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05/04/2018 Fundamentalismo religioso - História - InfoEscola

Fundamentalismo
Por Armando Araújo Silvestre

Pós-doutorado em História da Cultura (Unicamp, 2011)


Doutor em Ciências da Religião (Umesp, 2001)
Mestre em Teologia e História (Umesp, 1996)
Licenciado em Filosofia (Unicamp, 1992)
Bacharel em Teologia (Mackenzie, 1985)

O termo fundamentalismo significa a adesão estrita a um conjunto específico de


doutrinas teológicas (fundamentos) tipicamente contrárias à teologia modernista. Foi
criado originalmente por protestantes norte-americanos do Seminário Presbiteriano de
Princeton (século 19), conseguindo adeptos e defensores de fundamentos teológicos,
como uma lista específica de credos teológicos que se desenvolveu no início do século
20, com a Controvérsia Fundamentalista-Modernista. A primeira formulação das crenças
fundamentalistas ocorreu na Conferência Bíblica de Niágara (1910), durante a
Assembleia Geral da Igreja Presbiteriana que gerou os "cinco fundamentos":

1. A Bíblia é inspirada pelo Espírito Santo e inerrante (sem erros);


2. o nascimento virginal de Cristo;
3. a morte de Cristo para a redenção do pecado;
4. a ressurreição de Cristo;
5. a realidade histórica dos milagres de Jesus.

Curtis Lee Laws, pastor batista, definiu a expressão formalmente (1920) como
movimento protestante americano contrário aos protestantes liberais do século 19 e o
fundamentalista como alguém disposto a recuperar territórios perdidos para o Anticristo
e “lutar pelos fundamentos da fé”. Para Karen Armstrong (2006), as campanhas
fundamentalistas têm caráter bélico, líderes utilizando imagens de batalhas no âmbito
doutrinal e exegético, pregando a necessidade de afirmação dos dogmas do
protestantismo tradicional em reação à abertura que outros protestantes davam para
discursos científicos como a teoria da evolução das espécies.

O fundamentalismo não se abre ao diálogo e milita a favor de seus dogmas que são a
verdade absoluta e indiscutível. A expressão que nasceu desses debates teológicos foi
utilizada pela imprensa diretamente relacionada às ações violentas e à intolerância
religiosa. Fundamentalismo religioso é forte aderência a qualquer conjunto de credos
em face do criticismo ou impopularidade, com conotações religiosas ou atitudes de
pessoas preocupadas com os fundamentos, preceitos doutrinários, sectários e
ideológicos de determinada religião, tirando-as do mero campo dos debates e partindo
para a intolerância e violência. Qualquer grupo religioso minoritário, violento ou
intolerante, movimentos étnicos extremistas com inspirações religiosas, são
popularmente considerados fundamentalistas étnicos.

O fundamentalismo volta aos princípios fundamentais ou vigentes na fundação de seu


grupo, seita, facção ou segmento, mas, refere-se aos demais grupos dissidentes como
desviados, corrompidos que não se identificam intencionalmente com o grupo maior ou
divergem de seus princípios, sendo hostis ou contraditórios à identidade original. Por
esta razão, fundamentalismo foi considerado anti-modernista, crença irracional ou
exagerada, fanatismo.

Modernamente, muitas ideologias se serviram de doutrinas religiosas para fins


fundamentalistas, como o IRA, grupo paramilitar católico que pregava a agenda política
de separação da Irlanda do Norte do Reino Unido, com discursos políticos misturados
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com doutrina católica. Nos EUA, a Ku Klux Klan é seita fundamentalista que misturava
ideologias raciais, eugenistas com o protestantismo puritano.

O judaísmo e judeus haredi, verdadeiros judeus da Torah; o islamismo tendo conflitos


entre xiitas e sunitas desde o século 7, o wahhabismo (século 18) que desenvolveu
associações de terroristas islâmicos, ideologias radicais de revolução social misturadas
com o fundamentalismo islâmico combatem os jamaat (enclaves religiosos) e apoiam a
jihad islâmica (luta contra a cultura ocidental) para que se submetam ao islamismo
original prescrito na determinação divina (Sharia).

Os fundamentalistas objetivam atrair e converter os religiosos da comunidade maior,


tentando convence-los de que eles não estão experimentando a versão autêntica da
religião professada.

Referências bibliográficas:

ARMSTRONG, Karen. Em nome de Deus: o fundamentalismo no judaísmo, no


cristianismo e no islamismo. Trad. Hildegard Feist. São Paulo: Companhia das Letras,
2009.

GAARDER, J.; HELLEN, V.; NOTAKER, H. O livro das religiões. São Paulo: Editora
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Janeiro 2012. Disponível em: http://www.dhi.uem.br/gtreligiao/index.html. Acesso em
10 jan. 2017.

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