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O Que é Isso Maconheiro?

Baseados em fatos reais


Lonza, Furio – Ed. Relume Dumará – 1998

“Nunca tive problemas com drogas. Só com a polícia”.

Keith Richards

Sumário

Introdução seca...............................................................................9
O primeiro baseado........................................................................13

Efeitos & Bandeiras colaterais.... .. .................................................19

O verão da lata. Uma visão holística...............................................27

A Praia do Apito...............................................................................33

Legalize já! Você decide..................................................................39

O usuário, esse desconhecido........................................................51

O traficante, esse conhecido...........................................................59

Jamaica. Mito & Realidade..............................................................65

A década de 60, onde tudo começou..............................................71

Você sabia?.....................................................................................77

O último baseado.............................................................................83

Glossário de expressões típicas......................................................87


Introdução seca

Nem liberal, nem conservador, este livro não pretende fechar o


assunto ou cerca-lo de considerações pseudo-científicas. Nem pró, nem
contra, muito pelo contrário, nossa posição em relação ao polêmico tema
da maconha resvala quando muito numa postura de curiosidade e tem a
intenção de montar uma bem-humorada visão sobre a erva, seus efeitos e
os personagens que contracenam nesse estranho e intrigante teatrinho
folhetinesco, com heróis e vilões, vítimas e carrascos, autoridades,
clowns, franco-atiradores, hipócritas, delatores, pés-de-chinelo e muita,
muita grana rolando.

Um simpático e irônico manual de diálogo entre pais e filhos, uma


versão atualizada e ensandecida de fatos, casos & episódios recentes, um
painel ficcional da onda fumacê que se alastra pela sociedade. O primeiro
baseado em fatos reais. Seja o que for ou a maneira com que venha a ser
adjetivado, este pequeño peró cumplidor volume jamais poderá ser
declarado culpado por fazer apologia à droga ou execrá-la pelo simples
fato de existir. Não temos intenção de enrolar antes da hora.

Imbuído das melhores e piores intenções, este manual joga pesado.


Sem nostalgia, mas uma dose cavalar de utopia correndo nas veias,
pretende mostrar que é possível uma volta ao estado bruto e ingênuo do
consumo da maconha de outros tempos, uma época lúdica e quase
bucólica onde a brincadeira era o principal objetivo. Estamos secos para
ver os resultados.

Inicialmente pensamos em fazer um livro humorístico ridicularizando


o câncer, o suicídio, a AIDS, a morte, o Papa, a prostituição infantil, o
estupro, os serial killers, o rejeito nuclear, as guerras , o homosexualismo,
o extermínio de judeus, o apartheid, a pena de morte e o pagode. Mas nos
pareceu fácil demais.

Não, este livro não é politicamente correto, nem acha isso


pertinente. Aliás nem pretende tirar da reta assume que está entrando em
terreno espinhoso lamacento e nem por isso menos engraçado. Cientes
de estarmos na ponta dos pés, com a merda batendo no queixo, sabemos
que o segredo é não fazer marola. Que atire a primeira pedra quem não
tiver culpa no cartório. Mas que não seja pedra de crack, pois o assunto é
maconha, vamos nos ater ao tema, galera.
O primeiro baseado
Suíte para filhos iniciantes e pais nostálgicos mas vigilantes

Como se sabe, o primeiro baseado a gente nunca esquece.


Principalmente porque você, com toda a certeza, depois de fumá-lo,
cometeu aquela famosa & emblemática frase, que retumbou em seus
ouvidos como o canto de uma araponga no eco de uma sacristia:

- Ih, olha só, eu não to sentindo nada.

Minutos mais tarde, contudo, para manter a coerência, você fingiu não
ver aquele anãozinho com cara de Groucho Marx que andava no teto
recitando versos de Camões com voz de tenor italiano.

E nem se abalou quando ouviu a campainha da porta tocar as


primeiras notas do hino nacional da Croácia. Em si bemol maior.

Já quando aquela foto da Teresa de Calcutá inclinou-se da parede


da sala num ângulo exato de 90 graus, olhou bem nos seus olhos e
sussurrou “Eu te amo, garotão”, você começou a se preocupar. Mas,
afugentando os demônios, disse para si:

- Deve ser começo de gripe!

Outras frases famosas inspiradas pelo primeiro baseado:

- Eu não preciso disto!

- Não bateu .

- Isto, comigo não funciona.

- Sei lá, prefiro um bom vinho

- O cheiro até que é gostoso, parece incenso né?

- Isto é coisa de gente fraca.

- Obrigada! Eu não fumo nem cigarro normal.

- É pra cheirar não é? Eu vi isto num filme.


- Eu estou normal...mas, o que o Sylvester Stalone, vestido de
Carmem Miranda esta fazendo em cima da Geladeira com aquela
banana?

De qualquer forma, cuidado, Pai!

A iniciação dos jovens pode vir travestida em um simples e trivial


pipoqueiro na porta da escola.

Eles fazem de tudo para aliciar novos e ingênuos adeptos da droga.


Quando o seu filho insistir e disser:

- Compra, pai! Essa pipoca é o maior barato!

Desconfie, mas não chame as autoridades ainda. Vá conversar com o


sujeito. Pode ser da boa. Não compre gato por lebre para o seu filho. É
uma questão de princípios. Faça com que ele entenda os direitos do
consumidor quando ainda pequeno.

Por isso, fique atento, mas não entre em pânico e evite a paranóia e
evite a paranóia desnecessária. Não chame a polícia por causa de
qualquer ambulante em porta de escola. Aquele ali, por exemplo, está
gritando:

- Olha a pamonha quentinha!

O melhor método ( mesmo que você não acredite nele) para evitar que
seu filho ingresse no luminoso mundo das drogas e experimente o primeiro
baseado ainda é a velha teoria da escadinha.

É simples. Explique a seu filho que a maconha leva ao crack, este


ao haxixe, daí para o chá de cogumelo, coca, depois anfetaminas, lança-
perfume, LSD, cheirinho da Loló, Santo Daime, Grapette e Fanta Uva.

Isso tudo causa um sentimento de euforia, ansiedade, paranóia,


deformação do caráter, extrema agitação e vontade de vender a mãe.

- Nessa escala natural – enfatize - , o próximo passo, com certeza, é


você querer ser deputado.

Não pegue ao pé da letra os efeitos descritos nos manuais


antidrogas para saber se seu filho é um viciado em maconha. Eles
podem confundir, pois dizem coisas do tipo “ não dorme direito, não
come, torna-se cada vez mais passivo, diz coisas estranhas, fica
magrinho e se veste com roupas rasgadas”. O Gandhi, afinal, era
assim e, ao que consta, nunca fumou um baseado. Era o jeitão dele.
Os pais têm que manter um diálogo franco e aberto com os filhos em
relação às drogas. Afinal, sempre é tempo de aprender mais alguma coisa.
Em geral, o primeiro baseado rola no quarto com dois amigos ouvindo
Pink Floyd. Nessas horas, o pai, exercendo a posição de autoridade máxima
da casa, deve entrar intempestivamente e gritar:

- Tira essa merda do aparelho já! Esse som não ta com nada!

É contraproducente os pais desferirem ataques frontais à


maconha. O ideal é ir cercando a coisa com habilidade, comendo
pelas beiradas e sentindo o efeito pouco a pouco. Quando tu vê,
já ta doidão.

Haja com tato e pedagogia. Quando o seu filho chegar da escola


todo eufórico e contar que arrumou uma namorada nova, você tem que
dizer:

- Já ta rolando sexo, drogas & rock´n roll?


E ele responder ruborizado:

- Mas, pai, ela só tem doze anos!

Você deve emendar:

- Bem, então, é melhor esquecer o rock´n roll!

Efeitos & Bandeiras colaterais

A perda da memória é um dos principais efeitos provocados pela


Cannabis Sativa. E é comum os adolescentes voltarem para casa e
dizerem:

- Mãe? Que mãe?

- Ih, olha só, eutava com o... lá no bar do... e tava rolando a... Aí
apareceu aquela gatinha... aquela que... pintou um clima de... O que
eu tava falando mesmo?

- Três dias? Tudo isso? Me parece que eu saí de casa hoje pela
manhã. Me lembro do café...

- Nossa! Já estamos em 1998?


O adolescente deve tomar muito cuidado com as bandeiras na escola,
principalmente nas provas orais:

- Chapada dos Guimarães? Claro que sei, professor, deve ser um


lugar onde as pessoas são muito loucas!

- Hipotenusa? Não é uma deusa grega de Roma?

- Quizá é uma forma erudita de escrever cuíca.

- Essa é fácil, mestre, semiótica é uma mulher caolha.

- Sândalo, com certeza, deve ser uma espécie de alpargatas dos


tempos bíblicos. Acertei?

Não se deve menosprezar as seqüelas da maconha. Há um caso de


um deputado superconhecido que, de tanto fumar baseado, ficou
verde.

Existem diversos empregos que o usuário da maconha deve evitar.


O correio, por exemplo. Em virtude da boca seca, outro efeito não
menos clássico, ele não terá saliva suficiente para colar os selos nas
cartas. Tomará advertência, será despedido, e amargará um ostracismo
por anos a fio. Quando passar na rua, garotinhos sacanas apontarão
para ele e dirão:

- Cospe aqui se você for homem, cospe. Ah, ah, ah.

Já a sonolência, postura relaxada e largadona, lentidão mental e de


movimentos é propícia a um trabalho no funcionalismo público. Ninguém
vai perceber.

Olhos vermelhos, por exemplo, não é problema. Você pode aparecer


em outdoor de remedi prá conjuntivite, uma nova marca de colírio ou fazer
anúncios do Ministério da Saúde daqueles tipo Antes & Depois da batida
do carro.

Às vezes, um sentimento de euforia pode ser uma das rebarbas mais


comuns depois de se fumar um baseado. Mas os limites, como se sabe,
são muito estreitos.

Quando você olhar para o céu e exclamar, em tom francamente


confidencial:
- Meu Camarada, tenho infinitas possibilidades, o universo está
dentro e mim, sou o raiar de uma nova Consciência...

Pode crer, você está perdendo o pé da realidade. O próximo passo,


com certeza, será entrar para uma igreja evangélica.

Outras frases que podem surgir nesse estágio calibrado


espiritualmente:

- No sétimo dia, vou descansar.

- Liberte sua alma, mai broda!

- Vinde a mim as criancinhas.

- E também as ninfetinhas.

- Deus é negro! Bob Marley é negro! Lulu Santos é negro! A Liliam


Witte Fibe é negra! Viva o Brasil! Viva o pé na cozinha!

A maconha é apelidada maldosamente de Argaiv ( Viagra ao contrário),


mas não se preocupe, isso é um mito.

Dizem que ela baixa o nível do hormônio testosterona, baixa o número


de espermatozóides, mas não baixa mais nada.

Pelo contrário, ajuda no planejamento familiar, evitando a


superpopulação do planeta.

Mas mesmo essa tese não é confirmada pela Organização Mundial de


Saúde.

No máximo, argumentam, o que pode acontecer é o espermatozóide


ficar muito doidão, entrar em um estado contemplativo e se perder nomeio
do caminho, filosofando, levando o maior lero com o óvulo, trocar idéias,
defender hipóteses...

Especialistas afirmam também que o motorista, após fumar um


baseado, perde totalmente a capacidade de se controlar.

Mário Albuquerque, 46 anos, advogado da vara familiar, foi preso em


flagrante na esquina da rua da Laranjeiras com General Glicério, dando
uma bifas na patros.

Interpelado pelos PMs, justificou:


- Ela disse que o túnel Santa Bárbara era pra direita. Eu disse que
era pra esquerda. Ela insistiu que era pra direita. Aí...

Sem capacidade nenhuma de se controlar, o motorista foi levado ao


distrito policial e teve a carteira apreendida.

Mas o túnel era mesmo pra esquerda. O mais grave é que o advogado
nunca mais conseguiu recuperar a carteira, com todos os documentos,
1.500 dólares, 3 cartões de crédito, talão de cheque, foto dos filhos...

Um dos efeitos mais perturbadores da maconha no organismo do


usuário é a larica, que se verifica imediatamente após o fim do efeito
alucinógeno.

A larica é aquela vontade irresistível de comer doces de uma


quantidade assustadora. E é comum, entre os adeptos da droga, ocorrer
os seguintes diálogos:

- Me vê a goiabada cascão.

- Ih, mano, acabou, só tem pavê.

- Passa.

- A uva-passa terminou ontem, ce num lembra?

- Não tem nem biscoitinho macro?

- Uma lasquinha.

Quando acabam os doces, tem início a chamada bad trip e o drama


clássico da fome se instala no reduto dos fumantes da erva.

Esse é o perigo. Um maconheiro é capaz de tudo para conseguir um


simples pudim de pão.

Arriscar-se a assaltar um ambulante cego para ter acesso a um trivial


pedaço de rapadura.

Ou um churro.

A crônica policial é pródiga em exemplos desse tipo: M. S., 16 anos, foi


preso em flagrante ao entrar numa padaria do bairro da Liberdade, em
São Paulo, e render o confeiteiro com um revolver esculpido em cortiça ,
dizendo que só iria soltá-lo quando ele preparasse um crepe Suzette
especial com sorvete de tâmaras da Turquia.
Foi dominado por PMs duas horas depois, desarmado e levado ao
distrito. Dizem que ele, mesmo com as algemas, olhava angustiado para o
confeiteiro, com lágrimas que lhe corriam pela face, e balbuciava:

- Eu quero! Eu quero!

Por sua vez , o confeiteiro batia o pezinho no chão e repetia, meio


cantarolando:

- Não faço, não faço e não faço! E pronto!

O verão da lata. Uma visão holística

A Praia do Apito

Legalize já! Você decide

O usuário, esse desconhecido

O traficante, esse conhecido


Jamaica – Mito & Realidade

Flutuando no mar das Caraíbas, a Jamaica é um país constituído por


uma ilha das Grandes Antilhas, tem 11.425 km2 e possui 2 milhões e 300
mil habitantes que também flutuam.

Dizem que quando foi descoberta, em 1492, Cristóvão Colombo


estacionou a caravela, desceu e perguntou a um nativo:

- Qual é a principal atividade econômica desta ilha?

O neguinho coçou a boina, ajeitou as trancinhas com tererê, pensou um


pouco e mandou:

- Ih, broda, se eu disser, você não vai acreditar!

A maconha chegou à Jamaica no século 19, mas ninguém lembra


como, quem trouxe, nem por quê. Aliás, a população em geral nem se
lembra do nome da ilha, quem é o presidente, às vezes, esquecem até
quem é o próprio pai, a própria mãe, têm uma ligeira idéia, supõem coisas,
filosofam e ficam nessa o dia inteiro.

A maconha na Jamaica chama-se ganja, mas o pessoal também não


se lembra disso.

As condições para o seu cultivo na ilha são excelentes. De cada 39


plantadores de ganja, 22 cultivam para consumo próprio e apenas 17 para
o comércio.

Mas como o povo de lá é bastante distraído, ás vezes, plantam 22,


cultivam 17 e fumam os outros 39.

Apesar de não lembrar direito disso, os habitantes da Jamaica, além


de serem bons trabalhadores rurais, são ótimos esportistas.

Os jamaicanos gostam muito de futebol e os técnicos estrangeiros


contratados para treinar sua equipe elogiam bastante a disciplina dos
jogadores. São ótimos na concentração, dizem, mas é difícil mantê-los
com os pés no chão.

Conta a lenda que, num jogo amistoso contra a Costa Rica, acabou
a luz. Mas os caras só foram perceber isso 5 horas mais tarde.

Inclusive porque estavam chutando uma laranja sem se darem conta


havia um bom tempo.

A bola foi encontrada dois dias depois, na panela de um restaurante


muito chique na capital Kingston. Interpelado, o cozinheiro disse:

- Ih, mano, olhai, e eu pensei que fosse uma abóbora!

Dizem que foi uma goleada histórica a favor da Jamaica: 150 a 117.
Mas outras versões afirmam que esse foi o resultado do campeonato
de remo.

Os jamaicanos encaram o futebol de uma forma bastante lúdica,


baseados em princípios superiores de sua própria religião.

Os jogos, em geral, duram meses, pois os atacantes, ao chegarem


no gol adversário, ficam levando papos delirantes e intermináveis com
o goleiro, tipo:

- E aí?

- A bola? Não sei, tava com ela agora mesmo.

- Você conhece aquela do papagaio fanho?

- Tudo bem, sem drama,to sabendo que é pro outro lado que eu
tenho que atacar.

Raramente os jogos na Jamaica chegam ao fim. São sempre suspensos por


excesso de nevoeiro que vem das arquibancadas.

Como se sabe, a religião da Jamaica é o rastafarismo, a música que


ouvem é o reggae e todos dançam o kaya, embora o povo se confunda
um pouco com essa parte.

Às vezes, dançam o rasta, rezam o reggae e fumam o kaya.

O Deus da Jamaica chama-se Jah e o ídolo deles é o Bob Marley,


um cara muito esquisito que vivia dando ganja nos shows de outros
cantores.
Como na Jamaica religião, movimento político, maconha e música
se confundem, é de lá que partiu a expressão Legalize Jah!

Às vezes, os jamaicanos fumam também o Jah.

A década de 60, onde tudo começou

Você sabia?

Maconha é um anagrama de cânhamo.

O Departamento que perseguia a Umbanda no começo do século


era o mesmo que reprimia o uso de drogas e tinha o sugestivo nome de
Seção de Entorpecentes, Tóxicos & Mistificação.

Quem apresentou a maconha aos Beatles foi Bob Dylan, 1965. Após
uma noitada de fumo, muito papo e doideiras generalizadas, John
Lennon compôs a belíssima “You´ve got to hide your love away”, que
aparece no disco “Help”.

No Nepal, até o fim dos anos 60, a ganja e o Pahadi chares (haxixe),
seu derivado, eram monopólio do rei, que concedia franquia de
exploração do negócio a uma única empresa – a Khishna Lama. Em
sua propaganda, ela advertia que “His Magesty Government” agiria
com o máximo rigor em relação ao mercado negro.

A maconha é originária da Ásia, onde floresce espontaneamente nas


montanhas à beira do lago Baical.

No século XII, os árabes lutavam ferozmente e matavam com


crueldade sob o efeito de haxixe. Eram os chamados haschinchins,
nome que, mais tarde deu origem a palavra assassino.

Há 6.200 anos, o cânhamo é usado na fabricação de tecidos na


China e desde 2.700 a.C. é empregado como remédio.
Antigamente, a maneira mais comum de fumar maconha no Brasil
era nu cachimbo feito de coco ou cabaça com água, obrigando a
fumaça a se resfriar antes de chegar à boca, lembrando muito o
narguilé oriental.

Em 1905, apareceu no Almanach Parisiense, publicado no Rio de


Janeiro, um estranho anúncio, onde eram apresentados os Cigarettes
Indiennes (Canabis indica), acondiciopnados em modernas e finíssimas
caixinhas estilo Art Nouveau. A empresa chamava-se Pharmacie Dr.
Grimaut & Cie., Paris e o texto especificava suas amplas atividades
terapêuticas: “ Contra ashma, catarrhos e insomnia”. Emendando com
o dia seguinte: a dificuldade em respirar, roncadura, os flatos, a
respiração sibilante acabam logo; produz-se uma expectoração
abundantíssima e facilita um dormir reparatório, afastando os sintomas
assustadores que tenham manifestado.

Em certa época, a homeopatia também flertou com a maconha.


Suas aplicações medicinais eram indicadas para gonorréia, blenorragia
e asma, entre outras.

Estima-se que a maconha tenha hoje entre 250 e 300 milhões de


usuários espalhados pelo mundo.

A planta Cannabis Sativa, tanto macho, quanto fêmea, produz mais


de 400 produtos químicos, sendo 61 canabinóides, alguns psicoativos,
como o THC, que é alucinógeno.

A maconha chegou à África no início do primeiro século da Era


Cristã.

Em 1910, a maconha foi importada do México pelos EUA. Os


usuários eram principalmente negros pobres e trabalhadores do Texas
e Louisianna.

Quando o jazz se tornou popular em Nova Orleans, após a I Guerra


Mundial, o hábito da maconha foi adotado pelos músicos negros.
Diziam que o fumo ajudava-os a sustentar o ritmo mais rápido e
frenético.

A primeira referência à maconha que se tem notícia aparece no Pen


Ts’oo Ching, texto medicinal de origem chinesa, considerando o mais
antigo do gênero no mundo (2737 a.C.), onde é indicado para asma,
cólicas menstruais e inflamações na pele.
Com baixos teores de THC, a Adidas lançou nos EUA um tênis
reciclável feito de fibras de cânhamo. Sugestivamente,

deu-lhe o nome de Chronic, gíria americana que designa o fumante de


maconha.

Já a Sharon´s Finest, empresa especializada em comida natural na


Califórnia, lançou o Hemp Rella, um queijo à base de sementes de
maconha.

Na região conhecida como “Polígono da Maconha”, que vai de


Petrolina, em Pernambuco, a Juazeiro, na Bahia, um hectare de maconha dá
lucro 45 vezes maior que o de tomate e 200 vezes mais que o feijão.

Em algumas localidades dos EUA, numa área de dois metros


quadrados, podem concentrar-se até 100 pés de maconha. Tudo
controlado por computadores de última geração, que zelam também
pela segurança dos cultivadores. Com softwares especialmente
desenvolvidos, eles podem se comunicar, dar alertas sobre a ação da
polícia e escapar de batidas com relativa facilidade.

O último baseado

Trio de câmara toca a suíte para o próximo milênio.

Como se sabe, o último baseado a gente nunca esquece.


Principalmente porque você, depois de fumá-lo, em vez de levantar vôo,
entrou em parafuso, começou a pensar no saldo bancário negativo o
aluguel atrasado, a prestação do micro...

E, com certeza, disse para os colegas:

- Vocês não acham que o som está muito alto?

Nessas alturas, companheiro, é hora de se aposentar, vestir uma


camisa listrada e sair por aí, pedindo chá com torradas e tomar o rumo de
Parati, Angra, Búzios...

Comprar um terreninho, fazer fundo de pensão e encarar um plano de


saúde com direito ma quarto privado, helicóptero de resgate e UTI sem
carência.
Outras frases inspiradas no último baseado:

- Bob Marley? Eu lembro. Não era aquele ponta esquerda...?

- E aí, bateu?

- Não sei, parece que não é a mesma coisa!

- Vocês ouviram a sirene? Será que estão vindo para cá?

- É melhor fechar a janela. Esse cheiro, você sabe, os vizinhos...

- Não sei, dizem que dá câncer.

- Pega o Bom Ar, meu filho ta chegando...

- Essa tosse! Nunca me aconteceu antes!

Você percebe que é hora de parar com o fumacê quando o besteirol


descamba de repente para uma discussão séria sobre política, partidos, o
fim da polarização ideológica e a queda do muro de Berlim.

Na hora que estiver flertando abertamente com a globalização, meu


caro, você deve procurar na lista telefônica um sanatório que aceite
cartão de crédito.

E marcar com urgência uma lobotomia.

Quando você menos esperar, porém , toca a campainha e entra uma


gatinha com tudo em cima, camisetinha transparente, umbigo de fora,
piercing no nariz e pergunta pelo filhão , que está para chegar.

Com aquela cara que acabou de pendurar as chuteiras (em todos os


sentidos), você, já resignado, tenta entabuar um diálogo entre as
gerações.

Para sua surpresa, o papo rola numa boa , até que ela pergunta:

- Não tem som nessa casa?

Ressabiado, co três pés atrás, você diz:

- Algo em especial?

Ela sugere:
- Stones. Adoro Stones!

Antes de cair de costas você bota o “Brown sugar”.

O clima é puro cool . Com os movimentos lentos, de olhos fechados,


ela dança. Até parece uma edição revista e melhorada do Woodstock.
Você abre duas cervejas.

Ela toma do gargalo e faz backing para Mick Jagger.

Você vai ao banheiro, olha no espelho e diz:

- Bem, não precisa ser tão drástico e definitivos: vamos ao penúltimo


baseado!

Um pouco depois o filhão chega:

- Oi pai, oi gata!

Enlevados, os três ouvem em silêncio religioso o “ Sister morphine”.

Chega a mãe, percebe o êxtase generalizado e pergunta desconfiada:

- O que vocês andaram aprontando?

E todos respondem, em uníssono:

- Ainda tem aquele brigadeirão?

Glossário de expressões típicas

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