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O problema não é novo. A novidade é que depois de décadas de silêncio desses mesmos
líderes, seu próprio público começou a fazer questionamentos depois de ter acesso a várias
denúncias contra a TMI. As fontes dessas denúncias foram meu próprio blog, o jornalista
Edson Camargo, o site Mídia Sem Máscara, o Rev. Alberto Thieme, o Dr. Fábio Blanco e
algumas outras poucas vozes solitárias. Há também um e-book de minha autoria,
intitulado “Teologia da Libertação X Teologia da Prosperidade,” que aborda exclusivamente a
questão da TMI. O e-book foi publicado em maio de 2013 e traz muitos esclarecimentos sobre
esse antigo problema.
De acordo com Madureira, a TMI nasceu em solo latino-americano, lá pelo final da década de
1960, com destaque para seus expoentes: Samuel Escobar e René Padilla. Mas, embora seja
doutor em filosofia, Madureira se absteve de dar um esclarecimento sobre a presença da TMI
na Igreja Presbiteriana do Brasil (IPB) nas décadas de 1950 e 1960, deixando para a
imaginação do telespectador a imagem vaga de uma TMI presente em algum lugar da América
Latina.
A influência de Shaull teve impacto decisivo em seu mais famoso discípulo, Rubem Alves, que
havia se tornado pastor da IPB. Podem dizer que o bebê da TMI nasceu em algum lugar
longínquo da América Latina, isentando de certa forma o Brasil, mas não há dúvida de que já
estava sendo gestado no contexto da IPB e outras igrejas históricas do Brasil.
Lausanne e a TMI
Ao ser perguntado por Nicodemus sobre Lausanne e a TMI que estava florescendo na América
Latina, Madureira se perde, não conseguindo focar causa e problema. Ele poderia apontar que
a presença de René Padilla e sua turma, inclusive brasileiros com o tipo de educação teológica
que Shaull dava, buscou com ímpeto fazer o Congresso Lausanne de Evangelização Mundial
pender para uma direção teológica de Missão Integral ou mesmo Teologia da Libertação.
Voltando-se então para o Rev. Filipe Costa Fontes, Nicodemus pergunta: “O que a gente ouve
de crítica às vezes da Teologia de Missão Integral é que de alguma forma está associada ao
marxismo. Essa crítica procede?”
A resposta enfática do professor do Mackenzie é que a TMI, ao ser acusada de ser uma
espécie de marxismo disfarçado, é vítima de uma crítica “excessiva” e “indevida,” mas ele entra
em parafuso de confusões e distorções ao afirmar que existem “inúmeras aproximações e
semelhanças” entre a TMI e o marxismo. Ao mesmo tempo que nega, afirma.
Um de seus parafusos foi dizer que “os proponentes da TMI têm relacionado a TMI com
determinados movimentos e organizações, que são geradores da Teologia da Libertação, que
têm declaradamente um fundo marxista, como a Fraternidade Teológica Latino Americana.” Se
ele não entrou em parafuso, ele quer que eu e outros entrem em parafuso. René Padilla,
considerado por eles como um “pai” da TMI, sempre teve enorme influência na Fraternidade
Teológica Latino Americana. Mesmo assim, de forma absurda Fontes, ao mesmo tempo em
que reconhece que a Teologia da Libertação e a Fraternidade Teológica Latino Americana têm
um fundo marxista radical, tenta distanciar a TMI desse fundo.
O atual presidente da Fraternidade Teológica Latino Americana é o Rev. Jorge Henrique Barro,
pastor da IPB. Em agosto de 2014 ele realizará o Congresso Internacional de Missão Integral,
com a presença de Padilla. Ora, se a Fraternidade Teológica Latino Americana tem fundo
marxista e se seu presidente presbiteriano fará um congresso internacional de TMI no Brasil,
por que esse esforço de tentar distanciar a TMI de seu fundo marxista?
Por que não esclarecer a presença de Ricardo Bitun, que defende igualmente a TMI e a
Teologia da Libertação, como professor nas aulas de teologia do Mackenzie?
Mais do que ninguém, o Rev. Augustus Nicodemus Lopes sabe que seu falecido amigo, o
bispo Robinson Cavalcanti, já havia declarado que a Teologia da Missão Integral é a versão
evangélica da Teologia da Libertação. Se Nicodemus achava essa declaração exagerada, por
que nunca veio a público dar esclarecimento, sabendo da forte presença da TMI em igrejas e
seminários da IPB?
O próprio Ariovaldo Ramos também já declarou que a “Teologia da Missão Integral é uma
variante protestante da Teologia da Libertação,” e nem por isso Nicodemus nunca lhe fechou
as portas do Mackenzie para palestrar e dar aulas especiais de teologia.
Em destaque também no “Academia em Debate” estava a forma como a TMI foi “criticada” —
da forma mais amistosa possível. Em contraste, quando teólogos calvinistas criticam o
neopentecostalismo, não poupam adjetivos como “heresia” e outros termos semelhantes. No
entanto, em nenhum momento da entrevista de Nicodemus com seus colegas teólogos do
Mackenzie, a palavra heresia foi mencionada. Pelo contrário, apesar de se apontar várias
ligações da TMI com o marxismo, houve uma tentativa sutil de distanciá-la de heresia,
especialmente heresia marxista.
Aos 16 minutos da entrevista, o Rev. Filipe Costa Fontes menciona que os defensores da TMI
criticam os protestantes que só pensam em coisas espirituais e esquecem o lado material e
físico. Nicodemus então pergunta se a crítica procede. Fontes diz que sim, especialmente no
caso de igrejas tradicionais. Não é preciso ter a assistência de um gênio de lâmpada mágica
para saber que o avanço da TMI, desde o inicio, tem sido nas igrejas tradicionais. A IPB de
Nicodemus e do Mackenzie tem farta evidência disso, se quiser revelar.
Em vez de fazerem como os neopentecostais e preencherem seu limbo espiritual com coisas
do Espírito, preenchem com uma teologia marxista que os pobres não precisam.
Os pobres e o neopentecostalismo
Nesse ponto, Jonas Madureira fez uma intervenção oportuna, recordando comentário que Luiz
Felipe Pondé, filósofo judeu secular, fez, de que “as teologias latino-americanas, especialmente
a Teologia da Libertação, escolheram os pobres, mas os pobres escolheram os pentecostais.”
A recordação está mais ou menos correta. Em seu livro “Contra um Mundo Melhor” (Editora
Leya), Pondé escreveu: “A igreja católica de esquerda fez a opção pelos pobres, mas os
pobres fizeram a opção pelo neopentecostalismo.”
A Teologia da Missão Integral, predominante durante décadas em igrejas protestantes
tradicionais, também fez a opção pelos pobres, mas seu público-alvo fez a opção
neopentecostal pelo sucesso material. Ao invés de se juntar à esquerda messiânica e lutar por
“outro mundo possível,” os pobres preferem a busca individual da prosperidade. Certos ou
errados em sua busca da prosperidade, o fato é que os neopentecostais arruinaram os planos
dos eruditos, teólogos e filósofos evangélicos e católicos que defendem eloquentemente a
Teologia da Missão Integral e a Teologia da Libertação. Essa é a principal razão do ódio mal
disfarçado que os teólogos de ambas as ideologias têm do neopentecostalismo.
Quando não havia nenhum movimento neopentecostal no Brasil, já havia TMI na IPB e outras
igrejas protestantes tradicionais. Mas não havia nenhum ódio a TMI. Agora que os pobres
recorrem às igrejas neopentecostais, PT e outros partidos de esquerda as atacam com ódio. E
o ataque vem ajudado por teólogos tradicionais que, tal como as esquerdas, detestam que os
pobres abracem o neopentecostalismo, atacando-o como heresia.
Mas por que nunca tratam a TMI como heresia? Medo de ofender a multidão de colegas
denominacionais que abraçaram essa heresia?
Entretanto, não têm medo nenhum de tratar o neopentecostalismo como se fosse a maior
ameaça à Igreja Evangélica do Brasil, quando a grande e real ameaça está confortavelmente
no meio deles há décadas.
No caso de Nicodemus e outros teólogos da IPB, a omissão de tratar a heresia como heresia
não se justifica. São mais de 60 anos de contato com a Teologia da Missão Integral dentro da
Igreja Presbiteriana do Brasil, desde Richard Schaull e depois Rubem Alves e mais tarde o
mais astuto de todos: Caio Fábio.
São mais de 60 anos de omissão e negligência, e agora querem tapar o sol com a peneira de
uma crítica branda e amistosa?