A Reter…
Renda locativa é uma teoria económica que determina que as rendas ou os valores do solo
diminuem com as distâncias ao centro, isto é, revelam uma diminuição com o aumento da
distância ao centro. O afastamento ao centro promove uma diminuição da procura de terrenos, o
que leva a um aumento dos disponíveis e a uma consequente diminuição da renda locativa.
As áreas terciárias
O centro da cidade
CBD (Central Business District) = Baixa (nos EUA “Downtown”, em França “Cité”, em
Inglaterra “City”)
Ao analisarmos a diferenciação funcional numa cidade, constatamos que,
independentemente da sua dimensão, a área central se individualiza sempre das
restantes pela forte concentração das atividades terciárias, pela grande intensidade de
usos do solo, pelo fraco número de alojamentos, pelo volume de empregos que fornece
e, obviamente, pela forte atração que exerce sobre a população: tratar negócios, ver
montras, fazer compras, aceder a funções raras e/ou especializadas, etc.
O centro revela, assim, um dinamismo que não se encontra em nenhuma outra área da
cidade.
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Área e centro de negócios por excelência (no caso particular das cidades europeias,
corresponde, regra geral, à parte histórica da cidade). É necessário admitir que a
localização do comércio em meio urbano obedece a um certo número de regras, sendo
que os lugares de convergência dos meios de comunicação e os eixos de grande circulação
são especialmente favorecidos.
Geralmente é não só a zona mais importante da cidade como é também a mais conhecida
quer pelos citadinos quer pelos visitantes.
O comércio, sobretudo a retalho (sobressaindo que uma das suas principais características é o
facto de oferecer artigos caros e raros) e serviços mais vulgares, como cafés, pastelarias,
tabacarias e restaurantes, que se destinam a servir a população que se desloca, trabalha e
reside no coração da cidade.
Diferenciação espacial
Ao nível do CBD, existe a tendência para a diferenciação espacial, quer em altura quer no
que respeita às ruas (zonamento vertical e zonamento horizontal).
Regra geral, as funções terciárias menos nobres e/ou atividades com menor nível de
exigência de contacto direto com o público, tendem a ocupar os pisos superiores dos
edifícios, cabendo ao comércio a ocupação do rés-do-chão.
Mas esta diferenciação no uso do espaço faz-se sentir também por um zonamento
horizontal, sobretudo nas cidades de maior dimensão, isto é, a ocorrência e distribuição de
áreas especializadas: centro financeiro (bancos, seguros,…..), centros de comércio a
retalho e de lazer, centros de comércio grossista, etc. (ver toponímia de algumas ruas)
Este facto tem conduzido ao desenvolvimento dos edifícios em altura, o que faz com que os
edifícios altos predominem, sendo esta uma das suas principais características morfológicas.
A distribuição das atividades evidencia uma diferenciação horizontal e vertical (Doc.1).
Doc. 1 – A ocupação do espaço na Rua Augusta (Lisboa), adaptado de A Cidade em Portugal, de Teresa Barata Salgueiro.
A acessibilidade ao CBD tem sofrido então um decréscimo, o que constitui uma mais-valia
para o aparecimento de novas e modernas áreas de consumo, como os Shoppings Centers,
as megastores ou mesmo os hipermercados, nas áreas mais periféricas, dotadas de bons
acessos rodoviários e equipamentos onde o estacionamento não é um problema.
Estas novas formas de comércio constituem uma alternativa ao tradicional CBD, que tem
vindo a perder liderança em termos de procura e de abastecimento das populações. As
grandes superfícies apresentam uma gama muito diversificada de produtos de uso corrente,
designadamente produtos alimentares e de higiene e limpeza, vendidos a preços muito
atrativos, o que tem contribuído para o encerramento do comércio tradicional que não
consegue resistir à concorrência das grandes superfícies.
Os centros comerciais, beneficiando igualmente, de uma boa localização e de bons parques
de estacionamento, oferecem uma gama diversificada de artigos (comércio, cinemas,
restaurantes, cabeleireiros, etc.) e constituem uma boa alternativa ao CBD, que tende a
perder, a nível comercial, o seu papel de liderança, reduzindo a sua área de influência.
Passou-se, assim, de um modelo monocêntrico para um modelo policêntrico, isto é, a
presença de mais do que uma centralidade no tecido urbano, mantendo mesmo assim o
CBD parte das suas funções.
Este fenómeno de expansão e fragmentação do CBD, com a consequente geração de novas
centralidades, é comum em países desenvolvidos e decorre não só do crescimento
económico mas também da crescente importância das cidades como centros polarizadores
de população e atividade terciária.
Relativamente aos limites do CBD, é difícil delimitar no espaço a área ocupada pelo CBD.
No ponto central, todas as funções que caracterizam o centro estão bem identificadas, mas
à medida que nos afastamos estas vão perdendo significado e dando lugar às áreas
residenciais vizinhas.
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O CBD não constitui uma área da cidade rigidamente demarcada, até por força do
sublinhado anteriormente, refletindo a dinâmica da própria aglomeração urbana: os seus
limites correspondem a áreas que se poderão expandir ou contrair; Se a cidade cresce, o
CBD expande-se; se ela não se desenvolve o CBD contrai-se.
No caso de a cidade crescer, o crescimento do CBD absorve a vizinhança residencial mais
próxima, empurrando as pessoas e as fábricas para a periferia.
A desertificação do CBD
Desertificação demográfica do CBD: um problema a necessitar de soluções
Uma população jovem, adulta e dinâmica, que durante o dia cruza as ruas do centro para
trabalhar ou passear, contrasta com uma população envelhecida e/ou imigrante pobre, de
fracos recursos económicos, que, por uma questão afetiva ou por falta de opções, vive nos
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Cada vez mais o poder local sente a necessidade de inverter esta situação e conferir a esta
área a soberania, a identidade e a dinâmica que já teve no passado.
Assim, há a necessidade de revitalizar e requalificar o centro da cidade através, por exemplo,
da pedonalização de vias e praças, do aumento de espaços de convívio e de lazer, como
restaurantes, cafés e bares, da restauração ou construção de escritórios, lojas e
equipamentos culturais, mas também de habitação de luxo (de forma a atrair para esta área
um estrato da população com maior poder económico) e habitação economicamente mais
acessível a uma população adulta/jovem, de forma a rejuvenescer esta área.
Assim, sobretudo nos casos das cidades de Lisboa e do Porto, verifica-se, em termos
demográficos, que o centro alberga uma população envelhecida e de fracos recursos, que
vive em condições geralmente degradantes.
O CBD torna-se uma área perigosa, sendo, durante a noite, ocupado pelos excluídos da
sociedade. Em Lisboa, tem-se verificado, nos últimos anos, um aumento da pobreza urbana, da
criminalidade e da toxicodependência.
Há freguesias centrais da cidade de Lisboa que nos últimos 20 anos perderam mais de 60% da
sua população.