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Letícia Dal-Ri Tórgo

EU TENHO UM
PROJETO...
Manual prático
para tirar suas
ideias da gaveta
Letícia Dal-Ri Tórgo
Copyright 2015 by Letícia Dal-Ri Tórgo

CAPA, ILUSTRAÇÕES E DIAGRAMAÇÃO


Renata Santos

FOTO DA AUTORA
Alline Ourique

CIP – CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO


D151e

Dal Ri, Letícia, 1980-


Eu tenho um projeto... [recurso eletrônico] : manual prático para tirar suas
ideias da gaveta / Letícia Dal Ri ; [ilustrações Renata Santos] - 1. ed. – Rio de
Janeiro : Da Gaveta, 2015.
194 p., recurso digital : il.

Formato: Epub
Requisitos do sistema: Adobe Digital Edition
Modo de Acesso: World Wide Web
ISBN 978-85-68886-01-4 (recurso eletrônico)

1. Cultura. 2. Administração de projetos. 3. Livros eletrônicos. I. Título.

0012/2015 CDD: 306


CDU: 304

Bibliotecária
Eliane Lemos
CRB 5866

Todos os direitos desta edição reservados à

DA GAVETA PRODUÇÕES ARTÍSTICAS LTDA


Rio de Janeiro – RJ
Tel. 21 32057227
tireseuprojeto@dagaveta.com.br
Sumário
A página em branco 7

Como utilizar este manual 10

Onde tudo começou 14

O primeiro passo 19

Material de trabalho 24

O sucesso 29

A resistência 33

A persistência 38

A ideia 41

O Projeto 46

O Batizado 49

Objetivo do projeto 53

Justificativa do projeto 55

Particularidades do projeto 60

Local 63

Direitos Autorais 66

Cronograma 73

A ficha técnica 82
Plano de divulgação 88

O plano de distribuição 96

O orçamento 102

Utensílios de trabalho 105

Ambiente 107

Profissionais adequados 110

Transformando recursos em orçamento 114

Como tirar seu projeto do papel 119

Contrapartidas ao patrocinador 122

A caixa de ferramentas 127

Leis de Incentivo 130

Captação de recursos 136

Editais privados 140

Editais públicos 143

Auto-financiamento 145

Empréstimos 148

Patrocínio Afetivo 150

Crowdfunding 153

Anjos e investidores 156


Desenvolvendo uma estratégia 158

Consegui captar! E agora? 165

Assessoria de imprensa 168

Relação com patrocinadores 171

Gestão de equipe 177

O grande dia 181

Relacionamento com o público 184

Prestação de contas e finalização 187

De volta ao começo 193


A página
em branco

7
“São as paixões que
esboçam os nossos livros,
e o intervalo de repouso
entre elas que as escreve.”
Marcel Proust

Antes deste livro existir, ele era apenas mais uma página
em branco. Aos poucos a ideia de criar um manual prático para
empreendedores criativos foi tomando forma e mostrando
a que veio. Minha proposta, ao começar a desenvolver este
manual, se deu com base na experiência que tive ao longo de
três anos desenvolvendo projetos e auxiliando meus clientes a
realizarem suas ideias através de minha empresa, a DA GAVETA
PRODUÇÕES.

Minha proposta, através deste livro, é acompanhar você em


todo o processo de transformação de sua ideia até que ela se torne
oficialmente um projeto. Juntos, iremos criar estratégias para que
você possa desenvolver as habilidades necessárias para executar
todas as etapas de um projeto cultural. Abordaremos as várias
fases deste processo, desde a idealização, o desenvolvimento,
a captação, a realização, o acompanhamento, chegando, por

8
fim, à famosa prestação de contas. Também iremos falar sobre
o sucesso, o que ele significa para você e o que fazer para
alcançá-lo. Falaremos ainda sobre a persistência e a resistência
e, naturalmente, como lidar com elas através de ferramanetas
comprovadamente bem sucedidas. A ideia aqui é colocar a mão
na massa e terminar a leitura com todas as orientações que você
precisa para realizar o seu projeto! Pronto para começar?

9
Como utilizar este manual

N
O

10
“Nós poderíamos
ser muito melhores
se não quiséssemos
ser tão bons.”
Sigmund Freud

Há duas formas diferentes de utilizar este manual.


A primeira delas é seguir página por página, lendo cada capítulo
em ordem e colocando em prática o que ensino aqui, etapa
por etapa. Os capítulos têm sempre uma sessão “agora é sua
vez” justamente para que você coloque em prática o assunto
sobre o qual falamos e, assim, pouco a pouco e junto comigo,
construiremos o seu projeto.

A segunda forma é utilizando-o como um material de


consulta, para ser lido de acordo com sua necessidade, de maneira
aleatória, sempre que sentir necessidade durante a realização de
seus projetos. Ou seja, se você está em uma determinada etapa
de desenvolvimento do seu projeto (ou em produção), pode ir
diretamente para a sessão correspondente neste manual, tendo
sempre a possibilidade de consultá-lo conforme suas necessidades.

11
Nas páginas a seguir, além de contar um pouco sobre
a minha história como empreendedora cultural, irei falar sobre
confiança, sobre como acreditar em você e em seu projeto e sobre
como levá-lo adiante. Esta introdução será fundamental para que
você prepare-se emocionalmente para a concretização de sua ideia
e finalmente tenha o empurrãozinho que faltava para seguir em
frente, sem desistir.

Depois disso, nós iremos acompanhar capítulo a capítulo


o desenvolvimento de um projeto, desde seus objetivos,
justificativa, sinopse, ficha técnica, entre outros, até a elaboração
de seu orçamento final. A partir daí, iremos partir para a etapa
de realização, avaliando as estratégias a seguir e as ferramentas
disponíveis para que você tenha a possibilidade de captar recursos
para seu projeto.

Com o dinheiro em mãos, entramos na etapa de produção


propriamente dita, onde iremos acompanhar o passo-a-passo para
sua execução e, naturalmente, seu sucesso. Para finalizar, como
não poderia faltar, trabalharemos a prestação de contas de seu
projeto. E aí, depois de celebrar a realização de sua ideia – aquela
que começou lá na página em branco, assim como este livro -,
estaremos prontos para começar novamente todo o processo,
desta vez com uma nova ideia pela frente.

12
AFINAL, ESTAMOS
AQUI PARA CRIAR,
NÃO É?

Você vai perceber que, passados os desafios de sua primeira


produção, tudo se torna mais simples e claro. Além disso, a
experiência que teve será única e particular, transformando-se em
um excelente aprendizado para produções futuras. Cada produção
é singular e é isso que faz de nossa profissão algo tão autêntico e
desafiador!

13
Onde tudo começou
“Aprender é a única coisa
de que a mente nunca se
cansa, nunca tem medo e
nunca se arrepende.”
Leonardo da Vinci

Minha história como empreendedora cultural começou


oficialmente em meados de 2006. Nesta época eu fazia um curso
de roteiro para cinema e televisão quando fui convidada por uma
atriz e colega de turma a produzir um espetáculo de teatro. Eu
jamais havia feito qualquer peça de teatro e, apesar de já estar
trabalhando na TV Globo como coordenadora de produção de
novelas, não tinha nenhuma experiência de produção nos palcos.

A peça de teatro aconteceu em uma pequena sala de


espetáculos do Rio de Janeiro e foi uma experiência inesquecível
para mim. Foi ali, em um espaço com capacidade para 110
espectadores que vi minha primeira casa lotada, minha primeira
casa vazia e tive a oportunidade de sentir na pele as delícias e os
desafios de se produzir um projeto cultural desde o momento em
que ele ainda era uma ideia no papel. Esta foi a minha primeira
oportunidade de tirar um projeto da gaveta e levá-lo direto ao seu
público, ao seu espectador. E foi inesquecível!

15
A partir de então, outras oportunidades surgiram e a
cada nova experiência eu tinha a chance de conhecer pessoas,
lugares, temas e, acima de tudo, aumentar meu conhecimento e
bagagem cultural no ramo da produção. Não havia rotina e aquilo
me encantava. Eu me sentia com autonomia para criar meus
próprios caminhos e cada vez mais me distanciava do mundo
empresarial do qual um dia fiz parte. Me encantava ver os artistas
desenvolvendo seus projetos e, acima de tudo, a transformação
que a arte era capaz de desempenhar em seu público.

Depois disso, a abertura da DA GAVETA PRODUÇÕES em


julho de 2011 aconteceu de forma muito natural e espontânea.
Eu jamais havia desejado ser produtora de teatro,
muito menos empreender e ser dona do meu próprio
negócio. E mais, não tinha nenhum tipo de questão quanto à
minha carreira que me fizesse desejar ter uma empresa própria.
Mas aconteceu.

Hoje sei na prática que o empreendedorismo não tem


nada a ver com as escolas onde você estudou, muito menos com
uma trajetória planejada a longo prazo. Meu exemplo prático é
que o empreendedorismo pode sim ser algo natural, conquistado
e construido com esforço e dedicação, claro, mas também com
carinho e com um pequeno passo de cada vez. Sem pânico, sem
grandes investimentos e sem a necessidade de se criar algo que
nunca existiu. Em outras palavras, você não precisa nascer sendo
empreendedor, desejando empreender ou tendo exemplos na
família de empreendedores bem-sucedidos. Não é necessário ter
um grande volume de dinheiro guardado para se abrir um negócio

16
e você somente saberá se seu empreendimento funciona na
prática.

Para mim, há três formas diferentes do empreendedorismo


surgir na sua vida: de forma natural (como aconteceu comigo),
como uma necessidade ou ainda como uma oportunidade. E
nós, que atuamos na área cultural, já temos naturalmente uma
tendência a empreender. É só acreditar!

Tudo o que se seguiu, desde então, também foi muito


natural. Os clientes surgiram, as indicações dos clientes traziam
novos clientes a cada dia - sem a necessidade de uma publicidade ​
específica​-, e​e​u via que a maneira como atuava com os artistas,
em​​busca da realização de seus projetos, funcionava cada vez mais.

Minha maior alegria era (e ainda é) a realização do artista.


E foi justamente isso que me inspirou a escrever este manual.
Minha motivação é ensinar e orientar artistas e
empreendedores culturais e criativos a realizarem
seus projetos. É isto que eu sei fazer e é isto que me
dá prazer!

No segundo semestre de 2015 completamos 4 anos de


empresa e o desejo de ajudar empreendedores culturais em suas
carreiras só aumenta. Atuamos diretamente e indiretamente em
mais de 1000 projetos, contamos com mais de 100 clientes fixos e
esporádicos e nossa expectativa é aumentar estes números ainda
mais com os futuros projetos que vêm por aí. Confesso que até
chegar aqui eu acreditava que sempre trabalharia para alguém e

17
que me cansaria de meu trabalho dois anos depois que estivesse
nele. Foi isso que aconteceu em praticamente toda minha vida
profissional até a DA GAVETA existir. E olha que trabalhei com
idiomas, publicidade, startup, ONG, marketing, elearning, varejo,
televisão, cinema e teatro!

O que me faz amar tanto a DA GAVETA? Além da


possibilidade de apender sempre, posso passar meu conhecimento
adiante e, principalmente, realizar meus projetos! Este livro é
apenas mais uma ideia que está saindo da gaveta (diante de
muitas que ainda vêm por aí) e o mais bacana é que sua função é
justamente ajudar você a realizar seus projetos, que é minha maior
motivação!

Espero, profundamente, que ao finalizar a leitura deste livro,


você tenha as ferramentas, as dicas, o conhecimento, a motivação
e tudo o mais que precisa para tirar seus projetos da gaveta e levá-
los ao seu público. Este foi meu maior objetivo ao desenvolver o
manual pratico para tirar suas ideias da gaveta e eu acredito,
verdadeiramente, que você será capaz de realizar tudo o que
imaginar! Esteja certo que esta é a maior gratificação que posso
ter!

18
O primeiro passo
“Tente mover o mundo
e o primeiro passo será
mover a si mesmo ”
Platão

Seja bem-vindo ao meu manual prático para tirar projetos


da gaveta! Este manual foi especialmente desenvolvido para você,
que possui um ideia e deseja realizá-la. Se você tem uma ideia em
suas mãos, cabeça, coração e não pode viver se não encontrar uma
maneira de realizá-la, este livro é para você! Nós estamos juntos,
aqui, agora, porque você precisa tirar uma ideia da cabeça, do
papel, DA GAVETA - ou onde quer que ela esteja -, transformá-la
em um projeto executável e levá-la para o seu público. Este livro é
para você!

Muitas pessoas acreditam que uma boa ideia é pensada


para seu público. Minha opinião é um pouquinho diferente…
Acredito que as ideias são pensadas para nós, como se nossa
consciência estivesse em busca de um espaço para expandir.
E como todo empreendedor criativo, queremos mostrar o que
pensamos… como pensamos… a forma como vemos o mundo.
Se você concorda comigo e acredita que as ideias devem ser

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compartilhadas, chegou a hora de dar mais espaço para elas.
Vamos colocar a mão na massa?

Antes de entrarmos na parte prática deste manual, gostaria


de fazer um trato com você. Por alguma razão, este livro chegou
às suas mãos, seja por vontade própria, através de uma pessoa
que o conectou com minha proposta, ou ainda uma coincidência
astrológica (ou internética). Se você, assim como eu, acredita
que tudo tem um porquê, chegou a hora de tomar as rédeas de
sua vida e de suas ideias e transformar-se oficialmente em um
empreendedor criativo. Esse manual é justamente a ferramenta que
você precisa para realizar esta tarefa!

Então, haja o que houver, aconteça o que acontecer, tenha


certeza de que há um motivo forte e preciso para que você esteja
lendo minhas palavras agora. Não desperdice-o. Faça um trato
comigo (e com você) de que irá ler este manual de coração e olhos
bem abertos e vai acreditar em sua ideia até a ultima página, haja
o que houver.

Prometa que você vai transformar sua ideia em um projeto!


Você pode e você vai realizar sua ideia! Mais à frente nós vamos
conversar sobre a resistência e você verá que ela pode ser o maior
inimigo de um empreendedor criativo. Mas, por agora, quero
que você apenas mentalize toda a sua energia nesta leitura e finja
que a resistência não existe. Eu acredito em você. Agora é o seu
momento de acreditar! Você acredita em si mesmo? Repita em voz
alta:

21
Eu acredito na realização
dos meus projetos!

Eu acredito em mim e acreditei em você a partir do


momento em que apostei neste livro para fazer você realizar suas
ideias. Eu acredito também no poder da declaração. Declarar é
afirmar de forma assertiva algo a respeito de si mesmo, do outro
ou de algo. Temos o livre arbítrio de declarar o que desejarmos,
sem saber que cada declaração vem acompanhada não apenas
das palavras que a formam como também de desejos, intenções e
pensamentos. Declare suas vontades, desejos e talentos e você terá
meio caminho andado para suas realizações. Declarar é oficializar
desejos para o universo.

Seguiremos juntos, lado a lado, através de cada etapa de


desenvolvimento de um projeto até sua total conclusão. Minha
proposta é seguir cada fase de forma didática e participativa
não apenas para que você coloque em prática suas ideias, como
também entenda o processo de realização de um projeto por
inteiro. Ao final, estaremos juntos não apenas celebrando uma
conquista como também pensando nos próximos projetos que se
seguirão. Eu acredito em seus projetos!

22
A partir de agora, convido você a me acompanhar nesta
jornada de descoberta de si mesmo, de seus talentos e de suas
possibilidades de realização. Você pode realizar seus projetos!

Eu acredito em você!

23
Material de trabalho
“O segredo do sucesso é
fazer do seu dever,
o seu lazer .” Mark Twian
Antes de falar sobre a importância do material de trabalho
na realização de nossas ideias, gostaria de ilustrar o início deste
capítulo com uma história pessoal.

Alguns anos atrás eu tinha o sonho de escrever um livro e


me tornar escritora. Naquela época eu morava e trabalhava em
um pequeno conjugado, no Rio de Janeiro, e costumava dizer para
pessoas próximas que não conseguia escrever meu primeiro livro
porque não tinha um ambiente de trabalho apropriado para isso.
Lógico que no fundo eu sabia que este não era a verdadeira razão
para não escrever. Mas, para minha surpresa, ganhei uma mesa de
presente e não podia mais continuar usando esta desculpa para
meus bloqueios autorais.

Passei a culpa para a cadeira. Como poderia me tornar uma


escritora se – apesar de ter uma mesa e meu espaço de trabalho,
- não tinha uma cadeira adequada para me sentar? Naturalmente
comprei uma cadeira. E, naturalmente, continuei sem escrever.

Transferi a culpa para a falta de espaço físico. Eu tinha a


mesa, a cadeira, mas dividia meu espaço de trabalho com a cama

25
e os poucos móveis do conjugado. Pouco tempo depois, com a
expansão da DA GAVETA e a decisão de continuar trabalhando
em modelo de home office – uma de minhas grandes paixões em
meu trabalho -, me mudei para um apartamento com um quarto a
mais. O que aconteceu? Nada do livro sair!

Certamente não foi nem a mesa, nem a cadeira, nem o


quarto extra que me permitiram escrever meu primeiro livro. Todos
estes elementos foram resistências que criei para simplesmente não
escrever... Foram as famosas ‘desculpas para mim mesma’.

Mas antes de entrar profundamente no tema resistência


e nas desculpas que criamos para não realizar nossas ideias, o
que realmente importa neste momento é que apesar de não
terem sido fundamentais para a criação do meu primeiro livro, a
mesa, a cadeira e o quarto extra proporcionaram um conforto e
um ambiente adequado para criar. Elas não foram o motivo pelo
qual eu oficialmente escrevi meu primeiro livro, mas todas estas
ferramentas tiveram seu valor e facilitaram o desenvolvimento do
meu projeto. Ter um ambiente de trabalho propício para
criar é fundamental para qualquer empreendedor
criativo.

Agora me responda, quais são as ferramentas de trabalho


fundamentais para as suas criações? Liste as ferramentas mais
importantes para a realização de seu trabalho e avalie cada uma
delas, profundamente. Pense em seu ambiente de trabalho atual.
Você tem um espaço exclusivo para criar? Este espaço é bem
organizado, iluminado, incentiva a criação e a criatividade? É

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possível trabalhar sem interrupções neste local? Você tem acesso a
todas as ferramentas que precisa? Toda a sua lista é fundamental
para sua realização ou há armadilhas disfarçadas para dificultar
o processo? Se você não tem acesso a todas as ferramentas que
precisa, como fazer para obtê-las antes de darmos continuidade ao
nosso processo criativo?

Crie ou reorganize o seu espaço e o transforme em um


ambiente propício para suas futuras criações. Faça-o estimular
suas ideias e seu lado mais criativo. Um ambiente confortável e
organizado permite que você encontre as informações que precisa
com mais facilidade e, naturalmente, garante que você seja mais
produtivo. Basta ver o que grandes empresas como Google,
Facebook e Pixar fizeram com seus ambientes de trabalho em
busca desta chamada criatividade. Transforme seu ambiente e você
naturalmente estará transformando também a si mesmo e a sua
pequena fábrica de ideias!

Esta pequena fábrica pode ser um lugar especial ou


um cantinho da casa que será somente seu. Além do conforto
necessário para criar, pense em elementos que podem ajudá-lo no
processo, o conforto que ele te proporciona, a luz, o silêncio, o que
existe ao redor… Se as palavras te inspiram, pendure um quadro
para escrever citações, ideias, insights. Deixe materiais que motivem
a criatividade espalhados por este canto para inspirá-lo, como
artes, fotos, etc.

Com o espaço organizado, acesso às ferramentas que


estimulam sua cratividade e pronto para novas ideias, agora você

27
pode iniciar os trabalhos! Recomendo alguns materiais que vão nos
ajudar a colocar a mão na massa e começar a desenvolver nossas
ideias. Para que possamos efetivamente tirar seus projetos DA
GAVETA e pensar profundamente sobre eles, você vai precisar de:

C anetas coloridas;
ou similar;
Um bloco de post it
tado com
rn o de no ta s q ue possa se r transpor
Um cade
r q ue vá;
você para onde q ue
amar de se u;
nt inh o de tr ab alh o q ue você possa ch
Um ca
s q ue pode m
os e ins piraç õe s q ue você já te m, ma
Livr
oc esso criat ivo;
ajudá-lo em se u pr
para re ce be r
em se u computador
Pastas organizadas ual ire mos
docume nt o com o q
novas ide ias e cada
trabalhar;
nt es.
ue julgar int eressa
Outros mate riais q

Este manual terá espaço para suas ideias em diversas


páginas, mas fique à vontade para escolher a melhor forma de
trabalhá-las. Sinta-se livre para escolher a forma de trabalhar que
mais se adequa a você!

Pronto para criar?

28
O sucesso
“O importante para uma
pessoa não são seus
sucessos, mas
sim quanto os deseja”
Khalil Gibran

Afinal, o que é o sucesso? O sucesso é um sentimento


individual que comemoramos no coletivo. O que o
sucesso representa para mim definitivamente não é o mesmo que
representa para você ou para outra pessoa. Cada um sabe o que
significa o sucesso para si mesmo. Por outro lado, ele precisa ser
compartilhado para ser crível, assim como as ideias!

Nossa missão aqui é definir o que é o sucesso para você. É


importante que você saiba responder a esta pergunta não apenas
mentalmente, mas também possa colocar seu sucesso no papel,
na geladeira, no espelho do banheiro, dentro da carteira. Leia
diariamente seu sucesso, leia em voz alta, leia bem alto e lembre-se
que todo amanhecer é uma nova possibilidade de fazer algo para
se aproximar cada vez mais do seu sucesso. Desde que você saiba
o que é o sucesso para você.

30
Agora é a sua vez:

Tome o tempo que precisar para responder e utilize seu


caderno ou este espaço para escrever. Mentalmente, conseguimos
responder com certa facilidade questões elaboradas como esta.
Mas quando precisamos escrever no papel uma resposta, o nível
de dificuldade aumenta. Isso acontece porque quando colocamos
palavras em um suporte físico como o papel ou em um arquivo de
computador, estamos oficializando nossos pensamentos. É o poder

31
da declaração, sobre o qual falamos há alguns parágrafos. E isso
nem sempre é fácil.

Com a resposta escrita, sugiro que você pegue seu


bloquinho de post its e escreva em uma folha “O que é o
sucesso para mim?”. Se sentir vontade, use outras folhas para
colocar palavras-chave ou partes importantes da resposta que
escreveu. Seu sucesso deve ser óbvio e claro para você, definindo
exatamente o que pensa sem influências externas. E este será seu
objetivo maior através deste manual: conquistar o seu sucesso.

Finalizada esta etapa, encaminhe-se até seu novo cantinho


de trabalho e coloque os post its na parede, na altura de seus
olhos. Até o fim desta leitura, teremos um cantinho mais que
especial para nos inspirar neste processo!

32
A resistência
“O sonho é a satisfação
de que o desejo realize.”
Sigmund Freud

Até aqui, tudo foi fácil, não? Ou você teve alguma


dificuldade? A escolha do bloquinho, o cantinho de trabalho,
definir o seu sucesso… O processo para você foi tranquilo até aqui
ou surgiu uma leve sensação de que não será tão fácil quanto
parecia?

Se tudo foi bem natural e você está animado com as


próximas páginas, sinta-se feliz, pois você ainda não encontrou
a resistência. Por outro lado, se houve qualquer empecilho no
processo, saiba que a culpa não é sua ou minha… Foi a resistência
que resolveu se meter no meio de nossa conversa. E precisamos
acabar com ela imediatamente!

A resistência é uma de nossas maiores inimigas nesta


jornada. Não apenas no desenvolvimento de seu projeto cultural,
como em tudo na vida. A resistência é uma força oculta
e invisível, originária em nós mesmos, e que faz com
que a gente assuma comportamentos, atitudes ou
hábitos negativos, mesmo sabendo que eles não
trazem nenhum benefício para nós.

34
É ela quem faz você optar pelo botão “soneca” mesmo
sabendo que precisa acordar cedo, quem faz você se atrasar
para seus compromissos por qualquer que seja o motivo, quem
te faz perder o prazo dos editais, quem faz você adiar algo que
é verdadeiramente importante para seu sucesso profissional… É
a resistência quem cria desculpas na sua cabeça para não levar
determinada ideia adiante. É a resistência também que faz você
deixar de praticar esportes, de levar uma vida mais saudável
ou ainda optar por escolhas que você sabe que não são boas
para você. Quantas vezes no seu dia você faz estas escolhas?
Reconheceu a dita cuja em sua rotina? Pensou em algum momento
especial onde a resistência te pegou?

É comum, a partir deste ponto, você notar todas as


interferências da resistência em seu cotidiano. Mas notar apenas
é pouco. Precisamos oficializar sua existência e perceber em que
ações a resistência nos vence. Reconhecer sua força é fundamental
para saber em que ponto de perseverança você se encontra neste
momento e ser capaz de reverter o jogo.

Hora de ter em mãos nosso novo amigo: o bloquinho de


notas. Separe uma folha para anotar as ações da resistência em
seu dia-a-dia. E sempre que notá-la, escreva como ela surgiu e que
ação provocou. Ela foi bem-sucedida? Ela venceu ou foi derrotada?
A partir de agora, o exercício que você precisa começar já a
praticar para toda a sua vida é saber eliminar a resitência sempre
que ela aparecer. Para isso, basta reconhecer sempre que ela
interferir em um movimento seu e ir contra ela.

35
Quando decidi escrever este livro, eu havia recém mudado
de país. Este era o cenário perfeito para a resistência aparecer.
Ao meu redor, havia um idioma para aprender e praticar, diversos
lugares novos para conhecer, convites tentadores para cursos e
eventos, além de atividades maravilhosas ao ar livre para aproveitar
meu primeiro inverno com muita neve. Mas eu sabia que precisava
escrever este livro. Mais ainda, eu queria escrevê-lo. Quando você
reconhece a resistência e tem um objetivo bem definido, é mais
fácil vencê-la. E foi assim que consegui organizar meu tempo para
escrever, revisar e publicar o livro que está em suas mãos agora. Eu
não deixei a resistência me dominar!

A resistência pode aparecer de todas as formas para você.


Mas ao percebê-la e confrontá-la você verá que sempre há uma
saída. O importante é ter certeza de que quer derrotá-la, saber
exatamente o que você tem como objetivo, e de que nada é mais
importante do que realizar seu projeto. Agora que você já conhece
o poder da declaração, repita comigo em voz alta:

Não há nada mais importante do que realizar meu projeto.

E apenas para que a resistência saiba que você está


acompanhando seus passos, pegue um novo post it e escreva em
seu cantinho de trabalho, novamente à altura dos seus olhos:

36
Aq ui a resistência não entra!

Agora que criamos uma barreira contra a resistência,


você certamente saberá identificar quando ela se aproximar
para tirar sua atenção de seus objetivos. Por outro lado, você
também estará preparado para lembrar-se sempre de que não há
nada mais importante a fazer do que realizar sua ideia, mesmo
que a resistência tente dizer exatamente o contrário. É hora de
transformar esta afirmação em mantra na sua vida e gritar bem
alto, sempre que ela vier lhe perturbar. Recaptulando:

Nada é mais importante do que realizar minha ideia!

Reserve um espaço no espelho, na geladeira e na carteira


para colar um post it com esta mensagem bem na altura dos seus
olhos e ler este mantra (em voz alta) diariamente. E acredite de
verdade em suas palavras e no poder da declaração, pois cada
afirmação que você passa para o mundo é assimilada e retorna
para você de forma positiva. Verbalizar o que deseja é aproximar-se
de sua realização. Se você não tem confiança em sua ideia, pode
apostar que ninguém mais terá.

37
A
pe
rs
is

nc
ia
“Nada é tão poderoso no
mundo como uma ideia
cuja oportunidade chegou.”
Victor Hugo

Agora que você aprendeu a lidar com a resistência, estamos


prontos a começar a trabalhar com a persistência. De início, e
via de regra, somente haverá uma pessoa que irá motivá-lo a
acreditar no seu projeto: VOCÊ. Conforme obtiver confiança e for
amadurecendo sua ideia, pouco a pouco você poderá conquistar
outros aliados nesta jornada. Mas neste primeiro momento -
lamento informar - é você e mais ninguém.

Acredite em sua ideia ou ela não seguirá adiante sozinha.


Acredite em sua ideia ou você não seguirá adiante. Acredite em sua
ideia ou ninguém mais irá acreditar que ela poderá se realizar.

Persistência é acreditar em seu projeto


e seguir em frente.

39
Saiba o momento certo de compartilhar sua ideia com
outras pessoas pois, mesmo que elas realmente torçam por seu
sucesso, a resistência também atua em suas vidas. Em outras
palavras, mesmo seus melhores amigos e familiares podem se
tornar canais de suas próprias resistências incentivando-o a desistir.
Afinal, a oportunidade que você está tendo de realizar o seu
projeto neste momento pode ser um espelho de desistências ou
fracassos pessoais de quem o cerca, mesmo que de forma não
intencional. Esteja preparado para isso e seja persistente, acima de
tudo.

A persistência é o ato de não desistir de seus objetivos e


ela é uma das principais virtudes dos vencedores. É a força da
perseverança para conquistar seu sucesso.

Resistência e persistência estarão sempre por perto, como


em uma batalha de forças, para o bem ou para o mal. Cabe a você
saber como lidar com elas ao longo de sua trajetória em busca
da realização de sua ideia. Compreender como cada uma destas
forças atua em sua vida é garantir o autocontrole para transformar
suas ideias, hábitos e comportamentos. Faça este exercício a partir
de agora e veja grandes transformações que irão acontecer em sua
vida! Pronto para seguir em frente?

40
A ideia
“A arte é um dos meios
que une os homens.”
Leon Tolstoi

De que forma as ideias surgem para você? São conexões de


outras ideias? Iluminações? Inspirações originárias de seu contato
com outras obras como livros, imagens, pinturas? São mensagens
que você recebe em uma determinada situação?

As ideias surgem de diferentes formas entre nós. Conheço


pessoas que têm ideias quando tomam banho. Na verdade, para
ser sincera, eu também me incluo neste grupo de pessoas. Isto
me faz acreditar que para ter ideias preciso estar mergulhada em
meus próprios pensamentos, sem interferências externas e em um
momento de total relaxamento.

Outras pessoas têm ideias ao olhar o movimento de uma


janela de um carro ou outro meio de transporte. É como um
momento de reflexão em que a consciência está aberta para novas
ideias ao mesmo tempo em que está fechada para assimilar a

42
realidade de forma concreta.

Algumas pessoas têm ideias praticando atividades físicas


como corrida ou pedalada, aproveitando-se, mais uma vez, de
um momento de extrema concentração e baixa interrupção.
Conheço também aqueles que têm ideias por conexão: vendo duas
coisas, fatos ou acontecimentos inicialmente sem alguma relação
e criando uma conexão entre elas. Esta técnica é muito utilizada
em agências de publicidade através de brainstormings. Há ainda
aquelas pessoas que acordam no meio da noite para escrever uma
ideia que tiveram durante o sono. Para estas, é fundamental ter um
bloco de papel e uma caneta na cabeceira da cama.

Com qual ou quais destes perfis você se identifica mais?


De que forma a ideia que escolheu para desenvolver e produzir
ao longo desta leitura surgiu? A partir do momento em que você
toma consciência do seu processo criativo (ou de seus processos), é
mais fácil criar o cenário propício para ter novas ideias ou aprimorar
uma ideia com a qual você não esteja totalmente satisfeito. Afinal,
para acreditar, persistir e resistir você precisa confiar. Confie em sua
ideia!

Agora é sua vez de falar. Diante de todas as ideias que você


teve, uma delas foi a grande escolhida para se desenvolvida através
deste manual. Mais uma vez, iremos sair do plano da consciência
e partir para o plano físico, do papel (ou arquivo de computador)
para oficializá-la.

43
A ideia q ue irei desenvolver
ao longo deste manual é...

Genial! Você deu o primeiro passo! Você já preparou o seu


ambiente de trabalho e material necessário, compreendeu que o
sucesso é algo individual que se comemora no coletivo, acreditou
em sua ideia, reconheceu e ultrapassou a resistência, compreendeu
a persistência e se permitiu trabalhá-la e agora está pronto para
transformar sua ideia em um projeto.

44
Mas, afinal, qual a diferença entre
uma ideia e um projeto?

A ideia é um conceito. É algo que você pode defender para


mim ou para qualquer outra pessoa em uma frase, um parágrafo
ou uma página. Eu seria ainda capaz de dizer que uma boa ideia
pode ser explicada exatamente no tempo em que um palito de
fósforo leva para ser totalmente queimado antes que a chama
atinja seu dedo. Tente fazer este exercício para ver se sua ideia está
realmente bem objetivada e clara. Mas cuidado com o fogo… e
com o dedo!

Às vezes, em um primeiro momento, você pode ficar


insatisfeito com o resultado. Se isto acontecer, não descarte-o
totalmente. Guarde. Um dia esta ideia que não é boa para este
momento pode funcionar perfeitamente em outro. Aproveite para
criar aqui sua caixinha de ideias e guarde-a com todo carinho.

A ideia é um lampejo da sua realização. É a famosa


“eureka” do que você deseja realizar. É criativa, autêntica e
bastante objetiva. É a origem do que irá se tornar um projeto
e deve ser facilmente entendida por alguém que não saiba ler
pensamentos ou esteja dentro de sua cabeça.

Agora que você entendeu o que vem a ser uma ideia,


responda para mim: a ideia que você criou está realmente clara
para que as pessoas entendam o que você deseja fazer ou criar?
Então, vamos para o projeto!

45
O Projeto
“Sua tarefa é descobrir o seu
trabalho e, então, com todo o
coração, dedicar-se a ele.”
Buda

Muitas pessoas entram em contato comigo dizendo que têm


um projeto e que querem levá-lo adiante. Na maioria das vezes
o que elas têm é uma ideia e não um projeto. Como já falamos
anteriormente, a ideia é um lampejo, um resumo, o glamour, o
sonho, uma vontade. Já o projeto é sua execução, seu passo-a-
passo, seu manual de instruções. Para chegar ao projeto é preciso
ter a ideia, que é sua origem, mas ela é apenas o começo e ainda
há um longo caminho pela frente até que possamos oficialmente
partir para sua execução. Mas por onde começar?

Um bom projeto precisa sempre responder a estas


perguntas:

O que?
Quanto?
Quando?
Onde?

47
Por quanto tempo?
Com quem?
Quanto custa?

Parece simples, e é.

Em sua trajetória como empreendedor cultural você


certamente verá diversos modelos de projetos, inclusive modelos
muito elaborados como um plano de negócios – na maioria das
vezes solicitado quando você está em busca de financiamento
corporativo ou anjos investidores -, ou ainda o modelo Canvas
- que é mais simplificado e visual, e permite que você entenda
rapidamente o fluxo de execução do seu projeto.

Iremos focar aqui no modelo mais comum, conforme


as perguntas elencadas acima, que podem ser utilizadas não
apenas como base para se criar um plano de negócios ou um
modelo Canvas, mas que também será seu material de trabalho
para apresentar o projeto para leis de incentivo, patrocinadores,
parceiros, apoiadores, mídia e qualquer outro grupo de pessoas
que fará parte da trajetória de execução de sua ideia.

Responder à estas perguntas de forma clara e objetiva irá


permitir que sua ideia se transforme em um projeto.

48
O Batizado
Uma das tarefas mais difíceis, mesmo para os
empreendedores mais criativos, é batizar seu projeto. Tenho
a sensação de que o medo do batismo tem a ver com a
concretização de que uma ideia é real. Antes de ter um nome, a
ideia é algo vago, uma vontade que vai e vem na consciência. Mas
a partir do momento que lhe damos um nome, que lhe batizamos,
ela está efetivamente nascendo para nós e se transformando em
um projeto. Naturalmente, isso dá medo.

Muitas vezes o nome de um projeto vem rapidamente junto


com a ideia. Outras vezes ele precisa ser mais pensado, elaborado,
colocado à prova. Em uma época de contribuição coletiva, avalie se
seu projeto pode contar com a participação de outras pessoas no
momento da decisão do nome e aproveite-se desta conectividade!

Você também pode pensar em uma pequena lista que o


agrade e pedir a opinião de pessoas próximas. Mas pense sempre
em misturar pessoas que são da sua área de atuação com um
possível espectador comum, por exemplo. Isso vai te garantir
feedbacks muito mais interessantes.

Para evitar que a resistência apareça e reduzir o medo do


batismo, momento tão importante e cheio de significados para seu
criador, acho importante enfatizar que ainda estamos trabalhando
o conteúdo do projeto como um grande rascunho de seu futuro.
Ou seja, somente a partir de sua efetiva execução que aquele
nome será oficializado, sem possibilidades de mudanças. Antes
disso, tudo é possível. Ao longo dos últimos anos acompanhei
e ainda acompanho através da DA GAVETA muitos projetos

50
serem batizados e posso garantir que estes nomes estão sempre
sujeitos a mudanças. É com o amadurecimento de sua ideia e
desenvolvimento do projeto que você terá absoluta certeza de que
o nome está oficialmente decidido e que a arte pode ser impressa
sem medo!

Por outro lado, quanto mais cedo você definir um nome e


sentir-se totalmente satisfeito com ele, mais fácil será o processo
de proteção, divulgação e comunicação de seu projeto com quem
quer que seja. Isso facilita, por exemplo, a sua proteção, a aquisição
de domínio, a criação de páginas e perfis em redes sociais, etc. Mas
é bom saber também que muitos nomes são alterados justamente
ao longo de sua concepção, já que, quanto mais você desenvolve
seu projeto, mais claro ele fica para você. Este manual mesmo foi
batizado e rebatizado algumas vezes ao longo de suas exaustivas
revisões de capítulos. Foi muita reflexão no chuveiro até bater o
martelo!

Agora, voltando à nossa prática, vamos para o batismo de


seu projeto?

O nome do meu projeto é...

Se você ainda não estiver 100% seguro sobre o nome


escolhido, fique tranquilo. Escreva à lapis e volte a ele quantas

51
vezes quiser até estar pronto para partir para a caneta. Lembre-se
que ainda estamos na fase de elaboração e que você ainda tem
tempo para mudanças.

52
Objetivo do projeto
A definição de objetivo é o fim que se deseja atingir. É a
meta que se pretende alcançar. Um objetivo é o que move uma
pessoa a tomar alguma decisão ou buscar suas aspirações. Objetivo
é sinônimo de alvo, como um fim a se atingir.

Quando falamos de objetivo de um projeto, a definição


corresponde à resposta às perguntas o que? + quanto? + quando?
+ onde? + por quanto tempo? da ideia que desejamos desenvolver,
de forma sintetizada.

O que?

Parece uma questão simples de se responder, mas é


importante ter em mente que a ideia está na sua cabeça, muitas
vezes há um bom tempo, e ela parece óbvia. Conforme falamos
anteriormente, é preciso ser claro e direto com as pessoas que
jamais tiveram contato com sua ideia antes. Por mais criativo
que você seja, a pergunta “o que?” pede para ser respondida
exatamente desta forma: “o que eu desejo fazer?”.

Quanto?

É a quantidade do projeto que você deseja realizar. Você


pode querer fazer uma (1) peça de teatro ou mil (1000) livros
impressos. Trata-se de uma resposta numérica de quantidade

54
referente ao seu projeto. Este número precisa ser viável e plausível.

Quando?

É a medida de tempo e relaciona-se à uma data, que pode


ser fixa ou móvel. Se o seu projeto tem uma data previamente
definida (data fixa) que não pode ser alterada (como uma
comemoração de Carnaval, uma festa regional ou um tipo de
celebração que ocorre sempre no mesmo dia do ano), esta é
sua resposta para “quando”. Por outro lado, se seu projeto pode
ser realizado em qualquer data (data móvel), imagine quando
gostaria de colocá-lo em contato com seu público e estime esta
data, mesmo que ela venha a ser algo hipotético em um primeiro
momento e que ela possa ser adiada posteriormente. Lembre-
se que na etapa de projeto nada está engessado, mas definir
uma data ou período é fundamental para que seu objetivo fique
completo.

Onde?

É a resposta sobre o local em que seu projeto irá se realizar.


Pode ser um espaço público, privado ou ainda menos específico,
como uma cidade, um Estado ou vários. Em muitos projetos, o
local se altera ao longo de seu desenvolvimento por conta das
características que ele contempla (como um grande cenário que

55
não se adapta ao primeiro local imaginado, o pedido de um
patrocinador para alterar a região onde ele será apresentado ou
ainda a disponibilidade ou interesse de um local).

Por quanto tempo?

É mais uma medida que, somada às respostas anteriores,


define a duração de um projeto. Trata-se do tempo em que
ele estará acessível ao seu público. Pode ser a duração que
um espetáculo ficará em cartaz ou ainda a quantidade de
apresentações de um show, apenas para exemplificar.

Agora vamos juntar todas as informações para ver como fica


um objetivo na prática?

Exemplo I:

O quê? Espetáculo de teatro

Quanto? Um espetáculo (1)

Quando? No 2o semestre de 2015

Onde? No Rio de Janeiro

56
Por quanto tempo? Por uma temporada mínima de 3
meses.

Redigindo o objetivo:

Este projeto visa a criação e apresentação de um


espetáculo de teatro a ser realizado no 2o semestre de
2015 na cidade do Rio de Janeiro por uma temporada
mínima de 3 meses.

Exemplo II:

O quê? Livro

Quanto? Tiragem de 1000 exemplares

Quando? Em Janeiro de 2016

Onde? Em todo o Brasil

Por quanto tempo? Enq uanto durar o estoq ue

Redigindo o objetivo:

Este projeto visa a criação, produção e


comercialização, enq uanto durar o estoq ue, de um livro a
ser lançado em Janeiro de 2016 em todo o Brasil com
uma tiragem inicial de 1000 exemplares.

57
Ao ler os objetivos descritos acima, você possivelmente pode
ter achado ambos simples demais para definir toda a ideia que tem
na cabeça. É claro que você tem total liberdade para complementá-
lo, aprimorá-lo e incluir mais informações.

Muitos empreendedores criativos utilizam este passo-a-


passo como o primeiro parágrafo de um objetivo. Depois disso,
é fundamental – mas não obrigatório - seguir o conteúdo de
seu objetivo com as informações sobre a inspiração do projeto,
explicando de onde veio a ideia e por que ela precisa ser realizada,
oferecendo informações sobre o roteirista/autor, caso seja obra de
terceiros ou ainda conteúdos que validem a qualidade artística do
projeto. Isto irá fornecer mais embasamento téorico para quem
estiver lendo seu projeto pela primeira vez.

O mais importante é saber que é a partir deste primeiro


ponto que se constrói o objetivo. Se você escrever páginas e
páginas sem objetividade, corre o risco de a pessoa para quem
você está apresentando seu projeto perguntar: mas qual o produto
resultante? Ou ainda, qual a quantidade? Na maior parte das
oportunidades, você terá pouquíssimo tempo para apresentar
seu projeto. Ser objetivo fará com que sua ideia seja transmitida
exatamente como deve ser. Volte a fazer o desafio do palito de
fósforo e sua ideia será certamente bem compreendida.

Lembre-se ainda que o projeto é seu e você tem total


autonomia para criá-lo e desenvolvê-lo nos limites que sua
criatividade permitir. Sua criatividade é infinita, mas a pessoa
que está do outro lado precisa entender exatamente o que você

58
pretende fazer. Seja objetivo, claro e direto e seu ouvinte jamais
terá dúvidas. E nunca se esqueça que todo objetivo cultural precisa
ter um produto resultante.

Agora vamos à parte prática? Primeiro sugiro que você


responda às perguntas abaixo, relacionadas ao projeto que você
acabou de batizar :

O q uê?

Quanto?

Quando?

Onde?

Por q uanto tempo?

Pronto! Você já tem todas as informações que precisa para


desenvolver o objetivo principal ou primeiro parágrafo do seu
projeto! Agora é colocar a mão na massa e redigir este objetivo.

59
Lembre-se que você pode extrapolar os limites destas
questões e ser criativo e autêntico desde que seja claro com o seu
leitor para que ele saiba o que você realmente deseja fazer.

O objetivo do meu projeto é

Não foi difícil, foi? E você, curtiu seu objetivo?

60
Justificativa do projeto
Você passou da etapa de batizar seu projeto e desenvolver
seu objetivo com louvor e lá vem uma nova questão. Não se
preocupe, nós estamos juntos aqui para facilitar o desenvolvimento
do seu projeto e acompanhá-lo em todas as etapas.

Afinal, o que vem a ser a justificativa de um projeto? A


justificativa é o “por quê” de sua realização. Em outras palavras,
quais os motivos que fazem você, como proponente, criativo
e idealizador de um projeto, acreditar que ele deva ser feito. É
importante pensar, neste momento, em questões inerentes ao
projeto, às reflexões que ele poderá proporcionar ou mesmo ao
aprendizado que se pode obter a partir de seu consumo.

Mas você também deve saber que muitas vezes o


desenvolvimento de um projeto tem como justificativa gerar
oportunidade para novos profissionais mostrarem seu trabalho,
fomentar o mercado cultural ou ainda incentivar a realização de
projetos não usuais. É importante ser sincero, sabendo que a
justificativa é um campo relevante para a análise de um projeto,
apesar de muitas vezes parecer bastante pessoal.

Veja abaixo algumas palavras-chave que poderão ajudá-


lo na elaboração da justificativa do seu projeto, mas lembre-se
sempre que a resposta para sua justificativa está na pergunta “por
que eu desejo realizar este projeto?”.

56
• Apresentar ao público...

• Estudar o impacto de...

• Criar uma relação entre...

• Criar uma oportunidade de/para...

• Compartilhar conhecimento sobre...

• Estimular...

• Promover a arte...

• Integrar disciplinas...

• Dar oportunidade a novos talentos...

Para exemplificar, esta é a justificativa de meu mais recente


projeto, chamado GIG>MTL. O projeto encontra-se, neste
momento, na fase de captação de recursos :

O Canadá é um dos países mais abertos para


imigração em todo o mundo e conta, em sua população,
com mais de 30 mil brasileiros q ue vivem ou se instalam
provisoriamente no país seja para estudo ou trabalho.
Montreal é, culturalmente, uma das cidades mais
desenvolvidas do mundo, contando com festivais, eventos e

57
shows ao longo de todo ano. Apesar de sua acessibilidade
aos brasileiros, a cidade conta com q uase nenhum evento
para a difusão da cultura brasileira. Pensando nisso,
surge o GIG>MTL, um evento q ue se propõe não apenas a
fazer uma ligação entre as duas das principais metrópoles
culturais de cada país, como também consagrar artistas
em franca expansão e talento no Brasil e no exterior.

Em meu exemplo, comecei com dados que justificam sua


realização (informações sobre o Canadá e Montreal). Em seguida,
apresentei um problema existente (“quase nenhum evento da
cultura brasileira”). E assim, entrei na justificativa propriamente dita.
Repondendo à pergunta “por que eu quero fazer isso?”, temos:

- Para fazer uma ligação entre duas das principais


metrópoles culturais de cada país.

- Para consagrar artistas em franca expansão e talento no


Brasil e no exterior.

Agora vamos à sua justificativa?

58
O meu projeto justifica-se por:

É importante ressaltar que o campo de justificativa de


um projeto existe em praticamente todos os editais e leis de
incentivo atualmente. Por outro lado, muitos empreendedores
criativos optam por não incluí-lo em um projeto destinado a
um patrocinador (o projeto de captação) por considerar que a
informação não é tão relevante para este público.

Cabe a você avaliar se sua justificativa é ou não interessante


para seu patrocinador. E se não for, seu projeto não ficará
incompleto porque não tem este campo.

59
Particularidades do projeto
Todo projeto tem pequenas ou grandes particularidades
que o diferenciam dos demais. Quando enumero aqui as
particularidades na etapa de desenvolvimento de um projeto é
porque algumas características são inerentes ao tipo de projeto
que você está desenvolvendo e precisam ser levadas em conta no
momento de sua apresentação.

Um projeto audiovisual ou um projeto de teatro, por


exemplo, precisam necessariamente contar com uma sinopse e
com um roteiro. Já um projeto de longa-metragem deve contar
também com um argumento, que é a história que você pretende
contar para o espectador. Um livro, além de uma história, precisa
também de suas características técnicas, como o tipo do papel que
será utilizado, o material para a produção da capa, suas medidas e
quantidade de páginas previstas. Já uma exposição precisa contar
com uma proposta museográfica, que é um estudo apurado de
como as obras serão apresentadas no espaço proposto para o
público.

Ao longo dos cursos de empreendedorismo cultural que


realizo, conheci projetos incríveis. Nestas oportunidades pude
perceber como as peculiaridades de um projeto têm sido cada
vez mais inovadoras, principalmente quando falamos sobre
novas tecnologias, novas mídias e projetos multidisciplinares,
gerando, naturalmente, cada vez mais interesse do patrocinador.
Alguns exemplos destas peculiaridades incluíam video-mapping,
instalações, ausência de roteiro, participação do público, um
profissional de destaque, um formato diferenciado, uma nova
tecnologia, a ausência de padrões, a contratação de técnicos

61
específicos para instalação de cenário (como tecido para acrobacias
aéreas ou cabos de aço para voos), a realização de oficinas com
atores (como gastronomia de uma determinada região ou prosódia
para o aperfeiçoamento de um sotaque), viagens para pesquisa,
etc.

Não há limite para a criação. Extrapole sua ideia e descubra


quais são as peculiaridades que podem diferenciá-lo de outros
projetos similares. E saiba também que, ao inscrever seu projeto em
leis de incentivo e editais, estas informações serão importantes e
obrigatórias.

Agora é sua vez!

Quais são as particularidades do


seu projeto?

62
Local
É fundamental para o sucesso do seu projeto pensar no
local onde ele será realizado. Esta definição irá permitir que
você compreenda seu porte (de acordo com o local escolhido),
a capacidade de público (sobre a qual iremos falar no plano de
distribuição) e o foco de sua captação (de acordo com a localização
geográfica).

Pode parecer difícil definir este local quando o projeto ainda


está no papel e quando há uma forte concorrência pelos espaços
mais atraentes das grandes cidades, mas definindo ao menos o
que seria este local ideal, você garante a definição da envergadura
do seu projeto e poderá planejar da melhor forma seu plano de
distribuição.

Confirme se o local escolhido para receber seu projeto (uma


sala de teatro, um espaço multifuncional para uma exposição,
uma casa de shows, uma livraria para o lançamento de um livro)
realmente atende ao público-alvo que definiu. Escolher um local
que seja inacessível para seu público-alvo ou ainda que não faça
parte de seu cotidiano de consumo pode fazer com que o projeto
não atenda às expectativas de distribuição planejadas.

O local escolhido deve atender às medidas de acessibilidade,


com acesso a cadeirantes, rampas e elevadores (no lugar de
escadas) e vagas identificadas no estacionamento. Apesar disso
ainda ser um grande desafio para as produções, já que muitos
locais não atendem estes pré-requisitos, é fundamental levar
este fator em consideração. Seu projeto deve ser 100% acessível.
Além de favorecer o acesso igualitário aos produtos culturais, a

64
acessibilidade é fundamental para a aprovação de projetos nas
leis de incentivo e cada vez mais – felizmente -, os patrocinadores
têm se preocupado com o tema na seleção dos projetos onde
pretendem investir.

Mesmo que o local onde você planejou apresentar seu


projeto mude, o ideal é que busque sempre espaços similares em
termos de alcance, localização e público para não ter surpresas.
Lembre-se que ainda estamos trabalhando com o cenário ideal e
hipotético, e que nem sempre todas as nossas demandas para o
projeto serão atendidas. Esteja preparado para estas mudanças.

65
Direitos Autorais
Os direitos autorais são um ponto fundamental para a
realização do seu projeto. A lei que regula os direitos autorais no
Brasil é a Lei número 9.610 de 19 de fevereiro de 1998 e trata
sobre os direitos de autor e os direitos que lhes são conexos. Em
2013, a Lei número 12.853, de 14 de agosto, alterou, revogou e
acrescentou dispositivos à lei de 1998.

A Lei do Direito Autoral abrange os seguintes fatores:

1. Publicação - que trata do oferecimento de obra


literária, artística ou científica ao conhecimento do público, com o
consentimento do autor, ou de qualquer outro titular de direito de
autor, por qualquer forma ou processo,

2. Transmissão ou emissão - que responsabiliza-se pela


difusão de sons ou de sons e imagens,

3. Retransmissão - que é a emissão simultânea da


transmissão de uma empresa por outra,

4. Distribuição - que refere-se à disposição do público


do original ou cópia de obras literárias, artísticas ou científicas,
interpretações ou execuções fixadas e fonogramas, mediante
a venda, locação ou qualquer outra forma de transferência de
propriedade ou posse,

5. Comunicação ao público - referente ao ato mediante o


qual a obra é colocada ao alcance do público,

67
6. Reprodução – que é a cópia de um ou vários exemplares
de uma obra literária, artística ou científica ou de um fonograma,

7. Contrafação – que refere-se à reprodução não


autorizada,

8. Obra – que é a proteção à obra propriamente dita.

Caso tenha interesse em se aprofundar mais sobre o


tema dos direitos autorais, é necessário ler e compreender a
legislação em vigor. Por se tratar de um tema amplo e com várias
possibilidades de interpretação, neste momento, iremos focar
principalmente na necessidade de garantir e resguardar os direitos
autorais de determinada obra para que você possa produzi-la sem
surpresas.

Com as rápidas mudanças que têm acontecido no setor


cultural e a evolução tecnológica no que diz respeito à difusão e
distribuição de informação, a lei do direito autoral tem sido tema
de ampla discussão, ainda sem rumos definidos. É importante
ficar atento também a esta discussão durante a realização de seu
projeto para saber se futuras mudanças podem ou não implicar em
consequências para a realização de sua ideia.

A primeira questão sobre o direito autoral que você deve se


colocar é “meu projeto é 100% autoral ou demanda a cessão de
direitos de outro artista?”. Se ele conta com textos, músicas, fotos
ou trechos de obras pertencentes a outro artista, isto significa que
ele envolve direitos de terceiros. É fundamental, então, que você

68
tenha o direito - ou seja, a autorização - para utilizá-los, podendo
ser penalizado por isso, caso não tenha este documento em mãos.

O primeiro passo a fazer é descobrir quem é o detentor


destes direitos. Se é um artista vivo, é com ele que você deve
falar para obter a cessão de direitos, que pode ser paga ou não.
Ao fazer isso é importante não apenas deixar claro o uso da obra
como também o tempo pelo qual ela será utilizada e o meio onde
será executada, fazendo um contrato para que não haja dúvidas ou
problemas futuros. Se o artista faleceu, é importante saber quem
são os detentores subsequentes do direito. Normalmente eles são
cedidos à família ou à alguma organização e é com ela que você
deve tratar para a utilização da obra.

Para exemplificar, quando produzi para o teatro “Dona Flor


e Seus Dois Maridos”, tratávamos dos direitos autorais junto à uma
empresa responsável por toda a obra de Jorge Amado. “Tudo por
um pop star” teve seus direitos cedidos para a DA GAVETA pela
própria autora, a Thalita Rebouças. E os direitos de “Vinicius: a
arte de encontro” (uma biografia sobre Vinicius de Moraes para o
teatro) foram tratados com uma das filhas do poeta, que também
assinava como uma das autoras do texto.

É importante saber também que os direitos patrimoniais do


autor perduram por setenta anos contados de 1° de janeiro do ano
subseqüente ao de seu falecimento, obedecida a ordem sucessória
da lei civil. Ou seja, setenta anos após a morte do autor, a obra cai
em domínio público, podendo ser utilizada livremente por terceiros.

69
Se o seu projeto é totalmente autoral – ou seja, você é
o criador e detentor de todo o conteúdo de textos, imagens,
etc. -, não é necessário preocupar-se com esta questão, exceto
pelo fato de lembrar-se de também ser remunerado por isso, já
que o detentor dos direitos é você. Falaremos mais sobre a sua
remuneração, como criador e proponente quando entrarmos na
etapa de desenvolvimento do orçamento.

Pronto! Você já sabe a quem pertence o direito de


determinada obra que gostaria de utilizar em seu projeto, mas…
qual o próximo passo? Como você irá pagar por algo que ainda
está no papel e que você não sabe nem ao menos se será
efetivamente realizado ou quando isso irá ocorrer? Como inserir
este dado no orçamento, já que agora você sabe que haverá um
valor a pagar?

Para cada projeto teremos respostas diferentes a estas


perguntas, mas para que você possa dar continuidade à elaboração
de sua ideia, serão necessárias garantias mínimas de que terá os
direitos sobre a obra. Ao entrar em contato com o artista, mais
uma vez, é importante que você seja verdadeiro quanto ao seu
projeto. Informe-o de que está na etapa de elaboração e mostre
seu interesse sobre sua obra. Questione valores, prazos e formas de
pagamento. Com o valor definido, basta incluir este montante em
seu orçamento, na linha de direitos autorais.

Muitos autores atuam com percentual sobre a receita


(bilheteria), o que não gera uma despesa antecipada. Outros
aceitam ceder os direitos com a condição de receberem

70
determinado valor somente se o projeto se realizar. Há
também autores que solicitam uma garantia antecipada. Neste
caso, é preciso decidir se vale a pena ou não pagar um valor
antecipadamente para ter a cessão dos direitos para seu projeto.
Mas isso, naturalmente dependerá da negociação que fizer com o
autor, da relevância do texto e do momento em que os direitos são
adquiridos. Tenha sempre tudo registrado e comprometa-se apenas
com aquilo que pode cumprir.

Importante:

- Faça um contrato com o detentor dos direitos da obra


prevendo datas, pagamentos e prazos. Um documento simples
com dados completos de ambas as partes, mas que conte com
estas informações já garante a cessão dos direitos.

Exemplo:

“ Eu, nome do autor, documentos do autor, dados


do autor, declaro ser o detentor único e exclusivo da
obra A e cedo, sob as condições B, C, D os direitos
para a produtora E, dados da produtora, pelo período
de F a G, com a garantia de H, I, J (q ue podem ser as
informações sobre pagamento) para a sua realização.”

Local e Data

Assinatura

71
- Ao negociar a proposta financeira para a cessão de direitos
junto ao autor, não se esqueça de incluir este valor no orçamento
de seu projeto. Falaremos sobre isso mais à frente.

72
Crono
grama
Pela etimologia da palavra, o termo cronograma tem origem
no grego, onde khronos significa “tempo” e gramma significa
“alguma coisa escrita”. Em linhas gerais, o cronograma nada mais é
do que uma ferramenta de gestão de atividades que contempla o
tempo em que elas irão se realizar. Trata-se de uma ferramenta de
planejamento que ajuda a controlar e visualizar o progresso de um
projeto enquanto ele ocorre.

Pode parecer um grande desafio definir quando seu projeto


será realizado se você está, neste momento, apenas o colocando
no papel. Realmente não é fácil. Mas alguns truques podem ajudá-
lo a superar este desafio e ter um cronograma perfeito.

Antes de dar esta dica, quero apenas apresentá-lo à


“piada do amanhã”. Em meus cursos sobre empreendedorismo
cultural, costumamos desenvolver metas em conjunto com prazos
determinados para realizá-las. Ao final do exercício, alguns alunos
são convidados a ler suas metas pessoais em voz alta. É muito
comum escutar metas que serão realizadas “semana que vem”,
“mês que vem”, “ano que vem”. Qual o erro disso? As metas
normalmente são escritas no papel para que possamos oficializá-las
e, posteriormente, controlá-las. Ao passar do tempo, você relê suas
metas e descobre que elas têm como prazo: “semana que vem”,
“mês que vem”, “ano que vem”. O que acontece? A data nunca
chega!

O que quero dizer com a “piada do amanhã” é que suas


metas, sejam elas pessoais ou profissionais, assim como seu
cronograma, precisam ter uma data definida, mesmo que com o

74
passar do tempo você precise atualizá-la.

Pense em datas que são realmente simbólicas para você


como um aniversário ou alguma festividade que costuma lembrar e
você certamente terá a motivação que precisa para cumprir com a
meta que se colocou.

Para desenvolver o cronograma de seu projeto a primeira


tarefa que você deve fazer é listar - sem uma ordem definida - tudo
o que terá que realizar para que ele aconteça, desde inscrevê-lo
em uma determinada lei até entregar a prestação de contas para
o patrocinador. Seja o mais detalhado que puder. Quanto mais
informações o projeto tiver, melhor para sua realização.

Listas de metas a serem


realizadas para meu projeto:

(utilize q uantas linhas desejar)

75
Com a lista pronta em mãos, o segundo passo é colocá-la
na melhor ordem que poderá executá-las. Lembre-se que estamos
falando de um projeto e estas atividades poderão ser alteradas ao
longo de sua execução. Nada está cristalizado ou engessado, mas
colocar no papel fortalece seu compromisso com sua realização
e garante o poder da palavra, conforme falamos no início deste
manual.

Depois que as atividades estiverem em ordem, agora é hora


de colocar ao lado de cada uma delas o tempo estimado que irá
precisar para realizá-las. Pense em meses ou semanas porque isso
irá facilitar o desenvolvimento do cronograma, que idealmente é
calculado em meses.

Quanto mais realista você for durante o desenvolvimento do


seu cronograma, menos surpresas terá futuramente.

Confira abaixo um trecho da lista de atividades que foram


inseridas no cronograma de um dos espetáculos de teatro que
produzi:

• Fechamento de contratos com eq uipe (1 mês)

• Fechamento de contratos com elenco (1 mês)

• Desenho de luz (2 meses)

• Construção de cenário (3 meses)

• Produção de figurinos (3 meses)

76
Agora é com você. Pronto para colocar o tempo estimado
de cada tarefa em sua lista?

Quebrando o Cronograma em Três Partes:

Agora que sua lista está pronta, em ordem e com o prazo


de cada tarefa, você irá quebrar este cronograma em três partes:
Pré-produção, Produção e Finalização/Conclusão. Se seu projeto foi
audiovisual, inclua uma quarta parte, a Pós-Produção.

Você pode criar também a etapa de divulgação, mas eu,


particularmente, gosto de enumerar os itens de divulgação dentro
da pré-produção e da produção.

O cronograma assim como todas as etapas de


desenvolvimento de projeto, não são rígidos em sua modelização.
Naturalmente, ter um modelo como diretriz em um primeiro
momento pode ajudá-lo a desenvolver seu cronograma sem
medos. Mas sinta-se livre também para pensar em uma maneira
visual que o agrade mais e vá em frente. Se você se sentir à
vontade desenvolvendo textos e descrevendo cada etapa que será
desenvolvida, sem problemas. Se preferir fazer em tópicos, tudo
bem também. O mais importante, como sempre, é que a pessoa
que esteja lendo seu projeto compreenda quais são seus planos,
prazos e períodos de realização da forma mais clara possível.

Lembre-se ainda que muitas atividades que listou ocorrem


de forma simultânea. Esta é sua chance de organizar o cronograma
agrupando estas atividades dentro dos períodos propostos e com

77
base no tempo estimado para sua realização.

Confira agora um exemplo de cronograma completo e


organizado para outro espetáculo de teatro que produzi:

Pre-Produção | 4 meses

• Fechamento de contratos com eq uipe

• Fechamento de contratos com elenco

• Desenho de luz

• Contratação de materiais necessários

• Construção de cenário

• Produção de figurinos

• Definição de assessoria de imprensa

• Desenvolvimento e aprovação de peças de


comunicação

• Solicitação de autorizações diversas


(EC AD, SBAT, SATED)

• Leituras e ensaios com o elenco

• Montagem e ensaios no teatro (4 ensaios gerais)

Produção | Apresentações | 2 meses

78
• Apresentação da temporada de 2 meses

• Divulgação nos meios de comunicação

Pós-Produção | 1 mês

• Análise final da temporada

• Prestação de contas e finalização do projeto

Pronto para organizar seu cronograma do início ao fim? Aí


vai um modelo para que fique ainda mais fácil de preencher:

Pré-produção

Início ____ / ____ / _____

Fim ____ / ____ / _____

(Tarefa 1) - Duração ____ (semanas/meses)

(Tarefa 2) - Duração ____ (semanas/meses)

(Tarefa 3) - Duração ____ (semanas/meses)

79
Produção

Início ____ / ____ / _____

Fim ____ / ____ / _____

(Tarefa 1) - Duração ____ (semanas/meses)

(Tarefa 2) - Duração ____ (semanas/meses)

(Tarefa 3) - Duração ____ (semanas/meses)

Pós-produção

Início ____ / ____ / _____

Fim ____ / ____ / _____

(Tarefa 1) - Duração ____ (semanas/meses)

(Tarefa 2) - Duração ____ (semanas/meses)

(Tarefa 3) - Duração ____ (semanas/meses)

80
Finalização

Início ____ / ____ / _____

Fim ____ / ____ / _____

(Tarefa 1) - Duração ____ (semanas/meses)

(Tarefa 2) - Duração ____ (semanas/meses)

(Tarefa 3) - Duração ____ (semanas/meses)

Foi mais fácil do que você imaginava, não foi? Com o


cronograma pronto você já tem uma real noção do tempo que
irá se dedicar a este projeto e de que forma cada atividade está
programada. Como falei, considero esta uma etapa fundamental
para compreender a duração da realização de um projeto e para
motivar você a conquistar seus objetivos!

81
A ficha técnica
A ficha técnica é uma lista que determina os principais
profissionais envolvidos em seu projeto e as atividades que cada
um desempenha durante sua execução. Cada projeto conta com
funções definidas de acordo com suas peculiaridades (como um
diretor de fotografia para um projeto audiovisual, um capista para
um projeto literário ou um diretor de cena para um espetáculo de
teatro), mas há algumas funções que se repetem, independente do
tipo de projeto.

Sabe aquela velha história de que uma andorinha só não faz


verão? Pois é, por mais incrível, criativo e inovador que você seja,
seu projeto (e você) precisará de muita ajuda pela frente.

O primeiro passo importante para desenvolver sua ficha


técnica é saber qual a sua função. Por mais que você tenha tudo
muito bem desenhado na sua cabeça e acredite em seu potencial
para assumir diversas funções, saiba que seu projeto tem muito
mais a ganhar se puder receber a contribuição e o olhar de outros
artistas. E mesmo que você se envolva em todas as etapas do
projeto, é muito importante tanto para você quanto para os futuros
membros de sua equipe, definir e respeitar qual a sua verdadeira
responsabilidade no projeto.

Muitos proponentes têm dificuldades em delegar ou ainda


medo de envolver outros profissionais por insegurança. Saiba que
contar com uma equipe qualificada agrega valor ao seu projeto e
garante visões e experiências diferentes. Além disso, grande parte
das leis de incentivo contam com limite de até três funções para
um mesmo profissional e você, como proponente precisará buscar

83
outros profissionais para auxiliá-lo.

Para começar, faça uma lista das pessoas com quem gostaria
de trabalhar ou avalie projetos similares ao seu para conhecer
quem fez parte de suas equipes. Participe de projetos parecidos (ou
não) como espectador e faça anotações sobre os trabalhos que se
destacaram para você.

Com a lista em mãos, a segunda etapa é fazer os convites.


Mesmo que não tenha os contatos deste profissional, hoje em dia,
com as redes sociais, você não apenas consegue uma conexão
direta mais rápido como ainda descobre amigos em comum que
podem indicá-lo ou dar um parecer sobre os profissionais que
selecionou. Aproveite isto como uma ferramenta de pesquisa.
Antes de entrar em contato com estes profissionais, veja com
quem já trabalharam e o que estas pessoas têm a dizer sobre
suas competências, cumprimento de prazos, participação e,
principalmente, relações interpessoais.

Uma boa eq uipe é feita de boas


pessoas, em seu sentido mais amplo!

Não tenha medo de fazer um primeiro contato.


Praticamente todas as pessoas, dentro da área cultural são
acessíveis. É importante dizer que trata-se de um projeto, que
ainda está sendo desenvolvido no papel e que você não sabe

84
exatamente quando ele irá acontecer (mas que está se esforçando
profundamente para isso e acredita em seu potencial!).

Todas as pessoas que trabalham no setor sabem que


isso acontece exatamente desta forma. O que você quer,
neste momento, é mostrar seu interesse pelo trabalho de um
determinado profissional, explicando-o em que etapa o projeto se
encontra e saber se aquela pessoa tem interesse também em seu
projeto. Simples assim.

Ao longo deste processo, você (ou o profissional que


contactou) podem inclusive mudar de ideia. Nem mesmo a
ficha técnica é engessada ao ponto de não permitir mudanças.
O importante é manter um diálogo aberto e ético com os
profissionais que contactou. Se você convidou um profissional
quando seu projeto ainda estava no papel e meses depois ele está
prestes a se realizar, não deixe, jamais, de entrar em contato com a
pessoa que convidou, mesmo que tenham se passado anos! Assim
como você, ele apostou em seu projeto quando ainda era apenas
palavras no papel.

Todas as pessoas que você colocar em sua ficha técnica


devem ter ciência (e estar de acordo, naturalmente) de que seus
nomes estão sendo citados no projeto. Sempre solicite cartas de
anuência para confirmar que elas têm interesse em participar.
Em muitos editais, as cartas de anuência são obrigatórias no
ato da inscrição, havendo inclusive modelos deste documento
disponibilizados em muitos deles. Nos casos onde não houver
um modelo disponível, um documento que conte com os dados

85
do profissional, dados do projeto e da empresa proponente são
suficientes para comprovar a participação. Além do contato
telefônico, oficialize o convite por email – onde você poderá dar
ainda mais informações sobre o projeto – e solicite um retorno
positivo em caso de aceite. E-mails hoje são consideradas
comunicações oficiais e devem ser guardados como tal.

Aproveite esta etapa também para organizar seus


documentos. Em seu caderno de produção anote o nome
completo do profissional, a função para a qual ele foi convidado,
seus telefones de contato e e-mail. Estes dados podem ser
solicitados logo após o aceite e eventualmente também serão
necessários na participação em editais e leis. Em suas pastas
organizadas no computador, salve os e-mails trocados. Assim, além
de ser mais fácil encontrar acordos e tratos feitos, você não corre o
risco de perder informações valiosas se tiver algum problema com
seu programa de e-mails.

Pronto para começar sua ficha técnica?

Colocamos abaixo algumas funções usuais para que você


possa se organizar:

86
FIC HA TÉ C NIC A
Diretor de Produção

Produtor Executivo

Roteirista / Redator / Autor

Diretor Artístico

Diretor Musical

C enógrafo

Figurinista

Iluminador

Designer / Programador Visual

Assessor de Imprensa

Lembre-se que cada projeto tem suas particularidades e,


naturalmente, funções diferentes para sua ficha técnica. Fique
à vontade para incluir novas funções que achar pertinente nesta
etapa de projeto.

87
Pla
div no de
ulga
ção

88
O plano de divulgação é o conjunto de ações destinadas
à divulgação de seu projeto cultural e compreende materiais
como: anúncios em jornais, cartazes, folders, outdoors, panfletos,
inserções em rádio, televisão e em novas mídias (como portais e
sites), entre outras.

Particularmente, esta é uma das partes do desenvolvimento


de projetos que mais gosto (talvez por ter formação em
publicidade) porque consigo ver como ele poderá se comunicar
com seu público-alvo.

Alguém falou em público-alvo? Antes de desenvolver um


plano de divulgação eficiente, você precisa definir muito bem quem
é seu público-alvo. É através desta definição que você irá identificar
as características de quem será seu público e, a partir daí, poderá
criar um plano de divulgação eficiente voltado especificamente
para as pessoas que o projeto deve atingir.

Enumero abaixo algumas perguntas que poderão ajudar


você a definir qual o seu público-alvo. Lembre-se que estamos
focando em um nicho específico, mas que ele pode se expandir,
atingindo outras pessoas que não estavam previstas anteriormente.
Quanto mais você focar no perfil de quem deseja atingir, mais
correto será o direcionamento de seu plano de divulgação.

89
90
Agora veja um exemplo do que seria o público-alvo de um
produto cultural hipotético:

Meu público-alvo é formado prioritariamente por mulheres,


na faixa dos 25 a 35 anos, residentes na Zona Oeste do Rio de
Janeiro, e que têm como hobby frequentar shopping centers e
parques de diversões com a família. Este público faz parte da classe
B-C e consome principalmente programas de televisão em canais
abertos e fechados. Utilizam o shopping como local de encontro e

91
aproveitam estes momentos para ir ao salão de beleza e consumir
produtos femininos, além de buscar entretenimento familiar como
cinemas, teatros e espaços interativos para as crianças.

Agora é sua vez. Utilizando todas as respostas das perguntas


acima, você já pode definir seu público-alvo:

Meu público-alvo é formado por

Definido seu público-alvo, liste agora veículos de


comunicação que normalmente atendem estas pessoas. A partir
daí, você já pode desenvolver seu plano de divulgação.

Pense em fazer algum tipo de divulgação antecipada,

92
principalmente com a assessoria de imprensa, que idealmente
deve começar a trabalhar ao menos um mês antes da data de
lançamento do seu projeto. Quanto aos veículos, encontre uma
forma de intercalá-los para que seu projeto esteja sempre sendo
visto por seu público-alvo. A melhor maneira de pensar em um
plano de divulgação é criando uma conexão entre os veículos ao
longo da duração de seu projeto. Cada veículo conta com um
tempo definido de veiculação e pensar nesta seleção em paralelo
ao tempo de execução do projeto permite que você tenha sempre
algum tipo de comunicação acontecendo enquanto oferece ao
público seu produto cultural.

Lembre-se dos prazos de cada veículo, circulação e alcance.


Um anúncio em jornal, por exemplo, terá um grande alcance,
mas em apenas um dia da semana. Já um busdoor, atua de
forma quinzenal e permite a seleção de ônibus por trajetos. Peça
também aos veículos que enviem pesquisas sobre seus públicos
para confirmar se suas escolhas atendem quem você deseja atingir.
Muitas vezes estas pesquisas são disponibilizadas gratuitamente
nos sites dos veículos.

Seu plano também precisa focar nas novas mídias e


novas formas de divulgação como redes sociais, anúncios no
Google ou Facebook, entre outros. A possibilidade de segmentar
o direcionamento dos anúncios e o baixo custo deste tipo de
publicidade (em detrimento dos grandes veículos) têm gerado cada
vez mais interesse por novas mídias. Estude campanhas variadas
para verificar aquela que oferece mais resultados (cliques, views,
etc). Como a resposta é instantânea, você pode ir modificando

93
a campanha ao longo de sua realização para melhor atender o
público que deseja.

Se sentir necessidade, pode contar ainda com o apoio de


uma agência de comunicação nesta etapa. Pense apenas em prever
esta despesa no orçamento de seu projeto para não ser pego de
surpresa. A diferença entre um escritório de design - que atua
principalmente sob suas demandas - e uma agência de publicidade,
é que esta pode trazer novos conteúdos e propostas inovadoras
para seu projeto, responsabilizando-se por todo o processo,
inclusive no que diz respeito à elaboração de textos, solicitação de
orçamentos e acompanhamento gráfico. Avalie a melhor opção
para você no momento em que escolher seu fornecedor.

Confira agora os veículos mais comuns que podem


fazer parte de seu plano de divulgação:

94

Ao criar seu plano de divulgação, lembre-se de não se


limitar à esta lista. Quanto mais autêntica e inovadora for sua
comunicação, mais chances você tem de atrair novos espectadores
para seu projeto.

95
O plano de
distribuição

96
O plano de distribuição é a forma como seu produto cultural
irá chegar às mãos do seu público-alvo. Trata-se de uma etapa
fundamental no desenvolvimento de um projeto, mas que muitas
vezes é deixada de lado pelo proponente porque ele não consegue
visualizar de que forma seu produto será distribuído.

Para desenvolver um plano de distribuição, você precisa


saber (ou estimar) o local onde irá realizar seu projeto, o tempo em
que ele estará acessível para o público (normalmente contado em
dias ou apresentações), a capacidade do local e os preços aplicados
(ou a gratuidade, caso não haja cobrança de ingressos). Com estes
números em mente, você poderá fazer uma projeção de quanto
pode receber de receita pelo projeto.

Mesmo que seja uma estimativa hipotética, o plano de


distribuição é obrigatório não apenas para que seu projeto seja
inscrito em leis e editais como também para que seu futuro
patrocinador e você sabiam quantas pessoas poderão ser atingidas
por ele.

Veja um exemplo de plano de distribuição de um livro


(modelo utilizado atualmente pelo Ministério da Cultura
para a Lei Rouanet):

Quantidade total produzida: 2000 unidades

Divulgação: 200 unidades (para imprensa, críticos, etc)

Patrocinador: 200 unidades (teto de 10% de sua produção)

Beneficiários: 200 unidades (podem ser bibliotecas públicas,

97
ONGs, etc.)

Produzida restante: 1400 (a q uantidade total menos as


doações acima)

Venda normal: 1000 (q uantos exemplares serão vendidos a


preço cheio)

Venda promocional: 400


(q uantos exemplares serão vendidos a preço promocional)

Preço normal: R$ 35,00

Preço promocional: R$ 15,00

Receita total: R$ 41.000,00 (venda normal + venda


promocional)

No exemplo acima, a quantidade total produzida foi de


2000 unidades de livros. Caso fosse um espetáculo de teatro,
a quantidade total produzida aqui seria a capacidade do teatro
multiplicada pelo número de apresentações previstas. Já em uma
exposição, seria a previsão de pessoas no local pelo número de
dias. E por aí vai.

Voltando ao exemplo dos livros, repare que parte deles


foram cedidos gratuitamente, sendo 10% para uso de divulgação
(assessoria de imprensa, jornais para produção de críticas, etc),
10% para o patrocinador, conforme limite estabelecido pelo
próprio Ministério da Cultura e 10% para beneficiários (que
poderiam ser escolas públicas, bibliotecas, etc). O mesmo pode
ocorrer com ingressos de teatro, cinema, entrada para exposições,

98
etc.

Do restante produzido (1400 unidades), 1000 livros foram


colocados no mercado ao preço de R$ 35,00 e 400 livros foram
colocados no mercado ao preço de R$ 15,00, gerando uma receita
total de R$ 41.000,00.

Agora vamos trabalhar?

Abaixo enumero de forma descritiva cada um dos itens que


poderiam fazem parte de um plano de distribuição. Dependendo
do tipo de projeto, os campos são modificados para atender às
suas demandas. O importante aí é compreender quantos são
os produtos culturais resultantes, - sejam eles produtos físicos
(como livros, CDs, DVDs) ou ingressos/acesso (como espetáculos,
shows, exposições, etc) -, de que forma eles serão distribuídos
(gratuitamente ou não) e para quem. Ao preencher cada um destes
itens, você terá uma ideia geral do alcance do seu projeto:

a. Capacidade do local (em caso de evento):


_____________________________________________________
b. Número de apresentações / dias / produtos:
_____________________________________________________
c. Público total possível (a x b):

99
_____________________________________________________
e. Ingressos/produtos gratuitos disponibilizados para
divulgação/imprensa (ideal até 10% do total):
_____________________________________________________
f. Ingressos/produtos gratuitos para o patrocinador (limite de
10% do total):
_____________________________________________________
g. Ingressos/produtos gratuitos para beneficiários (a seu
critério):
_____________________________________________________
h. Ingressos/produtos colocados oficialmente à venda (d - e - f
- g):
_____________________________________________________
i. Valor cobrado de entrada/venda do produto (valor 1):
_____________________________________________________
j. Outros valores ou descontos aplicados (valor 2):
_____________________________________________________
k. Estimativa do público total que pagará o valor 1 (parte de
h):
_____________________________________________________
l. Estimativa do público total que pagará o valor 2 (h - k):
_____________________________________________________
m. Estimativa total de receita (i x k) + (j x l):
_____________________________________________________

100
Apesar de ser comum a cobrança de ingressos ou
pagamento pelo produto final, você, como empreendedor cultural,
pode optar pela cessão gratuita de seu projeto, ou seja, sem a
cobrança de ingressos, apenas zerando estas linhas em seu plano
de distribuição. Muitas vezes, quando o projeto é totalmente
financiado por uma lei de incentivo, é normal que ele seja
distribuido gratuitamente em 100% de sua capacidade.

Mais uma etapa cumprida e a sensação de que aquela


ideia que era bastante inicial algum tempo atrás, ganha forma e
se torna real. A cada fase que ultrapassamos no desenvolvimento
do projeto, mais compreendemos sua dimensão e alcance e mais
perto chegamos de sua realização. Só para lembrar:

Não há nada mais importante


do q ue realizar seu projeto.

101
O orçamento
“O maior erro que
você pode cometer,
é o de ficar o tempo
todo com medo de
cometer algum.”
Elbert Hubbard

Um orçamento é o cálculo prévio das despesas necessárias


para se realizar uma obra, uma estimativa de custos. Com uma
definição tão simples como esta, por que, afinal, todos os artistas
têm medo de fazer um orçamento para seu projeto?

Para perder este medo para sempre, vamos considerar o


orçamento como uma grande lista de ferramentas necessárias
para se desenvolver um projeto com seus devidos valores. Simples
assim... e chegaremos lá!

O princípio básico para a realização de seu projeto é ter as


ferramentas necessárias para que ela aconteça. Entende-se por
ferramentas: os utensílios de trabalho (materiais, acessórios, etc),

103
o ambiente propício (local de ensaio, local de execução e outros
locais) e os profissionais adequados (sua ficha técnica). Mais à
frente você verá que, juntas, estas três ferramentas podem gerar o
cálculo dos recursos financeiros totais que você precisa.

Assim, o primeiro passo é listar estes itens fundamentais.


Você pode elencá-los nestas categorias: utensílios de trabalho,
ambiente e profissionais.

104
Utensílios de trabalho
Quais são as ferramentas que você precisa? Se você é um
artista plástico, precisará de telas, pincéis, cavaletes, etc. Se é um
cineasta, seus utensílios de trabalho correspondem à câmeras,
refletores, microfones. Se seu projeto é um show, você precisa
de instrumentos musicais, refletores, microfones, tripés, etc.
Liste todos os utensílios que precisa, mesmo que não estejam
diretamente ligados à sua atividade, mas de alguém que irá
contratar, como por exemplo, material para a execução de figurinos
e cenários.

Lembre-se de pensar inclusive em seu dia-a-dia, indo dos


itens macro aos pequenos utensílios usados em sua rotina de
produção (como cartuchos de impressora, material de escritório) e
também em tudo o que listou em seu plano de divulgação. Isso irá
ajudá-lo a não esquecer nenhum item do seu orçamento.

Meus utensílios de trabalho são:

106
iente
mb
A
O ambiente refere-se ao local ou locais por onde seu
projeto irá passar ao longo de sua produção. Alguns exemplos de
ambiente são: a locação de salas de ensaio, locação de estúdios de
gravação (de imagem e som), locação de teatro, espaço cultural,
etc. Onde seu projeto pode ser realizado? Você precisa alugar
um espaço para ensaiar ou produzir? Necessita alugar um espaço
para se apresentar? Precisa de autorizações para oferecer uma
determinada atividade ao ar livre?

Este é o momento de listar todos os locais por onde


você irá passar. Lembre-se de avaliar também se os ambientes
estão prontos para recebê-lo ou se precisam de algum tipo de
adaptação, acessório ou equipamento. Em caso positivo, não se
esqueça de listar também todos os equipamentos que precisarão
ser alocados para seu projeto (como equipamento de som, luz,
projeção, máquina de fumaça, etc).

108
Os ambientes onde irei trabalhar
e materiais para locação são:

109
Profissionais adequados
A primeira pessoa que você não deve esquecer na lista de
profissionais do seu projeto é você. Pode parecer piada, mas já
recebi diversos orçamentos de clientes que pensaram em tudo,
menos em si mesmos. Você é um empreendedor cultural, quer
desenvolver um projeto e deseja ser remunerado por seu trabalho,
certo? Então nesta lista, você é o primeiro!

Claro que é importante saber também que, como


idealizador do projeto, você é responsável por sua gestão financeira
e por seu sucesso. Em outras palavras, caso algo não saia como
planejado, provavelmente o seu cachê ou remuneração correm
o risco de serem os primeiros prejudicados. Mas é claro que com
tanto planejamento e organização, isso não irá acontecer!

Agora que você já se garantiu no projeto, comece pensando


em todos os cabeças de equipe. Dê uma olhada na ficha técnica
que fizemos juntos para ter certeza de que não está esquecendo
ninguém. Se você está desenvolvendo um produto audiovisual,
precisará de um diretor, um diretor de arte, um roteirista, um
iluminador e muitos outros. Se seu projeto é um livro, pense no
capista, diagramador, editor, etc.

Mais uma vez, é fundamental fazer o exercício do macro


até o micro. Você deve não apenas ser capaz de listar os cabeças
de equipe e seus assistentes, mas também pensar em todos
os profissionais que são importantes para você e que também
farão parte do seu dia-a-dia, como um contador, um assistente,
uma secretária, um analista financeiro e até mesmo um serviço
terceirizado de motoboys.

111
Não se preocupe com o tamanho da lista e seja o mais
completo possível. Afinal, ainda não estamos falando de dinheiro
e sim de desenvolvimento de orçamento. Antes de entrar em
desespero, lembre-se que este é seu projeto e que você não irá
abrir mão dele por uma resistência ao orçamento.

Persistência é acreditar em
seu projeto e seguir em frente.

Confira alguns exemplos de profissionais que podem


entrar em sua lista:
PRoteirista PDiretor artístico
PDiretor de produção PProdutor executivo
PIluminador PCenógrafo
PFigurinista PAssistentes
PContador PAnalista financeiro
PEtc.

112
Agora é sua vez…

Os profissionais q ue farão parte


do meu projeto são:
P
P
P
P
P
P
P
P
P
P
P
P
P
P

113
Transformando recursos
em orçamento

114
Finalizada esta etapa, temos uma lista completa de itens
subdivididos em 3 categorias: utensílios, ambiente e profissionais.
Agora é hora de transformar cada item desta lista em um recurso
numérico, em um valor.

Se você não tem o costume de utilizar um programa de


tabelas (como o excell, por exemplo) antes de dar uma segunda
sugestão eu gostaria de insistir para que tente ao menos uma
vez. Vença sua resistência! Se ainda assim não funcionar, escolha
a ferramenta que mais se adequa à sua realidade, mesmo que
seja um documento em word. A vantagem do excell é que
ele já permite a visualização em colunas e garante a soma e
a multiplicação automática dos seus itens mediante o uso de
fórmulas simples, sem possibilidades de erros matemáticos.

Veja, a seguir, de que forma você irá organizar seu


orçamento:

115
116
Não é um bicho de sete cabeças, certo?

Veja agora alguns exemplos de como ficam algumas linhas


do orçamento de um projeto :

Você vai reparar que subdividi o orçamento em quatro


grandes blocos:

Pré-produção

Produção

117
Divulgação

Custos administrativos

A maior parte dos modelos de orçamento em leis e editais


segue este modelo de blocos, salvo exceções. E isso facilita ainda
mais sua organização. É só pegar sua lista e ordená-la seguindo
estes blocos.

Ao fazer exatamente como o modelo, você terá não apenas


o valor de cada item previsto como também o valor total para a
realização do seu projeto. Basta, para isso, somar todos os valores
que foram colocados na última coluna, à direita, do seu orçamento.

O valor total do meu projeto é de:

Este primeiro orçamento realmente será mais trabalhoso


que os próximos que você irá fazer, simplesmente pelo fato de ser
o primeiro. Após finalizado, ele servirá de modelo do que seria
ideal e é a partir daí que você poderá fazer suas considerações e
adaptações futuras, quando necessárias.

118
Como tirar seu projeto do papel
“A vida sem uma meta
é completamente vazia.”
Sêneca

Finalmente deixamos para trás as etapas de elaboração e


desenvolvimento de projeto e já sabemos exatamente o que você
quer fazer. Você já revisou todo o projeto no papel do início ao fim
e fez pequenos ajustes, ficando verdadeiramente satisfeito com
resultado que alcançou até aqui. Tenho certeza que você já é capaz
inclusive de vê-lo acontecendo… Parabéns!

Agora que temos todo o conteúdo bem desenvolvido,


passaremos para a imagem. É importante que seu projeto seja
claro, tenha fácil leitura e uma estrutura de fontes, espaçamentos e
diagramação condizentes com o que está propondo. Nesta etapa,
com os textos e orçamento elaborados e revisados, é comum
buscar o apoio de um designer para criar uma “cara” para sua
ideia.

Um designer qualificado poderá desenvolver o logotipo


baseado no nome do projeto e uma apresentação mais atraente
e comercial. Como isto normalmente gera custos - ou no mínimo

120
uma parceria - cabe a você julgar o momento certo de entrar em
contato com este profissional. Minha experiência diz que alguns
pequenos investimentos são fundamentais para seu sucesso e
este certamente é um deles. Além de consultar profissionais que
conheça e profissionais indicados, dê uma olhada nas opções
de freelancers disponíveis em redes de outsourcing na internet.
Com certeza você encontrará preços bem competitivos nestas
plataformas.

121
Contrapartidas ao patrocinador
Outro ponto fundamental que deve ser levado em
consideração nesta etapa são as contrapartidas que você pode
oferecer ao seu futuro patrocinador. É aqui que você deve listar
toda a mídia que fez parte de seu orçamento (onde entrará o
logotipo de seu patrocinador), assim como outras contrapartidas
que podem ser pensadas (como cota de convites) e os produtos
culturais que serão cedidos a ele (conforme enumeramos no plano
de distribuição).

Disponibilize uma sessão do seu projeto apenas para


desenvolver as contrapartidas para o patrocinador. Esta sessão não
entrará nas leis de incentivo, mas fará parte dos formulários de
editais privados, sobre os quais falaremos em breve. É nesta sessão
que seu poder de conquista deve ser ainda maior. Mostre para
seu patrocinador quais são as vantagens em ser seu parceiro neste
projeto.

Veja aqui alguns exemplos de contrapartidas:


P Logotipo do patrocinador em todo o plano de mídia
e comunicação

P Cota de X ingressos para assistir ao espetáculo

P Cota de X livros

P Logomarca na contracapa do livro

P Locução em off antes do início da sessão citando


o patrocínio

P Exibição do video do patrocinador


Agora é com você… Pense nas peculiaridades do seu
projeto, nos itens que elencou em seu plano de divulgação, na
forma como planejou seu plano de distribuição e enumere abaixo
as contrapartidas que farão com que o patrocinador se interesse
por seu projeto.

As contrapartidas para o
patrocinador de meu projeto são:
Mais uma etapa concluída. Agora você não só tem
as contrapartidas do seu projeto como também um layout
desenvolvido especialmente para ele.

Mas não adianta apenas tirar uma ideia da cabeça e colocá-


la no papel. Lógico que você deve levar em consideração que
cumpriu uma etapa importante, que entendeu como seu projeto
vai acontecer, mobilizou pessoas e agora está ainda mais seguro
sobre sua realização do que estava quando começou a ler este
manual. Mas isso não é tudo. Afinal, eu espero que você não tenha
esquecido dos compromissos que assumiu comigo lá atrás:

Você acredita
em si mesmo.

Aqui a resistência
não entra.

Nada é mais importante


do que realizar sua ideia!

Você acaba de superar mais uma etapa fundamental para o


sucesso do seu projeto: a elaboração. Mas agora chegou a melhor
parte… o momento em que vai efetivamente tirá-lo do papel.
A partir de agora, iremos entrar na fase de captação de
recursos e viabilização do projeto. Nos capítulos a seguir eu irei
apresentar para você a minha caixa de ferramentas. Nela você
encontrará todos (ou quase todos) os caminhos possíveis para
desenvolver sua ideia.

Por que quase? A jornada de desenvolvimento de


um projeto muda a cada ano e hoje eles são muito mais
complexos, multidisciplinares ou inovadores do que eram tempos
atrás. Naturalmente, as ferramentas de captação de recursos
acompanham esta evolução no setor. As ferramentas que listo
agora estão disponíveis para qualquer pessoa e atualmente são
as mais utilizadas, mas você, como empreendedor criativo, pode
encontrar um novo caminho para sua ideia, algo que ninguém
jamais havia pensado antes e que pode gerar tanto ou mais
sucesso do que as ferramentas que usamos hoje em dia. Isto não é
incrível?

Então faça bom uso destas ferramentas! A partir de agora


iremos estudar uma a uma e, ao final desta nova etapa do manual,
vamos criar juntos a trajetória, em outras palavras, a estratégia, do
seu projeto até sua realização. Pronto para começar?
A caixa de ferramentas
“O mundo move-se tão depressa
atualmente, que uma pessoa que diz
que alguma coisa não pode ser feita
é em geral interrompida por alguém
que já está fazendo.”
Elbert Hubbard

Seja bem-vindo à minha caixa de ferramentas. Nela você vai


encontrar diversos caminhos para captar recursos e viabilizar seu
projeto. Cabe a você escolher qual ou quais deseja utilizar e a que
tempo deve se envolver com cada uma delas.

Muitas das ferramentas que irei apresentar podem ser


utilizadas simultaneamente, mas, acima de tudo, é preciso criar
uma estratégia com prazo definido para que cada uma delas
seja colocada em ação. Esta estratégia fará com que você não
passe anos e anos sobre um projeto sem saber exatamente qual o
caminho estará trilhando com ele.

Três fatores são determinantes para o desenvolvimento


de sua estratégia: o mercado, as empresas e os profissionais da
área. Através deles você poderá contar com informações valiosas
sobre suas estratégias. Por isso, não deixe nunca de compartilhar.
Muitas pessoas têm receio de divulgar sua ideia e correr o risco

128
de que alguém as copie. Eu particularmente acredito que todas as
ideias estão disponíveis para todos, independente de terem sido
divulgadas ou não. É a rapidez e a forma como o empreendedor as
executa que realmente conta.

Pronto para executar sua ideia? Confira agora as principais


ferramentas disponíveis para a viabilização de projetos:

129
Leis de Incentivo

130
As leis de incentivo foram criadas na década de 90 como
forma de fomentar a cultura brasileira. Muitas mudanças foram
feitas desde seu surgimento, principalmente através de instruções
normativas. Em sua maioria, estas mudanças foram superficiais
e não acompanharam as evoluções culturais e criativas que
ocorreram em nosso setor.

Através destas leis, um projeto é apresentado para um órgão


público, como o Ministério da Cultura, as Secretarias Estaduais
e Municipais de um Estado ou Município e a Ancine, por meio
de sistemas online que contam exatamente com os campos que
trabalhamos até aqui. A partir de sua aprovação, o empreendedor
cultural está apto a buscar recursos em empresas. Estas empresas,
por sua vez, investem nos projetos e obtêm isenção fiscal sobre o
valor investido.

Por que isso é um bom negócio para a empresa? Porque


ela investe um valor que naturalmente já pagaria para o Governo
como imposto (Imposto de Renda, ICMS e ISS) e ainda recebe
contrapartidas culturais e sociais em troca: como ingressos para
espetáculos e a divulgação de sua marca em todo o material de
comunicação de seu projeto.

131
Veja abaixo como cada uma destas leis funciona:

A Lei Rouanet, ou Lei no. 8.313 de 23 de dezembro de


1991, possui este nome em homenagem a Sérgio Paulo Rouanet,
secretário de cultura na época em que a lei foi criada. Ela atua
através da isenção de Imposto de Renda (IR) de empresas baseadas
no lucro real ou pessoas físicas.

Normalmente as empresas que utilizam esta lei são


companhias de grande porte e atuam a nível nacional (como
Petrobrás, Eletrobrás, Furnas, Vale, etc). Através dela, as empresas
podem disponibilizar até 4% do imposto devido para projetos
culturais. Já pessoas físicas podem disponibilizar até 6% do
imposto devido.

Para inscrever um projeto nesta lei, é necessário apresentá-


lo ao Ministério da Cultura e obter sua aprovação no Diário Oficial.
Este trâmite completo (da inserção do projeto no sistema até
sua aprovação) dura em média três meses e pode ser totalmente
acompanhado pelo sistema online conhecido como Salicweb
acessível pelo próprio site do Ministério da Cultura. Quando o
projeto é aprovado, o Ministério publica sua aprovação no Diário
Oficial da União.

Para manter-se sempre atualizado sobre a legislação em

132
vigor e suas instruções normativas, acesse sempre o site oficial
do MinC: www.cultura.gov.br ou entre em contato com a DA
GAVETA para conhecer nossos cursos e formações em leis de
incentivo.

A Lei Estadual de Incentivo à Cultura também é chamada


de Lei do ICMS. Por se tratar de uma lei estadual, ela conta com
variações de Estado para Estado. No Rio de Janeiro, ela refere-se
à Lei no. 1.954/1992, em São Paulo ela é conhecida como Proac e
refere-se à Lei no. 12.268 de 20 de fevereiro de 2006 e em Minas
Gerais é a Lei no. 17.615 de 04 de julho de 2008. A lei atua através
da isenção de Imposto sobre Circulação de Mercadorias (ICMS). Ou
seja, as empresas que utilizam esta lei atuam na comercialização de
produtos.

Para saber se seu Estado conta com esta lei e manter-se


sempre atualizado sobre a legislação em vigor e suas instruções
normativas, acesse sempre o site oficial da Secretaria Estadual de
sua região. Somente empresas e pessoas físicas estabelecidas no
Estado têm a possibilidade de usufruir de seus benefícios.

133
A Lei Municipal de Incentivo à Cultura também é conhecida
como Lei do ISS. Assim como a Lei Estadual, por se tratar de uma
lei municipal, conta com variações de munícipio para município
e, infelizmente, nem todos os municípios são atendidos por ela
atualmente. A Lei Municipal atua através da isenção de Imposto
sobre Serviços (ISS). Ou seja, as empresas que utilizam esta lei
atuam na oferta de serviços à população.

Para saber se sua cidade é atendida pela Lei Municipal e


manter-se sempre atualizado sobre a legislação em vigor e suas
instruções normativas, acesse o site oficial da Secretaria Municipal
de sua cidade. Somente empresas e pessoas físicas estabelecidas
no município em questão têm a possibilidade de usufruir dos
benefícios desta lei.

A Lei do Audiovisual ou Lei Federal 8.685 de 1993 atua


sob o mesmo princípio da Lei Rouanet, de forma nacional, com
algumas peculiaridades. Ela é voltada exclusivamente para projetos
audiovisuais e é regulamentada pela Ancine, a Agência Nacional de
Cinema, atuando na produção e co-produção de obras audiovisuais
e infra-estrutura de produção e exibição. Prevista inicialmente para
vigorar até 2003, a lei foi prorrogada por mais 20 anos em 2001.

Para inscrever um projeto nesta lei, é necessário apresentá-


lo à Ancine e obter sua aprovação no Diário Oficial através de

134
um Certificado de Investimento Audiovisual. Assim como a Lei
Rouanet, o limite de Imposto de Renda para pessoas jurídicas é de
4%. Somente empresas audiovisuais já cadastradas na Ancine têm
acesso ao sistema online de aprovação de projetos. Os trâmites de
aprovação duram em média 30 dias.

Para manter-se atualizado sobre a legislação em vigor e suas


instruções normativas, acesse sempre o site oficial: www.ancine.
gov.br.

135
Captação de recursos

136
Com o projeto aprovado em uma ou mais leis de incentivo,
você está apto a buscar empresas que possam se interessar em
investir em seu projeto através da isenção fiscal.

Ter um projeto aprovado em uma lei de incentivo - desde


que ele siga à risca todas as determinações que a lei impõe - não é
difícil. A maior dificuldade é, diante de tantas propostas disponíveis
no mercado, convencer uma determinada empresa de que o seu
projeto é o melhor ou de que merece ser realizado.

Na etapa de captação de recursos você pode atuar


de três formas distintas:

1. Sendo o próprio captador de seu projeto,

2. Contratando um profissional q ue possa


desenvolver este papel,

3. Atuando em conjunto com um captador.

Particularmente sou bastante favorável à terceira opção.


Considero que um captador de recursos normalmente conta com
uma cartela de empresas com quem já atua, possui experiência
no setor e uma comunicação já estabelecida com o mercado.

137
Isso facilita a possibilidade de uma empresa se interessar por seu
projeto. Por outro lado, você, aquele que pensou neste projeto lá
atrás com todo o carinho e criatividade, é a melhor pessoa para
vendê-lo. Costumo dizer que você é um “auto-captador” com
brilho nos olhos.

Mas por onde começar? Faça uma lista de todas as


empresas que têm o perfil ou algum tipo de conexão com seu
projeto, verifique a lista das empresas que usualmente patrocinam
propostas similares, veja as empresas com as quais seu captador
normalmente atua e simplesmente comece o trabalho de
networking.

Hoje em dia, com a internet e redes sociais, é ainda mais


fácil conectar pessoas e empresas. Não tenha medo de marcar
uma primeira reunião e apresentar seu projeto. Busque contatos e
amigos em comum para que tenha acesso mais fácil a cada uma
das empresas que deseja atingir.

É nesta etapa que você irá utilizar o projeto de captação que


comentamos anteriormente e que já conta com a cara pensada
por um designer. Tenha em mãos o projeto impresso em boa
qualidade, seu cartão de visitas e quaisquer outros materiais que o
apóiem na reunião. Esteja sempre preparado para apresentar sua
proposta!

Como antecipei, cada passo dado irá trazer novas


informações para que você aprimore e qualifique ainda mais sua

138
trajetória cultural. Não tenha medo de apresentar seu projeto para
uma empresa e confie em seu potencial.

Faça um controle rigoroso de cada reunião marcada, com


o nome da pessoa que o recebeu, sua função na empresa, seus
contatos, a data e uma breve observação sobre como ela se
passou. É a esta lista que você deverá retornar passados alguns
dias para solicitar uma posição ou oferecer novas informações
sobre o projeto.

Eu ac redit o em voc ê!

E voc ê também!

139
Editais privados
Os editais são uma ferramenta que grandes e médias
empresas encontraram para facilitar o diálogo com os
empreendedores culturais. Ao invés de receberem projetos ao
longo de todo o ano (muitas vezes que não condizem com a
filosofia ou imagem da empresa), os editais permitem que os
proponentes enviem suas ideias em uma data determinada,
dentro de um padrão estabelecido e com base no planejamento
estratégico da empresa. Ou seja, eles estão ai para nos ajudar a
atender às necessidades culturais da empresa.

Apesar de terem, normalmente, uma linguagem jurídica, os


editais são apenas uma maneira que a empresa estabeleceu para
gerar uma comunicação clara e objetiva com você. Eles muitas
vezes determinam prazos de inscrição, de análise de projetos e
resultados, valores que serão investidos e de que forma, perfis dos
projetos que estão buscando, etc. Normalmente os editais contam
com inscrições online, disponíveis no site das empresas, e seguem
exatamente o mesmo formato do projeto que você desenvolveu
comigo através deste manual.

Alguns editais têm como regra a aprovação anterior de


seu projeto em uma lei de incentivo. Entretanto, tem sido cada
vez mais comum o inverso: somente após sua proposta ter sido
contemplada em um edital, aí sim a empresa orienta a inscrição
na lei de incentivo que ela utiliza. Em outras palavras, a empresa
seleciona os projetos nos quais deseja investir e solicita que os
proponentes os inscrevam em uma determinada lei posteriormente
para que possam obter a isenção do imposto.

141
Mas como ficar por dentro de todos os editais? A cada
ano o número de empresas que optam por trabalhar com editais
aumenta. Uma das missões da DA GAVETA é justamente
centralizar e difundir esta informação para o maior número de
pessoas possível através de suas ferramentas na internet como site,
mailing, Facebook e Twitter. Ainda assim, este é um exercício e um
olhar que você, como empreendedor cultural, deve praticar para
não perder oportunidades.

O mais importante, acima de tudo, é atender às demandas


do edital e cumprir com os prazos de inscrição.

142
Editais públicos
Os editais públicos têm a mesma função dos editais privados
com a diferença de serem desenvolvidos por órgãos públicos (como
o MinC, as Secretarias de Cultura, Funarte, etc).

Inicialmente, seu princípio básico é incentivar uma


determinada área, setor ou região onde identificaram uma
carência de recursos ou deficiência cultural. Mas nem sempre
funciona desta forma. Há, por exemplo, editais públicos que já são
realizados há anos com sucesso dentro de um mesmo princípio
básico, sem alterações.

A vantagem de alguns editais é que muitos deles oferecem


o benefício financeiro imediatamente após a aprovação do projeto,
sem necessidade da inscrição em lei de incentivo. Novamente,
para acompanhar as oportunidades que surgem, é importante
estar sempre atento às publicações nos sites oficiais (e no site DA
GAVETA!).

Com o advento das redes sociais, a comunicação e


divulgação destas oportunidades se tornou ainda mais recorrente.
Siga as contas dos órgãos, organismos e empresas corretos e você
sempre saberá as oportunidades que eles estão promovendo.

Normalmente as inscrições para estes editais são em


sistema online, mas há ainda editais públicos que determinam o
envio dos documentos pelos correios. As informações sobre como
proceder para realizar sua inscrição estão sempre disponíveis nos
regulamentos.

144
Auto-financiamento
Sou favorável ao velho pensamento:

Se você não é capaz de


investir tempo e dinheiro em
sua própria ideia, por q ue
acha q ue os outros deveriam?

Claro que antes de vender tudo e apostar em seu projeto


há muito caminho a seguir, mas o fato é que, no passado, o auto-
financiamento era algo muito mais natural do que é atualmente.
Era comum você conhecer alguém que vendeu um apartamento
para realizar o sonho de concretizar uma ideia. Ok, hoje é loucura
vender um apartamento, mas a ideia de investir em um sonho
continua mais atual do que nunca, concorda?

O auto-financiamento começou a perder o foco ao longo


dos anos principalmente por conta do surgimento das leis de
incentivo. O que deveria ser uma ferramenta para promover
a sustentabilidade de uma empresa para que ela se tornasse
estruturada e capaz de andar com suas próprias pernas, se
transformou em um vício de mercado. Mas esta discussão fica para
outro livro…

Antes de ser contestada, considero que não há nada de


errado em utilizar as leis de incentivo como força motriz para seu

146
projeto. Como o próprio nome diz, trata-se de uma lei e, portanto,
beneficia qualquer pessoa ou empresa sem preconceito. O que
quero levantar aqui é a possibilidade de refletir sobre o auto-
financiamento como ferramenta de desenvolvimento de projetos,
ao invés de optar por uma lei de incentivo, que normalmente só
atende a 30% de suas demandas.

Considera-se auto-financiamento o processo onde o


dinheiro a ser aportado no seu projeto vem do seu próprio bolso.
O primeiro passo para se optar pelo auto-financiamento é a criação
de três cenários: um cenário real, um otimista e um pessimista
em termos financeiros. Você deve se perguntar: quantos produtos
culturais eu devo comercializar para começar a obter de volta o
retorno do valor investido? Qual é exatamente o valor que devo
investir em meu projeto? Eu tenho este valor disponível? Como
poderia obtê-lo? Qual o risco que corro se as vendas forem abaixo
do esperado?

A partir da resposta a estas perguntas, você pode encontrar


a solução mais viável para optar por um auto-financiamento
(ou não). É importante saber que há sempre um risco envolvido
nesta empreitada. Trabalhar com cultura traz consigo uma série
de incertezas e por mais que você desenvolva os cenários mais
realistas possíveis, ainda assim pode ser surpreendido por questões
econômicas que interferem diretamente no desempenho de seu
projeto. Vale ressaltar que esta é a maneira mais rápida e de maior
controle do empreendedor cultural para a viabilização de seus
projetos!

147
Empréstimos
Você já sabe exatamente qual o valor do seu projeto e em
quanto tempo ou após quantas vendas terá o retorno do valor
investido, certo? Se não conta com o dinheiro disponível para um
auto-financiamento, talvez um empréstimo possa ser uma solução.

Lógico que optando por este modelo de financiamento você


terá que se preocupar também com outras informações como a
melhor proposta a ser aceita, as taxas envolvidas no empréstimo e
também o tempo de retorno deste valor.

Converse com o gerente de seu banco ou entre em contato


conosco para uma consultoria financeira para artistas e busque
outros bancos ou empresas que atuam com empréstimos para
comparar as informações. Antes de assinar um contrato, leia e
releia todas as informações até sentir-se totalmente seguro com
sua decisão e escolha. Saiba que depende principalmente do seu
esforço obter sucesso em seu projeto para retornar o valor do
empréstimo para o banco o mais rápido possível.

Não há nada mais importante


do q ue realizar seu projeto.

149
Patrocínio Afetivo
O patrocínio afetivo surgiu alguns anos atrás quando um
ator que não conseguia patrocínio para seu espetáculo de teatro
decidiu desenvolver um modelo inusitado de arrecadação. Ele
divulgou entre seus amigos e familiares a estreia do espetáculo
antes mesmo de começar a levantar a peça, pedindo que
adquirissem os ingressos antecipadamente.

Cada pessoa que comprou um ingresso, garantiu sua vaga


futura ao mesmo tempo em que antecipou o valor necessário para
que o ator realizasse seu espetáculo.

Mais uma vez, era importante ele saber o custo do projeto,


quantos ingressos teria que vender para chegar ao valor necessário
e, naturalmente, garantir que todos poderiam ver o espetáculo
quando ele entrasse em cartaz.

Isso não deixa de ser um modelo de crowdfunding,


como veremos a seguir, mas não envolveu nenhuma plataforma
ou site, muito menos auto-financiamento ou empréstimo.
O ator conquistou o futuro público através de sua rede de
relacionamentos e, naturalmente, manteve a confiança de todos
depois de realizar as apresentações. O único compromisso que
você tem que levar em consideração ao optar por uma estratégia
como esta é que está se comprometendo não com você mesmo ou
com um banco, mas com uma série de pessoas, familiares e amigos
que confiam em sua palavra.

Muitas vezes podemos ter amigos ou parentes que podem


nos ajudar a financiar um projeto de maneira afetiva. Independente

151
de onde vem o financiamento, o mais importante é ter consciência
de que a partir do momento em que alguém acredita em sua ideia,
você tem obrigação de realizá-la da melhor maneira possível e não
desperdiçar a confiança que recebeu.

152
Crowdfunding

153
Pode parecer uma ferramenta super atual, mas o fato é
que o crowdfunding é uma das formas mais antigas de se captar
recursos: foi através dele que se construiu a Estátua da Liberdade.

O crowdfunding é um modelo coletivo de financiamento


de projetos onde uma ideia é submetida ao seu público para que
este contribua com o valor que desejar (normalmente dentro de
faixas de valor pré-estabelecidas). O público que contribui recebe
contrapartidas, que podem ter ou não relação com o projeto
proposto.

Atualmente existem diversas plataformas prontas que


permitem a inscrição de projetos e o financiamento coletivo.
Algumas delas cobram uma taxa administrativa pelo serviço e
outras atuam gratuitamente, com o intuito de promover projetos
que possam oferecer algum benefício coletivo à sociedade.

Segundo o modelo de crowdfunding, você estipula um


valor a ser arrecadado a fim de realizar seu projeto dentro de um
prazo determinado. Caso este valor não seja alcançado, todo o
dinheiro investido pelos interessados retorna automaticamente para
eles. Caso o valor seja atingido ou ainda ultrapassado, você terá
obtido os recursos que precisa para realizar seu projeto e todos os
investidores receberão as contrapartidas que escolheram.

Parece simples, mas o fato é que apesar do crowdfunding


estar se tornando uma nova opção de financiamento, ainda se faz
necessário não apenas aumentar o número de pessoas interessadas
em contribuir, como também o valor dos projetos, que neste

154
momento funcionam principalmente para o desenvolvimento de
livros, CDs, DVDs, curta-metragens de baixo orçamento e outros
produtos culturais, mas que ainda não atendem produtos de alto
valor de realização como longa-metragens e espetáculos de teatro.

155
Anjos e investidores
Anjos são profissionais que identificam o potencial de um
projeto e interessam-se em investir capital próprio com o objetivo
de obter algum benefício ou lucro posterior através de participação
societária.

Antes raros de se encontrar, hoje é possível ter acesso a


uma série de profissionais que vive exclusivamente de investir e se
beneficiar do lucro ou sucesso de novas ideias. Normalmente os
anjos são fascinados por projetos de empreendedorismo ligados
à startups, onde se vê um alto investimento e alto retorno a curto
e médio prazo. Por outro lado, vê-se cada vez mais interesse dos
anjos em investir também em projetos culturais.

Os investidores-anjo normalmente já fizeram ou fazem


parte do mercado onde têm interesse em investir, podendo
inclusive oferecer seu conhecimento e consultoria para os novos
empreendedores. A melhor maneira de ter acesso a estas pessoas
é participar de eventos de apresentação de projetos ou buscar
associações de investidores.

Mas lembre-se: neste modelo de negócios você não apenas


estará recebendo o valor que necessita para realizar seu projeto
como também um sócio, que tem como interesse primordial ver o
valor aportado crescer. É importante definir quais são os limites do
investidor no momento do desenvolvimento do contrato para não
ter surpresas futuras.

157
Desenvolvendo uma estratégia

158
“Uma vida sem
desafios não vale
a pena ser vivida.”
Sócrates.

Agora que você já conhece as ferramentas existentes para


viabilizar seu projeto, chegou a hora de desenvolver sua estratégia
de captação. A estratégia de captação de recursos e realização de
um projeto é fundamental para se criar e seguir um plano de ação.
É justamente sua ausência que faz com que somente 30% dos
projetos planejados efetivamente saiam do papel e alcancem seu
público, segundo dados do próprio Ministério da Cultura.

Apresento abaixo algumas perguntas que irão orientá-lo


na tarefa de desenvolvimento de sua estratégia. Mais uma vez, é
importante colocar seus planos no papel, segui-los, acompanhá-los
e revisá-los ao longo do tempo.

159
Desenvolvendo minha estratégia de captação

1) Irei inscrever meu projeto em uma lei de incentivo?

( ) Sim ( ) Não*

* Mesmo sendo uma das fontes de maior investimento em


projetos, é comum que alguns empreendedores culturais
optem inicialmente por outras estratégias, deixando para
fazer a inscrição nas leis de incentivo, por exemplo, após
serem contemplados em um edital.

2) Em qual ou quais leis pretendo inscrever meu projeto?

( ) Rouanet ( ) Estadual ( ) Municipal ( ) Audiovisual

3) Há alguma restrição para que eu siga com minha estratégia


de leis (data de abertura/fechamento da lei, considerações
sobre o proponente, pendências de documentos, pendências
de informações, etc)?

_______________________________________________
_______________________________________________
_______________________________________________
_______________________________________________

160
4) Pretendo fazer a captação de recursos por conta própria,
vou contratar um captador de recursos ou usarei as duas
estratégias?

( ) Captarei por conta própria

( ) Contratarei um captador de recursos

( ) Captarei por conta própria e contratarei um captador

5) Quais são as empresas que têm o perfil empresarial


perfeito para meu projeto?

_______________________________________________
_______________________________________________
_______________________________________________
_______________________________________________

6) Que empresas patrocinaram projetos similares ao meu nos


últimos meses?

_______________________________________________
_______________________________________________
_______________________________________________
_______________________________________________

7) Pretendo inscrever o projeto em editais durante o ano?

161
( ) Sim ( ) Não

8) Quais são os editais que têm o perfil do meu projeto e


quando eles normalmente abrem inscrições?

_______________________________________________
_______________________________________________
_______________________________________________
_______________________________________________

9) Meu projeto pode ter uma estratégia de auto-


financiamento?

_______________________________________________
_______________________________________________
_______________________________________________
_______________________________________________

10) Estou disposto a investir minhas economias ou irei


recorrer a algum empréstimo?

_______________________________________________
_______________________________________________
_______________________________________________
_______________________________________________

162
11) Qual o risco implicado nesta decisão?

_______________________________________________
_______________________________________________
_______________________________________________
_______________________________________________

12) Quando em média posso receber de volta do valor


investido?

_______________________________________________
_______________________________________________
_______________________________________________
_______________________________________________

13) Qual o meu «ponto de virada» (momento em que as


vendas do seu produto cultural ultrapassam o valor que você
investiu no projeto)?

_______________________________________________
_______________________________________________
_______________________________________________
_______________________________________________

163
14) Posso buscar outras formas de financiamento como
crowdfunding, anjos, patrocínio afetivo?

_______________________________________________
_______________________________________________
_______________________________________________
_______________________________________________

Ufa! Se seguir este passo-a-passo ao longo do


desenvolvimento de sua estratégia, você efetivamente estará
criando o caminho para o sucesso do seu projeto. Escreva-o de
forma visual, com tópicos, datas e espaço para controle de suas
metas. Coloque-o em local visível para que possa acompanhá-lo
e alterá-lo sempre que necessário. Esteja aberto a fazer possíveis
mudanças caso o cenário previsto não aconteça exatamente como
planejou. E boa sorte nesta jornada!

164
Consegui captar! E agora?
“O maior erro na vida é o de
ter sempre medo de errar.”
Elbert Hubbard

Chega a ser engraçado quando recebo uma ligação ou


o e-mail de um cliente com esta pergunta: “Captei. E agora?”​.
Geralmente o que​​acontece é ter uma pessoa apavorada do outro
lado da linha porque ela simplesmente conseguiu o que queria​​​!​​​E a
minha resposta​​é sempre​:​“​Ué! A
​ bra uma garrafa de espumante e
comemore​!” (mas apenas parcialmente!)​.

Felizmente este telefonema acontece, e muito!

Você teve uma ideia, acreditou em você, acreditou em sua


ideia, desenvolveu o seu projeto, criou e seguiu sua estratégia,
apresentou o projeto para alguém que acreditou em seu sucesso
e finalmente tem os recursos que precisa para realizá-lo... E você
está simplesmente paralisado! Não é engraçado? Será que você
realmente acreditava que isso poderia acontecer? Pois bem,
aconteceu!

Esta é a hora de respirar e comemorar (parcialmente). E

166
aqui, você vai me perguntar, por que parcialmente? Os recursos
já estão disponíveis na conta do projeto? Particularmente sou o
tipo de pessoa que só acredita em captação de recursos quando
ela aparece na conta bancária. E, experiência própria, sugiro que
faça o mesmo. Comemore somente quando tiver certeza de
que os recursos estão disponíveis… com o extrato nas mãos… e
comemore muito porque você conseguiu! Agora sim você pode
abrir seu espumante e comemorar integralmente!

Enfim, o dinheiro está lá. Você já viu, reviu e agora chegou a


hora de realizar seu projeto. Por onde começar?

Se você fez toda a lição de casa direitinho e acompanhou


este manual do início até aqui, o orçamento que desenvolveu lá
atrás servirá como bíblia para sua realização. Este é o momento
inclusive de fazer qualquer ajuste, se necessário, ou mesmo de
adaptá-lo se o valor captado foi menor do que seu orçamento
ideal. Reveja seu orçamento, o que mudou ao longo dos últimos
meses e faça com que ele seja o mais realista possível para não ter
surpresas durante a produção.

Reveja também seu cronograma, atualize datas e comece a


produção a partir das primeiras tarefas previstas. Entre em contato
novamente com todos os profissionais que haviam sido convidados
e veja se não é necessário alguma substituição. E mãos à obra!

167
Assessoria de imprensa
“Para evitar críticas,
não faça nada, não diga
nada, não seja nada.”
Elbert Hubbard

Escolher a assessoria de imprensa é tarefa fundamental


para o sucesso de seu projeto. Um bom assessor poderá garantir
mídia espontânea e cobertura jornalística de forma a reduzir seus
investimentos em mídia paga ou ainda fazer com que seu projeto
seja conhecido pelo maior número de pessoas possível.

É importante ter boas referências e indicações do assessor


de imprensa que você pretende contratar, bem como compreender
bem de que forma ele trabalha.

Ainda assim, muitos fatores podem influenciar o resultado


deste trabalho como a temática do seu projeto, a disponibilidade
dos profissionais para entrevistas (quando necessário), a época do
ano em que ele está sendo realizado ou ainda outros eventos que
podem ocupar os jornais em detrimento de sua divulgação.

Tenha confiança no assessor de imprensa que escolheu e

169
solicite que ele mande relatórios atualizados dos canais com os
quais está falando. É através destes relatórios que você poderá
mensurar o trabalho realizado.

Leia e revise sempre todos os releases criados pelo assessor


e, sempre que possível, sugira novos temas ou pautas baseado em
seu processo de produção. Como você está totalmente inserido
no projeto, é mais provável que tenha ideias interessantes para seu
assessor trabalhar.

Como empreendedor cultural, também é importante que


você pense em novas mídias e recomende outros veículos que
possam ser favoráveis para a divulgação.

170
Relação com patrocinadores

171
“O pensamento é
o ensaio da ação.”
Sigmund Freud

Por esta você não esperava. O dinheiro chegou, mas junto


com ele veio... o patrocinador! E esta figura mágica que vai
proporcionar o direito de realizar seu projeto merece toda uma
atenção especial. Pense nisso principalmente se você tem planos
de dar continuidade à sua fábrica de ideias e vê nele um possível
patrocinador fiel para futuros projetos.

Acima de tudo, o patrocinador deseja que você entregue


(no mínimo) o que prometeu. Lógico que iremos fazer um
exercício para entregar ainda mais e surpreender suas expectativas,
mas, antes de mais nada, atenha-se a corresponder à todas as
expectativas e promessas propostas.

172
Faça uma lista completa destas promessas, reveja seu
projeto de captação onde você desenvolveu as contrapartidas ao
patrocinador e lembre-se de manter uma excelente comunicação
com ele, deixando, inclusive, um canal aberto (dentro de suas
limitações criativas e orçamentárias) para que a empresa sugira
novas ideias e propostas.

Veja qual o grau de interesse que o patrocinador tem por


acompanhar o processo de criação do projeto e mantenha-o
sempre informado sobre ensaios, leituras, visitas técnicas, etc,
deixando-o aberto a participar sempre que desejar (quando
possível).

Crie algum tipo de informativo regular (mesmo que por


e-mail) para deixá-lo à par de tudo o que está acontecendo,
enviando fotos, videos, materiais relacionados à imprensa e tudo
o mais que for pertinente para fortalecer esta comunicação e
estabelecer uma relação de parceria.

Saiba que o patrocinador tem um amplo conhecimento


sobre o público-alvo que deseja atender com este patrocínio (seja
ele cliente, fornecedor ou mesmo funcionário da empresa) e por
isso pode proporcionar informações valiosas para a realização
do seu projeto. Fique à par do que ele planeja conquistar ao ter
escolhido seu projeto e corresponda às suas expectativas.

É importante lembrar-se também que você prometeu um


retorno de mídia e exposição de marca do patrocinador. Para isso,
é fundamental realizar um contrato de patrocínio, não apenas

173
para saber de que forma o valor será aportado ao projeto (caso o
patrocinador opte por parcelas), mas também para que fique bem
definida a responsabilidade de cada uma das partes. É no contrato
que deve constar todos os itens propostos por você e também
regras que irão facilitar esta convivência, como forma de envio e
prazo para recebimento da lista de convidados do patrocinador,
questões referentes à estreia, lançamento ou abertura do evento,
ou ainda aprovação da marca nas peças de comunicação e
publicidade.

Já passei por experiências onde determinados


patrocinadores simplesmente não se preocuparam com o
contrato, mas recomendo fortemente que resguarde-se de
problemas futuros e proponha você mesmo redigir um termo
de responsabilidade caso ele não se coloque à vontade para a
elaboração de um termo jurídico. O mais importante é definir
responsabilidades e ter a ciência de todos através da assinatura de
um documento.

Outro ponto importante a levar em consideração é


a aplicação da marca do patrocinador em suas peças de
comunicação. Solicite o manual de aplicação da marca (que
deverá ser enviado para seu designer) e peça que ele aprove todo
o material de divulgação e comunicação antes de enviar para
produção (preferencialmente por email para ter o «ok» registrado).
Assim, nem você nem ele terão surpresas futuras.

Além das contrapartidas costumeiras como o retorno de


mídia e de exposição de marca, ofereça relatórios e informações

174
sobre as ações que está desempenhando. Estes relatórios
podem contar com informações sobre o público atendido, a
centimetragem de mídia veiculada, o alcance obtido através da
assessoria de imprensa, etc.

Confira aqui um resumo de algumas ações que


podem ajudá-lo nesta comunicação:

PEnvio de fotos da etapa em que o projeto se


encontra (criação, ensaios, rascunhos criativos),

PEnvio de videos (ou links) de making of,


PMarcação do patrocinador em atualizações nas
redes sociais,

PEnvio de matérias de jornais e revistas que


tenham sido veiculadas sobre o projeto,

PInformativo sobre participações em programas de


televisão, entrevistas ou rádios antecipadamente
para que o patrocinador possa ver no momento em
que forem exibidos,

PConvite para participar de momentos importantes


do processo criativo,

POutras atualizações que considere interessantes


ao longo do processo.

175
Ao final, é importante também que o patrocinador receba
não apenas sua prestação de contas (caso esteja em contrato), mas
principalmente todas as informações pertinentes à realização de
seu projeto. Crie um relatório final que seja capaz de oferecer ao
seu patrocinador o público atingido, o alcance de mídia obtido,
o engajamento de outros patrocinadores e/ou apoiadores, a
quantidade de profissionais envolvidos no projeto, depoimentos
e feedbacks do público (como enquetes, participações em redes
sociais, etc) e qualquer outra informação que considere relevante.
Lembre-se de incluir neste relatório fotos do projeto, vídeos,
ao menos dois exemplares de cada um dos materiais de mídia
produzidos e um clipping completo de tudo o que foi veiculado na
imprensa.

Envie também uma carta pessoal agradecendo toda a


parceria e interesse do patrocinador, contando ainda com uma
futura oportunidade de trabalharem juntos novamente.

176
Gestão
de equipe
“Tente mover o mundo
- o primeiro passo será
mover a si mesmo.”
Platão

Você envolveu um grupo de pessoas por um período


de tempo determinado e agora, como empreendedor cultural,
precisa administrar sua equipe. Vocês são um time, uma equipe,
uma gangue e todos têm um objetivo em comum: transformar
uma ideia em um produto cultural e levá-lo ao público da melhor
maneira possível.

Assim como acontece com o patrocinador, é importante


manter o diálogo e ter um canal de comunicação aberto com todos
os profissionais de sua equipe. Além disso, as pessoas que optaram
por estar com você nesta empreitada naturalmente abdicaram de
outros projetos, tempo livre, tempo com a família e até mesmo
tempo para se dedicar às suas próprias ideias. E o mais importante:
este é seu projeto, sua realização e por mais dedicada que seja sua
equipe, ela sempre terá um olhar e participação diferentes do seu.

É importante que você seja sempre claro em suas


comunicações e informe sua equipe sobre todos os passos que
serão dados, sobre as tarefas que já se encontram em andamento

178
e quais são os planos futuros para o projeto. Verifique as formas
de comunicação que mais funcionam com cada profissional
(e-mail, telefone, mensagens de texto, grupos em redes sociais,
gerenciadores de projetos online) e solicite sempre um retorno de
todas as comunicações oficiais para ter certeza de que elas foram
recebidas.

Atualmente há diversas ferramentas de gestão de projetos


que podem ser compartilhadas e acompanhadas pela equipe de
forma online e muitas delas são perfeitas para o desenvolvimento
de projetos culturais. Por outro lado, é importante perceber
também as limitações de cada um no uso desta ferramentas para
não criar um contratempo no lugar de um facilitador.

Saiba que é natural que eventualmente surjam conflitos ou


apenas discordâncias em uma equipe e aprenda a reverter estes
momentos a seu favor, percebendo que você encontra-se no meio
de um rico ambiente de troca, onde todas as opiniões devem ser
ouvidas e respeitadas.

Por último e não menos importante, compreenda que cada


pessoa envolvida certamente dará uma importância diferente à sua
participação dentro do projeto e você precisa ter este olhar para
não criar expectativas diferentes sobre a equipe que escolheu.

Como idealizador e empreendedor cultural, é importante


ter consciência de que mesmo que todos os profissionais tenham
aceitado participar desta realização, o projeto continua tendo
muito mais de você do que de qualquer outra pessoa envolvida.

179
Você pode sim ser o gestor de seu projeto e a função deste manual
é justamente andar lado a lado com você nesta tarefa.

180
O grande dia
“Ousar é perder
o equilíbrio
momentaneamente.
Não ousar é perder-se.”
Soren Kierkegaard

Finalmente chegou o dia da estreia ou lançamento de


seu projeto. Lembra de quando ele ainda estava no papel e você
não tinha a menor ideia de que chegaria até aqui? Pois bem…
muitos pensam que este é o momento de relaxar depois de tanto
trabalho, mas é aqui que seu esforço realmente precisa compensar
a trajetória.

Confira e reconfira todas as etapas realizadas, todos os


profissionais, todas as tarefas que deveriam ser feitas até aqui.
Esteja pronto caso as coisas não aconteçam exatamente como você
imaginou e aberto para mudar o que for preciso.

182
Sinta seu público, sua equipe, seu patrocinador. Ao longo
dos últimos meses vocês formaram um grande time em busca de
um objetivo comum e ele finalmente se concretizou. Comemore,
agradeça e, como sempre, esteja aberto a escutar todos que estão
ao seu redor!

Parabéns, você conseguiu!

183
Relacionamento com o público
“O mais importante na
comunicação é ouvir o
que não foi dito.”
Peter F. Drucker

O relacionamento com o público é tão importante quanto


o relacionamento com o patrocinador ou com sua equipe. Afinal,
foi pensando nestas pessoas que você começou a desenvolver sua
ideia lá atrás com a intenção de tirá-la DA GAVETA, não foi?

É importante levar em conta que quando você imaginou


seu projeto e definiu seu público-alvo, tudo se tratava de hipóteses
com base em sua experiência e conhecimento. Agora que o projeto
está acessível, é possível conferir se o público que você identificou
como alvo é exatamente aquele que se interessa por seu produto.

Caso enfrente alguma dificuldade de público, questione


o que pode ser alterado em seus planos e crie pesquisas para as
pessoas que estão presentes em seu evento para descobrir como
souberam do projeto, por qual veículo e de que forma este canal
as influenciou. Este tipo de informação permite, muitas vezes, que
você reavalie os canais de comunicação que escolheu e identifique
onde pode investir mais ou menos.

185
Com o público definido e presente, é hora de manter formas
de contato para que ele tenha sempre um canal aberto com você.
Pense não apenas em formas de comunicação para esclarecer
possíveis dúvidas ou solicitar informações, mas também maneiras
de obter um feedback dele como páginas em redes sociais,
participação em fóruns de discussão, pesquisas, etc. Lembre-se que
estes documentos também poderão fazer parte de seu relatório
final ao patrocinador. Compreender o feedback do público é obter
um vasto material de pesquisa para seus futuros projetos.

186
Prestação de contas e finalização

187
“Todo o grande
artista amolda a
arte à sua imagem.”
Victor Hugo.

Afinal, qual é o momento ideal para realizar a prestação


de contas de um projeto? A resposta é: o quanto antes melhor!
Eu diria que a prestação de contas se inicia no primeiro esboço
do orçamento que você desenvolve, já que ele é a origem do que
será sua bíblia financeira ao longo de todo o projeto. Se você fez
um bom orçamento, e, mesmo com as surpresas e mudanças
naturais de um projeto, conseguiu se manter fiel (ou quase) ao que
planejou, sua prestação de contas será um sucesso.

Tenha sempre em mãos este orçamento e encontre a melhor


forma de organizar-se no que diz respeito à emissão de cheques,
ao processo de pagamentos e ao recebimento de notas fiscais.

188
Abaixo enumero todas as dicas que podem ajudá-lo
nesta tarefa:

Crie um texto padrão com orientações sobre a emissão


de nota fiscal para sua equipe enumerando as informações que
precisam estar presentes: dados da empresa para qual a nota será
emitida, dados do projeto, texto que deve constar na nota, etc.
Este texto deve ser enviado para toda sua equipe, fornecedores e
prestadores de serviços.

Caso esteja trabalhando com uma lei de incentivo ou


edital público lembre-se que o nome de seu projeto e número de
identificação devem estar presentes em todas as notas. Isto deve
fazer parte de seu texto padrão.

Somente efetue um pagamento após o recebimento da


nota fiscal e confirmação de seus dados.

Quando tiver um grande número de notas e pagamentos


em uma mesma semana, concentre todo o processo em um único
dia para ser mais eficiente. Esta dica é excelente para projetos que
envolvem muitos profissionais. Comunique a eles de que forma
e em que data planeja realizar os pagamentos (principalmente
no caso de pagamentos recorrentes) e isso evitará diversos
questionamentos ao longo da realização de seu projeto.

Todos os cheques preenchidos devem ser nominais à


empresa constante na nota fiscal.

189
Fotografe, tire uma xerox ou uma cópia carbono (sim,
ainda usamos este método) de todos os cheques emitidos. Este
documento fará parte de sua prestação de contas. Não esqueça!

Ao final de cada pagamento você deverá ter em mãos:


uma nota fiscal, uma cópia do cheque e um comprovante de
depósito (caso você tenha realizado o pagamento no banco –
processo ideal).

Comprovantes de depósito são produzidos em papéis


sensíveis que fazem com que as imagens desapareçam com o
passar do tempo. Faça sempre uma cópia destes materiais para não
ter surpresas futuras.

Caso trabalhe com um caixa de produção antecipado,


separe um envelope para receber todas as notas fiscais referentes à
este caixa para não misturar despesas e dinheiro pessoal.

Tenha uma pasta organizada para receber estes


documentos na ordem em que desenvolveu seu orçamento. Utilize
etiquetas, post its, canetas fluorescentes e outros acessórios para
ajudá-lo na organização. Recomendo organizar sua prestação
de contas utilizando a numeração dos cheques como guia,
partindo sempre do número menor (primeiro cheque) até o ultimo
pagamento realizado.

A cada novo pagamento, revise sua pasta para verificar se


está tudo em ordem.

190
Para prestações de contas em modelo online, a
única diferença com relação às dicas acima é que, ao invés de
fazer cópias dos arquivos, você deverá escaneá-los para gerar
documentos digitais.

Seguindo estas dicas, você terá uma sensação incrível ao


emitir o último cheque de seu projeto pois saberá que ele marca
exatamente o fechamento de sua prestação de contas (relatório
financeiro).

Agora é só fazer no mínimo três cópias de toda sua


prestação de contas. A primeira cópia ficará com você e será
uma garantia de que se tiver qualquer problema com os originais,
você tem um backup. A segunda cópia será enviada para a lei de
incentivo que utilizou, caso tenha optado por este processo de
captação. A terceira cópia será enviada para o patrocinador, caso
ele tenha solicitado o recebimento da prestação de contas em
contrato.

Os originais devem ser guardados com atenção, exceto


se a lei ou edital solicitar sua apresentação também. O prazo
para guardar estes materiais é de no mínimo cinco anos, tempo
solicitado pela União para a prestação de contas de um projeto
cultural. Lembre-se de guardar estes documentos em local arejado,
longe de umidade e luz forte.

Importante: as leis de incentivo estão cada vez mais


alterando seus processos de acompanhamento de projetos para
o sistema online e isso naturalmente vai influenciar o modelo

191
de prestação de contas. A primeira que começou a adotar este
sistema foi a Lei Rouanet (Lei Federal de Incentivo à Cultura) que já
conta com um processo de prestação de contas online que pode
ser atualizado diariamente, durante a produção de seu projeto.
Mais uma vez, a dica é tirar ao menos um dia na semana para fazer
todas as atualizações no sistema.

192
De volta ao começo

7 8 9 10 11
1 6 12

2 3 4 5

193
“A grande coisa neste
mundo não é saber
onde estamos, mas
para que direção
estamos indo.”
Oliver Wendell Holmes

Seu projeto chegou ao fim e ao mesmo tempo que há um


sentimento de dever cumprido e realização pessoal, existe também
um vazio dentro de você. Isso acontece normalmente quando
trabalhamos muito em função de um único projeto e não previmos
o que aconteceria depois. Nossa sustentabilidade profissional e
financeira no ambiente cultural depende essencialmente desta
continuidade. Por isso precisamos estar sempre planejando
e buscando formas de nos manter no mercado, através do
desenvolvimento de nossos projetos em formato continuo e,
principalmente, do aprendizado e troca de conhecimento.

194
Como previmos logo nas primeiras páginas, o primeiro
projeto demanda tempo e dedicação e por isso o ideal é que
você trabalhe unicamente nele para obter experiência. Mas vamos
considerar agora, com esta etapa cumprida, que é preciso iniciar
um trabalho maior e continuo. Você já está pronto para atuar em
novos e maiores projetos. Então, vamos voltar para o capítulo “o
primeiro passo”?

Espero que este manual tenha ajudado você a partir da


página em branco rumo aos aplausos finais. Ou melhor, aos
primeiros aplausos de muitos! E que venham outros. E que você
tenha sido capaz de tirar seu projeto DA GAVETA! Desejo que sua
ideia tenha virado um projeto e que a cada etapa cumprida você
celebre a realização de um sonho, como se fosse a primeira vez.
Bem-vindo ao mundo do empreendedorismo cultural.

Depois de tantas páginas juntos, é importante dizer que este


manual também era apenas uma ideia alguns meses atrás e graças
a você, meu leitor, ele atingiu seu objetivo final. Mas a ideia é não
parar por ai. Precisamos estar sempre criando novas formas de nos
manter no mercado, e, principalmente, aprendendo e trocando
conhecimento.

Espero que você, assim como eu, já tenha novos projetos


pela frente e saiba que pode contar com a DA GAVETA
não apenas para ajudá-lo nesta caminhada, mas também
compartilhando conhecimento através de meus futuros livros,
cursos e consultoria. Assim como você, eu não quero parar!

195
Obrigado por compartilhar suas ideias e desejo de
desenvolver produtos culturais comigo e com a sociedade. Sua
missão é nobre e precisa ser levada adiante. Desejo profundamente
que este manual tenha sido um grande amigo ao longo de seu
primeiro passo rumo ao empreendedorismo cultural e espero que
ele seja seu novo companheiro em futuros projetos que irá realizar.

Eu acredito
em você!

Eu acredito em
seus projetos!

196
Para conversar sobre seus
projetos, dar seu feedback
sobre o livro ou ainda
contribuir para o universo
cultural, basta me procurar
ou procurar a da Gaveta
nas redes sociais.
Estarei lá te esperando!

Até o próximo projeto!

197
Formada em Publicidade pela
PUC-Rio, é escritora e gestora
cultural, sócia e fundadora da
DA GAVETA PRODUÇÕES.
Como escritora, é autora do
livro de ficção “Uma janela para
nove irmãos” e do livro infantil
“O príncipe dos porquês”.

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