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Área de Competências-Chave
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Tema 4: Mobilidades Locais e Globais
entre países diferentes, neste caso designando-se por emigração o movimento de saída da população e
Como vimos, existe uma pluralidade de padrões culturais que variam no tempo e no espaço. Deste modo,
muitas vezes, os padrões de outros grupos ou
sociedades podem parecer-nos e estranhos. Por
exemplo, quando vemos filmes na televisão sobre
outras sociedades, começamos por achar
incompreensível a língua que falam, mas também
podemos encontrar aspetos da vida quotidiana,
hábitos alimentares e formas de vestir
completamente diferentes dos da sociedade
portuguesa - multiculturalismo das sociedades
atuais. Disponível na Internet: http://www.ultimosacontecimentos.com.br/ultimas-
noticias/a-islamizacao-da-europa-sera-algo-irreversivel.html
A situação torna-se mais difícil quando entramos
em contacto direto com outras culturas, podendo, muitas vezes, produzir-se choques culturais, quando os
valores das “outras” culturas são muito diferentes dos nossos padrões culturais. Estes choques culturais
resultam do facto de termos tendência para julgar os padrões das outras culturas com base nos da nossa,
levando-nos a não aceitar ou a aceitar dificilmente esses padrões diferentes dos nossos. Por exemplo, a
existência de monogamia nas sociedades ocidentais, pode levar à rejeição de outros tipos de comportamento
poligâmico caraterísticos de outras culturas,
como a muçulmana.
Ora, o etnocentrismo cultural consiste
precisamente em não julgar negativamente
as outras culturas tomando como padrão os
nossos modelos culturais. Quando assumem
esta conduta, os indivíduos estão a
sobrevalorizar a sua cultura, considerando
inferior a dos outros.
Nas sociedades atuais, onde a
Emigrantes tentam chegar à Europa, de barco, 2014 diversidade cultural é muito grande, o
Disponível na Internet: etnocentrismo cultural tem dado origem a
http://www.bbc.com/portuguese/noticias/2015/04/150419_tragedia_mediterraneo_ue_rm
fenómenos exacerbados de rejeição social,
como racismo (forma de preconceito e de
segregação social baseada em diferenças raciais ou étnicas e a xenofobia (aversão e discriminação de
estrangeiros).
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Após essa data, o processo de descolonização aumentou os fluxos imigratórios dos novos países africanos
lusófonos em direção a Portugal, o que
fez com que a população imigrante
passasse a ser constituída
maioritariamente por cidadãos das ex-
colónias portuguesas.
Na década de 80, o ritmo de
crescimento da população estrangeira
abrandou, passando a predominar os
cidadãos brasileiros, mas mantendo-se
um elevado fluxo de imigrantes
originários de Cabo Verde. Manifestação de emigrantes, Lisboa, 2008
Disponível na Internet: http://www.esquerda.net/content/manifesta%C3%A7%C3%A3o-contra-
Em 1986, Portugal aderiu à xenofobia-juntou-dois-mil-imigrantes
Comunidade Europeia, e os reflexos
dessa adesão são visíveis na economia portuguesa, pois, durante o período que vai desde 1986 até 1991, a
economia portuguesa obteve resultados globais francamente positivos.
Estas transformações económicas tiveram reflexos nos perfis da população imigrante, já que, a par da
entrada de mão de obra pouco qualificada composta essencialmente por imigrantes africanos, também
entraram imigrantes, nacionais de países europeus e brasileiros, altamente qualificados.
Durante a década de 90, o fluxo imigratório tornou a acelerar, constatando-se um novo fenómeno, o da
entrada de imigrantes nacionais de países com os quais Portugal não tinha mantido “laços económicos ou
históricos privilegiados”, como, por exemplo, os países do Leste e do Centro da Europa.
Este aumento de influxo poderá ser explicado, em parte, pelo facto de os portugueses terem optado por
emigrar, deixando “lugares vagos para os imigrantes”, e pelos processos de legalizações extraordinários que
ocorreram durante a década de 90 (1992 e 1996).
Também se alteraram alguns padrões de inserção dos imigrantes no mercado de trabalho, tendo-se
reduzido o número de profissionais qualificados e aumentado o emprego na construção civil e obras públicas
(trabalhadores não qualificados), bem como o emprego nos serviços pessoais e domésticos.
Entre 1999 e 2001, os fluxos imigratórios disparam, essencialmente, os de nacionais dos países do Leste
europeu. O facto de Portugal integrar a União Europeia e o espaço de Schengen poderá ter tido influência
neste aumento do fluxo imigratório. Mas esse crescimento também se deveu às motivações económicas
(diferenças de salários e de nível de vida), à existência de redes fortemente organizadas na Europa de Leste de
angariação de emigrantes (máfias) e à promulgação do Decreto n.º 4 de 2001, que permitia a regularização
dos imigrantes, desde
que tivessem um
contrato de trabalho.
No início do século
XXI, sobrepondo-se à
imigração africana, os
fluxos com origem nos
In Monitorizar a Integração de Imigrantes em Portugal de Catarina Oliveira Reis Disponível
países da Europa de Leste na Internet:
contribuíram para o http://www.oi.acidi.gov.pt/docs/Col_ImigNumeros/Monitorizar%20a%20Integracao%20de%20Imigrantes%20em%20
Portugal.pdf
crescimento da
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população estrangeira total a residir em
Portugal.
A partir de 2003, o mercado de
trabalho português perdeu capacidade
de atração de mão de obra estrangeira.
O Ritmo de crescimento do número de
cidadãos estrangeiros diminuiu,
passando a dever-se essencialmente
aos processos de reagrupamento
familiar e não tanto às migrações por
motivos económicos.
A contração da economia
portuguesa a partir de 2008/2009 leva a
uma diminuição da população In Monitorizar a Integração de Imigrantes em Portugal de Catarina Oliveira Reis
estrangeira em Portugal partir de 2010. Essa Disponível na Internet:
http://www.oi.acidi.gov.pt/docs/Col_ImigNumeros/Monitorizar%20a%20Integracao%20de%20Im
diminuição também re sultou da aquisição igrantes%20em%20Portugal.pdf
da nacionalidade portuguesa por um número crescente de cidadãos que preenchem os requisitos necessários
exigidos na Lei Orgânica n.º 2/2006 de 17 de abril.
Em 2013, de acordo com o Relatório de Imigração, Fronteiras e Asilo de 2013 do SEF, “consolidou-se a
tendência de decréscimo do número de estrangeiros residentes em Portugal”. Em termos de continentes, a
Europa, a partir do ano de 2001, adquiriu primazia nos contingentes de estrangeiros com presença
documentada em Portugal (40,7% do total), muito devido à presença dos cidadãos dos países de Leste, com
particular destaque para a Ucrânia, ultrapassando a África, que durante várias décadas permaneceu como a
origem geográfica mais relevante devido aos cidadãos dos PALOP.
Por países, em 2013, manteve-se estrutura das nacionalidades mais representativas: o Brasil era o país com
a maior comunidade residente em Portugal, seguido de Cabo Verde e da Ucrânia.
O grande decréscimo dos imigrantes brasileiros pode ser explicado pela aquisição da nacionalidade
portuguesa, pela alteração dos fluxos migratórios e pelo impacto da atual crise económica no mercado laboral.
O Relatório do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras também destaca o facto de, em 2013, a China ter
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passado a ser a sexta nacionalidade mais relevante, com um crescimento de 6,8%, suplantando a Guiné-
Bissau, que cresceu 0,5%. Das nacionalidades mais representativas, a chinesa e a guineense (Bissau) foram as
únicas que registaram um aumento do número de residentes.
Na sociedade portuguesa, existe, assim,
uma grande diversidade étnica e cultural,
mais evidente em algumas zonas, mas
estendendo-se a todo o país.
Com efeito, mais de metade da
população estrangeira residente em
Portugal está concentrada na região de Lis-
boa (51,6%). Esta elevada concentração de
imigrantes na Área Metropolitana de Lisboa
resulta em grande parte das primeiras
vagas de imigração africana. As vagas
imigratórias mais recentes apresentam
padrões de maior dispersão geográfica no
In Monitorizar a Integração de Imigrantes em Portugal de Catarina Oliveira Reis
território português, nomeadamente a Disponível na Internet:
http://www.oi.acidi.gov.pt/docs/Col_ImigNumeros/Monitorizar%20a%20Integracao%20de%20I
imigração de Leste, que se espalhou por todo migrantes%20em%20Portugal.pdf
o país.
Esta diversidade étnica e cultural manifesta-se de várias formas. Por exemplo, nas zonas urbanas, podemos
encontrar estabelecimentos de comércio étnico onde se vendem produtos alimentares e especiarias
tradicionais dos países de origem dos imigrantes, observar
uma grande variedade de formas de vestuário,
experimentar comidas tradicionais de diferentes regiões do
mundo, ouvir falar nas ruas línguas que desconhecemos e
uma grande variedade da música e podemos, ainda, ver
outras formas de expressão artística e cultural.
Neste sentido, esta diversidade pode ser considerada
um fator enriquecedor pelo facto de estar associada a
novas formas de encarar a realidade e a novos elementos
Estudantes chineses numa escola portuguesa culturais, como no caso da música, da gastronomia ou
Disponível na Internet:
http://www.oi.acidi.gov.pt/docs/Col_ImigNumeros/Monitorizar%20a mesmo da maneira de vestir.
%http://noticias.sapo.pt/nacional/artigo/chineses-tem-estatuto-de-
estranh_2311.html
Esse multiculturalismo também é visível nas escolas
portuguesas, pois a maior parte delas é frequentada por
alunos estrangeiros, ou seja, atualmente, na escola, coexistem grupos culturalmente heterogéneos.
Em linhas gerais, a população estrangeira com residência em Portugal apresenta as caraterísticas de uma
mão de obra pouco qualificada, apesar de um grupo de imigrantes, mais reduzido, desenvolver atividades
socialmente valorizadas (como médicos, dentistas, cuidados de saúde, marketing, design e outras).
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A integração de algumas nacionalidades, nomeadamente os imigrantes oriundos dos PALOP, é, em larga
medida, efetuada na economia subterrânea, ou seja, no setor informal - atividades não regulamentadas pelo
Estado, predominantemente nos setores da construção civil e das obras públicas.
O INE, na Revista de Estudos Demográficos, n.º 53, de 2014, apresenta a seguinte caraterização sociode-
mográfica da população imigrante em Portugal:
. Os estrangeiros residentes em Portugal eram maioritariamente mulheres.
. A idade média da população estrangeira era de 34,2 anos.
. O estado civil solteiro (cerca de 53%) predominava na população estrangeira.
. Verificava-se uma maior informalidade nas uniões conjugais desse grupo populacional relativamente à
população portuguesa.
. Os níveis de escolaridade da população em idade ativa (dos 15 aos 64 anos), recenseada em 2011, eram, de
modo geral, mais elevados na população de nacionalidade estrangeira comparativamente com a população
portuguesa.
. Mais de 60% da população estrangeira era economicamente ativa.
. O trabalho constituía a sua principal fonte de rendimento, e trabalhador da limpeza era a sua principal
profissão. Restauração, construção e comércio a retalho
eram as atividades económicas que empregavam mais
estrangeiros.
. A religião católica foi a mais assumida pelos
estrangeiros residentes.
No essencial, o texto apresentado foi retirado de: Andrade, Anabela; Moinhos, Rosa (sd) Sociologia 12.º ano. Lisboa:
Plátano Editora (adaptado)
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Ei-los Que Partem
Tens em troca órfãos e órfãs Em vida vive-se a morte
Ei-los que partem e campos de solidão Se o trabalho não dá fruto
Novos e velhos e mães que não têm filhos Morre-se em cada minuto
Buscando a sorte filhos que não têm pais. Se o fruto nunca se alcança
Noutras paragens Porque lhe foi dura a sorte
Noutras aragens Corações que tens e sofrem Vai para terras de França
Entre outros povos longas horas mortais
Ei-los que partem viúvas de vivos-mortos Não julguem que vai contente
Velhos e novos que ninguém consolará Leva nos olhos o verde
Dos campos onde se perde
Ei-los que partem De Rosalia de Castro Gente que tudo lhe deu
De olhos molhados Tradução de José Nisa Parte mas fica presente
Coração triste Em tudo o que não colheu
E a saca às costas Para ouvir no You Tube cantada
Esperança em riste por Adriano Correia de Oliveira Verde campo verde e triste
Sonhos dourados carregar aqui. Em ti ceifou e hoje foi-se
Ei-los que partem Em ti ceifou mas a foice
De olhos molhados Ceifava somente esperança
Nem sempre um homem resiste
Virão um dia Trova do Emigrante Vai para terras de frança
Ricos ou não
Contando histórias Parte de noite e não olha Vai-se um homem vai com ele
De lá de longe Os campos que vai deixar A marca de uma raiz
Onde o suor Todo por dentro a abanar Vai com ele a cicatriz
Se fez em pão Como a terra em Agadir De um lugar que está vazio
Virão um dia Folha a folha se desfolha Leva gravada na pele
Ou não Seu coração ao partir Um aldeia um campo um rio
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A Emigração na Literatura Portuguesa
Desde os século XV que o tema da emigração é uma constante na literatura portuguesa. As suas grandes
questões, percorrem de forma diversificada e profunda obras como a "Peregrinação" de Fernão Mendes Pinto,
"Emigrantes" ou "A Selva" de Ferreira de Castro, para já não falar de romances recentes como "Gente Feliz
com Lágrimas" de João de Melo.
Associada a esta temática, o exílio originou igualmente páginas incontornáveis da literatura a portuguesa.
Durante séculos, devido a perseguições religiosas ou políticas, ou motivado por "exílios voluntários", este
abordado por escritores que o sentiram na pele, como Filinto Elísio, Almeida Garrett, Alexandre Herculano,
António Feijó, António Nobre, Manuel Teixeira Gomes, Aquilino Ribeiro, Jaime Cortesão, José Rodrigues
Miguéis, Jorge Sena entre outros.
Ler estes textos é não apenas acompanhar uma das dimensões mais impressionantes da História de
Portugal, mas sobretudo compreender melhor os dramas vividos por milhões e milhões de pessoas em todo o
mundo.
India
O Estado da India, isto é, a vasta região entre o Cabo da Boa Esperança (África do Sul) e o Japão foram nos
séculos XVI e XVII, a terra prometida para todos os aventureiros e emigrantes portugueses.
Fernão Mendes Pinto (-1583) é um daqueles escritores incontornáveis da literatura sobre emigração. A
"Peregrinação" não é apenas o contraponto de "Os Lusíadas" de Camões, é também a história de um
português que ainda criança, para fugir à miséria, se vê obrigado a deixar a terra onde nasceu (Montemor-o-
Velho). O que a partir daí se passa é o relato da vida de um emigrante, de terra em terra pelos mares do
Oriente em busca de um pecúlio que lhe permita viver com dignidade e que não consegue amealhar no seu
país. Todas as grandes temas da literatura sobre a emigração estão já aqui presentes, como a saudade, o
desconhecido, o confronto entre culturas, a cobiça, o infortúnio, a escravatura, a desagregação dos laços
afectivos até à desumanização, mas onde ressurge sempre a esperança num regresso sempre adiado e a
solidariedade entre compatriotas, marcado pelas suas contínuas traições motivadas pela cobiça ou a
sobrevivência a qualquer custo.
Diogo Couto, em "Soldado Prático" denuncia pela primeira vez na História a exploração dos emigrantes pelo
respectivo Estado. Desde ao rei, passando pelos altos funcionários e terminando no vendedor de promessas
de longínquos Eldorados, eram muitos os que ganhavam com aqueles que partiam para o Estado da Índia.
Após regressarem à pátria, os emigrantes constatavam então que lhes era negado aquilo a que tinham direito
pelos trabalhos e perigos passados. As promessas e compromissos assumidos aquando da partida, haviam sido
rapidamente esquecidos. Um forte sistema burocrático estatal suportava esta "roubalheira" dos emigrantes,
levando-os a desistirem dos seus direitos. Nos nossos dias, um grande número de Estados continua a viver da
"roubalheira" dos seus emigrantes, nomeadamente das suas remessas.
Brasil
O Brasil, em meados do século XVII, tornou-se na nova terra prometida para milhões de portugueses. Enormes
vagas todos os anos travessam o Atlântico embrenham-se depois pelos sertões em busca do "Ouro" que tanto
lhe acenavam. Ninguém ficou indiferente a esta corrida. Na gira popular, mas também na literatura emerge a
figura do "mineiro", numa alusão aos que se dirigiam para a Capitania de Minas Gerais. O "mineiro" é todavia
o português que foi e que retorna a Portugal velho, rico, mas com a mesma estupidez e brutalidade como
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partiu. Aqui julga que o dinheiro tudo compra e todos pode submeter. A nobreza, mas também a burguesia,
solidamente instalada, não o suportam. A ostentação do "mineiro" - os novos-ricos - é posta a ridículo.
António José da Silva, o Judeu 1705-1739), aborda a questão da emigração em duas das suas peças. Numa que
lhe é atribuída - "Obras do Diabinho da Mão Furada"-, traça-nos a figura de um soldado português que no
tempo dos Filipes, regressa à pátria tão pobre como partiu, mas agora "afligido e maltado pela guerra". Em
"Guerras de Alecrim e Manjerona", uma das suas personagens - D. Lançarote -um "mineiro velho" e rico,
torna-se no objecto de escárnio.
Correia Garção (1724-1772), numa das suas odes, escarnece do "mineiro" que depois de sofridos trabalhos no
Brasil, vêm para Portugal exibir-se sem perceber todavia que "com ouro não se compra um nome digno/da
póstuma memória"
Filinto Elísio (1734-1819), em versos mordazes, zurze no pobre de um "pedreiro de Samardã" que volta rico do
Brasil, mas tão lorpa como era.
Após a Independência do Brasil (1822), o "mineiro" não tarda a ser substituído pelo "brasileiro". Camilo
Castelo Branco transforma o "brasileiro" numa "indústria" que alimenta muitos dos seus romances. O
"brasileiro" é dissecado em todos os seus aspectos negativos: novo-riquismo, analfabetismo, estupidez, mau
gosto, brutalidade, imoralidade, cobiça, etc. Eça de Queiroz não deixa de reconhecer quando os escritores
ridicularizam o "brasileiro" estão, no fundo, a troçar de si próprios.
Camilo Castelo Branco, que ao longo da sua vida se cruzou com muitos brasileiros, e teve-os como seus
grandes admiradores (o Imperador D. Pedro II do Brasil, por exemplo), elege o "brasileiro" de torna-viagem
num dos seus alvos privilegiados. A primeira obra em que troça desta personagem foi numa peça de teatro -
"Poesia ou Dinheiro" (1855) -, a partir daqui sucederam-se os romances onde o "brasileiro", onde este é
implacavelmente caricaturado: O que fazem as mulheres (1858); Anos de Prosa (1863); Os Brilhantes do
Brasileiro; Novelas do Minho; Eusébio Macário; Corja; A Brasileira de Prazins; Vingança (1858); Serões de S.
Miguel de Seide (1885); Estrelas Propícias; O Esqueleto, etc..
Camilo, tentou explorar literariamente ainda outra personagem - o "africano" - , o degradado ou emigrante
que, por uma razão ou outra, fora para África. Os que voltavam, segundo Camilo, trazem as mãos manchadas
de sangue dos "pretos" que exploraram até à morte. Foi diminuto o sucesso desta personagem.
Júlio Dinis (1839-1871), na seu célebre romance "A Morgadinha dos Canaviais", não deixa de zurzir também
num "brasileiro" (Eusébio Seabra).
Luis de Magalhães (1859-1939), em "O Brasileiro Soares", prefaciado por Eça de Queiróz, não perde pitada
para desancar no omnipresente "brasileiro".
Os exemplos multiplicam-se ao longo do século XIX, no romance, teatro ou na poesia. A caricatura de Camilo é
quase sempre o modelo mais seguido.
Outros escritores, procuram ultrapassar esta caricatura, e descrevem-nos o lado negro da emigração no Brasil.
O "brasileiro" torna-se parte de um drama vivido por milhões de portugueses que um dia partiram à procura
de melhorar as suas vidas em mundos distantes, e o que encontraram foi a miséria, a exploração desenfreada
e o racismo.
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Tomás Quintino Antunes, vivendo a própria experiência da emigração, escreve "Ódio de Raça (1860)
Francisco Gomes de Amorim (1827-1891), emigrante desde os 10 anos de idade nos sertões da amazónia,
reflecte nas suas peças teatrais o drama da própria emigração, onde denuncia a exploração e o tráfico que são
vítimas: "Aleijões Sociais" (1870) e "O Cedro Vermelho". A sua escrita, desafia as convenções do tempo,
antecipando a própria modernidade.
Fialho de Almeida (1857-1911), na sua escrita muito desigual, aborda por diversas vezes a questão da
emigração para o Brasil. Em "O Filho", por exemplo, uma mãe suicida-se quando sabe que o filho morreu no
regresso. Tanto esforço para nada. Em "Lisboa Galante" (1890), descreve a ganância das famílias dos
emigrantes para se apossarem do que estes amealharam no estrangeiro.
No final do século XIX, o "brasileiro " já tinha sido substituído pelo "emigrante", uma personagem que vive um
drama comum a muitos milhões de pessoas em todo o mundo.
Emigrantes no Mundo
No século XX, os escritores portugueses tomam verdadeiramente consciência que Portugal tem emigrantes
espalhados por todo o mundo. O Brasil continua ser a terra de eleição, mas também os há em grande
quantidade nos Estados Unidos e em muitos outros países. O tema da diáspora, ensaiado por Fernão Mendes
Pinto, volta agora a ser retomado. Estamos agora perante uma literatura que soube captar um fenómeno
universal, vivido por todos aqueles que um dia tiveram que deixar as suas terras em busca de melhores
condições de vida. Alguns destes romances sobre emigração, como os de Ferreira de Castro, obtém uma larga
difusão internacional.
Trindade Coelho (1861-1908), em "Ultima Dádiva" narra a brutal separação entre os que ficam e os que
partem. O Brasil é ainda o cenário de fundo.
Ferreira de Castro. Vivendo desde criança o drama da emigração no Brasil, soube numa escrita realista traduzi-
la em duas magnificas obras: Emigrantes (1928) e A Selva (1930).
Joaquim Paço d`Arcos (1908-1979), centrando no também no Brasil, escreve a sua melhor obra: "Diário dum
Emigrante" (1936)
Aquilo Ribeiro. Vivendo a experiência do exílio, em "Mina de Diamantes (in, O Malhadinhas, 1958), retoma
estafada figura do "brasileiro".
José Rodrigues Miguéis, em "Gente da Terceira Classe" (1962), faz um dos mais notáveis retratos da "condição
do emigrante", a partir da história de emigrantes portugueses, nomeadamente nos Estados Unidos da
América, onde se exilou. No romance "Uma Aventura Intrigante" (1958), constrói uma trama policial a partir
do relato de um emigrante português na Bélgica.
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Miguel Torga. Outro emigrante no Brasil, deixou-nos duas obras onde abras onde abora a questão da
emigração: Criação do Mundo e O Senhor Aventura
Florêncio Terra (1859-1941), em "Contos e Narrativas", introduz o olhar açoriano sobre o fenómeno da
emigração.
Herberto Helder (1929-), num belo texto - Os Passos Em Volta (1963)- entrelaça as vidas de um poeta-
emigrante na Holanda e Bélgica.
Alguns escritores portugueses, uma das coisas mais fascinantes nos legaram sobre o fenómeno da
emigração foi a sua própria vivência nessa condição, como é o caso de Camilo Pessanha (Macau) ou Venceslau
de Moraes (Japão). A vida destes emigrantes mostra a dificuldade de escolha que a partir de certa altura passa
a existir, entre a cultura materna e a da terra de acolhimento. Ambos, embora profundamente ligados a
Portugal, decidem todavia morrer na terra que os recebeu.
Francisco Assis Pacheco (1937-1995), no romance "Trabalhos e Paixões de Benito Prada. Galego da Província
de Ourense que veio a Portugal ganhar a Vida (1993), analisa a dupla faceta do emigrante/imigrante a partir
uma família de galegos que anda entre um lado e outro da fronteira.
É longa a listagem de escritores portugueses que abordam a emigração, em prosa ou em verso. Nas suas
obras espelha-se a complexidade deste fenómeno atingiu milhões de pessoas em Portugal. Esta literatura
constitui hoje, não apenas um património nacional, mas também universal pela profundidade e qualidade
estética que atingiu.
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