Neurónios Cheirosos
O que são neurónios?
O neurónio é a célula do sistema nervoso
responsável pela condução do impulso nervoso
e é considerado a unidade básica da estrutura
do cérebro e do sistema nervoso. Os impulsos
geram ondas de corrente elétrica (excitatória
ou inibitória, cada uma num sentido diferente)
através do corpo da célula até a uma zona
chamada a zona de disparo, no começo do
axónio.
Um exemplo
Stephen era um estudante de medicina nova-
iorquino, de 22 anos, que, após consumir
drogas durante algum tempo, passou por uma
estranha experiência. Conta: “Entrei numa loja
de perfumes. Até então, nunca fora
especialmente sensível aos cheiros, mas, de
repente, conseguia distinguir, instantaneamen-
te, uns dos outros, e cada um me parecia
único, evocador, um verdadeiro mundo. (…)
entrava na clínica, farejava o ar como um cão e
identificava, antes de vê-los, os 20 doentes que
ali estavam. Cada um tinha uma fisionomia
olfativa própria, o rosto do seu próprio odor”,
contou Stephen. Conseguia também distinguir
as ruas e as lojas pelo aroma: “Podia mesmo
orientar-me e andar por Nova Iorque guiado
apenas pelo meu nariz.” Por estranho que
pareça, Stephen não sofria de alucinações.
Tal como escreve o neurologista Oliver Sacks,
no célebre livro O Homem que Confundiu a
Mulher Com um Chapéu, o jovem era vítima
de hiperosmia, isto é, um aumento da
acuidade olfativa que se deve a uma
perturbação dos neurónios que libertam o
neurotransmissor dopamina (conhecida como
o neurotransmissor do prazer). O distúrbio foi
provavelmente induzido pelas anfetaminas
que tomara.
Alexandra Nascimento, n.º26, 12ºC2 (2018/19)
(Texto orientado pela Professora Edite Azevedo)
Como o cérebro processa aromas
Ao exercer um impacto direto sobre a região
emocional do encéfalo, os cheiros possuem
efeitos que escapam ao nosso domínio. É por isso
que nos podem acalmar, inquietar, fazer-nos
regressar ao passado ou mesmo excitar-nos
sexualmente.
Embora não tenhamos os superpoderes de
Stephen, o olfato é um sentido excecional por
múltiplas razões. Uma é que os seus nervos
conduzem a informação diretamente do nariz à
amígdala, o centro emocional do cérebro, para
depois afetar outras zonas (Figura 1). Isso implica
que cada cheiro nos provoca um KO emocional.
As mensagens aromáticas também chegam
rapidamente aos neurónios do hipotálamo, zona
que regula tanto as condutas maternal e sexual
como a reação de lutar ou fugir. Por isso, alguns
cheiros aceleram o ritmo cardíaco quase de
imediato (excitação- divisão simpática).
A tudo isto junta-se, segundo um estudo
recentemente publicado na revista Journal of
Consumer Research, o facto de nos recordarmos
melhor dos objetos que exalam uma fragrância
específica. Os especialistas no chamado
“neuromarketing” já estão a aplicar a descoberta
para aumentar a venda de calçado, roupas,
automóveis ... Como já foi comprovado, o vínculo
entre o olfato e a memória é bastante estreito
(Figura 1). O olfato, sendo o primeiro sentido a
amadurecer funciona como uma máquina do
tempo, as fragâncias que recordamos são
geralmente até aos 10 anos de idade, enquanto
imagens e palavras são referentes à adolescência
ou ao princípio da idade adulta.
Figura 1