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Resumo: O presente artigo tem por objetivo refletir sobre a relevância do Concílio
Vaticano II, ocorrido entre 1962 e 1965, tendo como base as novas respostas da
Igreja frente ao ideário ecumênico e à relação desta com o mundo contemporâneo.
Desta forma, para atingir o escopo proposto, descrevemos os principais fatos das
quatro sessões do Concílio, debruçando-nos sobre os documentos produzidos pelo
Conclave, como a “Nostra Aetate” e a “Gaudium et Spes”, textos que sintetizam as
novas diretrizes adotadas pela Igreja Católica.
Abstract: This article aims to reflect on the significance of Vatican II, which
occurred between 1962 and 1965, based on the new responses of the Church
against the ecumenical ideology and the relationship of this with the contemporary
world. Thus, to achieve the proposed scope, we describe the main facts of the four
sessions of the Council, addressing us on the documents produced by the Conclave,
as the "Nostra Aetate" and "Gaudium et Spes," texts that synthesize the new
guidelines adopted by Catholic Church.
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Mestrando em História Comparada pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, sob a orientação do
Prof. Dr. André Leonardo Chevitarese. Agência Financiadora: CAPES-Coordenação de Aperfeiçoamento
de Pessoal de Nível Superior. E-mail: renato.torres13@gmail.com
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O Pré-concílio.
O referido Concílio fora anunciado na manhã de 25 de janeiro de 1959, três
anos antes do início do Conclave. Assim o Papa João XXIII discursa dando gênese
ao Concílio que transformou a estrutura da Igreja Católica:
Pronuncio perante vós, certamente um pouco de emoção, mas
também com humildade firmeza de intenção, o nome das duas
Celebrações. Um Sínodo diocesano para a cidade de Roma e um
Concílio Geral para a Igreja universal [...] Foi decisão tomada para
evocar algumas formas antigas de afirmação doutrinal e de sábias
regulamentações de disciplina eclesiástica, que na história da Igreja
em períodos de renovação deram frutos de extraordinária eficácia
para a densidade da unidade religiosa e o maior efervoramento
cristão. (ALBERIGO, 1996: 22)
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tomar conhecimento da nova proposta levantada pela Igreja Católica, dentre eles I.
Rea, da Igreja Anglicana e Visser´t Hooft, pastor reformado holandês.
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oferecendo aos mesmos uma participação mais profícua nas leituras bíblicas e nos
cânticos. A Igreja também passou a reconhecer o uso de instrumentos musicais não
se restringindo somente ao órgão de tubo. Destarte, aprovou a liturgia das missas
nas línguas vernáculas, limitando o uso do latim.
A Constituição Pastoral “Gaudium et Spes” (Alegria e Esperança) ou “Sobre a
Igreja no mundo de hoje” foi considerada o “coração” do concílio. A ideia deste
documento surgiu no fim da 1ª Sessão, à luz da intervenção do cardeal Joseph
Suenens, arcebispo de Bruxelas e um dos principais líderes da ala progressista no
Concílio. Esse documento sintetizou as diretrizes adotadas pela Igreja Católica,
principalmente no diálogo da Igreja com o mundo moderno. Na introdução da
Carta, o documento sublinha:
[...] A Igreja, a todo momento, tem o dever de perscrutar os sinais
dos tempos e interpretá-los à luz do Evangelho, de tal modo que
possa responder, de maneira adaptada a cada geração, às
interrogações eternas sobre o significado da vida presente e futura
e de suas relações mútuas. É necessário, por conseguinte, conhecer
e entender o mundo no qual vivemos, suas esperanças, suas
aspirações e sua índole frequentemente dramática (VIER, 2000:
145).
O termo “sinais dos tempos” foi uma expressão muito utilizada no decorrer
do documento. Em síntese, queria afirmar que a Igreja estava disposta a conhecer
a História dos homens e da sociedade, pois, como fica claro no documento, a Igreja
só poderia intervir na sociedade perante a sua representação e reflexão das novas
condições do mundo contemporâneo, como o fenômeno da urbanização, do
progresso econômico e da industrialização.
Além da reflexão sobre as questões econômico-sociais, a “Gaudim et Spes”
dá relevo à questão cultural. Nesse prisma do diálogo da Igreja com o mundo, o
documento reitera que não há uma dicotomia entre fé e cultura, agindo a segunda
como aperfeiçoamento da fé e como instrumento para a construção de um mundo
melhor:
Quando se aplica às múltiplas disciplinas da filosofia, da história,
das ciências matemáticas e naturais e se ocupa das artes, o homem
pode contribuir em alta medida para que a família humana se ele às
noções mais nobres do verdadeiro, do bom e do belo e a um juízo
de valor do universo e seja mais claramente iluminado pela
Sabedoria admirável, que estava junto de Deus toda a eternidade.
(VIER, 2000: 208).
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Conclusão:
O Concílio Vaticano II, o 21º Concílio Ecumênico da Igreja Católica, marcou
profundamente a História eclesiástica na segunda metade do século XX. É uma
tarefa árdua compreender a história da Igreja em tempos atuais sem trazer à tona
os novos ideários que esse Concílio colocou em relevo. Em solo latino-americano, a
própria criação da Teologia da Libertação criada na década 1960 e com sua “opção
pelos pobres”, é fruto, em parte, das mudanças institucionais irrompidas no seio da
Igreja de Roma. Atualmente, quando comunidades de bases e outros setores da
Igreja ponderam sobre temas como justiça social e ecumenismo a menção ao
Vaticano II é uma lição quase que obrigatória.
Por fim, no intuito de compreendermos o alcance do Vaticano II para a
História da Igreja, vejamos as palavras de Dom Helder Câmara, Arcebispo de
Olinda e Recife à época do Regime Militar, e uma das principais referenciais para a
cultura da paz e da justiça social:
O Concílio Ecumênico Vaticano II disse muitíssimo, por suas
palavras e seu silêncio. Disse uma palavra perfeita sobre a Igreja,
pondo em relevo a ideia fecunda de Povo de Deus, salientando a
Colegialidade Episcopal, abrindo espaço para o leigo. Disse palavra
de força altamente renovadora sobre a liturgia e sobre Missão.
Falou bem, de modo oportuno e justo, sobre a missão do Bispo,
missão do Padre e apostolado dos leigos. Note-se, ainda, que
importante como o que o Concílio disse é o silêncio que, em certas
circunstâncias, ele timbrou em manter. Recusou-se toda e qualquer
condenação, convicto de que estamos, cada vez mais, na era do
diálogo. Evitou qualquer palavra que importasse em fechamento de
portam, em estreiteza de vista, em atitude menos larga e menos
nobre. Podemos e devemos agradecer a Deus a primavera que se
anuncia: de renovação teologia, litúrgica, missionária,
ecumênica...Primavera, talvez, ainda mais bela do que o mais
audacioso sonho do Papa João, o profeta do Vaticano II.
(RAMPONI, 2013: 79).
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Revista:
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Sítio
http://www.vatican.va/holy_father/john_xxiii/encyclicals/documents/hf_j-
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