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Catecismo sobre o sedevacantismo

Autor do post

Por Thiago

Data do post

21/04/2010

71 comentáriosem Catecismo sobre o sedevacantismo

sedevacantism

O sedevacantismo é uma das conseqüências mais estranhas da crise que ocorreu após o Vaticano II.
Neste texto vou postar em forma de catecismo as informações que acumulei ao longo dos anos em
fontes escritas (tudo que está citado, tudo que está em hiperlink, o catecismo sobre o mesmo tema dos
dominicanos de Avrillé, etc.), vivências e entrevistas sobre esse “fenômeno” e fazer a crítica delas
(sempre levando em conta os referenciais católicos – Revelação + Magistério infalível + vida dos Santos).

1. O que é o sedevacantismo?

Sedevacantismo é a teoria dos que pensam que os papas mais recentes, os papas do Concílio Vaticano II,
não foram realmente papas. Conseqüentemente, a Cátedra de Pedro não estaria ocupada. Isso é
expresso pela fórmula latina “sede vacante”.

2. Qual a origem dessa teoria?

Essa teoria foi concebida em reação à grave crise na qual a Igreja foi jogada desde o Concílio, crise que o
Arcebispo Lefebvre chamou de “terceira guerra mundial”. A principal causa dessa crise tem sido a
negligência dos Pontífices Romanos, que ensinam ou deixam que se propaguem sérios erros em
matérias como o ecumenismo, a liberdade religiosa, a colegialidade, etc.

Os sedevacantistas pensam que papas genuínos não poderiam ser responsáveis por uma conjuntura
como essa e, decorrentemente, eles não os consideram verdadeiros.
3. Os sevacantistas concordam entre si?

Não, longe disso. Há muitas posições diferentes, existem diferentes escolas. Alguns pensam que o Papa
atual é um antipapa, outros que ele é apenas parcialmente Papa, um Papa “materialiter” mas não
“formaliter”.

Alguns sedevacantistas consideram sua posição como uma “mera opinião” e consentem em receber os
sacramentos de padres não-sedevacantistas, enquanto outros, chamados “ultra”, transformam isso
numa matéria de fé e recusam a assistir uma Missa onde o padre reza pelo Papa. O que é comum entre
todos os sedevacantistas é que eles pensam que não se deve rezar pelo Papa em público.

4. O que quer dizer ser papa “materialiter”?

A principal dificuldade do sedevacantismo é explicar como a Igreja pode continuar a existir de uma
maneira visível (já que ela recebeu de Nosso Senhor a promessa de que duraria até o fim do mundo)
estando privada da sua cabeça. Os partidários da autoproclamada “Tese Cassiciacum”, os
sedeprivacionistas (opostos aos totalistas), surgiram com uma solução muito sutil: o corrente Papa foi
validamente eleito, mas não recebeu a autoridade devido a um obstáculo interior (a heresia). Assim, de
acordo com essa teoria, ele é capaz de agir de algumas maneiras para o bem da Igreja, como na escolha
dos cardeais (que são cardeais “materialiter”), mas não é realmente Papa.

5. Que pensar dessa solução?

Os críticos dizem, em primeiro lugar, que essa solução não é baseada na Tradição. Teólogos (Caetano,
São Roberto Bellarmino, João de São Tomás, etc.) já teriam examinado a possibilidade de um papa
herege, mas nenhum antes do Concílio divisou tal teoria. Segundo eles, ela também não resolveria a
principal dificuldade do sedevancatismo: saber como a Igreja continua visível se o Papa, os cardeais, os
bispos, etc. são privados de sua “forma”, ou seja, com nenhuma hierarquia visível tendo sobrado. Além
disso, tais críticos também apontam “sérios defeitos filosóficos” em tal solução, pois ela supõe que a
cabeça pode ser cabeça apenas “materialiter”, isto é, sem autoridade. Um texto negativo mais
elaborado, em forma de dissertação de mestrado, feita por um padre do IBP, pode ser lida aqui.

Já os seus defensores explicam que tal solução é a única que preenche as exigências dos dogmas
católicos e, ao mesmo tempo, não nega a realidade, pois garante a permanência da sucessão material de
São Pedro e não esconde os erros dos últimos pontífices romanos. Se ela não tinha sido pensada antes é
pelo simples fato de uma situação como a atual nunca ter ocorrido. Um resumo pode ser lido aqui.

6. Os sedevacantistas são cismáticos?

Não, pois não negam o poder de jurisdição do sucessor de Pedro, “só” dizem que X ou Y não é Papa.

7. Os sedevacantistas são hereges?

Não, pois não negam nenhuma verdade de Fé (é verdade que haverá sucessores de Pedro até o fim do
mundo, mas não é verdade que um interregno não se poderia prolongar).

8. O que são os sedevacantista e qual o problema deles?

Os sedevacantistas são católicos que aderiram a um erro teológico com conseqüências graves.

9. Os “conclavistas” são sedevacantistas?

Não, não são. Eles não são sedevacantistas e nem são católicos, pois, ao elegerem um Papa, se tornaram
uma seita no sentido teológico do termo.

10. Os feneítas são sedevacantistas?

Não, os feneítas (pelo menos os que o são de maneira pura) são hereges e, portanto, não são católicos,
sedevacantistas ou não. Na prática, esses hereges se apresentam como católicos neo-conservadores (no
estilo Legionários de Cristo) ou como sedevacantistas. Daí a confusão.
11. Os sedevacantistas têm alguma particularidade litúrgica?

Sim, de maneira geral eles usam as rubricas de São Pio X para o rito romano tradicional na celebração da
Missa, dos outros sacramentos e para o Ofício Divino.

Uma grande exceção a essa regra é da Congregação de Maria Rainha Imaculada (CMRI, em inglês), um
dos maiores grupos sedevacantistas, que adota todas as modificações feitas por Pio XII.

12. Qual a origem dos principais grupos sedevacantistas?

Ela é muito variada. De maneira simplista eu poderia dizer o seguinte:

Em Econe havia três tendências entre os seminaristas:

1) A dos que seguiam estritamente o que dizia D. Lefebvre.

2) A dos que procuravam um reconhecimento oficial para a resistência.

3) A dos que que rejeitavam tudo que tivesse relação com o que acreditavam ser modernismo.

No começo da FSSPX essas tendências conviveram sobre a mesma estrutura.

O primeiro grupo deu origem a atual FSSPX e comunidades amigas.

O segundo à Fraternidade de São Pedro e similares.


O terceiro aos sedevacantistas.

Já nos anos 70 eles eram reconhecidos pela ligação com as rubricas de São Pio X, tanto para a Missa
quanto para o Breviário.

O atual distrito da FSSPX nos EUA, entre os anos 70 e 80, era dividido em dois. Num deles o terceiro
grupo comandava e teve muito sucesso em seu apostolado (o primeiro Capítulo da FSSPX deixa livre para
cada distrito decidir que rubricas usar).

Com o tempo, D. Lefebvre entendeu que para a resistência era bom ter uma uniformidade e foi
surpreendido pela resistência dos americanos. Pesquisando sobre o assunto, ele descobriu que a ligação
com as rubricas era relacionada com um sedevacantismo velado e não com uma mera preferência.

Chamou a atenção dos padres, mas eles não aceitaram as colocações do Arcebispo e, então, foram
expulsos. Logo em seguida, D. Lefebvre ordenou alguns seminaristas americanos e se surpreendeu com
o fato deles, um dia depois, abandonarem a FSSPX e se juntarem ao grupo de padres expulsos.

Esse grupo formou a FSSPV e se tornou famoso nos EUA pela qualidade acadêmica de suas escolas e
apostolado agressivo. Contudo, havia um sério problema: não tinham um bispo!

No debate que se seguiu, a FSSPV se dividiu e uma parte dele acabou conseguindo uma sagração pela
linha do Arcebispo vietnamita Thuc. É a dos bispos Dolan e Sanborn, que, para mim, formaram o grupo
sedevacantista mais dinâmico do mundo.

Ele mantém contato com outras organizações no México, Argentina, França, Bélgica, República Tcheca e
Itália e possui um dos melhores (academicamente, apesar do erro sedevacantista) seminários da
resistência. Alguns sites:

http://www.traditionalmass.org/
http://www.sgg.org/

http://www.mostholytrinityseminary.org/

O resto do grupo continuou a se denominar FSSPV e acabou conseguindo a sucessão por meio de um
bispo de Porto Rico. Esse grupo sofre de um certo sectarismo sociológico.

O bispo emérito de Arecibo, em Porto Rico, D. Alfred Mendez, sempre foi um crítico da situação da Igreja
no pós-concílio. Não sei se ele era sedevacantista, mas o fato é que apoiou a FSSPV, seja financiando o
famoso programa que esse grupo tinha na TV americana, seja ordenando padres e, por fim, ordenando
um bispo (mas a ordenação desse bispo só foi divulgada após a morte de D. Mendez). Conheço algumas
críticas as atitudes dele, mas após 12 anos de estudos da questão não as considero válidas.
Recentemente a FSSPV ganhou um novo bispo. Para saber mais, leiam este documentário.

O Arcebispo emérito de Hué P.M. Ngo-dinh-Thuc tem uma história mais longa e complicada. No começo
dos anos 70 ele teve contato com D. Lefebvre, mas por já apresentar tendências sedevacantistas, não foi
acolhido pela FSSPX. Se envolveu com as supostas aparições de Palmar de Tróia na Espanha e, por causa
disso, acabou sagrando inúmeros bispos entre as pessoas que divulgavam as mensagens. Vendo, depois,
seu erro (os malucos de Palmar de Tróia passaram a ser uma seita, com Papa e outras coisas estranhas)
ele se arrependeu e pediu o perdão a Paulo VI. O Papa deu seu perdão. Contudo, após isso, o clero
passou a rejeitá-lo e ele viveu um período isolado (ele era irmão do antigo presidente do Vietnã do Sul e,
após a guerra, na qual boa parte de seus parentes foram mortos, não podia voltar a seu país). Vendo que
a crise da Igreja continuava e agora com aquele escandaloso ecumenismo de João Paulo II, o Arcebispo
Thuc se declarou sedevacantista e sagrou dois bispos: o francês Guérard des Lauriers e o mexicano
Moises Carmona. Deles deriva toda uma linha bem variada de bispos sedevacantistas. É interessante que
o Arcebispo Thuc era uma figura muito querida por Pio XII. Para saber mais:

http://www.traditionalmass.org/articles/article.php?id=60&catna…

Um quadro esquemático sobre as principais linhagens episcopais de bispos com esta posição teológica
pode ser visto abaixo:
Por fim, vale notar que alguns outros grupos sedevacantistas conseguiram a sucessão por meio de bispos
vétero-católicos convertidos e de bispos que tem sua linhagem derivada dos primeiros bispos sagrados
na ICAB (e, portanto, com validade inatacável). Em fevereiro de 2002, um bispo da Igreja Ortodoxa
Ucraniana, D. Yurii Yurchyk, teria se tornado católico e sedevacantista (mas as informações são
desencontradas). Na República Tcheca temos bispos sedevacantistas que (antes de o serem, é claro)
foram sagrados com autorização de Roma, mas secretamente, durante o regime socialista nesse país.

13. Algum grande teólogo se tornou ou apoiou sedevacantistas?

guerrard

Guérard des Lauriers

Sim, o dominicano Guérard des Lauriers, que ajudou Pio XII na formulação do dogma da Assunção, era
sedevacantista e foi sagrado bispo. Dele vem a “Tese Cassiciacum”. O famoso exorcista e bispo
sedevacantista Robert Fidelis McKenna (também dominicano) foi sagrado por Guérard. Questionado
certa vez sobre a sagração de Guérard des Lauriers, D. Antônio Castro Mayer disse:

– Se é válido para Guérard, é válido para mim.

14. Fora do clero, há algum sedevacantista conhecido?

Sim, Mel Gibson.

15. Com as mudanças em Roma durante o pontificado de Bento XVI algum grupo sedevancantista mudou
de posição?

Sim, todo um grupo de freiras deixou o sedevacantismo em julho de 2008.

Conheço dois bispos (D. Terence Robert Peter Fulham, da Flórida, e D. Tom Sebastiam, de Los Angeles)
que mudaram de posição (atualmente estão como a FSSPX) e, dependendo do que ocorrer, pretendem
regularizar sua situação em Roma.

Antes do pontificado de Bento XVI, a Fraternidade de São Vicente Férrer, um grupo de inspiração
dominicana, tinha abandonado o sedeprivacionismo.

16. Existem sedevacantistas no Brasil?


Existem alguns leigos. Sempre houve um pequeno grupo, que era formado, em grande parte, por jovens
um tanto imaturos no conhecimento teológico e na vida espiritual, mas que nos últimos tempos, com as
tempestades causadas pelo Papa Francisco, apresenta um crescimento numérico e qualitativo constante.

17. Mas existem padres com essa posição no Brasil?

Muitos anos atrás tive contato com um padre próximo a essa posição, era o Frei Matias, dos Franciscanos
Menores. Homem inteligente e piedoso, na época do Concílio ele tinha um programa de rádio aqui em
Recife no qual tecia comentários positivos sobre o que estava acontecendo em Roma; mais tarde, vendo
a autodemolição, se desencantou com a nova Igreja e se isolou em Campina Grande (PB). Lá, construiu
um colégio e passou a celebrar a Missa tridentina na capela do mesmo para quem tivesse interesse e
para frades idosos de sua ordem; infelizmente, por ter uma personalidade pouco sociável e pela falta de
meios de comunicação que unissem os tradicionalistas, Frei Matias acabou se isolando e, nesse
isolamento, sendo influenciado pelas heresias de cunho aparicionista da seita de Palmar de Troya. Mas
ele não era um palmariano no sentido estrito, e, com o passar dos anos, devido às melhoras na
comunicação entre quem resistia ao neomodernismo, teve contato com padres da FSSPX e com D.
Lourenço da Permanência.

Desde julho de 2018 o Pe. Rodrigo Silva, que era da Resistência, e que conheci na juventude como
seminarista da Arquidiocese de Olinda e Recife, se tornou sedevacantista e está começando a organizar
grupos de fieis, um seminário e comunidades religiosas com essa posição em todo o país.

Nos EUA, há um seminarista brasileiro, Charbel Sant´Anna, que pertence a um grupo sedevacantista
minoritário, a Sociedade do Espírito Santo. Ele mantém este blog e este canal.

18. Me explique por favor como interpretar esta bula de Paulo IV, a famosa Cum ex Apostolatus:

Se em qualquer tempo que seja aparecer um Bispo… ou ROMANO PONTÍFICE, que antes da sua
assunção… houvesse se desviado da Fé ou incidido em alguma heresia, a sua assunção seja NULA,
INVÁLIDA e VAZIA, inclusive se foi feita com o consentimento unânime de todos os cardeais… Não seja
ela tida por légitma em parte alguma. Seja julgado ter-se atribuído a tais pessoas promovidas a Bispo ou
Romano Pontífice uma faculdade nula para administrar em coisas ESPIRITUAIS e TEMPORAIS. Sejam sem
força, todas e cada uma das coisas por elas faladas, feitas, praticadas e administradas de qualquer
modo… Atribuam a elas uma firmeza inteiramente nula. Nem outorguem direito algum a elas. Sejam as
mesmas pessoas…, SEM QUE DEVA SER FEITA ALGUMA DECLARAÇÃO superveniente, privadas, IPSO
FACTO, de toda dignidade, posição, honra, título, autoridade, cargo e poder.
A Cum ex Apostolatus é um documento normativo, que só pode ser aplicado por uma corte legal, não
por você ou por mim. O nosso discernimento pode ser usado para a proteção pessoal, mas não para ser
transformado num interdito legal contra X ou Y. Resumindo: a não ser que alguém tenha sido declarado
por uma corte legal como herege manifesto, sua subida ao trono papal é legítima.

19. Ok, mas isso não seria cair no legalismo? Não é claro que um herege não faz parte da Igreja e,
portanto, não pode ser a cabeça visível dela?

Não, isso não é cair no legalismo, é só dar o real valor que a bula citada tem.

E, de fato, um herege não faz parte da Igreja e não pode ser a cabeça dela. O problema dos
sedevacantistas é não entender a complexidade do que isso significa. Veja, a bagunça começa com um
falso princípio: alguém que ensina uma heresia é herege / um herege não pode ser membro da Igreja / o
Papa ensinou uma heresia, portanto não é membro da Igreja.

Isso está errado, quem ensina uma heresia não é necessariamente um herege (no sentido estrito do
termo).

Para ser herege essa pessoa, em primeiro lugar, tem de ter consciência que está falando uma heresia
(portanto tem de se provar que pela sua formação ela teria a compreensão de negar uma verdade de fé),
em segundo, isso teria de ser pertinaz e, no caso de alguém que ocupe um posto na hierarquia, teria de
ser um comportamento público (em eventos públicos).

Aprofundando mais um pouco, podemos dizer que em diversos períodos conturbados da história da
Igreja, gozou de grande atualidade a questão teológica da eventual queda de um Papa em heresia.
Nesses períodos, tanto teólogos quanto moralistas e canonistas se empenhavam no aprofundamento do
delicado problema, sem nunca chegarem, entretanto, a um acordo unânime e definitivo.

Passados esses momentos difíceis, os debates sobre a possibilidade de um Papa herege cessavam de
atrair a atenção dos estudiosos. Em geral os autores lhe dedicavam, então, apenas umas poucas linhas,
como quem recordasse um problema acadêmico e curioso, que provavelmente nunca amais voltaria a
gozar de atualidade. Sobretudo do século XVII para cá, são raros os teólogos que se empenharam em
aprofundar o assunto.

A partir do Pontificado de João XXIII, um observador atento poderia, entretanto, notar que o delicado
assunto voltava aos poucos a interessar, não só nos meios especializados, mas também para os fiéis
comuns. Todavia, pelo fato de tal problema ter ficado “dormente” por longo tempo, várias pessoas têm
uma visão parcial dele, referindo-se a posição de algum teólogo famoso como a correta; não tendo uma
visão de conjunto.

Na análise das diversas sentenças dos teólogos sobre a hipótese de um Papa herege, a classificação de
São Roberto Bellarmino parece ser a mais aceita. Baseado nas considerações dele, Arnaldo Vidigal Xavier
da Silveira, sistematizou a seguinte relação de sentenças:

1- O Papa não pode cair em heresia (seus defensores se subdividem em três grupos: a) autores segundo
os quais esta sentença constitui verdade de fé; b) autores segundo os quais está sentença é de longe a
mais provável; c) autores aos quais esta sentença parece apenas mais provável que as outras);

2- Teologicamente não se pode excluir a hipótese de um Papa herege. Possui as seguintes variantes:

A) Em razão de sua heresia, o Papa nunca perde o pontificado (dos 136 teólogos examinados por Arnaldo
Xavier, apenas Bouix é defensor desta sentença);

B) O Papa herege perde o Pontificado:

I- Perde assim que cai em heresia interna, isto é, antes de manifesta-la externamente (sentença que
tinha como defensor o famoso teólogo Torquemada – tio do inquisidor de mesmo nome -; hoje está
abandonada pelos teólogos);

II- Perde quando sua heresia se torna manifesta. Seus adeptos se subdividem em três grupos: a) autores
que entendem por “manifesta” a heresia apenas exteriorizada; b) autores que entendem por
“manifesta” a heresia que, além de exteriorizada, chegou ao conhecimento de outrem; c) autores que
entendem por “manifesta” a heresia que se tornou notória e divulgada de público. OBS: alguns autores
não deixam inteiramente claro a qual desses três grupos se filiam.

III- Perde apenas quando intervém uma declaração de sua heresia por um Concílio, pelos Cardeais, por
um grupo de Bispos, etc. Possui duas vertentes: a) Essa declaração será uma deposição propriamente
dita (tal sentença é considerada herética, foi condenada pela Igreja, por aderir ao “conciliarismo”; é
defendida por autores ditos progressistas nos dias atuais); b) Essa declaração não será uma deposição
propriamente dita, mas mero ato declaratório da perda do Pontificado pelo Papa.

20. E qual dessas posições você adota?


Dentre essas várias sentenças me inclino (já que a Igreja não se manifestou oficialmente por nenhuma
delas, todas podem ser aceitas, exceto a 2 B III a) pela 2 B II c, que é defendida por numerosos teólogos
de renome, como o próprio São Roberto Bellarmino, Sylvius, Pietro Ballerini, Wernz-Vidal, Cardeal Billot,
etc.

Vejamos a defesa dessa posição por São Roberto Bellarmino:

Logo, a opinião verdadeira é a quinta, de acordo com a qual o Papa herege manifesto deixa por si mesmo
de ser Papa e cabeça, do mesmo modo que deixa por si mesmo de ser cristão e membro do corpo da
Igreja; e por isso pode ser julgado e punido pela Igreja. Esta é a sentença de todos os antigos Padres, que
ensinam que os hereges manifestos perdem imediatamente toda jurisdição, e nomeadamente de São
Cipriano (lib. 4, epist. 2), o qual assim se refere a Novaciano, que foi Papa (antipapa) no cisma havido
durante o Pontificado de São Cornélio: “Não poderia conservar o Episcopado, e, se foi anteriormente
feito Bispo, afastou-se do corpo dos que como ele eram Bispos e da unidade da Igreja”. Segundo afirma
São Cipriano nessa passagem, ainda que Novaciano houvesse sido verdadeiro e legítimo Papa, teria
contudo decaído automaticamente do Pontificado caso se separasse da Igreja.

Esta é a sentença de grandes doutores recentes, como João Driedo (lib. 4 de Script. Et dogmat. Eccles.
cap. 2, par. 2, sent. 2), o qual ensina que só se separam da Igreja os que são expulsos, como os
excomungados, e os que por si próprios dela se afastam e a ela se opõem, como os hereges e os
cismáticos. E, na sua sétima afirmação, sustenta que naqueles que se afastaram da Igreja, não resta
absolutamente nenhum poder espiritual sobre os que estão na Igreja. O mesmo diz Melchior Cano (lib. 4
de loc., cap. 2), ensinando que os hereges não são partes nem membros da Igreja, e que não se pode
sequer conceber que alguém seja cabeça e Papa, sem ser membro e parte (cap. ult. ad argument. 12). E
ensina no mesmo local, com palavras claras, que os hereges ocultos ainda são da Igreja, são partes e
membros, e que portanto o Papa herege oculto ainda e Papa. Essa é também a sentença dos demais
autores que citamos no livro 1 “De Eccles.”.

O fundamento desta sentença é que o herege manifesto não é de modo algum membro da Igreja, isto é,
nem espiritualmente nem corporalmente, o que significa que não o é nem por união interna nem por
união externa. Pois mesmo os maus católicos estão unidos e são membros, espiritualmente pela fé,
corporalmente pela confissão da fé e pela participação nos sacramentos visíveis; os hereges ocultos
estão unidos e são membros, embora apenas por união externa; pelo contrário, os catecúmenos bons
pertencem à Igreja apenas por uma união interna, não pela externa; mas os hereges manifestos não
pertencem de modo nenhum, como já provamos.

(São Roberto Bellarmino, “De Romano Pontífice”, lib. II, cap. 30, p. 420).

21. Quais as saídas apresentadas pelos sedevacantistas?


Em geral eles apresentam três maneiras da Igreja sair da situação em que acreditam que ela está:

Uma intervenção direta de Deus;

A renúncia pelo Papa das heresias do pós- Vaticano II (naturalmente que está hipótese só vale para a ala
que adota a “Tese Cassiciacum” – ver questão 4);

Um concílio geral imperfeito (Caetano e outros ensinam que, se o Colégio dos Cardeais ficasse extinto, o
direito de eleger um Papa passaria para o clero de Roma, e depois para a Igreja universal – de
Comparatione 13, 742, 745).

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