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Laboratório IA (Profa. Dra.

Verônica Veloso)
Protocolo 7 – Aula do dia 23 de outubro de 2019
João André Brandão Crepschi (6469870)

Devido à precariedade da minha saúde, assisto, pela primeira vez, a uma aula
prática. É bem verdade que a plateia é jogadora e que pode ser bom adoptar um outro
ponto de vista, mas nada disso anula a frustração. Eu, realmente, gostaria de estar “lá”.
Neste protocolo, algo amputado, descrevo o que vi, permanecendo num território meu,
muito confortável: o do racional, o da visão.
Meus colegas começam a aula caminhando pelo espaço, bastão em mão, paralelo
ao chão. A ideia é deixar que flua, isto é, um pega o bastão do outro da maneira mais
subtil possível. Tudo, parece-me, depende do estabelecimento coletivo de um ritmo, de
um respirar junto. Um grupo teatral que trabalha há mais tempo, um LUME, vai
granjeando técnicas para entrar em conexão mais rápido e fácil? Instrução importante de
Verô: trata-se de troca de bastões e não de confronto. Boa forma de desconstruir o
masculino, tão afeito a digladiar, galinho de briga sem bastão que é. Paradoxalmente ou
não, os barulhos no palco fazem-me crer que falta tônus aos jogadores...
Quem está com o bastão em mão, para e o explora. A seguir, move-se o bastão,
mantendo-se o eixo, já que o bastão é a coluna vertebral. E o jogo evolui para “conectar-
se, olhar e jogar com o outro”, dentro dos limites dos verbos “dar” e “tomar”. Segue a
prática, sob a instrução de mover os bastões e se deixar mover por eles. Ao fim e ao cabo,
parece que a relação com os objetos tem um fundo comum. Quando construímos
personagens a partir deles, a exploração foi bem parecida.
Grupos de quatro jogadores jogam o bastão. Há, posteriormente, uma redução de
equipes, a colocação de um jogador ao meio, a introdução dum segundo bastão. Curioso
como os grupos se comportam de maneiras diferentes, criando, para si, quase uma
identidade. Às vezes, ocorre de um ou dois jogadores proporem algo (uma movimentação
corporal diferente para jogar o bastão) e os outros não comprarem. Interessante ver
jogadores, eles próprios, dando instruções e orientando os colegas para que o jogo flua
melhor. Caminhamos em direção a alguma autonomia...
Cessado o trabalho com os bastões, joga-se, novamente, batalha naval. Os
atacantes, de fora, não sabem onde estão os barcos: nem os seus nem os do adversário.
Conseguiu-se, penso, uma maior exploração cênica do jogo, mas, talvez, as coisas
ficassem inda mais interessantes, caso houvesse um biombo entre os navios rivais. Os
movimentos de ataque foram um tanto clichês e a pergunta se coloca: se temos repertório
de movimento; se ganhamos novos movimentos (inclusive, de ataque) na prática com o
bastão, porque voltamos aos clichês? O grupo foi “vítima” de certo relaxamento
excessivo, como se jogo e cena nada tivessem que ver? Não sei.
Na segunda partida, entro como jogador-leitor. Eu e Lucas Tellis sampleamos
trechos do “Hamlet-Máquina”, de Heiner Müller, enquanto a batalha acontece.
Interessante como a palavra atravessa e é atravessada pelo jogo, sobretudo num registro
irônico e diegético. Ocorre-me que seria possível montar toda a peça apenas com jogos.
Por fim, lemos os protocolos, discutimos o que foi feito em aula e algo do que virá
a seguir, como o trabalho de adaptação de jogos. Curioso para ver os resultados: pega-
pega, dança das cadeiras, amarelinha, tarô etc têm a dizer e dizem. Vejamos.

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