Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
RESUMO
O presente ensaio é uma reflexão sobre os processos e a metodologia de codesign
experimentados no âmbito do projeto de design participativo: KOWORK E5G. A iniciativa
está a ser desenvolvida no Bairro do Alto da Cova da Moura, localizado no concelho da
Amadora, na Grande Lisboa. A Cova da Moura é um bairro de construção ilegal,
maioritariamente habitado por imigrantes dos países de língua oficial portuguesa (PALOP) e
respetivos descendentes. O KOWORK E5G desenvolve-se a partir de uma plataforma de
colaboração constituída pelo Grupo de Estudos Sócio-territoriais Urbanos e de Acção Local
(GESTUAL/CIAUD), um grupo de investigação pertencente à Faculdade de Arquitetura da
Universidade de Lisboa (FAUL); e o Gabinete de Apoio ao Emprego e Empreendedorismo
(GIP), um departamento de inserção profissional de uma entidade local, a qual presta apoio
social à comunidade - a Associação Cultural Moinho da Juventude (ACMJ). O projeto
consiste na proposta de uma série de atividades focadas na promoção de conhecimentos
em design em consonância com uma oficina de carpintaria local. Neste contexto, foi
desenvolvido um processo de codesign com os participantes do KOWORK E5G para a
criação de propostas concretas a serem implementadas na comunidade da Cova da Moura.
No entanto, tal como outras iniciativas semelhantes na periferia de Lisboa, o projeto
deparou-se com a falta de apoio de instituições públicas, assim como um acesso precário a
meios e recursos para o respetivo desenvolvimento. O objetivo do artigo é analisar as
razões que estão na origem deste tipo de dificuldades, refletindo e explorando alguns
aspetos em particular, como o contexto socioeconómico e político do bairro, bem como as
dimensões antropológica e ativista presentes no design social.
1. INTRODUÇÃO
O artigo resulta da análise exploratória de um caso de estudo desenvolvido no Bairro do Alto
da Cova da Moura, na periferia de Lisboa. O projeto, intitulado Kowork E5G, foi criado
através de uma parceria entre o Grupo de Estudos Socio-territoriais Urbanos e de Acção
Local (GESTUAL/CIAUD), pertencente à Faculdade de Arquitetura da Universidade de
Lisboa (FAUL), e o Gabinete de Apoio ao Emprego e Empreendedorismo (GIP) da
Associação Cultural Moinho da Juventude (ACMJ), esta última situada no bairro e
responsável por inúmeras iniciativas socioculturais em benefício da comunidade. Neste
contexto, a convite da FAUL e em colaboração com o GIP, também localizado no bairro, um
grupo de investigadores em design conduziu um projeto de codesign no qual participaram
jovens adultos residentes ou frequentadores desta área urbana.
Após a compreensão do lugar e algumas das transformações sociais e políticas do Bairro do
Alto da Cova da Moura, o ensaio segue com uma análise do projeto de codesign, a
explicação da estratégia e das ferramentas utilizadas para a implementação e dinamização
das várias fases da iniciativa, assim como uma descrição e reflexão sobre os problemas que
surgiram no decorrer de todo o processo. Posteriormente, são aprofundados alguns
aspectos relevantes da investigação, como a função do design na transformação cultural
das sociedades contemporâneas e na criação de novos paradigmas sociais, bem como a
forma particular, de carácter etnográfico e antropológico, como estas abordagens se
manifestaram num contexto de exclusão social, como é o caso do bairro em questão. Por
último, o ensaio aborda a qualidade transdisciplinar presente neste tipo de práticas artísticas
de envolvimento social, assim como a ambivalência que estas possuem na forma de atuar,
tendo em conta que procuram ser úteis para um determinado contexto social e,
simultaneamente, são um meio de representação política e simbólica.
1
SWOT é uma sigla em inglês dos termos Strengths (pontos fortes), Weaknesses (pontos fracos),
Opportunities (oportunidades) e Threats (ameaças). Os pontos fortes e fracos, em geral, estão dentro
da própria empresa, enquanto as oportunidades e as ameaças, na maioria dos casos, têm origem
externa (Endeavor, 2015a).
2
5W2H - (What) O que deve ser feito? (Why) Por que deve ser implementado? (Who) Quem é o
responsável pela ação? (Where) Onde deve ser executado? (When) Quando deve ser
implementado? (How) Como deve ser conduzido? (How much) Quanto vai custar a implementação?
(Endeavor, 2015b).
antes conduzidos pelo entendimento dos problemas específicos, assim como pelas
circunstâncias, objetivos situados e locais (Goethert et al, 1992). Isto é, dão largas à
improvisação, ou por outras palavras, é a partir de cada ação que serão identificadas as
ações subsequentes, tornando-se um programa construído à medida que os envolvidos
avaliam cada ação.
O espaço de intervenção escolhido fica na entrada sul do bairro junto à creche familiar
gerida pela ACMJ, o qual é de fácil acesso rodoviário. Além do levantamento das condições
do terreno fizeram-se maquetes e imagens tridimensionais da intervenção. As paletes,
oferecidas pela empresa de gestão de resíduos EGEO, e todos os materiais necessários à
produção e implementação estavam reunidos e, no final de novembro, a ideia foi
apresentada à direção da creche, a qual aprovou o projeto e encaminhou para a direção da
associação (Figura 3). No entanto seria também necessária a aprovação do atual
proprietário daquela parte do terreno: a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa.
REFERENCES
Binder, T., Brandt, E., Ehn, P., Halse, J. (2015). Democratic design experiments: between
parliament and laboratory. CoDesign, 11:3-4, 152-165.
Carvalho, M. L., 2010. O Desenvolvimento Local e a Imigração Cabo-verdiana: um olhar
sobre a comunidade da Cova da Moura. Lisboa: ISCTE/IUL, Departamento de Economia
Politíca, 2010. Dissertação de Mestrado.
Endeavor (2015a). Ferramenta: Análise SWOT. https://endeavor.org.br/ferramenta-analise-
swot/ (acedido 01.02.2017).
Endeavor. (2015b). Ferramenta:5W2H: Aprenda a responder às perguntas certas de Gestão
dos Projetos. https://endeavor.org.br/5w2h-aprenda-responder- perguntas-certas-de-gestao-
dos-projetos/ (acedido 01.02.2017).
Godinho, M. A. S., 2010. Cova da Moura: bairro histórico em construção. Coimbra:
Universidade de Coimbra, Faculdade de Ciências e Tecnologia. Dissertação de Mestrado.
Goethert, R; Hamdi, N; Gray, S; Slettebak. (1992). La Microplanicácion: Un processo de
Programación y Desarrolo con Base en la Comunidad. Banco Mundial. Washington.
Guattari, F., Deleuze, G., 2007. Mil Planaltos - Capitalismo e Esquizofrenia 2. Assirio &
Alvim, Lisboa.
Gunn, W., Otto, T., Smith, R.C., 2013. Design Anthropology: Theory and Practice.
Bloomsbury, London.
Malheiros et al, 2007. Espaços e expressões de conflito e tensão entre Autóctones, Minorias
Migrantes e Não Migrantes na área Metropolitana de Lisboa. Lisboa: Observatório da
imigração.
Manzini, E., 2015. Design, When Everybody Designs. An Introduction to Design for Social
Inovation. The MIT Press, Cambridge, London.
Nova, N., 2014. Beyond Design Etnography: How designers practice ethnographic research.
SHS (Berlin) & HEAD: Genève.
Simonsen, J., Robertson, T., 2012. Routledge International Handbook of Participatory
Design. Routledge: London.
Smith, R.C., Vangkilde, K., Kjærsgaard, M., Otto, T., Halse, J., Binder, T., 2016. Design
Anthropological Futures. Bloomsberry: London.
Sousa, S., 2005. Iniciativa Bairros Críticos: Cova da Moura, Lagarteiro e Vale da Amoreira.,
Registos do processo. Lisboa.