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REVISTA ELETRÔNICA

COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: COLETÂNEA DE ESTUDOS DE CASOS

“O CASO É O SEGUINTE...”
Volume 1, Número 2, dezembro de 2008 - Semestral

Instituto de Ciências Humanas PUC Minas


Departamento de Educação 1958 | 2008
Curso de Pedagogia
“O caso é o seguinte...”
Coordenação Pedagógica: Coletânea de Estudos de Casos

Revista Eletrônica

Versão Digital

Belo Horizonte, novembro de 2008

Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais


Instituto de Ciências Humanas
Departamento de Educação
Curso de Pedagogia
Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais

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Ouvidoria: Prof. Miryam Weinberg


“O caso é o seguinte...”
Coordenação Pedagógica: Coletânea de Estudos de Casos

Revista Eletrônica

Versão Digital

Belo Horizonte, novembro de 2008

Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais


Instituto de Ciências Humanas
Departamento de Educação
Curso de Pedagogia
Chefe do Departamento de Educação
Profª. Maria Salete Chaves

Coordenadora do Curso Pedagogia com Ênfase em Ensino Religioso


Profª. Nilza Bernardes Santiago

Coordenadora do Curso Pedagogia com Ênfase em Necessidades Educacionais Especiais


Profª. Sheilla Alessandra Brasileiro de Menezes

Editor
Prof. Sérgio de Freitas Oliveira

Produção Gráfica
Reginaldo Quirino de Almeida

Capa: Reginaldo Quirino de Almeida


Editoração de Texto: Prof. Sérgio de Freitas Oliveira
Formato: 21,59 x 27,94 cm
Número de Páginas: 204

Ficha Catalográfica Provisória

Revista Eletrônica: “O Caso é o Seguinte...” / Coordenação Pedagógi-


ca: Coletânea de Estudos de Casos / Pontifícia Universidade Católica de
Minas Gerais – v. 1, n. 2 (ago./dez. 2008-). – MG/Belo Horizonte: ICH –
PUC Minas, 2008.

Semestral.
ISSN

1. Educação - Periódicos. I. Pontifícia Universidade Católica de Minas


Gerais. Instituto de Ciências Humanas. Departamento de Educação. Cur-
so de Pedagogia.

CDU 37.013 (047.3)


Dedicatória
Revista Eletrônica - “O caso é o seguinte...” Coordenação Pedagógica: Coletânea de Estudos de Casos

Dedicamos este trabalho aos alunos que necessitam da atenção especial dos professores e
dos pedagogos. Sem essa atenção, talvez não seja possível que eles superem suas dificuldades
e conquistem seu direito de se desenvolverem como seria de se esperar.

Ter dificuldade não é o problema. O problema é não se fazer nada diante dela!

Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 2, p. 1-204, ago./dez. 2008 - Semestral


Agradecimentos

O resultado deste trabalho deve ser creditado, mais uma vez, ao empenho de nossos alunos,
graduandos em Pedagogia pela PUC Minas, nas ênfases em Ensino Religioso e Necessida-
des Educacionais Especiais.

Agradeço ao pedagogo e nosso ex-aluno Reginaldo Quirino de Almeida que, com seus dons
e sua competência, mais uma vez tornou possível a publicação da revista.

Um agradecimento especial à Profa. Sheilla Alessandra Brasileiro de Menezes, Coordena-


Revista Eletrônica - “O caso é o seguinte...” Coordenação Pedagógica: Coletânea de Estudos de Casos

dora do Curso de Pedagogia com Ênfase em Necessidades Educacionais Especiais, pelo seu
entusiasmo, nos incentivando a levar avante esse empreendimento, apesar dos tropeços e
embaraços.

Era um sonho... tornou-se realidade e agora já se apresenta como sonho de nossos alunos,
que se vêem diante da possibilidade de terem seu trabalho publicado! Acreditando e nos
empenhando, somos capazes de conseguir muita coisa. Espero que a experiência desta re-
vista possa servir de inspiração quando os desafios da profissão se apresentarem. É preciso
sonhar, acreditar e fazer!

Prof. Sérgio de Freitas Oliveira


Curso de Pedagogia • ICH • PUC Minas

Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 2, p. 1-204, ago./dez. 2008 - Semestral


Sumário
Editorial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13 Artigo 14
Apresentação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15 O autista na escola regular . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51
Artigos Janaína Duarte Andrade de Oliveira
Artigo 15
Pedagogia com Ênfase em Ensino Religioso A Dislexia na escola . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53
Artigo 1 Lílian Maria Reis da Silva
A prática de uma coordenadora como fator deter- Artigo 16
minante no avanço de uma criança com Transtorno Déficit de atenção e hiperatividade: um estudo de
de Déficit de Aprendizagem / Hiperatividade . . . 19 caso . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 57
Adrielle Tatiane Duarte Araújo Lucimary Marçal Pereira
Artigo 2 Artigo 17
Distúrbios de aprendizagem: dislexia . . . . . . . . . . 21 Crianças com dificuldades de aprendizagem: desa-
Alcione Maria José Vieira fios e conquistas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61
Revista Eletrônica - “O caso é o seguinte...” Coordenação Pedagógica: Coletânea de Estudos de Casos

Artigo 3 Maria Auxiliadora de Lima


Um caso, entre tantos, de abandono afetivo . . . 23 Artigo 18
Alessandra Fonseca de Melo O aluno portador da Síndrome de Down pode
Artigo 4 aprender a ler e a escrever . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 63
Como lidar com o aluno problema: uma lição de Maria de Fátima dos Santos
vida . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25 Artigo 19
Alexandra Fortes Vilaça Relatos de experiência positiva em um caso de
Artigo 5 hiperatividade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 67
Drogas: a necessidade da parceria familiar e esco- Marilda Nunes de Oliveira
lar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27 Artigo 20
Anally Valentim Assis de Oliveira Dificuldade de aprendizagem, o que fazer? . . . . 69
Artigo 6 Mônica Beatriz Viegas Mendes Silva
Traumas emocionais vs ritmos diferenciados de Artigo 21
aprendizagem . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31 Um caso para estudo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 73
Andréia Ferreira da Silva Arantes Natália Padilha Martins
Artigo 7 Artigo 22
Um caso de hiperatividade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35 Transtorno Emocional: análise de um estudo de
Clei Magna Paiva de Oliveira caso . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 75
Artigo 8 Paula Ramos de Oliveira
A dislexia é coisa séria . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37 Artigo 23
Cleide Lima dos Santos Caso clínico de TDAH . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 77
Artigo 9 Renata Racquel Marçal Mendes
Um caso de inclusão na Rede Pública de ensino: Artigo 24
Estamos mesmo incluindo? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39 Relato de Hiperatividade - TDAH . . . . . . . . . . . . 79
Cynthia Loureiro Amorim Rita André de Souza Oliveira
Artigo 10 Artigo 25
Hiperatividade - TDAH . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43 A ética no cotidiano escolar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 81
Daniela Helena Dutra Rosângela Adriana de Abreu
Artigo 11 Artigo 26
Hiperatividade: pais resistentes a esse trans- Comportamento afetivo-emocional . . . . . . . . . . . 85
torno . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45 Roseli Aparecida Alves Campos
Edna Rodrigues dos Santos Dourado Artigo 27
Artigo 12 Hiperatividade – Conhecer e se conscientizar . 87
A escola e a família . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47 Rosemary Aparecida Aquino Fernandes
Eliane Conceição Braga Narciso Artigo 28
Artigo 13 A co-responsabilidade educativa do coordenador
TDAH: uma justificativa confortável e inconse- pedagógico: quando o caso é dislexia . . . . . . . . . . 91
quente . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49 Rosemeire dos Santos Gonçalves
Elisângela Patrícia Correa Lopes

Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 2, p. 1-204, ago./dez. 2008 - Semestral


Artigos Artigo 14
Pedagogia com Ênfase em Necessidades Histeria . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 127
Educacionais Especiais Flávia Barros Sá Santos
Artigo 15
Artigo 1 TDAH, DDA ou falta de limites? . . . . . . . . . . . . . . 131
Dificuldade de aprendizagem: um desafio no con- Flávia de Oliveira Dias Amaral
texto escolar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 95 Artigo 16
Adriana Camargos de Figueiredo O valor da afetividade no processo de aprendiza-
Artigo 2 gem . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 133
A inclusão de alunos com síndrome de Down: Gislaine Linhares Sabino Batista dos Santos
desafios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 97 Artigo 17
Aline Augusta Carvalho Dificuldades na leitura e na escrita associadas à
Artigo 3 indisciplina . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 137
O percurso de um aluno com TDAH na escola . 99 Irani Vieira Ilário
Amanda dos Santos Ferreira Artigo 18
Artigo 4 Como trabalhar com a dificuldade de aprendiza-
Intervenção pedagógica para aluno com problemas gem . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 139

Revista Eletrônica - “O caso é o seguinte...” Coordenação Pedagógica: Coletânea de Estudos de Casos


de concentração e auto-estima . . . . . . . . . . . . . . 103 Jaqueline Justino de Moraes
Ana Gabriela Aguiar de Carvalho Artigo 19
Artigo 5 O olhar de um educador: a descoberta de um
O que anda acontecendo com a educação . . . . . 105 aluno . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 141
Ana Izabelli França Pinheiro Jéssica Rodrigues Romualdo
Artigo 6 Artigo 20
Perspectivas educacionais para alunos com au- Família, escola e dificuldade de aprendiza-
tismo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 107 gem . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 143
Ana Júlia de Oliveira Moura Vilela Joyce Mary Patrício de Novais
Paulinnie Jassie Vilela Machado Artigo 21
Artigo 7 A importância da atuação do coordenador pedagó-
A importância do apoio familiar na formação esco- gico no estudo de caso . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 145
lar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 109 Juliana Mara Castro Diniz
Ana Maria Arruda Silva Artigo 22
Artigo 8 Possibilidades para um aluno com TDAH . . . . 147
Atuação profissional: a importância de se ter com- Keila Mara Magalhães
promisso e dedicação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 111 Artigo 23
Caroline Costa Nascimento Andrade A ação pedagógica em busca de um diagnós-
Artigo 9 tico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 149
Déficit de atenção e mudanças repentinas de humor Kênia Figueiredo Campos Rodrigues
prejudicam a aprendizagem . . . . . . . . . . . . . . . . . . 113 Artigo 24
Daniella Araújo da Rocha Dificuldade de aprendizado: um estudo de
Artigo 10 caso . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 151
Uma criança com dificuldade de aprendizagem e/ou Lílian Geralda de Oliveira
déficit de atenção . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 115 Artigo 25
Eliane Machado de Matos A hiperatividade (TDAH), o grande desafio esco-
Artigo 11 lar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 153
A parceria escolar para fortalecer o trabalho peda- Lílian Grazielle Ferreira de Souza
gógico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 119 Artigo 26
Erlaine Soares Mota A inclusão na escola plural . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 157
Artigo 12 Luciana Olinda de Oliveira
Os benefícios da estimulação para o aprendizado de Artigo 27
alunos com Síndrome de Down . . . . . . . . . . . . . . 123 Escola ativa contra a violência familiar que dá
Fabiana dos Santos Ferreira origem à dificuldade de aprendizagem . . . . . . . 159
Artigo 13 Manoele Pinto Bezerra
Indisciplina e Agressividade . . . . . . . . . . . . . . . . 125 Artigo 28
Fernanda de Sousa Rodrigues A história de uma aluna com TDAH no contexto
escolar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 161
Mara Rúbia Mendes de Oliveira

Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 2, p. 1-204, ago./dez. 2008 - Semestral


Artigo 29 Artigo 44
Um processo de Inclusão bem sucedido . . . . . . 163 Dificuldades na aprendizagem: desafio da
Márcia das Graças de Assis Reis escola . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 197
Artigo 30 Silvana Lúcia Gomide dos Santos
A violência escolar e o desafio da escola . . . . . . 165 Artigo 45
Maria Oliveira Costa O fracasso escolar e o comportamento anti-
Artigo 31 social . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 199
Hiperatividade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 167 Thaiana Carolina Alves de Moraes Campos
Marilda da Silveira Artigo 46
Artigo 32 Educação Infantil: importância do olhar atento do
Alunos com Necessidades Especiais, em Escolas professor . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 201
inclusivas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 169 Vanessa Aparecida de Souza
Michele Cinthia de Souza Macedo Passos Artigo 47
Artigo 33 Abuso sexual cometido pelo pai . . . . . . . . . . . . . 203
Relação Família e Escola: uma parceria indispensá- Vanessa Betônico de Oliveira
vel para o desenvolvimento do educando . . . . . . 171
Nayara Maria Gomes da Costa
Revista Eletrônica - “O caso é o seguinte...” Coordenação Pedagógica: Coletânea de Estudos de Casos

Artigo 34
A importância da intervenção pedagógica no coti-
diano escolar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 173
Patrícia Aparecida da Silva
Artigo 35
Dificuldade de aprendizagem . . . . . . . . . . . . . . . . 175
Patrícia Rodrigues Rosa
Artigo 36
As mudanças de comportamento do educando e o
olhar atento do supervisor escolar . . . . . . . . . . . . 177
Poliana Caetana da Silva
Artigo 37
Transtorno F70: um estudo de caso . . . . . . . . . . 179
Pollyanna Barbieri Pazzini
Artigo 38
Recebendo aluno com baixa visão . . . . . . . . . . . . 181
Regiane Rodrigues Cristino
Artigo 39
Desafios enfrentados pela escola nos dias atu-
ais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 183
Renata Alves Marçal
Artigo 40
Problemas disciplinares e na aprendizagem: refle-
tindo o olhar e a prática educativa . . . . . . . . . . . 185
Rosângela Andréia Araújo dos Santos
Artigo 41
Intervenção pedagógica para aluno com problema
disciplinar e cognitivo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 187
Rosilene Patrícia dos Santos Assumpção
Artigo 42
O cotidiano de uma criança com dificuldades de
aprendizagem numa escola privada . . . . . . . . . . . 191
Sabrina Ferreira de Souza
Artigo 43
As escolas e as deficiências auditivas . . . . . . . . . 193
Shirley Talise Santos de Erédia

Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 2, p. 1-204, ago./dez. 2008 - Semestral


Editorial

Sempre esteve presente em nossas discussões a questão da publicação, a importância


de nossos alunos produzirem e publicarem textos que apresentassem suas reflexões acerca
das temáticas presentes no desenvolvimento das diversas disciplinas do curso.
O problema era: Onde publicar? Onde estão os espaços acessíveis aos alunos?
Foi pensando nisso que, a partir da análise dos estudos de caso feita pelos alunos na
disciplina Estágio de Supervisão Educacional, nos propusemos criar um espaço para que
os alunos pudessem publicar o resultado de seu trabalho.
A Revista Eletrônica Coordenação Pedagógica: Coletânea de Estudos de Casos é esse
lugar. E já podemos ver nossos alunos produzindo e publicando, vivendo a experiência de
Revista Eletrônica - “O caso é o seguinte...” Coordenação Pedagógica: Coletânea de Estudos de Casos

produzir e publicar, aplicando seus conhecimentos e observando as normas que regulam


as publicações acadêmicas.
Nesta segunda edição, contamos novamente com artigos dos nossos alunos do 8º Período
do Curso de Pedagogia com Ênfase em Necessidades Educacionais Especiais e do 9º Período
do Curso de Pedagogia com Ênfase em Ensino Religioso.
Vale a pena ver o resultado!

Prof. Sérgio de Freitas Oliveira


Curso de Pedagogia • ICH • PUC Minas

Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 2, p. 1-204, ago./dez. 2008 - Semestral


Apresentação

A empolgação dos nossos alunos com o lançamento da 1ª edição da Revista Eletrônica


Coordenação Pedagógica: Coletânea de Estudos de Casos nos motivou a trabalhar neste
segundo semestre para construirmos a 2ª edição. É ela que colocamos nas suas mãos e na
sua tela. O objetivo da revista é publicar os artigos produzidos pelos alunos dos Cursos de
Pedagogia com Ênfase em Necessidades Educacionais Especiais e em Ensino Religioso, da
PUC Minas, a partir dos estudos de caso analisados no Estágio Supervisionado de Super-
visão Educacional.
No dia-a-dia do nosso trabalho, como pedagogos, somos desafiados com problemas das
mais diversas ordens – da indisciplina às dificuldades de aprendizagem. E não podemos
Revista Eletrônica - “O caso é o seguinte...” Coordenação Pedagógica: Coletânea de Estudos de Casos

ignorar o que acontece com os nossos alunos.


Se existe problema, existe a necessidade de conhecê-lo e compreendê-lo para que possa-
mos promover alguma forma de intervenção. Afinal, superar as situações que comprometem
o desenvolvimento dos nossos alunos deve ser sempre o objetivo do educador, o compromis-
so do professor e do pedagogo.
Para isso, nós, pedagogos, recorremos ao estudo de caso, para fazermos um diagnóstico
do problema, conhecermos seu alcance e suas implicações e sugerirmos intervenções – de
curto, médio e longo prazo – que possam resultar em benefício para os nossos alunos.
Entre as nossas atividades de estágio, trabalhamos o estudo de caso, estudamos e re-
latamos um estudo de caso realizado pelas escolas, observando os passos para a sua ela-
boração. Às vezes, é difícil a realização da tarefa. Em muitas escolas, não se formaliza um
estudo de caso. As informações estão na memória dos coordenadores e surgem por meio de
depoimentos orais. Recolhemos as peças, como se fosse para montar um quebra-cabeça. Aí
fica a questão: ao estagiário não se dá a oportunidade de ver e vivenciar a prática do estudo
de caso, do trabalho com os problemas que interferem no desempenho escolar de nossos
alunos e nas suas relações. Como será quando esse estagiário for o profissional? Será que
só a literatura, a teoria, dará a ele condições de realizar uma prática eficaz?
Apesar das dificuldades, como na edição anterior, muita coisa boa se conseguiu. In-
sistindo, “incomodando” os coordenadores, muitas histórias foram levantadas. E, a partir
desses relatos e depoimentos, nossos estagiários conseguiram reconstituir os casos e fazer
os seus relatórios, expressos nos artigos que compõem esta 2ª edição da revista.

Prof. Sérgio de Freitas Oliveira1


Curso de Pedagogia • ICH • PUC Minas

1. Licenciado em Letras e em Pedagogia, com especialização em Coordenação Pedagógica e mestrado em Educa-


ção, é professor orientador de Estágio Supervisionado dos cursos de Pedagogia com ênfase em Ensino Religioso e
Pedagogia com ênfase em Necessidades Educacionais Especiais da PUC Minas.

Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 2, p. 1-204, ago./dez. 2008 - Semestral


Artigos
Pedagogia com Ênfase em Ensino Religioso

Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 2, p. 1-204, ago./dez. 2008 - Semestral


Revista Eletrônica - “O caso é o seguinte...” Coordenação Pedagógica: Coletânea de Estudos de Casos
Artigo 1
Autora:
Adrielle Tatiane Duarte Araújo

Graduada em Pedagogia com Ênfase em Ensino Religioso pela PUC Minas

A prática de uma coordenadora como fator determinante no avanço de uma


criança com Transtorno de Déficit de Aprendizagem / Hiperatividade

professora descobrisse, no dia-a-dia, o que


Resumo chamava a atenção da aluna e relacionasse
Este caso demonstra a importância e a eficácia do tra- com as atividades dela para ver se Bruna
Revista Eletrônica - “O caso é o seguinte...” Coordenação Pedagógica: Coletânea de Estudos de Casos

balho realizado por uma coordenadora pedagógica ao conseguiria ficar atenta ao fazê-la. Elaborou
detectar, assistir e acompanhar uma criança com Trans- um bilhete convocando a presença dos pais
torno de Déficit de Aprendizagem / Hiperatividade. na escola para que pudesse descobrir se es-
tava acontecendo alguma coisa em casa que

B
runa1 é uma criança de 8 anos, está pudesse estar afetando o comportamento da
cursando a segunda série do ensino menina.
fundamental em um colégio particu- Como os sintomas apresentados envol-
lar de Belo Horizonte onde estuda desde os viam alguns aspectos que não eram da área
três anos de idade. pedagógica, ela pediu que a psicóloga da es-
No ano de 2006, a professora pediu as- cola a ajudasse, passou todas as informações
sistência à coordenadora pedagógica, pois já obtidas e a criança foi acompanhada tam-
Bruna estava tendo dificuldades em prestar bém por essa profissional. Ao pedagogo cabe
atenção nas tarefas. Mesmo em atividades discernir a necessidade ou não de ajuda de
prazerosas, não se mantinha assentada especialistas. Durante todo o processo, elas
quando devia, tinha dificuldades para se trabalharam juntas passando informações
relacionar com seus colegas, sua leitura sobre a criança.
era segmentada e, em função disso, tinha Os pais da criança descartaram a possibi-
dificuldade para concluí-la. Em algumas lidade de ela estar passando ou presencian-
avaliações, necessitou de um tempo maior do uma fase difícil em casa. Depois de um
para realizá-las. E, como se sabe, se torna mês, a coordenadora perguntou à professora
impossível o professor resolver isso sozi- se a estratégia utilizada estava tendo resul-
nho, uma vez que seu tempo e sua função tado e ela disse que a criança permanecia
na escola é a docência. Assim, o professor com os mesmos sintomas. Reuniu-se com a
precisa contar com o pedagogo para, juntos, psicóloga e pediu o diagnóstico da menina,
compreenderem o caso do aluno e buscarem sendo constatado o transtorno de déficit de
uma solução. atenção/ hiperatividade. A coordenadora
A coordenadora então reservou alguns chamou os pais, novamente, para uma reu-
minutos nas reuniões individuais que tinha nião e esclareceu, juntamente com a psicó-
com a professora para começar a investigar loga, o resultado diagnosticado da aluna.
o caso. Primeiramente, anotou, em seu ca- Explicaram sobre o transtorno para os pais,
derno, todos os sintomas apresentados pela pediram a eles que procurassem um médico
aluna e levantou, com o auxílio da profes- para a criança, explicaram a importância de
sora, hipóteses de que a menina poderia ela ter um acompanhamento psicopedagógi-
estar passando por um momento difícil na co e pediram aos pais que esses profissionais
família, as atividades elaboradas não lhe pudessem sempre informar a escola sobre o
estariam chamando a atenção ou a aluna acompanhamento da menina.
teria transtorno de déficit de atenção. Dian- A coordenadora pesquisou vários mate-
te dessas possibilidades, pediu para que a riais informativos e passou para a professora,
para que conhecesse melhor o que estava se
1. Nome fictício para preservar a identidade da aluna

19
Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 2, p. 1-204, ago./dez. 2008 - Semestral
A prática de uma coordenadora como fator determinante no... Adrielle Tatiane Duarte Araújo

passando com sua aluna e pediu que ela se


reunisse semanalmente com a psicóloga da
escola para discutirem maneiras adequadas
de intervenção. Segundo Vermes (2002), fe-
lizmente, o reconhecimento dos professores,
neurologistas, psicólogos, etc. sobre o TDAH
como um problema de origem neurológica,
mas permeado de intervenções efetivas, tem
trazido, recentemente, boas chances de su-
peração dos problemas identificados naque-
les que apresentam esse problema.
A criança, por orientação médica, passou
a utilizar remédio e foi acompanhada pela
coordenadora da escola juntamente com sua
professora e a psicóloga e seus pais a encami-
nharam para atendimento psicopedagógico.
Esses profissionais permanecem acompa-

Revista Eletrônica - “O caso é o seguinte...” Coordenação Pedagógica: Coletânea de Estudos de Casos


nhando-a e, por relato de ex-professoras, da
atual e dos pais, Bruna demonstrou grande
avanço em suas relações interpessoais e na
área pedagógica desde o momento em que
começou a ser tratada.

Referência:
VERMES, Joana Singer. Sobre livros: Terapia
cognitivo-comportamental no transtorno de
déficit de atenção / hiperatividade (manual
do terapeuta e manual do paciente). Revis-
ta Brasileira de terapia comportamental e
cognitiva, Campinas, v. VI, n. 1, p. 71-72,
2002.

20
Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 2, p. 1-204, ago./dez. 2008 - Semestral
Artigo 2
Autora:
Alcione Maria José Vieira

Graduada em Pedagogia com Ênfase em Ensino Religioso pela PUC Minas

Distúrbios de aprendizagem: dislexia

O aluno, por apresentar dificuldades na


Resumo escrita e na leitura, foi submetido a uma
Este artigo tem o objetivo de apresentar o estudo de caso avaliação psicológica, a pedido da professo-
Revista Eletrônica - “O caso é o seguinte...” Coordenação Pedagógica: Coletânea de Estudos de Casos

de uma criança de 8 anos, em que foi detectado um distúr- ra, e, em conversa com os pais, constatou-se
bio de aprendizagem: a dislexia, e evidenciar na prática o quanto o aluno tem dificuldades de leitura
do cotidiano escolar como professores e coordenadores e escrita, o que pode ser uma das causas da
entendem e lidam com esse assunto. dislexia.
Mas o que muito acontece hoje é o profes-

D
e acordo com o sistema educacional sor rotular seu aluno em vez de se interessar
atual, as nossas escolas estão mais pela forma como ele aprende, ou seja, crian-
acostumadas a trabalhar com crian- ça que troca letras é disléxica? Não, pois se o
ças consideradas “normais”, ou seja, alunos foco for a expressão escrita calcada na orali-
com um bom desempenho, um bom rendi- dade (escrever como se fala), trocar tipos de
mento na aprendizagem e um bom comporta- letras como T e D, F e V, parecidos fonetica-
mento. Existe uma espécie de problema que mente e juntar letras de forma aleatória são
assombra hoje as salas de aulas, e atende ações normais do processo de alfabetização.
pelo nome de dislexia sendo co-responsável Estudos comprovam as várias hipóteses da
pelas dificuldades de crianças, principal- escrita e alfabetizar, hoje, está longe de ser
mente nas séries iniciais. É evidente que uma tarefa fácil, num processo complexo de
esse distúrbio é um grande obstáculo que que as idéias dos pequenos nem sempre são
impede o pleno desenvolvimento da leitura as idéias dos adultos.
e da escrita. No entanto, não seria esse um Observar a relação do aluno com a própria
distúrbio que está sendo usado para justifi- escrita é mais importante do que apontar
car o fracasso escolar? erros e muito mais efetivo do que rotulá-lo
Diante de tais considerações, parte dos com um portador de um distúrbio, com diz
estudantes que escrevem as letras invertidas Gisele Massi, especialista em fonoaudiologia
na alfabetização ou cometem erros ortográ- e linguagem.
ficos agem assim porque essas ocorrências Com tudo isto, vale lembrar que os pro-
são normais no processo de ensino-apren- fessores muitas vezes não apresentam co-
dizagem. Se elas têm pouco interesse pela nhecimento claro sobre o assunto, e quando
leitura e pela escrita isso não pode ser visto detectado um aluno com esse tipo de difi-
como uma doença, talvez seja falta de incen- culdade, os professores ficam impacientes,
tivo e de oportunidades para ler e escrever chamando atenção da criança em tom mais
no seu dia-a-dia. alto de voz.
Como todo ser, o aluno está apto para Deve-se fazer um exame cuidadoso: as
aprender, por esse motivo me interessei em informações médicas, pedagógicas e com-
pesquisar o caso de um aluno que tivesse portamentais devem ser reunidas, organiza-
muita dificuldade na escrita e na leitura. das e avaliadas, pois, se a criança apresenta
Esse aluno tem 8 anos, está na 2ª série, em dificuldades de escrita e leitura, pode ser
uma escola publica de Belo Horizonte, e vive por motivo de os pais a não valorizarem a
com seus pais. leitura ou de o acesso a livros e jornais ser
insuficiente ou até inexistente, o que pode

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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 2, p. 1-204, ago./dez. 2008 - Semestral
Distúrbios de aprendizagem: dislexia Alcione Maria José Vieira

influenciar diretamente no desenvolvimento Referências:


percebido em sala de aula.
A dislexia é uma dificuldade na leitura, CYPEL, Saul. Neurologia Infantil. São Paulo:
mas também uma alteração na vida normal Ed.Atheneu.
do aluno por ela atingido. O professor deve
estar atento para a situação do aluno dislé- MASSI, Gisele. A dislexia em questão. São
xico e assim, numa atitude mais tolerante Paulo: Ed. Plexus.
e carinhosa, ajudar a ultrapassar suas difi-
culdades. Nesse contexto, o coordenador terá
suma importância para ajudar na orienta-
ção, na assistência e no acompanhamento
ao professor e ao aluno em intervenções que
devem ser realizadas como:
Na sala de aula, o professor deve recorrer
com freqüência a estratégias didáticas dife-
renciadas que, com o apoio do coordenador,
serão desenvolvidas para uma assistência ao

Revista Eletrônica - “O caso é o seguinte...” Coordenação Pedagógica: Coletânea de Estudos de Casos


aluno com dificuldade;
Ter atenção em verificar se o aluno que
apresenta a dificuldade está acompanhando
ou não os conteúdos trabalhados;
Os comportamentos de todos na escola
deverão ser reforçados positivamente, de
modo que aumente o auto-conceito escolar
do aluno e a sua auto-estima;
É preciso elogiar o aluno sempre que con-
seguir cumprir suas tarefas escolares.
A dislexia tem estudos recentes que
apontam para uma descoberta neurofisioló-
gica que seria capaz de justificar a falta de
consciência fonológica do disléxico, mas as
principais instituições de estudos da doença
aceitam, atualmente, a teoria de uma origem
genética, no entanto, oficialmente, a dislexia
ainda é um distúrbio sem causa definida.
Como os mecanismos de funcionamento da
dislexia ainda são um mistério para a medi-
cina, só os sintomas é que conduzem a um
diagnóstico e esses sintomas podem apontar
caminhos equivocados.
Por este motivo, é necessário muito cui-
dado ao diagnóstico de um aluno disléxico.
Nem sempre é fácil detectar a dislexia, pois
o tema é bastante controverso e percebe-se
que não se esgota aqui, não há conclusões
definitivas sobre ela, ou seja, suas causas,
seus sintomas, sua ligação com o ambiente
escolar. O que se sabe é que todo aluno com
dificuldade tem o direito de ter um acompa-
nhamento que contribua para sua formação,
respeitando o seu tempo de aprendizagem e
as suas limitações.

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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 2, p. 1-204, ago./dez. 2008 - Semestral
Artigo 3
Autora:
Alessandra Fonseca de Melo
Endereço eletrônico: alessandrafmelo@gmail.com
Graduada em Pedagogia com Ênfase em Ensino Religioso pela PUC Minas

Um caso, entre tantos, de abandono afetivo

Perdeu sua mãe com 1 ano e meio, por causa


Resumo de anos de depressão, e posterior suicídio.
O presente artigo trata de um fenômeno muito presente Seus avós paternos já haviam falecido an-
Revista Eletrônica - “O caso é o seguinte...” Coordenação Pedagógica: Coletânea de Estudos de Casos

entre crianças, adolescentes e jovens dos nossos dias, tan- tes mesmo de seu nascimento. Seu pai, com
to da escola pública quanto da particular, que tem causa- quem passou a maior parte do seu tempo
do uma série de dificuldades e transtornos na vida dessas até os dias de hoje, é uma pessoa instável,
pessoas e no cotidiano escolar: o abandono afetivo. emocionalmente falando, que sobrevive ba-
sicamente da pensão que a mãe deixou para

E
ducar, nos dias atuais, não é tarefa o filho.
fácil. Embora se tenham aberto no- Logo após o falecimento de sua mãe, An-
vas e múltiplas possibilidades para a dré foi para a casa de seus avós maternos,
educação, em razão mesmo do crescimento e onde permaneceu pouco tempo. O pai rei-
do amadurecimento das ciências humanas, vindicou o direito à guarda do menino, com
biológicas, exatas, contribuindo também quem ficou desde então. A visita aos avós
para o avanço da tecnologia, cresceram em ficou restrita a uma vez a cada quinze dias.
número e complexidade os desafios que a O menino, que antes ficava em uma es-
escola enfrenta. colinha do bairro para que a mãe pudesse
Um destes desafios é conseqüência direta trabalhar, foi colocado, então, na escola pú-
das mudanças pelas quais tem passado a blica. Sem critério, sem acompanhamento,
família, na sua formação, estrutura e dina- André foi para a escola, o que para muitos
micidade. A mulher aponta como uma das de seus familiares indicava que o mesmo
responsáveis pelo sustento do lar, precisan- estava sendo bem cuidado, e que estava se
do ausentar-se de casa e do convívio com desenvolvendo.
os filhos. O trabalho exige uma dedicação Algumas de suas tias, percebendo que
maior e uma formação individual contínua. ele, por vezes, não estava sendo alimentado
São cada vez mais numerosos os casos de adequadamente, encontrava-se sujo, com
pais separados, o que significa, em muitos roupas menores que seu tamanho, rasgadas,
casos, que outras pessoas se tornam res- entre outras coisas, intervinham esporadi-
ponsáveis pela educação da criança e do camente de modo a aliviar o abandono que
jovem, ao mesmo tempo em que os limites passou a viver após a morte de sua mãe.
ficam alargados, ou mal definidos. Em 2006, veio a falecer seu avô paterno, e
São muitos os que hoje são educados ou a avó, preocupada com o futuro do menino,
“cuidados” por padrastos, madrastas, avós, resolveu matriculá-lo em uma escola par-
tios ou tias, entre outros. Esses outros res- ticular. Foi neste período, então, que ficou
ponsáveis, muitas vezes, já se encontram evidente o sofrimento da criança, resultado
também ocupados, envolvidos com outras de inúmeros descuidos, desatenções e au-
realidades anteriores à chegada desse meni- sências de todo tipo.
no ou menina cujos pais, por algum motivo, Os familiares foram surpreendidos com
se ausentaram. a primeira “bomba” de André que, ao final
Este é o caso de André1, 13 anos, que do ano, conseguiu não mais que uma média
recentemente veio para a escola particular. de 30 pontos na maioria das disciplinas (em
um total de 100 pontos), insuficiente mesmo
1. Nome fictício, para preservar a identidade do aluno.

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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 2, p. 1-204, ago./dez. 2008 - Semestral
Um caso, entre tantos, de abandono afetivo Alessandra Fonseca de Melo

para que ele pudesse fazer alguma recupe-


ração. O menino “mais inteligente de sua
sala” revelou uma fragilidade que ninguém
parecia esperar.
Logo se apegaram a algumas justificati-
vas tais como “é o choque da escola públi-
ca com a particular”, ou “é por causa da 5ª
série, que é muito difícil”. O ano seguinte
seguiu com algumas modificações, em que
se acreditava dar conta do problema.
André permaneceu na mesma escola, po-
dendo agora contar com apoio pedagógico e
psicológico, três vezes por semana. No início
do ano, teve notas muito boas, fazendo com
que todos acreditassem que o problema, em
parte, deveria ser resolvido. Da segunda
etapa em diante, as notas caíram, “chove-

Revista Eletrônica - “O caso é o seguinte...” Coordenação Pedagógica: Coletânea de Estudos de Casos


ram” chamadas da coordenação pedagógica
ao pai, que quase nunca estava presente,
reclamações de professores, colegas, e um
nítido sentimento de “fracasso” foi tomando
conta de André e de seus familiares mais
próximos.
Recentemente, ele tem ficado a maior par-
te do tempo com algumas tias, que resolve-
ram unir esforços diante da possibilidade de
ele vir a tomar bomba outra vez. Cogitou-se
a possibilidade de procurar o Conselho Tu-
telar ou de abrir um processo reclamando a
guarda da criança, o que ainda não está de-
finido, porque sua tia, irmã de seu pai, teme
a reação deste após a abertura de algum
processo. A psicóloga identificou um alto
grau de ansiedade e dispersão no menino. O
mesmo foi levado ao psiquiatra e, atualmen-
te, está fazendo uso de antidepressivo.
O futuro de André ainda é incerto, mas
muitas vezes o sentimento que se tem é de
que ele precisa, mais do que qualquer coisa,
é de cuidado, é de uma família.

Referências:
BOFF, Leonardo. Saber cuidar: ética do hu-
mano – compaixão pela terra. 9. ed. Petró-
polis (RJ): Editora Vozes, 2003, 199 p.

TELES, J. S. de Sá. Pedagogia familiar: os


pais na educação dos filhos. Salvador: Ed.
Ianamá, 1993, p.78-81.

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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 2, p. 1-204, ago./dez. 2008 - Semestral
Artigo 4
Autora:
Alexandra Fortes Vilaça
Endereço eletrônico: alexandrafortes20007@hotmail.com
Graduada em Pedagogia com Ênfase em Ensino Religioso pela PUC Minas

Como lidar com o aluno problema: uma lição de vida

um e outro, atrapalhando a concentração


Resumo da turma. Tratei-o com firmeza e meio rís-
A violência protagonizada pelos jovens nas escolas é uma pida. Questionei seu comportamento e pedi
Revista Eletrônica - “O caso é o seguinte...” Coordenação Pedagógica: Coletânea de Estudos de Casos

realidade inegável. A sociedade terá que se organizar e in- que ele não se comportasse assim durante
surgir ativamente contra esse fenômeno. De igual modo, a minhas aulas, senão teria que solicitar sua
escola terá que ajustar os seus conteúdos programáticos saída da sala de aula. Ele, agressivamente,
e acercar-se mais das crianças. Devido às exigências, as me respondeu: “– Não me importo com nada,
famílias muitas vezes destituem-se da sua função educa- não me interessa essa “p...” (palavrão) de es-
tiva, delegando-a à escola. No meio de toda essa confusão, cola, muito menos aulas de português.”
estão as crianças, que atuam conforme aquilo que obser- Argumentei com ele sobre a importância
vam e agem consoante os estímulos do meio que, por vezes, de se aprender o português para facilitar
oferece modelos de conduta e referências questionáveis. sua comunicação com o mundo, para se dar
bem em uma entrevista de trabalho e para

E
ste artigo relata uma história de lição saber colocar suas idéias aos outros. Sugeri
de vida, não só para o educador, mas que ele levasse os estudos a sério e que, com
para todos aqueles que se preocupam apenas mais dois anos, ele poderia estar em
com o futuro da educação, em qualquer lu- um CEFET, fazendo um curso técnico, com
gar do mundo. colegas de sua idade, com certeza se desta-
Era o primeiro dia de aula na Escola cando no mercado de trabalho, nas áreas de
Municipal Sales Pereira1, em um pequeno seu interesse. Como resultado desse estudo,
distrito da Grande BH. Era uma turma de poderia dar um futuro melhor à sua família,
7ª série, com 80% dos alunos considerados ajudando seus pais.
de bom rendimento escolar e boa disciplina. A sua reação foi agressiva e dizia que a
Alguns alunos tinham perfi l diferenciado e família dele não precisava de ajuda e que ele
um deles em especial, com 16 anos. estava na escola por ser obrigado por sua
Alisson 2 é seu nome. Mora na região com mãe, já que tinha outras maneiras mais “fá-
sua família: pai, mãe e 4 irmãos menores. A ceis” de ganhar dinheiro.
mãe é lavadeira para a comunidade e seu pai Nos contatos seguintes seu comporta-
trabalha na capina de roça e é alcoólatra. mento não mudou. Continuou atrapalhando
Quando cheguei à escola, já fui alertada a turma. Sentava-se de costas para o pro-
do comportamento de Alisson: agressivo, re- fessor, cantando e fazendo barulho. Quando
belde, usuário de drogas leves e uma obser- era chamado a mudar o comportamento,
vação muito importante: tinha boas notas e chutava carteira, falava palavrões e assim
péssimo conceito em disciplina. permanecia até que lhe pedia que saísse de
Ele era visto por todos como o encrenca sala e procurasse a coordenação.
da turma. Era o líder do grupo e todos apro- Após 2 meses de convivência com esse
vavam suas idéias, suas gírias, seus rap’s. aluno, resolvi tomar um posicionamento,
Meu primeiro contato com ele não foi dos pois eu não conseguia mais levar a situação
melhores. Durante a aula, manteve-se agi- da maneira como se encontrava.
tado e falante; cantava, falava alto, chamava Fiz uma sondagem com outros professores
e todos disseram que ele era assim mesmo e
1. Nome fictício, para preservar a identidade da escola.
me aconselharam a não me incomodar com
2. Nome fictício, para preservar a identidade do aluno.

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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 2, p. 1-204, ago./dez. 2008 - Semestral
Como lidar com o aluno problema: uma lição de vida Alexandra Fortes Vilaça

ele. Sugeriam que deixasse de lado, que o ig- que fora encaminhado ao Centro de Apoio a
norasse. A direção e os pedagogos da escola Alcoólatras – AA. Mostramos a ela o resul-
diziam que ele tinha problemas familiares: tado do trabalho e o sucesso alcançado com
o pai era alcoólatra e a mãe, submissa, era seu filho. O aluno ainda ficou mais um ano
espancada freqüentemente. na escola e hoje está encerrando o 1º ano do
Alguns dias depois, fui informada de que ensino médio em uma escola pública. Hoje
ele havia colocado seu pai para fora de casa, consigo encontrá-lo em qualquer espaço,
depois atos violentos contra sua mãe e que público e escolar, e sou tratada com muito
o pai andava perambulando pelas ruas, respeito e admiração por ele.
bebendo e comendo o que lhe era oferecido Neste resultado de sucesso, todos somos
como esmola pela comunidade. vitoriosos: alunos, escola, família e comu-
Um dia, chegando à escola, deparei com nidade. Através de pequenos gestos de con-
uma cena: um homem deitado em frente à fiança e acreditando que ele fosse capaz,
escola, desmaiado de tanta bebida. Indaguei conseguimos resgatar sua auto-estima e
quem poderia ser o homem e fui informada respeito pelas pessoas que o cercam.
de que seria o pai do Alisson, que fora à es-
cola falar com ele e não conseguiu sequer
Referências:

Revista Eletrônica - “O caso é o seguinte...” Coordenação Pedagógica: Coletânea de Estudos de Casos


ficar de pé. Imediatamente, juntou uma mul-
tidão de alunos em volta dele e todos curio-
sos para saber onde estava o Alisson e que ARIÈS, Philippe. A criança e a vida familiar
providência seria tomada. Informaram-me no Antigo Regime. Lisboa: Relógio D’Água
que, quando ele viu o pai ao chegar à escola, Editores, 1988.
voltou imediatamente para casa e não quis
saber do que se tratava. Convenção sobre os direitos da criança.
Dias depois, voltando na mesma turma, Disponível em: <http:www.giea.net/legisla-
não pronunciei nenhuma palavra em relação cao.net/internacional/convencao_direitos_
ao fato e conduzi minha aula naturalmente. crianca.htm>. Acesso em 13/11/08.
A partir desse dia, mudei meu comporta-
mento com ele. Parei de “forçar a barra” para DELORS, Jacques et al. Educação: um te-
que ele se dedicasse ao estudo: se começava souro a descobrir. Relatório para a UNESCO
a cantar, eu fingia que não ouvia e comecei a da Comissão Internacional sobre Educação
usá-lo como uma espécie de monitor em sala para o Século XXI. 3. ed. Porto: Edições Asa,
de aula. Determinei e deleguei algumas fun- 1996.
ções para alguns alunos e ele era um deles.
Suas funções, a partir daquela data, FERMOSO, P. A Violência na Escola: El edu-
seriam: cador – pedagogo social escolar. In PANTOJA,
• Organizar os livros na biblioteca após o ho-
L. (Org.). Nuevos espacios de la educación so-
rário de literatura; cial. Bilbao: Universidad de Deusto.

• Coordenar e representar as equipes da gin- FERNANDES, Cadi Crianças sem referên-


cana da escola e distribuir as tarefas;
cias positivas. Diário de Notícias, disponível
• Organizar a eleição do vereador/escola em: <http://www.dn.pt.>.
apoiando os candidatos e panfletando cha-
pas para a eleição; MATOS, M.; CARVALHOSA, Susana F. A vio-
Selecionar e organizar o material dos lência na escola: vítimas, provocadores e ou-
times de futebol e voleibol da escola, tros. Tema 2, n.º 1. Faculdade de Motricidade
acompanhando-os nos jogos até o final do Humana/ PEPT – Saúde/GPT da CM Lisboa.
campeonato.
Através de uma parceria da Prefeitura
com empresas privadas e profissionais (ar-
tesões, professores de música, capoeira e
teatro) foi possível inserir os alunos em cur-
sos de música e capoeira, e Alisson se saiu
muito bem.
Depois dessa conquista, chamamos sua
mãe à escola. Ela já estava separada do pai,

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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 2, p. 1-204, ago./dez. 2008 - Semestral
Artigo 5
Autora:
Anally Valentim Assis de Oliveira

Graduada em Pedagogia com Ênfase em Ensino Religioso pela PUC Minas

Drogas: a necessidade da parceria familiar e escolar

da mãe e questionou o fato de ela não com-


Resumo parecer quando solicitada às reuniões e en-
Este artigo relata o caso de um aluno do Ensino Funda- contros escolares. A partir de então, desco-
Revista Eletrônica - “O caso é o seguinte...” Coordenação Pedagógica: Coletânea de Estudos de Casos

mental II de uma escola da rede privada que apresentava briu-se que assinaturas foram falsificadas,
mau desempenho em termos de socialização e cognição bilhetes, comunicados e até avaliações não
devido ao uso de drogas. A necessidade da parceria entre foram entregues. Com certa lástima, a mãe
a família e a escola é o cerne dessa discussão. revelou que brigou com o filho principalmen-
te pela bebida e pelo cigarro e, ao questionar

O
presente artigo baseia-se em um es- o aluno sobre o porquê de não comunicar à
tudo de caso que objetiva analisar mãe sobre os recados, o menino simplesmen-
o significado da presença efetiva da te disse que não adiantaria avisá-la, uma
família e da escola no trato com educandos vez que ela nunca tinha tempo para ele.
usuários de drogas. Bahls e Ingbermann, ao citarem Kumpu-
Cerca de quarenta dias antes do término lainem e Roine, elucidam:
do primeiro semestre de 2007, ingressava
na Escola Sonho Meu1 o aluno João Porto 2 . O baixo desempenho escolar em estudantes
Conforme a mãe e o padrasto, o aluno, com pode excluí-los, em algum grau, do gru-
quinze anos, estaria prestes a repetir mais po de estudantes que têm mais sucesso,
uma vez a 7ª série se continuasse na antiga levando-os ao envolvimento com pares que
escola da rede pública. Relataram que, de- apresentem problemas em aspectos esco-
vido ao fato de saírem cedo para trabalhar lares. O impacto do grupo de pares é um
e retornarem somente à noite, não tinham fator que interfere no uso de substâncias,
muito tempo com o garoto e o mesmo ficava a e os autores evidenciam que, quanto maior
maior parte do tempo sozinho. A mãe relatou a associação com pares desviantes, maior
que João era um bom menino em casa, mas a probabilidade de desvio e uso de drogas.
não tinha muito interesse pelos estudos e, (KUMPULAINEM; ROINE apud BAHLS; IN-
ultimamente, estava se envolvendo com um GBERMANN, 2005, p. 396).
grupo de alunos que também não viam com
bons olhos a Escola. Informaram também Mediante a complexidade desse caso, a
que não sabiam das constantes advertências coordenação do Sonho Meu conversou seria-
e ocorrências recebidas pelo filho. As causas mente com os responsáveis pelo educando.
das ocorrências foram as seguintes: ser sur- A proposta pedagógica e as normas básicas
preendido por um servente enquanto bebia de conduta e comportamento exigidos foram
vinho e fumava um cigarro no banheiro, de- expostos. A coordenadora ressaltou que
sacatar professores, atrasar constantemente semestralmente a Instituição convida um
para as aulas, ter desempenho insatisfatório psicólogo especializado para palestra sobre
em todas as disciplinas. a temática das drogas e que tal palestra
Infelizmente, os pais tomaram conheci- estaria agendada novamente para o mês de
mento da situação tardiamente. A coordena- agosto. A idéia de que a prevenção é a melhor
ção da escola anterior ligou para o trabalho forma de conscientizar e alertar os jovens
foi ressaltada. O acompanhamento e a as-
1. Nome fictício para preservar a identidade da escola.
sistência pedagógica no caso do garoto fo-
2. Nome fictício para preservar a identidade do aluno.

27
Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 2, p. 1-204, ago./dez. 2008 - Semestral
Drogas: a necessidade da parceria familiar e escolar Anally Valentim Assis de Oliveira

ram garantidos, seja através de observações os conteúdos programáticos ministrados e


constantes, seja através de metodologias e que desenvolvessem com maior constância
recursos didáticos que propiciem um melhor trabalhos em grupo, principalmente para
aprendizado. propiciar um contato maior entre o novato e
A estudiosa Regina Lúcia Brandão Alen- os demais alunos. Caso observassem qual-
car explica: quer comportamento suspeito associado aos
extremos calmaria e indisciplina, deveriam
Na ação preventiva, é necessário que haja o comunicá-la.
reconhecimento de que o problema das dro- Principalmente no início da segunda
gas precisa ser tratado delicadamente, por quinzena na nova escola, o garoto apresenta-
ser complexo e ambíguo. Observa-se que va uma sonolência incomum. Esse compor-
as informações e os materiais pedagógicos tamento foi apresentado inclusive nas aulas
precisam ser adaptados às características e de Educação Física e durante o intervalo
às exigências de grupos distintos e que a di- do recreio, períodos em que os alunos nor-
vulgação seja de modo seletivo, dirigindo-se malmente podem extravasar e descarregar
a diferentes grupos: crianças, jovens, pais, suas energias. Praticamente um mês havia
funcionários, professores, de forma que se passado e, infelizmente, nenhum avanço

Revista Eletrônica - “O caso é o seguinte...” Coordenação Pedagógica: Coletânea de Estudos de Casos


a educação preventiva influa de maneira notado. O garoto não conversava com os co-
significativa sobre a forma como são perce- legas e tampouco atrapalhava as aulas. Seus
bidas as drogas e a problemática que elas cadernos continham alguns poucos rabiscos
acarretam no ser humano, na sua família e e desenhos; praticamente nenhuma matéria
na sociedade. (ALENCAR, 1997, p. 6). registrada. Enfim, não participava, perma-
necia indiferente, praticamente estático. Em
A importância da presença efetiva e diária uma dada situação, o aluno foi encontrado
dos pais e/ou responsáveis na vida escolar dormindo próximo ao parquinho da Escola.
dos filhos merece destaque na erradicação e Sem hesitar, a coordenação decidiu agendar
prevenção às drogas e também em situações uma reunião urgente com os responsáveis. A
em que os alunos não possuem um desen- coordenadora não fez nenhuma exposição de
volvimento considerável e satisfatório em conclusão precipitada, apesar de presenciar
termos de aprendizado, conseqüentes desses semelhante situação com um aluno de outra
e de outros problemas. Muitos aspectos e escola onde havia trabalhado durante con-
questões em termos de cognição, afetividade siderável tempo; o parecer em tal escola não
e socialização estão diretamente relaciona- foi nada aprazível: uso de drogas ilícitas.
dos à ausência dos pais e/ou responsáveis Murad estabelece distinção entre drogas
pelo educando; a omissão por parte das es- lícitas e ilícitas:
colas em relação a tais aspectos é também
fator considerável. As drogas lícitas são as drogas legais, ou
O doutor e pesquisador José Elias Murad seja, aquelas que são aceitas socialmente.
esclarece: Como exemplo, podemos citar o tabaco, as
bebidas alcoólicas e alguns medicamentos.
A família é a base da formação e do desen- As drogas ilícitas são produtos ilegais. Seu
volvimento do indivíduo. Daí a necessidade uso não é aprovado socialmente. O uso, por-
de pais ou responsáveis estarem sempre em te ou tráfico são considerados crimes. Como
contato com seus filhos, dando amor, com- exemplo, podemos citar a maconha, o cra-
preensão e carinho, participando de sua ck, a LSD-25 e o ecstasy. (MURAD, 2003,
vida, estimulando atitudes positivas, dando p. 16).
força no desenvolvimento de talentos, dan-
do bons exemplos, estabelecendo limites, Cerca de quarenta dias após o primeiro
direitos e deveres. (MURAD, 2003, p. 20). encontro, a mãe compareceu à Escola. A
coordenadora foi direta e relatou que sem
Ciente da monitoria específica a esse a presença dos pais não conseguiria traba-
aluno, a coordenadora solicitou que todos lhar e ajudar o João. Sugeriu também que
os funcionários a mantivessem informada, consultassem um psicólogo e que fosse re-
especificamente a equipe docente. Pediu que alizado um trabalho conjunto. As suspeitas
os professores dialogassem e chamassem quanto ao uso de drogas ilícitas mais tarde
o menino para participar e opinar sobre foram confirmadas pelo padrasto que, em

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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 2, p. 1-204, ago./dez. 2008 - Semestral
Drogas: a necessidade da parceria familiar e escolar Anally Valentim Assis de Oliveira

uma das reuniões agendadas, compareceu não age; que poderia almejar e lutar por um
juntamente com a mãe do aluno. ideal que realmente valha a pena e que faça
Bahls e Ingbermann, ao mencionarem sentido para e na sua vida, mas essa luta
Syder e Stoolmiller, salientam: inexiste para aqueles que não encontram na
escola e, especificamente, na família um in-
Quando o comportamento de uma criança centivo, uma motivação e um sentido.
não é mais monitorado pelos pais e profes-
sores, está estabelecido o estágio de apren-
dizagem para atos clandestinos, tais como Referências:
roubar, mentir, cabular aulas e usar drogas.
O fracasso escolar recorrente e a rejeição ALENCAR, Regina Lúcia Brandão. Informa-
pelos pais, professores e colegas convencio- ção e cidadania contra as drogas. AMAE edu-
nais induzem as crianças inábeis a busca- cando, Belo Horizonte, n. 271, p.6-11, out.
rem colegas que sejam imagens refletidas 1997.
delas mesmas. São crianças tristes e com
pouca habilidade escolar, esportiva e social. BAHLS, Flávia Rocha Campos; INGBER-
Por volta dos doze ou treze anos, os pais e MANN, Yara Kuperstein. Desenvolvimento
Revista Eletrônica - “O caso é o seguinte...” Coordenação Pedagógica: Coletânea de Estudos de Casos

professores podem prontamente identificar escolar e abuso de drogas na adolescência.


quais grupos de crianças são desviantes. Estudos de Psicologia (Campinas), Campi-
(SYDER; STOOLMILLER apud BAHLS; ING- nas (SP), v. 22, n. 4, p. 395-402, out. 2005.
BERMANN, 2005, p. 397).
MURAD, José Elias. O que é preciso saber so-
O desfecho deste caso não foi o esperado bre as drogas. AMAE educando, Belo Hori-
pela Escola e por todos os profissionais que, zonte, v. 35, n. 313, p. 16-20, mar. 2003.
de alguma forma, se envolveram na recu-
peração daquele aluno, mesmo com o pou-
co tempo de convívio. Antes mesmo que a
equipe pedagógica e educativa conseguisse
minimizar os déficits em termos cognitivos
e sociológicos e ajudasse no tratamento do
garoto, mais uma vez o João Porto foi trans-
ferido. Os responsáveis alegaram mudança
residencial e se comprometeram a procurar
um tratamento para o filho assim que che-
gassem na nova cidade.
Diante desse caso, pode-se perceber que
pais e educadores são sujeitos formadores de
valores e opiniões, são referências a serem
seguidas e não podem camuflar questões
tão delicadas que necessitam de reflexões
e de algumas ações sem delongas. O adia-
mento de certas decisões pode comprometer
e piorar o quadro do educando vítima das
drogas e vítima de uma série de elementos
que as envolvem e lhes permitem parecer tão
atraentes e indispensáveis. Quando essas
referências são colocadas em planos infe-
riores, perdem-se valores fundamentais na
formação de qualquer ser humano. O indiví-
duo torna-se um ser mais vulnerável e o fra-
casso escolar, aliado ora à indiferença, ora
à agressividade, ora à passividade, é indício
considerável que revela que algo está errado.
Esse fracasso nunca está isolado, juntamen-
te a ele há o fracasso como ser social que
poderia agir e interagir com seus pares, mas

29
Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 2, p. 1-204, ago./dez. 2008 - Semestral
Artigo 6
Autora:
Andréia Ferreira da Silva Arantes
Endereço eletrônico: andreiafarantes@hotmail.com
Graduada em Pedagogia com Ênfase em Ensino Religioso pela PUC Minas

Traumas emocionais vs ritmos diferenciados de aprendizagem

Além dessas dificuldades cognitivas, Ana


Resumo se mostra retraída, constantemente se isola
Este artigo relata o estudo de caso de uma aluna da 4ª da turma e demonstra ter uma baixa auto-
Revista Eletrônica - “O caso é o seguinte...” Coordenação Pedagógica: Coletânea de Estudos de Casos

Série/9 de uma escola privada, com dificuldades cogni- estima.


tivas devido a trauma emocional desencadeado por uma Tão logo a professora percebeu a gravida-
professora. A importância de uma intervenção adequada. de do caso de Ana, comunicou à supervisão
pedagógica para, juntas, buscaram alterna-

E
m 2008, o Colégio Semear1 recebeu tivas para sanar as dificuldades, tentando
a aluna Ana2 que foi matriculada na evitar que essas prejudicassem ainda mais
4ª Série/9 (antiga 3ª Série). No início o desenvolvimento de Ana.
do ano letivo, ao realizar a sondagem diag- Foram realizadas reuniões com os pais de
nóstica, a professora constatou dificuldades Ana para obter informações sobre o seu his-
cognitivas significativas, principalmente na tórico de vida. Após alguns encontros com
aquisição da escrita, na leitura, na com- a família, descobriu-se que Ana sempre foi
preensão de textos em geral e no raciocínio uma criança desejada e amada pelos pais,
lógico-atemático. As principais dificuldades é filha única, sempre teve muitos amigos,
encontradas serão relatadas sucintamente a estudou em uma única escola da rede pri-
seguir: vada até que foi matriculada no Colégio Se-
• Na aquisição da escrita, Ana escreve textos
mear e os pais são sempre presentes em sua
sem coesão, clareza e pontuação. Apresenta vida. Ao perguntar sobre o relacionamento
constantes erros ortográficos, demonstran- de Ana com seus colegas e professores na
do não ter muito conhecimento sobre a so- escola anterior, os pais comentaram, den-
norização das letras, escrevendo, na maioria tre outros fatos, um episódio ocorrido, mas
das vezes, como se fala. que acreditavam que em nada ajudaria no
• Com relação à leitura, lê silabando, troca caso, entretanto relataram: “Ana sempre foi
letras, omite sons, confunde as linhas do muito extrovertida, brincalhona, esperta e
texto e às vezes separa ou aglutina as pala- participativa. Certa vez, a professora fez Ana
vras erroneamente. passar a maior vergonha na frente de sua
turma. Quando estava na 2ª Série/9 (antiga
• No que diz respeito à interpretação dos
textos, demonstra não compreender o que
1ª Série), ela produziu um pequeno texto e
lê, realizando somente a decodificação dos ficou com vergonha de ler a sua produção
códigos da escrita. na frente de seus coleguinhas. A professora
colocou tanto defeito na leitura de Ana e na
• No que se refere ao pensamento matemático, sua produção, que ela começou a chorar e
apresenta grandes dificuldades na compre-
chegou a fazer xixi na calça e, por este mo-
ensão, no raciocínio e no desenvolvimento
das atividades em geral, fazendo ainda o uso
tivo, ficou de castigo na sala, em pé, até sua
contínuo de material concreto para a reali- roupa secar. Todos riram muito dela, mas
zação das atividades. acreditamos que ela já se esqueceu desse
caso, pois nunca mais comentou nada sobre
esse assunto. Gostávamos muito da escola,
mas, infelizmente, tivemos que conter algu-
1. Nome fictício, para preservar a identidade da escola.
mas despesas e, por isso, procuramos uma
2. Nome fictício, para preservar a identidade da aluna.

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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 2, p. 1-204, ago./dez. 2008 - Semestral
Traumas emocionais vs ritmos diferenciados de aprendizagem Andréia Ferreira da Silva Arantes

escola mais em conta para nossa filha. Mas releitura das atividades cotidianas”.
não está adiantando pagar escola particu- Nesse propósito, professora e supervisora
lar para Ana, pois parece que ela não gosta pesquisaram diferentes autores tais como
mais de estudar e tem muita dificuldade de Piaget, Vygotsky e Emilia Ferreiro entre ou-
aprender!” tros, elaboraram e organizaram uma série
Após esta relevante descoberta, foi pos- de situações de aprendizagem, oficinas, tra-
sível detectar mais facilmente as possíveis balho com jogos, dinâmicas que elevavam a
origens dos problemas de Ana que, conforme sua auto-estima, promoviam o aprendiza-
Patto (1990), “são conseqüências de per- do, além de envolver a família de Ana neste
turbações relacionadas com os processos processo. O êxito deste processo foi a curto
psicológicos: percepção, memória, lingua- prazo e, portanto, excluiu-se a possibilidade
gem e pensamento” ou devido a “transtor- da intervenção de outro profissional como
nos afetivos da personalidade, gerados por um psicopedagogo, por exemplo. Ana avan-
perturbações no estado sócio-afetivo e não çou bastante em suas limitações e está em
por déficits cerebrais ou cognitivos”. Essas contínuo processo de melhorias.
dificuldades ou ritmos diferentes de apren- Conclui-se, assim, que uma intervenção
dizagem podem ser gerados não por uma adequada do professor e supervisor, que

Revista Eletrônica - “O caso é o seguinte...” Coordenação Pedagógica: Coletânea de Estudos de Casos


inibição intelectual, mas por um conflito se tornaram sensíveis às necessidades da
invasor consciente ou inconsciente. A escola aluna, acreditaram em seu potencial, tra-
deveria ser um espaço de acolhimento da balharam com sua auto-estima e investiram
diversidade, de trocas de experiências e res- tempo para que ela pudesse superar suas
peito às características individuais de cada dificuldades, foi de extrema importância
um. Assim, o aprendizado seria uma ação para que Ana deixasse a condição de “aluna
humana, criativa, individual, heterogênea e rotulada como problema” e passasse à con-
regulada pelo sujeito da aprendizagem, in- dição de uma aluna vencedora, que superou
dependentemente de sua condição física ou suas dificuldades e que, bem provavelmen-
intelectual. te, trilhará seus passos na educação com
Segundo Baquero (1998), Vygotsky afirma total êxito, pois aprendeu a acreditar em si
que a “convivência social é fundamental para própria.
transformar o homem de ser biológico a ser “O diferente de nós não é inferior. A in-
humano social, e a aprendizagem que brota tolerância é isso: é o gosto irresistível de se
nas relações sociais ajuda a construir os co- opor às diferenças.” (Paulo Freire)
nhecimentos que darão suporte ao desenvol-
vimento mental”. Para que isso seja possível,
torna-se necessária uma reestruturação das Referências:
formas de agir, sentir e pensar a educação,
de modo a desenvolver nos estudantes as ALMEIDA, Laurinda Ramalho de; PLACCO,
competências necessárias para sua emanci- Vera Maria Nigro de Souza. O coordenador
pação, levando em conta a diversidade em pedagógico e o espaço da mudança. São
que estão inseridos, considerando o sujeito Paulo: Loyola, 2001.
em primeiro plano e não suas dificuldades.
Buscando alternativas, a supervisora e a ARANTES, Valéria Amorim; MANTOAN, Ma-
professora criaram estratégias diferenciadas ria Teresa Égler; PRIETO, Rosangela Gavioli;
para atender Ana, uma vez que, de acordo (Org.). Inclusão escolar: pontos e contra-
com Mantoan (2006), “tratar igualmente pontos. São Paulo: Summus, 2006.
aqueles que são diferentes nos leva à exclu-
são”. A maioria dos professores da 4ª Série/9 BAQUERO, Ricardo. Vygotsky e a aprendi-
não são alfabetizadores e não conseguem zagem escolar. Porto Alegre: Artes Médicas,
identificar as etapas do processo de aqui- 1998.
sição da escrita vivenciado pelos estudan-
tes, o que dificulta ainda mais a correção COLL, César. Piaget, o construtivismo e a
desse processo. Esteban (1992) afirma que educação escolar: onde está o fio condutor?.
“construir uma prática pedagógica capaz Porto Alegre: Artes Médicas, 1997.
de reverter o fracasso escolar vincula-se à
possibilidade de os professores debruçarem-
se sobre sua própria prática, fazendo uma

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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 2, p. 1-204, ago./dez. 2008 - Semestral
Traumas emocionais vs ritmos diferenciados de aprendizagem Andréia Ferreira da Silva Arantes

ESTEBAN, Maria Teresa. Repensando o fra-


casso escolar. Cadernos Cedes, Campinas,
n. 28, 1992.

FERREIRO, Emília. A representação da lin-


guagem e o processo de alfabetização. Cader-
nos de Pesquisa, São Paulo, n. 52, fev.1985.

PATTO, Maria Helena Souza. A produção do


fracasso escolar: Histórias de Submissão e
Rebeldia. São Paulo: T. A. Queiroz, 1990.
Revista Eletrônica - “O caso é o seguinte...” Coordenação Pedagógica: Coletânea de Estudos de Casos

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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 2, p. 1-204, ago./dez. 2008 - Semestral
Artigo 7
Autora:
Clei Magna Paiva de Oliveira

Graduada em Pedagogia com Ênfase em Ensino Religioso pela PUC Minas

Um caso de hiperatividade

deste aluno, foi de suma importância a par-


Resumo ticipação de um neurologista. Após toda a
Este artigo relata o caso de um aluno hiperativo e as ações investigação, ficou comprovado que a crian-
Revista Eletrônica - “O caso é o seguinte...” Coordenação Pedagógica: Coletânea de Estudos de Casos

empreendidas para diagnosticar o quadro. ça é hiperativa. Neste caso, só o médico é


quem pode diagnosticar.
O papel do coordenador é muito importan-

O
foco deste estudo de caso é o aluno te, pois a ele caberá reunir dados e pessoas,
Manoel1, 9 anos. Ele apresenta com- com o objetivo de organizar as informações
portamento desatento, é agitado e e com isso contextualizar o “problema”. Ele
impulsivo, com atitudes inadequadas. Não também coordenará as reuniões nas quais
faz as atividades sugeridas em sala e in- estarão presentes as pessoas envolvidas,
comoda os colegas de turma o tempo todo, para a apreciação dos dados obtidos.
ficando mais em pé do que sentado. A pro- Nessas reuniões, todo o grupo tem pos-
fessora, através de suas observações e in- sibilidade de opinar sobre o que pensa do
tervenções, notou que tinha algo estranho, caso em estudo, pode sugerir material teó-
ele não conseguia se concentrar em uma rico para leitura, utilizar seus conhecimen-
atividade, sempre estava atrasado em com- tos e sua sensibilidade na busca de uma
paração aos seus colegas de classe. Por que compreensão mais abrangente dos fatos em
só aquele aluno agia de forma tão diferente discussão. Essas reuniões poderão se esten-
dos outros? Como lidar com um aluno que der por algum tempo, ou seja, serão tantas
atrapalha suas aulas o tempo todo? Como quantas forem necessárias até que se tenha
prender sua atenção? clareza suficiente para propor alternativas,
O presente estudo de caso surgiu a par- soluções, encaminhamentos...
tir da sugestão da professora do aluno que Neste estudo de caso, espera-se que não
já observara há algum tempo. Os dados só o “organismo com mau funcionamento”
foram coletados através de entrevistas re- tenha sido beneficiado, mas que todos os
alizadas com o próprio aluno, professores, participantes desse estudo tenham se bene-
colegas, família e profissionais que atendem ficiado dele. Cada um ao seu modo sentiu
e atenderam ao aluno. Também foram con- que cresceu ao discutir sobre o problema
siderados materiais produzidos pelo aluno estudado. Dessa forma, os professores, os
na escola, considerados significativos para colegas, a família, a escola, todos se enrique-
a compreensão do estudo; atestado, laudos ceram a partir do momento em que pararam
e exames... O responsável pela dinâmica do para compreender o que estava acontecendo
estudo de caso é a coordenadora. e, através disso, entender qual o papel de
Segundo ela, nem sempre precisará de cada um naquela situação. Fica claro que
um profissional técnico como, por exemplo, falar sobre o outro é também falar da gente.
um psicólogo, um orientador, um médico... Dessa forma, perceberam que compreender
No entanto, se for possível contar com um o que acontece com o outro é compreender o
desses profissionais, talvez o trabalho flua que acontece também conosco.
mais, por serem alguém que já lida, no dia- Muitas vezes a escola “acusa” a família do
a-dia, com esse tipo de “material”. No caso aluno, ou o professor, ou o próprio aluno e,
quando ela se envolve num estudo de caso,
1. Nome fictício, para preservar a identidade do aluno.

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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 2, p. 1-204, ago./dez. 2008 - Semestral
Um caso de hiperatividade Clei Magna Paiva de Oliveira

pode acabar percebendo que ela própria


pode estar sendo uma das molas propulso-
ras para a ocorrência daquele “mau funcio-
namento do aluno”.
Num estudo de caso dessa amplitude, não
quer dizer que o problema acabou totalmen-
te: o sujeito continua hiperativo, mas com
um diferencial – os profissionais a sua volta
saberão como lidar com um aluno que apre-
senta esse quadro. O professor saberá, por
exemplo, que essa criança deverá ficar longe
de portas e janelas e longe de qualquer coisa
que lhe tire a atenção em sala de aula.
 

Revista Eletrônica - “O caso é o seguinte...” Coordenação Pedagógica: Coletânea de Estudos de Casos

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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 2, p. 1-204, ago./dez. 2008 - Semestral
Artigo 8
Autora:
Cleide Lima dos Santos

Graduada em Pedagogia com Ênfase em Ensino Religioso pela PUC Minas

A dislexia é coisa séria

a hipótese de que poderia ser um caso de


Resumo dislexia, pois a dislexia 2 é uma das mais co-
O artigo retrata a realidade de uma aluna da 5ª série do muns deficiências de aprendizado. Pessoas
Revista Eletrônica - “O caso é o seguinte...” Coordenação Pedagógica: Coletânea de Estudos de Casos

ensino fundamental com muitas dificuldades de aprendi- disléxicas – e que nunca se trataram – lêem
zagem e essas dificuldades são devidas ao diagnóstico de com dificuldade, pois é difícil para elas as-
dislexia. similarem palavras. Disléxicos também so-
letram muito mal. Isto não quer dizer que

A
aluna Clara1 é estudante de uma es- crianças disléxicas são menos inteligentes;
cola publica, tem 13 anos, está na aliás, muitas delas apresentam um grau de
5ª série do ensino fundamental, e inteligência normal ou até superior ao da
apresenta muita dificuldade em Língua Por- maioria da população.
tuguesa. Essa dificuldade de aprendizagem Com isso, a supervisora e a professora de-
já é percebida desde as séries iniciais, de cidiram chamar os responsáveis pela aluna
acordo com seus registros escolares. Mas para ver se ela apresenta essas dificuldades
eram consideradas normais, devido a sua de leitura também em casa, se ela lê alguma
imaturidade escolar. Sempre foi uma aluna revista, gibis, jornais. E se em casa também
agitada, dispersa e desinteressada, princi- ela é teimosa, insegura e agressiva.
palmente nessa matéria, emque apresenta Quem compareceu foi a mãe, e ela relatou
mais dificuldade. que a filha não gosta de ler, informa que já
Como a aluna já se encontra na 5ª série e faz leitura demais na escola. Às vezes per-
não tem coerência na sua produção de texto, cebe que a filha troca muito as letras e pro-
a professora informou a situação à supervi- nuncia alguma letra, mas quer dizer outra.
sora, pois estava preocupada, porque assim Ela já apresentava essa dificuldade quando
a aluna iniciaria mais uma série sem saber estava na escola primária. Agora não tem
produzir um texto, além do seu mau compor- muito tempo para acompanhar a filha nas
tamento dentro da sala de aula. Decidiram, suas atividades de casa porque a filha já
então, investigar mais sobre as dificuldades possui autonomia e diz que não precisa da
de aprendizagem da aluna. ajuda da mãe.
Verificaram que a aluna também apresen- Diante do relato da mãe, a supervisora e
tava dificuldades em Matemática e Inglês, e a professora já estavam quase certas de que
um desempenho baixo nas outras matérias. o caso da aluna fosse mesmo dislexia, mas
A professora de Língua Portuguesa começou resolveram buscar um diagnóstico efetivo e
a reparar mais na aluna, pediu para que les- encaminharam a aluna para um fonoaudió-
se um texto e ela recusou , dizendo que não logo e um neurologista.
gosta de ler, principalmente em público, e De acordo com o diagnóstico médico,
recusa fazer ditados. A professora percebeu Clara, realmente, possui dislexia. Segun-
que a sua caligrafia é desorganizada, sem do os autores pesquisados, a dislexia pode
coordenação, com movimentos incompletos e
desiguais e apresenta alguma dificuldade de 2. Dislexia: A significação intrínseca do termo: dys, sig-
manter a escrita na linha do caderno. Dian- nificando imperfeito, como disfunção, isto é, uma fun-
te dessas percepções, a professora levantou ção anormal ou prejudicada; e lexia que, do grego, dá
significação mais ampla ao termo palavra, isto é, Lin-
1. Nome fictício, para preservar a identidade da aluna. guagem em seu sentido abrangente.

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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 2, p. 1-204, ago./dez. 2008 - Semestral
A dislexia é coisa séria Cleide Lima dos Santos

ser neurobiológica ou genética. A dislexia é da para detectar se ela sofre de dislexia. Po-
herdada e, portanto, uma criança disléxica rém, o sistema educacional brasileiro é defi-
tem pai, avô, tio ou primo que também é ciente e há uma falta de recursos na maioria
disléxico. Diferentemente de outras pessoas das escolas do país. Portanto, é importante
que não sofrem de dislexia, disléxicos pro- que pais e professores fiquem atentos aos
cessam informações em uma área diferente sinais de dislexia para que possam ajudar
de seu cérebro; não obstante, os cérebros de seus filhos e alunos.
disléxicos são perfeitamente normais. A dis-
lexia parece resultar de falhas nas conexões
cerebrais. Felizmente, existem tratamentos Referências:
que curam a dislexia. Esses tratamentos
buscam estimular a capacidade do cérebro BAUER, J.J. Dislexia: Ultrapassando as bar-
de relacionar letras aos sons que as repre- reiras do preconceito. São Paulo: Casa do Psi-
sentam e, posteriormente, ao significado das cólogo, 1997.
palavras que elas formam.
Com esse diagnóstico, foi preciso fazer LANHEZ, M. E.; NICO, M.A. Nem sempre é
intervenções pedagógicas com a aluna para o que parece: Como enfrentar a dislexia e os

Revista Eletrônica - “O caso é o seguinte...” Coordenação Pedagógica: Coletânea de Estudos de Casos


que o seu desempenho não fosse prejudica- fracassos escolares. São Paulo: Alegro, 2002.
do pela dislexia. A aluna, a principio, ficou
arredia, dizendo que era normal e que não MORAES, A.M.P. Distúrbios da aprendiza-
precisava de nenhum acompanhamento mé- gem: Uma abordagem psicopedagógica. São
dico ou especializado pela escola. Disse que Paulo: EDICON, 1997.
já tinha feito os exames e pronto, acabou.
Com essa rejeição, a escola promoveu para NUNES, T.; COLS. Dificuldades na aprendi-
as turmas uma palestra sobre a dislexia e zagem da leitura: Teoria e prática. 3. ed. São
explicou para a Clara que seria necessário Paulo: Cortez, 2000.
um tratamento específico, senão ela poderia
encontrar muitas dificuldades na vida, tanto
na área escolar como profissional. Na pales-
tra, a psicopedagoga explicou que a maioria
dos tratamentos enfatiza a assimilação de
fonemas, o desenvolvimento do vocabulário,
a melhoria da compreensão e a fluência na
leitura. Esses tratamentos ajudam o dislé-
xico a reconhecer sons, sílabas, palavras e,
por fim, frases. É aconselhável que a crian-
ça disléxica leia em voz alta com um adulto
para que ele possa corrigi-la. É importante
saber que ajudar disléxicos a melhorar sua
leitura é muito trabalhoso e exige muita
atenção e repetição. Mas um bom trata-
mento certamente rende bons resultados.
Alguns estudos sugerem que um tratamento
adequado, administrado ainda cedo na vida
escolar de uma criança, pode corrigir as
falhas nas conexões cerebrais ao ponto que
elas desapareçam por completo. Como Clara
já está na adolescência, o trabalho deve ser
contínuo, o que não impede que ela também
recupere por completo.
Este estudo de caso da aluna Clara
foi de aproximadamente 8 meses. Hoje ela
está fazendo um tratamento com um fono-
audiólogo e com uma psicopedagoga. E já fez
alguns progressos na sua aprendizagem.
O ideal seria que toda criança fosse testa-

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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 2, p. 1-204, ago./dez. 2008 - Semestral
Artigo 9
Autora:
Cynthia Loureiro Amorim

Graduada em Pedagogia com Ênfase em Ensino Religioso pela PUC Minas

Um caso de inclusão na Rede Pública de ensino: Estamos mesmo incluindo?

acidente no qual perdera massa encefálica.


Resumo Anteriormente, estava matriculado em uma
O presente artigo apresenta o caso de um aluno matricu- Escola da Rede Municipal de Ensino, rece-
Revista Eletrônica - “O caso é o seguinte...” Coordenação Pedagógica: Coletânea de Estudos de Casos

lado na Rede Estadual de Ensino, em Belo Horizonte, o bendo formação de acordo com os métodos e
seu percurso, o movimento de alguns profissionais que o processos da Escola Plural, concluindo, as-
acompanharam, bem como a constatação da falta de re- sim, o primeiro ciclo de formação do Ensino
cursos que os profissionais da Rede vivenciam. Fundamental I, fora da faixa etária regular.
Por apresentar necessidades educacionais

E
m tempos em que o discurso gover- especiais, fora encaminhado a uma Escola
namental, no que tange à educação, Particular de Ensino2, onde foi reclassificado
vem sendo sobre a necessidade de para a 5ª série do Ensino Fundamental.
se alcançar uma supremacia da qualidade, À medida que transcorria o ano letivo,
tanto na formação de docentes quanto no percebeu-se que o aluno apresentava tam-
sistema de ensino; em que os cursos de pe- bém grande defasagem em termos de apren-
dagogia e, conseqüentemente, os professores dizagem, além de dificuldades de interação
são freqüentemente avaliados, pode-se, oca- com o grupo de alunos da sala. Segundo a
sionalmente, ter a impressão de que muitos professora que o acompanhava, ele era muito
subsídios estão sendo oferecidos a esses disperso e, às vezes, se isolava não querendo
profissionais no exercício de suas profissões, participar das atividades propostas ou de-
bem como aos alunos que utilizam o sistema monstrava desânimo em relação às aulas.
público de ensino. Visando cumprir o que a própria LDB
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação dispõe em seu capítulo V, art. 58, parágra-
(LDB) 9.394/96, em seu capitulo V, sinaliza fo 1º: “haverá, quando necessário, serviços
que a educação dos portadores de necessida- de apoio especializado, na escola regular,
des especiais deve se dar, preferencialmente, para atender às peculiaridades da clientela
na rede regular de ensino e aponta uma nova de educação especial”, a Supervisora Peda-
concepção na forma de entender a educação gógica verificou junto à Inspetora Escolar e
e a integração dessas pessoas. No entanto, a à Secretaria Municipal de Educação sobre
constatação desse capítulo não garante que como proceder com esse aluno em termos
as pessoas com necessidades especiais terão de processo ensino-aprendizagem e de sua
os seus direitos respeitados. avaliação.
José1 foi matriculado em janeiro de 2007, Tendo em vista a dificuldade em se ob-
na 6ª série do Ensino Fundamental, em uma ter apoio e soluções junto aos órgãos com-
Escola da Rede Estadual de Ensino em Belo petentes, o aluno, conforme orientações da
Horizonte. Ao ser matriculado, apresentou Inspetora Educacional, passará a freqüen-
um diagnóstico médico do qual consta que tar o Projeto Aluno em Tempo Integral 3 que
o aluno apresenta leve comprometimento
cognitivo, motor e da fala, decorrente de um 2. O aluno foi matriculado nessa Escola Particular de-
vido a uma bolsa que o aluno conseguira, mas que teve
1. Nome fictício, para preservar a identidade do aluno. somente um ano de validade. Trata-se de uma escola
O aluno é filho de pais de idade mais avançada e oriun- que propicia um atendimento mais individualizado,
dos de uma camada social desprivilegiada. Atualmente, com turmas reduzidas.
o pai é vendedor ambulante e a mãe dona de casa. 3. O Projeto Aluno em Tempo Integral não visa ao aten-

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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 2, p. 1-204, ago./dez. 2008 - Semestral
Um caso de inclusão na Rede Pública de ensino: Estamos... Cynthia Loureiro Amorim

acontece na escola no período da manhã. a dois outros colegas e ficar correndo pelo
Segundo a Inspetora, no período em que ele pátio da escola. Envolve-se com freqüência
estivesse no Projeto, este receberia suporte e em discussões, usando palavras de baixo
acompanhamento escolar em relação a lei- calão para ofender as colegas.
tura, interpretação e raciocínio lógico, teria Em conversa informal, a Professora que
a possibilidade de participar de atividades o acompanha no Projeto Escola Integral
que permitem interação e socialização, como acredita que o aluno, em seu tempo, esteja
a dança de rua e a prática esportiva, e de amadurecendo; porém, como se trata de um
desenvolver hábitos saudáveis, como organi- processo lento, pensa ser necessário contar
zação pessoal, higiene, etc. com a ajuda de um profissional competente
Por iniciativa da Supervisora Pedagógi- para que José não perca a motivação e o in-
ca e em acordo com a Inspetora, buscou-se teresse pela aquisição de novos saberes.
o encaminhamento do aluno a um serviço Segundo Charlot (2000),
de psicologia que se dispôs atendê-lo, gra-
tuitamente, para uma avaliação e possível O aluno é também, e primeiramente, uma
acompanhamento. Contudo, a família não criança ou um adolescente, isto é, um sujeito
demonstrou interesse em propiciar ao aluno confrontado com a necessidade de aprender

Revista Eletrônica - “O caso é o seguinte...” Coordenação Pedagógica: Coletânea de Estudos de Casos


estar presente nos horários marcados pela e com a presença, em seu mundo, de conhe-
clínica. O aluno acabou sendo retido na 6ª cimentos de diversos tipos. Um sujeito é um
série. ser humano, aberto a um mundo que não se
Segundo relatório da professora do Proje- reduz ao aqui e agora, portador de desejos,
to, que acompanhou o aluno até o final do 1º movido por esses desejos, em relação com
semestre deste ano, ele ainda apresenta di- outros seres humanos, eles também sujei-
ficuldades em relação à aprendizagem, mas tos; um ser social, que nasce e cresce em
percebe-se algum avanço em relação ao ano uma família (ou em um substituto da famí-
passado, tendo em vista que ele tem realiza- lia), que ocupa uma posição em um espaço
do algumas das tarefas escolares propostas, social, que está inscrito em relações sociais;
fato que não ocorria anteriormente. O aluno um ser singular, exemplar único da espécie
necessita de um prazo muito longo para re- humana, que tem uma história, interpreta
alizar algumas atividades, principalmente as o mundo, dá um sentido a esse mundo, à
de Matemática, tendo havido momentos em posição que ocupa nele, às suas relações
que teve a necessidade de contar os dedos, com os outros, à sua própria história, à sua
mas não se nega em ir ao quadro e fazê-la singularidade [...]. Estudar a relação com o
diante da turma. Quando alguns colegas o saber é estudar esse sujeito enquanto con-
auxiliam, ele as faz em tempo hábil, porém frontado com a necessidade de aprender e a
já ocorreu passar toda a manhã (3 a 4 horas) presença de “saber” no mundo. (CHARLOT,
realizando uma mesma tarefa que foi progra- 2000, p. 34)
mada para 50 minutos. Isso se dá não só
pelas dúvidas em relação ao conteúdo, mas Atualmente, o aluno encontra-se na es-
pelo fato de ele ficar conversando e brincan- cola repetindo a 6ª série e em vias de não
do com os outros, deixando a tarefa de lado. ser aprovado. A Supervisora e a Professora
Os textos por ele produzidos contêm muitos que o acompanhou mostraram-se preocu-
erros ortográficos, muitas palavras são es- padas com a situação do aluno, no entanto,
critas exatamente como ele as pronuncia; no sentem-se impotentes diante da falta de pro-
entanto, apresentam seqüência lógica (ele vidências institucionais.
não “desvia” do assunto e os textos apresen-
tam princípio, meio e fim).
Em relação à disciplina e ao comporta- Referências:
mento, apresenta-se quieto e, muitas vezes,
apático. Não participa de jogos e outras ati- BRASIL. Ministério da Educação. Lei de Di-
vidades em grupos maiores. Prefere unir-se retrizes e Bases da Educação Nacional
9.394/96, 20 dez.1996. Brasília, 1996. Dis-
dimento a alunos com necessidades educacionais espe- ponível em: <http://portal.mec.gov.br/arqui-
ciais. O atendimento deste aluno neste Projeto, segundo vos/pdf/ldb.pdf> Acesso em: 01 nov.2008.
informações da Supervisora, consiste somente numa
forma paliativa, com o objetivo de minimizar o proble-
ma.

40
Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 2, p. 1-204, ago./dez. 2008 - Semestral
Um caso de inclusão na Rede Pública de ensino: Estamos... Cynthia Loureiro Amorim

CHARLOT, Bernard. Da relação com o sa-


ber: elementos para uma teoria. Porto Ale-
gre: Artmed, 2000.
Revista Eletrônica - “O caso é o seguinte...” Coordenação Pedagógica: Coletânea de Estudos de Casos

41
Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 2, p. 1-204, ago./dez. 2008 - Semestral
Artigo 10
Autora:
Daniela Helena Dutra

Graduada em Pedagogia com Ênfase em Ensino Religioso pela PUC Minas

Hiperatividade - TDAH

acompanhamento especializado em clínicas


Resumo psicológicas, mas sempre a mãe resistiu ale-
A hiperatividade ainda é assunto polêmico e que muito gando que a criança era normal.
Revista Eletrônica - “O caso é o seguinte...” Coordenação Pedagógica: Coletânea de Estudos de Casos

se confunde com falta de limite ou agitação do aluno em Hoje, na escola atual em que a criança se
sala de aula bem como com indisciplina. Mas, afinal, o que encontra matriculada, a família foi chamada
retrata a hiperatividade de fato? Este artigo relata o caso várias vezes e a mãe insistia em alegar que
de um menino que apresenta essas características. Rogério era uma criança normal, negando
qualquer forma de violência praticada con-

R
ogério1 é um menino que iniciou a sua tra a criança e contra si mesma.
trajetória escolar em uma creche con- Rogério apresenta um comportamento
veniada pela Prefeitura Municipal de cada vez mais alterado. Partiu para a práti-
Belo Horizonte, aos 3 anos de idade, onde ca de obscenidades com seus amigos dentro
desde então apresentava dificuldades de do banheiro, tendo sido surpreendido. Nova-
concentração nas brincadeiras, expressava mente a mãe foi chamada à escola e forçada
agressividade com os colegas e ficava isolado a levá-lo a um psiquiatra e a um psicólogo.
num canto, tinha dificuldade de socializar A escola já está decidida a fazer denún-
e, em suas brincadeiras individualizadas, cias aos órgãos competentes, já que há
expressava formas de conduta agressivas, também indícios de reações de uso de en-
se colocava em situações de perigo, não ti- torpecentes, marcas de queimaduras entre
nha limite e desobedecia qualquer regra e os dedos, lábios escurecidos e momentos de
combinados. alucinações e olhos avermelhados. A mãe
Atualmente, a criança se encontra ma- rebateu dizendo que a escola estava errada
triculada em uma escola no ensino funda- e que seu filho era normal e que, de forma
mental da rede municipal de Belo Horizonte, alguma, nada de errado estava acontecendo.
cursando a 4ª série. Desde o seu ingresso As suspeitas foram claramente evidenciadas
nessa instituição, inúmeros relatórios foram e confirmadas quando a mãe foi para casa e
feitos para compreender melhor suas atitu- voltou com o pai e o irmão, que ameaçaram a
des e comportamentos. coordenadora de morte caso ela denunciasse
Rogério provém de uma família de classe e ordenaram que ela sumisse da escola. No
média baixa mal estruturada, havendo in- outro dia, apareceu um carro roubado que
dícios de violência doméstica, maus tratos foi incendiado atrás do muro que ficava bem
e uso de entorpecentes pelo seu irmão e próximo ao complexo da sala de Rogério. A
grande suspeita de essa criança ser também coordenadora entendeu que seria um aviso
vitima de abuso sexual. É o segundo filho e e pediu afastamento, transferência e nunca
sua mãe apresenta medo, resistência em de- mais retornou para a instituição.
nunciar ou aceitar qualquer um desses fatos A criança continuou pior porque sente
ou evidências. que tem poder, quebra todas as regras, im-
Durante este estudo de caso, foi observa- põe ameaças, furta seus amigos, não con-
do que inúmeras vezes a coordenadora da centra nas suas atividades, está altamente
creche buscou acompanhamento da família, agressiva.
teve várias cobranças e até indicações para Outra coordenadora assumiu o caso e de-
terminou que, se os pais não se propuses-
1. Nome fictício, para preservar a identidade do aluno.

43
Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 2, p. 1-204, ago./dez. 2008 - Semestral
Hiperatividade - TDAH Daniela Helena Dutra

sem a buscar ajuda e tratamento para Ro- possam, de alguma forma, desenvolver suas
gério, ele não poderia ficar mais na escola. habilidades motoras, perceptivas, em levan-
Exigiu um laudo médico de psicólogos e pe- tar a sua auto-estima. É feito um trabalho
diatras. A mãe foi forçada a buscar recur- para incluir este aluno no ambiente escolar.
sos, porque Rogério oferecia riscos para os A escola cobra dos órgãos competentes
alunos e contra si mesmo. Inúmeras vezes parcerias e busca interlocução com espe-
tentou pular da janela do 2º. andar, se en- cialistas no ramo da medicina que possa
forcar com a própria blusa, subir na cartei- favorecer o desenvolvimento do aluno, e me-
ra e pular, além de agredir violentamente os lhor compreender o seu universo, já muitos
colegas. A mãe procurou por especialistas e professores ainda apresentam despreparo
apresentou um relatório do qual consta que para lidar com alunos com distúrbios hi-
esta criança apresenta hiperatividade consi- perativos associados com falta de limite e
derada leve. O relatório foi emitido por um indisciplina.
psicólogo da rede pública de Belo Horizonte Cabe à família compreender e apoiar as
que faz atendimento ao Centro de Referência intervenções, valorizar a aprendizagem e
da Infância e do Adolescente (CRIA). proporcionar uma parceria com a escola para
Entende-se que Rogério, apesar do dis- a educação e reeducação comportamental

Revista Eletrônica - “O caso é o seguinte...” Coordenação Pedagógica: Coletânea de Estudos de Casos


túrbio, não tem limites em casa, vive em um de seu filho, para que assim ele consiga ter
ambiente hostil, presencia violência de vá- avanços cognitivos mais significativos.
rias formas e comportamentos inadequados À coordenação cabe buscar sua auto-for-
que se refletem também em suas ações em mação e a formação dos docentes em relação
sala de aula ou fora dela. à hiperatividade, orientar e promover a bus-
São inúmeras as queixas de todos os pro- ca de conhecimentos específicos que retra-
fessores que não conseguem trabalhar com tem também a inclusão dessas crianças com
a questão da hiperatividade e da indiscipli- TDAH2 e outros distúrbios mentais.
na, além de temerem ameaças que a família
possa fazer diante de certas situações e em
suas intervenções. Referências:
Rogério não tem o material organizado,
gesticula o tempo todo, agride, grita, aten- ALVES, Rubem. Educação dos sentidos e
ta contra a própria vida, furta os colegas, mais... Campinas (SP): Ed Verus, 2005.
transforma todas as aulas em um caos.
Atualmente, estava sendo assistido por uma AQUINO, Júlio Groppa. Diferenças e pre-
estagiária, mas que se afastou porque so- conceitos na escola: alternativas teóricas e
freu várias agressões físicas causadas por práticas. São Paulo: Ed. Summus, 1998.
ele. Das poucas atividades que consegue
fazer, é visível a falta de concentração, a MORAES, A.M.P. Distúrbios da aprendiza-
irritabilidade e o nervosismo; os trabalhos gem: Uma abordagem psicopedagógica. São
são apresentados com baixíssima qualidade Paulo: EDICON, 1997.
cognitiva. Gosta apenas de uma professora
que procura dar-lhe mais carinho, atenção e
afeto, permitindo com que o aluno crie maior
interesse em fazer alguma atividade em sua
aula, mas nem sempre isso é possível.
A coordenação já tentou várias vezes fa-
zer intervenções que pudessem auxiliar no
desenvolvimento de Rogério, mas pouco pode
intervir, porque a mãe não aceita.
Quase todos os dias Rogério é encami- 2. TDAH – Transtorno Déficit de Aprendizagem e Hip-
nhado à coordenação para fazer suas ativi- eratividade. A Hiperatividade não é uma doença, é
um transtorno neurobiológico, inicialmente vinculado
dades e também para que os seus colegas
a uma lesão cerebral mínima. caracterizando-se como
não sejam prejudicados por sua indisciplina uma síndrome de conduta, tendo como sintoma pri-
e falta de limite. mordial a atividade motora excessiva. Existe também o
A coordenadora pedagógica muito insiste Distúrbio do déficit de atenção sem hiperatividade. O
em compreender o universo da criança, em transtorno nasce com o indivíduo e já aparece na peque-
na infância, quase sempre acompanhando o indivíduo
buscar novas estratégias de trabalho que
por toda a sua vida.

44
Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 2, p. 1-204, ago./dez. 2008 - Semestral
Artigo 11
Autora:
Edna Rodrigues dos Santos Dourado

Graduada em Pedagogia com Ênfase em Ensino Religioso pela PUC Minas

Hiperatividade: pais resistentes a esse transtorno

tação (ou hiperatividade) e a impulsividade.


Resumo Procurei saber da professora regente do
O presente artigo tem por objetivo apresentar um estudo aluno se ela tinha conhecimento dessas
Revista Eletrônica - “O caso é o seguinte...” Coordenação Pedagógica: Coletânea de Estudos de Casos

de caso realizado em uma escola pública, com um aluno informações sobre o Conrado. A professora
na fase introdutória que faz acompanhamento especiali- relatou que, desde abril deste ano (2008), os
zado desde os 3 anos, com diagnóstico de Transtorno de pais do aluno foram convocados várias vezes
Déficit de Atenção/Hiperatividade. Os pais têm muita pela coordenadora pedagógica a comparecer
resistência em aceitar que o filho sofra desse distúrbio. à escola para conversar sobre o comporta-
mento de Conrado, não tendo obtido nenhu-

C
onrado1 tem 7 anos, freqüenta a fase ma resposta positiva dos pais. A professora
introdutória do Ensino Fundamental ressalta que a tia era sempre resistente a dar
em uma escola pública da rede muni- qualquer informação sobre ao aluno.
cipal de Contagem. Numa conversa informal A coordenadora pedagógica, no entan-
com a tia do aluno, em setembro deste ano, to, insatisfeita com o descaso e a ausência
fui informada de que ele está em acompanha- dos pais, procurou o Centro de Educação
mento psicológico desde os 3 anos de idade, Infantil Pequeno Aprendiz, onde o aluno
tendo sido encaminhado pela coordenadora havia estudado, para saber informações ao
pedagógica do Centro de Educação Infantil seu respeito. De posse das informações, a
Pequeno Aprendiz (CEPA)2, pois apresentava coordenadora pedagógica da escola munici-
os seguintes sintomas: freqüente dificuldade pal acionou o Conselho Tutelar para juntos
em manter a atenção em tarefas e jogos; não dialogarem com os pais e tentarem ajudar o
escutava quando lhe falavam diretamente; Conrado.
dificuldade em organizar tarefas e atividades; Logo após a visita ao Conselho Tutelar, a
distraía facilmente por estímulos externos, mãe do aluno compareceu na escola, com to-
abandonava sua cadeira em sala de aula, ou dos os relatórios médicos do aluno. A partir
em outras situações nas quais se esperava desse momento, a escola teve conhecimento
que permanecesse sentado; corria e escalava de que os pais tinham resistência em aceitar
em demasia, nas situações inapropriadas que o filho tem o Transtorno de Déficit de
(sensação de inquietação); apresentava difi- Atenção/Hiperatividade, que fora diagnosti-
culdade para brincar ou se envolver silencio- cado por uma avaliação interdisciplinar en-
samente em atividade de lazer e dificuldade volvendo neurologista infantil, psicólogo, pe-
para aguardar sua vez. diatra e um psicopedagogo que, dentro dos
A partir desses relatos, me interessei em seus conhecimentos e práticas, traçaram
estudar o caso do aluno, pois percebi que, metodologias para minimizar o transtorno
provavelmente, se tratava de TDAH. Segundo em prol da saúde do Conrado. Porém, os pais
Rohde (2006, p. 235-250), o Transtorno de não estavam levando o filho regularmente
Déficit de Atenção/Hiperatividade, que pas- às consultas especializadas, desde março de
saremos a designar apenas pela sigla TDAH, 2007. O que agravou o estado aluno.
é um problema de saúde mental que tem três Diante disso, a coordenadora pedagógica,
características básicas, a desatenção, a agi- a professora regente e eu, após observações
feitas do Conrado e estudos sobre o diag-
1. Nome fictício, para preservar a identidade do aluno.
nóstico de TDAH, esclarecemos para mãe
2. Nome fictício, para preservar a identidade da escola.

45
Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 2, p. 1-204, ago./dez. 2008 - Semestral
Hiperatividade: pais resistentes a esse transtorno Edna Rodrigues dos Santos Dourado

que, segundo o autor Kunrath, Wagner e ações; sinalizar com o tempo quando o alu-
Jou (2006), cerca de 5 a 8% das crianças em no deve parar ou esperar sua vez.
idade escolar (mais ou menos de 5 a 10 anos Não existe proposta de intervenção pron-
de idade), apresentam hiperatividade e/ou ta para esse transtorno, o que precisa acon-
déficit de atenção. E que, antes de quatro ou tecer é um trabalho efetivo em grupo, com
cinco anos, não se deve fazer o diagnóstico, cada membro responsável fazendo a sua
pois o comportamento das crianças nesse parte. Esse trabalho em grupo não envolve
período é muito variável, e a atenção não é somente os professores, mas toda a escola e,
tão exigida quanto de crianças mais velhas. principalmente, a família.
Mesmo assim algumas crianças desenvol- Percebi que, após essas orientações e o
vem o transtorno precocemente. E que, em auxilio dado à professora, o aluno teve uma
termos de gênero, o sexo masculino é de melhora significativa no seu comportamento
quatro a nove vezes mais afetado do que o e na aprendizagem.
feminino. Assim, vale ressaltar que, se esse distúrbio
A mãe do Conrado, logo após os esclareci- não for tratado adequadamente na infância,
mentos sobre o transtorno que o filho sofre, pode deixar seqüelas na fase adulta. Em al-
se emocionou e pediu ajuda para saber como guns casos, o TDAH pode vir acompanhado

Revista Eletrônica - “O caso é o seguinte...” Coordenação Pedagógica: Coletânea de Estudos de Casos


trabalhar o problema sofrido pelo filho. A de outros distúrbios que podem prejudicar
coordenadora juntamente com a professora, em muito o desenvolvimento do aluno. É de
disse que primeiro ela tinha que aceitar as grande importância que pais e professores
dificuldades e limitações do filho, pois todos conheçam esse transtorno, bem como outros
nós temos limitações, e que a organização distúrbios, a fim de trabalharem em prol da
escolar iria proporcionar procedimentos saúde dos seus alunos.
para minimizar as dificuldades do aluno,
mas que ela teria que assumir a responsa-
bilidade de levar o Conrado nas consultas, Referências:
regularmente.
Diante, do caso, fica claro que tanto o http://www.tdah.org.br. Acesso em 10 de
professor quanto o coordenador devem estar maio de 2008.
preparados para orientar, seja com os proce-
dimentos com o aluno seja na orientação à JOU, Graciela Y. de; WAGNER, Adriana;
família. Os profissionais precisam atualizar KUNRATH, Letícia Hoffmann. A educação dos
sempre seus conhecimentos para desenvol- filhos com transtorno de déficit de atenção e
verem bom trabalho, que é de extrema im- hiperatividade: O que fazer? Psicologia em
portância por se tratar de “pessoas”, de algo Revista, Belo Horizonte, v. 12, n. 20, p. 235-
que terá grande repercussão num futuro 250, dez. 2006.
bem próximo, ou seja, no crescimento e no
desenvolvimento do sujeito. Por isso, quanto PRETY, Arlete dos Santos; SILVA, Cléber Ri-
mais cedo ocorrerem às intervenções melhor beiro Álvares da; TRAVI, Marilene G. Gomes.
será para o aluno. Dessa forma, a partir Hiperatividade: características e procedimen-
de Prety (1999), foram sugeridas algumas tos básicos para amenizar as dificuldades.
ações à professora regente do Conrado, para Revista do Professor, Porto Alegre, n. 15, p.
que se construa uma relação mais positiva 47-48, abr./jun. 1999.
com elogios e valorizações e se possa ajudar
nas situações de dificuldades: trabalhar a ROHDE, L. A. et al. Transtorno de déficit de
concentração; ajudá-lo a melhorar seu com- atenção/hiperatividade. Revista Brasileira
portamento social e interações familiares; de Psiquiatria, v. 22, n. 2, p. 1-16, 2000.
reduzir ao mínimo os estímulos em sala de
aula; evitar deixar que portas de armários
na sala de aula fiquem abertas para impe-
dir que os materiais que ali estão, com suas
cores e formas, chamem atenção do aluno;
o aluno deve se assentar longe das portas e
janelas, para reduzir a dispersão; falar de-
vagar, pausadamente; usar um tom de voz
amigável; mostrar um ritmo organizado nas

46
Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 2, p. 1-204, ago./dez. 2008 - Semestral
Artigo 12
Autora:
Eliane Conceição Braga Narciso

Graduada em Pedagogia com Ênfase em Ensino Religioso pela PUC Minas

A escola e a família

Ao iniciar ano letivo de 2008, a coordena-


Resumo dora juntamente com a professora preparou
O presente artigo tem como objetivo apresentar um estu- um projeto de intervenção, em que o objetivo
Revista Eletrônica - “O caso é o seguinte...” Coordenação Pedagógica: Coletânea de Estudos de Casos

do de caso realizado em uma escola pública, situada em seria alfabetizar a aluna. Devido a essa in-
uma área de risco, com uma aluna do ensino fundamental, tervenção, Alice está bem melhor, mas ainda
de 11 anos, que ainda não sabe ler e escrever, sem acompa- continua com seus limites na leitura e na
nhamento da família, e que somente agora, no final do ano escrita.
de 2008, está sendo alfabetizada. Segundo a professora, ela demonstra in-
teresse em aprender, pois sempre pergunta

A
lice1 sempre foi aluna de escola públi- quando há dúvidas, mas, para a educadora,
ca, tendo sido matriculada na escola o acompanhamento de um fonoaudiólogo é
atual no segundo semestre de 2007. de grande importância, pois se percebeu que
Ao chegar nesta escola e ser diagnostica- há dificuldades em suas falas.
da para a enturmação, percebeu-se que ela Segundo Tiba (2002), o problema atual
não havia sido alfabetizada. dos nossos educandos é a falta de motivação
A coordenadora chamou a mãe para ob- para estudar. Alguns perguntam: Estudar
ter informações sobre a aluna, saber quais para quê? Para passar de ano? Para ganhar
os motivos da transferência e conhecer o presente?
ambiente fora da escola. Obteve somente Segundo Martins (1986, p. 10),
justificativas de que a mãe naquele dia não
poderia ir, pois estava trabalhando. A escrita e a leitura são importantes na es-
Segundo TELES (1993, p.32 e 33), cola para uma motivação permanente, que
dará condições futuras aos educandos em
Outrora família e escola se completavam, participar das grandes tradições da histó-
se davam as mãos, se aliavam em relacio- ria da humanidade comparando suas idéias
namento na defesa e orientação da criança, com as dos outros, organizando e reorgani-
fosse o estabelecimento público ou privado. zando sua visão do mundo.
No mundo técnico de hoje, mais inseguro
e violento, com sérias e profundas crises O papel da escola é fazer com que as
econômicas e mudanças de valores, em que crianças e os adolescentes tenham o desejo
nos encontramos, o contato dos pais com a e o gosto pelo estudo, para que aos poucos
escola se faz de maneira fugaz. eles possam se apropriar do conhecimento,
aguçar a sua curiosidade e buscar novos
Por ser final do ano letivo e perceber a conhecimentos. E isso não é possível se não
situação da aluna, a coordenadora reprovou houver uma parceria entre a escola e a famí-
a aluna, pois não havia sentido promovê-la lia. Essa interação certamente resultará em
para série seguinte na situação em que ela ganho para os alunos.
estava, uma vez que a mesma não apresen-
tava nenhum tipo de distúrbio que precisas-
se da interferência de outros profissionais
qualificados.
1. Nome fictício, para preservar a identidade da aluna.

47
Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 2, p. 1-204, ago./dez. 2008 - Semestral
A escola e a família Eliane Conceição Braga Narciso

Referências:
TELES, José Francisco de Sá. Pedagogia Fa-
miliar. Salvador: Janamá, 1993.

TIBA, Içami. Quem ama, educa! São Paulo:


Gente, 2002.

Revista Eletrônica - “O caso é o seguinte...” Coordenação Pedagógica: Coletânea de Estudos de Casos

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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 2, p. 1-204, ago./dez. 2008 - Semestral
Artigo 13
Autora:
Elisângela Patrícia Correa Lopes

Graduada em Pedagogia com Ênfase em Ensino Religioso pela PUC Minas

TDAH: uma justificativa confortável e inconsequente

aprenda no ritmo dos demais.


Resumo Segundo a psicopedagoga Isabel Parolin,
Este artigo faz uma análise sobre os vários diagnósticos para diagnosticar o TDAH é preciso obser-
Revista Eletrônica - “O caso é o seguinte...” Coordenação Pedagógica: Coletânea de Estudos de Casos

de TDAH usados como uma justificativa confortável var os seguintes sintomas que são: esquecer
para o fracasso escolar. objetos com muita freqüência, falar exces-
sivamente, distrair-se com facilidade e ter

O
Transtorno de Déficit de Atenção e extrema dificuldade de organização.
Hiperatividade (TDAH) tem sido con- O diagnostico do TDAH geralmente é feito
siderado o transtorno neurocompor- a partir dos sete anos de idade e a maioria
tamental mais comum da infância e a condi- dos diagnósticos é feita com base nos sinto-
ção de doença crônica com maior prevalência mas clínicos relatados por pais e professores
na idade escolar. e interpretados por um pediatra, psicólogo,
Em análise de um estudo de caso reali- neurologista ou psiquiatra.
zado em uma escola Municipal de Conta- No entanto, esse diagnóstico muitas vezes
gem – MG, podem-se formular os seguintes é superficial. Muitos alunos são encaminha-
questionamentos: dos com a intenção de se achar uma doença
que justifique dificuldades de aprendizagem
a) Será o TDAH apenas um rótulo dado pelos e a falta de autoridade e paciência dos pais.
professores aos alunos com indisciplina?
A psicopedagoga Maria Cristina Natel
b) Quais são os sintomas do TDAH e como é afirma que, nos casos mais graves, as anfe-
feito seu diagnóstico? taminas são remédios mais adequados para
diminuir a falta de atenção e a agitação.
c) Qual criança precisa de remédios e como As anfetaminas agem em uma área muita
eles agem no cérebro? delicada, o sistema nervoso central, e, de
Há pelo menos duas décadas, a professora maneira semelhante à cocaína, aumenta a
Cecília Collares e a pediatra Maria Apareci- atividade cerebral.
da Affonso Moysés afirmam que professores Ao observar o aluno que foi objeto do
e diretores adoram atribuir o fracasso esco- estudo de caso numa escola municipal de
lar a questões de saúde (Moysés e Collares, Contagem, percebia-se que ele, no dia em
1992). Muitos alunos têm sido tachados de que não fazia uso do remédio, demonstrava
incapazes por não terem disciplina e são con- forte inquietação e desatenção, mas, a meu
denados a tomarem remédios fortíssimos. ver, nada que identificasse hiperatividade,
Em pesquisas realizadas em 2006 pelo ao passo que, nos dias em que fazia uso do
Instituto de Saúde de São Paulo, constatou- medicamento, tinha sintomas de prostração,
se que mais de 50% dos encaminhamentos parecia estar dopado.
que chegam à rede pública de saúde não Muito cuidado se deve ter antes de se fir-
passam de reclamações de dificuldade de mar um diagnóstico tão sério quanto esse.
aprendizagem. Dar um diagnóstico de TDAH superficial-
Diagnosticar um aluno com TDAH tornou- mente, apenas para justificar nosso fracasso
se banal e para o professor é um conforto como educadores, pode trazer conseqüên-
diagnosticar o aluno com hiperatividade, já cias que marcarão o aluno para o resto da
que ele não consegue fazer com que o aluno vida. É preciso avaliar os efeitos colaterais

49
Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 2, p. 1-204, ago./dez. 2008 - Semestral
TDAH: uma justificativa confortável e inconsequente Elisângela Patrícia Correa Lopes

dos remédios e trazer a realidade para perto


de nós: e se fosse comigo ou com meu fi-
lho? Com certeza pensaríamos duas vezes
antes de um diagnóstico e de uma terapia
medicamentosa.
Como diz a psicopedagoga Isabel Paro-
lin, “Não há remédio que substitua um bom
professor”. Acredito que colocar esse aluno
mais perto e dar constantes estímulos e ati-
vidades diferenciadas capazes de explorar
todos os sentidos e nunca promover tarefas
extremamente longas são ações a serem em-
preendidas buscando envolver o aluno.
Por fim, devemos, acima de tudo, compre-
ender que o mundo está agitado, que a velo-
cidade das informações aumenta a cada dia
e que as crianças são reflexos desse ritmo.

Revista Eletrônica - “O caso é o seguinte...” Coordenação Pedagógica: Coletânea de Estudos de Casos


Referências:
COMPRIMIDOS EM EXCESSO. In: Nova
Escola. São Paulo. Fundação Victor Civita.
2007, n. 202, p. 36-42.

LOPES, Eliane Maria Teixeira. A psicanálise


escuta a educação. Belo Horizonte: Autênti-
ca, 2001.

50
Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 2, p. 1-204, ago./dez. 2008 - Semestral
Artigo 14
Autora:
Janaína Duarte Andrade de Oliveira

Graduada em Pedagogia com Ênfase em Ensino Religioso pela PUC Minas

O autista na escola regular

elas. Não era possível estabelecer um diálo-


Resumo go com a Tainá, ela apenas repetia algumas
O artigo aborda a realidade de uma aluna com diagnósti- palavras ditas por qualquer pessoa.
Revista Eletrônica - “O caso é o seguinte...” Coordenação Pedagógica: Coletânea de Estudos de Casos

co de autismo. Aos cinco anos, ela é inserida no contexto A professora, juntamente com a diretora
escolar de uma escola pública de educação infantil e nessa e a supervisora, iniciou um trabalho para
experiência vão surgir muitos desafios para equipe peda- acolher Tainá de forma favorável ao seu bem
gógica. estar e a seu desenvolvimento. A mãe de
Tainá conseguiu um acompanhamento com

E
m uma escola pública de Belo Ho- psicólogo e, por isso, a aluna precisava se au-
rizonte, foi matriculada uma aluna sentar da escola uma vez na semana. Diante
diagnosticada como autista. A mãe desses desafios, algumas medidas foram to-
de Tainá1 procurou a escola, uma vez que madas para que a socialização de Tainá fos-
descobriu que a filha tinha o direito de estu- se possível, de forma a contribuir também
dar em uma escola regular e, além disso, ne- com o seu desenvolvimento intelectual.
cessitava trabalhar. Tainá, com cinco anos, Primeiramente, já era garantida à Tainá a
demandava uma atenção especial da mãe, presença constante de uma estagiária con-
então não seria possível trabalhar fora nem tratada pela escola. A estagiária fica o tempo
resolver os problemas do cotidiano da vida. todo com ela durante sua permanência na
A equipe pedagógica da escola se deparou escola. A sua adaptação com a estagiária
com essa realidade e com um grande desa- foi tranqüila e se acostumou a realizar as
fio no seu contexto. Para se sentirem mais atividades dentro dos seus limites Era per-
preparados para essa nova realidade, se dis- mitido que Tainá trouxesse o seu lanche de
puseram a participar de um curso oferecido casa e se alimentasse na sala separada das
pela prefeitura sobre o autismo. A professora outras crianças. Ela podia sair da sala algu-
de Tainá começou a estudar mais profun- mas vezes, devido ao fato de ter dificuldade
damente o assunto e, observando sua alu- de estar em um ambiente fechado durante
na, percebeu que ela apresentava sintomas muito tempo.
e atitudes realmente características desse Na entrada da escola, era permitido que
diagnóstico. Tainá chegasse um pouco mais tarde. Ela
Para Tainá era difícil se aproximar das conseguia realizar algumas atividades como
pessoas, não conseguia ficar muito tempo colorir e pintar. O único fato preocupante
dentro de um ambiente fechado e queria para a equipe pedagógica foi a questão de
ficar andando pela escola. Às vezes, ela sol- Tainá ter que mudar de escola devido à sua
tava gargalhadas sem motivos aparentes e idade no próximo ano escolar e, novamente,
fazia ruídos bem característicos dela. Ficava terá que se adaptar a uma nova escola e uma
durante muito tempo sobre a ponta dos pés, nova equipe enfrentará esse novo desafio.
como se fosse um vôo de uma borboleta. Ela Diante dessa experiência, constatou-se
não conseguia comer a merenda da escola e que, apesar de tantas mudanças e do esfor-
tinha crises de choro sem motivo aparente. ço contínuo da equipe pedagógica, foi possí-
Ela se assustava com as outras crianças e vel inserir na escola regular uma aluna com
não conseguia se manter muito próxima a necessidade especial e com diagnóstico tão
desafiador. Toda a escola se interessou e se
1. Nome fictício, para preservar a identidade da aluna.

51
Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 2, p. 1-204, ago./dez. 2008 - Semestral
O autista na escola regular Janaína Duarte Andrade de Oliveira

envolveu com a situação de Tainá e, de algu-


ma forma, contribuiu para o seu desenvol-
vimento, lhe assegurando não somente seu
desenvolvimento intelectual, mas também
convívio social.

Referências:
ELLIS, Kathryn. Autismo. Rio de Janeiro: Re-
vinter, National Autistic Society, 1996. 181p.

GAUDERER, E. Christian. Autismo. 3. ed.


São Paulo: Atheneu, 1993. 192p.

PERISSINOTO, Jacy; TAMANAHA, Ana Cari-


na; PEDROMÔNICO, Márcia Regina Marcon-

Revista Eletrônica - “O caso é o seguinte...” Coordenação Pedagógica: Coletânea de Estudos de Casos


des. Autismo. São José dos Campos: Pulso.
2003, 65p.

52
Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 2, p. 1-204, ago./dez. 2008 - Semestral
Artigo 15
Autora:
Lílian Maria Reis da Silva

Graduada em Pedagogia com Ênfase em Ensino Religioso pela PUC Minas

A Dislexia na escola

que ela se sinta valorizada e estimulada


Resumo para a aprendizagem.
A dislexia é definida como um distúrbio ou transtorno Acreditamos que há muitos elementos
Revista Eletrônica - “O caso é o seguinte...” Coordenação Pedagógica: Coletânea de Estudos de Casos

de aprendizagem na área da leitura, escrita e soletra- que precisam ser explorados e conhecidos
ção, diagnosticada geralmente no início do processo de para o trabalho com a criança disléxica. O
alfabetização. A criança com suspeita de dislexia deve passo inicial é promover uma aula dinâmi-
ser avaliada pela equipe multidisciplinar, composta por ca que estimula a criatividade e desenvol-
profissionais de diversas áreas. Após seu diagnóstico, ve uma habilidade para lidar melhor com
o professor deve usar diferentes meios e estratégias de problemas. Utilizando métodos adequados
ensino, objetivando uma melhoria da aprendizagem do de tratamento e com atenção e carinho, a
aluno com dislexia. Não é o aluno que necessita se adap- dislexia pode ser superada, possibilitando à
tar à apreensão do conhecimento, mas o sistema escolar criança a obtenção de conhecimentos.
necessita se moldar ao problema, buscando, juntamente Considerando os inúmeros fatores que
com os pais, diferentes estratégias para que se objetive o intervêm na problemática do processo de en-
processo de ensino-aprendizagem da criança. A compre- sinar e aprender, abordaremos neste artigo
ensão e a parceria são essenciais para garantir o futuro a “dislexia”. O tema surgiu durante a reali-
dessas crianças. zação do Estágio Curricular Supervisiona-
do, no Curso Normal Superior, Licenciatura

A
dislexia é um dos distúrbios da apren- para Anos Iniciais do Ensino Fundamental,
dizagem mais comuns encontrados quando observamos um elevado número de
nas escolas. Muitas vezes, por falta crianças com dificuldades de aprendizagem,
de informação por parte do professor ou principalmente na leitura e escrita. Através
pela inexistência de materiais adequados da pesquisa, procuraremos conhecer e tra-
para trabalhar, a criança disléxica é cha- balhar com diferentes estratégias de ensino
mada de preguiçosa, pouco inteligente e com os alunos que apresentaram essa difi-
indisciplinada. culdade nas observações realizadas.
Segundo DROUET (1995, p. 154), Acreditamos que, ao pesquisar as cau-
sas e conseqüências da dislexia, bem como
atualmente, qualquer distúrbio de lingua- o seu diagnóstico, o professor facilitará o
gem apresentado pela criança é tachado trabalho em sala de aula e conhecerá o de-
como dislexia, tanto pelos pais como pelos senvolvimento cognitivo da criança disléxi-
professores. O problema, entretanto, nem ca, objetivando uma orientação para melhor
sempre está na criança e sim nos processos aprendizagem. Dessa forma, com diferen-
educacionais – sob a responsabilidade pa- tes estratégias de ensino e aprendizagem,
terna – ou nos processos de aprendizagem se conseguirá a motivação e a vontade de
sob o encargo da escola. aprender sempre mais.

Cabe aos pais procurar a escola e, junta-


mente com os professores, trabalhar de ma- Dislexia: causas e conseqüências
neira adequada o conteúdo escolar para não
desmotivar a criança que possui dislexia. A Dislexia se define como sendo uma difi-
Faz-se necessário dar muita atenção para culdade na leitura e na escrita. Na atualida-

53
Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 2, p. 1-204, ago./dez. 2008 - Semestral
A Dislexia na escola Lílian Maria Reis da Silva

de, a definição mais usada é de que a dislexia oftalmologistas e outros, conforme o caso.
é um dos diversos distúrbios de aprendiza- Para diagnosticar se o aluno é portador
gem, ela não é considerada uma doença, da dislexia, é necessário descartar alguns
portanto, não se deve falar em cura. fatores muito comuns em sala de aula, tais
Desde a pré-escola, é preciso que o pro- como: dificuldades auditivas e visuais, le-
fessor preste atenção em alguns sintomas sões cerebrais (congênitas ou adquiridas),
que a criança pode apresentar como: falta falta de afetividade, fracasso escolar e a hi-
de atenção; incapacidade de brincar com ou- peratividade. Depois de descartados todos
tras crianças; atraso no desenvolvimento da esses fatores, com a ajuda de profissionais
fala e escrita e no desenvolvimento visual; especializados, é necessário conhecer o pa-
falta de coordenação motora; dificuldade em recer da escola, dos pais e levantar o histó-
aprender cantigas rimadas; falta de interes- rico familiar e o desenvolvimento do aluno
se em materiais impressos entre outros. desde sua concepção.
A Associação Brasileira de Dislexia tem Tratado em tempo, o disléxico pode con-
registros de que cerca de 10 a 15% da popu- tornar sua dificuldade na leitura e na escri-
lação mundial tem dificuldade na aprendi- ta, mas não deixará de ser disléxico. Proce-
zagem, sendo que a maior incidência dessa dimentos didáticos adequados possibilitam

Revista Eletrônica - “O caso é o seguinte...” Coordenação Pedagógica: Coletânea de Estudos de Casos


dificuldade em nossas salas de aula não se ao aluno vir a desenvolver todas as suas
deve à má alfabetização, desatenção, condi- aptidões, que são múltiplas. Através da his-
ção socioeconômica ruim ou baixa inteligên- tória, temos conhecimento de pessoas que,
cia, mas por esses registros apresentarem apesar dos problemas, se tornaram pessoas
um quadro disléxico. A dislexia, sem causa ilustres: Leonardo da Vinci e Tom Cruise,
definida, é um problema neurológico, genéti- Einstein e Nelson Rockfeller, Hans Christian
co e, geralmente, hereditário caracterizando- Andersen e Agatha Christie, Airton Senna
se pela dificuldade acentuada na leitura, es- entre muitos outros.
crita, soletração e ortografia. Normalmente Muitas dúvidas sobre a dislexia fazem
diagnosticada durante a alfabetização, ela é com que passem a existir muitas informa-
responsável por altos índices de repetência e ções que, muitas vezes, confundem os pro-
abandono escolar. fessores e pais ao invés de informar. A mídia,
Segundo Poppovic (1981, p. 29), no Brasil, as poucas vezes que aborda o as-
sunto, somente o faz de maneira parcial ou
a fala, a leitura e a escrita não podem ser inadequada e, ainda, fora do contexto global
consideradas como funções autônomas e das descobertas atuais da Ciência.
isoladas, mas sim como manifestações de
um mesmo sistema, que é o sistema funcio-
nal de linguagem. A fala, a leitura e a escrita Considerações finais
resultam do harmônico desenvolvimento e
da integração das várias funções que servem Já existem professores preocupados com
de base ao sistema funcional da linguagem a aprendizagem de todos os alunos, incluin-
desde o início de sua organização. do os com necessidades educacionais espe-
ciais. Por isso buscam aperfeiçoar-se cada
Antes de atribuir a dificuldade de leitura vez mais através de leituras, cursos, pales-
à dislexia, os pais e professores deverão des- tras, etc. objetivando um maior conhecimen-
cartar os fatores a seguir, juntamente com to acerca da diferentes dificuldades e distúr-
um parecer clínico: imaturidade para apren- bios que acometem a maioria dos alunos.
dizagem; problemas emocionais; métodos Cada vez mais é dever do professor bus-
defeituosos de aprendizagem; ausência de car aperfeiçoar-se para trabalhar com to-
cultura; incapacidade geral para aprender. dos os tipos de alunos. Faz-se necessário
Para fazer um trabalho de qualidade com que o professor conheça os diferentes tipos
o aluno portador de dislexia, a escola deve de problemas de aprendizagem que podem
ter uma equipe multidisciplinar, formada aparecer em uma sala de aula: quais são,
por psicólogos, fonoaudiólogos e psicopeda- como diagnosticá-los, o que fazer, como tra-
gogos clínicos, os quais devem iniciar uma balhar com a criança e quais as estratégias
minuciosa investigação para diagnosticar o e recursos disponíveis para transmitir o
distúrbio e verificar a necessidade do parecer conhecimento para esse ser que tem direi-
de outros profissionais, como neurologistas, to de aprender como os demais. Mas ainda

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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 2, p. 1-204, ago./dez. 2008 - Semestral
A Dislexia na escola Lílian Maria Reis da Silva

há um problema acerca desse assunto, pois POPPOVIC, A.M.; GOLUBI, G.M. Prontidão
existe pouca coisa escrita sobre a maioria para a alfabetização: programa para o de-
dos problemas de aprendizagem que afetam senvolvimento de funções específicas. São
as crianças, especialmente no início da al- Paulo: Veto, 1966.
fabetização, bem como, a mídia dá pouco
destaque ao assunto.
O diagnóstico demora muito a ser reali-
zado pelo especialista na área, devido à bu-
rocracia que existe no Brasil, pois a lei diz
que não se pode avaliar uma criança que
esteja cursando a pré-escola. Mesmo que o
professor detecte que seu aluno possua um
problema, este só poderá ser encaminhado
para uma avaliação psicopedagógica após
dois anos de freqüência na sala de aula, ou
seja, no término da Primeira Série ou início
da Segunda Série, mesmo assim ele ainda
Revista Eletrônica - “O caso é o seguinte...” Coordenação Pedagógica: Coletânea de Estudos de Casos

necessita ser avaliado pela equipe multi-


disciplinar da escola, que diagnosticará o
problema e, em seguida, pedirá a avaliação
de um especialista na área, o neurologista.
Esse processo é muito demorado, pois há
crianças que terminam o ensino fundamen-
tal e o problema não foi solucionado por falta
de comprometimento de alguns profissionais
que deveriam auxiliar os docentes, mas, em
alguns momentos, atrapalham o bom enca-
minhamento do processo escolar.

Referências:
CONDEMARIN, M.; BLOMQUIST, M. Disle-
xia: manual de leitura corretiva. Porto Alegre:
Artes Médicas, 1986.

DROUET, Ruth Caribé da Rocha. Distúrbios


da Aprendizagem. São Paulo: Editora Ática,
1995.

GAGNÉ, R.M. Como se realiza a aprendiza-


gem. Rio de Janeiro: Livros Técnicos e Cien-
tíficos, 1967.

OLIVEIRA, G.C. Psicomotricidade: educação


e reeducação num enfoque psicopedagógico.
9. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 1997.

PALACIOS, M. (org). Desenvolvimento psi-


cológico e educação. Porto Alegre: Artes Mé-
dicas, 1995.

POPPOVIC, A.M. Alfabetização: disfunções


psiconeurológicas. 3. ed. São Paulo: Vetor,
1981.

55
Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 2, p. 1-204, ago./dez. 2008 - Semestral
Artigo 16
Autora:
Lucimary Marçal Pereira

Graduada em Pedagogia com Ênfase em Ensino Religioso pela PUC Minas

Déficit de atenção e hiperatividade: um estudo de caso

sora e os colegas. A criança tem interesse pe-


Resumo los estudos, gosta de cantar música infantil
Este estudo de caso teve como objetivo observar a prática que envolva números ou animais. A criança
Revista Eletrônica - “O caso é o seguinte...” Coordenação Pedagógica: Coletânea de Estudos de Casos

pedagógica dos professores, como entendem e lidam com não tem nenhum tipo de acompanhamento
alunos com déficit de atenção e hiperatividade. O objeto de profissionais na área, apenas toma um
deste estudo foram alunos entre 7 e 12 anos de idade, que medicamento de rotina (calmante). Na opi-
estudam em uma escola da rede municipal de Sabará – nião da professora, essa criança precisa de
Minas Gerais. atendimento especializado urgente.
O aluno C, 9 anos, fala demais e não con-

G
eralmente, as dificuldades de apren- segue ficar sentado por quinze minutos sem
dizagem não se restringem apenas ao se levantar. Seu interesse na sala de aula
aspecto cognitivo, mas se estendem é instável e a disciplina que mais gosta é
por todo o campo de atividade dos alunos, matemática. Não toma nenhum tipo de me-
sejam elas de ordem comportamental, emo- dicamento, mas é um aluno que precisa de
cional ou social. É possível perceber um con- acompanhamento especializado.
junto de vivências e dificuldades como, por O aluno D, 7 anos, tem comportamento
exemplo: sentimentos, vivências acentuadas igual ao dos colegas, embora tenha recebido
de incapacidade na resolução de tarefas e de muitas queixas de outros professores. Ele
atitudes agressivas, comportamentais etc. tem interesse pelos estudos e gosta de todas
Percebe-se que muitos alunos perdem a as matérias. A professora não vê essa crian-
confiança na possibilidade de aprendizagem ça como impulsiva, somente com dificuldade
e manifestam comportamentos agitados na aprendizagem. Ele está sendo acompa-
para chamar atenção. Os dados a seguir se nhado por psicólogo e fonoaudiólogo.
referem aos alunos que foram diagnostica- Diante desses relatos dos professores e de
dos pelos professores com déficit de atenção observações realizadas no campo de estágio,
e hiperatividade e observou-se que cada interessei-me em estudar o caso do aluno A,
caso é diferente do outro, ou seja, cada alu- de nome Alexandre1, que está repetindo a 2ª
no tem características próprias e, às vezes, fase do 1º ciclo, ou seja, a antiga 3ª série do
comuns em alguns aspectos. Em relação ao Ensino Fundamental e está correndo o risco
comportamento dos alunos, os professores de repetir o ano novamente.
relataram: De acordo com a professora, Alexandre
O aluno A, 12 anos, não tem limites, des- apresenta dificuldades de leitura e escrita.
respeita colegas, professores e funcionários É um aluno muito disperso, seu raciocínio
da escola. Demonstra atitudes de agressivi- lógico-matemático é lento e tem problemas
dade com os colegas todos os dias. Não se no relacionamento com os colegas. Irrita-se
interessa pelos estudos e não resolve as ta- facilmente por qualquer motivo e briga mui-
refas em tempo hábil, pois vive aprontando to. Não realiza as atividades em sala no tem-
em sala de aula. Na opinião dos professores, po adequado pelas confusões que apronta,
esse aluno necessita de acompanhamento pois vive sendo encaminhado para a coorde-
psicológico com urgência. nação. Não demonstra responsabilidade com
O aluno B, 10 anos, apesar da impulsivi- as tarefas de Dever de Casa. Vive aprontan-
dade, há momentos de carinho com a profes-
1. Nome fictício, para preservar a identidade do aluno.

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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 2, p. 1-204, ago./dez. 2008 - Semestral
Déficit de atenção e hiperatividade: um estudo de caso Lucimary Marçal Pereira

do em sala de aula e precisa de acompanha- o cotidiano escolar. O trabalho em equipe é


mento psicológico. fonte inesgotável de superação e valorização
Sabe-se que esse aluno possui um histó- do profissional.
rico familiar conturbado. Os pais são sepa- Percebe-se, ainda, que uma boa formação
rados e a mãe trabalha fora o dia inteiro. Ele dos professores e a colaboração da coordena-
tem mais dois irmãos, de 10 e de 7 anos de ção pedagógica são fundamentais para que
idade, que ficam aos cuidados da avó mater- o aluno tenha suas limitações trabalhadas
na, já idosa. e estudadas. Por isso, o estudo continuado
A mãe ressaltou o fato de que seus filhos é um fator importante para procurar novas
são muito desatentos e incapazes de seguir alternativas educacionais, de maneira que
ordens; insistiu que são impulsivos, agindo, possam contribuir para a melhoria da quali-
por vezes, de maneira imprópria (princi- dade do ensino ministrado a todos os alunos
palmente, Alexandre: não controla a irrita- em sala de aula.
ção em situações de conflito). Geralmente, Essa é uma tarefa árdua para os profes-
não demonstra obediência a ninguém da sores e assumi-la sozinhos não faz sentido
família. algum. Necessita-se de apoio da escola e da
As características trazidas por essas in- família. Faz-se necessária a parceria com di-

Revista Eletrônica - “O caso é o seguinte...” Coordenação Pedagógica: Coletânea de Estudos de Casos


formações, da professora e da mãe, permitem versos serviços públicos sociais e de saúde,
constatar problemas escolares com déficit de para que, juntos, possam fornecer o apoio
aprendizagem e hiperatividade. Geralmente, necessário para o desenvolvimento integral
é mais difícil para pais e professores lidar do aluno.
com a hiperatividade do que com a lentidão Os problemas de comportamento e, con-
para o aprendizado. seqüentemente, a hiperatividade vêm sendo
Observa-se que, no ambiente familiar um caso preocupante na escola. A falta de
desse aluno, não houve o acompanhamento conhecimento da família e dos educadores
da vida escolar de forma adequada, e parece é o fator mais preocupante. Cabe aos pro-
não haver uma boa interação com os irmãos fissionais se reunirem e refletirem sobre o
e a avó. A ausência da figura paterna é sen- problema, planejando ações que venham
tida, pois o envolvimento do pai no desenvol- contribuir para o processo ensino-aprendi-
vimento das práticas educativas dos filhos zagem, reconhecendo que o centro da escola
não existe. Pode-se perceber, portanto, que é o aluno.
há problemas na estrutura familiar desse Os problemas familiares, a baixa instru-
aluno. ção dos pais, crianças criadas por apenas
Contudo, a escola deve se preocupar um dos pais ou outra pessoa, desestrutura
com a formação humana e pessoal dos seus emocional e psicológica dos pais ou respon-
alunos, inclusive daqueles com déficit de sáveis e nível socioeconômico muito baixo
atenção e hiperatividade. Quanto mais a es- influenciam no mau comportamento das
cola atende alunos com dificuldades, mais crianças, causando menos rendimento na
importante é o seu papel de promover o de- aprendizagem. E esse mau comportamento
senvolvimento dos mesmos, pois, neste caso pode nos levar a pensar que as crianças são
específico, a família não se encontra em con- portadoras de Déficit de Atenção e Hiperati-
dições de ajudar seu filho, necessitando do vidade. Por isso, não devemos tirar conclu-
apoio da escola. sões precipitadas sem antes encaminhar a
Observa-se que a professora se encon- criança para avaliações com especialistas
tra em grande dificuldade: pois atender às no assunto para fazer o diagnóstico.
necessidades desse aluno demandará mais Hoje, muitas questões estão sendo discu-
tempo. Ela deverá criar estratégias metodo- tidas com a finalidade de possibilitar a per-
lógicas para fazer com que Alexandre con- manência do aluno hiperativo dentro da sala
siga acompanhar as atividades solicitadas de aula como, por exemplo, melhores formas
em sala de aula sem que as atrapalhe com de atendimento aos alunos, formação ade-
seus comportamentos inadequados. Apesar quada de professores, esclarecimentos sobre
do esforço, a professora deverá contar com o assunto para a comunidade escolar, adap-
o apoio dos coordenadores. Estes precisam tação curricular e melhoria do ambiente fí-
estar sempre atentos ao cenário que se sico da escola.
apresenta à sua volta, valorizando os pro- Nessa perspectiva, estudiosos da área
fissionais da sua equipe e acompanhando como Cypel (2003), Mattos (2005) e Furta-

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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 2, p. 1-204, ago./dez. 2008 - Semestral
Déficit de atenção e hiperatividade: um estudo de caso Lucimary Marçal Pereira

do (2005), dentre outros, propõem algumas


mudanças e/ou adaptações nas escolas com
vistas a garantir a permanência do aluno
portador de Transtorno de Déficit de Aten-
ção e Hiperatividade na escola, visto que
esse tema é de grande relevância socioedu-
cacional e se constitui num desafio para os
educadores.

Referências:
CYPEL, Saul. Criança com Déficit de Aten-
ção. Diagnóstico e terapêutica. São Paulo:
Editora Lemos, 2000.

FURTADO, Albertina. Uma dificuldade de


Revista Eletrônica - “O caso é o seguinte...” Coordenação Pedagógica: Coletânea de Estudos de Casos

aprendizagem quase desconhecida e/ou


mal interpretada. A hiperatividade. Junho
2003. Disponível em: <http://www.hiperati-
vidade.com.br>. Acesso em: 19 nov. 2008.

MATTOS, Paulo. No Mundo da Lua. 4. ed.


São Paulo: Editora Lemos, 2005.

59
Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 2, p. 1-204, ago./dez. 2008 - Semestral
Artigo 17
Autora:
Maria Auxiliadora de Lima

Graduada em Pedagogia com Ênfase em Ensino Religioso pela PUC Minas


Professora de Ensino Fundamental na rede privada

Crianças com dificuldades de aprendizagem: desafios e conquistas

xa claro que a idéia não era apenas separar


Resumo as crianças, o objetivo era desenvolver ati-
Este artigo é baseado em uma entrevista feita com uma vidades extraclasses, aproveitando algumas
Revista Eletrônica - “O caso é o seguinte...” Coordenação Pedagógica: Coletânea de Estudos de Casos

pedagoga e relata os desafios e as conquistas vivenciados horas do tempo escolar.


durante a execução e o desenvolvimento de um trabalho Para dar início ao processo, foram re-
feito com uma turma de crianças que apresentavam difi- alizadas reuniões com os pais dos alunos
culdades de aprendizagem em uma escola da rede munici- para esclarecimento do motivo das medidas
pal Contagem. tomadas pelo corpo técnico administrativo
em relação às mudanças na escola e saber

S
egundo a pedagoga, falar sobre este o grau e o tipo de deficiência de cada aluno,
estudo de caso agora, após alguns bem como os tipos de tratamento envolvi-
anos de caminhada, exige um pouco dos, com base em conversas com psicólogos
de reflexão sobre o trabalho desenvolvido, os e psicopedagogos. Eram em torno de 25
espinhos desafiantes encontrados durante o alunos na faixa etária entre 7 e 10 anos, a
processo e as conquistas alcançadas. A pe- escola pertencia à rede municipal e, como na
dagoga deixa claro que, embora este não seja época não se falava em inclusão, a equipe
um estudo de caso feito com um determinado administrativa sabia que não iria ser tarefa
aluno, o trabalho que foi desenvolvido com fácil de resolver, pois a instituição não tinha
uma turma de 25 crianças com diversas difi- estrutura física nem econômica para sus-
culdades de aprendizagens não deixa de ser tentar aquele tipo de inovação que estava se
um estudo de caso. Na entrevista, aponta a iniciando na escola.
experiência que teve em uma escola em que Devido à falta de recursos didáticos da
trabalhou durante alguns anos. No cotidiano escola, para o desenvolvimento do trabalho,
da escola, em algumas salas, foram se per- a professora conta que foi preparando pla-
cebendo algumas crianças com dificuldades nejamentos juntamente com a supervisora
de aprendizagem. Na época, a escola se sen- da escola, lendo livros e discutindo idéias.
tia de mãos atadas, pois não podia excluir Aos poucos, foram descobrindo formas de
aquelas crianças nem passá-las de ano e, como trabalhar o desenvolvimento daquelas
ao mesmo tempo, não sabia o que fazer com crianças. Geralmente, os trabalhos realiza-
elas. dos eram de coordenação motora fina e gros-
Durante alguns anos, a escola foi se cons- sa, ou seja, colocavam as crianças nas aulas
cientizando das dificuldades dos professores de Educação Física para o desenvolvimento
de trabalhar com a inclusão daquelas crian- da psicomotricidade como: correr em cima
ças deficientes na sala de aula juntamente de pneus, pular corda, jogar futebol, fazer
com as outras crianças “ditas normais”. Pelo exercícios que trabalhassem lateralidade,
fato de os professores não terem a formação conceitos matemáticos, movimentos de pin-
adequada para atender àquelas crianças, a ça. Tudo isso de forma bem lúdica e sempre
escola decidiu, depois de várias reuniões, se- pensando no desenvolvimento das crianças.
lecionar todas as crianças que apresentavam Parecia impossível o resultado, quase nin-
determinados graus de deficiência, juntá-las guém acreditava que aquelas crianças obte-
em uma sala “separada” e fazer com elas um riam progresso, pois eram crianças com va-
trabalho diferenciado. Aqui a pedagoga dei- riados déficits. Para surpresa e satisfação do

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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 2, p. 1-204, ago./dez. 2008 - Semestral
Crianças com dificuldades de aprendizagem: desafios e... Maria Auxiliadora de Lima

corpo técnico administrativo da escola, no Hoje em dia, a inclusão é motivo de várias


final do ano letivo, percebia-se um grande críticas a professores sem preparação para
desempenho da turma, bom desenvolvimento enfrentar essa realidade. O governo não
cognitivo, desenvoltura na leitura e na escri- contribui com suporte ou subsídios para a
ta. Esta conquista representou o sucesso da qualificação dos profissionais. Portanto, é
escola e contribuiu para que acreditassem importante refletir que o déficit de aprendi-
ainda mais no processo da inclusão. zagem que existe nas escolas é alvo de preo-
Na época, a escola detectou que a maior cupação dos profissionais que nela atuam.
porcentagem dos casos de deficiências na Para se conseguir trabalhar a inclusão,
escola era resultado direto da falta de infor- sabemos que é um grande desafio para os
mações, da pobreza e dos baixos níveis de professores, pois são eles próprios que acre-
saúde na região, pois a maioria da popula- ditam na inclusão é que têm que buscar
ção vivia em condições precárias. recursos, modelos ou modos de como inte-
O trabalho que se desenvolveu naquela grar a pessoa com déficit de aprendizagem
escola hoje é chamado inclusão. Pode-se na sala de aula. E podemos dizer que os
acreditar que, a partir do momento que a maiores desafios para garantir a entrada e
escola assume a sua autonomia pedagógica, permanência desses alunos nas escolas são

Revista Eletrônica - “O caso é o seguinte...” Coordenação Pedagógica: Coletânea de Estudos de Casos


administrativa e financeira para progra- a falta de profissionais qualificados e o res-
mar e implantar seus projetos, ela passa a peito pelas diferenças.
ser também responsável pelos resultados
alcançados. [...] a inclusão cresce a cada dia e, com ela, o
Muitas escolas, atualmente, estão traba- desafio de garantir uma educação de quali-
lhando a inclusão de crianças com necessi- dade para todos. Na escola inclusiva, os alu-
dades educacionais especiais, embora sejam nos aprendem a conviver com as diferenças
poucos os recursos que o governo oferece e se tornam cidadãos solidários. Para que
para o desenvolvimento desse processo. isso se torne realidade em cada sala, sua
Acredito ser preciso que todas as escolas participação, professor, é essencial. (Caval-
que pretendem o trabalho de inclusão uti- cante, 2005).
lizem os meios de comunicação de massa
para sensibilizar a opinião pública, conven-
cendo os interessados a se aliarem à escola,
fornecendo-lhes informações claras sobre
o trabalho que se pretende realizar com as
crianças com déficit de aprendizagem, abrin-
do, a partir daí, espaços para a participação
dos pais e alunos em debates sobre as ques-
tões básicas da escola.
Segundo a médica da APAE de São Paulo,
Eliza Moreira Garcez (1990),

A educação inclusiva, porém, não se faz


só através da escola, deve envolver toda a
comunidade e começar na família, desde o
seu nascimento. Quando uma criança é mal
amada, discriminada desde o início de sua
vida, não conseguirá ser incluída em escola
alguma. Ainda que não seja portadora de
qualquer deficiência visível.

Portar qualquer tipo de deficiência não


significa, necessariamente, ser improdutivo.
O que precisamos ressaltar é que os profes-
sores não se percam deixando para trás a
importância de alargar sempre seus conhe-
cimentos e as possibilidades de acesso à re-
abilitação e à capacitação profissional.

62
Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 2, p. 1-204, ago./dez. 2008 - Semestral
Artigo 18
Autora:
Maria de Fátima dos Santos

Graduada em Pedagogia com Ênfase em Ensino Religioso pela PUC Minas

O aluno portador da Síndrome de Down pode aprender a ler e a escrever

Síndrome de Down precisam desse acompa-


Resumo nhamento desde bebê e Isabela, já com seis
O presente artigo tem como objetivo apresentar um estu- anos de idade, só tinha o acompanhamento
Revista Eletrônica - “O caso é o seguinte...” Coordenação Pedagógica: Coletânea de Estudos de Casos

do de caso realizado em uma escola da rede municipal de escolar.


Belo Horizonte, com uma aluna portadora de Síndrome Portadores de Síndrome de Down preci-
de Down na 1a etapa do 1o ciclo do ensino fundamental. sam de um acompanhamento muldiscipli-
nar, pois essa síndrome afeta vários sistemas

I
sabela1 é portadora de Síndrome de do corpo, por isso era de suma relevância
Down, ingressou na escola pública com que Isabela tivesse outros acompanhamen-
cinco anos de idade, no ano de 2006. Em tos, além do escolar. Então a mãe de Isabela
2007, com seis anos, estava matriculada na procurou esses outros profissionais e o diag-
primeira etapa do primeiro ciclo do ensino nóstico foi que aluna precisaria de acompa-
fundamental. nhamentos diários de fisioterapia, psicologia
Ao iniciar o ano letivo do ensino funda- e fonoaudiologia, e que os demais poderiam
mental, Isabela começou a enfrentar novos ser trimestralmente.
desafios, pois se tratava de nova escola, nova Segundo o especialista Caio Henrique
professora, novos coleguinhas e um novo (caio@pq.cnpq.br 26/06/2008, 23h06min),
ambiente.
Ainda no primeiro bimestre daquele ano, A Síndrome de Down é uma moléstia que
a supervisora da escola já tinha conheci- pode afetar boa parte dos sistemas do cor-
mento, a partir de conversas informais com po: nervoso, cardiocirculatório, endócrino,
a professora de Isabela, da dificuldade de gastrintestinal, visão, audição, entre ou-
adaptação que ela tinha, uma vez que era tros. Entretanto, a gravidade do dano varia
muito dispersa, agitada, agressiva, desaten- de caso para caso, portanto nem todos os
ta e não interagia com os colegas nem com indivíduos afetados apresentam quadros
a professora. Isabela conseguia dispersar e clínicos similares.
distrair todos os alunos ao mesmo tempo, Algumas características físicas, no entan-
pois para eles tudo era muito novo também, to, são comuns a quase todos: o formato
uma vez que eles nunca tiveram um colega da fendas palpebrais (inclinadas no sentido
de classe portador de necessidade especial. superior), crânio curto no sentido antero-
Quando ficava fora da sala de aula, já ficava posterior, orelhas pequenas e malformadas,
mais tranqüila, mas mesmo assim mudava boca entreaberta com protusão de língua,
toda a rotina da escola. perímetro cefálico discretamente reduzido,
Inicialmente, a supervisora analisou a fi- pele seca e descamante, baixa estatura e
cha de Isabela e chamou a mãe da aluna para alterações nos dedos das mãos e dos pés,
indicar que procurasse outros profissionais mesmo que em proporções diferentes.
para se ter um diagnóstico mais preciso. A No que se refere à deficiência mental, embo-
supervisora recomendou um fisioterapeu- ra sempre presente, varia bastante quanto
ta, um neurologista, um cardiologista, um ao grau de características físicas e ao grau
psicólogo, um terapeuta ocupacional, um de deficiência mental de cada paciente.
fonoaudiólogo, mesmo porque portadores de
1. Nome fictício, para preservar a identidade da aluna.

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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 2, p. 1-204, ago./dez. 2008 - Semestral
O aluno portador da Síndrome de Down pode aprender a ler... Maria de Fátima dos Santos

A partir de então, a supervisora da esco- sendo de grande valia para o seu cotidiano
la sentiu a necessidade de criar um projeto escolar.
voltado para a educação especial, pois era Segundo Caio Henrique (caio@pq.cnpq.br
preciso educar os profissionais, os alunos 26/06/2008, 23h06min),
e os funcionários da escola para uma nova
realidade, uma vez que ninguém sabia como
proceder com Isabela. Diante disso, a super- embora não haja cura para a Síndrome de
visora procurou informar todas as pessoas Down (é uma anomalia das próprias células,
da escola, abrindo discussões, trazendo-lhes não existindo drogas, vacinas, remédios,
artigos e textos sobre a referida síndrome. escolas ou técnicas milagrosas para curá-
Todos os professores, funcionários e alu- la), nas últimas décadas as estatísticas têm
nos foram envolvidos no projeto, em todas demonstrado notáveis progressos: aumento
as salas de aula se discutia a Síndrome de de 20 pontos percentuais no QI (quociente
Down, os alunos faziam trabalhos sobre o de inteligência). Essa melhora na sobrevida
tema e apresentavam para toda a escola. A e na qualidade de vida foi possível graças
supervisora observou que, antes, era preciso ao avanço dos diagnósticos e tratamentos.
afinar os adultos para que Isabela entendes- Sabendo-se quais são as enfermidades às

Revista Eletrônica - “O caso é o seguinte...” Coordenação Pedagógica: Coletânea de Estudos de Casos


se aquele novo ambiente. quais esses indivíduos estão propensos,
A supervisora, diante do diagnóstico de podemos desenvolver um trabalho preven-
Isabela e do projeto desenvolvido na esco- tivo, evitando, se possível, outra enfermi-
la, procurou uma outra ajuda, entrou em dade e tratando-a precocemente quando
contato com a Prefeitura de Belo Horizonte, necessário.
solicitando uma estagiária para a aluna, Com os portadores de Síndrome de Down
mesmo porque alunos portadores de neces- deverão ser desenvolvidos programas de es-
sidades especiais têm direito a esse benefí- timulação precoce que propiciem seu desen-
cio. E, para ficar na sala de aula, Isabela volvimento motor e intelectual, iniciando-se
precisava desse acompanhamento, pois seu com 15 dias após o nascimento.
comportamento dentro da sala prejudicava o
andamento das aulas. No início de 2008, Isabela continuava com
Quando a estagiária, estudante de pe- os outros acompanhamentos e tratamentos
dagogia chegou à escola, a supervisora necessários e a mãe já conseguia perceber
apresentou-lhe a aluna, informou-lhe de- a importância desses acompanhamentos, já
talhadamente o comportamento de Isabe- que Isabela se comunicava mais com ela e
la e acrescentou que agora ela estava bem com os irmãos. Ela estava dócil e carinho-
mais tranqüila depois de iniciar outros sa e as brigas em casa quase não existiam
acompanhamentos. mais. Por isso é preciso que crianças porta-
Juntamente com os demais profissionais doras de Síndrome de Down comecem a ser
e todo o corpo docente da escola, a super- estimuladas ainda bebês.
visora sugeriu que a professora orientasse Atualmente, após desafios e desco-
a estagiária para trabalhar primeiro com bertas, Isabela vem apresentando uma
atividades concretas e só posteriormente co- grande melhora no que diz respeito à inte-
meçaria com atividades abstratas. Por isso a ração com as pessoas e ao processo ensino-
professora e a estagiária de Isabela buscaram aprendizagem.
novas metodologias de ensino para atender Existe uma grande expectativa por parte
às dificuldades de Isabela, pois se tratava de da escola em relação ao desenvolvimento de
uma criança especial, então as metodologias Isabela, uma vez que ela já consegue copiar
também teriam que ser especiais. seu nome, escrever seu nome sem a ficha,
No segundo semestre de 2007, o avanço algumas letras do alfabeto e também alguns
de Isabela era visivelmente notável: ela já numerais, já consegue escrever as palavras
conseguia ficar na sala e desenvolver as ati- “mamãe”, “papai” e “neném” sem fazer cópia
vidades, reconhecia quase todo o alfabeto e e a atividade que ela mais gosta é ditado so-
os numerais de 0 a 9, reconhecia seu pri- letrado, pois consegue acertar muitas letras
meiro nome e sua interação com a turma era e, algumas vezes, até palavras.
de impressionar. Os estímulos que Isabela Após essa experiência, é possível consta-
recebia com os demais profissionais estavam tar as possibilidades de uma criança porta-
dora de Síndrome de Down. Recebendo os

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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 2, p. 1-204, ago./dez. 2008 - Semestral
O aluno portador da Síndrome de Down pode aprender a ler... Maria de Fátima dos Santos

estímulos necessários para o seu desenvol-


vimento, ela consegue ler e escrever.

Referências:
Enciclopédia Britannica do Brasil.

Enciclopédia Concise digital.

http://www.coladaweb.com/

http://www.biomania.com.br/

http://www.fsdown.com.br/
Revista Eletrônica - “O caso é o seguinte...” Coordenação Pedagógica: Coletânea de Estudos de Casos

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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 2, p. 1-204, ago./dez. 2008 - Semestral
Artigo 19
Autora:
Marilda Nunes de Oliveira

Graduada em Pedagogia com Ênfase em Ensino Religioso pela PUC Minas

Relatos de experiência positiva em um caso de hiperatividade

Os dias se passaram e a professora não


Resumo teve a resposta do pai sobre o psicólogo;
Este artigo descreve a narrativa de uma professora que sua angústia ia aumentando ao ver Moisés
Revista Eletrônica - “O caso é o seguinte...” Coordenação Pedagógica: Coletânea de Estudos de Casos

conseguiu ensinar um aluno hiperativo sem fazer uso de excluído pelos colegas e sem apresentar
medicamento. rendimentos. A professora, então, decidiu
não ficar paralisada esperando o parecer

E
m uma escola pública estadual de do psicólogo ou de outro especialista, fez
Belo Horizonte, está matriculado o intervenções importantíssimas que mudou o
aluno Moisés1, com sérias dificulda- histórico de Moisés.
des de se manter concentrado para realizar Ela iniciou o trabalho fortalecendo a
as atividades propostas. Devido a esse fator, auto-estima de seu aluno, conquistando
ao término do primeiro bimestre, o aluno teve seu afeto e confiança, evitando punições ex-
baixo rendimento escolar. Além disso, não cessivas, buscando atividades gratificantes
conseguia se relacionar bem com os colegas, e oferecendo atenção personalizada. Além
era agressivo, batia, não sabia brincar, por disso, empreendeu medidas educativas,
isso os colegas o excluíam na hora do recreio como conscientizar a criança sobre as con-
e de outras brincadeiras. seqüências dos seus atos, orientar quanto
A escola, então, decidiu entrar em contato à adequação de algumas atividades, cobrar
com a família para coletar mais informações combinações com firmeza e treinar habilida-
sobre o aluno, a fim de encontrar uma forma des compensatórias.
de sanar suas dificuldades. Mesmo sem contar com a ajuda de espe-
O pai e a mãe de Moisés compareceram à cialistas, a professora conseguiu com suas
escola, e a mãe disse que sofre de transtorno intervenções resultados significativos, den-
bipolar, que nunca teve paciência com o filho, tre eles fazer com que Moisés fosse aceito pe-
e que nunca se preocupou em procurar um los colegas, pois já não estava tão agressivo,
especialista para o filho. Os pais relataram tinha se conscientizado sobre a conseqüên-
sentimentos intensos de irritação, receio e cia de seus atos e, com a recepção da tur-
cansaço, agrediam o filho diariamente tanto ma, sua auto-estima melhorou e apresentou
física quanto verbalmente. mais interesse nas atividades propostas.
O caso de Moisés tornou-se um de- Mais tarde, porém, a professora conse-
safio para sua professora, que resolveu fazer guiu um especialista para Moisés, que lhe
um estudo de caso, pois suspeitava que o deu um diagnóstico de TDAH e o psiquiatra
aluno fosse hiperativo. receitou Ritalina.
Para iniciar o estudo, ela utilizou Moisés estava sendo medicado diaria-
uma ficha onde anotou todos os dados do mente pelo pai, conforme orientação médica,
aluno e o observava seu comportamento porém a professora percebeu que ele estava
diariamente. Solicitou ao pai que levasse ficando prostrado, sem ânimo e seu rendi-
Moisés a um psicólogo para verificar se seu mento havia caído novamente. Resolveu, en-
comportamento agressivo tinha um pos- tão, informar ao pai que, se quisesse sus-
sível fundo emocional, já que era agredido pender o medicamento, seria melhor, pois o
constantemente. aluno já estava adaptado à sala de aula e
1. Nome fictício, para preservar a identidade do aluno.

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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 2, p. 1-204, ago./dez. 2008 - Semestral
Relatos de experiência positiva em um caso de hiperatividade Marilda Nunes de Oliveira

dava conta de fazer as atividades sem o uso


do medicamento.
Enfim, a suspeita da professora foi con-
firmada, Moisés era hiperativo, o diferencial
é que ela não depositou suas esperanças no
medicamento.
Isso é uma demonstra que a forma como
o professor lida com a situação é determi-
nante tanto no desenvolvimento psicológico
do aluno quanto no crescimento de toda a
comunidade escolar.

Referências:
FERNANDEZ, Alicia. A mulher escondida na
professora: uma leitura psicopedagógica do

Revista Eletrônica - “O caso é o seguinte...” Coordenação Pedagógica: Coletânea de Estudos de Casos


ser mulher, da corporalidade e da aprendiza-
gem. Porto Alegre: Artes Médicas, 1994.

GARCIA, Célio. Saúde Mental e Psicanálise.


Rio de Janeiro: Autêntica, 1992.

68
Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 2, p. 1-204, ago./dez. 2008 - Semestral
Artigo 20
Autora:
Mônica Beatriz Viegas Mendes Silva

Graduada em Pedagogia com Ênfase em Ensino Religioso pela PUC Minas

Dificuldade de aprendizagem, o que fazer?

e não consegue apropriar-se do processo de


Resumo alfabetização. Dalva acrescentou, ainda, que
O objetivo deste artigo é apresentar o estudo de caso de ele é disperso, tem problema no relaciona-
Revista Eletrônica - “O caso é o seguinte...” Coordenação Pedagógica: Coletânea de Estudos de Casos

uma criança de 7 anos, que estuda numa escola da rede mento com os colegas, é agressivo, não faz
estadual de Belo Horizonte, manifestando dificuldades as tarefas de casa e brinca o tempo todo em
relacionadas ao processo ensino-aprendizagem. sala de aula.
“JB” é o terceiro filho de uma família de

H
á muitas décadas, os educadores quatro filhos, estando a mais velha com 12
denunciam, no Brasil, números anos, a segunda com 10 anos, “JB” com
alarmantes de evasão e de fracasso 7 anos e o mais novo com 4 meses, sendo
escolar. este último irmão dele somente por parte de
Quando um aluno fracassa na aprendi- mãe.
zagem, a escola lhe oferece uma segunda Os pais são separados e a mãe trabalha
oportunidade: começar novamente o proces- fora, numa fábrica de doces, em horário in-
so, retomar uma experiência em condições tegral. As crianças ficam sozinhas em casa,
idênticas. Assim, o aluno que fracassa na sendo assistidas pela irmã mais velha de 12
sua incursão escolar é obrigado a repetir anos.
os mesmos traços, as mesmas palavras, até Em entrevista com a mãe de “JB”, ela nos
provar as suas dificuldades e alcançar os relatou que a criança nasceu de uma gravi-
objetivos postos no planejamento. dez não programada, num período em que
Geralmente, as dificuldades de aprendi- os pais estavam vivendo uma crise muito
zagem não se restringem apenas ao aspecto forte no relacionamento.
cognitivo, mas se estendem por todo o cam- Com poucos meses de nascido, a situação
po de atividade das crianças. Em muitas em casa tornou-se insustentável, pois a mãe
delas, com problemas de aprendizagem, é descobriu que o pai tinha outra família.
possível perceber um conjunto de vivências À medida que “JB” crescia, se apegava
e dificuldades como, por exemplo: sentimen- ao tio com quem morava e, desde pequeno,
tos de autodepreciação, vivências acentu- muito carinhoso, enchia-o de afetos. Esse
adas de incapacidade, comprometimento fato gerou ciúme nessa família e a esposa do
da autoconfiança, posição de antecipação tio não os aceitou mais nessa casa.
de fracasso. O que percebemos é que mui- “JB” reclama muito da professora, dizen-
tas perdem a confiança na possibilidade de do que ela não gosta dele, grita com ele e
aprendizagem. com a classe.
Diante dessas considerações, interessei Nesta pesquisa, estamos assistindo a
em estudar o caso de um aluno que está re- uma criança de sete anos. É imprescindível
petindo a primeira série em uma escola esta- que, em todos os momentos do diagnóstico,
dual, de nível socioeconômico médio/baixo, tenhamos a percepção global da criança, es-
chamado neste relato de “JB”, que está sendo tando juntos o seu funcionamento cognitivo
acompanhado por psicólogas voluntárias. e suas emoções associadas ao significado
Segundo Dalva1, a coordenadora da esco- dos conteúdos e ações. Faz-se necessário
la, ele tem dificuldades de leitura e escrita pesquisar o que ela já aprendeu, como arti-
cula os diferentes conteúdos entre si, como
1. Nome fictício, para preservar a identidade.

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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 2, p. 1-204, ago./dez. 2008 - Semestral
Dificuldade de aprendizagem, o que fazer? Mônica Beatriz Viegas Mendes Silva

faz uso desses conhecimentos nas diferentes da inteligência e da corporeidade por parte
situações escolares e sociais, como os usa no simbólica inconsciente.
processo de assimilação de novos conheci- Com a finalidade de entender melhor as
mentos. É indispensável definir o nível peda- dificuldades e a situação pessoal de “JB”,
gógico para se verificar a adequação à série fizemos uma observação num contexto di-
que cursa. Algumas vezes a defasagem entre ferente da sala de aula, o recreio, e percebe-
o nível pedagógico e as exigências escolares mos um comportamento interativo, demons-
atuais pode agravar ou criar situações de trando afetividade com os colegas e muita
dificuldades de aprendizagem. agilidade.
Tomando a teoria de Jean Piaget, no de- Durante o recreio, o aluno manteve-se
senvolvimento cognitivo, a imitação e o jogo tranqüilo e não manifestou qualquer forma
estão ligados à formação da função simbóli- de agressividade, conforme relato da super-
ca. Piaget (1994) concebe o jogo como sendo visora e da professora.
a “assimilação do real ao eu, por oposição ao A partir das observações feitas e de dados
pensamento sério, que equilibra o processo coletados na escola, através do desempenho
assimilado”, ou seja, o jogo é uma busca de das atividades realizadas com “JB”, as psi-
prazer, é a expressão afetiva de assimilação cólogas não diagnosticaram qualquer pro-

Revista Eletrônica - “O caso é o seguinte...” Coordenação Pedagógica: Coletânea de Estudos de Casos


do real ao eu. blema em nível orgânico e patológico. Faz-se
Para analisar a área cognitiva dentro das necessário, portanto, um acompanhamento
hipóteses levantadas, as psicólogas utiliza- psicopedagógico e orientação familiar. Com
ram como estratégias Jogos Psicopedagó- relação à escola, seria indispensável a mu-
gicos, aplicação das Provas Operatórias e dança de metodologia e atualização da pro-
utilização de Jogos de Raciocínio. posta pedagógica.
A partir dessas sessões, perceberam que A escola, enquanto espaço de promoção do
o modelo de aprendizagem de “JB” mostra-se saber, tem a função de proporcionar momen-
centrado na repetição, na reprodução e na tos de dúvidas e descobertas. Já o educador,
execução de fatos já aprendidos. Não pare- enquanto mediador da aprendizagem, tem,
ce apresentar autonomia suficiente para se como uma de suas funções, investigar a dú-
expressar e verbalizar com desenvoltura. vida, provocar o educando para a indagação
Sua produção fica presa aos conteúdos en- do que anseia aprender e mostrar-lhe que há
sinados, o que limita a construção de no- várias fontes de saber. (TAVARES, 1996).
vos esquemas para internalizar objetos de
conhecimentos. O professor deve sempre despertar o inte-
Observamos o trabalho realizado em sala resse do aluno pela leitura e escrita. Assim,
de aula pela professora de “JB” em língua outra metodologia eficaz no processo ensi-
escrita. A atividade constou de um ditado no-aprendizagem são os jogos e brincadei-
de sílabas isoladas. Percebemos que o alu- ras que não podem ser considerados apenas
no, apesar de sua dispersão, realizou com como uma forma de divertimento, mas sim,
agilidade os exercícios propostos, embora como meios que contribuem e enriquecem
desconcentrado. o desenvolvimento da aprendizagem, e para
A professora mostrou-se impaciente dian- manter o equilíbrio com seu mundo, a crian-
te das dificuldades, dos comportamentos e ça precisa brincar, jogar, criar e inventar,
das interrogações da classe. Ela respondia neste sentido, o jogo organizado constitui
aos alunos de maneira ríspida. Essa ati- o melhor método para incutir princípios,
tude nos pareceu deixar “JB” numa situa- normas e estabelecer padrões de desenvol-
ção de insegurança quanto ao seu aspecto vimento e aprendizagem. (MIRANDA, 1990).
emocional.
Durante a atividade, observamos que ele
movimentava as pernas incessantemente e Referências:
parecia estar ansioso.
Segundo Fernández (1991), o problema de FERNÁNDEZ, Alicia. A inteligência aprisio-
aprendizagem que constitui um sintoma ou nada. Porto Alegre: Artes Médicas, 1991.
uma inibição instala-se em um indivíduo,
afetando a dinâmica de articulação entre MIRANDA, E. de R. P. Nossos Filhos e seus
os níveis de inteligência, organismo, corpo problemas. Belo Horizonte: Interlivros,
e desejo, resultando em um aprisionamento 1990.

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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 2, p. 1-204, ago./dez. 2008 - Semestral
Dificuldade de aprendizagem, o que fazer? Mônica Beatriz Viegas Mendes Silva

PIAGET, J. A formação do símbolo na crian-


ça. Rio de Janeiro: Zahar, 1994.

TAVARES, C. F. Curiosidade: uma aliada na


aprendizagem. Revista do Professor. Rio
Pardo: CPOEC. Nº 45. p. 31-32, janeiro/mar-
ço, 1996.
Revista Eletrônica - “O caso é o seguinte...” Coordenação Pedagógica: Coletânea de Estudos de Casos

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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 2, p. 1-204, ago./dez. 2008 - Semestral
Artigo 21
Autora:
Natália Padilha Martins

Graduada em Pedagogia com Ênfase em Ensino Religioso pela PUC Minas

Um caso para estudo

de pequenos problemas corriqueiros e para


Resumo cooperar com os colegas. Sua coordenação
Este artigo tem apresenta uma situação na qual a não motora é comprometida, seus movimen-
Revista Eletrônica - “O caso é o seguinte...” Coordenação Pedagógica: Coletânea de Estudos de Casos

aceitação pelos pais de uma necessidade especial do filho é tos são lentos, os domínios reduzidos, tem
capaz de comprometer o seu desenvolvimento. Essa situa- dificuldades em compreender mensagens
ção aconteceu em uma escola particular de Belo Horizon- simples, demora a responder a comandos e
te (MG), onde dois irmãos apresentam alguma necessida- executa atividades com lentidão.
de especial, de acordo com a professora e a coordenadora, As crianças, como é costume na institui-
mas sem um diagnóstico médico que confirme o quadro. ção, foram enturmadas em diferentes salas.
Poucos meses após o início das aulas, sur-

U
ma queixa freqüente de coordenado- giu a necessidade de uma avaliação médica
res e professores é a resistência dos de Luís e Letícia, devido aos comportamen-
pais em aceitar que seu filho tenha tos apresentados. Os pais, embora aparen-
alguma necessidade especial. Isso pode atra- temente tenham concordado com o pedido,
palhar o desenvolvimento da criança, uma não providenciaram a avaliação. Os irmãos
vez que é preciso a integração entre família, que apresentam dificuldades não conse-
escola e profissionais qualificados para fazer guiam acompanhar os colegas e foi sugerido
uma educação que oportunize à criança con- aos pais que os três voltassem à série ante-
dições de aprendizagem de acordo com suas rior, nesse caso, maternal 3. Os pais, inicial-
necessidades. mente receosos, concordaram com a troca
Em uma escola particular de Belo Hori- de turmas, uma vez que perceberam o baixo
zonte, existe um caso que exemplifica bem rendimento de seus filhos. Letícia apresenta
essa resistência da família como fator capaz certa melhora na elaboração de frases e com
de atrasar o desenvolvimento da criança. a timidez, mas ainda tem problemas com
Luís, Jonas e Letícia1 têm 4 anos de idade, a coordenação motora e a compreensão de
são trigêmeos, filhos de um casal de médi- comandos. Luís não apresentou nenhuma
cos. Jonas apresenta desenvolvimento consi- alteração comportamental, não mostrou ne-
derado normal, já Luís e Letícia apresentam nhuma reação, nem contrária nem a favor da
características que os diferenciam das ou- mudança, manteve-se como na outra turma,
tras crianças de sua idade. Luís prefere ficar alheio às atividades, mantendo-se disperso e
só, evita contato físico e até com os olhos, silencioso (ou falando sozinho).
age como se estivesse em outro lugar ou em Ao analisar essa situação, pode-se perce-
outra situação, não brinca com as outras ber que os pais, não aceitando necessidade
crianças, tem dificuldades para se comuni- especial dos filhos, acabam por atrapalhar
car e apresenta alguns comportamentos ri- seu desenvolvimento. Trata-se de uma
tualistas. Frente a essas observações, diria aceitação consciente, que reconheça as di-
que Luís apresenta características de uma ficuldades de seus filhos bem como suas
criança autista. Letícia é tímida, mas se rela- potencialidades, oferecendo, portanto, uma
ciona bem com os colegas, não encontrando educação preocupada com não só com os
dificuldades na socialização, na resolução aspectos pedagógicos, mas também com
as questões relacionadas ao cotidiano da
1. Nomes fictícios, para preservar a identidade dos alu-
criança fora da escola, como a disciplina, a
nos.

73
Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 2, p. 1-204, ago./dez. 2008 - Semestral
Um caso para estudo Natália Padilha Martins

auto-estima e outros fatores determinantes


no desenvolvimento da criança.
Os pais, neste caso, criaram uma barrei-
ra entre escola e família, o que impossibilita
a realização de um estudo aprofundado da
situação. E a não realização do estudo de
caso impede que medidas sejam tomadas
com maior eficácia na elaboração de planos
e atividades para a turma, que oportuni-
zem às duas crianças maiores condições
de aprendizagem e maior integração com a
turma.
A partir das observações feitas, dos de-
poimentos de envolvidos no caso dos trigê-
meos e de relatos da coordenadora, acredito
ser imprescindível a criação ou a adaptação
de técnicas de ensino às turmas nas quais

Revista Eletrônica - “O caso é o seguinte...” Coordenação Pedagógica: Coletânea de Estudos de Casos


essas crianças estão inseridas, bem como
um apoio complementar de psicopedagoga e
terapeuta ocupacional que possa orientar o
trabalho com essas crianças, acompanhan-
do o seu desenvolvimento.

74
Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 2, p. 1-204, ago./dez. 2008 - Semestral
Artigo 22
Autora:
Paula Ramos de Oliveira

Graduada em Pedagogia com Ênfase em Ensino Religioso pela PUC Minas

Transtorno Emocional: análise de um estudo de caso

específicos de cada matéria de ensino, en-


Resumo tre o conhecimento pedagógico e a sala de
Este artigo tem como finalidade refletir sobre as dificul- aula.
Revista Eletrônica - “O caso é o seguinte...” Coordenação Pedagógica: Coletânea de Estudos de Casos

dades que a professora e a Coordenadora Pedagógica da


Escola Estadual Fonte Boa encontraram quando depara- Além disso, também é necessário que o
ram com um aluno com transtorno emocional. supervisor tenha uma atitude clara diante
do processo ensino-aprendizagem, diante da

C
omo se sabe, a escola é um universo função social da escola e de todos os outros
de circunstâncias pessoais e exis- aspectos que envolvem o fazer na e pela edu-
tenciais que requerem do professor e cação. Medina (2004, p. 32) ressalta que “[...]
do Coordenador Pedagógico ao menos uma é o trabalho do professor [...] que dá sentido
boa dose de bom senso, quando não uma ao trabalho do supervisor no interior da es-
abordagem direta com alunos que acabam cola. O trabalho do professor abre o espaço
demandando uma atuação muito além do e indica o objeto da ação/reflexão, ou de re-
posicionamento pedagógico e metodológico flexão/ação para o desenvolvimento da ação
da prática escolar. supervisora.”
O chamado “aluno-problema” pode ser re- Portanto, é importante que o coordena-
flexo de algum transtorno emocional, muitas dor juntamente com o professor estejam
vezes advindo de relações familiares contur- preparados para conviver com a diversidade
badas, de situações trágicas ou de algum dentro da escola como desafio no sentido de
transtorno do desenvolvimento. Esse tipo de explicitar as contradições e os conflitos con-
estigmatização docente passa a ser um fardo seqüentes dessa diversidade. Devem estar
a mais, mais um dilema e aflição emocional atentos aos discentes no que diz respeito ao
agravante. Para esses casos, o conhecimento comportamento e ao que trazem de diferen-
e a sensibilidade dos professores e coordena- te para o âmbito da escola, na tentativa de
dores podem se constituir em um bálsamo compreendê-los na sua totalidade.
para corações e mentes conturbadas. Sabemos que todo aluno que apresenta
O Coordenador Pedagógico é uma peça qualquer tipo de dificuldade está sujeito a
mestra dentro da escola, por isso tem que ser rotulado.
estar atento para qualquer situação, dentro Para diagnosticar um aluno com trans-
ou fora da sala de aula. Segundo Libâneo torno emocional, devemos observá-lo cuida-
(2004, p. 62), dosamente e buscar o auxílio de um profis-
sional capacitado.
quando se atribuem ao pedagogo as tarefas Por essa razão, neste artigo procuro mos-
de coordenar e prestar assistência pedagó- trar o esforço que a professora, a coordena-
gico-didática ao professor, não se está su- dora e a mãe do aluno fazem, com propósito
pondo que ele deve ter domínio dos conte- de ajudá-lo a superar a sua dificuldade den-
údos e métodos de todas as matérias. Sua tro e fora da sala de aula.
contribuição vem dos campos do conheci- Quando um aluno tem dificuldades e não
mento implicados no processo educativo do é ajudado nem compreendido pelos seus pais
docente, operando uma intercessão entre a e educadores, sofre e sente-se freqüentemen-
teoria pedagógica e os conteúdos e métodos te humilhado por não conseguir acompa-

75
Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 2, p. 1-204, ago./dez. 2008 - Semestral
Transtorno Emocional: análise de um estudo de caso Paula Ramos de Oliveira

nhar os seus colegas e pode inclusive sofrer sua identidade, não aceitava o seu nome,
perturbações psicológicas. Os professores pois era igual ao do seu pai. E isso se deu
devem estar alertados para a situação do logo após a morte trágica do pai. Queria se
aluno e assim, numa atitude mais tolerante livrar das lembranças tristes que tinha da
e carinhosa, ajudá-lo a ultrapassar as suas cena que presenciou.
dificuldades. Com base nessas informações, a coorde-
Foi esta a principa l causa que levou a co- nadora pedagógica da escola e a professora
ordenadora pedagógica a realizar o estudo do aluno se viram obrigadas a mudar a pos-
de caso juntamente com a professora do alu- tura frente ao aluno.
no em questão, que será designado simples- Algumas atividades foram elaboradas
mente por “aluno”, anonimamente. especialmente para atender às necessidades
A Escola Estadual Fonte Boa1 recebe alu- do aluno. Foi criado um horário de acom-
nos com características muito diferentes uns panhamento, era o momento para ele expor
dos outros. Os problemas mais freqüentes todos os seus sentimentos. Nesse momento,
na escola são disciplina e violência, que são ele contava só com a presença da coordena-
rotineiros e trabalhados no dia-a-dia com os dora pedagógica.
alunos. Sua mãe também foi convidada a partici-

Revista Eletrônica - “O caso é o seguinte...” Coordenação Pedagógica: Coletânea de Estudos de Casos


Mas o que chamou a atenção da coor- par mais das ações da escola e da vida esco-
denadora pedagógica e a levou a estudar o lar do filho, na tentativa de ajudá-lo.
caso foi o comportamento de um determina- Tudo que podia ser feito por este aluno,
do aluno de 15 anos da 8ª Série do Ensino no que dependia da escola, foi feito, mas,
Fundamental. depois de muitas tentativas – alguns acertos
Segundo os relatos da professora des- e alguns contratempos, a escola percebeu
se aluno, na sala de aula ele demonstrava que não cabia mais a ela e à família fazer
constantemente alterações no comportamen- algo pelo aluno. Ele foi encaminhado a um
to. Não se comunicava com os colegas nem especialista (psiquiatra) para um trabalho
mesmo com a professora, gostava de sentar mais elaborado. Logo que foi encaminhado,
próximo à porta e sempre saía da sala sem desistiu de estudar e, segundo as informa-
a permissão da professora. Era um aluno ções que a escola obteve, o aluno chegou a ir
freqüente, fazia as atividades propostas, ao psiquiatra três vezes, desistindo também
mas sempre isolado do grupo. Não aceitava desse compromisso.
realizar trabalhos em grupos, demonstran- De acordo com a coordenadora pedagógi-
do muita resistência. Às vezes levava para a ca da escola, esse foi um dos casos que teve
sala de aula um rádio-fone e ficava cantando mais repercussão dentro da escola.
o tempo todo, perturbando a aula.
De acordo com a professora, várias for-
mas de se trabalhar com ele foram feitas, Referências:
mas tudo em vão. O aluno não apresentava
mudanças. LIBÂNEO, J.C. Organização e Gestão de Es-
A partir desses acontecimentos, foi neces- cola: teoria e prática. Goiânia: Editora Al-
sária a intervenção da coordenadora. ternativa, 2004.
Foi realizado, então, um estudo de caso
do aluno, com base nas informações e ano- MEDINA, A.S. Supervisor escolar: parceiro
tações da professora e nas observações da político.
coordenadora.
A família do aluno foi acionada na tentati-
va de buscar mais informações que poderiam
contribuir com a escola. Segundo o relato da
mãe, ele perdeu o pai aos 13 anos, que foi
assassinado por engano por um traficante.
O pai era tudo para ele. De lá para cá,
nunca mais o aluno foi o mesmo. Deixou de
ter amizades entrando em uma profunda
depressão.
O aluno também tinha problemas com
1. Nome fictício, para preservar a identidade da escola.

76
Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 2, p. 1-204, ago./dez. 2008 - Semestral
Artigo 23
Autora:
Renata Racquel Marçal Mendes

Graduada em Pedagogia com Ênfase em Ensino Religioso pela PUC Minas


Professora de Ensino Religioso na rede Estadual de Ensino

Caso clínico de TDAH

Primeiramente, houve a necessidade de


Resumo conversar com os professores para saber
O presente artigo relata um estudo de caso desenvolvido como era seu comportamento, seu envolvi-
Revista Eletrônica - “O caso é o seguinte...” Coordenação Pedagógica: Coletânea de Estudos de Casos

pela supervisora pedagógica, tendo em vista um problema mento e seu desenvolvimento com relação às
de TDAH (Transtorno do déficit de atenção com hipera- atividades propostas. Foi verificado que alu-
tividade). Pretende-se caracterizar e analisar as causas no não conseguia acompanhar as atividades,
desse transtorno a partir da análise de um caso ocorrido pois não conseguia ficar em sala de aula. O
com um aluno do 1º ano do Ensino Médio, com base em segundo passo foi contatar os pais para uma
pesquisas, observações e entrevistas com a supervisora conversa, sendo verificados alguns pontos
pedagógica da escola. importantes a serem considerados. A mãe do
aluno o teve com 12 anos de idade, foi criado

O
Transtorno do Déficit de Atenção com como irmão da mãe pela avó sem a presença
Hiperatividade (TDAH) é um trans- do pai. Não teve nenhum referencial mas-
torno neurobiológico, de causas ge- culino. Seu irmão mais novo apresentava o
néticas, que aparece na infância e freqüen- mesmo tipo de comportamento.
temente acompanha o indivíduo por toda a Para realização do estudo de caso, foi
sua vida. Ele se caracteriza por sintomas de preciso que a família autorizasse e apoiasse
desatenção, inquietude e impulsividade. Ele sua realização. Após algumas pesquisas, a
é o transtorno mais comum em crianças e supervisora identificou que se tratava de um
adolescentes encaminhados para serviços caso clínico de TDAH e, ao analisar o proble-
especializados. Em mais da metade dos ca- ma, concluiu que seria necessário encami-
sos, o transtorno acompanha o indivíduo na nhá-lo a um profissional especializado.
vida adulta, embora os sintomas de inquie- Normalmente, esse tratamento é feito de
tude sejam mais brandos. forma multidisciplinar, envolvendo médi-
Procurando conhecer a causa desse dis- cos, psicólogos, fonoaudiólogos, pedagogos,
túrbio em um aluno do Ensino Médio, a su- psiquiatras, neurologistas, neuropediatras,
pervisora pedagógica da escola elaborou um pediatras etc., no processo, com técnicas
estudo de caso. Foram analisadas as dificul- específicas como a terapia cognitivo compor-
dades que o aluno apresentava nas matérias tamental (TCC) aos cuidados dos psicólogos
e no relacionamento com demais colegas, e psiquiatras, e o uso de medicações neuro-
pais, professores e funcionários da escola. estimulantes e medicamentos específicos no
O aluno era tido como um aluno proble- tratamento.
mático que passou por 13 escolas e tendo Na finalização desse processo, foi fun-
sido expulso de todas por atitudes desrespei- damental fazer uma avaliação adequada e
tosas. Normalmente não aceita ser chamado objetiva da gravidade dos sintomas apresen-
atenção e não respeita mulheres, somente tados pelo aluno e também a qualidade de
homens. O caso chamou a atenção dos pro- vida familiar, não só pela supervisora peda-
fessores, pois o aluno não consegue ficar em gógica, mas pelos profissionais que atende-
sala de aula e, quando está, é “avoado”, es- ram o adolescente.
tabanado e não consegue ficar quieto, apre- Podemos observar a importância da famí-
sentando grandes dificuldades com regras e lia e da escola nesse processo. É necessá-
limites. rio que ambos aprendam a lidar com essa

77
Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 2, p. 1-204, ago./dez. 2008 - Semestral
Caso clínico de TDAH Renata Racquel Marçal Mendes

criança ou adolescente, que responde muito


melhor ao reforço positivo do que à punição,
pois esse indivíduo, perante a escola, a famí-
lia e a sociedade, está sempre fora de contex-
to, sendo necessário muito cuidado ao lidar
com suas emoções.
Para se obter sucesso nesse tipo de tra-
tamento, verifica-se um bom suporte tera-
pêutico, com diagnóstico técnico e terapia
cognitiva comportamental, na qual a par-
ticipação da escola, na figura do professor
e do supervisor, da família como um todo
e da equipe interdisciplinar propiciará um
resultado satisfatório. Também é necessário
envolver e motivar esse indivíduo para que
ele mostre seu potencial, pois possui grande
capacidade de aprendizado, é criativo, intui-

Revista Eletrônica - “O caso é o seguinte...” Coordenação Pedagógica: Coletânea de Estudos de Casos


tivo e, na verdade, não apresenta déficit de
atenção, mas uma inconstância na atenção
e é capaz de uma hiperconcentração quando
houver motivação.
A maior dificuldade na identificação do
TDAH está na falta de conhecimento por par-
te dos professores, supervisores e diretores.
Salas de aula cheias de crianças com TDAH,
com professores sem saber o que fazer nem
como lidar com elas, desmotivam o trabalho
do professor. Turmas com “alunos especiais”
que, às vezes, nem ao menos conseguem ser
alfabetizados e que, normalmente, sentem
falta de uma estrutura familiar que possa
servir de ajuda para minimizar o problema,
vão evoluir na evasão escolar ou até mesmo
no envolvimento com drogas e delinqüência.
Os alunos com TDAH não precisam ser se-
parados por turma, pois não possuem pro-
blemas cognitivos, só precisam ser tratados
adequadamente por uma equipe interdisci-
plinar. É importante que o profissional de
saúde mental possa apoiar o professor em
sala de aula. É importante que professores
tenham pelo menos uma noção básica sobre
o TDAH, sobre a manifestação dos sintomas
e as conseqüências em sala de aula. Saber
diferenciar incapacidade de desobediência é
fundamental.

Referência:
BARKLEY, Russell A. Transtorno de Déficit
de Atenção/hiperatividade. 2. ed. São Pau-
lo: Artmed.

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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 2, p. 1-204, ago./dez. 2008 - Semestral
Artigo 24
Autora:
Rita André de Souza Oliveira

Graduada em Pedagogia com Ênfase em Ensino Religioso pela PUC Minas

Relato de Hiperatividade - TDAH

e o comportamento do filho. De acordo com


Resumo as orientações da coordenadora pedagógica,
A hiperatividade ainda é assunto polêmico, que muito se em sala de aula, ambiente escolar, o aluno
Revista Eletrônica - “O caso é o seguinte...” Coordenação Pedagógica: Coletânea de Estudos de Casos

confunde com falta de limite ou agitação do aluno em sala não consegue ter o mesmo nível de aprovei-
de aula, bem como com uma questão de disciplina. Mas, tamento e desenvolvimento alcançado pelos
afinal, o que retrata a hiperatividade de fato? seus colegas de ensino. Foram, identificados
e observados alguns comportamentos pe-

E
ste artigo descreve a narrativa de uma los professores e coordenadores neste ano
criança que apresenta dificuldade de letivo.
concentração em suas atividades e no O aluno é inquieto, indisciplinado, apre-
desempenho de suas atividades escolares. senta aspecto agressivo ao ser chamada a
Essas características são relatadas em uma sua atenção, não e sociável com seus colegas
análise de caráter pedagógico. de sala. Tem dificuldades de se concentrar,
Thiago1 é uma criança que iniciou a não tem compromisso com as atividades pro-
sua trajetória escolar numa escola públi- postas, sempre não traz os materiais com-
ca estadual, aos 6 anos, onde desde então pletos, não realiza as atividades avaliativas.
apresentava dificuldades de concentração Além de não participar das aulas, prejudica
nas brincadeiras, expressava agressividade o bom andamento das atividades em sala de
com os colegas, ficava isolado no canto, ti- aula.
nha dificuldade de se socializar e, em suas A escola buscou acompanhamento da fa-
brincadeiras individualizadas, expressava mília, fez indicações para acompanhamento
formas de conduta agressivas, se colocava especializado com psicólogos, mas a mãe
em situação de perigo e não tinha limites, do Thiago não conseguiu marcar psicólo-
desobedecia qualquer regra. go, apenas marcou uma consulta com um
Atualmente, a criança se encontra ma- Clínico Geral responsável pela equipe saúde
triculada na mesma escola na 4ª série do da família, que o encaminhou para análise
Ensino Fundamental e, desde o seu ingres- psicológica e neurológica.
so, a instituição fez inúmeros relatórios Entende-se que essa criança, apesar de
para compreender melhor suas atitudes e apresentar sintomas de hiperatividade, vive
comportamento. em um ambiente hostil, é vitima de espanca-
Thiago provém de uma família que vive mento, presencia violência e comportamento
em situação de conflito, havendo indícios de inadequado que se reflete em suas ações em
violência doméstica. Seu pai se apresenta sala de aula. São inúmeras as queixas de
uma pessoa violenta, espanca a criança com todos os professores que não conseguem tra-
freqüência, e, quando é chamado a compa- balhar com a questão da hiperatividade e da
recer na escola para tomar conhecimentos disciplina.
dos fatos ocorridos com Thiago, chega a es- Este artigo é baseado em um estudo de
pancar o filho na frente da coordenadora. caso com situações complexas, que reque-
Preocupada com o comportamento do fi- rem a busca de conhecimentos para que se
lho, a mãe procurou a escola para maiores identifiquem estratégias que sejam propí-
esclarecimentos sobre o rendimento escolar cias ao desenvolvimento comportamental e
cognitivo de alunos que apresentem as ca-
1. Nome fictício, para preservar a identidade do aluno.

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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 2, p. 1-204, ago./dez. 2008 - Semestral
Relato de Hiperatividade - TDAH Rita André de Souza Oliveira

racterísticas relacionadas e à promoção da


inclusão de forma correta.

Referências:
KNAPP, Paulo; ROHDE, L. A.; LYSZKOWSKI,
Liseane; JOHANNPETTER, Juliana. Porto
Alegre: Artes Medicas. 2002.

FONTES, Mariza Aguetoni. Psicopedagoga e


sociedade. 1. ed. São Paulo: Vetor, 2006.

Revista Eletrônica - “O caso é o seguinte...” Coordenação Pedagógica: Coletânea de Estudos de Casos

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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 2, p. 1-204, ago./dez. 2008 - Semestral
Artigo 25
Autora:
Rosângela Adriana de Abreu

Graduada em Pedagogia com Ênfase em Ensino Religioso pela PUC Minas


Professora de Ensino Religioso em uma Escola Estadual de Minas Gerais

A ética no cotidiano escolar

séculos, é importante pesquisar se a escola


Resumo ainda se alicerça em estruturas tradicionais
Este artigo pretende refletir, à luz de referenciais teóri- que interferem diretamente no processo pe-
Revista Eletrônica - “O caso é o seguinte...” Coordenação Pedagógica: Coletânea de Estudos de Casos

cos e um estudo de caso, a abordagem do tema Ética em dagógico e também como trata os conflitos
sala de aula, segundo a visão do professor, bem como os éticos que, inevitavelmente, ocorrem em seu
comportamentos e métodos que caracterizam essa abor- cotidiano.
dagem. Para fundamentar a pesquisa, buscaram-se os Dessa forma, o objetivo deste estudo
Parâmetros Curriculares Nacionais (1998) e algumas centra-se na questão: Como é feita pelo edu-
considerações sobre as mudanças sociais que atingem a cador a abordagem do tema ética quando
contemporaneidade. surge determinado conflito?
Para tanto, utilizou-se como metodologia

N
o contexto da sala de aula do ensino um questionário com questões pertinentes
fundamental, identificamos a neces- ao tema, direcionado a uma professora de
sidade de uma reflexão de como vem escola pública, para que, ao final, se consiga
acontecendo o trato do professor com o tema estabelecer inferências acerca da atuação da
em questão. professora em situações cotidianas que en-
Embora seja um termo bastante amplo, volvam conflitos éticos que possam ser con-
podemos conceituar Ética, segundo os Parâ- frontados com as teorias aqui pesquisadas.
metros Curriculares Nacionais – PCN, como Em uma emergente concepção, prevalece
“um conjunto de princípios ou padrões de nos dias atuais o discurso de que é preciso
conduta” (PCN, 1998, p. 49). Assim, a éti- trabalhar com os alunos levando em con-
ca, usualmente, pode ser entendida como ta as suas individualidades diferenciadas,
relativa à moralidade, como avaliação dos mas, na prática, faz-se necessário investigar
costumes, preconceitos e conceitos, deveres se esse conceito tem a aplicação necessária.
e modos de proceder dos homens para com De acordo com essa perspectiva, é pre-
os seus semelhantes. ciso que o professor tenha consciência de
No decorrer da vida, de forma gradativa, que, para a realização do trabalho didático
as pessoas tendem a superar as suas dificul- na perspectiva da ética, não basta apenas
dades ou não. Na medida em que exploram a compreensão dos princípios éticos funda-
as suas potencialidades, desenvolvem habi- mentais ou das doutrinas morais, mas tam-
lidades, competências e uma postura ética. bém a necessidade de conhecimentos, por
“O homem, na sua essência, é um ser ina- exemplo, na área das ciências do compor-
cabado, num processo contínuo de vir a ser, tamento, que, aplicados, auxiliem os alunos
mediado pelo acesso às interações sociais”. na legitimação dos valores discutidos, com a
(GADOTTI, 1999, p. 44). As ações desafiado- articulação de uma vivência pessoal com as
ras do contexto provocam ações e reações na experiências da socialização.
sua desenvoltura, manifestando assim o seu Assim sendo, trabalhar a ética numa
caráter e sua personalidade. perspectiva da cidadania na escola possui
Trazendo as reflexões acerca da ética um caráter de respeito à singularidade e à
para o campo da educação, sem perder de diversidade. Por exemplo, brincando, o alu-
vista as mudanças que já ocorreram no no consegue vivenciar e medir as conseqü-
sistema educacional brasileiro ao longo dos ências dos seus atos. A partir daí, se podem

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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 2, p. 1-204, ago./dez. 2008 - Semestral
A ética no cotidiano escolar Rosângela Adriana de Abreu

complementar as ações educativas por meio guns a chamavam de aleijada. Quase todo
de palestras, cartazes, do material didático o dia Ana chorava na escola. Como eu não
e através dos momentos de recreação. a rejeitei e me mantive próxima, tocando-a
Dessa forma, a ética orienta a conduta com respeito e carinho, oferecendo estraté-
humana, formando hábitos e atitudes coleti- gias escolares que a levassem ao sucesso,
vos de modo que o educando seja um “agente os alunos aprenderam a conviver com ela e
pacificador” (PCN, 1998, p. 58), um dissemi- passaram a apoiá-la e a envolvê-la em todas
nador dessas informações e conhecimentos. as atividades.
A competência da escola democrática está
em focalizar a qualidade das relações entre Tais declarações reacendem a necessida-
os agentes da instituição escolar. As rela- de de a escola reconhecer o seu papel dentro
ções sociais efetivamente vividas, experi- de um contexto das diferenças. Enquanto
mentadas, são os melhores e mais poderosos agente pacificador e disseminador da justiça
mestres em questão de respeito às diversida- e do combate às desigualdades, a escola deve
des. Assim sendo, o que se apresenta como exercer essa função na tentativa de comba-
problema, neste caso, é a reflexão acerca da ter todas as formas de preconceito.
indagação: Para que servem os belos discur- Muitas perguntas ainda hão de ser for-

Revista Eletrônica - “O caso é o seguinte...” Coordenação Pedagógica: Coletânea de Estudos de Casos


sos sobre o Bem, se as relações internas à muladas no âmbito da ética no cotidiano
escola e são desrespeitosas? De que adianta escolar.
raciocinar sobre a paz, fazer discurso sobre O estudo da Ética na visão de educadores
o respeito e o combate ao preconceito, se as exige do pesquisador uma escuta cuidadosa
relações vividas não demonstram tal atitu- da interação entre teoria e prática.
de? Então, o cuidado com a qualidade das Na busca de novos caminhos para lidar
relações interpessoais na escola é funda- com os impasses, cabe aceitar a constatação
menta l. A democracia é um modo de convi- de que as mudanças aceleradas na socieda-
vência humana e os alunos devem encontrar de contemporânea estarão sempre estabe-
na escola a possibilidade de vivenciá-la. Daí lecendo novas necessidades de abordagens
a importância de se promoverem experiên- significativas que contemplem o sujeito em
cias de cooperação, respeito e combate ao sua singularidade.
preconceito no cotidiano escolar. Fica evidente que o professor como me-
Para elucidar este estudo de caso, pas- diador da prática educativa transformadora
samos agora para os relatos da professora necessita de uma sólida formação teórica e
Manoela1, demonstrando alguns conflitos prática que deve ser desenvolvida dialetica-
éticos vivenciados em seu cotidiano em sala mente. Conjugar formação, autonomia, li-
de aula. berdade de expressão, compreensão das me-
tas e dos objetivos da educação numa escola
Um menino de onze anos, com deficiência democrática é instalar a ética e o exercício
mental, era tratado como palhaço pelos da cidadania no espaço escolar.
outros estudantes. Certa vez, colocaram Na medida em que o aluno apresentar as
um papel com um palavrão em suas cos- suas idéias, manifestar as suas emoções e os
tas. Enquanto ele andava, os alunos e até seus sentimentos, ele aprenderá a escutar e
os funcionários riam dele. Então chamei a respeitar a opinião do outro. Essas habili-
os alunos e os funcionários e deixei bem dades devem ser trabalhadas pelo professor,
claro que manifestações preconceituosas o saber ouvir e o respeitar.
e desrespeitosas contra aquele aluno ou A educação cidadã tem reflexo na vida
qualquer outro portador de deficiência não das pessoas e da sociedade. Leva ao conhe-
seriam toleradas. cimento, aos princípios que fundamentam
as práticas sociais e o respeito às normas
Segundo relato da professora: democráticas. Nesse caso, comprova-se a
eficácia da abordagem bem sucedida do
Quando Ana, uma garota de oito anos, com tema Ética, pois a sua prática associada
deficiência física, começou a estudar na mi- aos saberes desenvolve e reafirma os valores
nha classe, os colegas a olhavam e tratavam culturais e sociais, resgatando a dignidade
como se tivesse uma doença contagiosa, al- humana.
1. Nome fictício, para preservar a identidade da profes-
sora.

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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 2, p. 1-204, ago./dez. 2008 - Semestral
A ética no cotidiano escolar Rosângela Adriana de Abreu

Referências:
BRASIL. Secretaria de Educação Fundamen-
tal. Parâmetros Curriculares Nacionais:
Temas Transversais/ Secretaria de Educa-
ção Fundamental. Brasília: MEC/SEF, 1998.
436p.

GADOTTI, Moacir. Escola cidadã. 2. ed. São


Paulo: Cortez/Autores Associados, 1994.
Revista Eletrônica - “O caso é o seguinte...” Coordenação Pedagógica: Coletânea de Estudos de Casos

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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 2, p. 1-204, ago./dez. 2008 - Semestral
Artigo 26
Autora:
Roseli Aparecida Alves Campos
Endereço eletrônico: raacampos.rose@yahoo.com.br
Graduada em Pedagogia com Ênfase em Ensino Religioso pela PUC Minas

Comportamento afetivo-emocional

aluno inquieto e agressivo sem que ele tenha


Resumo qualquer tipo de doença, síndrome ou dis-
Inúmeras vezes nós, educadores, nos perguntamos o que túrbio? O presente artigo retrata um exem-
Revista Eletrônica - “O caso é o seguinte...” Coordenação Pedagógica: Coletânea de Estudos de Casos

fazer com o aluno que agride verbal e fisicamente os cole- plo típico desse dilema. Freqüentemente, a
gas sem nenhum motivo aparente. O que fazer diante desse criança que não sabe lidar com a própria
dilema? O presente artigo relata o caso de uma criança afetividade é vista como “agressiva” e “sem
que nos leva a refletir sobre a afetividade e como ela in- limites”, mas o que fazer? Como ajudá-la?
terfere no comportamento. Sinésio é um aluno aparentemente sem
limites e agressivo. Tais características vi-

A
afetividade1 é um dos elementos que nham atrapalhando a concentração dos seus
compõe o ser humano e orienta o seu colegas, bem como o seu desenvolvimento
comportamento, para o bem ou para o escolar, portanto, foi necessário fazer o es-
mal, ou seja, se o indivíduo não consegue ex- tudo de caso acerca do seu comportamento
teriorizar e interpretar suas emoções, prova- afetivo-emocional.
velmente ele se frustrará e não atingirá cla- O menino – que apresentava um comporta-
ramente seus objetivos, podendo até mesmo mento atípico para a sua faixa etária – tinha
se prejudicar e/ou prejudicar outrem, tendo seis anos de idade quando ingressou numa
em vista que a nossa vida afetiva é composta escola pública da Região Metropolitana de
de dois afetos básicos: o amor e o ódio. Belo Horizonte. Ele não conseguia ficar um
Para os autores de Psicologias: uma in- só minuto parado e concentrar-se em algo
trodução ao estudo de Psicologia, a afetivi- era quase impossível. Batia, xingava, cuspia
dade é parte integrante do nosso psíquico e e mordia os colegas, falava palavras “feias”,
nossas expressões não podem ser compre- respondia mal à professora, mostrava a lín-
endidas se não considerarmos os afetos que gua, entre outras inúmeras demonstrações
as acompanham. Se analisarmos apenas de agressividade.
alguns aspectos do ser humano, estaremos É pertinente esclarecer que até a faixa
considerando-o como um ser fragmentado e etária dos 3 anos uma criança utiliza reações
corremos o risco de deixar de lado a análise físicas para chamar a atenção dos adultos
de aspectos relevantes – é o caso do com- e expressar o que deseja e o que necessita.
portamento afetivo-emocional do aluno Si- Como ela ainda não compreende o que sente
nésio 2 , apresentado a seguir. e muito menos sabe lidar com os sentimen-
Que educador nunca se deparou com um tos, é comum vê-la agressiva ou chorando,
pois é essa forma que encontra para reagir
1. Afetividade: qualidade do que é afetivo – segundo o ao ambiente externo e suas variações e mu-
dicionário Silveira Bueno da língua portuguesa. danças frente ao seu cotidiano. Assim é o
Afetivo: relativo a afeto ou a afetividade. Que tem, ou Sinésio, aluno que, não sabendo como lidar
em que há afeto; dedicado, afeiçoado, afetuoso, carinho-
so – segundo o dicionário Aurélio da língua portugue- com suas frustrações, vê na agressividade
sa. uma forma de pedir ajuda ao adulto mais
No dizer da pedagoga da USP Izabel Galvão. “a afetivi- próximo dele.
dade é um dos principais elementos do desenvolvimen- Ao lidar com esse tipo de situação, cabe
to humano”. Revista Nova Escola, Ed. Especial Grandes ao professor e ao pedagogo conversar com
Pensadores – Henri Wallon.
esse aluno sobre suas atitudes e estimulá-lo
2. Nome fictício, para preservar a identidade do aluno.

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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 2, p. 1-204, ago./dez. 2008 - Semestral
Comportamento afetivo-emocional Roseli Aparecida Alves Campos

a expressar sua afetividade, seus sentimen- gência e a formação do eu como pessoa.


tos através da fala, da oralidade e não mais Portanto, o educador, antes de apontar
através do corpo, como outrora fazia; uma que um determinado aluno é indisciplinado
vez que “a criança responde às impressões e sem limites, deve observá-lo com cautela
que as coisas lhe causam com gestos dirigi- e bem de perto, pois o diagnóstico pode ser
dos a elas” (Henri Wallon). apenas o de uma criança com “problema” de
Nessa perspectiva, ambos os profissio- comportamento afetivo-emocional. E nesse
nais devem ficar atentos e procurar auxiliar caso o melhor é ajudá-lo e promover a boa
o aluno a identificar a emoção que lhe causa convivência do grupo do qual ele é parte in-
o desconforto perante situações diversas. tegrante. E, acima de tudo, o importante não
Vale também se aproximar do educando, é punir, é procurar soluções que amenizem
isso fará com que ele se sinta à vontade para as situações de agressividade até que o aluno
expressar seus sentimentos e até mesmo aprenda a dominar melhor seus sentimentos
tentar explicar o motivo dos gestos afoitos, e emoções, permitindo-lhe viver e conviver
dando-lhe oportunidade de perceber as re- melhor consigo e com seus companheirinhos
gras de convivência. Segundo Briza e Del de escola.
Claro (2005), algumas das ajudas que o pro- É o que a coordenação pedagógica junta-

Revista Eletrônica - “O caso é o seguinte...” Coordenação Pedagógica: Coletânea de Estudos de Casos


fessor pode fornecer ao estudante agressivo mente com as professoras envolvidas com o
são: criar uma relação de amizade e con- Sinésio vêm fazendo: ao invés de discriminá-
fiança com ele; estabelecer claramente os lo, puni-lo ou tratá-lo com indiferença, elas
limites; incentivar manifestações de afeto, continuam fazendo observações, pesquisas,
segurança, senso de responsabilidade e de estudos e relatos sobre ele para compreen-
cooperação; nunca gritar, brigar ou discri- der cada vez mais e melhor as emoções que
minar esse aluno. a afetividade provoca e suas conseqüências
Gurgel (2006) sugere, entre outras coi- no comportamento cotidiano.
sas, que o professor fique no controle da
situação, mantendo-se calmo em momentos
de conflito, para evitar cair no mesmo está- Referências:
gio emocional da criança, tendo em vista o
importante papel do educador na formação BOCK, Ana M. Bahia; FURTADO, Odair; TEI-
emocional do educando. XEIRA, Maria de Lourdes T. Psicologias: uma
Professor e pedagogo devem estabelecer introdução ao estudo de Psicologia. In: BOCK,
contato com a família do referido aluno, pois Ana M. Bahia; FURTADO, Odair; TEIXEIRA,
é por intermédio da comunicação que se cria Maria de Lourdes T. Vida afetiva. 3. ed. São
um elo de confiança e abertura mútua entre Paulo: Saraiva, 1989. Cap. 14, p. 172-183.
pais e escola em prol do bem estar afetivo-
emocional da criança. BRIZA, Lucita; DEL CLARO, Pricila. Aluno
O pedagogo deve se valer de conversas agressivo? Ele precisa de afeto e de limites.
formais e, principalmente, informais com o Nova Escola, São Paulo, Ano XX, n. 184, p.
próprio aluno e seus colegas, observar ati- 38-39, ago. 2005.
vidades realizadas em espaço livre, – o re-
creio, por exemplo, é um excelente momento GURGEL, Thaís. Entre tapas e beijos. Nova
de descontração no qual o aluno se mostra Escola, São Paulo, Ano XX, n. 196, p. 68-69,
como ele é, proporcionando ao observador out. 2006.
um emaranhado de possibilidades avaliati-
vas – e buscar junto ao professor detalha- GUIMARÃES, Arthur et al. Henri Wallon, o
mento do comportamento do aluno em di- educador integral. Nova Escola, São Paulo,
ferentes momentos e atividades em sala de Ed. Especial, n. 19, p. 74-76, jul. 2008.
aula e extra classe.
No que diz respeito à afetividade, Wallon, GUIMARÃES, Arthur et al. Johann Heinrich
segundo Guimarães (2008), foi o pioneiro a Pestalozzi, o teórico que incorporou o afeto à
levar para dentro da sala de aula não só o sala de aula. Nova Escola, São Paulo, Ed. Es-
corpo da criança, mas também suas emo- pecial, n. 19, p. 41-43, jul. 2008.
ções. E fundamentou suas idéias em quatro
elementos básicos que se comunicam o tem-
po todo: a afetividade, o movimento, a inteli-

86
Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 2, p. 1-204, ago./dez. 2008 - Semestral
Artigo 27
Autora:
Rosemary Aparecida Aquino Fernandes

Graduada em Pedagogia com Ênfase em Ensino Religioso pela PUC Minas

Hiperatividade – Conhecer e se conscientizar

soluções para reverter esse quadro, colocava


Resumo o lixo em lugares de difícil acesso, oferecia
O presente artigo relata um caso de hiperatividade infan- exclusivamente para a aluna atividades di-
Revista Eletrônica - “O caso é o seguinte...” Coordenação Pedagógica: Coletânea de Estudos de Casos

til, um assunto complexo. A criança hiperativa representa ferentes das que a turma desenvolvia, na
um enorme desafio para pais e professores. verdade eram as atividades desenvolvidas
pela turma de alunos de 6 anos. Nesse con-

S
andra1 foi matriculada em uma esco- texto, foi possível observar que a aluna rea-
la particular, por indicação de uma lizava tudo o que era proposto sem maiores
amiga, cuja filha ali estudava. A mãe dificuldades. No entanto, esse procedimento
relatou que Sandra é filha única do casal e incomodava. Então a diretora solicitou que a
desde os 3 anos de idade freqüenta escola. mãe da aluna comparecesse à escola. Após
Ela fez 10 anos em novembro. relatar o que vinha acontecendo, sugeriu que
Sandra tem dificuldades no aprendizado, a criança ficasse na sala das crianças de 6
na higiene pessoa l e é muito ansiosa, não anos e assim acompanhasse as atividades
aceita regras, não consegue se organizar nas adequadas para ela naquele momento.
brincadeiras, é muito seletiva em relação às A mãe não aceitou, então a professora
amizades e prefere crianças mais novas. Ela continuou a fazer atividades diferenciadas
freqüentou outras escolas particulares e até que planejava exclusivamente para Sandra
o momento não apresentava o rendimento de acordo com as dificuldades apresentadas.
que os pais queriam. Repetiu a primeira Em relação às alterações comportamentais,
série por duas vezes devido ao seu baixo de- a mãe disse que Sandra era uma criança
sempenho no processo de aprendizagem e, hiperativa, mas fazia tudo o que as outras
com objetivo de obter um melhor rendimen- crianças de sua idade fazia. Só que, na sala
to, ela foi sendo matriculada cada ano em de aula, havia momentos em que ela rasga-
uma escola diferente. A diretora recebeu os va as atividades, jogava seus pertences no
pais, conversou muito com eles e efetivou a chão. Não recolhia nada, saía de sala sem-
matrícula. pre com desculpa de ir ao banheiro. Quando
Sua adaptação foi se dando aos poucos, a professora ia buscá-la, voltava gritando,
relacionava-se bem com os colegas, é uma repetia o nome de um colega várias vezes,
criança dócil e passa a maior parte do tem- chamando-o, e quando o mesmo lhe respon-
po observando as crianças que estão ao seu dia ela ficava calada. Alguns funcionários
redor. da escola tinham somente a preocupação
Aos poucos seu comportamento foi mu- se ela iria passar de ano e isto incomodava
dando: às vezes muito agitada, outras vezes muito a professora, pois estes sujeitos pode-
permanecia apática, como se estivesse em riam participar efetivamente na inclusão de
outra dimensão, apresentava dificuldades ao Sandra na escola. A professora, sem ajuda
realizar as atividades e com isso não tinha da direção, se prontificou a conversar com a
interesse de fazer o que era proposto, rolava mãe novamente pedindo ajuda.
no chão, não parava dentro da sala e que- Sua mãe explicou que Sandra tem resis-
ria insistentemente mexer no lixo da sala, tência em tomar o remédio, joga fora e fecha
picava papel e colava. A professora buscava a boca. Às vezes fica até uma semana sem
tomar o remédio por falta de renovação da
1. Nome fictício, para preservar a identidade da aluna.

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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 2, p. 1-204, ago./dez. 2008 - Semestral
Hiperatividade – Conhecer e se conscientizar Rosemary Aparecida Aquino Fernandes

receita médica. Mesmo com a falta de tempo apresenta dificuldades instrumentais que
da mãe, ela se prontificou a acompanhar sua interferem no desenvolvimento cognitivo.
filha. As atividades de casa passaram a ser O padrão neuropsicológico encontrado
realizadas com a orientação da professora, é congruente com as alterações funcionais
que trabalhava muito com o lúdico. Criavam que acompanham o quadro clínico e sugere
músicas, jogos e brincadeiras. Foi muito bom, alterações funcionais na ativação neural do
pois se podia ver o desenvolvimento, Sandra córtex pré-frontal, regiões mediais tempo-
memorizava tudo com facilidade, respondia rais, áreas associativas têmporo-parietais
a todas as perguntas da professora. (bilateralmente) e fronto-temporal anterior à
Na hora do recreio, gostava de ficar perto esquerda.
das crianças menores. Quando levava uma Diante desse quadro, Sandra precisava
boneca para a escola, além de conversar de uma intervenção multidisciplinar, vi-
sozinha, levantava a blusa e fingia estar sando uma estimulação cognitiva global. E
amamentando. assim a professora procurou fazer, envolveu
Mesmo com o desenvolvimento de Sandra, as crianças, os professores e os funcioná-
sua mãe percebeu que podia fazer mais pela rios da escola. Em qualquer parte da escola
filha, então resolveu procurar ajuda de uma que Sandra ia, ela teria uma atividade para

Revista Eletrônica - “O caso é o seguinte...” Coordenação Pedagógica: Coletânea de Estudos de Casos


psicóloga, um terapeuta ocupacional e uma fazer. Por orientação da psicopedagoga, as
psicopedagoga. A professora foi convidada a avaliações seriam orais, e o lúdico deveria
participar de consultas junto com os pais, ser explorado em todas as disciplinas.
buscando maiores detalhes sobre a vida Era preciso, enfim, conhecer, apostar
escolar de Sandra e, ao mesmo tempo, se e investir nas possibilidades e buscar as
orientando como deveriam ser desenvolvidas condições favoráveis para que pudesse con-
as atividades na sala de aula. cretizar, consciente de que ter “déficits” ou
A psicopedagoga solicitou à mãe que fi- “limites” não impossibilitam aprender, avan-
zesse uma avaliação da filha, relatando que çar para além do estado em que se encontra,
Sandra apresenta dificuldades na lingua- e assim se desenvolver.
gem, tem resistência para ir ao banheiro, re- Conhecer e ter consciência dos avanços da
tém as fezes e suja a calcinha. O processo de ciência se faz necessário em relação à crian-
aquisição da leitura tem sido muito difícil, ça com o Transtorno de Déficit de Atenção/
ela não consegue ler um texto e encontra-se Hiperatividade (TDAH). É preciso olhar para
muito aquém do esperado em sua idade cro- além dos rótulos, numa ótica prospectiva –
nológica. Com base nessa descrição, Sandra isto é, olhar “em frente”, “adiante”, ver que
foi avaliada. a criança “pode” e o que nós, educadores,
Após vários testes, concluiu-se que a “podemos” fazer com ela.
capacidade de fluência verbal encontra-se Acredito que o primeiro passo do profes-
em nível muito inferior, sugere-se alteração sor seria observar se o estado de agressivi-
funcional na região fronto-temporal anterior dade ou hiperatividade se instalou de forma
do hemisfério dominante. Nos testes de flu- permanente ou se é um estado temporário
ência por categoria semântica, os resultados (circunstancial) e se a criança apresenta, em
encontram-se flutuantes pela interferência casa, dificuldades em se relacionar, falar,
de sua dificuldade de concentração. expressar emoções, entre outras. Depois,
A capacidade de linguagem expressiva e observar como ela brinca, se persiste nas
receptiva encontra-se prejudicada. A criança atividades, se brinca mais sozinha ou com
deverá ser avaliada por uma fonoaudióloga. outras crianças.
Avaliada pelo TDE, o desempenho apre- Faz-se necessário a família refletir sobre
sentado em relação à leitura, à escrita e à o clima familiar, o que está sendo exigido
aritmética encontra-se em nível muito in- da criança e a capacidade de tolerância dos
ferior. Não é capaz de escrever frases sim- adultos para com as atitudes dela.
ples e ler palavras que tenham mais de Intervenções realizadas junto a esse alu-
dois fonemas. O pensamento encontra-se no tornam-se importantes, pois envolvem
desorganizado, confuso e a fluência verbal estratégias como: modificação do ambiente,
estereotipada. adaptação do currículo, flexibilidade na rea-
Com base nesses dados, concluiu-se que lização e apresentação de tarefas, adequação
o perfil neuropsicológico apresenta eficiência do tempo de atividade, acompanhamento de
intelectual geral em nível inferior. Sandra medicação.

88
Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 2, p. 1-204, ago./dez. 2008 - Semestral
Hiperatividade – Conhecer e se conscientizar Rosemary Aparecida Aquino Fernandes

Em um estudo de caso, é de suma im-


portância que haja uma interação entre es-
cola, pais e a criança, no sentido de poder
oportunizar uma integração e uma inclusão
efetiva. Não cabe à escola nem mesmo aos
pais cruzarem os braços, mas sim buscar
conhecimentos e alternativas para a crian-
ça hiperativa avançar no seu desempenho
escolar.

Referências:
BENCZIK, E.B.P. Transtorno de Déficit de
Atenção/ Hiperatividade: atualização diag-
nóstica e terapêutica. São Paulo: Casa do Psi-
cólogo, 2000.
Revista Eletrônica - “O caso é o seguinte...” Coordenação Pedagógica: Coletânea de Estudos de Casos

GOLDSTEIN, S.; GOLDSTEIN, M. Hiperativi-


dade: como desenvolver a capacidade de
atenção da criança. Tradução: Maria Celes-
te Marcondes. São Paulo: Papyrus, 1994.

Hiperatividade e distúrbio de déficit de


atenção. Disponível em: <http://www.geo-
cites.com/hotsprings/oasis/2826>. Acesso
em: 22 nov. 2008.

INDISCIPLINADO ou hiperativo. Nova Esco-


la. São Paulo. Fundação Victor Civita, n. 132;
p.30-32 2000.

89
Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 2, p. 1-204, ago./dez. 2008 - Semestral
Artigo 28
Autora:
Rosemeire dos Santos Gonçalves

Graduada em Pedagogia com ênfase em Ensino Religioso pela PUC Minas

A co-responsabilidade educativa do coordenador pedagógico:


quando o caso é dislexia

que Maria é uma criança dócil, possui bons


Resumo hábitos, utiliza com cuidado os materiais de
O artigo é um breve relato de caso de dislexia, destacando uso coletivo, consegue localizar-se no esque-
Revista Eletrônica - “O caso é o seguinte...” Coordenação Pedagógica: Coletânea de Estudos de Casos

a co-responsabilidade da ação do coordenador pedagógi- ma corporal, nomeia e reconhece as cores,


co na intervenção. domina a distinção entre letras e números,
conhece o alfabeto. No sistema da numera-

D
ificuldade de aprendizagem, desinte- ção, comunica oralmente com seqüência e
resse pelos estudos, confusão da la- registra os números de 1 a 29.
teralidade e dispersão são sintomas Percebe-se que possui dificuldades em
podem parecer meros tropeços de um cres- fazer amizades, chora quando sente que não
cimento normal das crianças, no entanto, é capaz de resolver alguma tarefa. Faz uma
em alguns casos, é um sério problema. É a leitura hipotética de materiais impressos,
dislexia. Nesse contexto, a tarefa de pais e possui desinteresse pelos estudos, evita ta-
educadores é acompanhar e estimular, pois refas que exijam esforço mental, apresenta
renova a esperança de que a criança evolua problemas na comunicação oral. Suspeita-se
e conquiste o desempenho adequado. de dislexia. A criança necessita de estímulo
No espaço escolar, encontramos os alu- para desenvolver seu potencial no contexto
nos “perfeitos”, que desenvolvem, são par- escolar e emocional.
ticipantes, autônomos, possuem raciocínio A dislexia é classificada em graus, pode
lógico, são os alunos ideais, o desejo de todo ser leve, média ou severa, um atraso no de-
professor. Quando aparecem casos isolados senvolvimento da linguagem, uma disfunção
antagônicos, isso requer do coordenador pe- conhecida como distúrbio de aprendizado
dagógico um trabalho direcionado, identifi- que não tem cura, mas pode ser tratado.
cando, no contexto educacional, o problema No caso de Maria será necessária a in-
cognitivo ou de ordem emocional que pode tervenção de especialistas dos campos da
apresentar o aluno que não possui um bom psicologia e da fonoaudiologia. Um trabalho
desempenho escolar. De posse de algumas integrado entre os especialistas, a coordena-
informações, faz-se o levantamento do caso. ção da escola e a família.
Em uma escola da rede pública, Maria1, O coordenador pedagógico, na constata-
com 10 anos de idade, está na 4ª série. Foi ção de um caso de dificuldade de aprendiza-
encaminhada pela professora com queixa de gem, deverá agir prontamente, valorizando os
falta de atenção, desinteresse pelos estudos conhecimentos prévios do aluno, auxiliando
e não conseguir acompanhar a turma. Seria com ações que favoreçam a aprendizagem,
necessário o apoio da coordenadora. respeitando sempre o ritmo de aprendizagem
Maria passou a ser acompanhada pela de cada um e deixando de rotular o aluno
coordenadora. Apresentava um comporta- que somente tem ou traz problemas para a
mento diferente dos colegas, nos momentos escola. Esse olhar do coordenador pedagógi-
de brincadeira não interagia com a tur- co é fundamental na vida dos vários atores
ma. Foi então submetida a uma avaliação sociais no processo educativo, alunos, pais
pedagógica. e professores.
Foi constatado, na avaliação pedagógica, Cabe, portanto, ao coordenador pedagógi-
co um papel co-responsável no caso de disle-
1. Nome fictício, para preservar a identidade da aluna.

91
Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 2, p. 1-204, ago./dez. 2008 - Semestral
A co-responsabilidade educativa do coordenador pedagógico: ... Rosemeire dos Santos Gonçalves

xia, de dificuldade de aprendizagem. Assim,


o objetivo da construção da educação é se
aproximar das necessidades do aluno para
fazer uma intervenção precoce.

Referências:
DOR, Joel. Sintomas e traços estruturais.
Porto Alegre: Artes Médicas, 1991.

GOMES, M.F.C.; CASTRO, M.G. de. Dificul-


dades de Aprendizagem na Alfabetização.
Belo Horizonte: Autêntica, 2001.

MEUR, A. de Estaes. Psicomotricidade.


Educação e Reeducação. São Paulo: Manolo,

Revista Eletrônica - “O caso é o seguinte...” Coordenação Pedagógica: Coletânea de Estudos de Casos


1984.

92
Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 2, p. 1-204, ago./dez. 2008 - Semestral
Artigos
Pedagogia com Ênfase em Necessidades Educacionais Especiais

Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 2, p. 1-204, ago./dez. 2008 - Semestral


Revista Eletrônica - “O caso é o seguinte...” Coordenação Pedagógica: Coletânea de Estudos de Casos
Artigo 1
Autora:
Adriana Camargos de Figueiredo
Endereço eletrônico: dricamargo2002@yahoo.com.br
Graduanda em Pedagogia com Ênfase em Necessidades Educacionais Especiais pela PUC Minas

Dificuldade de aprendizagem: um desafio no contexto escolar

ela já havia notado alguma alteração em seu


Resumo comportamento. A mãe relatou à coordena-
Este artigo relata o estudo de caso de um aluno com di- dora que o filho não queria ir para a escola
Revista Eletrônica - “O caso é o seguinte...” Coordenação Pedagógica: Coletânea de Estudos de Casos

ficuldade de aprendizagem de uma escola particular de porque a professora havia dito que ele seria
Belo Horizonte. Nele foram relatadas as intervenções re- reprovado devido às suas notas baixas. Nes-
alizadas para sanar a dificuldade de aprendizagem apre- se momento, a coordenadora percebeu que
sentada pelo aluno. Também foram discutidos os fatores o problema estava dentro da própria escola
que podem causar uma dificuldade, assim como a impor- e que era preciso intervir junto à professo-
tância de o professor refletir sobre sua prática docente. ra para que ela refletisse sobre sua prática
docente.

E
ste artigo baseia-se no estudo de caso Na maioria das vezes, as escolas não es-
do aluno Gabriel1, de 8 anos, estudan- tão preparadas para lidar com as dificulda-
te da 2ª série do ensino fundamental des de aprendizagem que o aluno apresenta
de uma escola particular de Belo Horizonte. em determinadas áreas. Corrêa (2001, p. 28)
Em conversa com a coordenadora peda- afirma que, geralmente elas desqualificam
gógica, foi relatado que a professora desse o aluno, aprisionando-o no lugar de quem
aluno sempre se queixava de suas atitudes não sabe, nem pode aprender, porque assim
em sala. Segundo a professora, ele não tinha é visto pelo professor e por especialistas. O
organização espacial, seqüência ao escrever, aluno acaba por acreditar e assumir o rótu-
não realizava as atividades propostas, era lo que lhe é atribuído. Nessa perspectiva, o
muito distraído, apresentava dificuldade no professor deve ter a consciência do seu papel
pensamento lógico-matemático, na leitura e no processo de ensino-aprendizagem de seu
na escrita, suspeitando-se, portanto, de uma aluno. É imprescindível perceber que cada
‘Dificuldade na Aprendizagem’. A situação aluno é único e que o mesmo método de en-
era preocupante visto que Gabriel tinha tido sino não atende a todos os alunos. Ele deve
bom rendimento escolar no ano anterior. refletir constantemente sobre suas atitudes
Sabe-se que muitos fatores podem causar em relação aos alunos e estar atento no sen-
uma dificuldade de aprendizagem na crian- tido de identificar qualquer tipo de dificulda-
ça, o que torna fundamental questionar se de que possa ocorrer dentro da sala de aula.
essa dificuldade é devida ao ensino ou à Assim será possível iniciar, o mais rápido
aprendizagem, pois ambas andam juntas, possível, o trabalho pedagógico adequado
tornando-se impossível saber de quem é a para “cercar” a dificuldade apresentada.
“culpa” maior. Sendo assim, cabe à escola Na época, a escola contratou os serviços
diagnosticar a dificuldade para tomar as de uma psicopedagoga para que juntos pu-
providências cabíveis. Neste caso, a coorde- dessem buscar estratégias de intervenção
nadora iniciou um processo de investigação adequadas com o objetivo de sanar as difi-
para tentar entender quais os motivos desse culdades apresentadas pelo aluno. A partir
comportamento apresentado pelo aluno. das orientações desse profissional, foi reali-
Primeiramente, a coordenadora chamou zado um trabalho com a professora de Ga-
a mãe do aluno para colocá-la a par da si- briel. Esse trabalho consistiu na reestrutu-
tuação escolar de seu filho e para saber se ração dos métodos de ensino utilizados em
sala de aula. A professora recebeu diversos
1. Nome fictício, para preservar a identidade do aluno.

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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 2, p. 1-204, ago./dez. 2008 - Semestral
Dificuldade de aprendizagem: um desafio no contexto escolar Adriana Camargos de Figueiredo

materiais que serviram de apoio para a rea- Referências:


lização do trabalho com o seu aluno.
A coordenadora pedagógica procurou sa- CORRÊA, Rosa Maria. Dificuldades no
ber quais eram as atividades de maior in- aprender: um outro modo de olhar. Campi-
teresse do aluno, chegando à conclusão de nas, SP: Mercado de Letras, 2001.
que Gabriel se interessava muito pelas ati-
vidades lúdicas, desenvolvidas nas aulas de
educação física.
A partir desse momento, a coordenadora
orientou a professora de Gabriel a fazer en-
contros individuais com ele na tentativa de
reaproximar os dois, uma vez que a atitude
da professora em relação a Gabriel criara
uma barreira entre eles. O aluno também
foi encaminhado para um acompanhamento
com o psicólogo, que realizava as sessões
tanto na clínica como na própria escola.

Revista Eletrônica - “O caso é o seguinte...” Coordenação Pedagógica: Coletânea de Estudos de Casos


Nesse sentido, em continuidade ao traba-
lho desenvolvido em parceria entre coorde-
nador e professor, no intuito de auxiliar o
aluno Gabriel a superar as suas dificulda-
des na aprendizagem, foram desenvolvidas
atividades lúdicas, como, por exemplo, o jogo
de Argolas, o jogo da Amarelinha, Seriação e
Seqüência. Foram trabalhados os conceitos
de adição, subtração, multiplicação e divisão
com materiais concretos. No caso da leitura
e da escrita, a professora de Gabriel utili-
zou diversos portadores de texto, permitin-
do que o aluno escolhesse o de seu maior
interesse.
A partir das intervenções, é possível dizer
que Gabriel melhorou o seu desempenho es-
colar. Melhorou a relação interpessoal com
a professora, está mais concentrado nas au-
las, desenvolve todas as atividades propos-
tas, tem melhorado nos aspectos da leitura,
da escrita e do raciocínio lógico-matemático,
alcançando notas acima da média exigida
pela escola.
Nessa perspectiva, infere-se que é preciso
entender que as crianças com dificuldade
de aprendizagem não são, de forma alguma,
seres incapazes, apenas precisam de um
tempo maior e de um ensino mais elaborado.
Para isso é preciso criar novos contextos que
se adaptem às individualidades de cada alu-
no, valorizando o que cada um sabe, a fim
de reforçar e ampliar suas potencialidades e
não reforçar suas dificuldades.

96
Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 2, p. 1-204, ago./dez. 2008 - Semestral
Artigo 2
Autora:
Aline Augusta Carvalho

Graduanda em Pedagogia com Ênfase em Necessidades Educacionais Especiais pela PUC Minas

A inclusão de alunos com síndrome de Down: desafios

e o incentivo de uma sociedade mais inclu-


Resumo siva. Nessa perspectiva, Carvalho (1998,
O presente artigo destaca temas referentes à questão da p. 170) comenta que a escola pressupõe,
Revista Eletrônica - “O caso é o seguinte...” Coordenação Pedagógica: Coletânea de Estudos de Casos

inclusão de crianças com Síndrome de Down (SD) na es- conceitualmente, que todos, sem exceção,
cola regular. Ainda que nos dias atuais as escolas se di- devem participar da vida acadêmica, em
gam inclusivas, infelizmente tem-se notado que parte dos escolas ditas comuns, nas classes ditas re-
profissionais da educação ainda não possui preparação gulares, onde devem ser desenvolvidos os
para desenvolver com essas crianças atividades que real- trabalhos pedagógicos, que sirvam a todos
mente as façam sentir valorizadas no meio em que estão indiscriminadamente.
incluídas. Pesquisei uma instituição de ensino que
me permitisse fazer um estudo de caso vol-

O
Brasil tem passado, nos últimos anos, tado exatamente para a Síndrome de Down e
por um grande desafio. O desafio de fui acolhida carinhosamente por uma insti-
incluir crianças que possuem diver- tuição particular de ensino da rede regular.
sas deficiências na escola regular. Focando A turma era do 3° Período da educação in-
a Síndrome de Down, podemos visualizar fantil e nela estava matriculado o Vítor1, de
claramente quantas são as crianças que dei- 7 anos de idade, que possui a SD. Na espe-
xaram de estudar em escolas especializadas rança de que eu pudesse ajudar de alguma
para prosseguirem suas vidas escolares em forma no processo de ensino-aprendizagem
escolas da rede regular de ensino público ou desse educando, a diretora me permitiu fa-
privado. As mudanças de realidade dessas zer o estudo.
requerem cuidados e dedicação por parte de Inicialmente, notei que essa criança era
toda a sociedade, pois quando uma criança alegre, gostava muito de brincar, individual-
com necessidades educacionais especiais mente e com seus colegas de classe, e acei-
(NEE) é aceita em uma instituição de ensino tava a minha presença sem dificuldades. Po-
comum, várias barreiras devem ser trans- rém, quando a professora regente solicitava
postas: vencer o preconceito e promover a que guardassem os brinquedos para que a
mudança, a adaptação na metodologia de aula fosse iniciada, essa criança se tornava
ensino de forma a atender, realmente, às ne- agressiva, chorava demasiadamente e não
cessidades do aluno. respondia com aceitação ao pedido da profes-
Na Declaração de Salamanca (UNESCO, sora. Para que os demais alunos pudessem
1994), é reforçado o direito que todos os concentrar durante a aula, a educadora me
sujeitos com deficiência têm perante o en- pedia para sair da sala como o Vitor. Assim
sino escolar. É destacado que aqueles como que ela me fazia o pedido, eu logo saía, e aos
necessidades educacionais especiais devem poucos fui conhecendo sua história.
ter acesso à escola regular, que deveria Pedi à coordenadora que me deixasse ler
acomodá-los dentro de uma pedagogia cen- todos os relatórios referentes à sua vida es-
trada na criança, capaz de satisfazer a tais colar e, se possível, me permitisse marcar
necessidades, contribuindo assim para uma uma reunião com seus pais. Fui atendida.
sociedade mais inclusiva e alcançando uma No terceiro dia que eu estava na escola, pude
educação para todos. conversar com os pais de Vítor, que acredi-
A escola é o lugar ideal para a iniciação
1. Nome fictício, para preservar a identidade do aluno.

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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 2, p. 1-204, ago./dez. 2008 - Semestral
A inclusão de alunos com síndrome de Down: desafios Aline Augusta Carvalho

tavam seriamente em minhas intenções. Ex- A inclusão ainda está “engatinhando”, é


pliquei a eles que eu estava ali de passagem, como uma criança que está aprendendo a
e meu objetivo era criar um meio que possi- caminhar, toma vários tombos, mas insis-
bilitasse a essa criança maior envolvimento te, até conseguir. Espero que, assim como
nas aulas, já que até mesmo os pais diziam essa diretora, essa instituição, muitas esco-
que ele não teria capacidade de aprender a las busquem meios que ajudem a inclusão
ler e a escrever. Ao ouvir isso, me senti impo- a acontecer nos espaços escolares, pois se
tente diante a crença desses pais. Pensei: se a geração de nossas crianças crescerem vi-
eles não acreditavam na capacidade do filho, sando à aceitação de diferenças no âmbito
por que o estavam deixando freqüentar uma escolar, certamente no futuro a sociedade
escola com padrão tão elevado em nível de como um todo será efetivamente uma “socie-
ensino-aprendizagem? Quase desisti nesse dade inclusiva”.
momento.
Posteriormente, apresentei à coordena-
dora de ensino da instituição um modelo de Referências:
Plano de Desenvolvimento Individual (PDI).
Segundo Pereira e Vieira (1996), o PDI é um CARVALHO, R, Edler. Temas em Educação

Revista Eletrônica - “O caso é o seguinte...” Coordenação Pedagógica: Coletânea de Estudos de Casos


instrumento de ensino que permite aproxi- Especial. Rio de Janeiro. Ed. WVA, 1998.
mar o conteúdo às capacidades individuais
e às necessidades educacionais de cada edu- DECLARAÇÃO DE SALAMANCA e Linha de
cando, buscando ajudá-lo a apropriar-se das Ação Sobre Necessidades Educativas Espe-
habilidades e competências propostas nos ciais. Trad. Edílson Alkmim Cunha. Brasília:
currículos escolares. Após 12 dias que esta- CORDE, 1994.
va fazendo meu estudo e com um pouco de
conhecimento a respeito do Vítor, propus à MAZZOTTA, José Marcos da Silveira. Educa-
instituição o desenvolvimento de um PDI, vol- ção Especial no Brasil: História e políticas
tado para suas necessidades e que também públicas. São Paulo: Cortez, 1996.
pudesse atender a seus desejos. Como esse
aluno se sentia bem ao brincar, aconselhei a
professora a desenvolver uma metodologia de
ensino baseada na ludicidade, usando jogos
e brincadeiras que proporcionassem a todos
os alunos a compreensão dos conteúdos de
uma forma mais divertida.
Fiz esse estudo durante um mês e pude
perceber que a professora começou a se
sentir mais segura para lidar com Vítor,
começando a lhe impor limites e também
adaptando sua metodologia de ensino às ha-
bilidades que esse aluno apresentava. Além
de brincar com seus colegas, agora Vítor co-
meçou a compartilhar momentos de estudo
como, por exemplo, trabalho em grupo com o
objetivo de apresentarem uma história para
o restante da turma.
Quanto à direção da escola, demonstrou-
se satisfeita com o trabalho e prometeu
empenhar-se em conhecer e pesquisar docu-
mentos que promulgam a inclusão de alunos
com necessidades educacionais especiais na
escola regular. Disse querer estar prepa-
rada para receber os próximos alunos com
NEE que quiserem estudar na escola. E que
logo buscaria meios que possibilitassem ao
corpo docente melhor conhecimento sobre a
inclusão.

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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 2, p. 1-204, ago./dez. 2008 - Semestral
Artigo 3
Autora:
Amanda dos Santos Ferreira

Graduanda em Pedagogia com Ênfase em Necessidades Educacionais Especiais pela PUC Minas

O percurso de um aluno com TDAH na escola

rapidamente o enviou para uma avaliação


Resumo psicológica. Nessa avaliação, após conversas
O diagnóstico tem sempre tarefa fundamental no traba- entre a psicóloga e a professora e após vá-
Revista Eletrônica - “O caso é o seguinte...” Coordenação Pedagógica: Coletânea de Estudos de Casos

lho com qualquer aluno com necessidades especiais. Dou- rios testes, ficou diagnosticado que ele tinha
glas, por muito tempo, foi vítima de um transtorno que Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperati-
ninguém conhecia, mas depois do diagnóstico e do esforço vidade - TDAH.
das pessoas que se envolviam com ele, sua qualidade de Esse transtorno detectado em Douglas
vida melhorou absurdamente. causa muitos prejuízos às crianças. Na es-
cola, elas são consideradas pelos professores

D
ouglas1 era extremamente diferente como aquelas que possuem energia acima do
dos demais. Fazia parte de uma ONG normal. Na sala de aula, parecem “movidas
que atendia alunos carentes e com por um motor”, não aguardam sua vez de
risco social iminente. Todos os alunos da falar e de participar das brincadeiras. Leite
ONG não eram quietos nem perfeitos, mas (2008) diz que pessoas com esse distúrbio
ele se sobressaía. possuem dificuldade em terminar tarefas já
Douglas era o “problema” da sala, tinha iniciadas, perdem objetos, não conseguem
crises agressivas, chutava portas, quebrava se lembrar de compromissos, nem relaxar,
janelas, agredia verbal e fisicamente colegas falam muito e possuem comportamento des-
e professores, não conseguia terminar suas medido. Isso se dá pelo fato de a pessoa com
atividades, tinha extrema dificuldade ao ser TDAH possuir os três pilares: desatenção,
contrariado e tinha sido deixado de lado impulsividade e hiperatividade.
pela escola e pela família. Nesse momento, Segundo Leite (2008), TDAH só exis-
somente a ONG poderia ajudá-lo. te quando há um transtorno e transtorno,
O problema é que as pessoas que faziam segundo ele, o déficit de atenção, se torna
parte dessa ONG não sabiam como ajudá- prejuízo a partir do momento que esse pre-
lo, na verdade, todos tinham um pouco juízo não é passageiro. Portanto, vê-se que o
de “medo” dele, pois era muito agressivo e TDAH não tem cura.
praticamente não aceitava a aproximação Pessoas que possuem esse tipo de trans-
de ninguém, o que ele queria era agredir as torno são crianças esquecidas, possuem
pessoas, quebrar as coisas e ser tido por to- dificuldade em prestar atenção e não con-
dos como aquele a quem deveriam temer. trolam seus impulsos. Esse transtorno, ao
Os anos foram passando, Douglas já es- contrário do que muita gente pensa, não é
tava na ONG há mais ou menos três anos causado por falta de disciplina, ele é causa-
e o seu problema continuava e se agrava- do por influência genética. Um pai ou uma
va. Muitas tentativas foram feitas com ele, mãe com TDAH não garante, mas aumenta
muitos recursos didáticos foram utilizados, as chances de seu filho também ter.
alguns nunca tiveram resultado, outros o Por esses motivos Douglas enfrentava
tiveram por pouco tempo. tantas dificuldades. A partir do diagnóstico,
Quando completaram quatro anos que ele foi tomada uma série de medidas que o aju-
estava na ONG, sua professora foi trocada e davam a conviver com seu transtorno. Uma
esta, vendo o comportamento de seu aluno, das atitudes tomadas, inicialmente, foi a in-
trodução “Ritalina”, uma droga que auxilia
1. Nome fictício, para preservar a identidade do aluno.

99
Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 2, p. 1-204, ago./dez. 2008 - Semestral
O percurso de um aluno com TDAH na escola Amanda dos Santos Ferreira

muito no tratamento. colegas, mas de forma diferente, pois fazia


Para Capellini (2008), uma maneira de em menor quantidade e em tempo diferente.
atenuar as dificuldades escolares encontra- A professora também passou a nunca
das pelos alunos com TDAH é fazer o uso deixá-lo ocioso, Douglas sempre tinha uma
de tratamento medicamentoso. Segundo ele, tarefa nova para fazer: por muitas vezes
esses medicamentos atuam diretamente nos tinha que buscar coisas na secretaria ou
neurotransmissores, controlando os sinto- ajudar a professora em alguma tarefa. Isso
mas de agitação, impulsividade e desatenção o ajudava a manter sua mente ocupada e a
freqüentes nesses casos, além de produzir passar o dia de maneira mais tranqüila.
um efeito positivo sobre a auto-estima e so- As informações também passaram a ser
bre a relação da família com a criança. segmentadas, dadas a ele como passos a se-
Malloy (2008) aponta que os profissionais rem seguidos, uma de cada vez, e uma infor-
da educação devem se apoiar em conheci- mação só era transmitida quando a anterior
mentos científicos e não no senso comum era compreendida e executada.
para o trato com esses alunos. Para ele, hi- Para Lucena (2008), para lidar com esses
peratividade e desatenção não são sinônimo tipos de dificuldades, faz-se necessária uma
de TDAH e que este só existe quando há pre- equipe multidisciplinar e interdisciplinar

Revista Eletrônica - “O caso é o seguinte...” Coordenação Pedagógica: Coletânea de Estudos de Casos


juízos para a pessoa. que possa respeitar a individualidade do
Além do tratamento medicamentoso, hou- aluno, fazer uma avaliação freqüente das
ve também uma intensa transformação no necessidades do aluno, valorizar suas con-
aspecto pedagógico. Foi criado para Douglas quistas, estabelecer metas possíveis e reais
um programa de intervenção que fazia com além de proporcionar a ele uma avaliação
que ele participasse das atividades de sua diferenciada.
turma de maneira diferente, mas ao mesmo Com os esforços da escola, da família, da
tempo inclusiva. ONG e dos psicólogos, Douglas conseguiu
Seus professores passaram a usar de superar grande parte de suas dificuldades.
estratégias como: evitar excessos de esti- Hoje ele é uma criança bem mais tranqüila,
mulação concorrente, gratificar ou corrigir consegue participar das atividades da escola
os atos dos alunos imediatamente, evitar ta- e da ONG e consegue conviver com as pesso-
refas longas, evitar esperas desnecessárias as que o cercam.
entre uma tarefa e outra, não disponibilizar O entendimento acerca das dificuldades
alternativas de mudança após a escolha, enfrentadas por nossos alunos é ponto cha-
disponibilizar um tempo maior para que o ve para que possamos ajudá-los no combate
aluno pudesse realizar suas tarefas, traba- a dificuldades que, muitas vezes, fazem com
lhar com monitores e deixar clara a dinâmi- que eles se tornem distantes de nós e de sua
ca da sala de aula, entre outras. família.
Mattos (2005) diz que a capacidade de No caso de Douglas, foi evitado que ele
memória dessas pessoas pode ser melhora- se tornasse um adulto sem diagnóstico, que
da com alguns passos simples como: sem- poderia envolver-se com drogas e ter proble-
pre vincular aquele conteúdo com outro já mas em seu emprego. Pessoas com TDAH,
internalizado, não insistir na memorização segundo Leite (2008), vivem impactos pro-
quando o aluno estiver cansado, não fazer fundos em sua vida, desde que não tratados.
com que ele memorize muita coisa de uma Segundo ele, essas pessoas possuem maior
vez, usar de brincadeiras para a memoriza- possibilidade de prejuízos como: repetência
ção, etc. escolar, gravidez na adolescência, acidentes
Malloy (2008) complementa a informação de trânsito, divórcios, doenças sexualmente
de Mattos (2005) dizendo que as tarefas da- transmissíveis, etc.
das para um aluno com TDAH devem sempre É de extrema importância se pensar que
ser segmentadas em vários comandos. a observação atenciosa de família e da es-
Na escola onde Douglas estuda, foi mon- cola ajudam bastante no diagnóstico e no
tada, primeiramente, uma agenda de tarefas tratamento de pessoas com necessidades
do dia, e nessa agenda a professora colava especiais.
tudo aquilo que o aluno deveria cumprir.
Esse método o ajudava a se organizar.
As tarefas dadas pelo professor eram seg-
mentadas, ele fazia as mesmas coisas que os

100
Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 2, p. 1-204, ago./dez. 2008 - Semestral
O percurso de um aluno com TDAH na escola Amanda dos Santos Ferreira

Referências:
CAPELLINI, Giancarlo. Medicação e escola.
Palestra realizada durante o 1º Simpósio
de TDAH para profissionais da educação.
Belo Horizonte, 11 de outubro de 2008.

LEITE, Wellington B. O que é TDAH - Histó-


rico e quadro clínico. Palestra realizada du-
rante o 1º Simpósio de TDAH para profis-
sionais da educação. Belo Horizonte, 11 de
outubro de 2008.

LUCENA, Aline. Aprendizado e TDAH. Pales-


tra realizada durante o 1º Simpósio de TDAH
para profissionais da educação. Belo Hori-
zonte, 11 de outubro de 2008.
Revista Eletrônica - “O caso é o seguinte...” Coordenação Pedagógica: Coletânea de Estudos de Casos

MALLOY, Leandro. Técnicas em sala de aula


I e II. Palestra realizada durante o 1º Simpó-
sio de TDAH para profissionais da educação.
Belo Horizonte, 11 de outubro de 2008.

MATTOS, Paulo. No mundo da lua. 4. ed. São


Paulo: Lemos Editorial, 2005.

101
Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 2, p. 1-204, ago./dez. 2008 - Semestral
Artigo 4
Autora:
Ana Gabriela Aguiar de Carvalho

Graduanda em Pedagogia com Ênfase em Necessidades Educacionais Especiais pela PUC Minas
Professora da Educação Infantil

Intervenção pedagógica para aluno com problemas de concentração e


auto-estima

mostra ágil em cópias e não consegue seguir


Resumo as pautas do caderno na escrita.
O artigo relata um caso de falta de concentração e baixa O estudo de caso foi feito para que se
Revista Eletrônica - “O caso é o seguinte...” Coordenação Pedagógica: Coletânea de Estudos de Casos

auto-estima de um aluno de 9 anos, na fase 2 (3ª série) de pudesse encontrar uma solução para as di-
uma escola pública. O aluno necessita de acompanhamen- ficuldades encontradas pelo aluno, visando
to psicológico para que possa se auto-enxergar como um não deixar sua aprendizagem ficar defasada
sujeito capaz de desenvolver suas atividades e alcançar o que, acredita-se, atrapalharia ainda mais
suas metas de forma proveitosa. Além disso, sua concen- sua condição dentro da escola.
tração deve ser mais bem trabalhada para que sua apren- A metodologia utilizada foi a análise dos
dizagem não fique tão prejudicada. aspectos que traziam mais dificuldades para
seu período escolar. As observações citadas

R
ui1 não apresenta problemas de socia- foram feitas pelos professores e pela coorde-
lização ou adaptação: demonstra ter nação da escola, com a ajuda dos pais.
boa relação com os demais colegas e
com os professores, é bastante carinhoso e
atencioso com todos à sua volta. A definição do problema
Sua dificuldade se refere à sua concen-
tração. Ele se mostra bastante agitado, não O aluno ingressou na escola sem de-
se fixa em um único lugar dentro da sala monstrar qualquer problema com relação à
(trocando de cadeira por diversas vezes du- disciplina e/ou à socialização. Notava-se o
rante o período de aulas), não termina suas quanto era carinhoso, apesar de não manter
atividades em tempo hábil, é desorganizado contatos visuais freqüentes.
com relação aos seus pertences. Após o período de adaptação, observou-se
Sua auto-estima também é bastante pre- a sua dificuldade em se aceitar como partici-
judicada. Não acredita em seu potencial e pante ativo de seu aprendizado. Ele tinha a
coloca dificuldades em tudo. Acha que não auto-estima bastante prejudicada.
tem condições de aprender e sempre que Rui demonstra conhecer menos do que
uma atividade é feita necessita de estímulos realmente sabe. Em trabalhos coletivos,
durante toda sua execução para que chegue encontra dificuldades para sua execução.
ao seu término. As professoras precisam Se a proposta for um trabalho individual, é
chamar sua atenção a todo momento para necessário que um professor mantenha-se
que sua concentração esteja voltada somen- ao seu lado para que ele consiga terminá-
te para a tarefa daquele período. Às vezes, lo. Tarefas extensas não apresentam gran-
demonstra ter dificuldades com contatos des resultados, a sua atenção se perde e as
visuais. atividades ficam pela metade, mesmo com
O aluno demonstra gostar das brincadei- o auxílio e acompanhamento direto de um
ras propostas, mas se desconcentra rapida- profissional.
mente, fazendo com que seu interesse por Por ter uma enorme dificuldade de concen-
elas diminua consideravelmente. tração e atenção, cogitou-se a hipótese de um
Nota-se que a sua coordenação motora quadro de TDAH, ainda não confirmado.
também é comprometida: o menino não se
1. Nome fictício, para preservar a identidade do aluno.

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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 2, p. 1-204, ago./dez. 2008 - Semestral
Intervenção pedagógica para aluno com problemas... Ana Gabriela Aguiar de Carvalho

Intervenção Proposta de intervenção – o acompanhamento escolar


particular. Sem o apoio da família, talvez o
O aluno iniciou sua participação no “Pro- trabalho fosse prejudicado.
jeto Tempo Integral”, que propicia um me- Percebe-se que ele continua necessitando
lhor acompanhamento dos educandos que de intervenções, ainda apresenta dificulda-
apresentam dificuldades escolares. A escola des de concentração e coordenação motora e
é em tempo integral e os alunos, na parte sua alfabetização ainda precisa de estímulos
da manhã, têm uma professora específi- e atividades específicas para que se concre-
ca para auxílio nas áreas cognitivas mais tize de forma eficaz. A melhora da auto-es-
prejudicadas. tima foi um aspecto que facilitou o trabalho
Rui permaneceu somente por um tempo e o desenvolvimento do aluno. Hoje, ele se
no projeto, já que sua família alegou seu can- mostra um pouco mais seguro e confiante,
saço por ter que ficar fora de casa durante o que propicia melhores condições para a
todo o dia, mas se comprometeu a colocá-lo realização de suas tarefas. O diagnóstico
em um reforço escolar. sobre o possível quadro de TDAH continua
em aberto.
Seria importante, também, propiciar a ele
Resultado das intervenções

Revista Eletrônica - “O caso é o seguinte...” Coordenação Pedagógica: Coletânea de Estudos de Casos


algumas consultas médicas para analisar a
situação de sua visão e de sua audição, bem
Durante o período em que freqüentou o como sua saúde como um todo. Problemas
“Projeto Tempo Integral”, Rui apresentou um que afetem essas áreas podem contribuir
avanço significativo em sua aprendizagem. para uma diminuição do interesse pelas ati-
Na alfabetização, encontra-se, hoje, na fase vidades da escola.
alfabética. Sua leitura é silabada.
Ainda apresenta um pouco de resistência
às produções de textos e, se a atividade for
um pouco mais extensa que as habituais,
perde o interesse e a concentração. A coorde-
nação motora e a espacial ainda necessitam
de estímulos para um desenvolvimento mais
visível e firme.

Conclusões e comentários
Analisando este estudo de caso, nota-se
o quanto uma intervenção pedagógica bem
planejada e aplicada é importante para um
desenvolvimento satisfatório. Tomar conhe-
cimento das situações que afetam o apren-
dizado de um aluno facilita seu progresso e
o trabalho do professor. E buscar quais as
intervenções mais eficazes é de fundamental
importância.
Sabe-se que ainda é tarefa complicada
encontrar soluções para todos os problemas
apresentados pelos educandos nas escolas,
mas um bom projeto traz enormes vantagens
para que o aluno possa, em conjunto com
seus professores e famílias, buscar soluções
para suas dificuldades.
O que se observa com relação ao Rui é que
a família foi essencial para o desenvolvimen-
to de seu aprendizado, na medida em que,
mesmo o tirando da atividade que o deixava
cansado e sem ânimo, buscou outra forma

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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 2, p. 1-204, ago./dez. 2008 - Semestral
Artigo 5
Autora:
Ana Izabelli França Pinheiro

Graduanda em Pedagogia com Ênfase em Necessidades Educacionais Especiais pela PUC Minas

O que anda acontecendo com a educação

culdades no seu processo de desenvolvimen-


Resumo to escolar, freqüenta uma escola estadual da
O presente artigo relata um estudo de caso feito com região Nordeste de Belo Horizonte e está na
Revista Eletrônica - “O caso é o seguinte...” Coordenação Pedagógica: Coletânea de Estudos de Casos

um aluno de 6ª série com dificuldades de aprendizagem, sexta série do ensino fundamental. O aluno
procurando compreender o que anda acontecendo com os é semi-analfabeto, ingressou na atual escola
alunos e como a escola tem procurado auxiliá-los. no ano de 2008 e possui muita dificuldade.
Não tem um comportamento “exemplar” em

C
onhecemos muitas histórias verídicas sala, pois incomoda os professores e os cole-
no nosso dia-a-dia que nos chocam gas em momentos inoportunos.
como pedagogas. E a história que Começamos a observar o aluno e con-
abordaremos neste artigo não é muito dife- cluímos que ele era semi-analfabeto devido
rente das que acontecem hoje nas escolas à enorme dificuldade em ler e escrever, na
públicas do Brasil. dificuldade de compreensão dos textos e por
As escolas têm convivido, recentemente, não realizar cópias do quadro negro. Seu
com as dificuldades de aprendizagem e, as- caderno possuía apenas algumas poucas
sim, muitos alunos são “empurrados” para anotações. Encontrávamos o aluno sempre
conteúdos complexos sem entender a base pelos corredores da escola. Quando verificá-
desse conteúdo. vamos o porquê desse fato, concluíamos que
A alfabetização é a maior dificuldade en- o professor que estava na turma no momento
contrada pelos alunos, pelas escolas e pelas o tinha mandado para fora de sala.
famílias, pois temos, em nossas escolas, Os professores do aluno constantemente
alunos que se encontram no final do ensino reclamavam de seu comportamento em sala.
médio sem saber ler, escrever ou interpretar Chamamos Jefferson para conversar e para
corretamente, ou com muitas dificuldades. avaliar a nossa hipótese de que tinha algo
Griffo (2001) afirma a existência de teorias atrapalhando o seu desenvolvimento.
que tentam explicar os fracassos escolares Para resolvermos a situação, iniciamos a
na alfabetização, demonstrando a inter-re- conversa com o aluno e percebemos que ele,
lação existente entre elas. Além disso, expõe às vezes, tem o interesse de buscar novos
que, a partir das análises feitas, é possível conhecimentos, mas infelizmente ele já foi
perceber como as teorias e as práticas esco- marcado pelos professores e eles não permi-
lares estão conectadas e exercem um papel tem que ele assista aula. Com essa conversa,
fundamental na consagração da ideologia descobrimos que quem o ajuda com as ativi-
dominante, demonstrando que tais teorias dades de casa é a irmã mais velha.
favorecem ao grande aumento do preconcei- Conversamos com a família e descobri-
to lingüístico com as crianças das classes mos que o aluno possui toda a estrutura
desfavorecidas. familiar, os pais querem o melhor para seus
É perceptível, então, que as dificuldades filhos: a irmã mais velha e o irmão mais
enfrentadas pelos alunos se encontram no novo de Jefferson estudam na mesma escola
processo da alfabetização. E isso é resultado e possuem algumas dificuldades. Os pais
de várias ações de preconceito lingüístico. são analfabetos.
Jefferson1 é um aluno que apresenta difi- Em nossa conversa com a família, soube-
mos que Jefferson possui uma doença, ele
1. Nome fictício, para preservar a identidade do aluno.

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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 2, p. 1-204, ago./dez. 2008 - Semestral
O que anda acontecendo com a educação Ana Izabelli França Pinheiro

sofre constantemente com crises epiléticas


que estão sendo controladas com o uso de
um remédio. Mas, visualmente, o aluno não
tem nenhuma seqüela.
A partir dessas informações, começamos
a investigar mais profundamente o aluno.
Vimos que ele tem um desenvolvimento nor-
mal e não tem motivo aparente para tais
comportamentos. Assim, devíamos auxiliá-
lo na construção de seu conhecimento.
Visando à melhoria e à construção do co-
nhecimento de Jefferson, o colocamos como
aluno da Escola integral. No período da ma-
nhã, ele freqüenta a sala de sexta série e, no
período da tarde, participa de uma sala de
reforço escolar. Esse programa durará o ano
inteiro.

Revista Eletrônica - “O caso é o seguinte...” Coordenação Pedagógica: Coletânea de Estudos de Casos


Com todas as dificuldades por que passa
a educação, ainda existem professores que
não ajudam, de forma alguma, os alunos.
A educação no Brasil vive um momento de
transição e necessitamos nos adaptar.
Jefferson é apenas um caso, existem mi-
lhares semelhantes ou até piores. Jefferson
hoje está melhorando sua leitura, possui um
amor com a educação artística, gosta de ir à
escola e tem procurado ficar na sala. Mas,
necessitamos de auxílio do poder público
para que o direito à educação seja verdadei-
ramente exercido.

Referência:
GRIFFO, Clenice et al. Dificuldades de
Aprendizagem na Alfabetização. 2. ed. Belo
Horizonte: Autêntica, 2001.

106
Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 2, p. 1-204, ago./dez. 2008 - Semestral
Artigo 6
Autoras:
Ana Júlia de Oliveira Moura Vilela
Paulinnie Jassie Vilela Machado

Graduandas em Pedagogia com Ênfase em Necessidades Educacionais Especiais pela PUC Minas

Perspectivas educacionais para alunos com autismo

Os processos educacionais para crianças


Resumo autistas em que vemos resultados satisfa-
Diante de muitas questões aparentemente simples, mas tórios são os de abordagens na área psico-
Revista Eletrônica - “O caso é o seguinte...” Coordenação Pedagógica: Coletânea de Estudos de Casos

cuja natureza controversa exige um pouco mais de apro- pedagógica como, por exemplo, o TEACCH
fundamento e reflexão do que uma mera descrição de téc- (Treatment and Education for Autistic and
nicas, o trabalho de intervenção que realizamos pretende Related Handicaped Communication Chil-
elencar alguns pontos na melhoria do processo de ensino- dren), que permite desenvolver as potencia-
aprendizagem e algumas propostas para familiares e edu- lidades dos indivíduos autistas de maneira
cadores que auxiliam no desenvolvimento e na indepen- intensiva, visando atender suas necessida-
dência futura do autista. des específicas.
Acredita-se que esse método contribui

E
m meados da década de 1930, um para um melhor processo de ensino-apren-
grupo de crianças chamou a atenção dizagem dos alunos por ser um acompanha-
pelo comportamento diferente das mento pedagógico focalizado, criando um
outras crianças da época. Não olhavam nos ambiente seguro, amplo, com significado e
olhos quando alguém lhes dirigia a palavra, estruturado.
tinham dificuldades em se comunicar oral e Pensando dessa forma, foi iniciada uma
gestualmente, interessavam por objetos de intervenção em uma escola que atende alu-
pouca veemência, resistiam ao contato físico, nos com necessidades educacionais espe-
apresentavam oscilações no comportamento ciais, localizada na região centro-sul de Belo
e agiam como se fossem surdos. Horizonte, Minas Gerais, com 45 alunos com
Até aquele momento, ninguém se interes- deficiências sem restrições.
sara em pesquisar o porquê de tais compor- Essa escola oferece aos alunos atendi-
tamentos, até que surgiu Léo Kanner, médi- mentos especializados – área pedagógica,
co austríaco residente nos EUA, pioneiro nos Terapia Ocupacional, Fonoaudiologia, Psico-
estudos nessa área e nomeou tal transtorno logia, Educação Física, Artes e Yoga. Possui
como autismo. No início da década de 1940, uma estrutura muita boa em relação a al-
Kanner escreveu seu primeiro artigo, Dis- gumas síndromes, como Deficiência Mental,
túrbios Autísticos do Comportamento Afeti- Síndrome de Down, Paralisia Cerebral, mas
vo, acompanhando cerca de 11 crianças. para seus alunos com TID (Transtornos
A partir das pesquisas de Kanner, sur- Invasivos do Desenvolvimento) não é bem
giram vários estudiosos, até mesmo cientis- preparada.
tas, que vêm comprovando com mais de seis As pessoas com TID, especificamente com
décadas de estudo que autismo é um Trans- autismo, são consideradas isoladas. Esse es-
torno Invasivo do Desenvolvimento, uma tigma pode ser decorrente da forma de tra-
alteração cerebral/comportamental. Mesmo balho desenvolvida pelas escolas ou até da
com um período extenso de pesquisas, exis- falta de cuidados e de atenção dos familiares
tem muitas incógnitas relacionadas a esse para com a criança.
transtorno, até mesmo no campo científico. O trabalho de intervenção realizado pre-
Atualmente, estudos na área do autismo tendia elencar alguns pontos na melhoria do
ainda são incipientes, assim, a cada dia, são processo de ensino-aprendizagem e algumas
descobertos novos casos. propostas para familiares e educadores que

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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 2, p. 1-204, ago./dez. 2008 - Semestral
Perspectivas educacionais para alunos com autismo Ana Júlia de Oliveira Moura Vilela & Paulinnie Jassie Vilela Machado

auxiliam no desenvolvimento e na indepen- FONSECA, Vitor da. Educação especial. Por-


dência futura do autista. to Alegre: Artes Médicas, 1987.
Nessa perspectiva, todos precisavam ser
envolvidos, principalmente a família, uma GAUDERER, Christian E. Autismo. 3. ed.
vez que os autistas precisam de um ambien- São Paulo. 1945.
te sadio, calmo, com rotinas e limites para
que tenham uma melhor vivência. GAUDERER, Christian E. Autismo e outros
Devido aos padrões cognitivos e compor- atrasos do desenvolvimento: uma atualiza-
tamentais característicos do autista, o aluno ção para os que atuam na área - do especia-
não consegue se identificar no meio em que lista aos pais. Brasília: MAS, CORDE, 1993.
vive. Primeiramente, ele precisa se identifi-
car no meio onde vive, adaptando as regras, MELLO, Ana Maria S. Autismo, um guia prá-
leis e padrões independentes. tico. 2. ed. São Paulo, 2001.
Através do método, serão oferecidas ao
aluno algumas formas de se desenvolverem ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE. Clas-
atividades de vida diária (AVD) e atividades sificação internacional de doenças. 9. ed.
de vida prática (AVP), para que ele possa ser São Paulo, 1984.

Revista Eletrônica - “O caso é o seguinte...” Coordenação Pedagógica: Coletânea de Estudos de Casos


independente, autônomo, receptivo e trans-
missor de comunicação, e contribuir para a ROCHA, Adriana; JORGE Kristi. Uma crian-
assimilação do conceito de causa e efeito. ça especial – O impressionante relato da
Após os estudos bibliográficos para me- história de Adriana Rocha, 13 anos, autis-
lhor entendimento do assunto, foi realizada ta e sua sabedoria inovadora. 2. ed. Rio de
a coleta de dados e, em seguida, aplicou-se Janeiro, Ediouro, 1998.
o TEACCH, método de organização espacial
do aluno. STAINBACK, William e Suzan. Inclusão – um
Entende-se que esse método contribui guia para educadores, Porto Alegre: Artmed,
para um melhor processo de ensino-apren- 1999.
dizagem dos alunos, por ser um acom-
panhamento pedagógico focalizado. Essa TUSTIN, Frances. Autismo e psicose infan-
abordagem, além de ser conhecida como til. Rio de Janeiro: Imago, 1975.
TEACCH, pode ser vista como “Método dos
Cartões” ou como “Tecnologia Basicamente
Skinneriana”, por ser bastante repetitivo.
Nossa maior preocupação no momento de
aplicação foi a importância da inclusão na
vida de uma pessoa com TID (transtornos
invasivos do desenvolvimento), especifica-
mente do autista, inserindo-o no seio não só
escolar, mas também familiar e social.
Nosso resultado foi satisfatório. Todos os
alunos superaram nossas expectativas.
Esperamos que com este trabalho pos-
samos ter contribuído para que outros
profissionais percebam que o aluno com
deficiência, especificamente o aluno com au-
tismo, precisa de atenção, carinho e, acima
de tudo, organização, antecipando tudo que
acontecerá com ele e respeito ao seu ritmo.

Referências:
DECLARAÇÃO DE SALAMANCA e linha de
Ação sobre Necessidades Educativas Espe-
ciais. Brasília: CORDE, 1994.

108
Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 2, p. 1-204, ago./dez. 2008 - Semestral
Artigo 7
Autora:
Ana Maria Arruda Silva

Graduanda em Pedagogia com Ênfase em Necessidades Educacionais Especiais pela PUC Minas

A importância do apoio familiar na formação escolar

no que se refere respeito aos estudos. Fica-


Resumo mos sabendo também que sua mãe havia lhe
Este artigo tem como objetivo alertar os pais para a neces- abandonado quando ainda era bebê, deixan-
Revista Eletrônica - “O caso é o seguinte...” Coordenação Pedagógica: Coletânea de Estudos de Casos

sidade de acompanhar a trajetória escolar de seus filhos, do-a apenas na companhia do pai. A mãe só
independente se eles estão cursando a educação infantil, o a via nos finais de semana (quando tinha
ensino fundamental ou o ensino médio. tempo) ou nas férias (pois passava alguns
dias com ela).

A
lguns pais pensam que precisam Ela também nos relatou que seu pai se
acompanhar a trajetória escolar de casara novamente e que ela não se relacio-
seus filhos apenas durante a educação nava muito bem com sua madrasta.
infantil ou até o 5º ano/9 (antiga 4ª série). Diante desse quadro, foi sugerido pela es-
Ao passarem para o 6º ano/9, eles imaginam cola um acompanhamento psicológico.
que seus filhos se tornam independentes, Nos laudos da psicóloga, ficou bem claro
que conseguem se organizar sozinhos. que essa situação a afeta profundamente.
Esses pais estão muito enganados, o Apenas para completar o histórico da crian-
apoio familiar é sempre necessário. É por ça, sua mãe teve recentemente um outro
pensarem assim que alguns pais perdem as bebê, porém do sexo masculino.
melhores etapas da vida de seus filhos. Após todas estas investigações, ficamos
Quando chegam no 6º ano/9, as crian- nos perguntando como essa criança es-
ças levam um choque, pois a quantidade de tava superando todas essas turbulências
disciplinas aumenta, os trabalhos de casa e, familiares.
conseqüentemente, as datas das provas po- Com relação às notas da criança, é um
dem coincidir, pois não há mais preocupa- caso grave, pois ela corre o risco de ser re-
ção em poupar os alunos de fazerem apenas provada, caso não haja uma reação imedia-
uma avaliação por dia. Essas crianças pas- ta. Ela demonstra não gostar das aulas, dos
sam a ser tratadas pelos professores e por trabalhos em grupo e sempre está isolada.
seus pais como pessoas responsáveis. Após o início das sessões com a psicó-
Este artigo tem o objetivo mostrar que, al- loga, o comportamento da criança mudou,
gumas vezes, o baixo rendimento escolar de está mais centrada nas aulas e com muita
uma criança é resultado da falta de acom- esperança de ir morar com a mãe e conviver
panhamento familiar. Quando nos referimos com seu novo irmãozinho.
ao acompanhamento familiar, queremos Apesar dessas mudanças, seu pai foi cha-
chamar atenção daquelas pessoas mais pró- mado para uma conversa com a coordena-
ximas, pai, mãe, avós, irmãos e até mesmo dora para analisarem juntos os resultados
tios da criança. positivos desse acompanhamento. Como não
Nos estágios durante o curso, vivencia- podia comparecer à escola por falta de tem-
mos esses fatos de perto. Uma criança com po, ligou para saber qual a pauta da reunião.
baixo rendimento escolar foi convidada para A coordenadora, para não prejudicar mais a
uma conversa com o intuito de se verificar o criança, passou para ele as boas notícias.
porquê da falta de interesse pelos estudos. Ele se comprometeu acompanhar mais de
No decorrer da conversa, ficamos saben- perto sua filha, mas até o final do estágio
do que ela não era assistida por seus pais, isso não estava acontecendo.

109
Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 2, p. 1-204, ago./dez. 2008 - Semestral
A importância do apoio familiar na formação escolar Ana Maria Arruda Silva

Como podemos perceber, o acompanha-


mento familiar é de suma importância para
o amadurecimento de uma criança e a posi-
ção do coordenador pedagógico.
Segundo Vieira (2003 p. 87),

“Além de lidar com o sentimento dos profes-


sores, dos alunos e dos gestores da escola, o
coordenador pedagógico irá trabalhar tam-
bém com seus próprios e com o fato de que,
muitas vezes, os sentimentos demonstrados
por cada um dos participantes da escola
são contraditórios entre si. Portanto, torna-
se importante compreender a afetividade
humana e encaminhar as situações com
sabedoria”.

Revista Eletrônica - “O caso é o seguinte...” Coordenação Pedagógica: Coletânea de Estudos de Casos


Referência:
VIEIRA, Marili M. da Silva. O coordenador
pedagógico e o cotidiano da escola, 2003.

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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 2, p. 1-204, ago./dez. 2008 - Semestral
Artigo 8
Autora:
Caroline Costa Nascimento Andrade
Endereço eletrônico: carolzinhasjdr@yahoo.com.br
Graduanda em Pedagogia com Ênfase em Necessidades Educacionais Especiais pela PUC Minas

Atuação profissional: a importância de se ter compromisso e dedicação

Durante todo o ano, fez acompanhamen-


Resumo to com a T.O., apresentando progresso: es-
O presente artigo tem como base um estudo de caso que tava mais adaptado à escola, expunha suas
Revista Eletrônica - “O caso é o seguinte...” Coordenação Pedagógica: Coletânea de Estudos de Casos

vem sendo realizado em uma escola da rede privada de vontades, pedia ajuda quando precisava,
ensino. Muitos são os desafios que a Educação nos traz. sua fala estava mais clara. Ainda assim, ti-
Devemos estar preparados para enfrentá-los, com amor e nha preferência por ficar sozinho e brincar
determinação, pois o que fizermos hoje pode ser determi- sozinho.
nante para o futuro de muitas crianças. Era sempre encorajado pela professora
a brincar com os amigos; às vezes tentava,

L
ucas1, hoje aos 6 anos de idade, ingres- mas permanecia por pouco tempo, acredita-
sou na escola aos 3 anos, no Maternal se, devido a sua dificuldade motora, optando
III. Era uma criança que não conver- sempre por brincar sozinho com atividades
sava e não socializava; brincava sempre que exigiam pouco movimento.
sozinho, conversava sozinho, não gostava Hoje, Lucas encontra-se no final do 2º
de música alta, não olhava para as pessoas período. Continua com o acompanhamen-
quando conversava com elas, apresentava to com a T.O., duas vezes por semana,
dificuldade de concentração e chorava mui- uma vez realizado individualmente e outra
to, gostava de realizar atividades em que po- com mais uma pessoa, para trabalhar sua
deria ficar sozinho. Sua coordenação motora socialização.
ampla era muito comprometida, apresentan- No início do ano letivo, Lucas demonstrou
do grandes dificuldades para correr, subir e insegurança, necessitando sempre de aten-
descer obstáculos. Apresentava movimentos ção individualizada por parte da professora
repetitivos. e da coordenadora.
Quando Lucas foi matriculado, veio como No decorrer do ano, houve um progresso
transferência de uma outra unidade da mes- muito significativo em seu desenvolvimen-
ma rede, onde já havia sido feito um pedido to: adaptou-se à turma, relacionando-se de
de exame neurológico, que os pais se recu- forma segura e tranqüila com a professora,
saram a fazer. expressando muitas vezes de forma clara
No decorrer de seu percurso no Maternal seus desejos e frustrações. Sua fala ainda
III, a escola tentava convencer os pais de que não é muito clara, apresentando troca de
algo deveria ser feito, mas não havia aceita- letras. Demonstra ainda, na maioria das
ção por parte deles. Com insistência, Lucas vezes, gostar de brincar sozinho, mas, com
foi encaminhado para uma Terapeuta Ocu- incentivo da professora, já consegue aceitar
pacional, que acreditava que ele apresentava o grupo, participando em alguns momentos
características autistas. de brincadeiras coletivas. Demonstra prazer
Lucas passou para o 1º período. Não acei- e interesse na realização de seus trabalhos,
tava nem assimilava ordens que eram da- revelando preferência por atividades de es-
das pela professora para toda a turma; não crita, não apresentando dificuldades nessa
aceitava perder, chorava muito; apresentava área. Demonstra avanço na forma com que
dificuldade para entender comandos verbais segura o lápis, sendo lembrado, sempre que
e para passar recados. necessário, a segurá-lo corretamente. Ne-
cessita da professora para realizar algumas
1. Nome fictício, para preservar a identidade do aluno.

111
Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 2, p. 1-204, ago./dez. 2008 - Semestral
Atuação profissional: a importância de se ter compromisso e... Caroline Costa Nascimento Andrade

atividades de motricidade ampla (correr, su- ta para buscar o desenvolvimento pleno do


bir e descer obstáculos), demonstrando inse- educando.
gurança (ainda assim, seu progresso nessa
área é visível). Vem aceitando o estímulo do
grupo. Durante as atividades realizadas,
Lucas requer aprovação da professora, de-
monstrando sinais de ansiedade através de
gestos repetitivos. Participa dos projetos re-
alizados em sala, ouvindo os colegas, levan-
tando o dedo para contar acontecimentos do
dia-a-dia e colaborando com opiniões.
De acordo com a última reunião realiza-
da entre a T.O., a coordenadora do colégio
e a professora, foram traçados aspectos que
precisam ser enfatizados como: amarrar
sapato, melhorar a postura trabalhando o
tônus (o aluno escorrega muito na cadeira,

Revista Eletrônica - “O caso é o seguinte...” Coordenação Pedagógica: Coletânea de Estudos de Casos


quando está sentado), trabalhar mais as
letras (reconhecimento), trabalhar movi-
mentos de pinça, trabalhar a ousadia nos
movimentos amplos, encorajando-o sempre,
organizar atividades em dupla para favore-
cer a interação entre as crianças e motivar
Lucas a brincar com os colegas, procurar
chegar perto de Lucas e abaixar na altura
de seus olhos para dar comandos verbais.
Foi sugerido pela T.O. que Lucas praticasse
judô, pois o mesmo pode lhe proporcionar
um bom desenvolvimento. A sugestão foi
aceita pela família.
A preocupação atual dos profissionais que
acompanham o caso é o desafio que está por
vir ao ingressar na 1ª série/9, que é a fase de
alfabetização. Será realizada uma reunião
com os pais até o final do ano letivo, para
que esse assunto seja abordado e analisa-
do. Os profissionais apostam no sucesso de
Lucas e estão dispostos a encarar o desafio
com boas expectativas, mesmo sabendo que
daqui para frente o resultado será mais con-
creto e visível. Acreditam ser muito válido
que o aluno tenha essa oportunidade ao in-
vés de fazer com que ele repita o 2º período.
Pode-se perceber o grande envolvimento
e a interação dos profissionais que acompa-
nham Lucas. Sua melhora é muito signifi-
cativa e ele vem crescendo a cada dia. Vale
ressaltar a importância de se ter por perto
profissionais capacitados e preparados para
lidar com esses desafios, pois eles dão su-
porte para um desenvolvimento real e signi-
ficativo. É fundamental, também, que todo
o trabalho realizado tenha o apoio e a ajuda
da família, que é a base de todo o percurso.
Escola e família devem ter uma ação conjun-

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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 2, p. 1-204, ago./dez. 2008 - Semestral
Artigo 9
Autora:
Daniella Araújo da Rocha

Graduanda em Pedagogia com Ênfase em Necessidades Educacionais Especiais pela PUC Minas

Déficit de atenção e mudanças repentinas de humor prejudicam a aprendizagem

liderando as brincadeiras, mas, quando


Resumo era contrariado pelos colegas, mudava seu
Este artigo relata o estudo de caso de uma criança com comportamento e ficava bastante agressivo.
Revista Eletrônica - “O caso é o seguinte...” Coordenação Pedagógica: Coletânea de Estudos de Casos

dificuldade de aprendizagem. Discute questões relaciona- Apresenta energia extra de sensibilidade em


das a essa temática, assim como aponta as intervenções relação àquilo que o cerca, mudanças extras
pedagógicas desenvolvidas com o aluno. Ele apresenta de humor, ou insiste em fazer as coisas à
um comportamento agitado, com mudanças repentinas sua maneira.
de humor. Na sala de aula, demonstra desinteresse e
baixa concentração para desenvolver as ati-
Carlos1 é aluno da 4ºsérie do ensino vidades propostas pela professora. O aluno
fundamental, matriculado em uma escola não fica assentado durante as aulas, o que
inclusiva da região metropolitana de Belo prejudica não só ele, mas toda a turma.
Horizonte, freqüente no projeto de tempo in- Segundo Fonseca (1995, p. 151), a mu-
tegral. Este é o primeiro ano de Carlos nesta dança de comportamento, que está na raiz
escola. da aprendizagem, será tanto mais viável e
Segundo a coordenadora, a escolha de modificável quanto mais sistemática e diri-
matriculá-lo na escola se deu porque a fa- gida for a intervenção pedagógica, tendo em
mília mora nas proximidades da escola. Ao consideração os processos de inibição e de
conversar com a coordenadora, a família ex- processamento de informação específicos de
pôs que Carlos é um menino agressivo por cada educando.
causa de uma doença hereditária e que ou- Carlos foi encaminhado, em outubro deste
tros membros da família tiveram dos médi- ano, para tratamento com psicólogos, fono-
cos o laudo de “doido”. De acordo com relatos audiólogos e neurologistas, por demonstrar
da coordenadora, a mãe manda o filho para agressividade em alguns momentos e por
escola por não saber lidar com ele em casa. apresentar mudanças de humor repentinas,
Segundo Garcia (1998), é importante alterando seu comportamento, quando se
lembrar que as atitudes dos pais têm um depara com problemas banais.
impacto importante sobre a auto-estima A partir daí algumas avaliações foram fei-
das crianças. Infelizmente, alguns pais de tas. Ele foi acompanhado pela psicopedagoga
crianças com dificuldades de aprendizagem da escola que, ao aplicar-lhe um teste, pôde
promovem a importância com suas baixas observar que ele apresenta déficit cognitivo
expectativas. nos aspectos lógico-matemáticos, pouco do-
Num primeiro momento, o que pôde ser mínio das unidades numéricas e dificuldade
colhido pela coordenadora é que o aluno em estabelecer e identificar termo a termo e
apresenta comportamentos agressivos tanto em conservar e quantificar o que se pede.
com os colegas quanto com a professora re- A coordenadora precisa intervir, monito-
gente da turma. rando o aluno no seu processo educacional.
O aluno foi observado durante o recreio, Foi essencial desenvolver o relacionamento
podendo ser relatado que ele gosta de brin- cooperativo com os professores do aluno e
car com outros colegas, joga futebol du- com toda equipe escolar para que se pudes-
rante as aulas de Educação Física sempre sem desenvolver as estratégias para melho-
rar o atendimento do aluno.
1. Nome fictício, para preservar a identidade do aluno.

113
Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 2, p. 1-204, ago./dez. 2008 - Semestral
Déficit de atenção e mudanças repentinas de humor... Daniella Araújo da Rocha

Mas nem sempre um aluno passa pelo


mesmo ritmo que seus companheiros. Assim
como a habilidade cognitiva, verbal e motora
é, geralmente, atrasada entre essas crian-
ças, podem também ocorrer retardos no de-
senvolvimento emocional e nas habilidades
sociais (GARCIA, 2001, p. 194).
Carlos, por exemplo, apresenta facilida-
des em classificar, tem noção de tamanho,
consegue escrever o primeiro nome, reco-
nhecendo as letras maiúsculas e minúscu-
las, mas não consegue ler o que se pede nas
atividades propostas.
Nesse momento a coordenadora interveio,
para que o aluno não perdesse a confiança
e a auto-estima que ele ainda lhe resta, pois
sabemos que a baixa auto-estima prejudica

Revista Eletrônica - “O caso é o seguinte...” Coordenação Pedagógica: Coletânea de Estudos de Casos


de forma significativa a motivação escolar.
Os problemas de comportamento na sala
de aula ou uma mudança de humor podem
ser os primeiros sinais de um problema de
aprendizagem. Uma avaliação para difi-
culdade de aprendizagem não apenas deve
comprovar que existe uma lacuna significa-
tiva entre o potencial para aprender de uma
criança e seu desempenho real em uma ou
mais áreas escolares fundamentais, mas
também deve determinar que a criança teve
a oportunidade adequada de aprendizagem
e investigar e destacar uma variedade de ou-
tras possíveis causas de baixo desempenho.

Referências:
FONSECA, Vitor da. Introdução às dificul-
dades de aprendizagem. Porto Alegre: Artes
Médicas, 1995.

GARCÍA, Jesus Nicasio. Manual de dificul-


dades de aprendizagem: linguagem, leitura,
escrita e matemática. Trad. Jussara Hau-
bert Rodrigues. Porto Alegre: Artes Médicas,
1998.

114
Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 2, p. 1-204, ago./dez. 2008 - Semestral
Artigo 10
Autora:
Eliane Machado de Matos

Graduanda em Pedagogia com Ênfase em Necessidades Educacionais Especiais pela PUC Minas

Uma criança com dificuldade de aprendizagem e/ou déficit de atenção

leste de Belo Horizonte. Segundo relatos da


Resumo diretora, a criança freqüentava a escola des-
As análises deste artigo recaem sobre um estudo de caso de a pré-escola e já nessa época observava-
Revista Eletrônica - “O caso é o seguinte...” Coordenação Pedagógica: Coletânea de Estudos de Casos

realizado numa escola pública da rede estadual da região se que seu desempenho estava abaixo do
leste de Belo Horizonte. Essa ação se efetivou através de esperado para uma criança de sua idade.
investigações executadas pela coordenadora pedagógica Gabriela demonstrava um comporta-
da escola em parceria com professores, outros profissio- mento apático na maioria do tempo, não se
nais e órgãos públicos. Enfocam-se os procedimentos e comunicava efetivamente com os colegas e
as ações utilizados pela coordenadora pedagógica, para professores, apenas falando o necessário.
intervir e solucionar o caso de uma aluna que apresentava Demonstrava grande dependência para re-
dificuldades de aprendizagem. solução de problemas simples, como onde
se sentar, quando entrar na sala de aula.
Sua auto-estima também parecia ser baixa,

É
comum os professores perguntarem podendo ser percebida em seu olhar quase
se um distúrbio de aprendizagem é sempre dirigido para baixo sem fixar-se no
uma patologia e se ele teria responsa- comunicador.
bilidade sobre o tratamento. Através de uma avaliação feita pela peda-
Como contribuir para a melhoria do de- goga da escola e por uma psicóloga, a família
sempenho escolar de uma criança como dis- foi informada da dificuldade constatada du-
túrbio de aprendizagem? rante o ano letivo. Os pais foram chamados
A dificuldade de aprendizagem afeta não para várias entrevistas no período e, tam-
apenas o comportamento da criança como bém, no ano seguinte.
também sua auto-estima e sua relação com Gabriela foi encaminhada ao atendimento
o outro. psicopedagógico clínico em junho de 2005,
A escola precisa assumir o importante pa- além de receber acompanhamento da psico-
pel de organizar os processos de ensino, de pedagoga da escola e reforço pedagógico e
forma a favorecer o máximo a aprendizagem de sido encaminhada à fonoaudióloga, desde
do aluno. Para isso é necessário que direção, fevereiro do mesmo ano.
coordenação, equipe técnica e professores se As queixas escolares relatadas pela pro-
unam para planejar e implementar técnicas fessora foram: grandes dificuldades no do-
e estratégias de ensino que melhor atendam mínio da leitura e da escrita, apresentando
às necessidades dos alunos que se encon- omissões de letras ou distorções escritas
tram sob sua responsabilidade. freqüentemente invertidas, e lentidão para
O mais importante é que o professor co- escrever, não acompanhando os conteú-
nheça a dificuldade apresentada pela crian- dos propostos. Percebia-se dificuldade em
ça e reconheça que essa criança necessita manter atenção em tarefas ou jogos, não
de ajuda. dava atenção quando lhe dirigiam a pala-
O estudo de caso objeto deste artigo se vra, não seguia instruções e não termina-
iniciou no ano de 2005. Diz respeito à aluna va os deveres escolares, tinha dificuldades
Gabriela1, então com doze anos, matriculada para organizar tarefas e atividades, evitava
na 5ª série de uma escola pública da região ou relutava em envolver-se em tarefas que
exigissem esforço mental constante, perdia
1. Nome fictício, para preservar a identidade da aluna.

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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 2, p. 1-204, ago./dez. 2008 - Semestral
Uma criança com dificuldade de aprendizagem e/ou déficit... Eliane Machado de Matos

Essa medida aumenta o tempo de atenção


coisas necessárias para a execução de tare- concentrada e reduz a dispersão.
fas como, por exemplo, lápis, brinquedos e
• Adotar sistema de pontuação, incentivos e
livros, distraía-se com estímulos alheios às
recompensas.
atividades e apresentava esquecimento nas
atividades diárias. • Incentivar a leitura, utilizando procedimen-
A partir daí, foram feitas algumas ava- tos alternativos como o uso do computador.
liações e acompanhamento pelas pedagogas • Estimular a prática de fazer resumos em tó-
e psicopedagogas da escola, constatando-se picos, facilitando a estruturação das idéias
que, no desenvolvimento cognitivo, apresen- e a fixação dos conteúdos.
tava déficit nos aspectos lógico-matemáticos, • Destacar palavras-chaves, fazendo uso de
pouco domínio das unidades numéricas e em cores, sublinhados ou negritos (principal-
estabelecer correspondência termo a termo, mente nas palavras em que a criança de-
conservar e quantificar, no entanto, apre- monstra maior grau de dificuldade de fala
sentava facilidade para estabelecer critérios ou escrita).
para classificar e incluir classes.
• Evitar tarefas longas, subdividindo-as em
Nas avaliações perceptivas, observou-se: tarefas menores.
lentidão no planejamento motor de letras e

Revista Eletrônica - “O caso é o seguinte...” Coordenação Pedagógica: Coletânea de Estudos de Casos


números, bem como em copiar símbolos e • Manter constante contato com a família,
perceber posições opostas nos símbolos, e tentando utilizar informações fornecidas por
ela com o objetivo de compreender melhor o
velocidade para escrever abaixo da média.
aluno.
Nos testes específicos de linguagem,
apresentou grandes dificuldades em memo- • Procurar nesses encontros enfatizar os ga-
rização de letras e números, seqüência de nhos e não apenas pontuar as dificuldades.
palavras e rimas. • Evitar chamar a família apenas quando há
Na linguagem oral, apresentou dificul- problemas.
dades em emitir corretamente certos sons,
• Estimular a atividade física.
trocando-se os sons de T e D, P e B.
Na anamnese, constatou-se que aprendeu Atualmente, Gabriela tem vencido o re-
a falar e a andar tardiamente, o que merece traimento, comunicando-se melhor com
maior atenção para seu ritmo de aprendiza- seus colegas, participando e percebendo a
gem e aquisição de habilidades. realidade com mais entusiasmo, escreven-
A partir do diagnóstico, a abordagem com do e lendo com mais confiança. Continuam
a criança esteve centrada nas habilidades ocorrendo algumas inversões na escrita,
perceptivas, gestão mental e abordagem mas ela consegue se corrigir, identificando a
metacognitiva. Durante as sessões, foram inversão, o que antes era uma tarefa quase
estabelecidos como objetivos o resgate da impossível para ela.
auto-estima, a conquista de vínculos com Ensinar é uma tarefa que impõe desa-
pessoas fora do contexto familiar e o vín- fios diários para o educador. Ensinar uma
culo afetivo com o contexto escolar, melho- criança com distúrbios na aprendizagem é
rando conseqüentemente a relação com a ainda mais desafiador. Na maioria das ve-
aprendizagem. zes, os educadores não sabem o que fazer,
A escola utilizou de procedimentos facili- se sentem cansados, perdidos e sem apoio.
tadores tais como: Entretanto, é impossível recusar o direito
• Estabelecer contato visual sempre que pos-
dessas crianças a um ensino adequado para
sível, facilitando uma maior sustentação da as suas necessidades. Para isso, as leis da
atenção. inclusão estão mais abrangentes e rígidas.
É impossível ignorar a presença dessas
• Propor uma programação diária tentando
crianças na sala de aula. O déficit de atenção
cumpri-la; se possível, além de falar colocá-
não é apenas um problema comportamental
las no quadro. Em caso de mudanças da
rotina, comunicar previamente. da criança ou da família, crianças que apre-
sentam grande dificuldade em cumprir ta-
• Estimular o desenvolvimento de técnicas refas que exigem habilidades para resolução
que auxiliem a memorização usando listas, de problemas e de organização apresentam,
rimas, músicas etc.
em grande numero de casos, comprometi-
• Determinar intervalos entre as tarefas como mento com o aprendizado.
forma de recompensa pelo esforço feito.

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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 2, p. 1-204, ago./dez. 2008 - Semestral
Uma criança com dificuldade de aprendizagem e/ou déficit... Eliane Machado de Matos

Além dos professores e da família, é im-


portante que os demais profissionais da es-
cola também participem do processo de pla-
nejamento educacional e terapêutico para
uma efetiva forma de ensino adequada a es-
sas crianças.
Além das dificuldades apresentadas pela
criança neste estudo de caso, verifica-se que
Gabriela apresenta também características
positivas, tais como: criatividade, grande
sensibilidade, forte senso de intuição. Verifi-
ca-se, ainda, que a desatenção pode melho-
rar quando as atividades que estão sendo re-
alizadas são significativas e interessantes.

Referências:
Revista Eletrônica - “O caso é o seguinte...” Coordenação Pedagógica: Coletânea de Estudos de Casos

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DO DÉFICIT DE


ATENÇÃO. Dinsponível em: <http://www.
tdah.org.br>.

SANTOS, Marta Carolina dos. Estudo de


Caso a partir da Epistemologia Convergen-
te. Itajaí (SC): monografia, 1999.

117
Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 2, p. 1-204, ago./dez. 2008 - Semestral
Artigo 11
Autora:
Erlaine Soares Mota

Graduanda em Pedagogia com Ênfase em Necessidades Educacionais Especiais pela PUC Minas

A parceria escolar para fortalecer o trabalho pedagógico

conceito, o aluno não desenvolve as ativida-


Resumo des que tem condições de desenvolver. Desde
Este artigo discute a necessidade de consolidar parcerias a sua entrada nessa escola, além de conver-
Revista Eletrônica - “O caso é o seguinte...” Coordenação Pedagógica: Coletânea de Estudos de Casos

indispensáveis no cotidiano escolar de uma coordenadora sas individuais e orientações ao próprio alu-
pedagógica no desempenho de suas funções, a fim de exer- no, os profissionais buscam parcerias com a
cer uma prática centrada no desenvolvimento integral do família para o aumento da autoconfiança no
aluno. sentido de levá-lo a se interessar pelas ativi-
dades escolares, não somente pelo ambiente

A
escola abre espaços para a entrada escolar. Porém, por força de baixa auto-es-
e a participação da família de forma tima da própria família em relação as suas
a fortalecer os objetivos e propósitos potencialidades, capacidades e habilidades,
pedagógicos, estabelecendo-se, assim, a par- a parceria sempre foi negada.
ceria entre família e escola que constitui o Os pais de Luiz não participam das reuni-
encontro de diferentes pessoas para realizar ões semestrais, para as quais todos os pais
um objetivo comum. A parceria em questão é são convocados, e raramente comparecem
a educação do aluno, o que significa assumir às convocações individuais. Em uma das
juntos essa educação. Essa relação supõe reuniões individuais a que os pais compa-
confiança mútua e cumplicidade, conversas, receram, foram abordados assuntos como
trocas, discussões dos problemas e assunção necessidade de acompanhamento escolar
conjunta das decisões tomadas. (ORSOLON, familiar e acompanhamento especializado.
2006, p. 179). Segundo os pais, não têm tempo nem
Essa parceria é muito importante para disponibilidade para se envolverem nessa
dar continuidade ao trabalho pedagógico questão escolar, pois trabalham em tempo
da escola, principalmente em se tratando integral. Eles também disseram que a úl-
de alunos com necessidades educacionais tima consulta oftalmológica foi em 2004,
especiais, porém, por determinados motivos quando perderam toda a esperança de me-
e contextos, ela é muito difícil de acontecer, lhora no desenvolvimento do filho. Os pais
mas não significa que seja impossível. foram orientados sobre as diversas formas de
Luiz1, atualmente com 16 anos, tem o acompanhamento escolar. Quanto ao desen-
diagnóstico de deficiência visual, estuda em volvimento do filho, a escola é uma ponte e
uma escola da rede pública na periferia da um suporte para o seu sucesso, se realizada
região metropolitana de Belo Horizonte e uma parceria. Também lhes foi entregue um
cursa o 9º ano do ensino fundamental. Des- encaminhamento ao médico oftalmologista
de 2007, não é freqüente às aulas, não se e clínico. Pensou-se na possibilidade de en-
dedica aos estudos, apresenta dificuldade de caminhamento psicológico, porém, naquela
estabelecer relações interpessoais, não utili- circunstância, dada a passividade e baixa
za os recursos oftalmológicos prescritos, tais auto-estima, deixou-se a cargo do médico o
como lupa, caderno com pauta reforçada, encaminhamento. Aos pais foi aconselhado
lápis 4B e encontra-se, portanto, atrasado que deveriam procurar um acompanhamen-
pedagogicamente em relação aos colegas. to psicológico para conversarem a respeito
Devido à falta de interesse e ao seu auto- de suas angústias, desejos e anseios, pois o
atendimento de um psicólogo é uma conver-
1. Nome fictício, para preservar a identidade do aluno.

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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 2, p. 1-204, ago./dez. 2008 - Semestral
A parceria escolar para fortalecer o trabalho pedagógico Erlaine Soares Mota

sa sadia e prazerosa que todos deveriam ter. cursos oftalmológicos indicados. O seu com-
Foi agendada uma nova reunião no prazo portamento e sua relação interpessoal estão
de 2 semanas, para que tivessem tempo de melhorando gradativa e lentamente. Embora
realizar as orientações sugeridas. Essa reu- a família tenha se comprometido firmemente,
nião foi remarcada 6 vezes, pois nunca foi ainda permanece comparecendo raramente
possível os pais comparecerem nem mesmo às reuniões e convocações. Sobre parceria
a filha. realizada com o psicólogo, já se fala em iní-
Estudos mostram que adolescentes com cio de acompanhamento dos seus pais.
dificuldade de aprendizagem estão mais pro- Brandão (1989) conceitualiza a educação
pensos a abandonar os estudos. (STRICK e como uma fração de experiência endocul-
SMITH, 2001, p. 86). Em conversas indivi- tural, que se reflete no meio escolar. Nessa
duais com o aluno, ficou explícito que sua perspectiva, infere-se que essa educação deve
família não procurou nenhum atendimento ser voltada para o desenvolvimento pessoal,
às orientações e encaminhamentos. Para ele social e profissional, ou seja, a integração no
não há nenhuma expectativa de vida adulta meio da sociedade, fazendo valer os direitos
através da sua formação escolar, não tem e deveres de todo o cidadão. Nessa perspec-
interesse em dar continuidade aos estudos tiva, a coordenadora, em conversas indivi-

Revista Eletrônica - “O caso é o seguinte...” Coordenação Pedagógica: Coletânea de Estudos de Casos


visando formação do ensino médio ou outros duais com Luiz, o questionou sobre certos
subseqüentes. assuntos de seu interesse com o objetivo de
Muitas vezes, o coordenador, dependen- (re) organizar ou (re) planejar a implementa-
do da necessidade e não havendo parcerias, ção do Projeto Viver, fruto da parceria entre
precisa, além de tomar iniciativas para a professores, funcionários e comunidade.
solução dos problemas, tentar parcerias de Assim, Luiz passou a participar do Projeto
acordo com o seu poder de influência no am- Viver que realiza, diariamente, atividades de
biente escolar. O exercício do poder que aqui oficinas profissionalizantes, de reciclagem,
se entende é aquele que atua ao produzir e desportivas, orientações pedagógicas e se-
mobilizar ações consentidas pelos indivídu- xuais, em horário oposto ao de aula.
os ao fazê-los produtivos, neutralizando-os Contudo, infere-se que a parceria entre
em sua capacidade de resistir (MATE, 2006, família e escola é fator determinante para
p. 146). Ciente da gravidade do problema, o sucesso do aluno. Porém, se muitas vezes
a coordenadora ficou à espera de alguma ela é realizada parcialmente, não cabe à
oportunidade para conversar com os pais ou coordenação trabalhar parcialmente, mas
um deles. sim reconhecer que suas concepções, ati-
Em uma primeira oportunidade de encon- tudes, iniciativas, decisões e intervenções
tro com a mãe, ao findar do horário escolar, a são fatores que determinam o fracasso ou o
coordenadora a convidou, com insistência e sucesso do aluno. A esse coordenador com-
firmemente, de forma a repreendê-la e a não pete formalizar outras parcerias, investir em
poder negar o pedido. Novamente, foi pas- conhecimentos e saberes pedagógicos, além
sada à mãe a necessidade de acompanhar de conhecer de desenvolvimento humano, a
o desenvolvimento escolar do seu filho, bem fim de propor uma educação de qualidade e
como de levá-lo às consultas encaminhadas. integral para os seus educandos.
Pelo fato de Luiz ser um aluno de 16 anos,
pronto para assumir determinadas respon-
sabilidades, ele foi convidado a participar da Referências:
reunião para reforçar a necessidade de se
cuidar de sua realidade escolar e sentimen- BRANDÃO, Carlos Rodrigues. O que é educa-
tal. Diante dessa situação, a mãe disse se ção. 12. ed. São Paulo: Brasiliense, 1984.
comprometer mais com o acompanhamento
escolar do filho, em acordo com Luiz, que MATE, Cecília Hanna. O coordenador peda-
também garantiu ter esse compromisso. Ao gógico e as relações de poder na escola. In:
final da conversa, Luiz recebeu um encami- PLACO, Vera Maria Nigro de Souza. O coor-
nhamento para o psicólogo. Somente após denador Pedagógico e o Cotidiano da Esco-
um ano de insistência, Luiz iniciou o acom- la. 4. ed. São Paulo: Edições Loyola, 2000.
panhamento psicológico semanalmente.
Por desinteresse, o aluno continua a não ORSOLON, Luzia Angelina Marino. Trabalhar
usar nem mesmo levar para a escola os re- com as famílias: umas tarefas da coordena-

120
Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 2, p. 1-204, ago./dez. 2008 - Semestral
A parceria escolar para fortalecer o trabalho pedagógico Erlaine Soares Mota

ção. In: PLACO, Vera Maria Nigro de Souza.


O coordenador Pedagógico e o Cotidiano
da Escola. 4. ed. São Paulo: Edições Loyola,
2000.

STRICK, Lisa; SMITH, Corine. Dificuldades


de Aprendizagem de A a Z: um guia comple-
to para pais e educadores. Tradução de Day-
se Batista. Porto Alegre: Artmed, 2001.
Revista Eletrônica - “O caso é o seguinte...” Coordenação Pedagógica: Coletânea de Estudos de Casos

121
Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 2, p. 1-204, ago./dez. 2008 - Semestral
Artigo 12
Autora:
Fabiana dos Santos Ferreira

Graduanda em Pedagogia com Ênfase em Necessidades Educacionais Especiais pela PUC Minas

Os benefícios da estimulação para o aprendizado de alunos com


Síndrome de Down

desenvolvimento cognitivo, motor, do racio-


Resumo cínio lógico, do esquema corporal e, conse-
Este artigo trata das dificuldades de aprendizagem de quentemente, do processo de aprendizagem
Revista Eletrônica - “O caso é o seguinte...” Coordenação Pedagógica: Coletânea de Estudos de Casos

uma aluna com Síndrome de Down e dos resultados com da aluna. Inicialmente, acreditava-se que
uma intervenção pedagógica. aluna estaria com um desenvolvimento me-
lhor se estivesse recebendo a estimulação

O
presente artigo teve origem no Tra- necessária.
balho de Conclusão de Curso. Com Segundo Oliveira (1997, cap. 4), Vygotsky
base em investigações sobre o tema, define aprendizagem como “o processo pelo
aborda dificuldades de aprendizagem na qual o indivíduo adquire informações, habili-
Síndrome de Down e as intervenções peda- dades, atitudes, valores, etc., a partir de seu
gógicas para a melhora da aprendizagem do contato com a realidade, o meio ambiente, as
aluno. outras pessoas.”
Inclusão está sendo muito discutida, po- O Comitê Nacional de Dificuldades de
rém poucos se preocupam com os processos Aprendizagem (National Joint Comittee on
e as modificações que devem ocorrer para Learning Disabilities) define a dificuldade de
que ela aconteça. Essas modificações englo- aprendizagem como
bam a escola, a comunidade e a família.
A escola é o primeiro espaço social ao qual [...] um termo geral que se refere a um gru-
a criança tem acesso, sendo um direito as- po heterogêneo de transtornos que se ma-
segurado por Leis, entre elas a Constituição nifestam por dificuldades significativas na
Federal. No caso da criança com deficiência aquisição e uso da escuta, fala, leitura, ra-
ou necessidades educacionais especiais, a ciocínio ou habilidades matemáticas. Esses
escola é um passo importante para que, fu- transtornos são intrínsecos ao indivíduo,
turamente, ela se torne pessoa autônoma e supondo-se devido à disfunção do sistema
ativa na sociedade. nervoso central, e podem ocorrer ao longo
Nesta linha, Vygotsky define o papel da do ciclo vital [...] (NJCLD, 1997).
escola como o local que impulsiona o de-
senvolvimento, então a escola tem um papel Podemos então listar alguns dos fatores
essencial na construção do ser psicológico que desencadeiam essas dificuldades:
adulto dos indivíduos que vivem em socieda- Orgânicos: pré, peri ou pós-natais, res-
des escolarizadas. ponsáveis por distúrbios no sistema nervoso
Portanto, para que isso aconteça, é ne- central;
cessário que seus direitos e singularidades Psicológicos: ansiedade, inibição, angús-
sejam respeitados. E quanto a este aspecto, tia, sentimento de rejeição;
sabe-se que a maioria das escolas não conta Ambientais: a dinâmica familiar, a esti-
com estrutura física, materiais pedagógicos mulação que a criança recebe desde os pri-
adaptados nem professores qualificados. meiros dias de vida e a escola.
No entanto, a escola campo de estágio A Síndrome de Down está associada a
permitiu e acreditou num projeto de inter- algumas dificuldades de habilidades cogni-
venção que tinha como objetivo geral, atra- tivas e físicas, variando de retardo mental,
vés de atividades lúdicas, obter um melhor

123
Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 2, p. 1-204, ago./dez. 2008 - Semestral
Os benefícios da estimulação para o aprendizado de alunos... Fabiana dos Santos Ferreira

apresentando poucos casos de retardo men- Com base nas atividades desenvolvidas,
tal profundo. percebeu-se gradativamente o desenvolvi-
A aluna observada apresentava dificul- mento da aluna nos aspectos trabalhados,
dade de concentração e de permanecer sen- porém notou-se que o tempo deveria ser
tada, “escrevia” em tudo que estava ao seu maior.
alcance. Encontrava-se na fase de garatujas. Esses trabalhos não finalizaram, apenas
As atividades propostas foram baseadas na abrem novas possibilidades de estudos sobre
psicomotricidade e duravam em torno de 30 a Síndrome de Down, as capacidades cogni-
a 45 minutos. tivas das pessoas que possuem deficiência e
As primeiras intervenções basearam-se o processo de aprendizagem.
em desenhos da aluna sobre ela, sua famí-
lia, sua escola, sua professora, seus colegas
de classe e a escrita espontânea do nome. Referências:
Percebeu-se que a aluna não faz distinção
entre pai e mãe, todos para ela são mãe, a NACK, Beathe Soraya; FISCHER, Julianne.
escrita do nome era ilegível, não lembrando Dificuldades de Aprendizagem e Interven-
em nada o seu nome. No desenho dos cole- ção Psicopedagógica. Revista de Divulgação

Revista Eletrônica - “O caso é o seguinte...” Coordenação Pedagógica: Coletânea de Estudos de Casos


gas de classe e da professora, ela conseguiu Técnico-Científica do ICGPG, out./dez./
desenhar a letra inicial. 2004, vol. 2, n. 7.
Para o raciocínio lógico e memória foi uti-
lizado quebra-cabeça e dominó de figuras, OLIVEIRA, Martha Kohl de. Vygotsky: Apren-
que possuíam as mesmas formas, porém ta- dizado e Desenvolvimento: Um processo
manhos diferenciados. A aluna demonstrou Sócio-Histórico. São Paulo. Scipione, 1997.
dificuldade apenas quando foi trabalhado o
jogo da memória.
Para a coordenação motora fina e a per-
cepção corporal, utilizou-se massa de mode-
lar caseira e a aluna tinha que desenhar o
corpo. Percebeu-se que o esquema corporal
não está introjetado, apenas a cabeça, o
tronco e um braço ficaram no local certo.
Passar por entre obstáculos como debai-
xo da mesa e por entre cadeiras foi utilizado
para trabalhar a lateralidade.
Sabe-se que o processo de aprendizagem
de alunos com Síndrome de Down é gradativo
e lento. Segundo Moeller (2006, p. 29), “qua-
se todas as reações demoram mais que o nor-
mal, o que deve ser levado em conta quando
trabalhamos ou vivemos com elas”, por isso
as atividades eram curtas e significativas.
Durante a realização de algumas ativida-
des, a aluna mostrava-se resistente, algumas
vezes por se sentir cansada ou por perceber
que a maioria das pessoas a sua volta cede
às suas vontades. Nesse momento, era ne-
cessário sensibilidade para tentar contornar
a situação.
A professora mostrou-se presente e entu-
siasmada com os resultados obtidos, como a
escrita do nome, já sendo possível perceber
algumas letras e também pelo fato de ela
apontar e oralizar quais eram essas letras.
Resultado de um trabalho específico realiza-
do com o nome, no qual eram trabalhados as
vogais e o alfabeto.

124
Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 2, p. 1-204, ago./dez. 2008 - Semestral
Artigo 13
Autora:
Fernanda de Sousa Rodrigues

Graduanda em Pedagogia com Ênfase em Necessidades Educacionais Especiais pela PUC Minas.

Indisciplina e Agressividade

para acompanhamento médico e psicológico,


Resumo uma vez que o seu comportamento destoa
Este artigo refere-se a uma criança indisciplinada e dos demais colegas e de crianças na mesma
Revista Eletrônica - “O caso é o seguinte...” Coordenação Pedagógica: Coletânea de Estudos de Casos

agressiva que, além das dificuldades de aprendizagem, faixa etária.


prejudica toda a sala em decorrência de suas atitudes. No decorrer do ano de 2007, o aluno apre-
sentou poucos avanços em relação à leitura

A
tualmente, estamos enfrentando um e à escrita, continuava agressivo, inquieto,
momento crítico na educação, alunos não socializava com os colegas, desrespeita-
agressivos, indisciplinados e, conse- va as regras e os combinados estabelecidos
qüentemente, com grandes dificuldades de pelo grupo e uma característica que assus-
aprendizagem. Diante desse desafio enfren- tava os professores: não assumia a respon-
tado na realidade educacional, buscam-se sabilidade sobre os atos cometidos, insistia
formas de intervenção com o objetivo de tor- em negar quando não culpava um colega.
nar esse aluno interessado sanando, assim, No retorno das férias, Cristiano faltou
suas dificuldades. todo o mês de agosto. A escola entrou em
A partir das observações feitas com Cris- contato com a família para obter informa-
tiano1, aluno repetente do 2º ano do 1º ciclo ções, justificaram que ele estava realizando
em uma escola estadual na periferia de Belo exames e tratamentos. Não houve compro-
Horizonte, constatou-se que ele é indisci- vação dos procedimentos. Por isso o caso foi
plinado, agressivo, disperso, apresenta difi- encaminhado para o conselho tutelar dado
culdades de leitura, escrita e não socializa o excessivo número de faltas e o mau com-
com os outros colegas de sala. Suas atitudes portamento apresentado a escola. Após o
impedem o desenvolvimento de toda a turma comparecimento ao conselho tutelar, o alu-
e o dele próprio. no retornou à escola, sendo acompanhado
Como Cristiano demonstra desinteres- pela mãe, sempre que possível no período do
se pelas atividades abordadas em sala, a intervalo, com o objetivo de ajudar a “tomar
coordenação e os professores modificaram conta” dele, mesmo assim seu comporta-
algumas metodologias para despertar nes- mento em sala não teve alterações.
se aluno o interesse pelas atividades e uma No final do ano de 2007, o aluno apresen-
melhor socialização com os colegas. Infeliz- tava 64 faltas e, de acordo com o parágrafo
mente, são raros os momentos que o aluno único do artigo 81 do regimento escolar e a
se permite realizar com interesse alguma lei municipal 3.583, de 10/09/2002, o aluno
atividade. Diante das dificuldades com o permanecerá no 2º ano do 1º ciclo.
aluno, a coordenação solicitou à mãe que No decorrer deste ano, o aluno apresenta
comparecesse à escola para expor a situação poucas melhoras, mantendo o mesmo com-
que a criança apresenta. portamento. Em raros momentos aceita o
A partir da conversa com a mãe, consta- contato com os colegas, precisa da interven-
tou-se que Cristiano não recebe assistência ção constante da professora para a realiza-
familiar, a mãe demonstrou estar alheia aos ção das atividades.
problemas apresentados pelo filho, também De acordo com Mielnik (1982, p. 60),
não atendeu à orientação para encaminhá-lo
1. Nome fictício, para preservar a identidade do aluno.

125
Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 2, p. 1-204, ago./dez. 2008 - Semestral
Indisciplina e Agressividade Fernanda de Sousa Rodrigues

Crianças excessivamente inquietas, agi-


tadas, com tendências à agressividade, se
destacam no grupo pela dificuldade de acei-
tar e cumprir as normas, às vezes, não con-
seguindo produzir o esperado para sua ida-
de. Estas crianças representam um desafio
para suas famílias e escola, cabendo a estes
estabelecer os métodos de orientação mais
condizentes a cada situação e estabelecer os
níveis de regimes necessários para obtenção
da disciplina.

De acordo com o autor, cabe realmente à


escola e à família. Neste caso, a escola tem
tentado todas as metodologias para ajudar
o aluno e, diante da recusa da família em
apoiá-lo, sente-se impossibilitada diante

Revista Eletrônica - “O caso é o seguinte...” Coordenação Pedagógica: Coletânea de Estudos de Casos


das tentativas fracassadas. A coordenação
continua tentando fazer com que o aluno se
interesse e minimize suas dificuldades, mas
ainda assim existe a falta de apoio que é de
extrema importância tanto para a escola
como para o aluno.
Ao final deste ano, a escola convocará a fa-
mília mais uma vez, para que juntos possam
tomar providências quanto aos problemas
apresentados por Cristiano, com o objetivo
de promover o seu interesse pela escola.

Referências:
BELO HORIZONTE. Lei Municipal n. 3.583,
de 10/09/2002.

MIELNIK, Isaac. O Comportamento Infantil:


Técnicas e Métodos para entender Crianças.
2. ed. São Paulo: Ibrasa, 1982.

126
Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 2, p. 1-204, ago./dez. 2008 - Semestral
Artigo 14
Autora:
Flávia Barros Sá Santos

Graduanda em Pedagogia com Ênfase em Necessidades Educacionais Especiais pela PUC Minas

Histeria

sentou febre muito alta, não tendo a mãe al-


Resumo ternativa a não ser levá-lo a um hospital. Os
O artigo relata a importância da ação pedagógica no co- médicos não puderam fazer mais nada pelo
Revista Eletrônica - “O caso é o seguinte...” Coordenação Pedagógica: Coletânea de Estudos de Casos

tidiano escolar de uma aluna com histeria, cujo diagnós- menino, pois a situação da criança já estava
tico inicial era depressão. No decorrer das intervenções muito grave, o menino estava com uma in-
pedagógicas e em contato com os profissionais da saúde fecção generalizada, o que o levou a óbito.
que acompanham a aluna, afirma-se que o diagnóstico Hellen continuou morando com sua mãe,
atual é mesmo de uma psiconeurose denominada histeria mas, pelo que se observa, a convivência é
com transtorno bipolar. muito difícil, sua mãe relata que a filha não
a deixa dormir, troca a noite pelo dia, grita

O
presente artigo relata um estudo com ela e é extremamente autoritária. Até
de caso feito no Colégio Redentor1 e que ponto pode-se acreditar numa mãe que
mostra a postura, os procedimentos e foi capaz de cometer um erro tão grave com
as atitudes da coordenadora pedagógica que seus filhos? A aluna, porém, diz que sua mãe
assiste a aluna Hellen2 que, inicialmente, não gosta dela e implica com tudo o que ela
apresentava um quadro de depressão, mas faz, mas não reclama de agressão.
que, posteriormente, passou a ser de histe- Segundo Flores et al. “histeria é uma
ria com transtorno bipolar, laudo firmado psiconeurose cujos conflitos emocionais in-
pela psiquiatra que acompanha a aluna. conscientes surgem na forma de uma severa
Hellen foi matriculada no Colégio em dissociação mental, ou como sintomas físi-
2006, com 15 anos de idade, na 1ª série do cos, tais como: dormência/paralisia de um
ensino médio. Nessa ocasião, a escola ainda membro, perda da voz ou cegueira. Hoje já se
não havia percebido nada de “anormal” em sabe que histeria pode se manifestar tanto
seu comportamento, ou seja, seus compor- em homens quanto em mulheres, sendo mais
tamentos eram vistos como característicos comum na adolescência.”
de uma adolescente, no entanto, em 2007, Estudos sobre histeria demonstram que
quando a aluna foi para o 2º ano, a situ- ela vem sendo pesquisada desde a Antigüi-
ação começou a se agravar, pois a aluna dade grega e também foi a principal doen-
passou a ter desmaios e crises de choro ça investigada por Freud, dando origem à
incontroláveis. psicanálise.
Quando Hellen tinha apenas seis anos de Freud acreditava que os pensamentos
idade, perdeu seu único irmão que, na épo- perturbadores e conflituosos mantidos no
ca, estava com cinco anos. inconsciente, apesar de reprimidos, levam a
Segundo familiares e vizinhos, o aconte- um grande sentimento de culpa e ansiedade
cimento se deu por negligência da mãe, pois que acaba interferindo na atividade mental
as crianças eram espancadas e trancadas consciente, consumindo energia psíquica vi-
dentro de casa. Devido aos espancamentos, tal, que estava em busca de uma liberação.
o menino teve uma infecção no ouvido, a mãe Impossibilitadas de manifestar todos esses
tentava contornar a situação em casa, sem sentimentos angustiantes, as pessoas apre-
levar a criança ao médico, até que ele apre- sentam os sintomas somáticos, como: para-
lisia total, tremores, tiques, contrações ou
1. Nome fictício, para preservar a identidade da escola.
2. Nome fictício, para preservar a identidade da aluna.

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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 2, p. 1-204, ago./dez. 2008 - Semestral
Histeria Flávia Barros Sá Santos

convulsões, afonia, tosse, vômito, náusea e tanto entre a aluna e os professores, quanto
soluços. entre a aluna e os colegas. Nos momentos em
A teoria de Freud sobre histeria, que que a aluna se mostra com esses comporta-
contou com a colaboração de Breuer, con- mentos, a coordenadora intervém de forma
sidera que essa neurose era causada por firme, porém com paciência, mostrando-lhe
lembranças reprimidas de grande intensi- alternativas de como poderia agir diante de
dade emocional (2006). No caso de Hellen, determinada situação tentando acalmá-la.
em momentos de “ataques histéricos”, houve Os colegas já ficavam esperando qual
situações em que se pôde perceber que ela o próximo acontecimento com Hellen,
estava tendo algum tipo de lembrança, pois pois já estavam acostumados a ter que le-
falava do irmão como se ele ainda estivesse var literalmente a colega nos braços até a
vivo. Uma de suas falas era “Ela quer matar coordenação.
meu irmão”. Nesses momentos a coordena- Diante da situação atual, a escola conta
dora intervinha tentando acalmá-la e trazê- com o apoio do CAPSE, que objetiva atendi-
la de volta a si. mentos terapêuticos nas áreas da psicologia,
Afirma-se, atualmente, que os sintomas psicanálise, psicopedagogia e outros.
histéricos estão mesclados com outros tipos Sempre que a aluna apresenta alguma

Revista Eletrônica - “O caso é o seguinte...” Coordenação Pedagógica: Coletânea de Estudos de Casos


de distúrbios e transtornos neurológicos, o crise que a escola não tem condições de aju-
que vem evidenciar o laudo dado pela psi- dá-la ou quando os desmaios são muito fre-
quiatra de Hellen ao constatar que ela tem qüentes, o colégio solicita a ajuda do CAPSE,
histeria com transtorno bipolar. que envia uma Kombi para buscar a aluna
Com relação ao transtorno bipolar, trata- no colégio. Depois que esta é atendida, os
se de um conjunto de sinais ou sintomas profissionais mantêm contato tanto com a
que pode durar semanas ou meses e que família quanto com a escola.
causa um estado de humor instável, ou seja, A partir do segundo semestre deste ano,
a pessoa pode estar bem em determinado a aluna passou a ter crises de desmaios fre-
momento e, de repente, ter uma reação ex- qüentes no colégio, na rua e em casa. Como
plosiva. Geralmente, os sintomas de uma sua mãe não demonstrava estar tomando as
pessoa com transtorno bipolar são de uma providências necessárias, a coordenadora
mistura de sentimentos como medo e triste- sentiu-se no dever de tomar uma posição
za repentina. É importante saber que, para mais enérgica perante a situação, entrando
atenuar os prejuízos do momento, é necessá- em contato com o pai, que reside em São
rio apoio, compreensão e disponibilidade de Paulo. O pai imediatamente providenciou a
familiares e amigos. Nesse sentido, pode-se viagem de Hellen para São Paulo, para que
afirmar que a coordenadora, os professores assim, pudesse acompanhar mais de perto
e seus colegas, além de a apoiarem e com- a situação da filha e tomar as providências
preenderem, ainda procuram agir de forma necessárias.
a reduzir os fatores que desestabilizem o É importante ressaltar que a escola tinha
seu humor. Embora não tenha cura para uma visão errônea a respeito do pai, pois até
esse transtorno, existe tratamento, por isso o momento, nunca havia entrado em contato
o acompanhamento farmacológico deve ser com a escola. No entanto, a partir deste mo-
feito por toda a vida. mento, o pai se colocou à disposição da es-
Constatou-se através das conversas com cola para ajudar no que fosse possível, mas,
psicólogos e outros profissionais da Clínica devido aos estudos de Hellen e por ele ter
de Acompanhamento Psico-Sócio-Educa- constituído um novo lar, ficaria impossibi-
cional (CAPSE) que, devido a problemas litado de trazer Hellen para sua companhia
familiares enfrentados pela aluna desde a definitivamente.
infância, é que ela estaria manifestando tais Em São Paulo, Ellen passou por consul-
comportamentos. tas com outros psicólogos e psiquiatras, que
No início do primeiro semestre deste ano, confirmaram o diagnóstico feito pelos médi-
a aluna causou muitos problemas no am- cos que acompanham a aluna em relação à
biente escolar, interferindo no andamento histeria e ao transtorno bipolar.
das aulas por causa de seu comportamento Ao retornar de São Paulo Hellen retomou
(muitas perguntas e comentários, desmaios seus estudos e passou a demonstrar uma
repentinos, ataque de choro e outros, duran- significativa melhora.
te as aulas), o que gerou constrangimento Hellen é muito inteligente e dedicada aos

128
Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 2, p. 1-204, ago./dez. 2008 - Semestral
Histeria Flávia Barros Sá Santos

estudos, por esse motivo não quis ficar um


período maior com o pai, afinal queria reto-
mar os estudos.
Atualmente, Hellen não tem apresentado
crises, tem se dedicado bastante aos estudos
e, segundo a coordenadora, alcançará os re-
sultados necessários para ser aprovada em
todas as disciplinas.
De modo geral, pode-se afirmar que, para
conviver com pessoas com problemas, é ne-
cessário ter muita paciência e compreensão,
além de uma total disponibilidade.

Referência:
FLORES, Sonia et al. Histeria. Disponível
Revista Eletrônica - “O caso é o seguinte...” Coordenação Pedagógica: Coletânea de Estudos de Casos

em: <http//www.com/pt/freud.html>. Aces-


so em: 12 nov. 2008.

129
Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 2, p. 1-204, ago./dez. 2008 - Semestral
Artigo 15
Autora:
Flávia de Oliveira Dias Amaral

Graduanda em Pedagogia com Ênfase em Necessidades Educacionais Especiais pela PUC Minas

TDAH, DDA ou falta de limites?

sofrimentos desnecessários ao aluno. É ne-


Resumo cessário poder diferenciar se um aluno está
Este artigo tem como objetivo conceituar os diferentes com problemas de comportamento por não
Revista Eletrônica - “O caso é o seguinte...” Coordenação Pedagógica: Coletânea de Estudos de Casos

tipos de patologias relacionadas à Hiperatividade, como conseguir prestar atenção devido à sua defi-
o TDAH (Transtorno de Déficit de Atenção com Hipera- ciência, ou se está apenas brincando com o
tividade) e DDA (Desordem de Déficit de Atenção), com- problema e causando indisciplina.
preendendo suas diferenças e como cada um pode afetar Nós, profissionais da educação, não te-
a vida das crianças no ambiente escolar e familiar. Enfa- mos capacidade de diagnosticar nenhuma
tiza a importância de um tratamento conjunto, família, patologia, tendo assim que tomar cuidados
escola e profissionais especializados, para melhor desen- para não rotularmos a criança dizendo que
volvimento do aluno e destaca, ainda, o cuidado de não se ela “possui” algo. Ao percebermos algum
rotular o aluno antes de um diagnóstico clínico. comportamento fora do normal, é necessá-
rio pedir aos pais esse encaminhamento ao

I
números são os problemas que podem profissional específico para poderem avaliar
influenciar a aprendizagem e os com- e diagnosticar.
portamentos dos alunos nos dias atuais. É preciso tomar cuidado para não con-
Dentre eles destaca-se o TDAH que, muitas fundirmos TDAH com DDA, que não tem a
vezes, é confundido com outro problema re- ver com distúrbio/disfunção neurológica.
lacionado à dificuldade de atenção, o DDA. O indivíduo com DDA pode apresentar de-
Esses problemas merecem atenção especial, senvolvimento normal e QI de médio a su-
pois muitas crianças são tidas por pais e perior. Pode ter aprendizado satisfatório,
educadores como crianças que possuem mas ser disperso ou desatento, hiperativo ou
TDAH só porque apresentam algumas ca- extremamente tímido, ou então alternando
racterísticas relacionadas ao transtorno. É hiperatividade e retração. Pedro apresenta
preciso tomar cuidado para não rotularmos sintomas relacionados a essas patologias,
essas crianças sem que alguns cuidados se- mas precisamos que seja avaliado por pro-
jam tomados inicialmente. fissionais qualificados. Diagnosticado pelo
A escola Aprendendo Brincando1, da neurologista, além de providenciar um
rede privada de ensino, localizada em Con- acompanhamento psicopedagógico e outros
tagem, é uma instituição aberta para rece- tratamentos necessários, os pais e os pro-
ber alunos com necessidades educacionais fessores podem e devem ajudar tomando
especiais. No entanto, vem demonstrando alguns cuidados.
lentidão nos processos do estudo de caso do Em primeiro lugar, a escola e os pais de-
aluno Pedro 2 , que já apresenta problemas de vem trabalhar em conjunto para orientar
comportamento desde a chegada à escola. o aluno. Em hipótese alguma, deve haver
Foi pedido aos pais o encaminhamento a contradições entre escola e pais. Deve haver,
um neuropediatra, mas ainda não houve o em casos mais severos, além do tratamento
retorno dessa avaliação. multidisciplinar, o medicamentoso. Quanto
Faz-se, portanto, necessário realizar o aos professores e aos pais, é preciso treinar
diagnóstico o mais cedo possível para evitar o aluno para dedicar-se a atividades cada
vez mais longas (jogos de memória, xadrez,
1. Nome fictício, para preservar a identidade da escola.
ditados etc.). Essas atividades deverão co-
2. Nome fictício, para preservar a identidade do aluno.

131
Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 2, p. 1-204, ago./dez. 2008 - Semestral
TDAH, DDA ou falta de limites? Flávia de Oliveira Dias Amaral

meçar com curtos períodos e se estenden-


do aos poucos. Outro aspecto importante
é estabelecer horários claros para o aluno
dormir, comer, estudar, brincar, etc., esti-
mular o aluno a participar de esportes e de
artes de acordo com suas aptidões, além de
incentivar sua auto-estima, elogiá-lo quan-
do houver progresso, por mínimo que seja. É
necessário um trabalho conjunto de profis-
sionais especializados com a escola, com o
intuito de atender suas demandas.

Referência:
OLIVIER, Lou. Distúrbio de aprendizagem
e de comportamento. Rio de Janeiro: Wak

Revista Eletrônica - “O caso é o seguinte...” Coordenação Pedagógica: Coletânea de Estudos de Casos


Ed., 2008.

132
Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 2, p. 1-204, ago./dez. 2008 - Semestral
Artigo 16
Autora:
Gislaine Linhares Sabino Batista dos Santos

Graduanda em Pedagogia com Ênfase em Necessidades Educacionais Especiais pela PUC Minas

O valor da afetividade no processo de aprendizagem

causas traumáticas sofridas no decorrer no


Resumo ano com determinados professores.
No âmbito escolar, temos presenciado o alto índice de Diante dessa colocação, apresentamos a
Revista Eletrônica - “O caso é o seguinte...” Coordenação Pedagógica: Coletânea de Estudos de Casos

alunos com dificuldades de aprendizagem. Muitos pro- seguir o relato de um estudo de caso reali-
fissionais da educação justificam essa ocorrência com zado em uma escola estadual no município
falta de interesse dos educandos, problemas familiares e de Contagem, que possui parceria com uma
sociais, além de várias deficiências ou condutas típicas. instituição filantrópica. Nessa instituição,
No entanto, raramente ou quase nunca, encontramos que os alunos freqüentam horários contra tur-
a dificuldade do aluno está relacionada com falta de afeti- nos das aulas convencionais, podendo, as-
vidade dos educadores para com seus educandos. sim, realizar atividades escolares e aulas de
reforço, participar de jogos e brincadeiras,

A
afetividade é um tema não muito dis- desenvolver habilidades artísticas e realizar
cutido no interior dos ambientes es- suas refeições diárias.
colares, mas um fator muito relevante No início do primeiro trimestre do ano de
no processo ensino-aprendizagem. É um 2008, na instituição filantrópica Menino Je-
tema dos mais polêmicos a ser tratado no sus1 foi percebido pela professora Ana Rita 2
âmbito educacional, isto devido à resistência que seu aluno com 7 anos de idade estava
e à má informação de diversos profissionais com resistência para atividades relacionadas
da educação em relação à afetividade. Eles com a leitura e a escrita. Esse fato estava
acreditam que esse sentimento está direta- incomodando-a já há algum tempo. Então,
mente relacionado à ação de amar, e defen- ela resolveu investigar os motivos desse de-
dem que a escola não é um local para essa sinteresse, já que, no ano anterior, o aluno
relação afetiva, e sim um ambiente de estu- estava se desenvolvendo bem no processo de
dos e aprendizagem. alfabetização, realizando pequenas leituras
Segundo Soares Amora (2000), a afetivi- e arriscando algumas escritas.
dade está relacionada ao sentimento de ami- Segundo Emília Ferreiro apud Silva
zade, dedicação, cooperação e comprometi- (1999), esse momento corresponde à fase
mento. Nesse sentido, percebe-se que há um alfabética, pois a criança já consegue es-
equívoco em relação ao assunto, acarretando tabelecer correspondência entre fonema e
resistência dos professores e dificuldades de grafema 3. Ela compreende que uma emissão
aprendizagem para determinados alunos. oral (sílaba) pode ser formada por uma, duas
Nos dias atuais, o que mais temos presen- ou três letras.
ciado nas instituições escolares são alunos Nesse sentido, pode-se perceber que o
com dificuldades na aprendizagem. Em seus aluno já havia atingido a compreensão do
relatórios individuais de desenvolvimento sistema da representação da linguagem es-
escolar, percebe-se que as justificativas para crita, além das leituras realizadas.
tais ocorrências são as mais diversas, desde
problemas sociais até distúrbios de apren-
dizagem. No entanto, raramente ou quase 1. Nome fictício para identificar e classificar a instituição
nunca, contatamos que as dificuldades dos filantrópica
alunos estão diretamente relacionadas com 2. Nome fictício da professora da instituição filantrópi-
ca
3. Dar forma escrita a uma palavra

133
Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 2, p. 1-204, ago./dez. 2008 - Semestral
O valor da afetividade no processo de aprendizagem Gislaine Linhares Sabino Batista dos Santos

Em virtude de tanto desinteresse, Ana gem ao longo de suas vidas, principalmente


Rita procurou sua coordenação, sugerin- se estes forem os obstáculos educacionais.
do expor o problema para a Escola Estadu- Os alunos devem ser estimulados a su-
al Antônio Mourão4, instituição regular fre- perar e a enfrentar suas dificuldades. Esse
qüentada pelo aluno. pode ser um momento em que os professores
Os dias foram passando, até que, em um irão marcar os alunos. Mas é preciso que os
determinado momento, encontravam-se Ana profissionais da educação estejam atentos a
Rita e o aluno a sós, e ele lhe revelou que tais marcas que poderão ser constituídas de
não gostava mais de ler, pois ele era burro forma positiva ou negativa.
e jamais conseguiria ser como seus colegas. No relato anterior, temos a presença des-
Essa fala preocupou muito a professora. Em ses dois profissionais, aquele que se preo-
conversa com outros alunos da turma, foi- cupou com as condições em que seu aluno
lhe relatado que, em um determinado dia, a se encontrava, e aquele que criou marcas
professora realizava atividades de leitura e profundas em seu educando. Em relação às
pediu a ele que lesse. O aluno não conseguiu marcas que podem ser inseridas nos alunos,
desenvolver bem a leitura, então, em meio a temos a seguinte afirmação de Cury (2003,
todos os colegas, ela disse: “Você não sabe p. 72):

Revista Eletrônica - “O caso é o seguinte...” Coordenação Pedagógica: Coletânea de Estudos de Casos


ler, não consegue fazer nada, é um burro”.
Desde então o aluno não quis mais saber de Ser um mestre inesquecível é formar seres
livros, leituras. humanos que farão a diferença no mundo.
Corrigir uma pessoa publicamente ou Suas lições de vida marcam para sempre os
criar codinomes pejorativos aos alunos pode solos conscientes e inconscientes dos seus
ser uma atitude impensada que, ao longo da alunos.
vida desse ser, significará uma barreira de
impossibilidades. Os professores são o espelho dos alunos
Diante desse episódio, Cury (2003, p. 85) e, a todo momento, estão sendo observa-
faz um alerta aos professores dizendo: dos. Por isso, é importante a percepção de
cada atitude em sala de aula, pois uma vez
Um educador jamais deveria expor o defeito implantado o trauma o retorno desse senti-
de uma pessoa, por pior que ela seja, dian- mento é um pouco conturbado.
te dos outros. A exposição pública produz Em relação a esse retorno, o aluno com
humilhação e traumas complexos difíceis de dificuldades para leitura foi encaminhado
serem superados. Um educador deve valo- para tratamento psicológico, além de ter sido
rizar mais a pessoa que erra do que o erro transferido de turma e turno por sugestão
da pessoa. da coordenadora. Segundo Ana Rita, ainda
não se pode perceber evolução acerca das di-
Com tais atitudes, muitos professores ficuldades do aluno, sabe-se que a trajetória
criam traumas, feridas que são profundas e será longa e agora, mais que nunca, os estí-
poderão acompanhar os educandos por toda mulos deverão ser freqüentes de modo que o
a vida. Bons professores respeitam os pensa- objetivo seja alcançado, o gosto pela leitura.
mentos e os momentos dos seus alunos. Isso Ele continua freqüentando a instituição fi-
não quer dizer que se irá permitir que eles lantrópica além de ser acompanhado pelas
façam o que quiserem, mas proporcionará a professoras e coordenadoras das respectivas
aprendizagem em um ambiente agradável, no instituições.
qual o professor não é simplesmente aquele Com base neste registro, é possível per-
que transmite os conteúdos, mas acompa- ceber como determinadas expressões podem
nha o aluno nas dificuldades que surgem ao bloquear a vida de algumas pessoas. É im-
longo do processo de ensino-aprendizagem. portante que os professores saibam lidar
E é diante das vivências no âmbito educa- com suas emoções, além de atentarem para
cional que podemos perceber a importância os seres que estão a sua frente.
da afetividade no processo de ensino-apren- A todo momento, os sujeitos se expres-
dizagem. Não significa que temos que amar sam. Se atentos, pode-se perceber que de-
nossos alunos, mas nos preocupar, nos im- terminados alunos não estão bem somente
portar com as dificuldades e fazer algo para pelo olhar, por gestos agressivos ou até
que eles possam vencer os entraves que sur- mesmo pelo modo de se movimentar. Se os
professores estiverem atuando e percebendo
4. Nome fictício, para preservar a identidade da escola.

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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 2, p. 1-204, ago./dez. 2008 - Semestral
O valor da afetividade no processo de aprendizagem Gislaine Linhares Sabino Batista dos Santos

seus alunos, irão desvendar vários mistérios


que podem ser as justificativas para deter-
minados problemas que surgem ao longo da
trajetória estudantil.
Nesse contexto, ressalta-se a importância
da expressão verbal, do toque e do olhar de
um professor para com seus alunos. O corpo
fala e, a todo momento, pode-se perceber a
comunicação dele sem a utilização da lin-
guagem oral.
Nesse sentido, enfatiza-se que “O afeto
e a inteligência curam as feridas da alma,
reescrevem as páginas fechadas do incons-
ciente”. (CURY, 2003).

Referências:
Revista Eletrônica - “O caso é o seguinte...” Coordenação Pedagógica: Coletânea de Estudos de Casos

AMORA, Antônio Soares. Mini-dicionário So-


ares Amora da Língua Portuguesa. São Paulo,
2000.

CURY, Augusto. Pais brilhantes professores


fascinantes. Rio de Janeiro: Sextante, 2003.

SILVA, Regina Helena Pranke da. Alfabetiza-


ção características das etapas na construção
da leitura e da escrita. Revista do Professor,
n. 42, 1999.

135
Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 2, p. 1-204, ago./dez. 2008 - Semestral
Artigo 17
Autora:
Irani Vieira Ilário

Graduanda em Pedagogia com Ênfase em Necessidades Educacionais Especiais pela PUC Minas

Dificuldades na leitura e na escrita associadas à indisciplina

aluno na escola. Na maior parte das vezes,


Resumo entretanto, não houve retorno.
Para que o processo de aprendizagem da leitura e da es- O aluno recebia pouco apoio por parte
Revista Eletrônica - “O caso é o seguinte...” Coordenação Pedagógica: Coletânea de Estudos de Casos

crita aconteça de forma eficaz, é necessário estabelecer do grupo familiar. Sua mãe, cozinheira,
uma boa relação entre o professor e o aluno. No entanto, trabalhava em um restaurante o dia todo e,
a indisciplina, que se tornou uma queixa comum entre os enquanto ela estava fora, Alberto ficava na
professores, dificulta e causa o atraso na fase da alfabe- companhia de sua avó, dois tios e seus três
tização dos alunos. Dessa maneira, é imprescindível a irmãos maiores. De acordo com relato da
parceria da escola com a família, além, é claro de metodo- coordenadora, ele ingressou na escola aos 4
logias variadas por parte do professor. anos e logo no início já havia feito acompa-
nhamento com uma psicóloga. Entretanto,

D
urante o período em que fiz estágio devido às dificuldades com o transporte,
em uma escola pública em Belo Ho- a mãe abandonou as consultas e a escola
rizonte, que atende alunos, em sua não recebeu um diagnóstico preciso sobre o
maioria, de baixas condições socioeconô- comportamento do aluno. Recebeu apenas
micas, acompanhei uma turma de educa- um relatório, que foi arquivado.
ção infantil, com alunos entre 5 e 6 anos, Notamos que determinados comporta-
e pude verificar que alguns deles possuíam mentos repetidos por Alberto representavam
dificuldade de concentração para realizar as o desgaste das relações e dos momentos que
atividades propostas, apresentando, con- vivenciava em ambientes extra-escolares. A
seqüentemente, atitudes indesejadas tanto repetição de palavras torpes, o interesse pre-
com os colegas quanto com a professora, coce com relação a questões que envolvem
atrapalhando o ambiente escolar. a sexualidade, a compreensão de assuntos
Por diversas vezes, presenciei situações referentes à criminalidade etc. estavam li-
conflituosas que, na maioria das vezes eram gados, de acordo com os relatos do próprio
originadas pelo Alberto1, que perturbava os aluno, a situações que aconteciam na rua ou
momentos em sala de aula e também fora em casa, freqüentemente presenciadas por
dela, dificultando a interação entre os alu- ele. Essas condutas, segundo a professora
nos durante as brincadeiras. e a coordenadora da escola, culminavam na
Apesar de mostrar-se interessado em ati- indisciplina, no insucesso do processo de
vidades que envolviam desenhos e coloridos, ensino-aprendizagem, além de causar es-
em jogos e brincadeiras em geral, Alberto se tresse ao corpo docente.
dispersava facilmente com sons produzidos Além desse quadro de comportamento de
pelos colegas ao seu redor ou vindo de ou- indisciplina do aluno, de contestação à au-
tros locais da escola. Ele se mostrava um toridade do professor, das agressões verbais
aluno bastante agitado e, freqüentemente, e físicas, entre outras, incompatíveis com
voluntarioso, proferindo palavras ofensivas, a aprendizagem escolar, percebeu-se que
chegando a agredir os colegas e aqueles que Alberto apresentava dificuldades com rela-
tentassem impedir os ataques. A ocorrência ção a atividades que envolviam a leitura e
de tais fatos obrigou a direção a solicitar, a escrita. A professora relatou que o aluno
constantemente, a presença dos pais do levava mais tempo que o restante da turma
para fazer a cópia no caderno dos conteúdos
1. Nome fictício, para preservar a identidade do aluno.

137
Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 2, p. 1-204, ago./dez. 2008 - Semestral
Dificuldades na leitura e na escrita associadas à indisciplina Irani Vieira Ilário

que ela escrevia no quadro e que, quando sas mesmas características em situações
Alberto conseguia realizar as atividades semelhantes e também como recurso para
dentro do tempo indicado, era necessário diminuir a indisciplina, colaborando assim
que o refizesse, pois apresentava uma falta nos aspectos sociais, motores e cognitivos,
de limite com relação ao espaço disponível, além de ser uma forma dinâmica da cons-
ou seja, uma folha onde era possível escrever trução do conhecimento.
um texto Alberto registrava apenas uma pa-
lavra. Também apresentou dificuldade para
aprender a escrever o seu nome e a identificá- Referência:
lo entre o nome dos colegas de classe, para
reconhecer letras do alfabeto ao manusear FONSECA, Vítor da. Introdução às dificul-
livros, revistas, jornais, etc. Como relatado dades de aprendizagem. 2. ed. rev. e aum.
inicialmente, os desenhos e as cores nesses Porto Alegre: Artmed, 1995.
materiais chamavam mais sua atenção do
que propriamente os textos, as palavras.
Segundo a coordenadora, em reunião com
a mãe do aluno, já foi comunicado que as

Revista Eletrônica - “O caso é o seguinte...” Coordenação Pedagógica: Coletânea de Estudos de Casos


habilidades e o desempenho esperado para
sua idade não atingiram o percentual dese-
jado. A família também foi informada que o
comportamento inadequado de Alberto con-
tribui para o surgimento das dificuldades
constatadas durante o ano letivo. De acordo
com Fonseca (1995), as atitudes dos pais,
o interesse e o encorajamento, bem como o
grau de estimulação e de interação lingüísti-
ca, representam um papel determinante no
ajustamento social da criança e nos seus re-
sultados. Portanto, é necessário traçar ações
de prevenção, que incluem esclarecimento e
aconselhamento aos pais e maior integração
e participação deles na vida da escola.
A intervenção se dava por meio do refor-
ço que o aluno recebia dos professores que
perceberam sua dificuldade no processo de
aprendizagem da leitura e da escrita. Eram
desenvolvidas atividades voltadas para a
linguagem oral que visavam aperfeiçoar a
compreensão auditiva. Ainda assim, propo-
nho uma intervenção baseada no estímulo
da memória visual, através de cartazes, com
letras do alfabeto, números, famílias silá-
bicas, o que contribuirá significativamente
para a fixação dos sistemas da escrita; nas
tarefas que trabalhem orientação espacial,
para que o aluno consiga ter uma percepção
de forma, posição, relação de espaço e con-
trole visuomotor; no incentivo ao aluno para
prática de exercícios que envolvam a leitura
e a escrita nos ambientes fora da escola, a
fim de fortalecer o trabalho desenvolvido na
instituição de ensino; na realização de jogos,
brincadeiras e outras atividades lúdicas que
aprimorem a concentração, o equilíbrio e o
limite às regras, no intuito de desenvolver
nos alunos capacidade de reprodução des-

138
Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 2, p. 1-204, ago./dez. 2008 - Semestral
Artigo 18
Autora:
Jaqueline Justino de Moraes
Endereço eletrônico: jjackmoraes@yahoo.com.br
Graduanda em Pedagogia com Ênfase em Necessidades Educacionais Especiais pela PUC Minas

Como trabalhar com a dificuldade de aprendizagem

esse aluno com o intuito de observar mais de


Resumo perto o processo de aprendizagem do aluno.
Este artigo apresenta, de forma sintética, os principais Sendo assim, ela elaborou uma apostila com
Revista Eletrônica - “O caso é o seguinte...” Coordenação Pedagógica: Coletânea de Estudos de Casos

fatos de um estudo de caso de um aluno com dificuldade atividades simples, voltadas para alunos da
de aprendizagem, com o intuito de auxiliar no trabalho alfabetização. Para sua surpresa, seu aluno
dos docentes e pedagogos conhecendo melhor o seu aluno e de 10 anos não sabia identificar nem as le-
auxiliando no processo de ensino-aprendizagem. tras do alfabeto.
Sendo novata na escola, procurou a Coor-
A cada dia nos deparamos com as dificul- denação da escola para saber se seu aluno
dades de aprendizagem dos nossos alunos. tinha algum diagnóstico dado pela família.
Como saber suas causas e como poder aju- Foi-lhe informado que o aluno tinha dificul-
dá-los? No presente artigo, apresenta-se um dades para aprender e tinha sido reprovado
estudo de caso realizado por uma professora uma vez, pois, por se tratar de uma escola
da rede municipal de ensino, na região do que trabalha com ciclos, o aluno não pode-
Barreiro. ria ser retido mais vezes. Caso comum para
As dificuldades de aprendizagem de um a maioria dos seus alunos. A professora
aluno de 10 anos, matriculado no segundo conhecia as dificuldades dos seus alunos,
ano do segundo ciclo, chamaram a atenção mas, no caso desse aluno, as situações eram
da professora, pois, por mais que ela rea- diferentes, pois ele realmente não conseguia
lizasse atividades individualizadas, ele não acompanhar nenhuma das atividades, nem
conseguia aprender, apresentando dificul- mesmo era alfabetizado. Como podemos
dades na leitura, na compreensão das letras, observar, a professora não foi devidamente
na conversão de letras e sons, falta de aten- informada pela Coordenação da escola so-
ção, dificuldade extrema na realização das bre seus alunos, o que dificultou ainda mais
tarefas, entre outras. o seu trabalho, pois essas informações são
Através das observações da professora, primordiais para que o professor elabore seu
ela realizou um estudo de caso com o obje- plano de trabalho. Essa é uma grande falha
tivo de identificar o real problema do aluno. da Coordenação da escola.
Essas observações e conclusões serão des- Para a professora, conhecer as reais
critas neste artigo, com o intuito de informar dificuldades desse aluno era um grande
os procedimentos adotados pela professora desafio, para isso elaborou um estudo de
na busca de uma solução para a dificuldade caso, no qual traçou todo o perfil do aluno
de aprendizagem do seu aluno. e suas dificuldades. Segundo a professora,
A professora, ao observar que um dos ela suspeitava de dislexia. Segundo Grégoire
seus alunos não conseguia acompanhar as e Piérart (1997), a criança com dislexia tem
aulas e que tinha muitas dificuldades na dificuldade para leitura, comete inversões
realização das atividades propostas, se sen- de letras, sílabas, confusões e confusões
tiu inquieta e transtornada, o que é muito auditivas.
comum quando se trata de uma professora A professora, sob a orientação da coor-
preocupada com o desenvolvimento dos seus denadora, realizou algumas atividades de
alunos. O primeiro passo dessa professora identificação1, como:
foi desenvolver atividades individuais para
1. Projeto de Intervenção Pedagógica realizado por Jés-

139
Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 2, p. 1-204, ago./dez. 2008 - Semestral
Como trabalhar com a dificuldade de aprendizagem Jaqueline Justino de Moraes

• Ortografia: ditados, produções textuais


com palavras simples, como gato, caneca e na sala foram adaptadas para esse aluno.
macaco; Para Lopes (2005), “cada criança requer uma
estratégia diferente”, sendo necessário que o
• Memorização: brincadeiras e atividades que
envolviam seqüência;
professor sempre avalie qual a melhor forma
de se trabalhar com seu aluno. É através de
• Noção tempo: atividades de rotina; um trabalho diferenciado com o aluno que
• Lentidão: cumprimento de prazos e acom- podemos ajudá-lo em seu desenvolvimento,
panhamento de tarefas; tanto cognitivo, quanto social.
Ao identificar dificuldades de aprendiza-
• Imaturidade social: atividades em grupo;
gem em um aluno, devemos elaborar estra-
• Matemática: atividades com resolução de tégias que propiciem o reconhecimento dos
problemas e cálculo. fatores que estão impedindo esse processo
• Foram observadas pela professora as se- de aprendizagem, assim, podemos realizar
guintes manifestações do aluno: atividades que alcancem nossos objetivos
como educadores, sendo um deles o verda-
• Atraso no desenvolvimento da linguagem;
deiro desenvolvimento e bem-estar de nos-
• Leitura e escrita incompreensíveis; sos alunos.

Revista Eletrônica - “O caso é o seguinte...” Coordenação Pedagógica: Coletânea de Estudos de Casos


• Dificuldade de memorização;
• Problemas com organização; Referências:
• Lentidão com as tarefas;
ELLIS, Andrew w. Leitura, Escrita e Disle-
• Dificuldade com os números.
xia: Uma análise cognitiva. 2. ed. Porto Ale-
Diante do quadro, foi realizado um estu- gre: Artmed, 2001.
do bibliográfico a respeito da dislexia e como
trabalhar com esse aluno. FIGUEIREDO, Kênia; RODRIGUES, Jéssica.
Segundo Shallice e Warrington (1980) Projeto de Intervenção Pedagógica: Des-
apud Ellis (2001), há várias formas de disle- mistificando a dislexia. Belo Horizonte: Tra-
xia, as periféricas e as centrais, sendo elas balho apresentado na disciplina de Prática de
subdivididas em grupos. Cada uma delas Ensino, PUC Minas, 2008.
tem características distintas. Após todo o
processo de avaliação, foi realizada uma GRÉGOIRE, Jacques; PIÉRART, Bernadette.
reunião como os pais do aluno para poder Avaliação dos problemas de leitura: Novos
colocá-los cientes da situação, sendo orien- modelos teóricos e suas aplicações diagnósti-
tados a procurar profissionais especializa- cas. Porto Alegre: Artes Médicas, 1997.
dos para um diagnóstico final. O aluno foi
realmente diagnosticado como uma criança LOPES, Áurea. Dislexia: Será que seu aluno
com dislexia. tem esse problema?. Nova Escola. São Paulo:
Através do trabalho realizado, foi pos- Ed. Abril. dez. 2005.
sível elaborar estratégias que ajudariam o
aluno no seu processo de aprendizagem. A
professora, juntamente com a Coordenação
escolar e com a orientação dos profissionais
que acompanhavam o aluno, realizou um
trabalho diferenciado para ele. Colocou-o
em uma carteira próxima ao quadro, as
leituras sempre eram repetidas para ele,
era proporcionado um tempo maior para a
realização das atividades, houve um maior
acompanhamento do aluno, a professora
reservou o seu horário de projeto, duas ve-
zes na semana, para a realização de aula
de reforço e todas as atividades propostas

sica Rodrigues e Kênia Figueiredo, alunas do 8º período


do curso de Pedagogia com Ênfase em Necessidades
Educacionais Especiais da PUC Minas.

140
Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 2, p. 1-204, ago./dez. 2008 - Semestral
Artigo 19
Autora:
Jéssica Rodrigues Romualdo
Endereço eletrônico: rodrigues1207@yahoo.com.br
Graduanda em Pedagogia com Ênfase em Necessidades Educacionais Especiais pela PUC Minas. Auxiliar de classe em
uma escola privada em BH e responsável por treinamentos de certificação de qualidade em uma empresa secular.

O olhar de um educador: a descoberta de um aluno

junto aos pais do garoto algum indício que


Resumo pudesse confirmar ou refutar as suspeitas
Este artigo relata um estudo de caso, suscitado em uma iniciais, com a orientação de um acompa-
Revista Eletrônica - “O caso é o seguinte...” Coordenação Pedagógica: Coletânea de Estudos de Casos

escola da rede privada em Belo Horizonte. Alerta para a nhamento terapêutico que respaldasse os
importância do olhar do educador quanto às alterações e levantamentos feitos.
necessidades de seus alunos e vislumbra frentes de inter- De imediato, um novo dado: havia um
venção da direção escolar em uma situação-problema por desequilíbrio familiar com quadro de tra-
ela identificada. tamento antidrogas pelo pai e de extrema
surpresa pela mãe que, até então, não cons-

É
inegável que para ajudar alguém se tatara nenhum desvio comportamental do
faz necessário conhecer a sua história. filho. Esta, porém, ainda que visivelmente
Muito mais que isso, porém, é estar abalada pelas condições vividas atualmente
atento às situações em torno desse alguém. em sua casa, revelou-se aliada importante
Isso sim é tarefa das mais essenciais em se na continuidade do estudo e tratamento que
tratando de pedagogos, coordenadores esco- o filho demandara, prova evidente de que
lares, professores e direção escolar. E é sob a família é parceira essencial no trabalho
esta ótica que se viabiliza a descrição deste conjunto com a escola, que se agregará às
estudo de caso, cuja identificação partiu da iniciativas dos profissionais da saúde, quan-
direção escolar, em atuação humanizada e do necessárias ao tratamento de alunos com
ética, na busca pelo ato mais pedagógico alguma necessidade educacional especial.
de fazer o outro feliz, vendo-o para além do Tomando-se como indagação a mudança
metro quadrado de sua carteira escolar, di- brusca de comportamento de Augusto, ma-
recionando o olhar para as mudanças ocor- nifesta em atos de inquietude, pânico, ações
ridas com ele, que já não parecia o mesmo repentinas de impulsão e arrependimento,
e demonstrava “gritar” por uma urgente sem desconsiderar que as manifestações se
intervenção. davam principalmente na escola e em con-
Augusto Vieira1 é aluno da 7ª série do fronto com o grupo de pessoas à sua volta,
ensino fundamental no Núcleo de Estudos atrelada a indícios de fobia e não havendo
Educar (NEE) 2 desde a Educação Infantil e, perdas de desempenho escolar até então, o
aos 12 anos, ainda durante a 6ª série, passou aluno passou a ser observado de perto, an-
a apresentar mudanças de comportamento gariando cuidados e atenção expressa da
que despertaram o olhar da direção da es- diretora que parecia ser refúgio do educan-
cola para uma necessidade de investigação. do em seus momentos de crise e alteração.
Partindo do histórico inicial do educando, Paralelamente, Augusto passou por uma
a direção da escola levantou a suspeita de avaliação neurológica, psicológica e psiqui-
TOC (Transtorno Obsessivo Compulsivo), átrica, por meio das quais se diagnosticou
em face dos comportamentos estereotipados quadro de Distúrbio Bipolar, e para este
e repetitivos do aluno. No entanto, pela im- passou a receber os tratamentos médicos
possibilidade de diagnóstico isolado, buscou iniciais. Contudo, não se percebiam melho-
ras comportamentais, muito pelo contrário,
1. Nome fictício, para preservar a identidade do aluno. o garoto a cada dia demonstrava maior de-
2. Nome fictício, para preservar a identidade da insti-
sinteresse pelos estudos, picos de memória
tuição.

141
Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 2, p. 1-204, ago./dez. 2008 - Semestral
O olhar de um educador: a descoberta de um aluno Jéssica Rodrigues Romualdo

que remetiam a “apagões” de consciência e a capacitado poderia despertar-se para uma


manifestações de Síndrome do Pânico. Não necessidade despercebida até mesmo aos
demorou muito, o aluno começou a evadir olhos dos docentes no cotidiano de sala de
e passou cerca de dois meses afastado da aula, expressa nos corredores, mas invisível
escola para tratamento com novos terapeu- aos olhos de muitos. Para esse fim, confir-
tas. O afastamento, porém, trouxe novos mam-se também as disposições nacionais
ganhos. O médico agora responsável pelo da experiência docente como pré-requisito
aluno alertou quanto ao erro do diagnóstico ao exercício de quaisquer outras funções de
inicial e sinalizou a presença de Déficit de magistério, tal como a coordenação e dire-
Atenção associado a um quadro depressivo. ção escolar (Art. 67, parágrafo único), haja
Dava orientação à escola quanto aos meios vista ser praticamente impossível lidar com
alternativos para lidar com a agressivida- os entornos escolares sem considerar os
de repentina de Augusto e com a iminente pressupostos existentes no dia-a-dia das ex-
curiosidade sexual aflorada, orientou a pro- periências em classe e do contato direto com
cura por professores particulares que da- os alunos.
riam suporte educativo ao menino e reforçou Que bom seria se todos os educadores
a necessidade de intervenção proposta pela tivessem esse olhar diferenciado para cada

Revista Eletrônica - “O caso é o seguinte...” Coordenação Pedagógica: Coletânea de Estudos de Casos


direção escolar quanto a “abrir o jogo” com aluno, soubessem da importância do traba-
os colegas de classe acerca da dificuldade lho multidisciplinar entre profissionais da
enfrentada pelo colega de turma. educação e da saúde, validassem a parceria
Desde então, o educando passou a ser entre as famílias e fossem refúgio dos edu-
atendido em suas dificuldades, tendo res- candos em suas carências mais contidas...
peitados seus momentos de introspecção, Educar é muito mais que disciplinar, é for-
evitando-se confrontá-lo com situações de mar sem esvaziar a sala de aula da relação
pressão, sendo-lhe permitida a realização afetiva e da experiência vivida. Para fina-
de provas em momentos oportunos e sepa- lizar, compartilho o pensamento de Ruben
rados, assim como a execução de atividades Alves: “Aprendemos palavras para melhorar
orais quando da receptividade do mesmo os olhos”, para perceber que só pelo educar
pela tarefa. de nosso olhar de educador, descobriremos
Augusto hoje se trata com o uso contro- verdadeiramente nossos alunos.
lado do medicamento Ritalina, continua o
tratamento terapêutico e é sabido pela fa-
mília e pela escola que sua recuperação é Referências:
processual e, embora tenham sido obtidos
significativos avanços, ainda está em anda- BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Edu-
mento. Em face da queda de rendimento e cação (LDB). Lei n.9394/96/ apresentação
das constatações feitas de suas dificuldades, Ester Grossi. Rio de Janeiro: DP&A, 2003.
o aluno foi aprovado em conselho de classe e 113 p.
requer ainda um maior envolvimento dos do-
centes para sua adaptação e inclusão esco- SOUZA, Mônica Maria Ribeiro Campos. O pe-
lar, conforme suscitado pela própria diretora dagogo e a importância de sua ação. IN: Coor-
da instituição. denação Pedagógica: Coletânea de Estudos
Frente à análise do caso e às propostas e de Casos. Belo Horizonte, PUC Minas, v. 1.n.
alternativas sugeridas pela direção escolar 1, jan./jun.2008.
para o aluno em questão, o que nos vale é
perceber a importância do olhar do educa-
dor, haja vista que se a direção não estives-
se atenta, talvez o aluno ainda não tivesse
sido atendido conforme necessita e outras
complicações poderiam ter ocorrido. Para
embasar essa afirmativa, remeto à LDB, que
em seu art. 64 trata das disposições dos
profissionais da administração e direção
escolar, tomando como critério a necessi-
dade de formação dos mesmos em face de
suas atribuições. Somente um profissional

142
Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 2, p. 1-204, ago./dez. 2008 - Semestral
Artigo 20
Autora:
Joyce Mary Patrício de Novais

Graduanda em Pedagogia com Ênfase em Necessidades Educacionais Especiais pela PUC Minas

Família, escola e dificuldade de aprendizagem

Marcelo1 é aluno do 3ª ano do 1º Ciclo


Resumo (antiga 2ª Série), em uma escola pública
Este artigo relata a importância da presença da família de Contagem. O aluno apresentava dificul-
Revista Eletrônica - “O caso é o seguinte...” Coordenação Pedagógica: Coletânea de Estudos de Casos

no acompanhamento de um aluno com dificuldade de dades para cumprir regras ou combinados


aprendizagem. O artigo possibilita aos especialistas em coletivos. Demonstrava dificuldades de rela-
educação novas maneiras de intervir nas escolas utilizan- cionamento interpessoal, era muito agitado
do como meio a família, para proporcionar ao aluno um e inquieto em sala de aula. Tinha muita di-
bem-estar e ajudá-lo na aprendizagem e no seu desenvol- ficuldade de concentração, não demonstrava
vimento. responsabilidade em fazer ou cumprir as
atividades em sala de aula e as extraclasse

I
númeras pesquisas, trabalhos e artigos de maneira completa.
abordam a presença da família na vida es- Com base nessas informações, a Escola
colar de seus filhos, mostrando que essa tomou a primeira decisão: mudar o aluno de
participação é positiva quando existe firme- sala, pois pensaram que fosse uma questão
za quanto aos propósitos e valores morais, de adaptação. Foram quatro mudanças du-
apoio mútuo e sentido de continuidade. rante o ano. Sem obter sucesso e manten-
Do ponto de vista da escola, envolvimen- do constante observação, a coordenadora,
to ou participação dos pais na educação juntamente com a professora que estava
dos significa comparecimento às reuniões acompanhando o aluno, iniciou um projeto
de pais e mestres, atenção à comunicação de intervenção.
escola-casa e, sobretudo, acompanhamento As alternativas que vinham sendo adota-
dos deveres de casa e das notas. Esse envol- das pela professora juntamente com a Coor-
vimento pode ser espontâneo ou incentivado denadora Pedagógica não estavam surtindo
por políticas da escola ou do sistema de en- efeito e, com isso, decidiram estudar o caso
sino (CARVALHO, 2000). e buscar novos meios para que o aluno obti-
Quando o aluno tem resultados satisfató- vesse um resultado desejado.
rios, não há necessidade de chamar os pais. Para a realização do projeto de interven-
As professoras recorrem aos pais quando se ção, tiveram um contato com um psicólogo
sentem frustradas e impotentes, quando o para passar as suas observações e verificar
aluno apresenta dificuldade de aprendiza- se realmente havia necessidade de interven-
gem ou comportamento com a qual não po- ção médica ou se seria somente uma difi-
dem lidar. Existem, no entanto, famílias que culdade que o aluno estava encontrando ou
estão totalmente presentes e buscam junto se os professores não estavam sabendo lidar
com a escola meios que viabilizem o desen- com o problema.
volvimento do seu filho. Obtendo orientação do especialista, soli-
O presente artigo relata um estudo de citaram a presença do pai e da mãe, explica-
caso em que as informações e o envolvimen- ram as dificuldades enfrentadas pela escola
to da família contribuíram para que uma em relação ao aluno e os aconselharam a
intervenção pedagógica tivesse bons resulta- encaminhar seu filho para um psicólogo.
dos com um aluno que estava com grandes A família não conseguia entender a situ-
dificuldades em sala de aula. ação, pois considerava normal o desenvolvi-
1. Nome fictício, para preservar a identidade do aluno.

143
Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 2, p. 1-204, ago./dez. 2008 - Semestral
Família, escola e dificuldade de aprendizagem Joyce Mary Patrício de Novais

mento do seu filho. Segundo a descrição dos O trabalho realizado surtiu o resultado
pais, em casa ele apresentava um compor- almejado. O aluno hoje está mais envolvido
tamento tranqüilo e sempre que solicitado com os outros, mais feliz e apresentando um
desenvolvia as atividades sem apresentar di- desenvolvimento escolar satisfatório.
ficuldades. Chegaram a pensar, inicialmen- Com base no estudo de caso, percebe-se a
te, em tirar o filho da escola. Após vários importância da presença da família na esco-
diálogos com a coordenadora e a professora, la, pois com o seu envolvimento surgem in-
perceberam a necessidade e recorreram ao formações do ambiente familiar que podem
auxílio do psicólogo. contribuir para as mudanças e intervenções
Paralelamente às consultas ao psicólogo, realizadas na escola.
a professora e a coordenadora desenvolve- O empenho e o envolvimento dos profis-
ram atividades diferenciadas para o aluno, sionais da educação são de extrema impor-
pois percebiam sua dificuldade de concen- tância. Infelizmente, encontramos profissio-
tração. Algumas das atividades foram feitas nais desmotivados que, em casos como este,
extraclasse para não modificarem a rotina simplesmente optam por deixar o aluno de
da sala de aula. lado sem tomarem as providências cabíveis.
Outra medida adotada foi a mudança de O presente artigo é dedicado a todos os

Revista Eletrônica - “O caso é o seguinte...” Coordenação Pedagógica: Coletânea de Estudos de Casos


localização na sala, o colocaram próximo profissionais da educação e às famílias, pois
a alunos que o auxiliavam nas atividades o tema é de grande importância para educa-
solicitadas pela professora e, assim, pu- ção e o desenvolvimento humano.
desse interagir com as outras crianças ate-
nuando as dificuldades de relacionamento
interpessoal. Referências:
Para que a família estivesse mais pre-
sente à realidade do aluno, sempre que FERRARI, E. A. M. et al. Plasticidade neural:
necessário era solicitado que eles realizas- relações com o comportamento e abordagens
sem uma visita à escola para presenciarem experimentais. Psicologia: Teoria e Pesqui-
as ações do filho. Muitas vezes perceberam sa, Brasília, p. 2, maio/ago. 2001. Disponível
que algumas atitudes do aluno, como não em: <http://www.scielo.br> Acesso em: 15
realizar as atividades dentro do proposto, nov. 2008.
adivinham de métodos utilizados dentro de
casa, como, por exemplo, se realizasse uma CARVALHO, E. P. C. Modos de educa-
atividade receberia um presente. Com isso, ção, gênero e relações escola–família. Ca-
como o aluno não percebia que ganharia derno de Pesquisa. v. 34, n. 121, São
nada na realização da atividade, não as Paulo, jan./abr. Disponível em: <http://
fazia. Segundo Ferrari (2001), as condições www.scielo.br/scielo.php?script=sci_
ambientais e familiares estão relacionadas arttext&pid=S0100-15742004000100003-
com o desenvolvimento global do indivíduo &lng=en&nrm=iso&tlng=pt>. Acesso em: 15
e as interações vivenciadas podem promover nov. 2008.
a melhora da capacidade de interações do
sistema nervoso.
Com base no relato da família, a coorde-
nadora e a professora optaram por mudar
esses hábitos, pois o aluno deveria reconhe-
cer que as atividades seriam para o cres-
cimento intelectual. Fizeram uma cartilha
de pessoas que obtiveram sucesso na vida
estudando. O aluno sempre era incentivado
a ler essa cartilha e algumas vezes recebia
reforço, com palavras que estimulassem seu
ego, para que o interesse pelas atividades
acontecesse. A princípio parecia que não es-
tava tendo resultados, porém, com o tempo,
passou a realizar as atividades em sala de
aula e já conseguia interagir com os outros
alunos.

144
Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 2, p. 1-204, ago./dez. 2008 - Semestral
Artigo 21
Autora:
Juliana Mara Castro Diniz

Graduanda em Pedagogia com Ênfase em Necessidades Educacionais Especiais pela PUC Minas

A importância da atuação do coordenador pedagógico no estudo de caso

“patinho feio”. Há uma superproteção fami-


Resumo liar, evidente no relato da mãe dizendo que a
Este artigo discute a importância da atuação da coorde- criança ainda utiliza fraldas para dormir.
Revista Eletrônica - “O caso é o seguinte...” Coordenação Pedagógica: Coletânea de Estudos de Casos

nação pedagógica na realização de um estudo de caso e a A professora solicitou, juntamente com a


importância de, quando necessário, encaminhar os alunos supervisão da escola, um acompanhamento
para atendimentos com profissionais especializados. Isso pedagógico em casa. No início do acompa-
vai garantir o sucesso acadêmico e pessoal da criança. nhamento, resultados positivos foram al-
cançados. Houve melhora na organização,

O
presente estudo de caso foi realizado na escrita e um pequeno avanço na leitu-
com uma criança de 6 anos de idade ra, mas atualmente a criança vem criando
que cursa a 1ª série/9, em uma esco- consciência de suas dificuldades, gerando
la privada de Belo Horizonte. As dificuldades frustrações e regredindo em tudo que havia
na aprendizagem apresentadas pela criança alcançado.
foram o que instigou a iniciação da investi- Pode-se observar que ela tem criado uma
gação sobre o problema. Ela apresenta bai- noção a respeito de tudo que aconteceu e
xa auto-estima, diferencia-se do grupo pelo acontece em sua vida. Ao ser submetida à
tamanho e pelo tônus muscular, demonstra prova de seleção para uma escola, a aluna
dificuldades na fala e motoras, além de com- foi reprovada e isso contribuiu para que seu
prometimentos na leitura e na escrita. comportamento agravasse.
No início do ano, relacionava-se muito A auto-estima baixa gera uma série de
bem com a professora, no entanto, como comprometimentos emocionais para uma
algumas cobranças começaram a surgir criança, acarretando problemas em vários
devido ao conteúdo pedagógico, demonstra- setores de sua vida, em especial o acadêmi-
se, atualmente, insegura e reage com choro co. Nessa criança, o problema vai além da
nas situações de conflito e que necessitam auto-estima. A relação de cuidado excessivo
de intervenção. Já com os colegas apresenta da família e a forma como se porta com a
bom relacionamento, “vai de acordo com a professora e os amigos são agravantes. Fisi-
maré”. Sempre recorre à ajuda deles, mas camente, ela apresenta estereótipo diferente
em atividades livres, como recreio ou pátio, das demais crianças, mas a solicitação de
fica sozinha. um acompanhamento psicológico que possa
Segundo os pais, tais comprometimentos detectar outros comprometimentos e, con-
tenham sido ocasionados devido ao nasci- seqüentemente, tratamento não é cogitada
mento prematuro. Mas é possível perceber pela coordenação pedagógica. Ela considera
uma insistência da família em “retardar” o que as ações realizadas internamente e em
avanço natural da criança e as dificuldades parceria com a família são, temporariamen-
são a cada dia mais evidentes. te, suficientes. A coordenação pedagógica re-
A família demonstra ser bem resolvida, conhece as dificuldades da criança, embora
embora, em algumas atitudes, principal- não tome decisões que levem ao diagnóstico
mente da mãe, percebe-se uma preocupação de outros acometimentos.
sobre a relação da criança com o grupo, se há Tal situação evidencia a importante atu-
ou não uma diferença entre eles, por exem- ação do coordenador pedagógico em relação
plo. A mãe se refere à criança como sendo a ao encaminhamento adequado de crianças

145
Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 2, p. 1-204, ago./dez. 2008 - Semestral
A importância da atuação do coordenador pedagógico no... Juliana Mara Castro Diniz

que apresentem dificuldades na aprendi-


zagem, principalmente quando ações sim-
ples são realizadas e os benefícios não são
suficientes.
O estudo de caso torna-se essencial na
rotina de uma escola e, quando as decisões
extrapolam o âmbito pedagógico e escolar, o
encaminhamento a profissionais adequados
e especializados deve ser imediato. A escola
não pode simplesmente omitir um problema
por qualquer motivo que seja. A função dela
é sinalizar aos pais as observações feitas so-
bre a criança, apontando sua real situação
e disponibilizando a eles apoio e possibili-
dades para melhoria que, na presente situ-
ação, é a procura por outro profissional que
poderá atuar.

Revista Eletrônica - “O caso é o seguinte...” Coordenação Pedagógica: Coletânea de Estudos de Casos


Neste caso específico, o que está em ques-
tão é a vida escolar e particular de uma
criança. Ela possui direito de oportunidades
e ter suas necessidades atendidas faz parte
desse direito. Cabe à escola, sempre e em
qualquer situação, avaliar o lado do aluno,
contribuindo para que Todas essas necessi-
dades sejam assistidas. Trata-se de um pe-
queno ser que, mesmo ocultamente, clama
por ajuda, e esta não lhe pode ser negada.

146
Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 2, p. 1-204, ago./dez. 2008 - Semestral
Artigo 22
Autora:
Keila Mara Magalhães

Graduanda em Pedagogia com Ênfase em Necessidades Educacionais Especiais pela PUC Minas

Possibilidades para um aluno com TDAH

malcriada, agitada e indisciplinada. Infeliz-


Resumo mente, quando saiu o resultado, Guilherme
Este artigo retrata o cotidiano de um aluno com TDAH, já havia perdido quase todo o ano. A direção
Revista Eletrônica - “O caso é o seguinte...” Coordenação Pedagógica: Coletânea de Estudos de Casos

matriculado em uma escola particular regular em Betim, e a coordenação começaram a se informar e


região metropolitana de BH. a trabalhar para que Guilherme não perdes-
se o ano letivo, mas não conseguiram que

G
uilherme1 foi matriculado no Colégio ele concluísse o ano apto para a 2ª serie.
Dom Joaquim2, em Betim, no ano Após várias reuniões com a família, com
passado, em uma turma de 1ª serie, a psicóloga e com a professora, decidiram
turma que condizia com sua faixa etária, na reter Guilherme e começar com ele nova-
época ele tinha 7 anos. No entanto, ao longo mente a 1ª série, porém utilizando um novo
do ano, Guilherme não conseguia acompa- método de trabalho, desta vez adaptado e
nhar a turma com êxito, demonstrava difi- inclusivo, de modo que todas as suas neces-
culdades que excediam ao normal. Além de sidades educacionais pudessem ser sanadas
demonstrar uma enorme falta de atenção e e atendidas.
falta de motivação, ele não progredia nas ati- Iniciado o ano de 2008, Guilherme foi
vidades realizadas em sala. Não terminava as matriculado novamente em uma sala de 1ª
tarefas que começava , cometia muitos erros, série, porém várias intervenções começaram
não se concentrava nas atividades lúdicas, a ser feitas de imediato.
tinha dificuldade em se organizar, evitava A partir de informações colhidas no re-
tarefas que exigiam esforço, dstraía-se com latório diagnóstico, foi montado um plano
qualquer coisa, era muito descuidado com as individualizado para Guilherme, e escola,
coisas, sem falar nos aspectos motores – de- com o apoio da equipe psicológica, montou
monstrava inquetação, movimentava cons- também um programa específico de acom-
tantemente os pés e as mãos, levantava-se o panhamento, com orientação educacional
tempo todo, falava muito, corria para todos para os pais. Adaptações no currículo foram
os lados, apresentava atitudes aceleradas. necessárias, a professora precisou assumir
A escola notou que no comportamento de algumas posturas diferenciadas em relação
Guilherme havia algo diferente e solicitou ao dia-a-dia de Guilherme em sala de aula.
que fosse encaminhado a uma orientação Para Guilherme, os períodos de realiza-
psicológica. Em pouco tempo, a psicóloga em ção dos trabalhos eram mais curtos. Dada
parceria com a escola finalizou o diagnóstico a falta de controle e as atitudes aceleradas,
de Guilherme, TDAH – Transtorno de Déficit ele necessitava e recebia mais instruções
de Atenção/Hiperatividade, um transtorno individuais que os demais alunos, criaram-
cuja base sintomatológica é o déficit de aten- se listas de regras em sala, mas com men-
ção, a hiperatividade motora e a impulsivida- sagens que não eram ambíguas, escritas de
de. Quando falamos em déficit de atenção/ maneira positiva. Além disso, a aprendiza-
hiperatividade, estamos nos referindo a um gem precisava envolver bastante o lúdico,
quadro sintomatológico de base neurológica tornando assim as atividades mais interes-
que pouco tem a ver com a criança travessa , santes e agradáveis, o que era uma forma de
prender a atenção de Guilherme, pois ele se
1. Nome fictício, para preservar a identidade do aluno.
desprendia com muita facilidade, ou perdia o
2. Nome fictício, para preservar a identidade da escola.

147
Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 2, p. 1-204, ago./dez. 2008 - Semestral
Possibilidades para um aluno com TDAH Keila Mara Magalhães

interesse. Sua carteira foi levada para perto


do quadro, evitando que ele pudesse se dis-
trair com informações ao redor, e próxima
da mesa da professora, para que ela pudesse
melhor atendê-lo. Até o material escolar que
Guilherme levava para a escola precisou ser
adaptado, materiais sem desenhos e com
poucos estímulos visuais, para evitar que se
distraísse com eles também. Toda a equipe
pedagógica se empenhou em promover um
processo educacional inclusivo e de qualida-
de para Guilherme. Como hoje o desempe-
nho de Guilherme é bem mais satisfatório
que na mesma época do ano passado, não
será retido novamente na primeira série por
méritos próprios. Ele será promovido para a
segunda série.

Revista Eletrônica - “O caso é o seguinte...” Coordenação Pedagógica: Coletânea de Estudos de Casos


Fica evidente que todos os esforços e a de-
dicação de toda a equipe pedagógica em aju-
dar Guilherme lhe propiciaram um melhor
atendimento em suas necessidades educa-
cionais, tornando seu processo de ensino e
aprendizagem inclusivo, com superação de
limites e respeito às diferenças.

Referência:
GONZÁLES, Eugenio (Org.). Necessidades
educacionais específicas: intervenção psi-
coeducacional. Porto Alegre: Artmed, 2007.

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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 2, p. 1-204, ago./dez. 2008 - Semestral
Artigo 23
Autora:
Kênia Figueiredo Campos Rodrigues
Endereço eletrônico: keniafigueiredo@click21.com.br
Graduanda em Pedagogia com Ênfase em Necessidades Educacionais Especiais pela PUC Minas

A ação pedagógica em busca de um diagnóstico

cessos, a família foi acionada para tentar


Resumo novas estratégias que pudessem surtir al-
O objetivo deste artigo é apresentar o estudo de caso de gum efeito. Os pais informaram que o com-
Revista Eletrônica - “O caso é o seguinte...” Coordenação Pedagógica: Coletânea de Estudos de Casos

um aluno de sete anos, que está cursando a 2ª série do En- portamento dele era o mesmo em casa. Após
sino Fundamental de uma escola da rede particular de en- muitas conversas e tentativas de ajuda ao
sino de Belo Horizonte. Será mostrado o motivo pelo qual aluno, foi marcada uma visita ao neurologis-
o estudo foi feito, a ação da escola frente a esse aluno, a ta, que receitou Ritalina®, uma medicação
posição da família referente à dificuldade apresentada e de tarja preta, em razão da constatação de
como está sendo a sua aprendizagem. um déficit de atenção.
O efeito da medicação foi logo percebido,

O
estudo de caso foi feito devido ao tanto pela escola quanto pelos pais, pois ele
comportamento que vinha sendo passou a ficar um pouco mais concentrado
apresentado por um aluno de 7 anos, e calmo. Em contrapartida, ele começou a
da 2ª série. Na primeira série, já eram detec- demonstrar certa apatia. Não comia direito
tadas certas dificuldades durante o tempo e deixou de lado suas rotinas, passando a fi-
que passava na escola. car muito quieto e em constante sonolência.
Ao contatar a família, a equipe escolar ti- Diante os efeitos colaterais provocados
nha como objetivo prestar um auxílio a esse pela medicação, a mãe suspendeu o remédio
aluno, fazendo com que seu comportamento por conta própria, optando por um trata-
apresentasse alguma melhora, possibilitan- mento homeopático, que oferecia menores
do-lhe uma aprendizagem tivesse algum efeitos colaterais.
progresso significativo. Com toda essa mudança e a nova medi-
Desde a 1ª série, já havia sido percebida cação, voltou-se a perceber no aluno toda a
certa agitação e distração em sala de aula, inquietação, dispersão e falta de interesse
que refletiam em sua aprendizagem. Diante anteriores.
dessa ocorrência, a equipe pedagógica deci- Como a mãe parou o tratamento iniciado
diu por acionar a família com o intuito de pelo neurologista e continua com o trata-
averiguar se as dificuldades eram percebidas mento homeopático, as dificuldades perma-
também no âmbito familiar. Essa metodolo- necem, optando a escola por maneiras dife-
gia foi adotada pelo fato de a escola acreditar renciadas de atender o aluno.
na possibilidade de serem de cunho emocio- A equipe pedagógica passou a ter um olhar
nal as reações e comportamentos do aluno. diferenciado, começou a adotar medidas que
Davi1 é uma criança muito esperta, porém pudessem colaborar com sua aprendizagem
é muito disperso e apresenta um comporta- e comportamento. A professora colocou a ca-
mento difícil e uma dificuldade de aprendi- deira de Davi na frente da fila, de onde ela o
zagem acentuada. O acompanhamento com acompanha melhor. Ela tem solicitado muito
ele vem sendo feito desde a primeira série, a atenção do aluno, conseguindo fazer com
sendo que já foram inúmeras as providên- que ele se volte para ela. Durante as ativi-
cias tomadas para tentar solucionar o seu dades, a professora pede ao aluno que faça
problema, porém, sem êxito. a leitura em voz alta, pergunta-lhe o que
Após várias tentativas seguidas de insu- entendeu e dialoga sobre a questão proposta
em sala de aula. Através dessa metodologia,
1. Nome fictício, para preservar a identidade do aluno.

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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 2, p. 1-204, ago./dez. 2008 - Semestral
A ação pedagógica em busca de um diagnóstico Kênia Figueiredo Campos Rodrigues

ele começou a se desenvolver um pouquinho


melhor, porém nada de extraordinário foi
percebido.
A família não tem feito nenhum novo
acompanhamento, apesar da cobrança da
equipe escolar. Atualmente, ele continua
com a mesma medicação homeopática, po-
rém sem nenhuma melhora visivelmente
percebida.
Como o quadro do aluno continua o
mesmo, a equipe pedagógica vem atuando
da melhor forma possível, porém continua
agindo sem ter certeza de que a forma como
está trabalhando com o aluno é a melhor
para seu desempenho.
Esse é um caso muito típico em que a
equipe escolar quer atuar, mas não pode,

Revista Eletrônica - “O caso é o seguinte...” Coordenação Pedagógica: Coletânea de Estudos de Casos


pois não sabe a forma correta e nem quais
meios podem ser usados com o aluno, já que
não se sabe exatamente o que está ocorren-
do. Em casos como esse, fica muito difícil
uma intervenção, haja vista a dificuldade em
continuar insistindo com os pais que procu-
rem saber o que está acontecendo.
Para que o processo educacional ocorra
de forma positiva e completa, deve haver
uma constante interação entre família, es-
cola e aluno, principalmente em casos em
que se detecta alguma dificuldade por parte
do educando.
Com tudo isso, quem perde é o aluno,
pois sua atuação continua limitada, o que
dificulta e diminui sua aprendizagem, per-
manecendo sem receber qualquer interven-
ção adequada por parte da equipe escolar e
da família.

150
Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 2, p. 1-204, ago./dez. 2008 - Semestral
Artigo 24
Autora:
Lílian Geralda de Oliveira

Graduanda em Pedagogia com Ênfase em Necessidades Educacionais Especiais pela PUC Minas

Dificuldade de aprendizado: um estudo de caso

clui. Encontra-se em um nível defasado, em


Resumo relação às outras crianças, além de apresen-
Este artigo apresenta um estudo de caso sobre o desempe- tar grande dificuldade em seguir regras.
Revista Eletrônica - “O caso é o seguinte...” Coordenação Pedagógica: Coletânea de Estudos de Casos

nho de uma criança de 6 anos, do 1º ano do 1º ciclo, de uma A professora e coordenadora trabalham
escola pública municipal. O objetivo é analisar como se esses entraves junto às famílias com o obje-
realiza um estudo de caso, as medidas e os procedimentos tivo de intervir junto à criança para garantir
adotados e o envolvimento da família. a aprendizagem.
Foi possível verificar, segundo relatos da

A
atuação da escola e do professor em família, que esse fato deve-se a antecedentes
relação a um aluno com dificuldade familiares como repressão, maus tratos, che-
de aprendizagem e de comportamento gada de bebê na família, além de demonstrar
serviu como alvo de investigação e estudo comportamentos agressivos desde bebê.
para a área educacional. A coordenação encaminhou a criança
Neste estudo de caso, o professor assumiu para tratamento psiquiátrico, enviando um
o papel de mediador coordenando as intera- relatório sobre o comportamento e rendi-
ções do aluno na sala de aula bem como a mento do aluno. A família rejeitou tal pro-
sua aprendizagem. cedimento e encaminhou a criança apenas
A importância desse papel é assinalada ao psicólogo, alegando que a criança não é
por Coll (1996, p. 299): “[...] as relações dos louca. A psicóloga, entretanto, nunca enviou
alunos podem chegar a incidir de forma de- relatórios sobre o tratamento para a escola,
cisiva sobre a consecução de determinadas apenas a família diz que seu comportamento
metas educativas e sobre determinados as- advém de ordem emocional.
pectos de seu desenvolvimento cognitivo e Analisando o caso, percebe-se que, em-
socialização”. bora a família participe da vida escolar do
Para Davis, interações educativas são aluno, ela não aceita as suas dificuldades e
aquelas que exigem coordenação de conhe- as intervenções da escola, descentralizando
cimentos e ações em torno de objetivos co- assim o seu papel.
muns e que sejam pautadas pela simetria, Com isso, podemos concluir que esse tipo
ou seja, pela oportunidade de participação de estudo fornece subsídios para compreen-
dos alunos, no tempo e espaço interativo, der as dificuldades da escola para trabalhar
favorecendo a expressão individual e a troca em parceria com família e psicólogo.
de experiências.
O aluno objeto da investigação demons-
tra um comportamento diferenciado, que se
destaca entre as outras crianças. Segundo
relatos colhidos na escola, ele demonstra
comportamentos agressivos, gosta de andar
pela sala e pela escola, se envolve com todos
os colegas e apresenta confusão de pensa-
mento. Ele se expressa com clareza e, ao se
sentir contrariado, se torna agressivo. Não
se concentra nas atividades e nunca as con-

151
Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 2, p. 1-204, ago./dez. 2008 - Semestral
Dificuldade de aprendizado: um estudo de caso Lílian Geralda de Oliveira

Referências:
COLL, Ramey. O que os pais falam sobre as
suas habilidades sociais e a de seus filhos.
1996.

DAVIS, Willian Morris. Papel e função do


avaliador na escola. 1993.

Revista Eletrônica - “O caso é o seguinte...” Coordenação Pedagógica: Coletânea de Estudos de Casos

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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 2, p. 1-204, ago./dez. 2008 - Semestral
Artigo 25
Autora:
Lílian Grazielle Ferreira de Souza
Endereço eletrônico: liliangfsouza@hotmail.com
Graduanda em Pedagogia com Ênfase em Necessidades Educacionais Especiais pela PUC Minas

A hiperatividade (TDAH), o grande desafio escolar

Pelo exposto, pode-se perceber que al-


Resumo gumas crianças com TDAH ultrapassam
Durante muitos anos, crianças sofrem os abusos da ig- a fama de travessos, engraçadinhos e se
Revista Eletrônica - “O caso é o seguinte...” Coordenação Pedagógica: Coletânea de Estudos de Casos

norância educacional de forma a rotulá-las como de- transformam em verdadeiro transtorno na


sobedientes diante da sociedade que as cerca. Essa rea- vida dos pais, dos professores e de todos que
lidade é ainda mais evidente em crianças e adolescentes estiverem a sua volta. Elas parecem ignorar
com Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade as regras de convívio social e, devido ao in-
(TDAH) que, após conviverem com sua dificuldade, atra- cômodo que causam, acabam sendo consi-
vés de seu comportamento advertem a sua família, a es- deradas de má índole. No entanto, é preciso
cola e os amigos a como respeitarem suas diferenças para deixar claro que as crianças hiperativas
que eles possam superar seus limites. não são, de forma alguma, más. Além dis-
so, elas não se convencem facilmente e não

O
presente artigo tem como objetivo re- conseguem se concentrar na argumentação
latar um estudo de caso realizado em lógica dos pais e professores, já que essas
uma escola comum da rede particular crianças têm extrema dificuldade em sentar
de ensino na qual se encontra matriculado o e dialogar.
Eduardo1 com conduta hiperativa. Por outro lado, ainda é comum encontrar
Após muitas observações e reuniões com entre leigos a noção de que a criança hipera-
os pais, o aluno foi encaminhado a especia- tiva seja apenas malcriada, agitada ou mal
listas por apresentar um quadro que sugere educada pelos pais. Esse tipo de acusação
TDAH – Transtorno do Déficit de Atenção freqüentemente resulta em sensação de fra-
associado à hiperatividade 2 . casso pelos pais. Por isso, é muito importan-
Segundo relatos da professora, Eduardo te que os profissionais estejam preparados
incomoda os colegas com atitudes de provo- para suportar e desfazer esse mito.
cação; conversa fora da atividade proposta; Segundo pesquisa da Associação de Pais
anda, corre e pula no espaço da sala de e Amigos dos Hiperativos, o TDAH é um
aula, pelos mais variados motivos; mostra- dos transtornos mentais mais freqüentes
se agressivo com os colegas, joga materiais e nas crianças em idade escolar, atingindo 3
brinquedos pela sala ou nos próprios colegas. a 5% delas. Apesar disso, continua sendo
Entretanto, ao mesmo tempo, está atento a um dos transtornos menos conhecidos por
tudo que acontece na sala de aula e ao que a profissionais da área da educação e mesmo
professora fala, solicita, orienta ou ao que a por profissionais de saúde. Há ainda muita
atividade do momento requer, verbalizando desinformação sobre esse problema.
e realizando o proposto com rapidez, porém Outro fato que parece sustentar essa hi-
com pouca ou nenhuma correção. pótese é que pacientes com TDAH tendem a
vir de famílias com alguma desestrutura-
1. Nome fictício, para preservar a identidade do aluno. ção ou que contenham algum histórico de
2. O TDAH está associado com comorbidades importan- problemas psiquiátricos. Do ponto de vista
tes que vão desde perturbações no desempenho escolar neuropsicológico, parece haver certa concor-
até problemas de ordem psicossocial na vida do indiví- dância de que o Locus Ceruleus, o Córtex
duo. Dentre elas, destacam-se as alterações na coorde- Pré-Frontal, o Tálamo e o Córtex Parietal
nação motora, interferindo na aprendizagem escolar e
estariam relacionados ao TDAH. Há ainda
nas atividades cotidianas.

153
Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 2, p. 1-204, ago./dez. 2008 - Semestral
A hiperatividade (TDAH), o grande desafio escolar Lílian Grazielle Ferreira de Souza

alguma idéia sobre possíveis alterações na lia para restabelecer e conservar um vínculo
estrutura cerebral, especialmente do lobo adequado.
frontal direito e da parte anterior do corpo
caloso. Em pacientes com TDAH, porém, os
achados até o presente momento não permi- 3. Tratamento farmacológico
tem uma conclusão sobre essa hipótese.
Muitas vezes os professores são os pri- Os fármacos chamados psicoestimulan-
meiros a detectar o problema, já que podem tes como, por exemplo, o metilfenidato (Rita-
comparar a conduta entre crianças da mes- lina®) têm permitido, junto com a psicotera-
ma idade. Quando se suspeita que a criança pia, melhorar o prognóstico e a qualidade de
possa estar sofrendo desse transtorno, deve- vida dessas crianças. O médico especialista
se realizar uma consulta com um profissio- pode utilizar outras medicações, como os
nal especializado. Existem escalas, como a antidepressivos. Devem realizar-se contro-
Escala de Conners, amplamente utilizadas les periódicos, valorizando, entre outros, o
como escore de suspeita, com versões vali- apetite, o crescimento e o sono, que são os
dadas em populações latinas. Com Eduardo problemas mais freqüentes que se associam
não foi diferente: felizmente o diagnóstico ao uso desses medicamentos.

Revista Eletrônica - “O caso é o seguinte...” Coordenação Pedagógica: Coletânea de Estudos de Casos


e a intervenção foram realizados antes que É natural que exista certa preocupação
houvesse maiores prejuízos em sua vida por parte dos pais em usar os fármacos por
escolar. tanto tempo, mas devem sempre ser avalia-
Sabe-se que só o tratamento que combi- dos os riscos e os benefícios do tratamento,
ne três aspectos pode ser efetivo em longo juntamente com a qualidade social e escolar
prazo. De acordo com especialistas, o plano da criança.
terapêutico se baseia fundamentalmente Na escola onde se deram as observações,
em três premissas: adequação das op- as estratégias para intervenção se pautaram
ções educativas, psicoterapia e tratamento em orientações trazidas pelos especialistas e
farmacológico. pelos pais do aluno, sendo realizadas reuni-
ões mensais ou de acordo com a necessidade
da troca de informações e recomendações.
1. Adequação das opções educati- Acredita-se que o pedagogo é o profissio-
vas nal que articula as ações necessárias desde
as primeiras observações até o fechamento
Existem várias técnicas para melhorar a do diagnóstico feito por especialistas.
aprendizagem, destacando-se as seguintes:
• Proporcionar um ambiente muito bem es-
truturado ajuda a criança a ordenar-se. O que melhorou após as inter-
venções
• Propiciar ambientes onde haja a menor dis-
tração possível.
De acordo com o relato da mãe, após as
• Supervisionar pessoalmente as tarefas. intervenções, foi observada melhoria na
• Estabelecer um tempo extra e fixo para que
atenção e na concentração do filho, porém,
copie seu trabalho, lembrando que quando segundo ela, não ocorreram mudanças
o tempo se esgotar deve parar e não deixar referentes ao comportamento hiperativo.
passar do limite. Quanto ao relacionamento com os demais,
foi relatada pouca mudança positiva. Ques-
• Fracionar as tarefas em intervalos curtos de
tionada sobre o aproveitamento escolar, a
tempo, com descansos entre uma e outra.
mãe relatou melhor desempenho na leitura,
• Usar métodos que permitam o autocontrole, na escrita e no cálculo.
como cronogramas, agendas e listas. Conforme relatado pela professora, houve
melhoria significativa na aprendizagem es-
2. Psicoterapia colar após as intervenções. Porém, às vezes
Eduardo ainda demonstra troca de letras,
Atualmente, se tem provado maior efeti- embora a freqüência dessas trocas lenta-
vidade com o uso de terapias do tipo cogni- mente venha diminuindo.
tivo-comportamental e com o apoio à famí- Segundo a professora, ele demonstra
maior capacidade de atenção e concentra-

154
Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 2, p. 1-204, ago./dez. 2008 - Semestral
A hiperatividade (TDAH), o grande desafio escolar Lílian Grazielle Ferreira de Souza

ção, porém, pouca diminuição na conduta


hiperativa. O relacionamento com os demais
colegas melhorou e Eduardo parece um pou-
co mais maduro.
Quanto à coordenação motora foi perce-
bido avanço na motricidade fina, principal-
mente através de atividades de desenhos,
pinturas e recortes.
Tanto a mãe quanto a professora concor-
daram quanto à melhoria no aproveitamento
escolar e na atenção do garoto. Os resulta-
dos encontrados neste estudo estão de acor-
do com os dados de outros autores quanto
ao benefício das intervenções motoras na
criança com esse transtorno. As interven-
ções motoras em uma criança com indica-
dores do TDAH influenciaram positivamente
Revista Eletrônica - “O caso é o seguinte...” Coordenação Pedagógica: Coletânea de Estudos de Casos

na motricidade fina, no equilíbrio, no esque-


ma corporal e na organização temporal. Foi
constatada mudança de nível do desenvol-
vimento motor de “inferior” para “normal
baixo”. Portanto, a análise referente a esses
dados apresentados permite considerar que
os objetivos das intervenções possibilitadas
pela ação rápida e eficaz da coordenadora
da escola se mostraram eficientes no desen-
volvimento motor, na atenção e concentra-
ção, no relacionamento e no aproveitamento
escolar.

Referências:
BASTOS, F.; BUENO, M. (1999). Diabinhos:
Tudo sobre o Transtorno de Déficit de Aten-
ção/Hiperatividade. Disponível em: <http://
www.neurociencias.nu/pesquisa/add.htm>.
Acesso em: 05 nov. 2008.

LE BOULCH, J. Educação psicomotora: a


psicocinética na idade escolar. Porto Alegre:
Artes Médicas, 1988.

SOUSA, Celeste Aparecida Dias e. Estudo de


caso de alunos com distúrbios de compor-
tamento e /ou aprendizagem: como fazê-lo.
Belo Horizonte, 2005

155
Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 2, p. 1-204, ago./dez. 2008 - Semestral
Artigo 26
Autora:
Luciana Olinda de Oliveira
Endereço eletrônico: luliolinda@yahoo.com.br
Graduanda em Pedagogia com Ênfase em Necessidades Educacionais Especiais pela PUC Minas

A inclusão na escola plural

dizagem do aluno ocorra sem as rupturas


Resumo existentes na organização escolar em séries.
O presente artigo relata um estudo de caso de um aluno A aprendizagem torna-se um processo contí-
Revista Eletrônica - “O caso é o seguinte...” Coordenação Pedagógica: Coletânea de Estudos de Casos

que tem a Síndrome de Williams e que estuda em uma es- nuo que ocorre juntamente com o desenvol-
cola plural na região noroeste de Belo Horizonte. Relata vimento biológico do educando, valorizando
o processo de inclusão que o aluno vem vivenciando, seus a sua formação global humana.
altos e baixos e como sua relação com os educadores com A inclusão é um tema atual com que
os quais convive e conviveu mudou seu comportamento e muitos profissionais da educação deparam
influenciou no seu processo de ensino-aprendizagem. diariamente nas escolas. Não sabem, entre-
tanto, como lidar com esse assunto e com

O
caso escolhido foi o de um aluno que as crianças com necessidades educacionais
tem uma síndrome muito rara: a Sín- especiais que são matriculadas nas esco-
drome de Williams. Mais conhecida las regulares sem que seus professores (na
como Síndrome de Williams-Beuren, essa maioria) tenham os conhecimentos necessá-
doença genética é relativamente rara: atinge rios para trabalhar com elas.
um indivíduo a cada 20 mil nascimentos, Com Pedro1 ocorreu de uma maneira
aproximadamente. Essa síndrome não é diferente. No 3° ano do 1° ciclo (antiga 2ª
transmitida geneticamente. Não tem causas série), ele se deparou com uma professora
ambientais, médicas ou influência de fatores diferente, daquelas que não encontramos
psicossociais. tão facilmente. Uma professora inovadora e
As pessoas com essa síndrome possuem realista, que sabia das reais possibilidades
uma face característica descrita como a de e capacidades do aluno, bem como de suas
um duende, com um conjunto de discretos limitações, o que mudou a visão de escola da
sinais faciais, como o nariz pequeno e a criança, que servia apenas para brincar e
boca grande. Essa síndrome tem impacto fazer bagunça. Essa professora, além de ser
sobre diversas áreas do desenvolvimento, pedagoga e psicóloga, com a ajuda de uma
incluindo a cognitiva, a comportamental e estagiária conseguiu trabalhar o processo
a motora, podendo ter déficit de atenção e de ensino-aprendizagem do aluno com re-
hiperatividade. Algumas características de cursos como: atividades fora de sala de aula
personalidade são particularmente comuns com jogos silábicos e matemáticos, adapta-
nas crianças com Síndrome de Williams: ção de atividades feitas em sala pelos outros
grande sociabilidade; entusiasmo exube- alunos, trabalhos com cadernos sem pauta,
rante; grande sensibilidade com as emoções a fim de trabalhar a sua escrita, trabalhos
alheias; sentem-se excessivamente à vontade manuais com recorte, massinha e argila.
com estranhos; pequeno intervalo de aten- Todo esse processo, além de trabalhar
ção; memória excelente para pessoas, nomes com a aprendizagem do aluno, desenvolvia
e locais; grande sensibilidade aos sons e an- outros aspectos como: coordenação motora,
siedade (especialmente com acontecimentos psicomotricidade, percepção visual e musi-
futuros). cal, integração com o grupo e até momentos
A escola plural na qual o aluno estuda de descontração e relaxamento em suas ho-
tem em seu projeto uma nova concepção ras mais agitadas devido à hiperatividade.
de ensino, em que se propõe que a apren-
1. Nome fictício, para preservar a identidade do aluno.

157
Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 2, p. 1-204, ago./dez. 2008 - Semestral
A inclusão na escola plural Luciana Olinda de Oliveira

Alunos com necessidades educacionais


especiais enfrentam grandes barreiras ao
entrar em uma escola comum, por estar
acostumada com alunos ditos “normais” e
,quando se vê diante de alunos especiais,
não sabe e não está preparada para lidar
com eles.
No final do ano, a criança foi para o ou-
tro ciclo. Outros professores, outros amigos,
outro horário, outra vivência. Infelizmente
ali não havia mais a professora inovadora
que, com suas estratégias de ensino, esta-
va conseguindo alfabetizá-lo. A partir daí, o
menino estava novamente limitado, pois não
havia mais nenhum apoio como o que ante-
riormente teve. Sua professora regente e a de
apoio não entendiam a real necessidade de

Revista Eletrônica - “O caso é o seguinte...” Coordenação Pedagógica: Coletânea de Estudos de Casos


uma intervenção com o aluno. Achavam que
ele era um menino indisciplinado e malcria-
do, mas, na verdade, sua doçura estava ape-
nas escondida juntamente com todo aquele
processo de aprendizagem que ele perdeu.
A partir desse relato que muito variou e
modificou a vida do aluno, é possível repen-
sar nossa atuação como pedagogos na esco-
la perante a sociedade, pois é necessária a
escolarização das crianças com necessida-
des educacionais especiais e, para que isso
ocorra, todos os profissionais que trabalham
com a educação devem ter um embasamento
na área de educação inclusiva, para que ela
seja feita de uma forma diferente e conscien-
te, a fim de que a criança possa realmente
aprender e gozar dos mesmos direitos que
qualquer outra criança.
Como disse o Doutor Hugo Otto Beyer,
professor da Universidade Federal do Rio
Grande do Sul: “Uma criança com necessi-
dades educacionais especiais, antes de ser
alguém impedido por uma deficiência, é al-
guém capaz de aprender.”

Referências:
Escola Plural: O direito a ter direitos.
Disponível em: <http://www.pbh.gov.br/
educacao/escola-plural.htm>. Acesso em:
07/11/2008.

SW BRASIL. Disponível em: <http://www.


swbrasil.org.br/site/default.php>. Acesso
em: 12/11/2008.

158
Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 2, p. 1-204, ago./dez. 2008 - Semestral
Artigo 27
Autora:
Manoele Pinto Bezerra

Graduanda em Pedagogia com Ênfase em Necessidades Educacionais Especiais pela PUC Minas

Escola ativa contra a violência familiar que dá origem à dificul-


dade de aprendizagem

O aluno foi chamado para uma conversa


Resumo com a coordenação, e relatou que não havia
Este artigo apresenta o relato da coordenação pedagógi- nada de anormal, apenas um pouco de desâ-
Revista Eletrônica - “O caso é o seguinte...” Coordenação Pedagógica: Coletânea de Estudos de Casos

ca de uma escola municipal situada na região leste de Belo nimo. A mãe de André foi convocada diver-
Horizonte. A instituição atende a um público de classe sas vezes para uma reunião com a coordena-
média-baixa e, dentro de sua filosofia educacional, pro- ção e professores, mas não comparecia com
cura promover uma educação de qualidade para todos. argumentação de problemas de saúde sérios
Neste artigo, retrata-se o estudo de caso de uma aluna e relata que o ambiente familiar se encontra
que apresenta alterações de comportamento que compro- normal. Os dias passavam e o aluno perma-
metem o seu rendimento escolar. Para a realização deste necia em seu quadro de isolamento. Nesse
trabalho, foi analisada a violência como um fator que in- período, o aluno perdeu sua primeira média
terfere na aprendizagem bem como o papel da família, da e a situação se mostrava mais agravante.
escola e do educador frente a essa situação. Passa-se mais um mês e a mãe é chama-
da na escola para uma nova reunião e, após

A
ndré1 tem 17 anos e cursa o 2º ano momentos de conversa, ela desabafa e relata
do Ensino Médio. Está na escola des- toda a situação de violência vivenciada em
de a 7ª série e sempre se apresentou casa com o marido, sempre com brigas na
interessado em todas as atividades. Nunca frente dos filhos inclusive André. Logo em
foi reprovado nem perdeu média, sempre seguida, a mãe é recomendada a denun-
foi destaque em sala pelo seu desempenho ciar o esposo e encaminhar o filho para um
escolar. O aluno pertence a uma família de acompanhamento psicopedagógico.
classe baixa e reside em um bairro da peri- O aluno tem apresentado dificuldade de
feria próximo da escola, porém sua realidade aprendizagem, devido às situações rela-
não representa para ele motivo de dificulda- tadas pela mãe. A escola acompanha me-
des ou limitações, pelo contrário, enfrenta-a todicamente o desenvolvimento do aluno,
confiantemente como se fossem desafios. Nos promovendo intervenções entre o corpo do-
conselhos de classes, o aluno é sempre elo- cente, realiza reuniões semanais com a mãe,
giado pela sua capacidade de se relacionar aconselhando-a a se divorciar do marido,
com todos na escola. A mãe sempre acompa- em face das agressões físicas que se tornam
nha e comparece na escola para reuniões e cada vez mais sérias. A mãe se compromete
eventos e sempre que é solicitada. com a educação do filho, dizendo que irá se
Em fevereiro de 2008, o aluno retornou separar, mas cinco meses se passaram e a
das férias se comunicando muito pouco com mãe ainda não apresentou nenhuma atitude
os colegas e professores. André não conver- em prol do divórcio.
sava, não sorria nem mesmo brincava com A escola, então, denunciou a mãe para
as pessoas. Após conversas entre os profes- o Conselho Tutelar. André é, inicialmente,
sores e a coordenação do turno, os mesmos acompanhado de perto pelo assistente social
desconfiaram de algum problema de saúde responsável pelo amparo ao menor e a mãe,
ou conflito familiar que pudesse estar afe- após ameaça de ter a guarda de seu filho
tando o emocional do aluno. tomada, finalmente, denuncia o marido que,
logo em seguida, é preso.
Após a prisão do pai, André permanece
1. Nome fictício, para preservar a identidade do aluno.

159
Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 2, p. 1-204, ago./dez. 2008 - Semestral
Escola ativa contra a violência familiar que dá origem... Manoele Pinto Bezerra

na escola, e já não presencia a mãe sendo


agredida. Com o intenso acompanhamento
pelo corpo docente, o aluno começa a apre-
sentar melhoras em seu desenvolvimento
educacional. Aos poucos volta a sorrir e a
se comunicar com os colegas, professores e
funcionários da escola.
O que se nota, a partir deste relato, é que
a escola está diariamente desafiada pelas
exigências da atualidade, tendo que apre-
sentar constantes intervenções, a partir de
uma pedagogia inovadora, pois, para que
aconteça uma educação de qualidade, é im-
prescindível o desenvolvimento de interven-
ções na escola voltadas para a complexidade
e a variedade das interligações existentes
entre a escola, o contexto no qual todos es-

Revista Eletrônica - “O caso é o seguinte...” Coordenação Pedagógica: Coletânea de Estudos de Casos


tão inseridos e a família.

Referência:
BRASIL. Lei 8.069, de 13 de julho de 1990,
que institui o Estatuto da Criança e do Ado-
lescente. Brasília: Senado Federal, 1990.

160
Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 2, p. 1-204, ago./dez. 2008 - Semestral
Artigo 28
Autora:
Mara Rúbia Mendes de Oliveira

Graduanda em Pedagogia com Ênfase em Necessidades Educacionais Especiais pela PUC Minas

A história de uma aluna com TDAH no contexto escolar

Mesmo Mary fazendo uso de medicamen-


Resumo to, não era suficiente para sanar os proble-
Muitas crianças com TDAH – Transtorno do Déficit e mas que a aluna acarretava para a escola.
Revista Eletrônica - “O caso é o seguinte...” Coordenação Pedagógica: Coletânea de Estudos de Casos

Atenção e Hiperatividade são muito inteligentes e, se lhes A partir dos dias que fui tendo contato com
dermos uma chance, elas poderão ser bem sucedidas. Foi ela, junto com a professora regente da sala,
isso que aconteceu com a Mary, depois de ter sido dada a criamos métodos e técnicas, garantindo a
ela a chance de mostrar suas qualidades. sua inclusão no contexto escolar.
Nós passamos a utilizar vários meios

M
ary1 é aluna de uma escola muni- que pudessem facilitar a vida dessa aluna:
cipal. Era a “aluna problema” da fizemos uma rotina visual bem estabelecida,
escola, devido ao seu comportamen- possibilitando a ela mais segurança ao reali-
to: agressividade, dificuldades em concluir zar uma atividade, diminuímos os estímulos
tarefas e falta de atenção. Devido à falta de visuais na sala, já que pessoas com TDAH se
acompanhamento familiar e ao despreparo distraem com muita facilidade, a professora
da equipe escolar, só me cabia tentar ajudar, evitou realizar tarefas longas, disponibili-
já que eu sou estagiária de inclusão nessa zando dessa forma um tempo maior para ela
escola. realizar as tarefas.
As professoras e a administração esco- Malloy (2008) aponta que os profissionais
lar estavam perdidas e despreparadas para da educação devem se apoiar em conheci-
lidar com a aluna, devido ela ser agressiva mentos científicos, ajudando o seu aluno a
e não concentrar nas atividades propostas. conviver melhor com as dificuldades. Segun-
Todos acabavam tendo “medo” dela. do ele, esse transtorno não é curado com a
Então fui encaminhada pela prefeitura idade adulta, ele apenas é menos perceptível
para estagiar nessa escola, para auxiliar visto que as pessoas aprendem a lidar com
a aluna Mary, com diagnóstico fechado seus sintomas.
de TDAH. Foi-me passado que a aluna era Com a nossa dedicação, a aluna hoje se
muito difícil devido a seu mau comporta- encontra participativa nas atividades e o seu
mento, pois ela não parava no lugar, não se convívio com as pessoas ao seu redor é pos-
concentrava, era agressiva, trazia muitos sível. A participação ativa dos estagiários e
transtornos para a escola e se perdia a todo o interesse dos professores é a ferramenta
momento. Esses sintomas caracterizam hi- fundamental para diminuir as dificuldades
peratividade e impulsividade. que esses alunos apresentam.
Muitas são as pessoas que acham que Dessa forma, vejo que é de grande impor-
esse distúrbio é causado por falta de limites tância a participação de todos e também o
e disciplina. Essas pessoas estão enganadas, quanto é importante os professores e estagi-
pois, segundo Mattos (2005), ele é causado ários receberem cursos de capacitação.
por influência genética. Um pai ou uma mãe
com TDAH não garante que seu filho terá
TDAH, mas aumentam as chances de seu
filho também ter.

1. Nome fictício, para preservar a identidade da aluna.

161
Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 2, p. 1-204, ago./dez. 2008 - Semestral
A história de uma aluna com TDAH no contexto escolar Mara Rúbia Mendes de Oliveira

Referências:
CAPELLINI, Giancarlo. Medicação e escola.
In: Palestra realizada durante o 1º Simpó-
sio de TDAH para profissionais da educa-
ção. Belo Horizonte, 11 de outubro de 2008.

LEITE, Wellington B. O que é TDAH - Histó-


rico e quadro clínico. In: Palestra realizada
durante o 1º Simpósio de TDAH para pro-
fissionais da educação. Belo Horizonte, 11
de outubro de 2008

LUCENA, Aline. Aprendizado e TDAH. In: Pa-


lestra realizada durante o 1º Simpósio de
TDAH para profissionais da educação. Belo
Horizonte, 11 de outubro de 2008.

Revista Eletrônica - “O caso é o seguinte...” Coordenação Pedagógica: Coletânea de Estudos de Casos


MALLOY, Leandro. Técnicas em sala de aula
I e II. In: Palestra realizada durante o 1º
Simpósio de TDAH para profissionais da
educação. Belo Horizonte, 11 de outubro de
2008.

MATTOS, Paulo. No mundo da lua. 4. ed. São


Paulo: Lemos Editorial, 2005.

162
Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 2, p. 1-204, ago./dez. 2008 - Semestral
Artigo 29
Autora:
Márcia das Graças de Assis Reis
Endereço eletrônico: mg.reis@yahoo.com.br
Graduanda em Pedagogia com Ênfase em Necessidades Educacionais Especiais pela PUC Minas

Um processo de Inclusão bem sucedido

volvimento do aluno foi muito expressivo.


Resumo Graças ao desenvolvimento de Henrique,
Este artigo tem como objetivo apresentar informações re- para todas as crianças com necessidades
Revista Eletrônica - “O caso é o seguinte...” Coordenação Pedagógica: Coletânea de Estudos de Casos

lacionadas à inclusão e suas dificuldades na rede pública especiais que são matriculadas na escola, a
de ensino. diretora envia um requerimento à prefeitura
para a disponibilização de uma estagiária,
Hoje, percebem-se grandes mudanças na pois é assim que a escola encontrou o início
área de educação e com isso podemos notar do que poderá ser chamado de “solução” da
progressos e transtornos. Um problema visí- inclusão.
vel é a má preparação dos professores para E isso é ressaltado por Stainback (1999,
trabalhar com pessoas com necessidades p. 21), que diz:
educacionais especiais, ou seja, não estão
capacitadas para esse desafio. Por isso, ve- Em um sentido mais amplo, o ensino inclu-
mos uma inclusão bem diferente do que se sivo é a prática da inclusão de todos inde-
propõe. pendentemente de seu talento, deficiência,
Em uma escola municipal do bairro Ta- origem socioeconômica ou origem cultural,
quaril, em Belo Horizonte, foi matriculado em escolas e salas de aula provedoras,
Henrique1, uma criança com Paralisia Cere- onde todas as necessidades dos alunos são
bral. Esse aluno não demonstrava habilida- satisfeitas.
de alguma em sala de aula.
A escola o recebeu muito bem, mas os Hoje a escola conta com três crianças com
professores demonstraram resistência em paralisia cerebral.
recebê-lo em sala, pois os docentes não apre- Pode se dizer que hoje a escola progride
sentavam habilidades para trabalhar com o no que diz respeito à inclusão. Tudo é acom-
desenvolvimento dessa criança. panhado de perto pela direção e coordena-
Diante dessa situação, a direção da esco- ção da escola.
la entrou em contato com o setor de inclusão
da prefeitura para a disponibilização de uma
estagiária que pudesse auxiliar o professor
em sala. Após a chegada dessa estagiária,
percebe-se que a criança obteve ganhos, de-
monstrou um maior desenvolvimento. Antes,
além da professora não demonstrar conhe-
cimento sobre como trabalhar com o aluno,
ela ainda não tinha como dar uma atenção
especial devido a sua classe de 28 alunos.
Com o auxílio da coordenadora e da
professora, a estagiária buscou em livros
e revistas meios que pudessem viabilizar a
inclusão de Henrique. No decorrer do ano
letivo, com o auxílio da estagiária, o desen-
1. Nome fictício, para preservar a identidade do aluno.

163
Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 2, p. 1-204, ago./dez. 2008 - Semestral
Um processo de Inclusão bem sucedido Márcia das Graças de Assis Reis

Referência:
STAINBACK, Susan & STAINBACK, Willian.
Inclusão: Um Guia para Educadores. Trad.
Magda França Lopes. Porto Alegre: Artes Mé-
dicas Sul, 1999.

Revista Eletrônica - “O caso é o seguinte...” Coordenação Pedagógica: Coletânea de Estudos de Casos

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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 2, p. 1-204, ago./dez. 2008 - Semestral
Artigo 30
Autora:
Maria Oliveira Costa

Graduanda em Pedagogia com Ênfase em Necessidades Educacionais Especiais pela PUC Minas

A violência escolar e o desafio da escola

Uma escola comprometida com a forma-


Resumo ção integral não pode deixar de trabalhar
O artigo aborda a questão da violência escolar em esco- conceitos indispensáveis na construção do
Revista Eletrônica - “O caso é o seguinte...” Coordenação Pedagógica: Coletânea de Estudos de Casos

las públicas da região metropolitana Belo Horizonte si- homem que se deseja. Cidadania e paz têm
tuadas em áreas de risco. E ainda como a violência pode de fazer parte do trabalho da escola, quan-
transformar uma realidade marcada por vários proble- do o que se visa é a mudança da própria
mas sociais. sociedade.
Segundo Bourdieu (1966),

O
presente artigo aborda a questão da
violência e como as escolas públicas A preocupação de ajustar o ensino às ca-
do ensino fundamental da região me- racterísticas individuais não surge somente
tropolitana Belo Horizonte vêm enfrentando do respeito às pessoas, do bom senso pe-
esse desafio no dia-a-dia. dagógico. Ela faz parte de uma exigência de
A escola em questão oferece hoje uma igualdade; a indiferença às diferenças trans-
educação de qualidade, pois é de grande forma as desigualdades iniciais, diante da
interesse por parte dos educadores e pais, cultura, em desigualdades de aprendizagem
enquanto meio de responder aos problemas e, posteriormente, de êxito escolar.
sociais que permeiam a comunidade esco-
lar, principalmente de baixa renda. Nesse Na escola, através do trabalho de campo,
sentido, torna-se necessário e de extrema pôde-se observar e tomar conhecimento dos
valia que os envolvidos nesse processo criem trabalhos desenvolvidos, porém a mesma
alternativas e planos de ação visando me- não consegue o apoio do conselho tutelar
lhorias no ensino-aprendizagem. ou mesmo da família para solucionar os
Na sociedade atual, várias crianças e problemas mais simples, o que dificultando
adolescentes convivem constantemente em bastante o trabalho da escola.
risco social, passando por situações de vio- A escola possibilita meios de oferecer uma
lência simbólica, discriminação e rejeição. educação de qualidade, proporcionando re-
Além disso, são privadas das oportunidades forço escolar, oficina pedagógica e quadra
que as fariam conscientes de seus direitos e poliesportiva para a prática de atividades
deveres, que as levariam à valorização das físicas e esportivas.
regras morais e de boa convivência. Essa pri- Com o trabalho que se desenvolve, nota-
vação faz com que haja nesses alunos baixa se uma mudança de comportamento, de
da auto-estima e a não conscientização da atitudes por parte de alguns alunos. Como
posição de cidadãos críticos e reflexivos que a escola está inserida em áreas de risco, o
devem assumir. desafio é maior: proporcionar aos alunos
O ambiente escolar, como um local de uma educação de qualidade e fazer com
socialização, deve favorecer o resgate dessas que os mesmos desejem para si melhorias
crianças e jovens do risco social. Essa é uma e transformações. A participação de todos
tarefa coletiva, pois segundo Makarenko: “A altera positivamente o comportamento que
prática pedagógica é a organização do cole- existe na escola, sendo de fundamental im-
tivo, para a educação da personalidade no portância o papel assumido por ela no pro-
coletivo e somente através do coletivo”. cesso de construção de valores, favorecendo

165
Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 2, p. 1-204, ago./dez. 2008 - Semestral
A violência escolar e o desafio da escola Maria Oliveira Costa

a formação dos alunos como cidadãos cons- BRASIL. Ministério da Educação e do Des-
cientes de seus direitos e deveres em nossa porto, Secretaria de Projetos Educacionais
sociedade. Especiais/Secretaria de Projetos Educa-
Observa-se, portanto, que a educação, cionais. Brasília: MEC/SE PESPE, 1994.
como formadora de nossos jovens, como
provedora dos recursos humanos ou como CAPRILES, René. Makarenko: O nascimento
instrumento de autoconscientização e in- da Pedagogia Socialista. São Paulo: Scipione,
tegração, é o elemento com maior poder na 1989. 183 p.
conquista de qualidade de vida e de justiça
social, uma vez que é ela que produz mo- PERRENOUD, Philippe. Pedagogia Diferen-
dificações, a fim de atuar positivamente na ciada: Das intenções à ação. Porto Alegre:
sociedade. Artes Médicas Sul, 2000. 183 p.
Com esse estudo, foi possível perceber o
quanto é significativo o trabalho realizado
pelas escolas para com os envolvidos no pro-
cesso: alunos, professores e comunidade.
Observou-se a necessidade de reflexão a

Revista Eletrônica - “O caso é o seguinte...” Coordenação Pedagógica: Coletânea de Estudos de Casos


respeito dos problemas educacionais, de for-
ma a serem compreendidos dentro de uma
visão global do complexo social e de suas
implicações históricas.
Sendo assim, é indispensável que ela re-
flita criticamente sobre o que realiza, dando
significado a cada ação, no sentido de esti-
mular o jovem a pensar, a criticar e a buscar
alternativas saudáveis de viver.
Como educadora considero este trabalho
de valia para o nosso conhecimento social e
profissional, ampliando e mudando a visão
em relação às escolas situadas em periferias.
Foi possível perceber que, com a efetiva im-
plantação dos projetos e com o envolvimento
dos atores, os problemas existentes podem
se transformar e assim, realmente, fazer a
diferença na formação dos alunos, levando-
os a desenvolver um conjunto de competên-
cias pessoais e sociais, preparando-os para
melhor corresponder e enfrentar as exigên-
cias do mundo contemporâneo.

Referências:
ALENCAR, Regina Lúcia Brandão. Informa-
ção e Cidadania contra as drogas. Revista
Amae Educando. n. 271, ano XXX, outubro
de 1997, p. 6.

AQUINO, Júlio Groppa. A violência escolar e


a crise da autoridade docente. Caderno Ce-
des, v. 19, n. 47. Campinas, dez. 1998.

BAZILLI, Roberto Ribeiro (Org.). Padrões de


Saúde Pública entre os escolares de ensino
de 1º e 2º graus do Estado de São Paulo.
SEE, 1989.

166
Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 2, p. 1-204, ago./dez. 2008 - Semestral
Artigo 31
Autora:
Marilda da Silveira

Graduanda em Pedagogia com Ênfase em Necessidades Educacionais Especiais pela PUC Minas

Hiperatividade

• Não se envolve em brincadeiras e não as


Resumo mantém por muito tempo;

A equipe pedagógica de uma escola estadual localizada • Tem dificuldade em aguardar sua vez;
Revista Eletrônica - “O caso é o seguinte...” Coordenação Pedagógica: Coletânea de Estudos de Casos

na região do Barreiro, ao perceber o comportamento di- • Fala sem parar;


ferenciado de um aluno repetente da 6ª série, procura os
• Não consegue parar sentado;
pais do aluno para verificar se ele tem conhecimento do
problema detectado e se ele tem um acompanhamento es- • Não consegue seguir regras;
pecializado. • Fica ligada dia e noite.

A
equipe pedagógica da escola procurou Foi feita uma avaliação pedagógica do
os pais de Marcos1 e questionou sobre aluno e a equipe pedagógica especializada
o comportamento do aluno. Relatou da escola observou as habilidades cognitivas
que é um aluno muito agitado, tem dificulda- e meta cognitivas, motoras e psicomotoras,
des de aprendizagem, não consegue prestar interpessoais/afetivo, comunicacionais e ha-
atenção nas aulas, não permanece sentado bilidades acadêmicas nas disciplinas: língua
em sua carteira e tem dificuldades em ficar portuguesa, matemática, história, geografia
sem falar. e ciências, bem como os conhecimentos e as
Segundo as informações dos pais, foi feito capacidades do aluno, as dificuldades que
um estudo de caso e desde os dois anos de apresentou e a intervenção pedagógica com
idade ele tem acompanhamento de psicólo- o aluno em sala de aula.
gos, neurologista e psiquiatra, sendo diag- Nas habilidades observadas, foi possível
nosticada a hiperatividade, estando em uso identificar que o aluno, apesar da falta de
de medicamento. concentração e interesse, tinha um apren-
A hiperatividade é uma desordem do défi- dizado bem elementar, possuindo todas as
cit de atenção. Os sintomas variam de bran- habilidades motoras normais, uma comuni-
dos e graves e podem incluir problemas de cação normal, um comportamento atípico,
linguagem, memória e habilidades motoras. às vezes, apático em sala de aula e esperto
Embora a criança hiperativa tenha, muitas em atividades desportivas.
vezes, uma inteligência normal ou acima da Ele tem uma excelente comunicação com
média, o estado é caracterizado por proble- gestos e oralmente, consegue dar recados,
mas de aprendizado e comportamento. é socialmente aceitável e gosta de esportes.
A criança com hiperatividade apresenta Nas habilidades acadêmicas observadas, o
os seguintes comportamentos: aluno lê e escreve textos simples e consegue
• Dificuldade de concentração (a criança vive
se comunicar oralmente, consegue resolver
no mundo da lua); problemas simples, entende os fatos históri-
cos e acontecimentos mais elementares.
• Não escuta quando lhe dirigem a palavra; O aluno tem noção de espaço e localiza-
• Não aceita tarefas que envolvam trabalho ções no seu cotidiano e fora dele, algumas
mental; noções básicas dos conteúdos programáti-
cos. Consegue compreender os hábitos de
higiene, alimentação, fatos e importância da
natureza e outras noções básicas.
1. Nome fictício, para preservar a identidade do aluno.

167
Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 2, p. 1-204, ago./dez. 2008 - Semestral
Hiperatividade Marilda da Silveira

Nas dificuldades, o aluno apresenta pou-


ca atenção mental, dificuldades na escrita,
leitura razoável, dificuldade em interpre-
tação de textos e situações problemáticas,
sendo um aluno muito disperso e inquieto,
o que dificulta sua aprendizagem. Não exis-
tem dificuldades motoras, o aluno tem difi-
culdades em conter reações nervosas, ficar
quieto, concentrar-se. Apresenta erros de
concordância verbal, escrita, pensamento
lógico, criatividade e exposição de idéias e
argumentação.
O aluno tem dificuldades de interpreta-
ção, pesquisa e construção do seu conheci-
mento, tem dificuldade em localizar fontes
de informação. Apresenta dificuldades em
pesquisar, não se interessa por anotações,

Revista Eletrônica - “O caso é o seguinte...” Coordenação Pedagógica: Coletânea de Estudos de Casos


não consegue localizar informações e esta-
belecer atitudes de estudo individualizado.
Nas intervenções pedagógicas desenvol-
vidas com o aluno em sala de aula, houve
encaminhamento psicológico, com a família,
o percurso do aluno foi decidido no conselho
de classe e está matriculado no projeto Alu-
no de Tempo Integral com apoio pedagógico
e de orientação educacional.
Nas habilidades acadêmicas, houve inter-
venções do conselho escolar, dos professores
do ensino fundamental, dos professores do
projeto, da família e orientação da equipe
pedagógica quanto ao percurso do aluno.
Houve intervenção do conselho escolar,
orientação da equipe pedagógica e aulas
particulares, houve uma intensificação nas
atividades de matemática, história, geografia
e ciências, contando sempre com o apoio da
família, da equipe pedagógica e dos especia-
listas que sempre acompanharam o aluno.
Após a finalização do estudo de caso, a
equipe pedagógica tranqüilizou os pais di-
zendo que a escola procuraria formas ade-
quadas de como poderia lidar com o aluno.
A escola estaria à disposição dos pais para
quaisquer dúvidas, pois o aluno receberá
todo o apoio necessário, trabalhando várias
intervenções para que fosse menos difícil o
quadro do aluno

Referência:
BENCZIK, Edyleine Beline Peroni. Transtor-
nos de Déficit de Atenção/Hiperatividade.
São Paulo: Casa do Psicólogo, 2002.

168
Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 2, p. 1-204, ago./dez. 2008 - Semestral
Artigo 32
Autora:
Michele Cinthia de Souza Macedo Passos

Graduanda em Pedagogia com Ênfase em Necessidades Educacionais Especiais pela PUC Minas

Alunos com Necessidades Especiais, em Escolas inclusivas

drome de Down.
Resumo A aluna teve seu primeiro contato com a
O presente artigo tem como referencial um estudo de caso escolarização com quatro anos e meio. No
Revista Eletrônica - “O caso é o seguinte...” Coordenação Pedagógica: Coletânea de Estudos de Casos

de uma aluna com necessidades educacionais especiais, ano de 2007, a aluna, então com quatro
realizado em uma escola inclusiva. O objetivo foi inves- anos e meio, freqüentou uma creche em pe-
tigar como o professor lida com o aluno que tem neces- ríodo integral durante um mês, pois não se
sidades educacionais especiais. Nos relatórios da aluna adaptou.
com Síndrome de Down, o educador justifica o fracasso A aluna foi matriculada em 2008, no 2º
escolar da aluna pela falta de um atendimento individua- período da educação infantil, onde perma-
lizado devido à sua deficiência. nece até o momento. Ela não se adaptou
ao período integral da escola, chegando a
Educar é realizar uma obra de projeção apresentar sintomas febris. A criança está
sobre o futuro. A pedagogia tem de ser, aci- a menos de um ano na escola atual, chegou
ma de tudo, uma ciência de fins, uma ci- a freqüentar um atendimento educacional
ência de direções. A educação é uma obra especializado, por um período curto.
de projeção, no tempo e no espaço. Os seus O diagnóstico clínico da criança é de
resultados só podem ser verdadeiros quan- síndrome de Down, atestado por um médico
do o indivíduo se comporta na vida com a geneticista. A aluna não faz uso de medi-
dignidade, a elevação e a firmeza requeridas camento, mas faz acompanhamento clínico
pelas circunstâncias. com fonoaudiólogo e geneticista. A última
Segundo Rogers (1977, p. 108), consulta com o fonoaudiólogo foi em junho
e última consulta com o geneticista foi em
são três as condições fundamentais à apren- janeiro de 2008.
dizagem: ter empatia, aceitar incondicional- Como o objetivo central do trabalho foi
mente o aluno e ser autêntico. A empatia analisar um estudo de caso, observamos
permite que o educador compreenda os como o professor se sente em relação à
sentimentos do aluno e lhe comunique que aprendizagem do aluno com necessidades
ele está sendo compreendido. A aceitação especiais.
positiva incondicional consiste em aceitar Segundo o relatório de habilidades aca-
os alunos como eles são, sem julgá-los; a dêmicas observadas pelo corpo docente da
afeição do professor pelos seus alunos deve aluna com Síndrome de Down, destacam-se
ser incondicional, o professor deve aceitar os seguintes resultados: decodifica as letras,
os alunos sem reservas. Ser autêntico, ho- porém não distingue umas das outras; de-
nesto ou congruente significa “ser-o-que- codifica os números, porém não distingue
se-é”, a pessoa congruente se aceita e se uns dos outros; nas disciplinas de História,
compreende. Se o professor oferecer essas Geografia e Ciências, a aluna acompanha
três condições, então, as crianças serão li- oralmente de maneira razoável; a aluna
vres para aprender. apresenta dificuldades em raciocínio, regis-
tro e atenção.
Através de um estudo de caso realizado No que diz respeito à intervenção peda-
em uma escola da municipal de Sarzedo, foi gógica, só constava que a aluna necessitava
analisada a situação de uma aluna com Sín- de um atendimento mais individualizado

169
Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 2, p. 1-204, ago./dez. 2008 - Semestral
Alunos com Necessidades Especiais, em Escolas inclusivas Michele Cinthia de Souza Macedo Passos

quanto ao acompanhamento de sua rotina


escolar. Nas observações feitas pela pedago-
ga constava: “acreditamos que a presença de
um profissional da área da educação para
atender a aluna de forma individualizada
seria de suma importância para incentivá-la
no cotidiano escolar”.
Ao término do estudo desenvolvido, pôde-
se perceber que, se o profissional da educa-
ção não tiver uma formação continuada que
o capacite para trabalhar com a inclusão,
nada será feito pelo aluno, que precisa do
apoio e da atenção do professor. O educador
irá sempre esperar a ajuda de um terceiro.
Na verdade, ao invés de educar o aluno, ele o
estará excluindo.
Que inclusão é essa que o aluno com

Revista Eletrônica - “O caso é o seguinte...” Coordenação Pedagógica: Coletânea de Estudos de Casos


necessidades educacionais especiais, para
aprender, precisa de outro profissional que
irá atender essa criança individualmente, re-
forçando sua incapacidade de aprender jun-
tamente com as outras crianças da classe?
Percebe-se o quanto o educador está in-
seguro com a inclusão. Não se trata de um
julgamento, se o professor é competente ou
não, e sim de abrir os olhos do governo, para
que ele invista em seus profissionais da edu-
cação, para que não prejudiquem os alunos
com necessidades educacionais especiais. É
preciso incluir sim, mas com competência,
com sabedoria e preparação.

Referência:
ROGERS, Carl. Liberdade para aprender. 4.
ed. Belo Horizonte: Interlivros, 1977.

170
Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 2, p. 1-204, ago./dez. 2008 - Semestral
Artigo 33
Autora:
Nayara Maria Gomes da Costa

Graduanda em Pedagogia com Ênfase em Necessidades Educacionais Especiais pela PUC Minas

Relação Família e Escola: uma parceria indispensável para o


desenvolvimento do educando

Miguel fizesse um acompanhamento psico-


Resumo lógico, pois estava abalado emocionalmente,
Este artigo baseia-se no estudo de caso de um aluno com desmotivado e deprimido, o que refletia no
Revista Eletrônica - “O caso é o seguinte...” Coordenação Pedagógica: Coletânea de Estudos de Casos

problemas no comportamento, advindos do ambiente fa- seu comportamento.


miliar, identificados pela coordenadora pedagógica da A direção da escola pediu ajuda a uma
escola. Além disso, apresenta uma análise sobre a relação psicóloga que trabalha como voluntária em
família e escola e salienta a importância dessa parceria uma ONG instalada na comunidade onde a
para o desenvolvimento do educando. escola funciona. A psicóloga atendeu a so-
licitação da direção e iniciou suas terapias
Miguel1, 8 anos, é aluno da 1ª série do com êxito.
ensino fundamental de uma escola da rede A coordenadora da escola constatou tam-
estadual, localizada na periferia de Belo Ho- bém a necessidade de uma intervenção pe-
rizonte. O aluno pertence a uma família de dagógica interna, que foi realizada em sala
classe social baixa e convive em um ambien- de aula por meio de trabalhos e dinâmicas
te familiar muito complexo. em grupo, que tinham como objetivo moti-
Segundo relato da coordenadora da es- var a interação e estimular a socialização do
cola, ele tem problemas comportamentais, aluno com os demais colegas da turma.
é agitado, desobediente e agressivo. E, de Além disso, a coordenadora pedagógica
acordo com a professora, seu comportamento sugeriu que a professora investisse em jogos
rebelde prejudica o seu rendimento escolar. e brincadeiras, com a finalidade de traba-
Diante desse quadro, o aluno foi chama- lhar regras e afetividade.
do para uma conversa junto à coordenação, Considerando a atuação da coordenadora
que constatou que a situação dele era pre- pedagógica neste estudo de caso, é impor-
ocupante, pois ele agredia as pessoas com tante ressaltar que formar um cidadão não
palavras, era intolerante e brigava com os é tarefa apenas da escola. No entanto, como
colegas por qualquer motivo. local privilegiado de trabalho com o conhe-
A mãe de Miguel foi convocada várias cimento, a escola tem grande responsabili-
vezes pela escola para uma reunião com a dade nessa formação, pois recebe crianças
coordenadora. Mas nunca comparecia, ale- e jovens, possibilitando-lhes construir sabe-
gando estar muito atarefada. res indispensáveis para sua inserção social.
Após ser comunicada que a escola pre- A família, nesse processo, também desem-
tendia acionar o Conselho Tutelar, a mãe penha um papel muito importante por con-
do aluno compareceu. Quando questionada tribuir com a formação e o desenvolvimento
sobre a conduta do filho na escola, ela rela- do aluno. É ela que disciplina e estimula a
tou que Miguel havia modificado o seu com- criança em várias etapas de sua vida, inclu-
portamento desde o assassinato do pai, que sive a escolar.
acontecera há um ano. Emocionada, não se Portanto, é necessário que a escola e a
conteve ao dizer que a criança presenciara a família se interajam e compartilhem as
cena do crime, fato que a coordenadora pe- responsabilidades, buscando soluções para
dagógica desconhecia. compreender e resolver os problemas que
Diante disso, a coordenadora sugeriu que surgem no âmbito educacional. Pais e pro-
fessores devem caminhar juntos, pois têm o
1. Nome fictício, para preservar a identidade do aluno.

171
Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 2, p. 1-204, ago./dez. 2008 - Semestral
Relação Família e Escola: uma parceria indispensável para o... Nayara Maria Gomes da Costa

mesmo objetivo: preparar esses sujeitos para


a vida.
Nesse sentido, Parolin (2005) afirma que
toda aprendizagem é resultado da parceria
essencial entre a família e a escola. Sendo
assim, a aprendizagem acontecerá de forma
mais prazerosa e eficaz na medida em que a
família assumir a responsabilidade com seu
filho na escola, dando-lhe o apoio necessário
e trabalhando em parceira com a instituição
de ensino.
Dias (1992) acrescenta que é em família
que a criança constrói seus primeiros vín-
culos com a aprendizagem e forma seu estilo
de aprender.
Por isso é importante que a escola se pre-
ocupe em estreitar os laços com a família,

Revista Eletrônica - “O caso é o seguinte...” Coordenação Pedagógica: Coletânea de Estudos de Casos


pois ambas são pontos de sustentação de um
ser humano e, quando interagem em prol da
formação de nossos educandos, proporcio-
nam aos alunos a solidez e a confiança ne-
cessárias para que, nas etapas posteriores
de ensino, se consolide para cada um desses
alunos uma formação da melhor qualidade.
Portanto, é necessário que a escola e a
família sintam-se parceiras nessa preciosa
tarefa de educar, para que o aluno se desen-
volva e supere as dificuldades existentes.
As intervenções pedagógicas começaram
no início do segundo semestre de 2008 e, de
acordo com a coordenadora pedagógica da
escola, o aluno apresentou melhorias em
seu comportamento.

Referências:
DIAS, Maria Luiza. Vivendo em família: re-
lações de afeto e conflito. São Paulo: Moderna
(Coleção polêmica), 1992.

PAROLIN, Isabel. Professores formadores: a


relação entre família, escola e aprendizagem.
Curitiba: Positivo, (Série práticas educativas),
2005.

172
Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 2, p. 1-204, ago./dez. 2008 - Semestral
Artigo 34
Autora:
Patrícia Aparecida da Silva
Endereço eletrônico: patriciaasilva@yahoo.com.br
Graduanda em Pedagogia com Ênfase em Necessidades Educacionais Especiais pela PUC Minas

A importância da intervenção pedagógica no cotidiano escolar

generalização de sujeitos humanos, sem os


Resumo quais não existiria nenhuma práxis social.
O presente artigo aborda a importância das observações A história do progresso social é simultane-
Revista Eletrônica - “O caso é o seguinte...” Coordenação Pedagógica: Coletânea de Estudos de Casos

dos professores quanto às dificuldades apresentadas por amente também um desenvolvimento dos
seus alunos e as possíveis intervenções para facilitar a su- indivíduos em suas capacidades espirituais
peração das dificuldades apresentadas. e corporais e em suas relações mútuas. A
sociedade depende tanto da formação e da

O
problema foi percebido em uma evolução dos indivíduos que a constituem,
escola da rede pública municipal quanto estes não podem se desenvolver fora
de Belo Horizonte, pela professora das relações sociais.
Magda1,substituta, ao deparar com a aluna
Adriana2. Quando viu a professora Magda, Magda começou sua intervenção traba-
Adriana ficou estática, sem mexer um mús- lhando a socialização com jogos e brincadei-
culo sequer. Foi necessário que uma colega a ras que enfocam a afetividade e a confiança
levasse à sua carteira, para que ele pudesse de Adriana e toda a turma, a coordenação
se assentar. A professora achou estranha a motora nas aulas de educação física onde
reação da aluna e passou a observá-la, per- desenvolvia atividades de domínio do equi-
cebendo algumas dificuldades psicomotoras. líbrio, a consciência do próprio corpo, a
Magda levou o “problema” à coordenadora, organização do esquema corporal e a orien-
que chamou os pais e encaminhou a criança tação no espaço, o controle e a eficácia das
para especialistas. Estes ainda não conse- diversas coordenações globais e parciais, ou
guiram concluir o diagnóstico do problema. seja, maiores possibilidades de adaptações
No entanto, alguma coisa tinha que ser ao mundo exterior.
feita. Como Magda é pedagoga e sabe das Segundo Picq (1988, p. 21), “a educação
responsabilidades quanto à construção do psicomotora é uma ação pedagógica e psico-
ser humano, como membro de uma socieda- lógica, utilizando meios da educação física,
de, sua função era intervir de alguma forma com o objetivo de normalizar ou melhorar o
para ajudar aquela criança. Adriana tinha comportamento da criança”. O que reforça
que interagir com as demais pessoas da es- as estratégias adotadas por Magda para
cola; assim, a professora iniciou seu traba- obter um bom resultado no processo de re-
lho a partir de suas práticas educativas. educação psicomotora e de socialização de
E essa afirmação é reforçada por Schi- Adriana.
mied-Kowarzik (1983) citado por Libâneo Submetida a atividades simples, Adriana
(2002, p. 32): passou a realizar atividades até então ja-
mais desenvolvidas por ela. Sua coordena-
A educação é função parcial integrante da ção motora, que era bastante comprometida,
produção e reprodução da vida social, que é melhorou muito e ela passou a construir ga-
determinada por meio da tarefa natural, e ao ratujas, andar com mais facilidade, brincar
mesmo tempo cunhada socialmente, da re- com todos os seus colegas e interagir com
as pessoas fora de seu contexto familiar.
1. Nome fictício, para preservar a identidade da profes- Hoje, Adriana brinca com outros alunos
sora.
normalmente e seu desenvolvimento é notá-
2. Nome fictício, para preservar a identidade da aluna.

173
Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 2, p. 1-204, ago./dez. 2008 - Semestral
A importância da intervenção pedagógica no cotidiano escolar Patrícia Aparecida da Silva

vel a cada dia. Seus pais estão muito felizes


com seu desenvolvimento, embora haja uma
grande caminhada a ser percorrida. Com o
retorno da titular, a professora Magda saiu
da escola, mas suas intervenções foram de
grande valia para o desenvolvimento dessa
criança.
Com isso conclui-se que uma professora
sensível é capaz de encontrar pequenos e
grandes problemas que podem ser sanados
com medidas simples, basta fazer com que
essas crianças sejam percebidas e assis-
tidas. Nesse sentido, a educação torna-se
uma prática social atuante na configuração
da existência humana individual e grupal.
As intervenções necessárias para que as
crianças possam viver bem em sociedade

Revista Eletrônica - “O caso é o seguinte...” Coordenação Pedagógica: Coletânea de Estudos de Casos


são deveres do educador, mas vale a pena
ressaltar que a ajuda da família é de funda-
mental importância para que o exercício da
práxis seja favorável na resolução dos pro-
blemas que possam vir a surgir no cotidiano
escolar.

Referências:
LIBÂNEO, José Carlos. Pedagogia e peda-
gogos, para quê? 6. ed. São Paulo, Cortez,
2002.

PICQ, Lawrence. Educação Psicomotora e


Retardo Mental. Tradução Antonio Francis-
co Magalhães Cardoso. São Paulo: Editora
Manole, 1988.

174
Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 2, p. 1-204, ago./dez. 2008 - Semestral
Artigo 35
Autora:
Patrícia Rodrigues Rosa

Graduanda em Pedagogia com Ênfase em Necessidades Educacionais Especiais pela PUC Minas

Dificuldade de aprendizagem

aluno para tentar sondar alguma coisa com


Resumo ele, mas nada falava.
Este artigo tem como objetivo apresentar um estudo de Inicialmente, achavam que ele apenas era
Revista Eletrônica - “O caso é o seguinte...” Coordenação Pedagógica: Coletânea de Estudos de Casos

caso feito em uma escola estadual de Belo Horizonte, en- uma criança tímida, propuseram a ele que
fatizando a dificuldade de aprendizagem de um dos alu- se assentasse em das primeiras cadeiras,
nos das séries iniciais que apresenta baixa visão. mas ele se recusou. Continuaram a pes-
quisa e descobriram que os outros alunos

O
artigo apresenta o estudo feito com o titularam de “burro”, pois não aprendia
o aluno Marcelo1, com oito anos de nada e não copiava nada que estava escrito
idade, estudante da 2ª série/9 do no quadro. Seu caderno não tinha registro
ensino fundamental numa escola pública de nenhum e o que estava escrito sempre esta-
Belo Horizonte. va incompleto.
Marcelo estudou anteriormente em outra Certa vez, a professora, explicando uma
escola municipal tendo sido transferido por atividade em sala, percebeu que o Marcelo
preferência da família, por morarem mais estava com os olhos meio retraídos e achou
próximo da escola atual. estranho e lhe perguntou se estava com al-
De acordo com a supervisora, Marcelo guma dificuldade. Ele respondeu que não e
chegou à escola apresentando um comporta- que tudo estava normal.
mento diferente dos demais alunos. Sempre Após alguns meses de observação, a pro-
desanimado, não conseguia acompanhar fessora e a supervisora decidiram comunicar
a turma, dormia nas aulas e não interagia à família sobre as suspeitas que elas tinham
com os outros alunos, se isolando deles. Já é sobre a dificuldade do Marcelo. Pediram aos
o segundo ano que o Marcelo está na escola pais que procurassem um profissional da
e há um ano e seis meses que a supervisora saúde, mais precisamente um oftalmologis-
procurou a família informando as dificulda- ta, pois acreditavam que fosse algum proble-
des que seu filho apresentava. ma de visão, que pudesse ser resolvido com
A professora explicou a situação de seu os óculos.
aluno para supervisora e pediu ajuda a Os pais concordaram em levar o filho,
ela para juntas procurarem solucionar ou mas não o fizeram de imediato.
amenizar o problema que estava afetando a A escola novamente teve que intervir,
aprendizagem de Marcelo. informando aos pais que procurassem um
No início, os familiares apresentaram especialista com urgência, senão seu filho
resistência, argumentando que ele estava seria muito prejudicado, podendo até repetir
apenas com preguiça de estudar, porque em o ano por não conseguir acompanhar a tur-
casa ele é muito atento e age normalmente. ma nas atividades.
A supervisora e a professora continuaram Vendo que nada adiantou, a instituição
a observar o Marcelo em suas atividades e encaminhou o aluno para um oftalmologis-
a cada dia percebiam o quanto ele estava ta, que confirmou as suspeitas. Só não ima-
piorando. Chegaram algumas vezes a fazer ginavam que fosse tão grave: Marcelo tem
algumas reuniões informais com o próprio baixa visão.
Os pais têm grande parcela de contri-
buição nessa dificuldade de aprendizagem
1. Nome fictício, para preservar a identidade do aluno.

175
Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 2, p. 1-204, ago./dez. 2008 - Semestral
Dificuldade de aprendizagem Patrícia Rodrigues Rosa

apresentada pelo Marcelo. Muitas vezes os


pais negligenciaram, não buscando ajuda
nem observando atentamente as atitudes
diferentes que seu filho demonstrava.
Ao identificar o problema que causa a
dificuldade de aprendizagem de Marcelo, foi
possível ajudá-lo e incluí-lo. Na sala, ele está
assentando em uma das primeiras cadeiras,
a supervisora e a professora estão elaboran-
do atividades adequadas à sua necessidade.
Hoje, pode-se perceber o quanto o desenvol-
vimento do Marcelo melhorou, bem como
seu relacionamento com os outros alunos.
É de extrema importância que se obser-
vemos e fiquemos atentos aos alunos que
estão no interior das escolas, para que pos-
samos ajudá-los. Assim, é possível intervir

Revista Eletrônica - “O caso é o seguinte...” Coordenação Pedagógica: Coletânea de Estudos de Casos


e alcançar a desejada inclusão, um direito
irreversível.

Referência:
STAINBACK, Susan & STAINBACK, Willian.
Inclusão - Um Guia para Educadores. Trad.
Magda França Lopes. Porto Alegre: Artes Mé-
dicas Sul, 1999.

176
Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 2, p. 1-204, ago./dez. 2008 - Semestral
Artigo 36
Autora:
Poliana Caetana da Silva

Graduanda em Pedagogia com Ênfase em Necessidades Educacionais Especiais pela PUC Minas

As mudanças de comportamento do educando e o olhar atento


do supervisor escolar

Matos (2006, p. 34) relata que:


Resumo
As mudanças hormonais na adolescência podem provocar Saber ouvir transcende o ato de escutar; é
Revista Eletrônica - “O caso é o seguinte...” Coordenação Pedagógica: Coletânea de Estudos de Casos

mudanças de comportamento, irritabilidade e desinteres- compreender a pessoa que se expressa; é


se, porém é importante estar atento quando esses compor- entender a mensagem que ela transmite; é
tamentos provocam indisciplina e agressões físicas. Re- assimilar o que é dito por palavras, atitudes,
trata uma adolescente de uma escola estadual envolvida gestos ou silêncio; é perceber a grandeza
com o mundo das drogas. da essência da comunicação e do diálogo;
é alcançar a plenitude do relacionamento

I
rritada, agressiva, teimosa, respondo- humano.
na, desinteressada, eram reclamações
constantes dos professores no horário de Os problemas continuaram na semana
intervalo sobre a aluna Paula1 de 16 anos seguinte, com acréscimo de agressão física
da turma 704. Tal postura já era percebida e perturbação no horário de aula em ou-
por funcionários da escola havia semanas, tras turmas. A supervisora estava diante de
porém não se importaram, acreditando ser um confronto e precisava de soluções. Em
apenas coisas da idade. conversa com os professores, eles foram os
As mudanças de comportamento geraram primeiros a sugerirem a presença dos pais,
desinteresse em participar das aulas, que pois consideravam a aluna um caso perdido
passou a não assisti-las, desrespeitou nor- e desejavam sua transferência, uma vez que
mas da escola e causou inimizades. Diante atrapalhava muito quem queria estudar.
dessas atitudes, entendidas como fora do Os pais foram convocados e a aluna so-
padrão aceitável, ela passou a ser tratada mente entraria na escola com a presença do
com rejeição e indiferença pelos alunos e por responsável. O pai compareceu e informou
alguns professores. estar desesperado, pois a filha havia mudado
Paula começou a se relacionar com uma muito, estava agressiva e muito respondona,
aluna, trocando carícias e beijos à vista de e pediu ajuda à escola.
alunos com sete e oito anos de idade, no ho- Na semana seguinte, a aluna não com-
rário de aula, gerando grande tumulto. Os pareceu à escola, mas foi vista pelos cole-
pais dessas crianças exigiam explicações da gas em um bar na frente da escola com um
escola. A partir dessas cobranças externas, senhor com mais de 50 anos de idade que,
a supervisora tomou iniciativa. segundo consta, é integrante de um grupo
A aluna recebeu advertência pelo compor- de traficantes do bairro.
tamento e por estar fora de aula sem permis- A supervisora, diante da situação, perce-
são. Gritos e falas de preconceito foram suas beu que a aluna estava perdida e que não
respostas para aquela posição da superviso- podia deixar os estudos. Procurou Michelle 2 ,
ra, que exigiu um comportamento e postura sua irmã que estudava no outro turno e cuja
de aluna, dando o caso por encerrado. Um professora de português dava aula para as
momento para se aproximar e conversar o duas.
sobre as mudanças de atitudes foi perdido, a A supervisora procurou a professora, re-
supervisora não escutou a aluna. latou o caso para, juntas, procurarem uma
1. Nome fictício, para preservar a identidade da aluna. 2. Nome fictício, para preservar a identidade da aluna.

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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 2, p. 1-204, ago./dez. 2008 - Semestral
As mudanças de comportamento do educando e o olhar... Poliana Caetana da Silva

solução, e a professora ficou incumbida de A intervenção neste caso foi no principio


conversar com a irmã de Paula com objetivo e a família mostrou-se colaboradora. Em al-
de compreender o que estava acontecendo guns casos, no entanto, a intervenção não
com a aluna. ocorre a tempo ou não tem suporte da fa-
Paula e a irmã compareceram na escola mília. Por isso temos como resultado muitos
no dia seguinte. A supervisora e a irmã con- jovens perdidos pelos mundos das drogas
versaram com ela, explicando-lhe o perigo O profissionalismo, a persistência e a
desse envolvimento e o tempo de estudos que sensibilidade da supervisora foram de extre-
estava perdendo, pois já havia repetido série ma importância. No momento em que todos
mais vezes e suas notas estavam ruins. A haviam desistido da aluna, ela buscou en-
aluna sentiu-se envergonhada e contou que contrar soluções, pois acreditava que o que
há um mês estava usando maconha e que a aluna vivia era momentâneo e que, se não
não queria continuar, mas estava triste na tivesse ajuda, poderia sofrer conseqüências
escola, não tinha amigos e alguns professo- piores para o futuro.
res não lhe davam atenção.
A partir dessa conversa, a supervisora
compreendeu a mudança de comportamento Referências:

Revista Eletrônica - “O caso é o seguinte...” Coordenação Pedagógica: Coletânea de Estudos de Casos


e pediu a ela que procurasse uma ajuda psi-
cológica e combinou com Paula que durante PLACCO, Vera Maria Nigro de Souza; ALMEI-
o horário de educação física as duas iriam DA, Laurinda Ramalho de (Org.). O coorde-
conversar. nador pedagógico e o cotidiano da escola.
Com os professores, fez uma reunião na 2. ed. São Paulo: Edições Loyola, 2004.
qual se propuseram que todos escutassem
os seus alunos e promovessem rodas de dis- TIBA, Içami. Adolescentes: Quem ama, edu-
cussão sobre adolescência, drogas, medo e ca! São Paulo: Integrare Editora, 2005.
futuro profissional, com o objetivo de que to-
dos percebessem que passam pelas mesmas MATOS, Gustavo Gomes. A Cultura do Di-
incertezas na adolescência, mas existem vá- álogo: Uma Estratégia de Comunicação nas
rias maneiras de encarar a realidade. Diante Empresas. Rio de Janeiro: Editora Campus/
a importância do diálogo como formação do Elsevier, 2006.
sujeito, Vieira (2003, p. 84) diz:

Da interação que ocorre no interior da es-


cola entre os professores como colegas, com
os alunos e os coordenadores, decorre a
construção de identidades profissionais e a
formação de valores, atitudes e concepções
de educação, de homem e de sociedade; um
processo contínuo e complexo.

Com o apoio psicológico, foi diagnosticado


que a aluna estava depressiva e, como esta-
va em quadro de tristeza, pode ter iniciado o
uso de entorpecente para suprir sua solidão.
Passaram-se três da identificação do pro-
blema e a aluna ainda está em tratamento.
Segundo Tiba (2005, p. 138), “muitos jovens
atribuem à maconha poderes que ela não
tem, num preconceito positivo.”
Atualmente, a aluna tem a supervisora
como referência e confidente, suas notas e
comportamento melhoram, está mais próxi-
ma dos amigos e dos professores e o risco de
se envolver com as drogas, segundo relatório
psicológico, são mínimos.

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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 2, p. 1-204, ago./dez. 2008 - Semestral
Artigo 37
Autora:
Pollyanna Barbieri Pazzini

Graduanda em Pedagogia com Ênfase em Necessidades Educacionais Especiais pela PUC Minas

Transtorno F70: um estudo de caso

tar atenção ou se concentrar. No entanto, a


Resumo família se mostrou satisfeita com o efeito do
O presente artigo relata o estudo de caso de um aluno que remédio, pois Lucas não demonstrava mais
Revista Eletrônica - “O caso é o seguinte...” Coordenação Pedagógica: Coletânea de Estudos de Casos

foi acompanhado por especialistas desde os seus 9 anos agressividade e os problemas disciplinares
de idade, tendo um diagnóstico e tratamento errados por na escola diminuíram.
anos, o que interferiu em todo o seu desenvolvimento edu- Lucas mudou de escola, a mãe o matricu-
cacional e sua socialização. Seu diagnóstico verdadeiro lou em uma escola especial, pois achava que
foi dado quando o adolescente já tinha 16 anos, através de lá o garoto teria uma atenção mais adequa-
interferências de familiares. da, voltada para sua aprendizagem, mas ele
piorou ainda mais, não se adaptou à escola,

O
caso objeto do estudo foi o do ado- pois era uma escola especial com alunos
lescente Lucas1, hoje com 17 anos, com deficiência mental e síndromes diversas
aluno do 1ºano do ensino médio. em uma mesma sala. Muitos colegas eram
A trajetória de Lucas junto a especialistas agressivos e um em especial, psicótico, o
iniciou-se quando ele tinha mais ou menos ameaçava. Lucas então voltou a ter proble-
9 anos de idade, através de um pedido de mas disciplinares na escola, além do baixo
encaminhamento feito por sua professora na rendimento.
época, devido ao seu baixo rendimento e à Lucas fez provas de seleção em várias
desmotivação. escolas, mas não passou em nenhuma. Sua
A mãe de Lucas começou sua caminhada mãe queria que estudasse em escolas tradi-
levado-o a uma psicopedagoga, que o acom- cionais, que não atendiam às reais necessi-
panhou durante 2 anos, sem obter resultado dades dele.
satisfatório. Em seguida, foi encaminhado Através da pressão de alguns familiares, a
para um renomado psiquiatra, que o deu o mãe de Lucas suspendeu o uso de Ritalina®
diagnóstico de TDAH. e o levou a um especialista em homeopatia,
A família de Lucas sentiu-se aliviada por o que ajudou muito, pois ficou menos agres-
saber o diagnóstico. Nessa época, ele já esta- sivo e com um poder de concentração um
va com 12 anos e mantinha um rendimento pouco maior. Começou a ter aulas particu-
muito abaixo da média, era desmotivado, lares diariamente, o que facilitou o proces-
tinha baixa auto-estima e apresentava difi- so, melhorando a auto-estima e motivando
culdades de relacionamento com seus pares Lucas.
de idade, era muito imaturo e “inocente” Após 2 anos do início do tratamento ho-
para sua idade, sendo a “chacota” da sala, o meopático, Lucas começou a fazer também
bobão, por isso às vezes brigava com colegas, um acompanhamento psicológico e, aos
demonstrando muita agressividade. poucos, foi melhorando seu rendimento na
O psiquiatra receitou-lhe um medica- escola.
mento que o deixaria mais “tranqüilo”, a Duas pessoas da família começaram a
Ritalina®, mas o efeito foi desastroso. Lucas questionar o diagnóstico dado a Lucas e
ficava a maior parte do tempo dopado, o que “induziram” sua mãe a levá-lo a uma neuro-
contribuiu para que seu rendimento escolar pediatra. Descobriu-se, então, que o garoto
caísse mais ainda, pois não conseguia pres- esteve o tempo todo com diagnóstico erra-
do e que o uso da Ritalina® só havia pre-
1. Nome fictício, para preservar a identidade do aluno.

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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 2, p. 1-204, ago./dez. 2008 - Semestral
Transtorno F70: um estudo de caso Pollyanna Barbieri Pazzini

judicado ainda mais o seu desenvolvimento


escolar e disciplinar. O real diagnóstico de
Lucas é Transtorno F70, que, segundo Data-
sus – CID10, é caracterizado por “Amplitude
aproximada do QI entre 50 e 69 (em adultos,
idade mental de 9 a menos de 12 anos). Pro-
vavelmente devem ocorrer dificuldades de
aprendizado na escola. Muitos adultos serão
capazes de trabalhar e de manter relacio-
namento social satisfatório e de contribuir
para a sociedade”.
A neuropsiquiatra que atende Lucas disse
que não é necessário o uso de medicação e
o progresso percebido até então era a ma-
turação “natural” do cérebro. Segundo ela,
quando Lucas completar 20 anos de idade,
será como os outros jovens de sua idade,

Revista Eletrônica - “O caso é o seguinte...” Coordenação Pedagógica: Coletânea de Estudos de Casos


tendo uma vida social tranqüila.
Hoje, ele tem ainda alguns problemas de
concentração, raciocínio lógico e memoriza-
ção, mas já está muito melhor do que quando
entrou na escola em que estuda há 2 anos.
Seu “tempo” é um pouco diferente dos ou-
tros alunos de sua sala, mas os professores
respeitam esse “tempo” e o motivam muito.
Sendo assim, devemos intervir apenas
nos pontos citados anteriormente, com:
Atividades de fixação (com repetições),
principalmente em matemática;
Aulas particulares diárias, mantendo
contato direto com o professor, estabelecen-
do atividades complementares como para
casa, problemas matemáticos e desafios,
para desenvolver o raciocínio lógico;
Revisão da matéria e correção de exercí-
cios dados, sempre que possível.
Através do relato, podemos perceber a ne-
cessidade de um diagnóstico preciso, pois,
no caso de Lucas, o diagnóstico errado acar-
retou um atraso em seu desenvolvimento e
o uso desnecessário de um medicamento. A
família é de fundamental importância em
todo o processo, cabendo a ela incentivar e
valorizar o adolescente.
Observamos também a importância
de professores esclarecidos, que respei-
tam o “tempo” de seu aluno e o motivam o
aprendizado.

Referência:
DATASUS. Disponível em: <http://www.da-
tasus.gov.br/cid10/v2008/webhelp/f70_f79.
htm>. Acesso em: 10/11/2008.

180
Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 2, p. 1-204, ago./dez. 2008 - Semestral
Artigo 38
Autora:
Regiane Rodrigues Cristino

Graduanda em Pedagogia com Ênfase em Necessidades Educacionais Especiais pela PUC Minas

Recebendo aluno com baixa visão

ser modificada a partir do entendimento de


Resumo que ela é que precisa ser capaz de atender
Este artigo aborda a questão de um aluno com baixa às necessidades de seus membros.
Revista Eletrônica - “O caso é o seguinte...” Coordenação Pedagógica: Coletânea de Estudos de Casos

visão matriculado em uma escola pública de Belo Ho-


rizonte. Como os profissionais da educação ainda não Victor1 tem nove anos e cursa a segunda
estão capacitados para atender a essa demanda, existem série do Ensino Fundamental. Ele estudava
professores que estão dispostos a trabalhar em conjunto, em uma escola da rede estadual e este ano
para que a aprendizagem de seus alunos se consolide com foi matriculado na Escola Reviver2 por ser
sucesso. uma escola “inclusiva”. Sua mãe acreditava
que nessa escola o aprendizado de seu filho

N
os estágios que realizamos durante seria melhor, já que ele estava “atrasado”.
o curso, deparamos com várias situ- Segundo a mãe, Victor possuía o diag-
ações nas escolas que nos levam de nóstico de baixa visão, devido a sua Alta
encontro com a teoria que aprendemos den- Miopia, que é um defeito de refração elevado
tro de sala de aula. Às vezes, com nossos co- (≥ a 6 dioptrias), freqüentemente hereditá-
nhecimentos, podemos auxiliar professores rio, associado a outros aspectos degenera-
e alunos para solucionar alguns problemas tivos. O risco de descolamento de retina é
que surgem no decorrer do ano letivo. elevado, devendo ser tomadas as precauções
Na escola pública municipal em que fiz necessárias.
estágio, existia um aluno de baixa visão. Segundo a Secretaria de Educação Espe-
Quando ele foi matriculado, a direção da es- cial – MEC, a definição de baixa visão (am-
cola ficou apreensiva quanto à possibilidade bliopia, visão subnormal ou visão residual) é
de realiazação de um trabalho de qualida- complexa, devido à variedade e à intensidade
de com esse “tipo” de aluno. Na escola, não de comprometimentos das funções visuais.
havia professores capacitados plenamente Essas funções englobam desde a simples
para que a inclusão acontecesse de fato, mas percepção de luz até a redução da acuidade e
como se tornou uma lei, a escola se deparou do campo visual interferindo ou limitando a
com uma situação nova. execução de tarefas e o desempenho geral.
De acordo com Sassaki (2005), Uma pessoa com baixa visão apresenta
grande oscilação de sua condição visual, de
A inclusão consiste em adequar os sistemas acordo com o seu estado emocional, as cir-
sociais gerais da sociedade, de tal modo que cunstâncias e a posição em que se encontra,
sejam eliminados os fatores que excluíam dependendo das condições de iluminação
certas pessoas do seu seio e mantinham natural ou artificial.
afastadas aquelas que foram excluídas. A A baixa visão traduz-se numa redução do
eliminação de tais fatores deve ser um pro- rol de informações que o indivíduo recebe do
cesso contínuo e concomitante com o esforço ambiente, restringindo grande quantidade
que a sociedade deve empreender no sentido de dados que este oferece e que são impor-
de acolher todas as pessoas, independente tantes para a construção do conhecimento
de suas diferenças individuais e das suas sobre o mundo exterior. Em outras palavras,
origens na diversidade humana. Pois, para
1. Nome fictício, para preservar a identidade do aluno.
incluir todas as pessoas, a sociedade deve
2. Nome fictício, para preservar a identidade da escola.

181
Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 2, p. 1-204, ago./dez. 2008 - Semestral
Recebendo aluno com baixa visão Regiane Rodrigues Cristino

o indivíduo pode ter um conhecimento res- pela mãe, que relatou à professora o interes-
trito do que o rodeia. se demonstrado por Victor pelas atividades
Victor é alfabetizado, porém sentia gran- com melhores contrastes que eram disponi-
des dificuldades para enxergar o que a pro- bilizados para o aluno.
fessora escrevia no quadro. Usa óculos e sua A escola se propôs a adquirir a carteira
mãe estava sempre em contato com a pro- de plano inclinado, já que poderia também
fessora para que, juntas, pudessem realizar servir para outros alunos, se Victor não esti-
um trabalho de qualidade para Victor. ver mais nesta escola nos próximos anos.
A escola ainda utilizava mimeógrafo e as Diante o caso, pode-se perceber que o tra-
letras das atividades eram muito claras, o balho em conjunto, visando um objetivo que
que dificultava a visualização para Victor é o de auxiliar o aluno no seu crescimento
e, conseqüentemente, seu rendimento era e na sua aprendizagem, torna-se possível
prejudicado. uma vez que a professora e a coordenação
A professora se esforçava em disponibili- dão liberdade para que essa troca de experi-
zar para Victor atividades com letras mais ência aconteça e o aprendizado do aluno se
escurecidas, (a professora contornava com consolide com sucesso.
caneta preta a atividade que era mimeogra-

Revista Eletrônica - “O caso é o seguinte...” Coordenação Pedagógica: Coletânea de Estudos de Casos


fada). Foi sugerido para que a professora
utilizasse atividades digitadas e impressas Referências:
com letras em caixa altas e fonte 22 – 24
(Arial) para que a compreensão de Victor fos- BRASIL. Ministério da Educação – Departa-
se facilitada. mento da Educação Básica. Compreender a
O aluno se curvava sobre os cadernos Baixa Visão. Portugal, 2002.
para conseguir realizar as atividades, o
que estava lhe causando dores nas costas BRASIL. Ministério da Educação – Departa-
e, possivelmente, poderia afetar sua postu- mento da Educação Básica. Alunos Cegos e
ra futuramente. Foi sugerido que a escola com Baixa Visão. Portugal, 2008.
adquirisse uma carteira de plano inclinado
(uma carteira cuja base poderia ficar de vá- LIMA, Eliana Cunha; FELIPPE, Maria Cris-
rias alturas para auxiliar o aluno). tina Godoy Cruz. Convivendo com a Baixa
A partir de conhecimentos adquiridos em Visão: da criança à pessoa idosa. São Paulo:
outros estágios e na faculdade, pude sugerir Fundação Dorina Nowill, 2007.
para a direção e a professora de Victor algu-
mas mudanças para favorecer o aluno e o SÁ, Elizabet Dias de; CAMPOS, Izilda Maria
trabalho da professora: de. Atendimento Educacional Especiali-
• Colocar Victor na primeira carteira da fila do
zado: Deficiência Visual. MEC. Brasília/DF,
meio, assim, poderia auxiliá-lo a enxergar 2007.
toda a extremidade do quadro; se necessá-
rio, colocá-lo próximo ao quadro. Observar SASSAKI, Romeu Kazumi. Inclusão: o pa-
também se não existe reflexo de iluminação radigma do século 21. Inclusão – revista da
no quadro; educação especial, out./2005.
• Disponibilizar atividades com contraste –
azul/amarelo, verde/azul, branco/preto;
• Utilizar lápis 4B ou 6B, pois lápis comuns
tornam a leitura um pouco difícil para alu-
nos com baixa visão;
• Estimular a autonomia de Victor, pois ele
tem regras estabelecidas a cumprir dentro
da escola e da sala de aula;
A partir de execução de algumas su-
gestões feitas à professora e à coordenação
da escola, pôde-se notar certa melhora na
aprendizagem de Victor, uma vez que este
passou a executar suas tarefas com mais
prazer. Este resultado também foi percebido

182
Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 2, p. 1-204, ago./dez. 2008 - Semestral
Artigo 39
Autora:
Renata Alves Marçal

Graduanda em Pedagogia com Ênfase em Necessidades Educacionais Especiais pela PUC Minas

Desafios enfrentados pela escola nos dias atuais

turma seguia para as aulas especializadas


Resumo ou mesmo para o recreio. Além dos deveres
Este artigo relata a questão da participação da família de casa, que sempre não eram concluídos,
Revista Eletrônica - “O caso é o seguinte...” Coordenação Pedagógica: Coletânea de Estudos de Casos

no acompanhamento do progresso escolar dos filhos. Em- a professora relatou que durante as aulas o
bora, nos dias atuais, as famílias muitas vezes delegam à aluno se comportava de maneira estranha.
escola suas responsabilidades pela educação das crian- Às vezes, dormia durante as aulas, chegava
ças, não há como prescindir de um envolvimento familiar, à sala de aula e nem abria a mochila para
principalmente quando a criança apresenta sinais de des- retirar os materiais e ficava sempre calado
vios e transtornos. e pensativo.
Na maioria das vezes, provocava e agredia

A
educação, no Brasil, tem enfrentado os demais colegas com palavras desrespeito-
grandes desafios que nos remetem a sas. Segundo a professora, em algumas oca-
um novo pensar, a uma nova forma de siões, o aluno demonstrava grande interesse
agir e, principalmente, a repensar novas prá- pelo tema proposto durante as aulas, de
ticas pedagógicas dentro do contexto escolar. maneira participativa e obtendo resultados
Atualmente, um dos principais aspectos que satisfatórios nas avaliações.
vem se alterando com maior intensidade diz A cada dia a professora percebia que o
respeito às responsabilidades que são atri- comportamento do aluno não condizia com
buídas à família. os demais alunos da turma. Explicitou a si-
Hoje em dia, a presença das mulheres no tuação à Coordenadora, os pais foram con-
mercado de trabalho, dividindo suas despe- vocados para uma reunião a fim de buscar
sas mensais com maridos/companheiros, subsídios que pudessem ajudá-los a compre-
tornou-se normal. Dessa forma, a criança ender a situação e esclarecer o que havia de
é inserida cada vez mais cedo no ambiente errado.
escolar e essa inserção precoce tem forçado A coordenadora e a professora adotaram
as escolas a ampliar suas tarefas para além inúmeras alternativas, porém não estavam
dos compromissos educacionais. surtindo resultado até aquele momento.
Durante a realização do estágio de super- Mesmo assim, não houve nenhuma modifi-
visão escolar em uma escola privada em Belo cação em sua conduta. Elas já não conse-
Horizonte, tive a oportunidade de acompa- guiam conversar com os pais pessoalmente.
nhar as dificuldades enfrentadas por uma Os únicos contatos ocorreram através de
educadora da 4ª série do Ensino Fundamen- bilhetes na agenda escolar do aluno ou em
tal com um aluno. Ele tem 11 anos de idade raros telefonemas da coordenadora.
e freqüenta a escola desde o maternal III. A instituição adota o sistema de dividir o
Diversas vezes presenciei a educadora ano letivo em três etapas. A mãe assustou-se
adentrar a sala da Coordenação Pedagó- com as notas no boletim do filho ao chegar
gica reclamando do aluno. Em outras cir- ao final da segunda etapa, porque corria sé-
cunstâncias, o próprio aluno lá aparecia, rio risco de ser reprovado direto, sem direito
conduzido pela professora, para realizar as a fazer recuperação. Nesse momento, ela
tarefas escolares pendentes, ou para conver- resolveu marcar um horário de atendimento
sar com a coordenadora e, posteriormente, com a professora e a coordenadora, quan-
com a diretora. Enquanto isso, o restante da do, enfim, tomou consciência da situação

183
Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 2, p. 1-204, ago./dez. 2008 - Semestral
Desafios enfrentados pela escola nos dias atuais Renata Alves Marçal

problemática de seu filho dentro da sala de Referência:


aula. A mãe estava inconformada e questio-
nando os motivos que levariam seu filho a GENTIL FILHO, Valentim. Conhecendo o ini-
comportar-se de maneira estranha, pois o migo. Disponível em: <http://drauziovarella.
considerava uma criança inteligente e até ig.com.br/entrevistas/valentim_bipolar.Asp>
mesmo com um desenvolvimento adiantado
para sua idade. A coordenadora orientou-a
que buscasse um apoio especializado para
seu filho, para avaliação e aconselhamento.
Após vários testes, o aluno foi diagnosti-
cado como portador de Transtorno Bipolar.
Segundo o Gentil Filho, trata-se de:

Algumas alterações funcionais do cére-


bro que possui áreas fundamentais para
o processamento de emoções, motivação e
recompensas. Na verdade, trata-se de um

Revista Eletrônica - “O caso é o seguinte...” Coordenação Pedagógica: Coletânea de Estudos de Casos


transtorno de humor que oscila entre o pólo
da euforia, da mania ou da hipomania, do
qual faz parte esse comportamento excita-
do e desorganizado, e o pólo da depressão,
retomando a pessoa depois o equilíbrio sem
grandes prejuízos comportamentais nem na
integração das emoções e dos pensamentos.
Se não distinguirmos a criança apenas re-
belde e desafiadora da que tem um tempera-
mento desfavorável, hostil e irritado porque
é portadora de transtorno de humor bipolar
e se quisermos educá-la com severidade
exagerada, ela reagirá negativamente. Esse
transtorno requer tratamento adequado.

A mãe contratou uma professora particu-


lar para que o aluno não fosse reprovado na
escola, após o diagnóstico dado pelo neuro-
pediatra, o que acabou surtindo um bom re-
sultado. O aluno conseguiu recuperar suas
notas perdidas e conseguiu ser aprovado,
apesar de ter ficado em recuperação em Por-
tuguês e História.
Segundo a coordenadora, parece que a
família não deu muita importância à defici-
ência de seu filho, ignorando o tratamento e
o atendimento especializado.
Ao que tudo indica, a família continua
“sem tempo” para o filho e transferindo para
a escola a responsabilidade de, além de edu-
cá-lo, cuidar para que ele não leve para casa
problemas que eles não estão dispostos nem
demonstram interesse em solucioná-los.

184
Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 2, p. 1-204, ago./dez. 2008 - Semestral
Artigo 40
Autora:
Rosângela Andréia Araújo dos Santos

Graduanda em Pedagogia com Ênfase em Necessidades Educacionais Especiais pela PUC Minas

Problemas disciplinares e na aprendizagem: refletindo o olhar


e a prática educativa

como agir com ele. Então, a professora soli-


Resumo citou uma avaliação de um especialista para
Alguns alunos demonstram resistência a qualquer pro- a família. Passados alguns dias, ela recebe
Revista Eletrônica - “O caso é o seguinte...” Coordenação Pedagógica: Coletânea de Estudos de Casos

posta. São agressivos, inquietos e têm dificuldade de uma avaliação informando que Jorge tem
aprender. Este artigo tem por objetivo apresentar alguns hiperatividade, distúrbio de aprendizagem
aspectos dos problemas de disciplina relacionados com os ocasionado por problemas neurológicos.
distúrbios de aprendizagem de aprendizagem. Para Galvão e Abuchan (2008),

A
s crianças, para se tornarem cidadãos O Transtorno do Déficit de Atenção com Hi-
com conhecimento, precisam de uma peratividade (TDAH) não é uma doença, é
boa formação. Isso é possível quan- um transtorno neurobiológico, inicialmente
do se busca uma prática docente repleta vinculado a uma lesão cerebral mínima. Nos
de idéias, reflexões, leituras, discussões. anos 1960, devido à dificuldade de compro-
Os professores querem sempre que seus vação da lesão, sua definição adquiriu uma
alunos aprendam e se interessem pelo que perspectiva mais funcional, caracterizando-
vão aprender, mas quando apresentam re- se como uma síndrome de conduta, tendo
sistência a qualquer proposta, respondendo como sintoma primordial a atividade moto-
de maneira agressiva ou com indiferença, ra excessiva. Existe também o Distúrbio do
não conseguindo ficar quietos, sentados, ou Déficit de Atenção (DDA) sem hiperativida-
desenvolver qualquer atividade, essa prática de. O transtorno nasce com o indivíduo e já
educativa se transforma em um desafio. aparece na pequena infância, quase sempre
Luana1, educadora numa turma do acompanhando o indivíduo por toda a sua
5ºano/9 de uma escola publica de Belo Ho- vida. O transtorno se caracteriza por sinais
rizonte, vivenciou essa situação. No princi- claros e repetitivos de desatenção, inquie-
pio deste ano, recebeu em sua sala, o aluno tude e impulsividade, mesmo quando o pa-
Jorge2, de 14 anos e com dificuldade acen- ciente tenta não mostrá-lo. Existem vários
tuada na aprendizagem. Ele tinha problema graus de manifestação do TDAH. A dificul-
disciplinar, não respeitava os colegas, não dade desse aluno em se alfabetizar provoca
conseguia ficar quieto dentro de sala, subia sérios problemas e atritos com o professor
nas carteiras e não conseguia desenvolver e a direção da escola. A combinação desses
nenhuma atividade, por qualquer motivo fi- problemas com a hiperatividade e a impulsi-
cava extremamente agressivo, apresentando vidade, por um lado, amplifica os problemas
total descrédito em relação a tudo o que ou- disciplinares e, por outro lado, gera no alu-
via, era difícil até mesmo para a professora no uma aversão ao ambiente escolar.
a tarefa de corrigi-lo de forma construtiva.
Luana solicitou a presença dos responsá- O verdadeiro comportamento hiperativo
veis para tentar resolver essa situação e interfere na vida familiar, escolar e social
descobriu que seu aluno se comportava da da criança. As crianças têm dificuldade em
mesma forma em casa. A família não sabia prestar atenção e aprender. Como são inca-
pazes de filtrar estímulos, são facilmente
1. Nome fictício, para preservar a identidade da profes- distraídas. Essas crianças podem falar mui-
sora.
to, alto demais e em momentos inoportunos.
2. Nome fictício, para preservar a identidade do aluno.

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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 2, p. 1-204, ago./dez. 2008 - Semestral
Problemas disciplinares e na aprendizagem: refletindo o olhar... Rosângela Andréia Araújo dos Santos

Estão sempre em movimento, sempre fa- ORLANDI, Eni. Análise de discurso: princí-
zendo algo e são incapazes de ficar quietas. pios e procedimentos. 4ª ed. Campinas (SP):
São impulsivas. Não param para olhar ou Pontes, 2002.
ouvir. Devido à sua energia, curiosidade e
necessidade de explorarem surpreendentes
e aparentemente infinitas, são propensas
a se machucar e a quebrar e danificar coi-
sas. As crianças com hiperatividade toleram
pouco as frustrações. Elas discutem com os
pais, professores, adultos e amigos. Fazem
birras e seu humor flutua rapidamente. Es-
sas crianças também tendem a ser muito
agarradas às pessoas. Precisam de muita
atenção e tranqüilidade. É importante para
os pais perceberem que as crianças não en-
tendem as regras, instruções e expectativas
sociais. O problema é que elas têm dificulda-

Revista Eletrônica - “O caso é o seguinte...” Coordenação Pedagógica: Coletânea de Estudos de Casos


de em obedecer. Esses comportamentos não
são propositais, os mais caracterizados são
tratados com medicamentos.
Jorge passou a tomar a medicação para
o controle desse disturbio e, aos poucos, a
sua rotina foi sendo compreendida e incor-
porada ao cotidiano escolar. O aluno come-
çou a aceitar as intervenções da professora e
a apresentar menos resistência para realizar
as atividades. Nesse movimento, começou a
demonstrar os conhecimentos e conceitos
construídos com a mediadora e a pedir aju-
da frente a alguma dificuldade.
Segundo Orlandi (2002), é importante
estar atento ao discurso, e não meramente
à mensagem que desejamos transmitir, pois
não se trata de transmissão de informação
apenas, pois, no funcionamento da lingua-
gem, que põe em relação sujeitos e sentidos
afetados pela língua e história, temos um
complexo processo de constituição desses
sujeitos e produção de sentidos. Conhecer
as relações de força e sentidos que envolvem
esse aluno pode auxiliar na amenização dos
problemas disciplinares e na aprendizagem.
Torna-se, portanto, fundamental a capa-
citação de professores e dirigentes escolares
sobre os temas abordados, para que possam
melhor compreender e ajudar o aluno em
suas dificuldades e desajustes, ao invés de
se constituírem em mais um fator agravante
desse desajuste.

Referências:
DÉFICIT de Atenção e Hiperatividade. Dispo-
nível em <www.abcdasaude.com.br/artigo>.

186
Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 2, p. 1-204, ago./dez. 2008 - Semestral
Artigo 41
Autora:
Rosilene Patrícia dos Santos Assumpção

Graduanda em Pedagogia com Ênfase em Necessidades Educacionais Especiais pela PUC Minas
Professora interventora do Projeto Tempo Integral, E.E. Tomás Brandão

Intervenção pedagógica para aluno com problema disciplinar e cognitivo

a eles e a coordenação indicou o aluno para


Resumo um acompanhamento com especialistas.
O objetivo desse artigo é especificar as principais difi- A família não se posicionou a respeito,
Revista Eletrônica - “O caso é o seguinte...” Coordenação Pedagógica: Coletânea de Estudos de Casos

culdades disciplinares e de alfabetização de um aluno da mas, em 2007, o aluno melhorou bastante


escola pública, visando a emergência em solucionar a sua em relação à agressividade, porém, conti-
agressividade com a ajuda de psicólogo e intervenções em nuou apático, sem interesse. Até mesmo fora
grupo para vencer as dificuldades de escrita e leitura. da sala de aula, em momentos lúdicos, ele
apresentava resistência. Somente no final do

O
artigo relata o estudo de caso de um ano, demonstrou maior interesse no proces-
aluno da rede pública estadual, hoje so de ensino-aprendizagem.
no 3º ano do Ensino Fundamental. Foi diagnosticada a fase silábica na es-
O caso foi detectado pela professora e pela crita. Ele continua fazendo birras, tendo ati-
comunidade escolar, já que interferia no tra- tudes infantis. Chora por qualquer motivo,
balho de toda a equipe escolar. fica emburrado, e quando está assim, não
O estudo de caso tinha como objetivo atende às pessoas, quando solicitado.
compreender e buscar estratégias de inter- É um aluno totalmente inquieto. Mexe
venção para superar ou minimizar os pro- com os colegas, coloca apelidos e quando re-
blemas apresentados pelo aluno. agem, fica nervoso, bate, não respeita e não
A metodologia utilizada foi a observação obedece quando é repreendido. Vive sempre
de aspectos indicadores de conflitos; a saú- em conflitos, porque não consegue resolvê-
de, aspectos cognitivos, afetivos, emocio- los.
nais, sociológicos e comportamentais. Essas Em relação à leitura, o aluno consegue
observações foram feitas juntamente com ler somente palavras com sílabas simples,
o relato dos professores, no diálogo com o mas não consegue fazer relação com todos
aluno, em momentos de descontração, bem os sons (letra/som). Não reconhece todas as
como, com os colegas de sala. Decorrida essa letras do alfabeto, confundindo-as. Até mes-
etapa, foi proporcionada uma entrevista com mo no próprio nome ele as confunde.
os pais para uma anamnese, visando o dire- No raciocínio matemático, tem dificulda-
cionamento do estudo. Após as observações, des com relação à lateralidade e consegue
a coordenadora reuniu os dados para propor somente comparar quantidades até o núme-
possíveis intervenções. ro nove. Quantidades maiores que o número
O aluno ingressou na escola, na fase cinco, ele retoma ao numeral um. Reconhece
introdutória, demonstrando grande dificul- os números até vinte, mas sem quantificá-
dade de socialização. Agredia fisicamente los.
colegas e professores. Não demonstrava inte- Em agosto de 2007, iniciou-se o Projeto
resse nas atividades propostas e até mesmo Tempo Integral, em que os alunos com mais
nas brincadeiras. Fazia muita birra, saía de dificuldades ficavam o dia inteiro na escola.
sala com freqüência e sem permissão. O aluno foi encaminhado para esse proje-
Após o período de adaptação, o aluno to. Esta seria a intervenção proposta pela
passou por um período de observação fei- coordenação da escola. No projeto, o aluno
to pela coordenadora. Após, os pais foram chegava à escola por volta das sete horas e
chamados à escola. O problema foi exposto trinta minutos, era servido o café da manhã,

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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 2, p. 1-204, ago./dez. 2008 - Semestral
Intervenção pedagógica para aluno com problema disciplinar... Rosilene Patrícia dos Santos Assumpção

e, ao meio dia, era servido o almoço. Às treze te no seu comportamento. No cognitivo não
horas iniciava o estudo do período escolar. houve regressões nem avanços.
Durante o período do projeto, o aluno Segundo Boynton (2008),
participava de jogos visando à alfabetiza-
ção, trabalhos de arte, música e teatro, com as questões disciplinares interferem muito
o objetivo de melhorar sua socialização. na aprendizagem do aluno e solucioná-las
Manuseava e vivenciava experiências mate- torna-se uma questão primordial. A admi-
máticas, participando de atividades como a nistração adequada do comportamento do
organização de um supermercado com suca- aluno é um aspecto extremamente impor-
tas. Nessa atividade, as crianças vendiam, tante, que todo professor deve desenvolver,
controlavam estoque, trabalhavam formas, já que, além de auxiliar na criação de um
cores, lateralidade, adição, subtração etc. ambiente positivo, afeta muito na aprendi-
O trabalho com o aluno era exaustivo, zagem escolar.
pois constantemente regredia em suas atitu-
des e cognição. A socialização era o primeiro O controle da agressividade precisa ser
déficit a ser vencido. Era importante para ele administrado pela criança e quando esta
ter um bom relacionamento com os colegas e não consegue fazê-lo sozinha, é necessária

Revista Eletrônica - “O caso é o seguinte...” Coordenação Pedagógica: Coletânea de Estudos de Casos


professores para que pudesse desenvolver a a ajuda de especialistas como psicólogos ou
sua aprendizagem. Sem vencer esse proble- psiquiatras.
ma, o aluno não conseguiria um ambiente O controle emocional do aluno nos parece
favorável à aprendizagem. ser o principal problema para o avanço nas
Com muitos conflitos e conversas indivi- questões cognitivas. O trabalho de interven-
duais e em grupo, o aluno foi vencendo aos ções pedagógicas fica completamente impos-
poucos suas maiores limitações. A professo- sibilitado diante do psicológico do aluno.
ra passou a ser atendida nas solicitações e o O trabalho de intervenção com o aluno
aluno se tornou menos agressivo. continua, apesar da falta de acompanhamen-
Quanto ao lado cognitivo, o aluno me- to e preocupação da família com a situação.
lhorou significativamente na participação
das atividades, demonstrando, assim, maior
interesse. As atividades de alfabetização Referências:
propunham desafios individuais, não pro-
movendo a disputa, mas a conquista pessoal BOYNTON, Mark, BOYNTON, Christine. Pre-
de cada tarefa. venção de Problemas disciplinares: Guia
As intervenções foram feitas pela escola, para educadores. Trad. Ana Paula Pereira
porém a família não conseguiu acompanha- Breda. Porto alegre: Artmed, 2008.
mento psicológico para o aluno.
No início de 2008, o aluno regrediu em CAGLIARI, Luiz Carlos. Alfabetizando sem
relação ao seu comportamento e, por deci- o bá-bé-bi-bó-bu. São Paulo: Scipione, 1998
são da escola, foi afastado do projeto como (Pensamento e Ação no Magistério).
forma de forçar a família a procurar um
especialista. A estratégia foi bem sucedida CAPOVILLA, A. G. S. e CAPOVILLA, F. C. Pro-
e a mãe conseguiu acompanhamento para blemas de Leitura e escrita. Como identi-
o filho. Nessa fase, o aluno já estava alfa- ficar prevenir e remediar numa abordagem
bético, mas suas produções eram limitadas. fônica. São Paulo: Memnon, 2000.
Escrevia com muitos erros e sua grafia não
apresentou melhora. CARRAHER, T. N. & Rego, L. L. B. Desen-
Por volta do terceiro mês de 2008, o alu- volvimento cognitivo e alfabetização. Revis-
no retornou ao projeto. Demonstrou melhora ta Brasileira de Estudos Pedagógicos, 65,
significativa no comportamento. Mostrou-se 1984, p. 38-55.
mais autônomo e seguro para resolver seus
conflitos. Estava em acompanhamento psi- FERREIRO, Emilia & TEBEROSKY, Ana. Psi-
cológico, mas, em alguns momentos, ainda cogênese da língua escrita. Trad. Diana
fazia birras e tinha acessos de raiva. Myriam Lichtenstein, Porto Alegre: Artes mé-
No segundo semestre de 2008, o acompa- dicas, 1985.
nhamento psicológico foi retirado por ques-
tões familiares e o aluno regrediu novamen-

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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 2, p. 1-204, ago./dez. 2008 - Semestral
Intervenção pedagógica para aluno com problema disciplinar... Rosilene Patrícia dos Santos Assumpção

SANTOS, M. T. M.; NAVAS, A.L.G. P. Distúr-


bios de leitura e escrita: Teoria e prática.
São Paulo: Manole, 2002
Revista Eletrônica - “O caso é o seguinte...” Coordenação Pedagógica: Coletânea de Estudos de Casos

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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 2, p. 1-204, ago./dez. 2008 - Semestral
Artigo 42
Autora:
Sabrina Ferreira de Souza

Graduanda em Pedagogia com Ênfase em Necessidades Educacionais Especiais pela PUC Minas

O cotidiano de uma criança com dificuldades de aprendizagem


numa escola privada

milados. Hoje ela está trabalhando o concre-


Resumo to e já consegue produzir textos.
Este artigo discute a dificuldade de uma criança que apre- Segundo a coordenadora, a aprovação
Revista Eletrônica - “O caso é o seguinte...” Coordenação Pedagógica: Coletânea de Estudos de Casos

senta TDAH (Transtorno de Déficit de Atenção com Hi- sempre ficou para o conselho de classe. Hoje
peratividade), deficiência motora e dificuldades na fala, ela está na 4ª série e é como se estivesse na
no acompanhamento escolar e na relação social com os 1ª série. É uma criança saudável, com um
professores e alunos. afetivo-emocional abalado, pois é carinhosa
e, ao mesmo tempo, agressiva quando deseja

O
presente estudo de caso foi realiza- algo. Apresenta dificuldade de aprendiza-
do com uma criança de 10 anos de gem. A sua relação sociológica e cultural,
idade que cursa a 4ª série, em uma segundo a professora, é excelente e a família
escola particular de Belo Horizonte. O que dá muito apoio, estando sempre presente e
instigou o início da investigação foi conhecer fazendo tudo o que estiver ao seu alcance.
as dificuldades de aprendizagem apresenta- No entanto, o comportamento da menina
das pela criança. Ela entrou na escola bem leva a professora a fazer vários questiona-
pequena com um diagnóstico não fechado mentos. No começo, ela aponta que foi muito
de comprometimento e baixa auto-estima. difícil trabalhar com ela, nada dava certo, é
Diferencia-se do grupo, tem dificuldades na uma menina aparentemente tranqüila, mas
fala e motora, além de comprometimentos que não pode ser contrariada, pois se torna
na leitura e na escrita. agressiva com a professora e com os cole-
Segundo a coordenadora, os pais disse- gas, chegando a morder. Tem uma tendência
ram que a menina começou a falar aos qua- muito grande de se isolar se fica cansada,
tro anos de idade e a parte motora também e se os colegas não fazem do jeito dela, fica
foi atrasada, porém ela possui uma equipe com raiva e fecha a cara. Além de tudo, é
de profissionais como neuropsiquiatra, fono- uma menina mimada e muito esperta. Se-
audióloga, terapeuta, psicóloga, psicopeda- gundo a professora, quando fica sabendo
goga e uma professora particular. Para sa- que suas amigas no outro dia vão fazer algo
nar as necessidades da menina, é feito um que ela não vai conseguir, ela faz chanta-
trabalho entre a equipe e a escola. Os profis- gens levando balas e outras coisas para
sionais vão sempre à escola e participam de comprar as amigas e assim elas ficam com
reuniões com a coordenadora e a professora pena e acabam deixando de fazer ou ficam
e, sempre que necessário, dão orientações. mimando-a.
A escola sempre atende às necessidades da Segundo a professora, os pais também
aluna, dando explicação individualizada, compram os colegas da filha – cada dia da
deixando-a sempre na frente. As avaliações semana tem algo diferente na casa e uma
são diferenciadas, as provas de matemática colega é convidada, sempre fazendo as von-
são orientadas, não faz cálculos, só na cal- tades e suprindo as necessidades da filha. A
culadora, as provas de outras matérias são família faz de tudo para a filha, mas às vezes
feitas com consulta ao livro, os colegas sem- não passam para a escola que não têm ou
pre ajudam copiando a matéria e explicam não querem ter consciência da realidade, pois
novamente os assuntos que não foram assi- não aceitam que a filha tenha um distúrbio
neurológico. A professora ainda afirmou que

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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 2, p. 1-204, ago./dez. 2008 - Semestral
O cotidiano de uma criança com dificuldades de aprendizagem... Sabrina Ferreira de Souza

os pais confirmaram ter mandado o laudo


da criança para a escola, porém nunca o vi-
ram, e ficaram de mandar outro, mas nunca
mandam. Nas reuniões, foi estipulado para
a família colocá-la em aulas de dança, de
artes ou mesmo na natação, para estimular
os seus movimentos e desenvolver sua cria-
tividade, mas a resposta dos pais é que ela
não tem tempo para essas atividades, pois
seu tempo está preenchido. O tempo que a
menina teria para ficar com os pais, eles a
colocaram em aula particular de 11 as 12,
toda quinta-feira antes da sua aula.
As intervenções na escola, segundo a co-
ordenadora, são sempre inseri-la em todas
as atividades possíveis, fazendo provas na
coordenação e deixando-a participar de vá-

Revista Eletrônica - “O caso é o seguinte...” Coordenação Pedagógica: Coletânea de Estudos de Casos


rios projetos que a escola oferece como dan-
ça, teatro, natação, jogos na educação física
entre outros.
A menina, segundo a professora não con-
segue manter o social, às vezes fica o tempo
todo se mexendo na carteira, ou tira e colo-
ca objetos na bolsinha de lápis e não presta
atenção na explicação da matéria e, quando
a professora pergunta a turma se alguém
tem alguma dúvida, a menina pergunta se
pode copiar a matéria, sem noção nenhuma
do que foi falado.
Como a aluna se encontra na 4ª série, o
conselho de classe terá que decidir nova-
mente se irão aprová-la para a 5ª série do
ensino fundamental, pois terá que ser feito
um outro tipo de trabalho.
Pelo relato, o estudo de caso é essencial
na rotina de uma escola. A escola não pode
simplesmente omitir um problema por qual-
quer motivo que seja. É sua função comuni-
car aos pais as observações feitas a respeito
dos alunos, apontando sua real situação e
disponibilizando apoio e possibilidades para
superação das dificuldades.

192
Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 2, p. 1-204, ago./dez. 2008 - Semestral
Artigo 43
Autora:
Shirley Talise Santos de Erédia

Graduanda em Pedagogia com Ênfase em Necessidades Educacionais Especiais pela PUC Minas

As escolas e as deficiências auditivas

durante o seu desenvolvimento e a atenção


Resumo e a memória são aspectos importantes nesse
A principal ênfase para a educação do surdo é desenvolver processo.
Revista Eletrônica - “O caso é o seguinte...” Coordenação Pedagógica: Coletânea de Estudos de Casos

a linguagem e a evolução de habilidades de comunicação. No estudo do desenvolvimento da função


Assim, é preciso pensar e repensar a metodologia de que auditiva da criança ouvinte, pesquisadores
o surdo necessita para seu desenvolvimento e que lhe ofe- observam, entre outros aspectos, o fato de
reça oportunidade de igual modo, visando o crescimento que os bebês, desde os primeiros meses de
e o desenvolvimento do ser, capacitando-o a viver em so- vida, são capazes de discriminar (capaci-
ciedade. dade de perceber semelhanças e diferenças
entre os estímulos sonoros) entre vozes de

T
em sido constante objeto de estudo pessoas e ruídos em geral. Essa observação
observar que as perdas auditivas leves sustenta a afirmação de que se considera
ou moderadas que passam despercebi- desnecessário o trabalho de “percepção au-
das durante os primeiros sete ou oito anos ditiva” como é feito nas escolas – faz-se o uso
de vida da criança possam desencadear um de instrumentos sonoros ao invés da fala
processo de ensino/aprendizagem falho e/ para diferenciar forte e fraco na preparação
ou com lacunas ao longo do tempo. Essas do período de alfabetização.
deficiências podem ter sido adquiridas tar- Fica evidenciado também que a fragmen-
diamente ou evoluído durante o desenvolvi- tação da criança em habilidades específicas
mento da criança. Mais tarde, essas crianças (motoras, auditivas, visuais etc.) não corres-
serão rotuladas na escola como desatentas, ponde a um avanço no processo educacio-
inquietas, ou até mesmo como vítimas de nal, na medida em que essas atividades são
um distúrbio de aprendizagem. totalmente desvinculadas do momento do
A audição e seu processo perceptual desenvolvimento que a criança vive. É possí-
são descritos de diversas maneiras. Alguns vel que sejam “treinadas” habilidades que a
audiologistas enfatizam os aspectos anatô- criança já desenvolveu nos primeiros meses
micos e neurológicos da audição, outros se- de sua história de vida. É importante res-
guem uma abordagem mais desenvolvimen- saltar que a audição também exerce a fun-
tista, enfatizando o modo como se processa ção de proteção ou defesa e orientação em
o desenvolvimento da função auditiva, ou relação ao meio ambiente. Isto se dá desde
seja, como o bebê reage aos primeiros sons os primeiros momentos de vida e estará re-
ocorridos no mundo e como se dá a matura- lacionado com os outros sentidos através da
ção das células nervosas. tomada de consciência do mundo sonoro.
As dificuldades no estudo da percepção A responsabilidade de facilitar o processo
auditiva decorrem, principalmente, do fato educacional de um indivíduo surdo é de to-
de que está muito vinculada ao momento de dos nós, educadores, e não apenas do Gover-
emergência da língua oral e de seus níveis no, dos especialistas e dos pais. Encontra-se,
de desenvolvimento. É importante ressaltar então, quase uma infinidade de nuances nas
que a percepção auditiva está relacionada propostas educacionais e é comum a afirma-
com a atribuição de significado que o indi- ção de que, antes de qualquer coisa, “cada
víduo determina a todo momento. Há um criança é uma criança”. É viva, esperta e
complexo número de eventos que acontecem tem suas maneiras especiais de ser, como

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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 2, p. 1-204, ago./dez. 2008 - Semestral
As escolas e as deficiências auditivas Shirley Talise Santos de Erédia

todos os seres humanos, que se distinguem cio da cidadania e sua qualificação para o
uns dos outros através de suas diferenças. trabalho.
Sabe-se que a situação do professor em Art. 29 A educação infantil, primeira etapa
sala de aula não é nada fácil. Quando não da educação básica, tem como finalidade o
está com uma classe de 40 alunos em uma desenvolvimento integral da criança até seis
escola pública, ele sofre a pressão da escola anos de idade, em seus aspectos físico, psi-
particular, que tem compromissos de apre- cológico, intelectual e social, complemen-
sentar “produto”, devido à competição do tando a ação da família e da comunidade.
mercado ou mesmo para responder às ex- Art. 58 Entende-se por educação especial,
pectativas elevadas dos pais. Na resolução para os efeitos desta Lei, a modalidade
n. 73, de 23/06/78, que ainda vigora, estão de educação escolar, oferecida preferen-
previstos, para o surdo, Ensino Itinerante – cialmente na rede regular de ensino, para
o professor especializado locomove-se, indo educandos portadores de necessidades
a diferentes escolas onde há crianças surdas especiais.
que necessitam de atenção individualizada Inciso 1 Haverá, quando necessário, servi-
–, sala de recursos - atenção para as neces- ços de apoio especializado, na escola regu-
sidades específicas de um grupo de surdos lar, para atender às peculiaridades da clien-

Revista Eletrônica - “O caso é o seguinte...” Coordenação Pedagógica: Coletânea de Estudos de Casos


que estivessem freqüentando o ensino regu- tela de educação especial.
lar – e classe especial. Inciso 2 O atendimento educacional será
Geralmente, as crianças que respondem feito em classes, escolas ou serviços espe-
a sons de fala sem Aparelho de Amplifica- cializados, sempre que, em função das con-
ção Sonora beneficiam-se de um aparelho dições específicas dos alunos, não for possí-
de amplificação não muito potente. A opção vel a sua integração nas classes comuns de
metodológica para o atendimento especiali- ensino regular.
zado é a abordagem auditiva. Mas, quando a Inciso 3 A oferta de educação especial, de-
criança está distante da fonte sonora, o uso ver constitucional do Estado, tem início na
da leitura orofacial pode auxiliá-la para o faixa etária de zero a seis anos, durante a
recebimento de informações. educação infantil.
O atendimento especializado pode ter
uma curta duração – seis meses, mais ou A principal ênfase para a educação do
menos. Após esse período, mantêm-se en- surdo é desenvolver a linguagem e a evolução
contros de três em três meses com a criança de habilidades de comunicação. Portanto,
e a família, depois se aumenta ou se diminui é preciso pensar e repensar a metodologia
o intervalo entre eles, segundo as necessida- de que o deficiente auditivo necessita para
des individuais da criança. seu desenvolvimento e que esta lhe ofereça
Segundo a Lei 9.394/96, é relevante oportunidade de igual modo, visando o cres-
ressaltar: cimento e o desenvolvimento do ser, capaci-
tando-o a viver em sociedade.
Art. 1º A educação abrange os processos O aluno já iniciou o ano de 2007 em pro-
formativos que se desenvolvem na vida fa- gressão parcial em matemática e história.
miliar, na convivência humana, no trabalho, Aparentemente, não há nenhum motivo evi-
nas instituições de ensino e pesquisa, nos dente que o leve à falta de interesse pelos
movimentos sociais e organizações da socie- estudos.
dade civil e nas manifestações culturais. No mês de março do ano de 2007, a famí-
Inciso 1. Esta Lei disciplina a educação lia foi chamada para relatarmos que a aluno
escolar, que se desenvolve, predominante- continuava a manifestar a mesma atitude
mente, por meio do ensino, em instituições dos anos anteriores. Desrespeita os colegas
próprias. e professores, não acompanha a turma, não
Inciso 2. A educação escolar deverá vin- faz todos os registros, pouco faz de correções
cular-se ao mundo do trabalho e a prática das atividades e sempre incomoda as aulas.
social. Os professores do aluno confirmaram aos
Art. 2º A educação, dever da família e do responsáveis todas essas características e
Estado, inspirada nos princípios de liber- um dos professores está indignado, devido à
dade e nos ideais de solidariedade humana, enorme falta de respeito, e argumenta sobre
tem por finalidade o pleno desenvolvimento a impossibilidade de trabalhar com o aluno.
do educando, seu preparo para o exercí- Após essa conversa com a família, aler-

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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 2, p. 1-204, ago./dez. 2008 - Semestral
As escolas e as deficiências auditivas Shirley Talise Santos de Erédia

tando sobre as atitudes do aluno, ele recebeu


28 ocorrências referentes à postura, respon-
sabilidade sobre os estudos e respeito aos
colegas e, principalmente, aos professores.
Mesmo diante das várias tentativas de
apaziguar a situação, o aluno continua com
as mesmas atitudes de falta de compromis-
so com os estudos, brincando o tempo todo,
desrespeitando os professores, com uma
enorme indisciplina.
Conversamos, mais uma vez com a fa-
mília para buscarmos a verdadeira razão o
estivesse levando a essa conduta. Não con-
seguimos identificar nada. Dialogamos com
o aluno mais uma vez para tentarmos per-
ceber ou identificar algo que demonstrasse o
motivo de tal “agitação”. Assim, propusemos
Revista Eletrônica - “O caso é o seguinte...” Coordenação Pedagógica: Coletânea de Estudos de Casos

aos professores que modificassem sua didá-


tica com o aluno e a supervisão manteria
um apoio psicopedagógico com ele.
Depois de certo período e várias chances,
percebemos que o aluno, apesar das inter-
venções, manteve a mesma atitude e conti-
nua sem querer ser ajudado. Outras estraté-
gias deverão ser tentadas.
Mesmo com as dificuldades enfrentadas
ao lidarmos no dia-a-dia com o aluno, é
importante ressaltar que cada aluno carre-
ga consigo uma bagagem de informações e
conhecimentos que precisa ser valorizada e
preservada.
Portanto, a responsabilidade de facilitar o
processo educacional de um indivíduo surdo
é de todos nós.

Referências:
BEVILACQUA, Maria Cecília. A criança defi-
ciente auditiva e a escola. São Paulo: CLR
Balieiro, 1987.

BRASIL. Ministério de Educação. Lei 9394/96


de 20 de dezembro de 1996. Lei de Diretri-
zes e Bases da educação. Brasília, 1996.

BERNARDINO, Elidéa Lúcia Almeida. Neces-


sidades Educacionais Especiais e Interven-
ções Pedagógicas para Alunos com Defici-
ência Auditiva. Belo Horizonte: PUC Minas,
2/2006. Notas de aulas ministradas.

DINIZ, Isabella Scalabrini Saraiva. A Cons-


trução do Conhecimento de Ciências I.
Belo Horizonte: PUC Minas, 2/2006. Notas de
aulas ministradas.

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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 2, p. 1-204, ago./dez. 2008 - Semestral
Artigo 44
Autora:
Silvana Lúcia Gomide dos Santos

Graduanda em Pedagogia com Ênfase em Necessidades Educacionais Especiais pela PUC Minas

Dificuldades na aprendizagem: desafio da escola

tuito de detectar ou não problemas de D.A.,


Resumo para oferecer aos alunos uma educação de
Este artigo discute as dificuldades de aprendizagem na qualidade e com subsídios que sirvam para
Revista Eletrônica - “O caso é o seguinte...” Coordenação Pedagógica: Coletânea de Estudos de Casos

leitura e na escrita no processo de alfabetização. Procura minimizar esses problemas de D.A. no pro-
refletir as perspectivas relacionadas ao desenvolvimento cesso de alfabetização.
do aluno em sua totalidade, visando os aspectos afetivo, Carlos 2 , atualmente com 10 anos de idade,
cognitivo e psicomotor. O interesse pelo tema merece a encontra-se matriculado na 4ª série do ensino
atenção, no sentido de resgatar o interesse, a motivação fundamental. Possui D.A. e comportamentos
dos alunos nas atividades escolares, utilizando todos os inadequados com relação aos demais cole-
recursos que se fizerem necessários. gas. Em alguns aspectos, demonstra norma-
lidade no processo de ensino-aprendizagem,

O
processo de alfabetização de crianças em outros, demonstra extrema D.A. Nesse
com dificuldades na aprendizagem sentido, Carlos vem demonstrando falta de
tem levado os educadores a refletir limites e de organização do pensamento, de-
sobre a prática pedagógica e por que os alu- sordens de atenção, problemas perceptivos
nos apresentam dificuldades no momento e dificuldades de memorização. Tão logo a
da alfabetização. Percebe-se que há falta de escola percebeu a D.A e a constatação dos
comprometimento da família e também da outros aspectos, escolheu na sua equipe
escola, o que resulta nas dificuldades apre- uma professora alfabetizadora adequada
sentadas pelos alunos em vários aspectos para a turma de Carlos, a fim de desenvolver
como: cognitivo, afetivo, social e familiar. atividades que atendessem à demanda do
Nesse sentido, as crianças, ao se defron- aluno, respeitando suas limitações, reabili-
tarem com a dificuldade de aprendizagem tando sua auto-estima a partir de uma ação
(DA), se vêem em uma situação de confli- sistemática focada no problema, propiciando
to, causando extremo desconforto, o que a ele melhor desenvolvimento.
leva o aluno a mudar seu comportamento, O papel do profissional da educação é im-
apresentando por várias vezes situações de prescindível e decisivo. O desenvolvimento
má conduta na sala de aula, no intuito de de cada aluno remete ao particular, ou seja,
mudar o foco de sua D.A. para a indiscipli- a criança depende da escola e de si mesma
na. Outras vezes essas situações levam a em suas inter-relações.
criança a se isolar, negando qualquer tipo De acordo com Teixeira (1978), o processo
de participação em sala de aula e o próprio de alfabetização não é suficiente para a com-
aluno se sente fracassado. preensão da leitura, como prioridade e para
A Escola Iluminar1, da rede pública, lo- ascensão de novos saberes. Para que alcan-
calizada na periferia de Belo Horizonte, ce o domínio da linguagem, o aluno precisa
demonstra-se aberta para atender as crian- aprender a ler com “eficiência”, para compre-
ças que apresentam D.A. Para tanto, no ato ender não apenas as palavras, mas maiores
da matrícula, a pedagoga faz a enturmação unidades de significação. Na aprendizagem
por pares de idade e, logo que as crianças infantil, é necessário estimular vários sabe-
começam a freqüentar a escola, é feito um res e novos significados.
diagnóstico em todas as turmas, com o in-
1. Nome fictício, para preservar a identidade da escola. 2. Nome fictício, para preservar a identidade do aluno.

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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 2, p. 1-204, ago./dez. 2008 - Semestral
Dificuldades na aprendizagem: desafio da escola Silvana Lúcia Gomide dos Santos

Promover a compreensão desses proble-


mas é ser capaz de ir além na dificuldade da
criança, é reconhecer as diferentes versões,
buscar explicações e propor hipóteses que
favoreçam o melhor conhecimento dos alu-
nos e dos professores na busca de adaptar a
realidade dos alunos aos desafios da escola.
Ferreiro (1992) afirma que, a partir da
pré-escola, a integração social da criança
ocorre com maior intensidade, pois passa
a ter outros contatos, fora do ambiente fa-
miliar, restrito a poucas pessoas e passa a
interagir com elas. Assim, a exploração do
mundo começa quando a criança é aguçada
por sua curiosidade. Por certo, na prática
pedagógica, são encontradas muitas bar-
reiras que o educador deve encarar, como

Revista Eletrônica - “O caso é o seguinte...” Coordenação Pedagógica: Coletânea de Estudos de Casos


a falta de participação das famílias na vida
escolar do aluno.
Em razão disso, faz-se necessária a mu-
dança das práticas pedagógicas, levando
em conta as necessidades de cada aluno em
particular e compreendendo que cada ser é
único. A aprendizagem do aluno não depen-
de só dele mesmo, mas do ajustamento que
lhe é proporcionado pelo professor, podendo,
assim, avançar em seu aprendizado e tam-
bém fará progressos por si mesmo, desde
que seja estimulado a ser um sujeito crítico
e autônomo.

Referências:
FERREIRO, Emília. Reflexões sobre alfabe-
tização. 2. ed. São Paulo: Cortez, 1992.

TEIXEIRA, Ondina. Psicologia do sucesso. v.


3, São Paulo: Egérica, 1978.

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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 2, p. 1-204, ago./dez. 2008 - Semestral
Artigo 45
Autora:
Thaiana Carolina Alves de Moraes Campos
Endereço eletrônico: Thaiana.moraes@hotmail.com
Graduanda em Pedagogia com Ênfase em Necessidades Educacionais Especiais pela PUC Minas

O fracasso escolar e o comportamento anti-social

ações anti-sociais que se repitam por um


Resumo período duradouro.
Este artigo aborda a relação entre dificuldades escolares e Abordaremos o caso de Pedro1, com de
Revista Eletrônica - “O caso é o seguinte...” Coordenação Pedagógica: Coletânea de Estudos de Casos

comportamentos anti-sociais que tanto se evidenciam em 10 anos, aluno de uma escola pública de
pesquisas. Hoje, a família representa um alicerce de toda um bairro de periferia. Vive em uma famí-
a estrutura da sociedade, as raízes morais e a segurança lia com baixos níveis de afeto, pouca coe-
das relações humanas. Abandonos familiares vinculados são e ausência de monitoramento de suas
ao fracasso escolar, na maioria das vezes, remetem ao atividades, pouco vínculo afetivo nas rela-
fracasso social. ções interpessoais, nível socioeconômico
reduzido, tem influência de colegas, que o

A
desestabilização econômica, a fragili- acabam desvirtuando. Considerado aluno-
zação de vínculos familiares, bem como problema por todos na escola, ele apresen-
mudanças nos valores e na estrutura ta comportamentos inadequados para um
das famílias, também são características da pré-adolescente de sua idade, além de baixo
sociedade atual. Além disso, constata-se um desempenho escolar. Ele desencadeia com-
grande aumento da criminalidade e da vio- portamentos anti-sociais, fugas repentinas
lência, o que cria em uma sociedade senti- por vários dias, sem que ao menos a família
mentos de insegurança. Evidenciamos esse se preocupe.
fato geralmente em famílias menos favore- Além da família, a escola é outra insti-
cidas, que utilizam seus recursos na busca tuição que tem importância no desenvolvi-
de sobrevivência, não dedicando o tempo mento de crianças e jovens, pois é o local
adequado de sua vida para educação, lazer onde se busca a integração social, a troca de
e cultura. Diante do panorama evidenciado, experiências, o aprendizado e a preparação
pretende-se relatar neste artigo a relação para o futuro. O colégio onde Pedro estuda
existente entre abandonos familiares vin- se deparou com várias situações alarmantes
culados ao fracasso escolar que remetem a a respeito de seu comportamento. O baixo
comportamentos anti-sociais. desempenho escolar, o comportamento ina-
Para abordamos o assunto, é preciso dequado dentro de sala e as faltas absurdas
conceituar comportamento anti-social, que no decorrer do semestre letivo fizeram com
é bem relatado por Kazdin e Buela-Casal que o aluno fosse encaminhado para o con-
(1998) que dizem que o comportamento anti- selho tutelar, em busca de uma solução para
social se refere a todo comportamento que o seu problema. Por várias vezes, Pedro foi
infringe regras sociais, ou que seja uma ação encontrado pela polícia, vagando e fazendo
contra os outros, como condutas agressivas, vandalismos pelas ruas. Como o aluno es-
furtos, vandalismo, piromania, mentira, au- tava de uniforme, na maioria das vezes foi
sência escolar e/ou fugas de casa. Mas, para deixado na escola, para que a família fosse
que esses comportamentos sejam conside- buscá-lo.
rados um transtorno de conduta, eles pre- Estudante da 4ª série, Pedro tem muita
cisam apresentar cronicidade e ocorrer em dificuldade na leitura e na escrita das pa-
alta intensidade ou magnitude, dependendo lavras. Considerado um dos mais fracos de
da natureza do comportamento. É essencial sua turma, outro problema que se evidencia
que o indivíduo apresente um conjunto de
1. Nome fictício, para preservar a identidade do aluno.

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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 2, p. 1-204, ago./dez. 2008 - Semestral
O fracasso escolar e o comportamento anti-social Thaiana Carolina Alves de Moraes Campos

em sua postura são as amizades inadequa-


das que, em sua maioria, são meninos en-
volvidos na marginalidade.
A escola já buscou várias formas de
ajudá-lo. A família foi contactada. Puni-
ções foram aplicadas pela escola, mas até o
momento nenhum resultado satisfatório foi
conseguido.
A escola, em seu processo educativo, deve
motivar experiências positivas de apren-
dizagem, pois se vive em uma sociedade
em constante transformação. Crianças e
adolescentes apresentam comportamentos
anti-sociais devido à baixa auto-estima
que, muitas vezes, resultam de experiên-
cias negativas. Patterson e colaboradores
(1992) apontam que, em meados do século

Revista Eletrônica - “O caso é o seguinte...” Coordenação Pedagógica: Coletânea de Estudos de Casos


XX, já se realizavam estudos mostrando a
conseqüência negativa de crianças serem
rotuladas como fracassadas. Diante disso, é
possível refletir que não é somente a baixa
auto-estima que causa baixo desempenho
escolar ou comportamento anti-social, mas
também o oposto, ou seja, o fracasso escolar
e social pode acarretar baixa auto-estima,
produzindo várias conseqüências para o
individuo.

Referências:
KAZDIN, A. E. e BUELA-CASAL, G. Conduta
anti-social. Madrid: Pirâmide, 1998.

PATTERSON, G.; REID, J. e DISHION, T. An-


tisocial boys. E.U.A.: Castalia Publishing
Company, 1992.

200
Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 2, p. 1-204, ago./dez. 2008 - Semestral
Artigo 46
Autora:
Vanessa Aparecida de Souza
Endereço eletrônico: vanessanot@hotmail.com
Graduanda em Pedagogia com Ênfase em Necessidades Educacionais Especiais pela PUC Minas

Educação Infantil: importância do olhar atento do professor

sistemática e atenta, bem como o registro do


Resumo desenvolvimento do aluno.
As crianças da educação infantil, ao ingressarem na es- O espaço escolar é um lugar privilegiado
Revista Eletrônica - “O caso é o seguinte...” Coordenação Pedagógica: Coletânea de Estudos de Casos

cola, se deparam com uma nova realidade, elas saem do por conseguir fazer com que a criança se
âmbito familiar para um meio social mais amplo, no qual sinta em liberdade, revelando seus sentimen-
ela aprenderá a se relacionar com outras pessoas. E é nes- tos, se relacionando com o outro. Quando a
sa fase que elas se desenvolvem e se reconhecem. A escola criança encontra aconchego e segurança,
assume um papel muito importante na vida do aluno. É ela confia e se entrega, deixando claras situ-
necessário que o professor e a escola de uma forma geral ações que. às vezes. passam despercebidas
estejam atentos à criança, para que não deixem aspectos pela família. Segundo Maria das Graças1,
importantes passarem despercebidos, como o caso de uma
criança que foi diagnosticada como surda e, na escola, se [...] Temos o espaço escolar como um ele-
percebeu que ela ouvia. A atenção e percepção da profes- mento curricular, estruturando oportu-
sora mudaram o rumo da história desse aluno, principal- nidades de aprendizagens por meio das
mente em seu aspecto educacional. interações possíveis entre crianças e obje-
tos e delas entre si. Assim considerando, o

O
presente artigo parte de um estudo espaço na educação infantil não é somente
de caso disponibilizado pela escola um local de trabalho, um elemento a mais
na qual realizei o estágio curricular no processo educativo, é, antes de tudo,
do curso de Pedagogia. Relata a história de um recurso, um instrumento, um parceiro
um aluno que ingressou na escola com o do professor na prática educativa. (Revista
diagnóstico de uma criança surda e, após Criança, jan. 2005).
poucos meses, foi percebido pela professora
que o aluno escutava. É sempre importante que a escola busque
A escola é uma instituição pública mu- uma relação de proximidade com a família,
nicipal que atende alunos da educação in- pois essa relação é indispensável no pro-
fantil, de 0 a 6 anos, situada na região do cesso de ensino e aprendizagem do aluno.
Barreiro, em Belo Horizonte. Através das trocas de experiência entre am-
O interesse pelo caso começou quando bas, podem-se descobrir particularidades do
uma criança de três anos chegou à escola aluno que, às vezes, são essenciais para a
com um diagnóstico de um Hospital concei- resolução de problemas.
tuado de Belo Horizonte, sendo considerada É de grande importância o olhar atento
como surda. do professor ao seu aluno, pois os momentos
A escola recebeu o aluno e, no decorrer em que as crianças estão inseridas na es-
das aulas, a professora começou a observar cola revelam muito sobre elas, e essa é uma
a criança. Como as aulas de educação infan- oportunidade muitas vezes única de uma
til envolvem muita música e brincadeiras, observação mais sistemática aos sinais que
a professora reparou que a criança olhava o aluno expressa. Segundo a publicação dos
e virava-se em direção ao sinal de alguns Parâmetros Nacionais de Qualidade para a
sons.
A professora comunicou à coordenação da 1. Maria das Graças Souza Horn é professora Adjunta
da Faculdade de Educação da UFRGS, atuando na área
escola e começou-se uma observação mais
de educação infantil.

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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 2, p. 1-204, ago./dez. 2008 - Semestral
Educação Infantil: importância do olhar atento do professor Vanessa Aparecida de Souza

Educação Infantil (2006), as crianças, antes to e a grande responsabilidade que tem em


mesmo de se expressarem pela linguagem suas mãos.
falada, se expressam pela linguagem corpo-
ral, gestual, musical, do faz de conta, entre
outras. E é nessas manifestações que é pos- Referências:
sível abstrair particularidades do desenvol-
vimento infantil. Pegando um gancho nesse BRASIL. Ministério da Educação. Secretária
sentido, a professora, a partir de suas ob- da Educação Básica. Parâmetros nacionais
servações juntamente com a coordenação da de qualidade para a educação infantil/Mi-
escola – vale ressaltar a grande importância nistério da Educação. Secretaria da Educa-
da colaboração e parceria da coordenação ção Básica – Brasília. DF. 2006, v. 1.
em seus quatro momentos: acompanhamen-
to, assistência, orientação e articulação aos FALCAO FILHO, José Leão M. Coordenador
docentes (FALCÃO FILHO, 2005) – começou pedagógico. Presença Pedagógica, v. 13, n.
a desenvolver um trabalho pedagógico com 75, maio/jun. 2007.
esse aluno, buscando obter mais indícios
concretos de que ele ouvia. Foram realiza- Revista Criança, disponível em: <http://por-

Revista Eletrônica - “O caso é o seguinte...” Coordenação Pedagógica: Coletânea de Estudos de Casos


dos diversos trabalhos direcionados para tal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/Educinf/
estimular a audição, a percepção, o corpo, o reccrian 38.pdf>.
equilíbrio, entre outras. O registro era uma
constante e um apoio importantíssimo para
demonstrar os avanços do aluno.
Após algumas semanas de trabalho, a co-
ordenadora convocou os pais do aluno, jun-
tamente com a professora, para uma reunião,
na qual foram colocadas as observações e o
trabalho realizado com o aluno. A professora
e a coordenadora chegaram ao entendimento
de que a criança ouvia, mesmo com dificul-
dades, e que não era totalmente surda. Elas
sugeriram que os pais procurassem ajuda
médica especializada para uma reavaliação
do diagnóstico. A escola fez um encaminha-
mento para o especialista. Os pais da crian-
ça procuraram o médico, no mesmo local em
que o aluno foi diagnosticado como surdo.
Estão realizando um trabalho com o aluno.
Realmente, constataram baixa audição e
não surdez totalmente. O aluno está fazendo
tratamento com fonoaudiólogo e estão verifi-
cando a possibilidade do uso de um aparelho
de audição.
O olhar atento, a observação e a perspi-
cácia da professora contribuíram para mu-
dar o rumo da vida desse aluno. É de suma
importância que a família e a escola este-
jam em sintonia constante, para trocarem
experiências.
O professor tem muito a contribuir na for-
mação de seus alunos. Ele deve estar atento,
ser amigo, companheiro, e conquistar a con-
fiança de seus alunos para poder intervir e
contribuir positivamente na vida deles.
O presente trabalho serve como exemplo
para despertar nos professores o olhar aten-

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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 2, p. 1-204, ago./dez. 2008 - Semestral
Artigo 47
Autora:
Vanessa Betônico de Oliveira

Graduanda em Pedagogia com Ênfase em Necessidades Educacionais Especiais pela PUC Minas

Abuso sexual cometido pelo pai

constatou que a menina realmente havia


Resumo sido vítima de abuso sexual/estupro. Dian-
O presente artigo relata o estudo de caso de uma aluna te da situação, o conselho retirou a guarda
Revista Eletrônica - “O caso é o seguinte...” Coordenação Pedagógica: Coletânea de Estudos de Casos

que vem sendo acompanhada por especialistas de educa- da menina dos pais e os encaminhou para
ção e de áreas específicas, como psiquiatria, psicopedago- tratamento psicológico, além de mover uma
gia, ginecologia, neurologia e clínica. A aluna em questão ação contra o pai da menor. Após algum tem-
possui hoje nove anos de idade e sofreu hipóxia peri-natal, po, a família entrou com o pedido da guarda
o que gerou deficiência mental leve. O que levou a fazer da menina, alegando que o abuso não fora
um estudo de caso da menina não foi a deficiência mental cometido pelo pai. Por falta de provas, a jus-
e sim o abuso sexual cometido contra ela pelo pai. tiça concedeu a guarda. No entanto, nada
mudou. Mesmo respondendo processo por

O
caso escolhido como objeto de estudo estupro, o pai deu seqüência a seu abuso e
foi de uma criança de nove anos, Gi- ainda ameaçou tirar a menina da escola, o
sele1, aluna de uma escola inclusiva que não intimidou os gestores da escola em
da rede municipal de ensino. realizar mais uma denúncia. Dessa vez foi
A descoberta do abuso se deu através de mais complicado, porque a justiça solicitou
relatos da própria aluna, que contava com um exame de espermograma que comprovou
muita naturalidade o que acontecia entre o o sêmen do pai, que ficou preso por algum
pai e ela quando a mãe saía para trabalhar. tempo. Gisele passou a morar apenas com
No princípio, os especialistas em educa- a mãe, que jurou não aceitar o marido de
ção e os professores acharam que era ima- volta. Mas, quando ele saiu da cadeia, com
ginação da menina, por ter visto os pais em a ajuda de alguns conhecidos da justiça,
ato sexual. Após algum tempo, a aluna ga- voltou a morar com a mulher e Gisele nova-
nhou uma monitora para acompanhar seu mente sofreu abuso.
percurso escolar e foi aí que a coisa mudou Isso aconteceu durante quatro anos e
de figura. Estudante de psicologia, a moni- durante esse tempo o pai de Gisele sempre
tora percebeu que a menina contava muitos arrumava alguém para livrá-lo de sua res-
detalhes do que vinha lhe acontecendo e ponsabilidade diante da justiça.
pediu que a coordenação tomasse alguma Ao conversar com a garota, fica clara a
providência. Foi então que a escola começou importância e a necessidade de interromper
a investigar a família da garota e, por meio esse ciclo vicioso que é o abuso sexual.
de conversas informais, descobriu que sua Em julho de 2008, a escola fez mais uma
mãe era esquizofrênica, teve depressão pós- denúncia que não deu em nada.
parto e trabalhava como diarista, deixando Apesar dos acompanhamentos psicope-
Gisele sob os cuidados do pai na maior parte dagógico e neurológico, é visível que o que
do dia. acontece com a aluna está prejudicando
Após a constatação de que Gisele poderia cada dia mais o seu desenvolvimento cogni-
realmente estar sofrendo abuso sexual pelo tivo. Ela não utiliza nenhum medicamento
pai, a escola fez a primeira denúncia ao Con- e os médicos fazem questão de deixar claro
selho Tutelar que, após investigar e solicitar que o remédio da garota é ficar distante dos
exames e testes psicológicos e ginecológicos, pais. Mas tão grande é a inocência da meni-
1. Nome fictício, para preservar a identidade da aluna.

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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 2, p. 1-204, ago./dez. 2008 - Semestral
Abuso sexual cometido pelo pai Vanessa Betônico de Oliveira

na e a insanidade da mãe, que não percebem


o mal cometido pelo pai da garota.
Os familiares não se envolvem; os moti-
vos, esses ninguém conhece.
Resta agora a justiça intervir e fazer jus
ao seu nome.
• Foram sugeridas as seguintes intervenções:
• Tomada da guarda da criança pelo Conselho
Tutelar;
• Encaminhamento da menor para institui-
ções e tratamento;
• Orientações aos familiares dos riscos que
correm sendo coniventes com a situação ou
ignorando-a;
• Encaminhamento da mãe para tratamento
mais especializado;

Revista Eletrônica - “O caso é o seguinte...” Coordenação Pedagógica: Coletânea de Estudos de Casos


Justiça em favor da garota.
Através da coleta de dados e do relato fei-
to, ficam nítidas a seriedade e gravidade de
uma situação como essa. A escola não pode
interferir de forma efetiva, mas é preciso que
alguém seja justo e honesto no julgamento
dessa causa.
Abuso sexual de qualquer natureza é cri-
me previsto em lei.

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Coord. Ped., Belo Horizonte, v. 1, n. 2, p. 1-204, ago./dez. 2008 - Semestral
Formatação do Documento:

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Capa Autor Bookman Old Style 14 0 0 0 Esq.
Capa Editora Bookman Old Style 16 0 0 0 Dir.
Capa Outros (Apre. Ed. Agr. Ded.) Bookman Old Style 14 0 0 0 Just.
Pré-textual Folha de rosto Bookman Old Style 21 0 0 0 Cent.
Esq./
Pré-textual Ficha formatação Bookman Old Style 10 0 0 0
Cent.
Pré-textual Resumo Título Californian FB 15 0 0 0 Just.
Pré-textual Resumo Texto Bookman Old Style 15 0 0 0 Just.
Textia; Texto Titulo Californian FB 19 0 0 0 Cent.
Textual Texto Capitular Bookman Old Style 4c 0 0 5 Just.
Textual Texto Parágrafo Bookman Old Style 10 0 0 5 Just.
Textual Texto em Itálico Bookman Old Style 10 0 0 5 Just.
Textual Número da página Day Roman 8 0 0 0 Esq./Dir.
Textual Cabeçalho Autor Berlin Sans FB 9 0 0 0 Esq./Dir.
Textual Cabeçalho Obra Berlin Sans FB 9 0 0 0 Esq./Dir.

* Foram adicionados ao documento a formatação: hifenização, opções de separação, alinhamento à grade de linha de base e
em algumas colunas foram justificados todas as linhas.

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Tamanho da página: A5
Dimensões do papel: 209,903 mm x 297,039 mm
Orientação: Vertical

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