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Monografia - Curso de Letras PDF
Monografia - Curso de Letras PDF
Ijuí - RS
2011
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Ijuí
2011
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Agradecimentos:
Agradeço a todos que me incentivaram, que de uma forma ou
outra me ajudaram na construção e na realização deste trabalho e que
me apoiaram no decorrer de minha graduação, principalmente
agradeço a minha família e em especial ao meu esposo. Mas acima de
tudo, agradeço a Deus por me dar a vida e as condições para que eu
chegasse ao fim desta jornada e a realização deste sonho.
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SUMÁRIO
Resumo.....................................................................................................................6
INTRODUÇÃO.........................................................................................................8
1 A LITERATURA INFANTIL.............................................................................10
1.1 Literatura infanto- juvenil...............................................................................10
1.2 Como tudo começou: breve histórico sobre a Literatura Infantil.........12
1.3 O novo perfil da literatura infantil......................................................................14
1.4 Literatura e a escola......................................................................................15
2 ADOLESCÊNCIA..............................................................................................19
2.1 Como as escolas têm trabalhado em seus currículos os temas
transversais sugeridos pelos PCN’s.................................................................23
2.2 Preconceito..................................................................................................25
2.3 Preconceito nas escolas.............................................................................26
CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................43
REFERÊNCIAS....................................................................................................45
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Abstract: Considering the prerogative that both infant and infant-juvenile literatures
have fundamental importance in the formation of individuals and considering also its
inclusion in the daily school activities and the difference it makes in students life, the
development of research in this field was thought. On this purpose, some concepts
and authors that deal with this subject were brought to. Some teen age issues,
conflicts, prejudices and the different forms of violence and how infant-juvenile
literature can help at this point have also been raised. However, it was mainly
addressed how the teacher can work with infant-juvenile literature as an ally to solve
uch issues inside the school community. Three literary works were then analyzed:
one about racism, entitled “Pretinha, eu?”, by Júlio Emílio Braz; one about
discrimination against the physically disabled, entitled “Ímpar”, by Marcelo Carneiro
da Cunha; and one about bullying, by Luis Dill and entitled “Todos Contra Dante”.
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INTRODUÇÃO
Sabemos como é necessária a leitura, principalmente dentro da escola, em
função de sua importância, e igualmente importante também se torna o incentivo
dado a ela por parte dos professores para com seus alunos. Trabalhar com leitura
de literaturas com os alunos, principalmente adolescentes, já que é nesta fase que
se vivem conflitos próprios da idade, pode fazer diferença na vida deles. Sabemos
também que existe uma problemática vivenciada dentro da comunidade escolar
atual que é o preconceito e a violência e que está se propagando cada vez mais
dentro deste ambiente. Por este motivo desenvolverei neste trabalho, sugestões a
respeito de como o professor poderá usar exatamente esta literatura infanto-juvenil,
como uma possibilidade e uma tentativa de diluir com o preconceito nas escolas.
Sendo meu objeto de estudo a literatura infanto-juvenil, será feito um percurso
histórico da literatura infantil e juvenil em nosso país. Além disso, será realizada
reflexão sobre questões como que espaço as leituras estão tendo dentro das salas
de aula, que importância está sendo dada à leitura atualmente nas escolas de nosso
país e que tipos de literaturas estão sendo solicitadas aos alunos, pelos professores,
bem como a importância de se trabalhar com leituras de livros em sala de aula. É de
primordial importância o novo olhar que se pode dar para literaturas que tragam
assuntos vivenciados pelos nossos alunos no seudia-a-dia, pois uma das
abordagens que usarei é mostrar ao professor que, usando a literatura infanto-
juvenil mais especificamente, ele poderá trabalhar com seus alunos, assuntos que
mesmo não estando inseridos no currículo, são muito importantes, atuais e
relevantes para a comunidade escolar e que estão inseridos nos Parâmetros
Curriculares Nacionais, como temas transversais.
Tais assuntos falam sobre questões da ética, da Pluralidade Cultural, do Meio
Ambiente, da Saúde e da orientação sexual. Estes temas, se trabalhados com a
comunidade escolar, refletirão no ensino e na aprendizagem valores e atitudes dos
atuais alunos.
Como o público leitor de literatura infanto-juvenil, são na maioria, os
adolescentes, é conveniente debatermos sobre a temática da adolescência e os
conflitos vivenciados por eles, atualmente, bem como a forma como família e
sociedade estão encaminhando estes assuntos na vida dos adolescentes.
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1 A LITERATURA INFANTIL
Para a autora supracitada, existe uma linha divisória muito próxima entre a
literatura infantil e a infanto-juvenil, pois assim como a infantil trabalha com o
universo lúdico da criança, a juvenil também vai trabalhar com a criatividade, com os
sentimentos, com o ideal de herói do pré-adolescente, até mesmo colaborando com
uma parte bem significativa da formação de seu caráter e de seus ideais.
Infelizmente a literatura infanto-juvenil foi, muitas vezes, marginalizada, não
recebendo o devido incentivo que merece.
É algo relativamente recente o destaque que se está dando para a literatura
infanto-juvenil. Cerca de dois séculos se passaram e, hoje, já bem estabelecido, o
mercado editorial brasileiro cresce consideravelmente e, com isso, a literatura
infanto-juvenil ganha cada vez mais espaço dentro do setor; diversos são os
autores, grande é a diversidade de obras destinadas a esse público.
Atualmente o mundo da literatura infanto-juvenil é um lugar de destaque, pois
com seus diversos livros publicados, uns mais interessantes que outros, tornam-se
cada vez mais atraentes para qualquer leitor infanto-juvenil.
As dificuldades que existiam séculos atrás, como a falta de tipografias e a
não-profissionalização do escritor, já não existem mais. O que se vê no quadro da
literatura infanto-juvenil brasileira, atualmente, é que há uma maior conscientização
da importância desse gênero literário, até por uma questão de cidadania, pois é
inegável o fato de que, por meio de livros, são trabalhadas diversas questões
importantes para a constituição de um cidadão no futuro. No entanto, ainda é
necessário mais incentivo à questão da literatura infanto-juvenil, a fim de cada vez
mais manter crianças e jovens ligados aos livros.
Deve-se prestar mais atenção ao leitor, que pode descobrir no livro um
grande instrumento de cidadania e educação. Então, podemos e devemos usar este
potencial da literatura infanto-juvenil para trabalhar na vida da criança e do
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1
Daqui em diante será usada a sigla L.I. para designar a literatura infantil.
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para crianças nas primeiras décadas do Brasil colônia, mas sim, nos foi trazido pelos
colonizadores, acervos de contos orais populares.
Foi por volta de 1575, somente, que histórias infantis foram publicadas em
Portugal e chegaram ao Brasil nesta mesma época, mas literaturas de nossa terra,
com escritores brasileiros, demoraram a nascer por aqui. É como diz Oliveira (2008,
p. 52) “A Literatura Infantil– autêntica, genuína, da cor da terra, com cheiro das
matas e sabor de fruta tropical, ao gosto da criança brasileira – ainda esperaria mais
um século para florescer e criar sua própria história”.
Em meados da República Velha, os livros eram apenas usados por aqueles
poucos privilegiados da elite, que tinham acesso à educação escolar. Desse modo, a
existência da L.I, só se justificava para fins didáticos.
No séc. XIX foram resgatados contos populares franceses e com os irmãos
Grimm, na Alemanha, tais histórias começaram a ser difundidas no Brasil. Portanto é
no final do séc. XIX que surge a L.I no Brasil. Esta literatura, porém, ainda não
surgiria com ideais de criança, como um ser de desejos e pensamentos
próprios.Segundo Oliveira (2008, p. 57) “A Literatura infantil era considerada um
excelente meio para induzir o leitor à obediência das normas consagradas.”
De acordo com Zilberman e Lajolo (1987 apud OLIVEIRA, 2008, p.57), “A
falta de qualidade artística e o excesso de intenções moralizantes vêm juntos, e
aliados, contribuem para o descrédito da literatura nacional para a infância e para a
atrofia do gosto de ler.”
Este fato é lamentável, pois demorara tanto até chegar às crianças brasileiras
e quando chega não dá conta do verdadeiro significado de uma L.I, de uma literatura
que respeita o mundo do brincar e do faz de conta, que é o campo no qual as
crianças estruturam seus saberes sobre o mundo e sobre si.
Pesquisas realizadas por vários autores como: Nelly Novaes Coelho (1991),
Regina Zilberman (1987), Ligia Cademartori Magalhães (1987), Marisa Lajolo
(1985), Laura Sandroni (1987), Eliana Yunes (1988), Bárbara Vasconcelos (1985) –
sobre obras de L.I., publicadas a partir das primeiras décadas do séc. XX até
aproximadamente os anos 1970, no Brasil, demonstraram essa tendência
moralizante nas primeiras literaturas infantis no Brasil.
Eram literaturas voltadas para o publico infantil, porém sem nenhuma
atratividade para as crianças, sem cativar e atrair o interesse de seu público,
portanto, sem oportunizar uma leitura atrativa e prazerosa para as crianças.
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Leonardo Arroyo (apud OLIVEIRA, 2008, p.58) afirma: “Tais leituras eram
quase sempre pesadas, de um espírito moralista acentuado na sua falsidade ou
precariedade, obrigacionais, sem o menor interesse pelo entretenimento, como o
compreendemos hoje”.
Acabada a era do formalismo na L.I, onde ela aparece e chega às mãos das
crianças, através dos livros, unicamente no momento da recepção, como um produto
pronto, acabado e oriundo do adulto, não interferindo no fenômeno da criação,
podendo influenciá-lo, mas não atuando diretamente nele. Há uma ruptura e uma
renovação na postura do leitor, focando no saber emancipatório, enxergando o leitor
não como um ente passivo. Assim, a obra dirige-se a ele e a seus valores, sob a
forma de um questionamento.
Conforme ZILBERMAN e CADEMARTORI (1987, p. 77) “Supõe também uma
tomada de posição por parte do sujeito, na medida em que o conhecimento terá
como meta a ampliação deste horizonte, observando a tradição do saber e visando a
emancipação individual”
Reforçando esta ideia, as autoras afirmam na página 79 “De uma maneira ou
de outra, impondo novos padrões ou suplantando a norma vigente, este saber é
necessariamente emancipatório, concedendo ao processo de leitura uma
legitimação de ordem existencial.”
A L.I converte-se numa das responsáveis diretas pela configuração de um
horizonte de expectativas na criança e é assim que deve ser, por isso, a L.I é
necessariamente formadora e cabe-lhe uma formação especial, que antes de tudo,
interrogue a circunstância social de onde provém o destinatário e seu lugar dentro
dela.
Sabemos que muitos alunos vêm de lares onde a leitura não faz parte de
seus cotidianos, de suas vidas, principalmente a leitura de livros. Com pais muitas
vezes analfabetos ou com pouca escolaridade, não exercem a devida influência
sobre a importância da leitura na vida de seus filhos. Esta é uma realidade bastante
presente em nosso país. Alguém tem que fazer o papel de elo entre o aluno e o livro,
e como já falamos, a escola tem fundamental papel nisso.
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Tudo isto se aprende, é claro se alguém ensinar, por isso o importante papel
de incentivo a leitura é principalmente da escola. Temos consciência do que a
literatura infanto-juvenil representa na formação da vida das crianças e dos
adolescentes, ela é fundamental como já dissemos, para o desenvolvimento pleno,
linguístico, intelectual e social na infância e na adolescência. Portanto, temos que
analisar o foco que está sendo dado à leitura dessas literaturas nas escolas.
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sim ele tem que ser usado para dar criatividade a imaginação das crianças fazendo
com que estimule sua criatividade e que isto venha a contribuir e a interferir na
formação de sua concepção de mundo real.
Por isso, não podemos “deixar a peteca cair” e buscar alternativas para que a
escola realize com êxito a sua função de incentivadora da leitura e que nós,
professores, e profissionais da área da educação, possamos servir de veículos,
meios que levam as atividades de leitura e leituras de literaturas para os alunos. A
julgar pelo estado em que se encontra o incentivo à leitura em nosso país, cabe a
nós, educadores, tomar frente a este papel de formar leitores.
Segundo BARCO et all. (2001, p 7 );
2 ADOLESCÊNCIA
Como lidar com isso? Os pais estão cada vez mais preocupados a respeito do
futuro de seus filhos. O mundo oferece, principalmente para jovens e adolescentes,
uma infinidade de atrativos, tanto positivos quanto negativos. Hoje, as famílias não
mais se sentem autossuficientes para administrar a educação de seus filhos, é
comum que busquem ajuda em programas de TV, no ciclo social, e principalmente,
encarem a escola como uma parceira na formação dos filhos em todos os aspectos
educacionais.
As expectativas que os pais têm da escola são inúmeras, mas pode-se
resumir dizendo que os pais esperam que a escola reforce aquilo que eles ensinam
em casa, ainda preencha as lacunas que eles, pais, não se sentem capazes, e
talvez realmente não sejam, de preencher.
A entrada da adolescência, é marcada por um período em que o futuro parece
ter chegado, mudam os interesses, mudam as exigências, mudam as relações. O
que há de especial em todos esses conflitos durante a adolescência é que eles
mostram que os adolescentes estão crescendo, amadurecendo, é um processo
normal desta etapa da vida. Administrar esses conflitos, tanto para os adolescentes
quanto para os adultos que os cercam, é outra aprendizagem importante. Pois à
medida que eles se compreendem melhor e percebem com mais clareza as suas
dificuldades, suas relações com as outras pessoas se tornam mais fáceis, e a
sensação de incompreensão diminui. Segundo OSORIO ( 1989, p. 35) que define
muito bem as mudanças nesta fase da vida que leva para os motivos da crise da
adolescência:
Redefinição da imagem corporal substanciada na perda do corpo
infantil e aquisição do corpo adulto./ Culminação do processo de
separação – individuação e substituição do vinculo de dependência
simbiótica com os pais da infância por relações objetais de autonomia
plena. / Elaboração do luto referente à perda da condição infantil. /
Estabelecimento de uma escala de valores ou códigos de ética
próprio. / Busca de pautas de identificação no grupo de iguais.
Quando aprendemos a lidar com as incertezas, ficamos mais fortes para fazer
as mudanças necessárias, todo o ser humano é assim, e é exatamente sobre isso
que os adolescentes têm que refletir, pois, apesar de incômodos, os conflitos são
importantes. Mas, diante de tudo isso, eles se indagam: como não se sentir
perdido?É comum que os adolescentes se sintam meio perdidos, durante esta fase
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da vida, pois além de o corpo estar passando por um verdadeiro rebuliço hormonal,
eles enfrentam nesse período o dolorido processo de construção da individualidade
e do caráter. Junto com este período de conflitos, aparecem as dúvidas e os
questionamentos.
Podemos nos perguntar como as escolas podem colaborar neste fase tão
complicada da vida dos adolescentes, se nem mesmo os pais estão sabendo lidar
com a adolescência na vida de seus filhos? Eles se preocupam com questões que
antes podiam resolver simplesmente ocultando dos filhos, ou impondo-lhes uma dita
“verdade” ou simplesmente proibindo-os. Tais questões como de religião, etnia,
ideologia, classe, sexualidade, preconceito, etc. que hoje passaram a ser tema de
debate, não pode ser mantido fora do diálogo entre pais e filhos, bem como da sala
de aula. Temas que obrigam os pais a “saberem” tratar, fazendo os pais se
preocuparem em como a escola vai tratar isso também.
Será que a escola se questiona e avalia sobre qual o tratamento que está
dando para estes assuntos, junto aos seus alunos, no meio escolar? Já que o perfil
da família de hoje mudou, a sociedade mudou e continua mudando sempre, a
relação entre os pais e filhos mudou, tomando novas formas através de divórcios e
segundos casamentos, madrastas e padrastos, meio-irmãos, irmãos dos irmãos e
primos que não tem relação consanguínea, “pais de fins-de-semana”, mães que
trabalham fora de casa, e por isso não podem manter a mesma dedicação à
educação dos filhos como anos atrás, além de diversas outras “novidades” que
atualmente são corriqueiras na vida das crianças e dos adolescentes.
Aumentou o nível de preocupações dos pais e também das escolas sobre o
número de coisas que eles têm de considerar, pois os jovens hoje estão expostos a
uma diversidade de informações e de “perigos” que antes não existiam.
No tocante à escola, os valores e as tradições educacionais estão em
contínuo processo de transformação, porque a sociedade é dinâmica. Não se pode
mais acreditar numa solução unívoca que atenda a todas as demandas
educacionais que se tem hoje em dia. Os pais e as escolas agora têm de se adaptar
ao movimento da sociedade, o que circula o mundo de seus filhos adolescentes,
buscando encontrar caminhos para preparar as crianças e os jovens para um
futuro.Não importa o quão tradicional seja a educação que se pretende dar aos
alunos, não há como ignorar os processos de formação da personalidade individual,
bem como os mecanismos afetivos deles.
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2
Parâmetros Curriculares Nacionais, daqui para frente será usada apenas a sigla
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2.2 Preconceito
do mundo exterior é reproduzido nas escolas, fazendo com que estas instituições de
ensino deixem de ser um ambiente seguro, modulado pela disciplina, amizade e
cooperação. Não podemos deixar que as escolas se transformem em espaços onde
há violência, discriminação e medo.
O bullying diz respeito a uma forma de afirmação de poder interpessoal
através da agressão, que traz consequências negativas, imediatas e tardias sobre
todos os envolvidos: agressores, vítimas e observadores. O bullying compreende
todas as atitudes agressivas e preconceituosas, intencionais e repetitivas, que
ocorrem sem motivação evidente, adotadas por um ou mais estudante contra
outro(s), seja por que a vítima é gorda, negra, magra, muito inteligente, muito burra e
por aí vai. Isso causa angustia e dor, para as vítimas.
O bullying é classificado como direto: quando as vítimas são atacadas
diretamente, ou indireto: quando estão ausentes. São considerado bullying direto os
apelidos, agressões físicas, ameaças, roubos, ofensas verbais ou expressões e
gestos que geram mal estar aos alvos. São atos geralmente utilizados na maioria
das vezes por meninos, o bullying indireto compreende atitudes de indiferença,
isolamento, difamação e negação aos desejos, sendo geralmente mais adotados
pelas meninas.
Há ainda uma nova forma de bullying que é o cyberbullying, que tem sido
observada com uma frequência cada vez maior no mundo. Trata-se do uso de
tecnologia de informação e comunicação (e-mails, telefones celulares, mensagens
por pagers ou celulares, fotos digitais, sites pessoais difamatórios, ações
difamatórias online) como recurso para adoção de comportamentos deliberados,
repetitivos e hostis, de um indivíduo ou grupo, que pretende causar dano a outro(s).
Esses tipos de comportamentos que estão presentes nas escolas, não podem
correr o risco de serem admitidos como naturais, serem ignorados ou não
valorizados, tanto pelos professores como pelos pais.
Devemos lutar para que a escola continue sendo vista como um local de
aprendizado, avaliando-se o desempenho dos alunos com base nas notas e
cumprimento de tarefas acadêmicas. Todos desejamos que as escolas sejam
ambientes seguros e saudáveis, onde crianças e adolescentes possam desenvolver,
ao máximo seus potenciais intelectuais e sociais. Portanto não devemos admitir que
sofram violência e sejam alvos de discriminações e preconceitos que lhes tragam
danos físicos, psicológicos e morais, que testemunhem tais fatos e se calem para
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que não sejam também agredidos e acabem por achá-los banais ou, pior ainda, que
diante da falta de diálogo sobre o assunto nas escolas, diante da omissão ou
tolerância por parte dos adultos, principalmente pais e professores, venham adotar
tais comportamentos agressivos.
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A obra Pretinha, eu? Foi escrita por Júlio Emilio Braz e publicada em 2008
pela editora Scipione. Este autor já publicou vários livros infantis e infanto-juvenis
que contam sobre a vida e os conflitos de personagens que sofrem com algum tipo
de preconceito ou tem dificuldade de aceitação. Júlio Emílio Bráz é negro e diz que
se vê um pouco em suas personagens, já que na maioria das vezes são negros e
sofrem com o racismo, relata que em sua vida teve também estas experiências com
o preconceito, por ser negro e ter sido gordinho. O interessante neste autor é que
ele fez disso uma lição de vida, em cada uma de suas obras escritas, como por
exemplo em Pretinha, eu? que conta a história de uma adolescente negra chamada
Vânia. Ela é bolsista em uma escola particular em que só estudam alunos brancos,
por ser negra e de classe social não tão elevada quanto a dos colegas, sofre
perseguições e discriminações, principalmente por parte de um grupinho de meninas
ricas, em que, a líder é uma adolescente chamada Carmita. Esta é rebelde e
mimada, mas ao mesmo tempo sem a atenção e a participação dos pais em sua
vida.
A história é narrada pelo ponto de vista de uma adolescente do grupo ofensor,
chamada Bel, a qual também é negra, ou se poderia dizer, mulata. Ela assume sua
identidade somente após observar a vida de Vânia, que, segura de si, inteligente,
auto-confiante e feliz consigo mesma, não se deixa vencer pelas perseguições.
Vânia e Bel ficam amigas e lutam juntas para acabar com o racismo e o preconceito
dentro da escola onde estudam. Conseguem não eliminar completamente o
preconceito, mas conquistam uma grande melhora sobre este assunto.
O ambiente onde ocorre a história deste livro é a escola, e quanto às
personagens, a principal é Vânia, que apesar de ser discriminada, sofrer
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mencionamos neste trabalho, levando para seus alunos em sala de aula este tipo de
literatura, estariam fazendo um trabalho rico sobre, por exemplo, neste caso, o que é
o racismo, onde ele atua, como reagir, quem são as vítimas, de que maneira
podemos combatê-lo, bem como reiterar a importância de se trabalhar sobre este
assunto em suas vidas e mais inúmeras possibilidades de conscientizações e
possibilidades de debates e questões esclarecedoras levantadas pelos próprios
alunos sobre este tema.
Desse modo, ao lerem esta obra, os alunos estariam sendo ajudados na
construção de opiniões sobre o racismo, preparando-os, assim, para saber como
proceder diante do preconceito, não só dentro das escolas, como na sociedade em
que vivem.
No final da história, Zóli supera o trauma de seu acidente, volta a jogar tênis e
até mesmo começa a namorar a Bibi, que é integrante da turma de seus novos
amigos da clínica que reabilitação. A história acaba com José Luiz contando como é
legal ter um braço mecânico e vira os centro das atenções na escola com o seu
braço novo.
Esta obra, do autor Marcelo Carneiro da Cunha, também é uma possibilidade
de leitura em sala de aula para se tratar sobre a discriminação e a exclusão de
alunos portadores de deficiência física, já que se trata de uma obra diferente das
outras literaturas infanto-juvenis que estamos acostumados a ler, a começar pelos
personagens, pois todos em destaque, apresentam alguma necessidade especial: a
Bibi tem problema em uma das pernas, o Pê quase não escuta com um dos ouvidos,
o Máqui não enxerga de um olho e a Tula é cadeirante. Também o personagem
principal que é o Zóli, só tem um dos braços.
Por esses motivos, podemos entender o porquê de o nome do livro ser Ímpar,
pois este adjetivo nos remete à ideia de que todos somos pares, com nosso corpo
funcionando em harmonia com nossos dois olhos, por exemplo, dois braços, duas
pernas e assim por diante, e os personagens do livro se denominam ímpares, pelo
fato de que nem todos os pares de seus membros funcionarem harmoniosamente
como de costume.
O título da obra também pode ser explorado de uma maneira a se pensar que
ninguém é igual a ninguém, todos somos seres únicos, ou ímpares, cada cidadão
com suas características próprias, suas opiniões e suas individualidades. Acredito
que o livro aborda um assunto interessante que é o respeito mútuo, ou seja, que
devemos respeitar o próximo com suas características individuais, sejam elas físicas
ou não, respeitando a individualidade de cada ser humano.
O que percebemos fortemente na história do livro Ímpar, é que o grupinho de
adolescentes com deficiência física destaca-se pela marca de personalidade que
cada um demonstrou ter, a Bibi por exemplo, era forte e decidida, além de ter que
lidar com seus problemas físicos ajudava os demais do grupo também a se
superarem. A obra está cheia de exemplos de superação e salienta até que os
outros adolescentes ao observarem como era legal e unido o grupinho ímpar,
mostraram interesse de fazer parte desta turma, ou seja a história nos conscientiza e
nos dá uma lição, de que não devem existir discriminações e que todos devem
pertencer a um mesmo grupo, ou seja, de cidadãos que não demonstrem qualquer
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tipo de preconceito e atitudes discriminatória, que lutem junto para que acabe
qualquer tipo de discriminação em nossa sociedade.
Interessante também é o projeto gráfico desta literatura, com ilustrações que
nos fazem imaginar como seriam estes personagens. Já na capa, conseguimos
perceber que é um livro que aborda sobre o assunto deficiência física. Há um
desenho de um menino lendo um gibi e podemos perceber que ele está segurando-o
só com uma mão, assim deduzimos que seja o personagem principal do livro, Zóli,
que não tem um braço.
No decorrer das outras páginas, vamos acompanhando com desenhos, outros
meninos e meninas em cadeiras de rodas ou usando óculos, etc. A obra, Ímpar,
aborda este assunto, mostrando também o desafio do adolescente Zóli no seu
processo de reabilitação e a importância dos portadores de necessidades especiais
não desistirem, adaptarem-se a suas novas realidades e lutarem por seus direitos
dentro da sociedade.
Esta literatura também é rica, como o exemplo do livro Pretinha, eu? Só que
nesta, aborda-se sobre o racismo e no livro Ímpar, pode-se trabalhar sobre o
preconceito no que diz respeito à deficiência física. É uma leitura que se pode fazer
em sala de aula com os alunos e ao mesmo tempo um trabalho, um diálogo sobre a
exclusão, que é um tipo de preconceito, pode-se levantar questões relevantes sobre
a deficiência física e até mesmo salientar de que qualquer tipo de preconceito é
errado e não deve ter aceitação dentro da sociedade em que vivemos. Este livro
trata sobre a discriminação e sobre a exclusão de portadores de deficiência física
dentro do meio escolar e também da comunidade, pode-se trabalhar com os alunos
através da leitura desta literatura, as discriminações sofridas pelos deficientes
físicos, seja na escola ou na sociedade, sabemos que atualmente existe uma política
de inclusão de deficientes físicos no ensino regular, portanto objetivando preparar os
alunos, para que se tornem cidadãos participantes de uma sociedade que ofereça
oportunidade para todos igualmente, sejam deficientes físicos ou não. Enfim, dentro
ou fora das escolas, é uma possibilidade de trabalho com esta literatura em favor da
tentativa da dissolução de preconceitos, da discriminação e uma conscientização em
busca da inclusão.
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Também o livro Todos contra Dante, escrito por Luís Augusto Campello Dill,
publicada em 2008 pela editora Cia das Letras, traz-nos mais um assunto
questionador de que também os alunos precisam tomar conhecimento, pois aborda
de forma realista e chocante um dos temas bastante discutido atualmente, isto é , o
bullying. A história é narrada de modo não convencional, uma vez que há trechos
de narração normal e outras em que são usados links, diálogos, estrutura de blog, o
que é característica de ambiente virtual, em redes sociais.
Essa é a história de Dante, um adolescente, novo na escola que vem de um
bairro mais pobre, bom leitor, e gosta de ler “A divina Comédia”, de Dante Alighieri,
pois se identifica com ele e até mesmo o chama de “meu xará”. Sua aparência e sua
classe social viram alvo de perseguição de seus novos colegas. Essa perseguição
se torna sistemática e ganha espaço em redes sociais na internet, onde o
ridicularizam e o hostilizam, já que o anonimato da comunidade da internet os
protegem. O que era para ser apenas “brincadeira” ganha dimensões trágicas, com
todas estas perseguições, implicâncias e até mesmo humilhações contra Dante. Um
grupinho de colegas, ao querer dar uma lição em Dante, o agridem tanto, que o
acabam matando.
O escritor desta obra, Luís Dill, também jornalista, diz que este livro tenta
relatar de modo ficcional, a tragédia real que aconteceu com a estudante de treze
anos de idade que, ao bater boca com uma das colegas e chamá-la de “piolhenta”,
foi morta depois da aula, de uma maneira covarde e brutal, também vítima de
covardia e agressões físicas. Esta história, na época, circulou na mídia e chocou a
população.
Portanto, a história do adolescente Dante não só foi uma realidade que
impactou a população, mas também entrou no universo ficcional e continua a
chamar a atenção e a conscientização de todos os leitores para a violência,
principalmente a violência dentro das escolas, onde infelizmente ela ainda é
bastante propagada, deixando claro que a violência existe dentro dos muros das
escolas, motivo pelo qual temos que estar atentos.
Todos contra Dante é uma obra bem criativa no que se refere a sua
estrutura gráfica, já que nos dá uma ideia de que a narrativa se passa com
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Esta obra nos traz uma história, que baseada em fatos reais, nos dá
informações sobre o bullying, o que é, como se caracteriza, quais são os efeitos
desse tipo de violência e suas consequências. Ao lermos uma história como esta,
não tem como não nos chocarmos, pois é exatamente a realidade dentro dos
portões dos colégios. Mostra também se como professores, pudermos trabalhar esta
obra com nossos alunos, estaremos contribuindo para um trabalho de
conscientização e prevenção do bullying, assim será possível mostrar aos alunos as
consequências de atitudes violentas. Também estaremos tratando sobre um assunto
grave, de uma maneira igualmente preventiva.
Muito interessante o trabalho deste autor em escrever um livro que contribua
para o conhecimento de todos e coloque-nos a par dos acontecimentos violentos
dentro das escolas e da sociedade, para que não somente nos impactemos com a
história, mas para que trabalhemos junto com a comunidade escolar assuntos de
grande relevância relacionados a este tema.
São leituras como estas que preparam nossos alunos adolescentes a refletir e
a buscar transformar uma sociedade carregada de preconceitos, em uma sociedade
que sabe respeitar cada cidadão, suas individualidades, suas condições físicas e
sua cor de pele. A escola e o professor podem muito bem ter participação nisso,
trabalhando com leituras que venham a contribuir para este objetivo, que são
exatamente os objetivos abordados dentro destas literaturas que tratam sobre o
racismo, a discriminação e o bullying.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
contra Dante, do autor Luis Dill, com a qual de uma maneira bastante chocante, os
professores trabalhariam sobre o bullying nas escolas.
Foram analisadas estas obras neste trabalho, mencionadas anteriormente,
porém há outras dos mesmos autores ou até mesmo diversos outros autores que
escreveram literaturas infantis e juvenis direcionados a temas polêmicos, atuais,
reais e questionadores, que os professores poderiam tomar como suporte para
propor um belíssimo trabalho de conscientização com seus alunos sobre o racismo
e a discriminação, e quem sabe também outras problemáticas vivenciadas pelos
alunos.
Portanto, solicitar aos estudantes tais leituras e usar a literatura infanto-juvenil
para se trabalhar tais temas, problemas e valores, com os quais vão se deparar no
decorrer da vida, é uma maneira de estarmos colaborando na construção do caráter
do estudante, pois se os mesmos tiverem oportunidade e contato desde cedo com
determinados temas, tendo a liberdade de debater em sala de aula, e esclarecer
suas dúvidas sobre isso, de não ter medo de colocar seus posicionamentos frente a
tais assuntos, construindo opiniões sobre tais problemáticas, mais cedo estarão
preparados para se posicionarem diante de tais situações por eles vivenciadas, e
mais cedo estarão aptos a dar um bom exemplo como bons cidadãos em uma
sociedade violenta, preconceituosa e carente de boas atitudes, como é nossa atual
sociedade.
Acredito que trabalhar com literatura infanto-juvenil com os alunos,
principalmente explorando o tema preconceito é de fundamental importância
atualmente nas escolas. Portanto, penso em continuar a pesquisar e a estudar sobre
essa temática em trabalhos futuros.
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REFERÊNCIAS