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l 2009 l ano xv, nº 56 l 57-62 integração 57

A linguagem secreta do clown


ana elvira wuo*

Resumo l O presente artigo tece reflexões sobre a iniciação à técnica de clown como uma linguagem
secreta que transgride, com a arte e o riso, os valores pessoais e como treinamento do ator.
Palavras-chave l Iniciação. Clown. Teatro. Linguagem

Title l The Clown’s Secret Language


Abstract l This article discusses a few considerations on the clown’s technical initiation as a secret language
going beyond – through art and laughter – personal values, as well as a form of
training for the actor.
Keywords l Initiation. Clown. Theater. Language

1. transgredir com arte margem do rio, virando o outro lado da moeda,


encontrando o coração corajoso e forte daqueles
Descobrir e compreender o clown1 como um artis- que dedicam suas vidas a criar personagens cômi-
ta que existe em cada pessoa e emprestar-lhe vida cos, que, desde os primórdios, têm como objetivo
é um ato de persistência, desprendimento e muita inverter a ordem pré-estabelecida, construindo
coragem, pois o clown mostra que, além de outras uma “capacidade de parodiar” e de rir das situa-
condições humanas, existe uma que o ser humano ções humanas. Larrosa (2001, p. 178) nos diz:
evita revelar, a do “fracasso”. As pessoas adoram
rir do fracasso do outro, como já dizia o filósofo “Os personagens cômicos são seres que não estão
Bergson (1983). implicados, que não entendem, que não parti-
Construir o aprendizado da capacidade cômica cipam, que estão sempre por fora, a uma certa
exige da pessoa o rompimento de um conheci- distância do que acontece. Mas são capazes,
mento cristalizado, solidificado na inteligência, na sobretudo o pícaro, de tudo parodiar, de ocupar
esperteza, no sucesso, mostrando um outro ponto qualquer palavra direta, de reproduzir parodi-
de vista social, estético e cultural ao avesso, trans- camente, quando faz falta qualquer tipo de pa-
gredindo, com arte, valores pré-estabelecidos pela tetismo [...] O idiota simplório, esse bobo de que
sociedade (Ostetto; Leite, 2004, p. 11): a área todos se riem e que não é tão tolo quanto pare-
artística “tem a transgressão como mola propul- ce, isola e distancia a convencionalidade da
sora de sua construção”. linguagem elevada, simplesmente não a enten-
Transgredir é burlar o conhecimento como dendo, ou entendendo ao contrário, mas provo-
forma de encontrar-se a si mesmo como um ser cando sempre distância entre a linguagem e a
risível, como possibilidade, na arte clownesca, da situação comunicativa [...] desnaturaliza as
renovação cômica do conhecimento, sem limites linguagens elevadas ao invertê-las”.
atravessando o outro lado do espelho, a outra
Assim, o riso provocado na plateia pelo clown
mostra a realidade olhando de outro ponto de
Data de recebimento: 11/09/2008.
vista. Esta seria a função do desmascaramento do
Data de aceitação: 25/11/2008. convencionalismo: desenha-o com apenas um traço
* Atriz, clown, diretora, bacharel em Artes Cênicas, mestre e
doutora em Educação Física pela Unicamp, docente dos cursos de
e o põe a distância. O riso questiona os hábitos e os
Pedagogia e Educação Física da Faculdade Metrocamp (Campinas) lugares comuns da linguagem. Em qualquer época,
e de Artes Cênicas da Faculdade de Lacce-USJT, faz pós-doutorado
no IEL-Unicamp de onde também é professora credenciada.
em qualquer lugar, Larrosa (2001) explica que o
E-mail: wuo.ana@gmail.com riso transporta a suspeita de que toda linguagem
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direta é falsa, de que toda vestimenta, até mesmo mais importantes para o ator, quando sobe ao
toda pele, é máscara, e somente com o riso é que palco usando um pequeno nariz vermelho, é que
podemos, como disse Bakhtin (1987, p. 57), “ter seu rosto deverá estar aberto inteiramente, sem
acesso a certos aspectos extremamente importan- defesa, e esperar a reação do público: “Ele pensa
tes do mundo”. que será recebido com simpatia pela plateia (mun-
do) e é surpreendido pelo silêncio, quando estava
2. o clown no teatro: convencido de que era uma pessoa muito impor-
contribuições ao treinamento do tante”. Isso gerou uma outra questão para Lecoq
ator (2001): qual a reação do clown perante o silêncio?
O clown, que é supersensível aos outros, reage a
Os cursos de clown do teatro com registro na lite- tudo o que acontece com ele no silêncio: “A rea-
ratura da história teatral começam a partir da ção pode variar entre um sorriso simpático e uma
década de 60, na França, na Escola de Jacques expressão de tristeza, mas, acima de tudo, deve
Lecoq, na qual, num determinado momento do ser verdadeira”, responde Lecoq (2001).
aprendizado na escola, os alunos/atores passam Nesse primeiro contato com o público, o pro-
por um estágio específico para descobrir seu pró- fessor de teatro deve prestar atenção no ator para
prio clown. A técnica de clown foi desenvolvida ver se ele precede suas intenções. Lecoq (2001)
como um elemento e uma técnica auxiliar ao tra- explica que o ator deve estar sempre num estado
balho do ator (Wuo, 2005). de reação e surpresa,
No desenvolvimento dessas questões, Lecoq
(2001, p. 146) inclui em sua escola um estágio “sem deixar que sua performance seja delibera-
sobre o clown. A experiência com o clown indica damente dirigida (controlada) (nós dizemos
que o ator deve jogar o jogo da verdade, e mais: ‘telefonou’)2 – telefonar quer dizer: reagir tão
ele deverá ser ele mesmo. Quanto mais sua fraque- antes que tenha algum motivo para fazê-lo, isto
za for exposta, mais engraçado ele será. Acima de é, não deve mostrar a reação antes do estímulo
tudo, o ator deve evitar fazer um papel, mas dar que o público ou o meio lhe proporciona para
liberdade, da maneira mais psicológica, pois a que possa reagir. Como num jogo de bola, você
inocência de dentro dele aparece, vinda de dentro tem que receber a bola para jogar, isto é, reagir.
dele mesmo, quando ele é um desastre, quando Se reagir antes de recebê-la, perderá a bola e o
ele próprio atrapalha sua apresentação, e assim sentido do jogo, que é ‘jogar’ de volta para o
Burnier (2001, p. 209) nos esclarece com a se- adversário, pois o jogo pressupõe relação”.
guinte definição:
Reação e surpresa são palavras que se tornam
“O clown não representa: ele é o que faz, lembra verbos de ação e desafio para os atores, e é o que
os bobos e bufões da Idade Média. Não se tra- se espera que um participante consiga compreen-
ta de um personagem, ou seja, de uma entida- der num curso de clown ministrado por Philippe
de externa a nós, mas da ampliação e dilatação Gaulier, que é um discípulo de Lecoq. No curso
dos aspectos ingênuos, puros, humanos (como de clown ministrado por ele, a improvisação e o
nos clods), portanto, ‘estúpidos’ do nosso pró- jogo são a base de todo o conteúdo desenvolvido
prio ser”. durante o processo de trabalho.
Por isso Gaulier (2008) recomenda que o ator,
Lecoq (2001, p. 146) explica que esses aspectos quando está se preparando para ser um clown,
pessoais estão relacionados à vida e que, ao de- não pode “atuar” como clown. Gaulier diz para o
senvolver temas de trabalho para os alunos de te- participante do curso durante as improvisações:
atro, é impossível enumerar tais temas no caso “Não atue como ator representando um clown.
dos clowns, já que “a vida em si é um tema para Seja clown!” E o clown recebe tudo com surpresa,
um clown, se você é um clown”. Uma das coisas não tem nada preparado, ensaiado, ele deve ter
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uma reação imediata à situação em que está en- não a pondo em lugar nenhum, porque, para o
volvido. Improvisa com o inesperado o tempo palhaço, não existe lugar, na visão de Larrosa
todo, porque, quando um ator está atuando, não (2001). Lecoq (2001) salienta que o que é engra-
vemos o clown se ele representar um personagem çado para um inglês não necessariamente o é para
clown, não vemos a “alma” do clown, não conse- um italiano, mas os clowns vindos de qualquer
guimos sentir o “idiota” (no bom sentido) che- país podem ser capazes de fazer o mundo inteiro
gando. O público precisa da surpresa, e ela só rir. No mundo dos clowns, não existem fronteiras
acontece quando você não a prepara, mas a im- nem nacionalidades porque eles não vêm de parte
provisa. O público quer ver o “idiota” e com ele se alguma, mas de todas as partes, falando todas e
divertir pelas coisas inusitadas expostas em sua nenhuma língua. Quando aparece o riso, todas as
frente, na relação cara a cara, corpo a corpo. O características que constituem a armadura da si-
clown nunca pode sentir-se seguro, porque assim tuação comunicativa desfazem-se: fundamental-
ele poderá “jogar” de forma diferente a cada apre- mente, a unidade entre o falante, sua situação e
sentação do espetáculo numa temporada, e isso sua linguagem. Então, o clown, provocando o riso,
significa um “Floop total”. Ele tem que se sentir dialoga, ao produzir uma comunicação criativa,
ridículo, esse é o “sentido maravilhoso” em “ser e com o silêncio.
estar” um clown. Quando a pessoa está em cone- Esteja o clown num nível mais desenvolvido
xão com o “Floop” (o espírito do clown), ela “mata” ou não, ele vai sempre trabalhar, em sucessivas
literalmente o público de tanto rir ou chorar. tentativas, com a possibilidade de comunicar sua
linguagem “patética, ridícula e ingênua” com o
3. para fazer rir público. É este, talvez, o grande desafio proposto
ao aprendiz, que terá de contar consigo mesmo e
Rir ou não rir, eis a complexidade da questão, já com a experimentação como um mecanismo para
que não existe fórmula, nem manual ou qualquer fazer rir, independentemente de sua nacionalida-
literatura com indicações desse tipo. Não existe de. Nesse momento, ele descobre-se com o corpo,
causa e efeito. Temos de aprender a fazer rir na com a fala e com outras formas de expressar-se,
experimentação, na apropriação do que chama- desenvolvendo uma linguagem clownesca como
mos “clown pessoal”, pois, se partimos da premis- forma de comunicação com qualquer pessoa, em
sa de que cada pessoa tem seu próprio clown, essa qualquer parte do planeta, como um território
ênfase que Lecoq (2001, p. 151) deu às diferenças sem fronteiras, como uma língua universal.
em sua escola, em nosso ponto de vista, mostra Embora faça parte de nosso estudo a busca de
que há inúmeros clowns não só entre as nações elementos que envolvam o aspecto da comicidade
existentes nas pessoas e na dimensão internacio- corpórea ou especificamente clownesca, determi-
nal, relacionada à origem e à nacionalidade de nada pelo nonsense, é na parte prática desta pes-
cada pessoa, mas também na dimensão da troca quisa que elaboramos elementos técnicos como
de valores relacionados ao aspecto humano do meio de manifestação do próprio clown.
riso em cada um, pois o riso é uma língua univer- O trabalho prático e os estudos teóricos reuni-
sal, que toda pessoa sabe falar. dos num curso de iniciação levam a uma tentativa
O clown realiza um grande jogo pessoal, e, ao de mergulhar nesse universo tão distante, mas tão
mesmo tempo, internacional: entre nações cômi- próximo das pessoas. Nesse caso, voltamos a con-
cas, “provocar e fazer rir”. Num contexto exterior, firmar que quem pretende iniciar o trabalho com
utilizamos o termo “internacional” como termo clowns necessita compreender que estes têm
inerente ao relacionamento entre as nações. No sempre mais a aprender sobre “como” expor suas
exercício com o clown, Lecoq pretendia criar um características clownescas do que sobre como
envolvimento entre as pessoas, ou grupos perten- “ser” um clown. O fato está relacionado direta-
centes a várias nações, por meio do riso. O riso mente com o modo particular que cada um en-
desmascara o sério, retira a pessoa de seu lugar, contra para provocar o riso no público.
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A dificuldade, muitas vezes, está relacionada à 1. O clown não pode mover demasiadamente
lógica social, pré-estabelecida a todos, pela qual seu corpo em cena, se ele se move muito o
somos ensinados desde que nascemos a fazer o espectador não vê nada, quando ele se move
certo dentro de um meio de convívio em socie- por inteiro escapa da visão do público;
dade. E, na maioria das vezes, tudo em nossa vida 2. O público precisa enxergar o desenho que
está direcionado ao acerto, ao sucesso e à inteligên- o clown está fazendo. O clown tem que de-
cia, fato que nos chama a atenção em outdoors, e senhar sua beleza em cena, parado;
outras formas de propaganda na mídia: “Seu su- 3. Tem de ensinar sua alma a ser simples
cesso começa aqui!” Se fosse um concurso para a como quando cantamos uma cantiga de
seleção de clowns, acreditamos que estaria escrito ninar. Estar sempre disposto a fazer algo,
“Seu fracasso começa aqui, participe você também! mas nunca ter algo preparado para fazer;
Seja um perdedor feliz!” Como diz Castro (Wuo, 4. Manter cumplicidade com a plateia, porque,
2001): para nos tornarmos clowns, precisamos se a ignoramos, ela nos ignora também. En-
romper os paradigmas de vencedor e de sucesso, tão, podemos sair de cena ou buscar uma
o clown é um campeão do fracasso. Quando você alternativa ainda mais genial usando os sen-
se acha péssimo, o público adora, porque isso faz timentos: estes são truques usados pelo clo-
parte do ser humano. wn, que permitem trocar rápido o que não
Como uma linguagem silenciosa que comuni- deu certo e tentar novamente manter a cum-
ca a lógica particular de cada pessoa, o aprendiz plicidade com o público;
do curso necessita incorporar o fracasso em seu 5. “O clown não pode ter o olho morto, mas
processo e reaprender, nascer de novo como uma em jogo.” Isso quer dizer que é preciso ter
criança para expressar-se no mundo dos clowns, uma presença genial e perceber o tempo
“a menos que você seja uma criança, jamais entra- todo o que a plateia está querendo. Mas
rá no reino dos clowns” (Wuo, 1999). Quando não se pode jogar demasiado, é preciso sa-
você é criança, tem prazer em jogar, brincar. ber o limite;
Gaulier nos lembra que o clown precisa entrar 6. O clown é uma pessoa feliz; se não está fe-
em cena em silêncio, para ouvir que língua o pú- liz, acabou o jogo.
blico fala e o que ele quer. Se agir o tempo todo e
falar constantemente, perde o ponto fixo, o foco, e Quem quer ser um clown, continua Gaulier,
não poderá desenvolver os seus floops (estados “tem que levar o ridículo no peito, precisa vestir a
que o clown atinge quando consegue prender a camisa”. E tem de sentir prazer com isso; se não
atenção do público para si). Quando está acom- existe prazer, de nada adiantam os spots e a pro-
panhado de Mr. Floop, o público está com você, e dução teatral, porque o prazer é a “chave”. Na rela-
você, como clown, diz “adeus” a ele, e o público ção do público com o ator, existe amor e não amor;
diz “adeus” ao clown. Você tem que ir ao floop. A quando se está na linha do personagem, o público
história não interessa muito, o público quer vê-lo não quer mais a presença da pessoa em cena, por-
atingir o floop, ver a sua relação com o floop. O que ela não é um clown, mas um ator represen-
clown tem de fazer o seu melhor, quando o públi- tando um personagem clownesco. O clown é hu-
co não vê isso, explica Gaulier, “ele fica furioso”; mano, e isso é que cria empatia no público. É a
se o participante do curso quer realmente ser um situação humana que ele quer presente, é isso que
clown, precisa “amar o público”, e mostrar-lhe o faz o público rir, porque se identifica, “ri da huma-
que ele quer ver: “o melhor idiota do mundo!” nidade inteira quando ri de si mesmo”.
Porque o público não quer ver um idiota que quer
representar um clown ou um idiota que quer ser 4. improvise imediatamente!
divertido, mas o “idiota mais divertido do mundo”.
Quando o clown está em cena, mestre Gaulier O clown nunca tem nada preparado para dizer, ele
diz frases como estas: fala diretamente, tem sempre perguntas e respostas
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“idiotas”, para isso precisa sentir que o público não físico-mecânica, mas humana, em vida, ou seja,
está interessado em seu número, precisa mudar o deve ser algo que lhe permita estabelecer um elo
jogo imediatamente, improvisar. Disse Gaulier: comunicativo entre o humano em sua pessoa e o
“Ganhe o público, salve a cena e aproveite os floops! que seu corpo é e faz. Isso só existe, a nosso ver, na
Faça do público o seu cúmplice”. Continua o mestre: medida em que abre caminho para um universo
“Tem de haver cumplicidade, não proponha de- eminentemente humano e vivo, tanto para o ator
mais! Quando entrar em cena, proponha o jogo quanto para o espectador: a criatividade em vida.
com leveza, observe o que instiga o público a dar A criatividade implícita na pedagogia de Le-
risada, porque o riso é seu professor!” coq demonstra uma atitude ao ator: crie e se apro-
prie. Como nos disse Puccetti: “Você tem que se
5. quando o riso do público é o apropriar de uma cena e de seu trabalho como se
professor apropria de sua vida”3. Sendo as propostas de en-
sino de Lecoq e Gaulier voltadas para um teatro
Segundo Gaulier, o mestre que está iniciando um que vai ao encontro de um movimento poético no
clown tem de dar liberdade a este, propondo várias sentido de habilitar virtudes no aluno, de fazer, de
formas de esse clown jogar e improvisar com as criar, de produzir, elevando ao “espírito próprio
coisas, mas, em primeiro lugar, é preciso fazer os da poesia” que está explícita nos corpos que ensi-
alunos clowns descobrirem se o próprio modo de naram a “ser clown”.
fazer rir está aliado a sua vida real. Só assim o O termo “criativo”, em inglês e francês, está re-
mestre vai ensinar o aluno a aprender a construir lacionado ao termo “poético”. Lecoq e Gaulier
o próprio clown com o riso do público. transformam o termo criativo em poesia e in-
O papel do mestre ou iniciador é descobrir fluenciam toda uma geração de artistas à busca
algo de clownesco no aluno, porque “seu vizinho do fracasso e à linguagem secreta do clown, trans-
sabe melhor de seu clown que você”. O público é gredindo com arte os valores pessoais do ator.
um professor real e invisível ao mesmo tempo, que
vai dizendo, com o riso, aonde é que esse clown Referências bibliográficas
pode chegar. Por isso o clown tem de estar disposto
a correr riscos, mas também precisa estar prepa- BAKHTIN, 1987.
BERGSON, H. Ensaio sobre a significação do cômico. 2. ed.
rado para explorar em cena aquilo que aprendeu
Rio de Janeiro: Zahar, 1983. 105 p.
antecipadamente num curso ou mesmo em seu GAULIER, P. Le Gégèneur-Jeu Lumière Théâtre. The
treinamento cotidiano. A plateia ensina ao clown Tormentor “Le Jeu” Light Theatre. Trad. de E.
se o que ele está fazendo está funcionando. Maclachian. Paris: Filmiko, 2007.
Gaulier explica: “Aprender a ser clown é como LARROSA, 2001.
LECOQ, J. (Org.). Em busca de seu próprio clown: Le
aprender uma língua nova”. Aprendemos de vá-
Théâtre du Geste. Trad. de R. Mallet. Paris: Bordas,
rias formas. A assimilação da essência clownesca 1987, p. 117.
é diferenciada para cada aprendiz. A língua do __________. The Moving Body. The Teaching Creative
clown é, muitas vezes, complexa; cada pessoa tem Theatre. Trad. de D. Bradby. Nova York: Routledge,
a sua forma de compreendê-la e de reproduzi-la, 2001. 169 p. [Col. Theatre Art Books].
OSTETO, L. E.; LEITE, M. I. Arte, infância e formação de
pois é individual, assim como o impulso ao pro-
professores. Campinas: Papirus, 2004. 128 p.
cesso criativo (Wuo, 2005, p. 214). WUO, A. E. 2009.
Mesmo sendo individual, a busca de cada clown __________. Verbete Clown. p. 40-4. Dicionário crítico de
possibilita, todavia, a unificação de uma língua lazer. Org. de C. L. Gomes. São Paulo: Autêntica, 2004. 238
em comum, a socialização do conhecimento, o p.
__________. Clown: processo criativo, rito de iniciação e
encontro com várias áreas do conhecimento,
passagem. Tese de Doutorado (Pedagogia do Movimento).
criando uma “nação” de conhecimento, como Le- Faculdade de Educação Física, Unicamp, 2005.
coq ensinou. Especificamente para o ator, a con- __________. Caderno de anotações do clown. Summer
tribuição da técnica do clown não deve ser apenas Clown. Paris: L’École Philippe, julho de 2008.
62 integração wuo l Clown

Notas 2 “Telefonar” é um termo utilizado no teatro, que indica


que o ator reagiu antes da hora, antecipou-se, contou ao
público o que iria fazer, não esperou a ação para ter uma
1 Clown (teatro) e palhaço (circo) têm o mesmo significado
reação.
(essência cômica), embora tenham linhas diferenciadas de
3 Entrevista concedida em 2002.
acordo com o contexto de atuação.

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