Você está na página 1de 17

Artigo

A Corrosão e os Agentes Anticorrosivos


Frauches-Santos, C.; Albuquerque, M. A.; Oliveira, M. C. C.; Echevarria, A.
Rev. Virtual Quim., 2014, 6 (2), 293-309. Data de publicação na Web: 20 de dezembro de 2013
http://www.uff.br/rvq

The Corrosion and the Anticorrosion Agents


Abstract: Corrosion is generally present in metal materials, especially when they are involved
in several industrial activities. Their deterioration is induced by the physicochemical interaction
between the metal and the corrosive environment, which causes great problems in several
activities. The petrol sector is one of the most damaged as the constituents of perforation
fluids and petroleum production water influence corrosion. Conventional anti-corrosion
techniques are employed to prevent the loss of highly used industrial material; they include
coatings, change of environment, cathodic and anodic protection and inhibitor treatments
using organic compounds. Broadly speaking, this article describes the main anti-corrosion
protection methods, corrosion in petroleum industry, and the anti-corrosion agents used in
the industrial sector.
Keywords: Corrosion; corrosion inhibitors; anti-corrosion protection; corrosion in petroleum
industry.

Resumo
A corrosão está presente nos materiais metálicos em geral e, em especial, envolvidos nas
diversas atividades industriais. A deterioração destes é causada pela interação físico-química
entre o material e o meio corrosivo, onde causa grandes problemas nas mais variadas
atividades. Um dos setores que mais se prejudica com a corrosão é o petrolífero devido a
influencia de constituintes dos fluidos de perfuração e da água de produção. Para evitar as
perdas dos materiais de elevado uso industrial, são utilizadas técnicas anticorrosivas que
incluem os revestimentos, as técnicas de modificação do meio, a proteção catódica e anódica
e, os inibidores de corrosão como a utilização de compostos orgânicos. Este artigo descreve,
em linhas gerais, as principais técnicas de proteção anticorrosiva, a corrosão na indústria do
petróleo e os agentes anticorrosivos utilizadas no meio industrial.
Palavras-chave: Corrosão; inibidores de corrosão; proteção anticorrosiva; corrosão na
indústria de petróleo.

* Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Departamento de Química, ICE, CEP 23890-
000, Seropédica-RJ, Brasil.
echevarr@ufrrj.br
DOI: 10.5935/1984-6835.20140021
Rev. Virtual Quim. |Vol 6| |No. 2| |293-309| 293
Volume 6, Número 2 Março-Abril 2014

Revista Virtual de Química


ISSN 1984-6835

A Corrosão e os Agentes Anticorrosivos


Cristiane Frauches-Santos, Mariana A. Albuquerque, Márcia C. C.
Oliveira, Aurea Echevarria*
Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Departamento de Química, ICE, CEP 23890-000,
Seropédica-RJ, Brasil.
* echevarr@ufrrj.br

Recebido em 15 de maio de 2013. Aceito para publicação em 21 de novembro de 2013

1. Introdução
2. A corrosão na indústria do petróleo
3. Os métodos para inibição da corrosão
4. Compostos orgânicos como agentes anticorrosivos
5. Conclusões

1. Introdução constantemente transformando os materiais


metálicos de modo que a durabilidade e
desempenho dos mesmos deixam de
Desde a pré-história, quando o homem satisfazer os fins a que se destinam. A
aprendeu a trabalhar com os metais, ele vem deterioração causada pela interação físico-
lutando contra um problema sério: a química entre o material e o meio em que se
corrosão! Ainda hoje a corrosão causa encontra leva a alterações prejudiciais e
indesejáveis, sofridas pelo material, tais
grandes transtornos nas mais variadas
atividades e provocam muitos prejuízos como: desgaste, transformações químicas ou
materiais incluindo a própria segurança do modificações estruturais, tornando o
homem. A corrosão pode ocasionar fraturas material inadequado para o uso.1
repentinas de partes criticas de A corrosão causa grandes problemas nas
equipamentos, causando acidentes que mais variadas atividades, como por exemplo,
podem até resultar em perda de vidas. nas indústrias química e petrolífera, nos
Mesmo em casa e em nossas atividades de meios de transportes aéreo, ferroviário,
rotina percebe-se o processo corrosivo em metroviário, marítimo, rodoviário e nos
geladeiras, fogões, automóveis, entre outros. meios de comunicação, como sistemas de
A corrosão pode ser definida como a telecomunicações, na odontologia
deterioração de um material, geralmente (restaurações metálicas, aparelhos de
prótese), na medicina (ortopedia) e em obras
metálico, por ação física, química ou
eletroquímica do meio ambiente aliada ou de arte como monumentos e esculturas.1
não a esforços mecânicos. Sendo a corrosão, O estudo dos processos de corrosão tem
em geral, um processo espontâneo, está crescido bastante, pois cerca de metade das

294 Rev. Virtual Quim. |Vol 6| |No. 2| |293-309|


Frauches-Santos, C. et al.

falhas dos materiais tem sido atribuída a esse corrosivos: a atmosfera, a água, o solo e os
fenômeno. O conhecimento tanto dos produtos químicos, ocorrendo diferentes
princípios da corrosão quanto da proteção mecanismos para esses processos. O
anticorrosiva se apresenta como um desafio conhecimento dos mecanismos ajuda no
no campo da engenharia de equipamentos.2 controle das reações envolvidas no processo
O fenômeno da corrosão é encarado como a de corrosão, os principais mecanismos são o
destruição dos materiais metálicos e não químico e o eletroquímico.
metálicos em contato com o meio ou
A corrosão química acontece quando há
ambiente, devido a interações químicas e/ou
ataque de um agente químico diretamente
mecânicas. Os custos diretos e,
sobre o material. No mecanismo de corrosão
principalmente os indiretos atingem somas
química não se tem a transferência de cargas
astronômicas.3
ou elétrons, não havendo a formação,
Dentre os diversos materiais que podem portanto, de uma corrente elétrica,
sofrer a corrosão o aço carbono é o mais ocorrendo o ataque de um agente químico
usado na indústria de maneira geral e, cerca diretamente sobre o material. Este processo
de 20% do aço produzido destina-se a consiste na reação química entre o meio
reposição de partes de equipamentos, peças corrosivo e o material exposto à ele,
ou instalações corroídas. As indústrias de resultando na formação de um produto de
petróleo e petroquímicas são as que mais corrosão sobre a superfície do material. Esse
sofrem ataque de agentes corrosivos que mecanismo de corrosão, normalmente,
causam prejuízos em toda a cadeia produtiva, ocorre em altas temperaturas, como em
desde sua extração até o refino.4 fornos, caldeiras e unidades de processo. A
Figura 1 mostra o exemplo de uma placa de
As formas que podem levar a corrosão em
ferro reagindo com o sulfeto de hidrogênio
aço carbono podem ser: uniforme, galvânica,
(H2S), na ausência de umidade. Na etapa
por frestas e por pite, menos comum, mas
inicial ocorre a adsorção do gás H2S na
não menos importante, estas formas variam
superfície do ferro e, em seguida, o ataque,
com a aparência da corrosão no metal.2
formando uma película de sulfeto ferroso
Os materiais estão expostos a meios (FeS).5

Meio Corrosivo
Fe Fe Fe FeS FeS

H2S H2

Fe + H2S (g) FeS + H2(g)

Figura 1. Exemplo de um processo de corrosão (adaptado da ref. 5)

A formação de uma película sobre a cobre, prata e zinco também estão sujeitos
superfície metálica pode inibir ou impedir o aos mesmos mecanismos sendo
processo corrosivo, a qual é denominada de representados pelas reações:
passivação.6 Outros metais como cádmio,

Rev. Virtual Quim. |Vol 6| |No. 2| |293-309| 295


Frauches-Santos, C. et al.

Cd + H2S (g) → CdS + H2


Cu + H2S (g) → CuS + H2
Zn + H2S (g) → ZnS + H2
2 Ag + H2S (g) → Ag2S + H2

A taxa de corrosão pode ser acelerada assim, como resultado final, a deterioração
com o aumento da temperatura, da pressão do metal. Tais eletrólitos podem ser: a água
e de altas concentrações do meio corrosivo. do mar, ar atmosférico com umidade, o solo
Alguns aços de baixa liga podem formar uma entre outros.7
película protetora, que acaba funcionando
A transferência dos elétrons da região
como uma "barreira" contra o intemperismo,
anódica para a catódica é feita por meio de
o que torna este material mais resistente do
um condutor metálico, e a difusão de ânions
que outros aços.6
e cátions na solução fecha o circuito elétrico.
A corrosão eletroquímica consiste em um A intensidade do processo de corrosão é
processo espontâneo, passível de ocorrer avaliada pelo número de cargas de íons que
quando o metal ou liga está em contato com se descarregam no catodo ou, então, pelo
um eletrólito, onde ocorrem, número de elétrons que migram do anodo
simultaneamente, as reações anódicas para o catodo, conforme mostram os
(oxidação) e catódicas (redução), causando mecanismos apresentados na Figura 2.6

Meio ácido Meio básico ou neutro Meio básico ou neutro


não aerado aerado
Fe Fe2+ + 2e- Fe Fe2+ + 2e- Fe Fe2+ + 2e-
2H+ H2 2H2O + 2e- H2 + 2OH- H2O + 1/2O2 + 2e- 2OH-

Figura 2. Mecanismo eletroquímico da corrosão em diferentes meios (adaptado da ref. 6)

Conhecendo os meios agressivos e suas 2. A corrosão na indústria do


características responsáveis pela
deterioração dos materiais podem ser
petróleo
desenvolvidos métodos eficazes para
combater à corrosão. O método a ser
escolhido depende da natureza do material a Os equipamentos em todas as etapas da
ser protegido e do eletrólito (meio corrosivo). produção do óleo e gás na indústria de
O custo e o tempo necessários para o petróleo (extração e operações de refino) e,
emprego do método devem ser no seu transporte e estocagem, sofrem
considerados. Atualmente, diversas técnicas ataques constantes da corrosão. A indústria
anticorrosivas têm sido utilizadas, como os de petróleo contém uma grande variedade
revestimentos, a proteção catódica e anódica de ambientes corrosivos e, alguns destes são
e o uso de inibidores de corrosão. A maioria exclusivos para essa indústria.
das técnicas promove o isolamento do metal A necessidade contínua de exploração e
de agentes corrosivos, diminuindo assim a produção de petróleo e gás é implacável,
possibilidade de haver corrosão. apesar da disponibilidade de fontes

296 Rev. Virtual Quim. |Vol 6| |No. 2| |293-309|


Frauches-Santos, C. et al.

renováveis de energia. A produção de óleo e para que os minerais presentes na formação


gás envolve processos que tem de ser rochosa sejam parcialmente dissolvidos,
concebidos para minimizar a corrosão e seus aumentando ou recuperando a
consequentes custos.8 permeabilidade da estrutura. As soluções
ácidas utilizadas são geralmente de acido
A corrosão que mais prejudica a indústria
clorídrico ou fluorídrico. Tais soluções
petrolífera é a eletroquímica, devido à
promovem o desgaste prematuro do
influência dos constituintes do fluido de
revestimento de produção pelo ataque do
perfuração e da água de produção entre
ácido.13,14
outros. Esses constituinte são os sais, os
gases dissolvidos e micro-organismos, aliados A perfuração offshore (perfuração no mar)
a temperatura e pressão.9 apresenta muitos problemas de corrosão. A
maior parte dos equipamentos atualmente
A corrosão provocada pelo
utilizados na indústria de petróleo e gás
processamento do petróleo começou a
offshore se aproxima rapidamente ao final de
receber a devida atenção no final dos anos 40
sua vida útil, e a possibilidade de falha do
e início dos anos 50, devido à necessidade de
equipamento, sem aviso significativo, é alta.
refino dos petróleos com teor mais elevado
Vazamentos de óleo e falhas de
de componentes ácidos o que resultou no
equipamentos recentemente têm
aumento das perdas pelos processos
demonstrado esse perigo. Vários fatores
corrosivos.10
contribuem para esses incidentes, incluindo
Na produção de petróleo a presença de erros humanos, falta de conhecimentos
gases como o H2S e o CO2 causam como avançados e efeitos de corrosão. Geralmente,
consequência aumento da acidez e a o envelhecimento é um fator limitante da
corrosão. À medida que a concentração vida dominante para qualquer estrutura, e a
desses gases aumenta, o pH diminui e a taxa corrosão é uma das características mais
de corrosão aumenta. Dentre os fatores que graves do envelhecimento. É bem sabido que
afetam a corrosão por gás ácido estão: a) a a corrosão é um processo muito complexo,
composição das fases (água, óleo e gás) particularmente em ambientes marinhos,
presentes no sistema; b) a composição onde ele é significativamente afetado por
química da água produzida; c) a temperatura; muitos fatores ambientais, materiais e pela
d) a vazão e e) a composição e condições das alta salinidade. Podem ocorrer problemas de
hastes que estruturam o poço.11 corrosão em numerosos subsistemas dentro
A preocupação com a corrosão por ácido do mar em um sistema de produção de óleo
sulfúrico tem aumentado na indústria de e gás, incluindo os tubos de óleo.15
petróleo e gás por causa da recente política O dióxido de carbono dissolvido na água
sobre a transformação de H2S e os diversos forma o ácido carbônico (H2CO3), reduzindo o
óxidos de enxofre produzidos durante a pH. Embora não seja tão corrosivo quanto o
extração de petróleo e de sua refinação em oxigênio, leva a corrosão através da formação
ácido sulfúrico concentrado. Segundo a de pites. Nos últimos anos, tem sido
Agência Internacional de Energia (AIE), reconhecido como um dos mais importantes
combustíveis fósseis, na forma de gás de agentes corrosivos, especialmente em
petróleo e gás natural, correspondem a operações em que o gás é o material de
aproximadamente 60% da demanda global alimentação, ou de matérias-primas.9
de energia. Atualmente, o desafio para todo
A água está presente em óleos brutos, e
o petróleo e gás natural é para atender às
sua remoção completa é muito difícil onde
crescentes necessidades industriais sem
atua como um eletrólito causando a
alterações indutoras na estabilidade do clima
corrosão. Além disso, tende a hidrolisar
global.12
outros compostos, particularmente cloretos,
Na etapa de extração, por exemplo, causando o aumento da acidez.16
ocorre o processo de acidificação da matriz,

Rev. Virtual Quim. |Vol 6| |No. 2| |293-309| 297


Frauches-Santos, C. et al.

A água salgada é produzida na maioria dos de sulfeto de hidrogênio dos equipamentos


poços de petróleo, e pode entrar em de aço e condutos tornou-se mais importante
quantidades grandes na refinaria, seja como devido ao grande desenvolvimento de gás e
água emulsificada ou sob a forma cristalina de gás condensado em campos com alto teor
(hidratos) dispersa no petróleo bruto. Os de H2S (até 25% v/v) em vários países, tais
principais sais presentes são cloreto de como a Rússia, Uzbequistão, Canadá, França,
cálcio, cloreto de magnésio e cloreto de China e Emirados Árabes Unidos. A
sódio. A dessalinização inclui métodos de possibilidade da aplicação de inibidores de
lavagem e decantação, a adição de produtos corrosão voláteis em tais condições tem sido
químicos, tais como sulfonatos, centrifugação amplamente discutida. Inibidores de
e filtragem. Sais e água são geralmente corrosão voláteis em comparação com os
removidos o mais rápido possível, mas as inibidores de fase líquida têm algumas
operações são frequentemente incompletas, vantagens: eles entram em zonas remotas
e levam a formação de ácido clorídrico. O (slots e lacunas) de equipamentos metálicos
cloreto de magnésio é facilmente hidrolisado. e são capazes de eliminar defeitos na película
Neste caso, o amoníaco pode ser necessário de proteção. No entanto, existem poucos
em quantidades equivalentes a três vezes o trabalhos científicos na literatura moderna
equivalente estequiométrico de íons sulfeto e sobre a inibição da corrosão de sulfeto de
cloreto.16 hidrogênio em gás, apesar do considerável
valor prático dos inibidores de corrosão
Sulfeto de hidrogênio, mercaptanas, e
voláteis.8
outros compostos contendo enxofre estão
presentes em muitos dos produtos brutos No Brasil as reservas de petróleo no mar
provenientes do petróleo e nos gases apresentam um teor de nitrogênio total de
tratados pelas refinarias. H2S é especialmente 4000 ppm, concentração mais elevada em
perigoso porque estimula e acelera a comparação com o petróleo oriundo de
corrosão que leva a perda das propriedades outros países. Durante o processo de
de plasticidade do aço e rachaduras.8 O H2S craqueamento, o petróleo bruto gera uma
dissolvido na água, tende a contribuir para a grande concentração de cianeto e, também
redução de seu pH, tornando-a mais de H2S. Wilhelm, em 1994, classificou a
agressiva quanto à corrosão. O sulfeto de agressividade de um petróleo pelas
ferro resultante do processo corrosivo é um concentrações de hidrosulfetos (HS-) e de
ótimo condutor de elétrons e é catódico em cianeto (CN-) geradas durante o
17
relação ao aço nu, formando com este um craqueamento catalítico. Os hidrosulfetos
par galvânico, o que tende a acelerar a podem ser gerados por H2S ou através da
corrosão. A presença simultânea de H2S e O2 dissociação do NH4HS. Durante o ataque do
causa a lenta oxidação do ácido, com H2S ao aço, para uma determinada faixa de
formação de água e enxofre elementar, o que pH, um filme de FexSy é formado na
tende a aumentar a corrosividade do meio. superfície desse aço, que dá origem a uma
Estes são removidos por reação com lenta corrosão cinética. A presença do íon
hidróxido de sódio, cal, óxido de ferro, ou cianeto faz com que haja a remoção da
carbonato de sódio, mas por razões película superficial através da reação de
diferentes muitas vezes não são removidos substituição do sulfeto pelo cianeto
até a operação final.9 ocorrendo, assim, o controle da corrosão
(Figura 9).18
A questão de proteção contra a corrosão

298 Rev. Virtual Quim. |Vol 6| |No. 2| |293-309|


Frauches-Santos, C. et al.

3FeS + 18CN - 3Fe(CN)64 - + 3S2 -

Figura 9. Reação entre o sulfeto ferroso e íons cianeto envolvida no controle da corrosão do
aço

O petróleo extraído da região do pré-sal 3. Os métodos para inibição da


no Brasil apresenta condições muito
específicas, pois vem misturado com água de
corrosão
alta salinidade e alto teor de CO2 em altas
pressões e temperaturas. A presença do CO2
na água de produção leva à formação de As técnicas ou métodos de proteção
ácido carbônico, altamente corrosivo, anticorrosiva, usadas em alguns materiais de
levando à necessidade do desenvolvimento extensivo uso industrial envolvem, de
de novas tecnologias visando soluções para maneira geral, a passivação ou a polarização
essa realidade. Por isso, a PETROBRAS estuda do material, incluem os revestimentos, os
em conjunto com os fabricantes de dutos o inibidores de corrosão, as técnicas de
desenvolvimento de novos materiais mais modificação do meio, a proteção catódica e
resistentes à corrosão. Para que este gás não anódica.
seja lançado na atmosfera, uma das
alternativas é sua reinjeção nos poços de
3.1. Revestimentos
petróleo. Nesse contexto destaca-se o
desafio de captura e sequestro de gás
carbônico (associado ao fluido produzido em
As ações protetoras dos revestimentos
unidades flutuantes de águas profundas). No
anticorrosivos podem ser explicadas devido a
entanto, esta solução ainda é bastante
formação de películas de óxidos, hidróxidos e
complexa e exige, ainda, análise cuidadosa
outros compostos pela reação de metais
por parte da PETROBRAS.19
como alumínio, cromo, níquel e zinco com os
Vale destacar que atualmente, nenhuma oxidantes do meio corrosivo. Além disso, os
companhia do mundo extrai petróleo na metais também podem ser usados como
profundidade dos poços como nos campos revestimentos e os mais adequados
do pré-sal da Bacia de Santos, que se estende apresentam valores elevados de sobretensão
desde o litoral sul do estado do Rio de ou sobrevoltagem, sendo por isso mais
Janeiro até o litoral norte do estado de Santa resistentes ao ataque dos ácidos em meios
Catarina. Os equipamentos que deverão ser não aerados como, por exemplo, o estanho,
utilizados para a extração desse petróleo chumbo, zinco e cádmio.1
terão de ser feitos com materiais mais
O revestimento também pode ser
resistentes à corrosão e altas pressões devido
metálico e, é constituído de partículas de
o óleo extraído vir acompanhado de água
metal líquido aplicado sobre a superfície
com altos teores de gás carbônico e gás
limpa e rugosa do aço, por exemplo. A partir
sulfídrico, altamente danosos para os
disso, o metal que está em sua forma líquida
equipamentos, constituindo um desafio
é solidificado ao atingir a superfície,
adicional para sua exploração.20
formando uma camada levemente porosa de
lâminas que se acumulam de modo a obter a
máxima resistência à corrosão. Não há a
formação de intermetálicos (ligas
constituídas por dois elementos metálicos) e

Rev. Virtual Quim. |Vol 6| |No. 2| |293-309| 299


Frauches-Santos, C. et al.

a adesão é obtida pelo ancoramento A tinta é uma composição líquida que


mecânico junto à superfície. O custo deste depois de aplicada sobre uma superfície,
tratamento é alto, pois requer exigências passa por processo de secagem ou cura e se
especiais no preparo e limpeza da transforma em um filme sólido, fino,
superfície.21 aderente, impermeável e flexível.27 A tinta é
uma mistura constituída por um veículo e
Os revestimentos não metálicos
pigmentos. O veículo é composto de resina e
inorgânicos, constituídos de compostos
solvente e de alguns coadjuvantes como
inorgânicos, são depositados diretamente na
plastificantes, secantes e catalisadores. As
superfície metálica ou formados sobre essa
resinas normalmente usadas são: alquímicas,
superfície. Os mais usados na proteção
epoxídicas, fenólicas, poliuretânicas e
contra corrosão são: esmaltes vitrosos,
vinílicas. Qualquer sistema de pintura como
vidros, porcelanas, cimentos, óxidos,
garantia de sua eficiência requer avaliação do
carbetos, nitretos, boretos e siliciletos.1
meio corrosivo, do sistema de preparação da
Os revestimentos compósitos, ou seja, superfície, da composição das tintas e do
materiais cerâmicos, mais comuns contêm próprio processo de pintura adotado, tempo
vidro na forma de fibra ou flocos. Sua de alternância das aplicações, equipamentos
durabilidade é definida pela dureza dos adequados e outros cuidados.6
componentes como a fibra (ou flocos) de
Os principais requisitos de um
vidro, a matriz polimérica formada e
revestimento são: baixa permeabilidade,
interface com o metal.22 A umidade, por
resistência química ao meio agressivo,
exemplo, pode reduzir a resistência mecânica
dilatação térmica compatível com o
da fibra de vidro e, na resina pode aumentar
substrato, propriedades físicas adequadas
sua plasticidade, iniciar microfissuras ou
aos abusos que receberá por abrasão,
causar inchamento.23,24
trafego, impacto, flexão, etc. Suas
As propostas comerciais para características são: monolítico (sem
revestimentos compósitos garantem maior emendas), remota ocorrência de trincas ou
durabilidade, boa estabilidade dimensional fissuras, não permite infiltrações, fácil e
numa alta faixa de temperatura, alta força rápida aplicação, aceita reparos localizados,
dielétrica e baixa permeabilidade. Contudo, o equipamentos de suporte simples e baixo
desempenho desses revestimentos ainda não custo.28
está bem caracterizado e nem existem
ensaios consolidados que possam ser
utilizados para comparar o comportamento 3.2. Proteção Catódica e Anódica
desses compósitos com revestimentos
tradicionais. Essas mesmas restrições se
aplicam às novas gerações de resinas.25 A proteção dos materiais metálicos pode
ser realizada através da aplicação de corrente
Os revestimentos não metálicos orgânicos
anódica ou impedindo a difusão de oxigênio
(ou tintas) constituem em o método de
através de processo catódico. Em 1954,
controle da corrosão mais utilizado.
Edeleanu, sugeriu a possibilidade do
Aproximadamente 90% de todas as
emprego da proteção anódica que, de
superfícies metálicas são revestidas por
maneira simples, baseia-se na formação de
tintas, e a multiplicidade dos tipos de pintura,
uma película protetora, nos materiais
as cores disponíveis, os processos de
metálicos, por aplicação de corrente anódica
aplicação e a possibilidade de combinação
externa. Essa corrente ocasiona polarização
das tintas com revestimentos metálicos têm
anódica, que possibilita a passivação do
aumentado a importância deste tipo de
material metálico.1
proteção anticorrosiva.26

300 Rev. Virtual Quim. |Vol 6| |No. 2| |293-309|


Frauches-Santos, C. et al.

Os protetores anódicos são aqueles que ferro-cromo e ligas de ferro-cromo-níquel. O


atuam nas reações anódicas, ou seja, aqueles seu emprego encontra maior interesse para
que migram para a superfície anódica, eletrólitos de alta agressividade (eletrólitos
causando passivação em presença de fortes), como por exemplo, um tanque
oxigênio dissolvido.29 Este tipo de protetor metálico para armazenamento de ácidos. A
reage com o produto de corrosão proteção anódica não só propicia a formação
inicialmente formado, dando origem a um da película protetora, mas principalmente,
filme aderente e extremamente insolúvel em mantém a estabilidade desta película. O
sua superfície, resultando em sua proteção. emprego de proteção anódica é ainda muito
restrito no Brasil, porém, tem grande
A proteção anódica é empregada com
aplicação em outros países na indústria
sucesso somente para os metais e ligas
química e petroquímica.6 A Figura 3 ilustra o
formadores de películas protetoras,
processo de proteção anódica.
especialmente o titânio, o cromo, ligas de

Fonte de corrente Unidade de controle


contínua de potencial

catodo

Depósito protegido
(anodo)
Eletrodo de referência

Figura 3. Figura que representa a proteção anódica (adaptado da ref. 30)

A proteção catódica é uma técnica que potencial de corrosão para valores negativos,
está sendo aplicada com sucesso no mundo aumentando o pH do meio e diminuindo a
inteiro, e cada vez mais no Brasil. Embora a solubilidade do íon ferroso. A proteção
proteção catódica possa ser utilizada com catódica é empregada para estruturas
eficiência para a proteção de estruturas enterradas ou submersas. Não pode ser
metálicas completamente nuas, sua aplicação usado em estruturas aéreas em face da
torna-se extremamente econômica e mais necessidade de um eletrólito contínuo, o que
simples quando as superfícies a proteger são não se consegue na atmosfera.6
previamente revestidas. Sua finalidade,
Os protetores catódicos são substâncias
nesses casos, consiste em complementar a
que possuem íons metálicos capazes de
ação protetora dos revestimentos que
reagir com a alcalinidade catódica,
sempre contêm poros, falhas e se tornam
produzindo assim compostos insolúveis.
deficientes com o passar do tempo. A
Esses compostos envolvem toda a área
proteção catódica e o revestimento são,
catódica, impedindo a difusão do oxigênio e
assim, aliados importantes que, de maneira
dos elétrons, inibindo o processo catódico. A
econômica e segura, garantem ao longo dos
eficiência dos protetores catódicos no
anos a integridade das estruturas metálicas.1
concreto comparando-os com os anódicos é
Os protetores catódicos neutralizam a
razoavelmente baixa. Estudos comprovam
corrosão através do deslocamento do
Rev. Virtual Quim. |Vol 6| |No. 2| |293-309| 301
Frauches-Santos, C. et al.

que inibidores catódicos não aderem à tornando-os menos efetivos.31 A Figura 4


superfície do metal como os anódicos, ilustra o processo de inibição catódica.32

Anodo
- - - - - - - - - - - - +

+ + + + + + + + + -
Reforço catódico de
Fonte de
estrutura de concreto corrente

Figura 4. Figura que representa a proteção catódica (adaptado da ref. 32)

Comparando-se as proteções anódicas e corrosivo. Os processos de retirada de


catódica, pode-se observar que a proteção oxigênio podem ser químicos ou mecânicos.
anódica só pode ser aplicada para metais ou O processo químico é realizado pelos agentes
ligas que se passivam, como o ferro, níquel, sequestradores de oxigênio, enquanto que a
cromo, titânio e respectivas ligas, não sendo retirada através do processo mecânico é feita
aplicável para zinco, magnésio, cádmio, com a desaeração por arraste do oxigênio
prata, cobre ou ligas de cobre, ao passo que a por outro gás, comumente vapor de água, ou
proteção catódica é aplicável a todos os em câmara de vácuo onde a descompressão
materiais metálicos.1 propicia a saída de gases.6

3.3. Técnicas de modificação do meio 3.4. Inibidores de corrosão


corrosivo

Um dos principais métodos adotados pela


A corrosão pode ser evitada através da indústria para prevenir ou minimizar a
alteração do meio corrosivo através do corrosão é o uso de inibidores de corrosão
controle do pH e a desaeração. O controle de específicos. Tais inibidores são substâncias
pH visa favorecer a passivação dos metais, o orgânicas ou inorgânicas, que quando
que ocorre com o pH ligeiramente básico. adicionadas ao meio corrosivo, evitam ou
Cuidados especiais com os metais anfóteros diminuem o desenvolvimento das reações de
devem ser tomados, pois esses perdem a corrosão. Esses inibidores normalmente são
resistência à corrosão em meios muito adsorvidos, fazendo um filme muito fino e
básicos e com a precipitação de compostos persistente, o qual leva a uma diminuição na
de cálcio e magnésio que se tornam taxa de corrosão, devido ao abrandamento
insolúveis em pH elevado, podendo trazer das reações anódicas, catódicas ou ambas.
problemas de incrustação.6 Além disso, os inibidores de corrosão podem
atuar reprimindo reações anódicas
A desaeração consiste na retirada de
(inibidores anódicos), reprimindo reações
oxigênio do meio, sendo este um agente
catódicas (inibidores catódicos) ou ambas
despolarizante, com a sua retirada favorece-
(inibidores mistos).33 Os inibidores de
se a polarização catódica com a consequente
corrosão podem atuar tanto no período
diminuição da intensidade do processo

302 Rev. Virtual Quim. |Vol 6| |No. 2| |293-309|


Frauches-Santos, C. et al.

inicial do tratamento ou no período de adsorção não foi estudada de forma


propagação, reduzindo a taxa de corrosão.34 sistemática e os resultados são por vezes
contraditórios. Os compostos orgânicos que
Inibidores de corrosão são compostos
contêm átomos doadores de elétrons, como
químicos normalmente utilizados em
o oxigênio, nitrogênio e enxofre tem
pequenas concentrações, sempre que um
apresentado comportamento eficaz para a
metal se encontra em contato com um meio
inibição da corrosão do aço. Estes inibidores
agressivo. A presença de tais compostos,
normalmente promovem a formação de um
retarda o processo de corrosão, e mantém a
quelato na superfície do metal, ocorrendo à
sua taxa em um mínimo e, assim, evita
transferência de elétrons do composto
perdas econômicas devido a corrosão
orgânico para a superfície metálica,
metálica. Os compostos químicos que podem
formando uma ligação covalente coordenada
ser utilizados para esta finalidade devem
durante o processo de adsorção química.
apresentar alguns requisitos relativos à
Deste modo, o metal atua como um
estrutura e comportamento químico. Os
eletrófilo, enquanto os centros nucleófilos da
compostos inorgânicos, por exemplo, devem
molécula inibidora são normalmente
ser capazes de oxidar o metal, formando uma
heteroátomos com pares de elétrons
camada passiva sobre a sua superfície.35
disponíveis para serem compartilhados.39
Os inibidores orgânicos são compostos Inibidores de corrosão a base de mistura de
orgânicos contendo insaturações e/ou aminas de alto peso molecular são os mais
grupamentos fortemente polares em sua comercializados para indústria de petróleo.
estrutura com a presença de átomos de
A planaridade das estruturas moleculares
nitrogênio, oxigênio ou enxofre. Esses
e os pares isolados de elétrons nos
inibidores são geralmente indicados para
heteroátomos são características
proteger os materiais metálicos em meio
importantes que determinam a adsorção
ácido; são inibidores de adsorção, os quais se
destas moléculas sobre a superfície metálica.
adsorvem sobre as regiões catódicas e/ou
Eles podem adsorver sobre a superfície do
anódicas do metal, protegendo-o. Como por
metal, bloquear os sítios ativos sobre a
exemplo, pode-se citar aminas, aldeídos,
superfície e, assim, reduzir a taxa de
mercaptanas, compostos heterocíclicos
corrosão.40
nitrogenados, compostos contendo enxofre e
compostos acetilênicos.36 A função polar é O aumento da adsorção na superfície
normalmente considerada o centro de metálica tem sido relacionado com o
quelação no processo de adsorção química.37 aumento da massa molecular e do momento
dipolar dos compostos orgânicos.41 Essa
adsorção tem sido relacionada a presença de
4. Compostos orgânicos como ligações insaturadas e heteroátomos nos
agentes anticorrosivos compostos orgânicos favorecendo a ligação
eletrônica com o orbital d do metal.42 Na
adsorção e/ou processos de inibição de
corrosão, a orientação das moléculas
Investigações sobre a influência de
orgânicas adsorvidas na superfície metálica
compostos orgânicos na corrosão de metais
apresenta, também, grande importância. Foi
têm sido extensivamente estudadas
relatado que a adsorção dos compostos
utilizando-se solventes orgânicos. As
heterocíclicos ocorre através dos anéis
informações relatadas na literatura mostram
aromáticos, por vezes, em paralelo, mas
que a maior parte dos efeitos de inibição por
principalmente em relação à superfície de
compostos orgânicos é devido à adsorção na
metal.43,44
superfície do metal.38
Shylesha e colaboradores relataram,
A influência da estrutura de compostos
recentemente, que a anilina tem efeito
orgânicos em solução aquosa no processo de
inibidor eficaz para o aço mole em ambos

Rev. Virtual Quim. |Vol 6| |No. 2| |293-309| 303


Frauches-Santos, C. et al.

ácidos, HCl e H2SO4, mas ligeiramente melhor vazios do metal.38


em HCl, que está relacionado com a adsorção
Tem sido relatado que compostos
sinérgica de moléculas do inibidor através do
heterocíclicos contendo heteroátomos tais
ânion cloreto na superfície metálica. A
como N, O, S, foram investigados e
eficiência de inibição aumentou com a
mostraram ser inibidores eficazes para
concentração do inibidor acima de 0,2 g mL-
1 38 corrosão de aço carbono em meio ácido.41
.
Popova e colaboradores investigaram a
Algumas investigações sobre a inibição de inibição promovida por cinco compostos
corrosão do ferro correlacionam a interação heterocíclicos: indol (I), benzimidazol (BI),
do orbital molecular com as propriedades de benzotriazol (BTA), benzotiazol (BNS) e
inibição de inibidores orgânicos como o benzotiadiazol (BTD) sobre a corrosão do aço
tiofenol, fenol e anilina. Foi verificada que a carbono em HCl 1 mol L-1. A ordem crescente
melhor eficiência para tiofenol está de inibição desses compostos: I > BTA ~ BNS
relacionada a interação entre os pares > BI, indicou que o BTD estimulava o
eletrônicos isolados do enxofre e orbitais processo de corrosão (Figura 5).45

H H H
N N N S N
N S
N N N N

Indol Benzimidazol Benzotriazol Benzotiazol Benzotiadiazol

Figura 5. Estruturas químicas de compostos heterocíclicos com ação anticorrosiva para aço
carbono em meio ácido45

Zhang e Hua pesquisaram os líquidos usando técnicas eletroquímicas e o possível


iônicos de imidazólio, ou seja, cloreto de 1- mecanismo de inibição mostrou boa
butil-3-metilimidazólio (BMIC) e eficiência de corrosão para o aço mole em
hidrogenossulfonato de 1-butil-3- HCl 0,1 mol.L-1 e que a sua eficácia de inibição
metilimidazólio ([BMIM] HSO4), utilizando-os depende tanto da concentração como do
como inibidores de corrosão em meio ácido. tempo de imersão. A escolha deste composto
Foi observada boa inibição para a corrosão como um inibidor levou em consideração a
do aço carbono em solução HCl (1 mol L-1) e a estrutura molecular, sendo que a molécula 2-
eficiência de inibição dependente da tio-hidantoína tem dois átomos de
concentração do inibidor.46 nitrogênio, um de enxofre e um átomo de
oxigênio, sendo sugerido que constituam o
Recentemente, a investigação da eficácia
centro ativo de adsorção.47
de inibição da 2-tioidantoína (Figura 6)

304 Rev. Virtual Quim. |Vol 6| |No. 2| |293-309|


Frauches-Santos, C. et al.

H
S N
O
N
H
2-tio-hidantoína

Figura 6. Estrutura química da 2-tio-hidantoína

Goulart e colaboradores avaliaram a concentrações. As curvas de polarização


capacidade de inibição de quatro mostraram que todos os compostos
tiossemicarbazonas (4-etoxibenzaldeído- avaliados agiram como inibidores mistos,
tiossemicarbazona, 4-hidroxibenzaldeído- aumentando a resistência de transferência de
tiossemicarbazona, 4-etoxi-3- carga do processo de corrosão e aumentando
metoxibenzaldeído-tiossemicarbazona e 2- a eficiência de inibição. A adsorção dos
piridinocarboxialdeído-tiossemicarbazona) e inibidores avaliados segue uma isoterma de
duas semicarbazonas (2-indolcarboxaldeído- Langmuir. Os resultados teóricos
semicarbazona e 2-piridinocarboxaldeído- correlacionaram com os dados experimentais
semicarbazona) em relação a corrosão do aço obtidos por técnicas eletroquímicas e
carbono em 1,0 mol L-1 de HCl por mostraram que as tiossemicarbazonas são
modelagem molecular, polarização melhores os inibidores de corrosão do que
potenciodinâmica e espectroscopia de semicarbazonas (Figura 7).48
impedância eletroquímica (EIS) em diferentes

O
S HO
S
N
N NH2 N
N NH2
H
H
4-Etoxibenzaldeido tiossemicarbazona 4-Hidroxibenzaldeido tiossemicarbazona

HO
S S
N N
O N NH2 N N NH2
H H

4-Hidroxi-3-metoxibenzaldeido 2-Piridinacarboxaldeido
tiossemicarbazona tiossemicarbazona

S O
N N
N N NH2 N N NH2
H H H

2-Indolcarboxaldeido semicarbazona 2-Piridinacarboxaldeido semicarbazona

Figura 7. Estruturas químicas das semi e tiossemicarbazonas avaliadas quanto a ação


anticorrosiva48
Rev. Virtual Quim. |Vol 6| |No. 2| |293-309| 305
Frauches-Santos, C. et al.

Moura e colaboradores, também das tiossemicarbazonas no sistema


avaliaram derivados da classe das microemulsionado no processo de inibição à
tiossemicarbazonas, 4-N-cinamoil- corrosão do aço carbono AISI 1020 foi
tiossemicarbazona, 4-N-(2'-metoxicinamoil)- avaliada em meio salino (solução de soro
tiossemicarbazona, e 4-N-(4'-hidroxi-3'- fisiológico, NaCl 0,5%), utilizando um método
metoxi-benzoil)-tiossemicarbazona, Figura 8, galvanostático. As tiossemicarbazonas
solubilizadas em um sistema de testadas mostraram efeitos inibitórios
microemulsão de óleo/água (o/w). A eficácia elevados na faixa de 83 a 86%.49

H
N NH2
N
S
H
N NH2
4-N-cinamoil-tiossemicabazona N
S
H HO
N NH2 OCH3
N
S 4-N-(4'-hidroxi-3'-metoxibenzoil)-tiossemicabazona
OCH3

4-N-(2'-metoxicinamoil)-tiossemicabazona

Figura 8. Estruturas químicas das tiossemicarbazonas avaliadas, em sistema de microemulsão,


com efeito anticorrosivo49

5. Conclusões alto teor de CO2 levando à formação de ácido


carbônico, altamente corrosivo.
Os métodos de proteção anticorrosivos de
Os principais mecanismos do processo de uso industrial envolvem a passivação ou a
corrosão são o químico e o eletroquímico. A polarização do material, o uso de
corrosão que mais prejudica a indústria revestimentos, os inibidores de corrosão,
petrolífera é a eletroquímica, devido à técnicas de modificação do meio e a proteção
influência dos constituintes do fluido de catódica e anódica. Na indústria de petróleo
perfuração e da água de produção entre os métodos mais usados são a proteção
outros. Os principais causadores de corrosão catódica e anódica e os inibidores de
no processo de produção de petróleo são os corrosão.
gases o H2S e CO2, pois a medida que a
Os compostos orgânicos usados como
concentração desses gases aumenta, o pH
inibidores de corrosão na indústria de
diminui e a taxa de corrosão aumenta. A
petróleo são aminas, aldeídos, mercaptanas,
proteção contra a corrosão provocada pelo
compostos heterocíclicos nitrogenados,
H2S e CO2 nos equipamentos de aço e
compostos contendo enxofre e compostos
condutos tornou-se muito importante,
acetilênicos. Estes compostos apresentam
especialmente na indústria do petróleo no
planaridade das estruturas moleculares e os
Brasil, devido a sua extração na região do
pares isolados de elétrons nos heteroátomos
pré-sal que utiliza água de alta salinidade e
são características importantes que
determinam a adsorção destas moléculas

306 Rev. Virtual Quim. |Vol 6| |No. 2| |293-309|


Frauches-Santos, C. et al.

sobre a superfície metálica bloqueando os separação e tratamento. Universidade


sítios ativos sobre a superfície reduzindo a Petrobrás, Salvador, 2002.
10
taxa de corrosão. Carvalho, L. J.; Tese de Doutorado,
Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2004.
Essas informações fazem com que a busca 11
Lyons, W. C.; Plisga, G. J.; Standard
de inibidores orgânicos frente ao processo de
Handbook of Petroleum and Natural Gas, 2a.
corrosão na indústria de petróleo cresça, com
edition, Elsevier Inc.: Massachusetts, 2005.
a preocupação de que sejam inibidores
12
eficientes, que não causem danos ao meio Panossian, Z.; Almeida, N. L.; Sousa, R. M.
ambiente, com uma química de obtenção F.; Pimenta, G. S.; Marques, L. B. S.
limpa não gerando resíduos e usando Corrosion of carbon steel pipes and tanks by
processos de obtenção de baixo custo e altos concentrated sulfuric acid: A review.
rendimentos. Corrosion Science 2012, 58, 1. [CrossRef]
13
Cardoso, S. P.; Reis, F. A.; Massapust, F. C.;
Costa, J. F.; Tebaldi, L. S.; Araújo, L. F. L.; Silva,
Referências Bibliográficas M. V. A.; Oliveira, T. S.; Gomes, J. A. C. P.;
Hollauer, E. Semicarbazonas e
1 tiossemicarbazonas: o amplo perfil
Gentil, V.; Corrosão. LTC – Livros Técnicos e farmacológico e usos clínicos. Química Nova
Científicos Editora: Rio de Janeiro, 2007. 2004, 27, 461. [CrossRef]
2
Pannoni, F. D.; Gaspar, C., Vicentin, A.;
14
Princípios da proteção de estruturas Souza, F. S.; Spinelli, A. Caffeic acid as a
metálicas em situação de corrosão e incêndio green corrosion inhibitor for mild steel.
(Coletânea do Uso do Aço), 4a. ed. Perfis Corrosion Science 2009, 51, 642. [CrossRef]
15
GERDAU Açominas, 2007. [Link] Mohd, M. H.; Paik, J. K. Investigation of
3
Martins, J. I. F. P. A corrosão: a outra the corrosion progress characteristics of
perspectiva de abordagem. Corrosão e offshore subsea oil well tubes. Corrosion
Proteção de Materiais 2012, 31, 59. [Link] Science 2013, 67, 130. [CrossRef]
4 16
Reis, M. I. P.; da Silva, F. C.; Romeiro, G. Corrosion & Petroleum – Corrosion
A.; Rocha, A. A.; Ferreira, V. F. deposição Engineering. co.cc, 2008. Disponível em:
mineral em superfícies: problemas e <http://corrosion-
oportunidades na indústria do petróleo. malaysiapetroleum.blogspot.com.br/2008/06
Revista Virtual de Química 2011, 3, 2. [Link] /corrosion-in-petroleum-industry.html>
5
Moura, E. C. M.; Dissertação de Mestrado, Acesso em: 28 dezembro 2012.
17
Universidade Federal do Rio Grande do Wilhelm, S. M.; Abayarathna, D. Inhibition
Norte, 2009. of hydrogen absorption by steels in wet
6 hydrogen sulfide refinery environments.
Mainier, F. B. Material do curso Corrosão e
Corrosion Engineering 1994, 50, 152.
Inibidores. In: Instituto Brasileiro de Petróleo,
[CrossRef]
Rio de Janeiro, Brasil, 2006. [Link] 18
7 Garcia, L. A. C. J.; Joia, C. J. B. M.; Cardoso,
Mainier, F. B.; Sandres, G. C.; Tavares, S. S.
E. M.; Mattos, O. R. Electrochemical methods
M.; 8º Congresso Iberoamericano de
in corrosion on petroleum industry:
Engenharia Mecânica, Cuzco, Peru, 2007.
laboratory and field results. Electrochimical
[Link]
Acta 2001, 46, 3879. [CrossRef]
8 19
Lasebikan, B. A.; Akisanya, A. R.; Deans, Nota técnica - Desafios do Pré-Sal, Instituto
W. F.; Macphee, D. E. The effect of hydrogen de Pesquisas Tecnológicas. Disponível em:
sulphide on ammonium bisulphite when used <http://www.energia.sp.gov.br/a2sitebox/ar
as an oxygen scavenger in aqueous solutions. quivos/documentos/214.pdf>. Acesso em: 25
Corrosion Science 2011, 53, 4014. [CrossRef] abril 2013.
20
9
Souza Filho, J. E.; Material de aula: Estudos sobre o pré-sal. Instituto de
Processamento primário de fluidos: estudos para o desenvolvimento
industrial/Instituto talento Brasil, 2008.
Rev. Virtual Quim. |Vol 6| |No. 2| |293-309| 307
Frauches-Santos, C. et al.

31
Disponível em: Rattmann, K. R.; Monografia de Conclusão
<http://www.apn.org.br/apn/images/stories/ de Curso, Universidade Federal do Paraná,
documentos/estudos-sobre-o-presal.pdf >. 2005.
32
Acesso em: 25 abril 2013. Pedeferri, P. Cathodic protection and
21
Pannoni, F. D. São Paulo: Gerdau cathodic prevention. Construction and
Açominas, 3, 2005. Disponível em: Building Materials 1996, 10, 391. [CrossRef]
33
<http://www.gerdau.com.br/arquivos- Safak, S.; Duran, B.; Yurt. A. Türkoglu, G.
tecnicos/12.brasil.es-ES.force.axd>. Acesso Schiff bases as corrosion inhibitor for
em: 25 abril 2013. aluminium in HCl solution. Corrosion Science
22
Karbhari, V. M.; Chin, J. W.; Hunsto, D.; 2012, 54, 251. [CrossRef]
34
Benmokrane, B.; Juska, T.; Morgan, R.; Lesko, Ormellese, M.; Lazzari, L.; Goidanich, S.;
J. J.; Sorathia, U. Durability gap analysis for Fumagalli, G.; Brenna, A. A study of organic
fiber-reinforced polymer composites in civil substances as inhibitors for chloride-induced
infrastructure. Journal of Composites for corrosion in concrete. Corrosion Science
Construction 2003, 7, 238. [CrossRef] 2009, 51, 2959. [CrossRef]
23 35
Gautier, L.; Mortaigne, B.; Bellenger, V. El-Etre, A. Y. J. Inhibition of acid corrosion
Interface damage study of hydrothermally of carbon steel using aqueous extract of olive
aged glass-fibre-reinforced polyester leaves. Journal of Colloid and Interface
composites. Composites Science and Science 2007, 314, 578. [CrossRef] [PubMed]
36
Technology 1999, 59, 2329. [CrossRef] Hollauer, E.; Cardoso, S. P.; Reis, F. A.;
24
Schutte, C. L. Environmental durability of Massapust, C.; Costa, J. F.; Tebaldi, L. S.;
glass-fiber composites. Materials Science and Araújo, L. F. L.; Silva, M. V. A. S.; Oliveira, T.
Engineering: R: Reports 1994, 13, 265. S.; Gomes, J. A. C. P. Avaliação de indicadores
[CrossRef] de uso diverso como inibidores de corrosão.
25
Oliveira, J. L.; Souza, W.; Da Silva, C. G.; Química Nova 2005, 28, 756. [CrossRef]
Margarit-Mattos, I. C. P.; Mattos; O. R.; 37
Souza, F. S.; Spinelli, A. Caffeic acid as a
Quintela, J. P.; Solymossy, V. Revestimentos green corrosion inhibitor for mild steel.
anticorrosivos para tanques de Corrosion Science 2009, 51, 642. [CrossRef]
armazenamento de petroquímicos. Revista 38
Petro Química 2009, 319, 75. [Link] Vracar, Lj. M.; Drazic, D. M. Adsorption
26
Vérges, G. R.; Dissertação de Mestrado, and corrosion inhibitive properties of some
organic molecules on iron electrode in
Universidade Federal do Paraná, 2005.
27 sulfuric acid. Corrosion Science 2002, 44,
Fernandes, F.; Mariano, R.; Gnecco, C.;
1669. [CrossRef]
Tratamento de Superfície e Pintura. Instituto
39
Brasileiro De Siderurgia/Centro Brasileiro da Fang, J.; Li, J. Quantum chemistry study on
Construção em Aço: Rio de Janeiro, 2003. the relationship between molecular structure
Disponível em: and corrosion inhibition efficiency of amides.
<http://www.skylightestruturas.com.br/dow Journal of Molecular Structure: Theochem
nloads/CBCA_Pintura.pdf>. Acesso em: 24 2002, 593, 179. [CrossRef]
40
março 2013. Abdul Nabi, A. S.; Hussain, A. A. Synthesis ,
28
Bayer, R. F.; Critérios para especificação de Identification and study of some new azo
revestimentos anticorrosivos. ALCOOLbrás – dyes as corrosion inhibitors for carbon-steel
2001, 41. Disponível em: in acidic media. Journal of Basrah Researches
<http://www.narus.com.br/artigos,narus.ht (Sciences) 2012, 38, 125. [Link]
41
m>. Acesso em: 24 março 2013. [Link] Shylesha, B. S.; Venkatesha, T. V.; Praveen,
29
Medeiros, M. H. F.; Monteiro, E. B. Artigo. B. M. Corrosion Inhibition Studies of Mild
Escola Politécnica da Universidade de São Steel by New Inhibitor in Different Corrosive
Paulo. São Paulo, 2002. Medium. Research Journal of Chemical
30
Novák, P. Anodic Protection. Shreir’s Sciences 2011, 1, 46. [Link]
Corrosion 2010, 4, 2857. [CrossRef]

308 Rev. Virtual Quim. |Vol 6| |No. 2| |293-309|


Frauches-Santos, C. et al.

42
Damborenea, J.; Bastidas, J. M.; Vaquez, ionic liquids in hydrochloric acid.
A. J. Adsorption and inhibitive properties of Electrochimica Acta 2009, 54, 1881.
four primary aliphatic amines on mild steel in [CrossRef]
2 M hydrochloric acid. Electrochimica Acta 47
Yuce, A. O., Kardas, G. Adsorption and
1997, 42, 455. [CrossRef]
inhibition effect of 2-thiohydantoin on mild
43
Granese, S. L.; Rosales, B. M.; Ovideo, C.; steel corrosion in 0.1 M HCl. Corrosion
Zerlino, J. O. The inhibition action of Science 2012, 58, 86. [CrossRef]
heterocyclic nitrogen organic compounds on 48
Goulart, C. M.; Esteves-Souza A.;
Fe and steel in HCl media. Corrosion Science Martinez-Huitle, C. A.; Rodrigues, C. J. F.;
1992, 33, 1439. [CrossRef] Maciel, M. A. M.; Echevarria, A.
44
Plieth, W. The inhibition action of Experimental and theoretical evaluation of
heterocyclic nitrogen organic compounds on semicarbazones and thiosemicarbazones as
Fe and steel in HCl media. Electrochimica organic corrosion inhibitors. Corrosion
Acta 1992, 37, 2115. [CrossRef] Science 2013, 67, 281. [CrossRef]
49
45
Popova, A.; Christov, M. Evaluation of Moura, E. C. M.; Souza, A. D. N.; Rossi, C.
impedance measurements on mild steel G. F. T.; Silva, D. R.; Maciel, M. A. M.;
corrosion in acid media in the presence of Echevarria, A.; Bellieny, M. S. S. Avaliação
heterocyclic compounds. Corrosion Science do potencial anticorrosivo de
2006, 48, 3208. [CrossRef] tiossemicarbazonas solubilizadas em
46
microemulsão. Química Nova 2013, 36, 59.
Zhang, Q. B., Hua, Y. X. Corrosion [CrossRef]
inhibition of mild steel by alkylimidazolium

Rev. Virtual Quim. |Vol 6| |No. 2| |293-309| 309

Você também pode gostar