados.
7. 4 .1 Tradução-revelação - Desnecessário se faz lembrar
exemplos venerandos de tradução - a tríplice inscrição traduzida
de Rosetta, muitos séculos depois de lavrada, multJplicou ~ua pre-
sença e atualidade, com JEAN-FRANÇOIS CHAMPOLLION (1790-1832)
ELEMENTOS DE BIBLIOLOGIA 21

e tôda a gestação historiográfica que daí se inspirou, com resul-


tados e direções fecundos para o conhecimento do homem pelo
homem ( cf. CLEA). E as religiões vocativamente católicas, isto é,
universalistas, desde sempre compreenderam que, a par da con-
veniência de uma língua litúrgica que "fixasse" a verdade de sua
mensagem, se impunha a disseminação de suas palavras em lín·
guas alheias, por amor do proselitismo e dos neófitos.
7 .4.1.1 No que se refere à seção dita ocidental da cultma,
com berço e foco na helênica, o processo da tradução, grosso modo,
· ficou de certa maneira reduzido à transferência recíproca das
mensagens do mundo helenístico, que tinha por veículo a língua
grega, e o mundo romano, e românico subseqüentemente, que tinha
por veículo a língua latina. O intercâmbio e a interpenetração
dêsses mundos foi fonte de traduções contínuas, numa direção e
na outra. E a religião cristã, católica romana, ou greco-ortodoxa,
fundando-se em matriz hebraica e aramaica, se expandiu graças
ao grego e ao latim, depois aos vernáéulos, sempre com recurso
às traduções. O islão, fundado no árabe ( corânico), por sua vez,
a partir do século VII, conquista e expande-se, recorrendo ainda
às traduções do e para o grego essencialmente, mas também de e
para outras muitas línguas.
7 .4.1.2 É, porém, com o advento da tipografia, que o pro-
cesso da tradução se intensificará - já em obras religiosas, já
em obras profanas e laicas. E embora, para fins de pensamento
e de cultura, o latim vieSISe firmando sua hegemonia desde a alta
Idade Média através do Renascimento, até o século XVII, é a
partir do Renascimento que as traduções vão principiar a proli-
ferar, podendo-se mesmo falar numa febre de poliglotismo, que
em dado momento invadiu o Ocidente e a tipografia. A industria-
lização da tipografia _incrementará, porém, no século XIX, as
tiragens e os títulos editoriais. E com isso, e com o nôvo huma-
nismo que nêle se esboça, o homem de cultura realizou pela
primeira vez o ideal de TERÊNCIO - "homo sum; humani nihil a
me alienum puto". E traduções de cada língua para muitas ou-
tras· línguas se multiplicarão em cada centro nacional de cultura.
Mas o século XIX, que intensificou o processo, incrementou, tam-
bém, o vício que desde cedo nêle se manifestara, a saber: tradução.
- traição.
7.4 .1. 3 É que transpor o ,sistema de valôres lingüísticos, no
amplo sentido da palavra, de um original, para outro sistema de
valôres lingüísticos, é operação, quando não impossível, pelo menos
dificílima. E dois escolhos sempre houve: de um lado, o conhe-
22 ANTÔNIO HOUAISS

cimento insuficiente de um dos dois sistemas em JOgo, do outro


lado, o desconhecimento das ou a repulsa às instituições, hábitos,
idéias, maneiras, ao estilo, no amplo sentido também da palavra,
do or:ginal. Se as primitivas' traduções medievais e do correr do
Renascimento .,....- no que tange ao mundo ocidental moderno -
pecam às vêzes pelo desconhecimento, po~ parte do tradutor, de
uma das duas línguas em jôgo, no século XIX ocorre já não tanto
êsse mal, mas a convicção de que se impõe ambientar, "naciona-
lizar", na tradução, a mensagem do original. Essa operação se
fazia por várias vias, algumas apenas das quais vão aqui enun-
ciadas: (a) cortes ou saltos de passagens consideradas enfado-
nhas; (b) adaptações de coisas, instituições, hábitos, costumes, ali-
mentos; (c) "tradução" dos antropônimos, não raro também
unificações dos mesmos. Destarte, para só citar um exemplo, o
DosTOIEVSKI que se veio a conhecer, via de regrà por via do fran-
cês, estava tão distante do verdadeiro, que o labéu de suspeição
pesa inteiramente sôbre as suas traduções ocidentais, impondo-se,
j"á hoje em dia, uma como "crítica textual" das traduções. É
que o século XIX foi em pós da tradução ":feliz", mais do que
da :fiel e da fidedigna.
'i .4 .1. 4 No que se refere às traduções para o português, pro-
priamente dito, abstraindo as veneráveis - mas apenas, também,
na maioria dos casos, ":felizes" - da Idade Média até o século
. XIX, neste as assinadas (e realizadas) por ANTÔNIO FELICIANO
DE CASTILHO, por CAMILO · CASTELO BRANCO e outros nomes de
escol -, cumpre distinguir, in l1.mine, dois tipos: (a) as que se
basearam no original, (b) as que se basearam numa tradução,
apresentando, pois, uma língua intermediária. Neste segundo
caso, a relação "tradução : traição" se agravava para "tradução :
traição :traição". No Brasil, pela década de 1920, MÁRIO BARRE-
TO, ANTENOR NASCENTES, JosÉ ÜITICICA e outros mestres do en-
sino da língua deram exemplo de traduções fiéis e :fidedignas,
que, estas sim. são n~cessàriamente felizes.
7. 4 .1. 5 Subseqüentemente, uma onda pouco recomendável de
traduções começou a invadir o mercado editorial brasileiro, ca-
racterizada não apenas por traduções de línguas intermediárias,
cujos verdadeiros tradutores às vêzes nem sequer eram mencio-
nados, ocorrendo, tão-somente o do autor consignado como tra-
dutor, para credenc:ar a "operação" comercial. Estágio seguinte
foi o representado pela menção do tradutor intermediário como
tradutor e o de um revisor ou supervisor, via de regra mais cre-
denciado ou com nome mais ilustre na república das letras.
ELEMENTOS DE BIBLIOLOGIA 23

7 .4.2 O trabalho de tradutor - No estágio presente, cami-


nha-se, pelo menos nas editôras responsáveis, para algo de mais
sério, algo que supõe as seguintes preliminares:
a) se se trata de textos para os quais se possa encontrar
tradutor direto, isto é, sem· tradução intermediária, tais os em
francês, inglês, espanhol, italiano, galego, catalão, romeno, ale-
mão, latim, grego, russo, árabe, hebraico, polaco, sérvio, croata,
tcheco, flamengo, holandês, africânder, turco, chinês, japonês. sâns-
crito, etc. : ( 1) verificar a fidelidade e fidedignidade da edição
·do texto que vai ser traduzido, operação que, nos casos contro-
versos, pode ser obviada com uma consulta direta às missões di-
plomáticas dos países a que se refiram os textos, as quais diri-
girão a consulta ao centro competente de seu respectivo país; (2)
verificar, se ainda não comprovada, a eficácia do tradutor, por
eonsulta daquele tipo, com padrão de cotejo, vale dizer, algumas
páginas por êle traduzidas, podendo ocorrer que a fidelidade e
fidedignidade sejam satisfatórias, mas a felicidade claudique,
quando se imporá, então, um revisor ou supervisor da tradução
idôneo e bom conhecedor do português, pelo menos, operação de
revisão que deverá ser, sempre, feita à vista do original ou do
tradutor; (3) mencionar, sempre, nas preliminares da edição do
texto impresso traduzido a fonte da -tradução; ( 4) anotar, em
notas de rodapé, in fine ou no prefácio, algumas características
especiais relativas ao vocabulário ou às instituições, fatos ou coi-
sas, de cuja compreensão clara dependa . a intelecção da tradução;
(5) prefaciar, sempre que possível, a tradução, com pma notícia,
-conforme o caso, da obra, e do autor, e da literatura em qu~ se
integra. nessa ordem ou na inversa;
b) se se trata de textos para os quais não se pôde encontrar
tradutor direto: verificar a fidelidade e fidedignidade da tradu-
-ção intermediária, por consulta do tipo 1 supra; fazer acompa-
nhar o texto impresso da tradução com as características 3, 4 e 5
.~upra.

7. 4. 2.1 Traduzir é operação dificílima, ousamos dizer, pois


presume bom conhecimento de dois sistemas lingüísticos, pelo
menos. Se êsse conhecimento se estende a vários sistemas em que
haja tradução do texto por traduzir, é freqüente os tradutores
lançarem mão das outras traduções, como têrmo de cotejo - o
que é operação não apenas lícita, mas recomendável, para melhor
se depreender a forma por que foram vencidas certas inevitáveis
dificuldades parciais ou locais; mas que o cotejo seja cotejo, não
mero recurso alternativo desta passagem pela tradução na língua
a, dessa pela tradução na língua b, daquela pela tradução na
24 ANTÔNIO HOUAISS

língua c: é quase certo que a traição da traição será, nesse caso,


complexa e compósita, o que é agravar de males o mal. Entre
nós, modernamente, PAULO RóNAI nos oferece um primor de con-
siderações pertinentes ( cf. RONA).
7. 4. 2. 2 Escusa entrar na questão, entretanto básica, da re-
muneração dos tradutores, êsses operários das letras que, devendo
viver delas, auferem um salário até agora baixíssimo para a gra-
vidade do seu m!ster, com o que decorre a quase impossibilidade
de os tradutores idôneos traduzirem, ficando êsse mister relegado
aos aventureiros disponíveis, ou aos neófitos (de que poderiam,
de que podem derivar bons especialistas em tradução, os quais,
entretanto, via de regra arrepiam carreira, com poderem encon-
trar em breve formas de atividade mais condignamente bem
remuneradas). O fato é que, dentre outros gravames que pesam
sôbre- a ciência e arte de traduzir, há o de que o tradutor percebe
um pro labore único e definitivo, quando em verdade deveria par-
ticipar de uma cota-parte autoral, mesmo se o autor da obra, vivo,
perceba os direitos autorais - ou seus herdeiros.
7 .4.3 Técnica da tradu.ção - Na técnica da tradução, além
dos escolhos inerentes às dificuldades de transposição dos valôres
comunicativos e expressivos de um sistema lingüístico para outro,
há particularidades bibliológicas que devem vigilantemente ser
respeitadas, relacionadas com (a) as citações originais, (b) as
remissões, (c) as notas ~ ( d) os índices. Isso, é óbvio, se faz
mais urgente em obras de erudição, ciência e técnica, do que nas
artísticas, que via de regra são despojadas daquele aparato.
7.4.3.1 Nas citações constantes do original por traduzir,
ocorre uma de duas hipóteses: (a) são elas feitas em língua que
não a do original, (b) são elas feitas na língua do original. No
caso (a), a presunção normal (e normalmente única válida) é a
de que a citação é feita na língua que é fonte da cita_ção; no
segundo caso (b), tanto pode acontecer que a citação seja da
própria língua do original por traduzir, quanto de outra língua
que não a do original. Como princípio genérico, porém, as cita-
ções da hipótese (a) não devem, no texto, ser traduzidas, man-
tendo-se, pois, a mesma relação primitivamente existente: a lín-
gua por traduzir está para as línguas citadas, assim como o por-
tuguês para as línguas citadas - que devem assim ser mantidas;
caso, contudo, sejam de supor desconhecidas do leitor médio, em
rodapé deverão vir notas que traduzam para o português tais
citações, tradução que, quando possível, serão transcritas da obra
já traduzida em português, havendo, destarte, dnas remissivas, a
ELEMENTOS DE BIBLIOLOGIA 25

que é do original e a que é da tradução de apoio. As citações


da hipótese (b) devem, no texto, ser traduzidas, para, em por.
tuguês, haver a uniformidade aparecida no texto por traduzir;
mas aqui também everá ocorrer um problema : o texto das tra-
duções citadas deverá ser, sempre, objeto de confronto com o seu
texto original, salvo se houver tradução portuguêsa; neste caso,
além da remissiva original, deverá seguir-se a remissiva à tradução
portuguêsa já existente. Quanto ao mecanismo das remissivas,
ver o local próprio dêste livró.
7 .4.3.2 Nas remissões, é mister que o tradutor respeite a
sistemática original, mudando, tão-somente, as reduções bibliográ-
ficas e bibliológicas para os da tradição ou normalização brasi-
_leira. Por exemplo, "ff." em inglês, em português será "ss." ou
"segg." ou "seqq.".
7. 4. 3 . 3 As notas do original por traduzir devem também ser
traduzidas, respeitados os aspectos essenciais dessas notas, inclu-
sive sua numeração ou método remissivo. Acontecendo, porém,
que o tradutor deva anotar, êle também, cumpre, sempre, distin-
guir as notas originais das da tradução; é habito, em casos tais,
haver, in fine destas notas, uma indicação do tipo 'N. T. ' ou
'N. do T. ', equivalente a "nota do tradutor ". Melhor processo,
entretanto, em obras científicas, é o de adotar numeração própria
para as notas do tradutor, entre colchêtes, no texto, e, em rodapé,
inclusão da nota inteira, inclusive índice de remissão, entre col-
chêtes, com o que se distinguirão, sistemàticamente, uma das
outras. Pode-se, também, respeitar a numeração original das
notas, diferenciando as do tradutor pela adjunção de uma letra.
7 . 4. 3. 4 Os índices das obras traduzidas devem ser cuidadosa-
mente verificados, para que a nova ordenação alfabética, nos
alfabéticos, seja respeitada, para que os locais coincidam entre
verbête de índice e ocorrência de texto e para que os vocábulos
indiciados sejam os vocábulos usados na tradução.
7.4. 3. 5 Escusa ressaltar que, nas obras científicas, técnicas e
de erudição, o escolho principal da tradução é a rigorosa e sis-
temática concordâncillo da nomenclatura. Por exemplo, um texto
inglês original em que change se carregar de um conteúdo nocio-
nal que se possa correta e exatamente exprimir em português
por "modificação", esta e tão-sõmente esta palavra· deve ser em-
pregada em português para aquela; se, ao contrário, "câmbio"
fôr a indicada, devê-lo-á, nessa acepção técnica, sP.r sempre a
empregada; se, ainda, fôr "substituição", a mesma constância
deverá ser seguida, evitando-se a imprecisão da nomenclatura. com
26 ANTÔNIO HOUAISS

alternância de "câmbio", "modificação", "substituição", a menos


que a imprecisão ocorra no original por traduzir.
7. 4. 4 Resumos e afins - Conexo com o problema da tradu-
ção, é o dos "resumos", divulgados como digest, condensed, al:ridg-
ed em inglês, resttrné, racconrci, condensé em francês. Há, é
óbvio, necessidade científica dêsse processo nos chamados abs-
tracts - resenhas -, sínteses de monografias ou artigos cientí-
ficos, que aparecem, geralmente in fine, em certas revistas espe-
cializadas, cuja língua possa não parecer acessível a grande
número de eventuais leitores estrangeiros, razão por que tais
abstra.cts ou resurnés são via de regra traduzidos em inglês ou
francês, entre nós, ou mesmo italiano, espanhol, o que já é um
luxo. Os "resumos" outros - para os leitores de "narrativa$"
ou "narrações" a que se refere o nosso MACHADO DE AssiS -
são, entretanto, avassaladores no modo ocidental contemporâneo,
parecendo a êles infensos os chamados países socialistas. Até que
ponto são tais resumos realmente nocivos, pela superficialidade
que decorre do conhecimento haurido por essa via, até que ponto
são úteis, como iniciadores de futuros leitores extensivos, intensi-
vos e exaustivos, é co:sa que se disputa e coisa cuja fortuna, em
verdade, está mais na dependência do desenlace da "crise de
civilização" em que nos debatemos, mais do que nas suas quali-
dades e defeitos intrínsecos. Os resumos acompanhados de ilus-
trações já hoje em· dia se divulgam no Brasil, embora haja duas
claras tendências: a que. se poderia chamar "brucutuesca", en-
campada por certos jornais, e a que se poderia chamar romanesca,
em que há matriz de iniciação popular provàvelmente benéfica e
socialmente útil.
CAPÍTULO VIII

A FUNÇÃO DO LIVRO

8. LIVRO
A palavra "livro", portuguêsa, deriva da latina liber, libri,
no acusativo librum - e tem como correspondentes, em francês,
l·ivre, em espanhol, libra, em italiano, libra, em inglês, book, em
alemão Buch. Primitivamente, lib er em latim significava provà-
velmente o córtice de vegetais, particularmente de certos vegetais
em que êsse córtice se apresentava de forma laminada. Em sua
significação mais genérica, é uma reunião de fôlhas, em branco,
manuscritas ou impressas (três graus, já daí), sobretudo, hoje
em dia, de fôlhas impressas tipogràficamente, elaborado e conser-
vado com a finalidade de transmitir às gerações vivas, vivendas e
vivituras o conhecimento passado e coetâneo já. adquirido, para
inserir-se na práxis social, como el~mento da ação humana, fac-
tua!, factiva e cognitiva.
8.1 ORIGEM no CONCEITO - A origem é remota, mas não ante-
rior, é óbvio, à invenção pelo homem da representação gráfica
das idéias, da escrita, em suma. A representação gráfica, desde
a pictográfica à fonográfica, superpõe-se a matéria-prima contin-
gente, superfícies isoladas, depois reunidas, que condicionam a
existência · dos primeiros "livros". Formas antigas são os ci-
lindros de terra cozida, as tábulas ou tábuas de argila cozida, as
parietais - desde as trogloditas, naturais, às edificadas pelo
homem -. Antigo é o uso, também, de tábuas de madeira com
igual fim - presumindo já não a incisão com estilos de pedra
·ou de metal, mas a pintura com tinta - entre fenícios e hebreus,
sobretudo, porém, gregos ; e, antes quiçá, tábuas recobertas de
cêra, sôbre a qual se fazia a incisão - estilo ainda - dos ca-
racteres, tábuas, aquelas e estas, ligadas entre si, em dípticos, tríp-
ticos ou polípticos, que se assemelhavam à "encadernação", em-
bora de ligação contínua. Com fôlhas vegetais, lâminas metálicas,
tecidos de linho, de sêda, se fizeram superfícies para escrever, e
com o papiro particularmente, fôlha vegetal, é que os egípcios,
28 A N T ÔN I O H OU ·A I S S

pelo terceiro milênio antes de Cristo, intensificaram o uso do


livro "portátil". Modernamente, sob o nome genérico de livro,
há uma grande variedade de espécies, conforme a natureza, a
extensão, a profundidade de tratamento do assuntq ou matéria
versada; conforme o formato, a espessura do impresso; conforme
sua autonomia ou auto-suficiência relativa ou a sua dependência
para com um todo em que se integre como secção ou parte; con-
forme sua relação com o tempo, isto é, com a periodicidade de
publicação ou singularidade de ocorrência; conforme, ainda, sua
finalidade ou uso particular e, neste caso ainda, conforme certas
características da sistematização da matéria tratada. Além disso,
é hábito, retrospectivamente,· considerá-lo segundo sua posição
dentro da historicidade ou história mesma do conceito e do ins--
tituto. Ademais - mas sem esgotar os aspectos por que pode
ser examinada - a palavra "livro" se faz acompanhar de epítetos
ou de adjuntos terminativos que permitam colocá-la numa daque-
las possíveis distinções específicas ou defini-la para outros fins.
8 .1.1 Dete?"'fftinações do conceito - Com o vocábulo "livro"
e um epíteto definem-se, freqüentemente, já o dissemos supra,
finalidades: (1) "infantil", para leitura ou uso de crianças; (2)
"juvenil", para leitura de adoleséentes; (3) "azul", em que o
govêrno britânico esclarece sua posição numa, em geral, questão
de política internacional, mercê de publicação de documentos,
ostensivos, reservados, secretos ; ( 4) "amarelo", em que o govêrno
francês faz outro tanto; (5) "branco", em que o govêrno norte-
americano faz outro tanto: ( 6) "escolar", para uso nas escolas,
em geral de acôrdo com programas, oficiais, oficiosos ou apro-
vados pelas autoridades competentes; (7) "único", com que o
Estado impõe, em determinada disciplina ou conjunto de disci- .
plinas, um tipo de formulação da matéria que passa a dirigir a
formação mental das novas gerações, em geral sob pretexto de
eficácia didática e de custos mais baixos; (8) "didático", o mesmo,
aproximativamente, que escolar, podendo, entretanto, correspon-
der a níveis vários e a aspectos particulares de apresentação da
relação "matéria :docente : discente"; (9) "elementar", (10)
"primário", (11) "secundário", (12) "superior", indicam níveis
de desenvolvimento de livros escolares ou didáticos; (13) "anota-
do", em geral é a publicação de um texto acompanhado de notas
esclarecedoras do mesmo, sob quaisquer pontos de vista; (14)
"premiado", que obteve láurea, oficial, ou privada, de certa rele-
vância; ( 15) "laur~ado", o mesmo que o anterior, aproximativa-
mente; (16) " gastronômico", com receitas e indicações de bem
comer; (17) "técnico", com e~posição de matéria de natureza
ELEMENTOS DE BIBLIOLOGIA 29

técnica, preferentemente tecnológica; (18) "científico", com ex~


pos1çao de matéria de natureza científica, preferentemente nas
chamadas ciências exatas; (19) "popular", de aceitação generali-
zada ou de destinação ao nível médio de compreensão de uma
coletividade ampla; (20) "clássico", originalmente o adotado em
classe de aula, entre os romanos, coincidindo, no pensamento mo·
derno, com o fato de versarem matéria "clássica", isto é; greco·
romana; daí, o que apresenta caracteres tradicionais: daí, ainda,
o que se supõe elemento ponderável de formação humanista; daí,
mais, o que faz época em determinada disciplina, matéria ou
questão, quando, de regra, se faz acompanhar de adjunto termi-
nativo relacionado com a disciplina, matéria ou questão em causa;
(21) "litúrgico", isto é, relacionado com a liturgia de determi-
nada religião; (22) "ritual", isto é, relacionado com um rito; (23)
"doutrinário", isto é, obediente a uma doutrina; (24) "dogmá-
tico", isto é, conforme com um ou os dogmas de uma religião;
(25) "ortodoxo", isto é, obediente a um cânon; (26)'"heterodoxo",
isto é, que iniringe um cânon; (27) "canônico", isto é, conforme
com um cânon; ficando, porém, claro que a relação pode ser mul-
tiplicada e ressalvado o fato de que alguns dêsses epítetos podem
ser usados para com "obra", "exemplar" e vários outros substan-
tivos da área semântica de "livro" ou de "bibliologia" (cf. LEMA).
8 .1. 2 Outras determinações - Ainda com epíteto, o vocá-
bulo "livro" pode indicar sua posição em face das disponibilidades
de seus exemplares; sua posição em relação à biografia do autor;
(1) "raro", de cuja edição restam poucos exemplares disponíveis
ou conhecidos; (2) "raríssimo", {!e cuja edição restam pouquíssi-
mos exemplares, variando o conceito de "pouquíssimos" de acôrdo
com a procura ou necessidade de sua consultação; (3) "único",
de cuja edição não resta senão um exemplar; coteje-se com o
conceito expresso em 8 .1.1 (7) e note-se o duplo uso; veja-se,
po;rém, como em museologia em geral, em documentação em geral,
em exemplarização em geral, que, no sentido aqui particularizado,
é mais usual empregar o latinismo unicum, isto é, "um unicum",
plural "os 1.tnica", e.g., "a Vênus de Milo é unicum"; "EL GRECO,
de muitos de seus quadros, não deixou unicum, pois que fêz mais
de uma versão, sendo às vêzes impossível saber qual a principal
ou definitiva, valendo, dêsse modo, cada uma igualmente" ; as
obras de arte, via de regra, são 1tn1'.ca; (4) "esgotado", de cuja
edição já não há a venda, fora eventualmente dos sebos ou alfarra.
bistas, mais nenhum exemplar; (5) "perdido", stricto sensu, o
de cuja existência se tem notícia histórica, não havendo, entre-
tanto, conhecida nenhuma disponibilidade textual; (6) "póstu-
30 ANTÔNIO HOUAISS

mo", o que é tornado público depois da morte do autor; (7)


"juvenil", o que foi elaborado na juventude do autor; coteje-se
com 8 .1.1 ( 3), mas considere-se qúe, nas ambigüidades, é mais
corrente falar em "obra juvenil" e equivalentes; ficando, porém,
claro que a relação pode ser multiplicada e ressalvado o fato de
que alguns dêsses epítetos podem ser usados para com "obra",
"exemplar" e vários outros substantivos da área semântica de
"livro" ou de "bibliologia".
S .1. 2 .1 Da área semântica há outras determinações, do que
é exemplo a seguinte relação: (1) "acartonado", isto é, cujo
revestimento é feito com cartão ou papelão; (2) "abreviado", o
livro que teve seu texto resumido, geralmente por meio de cortes;
(3) "apreendido", cuja tiragem ou edição foi seqüestrada por
autoridade, competente ou não; (4) "capeado", isto é, com reves-
timento de cartão ou papelão; ( 5) "sobrecapeado", isto é, com
revestimento de papel, impresso, sôbre o revestimento aderido ao
livro; (6) "cartonado", o mesmo que acartonado sup-ra,· (7) "con-
densado", o mesmo que abreviado, podendo, entretanto, tê-lo sido
por remanipulação do próprio autor; (8) "encadernado", isto é,
cujas fôlhas foram revestidas com revestimento duro, couro, per-
calina ou equivalentes; (9) "encamisado", que se apresenta den-
tro de um estôjo inteiramente fechado salvo na face correspon-
dente à lombada; (10) "estojado", que se apresenta dentro de
um estôjo inteiramente fechado, com uma face, geralmente cor-
respondente à lombada do livro, móvel; (11) "encartonado", o
mesmo que cartonado, sup-ra,- (12) "enxertado", em cujo texto foi
acrescentada matéria, alheia ou do próprio autor, de forma arbi-
trária; (13) "erótico", livro que trata de assuntos amorosos; (14)
"expurgado", o de que foram retiradas, em nova edição, passa-
gens reputadas ofensivas, agressivas, heterodoxas, imorais: o pre-
texto, via de regra, é o de imoralidade; (15) "factício", melhor
para "volume", a unidade encadernada ou enfeixada de unidades
editorialmente autônomas na sua origem; (16) "fescenino", o
que explora temas sexuais de forma dita imoral; (17) "glosado",
o que encerra comentários (primitivamente autônomos) no corpo
do texto, em nova edição; (18) "iluminado", o que é ilustrado
com iluminuras ; ( 19) "ilustrado", o que encerra fotos, desenhos,
gravuras e afins; ( 20) "imoral", o que é reputado atentatório
dos hábitos e costumes; (21) "interditado", aquêle cuja circula-
ção foi impedida por autoridade dita competente; (22) "liliputia-
no", o de formato pequeníssimo; (23) "obsceno", o mesmo que
" imoral", suproj (24) "pornográfico", o mesmo que "obsceno",
supra, mas em grau mais vexatório; (25) "proibido", quase
ELEMENTOS DE BIBLIOLOGIA 31

sempre o mesmo que "interditado", supra; (26) "proscrito";


quase sempre o mesmo que "proibido", S'UP"!J, ainda que possa
ter ~ido, previamente, circulaÇão; (.27) "resumido", o mesmo que
"abreviado", swpra, senão que tevf seu texto remanipulado para
ser menos longo.; (28) ;'truncado' ., aquêle cujo texto foi, delibe-
rada ou involuntAriamente, reeditado com lacunas.
8 .1. 3 .Amoo owtras determinações - Com a palavra "'livro"
e. adjunto terminativo (subs.t antivo ou adjetivo substantivado an-
tecedido de preposição), seguido ou não de epíteto, ou com apôsto,
obtém-se, também, indicação : (a) de finalidade temática: ( 1) "de
horas", isto é, livro litúrgico que encerra orações ou práticas
religiosas preconizadas para cada hora canônica do dia; (2) "de
ofícios diários", isto é, livro que encerra orações ou práticas reli-
giosas preconizadas para os diferentes dias do ano canônico; (3)
"de orações", isto é, livro litúrgico que encerra as principais ora-
ções canônicas; (4) "de cantos", isto é, livro litúrgico que encerra
cantos de crença protestante; (5) "de cânticos", isto é, livro
litúrgico que encerra ·cânticos católicos, ortodoxos, judaicos etc. ;
(6) "de côro", isto é, livro que encerra o texto de peças religiosas
ou profanas por serem cantadas em côro, com notação musical
ou sem ela; (7) "de modas", isto é, que encerra modelos, moldes
ou figurinos, do passado ou do rigor da atualidade, para guia do
trajar consuetudinário ou. requintado, num' momento, num país,
numa cultura; (8) "de referência", o destinado a ser intermediá-
rio entre o leitor e todo um conjunto de fatos que se encerram
em outros livros; podem, destarte, multiplicar-se em espécies,
mormente as relacionadas com setores da atividade ou do conhe-
cimento humanos, e.g., "livro de referências bibliográficas", "livro ·
de referências médicas", "livro de referências jurídicas", "livro
de referências actuariais", "livro de referências de revistas de
física atômica", "livro de referências sôbre estudos e pesquisas
do méson", "livro de referências sôbre os c6dices da biblioteca
de Viena da Áustria" etc. ; (9) "de endereços", numa cidade,
bairro, rua; de uma especialidade comercial, industrial, de ser-
viço; de uma categoria profissional; de um tipo de serviço pú-
blico etc; ; (10) "de classe", o mesmo que "escolar", "didático",
"clássico" etc., qq.v. supra; (11) "de exercícios", como o anterior,
mas sem exposição ou texto explicativo, apenas como aplicação
de noções presumivelmente adquiridas; (12) "do aluno", isto é,
livro escolar ou afim para uso do aluno, em oposição ao seguinte;
(1.3) "do professor" em que a matéria se desenvolve paralela-
mente à do anterior, com indicações mais aprofundadas e quali-
ficadas para uso do professor, o mesmo que (14) "do r:1~stre" ,
32 ANTÔNIO HOUAISB

veja o anterior; (15) "de comentários", isto é, livro paralelo a


outro, de que é o esclarecimento, com comentário ; ( 16) "de co-
zinha", o mesmo, de certo modo, que "gastronômico", podendo,
entretanto, apresentar nível mais elementar ou nienos requintado ;
(17) "de culinária", o mesmo que o anterior; (18) "de formulá-
rio", que encerra fórmulas (matemáticas, físicas, químicas, etc.)
de constante aplicação em determinadas atividades ou conheci-
mentos; ( 19) "de farmacopéia", que encerra fórmulas e receitas
farmacêuticas; (20) "de tábuas", que encerra quadros, tábuas,
gráficos, diagramas, de vária natureza (matemáticas, estatísticas,
etc.,); em geral é complemento de um livro de texto; (21) "de
lâminas", como o anterior, estampa reproduções mecânicas de
textos, exemplos, casos, questões estudadas em livro a que se
relaciona e de que é complemento ilustrativo ou de estudo in
concreto; (22) "de marear",. que encerra conselhos, indicações,
normas de navegação, o mesmo que (23) ''de mareação", ver supra
ou (24) "de mareagem", ver supra; (25) "de tarifas", que en-
cerra preços, taxas, emolumentos, impostos vigentes para deter-
minados serviços públicos ou ônus fiscal; (26) "carmiM expur-
gata", o de poemas que, por serem reputados livres, impróprios
ou imorais, segundo a finalidade, teve alguns dêles ou partes
dêles retirados de nova edição ; ( 27) "-anão", o de pequeníssimo
formato; (28) "-gigante", o de grandíssimo formato; (29) "de
edificação", o de exemplário moral; (30) "de exemplos", o mesmo
que o anterior, ou o que se destina a observar regras, princípios,
normas; (31) "no Index", o que foi inscrito pelo Santo Ofício
na relação das obras contrárias ao dogma, à fé, à moral da
Igreja Católica Romana; (32) "-miniatura", o mesmo que livro-
anão, .supra, quiçá menor ainda; ( 33) "com miniatura", o livro
de formato pequeno, ilustrado com ilustrações ou iluminuras tão
pequenas que devem ser examinadas com lupa; (34) "ad usum
delphini", variante do "earmina expurgata", supra, atendendo à
idade dos leitores a que se destina, em obras em prosa ou em
verso (="para uso do delfim", isto é, do herdeiro da França) ;
(b) de características tipográficas: (1) "de imagens", isto é, com
ilustrações, geralmente figurativas, seguidas ou não de texto; (2)
"em quadrinhos", é a feição moderna do livro anterior, fusão da
ilustração figurativa com textos resumidos originais ou de obras
literárias; (3) "de luxo", isto é, com material e cuidados gráficos
custosos, o que traduz uma atitude judicatória de valor, quanto
ao contelído do livro, nem sempre confirmada pelos contemporâ-
neos ou pelos pósteros; (4) '~de cordel", isto é, com material e
cuidados gr~ficos baratos, para mínima expressão de custo e má-
ELEMENTOS DE BIBLIOLOGIA 33

xima divulgação popular, o que feiçoa, ipso facto, uma estilística


própria, a um tempo tradicionalista e conservadora, e inovadora
e viva; ( 5) "de grand.e formato", isto é, com dimensões de pá-
gina geralmente acima das comuns ou médias em que se imprimem
os livros de determinado setor· editorial; (6) "de pequeno for-
mato", o reverso do anterior; (7) "de formato oblongo" isto é,
em que as medidas da base, se colocado o livro em pé, são muito
maiores do que as verticais; (8) "de formato italiano", o mesmo
que o anterior; (9) "in plano", isto é, nas dimensões originais
de uma fôlha de papel de elaboração manual; (10) "in folio",
isto é, o aproveitamento da fôlha in plano dobrada ao meio, com
o que se obtém duas fôlhas ou quatro páginas; (11) "in folio
grande", o mesmo que o anterior, com a ressalva de que a fôlha
in plano é de dimensões maiores do que as médias; (U) "in
fol.io oblongo", conjugação das características (7) e (11), mercê
de fôlha in pla-no dobrada na extensão longitudinal; (13) "in
quarto", ou "in 4.M, isto é, cujos cad~rnos decorram da dobra-
gero da fôlha in plano duas vêzes, ou do in folio uma vez mais,
do que se obtêm quatro fôlhas - duas fôlhas com duas faces ímpares
e duas pares, seja, oito ·páginas; (14) "in sexto", ou "in 6. 0 ",
isto é, cujos cadernos decorrem da dobragem em três seções iguais
da fôlha in plano já dobrada ao meio ou, noutros têrmos, da
dobragem em três seções iguais do in folio, com o que se obtêm
seis fôlhas com recto e verso ou doze páginas, seis ímpares e seis
pares; ( 15) "in octatw" ("in octavo"), ou "in 8. M; "in duode-
cimo", ou "in 12.0 " etc. ; escusando, aqui também, prosseguir; a
lista pode, não só dentro de algumas unidades acima referidas,
ser desdobrada ou multip!jcada, mas "também, na seqüência, ser
al tam ente acrescida (cf. LEMA) •
8 .1. 4 N omenclaiut·a ainda - Ampla nomenclatura também.
com substantivos autônomos ou com primitivos adjetivos qualifi-
cativos usados substantivamente, se liga ao livro. Relacionamos,
sem pretensões exaustivas, a seguir, uma lista, precedendo-a de
algumas ~aracterísticas essenciais para a definição eventual de
cada uma das unidades: (a) sistemática: a noção se relaciona
com o tipo de livro que se estrutura segundo ordenação sistemá-
tica de partes relativ.a mente auto-t~uficientes (verbêtes, artigos,
parágrafos) ; (b) específica: a noção se relaciona com tipo de
livro de natureza autodefinida quanto à sua finalidade; (c) te-
mática: a noção se relaciona com tipo de livro cuja estruturação
decorre de um desenvolvimento autógeno e endógeno, em que tôdas
as partes se integram para · a formação de uma unidade de men-
sagem informativa; ( d) inespecífica: a noção se relaciona com
34 ANTÔNIO HOUAISS

tipo de livro de natureza indefinida, necessitando, pois, um com-


plemento que a defina ; (e) tipográfica : a noção se relaciona com
aspecto eminentemente tipográfico por que é considerado o con-
ceito subjacente na designação; (f) ilustrado: a noção está im-
plícita na categoria (e) supra, mas do aspecto tipográfico ressalta
o relacionado com fotos, gravuras, iluminuras e afins; (g) reves-
tida: a noção está implícita na categoria (e) supra e do aspecto
tipográfico ressalta o relacionado com o revestimento externo pro-
tetor; (h) dimensiva: a noção está implícita na categoria (e)
supra e do aspecto tipográfico ressalta o tamanho, formato, gros-
sura, largura etc.; (i) tecnológica: a noção se relaciona com tipo
de livro integrado na categoria (c) supra e ressalta o vinculado
com as técnicas oriundas das ciências exatas; ( j) biblioteconô-
mica: a noção se relaciona com tipo de livro tomado por seu
aspecto bibliológico ou biblioteconômico; (k) editorial: a noção
se relaciona com tipo de livro que se considera sob o ponto de
vista da editoração e da circulação; (l) seccional: a noção se
relaciona com tipo de livro que representa, como unidade, parte
de um todo unitário editorial superior; (m) ecdótica: ·a noção
se relaciona com tipo de livro cujo texto é objeto de tratamento
crítico.
8.1.4.1 Eis a lista em causa :
1) abecê 27) biografia
2) abecedário 28) boletim
3) achegas 29) brasonário
4) acôrdo 30) breviário
5) agréement 31) brochura
6) álbum 32) caderno
7) alfabetário 33) calendário
8) alfabeto 34) campeonário
9) alfarrábio 35) cancioneiro
10) almanaque 36) cânon
11) anais 37) cartapácio
12) anexo 38) carteira
13) antifonário 39) catecismo
14) antologia 40) cartilha
15) anuário 41) cartulário
16) apêndice 42) catálogo
17) atas 43) cenário
18) atlas 44) censo
19) autobiografia 46) censual
20) beabá 46) chancelário
21) bianuário 47) clmélio
22) bibliografia 48) classificador
23) bibliotecografia 49) codificação
24) bi-hebdomadário 50) código
25) bimensário 51) coleção
26) hi-semanário 52) coletânea
ELEMENTOS DE BIBLIOLOGIA 35
53) compilação 108) formulário
54) complemento (s) 109) galeria
55) comunicação 110) genealogia
56) concordância 111) genealógio
57) consolidação 112) glossário
58) conto 113) guia
59) contrato 114) hebdomadário
60) contribuição(ões) 115) hinário
61) convenção 116) história
62) corpo 117) incunábulo
63) corpus .· 118) indexador
64) crestomatia 119) indicador
65) crônica . 120) indice
66) cronicão 121) indiciador
67) crônicon 122) indiciário
68) cronológico 123) iris
69) cronologia 124) jornal
70) cronológio 125) lecciouário
71) diário 126) léxico
72) dicionário 127) léxicon
73) digesto 128) libelo
74) digressão 129) libreto
75) discursão 130) lista
76) discurso 131) macedônia
77) discussão 132) manual
78) dissertação 133) marginália
79) diurna! 134) memória (s)
80) documentação 135) mensário
81) documental 136) miscelânea
82) documentália 137) missal
83) documentário 138) missário
84) efemérides 139) modinheiro
85) elementário 140) 1Mdus-'lrivendi
86) elementos 141) monogra.fia
87) elenco 142) mostruário
88) ementário 143) narração
89) enciclopédia 144) narrativa
90) ensaio 145) necrologia
91) epitome 146) necrológio
92) esbôço 147) negociação
93) escôrço 148) nobiliarquia
94) escritos 149) nobiliarquiário
95) estatuto (s) 150) novela
96) evangelho 151) número
97) evangeliárie 152) obituário
98) exemplar 153) opuseulário
99) exemplário 154) opúsculo(s)
100) fabulário 155) oração
101) fabulete 156) orientador
102) fasefculo 157) panfleto
103) figurino 158) paradigma
104) florilégio 159) paradigmário
105) folhetim 160) paralelepipedo
106) folheto 161) partitura
107) folhinha 162) planejamento
36 ANTÔNIO HOUAISS

163) planificação 190) rudimentário


164) plano 191) rudimentos
166) plaquett~, plaquete 192) saltério
166) preciso 193) semanário
167) projeto 194) semensário
168) prospecto (s) 196) sermonário
169) quadrimensário 196) súmula
170) quadro(s) 197) sumulário
171) questionário 198) suplemento
172) quinzenário 199) tabuada
173) receituário 200) tabulário
174) recenseamento 201) tese
176) regimento 202) tijolo
176) regra(s) 203) tombação
177) régua(s) 204) tombamento
178) régula(s) 205) tombo
179) regulamentação 206) tomo
180) regulamento ( s) 207) trabalhos
181) relação 208) tradução
182) relato 209) . tratado
183) relatório 210) trianuário
184) repertório 211) trimensário
186) resumo 212) vademécum
186) revista 213) versão
187) romance 214) vocabulário
188) romanceiro 215) volume
189) roteiro 216) vulgata

8.2 O LIVRO E A DOCUMENTAÇÃO - Nas condições do atual


desenvolvimento histórico da humanidade, o conhecimento de
primeira mão não pode progredir sem o de segunda mão. Conhe-
cimento de primeira mão é o decorrente, digamos assim, da inte-
gração do homem na natureza, para dela haurir . continuidade
específica e felicidade individual; essa integração, para .consoli-
dar-se, foi condicionada pela e condicionou a comunicação verbal,
implicadora do co:rlhecimento de segunda mão, a linguagem, no
que ela encerra de transmissão cognitiva.- ~sse conhecimentQ de
segunda mão multiplicou de importância a partir do momento
em que o homem pôde mantê-lo em conserva, grAficamente, para
uso de seus contemporâneos e de seus pósteros. A noosfera, ge-
rando a grafosfera, aumentou os podêres e potências do homem.
E hoje a matéria mentada e em conserva gráfica é tão imensa e
se renova em ritmo tão intenso, que um dos mais graves problemas
da civilização e da cultura humanas é conseguir torná-la relativa-
mente acessível a quantos queiram ou possam acrescentar seu
esfôrço ao .herdado das gerações anteriores ( cf. SAMA), na luta pelo
aumento do saber, vale dizer, do conhecer, vale dizer, do fazer,
vale dizer, do conhecer-fazer-conhécer-fazer, vale dizer, da perpe-
tuação específica e da felicidade individual. Uma "documentação
ELEMENTOS DE BIBLIOLOGIA. 37

ativa" (cf. SHER) é condição e imperativo, nesta altura, do pro-


gresso. Forma privilegiada da mensagem gráfica, o livro se in-
sere, necessàriamente, na documentação, como um dos meios
específicos mais poderosos e eficazes da mesma documentação ;
mas não apenas o livro, é obvio, senão que quantas coisas reali-
zadas, executadas, interpretadas, achadas, ordenadas, nominadas
pelo homem. Nesse sentido, pois, podemos dividir o objeto da
documentação - cuja finalidade, já o dissemos, é propiciar sis-
temàticamente o acervo cognitivo, diAriamente herdado e acrescido,
das gerações anteriores, às contemporâneas e às pósteras - , pode-
mos di-vidir o objeto da doc1;1.mentação em duas grandes categorias:
em que os limites, obviamente, são difusos.
a) material picto-, ideo-, hiero-,
simbolográfico, não ligado dire-
tamente, isto é, vocabularmen-
te, mas sim intermediàriamen-
te,- isto é, conceptualmente, ao
sistema lingüístico, por meio
do sistema de idéias subjacen-
tes naquele;
1) de base
verbal b) material gráfico ligado ao sis-
tema lingüístico por meio da
escrita ·fonográfica;
c) material fonográfico ligado ao
sistema lingüístico por meio de
gravações sonoras reprodutoras
da cadeia falada original;
Objeto da material Õbjetivo natural: mu-
documen- a)
seus e afins de história natu-
tação ral;

b) material objetivo social: museus


e afina "do homem", etnográ-
ficos, etnológicos, . antropoló-
gicos;

2) de base c) material objetivo "cientifico":


não verbal museus e afins da história ou
do desenvolvimento social, das
Ciencias, técnicas, artesanias,
eventos, personalidades;

d) material objetivo "artístico":


museus e afins de escultura,
pintura, gravura, música; "ca-
sas" de artistas e criadores
etc.
38 ANTÔNIO HOUAIBB

8. 2 .1 A docume-ntação atual - O impulso cognitivo-factivo do


homem moderno é eficaz, como ação presente tendida para o
futuro, na medida em que se embebe no passado. Neste sentido,
tradição é condição de perpetuação ou, pelo menos, continuação
(já que o "bicho da terra tão pequeno" está mostrando não saber
como dominar seu próprio feitiço, a bombinha brandida pelo Dr.
Strangelove). Ser humano, por conseguinte, é fazer-se cada vez
mais penetrado de "história": tudo o que é será pelo que também
tiver sido. Não admira, por conseguinte, que todo o esfôrço da
documentação - a documentalística, em suma - se faça sob a
pressão da necessidade histórica, de cognição histórica, historio-
gráfica, históri~ que é passado e presente também - presente
como história e condição do futuro como história, na vida social,
quer dizer, humana, como na natural, como na cósmica.
8. 2 .1.1 Se à documentalística cabe ( cf. INST), em última
análise, pôr à disposição do documentando o material documen-
tador, êsse material imenso - cuja classificação tentativa foi
ff'ita no quadro in fine de 8. 2 supra - vem sendo hoje "arma-
zenado" (no bom sentido de "racionalizado") em repositórios
também imensos. Sem pretender esgotar uma possível classifica-
ção dêsses repositórios, tentemos propor-lhes uma racional siste-
mática classificat6ria (sabendo, sempre, que os limites recíprocos
são difusos) :
a) em função de "ler" há as bibliotecas (cf. ouYE, Joss),
que ou bem são especializadas segundo níveis, fins, tipos de do-
cumentos, e aspectos conexos, ou bem (e concomitantemente) têm
setores específicos, alguns dos quais são aqui lembrados: (1) epi-
grafotecas, com o documental da_s epígrafes e inscrições do pas-
sado, monumentais, comemorati~as, apologéticas, gratulat6rias,
vindicativas, aleatórias (cf. ROBE); (2) papirotecas, das mensa-
gens escritas transmitidas por êsse vetor ( cf. BATA) ; (3) paleo-
grafotecas, no mundo ocidental importantes do ponto de vista da
língua grega ( cf. DAIO; THOL), da língua latina ( cf. MALL e MALM)
ou das escritas medievais ( cf. PERR) ; ( 4) criptotecas, de material
escrito em linguagem cifrada, codificada, para comunicações se-
cretas (cf. RICH); (5) diplomatotecas, de material documental
escrito dos atos do -poder público e convenções de direito privado,
público, internacional ( cf. TESS), material que pertence, normal-
mente, aos arquivos públicos ou privados, veja-se arquivística,
adiante; (6) geneotecas, de material relacionado com as genea-
logias (cf. TUPI); {7) heraldotecas, de material relacionado com
a heráldica (cf. TUPJ); (8) onomastoteca, de material relacionado
com onomástica, em que a mapoteca (ver adiante) é fonte para
ELEMENTOS DE BIBLIOLOGI..l 39

a parte relacionada com a geonímia (cf. LEBE); (9) numismatote-


cas, de material relacionado com as moedas ( cf. BABE; MIRO) ; ( 10)
telotecas, de material relacionado com os selos postais e os selos
ou sigilos de autenticação (cf. METM); mas crescente importância,
~ óbvia, vão tendo ( 11) as hemerotecas, com .as publicações perió-
dÜ!as (jornais, revistas etc.);
b) e.m função de "ouvir" há os genericamente chamados
"museus da palavra", que não abarcam todos os aspectos princi-
pais do "ouvir", convinao tecnicamente distinguir as glossotecas
- da fala propriamente dita -, das melotecas - das músicas
em particular -, das glossomelotecas - da palavra cantada, com
ou sem acompanhamento musical instrumental; os repositórios são
ditos (1) discotecas, em função dos discos, (2) fonotecas, em
função de outras máquinas gravadoras que não em discos, magne-
tofones, por exemplo, e (.3) tenidiotecas, para coletas de material
sonoro outro que não da fala humana ou da música criada pelo
homem (cf. THEV e THEU);
c) em função de "ver e ler" ou de "ver e ouvir", ou de
"ver" apenas, há as fototecas e cinematecas (cf. sADo), que do
ponto de vista dimensivo, o que acarreta uma tecnologia dife-
rente, se apresentam como microfototecas ou microcinematecas
( cf. FRAP) e, do ponto de vista da conserva do material tem seus
problemas específicos, filmotecas (cf. FRAQ);
d) em função de "ver" ainda é que se colocam os outros
museus, com os seus problemas de museologia, museografia, mu-
seotecnia ( cf. PRAD), com ênfase nos aspectos chamados artísticos,
a grafoteca, para gravuras, a pinacoteca, para pinturas, a glipto-
teca, para esculturas; e nos seus aspectos estrita ou particular-
mente cognitivos, o museu de história natural (que se pode infi-
nitesimar setorialmente), o etnográfico, o particularmente folcló-
rico, o antropológico, subdivisíveis ad infinitum;
e) os arquivos merecem menção especialíssima, sobretudo
para nós, no Brasil, em que sua dilapidação vai a galope ( cf.
supra as diplomatotecas) (cf. BAUT, RODR, HOUA);
f) mas em função de "olfatar", "comer" e "amar" não será,
dentre outros humanos aspectos, de admirar que já disponhamos,
privativamente, de repositórios que poderiam ser chamados ...
rinotecas, gastrotecas, erototecas ...
8. 2. 2 Em tôrno de "livro" - Dentro da documentação, no
amplo sentido acima esboçado, a parte ocupada pelo livro - to-
mado sempre êste na sua acepção genérica - é, por ora, privile-
giada e, até onde se pode antecipar, o será ainda por muito tempo,
ainda que se fale contemporâneamente de uma crise geral da "ci-
40 ANTÔNIO HOUAISS

vilização escrita" e, dentro deS'3a crise, da "crise do livro". Do


livro, como objeto de conhecimento e atividades, há diversas
disciplinas, que podem ser grupadas, com certos luxos de classi-
ficação (que, entretanto, não esgota todos os aspectos por que
pode o livro, objetivamente, ser examinado), na seguinte confor-
midade (ousando o autor enveredar pelo campo das palavras po-
tenciais sem nenhuma relutância, já que as noções e atividades,
como· tais, existem de fato) : (a) do ponto de vista de sua história,
(1) biblio-historiografia, interna (substância da mensagem, evo-
lução dessa substância) e externa (sua integração material e sua
evolução) ; (b) do ponto de vista de sua sistematização orgânica,
(2) bibliologia, (3) bibliografia, (4) bibliotecologia, (5) bibliote-
cografia, ( 6) biblioteconomia; (c) do ponto de vista de sua pro-
dução: (7) bibliotecnia (bibliotécnica), (8) bibliotecnologia, (9)
bibliotecnografia, (10) editoração, (11) bibliotecotecnia (bibliote-
cotécnica), · (12) bibliotecotecnologia, ( 13) bibliotecotecnografia;
(d) do ponto de vista de sua conservação: (14) ecdótica (intrín-
seca, da mensagem), (15) bibliofotografia (intrínseca, da mensa-
gem, e também na sua forma original), (16) bibliop.atologia, (17)
biblioterapia, (18) bibliocirurgia, (19) biblioprofilaxia, (20) bi-
bliotecopatologia, (21) bibliotecoterapia, (22) bibliotecocirurgia,
( 23) bibliotecoprofilaxia ; (e) do ponto de vista de sua posse e
retenção pessoal: (24) bibliofilia, (25) bibliofobia, (26) biblio-
mania, (27) bibliolatria, (28) bibliocleptomania, (29) bibliogno-
sia, (30) bibliotafia. ·
8 . 2. 2 .1 Sob a denominação geral de "bibliosofia" (à imitação,
visível, de "filosofia", como teoria ou pseudoteoda geral do co-
nhecimenio dos conhecimentos), são, em certo livro pioneiro bra-
sileiro, capituladas tôdas as disciplinas do livro. Mas "biblio-
historiografia" é a história do livro como instituto criado pelo
homem ; é ela interna, quando examina a evolução da substância
da mensagem dos livros, o que, noutros têrmos, é uma história
quase integral do conhecimento humano, · dirigente e, indireta-
mente, dirigido, e de suas conquistas, a partir da invenção da
escrita, e ainda quando examina .a evolução da forma, isto é, de
como se estruturou o livro, através dos tempos, segundo as ·cultu-
ras e as civilizações, ao sabor do progresso tecnológico. É externa,
quando examina os elementos materiais que, segundo as contin-
gências mesológicas ou as relações de cultura, feiçoaram o livro
na sua integração material - lousa, ardósia, lâminas vegetais,
animais, metálicas, estilo, estilete, cunha, tinta, policromia, perfu-
ração etc.
ELEMENTOS DE BIBLIOLOGIA 41

8.2.2.2
•Bibliologia ~ a disciplina do livro que o examina do
ponto de vista de sua sistematização orgânica, como um todo
composto de elementos materiais de suporte (fôlhas, cartõeBt peles,
1inhas, cola), de elementos materiais de representação simbólica
(tintas, furos - nos livros de BRAILLE -, côresi. de elementos
de eficaz disposição dos símbolos (tipos, letras, imagens, objetos
visuais e tácteis), a fim de que a mensagem se possa consumar
em sua fmalidade de comunicação e expressão, com a completude
possível. Bibliografia ~ a disciplina do livro, melhor, dos livros,
que os agrupa, segundo critérios sistemáticos vários (cronológico,
temático, geográfico, · autoral, histórico, nacionll,l, continental etc.,
e seus combinatórios), para possibilitar, aos interessados, indica-
ções de acesso a obras anteriormente conhecidas sôbre o agrupa-
mento em . ~usa. Usa-se, também, da mesma palavra para indicar
a relação. ·ae.' "obras consultadas" ou de "obras citadas" por de-
terminado.·~tor na elabo:~;âÇão de determinada obra. Biblioteco-
logia é a disciplina dos livros ·como coleções agrupadas, com os
múltiplos problemas relacionados com a sua disposição sistemá-
tica, sua armazenagem, seu acesso, sua circulação, sua conservação.
Bibliotecografia é. a· seção da bibliotecologia que se relaciona com
os aspectos da disposição sistemática das coleções de livros. Um
particular da bibliotecografia é a catalografia, que procura re-
solver os problemas suscitados pelos fichários, fichas, sua siste-
matização, sua consulta, sua eficácia classificatória, analítica, sin-
tética, analítico-sintética, e remissiva. Biblioteconomia é a seção
da bibliotecologia que se relaciona com os aspectos da armazena-
gem, do acesso e da circulação das coleções de livros, em grande
parte dependentes de uma orientação ou solução eficazes dos
problemas da bibliotecografia. ·
8. 2. 2. 3 . Bibliotecnia ou bibliotécnica é o corpo de técnicas e
de conhecimentos relacionados com a produção do livro, do ponto
de vista dos elementos materiais que o suportam (fôlhas, cartões,
peles, linhas, cola) e dos elementos materiais que feiçoam sua
representação simbólica (tintas, furos, côres, manchas, medidas,
formatos, ilustrações). Bibliotecnologia· é a disciplina que siste-
matiza o corpo de técnicas e de conhecimentos compreendidos
pela bibliotecnia. Bibliotecnografia é a exposição sistemática dos
princípios e normas de bibliotecnologia. Editoração é a atividade
organizada em forma de emprêsa para a publicação de livros. A
editoração compreende setores específicos de unidades de trabalho,
dos quais se· citam alguns: (a) direção; (b) seleção de originais;
(e) adequação dos originais para a correlação original-tipogra-
fia; ( d) revisão; (e) publicidade e relações públicas; (f) distri-
42 A N·T Ô N I O H OU A I 8 S

buição e difusão (depósito, consignação, vendas em g;osso, vendas


a varejo; exemplares à critica especializada, ou genérica, ou no-
ticiante). A editoração enlaça~se necessàriamente com a impres-
são, havendo editôras que são, concomitantemente, impressoras ;
mas de regra são dois gêneros de atividade autônomos, e mesmo
quando agrupados sob uma mesma emprêsa merecem organização
própria, pela relativa especificidade de seus problemas. A edi-
toração pode revestir c~ráter de emprêsa privada com fins lucra-
tivos, de emprêsa privada com fins beneficentes ou de emprêsa
pública. Bibliotecotecnia ou bibliotecotécnica é o corpo de técni-
cas e de conhecimentos relacionados com a criação de bibliotecas,
sua instalação e funcionamento ; como tal, é seção da bibliotecolo-
gia. Bibliotecotecnologia é a disciplina que sistematiza o corpo
de técnicas e conhecimentos compreendidos pela bibliotecotecno-
grafia. Bibliotecotecnografia é a exposição sistemática dos prin-
cípios da bibliotecotecnologia.
8. 2. 2. 4 Ecdótica é, como vimos, a aplicação dos princípios
da filologia Zato sen., u ao preparo de texto manuscrito para a sua
editoração ou ao estabelecimento do texto já editorado e editado,
a fim de restaurar-lhe a fidedignidade ·e fidelidade originais. ~
também conhecida como crítica textual. Bibliofotografia é a
técnica da reprodução fotomecânica de livros, a fim de garantir-
lhes a autenticidade da mensa~m, não só quanto à sua fidelidade
e fidedignidade, mas também quanto ao seu feiçoamento gráfico
ou visual original. Pode-se, decorrentemente, falar numa biblio-
fotologia, que seria a disposição de princípios e normas que devem
reger as atividades bibliofotográficas. O campo da reprodução
mimética de um original poderia melhor ser designado, generica-
mente, por fac-similação, em que entrariam a microfac-similação,
de um lado, e a bibliofac-similação de outro, além de outras es-
pécies. Bibliopatologia é disciplina aplicada (química, física,
parasitologia, etc.) que estuda o deperecimento material do livro
sob a influência do meio, do tempo, de ações parasitárias e afins.
Biblioterapia é a técnica, decorrente da bibliopatologia, de recupe-
rar, restaurar livros materialmente deteriorados. BibEocirurgia
é a parte da biblioterapia que salva do deterioramento progressivo
do livro a parte ainda sã, sacrificando a irrecuperável ou irres-
taurável. Biblioprofilaxia é a técnica, decorrente da bibliopato-
logia, de proteger o livro contra as influências e ações que o
possam deteriorar ou destruir ( cf. NABV). Bibliotecopatologia é
a disciplina aplicada (arquitetura, acesso, administração, biblio-
patologia) que estuda o deperecimento e a deterioração das cole-
ções de livros ou bibliotecas, e afins (mapotecas, grafotecas, fil-
ELEKENTOS DE BIBLIOLOGIA 43

motecas etc.), sob a ação e a influência do meio, tempo, Jlarasitas,


manuseio, guarda, assim como das contaminações ou contágios
recíprocos de livro "doente" para livro "são". Bibliotecoterapia
é a técnica, decorrente da bibliotecopatologia, de restaurar, re-
cuperar .coleções de livros ou bibliotecas, e afins, materialmente
deterioradas. Bibliotecocirurgia é a parte da bibliotecoterapia
que salva do deterioramento progressivo de coleções de livros,
de bibliotecas, e afins, as partes ainda sãs, sacrificando as irre-
paráveis ou irrestauráveis. Bibliotecoprofilax!a é a técnica, de-
corrente da bibliotecopatologia, de proteger as coleções de livros
ou bibliotecas, e afins, contra as influências e ações que as possam
deteriorar ou destruir.
8.2.2.5 Bibliofilia é a compreensiva atribuição de valor aos
livros e às suas coleções, pelo que encerram de mensagens, pelo
que revelam de realização gráfica e pelo que significam dentro da
biblio-historiografia. O bibliófilo, não ~aro, é confundido com o
mero amante de obras raras ou de obras de luxo, o que, no pri-
meiro caso, constituiria uma bibliocimeliofilia e, no segundo caso,
uma aristobibliofilia... Mas nem sempre as obras de luxo são
dignas do luxo com que foram feitas. Bibliofobia é a indevida
incompreensão do valor dos livros e suas coleções, segundo os cri-
térios acima esbo~:ados. O bibliófobo não é apenas o inculto, que
não dá valor ao livro porque não pôde receber da sociedade os
critérios de julgamento; bibliófobo, sobretudo e fundamentalmente,
é o administrador, é o político, é o poderoso, que as circunstâncias
puseram em posição de relêvo social, mas que olha com ostensiva
ou encoberta malquerença o livro e os a êle . ligados. Uma das
piores formas, socialmente falando, de bibliofobia é a de multi-
plicar a edição de certos livros, para coonestar a sonegação de
certos outros. No Brasil, particularmente, a bibliofobia, a arqui-
vofobia e suas variantes têm sido nefastas. Detentores de um
patrimônio gráfico particularmente precioso, para nós, para a
América, para o Mundo, vemo-lo dilapidar-se dia a dia, sem que
uma medida de salvação seja sequer timidamente tomada, ante
o vulto do que há por fazer. Faz pouco, um musicólogo da
qualidade de um KuRT LANGE, nas suas peregrinações arquivais
estritamente ligadas à música, coletou, no interior do Estado de
Minas Gerais de preferência, provas - pedaços . de, resíduos de,
detritos de, mas ainda .assim bastantes - com que trouxe ao
conhecimento de quem queira conhecer um fato transcendente
, para a musicografia universal: o de que a elaboração musical,
naquela província, pelos idos do século XVIII, foi uma das mais
importantes, criadoras e belas, em grande parte provinda de uma
44 .ANTÔNIO HOUAISiil

como que escola de musicistas caboclos. Entretanto, peças que


tais, doéumentos em geral, jazem ao abandono, à incúria, à dila-
pidação ou a uma concepção errônea de guarda, quando se trata
de um passado em conserva potencialmente presente, que uma
assistência estatal - e só ela - poderia preservar, restaurar e
tornar atuante. Bibliomania é a obsessiva preocupação dos li-
vros, via de regra acompanhada de obsessiva vontade de possuí-los,
exibi-los ... . e via de regra não lê-los nem consultá-los. É uma
forma hipertrófica de bibliofilia, acompanhada de uma inconsci-
ente forma de bibliofobia. . . O bibliomaníaco ou bibliômano
transforma o convívio dos livros, de fonte de aprendizado e de
deleite; em objeto e finalidade de posse. . . Bibliolatria é uma
forma de bibliofilia, que faz do livro objeto de adoração, sem,
porém, excluir seu uso, gôzo e proveito. Os bibliólatras, às· vêzes,
o são para poucos livros, o que coonesta o sentimento e lhe dá
validade ética - pois êles, os livros, ainda que poucos, e· mesmo
quando poucos, são sempre excelentes amigos. Bibliocleptomania
é uma forma de bibliofilia, também, com o seu lado hediondo e o
seu lado venerável: hediondo é o que rouba, furta, subtrai, não
restitui o livro de outrem, com êle ficando, para não lê-lo; vene-
rável é o que não devolve o livro, que · quer ler, reler, e multiler;
a quem o possui sem lê-lo nem querer lê-lo. . . Mas o fato é
que, assim como há a doença mental da cleptomania pura e sim-
ples, isto é, do furto pelo furto, há também a bibliocleptomania
pela bibliocleptomania. . . Bibliognosia é o conhecimento dos
livros; há bibliognostas externos, profundos conhecedores de capas,
d~ lombadas, de rostos, de manchas, de tipos, de papel, de enca-
dernação ; há bibliognostas internos, profundos conhecedores dos
temas, dos textos ; há, enfim, infinitas possibilidades de bibliog-
nosia ; não há, porém, o bibliognasta perfeito. Bibliotafia é uma
·forma corrente de amor dos "seus" livros, lidos ou possuídos
apenas, tão grande, que vivem os coitados, os livros, às escondidas,
ocultos aos olhares que não os do dono, inaccessíveis a quem quer
que seja que não êle. Os bibliótafos abundam e só se consolam
porque abundam, também, os bibliocleptômanos ...
8.2.3 Ainda a doc'ltmentação - Mas, após esta excursão
lírico-definitória, importa-nos voltar à documentação. É que o
livro - cuja arte de ler tem sido objeto de tantos e tão dispara-
tados ou contraditórios ensinamentos - encerra, hoje em dia,
pelo seu conteúdo, tanto, que é êle fonte (a) de saber, de conhe-
cer, de aprender; (b) de fazer, de executar, de realizar; (c) de
viver, de pensar, de ajustar-se, de comportar-se, de reagir, de
rebelar-se; ( d) de deleitar, de degustar, de comprazer-se, de con,
ELEMENTOS DE BIBLIOLOGIA 45

solar-se - tanto para o autor quanto para o leitor. E, para a


espécie, é fonte de avanços e recuos, de reações e revoluções, de
aprofundamentos e de superficializações, de descobrimentos e de
encobrimentos, de perspectivas felizes e de perspectivas infelizes,
inserindo-se, em suma, na práxis social como necessidade desta e
refletindo-a em sua complexificação crescente. Nesse sentido, sut::
mensagem é em grande parte a corporificação do objeto da gno-
seologia ; necessita, mesmo quando não o pareça, de inscrever-se
na metodologia humana, é didática, é espelho de sua cosmovisão,
de sua filosofia, liga-se, pois, às práticas, às artesanias, às ciên-
cias, às artes, à práxis social, de nôvo - e informa as mentes,
juntamente com o viver. puro e simples. E porque informa é
que é objeto - por ora privilegiado, mas de· futuro garantido -
de documentação, que visa já não apenas a propiciá-lo em catálo-
gos ou listas bibliográficas, mas em índices temáticos de seu con-
teúdo, para o que se desenvolve hoje em dia uma técnica de sua
sistematização, sistema de sistemas de . informação, que tem de
apelar para meios mais eficazes de computação com a cibernética,
caracterizada, pela impossibilidade de realizar tal programa por
outra via, pela mecanização e automatização dos bits, caracteres,
palavras e temas que os livros (mas não apenas êles) encerram.
8. 3 o LIVRO KODERNó - O livro moderno - isto é, desde o
advento da tipografia - consta, do ponto de vista material, es-
sencialmente de fôlhas, cujo conjunto passou pouco depois a ser
revestido, donde a divisão inicial :
revestimento
livro _
f corpo, isto é, conjunto de fôlhas impressas
revestimento que pode apresentar as duas seguintes feições prin-
cipais:
brochura
revestimento
l encadernação

entendido por brochura o revestimento com fôlhas flexíveis e leves,


pouco 'diferentes das fôlhas do corpo, se não em geral, pela co-lo-
ração; de pigmentação mais carregada, enquanto as fôlhas sã<;~,
via de regra, brancas, de tons diferenciados (nitente, brilhante,
fôsco; branquíssimas, brancas, ligeiramente amareladas, ou acin-
zentadas, ou azuladas ; lisas, ligeiramente ásperas, ásperas). O
livro em brochura é também chamado livro brochado. O reves-
timento denominado encadernação apresenta, pQr sua. vez, sob a
46 .A.NTÔNIO HOUAISiil

característica geral de não ser flexível ou, quando o é, de ser


consideràvelmente mais grosso que uma fôlha do corpo, as duas
seguintes feições principais:
cartonada
encadernação
l encadernad3, propriamente dita

sendo o cartonado de papelão, enquanto o encadernado pode ser,


com um interno de cartão ou sem êle, colchoado ou não, de couro,
percalina, pelica, marroquim e quantas películas ou tecidos de
valor, duráveis, manuseáveis com pouca ad11lterabilidade (cf LIMU,
FRET, FREU, NABU, l.t:ENE, BERG).

8. 3.1 Partes do revestimento - Qualquer que seja · o tipo


do revestimento, cuja denominação genérica é capa, apresenta êle
as seguintes partes, com a nomenclatura ·correspondente:
face externa
capa atricto aenau face interna
f orelha da capa
face externa
contracapa face interna
{
orelha da contracapa
revestimento quadros
dorso
l ferros
escarcela ou carcela
face da frente

8 .3 .1.1
sobrecapa
l orelha da frente
face de trás
orelha de trás

Qualquer que seja o tipo de capa, quanto à sua fle-


xibilidade ou dureza, apresenta ela, sempre, a face externa e. a
face interna. Na face externa constam, via de regra, certos diz&res,
enquanto na face interna, de boa regra nada se imprime, consti-
tuindo o local geralmente eleito para a colagem do ex-libris; se a
capa é inflexível ou dura, não tem orelha; se, porém, se trata
de brochura, mesmo em cartolina, fôsca ou esmaltada, pode apre·
sentar a orelha, também chamada ourela. Há quase sempre cor-
relação entre a capa e a contracapa, quanto aos dizeres e à ore-
lha; apenas, na face externa da contracapa, também e de boa
regra, não há dizeres quaisquer, se fôr de revestimento encader-
nado.
J:LJ!lHENTOS DE BJBLIOLOGIA 47

8. 3 .1. 2 O dorso constitui-se, essencialmente, da lombada ou


lom):>o e, como é natural, apresenta uma área variável, não tanto
de .acôrdo com o formato, ou tamanho, mas sim com a espessura.
do livro; em conseqüência, há-os finíssimos, finos, chatos, recurvos;
e nestes dois últimos via de regra ocorrem certos dizeres. Se
encadernado, êsses dizeres se distribuem, quase sempre, segund(}
certa divisão simétrica em quadros, ideais ou marcados por ins-
crições, que em certas encadernações de luxo se chamam ferros.
Quando o material usado numa lombada de dorso transborda dos-
limites desta por uma seção da capa e da contracapa, simêtrica.-
mente, êsse transbordamento se denomina escarcela ou carcela,
nome também usado, já noutro sentido, para a fôlha que se cola>
na face interna da capa e da. contracapa, para arrematar a per-
feita junção do revestimento com o corpo do livro. Os dizeres
impressos no dorso ou lombo ou lombada - considerando o livro
em pé - podem sê-lo horizontais (~u laterais) e longitudinais;
no último caso, ou são longitudinais à francesa (e à italiana, à
portuguêsa, e via de regra à brasileira, à esp.a nhola), que se lêem
de baixo para cima, ou longitudinais à inglêsa (à norte-ameri-
cana), que se lêem de cima p.a ra baixo.
8. 3 .1. 3 Brochados ou encadernados, os livros, de uns tempo~
a esta parte, costumam apresentar-se comercialmente com uma
sobrecapa, que corresponde, gro.çso modo, ao encapamento dos
livros didáticos feito em casa com papel de embrulho, ou trans-
parente, ou impermeável, ou equivalente. Essas sobrecapas, au-
tônomas e ·separáveis inteiramente do revestimento, tanto podem
encobrir o livro por inteiro, quanto podem apresentar o feitio
de mera cinta - de onde aliás se originam. Como sobrecapa1
inteiriça, nunca têm sua seção interna com dizeres; mas a externa;
dividida em cinco seções ideais ou reais - orelha da face d'a
frente, face da frente, face da lombada, face de trás, orelha d&
face de trás - via de regra é aproveitada para dizeres, ilustrados·
ou n~o, relacionados com o livro que sôbre-reveste, às vêzes com
outraS obras do aU:tor, às vêzes com outras obras da editôra. As
cintas, com suas extremidades coladas uma a outra, ou com suas·
extremidades dobradas em forma de orelhas, via de regra, também,
trazem dizeres relativos ao livro, quase ; sempre um trecho d11
opinião crítica sôbre o livro.
8. 3. 2 Partes do corpo - O corpo do livro é onde, grupadó
em fôlhas, cada uma com suas dhas páginas, se estampa o texto.
Pode, destarte, ser encarado do ponto· de vista de sucessão material
48 ANTÔNIO HOUAISS

das fôlhas, quanto do ponto de vista da apresentação do texto.


Do ponto de vista da sucessão material das fôlhas, o corpo se
apresenta com a seguinte nomenclatura:
face impar
guarda { face par

fôlha de falso rosto ou { face ou página ímpar


de falso título face ou página par
fôlha de rosto ou de { página ímpar
título face ou página par
Corpo
p~g~nas ímpares
fôlhas de texto { pagmas pares
r face ou página ímpar
fôlha final l face ou página par
face ímpar
contraguarda { face par

8. 3 . 2 .1 A guarda é sempre, pP-lo menos, uma fôlha em branco,


igual às do texto, mas. sem apres.entar, jamais, dizeres, vinhetas
-ou o que quer que seja impresso, salvo ocorrências excepcionais
na face par; a rigor, pode haver livros com duas, dez, n fôlhas
de guarda, mormente os que se dizem, se querem ou são de luxo;
a-. contraguarda apresenta iguais características, mas polarmente,
de modo que, por exceção; na face ímpar pode haver ocorrência
de dizeres, bem como pode haver duas, dez, n fôlhas de contra-
guarda, fato aliás que é mais corrente do que com a guarda: é
que, neste caso, há como que um convite à valsa, quer-se dizer.
à anotação de passagens, lugares e comentários quaisquer sôbre
o livro que se está lendo; prova de muita modéstia - corrijam-me!
~ ou de muita pretensão - não se esqueçam! - do autor para
com os seus leitores... Nos livros encadernados, não raro, antes
da guarda e depois da contraguarda "há uma fôlha via de regra
dúplice sobrecolada: é a escarcela ou carcela longa, inicial, isto
-é, a extensão da escarcela colada sôbre a face interna da capa,
que se estende à face ímpar de uma primeira guarda ou falsa
guarda ; ou, final, é a extensão da escarcela colada sôbre a face
interna da contracapa, que se estende à face par de uma última
eontraguarda ou falsa contraguarda. O uso de muitas fôlhas de
J!Uarda e contragnarda, mormente destas, em encadernações
privadas visa. bastantes vêzes, a dar ao livro apenas espessura
bastante para manter-se de pé nas estantes, luxo que tende a
desaparecer na luta por espaço.
ELEMENTOS DE BIBLIOLOGIA

8.3.2.2 Porque estreitamente vinculada com a nomenclatura


do livro até aqui considerada, convém um parêntese para acres-
centar a que se refere, particularmente, à técnica da encaderna-
ção, complementar, do ponto de vista material, daquela. Eis,
muito . sumàriamente, o essencial ( cf. BERG) : (a) miolo - tôda a
parte do livro que fica protegida pela encadernação; (b) capa
- dita também capa de cima, capa da frente; (c) contracapa -
dita também capa de baixo, capa do fundo, capa de trás; ( d)
cabeça - bordo superior da encadernação (o livro em pé) ; (e)
frente - bordo externo, aberto e sôlto da encadernação; (f)
goteira - parte recurva do miolo na frente do livro; (g) seixas
- margens que, na capa e contracapa, mormente pela face in-
terna, transbordam do limite do miolo até a cabeça, frente e pé,
não raro com um debrum, de arremate; (h) pé - bordo inferior
da encadernação (o livro em pé) ; (i) dorso - a parte da enca-
dernação que é revestida pela lombada; (j) lombada - a parte
do revest;mento que lig.a a capa à contr11capa; (k) capital - é a
tira de pano imediatame,nte por baixo da lombada e que se vê no
livro, examinado êste pelo lado da cabeça ou do pé; (l) encaixe
- o ponto em que o capital se liga, nas extremidades laterais,
ao miolo e à capa e contracapa; (m) vinco - a rêga que fun-
ciona como dobradiça da capa e da contracapa.
I 8.3. 3 Partes do texto lato sensu - Do ponto de vista da
apresentação do texto, a nomenclatura do livro é algo mais flu-
tuante, apresentando, inclusive, partes, seções ou aspectos facul-
tativos ou optativos, segundo seja o rigor gráfico e tipográfico -
e também ideológico - com que tenha sido realizado. Tomemos,
liminarmente, texto lato sensu, isto é, como equivalente de tudo
o que seja impresso em tipos ou caracteres móveis no livro: neRse
sentido, pode êle ser, primeiro, subdividido em partes assim:

parte pré-textual ~

partes do
8en8u

8. 3. 3 .1
texto law

I
parte textual

parte pós-textual/
, / partes extratextuais

A parte pré-textual apresenta a possibilidade de ter


as seguintes seções de dizeres: (a) sobrecapa, (b) capa, (c) orelha,
(d) falso rosto, (e) obras do autor, (f) frontispício e/ ou frontis-
pício alegórico, (g) rosto geral, (h) rosto, (i) imprenta, (j)
direitos editoriais, (k) edições e reimpressões anteriores, (1) jus-
tificativa da tiragem, (m) dados bibliográficos do autor, (n)
50 ANTÔNIO H OU A I 'S 8

tábua de matéria, ( q) nota, notícia, nótula, observaçi>es prev1as


ou preliminares, introdução, apresentação (prefácio, prolóquio,
antelóquio, prelóquio, impropriamente ditos).
8~3.3.2 Na sobrecapa imprimem-se, de regra, já em caracte-
res desenhados ail hoc, já em caracteres tipográficos, já em com-
posição tipográfica apenas, já com ilustrações de técnicas várias
(monocromias, dicromias, tricromias, polieromias; bico de pena,
gravura, heliogravura, .xilogravura etc.), a autoria e o título da
obra,' ocorrendo, também, parte da imprenta,. via de regra o nome
do editor. A técnica estética da sobrecapa pode ser enfrentada,
tomando a sua área tôda inteira como unidade, ou dividindo-a
em três seções (face da frente, dorso e face de trás da sobrecapa),
ou dividindo-a em cinco seções (orelha da frente, face da frente,
dorso, face de trás, orelha de trás da sobrecapa). A sobrecapa,
tomada como unidade íntegra de apresentação gráfica, via de regra
tem poucos dizeres (nome do autor, título da obra, nome do editor
e, eventualmente, uma frase, um comentário, uma expressão su-
gestiva e "chamativa"); tomada como três unidades de apresen-
tação gráfica, apresenta na face da frente as características ante-
riores, no dorso as características de lombada (autor, título, edi-
tor, local, data, dispensando-se, eventualment~, editor e data), na
face de trás ou opiniões críticas sôbre a obra, em caso de reim-
pressão ou reedição, ou seção do catálogo da editôra, ou anúncios
de obras editoradas ou editadas pelo editor; tomada como cinco
unidades de apresentação gráfica, pode reproduzir o esquema d&
três unidades ficando as Ôrelhas em branco, ou pode apresentar
na orelha da frente uma resenha da obra, que transborda para a
segunda orelha, ou, nesta última, dados biobibliográficos do autor.
8. 3. 3. 3 Os dizeres da capa merecem verdadeiro estudo mono-
gráfico, que os há, aliás. Na história do livro moderno, duas
tendências gerais se marcam, no respeito: (1.0 ) a eap·a, do passado
para o presente, tende a ser progressivamente descarregada de
composição gráfica; (2,0 ) a capa, do passado para o presente,
tende, em conseqüência do princípio anterior, a diferenciar-se do-
rosto por número menor- de características, importando, antes do
mais, distinguir, de um lado, as capas de brochura das capas de
encadernação e, de .outro lado, as capas desenhadas das capas
tipografadas. As capas de brochura, via de regra, se ·aproximam
grandemente, nos seus dizeres, do rosto, enquanto as capas de
encadernação - vale dizer, da encadernação original, editorial -
se restringem a um mínimo de dizeres. Nas capas de encader-
nação não original, isto é, mandadas fazer ail hoc pelo proprie-
tário do exemplar por encadernador avulso, de regra não se ins-
JIJLEllENTOS DE BIBLIOLOGIA 51

crevem caracteres de nenhuma natureza, eventualmente tão-só


alguma vinheta, brasão, ex-libris ou alguns ferros. Quanto às
capas desenhadas, já com desenho apenas dos caracteres literais,
já, ademais, com desenhos de vinhetas, já, por fim, ademais ainda,
com desenhos alusivos ao livro em aprêço, são elas, de preferência,
destinadas a brochuras, podendo, porém, sê-lo também às enca-
dernações originais, caso em -que, via de regra, .são comparativa-
mente muito mais descarregadas. Há, na estética tipográf!ca,
uma luta (incruenta, por certo ... ) entre os que advogam capas
desenhadas e os que advoga~ capas tip_ografadas, isto é, compos-
tas com caracteres tipográficos regulares dos parques tipográficos
existentes (os quais apresentam, quase sempre, séries e fontes es-
pecüicas para fins extratextuais). A tradição tipográfica milita
em favor dos capistas do segundo tipo, mas é difícil antecipar
se predominarão, de nôvo, ou se continuarão a coexistir; um fato,
porém, é digno de realce: o advento da. capa desenhada tem ge-
rado uma busca contínua de efeitos novos, não raro sensaciona-
listas, embora freqüentemente não mais que alusivos, sugestivos,
convidativos; coino quer que seja, o livro dignificado pelo temp()
e pelo equilíbrio gráfico pede a capa tipográfica. E a consciência
disso, talvez, foi o desglosamento havido entre a capa e a sobre-
capa, esta com os requisitos propagandísticos, aquela com a so-
briedade tradicional, aliadas no mesmo livro. Cumpriria, ainda,
observar que os dizeres e os desenhos da capa flutuam de acôrdo
eom o formato, o 4estino, o conteúdo, a finalidade, a natureza
temática e o estilo da editôra do livro. As capas de enciclopédias,
dicionários, obras de referência, consulta, diferem, quase polar-
mente, das capas de romances, sobretudo de alcova ou policiais ;
as capas dos livros didáticos, embora associáveis às dos livros
científicos, apresentam, também, diferenças. Nas capas de enca-
dernação original há modelos que yão desde o campo totalmente
isenw de qualquer caráter e desenho, passando pelos em que
aparece tão-só uma vinheta, pelos que apresentam as iniciais da
obra geral e o título particular, pelos que trazem s6 o título, aos
que levam o nome do autor e o título, ou o nome do autor, título-
e · editor, raro mais que isso. Nas capas de brochura, porém, há
modelos que vão desde minuciosa estampação de particularidades
relativas à autoria, qualificações do autor, intitulação, subtitula-
ção, epígrafe, resumo temático, características da impressão, local
da impressão, de venda, sanção de autoridade competente para a
impressão e venda, data da edição e o que mais fôr, até a.s que
se reduzem, essencialmente, ao autor, título e editor.
52 ANTÔNIO IIOUAISS

8.3.3.4 . Sôbre o problema da imposição dos dizeres da capa,


cumpre distingui-la, de nôvo, quando encadernada de quando
brochada. Na capa ençadernada originalmente, as margens late-
rais (interna ou da esquerda e externa ou da direita) têm exata.
mente as mesmas medidas; já, porém, as margens superior e in-
ferior não seguem uma ortodoxia: a tendência mais geral é, quando
se trata de vinheta ou medalhão tão-somente, centrá-lo, de ma-
neira que eqüidiste da cabeça e do pé da capa; se, porém, não
se trata apenas disso, tende · o campo dos dizeres ao cânon da
mancha da página, no que se refere ao sentido vertical, isto é,
apresentar a margem inferior maior do que a margem superior;
de. permeio, sobretudo nas capas modernas, há possibilidades de
variação; a tríplice indicação habitual (autor, título, editor) segue
o cânon da mancha de página no sentido vertical. Quando, po-
rém, se trata de .dizeres, ou de dizeres e desenhos (mesmo san-
grados, isto é, que são amputadós pelo bordo da capa) para bro-
churas, há duas tendências: a que advoga a imposição como se
fôra de rosto, noutros têrmos, como se fôra no cânon da mancha
de página, e a que advoga a imposição como se fôra em capa de
encadernação. Atendendo à contingência que parece subjazer na
origem da imposição da mancha, isto é, de que ela se apresenta.
na página, segundo certa assimetria que antecipa futura eventual
e!lcadernação do livro com guilhotinamento do miolo (e, pois, da
capa brochada, se fôr - e deve ser, quando não deteriorada -
mantida), na frente e no pé e, ocasionalmente, mas menos, na
cabeça, não parece haver dúvida de que a capa da brochura deva
merecer imposição segundo o cânon da mancha de página.
8. 3. 3. 5 A relação das medidas de corpo dos tipos usados nos
dizeres da capa deve, de regra, coincidir com a seguida no rosto
- salvo, é obvio, nos casos em que os dizeres da capa apresentam
.caráter monumental ou desenhado. Nestes casos, a regra essen-
cial parece ser simplesmente a seguinte: o corpo do título será
maior do que o corpo do autor, que será maior que o corpo do
editor; e as indicações associadas imediatamente a cada uma des-
sas três unidades serão necessàriamente em corpos menores do
que os de cada uma dessas unidades, mas de tal forma que não
coincidam com os corpos dessas unidaQ.es. Quanto ao problema
da partição do título, na capa êle se apresenta mais livre do que
no rosto, podendo ser objeto de disposições assimétricas e mesmo
livres .
.8. 3. 3. 6 Os dizeres das orelhas são· de vária natureza. Como
vimos pelas considerações s1tpra, um livro pode: (a) não contar
·com orelhas - no caso dos encadernados ou cartonados não so-
ELEMENTOS DE BIBLIOLOGIA 53

brecapeados, assim como no caso de certos brochados cujo reves-


timento seja guilhotinado juntamente com o miolo; (b) contar
·com duas orelhas apenas, da sobrecapa - nos casos acima f;gura-
dos, mas sobrecapeados; (c) contar com quatro orelhas, nos casos
de brochuras cujo revestimento seja· com orelhas, brochuras por
sua vez sobrecapeadas -, ocorrendo que, na hipótese máxima, via
do regra as duas orelhas da sobrecapa se destinam a fins gerais
da editôra, por exemplo, extrato do seu catálogo, títulos editandos
(•m breve proximi<lade, títulos da mesma coleção, quando não se
aproveitam essas orelhas para uso do livro em causa mesmo; as
duas orelhas da capa se reservam, quase sempre, para uma no-
tícia sôbre o livro (da responsabilidade da editôra ou de figura
·conhecida 110 ramo do saber ou do fazer e·m que se inscreve o
assunto do livro), que pode transbordar para a segunda orelha,
·com notícia biobibliográfica do autor; não raro, porém, uma dessas
duas orelhas pode ser destinada para fins da editôra. Na hipó-
tese de tão-somente duas orelhas, via de· regra uma se destina ao
autor e sua obra, atual e/ou pregressa, e uma à editôra, com
obras da mesma coleção, ou editandas quaisquer em breve proxi-
midade, ou extrato genérico do catálogo da editôra.
8 . 3. 3. 7. O ante-rosto, falso rosto, é também, à imitação do
"francês faux (ift·c, ·mas impropriamente, chamado falso título
já que título é tão-só ou preferentemente uma das unidades do
rosto, como se verá adiante. O falso rosto, em boa técnica tipo-
gráfica, deve; (a) aparecer em face ímpar de uma fôlha própria,
·cuja face par não deve ser aproveitada para nada mais, ficando
em ' branco:; (b) deve ter na face ímpar única e exclusivamente
o título da obra, exclusive subtítulos, esclarecimentos parentéticos
e o que fôr; (c) deve ser composto êsse seu título em corpo menor,
-via "de regra, que o que aparece no rosto, mas com o mesmo
número de linhas e mesma repartição de palavras ( deYendo-se
evitar sempre a partição vocabular); (d) deve, .entretanto, apre-
·sentar, para com o -msto, estreita dependência de gênero, espécie
e família de tipo (salvo, repita-se, o corpo) ; (e) sua mancha
·aeve seguir o cânon aa mancha da fôlha normal, quanto às mar-
genfl laterais, podendo, quanto às verticais, flutuar, embora, via
de regra, 'd a medida vertical, se atribuam 1/3 ou 2/5 para a mar-
gem superior e, portanto, ·2;3 ou 3/5 para a margem inferior (as
'flutuaÇões, que ·as ' liá, são quase sempre no sentido de di-
minuir a margem superior em benefício da inferior, donde,
"por ·contraste, efeitos âe ·novidade numa distribuição inversa),
cumprinâo ·lenibrar ·que, por vêzes, mesmo em obras de gran-
-de apuro tipográfieo e "bibliológico, a face par da fôlha de
54 ANTÔNIO HOUAISl"

ante-rosto pode receber uma "inscrição de patrocinio" ou "ins-


crição de comissão editorial" - o que J?Ode ocorrer em tomos de-
.uma enciclopédia, de uma publicação em vários volumes, por ini-
ciativa estatal ou de organização privada colegiada de fins cul-
turais. ·
8. 3 . 3. 8 O rosto - também chamado frontispício , ou portada,.
ou fachada -, como é sabido, modernamente é a página nobre do-
livro, onde sua apresentação essencial se faz . Os incunábulos
primitivos não o apresentavam, senão uma página inicial do texto
propriamente dito, a página do incipit, onde constava, do rosto.
atual, essencialmente o título, entrando-se, a seguir, na matéria.
Tão logo se autonomizou o título, pronto se formou o rosto. Sô-.
bre o rosto, a bibliografia bibliológica e tipográfica é rica e-
abundante, importando, entretanto, distinguir duas feições prin-
cipais: (a) rostos tipográficos; (b) rostos xilográficos ou dese·
nhados -, sendo rostos tipográficos aquêles para a constituição.
de cuja mancha só entram recursos de tipos do parque tipográ-
fico: caracteres, vinhetas, linhas, bigodes, asas, timbre, medalhões
autorais ou editoriais. Podem ser ou não ser emoldurados, mas a
moldura, nesse caso, é constituída sempre de linhas ou ferros ti-
pográficos. E desde o início dos rostos, há-os tipográficos. Os
rostos xilográficos, no ínicio, depois desenhados com reprodução
pela técnica do clichê, são aquêles que - total ou parcialmente-
- foram ou são feitos com caracteres não integrantes do parque
tipográfico. Corno os outros rostos, os xilográficos ou desenhados
podem ser emoldurados, mas as molduras são mais caprichosas;
elaboradas, carregadas. Dentre essas molduras, gozou de grande·
preferência, no século XVI sobretudo, a de portada, com capitel
ou triângulo superposto: portada, porque . era lateralmente deli-
mitada por duas colunas de pórtico de tradição arquitetônica·
greco-romana. Mas molduras as houve com elaborações as mais
nriadas, que influíram inclusive na técnica da portada do século
XIX nos livros de MORRIS, preferentemente, com seu ideal me-
dievalizante de rosto. Duas linhas de tendência, porém, que se
contra-regram, podem ser reconhecidas na evolução da técnica do
rosto : (a) progressiva preferência pelos rostos tipográficos, mesmo
quando emoldurados; (b) progressivo- descarregamento de dizeres.
- pois que, após o advento dos rostos, êstes, em breve, eram
verdadeiro prospecto analítico e propagandístico do livro, que
preenchia, por assim dizer, as funções atuais da orelha, da tábua
de matérias e de propaganda comerciar, além de anteparo legal',
com explicitar privilégios, autorizações e· desimpedimentos de cir~
culação e nnda.
ELEMENTOS DE BIBLIOLOGIA 55

S . 3. 3. 9 No rosto, através dos tempos, duas constâncias se


podem depreender - e são excepcionalíssimos os casos de sua não
ocorrência (quando, então, já não se trata de rosto) : o nome do
autor e o título da obra (nessa ordem ou em inversa). Mas,
.além dêsses dois elementos, há, de regra, um terceiro, que é a
imprenta, cuja completude pode ficar na dependência de imprenta
autônoma, isto é, fora do rosto, após êle. Mas pode ocorrer que
a obra se publique ~ob responsabilidade autoral nominalmente
explícita, ou sob responsabilidade colegiada, donde a possível dis-
tinção entre (a) rostos colegiados, e (b) rostos autorais, sendo os
priméiros aquêles em que, dado o caráter multitudinário dos co-
'láboradores, ainda que haja .uma direção individual ou de comis-
·são reduzida, a matéria pouco apresenta da redação do diretor
·individual ou da comissão reduzida: é o caso de enciclopédias, de
:revistas, de periódicos. de dicionários coletivos, de inquéritos de
grupo, de publicações de miscelâneas, homenagens, de catálogos
·Comemorativos, de muitas publicações oficiais e quase tôdas as
informativas sôbre comércio, indústrias, serviços, comunicações,
·transportes, recreações, instituições várias. Já os segundos -
Tostos autorais - ocorrem nas obras de responsabilidade autoral
'i ndividual (que é o caso, predominantemente, da criação artís-
tico-literária, ainda que a duas ou mais mãos ou cabeças). En-
·tretanto, ainda, nestes, aos poucos se vão distinguindo dois tipos
dfl rostos autorais, os de obras lançadas no comércio liueiro pelo
·próprio autor ou por editôres comerciais, e os de obras lançadas,
com fim comercial ou sem êle, sob auspícios de entidade pública
ou privada, que no seu programa normal de atividades insere a
editoração. Donde a possível tríplice distinção de rostos: (a)
·rostos colegiados, (b) rostQ.s ~ autorais comerciais, (c) rostos auto-
rais auspiciados -, sendo ··que, nos rostos colegiados, a seqüência
dos elementos constitutivos ·é, ·:via de regra, ·a seguinte: (a) título
da obra, (b) iml>renta, ou ·-elementos de hnprenta -, enquanto,
'IlOS rostos autorais comerciais, a seqüêncüi .dos elementos consti-
~tutivos é, via de regra, a seguinte (podend~, entretanto, ser .ante-
•cedida de referência à coleção, no cabeça~~, do rosto): (a) nome
·do autor ou autores, (b) título da obra;-(c) imprenta, ou ele-
·mentos de imprenta -, enquanto, nos rostos autorais auspiciados,
:a seqüência dos elementos constitutivos é, via de regra, a seguinte:
(a) nome da instituição auspiciadora, (b) título da obra, (c)
-nome do autor, ( d) imprenta, ou elementos· de imprenta.
·s. 3. 3 .1() Em certas obras de caráter autoral multitudinário,
mas cujo diretor, planejador ou comissão equivalente arca com
;grande. J;>Brte das responsabilidades do plano e da realização mesma
56 ANTÔNIO HOUAISS

das partes, não raro podem ocorrer dois rostos ; mas, para ocorrer··
:isso, é regra que a obra seja em vários volumes ou tomos: neste
caso, cada volume ou tomo apresenta, após o falso-título (cuja ·
página par fica em branco), uma fôlha seguinte, cuja página
ímpar via de regra fica em branco, sendo a sua página par es-
tampada com o rosto geral da obra e a página ímpar seguinte-
com o rosto particular do volume ou tomo, defrontando-se, des-
tarte, os dois rostos - o geral e o particular. Igual critério
é, também, por vêzes, usado nas publicações bilíngües, ficando o
rosto da "segunda" língua na face par anterior e o rosto da
língua principal na posição canônica, salvo os raros casos de
alfabetos ocidentais (esquerda para a direita) e certos orientais
(direita para a esquerda), quando um rosto fica no "início" e o-
outro no "fim" do livro, ou vice-versa, que é o mesmo.
8. 3 . 3 .11 É óbvio que não se pode, a priori, prefixar um número-
determinado ideal nem, a posteriori, um mais freqüente de linhas
para as diferentes feições de rosto. É que há títulos de obras.
que abarcam uma, duas, até três linhas, há nomes de autores, sóS.
ou acompanhados de qualificações, há nomes de instituições que-·
necessàriamente devem ser antecedidas ou seguidas de outros inti-
tulativos dos órgãos a que se entrosam, e assim sucessivamente:·
Há, ademais, rostos em que convém apareçam vinhetas, brasões,..
timbres, alegorias; há-os em que convém uma nota, uma epígrafe, ,
uma síntese temática orientadora; e há, por fim, a imprenta, .
que, modernamente, pode · chegar a minúcias, devendo, porém, .
partir do particular para o mais geral, do subordinante para o·
"ubordinado, do anterior· (no tempo) ao posterior, cada unidade ·
com a sua eventual qualificação. As imprentas admitidas linhas.
acima podem, assim, após as partes anteriores do rosto apresen- ·
tar: (a) indicação de ·ano (de. existência), volume, tomo, fascí- ·
culo; (b) autoridade que ordena a impressão ;:- (c) qualificação; :
(d) editor; (e) qualificação e enderêço; (f) impressor; (g) qua-
lificação e endt>rêço; (h) eventuais distribuidores e ou depositá- -
rios; (i) qualificações e endereços; (j) cidade, seguida ou não da1
indicação do país; (k) datação (dia, mês, ano; mês, ano; ano)
-, mas, dentro da tendência áo despojamento, a regra mais geral
é reduzir êsse complexo apenas a (a) editôra, (b) cidade, (c)'
ano - , nessa ordem ou, corno preferem certos bibliógrafos, na
ordem (b), (a), (c). O fato , entretanto, é que, ao mesmo tempo·•
·em que se positiva a tendência ao despojamento do rosto, mani~
festa-se, progressivamente, a necessidade crescente de minuciar as;
características materiais, as participações artíst:cas, artesanais e·
técnicas na feitura do livro, sobretudo do livro - não direi de.·
ELEMENTOS DE BIBLIOLOGIA 57

luxo, nem requintado, mas qualificado por cuidados bibliológicos


exemplares. Isso vem determinando uma diretriz que a mim,
pessoalmente, me parece recomendabilíssima. Consiste em adotar
página final par, cuja face ímpar fica em branco, página final
como "página credencial" num retôrno ao velho colofão, após a
qual virá a fôlha de contraguarda. Nessa página credencial
aparecem, podem aparecer (deviam aparecer): (a) a justifica-
tiva, stricto sens1t, da tiragem, isto é, o número de exemplares
da edição, reedição, impressão, reimpressão; a tiragem especial.
se a houver, e, em havendo, os exemplares subscritos ou enco-
mendados; (b) a qualidade dos papéis usados, com a minúcia
possível - fabricante, indústria, côr, pêso, largura ou dimensões;
(c) a tipologia usada, ind!cando, quando diferentes, as famílias,
gêneros, desenhos e corpos; (e) os participantes da obra: plane- ·
jador gráfico, executor gráfico principal, capista, ilustrador, fo-
tógrafo etc.; (f) o tempo de execução da obra, explicitados dia,
mês e ano de término.
R. 3. 3 .12 Com relação à mancha do rosto, há dois, pelo menos,
aspectos que considerar ( exclusive o tratamento, digamos, estético
restritivamente tomado): (a) a sua imposição e (b) a sua dispo-
sição, já não seqüencial (como vimos acima), mas meramente
plástica, visual. Sôbre a imposição da mancha do rosto, ver,
mutatis mutandis, o que é dito em 8. 3. 3.4 supra. Quanto à
disposição plástica, visual, da mancha do roRto há duas conside-
rações afins : (a) uma se refere aos corpos dos caracteres, assim
como aos seus gêneros, espécies, famílias, desen"hos; (b) outra se
refere à partição das linhas e sua disposição visual, propriamente
dita. (a) Os corpos dos caracteres, no rosto, em regra seguem
o princípio de. hierarquia, na seguinte ordem descendente: corpo
maior para o título ou para a linha do título em que se encerre
a noção fundamental, temática, caracterizadora, do título; corpo
médio para o nome do autor; corpo menor para as outras indi-
t•ações. E, consoante fôr a carga de linha, poderão ser elas em
versal, versalete, normal, evitando-se de regra a negrita; poderão
ser em romano ou em itálico (ficando o gótico stricto sensu para
certos rostos alusivos .a temas medievalizantes ou germanizantes),
variando, enfim, de famílias e desenhos, conforme disponibilida-
des de parque tipográfico - evitando-se, porém, combinações de
famílias díspares, por exemplo, linhas de tipos com cerifas mais
linhas de tipos sem cerifas, linhas de tipos sombreados mais linhas
de tipos sem sombreamento, e assim sucessivamente. (b) A dis-
posição visual das l!nhas revela, numa constância notável, a obe-
diência ao princípio da simetria, tomados dois eixos, o da orde-
58 ANTÔNIO HOUAISR

nada e o da abscissa, que se encontram no meio ideal da mancha


- meio que não é o da fôlha necessAriamente, mas da mancha,
repitamos, já que o retângulo ideal via de regra formado por esta
tem seus lados distantes assimetricamente dos bordos do papel,
segundo a norma de que a margem interna é menor que a superior,
que é menor que a externa, que é menor que a inferior. Na base
dos eixos coordenados, a mancha do rosto se divide, idealmente,
em quatro retângulos, a, b, c e d, - a, o da esquerda su-
perior; b, o da direita superior; c, o da esquerda inferior, e
d, o da direita inferior. E a regra da distribuição via de regra
se faz de forma que a seja simétrico a b e c seja simétrico a
d, e de forma que a seleção arbitrária a :c seja seguida por b :d.
Em conseqüência, as manchas apresentam-se já em esbôço trian-
gular com a base para baixo, já em esbôço triangular com a base
para cima, já em esbôço losangular, já em esbôço de taça, já em
esbôço de copo, já em esbôço de coluna simetricamente fraturada
etc.:

~ [J TI o Dv
escusando ressaltar que o rosto moderno pode em grande parte
obter seus efeitos inovadores pela ruptura, doce ou violenta, dês-
ses princípios, já no que se refere à conjugação dos caracteres,
já no que se refere à distribuição, e. g.:

6 ·~
K
D

o 9J
00
ELEMENTOS DE BIBLIOLOGIA 59

8. 3. 3 .13 O rosto por vêzes reproduz, com leve carga a mais


de dizeres ou sem ela, a capa - capa de brochura, entenda-se.
Esta pode apresentar, diferencialmente, certos elementos tipográ-
ficos a côr, combinando, de regra, no máximo, o negro com uma
côr (azul ou vermelho ou violeta ou verde ... ) . O rosto, quase
sempre, é, porém, estampado só em negro. Editôra brasileira, de
certa data a esta 'parte, em não pequeno número de suas obras,
vem adotando o critério de trazer como rosto a reprodução, em
dimensões menores, da capa, inclusive no jôgo de côres - em
prejuízo ou da capa ou do rosto.
6.3.3.14 Sôbre a imprenta, ver o que é dito em 8.3.3.11,
supra. Constitui-se ela fundamentalmente das três unidades: (a)
editor, (b) cidade, (c) ano, estampadas no pé do rosto. Apa-
recem, não raro, porém, omissos elementos da imprenta no rosto,
reduzindo-se ela, às vêzes, a um · só elemento (editor, ou cidade,
ou ano), ou a dois (editor e cidade, ou. editor e ano, ou cidade
e ano).
8. 3. 3 .15 Os direitos editoriais são, freqüentemente, explicita- .
dos nos livros, mormente nos impressos na França, onde, via de
regra, são estampados na página par ou verso da fôlha de rosto,
quase sempre ao pé da página, num teor que, aproximativamente,
guarda a seguinte redação:

· Tous droits de reproduction et de traduction réservés


pour tous les pays, y compris la Ruslilie (U. R. S. S. )

enquanto na Itália a fórmula, aproximativamente, é apenas a


t;eguinte:
Proprietà letteraria riiervata

~ nos países de língua inglêsa se reduz a

Copyright by [ ...... ], [ ...... ]

significando, na terceira citação, o primeiro par de colchêtcs


o nome da editôra que detém os direitos editoriais e o se-
gundo par, o nome da cidade que lhe é sede social e jurídica.
Os direitos autorais nunca, ou pràticamente nunca, são explicita-
dos no livro, salvo ·quando se confundem com os. editoriais, no caso
em que o autor é seu prÓprio editor. De regra, poréD:l, os direitos
autorais são garantidos pela lei civil do país - como é o nosso
caso, em que são regulados no Código civil brasileiro, Parte
60 ANTÔNIO HOUAISS

Especial, Livro II, Título II - Da Propriedade, Capítulo VI -


Da propriedade literária, científica e artística, artt. 649 e 673 - ,
havendo, para garantia internacional, convenções em vigor, den-
tre as quais a de Berna. Sôbre o particular, é ilustrativa tôda
a parte do Capítulo XIV que, de "Os direitos autorais" em diante,
ministra WILSON MARTINS no seu livro A palavra escrita ( cf_
1LARU e HOOX). É fácil compreender que os direitos editoriais
acobertam impiicitamente os direitos autorais, razão por que êstes
são aqui mencionados com aquêles.
8. 3. 3 .16 As edições e reimprrssões anteriores do livro são
raro indicadas com relativa completude, o que, entretanto, é de
grande conveniência bibliográfica e ecdótica, para não dizermos
mais. Há diversos critérios que no respeito se seguem, convindo
lembrar os dois seguintes: (a) mera menção no rosto, às vêzel'l
também na capa, de que se trata de reimpressão, ou de segunda,
terceira, quarta, enésima edição (em geral "2.a, 3.a, 4.8 , n edi-
ção"), ficando a datação dessas edições na dependência de es-
clarecimentos eventuais nos prefácios ou preliminares de cada
edição posterior em circulação; freqüentemente, há referências ao
fato de que a reimpressão tenha sido corrigida, revista e atuali-
zada, enquanto nas reedições ocorre o fato de que tenha sido
refundida, melhorada, revista, corrigida, atualizada, reelaborada
e equivalentes; (b) parte especial, impressa em regra no vers()
da face ou página par da fôlha de rosto, podendo, porém, ocorrer
no verso de fôlhas posteriores _à do rosto mas preliminares ao
texto propriamente dito, com indicação de datas das reimpressões
e reedições anteriores, ficando a eorrente ou atual explicitada na
imprenta (onde quer que esta ocorra). Nos livros do mundo da
língua inglêsa isso se faz com certa regularidade, por exemplo~

First published in 1945


Second impression March 1946
Third impression 1947
Fourth impression 1949
Fifth impression (revised) 1953
Revised edition for Peliean Books 1954

o que equivale a dizer que, se nas edições e reimpressões anterio-


res à atual, que é a de 1954, não se faz menção aos editôres,
oponencialmente se fica sabendo que foram outros que não a
Pelican Books, para a qual é feita a reedição revista, que é, como
edição, a segunda, como editoração a sexta.
ELEMENTOS DE BIBLIOLOGIA 61

8. 3. 3 .17 A justificativa da tiragem não ocorre em todos os


livros, havendo editôras que a omitem. A justificativa da tira-
gem consiste, essencialmente, na menção do número de exemplares
ordinários ou regulares e de exemplares especiais que foram es-
tampados na editoração em causa. Essa distinção acarreta, via
de regra, a menção da diferença material que há entre os exem-
plares ordinários e os especiais, a qualidade do papel - o que
levou, em certas editôras brasileiras, por um eufemismo injustifi-
cável, à referência aos papéis e, se tanto, ao número de exemplares
especiaiS. Certas editôras, francesas principalmente, se limitam
a estampar, muitas vêzes no rosto, o milheiro, e.g., "316eme millier".
A redação da justificativa de tiragem, que costuma ser estampada
no verso da face ou página par do rosto, é aproximativamente a
seguinte:
Dêste livro, na sua [n 8 ] edição [reimpressão ou
editoração], foram feitos I [n] em papel [x] e [n] em
papel [y], êstes fora do comércio.

S. 3. 3.18 Os dados biobibliográficos do autor nem sempre cons-


tam dos livros. :t!::stes - extremando-se entre a completa omissão
a respeito ou a menção apologética, propagandística, verdadeiro
sf.unt, chamariz publicitário, do autor e de sua obra - deveriamr
entretanto, sempre que possível, encerrar algo no particular,.
condicionado às contingências da edição. Noutros têrmos, há.
sempre conveniência, quer em autores éditos, quer em inéditos,.
quer em notórios, quer em relativamente desconhecidos, quer em .
obras lançadas comercialmente, quer não, há sempre conveniência .
que sôbre o autor e sua obra - principalmente a não encerrada
no livro em causa - haja referências orientadoras, para o leitor,
para a documentação e para a posteridade. Essa referência, va-·
zada com a sobriedade que a situação exige, tanto pode ocorrer
no prefácio (se de outrem), em orelha, como, se fôr o caso, em
part~ preliminar do livro, em suma, em posição pré-textual.

8 ..3. 3 .19 A tábua da matéria nos livros da tradição portu-


guêsa vem sofrendo, nos tempos presentes, uma mudança de si-
tuação. No passado de raiz quinhentista vinha como pré-textual;
depois coincidia com o índice ou os índices, ficando, por isso, sem
caráter seccional próprio e identificando-se, mesmo, com aquelas
partes finais. É de tôda a conveniência, porém, sobretudo nos
livros científicos, técnicos, didáticos, eruditos - nas obras que
não sejam de ficção, em suma, mas mesmo nestas, quando .edi-
tadas criticamente - que se distinga .a tábua da matéria · dos
índices (os quais serão tratados em lugar próprio dêste livro).
62 ANTÔNIO HOUAISS

A tábua da matéria também pode ser dita "tabuada" (sabor ar-


caizante), "índice geral" (denominação imprópria, pois há con-
veniência - ver-se-á - na especialização da palavra "índice"),
"resenha" (inconveniente também, já que "resenha" tem na lin-
guagem da documentação e da crítica literária uma acepção que
não deve ser dilapidada, correspondendo tanto a "recensão", quanto
a abstra.cts, quanto a "crítica do livro"), "sumário", "roteiro",
"plano", "conteúdo" (pouco recomendável, pois é ilusório o sen-
tido e pelo visível anglicismo subjacente, contents) : fixemo-nos
~m "tábua da matéria" ou "sumário". A tábua de matéria deve
distinguir-se claramente das outras partes remissivas do livro -
pois que são remissivos ao local onde ocorram suas referências
tanto a tábua de matéria quanto os índices ou quaisquer outras
tábuas afins. Em boa técnica, a tábua de matéria ostenta os
aspectos gerais do seccionamento do livro, .não entrando em suas
particularizações, que, estas, constam dos diversos tipos de índices.
A tábua de matéria é sempre ordenada sistemàticamente segundo
a · ordenação estrutural do livro. Sua posição é fixa: é a penúl-
tima seção das preliminares ou partes pré-textuais da obra, a que
se segue o prefácio, ou seus inúmeros equivalentes, e a introdução.
A tábua de matéria se organiza, enfim, segundo uma disposição
tradicional, constante, essencialmente, de duas colunas verticais,
cujas unidades recíprocas são, de regra, ligadas por pontilhado:
a da esquerda, do enunciado dos elementos gerais seccionais da
obra, a da direita, a indicação da localização dêsses elementos no
texto.
8. 3. 3. 20 A enunciação dos elementos gerais seccionais da
obra deve ser, na mesma linha ou em linha autônoma, antecedida
do têrmo normativo adotado na terminologia seccional da qbra -
parte, livro, capítulo, seção, parágrafo; capítulo, parágrafo -.
De extrema conveniência, nas tábuas ricas, é a diferença de gê-
neros e famílias - versais, versalete, romano e grifo, consoante
sejam as espécies do seccionamento. A indicação da localização
-dos elementos enunciativos da tábua, que deve ocorrer na coluna
.da direita, pode fazer-se já pelo número inicial da ocorrência no
"texto, já com a indicação do extremo inicial e do final - o que
~. quase sempre, um excesso de minudência, pois o extremG inicial
'Seguinte faz implicitamente as vêzes de extremo final anterior.
E a indicação remissiva da coluna tanto pode ser por número de
página, quanto, se fôr o caso, por qualquer têrmo do secciona-
mento adotado. Destarte, indicar o parágrafo, . por exemplo, em
lugar da página, é de grande vantagem, já que, nesse caso, a
tábua poderá ser estabelecida independentemente da paginação
ELEMENTOS DB BIBLIOLOGIA 63

(e respectiva numeração) que o livro vier a apresentar, além


de que a localização é para campo menor, pois de regra o
parágrafo tem menor extensão que uma página. Quando êste último
processo se adota, há, contudo, uma de duas elas seguintes con-·
dições (quando não as duas) : (a) os parágrafos numerados são
relativainenfe pouco extensos, de forma tal que, no texto aberto,.
olhadas uma página par e uma página ímpar concomitantemente,.
haja a ocorrência de uma, pelo menos, indicação de parágrafo;.
(b) os pará.grafos - ou outro qualquer tipo de seccionamento - ·
são indicados no alto da página, segundo critérios que serão opor-
tunamente examinados.
8. 3. 4 No tas e afi.ns - Sob os nomes de nota, .notícia, nótula,.
observação (no singular ou no plural, seguidas d.e epítetos equi-
-valentes a "prévias" ou "preliminares", ou não seguidas), intro-
dução, apresentação, prefácio, prolóquio, antelóquio, prelóquio e·
afins, há uma parte pré-textual, em que cabe distinguir dois as~
pectos principais: (a) ser ela do próprio autor; (b) não o ser,
.podendo então ser do . editor, do editor-de-texto, do compilador, do
anotador, ou .de entidade que faça as vêzes responsáveis de um
dêles ou dêles -, sendo que, em ambos os aspectos acima consi-
derados, pode ainda ocorrer que essa parte pré-textual, (a) inte-
gre o livro desde sua primeira edição; (b) não o integre senão
em reimpressão ou reedição subseqüente.
8. 3 .4 .1 Nessa conformidade, teremos as seguintes combinações
possíveis, para com essa ou essas unidades pré-textuais: (a) se-
rem do autor e da primeira edição; (b) serem do autor, mas de
reimpressão ou reedição subseqüentes; (c) não ser do autor, mas
de primeira edição; ( d) não ser do autor, nem de reimpressão
ou reedição do livro em vida do autor.
8. 3. 4. 2 Quando se trata da hipótese (a) supra - serem do
autor e da ;primeira edição - importa tratá-la como se parte
textual fôsse, isto é, reputá-la integrante do livro a partir de
então, sobretudo nas reimpressões ou reedições· post morte'ltt au.ç,.
toris. Somente o autor, em vida, pode ser árbitro para sua
eventual exclusão (ou refundição qualquer)" em publicação se-
gunda. Por êsse motivo, não raro, em sendo necessário, o autor,
vivo, antecede cada edição (ou as principais subseqüentes) com
novos elementos dessa natureza pré-textual, os quais se podêm
seriar, e.g., "prefácio da 1.8 edição", "prefácio da 2.• (ou n 8 )
edição" etc., podendo, inclusive, omitir os (ou alguns dos)
anteriores, mas fazendo constar · êsse fato do prefácio vigente na
edição em qne proceder ao corte. Outras vêzes, o autor pode
64 ANTÔNIO HOUAISS

deixar essa parte preliminar tal como se achava na edição original


-e antecedê-la, com outro nome, de outra parte, ou, ao contrário,
fazer segui-la de um complemento - expllcitamente separado da
primitiva parte introdutória -.
8. 3 . 4 . 3 Quando essa parte preliminar ou pré-textual não é
do autor, mas constou da primeira edição do livro - necessària-
mente com a autorização do autor (o contrário, que pode admi-
tir-se, e há casos vários que o documentam, pertence à bíblio-his-
toriografia anedótica) -, em morrendo o autor, integra-se ela à
história do livro, devendo, assim, nas reimpressões ou reedições
póstumas aparecer sempre. Somente em vida pode o próprio
autor - e eventualmente o prefaciador - determinar a exclusão
dessa parte, em reimpressão ou reedição do livro. Não sendo do
autor, nem de reimpressão ou reedição do livro em vida do autor,
o tratamento dessa parte cabe, via de regra, ao responsável pela
reimpressão ou reedição post rnor{em au.ctoris. Dois cuidados
externos, bibliológicos, cabem, alternativamente, pelo menos, nesse
caso: (a) a denominação dessa parte pré-textual deve ser feita
sem ambigüidade para com a que foi dada pelo autor ou pre-
faciador em vida do autor; (b) uma segunda fôlha de falso título
ou falso rosto deve vir antes do texto (neste, então, incluída essa
parte pré-textual primitiva), a fim de distinguir o que pertencia
ao livro original do que se agrega ao atual.
8. 3. 4. -i Em conseqüência, a relati'nmente rica nomenclatura
dessa parte pré-textual deve: (a) ser distintiva entre a original e
a atual post mortem auctoris, (b) poder apresentar variedade - ,
pois, com efeito, se em vida o autor inseriu uma "nota prelimi-
nar", um "prefácio" e uma "introdução" (próprios ou alheios),
o editor-de-texto pode, se fôr o caso, inserir uma "notícia prévia",
ou um "antelóquio", ou um "prolóquio", ou um "prelóquio", ou
dois, ou n dêsses títulos. Isso não obstante, cumpre reconhecer
que são mais do campo das edições post mortem auctoris as ex-
pressões do tipo "nota", "notícia", "nótula", "observação", "apre-
sentação" ("prévias" ou "preliminares", ou afins), enquanto se
inserem no campo da editoração original preferentemente "prefá-
cio", "prolóquio", "exórdio", "antelóquio", "prelóquio", "à guisa
de prefácio" e afins (do próprio autor ou alheios). Apenas, nas
obras científicas, há progressiva tendência, quando dividida em
capítulos, de ser o primeiro dêstes antecedido de uma "introdu-
ção", que de fato introduz, apresenta o tema, seus principais
aspectos, questões, problemas e conexões, os quais, vi& de regra,
segundo o plano introdutório, se desenvolvem nos capítulos se-
guintes.
ELEMENTOS DE BIBLIOLOGIA 65

8. 3. 5 Texto stricto sensu - A parte textual - quer a con-


toideremos integrada dos elemento!,\ pré-textuais da edição ou edi-
ções em vida do autor, post rnm·tem dêste, quer não - não apre-
liilenta, em regra, nomenclatura própria: é o texto. :f:ste, conso-
ante fôr o scccionamento da obra, poder-se-á dividir em partes
integrantes - mas isso será consider~~:do em capítulo à parte, por
vir, dêste livro. Isso não oootante, importa aqui considerar que
as fôlhas do texto são as que, por sua composição, imposição e
mancha, por sua tipologia, por suas margens, por seu jôgo de
prêto-no-branco, por suas eventuais ilustrações, vinhetas e ilumi-
nuras, definem o caráter tipográfico e mesmo bibliológico do livro.
Como, porém, tais questões foram e estão sendo consideradas ao
longo dêste livro, não há como voltar a ela ou antecipá-las. Cabe,
porém, realçar que essas fôlhas se dividem em duas categorias
principais - levado em conta, sempre, que cada fôlha tem, pri-
meiro, sua face ou página ímpar, no :recto, e, no verso, sua face
uu página par. Dentre essas faces, importa ainda ter em conta:
(a) as capitulares e, eventualmente, subcapitulares; (b) as finais
de capítulo e, eventualmente, as finais de subcapítulo.
8. 3. 5.1 As faces ou páginas capitulares, em boa técnica bi-
bliológica, tradicional ou moderna, são sempre condicionadas pelo
'uso do branco" no miolo, a saber: (a) há livros cuja concepção
a êsse respeito é generosa, fazem amplos usos de espaços brancos,
~eão descomprimidos - nesse caso, é de hábito abrir página capi-
tular sempre "nobre", isto é, ímpar. A página capitular siste-
màticamente ímpar pode acarretar a presença - quando episó-
dica, infeliz, pois que, se sistemática também, poderia ser elemento
do "uso do branco" generoso - de páginas pares anteriores em
branco totalmente. Evitar essa ocorrência episódica, ou ao con-
trário fazê-la sistemática, é um delicado problema de paginação,
que pode, apesar de tuno, ser resolvido; (b) há livros cuja con-
cepção do "uso do branco" é, ao contrário, comprimida. Neste
caso, ou se procura, sempre, fazer que o fim de um capítulo
termine em página par, com pelo menos um têrço da mancha ideal
ocupado (têrço que corresponde ao equivalente do têrço branco
ideal da página capitular seguinte), às vêzes, pelo menos, três
linhas impresas; ou, ao contrário, abandona-se a noção de página
nobre, iniciando-se capítulo já em página par, já em página ímpar.
O requinte gráfico de um livro nada perde com qualquer das
duas direções do "uso do branco". O livro denso, aliás, pede o
t>egundo caminho. Em quaisquer casos, há-os que vão ao cuidado
de iniciar suas páginas capitulares com letrinas ou letras capitu-
lares, grandes letras de duas, três, quatro, cinco ou mais linhas
66 A:t\TÔNIO HOUAISR

de medida, com adornos, dentro de uma moldura real ou ideal,


retangular, ovóide, triangular etc. A primeira edição do Ulysses, .
de JAMES JoYCE (cf. JOYc; JOYD, mais accessível), apresentava
três letrinas apenas, cada uma ocupando totalmente uma página
- pois que JoYCE teria, com essas só três letras capitulares, a
intenção de simbolizar seus três h_eróis básicos do livro, Stephen,
Molly e Poldy (Stephen Dedalus, l\Iarion Bloom e Leopold Bloom) .
Há letras capitulares que são do parque tipográfico normal, com a
condi<:ão de terem corpos maiores notàvelmente realçantes. A
imposição dessas letras é variável, criando um estilo para o. livro:
ou desbordam no ângulo superior esquerdo da mancha totalmente,
ou se embebem parcialmente nessa niancha, nesse .ângulo, desbor-
dnndo apenas para cima, ou se embebem totalmente nesse ângulo
ficando com a parte superior na linha ou quase das versais da
composição (o que acarreta uma sér!e de linhas iniciais do pri-
meiro parágrafo do capítulo com dimensões ligeiramente meno-
res). Livros há em que as eventuais subdivisões dos capítulos
são marcadas por um interlineamento maior, antecedido de sub-
letrinas ou subcapitulares, as quais, em regra, não diferem das
capitulares senão no corpo relativamente menor, para definir-lhes
a categoria de subcapitulares. Em quaisquer casos, é costume,
quando se faz uso de letrinas capitulares e/ou subcapitulares,
abandonar o uso do chamado branco paragráfico, a indentação
para a direita da linha in~cial do parágrafo inicial de capítulo ou
de subcapítulo.
8. 3. 5. 2 As faces ou páginas finais de capítulo, em li~ros cui-
dadosamente plasmados, do ponto de vista tipográfico e biblioló-
gico, nunca devem, como o dissemos, ser em branco, correndo, em
conseqüência, não raro, a necessidade de o texto anterior ser
"corrido", isto é, distendido, de forma que a última fôlha do
capítulo transborde sua matéria de sua então última página para
a que se quer última página. 1?:sse corrido, para bom paginador,
deve ser pressentido, pré-calculado, preestimado com . antecedên-
cia, para que não se opere apenas com umas poucas linhas finais
do final do paquê capitular, pois neste caso o jôgo de prêto-no-
branr.o, característico da mancha, se adulterará, com a predomi-
nância relativa do branco, ou, se o corrido fôr por r.oncentraÇão,
recorrido, com predominância relativa do negro.
8. 3. 5. 3 Cumpre, por fim, lembrar que, colisoante seja o plano
de seccionamento e sua realiza<:ão tipográfica e bibliológica, o
livro poderá, se de "uso do branco" generoso, entre suas partes
principais de texto, apresentar fôlhas de falso rosto seccional.
ELEKENTOS DE BIBLIOLOGIA 67

Isso ocorre, principalmente, em obras colegiadas em que cada


parte tem autoria própria. Nesses casos, é encontradiça a fôlha
de falso rosto seccional, consistente nas duas faces obrigatórias,
aparecendo na ímpar o título da seção e eventualmente o nome
do autor, ficando a par em branco, ou, em rodapé desta, a indi-
ea~;ão bibliográfica de sua origem, nos casos de que tenha tido
publicação anterior.
8. 3. 6 Parte pós-textual - A parte pós-textual apresenta a
possibilidade de ter as seguintes seções ou dizeres (na ordem ten-
dente do texto propriamente dito ao externo final do livro) : (a)
postfácio (pós-fá cio, posfácio), nota, notícia, nótula, observação
etc., finais; (b) notas propriamente ditas; (c) adendos e apên-
dices; (d) erratai (e) índices; (f) tábua de matéria; (g) colofão;
(h) face externa da contracapa; (i) orelha de trás da sobrecapa;
(j) face de trás da sobrecapa.
8. 3. 6 .1 Sôbre o postfácio (pós-fácio, posfácio), assim como
sôbre a nota, notícia, nótula, observação etc., finais, não raro,
post scriptum, considere-se, antes de tudp, que podem ocorrer, um
ou mais, sem que o livro seja antecedido de sua contrapartida
aparentemente lógica (prefácio, antelóquio etc., nota, notícia etc.,
preliminares), ou ainda que seja antecedido dela. ~sses elemen-
tos, ocasionais, ocorrem via de regra por determinação de cir-
cunstâncias tais, que o autor se veja obrigado, e assim o editor-
de-texto ou mesmo o editor, a acrescentar uma informação ao
leitor, terminada (ou quase) a tipografação do livro; assim, um
fato de cronologia, com nôvo elemento bibliográfico ponderável,
uma polêmica superveniente, uma alteração do quadro social, uma
circunstância biográfica do autor, um problema final da edição
crítica, um motivo de fôrça maior de editoração, sós ou combina-
dos, podem determinar o aparecimento de um ou mais de tais
elementos. E por vêzes são êles supervenientes tão tardiamente,
que podem até ocorrer na parte finalíssima do livro (como miolo)
propriamente dito, caso, entretanto, evitando na medida do pos-
sí-vel.
8. 3. 6. 2 As notas prbpriamente ditas que ocorrem em fim do
livro decorrem do plano de estruturação da matéria versada. É
que, como se ,:erá em local adequado dêste livro, a estruturação
poderá admitir notas ao texto, ou marginais, ou de rodapé, ou
finais de seções, ou finais de livro - ou combinadas -, a ponto
de as haver como notas de notas, e mesmo como notas de nota de
11ota (o que chega a ser a negação da estruturação mesma).
·68 . ANTÔNIO }JOUAISS

'8.3.6.3 Os adendos (sing. "adendo", ou, em latim, addendum,


pl. os addenda) são, como o diz o étimo, adições ao texto, que
podem funcionar já como notas finais (previstas ou não na estru-
tm·ação da matéria), já como acréscimos supervenientes impossí-
veis de serem enxertados no local próprio do texto, já - o que
·é ma.is normal - como nota extensa final colateral ou co:Y.ex:a
com a matéria versada, proposi~ão ou tese paralela à do livro.
Entre o adenuo e o apêndice (pl. "apêndices", ou, em latim,
oppend-ix, pl. os appe11dices) é como que de regra considerar o
primeiro como de matéria elaborada pelo autor 'e o segundo como
de matéria abonadora ou documentadora do texto, via de regra
não do autor, por exemplo, texto de leis, convenções, documentos
e afins. Neste último sentido, freqüentemente os apêndices ocor-
rem antes do postfácio e das notas finais propriamente ditas.
Modalidade de apêndice, há o chamado anexo, consistente, em
rrgra, em documentação abonadora do texto, mas de regra do-
eumenta<.:ão extensa estreitamente vinculada com o tema central
ou geral do livro. Adendos, apêndices, anexos - e afins - , se
('lU número de dois ou mais (de cada espécie), via de regra são
objeto de remissão recíproca (do texto à unidade em causa, e da
unidade em cansa ao texto), por meio de remissivas laterais, ou
numéricas ou simbólicas, quase sempre acompanhadas do número
da página ou qualquer outro meio expedito de localização ao
corpo do livro.
8. 3. 6. 4 Os e1·rata (em. latim, no plural, cujo singular é erra-
ft~m, já consagradas, porém, em português, a "errata", as "erra-
tas") partem do pressuposto de que errare typogr.aphicum est,
de que não há lino sem êrro tipográfico. Sem querer entrar
no mérito para a oportunidade da inclusão dos errata em livros,
cumpre levar sempre em conta que, para serem exaustivas, as
erratas devem ser lavantadas com um rigor tal, que se possa ter
a certeza de que nenhuma gralha ou nuga tenha deixado de
nelas ser consignada - o que é uma enorme temeridade, já que
há erros tipográficos que se manifestam à observação muito tar-
diamente, mt1ito depois de publicado o livro. Por isso, prnden-
cialmente, é da tradição consignar nas erratas tão-somente duas
categorias de erros: (a) os de que possa decorrer incompreensão.
obscuridade, ambigüidade não desejada e (b) · OS de que possa
decorrer êrro atribuível à ignorância ou insciência do autor; fora
dêstes, é habito o autor - ou editor-de-texto, ou editor - apelar
para a perspicácia e inteligência do leitor, cujas grandes quaE-
dades no particular são via de regra, nesse ensejo, objeto de
1ouvor. . . As errata!; em geral consistem numa seqüência de li-
ELEMENTOS DE BIBLIOLOGIA 69

nhas com a seguinte ordenação: "p. n onde se lê .... leia-se .... ",
e assim 6Ucessivamente. Autores há, porém, que floreiam. as erra-
tas. . . Cumpre, ainda, ressaltar que, muito freqüentemente, as
erra't as são estampadas em fôlha ou troço de fôlha volante, in-
serta entre as páginas ou colada no início, ou no fim, do volume
- caso em que, em boa técnica de leitura, o leitor escrupuloso
deve proceder, imediatamente após a obtenção do livro, às corre-
ções pedidas (providência que, também, deve ser feita pelos bi-
bliotecários, tão pronto recebam o livro, mas, nesse caso mais que
no outro, anotando, no local de cada. correção, uma observac;ão
segundo a qual fique claro que a correção é por indicação e
responsabil!dade do autor).
8. 3. 6. 5 Os índices serão objetos de tratamento particular
neste livro. A tábua da matéria, já o vimos supra 8. 3. 3 .19 e
segg., pode ser uma das partes preliminares do livro. É que,
com efeito, a editoração (e decorrentemente a estruturação biblio-
lógica do livro) no Brasil vem sofrendo duas linhas principais
de influência no respeito: a de Üugua francesa e a de língua
inglêsa. Na tradição da primeira, a tábua de matéria, table des
matieres, normal~ente vem vindo in fine do miolo, seguida, tão-só
do colofão. Na tradição de língua inglêsa, ao contrário, a tábua
de matéria, contents, vem vindo via de regra como parte preli-
minar, tal como a examinamos retro. As vantagens estruturais
do critério seguido na tradição inglêsa são tais, que não hesitamos
em tomar posição em favor dela, sobretudo nos livros em que a
matéria é complexa e planejada em seções intituladas e sobretudo
porque com isso voltaremos à boa tradição portuguêsa. A tábua
da matéria sendo, como é em verdade, uma das várias espécies
possíveis · de índ:ces lato scnstt, será ainda tratada neste liTro,
quando dos índices se tratar.
8. 3. 6. 6 O colofão ( colofon, cólofon) é, do miolo, a última
parte impressa, salvo anomalia ou exceção bibliológica. Consiste,
~ssencialmente, numa menção, de expressão vária, cuja síntese
pode ser englobada nos têrmos seguintes, em que dois elementos
apenas vêm sendo quase constantes, a saber, a referência ao
estabelecimento gráfico e a data em que se monta o caderno final
para a impressão: "êste livro foi composto e impresso nos esta-
belecimentos gráficos x, rua tal, número tanto, para ,a editôra y,
de tal cidade. segundo phino.. do artista gráfico. e, tendo sido
terminado aos n de x do ano de n".' Fatôres vários vêm mili-
tando em favor do abandono do colof~o por uma página creden-
<:ial, ver supra 8. 3. 3 .11. ·
ANTÔNIO llOUAISS

8. 3. 6. 7 Quanto aos dizeres da face externa da contracapa,.


cumpre, tão-somente, ressaltar que ocorrem apenas quando o livro-
é brochado - nos encadernados a ocorrência é excec;:ão bibliológica
- ou cartonado. Podem êsses dizeres relacionar"se com o livro,
o autor, a coleção, a editôra, o catálogo desta;, ou títulos desta.
A face externa da cont~acapa é, entretanto, tipografada de pre-
ferência na editoração, comercial: e, do estrito ponto de vista
pessoal do autor dêste livro, desmerece o livro, ainda que haja·
felizes soluções para a tipografação da contracapa. Uma única.
exceção deveria ser, eventualmente, recomendável (num mundo
menos inflacionário ou talvez por isso mesmo) :. a. mene}ão de·
pre<;:o, na base, discretamente.
CAPÍTULO IX
FEIÇOA:MENTO DO LIVRO

9. A TRADIÇÃO DO LIVRO
Fat~r essencial de civilização como veículo do pensa-
mento escrito, o livro, no sentido mais amplo da palavra
e · com abstração de qualquer matéria, forma e técnica
particulares, supõe uecessàriamente a existência de uma
sociedade policiada que cultive as letras, as ciências e as
artes, desejosa de aumentar pela leitura, pela reflexão e
pelo ensino. a soma de seus conhecimentos e de transmitir-
lhe a herança às gerações seguintes. Não se lhe poderia
dar nem uma data nem um lugar de nascimento: nada
impede que êle haja aparecido ao mesmo tempo em várias
regiões do globo como o fruto mais saboroso das civili-
zações chegadas ao ponto de madureza convinhável. De
qualquer modo, há por trás dêle vários milênios de histó-
ria, e as buscas arqueológicas não disseram talvez a última
palavra sôbre sna an.tiguidade. No curso dessa história,
o livro conheceu, segundo os tempos e os países, as al-
ternativas próprias às .coisas humanas. Entretanto, não
mudou essencialmente nem de natureza nem nos seus fins,
mas· somente nas suas possibilidades de execução rápida,
de ·mulfipli<lação e por conseguinte de difusão -

·eis as palavras com que CHARLES SAMARAN introduz, sob o título


·"L'évolution du livre", a segunda parte, "Le livre", do tomo
XVIII, "La Civilisation écrite", da Encyclopédie française (ENCF,
18·14-3).
9. O.1 Urn pouco de história - Desde o terceiro milênio antes
de Cristo as civilizações orientais dão o toque de partida na
criação e produÇão do livro - exclusivamente "manulavrado",
"manucunhado", manuscrito - , empregando materiais contin-
gentes: fôlhas "de palmeira, córtice de . árvore, tábuas de madeira
polida, fôlhas 'de sêda, de papel (na China e na Coréia), tábuas
72 ANTÔNIO HOUAISS

de argila (na Assíria e na Caldéia), papiro {no Egito). Essas


civilizações deram ao livro as duas formas sob as quais o vamos
encontrar no Ocidente, mais exatamente no mundo mediterrâneo,
alguns séculos antes de nossa era: a do rôlo e a do livro qua-
drado. Quanto à tradição segundo a qual os primeiros livros
foram escritos sôbre córtice vegetal, deve ser ela muito antiga e
persistente, já que os gregos e os latinos depois adotaram para
designá-lo dois vocábulos cujos têrmos concordam perfeitamente
com a tradição - bíblos e liber ( cf. BOIS, ERNO).
9. O.1.1 O primeiro grande progresso realizado na indústria
do livro data ao que parece da época em que se pôde fabricar no
Egito o papiro, breve conhecido e adotado na Grécia e em Roma.
Matéria assaz leve e flexível, que podia, ademais, ser produzida
em grandes quantidades, o papiro condicionou bem a forma que
então entrou em uso para o livro, a do kylim.dros grego ou do
uolumen latino. Em contraposição, o papiro era objeto de fortes
direitos de exportação e onerado pelos fretes, sendo, pelo menos
fora do Egito, muito caro. Espêsso, umectável, frágil, escama-
va-se e fragmentava-se. Além disso, suportava a escrita de um
só lado, o que aumentava o corpo do "livro". E a própria forma
do rôlo criava dificuldades práticas: só se podia ler a duas mãos;
não se podia ter sob os olhos senão uma porção do texto ; enfim,
o rôlo, desdobrado, impunha o redobrar todo inteiro para voltar-se
ao seu IniCIO. Â práxis social grega, entretanto, vinculada a di-
fnsão das idéias às discussões públicas, era a um tempo cobertura
para a carência de livros ao alcance de todos e, concomitante-
mente, impedimento para o avanço tecnológico que não o pro-
curava por falta de imperativo social. Mas o fato é que, dêste
ponto de vista, o papiro apenas minorava os inconvenientes do
córtice vegetal, da madeira ou · da argila. Assim, por dezenas de
séculos, seu sucessor vai reinar sem contestação.
9. O. 2 O pergaminho - Nascido provAvelmente em Pérgamo
- donde o seu nome -, o pergaminho aparece entre o terceiro
e o segundo séculos antes de Cristo, em função do livro quadrado
- codex ou caudex. Dois pelo menos de seus inconvenientes
materiais - espessura das fôlhas, relativa inflexibilidade - con-
tribuíram para a difusão do formato quadrado, que hauria sua
tradição nas tabuinhas sêcas ou recobertas de cêra. Mas seus
convenientes, comparados ao papiro, eram sem número: e foram
êles aprimorados, com o trato progressivo da artesania do perga-
minho - com a pele de carne!ro, de vitelos e de outros animais.
Inumectável, ou quase, resistente ao fogo, mais fino e mais du-
rável do que o papiro, moldava-se à dobragem e à enrolagemt per-
ELEMENTOS DE BIBI"IOLOGIA 73

.mitia a escrita em suas duas faces e, lavado ou lixado, podia


servir diversas vêzes - o qu~ originou, ante a perspicácia pos-
ter:or dos homens, o palimpsesto. Permitia substituir pela pena
de pássaro o tufo do pincel ou as pontas do cálamo, comportando
um aproveitamento espacial muito maior, pois o tamanho dos
caracteres pôde ser consideràvelmente reduzido. Comportava o
corte em formato igual, e as fôlhas, reunidas por um lado, origi-
navam cadernos, que, reunidos, davam o livro quadrado ou oblon-
go de dimensões práticas, cômodo para o manuseio, folheável,
consultável em passagens várias com o mínimo de esfôrço e fe-
chável instantâneamente, com yroteção . excelente. Estava achado,
o formato e a estrutura do livro que subsiste até hoje.
9.0.2.1 Parece que o códice pergamináceo é contemporâneo
do início da era cristã; e sabe-se que suplantou ràpidamente o
rôlo de papiro mesmo no Egito. E sob a forma de códice per-
gamináceo é que a história do livro vai desenrolar-se no Ocidente,
suplantando progressivamente o papiro, ·as tabuinhas de cêra, e
os próprios 1tolumina pergamináceos só subsistiram por algum
tempo como sobrevivência confinada a certos usos restritos.
9. O. 2. 2 O códice pergamináceo em forma de livro, na medida
f.:m que o baixo Império romano se faz cristão, é instrumento
progressivamente da religião, atravessando a Idade Média, sobre-
tudo em mensagens escritas em latim, tornando-se dessa forma e
nessa língua o principal veículo do Renascimento.
9. O. 2. 3 Sob a invocação dos fundadores das grandes ordens
religiosas, mormente de São Bento, o monaüalismo abre-lhes as
portas de suas sedes, das ilhas Britânicas à Itália, das Espanhas
às margens do Reno. Scriptoria de religiosos copistas são ins-
talados nos conventos, e aí os livros, em regra estrita, são elabo-
rados para fins relig!osos e profanos - culto, ensino, consulta,
venda, troca. Aí se transcrevem e se copiam os melhores exem-
plares das obras da Antiguidade, bem como a dos Padres da Igreja.
Em breve, um monge de Bamberg terá a feliz idéia de representar,
numa série de medalhões, seus confrades nos trabalhos do scrip-
torittm. Há esforços por industrializar a técnica, dividindo-se o
trabalho em cadernos, organizando-se grupos adestrados de tal
forma que o desenho dos caracteres parece por vêzes ser de
uma e só mão, e esta regularíssima. Entretanto, até o século XIf
pelo menos, os livros se confinam às bibliotecas abaciais ou capi-
tulares. São muitas vêzes de grande formato, visto que não se
destinam, preferentemente, a ser portáteis. Monópolio dos clé-
rigos ainda, a carestia do pergaminho aumenta na proporção da..
'74 ANTÔNIO HOUAISB

-demanda, obrigando os copistas a· levar ao extremo as ligaturas


e, daí, as abreviações e abreviaturas, espantalho dos neófitos em
paleografia, perigo permanente para o trabalho ecdótico do esta-
belecimento do texto fidedigno e fiel.
·9. O. 2. 4 Grande modificação ocorre quando as universidades
-.despontam, incrementando o gôsto e a necessidade de ler, quando
a cultura latinista, a cultura românica, se fragmenta nas litera-
-turas "nacionais", criando um progressivo mercado consumidor
:nôvo, quando, enfim, o sistema feudal faz nascer ou renascer, na
classe social privilegiada, a possibilidade da bibliofilia e do me-
.cenato literário. Criam-se, então, nas cidades os escritórios laicas
doR librarii; copistas ambulantes prestam serviço aos amadores de
livro, a exemplo dos jograis, dos segréis, dos trovadores, dos
-troveiros. E sobretudo, pelo emprêgo generalizado da peti<J, as
universidades chegam a organizar a elaboração em série, norma-
lizada aproximativamente, de livros de ensino, e a não dispensar
.aos professôres, mestres, lentes, estudantes, alunos e curiosos senão
·<'xemplares autorizados quanto ao fundo e correto quanto à forma.
Começa então a expandir-se pela Europa o papel, oriental de
origem como o pergaminho; em verdade, extremo oriental, começa
.a penetrar no Ocidente pela estrada da sêda, nas Espanhas e na
França, em seguida nas ribas africanas do Mediterrâneo, mundo
árabe adentro. Mais barato, mais leve, mais flexível, mais fino
-do que o pergaminho - mais frágil, porém. Não desempenhou,
entretanto, na história do livro manuscrito, a função·. que se po-
-deria ter esperado dêle. ·Ainda assim, nos últimos lampejos da
Idade Média, contribuiu por certo para disseminar em maiores
auditórios a literatura em vernáculo ou vulgar. Seu destino era,
porém, luminoso: é que, por sua natureza, permitia o advento de
·processos mecânicos de impressão.- Não é sem razão que Luc.IEN'
FEBVRE, no plano do belo estudo L'apparition du livre, dá ao ca-
pítulo primeiro o título de "A questão prévia: a aparição do
papel na Europa" (cf. FEBv) ~
9. O. 2. 5 Aplicação da gravura em relêvo, a impressão já -éra
conhecida havia muito, em princípio. No extremo Oriente se tor-
nara até prática intensiva, como o provam os livros coreanos
impressos nos começos do século XV por meio de caracteres mó-
veis. A dúvida, aliás, perdurará ainda por muito tempo sôbre se
a idéia, no Ocidente, da impressão em caracteres móveis não se
funda, diretamente, nessas fontes, graças aos incansáveis viaj!>res
medievais, que certo teriam chegado àquelas terras. No Ocidrnte,
com efeito, desde o século XIII, havia-se conseguido gravar em
madeira ou metal letrinas· ou letras capitulares ou subcapitulares
ELEMENTOS DE BIBLIOLOGIA 75

decoradas; e mais tarde alguns privados adotaram como assina-


turas selos semelhantes aos carimbos de hoje em dia. E é certo
·que a mecanização se antecipou de uma técnica capital, que fi-
caria, depois, como uma das bases do trabalho dos impressores:
os copistas compreenderam a possibilidade de dispor o texto por
copiar, de tal forma que as suas partes erám objeto de "imposi-
ção", isto é, as seções copiadas numa face do papel dobrado nas
vêzes convenientes podiam ser escalonadas em · seqüência tal que
o texto se mantinha coerente, cada quantidade de texto numa
face e sua estruturação garantida em conjunto. O fato é que a
práxis social madurara a partir da segunda metade do século XV
para o advento da tipografia com caracteres móveis: (a) a opinião
pública já era quantitativa e qualitativamente sequioaa e apta
para haurir informação escrita em relativamente grande profusão;
(b) a procura, em conseqüência, de livros, tornava o seu comércio
·e produção rendosos, mas totalmente aquém daquelas necessida-
des; (c) o avanço da tecnologia dos metais já era notável e
comportava obras de requinte de, digamos, cinzelaria; (d) as
necessidades de mão-de-obra de nôvo teor qualitativo, na auroJ,"&
da civilização mercantil e capitalista, i'mpunha nôvo grau de difusão
da instrução e cultura, cujo óbice principal era a pobreza quan-
titativa dos instrumentos para essa difusão; (e) os capitais de
investimentos para a consecução da nova técnica de impressão se
acumulavam com a prosperidade navegat6ria e mercantil das
Flandres, o mesmo acontecendo, com a breve cessação da guerra
dos Cem Anos, em cuja conseqüência há o incremento da troca'
de . riquezas, entre as regiões ribeirinhas do Reno e a França.
Tecnologicamente, o problema crucial consistia em obter uma liga
de metal que não fôsse excessivamente dura, pois romperia o
papel, nem excessivamente mole, pois cederia à pressão; em trans-
formar com a rapidez possível êsse metal fundido em caracteres
em relêvo uniforme; em encontrar o meio de reunir êsses caracte-
res em fôrma estável; em compor a tinta que fôsse a um tempo
brilhante, seeativa, e em resolver, por fim, a pressão uniforme e
constante sôbre a superfície da composição.
9. O. 2. 6 Foi da resolução do conjunto dêsses problemas que
· nasceu, por longos ensaios e erros, a arte tipográfica, eomo obra
coletiva. Nem GuTENBERG nem ~eus êmulos . tinham corisciência
da obra revolucionária, no plano tecnológico e no de suas decor-
rências culturais, que consumavam. As vantagens oferecidas pelo
livro impresso foram, em breve, de tal alcance, que o coroamento
relativo dessa indústria por uma como perfeição de resultados
correspondeu a um imperativo social. Entretanto, · as grandes ti-
76 ANTÔNIO HOUAISS

ragens só vieram à luz pelo século XIX, quando, de nôvo, os


problemas de disseminação do livro, para já agora novas e mais
amplas camadas sociais, se fazia urgente. E nestes meados do
século . XX essa multiplicação já atinge cifras colossais, que só
empalidecem ante as que estão no bôjo do século XXI. A este-
. reotipia, a energia motriz - a vapor, elétrica -, as prensas me-
tálicas, a mecanização da .composição e da impressão foram as-
pectos dessa nova revolução. Estamos, já hoje, no limiar de
novas modificações do processo, com a perspectiva do advento de
um "plastipel", mais rico de virtudes que o papel - por seu
C•lSto, suas côres, sua superfície, sua sensibilidade e, sobretudo,
sua durabilidade -, e da "legotipia", em que a máquina, por si
só, se encarregará de ler, compor, impor, imprimir, dobrar, cos-
turar e revestir o original, ademais de "reservar" as matrizes
para repetições sucessivas. Já - para os livros "baratos" de
grande tiragem - pode a arte tipográfica concentrar suas me-
lhores e mais onerosas técnicas, na certeza de que o preço uni-
tário mercantil ou social será pequeníssimo, o que nem sempre se
pôde fazer com livros "de luxo", que por sua tiragem restrita
não comportam, muitas vêzes, a aplicação daqueles aperfeiçoa-
mentos técnicos.
9. O. 2. 7 Indissociável da inteligência, a sensibilidade (ao que
parece, mesmo, apanágio da verdadeira inteligência) estética se
manifestou sempre ligada ao livro, obra da "inteligência" hu-
mana. Destarte, o jôgo ·do prêto-no-branco, a longura da linha,
o tamanho dos caracteres, sua variação, seu desenho, a imposição
da fôlha, a seqüência destas, o revestimento delas, tudo isso sem-
pre foi objeto · de requintes artesanais. A Idade Média, já ,por
preceitos, já por exemplos, nos legou modelos admiráveis do apro-
veitamento do pergaminho ou do vitelino. As ilustrações do livro,
que remontam aos livros dos mortos dos egípcios, que perpassa-
ram provAvelmente o mundo grego e seguramente o mundo ro-
mano, fulguraram na Idade Média. Da encadernação mesma, a
couro, há provas supérstites do século VI de nossa era. Com o
advento. do papel, o livro ilustrado, mais, o livro iluminado entra
em . decadência, para enveredar por novos caminhos, em que irá
exceler por longo tempo, na base do contraste P,o prêto e branco,
de prêtos, cinzas e brancos. É a época da gravura em tôdas as
suas maneiras - sôbre madeira, sôbre metal, em relêvo, em in-
crustado, a buril, de água-forte -, que irão dar ao livro, du-
rante três para quatro séculos, a sua ornamentação e .motivação
plástica visual. E antes do advento d,a fotografia, imaginam-se
maneiras finais de gravura (que, entretanto, primitivistas ou não.
ELEMENTOS DE BIBLIOLOGIA 77

subsistem) - a negra, aquatinta, lápis, verniz mole, linóleo, lito-


grafia... A fotografia, a negro, ou policrômica, e os processos
fotomecânicos são de extrema atualidade, mas comportam, por
certo, aprimoramentos muitos ainda, sobretudo nas técnicas de
sua feitura, cujas fases demandam ainda intervenção manual e
operacional humana muito freqüente : nos albores da automatiza-
ção ou automação generalizada com auto-regulação precisa, é de
se esperar que as técnicas fotomecânicas se disseminem e se ba-
rateiem, com repercussões inevitáveis no próprio processo da for-
mulação verbal. Levadas, entretanto, para extensas tiragens,
êsses processos caros alcançam a perfeição dos resultados manuais,
salvo nos chamados livros de luxo, que, socialmente odiosos por
um lado, são, entretanto, o arsenal em que se ensaiam os livros
populares de amanhã (cf. GUSM; IVIN).
9. O. 2. 8 O revestimento de encadernação - a brochura per-
tence à história do livro, a rigor, apenas a partir do século XIX,
pois até então o livro destinava-se sempre · a ser encadernado, sendo
o seu revestimento de papel, precário e provisório -, quando
feito, se dicotomizou, desde os primeiros tempos : havia a enca-
dernação de escrínio ou relicário, obra de ourivesaria quase que
s6 reservada aos livros litúrgicos, e a encadernação de couro, com
miolo de madeira, mais tarde de papelão ou cartão. As primeiras,
embora riquíssimas pela feitura ou pelas matérias-primas (ouro,
prata, marfim, pedras preciosas incrustadas), ·eram a negação da
portabilidade, e as seg1mdas, não o sendo, vieram a prevalecer,
por sua sobriedade relativa, sua elegância - couro cinzelado,
estampado, bojado, dourado, mosaicado, decorado. O fim do sé-
culo XIX assistiu ao advento da encadernação de pano, de mus-
selin&, de ·Sêda, de tecidos em geral, e o século XX o de cartolina
esmaltada ou virgem - com a dualidade do desenho da capa,
manual ou tipográfico.
9 . O. 2. 9 Até a época relativamente recente, só houve editôres
a título ocasional. É o caso de ÁTICO para CícERO, por exemplo.
O autor que contasse com sua obra como meio de subsistência
tinha que apelar para os bons ofícios de amigos, admiradores e
protetores, que individual ou colegiadamente arcavam com os ônus
da impressão, subscrevendo generosamente lista de contribuintes
para a mesma. Em verdade, o número de exemplares publicáveis
obstava à noção mesma de comércio, ademais das contingências da
contrafação ou do plágio - que vigoraram não só na Antiguidade,
mas também na Idade Média. Com as instituições universitárias
e a regulação da petia - exemplar autorizado e fidedigno - é
que as tiragens chegaram a atingir casa de milhares, relativamente
78 ANTÔNIO HOUAISS

iguais, como o testemunha a Summa m gentiles, de Santo ToJÚS


DB AQUINO. Com o advento da tipografia, porém, aumentando
consideràvelm.ente o número de exemplares de cada tiragem -
aumento a que correspondia, via de regra, o público consumidor
correlato -, a contrafação principiou a deixar de ser rendosa,
com o que também principiou a regulamentação da indústria e
comércio livreiros, com censura, privilégio e proteção legaiS -
arma bigume da autoridade para, concedendo, impedir eventuais
liberalidades autorais excessivas e mesmo necessárias. E o século
XV, pelos seus fins, e o XVI e o XVII e os inícios do XVIII
assistiram ao advento das famosas dinastias de impressores, que
eram a um tempo eruditos, críticos de texto, tipógrafos, artistas
e não raro sábios. Mas, na acepção vigente hoje em dia, apenas
a partir da segunda metade do século XVIII principiam a apa-
recer editôres, que tendem progressivamente a ser apenas editôres,
ficando de lado a tipografia, a impressão, a. propaganda mesma
das obras editadas, por conta de outros emp~esários ou profissio-
nais, cujos serviços são contratados pelos editôres, após entendi-
mentos dêstes com os autores, no que concerne às condições da
edição. ~ assim que se compreende que a profissão de livreiro
seja anterior à de editor, livreir9s estabelecidos sedentAriamente
e livreiros ambulantes. E não . nos esqueçamos, também, de que
em tôdas as épocas, dentre os livreiros, pela prática cotidiana do
livro, saíram eminentes bibliófilos, bibli6grafos, bibliognostas, bi-
bliômanos e bibli6sofos, . tal o eminente CARLOS RmEIBO, o que,
aliás, teve complemento no fato de que, também não raro, figuras
de prol por sua formação cultural se tenham, sem nenhuma falsa
repugnância, feito livreiros.
9. O. 2.10 ~ provável que a censura .a posteriori se tenha sem-
pre exercido sôbre o livro, quer pelo Estado, quer pelas autori-
dades religiosas, quer por setores de opinião, quer pelo público
em geral - censura quanto à qualidade, à moral, ao interêsse, à
periculosidade das idéias. . . Parece, porém, que, com caráter
preventivo, é ela obra da ação da Igreja, pelo fim da Idade Média,
ação herdada pelo poder estatal com o advento das nacionalidades
modernas, nas monarquias européias; e o Santo Ofício, no parti-
cular, foi modêlo que, a posteriori como a priori, foi reproduzido,
aperfeiçoada e requintadamente, até os tempos modernos, sobre-
tudo, talvez, neste século, com dilapidações maciças de coleções
inteiras. A técnica da censura, revestindo formas, matrizes e
modos os mais variados possíveis - sanção física, penal, moral:
subôrno, compensações, carreirismo, incenssmento -, foi, porém,
sempre, de ação polar : o que sonegava ao público, de um lado,
ELEHENTOS DE BIBLIOLOGIA. 79

aguçava, nesse mesmo público, o desejo de conhecer: e a expe-


riência multissecular nesse respeito autoriza-nos a crer que num
futuro não muito remoto a censura se exercerá de forma social-
mente aceitável, no sentido de que as coletividades terão os livros
que quiserem, mais ou menos destemidos, mais ou menos demoli-
dores, mais ou menos autocráticos, mais ou menos inovadores
(ENCF, 18·14-3-18·14-6).

9 .1 REVISÃO - No correr destas mal traçadas linhas, já pas-


samos em rápida revista algumas das principais fases de elabora-
ção do livro. Dessas fases, importa deter-nos num aspecto da
composição, que é aquêle que consiste em obtê-la com o menor
número de erro~ possíveis,. mercê das provas e revisão tipográfica.
9 .1.1 Revisão tipográfica - Uma vez composta a matéria,
quer em paquês longos, equivalentes, grosso modo, a quantidade
de mancha para duas a três páginas impressas, quer em paquês
exatos correspondentes à mancha precisa de cada página, essa
matéria pode ser objeto de provas, isto é, dessa matéria "tiram-se"
provas. Essas provas, segundo a fidedignidade maior ou menor
com que tenham sido compostas pelo compositor em observância
do original, cuja correlação tenha sido, ou não o tenha, estabele-
cida para com a futura feição gráfica, essas provas são objeto
de revisão, a chamada revisão tipográfica, que é a que vamos
considerar.
9 .1.1.1 Demos, antes~ a palavra a SE.ÁN JENNET no que se
refere à pesaoa do revisor ( JENN, 87-98) :

O revisor é muito freqüentemente um empregado des-


valorizado, cujos serviços são considerados por vêzes su-
pérfluos. Em muitas tipografias fica relegado a um
cubículo pequeno e abafado que não pode ser aproveitado
para outro fim, ou fica encarcerado num desvão de um
canto de sala. Idealmente, necessitaria de luz e ar, tudo
o que conduzisse à acuidade mental e à perspicácia visual;
e, às vêzes, êle consegue êsse ideal ou algo parecido.
~ um engano, e sério e bôbo engano, subestimar o
revisor, pois dêle depende não pouco da reputação de uma
casa impressora; e êle pode, ademais, ser o meio para
prevenir ações legais de difamação e prejuízos.
Os revisores trabalham ou juntos no mesmo local ou
em algumas impressoras em seu compartimento pr6prio.
.Assistindo-os, há umas quantas môças ou rapazes, chama-
dos leitores. A tarefa do revisor é descobrir quaisquer
80 ANTÔ .NIO HOUAISB

erros que tenham sido cometidos na composição e dar


instruções para sua correção, e também zelar por que os
enganos do próprio autor sejam evitados, chamando, se
fôr o caso, a atenção dêste.
Primeiro, como já o vimos, as pro~as de paquê che-
gam ao revisor junto com a parte do original correspon-
dente. De preferência, qualquer livro deverá ser lido
antes em sua inte~eza pelo revisor. O leitor é então cha-
mado a ler alto, do manuscrito ou do original dactilográ-
fieo do autor, enquanto o revisor acompanha as palavras
da prova, comparando-as com ás das leitura, vigiando os
erros tanto da composição quanto do leitor, e também do
autor, evitando as letras de fontes estranhas que se pos-
sam ter infiltrado no texto composto, observando os pontos
que possam ser objeto de ação legal ou o que quer que
seja que possa comprometer a. boa reputação da casa ou
possa levá-lá a complicações legais.
Quaisquer erros que forem encontrados são indicados
por signos espeeiais ( ... ) . Todo tipógrafo entende o signi-
ficado dêsses signos, e, quando a galera retoma ao com-
positor, êste fará as correções indicadas.
Quando as provas retornam corretas do autor, o papel
do revisor é incorporar as correções do autor às suas pró-
prias e, se fôr o caso, transformar os sinais usados pelo
autor (que podem, com efeito, ser bem caprichosos) em
algo que possa ser fAcilmente inteligível. Se as correções
são numerosas, pode acontecer que novas provas se impo-
nham antes da paginação, mas de outro modo pode en-
trar-se nesta:
Na ordem devida, as provas de página chegam ao
revisor ( ... ) -

e, prossegue SEÁN JENNET, a partir de então êste se preocupa,


sobretudo mas não apenas, com os aspectos principais da imposi-
ção da mancha, com os cabeçalhos da página, as capitulares, as
legendas da ilustração etc., os corpos, os brancos, as indentações,
repetindo-se o processo de provas tantas vêzes quantas se fizerem
convenientes à consecução de um texto tipogrAficamente correto,
na sua feição estritamente tipográfica e na sua correlação de
fidedignidade e fidelidade para com · o original que representa.
~ então que SEÁN JENNET, com a experiência honesta de quem
foi revisor, levanta êste retrato (JENN, 89-92):
ELEMENTOS DE BIBLIOLOGIA 81

AB qualificações requeridas dêle são extensas. Peve


ter ôlho agudo e mente aberta para reconhecer num átimo
as cacografias; e deve reconhecer os desenhos dos tipos
que se lhe apresentam, mesmo com uma s6 letra. Deve ·
ser capaz de grafar quase tudo sem recurso ao dicionário
- num grupo de revisores seria apto para enfrentar
quaisquer oponentes numa controvérsia ortográfica. Deve
ser hábil para ler o mais carunchoso e ilegível dos ma-
nuscritos, e lê-lo corretamente - e os autores, como os
doutôres, possuem notoriamente vezos arbitrários e desar-
razoados. Idealmente, deveria conhecer cada data de
livro de história e ter ademais íntimo convívio com a
~;ignificação e a feição de cada palavra do ou fora do
Dicionário inglês de Oxford. Deveria conhecer cada
frase de Shakespeare ou da Bíblia e estar em condições
de pinçar qualquer falsa citação vertente. Deveria co-
nhecer tudo sôbre religião comparada e tanto sôbre eco-
nomia, sôbre política, sôbre ciência quanto possível - e
sôbre arte também, por certo. De fato, deveria ter o
mais amplo conhecimento, cujo valor seria maior se pu-
desse falar e escrever, digamos, uma dúzia de línguas.
Num paradigma, que existe, dessa natureza, seria êle
um louco se não encontrasse. ato contínuo, um emprêgo
mais rendoso do que numa casa impressora. O revisor
faz o que pode e não raro fá-lo. surpreendentemente bem.
Não é necessàriamente um velho, arcado ao pêso dos
anos, da experiência e dos graus universitários. Mais
verossimilmente é um tipógrafo-compositor que revelou
aptidões e foi transferido da sala de composição; ou ser-
viu como aprendiz de revisor, haurindo na dura prática
o seu mister. Deveria ter, e geralmente tem, largo co-
nhecimento da tipografia, pois êsse conhecimento lhe é
útil, mais, essencial em seu trabalho; e detém também um
armazenamento de fatos apreendidos dos livros que reviu,
ou colhidos aqui e ali, poi::J tudo de que possa assenhorar-se
é potencialmente útil a êle.
9.1.1. 2 Por sua função, os signos de revisão podem ser divi.
didos em duas espécies:
(a) signos que se fazem acompanhar de explicação verbal,
por extenso ou abreviada, sôbre a natureza de correção, ou mo-
dificação tipográfica desejada ; por exemplo, num círculo envol-
vendo o trecho por rever e, à margem, um círculo correspondente,
em que se inscreve a explicação verbal ;
82 ANTÔNIO llOUAISS

(b) signos convencionais, baseados na tradição tipográfica,


que não se fazem, pois, acompanhar de explicação verbal, por
extenso ou abreviada; nesta espécie, incluiremos primitivas abre-
viaturas, de que, prAticamente, se perdeu a noção, como é o caso
de & ou 0 a que se reduziu a forma verbal latina cleleatur I
deleantur, "apague-se I apaguem-se" ou "destru~se I destruam-
se" (isto é, os sinais sôbre os quais incidir a indicação) .
9 .1.1. 3 Cada signo de revisão, em verdade, é uma parelha
de duas unidades, um~ que aparece no texto da prova que está
sendo revista - remissiva - , outra que aparece à margem da
prova -:- comissiva - e é esta outra que pode vir a ser acom- .
panhada ou não de explicação verbal. A tradição revisora admite
o aproveitamento, para a inscrição da segunda unidade da ·pare-
lha, - a comissiva -, tanto da margem direita quanto da mar-
gem esquerda, indo além, preconizando passivamente o aprovei-
tamento da margem esquerda para as comissivas que correspon-
dam às remissivas inscritas até a primeira metade da linha em
causa, e o aproveitamento da margem direita para as comissivas
que correspondam às remissivas inscritas na segunda metade da
linha em causa. Normalmente, as comissivas da direita se suce- ·
dem, uma após a outra, também na ordem da escrita usual, isto
é, cada signo comissivo vem à direita do anterior. As comissivas
da esquerda, porém, flutuam segundo duas ordens: numa, o re-
visor apõe o primeiro signo comissivo bem junto da extremidade
~squerda do papel, sucedendo-se, pois, os seguintes na mesma
ordem que a anteriormente referida; noutra, o revisor apõe o
primeiro signo comissivo junto à mancha, sucedendo-se os seguintes
no sentido da extremidade esquerda do papel. Daí, não raro, haver
confusões por parte dos compositores corretores, que, numa revi-
são ainda cheia de signos, perdem tempo precioso à cata da cor-
relação devida entre cada parelha de remissiva e comissiva. Não
raro, em conseqüência disso, o compositor "corrige" erradamente,
o que em grande parte não lhe pode ser inculpado, como vemos.
É, pois, em conseqüência disso que não vacilamos em sugerir que
as provas de composição sejam tiradas de tal arte que fique em
branco uma grande margem à direita; e que os revisores usem,
sistemática e Un.icamente, da margem direita, nesta inscrevendo
os signos comissivos na ordem mesma da ocorrência dos signos
remissivos. Para obviar aos inconvenientes · da confusão que
ainda assim pode ocorrer, se os signos forem em número relati-
vamente grande, aconse:tb.l1.-se então o recurso de distingui-los com
uma .~otação ; assim, se os signos remissivos deverem ser cinco,
tod~ · do tipQ j (barra ·: oblíqua), êles poderão suceder:se nesta
ELEMENTOS DE BIBLIO~OOIA 83

ordem I r Ffª.
F repetindo-os na margem direita, após cada um
dos quais virá a correção correspondente.
9.1.1.4 O mais amplo signo de revisão é o círculo (<m ov6ide),
que · se usa, maior ou menor, como signo remissivo em tôrno do
local do texto corrigendo e que se repete à margem (direita, é o
nosso voto), com tamanho maior ou menor, segundo fôr necessá-
rio à função comissiva que fôr explicitamente inscrita neste. As
funções prindpats do círculo são as seguintes:
a) indicar apenas ao tipográfo que um, dois, três tipos su·
cessivamente, que um, dois, três vocábulos sucessivamente, que
uma, duas ou três linhas sucessivamente foram impressos com
tipos de fonte estranha à adotada; nesse caso, o signo comissivo
da margem poderá ser simplesmente um pequeno círculo (por
maior que seja o remissivo), dentro do qual se inscreve apenas
com X ou um f (= "fonte"):{!) ou@,
b) indicar, semelhantemente, que tipo, vocábulo, linha apre·
sentam defeitos formais de impressão, dé desenho, de desgaste, de
deformação dos caracteres móveis; o signo comissivo é de nôvo
mas tão-sõmente: ®i
c) indicar quaisquer esclarecimentos relacionados com a
composição, com os espaços, com as margens, com as entrelinhas,
com todos os outros casos enfim para os quais não haja signos
especiais (que abaixo relacionamos); nessa função, os tamanhos
do círculo remissivo e o do comissivo não têm por que ~rem
iguais, mas o comissivo deve ter área suficiente para que nela
se inscreva claramente o esclarecimento desejado.
9 .1.1. 5 Os signos de revisão restantes - que, áliás, consti-
tuem a grande maioria, donde o muito relativo de "restantes" -
servem para indicar uma dentre as seguintes principais correções:
a) retirar algo que foi composto e que não devia ser;
b) inserir algo que não foi composto e que o devia ser;
c) substituir algo que foi . errôneamente composto por algo
que o deva ser corretamente; ·
d) arrumar o que foi composto em disposição indesejável
segundo a desejada disposição, arrumação que compreende :
I) já 11 _!ieparação do que foi composto errôneamente
ligado;
11) já a ligação do que foi composto errôneam~nte sepa·
rado;
111) já a manutenção de algo. tal como se ache no original, ·
ainda que pareça errado, estranho, inusitado;
84 ANTÔNIO HOUAISS

IV) já a ordenação do que, tendo sido em suas partes cor-


retamente composto, não 'o foi, porém, na ordem desejada.
9 .1.1. 6 Notar~e-á que nos signos de revisão adiante con-
signados, há, para alguns, dois ou mais modos de anotá-los; essa
dualidade - ou multiplicidade - não é luxuosa, como pode pa-
recer à primeira vista. Em verdade, alguns signos, inovadores,
pertencem à revisão de composição -linotípica. Cumpre, pois, que
o revisor tenha sempre em · conta o fato de estar revendo compo-
sição de um de dois processos - a monotipia ou a linotipia - e
de que, em se tratando de monotipia, o mais eficaz é sempre dis-
tinguir individualmente o tipo sôbre o qual se exerça S?a revisão.
Assim, a mesma linha seguinte (em que se figuram alguns erros
de composiÇão):·

Comprenedendo que essa finalidade itéca

pode merecer dois· diferentes modos de notaç~ da revisão, a saber:

1) comprepfdendo que essa fin~ftdade /t/ca ~~~fj 4;i,


2) comp~endo que essa finajidade~a ry /f/~
servindo a primeira maneira para a linotipia - pois a linha tôda
inteira vai ser composta de nôvo -, e a segunda para a mono-
tipia - em que cada um dos tipos assinalados como ~om êrro vai ser
substituído, mas não apenas isso, senão que, com a notação cor-
respondente, o compositor aproveitará os mesmos tipos para a
mesma correção.
9 .1.1. 7 Vão assim, a seguir indicados, com exemplificação,
os signos de revisão - iml>ortando, porém, ter sempre em mente
(o que o revisor profissional nunca esquece) que há decorrências
às vêzes desastrosas do arbítrio com que os autores se revisam;
é · que, na linotipia, a revisão de um s6 caráter ou tipo que seja
implica em nova composição tôda inteira da sua linha; e, tanto
na monotipia quanto na linotipia, a inserção ou a supressão de
vários tipos, dentro de certos limites, acarreta o "recorrido", isto
é, uma nova disposição de tôda uma série de linhas a seguir (e
não raro, mesmo, anteriores), até o limite final do parágrafo em
que se tenha operado a inserção ou impressão (quando a decor-
rência disso não se projeta sôbre o parágrafo seguinte, sôbre a
própria página- ou páginas- seguinte) - o que, tudo, é nôvo
ensejo para erros potenciais :
Oa~mrvo Rmoii81VA COBBIG&NDO CoMJSaiVA OBRav~lo CoJtBIGIDO

l) reti~t tipo I fat/ou /~ falou

2) reti ..., tipo mas manter unido


o vocábulo I at/unda J~ aíl)nda
~
3) reti ... r doi& ou mais tipos até t"
uma linha J...-1 taleceHu Jf!( faleceu ~
I(
4) retirar duas ou maia linha• t=i t:t~ ~
!2:
5) reti ... r de parl.g... to inteiro a ~

página ~ lli19 o
l'll

-~~... I f# a p&oa
~
6) reti ... r tipols) mantendo
peração
18•
I .f.!~... H f# a p&oa
~

1-/ ...b1b1
7) ligar eatu.{ do i eatudo

"'r
lU
lip,fdu
lU
... l
C!

r
dispensável ligadu... ...ot"
.r ~
cor J ado. dispensável corado t-
o
"'""
""' mac. no meio "'""
'-' dispensável mas, no meio ...11-
Q

8) aeperar 1 eapaço I tlmulher /# a mulher

9) separar 2 eapaçoa I · ,..ulher !## a mulher

10) separar 3 (~) esp&9Qs I ~ulher /#J a mulher

aeperar espaço menor


I a / mulher 1-.t# a mulher CXl
1:11
(X)
~

OBIJITlVO R&xlluY4 CollltlOIUfDO COIOIBIV4 t. 0BU&Y.t.Ç10 CoUJOJDO

12) Hpur.J' 1iDhu quero muito quero muito


1-f 1
• que voei me '
1
~--~~
que voe~ me
dip o que lhe diga o que lhe
parece maia •· parece maia &·

parece mais a·
...
lo.. z
18) inlerir tipo(l) I arfreceu dispenúvel apareceu ~

..z
O>

I a~receu 1;-a- apareceu


o
I ap~ceu la~t ap&J'eeeu

v a~u {7 dispe!!Ável apareceu


=
o
~

/\ awceu ~ diapenável apareceu ......


02
02
U) iDJerj, ~(e)
I ~lejdeu ;~ tle me deu

H eief{deu H~ t>-F--e tle err. o que me


deu
16) iJIMrir liDha(l) 1--( quero muito1 ~-~~~~ qUero muito
' ' que wct lhe·
dip o que dip o que
lhe parece 1hf parece
ÜIIIK1't\'O RaoMIVA. OoJUUGENDO COMIIIlv.&. Oaa&av..t.çlo CoJUUomo
16) manter til qual eet( .. ,...... esta~~~
.. , ..... a prova teria vin- eltaiOidade
do com umT de
ddvida do ·revllor
16) troear tipo defeituoeo
} uar do c:fmilO' ou ovóide, v. 0 .1.2.4 ~prca
17) pÕJ' tipo oorpo regular
liJI
t'
18) aublttituir para redorido . ou
romano o el.@n.te 0 ela 4 trilte
liJI
I(
liJI
19) aubetitu!r para grifo ou iWioo '--' ela J:aW triste
,'~~ ver para os n.0 19,
20,-21, 22, 23, 24,
ela utd triste z
>3
a alternativa, que o
é a 10luçlo preco- Ol
nilada para o ·n,0

20) substituir por negrito

21) substituir por veralete


-= -
ela eatl. ICS - 25
ela e-ti IÓ
t::l
l"J

1:1'
a alop&tia =-==. a A.LOPA.TIA ....
:::&::: 1:1'
22) 1\Jbstituir por ven;&l
=== ·~ :z; a ALOPATU t'
....
o
23) ·substituir por veral-veralete.
·~
li!!!"= ~ a Al.oPA.'I'IA
-=== esme ~ estA c>!JRA.
t'
o
24) substituir versa! por mindl·
cuia o estaS @ c.b. quer dizer
"caixa baiXa"
esta vida
Q
....
!lo

25) substituir qualquer gênero,


lamffia, . corpo por qualquer
outro gênero, outra famllia,
o (o círculo envol-
ve~ o corrige~ado) o explicitar no círculo
comissivo o que se
deseja, tendo em
outro corpo vista as abrevia-
çõea j' uadaa nes-
te quadro e maia 00
~
~·c.a.", "caixa alta"
0BlllTIVO REIOIIIIVA COBIUOBNDO COJii88IVA OBSERVAÇÃO CORRIO!DO 00
00
:Z6) · corrigir posiçlo do tipo 0 ~ @ diape118ável vida

I vfeia /i vida

27) ordenar a seqüência de 2 tipos rv ~a 'VH diapenaável vida


H f/da IX. vida

28) ordenar seqüência de 3 ou '1./V' aWne ~ diapen.vel azedume


maiR tipos J--.-f a~me 1-/;.uk.- azedume >
z
Oi
29) ordenar aeqü~ncia de 2 ou 'V'\/)
~ -\Á/
• J e o que me O>
mais vocábulos
I /ofme~
...oz
14/~/~ e o que me

30) aproximar linhas H quero que você ;.#.{ "ap", apertar quero que voeê ~
me diga quanto o
me diga quanto c:
...>
31) grifo alemlo ...... esta P.~r ,."" melhor o uso do esta rlor
D'.l
:ri

circulo

H+H+ esta FLOR ~ esta FLOR


~

32) ordenar margem esquerda F Fque me


parece
F que me
parece
parece-me
~
rar;ce-me
~
que você é que você é
. li&ente inteligente
0BJJ:TIVO REiliSSIVA. CoBRIGENDo Co~.& OuaT.&ç%o élODICDDi)

83) ordenar JJIAl,'&em direita l ••. tcn---Zj


l ... ten-
dCHe dispolto cfo.ea clflpoato

c: cSfato ~
.e êlo me
procurQu ·'kt-
r; 6fato que,
18 êlo me 1.>1
t'
procurou 1.• 1.>1
I(
1.>1
z
"'3

~ ~~
.34) impor · margem eequerda es- n 6 o .n11mero do o
}iecial (recorrido ou indent&- "c." clceroa, que 02
çiQ esquerda) pode ser ''q."
t:#
quadratiDa 1.>1

35) impor margem düeit& e•


pecial ~ 4~ ver auprtJ
...b:lb:l
...ot'
36) impor margena esquerda e di.
reit&et~
~~- ~P~~ ver aupra t'
o
37) desfazer ~o até~
2
1\té ar. Entao ela ...lo-
Q

Entio eia

38) ordenar a ~qllência ae liDhal um· raio- 3 no l!llp&çO


fulgura - ' t esparao
e.parso- ,2 um raio
fulgura 00
110 espaço - 1 IQ
90 ANTÔNIO HOUA.ISS

9 .1.1. 8 Que o revisor anote um signo de reVIsao e caia em


si do engano cometido é a coisa mais natural do mundo, sobretudo
nesse gênero de trabalho, em que isso se enseja ao menor lapsus
mentis, ao menor fraquejamento de atenção, ao menor cochilo
mental. Em ocorrendo isso, a com.issiva deve ser sumàriamente
cortada com um X ou um + e a remissiva simplesmente subli-
nhada com .. . , isto é, com o signo de revisão n. 0 15 (não se
devendo fazer uso de borracha, nem corte, nem rasura, para não
obscurecer o texto corrigendo).
9.2 .A PAGINAÇÃO - Consumada a revisão, encaminhada à
correção, repetidas a prova, a revisão, a correção tantas vêzes
quantas necessárias, entra-se na páginação, com a conseqüente
prova de página.
9. 2.1 A paginação consiste, essencialmente, na operação de
separar dos paquês compostos um número determinado de linhas
conseguintes que correspondam à altura da mancha de página
adotada. ~ óbvio que a fixação dessa altura não se opera sO-
mente então : na realidade, seus limites máximos e mínimos esta-
vam já prefigurados, quando se elegeu a medida longitudinal da
linha - com efeito, se esta fôr curta e a página visa a ser de
uma só coluna, é evidente que a aitura da mancha deverá não
ultrapassar determinada medida, pois do contrário ter-se-á coluna
vertical demasiado esguia, que por sua vez, para que as margens
brancas da fôlha não fiquem desequilibradas, irá determinar, no
sentido vertical do livro .em pé, um formato demasiado estreito;
e o reverso também é verdadeiro, o que levaria ao formato qua-
drado ou achatado ou oblongo. :fl:sses dois extremos, entretanto,
para certos fins editoriais ou publicitários, podem deliberadamente
ser procurados, por mais eficazes para o objetivo que se lhes quer
imprimir. Fica de lado; também, o formato oblongo ou de álbum
(que presume, de regra, duas ou mais colunas vertica!s na man-
cha). Vemos- voltando à altura da mancha - que existe, pois,
·uma relação de dependência entre ela e a medida longitudinal da
linha, o que, repitamos, está na origem da fixação da medida
longitudinal da linha. Esta, por sua vez, está em relação com
o corpo da linha. Ora, o corpo da linha - 6, 7, 8, 9, 10, 11,
12, 14 ... -, por sua vez, é - dentro da "consciênc~a" óptica
<los afeitos aos livros - uma nova coordenada de nova relação
-- quanto menor é o corpo da linha, menor é a medida longitu-
dinal desta e, reciprocamente, quanto maior é o corpo da linha,
maior pode ser a medida longitudinal desta. Mas, por sua vez,
o corpo do tipo e não apenas êste, mas o seu desenho - com
hastes ascendentes longas, com hastes descendentes longas, com
ELEMENTOS DE BIBLIOLOGIA 91

núcleo grande, com núcleo pequeno, · grosso, grossíssimo, fino, fi-


níssimo, com cerifas, sem elas, com espaços interliterais grandes
(tipos estreitos), com espaços interliterais pequenos (tipos largos)
- condicionam a extensão possível para a linha.
9. 2. 2 · Destarte, por risível que possa parecer à primeira vista,
há uma relação de dependência geral no estabelecimento da man-
cha: esta fica na dependência da extensão longitud!nal da linha,
que fica na dependência do corpo e desenho do tipo; reciproca-
mente, a eleição do tipo irá condicionar, dentro de certos limites,
a extensão da linha, que por sua vez, dentro de certos limites,
condicionará a altura da mancha.
9. 2. 3 A inteligência da organização da mancha fica, em úl-
tima (ou primeira) análise na dependência do tipo que se esco-
lher, mas não apenas quanto ao corpo, senão que, segundo a
bela lição de ÜLIVER SIMON (siMo, 12), da (a) largura das letras;
(b) das medidas do desenho do tipo sôbre o ôlho do tipo; (c)
do sombreamento dos ramos finos; (d) do comprimento das hastes
·ascendentes e descendentes; (e) do tamanho das letras maiúsculas,
e (f) do pêso de pigmentação negra geral do desenho do tipo.
9. 2. 3 .1 Ainda quando do mesmo corpo, os caracteres móveis,
segundo seu desenho, variam em conjunto de largura - o que,
visualmente, melhor se pode comprovar com linhas compostas,
por exemplo, com trinta ou mais tipos cada uma. Essa variação
·condiciona o número de vocábulos que podem ser compostos numa
linha e, decorrentemente, numa mancha, tomada em sua normali-
dade e abstraída de cabeços de página, sua numeração e vinheta.
Essa característica de certos desenhÕs é de grande importância na
escolha do tipo adequado a determinados livros, conforme o for-
mato geral dêste, muito grande, médio, pequeno. Com efeito, os
caracteres em conjunto "largos" impõem, proporcionalmente, nú-
mero menor de vocábulos numa mesma dimensão longitudinal de
linha, com uma, pelo menos, dentre outras conseqüências desagra-
dáveis - a partição vocabular. A famosa partição vocabular em
tipografia, sobretudo em línguas, como o inglês, cujo cânon silá-
bico tantas dificuldades apresenta para os próprios indivíduos
falantes e escreventes que a têm como vernáculo, é - como se
sabe - objeto de largo preceituário, que, em princípio, se pode
reduzir às seguintes regras principais, do ponto de vista tipo-
gráfico : (a) não partir vocábulo na medida do possível ; (h') não
partir nunca vocábulo na transição da página para página; (c)
não partir nunca vocábulo de modo que ·fique isolado do seu resto,
em fim ou em início de linha, uma sílaba constituída de um só
92 ANTÔNIO HOUAISS

tipo m6vel (no caso do português e das línguas romamcas em


geral, uma vogal) ; ( d) não partir vocábulo de modo que, em
conseqüência da partição, em fim ou em início de linha,. fique
algo que possa ter individualidade vocabular eventual (outra
palavra, o que gera por acaso, ambigüidade ; . palavra eventual-
mente obscena ou escatológica; palavra antônima da íntegra
etc.) - , regras que, a serem observadas com rigor, acarretani
contínuas dificuldades para a composição, dentre outros motivos
porque durante a composição o compositor não pode jamais ante-
cipar onde e quando o . paginador irá separar do paquê a linha.
final de página. Destarte, quando um livro pretende ser, tipo-
grAficamente, rigoroso nesse particular, adota a regra geral e
única - inviável, entretanto, em situações correntes - de não
partir jamais os vocábulos, em quaisquer circunstâncias, o que
·por sua vez é nôvo escolho, pois cria acaso linhas eom brancos
interliterais anômalos; exemplo ilustrativo dêsse rigor é forne-
cido por V. P. Victor-Michel, no seu Essa4 sur l.e livre de quali.té
(cf. VICT), em que nas suas 176 páginas não ocorre uma única
partição vocabular. Mas - retomando à vaca fria, perdoe-se-me
- retornando à largura em conjunto dos tipos - ·é na base desta
que melhor se escolhem os tipos segundo o formato dos livros,
sua mancha, o número de colunas desta. · ·
9. 2. 4 Se se cogitou, acima, da largura em conjunto dos tipos,
pode-ae agora cogitar das medidas do desenho sôbre o ôlho do
tipo. Sôbre um mesmo ôlho de tipo de corpo 12, por exemplo,
o desenho pode ser tal que pareça - à primeira vista - de
corpo 11, ou mesmo 10, ou de corpo 13, ainda que não se trate
de tipos mistos, isto é, de tipos cujo tronco seja, por exemplo,
de corpo 10 e ôlho deliberadamente de corpo 8, o que se repre-
. . 8
sentana por um corpo ou 8/10. Lembremos, de n6vo, que os
10
caracteres latinos são, desde o advento (e muito antes) da tipo-
grafia, concebidos como em função de um tetragrama - a saber,
quatro linhas longitudinalmente paralelas, em que as duas do
centro são os limites verticais do centro do tipo, as duas supe-
riores os limites das hastes ascendentes, e as duas inferiores os
limites das hastes descendentes. ::eJ 6bvio que a distância relativa
dessas quatro linhas paralelas não é a mesma ; com efeito, o seu
T
esquen$ pode ser T . ou 2 ou 2 etc. Se o leitor observa;r .a
T T 1/2
ELEMENTOS DE BIBLIOLOGIA 93

oompos1çao do chamado dicionário d~ Webster (cf. WEBU), por


exemplo, verá sem esfôrço que o esquema do tetragrama corres-
ponde, para as duas linhas correspondentes às hastes descendentes,
a ~a m~dida que é a metade, se não menos, das das hastes ascen-
dentes. ·:e, pois, na base do tetragrama que se pode falar na
"medida x", isto é, na altura máxima e mínima atingida pelos
tipos sem hastes ascendentes e descendentes ou abstraídas as
hastes ascendentes e descendentes; e na "medida m", isto é1 na
largura máxima dos tipos de determinado desenho. Segundo
sejam, pois, a "medida x" e a "medida m" de determinado de-
senho, o avizinhamento ou brancos interliterais e· os brancos inter-
lineares, naturais (isto é, não decorrentes de inserção de brancos
-especiais interliterais ou interlineares), são maiores ou menores,
os tipos parecem mais ou menos juntos, compactos. Escusa en-
carecer a decorrência disso, pois o fato é que a legibilidade pode
ser aumentada ou diminuída em função · dessa característica, uma
mancha aparentemente vazia pode ser cheia segundo seja a esco-
lha do desenho sob êsse ângulo - e o reverso.
9. 2. 5 Uma das características dos desenhos dos tipos é o con-
traste dos ramos finos e dos ramos grossos. Quando êsse oon·
traste é acentuado, o branco intraliteral, do "o", por exemplo,
tende para o sentido vertical; quando não é acentuado, o branco
intraliteral tende para o arredondado. .:e 6bvio que, õpticamente,
uma composição cujo sentido geral seja predominantemente ver-
tical - já numa s6 ·coluna, já em duas ou mais colunas, não
importa, mas o que importa é o sentido da coluna - o branco
intraliteral arredondado tenderá a funcionar como elemento equi-
librador - e o reverso é verdade também. .
9. 2. 6 . Há na caixa . baixa cinco letras com hastes descendentes,
"g", "j"1 "p", "q" e "y" - a que se pode, em certos desenhos,
juntar uma sexta "z" - , e sete com hastes ,ascendentes, "b",
"d", "f", "h", "k", "1" e "t" - duas das quais relativamente
raras na ortografia portuguêsa vigente, uma de cada série, "y"
e "k" (o que mantém relativamente proporcionalidade da ocor-
rência). Segundo, pelo seu desenho, as hastes sejam mais ou me-
nos longas, num mesmo interlineamento, mais ou menos cheio fi·
cará êsse interlineamento e, em conseqüência, mais ou menos carre-
gada parecerá a mancha.
9. 2. 7 As maiúsculas ou caixa alta são em duas séries, como
já vimos- a das versais e a dos versaletes. Nem tôdas as fontes,
94 ANTÔNIO ROUAIS8

sobretudo no Brasil, se acham fornidas de versalete. Em princí-


pio, a versal tem como medidas a de um tipo de caixa baixa com
haste ascendente - comparem-se "Bb", "Dd", "Ef", "Hh",
"Kk", "LI" -, enquanto os vcrsaletes têm como medida um tipo
de caixa baixa sem hastes - comparem-se, por exemplo, "Aa",
"Bb", "cc", "od", "Ee", "Ff", etc. Fontes"· há, entretanto, em
que as versais se apresentam com medida ligeiramente inferior à
doe tipos de caixa baixa com haste ascendente; são concebidas
precisamente para as composições em que devam ocorrer com
freqüência, na mancha propriamente dita (e não em cabeços ou
títulos capitulares ou subcapitulares), vocábulos inteiramente
grafados com versais - caso não raro na composição de dicio-
nários, de catálogos, de bibliografias. 1l:sse defeito é observável,
por exemplo, na composição do Dici.oMrio do folclore brasileiro,
de Lufs DA CÂMARA CAscuoo, malgrado ser seu enquadramento
tipográfico atribuído à fina sensibilidade .gráfica do que foi Liuo
LANDUCCI - que provAvelmente não terá escolhido a fonte ( cf . •
CASM) . Na segunda edição êsse mal foi minorado mas não
resolvido.
9. 2. 8 Quaisquer que sejam as características do seu desenho,
podem as fontes distinguir-se entre si pelo pêso da pigmentação
negra geral, a tal ponto que o negrito de certas fontes chega a
corresponder, grosso modo, ao romano de outras. Há, mesmo,
observações tendentes a evidenciar que, embora em geral as crian-
ças propendam por preferir pigmentações mais carregadas, em
se tratando de adultos a questão se torna fortemente optativa.
Isso não obstante, consoante seja o jôgo de prêto-no-branco dese-
jado, efeitos de mancha mais ou menos negros podem ser obtidos
em função dessa variedade, no que influem, é 6bvio, todos os
demais fatôres acima considerados.
9 . 2. 9 As famílias tipol6gicas mais caracterizadas são, a se-
guir, compostas, para efeitos de verificação das correlações e
oposições a que nos referimos nesta seção - as chamadas (1)
"lapidar" (ou "lapidária", "grotesca", "futura", "etrusca"), (2)
"egípcia", (3) "antíqua", (4) "Bodoni" (ou "Didot") e (5)
algumas ditas "cursivas" (tipogrAficamente falando).
E L E :M E N T O S DE B I B L I OL OGI A 95

9. 2. 9 .1 Eis a lapidar - de hastes quase uniformes, sem


cerifas:

ABCDEFGHIJKLM
NOPQRSTUVWXYZ
abcdefghijklmn
opqrstuvwxyz
9. 2. 9. 2 Eis a egípcia - de hastes também quase uniformes,
mas com cerifas: ·

ABCDEFGHIJKLM
NOPQRSTUVWXYZ
abcdefghijklmn
opqrstuvwxyz
9. 2. 9. 3 Eis a "antíqu.a" - de hastes contrastantes, com ceri-
fas, tendentes a ápices triangulares:

ABCDEFGHIJKLM
NOPQRSTUVWXYZ
abcdefghijklm
nopqrstuvwxyz
96 ANTÔNIO HOUAI88

9.2.9.4 Eis uma "Bodoni" - de hastes fortemente contras-


tantes, com cerifas em geral finas e retilíneas :

ABCDEFGHIJKLM
NOPQRSTUVWXYZ
abcdefghijklm
nopqrstuvwxyz
9.2.9.5 Eis umas "cursivas" - que, em essência, são uma
tipologia imitante do cursivo manuscrito, estilizado e uniformizado.:

~'4~~;f~yt-~~~~~~··cq·~~~~lf".Z
• .. ;. ~ ; f'.9'.l i;" 1 •.1.... , • .-.-.a .. 11 • " \! &

~~e~~~~~~~~~~o~a~g
o.S.edel'fhlfklmnCJ.pq;t.dtU.CJ.(.(tfl~fltl.

.A13CV€:r.GJ.J.J]f21flnO'PQ'Rc5
a b c d~.fg bí j klm no p q1'-dia vwxycz
9.3 .&.INDA ..&. PAGINAÇÃO - A paginação, porém, não consiste,
tão-somente, na separação de um número determinado de linhas
compostas, do paquê, que formarão a coluna da mancha. Em
verdade, cumpre distinguir : (a) páginas ou manchas càpitulares;
(b) eventualmente páginas ou manchas finais de capítulos; (c)
eventualmente páginas ou manchas subcapitulares; (d) páginas
ou manchas outras, seccionais ; (e) páginas ou manchas regulares
-, podendo quaisquer ser: com ilustrações; sem ilustrações; com
os seus quadros, tabelas, clichês especiais quaisquer, importando,
ainda, ter em conta que, no seu feiçoamento final, devem apre-
sentar: numeração; e/ou notas marginais, laterais ou de rodapé,
~ cabeçalho. ·
ELEMENTOS DE BIBLIOLOGIA 97

9. 3 .1 Manchas especiais - Examinemos, sumAriamente, cada


um dêsses aspectos, unificando a sinonímia aà hoc da página ou
mancha s6 em mancha, já que "página" pode ser entendido sob
o · aspecto de face numerada de fôlha, com ou sem texto.
9.3.1.1 As manchas capitulares são as que, como diz o nome,
abrem capítulo - ou seccionamento fundamental de livro, sec-
ciouamento que consideraremos à parte. Por ora, admitamos a
equivalência de mancha capitular à de mancha que abre, numa
enciclopédia ou num dicionário, a averbação em determinada
letra, e casos estreitamente afins, que os há. O que, via de regra,
caracteriza a mancha capitular, na tradição tipográfica e mesmo
nos aspectos mais inovadores da arte gráfica moderna, é:
a) o tamanho menor da coluna vertical, cuja base, entre-
tantp, termina à mesma altura das manchas regulares; noutros
têrmos, o amplo espaço branco que antecede êsse tipo de mancha;
b) a ausência de numeração de página, se colocada no alto,
aBSim como de cabeçalho de página; ·
c) a presença, de regra não obrigatória mas preferencial,
' de cabeçalho especial, capitular, acompanhado ou não do título
do capítulo;
d) o uso eventual da letra capitular ou de letrina- e adôr-
no tipográfico de venerável tradição que merece um comentário.
9. 3 .1. 2 A letra capitular tem de comum com a letrina o fato
de serem, proporcionalmen~e, monumentais, em relação ao corpo
dos tipos da composição. Distinguem-se entre si em que a letra
capitular é despojada de figurações ou arabescos e fioriture,
enquanto as letrinas apresentam figurações ou arabescos, ou fio-
·nture, ou suas formas comp6sitas. .Ambas podem ser medidas
em pontos, mas de regra são relacionadas com as medidas das
linhas da composição regular. Assim uma letra capitular ou
letrina de quatro, cinco, seis, n linhas quer dizer que, vertical-
mente, mede á medida correspondente a quatro, cinco, seis, n
linhas da composição. A imposição da capitular ou letrina -
que no c6dice via de regra é iluminada, com rica cromatização
em que o ouro e o azul esmaltado excelem, o que em tipografia
de luxo se tenta, modernamente, imitar - a imposição da capi-
tular ou letrina apresenta, por sua vez, possibilidades pelo menos
dúplices, pois (a) ou bem sua base coincide com a base da pri-
meira linha, ressaltando-se, por conseguinte, de n-1 linhas no que
seria o espaço em branco · inicial da L ~ancha capitular, caso em
que, inclusive, sua imposição pode ser indentada, de forma que
haja o espacejamento branco inicial da paragrafação, a ponto de
98 ANTÔNIO BOUAIS8

a capitular ou letrina ficar prAticamente no meio da página, ou


bem, reversivamente, é dentada, quando então "salta" sôbre a
margem esquerda; (b) ou bem a capitular. ou a letrina é imposta
de tal arte que ocupa uma área da mancha propriamente dita,
à esquerda ao alto desta, com n linhas (correspondentes à altura
da capitular ou letrina).
9. 3 .1. 3 Qualquer que seja o tipo de imposição da capitular
ou letrina, é freqüente que o corpo do resto da palavra a que
pertença, ou a palavra a ela seguinte, seja ou maior, ou em
versal, ou em versalete ; não raro, aliás, isso pode ocorrer com
uma, duas, três, linhas inteiras conexas com a capitular ou !e-
trina.
9. 3 . 1. 4 Na moderna tipografia - mormente em línguas in-
glêsa e alemã - , não raro ocorre um sucedâneo para a capitular
ou a letrina: é o uso do versa! (para a primeira letra) com
versalete (para as demais letras da primeira palavra, ou para a
segunda palavra, se .a versal corresponde a uma palavra) sem
indentação paragráfica.
9. 3 .1. 5 As manchas finais de capítulo - ou seccionamento
afim - são polares, via de regra, das manchas capitulares. É
que raro coincide o términ('l do capítulo com o término de página.
Destarte, de regra - supondo início capitular sempre em página
ímpar - , a mancha final de capítulo apresenta espaço em branco, '
maior ou menor, embaixo, sem prejuízo, ao alto, da numeração
e cabeçalho de página ou, -embaixo, se fôr o caso, da numeração
de página.
9 .3 .1. 6 Aqui caberia ressaltar que não é unânime em tipo-
grafia a preocupação de iniciar seccionamento de valor capitular
em página ímpar, havendo livros - sobretudo inglêses, mas não
só - que se recomendam pelo seu rigor gráfico com capítulos
iniciados em página par, quer ou não acompanhados de titulação.
Essa solução simplifica altamente a eventualidade de superar
certo escolho da paginação: é que, com efeito, se a matéria grá-
fica final de capítulo não vai além de página ímpar, o paginador
se defronta ou (a) com o problema de "apertar" desde várias
manchas de pág:nas anteriores as colunas, para ir aos poucoil
absorvendo nelas linhas que façam desaparecer as que normal-
mente apareceriam em, página ímpar final de capítulo, ou (b)
com o problema de "recorrer" ou "desapertar" desde várias man-
ehas de páginas anteriores as colunas, para ir aos poucos ga-
nhando linhas que venham a preencher a página ímpar em causa,
transbordando pelo menos uma (o que é po~co, aliás) linha para
ELEMENTOS DE BIBLIOLOGIA 99

a página p.a r seguinte - que ficará dentro da ortodoxia da


mancha final de capítulo, ou (c) deixar a matéria gráfica como
naturalmente calhar, o que cria página par completamente branca,
o que, com efeito, "quebra" a unidade gráfica do livro - a
menos que se quisesse "quebra" sistemática ·o que equivaleria,
então, a recriar a dificuldade.
9. 3 .1. 7 A manchas subcapitulares em regra não se caracte-
rizam nem por abrirem página ímpar - o que poderia acarretar
excessivo uso de brancos no miolo do livro - , nem por abrirem,
pura e simplesmente, página qualquer - o mal seria o mesmo em
caso afirmativo. Entretanto, por vêzes, a mancha subcapitular
tem como caráter distintivo ou típico o fato de apresentar um
espaço branco maior interparagráfico, espaço em que, também por
vêzes, se inscreve um asterisco, uma vinheta, algum adôrne> tipo-
gráfice> ou o título subcapitular. Ademais, em correlação com os
usos referidos em 9. 3 .1. 4, não raro o · parágrafo subcapitular se
inicia sem indentação, :p1as com versal-versalete.
9. 3 .1. 8 Segundo seja o plano de seccionamento uo livro, em
lugar de um e/ou dois padrões especiais - o da mancha capitu-
lar e/ou o da mancha subcapitular - , pode ocorrer a necessidade
de três ou mais padrões de mancha seccional especial. Com efeito,
se o seccionamento de um livro previr, por exemplo, quatro partes,
cada uma com, digamos, dez, seis e quinze capítulos, respectiva-
mente, e êstes com subcapítulos em número variável (entre seis
e dez, cada um, admitamos), dentre várias soluções, do ponto de
vista da mancha, podemos admitir duas típicas: (a) a em que
as partes sejam objeto de fôlha especial, via de regra com a
indicação da parte e seu título na face ímpar e branco na face
par de uma fôlha titular, ficando, pois, intactos o oU: os dois
padrões já configurados supra de mancha capitular e/ou de man-
cha subcapitular, ou (b) a em que a mancha capitular do pri-
meiro capítulo de cada parte se distinga das manchas capitulares
dos demais capítulos da mêsma iparte. Escusa, nas hipóteses
consideradas, dizer que as duas soluções fluem em função da
mais ou menos nítida separação da matéria conceptual das partes,
da maior ou menor economia de papel, da maior ou menor gene-
rosidade na distinção dos brancos no miolo do livro.
9.3.2 Manchas regulares - As manchas regulares de um
livro são as que por sua feição gráfica lhe dão o teor de unidade,
ilquilíbrio e harmonia fundamentais. São características da man-
cha regular: (a) suas dimensões, horizontal e vertical; (b) a
presença ou não de notas, laterais e de rodapé ou inferiores, con-
100 ANTÔNIO HOUAI88

comitantes ; (c) a separação paragrâfica ; ( d) o cabeço ou cabe-


çalho de página; (e) a numeração, e indicação remissiva even-
tual, de página.
9. 3 . 2 .1 O complexo prêto-no-branco compreendido pela man-
cha - regular ou especial - nas suas medidas horizontal (ou de
linha) e vertical (ou de coluna), constituindo um retângulo (de
base menor, no livro de formato vertical ou propendendo para o
formato vertical, de base maior, no livro oblongo, quando, de
regra, a coluna vertical é por sua vez composta de duas ou mais
colunas) ou um quadrado, mancha por sua vez inserta na super-
fície branca (ou afim) da face (ou página) de uma fôlha cons-
titui o problema principal da imposição. Impor a pág~na é, por
conseguinte, inseri-la no branco da face, tal como estabelecida a
mancha por suas dimensões, de modo que essa mancha fique
emoldurada por uma quádrupla banda branca lateral - as cha-
madas margens.
9 . 3. 2. 2 Depois de WILLIAM MoRRIS, êsse complexo passou 8
ser considerado como uma unidade dual composta do concurso de.
uma página par mais a página ímpar seguinte; foi êsse mestre
da arte tipográfica que evidenciou a conveniência, mais, a ne-
cessidade de o problema da imposição ser examinado sob êsse
ângulo de unidade dual. Cada membro dessa unidade, seja, cada
página, encerra quatro margens - a superior, oponencialmente 8
inferior; a externa (que na página par fica à esquerda do obser-
vador e na página ímpar, . à direita do observador), oponencial-
mente a interna (que na página par fica à direita do observado!'
e na página ímpar, à esquerda do observador). ·

As margens enquadram e valorizam a mancha, tal


como a moldura realça ao máximo uma fotografia. Tanto
as margens como a moldura estão sujeitas às leis de pro-
porção. As margens de uma página orientam os olhos
na focalização da mancha : é que, com efeito, nossos olhos
estão acostumados a certas convenções e qualquer desvio
acintoso significa uma interrupção no fluxo da leitura -

é o que assevera ÜLIVER SIMON (siMO, 20-21), acrescentalido:

Deve haver maís margem ao pt'i da pâgina do que na


cabeça, pois de outro modo a mancha parece estar caindo
pela página abaixo. A margem interna deve ser menor
do que a externa, já que uma dupla página afeta os olhos
como uma unidade, não como duas páginas independentes
ELEMENTOS DE BIBLIOLOGIA 101

entre si. E espaço suficiente deve ser deixado nas mar-


gens externas, para fácil manuseio por parte do leitor de
modo que· seus dedos não cubram a mancha. A margem
inferior deve ser suficientemente ampla a fim de que o
polegar do leitor nela se apóie à vontade, principalmente
no momento em que as últimas linhas da página estejam
sendo lidas. Boas margens são uma ajuda para a legi-
bilidade . . . e, ademais das considerações acima, as mar-
gens largas, superior, externa e inferior, permitem sub-
seqüente guilhotinamento e encadernação, sem prejuízo
da mancha. E as margens amplas acolhem anotações do
leitor.

9 . 3. 2. 3 E a BERNARD NEWDIGATE extratemos os seguintes con-


ceitos, complementares aos anteriores {NEWD, 49):

A importância das margeps de um livro como ele-


mento de sua estruturação e a regra que MoRRIS estabe-
leceu - "mais estreita a margem interna, a superior algo
mais larga, a externa mais larga ainda e a inferior a mais
larga de tôdas" - são hoje geralmente reconhecidas ...
Razões de conveniência também, datadas dos mais primi-
tivos livros, talvez tenham contribuído para a tradição.
As margens superior, externa e inferior foram usadas
para notas, como o são por vêzes hoje em dia, e são as
habitualmente cobertas ou enfaixadas pela mão do leitor.
Na reencadernação, essas são as margens mais cortadas,
enquanto a interna permanece quase intocada pela faca
do encadernador. É a proporção, mais do que a medida
em si, que conta para a boa aparência do livro. Podem,
de fato, ser estreitas, como ocorre necessàriamente num
livro de bôlso, e ainda assim ser corretas.

9. 3. 2. 4 Escusa, por antefim - com relação às margens ,


lembrar que a ortodoxia relativa, obtida no particular por vários
séculos de tradição tipográfica - o chamado cânon da mancha
regular -, pode ser -quebrada, com o fim de obter efeitos novos.
Essa ruptura, de fato, permite, por vêzes, um chamamento psico-
lógico muito forte - restando, tão-somente, considerar a conve-
niência do uso dessa ruptura para com o contexto da mensagem.
9.3.3 Matncha e notas - E, por fim, lembremos algumas ca-
racterísticas especiais de margens, consoante se considere a página
ilustrada ou não, e seja ela de formatos ou fins especiais de livros.
102 .4NTÔNJO HOUAISB

Nas pagmas ilustradas - vá como lembrete muito de passagem


- as margens são, desde longa data, violentadas, sobretudo no
que se refere às externas, que, em conseqü~ncia do enquadramento
da ilustração, podem ficar maiores ou menores do que as regulares
adotadas no livro; num certo sentido, pois, a sangria ou corte
da ilustração pelo ·guilhotinamento da margem, é uma extremação
do processo, inovando-se, porém, com o fato de ter eliminado
prAticamente a margem externa, não raro a superior, por vêzes
ambas, por vêzes inclusive a inferior e, enfim, por vêzes inclusive
a interna, com derramamento pela página conexa- da ímpar para
a par, ou vice-versa. E consoante o formato do livro e os seus
fins, lembremos que :
a) seja êle menor, mais rico de matéria, tendem as margens
para uma diferenciação muito pequena entre si, embora mantida
- é o caso dos chamados livros de bôlso e não é o caso de certos
livros anões ou liliputianos, que requintam, no seu ditninuto di·
mensivo, em guardar as proporções dos livros de grande formato ;
b) quando apresenta notas laterais, ou laterais e/ou de ro-
dapé, e laterais ejou ,de rodapé e/ou de cabeça, a mancha
assim constituída é considerada nas suas medidas externas extre-
mas e assim imposta;
c) quando o livro é de consulta ou referência - enciclopé-
dias, dicionários, concordâncias, glossários, bibliografias, catálogos
e afins - e a matéria abundante, o jôgo do prêto-no-branco, em
que tão grande papel é exercido pelo branco das . marg~, pode
ser arbitrado em favor do . predomínio do prêto - · já, que uma
das finalidades essenciais do equilíbrio corrente entre o · prêto e o
branco é a poupança do esfôrço óptico do leitor e já que o leitor,
de regra, recorre a êsses livros tão-somente para consulta ou refe-
rência, vale di~er, com episodicidade, sem continuidade de lei-
tura;
d) quando o livro entra no comércio brochado, mas com
pretensões, por sua qualidade substancial, de perdurar na estante
do adquirente e leitor, deve apresentar margens mais generosas
do que o livro vocativamente efêmero, para que possa vir a ser
encadernado.
9 . 3 . 3 .1 A presença de notas - laterais, de rodapé ou supe-
riores, ou concomitantes - deve ser levada em especial linha de
conta para a caracterização da mancha regular. Antes de · mais
nada, excluamos as notas superiores, hoje prAticamente inexisten-
tes, que são as em geral de tipo remissivo, que serão consideradas
juntamente com o cabeço ou cabeçalho da página, linhas adiante.
ELEMENTOS DE BIBLIOLOGIA 103

Dos outros dois tipos de notas, as laterais e as de rodapé, lembre-


mos que· as primeiras tendem progressivamente a ser de menor
uso na tipografia de hoje em dia.
9 .a. 3. 2 As notas laterais, do ponto de vista da composição
e da imposição, apresentam um traço muito especial: desde sem-
pre foram consideradas partes integrantes da mancha como um
todo, ocorrendo, em conseqüência, sempre do lado externo da
mancha (à esquerda do observador, na página par; à direita, na
página ímpar). Porque integradas na mancha, entram em cone-
xão com esta por um veio branco vertical regular, de modo que
a partição linear externa é que é assimétrica, jamais (salvo ano- ·
malia bibliológica) a participação linear interna da própria nota la-
teral. É óbvio que sua composição e imposição sejam mais de-
licadas e difíceis do que as margens de rodapé, razão por que
tendem cada vez mais a se adscrever aos livros de grande elabo-
ração gráfica, quando de todo não dispensáveis.
9. 3. 3. 3 As notas de rodapé são de potência vária - consoante
os autores, os países. Os livros, mesmo de erudição, inglêses,
franceses, russos, tendem a reduzi-las ao mínimo, no amplo sen-
tido de que tendem a reduzir-lhes a freqüência e tendem a redu-
zir-lhes a extensão. O mesmo, porém, não se dirá dos livros por-
tuguêses (e brasileiros), espanhóis, alemães. Entre nós, há exem-
plos de livros cuja área de mancha de notas totalize mais do que
mancha de texto, mas não apenas isso, indo não raro a dois ex-
tremos infelizes e complicantes, do ponto de vista da paginação e
da leitura, quais são o de transbordar nota de uma página para
a página ou as páginas seguintes e, o que é pior, o de anotar com
notas de rodapé (notas de rodapé de primeiro grau, de segundo
grau, de terceiro ... ). Os inglêses, mestres no respeito, superam
as inconveniências de textos demasiado densos de notas por di-
versos meios, relegando ao rodapé o mínimo (quanto à freqüên-
cia e extensão), de tipo geralmente remissivo, locativo ou eluci-
dativo, e dispondo, já em fim de capítulos, já preferentemente
em fim de todo o texto, as notas pura e simplesmente - que,
quando demasiado extensas, podem ser intituladas apêndices,
adendos ou observações. As notas de rodapé integram a mancha
regular, distinguindo-se, quase universalmente, pelo corpo menor,
como já vimos, e ressaltando-se da mancha do textual já por uma
pequena linha horizontal de têrço ou quarto da extensão da linha
da página, já apenas por um branco interlinear maior - maior
do que o branco interlinear do texto e maior do que o eventual
branco especial interparagráfico do texto.
104 ANTÔNIO HOUAIBS

9. 3. 3. 4 A separação paragráfica contemporânea continua os


traços essenciais da separação paragráfica moderna, que principia
a consolidar-se já pelo século XVI, diferente da separação para-
gráfica do c6dice, do incunábulo e dos primeiros livros impressos.
Na primeira fase, além das eventuais letras ou letrinas capitu-
lares, letras subcapitulares, havia-as também paragráficas, mas
o texto era composto continuadamente. A trãnsição para o sis-
tema moderno foi marcada ' pela parada de composição ao cabo
de ponto parágrafo, "preenchimento" do resto da linha com bran-
cos e transição paragráfica para a linha seguinte. Na linha
seguinte, com letra ou letrina paragráfica ou sem ela, com mero
versal para a primeira letra e caixa baixa para as demais, ou
com versal para a primeira letra, versalete para as restantes da
palavra inicial ou para a segunda palavra (se a versal cor:respon-
dia a uma palavra), estava marcada a transição paragráfica, sem
indentação. Esta - a indentação paragráfica ou o branco para-
gráfico - se difunde quando se abandonam as características
formais da transição. Hoje em dia, sem regra fixa, marca-se
sempre o parágrafo por um dos recursos seguintes, ou por dois
combinados, raro pelos três:
a) branco paragráfico de um a dois quadratins;
b) branco interparagráfico especial, a saber, interlineamento
maior do que o branco interlinear ordinário da composição, re-
curso viável e aceitável quando a estrutura da mancha é de
grandes massas paragrá~icas, pois, se fôr de pequenas, a presença
excessiva de brancos, aparentemente arbitrários, se revelará de
pronto;
c) realces especiais paragráficos ...,....- (1) já por letras ou
letrinas paragráficas, (2) já por versal inicial e versalete res-
tante, (3) já por versalete na primeira palavra (se de duas ou
mais letras) ou nas duas primeiras palavras (se a primeira fôr
de uma s6 letra). ·
9 . 3. 3. 5 O cabaço ou cabeçalho de página é a parte impressa
da mancha em que se inscrevem certas constâncias gerais ou par-
ciais do livro. Via de regra, o cabeço da página par difere do
cabeço da página ímpar, constituindo, ambos, parelhas comb.i nadas
de modos vários, por exemplo (em primeiro lugar o cabeço de
página par, em segundo o de página ímpar): (a) nome do autor
- título do livro ; (b) título do livro - título · do capítulo; (c)
título do capítulo - subtítulos (sucessivos) do capítulo; ( d)
assunto da página - assunto da página.
9 .3 .3 .6 Considere-se :
ELEMENTOS DE BIBLIOLOGIA 105

a) que há livros e excelentes - que não têm cabeços


(pois em não havendo os de página par não deve haver os de
página ímpar);
b) que as manchas capitulares ou quaisquer seccionais es-
peciais não têm cabeço ;
c) que há cabeços- mormente os mais variáveis, vale dizer,
os da direita - , que podem ocorrer apenas com a parte inicial
(mais ou menos extensa) de sua intitulação ;
d) que os cabeços têm, marcadamente, uma finalidade ori-
entadora e localizadora da matéria do livro, razão por que, se
êste apresenta outro tipo de orientação e localização, podem os
cabeços ser dispensados;
e) que não devem ser considerados cabeços, propriamente
ditos, certos elementos indiciadores e inter-remissivos, que serão
considerados logo a seguir.
9. 3. 3. 7 De um modo quase universal, os cabeços são compos-
tos em caixa alta - versais ou versaletes· -, e a preferência por
aquêles ou êstes depende já da existência de versaletes no parque
tipográfico, já do fato de que os versais podem pertencer a fonte
em que se destaquem excessivamente da caixa baixa. De outro
lado, embora predominem em romano, podem também ocorrer em
grüo, nunca ou rar1ssimamente em negrita. Quanto à sua colo-
cação, como o diz o seu nome, ficam sempre no alto da coluna,
centrados, com interlineamento especial maior, via de regra cor-
respondente ao dôbro do interlineamento regular.
9. 3. 3. 8 A numeração e indicação remissiva eventual da pá-
gina têm a mesma finalidade, aproximativamente, a saber, enfei-
. xar a seqüência de manchas impressas numa ordem orgânica,
facilitadora da imposição, do costuramento, do manuseio das
páginas do livro, e da remissão aos locais ou passagens do mesmo.
9 . 3. 3. 9 A numeração das páginas apresenta as seguintes
características, acumulativas ou exclusivas entre si:
a) pode ser distinguida em duas séries, de algarismos ro-
manos e de algarismos arábicos; em havendo a primeira, destina-se
ela às partes pré-textuais e preliminares do texto fundamental da
obra publicada, jncluindo-se nas preliminares a introdução ( quan-
do esta não é verdadeiro capítulo introdutório), notas prévias,
prefácios, tábua!'! de matéria e o mais que anteceda o texto funda-
mental; a segunda, então, numerará necessAriamente as páginas
do texto fundamental até o fim do livro; em casos excepcionalís-
simos, os algarismos romanos podem ocorrer, em nova série numé-
rica, ao fim do livro, para partes pós-textuais não pertencentes
ao texto fundamental ;
106 ANTÔNIO HOUAISS

b) pode ser contínua, em obras de dois ou mais tomos · (fas-


cículos, partes, volumes), ou autônoma, de unidade para unidade
com vida própria de manuseio ;
c) pode ser localizada :
1) já no alto de página, ao centro, se a mancha não con-
tiver cabeço; do lado externo (em página par, à esquerda do
observador; em página ímpar, à direita do .observador), se a
mancha contiver cabeço (inova-se, subvertendo-o) ;
2) já na base da mancha, ao centro ou do lado externo,
ocorrendo, quase s6 quando centrada, entre dois colchêtes, parên-
teses, hüens, travessões, ou isenta de tais elementos (inova-se,
subvertendo-o).
9. 3. 3 .10 Lembremos que a numeração das páginas apresenta
as seguintes fases, no livro impresso:
a) sua completa ausência, de tal ·modo que o enlace das
manchas da página se fazia pelo reclamo de fim de mancha -
consistindo o reclamo na antecipação da palavra, ou parte dela,
inicial da mancha seguinte ;
b) na sua presença somente nas páginas ímpares, continua-
damente, o que, noutros têrmos, consistia a rigor na numeração
contínua das fôlhas, distinguindo-se, assim, as faces ou páginas
por meio das abreviaturas 'v' e 'r', respectivamente uerso (verso)
c retro, donde, · por exemplo, "74v", significar a fôlha de n. 0 74
na sua face ímpar e "74r" significar a fôlha na sua face seguinte,
atrás, par;
c) na presença da numeração por página, propriamente dita,
fixando-se a regra do número ímpar sempre para a face primeira
da fôlha aberta na seqüência da leitura ocidental, isto é, da
esquerda para a direita (donde os livros semitas, em geral, apre-
sentarem disposição inversa).
9.3.3.11 Lembremos ainda que, na prática tipográfica mo-
derna:
a) a numeração principia a ser contada, em regra, da face
fmpar do falso rosto, mas não inscrita tipogrAficamente senão a
partir da primeira página de mancha corrida, seja, de regra, o
prefácio ou introdução; destarte, admitindo, por hipótese, que
um livro se apresente nas parte!! preliminares, com (1) falso rosto
(páginas 1, e 2 não impressa), (2) rosto (páginas 3, e 4 não
impressa), (3) dedicatória (páginas 5, e 6 não impressa), (4)
prefácio (página 7 não impressa, pela razão abaixo, e página 8,
impressa, a primeira);
ELEMENTOS DE BIBLIOLOGIA 107

b) a numeração não é, de regra, inscrita tipogràficamente


em tôdas as manchas especiais (capitulares ou seccionais espe-
ciais), quando sua ocorrência devesse ser no alto da página, po-
dendo, entretanto, ser optativa a impre.ssão, se na base da mancha.
9. 3. 3 .12 A indicação remissiva eventualmente impressa na
página pode ser de dois tipos principais: (a) em algarismos e/ ou
símbolos seccionais; (b) em algarismos e/ou em letras; ocor-
rendo a primeira - via de regra localizada no alto da mancha,
em lugar oposto ao da numeração, se a numeração fôr ao
alto da mancha, ou no lugar que teria sido da numeração,
se a numeração fôr na base da mancha - nos livros de estrutura
paragráfica numerada orgânicamente, cujos índices se reportem
não ao número das páginas mas ao dos parágrafos, enquanto
ocorre a segunda nos dicionários, enciclopédias, vocabulários, glos-
sários e obras afins, cuja estruturação se faça na base de uni-
dades alfabetadas, via de regra vocabulares.
9. 3. 3 .13 Em ambos os casos, de regra, a indicação remissiva
da página par corresponde à unidade remissiva primeiro ocor-
rente na sua mancha, enquanto a indicação remissiva da página
ímpar corresponde à unidade remissiva que ocorre em último
lugar nessa mancha. Nas estruturas alfabéticas, a indicação · re-
missiva dos extremos pode, também, fazer-se por mancha e até
por coluna de mancha.
CAPÍTULO X
O APARATO NUM LIVRO

10. AS FONTES IDEOLóGICAS ·


O conhecimento humano, parece, sempre foi por via direta
e por via indireta - pela aplicação dos sentidos e faculdades
(inteligência no amplo sentido da palavra, intuição, fervor en-
cantatório, mágico, místico, prático, lúdico ... ) em contato com
o objeto de ação e conhecimento, ou peia aplicação dos sentido&
e faculdades a um intermediário do objeto da ação e conhecimento,
ou pela aplicação dos sentidos e faculdades dos sentidos a facul-
dades como objeto de conhecimento e de ação . . . Em quaisquer
dos casos, o conhecimento progride sempre por meio de um ins-
trumental simbólico nocional, a linguagem, gestual, mímica, oral,
plástica, musical, ritual, e de instrumentos factivos, ferramentas,
máquinas, utensílios, e de instrumentais auxiliares congnit:vos,
microscópios, telescópios, espectrógrafos, quimógrafos, oscilógrafos,
máquinas de calcular, de registrar, de memorizar, de armazenar,
cérebros eletrônicos - havendo regularmente, em tôdas as fases
de progressão do conhecimento, uma interdependência de inter-
progresso entre o sujeito conhecedor, o objeto por conhecer e os
meios de conhecimentos, intrínsecos ao homem ou extrínsecos a
êle, seja, os feitos por êle ou aproveitados por êle da natureza
para êsse fim.
10. O.1 A tradição - A via indireta é, grosso rrwdo, repre-
sentada pela tradição lato sensu, isto é, a transmissão de conheci-
mentos anteriores - na origem dos quais estaria sempre a via
direta - por meio de intermediários do conhecimento, a lingua-
gem sobreexcelentemente - corporificação do conhecimento.
] O. O.1.1 É que, com efeito, o mais elaborado instrumento de
transmissão, de tradição, é a linguagem, a linguagem oral - que,
transmitida de adultos para infantes, dos mais velhos para os
mais novos, e vice-versa, e entrecruzada e combinatôriamente, se
alçou a uma nova categoria com o descobrimento de suâ fixaçãG
110 ANTÔNIO HOUAISS

por via visual, pela escrita. Com a invenção da escrita e o


progressivo incremento de facilidade e eficácia de sua represen-
tação - ideográfica inicialmente (picto-ideo-hieroglífica), fono-
gráfica subseqüentemente (silábica, fonológica, fonética) ,
êsse instrumento de transmissão ganhou ainda mais em (a) pos-
sibilidade de conservação ( "uerba uolant, scripta manent" ... ) ,
(b) divulgabilidade no espaço e no tempo. O homem, destarte,
criou a documentação, de tal maneira que, nas condições ditas
históricas, passou a ter, potencialmente, à sua disposição, sôbre
qualquer aspecto da ação ou do conhecimento, elementos anterio-
res, documentos, para se formar e informar por via escrita, ou,
ampliando a metodologia daí derivada, e nas pegadas das defini-
ções de V. GoRDON CHILDE (cf. CHIL, CHIM, ·cHIN), passou a com-
preender que documento é tudo aquilo de que o homem deriva,
ou pode derivar, conhecimento - o que passa a abarcar o mundo
da realidade objetiva e subjetiva em tôda a sua inteiridade, desde
que, de uma forma ou de outra, corporizado ou corporizável
objetivamente. Neste sentido pude, noutra quadr.a, definir "do-
cumento" como "é o que quer que seja, de natureza material, de
que se possa depreender o que quer que seja de natureza espi-
ritual inscrito na tradição humana, na transmissão humana de
suas ideologias, idéias e conceitos através dos tempos e na exten-
são dos espaços" (HOOY, 2.1).
10. O.1. 2 Assim, ao escrever sôbre o que quer que seja, de
uma forma ou de outra, ·por impregnação, por reminiscência, por
alusão, por referência, por citação, o homem louva-se de elementos
anteriores, transmitidos socialmente, por via escrita, por via oral,
por via convivia!, por via vivencial, por via existencial.
10. O.1. 3 Subjacente, também, no homem - por mais requin-
tadas e alienadas que possam ser .as formas de extremação indi-
vidualista - existe a mais ou menos vaga, mais ou menos lúcida
consciência própria de que seu esfôrço vital e tôdas as manifes-
tações e expressões disso se inserem dentro da trama evolutiva
da espécie, noutros têrmos, da natureza mesma, base talvez de
sua vocação ética, mesmo quando essa vocação individualmente
se manifeste ou se exprima pela recusa ou ruptura frontal do
ético. A honestidade intelectual, a fidedignidade histórica, a le-
gitimidade da referência, a escrupulosidade da interpretação, a
oportunidade da documentação, a adequação de tudo ao objetivo
em vista criam, dêsse modo, num texto escrito, o problema da
evidenciação visual dos elementos alheios deliberadamente trazi-
dos como. tal :\ trama da mensagem própria.
E L E ME N TOS DE B I B L I O r, O G I A 111

10. O.1. 4 Citam-se, assim, num texto, autores, obras, excertos,


passagens, conceitos, palavras, vocábulos, que abonam ou desabo-
nam um argumento ou raciocínio, que os esteiam ou invalidam,
que os credenciam ou abalam, que os justificam, coonestam, legi-
timam, fundamentam ou os depreciam, subestimam, nulificam,
destroem.
10 .1 A CITAÇÃO - Ora, porque, de regra, o acréscimo indivi-
dual é pequeno à herança coletiva, ainda que coetâneamente e
indivíduo possa, em certas tessituras sociais, gozar ou usufruir de
importância considerabilíssima, o fato é que certa erudição, cert~
exibicionismo cultural, certa hipertrofia das razões acima aponta-
das podem transformar o citador em "incitador", "excitador",
"citimaníaco" (vá lá o vocábulo, ad hoc, e que se perpetrará aqui
'só esta vez ... ) . Seria assim o caso de idealizar o citador por
excelência. Antes, porém, compriria, talvez, distinguir as obras
em que ocorrem citações. As de pura criação artística, por sua
própria natureza, dispensam, na tradição literária ocidental, o
aparato das citações explicitadas: frases, conceitos, passagens,
vocábulos alheios são invocados num texto ou num contexto, con-
forme sejam reproduzidos, verbum ad verbum, ipsis verbis, ipsis
litteris, ou livremente - no original ou em traduçã<2 -, ou mera-
mente glosados, sem que, embora muitas vêzes ocorrendo, se im-
ponha realce material caracterizador. ~sse realce material não
será, em si, o elemento que evite a pecha eventual de imitador,
de plagiário ou equivalente; doutro lado, em obra de arte literá-
ria, uma fugidia alusão é bastante para que o leitor inteligente
- que todos o são. . . - compreenda que há · na passagem algo
alheio que o autor invoca para a natureza de sua exposição - e mes-
tre MAcHAno DE Assrs, entre nós, exemplifica bem o processo, por
ter dêle lançado mão com eficácia, honestidade e adequação. Na
medida em que, porém, a obra literária saia do campo da criação
puramente artística e envereda, mais e mais, pelo campo da
técnica e da ciência especializadas, num esfôrço analít:co em que
a validade conceptual de cada têrmo, cada vocábulo, cada pala'vra
- e, com mais razão, cada premissa, cada silogismo, cada hipótese,
cada tese, cada demonstração - é fundamental para legitimar as
ilações ou o desenvolvimento ou as conclusões de uma exposição1
a atribuição de cada citação, alusão, referência, remm1scencia
torna-se mais -e mais obrigatória, fazendo-se, por vêzes, de tal
modo imperativa, que a sua omissão pode revelar desonestidade
ou gratuidade ou arbitrariedade ou pobreza, lógica, intelectual,
científica. Ademais, a sua atribuição torna-se elemento de afe-
112 ANTÔNIO HOUAISS

11íção para a atualidade, orientação, fidedignidade, validade da


exposição, pelas obras e autoridades invocadas ou deixadas de
invocar.
10 .1.1 Oitador ideal - O citador ideal poderia, talvez, nor-
tear-se por princípios gerais e constantes. Sem querer nem sis-
tematizá-los nem esgotá-los, os princípios, alguns dêles talvez sejam
êstes:
1.0 ) só citar quando necessário, é óbvio, isto é, quando, pela
natureza da exposição, a matéria citada se faz útil ou mesmo indis-
pensável como um dos elos de prosseguimento da inteligibilidade
do contexto; o necessário é, por fôrça, relativo, pois, segundo o
grau de desenvolvimento ou aprofundamento ou especialização
da exposição, uma citação pode ser indispensável ou dispensável;
assim, num livro didático de nível definido (como deve ter qual-
quer livro didático), uma citação não caberá, sem quebra de ·
coerência e harmonia da exposição, se entrar em particularidades
tais que a compreensão da citação se transforme em verdadeiro
problema não esteado pela própria exposição; reversivamente,
uma citação elementar poderá ser desnecessár~a, se o nível de
desenvolvimento da exposição presume o conhecimento por parte
do leitor de um mínimo em que a matéria da citação esteja im-
plícita; citações arbitrárias e assistemáticas, dêsse jaez, criam o
vício da incoerência interna numa exposição;
2. 0 ) só citar dentro da linha ideológica do desenvolvimento
da exposição; se a linha i(leológica se atém a questões relacionadas,
por exemplo, com a farmacologia, não há, de regra, como citar
a propósito da fundamentação gramatical de uma palavra, de
uma ciência cuja noção não esteja necessàriamente conexa com o
problema; a inadequação, nesses casos, agrava-se pelo perigo que
encerra de eivar um trabalho, eventualmente meritório no seu
setor, com defeitos oriundos do desconhecimento de outros setores
do conhecimento;
3.0 ) só citar exaustiva ou ricamente quando, por acaso, a
nposição tenha, ademais ou preferentemente, caráter de inicia-
ção, divulgação ou atualização de campo restrito ou amplo de
conhecimento especializado, evitando-se, destarte, o exibicionismo
de erudição, que antes atravanca do que facilita ou fundamenta
o encaminhamento da exposição; é claro que aqui também a noção
de atravancar é relativa, pois há obras em que, por sua natureza,
as citações são e devem ser freqüentes, e outras em que o devem
ser menos; num trabalho de crivo crítico sôbre conceitos emitidos
a propósito de um tema particular, é provável que as citações
se multipliquem, ao passo que num trabalho de ensaio inovador (le
ELE ·M ENTOS DE BIBLIOLOGIA 113

interpretação genérica o autor possa assumir deliberada atitude


de tabula rasa em relação a muitos escritos anteriores, atendo-se
exclusivamente aos que reputa, particularmente válidos através
dos tempos - caso em que as citações podem ser em número muito
mais reduzido.
lO .1.1.1 Didàticamente, importa-nos distinguir espécies no
gênero ou rubrica geral de citação. É que, com efeito, por "citar"
e "citação" se entendem coisas que, neste momento, já não podem
ser englobadas. De um modo geral, pode ser descartado de nossa
cogitação, aqui, o que em estilística e em crítica literária entra
na categoria de "memória" (memória involuntária, memória vo-
luntária, memória associada, memória dissociada; memória visual,
plástica, sonora, verbal, situacional, narrativa etc.), na de "remi-
niscêneia", na de "alusão", na de "inspiração", na de "motiva-
ção", em suma,· na daqueles aspectos das "fontes" de uma obra
ou de um autor em que o material congregado, proceda de onde
proceder, não é, consciente e lúcida e voluntàriament~ trazido à
colação na sua integridade formal e/ou na sua fiel e fidedigna
integridade nacional. É, quando existe na vontade do autor a
determinação de se abonar em passagem anterior (a) em sua inte-
gridade formal e/ ou (b) em sua_ fidelidade e fidedignidade na-
cional, que se criam as condições para o mecanismo da citação
lato sensu.
10 .1.1. 2 Há, pois, dois tipos de citação: a citação formal e
a citação conceptual, ocorrendo no primeiro caso a reprodução do
vocábulo, passagem, local, trecho, excerto, texto com as caracte-
rísticas materiais, formais, da parte de onde se faz a citação,
ocorrendo no segundo caso a reprodução fiel das idéias da fol\te
de onde se faz a citação, - mas, num caso como noutro, ocorren-
do, ademais, na vontade e na realização do citador, indicação da
fonte, do local, sua localização, sua referência, em suma.
10 .1.1. 3 Caberia, aqui, distinguir alguns conceitos: "citar/
citação", "referir/referência", "louvar-se de, em", "aludir/alusão",
"reportar-se", "reminiscência", "plágio/plagiar", "imitarI imita-
ção", "decalcarI decalque", "p,astiche/pastichar",. "paráfrase/pa-
rafrasear", "mistifório;mistificação/mistificar", "inspirar-se/ ins-
piração" ...
10 .1.1. 3 .1 Citar é reproduzir palavra, oração, frase, sentença,
período, parágrafo, trecho de um autor ou obra; os elementos
citados constituem a citação. A citação pode ser, (a) do ponto
114 ANTÔNIO HOUAISS

de vista da língua, no original (por transcrição ou por translite-


ração), ou em tradução (direta ou indireta) e, (b) do ponto de
vista da fonte,- direta ou indireta.
10 .1.1. 3. 2 Uma citação é no original quando é feita na língua
mesma em que foi vazada - grego, latim, inglês, francês, alemão,
sânscrito, russo, árabe, hebraico. . . - . O grau de cultura lingüís-
tica ou poliglótica presumido pelo consenso geral no autor e, por
parte dêste, nos seus leitores eventuais, é o guia por excelência
do fato de a citação poder ser no original ou por tradução. Más
há, além disso, a limitação dos parques tipográficos. É que nem
sempre se dispõe de um parque com caracteres gregos, menos
ainda árabes ou hebraicos, menos ainda sanscríticos, para citação
original por transcrição, isto é, na língua e alfabeto originais.
De modo que - em devendo ou querendo citar no original de ·
línguas escritas com caracteres de difícil obtenção - se poderá
adotar o recurso da chamada transliteração - que consiste no
estabelecimento de uma convenção fixa pela qual os caracteres de
um alfabeto são equiparados aos caracteres de outro alfabeto.
10 .1.1. 3. 3 Uma citação é por tradução quando é feita em
língua que não a em que a mesma foi originalmente vazada. Se
um autor brasileiro cita um trecho em língua estrangeira, além
da hipótese da citação no original, anteriormente considerada, tem
a alternativa de citar na língua em que já se acha traduzida a
citação, inclusive o portu'guês, ou traduzi-la para o português.
Tanto num caso como no outro a referência bibliográfica da fonte
serve para esclarecer se a tradução é ad koc (pois a referência
é ao original) ou se a tradução é de outrem (pois a referência
dirá, também, quem traduziu o livro referenciado). Há casos,
entretanto, em que o autor deverá deixar bem claro que a tra-
dução é sua, quando a tradução implica um problema. de inter-
pretação.
10 .1.1. 3. 4 Uma citação é direta quando é haurida na própria
fonte, isto é, na obra. mesma de cujo texto faz originalmente
parte. A citação direta pode ser no original ou por tradução.
Uma. citação é indireta quando é haurida. em fonte que não seja
a obra de cujo texto fa.z . originalmente parte. Uma citação dêsse
tipo poderá ocorrer por comodidade ou por contingência. Por
comodidade, quando o citador, querendo louvar-se da citação, mas
não tendo tempo de ir cotejar ou verificar a fonte original, acei-
ta-a tal como aparece no texto intermediário. Nesse caso, é de
todo o rigor científico só adotar êsse recurso quando se presume
:doneidade por parte do autor intermediário e quando, de forma
ELEMENTOS DE BIBLIOLOGIA 115

notória, a fonte original é de acesso de certo modo difícil; seja


por que fôr, porém, a referência de tais citações deve conter
sempre a conhecida preposição latina apud, com o que se resolve
a circunstância de que qualquer erronia de citação fica por conta
do autor intermediário; mas não se resolve nunca, com êsse re-
-curso, o fato de que se pode montar todo um raciocínio sôbre a
erronia. . . A omissão do apud, de outro lado, pode "embelezar"
a "erudição" do citador, mas pode, também, desmoralizá-lo cien~
tlficamente, pois não raro ocorr.erá que deformações do texto in-
termediário possam passar para o seu texto, e, com encobrir o
intermediário, se desmascara ante os estudiosos mais idôneos com
aproveitar-se - e mal - dos escritos alheios. Há porém, de
outro lado, citações indiretas por. contingência: citações de cita-
ções, bem ou mal ou especialmente feitas; citações de autores
antigos cujo texto (ou restos) só seja conhecido na tradiçãQ
cultural por citações que dêles fizeram certos outros autores -
o que não e raro entre os autores clássicos gregos e latinos, árabes
e hebraicos, sânscritos e chineses ...
10.1.1.2.5 Um recurso intermediário é representado por ci-
tação no original seguida de tradução - tradução já existente
de outrem, ou tradução do citador - ou representado por citação
de tradução seguida do original. :1!1sse recurso é via de regra
usado quando (a) a inteligibilidade do original citado pode ser
objeto de dúvida de interpretação, caso em que o citador, ao
fazer seguir a citação original de outra por tradÜção, se louva
desta para encampar sua maneira de interpretar o trecho citado;
(b) o citado r presume que, embora para muitos de seus leitores
a citação no original pode ser suficientemente clara e inteligível,
para outros leitores, porém, também eventualmente interessados
nos seus escritos, ela não o será.
10 .1.1. 3. 6 Referir ou referência são - especializadamente,
pois ocorrem êsses vocábulos como sinônimos de citar e citação
respectivamente - referir e referência são os elementos que se
indicam ao leitor para localizar idéias na sua fonte - direta ou
indireta. Pode-se dar referência não apenas de uma noção mas
também de um trecho, passagem, capítulo, livro, quando, não
tendo havido no trecho, passagem, capítulo, livro em aprêço cita-
ção propriamente dita, as idéias ali contidas se baseiam em grande
parte nas obras e autores de referência. É nesse sentido que é
de rigor, após citar, vir a referência pura, enquanto neste caso a
· referência deve sempre vir antecedida de "Cf" ou "cf. ", isto
é, "confira/ confiramjconferejconferi/confira-se/confiram-se" ou
116 ANTÔNIO HOUAISS

confer.fconferte, ou antecedida de "u." ou "v.", ou "uid.", ou


"vid.", ou "ver", isto é, uide/uidete, videjvidete, ou "veja/ve-
jam", "vê/vêde", "veja-sejvejam-se" ...
10 .1.1. 3. 7 l?or "louvar-se de, em" entende-se o fato de que
um autor se socorreu - por citação seguida de referência, por
mera referência, por alusão', por reminiscência, por quaisquer
recursos, enfim, explícitos ou implícitos - de obras ou autores
convenientes ... ou inconvenientes aos seus argumentos, objetivos
c fins. Entretanto, o autor que se louve de obras ou autores
deve, se possível, dar-lhes referência ou fazer-lhes alusão, em
caráter mais ou menos preciso, segundo se louve em caráter
mais ou menos preciso. Louvar-se, por exemplo, das ca-
tegorias lógicas formais de Aristóteles nem sempre, quase nunca,
supõe a sua menção dêle i louvar-se de suas idéias genéricas sôbre
a arte como imitação, supõe, já, eventualmente, menção dêle i
louvar-se de uma passagem sua, supõe já, necessàriamente, sua
referência i louvar-se de um trecho preciso é já citação, que deve
ser feita com a referência adequada.
10 . 1.1.3.8 "Aludir/alusão" é o "louvar-se" em caráter o
mais genérico possível. Alude-se a obras ou a autores, quando
se supõe, por parte do leitor, um certo conhecimento das idéias
centrais das obras ou autores aludidos, sem que o desenvolvimento
da exposição presuma a necessidade de maior objetivação.
10 .1.1. 3. 9 "Reportar-se" é expressão inespecífica para citar,
referir, aludir, e mesmo para a reminiscência, o plágio, a imitação,
o decalque, o pastiche, a paráfrase, a inspiração, o mistifório.
10 .1.1. 3.10 Os demais conceitos.- reminiscência, plágio, imi-
tação, decalque, pastiche, mistifó.!'io, paráfrase, inspiração e afins
- são da estilística, · da técnica de estruturação de uma obra lite-
rária, da crítica e da história literárias, supõem o estudo das
fontes das obras ejou autores, entenda-se das suas fontes ideoló-
gicas, conceptuais, imagísticas, estilísticas e - com larga contro-
vérsia ainda - são objeto de estudo cujo resumo ou referência
não cabem aqui, importando, tão-somente, ressaltar que nesses
estudos se visa a demonstrar, dentre outros "milagres" da cria~:ão
literária, o caráter voluntário ou involuntário do recurso, cons-
ciente ou inconsciente, ostensivo ou secreto, da imposição deli-
berada de uma falsificação ou não, de pilhéria com · o público ou
não, e é o aspecto da obra que contra-regra com o da autoria,
ostensiva, sabida, histórica, certa, duvidosa, problemática, enigmá-
tica, controversa, atribuída, criptonímica, pseudonímica, anoními-
ca, sinonímica, paronímica ...
ELEMENTOS DE BIBLIOLOGIA 117

10 .1.1. 4 Há, destarte, três questões conexas com a citação :


(a) a da referência; (h) a da caracterização material do que é
citado, seu realce material, visual, tipográfico, pois ; (c) a da
reprodução do que é citado - , sendo que aqui _cogitaremos, por
ora, tão-somente da segunda questão, reservando a primeira para
quando tratarmos da organização da lista de "obras consultadas"
para a elaboração de um livro, problema afim do da bibliografia,
e lembrando que a segunda se integra nos capítulos de ecdótica
já anteriormente examinados, mas que ainda serão aqui ligeira-
mente aflorados.
]0.2 CARACTERIZAÇÃO MATERIAL - A caracterização material
do que é citado, seu realce material, visual, tipográfico, pode ser
feita: (a) por aspas; (h) por mudança de corpo, família, gênero
ou desenho do tipo; (c) por brancos - interliterais ( intravocabu-
lares), intervocabulares, interlineares, marginais; ( d) pelo com-
binatório de dois dos recurs<_>s anteriores (a e b, ou a e c, ou
b e c).
10.2 .1 .Aspeamento - Na tradição da língua portuguêsa es-
crita, as aspas - até meados do século passado ditas sobretudo
"vírgulas dobradas" - ( « .... :. ou « .... :. ou " . ... " ou " .. .. , ),
ditas também, desemparelhadas, aspas de abrir ou abrir aspas e
aspas de fechar ou fechar aspas, vêm sendo usadas como o ele-
mento de r.ealce material por excelência para a citação. Trata-se,
em verdade, porém, de um recurso pobre, dadas as outras funções
que lhe são atribuídas, importando, em certas obras de riqueza
refere~cial e de rigor oponencial, distinguir as diversas funções
possíveis. Por esta circunstância, em lugar de tratar das aspas
na sua função de realce material de citação apenas, tratemos dos
~us tipos e usos diversos.

lO. 2 .1.1 Antes de mais nada, quaisquer que sejam as formas


e posições relativas das aspas (aspas pontudas: « . . . . :. ou < . ... ,
ou mesmo « .... :. , e aspas redondas: " . .. . " ou " .... , ou mesmo
" ... . " ou ainda aspas retas), importa distingui-las em dois tipos
apenas - as aspas simples (de abrir e de fechar, pontudas ou
redondas ou retas): < •.•• > ou < •.• • > ou < .... >,e' . . . . ' ou ' .... ,
ou , . . .. ' ) e as aspas dúplices (de abrir e de fechar pontudas
ou redondas ou retas. Normalmente, uma fonte tipográfica apre-
aenta duas parelhas : a parelha (de abrir e fechar) simples e a
parelha (de abrir e fechar) dúplice, o mesmo ocorrendo, de regra,
na dactilografia, que de, em posição de maiúscula (sôbre a tecla
"8" e "2" respectivamente), nos fornece a parelha ' ... ' e " .. .. ".
118 ANTÔNIO HOUAISS

lU. 2 .1. 2 Decorrentemente, pode-se usar de dois tipos de aspas,


H:s simples e as dúplices. Dentre os tipos em causa um é parti-
cularmente pouco recomendável e deveria ser, eventualmente,
ubolido dos desenhos dos caracteres móveis, é o da parelha simples
redonda, mas sotoposta, por gerarem-se, com vírgula seqüente, si-
mações ambíguas ou aparentemente falsas.
10.2.1.3 Na prática mais encontradiça em tipografia no Brasil,
desconhecem-se outras aspas que não as dúplices, e com elas dis-
tinguem-se (isto é, precisamente não se distinguem):
a) a citação: "Vai-se a primeira pomba despertada";
b) a citação em citação: "O declamador começou por
·' Vai-se a primeira pomba despertada" e calÔu-se sem razão
aparente";
c) a caracterização vocabular exemplificativa: As palavras
são três, "virtude", "saber" e "agonia";
d) a carga irônica, pitoresca, expressiva: Mas isto não é
"isto" não, meu velho, "isto" são outros quatrocentos réis.
10. 2 .1. 4 Os regimes possíveis para uma qualquer das pare-
lhas consideradas (dúplices e simples) são:
a) no primeiro regime, as aspas dúplices se usam para abrir
c fechar citação - qualquer que seja a língua em que é feita,
quer em original, quer por tradução, quer em caracteres originais,
quer em caracteres transliterados, já para a caracterização voca-
bular exemplificativa, já para a carga expressiva, enquanto as
aspas simples se usam para a citação em citação;
b) num segundo regime, as aspas dúplices se usam para
abrir e fechar citações, enquanto as aspas simples se usam já
para a citação em citação, já para a caracterização vocabular
exemplificativa, enquanto para a carga expressiva se retorna ao
uso das aspas dúplices;
c) num terceiro regime, as aspas dúplices se usam pata
abrir e fechar citações, enquanto as simples se usam já para cita-
ção em citação, já para a caracterização vocabular exemplifica-
tiva, enquanto para a carga expressiva se usa do grifo ou itálico
(que normalmente caracteriza o emprêgo de vocábulos ou expres-
sões estrangeiras, não citados, mas empregados como recurso ex-
pressionai) ;
d) num quarto regime, as aspas · dúplices se usam para abrir
e fechar citações, enquanto as simples se usam já para citação
em citação, já para caracterização vocabular exemplificativa
quanto ao sentido, enquanto o grifo é usado para a caracterização
vocabular exemplificativa quanto à forma (juntamente com os
ELEMENTOS DE BIBLlOLOGIA 119

-vocábulos e expressões estrangeiras empregados como recurso ex-


pressionai), enquanto a carga expressiva univocabular se carac- '
teriza com aspas dúplices. ·
10.2 .1. 5 Embora outros regimes possam ocorrer, poder-se-ia,
talvez, normalizar o emprêgo das aspas dúplices exclusivamente
para as citações, única e tão-somente, em quaisquer línguas, já
no original, já por tradução, dispensando-as, entretanto, quando
transcritas em caracteres originais não latinos, salv(! se os caracte-
res em causa sejam usados em vocábulos empregados freqüente-
mente no texto como recurso expressional. Por conseguinte, as
aspas simples limitar-se-iam aos seguintes usos: (a) para carac-
terizar citação em citação; (b) para caracterizar vocábulos com
carga expressiva ; (c) para · palavras e expressões portuguêsas
.empregadas como exemplificação nocional, cenceptual, terminoló-
.gica, semântica.
10.2 .1. 6 Destarte, o grifo confinar-se-ia à caracterização de:
(a) palavras e expressões estrangeiras usadas como r ecurso ex-
pressionai; (b) palawas e expressões portuguêsas empregadas
como exemplos formais (vocábulos propriamente ditos).
10. 2 .1. 7 O uso das aspas dúplices para realçar materialmente
uma citação tem o seu limite de emprêgo a partir do ·momento
.em que a largura da citação esbate a percepção visual (e mnemô-
nica) do campo citado compreendido entre as aspas dúplices de
:abrir e de fechar. A partir ftêsse momento, isto é, a partir do
momento em que a citação passa a ser de um trecho, o que por
vêzes se diz extratação, ou citação ou reprodução in extenso, já
a parelha de aspas dúplices não basta. É então que sobrevém a
oportunidade de nôvo tipo de realce material - já o de mutação
de corpo, família, gênero, desenho de tipo, já o de uso do branco.
10.2 .1. 8 Não nos esqueçamos, porém, de que prática relativa-
mente recente não recorria à mutação referida, raro ao uso de
branco. As aspas dúplices eram ainda usadas para êsse fim eom
a seguinte particularidade:
1.0 ) o trecho, largo, citado era iniciado por aspas de abrir;
2. 0 ) a cada nôvo parágrafo se reiteravam as aspas de abrir,
3.0 ) as aspas de fechar só ocorriam ao cabo do trecho;
0
4. ) a citação dentro da citação era também iniciada por
aspas de abrir, em geral duplices, mas ao início de cada linha
tipográfica dessa citação dentro de citação repetiam-se, aspas, em
geral dúplices, de abrir.
120 ANTÔNIO HOUAISS

10.2 .1. 9 Episõdicamente, também, ocorriam citações longas


(:'m que ao início de cada linha tipográfica se repetiam as aspas
dúplices de abrir - quando então não havia como distinguir a
citação dentro de citação senão por mutação de tipo ou p.or jôgo
de brancos.
10.2 .1.10 A mutação de tipo, pura e simplesmente, isto é,
sem combinação do branco recorrido, já por corpo apenas, já por
família, gênero, desenho do tipo, é de emprêgo muito ocasional
para efeitos de realce material de citação. No caso de mudança
de corpo, isso acarreta, via de regra, a necessidade de parques
tipográficos ricos, pois via de regra se imporá a distinção do corpo
normal do texto, do corpo de citação (eventualmente, ademais,
do corpo de citação dentro de citação) e do corpo de notas ao
rodapé - o que dificulta, de certo modo, o trabalho de composi-
ção, sem falar na apresentação estética da mancha, que poderá,
em certos casos, parecer tumultuária. A mutação de família e
gênero é menos recomendável ainda, por confusões que podem
decorrer com funções outras que não o de citação atribuídas ao
recurso de mutação de família e gênero. Quanto à mutação de
desenho, as dificuldades tipográficas são ainda maiores, pois se
trata, nesse caso, de fontes diferentes. Por êsses motivos, ainda
que com exemplos veneráveis e eficazes de recurso à mutação
sem jôgo especial do branco, proscrevemos - um pouco arbitrà-
riamente, convimos - o tratamento dêsse . aspecto, ousando não
recomendá-lo à tipografação moderna no Brasil, no que corres-
pondemos a uma tendência geral no mundo.
10. 2 .1.11 Uma exceção, talvez, caiba, e esta é a que se rela-
ciona com o chamado grifo alemão, ou o espacejado, ou o espace-
jamento, consistente essencialmente no aumento duplicado rela-
tivo dos brancos intervocabulares e dos brancos interliterais no
trecho da citação. É recurso que pode ser acompanhado ou não
do aspeamento dúplice, mas tem contra si duas limitações:
1. 0 ) funcionalmente, o grifo alemão se destina, na tradição
tipográfica, ao realce com carga expressiva nas fontes pobres de
grifo ejou de negrita, não sendo, por isso, em regra usado para
a função de realce material de citação;
2.0 ) na articulação do prêto no branco da mancha da pá-
gina sua recorrência freqüente desmonta o equilíbrio da mancha,
devendo, pois, ser de uso muito limitado.
10. 2. 2 Uso do branco - De tudo o que vimos vendo, decorre,
na moderna tipografia, a vantagem do uso do branco nas citações
longas, ou extratações. Como já _vimQ.s, os brancos podem ser (a)
ELEMENTOS DE BIBLIOLOGIA 121

interliterais ou intravocabulares, (h) intervocabulares, (c) interli-


neares e ( d) marginais:
a) os brancos interliterais ou intravocabulares são o chama-
do grifo alemão, ou espacejado, ou espacejamento; tais brancos
são, õbviamente, relativos; e o espaço em branco regular médio,
se de 1/ 5 ponto tipográfico, o branco interliteral de realce poderá
ser de 2/5 ou 3/5 pontos tipográficos, para caracterizar-se sufi-
cientemente; decorrência natural do uso dos brancos interliterais
de realce é que o branco médio intervocabular deve, automàtica-
mente, ser aumentado; assim, se a composição intervocabular
normal e mediamente Jôr de 1/2 a 2/3 pontos - via de regra,
não uniformes, mas flutuantes entre determinados limites máximo
e mínimo, para obter-se a justificação da linha - os brancos
intervocabulares de realce poderão ser entre 4/5 a 1Yz pontos;
escusa, entretanto, ressaltar que o emprêgo do grifo espacejado
não é muito freqüente nos livros modernos, impressos em francês,
inglês, espanhol, alemão, russo, português, tendendo, mesmo, a
desaparecer da tipografação moderna;
h) os brancos intervocabulares especiais sós poderão também
servir de realce material para uma citação longa; é recurso de
parque tipográfico pobre e deve, por desequilibrar o jôgo do
prêto no branco da mancha, ser comedido, se não evitado na mo-
derna tipografação ;
c) os brancos interlineares - o entrelinhamento relativa-
mente maior ou menor, sem modificação de corpo, gênero, família,
desenho de tipo - é recurso relativamente mais freqüente que os
anteriores; e em geral se estrutura em relação com o corpo do
tipo: se uma composição regular fôr de corpo 8, isto é, 8/8, isto
é, ôlho de medida 8 sôbre tronco de medida 8, o branco inter-
linear de realce poderá ser de corpo 8/10 ou 8/12; entretanto,
ao revés, se a composição regular fôr de 8/10 ou de 8/ 12, o branco
concentrado interlinear de realce poderá ser de 8/ 8 ou 8/ 10
respectivamente, ou mesmo 8/8, para ambas as hipóteses; cumpre,
porém, ressaltar que se verificam hipóteses mais simples, como a de
composição 8 com citação de corpo 6, guardando ambas o interli-
neamento típico do corpo 8 e do corpo 6, respectivamente; ma•
lembremos que, nas condições gerais aqui configuradas, se a
citação não se destacar da composição regular por transiç~o de
linha, na linha inicial e na final em que os dois corpos se mis-
turarem, assim como na entrelinha entre ·a inicial e a _segunda, e
a final e a anterior, poderá ocorrer uma irregularidade de ·branco
interlinear típica e canhestra; e dentre os recursos interlineares
para as citações longas, há um ainda - que não se recomenda
122 ANTÔNIO HOUAISS

(a)quando ultrapassa de ~ais de uma mancha de pagma (pois


o leitor pode esquecer-se do início da citação) ou (b) quando
<ioincide com uma mancha de página (pois nesse caso, a rigor,
o interlineamento especial se dilui e confunde com as margens
superior e inferior) -, há ainda, repitamos, um mero interlinea-
mento maior no início e outro no fim da citação;
d) os brancos marginais são de duas feições - ou se entra
pela margem esquerda (do observador da mancha, na manch~
em caracteres sinistro-destros) ou se entra por ambas as margens
laterais; é, sem favor, o mais eficaz realce material para as cita-
ções longas, porque lhes dá evidência sem ambigüidades e, ade-
mais, dispensando as aspas dúplices iniciais e finais, . permite que
as citações dentro das citações assim como todos os realces ma-
teriais usados no trecho citado sejam integralmente respeitados;
permite, ademais, que com o mesmo corpo, gênero, família, dese-
nho do tipo, se obtenha a caracterização gráfica da citação, em-
bora, aqui, ocorra um fenômeno natural de compensação : é que,
escolhido o tipo da composição ordinária para uma linha de de-
terminada longura, a redução dessa longura acarreta, via de
regra, a necessidade de um tipo de corpo menor que melhor se
entro.se com essa longura menor.
1() ~. 2.1 Os recursos combinatórios são mais ou menos óbvios;
pode-se, cumulativamente, pôr o trecho citado entre aspas dúpli-
ces, em corpo menor, com entrelinha correspondente ao corpo, com
destaque interlinear inicial e final, com entrada com branco
marginal esquerdo e, mesmo, com branco marginal direito. Mas
não há, em casos tais, como especular, pois verifica-se um esban-
jamento tal de recursos cuja função é semelhante, que cessa a
função, desaparece sua realidade e entra o puro .a rbítrio ou
capricho em cena.
10.2. 3 Citação de versos - Problema afim com o que vimos
considerando é o da citação mais ou menos freqüente de versos,
sobretudo na ensaísÍica estilística poética. Tr.a ta-se de uso quase
compulsório dos brancos, pois a longura das linhas fica estreita-
mente na dependência da longura dos versos. Em casos tais, é
de rigor um destaque de branco marginal à esquerda. Essa en-
trada à esquerda pode acarretar, em versos longos, a ruptura de
alguns dêstes com o sotolineamento do seu resto, sotolineamento
antecedido, de regra, de um cólchête de abrir ( [), sotolineamento
não raro com interlineamento menor, para evitar, sobretudo no
chamado libremetismo, confusões entre versos e restos de versos.
Para afastar semelhantes rupturas - que alguns artistas gráficos
reputam, entretanto, graciosas, quando não belas, e por isso pro-
ELEMENTOS DE BIBLIOLOGIA 123

curadas, o que é um ponto de vista com o qual o autor destas


linhas, muito p~oalmente, não concorda - para afastar seme-
lhantes rupturas, a composição dos versos citados se fará, assim,
em corpo menor, com branco marginal esquerdo caracterizador de
citação de versos, com brancos marginais direitos assimétricos tí-
picos das longuras gráficas várias dos versos e, mais, com branco
interlinear inicial e final da citação, para enquadramento desta.
Psicologicamente, porém, o mecanismo gráfico da citação dos ver-
sos pode ser outro ; por hi_pótese, o ensaio versa sôbre poemas de
medida curta, que, de regra, se perderiam, visualmente, se ado-
tados os recursos todos acima refer!dos; poder-se-á, neste caso;
manter o corpo da composição ordinária, já que a caracterização
visual dos versos se ob.t erá pelos recursos restantes, e poder-se-á
mesmo adotar um corpo maior de realce - com que o ensaísta,
modestamente, poderá querer ressaltar que o principal é o citado
e não o seu ensaio ...
10.2.3.1 Ainda com relação à citação de versos, é bom lem-
brar que dois fenômenos podem ocorrer:
1.0 ) a citação tem caráter episódico, importando, dos versos
citados, fundamentalmente os seus conceitos - caso em que a
citação poderá ser feita em texto corrido entre aspas dúplices,
como prosa, texto corrido em que os limites finais (e iniciais) dos
versos não sejam marcados;
2.0 ) a citação tem caráter episódico ainda, mas importa,
porque a pontuação original dos versos é, à maneira da prosa,
deficiente, marcar os limites finais (e iniciais) dos versos, caso
em que isso se poderá fazer com a barra oblíqua (/), o todo
entre aspas dúplices.
10. 2. 4 u Lição" das citações - A citação é objeto de um
problema, por assim dizer, ecdótico, de porte menor. Na essên-
. cia, o citador éstá, em face do texto que va.i citar, como o editor-
de-texto em face do texto que vai editar. Importa, assim, ao
citador compreender que (a) deve ser fidedigna a reprodução
que vai fazer da citação, (b) verificar, para tanto, se é fidedigna
a fonte, isto é, o texto donde vai citar, e, (c) por fim, se a sua
transcrição é fiel, isto é, se há fidelidade à fidedignidade.
10.2.4.1 Ocorre, entretanto, a poSISibilidade ·- ou mesmo
necessidade - de o citador, na sua argumentação ou abonação,
não necessitar da .citação na íntegra ou no seu teor ipsis titteris
ou ipsis t•erbis. Nesse caso, como vimos, deve usar de signos (a)
indicativos .de cortes na citação, (b) · indicativos de acréscimos na
citação é, eventualmente, (c) indicativos de modificações na ci-
<
124 ÃNTÔNIO HOUAIS!il

tação. Em suma, o corpo da citação, mais objetivamente, o corpo


do trecho citado, pode ser objeto, por parte do citador, de cortes,
ou de acréscimos - adaptadores ou esclarecedores.
10. 2. 4. 2 Os cortes só se justificam quando não trunquem,
nem direta nem remotamente, o essencial da formulação encerra-
da na citação - pois de outro modo o corte, mesmo quando não
tenha sido essa a intenção do cnador, poderá induzir a julgamento
de ausência de espírito crítico, de compreensão, de inteligência . . .
ou de excessiva inteligência safada, vale dizer, má-fé, a de querer
vestir pro domo sua argumento que nada tem que ver com o peixe
ou, se o tivesse, seria contra o peixe. . . Não há critério fixo
para a figuração dos cortes nas citações, variando os critérios não
pouco. A matéria poderia, entretanto, ser normalizável - par-
tindo do princípio de que os cortes podem ser simbolizados por
combinações de três pontos ( ... ) insertos entre brancos no texto
citado, por oposição aos acréscimos, que v.eremos a seguir, simbo-
lizados por virem, sempre, entre colchêtes ( [ ] ) . Num único
caso o corte viria entre colchêtes pontudos ( < >), a saber,
quando a palavra, palavras ou parte da citação não fôssem pro-
priamente cortadas mas a formulação citada deveria ser enten-
dida sem o trecho em colchêtes pontudos. Normalizar-se-ia, des-
tarte, os cortes de citação na seguinte conformidade, sempre
observando o espaço em branco especial antes e depois do simbo-
lizador do corte e compreendendo por "palavra" os artigos, pre-
posições, substantivos, adjetivos etc., em suma, vocábulos grafados
autônomamente, mas não ·os ligados por hífen:
a) corte de uma palavra: "veio ... , então, dizer o que lhe
pareceu melhor" por "veio ela, então, dizer o que lhe pareceu
melhor";
b) corte de duas palavras seguidas : "veio·. . . dizer o que
lhe pareceu melhor", por "veio ela, então, dizer o que lhe pareceu
melhor";
c) corte de três palavras seguidas : "veio, ela, então dizer ...
melhor", por "veio, ela, então, dizer o que lhe pareceu melhor";
d} corte de quatro, cinco, seiS, palavras seguidas, com a
interposição de quatro, cinco, seis pontos, respectivamente ;
e) corte de sete a dez palavras, com a interposição de duas
seqüências de três pontos - . . . . . . - ;
f) corte de seção de linha, seguido de uma, duas, três ou
mais linhas inteiras cortadas e seção de linha, com a interposição,
pela seção de linha, de três pontos, e a cada linha cinco pontos,
com brancos intermédios - . . . . . . . . . . . . . . . . . . • •.
ELEMENTOS DE BIBLIOLOGIA 12"5

g) corte inicial de trecho, para marcar que o trecho não


se apresenta com a relativa autonomia conceptual com que é ci-
tado, com anteposição -tão-sõmente de três pontos: " . . . vir ela
risonha", por "vi vir ela risonha";
h) corte final de trecho, para marcar que não se apresenta
ou com a relativa autonomia conceptual com que é citado ou
com o truncamento com que é citado: "via ela ... ", por "via ela
chegar";
i) corte de compreensão orientada mas controlada, já de
· letras, já de palavras, já de trecho: "o apóte<g>ma é óbvio" por
"o apotegma é óbvio" (entender-se-ia, neste caso, que o citador,
ao propor o corte da letra, mudaria completamente o sentido do
trecho citado, mas o fazia a sabendas · do leitor, que poderia in-
clusive controlar a legitimidade do corte proposto); "o apêndice
<juntado> é funcional" (em que o citador como que quereria
mostrar, de um lado, que o "juntado" era desnecessário ou era
possível glosa não original); "seria o caso, <mas não estou certG
· do que afirmo,> de considerar os fatos nessa conformidade" (em
que o citador, já agora, não encampou a dúvida ainda justificá-
vel no autor citado).
10. 2 .4. 3 Os acréscimos do citado r na citação devem ser limi-
tados ao mínimo, a fim de preservar a citação de possíveis equí-
vocos. Não incluímos, dentre acréscimos, expressões em que,
abertas as aspas dúplices e iniciada a citação, o citador interfere
com expressões do tipo "acrescenta", "diz êle", e afins, expressões
que cabem melhor fora da parelha de aspas dúplices: " .... ", e
acrescenta, " ... ". =msse tipo de interpolação em citação deve,
aliás, ser sistemàticamente evitado nas citações realçadas com
entradas laterais, quando então a interpolação deve ser locali-
zada em início de linha na margem esquerda regular, passando-se
à margem especial da citação logo a seguir. É, até, aconselhável
o recurso a tais interpolações episódicas, quando a citação é de-
masiado longa, a abarcar mais de mancha inteiriça de página, a
fim de servir de lembrete visual de que se está em face de citação:
Os outros acréscimos em citação podP.m ser, como dissemos, (a)
adaptadores ou (b) esclarecedores.
10.2. 4. 4 Os adaptadores consistem em mudar flexões de pa-
lavras do trecho citado para que se harmonizem com o contexto
em que se integrem, pór exemplo, "é nosso dever o 'conhece
[rmo-]-te[-nos] a ti [nós] mesmo[s] ', segundo Sócrates", em que
ao "conhece-te a ti mesmo" se fizeram modificações que permitem
a individuação do aforismo na sua forma consagrada em por-
!26 ANTÔNIO HOUAISS

tuguês e na forma conveniente ao contexto. Pelo que se vê


do exemplo, essa adaptação, a rigor, se faz por acréscimo ou por
<!orte, mas o que a caracteriza é, essencialmente, o uso de colchê-
tes para deixar claras as adaptações.
10.2. 4. 5 Os acrésc!mos esclarecedores são, também, marcados
pelos colchêtes e têm funções várias; por exemplo, com sic entre
colchêtes o citador quer ressalvar qualquer particularidade do
texto citado, que, encerrando aos seus olhos êrro ou anomalia que
o seu leitor lhe possa atribuir, fica destarte p\ôsto à conta da
responsabilidade do autor citado. O mesmo se pode fazer com
[ !] para indicar admiração, ênfase, importância quanto a um
pormenor da passagem citada, com [f] para indicar dúvida
quanto a um pormenor. Por fim, é freqüente, numa citação, o
citador grifar passagem que reputa particularmente valiosa para
o seu raciocínio, passagem que entretanto está., na fonte de onde
se faz a citação, em normal; nesse caso, o citador costuma (e
deve) pôr um esclarecimento do tipo - [o grifo é meu], [o grifo
não é do original] e até, para evitar dúvidas, [o grifo é do ori-
ginal], [o grifo é da fonte].
10. 3 REMISSÕES - Sob o título geral de remissões importa
considerar os seguintes aspectos: (a) remissões bibliográficas no
texto; (b) remissões recíprocas ou reportativas no texto ; (c)
remissões ao· rodapé ou às margens; (d) remissões ao fim do
·capítulo; · (e) remissões ao fim do livro; (f) remissões aos ín~
dices. De um modo gerlll, ainda, importa considerar que as re-
missões, quaisquer que sejam elas, originam, via de regra, as
chamadas notas - notas no texto (a e b supra), notas de rodapé
ou notas marginais (c supra), notas de (ou ao) capítulo ( d
$Upra) , notas de (ou ao) livro (e supra), notas de (ou ao) índice
(f supra).
10. 3 .1 Importa, porém, ainda, distinguir, nesses casos todos,
três elementos : os dois que estabelecem a conexão de um local
com o outro do livro, e aquêle que no segundo local aparece como
texto, elemento êste que não aparece sempre. Por exemplo, numa
página n pode ocorrer, no texto, um asterisco, que é reiterado -
admitamos - no rodapé da página, e a êste se segue algum
esclarecimento verbal. Temos, destarte, nas remissões quase sem-
pre três elementos distintos: (a) a remissiva, que remete ao local
onde vai aparecer o esclarecimento; (b) a comissiva, que esta-
belece o enlace com a remissiva no local onde aparece o esclareci-
mento; (c) a nota, apêndice, anexo, ou que outro nome venha a
ter, onde se estampa, antecedido .da comissiva, o esclarecimento.
ELEMENTOS DE BIBLIOLOGIA 127

Via de regra, dos tipos consignados em 10.3 supra, os de letra


a, b e f s6 apresentam os dois primeiros elementos, enquanto os
de letra c, d e e apresentam os três.
10. 3. 2 Nas obTas de arte literária são epis6dicas ou inexis-
tentes as remissões - e, ipso facto, as notas, genericamente fa-
lando. Tais remissões, em obras dêsses gêneros, aparecem quando
se trata de sua edição crítica, sobretudo no aparato crítico. Ainda,
assim, porém, uma obra de arte literária - romance, novela,
contos, poemas - pode comportar notas do pr6prio autor ou,
menos raras ainda, notas do tradutor. Nos poemas, onde são mais
raras, poderíamos, entretanto, citar exemplos eminentes, princi-
palmente no romantismo; mas fiquemos em dois exemplos ilustres
(embora notàvelmente diferentes): o O Uragum, de JosÉ BASÍLIO
DA Gnu ( cf. GAMA) e o do Prelúdio e elegia de uma despedlida,
de JOAQUIM CABD<>so (cf. CARD), ainda que neste último caso,
possivelmente para não desfigurar o texto, se tenha evitado es-
tampar as remissivas, o que se tornou factível por ser o livro,
inconsútil, relativamente pequeno.
10.3.3 Nas obras de ciências - naturais, soCiaiS , assim
como nas preceptivas - compêndios didáticos superiores e mé-
dios, menos freqüentemente, elementares - o aparato das remis-
sivas, comissivas e notas é, entretanto, mais ou menos rico. Como
localizá-las, como ordená-las, como interligá-las, como seqüenciá-
las - eis alguns dos problemas normativos e normalizáveis sus-
citados. A preliminar que cabe é observar que os tipos referidos
em 10. 3 não são, num livro, exclusivos. Com efeito, um livro
pode concomitantemente ter remissões no texto, no pé de página
(rodapé), na margem, em fim de capítulo, em fim de livro.
10. 3. 4 As remissões bibliográficas no texto são usadas em
obras de aparato bibliográfico, isto é, obras em que se balanceiam
as contribuições e pesquisas de vária prMedência em tôrno de um
tema particular, geralmente tratado de forma sistemática, orgâ-
nica. Neste caso, como certas obras são citadas abundante, rei-
teradamente no texto, em lugar de repetir-lhe as indicações de
referência a cada caso ou a cada caso reportar-se às referências
feitas antecedentemente (o que não raro confunde e desorienta,
por motivos que oportunamente referimos), em lugar disso costu-
llla-se seguir um dos dois seguintes critérios:
a) estabelecer-se, em determinada ordem, no fim do livre
(ou colaboração, ou seccionamento, sobretudo em obras de autoria
coletiva), a bibliografia tôda que é abonada no texto ; essa biblio-
1211 ANTÔNIO HOUAISS

grafia é, então, em cada uma das suas unidades, precedida de


uma sigla comissiva, sigla que no texto aparece como remissiva,
seguida ou não de uma numeração, que pode ser de página, pará-
grafo ou que outro elemento de estruturação tenha sido usado
pela obra louvada; destarte, quando num texto ocorrer, por exem-
plo,-" (UnCh, 159)" -,o leitor, vendo que tal remissiva não está
com contrapartida na margem, nem no roda~, nem no fim do
eapítulo, passará a ir, sempre, ao fim do livro, às-" obras consul-
tadas" (ou que outro nome possa estar tendo) e lá ·encontrará,
em ordem alfabética, numa primeira coluna, 'UnCh' e, logo a
seguir, provàvehnente· (na hipótese que estamos figurando) "Uni-
versity of Chicago, A Manual of Style... Chicago, Illinois, The
University of Chicago Press [1942] [remete-se aos parágrafos] '1
e assim saberá qual a obra a que se refere o autor e, mais, que
o local da remissiva, "159", não é o de página, mas o número do
parágrafo; pode servir de exemplo a obra Do latim ao português,
de EDWIN B. WILLIAMS ( cf. WILL), quanto ao uso dêsse critério;
b) estabelece-se, em determiJ!ada ordem, no fim do livro
(ou colaboração, ou seccionamento), ·a bibliografia tôda que é
abonada no texto, sendo cada uma de suas unidades antecedida
de um determinado número (em algarismos arábicos ou caracteres
romanos) ; as remissivas serão por meio dêsses números, seguidos,
quando fôr o caso, de outro, que poderá ser o de página, pará-
grafo ou que outro tipo de estruturação tiver a obra louvada.
10. 3. 5 As remissões . recíprocas ou reportativas no texto se
baseiam no princípio de que as elucidações ou temas particulares
ocorrentes num livro são, por economia e eficácia informativas,
feitas uma única vez ; se, porém, essas elucidações se faz necessá-
rio recordarem-se para a compreensão de um local do mesmo livro,
nesse local ocorre uma remissiva que envia ao outro onde se fêz
a elucidação desejada; destarte, as remissões reportativas podem,
a rigor, não ser recíprocas, pois, com efeito, no mesmo livro: (a)
de um local, pode-se remeter a outro anterior ; (b) de um local,
pode-se remeter a outro posterior ; (c) entre dois locais, pode 7se
reciprocamente remeter um ao outro, sendo, assim, os dois pri-
meiros casos meramente reportativos e o último propriamente
recíproco. As remissivas se limitam, via de regra, a indicações
do tipo "v. 47 supra", "v. 47 retro", "v. 47 infra", "·y. 47
adiante" e equivalentes.
10.3. 6 As remissões ao rodapé ou às margens supõe o jôgo
de um par de elementos de enlace, a remissiva e a comiss1va. A
primeira ocorre no textp, a segunda ou à margem (externa sem-
pre) ou ao rodapé, sendo as duas iguais. É junto à com:ssiva
ELEMENTOS DE BIBLIOLOGIA 129

que se faz o esclarecimento correspondente à nota. Nas condições


. da tipografação moderna, as notas marginais ou laterais vão em
crescente desuso, em favor das notas de rodapé (salvo em tipo-
grafação ~uxuosa ou de sabor classicizante). 1iJsse desuso decorre
de dois fatos - primeiro, porque o espaço para as notas laterais
é limitado e sua disposição tipográfica é relativamente delicada
e complexa, segundo, porque pode haver acavalamento de notas
laterais, terceiro, porque as notas laterais, modernamente, quando
usadas, são antes para fins indiciadores ou estruturadores, como
verdadeiros subtítulos de capítulos, ou subcapítulos, ou seções.
Quanto às notas de rodapé, podem-se reconhecer duas tendências
genéricas: uma, que delas faz largo uso, uso, inclusive, para· glosar,
esclarecimentos, comentários, apêndices, aditamentos ao texto;
. outra que, relegando as mais extensas, discursivamente falando,
- para fim de capítulo, parte ou livro, se limita a recorrer ao
rodapé para indicações sumárias de bibliografia, de remissão re-
portativa ou recíproca e pouco mais que isso.
10. 3. 7 As :remissões ao fim do capítulo, parte, livro, decor-
rem, pois, das considerações subjacentes do que vai dito acima.
10. 3. 8 As remissões nos índices, quando ocorrem, supõem
necessAriamente um dos ou os dois seguintes fatos: (a) que no
índice se acumulam, sob certa rubrica, todos os locais que devem
ser cotejados para a compreensão da passagem que é objeto de
uma remissiva, funcionando a rubrica do índice como comissiva
de nôvo remissiva .de vários locais do livro relacionados com o
particular; (b) que no índice ocorrem, .também, definições com-
plementares ao texto.
10.3. 9 Dissemos - repetimos - que os diversos tipos de
remissão não são, num livro, exclusivos. Com efeito, um texto de
enunciação e estruturação complexas pode determinar a existên-
cia (a) de um rico aparato bibliográfico, (b) de notas discursivas
complementares longas, (c) de apêndices ou anexos documentais,
( d) de indicações remissivas recíprocas abundantes, ( d) de notas
críticas reduzidas incidentes e (f) de subtit~lação abundante, que,
porém, por elegância, conveniência de realce ou resolução do
problema da mancha não convenha entrarem no corpo desta pro-
priamente dito. A solução dêsse complexo parece óbvia: (a') as
indicações bibliográficas podem ser feitas, por siglas ou números,
no próprio corpo · da m~cha, no texto, entre parênteses, como
remissivas para as obras ·consultada![! ordenadas sistemAticamente
no fim mas antes dos índices do livro ; (b ') as notas discursivas
complementares longas podem também ser objeto . de remissivas
130 ANTÔNIO HOUAISS

no texto, entre parênteses, com indicação do tipo "nota 1", "nota


2" ... "nota n", notas cujo texto será estampado antes da biblio-
grafia ou obras consultadas; (c') os apêndices ou anexos do-
cumentais ou poderão ser assimilados às notas anteriores e assim
terem sua remissiva e comissiva, ou, se freqüentes, ser objeto de
uma seção à parte, via de regra posterior às notas do tipo antes
considerado ; ( d') as indicações remissivas reportativas ou recípro-
cas poderão ocorrer, entre parênteses, .n a própria mancha do texto,
com indicação de página, parágrafo ou seção ; (e') as notas crí-
ticas reduzidas incidentes - porque de regra devem imediata-
mente ser levadas em conta pelo leitor na .medida em que lê a
obra - virão em rodapé, e (f') a subtitulação poderá ocorrer
como "notas" marginais - . em verdade não serão "notas", como
se vê.
10 . 3 .10 Originalmente glosas, as . remissões foram, aos pou-
cos, nos códices e depois nos incunábulos e assim em muitos livros
do século XVI, marginais laterais - às vêzes verdadeiras notas.
Com o tempo, passaram a guias marginais do conteúdo do texto,
subtítulos, rubricas de índice. Um asterisco, uma abreviação na
linha - geralmente superpostos, depois entre parênteses - ori-
ginava na margem uma repetição do asterisco ou da abreviatura
e a seguir a nota. Porque essas notas tendessem, por vêzes, a
ser longas e repetidas, aparecem as comissivas no rodapé : a re-
missiva, tomando como base um, dois, três, quatro, n asteriscos,
foi, inicialmente, seguida de um 6belo recurvo, em forma de pa-
rêntese de fechar, para baixo: *), **) ***), ****), "). No rodapé
ocorria, reversivamente: *' , **) , ***; , **** ' , "' . Dêsse tipo- já.
secundário na evolução das remissões modernas, mas primário
quanto ao rodapé - , originaram-se diversas maneiras de remeter,
algumas das quais são a seguir indicadas :
a) porque o número de asteriscos, com o aumento do aparato
remissivo, tendia a crescer desmedidamente - figura-se uma dé-
cima nota no mesmo rodapé! - , principiou-se a adotar diversos
signos remissivos, via de regra existentes nos parques tipográficos
para outros fins originalmente, mas já caídos em desuso com tais
fins: *), t), § ), *), •), x) . Como, assim mesmo, o número de re-
missivas podia ser maior que a variedade de signos disponível no
parque tipográfico, houve uma fase intermédia conciliatória, re-
presentada, por exemplo, pela repetição de cada um signo até ·
um certo número_, após o qual se passava a um segundo signo
até êsse número, assim sucessivamente;
b) como o jôgo do óbclo recurvo para baixo (e, no rodapé,
(J óbelo recurvo para cima) se confundia com o parêntese de
ELEMENTOS DE BIBLIOLOGIA 131

fechar, passou-se, complementarmente, a êste: x), +), *), •), o


qual tanto servia para a remissiva, no texto, como para a comissi-
va, no rodapé ;
c) como, entretanto, o jôgo de parênteses de abrir e fechar
foi compreendido como uma unidade dual que não devia ser
desmembrada, passou para a representação da remissiva e da
comissiva por meio de (X), (+), ( •) ... ;
d) como, de um modo geral, os signos remissivo e comissivo
eram sobrelinhados, passou-se, também, à omissão pura e simples
do 6belo recurvo, do parêntese de fechar ou dos parênteses:
x,t,=*=,• ....;
e) como, por fim, o número de notas crescia, passou-se à
numeração, já em caracteres romanos, já, melhor, em algarismos
arábicos: 1 'J , 2 'J , a 'J , ~ 'J (talvez êste tipo de representação nunca
tenha existido); 1), 2), 1), ~); (1), ( 2), ( 1), (~); 1 , 2, a,"; (1), (2), (3), (n);
f) modernamente - salvo nas deliberadas feições gráficas
arcaizantes -, é a numeração arábica que tende a prevalecer, sob
três formas: (1), ( 2), (•), ("); (1), (2), (3), (n), e 1 , 2 , 1 , ".
Escusa dizer que - salvo em casos raríssimos de equívoco pela
natureza especial da obra, por exemplo, de matemática - a
primeira figuração não tem razão de ser, pois, se se dispõe no
parque tipográfico de uma série arábica de corpo menor sobre-
linhável, não há por que pôr êsses números entre parênteses, nem
mesmo na comissiva, quando o corpo pode, inclusive, ser o normal
da tipografação das notas, o qual, comissivo, poderá ser seguido
de um mero travessão, de um hífen entre brancos interliterais,
ou mesmo de um branco funcional pura e simplesmente. A se-
gunda série é determinada, ostensivamente, pelo fato de que, no
parque tipográfico de que se trata, ou só se dispõe de algarismos
no mesmo corpo que o da tipografação do texto ou, podendo ser
de corpo menor, não podem ser sobrelinhados; é contingência a
que se têm de curvar os interessados no livro, mas que se deve
evitar na medida do possível, pois seu uso pode criar problemas
de notação especial, caso a obra necessite de referências parenté-
ticas freqüentes à cronologia, às referências recíprocas, às remis-
sões bibliográficas numéricas e casos afins ou conexos.
10. 3 .11 As remissivas não numéricas - isto é, com asteriscos,
adagas, cruzes, duplas cruzes, duplas adagas. . . - são sempre de
rodapé, regra que não pode ser violentada a não ser excepciona-
lissim.amente. Já as remissivas numéricas podem ser de rodapé
de página, de fim de capítulo, de fim de parte, de fim de livro.
Em qualquer caso, a numeração pode ser contínua no livro todo
132 ANTÔNIO HOUAISS

inteiro, ou parcial, isto é, por página, por capítulo, por parte.


Ambos os processos apresentam suas_ vantagens e desvantagens.
Do ponto de v:ista do autor - da comodidade do - a numeração
parcial é uma garantia de que, se no correr da composição do
livro quiser êle incluir nova nota, isso não irá alterar, sensivel-
mente, a composição já feita: numa página com sete notas nume-
radas de 1 a 7, se incluída uma nova nota 4, a composição só se
alterará com a passagem das primitivas 4, 5, 6, 7 para 5, 6, 7 e
8, respectivamente - o que não chega a ser uma tragédia ...
Já em uma numeração por capítulo, as modificações serão, pro-
vAvelmente, · em número muito maior e, com mais razão, num
livro. É êsse o motivo por que, e:rtemporâneamente, aparecem
por vêzes em certos livros notas numéricas seguidas de letra dis-
tintiva - por exemplo, 123, 123a, 123b. O processo de numera-
ção parcial das notas, embora mais cômodo para a composição e
para o autor, é mais incômodo para a indiciação, pois os locais
das notas deverão ser referidos em número de . página e número
de nota - o que sobrecarrega o índice e, mais do que isso, só
permite a sua leitura a partir da fase da prova de página do
livro. Numa numeração contínua das notas, os risl:los de inter-
polações extemporâneas são maiores, mas as remissivas são mais
c{imodas e assim a indiciação.
10.3 .12 Do ponto de vista da localização das notas, há todo
um conjunto de pequeninos problemas, de cuja solução tanto de
eficaz e de estético no livro depende. Há notas tão estreitamente,
tão condicionada e condicionantemente vinculadas ao texto, ao
local do texto a que se referem, que colocá-las longe das
vistas imediatas do leitor constitui um verdadeiro quebra-cabeças
para êste, com virar páginas, procurar o fim do capítulo, ou da
parte, ou do livro, e retornar à leitura... Entretanto, como
contrapartida, tais notas são, por vêzes, não só numerosas, mas
também extensas - o que acarreta, não raro, uma lingüetazinha
de texto e todo um imenso rodapé de notas, com desbordamentos
para o rodapé da página, quando não das páginas, seguinte -
isso sem falar de certos livros com notas a notas, e mesmo notas
a notas de notas. São êsses aspectos que determinam a existência
de notas de · fim de capítulo ou de fim de livro - ou, de outro
lado, que determinam a existência concomitante d_!!l.as num livro.
No último caso, o autor procura distinguir notas tle nótulas, ge-
'I'almente por sua extensão: as pequenas podem ficar ao rodapé,
as grandes em fim de capítulo, parte ou livro. · Tôdãs elas podem
ser objeto de remissivas cujas comissivas apareçam em rodapé, e
junto a estas comissivas, em _certos casos, aparecem novas remissi-
ELEMENTOS DE BIBLIOLOGIA 133

vas, ao fim do capítulo, parte, livro; outras vêzes, porém, no


próprio texto as remissivas ao fim de capítulo, parte ou livro,
aparecem interparenteticamente. Já a distinção entre notas de
fim de capítulo, parte ou livro, parece mais difusa. Pode-se, em
princípio, aceitar a distinção de critério e disposição na base da
organicidade do livro ou das fases de sua elaboração. Há livros
cujas partes se interpenetram dialeticamente tanto, que a sua
divisão capitular (ou que outro tipo de .seccionamento tenha) não
traduz uma separação essencial; nesse caso - se objeto de
uma elaboração contínua - deveria ter suas notas, se não no
rodapé, no fim da obra. Há outros, ao contrário, cuja dis-
tinção capitular (ou que outro tipo de seccionamento tenha)
supõe natureza distinta de configuração do problema a outra
luz, sob outro ponto de vista, com bibliografia e metodolo-
gia como que autônomas ou próprias, caso em que as notas ao
fim de capítulo (ou equivalente) se recomendam. Contra êsses
dois critérios por assim dizer lógicos, há um, digamos, cronológico:
· o livro, embora orgânico, ou embora de capitulação autônoma, foi
feito em fases distintas, o livro como que é uma soma de dois ou
mais livros: nesse caso, ~ anotação capitular ( Gu do secçionamento
que tiver) é a seguida, salvo se in fine o corpo das notas fôr por
sua vez dividido em subcorpos correspondentes aos capítulos (ou
às unidades do seccionamento).
10. 3 .13 Há, por fim, como já delineamos acima, livros que
exigem um combinatório dos processos : notas de pé de página,
notas de fim de capítulo, notas de fim de livro, remissões recí-
procas, apêndices, glossários. Veja-se um só exemplo, o de Os
lusíada~, na edição de EPIFÂNIO DIAs (cf. CANA), em que há, em
cada página, dois corpos de notas - as críticas de variantes do
t~xto, e as de elucidação e interpretação do texto - além de,
nas últimas, remissões recíprocas e remissões ao fim do livro, onde
aparece, em ordem alfabética, um corpo de notas de questões
gerais, além de partes outras.
10.3.14 Seria, assim, o caso de tentar propor critérios para
a normalização das citações:
1.0 ) qualquer citação deve ser objeto de realce material;
2. 0 ) não é mister distinguir, no realce, as citações em por-
tuguês das em línguas estrangeiras, se em caracteres latinos, nem
sendo necessário, mas em línguas estrangeiras, diferenciar as tra-
duzidas, das transcritas no original, nem as diretas, das indiretas,
nem as transliteradas;
134 ANTÔNIO HOUAISS

3. 0 ) as citações em caracteres não latinos dispensam o as-


peamento, se êste fôsse o realce material cabível;
4. 0 ) qualquer citação deve ser objeto Ide referência, consis-
tente já num jôgo de remissiv~comissiva, já numa referenciação
interparentética em seguida à citação ;
5. 0 ) qualquer citação - · salvo as em caracteres não latinos
- deve ser realçada materialmente por uma parelha de aspas
dúplices, de abrir e de fechar, se, em prosa, não ultrapassar de
uma linha inteiriça e duas seções de linha (uma seção de linha
antes da linha inteiriça, uma seção de linha d~pois da linha
inteiriça);
6.0 ) qualquer citação que ultrapassar de duas linhas intei-
riças deve ser materialmente realçada pelo jôgo dos brancos,
abandonando-se as aspas, jôgo de branco uniforme para tôdas as
citações dêsse tipo:
a) branco interlinear especial inicial maior, igual no final~
b) branco marginal à esquerda ;
7. 0 ) quando a citação do tipo anterior superar a altura de
uma mancha de página :- uma, que chamaremos, extratação - ,
poderá ser objeto, preferencialmente, de realce material consis-
tente em:
a) jôgo de branco interlinear especial inicial maior, igual
no fim:J,l;
b) mudança de corpo para menor (geralmente dois pontos
tipográficos) ;
8.0 ) quaisquer citações do tipo 6. 0 e 7. 0 , supra, poderão ser
objeto de realce material de corpo para menos, com as caracterís-
ticas adjut6rias lá apontadas;
9. 0 ) quaisquer citações de versos, quando importar tão-sO-
mente o lado mentado, ideológico, significativo, dêsses· versos, po-
derão ser feitas nas condições de 5.0 supra., devendo, entretanto,
os versos ser separados por uma barra oblíqua;
10.0 ) se, porém, os versos citados ultrap11ssarem de uma li-
nha inteiriça mais duas seções de linha, deverão ser objeto, na
citação, do tratamento referido em 6.0 supra, sendo que, necessà-
riamente, os brancos marginais da direita deverão aparecer, em-
bora assimétricos, como é de esperar ;
11.0 ) no caso anterior, mais do que nunca, impor-se-á,
eventualmente, a redução de corpo (mesmo de mais de dois pon-
tos), se, previsto determinado branco marginal esquerdo, os versos
tenderem, por sua extensão, à ruptura tipográfica freqüente;
ELEKENTOS DE BIBLIOLOGIA 135

12.0 ) as autocitações operacionais - isto é, as referênciàs


que o ·autor faz a si mesmo em forma de citação de si mesmo na
obra mesma - deverão vir entre aspas dúplices ou simples de
abrir e fechar, ou com os outros recursos de realce acima refe-
ridos, segundo fôr a extensão da autocitação; se a autocitação
fôr, porém, de obras outras do mesmo autor, já édita, terá o
tratamento de mera obra alheia;
13.0 ) as citações ( originaltilente entre aspas dúplices) que
incidirem dentro de citação que, segundo as normas acima apon-
tadas, merecer aspas dúplices de abrir e de fechar, tais subcita-
ções passarão a ser realçadas por aspas simples de abrir e de
fechar;
14.0 ) as citações em citações, subcitações, que, entretanto,
ocorrerem quando haja realce material pelo jôgo de brancos ejou
de corpos manterão as aspas dúplices de abrir e de fechar;
15.0 ) destarte, as citações em citações de citação (subsubci-
tações) serão entre aspas dúplices de abrir no seu início e antes
de cada uma das linhas tipográficas que lhe corre.,ponderem,
terminadas por aspas dúplices de fechar.
16.0 ) se, porém, a ·citação, em citação caracterizada pOT
jôgo de brancos ejou de corpos, fôr de mais de duas linhas intei-
riças, poderá · ser realçada materialmente pelas aspas dúplices de
abrir no início de uma das linhas tipográficas que lhe correspon- ·
derem.
10.3.15 Nas citações de versos ou prosa, sobretudo dos pri-
meiros, feitas com jôgo de brancos e,lou corpos, é delicado pro-
blema estético gráfico a localização da remissiva de referência,
ou mesmo da referenciação interparentética. É que, com , efeito.
nos versos, a elegância da .disposição gráfica pode ser quebrada
pela remissiva final, e na prosa e no verso deverá vir, eventual-
mente, no corpo espec~al de citação ou extratação. Por êsse mo-
tivo, em tais casos, isto é, quando a citação (ou extratação) é
realçada materialmente pelo jôgo de brancos ejou de corpos, sua
remissiva ou referenciação interparentéticas pode vir ·antes dos
dois pontos ou no fim da linha suspensa antes da citação; isto,
porém, não é de conveniência, se a remissiva fôr meramente um
asterisco ou um número sobrelinhados no fim da ,citação ou ex·
tratação.

CAPÍTULO XI

SECCIONAMENTO E INDEXAÇÃO

11. SECCIONAMENTO
Ao aproximar-nos do fim dêstes elementos de bibliologia, terá
notado o leitor que a palavra foi tomada no sentido restrito de
técnicas e conhecimentos confinados ao livro como objeto de pro-
cessão material e sistemática, do ponto de vista do autor, ou
editor-de-texto. ~sse ponto de vista, por conseguinte, é apenas
um elo - talvez o inicial - de uma cadeia em -que, havendo um
fio condutor privilegiado que se chama leitor, supõe como elos
seguintes o editor-publicador, o livreiro, o bibliotecário, o do-
cumentalista, com os aspectos correspondentes de editoração, co-
mercialização, propaganda, circulação, guarda, classificação, inde·
xação, documentação. Se alguns dêsses aspectos foram tratados
nas páginas anteriores, não o foram senão incidentemente. Por-
que - embora a bibliologia possa compreender-se como equiva-
lente de documentação ou documentalística, em que os problemas
gerais do livro ocupam posição de relêvo ou nodal mas não ex-
clusiva - aqui foi bibliologia toruada como noção restrita àqueles
aspectos do livro e tão-somente livro tais como considerados nas
páginas anteriores. Restam-nos, destarte, duas questões para co-
roar nossa excursão - a do seccionamento e a da indiciação ou
indexação.
11.1 HISTÓRICO - Caberia aqui dar a palavra a PAUL ÜTLET
(OTLE, pp. 115-116) :

Os antigos não conheciam a divisão de uma obra em


vários livros, de um poema em vários cantos de extensão
mais ou menos igual. A llíada e a Odisséia compreen-
diam de fato um certo número de rapsódias, que se podiam
recitar separadamente, mas essas rapsódias não correspon-
diam de modo nenhum a cantos distintos, e sabemos por
um escoliasta que elas eram escritas em continuado sem
outra marca de separação que o sinal ·chamado eoronis.
13H ANTÔNIO HOUAISS

Nem HERÓDOTO nem TucÍDIDES dividiram suas histórias


em livros. Do mesmo modo XENOFONTE, PLATÃO, TEO-
FRASTO, numa palavra, todos os autores que precederam a
era de ALEXANDRE.
Foi a partir dêsse momento somente que, tendo sido
fundadas escolas de gramática e de crítica anexas à Bi-
blioteca de Alexandria, estas experimentaram dificuldades
em localizar uma passagem ou verificar uma citação.
Dividiu-se então cada um dos poemas de HoMERO em
vinte-e-quatro cantos destinados a serem escritos sôbre
igual número de rolos pequenos e designados pela série
de letras do alfabeto grego.
HERÓDOTO foi dividido em nove partes, que tomaram
o nome das nove musas. O mesmo princípio foi aplicado
em seguida a outras obras. A partir dos primeiros PTO-
LOMEUS, todos os escritores seccionaram suas próprias
obras de grande fôlego em livros de longura uniforme.

11.1.1 Divisão do texto - Consideradas que foram as partes


preliminares ou pré-textuais, o texto propriamente dito é objeto
de divisão ou seccionamento. O seccionamento é função de um
ou de mais de um dos seguintes, pelo menos, condicionantes : (a)
a autoria, (b) a extensão do tratamento da matéria, e (c) a
natureza do assunto.
11.1.1.1 A autoria _:_ se coletiva, se individual - condiciona,
está claro, o seccionamento. De um lado, a autoria coletiva supõe,
de regra, que o assunto é outro qualquer que não o de criação
estético-literária, artística stricto sensu, embora haja caso de ro-
mances, novelas, contos, dramas, comédias, tragédias, cantos, &
duas ou mais mãos (quer dizer, cabeças). ]'Jsses casos são, por
definição, episódios ou exceções singularíssimos. E mesmo que
HoMERO seja uma cifra multitudinária, e o passado remoto possa
supor-se melhor, na sua herança presente, antes como produto
social que individual singular, nas condições presentes da hu-
manidade, quando a vivemos. no seu presente histórico microscô-
' picamente, o que vemos é a pessoa do autor, em quase tudo quanto
se refira às obras literárias de· criação artística - ficção ou
poesia, admitida esta dicotomia moderna possivelmente arbitrária
e infundada.
11.1.1. 2 Com efeito, a divisão ou seccionamento de obras li-
terárias, ainda que revel!lndo grande diversidade, revela uma di-
versidade relativamente limitada. Na prosa de ficção o que vemos
ELEMENTOS nE BIBLIOLOGIA 139

é o desdobramento do plano - ou o plano desdobrado - quase


sempre em subunidades mais ou menos longas, entre si mais ou
menos equilibradas quantitativamente, desde, no passado, as que
não tinham originalmente seccionamento nenhum a partir do
incipit até o finis coronat opus, possando pelas divisões em livros·
ou capitulares em que cada parte era precedida de uma como
E:menta - "De como ... ", "Que trata ... ", "Onde se conta ... ",
tal o caso, por exemplo, entre muitos e muitos milhares, do Don
Quijote de la Mancha, de CERVANTES, com suas duas partes de
1605 e 1615 (cf. CERV) - ementa que resumia os sucessos da
subunidade, até divisões mais numerosas, tituladas ou não titu-
ladas, como nos romances de MACHADO DE Assis, passando por
processos algo "simbólicos", como o de Ulysses, de JAMES JoYCE,
essencialmente divididó em três partes, cada uma, entretanto, com
um número de "episódios" (ao .todo são dezoito), submetidos os
episódios a títulos homéricos:· :)~tentes inspirados no texto da
Odisséia, cada episódio com 'fi:iação implícita de cena, hora de
ação, órgão do corpo, arte ou ciência, côr, símbolo e técnica lite-
rária ou equivalente proprios ( cf. JOYD e GILB, 30), até um
GuiMARÃES RosA, com os Grandes sertões: veredas (cf. ROSA),
imenso capítulo único sem divisão ostensiva, mas com um com-
plexo de episódios ou momentos ou situações ou cenas ou que
nomes se lhes quiser dar.
11.1.1. 3 Na poesia a situação é comparável. Desconsiderados
os casos mais antigos de subdivisões post factum como produto
da erudição dos comentadores, há critérios informativos autorais
os mais variados, desde o ternário e trinitário na dita Divina
comédia com terza-rima e seu número místico, mágico ou caba:
lístico três a condicionar o seccionamento, a principiar por seu
"inferno-purgatório-paraíso" ( cf. DANT), até livros de poemas como
unidades autônomas, de rondós, ou de silvas, ou de sonetos, ou
de trovas, ou de baladas, ou misturados em suas formas fixas, ou
sem formas fixas, ou divididos em porções iso-rítmicas, ou em
porções hetero-rítmicas, de cantos livres.
11.1. 1.4 Mas a autoria coletiva - excluída a ficção e/ou a
poesia - é em geral elemento que exige um plano prévio, por
sua natureza sistemático ou pelo menos para-sistemático, seja, de
subunidades que se contra-regram e se integram mais ou menos
visceralmente na unidade da . obra, mesmo quando os dois, três, n
co-autores sejam co-solidários de cada uma e tôdas as ·subunidades
(admitida a redação preliminar de um e revisão por todos os
outros; admifda a discussão preliminar por todos e o relatório
l40 ANTÔNIO HOUAISS

por um, para posterior revisão por todos; admitidos os combina-


tÓrios e variantes dêsses processos). Exemplos de autorias cole-
tivas multitudinárias são as enciclopédias em geral - quer as
alfabéticas, em cujo primeiro volume aparece de regra uma "lista
dos colaboradores" seguida de uma sigla ou abreviação iden-
tificador& que se repete ao pé dos verbêtes, quer as sistemá-
ticas ou temáticas, cujas partes são ou não ostensivamente
assinadas pelos colaboradores, mediante uma "fôlha" ou "lista· de
autorias" ou de "colaboradores", no início ou no fim dos volumes.
Entre outras obras que não enciclopédias, mas de autoria coletiva,
t!vemos faz pouco entre nós A literatura no Brasil, sob a direção
de AFRÂNIO CouTINHO ( cf. OOUR), em que colaboraram ·cêrca de
cinqüenta ensaístas patrícios. De um modo geral, aliás, ·no niundc;
moderno, as enciclopédias, os dicionários extensos, os levantamentos
ou tombamentos metódicos gerais, são de autoria coletiva, ainda
que publicadas sob uma direção individual; ou colegiada de duas ou
mais pessoas - direção .a que incumbe, de, regra, o planejamento
prévio da obra, vale dizer, o seccionamento prospectivo da mesma,
ainda que êsse seccionamento prospectivo venha a sofrer modifi-
cações no curso da execução.
11.1. 2 Seccionamento físico - A extensão da obra cria uin
problema de seccionamento, quando não orgânico, pelo menos fí-
sico. E isso se sente mais e mais na medida em que o livro
fisicamente unitário vem tendendo, de catedrais imensas seden-
tárias como as houve e~ bibliotecas monacais do passado, à por-
tatibilidade ideal de bôlso do mundo presente, passando pelos
anões, liliput!anos ou microscópicos, de eficiência limitada por
causa de suas voluntárias atrofias. Essa divisão ou secciona-
mento físico é a regra em obras extensas cuja sistemática é pura-
mente alfabética (por verbêtes) ou puramente classificatória -
nas ciências naturais, em função de sua terminologia sistemática.
Os dicionários, de um modo geral, e as floras também, são em
geral partidos em dois, três, quatro, n volumes, cada um dos
quais pode principiar onde quer que seja (respeitada a unidade
mínima de integração, o verbête), do mesmo modo as enciclopé-
dias de estruturação alfabética. A única divisão de uma obra
integrada assim o é por critério puramente quantitativo, isto é,
E>m vnlumes. Existe a alternativa, mas exclusivamente editorial,
da publicação em fascículos, recurso pelo qual o problema do
financiamento da publicação pode ser superado, fascículos que
por natureza não são destinados a terem vida autônoma, mas a
serem reunidos em unidades maiores de encadernação em tomos
(se fôr o caso) ou volumes.
ELEMENTOS DE BIBLIOLOGIA 141

11.1. 3 Seccionamento oryânico - Do ponto de vista da na-


tureza da mensagem, do assunto, é que há o seccionamento orgâ-
nico. Excluindo a organicidade obtida pela divisão da matéria
em unidades seriadas alfabeticamente ou numericamente (quando
passível de uma classificação interna de base numérica, qualquer)
õÜ classificatõriamente (ciências físicas e naturais) - todos os
.,demais seccionamentos derivam ·de um plano lógico-sistemático
··~ hoc, função do nível de aprofundamento, de extensão do trata-
ntéi'lto e do~ :tipos de co!aboração, ademai.s de problemas oriundos
do modo de · apresentaçã;o do material - quadros, tabelas, esque-
mas, gráfic()s, d!agramàs,. ilustrações, bem como documentos, ane-
xos, adendos, e relações," tábuas, índices e afins - .
11.1.3.1 · ·No seccionamento orgânico há norrr.as ou praxes
tradicionais, r~tione materiae, tal o caso de obras jurídicas, so-
bretudo legislativas, quando a sistemática abstrata presume a ob-
servância de certos componentes sistemáticos, quase sempre num
plano particularizador - parte, livro, capítulo, seção, artigo,
parágrafo, inciso, alínea, número -, inclusive na sua apresentação
tipográfica, componentes que, entretanto, :não são universalmente
seguidos, variando segundo a tradição jurídica e segundo a le-
gislação ejou o direito nacionais. Nesses casos, ademais da sis-
temática abstrata existe o problema concreto da titulação - que
compreende a formulação de ementa(s), rubricas intitulativas,
·subtitulativas, seccionais, por vêzes articulares.
11.1. 3. 2 A realidade é que, excluída a disposição tipográfica
e as remissivas numerais típicas da organicidade jurídica,
quase todos os outros seccionamentos orgânicos guardam estreita
vinculação com essa sistemática abstrata. É que, no caso, não
são estas que derivam da jurídica, senão que esta e aquelas de
uma fonte comum, que é a sistemática seccional que se desenvol-
'·eu nó Oc!dente a partir dos alexandrinos, numa lenta constru-
ção de um ideário comum. Destarte, retornamos sempre ao es-
calonamento em (a) tomos, (b) partes, (c) livros, (d) capítulos,
(e) seções (podendo b e c ocorrer em ordem inversa, isto é, c e
d.epois b). A partir daí, o seccionamento continua como moda-
lidade interna da pontuação: (f) parágrafos, (g) subparágrafos
ou sentenças ou orações ou frases, (h) números (ordinais ejou
cardinais) e (i) letras ou alíneas (latinas ejou gregas) (podendo
ocorrer a ordem inversa dos últimos, isto é, i e depois h). Não
sem razão PAUL ÜTLET associa com o seccionamento a pontuação
( OTLE, p. 115) :
142 ANTÔNIO HOUAISS

O tratamento lógico de um assunto segundo um ciclo


de divisões e subdivisões nltidamente acusadas num texto
é um progresso no livro científico e didático. Correspon-
de a um desenvolvimentó da pontuação em dois sentidos:
1.0 ) é uma pontuação de um grau mais elevado que o
simples ponto (.); 2.0 ) é uma pontuação elevada à divi-
são lógica da idéia e não das sós frases da língua que
as exprime.

11.1. 3. 3 Seguida num livro certa sistemática abstrata - que


necessàriamente não presume tôdas as subdivisões antes apontadas,
antes pelo contrário - , segue-se a técnica da titulação e subti-
tulação, assaz importante porque, no fundo, constitui um enca-
minhamento lógico e ideológico para situar o leitor na substância
presumível da matéria nesse local versada - e, quando · não con-
segue isso a priori, faz-se uma indicação de situação a posteriori
para quem já tenha uma vez lido ou compulsado a obra.
11.1. 3 . 4 Os planos sistemáticos tendem, via de regra, a. se
organizar segundo impulso lógico conseqüente: (a) ou partem
ào mais geral para o mais particular, através da subdivisão do
todo em um número determinado de subunidades, cada uma das
quais segue, por sua vez, internamente, a mesma direção do mais
geral ao mais particular - ou inversamente, do mais particular
ao mais geral subunitário - ; (b) ou partem do mais particular
ao mais geral, com uma disposição teoricamente inversa da apon-
tada em primeiro lugar ; (c) ou se define, de início, por um
tronco, cujos galhos principais são sucessivamente tratados como
subunidaaes; ( d) ou apresentam uma seqüência de partes que é
estritamente cronológica, sendo cada subunidade objeto de uma
subdivisão também cronológica ou, compensatoriamente, temática
- podendo a cronologia ser do passado para o presente, ou in-
versamente ; (e) ou tendem para um desdobramento como que
organicista, numa como que planificação de fecunjlação a ser adul-
to; (f) ou tendem para um ponto de concentração final, através
de subunidades irradiadas, num movimento de periferia para o
centro ; ( g) ou procuram realizar uma conjugação analítico-sinté-
tica sincrônico-diacrônica de estruturas estáticas e suas fôrças in-
ternas a lhe i1pporem um movimento dinâmico de autogênese e
autodinâmica. Quaisquer que sejam os planos, seu tratamento
apresenta certa tendência à simetria de organização nas aubuni-
dades, sobretudo quando estas são temàticamente afins. Exata-
mente porque a Classificação Decimal Universal (cf. CLAS) pro-
ELEMENTOS DE BIBLIOLOGIA 143

cura oferecer uma sistemática classificatória exaustiva para fins


documentais, sua consulta tem sido freqüente para a planificaç:ão·
sistemática de muitos livros aparecidos após ela, razão por que
sua consulta continua a oferecer quase sempre vantagens, se mais
não fôr como motivação e sugestão.
11.2 INDEXAÇÃO - Já entre os gregos se fazia sentir, pelo-
I sécnlo a. C., a necessidade de repertórios, sílabos, tábuas, digestos,
elencos, súmulas, analíticas ou sintéticas, das matérias versadas.
pelos antepassados. Os alexandrinos desenvolveram essa tendên-
cia, pois sua necessidade era óbvia, na medida em que os retores.
aumentavam sua influência escolarizante.
11.2.1 Numeração - A preliminar para êsse trabalho essen-
cialmente remissivo, locativo, situativo - uma vez identificada a
"unidade" indexável - era criar um método referencial. :msse
método, como vimos acima, foi na Antiguidade a divisão da matéria
em partes, intituladas ou não, do que nasceu a sistemática abstrata
em tomos, partes, livros, capítulos, seções etc. A remissão à obra
de um autor passava a fazer-se não apenas a ela como um todo,
mas às suas partes. A numeração dos fólios, ou, depois, das
fôlhas impressas, iria ser uma conquista a mais. Volvamos a
PAUL ÜTLET no respeito (OTLE, p. 117):

A numeração é de criação relativamente recente. Não


foi senão no século XVI, na edição de Du MouLIN (Lião,.
1554) e de LE CONTE (Paris, 1556), que se começou a.
dar números aos diferentes capítulos ou cânones das dis-
tinções e das cláusulas das obras de GRACIANO. Durante·
tôda a Idade Média e muitas vêzes ainda nos tempos.
modernos, citou-se pela primeira palavra do rânon.
Foi tardiamente também que se numeraram os ver-·
sícnlos da Bíblia. Por uso, os capítulos dos diversos.
livros que a compõem são indicados convencionalmente
por algarismos romanos e os versículos por algarismos.
arábicos, exemplo: lrlat. V, 1-8, isto é, Evangelho segundo
Mateus, capítulo V, versículos 1 a 8.

11. 2 .1.1 Impõe-se a distinção de numeração e numeração.


Há a numeração por página - a que a grande maioria dos livros
modernos se subordina quase exclusivamente. E há numeração
outra, que se integra, uma vez adotada, fixamente às partes da
obra.
144 ANTÔNIO HOUAISS

11.2 .1. 2 O primeiro tipo de numeração, por pagma (que se


sucede, qual vimos antes, à numeração por mero fólio ou fôlha)
é uma conquista indubitável, tanto para a tipografia quanto,
mais ainda, para a bibliografia, a documentalística e sobretudo
para os trabalhos de indexação. Mas já nesta altura do desen-
volvimento humano está ela revelando-se insuficiente. É que a
numeração por página subordina todo o esfôrço de indexaç_ão a
uma edição da obra. Numa edição subseqüente - quando quase
fatalmente a paginação será outra, com numeração outra, salvo
os raros casos de fac-similação - os índices, penosamente elabo-
rados, ficarão pràticamente caducos, impondo-se sua remanipula-
ção, tão trabalhosa quase como seu levantamento original. Quando
se pensa numa indexação "nacional" de valor permanente, de
modo que haja um registro não apenas de obras, mas de matéria
de obras, de unidades informativas, bits, de obras, essa deficiência
ó gritante, porque se estará continuamente obrigado não apenas
a indexar as novas obras, mas também as reeditadas. Essa a
razão por que nos livros em que a matéria indiciável é impor-
tante, por serem antes de consulta que de leitura corrida, antes
de consulta ad hoc que de folheio ocasional, é de extrema impor-
tância que sejam êles integrados, ademais da numeração por
página (relegada à sua função e tradição tipográfica), por uma
numeração orgânica, . cujo objetivo seja bem êste: um número
orgânico se associará a uma parte orgânica relativamente pequena
da obra e a ela se fixará, quaisquer que sejam as edições da obra.
1l:sse objetivo poderia, teoricamente, ser ~~;mpl!ado, de modo que,
em edições subseqüentes, se houver inclusão de nova matéria, esta
venha a poder-se fazer acompRnhada de sua respectiva numera·
ção, sem que os acréscimos obriguem a que a primitiva numeração
seja alterada, senão em pormenores relativamente pequenos, se
necessários.
11.2 .1.3 De longa data, aliás, em obras especiais, êsse objetivo
já foi atingido, tal o caso da Bíblia, do Corão - sem falar nas
jurídicas e legislativas. Igual processo se vem erguendo, a pouco
e pouco, com as chamadas edições críticas (e as não críticas,
calca~as sôbre as críticas) dos autores clássicos, gregos e latinos,
e mmtos autores medievais. Com relação a êstes, o sistema ge-
-ralmente seguido é o da numeração paragráfica na sucessão dos
números inteiros naturais, adotando-se, para os textos em versos,
o sistema remissivo a quaisquer númer.os inteiros naturais - cada
um, cada verso -, mas imprimindo-se, no texto, para não sobre-
carregá-lo, certos números apenas, em geral os terminados em O e
5 (vale dizer, numerando-se, tipogràficamente, de cinco em cinco
ELEMENTOS DE BIBLIOLOGIA 145

- o que faculta a remissão para números outros terminados


(}iferentemente, pois o esfôrço de contagem será sempre igual a
quatro ou menos - o que não chega a ser perda de tempo).
11. 2..1. 4 São várias as maneiras de numerar orgânicamente
partes pequenas de uma obra. Modernamente, duas sóbrelevam,
a que adota para cada parágrafo sucessivo um número inteiro
da série natural, recorrendo-se para as partes dos parágrafos, se
necessário, a números romanos, ou letras, ~ a que adota a chamada
numeração progressiva, de que é exemplo êste livro mesmo (em-
bora com pequenas heterodoxias), numeração progressiva preco-
nizada pela Associação Brasileira de Normas Técnicas, cujas re-
comendações, em forma de normas ( cf. ASSO), no que se refere
à documentalística pelo menos, devem estar presentes a todos -
numeração que, também, já está pràticamente integrada na meto-
dologia do Instituto Brasileiro de Bibliografia e Documentação.
O sistema adotado pela Comissão Machado de Assis, tal como
reportamos neste livro, é uma combinação da numeração progres-
siva, nas partes que não são da autoria de MACHADO DE Assxs,
e da numeração paragráfica (ou dos versos) por números inteiros
naturais, nas partes do autor.
11.2.2 Averbação - O levantamento do material que deve
constar de uma indexação - de índices, de um modo geral -
tem sua técnica consabida: nas condições manuais (os grandes
índices já têm grande parte da operação, ap6s a seleção "mental"
humana, automatizada), podem ser feitos individual ou coletiva-
mente. A preliminar é saber - convencionalmente - o que se
quer indiciar: onomásticos (geralmente subdivididos em três gru-
pos principais - antropônimos, topônimos e intitulativos), bi-
bliônimos, temas.
l 1. 2. 2 . 1 Se por um s6 indivíduo o levantamento, êste - de
posse da preliminar - limita-se a uma leitura met6dica e pro-
gressiva da obra (já em fase de provas definitivas de paginação
numerada, se a localização dos elementos indexados se fizer pela
remissiva de número · de página ; já nos originais, ou c6pias dêstes,
se a obra tiver numeração orgânica), fazendo uma rápida ficha,
geralmente manuscrita, consistente na averbação da entrada no
índice e do número remissivo. É de bom conselho - de quem,
como êste vosso criado, já fêz vários e trabalhosos índices em
tempo rápido· (cf., por exemplo, os índices de FRAN, MELL, MELM,
e as considerações expendidas em HOOY, inclusive as obras aí
referidas) - é de bom conselho que o indiciador evite incluir
146 ANTÔNIO HOUAISS

num fichário alfabeticamente cada ficha que levantar, proceden-


do, a cada ocorrência, à verificação de se já existe ou não no
fichário cada ocorrência que fôr verificando na leitura. Ao con-
trário, a boa prática e o bom rendimento presumem que o indi-
ciador tenha à sua disposição um número grande de fichas de
papel barato, servindo cada uma para cada ocorrência singular,
tenha ou não já havido ocorrência de igual entrada. Ao cabo
do levantamento, sua operação consistirá em fazer grupos de fi-
chas, separando as iniciadas por cada uma das letras do alfabeto.
Cada um dêsses vinte e tantos grupos, por sua vez, será objeto de
nova separação em subgrupos (no primeiro grupo, de a, em sub-
grupos de aa, ab, ac ... az; no segundo grupo, de b, em subgrupos
de ba, be, bi, bl, bo, br ... etc.) ; cada um dêsses subgrupos, dum
volume ou obra de porte de duas mil páginas, poderá então ser
ordenado em sua ordem alfabética final num fichário. Nesse
fichário, assim alfabetado, ocorrerão por vêzes várias fichas com
uma só entrada (por exemplo, "fígado", ou "televisão", ou "pro-
nome pessoal"; se o nível de discriminação tiver sido mais rico,
poderão ocorrer entradas do tipo "fígado, doenças do", "fígado,
alimentos de", "fígado, nos animais" etc.), caso em que a prática
aconselha a destruição de tôdas as fichas afins menos uma, na
qual, na seqüência numérica da obra, serão apostos todos os
números levantadcs. O levantamento, chegado a êsse têrmo, de-
verá ser objeto da dactilografação, que se fará segundo pauta
previamente estabelecida ou à vista da riqueza e variedade do
levantamento.
11.2. 2. 2 Em obras maiores, a tarefa poderá ser dividida
entre dois ou mais indivíduos, que, se possível, deverão trabalhar
em grupo convergindo suas fichas para um mesmo ponto, proce-
dendo-se à alfabetação no fichário a cada quantidade estimada
prudencial, para que não haja riscos de atravancamentos finais
excessivos. A operação, em última análise, não difere do indicia-
mento por um só indivíduo.
11.2. 2. 3 As técnicas especificamente da bibliografia e da
biblioteconomia - neste caso para a organização dos catálogos -
já dispõem de princípios gerais norteadores das entradas dos ín-
dices (veja-se, em primeiro nível, a ainda atual divulgação de
L.-N. MALC:Lts, grande autoridade na matéria com sua obrinha
de divulgação La bibliographie, preciosa, dentre outras coisas,
pela farta e criteriosa bibliografia que encerra, cf. MALO) ( cf.,
também, BIDA; JACQ):
ELEliENTOS DE BIBLIOLOGIA 147

a) com relação ao material temático geral - isto é, exclUr


sive os onomásticos, bibliônimos e intitulativos - é boa diretriz
que a entrada se inicie pela noção principal e mais estrita -
p.o r exemplo, é de supor preferível "fígado, doenças do" do que
"doenças do fígado", a presumir que, no tratamento da matéria
versada na obra em causa, haja maior número de ocorrênc:as sob
"doenças" do que sob "fígado". Como se vê, subjaz a êsse prin-
cípio não tanto um rigor classificatório rígido de idéias, senão
que um outro fato - de ordem prática. Uma entrada, qualquer,
seguida de um número muito grande de números remissivos é.
desanimadora para o consulente, que se desencoraja de ir a tantos
locais remetidos sem a certeza de encontrar o que espera. Em
tal hipótese de um excesso de números remissivos relacionados
com uma só entrada, sobrevêm então dois recursos: um primeiro,
mais simples, consiste em realçar o ou os números remissivos
(geralmente por negrito) sob os quais se concentra na obra a
rnaior soma de informação quanto à entrada; um segundo, mais
eficaz, consiste em desdobrar essa entrada em tantas subentradas
quantas forem suficientes para esclarecer a natureza das remissi-
vas, desatravancando-as do excesso de números remissivos; por
exemplo, se sob a entrada "adjetivo' aparecerem trinta números
remissivos, será de bom alvitre, em ordem alfabética, inscrever,
primeiro, "adjetivo", seguido ou não dos números remissivos re-
siduais, e logo a seguir " - absoluto" " - articular", " - de-
terminativo", " - numeral", " - qualificativo", " - relativo" (se
tal fôr a nomenclatura dos mesmos na obra), cada um dos quais
terá uma cota-parte dos primitivos trinta números remissivos da
entrada única inicial;
b) com relação aos onomásticos, o problema da averbação
não existe quanto aos intitulativos, que via de regra são averbados
11a forma da ocorrência real - por exemplo, "Indústrias Reuni-
das Francisco Matarazzo", "Casas Pernambucanas" (admitindo-
se, mas não necessàriamente, a exceção para eom os artigos, por
exemplo, "A Capital" ou "Capital, A") ; quanto aos topônimos.
tampouco, podendo-se, nos raríssimos casos em que sejam antece-
didos de artigo, dar a posposição dêste "na entrada;· os antropôni-
mos, entretanto, suscitam uma série de problemas específicos, a.
!eguir considerados muito por alto, à parte.
11.2. 2. 4 A averbação dos antropônimos sofre duas situações·
complicadoras: uma, cronológica; outra, "naeional":
a) do ponto de vista cronológico, há: verd·adeiros antropô-
nimos que, até a Idade :Média, ainda que compostos de d:>is ou
mais yocábulos, obrigam - por consenso e:rtranacional - à en-
14H ANTÔNIO HOUAISS

trada pelo primeiro elemento antroponímico ou pelo mais conhe-


cido na tradição; assim, "Dante Alighieri" (com a alternativa de
poder averbar "Alighieri, Dante, v. Dante"), os nomes papais
("Pio I, Pio V, Pio XII, João III, João VIII, João XXIII"),
certos antropônimos consistentes de um real prenome seguido de
um designativo de origem locativa ou toponímica, por exemplo,
"Chrétien de Troyes", "Antonello da Messina", "Apolodoro de
Damasco", "Apolônio de Rodes"; há-os, na Antiguidade, que
co;ncidem formalmente com a prática moderna: "Cícero, M [arco]
T [úlio] ", "César, C [aio] .J [ úlio] "; há, paralelamente, os proble-
mas relacionados com os títulos nobiliárquicos, que em geral se-
guem, para reis (ou equivalentes, monarcas), a forma papal, e
para os demais nobiliarcas a posposição do título : "Henrique V",
"Borgonha, conde Henrique de";
b) do ponto de vista "nacional", há a questão de se saber
se a averbação deve consistir, em princípio, na inscrição inicial-
mente do apelido, isto é, nome de família, sobrenome, seguido
de vírgula e o prenome mais os outros (se os houver) elementos
antroponímicos. Adotado que seja êsse critério, que tende a ser
universal, o problema consiste, então, em saber em certos nomes
estrangeiros qual o sobrenome, quando se tem em conta que entre
chineses e húngaros, para citar a êsses povos apenas como exem-
plo, normalmente o sobrenome é que vem anteposto. Mais fáceis
são os casos dos povos de língua inglêsa, francesa, italiana, por-
tuguêsa, russa, eslavas em geral, cuja prática se assemelha à mo-
derna brasileira. Mas, para ater-nos, apenas, ao português, a
questão ainda não se dirime em definitivo quando se atenta para
os sobrenomes compostos, tal o caso de JoAQUIM MARIA MAcHADO
DE Assis, em que o sobrenome é "Machado de Assis". Multipli-
cando-se, acaso, exemplos semelhantes num índice, cria-se quase
um problema de genealogia, com saber, em português, onde
abundam os sobrenomes com dois, três e mais vocábulos, qual ou
quais constituem o sobrenome propriamente dito. Daí a tendên-
cia para a averbação mecânica em português com o último sobre-
nome ( vocabularmente considerado), com averbação, se a tanto o
indiciador se julgar levado, de uma alternativa, a saber, "Assis,
Joaquim Maria Machado de" (seguido dos números remissivos)
e, noutro local alfab'ético, "Machado de Assis v. Assis".
11. 2 . 2. 5 Os bibliônimos, quando indiciados, seguem a ten-
dência dos intitulativos outros, ver 11.2. 2 . 3 b. ·
11.2. 2 . 6 A matéria é apenas aflorada aqui, sendo objeto de
normas biblioteconômicas e bibliográficas. A consulta da nrática
ELEMENTOS DE BIBLIOLOGIA 149

seguida por obras idôneas é de grande utilidade para o autor ou


editor-de-texto na elaboração do seu índice ( cf., por exemplo,
WEBS).

11.2.3 lndices - Uma obra pode conter um só índice ~


índice geral - ou vários. Como preliminar, atenhamo-nos a duas
distinções modernamente tendentes a prevalecer: (a) a criação
neológica de "indexar/indexaçãojindexadorjindexamento" e po-
tencialmente "desindexar. . . reindexar. . . subindexar ... ", contra
os vocábulos tradicionais com o radical erudito de "indiciar/indi.
ciação/indiciador/indiciamento//indicar /indicação/indicador /indi·
camento", para evitar quaisquer equívocos semânticos; (b) em
segundo lugar, o confinamento do vocábulo "índicejíndex", em
documentalística, ao material de entradas remissivo-locl}tivas dis.
postas alfabeticamente. Todo outro tipo de remissão-localização
que não fôr ordenado alfabeticamente - mas, por conseguinte,
sistemático-temàticamente - merecerá outro nome, de preferência,
em português (inclusive por sua tradição) tábua. Os índices,
. quando não gerais, são nos livros mais correntes dos seguintes
tipos: índice temático (das matérias, dos assuntos, dos temas etc.) ;
índice antroponímico ; índice toponímico ; índice de intitulativos ;
índice biblionímico, dos livros (que não deve ser confundido com
"obras citadas", "obras consultadas" e/ou "bibliografia"), e índice
especial (do tema por excelência da obra, tema de que ocorra farta
exemplificação específica na mesma obra, por exemplo, um estudo
de ornitologia em que, a par das referências científicas às aves de
uma área, região ou país, ocorram os nomes populares que, na
extensão física considerada, são empregados; por exemplo, um
estudo dos logradouros de uma cidade, com os nomes sucessivos
que alguns tiveram; em casos tais, o "índice especial" poderá
ter intitrilação explícita, "índice· das aves", "índice dos logradou-
ros" - nas hipóteses vertentes).
11. 2. 3 .1 A multiplicidade de índices, em princípio, é um mal,
porque supõe vários tipos de consulta. Seu desglosamento num
livro deve ser determinado por motivos tais que compensem o
esfôrço da consulta múltipla, não se justificando de outro modo.
De outro modo, é conveniente sempre recorrer ao "índice geral".
Nesse caso, deve ser adotada uma convenção tipográfica, cujos
princípios devem ser estampados logo após a denominação de
"índice geral", convenção tipográfica que tem por fim estabelecer
distinções visuais quanto às espécies indexadas - e tanto mais
justificável se no próprio corpo do texto se estabeleceu algo como
, uma convenção tipográfica visual para certos fins, por exemplo,
150 ANTÔNIO HOUAISS

antropônimos e bibliônimos. Transcreve-se, a seguir, por tradu-


ção, um exemplo colhido ao índ!ce geral do livro L'apparition
d1t lit•re, de LuciEN FEBVRF.. e H. J. MARTIN (FEBV, 529):

Os nomes de pessoas vão em CAPITAIS ROMANAS,


os nomes de lugares em CAPITAIS ITÁLICAS, os título$
das obras em min.tí.scnla.s itálicas, as noções em minúsculas
romanas. A Proposição, o Prefácio, as Notas e a Biblio-
grafia não foram indexadas -

índice êsse que, em função da maMria tratada na obra, versa


sôbre antropônimos, topônimos, bibliônimos e temas, nestes últi-
mos ocorrendo, em boa or!entação, entre parênteses, logo após a .
entrada, ~ma menção esclarecedora, por exemplo, "Romains (ca-
racteres)", quer dizer, "romanos (caracteres)", noção esta última
implícita na própria natureza do livro, que não sendo de história
ou de, por exemplo, deniopsicologia, não presume em "caracteres"
uma compreensão outra que não a tipográfica.
11.2 .4 Tábuas - Ao longo dêste livro já fizemos mais de
uma vez referência a tábuas. São elas, essencialmente, "índ!ces"
no sentido de que, também, remetem locativamente para partes
da obra. Diferem dos índices, porém, pelo princípio básico de
sua estruturação: os índices, stricto sensu, são sempre alfabéticos,
enquanto as tábuas só o serão por acaso, porque o princíp!o que
as informa é o da estruturação orgânica da obra, pinçando-se os
títulos e subtítulos da mesma para constituir as tábuas - a inti-
~ulação exaustiva, em suma, que houver sido adotada para a obra,
na mesma ordem de sua ocorrênc:a nela. Há os seguintes tipos
principais: (a) tábua de matéria, (b) tábua analítica, (c) tábuas
espec1a1s. A tábua da matéria é o que em certos livros . quinhen-
tistas portuguêses ocorre pura e simplesmente como taboada,
depois tábua da matéria mesma, por fim, mas impropriamente,
índice; corresponde, de regra, ao francês "table de la matiere",
ao inglês "contents", que os franceses de regra põem como parte
pós-textual e os inglêses como pré-textual, e os portuguêses, na boa
tradição, punham também como pré-textual. Em sendo excessi-
vamente minuciosa, é de boa regra desglosá-la em duas, a que
será a tábua da matéria propriamente dita, com os títulos mais
gerais, em regra só os capitulares e, se tanto, os subcapitulares,
e a que passará a ser a tábua analítica, que repete a tábua da
matéria enxertada de todos os outros subtítulos, ostensivos ou
implícitos, na primeira omitidos - caso em que a primeira con-
tjnuará como pré-textual e a segunda como pós-textual, antes ou
ELEMENTOS DE BIBLIOLOGIA 151

depois dos índices, pois que êstes nem sempre são colocados como
a última parte pós-textual do livro: com efeito, nos livros inglêses
os índices tendem avassaladoramente a aparecer in fine, enquanto
nos franceses ocorre não raro que essa posição seja ocupada pela
tábua da matéria, neste caso equivalente rigorosamente à tábua
analítica (pois que desprezada a dualidade de tábua da matéria
e tábua analítica). E nas obras de dois ou mais volumes pode
- e é de bom alvitre - - acontecer que no início de cada volume
(ou no fim) apareça a tábua da matéria do volume, e no fim
do último volume, ademais de sua tábua própria, uma tábua geral
da matéria que abarque as tábuas da matéria de cada volume da
obra.
11.2.4.1 As tábuas, quaisquer, não devem ser confundidas
com as chamadas "obras consultadas" ou "obras citadas", relação
dos livros que foram citados com, fontes do livro em causa, não
os sôbre os quais se tratou, mas os que serviram de base para
considerações encampadas no desenvolvimento da matéria do livro.
Por êsse motivo, os especialistas preferem que assim seja essa
relação referida, que não como "bibliografia", pois livros há que,
ademais de terem uma relação das "obras consultadas" ou "obras
citadas" têm, também, uma "bibliografia" da matéria, isto é, uma
relação de obras outras que, havendo tratado do mesmo assunto
ou afim do livro em causa, é oferecida aos leitores, geralmente
segundo um plano sistemático, para aprofundamento posterior de
~eus conhecimentos na questão em causa.

FIM
OBRAS CITADAS

ABRA Abreu, Casimiro de, As primaveras, fac-símile da edição ori-


ginal, introdução de Afrânio Peixoto, Rio de Janeiro, Ins-
tituto N acionai do Livro, 1952 - 3 .1.1.1
ABRE Abreu, Casimiro de, Obras completas, editadas por Sousa da
Silveira, São Paulo, Companhia Editôra Nacional, 1940
- 3.1.1
ABRF Abreu, Casimiro de, Obras de, apuração e revisão do texto,
escôrço biográfico, notas e índices por Sousa da Silveira,
2.a edição melhorada, Rio de Janeiro, Centro de Pesquisas
da Casa de Rui Barbosa, 1955 - 3 .1.1
ACAD Academia Brasileira de Letras, Pequeno vocabulário ortográ-
fico da língua portuguêsa., Rio de Jant>iro, lmprensr. Na-
cional, 1943. - 2.6, 2 . 6.6.1, 2.7 . 2 . 2, 2 . 8.5.1, 2.8.5.2,
2.8.5.5, 2.8.5.6, 2.8 . 5.14, 2.8.5.15, 2.8.5 . 16, 2.8.5.22,
2.8.5 . 23, 2.9.3.1, 2 . 9.3.3, 2.9.4
ACAL Academia das Ciências de Lisboa, Vocabulário ortográfico da
língua portuguesa, Lisboa, 1940. - 2. 6 .1, 2. 8. 5. 8, 2. 9. 3 . 3,
2.9.4
ALIP Ali, M. Said, Grammatica historica da língua portugueza, 2.a
edição, melhorada e augmentada de Lexeologia e Forma-
cão de palavras e Syntaxe do portu.guez hi3torico, São
Paulo, 1931 - 6.
ALIS Ali, M. Said, Gramática secundária da língua portuguêsa,
São Paulo, Cia. Melhoramentos de São Paulo, s/d- 2.7.4
Alighieri, Dante, v. DANT
Allen, Kent, v. SHER
Almeida, Renato, Inteligência do folclore, Rio de Janeiro,
Livros de Portugal, 1957 - 3 . 4. 5 . 4
AN.JO Anjos, Augusto dos, Eu, outras poesias, poemas esquecidos,
"Texto e nota", Antônio Houaiss, "Elogio de Augusto dos
Anjos", Orris Soares, "Notas biográficas", Francisco de
Assis Barbosa, 30.a edição, Rio de Janeiro, Livraria São
José, 1965 - 3.1.1
Arezio, Arthur, Diccionario de termos g?·aphicos, Bahia, Sal-
vador, Imprensa Oficial, 1936 - 1. 5. 3, 1. 5. 5. 2, 1. 5. 5. 9,
1.5.10.4
ARNS Arns, Evaristo, La technique du livre d'apres Saint Jérôme,
Paris, E. de Boccard, 1953 - 3.2.2
ABSI Assis, Joaquim Maria Machado de, Memórias póstumas de
Brás Cubas, Comissão Machado de Assis, Obras de Ma-
chado de Assis, VI, Rio de Janeiro, Instituto Nacional do
Livro, 1960 - 6. 3
ASSO Associação Brasileira de Normas Técnicas, Normalização da
documentação no Brasil, Rio de Janeiro, Conselho N acio-
nai de Pesquisa, Instituto Brasileiro de Bibliografia e
Documentação, 1960 [traz as normas sôbre numeração
progressiva, abreviação de títulos de periódicos, sinopses
e resumos, apresentação de publicações periódicas, sumá-
rio de periódicos e outros documentos, revisão tipográfica
e dactilográfica] [segunda edição, 1964] - 11.2 . 1.4
Augé, Paul, v. LARO
f
154 ANTÔNIO HOUAISf;

AULE Aulete, Caldas, Dicionário contemporânt:o da língua po,·tu-


guêsa, 5.& edição brasileira, revista e aumentada por Ha-
milcar de Garcia, Rio de Janeiro, Editôra Delta S. A.,
1964 -- 2.9.3.3, 2.9.4
BABE Babelon, Jean, "Numismatique ", in SAMA - - 8. 2 .1.1
Bandeira, Manuel, v. DIAS, DIAT, FmR
Barbosa, Francisco de A-ssis, 11. ANJO, BARR
BARB Barbosa, Rui, Oração aos moços, prefácio de Edgard Batista
Pereira, nova edição de Adriano da Gama Kury, Rio de
Janeiro, Casa de Rui Barbosa, 1956 -- 3.1.1
BARR Barreto, Lima, Obras de, 17 voll., organizadas sob a direção
de Francisco de Assis Barbosa, com a colaboração de
Antônio Houaiss e M. Cavalcanti Proença, São Paulo,
Editôra Brasiliense, 1956 -- 3 .1.1
BARS Barros, João de., Ropicapnefma, reprodução fac-similada da
edição de 1532, leitura modernizada, notas e estudo de
I. S. Révah, Lisboa, Instituto de Altos Estudos, I vol.,
1952, II vol., 1956 -- 5. 2 .1.1
Barroso, Gustavo, 11. FERR
BATA Bataille, André, "Papyrologie ", in SAMA - - 8. 2 .1.1
BAUE Bauersche Giesserei, Weiss-Schriften nach Entwürfen von
Professor E. R. Weiss, Antiqua, Kursiv, Kapitale, Lapi-
dar, Frankfurt A.M., s/d-- 1.5.5.7, 1.5.7
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TÁBUA GERAL DA MATÉRIA

Dedicatória . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . •. . . . . . . . . . . VII
Epígrafe . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . • . • . . . . . . . . . . . . VIl
Prefácio, de Thiers Martins Moreira . . . . . . . . . . . . . . . . . . IX
Palavras prévias . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . XXI
I Volume - Do Original . . . . . . . . . . . . • . . • . . . . . . . . . . . . . 1

CAPÍTULO i - CORRELAÇÃO DO ORIGINAL COM A


TIPOGRAFIA
Conceito da correlação . , ...............•.••...... .. 1.
Da correlação ..............•.... : ••......... .. 1. 1
Inteligibilidade do original ..••••.......... . 1. 1. 1
Manuseadores do original •.•..•••.......... 1. 1. 2
Vias do original ..........•••........... .. 1. 1. 3
Guarda do original ........••....•...•..... 1. 1. 4
Arquivo de originais ..........••••........ 1. 1. 5
Precisão convencional .................... . 1. 1. 6
Original precário ...... • , ............... .. . 1. 1. 7
Original perfeito .......•..•........ •. ..... 1. 1. 8
Recursos manuscritores ........•.••............ 1. 2
Traçado dos manuscritos ......•............ 1. 2. 1
Material manuscritor ......••....... , ..... . 1. 2 .2
Caracteres manuscritos .....•..•........... 1. 2. 3
Caligrafia. . ................•.•..•......... 1. 2. 4
Ligaturas ................•.....•.••...... 1. 2. 5
Autor manuscritor .....•..••......•....... 1. 2. 6
Declínio do manuscrito ... .................... . 1. 3
Magnetofones ..........•. • ......... . ..... 1. "3.
v. 1
"Civilização escrita" ..................... : . 1. 2
Recursos dactilográficos ........•............... 1. 4
Tablados ........................ ;•. •....... 1. 4. 1
Tábuas e afins .......................:..... . 1. 4. 2
Pauta dactilográfica ................ ~ ..... . 1. 4. 3
Recursos tipográficos ....................... . . . 1. 5
Tipo ............ ...... .••...••.......... . 1. 5. 1
Desenho das letras .........•......... ..... 1. 5. 2
Medidas dos tipos ...................•..... 1. 5. 3
Feição gráfica geral do livro ............. . 1. 5. 4
Corpos dos tipos . ·...........••............ 1. 5. 5
Estilos dos tipos ..........••..•.•......... 1. 5. 6
Nomenclatura dos desenhos ••.............. 1. 5. 7
Funcionalidade dos desenhos ....•........... 1. 5. 8
Mancha ................................. . l. 5. 9
168 ANTÔNIO HOUAISii

Provas tipográficas .. . ..... .. ....... .. . . . . . 1. 5.10


Impressão .. . ....... .. ...... ..... . ..... .. . 1. 5.11
Formato ou tamanho .. ... .. .. ... .... . . . .. . 1. 5.12
Normas para a correlação . . ...... .. .. .... ... . . 1. 6
Correlações e guias .. ... .. ... .... . . .. .... . 1. 6. 1
Ev~lu~o da gui9: .......... . . . ... , . ... .. . . 1. 6. 2
Ind1caçoes na guia . . .... .. ...... .. . .. . . . . . 1. 6,. 3
Sfmbolos de correlação do manuscrito ... .. . 1. 6. 4
Súnbolos de correlação da dactilografia ... . 1. 6. 5
Sfmbolos de correlação da tipografia . .. ... . . 1. 6. 6

CAPfTm.o IT - QUESTOES COMUNS AOS DIFEREN-


TES ORIGINAIS
Dos originais ... ... .. .. ...... ...... . .... . .. .... . .. . 2.
A produção do original . ... .. ... ..... . .. . . ... . 2. 1
Redaçõe-s prévias ...... .... . ... .. ...... . .. . 2. 1. 1
Autógrafos ... ... .. ... ..... .. , . ... ... . . . . . 2. 1. 2
" Edição definitiva " . : . . .... .... . . . .... .... . 2 . 1. 3
Autores vivos . . .. .. .. . .......... . .. .. . .. . . . .. . 2. 2
Consciência autoral . . .. . . . .. . . ... .... ... . . . . 2. 2. 1
" Correção " do original ... . . . . .... . . . . .. .. . 2. 2 . 2
Corretor ...... .... . ... .... ....... . .. . ... . 2. 2. 3
Manuscrito definitivo . . . . . . .. ..... .. ...... . 2. 2. 4
Caracteristicas materiais do manuscrito . .. . 2. 2. 5
Legibilidade · ..... . . . . .. .. .. .. .. . ... .. . . . . . 2. 2. 6
Indicações no manuscrito . .. . . ... . ... .. ... . 2. 2. 7
Revisão final do manuscrito .. .. .... .... . .. . 2. 2. 8
Autores mortos .... ... . . ... .. .. . . . . . ... ....... . 2. 3
Recuperação dos autógrafos e apógrafos . . . . 2 . 3. 1
Publicação de autógrafos e apógrafos . . . .. . 2. 3. 2
Representação gráfica .......... .... . ... .. . .. . . 2. 4
Problemas textuais genéricos ........ .. . . . . 2. 4. 1
Solução dos problemaa . .. .. ... . .. . .. .. .. . . . 2. 4. 2
Ortografias ............. . .... ... ... . . . . ..... . 2. 5
Ortografia fonética stricto sensu ...... . ... . 2. 5. 1
Ortografias úteis . . .. .. . . . ... . .. .. .. .. . ... . 2. 5. 2
Ortografia português& . . ..... . .. .. .... . . . . . ... . 2. 6
A s~tuação ~rasile!ra .. . .. . .. ... .. . . . .. .. .. . 2. 6. 1
Razoes de dtscrepancias .. . . . ..... .. . ..... . 2. 6 . 2
O sistema vigente . ... .... ..... .. .. . ... ... . 2. 6. 8
Formas optativas .... . . .- .. ... . .... . .. . . . . . . 2. 6. 4
Fatos essencialmente gráficos .... . ..... . . . . 2. 6. 5
Fatos gráfico-morfológicos ..... . ........ .. . 2. 6. 6
Tratamento ortográfico dos textos .... . .... . 2. 6. 7
Simplificação ortográfica dos textos .. . 2. 6. 7.8
Reprodução diplomática . . ........ . .. . . . 2. 6. 7.4
lndica~es para a simplificação ... . .. . . 2 . 6. 7 . 5
Pontuação . . ....•....•..... . . . .. ... . .. .... . . . 2. 7
Pontuação em português ...... . ..... ... . .. . 2 . 7. 1
Coordenadas da pontuação português& ... . . . 2 . 7. 2
Sinais de pontuação . .. : ,.· · .. ...... . ... . . . . . 2 . 7. 3
ELEMENTOS DE BIBLIOLO-GIA 169

Elementos normativos de pontuação · ... . .. . 2. 7. 4


Critica textual e pontuação .. . ... . . .... . .. . 2. 7. 5
Maiúsculas ................ . .. .... .... ... ... . 2. 8
. Tendências de uso ...... .... ... .... . . . .. . . 2. 8. 1
Problemas de normalização ............. .. . 2. 8. 2
Maiúsculas e nomes próprios ..... . .. . . . .. . 2. 8. 3
Emprêgo notacional ....... . ......... ..... . 2. 8. 4
Maiúsculas na onomástica ....... .. .. . . . . . . 2. 8. 5
Reduções ........... . ................. .. .. . . . 2. 9
Conceito de redução ........... .. .. .. .... . 2. 9. 1
Sistemática das reduções ..... . .. . . o • o o • •• 2. 9. 2
Abreviações . . o • •••••• o o o •• •• o o o o o o o • o o o o 2. 9. 3
Abreviaturas .................. o o o o o ••• o •• 2. 9. 4
Abreviaturas axiológicas .. o ••• o o o • • •• • o. o o 2. 9. 4.1
Abreviaturas autorais ...... o •• o o o • • • • • • o o o 2. 9. 4.2
Abreviaturas bibliológicaa .... o • o • o o • • o o • o • 2. 9. 4.3
Abreviaturas comerciais, Industriais e afins . 2. 9. 4.4
Abreviaturas crononfmicaa ..... .. ... . . o o •• 2. 9. 4.5
Abreviaturas forenses, judiciárias etc. . . o • • • 2. 9. 4.6
Abreviaturas médicas, farmacológicas, posoló-
gicas ...................... . ....... . 2. 9. 4.7
Abreviaturas musicais .. . . ... . . o •• • • • o •••• 2. 9. 4.8
Abreviaturas náuticas .. .. .... . . .. o o • •• ••• • 2. 9. 4.9
Abreviaturas teatrais ....... . .. . . . . o •• •••• 2. 9. 4.10
Siglas e abreviaturas ... . ....... o ••• o •• •• 2. 9. 5
De intitulativos do serviço público . .. . 2. 9. 5.3
De alguns bibliônimos .... . .......... . 2. 9. 5.4
De intitulativos de organizações interna-
cionais e estrangeiras ......... . . . 2. 9. 5.5
De alguns corônimos ................. . 2. 9. 5.6
De partidos, associaÇões, princípios, fir-
mas e afins ............... .. .. . o o 2. 9. 5.7
Sfmboloa .............. ... . . .. . .... . . 2. 9. 6
Sfmboloa metrológicos ... . .... . . .. . 2. 9. 6.1
Sfmbolos da rosa quadrantal e/ou da
circular ........... . ..... . . . . 2. 9. 6.4
Sfmbolos dos elementos químicos .. 2. 9. 6.5
Signos ........... . ..... . . . . .. ... .. . . 2. 9. 7
Signos astronômicos ...... . ...... . 2. 9. 7.1
Signos tipográfico-bibliológicos .... . 2. 9. 7.2
Sinais .............. . ..... .. ... . ... . 2. 9. 8
Algarismos e números ............ . . .. o •• • • •• • • 2.10
Algarismos ............ .. .... . . . ... .. . . . . 2.10. 1
Os sistemas ................ . . . . . . o • •• •••• 2.10. 2
Algarismos romanos .. . ... . . . ..•... o •••••• 2.10. 3
Algarismos arábicos ........ .... o o ••••• • •• 2.10. 4
Algarismos em geral .................... . 2.10. 5
Ortografia e morfologia dos números . . ... . 2.10. 6
Ordinais ......... . ............ o • • •• o • • •• 2.10. 7
Fràcionários 2.10. 8
Multiplicativos 2.10. 9
170 ANTÔNIO HOUAISS

<CAPÍTULO 111- TRADIÇÃO DA DOCUMENTAÇÃO ES-


CRITA
Do!! impressos .................................... . 3.
Acumulação de erros ............. ... ......... . 3. 1
Edições-de-texto no Brasil ............... . . 3. 1. 1
Erros, óbvios e latentes ....... .. ......... . 3. 1. 2
Correção e correção de erros ........... ... . 3. 1. 3
Textos e erros ........................... . 3. 1. 4
o
Crítica textual ou ecdótica ................... . "
i).
""
Estabelecimento de texto .......... ... ..... . 3. z. 1
A crítica textual no passado .............. . 3. 2. 2
A crítica textual moderna ................ . 3. 2. 3
A crítica textual atual ................... . 3. 2. 4
A crítica verbal ................ . ......... . 3. 2. 5
O problema da ecdótica ....................... . 3. 3
Estemática .............................. . 3. 3. 1
Testemunhos múltiplos .................... . 3. 3. 2
Estemática impressa ..•..................... .. . 3. A
Estabelecimento do texto ................. . 3. 4 . 5

.CAPÍTULO IV - TEXTOS CLÁSSICOS

Fontes 4.
Códices ..................................... . 4. 1
Pressupostos fundamentais .................. .. . 4. 2
A contaminação .............................. . 4. 3
Rela~õ~s de. ~eJ?endência ............... ..... . . . 4. 4
Trad1çao un1tar1a ......................... .. .. . 4. 5
Conjeturas ................................. . . 4. 5. 4
Valor do método ........................... .. . 4. 6
Tradição binária ............................. . 4. 7
Apresentação do material ..................... . 4. 8
Orientação bibliográfica ·mínima ... .. ..... .. .. . 4. 9

CAPÍTULO V - TEXTOS MEDIEVAIS


Códices medievais ....................... : . ..... : .. . 5.
Princípios estemáticos .................. .. .... . . 5. 1
Disponibilidade dos códices ............... . 5. 1. 1
Leitura dos códices .................. .. . . . 5. 1. 2
Crítica verbal .......................... .. . 5. 1. 3
Tipos de edição ........................ ·...... . 5. 2
Adequação dos tipos de edição ...... . ...... . 5. 2. 1
Texto crítico ............................ , .... . 5. 3
Critério geral de tratamento ...... ... ..... . 5. 3. 1
Critério ortográfico ....................... . 5. 3. 2
Disposição editorial .............. . ........ . 5. 3. 3
ELEMENTOS DE BIBLIOLOGIA 171

CAPÍTULO VI - ORIGINAIS MODERNOS


Português moderno .................... . ........ . . . 6.
Edições críticas de autores modernos ....... . .. . 6. 1
Estemática ............ . ...... .. ......... . 6. 1. 1
Edições críticas e edições fiéis ........ ... ... . . 6. 2
Textos fiéis e textos fidedignos .... . .. ... . . 6. 2. 1
Comissão Machado de Assis .................. . 6. 3
Uma aplicação concreta ............. . .... . . .. . . 6. 4
li Volume - Do Livro
CAPÍTULO VII - NORMALIZAÇÃO EDITORIAL
Cânon editorial .......................... . . ... ...... . . 7.
Grafosfera .................. . ......... . ....... . . 7.1
Normalização dÓ livro ......... . ........ . . .. . . 7 .1.1
Normalização especializada ......... . ... .. . . .. . 7 .1.:!
Em francês .............. . ........ . ......... . 7 . 1.3
Planos brasileiros . . ........................ . . . 7 . 1.4
Normas de revistas ...................... . ... . .. . 7.2
Tipologia especializada ...................... . .... . 7.3
Tipologia fonética ............ : ........ . ... . . . 7.3.1
Transcrição fonética folclórica ............ . .. . 7.3 . 2
Problemas de tradução .......................... . . 7.4
Tradução-revelação ... .... .... . ... . .. . . .. .. . . 7.4.1
O trabalho do tradutor . . ........... . ...... .. . 7 . 4.2
Técnica da tradução ..... . .................. . . . 7.4.3
Resumos e afins ................ . .. . ..... . . . . 7. 4.4
CAPÍTULO VIII - A FUNÇÃO DO LIVRO
Livro ........ . ........... .. ............... .. . · · . ... · 8.
Origem do conceito ........... . .... .. .. . ...... . . . 8.1
Determinação do conceito . ........... .. .. . .. . . 8.1.1
Outras determinações ............ . .. . .... .... . 8.1.2
Ainda outras determinações .. . ... . .. . . .. . . . . . 8 .1.3
Nomenclatura ainda ......... . . ... .. . .. . . . . .. . 8.1.4
O livro e a documentação ............ . ....... ... . 3 .2
A documentação atual .......... . ... . . . ..... . 8.2.1
Em tôrno de ~livro" ............ .. ... . . ... .. . 8 . 2.2
Ainda a documentação ...... . .......... .... . . 8.2.3
O livro moderno .. . ... . ......... ... .... ... .... . . . 8. 3
Partes do revestimento .. . . .. ...... .... .. .. .. . 8 . 3.1
Partes do corpo ..... . . .. .. . ...... . ... . . . . .. . 8.3.2
Partes do texto lato sensu ..... . .... . . . ...... . 8 . 3.3
No tas e afins ... . .... . . .. .... .. . . .. . ... . ... . 8.3.4
Texto stricto sensu .......... . ... .. .. . ....... . 8. 3. 5
Parte pós-textual ........ . .... . ...... . .. .. . .. . 8.3.6
CAPÍTULO IX - FEIÇOAMENTO DO LIVRO
A tradição do livro . . ............. . ....... . . . ... . .... . 9.
Um pouco de história .. . . . ......... . .. . ... . . . 9 .0.1
O pergaminho ...•. . ........ . ..... . .. . .... .. ... 9 .0.2
Revisão .......... . .. . .... . . . ..... . .... .. .. . ... . . . 9.1
Revisão tipográfica ....... . .... ...... ..... . ... . 9.1.1
172 ANTÔNIO HOUAISS

Paginação .. .. .. .. . . ... . .. ........ . .. ·. · · · · · · · · · · · 9 .2


Ainda a paginação ........ .. .......... . . . .. .... . . . 9.3
Manchas especiais ... . .. .. .. . . ....... . ..... . . . . 9.3.1
Manchas regulares . . ....... ... ..... . ........ . . 9.3.2
Mancha e notas .. .. .. . . .... . . .. . . . . . . .. .. .. . . . 9.3.3

CAPiTuLo X - O APARATO NUM LIVRO


As fontes ideológicas ... . .. ..... . . .... ..... . ......... . 10.
A tradição . ............. . .............. . .... . 10.0 .1
A citação .... .... .. ..... . .. . . . . .. .... . .... .. .... . 10.1
Citador ideal .. .. . ... . . ... .. ..... . ...... . . . .. . 10.1.1
Caracterização material ... . .. .. .. .. ......... .. ... . 10.2
Aspeamento ... .. . .. ... .... .. .......... . .... . 10.2 :1
Uso do branco . . .. ...... . .. . ... .. ..... .. . . .. . 10.2.2
Citação de versos .... . ... . .... . ........ . . . . . . 10.2.3
"Lição" das citações ......... .. ....... ... . . .. . 10 .2.4
Remissões . . ... . ......... ... ... ... .. . .. .... . . ... . 10.3

CAPÍTULO XI- SECCIONAMENTO E INDEXAÇÃO


Seccionamento ... . .... . .. . ... . ... . ............. . .... . 11.
Histórico . ......... .. .... . ............. . ....... . 11.1
Divisão do texto . .... .. . .. . .................. . 11.1.1
Seccionamento fisico ...... . .. .. ...... . ....... . 11 . 1.2
Seccionamento orgânico ..... . ................ . 11.1.3
Indexação .... ....... ... ............... . . ..... . . . 11.2
Numeração .. .... .. .... . . . . . ......... . ...... . 11.2.1
Averbação .... . ..... . . . .................... . 11.2.2
índices ........ . .... . .... . ............ .. .. . . . 11.2.8
Tábuas . . . . . . . . . . . . . .. . .. . ............... . 11 . 2.4
íNDICE GERAL

Os ANTROPÔNIMOS vão em versal-versalete; os bibliônimos vão em


itálico; intitulativos outros e topônimos vão em redondo, antecedidos
de maiúscula; os temas vão em redondo, antecedidos de minúscula
(salvo maiúscula orgânica e salvo grifo orgânico).
AA, número de 1.5 . 5.7
abaixador 1.5.5. 10
ABREU, CASIMIRO DE 6.1
ABREU, JOÃO CAPISTRANO DE 3 . 1.1
abreviações 2.9 . 2.1, 2.9 . 3
abreviações, exemplário de 2. 9. 3. 3
abreviações, evolução das, em português 2. 9 . 3. 2
abreviações, normas de, em português 2 . 9 ..3 .1
abreviaturas 2.9 . 4
abreviaturas autorais 2.9 . 4.2
abreviaturas axiológicas 2. 9. 4 . 1
abreviaturas bibliológicas 2.9.4 . 3
abreviaturas comerciais, industriais e afins 2 . 9 . 4 . 4
abreviaturas crononimicas 2. 9. 4 . 5
abreviaturas e siglas 2.9.5, 2.9 . 5 . 1, 2.9.5.2
abreviaturas e siglas de alguns bibliônimos 2. 9. 5. 4
abreviaturas e siglas de intitulativos do serviço público brasileiro P.
afins 2.9.5.3
abreviaturas e siglas de alguns corônimos 2. 9 . 5. 6
abreviaturas e siglas de intitulativos de organizações internacionais e
estrangeiras 2. 9. 5. 5
abreviaturas e siglas de partidos, associações, principias, firmas e afins
2 . 9.5.7
·abreviaturas forenses, judiciárias 2. 9. 4 . 6
abreviaturas médicas, farmacológicas, posológicas 2 . 9. 4. 7
abreviaturas musicais 2.9.4 . 8
abreviaturas náuticas 2.9.4 . 9
abreviaturas teatrais 2.9.4.10
abridged 7. 4 . 4
abstra.ctB 7. 4. 4
Academia Brasileira de Letras 2. 6 . 1, 3 .1.1.1
Academia das Ciências de Lisboa 2. 6 .1
Académie Royale des Sciences (Paris) 1. 5 . 6. 9
acentos gráficos 1. 2. 3
adaga (signo) 2. 9. 7. 2 (24)
adaga dupla (signo) 2.9.7 . 2 (25)
adendo 8 . 3.6.3
adjetivos axionimicos 2. 8. 5 . 21
Aetna, De 1.5.6.4, 1.5.6.5, 1.5.6.6
agnomen 2.8.5.1 (3)
ALBUQUERQUE , MEDEIROS E 2. 6. 3
alcunha 2.8.5.1 (4)
174 ANTÔNIO HOUAISS

aldinos, clássicos 1. 5. 6. 5
aldinos, itálicos 1. 5 . 6 . 5
ALDUS MANUTIUS ROMANUS 1. 5. 6.3, 1.5. 6.4, 1. 5. 6.5, 1.5. 6.11
ALEGRE, MANUEL JOSÉ DE ARAÚJO PÕRTO 3.1.1
Alemanha 1.5.5.7, 1.5.6.2, 1.5.6.13, 1.5.6.14, 1.5.6.15
ALENCAR, JOSÉ MARTINIANO DE 3 .1.1
ALEXANDRE MAGNO 11.1
alfabeto fonético internacional 7. 3 .1. 2
algarismos 2.10 .1
algarismos arábicos 2.10. 4
algarismos e números 2.10
algarismos e sistemas 2.10. 2
algarismos em geral 2 .10. 5
algarismos romanos 2.10. 3
altura do desenho dos tipos 9. 2. 4
altura do tipo 1.5.3, 1.5.5.12
altura francesa 1 . 5. 5 . 12
altura inglêsa-america~a 1. 5. 5. 12
altura " x" 1.5.8.2, 1.5.8.4, 1.5.8.5
alusão 10 . 1.1.3 . 8
ALVARENGA, MANUEL INÁCIO DA SILVA 3.1.1
ALVERNE, FRANCISCO DE MONTE 3 .1.1
ALVES, ANTÔNIO DE CASTRO 3 .1.1
amarrar paquês 1. 5 . 5 . 10
Amsterdão 1. 5.6. 7
AMYOT, JACQUES 2.2.2
âncora (signo) 2.9.7 . 2 (18)
âncora inversa (signo) 2 . 9.7 . 2 (17)
ângulo (signo) 2 . 7 . 11
ângulo maior (signo) 2.9.7.2 (28)
ângulo menor (signo) 2.9 . 7.2 (29)
animais, designação de, e maiúsculas 2. 8. 5 .12
ANJOS, AUGUSTO DOS 2. 6. 7 .
ANJOS, CIRO DOS 6.4.1.1
ante-rosto e livro 8.3 . 3.7
antígrafo 2.9 . 7.2 (7)
antíqua, família tipológica 9 . 2. 9, 9. 2. 9. 3
antí qua, littera 1. 5 . 6 . 1
antíquas, letras 1. 5. 6 .18
antissigma 2.9.7.2 (11)
antonomásicos, v. antonomásticos
antonomásticos 2 . 8. 5 . 1 (7)
antropônimos 2. 8 . 5 .1
Antuérpia 1 . 5.6.7
aparato crítico de textos clássicos 4 . 8.3, 4.8.3.1, 4.8.4, 4.8.4.1,
4.8.4.2, 4.8 . 4.3
apelido (como sobrenome) 2.8.5.1 (2)
ápices 2 . 7 . 1.1
apógrafos, publicação de 2. 3. 2
apógrafos, recuperação de 2. 3 .1
árabes, caracteres 1 . 5 . 5.7
arábicos, algarismos 2 . 10. 4
Aragão 1.5.6.15
ardósia 1.2
ARISTARCO 3 . 2 . 2
E LEME N T·O S DE BI BL I OL OGI A 175

.AIUSTÓFANES DE BIZÂNCIO 3.2.2


arquivos de originais 1 .1 . 5
ARRIGHI, LUDOVICO 1. 5 . 6. 5
árvore de tipo 1. 5. 3
aspas, tipos de 10.2.1 e segg.
aspeamento, normalização do 10 . 2 .1. 6
assinatura da mancha 1. 5 .11. 3
assíndeton 2. 7 . 4
ASSIS, JOAQUIM MARIA MACHADO DE 2.2 . 3, 2.6 . 7, 6.4 . 11 e segg., 7.4 .4,
10.1, 11.2.1.4
Associação Brasileira de Normas Técnicas 11 . 2 .1. 4
Associação Fonética Internacional 7. 3 .1. 2
asterisco 2.7.1.1, 2 . 9.7.2 (1)
asterisco-obelisco 2. 9. 7. 2 ( 5)
asterisco-óbelo 2 . 9 . 7 . 2 ( 5)
astronímicos, signos 2. 9. 7 .1
astrônimos (; maiúsculas 2. 8. 5. 3
ATAÍDE, .AUSTREGÉSILO DE 6. 4 .1.1
atar paquês· 1. 5 . 5.10
atétese 4.5.4 . 4
ÁTICO, Trro PoMPÔNIO 9 . 0 . 2.9
augutttaux, caracteres 1. 5. 6 .13
autógrafos 2., 2.1.2, 2 . 2
autógrafos, publicação de 2. 3. 2
autógrafos, recuperação de 2. 3 .1
autor (conceito de) 1.0 . 0.1
autor, dados biobibliográficos de 8 . 3 . 3.18
autor manuscritor 1.2.6
autores modernos e edição crítica G.1
autores mortos, manuscritos de 2 . 3
autores vivos, autógrafos de 2. 2
autores vivos, edição de 7 .1.1.1
autoria 10 .1.1. 3.10
autoria e sl'ccionamento 11.1. 1.1., 11 . 1. 1. 4
averbação e ipdexação 11 . 2 . 2, 11.2.2.1, 11 . 2 . 2 . 2 . , 1 . 2.2.3
.AVIANO, FLÁVIO 3.2.3
avizinhamento de tipos 1. 5 .1, 1. 5. 8. 2
axiônimos e maiúsculas 2. 8. 5 .19, 2. 8. 5 . 20
AzEVEDO, ALUÍSIO DE 3 .1.1
BÁBRIO 3.2.2
BARBOSA, DOMINGOS CALDAS 3. 1.1
BARBOSA, RUI 2.6.7, 2.8.2
Barcelona 1.5.6.15
Barlaão e Josafá 5.2 . 1
BARRETO, .AFONSO HENRIQUES DE LIMA 2.6.7, 6 . 1, 6 . 4 . 3.4.1 c
BARR.E'I'O, MÁRIO 7. 4.1 . 4
BARR!n'O FILHO, M. 6. 4 .1.1
BAS.KERVILLE, JOHN 1.5 . 6.6, 1.5.6.11, 1.5.6.13
BÉ, GUILLAUME DE 1.5.6.6, 1.5.6.9
BEAUDOIRE, JEAN 1.5.6.13
BÉDIER, JOSEPH 3 . 2.4
BEMBO, PIETRO 1. 5. 6. 4
Bembo, tipos 1.5.6.4, 1.5.6.8
BENEDICTUS, ALEXANDRE 1. 5. 6. 4
Bíblia 2.5 b (2), 3.2.2, 3 . 2 . 3, 5.1.3, 11.2.1.3
176 ANTÔNIO HOUAISS

Biblia in folio (1532) 1.6.6.6


Biblia polyglottica 1. 5. 6. 7
bibliocirurgia 8. 2. 2 . 4
bibliocleptomania 8. 2. 2. 5
bibliofilia 8 . 2. 2. 5
bibliofobia 8. 2. 2. 5
bibliofotografia 8. 2. 2. 4
bibliognosia 8 . 2 . 2 . 6
bibliografia 8. 2 . 2. 2
bibliografia mínima clássica 4. 9
bibliográficas, remissões 10.3. 4
biblio-bistoriografia 8. 2. 2 .1
bibliolatria 8. 2. 2 . 5
bibliologia 7 .1, 8. 2. 2. 2
bibliomania 8 . 2. 2. 5
bibliônimos 2 . 9 . 5. 4
bibliônimos e maiúsculas 2. 8. 5. 4
bibliopatologia 8. 2. 2. 4
biblioprofilaxia 8. 2. 2 . 4
bibliosofia 8 . 2 . 2. 1
bibliotafia 8. 2. 2 . 5
biblioteca 8. 2.1 , 1, a
Biblioteca Mun,~cipa~ de São Paulo 1.1.4
Biblioteca N acfanal 'do Rio de Janeiro 1.1. 4
bibliotecas, seção ·.' de manuscritos das 1.1. 4
bibliotecnia 8. 2. 2'~ 3
bibliotécnica 8 . 2 . 2 . 3
bibliotecnografia 8. 2. 2. 3
bibliotecnologia 8. 2. 2. 3
bibliotecocirurgia 8. ~. 2. 4
bibliotecnografia 8 . 2. 2. 3
bibliotecologia 8 . 2. 2. 2
biblioteconomia 8 . 2. 2. 2
bibliotecopatologia 8. 2 . 2.4
bibliotecoprofilaxia 8. 2. 2. 4
bibliotecotecnologia 8. 2. 2. 3
bibliotecoterapia 8. 2 . 2. 4
biblioterapia 8. 2. 2. 4
biobibliográ:ficos, dados, de autor 8. 3. 3 .18
Bodoni, família de tipos 9. 2. 9, 9. 2. 9.4
BoDONI, GIAMBATTISTA 1.5.6.8, 1.5.6.11, 1.5.6 .12, 1.5.6 ;18
boneca (tipografia) 2.2.4
book 8.
BRANOO, CAMILO CASTELO 7 . 4 .1. 4
branco interlinear 1.6.1
branco interliteral 1.5.1
branco-no-prêto e livro 8. 3. 5. 3
brancos e citações 10.2.1.7, 10.2.1.8, 10.2.1.9, 10.2.2, 10.2.2.1
braquia 2 . 7 .1. 1
braquilogia e maiúsculas 2.8.5.23
breviário (corpo de tipo) 3. 5. 6. 11
breviários 1. 5 . 6 . 2
BROCA, BRITO 6. 4. 1. 1
Buck (ai.) 8.
BULMER, WII..LIAM 1.5.6.13
ELEMENTOS DE BIBLIOLOGIA 177

Burgos 1.5.6.16
cabeço de letra 1.6.2, 1.6.8.4
cabeço de página e página 9 . 3.3.6, 9 . 3 . 3 . 6, 9 . 3 .3 . 7
CABRAL, ALFREDO DO V ALE 3 .1.1
caixa alta 1. 5. 5. 8, 9. 2. 7
caixa baixa 1. 5 . 5 . 8
caixa cega 1.5.5.9
caixa de espaços 1.5.6.9
caixa de sinais 1 . 5.6 . 9
caixa de sobras 1.5.6.9
caixa de ~;ortes ou sortimento 1. 6. 5 . 9
caixa de tipos 1.5.6.7, 1.5.6 . 8
caixotins 1. 5. 5.8
CALDAS, ANTÔNIO PEREIRA DE SOUSA 3 .1.1
caligrafia 1. 2. 4
caligráficos, estilos 1. 2.1
CALMON, PEDRO 2. 6 .1
CAMÕES, Lufs DE 6 .1
cancellaria, tipo 1. 5. 6. 5
Cancioneiro de Martin Codax, O, e texto medieval crítico 5 . 3. 26
cânon editorial 7.
capa 8.3.1.1
capa e livro 8.3.3.3, 8.3.3.4, 8 . 3.3 . 5
CAPANEMA, GUSTAVO 2.6.1
capitular, letra 9.3.1.2, 9.3 . 1.3, 9.3.1.4
capitular, mancha 9. 3 .1.1, 9. 3 .1. 6
capitular, página 8.3.5.1
capitulo, manchas finais de 9. 3 .1. 6
caracteres manuscritos autônomos 1. 2. 3
carga de negro e ·largura de linha 1. 6. 8. 2
CARLOS, FRANOISCO DE SÃO 3 .1.1
carolingio, manuscrito 1. 2 .1, 1. 6. 6 .1
CARVALHO, VICENTE DE 2.6.7
CASLON, WILLIAM (sênior) 1.5.6.4, 1.5.6.6, 1. 5 . 6. 9, 1.6 . 6.11,
1.5.6.13
CASLONS, WILLIAMS (sênior e júnior) 1. 5. 6.11
C as tela 1. 5. 6 .15
CASTELO BRANCO, CAMILO, ti. BRANCO, CAMILO CASTELO
Castelo perigoBO, O 6.
CASTILHO, ANTÔNIO FELICIANO DE 7 .4.1.4
catálogo de fundidoras 1.6.6.7, 1.6.6.19, 1.6 . 6.26
catálogo de impressoras 1. 6. 6. 7
CATULO, GAlO VAIJiRIO 3.2.3
cauda de letra 1.6.2, 1.5.8.4
CAXTON, WILLIAM 1. 5. 6 .13
censura e livro 9.0.2.10
Centro de Estudos Filológicos, de Lisboa 7. 3 .1. 3
centro de tipo 1. 5.1
ceráunio 2. 9. 7.2 (14)
cerifa 1.5.6.9
cerifa moderna 1. 5 . 6. 8
cerifas de tipos 1. 5 . 1
. chancelaria, tipo 1. 6. 6. 5 ..
Chancelaria Vaticana 1. 5. 6. 5
chancellerie, tipo 1. 5. 6. 6
178 ANTÔNIO HOUAISS

chancery, tipo 10 5o 6 o5
CHARDIN, TEILHARD DE 7 o1
chief editor 1o OoOo1
chineses, caracteres 1o5 o5 o7
Chiswick Press 1. 5 o6 013, 1. 5o 6 o14
CíCERO, MAROO TÚLIO 1.5o5o1, 9o0o2 o9
cícero 1.5o5o1, 1.5o5o2
cinemateca 8o2 ol.1 c
citação 10 o1, 10 ol.1
citação, aspeamento na 100201, 10o2ol.1, 10o2ol.2, 10 o2ol.3, 10o2ol.4,
10 o2o1 o5, 100201 06
citação, caracterização material da 10 2 o

citação de versos 10 o2 o3, 10o2o3o1


citação direta 10ol.l.3o4, 10ol.l.3o5
citação, espécies de 10ol.l.1, 10 ol.l.2, 10 ol.l.3, 10ol.l.3o1
citação e lição das 10 o2o4, 10o2 o4 o1, 10o2o4o2, 10o2o4o3, 10o2o4o4,
10 o2o4o5
citação e tipos 10 o2ol.10, 10o2ol.ll
citação, espécies de 10 ol.l.1, 10 ol.l. 2, 10 ol.l. 3, 10 ol.l. 3 o1
citação no original 10 ol.l. 3 o2
citação por tradução 10 ol.l. 3 o3
citação, questões conexas com 10 ol.l. 4
citador ideal 10 o1o1
civilização escrita 1o 3 o2, 7 o1
codex unicus 401, 4ol:1
códices clássicos 4 1o

codices eliminandi 4. 1 . 2
códices medievais 5.
códices medievais, disponibilidade dos 5 .1.1
códices medievais, leitura dos 5 . 1. 2
cognome 2 .8.5.1 (3)
cognomen 208.5.1 (1)
COLINES, SIMON DE 1.5.6.5
colofão 803.6.6
Comissão de Metrologia, Brasil 2. 9. 6. 2
Comissão Machado de Assis 6.3, 11.2.1.4
comissiva e remissio 10.3 .1
compilador 1. O. O.1
componedor 1 . 5.5.10
composição, alternância de corpos na 1. 5. 6. 20
composição tipográfica 1. 5 .10. 3
condensé 7 . 4. 4
condensed 7 . 4 . 4
Congresso do Livro, Paris ( 1917) 1. 5o 12 .1
conhecimento 10.
conjeturas 4 . 5 . 4, 4 . 5.4 . 1, 4 . 5.402, 4 . 5.403, 4.&."4.4, 4.5.406, 4 . 5.4.7
consciência autoral 2. 2.1
consciência verbal da leitura 1. 5 . 8 6, 1. 5. 6. 8 . 7
o

Conselho Superior de Investigações Cientificas, Madrid 5 . 2 .1


contaminação 403, 4.3.1, 4.3.2, 4.3 . 3
CONTE, JEAN LE 1L2 . 1
contracapa 8 3. 6 . 7
o

cdntraste do desenho dos tipos 9 2. 5 o

convicções e maiúsculas 2. 8 . 5 . 22
cópia, precisão convencional da 1. 1. 6
ELEMENTOS DE BIBLIOLOGIA 17!)

copistas 1. ú. 6 .1
Corão 2 . 5 b (2), 11.2.1.3
coroa (signo) 2 . 9.7.2 (19)
corônimos 2.8.5.13 a, 2.9.5.6
coron is 2.9.7.2 (19), 11.1, 11.1.1.2
corpos celestes, signos de 2. 9 . 7 .1 b
corpo do livro 8. 3. 2
corpo do tipo 1.5.3, 1.5 . 5, 1.5 . 6 . 17
corpo dos tipos grandes 1. 5. 5. 3
corpo tipográfico, identificação do 1 . 5 . 5. 5
correção e correção de êrro 3 . 1 . 3
correlação da dactilografia, símbolos de 1. 6. 5, 1. 6 . 5 .1, 1 . 6. 5 . 2
correlações e guias 1. 6 .1 .
correlação entre a cópia e o futuro livro 1.
correlação, normas para a 1. 6
correlação, símbolos de 1. 6. 4
correlação tipográfica, símbolos de 1. 6 . e
corretor 2 . 2 . 3
corte de tipo 1. 5 .1
COSTA, CLÁUDIO MANUEL DA 3 .1.1, 6.1
COSTER (KOSTER), LAURENS JANSZOON 1.5.6 . 2
crã de tipo 1.5 . 1
crenônimos 2. 8 . 5 . 13 g
cresímon 2 . 9.7.2 (15)
criia 2.9 . 7.2 (10)
criptônimos 2. 5. 8.1 (9)
criptotecas 8. 2 .1 . 1 a
cristo (signo) 2. 9 . 7. 2 (22)
critério crítico geral de tratamento de texto medieval 5. 3, 5 . 3 . 1
critério crítico geral em O cancioneir o de Mar tin Coda x 5 . 3 . 2. 5
critério crítico geral e texto medieval 5 . 3 . 2. 6
critério crítico geral na Crónic.a geral de Espanha em 1344 5.3.2.4
critério crítico geral nos Diálogos de são Gregório 5 . 3 . 2. 3
critério crítico geral no Livro dos ofícios 5 . 3 . 2 . 2
critério ortográfico de tratamento de texto medieval 5 . 3, 5. 3. 2
crítica textual 3 . 2
crítica textual atual 3. 2. 4
crítica ·textual e pontuação 2. 7 . 5, 2. 7 . 5 . 1, 2 . 7. 5. 2, 2. 7. 5 . 3, 2. 7 . 5 . 4,
2 . 7.5.5, 2.7.5 . 6 .
crítica textual moderna 3 . 2. 3
crítica textual no passado 3. 2 . 2
crítica verbal 3. 2 . 5
crítica verbal dos textos medievais 5 .1 . 3
crítica verbal e pontuação 3. 2. 5 . 7
crítica verbal e variantes 3. 2. 5. 1
CrÕ1tica geral de Espanha em 1344 e texto medieval crítico 5.3 .2.4
cronônimos e maiúsculas 2. 8. 5. 5
cruz (signo) 2. 9. 7. 2 (23)
eruz de Lorf'na (signo) 2 . 9.7.2 (26)
cruz de Malta (signo) 2.9.7.2 (22)
cruz dupla (signo) 2.9.7.2 (26)
CUNHA, EUCLIDES DA 2. 6. 7, 3 .1.1, 6.1
cursiva 1. 5. 6.1
cursiva, espécie 1. 2 . 1
cursivas, famílias tipo lógicas 9. 2. 9, 9 . 2. 9. 5
180 ANTÔNIO HOUAISS

cursivo 1. 5.6 .17


dactilografia 1. 3, 1. 3. 2
dactilográficos, recursos 1 . 4
DAY, JOHN 1.5.6.6
decalque 10.1.1.3.10
declinio do manuscrito 1. 3
dependência dos testemunhos 3.3.1.2, 4.2, 4.2.1, 4.2.2, 4.3.4, 4.8.1i
dependência, relações de 4 .4, 4. 4.1
desenho das letras (tipografia) 1.5.2
desenho dos tipos 1.5.6.17, 1.5.6.18
·desenhos dos tipos, funcionalidade dos 1.5.8
liesenhos dos tipos, nomenclatura dos 1. 5. 7, 1. 5. 7 .1
dialectol6gico, material 1. 3 .1
'Diálogo• de são Greg6rio e texto medieval critico 5., 5. 3. 2. 3
Diário, de ALExANDRE BENEDICTUS 1. 5. 6. 4
DIAS, ANTÔNIO GoNÇALVES 6. 4. 3. 1 c, d
dietafones 1. 3
DIDOT, FRANQOIB-AMBROISE 1.5.5.1, 1.5.5 . 2, 1.5.5.11, 1.5.5.12
Didot, famflia tipol6gica 9. 2. 9
Didots, letras 1. 5. 6 .18
DIDOTS, os 1. 5 . 6 .11
digest 7 .4 . 4
diplo 2 .9.7.2 (12)
diplomática, reprodução 2. 6. 7 . 4
diplomatotecas 8.2.1.1 e
diplo truncado 2.9.7.2 (13)
aireitos autorais 8. 3. 3 . 15
direitos editoriais 8.3. 3.15
diretor-de-texto (conceito de) 1. O. O.1
discoteca S . 2 .1. 1 b
"ditJplay, caracteres de 1.5.6.25
disposição editorial crítica ·e texto medieval 5 . 3. 8, 5. S. 3 .1, 5. 8. 3. 2
diuinatio, divinatio 4.0.3
divisão (como sinal de pontuação) 2 . 7 . 1. 1
documentação 7 .1, 8 . 2.1
documentação e livro 8.2, 8.2.2, 8.2.8
documentos falsos 1 . 2 .1.1
dorso 8.3.1.2
dupla adaga (signo) 2.9.7 .2 (25)
DYCK, CHRISTOPHER VAN 1.5.6.6, 1.6.6.7, 1.6.6.8
'ecdótica 3.2_, 3.2.4, 8 . 2.2.4 ·
ecdótica, problema da 3. 3
ecdóticos, valor dos métodos 4. 7. 4, 4. 7. 4 .1
edição critica de texto moderno 6 . 4
edição critica e autores modernos 6.1
.~dição critica e edição definitiva 6 .1.1. 4
'edição critica e edição fiel 6.2
edição de autores vivos 7 .1.1.1
edição defini tiv a 2 . 1. 3
-edição definitiva e edição critica 6 .1.1. 4
'edição diplomática de textos medievais 5.2.1, 5.2.1.1
edição e partes pré-textuais 8.3.4.3, 8.3.4.4
edição em vida e texto moderno critico 6. 1.1. 3
edição fiel e edição critica 6. 2
ELEMENTOS D!; BIBLIOLOGIA 181

edição principe e texto moderno critico 6 .1.1. 2


edições e livro 8. 3. 3.16
éditeur 1.0.0.1
editor (conceito de) 1.0.0.1
editor (esp.) 1.0.0.1
editor (ing.) 1.0.0.1
editor-de-texto (conceito de) 1 . O. O. 1
editor e livro 9 . 0 . 2 . 9
editoração 8.2 . 2.3
editore (it.) 1. O. O.1
egipcia, famUia tipológica 9.2.9, 9.2 . 9.2
egipcias, letras 1. 6. 6 .18
elementos quimicos, simbolos de 2. 9. 6. 5
·elimina tio codicum descriptorum 4 .1.1
Elzevir, tipo 1.5.6.13
Elzevires, letras 1. 5. 6. 8
ELZEVIRES, os 1 . 5. 6 . 8
emenda tio 4. O. 3
encadernação e livro 8.3.2.2, 9.0.2.8
entrelinha 1 . 5 .1
~SC~ES, OS 1.5.6.11
Epidemia, De 1.5.6.4
epigrafotecas 8. 2. 1.1 a
Epütolae ad familiares 1. 5. 5 .1
eremônimos 2. 8. 5.13 1t,
Erotemata 1.5.6.4
errata 8.3.6.4
êrro, acumulação de 8.1
êrro, correção de 3 .1. 3
êrro diretivo 8. 3. 1.1
êrro e texto 8 .1. 4
êrro e variante 8.2.5.2
êrro-guia 8.8.1.1
~rro óbvio 3.2.5.5
@rro, 6bvi9a e latentes, 3 . 1 •
êrro, razões do 8.2.6.3
êrro, tipos de 8.2 . 6.3
errores coniunctiui 3 . 3 . 1. 4
errores separatiui 3.3.1.3
errores significatiui 3.3.1.1, 3.8.1.2, 3.3.1.3, 3.3.1.4, · 3.3.1.5,
3.3.1.6, 3.3.1.7, 8.8.1.8, 3.3.1 . 9, 8.3.1.10
escaninhos 1. 5. 5 . 8
Espanha 1.5.6.2
Espanhas 1.5.6.15
espelho (tipografia) 2 . 2.4
-estabelecimento de texto 3. 2 .1, 3 . 4. 5, 8. 4. 5.1
estabelecimento de texto medieval critico 5. 3
Estados Unidos da América 1. 5 . 5 . 7, 1. 5 . 6. 14
estilos dos tipos 1. 6. 6
estema· em textos medievais 5 .1
estema, pressupostos fundamentais para a constituição do 4.2
.ll!stemática 8. 3.1
estemática e texto moderno 6 .1.1
estemática impressa 3.4, 3.4.1, 8.4.2, 3.4.3, 3.4.4, 3.4.5, 3.4.5.2.
3.4.5.4
182 ANTÔNIO HOUAISS

estenográficos, sistemas 1. 2. 5
ESTIENNE, ROBERT 1. 5. 6. 5
ESTJENNES, os 1.5.6. 7
Estrasburgo 1. 5. 6. 2
etnônimos e maiúsculàs 2. 8. 5. 8
etrusca, família tipo lógica 9. 2. 9
examina tio e seu valor 4. 6
edições-de-te.xto no Brasil 3 .1.1
face capitular 8.3.5.1
face de tipo 1.5.1, 1.5.3
fachada 8.3.3.8
falso rosto 8 . 3.3.7
falsos documentos 1.2.1.1
família de tipos 1. 5. 6.17
família romana (tip.) 2.8.5.1 (1)
fàtos eminentemente gráficos 2.6.5
fatos gráfiro-morfológicos 2. 6. 6
faux-titre 8. 3. 3 . 7
feição gráfica geral do livro 1. 5. 4.
FELL, JOHN (bispo) 1.5.6.8
FERNANDES, RAUL 2.6.1
filigrana (papel) 1. 5.12
filmoteca 8. 2 . 1 . 1 c
fio1-itum 9 . 3 . 1.2
FLEISHMAN, J . M. 1.5 . 6.11
Florença 1 . 5.6 . 1, 1.5.6.6
folclórica, matéria 1.3.1, 3.4.5.4, 3.4 . 5.5, 3.4.5.6
folclórica, transcrição fonética 7. 3. 2, 7. 3. 2 . 1
fôlha, produção da 1. 5 .12, 1. 5 .12 .1
fólio, produção do 1. 5 .1. 2, 1. 5 .12 .1
fonética folclórica, transcrição 7. 3. 2, 7. 3. 2 .1
fonética, tipologia 7 . 3 . 1, 7. 3 .1.1
fonoteca 8.2.1.1 b
fontes dos textos clássicos 4., 4. O.1
fontes ideológicas do livro 10., 10.0.1., 10.0.1.1, 10.0.1.2, 10.0.1.3,
10 . 0 . 1.4
fonte tipográfica 1.5 . 5 . 7, 1.5.6.20, 1.5.6.21
fôrça do corpo do tipo 1. 5 . 3, 1. 5. 5
formato bibliográfico 1. 5 .12. 5, 1 . 5 .12. 7
formato biblioteconômico 1. 5.12. 5, 1. 5.12. 7
formato do papel 1. 5.12
formato tipográfico 1. 5.12. 5, 1. 5.12. 6, 1. 5.12. 7
formatos rcgula.r es 1. 5.12. 6
formatos irregulares 1. 5.12. 6
fototeca 8 . 2.1.1 c
FOURNJER, PIERRE-SIMON 1. 5. 5 .1, 1. 5. 5. 8, 1. 5. 6 . 10, 1. 5. 6 .11,. 1. 5 ..6 .12
fracionários, números 2.10. 8
França 1.5 . 5.7, 1.5.6.2, 1.5.6.13, 1.5.6.15
FRANCESCO (GRIFFI) DA BOLOGNA 1.5.6.5
FRANCO, FRANCISCO DE MELO 3 .1.1
frasqueta 1. 5 .12
FRIEffiO, EDUARDO 2. 2. 3
frôntis 2.9.2 . 2 (16)
frontispício 8.3.3.8
ELEMENTOS DE BIBLIOLOGIA 183

FRY, JOSEPll 1.5.6 . 11


fundições tipográficas 1. 5 . 5. 7
furo de guia do tipo 1 . 5 .1
FUST (FAUST), JOHANN 2.2.2
futura, família tipológica 9. 2. 9
GAlO 3.2.S
galé 1.5.5.10
galeota 1. 5. 5.10
gàlera 1.5.5.10 .
GAMA, JOSÉ BASÍLIO DA 3 .1.1
·GARAMOND, CLAUDE · 1.5.6.4, 1.5.6.6, 1.5.6.7, 1.5.6.9
geneoteca 8 . 2.1.1 a
gêneros de tipos 1.5.6.17
GENÉSIO 3.2.3
gliptoteca 8.2.1 . 1 d
<glosas e remissões 10.3 .10
golden type 1.5.6.14
GoMES, Euci:NIO 6. 4 . 1.1
G{)NÇALVES, Luís DA CuNHA 2.6.1
·GoNZAGA, TOMÁS ANTÔNIO 6 . 1
gótica, letra 1.5.6.1, 1.5.6.2
gótico, tipo 1. 5. 6 .17
Grã-Bretanha 1. 5. 5. 7
-GRACIANO 11 . 2 . 1
grafológicas, técnicas 1. 2 .1
grafoscópicas, técnicas 1. 2 .1
grafosfera 7 .1
grafoteca 8 . 2 .1. 1 d
gralhas 1.5.10.4
GRANDJEAN, PHILIPPE 1.5.6.9, 1.5.6 . 10, 1.5.6.11, 1.5.6.12, 1.5.6.13
GRANJ{)N, ROBERT 1.5.6.6, 1.5.6.7, 1.5.6.9
GREGÓRIO XIII 1. 5. 6. 6
·GRIESBACH, JOHANN JACOB 5.1.3
grifo 1.5.6.5
grifo alemão 10.2.1.11
grotesca, família tipológica 9. 2. 9
grotescas, letras 1. 5. 6 . 18
guarda 8.3.2.1
guezes, caracteres 1 . 5 . 5 . 7
guia e correlação 1. 6 . 1
guia, evolução da 1.6.2
guia, indicações na 1 . 6 . 3
guia tipográfica 1 . 5 .10. 2
GUIMARÃES, BERNARDO JOAQUIM DA SILVA 3.] . 1
GUTENBERG, JOHANN 1.5.6.1, 1.5.6.2, 1.5.6.25, 2.2.21 9 . 0.2 . 6
Haarlem 1.5.6.11 ·
hagiônim<is e maiúsculas 2. 8 . 5 . 9
·haste ascendente dos desenhos de tipos 9. 2. 6
haste de letra 1. 5. 2
HAVET, LoUIS 3.2.4, 6.4.2.4 b, 6.4.3.1.(
hebraicos, caracteres 1. 5. 5. 7
hemeroteca 8 . 2 . 1. 1 a
·heortônimos e maiúsculas 2.8.5.6
heraldoteca. .8 . 2. 1.1 a
HERÓDOTO 11.1
184 ANTÔNIO HOUAISS

hierônimos e maiúsculas 2. 8. 6. 7
hifen 2.7.1.1
hipocoristicos 2. 8. 6 .1 ( 6)
história do livro 9 .O .1, 9. O. 1.1
historiografia 1. 2 .1 .1
Holanda 1. 6 . 6.8, 1.6.6.18
HOMERO 11.1, 11. 1.1.1
HOWARD, WILLIAM 1.5.6.14
humanistica, letra 1. 5. 6 .1, 1. 5 . 6. 2
!BARRA, JOAQUfN 1.5.6.15
Igreja Anglicana 1. 6. 6 .14
Igreja como fundidora de caracteres 1.6.6.2
imitação 10 .1.1. 3.10
imposição 1. 5 .11.1, 1. 6 .11. 2, 1. 6 .11. 3
Imprensa Shakespeare 1. 5. 6.13
imprenta 8.3.3.14
impressão 1.5.11, 1.5.11.1, 9.0.2.6
impressos 3.
Imprimerie Na tionale (Paris) 1. 5 . 6 . 18
Imprimerie Royale (Paris) 1.6.6.9, 1.5.6 . 11
incunábulo 1.5.6.2, 1.5.6. 7
index (signo) 2.9.7.2 (3)
indexação 11 . 2 e segg.
indexação e averbação 11.2.2, 11.2 . 2.1, 11.2.2.2, 11.2.2.3
indexação e numeração 11.2.1
indicador (signo) 2.9.7.2 (8)
indice (signo) 2. 9. 7.2 (3)
indices e remissões 10.3.8
lndulgentia, De 1.6.6.2
Inglaterra 1.6.6.2, 1.5.6.11, 1.5.6.13, 1.5.6.14
in folio 1.5.12.6
in plano 1.5.12.6
in 3.0 1.5 . 12.6
in 4. 0 1.5 . 12.6
in 6. 0 1.5.12.6
in 8. 0 1.5.12.6
in 9. 0 1.5.12.6
in 1!.0 1.5.12.6
in 16.0 1.6.12.6
in 18.0 1.6.12.6
in f4. 0 1.5.12.6
in 32.0 1.6.12.6
inspiração 10 .1.1. 3 .10
Instituto Brasileiro de Bibliog1·afia e Documentação 11.2 .1. 4
Instituto N acionai do Livro 8 .1.1.1
Instituto Zimotécnico da. Escola Superior de Agricultura Luis de Quei-
rós, da Universidade de São Paulo 7 .1.2 .1
intitulativos e maiúsculas 2.8. 6 .17, 2. 8 .6.18
intonação 2 . 7.4.8
Istituto di Patologia dei Libro "Alfonso Gallo" 2.8.1
Itália 1. 6 . 6. 7, 1. 6 . 6.2, 1. 6. 6.16
llíada. 11 .1
italic (ing.) 1. 6 . 6. 6
italico (it.) 1. 6. 6. 6
itálico (tip.) 1.6.6 . 6, 1.6.6.17
ELEMENTOS DE BIBLIOLOGIA 185

itálicos aldinos 1. 6. 6 . 6
itálicos, car.acteres 1. 6. 6 .1
ita.lique (fr.) 1.6.6.6
lTAPARICA, MANUEL DE SANTA RITA 3 . 1 . 1
japonêses, ·caracteres 1.6.6.7
JAUGEON, CHARLES 1.6.6.9
JENSON, NICHOLAS 1.6 . 6.2, 1.6 . 6 . 3, 1.6.6.4, 1.6.6.6, 1.6.6 . 14
JERÔNIMO 3. 2. 2
justificação 1. 6. 6 .10, 1. 6. 8.1
justificativa de tiragem 8 . 3. 3.17
Laboratório de Fonética Experimental da Faculdade de Ue~as, da
Universidade de Coimbra 7 . 3 . 1. 3
LACTÂNCIO 1.6.6.2
lapidar, familia tipológica 9 . 2.9, 9.2 . 9.1
lapidária, familia tipológica 9 . 2 .9
LARBAUD, V ALERY 1. 2. 8 .1
largura de linha e carga de negro 1. 6 . 8 . 2
largura das fontes 1. 6 . 8 . 1
largura dos desenhos de tipos 9.2.3 . 1
largura "m" 1.6.8.1
LAsCARia, CoNSTANTINus 1. 6. 6. 4
LEAL, Josf SIMIIÃO 6. 4 .1.1
legibilidade 2. 2. 6
Leiria 1.6.6.16
lemnisco 2.9.7.2 (6)
Ll!lONICENUS,. NICHOLA US 1 • 6 . 6. 4
leitura tipográfica 1.2.3
letra capitular 9.3.1.2, 9.3.1 . 3, 9 . 3 . 1.4
letra do tipo 1.6.1, 1.6.3
letras, confusão de 1. 2 . 3
letrina 9.3.1.2, 9.3.1.3, 9.3.1.4
lettera. antiqua tonda. 1. 5 . 6. 8
Leyden 1.6.6.8
liber, libri, librum 8.
libra.riutt 9. O. 2. 4
libro (it.) 8.
lição das citações 10.2.4, 10.2.4.1, 10 . 2.4.2, 10 .2.4 . 3, 10.2 . 4.4,
10 . 2.4.6
ligação em manuscrito 1 . 2. 3
ligaturas 1.2.6
LIGNAMINE, PAOLO DA 1.6 . 6.8
limnônimos 2 . 8. 6 . 18 f
linguagem 10.0.1.1
linotipia l . 6 . 6.11
Lisboa 1.6.6.16
LISBOA, JOÃO FRANCISCO 3.1.1
LISBOA, Jost DA SILVA 8 . 1.1
livre (fr.) 8.
livro 8.
livro, corpo do 8.3 . 2
Livro de montaria. 6.
livro, determinações do conceito 8 . 1.1, 8 . 1. 2, 8 .1 . 2 .1, 8 .1. 8, 8 . 1. 4
livro e ante-rosto 8. 8. 8. 7
livro e branco-no-prêto 8 . 3 . 6 . 8
livro e capa 8.3.1.1, 8 . 3 . 8 . 8, 8 .8.3.4, 8.8.3.5
186 ANTÔNIO HOUAI88

1ivro e censura 9. O. 2.10


livro e documentação 8. 2, 8. 2. 2, 8. 2. 3
1ivro e dorso 8.3.1.2
livro e edições 8. 3. 3 .16
1ivro e editor 9.0.2.9
livro e encadernação 8.3.2.2, 9.0.2.8
livro e fontes ideológicas 10.
1ivro e guarda 8 . 3.2.1
livro e notas 8.3.4, 8.3.4.1, 8.3.4.2, 8.3.6.2
livro e orelha 8.3.3.6
1ivro e paginação 9. 3
livro e partes pós-textuais 8. 3. 6
livro e partes pré-textuais 8. 3 .1.1
livro e prêto-no-branco 9. O. 2. 7
livro e reimpressões 8. 3. 3 .11
1ivro e revestimento 8. 3 .1
livro e rosto 8.3.3 . 8, 8.3.3.9, 8.3.3.10, 8.3.8.11, 8.3.3.12; 8.3.3.13
1ivro e seccionamento 11.
livro e sobrecapa 8.3.1.3, 8.3.3.2
1ivro e texto 8.3.5
livro e texto, partes do 8 . 3. 3
livro e tipos móveis 1. 5. 6. 25
livro, feição gráfica do 1. 5. 3
1ivro, história do 9. O.1, 9. O.1.1
livro moderno, partes materiais do 8.3
livro, nomenclatura do 8.1.1, 8.1.2, 8.1.2.1, 8.1.3, 8.1.4 ·
livro, normalização do 7 .1.1
'livro, normalização especializada do 7 .1. 2, 7 .1. 3, 7 .1. 3 .1, 7 .1 . 3. 2,
7 .1.4
.livro, origem do conceito 8 .1
.livro, partes do corpo do 8. 3. 2
livro, seccionamento do 8. 3. 3. 20
livro, tradição do 9.
livros-de-horas 1 . 5. 6. 2
Livros dos ofícios e texto medieval crítico 5. 8. 2. 2
locativos de orientação astronômica 2. 8. 5.16
Jombardo, manuscrito 1. 2 . 1
.LOPES, FERNÃO 5.
1ouvar-se 10 .1.1. 3. 7
Louvre 1. 5. 6 . 9
LUCE, LOUIS 1.5.6.11
LUCRÉCIO 3.2.3
Lugdunum 1.5.6.13
LUÍS XIV 1.5.6.9
Lusíadas, Os 3. 4. 5. 3
Lyon 1.5.6.13
.Lyons capitals 1. 5. 6 .13
"m", largura 1.5.8.1
MACEDO, JOAQUIM MANUEL DE 3.1.1
.Madrid f. 5. 6.15
.MAGALHÃES, DOMINGOS JOSÉ GONÇALVES DE 3 .1. 1
magnetofones 1 . 3, 1. 3 .1
Mainz, v. Mogúncia
maiúsculas 1.5 . 5.8, 1.5.6.17
.maiúsculas ctd hoc 2. 8 . 5 . 24
ELEMENTOS DE BIBLIOLOGIA 187

maiúsculas e astrônimos 2. 8 . 5. 3
maiúsculas e axiônimos 2 . 8 .. 5.19, 2.8.5.20
maiúsculas C: bibliônimos 2 . 8 . 5 . 4
maiúsculas e braquilogia 2. 8. 5 . 23
maiúsculas e convicções 2 . 8 . 5. 22
maiúsculas e cronônimos 2. 8. 5 . 5
maiúsculas e designação de animais 2. 8. 5 .12
maiúsculas <. emprêgo convencional 2. 8. 3. 2
maiúsculas e emprêgo national 2 . 8. 4
maiúsculas c emprêgo situacional 2 . 8 . 3 . 1
maiúsculas e etnônimos 2. 8. 5 . 8
maiúsculas e hagiônimos 2. 8 . 5. 9
maiúsculas e heortônimos 2. 8. 5. 6
maiúsculas e hierônimos 2. 8. 5. 7
maiúsculas e intitulativos 2. 8 . 5 .17, 2 . 8 . 5 . 18
maiúsculas €: mitônimos 2. 8 . 5 .10
maiúsculas e onomásticos 2. 8. 5.14
maiúsculas e topográficos 2. 8. 5 .15
maiúsculas e topônimos 2. 8. 5 . 13
maiúsculas e uso nos nomes próprios 2. 8. 3
maiúsculas na onomástica 2.8.5, 2 . 8.5.1; 2.8.5 . 2
maiúsculas, problemas de normalização do uso das 2. 8. 2
maiúsculas, tendências de uso das 2. 8 .1
maiúsculas, uso das 2. 8
'MALLARMÉ, STÉPHANE 2 . 7. 4. 6
mancha 1.5.4, 1.5.9
mancha e notas 9.3.3
mancha e notas de rodapé 9 . 3.3 . 3
mancha e notas laterais 9. 3. 3 . 1, 9 . 3. 3. 2
mancha e notas marginais 1. 5. 9. 5
mancha e paginação 9 . 2. 2
mancha e papel 1.5.12.4
mancha e parágrafo 9. 3. 3. 4
mancha, prêto-no-branco da 1. 5. 8. 2, 1. 5 . 8 . 4, 1. 5. 8. 5, 1. 5. 8. 6
·mancha regular 9. 3 . 2
mancha regular e margens 9.3.2.2, 9.3 . 2 . 3, 9.3.2.4
mancha regular e prêto-no-branco 9 . 3 . 2 . 1, 9 . 3.2 . 2, 9.3 . 2.3, 9.3 . 2.4
manchas capitulares 9 . 3 .1.1, 9. 3 .1. 6
manchas especiais 9. 3 .1, 9. 3 .1. 8
manchas finais de capítulo 9 . 3 . 1 . 5
manchas subcapitulares 9 . 3 .1. 7
manuscrito 1. 2. 3, 1. 3, 1. 3 . 2
manuscrito, características materiais do 2. 2. 5
manuscrito, declínio do 1. 3
manuscrito definitivo 2. 2. 4
manuscrito, indicações no 2 . 2. 7
manuscrito, legibilidade do 2. 2. 6
manuscrito, revisão final do 2. 2. 8
manuscritor 1.2
manuscritor, material 1. 2 . 2
manuscritores 1. 2 .1
manuscritos 1.1. 4
manuscritos de autores mortos 2. 3
manuscritos ocidentais 1. 2.1
·manuscritos, traçado dos 1 . 2 .1
188 ANTÔNIO HOUAISS

MANUTIUS ROMANUS, ALDUS, v. ALDUS MANUTIUS


máquina de escrever 1 . 4
máquinas tipográficas 1. 5. 5 .11
marca de água (papel) 1. 5 . 1. 2
margens de página 1 . 5.9 . 3, 1.5 . 9.4
margens e mancha regular 9.3 . 2.2, 9.3.2 . 8, 9.8.2.4
MARIANO, OLEGÁRIO 2. 6 .1
MARSHALL, THOMAS 1. 5 . 6 . 8
MARTIN, WILLIAM 1 . 5. 6 . 13
material folclórico 3. 4. 5. 4, 3. 4. 5. 5, 3.4. 5. 6
MATOS, GREGÓRIO DE 3 .1.1, 6.1
MATOS, MARCO AURfLIO DE MOURA 6 . 4.1.1
MATOS, MÁRIO GONÇALVES DE 6.4.1.1
Mayence, v. Mogúncia
medidas de tipo 1 . 5 . 3
medidas inglêsas e norte-americanas, símbolos de 2. 9. 6. 3
medieval, tipo 1. 5. 6 . 4
MELO, ANTÔNIO FRANCISCO DUTRA E 8. 1 . 1
Mem6rias póstumas de Brás Cubas 6.4.1.1 e segg.
MENDES, MANUEL ÜDORICO 3 .1.1
meio círculo 2 . 7 . 1 . 1
métodos ecdóticos 4. 7 . 4, 4 . 7 . 4 . 1
metrologia, símbolos de 2. 9. 6 . 1
MEYER, AUGUSTO 6.4.1.1, 6.4.1.2.8
MICHELET, JULES 2.2 . 2
microcinema teca 8. 2 .1.1 c
microfototeca 8 . 2 . 1 . 1 c
Ministério óas Relações Exteriores 1 . 4. 3
minúsculas 1.5 . 5 . 8, 1.5.6 .17
MIRANDA, FRANCISCO DE SÁ DE 6. 1
mistifório lO . 1.1 . 3 . 10
mi tônimos e maiúsculas 2. 8 . 5 ·. 1O
modernos, tipos 1. 5. 6 . 8
Mogúncia 1.5 . 6.2
monotipia 1.5.5.11, 1.5 . 6.23
MONTEIRO, ANTÔNIO PEREGRINO MACIEL 8 .1.1
monumental, espécie 1. 2 .1, 1. 5. 6 . 1, 1. 5. 6.17
MORRIS, WILLIAM 1.5 . 6.14, 1.5.9.3, 9.3.2.2
MOULIN, .JEAN DU 11 . 2 .1.
MOXON, EDWARD 1.5 . 6 . 8, 2.2 .2
multiplicativos, números 2 . 10. 9
museu da palavra 8.2.1 . 1 b
neocarolíngio, manuscrito 1. 5. 6 .1
nesônimos 2.8 . 5 . 13 b
NICCOLI, NICCOLÕ 1 . 5. 6. 1
nome (como sobrenome) 2 . 8.5 . 1 (2)
nomenclatura do livro 8 . 1.1, 8 . 1.2, 8.1.2 . 1, 8.1.3, 8 . 1.4
nomen gentilicium 2 . 8 . 5. 1 ( 1)
nomes próprios e uso das maiúsculas 2. 8 . 3, 2 . 8. 4.1
noosfera 7 . 1
normalização do aspeamento 10 . 2 .1. 6
normalização do livro 7 .1.1
normalização especializada do livro 7 . 1. 2, 7 .1. 8, 7. 1. 3 .1, . 7 .1. 3. !,
7.1.4
normas editoriais e Instituto Zimotécnico 7 .1. 2 .1, 7 .1. 2. 2, 7 .1. 2. 8
ELEMENTOS DE BIBLIOLOGIA 189

normas editoriais e revistas 7. 2


normas editoriais e Studies in Philology 7 . 2 b
normas editoriais e The Romanic Review 7 . 2 a
normas para a correlação original-tipografia 1.
notas e livro 8.3.4, 8 . 3 . 4 . 1, 8 . 3.4.2, 8.3 . 6 . 2
notas e manchas 9 . 3. 3
notas de rodapé e manchas 9. 3. 3. 3
notas laterais e manchas 9.3.3.1, 9.3.3 . 2
notas, localização das 10.3 . 12, 10.3.13, 10 . 3 . 14, 10 . 3.15
notas marginais e manchas 1. 5 . 9 . 5
notas tironianas 1. 2 . 4
N ôvo testamento 3 . 2 . 3
numeração e indexação 11.2 .1
numeração e página 9.3.3.8, 9.3 . 3.9, 9 . 3.3 . 10, 9.3 . 3.11
numeração fisica e numeração orgânica 11.2.1.1, 11.2.1.2, 11.2 .1.3,
11.2.1.4
numeração orgânica e numeração fisica 11. 2 .1.1, 11 . 2 . 1. 2, 11.2 .1. 3,
11.2.1.4
números .e algarismos 2.10
números fracionários 2.10 . 8
números multiplicativos 2.10 . 9
números ordinais 2 . 10 . 7
números, ortografia e morfologia dos 2.10. 6
NUNES, Jost, DE SÁ 2 . 6.1
obelisco 2.7.1.1, 2.9.7 . 2 (2)
obelisco pontuado 2. 9. 7. 2 ( 4)
óbelo 2.9.7 . 2 (2)
óbelo pontuado 2 . 9 . 7.2 (4)
obras citadas 11.2.4 . 1
obras consultadas 11.2. 4.1
Odisséia 11.1, 11.1.2
old face 1. 5. 6. 4, 1. 5. 6. 6, 1. 5. 6.11
old style 1.5.6.4, 1.5.6.6
ôlho do tipo 1. 5.1
OLIVEIRA, A. GoNÇALVES DE 6. 7
OLIVEIRA, JUSCELINO KUBITSCHEK DE 6. 7
OLIVEIRA, MANUEL BOTELHO DE 3. 1.1
ombro do tipo 1.5 . 1
onomástica e maiúsculas 2.8.5, 2 . 8.5.1, 2 . 8.5.2
onomásticos e maiúsculas 2. 8. 5.14
onomastoteca 8. 2. 1.1 a
Ordem de São Bento 9 . 0 . 2.3
ordinais, números 2.10. 7
orelha e livro 8.3.3.6
organizador 1 . O. O. 1
ORfGENES 3. 2. 2
originais 2.
originais, arquivo de 1.1. 5
original, correção do 2 . 2 . 2
original corrigido 2. 2 . 2
original, guarda do 1.1. 4
original, inteligibilidade do 1.1.1
original, manuseadores do 1. 1. 2
oxiginal perfeito 1.1.8
190 ANTÔNIO HOUAISS

original precano 1.1. 7


original, produção do 2.1
original, r.e dações prévias do 2 .1.1
original, vias do 1.1. 3
orônimos 2.8 . 5.13 c
Orto do espcso 5.
ortografia fonética stricto sensu 2. 5 .1
ortografia latina 2. 5 a ( 4)
ortografia portuguêsa 1. 2 . 3, 2. 6
ortografia português& e autores vivos 2.6.4.5., 2.6.4.7
ortografia português& e discrepâncias luso-brasileiras 2. 6. 2
ortografia portuguêsa e erros 2. 6. 6.1
ortografia portuguêS& e fatos essencialmente gráficos 2 . 6. 5
ortografia portuguêsa e fatos gráfico-morfológicos 2. 6. 6
ortografia portuguêsa e formas optativas 2.6.4, 2.6.4.1, 2.6.4.2,
2.6.4.3
ortografia portuguêsa e sincretismos vocabulares 2. 6. 4. 8
ortografia portuguêsa e sistema vigente 2. 6 . 3
ortografia portuguêsa e situação brasileira· 2. 6 .1
ortografias 2. 5
ortografias completadas 2.5. b (2)
ortografias deficientes 2. 5 b (1)
ortografias, elementos intelectuais 2. 6 d
ortografias em relação com a fonologia e a fonética 2.6 o
prtografias etimologizantes 2. 5 d ( 1)
ortografias fora do tempo 2.6 a (4i
ortografias gramaticais 2.5 d (2)
ortografias jovens 2 . 5 a (1)
ortografias na utilização do material para a grafia 2. 5 11
ortografias nas influências sôbre a pronúncia 2. 6 h
ortografias nas relações da ;fonologia com a ideografia 2.5 e
ortografias no traçado da frase 2 . 6 f
ortografias nos seus graus de comodidade 2. 5 i
ortografias rejuvenescidas 2. 6 a (3)
ortografias, suas condições de emprê~o 2 . 6 i
ortografias úteis 2. 5. 2
ortografias velhas 2.5 a (2)
ortográficas, enfermidades 2. 6 b
Oxfo.r d, movimento de 1. 5. 6.14
Oxford, Universidade de 1.5.6.8·
página capitular 8. 3. 5.1
J>ágina e cabeço de 9.3.3.6, 9.3.3.6, 9.3.3.7
página e indicação remissiva 9. 3. 3 .12, 9. 3. 3 . 13
11ágina e numeração 9.3.3.8, 9.3.3.9, 9.3.3.10, 9.3.3.11
!Página final de capítulo 8. 3. 5. 2
paginação 1.5.10.4, 9.2, 9.2.1, 9.2.2., 9 . 3
paginação e mancha 9. 2. 2.
palavras falsas 1. 2. 3
palavras "falsas" verdadeiras 1. 2. 3 .1
paleografia 1. 2. 5
paleografotecas 8 . 2 .1.1 a
PANNARTZ, ARNOLD 1.6.6.2
papel 1.2, 1.5.12, 1.5.12.1, 1.5.12.2, 1.5.12.3
papel e mancha 1.5.12.4
ELEKENTOS DE BIBLIOLOGIA 191

papel, formato do 1. 5 .12


papel, tamanho do 1. 5 .12
papiro 1.2
papiroteca 8.2.1.1 a
paquês 1.5.5.10, 1.5.10
paqueteiro 1. 5. 5 .10, 1. 5 .10
paráfrase 10.1.1.3.10
parágrafo 2.7.1.1
parágrafo e mancha 9. 3. 3. 4
parágrafo (signo) 2. 9 . 7. 2 (8)
Paris 1.5.6.7, 1.5.6.13
Parma 1.5.6.8
partição tipográfica de linhas 9. 2 . 3 .1
pastéis 1.5.10 . 4
pastiche 10 .1.1. 3 .10
parêntesis 2. 7 .1.1
PATIN, GUI 2.2 . 2
patria. potestas 2.8.5 . 1 (1)
patronímicos 2. 8 . 5.1 ( 6)
pauta dactilográfica 1. 4 . 3
pauta padrão 1.6.4.3
pé do tipo 1.5.1, 1.5.3
PEIXOTO, INÁCIO JOSÉ DE ALVARENGA 3 .1.1
PENA MARTINS 6. 1
Península Ibérica 1 . 5 . 6 . 15
PEREGRINO JÚNIOR 6 . 4 .1.1
PEREIRA, JOSÉ RENATO SANTOS 6.4.1.1
PEREIRA, LÚCIA MIGUEL 6. 4 .1.1
PEREIRA, NUNO MARQUES 3 .1 .1
pergaminho 1.2, 9.0 . 2, 9.0.2.1, 9.0.2.2, 9.0.2 . 3
PERRIN, WUIS 1. 5. 6.13
Perúsia 1. 5. 6. 5
petia (lat.) 9. O. 2 . 4
piCtJ (tipo) 1. 5. 6.11
PICKERING, WILLIAM 1. 5 . 6 . 13
pigmentação dos desenhos dos tipos 9 . 2. 8
pinacoteca 8.2.1.1 d
piolhos 1. G.10 . 4
PITA, SEBASTIÃO DA ROCHA 3 . 1 . 1
plág'io 10 .1.1. 3.10
planos sistemáticos e seccionamento 11 .1. 3. 4
PLANTIN, CHRISTOPHE 1. 5 : 6. 7
plastipel 9. O.2. 6
PLATÃO 11.1
polissíndeton 2. 7. 4
politônimos 2. 8. 5 .13 d
ponto admirativo 2. 7 .1.1
ponto interrogativo 2. 7 . 1.1
ponto tipográfico 1. 5. 5 .1, 1. 5. 5. 2, 1. 5. 5. 5, 1. 5. 5. 6
pontuação 1.2.3, 2.7
pontuação e autores vivos 2. 7. 4. 6
pontuação e crítica textual 2. 7. 5
pontuação e crítica verbal 3. 2. 5. 7
pontuação e texto medieval 5 . 3. 2. 8
192 ANTÔNIO HOUAISS

pontuação e seccionamento 11.1. 3. 2


pontuação em português 2. 7 .1
pontuação em português, coordenadas da 2. 7. 2, 2. 7. 2 .1
pontuação em português, eixo da 2. 7. 3 . 1, 2. 7. 3. 2
pontuação em português, elementos normativos da 2. 7. 4
pontuação, sinais de 2 . 7. 3
pontusais 1 . 5 . 12
pontusal 2 . 9 . 7.2 (9)
portada 8 .3.3.8
Portugal 1.5.6.2, 1 . 5 . 6.15
português moderno 6.
posfácio 8.3.6.1
pós-fâcio 8.3. 6.1
positura 2 . 9. 7.2 (9)
pós-textuais, partes 8. 3. 6
postfâcio 8.3 . 6 .1
potamônimos 2. 8. 5 .13 e
praenomen 2.8.5 . 1 (1)
prenome 2.8.5.1 (1)
pré-textuais, parte 8. 3 .1.1
pré-textuais, partes, e edição 8. 3. 4. 3, 8. 3. 4. 4
prêto-no-bra.nco da mancha 1. 5. 8. 2
prêto-no-branco e livro 9. O. 2. 7
prêto-no-branco e mancha regular 9.3 . 2.1, 9.3.2.2, 9.3.2.3, 9.3.2.4
prêto-no-branco, função 1.5.9.1, 1.5.9 . :2, 1 . 5.9.3
PRIELIS, P. 2.2.2
Primeiro Congresso Brasileiro de Lingua Falada no Teatro (Salvador,
1956) 2.6.5
problemas textuais genéricos 2. 4 .1, ~ .4. 2
PROBO 3.2.2
PROPÉRClO 3 . 2. 3
prosônimos 2. 8 . 5. 11
PROUDHON, PlERRE-JOSEPH 2.2.2
provas tipográficas 1. 5 . 10
Psalterius benedictinus (1459) 2.2.2
pseudônimos 2.8.5.1 (8)
publisher 1. O. 0.1
quirográficos, estilos 1. 2 ..1
raccourci 7 . 4. 4
RAMOS, GRACILIANO 2. 2. 3
RAMOS, GUSTAVO CoRDEIRO 2. 6.1
· ranhura do tipo 1. 5 .1
recensio 4 . O. 3
recuperaçã~ de autógrafos e apógrafo~ 2.3.1
recursos manuscritores 1 . 2
recursos tipográficos 1. 5
redações prévias 2 . 1.1
redução, conceito de 2. 9.1
reduções 1.2.5, 2.9
reduções, sistemática das 2. 9 . 2
referência 10 .1.1. 3. 6
Regra de São Bento 5.
régua tipográfica 1 . 5. 5. 4
Regula Sancti Benedicti 3 . 2 . 2
reimpressões e livro 8. 3 . 3.16
ELEMENTOS D'Íil BIBLIOLOOIA 193

REIS, FRANCISCO SOTERO DOS 3 . 1.1


relações de dependência 4. 4, 4. 4 .1
reminiscência 1O. 1. 1. 3 . 1O
remissão e comissiva 10.3 . 1
remissão c remissiva 10.3 .1
remissiva c remissão 10 . 3 .1
remissiva, indicação de, e página 9. 3 . 3 .12, 9. 3. 3.13
remissivas não numéricas 10.3 .11
remissões 10.3, 10.3.1, 10.3.2, 10 . 3.3, 10.3.9
remissões ac fim 10. 3 . 7
rem1ssoes ao rodapé 10 . 3. 6
remissões bibliográficas 10 . 3. 4
remissões e glosas 10.3 . 10
remissões, histórico das 1O. 3 . 1O
remissões marginais laterais 10. 3.10
remissões nos índices 10.3 . 8
remissões recíprocas 10 . 3 . 5
Renaissance, tipos 1. 5 : 6 .13
reportar-se 1 O. 1. 1. 3 . 9
representação gráfica 2 . 4
reprodução diplomática 2. 6. 7 . 4
resenhas 7 .4 . 4
responso (signo) 2.9.7.2 (21)
resumé 7 . 4 .4
resumos 7 .4. 4
retranca ( tip.) 2. 2. 4
revestimento do livro 8. 3. 1
revisão tipográfica 1.5.10 . 1, 1.5.10.2, 1.5 . 10 . 3, 1.5.10.4, 9.1, 9.1.1,
9.1.1.1
rev1sao tipográfica, signos de 9. 1. 1. 2, 9. 1.1. 3, 9 . 1.1. 4, 9 .1.1. 5,
9.1.1.6, 9.1.1 . 7, 9.1.1.8
revistas c normas editoriais 7 . 2
RIBEIRO, CARLOS 9 . 0. 2 . 9
RICHELIEU, cardeal de 1. 5 . 6. 9
rituais 1. õ. 6.2
Roma 1.5.6.5
Romance Re'v iew, The, e normas editoriais 7 . 2 a
roman du roi Louis XIV 1. 5 .1. 9, 1. 5 . 6 . 10
romana, letra 1. 5. 6. 2
romanos, algarismos 2 . 1O. 3
romanos, caracteres 1. 5. 6 . 1
romano, tipo 1.5 . 6 . 17
Roots of the Mountain 1.5 . 6.14
RoSA, FRANCISCO ÜTA VIANO DE ALMEIDA 3 .1.1
rosa quadrantal e/ou circular, símbolos da 2. 9 . 6. 4
.rosto e livro 8.3.3 . 8, 8.3.3.9, 8.3.3.10, 8.3.3 . 11, 8.3.3.12, 8.3.3.13
RoTELLI, BARTHOLOMEO DEI 1 . 5 . 6 . 5
RuscH, AooLF 1.5 . 6.2
Salamanca 1. 5. 6 .15
SALDANHA, JOSÉ DA NATIVIDADE 3 .1.1
saltério 1. 5. 6. 2
sânscritos, caracteres 1. 5. 5. 7
Santa Sé 1. 5 . 6 . 6
Saragoça 1.5.6.15
l!J4 A· N T Ô N I O H OU A ISS

SCHOEFFER (SCHÕFFER), PETER 2.2.2


SOOTT, WALTER 1.5.6.14
scriptores 1 . 5 . 6. 1
scriptorium 9. O. 2. 3
seccionamento das obras literárias 11.1.1. 2
seccionamento do livro 8. 3. 3. 20, 11.
seccionamento e autoria 11.1.1.1
seccionamento e planos sistemáticos 11.1. 3. 4
seccionamento e pontuação 11.1. 3. 2
seccionamento e texto 11.1 . 1
seccionamento e titulação 11.1. 3. 3
seccionamento físico 11.1. 2
seccionamento, histórico do 11.1
seccionamento orgânico 11.1. 3, 11.1. 3 .1, 11.1. 3. 2
selectio 4 . g . 3
SENSENSCHMIDT, JOHANN 1.5.6.2
separação paragráfica 9. 3. 3. 4
ser1e assindética 2 . 7. 4
série normal 2. 7 :4
série polissindética 2. 7. 4
séries lingüísticas 2. 7. 4
seta (signo) 2.9.7.2 (27)
Sevilha 1. 5. 6 . 15
siglas de bibliônimos 2. 9. 5. 4
siglas de corônimos 2. 9. 5. 6
siglas de intitulativos do serviço público brasileiro 2. 9. 5 . 3
siglas de organizações internacionais e estrangeiras 2 . 9. 5. 5
siglas de partidos, associações, principios, firmas 2 . 9 . 5. 7
siglas e abreviaturas 2.9.5, 2.9 . 5.1, 2.9.5.2
signos 2 . 9 . 7 .
signos astronômicos 2. 9. 7 .1
signos de corpos celestes 2. 9. 7 . 1 b
signos de revisão tipográfica 9. 1. 1. 2, 9 .1.1. 3, 9 .1. 1. 4, 9. 1. 1. 5,
9.1.1.6, 9 . 1.1.7, 9.1.1.8
signos ti:e.,ográfico-bibliológicos 2. 9. 7. 2
signos zod iacais 2. 9. 7 .1 a
signum (antropônimo) 2 . 8.5.1 (1), 2.8.5.1 (2)
SILVA, ANTÔNIO JOSÉ DA 3 .1.1
SILVA, JOSÉ BONIFÁCIO DE ANDRADA E 3 .1.1
símbolos 2. !1. 6
símbolos da rosa quadrantal e/ ou da circular 2 . 9. 6. 4
símbolos de elementos químicos 2. 9. 6. 5
símbolos de estruturação tipográfica 2. 7. 3 b
símbolos mensurativos inglêses e norte-americanos 2. 9. 6. 3
símbolos metrológicos 2. 9. 6 .1
simplificação ortográfica de texto em português 2. 6. 7. 3
simplificação ortográfica, indicações em português para ·a · 2. 6 ;7. 5
sinal tipográfico 1. 5 .1, 1. 5. 3
sinais 2.9.8
sinais de pontuação 2. 7. 3
sinais diacríticos 2. 7. 3 a
sincretismo vocabular 2. 6. 4. 8
sistemas de algarismos 2.10. 2
l!!LEliENTOS DE BIBLIOLOOIA 195

sistemas de pontos tipográficos de mensuração 10 5o 6 012


SOARES, JOSÉ CARLOS DE MACEDO 2 o6 01
sobrecapa 8 o3o1o3
sobrecapa e livro 8 o3 o3 o2
sobrenome 2 o8o5o1 (2)
sombreado dos tipos 1.5 o8o3
SOUSA, ANTÔNIO CÂNDIDO DE MELO E 6 o4 o1o1
SOUSA, ANTÔNIO GONÇALVES TEIXEIRA E 3 o1o1
SOUSA, JosÉ GALANTE DE 6o3o1, 6o4ol.1, 6o(ol.9
SOUSA, VICENTE DE 2 5 a ( 4)
o

Speier (Renânia)
SPEIER, J OHANN DE 1. 5 o6 o2
SPEiut, WENDELIN DE 1o 5o 6 o2
SPEIERS, de 1. 5 o6 o6
STRANGELOVE, Dr o 8 o2 o1
STUCHS, WILHELM 10 5o 6 o2
Studies in Philology e normas editoriais 7 2 b o

style ancien 1. 5o 6 o4
SUARD, JEAN-BAPTISTE 2o2o2
subcapitu lares, manchas 9 3 10 7
o o

Subiaco (Itália) 1. 5o 6 o2
Summa in gentiles 9 oOo2 o9
Sw:ÊYNHEIM, CONRAD 1.5o6 o2
tablados de máquinas de escrever 10 4 o1
tábua de matéria 8o3o3o19, 8o3o6o5
tábuas 11.2.4
tábuas dactilográficas 10 4 2 o

tabuleiro da caixa de tipos 1o 5o 5o 8


TAGLIENTE, G. A. 1.5 . 6 . 8
talassônimos 2. 8 5 .13 i
o

tamanho bibliográfico 1. 5.12. 5, 1 . 5.12. 7


tamanho · biblioteconômico 1 . 5.12. 5, 1. 5.12 . 7
tamanho do papel 1. 5 .12
tamanho tipográfico 1. 5.12 ..5, 1. 5.12 . 7
tampa (papel) 1. 5 012 ·
taquigráficos, siste:Qlas 1. 2 5 o .
Tchecoslováquia (Tcheco-Eslováquia) 1. 5o 5 . 7
tear (papel) 1. 5.12
teloteca 8.2 .1.1 a
tenidioteca 8 . 2 . 1.1 b
T!lOFRASTO 11.1
TERENCIANO MAURO 3 . 2 . 3
testemunhos, dependência dos 3 . 3 . 1. 2, a 3. 3 . 1.10, 4 . 2, 4 . 2 .1, 4.. 2 oZ,.
4.3.(, 4 . 3 . 5
testemunhos múltiplos 3. 3 o2, 3. 3 . 2.1
testemunhos, quatro 3. 3. 3
tetragrama das letras 1. 5. 2, 1. 5.8 o4, 9 o2 o3 01
texto crítico e autores modernos 6 . 1
texto e livro 8.305
texto e seccionamento 11. 1 . 1
texto, estabelecimento de 3. 2 01, 3. 4. 5, 3 o4 o5 o1
texto fidedigno e texto fiel 6 o2 o1, 6 o2 01 01
texto fiel e texto fidedigno 6 . 2 o1, 6. 2 o1.1 .
texto medieval, critério crítico geral de tratamento de 5 o3, 5o 3 01
I

196 ANTÔNIO HOUAISS

texto medieval, critério ortográfico de tratamento de 5.3, 5.8.2


texto medieval crítico 5 . 3
texto medieval crítico da Crónica geral de Espanha em. 13-U 5.8.2.4
texto medieval crítico do lAvro dos ofícioB 5 . 3. 2. 2
texto medieval crítico de O cancioneiro de Martin Codax 5.8.2.5
texto medieval crítico dos Diálogos de São G1·egório 5.3 . 2.8
texto medieval e critério geral critico 5. 3. 2. 6
texto medieval e disposição editorial crítica 5. 3. 3., 5. 8. 3 .1, 5. 8. 8. 2
texto medieval e pontuação 5 . 3. 2. 8
texto medieval, indicações críticas em 5. 3 .1.1.
texto critico e edição em vida 6 . 1.1. 3
texto moderno crítico e edição príncipe 6 . 1.1 . 2
texto moderno e edição crítica 6 . 4
texto moderno e estemática 6 .1.1
texto, partes do 8 . 3 . 3
textos clássicos, aparato critico dos 4.8.3, 4.8.3.1, 4.8.4, 4.8.4.1,
4.8 . 4.2, 4.8.4.3
textos clássicos, apresentação do material critico dos 4. 8, 4. 8 .1, 4. 8. 2.
4 . 8 . 2 . 1, 4.8.2 . 2, 4.8.5
textos clássicos, fontes dos 4 . , 4. O. 1
textos e erros 3 . 1.4
textos em português, indicação para a simplificação ortográfica de
2.6.7.3
textos em português, tratamento ortográfico de 2. 6. 7, 2. 6. 7 .1, 2. 6. 7. 2
textos, símbolos críticos nos 4. 8 . 2, 4. 8. 2 .1, 4. 8. 2. 2
textos medievais, critica verbal dos 6 .1. 3
textos medievais, edição diplomática de 5. 2 . 1, 5. 2 .1.1
textos medievais, estema em 5 .1 .
textos medievais, tipos de edição dos 5. 2
te,xtuais genéricos, problemas 2. 4 .1, 2. 4. 2
THÉRIVE, ANDRÉ 1 . 1 . 6, 7.1.1
THORNE, JOHN 1. 5. 6.13
TIBUL() 3.2. 3
tijolos de argila 1. 2
tipo 1.5 . 1
tipo, classificação de 1. 5. 5. 4
tipográfico-bibliológicos, signos 2 . 9. 7. 2
tipologia especializada 7. 3
tipologia fonética 7. 3 .1, 7. 3 .1.1
tipômetro 1.5.5.4
tipos, classificação funcional dos 1. 5. 6 . 18
tipos, combinação de 1. 5. 6. 24
tipos de edição de textos medievais 5. 2
tipos e citação 10.2 . 1.10, 10.2 .1.11
tipos, estilo dos 1. 5. 6 .
tipos, medidas dos 1.5.5.1, 1.5.5.4, 1.5.8.1
tipos móveis e livro 1. 5. 6 . 25 ·
tipos, quadro genealógico dos 1. 5. 6.16
tipos, uniformidade dos 1. 6. 6.1
tipos, usos dos 1. 5. 9. 2
tiragem, justificativa de 1 . 3 . 3 . 17
titulação e seccionamento 11 . 1 . 3 . 3
tomadas 1. 5 . 5.10
TOMÁS DE AQUINO, santo 9. 0. 2. 9
topográficos e maiúsculas . 2 . 8 . 5 .15
ELEMENTOS DE BIBLIOLOGIA 197

topônimos e maiúsculas 2. 8. 5 .13


toque de tipo 1. 5 .1
ToRY, GEOFFREY 1.5.6.6
tr~dição 10 .O .1, 10. O.1.1
tradição binária 4.7, 4.7 . 1, 4 . 7 . 2, 4.7.2.1, 4.7.2.2
tradição do livro 9.
tradição manuscrita, valor da 3. 2. 5. 5
tradição unitária 4.5, 4.5.1, 4.5.2, 4.5.3, 4.5 . 3.1, 4.5.3 . 2
"tradução" do "brasileiro" para o português 2.6.4.6
tradução, problemas de 7 . 4, 7.4.1, 7.4.1 . 1, 7.4.1.2, 7.4 . 1.3, 7.4.1.4
tradução-revelação 7. 4.1
tradução, técnica da 7.4.3, 7 . 4.3 . 1. 7.4 . 3.~, 7 . 4.3.3, 7 .4.3.4, 7.4.3 . 5
tradutor, trabalho do 7. 4. 2
traduzir 7.4.2.1, 7.4.2.2
transcrição 1. 4 . 1
transcrição fonética folclórica 7. 3. 2, 7. 3. 2 .1
transliteração 1.4 .1
tronco do tipo 1. 5. 3
TUCÍDIDES 11.1·
uncial, espécie 1.2.1, 1.5.6.1, 1.5.6.17
lJLF~S 1.5.6.25
trnião Soviética 1. 5. 5. 7
Valência L 5. 6.15
valor da e2:aminatio 4. 6
V ARELA, LUÍS NICOLAU F AGUNDES 3 .1.1
variantes e critica verbal 3. 2. 5. 1
variantes e êrro 3 . 2. 5 . 2
variantes, opção entre 3 . 2. 5. 4
VARNHAGEN, FRANCISCO ADOLFO 3.1.1
vazio do tipo 1. 6.1
VELOSO, J OSf MARIA DE QUEIRÓS 2 . 6 .1
Veneza 1.5.6.2, 1.6.6.3, 1.6.6 . 6
vergaturas 1.6.12
versais 1.6 . 6.8
versaletes 1. 6. 6. 8
versiculo (signo) 2.9.7.2 (20)
versos e citação 10.2.3, 10.2.3.1
VIANA, ANICETO DOS REis GQNÇALVES 2.6.3
VICENTINO 11. ARRIGHI, LUDOVICO
VIEIRA, AN'IÔNIO 6.1
vieux style 1. 6. 6 . 9
virgulas dobradas 1 O. 2. 1
Vi ta Christi 1. 6. 6.16
VOSKENS, BARTHOWMEW 1.6.6.8
VOSKENS, DIRCK 1.6.6.8
VOSKENS, os 1. 6. 6. 6
w AFLARD, CHARLES 1. 5. 6 .12
WHITTINGHAM, CHARLES 1. 6. 6 .13
WHITTINGHAMS, OS 1. 6. 6 .13
WILKINS, CHARLES 1. 6 . 6 .13
WILSON, HtlRACE HAYMAN 1:6.6.11
"x", altura 1:6.8.2
XENOFONTE 11.1
ZENÓDOTO 3 . 2 . 2
zodiacais, signos 2. 9. 7 .1 a
ACABOU DE SE IMPRIMIR,
DA REPRODUÇAO FAC-SIMILAR
DA PRIMEIRA ED!ÇAO
<INSTITUTO NACIONAL DO LIVRO,
RIO DE JANEIRO, 1967),
NAS OFICINAS DE
A TRIBUNA DE SANTOS,
RUA GENERAL CAMARA, 300,
SANTOS,
PARA A
EDITORA HUCITEC ,
SAO PAULO

'.
Outras co-edições com o
Instituto Nacional do Livro

Tradições Populares
Amadeu Amaral

O Dialeto Caipira
Amadeu Amaral

Roteiro do Café e Outros Ensaios


Sérgio Milliet

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