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FASES DOS ARTICULADOS

67. Função da fase

A fase dos articulados é aquela em que as partes da acção – o autor e o réu –


apresentam as razões de facto e de direito que fundamentam as posições que
defendem em juízo e solicitam a correspondente tutela judicial.

É através dos articulados que as partes iniciam o seu diálogo na acção.

68. Articulados

São as peças em que as partes expõem os fundamentos da acção e da defesa e


formulam os pedidos correspondentes (art. 151º/1 CPC).

Essas peças recebem o nome de articulados, porque, em princípio, nas acções,


nos incidentes e nos procedimentos cautelares é obrigatória a dedução por artigos
dos factos que interessam à fundamentação do pedido ou da defesa (art. 151º/2
CPC), isto é, cada facto deve ser alegado separadamente num artigo numerado.

O processo ordinário comporta, na tramitação normal, quatro articulados:

a petição inicial (art. 467º CPC), a contestação (art. 486º CPC), a réplica (art.
502º CPC) e a tréplica (art. 503º CPC);

em determinadas situações, podem ainda ser apresentados articulados


supervenientes (art. 506º CPC).

69. Apoio judiciário

O apoio judiciário é, em conjunto com a consulta jurídica, uma das modalidades


da protecção jurídica (art. 6º DL 387-B/87, de 29/12; art. 20º/2 CRP).

Têm direito à protecção jurídica as pessoas singulares e colectivas que


demonstrem não dispor de meios económicos bastantes para suportar os honorários
dos profissionais da causa (art. 7º/1 e 4, DL 387-B/87), ou seja, as pessoas para as
quais esses encargos possam constituir motivo inibitório do recurso ao Tribunal (art.
7º DL 391/88, de 26/10).

Gozam da presunção de insuficiência económica aqueles que requeiram


alimentos ou que os estejam a receber por necessidade económica, que reúnam as
condições exigidas para a atribuição de quaisquer subsídios em razão da sua
carência de rendimentos, que tenham rendimentos mensais provenientes do
trabalho iguais ou inferiores a uma vez e meia o salário mínimo nacional, bem como
o filho menor para efeitos de investigar ou impugnar a sua maternidade ou
paternidade (art. 20º/1, DL 387-B/87).
A protecção jurídica – e, portanto, o apoio judiciário – é concedido para as
causas em que o requerente tenha um interesse próprio e que versem sobre direitos
lesados ou ameaçados de lesão (art. 8º DL 387-B/87).

O apoio judiciário aplica-se em todos os Tribunais, qualquer que seja a forma


processual do requerente e da sua concessão à parte contrária (art. 17º/1, DL 387-
B/87), e, se for atribuído, compreende a dispensa, total ou parcial, de taxas de
justiça e do pagamento das custas, ou o seu diferimento, assim como a dispensa do
pagamento dos serviços do advogado ou solicitador (art. 15º/1, DL 387-B/87).

Essa dispensa abrange as despesas com os exames requeridos a organismos


oficiais e as multas que condicionam o exercício de uma faculdade processual.

70. Petição inicial

A petição inicial é o primeiro articulado do processo, no qual o autor alega os


fundamentos de facto e de direito da situação jurídica invocada e formula o
correspondente pedido contra o réu.

A entrega da petição inicial é o resultado de uma actividade prévia do advogado


do autor e, frequentemente, de várias opções quanto à estratégia a adoptar.

Aquela actividade inclui a indagação dos factos relevantes para a


fundamentação da posição do seu mandante e a averiguação dos meios de prova
susceptíveis de ser utilizados por esta parte (art. 456º/2-a), b) CPC).

A petição inicial contém, em termos formais, quatro partes:

o intróito ou cabeçalho, a narração, a conclusão e os elementos


complementares.

A petição inicial começa por um intróito ou cabeçalho, no qual é designado o


Tribunal onde a acção é proposta (art. 467º/1-a CPC), se identificam as partes
através dos seus nomes, residências, profissões e locais de trabalho (art. 467º/1-a
CPC) e se indica a forma do processo (art. 467º/1-b CPC).

Se a petição inicial não contiver estes elementos, a secretaria deve recusar o


seu recebimento (art. 474º-a), b), c) CPC).

Na narração, o autor deve expor os factos e as razões de direito que servem de


fundamento à acção (art. 467º/1-c CPC).

Esta parte da petição inicial contém a exposição dos factos necessários à


procedência da acção, isto é, a alegação dos factos principais, bem como dos factos
instrumentais para os quais seja oferecida prova documental que deva ser junta à
petição inicial (art. 523º/1 CPC).

Os factos devem ser deduzidos por artigos (art. 151º/2 CPC) e, se faltar
qualquer facto essencial, a petição é inepta por falta de causa de pedir (art. 193º/2-a
CPC).
À narração dos factos e das razões de direito segue-se a conclusão.

É nesta parte da petição inicial que o autor deve formular o pedido (art. 467º/1-d
CPC), isto é, definir a forma de tutela jurídica que pretende a situação jurídica
alegada.

A falta de indicação do pedido ou a contradição deste com a causa de pedir


apresentada na narração importam a ineptidão da petição inicial (art. 193º/2-a, b
CPC).

A petição inicial termina com algumas indicações complementares (arts. 467º/1-


e/2; 474º-d, e; 523º/1; 255º/1; 32º/1-a, b; 40º CPC).

A petição inicial deve ser entregue ou enviada à secretaria judicial do Tribunal


competente (art. 150º/1 e 3 CPC).

A acção considera-se proposta, intentada ou pendente logo que aquele


articulado seja recebido na secretaria (art. 267º/1 CPC).

O art. 234º/4 CPC, enumera as hipótese em que a citação do réu é precedida de


despacho judicial e o art. 234º-A/1 CPC, estabelece os casos em que o juiz é
chamado a proferir aquele despacho pode indeferir liminarmente a petição.

O indeferimento limiar pode basear-se na improcedência manifesta da acção ou


na existência de uma excepção dilatória insanável e de conhecimento oficioso (art.
234º-A/1 CPC).

Esse indeferimento pode ser parcial, tanto quanto a um dos objectos cumulados,
como quanto a um dos vários autores ou réus.

O indeferimento liminar extingue a instância (art. 287º-a CPC), e produz caso


julgado quanto ao seu fundamento.

Por aplicação analógica do art. 476º CPC, o autor pode entregar, no prazo de 10
dias após a notificação do indeferimento liminar, uma nova petição inicial.

O art. 234º-A/1 CPC, coloca o problema de saber se o único despacho


admissível nesse momento é o de indeferimento liminar.

Pode perguntar-se se, perante uma petição irregular ou deficiente, o juiz está
impedido de solicitar a sanação da irregularidade ou de convidar o autor a
aperfeiçoar esse articulado.

71. Citação do réu (art. 480º - art. 233º CPC)

A citação é o acto pelo qual se dá conhecimento ao réu de que foi proposta


contra ele determinada acção e se chama ao processo para se defender (art. 228º/1,
1ª parte – 480º CPC).
Em regra, a citação é posterior à distribuição, mas, quando aquela não deva
realizar-se editalmente (art. 233º/6 CPC), o autor pode requerer, invocando os
respectivos motivos, que a citação preceda a distribuição (art. 487º/1 CPC).

A citação do réu está submetida aos princípios da oficiosidade e da celeridade


(arts. 234º/1 e 479º CPC).

A citação pode ser pessoal ou edital (art. 233º/1 CPC).

A citação pessoal é aquela que é feita através de contacto directo com o


demandado ou que é efectuada em pessoa diversa do citando, mas encarregada de
lhe transmitir o conteúdo do acto (art. 233º/4; sobre estas situações: arts. 233º/5,
236º/2 e 240º/2, 2ª parte CPC).

A citação pessoal pode ser realizada através da entrega ao cintando de carta


registada com aviso de recepção, nos casos de citação postal (art. 233º/2-a CPC),
mas também pode ser efectuada através de contacto pessoal do funcionário judicial
(art. 233º/2-b CPC) ou do mandatário judicial do autor com o citando (art. 233º/3
CPC).

Em regra, a citação é pessoal (art. 233º/6 CPC) e, em regra também, é realizada


pela via postal (arts. 239º/1 e 245º/2 CPC).

Modalidades de citações:

* Citação postal (art. 236º/1 CPC);


* Citação por funcionário judicial (arts. 235º; 239º/1; 240º/2, 4 – art. 348º CP – art.
241º CPC);
* Citação por mandatário judicial (art. 245º/2 CPC)
* Citação edital (art. 233º/6 CPC)
* Citação no estrangeiro (art. 247º/1 CPC).
A citação pode ser impossível por três circunstâncias:
a incapacidade de facto do citando (art. 242º CPC),
a ausência do citando em parte certa e por tempo limitado (art. 243º CPC)
e a ausência dele em parte incerta (art. 244º CPC).

No primeiro caso, se o juiz reconhecer a incapacidade do réu, é-lhe nomeado


um curador provisório (art. 242º/3 CPC);

No segundo, faculta-se ao Tribunal a opção entre proceder à citação postal ou


aguardar o regresso do citando (art. 243º CPC);

Por fim, no terceiro, procura-se obter, junto de quaisquer entidades, serviços ou


autoridades policiais, informações sobre paradeiro ou a ultima residência conhecida
do citando (art. 244º/1 CPC), utilizando, em seguida, se essa ausência for
confirmada, a citação edital (arts. 233º/6, e 248º CPC).

A citação pode faltar (art. 195º CPC) e ser nula (art. 198º CPC).
Segundo o disposto no art. 195º CPC, verifica-se a falta de citação quando o
acto tenha sido completamente omitido, quando tenha havido erro de identidade do
citado, quando se tenha empregado indevidamente a citação edital (arts. 233º/6 e
251º CPC), quando se mostre que foi efectuada depois do falecimento do citando ou
da extinção deste e ainda quando se demonstre que o destinatário da citação deste
e ainda quando se demonstre que o destinatário da citação pessoal não chegou a
ter conhecimento do acto, por facto que não lhe seja imputável, ou seja, quando ele
tenha ilidido a presunção estabelecida no art. 238º CPC, ou quando a citação tenha
sido realizada apesar da sua incapacidade de facto (art. 242º CPC).

A falta de citação considera-se sanada se o réu ou o Ministério Público


intervierem no processo e não arguirem o vício (art. 196º CPC).

A citação é nula quando, na sua realização, não hajam sido observadas as


formalidades prescritas na lei (art. 198º/1 CPC) – arts. 235º e 246º/1 CPC), desde
que essa inobservância possa prejudicar a defesa do citado (art. 198º/4 CPC)

72. Contestação

A contestação é a resposta do réu à petição inicial do autor, ou seja, é a


manifestação da posição do réu perante aquele articulado do autor.

Pode ser entendida num sentido material ou formal.

A contestação em sentido material é qualquer acto praticado pelo réu, no qual


essa parte mostre a sua oposição ao autor e ao pedido formulado por esta parte
(arts. 486º/2 e 487º/1 CPC).

A contestação em sentido formal é o articulado de resposta do réu à petição


inicial do autor: à contestação em sentido formal referem-se por exemplo os arts.
488º e 489º/1 CPC.

O réu pode tomar uma de duas atitudes fundamentais perante a petição inicial:
opor-se ao pedido do autor ou não se opor a ele.

A opção por uma destas condutas depende dos factos indagados pelo
mandatário do réu e das provas de que esta parte possa dispor, havendo,
naturalmente, que observar o dever de verdade que recai sobre essa parte (art.
456º/2-a, b CPC) e o dever de não advogar contra a lei expressa e de não usar
meios ou expedientes ilegais que obriga o mandatário (art. 78º-b EOA).

A contestação do réu marca a sua oposição relativamente ao pedido do autor.

A contestação pode consistir na impugnação dos factos articulados pelo autor ou


na invocação de uma ou várias excepções dilatórias ou peremptórias (art. 487º
CPC).

A escolha da modalidade da defesa (por impugnação ou por excepção) é


condicionada pela posição que o réu pretende assumir na acção (arts. 487º/2 e
493º/2 e 3 CPC).
Em conjunto com a contestação ou independente dela, o réu pode formular um
pedido reconvencional contra o autor (art. 501º CPC).

Sempre que o pedido reconvencional não esteja sujeito a qualquer preclusão se


não for formulado na acção pendente, a opção pela sua formulação nessa acção só
deve ser tomada quando for possível coligir, no prazo de contestação, todos os
elementos necessários para a sua procedência.

A reconvenção deve ser deduzida separadamente na contestação, na qual


devem ser expostos os seus fundamentos, formulado o correspondente pedido e
indicado o seu valor (art. 501º/1 e 2 CPC).

O réu pode contestar no prazo de 30 dias a contar da sua citação (art. 486º
CPC).

A esse prazo acresce uma dilação de 5 dias quando a citação não tenha sido
realizada na própria pessoa do réu (arts. 236º/2 e 240º/2 e 3 CPC) e quando o réu
tenha sido citado fora da comarca sede do Tribunal onde pende a acção (art. 252º-
A/1 CPC).

O articulado de contestação apresenta o mesmo conteúdo formal da petição


inicial (art. 488º CPC).

A contestação (em sentido material) está submetida a uma regra de


concentração ou de preclusão:

toda a defesa deve ser deduzida na contestação (art. 489º/1 CPC),


ou melhor, no prazo da sua apresentação (art. 486º/1 CPC),
pelo que fica precludida quer a invocação dos factos que, devendo ter sido
alegados nesse momento, não o foram, quer a impugnação, num momento
posterior, dos factos invocados pelo autor.

Se aqueles factos forem invocados fora do prazo determinado para a


contestação, o Tribunal não pode considerá-los na decisão da causa; se o fizer,
incorre em excesso de pronúncia, o que determina a nulidade daquela decisão (art.
668º/1-d, 2ª parte CPC).

Para determinar a incidência desta regra de concentração ou de preclusão,


importa ter presente que, na contestação, o réu tanto pode alegar factos novos que
fundamentam uma excepção dilatória ou peremptória, como limitar-se a impugnar os
factos invocados pelo autor na petição inicial (art. 487º/2 CPC).

73. Conteúdo material

A contestação pode revestir as modalidades de defesa por impugnação e por


excepção (art. 487º/1 CPC).

A defesa por impugnação pode ser directa ou de facto ou indirecta ou de direito:


– A impugnação directa ou de facto consiste na contradição pelo réu dos
factos articulados na petição inicial (art. 487º/2, 1ª parte CPC);
– A impugnação é indirecta ou de direito quando o réu afirma que os factos
alegados pelo autor não podem produzir o efeito jurídico pretendido por essa
parte (art. 487º/2, 1ª parte in fine CPC).

A impugnação directa é um meio de defesa do réu; como o Tribunal conhece


oficiosamente a matéria de direito (art. 664º, 1ª parte CPC), este órgão, mesmo sem
essa impugnação, deve controlar se os efeitos jurídicos pretendidos pelo autor
podem decorrer dos factos alegados por esta parte.

A delimitação entre a impugnação indirecta e a excepção peremptória faz-se, por


isso, através do seguinte critério:
- Se o réu se limita a negar o efeito jurídico pretendido pelo autor, isto é, a
atribuir uma diferente versão jurídica dos factos invocados pelo autor, há
impugnação indirecta;
- Se, pelo contrário, o réu opõe a esse efeito a alegação de um facto
impeditivo, modificativo ou extintivo, verifica-se a dedução de uma excepção
peremptória.

a) Defesa por excepção:


Consiste na invocação de factos que obstam à apreciação do mérito da acção
ou que, servindo de causa impeditiva, modificativa ou extintiva do direito invocado
pelo autor, importam a improcedência total ou parcial do pedido (art. 487º/2, 2ª parte
CPC).

No primeiro caso, o réu alega a falta de um pressuposto processual e invoca


uma excepção dilatória (art. 493º/2 CPC); no segundo, o réu opõe uma excepção
peremptória (art. 493º/3 CPC).

b) Defesa por impugnação:


A impugnação directa deve abranger os factos principais articulados pelo autor
na petição inicial (art. 490º/1 CPC);

se assim não suceder, consideram-se admitidos por acordo os factos que não
forem impugnados (art. 490º/2, 1ª parte CPC).

A contestação produz efeitos processuais, inclui-se a possibilidade, admitida


em certos casos, de réplica do autor (art. 502º/1 e 2 CPC).

E substantivos, importa referir que a contestação torna litigioso o direito


afirmado ou a coisa discutida em juízo, o que revela, por exemplo, para a proibição
da cessação daquele direito (art. 579º CC) e da venda desse direito ou coisa (art.
876º CC).

74. Réplica

É a resposta do autor à contestação do réu.

A réplica pode ser entendida num sentido formal ou material:


naquela primeira acepção, a réplica é o articulado que o autor apresenta em
resposta à contestação do réu;

em sentido material, a réplica consiste na contestação de uma excepção oposta


pelo réu ou na dedução de uma excepção contra o pedido reconvencional formulado
pelo réu (art. 502º/1 e 2 CPC).

Se aquele articulado contiver aquela impugnação ou a dedução daquela


excepção, a réplica em sentido formal é-o também em sentido material.

A réplica é admissível sempre que o réu deduza alguma excepção ou formule


um pedido reconvencional (art. 502º/1 CPC):

naquele primeiro caso, a réplica destina-se a possibilitar a impugnação pelo


autor da excepção invocada pelo réu ou a alegação de uma contra-excepção;

no segundo, a réplica permite a apresentação pelo autor de qualquer


contestação, por impugnação ou por excepção (art. 487º/1 CPC), do pedido
reconvencional.

A réplica encontra a sua justificação nos princípios da igualdade das partes (art.
3º-A CPC) e do contraditório (art. 3º/1 e 3 CPC).

A falta da réplica ou a não impugnação dos factos novos alegados pelo réu
implica, em regra, a admissão por acordo dos factos não impugnados (art. 505º
CPC).

Esta admissão não se verifica nas situações previstas do art. 490º/2 CPC, e,
além disso, há que conjugar o conteúdo da réplica com o da petição inicial, pelo que
devem considerar-se impugnados os factos alegados pelo réu que forem
incompatíveis com aqueles que constarem de qualquer desses articulados do autor.

Se o réu tiver formulado um pedido reconvencional, a falta de réplica implica a


revelia do reconvindo quanto a esse pedido (art. 484º/1 CPC).

Essa revelia é inoperante nas condições referidas no art. 485º CPC, mas, se for
operante, determina a confissão dos factos articulados pelo réu como fundamento
do seu pedido reconvencional (art. 484º/1 CPC).

Acessoriamente a estas funções, a réplica pode ser utilizada para o autor alterar
unilateralmente o pedido ou a causa de pedir (art. 273º/1 e 2 CPC)

75. Tréplica

É a resposta do réu à réplica do autor.

Também a tréplica pode ser referida numa acepção formal ou material:

em sentido formal, a tréplica é o articulado de resposta do réu à réplica do autor;


a tréplica em sentido material é a contestação pelo réu das excepções opostas à
reconvenção na réplica, a impugnação da admissibilidade da modificação do pedido
ou da causa de pedir realizada pelo autor na réplica (art. 273º/1 e 2 CPC) ou a
contestação da nova causa de pedir ou do novo pedido apresentado pelo autor na
réplica (art. 503º/1 CPC).

A tréplica só é admissível em duas situações (art. 503º/1 CPC):

- Quando o autor tiver modificado na réplica o pedido ou a causa de pedir (art.


273º/1 e 2 CPC) e o réu pretender contestar quer a admissibilidade dessa
modificação, quer o novo pedido formulado ou a nova causa de pedir invocada;

- Quando o réu tiver deduzido um pedido reconvencional, o autor tiver alegado


contra esse pedido uma excepção e o réu desejar contestá-la por impugnação ou
pela invocação de uma contra-excepção.

A tréplica destina-se, por isso, a assegurar o contraditório do réu a essas


matérias.

O ónus de impugnação também vale na tréplica.

Assim, a falta da tréplica, a não impugnação da nova causa de pedir e a não


contestação da excepção alegada pelo autor na réplica determinam, em regra, a
admissibilidade por acordo desses factos e dessa excepção (art. 505º CPC).

Se o réu tiver formulado um pedido reconvencional (art. 501º/1 CPC), o autor


pode contestar na réplica esse pedido através da dedução de uma excepção, à qual
o réu pode responder na tréplica com a alegação de uma contra-excepção.

76. Articulados supervenientes

Os articulados supervenientes são utilizados para a alegação de factos que,


dada a sua superveniência, não puderam ser invocados nos articulados normais (art.
506º/1 CPC). Essa superveniência pode ser objectiva ou subjectiva:

- É objectiva quando os factos ocorrem posteriormente ao momento da


apresentação do articulado da parte (art. 506º/2, 1ª parte CPC);

- É subjectiva quando a parte só tiver conhecimento de factos ocorridos depois


de findar o prazo de apresentação do articulado (art. 506º/2, 2ª parte CPC).

A superveniência objectiva é facilmente determinável: se o facto ocorreu depois


da apresentação do articulado da parte, ele é necessariamente superveniente.

Mais complexa é a aferição da superveniência subjectiva, porque importa


verificar em que condições se pode dar relevância desconhecimento do facto pela
parte.

O art. 506º/4 CPC, estabelece que o articulado superveniente deve ser rejeitado
quando, por culpa da parte, ele for apresentado fora de tempo, isto é, quando a
parte não tenha tido conhecimento atempado do facto por culpa própria (art. 506º/3
CPC).

Portanto, a superveniência subjectiva pressupõe o desconhecimento não


culposo do facto.

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