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Sefer Devarim O povo ouviu estas palavras.

Pensaram: "Como Moshê tem


razão! Não confiamos em D’us. Em vez de reclamar, deveríamos
44 – Parashá Devarim Deuteronômio 1:1-3:22 ter tido fé. No futuro não mais reclamaremos, mesmo se as coisas
ficarem difíceis."
Moshê Reúne a Nação
Moshê esperou. Alguém iria discutir? Alguém o contradiria? Mas
Benê Yisrael atingiram o final de seus quarenta anos no deserto. todo o Povo de Israel permaneceu em silêncio. Concordaram com
Todos os homens da geração de Moshê haviam morrido, e seus Moshê e fizeram teshuvá.
filhos agora eram adultos. Acamparam nas planícies de Moav.
Esta era a última parada antes de Êrets Yisrael. Isto é verdadeiramente espantoso. Se nós tivéssemos estado lá,
certamente teríamos feito uma objeção: "Moshê, não reclamamos
Aharon e Miriam não eram mais vivos. Apenas Moshê pela falta de comida. Nossos pais o fizeram!"
sobrevivera: tinha 120 anos de idade. Mas parecia um homem
jovem! Suas faces não eram encovadas, e não era enrugado. Seu O pecado mencionado por Moshê havia acontecido quarenta anos
rosto brilhava com os raios da Shechiná. Era forte e caminhava antes, no início da caminhada pelo deserto. Naquela época, a
com os passos largos de um homem jovem. geração que agora escutava Moshê ainda não havia nascido ou
então eram criancinhas.
Porém, Moshê estava ciente de que não cruzaria o Rio Jordão e
não entraria em Êrets Yisrael. "Preciso falar com Benê Yisrael Mesmo assim, ninguém falou: "Não somos culpados!" Isto
pela última vez," pensou ele. "Repetirei a eles a Torá e as mitsvot, demonstra que a nova geração era de verdadeiros tsadikim.
para me certificar de que as aprenderam bem. Também os Grandes tsadikim aceitam a responsabilidade até pelos erros de
ensinarei novas mitsvot que ainda não aprenderam." seus pais, como se fossem os seus próprios. O povo estava
envergonhado e fez teshuvá pelas falhas dos pais.
"Primeiro discutirei os pecados que seus pais cometeram no
deserto. Isto os ajudará a fazer teshuvá e evitar transgressões Moshê continuou: "Lembram-se do que aconteceu nas planícies
similares. Sabendo que logo morrerei, certamente eles me darão de Moav?"
ouvidos."
Benê Yisrael curvou a cabeça, sentindo vergonha. Lembraram-se
A primeiro de Shevat, em 2.488 (trinta e seis dias antes de sua do pecado em Chitim, nas planícies de Moav, apenas uns poucos
morte), Moshê anunciou: "Todo o Povo de Israel deve se reunir e meses antes. Na maioria, apenas os membros da tribo Shimon
escutar minhas palavras!" havia pecado com as filhas de Moav. Haviam também servido ao
ídolo Ba’al Peor. Os pecadores foram condenados por Moshê, e
Por que Moshê desejava que cada judeu ouvisse seu discurso? uma praga havia irrompido. Esta cessou apenas após Pinechás
Ele pensou: "Se alguém estiver ausente agora e mais tarde ouvir matar Zimri e rezar a D’us.Os ouvintes fizeram teshuvá por isto,
minhas palavras repetidas através de outros, poderá discordar de também, embora não tivessem participado, e os verdadeiros
algumas partes. Isso de forma alguma deve acontecer! Deixe que culpados já tivessem morrido.
todos estejam presentes agora e ouçam o que tenho a dizer. Se
alguém achar que estou errado, poderá falar agora e esclarecerei Novamente, foi ouvida a voz de Moshê:
minhas palavras!"
"Como vocês se comportaram nas praias do Mar Vermelho,
É difícil imaginar isto, mas o último discurso de Moshê durou trinta quando viram o exército do Faraó se aproximando de nós?
e seis dias! A cada dia, Benê Yisrael se reunia e escutava as Entraram em pânico! Alguns de vocês gritaram de medo: ‘Se ao
palavras de Moshê e seus ensinamentos. Todo o Livro de menos tivéssemos morrido no Egito, ao invés de sermos mortos
Devarim é o discurso de Moshê! aqui pelo exército do Faraó!’

Moshê Começa a Falar "Mesmo depois que D’us afogou o exército do Faraó, vocês não
confiaram n’Ele. Pensaram que os egípcios tinham escapado do
A voz de Moshê não era alta o suficiente para atingir 600.000 Mar Vermelho assim como vocês! Para provar que estavam
pessoas, mas ocorreu um milagre, e ele pôde ser ouvido por errados, D’us ordenou que o mar jogasse os corpos dos egípcios
todos os judeus presentes. nas praias. Apenas então acreditaram no milagre."

Moshê Rabênu começou: "Falarei a vocês sobre seus pecados no Novamente, Benê Yisrael concorda com Moshê e aceita os erros
deserto. Devem entender que a única razão pela qual lembro dos pais como se fossem seus.
estes episódios é porque eu os amo. Quero ajudá-los a refinar-se
e a fazer teshuvá." Moshê continuou. "E recentemente – após a morte de Aharon –
vocês reclamaram sobre o maná! D’us disse-lhes que deveriam
"Um mês depois de começarmos a viajar no deserto, a massa que se aprofundar no deserto, à terra de Edom. Vocês objetaram: ‘De
trouxemos do Egito acabou. Vocês se queixaram: ‘No Egito volta ao deserto outra vez? Estamos fartos de sempre comer
sempre tínhamos bastante para comer. Morreremos todos de maná.’"
fome! Queremos pão e carne!’
Uma vez mais, os ouvintes aceitaram as duras palavras de
"Embora reclamassem ao invés de confiar em D’us, Ele foi Moshê. Esta era de fato uma geração notável! Ninguém gritou:
misericordioso. Fez cair o maná do céu e também forneceu carne "Pessoalmente, não tenho culpa!"
fazendo cair pássaros. D’us fez o maná cair diariamente por
quarenta anos." Moshê ainda não terminara com a lista dos erros: "Todos se
lembram do que aconteceu no deserto de Paran! Vocês enviaram

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espiões! Mais tarde, quando se aproximaram de Chatserot, •A Avraham: "Olhe para o céu. Tente contar as estrelas! Assim
Côrach se rebelou!" como esta tarefa é impossível, da mesma forma será impossível
contar seus filhos!"
Finalmente, Moshê falou sobre o pecado mais grave de todos: o
bezerro de ouro. •A Yitschac: "Seus filhos serão tão numerosos como os grãos de
areia na praia!"
"Vocês estavam ricos com ouro quando saíram do Egito!" Moshê
disse: "Porém, usaram-no para fazer um bezerro de ouro. Ao •A Yaacov: "Seus filhos serão como o pó da terra."
invés de terem sido destruídos, D’us ordenou que construíssem
um Mishcan e perdoou-os pelo mérito do Mishcan." Tentemos entender como os judeus são comparados - as
estrelas, areia e pó:
Novamente, Benê Yisrael aceita a admoestação de Moshê.
Fizeram teshuvá pelo pecado do bezerro de ouro. •Estrelas – Cada estrela é importante para o universo. Se apenas
uma estiver faltando, a criação de D’us é imperfeita. Da mesma
O quê a Torá nos diz sobre estas falhas? forma, cada judeu também é de suma importância.

Se você abrir o Livro da Torá nesta parashá e tentar encontrar o •Areia – Embora ondas poderosas quebrem contra a praia
discurso de Moshê, ficará surpreso. Não está lá! arenosa, a delicada areia é uma forte barreira. A água não pode
passar por ela e carregá-la para longe.
Tudo que se pode encontrar na Torá são estas poucas palavras:
"Moshê falou a Benê Yisrael sobre o que aconteceu nas planícies Similarmente, o povo judeu repetidamente sobrevive aos ataques
de Moav, no Mar Vermelho, no deserto"... E assim por diante. A das nações do mundo.
Torá apenas menciona o nome de cada local onde um pecado
aconteceu. Por que não há mais detalhes? •Pó da terra – Plantas e árvores não cresceriam sem o solo. Benê
Yisrael pode ser comparados à terra porque, pelo seu mérito,
D’us queria poupar o povo judeu da vergonha de ter um grande todas as nações são abençoadas.
número de falhas enumeradas no início de um novo Livro da Torá.
Por consideração para com os judeus, a Torá Escrita apenas dá Na época de Moshê, D’us já tinha completado Sua promessa de
indícios do discurso de Moshê. que Benê Yisrael seriam como as estrelas. Apenas na época de
Mashiach todas as promessas que D’us fez aos patriarcas serão
Moshê Abençoa Benê Yisrael totalmente cumpridas.

Moshê descreve o que acontecera no início da jornada pelo Como Moshê Escolhia os Juízes
deserto:
Moshê continuou seu discurso:
"Fui designado não apenas como seu professor de Torá, como
também para ser seu juiz. Como eu estava ocupado! Havia tantas "Disse-lhes que trouxessem a mim os homens justos que sejam
discussões e disputas entre vocês. Eu me sentava e julgava por sábios e compreensivos. Eu os escolheria como juízes.
boa parte do dia, enquanto vocês freqüentemente esperavam por
horas para ver-me. Vocês cresceram até tornarem-se uma imensa "Ao ouvir este pedido, vocês deveriam ter respondido: ‘Moshê,
nação, e hoje são tantos como as estrelas do céu. Que D’us os preferimos que sejas nosso único juiz! Tu é quem recebeste os
multiplique mil vezes mais, dando-lhes filhos que sejam tsadikim mandamentos diretamente de D’us. Os outros juízes são apenas
como vocês. Que Ele os abençoe como prometeu a seus teus alunos; não possuem todo o teu conhecimento.
antepassados!"
"Mas vocês concordaram imediatamente. Pensaram: ‘Entre tantos
Por que Moshê subitamente abençoou Benê Yisrael no meio de juízes, alguns aceitarão suborno e nos favorecerão!’"
seu discurso? Uma explicação seria:
"Eu disse aos novos juízes: ‘Julguem todos os casos que
Moshê havia reclamado sobre como era difícil lidar com um povo puderem. Se um caso for muito difícil, tragam-no a mim.’"
tão numeroso. Mas não queria que o povo pensasse que estava
Embora Moshê assim falasse, D’us mostrou-lhe que mesmo ele
infeliz por eles serem tantos. Por isso, rapidamente acrescentou
não conseguiria cuidar sozinho de todos os casos difíceis.
uma bênção para que se tornassem ainda mais numerosos!
Quando as filhas de Tselofchad (na parashá de Pinechás) vieram
O Midrash fornece outra explicação: perguntar a Moshê se a herança paterna deveria ser-lhes
concedida, Moshê não respondeu de imediato, consultando
D’us disse a Moshê: "Veja como Benê Yisrael é justos! Poderia ter primeiro D’us. Moshê então repetiu ao povo as regras que havia
reclamado quando você lembrou de seus erros. Porém, aceitaram ensinado aos juízes.
suas palavras e fizeram teshuvá. Por isto, mereciam ser
abençoados." E assim, Moshê deu-lhes a berachá. As Regras para os Juízes Judeus

O Midrash nos diz: •O mesmo tipo de problema pode ser trazido a vocês mais de
uma vez. Da primeira, será novo para vocês, assim estudarão
Benê Yisrael é Comparado às Estrelas, Areia e Pó da Terra cuidadosamente a solução. Da segunda vez, vocês não estudarão
tão detalhadamente. Quando ouvirem o problema pela terceira
Moshê comparou Benê Yisrael às estrelas, mas na verdade D’us vez pensarão: "Por que deveria eu escutar estas leis novamente?
fizera uma promessa diferente a cada um dos antepassados: Já conheço este caso." Mas estão errados! Devem revisar

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cuidadosamente cada caso antes de tomar uma decisão, mesmo "Quando retornaram, apenas Yehoshua e Calêv louvaram Êrets
se acharem que lhes é familiar. Yisrael. Os outros falaram lashon hará sobre essa terra.

•Pode acontecer de lhe perguntarem sobre um caso a respeito de "Novamente agiram de forma imprópria. Em vez de cerrar fileiras
alguns centavos. Mais tarde, um caso envolvendo uma fortuna com Yehoshua e Calêv, acreditaram nos dez espiões. D’us havia
pode lhes ser apresentado. Não adiem a questão a respeito da nos falado sobre como a terra era boa. Por que não acreditaram
pequena quantia, julgando o segundo em primeiro lugar. Devem n’Ele?
ambos ter a mesma importância para você.
"Vocês tinham medo de lutar contra as nações de Erets Yisrael.
•Quando duas pessoas entrarem para julgamento, não pensem: São realmente guerreiros poderosos, vivendo em cidades
"Esta pessoa parece ser um vigarista. O outro aparenta ser uma fortificadas até o céu. Há inclusive gigantes entre eles.’
pessoa decente!"
‘Mas disse a vocês para não sentirem medo - D’us lutaria por
•Ao contrário, ambas as partes devem parecer igualmente vocês! Viram como Ele cuidou de vocês amorosamente no
culpadas para vocês. Após aceitarem a decisão da justiça e deserto? Por que, então, não crêem que Ele lhes concederia mais
saírem, ambos devem ser como tsadikim a seus olhos. bondade?

•Um pobre e um rico têm uma disputa. Não pensem: "Esta é uma "Após todo este comportamento impróprio, D’us ficou aborrecido:
boa oportunidade de ajudar o homem pobre! Farei com que o rico ‘Os homens desta geração não verão a boa terra que prometi aos
perca o caso, para que pague dinheiro ao outro. Desta maneira, seus antepassados’, prometeu Ele. ‘Apenas Yehoshua e Calêv
ajudarei o homem pobre!" Isto não é permitido! Não podem terão este privilégio’"
também favorecer o homem rico. Ambos devem ser iguais para
vocês. Moshê continuou:

•Nunca temam pessoa alguma. Se um rufião ameaçar: "Não ouse "Após o pecado dos espiões, D’us ficou descontente comigo
fazer-me perder, ou porei fogo em sua casa!" - não se deixem também. Pelos próximos 38 anos, a profecia de D’us não foi
intimidar. transmitida com o mesmo amor, como antes do incidente dos
espiões. Este acontecimento também causou minha morte no
•Vocês devem ouvir cada caso diretamente das pessoas deserto. Porque golpeei a rocha em Mê Meriva, D’us disse-me
envolvidas e não através de um tradutor. Por esta razão, para ser que Yehoshua lideraria Benê Yisrael à Terra Prometida."
um membro do Sanhedrin (Suprema Corte) era preciso saber
muitos idiomas. Os Judeus e a Conquista da Terra de Israel

•Assuntos financeiros devem ser decididos por três juízes. Uma "Embora D’us tivesse falado que traria apenas a próxima geração
sentença de vida ou morte, porém, deve ser decidida por pelo a Terra Prometida, alguns entre vocês disseram: ‘Não queremos
menos vinte e três juízes. esperar. Queremos entrar em Êrets Yisrael agora! Pecamos
quando nos recusamos a lutar contra os canaanitas. Agora
o Uma sentença de morte jamais pode ser pronunciada em um compensaremos por isto.’
único dia. A decisão final deve ser tomada no dia seguinte.
"Vocês prepararam suas espadas, e estavam prontos a escalar a
Moshê Fala Sobre os Espiões montanha na fronteira de Êrets Yisrael. Mas D’us advertiu: ‘Diga-
lhes para não escalar! Não estou com eles! Serão derrotados!’
Moshê continuou suas palavras de admoestação a Benê Yisrael: Mas vocês não deram ouvidos e mesmo assim foram para a
batalha. Os emorim, que viviam na montanha, perseguiram e
"Dois anos após deixarmos o Egito, poderíamos ter entrado em feriram vocês. Então aconteceu um milagre: qualquer emori que
Êrets Yisrael. Mas devido ao espiões, D’us nos manteve no tocasse em vocês morria instantaneamente. Isto demonstrou
deserto por mais 38 anos. como D’us controlava a situação."

"Na Outorga da Torá, vocês se comportaram respeitosamente. Benê Yisrael Não Conquistaram Três Nações
Mas quando vieram me falar sobre o envio de espiões a Êrets
Yisrael, empurraram uns aos outros. As crianças abriam caminho Benê Yisrael estavam proibidos de conquistar três nações que
empurrando os adultos, e os adultos eram desrespeitosos com os faziam fronteira com Êrets Yisrael. As três nações eram:
líderes, empurrando-os para o lado.
1.Seir, onde os descendentes de Essav viviam. Um outro nome
"Em seguida agiram enganadoramente. Pediram que para este país é "Edom";
‘mandássemos espiões para preparar o caminho para nossa
conquista do país’. Mas esta não era a sua verdadeira intenção. 2.Moav;
Queriam evitar a luta com as nações que lá estavam. "Não
confiaram na promessa de D’us de ajudá-los a conquistar as sete 3.Amon.
nações. Embora eu acreditasse em vocês, D’us entendeu suas
verdadeiras intenções. Por que Benê Yisrael foram proibidos de conquistá-los?

"Escolhi doze dos melhores homens entre vocês. Eram tsadikim. Benê Yisrael e Seir (Edom)
Mas ao começarem a viagem, maus pensamentos perturbaram
Moshê disse:
suas mentes. Começaram a planejar um relatório falso. Temiam
lutar contra os canaanitas. Por isto, tentaram impedir que Benê
Yisrael se envolvessem numa guerra.
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"Ao final de nossa caminhada, D’us nos ordenou rumar para o No livro de Bereshit, na parashá de Lech Lechá a Torá nos relata
norte, em direção a Êrets Yisrael, e passar pela terra de Seir. D’us o seguinte: Quando Avraham viajou ao Egito, fingiu que Sara era
advertiu: ‘Os descendentes de Essav são seus irmãos! Não os sua irmã. Lot, o sobrinho de Avraham, os acompanhou nesta
ataquem. Nem ao menos passem pela terra deles sem permissão. viagem e sabia a verdade: Sara era a esposa de Avraham! Ele
Se quiserem alimentos ou água, paguem por eles. Dei a terra de podia ter contado ao Faraó que Sara era a mulher de Avraham. O
Seir a Essav até a era de Mashiach.’" que poderia acontecer a Avraham? O Faraó o teria matado para
ficar com Sara. Quando Lot ficou em silêncio, salvou a vida de
D’us não permitiu que os judeus conquistassem Seir porque este Avraham. Como recompensa, D’us poupou as vidas de seus
país era a recompensa de Essav por honrar seu pai, Yitschac. descendentes, os moavim e amonim.

De que Modo Essav se Destacou por Honrar seu Pai? Por que Moshê lembrou aos judeus que D’us havia proibido a
conquista de Seir, Amon e Moav?
Rabi Shimon ben Gamliel explicou:
Benê Yisrael poderiam perguntar um dia: "Será que o exército de
"Quando servi meu pai, vestia roupas comuns. Quando estava Moshê era muito fraco para derrotar aquelas nações?" Moshê
pronto para sair, me trocava e vestia roupas melhores. Quando deixou claro: "Embora D’us tivesse prometido a Avraham que
Essav servia seu pai, usava as melhores roupas. Considerava seu vocês conquistariam dez nações, Ele está dando a vocês agora
pai um rei. Aprendi com Essav o quanto deve-se honrar os pais." apenas sete nações. As outras três – Seir, Amon e Moav – serão
dadas a vocês apenas na era de Mashiach. Não porque sejam
Para não dar a Essav um espaço no Mundo Vindouro, D’us
muito fracos para sobrepujá-los, mas porque D’us assim o
propositadamente concedeu a Essav a recompensa total por sua
ordenou. Ele está esperando o momento certo para entregar
mitsvá neste mundo.
estas três nações em suas mãos."
Moshê continuou: "Enviamos mensageiros ao rei de Seir,
Benê Yisrael Vencem Sichon e seu Exército
pedindo-lhe que nos deixasse passar através de seu país. Ele
recusou. Então, passamos ao redor do país de Seir." Moshê continuou: "D’us não nos permitiu conquistar Edom, Amon
e Moav. Mas Ele deixou-nos conquistar a terra de Sichon, rei dos
Benê Yisrael e Moav
emorim."
"Então nos aproximamos de Moav. Novamente, D’us advertiu:
Os emorim tinham tentado impiedosamente aniquilar os judeus.
‘Não podem conquistar Moav. Eu o dei aos descendentes de Lot
Ordenaram a seus soldados que se escondessem em cavernas
até a era de Mashiach.’
na montanha, e atirassem suas flechas em Benê Yisrael enquanto
Mesmo assim, D’us nos permitiu recolher os despojos deles. estes estivessem passando por um estreito vale Emorita. Os
Foram eles que haviam contratado o mágico Bil’am para nos judeus teriam sido destruídos se não fosse pela ajuda de D’us
amaldiçoar e enviaram as suas filhas para nos fazer pecar (veja Parashat Chucat).
(Parashat Balac)."
Moshê disse: "Enviei mensageiros a Sichon, pedindo: ‘Por favor,
Por que D’us ordenou aos judeus que não atacassem Moav? deixe-nos passar por seu país! Se precisarmos de comida, a
compraremos de vocês.’
D’us previu que uma mulher notável nasceria em Moav. Tornar-
se-ia judia, desposaria Boaz e seria mais tarde a avó do Rei "Sichon recusou-se a nos deixar passar. Mesmo assim, senti que
David. Por causa dela, o povo de Moav não foi destruído. havia agido corretamente em enviar-lhe mensageiros. Aprendi de
D’us que mesmo aos perversos deve-se dar uma chance."
"Enviamos mensageiros ao rei de Moav, pedindo permissão para
passar pelas suas terras. Mas ele também recusou, e então "Sichon mobilizou ser exército. Deixou a capital e marchou para
viajamos ao redor de Moav." atacar. Esta foi uma bondade especial de D’us. A capital de
Sichon estava tão bem guarnecida que teríamos tido problemas
Benê Yisrael e Amon em conquistá-la. Não tivemos que enfrentar diversos grupos de
soldados espalhados em locais diferentes. O exército estava todo
"Quando nos aproximamos de Amon, D’us ordenou: ‘Benê Yisrael agrupado. Por isso, o capturamos rapidamente.
não podem lutar com os amonim. Nem ao menos lhes será
permitido recolher os despojos deles. São descendentes de Lot, e "Matamos Sichon, o poderoso gigante e seu filho. Desta maneira,
receberam o país até que chegue a era de Mashiach.’" conquistamos a terra dos Emorim."

Por que Amon foi poupado? A Derrota de Og

D’us previu que do povo de Amon nasceria uma mulher O gigante Og era meio-irmão de Sichon. Governava o reino
importante: Na’ama. Ela se tornaria judia e seria a mulher do Rei Emorita de Bashan. Quem era Og?
Shelomô. Seu filho, Rechavam, seria coroado rei após a morte de
Shelomô. O Midrash nos relata:

Há uma outra razão pela qual D’us proibiu a conquista de Moav e Como Og Sobreviveu Até a Época de Moshê
Amon:
Todos os gigantes poderosos que viviam ao tempo de Nôach se
D’us poupou-os como recompensa pelo silêncio de Lot. Qual foi o afogaram no dilúvio. Apenas Og sobreviveu. Subiu por uma
mérito de Lot? escada até a arca e implorou a Nôach: "Por favor, salve-me! Serei
seu escravo para sempre,"
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Nôach refletiu: "Tantas pessoas tentaram salvar-se subindo na "D’us disse-me: ‘Veja Og sentado sobre a muralha!’ Ele era tão
arca, mas nenhuma delas conseguiu. Como Og teve sucesso em imenso que quando sentava-se sobre a muralha, seus pés
chegar aqui, D’us provavelmente deseja que ele sobreviva!" tocavam o solo.

Assim Nôach fez um pequeno furo na arca e passava comida a "Eu estava com medo. Pensei: ‘Este é o malvado que zombou de
Og todos os dias. Só esta tarefa já mantinha Nôach e seus filhos Avraham e Sara. Disse que eles eram como árvores próximas da
muito ocupados! Nossos sábios dizem que Og devorava incríveis água, mas que não dão frutos.’ ‘Não o tema,’ disse-me D’us.
quantidades de comida, e que bebia galões de água. Mesmo
assim, Nôach o alimentou, e Og sobreviveu. "Og apanhou uma enorme pedra para jogar em cima de nós. Mas
D’us transformou-a em pedaços. Enquanto isso, apanhei um
Por que D’us permitiu que vivesse? machado e atingi Og no calcanhar. Caiu para trás e morreu."

D’us desejava que o mundo visse um gigante da época anterior "Enfrentamos o exército de Og. D’us fez o sol ficar imóvel até que
ao dilúvio. O mundo aprenderia então que D’us destruiu até a batalha terminasse. Assim, o mundo inteiro soube desta guerra
mesmo esta raça de gigantes, porque rebelaram-se contra Ele. e de nossa vitória."

Og ainda estava vivo ao tempo de Avraham. Quando Lot, Derrotamos o exército emorita. Agora possuímos enormes lotes
sobrinho de Avraham, foi capturado numa guerra, (Parashat Lech de terra a leste do Rio Jordão.Dividi a terra entre Reuven, Gad, e
Lechá) Og pensou: "Vou correr e dizer a Avraham que seu metade de Menashê. Ordenei então: ‘Embora já tenham recebido
sobrinho foi preso. Quando Avraham for resgatá-lo, será morto seu quinhão, devem acompanhar Benê Yisrael até Êrets Yisrael e
pelos captores de Lot. Poderei então casar-me com a linda Sara!" ajudá-los a lutar. Depois, podem retornar à sua terra.’

D’us imediatamente prometeu: "Pelos esforço que fizeste para "A Yehoshua, eu disse: ‘Você viu como D’us destruiu os
trazer a Avraham a mensagem, terás vida longa. Mas como poderosos gigantes Sichon e Og. Assim Ele destruirá todos os
desejaste que Avraham fosse morto, serás destruído pelos seus reis que vivem em Êrets Cnaan. Não tenha medo, pois D’us está
descendentes!" lutando por você!’"

Og era uma das pessoas convidadas ao berit milá de Yitschac. Os Uma Boca Humana Falando a Palavra de D’us
reis de Cnaan haviam sido convidados também. Os reis disseram
a Og, "Você sempre chamou Avraham de ‘mula,’ dizendo que ele Por Eli Touger
é como uma mula que não pode dar cria. Porém, veja, ele tem um
filho, Yitschac!" No Jardim da Tora - Adaptado de Likkutei Sichos, Vol. IV, p.
1087ff; Vol. XIX, p. 9ff
Og olhou para o bebê de Avraham, um menino. Naquela época,
os bebês nasciam tão grandes que mesmo os recém-nascidos A Singularidade de Devarim
precisavam de uma cama de adulto. Yitschac foi o primeiro bebê
A leitura da Torá desta semana começa dizendo1: “Estas são as
a nascer pequeno e fraco, como os bebês atuais.
palavras que Moshê falou a todo o Povo Judeu”. Notando a
"Este bebê é tão pequeno que precisa de um berço!" - zombou diferença entre este livro e os quatro livros anteriores, que são
Og. "Eu poderia matá-lo com um dedo!" todos “a palavra de D’us”, nossos Sábios explicam2 que Moshê
recitou o Sefer Devarim “por sua própria iniciativa”.
"É assim que você fala do filho que dei a Avraham?" D’us disse.
"Você viverá para ver dezenas de milhares de descendentes Isto não significa, D’us nos livre, que o Sefer Devarim seja
deste bebezinho! E você cairá em suas mãos." meramente uma invenção humana. Nossos Sábios3
imediatamente esclarecem que Moshê pronunciou suas palavras
Quando Yaacov chegou ao Egito, Og estava visitando o Faraó. “inspirado por D’us”. Da mesma forma, quando o Rambam define
a categoria “daqueles que negam a Torá”4, ele inclui: “aquele que
O Faraó disse a Og: "Você sempre afirmou que Avraham nunca diz que a Torá, mesmo um versículo ou uma palavra, não emana
teria filhos! Mas aqui está o neto de Avraham, Yaacov, e ele de D’us. Se alguém disser: ‘Moshê fez estas declarações de
trouxe setenta dos descendentes de Avraham com ele!" forma independente’, ela está negando a Torá”.

Og ficou furioso. Desejou que todos os descendentes Nem um único comentarista afirma haver qualquer diferença
perecessem! neste sentido entre o Sefer Devarim e os quatro livros
precedentes. O Sefer Devarim não contém meramente as
"Seu malvado!" - disse D’us. "Por que lhe deseja mal? No fim, palavras de Moshê. A identificação de Moshê com a Divindade
você será destruído!" era tão grande que quando ele declara5: “Eu concederei a chuva
da tua terra em sua época”, ele fala na primeira pessoa apesar do
Moshê contou a história: "Og tornou-se o governante de Bashan. pronome “Eu” claramente se referir a D’us. “A Presença Divina
Quando ouviu que havíamos conquistado Sichon, preparou seu falava de sua boca”6.
exército para a guerra.
Por outro lado, também é claro que o livro envolve o próprio
"Chegamos perto de Edrê, a cidade fortificada de Og. Lá processo de pensamento de Moshê. Para dar um exemplo, há
acampamos para passar a noite e preparamo-nos para invadir a uma diferença de opiniões entre nossos Sábios se a proximidade
cidade pela manhã. de dois assuntos na Torá Escrita é importante ou não7. Uma
opinião diz que sim, enquanto a outra explica que apesar de que
quando os mortais estruturam seus pensamentos, a ordem é

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importante, mas, “Já que a Torá foi dada pelo Todo-Poderoso, a quatro primeiros livros da Torá, a ordem é estruturada pela
ordem de precedência não é importante”8. sabedoria Divina, de acordo com um padrão além do pensamento
humano15. Já que a interpretação da lei da Torá “não está no
Em relação a Devarim, entretanto, todas as autoridades céu”16, mas foi entregue ao intelecto humano, existem opiniões
concordam com a importância da sequência dos assuntos. que mantêm que a proximidade de passagens naqueles livros não
“Moshê abordou passagem após passagem com o único serve como um guia.
propósito de permitir extrapolações”. Porque Devarim foi recitado
por iniciativa de Moshê, a compreensão deste livro exige que as O Sefer Devarim, entretanto, foi filtrado através do intelecto de
regras da sabedoria humana sejam levadas em consideração. Moshê, e a ordem de seus versículos corresponde àquele do
pensamento humano. Portanto, a proximidade de assuntos neste
Acima do Limite da Criação texto pode servir como uma base para a derivação das leis da
Torá.
A explicação dos conceitos acima depende da apreciação da
relação entre a Torá e nosso mundo. Nossos Sábios afirmam: “A Conhecimento Interiorizado
Torá precedeu o mundo”9. Aqui, o conceito de precedência não é
cronológico, pois o tempo, assim como o espaço, é uma criação, Mas, por que o Sefer Devarim é necessário? Revestir a Torá no
relevante somente depois que D’us criou a existência. Em vez intelecto humano nada faz além de diminuir o seu conteúdo
disso, o objetivo é que a Torá está em um nível de verdade espiritual. Para que propósito isto é necessário?
espiritual que transcende nossa estrutura material de referência.
No entanto, esta é a intenção de D’us ao entregar a Torá: que ela
Apesar da Torá “descer” e “se revestir” em nosso mundo, falando permeie o pensamento humano e, assim, eleve a compreensão
de assuntos aparentemente comuns - como as leis da agricultura, do homem. Sempre que uma pessoa estuda a Torá,
códigos para uma prática comercial justa, e a estrutura adequada independentemente de seu nível espiritual, ela está tornando a
do casamento e os relacionamentos familiares - esta não é sua sua infinita verdade parte de sua própria natureza.
essência. A essência da Torá é “a vontade de D’us e Sua
sabedoria”, unida com Ele em perfeita unidade10. Se existissem somente quatro livros na Torá, teria sido impossível
para os nossos poderes de entendimento terem se unido
Já que a Torá está fundamentalmente acima de nossa estrutura completamente com a Torá. Foi somente por ter passado o Sefer
mundana, para que ela seja revestida pelo mundo, ela deve Devarim através do intelecto de Moshê que este objetivo foi
passar através de um mediador conectado tanto com o núcleo cumprido. Além disso, a revisão da Torá por Moshê no Sefer
espiritual da Torá quanto com nossa natureza mortal. Moshê, Devarim nos dá a capacidade de entender os quatro livros
nosso professor, possuía este atributo. anteriores de uma forma semelhante.

Por um lado, Moshê representava o máximo em anulação, Elevando a Torá


humildade, dedicação abnegada a D’us, um compromisso que
transcende o pensamento mundano. Ao mesmo tempo, ele Revestir a Torá no intelecto humano não concede simplesmente
representava a perfeição no intelecto, emoção e até na força e ao homem a oportunidade de avanço, mas também introduz, por
estatura física de um humano11. Como tal, ele era capaz de assim dizer, uma qualidade superior na própria Torá. Pois revestir
transmitir a verdade espiritual transcendental da Torá de uma a espiritualidade ilimitada nos confins do intelecto humano
forma que os mortais pudessem compreender12. representa uma fusão de opostos que é possível somente através
da influência da essência de D’us17. Porque sua presença
transcende tanto a finitude quando a infinitude, ela pode fundir as
duas, trazendo a verdade espiritual da Torá ao alcance dos
Dois Padrões Contrastantes mortais.

Em particular, o pensamento chassídico descreve duas formas Nas Margens do Jordão


nas quais funciona um mediador13:
Moshê recitou o Sefer Devarim enquanto os judeus estavam às
a) Derech ma’avir: o mediador age meramente como um funil. Ele margens do Rio Jordão, preparando-se para entrar em Eretz
não muda ou modifica a influência que recebe; ele meramente a Yisrael. O cruzamento do Jordão seria um movimento tanto
transfere. Assim, mesmo quando uma mensagem é trazida a um espiritual quanto geográfico. Durante suas jornadas através do
plano inferior, ela permanece transcendental. deserto, os judeus dependeram de expressões milagrosas do
favor Divino: eles comeram o maná, sua água vinha da Fonte de
b) Derech hislabshus: o mediador coloca o conceito em suas Miriam, e as Nuvens da Glória preservavam suas vestimentas.
próprias palavras. Isto muda a forma de apresentação do conceito Depois de entrarem em Eretz Yisrael, entretanto, o Povo Judeu
e, assim, permite que ele seja captado pelos ouvintes. viveria dentro da ordem natural, trabalhando na terra e comendo
os frutos de seu trabalho.
E assim é em relação à Torá. Os quatro primeiros livros foram
transmitidos através de Moshê sem qualquer interferência de sua Para tornar esta transição possível, eles precisaram de uma
parte; ele os transmitiu ao Povo Judeu da mesma forma como os abordagem da Torá que relacionasse o homem da forma que ele
recebeu14. Com o Sefer Devarim, ao contrário, a palavra de D’us funciona dentro deste meio mundano. Foi para este propósito que
se tornou parte essencial do próprio pensamento de Moshê. Moshê ensinou o Sefer Devarim.

Baseado nesta explicação, nós podemos ver porque todas as Nisto reside uma conexão com os dias de hoje, pois nós também
autoridades concordam que é possível derivar questões da lei a estamos “às margens do Jordão”, preparando-nos para entrar em
partir da ordem de assuntos do Sefer Devarim. Em relação aos Eretz Yisrael junto com Mashiach. É através da abordagem

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enfatizada pelo Sefer Devarim, fundindo a palavra de D’us com a A Haftará desta semana é a terceira de uma série de três
sabedoria humana18, que nós mereceremos a era em que “a “Haftarot de aflição”. Estas três Haftarot são lidas durante as Três
ocupação de todo o mundo será somente para conhecer D’us”19, Semanas de luto por Jerusalém, entre os jejuns de 17 de Tammuz
a Era da Redenção. e de 9 de Av.

NOTAS Yeshayahu ( 1:1-27) transmite aos judeus uma visão Divina que
ele teve, castigando os residentes de Judah e Jerusalém por
1.Devarim 1:1. terem se rebelado contra D’us, criticando-os por repetirem seus
erros e não abandonarem seus caminhos pecaminosos – mesmo
2.Megilá 31b. depois de terem sido repreendidos e punidos. “Desgraça para
uma nação pecadora, um povo pesado em iniqüidade, semente
3.Tosafos, op. cit.
da transgressão, filhos corruptos.
4.Mishnê Tora, Hilchos Teshuvá 3:8.
Eles abandonaram D’us; eles provocaram o Santo de Israel”.
5.Devarim 11:13. Duras palavras são empregadas, comparando os lideres judeus
aos reis de Sodoma e Gomorra. D’us declara seu desgosto por
6.Ver Zohar III, p. 232a; Shmot Rabá 3:15. seus sacrifícios e oferendas que foram temperadas com costumes
pagãos. “Como ela se tornou uma prostituta, uma cidade
7.Berachot 21b; Yevamos 4a. pecaminosa; ela já foi repleta de justiça, na qual a virtude se
alojava, mas, agora, é uma cidade de assassinos...”.
8.Raaban (Rabbi Eleazar ben Nasan), seção 34.
Yeshayahu então fala palavras mais gentis, encorajando o povo a
9.Midrash Tehilim sobre 90:4; Bereishis Rabá 8:2. Ver também a se arrepender sinceramente e praticar atos de justiça e bondade
explicação deste conceito no maamar Issa B’Midrash Tehilim, para os necessitados, órfãos e viúvas, e prometendo-lhes o
5653 [Sefer HaMaamarim 5708, p. 272ff, (o maamar recitado melhor da terra em troca de sua obediência. “Se vossos pecados
tanto pelo Rebe Rashab quanto pelo Rebe Anterior em suas se mostrarem como o carmesim, eles se tornarão brancos como a
celebrações de bar-mitsvá]. neve; se eles se mostrarem vermelhos como a tinta carmesim,
eles se tornarão como a lã”. A Haftará conclui com uma promessa
10.Ver Tanya, cap. 4. de que D’us novamente estabelecerá os juízes e os líderes de
Israel, quando “Tzyión será redimida através da justiça e seus
11.Ver Shabos 92a, Nedarim 38a. Ver também o comentário da
penitentes através da justiça”.
Mishná (Sanhedrin 10:1), que descreve Moshê como “o mais
perfeito de toda a humanidade”. A primeira palavra da Haftará é “Chazon” (“A visão [de
Yeshayahu]”). O Shabat em que esta Haftará é lida, o Shabat
12.Ver Avos 1:1.
anterior a Tishá beAv é, assim, chamado de “Shabat Chazon”, o
“Shabat da Visão”. De acordo com a tradição chassídica, neste
13.Ver Tanya, Kuntres Acharon, p. 158a, Or HaTorá, Vayicrá, Vol.
Shabat, a alma de todo judeu é presenteada com uma “visão” do
II, p. 468ff.
Terceiro Templo Sagrado que será reconstruído com a chegada
14.Ver o oitavo dos Treze Princípios da Fé do Rambam do Mashiach.
(Comentários da Mishná, Sanhedrin 10:1).
Devarim e Shabat Chazon
15.Ver Shelo 402b.
A Parashat Devarim é sempre lida no Shabat Chazon
16.Devarim 30:12; cf. Bava Metzia 59b. (literalmente: “o Shabat da Visão”), o Shabat que antecede Tish’á
BeAv, o dia nove do mês judaico de Av. Como não há
17. Ver Likutei Sichot, Vol. VI, p. 117-118, que explica que o coincidências no judaísmo, tem de haver, portanto, alguma
número 5 reflete uma conexão com a essência de D’us. É ligação entre Parashat Devarim e o Shabat Chazon.
Devarim, o quinto livro da Torá, que expressa esta dimensão da
forma mais completa. O Chumash Devarim é singular por ser o único dos cinco livros da
Torá que foi transmitido por Moshê à geração dos judeus que
18. Isto também está relacionado à especial contribuição da estava prestes a entrar na Terra de Israel.
Chassidut Chabad. Chabad é um acrônimo das palavras
hebraicas que significam “sabedoria, entendimento e A geração dos judeus que vagaram pelo deserto é conhecida
conhecimento”. Como indicado, os ensinamentos de Chabad se como “a geração do conhecimento”. Por estarem num nível
esforçam para transmitir as profundas verdades místicas de nossa espiritual tão elevado, que chegava a ser proporcional ao de
Torá de uma forma que possa ser captada pelos mortais. Como o Moshê, puderam ter uma existência totalmente espiritual. A
Baal Shem Tov ensinou (ver a famosa carta enviada a seu geração que entrou em Israel, porém, iniciou um capítulo
cunhado Reb Gershon Kitover, publicada em Ben Poras Yosef), totalmente novo na história judaica. Por ter de ocupar-se com
quando as fontes destes ensinamentos se espalharem, Mashiach assuntos mais mundanos, seu nível espiritual é considerado
virá. Ver o ensaio intitulado “Bridging the Gap” (Timeless Patterns inferior ao da geração que a antecedeu. Apesar de tudo, foi
in Time, Vol. I, p. 101). justamente a geração que entrou em Israel que pôde realizar o
plano Divino.
19. Rambam, Mishneh Torah, Hilchos Melachim 12:5.
D’us quer que O sirvamos dentro do contexto do mundo material,
Shabat Chazon: O Shabat da Visão estabelecendo “uma morada” para Ele nos “mundos inferiores”.
Por isso, embora os judeus que entraram em Israel fossem
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inferiores, em termos espirituais, comparados a seus pais, tinham Isso também coincide com a parte mais triste do Calendário
certa vantagem sobre eles: os judeus que entraram em Israel Judaico. No décimo terceiro dia da jornada de 40 dias de Moshê
conseguiram alcançar um nível de “paz e segurança” que a no Monte Sinai, entramos no difícil mês de Av.
geração anterior não conseguiu.
Esse é o segundo segmento dos três períodos de 40 dias que
Shabat Devarim é, portanto, a junção de dois opostos. Por um Moshê passará na montanha, O primeiro período de 40 dias (6 de
lado, a entrada dos judeus em Israel foi uma descida muito Sivan-17 de Tamuz) é quando Moshê recebe e lhe é ensinada a
grande, pois significava contato diário com assuntos mundanos. Torá inteira. Ele então desce, descobre o bezerro de ouro, o
Por outro lado, foi justamente por meio dessa descida que destrói, quebra as Tábuas, e então retorna à montanha para o
puderam atingir o mais elevado dos picos: o cumprimento do segundo período de 40 dias (18 de Tamuz-29 de Av), implorando
plano de D’us. perdão a D'us. Sem ter sucesso, ele volta para um terceiro
período de 40 dias (30 de Av-10 de Tishrei) e dessa vez é bem-
O Shabat Chazon é, também, repleto de contrastes. É durante os sucedido, e desce triunfante em Yom Kipur com as Segundas
Nove Dias, uma época em que estamos de luto pela destruição do Tábuas nas mãos.
Bet Hamikdash. Mas ao mesmo tempo, como o famoso Rabi Levi
Yitschak de Berditchev explicou, no Shabat Chazon todo judeu Sabemos muito sobre o primeiro e o terceiro períodos de 40 dias.
tem uma visão do Terceiro Bet Hamikdash, uma construção que Ambos estão bem documentados na Torá. O primeiro – quando
será infinitamente superior aos dois Templos Sagrados que o Moshê reeebe a Torá; o último quando D'us mostra a Moshê
precederam. “Seus caminhos” e revela a ele os Treze Atributos Divinos de
Compaixão.
Portanto, o Shabat Chazon representa, como Devarim, o mesmo
tipo de descida que leva a uma subida. É justamente através da Em contraste, sabemos quase nada sobre o período intermediário
descida que causou a destruição do Templo que chegaremos ao de quarenta dias. Sabemos que são chamados dias de “ira”
mais elevado dos pináculos: o estabelecimento do Terceiro Bet (Seder Olam cap. 6. Rashi Devarim 10:10), porque D'us não é
Hamikdash por Mashiach, que seja imediatamente. receptivo às súplicas de Moshê (em contraste com o terceiro
período de 40 dias, que são chamados “dias de compaixão”,
Adaptado de Likutê Sichot, vol. II. (Traduzido de “L’Chaim quando D'us recebe bem as preces de Moshê).
Weekly”)
Como é comum, a curiosidade humana gravita para o
O Lado Escuro da Lua desconhecido e misterioso. O que aconteceu nesse período
intermediário de 40 dias? Como Moshê conseguiu encarar um
O Poder da Rejeição D'us “furioso” por 40 dias no total? O que ele disse e o que ouviu?
Acima de tudo, o que o fez insistir quando não estava recebendo
Para ver realmente do que alguém é feito, observe a pessoa em
qualquer resposta positiva? E como ele se aventurou a voltar pela
tempo de crise. Moshê está nas notícias esta semana.
terceira vez quando fora rejeitado por 40 longos dias e noites?
Na porção desta semana da Torá lemos: Devarim – “estas são as
O que é tão intrigante sobre isso é que é um verdadeiro caso a se
palavras que Moshê falou…” Este é o início do quinto livro da
estudar – talvez o supremo – sobre a resistência e confiança
Torá, que na sua totalidade documenta as palavras que Moshê
humanas. Quando se deparam com um desafio formidável, e o
disse ao povo nos últimos 37 dias de sua vida na terra.
sucesso parece impossível, de que as pessoas são capazes?
Sabendo que tinha pouco tempo de vida, Moshê revê todos os Quando devemos desistir e quando devemos persistir? E acima
eventos que os judeus tinham vivenciado no decorrer dos últimos de tudo, como seguimos em frente quando tudo ao nosso redor
40 anos, desde que deixaram o Egito. Ele discute o está desmoronando?
relacionamento que os judeus tinham estabelecido com D'us, as
Se Moshê tivesse conseguido receber o perdão de D'us com
instruções que D'us deu a eles, e os encoraja a cumprir esses
pouco ou nenhum esforço, não teríamos uma lição. Obviamente,
ensinamentos nas gerações futuras. No Livro de Devarim, Moshê
o grande Moshê tem o ouvido de D'us, portanto não é surpresa
na verdade está deixando ao povo seu testamento e sua última
que ele possa vencer qualquer porta. Mas e quanto a nós,
vontade.
pessoas comuns, – o que podemos realmente esperar conseguir
De fato, em suas palavras imortais (Devarim), Moshê nos deixa quando tudo parece perdido?
mensagens eternas que são especialmente apropriadas para esta
Isso traz à mente uma história, que pode ou não ser relevante
época do ano.
aqui [mas, uma boa história sempre é oportuna…].
Portanto não é coincidência que este período – quando lemos as
O Baal Shem Tov reuniu dez tsadikim para rezar por uma criança
palavras de Moshê no Livro de Devarim – coincida com a fase em
muito doente, mas foi em vão. Como último recurso, ele foi aos
que Moshê passou na montanha conversando com D'us.
arredores da cidade e reuniu dez ladrões e pediu-lhes que
Tempo, segundo o pensamento judaico, é um fluxo espiral de rezassem pela criança. As preces ajudaram, e a criança se
energia que anualmente repete sua órbita. Os eventos na história recuperou. Mais tarde, quando lhe perguntaram como as preces
são na verdade formas de energia-experiência que revivemos dos ladrões podiam conseguir aquilo que os tsadikim não
quando atingimos o mesmo ponto no tempo a cada ano. Portanto, puderam, o Baal Shem Tov respondeu com um sorriso: “Eu vi que
embora Moshê tivesse subido a montanha 40 anos antes de falar todos os portões do céu estavam selados, e eu precisava de
suas últimas palavras, neste tempo a ‘energia’ prevalecente é a alguém para arrombar…”
de Moshê e suas palavras.
Porém, Moshê não conseguiu facilmente romper os portões do
céu. Nesse período intermediário de 40 dias, todos os esforços
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dele não produziram os resultados que ele esperava. E mesmo encerramento de Hoshaná Rabá – todos nasceram da energia de
assim, é exatamente nessa rejeição que podemos aprender as Av.
mais profundas lições na vida.
É verdade que não estamos satisfeitos com esses 40 dias de “ira”
De fato, esta é a mensagem mais profunda do mês em que – nem Moshê ficou: o que queremos é ter compaixão em nossas
estamos entrando, Av. Na superfície, Av é o mês mais triste do vidas, e sentir conscientemente o triunfo da esperança que foi
ano, sendo o tempo em que trágicos eventos ocorreram na finalmente atingido em Yom Kipur. Porém, ao mesmo tempo, o
história, dos quais o maior é a destruição dos dois Templos sucesso tardio de Moshê foi determinado por como ele lidou mais
Sagrados em Jerusalém. Os Nove Dias (de 1 a 9 de Av) são cedo com a rejeição, melhor dizendo: como isso o deixou
tradicionalmente uma fase de luto, quando evitamos celebrações inabalável, e mais resoluto que nunca. O ditado afirma: há
e entretenimento. A tristeza se intensifica à medida que nos pessoas que são como saquinhos de chá. Você não sabe como
aproximamos de Tisha B’Av (9 de Av), até o nono dia, que é um são fortes até que as coloca na água quente. Quando você pensa
jejum de 25 horas, quando amortecemos as luzes e sentamos a respeito, não parece demais dizer que esse período de 40 dias
“shiva” – em luto pelos Templos destruídos. O que devemos fazer encerra o segredo da vida, o segredo de Moshê, o segredo da
nesses dias tristes? eternidade.

O Arizal nos diz que na angústia da tarde de Tisha B’Av, quando Sua maneira de lidar com crise, com rejeição, com fracasso, irá
as chamas estiverem consumindo o Templo, nasce o Mashiach. A determinar o quanto você será bem-sucedido no final. Pode-se
Redenção é concebida das cinzas da destruição. dizer que o sucesso na verdade nasce do fracasso. Algumas
pessoas ficam desmoralizadas e esmagadas quando fracassam.
Nas trevas mais profundas está a luz mais poderosa. No entanto, Outras pemitem que o insucesso as eduque e as motive, para
com a nossa limitada perspectiva, somente podemos ver uma embutir nelas uma força mais profunda, que lhes dá o poder para
dimensão por vez; ou vemos escuro ou vemos luz. Alguém com sair-se bem no futuro.
profunda visão e concentração muito forte pode ver a luz dentro
da escuridão. Moshê foi uma pessoa assim. Quando D'us o Sim, existem aqueles que veem este mês como Av – o mês mais
recusou durante o segundo período de 40 dias, Moshê não sentiu triste no calendário. Alguns até mesmo dominaram os métodos
rejeição; ele viu oportunidade. Onde outros viram “ira”, ele viu para prantear e lamentar. Porém, existem outros que veem o
desafio. Onde outros viam desesperança, ele viu potencial. Menachem (em) Av (o nome completo do mês) – eles veem o
conforto e o consolo dentro da tristeza.
Moshê teve essa visão porque tinha uma fé inabalável na
bondade essencial de D'us e absoluta confiança de que o bem Rabi Levi Yitschak de Berditchev nos diz que em Shabat Chazon
sempre iria prevalecer. Não havia a palavra “não” em seu (o Shabat anterior a Tisha B’Av) é mostrado a cada um de nós o
vocabulário, nem a palavra “impossível” ou “desesperança”. Terceiro Templo a distância, a fim de evocar em nós o desejo de
Armado com tamanha confiança, nada, absolutamente nada, ter o Templo conosco. Daí, o nome Shabat Chazon – o Shabat da
poderia abalar Moshê. Ele nem mesmo aceitou D'us dizendo-lhe Visão. Existem aqueles que têm a visão de Yeshayáhu, que
que seu pedido era impossível. Moshê era supremamente descreve a visão da destruição; e aqueles que veem o Terceiro
resoluto, persistente – absolutamente seguro de que sua causa Templo reconstruído. Temos o poder de escolher nossas visões.
era certa, e que aquilo que é certo irá triunfar. Por que você não seria um daqueles que veem o Menachem em
Av?
Rabi Akiva foi outro homem assim, quando riu enquanto olhava
para o Monte do Templo desolado. E também o Arizal, quando viu A Herança Eterna do Povo Judeu
a redenção em seus momentos mais sombrios.
Em Tor@mail - (Ensaio baseado num discurso falado pelo
Nossa visão pode não estar bem no nível dessas grandes almas. Rebe de Lubavitch em 4 Av 5740, 17 de julho de 1980)
Porém, somos abençoados com a capacidade de olhar para a
vida por intermédio dos olhos deles. Quando lemos as palavras Na Parashá desta semana, Devarim, Moshé se despede de sua
de Moshê, estamos essencialmente recebendo o dom de ver a nação apenas algumas semanas antes de sua morte, e narra as
vida pelos seus olhos. O mesmo com Rabi Akiva, o Arizal e outros experiências da jovem nação durante os quarenta anos de
desse calibre. jornada no deserto do Sinai, no caminho para a Terra Santa.

Pergunte a si mesmo: como você lida com a rejeição? Com Durante essa longa caminhada: desde o Egito até as margens
desapontamento, com sonhos esfacelados e promessas orientais do Rio Jordão, passando pela península do Sinai, os
quebradas? Como olhar para os momentos mais sombrios da forçou a passar por vários países vizinhos, todos antagonistas ao
vida, para as falhas e as perdas? povo de Israel. Moshé registra então as instruções que dá aos
Israelitas de como tratar esses países vizinhos. Suas palavras são
A jornada aparentemente mal-sucedida de Moshê ao Sinai nesses tanto chocantes como atordoantes; seu poder moral ecoa até os
dias na verdade foi muito bem-sucedida, na medida que nos dias de hoje.
permite ter um vislumbre sobre um homem de D'us sob pressão;
nos habilita com a capacidade de ver o processo, não apenas os “D’us disse a mim,” Moshé relembra, “Dê ao povo as seguintes
resultados. instruções: ‘Vocês estão passando pelas fronteiras de seus
irmãos, os descendentes de Essav, que moram em Seir-Edom
Acima de tudo: fez surgir a compaixão dos 40 dias seguintes, [Sudeste de Israel]. Embora eles temam vocês, vocês devem ser
culminando com Yom Kipur. O Shaloh escreve que Aryeh (a muito cuidadosos. Vocês não devem provocá-los, pois não lhes
mazal/sinal do mês de Av) é um acrônimo para Elul. Rosh darei nem uma porção de sua terra. Como herança para Essav já
Hashaná, Yom Kipur, Hoshaná Rabá. A compaixão de Elul; a lhes dei o Monte Seir...
renovação de Rosh Hashaná; o perdão de Yom Kipur; e o
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Vocês devem comprar comida deles pagando em dinheiro para perguntas: “Quem fundou a Palestina e quando? Quais eram suas
que tenham o que comer; e água também vocês devem comprar fronteiras? Qual era sua capital? Quais eram suas principais
pagando em dinheiro para ter o que beber.” cidades? Que tipo de governo tinha? Qual era o idioma desse
país? Qual era a religião principal? Qual era o nome de sua
moeda? Escolha qualquer época da história e diga quanto essa
moeda equivalia com relação ao dólar americano, marco alemão,
Além de Edom-Seir essa mesma cena se repete com o povo de yen japonês, yuan chinês etc. E, finalmente, já que não existe
Moav e Amon (descendentes de Lot). D’us nos proíbe de tomar esse país hoje, o que causou sua derrubada e quando isso
qualquer parte da terra de Moav e de Amon, assim como ordenou aconteceu?
em relação a Seir.
Na realidade, os palestinos são árabes normais, indiferenciáveis
Essas palavras pronunciadas há mais de 3 mil anos são dos jordanianos, sírios, libaneses, iraquianos, egípcios etc.
impressionantes. Quando o mundo ainda era um deserto moral,
uma sociedade pagã e bárbara, os judeus foram impedidos de O principal erro estratégico e diplomático israelense provém da
tomar mesmo um centímetro de terra dos territórios de Seir, Moav aceitação do pedido árabe por uma terra palestina. O mundo fica
e Amon. confuso: a posição árabe está clara para todos; a posição
israelense está coberta em mistério.
Por que a Torá, um livro mais de ensinamentos morais do que de
dados históricos, registra uma instrução aparentemente ‘Afinal de contas, eles acreditam que aquela terra pertence a eles
insignificante com relação ao encontro dos judeus com 3 países? ou não? Se acreditam, que parem de dizer que consentem a
Que relevância isso tem para nós hoje? criação de um estado palestino lá. E se não acreditam, porque
continuam lá?’ Quando falamos a verdade, devemos ser firmes e
A resposta é dramaticamente clara. A Torá está nos comunicando resolutos.
as circunstâncias ligadas à conquista e estabelecimento de nossa
terra, Erets Israel, para que quando as Nações Unidas, a Côrte Um Testamento de Amor
Internacional de Justiça, a Comunidade Europeia, os países
Árabes etc. decretarem Israel como um estado que ocupa terras "Estas são as palavras que Moshê falou a todos de Israel além do
árabes anexadas de outros países, o povo judeu possa abrir sua Rio Jordão, no deserto, em Aravat, em frente ao Suf, entre Paran
própria constituição, a Torá, e mostrar a mensagem inabalável de e Tofel, e Lavan e Chatzerot e Di-Zavah" (Devarim 1:1).
verdade moral:
Embora este versículo possa representar a abertura e introdução
“Ouçam bem, defensores da ‘moralidade e direitos humanos’! Não ao Sêfer Devarim, à primeira vista o versículo parece permeado
venham falar conosco sobre terra roubada. Numa época em que a de passagens problemáticas e expressões. O observador atento
maior parte das tribos e nações degolavam seus próprios filhos perceberá imediatamente que não apenas os judeus não foram
para deuses pagãos, onde pais praticavam infanticídio localizados no deserto, como o versículo parece sugerir (eles
regularmente, canibalismo era a dieta diária, e a maior parte das estavam na verdade nas planícies de Moav), mas em lugar algum
pessoas nem tinha ideia do que era certo ou errado – o povo da Torá encontramos menção a locais como Paran, Tofel e
judeu aprendeu que não deveria tocar no que não era seu. Lavan.

Não podiam colocar o pé num território que não fosse seu. O Rashi resolve o enigma com a explicação de que na realidade
mesmo D’us que os instruiu a não entrar em solo estrangeiro, lhes este versículo não tem intenção de informar-nos sobre a
concedeu a Terra de Israel – todo o território da Jordânia ao localização dos filhos de Israel. Ao contrário, estas frases são na
Mediterrâneo – como Seu presente para o povo judeu. Não é terra verdade alusões a fatos e servem como continuação da primeira
roubada; é a herança eterna do povo judeu!” metade do versículo. Dessa maneira, o versículo poderia na
verdade ser lido: "Estas são as palavras (de admoestação) que
Israel se tornou uma nação em 1313 AEC, 2000 anos antes do Moshê falou a todos de Israel," com o versículo continuando a
Islã. 40 anos depois, em 1273 AEC os judeus conquistaram a delinear os vários pecados cometidos pelos judeus no deserto,
terra de Israel e a dominaram por mil anos. Nesse tempo todo cada "lugar" referindo-se a um mal diferente.
Israel contou com a presença contínua de judeus nos últimos
3.300 anos. Chamar os israelenses de “ocupantes dos territórios Entretanto, deparamo-nos imediatamente com outra dificuldade:
da Margem Ocidental, Gaza e Jerusalém Oriental é como chamar por que deveria Moshê mascarar suas palavras de repreensão
os Franceses de ocupantes de Paris e Britânicos ocupantes de com um manto de disfarce? Por que não simplesmente vir direta e
Londres. claramente delinear os crimes do povo judeu?

O conflito atual entre Israel e os países árabes não tem Uma vez mais Rashi vem em nossa ajuda, explicando que Moshê
absolutamente nada a ver com qualquer ocupação. Em 1967, escolheu ocultar sua repreensão em pistas e alusões para não
quando não havia nenhuma colônia judia e nenhuma ocupação, arriscar-se a insultar ou ofender o próximo judeu. Se nos
cinco países Árabes – Jordânia, Síria, Egito, Iraque e Líbano se detivéssemos apenas um momento para refletir sobre as palavras
juntaram à Arábia Saudita e criaram um plano para aniquilar Israel de Rashi, poderíamos facilmente dispensá-las e seguir adiante.
e “jogar os judeus no mar”. Entretanto, o tempo empregado em mergulhar um pouco mais a
fundo na interpretação de Rashi vale a pena, pois ela revela ser
Yashiko Sagamori, um porta voz da “National Unity Coalition for um tesouro notável.
Israel”, colocou muito bem num artigo:
O Livro de Devarim representa a conquista final de Moshê como
“Se você tem certeza de que a Palestina, o país, tem algum líder dos filhos de Israel. Ele guiou os judeus através do deserto
passado na história registrada, você deve responder algumas por quarenta anos, agindo às vezes como pai e, em outras, como
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mediador e negociador. Cuidou de tudo. Agora chegou a hora de Na monotonia da vida diária, a certeza de ser parece eternamente
Moshê pronunciar suas palavras finais de admoestação e ilusória. Parte do problema está na maneira pela qual vivenciamos
encorajamento. É agora ou nunca; se os judeus não entenderem o tempo. Com freqüência, vivemos segundo as palavras de um
a mensagem desta vez, jamais o farão. adágio medieval: "O passado não é mais, o futuro ainda não é, e
o presente é um piscar de olhos." Nessa concepção, não temos
Certamente, poder-se-ia esperar que Moshê desejasse que suas uma âncora no fluxo torrencial do tempo. Todos os vestígios de
intenções ficassem tão claras quanto possível, a fim de não deixar uma identidade firme são varridos para longe. O presente fugaz
margem para mal-entendidos. Entretanto, encontramos está divorciado do passado e do futuro.
exatamente o oposto neste versículo, pois Moshê mascara sua
mensagem com um véu de alusões e referências enigmáticas. Uma maneira radicalmente diferente de vivenciar o tempo é
aquilo que chamo de "Tempo Pêssach" – um presente que
E por qual razão? Para não ofender e embaraçar o judeu, o que encerra tanto o passado como o futuro. Prisioneiros que estiveram
poderia levar à desunião entre o povo. Moshê está disposto a encarcerados durante décadas no gulag dizem que sua
correr o risco de que suas palavras finais de advertência possam capacidade de sentir a vida através do prisma de suas memórias
ser mal interpretadas ou aplicadas erroneamente, a fim de manter e sonhos foi uma âncora de esperança num presente intolerável.
a harmonia no acampamento de Israel. A demanda pela paz é tão Foi sua capacidade de viver em "Tempo Pêssach" que lhe deu a
grande que até mesmo supera a significativa mensagem de força para enfrentar uma realidade que lhes negava dignidade e
Moshê em seu discurso final. valor. Foi isso que lhes deu esperança.

Na verdade, encontramos a mesma idéia nas palavras de nossos A memória é a essência da esperança: este é o significado
sábios a respeito do reino de Achav, um dos reis mais perversos profundo do ensinamento de Rabi Nachman de Breslav, que
que Israel teve. O Talmud (Tratado Yerushalmi Pe'ah) ensina que quando um judeu acorda pela manhã, deve lembrar-se do mundo
embora a prática de idolatria tenha engolfado praticamente toda a como poderia ser – como será um dia. Como escreve Gabriel
população judaica em Israel na época, mesmo assim os exércitos Marcel – "A esperança é a memória do futuro." Em resposta à
de Achav foram capazes de derrotar seus inimigos na guerra. Por pergunta de "Quem sou eu?" o ser humano responde: "Sou minha
quê? Por causa da unidade e harmonia que reinava entre os memória e meus sonhos; sou minha história e minha esperança.
judeus, que suplantou mesmo o grave pecado da idolatria. Tanto o passado quanto o futuro vivem no presente e informam
minha identidade interior. Sou a soma de minhas memórias do
A mensagem é clara – a necessidade de paz e solidariedade passado e do futuro. Eles dão à minha vida seu semblante,
entre o povo judeu é da maior importância. Mesmo a última caráter e forma únicos."
vontade e testamento de Moshê, ou o mal da idolatria, não podem
minar a importância da unidade. Embora devamos estar sempre Sob o ponto de vista judaico, a memória individual não está
cientes desta realidade, o período no qual nos encontramos agora sozinha. Ela se funde com a memória do povo, à medida que o
clama para que tenhamos mais atenção ainda com o assunto. coletivo e o pessoal se juntam. A identidade de um judeu é
formada pela simbiose da história de sua pessoa e a história de
Este intervalo entre Shivah Asar B'Tammuz e Tishah B'Av, seu povo.
conhecido simplesmente como "Três Semanas", comemora os
acontecimentos que culminaram com e incluíram a real destruição Em contraste com o judeu está Amalêc – um povo sem memória.
dos dois Templos Sagrados em Tishav B'Av. O Talmud (Tratado Esta concepção sublinha o ensinamento cabalista de que Amalêc
Yoma 9b) ensina que a destruição do Segundo Templo foi é igual a safec (incerteza).
provocada pelo mal do ódio injustificado para com outros. Foi a
falha dos judeus daquela época em reconhecer a importância de Analise este exemplo histórico: Os Filhos de Israel deixaram o
respeitar e honrar as necessidades do irmão judeu que levou à Egito. Enquanto viajam pelo deserto, "as nações estremecem".
infortunada destruição do Templo. Ainda está fresca na memória a impressionante exibição do poder
Divino que caracterizou o Êxodo. Não é para menos que todas as
Cabe a nós retificar esta omissão, levando a sério a importante nações tenham evitado atacar Israel. Somente um país ataca:
lição oculta nas palavras de Rashi na porção desta semana da Amalêc. Por quê? Porque Amalêc não tem memória, vive numa
Torá. Pois assim como o Templo foi destruído por causa de ódio realidade afastada do passado e do futuro.
não justificado, assim também será reconstruído pela bondade
não justificada. É por este motivo que Amalêc é o símbolo bíblico do mal. Para os
Gregos, o mal se origina na falta de conhecimento. Platão
O Presente da Identidade escreveu que a virtude é conhecimento, e a ignorância é a fonte
do mal. Para os judeus, no entanto, a fonte primária do mal é a
Por Rabi Mordechai Gafni perda da memória, não a falta de conhecimento.
Apropriadamente, Amalêc – o símbolo do mal nas fontes judaicas
O Sêder é uma noite mística, mágica.
– é a pessoa ou o povo sem memória.
Porém é muito mais que isso. É a noite em que os pais dão aos
Uma das modernas encarnações de Amalêc foi o movimento
filhos o presente da identidade. Através desse rito de passagem,
nazista. Elie Wiesel tentou capturar a essência daquilo que o
os pais transmitem ao filho uma certeza intrínseca sobre seu lugar
nazista disse ao judeu em seu discurso de aceitação do Prêmio
no mundo. A criança aprende que é infinitamente valiosa e digna;
Nobel.
entende intuitivamente que sua existência no mundo como judeu
tem um significado e um propósito. "’Esqueça. Esqueça de onde veio, esqueça quem você foi.
Somente o presente importa.’" Os nazistas não apenas queriam
Como esta poderosa "certeza de ser" emerge de uma refeição
matar os judeus, como queriam também destruir sua certeza de
festiva que celebra um antigo acontecimento histórico?

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identidade. Portanto, esse foi o método nazista: a destruição da Este povo não apenas é de impressionante antiguidade como
memória. também tem perdurado por um tempo singularmente longo… Pois
enquanto os povos da Grécia e Itália, de Esparta, Atenas, Roma e
Não é surpresa que a principal atividade intelectual dos outros que surgiram muito depois pereceram há tanto tempo, este
simpatizantes contemporâneos do Nazismo seja o revisionismo ainda existe, apesar dos esforços de tantos reis poderosos que
histórico, ou a negação do Holocausto. Revisar a história é tentaram uma centena de vezes acabar com ele, como seus
destruir a memória, o que equivale a assassinar mais uma vez. A historiadores atestam, e como pode ser facilmente julgado pela
redenção segundo o modelo bíblico depende da erradicação de ordem natural das coisas no decorrer de tantos anos. Eles sempre
Amalêc. A redenção é a recuperação da memória. Assim, é foram preservados, no entanto, e sua preservação foi prevista…
correto que a resposta judaica a Amalêc seja: "Lembra-te do que Meu encontro com esse povo me surpreende…"1
Amalêc fez quando tu deixaste o Egito."
Este é um tributo comovente, mas exige explicações.
O Sêder de Pêssach é uma refeição da memória. Lembramo-nos
e nos identificamos com a certeza que o povo de Israel sentiu na A Ciência da Sobrevivência
infância de sua nação. Os 40 anos no deserto são a "primeira
infância" de Israel. D’us age no papel de um pai amoroso, Talvez possamos encontrar nossa resposta nos grandes
concedendo a seus filhos o alimento (maná) e proteção contra o pensadores empíricos de nosso tempo, os cientistas. Eles nos
mal. Nós recordamos o amor incondicional que D’us tem por nós. dizem que quando um cientista procura determinar as leis que
No decorrer de toda a incerteza dos anos subseqüentes, é o governam um determinado fenômeno, ou descobrir as
poder deste amor incondicional que nos sustenta. propriedades essenciais de um elemento da natureza, deve fazer
uma série de experimentos sob as mais variadas condições para
Terminamos o Sêder com um sonho para o futuro. No próximo descobrir aquelas propriedades ou leis sob as quais todas as
ano em Jerusalém. Não apenas Jerusalém, a cidade física, mas condições são as mesmas.
Jerusalém, o símbolo de um amanhã melhor. No Sêder de
Pêssach, damos aos nossos filhos a promessa de um sonho e o O mesmo princípio poderia ser aplicado à sobrevivência judaica.
mais doce de todos os presentes: o dom da memória. É um dos povos mais antigos do mundo, começando sua história
nacional com a revelação no Sinai há mais de três mil anos. No
A Ciência da Sobrevivência Judaica decorrer desses séculos, os judeus viveram sob condições
extremamente variadas. Foram dispersos pelo mundo. Tiveram
Por Dov Greenberg múltiplos idiomas, possuíram uma diversidade de culturas. Por
exemplo, Rashi viveu na França cristã. Maimônides nasceu na
Há mais de três mil anos, um grupo de escravos judeus foram Espanha islâmica. Rabi Akiva viveu sob o governo romano; os
libertados do Egito. Desde então, nessa época do ano, revivemos sábios talmúdicos sob a hegemonia babilônica. Suas sociedades
sua história em Pêssach, a Festa da Liberdade. foram totalmente diferentes. Tudo que os ligava no espaço e
tempo eram uma fé, o estilo de vida de Torá.
Imagine que pudéssemos viajar de volta no tempo e dizer ao
Faraó: "Temos boas e más notícias. A boa é que um dos povos Nenhum outro povo sobreviveu durante tanto tempo sob tais
que estão vivos hoje sobreviverá e mudará a paisagem moral do circunstâncias. Se quisermos descobrir os elementos essenciais
mundo. A má notícia é: não será o seu povo. Será aquele grupo que formam a causa e a própria base da existência de nosso povo
ali de escravos hebreus, que estão construindo seus gloriosos e sua força singular, devemos concluir que não foi sua terra,
templos, os Filhos de Israel." idioma, cultura, predisposição racial ou herança genética. O único
fator constante que preservou nosso povo durante todas as
Nada poderia ser mais ultrajante. O Egito do tempo dos faraós era
vicissitudes é o tenaz apego ao nosso legado espiritual.
o maior império do mundo antigo, brilhante em artes e ciências,
formidável na guerra. Os israelitas eram um povo sem terra, Foi isso que tornou nosso povo indestrutível apesar de milênios
escravos indefesos. De fato, já na antiguidade, aqueles no poder de investidas contra o corpo e alma judaicos por bandidos e
acreditavam que os israelitas estavam em vias de extinção. A monstros de todas as espécies.
primeira referência a Israel fora da Bíblia é um obituário do povo
judeu. Está inscrito numa pedra grande de granito, que hoje se O que a História Judaica nos diz é que a força do nosso povo
encontra no Museu do Cairo: Ali diz: "Israel acabou. Sua semente como um todo, e de cada indivíduo, está num compromisso fiel à
não existe mais." nossa herança espiritual, a base e essência de nossa existência.

A história da sobrevivência judaica é tão excepcional, vasta e sem O peixe e a raposa


paralelos que desafia a imaginação. Em nosso próprio século, as
duas grandes potências que anunciaram: "Israel acabou" – o Ninguém expressou isso melhor que Rabi Akiva, o grande sábio
Terceiro Reich de Hitler e a União Soviética – foram esmagados e do Segundo Século. O Talmud relata como Rabi Akiva ensinava
desmantelados. Porém o povo de Israel vive. Torá em público na época em que o governo romano, sob o
Imperador Adriano, proibiu essa atividade. Outro sábio, Pappus
Muitos pensadores e cientistas sociais tentaram, e ainda estão ben Judah, advertiu-o de que estava arriscando a própria vida.
tentando, entender a sobrevivência de um povo, uma fé e um Rabi Akiva respondeu com a seguinte parábola:
legado durante três milênios de condições históricas praticamente
impossíveis. Blaise Pascal, o notável pensador, matemático, Uma raposa certa vez caminhava pela margem de um rio, quando
teólogo, físico francês do Século Dezessete, escreveu: viu peixes pulando de um local para outro. "Por que estão
fugindo?" perguntou ela aos peixes. "Para escapar das redes do
"Em algumas partes do mundo podemos ver um povo peculiar, pescador." “Neste caso", disse a raposa, "venham viver na terra
separado dos outros povos do mundo, chamado de povo judeu… seca junto comigo."
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"Você é aquele que descrevem como o mais esperto dos "Tu nos escolheste dentre as nações" (Sidur). Os judeus são
animais?" disse o peixe. "Você não é esperta, mas tola. Se chamados de "Povo Escolhido". Muitos judeus se perguntam:
estamos em perigo dentro da água, que é onde vivemos, imagine "para que missão eu fui escolhido?"
em terra seca, onde certamente morreremos."2
A resposta está na passagem da Torá (Shemot 19:3-6), na qual
A Torá é para a sobrevivência judaica, disse Rabi Akiva, como a D’us se dirige a Moshê logo depois de Sua revelação no Sinai:
água para o peixe. Sim, estamos em perigo, mas se deixarmos a
Torá, que sustenta nossa identidade, para entrarmos na terra Moshê subiu até D’us, e D’us o chamou da montanha, dizendo:
seca dos Romanos, certamente morreremos. "Assim dirás à Casa de Yaacov, e relata aos Filhos de Israel:
‘Vocês viram o que Eu fiz ao Egito, e que Eu os conduzi nas asas
Esta não era meramente a convicção pessoal de um certo Rabi de águias e os trouxe para Mim. E agora, se Me ouvirem e
Akiva. É a própria história de Pêssach. Deixar o Egito foi apenas o cumprirem o Meu pacto serão para mim um reino de sacerdotes e
início da liberdade, não o fim. uma nação sagrada.’ Estas são as palavras que deves falar aos
Filhos de Israel."
Mas o que seria Pêssach sem sua conexão íntima com Shavuot?
O que seria a liberdade israelita sem a Revelação no Sinai? 3 O propósito do judeu é levar D’us ao mundo e aproximar o mundo
Imagine a Bíblia como a narrativa de um mero grupo cultural ou de D’us.
étnico. Leríamos sobre a escravidão dos israelitas no Egito.
Continuaríamos a ler com entusiasmo sobre como eles Estas palavras encerram o motivo pelo qual D’us "escolheu" os
conquistaram sua liberdade e foram levados a uma terra própria. judeus; ou seja, para serem um "reino de sacerdotes e uma nação
Depois leríamos sobre como eles se mesclaram à paisagem ao sagrada".
redor, casaram-se com canaanitas, jebusitas e os outros povos do
antigo Oriente Próximo, e se evaporaram com o tempo, A referência feita a sacerdotes não se refere aos Cohanim,
irrevogavelmente. sacerdotes descendentes de Aharon o Sumo Sacerdote, pois
obviamente todo Israel não é constituído de sacerdotes naquele
Sobrevivemos porque levamos a Torá conosco até Israel. Somos sentido. Ao contrário, a referência aqui é à "função sacerdotal". A
quem somos por causa de uma fé importante, fé que se provou função sacerdotal é "levar" D’us ao povo, e elevar o povo para
mais forte que os maiores impérios da história. ficar mais perto de D’us. O propósito do judeu é levar D’us ao
mundo e aproximar o mundo de D’us.
O Antigo Egito e Roma construíram grandes monumentos para
sobreviverem aos ventos e às areias do tempo. Aquilo que eles Em nossa associação com o mundo exterior cada um de nós –
construíram está de pé e em alguns aspectos jamais foi superado. homem ou mulher – deve cumprir funções sacerdotais. A
Porém somente a arquitetura permanece, não a civilização que justaposição de um "reino de sacerdotes" e uma "nação sagrada"
uma vez lhes deu vida. indica que sendo sagrados e dedicados à Torá e mitsvot em
nossa vida privada, podemos ser embaixadores bem-sucedidos
O Antigo Israel se tornou construtor, também, mas não de para o mundo exterior. Nosso impacto sobre o mundo exterior
monumentos em pedra. Em vez disso eles foram chamados ao está relacionado com nossa dedicação à Torá e mitsvot. Esta
Sinai para construírem um mundo de justiça, digno de ser a "função sacerdotal" foi chamada pelo profeta Yeshayáhu de "uma
morada da Divina Presença. Suas pedras seriam suas ações luz entre as nações".
sagradas, e sua argamassa o estudo de Torá e compaixão. Ao
ensinar os israelitas que o Arquiteto desse mundo é D'us, os Onde quer que os judeus se encontrem, na Diáspora ou na Terra
construtores são todos que desejam se tornar Seus "parceiros na de Israel, até um único judeu num canto remoto da terra, cabe a
obra da criação". Moshê transformou um grupo de escravos num todo judeu e a toda comunidade judaica lembrar que é uma parte,
povo eterno. e um representante, de todo o povo judeu, e portanto encarregado
desta tarefa. Mesmo quando se encontram na galut (exílio),
Notas: somente o corpo judaico está no exílio. A alma judaica nunca é
exilada e está isenta de qualquer subjugação externa.
1 - Pascal, "Pensees". Conseqüentemente, embora no exílio, os judeus não devem
ignorar sua tarefa, nem subestimar sua capacidade, não importa
2 - Talmud, Berachot 61b. quão limitados possam ser os seus poderes materiais.

3 - Perante o Faraó, Moshê não exigiu simplesmente em nome de A extensão do dever da pessoa está na proporção direta à sua
D'us: "Deixa Meu povo ir", mas "Deixa Meu povo ir; para que eles posição na vida. É maior no caso de um indivíduo que ocupa uma
Me sirvam. (Shemot 7:16). veja também Sefer HaChinuch (Mitsvá posição de certa proeminência que lhe dá oportunidade de
306), que a razão de ser do Êxodo foi entrar num pacto com D'us exercer influência sobre outros, especialmente os jovens. Estas
que é nossa força de apoio. Então, Shavuot é a única festa que pessoas devem valorizar a responsabilidade que a Divina
não tem data marcada no calendário. A Torá o designa como o Providência investiu nelas para divulgar a luz da Torá e combater
50º dia após Pêssach. Como Shavuot é o complemento de as trevas, seja qual for a forma que ela se apresente.
Pêssach, o propósito do Êxodo foi concretizado somente no dia
em que ficamos no Sinai. A alma judaica nunca é exilada e está isenta de qualquer
subjugação externa.
Uma Missão Especial
Que ninguém pense: "Quem sou eu, o que sou eu, para ter
Por Jay Litvin tamanha influência?" Pois já vimos – para nossa consternação – o
que mesmo uma pequena quantidade de matéria pode fazer em
termos de destruição através da liberação da energia atômica. Se
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tamanho poder está oculto numa pequena quantidade de matéria O que quer que você seja, sempre é e será um judeu.
para destruição – contrariando o desígnio e o propósito da criação
– muito maior é o poder criativo confiado a todo indivíduo para Homem ou mulher, jovem ou adulto, empresário, estudante,
trabalhar em harmonia com o Divino propósito. Neste caso, a ecologista, você pode ser o que quiser, lembrando sempre que
pessoa recebe capacidades especiais e oportunidades além disso você é judeu. Mesmo que queira deletar, existe
concedidas pela Divina Providência, para atingir a meta para a sempre alguém que irá lhe lembrar.
qual foi criada; a concretização de um mundo no qual "Cada
criatura reconhecerá que Tu a criaste, e cada alma declarará: O que é que o faz ser um judeu?
‘D’us, o D’us de Israel, é Rei, e Seu reinado é supremo sobre
Será que a pronúncia do seu nome ou sobrenome soando
tudo’" (Preces de Rosh Hashaná).
judaico faz de você um judeu? Ou por que gosta de varenikes e
Foi dada ao povo judeu a diretiva: "Não pela força ou pelo poder, outros pratos tradicionais que o torna judeu? Ou talvez são seus
mas pelo Meu espírito, diz D’us." Para o povo judeu e a traços físicos?
comunidade judaica (até para o judeu como indivíduo),
Obviamente, nada disto. Há mais de 3300 anos, nossos
capacidades Divinas especiais foram concedidas para cumprir
ancestrais foram escravizados pelos faraós no Egito. Seis milhões
sua tarefa da maneira mais completa possível. Pois, seus poderes
de nossos irmãos judeus foram massacrados pelos nazistas.
físicos estão conectados, e subordinados, aos seus poderes
Houveram os gregos, romanos, inquisidores, cruzados e
especiais, que são infinitos.
cossacos, para mencionar e se você vivesse em qualquer um
Um exemplo histórico disso é encontrado no tempo do Rei destes períodos, teria se tornado uma das vítimas, só porque é
Shelomô, Salomão, quando o povo judeu se destacou entre as judeu. Por que?
nações do mundo por ter atingido o mais alto grau de sua
Estude História. Quantas civilizações floresceram e
perfeição. Nossos Sábios, referindo-se a esse estado, o
desapareceram; quantos impérios se ergueram e caíram. E no
descrevem como "a lua em sua plenitude", pois, como se sabe, o
entanto, os judeus, embora perseguidos e exilados de país em
povo judeu é comparado à luz, e eles "contam" seu tempo (meses
país, sobreviveram, prosperaram e sempre contribuiram para a
do calendário) pela lua.
cultura e a economia de seus anfitriões através de seu padrão de
Uma das explicações para isso é que, assim como a lua passa conduta e moral, sua contribuição intellectual em todos os
por mudanças periódicas em sua aparência, segundo sua posição camposmudando os padrões científicos e políticos do mundo
em relação ao sol cuja luz ela reflete, também o povo judeu passa civilizado. Que elevado poder é este que o judaísmo possui que
por mudanças segundo a medida da luz de D’us que refletem, possa explicar tamanho vigor e tanta durabilidade?
pois está escrito: "Pois D’us Elo-kim é sol e escudo."
Significa fé em D’us e em sua Torá.
Esta perfeição no tempo do Rei Shelomô (sem considerar o fato
Esta é a base e a resposta do que é ser judeu; uma identidade
de que, mesmo então, os judeus constituíam numérica e
distinta e força extraordinária. Dessa fé fluíram: amor pela criação
fisicamente "a menor de todas as nações" expressou-se de
de D’us e pelas Suas criaturas; dedicação aos Mandamentos da
maneira bem distinta nas relações entre o povo judeu e os outros
Torá; glorificação do espiritual sobre o material; veneração ao
países do mundo. A reputação da sabedoria do Rei Shelomô
passado e esperança no futuro; e acima de tudo amor ao estudo
despertou um forte desejo entre reis e líderes de irem até ele,
da Torá e sua prática. A rica herança do judaísmo enobreceu a
observar sua conduta e aprender com sua sabedoria – a
existência de milhões de judeus possibilitando preservarem a sua
sabedoria pela qual ele rezara e recebera de D’us – permeada
identidade por muitas gerações. Aos jovens que enfrentavam a
com santidade.
vida e aos velhos que enfrentavam a morte, ofereceu propósitos e
E quando eles foram também viram como, sob a sua liderança, o significados num mundo que era muitas vezes caótico e confuso,
povo vivia, até na vida material, "com segurança, todo homem em não muito distante ou diferente do que vemos hoje.
sua vinha e sob sua fogueira", numa terra onde "os olhos de D’us,
O judaísmo genuino continua a inspirar cada judeu de volta ao
seu D’us, estão constantemente sobre ela, do início ao final do
seu legado. Atualmente todos estão procurando por sua
ano." E foi isso que levou a paz entre os judeus e todas as outras
verdadeira identidade, valor próprio e significativo, tanto na vida
nações.
como na morte. Temos ttudo isto! Está tudo ao alcance. Temos
Assim, fica claramente demonstrado que quando os judeus vivem dúvidas, muitas perguntas? Existem respostas. Para encontrá-las
segundo a Torá, atingem a verdadeira paz, e servem como uma é preciso construir pontes, experimentar na prática e estudar, não
luz guia para as nações – "as nações seguirão pela sua luz" – a apenas assistindo a uma conferência de uma hora
luz da Torá e mitsvot. esporadicamente, mas estabelecendo um dia, uma hora diária ou
seminal para dedicar-se a esta busca. Ser judeu é fascinante…
A missão do judeu e da comunidade judaica não está limitada ao Descubra você mesmo!
tempo em que estão como "lua cheia", mas também quando no
exílio, "espalhados e dispersos entre as nações". O Que Torna um Judeu “Judaico”?

Tornar-se um povo sagrado aos olhos de D’us não é um título Por Yanki Tauber, baseado nos ensinamentos do Rebe
ganho em um sorteio ou concurso, mas na dedicação de anular-
Pergunta:
se para cumprir a Sua vontade e tornar-se responsável e apto a
levar seu papel adiante neste mundo e em todas as gerações. O Judaísmo é uma “religião”? O termo “judeu não-religioso” é uma
contradição? Pode alguém ainda ser judeu sem observar os
Judeu, Quem é Você?
editos e ética da Torá na vida cotidiana?

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Resposta: Na verdade, a palavra hebraica mitsvá significa tanto
“mandamento” quando “conexão”. O relacionamento entre os dois
Os judeus desafiam todas as definições de “povo” ou “nação”. significados da palavra pode também ser entendido em dois
Carecemos de uma raça, cultura ou experiência histórica em níveis. No nível comportamental, nos conectamos a D'us através
comum. Embora todos compartilhemos nossos direitos eternos à de nosso cumprimento de Seus mandamentos. Num nível mais
Terra de Israel, durante todos, exceto alguns poucos séculos dos profundo, estamos inexoravelmente conectados a Ele em virtude
últimos 4.000 anos a esmagadora maioria dos judeus não viveu do fato de que Ele nos escolheu como objeto de Seus
ou sequer colocou o pé no país judaico. mandamentos. Obviamente, estes dois níveis de conexão são
dois lados da mesma moeda, cada um sendo a mesma verdade:
No decorrer de nossos 3.300 anos de história, o que nos tem nossa observância das mitsvot é a manifestação, em nossa vida
definido como judeus é um relacionamento e compromisso. diária, de nosso vínculo intrínseco entre D'us e Israel.
Somos judeus porque D'us nos escolheu para sermos Seu
“tesouro querido entre todas as nações… um reino de sacerdotes O Elo Com Seis Dimensões
e um povo sagrado” (Shemot 19:5-6). Somos judeus porque D'us
nos escolheu para desempenharmos o papel principal na O Zohar, a obra básica da Cabalá, expressa este conceito da
implementação de Seu objetivo na criação: orientar nossas vidas seguinte maneira:
de acordo com Sua vontade, e desenvolver uma sociedade que
reflete Sua bondade e perfeição. Há três conexões (kishrin) que são ligadas entre si: D'us, a Torá e
Israel – cada qual consistindo de um nível sobre um nível, oculto e
A substância desse relacionamento, o rumo desse compromisso, revelado. Há o aspecto oculto de D'us, e o aspecto revelado; a
é a Torá. A Torá é o conceito de D'us da realidade comunicada ao Torá, também, tem um aspecto revelado e um oculto; e o mesmo
homem, o projeto que descreve o mundo aperfeiçoado visualizado ocorre com Israel, que também tem aspectos revelado e oculto.
pelo Criador e detalha a maneira pela qual o Inventor da Vida
deseja que seja vivida. O Zohar prossegue e descreve a maneira pela qual a Torá serve
como o elo entre D'us e Israel: como a Torá é uma com seu
Isso poderia parecer definir nosso Judaísmo como uma “religião”; Divino Autor, e como o povo judeu se conecta à Torá através de
somos judeus porque aderimos às crenças e práticas ordenadas estudo e observância de seus ensinamentos.
pela Torá. Porém a própria Torá diz que não é assim.
Mas quais são os elementos “ocultos” e “revelados” de D'us, da
A Torá proclama (Vayicrá 16:16) que D'us “habita entre eles em Torá e de Israel? E qual é sua relevância à nossa conexão com
meio às suas impurezas” – que Seu relacionamento com Seu D'us através de Sua Torá?
povo permanece incólume apesar do comportamento deles. Nas
palavras do Talmud (Sanhedrin 44a): “Um judeu, embora tenha O Zohar diz que essas três “conexões” estão interligadas em dois
transgredido, é um judeu.” níveis, tanto no plano “oculto” quando no “revelado”. Pois cada um
dos três elos interconectados possui tanto uma dimensão explícita
Segundo a Lei da Torá, o Judaísmo de uma pessoa não é uma quanto uma implícita.
questão de estilo de vida ou auto-percepção: a pessoa pode estar
totalmente não cônscia do próprio Judaísmo e ainda ser um Existe o assim chamado aspecto “revelado” de D'us – aquelas
judeu, ou pode considerar-se judeu, observar todos os preceitos expressões de Sua realidade que Ele escolhe manifestar na
da Torá e ainda assim não ser um judeu. existência criada; e há Sua essência “oculta, incognoscível. O
judeu, também, tem seu ser revelado e manifesto – a maneira
Em outras palavras, é o relacionamento entre o judeu e seu pela qual ele se expressa através de seu comportamento, e seu
Criador que define seu Judaísmo – não seu reconhecimento da ser oculto, quintessencial. E a Torá, como foi delineado acima,
relação ou sua percepção dela na vida diária. Não é o tem tanto um significado mais pronunciado quanto um mais
cumprimento das mitsvot (mandamentos Divinos) que faz dele um implícito como o elo que conecta D'us e Israel.
judeu, mas o compromisso que essas mitsvot representam.
No plano “oculto”, a alma do judeu é ligada à própria essência de
A Essência de uma Transgressão D'us através do relacionamento subjacente e o compromisso que
a Torá representa. Mesmo se a vida do judeu, no nível
Este é o significado mais profundo do axioma “Um judeu, embora comportamental consciente, for inconsistente com a vontade
tenha transgredido, é um judeu.” revelada do Todo Poderoso, ele não é “menos” judeu, D'us não o
permita; seja como for, o vínculo intrínseco que define seu
O simples significado dessas palavras é que um judeu ainda é um Judaísmo não é afetado. Porém para expressar esse
judeu apesar de suas transgressões. Um não-judeu que come relacionamento em todos os níveis de seu ser, a fim de alinhar
chamets (pão fermentado) em Pêssach nada fez de errado; da sua vida com a sua essência, o judeu deve reiterar a conexão no
mesma forma, se comer matsá na noite do Seder isso não tem nível “revelado”. Ele/ela faz isso estudando a Torá de D'us e
importância moral ou espiritual. Porém para um judeu, as mitsvot cumprindo suas mitsvot.
de Pêssach são um componente de seu relacionamento com
D'us: ao observá-las, ele está percebendo este relacionamento e A Terceira Junção
estendendo-o à sua vida diária; se ele as violar, D'us não o
permita, ele está transgredindo – está agindo de modo contrário Há, no entanto, um significado ainda mais profundo nas palavras
ao compromisso que define sua identidade. Assim, de certo do Zohar.
modo, o fato da transgressão de um judeu é não menos uma
expressão (embora negativa) de seu relacionamento com D'us A passagem acima citada fala de “três conexões que estão
que seu cumprimento de uma mitsvá. ligadas entre si”. A palavra aramaica traduzida aqui como
“conexões” é kishrin, que literalmente significa “nós”.

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À primeira vista, este parece ser um uso pouco acurado. Se a contato com o seu ser quintessencial e faz seu vínculo intrínseco
Torá é o elo entre D'us e Israel, então o que temos são três com seu Criador uma realidade em sua vida diária.
entidades (D'us, Torá e Israel) ligadas através de duas conexões
(a conexão de Israel à Torá e a conexão da Torá com o Todo Uma Terra Santa
Poderoso). Onde temos três nós/conexões?
E D'us revelou-se a Avraham, dizendo: "Darei esta terra a teus
Isso nos leva a uma segunda definição das dimensões “oculta” e descendentes." (Bereshit 13:15)
“revelada” do relacionamento entre D'us e Israel. O Midrash
declara: "E [D'us] disse a ele: 'Eu sou D'us, que te tirou de Ur Casdim para
te dar esta terra como herança.'" (Bereshit 15:7)
Duas coisas precederam a criação do mundo feita por D'us: Torá
e Israel. Apesar disso, eu não sei qual precedeu qual. Porém No ano 2488 da Criação (1272 AEC), Yehoshua liderou a marcha
quando a Torá declara “Fala com os Filhos de Israel…” , “Ordena dos exércitos de Israel, 600.000 homens fortes, para cruzar o Rio
aos Filhos de Israel…” e assim por diante, eu sei que Israel Jordão e conquistar a terra que D'us tinha prometido a Avraham.
precedeu tudo1
Numa série de batalhas que se prolongaram por sete anos, os
NOTAS israelitas derrotaram os exércitos dos trinta e um reis de Canaã.
Yehoshua então dividiu a terra entre as doze tribos de Israel, e
1.Tana D'vei Eliyahu Rabba, cap. 141 cada tribo iniciou a colonização do lote que lhe fora designado.
Porém permaneceram alguns bolsões de resistência, e o
1.Em outras palavras, D'us criou o mundo para que Israel processo de conquista e colonização da Terra Santa foi
pudesse implementar Seu plano Divino para a existência, completado somente quatrocentos anos mais tarde pelo Rei
conforme delineado na Torá. Portanto os conceitos de “Israel” e David, que derrotou os filisteus e conquistou a cidade de
“Torá” ambos precedem o conceito de um “mundo” na “mente” do Jerusalém dos jebusitas.
Criador.
Com o filho de David, Salomão, tiveram início os quatro séculos
Porém qual é a ideia mais profundamente enraizada dentro da da soberania judaica na Terra Santa - um período que se
consciência Divina, Torá ou Israel? Israel existe para que a Torá sobrepôs à Era do Primeiro Templo, quando o primeiro Templo
seja implementada, ou a Torá existe para servir ao judeu no Sagrado estava erguido em Jerusalém. Mas em 3205 (555 AEC),
cumprimento de sua missão e na expressão de seu o reino setentrional de Israel1 foi conquistado por Shalmaneser,
relacionamento com D'us? Se a Torá descreve a si mesma como rei da Assíria, e as dez tribos que lá viviam foram exiladas. Um
uma comunicação com Israel – o Midrash assim diz – isso século depois, o reino meridional da Judéia foi conquistado por
presume o conceito de “Israel” como anterior àquele da “Torá”. Nabucodonosor, rei da Babilônia, e também ficou sob domínio
estrangeiro. Em 3338 (422 AEC) Nabucodonosor destruiu o
Isso significa que o relacionamento com Israel “pré-data” a Torá Templo Sagrado em Jerusalém, e praticamente todo o povo judeu
(no sentido conceitual), pois a Torá vem para servir àquele foi exilado de sua terra.
relacionamento. Neste sentido,, Israel é o “elo” entre a Torá e
D'us: a existência da Torá como incorporação da Divna sabedoria O Retorno
e vontade é um resultado da existência de Israel e sua conexão
com D'us. O povo judeu voltou à Terra Santa após um exílio de 70 anos na
Babilônia. Liderados por Ezra e Nechemya, reconstruíram o
Assim, temos três conexões ligando D'us, Israel e a Torá. Templo Sagrado e iniciaram um segundo período de vida nacional
em seu país. A Era do Segundo Templo durou 420 anos, até a
No nível revelado, a Torá serve como o elo entre D'us e Israel; a sua destruição pelos romanos em 69 EC, e a subseqüente
Torá está conectada a D'us, e Israel é comectado à Torá. (Isso dispersão de Israel aos quatro cantos do globo.
inclui ambos os níveis de conexão delineados acima – a conexão
atingida através do cumprimento de uma mitsvá e a conexão Os períodos do Primeiro e Segundo Templo diferiram em muitas
definida pelo compromisso em si). áreas - espiritual, haláchica (assuntos pertinentes à Lei da Torá),
material, cultural e política. Uma destas diferenças foi que, sob o
Porém num nível mais profundo, quintessencial, existe uma governo de Yehoshua, o povo de Israel conquistou a Terra, e por
terceira conexão: a conexão “direta” entre D'us e Seu povo que fim estabeleceu a total soberania judaica sobre seu território, ao
precede o próprio conceito de uma Torá. Nesse nível, o passo que os judeus sob Ezra vieram como colonizadores com
envolvimento de Israel na Torá é o que conecta a Torá a D'us – o uma franquia dos imperadores persas, sob cujo domínio se
que O faz estender Seu ser infinito e indefinível num meio de encontrava a Terra Santa. Na verdade, durante grande parte da
“Divina Sabedoria” e “Divina Vontade”. Nesse nível, não é o judeu Era do Segundo Templo, a Terra Santa esteve sob a hegemonia
que precisa da Torá a fim de ser um com D'us, mas a Torá que política de reis estrangeiros - os persas, os gregos, e seguindo-se
“precisa” do judeu para evocar o desejo de D'us projetar-Se a um breve período de 70 anos de independência após a revolta
através da Torá. hasmoneana, os romanos.

Apesar disso, a Torá é crucial para o relacionamento do judeu Isso sugere a superioridade da Era do Primeiro Templo. De fato,
com D'us. A essência do judeu, como está enraizada dentro da em muitos aspectos, a Era do Segundo Templo foi inferior àquela
essência de D'us, é de fato uma com sua Fonte. Porém então ela do Primeiro Templo.2 Entretanto, uma das mais básicas leis a
“desce” para se tornar parte da existência criada, assumindo uma respeito do status haláchico da Terra Santa sugere exatamente o
identidade distinta como alma e então como ser humano. Portanto contrário: que a colonização da terra sob Ezra teve importância
D'us dotou o judeu com Sua Torá. Através da Torá, o judeu faz maior e mais duradoura para nossa conexão com a Terra Santa,
que sua conquista sob Yehoshua.
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A Torá refere-se à Terra de Israel (assim como em muitos uma herança é algo intrínseco à natureza do herdeiro; o objeto
idiomas) como uma terra "santa". Em essência, isso reflete seu herdado lhe pertence não porque lhe foi dado, mas em virtude de
lugar especial na criação de D'us, e em Sua providência sobre quem e o quê ele é. Assim, nenhum fator externo pode limitar a
Seu mundo 3; na prática, a santidade da Terra de Israel expressa- herança.
se no fato de que muitas das mitsvot (mandamentos Divinos) da
Torá relacionam-se especificamente com seu território e não A santificação da Terra por Yehoshua foi conseguida por uma
podem ser cumpridas em nenhum outro lugar. dinâmica externa - a conquista; portanto - como o presente -
dependia da extensão e duração do conquistador que a impôs.
E embora a santidade essencial da Terra de Israel seja intrínseca Quando a conquista cessou, cessaram também seus efeitos no
e exista o tempo todo e sob todas as condições, sua santidade status haláchico da Terra.
haláchica é um fator que depende de sua posse pelo povo judeu.
Apenas aquelas partes da Terra Santa que estejam realmente sob Na época de Ezra, o povo judeu santificou a Terra não por
a posse judaica estão obrigadas às mitsvot que têm relação com conquistá-la, mas por colonizá-la. Dessa maneira eles afirmaram
a Terra. Em outras palavras, ao tomar posse da Terra de Israel, o seu vínculo intrínseco com a Terra - um vínculo que não depende
povo judeu também a "santificou", estabelecendo as fronteiras de poderio militar ou governo político. Chegaram como herdeiros,
dentro das quais estas mitsvot especiais podem ser cumpridas. cujo relacionamento com a terra vem de dentro deles - de quem e
do quê são - em vez de vir daquilo que lhes foi imposto por uma
Houve duas "santificações" deste tipo: a santificação conseguida força superior. Portanto, a santidade que efetivaram na Terra era -
pela conquista da terra por Yehoshua, e a santificação efetivada como a herança - imune à influência de forças externas, e não
por sua colonização sob Ezra. A Lei da Torá faz distinção entre as cessou quando os exércitos de Roma os expulsaram de seu país.
duas: a santificação da Terra sob Yehoshua foi temporária, e
quando o povo de Israel foi exilado para a Babilônia, a terra Terra como vida
reverteu a seu status haláchico de "não-sagrada." Porém o efeito
da santificação de Ezra foi permanente, continuando válido O objetivo da criação, dizem nossos Sábios, é que "D'us
também após a destruição do Segundo Templo e do exílio de desejava uma morada no mundo físico."7 Isto é, o homem deveria
Israel. Até o dia de hoje, os limites haláchicos para as mitsvot da santificar a existência material e desenvolvê-la em um "lar" para
terra são as fronteiras do povoamento judaico na Era do Segundo D'us - um local onde Seu ser quintessencial estivesse
Templo, e não aqueles da Era do Primeiro Templo. manifestamente presente e expresso. Assim, o esforço de
conquistar e colonizar a Terra, e desse modo transformá-la em
Maimônides explica: como a primeira santificação foi alcançada uma "Terra Santa," pode-se dizer que representa o objetivo geral
pela conquista, perdurou apenas pelo tempo de duração da da vida na terra.
conquista. A segunda santificação, porém, não foi conseguida
pelo estabelecimento de soberania política, portanto não depende Assim como houve dois modos básicos de santificação da Terra -
dela; assim, o fato de que a terra nos foi tirada não diminui sua o modo "conquista" da Era do Primeiro Templo e o modo
santidade. 4 "colonização" da Era do Segundo Templo - assim também há dois
modos de santificação no esforço macrocósmico da vida,
Presente ou herança correspondendo aos dois estados básicos do homem: o de tsadic
(pessoa completamente justa) e o báal teshuvá ("retornante" ou
O Rogatchover (famoso erudito e analista da Lei da Torá, Rabi penitente).
Yosef Rosen, 1858-1936) relaciona estas duas "santificações" aos
dois versículos citados no início deste ensaio. No capítulo 13 de No sentido estrito destes termos, o tsadic é uma pessoa que é
Bereshit, lemos pela primeira vez a promessa de D'us a Avraham: profunda e perfeitamente boa, sem um único defeito em seu
"A teus descendentes darei esta terra." Mais tarde, no capítulo 15, comportamento ou traço negativo em seu caráter, ao passo que o
lemos sobre a aliança que D'us fez com Avraham, no qual Ele báal teshuvá é aquele que sucumbiu ao mal mas retornou a uma
reiterou esta promessa; aqui, a palavra "herança" aparece pela vida íntegra. No sentido mais geral, o tsadic é alguém cuja vida
primeira vez como uma descrição do relacionamento de Israel espiritual caracteriza-se pela harmonia e tranqüilidade, ao passo
com a terra. que o báal teshuvá é aquele que se engaja num perpétuo conflito
com o negativo dentro de si e em seu mundo.
Segundo a Lei da Torá, um presente pode ser temporário, porém
jamais uma herança, que, por definição, é interminável. (Assim, a Tanto o tsadic quanto o báal teshuvá participam no
lei declara que uma pessoa pode instruir que seu campo pode ser desenvolvimento e santificação do mundo material. O tsadic,
dado a alguém por vinte anos, no término dos quais deverá ser porém, afeta o mundo a partir do exterior. Alheio aos cuidados e
transferido a outra pessoa; mas se ele disser: "Meu filho deve armadilhas da vida material, o tsadic irradia sua bondade sobre
herdar o campo por vinte anos," esta declaração não tem validade ela, subjugando as forças das trevas com sua luz superlativa.
legal, pois "um presente pode terminar, ao passo que uma Todavia, como esta é uma transformação que vem do alto, é
herança não pode terminar." 5) O versículo no capítulo 13, no sustentável apenas pelo tempo em que o tsadic mantém sua
qual D'us promete dar a terra aos descendentes de Avraham, influência sobre ela. Pois o mundo em si não mudou:
refere-se à conquista feita por Yehoshua, cujo efeito era simplesmente foi dominado por uma força superior.
reversível. No capítulo 15, D'us está Se referindo à aquisição da
terra por Ezra, e que, como uma herança, é perene. 6 Por outro lado, o báal teshuvá transforma o mundo a partir do
interior. Ele não é estranho à vida material, nenhum observador
Os termos "presente" e "herança" refletem também a natureza afastado de suas contorções e corrupções; quando ele santifica o
destas duas aquisições da Terra. Num presente, a conexão de mundano, é uma santidade vinda de dentro, do potencial interior
quem recebe com o objeto doado é imposta sobre ele pela do mundo para abrigar seu Criador. Carecendo de forças
vontade e direitos do doador; assim, o doador também determina exteriores de santidade, o báal teshuvá mergulha na natureza do
o alcance e duração do presente. Por outro lado, o direito sobre material para ali descobrir a luz implícita nas trevas, a santidade
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implícita dentro da mundanidade. E como isso representa uma "Naquele dia D'us estabeleceu um pacto com Avraham dizendo:
transformação que vem de dentro, o lar Divino construído pelo 'Aos teus descendentes Eu dei esta terra, desde o Rio do Egito
báal teshuvá é auto-suficiente e imutável. até o grande rio, o Eufrates" (Bereshit 15:18).

Na Era do Primeiro Templo, éramos uma nação de tsadikim. Aqui a Torá usa o tempo passado, "Eu dei" (em oposição ao
Nascidos no Sinai e formados no casulo espiritual de uma futuro "Eu darei" empregado pelos versículos que se relacionam
geração que vivia no deserto, não tínhamos experiência com a com a "santidade" da terra), a fim de enfatizar que todo o território
Terra, com a dimensão material da criação. Portanto nós a da Terra Prometida já fora dado a Avraham pelo Criador e Mestre
conquistamos, e a dominamos com nossa força superior, com a do mundo. A terra que o povo judeu conquistou sob Yehoshua e
preeminência natural do espírito sobre o material. Mas como esta colonizou sob Ezra já era sua propriedade (veja Talmud
foi uma conquista imposta do alto, a santidade da Terra podia ser Yerushalmi Chalá 2:1; Rashi sobre Bereshit 1:1).
mantida somente enquanto o elemento conquistador
permanecesse válido. Quando nos afastamos de D'us, quando A posse da Terra, concedida por D'us a todas as gerações de
perdemos nosso lado espiritual, perdemos também a Terra, e a Israel, não é negociável, e não se pode renunciar a ela por
Terra perdeu sua santidade. tratados ou acordos. Nenhum indivíduo ou governo tem o direito
de entregar nosso legado eterno ou de renunciar ao controle
Retornando da Babilônia, entramos na Terra como uma nação de sobre aquelas partes, que D'us colocou em nossas mãos em meio
baalei teshuvá (retornantes) - uma nação que tinha sucumbido ao a grandes milagres.
mal apenas para sobrepujá-lo em sua própria arena, uma nação
que agora já estava íntima com o mundo material e consciente de 5) Talmud, Bava Batra 129b.
suas armadilhas. Desta vez, colonizamos a Terra. Nossa meta
não era conquistá-la e afirmar nosso domínio sobre ela, mas 6) Tsafnat Paaneach sobre Bereshit 15:7. Cf. Talmud Yerushalmi,
desenvolvê-la a partir do interior, desencadear seu próprio Bava Batra 8:2.
potencial como uma morada Divina.
7) Midrash Tanchuma, Nassô 16; Tanya, cap. 36.
Desta vez, a santidade que evocamos nela era intrínseca e
8) Licutei Sichot, vol. XV, págs. 100-109.
duradoura. Portanto, quando nossos pecados e falhas
subseqüentemente nos baniram de nosso país, a Terra 45 - Parashat Vaet'chanan Deuteronômio 3:23-7:11
permaneceu santa, pois os mais poderosos exércitos e os males
mais potentes não poderiam eclipsar a santidade quintessencial Moshê Implora para Entrar Na Terra de Israel
que tínhamos efetivado em nossa herança ancestral.
Moshê continuou seu discurso: "Quando golpeei a pedra em Mê
Baseado nas palestras do Rebe, 20 e 30 de Av de 5738 (23 de Meriva, D’us prometeu que eu não entraria na Terra Santa. Mais
agosto e 3 de setembro de 1978), e Sucot de 5724 (1963) 8 tarde, comecei a conquista de Êrets Yisrael ao derrotar os
gigantes Sichon e Og, que governavam os emorim a leste do
Notas Jordão. Pensei: ‘Se eu rezar a D’us agora, Ele talvez me permita
conquistar o restante de Êrets Cnaan também!’"
1) Após a morte do rei Salomão, dez das doze tribos separaram-
se para formar o reino de Israel ao norte, ao passo que os "’Grande e poderoso D’us,’ orei. ‘Nunca fizeste tantos milagres
descendentes de Salomão continuaram a governar o reino através de ninguém como fizeste através de mim. Permitiste-me
meridional da Judéia. trazer as pragas ao Egito e a dividir o Mar Vermelho. Alimentaste-
nos com maná e pássaros-slav no deserto. A razão de todos
2_ Mais significantemente no sentido em que a era da profecia
estes milagres foi trazer o povo judeu à Êrets Yisrael! Deveria eu
encerrou-se nos primeiros anos da Era do Segundo Templo. Veja
iniciar uma obra sem concluí-la?’"’
também Ezra 3:12; Talmud, Yoma 21b.
Moshê continuou: "Insisti: ‘Por favor, D’us, podes anular Teu
3) Devarim 11:12; Midrash Tanchuma, Reê 8; Talmud, Ketubot
decreto Quando um rei muda de idéia, deve pedir aos ministros
110b; e em outra parte.
que concordem. Mas Tu não precisas da permissão de ninguém
4) Mishnê Torá, Leis do Templo Sagrado, 6:16; Leis de Terumot para mudares de idéia. Por Tua grande misericórdia, perdoa-me
e Maaserot, 1:1-9. Evidentemente, os judeus sob Yehoshua por favor!’
também colonizaram a terra, além de conquistá-la; mas como
"D’us respondeu: ‘Meu decreto não pode ser anulado porque Eu
D'us tinha lhes ordenado que conquistassem a terra (cf. Bamidbar
jurei!"
33:52-55); Devarim 3:18; Yehoshua cap. 1; Talmud, Sotá 44b),
isso determinou que o modo de sua aquisição da Terra, e a "Rezei: D’us, podes cancelar um juramento! Não prometeste
natureza de seu relacionamento com ela, fosse aquela de destruir Benê Yisrael após o pecado do bezerro de ouro?
"conquista." Na época de Ezra, a ordem Divina era voltar para a Anulaste tua promessa então! Por que deveria eu sofrer o mesmo
terra e colonizá-la, não conquistá-la (cf. Yirmiyahu 29:10, 40:10), destino dos espiões que falaram mal de Êrets Yisrael? Tenho
determinando que o modo de aquisição fosse "colonização." louvado a Terra Santa por toda minha vida!’
É importante notar que as diferenças entre a "primeira aquisição" "’Moshê,’ respondeu D’us – todos os homens de sua geração
por Joshua e a "segunda aquisição" por Ezra relacionam-se morreram no deserto. Você será enterrado com eles; seu mérito
apenas com a "santidade" da Terra quanto à sua pertinência ao os protegerá. Eles precisam de você! Após a vinda de Mashiach,
cumprimento das mitsvot especiais associadas com ela, mas não eles serão revividos, e você os levará a Êrets Yisrael!’
quanto à posse judaica da Terra de Israel, que é constante e
irreversível. Quanto à nossa posse da Terra, a Torá declara que
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(D’us também fez com que outros grandes tsadikim fossem a Torá ordena, mas dois de cada! Isso fará a mitsvá ainda
sepultados fora de Êrets Yisrael para que seus méritos melhor.’ Ou então um cohen pode decidir: ‘D’us deu-nos três
protegessem os judeus enterrados na Diáspora. Como por versículos com os quais abençoar Benê Yisrael. Quero ir além
exemplo, o túmulo de Mordechai encontra-se na Pérsia). disso, então os abençoarei com um quarto e maravilhoso
versículo!’ "Isto é proibido. Cada mitsvá deve ser cumprida
Moshê disse a Benê Yisrael: "Mesmo assim, não desisti. Implorei exatamente como D’us a deu. É proibido adicionar ou tirar algo da
a D’us de 515 maneiras diferentes para que me deixasse entrar Torá!
em Êrets Yisrael".
Você poderia perguntar: Nossos sábios não adicionaram leis
(Isto está aludido na palavra vaet’chanan, o nome desta Parashá, àquelas ordenadas pela Torá?
cujo valor numérico equivale a 515).
Isto é verdade. Mas a Torá permite que aquelas leis sejam
"Rezei: ‘Por favor, D’us, deixe-me então ver a cidade de adicionadas porque são como "cercas." Elas protegem as leis da
Jerusalém e o Bêt Hamicdash!’ Torá de serem transgredidas.

"’Rav, basta!’ exclamou D’us: ‘Não reze mais! As pessoas dirão Moshê encoraja os judeus a "conectarem-se com D’us "
que sou inflexível por recusar suas orações e que você é
obstinado por continuar a argumentar’. Moshê continuou seu discurso:

(A palavra rav significa chega, basta; mas também pode ser "Lembrem-se," disse ele, "aqueles que serviam o ídolo Báal Peor
traduzida como "muito"). foram destruídos. Alguns foram executados pelo Bêt Din
(Tribunal) e outros morreram numa praga. Vocês todos, que estão
‘Rav lach’, muito mais do que isto está reservado para você. A vivos até hoje, seguiram D’us. ‘Veatem hadvekim baD’us
recompensa que preparei para você no Mundo Vindouro é bem Elokêchem chayim culchem hayom’, "aquele que permanece
maior que entrar em Êrets Yisrael. Diga a Yehoshua que ele próximo a D’us vive neste mundo e viverá para sempre no Mundo
marchará à frente de Benê Yisrael e os liderará durante a guerra.’ Vindouro."

"Mesmo assim, minhas orações conseguiram algo. D’us me disse: Você se "conecta a D’us " pensando sempre n’Ele, e cumprindo
‘Acederei ao seu desejo de ver a Terra Santa. Deixarei escalar a Suas mitsvot.
colina, e mostrarei a você todo Êrets Yisrael, até os locais mais
distantes!’ Outra maneira de ligar-se a D’us é: Aproximar-se dos talmidê
chachamim (sábios).
Por que Moshê desejava entrar em Êrets Yisrael?
Permanecer Próximo de um Sábio
Se perguntarem a um judeu: "Gostaria de viajar a Êrets Yisrael?"
ele provavelmente responderá: "Seria maravilhoso! Sempre Quando Avraham viajou em direção a Êrets Cnaan, Lot o
sonhei em conhecer os locais sagrados!" Moshê queria ir a Êrets acompanhou. Como Lot foi com Avraham, também tornou-se rico.
Yisrael por estar curioso para ver como era? Queria provar as Mais tarde, quando se afastou de Avraham, perdeu todos seus
famosas frutas? bens na destruição de Sdom.

Moshê, sagrado servo de D’us, tinha razões completamente Como recompensa por estar constantemente na tenda de Moshê,
diferentes para querer entrar em Êrets Yisrael. Pensou: "Viver na D’us prometeu a Yehoshua: "Estarei com você assim como estive
Terra Santa me ajudará a ser mais sábio e a aproximar-me de com Moshê." D’us realizou milagres para Yehoshua, similares
D’us . Além disso, há muitas mitsvot que jamais consegui cumprir, àqueles que realizou para Moshê. Por exemplo, Yehoshua partiu
como guardar o sétimo ano (shemitá) ou separar terumot as águas do Rio Jordão. Isto foi como a abertura do Mar
(doações para os cohanim) e maasrot (dízimo) dos alimentos de Vermelho.
Êrets Yisrael. Se apenas eu pudesse cumprir estas mitsvot…"
Quando os tsadikim Chananya, Mishael e Azaryá foram jogados
Moshê não tinha qualquer prazer terreno em mente quando orava numa fogueira por recusarem-se a se curvar perante a imagem de
a D’us. Desejava entrar em Êrets Yisrael apenas com o objetivo Nevuchadnêtsar, D’us salvou-os do fogo. Até suas roupas ficaram
de melhor servir a D’us. intocadas pelo fogo! Por quê? Porque as roupas estavam
conectadas a Chananya, Mishael e Azaryá, que eram tsadikim.
Por que as tefilot de Moshê foram registradas na Torá para as
gerações futuras? Estes exemplos nos ensinam o benefício de permanecer perto de
um talmid chacham.
Quando os judeus viram como Moshê amava ternamente Êrets
Yisrael, o país tornou-se muito precioso para eles. Cumpririam as Moshê continuou:
mitsvot mais cuidadosamente para merecerem permanecer em
Êrets Yisrael. Sabiam que se negligenciassem a Torá, seriam "Devemos sempre cumprir as leis de D’us. Mesmo as nações que
expulsos. não seguem a Torá consideram-nos sábios por cumprimos as
mitsvot."
A Proibição de Aumentar ou Diminuir as Mitsvot
"Vocês poderiam pensar: ‘Posso encontrar leis melhores que a
Moshê começou ensinando as mitsvot a Benê Yisrael. Primeiro Torá.’ Lembrem-se, tal coisa não existe. As leis da Torá não foram
explicou uma regra básica: "Quando cumprirem uma mitsvá, feitas pelo homem, mas por D’us. Sabem que é assim porque
talvez queiram fazê-la ainda mais bela adicionando algo. Poderão vocês mesmos estiveram presentes e testemunharam à Outorga
pensar: ‘Neste Sucot pegarei não apenas um lulav e etrog, como da Torá."
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Devemos lembrar a Outorga da Torá O que acontecerá se Benê Yisrael servirem a ídolos?

"Nunca se esqueçam o dia em que ficaram em pé ao redor Monte Moshê advertiu: "Após viverem em Êrets Yisrael por longo tempo,
Sinai e ouviram a voz de D’us!" vocês poderão pensar: ‘Estamos a salvo aqui! D’us jamais nos
expulsará. Permaneceremos aqui para sempre!’"
Como explicamos na Parashá Devarim, Moshê falava a uma nova
geração. Não estava se dirigindo aos homens que haviam ouvido "Lembrem-se de que se vocês servirem ídolos ou fizerem o mal,
os Dez Mandamentos de D’us, mas a seus filhos. Mesmo assim, serão rapidamente exilados do país. D’us os expulsará e os
disse: "Vocês ficaram no Monte Sinai," e "Vocês ouviram a voz de dispersará entre as nações. Tornar-se-ão servos de adoradores
D’us." Uma razão para isso foi porque alguns deles haviam de ídolos. Mas mesmo após isto acontecer e vocês estiverem no
vivenciado a Outorga da Torá quando crianças. E aqueles que exílio, em terras estranhas, poderão encontrar D’us . Procurem
ainda não eram nascidos na época da Outorga da Torá sentiram- por ele com todo seu coração e sua alma. Quando tudo que lhes
se como se estivessem estado lá pessoalmente, pois tinham digo se tornar realidade, façam teshuvá e ouçam D’us! Ele é
escutado este relato de seus pais. misericordioso e não os abandonará. Ele se lembrará do acordo
que fez com seus pais."
Moshê advertiu: "Devem contar a seus filhos tudo sobre a
Outorga da Torá, e estes devem repeti-lo a seus filhos. Desta "Se alguma vez suspeitarem que D’us esqueceu a promessa que
maneira, todas as gerações acreditarão para sempre que D’us fez a seus antepassados para redimir vocês, perguntem-se:
nos deu a Torá, como se estivessem estado pessoalmente no ‘Aconteceu mesmo de todo um povo ter escutado D’us falar
Monte Sinai." diretamente a eles? D’us tem falado com pessoas, mas nunca
antes, ou depois, a uma nação inteira. Alguma vez aconteceu que
(Os versículos acima, que relatam a advertência de Moshê, fazem toda uma nação foi salva por meio de milagres como o das Dez
parte do final das orações diárias, no trecho chamado "Shesh Pragas? D’us realizou estes milagres para vocês porque Ele
Zechirot", Seis Lembranças.) amou seus antepassados e vocês, filhos deles. Qual foi o
propósito de todos estes milagres? Mostrar que Ele é o único D’,
O Midrash nos conta: que não há outro poder além d’Ele. Assim como D’us os tirou do
Egito, ele os resgatará de todas as outras nações."
A Mitsvá de Ensinar a Torá aos Filhos
Os versículos acima (Devarim 4:25-40) são lidos da Torá na
Rabi Chiyá bar Aba encontrou Rabi Yehoshua ben Levi na rua.
sinagoga, na manhã do jejum de Tish’á Beav. Esta Parashá é
Ficou chocado ao ver que, ao invés de vestir seu belo turbante de
apropriada para Tish’á Beav, porque fala sobre a punição de Benê
costume, Rabi Yehoshua havia jogado um pedaço de tecido sobre
Yisrael, e promete que D’us aceitará nossa teshuvá mesmo
a cabeça de maneira desarranjada. Corria rua abaixo, carregando
quando estivermos no exílio.
uma criança pequena em direção à escola.
O Midrash nos diz:
"Por que está com tanta pressa?" perguntou Rabi Chiyá.
As Palavras de Moshê Eram Uma Profecia
Rabi Yehoshua respondeu: "A Torá nos diz: ‘Ensine estas leis a
seus filhos,’ e logo em seguida, ‘o dia em que ficaram perante Quando Moshê advertiu Benê Yisrael a guardarem a Torá mesmo
D’us no Monte Sinai.’ O versículo ensina que aquele que ensina após viverem em Êrets Yisrael por um longo tempo, ele usava a
Torá aos filhos é tão grande como se tivesse no Monte Sinai palavra venoshantem. Isto significa "após você ter-se tornado
pronto para receber a Torá. Por isto estou correndo para levar velho e instalado no país" (da raiz yashan, velho). A Torá usa esta
meu filho à escola." palavra porque faz uma insinuação ao futuro. O seu valor
numérico (guematriyá) é 852. Moshê profetizou: "Se servirem
Quando Rabi bar Huna, um dos eruditos, ouviu estas palavras,
ídolos, D’us os expulsará de Êrets Yisrael após 852 anos".
nunca mais fez seu desjejum antes de levar seu filhinho ao Bêt
Hamidrash (casa de estudos). E Rabi Chiyá (aquele que havia A profecia de Moshê tornou-se realidade?
encontrado Rabi Yehoshua na rua) decidiu que a primeira coisa
que faria pela manhã seria ensinar seus filhos e revisar com eles Na verdade, Benê Yisrael permaneceu no país apenas 850 anos
o que haviam aprendido no dia anterior. Apenas então faria sua antes que o Primeiro Bêt Hamicdash fosse destruído, não 852.
refeição matinal.
Em Sua misericórdia, D’us enviou a punição dois anos antes da
Nossos sábios ensinam que este é também um mérito especial data que Moshê previu. Se D’us tivesse esperado mais dois anos,
para um avô ensinar a Torá a seus netos. Diz-se de um avô que Benê Yisrael teria caído tão baixo que D’us teria que destruí-los,
assim faz, que é considerado como se ele próprio tivesse estado D’us não o permita.
fisicamente no Monte Sinai para receber a Torá.
Moshê ameaçou que, se Benê Yisrael pecasse, seria rapidamente
A Proibição da Idolatria exilado do país. Mesmo assim D’us esperou pacientemente por
850 anos, sempre esperando que Benê Yisrael fizesse teshuvá.
Moshê advertiu: "Na Outorga da Torá, vocês ouviram uma voz
vinda do fogo. Não cometam o engano de pensar que viram uma Moshê Separa Arê Miclat (cidades de refúgio)
imagem de D’us.. Certamente não viram! É proibido fazer
qualquer pintura ou imagem para representá-lo. Agora Moshê interrompeu seu discurso. "Até este momento,
tenho falado sobre guardar as leis de D’us . Agora quero
"Estão proibidos também de fazer imagens de pessoas, animais, realmente cumprir uma delas!"
do sol ou da lua. Isto os ajudará a se manter afastados de
idolatria, uma transgressão que contraria toda a Torá." Sobre qual mitsvá Moshê estava falando?
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D’us disse a Moshê que seis cidades de refúgio deveriam ser Ló Yihyê Lecha - Não Tenhas Outros Deuses!
estabelecidas: três a leste do Jordão e três em Êrets Cnaan. Mas
as três primeiras não poderiam proteger assassinos antes que as "Não digas: ‘Servirei a D’us e servirei outros deuses, também.
três em Êrets Yisrael fossem estabelecidas. Eles serão Seus ajudantes!’ Deves servir apenas a Mim.

Moshê poderia ter falado "Como não chegarei a Êrets Cnaan, eu "Não podes fazer uma imagem Minha, mesmo que penses que
não posso assentar os três cidades-refúgio lá. Por isso, não faz isto te ajudará a servir-Me melhor."
sentido estabelecer os arê miclat aqui, a leste do Rio Jordão. Não
podem servir de abrigo para um assassino." O Terceiro Mandamento

Moshê não disse isso. Pelo contrário, pensou: "Devo cumprir toda Ló Tissa - Não Pronuncie o Nome de D’us em Vão!
e qualquer mitsvá que estiver ao meu alcance!"
Este mandamento proíbe jurar falsamente ou sem necessidade
Moshê selecionou três cidades. Para servir de ir miclat (cidade de em nome de D’us.
refúgio), uma cidade deve ser de tamanho médio, cercada por
D’us punirá todo aquele que diga Seu nome em vão.
muralhas, e ter recursos hídricos. Moshê assegurou-se que as
três cidades que escolhera fossem apropriadas para arê miclat. Por causa deste mandamento, quando lemos a Torá ou rezamos,
Sua ânsia em cumprir as mitsvot nos ensina: Não perca a chance chamamos D’us de "Hashem" que significa "O Nome."
de cumprir uma mitsvá! Não pense: "Há muito tempo. Não há Chamando-O de D’us , e não A-do-nai mostramos que não
pressa!" Devemos cumprir todas as mitsvot que pudermos na usamos o santo Nome de D’us desnecessariamente.
primeira oportunidade.
O Quarto Mandamento
O Estudo da Torá Traz Proteção
Shamor et Yom HaShabat - Santificar o Shabat!
Após falar sobre as arê miclat, o versículo continua: "Esta é a
Torá que Moshê colocou diante de Benê Yisrael (4:44). "Vezot Devemos nos abster de trabalho proibido no Shabat, e também
haTorá asher sam Moshê lifnê Benê Yisrael" santificá-lo fazendo ou ouvindo kidush e havdalá . É um bom
hábito que cada membro da família ajude a preparar o Shabat, e
Qual a relação entre este versículo e o assunto das cidades- não deixar todas as tarefas para a dona de casa.
refúgio?
Nossos grandes sábios tinham muitos servos a quem podiam dar
O Midrash explica: Assim como as arê miclat salvam a pessoa da ordens de deixar tudo pronto para o Shabat. Mesmo assim,
morte, assim o faz o estudo de Torá. O mérito do estudo de Torá costumavam eles mesmos fazer os preparativos para o dia
prolonga a vida da pessoa. sagrado.
Moshê reuniu Benê Yisrael novamente e disse: "D’us os incluiu no O Midrash nos conta:
acordo que fez com seus antepassados no Sinai. Mesmo aqueles
de vocês que ainda não haviam nascido foram incluídos. Todas Os Chachamim Ajudavam na Preparação para o Shabat
as almas dos judeus até o fim dos tempos estiveram no Monte
Sinai. •Rav Chisda cortava os vegetais para a refeição do Shabat.

"Vocês ouviram D’us falar-lhes do meio do fogo. Escutaram-No •Rabá e Rav cortavam madeira.
dar os Dez Mandamentos. Eu os repetirei a vocês."
•Rav Zêra acendia o fogo.
Alguns homens desta geração não eram nascidos na época da
Outorga da Torá; outros eram crianças pequenas. Moshê queria •Rav Nachman arrumava a casa e providenciava a louça de
ter certeza de que antes que morresse, eles escutariam os Dez Shabat.
Mandamentos enumerados por ele, fiel mensageiro de D’us.
O Quinto Mandamento
Os Dez Mandamentos
Cabed - Honrar Pai e Mãe!
Os Dez Mandamentos já foram explicados na Parashá Yitrô.
Entretanto, como a Torá os repete nesta Parashá, explicaremos Se um filho honra seu pai e sua mãe, D’us diz: "É como se Eu
novamente. vivesse entre eles e o filho tivesse honrado a Mim!"Uma das
melhores maneiras de o filho honrar os pais é guardar a Torá. Se
O Primeiro Mandamento o filho é um tsadic, isso é um mérito para os pais.

Anochi - Crê em D’us! O Sexto Mandamento

"Eu sou D’us, teu D’us! Sou tanto um D’us de misericórdia, Ló Tirtsach - Não Assassinar!
chamado D’us, como um D’us severo, chamado Elokim. Não sou
dois deuses distintos! Sou Aquele que faz tudo acontecer. Vocês Se o povo judeu não tiver assassinos dentre eles, a sua
viram como afoguei os egípcios no Mar Vermelho, e ao mesmo recompensa será que exércitos inimigos não passarão por Êrets
tempo salvei vocês dividindo as águas." Yisrael. Haverá paz absoluta.

O Segundo Mandamento O Sétimo Mandamento

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Ló tin’af - Não Cometas Adultério! alguns outros mercadores. Quando voltar, farei da maneira que
sugeriu."
D’us deseja que o marido e a esposa sejam fiéis um ao outro.
Como recompensa por guardar este mandamento, D’us dará Assim que saiu, o hospedeiro pôs a bolsa roubada no
felicidade e alegria ao povo judeu. esconderijo. "O mercador colocará a segunda bolsa lá também,"
pensou alegremente. "Logo terei ambas em meu poder."
O Oitavo Mandamento
Mais tarde, o mercador voltou ao seu quarto. O plano teria dado
Ló Tignov - Não Furtar! certo? Acharia sua bolsa?

Este mandamento proíbe essencialmente o "roubo" de um ser Foi ao esconderijo e, graças a D’us, lá estava o dinheiro! "Bendito
humano, ou seja, o sequestro. Porém, incluí também todo tipo de seja D’us, que devolveu a propriedade perdida ao seu devido
roubo e desonestidade. Um judeu deve ser honesto em todos dono!" bradou ele.
seus negócios. Se o povo judeu não roubar, D’us os
recompensará com a vitória sobre seus inimigos. Rapidamente deixou a estalagem, para nunca mais voltar.

Uma história: O Nono Mandamento

Mais Esperto que o Ladrão Ló Taané - Não Dês Falso Testemunho!

Um comerciante tinha viajado a outra cidade para adquirir É proibido testemunhar perante um Bêt Din (justiça) sobre um
mercadorias. Levou com ele uma bolsa contendo 500 moedas de acontecimento que não foi observado pessoalmente pela
ouro. Ao chegar a seu destino, encontrou uma estalagem na qual testemunha. Se alguém testemunhar baseado em relatos de
passaria a noite. Mas estava preocupado com o dinheiro, pois terceiros, mesmo se estiver convencido da integridade do
poderia ser roubado. Deveria deixá-lo no quarto, ou carregá-lo acusado, estará transgredindo este mandamento.
consigo todo o tempo?
O Décimo Mandamento
Não conhecia pessoa alguma na cidade, por isso decidiu que o
melhor seria esconder as moedas. Cavou um buraco no solo, a Ló Tachmod - Não Desejes Aquilo que Não te Pertence!
um canto do quarto, e lá escondeu a bolsa. Cobriu tudo com terra.
Há vários tipos de inveja: você pode estar com inveja porque seu
O infeliz viajante não podia imaginar que estava sendo observado. amigo é um tsadic maior que você e aprende mais Torá. "Olhe
O estalajadeiro, um homem desonesto, assistia suas ações quantas horas ele estuda. Invejo-o, realmente," talvez diga. Ou
através de um furo na parede, esfregando as mãos satisfeito com pode invejar suas posses materiais: "Seu carro é melhor que o
a descoberta. Assim que o comerciante saiu, o estalajadeiro meu! Ele tem dinheiro que jamais terei!"
cavou e roubou a bolsa.
Algum destes tipos de inveja é permitido?
Pelos dias que se seguiram, o homem de negócios nem ao
menos pensou sobre o dinheiro, pois considerava-o a salvo. Sim, o primeiro é. Você pode invejar as conquistas espirituais de
Quando chegou o dia em que precisou do dinheiro, foi direto ao outra pessoa, mas não suas posses mundanas.
canto do quarto. Em choque, ficou olhando para o buraco vazio; a
Por que somos geralmente invejosos das coisas que os outros
bolsa se fora! Esmiuçou o cérebro para tentar lembrar onde
possuem?
poderia estar. Não falara a ninguém sobre o esconderijo; alguém
deveria tê-lo vigiado. Após fazer uma completa busca pelo O yêtser hará (má inclinação) é astuto e deseja que pensemos
aposento, o mercador descobriu o buraquinho. Percebeu que o que os objetos dos outros são melhores que os nossos.Para que
hospedeiro deveria tê-lo observado através dele. Agora era possamos cumprir a mitsvá de "Não cobice!" devemos crer que
necessário um truque bem esperto para conseguir o dinheiro de D’us dá a cada pessoa o que é melhor para ela.
volta. O que faria?
Se temos que ser invejosos, que o sejamos das maiores
O comerciante teve uma idéia. Após acalmar-se um pouco, foi em conquistas alheias da Torá. Isto nos fará tentar aprender com
busca do hoteleiro. "Ouvi dizer que é um homem sábio!" disse ele. mais empenho e a cumprir mais mitsvot nos refinando.
"Poderia por favor aconselhar-me, pois tenho um problema?"
Moshê Ensina o Primeiro Versículo do "Shemá"
"Certamente," respondeu o homem, lisonjeado.
A leitura do Shemá é um mandamento positivo da Torá que deve
O mercador prosseguiu: "Veja só, eu trouxe comigo duas bolsas. ser cumprido duas vezes ao dia: pela manhã na prece de
Uma contém 500 moedas de ouro, e a outra, 800. Decidi Shacharit e após o anoitecer na prece de Arvit. Uma vez que o
esconder a primeira, mas estou na dúvida sobre o quê fazer com Shemá da manhã deve ser lido no primeiro quarto do dia, é
a segunda. Acha que é seguro escondê-la no mesmo local? Ou aconselhável lê-lo logo após as Bênçãos Matinais, antes da prece
ao contrário, deveria eu dá-la para alguém na cidade guardá-la?" de Shacharit para não atrasar este horário (e durante a prece de
Shacharit, o Shemá será lido novamente na seqüência normal da
"Não a dê a ninguém!" respondeu o albergueiro. "A pessoa pode
prece).
ser desonesta. É muito arriscado. Sugiro que você o esconda."
O Shemá é composto de três trechos da Tor á (Deut. 6:4-9;11:13-
Secretamente, o estalajadeiro pensou: "Agora conseguirei a
21; e Núm. 15:37-41) que devem ser lidos cuidadosamente e sem
segunda bolsa, também!" "Obrigado pelo bondoso conselho,"
interrupção, seja por palavras, seja por gestos. Os homens
disse o comerciante. "Preciso sair agora para uma reunião com
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costumam beijar os tsitsit (na leitura do Shemá de dia) cada vez As Três Parshiyot de Shemá têm 248 Palavras
que mencionam esta palavra no meio do terceiro parágrafo do
Shemá e também na última palavra ("emet"). Quando um judeu reza sozinho, repete as palavras: "Ani Hashem
Elokêchem" no final da leitura do Shemá. Por quê?
Cobrem-se os olhos com a mão direita ao recitar o primeiro
versículo do Shemá para maior concentração. Ao pronunciar o Os três parágrafos do Shemá, mais aquelas três palavras,
nome de D’us ("A-do-nai"), deve-se ter em mente que Ele é perfazem 248 palavras. O corpo de uma pessoa tem 248 partes.
Eterno, i.e., existe, existiu e existirá. A última palavra do primeiro Nossos sábios ensinam que se pronunciamos com cuidado cada
versículo ("Echad"), composta de três letras hebraicas, deve ser uma das 248 palavras do Shemá, D’us protege cada uma das 248
pronunciada com ênfase especial, enquanto se reflete sobre seu partes de nosso corpo.
significado: a primeira letra, alef, com valor numérico 1, diz
respeito ao D’us Único; a segunda, chet, com valor numérico 8, Sempre que rezamos, é importante pronunciar cada palavra. Se
significa que Ele tem soberania absoluta sobre os Sete Céus e a as pulamos ou pronunciamos de forma incorreta (principalmente
Terra; a terceira, dalet, com valor numérico 4, lembra que Ele as palavras "D’us " e "Elokênu") então não estamos rezando
também domina os quatro pontos cardeais. No final do terceiro devidamente. Quando dizemos Shemá, é ainda mais importante
trecho, as três últimas palavras antes de "emet" são repetidas pronunciar cada palavra claramente, mesmo que isso leve mais
somente quando a pessoa reza sem minyan. tempo.

Moshê explicou em detalhes o primeiro mandamento: "Crê em Veahavtá - O Segundo Versículo do Primeiro Parágrafo do Shemá
D’us." Disse ele:"
Moshê continuou: "Veahavtá et Hashem Elokecha bechol
Shemá Yisrael, A-do-nai E-lo-hê-nu, A-do-nai levavechá uvchol nafshechá uvchol meodêcha"; "Ame a D’us , teu
D’us, com todo o teu coração, com toda a tua alma, e com todas
Echad"", "Ouve, Israel, A-do-nai é nosso D’us, A-do-nai é Um." tuas posses."

Quando pronunciamos este versículo, aceitamos o domínio de Por que D’us deseja que O amemos?
D’us.
Se O amamos, cumpriremos Suas mitsvot muito mais
No passado, as nações não conseguiam acreditar que havia um cuidadosamente. Se você ama D’us, pensará antes de cada
só D’us. Alguns pensavam que havia duas (ou mais) divindades: mitsvá: "De que maneira posso cumprir melhor esta mitsvá?"
uma boa e outra má. Mesmo hoje, muitas nações não acreditam
num único D’us. Atualmente no Oriente há ainda povos que *Avraham Yitschac e Yaacov cumpriram a mitsvá de "amar D’us "
adoram ídolos. No mundo ocidental muitas pessoas acreditam em da forma em que está ordenada no Shemá:
D’us. (Ao mesmo tempo, entretanto, curvam-se a imagens e
Avraham amou D’us com todo seu coração. Quando Avraham já
adoram um homem como deus.) E algumas pessoas
era um homem velho, D’us disse-lhe para oferecer seu único filho
"esclarecidas" não acreditam de todo na existência de D’us.
Yitschac em sacrifício. Avraham amava Yitschac. Mesmo assim,
Moshê ensinou a verdade a Benê Yisrael. O mundo é governado
cumpriu a vontade de D’us mostrando a força de seu amor por
por um único D’us. Ele é tanto um D’us misericordioso (chamado
Ele. Da mesma forma, somos ordenados a resistir à nossos
D’us ) como um D’us severo (chamado Elokim).
impulsos e amar D’us de todo o coração.
Nossos sábios ordenaram que cada judeu proclamasse sua
* Yitschac é um exemplo de alguém que estava pronto a oferecer
crença, recitando o versículo "Shemá Yisrael" duas vezes ao dia,
sua vida a D’us.
pela manhã e à noite.
Concordou em ser sacrificado por Avraham no monte de Moriyá.
Se você olhar o versículo de Shemá num Sêfer Torá ou num
Nós, também, devemos amar tanto a D’us que estejamos prontos
Chumash, verá que duas letras desta frase têm o tamanho maior.
a renunciar a nossa vida por Ele.
São elas: áyin e dalet. (O áyin, a letra final da palavra Shemá e o
dalet, no final da palavra echad). * Yaacov estava pronto a doar toda sua fortuna para D’us. Na
casa de seu pai, Yaacov aprendeu a Torá, antes de preocupar-se
Estas duas letras formam a palavra "testemunha". D’us disse:
em enriquecer. A caminho da casa de Lavan, prometeu dar a D’us
"Vocês, o povo judeu, são testemunhas de que sou um. Na
um décimo de todas suas posses. Após tornar-se rico na casa de
Outorga da Torá, vocês viram claramente que sou o único D’us."
Lavan, Yaacov deu tudo que havia ganho ao seu irmão Essav,
O Versículo "Baruch Shem Kevod Malchutô Leolam Vaed" para comprar sua sepultura na gruta de Machpelá.

Após recitarmos o primeiro versículo do Shemá, adicionamos em Quando Moshê ordenou aos judeus: "Ame D’us com todo seu
silêncio as palavras: "Bendito seja o nome de Seu glorioso reino coração, com toda sua alma e com todas suas posses," pôde usar
para todo o sempre!" os patriarcas como exemplos perfeitos.

Este versículo não é encontrado na Torá. Por que razão o Moshê continuou: "Vehayu hadevarim haêle asher Anochi
acrescentamos? metsavechá hayom al levavêcha"; "Estas palavras que Eu te
ordeno hoje ficarão sobre teu coração." Não devem sentir que
Quando Moshê foi para o céu, ouviu os anjos louvarem D’us com estas palavras são velhas; devem sentir-se como se as tivessem
estas palavras. Ele decidiu ensiná-las a Benê Yisrael. Dizemos o recebido ainda hoje no Monte Sinai."
versículo em silêncio porque D’us não o deu diretamente a nós na
Torá. "Veshinantam levanêcha vedibartá bam beshivtechá bevetêcha
uvlechtechá vadêrech uvshochbechá uvcumêcha"; "Inculca-las-ás
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diligentemente em teus filhos e falarás a respeito delas, estando Na verdade, a riqueza é também um teste para o povo judeu. D’us
em tua casa andando por teu caminho, e ao te deitares e ao te deseja ver se sabemos usar o dinheiro para cumprir mitsvot e
levantares." Fale sobre a Torá mais que sobre qualquer outro distribuir mais tsedacá.
assunto."
Benê Yisrael Não Podem "Testar" D’us ou Um Navi (Profeta)
Um pai judeu deve começar a ensinar Torá aos filhos antes
mesmo de começarem a pronunciar suas primeiras palavras. Moshê disse: "Não se pode testar D’us."
Ensina primeiro este versículo aos filhos: "Torá tsivá lânu Moshê
morashá kehilat Yaacov"; "A Torá que Moshê nos ensinou é um Não devemos dizer: "Se D’us me der um milhão de dólares,
legado para a congregaçnao de Yaacov" (Devarim 33:4). Ensina rezarei cada palavra," ou "se D’us fizer meu time ganhar, jamais
então o versículo "Shemá Yisrael" e outros versículos. falarei lashon hará novamente."

"Ucshartam leot al yadêcha vehayu letotafot ben enêcha"; "Ata- Moshê continuou: "Devemos cumprir as mitsvot sem perguntar o
las-ás como sinal sobre tua mão e se-rão por filactérios entre teus que D’us fará por nós. Não podemos entender seus caminhos, e
olhos." somos obrigados a obedecê-lo" "Porém, podem estar certos de
que, se cumprirem as mitsvot, o resultado será bom para vocês".
Quando um menino judeu atinge a idade de bar-mitsvá, coloca
tefilin no braço e sobre a cabeça. Os tefilin na cabeça são como "Não podem testar um profeta de D’us, uma vez que seja provado
uma coroa (o local onde os tefilin assentam sobre a cabeça é que é verdadeiramente um profeta. Não lhe perguntem se algo
onde os reis judeus eram ungidos com óleo). Os tefilin são atados acontecerá para testá-lo. Acreditem nele e sigam o que ele
à cabeça e braço com correias de couro. As tiras mostram que disser!"
estamos intimamente "atados" a D’us.
Como Tratar as Sete Nações em Êrets Yisrael e a Proibição de
Os tefilin, na verdade, deveriam ser usados durante todo o dia. No Casamentos Mistos
passado, os judeus usavam tefilin o tempo todo, em casa e no Bêt
Moshê advertiu Benê Yisrael: "Em Êrets Yisrael há sete nações:
Hamidrash. Dizia-se que Rabi Yochanan e Rabi Yehoshua ben
os canaanitas, chiti, emori, perizi, chivi, yevussi e guirgashi. Estas
Levi nunca andavam mais que uma curta distância sem usar seus
nações são adoradoras de ídolos, cujos hábitos são cruéis e
tefilin.
perversos. Se vocês os deixarem viver no país, tornar-se-ão tão
Gerações posteriores não eram suficientemente santas para maus como eles são."
colocar tefilin durante o dia todo. Começaram a usá-los apenas
"Eles poderão ter permissão de ficar em Êrets Yisrael apenas se
para as preces matinais.
concordarem em servir a vocês e a cumprir as sete mitsvot que
"Uchtavtam al mezuzot betêcha uvish’arêcha"; "Escreve-las-ás todos povos não-judeus devem cumprir (shêva mitsvot Benê
nos umbrais de tua casa e em teus portões." Nôach). Se eles recusarem, vocês devem destruí-los. Devem
destruir também seus altares e seus ídolos. Não sintam pena
A cada vez que entramos e saimos de nossa casa, devemos olhar deles! Vocês não podem fazer um acordo com eles, ou permitir
para as mezuzot e lembrar-nos de cumprir as mitsvot. que vivam com vocês como amigos."

Veja como é importante o primeiro parágrafo do Shemá! Contém Aqui a Torá traz a proibição de casar tanto com membros destes
mitsvot muito importantes: amar a D’us, aprender e ensinar Torá, povos, como com qualquer não-judeu.
colocar tefilin, e colocar mezuzot em nossa casa.
A palavra "casamento" não deve ser entendida literalmente pois
O Povo Judeu Nunca deve se Esquecer de D’us um matrimônio contraído entre um judeu e um não-judeu não tem
validade haláchica.
Moshê advertiu Benê Yisrael: "Logo chegarão a Êrets Cnaan, e lá
encontrarão grandes cidades. D’us os manteve no deserto Mesmo quando a mulher é judia, o filho desta união, (apesar de
enquanto os canaanitas construíam estas cidades. As casas ser considerado um judeu), diz a Torá, será educado pelo seu pai
serão bem estocadas. Haverá poços para água, vinhas e oliveiras como um gentio, e o pai o afastará da sua verdadeira fé.
que vocês não precisaram plantar. Terão comida mais que
suficiente. Moshê Explica a Razão por Trás das Proibições

"Mas prestem atenção! Quando uma pessoa recebe tanta riqueza Moshê explicou: "Vocês são um povo santo. D’us os escolheu
sem ter trabalhado para isso, torna-se fácil esquecer D’us." como Sua nação especial e preciosa. Não por serem mais
numerosos que os outros povos na face da terra, pois vocês são
"Lembrem-se sempre de que foram escravos no Egito. Devem os menores de todas nações. D’us os escolheu por causa de Seu
continuar a temer D’us e a servi-Lo. Jamais imitem as nações que grande amor por vocês e por causa do juramento feito a seus
servem ídolos!" antepassados".

Apesar da advertência de Moshê, Benê Yisrael esqueceram D’us Os comentários da Torá afirmam que este grande amor que D’us
assim que estavam acomodados em Êrets Yisrael. tem por nós é em virtude da fidelidade e lealdade de Benê Yisrael.
É natural alguém escolher como amigo um indivíduo que lhe é fiel
As palavras de Moshê aplicam-se a todas as gerações. Se as nos momentos mais difíceis.
pessoas têm o bastante para comer e dinheiro suficiente, muito
freqüentemente se esquecem de D’us. Pensam que não precisam "Aquele que por sua vez, serve D’us também com amor, D’us
mais d’Ele, e ficam muito ocupadas com os seus bens. estende Sua recompensa até duas mil gerações".

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No Jardim da Torá Embora haja uma semelhança entre as declarações do Sifri e do
Midrash, em particular, os comentários notam uma distinção entre
por Sichot in English elas. O Sifri vê o conceito da prece e de pedir um presente como
duas interpretações diferentes, ao passo que o Midrash funde os
A Parashá Va’eschanan é sempre lida no Shabat Nachamu, o dois conceitos em um único entendimento.
“Shabat da Consolação”, posterior ao jejum de Tish’a Beav. O
único consolo que aceitaremos pela destruição do Bet Para mostrar mais de perto essa distinção:
Hamicdash, o exílio do nosso povo de Erets Yisrael, e todas as
tragédias subsequentes que sofremos na gueulá. Esse era o D’us é “misericordioso com todas Suas obras”, dando a cada uma
objeto das preces de Moshê mencionadas nesta leitura da Torá, e seu sustento como é requerido. Além disso, quando as ações de
esse é o supremo objeto de todas as preces do povo judeu. alguém são meritórias, ele é assegurado: “Se seguires Minhas
Porém, como enfatiza o ensaio a seguir, a prece não é suficiente. leis… Eu te fornecerei chuva na época apropriada.” Portanto, uma
D’us deseja ação. E em numerosas ocasiões, o Rebe nos ensinou pessoa poderia ter base para crer que merece a ajuda de D’us.
a natureza da ação exigida: “viver com a Redenção” e apreciar
sua prévia em nossa vida atual. E ao antecipar a Redenção dessa Apesar disso, mesmo numa situação dessas a prece é
maneira, podemos antecipar sua vinda. necessária, como está no versículo: “A bondade é Tua, pois Tu
concedes a cada homem segundo seus atos.” Embora a conduta
Implorar a D’us – O que é a Prece? de alguém possa ser merecedora da bênção Divina, como D’us
transcende inteiramente o âmbito material, para que a
O Rambam descreve a prece da seguinte maneira: A obrigação beneficência Divina seja revestida em forma material é exigida
que esse mandamento acarreta é oferecer súplicas todos os dias; uma única medida de bondade. E essa medida é evocada pela
louvar o Eterno, bendito seja, e depois pedir pelas próprias prece.
necessidades, e então louvar e agradecer a D’us pela bondade
que Ele nos concede. Portanto, não há como uma pessoa exigir um favor de D’us.
Todas as vezes, deve fazer pedidos a Ele como alguém que pede
Especificamente, a dimensão fundamental da prece é pedir a D’us um presente. Isso nos permite entender a interpretação do
pelas nossas necessidades. O louvor e agradecimentos que Midrash previamente mencionada. Va’eschanan nos ensina a
precedem e seguem esses pedidos são meramente um elemento maneira pela qual devemos fazer pedidos a D’us. Quando estiver
suplementar da mitsvá. A pessoa deve perceber que D’us é a pedindo Sua bondade, deve-se implorar com humildade, em vez
verdadeira fonte para cada aspecto do sustento e bênção que ela de exigir; mesmo quando é merecedora, uma pessoa não deveria
recebe, e deve se aproximar de D’us francamente, com pedidos confiar apenas em seus méritos, mas sim pedir a D’us pela Sua
sinceros. generosidade e bondade.

Muitas vezes, no entanto, não nos contentamos em pedir a D’us Não apenas um tom humilde, mas um coração humilde
aquilo que precisamos. Desejamos uma medida de fartura que vai
além de nossas necessidades, e de fato, é muito mais do que A primeira interpretação citada no Sifri pede um comprometimento
merecemos. Pedimos uma dádiva que reflita a generosidade mais profundo. A humildade não somente deve caracterizar a
ilimitada de D’us. Pois cada judeu é tão caro a D’us como um filho maneira de uma pessoa abordar D’us, como deve permear todo
único nascido a pais já de idade avançada. E por causa dessa seu ser.
proximidade intrínseca, Ele nos concede favores que superam
nossas necessidades e nosso merecimento. Uma pessoa deveria sentir realmente que está pedindo um favor,
o qual não merece. Pois independentemente da virtude de suas
Duas Interpretações da Súplica de Moshê ações, sempre existe um padrão mais elevado que se poderia
exigir dele. Portanto, seu pedido é por um “presente”, por uma
Esses conceitos estão refletidos no nome da leitura desta semana bondade não merecida.
da Torá, Va’eschanan. Va’eschanan significa “e ele suplicou”, e
refere-se ao pedido de Moshê a D’us para entrar em Erets Yisrael. Esta abordagem foi personificada por Moshê, a quem a Torá
descreve como “mais humilde que qualquer homem na face da
A interpretação desse termo por nossos Sábios dá orientação a terra.” Moshê percebeu suas próprias virtudes positivas, mas
cada um de nós sobre a maneira pela qual devemos nos também entendia que estas virtudes eram concedidas a ele por
aproximar de D’us em prece. O Sifri declara: [Moshê] poderia ter D’us, e sentia que se tivessem sido dadas a outra pessoa, esta
dependido… de suas boas ações. Em vez disso, ele pediu um poderia ter realizado mais.
presente a D’us… Muito mais, então [homens com menos
méritos] devem fazer pedidos [a D’us dessa maneira]. De modo Quando Um Decreto Celestial Pode Ser Mudado
alternativo, [va’eschanan] é um dos dez termos utilizados para a
prece. Há uma dimensão mais profunda na diferença de interpretação
entre o Midrash e o Sifri. Moshê estava rezando para entrar em
O Midrash comunica conceitos similares, declarando: [Este] é um Erets Yisrael.
dos dez termos usados para a prece. De todos eles, Moshê
adotou [esta abordagem], de súplica. Com isso, podemos Embora D’us tivesse decretado previamente que ele não entraria
aprender que nenhum ser criado pode fazer exigências a seu na Terra Santa, depois das conquistas de Sichon e Og, Moshê
Criador, pois até Moshê [abordou D’us] num tom de súplica, pensou que talvez D’us pudesse ceder e, portanto, voltou-se a Ele
[pedindo] um presente. em sincera prece.

Tudo é Bondade Há uma diferença de opinião entre nossos Sábios, sobre se a


prece pode ter efeito depois que um decreto negativo foi

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pronunciado no Alto ou apenas de antemão. O Midrash é da estudar Torá, e a obrigação de ensinar Torá a outros,
opinião de que a prece pode reverter um decreto severo, mesmo especialmente os próprios filhos.
depois de ter sido emitido. Portanto, Moshê pôde abordar D’us por
intermédio de uma das formas de prece aceitas. A primeira Embora pareça lógico que a mitsvá do próprio estudo tenha
opinião do Sifri, em contraste, diz que, normalmente, a prece pode precedência sobre ensinar aos outros, vemos que o oposto é
ajudar somente antes de um decreto ser emitido, mas não depois. verdadeiro. Tanto as obras de Maimônides quanto o Código de
Portanto, Moshê tinha de ir além da abordagem comum da prece Lei Judaica principiam o capítulo das leis que abrangem o estudo
e implorar por um presente. da Torá com a obrigação que cada pai ou mãe tem de ensinar aos
próprios filhos. Por quê? E, além disso, como alguém pode
Atingindo além da nossa compreensão ensinar a outros antes de saber bem a matéria?

O pensamento chassídico explica o pedido de “um presente” por Da ênfase sobre o ensino dos filhos aprendemos qual a
Moshê da seguinte maneira: Se Moshê tivesse recebido abordagem correta no início de nosso estudo de Torá. Para
permissão de levar o povo judeu até Erets Yisrael, ele teria entender isso, analisemos a diferença entre o estudo da Torá e o
conseguido atrair um nível de revelação Divina que nosso serviço cumprimento das mitsvot.
Divino comum não pode atingir. Pois há limites aos picos
espirituais a que o homem pode chegar por seus próprios Quando um judeu cumpre uma mitsvá, provoca uma mudança no
esforços; os níveis mais elevados dependem unicamente da mundo material, elevando e santificando os objetos físicos que
iniciativa de D’us. Estes níveis não podem ser atingidos pela utiliza no cumprimento da mitsvá. De modo que a realização
abordagem padrão à prece. Pois a prece focaliza os esforços do prática da mitsvá é mais importante que as intenções da pessoa
homem para refinar a si mesmo e ao seu ambiente, e portanto que a cumpre, pois a própria ação traz iluminação ao mundo.
Moshê pediu um “presente”.
O estudo da Torá, por outro lado, serve para refinar e elevar o
Fazer mais do que podemos indivíduo. Quando um judeu estuda Torá, seu intelecto une-se à
sabedoria Divina contida nela e faz com que se torne uma pessoa
D’us não concedeu o pedido a Moshê, porque mesmo os níveis Divina, cujos pensamentos são santos. A essência do estudo da
mais elevados de revelação não são concedidos como “presente”, Torá é, portanto, a humildade e a auto-anulação que a pessoa
mas devem ser percebidos pelo homem por meio de seu serviço tem de sentir antes mesmo de começar a estudar. Para estudar
Divino. Torá da maneira certa, é preciso ter um desejo sincero de
entender a sabedoria de D’us, sem motivos egoístas.
O serviço exigido para atrair esses níveis, no entanto, não é
aquele que o homem concebe ou trama por si mesmo. Estava Antes de um judeu estudar Torá deve subjugar seu próprio ego e
além da concepção de Moshê. Em vez disso, é D’us que mapeia perguntar: “O que a própria Torá quer de mim?” Sem esse pré-
esse padrão de serviço e com essa intenção Ele tem liderado o requisito, dizem nossos Sábios, o estudo da Torá pode até ser
povo judeu em sua odisseia através da história. prejudicial e tornar-se uma “droga venenosa”.

Por esse motivo, a prece de Moshê não foi aceita, e foi Yehoshua Salientar o dever de ensinar a nossos filhos antes mesmo que nós
e não Moshê quem levou os judeus a Erets Yisrael. próprios estudemos enfatiza que nosso objetivo não é apenas,
adquirir conhecimentos, pois a mente de uma criancinha não pode
Embora isso trouxesse a possibilidade de os judeus serem chegar a alcançar a grandeza do que estuda. Nosso objetivo é
levados ao exílio, isso é parte do plano Divino para habilitar a seguir o exemplo da pureza e da inocência da criança quando
humanidade a cumprir o serviço necessário para aproximar a estuda as palavras escritas por D’us. Precisamos abordar a Torá
Redenção. Pois este é o serviço Divino do homem comum, do mesmo jeito, sem tentar “adaptar” o que estudamos a nossa
confrontando a experiência cotidiana que tornará a Redenção visão de mundo. Todos nós, independente da idade, somos como
uma realidade. crianças para nosso Pai Celestial. Adaptado das obras do Rebe
de Lubavitch.
A Parashá Va’eschanan é sempre lida no Shabat Nachamu, “o
Shabat da Consolação”. O verdadeiro consolo pela destruição do (Traduzido de “L’Chaim Weekly”, www.lchaimweekly.org)
Bet Hamicdash e o exílio é a percepção de que foram apenas
fases nos guiando para a suprema Redenção. Levando-nos num A Voz Sem Eco
rumo acima da compreensão mortal, D’us permite ao homem
tornar-se Seu parceiro na Criação, e fazer do mundo uma morada Vivendo Com o Rebe - Adaptado das obras do Lubavitcher Rebe
que compartilharão.
Na porção desta semana da Torá, Vaetchanan, Moshê descreve a
O Dever de Ensinar aos Nossos Filhos Revelação no Monte Sinai à geração mais jovem de judeus que
estavam para entrar na Terra de Israel. Ele descreve a voz de
Likrat Shabat on line - Uma publicação da Yeshivá Tomchei D’us, dizendo: “Uma grande voz, que não continuou.”
Tmimim Lubavitch
Uma das explicações que o Midrash oferece para isso é que a voz
Parashat Vaetchanan fala sobre a mitsvá (mandamento) de de D’us não tinha eco. A resposta do Midrash parece apresentar
estudar Torá, e contém o versículo: “E as ensinarás (as palavras alguns problemas. De que maneira a ausência de eco indica
da Torá) a teus filhos, e falará sobre elas...” grandeza? Se a voz era de fato forte não teria produzido um eco?
Além disso, por que D’us realizou este milagre? Como os milagres
Em geral, a mitsvá de estudar Torá é composta de dois não são realizados desnecessariamente, por que D’us
mandamentos distintos: a obrigação que cada pessoa tem de aparentemente alterou as leis da natureza para que sua voz não
produzisse eco?

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Um eco é produzido quando as ondas do som atingem um objeto. E cada ciclo tem um ponto médio, dois na verdade. Pontos
Quando as ondas do som atingem uma parede, uma montanha, médios – quando uma onda chega na metade da subida ou da
ou qualquer obstáculo assim. Ricocheteiam de volta. A única descida – são pontos críticos, momentos de crises. Todo ciclo tem
condição necessária para produzir um eco é que o objeto que sua crise de “meia-vida”.
devolve as ondas do som devem ser fortes. Se o objeto for mole e
ceder, o som simplesmente será absorvido e nenhum eco A “crise de meia-vida” para o ciclo lunar é o 15º dia do mês.
resultará. Naquele dia a lua está a meio caminho de sua jornada. Até então,
a lua está se tornando cheia; depois disso, ela perde sua
O fenômeno físico explicará por que a voz de D’us no Monte Sinai plenitude. Todo dia a lua aumenta, ou diminui. Exceto no 15º.
não tinha eco. Quando D’us disse: “Eu sou o Senhor teu D’us”,
Sua voz era tão esmagadoramente poderosa que nada no mundo Os ensinamentos chassídicos explicam dessa forma: “O décimo
poderia ser forte o suficiente para devolver o som. A voz de D’us quinto representa a plenitude visível da luz, mas a luz ainda é
na verdade penetrou no mundo físico. Todo objeto no mundo, do apenas um receptáculo de luz.” Porém em 15 de Av (segunda-
inanimado até as formas mais elevadas de vida, absorveu a voz feira, 2 de agosto este ano), algo excepcional acontece, algo que
Divina e foi afetado por ela. distingue aquele 15 do dia 15 de todos os outros meses. Dois
ciclos se interceptam.
O fenômeno da Revelação no Sinai é similar ao que acontecerá
depois da chegada de Mashiach, no Mundo Vindouro, que é Os momentos de conjunção, quando os ritmos de ciclos diferentes
descrito nestas palavras: “E a glória de D’us será revelada, e toda se interceptam, criam uma força singular, uma harmonia em
a carne verá.” Mesmo o nosso corpo será capaz de perceber a contraponto, a beleza dentro da contradição.
Divindade. Assim ocorreu na Revelação. Toda a realidade física
absorveu a Revelação da voz Divina. Durante o mês de Av, “o poder do sol está enfraquecido”. A
intensidade do verão já começou sua descida; a força total do
É por isso que a voz de D’us não tinha eco. Isso não foi milagre, e verão declina. O ciclo do sol começou a descer.
as leis da natureza não foram anuladas. Na verdade, está de
acordo com a lei física que quando um som é absorvido, não Porém em 15 de Av, o ciclo da lua atinge o seu ápice.
exista a produção de eco. E como a voz estava totalmente
Este, então, é o único dia do ano em que o ciclo lunar mensal é
integrada na realidade física, não havia nada que pudesse
pleno – na meia-vida – e o ciclo solar anual começa sua descida.
devolver o som. Portanto, a ausência de um eco demonstra a
Este momento, quando o sol enfraquece e a plenitude da lua
infinita força da voz, em vez de o oposto.
preenche o céu, enfatiza a luz da lua.
Este fenômeno não ocorreu apenas uma vez na história do
Nos ensinamentos judaicos, os judeus são comparados à lua e as
mundo. Toda vez que um judeu estuda Torá, a sagrada voz da
nações ao sol. Depois de Tish’a Beav, depois da descida, a lua
Torá penetra as cercanias físicas e eleva o mundo.
torna-se cheia – um sinal de que o Templo Sagrado, a luz do povo
Nossos Rabinos dizem que no Mundo Vindouro, “até as vigas da judeu, será renovada.
casa serão testemunhas”, pois elas absorveram toda a santidade
O 15 de Av enfatiza também a força dessa renovação porque “o
produzida quando uma pessoa estuda Torá em seu lar. (Isso
sol está enfraquecido”. É o calendário da natureza, daqueles que
explica por que muitos tsadikim ordenaram que seu caixão fosse
calculam dentro da estrutura da mente humana, por assim dizer.
feito da madeira de sua escrivaninha ou mesa, onde eles
O calendário de D’us se torna mais proeminente.
estudaram Torá e deram comida aos pobres, pois a Torá e as
mitsvot foram :absorvidas” pelas próprias tábuas!) Em 15 de Av, a lua cheia depois de Tish’a Beav, há uma tradição
de intensificar o estudo de Torá à noite. À medida que a noite se
O poder da Torá é tamanho que nada pode ficar em seu caminho.
alonga, o estudo de Torá da pessoa também aumenta.
O mundo foi criado de maneira a possibilitar a contínua voz da
Revelação penetrando o mundo corpóreo, mesmo nos dias de Torá Instantânea
hoje.
Por Eliezer Cohen
Intercalando Ciclos
A porção desta semana da Torá inclui o primeiro dos três
Todos estamos informados sobre os ciclos da vida, sobre os altos parágrafos da prece Shemá. O segundo parágrafo do Shemá é
e baixos diários, das mudanças sazonais, do vai e vem anual. encontrado na porção da Torá da próxima semana, Êkev, e de
Alguns eventos assinalam os pontos altos da vida, outros, os muitas maneiras espelha o primeiro parágrafo.
vales. Entre eles, porém, ciclos de ritmo menores vão e vêm.
Muito pode ser aprendido ao comparar e contrastar estas duas
A natureza tem seus ritmos, astronômicos ou não, e nós temos os porções da Torá. O que se segue é um exemplo:
nossos. A ciência do bio-ritmo nos diz que temos três ciclos. No
decorrer de nossa vida, atravessamos uma onda, de alto a baixo, A Torá declara no primeiro parágrafo: "E estas palavras [da Torá]
emocional, física e intelectualmente. Como o subir e descer diário que estou ordenando a vós hoje, que estejam em vosso coração"
do sol, como sua travessia anual do céu, como o (Devarim 6:6).
desaparecimento mensal da lua, passamos por ciclos pessoais.
O segundo parágrafo começa com o versículo "E assim será, se
E a Torá tem seus ciclos, épocas nas quais o cumprimento de vós ouvirdes Meus mandamentos que vos estou ordenando
mitsvot domina, tempos em que o estudo de Torá domina. Dentro hoje…" (Devarim 11:13).
de cada um existem ciclos, também.

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Em ambas as porções, a frase: "que vos estou ordenando hoje" é com uma 'fácil.' Portanto, não podemos tratar uma mitsvá como
empregada. tendo prioridade sobre outra.

Qual o significado desta frase aparentemente supérflua? Onde encontramos este conceito na própria Torá escrita?

Em sua interpretação da frase no primeiro parágrafo, Rashi A Torá de forma alguma vincula uma recompensa a uma mitsvá
explica que a Torá está nos ensinando que suas palavras não específica. Se cada mitsvá tivesse uma recompensa
devem simplesmente ser vistas como um dogma fora de moda, ao correspondente, seria muito fácil e conveniente para nós sermos
qual a pessoa não confere nenhuma importância. Ao contrário, seletivos em nossas ações, simplesmente escolhendo realizar a
deveriam ser consideradas como um decreto que todos correm mitsvá que desejamos. Portanto, a Torá apenas menciona uma
entusiasticamente para saudar. A Torá usa a frase: "que Eu estou recompensa para duas mitsvot específicas. Na porção desta
vos ordenando hoje" para ensinar-nos a vermos sempre as semana da Torá, lemos o quinto mandamento filial de honrar os
palavras da Torá como frescas e novas. pais, sobre o qual a Torá em Parashat Yitrô declarou que a
recompensa é vida longa. A outra mitsvá – espantar a ave mãe
Rashi também interpreta esta frase no segundo parágrafo. Lá, ele antes de pegar seus ovos – está também relacionada à
escreve simplesmente: "As palavras da Torá devem ser novas recompensa da longevidade.
para você, como se as tivesse ouvido hoje." Embora isso pareça
ser meramente uma reiteração de seus próprios comentários O que há de tão significativo sobre estas duas mitsvot para haver
sobre o primeiro parágrafo, uma análise cuidadosa revela que não uma recompensa específica a elas atribuída?
é esse o caso.
O Talmud ensina que honrar o próprio pai e mãe é a mitsvá mais
Ao interpretar a frase no primeiro parágrafo, Rashi menciona difícil de cumprir adequadamente. Relata várias ilustrações de
"correr" para saudar um decreto. No segundo parágrafo, Rashi rabinos tentando cumprir esta mitsvá.
omite este "correr". Além disso, Rashi fala no segundo parágrafo
como se o leitor de seu comentário já tenha ouvido as palavras da Uma história fala de Rabino Tarfon que inclinava-se e permitia
Torá, e ele guia a pessoa a vê-las como se as tivesse recebido que sua mãe pisasse sobre ele a cada vez que ia subir na cama.
hoje. Mesmo assim, declara o Talmud, isso não preenche metade de
suas obrigações! Qual a mitsvá mais fácil de ser cumprida?
A lição que emerge é clara. O primeiro parágrafo está se referindo Imagine-se caminhando pela rua quando avista uma mamãe
ao aluno de Torá antes que ele realmente tenha aprendido o pássaro agachada sobre alguns ovos. A Torá ordena que
material. Ele deve abordar estas palavras da Torá correndo com enxotemos a ave antes de tirar os ovos. Isso é tão fácil de fazer –
entusiasmo para saudá-las – pela primeira vez. O segundo apenas um aceno de mão. Não requer nenhum esforço, não custa
parágrafo nos dá um desafio ainda maior – que mesmo após nada. Como diz sucintamente o Talmud no Tratado Chulin, esta é
termos aprendido uma parte da Torá, devemos manter uma a mais fácil de todas as mitsvot.
vivacidade especial para com ela, como se a tivéssemos
aprendido hoje pela primeira vez. Estas duas mitsvot são as únicas mencionadas com uma
recompensa específica porque, na verdade, elas englobam todas
Escolha Uma Mitsvá as restantes 611 mitsvot. Ao dizer-nos que a recompensa, tanto
para a mais simples como para a mais difícil é a mesma, D’us
Por Benyamin Cohen está nos ensinando que todas as mitsvot são criadas iguais, no
sentido em que há uma recompensa concedida para ambas e
Se você tivesse que escolher apenas uma mitsvá para cumprir, para cada uma entre elas.
qual seria ela?
Se tivéssemos de escolher uma mitsvá, qual seria?
Imagine um prisioneiro a quem fosse concedido um dia de
suspensão da pena, e no qual pudesse cumprir qualquer mitsvá A primeira que surgir em nosso caminho. Não perca a chance!
que desejasse. Escolheria Rosh Hashaná, para que tivesse uma
chance de ouvir o som do shofar? Ou talvez escolhesse Yom Shemá Israel
Kipur, para que pudesse rezar a D’us na sinagoga pedindo
misericórdia e perdão? Talvez devesse escolher Shabat para que O "Shemá" é garantia que terão sonos tranquilos e uma vida
pudesse recitar o kidush e ficar ao sol apreciando a santidade do segura?
dia?
Ao Nascer
Este caso intrigante realmente aconteceu no século dezesseis e
foi levado perante o Radvaz, rabino-chefe do Egito que escreveu Antes que nossos bebês comecem a balbuciar suas primeiras
uma clássica coleção de responsa haláchica. De forma bem palavras, logo ao nascer, já introduzimos valores judaicos
surpreendente, ele respondeu que o prisioneiro deveria escolher o fundamentais em suas vidas. Logo ao acordar recitamos "Môde
primeiro dia disponível – independentemente de ser ou não um Ani" e o "Shemá". Ao estarem quase adormecidos, ainda
feriado, um Shabat, ou meramente um dia de semana. Sua despertos, bem alimentados, banhados e confortavelmente
argumentação estava baseada em uma declaração de Pirkê Avot embrulhados em seus pijaminhas quase a ponto de serem
(2:1): "Seja tão escrupuloso ao cumprir uma mitsvá 'menor' como depositados em seu berço, cobrimos seus olhos e recitamos o
é ao cumprir uma 'maior', pois você não sabe as recompensas "Shemá". A afirmação, "Ouve Israel…" que os acompanharão
concedidas pelas mitsvot." para sempre.

Os sábios estão ensinando-nos a não discriminar entre as mitsvot. O que faz esta prece ser tão genuina e especial a ponto de
Devemos ser tão cuidadosos com uma mitsvá 'difícil' como somos incutirmos em nossos filhos, do início ao final de suas vidas?

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O "Shemá" é garantia que terão sonos tranquilos e uma vida (Em voz baixa:)Baruch shem kevod malchutô leolam vaed.
segura?
Veahavtá et A-do-nai E-lo-hê-cha, bechol levave-chá uvchol
Ao Anoitecer nafshechá uvchol meodêcha. Vehayu ha-devarim haêle, asher
Anochi metsavechá hayom al levavêcha. Veshinantam levanêcha
Assim como o "Shemá" faz parte das primeiras palavras a serem vedibartá bam, beshivtechá bevetêcha, uvlechtechá vadêrech uv-
repetidas por nossas crianças, ele acompanha cada judeu ao shochbechá uvcumêcha. Ucshartam leot al yadê-cha vehayu
longo de sua jornada. letotafot ben enêcha. Uchtavtam al mezuzot betêcha uvish’arêcha.

É uma afirmação de nossa fé e confiança em um D’us único e Ouve, Israel, A-do-nai é nosso D’us, A-do-nai é Um.
verdadeiro a quem devemos todas as bênçãos recebidas, desde o
momento de nosso despertar, ao deitar, bem como nos momentos (Em voz baixa:) Bendito seja o nome da glória de Seu reino para
finais de nossa vida. toda a eternidade.

A geração de nossos pais ou avós levaram cada palavra do Amarás a A-do-nai, teu D’us, com todo teu coração, Estas
Shemá a seus lábios a caminho dos fornos crematórios, e antes palavras que Eu te ordeno hoje ficarão sobre teu coração. Inculca-
disto, nas fogueiras da inquisição. O princípio que está para las-ás diligentemente em teus filhos e falarás a respeito delas,
sempre moldado na pronúncia desta afirmação, é que a fé e estando em tua casa e andando por teu caminho, e ao te deitares
lealdade de um judeu a D’us é inabalável, mesmo que para isto e ao te levantares. Ata-las-ás como sinal sobre tua mão e serão
precise pagar com sua própria vida, mesmo que hoje esteja mais por filactérios entre teus olhos. Escreve-las-ás nos umbrais de tua
distante e ainda não tenha descoberto o incalculável valor de sua casa e em teus portões.
herança, mesmo que se torne presa fácil, por falta de
conhecimento, de caçadores anielígenas de almas para rebanhos Vehayá im shamôa tishmeú el mitsvotai, asher Anochi metsavê
alheios: o Shemá e sua neshamá (alma judaica, a faísca Divina) et’chêm hayom, leahavá et A-do-nai E-lo-he-chêm, ul’ovdô bechol
sempre estarão conectadas. levavchêm uvchol nafshechêm. Venatati metar artsechêm be‘i-tô,
yorê umalcosh, veassaftá deganêcha vetiro-shechá
É dever de todo e cada judeu ensinar o "Shemá" a seus filhos, em veyits‘harêcha. Venatati êssev bessadechá livhemtêcha veachaltá
todas as gerações, sem esquecer a obrigação de amar e ensinar vessavá’ta. Hishameru la-chêm pen yiftê levavchêm, vessartêm
também a cada irmão judeu, por mais distante que se encontre vaavadtêm elohim acherim, vehishtachavitêm lahêm. Vecha-rá af
hoje. Deverá fazê-lo escutar e se aproximar. A-do-nai bachêm, veatsar et hashamáyim, velô yihyê matar,
vehaadamá lo titen et yevulá.
A Prece
Vaavadtêm meherá meal haárets hatová asher A-do-nai noten
A leitura do Shemá é um mandamento positivo da Torá que deve lachêm. Vessamtêm et devarai êle al levavchêm veal
ser cumprido duas vezes ao dia: pela manhã na prece de nafshechêm, ucshartêm otam leot al yedchêm, vehayu letotafot
Shacharit e após o anoitecer na prece de Arvit. Uma vez que o ben enechêm. Veli-madtêm otam et benechêm, ledaber bam,
Shemá da manhã deve ser lido no primeiro quarto do dia, é beshiv-techá bevetêcha, uvlechtechá vadêrech, uvshoch-bechá
aconselhável lê-lo logo após as Bênçãos Matinais, antes da prece uvcumêcha, uchtavtam al mezuzot betêcha uvish’arêcha. Lemáan
de Shacharit para não atrasar este horário (e durante a prece de yirbu yemechêm vimê vene-chêm, al haadamá asher nishbá A-do-
Shacharit, o Shemá será lido novamente na seqüência normal da nai laavotê-chem, latet lahêm, kimê hashamáyim al haárets.
prece).
Acontecerá, se obedecerdes diligentemente Meus preceitos, que
O Shemá é composto de três trechos da Tor á (Deut. 6:4-9; 11:13- Eu vos ordeno neste dia, de amar a A-do-nai, vosso D’us, e servi-
21; e Núm. 15:37-41) que devem ser lidos cuidado-samente e Lo com todo vosso coração e com toda vossa alma; então darei a
sem interrupção, seja por palavras, seja por gestos. Os homens chuva para vossa terra a seu tempo, a chuva precoce e a chuva
costumam beijar os tsitsit (na leitura do Shemá de dia) cada vez tardia; colherás teu grão, teu mosto e teu azeite. Darei erva em
que mencionam esta palavra no meio do terceiro parágrafo do teu campo para teu gado, e comerás e te saciarás.
Shemá e também na última palavra ("emet").
Guardai-vos para que vosso coração não seja seduzido e desvieis
Cobrem-se os olhos com a mão direita ao recitar o primeiro e sirvais outros deuses e vos prostreis diante deles. Pois então se
versículo do Shemá para maior concentração. Ao pronunciar o inflamará contra vós a ira de A-do-nai, e Ele fechará os céus e
nome de D’us ("A-do-nai"), deve-se ter em mente que Ele é não haverá chuva, e a terra não dará seu produto. Então
Eterno, i.e., existe, existiu e existirá. A última palavra do primeiro perecereis rapidamente da boa Terra que A-do-nai vos dá.
versículo ("Echad"), composta de três letras hebraicas, deve ser Portanto, colocai estas Minhas palavras sobre vosso coração e
pronunciada com ênfase especial, enquanto se reflete sobre seu sobre vos-sa alma, e atá-las-eis como sinal sobre vossa mão e
significado: a primeira letra, alef, com valor numérico 1, diz serão por filactérios entre vossos olhos.
respeito ao D’us Único; a segunda, chet, com valor numérico 8,
significa que Ele tem soberania absoluta sobre os Sete Céus e a Ensiná-las-eis a vossos filhos, a falar a respeito delas, estando
Terra; a terceira, dalet, com valor numérico 4, lembra que Ele em tua casa e andando por teu caminho, e ao te deitares e ao te
também domina os quatro pontos cardeais. levantares. Escreve-las-ás nos umbrais de tua casa e em teus
portões. A fim de que se multipliquem vossos dias e os dias de
No final do terceiro trecho, as três últimas palavras antes de vossos filhos na Terra que jurou A-do-nai a vossos antepassados
"emet" são repetidas somente quando a pessoa reza sem minyan. dar-lhes por todo o tempo em que os Céus estiverem sobre a
Terra.
Shemá Yisrael, A-do-nai E-lo-hê-nu, A-do-nai Echad.

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Vayômer A-do-nai el Moshê lemor: Daber el Benê Yisrael Quando Moshê foi para o céu, ouviu os anjos louvarem D’us com
veamartá alehêm, veassu lahêm tsitsit al canfê vigdehêm estas palavras. Ele decidiu ensiná-las ao Povo de Yisrael.
ledorotam. Venatenu al tsitsit ha-canaf, petil techêlet. Vehayá Dizemos o versículo em silêncio porque D’us não o deu
lachêm letsitsit, ur‘-itêm otô, uzchartêm el col mitsvot A-do-nai, diretamente a nós na Torá.
vaas-sitêm otam, velô tatúru acharê levavchêm veacha- tizkeru
vaassitêm et col mitsvotai, vihyitêm kedoshim l’E-lo-he-chêm. Ani As três Parshiyot de Shemá têm 248 palavras
A-do-nai, E-lo-he-chêm, asher hotsêti et’chêm meêrets Mitsráyim,
lihyot lachêm l’E-lo-him. Ani A-do-nai E-lo-he-chêm (Ani A-do-nai Quando um judeu reza sozinho, repete as palavras: "Ani Hashem
E-lo-he-chêm). Emet. Elokêchem" no final da leitura do Shemá. Por quê?

Disse A-do-nai a Moshê o seguinte: Fala aos filhos de Israel e Os três parágrafos do Shemá, mais aquelas três palavras,
dize-lhes que façam para si franjas nos cantos de suas perfazem 248 palavras. O corpo de uma pessoa tem 248 partes.
vestimentas, por todas suas gerações. Prenderão na franja de Nossos sábios ensinam que se pronunciamos com cuidado cada
cada borda um cordão azul-celeste. Serão para vós por tsitsit e os uma das 248 palavras do Shemá, D’us protege cada uma das 248
olhareis e recordareis todos os preceitos de A-do-nai, e os partes de nosso corpo.
cumprireis; e não seguireis atrás de vosso coração e atrás de
Sempre que rezamos, é importante pronunciar cada palavra. Se
vossos olhos, por meio dos quais vos desviareis. Para que vos
as pulamos ou pronunciamos de forma incorreta (principalmente
lembreis e cumprais todos Meus mandamentos e sejais santos
as palavras "D’us " e "Elokênu") então não estamos rezando
para vosso D’us. Sou A-do-nai, vosso D’us, que vos tirou da terra
devidamente. Quando dizemos Shemá, é ainda mais importante
do Egito para ser vosso D’us. Eu, A-do-nai, sou vosso D’us (Eu,
pronunciar cada palavra claramente, mesmo que isso leve mais
A-do-nai, sou vosso D’us).
tempo.
É verdade.
Veahavtá / O segundo versículo do primeiro parágrafo do Shemá
O sentido do "Shemá" explicado por Moshê - Parashat
Moshê continuou: "Veahavtá et Hashem Elokecha bechol
Vaetchanan
levavechá uvchol nafshechá uvchol meodêcha"; "Ame a D’us, teu
Moshê explicou em detalhes o primeiro mandamento: "Crê em D’us, com todo o teu coração, com toda a tua alma, e com todas
D’us." Disse ele:" Shemá Yisrael, A-do-nai E-lo-hê-nu, A-do-nai tuas posses."
Echad"", "Ouve, Israel, A-do-nai é nosso D’us, A-do-nai é Um."
Por que D’us deseja que O amemos?
Ao pronunciarmos este versículo, aceitamos o domínio de D’us.
Se O amamos, cumpriremos Suas mitsvot muito mais
No passado, as nações não conseguiam acreditar que havia um cuidadosamente. Se você ama D’us, pensará antes de cada
só D’us. Alguns pensavam que havia duas (ou mais) divindades: mitsvá: "De que maneira posso cumprir melhor esta mitsvá?"
uma boa e outra má. Mesmo hoje, muitas nações não acreditam
Avraham Yitschac e Yaacov cumpriram a mitsvá de "amar D’us "
num único D’us. Atualmente no Oriente há ainda povos que
da forma em que está ordenada no Shemá:
adoram ídolos. No mundo ocidental muitas pessoas acreditam em
D’us. (Ao mesmo tempo, entretanto, curvam-se a imagens e Avraham amou D’us com todo seu coração. Quando Avraham já
adoram um homem como deus.) E algumas pessoas era um homem velho, D’us disse-lhe para oferecer seu único filho
"esclarecidas" não acreditam de todo na existência de D’us. Yitschac em sacrifício. Avraham amava Yitschac. Mesmo assim,
Moshê ensinou a verdade a Benê Yisrael. O mundo é governado cumpriu a vontade de D’us mostrando a força de seu amor por
por um único D’us. Ele é tanto um D’us misericordioso (chamado Ele. Da mesma forma, somos ordenados a resistir à nossos
D’us ) como um D’us severo (chamado Elokim). impulsos e amar D’us de todo o coração.
Nossos sábios ordenaram que cada judeu proclamasse sua Yitschac é um exemplo de alguém que estava pronto a oferecer
crença, recitando o versículo "Shemá Yisrael" duas vezes ao dia, sua vida a D’us. Concordou em ser sacrificado por Avraham no
pela manhã e à noite. monte de Moriyá. Nós, também, devemos amar tanto a D’us que
estejamos prontos a renunciar a nossa vida por Ele.
Se você olhar o versículo de Shemá num Sêfer Torá ou num
Chumash, verá que duas letras desta frase têm o tamanho maior. Yaacov estava pronto a doar toda sua fortuna para D’us. Na casa
São elas: áyin e dalet. (O áyin, a letra final da palavra Shemá e o de seu pai, Yaacov aprendeu a Torá, antes de preocupar-se em
dalet, no final da palavra echad). Estas duas letras formam a enriquecer. A caminho da casa de Lavan, prometeu dar a D’us um
palavra "testemunha". D’us disse: "Vocês, o povo judeu, são décimo de todas suas posses. Após tornar-se rico na casa de
testemunhas de que sou um. Na Outorga da Torá, vocês viram Lavan, Yaacov deu tudo que havia ganho ao seu irmão Essav,
claramente que sou o único D’us." para comprar sua sepultura na gruta de Machpelá.
O versículo "Baruch shem kevod malchutô leolam vaed" Quando Moshê ordenou aos judeus: "Ame D’us com todo seu
coração, com toda sua alma e com todas suas posses," pôde usar
Após recitarmos o primeiro versículo do Shemá, adicionamos em
os patriarcas como exemplos perfeitos.
silêncio as palavras: "Bendito seja o nome de Seu glorioso reino
para todo o sempre!" Moshê continuou: "Vehayu hadevarim haêle asher Anochi
metsavechá hayom al levavêcha"; "Estas palavras que Eu te
Este versículo não é encontrado na Torá. Por que razão o
ordeno hoje ficarão sobre teu coração." Não devem sentir que
acrescentamos?
estas palavras são velhas; devem sentir-se como se as tivessem
recebido ainda hoje no Monte Sinai."
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"Veshinantam levanêcha vedibartá bam beshivtechá bevetêcha Nada poderia ser mais ultrajante. O Egito do tempo dos faraós
uvlechtechá vadêrech uvshochbechá uvcumêcha"; "Inculca-las-ás era o maior império do mundo antigo, brilhante em artes e
diligentemente em teus filhos e falarás a respeito delas, estando ciências, formidável na guerra. Os israelitas eram um povo sem
em tua casa andando por teu caminho, e ao te deitares e ao te terra, escravos indefesos. De fato, já na antiguidade, aqueles no
levantares." Fale sobre a Torá mais que sobre qualquer outro poder acreditavam que os israelitas estavam em vias de extinção.
assunto." A primeira referência a Israel fora da Bíblia é um obituário do povo
judeu. Está inscrito numa pedra grande de granito, que hoje se
Um pai judeu deve começar a ensinar Torá aos filhos antes encontra no Museu do Cairo: Ali diz: "Israel acabou. Sua semente
mesmo de começarem a pronunciar suas primeiras palavras. não existe mais."
Ensina primeiro este versículo aos filhos: "Torá tsivá lânu Moshê
morashá kehilat Yaacov"; "A Torá que Moshê nos ensinou é um A história da sobrevivência judaica é tão excepcional, vasta e
legado para a congregaçnao de Yaacov" (Devarim 33:4). Ensina sem paralelos que desafia a imaginação. Em nosso próprio
então o versículo "Shemá Yisrael" e outros versículos. século, as duas grandes potências que anunciaram: "Israel
acabou" – o Terceiro Reich de Hitler e a União Soviética – foram
"Ucshartam leot al yadêcha vehayu letotafot ben enêcha"; "Ata- esmagados e desmantelados. Porém o povo de Israel vive.
las-ás como sinal sobre tua mão e se-rão por filactérios entre teus
olhos." Muitos pensadores e cientistas sociais tentaram, e ainda estão
tentando, entender a sobrevivência de um povo, uma fé e um
Quando um menino judeu atinge a idade de bar-mitsvá, coloca legado durante três milênios de condições históricas praticamente
tefilin no braço e sobre a cabeça. Os tefilin na cabeça são como impossíveis. Blaise Pascal, o notável pensador, matemático,
uma coroa (o local onde os tefilin assentam sobre a cabeça é teólogo, físico francês do Século Dezessete, escreveu:
onde os reis judeus eram ungidos com óleo). Os tefilin são atados
à cabeça e braço com correias de couro. As tiras mostram que "Em algumas partes do mundo podemos ver um povo peculiar,
estamos intimamente "atados" a D’us. separado dos outros povos do mundo, chamado de povo judeu…
Este povo não apenas é de impressionante antiguidade como
Os tefilin, na verdade, deveriam ser usados durante todo o dia. No também tem perdurado por um tempo singularmente longo… Pois
passado, os judeus usavam tefilin o tempo todo, em casa e no Bêt enquanto os povos da Grécia e Itália, de Esparta, Atenas, Roma e
Hamidrash. Dizia-se que Rabi Yochanan e Rabi Yehoshua ben outros que surgiram muito depois pereceram há tanto tempo, este
Levi nunca andavam mais que uma curta distância sem usar seus ainda existe, apesar dos esforços de tantos reis poderosos que
tefilin. tentaram uma centena de vezes acabar com ele, como seus
historiadores atestam, e como pode ser facilmente julgado pela
Gerações posteriores não eram suficientemente santas para ordem natural das coisas no decorrer de tantos anos. Eles sempre
colocar tefilin durante o dia todo. Começaram a usá-los apenas foram preservados, no entanto, e sua preservação foi prevista…
para as preces matinais. Meu encontro com esse povo me surpreende…"1

"Uchtavtam al mezuzot betêcha uvish’arêcha"; "Escreve-las-ás Este é um tributo comovente, mas exige explicações.
nos umbrais de tua casa e em teus portões." A cada vez que
entramos e saimos de nossa casa, devemos olhar para as A Ciência da Sobrevivência
mezuzot e lembrar-nos de cumprir as mitsvot.
Talvez possamos encontrar nossa resposta nos grandes
Veja como é importante o primeiro parágrafo do Shemá! Contém pensadores empíricos de nosso tempo, os cientistas. Eles nos
mitsvot muito importantes: amar a D’us, aprender e ensinar Torá, dizem que quando um cientista procura determinar as leis que
colocar tefilin, e colocar mezuzot em nossa casa. governam um determinado fenômeno, ou descobrir as
propriedades essenciais de um elemento da natureza, deve fazer
Que possamos sempre escutar, estudar e ensinar profundamente uma série de experimentos sob as mais variadas condições para
as palavras de D’us outorgadas na Torá, tendo a obrigação e descobrir aquelas propriedades ou leis sob as quais todas as
responsabilidade de jamais acrescentar ou diminuir uma única condições são as mesmas.
letra;
O mesmo princípio poderia ser aplicado à sobrevivência judaica.
D’us é Um e Sua (nossa) Torá é uma. É um dos povos mais antigos do mundo, começando sua história
nacional com a revelação no Sinai há mais de três mil anos. No
A verdade é eterna!
decorrer desses séculos, os judeus viveram sob condições
A Ciência da Sobrevivência Judaica extremamente variadas. Foram dispersos pelo mundo. Tiveram
múltiplos idiomas, possuíram uma diversidade de culturas. Por
Por Dov Greenberg exemplo, Rashi viveu na França cristã. Maimônides nasceu na
Espanha islâmica. Rabi Akiva viveu sob o governo romano; os
Há mais de três mil anos, um grupo de escravos judeus foram sábios talmúdicos sob a hegemonia babilônica. Suas sociedades
libertados do Egito. Desde então, nessa época do ano, revivemos foram totalmente diferentes. Tudo que os ligava no espaço e
sua história em Pêssach, a Festa da Liberdade. tempo eram uma fé, o estilo de vida de Torá.

Imagine que pudéssemos viajar de volta no tempo e dizer ao Nenhum outro povo sobreviveu durante tanto tempo sob tais
Faraó: "Temos boas e más notícias. A boa é que um dos povos circunstâncias. Se quisermos descobrir os elementos essenciais
que estão vivos hoje sobreviverá e mudará a paisagem moral do que formam a causa e a própria base da existência de nosso povo
mundo. A má notícia é: não será o seu povo. Será aquele grupo e sua força singular, devemos concluir que não foi sua terra,
ali de escravos hebreus, que estão construindo seus gloriosos idioma, cultura, predisposição racial ou herança genética. O único
templos, os Filhos de Israel."
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fator constante que preservou nosso povo durante todas as ensinar os israelitas que o Arquiteto desse mundo é D'us, os
vicissitudes é o tenaz apego ao nosso legado espiritual. construtores são todos que desejam se tornar Seus "parceiros na
obra da criação". Moshê transformou um grupo de escravos num
Foi isso que tornou nosso povo indestrutível apesar de milênios povo eterno.
de investidas contra o corpo e alma judaicos por bandidos e
monstros de todas as espécies. Notas:

O que a História Judaica nos diz é que a força do nosso povo 1 - Pascal, "Pensees".
como um todo, e de cada indivíduo, está num compromisso fiel à
nossa herança espiritual, a base e essência de nossa existência. 2 - Talmud, Berachot 61b.

O peixe e a raposa 3 - Perante o Faraó, Moshê não exigiu simplesmente em nome de


D'us: "Deixa Meu povo ir", mas "Deixa Meu povo ir; para que eles
Ninguém expressou isso melhor que Rabi Akiva, o grande sábio Me sirvam. (Shemot 7:16). veja também Sefer HaChinuch (Mitsvá
do Segundo Século. O Talmud relata como Rabi Akiva ensinava 306), que a razão de ser do Êxodo foi entrar num pacto com D'us
Torá em público na época em que o governo romano, sob o que é nossa força de apoio. Então, Shavuot é a única festa que
Imperador Adriano, proibiu essa atividade. Outro sábio, Pappus não tem data marcada no calendário. A Torá o designa como o
ben Judah, advertiu-o de que estava arriscando a própria vida. 50º dia após Pêssach. Como Shavuot é o complemento de
Rabi Akiva respondeu com a seguinte parábola: Pêssach, o propósito do Êxodo foi concretizado somente no dia
em que ficamos no Sinai.
Uma raposa certa vez caminhava pela margem de um rio,
quando viu peixes pulando de um local para outro. "Por que estão Por que Moshê Não Entrou na Terra Santa
fugindo?" perguntou ela aos peixes. "Para escapar das redes do
pescador." “Neste caso", disse a raposa, "venham viver na terra Por Yosef Y. Jacobson
seca junto comigo."
Entre Yossef e Moshê: “D'us ficou furioso comigo por sua causa,
"Você é aquele que descrevem como o mais esperto dos e Ele não me ouviu,” declara Moshê no início da porção dessa
animais?" disse o peixe. "Você não é esperta, mas tola. Se semana (Vaeschanan). “D'us me disse: ‘É demais para você! Não
estamos em perigo dentro da água, que é onde vivemos, imagine continue a falar-me sobre este assunto.’”
em terra seca, onde certamente morreremos."2
Assim, D'us recusa a súplica de Seu fiel servo, Moshê, de ter
A Torá é para a sobrevivência judaica, disse Rabi Akiva, como a permissão de entrar na Terra Prometida. Em vez disso, D'us diz a
água para o peixe. Sim, estamos em perigo, mas se deixarmos a Moshê: “Suba ao topo da colina e levante os olhos na direção
Torá, que sustenta nossa identidade, para entrarmos na terra oeste, norte, sul e leste, e veja com seus olhos, pois não cruzará
seca dos Romanos, certamente morreremos. este Jordão.”1

Esta não era meramente a convicção pessoal de um certo Rabi O Midrash, que transcreve as tradições orais passadas através
Akiva. É a própria história de Pêssach. Deixar o Egito foi apenas o das gerações, apresenta um diálogo comovente entre Moshê e
início da liberdade, não o fim. D'us:2

Mas o que seria Pêssach sem sua conexão íntima com Shavuot? Moshê disse a D'us: “Mestre do universo, os ossos de Yossef
O que seria a liberdade israelita sem a Revelação no Sinai? 3 entrarão na Terra, e eu não?!”
Imagine a Bíblia como a narrativa de um mero grupo cultural ou
étnico. Leríamos sobre a escravidão dos israelitas no Egito. Era isso que ele quis dizer: Na conclusão de Bereshit, Yossef,
Continuaríamos a ler com entusiasmo sobre como eles vice-rei do Egito, pouco antes de morrer, pediu aos filhos de Israel
conquistaram sua liberdade e foram levados a uma terra própria. que levassem seus ossos com eles quando deixassem o Egito.
Depois leríamos sobre como eles se mesclaram à paisagem ao Mais de um século depois, quando os escravos judeus
redor, casaram-se com canaanitas, jebusitas e os outros povos do embarcaram rumo à liberdade, “Moshê levou os ossos de Yossef
antigo Oriente Próximo, e se evaporaram com o tempo, com ele, pois ele [Yossef] tinha pedido firmemente aos Filhos de
irrevogavelmente. Israel, dizendo: ‘D'us certamente Se lembrará de vocês, e
deverão levar meus ossos daqui com vocês.’”3
Sobrevivemos porque levamos a Torá conosco até Israel. Somos
quem somos por causa de uma fé importante, fé que se provou O caixão de Yossef vagou com os judeus durante sua jornada de
mais forte que os maiores impérios da história. quarenta anos pelo deserto. Quando Yehoshua liderou o povo até
a terra, os ossos de Yossef foram enterrados na cidade de
O Antigo Egito e Roma construíram grandes monumentos para Shechem,4 conhecida hoje também como Nablus. (O túmulo foi
sobreviverem aos ventos e às areias do tempo. Aquilo que eles queimado e destruído em outubro de 2.000, no início da Segunda
construíram está de pé e em alguns aspectos jamais foi superado. Intifada. Rabino Hillel Lieberman, que foi proteger o loca, foi
Porém somente a arquitetura permanece, não a civilização que assassinado. Desde então tornou-se proibido para os judeus
uma vez lhes deu vida. visitar o lugar, exceto em determinadas ocasiões.)

O Antigo Israel se tornou construtor, também, mas não de Esta foi a ironia sugerida na súplica de Moshê a D'us: Eu fui
monumentos em pedra. Em vez disso eles foram chamados ao aquele que carregou os ossos de Yossef durante quarenta anos;
Sinai para construírem um mundo de justiça, digno de ser a porém estes ossos que carreguei durante todo o caminho
morada da Divina Presença. Suas pedras seriam suas ações entrarão na Terra Santa, enquanto eu ficarei para trás!
sagradas, e sua argamassa o estudo de Torá e compaixão. Ao

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O que perturbava Moshê, segundo este Midrash, não era tanto ele De fato, quando o mordomo apresenta o caso de Yossef ao faraó
não ter permissão de entrar vivo na Terra. Moshê podia entender dois anos depois, é exatamente assim que ele descreve Yossef:
que sua liderança estava reservada para a geração que deixou o “Ali [na masmorra] conosco havia um jovem hebreu, um
Egito e que agora era tempo de seu pupilo Yehoshua assumir as escravo…”7 A primeira característica pela qual ele define Yossef
rédeas. A queixa de Moshê era que D'us não permitiria sequer é ele sendo “um jovem hebreu”.
que seus corpo fosse enterrado no solo da Terra Santa! Os restos
mortais de Yossef, que morrera 180 anos antes, podem entrar na Por que Arriscar sua Liberdade?
terra, enquanto o corpo de Moshê, que liderou os judeus durante
todo o caminho até a fronteira, não pode entrar? Na sociedade egípcia, ser hebreu era motivo de vergonha.8
Talvez seja este o motivo pelo qual a esposa de Potifar, quando
A resposta de D'us é nada menos que estarrecedora, com essas tentava ganhar credibilidade para a sua versão da história de que
palavras: Yossef tentara violá-la, o tenha definido primeiro e acima de tudo
como um “homem hebreu”. Ela sabia que isso ajudaria seu caso.
Aquele que reconheceu sua terra, será enterrado na terra; aquele Quando as pessoas ouvissem que ele era um judeu, acreditariam
que não reconheceu sua terra, não será enterrado na terra. no mau comportamento atribuído a ele. O judeu é capaz de
Yossef reconheceu a terra; Moshê não. tudo…

O Midrash cita dois episódios demonstrando a lealdade de Yossef E Yossef tornou conhecido o fato de que era hebreu, morador de
à terra. Israel. Se disfarçasse isto, talvez lhe fosse permitido integrar-se
na sociedade egípcia, mas aquilo significaria mentir para si
O Primeiro Episódio mesmo e ao mundo. Que tipo de vida é esta?

Aos dezessete anos, Yossef estava vivendo com seu pai Yaacov Anos depois, enquanto sofria na prisão, tentando ganhar as
em Hebron. O jovem e bonito rapaz foi raptado por seus irmãos e graças do governante egípcio para libertá-lo de seu sofrimento,
vendido como escravo a egípcios. Ali ele conquistou a confiança teria sido mais lógico para ele ocultar sua verdadeira identidade.
de seu amo, Potifar, que o colocou encarregado da direção de Por que diria ele ao mordomo: “Fui raptado da terra dos hebreus”
sua casa, enquanto sua mulher tentava sem sucesso seduzir colocando toda sua liberdade em risco?
Yossef a um comportamento imoral.
Além disso, como pode Yossef definir a terra como “A terra dos
Um dia quando ninguém estava em casa, a mulher se agarrou a hebreus”? Naquele tempo, a terra abrigava 31 reinos, consistindo
Yossef, exigindo que ele traísse sua moralidade. Yossef fugiu de de tribos grandes e poderosas, ao passo que os hebreus não
casa deixando a capa na mão dela. A mulher aproveitou a passavam de 70 membros,9 e moravam em parte de uma cidade,
oportunidade e gritou: “Olhem! Ele [meu marido] trouxe para nós Hebron?
um homem hebreu para mexer conosco; ele veio deitar comigo
mas eu gritei bem alto! Quando ele viu que levantei a voz e gritei, Uma Conexão Orgânica
ele deixou esta roupa ao meu lado, fugiu e foi embora!”5
Qual é a conexão entre o povo judeu e a Terra Santa, tanto no
Por isso, Yossef foi condenado à prisão. Durante doze anos passado quanto no presente? É meramente nacional: os judeus
permaneceu encarcerado numa masmorra egípcia, até que residem em Israel e naturalmente são cidadãos do país, portanto
finalmente foi libertado por interpretar um misterioso sonho do estão naturalmente conectados a ele. Não! Pelos últimos 2.000
imperador egípcio, o faraó, após o que se tornou o vice-rei do anos, os judeus têm sido exilados e dispersos por todo o globo,
país. porém ainda falam sobre Erets Yisrael como seu lar; eles clamam
por ele como seu epicentro espiritual. Era o âmago de seus
Como a esposa de Potifar descreveu Yossef? Como um “homem anseios, sonhos e aspirações.10
hebreu” (“Olhem, ele trouxe um homem hebreu para mexer
conosco.”) Esta era a característica mais óbvia e visível de
Yossef. Claramente, ele nunca disfarçou sua origem; todos
sabiam que ele era membro da tribo dos hebreus, vinda da Terra Por 2.000 anos, os judeus têm rezado três vezes ao dia na
de Israel. direção de Israel; ele têm implorado a D'us que os devolva à terra
deles; têm concluído todo Seder e serviço de Yom Kipur com a
O Segundo Episódio declaração: “No próximo ano em Jerusalém!” – eles têm jejuado
todo ano, sem falta, no dia que assinala o começo do seu exílio
O segundo episódio ocorreu dez anos depois, ainda na masmorra de Israel.
egípcia. Ali, Yossef interpreta os enigmáticos sonhos de dois
assistentes do faraó, o padeiro e o mordomo. O padeiro, prediz Por quê? Se fosse meramente uma obsessão nacionalista, teria
Yossef, será executado; o mordomo será libertado e devolvido ao diminuído com os dois milênios vivendo em outros locais.
cargo anterior no palácio.
A resposta a este enigma tem sido articulada em incontáveis
Yossef pergunta ao mordomo: “Se apenas você pudesse me fazer obras de filosofia e misticismo judaicos:11
um favor, e mencionar-me ao faraó, e tirar-me deste lugar, pois na
verdade fui raptado da terra dos hebreus, e mesmo aqui nada fiz Todo e cada judeu, tanto secular quanto observante, está
para que eles me colocassem na masmorra.”6 organicamente ligado à terra de Israel. Israel para o judeu não é
meramente uma nacionalidae; é o lar da consciência interior
Aqui mais uma vez Yossef proclama sua conexão com a Terra judaica: a alma judaica está enraizada na energia que vibra na
Santa. “Fui raptado da terra dos hebreus.” atmosfera de Erets Yisrael.

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O judeu do Século X prosperando no Reno, o judeu do Século legitimidade em conquistar a “terra árabe”. Israel tem um exército
XVI caminhando pelas ruas da Cracóvia, o judeu do Século XX forte, mas seus líderes perderam grande parte de sua convicção,
lutando na Moscou comunista, e o judeu do Século XXI confiança e paixão.
bebericando café numa Starbucks do Soho – cada um deles sabia
e ainda sabe, de maneira consciente ou subconsciente, que sua Agora Israel foi horrivelmente despertado de mais de uma década
alma está conectada de forma inerente com Erets Yisrael. Talvez de ilusões. O sonhos de que concessões, uma retirada dos
ele nunca tenha visitado o território físico, mas ainda é o seu lar. territórios ocupados em 1967, a criação de um estado palestino
Como? Porque sua alma originou-se ali, e foi meramente levada à com sua capital a leste de Jerusalém criará um clima de paz,
Diáspora, a fim de imbuí-la com a santidade de Erets Yisrael. tragicamente se transformou num pesadelo. Esperávamos que a
saída de Israel teria se provado correta, mas não foi este o caso.
Yossef foi um escravo, depois um prisioneiro. Estava morando no O país que estava relativamente seguro no meio da década de
Egito e impotente para mudar essa situação. Por fim, ele se 1980 tem, seguindo os acordos do Tratado de Paz de Oslo, se
tornaria o primeiro ministro do país. Porém aquilo era apenas seu transformado num banho de sangue. Milhares de judeus e árabes
corpo; sua alma ainda estava vivendo em Erets Yisrael. Assim, inocentes perderam a vida no processo.
ele jamais se sentiu envergonahdo de permanecer fiel a si mesmo
e declarar a verdade: estou morando no Egito, mas uma parte de Neste momento decisivo, devemos reclamar nosso senso interior
mim jamais deixou a Terra Santa. Talvez algum dia eu venha a de unidade e propósito, imbuído nnas profundezas de todo
amar o Egito, mas Erets Yisrael sempre permanecerá sendo meu coração judeu. A Terra de Israel é realmente a terra do povo
lar. Porque é o lar. judeu. Não se trata de ocupação; trata-se de realidade. A alma
judaica está conectada por um milhão de cordões ao território de
Um Com a Terra Erets Yisrael; é uma conexão inerente, codificada no próprio DNA
do universo.
Agora voltemos nossa atenção a Moshê.
Nos últimos 4.000 anos a Torá jamais nos desapontou. Nem uma
Após sua fuga da espada do faraó, Moshê passou algum tempo vez sequer. Podemos confiar em sua verdade, também: a terra é
no poço de Midyan. Ali, o menino judeu que cresceu no palácio um presente de D'us ao povo judeu.
egípcio resgatou as sete filhas de Yitrô dos pastores que as
estavam incomodando, e deu água às suas ovelhas. Quando as Yossef foi um homem do mundo. Ele caminhou pelos corredores
filhas chegaram em casa e o pai perguntou-lhes como tinham das Nações Unidas e do Departamento de Estado. Foi um
conseguido chegar tão depressa, elas responderam: “Um homem cidadão leal e fiel do Egito, contribuindo imensamente com seu
egípcio nos salvou dos pastores e até tirou água para nós e para crescimento econômico e salvando-o da fome. Porém ele nunca
as ovelhas.”12 hesitou em dizer a verdade” que Israel era o lar eterno do povo
judeu, dado a eles como um presente do Criador do céu e da
“Um homem egípcio” foi a maneira pela qual descreveram Moshê. terra.
Em outrsa palavras, Moshê permitiu-lhes ter a impressão de que
ele era egípcio. Moshê não necessariamente lhes disse que era Hoje, todos nós precisamos ser Yossefs.
egípcio; ele apenas não protestou contra a impressão delas de
que ele o era. NOTAS

Yossef, conclui o Midrash, abraçou sua terra, portanto foi 1.Devarim 3:26-27
enterrado ali; Moshê não o fez, portanto permaneceu fora dela.
2.Midrash Rabá Devarim 2:8
Isso não era um castigo. Moshê, podemos estar certos, tinha bons
motivos para seu comportamento. (Moshê enfrentou a 3.Shemot 13”19
superpotência de seu tempo, portanto claramente não sofria de
4.Yehoshua 24:32
auto-rejeição judaica, nem estava temeroso de parecer “judeu
demais”. O motivo para ele se comportar assim está além do 5.Bereshit 39:13
alcance desse ensaio.) Mesmo assim, para ser merecedor da
Terra de Israel, você precisa ser um só com ela. 6.Ibid. 4-:14

A Crise Moderna 7.Ibid. 41:12

Nos anos recentes,, alguns de nossos irmãos têm perdido contato 8.Bereshit 43:32
com o senso inato imbuído no coração de nosso povo durante
quatro milênios. Começamos a questionar nosso direito àquele 9.Ibid. 46:27
pequeno território no Oriente Médio, cercado por centenas de
milhões de muçulmanos. A Declaração Balfour, de 1917 e a 10.Veja, por exemplo, o extraordinário poema dramático de Rabi
resolução de 1947 da ONU tornou-se para muitos a única base Yehudah Halevi (Espanha, século 12): “Tsion, você não buscará o
para o nosso direito de estabelecer o Estado de Israel. bem-estar de seus prisioneiros?”

Os vizinhos de Israel, agudamente cônscios dessa mudança de 11.Veja, por exemplo, Licutê Torá Parashá Massê. Sefas Emet
tom na moderna cultura israelense, aproveitaram esse Parashá Balak.
enfraquecimento da conexão judaica com Israel para construir seu
exércitos com o objetivo de derrotar o país. Em vez de dar aos 12.Shemot 2:19.
terroristas um golpe total no momento em que o terror mostra sua
46 - Parashat Êkev Deuteronômio 7:12-11:25
feia cabeça, Israel foi consumido pela dúvida quanto à própria
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O Cumprimento das Mitsvot e a Conquista da Terra sentiram fome. A cada manhã, D’us lhes dá um alimento
maravilhoso: o maná do céu.
Será para seu próprio bem. D’us abençoará seus filhos, animais,
azeite, vinho e cereal. Dentre as mitsvot, não há maneira de dizer "D’us poderia tê-los levado por países habitados por pessoas,
qual delas é a mais importante. Por isso, deve-se tentar cumprir onde fosse possível comprar alimentos. Ou Ele poderia ter dado a
todas dando a mesma importância e tomando os mesmos vocês um enorme suprimento de maná para poupá-los todos os
cuidados. dias da preocupação de questionar de onde viria a refeição do dia
seguinte. Mas a razão pela qual não agiu desta forma é porque
Há algumas mitsvot sobre as quais pisamos com nosso salto. Não desejava que confiassem n’´Ele completamente para todas suas
as levamos a sério. Avak lashon hará (maledicência indireta) é um necessidades.
exemplo de tal pecado. Digamos, você elogia alguém perante
pessoas que não gostam desta pessoa. Isto é proibido, mas "D’us também os vestiu por quarenta anos. As nuvens de glória
freqüentemente negligenciado. Aprendemos desta parashá que mantiveram suas roupas limpas e novas. Seus filhos nunca
devemos corrigir tal falha e sermos cuidadosos. perderam as roupas devido ao crescimento. Miraculosamente,
suas vestes cresciam com eles, assim como a concha de um
Moshê continua falando ao povo até o final da Parashá, e a caracol cresce com ele.
encorajá-los a obedecer a D’us.
"Embora achassem difícil a vida no deserto, D’us queria isso para
Moshê disse: "Cumpra todas as mitsvot de D’us, mesmo se não seu próprio bem, Ele os treinou a cumprirem Suas mitsvot e a
parecem importantes a você. Até mesmo a menor das mitsvot confiar n’Ele, e Ele os preparou para receber Erets Yisrael.
deve ser observada cuidadosamente.
"Enquanto cumprirem as mitsvot de D’us, Ele continuará a cuidar
"Como recompensa, D’us lhe concederá o olam habá, mundo de vocês como fez no deserto. Confiem n’Ele plenamente."
vindouro,e Ele o abençoará também neste mundo.
Ser Humilde e Agradecer
"Lembram quando foram contabilizadas apenas setenta pessoas
quando Yaacov desceu ao Egito? Vejam como hoje vocês são tão "D’us está levando vocês a uma terra muito especial. Tem água
numerosos como as estrelas no céu! Desta maneira, continuarão abundante, e é famosa por sete produtos: trigo e cevada – dos
a se multiplicar se cumprirem as mitsvot de D’us. quais pode-se fazer pão – bem como deliciosas frutas: uvas,
figos, romãs, azeitonas e tâmaras.
"Seus filhos terão vida longa. Serão sábios e livres do pecado. As
pessoas exclamarão: ‘Olhem para estas maravilhosas crianças "O sabor das frutas irá variar de uma tribo para outra. Por
judias! Abençoadas sejam suas mães!’ exemplo, as uvas na terra de Efrayim terão sabor diferente das
uvas de Naftali. Se você experimentar as mesmas frutas de todas
"D’us também lhes dará fartas colheitas de cereal, vinho e azeite. as tribos de Erets Yisrael, será como experimentar iguarias de
Seus animais também se multiplicarão, para que se tornem ricos. doze países diferentes!

"D’us manterá todas as doenças distantes de vocês: tanto as "E não é só isso! A terra é rica em ferro e cobre. Vocês terão os
doenças comuns como as raras que Ele enviou aos egípcios. Pelo minerais necessários para edificar prédios e confeccionar
contrário, aquelas doenças cairão sobre seus inimigos. ferramentas. Tornar-se-ão ricos.

"Vocês serão vitoriosos sobre as sete nações de Erets Canaan, e "Mas enquanto se distraem com todas estas descobertas e
vocês as destruirão." maravilhas, poderão esquecer D’us. Para impedir que isso
aconteça, devem bendizê-lo toda vez que forem comer ou beber.
A Conquista das Nações
"Não fiquem orgulhosos, pensando: Minha força e meu talento
"Vocês poderiam pensar: ‘As nações em Erets Canaan são mais fizeram-se ter sucesso. Lembrem-se que tudo vem de D’us.
poderosas e numerosas que nós. Como poderemos expulsá-las?’
Mas não tenham medo! Lembrem-se do que D’us fez ao faraó e "Vocês poderão pensar: ‘A razão pela qual D’us nos concedeu
aos egípcios? D’us realizará milagres semelhantes para vocês, todas estas maravilhas é porque somos tsadikim.’ Não é por isso
quando conquistarem Erets Canaan. que D’us deu-lhes Erets Yisrael. Lembrem-se de que pecaram
muitas vezes e deixaram-No aborrecido. Estão sendo tarzidos a
"Enviará insetos tzir’a (vespas) à frente de vocês. Quando seus esta terra porque D’us assim prometeu aos descendentes de
inimigos se esconderem, estes insetos voarão até seus Avraham, e chegou a hora das nações que vivem no país serem
esconderijos e os envenenarão. Isto fará com que os soldados expulsas por causa de sua perversidade."
inimigos tornem-se cegos, e vocês poderão derrotá-los facilmente.
Moshê ensinou aos judeus que o sucesso não deveria torná-los
"D’us também confundirá as nações de Canaan, para que vocês orgulhosos.
possam derrotá-los.
O Bircat Hamazon
"Mas fiquem atentos! Lembrem-se de queimar os ídolos: não
sejam atraídos pela adoração de ídolos nem tirem qualquer A Torá ordena: "Bendiga D’us após ter comido e sentir-se
proveito do ouro ou prata com que são feitos. D’us odeia qualquer satisfeito."
coisa relacionada a adoração de ídolos."
A Torá obriga um judeu a recitar uma bênção se ele comeu pão
"Eu os lembrarei de como D’us nos cuidou no deserto. E vocês até ficar saciado. Nossos Sábios instituíram que deve-se recitar
estão no deserto por quase quarenta anos agora, e jamais
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bircat hamazon (graças após a refeição) mesmo se comeu Pelos nossos padrões, a geração que chegou a Erets Yisrael era
apenas um kezayit (pedaço do tamanho de uma azeitona) de pão. justa. Moshê os reprovou por não terem ainda atingido os padrões
de perfeição deles exigidos, proporcionais às revelações
Bircat hamazon consiste de quatro partes: declaradas que vivenciaram (Or Hachaim, Aitz Yosaif).

1.Bircat Hazan – a bênção Àquele que alimenta todas as Moshê disse: "Após comerem o bastante para ficarem satisfeitos,
criaturas: Moshê instituiu esta bênção quando os judeus bendigam D’us pela boa terra que Ele lhes deu." Esta é a mitsvá
receberam o maná. de bensh (recitar Bircat Hamazon)", após uma refeição com pão.

O milagre do maná caindo do céu enquanto os judeus estavam Para cumprir a mitsvá corretamente, devemos ser cuidadosos ao
no deserto demonstrou abertamente a eles que D’us, em Sua pronunciar cada palavra, claramente. (É uma boa idéia usar
bondade, cuida de todas as criaturas. Mais tarde, quando eles sempre um Sidur, mesmo se soubermos a oração de cor.)
comeram os frutos de seu próprio trabalho na Terra, entenderam Crianças muito pequenas para pronunciar todo o Bircat Hamazon,
que o pão deste mundo era concedido pelo mesmo atributo Divino podem pronunciar uma bênção mais curta: "Bendito seja o
de bondade. Por isso,nesta primeira bênção, reconhecemos que, Misericordioso, nosso D’us, Rei do Universo, o dono do pão."
embora os seres humanos trabalhem para assegurar seu
sustento, ainda assim é D’us que provê o alimento a todas as O que acontece quando alguém faz uma refeição e se esquece da
criaturas. bênção? Se ela lembrar-se dentro de um prazo de 72 minutos
após o término da refeição, ainda poderá rezar. É muito
2.Bircat Ha’arets – a bênção sobre a Terra: Yehoshua introduziu importante agradecer, mesmo após ter passado algum tempo
esta segunda bênção quando ele e o povo mereceram entrar na desde que comeu seu pão.
Terra, pelo desejo ardente de Moshê e sua geração. (O texto
original de Yehoshua era: "Tu nos deste um legado, um bem Nossos sábios decretaram que devemos falar a berachá (bênção)
desejável, e um grande País." Completamos isso desta forma: "Tu apropriada antes e depois de ingerir qualquer alimento. Se um
deste aos nossos pais…") judeu come sem uma berachá, é como se tivesse roubado o
alimento de Seu Dono: D’us. É importante pronunciarmos cada
Nesta bênção mencionamos a mitsvá do berit milá, pois pelo seu palavra da berachá claramente, especialmente as palavras D’us,
mérito D’us concedeu Erets Yisrael ao povo judeu. Também Lhe Elo-kei-nu. Enquanto recitamos a berachá, é importante refletir na
agradecemos por Sua Torá, dessa maneira expressando o infinita bondade de Hashem que nos fornece vida a cada instante.
propósito definitivo da posse de Erets Yisrael: estudar e cumprir
os mandamentos de D’us. Derech Erets ao se Alimentar

3.Bircat Yerushalayim – a bênção da paz para Jerusalém e o Bet Algumas destas regras encontram-se na Guemara; outras, em
Hamicdash: O Rei David e Salomão estabeleceram a terceira Sefer HaRokeach (Sefer HaRokeach contém dinim, as leis. Foi
bênção, que pede pela continuação da liderança da Casa de escrito pelo Rokeach, Rabi Elazar de Worms, Alemanha, na Idade
David e pela paz em Jerusalém e o Bet Hamicdash (Seguindo-se Média).
à destruição, completamos o texto e pedimos a D’us para
reconstruir Jerusalém.) Não é correto alimentar-se em pé. A pessoa deve sempre sentar-
se para comer.
4.Hatov Vehamaitiv – a bênção Àquele que é bom e faz o bem:
esta bênção foi adicionada por nossos sábios para celebrar o Mesmo se você comer em pé, deve sentar-se para rezar.
milagre que aconteceu na cidade de Bethar após a destruição do
Bet Hamicdash. •Não converse enquanto estiver mastigando.

Que pecados precipitaram a destruição de Bethar? Conforme as •Nunca reponha a comida na travessa sobre a mesa, se já
opiniões na Guemara (Yerushalmi Ta’anis 4:5), a prostituição era mordeu um pedaço. Nem deveria oferecer a outra pessoa.
muito difundida lá: conforme outros, o povo jogava bola. A
•Não ofereça um copo a outra pessoa se já bebeu nele.
segunda opinião insinua que os habitantes jogavam bola no
Shabat, desse modo profanando a honra do Shabat; ou que •Não lamba os dedos!
desperdiçavam o tempo em divertimentos fúteis, em vez de se
ocuparem com o estudo de Torá. •Não é educado morder uma fruta ou qualquer outro alimento
maior que um kezaitz (equivalente ao tamanho de um ovo).
Meshech Chochma explica que o Bircat hamazon foi estruturado Aquele que o faz parecerá uma pessoa gulosa que está
para expressar nossos agradecimentos a D’us, por distinguir devorando a comida. A maneira refinada de comer é cortar
nossa nação com Sua Providência individual. pedaços não maiores que um kezaitz.
D’us assegurou a sobrevivência de nosso povo com o milagre •Da mesma forma, não é educado jogar comida de qualquer jeito,
declarado do maná no deserto, e demonstrou novamente Sua a fim de não desprezá-la e para que não se estrague.
Providência na forma de milagres realizados no Bet Hamicdash. A
destruição do Bet Hamicdash, e posteriormente de Bethar, pode •Apanhe qualquer alimento que observar estar jogado no chão.
ter provocado a suspeita de que D’us não estava mais com Seu
povo. Por esta razão, o milagre que ocorreu em Bethar foi uma •Não é correto alimentar-se na rua.
bondade recebida como sinal da presença de D’us entre nós,
mesmo estando no exílio, e por isso foi incorporada no Bircat No passado, o Beit Din costumava julgar pelas declarações de
Hamazon. testemunhas. Se os juízes soubessem que uma testemunha fora

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vista comendo na rua, declaravam: "Ele não serve para ser nossa prata em yetzias Mitsrayim, você se preocupou aapenas em
testemunha," pois agiu de maneira imprópria. encontrar o caixão de Yossef e em levá-lo consigo.’"

•O Zohar diz que antes de uma bênção, a pessoa deve remover D’us queria que Moshê fosse rico para que as pessoas lhe
(ou cobrir) quaisquer facas que estejam sobre a mesa. Uma mesa respeitassem e escutassem, honrando-o.
é como o misbeach, o altar onde se realizavam os sacrifícios a
D’us, trazendo paz ao mundo. Nenhum utensílio de ferro podia D’us prometeu: ‘Escreverei os Dez Mandamentos sobre as luchot
tocar o misbeach. Por isso, uma faca, instrumento usado para que você entalhou. Coloque as luchot no aron.’
matar, não deveria estar sobre a mesa durante a bênção. (Esta
regra aplica-se apenas aos dias de semana. No Shabat, Rosh "Construí um aron (Isto foi antes de ser construído o Mishcan.
Chôdesh ou yom tov, podemos deixar facas sobre a mesa). Betzalel mais tarde fez um outro aron).

•O pão deve ser deixado sobre a mesa no momento em que se "Eu trouxe as Segundas Tábuas em Yom Kipur. Disse-lhe que
recitará o Bircat Hamazon. D’us os perdoou pelo pecado do Bezerro de Ouro, e coloquei as
luchot no aron."
Por que devemos nos preocupar com tantas regras quando
comemos? "Embora tenham pecado, D’us ainda os ama. Sua única exigência
é: temam-No."
Sempre que nos alimentamos, seja o que for que façamos,
estamos na presença de um Rei muito mais poderoso que O que isto significa, sempre temer a D’us?
qualquer outro rei ou governante neste mundo: o Rei dos reis.
Compare seu comportamento quando você está sozinho e
Não deveríamos nos comportar de forma correta em todas as
quando está com outras pessoas. Você age da mesma forma?
ocasiões, sabendo que estamos diante de Sua presença?
Você reza da mesma maneira quando está sozinho e quando está
Nesta Parashá aprenderemos sobre a mitsvá de temer a D’us. Se com outros? Recita uma berachá da mesma maneira quando
nos comportamos corretamente à mesa, demonstramos que ninguém está ouvindo e quando há alguém por perto?
tememos a D’us. Não somos como não-judeus que se esquecem
É difícil estar sempre consciente da presença de D’us. Por que?
de D’us quando comem ou bebem. Os judeus lembram-se dele e
Porque não O vemos, então fica fácil esquecê-lo ou fingir que Ele
agem com derech erets (boas maneiras) antes, durante e após a
não está presente. As pessoas nos parecem mais reais que D’us
refeição.
porque as vemos com nossos próprios olhos.
O Pecado do Bezerro e as Segundas Tábuas
Como cumprimos a mitsvá de "temer D’us?" Devemos estudar
Moshê continuou a enumerar os pecados de Benê Yisrael. Estas sefarim que mostram como estamos sempre nas mãos de D’us.
transgressões foram cometidas após a Outorga da Torá, e por Se não fosse por Ele, não estaríamos vivendo, respirando,
isso, tiveram um enorme peso. Benê Yisrael deveria saber disso. falando, ou nos movendo. Devemos também entender que D’us
sabe de todas nossas ações, e conhece até nossos pensamentos.
Foi este o discurso de Moshê: "Após a Outorga da Torá,
permaneci no Monte Sinai por quarenta dias e noites, sem comida Nossos sábios ensinam: "Há um olho que vê e um ouvido que
ou bebida. Finalmente, D’us deu-me duas maravilhosas luchot escuta, e todos seus atos são anotados em um livro. (Pirkê Avot
(Tábuas) feitas de safira. Elas continham os Dez Mandamentos. 2:1)."

"Mas D’us deu-me também notícias chocantes. ‘Desça Imagine que você viaja a um país onde o governo vigia os
rapidamente!’ ordenou Ele. ‘O povo que você trouxe do Egito estrangeiros. Embora você não veja a polícia, sabe que está
cometeu um pecado terrível. Enquanto esteve fora, fizeram uma sendo espionado o tempo todo. Gravadores secretos foram
imagem de um bezerro de ouro. Devo destruí-los. Farei de você instalados em seu quarto de hotel. Uma câmera oculta registra
então, Moshê, uma grande nação!’ tudo que você faz. Parece assustador?

"Quando ouvi estas palavras, disse: ‘Sei que Tu amas teus filhos. D’us deseja que nos lembremos que Ele está sempre nos
Na verdade, não deseja destruí-los." vigiando. Isto nos ajudará a agir de maneira correta todo o tempo.

"Na segunda vez em que estive no céu, D’us disse: ‘Você, Moshê, Se você vir um cão raivoso ou um homem com uma arma
quebrou as luchot. Não desejo que as futuras gerações o culpem correndo em sua direção, entrará certamente em pânico.
por não as terem recebido. Por isso, as escreverei novamente. Imediatamente, seu coração começa a bater desenfreado; talvez
Porém, devido ao pecado que cometeram, Benê Yisrael não seus joelhos tremam. Você fica aterrorizado. Ninguém precisa
merece mais as luchot feitas por Mim. Moshê, você deve entalhá- ensiná-lo a ter medo. Por outro lado, se ouvir algo do tipo: "Rosh
las. Gravarei então as palavras nas luchot.’ Hashaná está chegando; D’us decidirá se você deve viver ou
morrer," seus joelhos não começam a tremer. Você não entra em
"Perguntei: Onde conseguirei a pedra para as luchot?" pânico. Você tem que meditar profundamente sobre isso, antes de
começar a sentir-se assustado.
"D’us mostrou-me uma mina repleta de safira sob Seu Trono
Celestial de Glória. Disse-me: ‘Pegue a pedra de safira e corte as Agora você pode entender porque é tão difícil aprender como
luchot exatamente do mesmo tamanho que as primeiras. Pode temer D’us.
ficar com os pedaços que sobrarem do bloco de safira. Você
merece ser rico! Quando o povo estava atarefado reunindo ouro e Devemos treinar nossa mente a fazê-lo. Moshê nos ensinou que é
uma das mitsvot mais importantes da Torá. D’us não nos criou
com um medo instintivo d’Ele. Ele deseja que nos esforcemos
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para cumprir este preceito fundamental, e desta forma seremos Certa vez, eu estava caminhando em Jerusalém quando percebi
merecedores de Suas bênçãos. que estava na hora de rezar Minchá. Sabia que precisava rezar
logo, ou então ficaria muito tarde. Mas onde poderia achar um
Devemos Amar um Convertido cantinho sossegado? Não queria permanecer na rua, pois poderia
ser incomodado em minha tefilá. De repente, percebi um edifício
Se um não-judeu decide guardar a Torá e as mitsvot, um Beit Din em ruínas. Entrei ali e rezei. Ao terminar, percebi Eliyáhu HaNavi
ortodoxo pode convertê-lo ao Judaísmo. Assim que se tornar um de pé, à entrada das ruínas! Não entrou, mas aguardou até que
guer (convertido) é considerado igual a qualquer outro judeu. eu terminasse minha tefilá. Então, falou comigo. "Você jamais
Além disso, a Torá nos ensina que amá-lo é uma mitsvá especial. deveria entrar numa ruína!" advertiu-me. "É perigoso! Não
percebe que pode cair a qualquer momento? Você deveria ter
Se você conhece um guer, faça um esforço para ser
rezado rapidamente a amidá do lado de fora!" Só então entendi
especialmente simpático com ele. Seja muito cuidadoso para não
porque Eliyáhu não entrara na ruína. Saí rapidamente.
ofender-lhe os sentimentos.
Já lá fora, ele me perguntou: "Meu filho, o que escutou na ruína?"
D’us disse: "Um guer merece amor especial! Juntou-se ao povo
judeu voluntariamente, porque estava procurando a verdade." Respondi: "Ouvi uma voz que parecia o arrulhar de uma pomba
dizendo: ‘Por causa de meus pecados, destruí Minha casa e os
A Torá menciona a mitsvá de sermos bons com os gueirim nada
exilei entre os adoradores de ídolos.’"
menos que 36 vezes!
Eliyáhu explicou: "Era D’us pranteando a destruição do Bet
Muitas pessoas destacadas na Torá foram gueirim. O sogro de
Hamicdash. D’us faz isso três vezes ao dia. Quando os judeus
Moshê, Yitrô, foi um deles. A princípio, Yitrô foi um sacerdote que
dizem: ‘Amain, yehai shemai rabba,’ nas sinagogas e casas de
adorava ídolos em Midyan.
estudo, D’us balança tristemente a cabeça e exclama: ‘Como Eu
Após ouvir sobre os grandes milagres da Abertura do Mar era feliz quando Benê Yisrael Me louvava assim no Bet
Vermelho e sobre a guerra contra Amalek, juntou-se a Benê Hamicdash! Como é triste para o Pai que precisou exilar Seus
Yisrael no deserto e tornou-se judeu. filhos entre os adoradores de ídolos. E deploro os filhos que foram
expulsos da mesa de seu Pai!’"
Outra geyores foi Ruth. Ela era uma princesa de Moav, que
desposou um judeu. Após a morte do marido, sua sogra, Naomi, Desta história, deduzimos como é importante louvar a D’us.
queria deixar Moav e voltar para Erets Yisrael. Naomi implorou à
Quando uma criança já consegue ler em um Sidur, começamos a
nora que permanecesse em Moav. Mas Ruth respondeu: "Onde tu
ensiná-la a rezar com a congregação. Isto é um mérito especial.
fores, eu irei; teu D’us é meu D’us! Desejo tornar-me judia e
cumprir as mitsvot." Sempre que você rezar, é importante que pronuncie cada palavra
(se não tem muito tempo, é melhor rezar menos, mas
Ruth foi para Erets Yisrael e casou-se.
pronunciando as palavras cuidadosamente). Lembre-se, D’us
Seu bisneto foi o Rei David e Moshiach virá de sua descendência. "está no outro lado da linha." Ele escuta tudo aquilo que você diz,
embora possa não responder imediatamente. Nossas tefilot nos
Na verdade, famosos líderes de Torá descendiam de gairim ou ajudam e aos judeus de toda parte. Como diz o versículo: ‘D’us
eram, eles mesmos, gairim: está próximo de todos que O chamam – daqueles que O chamam
sinceramente." (Tehilim 145:18).
•Onkelos, o sobrinho do Imperador Romano Adriano, tornou-se
um excelente erudito de Torá, cujas explicações em aramaico da Moshê Continua seu Discurso
Torá são aceitas e aprovadas por nosso povo (de tal forma que os
Sábios requerem que sejam lidas semanalmente). "Vocês assistiram aos milagres que D’us realizou no deserto:
como afogou o faraó e seu exército no Mar Vermelho, e enviou
•Shemaya e Avtalyon (professores de Torá de Hilel e Shamai) maná do céu. Lembram-se que Ele fez a terra engolir Dasan,
eram gairim, descendentes do rei assírio Sanchairiv. Aviram e suas famílias, quando não deram ouvidos a Ele.

•Rabi Meir, R. Akiva, R. Yosse e R. Shmuel bar Shilos "Certifiquem-se de cumprir todas as mitsvot cuidadosamente!
descenderam, alguns do perverso Haman, e alguns do general Vocês conquistarão Erets Yisrael e permanecerão no país.
canaanita Sisra.
"Erets Yisrael não é como o Egito, que é plano com o Rio Nilo
•Os profetas Yermeyahu e Yechezkel descenderam do convertido para supri-lo de água. Erets Yisrael está repleto de colinas e
Rachav. precisa de chuva para que as plantas cresçam. D’us lhes
fornecerá chuva se cumprirem Seus preceitos!"
A Tefilá
Moshê continua a falar: "Estudem e pratiquem as mitsvot!
Moshê ensinou os judeus: "Sirva D’us, rezando a Ele todos os Repassem seus estudos de Torá muitas e muitas vezes, para que
dias!" se lembrem. A Torá deve ser para vocês tão nova e interessante
como se a escutassem pessoalmente no Monte Sinai. Estudem
Começamos a ensinar uma criança a rezar antes mesmo de apenas por amor a D’us, servindo a D’us com todo o coração."
saber ler em um Sidur. Assim, tão logo seja capaz, nós a
treinamos a responder: "Amen,"sempre que ouvir uma berachá. "D’us declarou: ‘Se Me servirem desta maneira, Eu tornarei a vida
uma bênção para vocês/ Terão mais tempo para Me servir.
Rabi Yossi contou esta história: Concederei chuva quando a terra precisar dela. A primeira chuva

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virá no outono, após a semeadura, para encharcar a terra e fazer Posteriormente, a Torá enfatiza: "Não haverá homem ou mulher
as plantas crescerem. Darei chuva tardia na primavera, próximo estéril entre vocês. A Torá considera cada alma humana tão
da época da colheita. Isso fará seus cereais brotarem.’ preciosa como o universo inteiro, e considera um aumento na
nação da Torá como uma das maiores bênçãos (Hirsch).
"Vocês juntarão seu cereal, vinho e azeite."
•Ele abençoará o fruto de seu útero. – Você não perderá bebês,
"Terão farta produção, mas os países à sua volta não. Eles virão nem seus filhos morrerão enquanto você for vivo.
com ouro e prata para comprarem comida de vocês.
Seus descendentes serão abençoados de maneira tão óbvia que
"Vocês terão pasto suficiente para os animais, e não terão de aqueles que virem crianças judias exclamarão: "Tão inteligentes!
procurar grama distante para alimentá-los. Abençoarei também Tão puros! "Todos aqueles que os virem reconhecerão que são
seus alimentos. Vocês ficarão satisfeitos mesmo após comerem sementes abençoadas por D’us" (Yesha’yáhu 61:9).
apenas uma quantidade pequena.
•Ele abençoará os produtos de seu solo: seu cereal, vinho e
"Fiquem alertas! Por terem uma vida fácil e mais do que o azeite – D’us abençoará todos os seus produtos, mas estes três
suficiente para comer; seu yetzer hará tentará persuadi-los a são mencionados especificamente porque são as principais fontes
abandonar D’us. A riqueza e facilidades podem facilmente levar a de renda de um fazendeiro.
pessoa a esquecer-se da Divindade."
•Os filhotes de seus animais – D’us protegerá seus rebanhos de
Por isso Moshê advertiu: sofrerem abortos.

"Não dêem ouvidos ao yetzer hará quando tenta fazer com que As bênçãos acima serão concedidas em Erets Yisrael, a Terra
vocês abandonem D’us!Se servirem ídolos, a fúria de D’us se que D’us prometeu a seus pais.
voltará contra vocês. Ele fechará os céus para que não haja
chuva. O céu talvez fique repleto de nuvens, mas não cairá uma •Vocês serão abençoados por todas as nações – As nações
gota de chuva! As plantações não crescerão. Em seguida, vocês reconhecerão: "Esta é uma nação maravilhosa, Divinamente
serão expulsos da boa terra que D’us lhes concedeu. abençoada!"

"Vocês viverão fora de Erets Yisrael. Continuem a cumprir a Torá •Não haverá homem ou mulher estéril entre vocês – Além do
e aquelas mitsvot que podem ser cumpridas fora do país, como sentido literal, este versículo sugere:
colocar tefilin sobre a cabeça e o braço. Continuem a ensinar Torá
a seus filhos, mesmo no galut (exílio). Comecem desde o 1.Suas preces não permanecerão estéreis, ou sem frutos, perante
momento que aprendam a falar. O estudo de Torá deve ser feito o Todo Poderoso; Ele as aceitará e as concederá.
sempre: em casa, viajando, quando se levantam e ao irem dormir.
2.Nenhum judeu será estéril, ou ignorante de Torá. Judeus de
"Continuem a escrever as palavras do Shemá nas mezuzot, que todas as posições sociais serão instruídos.
devem ser afixadas nos portões de suas casas. Cumpram todas
as mitsvot, exceto aquelas que se aplicam apenas a Erets •D’us os livrará de todas as doenças corriqueiras, e não colocará
Yisrael." nenhuma das doenças malignas do Egito sobre vocês.

"Se agirem desta forma, merecerão retornar à terra que D’us "Vocês derrotarão todas as nações que D’us fizer passar por suas
prometeu aos seus antepassados. Viverão lá por muito tempo e a mãos" – Moshê prometeu que se Benê Yisrael se excederem no
terra lhes pertencerá para sempre." estudo de Torá e cumprimento das mitsvot, D’us milagrosamente
entregará os inimigos em suas mãos. Nenhuma guerra será
Benê Yisrael Não Precisa Temer Outras Nações necessária para conquistar Erets Yisrael. Ao contrário, Benê
Yisrael derrotarão as nações sem esforço, pois seus inimigos
Moshê terminou fazendo uma promessa: "Estudem a Torá fugirão ou se renderão.
repetidamente. Copiem as midot de D’us: sejam bons e
misericordiosos como Ele. D’us expulsará as nações inimigas. Entretanto, D’us não destruirá miraculosamente os ídolos de Erets
Mesmo se parecerem maiores e mais poderosas, não temam, Canaan, como destruiu todas as imagens egípcias durante a
nem mesmo ao gigante Og." Praga da Morte dos Primogênitos (Ele fez com que as imagens de
ferro derretessem, e as de madeira apodrecessem.) "É vosso
Moshê esperava que estas palavras de encorajamento ajudassem trabalho," Moshê disse a Benê Yisrael, "destruirem os ídolos das
Benê Yisrael quando ele não estivesse mais vivo para liderá-los. sete nações. Não tomem para uso próprio o material
Rezou para que Benê Yisrael ouvisse suas palavras. anteriormente associado a adoração de ídolos. Não usem nem
seu ouro ou seus ornamentos de prata. Devem ser totalmente
Nossa Parashá enfatiza a concretização das seguintes bênçãos: destruídos"

•D’us os amará – Esta é a suprema bênção. Se a pessoa é Moshê descreveu como D’us levou os judeus milagrosamente
amada por D’us, recebe os maiores benefícios. através da jornada no deserto a fim de prepará-los para a vida
futura em Erets Canaan, onde deveriam confiar n’Ele, assim como
•Ele o abençoará – com bens materiais. haviam feito no deserto.

•Ele o multiplicará – de maneira extraordinária, como no Egito, "Lembrem-se das matsot que trouxeram do Egito e duraram
onde vocês se multiplicaram de uma família com 70 pessoas até apenas um mês. Mais tarde, vocês choraram para D’us e Ele lhes
uma nação de 600.000 homens. forneceu o maná."

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As repetidas advertências de Moshê no Livro de Devarim para Replicou ele: "Quisera que temessem a Ele tanto quanto temem
que o povo judeu não sentisse medo de lutar contra as nações de os seres humanos! Quando alguém comete um pecado,
Erets Canaan, destruisse seus ídolos, e não permitisse que preocupa-se que alguém possa estar observando seu ato, mas
idólatras permanecessem no meio deles devem ser entendidas não teme que D’us testemunhe sua transgressão."
literalmente. Vamos nos imaginar na situação daquela geração
que iria entrar na Terra: pessoas inexperientes nas lides da guerra Qual o Significado de "Temor a D’us?"
que receberam ordens de invadir um país estrangeiro habitado
por guerreiros poderosos com exércitos bem treinados, muito De acordo com Chinuch (130), somos ordenados a estar
maiores que os seus. Os judeus poderiam preparar-se para este conscientes de que D’us pune o ser humano por todos e cada um
feito aparentemente irracional apenas fortificando-se com total de seus pecados. Quando uma pessoa está prestes a pecar,
confiança em D’us. As exortações de Moshê eram ainda mais inicia-se uma batalha contra a tentação, visualizando os castigos
necessárias porque a nação sabia que ele morreria no deserto, e de D’us.
por isso não poderia ele mesmo liderar a conquista.
Um nível mais elevado de "temor a D’us," a que a pessoa deveria
"Acima de tudo, vocês viveram alimentados pelo maná para aspirar, é sentir reverência na presença de D’us, evocada ao se
aprender uma lição eterna, ‘Nem só de pão vive o homem, mas contemplar a grandeza de D’us e a própria insignificância. O
de cada palavra que emana da boca de D’us vive o homem.’" respeito à vontade de D’us faz com que a pessoa tenha medo de
pecar (Mesilas Yesharim, Charaidim).
•A pessoa deve estar consciente de que o alimento não tem a
habilidade intrínseca de nutri-la, apenas a nutre porque D’us Entretanto, mesmo a pessoa que conseguiu o mais elevado grau
assim o decretou nos Seis Dias da Criação. Ele criou o mundo de respeito pode às vezes ser forçada a utilizar este "medo da
com um padrão estabelecido a que chamamos "natureza," mas se punição" – em situações em que suas más inclinações o atacam
D’us retirasse Seu poder que faz com que o pão seja nutritivo, fortemente. Moshê atingiu o nível de: "Sempre visualizo D’us
este alimento perderia instantaneamente seu valor. (De modo perante mim."
contrário, a vontade de D’us pode converter qualquer substância
Esta é uma conquista superior, pois enquanto o medo do perigo é
intragável em algo nutritivo).
um instinto natural de sobrevivência, o temor a D’us – que não é
•O pão alimenta o corpo do ser humano, mas não sua alma. Para tangível nem visível – é essencialmente estranho à psicologia
sustentar a alma, um judeu necessita das palavras de D’us, a humana. As mitsvot da Torá auxiliam um judeu a usar seu
Torá. Ao estudar e cumprir os mandamentos de D’us, sua alma intelecto a se impregnar de temor a D’us. Se o conseguir, atingiu
adquire vida neste mundo e no próximo. o verdadeiro objetivo da vida.

É natural atribuir-se o sucesso de alguém a suas próprias Apesar disso, Moshê mostrou temor de D’us como algo fácil
capacidades, relegando o Todo Poderoso ao segundo plano. A porque ele próprio atingira tamanho grau de auto-controle que o
Torá ensina uma ótica diferente: tudo aquilo que nós adquirimos temor a D’us lhe era natural e não requeria esforço. Na verdade,
ou produzimos no mundo material deve-se a D’us, que nos D’us sabe quanta força de vontade e esforço são necessários
concede todos os atributos físicos e mentais necessários para o para que se atinja o temor a D’us. Não há nada que Ele considere
sucesso. E mesmo após recebermos de D’us todas as habilidades mais que um ser humano temente a Ele.
requeridas, não teremos sucesso se essa não for Sua vontade.
Um embaixador estrangeiro viajou ao oriente, para transmitir a um
Temor a D’us certo ministro as saudações amigáveis de seu governo. Em sua
valise, levava valiosos presentes – enormes pedras consideradas
Moshê continuou seu discurso de reprovação: "Embora vocês preciosas em seu país.
tenham enfurecido D’us repetidamente, Ele os perdoará – se ao
menos retornarem a Ele e cumprirem Suas mitsvot. Ficou espantado quando o ministro, ao receber as jóias, nem
sequer lhes dirigiu um olhar! Passado algum tempo, o embaixador
"O que D’us pede de vocês? Apenas que O temam. Se O percebeu seu engano: o país era repleto com as tais pedras a
temerem, conseqüentemente procurarão seguir Seus caminhos ponto de poderem ser compradas em cada esquina a preço de
bons e misericordiosos; vocês O amarão; O servirão de todo banana!
coração; e cumprirão Seus mandamentos."
Refletindo seriamente sobre qual presente o ministro apreciaria, o
Por que Moshê descreveu o temor a D’us como algo fácil de embaixador decidiu enviar-lhe uma écharpe bordada à mão, cujos
adquirir: "O que D’us pede de vocês é apenas que O temam!" O pontos finos e precisos, além do desenho intricado, requeriam um
temor a D’us não requer um esforço mental considerável? grau de habilidade dominada apenas por um seleto grupo de
artesãos em seu país. Quando ofereceu este presente, o ministro
O episódio que se segue ilustra que, na verdade, temer D’us não ficou encantado, e agradeceu profusamente ao visitante.
é fácil. Assegurou ao embaixador o quanto valorizava aquele veste sem
par, que pretendia usar apenas em ocasiões especiais.
Quando R. Yochanan ben Zakai jazia em seu leito de morte, seus
alunos entraram e lhe pediram: "Rebe, abençoe-nos!" Da mesma forma, de todas as coisas que a pessoa adquire ao
longo da vida, D’us aprecia muito a quem o teme.
Ele os abençoou: "Que seu temor a D’us seja sempre tão grande
como seu temor ao próximo!" Por que D’us não se impressiona com as conquistas materiais da
pessoa – como sua fortuna ou sucesso na carreira?
"Mas professor," protestaram eles, "não deveria nosso temor a
D’us ser superior ao temor ao próximo?"

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A resposta é que aquelas "conquistas" não são na verdade frutos O versículo citado anteriormente ensina ainda que D’us escuta
do homem, mas frutos de D’us. Apenas D’us pode conceder ao simultaneamente as preces de todos os seres humanos. Um ser
homem a capacidade para ser bem-sucedido, e decreta se a humano pode concentrar-se apenas em uma conversa por vez,
pessoa irá ou não ter realmente sucesso. mas D’us escuta todas as preces juntas.

Há apenas uma área na qual o homem ao utilizar seu livre Além disso, o versículo sugere que D’us aceita as preces de toda
arbítrio, seu esforço é reconhecido por D’us: se vai ou não temê- a carne igualmente, não importa sua posição ou situação material
Lo. Por isso, D’us armazena todas as decisões corretas que a – sejam eles homens ou mulheres, homens livres ou escravos,
pessoa toma sobre si. milionários ou mendigos.

Tefilá – A Mitsvá da Prece

A Torá ordena que rezemos a D’us ao exortar-nos "a servi-Lo" O infortúnio não deve ser o único estímulo para a prece. A pessoa
(10:20), e novamente, "a servi-Lo de todo o coração" (1:13). deve rezar quando as coisas vão bem, para prevenir que as más
aconteçam. Uma vez que a pessoa está doente, necessita de
A obrigação mínima diária é formular com suas próprias palavras grandes méritos para ficar bom novamente.
um pedido e endereçá-lo a D’us.
As tefilot tornam-se uma "coroa" porque os judeus, em suas
Nossos Sábios instituíram três preces diárias – shacharit, minchá preces, proclamam que D’us é o Rei do Universo (Yefai Toar). De
e ma’ariv. Entretanto, se involuntariamente a pessoa é impedida acordo com este Midrash, a palavra significa "jóia," conforme se
de cumprir sua obrigação, deve pelo menos cumprir a obrigação encontra em Yeshayáhu, 49:8.
mínima diária de suplicar a D’us.
Moshê reitera que os judeus conquistarão Erets Yisrael e terão
A mitsvá de rezar nos beneficia de duas maneiras: prosperidade somente se guardarem a Torá.

•Faz com que o Todo Poderoso escute e, se Ele a considera Moshê continua a enfatizar que os judeus conquistarão Erets
justa, concede seu pedido. Yisrael apenas se estudarem e cumprirem a Torá.

•Além disso, força-nos diariamente a reafirmar em nossa mente Ele conclamou o povo: "Considerem minhas palavras! Terão
que D’us é Todo Poderoso e por isso capaz de conceder todos sucesso na conquista apenas se cumprirem a Torá. Escutem-me!
nossos pedidos. Por isso nossas tefilot nos elevam Muitos de vocês testemunharam pessoalmente como D’us puniu
espiritualmente. em público aqueles que transgrediram Sua vontade: realizando
maravilhas no Egito, destruiu o exército do faraó que os
Da mesma forma, uma mulher incapaz de rezar formalmente por perseguia, e fez com que a terra engolisse Dasan, Aviram, suas
estar atarefada cuidando das necessidades da família, deve pelo famílias e propriedades.
menos cumprir os requisitos básicos: uma vez ao dia fazer um
pedido a D’us em qualquer idioma, reconhecendo assim que Ele é "Após chegar em Erets Yisrael, terão que ser especialmente
o onipotente Criador do Universo. cuidadosos no cumprimento das mitsvot. Caso contrário, D’us não
lhes enviará chuva (como será explicado no próximo capítulo).
É correto que uma pessoa entenda o significado das palavras que
está rezando. O cumprimento das mitsvot em Erets Yisrael requer
meticulosidade, pois os olhos de D’us estão constantemente
Entretanto, as preces de um judeu que nunca aprendeu o voltados para a Terra; Ele a supervisiona com cuiddado especial.
significado de suas preces, ou alguém que não aprendeu a ler (Embora ele vigie todos os países do mundo, Ele o faz
corretamente em hebraico são aceitas, desde que sejam ditas indiretamente, via Erets Yisrael.) Por isso em Erets Yisrael, o
leshaim shamayim, com temor aos céus (a D’us). O seguinte Palácio de D’us, seja muito cuidadoso no cumprimento das
Midrash confirma esse ponto: mitsvot, para que Sua ira não seja despertada.

D’us disse: "Se um judeu não recebeu uma boa educação judaica Moshê concluiu: "D’us os privilegiou, Sua nação amada, a entrar
e por isso lê errado: Amarás ao Senhor teu D’us como Serás na querida Terra para lá cumprirem Seus mandamentos, como
hostil a Ele, eu aceitarei suas palavras, desde que venham do disse (Tehilim 105:44-45): ‘E Ele lhes deu as terras das nações e
coração. Se crianças em idade escolar, que ainda não dominam a deixou-os herdar o trabalho do povo (as casas construídas pelos
Torá, pronunciarem ‘Moshê’ como ‘Mashê’ – ‘Aharon’ como canaanitas, as vinhas e os pomares de oliveiras que plantaram)
‘Aharan,’ ou ‘Efron’ como ‘Efran,’ [antigamente escolares para que pudessem estudar Suas leis e cumprir Suas mitsvot.
aprendiam sem os pingos que servem como vogais], mesmo
assim Eu aceitarei as palavras com amor." Por que há tantas advertências a respeito deste detalhe?

D’us julga cada pessoa de acordo com sua capacidade e as É lógico assumir que o estudo de Torá atrasaria os preparativos
oportunidades que teve na vida. para uma conquista militar. Moshê, por esta razão, enfatizou
novamente que para o povo judeu o oposto é verdadeiro: apenas
Qual o significado do versículo: "Tu, que escuta as preces, estudando Torá e cumprindo as mitsvot, D’us lhes dará a força
perante Quem vem toda carne?" necessária para saírem vitoriosos. (Or Haachaim).

Isto nos ensina que após todas as congregações de judeus terem A Aceitação Plena das Mitsvot
terminado de rezar, o anjo encarregado das preces reúne todas
suas tefilot, tece-as em forma de coroa, e a coloca sobre a cabeça A Torá exortou cada indivíduo a aceitar D’us como o Único
de D’us.
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Mestre, a amá-Lo, estudar Sua Torá e cumprir as mitsvot de tefilin Assim como a pessoa é cuidadosa para não perder seu dinheiro,
e mezuzá. da mesma forma deve tomar cuidado para não perder a Torá que
estudou (negligenciando as repetições).
Dessa vez,(11:13-21) Moshê insiste com toda a comunidade a
aceitar todas as mitsvot de D’us. Ele prometeu recompensa pela Com que freqüência a pessoa deve revisar aquilo que aprendeu?
fiel observância das mitsvot e ameaçou com castigos, em caso de
transgressão. Nossos sábios ensinaram que: "Aquele que revisou seu
aprendizado 101 vezes vale incomparavelmente mais que aquele
A Torá exorta cada indivíduo a aceitar D’us da melhor maneira que o fez apenas 100."
que sua capacidade o permitir. Entretanto, a seção onde D’us
promete recompensa sobrenatural (chuva e prosperidade) pelo 101 vezes não é, porém, o número máximo: não há limite para a
cumprimento das mitsvot, e punição (seca e exílio) por seu revisão.
abandono, está escrito no plural, implicando que estas sanções
universais e benefícios são conferidos somente em resposta às Certa vez o Sha’agas Aryeh (contemporâneo do Vilna Gaon)
ações da maioria (Ramban). pediu que lhe fosse preparada um refeição festiva. "Qual é a
ocasião?" perguntaram-lhe. E ele respondeu: "Acabei de
Comentaristas explicam que realmente ocorrem algumas formas completar o Talmud Bavli pela milésima vez."
no singular no Shemá para indicar que, mesmo dentro da
comunidade em geral, D’us confere justiça individual. "Se Grandeza e Humildade
servirem a D’us com toda sua alma e coração, Eu farei minha
Por Rabino Jonathan Sacks
parte," diz D’us.
Uma sequência de versículos na parashá dessa semana dá lugar
"Dar-lhes-ei a chuva em sua Terra nas estações apropriadas, a
a uma linda passagem do Talmud – uma que encontrou um lugar
chuva de outono em Marcheshvan e a chuva da primavera em
no sidur. Está entre as leituras que pronunciamos após o Serviço
Nissan, para que sua produção cresça e vocês colham cereal,
Noturno no sábado à noite, quando o Shabat chega ao fim. Eis
vinho e azeite."
aqui o texto no qual é baseado: “Pois o Eterno teu D'us é o D'us
Por isso, o versículo declara: "Eu mesmo dar-lhes-ei chuva, se dos deuses e Senhor dos senhores, o grande, poderoso e
cumprirem Minhas mitsvot." inspirador de reverência D'us, que não mostra favoritismo e não
aceita suborno. Ele apoia a causa do órfão e da viúva, e ama o
D’us não confia permanentemente as chaves aos três assuntos estrangeiro, dando-lhe alimento e roupas.” (Devarim 10:17-18)
vitais aos anjos, mas as mantém com Ele mesmo.
A justaposicão desses dois versículos – o primeiro sobre a
1.A chave da chuva (subsistência) supremacia de D'us, o segundo sobre Seu cuidado pelos pobres e
solitários – não poderia ser mais chocante. O Poder dos poderes
2.Procriação se preocupa com os sem-poder. O infinitamente grande mostra
preocupação pelo pequeno. O Ser no coração do ser ouve
3.Techias hamaisim. aqueles que estão às margens: o órfão, a viúva, o estrangeiro, os
pobres, os rejeitados, os negligenciados. Sobre essa ideia, o
Chôfets Chaim explica: Se um anjo fosse escolhido para designar professor do terceiro século Rabi Yochanan construiu a seguinte
aos seres humanos sua parnassa (meio de subsistência), e homilia (Talmud Babilônico, Meguilá 31 a): Rabi Yochanan disse:
percebesse aqueles que não servem a D’us apropriadamente, “Onde quer que você encontre a grandeza do Eterno, bendito
poderia subseqüentemente tirar-lhes o sustento, ou pelo menos seja, ali encontrará Sua humildade.” Isso está escrito na Torá,
boa parte dele. Como resultado, centenas de milhares de pessoas repetido nos Profetas, e declarado uma terceira vez nas
morreriam todos os dias. O próprio D’us, portanto, é a fonte de escrituras.
toda misericórdia e sustenta todas as criaturas, mesmo as que
não são merecedoras. Logo em seguida está registrado: “Ele apoia a causa do órfão e
da viúva. e ama o estrangeiro, dando-lhe alimento e roupas.” Isso
Similarmente, um anjo condenaria à morte grande número de é repetido nos Profetas, como está escrito: “Assim diz o Alto e
mulheres dando à luz, porém D’us é paciente e concede perdão. Exaltado, que vive para sempre e cujo nome é Sagrado: Eu vivo
D’us Ele próprio trás cada criança, neshamá, ao mundo, trazendo num local alto e sagrado, mas também com os contritos e
mais luz e felicidade ao mundo. humildes em espírito, para reviver o espírito dos humildes, e para
reviver o coração do contrito.”
Finalmente, se um anjo tivesse que determinar quem deveria
erguer-se em techiat hamaitim (ressurreição dos mortos), ele Isso é declarado uma terceira vez nas escrituras: “Canta a D'us,
excluiria grande parte dos judeus que não estudaram Torá. D’us, faz música para Seu nome, louva Aquele que cavalga as nuvens
entretanto, decidirá por Si mesmo, e em Sua misericórdia achará – D'us é Seu nome – e exulta perante Ele.” Imediatamente depois
mérito para estes judeus; Ele poderá considerá-los dignos de está escrito: “Pai dos sem pai e juiz das viúvas, é D'us em Sua
techiat hamaisim porque sustentaram eruditos a fim de que não sagrada habitação.”
interrompessem seu estudo de Torá.

A Torá é tão difícil de ser adquirida quanto o ouro, e tão fácil de se


perder quanto o vidro, que se quebra caso não seja tratado Cuidar apenas de nós mesmos e daqueles imeditamente
cuidadosamente. próximos não é “a maneira de D'us”… Ele veio à sinagoga. Ali ele
encontrou membros da comunidade bem como líderes do Anglo
Judaísmo. O que foi impressionante é que ele passou tanto tempo

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falando com os jovens que faziam a segurança quanto o fez com estavam enfrentando, os problemas que viviam. Ela se lembrava
os importantes da comunidade inglesa. não apenas dos seus nomes como também os nomes de seus
cônjuges e filhos. Sempre que algum deles precisava de ajuda,
É esta passagem que encontrou caminho ao serviço ela assegurava que o auxíilio viesse, em silêncio, sem pompa. Era
(Ashkenazita) ao final do Shabat. Sua presença ali é para lembrar um hábito que ela tinha onde quer que fosse.
que, quando termina o dia de descanso e retornamos às nossas
preocupações mundanas, não devemos ser tão envolvidos pelos Após sua morte descobri como ela e o marido tinham se casado.
próprios interesses a ponto de esquecer os outros menos bem Ele era mais velho que ela, um amigo de seus pais. Ela teve
situados. Preocupar-se apenas com nós mesmos e aqueles algumas semanas livres no verão antes de começar o ano
imediatamente dependentes de nós não é “a maneira de D'us”. acadêmico, e o Sr. Levene (não é seu nome verdadeiro) deu a ela
um emprego de verão. Certa noite, após o trabalho, eles estavam
Um dos aspectos mais incomuns de ser um Rabino Chefe é que indo para a casa dos pais dela para um jantar. Na rua, passaram
chega-se a conhecer pessoas que de outra forma poderíamos por um mendigo. O Sr. Levene conscientemente tirou do bolso
não conhecer. Estes foram três momentos que causaram uma uma moeda e a deu ao homem. Quando continuaram a andar,
profunda impressão em mim. Sarah pediu a ele que lhe emprestasse algum dinheiro – uma
soma grande, que ela prometeu pagar ao final da semana,
De tempos em tempos Elaine e eu damos jantares para pessoas quando recebesse o salário. Ele emprestou. Ela então correu de
dentro, e também fora, da comunidade judaica. Geralmente, ao volta até o mendigo e lhe deu o dinheiro. “Por que fez isso?”
final, os convidados agradecem aos anfitriões. Somente uma vez, perguntou ele. “Eu já tinha dado algum dinheiro a ele.” “Aquilo que
porém um convidado não apenas agradeceu como também pediu você lhe deu era suficiente para ajudá-lo hoje, mas não faria uma
para ir até a cozinha agradecer àqueles que tinham preparado e diferença em sua vida.”
servido a refeição. Foi um fino gesto de sensibilidade.
Ao final da semana, o Sr. Levene pagou a ela o salário. Ela
Não menos interessante foi quem o fez. Era John Major, o devolveu a maior parte do dinheiro, para pagar a soma que ele
Primeiro Ministro britânico. Grandeza é humildade. tinha emprestado. “Aceitarei o dinheiro,” disse ele, “porque não
quero roubá-la de sua mitsvá.” “Porém” – como ele próprio me
A sinagoga mais antiga na Grã-Bretanha é Bevis Marks, no
contou depois da morte dela, “Foi então que decidi pedi-la em
coração de Londres. Construída em 1701, foi a primeira sinagoga
casamento – porque seu coração era maior que o meu.”
erguida de propósito em Londres criada pelos judeus portugueses
e espanhóis que foram os primeiros a retornar à Inglaterra (ou No decorrer do casamento deles, gastaram tanto tempo e energia
praticar seu Judaísmo em público: alguns tinham sido marranos) doando dinheiro para causas de caridade quanto dispendiam para
depois que Oliver Cromwell deu permissão em 1656 para os ganhá-lo. Eram responsáveis pela maior parte dos projetos
judeus voltarem após sua expulsão por Edward I em 1290. educacionais, médicos e ambientais de nosso tempo. Tive o
privilégio de conhecer outros filantropos – mas nenhum que
Construída como a Grande Sinagoga de Amsterdã, permanece
soubesse os nomes dos filhos dos garçons dos hoteis onde se
quase inalterada desde então. Somente a adição de luz elétrica
hospedavam; nenhum que se preocupasse tanto por aqueles que
marcou a passagem do tempo – e mesmo assim, em ocasiões
mal se destacavam, ou alguém que doasse mais silenciosamente,
especiais, os serviços são feitos à luz de velas como eram
com mais eficácia e mais humanamente.
naqueles primeiros tempos,
Grandeza é humildade
O Príncipe Charles foi à sinagoga. Ali ele conheceu membros da
comunidade bem como líderes do Anglo-Judaísmo. Esta ideia – contra-intuitiva, inesperada, que muda a vida – é uma
Impressionante foi que ele passou tanto tempo falando com os das maiores contribuições da Torá à civilização ocidental e é dita
jovens que faziam a segurança quanto o fez com personalidades nas palavras de nossa parashá, quando Moshê contou ao povo
grandes do Judaísmo britânico. Por motivos de segurança, as sobre “o D'us dos deuses e Senhor dos senhores, o grande,
pessoas se oferecem como voluntárias para montar guarda em poderoso e D'us inspirador de reverência”, cuja grandeza não
eventos comunitários – parte do trabalho de uma das nossas está apenas no fato de que Ele foi o Criador do universo e moldou
melhores organizações, a Community Security Trust. Com a história, mas aquele que apoia a causa do órfão e da viúva, e
frequência, as pessoas passam perto deles, mal notando sua ama o estrangeiro, dando-lhe alimento e roupa.” Aqueles que
presença. Porém o Príncipe Charles os notou, e os fez sentir fazem isso são os verdadeiros homens e mulheres de D'us.
importantes como todos os outros naquela ocasião festiva,
Grandeza é humildade. Dentro de todo este brilho circundante, eu me vi elevado por
alguns momentos extraordinários com as crianças nesses últimos
Sarah Levene (não é seu nome verdadeiro) faleceu tragicamente dias. Compareci ao Prêmio dos Filhos da Coragem,
jovem. Ela e o marido foram abençoados por D'us com grande reconhecendo alguns dos jovens heróis do nosso tempo. Um
sucesso. Eram ricos, porém não gastavam o dinheiro com eles menino de sete anos que cuida da mãe com esclerose múltipla.
mesmos. Faziam tsedacá em grande escala – dentro e fora da Um menino de dez anos que angaria dinheiro para enviar
comunidade judaica, na Grã-Bretanha, Israel e em outros locais. presentes aos soldados ingleses no Oriente Médio. Duas meninas
Estavam entre os maiores filantropos de nosso tempo. que apóiam a irmã em sua batalha contra a leucemia. Eles
tiveram um dia maravilhoso, conhecendo o Primeiro Ministro e
Quando ela morreu, dentre aqueles que ficaram mais tristes
astros da TV, e receberam o prêmio das mãos do Príncipe Harry.
estavam os garçons e garçonetes de um famoso hotel em Israel
Nos encontramos com alguns dos escolares com quem tínhamos
onde eles costumavam se hospedar.
ido numa visita a Auschwitz semanas atrás. Queríamos ouvir o
Transpirou que ela tinha chegado a conhecer todos eles – sua que eles sentiram depois que tiveram tempo para refletir. E fiquei
origem, qual era a situação da família, as dificuldades que
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comovido pela profundidade de seu compromisso em lutar contra Portanto as recompensas vêm depois de termos cumprido os
o preconceito e o ódio. mandamentos de D'us.

No começo dessa semana conheci uma menina de doze anos “Se você respeitar os mandamentos que as pessoas geralmente
que tinha acabado de fazer seu bat mitsvá, que tinha pedido à pisoteiam com o calcanhar, então D'us abençoará… “ Mas a
família e aos amigos que não lhe dessem presentes, mas escolha das palavras que D'us faz é incomum. Uma expressão
enviassem o dinheiro para uma organização de caridade, algo mais fluida deveria ter sido “se (‘im’) você cumprir as leis.” Por que
que estamos encontrando cada vez mais em nossa comunidade. Ele diz “como consequência de” (ekev) você cumprir as leis?

E à medida que procuramos fontes renováveis de energia, Essa questão é levantada pelo comentarista bíblico Rashi, que
pergunto-me se não perdemos o que está mais à mão: a energia então continua a sondar mais profundamente. A palavra ekev tem
gerada por altos ideais, especialmente entre os jovens. As um duplo significado: (a) consequência e (b) calcanhar. Daí o
crianças crescem para preencher o espaço que criamos para nome de Jacob “Yaacov” – pois ele estava pendurado no
elas, e se for grande, elas crescem e ficam altas. Porém se as calcanhar de Essav quando emergiu do útero de Rebeca.
transformarmos em mini-consumidores, estamos as roubando da
chance de grandeza, e ainda não encontrei uma criança que não Ah! este é o segredo de eikev. Rashi interpreta as palavras da
seja capaz de grandeza se tiver a oportunidade e encorajamento. Torá da seguinte maneira: “Se você respeitar os mandamentos
menos importantes que as pessoas geralmente pisoteiam com o
Falo muito em público, e as pessoas às vezes me perguntam calcanhar, então D'us o abençoará…”
quem me ensinou. A resposta é simples. Fui a uma escola cristã
com muitos alunos judeus mas nenhum professor judeu. Portanto O comentário de Rashi parece mudar nossa compreensão literal
tínhamos de fazer a assembleia judaica nós mesmos, e foi assim do versículo. A princípio a Torá parecia dizer que merecemos a
que aprendi quando adolescente como falar em público, porque bênção ilimitada de D'us à compleição do nosso serviço – quando
alguém me deu a chance. Foi a melhor lição de educação que cumprimos tudo que Ele ordena. Porém de acordo com Rashi,
jamais tive. parece que D'us nos pede meramente para respeitar as mitsvot
que parecem sem importância – aquelas que as pessoas
O Judaísmo é uma religião focada na criança. Minhas primeiras “pisoteiam” – e então somos merecedores de Sua bênção!
lembranças são de colocar a coroa no Rolo da Torá na sinagoga,
indagar as quatro perguntas de Pêssach durante o sêder. acender A Torá usa a palavra ekev e cria essa elegante fusão de duas
as velas de Chanucá... O Judaísmo continuou jovem porque fez expectativas disparatadas. Você culminará seu serviço através
heróis entre os jovens. O melhor presente que podemos dar aos das mitsvot pequenas, diz D'us. O trabalho que não é
nossos filhos é a chance de fazer algo notável. É um presente que impressionante, as mitsvot que são como calcanhares,
durará a vida toda e transformará a vida deles. estimularão as bênçãos.

Cabeça ou Calcanhar? Nossos Sábios explicam que D'us criou nosso mundo porque “Ele
deseja uma morada no reino inferior”. Embora seja agradável
Por Rochel Holzkenner permanecer nos reinos superiores – i.e., servir a D'us com
glamour – é o trabalho monótono e feio que cultiva o campo mais
Vou lhe contar minha resolução de aniversário, se você prometer inferior, atraindo a percepção de D'us ao plano mais baixo e
que não vai me julgar. Decidi fazer um jantar especial duas vezes ajudando-O a realizar seu desejo.
por semana. Sei que parece simples demais para ser uma
resolução. Eu deveria já estar fazendo isso. Mas para dizer a No decorrer da história sempre houve a elite – pessoas que foram
verdade, é uma luta. espiritualmente vibrantes e sensíveis. Então havia o povo comum,
as pessoas que lutavam contra desejos baixos e egos frágeis.
Percebi que uma resolução de aniversário é um degrau
importante na escada do auto-desenvolvimento, portanto Na geração de Moshê as pessoas eram profundamente astutas –
considerei algumas opções antes de escolher. Muitas opções eram chamadas “a geração do entendimento” (Dor De’ah). Em
pareciam bem mais impressionantes que o jantar. Porém o jantar contraste, a última geração precedendo a chegada de Moshê é
terminou por vencer, porque apesar da minha resistência, eu sei o mencionada no Talmud como a geração “dos calcanhares de
quanto preciso disso. Mashiach” (Ikvita d’Mishicha). Se as pessoas que testemunharam
a Divina revelação no Sinai fossem análogas à cabeça de nosso
E aparentemente D'us aprecia quando fazemos coisas simples corpo nacional, a última geração antes de Mashiach seria a
que parecem tão sem importância que resistimos a confrontá-las. própria sola dos pés.

Na leitura Ekev da Torá, D'us descreve as bênçãos de saúde e Eis aqui como o Talmud (final do Tratado Sotá) descreve a
abundância que Ele derramará sobre nós em retorno pela nosso “geração dos calcanhares”.
cumprimento das mitsvot.
Nos “calcanhares de Mashiach” a chutspá aumentará e a honra
No futuro, como consequência de (“ekev”) você considerar, diminuirá… Os governos se voltarão para a heresia… O local de
guardar e cumprir essas leis, D'us, o seu D'us, guardará para encontro de eruditos será usado para imoralidade… A sabedoria
você o pacto e a bondade que Ele prometeu aos seus dos instruídos vai degenerar, aqueles que temem o pecado serão
antepassados. Ele amará você e o abençoará, multiplicando-o, e desprezados, e a verdade vai faltar. Os jovens envergonharão os
Ele abençoará o fruto de seu ventre e o fruto do seu solo, seu idosos, os velhos enfrentarão os jovens, um filho ofenderá seu
grão, seu vinho e seu azeite de oliva… (Devarim 7:12-13) E as pai, uma filha se erguerá contra sua mãe… Então quem resta
bênçãos continuam. para se confiar? O nosso Pai no céu.

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Por que os “calcanhares” têm a honra de recepcionar a Era da Os quatro versículos de louvor para a Terra de Israel estão em
Redenção? Devarim 8:7-10. De forma significativa, a palavra eretz (terra) é
repetida sete vezes nestes versículos, correspondendo aos sete
Que chutspá! E – se me permite – que quadro perfeito da cultura atributos do coração [emocionais]. Eretz é mencionada duas
contemporânea! vezes no versículo 7. Primeiro, como uma introdução geral, de
que D’us está trazendo o Povo Judeu para uma boa terra. O
Por que os “calcanhares” têm a honra de recepcionar a Era da versículo continua, dizendo que Israel é uma terra que flui com a
Redenção? Nossos ancestrais eram muito mais respeitodos, água; ela emana de rios, fontes e profundezas subterrâneas – dos
perceptivos e profundos. Mais uma vez a palavra ekev vales e das montanhas.
desencadeia uma dicotomia desconfortável. A geração dos
calcanhares é tão densa e insensível, e mesmo assim é a Uma Terra Abençoada com Frutos
candidata perfeita para a transformação global.
O versículo 8 descreve as 7 espécies de frutos com as quais
Mas talvez a dicotomia esteja num equívoco sobre a Era Eretz Yisrael é abençoada. De novo neste versículo, a palavra
Messiânica. No “mundo dos sonhos” de D'us, a realidade como a eretz aparece duas vezes: primeiro, como uma terra das cinco
conhecemos permanecerá fixa, mas a luz de D'us ressoará espécies de trigo e cevada e uvas e figos e romãs e, então,
confortavelmente em todas as partes da vida, especialmente nas novamente, como uma terra das duas espécies restantes: azeite
facetas mais inferiores. Isso culminará com D'us ansiando por de oliva e mel (de tâmaras).
uma morada no “mundo inferior”. E quem melhor para atrair a
espiritualidade aos cantos inferiores que aquelas pessoas que Uma Terra de Ferro e Cobre
lutam com a completa escuridão e a indiferença espiritual!
No versículo 9, eretz também é escrito duas vezes. O versículo
Em nossa geração, tantos judeus se sentem alienados do começa com uma promessa de que nada nos faltará na terra; é
Judaísmo e lutam com o comprometimento básico à observância. uma terra cujas pedras são de ferro e, de suas montanhas,
Simultaneamente, nossa geração está repleta de atos sem cavaremos o cobre.
precedentes de sacrifícios a D'us – em grande parte vindos
daqueles mesmos judeus que são alienados, que chegaram ao A Boa Terra
fundo do poço, e então voltaram com tamanha velocidade que
penetram a escuridão mais densa com luminosos raios de luz. Nos três versículos anteriores, a palavra para “terra” é escrita
Sim, um homem melhor em outra era pode ter rido da como ”eretz”. No versículo 10, a palavra para “terra” aparece uma
simplicidade de seus dilemas morais. Porém somente eles vez – como ha’aretz – “a Terra”. A menção final da palavra eretz
receberam a oportunidade de transformar a escuridão mais corresponde ao sétimo atributo do coração, malchut. Ele resume e
densa, criando assim a cura para o mundo inteiro. conclui as descrições da Terra nos três versículos precedentes.
Neste versículo, Eretz Yisrael é descrita como uma terra de
Quando você está sobre um calcanhar é forçado a trabalhar de abundância, na qual comeremos e seremos saciados e
baixo para cima. Nossas realizações parecem simples, porém abençoaremos D’us pela boa terra que Ele nos deu. O final deste
estamos cruzando de volta a última fronteira na missão global de grupo de versículos, com sua referência à boa terra, é revelado já
trazer luz ao campo mais inferior. E por mais que eles sejam no início, no qual Eretz Yisrael é descrita como uma boa terra.
baixos, o corpo inteiro é sustentado pelos calcanhares. Então, até
a geração de Moshê está nos bancando para acendermos o A Montanha de Luzes Celestiais
universo.
O grupo de versículos descrevendo Eretz Yisrael tem 55 palavras.
Eretz Yisrael na Torá Cinquenta e cinco é o triângulo de 10 (a soma de todos os
números de 1 a 10). Isto significa que as palavras destes
Por Rabino Yitzchak Ginsburgh, traduzido por Maurício versículos podem ser escritas como um triângulo, com o ápice no
Klajnberg topo do triângulo ou em sua base. Este triângulo tem 10 níveis,
correspondendo às 10 luzes celestiais (sefirot) com as quais D’us
A missão final do Povo de Israel é a revelação de que tudo é D’us criou o mundo. Quando o ápice está no topo do triângulo, os
e D’us é tudo. O local no qual esta tarefa deverá ser cumprida é a versículos criam uma imagem de Eretz Yisrael como uma
Terra de Israel, onde o objetivo de D’us na criação do mundo se montanha de 10 luzes celestiais.
torna evidente. Nesta apresentação, o rabino Ginsburgh nos guia
através dos louvores da Terra de Israel, criando um profundo Cinco palavras estão escritas no início destes versículos antes da
entendimento de como as qualidades físicas da Terra são, na primeira menção a eretz, seguida por outras 50 palavras. As duas
verdade, uma reflexão de sua natureza Divina essencial. últimas palavras deste grupo são natan (“deu”, valor numérico de
500) e lach (“a você”, valor numérico de 50). Isto é 10 vezes a
Um Microcosmo da Beleza Natural do Mundo forma do todo o grupo de palavras. Estas duas últimas palavras
descrevendo a terra que D’us “deu a você” como uma terra natal
A mais importante imagem da Torá na Parashá Ekev é a eterna envolve toda a forma do texto.
descrição de Eretz Yisrael (“A Terra de Israel”). Eretz Yisrael é
uma terra de diversos fenômenos naturais. D’us concentrou toda Conexão com a Criação
a beleza da natureza dentro de suas fronteiras. Quando
meditamos sobre a descrição da Terra de Israel, descobrimos que Há 203 letras no grupo de versículos descrevendo a Terra de
a manifestação física da beleza da Terra é uma alusão à sua Israel. 203 é o valor numérico da segunda palavra da Torá, bará
majestade espiritual oculta. (“criou”). As letras da palavra bará -- beit, reish, alef – também são
as três primeiras letras da primeira palavra da Torá, bereshit. O
Uma Terra de Águas fato de que este grupo tem bará (203) letras nos aponta

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claramente na direção da criação do mundo e, particularmente, ao A Terra da Coroa Celestial
primeiro dia da criação, onde a palavra bará aparece pela primeira
vez. O relato da Torá sobre o primeiro dia da criação é o prefácio para
os versículos que descrevem a benção e a beleza de Eretz
Em todo o relato dos seis dias da criação, o Nome de D’us, Yisrael em nossa Parashá. Há 197 letras neste relato. Somadas
Elokim (cujo valor numérico é 86 é igual a teva, “natureza”), está às 203 (bará) letras da descrição da Terra de Israel, teremos 400
escrito 32 vezes. Na Cabalá, aprendemos que a essência oculta (20 ao quadrado). 20 representa a coroa consciente, a
do Nome de D’us, Elokim – que representa a natureza – é o manifestação em nosso mundo da luz infinita de D’us acima e
Nome essencial de D’us, Ha-va-yah. A relação entre Ha-va-yah e além da criação. Na Cabalá, aprendemos que a “luz da coroa”, or
Elokim é expressa nos Salmos (84:12): haketer, tem valor numérico de 832, exatamente o valor numérico
de Eretz Yisrael.
Ha-va-yah Elokim é o sol e seu escudo
A união do primeiro dia da criação com a Terra de Israel é a união
O Nome essencial de D’us, Ha-va-yah, é comparado ao sol completa da luz infinita da coroa celestial manifestada na criação,
enquanto Elokim é referido como o escudo do sol. A essência do na sagrada Terra de Israel.
sol, as luzes infinitas do Nome essencial de D’us, Ha-va-yah,
estão ocultadas pelo escudo da natureza. Dentro de cada uma Possibilidades
das 32 vezes que Elokim está escrito na criação, Ha-va-yah (valor
numérico de 26) está no núcleo central. 32 vezes 26 resulta em Moshê entendia o aspecto mais básico da natureza humana:
832, o valor numérico de Eretz Yisrael. Esta é a essência de precisamos que alguém acredite em nós
nossa meditação e a essência da Terra de Israel. A beleza da
natureza concentrada em Eretz Yisrael reflete o objetivo de D’us Por Simon Jacobson
na criação do mundo. A missão do Povo Judeu é o de se unir com
“O que sou realmente capaz de conquistar” é uma das maiores
a Terra de Israel e refletir a luz essencial infinita de D’us oculta
questões na vida. A porção desta semana da Torá nos esclarece
dentro da Terra para todas as criaturas.
quanto a possibilidades quase impossíveis.
A Luz da Terra de Israel
Quando mais jovem, você teve um mentor – talvez um amigo, um
Nós vimos que a Terra de Israel é o microcosmo físico da criação professor ou um colega – que o motivou a atingir grandes alturas?
e o local onde seu objetivo espiritual se manifesta. A sétima Se teve, sinta-se abençoado. Se não teve, é difícil descobrir o que
palavra (nossos sábios nos ensinam que: “todos os sétimos são você perdeu. Mas nem tudo está perdido.
queridos”) no relato da criação é a palavra eretz, refletindo as sete
Moshê, o líder por excelência, o supremo mentor, exige – e com
vezes que a palavra eretz aparece na descrição da Terra de
efeito nos habilita – a atingir o inimaginável.
Israel. No terceiro versículo do relato da criação, D’us diz: Yehi or
– “Haja luz”. As primeiras duas letras de eretz – alef, reish – Na porção desta semana da Torá Moshê diz: “E agora, Israel, o
soletram a palavra or, “luz”. A última letra – tsadic – representa o que D'us deseja de vocês? Somente que adorem a D'us, que
tsadic, a pessoa justa, como no versículo em Isaías (60:21): trilhem todos os Seus caminhos, que O amem e sirvam a Ele de
todo o coração e com toda tua alma; que cumpram os
“E sua nação é toda de pessoas justas, eles herdarão a Terra
mandamentos de D'us e Seus estatutos, que eu ordeno a vocês
eternamente...” A Cabalá explica que a Terra de Israel é o
neste dia para o seu bem?” (10:12)
segredo do versículo nos Salmos (97:11):
O Talmud pergunta: “Reverência a D'us é uma coisa menor [pois
Or zarua latzadik (“A luz está implantada dentro do tsadic”)
Moshê diz “somente para ser em reverência a D'us”]” E o Talmud
O primeiro versículo da criação termina com a palavra aretz (o responde: “Sim, para Moshê é uma coisa menor” (Talmud,
mesmo que eretz). O objetivo da luz criada no primeiro dia da Berachot 33 b).
criação não é o de permanecer nos céus, mas atingir a terra e ser
No Tanya é perguntado: “À primeira vista, a resposta [do Talmud]
implantada dentro dela. Esta é a última e essencial luz de D’us,
é incompreensível, pois o versículo diz: “O que D'us pede a você”
manifestada na Torá. Quando o Povo Judeu habita em Eretz
[não a Moshê!]. “Porém a explicação é a seguinte: Toda e cada
Yisrael de acordo com as leis da Torá, todos eles são tsadikim.
alma contém dentro de si algo da qualidade de nosso mestre
Eles, então, se tornam unidos à luz Divina inerente à terra,
Moshê, pois ele é um dos “sete pastores” que inspiraram
refletindo-a a todas as criaturas e cumprindo o objetivo para o
vitalidade e Divindade à comunidade das almas de Israel…
qual D’us criou o mundo.
Moshê é a soma deles todos, chamado o “pastor da fé” (raaya
D’us é Um meheimna) no sentido em que ele alimenta a comunidade com a
sabedoria e reconhecimento de D'us… Portanto, embora homem
O primeiro dia da criação é mencionado na Torá como “dia um” e nenhum ouse presumir em seu coração atingir sequer a milésima
não como o “primeiro dia”. Isto reflete a unidade absoluta de D’us. parte do nível do pastor fiel, mesmo assim uma partícula
No primeiro dia da criação, não havia pluralidade. A consciência infinitesimal de sua grande bondade e luz ilumina todos em toda e
do mundo era puramente a da Unicidade de D’us, conforme Ele cada geração” (Tanya cap. 42).
pretendia ao criar o mundo. Quando o Povo de Israel entrar na
Terra de Israel, teremos a capacidade de manifestar o fato de que Em outras palavras, cada um de nós tem dentro da alma uma
todas as pluralidades aparentes na criação são, na verdade, o dimensão onde servir a D'us é relativamente “fácil”, e algo
D’us Único de Israel. A missão do Povo Judeu na terra é a de “menor” a realizar!
trazer a consciência de que tudo é D’us e D’us é tudo para todos
os seres criados.
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Mas o que isso significa exatamente? O fato empírico é que exemplo, os médicos estão totalmente convencidos de que
mesmo para a pessoa mais temente a D'us, levar uma vida podem, em última análise, vencer toda doença? É porque temos
virtuosa e espiritual não vem facilmente. A vida para a maioria de um instinto nos dizendo que tudo é possível. Esse instinto brota
nós consiste numa batalha entre o bem e o mal, espírito e do poder Divino da alma, que transcende a mortalidade e todas as
matéria, autoindulgência e transcendência – entre os anseios falhas da existência humana.
egoístas do narcisismo material e o compromisso com uma
chamado mais alto, com frequência vence o primeiro. É crítico acreditarmos que podemos conseguir tudo neste mundo.
Porém, devemos saber também que nossas psiques estão sob
Na verdade, o moderno pensamento secular vê o ser humano um constante ataque de muitas forças, lembrando-nos
como um animal evoluído, uma bactéria com um bilhão de anos, repetidamente das nossas limitações, alimentando nossa
cujo impulso fundamental é a sobrevivência (“sobrevivência do insegurança e nossos temores. Então chega Moshê e diz não!
mais apto”). Da biologia à psicologia, da genética à arqueologia – Você tem o poder de ser Divino, e com facilidade! Precisa apenas
de Darwin a Freud – aprendemos que os seres humanos são acreditar que isso é possível.
impulsionados pelo “id” irrarional e primitivo, que se resume a
“querer, querer e, querer,” a autogratificação impulsionada por Em essência, alguém poderia dizer, que esta é a suprema batalha
uma lei – o “princípio do prazer”” “Eu quero isto e quero isto na vida: o quanto acreditamos em nós mesmos; o quanto
agora”. acreditamos em nossas possibilidades.

Moshê, porém, via o ser humano sob uma luz diferente. Embora Moshê dedicou seus últimos 36 dias na terra para abordar todos
seja verdade que cada pessoa tem uma inclinação egoísta, temos os assuntos que as pessoas enfrentariam nos anos seguintes e
também um lado Divino, que é capaz do comportamento mais nas próximas gerações. Como verdadeiro pastor, ele antecipa os
nobre. De fato, a Torá vê que a parte mais profunda do ser desafios da vida e os discute como devem ser discutidos.
humano é o “yid” em vez de o “id”. A essência da alma é como a
letra “yud”, um ponto, uma centelha do Divino. O último livro da Torá, Devarim, com efeito é a última vontade e
testamento de Moshê – assegurando que o legado do Êxodo no
A rota mais fácil pode ser a narcisista. Porém, uma pessoa Sinai, as viagens pelo deserto, viverão para sempre.
sempre tem a opção de superar suas tentações primitivas e
acessar a alma transcendente em seu interior. A alma é um Leia cuidadosamente o livro e encontrará lições fascinantes sobre
recurso rico, com camadas e camadas de potencial. E na alma jaz praticamente todos os assuntos que enfrentamos até o dia de
uma dimensão que é uma “centelha” de Moshê. Nesse nível é tão hoje. Nas próximas colunas tentaremos focalizar ocasionalmente
natural conectar-se com D'us como é para o peixe estar na água. algumas dessas mensagens poderosas.
O desafio é reconhecer e atrair essa dimensão, que pode estar
Esta semana aprendemos sobre aquilo que é esperado de nós;
oculta por baixo da concha externa de sobrevivência material.
aquilo de que somos realmente capazes. O maior líder de todos
É por isso que Moshê, um verdadeiro líder, sentiu ser necessário, os tempos, Moshê, nos diz que temos isso em nós, para
pelo menos uma vez, declarar: “E agora, Israel, o que D'us deseja atingirmos os locais mais elevados; temos o poder de ser Divinos,
de ti? Somente que estejas em reverência a D'us, caminhar em pessoas espirituais, até o ponto em que é facilmente acessível
todos os Seus caminhos e amar e servir a D'us de todo coração e para cada um de nós. Portanto, o pedido e exigência: E agora,
com toda a tua alma.” Embora Moshê entendesse claramente a Israel: O que o Eterno teu D'us pede a você? Somente para temer
fragilidade da natureza humana, pois testemunhou repetidas a D'us.
vezes os erros do povo judeu, mesmo assim ele sabia que cada
Quando às vezes as coisas parecem impossíveis, pense nas
pessoa tem uma outra dimensão nobre. Ao exigir – e esperar –
palavras de Moshê. Pense no fato de que em virtude do “Moshê”
que possamos facilmente “estar em reverência de D'us e servir a
dentro de sua alma você está ao alcance de praticamente
D'us” isso por si mesmo cria motivação por parte da pessoa para
qualquer coisa à qual dirigir sua mente.
corresponder ao seu potencial.
Então, agora que sabemos que o grande Moshê acredita em nós,
Moshê entendia o aspecto mais básico da natureza humana:
a pergunta que cada um de nós deve fazer é: Eu acredito em mim
precisamos que alguém acredite em nós. Essa crença nos ajuda a
mesmo?
adquirir confiança para fazer jus à ocasião. “Remover as barreiras
de seu coração” e sua “teimosia” (como continua Moshê, 10:16), e Com um líder como Moshê, o impossível simplesmente pode ser
permitir que nossa verdadeira natureza Divina venha à tona. possível.
A lição aqui contida é bem óbvia: Encontre alguém que acredite Missão Impossível?
em você!
A Torá descreve um episódio em que D’us pede a Moshê que
“Impossível. Absolutamente impossível.” Quantas vezes ouvimos conte os levitas entre o povo de Israel, realizando assim um
essas palavras desencorajadoras, jogando água fria em nossas senso.
ideias acabadas de nascer? Você não acha que os primeiros
criadores do aeroplano ou qualquer outro aparelho moderno O grande comentarista Rashi explica a frase presente na Torá,
ouviram dos colegas que seus sonhos eram uma impossibilidade? "Segundo a palavra de D'us", como uma indicação de que na
Mesmo assim, eles persistiram e conseguiram vencer. A história é verdade Moshê estava perguntando: "Como posso determinar o
testemunha de incontáveis casos de seres humanos que número de filhos em cada família? Devo entrar nas tendas das
atingiram o impossível. pessoas e invadir sua privacidade?" A isto, D'us respondeu: "Faça
sua tarefa e Eu farei a Minha. Você deve ficar em frente à porta
E de que outra forma explicamos o impulso aparentemente
irracional de que podemos superar qualquer desafio? Como, por
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de cada tenda, e Eu lhe direi o número de crianças naquele faltas mais graves. Assim ocorreu com os Filhos de Israel. Eles
lugar." começaram reclamando sobre o maná, depois avançaram para
"choro entre as famílias", implicando transgressões na área da
Poder-se-ia indagar: uma vez que a determinação do número de vida familiar.
levitas dependia da Divina revelação, por que havia necessidade
de Moshê fazer algo a respeito? Por que D'us simplesmente não O modo de agir da má inclinação nunca muda, e mesmo
lhe dizia quantos levitas existiam? atualmente, a má inclinação ainda se irrita contra "o pão dos
céus". Simbolicamente, "pão dos céus" significa Torá e sabedoria
A resposta a esta pergunta é essencialmente a fórmula para os Divina, ao passo que "pão da terra" é conhecimento mundano,
atos do ser humano neste mundo. Um D'us onipotente poderia secular. A má inclinação tenta fazer o judeu ficar insatisfeito com
fazer tudo, e não haveria necessidade de atos humanos para seu "pão dos céus" e convencê-lo de que uma dieta regular de
realizar coisa alguma. Por razões conhecidas apenas pela Torá o deixará faminto. "A Torá é interminável" – sussurra em seu
sabedoria Divina, o homem foi colocado na terra com uma missão ouvido. "Jamais se consegue aprendê-la totalmente; quanto mais
que apenas ele pode cumprir, e é sua responsabilidade cumprir se estuda, mais se percebe o quanto é infinita. Por que não voltar
aquela missão. Se a realização desta tarefa parece estar além da a mente para assuntos mundanos? Pelo menos se atingirá um
capacidade do homem, isso não isenta o homem de fazer o sentimento de plenitude e satisfação."
máximo para atingir este objetivo.
Num nível ainda mais sutil, a má inclinação tenta dissuadir um
O ser humano deve fazer tudo que puder, e tudo aquilo que judeu de estudar Chassidut, a parte oculta da Torá, que também é
estiver fora de seu alcance torna-se responsabilidade de D'us. comparada ao "pão dos céus". A parte revelada da Torá, o "pão
Este princípio é declarado em Ética dos Pais (2:16): "Não cabe a da terra", é suficiente, alega a má inclinação.
você completar a obra, porém você não tem liberdade para
desistir dela."

"Faça sua tarefa, e Eu farei a Minha." Porém a verdade é exatamente o oposto. Como a essência do
judeu é espiritual, ele jamais pode se satisfazer com assuntos
Hoje nós, como Moshê naqueles tempos, não devemos nos mundanos. Somente a Torá, e sua parte mais profunda, pode
abster de nenhuma mitsvá, mesmo que seu cumprimento pareça completar a alma, pois é através da Torá que o judeu se conecta
estar além de nossos meios. Somos obrigados a fazer aquilo que com o Infinito.
pudermos, e deixar o restante nas mãos de D'us.
Bênçãos em toda parte
Vivendo Com o Rebe
por Mendel Starkman
Adaptado de Likutei Sichot, vol. 4
É uma cena comum: você está em sua cozinha, abrindo o
Na porção desta semana da Torá, Êkev, Moshê contempla o povo refrigerador, e apanha uma maçã grande e suculenta. Aproxima a
judeu que estava há 40 anos no deserto e menciona duas vezes o fruta dos lábios e dá uma grande mordida, apreciando cada
maná que eles tinham comido. Em ambas as vezes, Moshê bocado deste presente Divino. De repente, percebe que
parece sugerir que comer o maná de certa forma foi esqueceu-se de uma parte essencial deste desfrutar da maça:
desagradável. ""[Ele] vos alimentou no deserto com maná… que não lembrou de recitar a bênção apropriada, agradecendo ao
Ele vos afligiu." Criador por seu maravilhoso presente.

De fato, os Filhos de Israel reclamaram amargamente: "Nossa Na porção desta semana, a Torá declara que quando os Filhos de
alma está sedenta; não há nada exceto este maná perante Israel chegarem a Eretz Yisrael, eles "comerão, ficarão satisfeitos
nossos olhos. Nossa alma abomina este pão leve." e abençoarão D’us " pela terra maravilhosa que Ele lhes deu
(Devarim 8:10). Deste versículo, os sábios extraíram o
À primeira vista, a reclamação deles é surpreendente, visto que a mandamento de Bircat Hamazon, Bênçãos após a Refeição,
Torá descreve o maná como um milagroso alimento delicioso e recitando a bênção apropriada. Entretanto, enfatiza o Sêfer
Divino, pois adquiria o sabor que a pessoa desejasse e era HaChinuch, este conceito de abençoar D’us exige uma
aproveitado completamente pelo corpo humano, não sobrando explicação, pois sabemos que na verdade D’us não precisa de
resíduos. nossas bênçãos. Afinal, D’us possui todas as honras e tudo que é
bom; Ele é onisciente e onipotente, e já possui tudo o que deseja.
As ações e palavras das pessoas, sejam boas ou más, nada
Como um alimento tão maravilhoso podia ser considerado um acrescentarão ou tirarão de D’us. Portanto, qual o objetivo de
"tormento"? recitar bênçãos?

No entanto, o Talmud explica que foram exatamente estas O Sêfer HaChinuch explica que D’us apenas deseja o melhor para
qualidades que deixaram os judeus com uma sensação de fome. Suas criaturas. Entretanto, Ele quer que elas sejam merecedoras
Era difícil acostumar com este "pão dos céus" que não deixava antes que Ele lhes conceda Suas bênçãos. Daí surge nossa
resíduos cuja cor e forma era diferente de tudo que existia no necessidade de recitar bênçãos a Ele. Através destas bênçãos
mundo. Os judeus queriam pão comum, "pão da terra". Ansiavam que recitamos, despertamos dentro de nós a idéia de que D’us é
por comida com a aparência que conheciam anteriormente. Aquele que concede bênçãos sobre nós, e através deste
reconhecimento tornamo-nos merecedores de nos tornarmos
Porém a verdade é que o ressentimento dos judeus foi motivado verdadeiros receptáculos para receber Suas bênçãos. É
pela má inclinação. A princípio, a má inclinação atrai a pessoa basicamente um efeito bola de neve. Quando O abençoamos,
para pecados menores, aos poucos abrindo seu caminho para tornamo-nos merecedores de Suas concessões de bênçãos sobre
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nós, pelas quais devemos abençoá-lo ainda mais, e então Ele nos Aonde quer que vamos, a qualquer hora do dia ou da noite, as
dá ainda mais bênçãos, e assim por diante. pessoas estão conectadas com a família, amigos e trabalho via
telefone celular.
A porção desta semana da Torá menciona também outra idéia
que pode ser aplicada de maneira similar. Ela nos diz que quando As mitsvot, os preceitos Divinos que guiam e governam cada
chegarmos à Terra de Israel e a conquistarmos, poderemos aspecto de uma vida judaica a partir do momento que nasce até
finalmente ficar convencidos e dizermos que a força e o poder em seu último sopro, são um meio pelo qual nos conectamos a D’us.
nossas mãos trouxe-nos nossa boa sorte (ibid. 8:17). Mas como De fato, uma mitsvá em si tem dois significados: "mandamento e
poderemos cometer tal engano? Uma nação que saiu da conexão".
escravidão e não foi treinada nas artes da guerra, derrotar a força
militar de sete nações poderosas, apenas poderia acontecer A qualquer hora do dia ou da noite, podemos nos conectar com
através de uma intervenção dos Céus. Como poderia a D’us por intermédio das mitsvot.
participação de D’us ser esquecida?
Ao nos ordenar as mitsvot, D’us criou os meios pelos quais
Mesmo assim vemos que com o tempo, é possível tornar-se podemos estabelecer uma conexão com Ele. A mão que coloca
fascinado pela idéia de que estas vitórias somente aconteceram algumas moedas numa caixa de tsedacá, a mente refletindo sobre
por nosso próprio mérito, e não com a ajuda de D’us. Eis por que pensamentos de Torá, os lábios curvados num sorriso para
Moshê continuou, versículo após versículo, a admoestar-nos a cumprimentar outra pessoa, a voz se elevando numa prece, o
lembrar que nossas vitórias aconteceram pelo mérito de nossos estômago digerindo matsá em Pêssach, os ouvidos escutando o
antepassados, e não por causa de nós ou de nossas conquistas. shofar em Rosh Hashaná, todos se tornam instrumentos para nos
conectar com D’us. Portanto, há mitsvot para cada membro, órgão
Similarmente, Rabi Yisrael Salanter aconselha sobre como conter e faculdade de uma pessoa, mitsvot governando cada aspecto da
os sentimentos de orgulho e arrogância. Quando parece que vida do indivíduo, para que nenhuma parte dele permaneça sem
conseguimos algo extraordinário, devemos lembrar-nos de nossas envolvimento na sua relação com o Criador.
deficiências e falhas, e não apenas dar-nos uma palmadinha nas
costas. Pensar desta forma nos impedirá de sucumbir à A cada vez que cumprimos uma mitsvá nos conectamos com
arrogância, permitindo-nos em vez disso reconhecer que é D’us e D’us. Às vezes, a conexão é tão natural que nem sequer
não nós mesmos a força por trás de nosso sucesso, desta forma percebemos. Outras vezes, sentimos a conexão de uma mitsvá –
percebendo a gratidão que Lhe devemos. Esta percepção, lágrimas vertidas num momento de prece; uma paz intangível
juntamente com a idéia que Ele é quem nos abençoa, culminará quando as velas do Shabat são acesas; o lento suspiro quando as
numa oportunidade única – fazer-Lhe uma bênção, que servirá correias de tefilin são desenroladas.
para ajudar-nos mais tarde quando o círculo continuar e Ele
conceder mais bênçãos sobre nós. Mas e quando não há conexão alguma? Quando estamos fora de
nossa área e nosso serviço está em "roaming", quando
Eis o que Reb Aharon HaGadol quis dizer quando disse a seu esquecemos de recarregar a bateria e o telefone fica mudo, ou
aluno: "Você faz uma bênção para que possa comer a maçã, passamos por um túnel e ficamos desconectados?
enquanto que eu como uma maçã para que possa fazer uma
bênção." Ele sentia tão fortemente o amor por abençoar D’us, que Então nossa família, amigos e o escritório não podem manter
literalmente saía de seu caminho para encontrar oportunidades de contato conosco. Porém D’us ainda pode. Porque jamais
fazer bênçãos. podemos realmente nos desconectar de D’us. "Um judeu não
deseja nem pode ser desconectado de D’us" – ensinou Rabi
Shneur Zalman, fundador do Chassidismo Chabad. Mesmo se
pensarmos que a conexão está rompida ou que estamos
Agora entendemos duas das razões pelas quais recitamos desconectados, ainda estamos conectados a D’us e Ele ainda
bênçãos. Primeiro, são para que reconheçamos Aquele que nos está conectado conosco. Além disso, ainda podemos nos
abençoa, e em segundo, para demonstrar nossa gratidão pelo comunicar com ele e vice versa. Porque, na verdade, o serviço
que D’us já nos concedeu. Portanto, da próxima vez que nunca "cai".
estivermos na cozinha e dermos uma mordida na maçã, como
poderemos esquecer de recitar uma bênção? E quando Talvez seja um número errado ou algo que tenha afetado as
lembrarmos de pronunciar as palavras sagradas, devemos microondas. Mas a falta de conexão jamais é permanente.
lembrar de refletir sobre o que estamos dizendo e a Quem isso é
dirigido, pois os benefícios são notáveis. D’us pode e realmente Se comunica conosco. Precisamos apenas
aguçar os ouvidos e escutar, recarregar nossa bateria ou ter
Conexão paciência até vermos a luz no fim do túnel-gancho, e reconectar.

Você está caminhando pela rua e avista uma pessoa de Nem só de pão…
aparência normal vindo em sua direção. Então você percebe que
ele está falando sozinho. Faz gestos, aponta e balança o dedo no Rabi DovBer de Mezeritsh
ar como para afirmar um ponto de vista. O que está acontecendo?
No âmago de toda existência está a palavra Divina que constitui
Quando chega mais perto, você desvia os olhos. Talvez ele não sua alma – sua essência e seu propósito. Esta palavra Divina são
esteja constrangido, mas você está! as Divinas palavras da Criação: ("faça-se a luz", "Que a terra
produza vegetação", etc.) – o que expressa o desejo de D’us de
Finalmente, a apenas alguns passos do sujeito, você reprime uma que exista uma coisa específica e sua função, dentro de Seu total
risadinha. "Como pude me esquecer? Telefone celular!" propósito da Criação. É esta Declaração Divina, que foi o

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instrumento original de sua criação, e que permanece aninhada Local dos sacrifícios e os Milagres no Bet Hamicdash
dentro dela, alimentando-a continuamente com existência e vida.
Local dos Sacrifícios
A alma do homem desceu às armadilhas e sofrimentos da vida
física para conseguir o acesso àquelas centelhas de santidade.
Habitando um corpo físico que se alimentará, vestirá, e fará uso
dos objetos e forças da existência física, a alma pode redimir a Moshê continuou: "Vocês não poderão construir altares e oferecer
Declaração Divina que eles incorporam. Pois quando o homem se sacrifícios a D’us em qualquer lugar em Êrets Yisrael, embora não
utiliza de algo, direta ou indiretamente, para servir ao seu Criador, adorem ídolos. Assim que se estabelecerem no país, D’us
ele penetra na concha da existência comum, revelando e escolherá um local fixo para Si. Este será o Bet Hamicdash, onde
percebendo sua Divina essência e propósito. serão trazidas suas oferendas."

Existe um significado mais profundo para o versículo: "O faminto e Quando todas as oferendas eram trazidas a um só local, isso
o sedento, neles suas almas se abrigam por si mesmas." Uma ajudava a crer no único D’us. Também forçou os judeus a
pessoa pode ansiar pelo alimento e sentir apenas a fome de seu visitarem o Mishcan ou o Bet Hamicdash, o que ajudou a
corpo; mas na verdade, sua ânsia física nada é além da aumentar seu temor a D’us. Os visitantes presenciavam lá
expressão e invólucro externo de um desejo mais profundo – sua milagres que reforçaram sua emuná (fé).
alma ansiando pelas centelhas de santidade que são o objeto de
Nossos sábios nos relatam:
sua missão na vida física.
Milagres no Bet Hamicdash
47 - Parashat Reê Deuteronômio 11:26-16:17
Eis aqui alguns dos milagres que ocorriam no Bet Hamicdash
A Santidade de Êrets Yisrael e a Remoção da Idolatria
•Toda as noites, os cohanim queimavam todas as sobras de
Esta parashá e as próximas duas concentram a maioria das
carne e gordura das oferendas no mizbêach (altar). Às vezes,
mitsvot encontradas no livro de Devarim. Até agora, Moshê
havia muito para queimar. As sobras de carne ficavam sobre o
transmitiu mitsvot fundamentais como amor e temor a D’us,
altar por dois ou três dias sem refrigeração. Em geral, se uma
diretrizes contra a idolatria, sermões inspiradores enfatizando o
carne for mantida à temperatura ambiente mesmo por um só dia,
compromisso do povo em relação à D’us, e a obrigação dos
já começa a se estragar. A carne no altar permanecia
judeus de se conduzir à altura da santidade de Êrets Yisrael.
miraculosamente fresca.
Moshê inicia sua recitação colocando as mitsvot em sua devida
•Todos os sacrifícios eram abatidos no pátio do Bet Hamicdash,
perspectiva, dizendo que, a escolha entre aceitar a Torá em sua
do lado de fora. Normalmente carne, ossos e sangue atrairiam
totalidade ou não, nada mais é que escolher entre bênção e
enxames de moscas zumbindo em volta das mesas. Mas a Azará
maldição. Aqueles que guardariam as mitsvot seriam abençoados
(pátio) era tão sagrada que nem mesmo uma única mosca jamais
por D’us.
chegava perto.
Há mais de 50 mitsvot nesta Parashá. Para conhecer a todas, é
•A chuva nunca apagava o fogo sobre o altar de cobre no pátio. O
preciso estudá-las na própria Torá.
vento também não desarranjava o pilar de fumaça que subia do
Moshê disse: "Êrets Yisrael está repleta de imagens e outros fogo sobre o altar. Em vez disso, a fumaça subia direto para o
objetos de adoração de ídolos. As nações da terra colocaram céu.
imagens em cada montanha ou colina. Há ídolos sob cada árvore.
•A Azará ficava sempre completamente cheia, quando os judeus
Construíram templos, altares e matsevot (pedras para adoração
se reuniam para rezar. Não havia um centímetro de espaço livre.
de ídolos). Plantaram também asherot, árvores que consideram
Ao invés de curvar-se, como fazemos atualmente para rezar, os
sagradas."
judeus na época do Bet Hamicdash caíam ao solo, esticando os
"Sua primeira mitsvá ao entrar na terra será destruir cada ídolo e braços e pernas. Como poderia a pessoa ter espaço suficiente?
cada objeto de adoração! Livrem-se deles! Destruam os ídolos Um milagre acontecia: a Azará se expandia. Todos tinham espaço
imediatamente! Não deverá permanecer nem mesmo um traço! suficiente para permanecer no solo!
Se uma cidade recebeu o nome de um ídolo, troquem seu nome."
•Havia também o milagre que acontecia com os lêchem hapanim.
A mitsvá de destruir ídolos aplica-se a todas gerações. Os reis Estes pães eram colocados sobre o shulchan (mesa) a cada
judeus que foram tsadikim limparam o país das imagens que reis Shabat. Estavam sempre frescos e quentinhos até o próximo
perversos lá haviam colocado anteriormente. Shabat, quando eram substituídos! Os cohanim costumavam
elevá-los e mostrá-los aos judeus que iam ao Bet Hamicdash.
Em Êrets Yisrael, todo rei judeu é obrigado a procurar os ídolos e "Veja o quanto D’us ama vocês," diziam eles. "Ele realiza
assegurar-se que a terra está completamente livre de todos os milagres!"
traços de idolatria estrangeira. Assim como antes de Pêssach
procuramos e destruímos chamêts, da mesma forma devemos A Proibição de Ingerir Sangue e o Abate de Animais
procurar e nos livrar de todos os ídolos em Êrets Yisrael.
A Proibição de Ingerir Sangue
Êrets Yisrael está onde repousa a Shechiná. É como o palácio do
rei. Um servo ousaria erguer uma estátua do inimigo do rei no
palácio? Colocar um ídolo em Êrets Yisrael é exatamente a Os judeus já tinham ouvido de Moshê a proibição de Ingerir
mesma coisa. Não poderia haver crime mais grave. sangue. Naquela época o consumo de sangue era muito comum e
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difundido entre os povos. Portanto Moshê precisava advertir: 1 – Aquele que alega que um ídolo fala com ele é um falso
"Sejam muito estritos com esta mitsvá! profeta. Devemos cortar toda relação com alguém assim. Um Bet
Din (Tribunal Rabínico) deve sentenciá-lo à morte.
"Evitem ingerir sangue, não porque possam achar isso
repugnante, mas porque vocês desejam agir conforme ‘o que é 2 – Um profeta que proclama que D’us nos ordenou deixar de
certo aos olhos de D’us ’". cumprir qualquer mitsvá para sempre, é falso.

Este princípio se aplica a todas as mitsvot: É importante procurar Ele poderia nos dizer: "Farei um milagre para provar que D’us
conhecer o porquê das mitsvot, mas é preciso lembrar que o realmente falou comigo."
significado é apenas um acessório, e nunca pode se tornar o
motivo principal para seguir a Torá. A intenção essencial é Moshê alertou os judeus: "Não acreditem nele, mesmo se prever
obedecer à D’us. acontecimentos futuros! Não confiem nele mesmo se realizar
maravilhas nos céus ou na terra. Não se impressionem mesmo se
Abater Animais e Aves Conforme as Leis da Torá ele parar o sol! Não se influenciem por milagres de um falso
profeta! Ele é um impostor!"
D’us ordenou: "Existe apenas uma maneira casher de abater um
animal para alimento: cortando a faringe e o esôfago." Como o Maimônides codificou, um dos treze princípios da fé
judaica, é o conceito que a Torá nunca poderá ser mudada, não
D’us ensinou a Moshê o ponto exato onde deveria ser cortado. importa quantos milagres sejam realizados por um profeta. A
D’us acrescentou também outras leis. nossa fé não é baseada em milagres.

Um shochet é um judeu que abate animais de acordo com a lei da " Se vocês se perguntarem: "Por que D’us o permite realizar
Torá. Ele precisa conhecer bem as leis. Deve conferir sua faca milagres? Esse na verdade é um teste ao qual D’us nos submete.
antes de fazer o trabalho, para que o corte seja suave. D’us está pondo à prova nossa lealdade a Ele. Se não seguimos
um profeta falso, estaremos demonstrando um verdadeiro amor
O que acontece se um shochet esqueceu de examinar sua faca? por D’us."
Se a faca tiver qualquer falha, como uma saliência ou depressão,
o animal que ele abateu não é casher. Missionários

Um animal morto que não foi abatido de acordo com a Halachá O messit, instigador, é aquele que influencia outros a servir ídolos.
(Lei Judaica) é chamado de nevelá. Não pode ser consumido. É pior influenciar outros a adorar ídolos que servi-los por conta
própria.
Ser um shochet é um trabalho de muita responsabilidade. A
melhor maneira de assegurar-se de que a carne ou ave é Moshê alertou: "Se qualquer judeu - até mesmo um parente seu
realmente casher é conhecer o shochet pessoalmente. Se isto muito próximo como um pai ou uma esposa - lhe propuser:
não for possível, por exemplo, quando uma companhia emprega ‘Vamos deixar de lado a tradição dos nossos antepassados e
vários shochatim, deve-se descobrir se são todos honestos, servir um dos deuses dos outros povos.’ Rejeite imediatamente
tementes a D’us e peritos em Halachá. Antes do abate, o shochet sua proposta"
recita a bênção: "Bendito és Tu, D’us, que nos santificou com
suas mitsvot e nos ordenou a shechitá" "Você poderá pensar: ‘’Não vou ouvi-lo e certamente não servirei
ídolos. Porém ficarei quieto, não direi a ninguém que ele tentou
Por que os animais devem ser abatidos desta maneira especial? me influenciar a adorar ídolos’. Esta atitude é um erro. Não deves
protegê-lo de nenhuma maneira."
D’us não nos revelou a razão. Esta lei é conhecida como um choc
(mitsvá cujo significado não nos foi revelado). Apesar disso, A Torá decreta leis muito severas à respeito de um "instigador" ou
temos algumas explicações: A shechitá faz com que uma grande "missionário", que tenta convencer nosso povo a aceitar deuses
quantidade de sangue saia do animal. Esta mitsvá nos ajuda a estranhos. Apesar da sermos ordenados a amar todo judeu, o
evitar a ingestão de sangue. messit não está incluído na mitsvá de "Amarás ao teu próximo".
Ele é uma exceção. Levar outros à idolatria é tão grave, que a
O método indicado pela Torá para abater o animal é Torá não tolera este indivíduo. Este pecador pode ser um parente
misericordioso, rápido e indolor. D’us não quer que o animal sinta muito querido, mesmo assim a vítima é obrigada a denunciá-lo ao
dor e sofra. Bet Din, que irá condená-lo à morte.

O cumprimento desta mitsvá é benéfico; elevando-nos Moshê continuou: "Nem deverás pensar: ‘Não quero testemunhar
espiritualmente e nos aproximando de D’us. contra ele. Me sinto culpado de causar sua morte.’ Isto também é
um erro. É uma mitsvá ajudar o Bet Din a executar um messit."
Falsos Profetas e Missionários
Um messit é pior que um assassino. Um assassino tira a vida de
Falsos Profetas
uma pessoa apenas neste mundo, mas o messit prejudica a
Devemos obedecer somente à um profeta de D’us. Moshê nos pessoa também no mundo vindouro.
advertiu: "Não dêem ouvidos ao falso profeta!"
Um messit pode ocultar parcialmente suas verdadeiras intenções
Como podemos saber quem é um falso profeta? e tentar persuadir outros com palavras gentis e amorosas. Os
missionários são alguns dos atuais messitim. Eles tentam
convencer judeus ignorantes (e às vezes também necessitados),
a abandonem a Torá. Uma boa maneira de combatê-los é ajudar

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financeiramente organizações que resgatam judeus das mãos de É assim com o povo de Israel. Sendo que o povo judeu possui o
missionários. potencial para a vida espiritual, D’us "prescreveu" alimentos que
incrementam seu crescimento espiritual.
Ir HaNidachat
A Importância da Cashrut
Moshê continuou com o assunto de adoração de ídolos:
A Torá enfatiza a razão da cashrut com termos bastante claros:
"Pode acontecer que a maioria dos judeus de uma cidade seja ao observar as leis de cashrut, o judeu consegue elevar-se na
persuadida a adorar ídolos." escada da santidade.

Se os juízes do Sanhedrin ouvirem tal coisa, devem verificar a Apesar de que o dano que os alimentos proibidos causam não é
veracidade desta notícia. Se as testemunhas declararem que a físico, todavia, impedem que o coração capte e atinja os elevados
maioria dos habitantes serviram ídolos, a cidade e tudo que ela valores da alma através do estudo da Torá.
conter deve ser destruído. Isso é chamado ir hanidachat – uma
cidade que foi convencida a adorar ídolos. O alimento não-casher contamina a alma de forma que exame
físico algum consegue detectar, e cria um impedimento entre o
"Todos aqueles que servem ídolos devem ser condenados à judeu e sua percepção de D’us. Gradualmente, este consumo
morte pelo Bet Din. Aquele que não o fez pode deixar a cidade. constrói uma barreira que bloqueia e impede sua compreensão da
Entretanto, quando a cidade for destruída, seus pertences devem santidade.
ser destruídos também. Ninguém tem permissão de usar coisa
alguma da cidade. A cidade é queimada e jamais poderá ser Assim como alguém que está constantemente exposto à música
reconstruída." alta e forte barulho, lenta e imperceptivelmente, porém com
certeza, sofre perda de sua capacidade de ouvir sons delicados e
De acordo com alguns de nossos sábios, jamais existiu uma ir de detectar modulações sutis; a Torá nos diz que da mesma
hanidachat e jamais haverá uma. (Seria impossível preencher forma, se um judeu ingere alimentos não casher, ele mina e
todas as condições). Mesmo assim, a Torá ordenou esta mitsvá entorpece suas capacidades espirituais, e nega a si mesmo plena
para nos ensinar a gravidade da adoração de ídolos. oportunidade de santificar-se.

Leis de Cashrut Quem consome alimentos proibidos torna-se incapaz de perceber


suas perdas e não entende a lógica destas proibições. Assim
Animais Casher e Não-Casher como quem vive tomando analgésicos, acha estranho que outros
chorem de dor e sensações que ele não sente. Analgésicos
Na Parashá Shemini no livro de Vayicrá, aprendemos que os
entorpecem os nervos assim como alimentos proibidos
judeus podem ingerir animais e peixes apenas se estes tiverem
entorpecem os chips espirituais.
dois sinais indicando que são casher. Moshê agora repete estas
leis. Acrescentou também novas leis, e advertiu os judeus Por esse motivo, mesmo uma criança pequena deve evitar comer
novamente a não misturarem leite e carne. alimentos proibidos, para que seu potencial espiritual não seja
prejudicado.
A Torá enumera apenas dez espécies de animais terrestres
casher que possuem patas fendidas e ruminam; e quatro animais Maasser e o Ano de Shemitá
que não são casher por terem apenas um desses sinais. Vale
salientar que não existem outras espécies que tenham só uma Maasser Rishon - O Primeiro Dízimo
dessas características.
Moshê também ordenou Benê Yisrael a separarem maasser (um
Os comentaristas observam que isto demonstra a origem Divina décimo) dos produtos que crescem em Êrets Yisrael.
da Torá, pois um legislador humano jamais arriscaria ser refutado
por descobertas de outros animais para ele desconhecidos, O Midrash nos ensina que um judeu que ingere alimentos dos
àquela época. quais não foi separado o maasser, é como se tivesse comido
carne não casher!
Rashi explica porque vários animais são proibidos aos judeus. A
missão espiritual do povo judeu é unir-se à Fonte Primordial de "Se vocês produzirem vinho, cereais, ou azeite, devem sempre
vida espiritual. Conseqüentemente, os judeus devem abster-se de separar o dízimo antes de comê-lo," lembrou Moshê. "Se vocês
consumir quaisquer alimentos que o Intelecto Divino saiba ser um derem o maasser aos levitas, D’us os abençoará com riquezas."
obstáculo para atingir seu sublime objetivo.
Maasser Sheni / O Segundo Dízimo
Numa parábola encontrada no Midrash, um médico veio visitar
dois pacientes. Para o primeiro ele disse: "Você pode comer tudo Como aprendemos, um judeu tinha que separar um décimo de
o que quiser." Para o outro ele prescreveu uma dieta detalhada e sua colheita. Dava-o a um levita. Após o primeiro maasser, cada
rigorosa. Logo, o primeiro paciente morreu, e o segundo fazendeiro tinha que separar outro décimo de sua produção. Era
recuperou-se. O médico explicou que não havia esperança para o chamado maasser sheni, o segundo maasser.
primeiro, não havendo, portanto, razão para negar-lhe alimentos
dos quais gostava. Porém o segundo paciente estava O que ele fazia com o maasser sheni?
basicamente saudável, por isso era importante ministrar-lhe uma
O agricultor e sua família viajavam a Jerusalém com sua
dieta que recuperasse suas forças e plena saúde.
produção de maasser sheni e a comiam lá. Se fosse muito
oneroso transportar a produção para Jerusalém, o proprietário
podia trocá-la por dinheiro. Levava o dinheiro então para
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Jerusalém e com ele, comprava alimentos para si e para sua Já na época do Talmud, muitas pessoas deixavam de emprestar
família. dinheiro quando o ano de shemitá se aproximava. Para resolver
este problema, o ilustre erudito e líder Hilel instituiu uma fórmula
Por que D’us desejava que os judeus comessem maasser sheni que permite reclamar o pagamento mesmo depois do sétimo ano,
em Jerusalém? denominada Peruzbul. Consiste no credor transferir suas dívidas
a uma corte rabínica antes do ano sabático. A dívida, então, deixa
A Torá explica: "Isso os ensinará a temer D’us." de ser individual, tornando-se passível de cobrança (conforme a
própria lei da Torá estipula) durante ou após o ano de shemitá.
Na época do Bet Hamicdash, uma visita a Jerusalém era uma
experiência maravilhosa. No Bet Hamicdash, um judeu podia
sentir a presença Divina e até mesmo presenciar milagres. Podia
visitar os juízes no Grande Sanhedrin, os grandes sábios da Embora pessoas em particular não possam pedir o pagamento
nação. E podiam admirar os tsadikim que lá viviam. após shemitá, o Beit Din sempre tem permissão de reclamar este
pagamento. Assim, os necessitados conseguirão empréstimos
Quando um judeu retornava de sua viagem de "maasser sheni" sempre, inclusive antes de um ano de shemitá.
em Jerusalém, sentia-se tão entusiasmado que isso o ajudava a
cumprir melhor as mitsvot. É aconselhável que cada um faça um peruzbul antes da shemitá
(mesmo quem não tenha empréstimos pendentes para receber ou
Maasser Ani - O Dízimo Para Os Pobres que não se importe de quitar os que tem), demonstrando assim o
respeito por uma ordem de nossos sábios e, ao mesmo tempo,
No primeiro, segundo, quarto e quinto anos de cada ciclo de sete,
cumprindo um decreto rabínico que só ocorre a cada sete anos.
o fazendeiro tinha que separar o maasser sheni e comê-lo em
Não há nenhuma exigência de especificar as dívidas; somente
Jerusalém. No terceiro e sexto anos, o agricultor tirava maasser
declarar sua transferência à corte rabínica. O peruzbul pode ser
ani (dízimo para os pobres) ao invés do maasser sheni. Esta
lido perante um Tribunal Rabínico, por ocasião de hatarat nedarim
décima parte era para as pessoas necessitadas, que vinham ao
(anulação das promessas) na véspera de Rosh Hashaná. Logo
seu campo reivindicá-lo.
após o texto da anulação das promessas, deve-se recitar:
Shemitat Kessafim - O Cancelamento de Dívidas "Entrego-lhes todos os meus créditos para que eu possa cobrá-
los quando desejar."
Moshê ensinou a Benê Yisrael sobre outra mitsvá que está
relacionada com chêssed (bondade). Aprendemos que cada Neste caso não há necessidade de escrever ou assinar o
sétimo ano é um ano shemitá (sabático) em Êrets Yisrael, quando peruzbul. Ou então, antes da véspera de Rosh Hashaná, deve-se
o solo repousa. Entretanto, há uma lei de shemitá que deve ser enviar para um tribunal rabínico um documento assinado e datado
mantida mesmo fora de Êrets Yisrael. com o seguinte texto:

Nesta parashá, a Torá (Devarim XV:2) diz: "Ao fim de cada sete "Eu, abaixo assinado, entrego aos senhores..., membros do Bet
anos farás o ano sabático. E este é o procedimento da shemitá: Din na cidade de..., todos os créditos que tenho de outrem, seja
cada credor perdoará tudo o que emprestou a seu semelhante; por documento ou oralmente, a fim de que possa cobrá-los
nada exigirá dele." quando desejar."

Esta passagem significa que é proibido cobrar dívidas particulares O peruzbul também deve ser repetido ao final do ano de shemitá.
durante o ano sabático. Isto se aplica tanto na Terra de Israel
A Mitsvá da Tsedacá e suas Leis
quanto fora dela (enquanto que as leis agrícolas de shemitá
aplicam-se somente à Terra Santa). Moshê explicou: "Se todo o povo judeu guardar as mitsvot, não
haverá pessoas pobres entre vocês. Jamais precisarão emprestar
Portanto, depois que passou o ano shemitá, um judeu que
dinheiro a outro judeu, nem precisarão dar tsedacá.
emprestou dinheiro a outro não pode mais pedir que lhe devolva o
empréstimo. Pode exigir o pagamento apenas até o último dia do "Porém sei que as futuras gerações não serão tão justas. Por
ano anterior, véspera de Rosh Hashaná. Se Rosh Hashaná isso, haverá pessoas pobres, e vocês precisam conhecer as leis
passar e o empréstimo não foi quitado, o pagamento não pode ser de tsedacá."
exigido. (Porém, se o devedor, espontaneamente, oferecer este
valor como um presente, o credor pode aceitá-lo. Esta seria a Moshê explicou esta mitsvá aos judeus que entrariam em Êrets
conduta correta). Yisrael. No deserto, não houvera necessidade de dar tsedacá
porque cada judeu recebia maná para as refeições e porque todos
D’us nos deu esta lei para nos ensinar uma lição. Ele deseja que tinham roupas para usar.
percebamos que é Ele o dono de tudo que possuímos, bem como
nosso dinheiro. Sobre mitsvá de tsedacá, a Torá diz nesta parashá: ""Abra a sua
mão - patuach tiftach et yadechá’. Seja caloroso e generoso com
O que acontece se um judeu precisa pedir dinheiro emprestado seus irmãos".
ao final de um ano anterior a shemitá? Aquele que empresta pode
pensar: "Estou certo de que ele não poderá me pagar antes do A Torá adverte em relação à ao medo natural humano de não
início do ano de shemitá. Poderei perder meu dinheiro." poder gastar com caridade ou empréstimos. Um judeu nunca
deve se perguntar se deve ajudar ou não, somente para quem e
Se a pessoa que precisa de um empréstimo é pobre, terá como oferecer ajuda, porque o ajudante definitivo dos pobres e
dificuldade em achar alguém que deseje emprestar-lhe dinheiro. ricos é o próprio D’us.

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A Torá dirige-se a dois tipos de pessoas. Àquele que não "Certamente eu lhe emprestaria o dinheiro, sob estas
consegue decidir se vai ou não doar, D’us diz: "Não endurecerás circunstâncias, pois estaria completamente seguro de que meu
o seu coração". E, para alguém que deseja dar, mas no último empréstimo está garantido," declarou o filósofo.
instante volta atrás, D’us diz: " Não fecharás sua mão".
Rabi Gamliel explicou: "Quando alguém dá tsedacá, ele na
O versículo conclui com um aviso implícito para aquele que se verdade concede um empréstimo garantido pelo Criador do
mantém insensível: "O indivíduo diante de você é ‘seu irmão Universo. As escrituras dizem: "Aquele que dá ao pobre com
necessitado’. Se você rejeitar sua solicitação, você é aquele que benevolência empresta a D’us, Que lhe retribuirá tudo o que lhe é
poderá acabar se tornando o ‘irmão’ dele na pobreza". O homem devido." (D’us pagará ao benfeitor neste mundo, restituindo-lhe o
pobre clama a D’us quando suas súplicas por tsedacá ‘empréstimo’, e guarda a recompensa completa para o mundo
permanecem sem resposta. D’us escuta seus gritos sentidos e vindouro.) Ninguém é tão honrado e digno de confiança como o
pune o avarento que não lhe forneceu tsedacá. Criador; se Ele garante que restitui o dinheiro ao doador: por quê
alguém deveria hesitar em dar tsedacá ?
Uma Parábola
Ninguém nunca ficou pobre por dar tsedacá.
O adágio popular diz: "A carga que um camelo suporta depende
de sua força". D’us espera que a pessoa doe tsedacá De fato, a verdade é o oposto, de acordo com o versículo: "Aquele
proporcionalmente à abundância com que foi abençoada. que dá tsedacá ao pobre, nada lhe faltará". D’us restitui o dinheiro
gasto em tsedacá, ao passo que o dinheiro sonegado ao pobre,
De fato, uma pessoa é afortunada se doa tsedacá com ao fim, será perdido.
generosidade. A seguinte parábola ilustra esse ponto:
Como D’us Recompensa quem doa Grandes Quantias para
Dois carneiros estavam às margens de um rio, olhando Tsedacá
desconfiados para as ondas espumantes. Será que conseguiriam
atravessá-lo a nado, alcançando a verdejante campina que lhes Rabi El’azar, Rabi Yehoshua e Rabi Akiva percorriam o país a fim
acenava do outro lado? de coletar uma vasta soma para sustentar os estudiosos da Torá
carentes.
Ambos mergulharam e começaram a nadar vigorosamente.
Contudo, enquanto um carnerinho mantia o ritmo, o outro logo Eles chegaram aos arredores de Antióquia, lar de Aba Yudan, o
cansou-se, conseguindo manter sua cabeça fora da água com famoso magnata e filantropo. Quando Aba Yudan viu os sábios se
muita dificuldade. Não demorou muito e foi tragado pela forte aproximando, empalideceu de vergonha e pesar, pois havia
correnteza. perdido todo o seu dinheiro, e não poderia ajudá-los.

Para azar desse carneiro, sua longa pelagem acabou sendo um Sua esposa ficou chocada ao ver que sua aparência mudara tão
empecilho, tornando-se uma pesada carga ao molhar-se. O outro drasticamente, e indagou-lhe a razão.
carneiro, no entanto, estava tosquiado. Era leve, locomovia-se
com facilidade, conseguindo, assim, sobreviver. Nossos sábios "Os sábios estão visitando nossa vizinhança," ele respondeu, "e
aconselham a pessoa atravessar ao "outro lado" com pesos leves; não tenho posses para fazer-lhes um donativo."
ou seja, a livrar-se do dinheiro extra, distribuindo-o para tsedacá.
Se a pessoa, em vez disso, guardar e acumular dinheiro, por fim Sua esposa, que era ainda mais generosa que ele, aconselhou-o:
este o arrastará para baixo. Pois ela não utilizou sua fortuna "Venda metade do campo que nos restou, e dê o dinheiro aos
conforme os ensinamentos da Torá. sábios." (Este era um ato de bondade não requerido pela lei.)

O Fiador do Empréstimo Ao receberem seu presente, os sábios o abençoaram: "Que o


Todo-Poderoso reponha sua perda!"
Um filósofo perguntou a Rabi Gamliel: "Sua Torá lhes ordena a
dar tsedacá freqüentemente, e não ter receio de comprometer sua Mais tarde, enquanto Aba Yudan estava arando a parte que lhe
situação financeira. Mas esse receio não é algo natural? Como restou do campo, sua vaca caiu num buraco e quebrou a perna.
alguém pode dar seu dinheiro sem se preocupar se deveria ou Ao entrar no buraco para socorrê-la, D’us iluminou os olhos de
não poupá-lo para uma hora de necessidade? Aba Yudan, e de repente ele avistou um tesouro enterrado
naquele buraco. Cheio de júbilo, exclamou: "Minha vaca
Rabi Gamliel, então, indagou: "Se lhe pedissem um empréstimo, machucou-se para meu benefício!"
você me concederia?"
Da próxima vez que os sábios visitaram aquela vizinhança,
"Depende de quem está pedindo," respondeu o filósofo. "Se o indagaram: "Como está Aba Yudan?"
requerente for um estranho, eu teria medo de perder meu
dinheiro." Responderam-lhes: "Aba Yudan possui escravos, rebanhos de
carneiros e cáfilas de camelos. Não temos palavras para
"E se o requerente apresentasse fiadores?", perguntou Rabi descrever sua fantástica fortuna!"
Gamliel.
Aba Yudan soube da chegada dos sábios e foi dar-lhes as boas-
"Bem, se eu soubesse que são confiáveis, concordaria," replicou vindas. "Suas preces em prol de meu sucesso foram muito
o filósofo. benéficas," disse-lhes. "D’us não apenas repôs o dinheiro que dei
a vocês, como abençoou-me com muito mais do que jamais tive!"
"Deixe-me perguntar-lhe", continuou Rabi Gamliel, "como você se
sentiria se o requerente apresentasse o chefe do governo como Eles retrucaram: "Seu sucesso se deve aos seus próprios atos de
fiador?"
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tsedacá. Já que você deu tsedacá com tanta generosidade, D’us Um Bom Investimento
considerou-o merecedor de Suas bênçãos."
Rabi Tarfon, que era um homem muito rico, não dava tsedacá
Sobre ele os sábios citam o versículo: "Um presente generoso proporcionalmente à sua fortuna.Rabi Akiva propôs-lhe a seguinte
(para tsedacá) acarreta que seu sustento seja ampliado." questão: "Você quer que eu invista uma parte de seu dinheiro em
imóveis?" Rabi Tarfon concordou, e deu-lhe quatrocentos dinares
O Poder da Tsedacá de ouro. Rabi Akiva pegou o dinheiro e distribui-o entre os pobres.

Tsedacá pode prolongar a vida de uma pessoa. Depois de algum tempo, quando Rabi Tarfon pediu-lhe para ver
seus imóveis, Rabi Akiva conduziu-o ao Bet Hamidrash (casa de
Três atos têm o poder de abolir os decretos dos céus: estudos), abriu o livro de Tehilim, e leu: "Aquele que distribuiu
amigavelmente e deu aos pobres, sua virtude e retidão
1.Arrependimento (teshuvá)
perdurarão para sempre." (Tehilim, 112:9) "Foi assim que investi
2.Dar tsedacá seu dinheiro."

3.Orações (tefilá) Rabi Tarfon beijou-o e exclamou: "Você é meu mestre e


professor. É mais sábio que eu, e ensinou-me a lição da maneira
Halachot (Leis) Referentes a Tsedacá correta."

•Se alguém tem parentes pobres, a prioridade é ajudá-los. A A fim de realmente demonstrar sua aprovação, Rabi Tarfon deu
seguir, ele deve dar tsedacá aos seus vizinhos pobres; e então mais dinheiro a Rabi Akiva, para doar aos pobres.
aos pobres de sua cidade. Se for preciso escolher entre dar
tsedacá para pobres de uma outra cidade, e a pobres de Êrets De fato, Rabi Akiva não enganou Rabi Tarfon quando descreveu o
Yisrael, os pobres de Êrets Yisrael têm prioridade. ato de dar tsedacá como "investimento em imóveis". Quando
alguém dá tsedacá neste mundo, está investindo numa casa para
•A mitsvá de tsedacá abrange dinheiro ou alimentos. sua alma no mundo vindouro.

•O valor mínimo a ser doado para tsedacá é um décimo dos Mais Idéias Sobre Tsedacá
rendimentos.
Maimônides, o Rambam, escreve: "Nunca houve dez judeus que
•Quando não tiver dinheiro consigo para contribuir, ao menos seja morassem no mesmo local e não estabelecessem um fundo de
amável com o pobre. As bênçãos que uma pessoa recebe por tsedacá.
confortar uma pessoa necessitada são ainda maiores que aquelas
recebidas por dar tsedacá. "Nós, o povo judeu, precisamos garantir o cumprimento da mitsvá
de tsedacá de maneira elevada, pois ela nos caracteriza como a
•A tsedacá deve ser dada de maneira amigável, acompanhada de virtuosa e bondosa semente de Avraham, sobre quem D’us
palavras encorajadoras. Aquele que doa irritado ou com raiva, declarou: ‘Pois Sei que ele ordenará seus filhos e descendentes
mesmo que sejam altas somas, perde o mérito da mitsvá. depois dele a fazer tsedacá.’"

•Uma pessoa não deveria jamais sentir-se mal por dar tsedacá. A Quanto agradecimento e louvor uma pessoa deve ao Criador, por
mitsvá deve ser cumprida com alegria. Aquele que dá tsedacá possibilitar-lhe estar entre os que dão tsedacá a outros!
ganha mais que a pessoa que a recebe.
A pessoa deve perceber, contudo, que todo o dinheiro que
•Se o pobre está constrangido por receber tsedacá, é preciso controla, em realidade, não é "seu", mas do Criador. Se D’us
encontrar uma maneira de poupar-lhe embaraços. Por exemplo, confiou-lhe riqueza, é para testar se dará tsedacá com
pode-se dizer que o dinheiro é um empréstimo. Mais tarde, generosidade, e com as intenções apropriadas.
podemos informá-lo que, na realidade, não é necessário que
devolva esta soma. O Servo Judeu e Shalosh Regalim

•A maneira mais sublime de cumprir a mitsvá tem lugar quando o Moshê continuou com outra mitsvá de chêssed.
doador não conhece quem recebe a tsedacá, tampouco quem
Aprendemos que se um judeu furta dinheiro e não pode pagá-lo, o
recebe conhece o doador (evitando, assim, que quem recebe
Beit Din vende o ladrão como servo. O dinheiro da venda cobre o
fique envergonhado).
furto. O servo judeu deve servir ao amo por seis anos. Então
•A maior tsedacá é evitar que um colega judeu tenha de aceitar ganha sua liberdade, no ano Sabático, shaná Shemitá.
tsedacá. Se alguém puder encontrar-lhe um emprego adequado,
Moshê ensinou: "Quando seu servo judeu vai embora, você deve
juntar-se a ele como sócio, ou emprestar-lhe dinheiro a fim de
provê-lo com carne, pão e vinho."
torná-lo auto-suficiente, este doador realizou a melhor e mais
elevada forma de tsedacá. Nossos sábios estabeleceram a quantidade exata que cada um
deve dar ao escravo judeu.D’us ordenou esta mitsvá como um ato
•Ao pensar em como distribuir dinheiro particular para tsedacá,
de bondade ao servo judeu. Quando torna-se livre, não possui
deve-se dar prioridade aos pobres que esforçam-se no estudo da
dinheiro. Com estes presentes, tem suprimentos para iniciar uma
Torá. Assim como os maasrot (dízimos) sustentavam os cohanim
nova vida.
e leviyim que faziam o serviço no Bet Hamicdash, também
devemos separar um décimo de nossa renda para os estudantes As Três Festas de Peregrinação "Shalosh Regalim"
da Torá em necessidades financeiras.

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Depois de ter exortado os judeu a trazerem seu dízimo a D’us diz: "Seu lar abrange quatro tipos de membros: seus filhos,
Jerusalém, a Torá agora menciona as três festas quando os filhas, servos e servas; e Meu lar abrange quatro: os levitas, os
judeus faziam peregrinações à Yerushaláyim. convertidos, os órfãos e as viúvas. Se você encorajar o espírito
dos membros do Meu lar, então Eu alegrarei os teus e os Meus."
A Torá repete aqui a obrigação de cada homem viajar ao Bet
Hamicdash em Pêssach, Shavuot e Sucot. Como devemos comemorar Yom Tov? Comendo, bebendo e
descansando, ou estudando Torá?
"Durante estas épocas tão essenciais, compareça ao Bet
Hamicdash, para que você saiba que D’us é o Mestre que Rabi Yehoshua ensina: "Divida seu Yom Tov. Despenda uma
controla as leis da natureza e sustenta o mundo. Agradeça a Ele, parte dele em deleite físicos, e uma parte no Bet Hamidrash (casa
e obedeça Seus mandamentos". de estudos)".

A Torá promete que D’us protege as posses dos que deixam seus Tornando-se um Visionário
lares para cumprir esta mitsvá. D’us declara: "Os judeus que
abandonam seu ouro, prata e outros bens a fim de saudar a Você tem uma visão da sua vida daqui a, digamos, 10 anos?
Shechiná estão sob Minha proteção." Quais sonhos e aspirações gostaria de ver realizados? (E não se
trata de quanto dinheiro você pretende ganhar…) Você tem uma
Dois ricos irmãos de Ashkelon tinham invejosos vizinhos não visão geral para a sua vida, ou sua vida é dirigida e definida pelas
judeus, que planejavam roubar suas casas quando de sua necessidades e exigências do momento?
próxima visita a Yerushaláyim.
Nenhuma empresa ou negócio pode funcionar sem ter uma visão.
Aparentemente, os irmãos descobriram o plano perverso, pois os Você pode? Uma vida sem visão é dramática e radicalmente
vizinhos notaram que, naquele ano, os irmãos não viajaram para diferente de uma vida sem ela. A primeira é formada por um
Yerushaláyim. E quão surpresos os vizinhos não ficaram então, princípio unificador: a última, por circunstâncias ao acaso. A visão
quando os irmãos vieram e os obsequiaram com presentes. proporciona um rumo; a falta de visão é desnorteada. Você
consegue imaginar-se dirigindo sem ver a estrada à frente, sem
"O que estão comemorando?" - indagaram. saber aonde quer chegar? Você controla os detalhes da sua vida,
ou os detalhes controlam você? Você já se perguntou como seria
"Voltamos de Yerushaláyim e trouxemos - lhes estas lembranças," a sua vida sob o ponto de vista de um pássaro? Qual é a maior
responderam os irmãos. história da sua vida, em vez de capítulos um a um? E como se
parecerá o quadro daqui a alguns anos – quando você puder ver
Os vizinhos ficaram boquiabertos de espanto. "De
sua vida em retrospecto?
Yerushaláyim?!" - exclamaram. "Mas vimos vocês entrando e
saindo de casa todos os dias! Quando vocês partiram?" O nome da porção dessa semana da Torá, Re’ê, significa “ver” ou
“olhe”. Em uma palavra estamos aprendendo que temos o poder
"Na data tal, " retrucaram os irmãos.
de sermos visionários. De maneira alguma esta é uma declaração
"Abençoado o D’us dos judeus, Que não os abandona", sem importância.
exclamaram os vizinhos. "Pretendíamos arrombar suas casas
Geralmente consideramos os visionários como seres raros.
quando vocês se ausentassem, mas o D’us em Quem vocês
Governos, monarquias e instituições no decorrer da história têm
crêem e confiam enviou anjos para protegê-los."
sido construídos sobre a premissa de que a maioria das pessoas,
Alegria em Yom Tov consumida pela sobrevivência diária, preocupada com detalhes
ínfimos, não está equipada – ou nem mesmo interessada – em
Infelizmente, hoje não temos mais o Bet Hamicdash, por isso não ser líder, nem mesmo educada o suficiente para ser um líder.
podemos cumprir esta mitsvá. Mas há uma outra mitsvá que
podemos cumprir em Yom Tov: a mitsvá de nos alegrarmos em Alguns pensadores expressaram profundo desdém e
Yom Tov. condescendência pelas “massas”, considerando-as, segundo as
palavras de Voltaire, “la canaille” [a ralé], uma frase usada para
Como podemos cumpri-la? denegrir as massas. “Quatdo à canaille,” disse Voltaire a
d’Alembert, “não me preocupo com ela; continuará para sempre
Oferecendo a cada membro da família algo que anime seu sendo canaille… [sem] o tempo e a capacidade de se instruir; eles
espírito (roupas e jóias para as mulheres, guloseimas para as morrerão de fome antes de se tornarem filósofos… Jamais
crianças, e assim por diante). fingimos esclarecer sapateiros e servos; isso é trabalho dos
apóstolos.” Diderot não podia ter concordado mais. “A massa
No entusiasmo e movimentação para os preparativos que geral da humanidade,” escreveu ele, “não pode seguir nem
precedem cada yom tov, é muito fácil esquecermos das pessoas compreender esta marcha do espírito humano.” Diderot acreditava
mais necessitadas. que devemos desconfiar do julgamento da “multidão” em
questões de argumento e filosofia, porque “sua voz é aquela da
Moshê disse a Benê Yisrael: "Compartilhem sua felicidade com perversidade, estupidez, desumanidade, falta de razão e
aqueles que têm menos. Convide-os à sua casa ou ofereça-lhes preconceito.” “A multidão,” concluiu ele, “é ignorante e
donativos de acordo com suas posses para que tenham o estupidificada.”
bastante para Yom Tov".
Outros eruditos, menos elitistas, não foram tão desalmados, mas
A Torá ordena que os menos afortunados sejam incluídos na ainda afirmam que as massas não se prestam à liderança nem
alegria de Yom Tov: os levitas (hoje em dia, os pobres), para escolher líderes. Veja o colégio eleitoral dos Estados Unidos.
convertidos, órfãos e viúvas. É construído sobre a base de que a população em geral não
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consegue escolher sabiamente seus líderes; portanto eles votam Quando você começar a exercitar sua alma, ficará surpreso pela
nos Eleitores locais, que por sua vez são mais educados e descoberta de novas ferramentas que o ajudarão a discernir e
adequados para escolher o líder correto. estabelecer a visão da própria vida. Armado com essa visão, sua
vida jamais será a mesma.
Até mesmo na nossa chamada era moderna, na qual a
democracia floresce, o debate ainda persiste entre teóricos que Olhe bem.
consideram qual capacidade o cidadão médio, o “Zezinho”, tem
quando se trata de liderançam direção e de olhar a situação em Cuidado Com o Que Você Pensa!
geral. Os cínicos, dos quais muitos na verdade lideram as
campanhas políticas, argumentam que com propaganda, Por Levi Avtzon
marketing e manipulação bem feita da mídia, as pessoas podem
Em nossa época de honestidade política, muitos cuja obrigação
ser convencidas a acreditar em praticamente qualquer coisa.
os aproxima com frequência de um microfone têm adotado a
Se isso é verdadeiro sobre liderança, onde isso deixa os suposta atitude de “não faz diferença aquilo que você pensa, tudo
visionários? Poucos e distantes. Quando foi a última vez que você que importa é aquilo que você diz.” Um fanático silenciosa é um
conheceu um visionário – alguém que podia ver a floresta em vez amante do ser humano. Um intolerante que diz o que pensa é a
das árvores? personificação do mal.

E mesmo assim, o capítulo dessa semana da Torá nos diz O que temos então é um punhado de políticos, figuras da mídia e
inequivocamente: “Contemple – veja” – você tem o poder de sair líderes em todas as áreas que fazem cursos especiais sobre
dos detalhes da sua vida, de transcender as circunstâncias “como não dizer aquilo que você pensa, mas sim o que é
imediatas, de focar e descobrir a visão de sua vida. aceitável,” e sobre “jamais verbalize sua intolerância pois pode
haver um gravador escondido sob a sua cadeira.” Nos últimos
“Olhe” é uma das palavras mais poderosas que podemos jamais anos temos visto muitas pessoas caindo de seus altos cargos por
ouvir. Significa que você tem uma opção. Por mais difícil que dizerem a coisa errada na hora errada. Importantes carreiras se
possa parecer, você não está condenado. Não precisa ser desintegraram graças a “um instante de fraqueza”. Muitos sábios
consumido e esmagado com as preocupações comuns da luta e homens comuns estão se perguntando se as pessoas merecem
pela sobrevivência. Deixamos por nossa própria conta, nós seres ser empurradas morro abaixo apenas por causa daquele “instante
humanos geralmente gravitamos para a opção mais fácil, que são de fraqueza”.
nossas necessidades materialistas e os impulsos e desejos
imediatos. Se isso significa viver o momento e não ver o horizonte E o senso comum grita: Verdade? Um instante de fraqueza, foi só
mais distante e mais amplo (ou até mesmo menor) e as isso? E quanto à “uma vida inteira de fraqueza”, quando durante
consequências de nosso comportamento em prol da gratificação anos e anos a mente teve permissão de nadar num mar de ódio?
instantânea – que seja. As maiores vítimas da miopia somos, Não fica óbvio que não foi o deslize de uma língua, mas sim uma
obviamente, nós mesmos. avalanche da mente?

A diretriz “olhe” dá a cada um de nós o mandado – e o poder – de No Livro do Deuteronômio encontramos vários versículos que
ser um visionário por direito próprio. Você tem a capacidade, começam com as palavras: “Se você dissesse em seu coração…”
deveria escolher acessá-la, subir e contemplar sua vida em
Se você pudesse dizer em seu coração: “Essas nações são mais
perspectiva.
numerosas do que eu; como poderei desterrá-las?” (7:17)
Mas como? Como podemos nos elevar acima da imensidão de
Você dirá em seu coração: “Meu poder e a força da minha mão
corças que dominam nossas vidas; as constantes demandas e
me trouxeram essa riqueza…” (8:17)
expectativas colocadas sobre nós; as feridas psicológicas e os
fantasmas que nos assombram; os temores e inseguranças que Moshê está advertindo os judeus a não alimentar sentimentos de
afetam nossa psique?! temor e arrogância em seu coração. Ele os adverte não por
correção política - “cuidado com o que diz” - mas sim, “seja
“Olhe bem” nos informa que apesar de todas essas vozes, você
cuidadoso com o que pensa e sente.” E o motivo é óbvio: uma
tem dentro de si uma outra voz mais poderosa. Porém ela pode
língua não tem uma mente própria; simplesmente exprime aquilo
ter sido silenciada pelo ambiente circundante; pode ter sido
que está dentro da mente. É a criança de dois anos que
ocultada pelas ansiedades que deixamos assumir controle sobre
compartilha com o mundo as conversas secretas de seus pais.
nós. Esta voz é a canção de sua alma. E sua alma contém uma
visão – a visão da missão de sua vida inteira. Nosso sábios criaram a declaração de que a pessoa deveria ser
“boca e coração iguais.” Não se trata daquilo que você diz, é mais
“Olhe bem”, é a ordem que lhe é dada. Olhe bem para o quadro
o que você pensa. A lição a ser extraída disso tudo?
em geral, e depois permita que lhe informem os detalhes da sua
vida, em vez de ocorrer o contrário. Esta semana você recebe o Racismo, ódio, intolerância e maledicência deveriam ser
poder de se tornar um visionário. O primeiro passo é acreditar em deletadas muito antes de as palavras chegarem ao microfone.
si mesmo e na capacidade de sua alma. O segundo passo é Depois que chegaram à estação da mente já é tarde demais; o
trabalhar nisso – estabelecer regimes no seu programa diário que trem está para partir. E então, não há volta.
permitam à sua alma missionária emergir, que lhe permitam
erguer a cabeça e respirar… Bênção e Maldição

De maneira não diferente dos seus exercícios físicos diários, sua Faça sua escolha!
alma precusa de trabalho diário. E neste universo material, você
precisa fazer um esforço extra para acessar sua alma. Por Yanki Tauber
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“Vejam, coloquei diante de vocês bênção e maldição.” os Leviim os abençoariam se eles cumprissem a Torá e os
amaldiçoariam se eles pecassem. Seis tribos deveriam subir o
Assim se inicia a leitura dessa semana da Torá, Reê (Devarim Monte Guerizim, ao sul de Shechem, para serem abençoadas, e
11:26-16:17), quando Moshê reitera, uma vez mais a doutrina do as seis tribos restantes deveriam subir no Monte Eival, ao norte
Livre Arbítrio. Liberdade de escolha. Sem isso, Maimônides nos de Shechem, para serem amaldiçoadas.
lembra, a religião é sem sentido, a moralidade um não-conceito, a
Torá supérflua. A benção e a maldição estão visualmente aparentes nas próprias
montanhas.
De fato, não somente nos foi concedido um livre arbítrio entre o
bem e o mal, mas também a opção de em qual nível fazer esta O Monte Guerizim, a montanha da benção, é verde e fresca.
escolha. Uma escolha de escolhas, se me permite.
O Monte Eival, a Montanha da Maldição é cinza e árida
a – Há o bem e há o mal. Bênção e maldição, luz e trevas. D'us
criou ambos. Escolhemos qual dos dois, ou qual combinação a Na Cabalá aprendemos que estas duas montanhas representam
partir deles, irá definir a nossa existência. dois olhos. O Monte Guerizim representa o olho direito da
sabedoria, do qual emana a benção pura. O Monte Eival
b – Na verdade, há apenas o bem. D'us é a fonte de toda representa o olho esquerdo do entendimento, do qual julgamentos
realidade; e como D'us é a essência do bem, somente o bem é – mesmo julgamentos severos – se manifestam.
real. Assim como não há uma coisa como a escuridão – somente
luz ou sua ausência (que chamamos “escuridão”) – assim A Fonte da Maldição
também, há somente bem ou sua ausência. Ou em vez disso –
como nenhum local é vazio de Sua presença – bem ou sua O fato de que seis tribos permaneceram no Monte Eival significa
ocultação. Portanto, a opção entre bem e mal não é uma escolha que havia um elemento positivo na maldição. Em hebraico, a
entre duas realidades, mas uma escolha entre ser e não-ser, palavra para “maldição” é klalá (kuf, lamed, lamed, hei). A raiz de
entre realidade e ilusão. klalá é kalal (kuf, lamed, lamed) que significa “luz brilhante e
resplandecente”, como na expressão nechoshet kalal, “cobre
c – Como “escolha”, por definição, é a afirmação livre e brilhante”. Na sua fonte, uma maldição é uma luz brilhante e
desimpedida da vontade; e como a vontade intrínseca da alma resplandecente. Este esplendor pode ser ofuscante, tornando
humana é pela vida e bem-estar; a única escolha verdadeira que impossível para nós entendê-lo e incorporá-lo em nossas
pode haver é a escolha do bem. Porém, nos foi concedida a consciências. Mesmo sendo uma maldição o resultado de uma
liberdade de escolha, o que significa que podemos escolher não transgressão, não é uma punição ou uma expressão da vingança
escolher; aquilo que chamamos “liberdade de escolha” é na Divina, D’us o proíba. Em vez disso, a maldição da Torá vem de
verdade a escolha de exercer a opção ou de renunciar à escolha. uma fonte muito elevada, cujo objetivo é purificar as almas
Quando afirmamos nossa verdadeira vontade – quando daqueles que transgrediram.
escolhemos – invariavelmente optamos pelo bem.
Por causa da natureza sublime da maldição, o altar sagrado
Qual é então – a, b ou c? Isso é com você. Este é o verdadeiro construído depois da cerimônia nas duas montanhas foi erguido
significado de “livre arbítrio”: não que você possa meramente especificamente no Monte Eival, o local mais apropriado ao brilho
escolher entre duas ou mais opções apresentadas a você por ofuscante da maldição.
uma autoridade superior, mas que é você que determina o nível
de realidade na qual sua vida consciente se desdobra. É você que Obviamente, D’us quer que nós apreciemos somente o bem
determina a distância entre sua vida e sua Fonte, e assim a forma revelado. Para isto, Ele nos deu a Torá e os mandamentos para
pela qual o “Livre Arbítrio” entra em sua experiência. nos guiar. Em um nível mais profundo, entretanto, a relação entre
a benção e a maldição cria um estado de equilíbrio e estabilidade
Faça sua escolha. na consciência e alma do Povo Judeu, sendo ambas necessárias.

As Montanhas Místicas A Coroa Acima dos Olhos

Uma visão mais profunda A porção de Devarim discute o Monte Hermon no norte de Israel.
Esta é a primeira montanha que será vista pelo Povo Judeu no
Por Rabino Yitzchak Ginsburgh, traduzido por Maurício retorno a Israel na era Messiânica. O Hermon é uma montanha
Klajnberg alta, cujo cume é coberto por neve no inverno. Ele representa o
pico da fé no nível superconsciente da coroa da alma judia.
A imagem da montanha é a imagem de nossos Patriarcas. Deste
ponto inicial da fé em D’us, o Povo Judeu recebeu sua missão Junto com o Monte Guerizim e o Monte Eival, o Hermon forma um
Divina de trazer o conhecimento de D’us a todo o mundo. Nesta trio com o formato de um triângulo, chamado segolta. O Monte
apresentação, o Rabi Ginsburgh fala sobre a imagem das duas Hermon representa a coroa na alma judaica e está no pico do
montanhas na Parashá desta semana e sua conexão intrínseca triângulo. Ele pode ser percebido como o terceiro olho no meio da
com a Torá, o Templo, Mashiach e a missão do Povo Judeu de testa, que pode antever a coroa. O Monte Guerizim,
espalhar o conhecimento Divino pelo mundo. representando sabedoria e o olho direito, está no canto direito,
enquanto o Monte Eival, representando entendimento e o olho
A Parashá Visual esquerdo, está no canto esquerdo no triângulo.

O nome de nossa Parashá é Reê, que significa “Ver”. Depois que A imagem das três montanhas também pode ser vista em cores.
o Povo Judeu entrou na Terra de Israel, o primeiro lugar que lhes No topo está o Monte Hermon branco como a neve. À direita, está
foi ordenado parar foi na Cidade de Shechem, onde os Cohanim e o Monte Guerizim verde e florescente e, à esquerda, o cinza e

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árido Monte Eival. Cinza está mais próximo do branco do que o O Par Perfeito e o Par Amigável
verde, indicando que há aqui um ciclo começando com o Monte
Hermon e indo ao Monte Guerizim, ao Monte Eival e retornando, Os valores numéricos desta série nos oferecem outro espantoso
então, ao Monte Hermon. fenômeno. A soma do primeiro, terceiro e quinto números (112,
304, 80 – Hermon, Eival, e seu reflexo oculto) equivale a 496, o
Matemática “Montanhosa” valor numérico de malchut, “reinado”. O segundo e o quarto
números (260 e 244, Guerizim e seu reflexo oculto) equivalem a
Os valores numéricos dos nomes das três montanhas são os 504.
seguintes.
O número 496 é um “número perfeito”. Um número perfeito é
•Hermon = 304 aquele cujos divisores, fora o próprio número, somam-se até
aquele número. O primeiro número perfeito é 1, e o próximo
•Guerizim = 260 número perfeito é 6, cujos divisores são 1, 2 e 3. A soma de 1, 2 e
3 é 6. O próximo número perfeito é 28, e o seguinte é 496. (O
•Eival = 112
próximo é 8128, seguido por 2096128...).
Como vimos acima, o Mt. Eival está ligado ao Mt. Hermon. Seu
Outro conceito na Matemática é o de “números amigáveis”. Este é
valor combinado é 416, que equivale a 16 vezes 26, o Nome
um par de números tal que todos os divisores de um dos números
essencial de D’us. O valor do Mt. Guerizim, 260, é 10 vezes 26.
do par equivalem ao outro número, e vice-versa. Até cerca de 100
As quatro letras hebraicas do nome essencial de D’us são: anos atrás, o único par conhecido de números amigáveis era 220
e 284, que, somados, equivalem, 504. 496 é o valor numérico de
•Yud = 10 livyatan (“Leviatã”, sozinha – perfeita em si mesmo – pois seu
macho foi morto no início da criação). Se somarmos um chet a
•Hei = 5 livyatan, temos as palavras livyat chen, “um gracioso par de
companheiros”.
•Vav = 6
Espantosamente, livyat chen equivale a 504. 496 e 504 são os
•Hei = 5 valores numéricos das montanhas, como mostrado acima, que,
juntos, equivalem a 1000. Assim, vemos que a origem da
O 10 vezes 26 do Mt. Guerizim corresponde ao yud, que maldição (Eival e seu reflexo junto com sua fonte superconsciente
representa sabedoria, enquanto o 16 vezes o nome essencial de – Hermon) está na singularidade do Leviatã, enquanto a fonte da
D’us , do Hermon e do Eival corresponde às outras três letras. bênção (Guerizim e sua reflexão) é o segredo do “gracioso par de
Todas juntas, o valor numérico do trio de montanhas é 676 = 26 companheiros”.
vezes 26, o que resulta no nome essencial ao quadrado, o mais
perfeito número. “Eu Ergo Meus Olhos para as Montanhas”

A Série Quadrática No Salmos (121:1) está escrito:

Como os valores numéricos das montanhas decrescem em Esah Einai el heharim, mayayin yavo ezri
ordem, eles criam uma série quadrática simples. Uma série
quadrática é criada calculando-se as diferenças entre uma Eu ergo meus olhos às montanhas, de onde minha ajuda virá?
determinada série de números.
Este versículo alude às duas montanhas Guerizim e Eival. Os
Nossa série quadrática é assim: (As diferenças entre os números Kohanim e os Leviim permaneceram no vale entre os montes
estão em vermelho. As diferenças entre o segundo estágio dos Guerizim e Eival, erguendo seus olhos primeiro para a direita
números – a força impulsora – estão em azul). depois para a esquerda ao recitarem a benção e maldição.

112 260 304 244 80 Em hebraico, a palavra para “de onde” no versículo acima é
mayayin. Esta palavra também pode ser entendida como
148 44 -60 -164 significando “do ayin”, do Nada Divino, a essência oculta do olho
(também pronunciado ayin). Quando erguemos nossos olhos
-104 -104 -104 físicos aos Céus, atingimos a visão do Nada Divino, que é a fonte
de toda ajuda e salvação.
Existem cinco números positivos nesta série: os três números das
montanhas, 676, que equivale a 26 ao quadrado, e os dois Em Jó (28:12) está escrito:
números adicionados, 244 e 80. 244 mais 80 = 324, que é 8 ao
quadrado. 26 ao quadrado mais 18 ao quadrado = 1000, 10 ao Vehachochmah mayayin timatze
cubo.
De onde a chochmá pode ser encontrada?
Esta série quadrática pode ser desenhada como uma parábola,
com o pico (304) no topo: A Chassidut ilumina este versículo com uma luz mais profunda:
Chochmá vem de ayin, do Nada Divino. A Cabalá e a Chassidut
304 explicam que chochmá, representada aqui pelo Monte Guerizim,
passa a existir somente quando se une com o entendimento,
260 244 representado pelo Monte Eival. Mesmo que o Monte Guerizim
represente a benção aparente, ele tem uma unidade oculta com a
112 80
maldição do Monte Eival, que equilibra o segredo da benção.
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Monte Moriá Olhem: Ver implica o estabelecimento de uma conexão profunda
e forte. Assim declaram Nossos Sábios: "ouvir não se assemelha
No versículo do Salmo 121 acima, a palavra para “as montanhas” a ver" – e eles proíbem uma testemunha ocular de atuar como
é heharim. Quando as letras de heharim são rearranjadas, elas juiz. Uma vez que alguém tenha visto algo errado sendo
soletram hamoriá, o Monte do Templo em Jerusalém. A palavra cometido, jamais será capaz de conceber uma virtude redentora
moriá significa “incenso” ou “ensinamento”, aludindo à palavra de para o réu. Em contraste, quando uma pessoa é informada sobre
D’us ao Povo judeu e a toda humanidade que emana do Templo um acontecimento, tem permissão para atuar como juiz e de fato,
Sagrado no Monte Moriá (“ensinamento”) e ao serviço e união todos os julgamentos dependem de ouvir este tipo de testemunho.
fundamentais com D’us no Templo Sagrado (“incenso”).
Qual o motivo para esta diferença? Ao ouvir, a pessoa aborda um
Claramente, Hamoriá equivale a 260, o mesmo valor numérico de conceito passo a passo, juntando todos os detalhes. Isso se
Guerizim. De acordo com o princípio de que o esquerdo é incluído assemelha a uma subida. Em contraste, ao ver, a pessoa é
dentro do direito, o Monte Eival é incluído dentro do Monte levada a um contato direto com um evento em sua totalidade,
Guerizim. Estes dois números se unem ao Monte Moriá. tudo de uma vez. Somente depois a pessoa se concentra nos
detalhes. Isso reflete a abordagem da revelação do Alto.
Na Cabalá, o Monte Moriá corresponde a ainda outro ponto na
configuração geométrica das montanhas. O Hermon é a coroa no Eu: "Anochi". Isso se refere à essência de D-us da maneira mais
topo, o Monte Guerizim e o Monte Eival são os dois olhos da elevada e ampliada. Em nosso versículo, a palavra hebraica
chochmá (“sabedoria”) e biná (“entendimento”) à direita e à "anochi" é usada em vez da mais comum, "ani".
esquerda, e o Monte Moriá corresponde a daat (“conhecimento”).
A Cabalá ensina que daat é o ponto entre os ombros. O Templo "Anochi" comunica um maior senso de orgulho e magnitude que
Sagrado de Jerusalém estava situado no vale entre os sopés das "ani".
montanhas que o circundavam. Esta imagem é chamada daat, o
poder que conecta a mente (sabedoria) às emoções do coração Estou dando: O fato de que D-us está dando implica claramente
(entendimento). um presente vindo do Alto.

Quando algo conecta duas faculdades aparentemente opostas, Perante vocês: "lifneichem" em hebraico refere-se à palavra
sua fonte é mais elevada que as faculdades que ela conecta. "p'nimiyut" – dimensão interior. Isso enfatiza a abordagem de
Assim, a fonte de daat está acima da sabedoria e do revelação do Alto. Pois começamos concentrando-nos em nossa
entendimento. Ela deriva da coroa do Monte Hermon. A ponta do dimensão interior pessoal, nosso âmago, e então prosseguimos
Monte Moriá reflete a coroa e está situada entre e abaixo do para as dimensões exteriores. Em contraste, seguir das exteriores
Monte Guerizim e do Monte Eival, diretamente oposta ao Monte para as interiores é mais um processo de elevar aquilo que está
Hermon. O Monte Moriá é o cume das três montanhas aqui para o Alto.
precedentes.
Hoje: Isso reflete os conceitos de luz e revelação, pois o dia é o
Monte Sinai tempo da luz. Está também associado com uma dimensão da
eternalidade, como declaram Nossos Sábios: "Toda vez que a
As quatro montanhas mencionadas acima correspondem às palavra "hoje" é usada, [a influência] é eterna." E isso é possível
sefirot de keter, chochmá, biná e daat. Estas montanhas estão porque envolve uma revelação do Alto, que não leva em
todas na Terra de Israel. Outra montanha que também tem consideração a natureza do recipiente.
profundo significado para o Povo Judeu é o Monte Sinai, onde
D’us nos deu a Torá. O Monte Moriá, que representa a Torá Bênção: Refere-se obviamente a uma influência do Alto.
manifestada no mundo, deve se relacionar ao Monte Sinai, onde a
Torá nos foi entregue. O valor numérico de Sinai é 130. Este é o A ocupação do mês de Elul, no entanto, é um tipo totalmente
mesmo valor de ayin e é a metade de 260, Moriá. A relação do diferente de trabalho. Pois em Elul, nosso exercício espiritual se
Sinai com Moriá é o profundo segredo cabalístico da metade de concentra em nos elevar por meio de nossa própria iniciativa, e
um todo. não por meio de "um presente do Alto".

Nós meditamos sobre cinco montanhas, cuja progressão é da Onde, então, está a conexão entre nossa porção da Torá e o fato
Torá, do Templo, o Mashiach e a missão do Povo Judeu de de que a lemos numa ocasião conectada ao mês de Elul?
espalhar o conhecimento Divino pelo mundo.
A verdade é que como em Elul contabilizamos o estoque de todo
Vivendo Com o Rebe o ano que passou, devemos corrigir quaisquer deficiências nestas
duas áreas. Colocamos um enorme esforço para elevar a nós
Lições da Parashá Reê; adaptado de uma palestra do mesmos e nossos arredores através de nossa própria iniciativa,
Lubavitcher Rebe bem como nos transformando em receptáculos merecedores da
inspiração de D-us e das bênçãos do Alto.
A porção desta semana da Torá, Reê, é sempre lida numa
ocasião associada ao mês de Elul, seja no Shabat no qual A cidade teimosa
começa o mês de Elul, seja em Rosh Chodesh Elul.
por Rabi Ariel Asa
Reê tem início com o versículo: "Olhem, estou colocando perante
vocês hoje a bênção…". Este versículo refere-se ao fato de que a Cena 1: O promotor conclui sua apresentação das provas e faz
bênção, e a revelação da Divindade que a acompanha, está vindo uma pausa. Provou sem sombra de dúvida que os habitantes da
do Alto. De fato, cada uma das palavras do versículo enfatiza cidade judaica foram de fato culpados de idolatria em massa, e
essa abordagem: portanto deveriam ser condenados à morte.

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Cena 2: O advogado de defesa, percebendo que acumulam-se as "Além do tribunal, D’us quer que cada cidade em Êrets Yisrael
provas contra seus clientes, avalia a situação e escolhe tenha o seu próprio Bet Din (Tribunal). Em uma cidade pequena,
cuidadosamente sua estratégia. um tribunal de três juízes já é o bastante. Apesar de que três
juízes não podem julgar casos de vida e morte, eles podem
Perscruta os jurados e então, com um sussurro emocional, solucionar problemas ligados a dinheiro e propriedade. Uma
principia a descrever a importância de ser misericordioso e de cidade maior (onde moram pelo menos 120 judeus) deve ter um
imputar este atributo à nação judaica de qualquer maneira Bet Din de 23 membros. Este Bet Din tem o poder de decretar
possível. "Ao destruir toda a cidade," proclama ele, "haverá uma uma sentença de morte.
insurreição violenta por toda a terra de Israel."
"Se os juízes de um Bet Din estão indecisos a respeito de um
Ele recebe toda a atenção do júri quando começa a relacionar os caso, devem viajar até o Grande Tribunal."
parentes de cada um dos réus. "Imagine a reação deles quando
souberem que seus entes queridos foram eliminados. Poderíamos O Grande Tribunal tem setenta juízes e um nassi (presidente)
ter de lidar com uma rebelião de grandes proporções." sobre eles. O San’hedrin se reúne diariamente em uma das salas
do Bet Hamicdash. Os juízes sentam em um semicírculo. Deste
O advogado de defesa contempla mais uma vez os jurados ao modo, eles poderiam ver uns aos outros e o presidente poderia
concluir num crescendo: "Todos conhecemos as estatísticas da vê-los todos. Quanto maior fosse o juiz, mais próximo do
população. Nossa maior urgência, no momento, é povoar o país, presidente ele se sentava. Hoje em dia, já que a corrente da
e um veredicto de culpado nos atrasaria muitos anos. Pense nas semichá está rompida, nós não temos mais a mitsvá de nomear
conseqüências de sua decisão." um San’hedrin.

Cena 3: O júri finalmente voltou e está pronto a declarar seu O que é semichá?
veredito no caso "Ir Hanidachat versus O Estado". O primeiro
jurado adianta-se e cita uma notável promessa extraída de um Semichá quer dizer "ordenação". Quando Moshê nomeou
versículo na porção desta semana da Torá, respondendo de uma Yehoshua e os setenta zekenim (sábios experientes) do
só vez às reivindicações do advogado de defesa: "E D’us lhe dará San’hedrin, colocou suas mãos sobre a cabeça deles. Mais tarde,
o atributo da misericórdia, e eles [os parentes] serão magnânimos aqueles sábios nomearam os líderes da próxima geração. Mesmo
para com vocês, e D’us os multiplicará assim como prometeu a não tendo colocado suas mãos sobre as cabeças dos seus
seus antepassados" (Devarim 13:18). sucessores, o ato de ordená-los ainda era chamado de "dar a
semichá". A corrente de semichá continuou a passar dos líderes
"Culpados de todas as acusações!" de uma geração para a próxima.

48 - Parashat Shofetim Deuteronômio 16:18-21:9 Quando os romanos destruíram o segundo Bet Hamicdash,
queriam abalar a coragem dos judeus. Porém sabiam que
Nomear Juízes enquanto o San’hedrin estivesse de pé, o povo continuaria
espiritualmente forte. Por isso eles tentaram destruir o San’hedrin
Esta Parashá trata dos fundamentos da liderança judaica: o
que continuou exercendo sua funçnao em segredo. Dar ou
estabelecimento de cortes legislativas judaicas e, mais adiante,
receber semichá era punido com morte. Apesar do decreto
algumas leis relacionadas a juízes; a nomeação de um rei judeu e
romano, a semichá continuou por mais 150 anos depois da
várias leis relacionadas às guerras, as quais o rei deve conduzir e
destruição do Bet Hamicdash. No final ela foi rompida.
conclui com a mitsvá de eglá arufá (a bezerra cuja nuca é
quebrada), que envolve tanto juízes como cohanim. Em toda Amidá diária nós rezamos:"Hashiva shoftenu
kevarishona; Por favor, traga de volta nossos juízes assim como
Há mitsvot especiais para os líderes da nação. Os líderes devem
era antes!" Pedimos para D’us trazer Mashiach e restabelecer o
lembrar a toda hora que eles são um exemplo para toda a nação.
San’hedrin que novamente concederá a semichá. Adicionalmente
Os líderes da nação judaica são: aos juízes, a Torá manda ter também os shoterim, policiais. Os
shoterim executam os decretos dos juízes. Moshê avisou:
Juízes "Nomeiem somente juízes capazes e honestos. Lembrem-se de
que para ser um verdadeiro juiz de acordo com a Torá, o indivíduo
Cohanim deve antes de tudo cumprir ele mesmo as mitsvot."

Profetas Uma história:

O rei Faça o que você diz!

Todos os acima escritos carregam uma enorme responsabilidade, Rabi Yonatan tinha uma árvore cujos galhos alcançavam o quintal
pois sua conduta e comportamento exercem forte influência sobre do seu vizinho não-judeu. Certo dia, dois judeus vieram para o
o resto do povo, positiva ou negativa. Moshê descreveu a Benê Rabi Yonatan. Um deles reclamou que a árvore do seu amigo se
Yisrael todas as leis que os líderes devem saber. estendia até sua propriedade. Eles pediram para o Rabi Yonatan
resolver sua discussão. Quando Rabi Yonatan ouviu o caso,
Moshê explicou: "Em Yerushaláyim vocês terão o Grande percebeu que ele mesmo estava cometendo o mesmo erro. "Por
San’hedrin". Esta é a mais alta corte legislativa do país. Quando favor, voltem amanhã!" disse a eles.
vocês viajarem para Yerushaláyim para Yom Tov, vocês poderão
ir para o San’hedrin com os seus casos de justiça. O vizinho não-judeu de Rabi Yonatan ouviu falar sobre o caso
jurídico. Ele disse: "Como Rabi Yonatan pode dizer para mais

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alguém o que fazer, quando ele mesmo não está fazendo a coisa decide, vira lei. Mesmo se você achar que estão errados na sua
certa?" decisão, você deve aceitar isto.

Naquela mesma noite, Rabi Yonatan chamou um trabalhador. "Por exemplo, você leva perante os juízes um pedaço de carne
"Corte os galhos que estão se estendendo além da minha casa", que acha que não é casher. Mas eles decidem: ‘A carne é
ele instruiu. casher!’ Não diga: ‘Como poderei comer esta carne? Estou
convencido de que ela não é casher!’"
Cedo na manhã seguinte, os dois homens retornaram para ouvir a
decisão de Rabi Yonatan. "Você deve cortar os galhos que estão A Torá adverte veementemente que as decisões do San’hedrin
avançando", disse ele para o dono da árvore. devem ser obedecidas; pois D’us concedeu aos sábios o poder de
interpretar as leis da Torá na vida cotidiana. Se houvesse um
O vizinho não-judeu de Rabi Yonatan tinha vindo para ouvir como colapso no respeito à interpretação dos sábios, a derrocada da
Rabi Yonatan decidiria o caso. Ao ouvir o veredicto, ele não pôde nação não tardaria. Tal colapso levaria à anarquia, e a Torá se
se controlar e explodiu com raiva: "E o que me diz de si próprio?" fragmentaria em diversas Torot.
balbuciou. "Por que você não faz o que diz? Como pode ordenar
alguém para cortar os galhos, quando os seus galhos também Você pode perguntar: "Será que é impossível os juízes terem
estão avançando para o meu pátio?!" cometido um engano?!

"Eles não estão!" respondeu o rabino. "Vá verificar isto você Afinal, eles só são seres humanos." Mesmo que você possa estar
mesmo." certo, a Torá ordena que obedeçamos sempre o San’hedrin.
Mesmo que pareça que lhe dizem que a direita é esquerda e a
Indo até lá, o não-judeu constatou que Rabi Yonatan tinha esquerda é direita. E certamente você deve obedecê-los quando é
realmente cortado os galhos. evidente que sua decisão está correta.

"Abençoado seja o D-us dos judeus!" ele exclamou. "Seus juízes Até D’us concorda em aceitar suas decisões haláchicas
fazem o mesmo que dizem para os outros fazerem!" (referentes às leis). Leia mais sobre isto na próxima história.

Moshê Adiciona Leis Relacionadas à Idolatria Uma história:

Moshê descreveu mitsvot adicionais a respeito de idolatria. O Rabi Eliêzer Discute com o San’hedrin
dever mais importante de um juiz era o de punir idólatras.
Rabi Eliêzer ben Horkenos era um talmid chacham (sábio)
"Vocês não podem plantar uma árvore no Bet Hamicdash ou em excepcional. Seus professores o chamavam de "uma cisterna que
seu pátio. Árvores na área do Bet Hamicdash deveria ser algo não perde nem uma gota". Recordava tudo o que aprendia.
maravilhoso. No entanto, o plantio delas é proibido. Os canaanitas
plantavam asherot, árvores ‘sagradas’, perto dos seus templos. Certa vez, uma discussão irrompeu entre os sábios sobre um
Por isso, D’us proíbe o plantio de árvores, mesmo se você tiver forno. "Este forno é tamê, impuro", os sábios decidiram.
boas intenções. Isto poderá ser o primeiro passo em direção à
idolatria. "Não, é puro" - argumentou Rabi Eliêzer. Ele trouxe provas para
sua opinião, porém os outros ainda discordavam.
"Vocês também não devem erguer uma matsevá para D’us." A
matsevá é uma grande pedra geralmente erguida para "Deixem-me mostrar para vocês que mesmo D’us concorda
comemorar algum evento, sobre a qual eram despejados vinho ou comigo!" Disse Rabi Eliêzer.
óleo. Os canaanitas usavam as matsevot para honrar seus ídolos.
"Estão vendo esta alfarrobeira no pátio? Se estou com a razão,
A Torá nos conta que nosso patriarca Yaacov ergueu uma que D’us faça esta árvore mover-se 100 amot (48 metros)
matsevá em honra de D’us. No seu caminho até Lavan, Yaacov adiante!"
pretendia passar a noite no monte de Moriyá, onde D’us o
recebeu com um sonho profético. Ao acordar, ele percebeu que Rabi Eliêzer escolheu propositadamente a alfarrobeira, para dar
as doze pedras originalmente postas em volta de sua cabeça um indício aos sábios.
transformaram-se milagrosamente em uma só. Yaacov decidiu
Assim como a alfarrobeira produz frutos somente uma vez a cada
consagrar aquela pedra como uma matsevá (monumento) para
setenta anos, assim as palavras de Torá dos sábios - seus frutos -
D’us. Ungiu-a com óleo, que foi provido a ele pelos Céus. Se
não eram nem produtivos nem verdadeiros.
ajoelhou, rezou em frente à matsevá, e disse: "Se você, D’us,
permitir que eu volte para casa em paz, eu oferecerei sacrifícios Assim que Rabi Eliêzer ordenou, a árvore moveu-se por 100
neste local." (Mais tarde, sobre esta pedra, foi colocado o aron, a amot. "Agora vêem como estou certo?" Perguntou.
arca, no Bet Hamicdash.)
"Isto não prova que você está certo!" Responderam os sábios. "Já
Apesar de D’us ter ficado satisfeito com os monumentos dos que você é um grande tsadic, D’us está fazendo milagres para
patriarcas, na outorga da Torá D’us proibiu esta prática, pois o você!"
erguimento de monumentos havia se transformado em um rito
canaanita. "Não é verdade," insistiu Rabi Eliêzer. "D’us fez isso para provar
queestou certo. Repito: o forno está puro! Se não acreditam em
Obediência ao Grande San’hedrin mim, que o riacho do outro lado corra para trás!"
Moshê explicou: "O Grande San’hedrin em Yerushaláyim tem a
palavra final em todas as questões. O que a maioria dos juízes
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Rabi Eliêzer indicou aos outros que a Torá deles (que é legitimidade, as disputas multiplicar-se-iam, resultando em
comparada à água) estava indo para a direção errada. O riacho diversas versões da Torá, cada qual competindo com as outras.
realmente retrocedeu no seu curso. Isto era um verdadeiro Por este motivo, a Torá investiu o San’hedrin de plena autoridade
milagre. Porém, os sábios recusaram-se a ceder ao Rabi Eliêzer. para resolver todas as disputas e cujas decisões seriam acatadas
até mesmo por eminentes estudiosos. Porquanto um judeu deve
"Que as paredes do Bet Hamidrash (casa de estudos) caiam!" acreditar que D’us guia e orienta as decisões de Seus servos
gritou Rabi Eliêzer. Ele estava indicando a eles que o Bet devotos.
Hamidrash não merecia continuar de pé por causa da sua decisão
errada. Instituir e promulgar a autoridade dos sábios é tão importante que
a Torá impôs a pena capital para qualquer juiz – mesmo para um
Quando as paredes começaram a desabar para dentro, Rabi juiz notável – que legisle contra as decisões majoritárias do
Yehoshua disse a elas: Grande San’hedrin.

"Como vocês, paredes, ousam se intrometer em uma discussão Reis de Israel e os Cohanim
entre os sábios?
Podemos pensar que basta ter um San’hedrin que cuida da nação
Reendireitem-se imediatamente!" judia. Mas Moshê explicou que: "Além do San’hedrin, D’us quer
que vocês tenham um rei. O rei se preocupará que o país esteja
As paredes tinham um problema. Não podiam cair em respeito a funcionando de acordo com a lei da Torá. Ele também os liderará
Rabi Yehoshua; e não podiam endireitar-se em respeito a Rabi em caso de guerra."
Eliêzer. Por isso mantiveram-se inclinadas.
Benê Yisrael deveriam cumprir três mitsvot ao se estabelecer na
Quando Rabi Eliêzer viu que os milagres não convenceram os Terra de Yisrael:
sábios, ele clamou: "Que o próprio D’us prove que estou certo!"
Escolher e coroar um rei;
Imediatamente, uma voz celestial ressoou no Bet Hamidrash:
"Rabi Eliêzer está certo!" Exterminar os descendentes de Amalec e;

Rabi Yehoshua veio e retrucou: "D’us! Não foi você quem ordenou Construir o Bet Hamicdash;
na sua Torá que nós sempre temos que seguir a opinião da
maioria do San’hedrin? Não vamos ouvir a voz Celestial. Você Assim, não nos é apenas permitido, mas numa determinada
com certeza só fez isso para testar-nos!" época do futuro, nos é ordenado que nossa nação exija um rei.
Até mesmo as profecias sobre a era Messiânica, que descrevem
A halachá (lei) permaneceu de acordo com a maioria do Yisrael em seu mais elevado nível espiritual, versam sobre um rei
San’hedrin. Toda a comida assada nos fornos que Rabi Eliêzer da dinastia de David.
declarou serem "puros" foram queimadas para se ter certeza de
que ninguém seguisse a sua opinião. Portanto, a monarquia é uma situação desejável. Não obstante,
quando o povo pediu que o profeta Shemuel lhe desse um rei,
Hoje em dia não temos San’hedrin. "para que possamos ser como os povos à nossa volta," ele reagiu
com desapontamento e ira.
Como a mitsvá de obedecer o San’hedrin pode ser aplicada a
nós? Benê Yisrael deveria ter pedido um rei que os liderasse,
inspirasse e fosse exemplo de alguém que serve a D’us altruística
Devemos ouvir os conselhos dos grandes líderes espirituais da e sinceramente. Em vez disto, disseram que queriam um rei
nossa geração. Mesmo se eles não equiparam-se em sabedoria meramente para imitar seus vizinhos. Será que o objetivo que
aos juízes de antigamente, deve-se obedecê-los, pois tudo o que D’us estabeleceu para os judeus é ser igual à qualquer outro
temos é "o juiz de nossa própria época." D’us não deixa seu povo povo, cujas aspirações são apenas glória, riqueza e conquistas?
sujeito à anarquia; Ele providencia-lhe líderes compatíveis com as
necessidades de sua época e local. Por causa do desejo equivocado da nação, seu primeiro rei,
Shaul, não pôde manter seu trono permanentemente.
Zaken Mamrê - O Sábio que Desobedece o San’hedrin
Respeito e Temor ao Rei
Se um judeu desobedece uma regra do Grande San’hedrin ou dos
líderes espirituais de sua geração, está transgredindo um Há várias leis referentes ao comportamento que o povo judeu
mandamento da Torá. Caso um sábio competente, na época do deveria ter diante de seu rei:
Bet Hamicdash, tenha instruído outras pessoas a agir
contrariamente às regras do Grande San’hedrin, ou ele mesmo Um rei recém-escolhido é levado para uma fonte de água. Lá, ele
agiu desta maneira, poderia até ser condenado à morte. é ungido com óleo (shêmen hamishchá).

Por que ele era punido tão rigorosamente? Quando as pessoas vêem o rei judeu, elas devem mencionar uma
bênção: "Baruch shechalac micvodô lireav"; "Abençoado és tu,
Com isso, a Torá quer nos demonstrar a importância fundamental D’us, Que compartilha Sua honra com aqueles que o temem."
de obedecer a Palavra de D’us formulada pelo San’hedrin.
É proibido sentar no trono real, cavalgar em seu cavalo, usar o
Inevitavelmente, haverá diferenças de opinião sobre como seu cetro ou qualquer um de seus objetos pessoais.
interpretar a Lei Escrita, e aplicá-la à novas situações. Todavia, se
todos os pontos de vista tivessem o mesmo status de idêntica

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Os reis descendentes de David são as únicas pessoas que têm a A Torá também proíbe um rei de ter muitos cavalos, para que ele
permissão de sentar-se no pátio do Bet Hamicdash. Todos os não faça com que judeus assentem-se no Egito. Esta mitsvá,
outros devem ficar de pé. também, não serve para mim. Nunca deixarei judeus morarem no
Egito. Sou inteligente o suficiente para comprar cavalos de
O rei tem seu cabelo cortado todo dia para ter sempre uma boa diferentes países."
aparência. Pessoas são proibidas de assistir ao seu corte de
cabelo, para que não percam o respeito por ele. Shelomô também pensou que coletar muito ouro e prata não iria
prejudicá-lo.
Todos, mesmo um navi (profeta), devem se curvar perante ele,
exceto o cohen gadol (sumo-sacerdote). Porém, é uma mitsvá A letra yud voou para o trono de D’us e reclamou: "Mestre do
que o rei honre os sábios da Torá. Universo! Você prometeu que nenhuma letra da Torá seria
mudada. Porém Shelomô me trocou! Eu apareço nas palavras da
Um judeu que desobedece a ordem real merece pena capital. Torá ‘lo yarbe’, ‘o rei não deve ter a mais!’ O rei Shelomô
desobedeceu a esta mitsvá!"
Foi dito sobre o rei Yehoshafat que quando um sábio entrava, ele
se levantava e clamava: "Meu mestre e rabino!" D’us confortou o yud: "Não se preocupe! Mesmo uma pequena
letra como você é muito importante! Você verá que Shelomô
As Mitsvot Especiais do Rei errou. Aí ficará claro que as leis da Torá se aplicam a todos, sem
exceções."
1. Ele não deve manter cavalos demais: na época dos reis judeus,
o Egito era famoso pela sua criação de cavalos. Se um rei queria E assim aconteceu. Quando o rei Shelomô já era avançado em
muitos cavalos, poderia fazer com que alguns judeus se idade, suas esposas (que se converteram ao judaísmo antes de
estabelecessem no Egito para que lhe mandassem cavalos de lá. se casarem com ele) serviram ídolos. Shelomô não protestou o
D’us disse "Não quero que os judeus viajem para o Egito e suficiente. D’us ficou tão aborrecido com o rei Shelomô que Ele
permaneçam lá. O Egito é um país perverso, que influenciará escreveu no Tana"ch (Bíblia): "Shelomô serviu a ídolos." Para um
negativamente ao povo judeu." grande tsadic como o rei Shelomô foi considerado como se ele
mesmo tivesse praticado idolatria. O rei Shelomô também adquiriu
Outra razão por que o rei judeu não pode ter um grande número
cavalos demais. Como conseqüência, alguns judeus acabaram
de cavalos: o cavalo era muito importante em tempo de guerra.
morando no Egito. Mais ainda, os pesados impostos que seu
Quanto mais cavalos tivesse um rei, mais assegurado estaria
vasto tesouro exigia fizeram com que a nação se dividisse após
quanto as suas vitórias.
sua morte.
Um rei judeu deve saber que é D’us Quem lhe fornece a vitória,
Shelomô compôs um livro cheio de sábios conselhos, chamado
independente se tem cavalos, ou não. Portanto, o rei tem a ordem
Cohêlet. Nele, ele escreve: "Eu me apoiei na minha grande
de não manter cavalos demais em seus estábulos.
sabedoria e ignorei as palavras da Torá, enraivecendo a D’us. As
2. Ele não deve exagerar no ouro e na prata: reis não-judeus mitsvot de D’us são mais sábias do que tudo o que um ser
enchiam seus tesouros com ouro e prata. Um rei judeu pode humano poderia sequer imaginar."
armazenar dinheiro o bastante para as suas necessidades, mas
A Torá, geralmente, não nos dá a razão das mitsvot. Shelomô
ele não deve perder seu tempo acumulando fortuna.
falhou pois a Torá deu a razão das mitsvot dos reis. Ele
Aparentemente, não haveria necessidade da Torá dizer porquê
racionalizou que elas não se aplicavam a ele. Se a Torá tivesse
adverte sobre a posse de muito dinheiro, pois as tentações do
nos ensinado o significado de outras mitsvot, poderíamos
excesso de riqueza são muito bem conhecidas. Riqueza demais
transgredi-las também, achando que estas não se aplicam a nós.
leva ao orgulho e ao esquecimento da existência de um
Soberano: O rei deve cumprir uma outra mitsvá:

D’us. Porém, era uma mitsvá para o rei coletar ouro e prata para o 4. O sefer-Torá do rei: Andamos lap-tops e celulares para não
Bet Hamicdash. perdermos nenhuma notícia ou chamada telefônica, onde quer
que estejamos. Nos tempos dos reis judeus, eles levavam consigo
3. Ele não pode ter muitas esposas: todos os reis antigos
mais uma coisa: um mini sêfer-Torá. O carregavam a toda hora:
casavam-se com muitas mulheres. Um rei judeu era proibido de
no seu palácio, em viagem, e mesmo nas batalhas.
fazer o mesmo. Muitas mulheres iriam desviar seu coração de
D’us. Aos reis também foi dito que deveriam casar-se somente O rei sempre estava extremamente atarefado. Poderíamos pensar
com mulheres tementes a D’us. portanto que ele era isento do estudo diário da Torá. Mas não, a
Torá ordena: "O rei deve ter dois sifrê-Torá.
O Midrash nos conta:
Um é guardado em seu tesouro. E o outro é carregado por ele
O Erro do Rei Shelomô
aonde quer que vá, a cada dia de sua vida. Ela vai ensiná-lo a
O rei Salomão foi o ser humano mais sábio da Terra. Ele disse: "É temer a D’us e guardar Suas mitsvot. Também o impedirá de
verdade que a Torá proíbe o rei de ter muitas esposas. Isso tornar-se orgulhoso, ou arrogante demais em relação aos seus
poderá desviar seu coração de D’us. Porém esta mitsvá não se irmãos.
aplica a mim. Sou tão sábio e temo tanto a D’us que, mesmo se
Em proporção à imensa honra que ele recebe, o rei deve se
me casar com muitas mulheres, elas nunca me influenciarão para
destacar na virtude da humildade (sentindo-se especialmente
o mau caminho. Se eu tiver muitas esposas, elas me darão muitos
subjugado e grato a D’us, Que tanto o distinguiu). Para reduzir o
filhos guerreiros.
grande perigo da arrogância, a Torá ordena ao rei carregar

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consigo um sêfer Torá para estudo freqüente e para recordar a Em Êrets Yisrael os cohanim viverão espalhados por todo o país,
toda hora sua posição como o servo de D’us. Em seu coração ele e virão a Yerushaláyim apenas quando for seu respectivo turno de
nunca deve esquecer que afinal, ele é somente um ser humano e realizar os serviços. Durante o resto do ano, os cohanim
D’us é o verdadeiro Rei. cumprirão suas obrigações guiando o povo no caminho da Torá,
ensinando-os e sendo um exemplo pessoal.
Para demonstrar sua grande humildade, o rei tinha que se curvar
na oração da amidá até mais do que pessoas comuns. Nós nos A Proibição de Consultar Magos e Videntes
inclinamos quatro vezes, porém o rei tinha que manter-se curvado
ao longo de toda a amidá. A Torá já falou sobre os líderes da nação: os juízes, o rei e os
cohanim. Agora, a Torá versa sobre a maneira pela qual D’us
Maimônides escreve: a Torá aqui proíbe a presunção e a vaidade. comunica Sua vontade e o que o povo deve saber sobre o futuro
Até mesmo o rei, apesar da sua posição especial, é proibido de a fim de cumprir suas obrigações para D’us.
ser arrogante; quanto mais as simples e ordinárias pessoas. D’us
não tolera soberba alguma. Somente a D’us pertence toda a Mas antes, por ser da natureza humana querer saber o futuro e
grandeza, a força e a glória. utilizar-se de quaisquer meios para obter os fins com êxito, a Torá
proíbe os judeus de copiarem as práticas utilizadas por outras
Nossos sábios nos contam: nações para prever acontecimentos futuros. Essas práticas são
abomináveis aos olhos Divinos. Benê Yisrael que depositar sua fé
O Rei David e o Rei Mashiach que D’us lhe dará toda a sabedoria de que precisa, e agir de
acordo, com confiança e lealdade.
Assim como grandes sábios, o rei David nunca tinha tempo para
dormir adequadamente. Estudava Torá até o meio da noite, Apesar dos métodos à disposição dos idólatras para investigar o
cochilando somente quando estava exausto. À meia noite, o vento futuro, devemos seguir D’us com fé completa e perfeita, sem
norte tocava as cordas de sua harpa que ficava sobre o seu leito. sentir necessidade de saber o que irá acontecer: "Tamim tihyê im
Este era um sinal para David acordar. Então, cantava músicas de D’us Elokecha"; "sejas íntegro com D’us, teu D’us". Se tivermos
louvor para D’us até o amanhecer. confiança plena e total em D’us, todas as previsões dos magos e
videntes não terão significado algum, pois D’us reverterá qualquer
Durante o dia, ele se encontrava com reis estrangeiros. Não mal contra Israel. A prova disso vem dos nossos antepassados,
discutia política com eles. Em vez disso ele falava sobre Torá, seu Avraham e Sara, que pelas leis da natureza estavam fadados a
assunto favorito. Os judeus seguiam o exemplo de seus reis. O rei não terem filhos, mas D’us inverteu o destino mostrado pelas
era a inspiração para o espírito nacional. Por isso, na época de estrelas. Assim sendo, o judeu não precisa de feitiçaria, apenas
David, todos estudavam Torá. de sincera obediência ao Todo Poderoso.

Alkém disto, o rei David era muito humilde. Nunca levantava a Quando um rei não-judeu queria empreender uma guerra, ele
cabeça ao andar entre seus súditos. Dizia a D’us: "Posso ser o antes perguntava ao seu adivinho se ele seria ou não vitorioso.
rei, porém você é o Rei dos reis." Um rei judeu é proibido de fazer isso. É seu dever e do San’hedrin
assegurar que não existam bruxos em Êrets Yisrael.
D’us denominou David como Seu servo. Ele prometeu que o
reinado continuaria na família de David para sempre. Apesar de Todas as antigas nações tinham mágicos, incluindo a terra de
que o reinado de David está suspenso enquanto estamos no Canaan. Alguns eram baalê ov: convocavam os espíritos de
exílio, D’us prometeu que Ele irá restaurá-lo no futuro. O rei pessoas mortas e formulavam perguntas sobre o futuro. Havia
Mashiach também será um descendente do rei David. outro tipo de mago chamado yideoni: ele colocava o osso de um
animal na boca, e o osso começava a falar.
Maimônides traz a seguinte halachá (lei) que descreve Mashiach:
"Se surgir um rei da casa de David que se ocupará com a Torá e Os não-judeus também tinham alguns sinais de "sorte" e de
as mitsvot – tanto a Torá Oral como a Torá Escrita – assim como "azar". Por exemplo, se alguém comesse pão e um pedaço caísse
seu antecedente David, e que fará todos os judeus retornarem de sua boca, era considerado um azarado.
para a observância, podemos presumir que ele é o Mashiach."
Moshê avisou: "Vocês não podem acreditar em todas estas
"Se tiver sucesso reconstruindo o Bet Hamicdash e reunindo os superstições, assim como consultar mágicos e astrólogos é
exilados, certamente é o Mashiach. Mashiach fará com que o proibido."
mundo todo retorne ao caminho da verdade, e com que todas as
nações sirvam a D’us com harmonia." Conhecendo o Futuro

Os Cohanim e Seus Turnos (Mishmarot) "Só lhes é permitido conhecer o futuro de duas formas:

Moshê ordenou que os cohanim fossem divididos em oito vigílias, Podem consultar um profeta de D’us.
ou "grupos" (mishmarot), que trabalhariam em turnos para realizar
o serviço no Tabernáculo. Mais tarde, o rei David e o profeta O rei ou o presidente do San’hedrin podem perguntar aos urim
Shemuel aumentaram o número de turnos para vinte e quatro. vetumim."
Desta forma, cada cohen ficaria "de plantão" por um pouco mais
que duas semanas ao ano. Apesar do serviço regular ser uma Como os urim vetumim respondiam? Como sabemos, o cohen
prerrogativa do turno designado, qualquer cohen podia realizar o gadol (sumo-sacerdote) usava o Chôshen (peitoral). Sobre ele
serviço de suas oferendas pessoais a qualquer época do ano; e havia doze pedras preciosas com os nomes das doze tribos
de ir ao Templo durante Pêssach, Shavuot e Sucot tomar parte no gravados nelas. Os urim vetumim, o nome sagrado de D’us, ficava
serviço e receber em troca parte das oferendas da comunidade.

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oculto dentro do Chôshen. Isso fazia com que as letras do Edim Zomemim (Testemunhas Falsas)
Chôshen se iluminassem fornecendo e formando as respostas.
Um tribunal judaico não pode basear seu veredicto em evidências
O Chôshen e as Profecias dos Sábios circuntanciais, boatos, testemunho escrito, ou o testemunho de
uma só pessoa. Só é aceito o testemunho oral de duas
Cada pedra preciosa do Chôshen continha seis letras: o nome da testemunhas oculares e válidas que aparecem na corte.
tribo e letras adicionais. As letras extras formavam as palavras
"Avraham Yitschac Yaacov, Shivtê Yeshurun, tribos de Israel". Elas são submetidas a um minucioso interrogatório feito pelos
Deste modo, todas as letras do alfabeto hebraico se encontravam juízes.
no Chôshen.
No caso de as testemunhas terem apresentado um falso
Se o rei, por exemplo, queria saber se deveria ir para a guerra ou testemunho tão convincente que até o interrogatório dos juízes
não, procurava o cohen gadol. Dizia a ele: "Por favor, consulte os não pode provar nada contra, a Torá não responsabilizará os
urim vetumim se devo ir à guerra." O cohen gadol olhava para o juízes por fatores ocultos que eles possivelmente não tenham
Chôshen e via algumas letras brilhando. Quando ele juntava estas trazido à luz. Se alguém fosse executado como resultado disso,
letras, tinha a resposta. D’us teria causado sua morte desta maneira, porque ele
provavelmente já era culpado por outro pecado.
Digamos, que a letra Ayin de Shim’on, Lamed de Levi, Hê de
Avraham e , Tav de Naftali se acendiam. Juntas, elas formavam, Se dois pares de testemunhas se autocontradizem em relação a
Tav, Ayin, Lamed e Hê. A resposta estava naquela palavra, porém determinado assunto, o testemunho de ambos é anulado. Porém,
o cohen gadol devia rearranjar as letras com seu rúach hacodesh, se o segundo par prova que o primeiro par não estava presente
dom profético. No nosso exemplo, a resposta seria: Taalê , - Vá na hora que eles afirmam ser a hora do crime, o testemunho
para a guerra! deste último par é que é aceito.

As predições do urim vetumim sempre se realizavam; não havia Por exemplo:


exceções.
Testemunhas A e B: "Nós observamos fulano assassinar seu
No segundo Bet Hamicdash, o cohen gadol ainda usava o vizinho no nosso pátio de trás (especificando a localização) em tal
Chôshen, porém este não mais possuía os urim vetumim dentro lugar, no Shabat à noite, às onze horas."
dele. Sem o nome sagrado de D’us, o Chôshen não podia ser
consultado. Testemunhas C e D contradizem: "Era impossível vocês terem
visto isso em tal lugar às 11 horas da noite, pois nós dois vimos
Como Reconhecer um Verdadeiro Profeta vocês deixarem a casa de sicrano no outro lado da cidade
exatamente a esta hora!"
D’us garantiu ao judeus que eles não precisam temer os esforços
dos feiticeiros, pois o destino de Benê Yisrael está muito acima da A Torá decretou que o último par de testemunhas - contanto que
capacidade de qualquer um de prejudicá-los. E mais ainda: a fim eles tenham passado o exame dos juízes satisfatoriamente -
de que os judeus não temam que as proibições anteriores de devem ser acreditados. O primeiro par é declarado como "edim
estudar o futuro os torne inferior aos seus vizinhos, D’us lhes zomemim - testemunhas conspiradoras".
garantiu que Ele lhes enviará profetas.
Qual é a punição dos conspiradores?
Moshê explicou como reconhecer um profeta de D’us.
Primeiramente, o profeta deve ser um sábio e um tsadic. Ele deve Eles recebiam aquilo que planejaram para a sua vítima. Se
guardar todas as mitsvot de D’us. Se ele não o faz, ele não é um acusaram-na de assassinato e ela receberia a pena de morte,
verdadeiro profeta, apesar dos sinais que ele dá. Não devemos eles são condenados à morte em seu lugar.
ter nada com ele.
A Torá termina, porém, que se a fraude é descoberta somente
Moshê disse: "O profeta que declarar que D’us tenha falado com após a execução da vítima, a falsa testemunha não é punida.
ele, deve ser testado. Perguntem a ele algo sobre o futuro. Se a Presumimos que se D’us deixou isto acontecer, havia uma razão;
predição realizar-se, a Torá ordena que vocês acreditem nele dali a vítima possivelmente era culpada de alguma crime ou pecado
em diante. Se o seu sinal não se confirmar, ele é um falso profeta. anterior.
Vocês devem condená-lo à morte."
Como o Exército se Prepara para a Guerra
Testemunhas e o Bet Din
Numa guerra ordenada por D’us, há uma mitsvá que se aplica a
A Torá ordena: "O Bet Din pode punir uma pessoa somente cada soldado individualmente: Não temer a força do inimigo ou
mediante duas testemunhas oculares que o viram cometendo o sua superioridade numérica. "Vocês são superiores aos inimigos
pecado." em boas ações e também são descendentes dos patriarcas, aos
quais prometi a multiplicar sua semente", diz D’us.
O que acontece se ele só for visto por uma testemunha?
"Assim como os tirei do Egito com milagres, posso realizar
D’us é quem punirá o pecador; o Bet Din não tem poder neste milagres sempre que necessário."
caso. Na verdade, se uma só pessoa vir alguém cometendo um
pecado, é errado ir reportar o caso ao Bet Din. Porém, se duas Após a travessia do Mar Vermelho, Benê Yisrael cantou: "Sus
testemunhas viram um pecado sendo cometido, é uma mitsvá ir verochvo rama bayam"; "O cavalo e cavaleiro, Ele lançou no mar."
reportar ao Bet Din. Elas não podem ignorar isto. O Faraó perseguiu os judeus com um grande exército, mas aos
olhos de D’us eles eram somente como um cavalo. Mesmo se o
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inimigo é maior e mais forte, um judeu deve confiar em D’us que Não só não terá coragem, mas também servirá de mau exemplo
declara: "Diante de mim, o mais poderoso inimigo não é nada." para outros soldados. Por isso, o exército estará melhor sem ele.
O mesmo se dá com alguém que não teve chance de morar em
D’us não quer que contemos apenas com milagres, daí a sua nova casa ou usufruir das frutas do seu vinhedo. Há também
necessidade de organizar um exército. Porém, o soldado judeu uma outra explicação: a Torá somente pretendia mandar para
não deve tampouco confiar no poderio bélico. Recitamos casa aquele que tivesse medo de batalha ou aquele que tivesse
diariamente nas orações matutinas (no trecho de Haleluca): "Ló pecado.
bigvurat hassus yechpats"; "D’us não quer aquele que confia na
força do cavalo, nem na velocidade das pernas humanas." D’us Porém seria muito embaraçoso para esta pessoa ir embora!
deseja aquele que O teme, que anseia pela Sua bondade" Todos saberiam que ele era ou um covarde ou um pecador! Por
(Tehilim 147;10). isso, para protegê-los da vergonha, a Torá ordena também os
outros três grupos de pessoas que deveriam retornar. Desta
Quem é Desqualificado para Lutar nas Guerras forma, quando todos estes grupos deixavam o exército para ir
para casa, os outros não saberiam exatamente quem era
Antes de cada batalha, um cohen especial era nomeado. Em sua desprovido de coragem ou pecador.
fronte era despejado o óleo especial usado para os cohanim
guedolim (sumos-sacerdotes) e reis, e ele era denominado o Estas leis nos mostram o quão cuidadosos devemos ser para não
cohen mashuach milchamá (o cohen nomeado para a guerra). embaraçar um outro judeu, principalmente em público.
Seu trabalho era o de encorajar os soldados judeus e lembrá-los
de que D’us estava com eles e lhes ensinar as mitsvot referentes Preservar as Árvores Frutíferas
às guerras.
Quando os exércitos iam para a guerra, os conquistadores
Ele começava seu discurso com as palavras "Shemá Yisrael", costumavam derrubar todas as árvores da área. Eles destruíam
como um sinal de que: "Vocês merecem a ajuda Divina mesmo se tudo e devastavam a terra.
o seu único mérito é o de falar ‘Shemá Yisrael’ toda manhã e
noite!" Ele continuava: "Não temam. D’us está com vocês." A Torá ordena: "Se o seu exército estiver cercando uma cidade
inimiga em tempo de guerra, vocês não podem derrubar nenhuma
Depois de encorajar os soldados, o cohen mashuach milchama árvore frutífera antes ou depois de conquistar a cidade. Vocês não
anunciava que determinados grupos de pessoas eram proibidas têm o direito de destruir árvores frutíferas desnecessariamente."
de lutar.
Numa guerra, é permitido atacar os soldados do inimigo, porém
Estas eram as palavras do cohen: uma árvore não é um soldado! Por quê os judeus deveriam sentir
a necessidade de destruir qualquer árvore frutífera?
Há alguém entre vocês que tenha construído uma nova casa e
ainda não se mudou para lá? Neste caso, não deve ir à batalha. "Ki haadam ets hassadê"; "Será que a árvore do campo é como o
Deixem o exército e inaugurem a nova casa! homem?"

Há alguém aqui que tenha plantado um vinhedo e ainda não Em meio ao capítulo que versa campanhas de guerra, que por
comeu dos seus frutos? Retorne para casa. definição é destrutiva, a Torá exige que os judeus tenham
consciência da necessidade de manter o respeito pelo bem-estar
Alguém está comprometido com uma mulher e ainda não a geral. Se as pessoas tentarem permanecer boas mesmo em
desposou? Vá para casa e case-se! épocas que despertam seus mais básicos instintos, serão
capazes de aperfeiçoar seu caráter firme e constantemente.
Além do cohen mashuach milchama, havia também os oficiais em
cargo. Os oficiais repetiam as palavras do cohen e A analogia entre o homem e as árvores possui um significado
acrescentavam: muito mais amplo. Como as árvores precisam do crescimento de
galhos, ramos, flores e frutos para que cumpram seu propósito;
Se alguém de vocês fica aterrorizado ao ver lanças serem assim também o homem foi colocado aqui na terra para se
jogadas, deve voltar para casa! desenvolver, e produzir verdade moral, intelectual e espiritual.

Bal Tashchit – Desperdício

Nossos sábios explicam que isso também significa: Se alguém Nossos sábios também proibiram-nos de destruir ou desperdiçar
está com medo dos pecados por ele cometidos, que vá para casa! qualquer coisa útil. No passado, as pessoas eram muito mais
cuidadosas no que se refere a desperdício. Não tinham tanta
Se alguém pecou, D’us não o ajudaria na guerra. Seria melhor ele
comida, dinheiro ou roupas. Por isso, eles se esforçavam para
não lutar.
fazer bom uso de tudo. Em comparação com as gerações
Qual era a razão de mandar para casa todo aquele que pertencia anteriores, hoje, todos nós somos ricos. D’us nos abençoou com
aos primeiros três grupos citados acima? abundância. Muitos de nós temos dinheiro suficiente para comprar
todo alimento e vestimenta que precisamos. Porém isso não quer
Imagine um soldado que é chamado para a guerra exatamente dizer que podemos desperdiçar qualquer dessas coisas.
antes do seu casamento. Seu coração está repleto de
preocupação.Ele pode nunca voltar. Outra pessoa pode desposar Todo alimento deve ser tratado com respeito. O Talmud nos
sua noiva! Ele provavelmente não conseguirá se concentrar em conta: "Um alimento que serve para seres humanos, não deve ser
lutar bravamente. dado para um animal". Por quê? Isto é desrespeitoso para com o
alimento e demonstra uma falta de gratidão para com a bênção de

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D’us. É certamente errado, portanto, jogar comida fora. Em vez Sempre que os judeus passassem por ele, se lembrariam quão
disso, devemos planejar nossas refeições para que o alimento grave é o pecado do assassinato.
não seja mal aproveitado.
A mitsvá de eglá arufá também era uma forma de encontrar o
Fora o respeito por comida em geral, é proibido atirar pão, mesmo assassino. Muitas pessoas costumavam se aglomerar para
se este não for danificado. Alguém que vê comida no chão deve assistir a esta cerimônia. Eles comentariam sobre o assassinato.
levantá-la. Uma pessoa nunca deve andar sobre migalhas de pão, Quem conhecia a vítima? Será que ela tinha algum inimigo? Às
já que isto pode levar à pobreza. As migalhas devem ser varridas. vezes, algum dos presentes poderia saber de algo que levava ao
descobrimento do assassino. Se o assassino era encontrado e
O cuidado com as roupas também é parte da mitsvá de bal havia testemunhas que o viram cometer o crime, era condenado à
tashchit. morte. É interessante notar que esta mitsvá vem logo a seguir ao
trecho que contém as leis pertinentes à guerra. Infelizmente, a
Dinheiro também não deve ser desperdiçado. Um judeu não deve realidade necessita de conflitos armados contra inimigos, e seus
gastar seu dinheiro sem propósito, mas sempre no intuíto de inevitáveis resultados em termos de perdas de vidas. Contudo, o
cumprir uma mitsvá. fato de existirem guerras não pode nos deixar insensíveis à perda
de vidas. Todos são responsáveis pela destruição de uma única
Eglá Arufá
vida humana.
Quando um judeu, D’us não o permita, é assassinado, seu
D’us prometeu: "Se vocês se preocuparem com o sangue
sangue clama a D’us pedindo vingança. Somente quando o
inocente derramado, Eu me preocuparei para que chegue o
assassino é punido, o sangue da vítima é apaziguado. Às vezes
tempo quando todas as morte cessarão. Na época de Mashiach,
não sabemos quem é o assassino.
instrumentos de matança serão usados somente para fins
Como podemos vingar o sangue do morto neste caso? pacíficos."

Nós o fazemos através da eglá arufá. O grande San’hedrin em Os Sete Caminhos


Yerushaláyim fica sabendo do assassinato. Cinco dos seus juízes
Por Rabino Yitzchak Ginsburgh, traduzido por Maurício
são mandados ao lugar da ocorrência. Eles medem em todas as
Klajnberg
direções a partir do cadáver e decidem qual é a cidade mais
próxima. Eles se preocupem para que a vítima seja enterrada e A imagem do homem como uma árvore do campo na Parashá
vão embora. Shofetim é a imagem de um potente campo de energia. O que é
esta energia e para onde ela deve ser direcionada? O Rabino
Agora, o Bet Din da cidade mais próxima assume este caso. Seus
Ginsburgh nos guia através de uma meditação sobre a árvore no
juízes compram uma bezerra que nunca foi usada para arar a
campo. Quando meditamos sobre esta imagem, chegamos a um
terra, e em cujo lombo nunca foi colocado um peso. Eles a levam
entendimento mais profundo de como dirigir nossas potentes
para um vale de terra dura que nunca foi arado. Eles quebram a
energias e onde todos os caminhos de nosso serviço a D’us deve
nuca da bezerra com um machado.
nos levar a conhecê-Lo em todas as facetas de nossas vidas.
Todos os líderes de Torá que vivem na cidade mais próxima
A Imagem da Árvore
devem lavar suas mãos no vale e declarar: "Yadênu ló shafchu et
hadam hazê"; "Nossas mãos não derramaram esse sangue." No fim da Parashá Shofetim, a Torá descreve a dinâmica das leis
de batalha. Se um cerco é feito a uma cidade na Terra de Israel
"Não é culpa nossa que o assassinato tenha ocorrido! Sempre
para conquistá-la, a Torá nos proíbe destruir suas árvores
que um estranho visita nossa cidade, lhe oferecemos comida e
frutíferas. Suportando esta proibição, a Torá explica (Devarim
bebida e o acompanhamos quando ele se vai. Não o deixamos
20:19): “O homem é igual à árvore do campo”/ Ki ha'adam etz
sair com fome."
hassadê". Na Torá (Bereshit 1:26), aprendemos que D’us criou o
Um grupo de cohanim também deve vir ao vale. Os cohanim homem à Sua imagem (tzelem). Significativamente, o valor
rezam: "Por favor, D’us, perdoe a todo o povo de Yisrael pelo numérico da palavra hebraica eitz (“árvore”) é 160, idêntico ao
assassinato!" valor numérico de tzelem. A árvore do campo é a imagem do
homem criado à imagem de D’us.
Mesmo se Benê Yisrael não são diretamente responsáveis, a
culpa é atribuída a todos. A Torá não nos explica o porquê da eglá Da’at e o Sistema Nervoso
arufá. Esta lei é um choc (mitsvá cuja razão não nos foi revelada).
O valor numérico da expressão hebraica etz hassadê (“a árvore
Porém há algumas explicações que nos ajudam a entender
do campo”) é 160 (eitz) mais 314 (hasadeh), que equivale 474.
melhor este assunto;
474 é o valor numérico de daat (“conhecimento”). Daat é a mais
Uma bezerra que nunca tenha trabalhado ou parido é utilizada. O central e abrangente das sefirot. É o conhecimento ou a
vale onde a bezerra é morta é um local ermo e estéril onde nada consciência, um estado abrangente da alma que une inteligência
cresce. Tudo isso mostra quão terrível é um assassinato: o e emoção. O poder de daat cria unidade dentro da mente, mas
assassino tirou a vida da vítima – e com isso, impediu que esta se seu objetivo final é o de unir todas as faculdades mentais e
perpetuasse e continuasse a cumprir as mitsvot. emocionais da alma.

O povo, juízes e líderes espirituais imploravam a D’us para que os Na Cabalá e na Chassidut, aprendemos que todo sistema
perdoasse pelo assassinato. Suas orações e o ato de cumprir a fisiológico corresponde a uma sefirá celeste. A sefirá de Daat
mitsvá de eglá arufá expiavam o pecado. O vale deveria corresponde ao sistema nervoso. Mais do que qualquer outro
permanecer deserto para sempre; ele nunca poderia ser arado. sistema fisiológico, o Sistema Nervoso, que transmite os impulsos
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elétricos do conhecimento através do corpo, pode ser visto como nun (=50) shin (=300) 50 x 300 = 15,000
uma árvore. O tronco é a coluna espinhal e os ramos são os
nervos. ayin (=70) dalet (=4) 70 x 4 = 280

O Campo de Energia mem (=40) yud (=10) 40 x 10 = 400

A palavra hasadeh (“do campo”) – soletrada hei, shin, dalet, hei – A soma de noam Sha-kai no sistema ribua prati é 15680 – dez
compartilha duas letras – shin e dalet – com o nome de D’us, vezes 1568, que é 2 vezes 28 ao quadrado.
(shin, dalet, yud). As duas letras restantes de hasadeh -- os dois
hei’s – equivalem a 5. Quando eles são combinados, eles formam Nossos Sábios ensinam que existe um versículo em nossa Torá
10, igual à letra remanescente, yud. que exprime de forma sucinta como nosso serviço a D’us deveria
ser aperfeiçoado em nossa consciência. Em Provérbios 3:6, está
O Nome sagrado de D’us, representa energia – o poder de escrito: Bchol drachecha da'eihu v'hu yeyasher orchotecha “Em
projetar força para fora. A árvore do campo, representando daat, o todos os teus caminhos, conheça-O e Ele endireitará teus
sistema nervoso do homem, é um campo de energia. caminhos”

O Nome de D’us também corresponde à sefirah complementar de Essencial a este versículo é a palavra da’eihu (“conheça-O”), da
daat – yesod. A sefirá de yesod é a base de todas as energias raiz de daat. Nosso objetivo deve ser o de conhecer D’us em
sexuais do homem. Daqui aprendemos que existe uma forte todos os caminhos de nossas vidas – seja na guerra, como na
interdependência entre a função correta do sistema nervoso e o Parashá desta semana, ou em tempos de paz e prosperidade –
uso apropriado de nossas energias criativas, como representado do pico do sublime à monotonia deste mundo.
por yesod. Quando meditamos sobre a árvore do campo,
devemos considerar o campo como sendo um campo de energia, O versículo diz para conhecer D’us em todos os nossos
dirigindo nossas potentes e criativas energias yesod por meio do caminhos. Os caminhos de D’us são os caminhos dos Seus
campo de força de daat. mandamentos. Seus caminhos são todos os mínimos detalhes
que tecem o tecido de nossas vidas. Seja trabalhando, comendo
A Chave às Câmaras do Coração ou mesmo dormindo, devemos conhecer D’us e estar conscientes
de Sua presença em nossas vidas e em todas as nossas ações.
Se assim fizermos, D’us promete que Ele endireitará nossos
caminhos.
Como explicado acima, a frase etz hassadê equivale a daat, 474.
Quando dividimos 474 pelas seis letras de etz hassadê, vemos Os Sete Caminhos
que o valor médio de cada letra é 79. 79 é o valor numérico de
dei’ah, que compartilha uma raiz com daat. Maimônides, em seu O valor numérico do versículo: Bchol drachecha da'eihu v'hu
Código de Lei Judaica, devotou toda uma seção de seu trabalho yeyasher orchotecha é 1568 – 2 vezes 28 ao quadrado. O valor
às leis de dei’ot, “os atributos do coração”. Assim, existem seis completo de noam Sha-kai é dez vezes este versículo. “Bchol
expressões de dei’ah em daat; consciência, é a chave que abre drachecha da'eihu v'hu yeyasher orchotecha” expressa a
as seis portas das seis câmaras do coração (dei’ot). Cada câmara experiência de conhecermos D’us em toda faceta de nossas vidas
é um atributo do coração, uma característica emotiva. Etz com todos os dez poderes de nossas almas.
hassadê, a árvore do campo, é a chave para todos os nossos
atributos emocionais. Se dividirmos 1568 por 7, temos 224, o valor numérico de derech
(“caminho”). Na Cabalá e na Chassidut é explicado que existem 7
Prazer Sereno caminhos através dos quais cada raiz da alma poder servir a D’us
de forma apropriada. O versículo “Em todos os teus caminhos,
A palavra etz também é igual à palavra noam (nun, ayin, mem), conheça-O, e Ele endireitará teus caminhos” abrange todos os 7
que significa “conforto” ou “prazer sublime”. Assim, a frase etz caminhos.
hassadê, nossa consciência (daat) também pode ser entendida
como o “prazer sereno do Todo-Poderoso”. Devemos ver o Quando nos conectamos à imagem do homem como uma árvore
homem como uma árvore do campo, cujo sistema nervoso do campo, podemos dirigir todas as nossas energias criativas a
direciona suas energias criativas para se manifestarem como um objetivo – conhecer D’us em todos os nossos caminhos e
serenidade Divina. espalhar Sua consciência através do mundo.

O Prazer Sereno de Conhecer D’us em todos os nossos Por que Não Existem Mais Profetas?
Caminhos
Pergunta:
As duas palavras da frase noam Sha-kai tem seis letras, três em
cada palavra. No sistema cabalístico chamado ribua prati, Por que não existem profetas?
multiplicamos cada letra da primeira palavra pelo seu equivalente
Resposta:
na segunda palavra. Isto nos permite entender associações mais
profundas da frase. Multipliquemos a frase noam Sha-kai em ribua Existiram 48 profetas de Israel ao longo de nossa história.
prati como a seguir: Yehoshua, Pinchás, David, Shmuel, Elyahu, Yoêl, Amós, Ovadya,
Yoná, Chavacuc, Nachum, Zecharyá, Mal'achi,Yesha'yáhu,
Noâm Sha-kai
Yirmiyáhu, Yechezkel, foram alguns deles. O Tanach (Pentateuco,
soma Profetas e Escrituras) está repleto de profecias. Assim, as
palavras dos profetas continuam nos guiando pelo Tanach.
soletrado: soletrado: Interessante notar que da mesma forma como muitos homens
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experimentaram a profecia, também houve profetisas. Em muitos Israel propriamente dito – a Terra Santa. Havia três na
casos, elas atingiram níveis até mais elevados que os homens. Transjordânia, onde, segundo o Talmud, "o assassinato
Houve sete profetisas conforme se encontram mencionadas na involuntário era comum." E, na Era Vindoura, "o Eterno teu D'us
Torá: Sara, Miriam, Débora (Dvora), Hana, Abigail, Hulda e ampliará tuas fronteiras", três mais serão providenciadas, na terra
Esther. recém-ocupada.

No entanto, hoje em dia não existem mais profetas, pois nosso Isso significa que todo nível de espiritualidade tem seu próprio
mundo não se encontra mais em um nível tão elevado. O que refúgio, desde a Transjordânia relativamente sem lei até a Terra
existe é a presença de pessoas muito especiais em cada geração, Santa, e mesmo na Era Vindoura. E isso é verdadeiro, tanto
que possuem Ruach Hacodesh, isto é, um nível muito elevado de espiritual como geograficamente. A cada estágio da vida religiosa
santidade que faz com que possam dar sábios conselhos e prever de um homem existe a possibilidade de alguma falta pela qual
certas coisas de antemão. Não se tratam de profecias, mas sim deve haver refúgio e expiação. Mesmo que ele nunca desobedeça
da expressão e revelação de seu profundo conhecimento de Torá. à vontade de D'us, talvez ele ainda não tenha feito tudo ao seu
alcance para aproximar-se de D'us. Esta é a tarefa de Elul. É um
São pessoas que estudam constantemente e observam os tempo de auto-exame, quando cada pessoa deve perguntar-se se
ensinamentos de D'us, cuidam detalhadamente para não violar aquilo que realizou foi tudo o que poderia ter realizado. E caso
uma única lei, tentam ao máximo e constantemente cumprir todo contrário, deve se arrepender, e esforçar-se tendo em vista um
e qualquer mandamento da Torá. Vivem livres de qualquer futuro de maiores realizações. Seja um homem de negócios ou
pecado, em pensamento e ação, completamente ligadas em fazer um erudito, aquele que viveu no mundo e que passou seus dias
o bem aos outros sem pensar em si próprias, nutrem um amor sob a canópia da Torá – ambos devem fazer de Elul um tempo de
profundo a D'us com vasto conhecimento de Sua essência, entre auto-exame e refúgio.
outras qualidades, raras de serem encontradas em pessoas.
Esta é a maneira de o mundo ocidental fazer Elul – o mês do alto
É o conjunto dessas características, habilidades e concentração verão – um tempo de afastamento do estudo. O caso deveria ser
profunda a serviço de D'us que tornam uma pessoa Divinamente o oposto. Está acima o tempo todo para auto-exame, um tempo
inspirada, diferente, no entanto, dos profetas, cujas visões vinham de mudar a própria vida. E o lugar para isso é a cidade de refúgio,
diretamente de D'us ou primeiramente por intermédio de um anjo. na Terra Santa, o que para nós significa, em um lugar da Torá.
Cada judeu deveria guardar Elul, ou pelo menos a partir do 18º
Embora muitas pessoas tivessem o dom da profecia, a Torá dia em diante (os últimos 12 dias, um dia para cada mês do ano),
apenas menciona aqueles que deixaram uma mensagem para ou de qualquer modo os dias em que são recitadas as selichot, e
todas as gerações. Por esta razão nossos sábios salientam que fazer seu refúgio num local da Torá.
além de Moshê e Aharon há 48 profetas mencionados na Torá. A
profecia durou por mil anos em Israel, do tempo do Êxodo do Um refúgio é um lugar para o qual alguém foge; ou seja, onde
Egito (2448; 1313 AEC) até 40 anos após a construção do alguém deixa de lado seu passado e constrói um novo lar. Elul é o
Segundo Templo Sagrado (3448; 313 AEC). funeral do passado em benefício de um futuro melhor. E é a
preparação necessária para as bênçãos de Rosh Hashaná, as
O espírito da profecia acabou naquele ano quando os últimos promessas de plenitude e realização no ano vindouro.
profetas, Hagai, Zecharyá (Zacarias) e Mal'achi (Malaquias),
morreram no mesmo mês. É muito difícil ocorrer profecias quando Recompensa e Punição
a Arca Sagrada não se encontra em seu devido lugar no Templo
Sagrado. Por este motivo, quando o Templo foi destruído, a Para início de conversa, o homem tem livre arbítrio — nenhuma
profecia tornou-se muito rara. outra criatura o tem. Nenhum cão, golfinho ou gorila possui a
capacidade de avaliar o bem e o mal e escolher um em
Há diversos níveis de Inspiração Divina. O mais alto grau está detrimento do outro, nem entende os conceitos de bem e ma.
logo abaixo do grau de profecia que somente será restaurado na Ninguém exceto o homem. Portanto, o entendimento judaico
era de Moshiach, quando a maioria dos judeus retornar à Terra sobre recompensa e punição começa com os entendimentos
Santa e for construído o Terceiro Templo Sagrado em Jerusalém. judaicos sobre o livre arbítrio, e a escolha entre o bem e mal.
Esperamos que seja em breve.
D’us não fará chover maná dos Céus sobre você caso faça algo
Cidades Refúgio que Ele considera bom, nem vai fulminá-lo com raios se fizer algo
que Ele considera mau — você teria Livre Arbítrio se Ele o
por Rabi Jonathan Sacks fizesse?

Na Porção desta semana da Torá, Shofetim, lemos sobre as O Homem tem livre arbítrio. Você pode optar por fazer o bem.
cidades de refúgio, às quais um homem que tivesse matado Pode escolher fazer o mal. Você pode. Você. D’us não fez você
involuntariamente poderia fugir, encontrar abrigo e expiar por suas de uma maneira ou de outra. Ele não o força àquilo que é reto e
falhas. restrito. Ele não o pré-programou a ser de uma determinada
maneira. O homem pode fazer seja o que for que deseje. Pode
Acabamos de entrar em Elul, o mês no qual esta porção é sempre
mudar aquilo que é para tornar-se o que deseja ser. Liberdade
lida. Elul é no "tempo" aquilo que as cidades de refúgio eram no
total.
"espaço". É um mês de refúgio e arrependimento, uma época
protegida na qual a pessoa pode afastar-se das falhas de seu Ora, D’us não fará chover maná dos Céus sobre você caso faça
passado e dedicar-se a um futuro novo e santificado. algo que Ele considera bom, nem vai fulminá-lo com raios se fizer
algo que Ele considera mau — você teria Livre Arbítrio se Ele o
Embora todas as cidades de refúgio devessem estar na Terra de
fizesse? De forma alguma — você não conseguiria descer a rua
Israel, não estavam todas no mesmo território. Havia três em

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pela ânsia por maná, ou medo dos raios. Você se tornaria um Deixar as coisas como estão seria de menos. Porém, como um
vegetal. príncipe fugitivo admoestado por seu real pai, este mecanismo
espiritual aplica-se apenas àqueles que sabem em primeira mão o
E D’us não deseja vegetais — Ele deseja Livre Arbítrio. Então, o que D’us deseja que eles façam.
que vai acontecer se você comer não-casher? Nada. Nenhum
raio. Porque se D’us o fulminasse a cada vez que você comesse O Mundo Vindouro
um alimento não-casher, você não teria outra alternativa a não ser
comer casher. Você seria forçado a isso — a menos que goste de No Judaísmo, existe recompensa e punição — mas, como já foi
raios. Agora, vejamos o que diz o Judaísmo sobre recompensa e mencionado, geralmente está além de nossa compreensão saber
punição. como isso funciona. Às vezes, pode parecer óbvio, mas à vezes
não. E no Judaísmo, há dois planos de existência: o físico e o
Definindo Bem, Mal, Recompensa e Punição espiritual. A existência física é este universo. E a existência
espiritual é chamada de Mundo Vindouro. O Mundo Vindouro é
onde você está antes de nascer, e para onde vai depois que
morre. Se você é bom ou mal, D’us pode recompensá-lo ou puni-
A Torá é o manual de moralidade da raça humana. A Torá define lo aqui, ou Ele pode fazê-lo lá — no Mundo Vindouro.
o que é bom e o que é mau. Quando você faz aquilo que a Torá
diz, está fazendo o bem. Quando não faz o que diz a Torá — ou O que é o Mundo Vindouro?
quando faz o que a Torá manda não fazer — está fazendo o mal.
(Mas isso somente se você está familiarizado com a Torá, e age Indescritível. Além do tempo. Além do espaço. Além da dimensão.
propositadamente contra ela — como veremos mais tarde.) Esqueça Céu e Inferno e planetas e ficção científica — são falsos.
Quando você faz o bem, é recompensado, e quando pratica o O Mundo Vindouro não é físico ou dimensional. O Mundo
mal, é castigado. Parece simples? É exatamente o contrário. Vindouro está completamente além de nossa imaginação. E
também não é emprestado de outra religião. Os profetas abstêm-
Não existe um Catálogo de Recompensa e Punição no judaísmo, se de descrições porque palavras não conseguiriam dar uma idéia
relacionando pecados específicos ou boas ações e suas de tudo aquilo.
conseqüências específicas, e portanto, não sabemos quais ações
provocarão quais reações por parte de D’us. A menos que você Mas é um local, e pode ser chamado como tal, uma forma de
seja um profeta — e não existem profetas atualmente — não pode existência, onde você é lavado em uma "máquina de lavar
concluir que o filho do Sr. Fulano morreu porque não comeu cósmica" antes que possa absorver o bem incomparavelmente
alimentos casher ou que o Sr. Sicrano contraiu a Doença de Lou além dos maiores prazeres da existência física. A lavagem apaga
Gehrig porque é um trapaceiro. De modo inverso, não se pode todos os traços da existência física e devolve você a seu estado
concluir que Bill Gates é rico porque é uma boa pessoa (o que puro, à existência espiritual anterior ao nascimento. Uma vez
não equivale a dizer que ele é mau!): inúmeras variáveis, restaurado, você se reconecta com D’us ao nível de
conhecidas apenas por D’us, ocorrem em todo exemplo de espiritualidade atingido durante sua existência física. A lavagem é
recompensa e punição. sua "punição," e a reconexão é sua "recompensa." Ambas são
boas — nada de "Inferno"! Não importa o quão maravilhoso possa
Somente D’us pode realmente discernir e decidir em assuntos de ser o Mundo Vindouro, não deveria ser a meta da pessoa.
bem e mal, e as recompensas e punições relativas. Nós
simplesmente não sabemos. Sendo principiantes, não sabemos o Maimônides descreve isso como servir a D’us por temor das
que é realmente bom, o que é realmente mau, ou quem é conseqüências ou antecipação dos benefícios, portanto, em
verdadeiramente bom ou mal. Assim, o sofrimento nem sempre é última análise, auto-interesse. Ao contrário, explicam os grandes
castigo, o castigo nem sempre é sofrimento, o bem nem sempre é sábios, o relacionamento de alguém com D’us deveria ser
uma recompensa, e o mal não é sempre uma punição. Somente construído sobre o amor — e amor é doar, não tirar; abnegação,
D’us pode dizer. não egoísmo.

A Torá não é toda sobre Recompensa e Punição? Quem Eram os Juízes?

Bem, você encontrará muitas pequenas recompensas na Torá por Quem eram os Juízes e quais eram suas funções?
fazer o bem. Encontrará também diversas pequenas punições na
Torá por fazer o mal. Por quê? D’us não nos concede o Livre RESPOSTA:
Arbítrio? Sim, Ele o faz, e o que a Torá menciona não são
"recompensas" e "punições" da maneira que entendemos estas Os Juízes eram os líderes do povo judeu por aproximadamente
expressões: eventos sobrenaturais. Pois se D’us cobrisse os bons 350 anos da História Judaica. Os quinze Juízes, shoftim em
com uma chuva de doces e fulminasse com raios os bandidos, hebraico, reinaram em ordem consecutiva (com alguma
jamais veríamos o fim disso. Portanto, D’us não recompensa ou sobreposição) de 1228 a 879 AEC.
pune da maneira que entendemos "recompensa" e "punição".
A era dos Juízes foi um tempo no qual a nação judaica ainda
Geralmente, nem uma das "recompensas" ou "punições" na Torá
estava a caminho da total independência. Esta era segui-se aos
é sobrenatural.
reinados de Joshua e os Anciãos, e foi seguida pelo
Geralmente, D’us não "recompensa" ou "pune" — Ele age por estabelecimento da soberania judaica. Sob os Juízes, a nação
meio da Natureza. Quando você faz o bem, D’us reage judaica ficou em um estado semi-autônomo, apanhado entre a
acelerando os processos naturais das coisas boas. Quando você soberania e supremacia totais do Rei Salomão e as batalhas de
pratica o mal, Ele reage desacelerando os processos naturais das Joshua contra os clãs das nações pagãs assentadas no território
coisas boas. Esta é a maneira de D’us atingir um equilíbrio entre da Terra Santa.
fazer de mais, e fazer de menos. Atingir com raios seria demais.
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O tema da liderança dos Juízes foi a manutenção espiritual.
Enquanto os judeus eram liderados por estas personalidades
dinâmicas, mantiveram seu relacionamento com D'us, e durante
os breves intervalos de liderança entre os mandatos dos shoftim,
eles negligenciaram seu relacionamento com D'us. O papel dos
shoftim era o de reparar as brechas na represa da identidade
judaica, em oposição a construir e fortalecer novas represas.

Os Shoftim

Nomes e Datas;

Otniel Ben-Knaz - governou de 1228 a 1188 AEC;

Ehud Ben-Gerah - governou de 1188 a 1107 AEC; Gostaria de saber o significado de ser um Cohen. Quais são as
normas de conduta que lhe são específicas e em que elas se
Shamgar Ben-Anat governou durante os anos finais de Ehud, e baseiam?
morreu em 1107 AEC.
RESPOSTA:
Devorah (a única mulher entre os Juízes), de 1107 a 1067 AEC.
Respondendo suas perguntas, todas as normas referentes ao
Gideon Ben-Yo'ash - governou de 1067 a 1027 AEC; Cohen são baseadas em estatutos da Torá, estabelecidos por
D'us (Porção da Torá Emor; este capítulo trata principalmente da
Avimelech Ben-Gideon - governou de 1027 a 1024 AEC; pureza dos sacerdotes). O cohen, ou cohanim, no plural, eram
sacerdotes que desempenhavam funções específicas quando
Torah Ben-Puah - governou de 1024 a 1001 AEC; existia o Templo Sagrado em Jerusalém, e eram considerados
homens santos e puros por D'us.
Yair HaGil'adi - governou de 1003 a 981 AEC (sobrepondo-se a
Tolah e Yiftach); Até hoje, em diversas oportunidades durante o ano, os cohanim
abençoam o povo durante as preces nas sinagogas. Um cohen é
Yiftach HaGil'adi - governou de 982 a 976 AEC;
o primeiro a ser chamado na Leitura da Torá, seguido de um Levi.
Ivtzan - governou de 976 a 969 AEC;
Há algumas leis concernentes ao cohen que estabelecem certas
Eylon HaZevulon'i - governou de 969 a 959 AEC; restrições a fim de que todos os cohanim estejam sempre
preparados e puros para, a qualquer momento, terem que
Avdon Ben-Hillel HaPir'atoni - governou de 959 a 951 AEC; reassumir seus trabalhos no Templo Sagrado, quando este será
reconstruído (com a vinda de Mashiach). Entre elas, um cohen
Shimshon governou de 951 a 931 AEC; não pode ir a um enterro nem tocar em um morto, salvo parentes
muito próximos como sua esposa, seus pais, filhos, irmão e irmã
Ayli HaKohen governou de 931 a 891 AEC; virgem, e desde que seja de uma maneira especial que pode ser
orientada por um rabino ortodoxo, caso desconheça as leis. Os
Shmuel Hanavi - governou de 890 a 977 AEC; sacerdotes também são proibidos de contrair matrimônio com
mulher judia que teve uma vida irregular e pouco honesta, profana
Os Guerreiros
ou com divorciada; mesmo sendo uma mulher, de quem se
Muitos dos Shoftim lideraram o povo judeu em batalhas contra divorciou, não poderá retomar esta relação. Entretanto, o
forças estrangeiras que dominaram o antigo Israel durante seus sacerdote pode casar-se com uma viúva visto que somente o
reinados. Entre esses guerreiros, estão Otniel Ben-Knaz, Ehud, "Cohen Gadol" - Sumo Sacerdote - era obrigado a casar-se com
Devorah, cujos exércitos dispersaram os Canaanitas, e uma virgem.
evidentemente, Shimshon, cuja força legendária esmagou o poder
Opinião Judaica Sobre Magia
e o moral dos Filisteus durante seu reinado, e durante vinte anos
após sua morte. Muitos de meus amigos, eu inclusive, já assistimos filmes sobre
magia negra e outros recursos sobrenaturais que parecem
Os Destaques de Carreira
realmente interferir na vida das pessoas. Isto acontece? Qual é a
Embora alguns dos Juízes sejam escassamente descritos, e a posição judaica sobre este assunto?
carreira de outros seja profusamente detalhada, cada um dos
RESPOSTA:
Juízes ofereceu uma contribuição especial. A maioria empenhou-
se em batalhas políticas e/ou militares contra reinos hostis e as D’us é a Força. Ele é Um, mas para nos dar livre arbítrio, Ele criou
forças que cercavam Israel, ao passo que outros mantiveram dois: Luz e Trevas. Ambas vêm d'Ele, mas apenas uma é Sua
governos breves e/ou pacíficos. vontade.

Acima de tudo, no entanto, eles foram juízes - acima de seus A escuridão não existe. É apenas a ausência de Luz. Nestes
deveres políticos e sociais, julgaram seu povo, atuando como lugares escuros a escuridão pode ser domada para criar aquilo
autoridades haláchicas em todos os casos da Lei Judaica. que se convencionou chamar de magia negra.

O Significado de Ser Um Cohen

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A mágica popular (que é meramente uma ilusão), e especialmente arbítrio e que seus atos seguissem apenas sua vontade, para o
a magia negra (que é pra valer), embaça a linha entre realidade e bem ou para o mal.
o impossível, nublando o escopo do domínio humano sobre a
natureza e terminando por colocar D’us para fora do quadro. Você O fato de D'us saber de antemão tudo o que ocorre no mundo,
pode até perguntar a David Copperfield – se ele for sincero, dirá desde a Criação até o final dos tempos, não contradiz a idéia do
que apenas parece que ele está voando. É uma ilusão livre arbítrio, pois Seu conhecimento não induz a pessoa a tomar
convincente, mas frágil. tal atitude; pelo contrário, o fato de a pessoa assim escolher e agir
faz com que D'us tenha conhecimento do ato.
Para não se tornar vítima magia negra existem alguns
ingredientes: Maimônides diz que o conhecimento humano não consegue
captar a sabedoria Divina, pois esta está completamente distante
1 – Seja correto; de nossa concepção por sermos limitados em espaço e tempo. O
intelecto humano consegue captar tão-somente aquilo a que
A Torá declara: "Seja correto com D’us" (Devarim 18:13), o que estamos acostumados. Porém, a sabedoria Divina é ilimitada,
significa: magia negra faz você incorreto para com D’us. Encher sendo-Lhe possível, ao mesmo tempo, conhecer o futuro em
sua vida com a busca do controle do universo, tentando por meios detalhes e, por outro lado, dar o total e completo livre arbítrio ao
sobrenaturais abalar as fronteiras da física, fazer experiências homem.
com o ocultismo e o extra-sensorial é incorreto. Desculpe, Harry
Potter. Um exemplo para entender esta idéia: se alguém conhece os
fatos do passado, seu conhecimento não faz com que os fatos
2 – Não queira ser D’us; ocorram; pelo contrário, sabe algo porque aquilo realmente
ocorreu. Seu conhecimento é uma conseqüência, não uma causa.
Se Ele desejasse que soubéssemos o futuro, seríamos todos Para D'us, para Quem passado, presente e futuro ocorrem ao
videntes. Se Ele desejasse que falássemos com os mortos, os mesmo tempo (pois Ele não está limitado pelo tempo e espaço),
mortos falariam normalmente. D’us é melhor como D’us do que Seu prévio conhecimento é como o nosso conhecimento do
nós, portanto confie em D’us. Deixe para lá. Deixe o futuro e o passado.
universo nas mãos d'Ele.
Isto se aplica às ações das pessoas, que não são determinadas
3 – Não pratique magia negra; por D'us e, sim, conseqüência do livre arbítrio de cada um.
Porém, várias facetas da vida humana são determinadas por D'us
O principal nisso tudo é simples: não pratique magia negra.
desde antes do nascimento de cada um: se será rico ou pobre,
Qualquer coisa que se constitua de autêntica magia negra, a Torá
com quem irá casar, como será sua vida material, etc.
desaprova. Isso inclui bruxaria, sessão espírita, necromancia e
tudo que se refere a ocultismo. É importante destacar que a Estes fatos não são apenas conhecidos previamente por D'us,
maioria dessas coisas não é real – especialmente sessões mas por Ele predeterminados. Esta predeterminação não influi,
espíritas, cartas de tarô e bolas de cristal. No entanto, é melhor porém, nas ações, pois em qualquer situação material em que a
evitá-las, porque às vezes elas se tornam reais. São capazes de pessoa se encontre, D'us lhe dá forças espirituais suficientes para
transformar você em algo "irreal"; torná-lo dependente de que cumpra Torá e mitsvot - depende apenas de sua vontade e
recursos alheios como instrumentos para orientar sua vida. esforço.
Dispense o fantástico e se concentre em coisas palpáveis como o
estudo da Torá e suas boas ações neste mundo. Isto pode fazer E assim disseram nossos sábios: "Tudo está nas mãos de D'us,
toda a diferença e garantirá uma bússola infalível apontando para menos o temor a D'us (e o serviço a D'us)."
o caminho certo.
Verdade e conseqüências
O Papel da Livre Escolha na Torá
por Rabi Herbert J. Cohen, PhD.
Gostaria de um esclarecimento sobre a questão do livre arbítrio. O
que exatamente ele vem a ser pela Torá? "Atire a primeira pedra" é a ordem dada à testemunha que depõe
em um caso de pena capital. Na porção desta semana da Torá,
RESPOSTA: aprendemos que se a pessoa dá testemunho que garante a
imposição da pena de morte por apedrejamento, então a própria
Maimônides em suas Leis de Teshuvá escreve que o livre arbítrio testemunha torna-se o executor (Devarim 17:6-7). Ele cumpre
é a base primordial para toda a Torá. Se não fosse verdade, não parte da pena de morte atirando a primeira pedra. Por que é
faria sentido D'us ordenar cumprir um preceito, se a pessoa já foi assim?
determinada a fazê-lo, ou deixar de fazê-lo. Sendo assim, também
não faria sentido a recompensa para quem cumpriu a mitsvá, ou o A resposta talvez esteja em nosso entendimento de como um
castigo para quem deixou de cumpri-la, pois isto não foi realizado judeu estudioso e cumpridor da Torá deveria agir e pensar. A lei
pela própria escolha da pessoa, uma vez que tenha sido induzida judaica nos diz que se alguém tem provas em um caso de crime
a cometê-lo. capital, é seu dever adiantar-se à corte e contar aquilo que sabe.
Entretanto, esta evidência deve ser incontroversa. Deve estar
Afirmamos que o homem tem a livre escolha de ser justo ou absolutamente certo da verdade de sua declaração, não apenas
perverso, bom ou mau, etc. Isto não contrasta com o fato de que porque suas palavras condenarão, como também terá que agir
tudo no mundo está em conformidade com a vontade de D'us, baseado em seu testemunho.
pois, da mesma forma que D'us quis que o Sol nascesse no Leste
e se pusesse no Oeste, que cada planta nascesse no momento Portanto, a testemunha é intimamente compelida a pesar
certo, etc., Ele também desejou que cada homem tivesse o livre cuidadosamente suas palavras, para ter certeza de que aquilo

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que diz representa aquilo que viu. A testemunha não poderá melhoramentos em nossa personalidade e comportamento, antes
depor e depois afastar-se, indiferente às conseqüências de suas mesmo que possamos considerar seriamente esta idéia.
declarações. Precisa entender no âmago de seu coração que
suas palavras terão um efeito cuja repercussão vai muito além do Acabamos de entrar em Elul, o mês hebraico que precede Rosh
tribunal. Hashaná. É um período designado para introspecção e teshuvá,
um mês no qual devemos considerar cuidadosamente o que
O que a Torá está nos dizendo implicitamente é que temos de ser realizamos no ano que passou, e o que esperamos realizar no
extremamente cautelosos antes de acusar alguém de algo errado. futuro. É tempo de abrirmos os olhos em busca da verdade, de
Nossos Sábios dizem-nos para sermos "deliberados no afastar todos os preconceitos e obstáculos que nos impedem de
julgamento" (Pirkê Avot 1:1). Eles nos encorajam a sermos lentos pensar claramente. Com isso em mente, estaremos
em condenar. Não julgue rapidamente, pois uma declaração que adequadamente preparados de começar de novo no ano
tenhamos entendido erradamente pode causar dano irreparável a vindouro, e sermos capazes de empenharmo-nos muito além dos
outra pessoa. "subornos" que tão drasticamente impedem nosso crescimento
espiritual.
Que sejamos extremamente cuidadosos quanto à veracidade
daquilo que falamos, e consideremos as conseqüências de Sejamos juízes de nós mesmos.
nossas declarações.
Criando um receptáculo
Sem subornos
O que é seu ninguém tira. Às vezes estas palavras ou algo com o
por Michael Alterman mesmo sentido é dito com um olhar sério ou com o dedo em riste.
Outras vezes, a declaração pretende assegurar que tudo (de
A Torá ordena, no início da porção desta semana, que é proibido bom) que estiver destinado a você, você receberá; ninguém pode
para um juiz aceitar qualquer suborno, como explica o versículo: tirar de você aquilo que lhe está destinado.
"O suborno cegará os olhos do sábio e distorcerá as palavras do
justo" (Devarim 16:19). Um de nossos grandes sábios, Ben Azzai, declarou no Talmud:
"Você será chamado por seu nome, sentará em seu lugar,
Rashi comenta ainda que esta injunção aplica-se a todos os receberá aquilo que é seu. Ninguém toca naquilo que está
casos a qualquer tempo, mesmo se o juiz ainda planeja julgar o destinado a outro. Nenhum reino toca o vizinho, nem mesmo num
caso corretamente. Tal lei, entretanto, parece difícil de entender, fio de cabelo." (Yoma 38 a-b).
pois se uma pessoa tem certeza absoluta de que o suborno que
está aceitando não terá efeito adverso algum sobre seu Aquilo que está destinado a ser seu, será seu. Isso se aplica a
julgamento, então por que não lhe seria permitido aceitar um encontrar a alma gêmea, receber promoções e bônus, figurar no
presente de um litigante? O que está errado em receber algum quadro de honra.
dinheiro "por fora"?
Então de que adianta – perguntaria você – tentar? Para que se
Para responder a isso, o Talmud (Tratado Ketubot 105b) oferece esforçar, trabalhar duro e gastar o tempo em algo que está "vindo
uma profunda introvisão na psicologia humana. Nossos Sábios para você", de qualquer forma?
ensinam que assim que a pessoa aceita um suborno, sua opinião
automaticamente inclina-se a favor do argumento daquele A declaração de Ben Azzai não pretende nos encorajar a
litigante, a tal ponto que torna-se praticamente impossível permanecer sentados, relaxando, esperando que tudo aconteça.
permanecer emocionalmente isento. Com efeito, o juiz e o Pois, para receber realmente tudo que nos pertence, é preciso
litigante tornam-se uma só pessoa, pois seu raciocínio e opiniões trabalhar. Às vezes este trabalho é físico. Às vezes é intelectual.
estão intrinsecamente ligados. De repente, o juiz fica incapaz de O tempo todo é espiritual: prece, auto-desenvolvimento, mitsvot.
ouvir o outro lado da questão, pois tornou-se pessoalmente Todos estes esforços ajudam a pessoa a aprofundar e ampliar o
envolvido no caso. Como resultado, mesmo se o juiz pretende "recipiente" no qual D’us pode "despejar" as bênçãos Divinamente
realmente decidir de forma correta, pois é incapaz de enxergar a pré-ordenadas.
si mesmo como culpado, achará muito mais difícil decidir contra a
pessoa que pagou-lhe o suborno. O juiz tornou-se cego. Mas para começar, deve-se fazer um "recipiente" para as próprias
bênçãos Divinas. A pessoa deve fazer um recipiente dentro de si
À primeira vista, a pessoa pode pensar que isso tudo é muito que esteja preparado para conter a bondade Divina que lhe é
interessante mas totalmente desconectado com a vida cotidiana e devida. Cumprir mitsvot fornece o material e o know-how para
as decisões comuns tomadas por pessoas normais. Pode-se construir o recipiente. Este é criado pelas mitsvot que são feitas
pensar que apenas juízes e aqueles de grande influência para cumprir a vontade de D’us, não a nossa, mas a Dele . Ao
precisam preocupar-se com problemas de nível tão elevado. anular a própria vontade, a pessoa cria um receptáculo vazio. E
Entretanto, nada poderia estar mais longe da verdade. Quando um receptáculo vazio tem mais espaço no qual as bênçãos
tentamos tomar decisões em nossas próprias vidas, enfrentamos podem ser canalizadas que um recipiente repleto ou parcialmente
preconceitos debilitantes similares, que nos cegam à adoção de cheio.
novas idéias que poderiam aplicar-se àquilo que estivemos
fazendo até agora. Deixamos de considerar se estamos ou não O conceito de criar um recipiente para a bênção de D’us ,
agindo corretamente, pois é sempre mais fácil manter o status acrescentando-se mitsvot ao repertório de mitsvot de alguém, ou
quo. cumprindo mais escrupulosamente uma mitsvá, é uma sugestão
recorrente nos ensinamentos do Rebe. Mais que simplesmente
Nesta maneira auto-destrutiva, nosso conforto com a situação já "Você faz uma para mim e eu farei uma para Você", cumprir
estabelecida nos "suborna" a decidir não fazer quaisquer mitsvot cria um "tanque de mitsvot", e um "baú do Tesouro de

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Torá" que pode ser enchido com o bem ilimitado e bênçãos de Se ele ainda a quisesse, e ela concordasse em tornar-se judia, o
D’us: Infinito e Ilimitado. Bêt Din (tribunal) a tornaria guiyoret após um mês. Ela deveria
observar todas as mitsvot, e ser tratada como qualquer mulher
49 - Parashat Ki Tetsê Deuteronômio 21:10-25:19 judia.

Desposar uma Mulher Cativa No passado, era permitido a um homem ter mais de uma esposa.
Se esse soldado já tivesse uma esposa judia, a cativa tornava-se
Moshê continuou a ensinar as mitsvot que se aplicam à época em sua segunda esposa. A Torá, através de uma alusão, adverte que
que o povo judeu vive em Erets Yisrael. Nestas, incluem-se ele provavelmente odiará a yefat toar, a cativa de guerra. Como
mandamentos a respeito da agro-pecuária e cuidado com sabemos disto?
animais; sobre vestuário, vida familiar e comportamento
comunitário. Porque o próximo assunto do qual a Torá fala é sobre um marido
que tem duas esposas e odeia uma delas. Quando o soldado viu
Moshê também repetiu algumas mitsvot que não eram novas, a a yefat toar pela primeira vez, ficou cego por sua beleza. Não
fim de explicá-las mais ampla e profundamente. Por exemplo: um levou em conta se ela seria ou não uma esposa adequada para si.
judeu não pode vestir shatnez (uma mistura de lã e linho); deve Uma vez casado, começou a pensar: "Como pude querer essa
atar tsitsit a uma vestimenta de quatro cantos; e não se pode moça? Ela não é tão fina, delicada e educada como uma esposa
utilizar pesos e medidas adulterados. Explicaremos agora judia deve ser!" Ele se lamentaria e se arrependeria de ter se
algumas das novas mitsvot. casado com ela, até que, finalmente, começaria a odiá-la.

Yefat Toar Se isso acontecesse, ele poderia pensar: "Farei dela uma
escrava! Ou talvez a venda como escrava!" Mas a Torá o proíbe
Durante uma guerra, o exército judaico às vezes captura inimigos
de agir assim: "Você a tomou por esposa, agora, deve tratá-la
e os mantém como reféns. O que acontece se um soldado judeu
bem!"
vê uma mulher cativa e deseja casar-se com ela?
A Herança do Primogênito e o Filho Rebelde
D’us disse: "Se Eu proibir os judeus de se casarem com não
judias cativas, alguns soldados podem não conseguir derrotar seu O Primogênito
yetzer hará (mau instinto). Eles pecarão, de qualquer maneira.
Portanto, permitirei isto; contudo, eles devem observar leis Um homem pode ter duas esposas e não gostar de uma delas. O
especiais, bastante difíceis. Assim, talvez o soldado mude de que acontece se seu filho primogênito é da esposa da qual ele
idéia." não gosta? O pai pode não querer legar-lhe seu duplo quinhão de
primogênito. Em vez disso, pode querer dar a porção dupla ao
Que leis são estas? As leis de yefat toar aplicam-se apenas sob a filho de sua esposa favorita. A Torá o proíbe de agir desta forma.
liderança de um rei judeu; atualmente, elas não se aplicam: Um pai não pode negar ao primogênito a parte da herança que
lhe cabe.
1. Quando o soldado judeu levar a yefat toar, a cativa de guerra, à
sua casa, ela deve raspar todo o seu cabelo. Porque esta lei aparece na Torá após o tema da yefat toar?

Por que D’us ordenou isto? Talvez o soldado tenha se sentido A Torá indica que mesmo que um judeu pudesse eventualmente
atraído pela sua beleza. Ao raspar seu lindo cabelo, ele poderia odiar a yefat toar, ele deveria tratar o primogênito que ela
não desejá-la mais. porventura lhe desse de maneira justa e equânime.

2. Ela deve deixar suas unhas crescerem, para que tenham uma A seguir, a Torá explica as leis do filho rebelde. Isto é uma
aparência horrível. indicação de que a yefat toar poderia dar à luz um filho assim.

3. Ela deve despir-se de suas belas vestimentas. Ben Sorer Umorê: O Filho Rebelde

O soldado agora olharia para ela e se perguntaria: "Como pude O que é o "ben sorer umorê"?
sequer pensar em casar-me com ela, em vez de com uma mulher
judia? Ela não é tão bela quanto pensei. Estava errado em querê- Um exemplo: Um rapaz se torna bar-mitsvá, e nos três meses
la! Ele talvez a deixe ir, agora. seguintes, rouba dinheiro de seu pai. Com esse dinheiro, compra
carne e vinho. Ele passa o tempo com pessoas de má índole, e
na presença delas, devora carne semicrua, enfiando-a goela
abaixo, e traga o vinho sofregamente.
Contudo, se ainda a quiser como esposa, ela permanece em sua
casa por um mês. Ela deve se preparar para ser uma guiyoret Duas pessoas testemunharam seus atos. Elas tentaram dissuadi-
(convertida). Somente após a conversão um judeu poderia casar- lo para não comportar-se de forma tão rude e grosseira. Se o
se com ela. rapaz não se corrigir, os pais podem levá-los a um Bêt Din de três
juízes, a fim de contar-lhes o que aconteceu. Os juízes ordenam
Durante esse mês, ela deveria prantear seus pais, os quais
que o jovem seja açoitado (malkot), com o propósito de melhorar
estava deixando. O soldado a veria chorando e infeliz. Isto
seu comportamento. Todavia, o jovem reincide em seus erros.
poderia fazê-lo pensar: "Será que eu realmente preciso de uma
Rouba novamente, empanturra-se de carne e embriaga-se de
mulher assim? Afinal de contas, talvez seja melhor não me casar
vinho, de maneira indecente, na frente de seus amigos.
com ela!"
Seus pais agora o levam à presença de um Bêt Din de vinte e três
juízes. Se determinadas condições forem preenchidas, o rapaz é
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condenado à morte. Ele é chamado de "ben sorer umorê". Será carteira. Não se pode usar a carteira, mesmo se o dono nunca a
que esse jovem merece morrer, só porque roubou dinheiro e reclamar.
empanturrou-se de carne?
A mitsvá de devolver os objetos perdidos "aparece" em nossa
D’us disse: "É verdade, até agora ele é culpado apenas de vida com freqüência. É uma oportunidade de cumprir mais uma
pequenos delitos. Porém se ele continuar a viver, tornar-se-á um mitsvá!
ladrão e assassino! É melhor que morra jovem, do que cometa
pecados mais graves." Na época do Bet Hamicdash havia um local fora de Yerushalayim,
para guardar objetos perdidos. Quem achasse um objeto, poderia
Alguma vez um jovem judeu foi condenado à morte por ser ben ir até lá e anunciar seus achados; e os que perdessem algo,
sorer umorê? poderiam lá reclamar suas perdas. Após a destruição do Templo,
proclamas de achados e perdidos eram realizados nas sinagogas
A resposta é: Não! Jamais foram preenchidas todas as condições e Batê Midrashim (casas de estudos).
necessárias. Por exemplo: o rapaz não pode ser condenado à
morte se roubou dinheiro de outra pessoa, que não seu pai. Histórias
Tampouco pode ser sentenciado à morte se não ingerir a comida
da maneira como nossos sábios chamam de "repugnante". Além Como Nossos Sábios Cumpriam esta Mitsvá
disso, se o rapaz ainda não tem idade de bar-mitsvá, ou se já
decorreram três ou mais meses desde seu bar-mitsvá, as leis de Certa vez, Rabi Shemuel bar Susretei viajou a Roma. Lá, ouviu
ben sorer umorê não são aplicáveis. um servo real proclamar: "A rainha perdeu um bracelete precioso!
Quem quer que o encontre dentro de trinta dias receberá uma
Se esse caso realmente nunca aconteceu, porquê D’us pôs esse recompensa de 1000 peças de ouro. Se o bracelete for
assunto na Torá? encontrado em posse de alguém após os trinta dias, ele será
morto!"
D’us queria que estudássemos estas leis por dois motivos. O
primeiro é para sermos recompensados por as termos estudado. A rainha tinha certeza de que a recompensa em moedas de ouro
E o segundo é para que aprendamos uma lição. Por exemplo: Os seria um incentivo para que procurassem o bracelete. Esperava
pais podem preferir ser lenientes com a desobediência e gula de que em breve alguém o encontrasse e devolvesse.
uma criança. Podem considerar sua má conduta como
relativamente inócua. A Torá, contudo, proclama: "Não tolere seu Um belo dia, Rabi Shemuel estava andando na praia, quando
comportamento! Não o declare inocente! É necessário intervir!" avistou algo brilhando na areia. O bracelete perdido! Rabi
Shemuel guardou o bracelete até que os trinta dias findassem. Só
Essa questão desta forma ensina aos pais a obrigação de educar então ele o devolveu à rainha.
seus filhos no caminho da Torá e mitsvot, e a repreendê-los; e
também inculcar neles os elevados e virtuosos valores judaicos. "Você sabe que há uma punição por devolver o bracelete após
Quando jovens, crianças não gostam dessas restrições; mas, um trinta dias?
dia, serão gratas a seus pais. Por isso, foram ensinadas a seguir
"Sim," respondeu Rabi Shemuel.
o caminho correto, tornarem-se judias cujas vidas são pautadas
pela Torá; disciplinadas, atenciosas e prestativas. Foram "Porquê, então, você esperou tanto antes de devolver o
educadas para verdadeiramente aproveitar a vida. Uma criança bracelete?" perguntou ela.
mimada e egoísta transformar-se num adulto infeliz. Todavia, uma
criança que se transforma num adulto realizado, decidirá: "Queria mostrar a você," explicou Rabi Shemuel, "que a razão de
"Educarei meus filhos da mesma maneira!" eu ter devolvido o bracelete não é porque a temo, mas porque
temo a D’us!"
O rei Salomão admoesta (Mishlê, 1:8): "Shemá bení mussar
avicha, ve al titosh torat imecha" - "Ouça, meu filho, os conselhos "Louvado seja o D’us dos judeus!" exclamou a rainha.
de teu pai, e não te afastes dos ensinamentos de tua mãe."
A mitsvá de hashavat avedá aplica-se quando trata-se de um
Devolução de Objetos Perdidos proprietário judeu. Contudo, é uma obrigação judaica devolver um
objeto perdido a qualquer pessoa, pois nosso comportamento em
A Mitsvá de Hashavat Avedá todas as esferas da vida deve ser o de fazer kidush Hashem
(santificar do nome de D’us).
Se alguém encontrar um objeto perdido, é mitsvá devolvê-lo ao
proprietário. Contudo, se o objeto vale menos que uma perutá Nossos sábios nos contam também acerca da extraordinária
(cerca de dez centavos de real), não é necessário devolvê-lo. maneira como Rabi Pinchas ben Yair cumpria essa mitsvá. Certa
Também não é preciso devolver algo que o dono não possa vez, dois judeus deixaram com ele duas medidas de grãos de
identificar. trigo. Rabi Pinchas semeou-os, e depois armazenou a colheita em
seus silos. Sete anos depois, os dois judeus retornaram.
Um exemplo: você encontra uma nota de R$100,00 no chão.
Todas as notas de R$100,00 se parecem, e o dono, Rabi Pinchas mostrou-lhes um armazém repleto de grãos e disse-
provavelmente, não a reconheceria. Portanto, o dinheiro é seu. Se lhes: "Tudo isto é de vocês!"
o dinheiro, porém, estiver dentro de uma carteira, deve-se guardar
a carteira com o dinheiro, até que o dono a reclame. Antes de Rabi Pinchas ben Yair era um grande tzadic. Ele fez mais do que
devolvê-la, pede-se que o dono descreva a carteira. Se a a mitsvá requeria. Teria sido suficiente se ele simplesmente
descrição for correta, esta precisa ser devolvida. Colocam-se guardasse o trigo. Ou, se o trigo estivesse começando a se
avisos pela vizinhança, notificando o fato de ter encontrado uma

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estragar, ele poderia ter vendido o trigo e entregue o dinheiro aos Outra explicação é que a mãe-pássaro fica muito triste ao ser
proprietários. separada de seu ninho. Ela chora de sofrimento, despertando,
assim, a misericórdia de D’us. Por conseguinte, D’us é
A Mitsvá de Ajudar um Judeu a Carregar seu Animal misericordioso com todos os que por Ele clamam.

Se uma pessoa está viajando por uma estrada, e percebe um Contudo, não precisamos de uma explicação para cumprirmos
companheiro judeu cujo animal arriou, devido à pesada carga em uma mitsvá. Ao realizar uma mitsvá, devemos pensar: "Fazemos
suas costas; ela não deve continuar a viagem, mas sim, parar e a mitsvá porque D’us a ordena!"
ajudar o proprietário a descarregar o fardo que está sobre o
animal. Também é uma mitsvá ajudar um judeu a carregar seu Qual a recompensa da mitsvá de de afugentar a mãe do ninho? A
animal. Torá promete: "Será bom para ti. Terás uma vida longa."

O que acontece se o dono do animal disser: "Por favor, coloque a Que outra mitsvá da Torá promete vida longa? A mitsvá de honrar
carga sobre o animal para mim," mas não quiser ajudar? os pais.

Não somos obrigados a fazer o todo o trabalho sozinho. Porém, É muito mais difícil cumprir a mitsvá de honrar os pais que a de
se ele se recusar a ajudar a descarregar, precisamos fazer esta afugentar a mãe do ninho. A mitsvá de kibud av vaem (honrar pai
tarefa sozinhos. Já que o animal está sentindo desconforto e e mãe) demanda muito mais tempo e dedicação!
sofrendo, devemos fazer de tudo para evitar tzaar baalê chaim,
causar sofrimento a um ser vivo. Neste caso, contudo, pode-se Afugentar a mãe do ninho, em comparação, é bem mais simples.
exigir pagamento por este trabalho. Não constitui grande esforço, e leva só alguns instantes.

A Torá quer que colaboremos com um judeu que necessita de Como a Torá pode prometer a mesma recompensa tanto para
auxílio. uma mitsvá difícil como para uma fácil?

Vestimentas Apropriadas O seguinte mashal, parábola, nos ajudará a compreender.

Um homem judeu não pode vestir trajes ou jóias normalmente O Jardim do Rei
utilizados por mulheres, e uma mulher não pode usar roupas
masculinas. Um rei possuía um lindo jardim, com diversas espécies de
árvores, como laranjeiras, macieiras e pereiras. No jardim também
"Lo yihyê kli guever al ishá, velo yilbash guever simlat ishá"; "Não cresciam plantas raras, e verduras fresquinhas. O rei contratou
haverá traje de homem na mulher, e não usará o homem jardineiros para cuidarem do jardim. Cada jardineiro era
vestimenta de mulher." ( Ki Tetzê, 22:5) responsável por uma planta.

A Torá quer que respeitemos e preservemos a distinção que D’us Ao término de um mês, o rei mandou que todos os jardineiros se
criou entre os sexos. A proibição impede um homem de vestir-se apresentassem, pois ele iria lhes pagar. O rei perguntou ao
como mulher a fim de misturar-se com mulheres, e vice-versa, primeiro jardineiro: "De que planta você cuidou?"
evitando, assim, imoralidade e promiscuidade, abominadas por
D’us. "Da pimenteira," respondeu o operário.

De acordo com o Midrash, armas são consideradas artigos "Por isso, você receberá uma moeda de ouro," disse-lhe o rei.
masculinos; portanto, mulheres são proibidas de carregá-las. Satisfeito, o trabalhador recebeu seu salário e saiu.
(Mesmo sem carregarem armas, a Torá proíbe a presença de
"Você cuidou de que planta?" perguntou o rei ao próximo
mulheres no exército, uma vez que esta mistura leva à
trabalhador.
devassidão. Nota: Em Israel há jovens religiosas que servem o
país desempenhando outras funções que valem como serviço "Cuidei das esplêndidas flores brancas," replicou o jardineiro.
militar e que não ingringem a Torá.)
"Por isso, você receberá meia moeda de ouro," disse o rei.
Afastar o Pássaro-Mãe de seu Ninho
Ao questionar o terceiro jardineiro, este respondeu que cultivara a
Kan Tzipor oliveira.
Se um judeu quiser pegar os ovos ou os filhotes de um ninho, ele "A oliveira me é muito cara," disse o rei. "Você receberá duzentas
deve, antes, afugentar o pássaro-mãe. Se a ave retornar, ele moedas."
precisa afugentá-la novamente. Não é permitido pegar os ovos ou
os filhotes do ninho enquanto a mãe ainda estiver perto. Esta E desse modo, o rei pagou todos os jardineiros. Alguns
mitsvá se aplica apenas às aves selvagens casher. Se alguém receberam altos salários, outros bem menos. Não demorou muito
cria patos ou galinhas em seu quintal, pode pegar os ovos. para que os jardineiros começassem a discutir e brigar entre si.

A Torá não nos diz porque temos de afugentar a mãe do ninho. "Sua Majestade," reclamaram, "porque não nos disse o salário
Uma explicação é que D’us não quer que destruamos uma família para cada planta antes que começássemos a trabalhar? Assim,
inteira de pássaros de uma vez. Do mesmo modo, Ele proibiu-nos poderíamos ter escolhido com quais plantas trabalharíamos!"
de abater a mãe de um animal e suas crias no mesmo dia. Estas
mitsvot nos ensinam a sermos misericordiosos. "É exatamente por isso que não lhes revelei seu salário de
antemão," sorriu o rei. "Preciso de todas as plantas deste jardim.

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Se eu tivesse lhes dito que o pagamento para determinadas Rav replicou: "Desta vez não será necessário, pois Rav Ahada
plantas é menor, ninguém se daria ao trabalho de cultivá-las." está conosco. Seu zechut (mérito) é tão grande que tenho certeza
de que nenhum mal nos sucederá."
A Lição da Parábola
Outro sábio, Rav Huna, estava preocupado com sua adega. As
D’us quer que cumpramos tantas mitsvot quantas forem possível. paredes estavam tão vacilantes que ele temia entrar na adega.
Se Ele nos tivesse dito de antemão a recompensa para cada Mas era uma pena desperdiçar tantos barris de vinho. Se as
mitsvá, as pessoas se dedicariam mais para cumprir as mitsvot de paredes ruíssem, esmagariam os barris, e o vinho se perderia.
maior relevância, e negligenciariam as de menor recompensa.
Para nos mostrar que não devemos tentar calcular que mitsvá é "Como posso retirar o vinho em segurança?" perguntou-se Rav
mais "valiosa", D’us nos dá a conhecer que ambas as mitsvot, Huna. Então, teve uma idéia: "Sei que as paredes não tombarão
honrar os pais e afugentar a mãe do ninho têm a mesma enquanto o tsadic Rav Ahada lá permanecer. Vou chamá-lo."
relevância. Disto aprendemos que não podemos saber a
recompensa de cada mitsvá . Isto nos ajuda de duas maneiras: Rav Huna convidou Rav Ahada à sua casa. Eles discorreram
sobre assuntos da Torá. Rav Huna e seu convidado adentraram a
1. Cumpriremos igualmente todas as mitsvot. adega, enquanto continuavam a falar de temas da Torá. Rav
Huna fez sinal para que seus criados removessem os barris para
2. Cumpriremos as mitsvot leshem shamayim, para cumprir a fora. Assim que a adega foi evacuada, Rav Huna conduziu seu
vontade de D’us, e não por termos alguma recompensa em inocente amigo para fora. Neste instante, as paredes ruíram!
mente. Quando Rav Ahada percebeu que foi usado para salvar o vinho
de seu anfitrião, ficou aborrecido:
Fazer Cercas em Áreas Perigosas
"Você correu um grande risco," reclamou para Rav Huna. "Não
Maakê – Construir Cercas em Áreas Perigosas sou um tsadic perfeito. Poderíamos ambos termos sido soterrados
sob os escombros! Ninguém pode colocar-se numa situação de
Moshê ordenou: "Se você se mudar para uma casa com laje ou
perigo e então confiar num milagre que o salvará!"
varanda que utilizará, deve imediatamente construir uma forte
cerca protetora que a circunde." Vemos dessa história que Rav Huna não se considerava um
tsadic fora do comum. Era um homem muito humilde, a despeito
A cerca deve ter no mínimo dez tefachim (80 cm) de altura.
de sua grandeza. O Talmud nos conta muitas coisas maravilhosas
D’us protege os tsadikim de qualquer infortúnio. Não obstante, sobre Rav Huna. Em seus últimos anos, sempre que havia uma
temos de tomar precauções contra acidentes, pois D’us quer que forte tempestade, costumava percorrer a cidade numa carruagem.
ajamos de acordo com as leis da natureza, que Ele criou. Ele inspecionava todas as casas, para verificar quais delas eram
seguras. Quando avistava uma parede cujas estruturas estavam
Também é proibido que alguém deixe largados em sua abaladas, aconselhava o proprietário a reconstruí-la. Com
propriedade objetos perigosos ou que ofereçam riscos, tais como freqüência, Rav Huna encontrava um pobre cuja choupana era
uma escada quebrada. Esta mitsvá também se refere a qualquer frágil. Caso o pobre lhe dissesse: "Não posso arcar com as
situação perigosa, como piscinas ou escadas altas. despesas de uma reforma." Rav Huna contribuía com seu próprio
dinheiro para reconstruir a casa.
Se alguém ferir-se ou morrer porque um proprietário não tomou as
devidas precauções, este é culpado pelo acidente; apesar de que Mitsvá Goreret Mitsvá
nenhum acidente ocorre acidentalmente", ou seja, sem o
consentimento Divino. Não obstante, somos advertidos para não Dizem nossos sábios: Um pecado leva a outro, uma mitsvá atraí
sermos os agentes culpados de algum infortúnio. outra.

Histórias Como as mitsvot desta parashá estão relacionadas umas às


outras?
Nossos Sábios Preocupavam-se com a Segurança
A parashá começa com o tema da yefat toar. Se um judeu se
casar com uma yefat toar, ele terá duas esposas. Elas discutirão,
e o marido logo odiará uma delas. A yefat toar provavelmente
Certa vez, na cidade de Nahardaya, em Bavel, havia um muro dará à luz um ben sorer umorê (filho rebelde).
instável. Contudo, as pessoas passavam perto dele. Elas
asseveravam umas às outras, dizendo: "Este muro está assim há O início da parashá nos mostra como uma averá leva à outra.
treze anos, e nunca ocorreu nenhum acidente. Provavelmente, é
seguro!" Analogamente, mitsvot conduzem a mais mitsvot.

Todavia, dois sábios, Rav e Shemuel recusavam-se a andar rente Se alguém cumpre a mitsvá de afugentar o pássaro-mãe de seu
ao muro. "É perigoso," diziam. Eles sempre se desviavam de seu ninho, D’us o recompensará com uma casa. Então, ele terá a
caminho, para não passar perto do muro. chance de cumprir a mitsvá de construir uma cerca de proteção
(maakê). Em decorrência disto, D’us lhe dará campos, onde
Um dia, Rav Ahada bar Ahava, que era um grande tsadic, visitou cumprirá a mitsvá de kilayim (não semear duas espécies
os chachamim (sábios). diferentes juntas). D’us, então, lhe concederá animais, com os
quais cumprirá a mitsvá de não arar sua plantação usando dois
Os três saíram juntos, e chegaram perto do muro. Shemuel disse animais diferentes, atrelados juntos.
a Rav: "Vamos circundá-lo, como sempre fazemos."

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Como recompensa, D’us lhe dará roupas com as quais poderá
agora cumprir a mitsvá de tsitsit. E assim a lista continua. Mas porque é permitido que suas mulheres convertidas casem-se

Casamentos Proibidos com judeus?

Moshê continuou a explicar as leis sobre a vida familiar judaica. As mulheres moabitas e amonitas não têm culpa de terem negado

Geralmente, é permitido casar-se com um não judeu, homem ou hospitalidade. Não seria um ato de recato as mulheres terem

mulher, desde que ele(ela) tenha se convertido ao judaísmo saído para saudar estrangeiros com alimentos. Isto era uma

conforme a Halachá, Lei Judaica e passa a cumprir todas as obrigação exclusiva dos homens, não das mulheres. Outro motivo

mitsvot. Contudo, há exceções, como veremos na tabela abaixo. pelo qual D’us proíbe o casamento com amonitas e moabitas é

porque, em Shitim, eles enviaram suas filhas para que Benê


Casamentos Entre Judeus e Não Judeus:
Yisrael caíssem em tentação e pecassem. Tentar destruir o povo

Guiyoret judeu espiritualmente é muito mais grave sua destruição física.


Nação Guer (Convertido)
(Convertida)
Convertidos de Edom
Amon Proibido Permitido

Moav Proibido Permitido Convertidos de Edom, homens ou mulheres, podem casar-se com

outros convertidos (de sua nação ou de uma outra diferente), mas


Permitido na 3ª Permitido na 3ª
Edom
geração geração não com um judeu de nascimento. Seus filhos também só

Permitido na 3ª Permitido na 3ª poderão casar-se com guerim. Mas seus netos, homens e
Egito
geração geração
mulheres, podem casar-se com judeus natos.

Explicando a tabela:
Por quê?
Convertidos de Amon e Moav

Os edomitas são descendentes de Essav. São parentes próximos


Moshê explicou: " Os amonim e moavim são descendentes de
de Benê Yisrael, e têm o mérito de descender dos santos filhos de
Lot, sobrinho de Avraham. Lot devia sua vida a Avraham.
Avraham. Por este motivo, D’us releva o mal que fizeram a Benê
Avraham resgatou-o quando foi capturado pelos quatro reis que
Yisrael. Quando Benê Yisrael se aproximou do país de Edom, os
conquistaram Sedom. O mérito de Avraham também salvou Lot
edomitas mobilizaram seus exércitos. Agiram belicosamente, pois
quando os perversos de Sedom foram destruídos.
foram ensinados por seus antepassados que Yaacov tomou a

"Amon e Moav deveriam ter sido bondosos e solícitos com Benê primogenitura de Essav.

Yisrael, pois devem sua própria existência a Avraham Ao invés


A Terceira Geração de Convertidos Egípcios
disso, foram cruéis. Quando Benê Yisrael aproximaram-se das

terras de Amon e Moav, o povo não ofereceu pão e água a Benê Assim como os edomitas, os convertidos egípcios precisam

Yisrael. Eles não sabiam que os judeus tinham o man e o poço de aguardar até a terceira geração para casar-se com judeus natos.

água de Miriam. Sabiam que Benê Yisrael estavam cansados e Transcorridas essas gerações, eles poderiam casar-se com Benê

famintos, porém recusaram-se a oferecer-lhes hospitalidade. Yisrael.

Moav chegou até a contratar o feiticeiro Bil’am para maldizer Benê


Isto é surpreendente. Acaso os egípcios não escravizaram nosso
Yisrael. Como tinham mau caráter D’us não queria que o povo
povo? Acaso não causaram enorme sofrimento ao Povo de
judeu se casa-se com eles."
Israel? Como lhes é dada esta permissão?

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perante testemunhas). Os diversos detalhes haláchicos de como
Quando Yaacov e sua família desceram ao Egito, durante a fome, escrever um guet também impedem que o marido queira, num
ímpeto, "divorciar-se" de sua esposa quando, digamos, ele estiver
os egípcios os convidaram a ficar. No princípio, trataram bem os
de mau humor.
judeus.
Se um judeu divorcia-se de sua esposa e esta casa-se
Divórcio e Leis sobre Garantia de Empréstimos novamente, a Torá proíbe que seu primeiro marido case-se de
novo com ela, mesmo após a morte do segundo marido, ou se ela
O Guet divorciou-se dele. Esta proibição impede a possibilidade de trocas
previamente combinadas de esposas, sob o manto protetor da
A Torá não exige que um casal que não se entenda permaneça legalidade.
atado um ao outro até o fim de suas vidas. Mesmo assim, nossos
sábios, os mais humildes e pacientes dos homens, toleravam Leis Sobre Garantia de Empréstimos
esposas geniosas e irritantes, como nos ilustram os casos a
seguir: Enumeramos algumas leis da Torá sobre garantias de
empréstimos:
A esposa de Rav causava-lhe constantes aborrecimentos.
Quando ele lhe pedia que cozinhasse lentilhas, ela cozinhava *Não se pode aceitar como garantia algo que o comodatário
ervilhas, e vice-versa. necessite para preparar seus alimentos; por exemplo: a mó que
ele utiliza para moer a farinha.
Quando seu filho, Chiya, cresceu e começou a levar mensagens
de seu pai para sua mãe, compreendeu que deveria invertê-las, *Também não se pode confiscar do comodatário a faca para
para que seu pai recebesse o prato que realmente queria. Rav shechitá, seu forno, ou qualquer outro objeto necessário para o
comentou com seu filho: "Sua mãe melhorou." preparo de refeições.

"Ela melhorou porque sempre lhe digo o contrário do que você Se você emprestar dinheiro a alguém e esquecer-se ou não se
pede," elucidou o garoto. der ao trabalho de pedir uma garantia, você não poderá exigi-la
depois. Em vez disso, você dirá ao Bet Din (tribunal) que
Apesar de admitir que foi uma ótima idéia, Rav proibiu seu filho de emprestou dinheiro a alguém e quer uma garantia. O Bet Din
continuar a trocar as instruções. "Ninguém deve acostumar-se a enviará mensageiros que exigirão uma garantia. É proibido ao
mentir," explicou. mensageiro do Bet Din até mesmo entrar na casa do comodatário.
Ele deve esperar do lado de fora até que o comodatário lhe traga
Não obstante a esposa de Rabi Chiya causar-lhe muitos a garantia.
aborrecimentos, ele mesmo assim levava-lhe presentes. Quando
Rav indagou a seu filho, Rabi Chiya, o porquê, ele retrucou: *O que acontece se o comodatário for tão pobre que não possua
nada valioso para usar como garantia? Ele pode dizer ao cedente:
"Ficamos satisfeitos por nossas esposas educarem nossos filhos, "Você pode reter minhas roupas como garantia." Se ele der seus
e nos salvarem de pensamentos pecaminosos." pijamas, e não tiver outros, a Torá ordena que o cedente devolva
os pijamas toda noite. Em seu lugar, o cedente pode reter as
Podemos perceber o quão importantes e vitais são a paciência e roupas diurnas do comodatário durante a noite. De manhã, o
autocontrole para manter a harmonia no lar (shalom bayit). cedente pode pegar os pijamas novamente. Se o comodatário der
as roupas que veste de dia ao cedente, este poderá retê-las
Contudo, se um divórcio é inevitável, a Torá ordena um judeu a apenas durante a noite, e é obrigado a devolvê-las todas as
dar o guet, um documento de divórcio, à sua esposa. Assim como manhãs.
um casamento judaico tem status legal somente se forem
realizadas as cerimônias de chupá e kidushin, também um *Ninguém pode aproveitar-se de um judeu, e fazê-lo sofrer porque
divórcio requer um guet, um documento cujo texto exato envolve deve dinheiro.
muitos detalhes. Qualquer discrepância nas exigências haláchicas
no tocante às palavras ou ao estilo invalida o guet. A Torá nos inculca traços de caráter positivos.

Se um guet está haláchicamente inválido, a esposa "divorciada" Se uma viúva pedir um empréstimo, não se pode pedir-lhe
continua a manter seu status de mulher casada. Casar-se com garantia. A Torá compreende que a vida de uma viúva é difícil.
outro marido constitui adultério, e uma criança que nasça deste Não devemos dificultar-lhe ainda mais, pedindo-lhe garantias.
matrimônio é um mamzer (proibido de se casar com um judeu
nato). A fim de evitar danos irreparáveis para as futuras gerações, Leis Sobre Garantia de Empréstimos
é de vital importância entrar em contato com um rabino ortodoxo
perito em administrar um guet de acordo com a halachá, para que Enumeramos algumas leis da Torá sobre garantias de
o guet seja válido. empréstimos:

Se o rabino não souber todo o procedimento do divórcio, ele deve *Não se pode aceitar como garantia algo que o comodatário
indicar ao casal uma autoridade haláchica competente, caso necessite para preparar seus alimentos; por exemplo: a mó que
contrário, são inválidos, de acordo com a lei da Torá, e causam ele utiliza para moer a farinha.
tragédias irreparáveis.
*Também não se pode confiscar do comodatário a faca para
O guet protege a santidade do casamento (similarmente ao shechitá, seu forno, ou qualquer outro objeto necessário para o
kidushin, a cerimônia de casamento realizada em público e preparo de refeições.

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Se você emprestar dinheiro a alguém e esquecer-se ou não se D’us promete que recompensará com abundância material aquele
der ao trabalho de pedir uma garantia, você não poderá exigi-la que é meticulosa e cuidadosamente honesto com os pesos e
depois. Em vez disso, você dirá ao Bet Din (tribunal) que medidas de suas mercadorias.
emprestou dinheiro a alguém e quer uma garantia. O Bet Din
enviará mensageiros que exigirão uma garantia. É proibido ao Relembrando Amalec
mensageiro do Bet Din até mesmo entrar na casa do comodatário.
Ele deve esperar do lado de fora até que o comodatário lhe traga A Torá ordena: "Lembre-se do que Amalec fez a você logo após a
a garantia. saída do Egito!" D’us dividiu o Yam Suf (Mar Vermelho) e afogou
os egípcios. Todas as nações tremiam, apavoradas. Apenas
*O que acontece se o comodatário for tão pobre que não possua Amalec ousou atacar. Eles queriam mostrar que D’us é fraco, e
nada valioso para usar como garantia? Ele pode dizer ao cedente: destruir Seu povo.
"Você pode reter minhas roupas como garantia." Se ele der seus
pijamas, e não tiver outros, a Torá ordena que o cedente devolva "E naqueles dias você estavam cansados de viajar." Os
os pijamas toda noite. Em seu lugar, o cedente pode reter as amalequitas atacaram secretamente, de surpresa, pela
roupas diurnas do comodatário durante a noite. De manhã, o retaguarda, os judeus que andavam do lado de fora das Nuvens
cedente pode pegar os pijamas novamente. Se o comodatário der de Glória.
as roupas que veste de dia ao cedente, este poderá retê-las
"Após estabelecer-se em Êrets Yisrael, o rei judeu deve destruir
apenas durante a noite, e é obrigado a devolvê-las todas as
totalmente a nação de Amalec. Não deve poupar uma alma
manhãs.
sequer."
*Ninguém pode aproveitar-se de um judeu, e fazê-lo sofrer porque
Shaul, o primeiro rei de Israel, foi ordenado a guerrear e destruir
deve dinheiro.
todos os amalequitas. Ele venceu a guerra e matou todos os
A Torá nos inculca traços de caráter positivos. soldados Tomou Agag, o rei amalequita como prisioneiro. Agag
implorou a Shaul que este poupasse sua vida. "Tenha
Se uma viúva pedir um empréstimo, não se pode pedir-lhe misericórdia! Porque devo ser destruído?" suplicou Agag a Shaul.
garantia. A Torá compreende que a vida de uma viúva é difícil.
Não devemos dificultar-lhe ainda mais, pedindo-lhe garantias. Shaul sentiu pena de Agag, e deixou-o viver. Shaul também não
matou todos os animais dos amalequitas, como a Torá exigia. O
As Mitsvot de Yibum erro de Shaul causou trágicos resultados. Para entender melhor,
leia a história a seguir.
Quando um homem morre sem ter deixado filhos, a Torá ordena
que seu irmão case-se com a viúva. Isto se chama um casamento Uma História
yibum.
A Erva Vivificante
Se deste matrimônio nascer um filho, ele é considerado filho do
falecido irmão. Sua alma encontra descanso e consolo no Gan Um homem que viajava a Êrets Yisrael viu dois pássaros
Eden por causa do nascimento desta criança. Este filho herda as brigando. Ao final, um matou o outro. Apareceu um terceiro
propriedades do falecido. Porém, se o irmão do falecido recusa-se pássaro, com uma erva em seu bico. Este colocou a erva sobre o
a se casar com a viúva, eles devem dirigir-se ao Bet Din da corpo do pássaro morto e algo espantoso aconteceu: o pássaro
cidade. A viúva deve descalçar os sapatos de seu cunhado morto voltou à vida.
perante os juízes. Ela cospe no chão, na frente do cunhado, e diz:
"Isto é incrível!" exclamou o homem. Ele correu, para conseguir a
"Isto é o que acontece com aquele que se nega a construir a
erva.
família de seu irmão!"
"Agora poderei ressuscitar os judeus mortos em Êrets Yisrael!"
Esta cerimônia se chama chalitsá. Após a chalitsá, a viúva está
declarou alegremente.
livre para casar-se com quem desejar. Nos casos em que o
cunhado e a viúva são realmente incompatíveis, o próprio Bet Din O homem colocou a preciosa erva na sua mochila e continuou
os dissuade de casarem-se. seu caminho. Pouco depois, avistou uma raposa morta num
campo. "Vejamos se isto funciona mesmo," pensou, e colocou a
Atualmente, não se realizam mais casamentos através de yibum.
erva sobre a raposa. Esta abriu os olhos e saiu andando!
O costume é fazer somente a chalitsá.
O homem ficou maravilhado. Logo passou por um leão morto à
A Proibição de Possuir Falsos Pesos e Medidas
beira da floresta. "Se a erva puder trazer um leão de volta à vida,"
A Torá exige que um judeu utilize pesos e medidas perfeitamente pensou, "saberei que é realmente poderosa." Colocou a erva
exatos e precisos. Não somente é proibido gerir os negócios com sobre o leão. Este levantou-se com um estrondoso rugido.
pesos incorretos, mas também é proibido tê-los em casa. Aquele Quando o leão avistou o homem, abriu a boca imediatamente e
que frauda e trapaceia com pesos ou medidas adulterados é devorou-o.
odioso e abominável aos olhos de D’us. "Você pode enganar seu
O rei Shaul pensou que estava sendo bondoso poupando a vida
próximo, mas não pode enganar a Mim. Assim como Eu sabia
de Agag. Qual foi o resultado?
quem eram, na verdade, os primogênitos no Egito (inclusive os
nascidos fora dos laços matrimoniais), também sei quem é Agag teve um descendente, Haman, que tentou aniquilar todo o
desonesto com os pesos e medidas, e os punirei." povo judeu de uma só vez!

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É uma mitsvá ler os versículos do final desta parashá uma vez por Tomemos outro caso:
ano. Nós os lemos no Shabat que antecede Purim. Desta
maneira, cumprimos o mandamento da Torá de lembrar o que Ela e ele foram vizinhos durante toda a vida. Então, certo dia, ela
Amalec fez ao povo judeu. A história de Purim nos conta como percebe que entre todos os homens no mundo, havia nele algo de
Haman, o iníquo e perverso descendente de Amalec quis destruir especial. Mas por que eles viveram um ao lado do outro, para
o povo judeu; mas D’us os salvou. Na época de Mashiach Amalec começar? Por que os pais de ambos decidiram comprar casas ali.
será completamente destruído. Mas o que levou os pais a tomar aquela decisão? Talvez idéias
que receberam de seus pais. E essas idéias podem ter vindo dos
Um Telhado e Uma Cerca pais de seus pais. Mais uma vez, a cadeia de eventos vai de uma
geração a outra.
A porção desta semana da Torá contém um mandamento
envolvendo cuidados com o telhado, para que ninguém caia dele. Vejamos um terceiro caso:
"Quando construir uma nova casa, você deve colocar uma
balaustrada ou cerca ao redor do telhado. Não permita que uma Ela foi do Brasil a Israel para estudar. Ele veio da Austrália numa
situação perigosa exista em sua casa, pois alguém pode cair de viagem turística. Um encontro ao acaso e houve um estalo. Eles
[um telhado sem proteção]. podem ter vindo de cantos opostos do mundo, mas de alguma
forma agora estão juntos.
Uma cerca é colocada ao redor do telhado não apenas para auto-
proteção, porém mais ainda para proteger outros de caírem do Sempre que uma pessoa encontra "alguém" especial, é como se
telhado. ocorresse um milagre. De alguma maneira, por meio de uma
sucessão de coincidências e cadeias de eventos, D'us os
Um telhado – a parte mais alta da casa – indica egoísmo e aproximou. É um milagre que trará felicidade ao casal, e de certa
vaidade. Colocar uma cerca ao redor do telhado significa que forma, começa a criação de um novo mundo.
alguém deve confinar estes traços indesejáveis. Isso precisa ser
feito "pois alguém pode cair [de um telhado não cercado]" i.e., os Além dos eventos que aproximaram o casal, há também os
traços do egoísmo e vaidade estão na raiz de toda queda fatores que fizeram com que eles existissem. Estes também
espiritual; todos os traços negativos derivam deles. remontam aos primórdios da criação. Isto considerado, vemos
todo casamento como tendo sido iniciado ao princípio dos tempos
A "cerca" colocada ao redor do egoísmo e vaidade é importante e arremessado para perdurar por gerações por toda a eternidade.
para proteger a própria pessoa dos traços negativos. É importante Considere por um momento a ancestralidade do rapaz e da moça.
também à medida em que se relaciona com um judeu; é Obviamente, cada qual tem dois pais. Volte mais uma geração, e
necessário assegurar que a pessoa não esteja repleta de vaidade aparecem quatro avós. Mais uma geração, e são oito bisavós.
quando ao ensinar ou envolver seu irmão judeu com o Judaísmo. Continue assim, e encontrará dezesseis tetravós, e trinta e dois
pais desses dezesseis.
Temos certeza de que a cerca fará seu trabalho, pois a ordem
começa com uma bênção e uma ordem: "Construirás uma nova O cálculo torna-se então um pouco mais difícil, especialmente
casa." Um judeu pode e deve construir uma casa para D’us, para alguém não especialmente dotado em matemática. Porém os
criando um ambiente de Judaísmo. Ele não pode confiar em resultados são fascinantes. Alguns minutos com uma calculadora,
outros, mas deve construir uma "nova casa" – uma casa que seja e torna-se óbvio que voltando-se dez gerações, uma pessoa tem
somente sua. Uma cerca pode e deve ser feita. A linguagem 1024 ancestrais. Vinte gerações, e tem 1.048.576 – mais de um
afirmativa nos assegura que seremos bem sucedidos nesse milhão!
empreendimento.
Depois disso, os números tornam-se quase absurdos. Depois de
Arranjado no Céu trinta gerações, o número de antepassados de uma pessoa
seriam mais de um bilhão. Após quarenta gerações, acima de um
Por Rabi Aryeh Kaplan trilhão! Este último número obviamente é um absurdo. É maior
que o número total de pessoas que jamais existiram. Ninguém
Ele sabe que ela é especial. E ela sabe que ele é único. De todas pode ter mais ancestrais que o número de pessoas. Este número
as pessoas no mundo, eles percebem que foram feitos um para o simplesmente significa que as linhas ancestrais se cruzam, e uma
outro. É como se isto tivesse sido estabelecido desde o tempo da pessoa descende do mesmo indivíduo em mais de uma maneira.
criação. E de certa forma, foi mesmo. Voltando a algo em torno de quarenta gerações, a pessoa
encontrará os mesmos ancestrais aparecendo uma e outra vez
Por trás de cada casal que se conhece, há uma cadeia de
em locais diferentes da árvore genealógica.
eventos que volta ao início dos tempos. Se reconstituirmos a
cadeia até seu início, descobriremos que na verdade ele remonta Em qualquer caso, leva menos de quarenta gerações para uma
à criação. pessoa encontrar um número de antepassados maior que a
população total do mundo. Porém quarenta gerações não é um
Veja o seguinte caso:
tempo impossivelmente longo. Se considerarmos a geração
Ele é apresentado a ela por um amigo. Mas como ele conheceu o média como sendo 25 anos, quarenta gerações totalizam
amigo? Todos os eventos que o levaram ao encontro desse somente mil anos.
amigo também devem ser levados em consideração. Digamos
Este é um ponto fascinante. Se voltarmos mil anos ao ancestral
que ele conheceu o amigo na escola. Por que ele foi àquela
de uma única pessoa, descobrimos que esta pessoa poderia
determinada escola? Por que foi atraído àquele amigo em
descender de todo ser humano vivo naquela época. Colocando
particular? Como ela fez contato com aquele amigo? A resposta
isso de outra maneira, seria preciso toda a população do mundo
pode nos levar a anos, e até gerações, em retrocesso.
há mil anos para fornecer os ingredientes singulares de
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hereditariedade e ambiente que produziram aquele único Evidentemente, toda pessoa tem livre arbítrio. Portanto, mesmo
indivíduo do jeito que ele é hoje. quando alguém está destinado, o livre arbítrio desempenha seu
papel. Porém a interação de D'us com o livre arbítrio de uma
Se alguém contemplar o mundo de mil anos atrás, toda pessoa pessoa permite que Ele arranje as coisas da maneira que deseja.
que vir provavelmente será um ancestral do rapaz ou da moça
que estão aqui hoje. Todo casamento que ocorreu há mil anos Imagine que você está jogando xadrez com um Grande Mestre
teria levado a esta pessoa específica como ela é hoje. Se um Internacional. Embora você tenha livre arbítrio, e possa fazer
homem no passado tivesse desposado uma mulher em vez de qualquer movimento que deseje, ele pode manipular você à
outra, seus filhos teriam sido diferentes. Isso, por sua vez, teria vontade por todo o tabuleiro. Não importa a jogada que você faça,
afetado todas as gerações subseqüentes – até os dias de hoje. ele sabe como responder para fazer o jogo sair da maneira que
desejar. Ele pode determinar o resultado do jogo, praticamente à
Isto tem implicações impressionantes. Um único casamento mil vontade.
anos atrás poderia ter mudado cada pessoa viva hoje. Um
casamento é, portanto, um evento de tremendas conseqüências. Evidentemente, D'us é muito mais que um Grande Mestre. Porém
É um acontecimento miraculoso em mais de uma maneira. Ele também antecipa nossos movimentos no jogo da vida, e Ele
reage a eles. Não importa como nos movemos, Ele reage e nos
Vamos presumir que nosso rapaz e nossa moça se casem, e que manobra aonde Ele deseja que vamos. Assim, não importa o que
tenham uma "pequena" família, apenas dois filhos. Imaginemos a pessoa faz, D'us pode arranjar as coisas para que ele ou ela
que cada um de seus descendentes também tem uma família encontre o par que lhe estiver destinado.
similar, em média dois filhos.
É ensinado que há vezes nas quais, embora uma pessoa esteja
Vemos novamente que o número de descendentes dobra a cada destinada a desposar um determinado indivíduo, suas próprias
geração. (Na matemática, isso é conhecido como progressão ações a levam a casar-se com outra pessoa. Nestes casos, não
geométrica). O casal tem dois filhos, quatro netos, oito bisnetos e se casa com "aquele que lhe estava destinado", mas com outra
dezesseis tetranetos. A cada geração, o número dobra. Mais uma pessoa. Sua escolha de uma esposa foi alterado por suas
vez, depois de dez gerações, este casal terá 1024 descendentes. próprias ações e por seu próprio sistema de valores morais, que
Após vinte gerações, serão 1.048.576 descendentes. E após envolve uma área onde D'us permite que cada pessoa tenha
somente 24 gerações – uns meros 600 anos – haverá 16.777.216 completo livre arbítrio. Neste caso, diz-se que a pessoa não era
descendentes. Este é um número muito aproximado da atual merecedora de encontrar o par que lhe estava destinado. Isso é
população judaica mundial. Assim, quando um casal decide se freqüentemente verdadeiro nos casos em que um casamento
casar, esta é muito mais que uma decisão pessoal. É uma termina em divórcio.
decisão que terminará por afetar todo o povo judeu. Isso explica
porque um rapaz encontrando uma moça é um milagre tão Existem também fatores que podem mudar para melhor o destino
grande, e tão cuidadosamente planejado por D'us. de uma pessoa. Assim, a pessoa pode ter méritos que a ajudam a
conseguir um par melhor e ter um casamento mais feliz do que
Se um casal se encontra e decide se casar, então, no decorrer do aquele que lhe estava originalmente destinado. Como em todos
tempo, todo judeu neste mundo terá em sua hereditariedade as os aspectos do destino de alguém, a prece pode ter um efeito
características únicas que resultam daquela união. Se eles poderoso. Mas independentemente daquilo que a pessoa faz, a
decidirem não se casar, então cada judeu no mundo será, em formação de um casamento está nas mãos de D'us. Para que um
última análise, um pouquinho diferente. O mesmo se aplica à raça casamento seja bem sucedido, deve ser arranjado no céu.
humana como um todo. De certa forma, o Talmud faz uma alusão
a isso. Declara: "Por que Adam foi criado sozinho? Para ensinar O Midrash relata que uma mulher certa vez perguntou a Rabi
que aquele que destrói uma única vida judaica é considerado Yossi ben Chalafta: "Agora que D'us terminou de criar o universo,
como se tivesse destruído um mundo inteiro. E quem salva uma o que Ele faz?" O Rabi respondeu que D'us agora faz
única vida é considerado como se tivesse salvado o mundo casamentos, aproximando os pares para que possam casar-se.
inteiro."
A resposta de Rabi Yossi nos faz vislumbrar uma percepção
A Torá nos diz que Adam foi um único indivíduo. Mesmo assim, singular sobre o matrimônio. Todo casamento tem conseqüências
todos os bilhões de pessoas vivas atualmente são descendentes para toda a humanidade. Portanto, toda vez que um casal se
de Adam e Eva. Todo casal que se casa é exatamente como junta, é como se um mundo inteiro tivesse sido criado.
Adam e Eva. No transcorrer do tempo, seus descendentes serão
milhões, formando uma enorme população. Começar com o Fim em Mente

É óbvio que se D'us está preocupado com o destino até do Por Yaakov Lieder
indivíduo mais insignificante, então Ele está ainda mais
preocupado com a população do mundo inteiro. Porém cada Os campeões esportivos têm um método que praticam antes do
casamento pode, a seu tempo, produzir toda uma população evento, especialmente se estão para jogar contra um time que
mundial. Criar um casamento é, portanto, como criar um mundo ainda não conhecem. Eles visualizam o jogo na mente; imaginam-
inteiro. se vencendo e os torcedores aplaudindo-os freneticamente.
Vivenciam todas as emoções e os bons sentimentos associados
No dia em que uma pessoa é concebida, todas as forças da com a vitória. Repassam esta cena na mente durante algum
Providência colocam em ação as cadeias de eventos que levarão tempo até se sentirem à vontade e aquilo parecer real. Então eles
a seu eventual casamento. O Talmud ensina que nesta ocasião, é saem e jogam em campo, já tendo sentido a vitória dentro da
feito um anúncio lá no alto: "A filha deste homem será para aquele mente.
homem."

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Os grandes líderes têm uma visão para seus seguidores. Eles têm Por que, então, Ele permite que você se divorcie? Não apenas o
a capacidade de visualizar o futuro numa maneira que a pessoa permite, como lhe diz como fazê-lo?
comum não consegue, e inspiram a pessoa comum a tomar parte
na sua visão e transformá-la em realidade. Como ocorre com todas as instruções de D'us na Torá, divorciar-
se é uma mitsvá, um Mandamento Divino. De fato, Suas
Encontrei recentemente um casal que estava passando pelo instruções sobre o divórcio são muito explícitas. Mas por quê?
sofrimento de um casamento problemático. Quando eu sugeri
que, com esforços de ambos os lados, eles poderiam chegar a um Porque, tendo dado Suas instruções sobre o casamento, D'us não
relacionamento significativo, a mulher disse: "Isso é impossível. o abandona quando você está em dificuldades. Por ser Ele
Estou casada há 14 anos, e os últimos dez têm sido apenas misericordioso e compassivo, bom e atencioso, Ele lhe dá um
sofrimento. Isso jamais mudará!" segundo conjunto de instruções no caso de você não seguir o
primeiro.
Ela não estava preparada para acreditar que o futuro poderia ser
diferente do passado. "Se é assim" – disse eu – "então o futuro
provavelmente será uma repetição do passado. Você está feliz
por as coisas continuarem do jeito que estão?" É como um livro de receitas que ensina o que fazer se você
estragar a receita. Duas de minhas crianças estavam certa vez
"Nós queremos um futuro melhor" – veio a resposta. seguindo as instruções de um pacote de mistura para biscoitos.
Uma delas lia as instruções em voz alta, enquanto a outra
Eu os aconselhei assim: comecem com o fim em mente. Feche os preparava a mistura. A criança que estava lendo disse: "Agora
olhos e imaginem vocês estando em casa um ano a partir de você deve mexer a massa cinquenta vezes." A outra exclamou:
agora e desfrutando um relacionamento carinhoso. Descrevam "Mas já mexi cem vezes! O que fazemos agora?" Então a primeira
totalmente esta atmosfera de amor e harmonia, com todos os criança disse: "Não sei. Deixe-me voltar e ver o que dizem."
detalhes, e façam anotações – no tempo presente, como se já Procurou na caixa, mas as instruções não diziam coisa alguma a
tivessem se tornado reais. Mantenham contato com os respeito de mexer a massa vezes demais. As duas vieram me
sentimentos de amor e prazer gerados por este maravilhoso procurar para perguntar o que fazer. "Devemos jogar tudo fora?
relacionamento. Começar de novo? As instruções não dizem o que fazer se
fizermos tudo errado."
Em seguida, examinem os passos que foram dados para chegar a
este ponto. Ainda visualizando o resultado, volte uma etapa e D'us não é assim. Não é dessa forma que a Torá - Seu conjunto
descreva como seu relacionamento está daqui a 11 meses, e o de instruções - está escrita. Ele diz a você o que fazer se estragar
que vocês fizeram para levá-lo até este ponto. Volte mês a mês, a receita. É como se D'us lhe dissesse: "Esta é a pessoa que
até o presente. Então programe em seu diário o tempo em que selecionei para você, a pessoa com quem quero vê-lo casado.
você estará fazendo estas coisas, e como vão celebrar suas Não pode? É muito sofrimento? Então não o faça. Deixe-a. Mas
pequenas vitórias ao longo do caminho. quando o fizer, por favor, feche a porta atrás de você."

Ao começarem com o fim em mente, seu subconsciente pode Portanto, Ele não apenas nos diz que podemos nos divorciar, mas
começar a acreditar que a mudança é possível, e ajudará vocês a diz-nos como: "Aqui está o Mandamento Divino sobre como
trabalhar para consegui-la. Ajam e sintam como se já tivessem entrar, e aqui está outro Mandamento Divino sobre como sair."
uma relacionamento maravilhoso. Ajam como um casal amoroso
age, mesmo que ainda não tenham chegado lá. Em outras D'us fala conosco dessa forma porque Ele está casado conosco.
palavras, finjam até conseguirem. Se pensam que estão sendo
fingidos, não pensem – o fingimento é fazer a coisa verdadeira. Como tudo o mais que existe neste mundo, o casamento é um
reflexo daquilo que existe no mundo espiritual. Há um casamento
Esta é a chave para o sucesso em nossos relacionamentos, criar absoluto que existe entre a humanidade e D'us. O casamento
os filhos e praticamente tudo que fazemos: Entrar em ação faz a exige que algo que você leve muito a sério e com rigor aquilo que
diferença. Quando uma área de sua vida não está funcionando da faz, e seja bastante leniente e conciliador com as coisas que outra
maneira que você gostaria que fosse, comece com o fim em pessoa faz. D'us está casado conosco, e isso Ele leva muito a
mente. Ponha em prática um plano de ação, trabalhe e desfrute sério. Ele está comprometido com este relacionamento. Portanto,
um novo nível de felicidade mesmo quando você ainda está a é leniente e conciliador quando nem sempre correspondemos às
caminho de conseguir o seu objetivo. Suas expectativas.

Tente – dá certo! D'us nos diz: "Fez tudo errado? Tente outra vez. Eis aqui o que
precisa fazer. Esqueceu? Na próxima vez, tente lembrar-se.
E Se Der Tudo Errado? Esqueceu mais uma vez? Tente uma terceira." É assim que
sabemos que Ele está comprometido com o casamento.
Por Manis Friedman
Às vezes D'us faz ainda melhor que isso. Ele pergunta quais eram
O que o divórcio ensina sobre casamentos nossas intenções. Por exemplo, Ele nos diz para não misturar
carne e leite. O que acontece se o fazemos? "Bem," diz Ele,
Por que D'us diz a você como se divorciar se Ele acredita no "depende da quantidade de leite, e de quanta carne havia. Você o
casamento? fez de propósito? Ou foi um acidente? Se foi um acidente, é assim
que pode consertar isso. Se foi propositadamente, tente não
Não apenas Ele acredita no casamento, como acredita que você
deixar que aconteça outra vez."
deveria estar casado, e Ele deseja que você fique casado com a
pessoa com quem se casou.

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D'us espera que você esteja casado, e com a pessoa que Ele você durar. A moral é, oferecendo ajuda quando você se divorcia,
escolheu para você. Mas Ele é compassivo e compreende quando D'us está ajudando você a estar casado para sempre. Da mesma
você Lhe diz que é difícil demais. Talvez Ele tivesse a intenção de maneira que Ele permanece casado com você.
que você se casasse e depois caísse fora; talvez as leis para o
divórcio sejam sua "válvula de escape." Ética - Uma Obrigação Judaica

Não. O judaísmo é regido por regras de moral e ética bem amplas e


definidas transmitidas através da Torá e que abrangem todas as
D'us deseja que você fique casado. Mas se não puder, se é muito áreas da vida.
difícil para você, Ele entende, e Ele o ajudará.
Para um judeu ser religioso ele precisa antes de mais nada ser
Isso quer dizer que o casamento foi um erro? Você apostou, ético. Esta é a marca que deve reger o comportamento de
perdeu, agora admite isso e sai do casamento? Você cometeu um qualquer judeu em todos os campos, tanto nos relacionamentos
engano e agora D'us está lhe dizendo como consertá-lo? interpessoais, dele com outros seres humanos, quanto dele em
relação a D'us.
Errado de novo.
Desde a Criação do mundo, do homem, da mulher e a confiança
Seu casamento não foi um erro. Estava programado desde o em ambos depositada pelo Criador logo definiu qual deveria ser o
início dos tempos. Quando D'us criou sua alma, há seis mil anos, padrão de conduta para merecer o recebimento das bênçãos
Ele criou seu "prometido" junto com você. Dizer que você casou- Divinas: um compromisso estabelecido, uma palavra dada sempre
se com a pessoa errada é como dizer que deu à luz ao bebê devem ser mantidos. Esta é uma entre tantas lições que se
errado. Seria possível ter o bebê de outra pessoa? Uma mulher aprende do pecado ocorrido no Gan Eden, Paraíso.
certa vez disse-me algo parecido: "Quantos filhos o senhor tem,
mesmo?" perguntou incrédula. Não me lembro quantos tínhamos O Dilúvio que devastou o mundo a fim de purificá-lo com suas
na época, talvez dez ou doze. "Não sabe que existem pessoas águas, poupou um único homem bom e justo, Nôach (Noé) e sua
que não podem ter filhos?" Ela estava indignada. Era como se família, fornecendo uma prova ímpar sobre a importância de
estivesse dizendo: "Dê uma folga para outra pessoa. Divida um quem se conduz com moralidade no mundo.
pouco. Não tenha tantos filhos; deixe os outros terem alguns
também." Isso não acontece desta forma. Você não tem os filhos Yaacov (Jacó), apesar de tantas vezes ter sido enganado por seu
dos outros. Os filhos que você tiver estavam destinados a serem sogro Lavan (Labão), homem sem escrúpulos, que trocava um
seus. sem número de vezes sua palavra, cumpriu compromissos
mesmo duvidosos afim de manter intacta sua integridade, o que o
Como disse Einstein: "D'us não joga dados com o Universo." levou a sacrificar 20 anos de sua vida trabalhando sem trégua.

Se D'us não joga dados com átomos ou moléculas, então Ele não A Torá segue com tantos e incontáveis exemplos nos dando uma
joga dados com corações, mentes ou almas. visão de qual caminho devemos seguir e de como devemos agir
durante todos os anos de nossa vida: devemos ser o espelho de
Você está casado com a pessoa com quem desejava estar. D'us D'us aos olhos do mundo.
arranjou isso. Ele arrumou tudo: Ele predestinou isso desde o
começo. Em outras palavras, Ele tem certeza de que esta é a Religioso significa ser ético; aquele que pratica atos justos e bons.
maneira que Ele deseja. Um judeu sem ética não é considerado observante nem religioso,
e apesar de cumprir cuidadosamente as leis do Judaísmo entre o
Você não quer isso? Tudo bem. Como Ele é casado com você, homem e D'us, enquanto permanecer não-ético, também não
Ele diz: "Seja da maneira que você quiser." Isso arruinará "algum chegará a entender que o Criador rejeita a observância de leis
vasto, eterno plano," como pergunta Tevye em "Um violonista no entre o indivíduo e D'us por aqueles que agem de forma imoral.
telhado?" A resposta é sim. Sim, se você se divorciar, estragará
algum vasto, eterno plano, o plano de D'us. Mas Ele permitirá que Como então se explica que judeus religiosos possam ser
você faça isso? Ele o ajudará? Sim, Ele permitirá, e Ele o ajudará. desprovidos de ética?

A razão pela qual D'us permite o divórcio, e ordena o divórcio, é Esta uma questão que incomoda todo judeu sensível ao se
porque ao fazê-lo, Ele o está ensinando como estar casado. defrontar com a existência de judeus que observam muitas leis
judaicas, mas são destituídos de ética. É como possuir apenas
Portanto, embora D'us tenha regras, embora Ele tenha leis, uma embalagem, um invólucro que não condiz com seu conteúdo.
embora Ele tenha os Mandamentos Divinos, quando você peca, O problema é ocasionado quando parte da comunidade
Ele lhe diz; "Fez tudo errado? Tente outra vez. Cometeu um erro observante transforma e ensina a Lei Judaica como um fim em si
e o admite? Não se preocupe: fará melhor na próxima vez. Já mesma, ao invés de um meio para "aperfeiçoar o mundo sob o
errou dez vezes? Peça perdão, e Eu o perdoarei dez vezes." domínio de D'us."

É exatamente assim que você deveria ser casado - tratando seu Infelizmente há judeus que acostumaram-se a restringir suas
cônjuge do modo que D'us trata você. Com toda aquela preocupações religiosas à prática de rituais repetitivos. Os
misericórdia e compaixão; toda aquela bondade e consideração. Profetas censuraram veementemente aqueles judeus cuja
observância mecânica destas leis demonstraram uma falta de
Sua esposa fez isso a você outra vez? Perdoe-a novamente. Ela preocupação pelos princípios éticos nelas contidos.
o fez dez vezes? Perdoe-a dez vezes.
Aquele que é observante das leis entre o indivíduo e D'us, dedica
Seja tão comprometido em fazer este relacionamento durar como cuidado especial às regras que regem a cashrut, alimentação
D'us tem estado comprometido em fazer Seu relacionamento com
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judaica, ou a suas preces, por exemplo, deve dedicar a mesma discriminação, especialmente depois de tudo que sofremos no
atenção e ser minucioso ao tratar com educação e respeito seu decorrer da história como resultado da discriminação racial?
próximo. A observância das leis entre pessoa-a-pessoa - amar ao
próximo como a si mesmo, é uma mitsvá de tanto peso que deve Que explicação alguém pode dar a um não-judeu para justificar a
ser levada à prática em todos os atos que interlaçam os recusa em considerá-lo para o casamento?
relacionamentos humanos.
A Base
A Torá mostra como a má inclinação, a que todos estamos
sujeitos, pode ser driblada e dominada; dependerá muito mais do A fonte primária sobre a qual se baseia a proibição de um judeu
nível de discernimento espiritual, do refinamento em que cada casar-se com não-judeu encontra-se na Torá (Devarim 7:3): "Não
alma se encontra pelo mérito de seu esforço pessoal, do que casarás com eles (os não-judeus, sobre quem a Torá fala nos
simplesmente relegar a justificativa de atos negativos versículos anteriores), não darás tua filha ao filho deles e não
simplesmente como obra do azar ou do acaso. tomarás a filha deles para teu filho."

A ética é o equilíbrio permanente na balança onde o bem está O motivo para essa proibição é claramente dita no versículo a
acima do mal, e os atos são direcionados seguindo a orientação seguir: "Porque ele afastará teu filho de Mim e eles servirão a
apontada pela própria Torá. Dominar nossos maus instintos, deuses estranhos…" ("Deuses estranhos" também pode ser
vencer obstáculos e tentações da vida é uma forma de exercer interpretado como significando aqueles ideais e "ismos" que não
nosso livre arbítrio de forma efetiva, isto é, positiva. se adequam aos ditames da Torá, e perante os quais a pessoa
inclina a cabeça e dedica seu coração e sua alma.)
Espera-se sempre dos judeus um excelente comportamento ético,
pois não é difícil constatar em seu currículo o que os dados O Talmud (Yevamot 23a) enfatiza – e Rashi cita em seu
estatísticos comprovam: homicídios, raptos, crimes hediondos é comentário sobre o versículo acima mencionado – que da
praticamente inexistente entre judeus, e isto ocorre tanto em expressão exata do versículo (ele – e não ela – afastará teu filho)
sociedades onde constituem a maioria da população (como em podemos derivar duas coisas. No caso de sua filha casar-se com
Israel), como onde os judeus estão em minoria. "o filho deles", ele terminará por afastar seus filhos (em outras
palavras, seus netos, que ainda serão considerados seus filhos)
Conseqüentemente, as pessoas esperam que atos maus jamais do caminho da Torá. No caso de seu filho casar-se com a filha
sejam cometidos por pessoas consideradas praticantes, pois deles, os filhos não serão mais considerados seus filhos, mas
presume-se que sejam regidas pelo mesmo código legal de filhos dela. Não são considerados judeus.
conduta.
Fica claro, então, que não estamos tratando aqui de discriminação
O termo hebraico Halachá, Código das Leis Judaicas, significa racial que nasce de uma atitude pessoal e subjetiva que o judeu
caminho. A Halachá fornece todos os instrumentos necessários tem face a face com o não-judeu. Estamos falando sobre uma
para se chegar a um determinado lugar, que deve ser o da ordem Divina objetiva, que é acompanhada por uma explicação.
santidade, moralidade e ética. As Leis da ética e conduta do povo Se o seu filho desposar uma mulher não-judia, os filhos nascidos
judeu é o meio, mas depende exclusivamente de cada um de nós dessa união não serão mais considerados seus filhos. No caso de
usá-lo da maneira certa para realmente nos tornarmos exemplos sua filha casar-se com um não-judeu, inevitavelmente seus netos
vivos da Torá, judeus verdadeiros, por dentro e por fora. se desviarão do caminho de Judaísmo, embora ainda sejam
considerados judeus.
Casamentos Mistos
Levando em conta a responsabilidade que o judeu tem de cumprir
Por Eliezer Shemtov os preceitos da Torá, fica evidente que é obrigatório para os
judeus casar-se dentro da fé, porque caso contrário, será
Um dos temas mais preocupantes e menos entendidos da vida impossível continuar a cumprir a obrigação que tem de manifestar
judaica é aquele dos casamentos mistos. Devido à falta de a Divindade neste mundo, algo que somente é possível
informação subjetiva sobre o assunto, este se torna muito cumprindo-se a vontade de D'us. O casamento misto é uma clara
complexo sob um ponto de vista emocional. contradição à vontade declarada de D'us.

Por um lado, os pais sentem que quando seu filho se casa com Para melhor entender esta questão, devemos esclarecer um outro
alguém não-judeu, ele ou ela está rompendo a cadeia milenar de aspecto. Não somente é proibido para um judeu casar-se com
continuidade judaica e não querem deixar que isso aconteça. Por uma não-judia, é impossível para um judeu desposar uma não-
outro lado, eles se sentem pouco à vontade de se opor judia. É possível para eles viverem juntos, é possível coabitarem,
abertamente ao casamento misto por causa de suas conotações é até possível procriarem, mas não há possibilidade de ocorrer o
racistas. casamento.

Por que desqualificar alguém como potencial parceiro de As leis da Torá são tão objetivas e inalteráveis (ou mais) que as
casamento apenas porque ele ou ela não nasceu de um útero leis da natureza. Assim como não se pode alterar a lei da
judaico? Esta parece ser uma atitude discriminatória. gravidade, por exemplo, não se pode alterar as leis da Torá. O
estudante de Torá ou sábio não procura criar leis, mas descobrir a
A fim de analisar este assunto, devemos dividi-lo em partes: estrutura Divina que é inerente no universo e na vida.

Qual é o fundamento para a oposição a casamentos mistos? O que é Casamento?

Como um judeu pode se opor ao casamento misto sem Numa tentativa de responder a essa pergunta, vemos que é um
contradizer o instinto natural que tem de lutar contra a desafio explicar qual é exatamente a função do casamento em

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geral. Se duas pessoas se amam, por que não viverem juntas? O outro, e meia hora antes da cerimônia começar eles descobrem
dia em que decidirem não mais partilhar suas vidas, cada um que compartilham os mesmos pais biológicos? Eles se casariam
estará livre para seguir seu caminho! Mesmo se declararem seu mesmo assim? Obviamente não, e o fato de não poderem se
compromisso por meio do casamento, quando não quiserem mais casar não implica que o amor declarado um pelo outro era falso…
permanecer casados têm a opção do divórcio. Qual é, então, o O amor é um fator muito importante num relacionamento, mas
propósito e função do casamento? não é o único fator que determina a legitimidade de um
casamento.
Muitos respondem que o casamento nada mais é que uma
formalidade, uma norma social que dá "status legal" ao casal. É possível que um rapaz judeu encontre compatibilidade com uma
Porém dizer que o casamento é simplesmente uma norma social moça não-judia (e vice-versa) e gostaria de criar uma família com
implica que não há valor verdadeiro, intrínseco; que é arbitrário. O ela. Esta aparente compatibilidade somente é possível quando
que acontece no caso de alguém que não se preocupa com a nenhum deles manifesta sua essência. Desde que o judeu não se
autoridade humana ou com o estigma social é que então, está preocupe com o fato de ele ou ela ser judeu e o não-judeu não se
tudo bem, se um casal vive junto e tem filhos sem ser casado. preocupe com sua origem pessoal e sua essência, tudo parece
perfeito.
Parece-me que a única base verdadeira e justificativa para o
casamento é ser uma instituição Divina. Foi idéia de D'us. A idéia O que acontecerá no dia em que qualquer um deles "acordar" e
de casamento tem suas raízes na Torá. Embora haja muitos decidir preocupar-se com aquilo que realmente é? De repente,
sistemas sociais que não se baseiam na Torá e mesmo assim surge a incompatibilidade. Em outras palavras, enquanto nenhum
reconhecem a instituição do casamento, isso não refuta o fato de dos dois se preocupa com sua essência, eles podem sentir-se
que a origem e real valor do casamento sejam de origem Divina. compatíveis com alguém que é essencialmente oposto. No minuto
em que um deles descobre sua verdadeira identidade, o
Vamos comparar este conceito com um fenômeno semelhante. relacionamento deixa de ter qualquer significado verdadeiro.
De onde vem a semana de sete dias? Por que uma semana tem
sete dias e não seis ou oito? O ciclo semanal de sete dias tem Conheço alguns casais mistos que estavam muito apaixonados
sua origem nos Sete Dias da Criação. Para alguém que acredita até o momento em que nasceram os filhos. De repente,
na Torá, o ciclo semanal de sete dias tem profundo significado começaram a ter discussões acaloradas sobre a educação dos
espiritual. Para quem não acredita, o ciclo de sete dias é filhos, embora tivessem muito tempo antes resolvido o assunto
meramente arbitrário. Em outras palavras, para quem aceita a teoricamente. A mãe judia deseja circuncidar seu filho, por
Torá como o "projeto" da Criação, a semana de sete dias tem exemplo, ao passo que o pai não-judeu não quer que o filho seja
uma razão de ser. Para quem não acredita, a semana de sete diferente dele. Num instante surge a incompatibilidade, mas já é
dias não faz sentido. O mesmo se aplica ao casamento. Para tarde demais – eles agora produziram uma criança que ambos os
aquele que não acredita, o casamento não faz muito sentido. É pais e todos os avós consideram sua…
simplesmente uma formalidade instituída, talvez para assegurar a
herança dos filhos. Para quem acredita, o conceito e instituição do Obviamente, podem citar muitos exemplos de casais judeus que
casamento assume um significado muito maior e mais profundo, têm conflitos. Devemos, no entanto, explorar os fatos e ver se
como veremos adiante. eles levam a vida segundo as normas delineadas na Torá. Pelo
menos, o casal judeu sempre tem o potencial de viver segundo a
O Talmud e a Cabalá nos ensinam que o casamento não é vontade de D'us.
meramente uma união entre dois indivíduos totalmente diferentes.
É a reunião de duas metades da mesma unidade. Um casal Surge uma questão: o que acontece no caso de um judeu não
compartilha a mesma alma que, no nascimento, se divide em religioso ou ateu? Esta incompatibilidade com um não-judeu ainda
duas metades incompletas. Com o casamento, elas se reúnem e existe? Afinal, se a pessoa não se importa com a religião, por que
se tornam, mais um vez, completas. Estamos tratando aqui não se preocupar quando se trata de escolher um parceiro para
de uma união apenas no nível físico, emocional e/ou intelectual. casar?
Estamos falando de uma união no nível mais profundo, mais
essencial do ser. O que é Um Judeu?

Há almas que são compatíveis para casamento e há almas que Para resolver essa pergunta, devemos explicar outro conceito
não são. Além do caso de casamentos mistos, a Torá enumera básico: o que é um judeu? O que distingue um judeu de seu
uma lista de "casamentos" inválidos. Por exemplo, o "casamento" vizinho não-judeu? Veja, por favor, que não estou perguntando
entre irmão e irmã biológicos ou entre um homem e uma mulher aqui: "Quem é judeu?", mas sim "O que é um judeu?" porque a
que esteja casada com outro homem, em outras palavras, incesto resposta à pergunta 'Quem é judeu?' é muito clara: alguém que
ou adultério. A Tora aqui não está falando apenas sobre nasceu de uma mãe judia ou converteu-se ao Judaísmo de
proibições, mas fatos. Nos exemplos acima mencionados, jamais acordo com as leis estipuladas na Torá. Isso, no entanto, não
pode haver qualquer casamento, embora seja fisicamente responde a pergunta 'O que é um judeu?'
possível coabitar e procriar.
As pessoas com freqüência respondem esta pergunta dizendo
Baseados nisto, temos uma explicação muito simples para o não- que ser judeu significa "ter um senso de pertencer ao povo judeu".
judeu sobre porque não o consideramos como potencial parceiro Esta resposta não é satisfatória, simplesmente transfere a
de casamento. Não é devido a um defeito que ele tenha. Deve-se questão da identidade para longe do indivíduo. O que, então, é o
simplesmente ao conceito bíblico do casamento, ao qual todo povo judeu? Uma Nação composta de indivíduos que não têm
judeu sente-se obrigado a aderir. outra identidade exceto a de pertencer a um Povo que não tem
definição? É como dizer que a definição de "árvore" é "parte de
Um caso hipotético: O que aconteceria se um rapaz e uma moça uma floresta". O raciocínio é o contrário. Uma vez que eu saiba o
judeus decidem se casar e estão muito apaixonados um pelo que é uma árvore, posso então definir floresta dizendo "um grupo
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de árvores". Não posso definir uma árvore simplesmente dizendo educação judaica a ponto de nem perceber o que significa ser
"parte de uma floresta"! judeu e a inerente incompatibilidade entre ele e sua namorada
não-judia.
É óbvio também que não posso definir o que é um judeu baseado
em seu cumprimento das mitsvot, porque aqui, também, o Para muitos, a oposição aos casamentos mistos pode parecer
raciocínio é o oposto: o indivíduo tem a obrigação de cumprir elitista e até racista. Por que desaprovar um casamento somente
mitsvot porque é um judeu. Não posso dizer que alguém é judeu porque um dos membros não é judeu? Um rapaz judeu que
porque ele ou ela cumpre as mitsvot. Considere: um bebê recém- deseja desposar uma moça não-judia poderia pensar: "Que
nascido é judeu embora não tenha ainda cumprido uma única hipócritas! Quais são as diferenças práticas entre meu
mitsvá, e não tenha consciência de sua fé! Um bebê judeu do comportamento no dia-a-dia, ou dos meus pais, e o
sexo masculino é circuncidado porque é judeu; ele não é judeu comportamento da mulher não-judia com quem desejo me casar?
porque é circuncidado.
Seria difícil defender essa resistência – aparentemente hipócrita –
O que, então, é um judeu? da parte dos pais, se não fosse pelo fato de que podemos atribuí-
la à neshamá que eles tem. A neshamá não permite que eles
Após estudar o assunto por muitos anos e ter incontáveis aceitem que seu filho cruze esta "linha vermelha" que serve (para
conversas com judeus de todos os níveis de observância e todos os propósitos práticos) quebrar irreversivelmente a cadeia,
crença, creio que a resposta mais coerente e convincente é que o embora eles próprios talvez não consigam explicar por que isso
elemento distintivo do judeu é a neshamá (alma) que todo judeu os perturba tanto.
possui. A alma de um judeu é diferente da alma de um não-judeu.
Elas têm diferentes características, potenciais e necessidades. Em outras palavras, sua oposição ao casamento misto do filho
não é incoerente. É a sua falha no cumprimento das mitsvot,
Todo judeu tem essencialmente o mesmo tipo de alma que numa base diária, que é incoerente e inconsistente com sua
qualquer outro judeu. Esta alma judaica é herdada da mãe. É o essência.
denominador comum que conecta o judeu russo com o sírio,
iemenita, canadense ou uruguaio, embora eles não falem o Opção de Conversão
mesmo idioma e talvez tenham costumes e hábitos diferentes. A
única diferença significativa entre um judeu e outro é o nível e Uma das soluções propostas para resolver o problema do
intensidade de expressão dessa essência comum. Em alguns, casamento misto é converter o parceiro não-judeu ao Judaísmo.
esta essência se manifesta constantemente, ao passo que em "Por que perder duas almas, se podemos ganhar uma?…"
outros, expressa-se uma vez por ano e em outros apenas uma
vez na vida. A conversão é uma alternativa válida?

Esta definição de "O que é um judeu?" não contradiz a aspiração Vemos que o Judaísmo reconhece a possibilidade de um não-
que alguém possa ter de ser um "cidadão do universo", porque judeu converter-se ao Judaísmo. O processo adequado de
para ser realmente um "cidadão do universo", a pessoa deve conversão, conhecido como Giyur, é bastante simples. Consiste
realizar seu papel específico dentro da comunidade universal. Ser em três etapas:
um "cidadão do universo" não implica negar o papel específico
Circuncisão (no caso de um homem);
que cada um tem, mas sim inserir-se na sociedade com uma
identidade e propósito definidos. Imersão no micvê (banho ritual);
Quais são as Características Especiais da Alma? Aceitação dos 613 preceitos em sua totalidade.
Rabi Shneur Zalman de Liadi, fundador do Movimento Chabad, Estas três etapas devem ocorrer na presença de um tribunal
define da seguinte maneira: um judeu não deseja, nem pode rabínico válido. (Um tribunal rabínico válido consiste em três
separar-se de D'us. rabinos que aceitam a Torá como a palavra de D'us e aceitam
cumprir os 613 preceitos na vida diária pessoal.)
É possível que um judeu não esteja consciente do fato de que por
determinadas ações ele está afetando seu relacionamento com O Judaísmo não acredita em proselitismo, porque nem todos
D'us. Se soubesse as conseqüências de suas ações, não precisam ser judeus para encontrar graça aos olhos de D'us e
prejudicaria espontaneamente seu relacionamento com D'us. terem seu lugar no Mundo Vindouro. Para o não-judeu é suficiente
Todo judeu tem sua "linha vermelha", que não cruzará mesmo respeitar o Código de leis conhecido como as Sete Leis Noahidas
que por isso tenha de pagar com a própria vida. para merecer um lugar no Paraíso.
Muitos judeus passam a vida negando sua condição de judeus, No caso de um não-judeu que deseja sinceramente tornar-se
mas numa situação inesperada, quando suas defesas estão judeu e viver de acordo com as normas delineadas na Torá para o
baixas e ficam distraídos, seu Judaísmo aparece. Há muitos judeu, nós o aceitamos de braços abertos, desde que tenha
judeus que investem tempo, energia e recursos para negar que passado pela Giyur adequada. É óbvio, pois, que no caso de
são judeus. Embora possam negar veementemente este fato, seu alguém desejar se converter ao Judaísmo como resultado do seu
comportamento é apenas outra manifestação de seu inegável desejo de desposar um judeu ou judia, é altamente improvável
Judaísmo, pois se realmente não fossem judeus – como alegam – que os motivos para essa conversão sejam sinceros.
por que é tão importante para eles negarem isso?
Lembro-me de uma história na qual um rapaz judeu desejava
Vemos, portanto, que o problema não começa quando um rapaz casar-se com uma não-judia. Os pais do rapaz insistiam que ela
judeu deseja casar-se com uma moça não-judia. A raiz do estudar os fundamentos do Judaísmo antes de concordarem com
problema está no fato de que ele foi privado de uma verdadeira
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o casamento. A moça aceitou a condição e foi estudar numa A diferença entre o momento antes e após o nascimento é que
escola religiosa para moças. antes o bebê não é um ser independente. Seguindo esta analogia,
um convertido antes da conversão é comparável a um judeu num
Embora seu motivo original fosse satisfazer a exigência dos pais estágio "embrionário", e portanto ainda não tem as
do namorado, com o passar do tempo ela descobriu um mundo responsabilidades de um judeu total.
novo e ficou genuinamente interessada no Judaísmo. Depois de
alguns meses, o rapaz falou com ela para fazerem os arranjos Somente após ter passado por uma conversão correta, ele ou ela
necessários para o casamento. "Fala sério?" perguntou ela. "Acha se torna um judeu completo. Porém, como dissemos antes, para
que pretendo me casar com um rapaz que estava disposto a que essa transformação ocorra, a pessoa deve passar por uma
desposar uma moça não-judia?" autêntica conversão e não pelas versões cosméticas e estéreis
que abundam, mascaradas como opções mais liberais.
Quanto ao argumento de que: “se não aceitarmos todos os tipos
de conversão ou casamentos mistos terminaremos alienando os Alguns perguntam: Por que um convertido deve ser mais religioso
jovens judeus que se casam com parceiros não-judeus ou que aqueles judeus que não cumprem as mitsvot e mesmo assim
aqueles que passaram por conversões cosméticas, no entanto, se são considerados judeus? Em outras palavras: se um judeu não-
os aceitarmos como judeus, estaremos conquistando almas para praticante é considerado judeu, por que devemos não considerar
o povo judeu”: como judeu um não-judeu que passou por uma conversão não-
religiosa?
Em primeiro lugar, o Judaísmo não é um negócio, especialmente
quando baseado em mentiras e desonestidade. O Judaísmo é A resposta é simples. Um judeu por nascimento é judeu não
baseado em tentar cumprir o máximo daquilo que D'us nos pede. importa o que pense, diga ou faça. A mesma Torá que estabelece
Não temos de ficar mais preocupados com o futuro do povo judeu esta regra sobre o judeu por nascimento também estabelece que
que o próprio D'us está. D'us está tão "consciente" quanto nós aquele que deseja se converter ao Judaísmo deve aceitar cumprir
desse argumento e seus supostos benefícios para o futuro desses a Torá inteiramente, para ser aceito como judeu ou judia. Se
casais e o futuro do povo judeu. alguém dissesse que deseja aceitar 612 dos preceitos mas há um
com o qual não concorda e não pretende cumprir, dizemos a ele:
Apesar disso, a Torá declara (Devarim 7:7), que D'us não Quem o está forçando a se tornar judeu? É preferível que não se
escolheu o povo judeu por causa de sua superioridade em converta e continue a cumprir sua missão na vida como um
números ou poder, mas por causa de sua humildade e devido ao perfeito não-judeu que "converter-se" e se achar violando a lei da
pacto que Ele fez com nosso antepassado, Avraham. Os judeus Torá!
sobreviveram a todos os seus opressores não por causa de sua
inteligência, riqueza ou poder político, mas por causa da sua Quando você pensa a respeito, é um critério compreensível e
sinceridade, autenticidade e auto-sacrifício para preservar e aceito. Se alguém nasceu nos Estados Unidos, a constituição
defender seu pacto com D'us. americana o considera americano, não importa o que ele faça
para violar a constituição. Se, no entanto, um estrangeiro deseja
Além disso, por mais que gostássemos ou por mais que possa adquirir a cidadania americana, mas diz que não aceita uma
parecer que "compensa" aceitar este tipo de conversão, não determinada cláusula na constituição, ele será aceito como
temos a capacidade de negar nem alterar os fatos. Não está em cidadão americano? Claro que não. Se você não gosta da
nosso poder fazer a ninguém este "favor", da mesma maneira que constituição dos Estados Unidos, então torne-se cidadão de
não podemos ajudar um casal que deseja um filho homem e D'us algum outro país cuja constituição você aprove!
os abençoa com uma menina. Temos o poder de fazer mudanças
cosméticas, mas isso não muda o fato de que assim se consegue Alguém que não queira aceitar a constituição americana em sua
nada mais que uma cruel e desonesta mutilação e distorção. totalidade pode ser aceito como residente legal, mas não como
cidadão. Um cidadão naturalizado deve aceitar a autoridade da
O Conceito Judaico de Conversão constituição para ser aceito como cidadão.

É interessante notar que a expressão que o Talmud (Yevamot Alguém quer sugerir que é mais fácil tornar-se judeu que se tornar
48b) usa quando se refere a convertidos (autênticos): "Ger cidadão de outro país? As leis de D'us são mais negociáveis que
shenitgayer kekatan shenolad dami", que significa: um convertido as leis humanas?
é como um bebê recém-nascido.
O Verdadeiro Problema
Quando o Talmud fala sobre um escravo que foi libertado, não diz
"um homem que foi libertado", mas sim: “um escravo que foi O casamento misto é na verdade um sintoma de um problema
libertado". Por que, então, ao falar sobre um convertido, o Talmud muito maior: a falta de uma educação judaica adequada.
usa a expressão 'um convertido que se converteu', em vez de
usar a expressão 'um gentio que se converteu'? Que tipo de educação estamos dando aos nossos filhos?
Estamos realmente dando a eles as experiências e ferramentas
Uma das explicações é a seguinte: necessárias para poderem entender e avaliar o significado e a
importância de serem judeus?
Um convertido autêntico é um que, embora nascido de mãe não-
judia, nasce com uma neshamá, uma alma judaica. É essa E quanto à nossa educação judaica? Quanto tempo nós, pais,
neshamá que o impele a se tornar um judeu ou judia por dedicamos ao nosso desenvolvimento espiritual? Se eu faço
completo. Em outras palavras, podemos dizer que este indivíduo apenas aquilo que gosto de fazer e não reconheço a necessidade
nasceu (destinado ou com uma propensão a tornar-se) um de obedecer a uma autoridade superior, como posso esperar que
convertido. É por isso que um convertido é comparado a um meus filhos não façam o mesmo? Com certeza eles me dirão:
recém-nascido. Papai, você faz o que você quer, por que eu não deveria fazer
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aquilo que eu quero? Se o pai não se sujeita a nenhuma acontecera há quase duas décadas e a lição que eu tinha
autoridade moral, por que deveria esperar que seus filhos aprendido.
respeitem a ele e aos seus valores? Só porque foram gerados por
ele? "Você está enganado em sua conclusão", disse ele. "Não se trata
de que os direitos do Estado superam os direitos dos pais; o
A prioridade máxima atualmente deve ser a melhoria da educação Estado está meramente protegendo e defendendo os direitos da
judaica, tanto num nível pessoal como institucional. Não devemos criança."
nos conformar com o mínimo que nossos filhos estão recebendo.
Devemos exigir o máximo. A lição sobre educação judaica se tornou ainda mais clara.

Enviaríamos nossos filhos a uma escola na qual eles se Leia também: “Ameaça maior à sobrevivência judaica:
graduassem sem saber como calcular a área do círculo ou quem assimilação ou anti-semitismo?”
foi Napoleão Bonaparte? Por que, então, deveríamos aceitar um
padrão de educação judaica que não possibilita aos alunos Ameaça Maior à Sobrevivência Judaica
decifrar uma página de Chumash ou Talmud no texto original ou
Por Aron Moss
que não os ensine quem foram Rabi Akiva, Abaye, Rava, Rashi,
Rambam e Rabi Yehuda Halevi, e quais foram suas contribuições A maior ameaça à sobrevivência judaica é a identidade judaica
ao pensamento e cultura judaicos? confusa. Infelizmente, em muitas famílias e escolas judaicas, a
identidade judaica é construída através de ensino sobre o
Eu gostaria de concluir partilhando um episódio que vivemos, logo
Holocausto e temor de casamentos mistos. A preocupação da
depois que minha mulher e eu chegamos ao Uruguai, e a lição
comunidade judaica com a assimilação e o anti-semitismo não é a
que extraímos disso.
solução, é o problema.
Nosso filho mais velho, Mendy, nasceu logo depois que
Uma apresentação negativa e pessimista de ser judeu
chegamos e devido à nossa inexperiência como pais, e
desencoraja os jovens mais que qualquer outra coisa. Quando
especialmente num país novo, não fizemos seu registro de
nos tornamos obcecados com o anti-semitismo, nos tornamos
nascimento em tempo. Como resultado, tivemos de passar por um
eternas vítimas. Quando enfatizamos demais a ameaça da
processo de Registro Tardio, que demora vários meses.
assimilação, isso nos faz sentir como espécies em risco de
Nesse ínterim minha mulher e eu queríamos viajar para o exterior extinção. Os judeus estão lado a lado com a baleia branca e o
com nosso filho recém-nascido. Como somos ambos americanos, panda gigante na lista de comunidades indefesas e dignas de
pudemos conseguir um passaporte americano emitido para nosso pena, desaparecendo do planeta. É de se surpreender que judeus
filho. jovens estejam optando por sair do Judaísmo? Quem deseja ser
uma vítima?
Chegamos ao aeroporto, prontos para viajar. Quando chegamos
ao controle de passaportes, o inspetor pediu para ver os Temos de parar de nos definir pela maneira que os outros nos
documentos uruguaios do bebê. Explicamos que não os enxergam. A assimilação é quando os não-judeus nos amam
tínhamos, e ele disse que não nos daria permissão para tirar tanto que desejam se casar conosco. O anti-semitismo é quando
nosso filho do país sem os documentos uruguaios. os não-judeus nos odeiam tanto que querem nos matar. Ambos
acontecem conosco; mas o que pensamos sobre nós mesmos?
"O que quer dizer, não podemos viajar com nosso filho?"
perguntamos. "Ele tem um passaporte americano!" Precisamos de um motivo claro e positivo para permanecermos
judeus. Se isso faltar, por que o Judaísmo deveria sobreviver?
"No que nos diz respeito, ele é uruguaio e portanto precisa de Existe um bom argumento para não assimilar nas sociedades que
documentos uruguaios", explicou ele. nos cercam e nos recebem bem? Há uma forte razão para
continuar orgulhosamente judeu em face do anti-semitismo?
"Mas ele é nosso filho!" insistimos.
Creio que há.
"Ele é uruguaio", declarou o inspetor.
O Judaísmo é a idéia mais poderosa que o mundo jamais viu. Os
Não viajamos naquele dia. Aprendemos uma lição importante com judeus devem sobreviver porque têm uma mensagem que o
aquele incidente. Não importa o quanto nosso filho seja nosso mundo precisa ouvir. O estilo de vida judaico é uma força
filho, nossos direitos não superam aqueles do Estado. O mesmo revolucionária que pode transformar vidas comuns em vidas
se aplica a nosso relacionamento com nossos filhos e sua significativas. Uma família que guarda o Shabat é sempre
conexão com o povo judeu. Antes de pensar sobre os nossos lembrada daquilo que é realmente importante – que há mais na
direitos pessoais como pai, devemos pensar sobre as vida que acumular riquezas. As leis casher nos ensinam que não
reivindicações e direitos que o povo judeu tem com nossos filhos somos meros animais que devem alimentar cada anseio e desejo,
e os direitos que eles próprios têm como membros do povo judeu. e que até o ato de comer pode ser sagrado. Uma mezuzá sobre a
Nossa maior responsabilidade é lhes dar as ferramentas porta diz ao mundo que este lar é construído para um propósito
necessárias para que possam levar a vida plenamente como mais elevado.
judeus.
O Judaísmo ensina lições que o mundo precisa aprender
Dezenove anos apos este episódio com o funcionário da urgentemente – que todo indivíduo é criado à imagem de D'us, e
imigração, tive a oportunidade de mais uma vez falar com um portanto é único e valioso; que a moralidade não é relativa, mas
funcionário da imigração uruguaia enquanto encaminhava um absoluta; que os seres humanos são parceiros de D'us na
visto de saída para um de nossos filhos. Contei a ele o que criação, com uma missão de criar o céu na terra.

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Estas ousadas idéias judaicas são mais relevantes agora do que foram preservados, no entanto, e sua preservação foi prevista…
nunca. Porém idéias judaicas ousadas precisam de judeus Meu encontro com esse povo me surpreende…"1
ousados para perpetuá-las. O mundo somente pode ser elevado
se primeiro os indivíduos se elevarem. Podemos apenas Este é um tributo comovente, mas exige explicações.
transformar o mundo num lar Divino se começarmos em nosso
próprio lar. Esta é a fórmula do Judaísmo para mudar o mundo A Ciência da Sobrevivência
para melhor. É por isso que devemos continuar judeus.
Talvez possamos encontrar nossa resposta nos grandes
A maior ameaça ao Judaísmo não é a pressão externa, mas sim a pensadores empíricos de nosso tempo, os cientistas. Eles nos
confusão interna. Quando perdemos de vista a nossa missão, dizem que quando um cientista procura determinar as leis que
perdemos a força e a energia para sobreviver. O sentimento governam um determinado fenômeno, ou descobrir as
judaico que precisamos desenvolver em nós mesmos e em propriedades essenciais de um elemento da natureza, deve fazer
nossos filhos não é o temor ao anti-semitismo, ou culpa sobre a uma série de experimentos sob as mais variadas condições para
assimilação. É um orgulho humilde pela grandeza da missão descobrir aquelas propriedades ou leis sob as quais todas as
judaica e a resolução confiante de cumpri-la. Quando somos condições são as mesmas.
claros sobre a nossa identidade, nenhuma ameaça no mundo
O mesmo princípio poderia ser aplicado à sobrevivência judaica.
pode nos abalar.
É um dos povos mais antigos do mundo, começando sua história
A Ciência da Sobrevivência Judaica nacional com a revelação no Sinai há mais de três mil anos. No
decorrer desses séculos, os judeus viveram sob condições
Por Dov Greenberg extremamente variadas. Foram dispersos pelo mundo. Tiveram
múltiplos idiomas, possuíram uma diversidade de culturas. Por
Há mais de três mil anos, um grupo de escravos judeus foram exemplo, Rashi viveu na França cristã. Maimônides nasceu na
libertados do Egito. Desde então, nessa época do ano, revivemos Espanha islâmica. Rabi Akiva viveu sob o governo romano; os
sua história em Pêssach, a Festa da Liberdade. sábios talmúdicos sob a hegemonia babilônica. Suas sociedades
foram totalmente diferentes. Tudo que os ligava no espaço e
Imagine que pudéssemos viajar de volta no tempo e dizer ao tempo eram uma fé, o estilo de vida de Torá.
Faraó: "Temos boas e más notícias. A boa é que um dos povos
que estão vivos hoje sobreviverá e mudará a paisagem moral do Nenhum outro povo sobreviveu durante tanto tempo sob tais
mundo. A má notícia é: não será o seu povo. Será aquele grupo circunstâncias. Se quisermos descobrir os elementos essenciais
ali de escravos hebreus, que estão construindo seus gloriosos que formam a causa e a própria base da existência de nosso povo
templos, os Filhos de Israel." e sua força singular, devemos concluir que não foi sua terra,
idioma, cultura, predisposição racial ou herança genética. O único
Nada poderia ser mais ultrajante. O Egito do tempo dos faraós era fator constante que preservou nosso povo durante todas as
o maior império do mundo antigo, brilhante em artes e ciências, vicissitudes é o tenaz apego ao nosso legado espiritual.
formidável na guerra. Os israelitas eram um povo sem terra,
escravos indefesos. De fato, já na antiguidade, aqueles no poder Foi isso que tornou nosso povo indestrutível apesar de milênios
acreditavam que os israelitas estavam em vias de extinção. A de investidas contra o corpo e alma judaicos por bandidos e
primeira referência a Israel fora da Bíblia é um obituário do povo monstros de todas as espécies.
judeu. Está inscrito numa pedra grande de granito, que hoje se
encontra no Museu do Cairo: Ali diz: "Israel acabou. Sua semente O que a História Judaica nos diz é que a força do nosso povo
não existe mais." como um todo, e de cada indivíduo, está num compromisso fiel à
nossa herança espiritual, a base e essência de nossa existência.
A história da sobrevivência judaica é tão excepcional, vasta e sem
paralelos que desafia a imaginação. Em nosso próprio século, as O peixe e a raposa
duas grandes potências que anunciaram: "Israel acabou" – o
Terceiro Reich de Hitler e a União Soviética – foram esmagados e Ninguém expressou isso melhor que Rabi Akiva, o grande sábio
desmantelados. Porém o povo de Israel vive. do Segundo Século. O Talmud relata como Rabi Akiva ensinava
Torá em público na época em que o governo romano, sob o
Muitos pensadores e cientistas sociais tentaram, e ainda estão Imperador Adriano, proibiu essa atividade. Outro sábio, Pappus
tentando, entender a sobrevivência de um povo, uma fé e um ben Judah, advertiu-o de que estava arriscando a própria vida.
legado durante três milênios de condições históricas praticamente Rabi Akiva respondeu com a seguinte parábola:
impossíveis. Blaise Pascal, o notável pensador, matemático,
teólogo, físico francês do Século Dezessete, escreveu: Uma raposa certa vez caminhava pela margem de um rio, quando
viu peixes pulando de um local para outro. "Por que estão
"Em algumas partes do mundo podemos ver um povo peculiar, fugindo?" perguntou ela aos peixes. "Para escapar das redes do
separado dos outros povos do mundo, chamado de povo judeu… pescador." “Neste caso", disse a raposa, "venham viver na terra
Este povo não apenas é de impressionante antiguidade como seca junto comigo."
também tem perdurado por um tempo singularmente longo… Pois
enquanto os povos da Grécia e Itália, de Esparta, Atenas, Roma e "Você é aquele que descrevem como o mais esperto dos
outros que surgiram muito depois pereceram há tanto tempo, este animais?" disse o peixe. "Você não é esperta, mas tola. Se
ainda existe, apesar dos esforços de tantos reis poderosos que estamos em perigo dentro da água, que é onde vivemos, imagine
tentaram uma centena de vezes acabar com ele, como seus em terra seca, onde certamente morreremos."2
historiadores atestam, e como pode ser facilmente julgado pela
A Torá é para a sobrevivência judaica, disse Rabi Akiva, como a
ordem natural das coisas no decorrer de tantos anos. Eles sempre
água para o peixe. Sim, estamos em perigo, mas se deixarmos a

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Torá, que sustenta nossa identidade, para entrarmos na terra Cada palavra na Torá é exata, cada letra transmite uma
seca dos Romanos, certamente morreremos. imensidade de nuanças e significados, que ensinam incontáveis
lições. Este versículo, que aparentemente toca no assunto da
Esta não era meramente a convicção pessoal de um certo Rabi guerra convencional, alude a um tipo diferente de guerra, uma
Akiva. É a própria história de Pêssach. Deixar o Egito foi apenas o guerra espiritual que é empreendida por todo indivíduo.
início da liberdade, não o fim.
Um judeu pode enfrentar dois tipos de inimigos: um que ameaça
Mas o que seria Pêssach sem sua conexão íntima com Shavuot? sua existência física e outro que ameaça sua santidade especial
O que seria a liberdade israelita sem a Revelação no Sinai? 3 como membro do povo judeu – sua alma judaica.
Imagine a Bíblia como a narrativa de um mero grupo cultural ou
étnico. Leríamos sobre a escravidão dos israelitas no Egito. A Torá usa a palavra "inimigos" para referir-se às duas ameaças,
Continuaríamos a ler com entusiasmo sobre como eles pois o corpo e a alma do judeu trabalham em conjunto, unidos em
conquistaram sua liberdade e foram levados a uma terra própria. seu serviço a D-us. Tudo que coloca em risco o bem estar físico
Depois leríamos sobre como eles se mesclaram à paisagem ao da pessoa ameaça também seu equilíbrio espiritual, e vice versa.
redor, casaram-se com canaanitas, jebusitas e os outros povos do
antigo Oriente Próximo, e se evaporaram com o tempo, A Torá nos diz como emergir vitorioso sobre ambos os tipos de
irrevogavelmente. inimigo: "Quando fores." Um pessoa deve revestir-se com a força
que vem da fé total em D-us, mesmo antes de encontrar o
Sobrevivemos porque levamos a Torá conosco até Israel. Somos inimigo. Em seguida, a atitude deve ser de ascendência – "contra
quem somos por causa de uma fé importante, fé que se provou (literalmente, 'sobre') teus inimigos." Saiba que o próprio D-us
mais forte que os maiores impérios da história. está a seu lado e o ajuda em sua luta.

O Antigo Egito e Roma construíram grandes monumentos para Assim armado, a vitória está assegurada, não apenas contra os
sobreviverem aos ventos e às areias do tempo. Aquilo que eles inimigos convencionais, mas contra a raiz de todo o mal – a má
construíram está de pé e em alguns aspectos jamais foi superado. inclinação, igualada no Guemara com "o Satã (inimigo da alma) e
Porém somente a arquitetura permanece, não a civilização que o Anjo da Morte (inimigo do corpo físico)."
uma vez lhes deu vida.
Quando um judeu sai para a "guerra" fortalecido com o
O Antigo Israel se tornou construtor, também, mas não de conhecimento de que não há ofrça no mundo capaz ds enfrentar a
monumentos em pedra. Em vez disso eles foram chamados ao face da bondade e santidade, não somente as manifestações
Sinai para construírem um mundo de justiça, digno de ser a externas do mal são sobrepujadas, como sua fonte espiritual
morada da Divina Presença. Suas pedras seriam suas ações também é derrotada. A Torá usa portanto o inimigo singular –
sagradas, e sua argamassa o estudo de Torá e compaixão. Ao para aludir à má inclinação, a origem e protótipo de todo o
ensinar os israelitas que o Arquiteto desse mundo é D'us, os infortúnio.
construtores são todos que desejam se tornar Seus "parceiros na
obra da criação". Moshê transformou um grupo de escravos num
povo eterno.
O versículo conclui com as palavras "e tu os fará cativos". Se um
Notas: judeu não for cuidadoso e cair presa da má inclinação, todas as
suas faculdades mais elevadas, concedidas a ele por D-us para
1 - Pascal, "Pensees". serem utilizadas para o bem, também caem em sua armadilha. A
Torá ensina que o arrependimento sincero tem o poder de redimir
2 - Talmud, Berachot 61b. estes prisioneiros cativos, elevando-os até que "transgressões
voluntárias sejam consideradas como méritos".
3 - Perante o Faraó, Moshê não exigiu simplesmente em nome de
D'us: "Deixa Meu povo ir", mas "Deixa Meu povo ir; para que eles Este tipo de conflito armado aproxima Mashiach e a Redenção
Me sirvam. (Shemot 7:16). veja também Sefer HaChinuch (Mitsvá Final, quando a má inclinação será totalmente derrotada e a
306), que a razão de ser do Êxodo foi entrar num pacto com D'us vitória sobre o pecado será permanente.
que é nossa força de apoio. Então, Shavuot é a única festa que
não tem data marcada no calendário. A Torá o designa como o Respeito ao próximo
50º dia após Pêssach. Como Shavuot é o complemento de
Pêssach, o propósito do Êxodo foi concretizado somente no dia por Mendel Starkman
em que ficamos no Sinai.
Toda mitsvá na Torá pode ser colocada em uma de duas
Dois Inimigos, Uma Batalha categorias. A saber, mitsvot bein adam la Makom - mandamentos
entre o homem e D’us (i.e., comer casher, guardar o Shabat e
Adaptado das obras do Lubavitcher Rebe recitar as bênçãos), os quais não têm efeito direto sobre outras
pessoas; e mitsvot bein adam l'chaveiro – mandamentos que
O primeiro versículo da porção desta semana da Torá, Ki Tetsê, envolvem interação com outras pessoas. Muitas vezes tornamo-
parece conter um erro gramatical. nos muito envolvidos com o primeiro tipo, e perdemos de vista o
segundo. Em várias partes desta porção semanal, porém, vemos
"Quando fores para a guerra contra teus inimigos" – começa o a sensibilidade que é necessária para aquelas mitsvot que
versículo – "e o Eterno teu D-us o entregará em tuas mãos." Por envolvendo o homem e seu próximo.
que a Torá começa o versículo com o plural e continua no
singular? A Torá nos diz que se uma pessoa deseja tirar ovos ou filhotes de
um ninho, primeiro deve enxotar a ave mãe (Devarim 22:6). O

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Ramban explica que uma das razões para este mandamento é amadurecer em seu campo ou pomar, deve amarrar uma fita em
para que não ajamos com um coração mau e impiedoso, volta dele para marcá-lo como bicurim.
causando à ave o desconforto de testemunhar alguém tirando
seus filhos. Um dos benefícios da mitsvá é a de fortalecer o autocontrole da
pessoa. É tentador degustar o primeiro fruto maduro de uma
A Torá também nos ordena não arar com um boi e um burro espécie que não estava disponível já há algum tempo. Em vez
juntos (ibid. 22:10). O Da'as Zekeinim explica que uma das razões disso, nós somos obrigados a nos refrearmos, e reservá-lo para
da proibição pode ser o fato de que o boi fica ruminando, ao D’us.
passo que um burro não o faz. Imagine o sofrimento do burro se,
trabalhando lado a lado com o boi, virar a cabeça e vir o boi O dono do campo espera até que as várias espécies de frutos
mastigando. "Onde ele conseguiu comida," poderia o burro tenham amadurecido para levá-los ao Bet Hamicdash. Se ele
pensar, sofrendo pelo fato de o boi ter comida e ele não. calcula que as primeiras frutas irão apodrecer antes de começar
sua jornada, ele deve preservá-las. Por exemplo, transformando
Em ambos os casos, a Torá nos ensina uma incrível lição de os figos em figos secos e as uvas em passas. Apesar de que ele
sensibilidade, que devemos ter para não provocar desconforto e só precisa dar uma fruta como bicurim, quanto mais ele
sofrimento nos outros. Se a Torá pode ser tão exigente sobre acrescentar, maior será sua mitsvá. Bicurim são recebidos
quão sensíveis devemos ser a estes animais, quanto mais anualmente pelos cohanim entre Shavuot e Chanucá.
tratando-se de sermos sensíveis com outras pessoas.
As frutas devem ser trazidas ao Bet Hamicdash em algum
Rabi Paysach Krohn enfatiza esta idéia e relata a seguinte recipiente, como uma cesta, e preferivelmente, uma espécie em
história, que exemplifica como devemos ir longe para impedir o cada recipiente. Se todas elas precisam ser colocadas no mesmo
sofrimento de outra pessoa. Houve certa vez um homem que recipiente, deve-se proceder da seguinte forma: a cevada por
sempre carregava consigo um pacote com moedas de cinquenta baixo, por cima dela o trigo, acima dele as azeitonas, as tâmaras,
centavos. Após sua morte, alguém revelou a razão para isso. No as romãs, e finalmente os figos por cima de tudo. Entre cada
local onde o homem ia para rezar, pessoas pobres sempre o camada de fruta deve haver uma divisória, como folhas, e a
cercavam, pedindo contribuições. camada de cima é circundada por cachos de uvas.

Este homem percebeu que se tirasse um real e pedisse troco, o Como os Bicurim Eram Trazidos para Yerushalayim
pobre sentiria um entusiasmo momentâneo, à possibilidade de
ganhar um real inteiro. Então, teria que pedir troco, e o pobre As cidades de Êrets Yisrael eram agrupadas em distritos. Os
ficaria desapontado. A fim de evitar o desconforto passageiro da habitantes de cada cidade de um mesmo distrito se reuniam em
pessoa necessitada, este homem sempre tinha um suprimento de um lugar e viajavam juntos para Yerushalayim para trazer os seus
moedas de cinquenta centavos, para que tivesse o troco certo bicurim.
quando fosse necessário.
A mitsvá era engrandecida quando realizada por toda a
Esta história serve como exemplo de como devemos ser congregação. Os viajantes descansavam à noite em céu aberto
sensíveis aos sentimentos dos outros, sempre nos esforçando (evitando assim a possibilidade de ficarem impuros, pois alguém
para impedi-los de passar por qualquer sofrimento desnecessário. que estivesse numa casa que contivesse um cadáver, suas
Quando alguém precisa de uma mão amiga, não importa se o primícias se tornariam impuras e portanto inaptas para serem
problema é grande ou pequeno, é nosso dever oferecê-la. trazidas ao Bet Hamicdash). De manhã, o líder anunciava:
"Levantem-se, e vamos a Tsiyon, à casa do nosso D’us!"
Pois se a Torá pode preocupar-se com o mal-estar temporário de
um burro, certamente espera-se de nós que dediquemos algum Um boi, que mais tarde seria oferecido como oferenda, ia à frente
tempo a evitar o sofrimento de uma pessoa necessitada. E se da procissão; seus chifres cobertos com ouro e uma grinalda de
devemos ser tão cuidadosos para impedir que alguém sofra, folhas de oliva enfeitava sua cabeça. Os viajantes recitavam
mesmo que seja o desapontamento momentâneo de um pobre (Salmos 122:1) "Eu ficava feliz quando me diziam: ‘Vamos à Casa
que percebe que irá receber apenas parte daquilo que imaginava, de D’us.’" Flautistas proviam acompanhamento musical até que a
muito mais não devemos ser a fonte daquele desconforto, procissão alcançasse Yerushalayim.
humilhando ou depreciando ridicularizando os outros.
Os viajantes paravam nos portões para arranjar e decorar seus
Com isso em mente, que sejamos capazes de cumprir todas as bicurim, enquanto avisavam que eles haviam chegado à cidade.
mitsvot – tanto aquelas entre o homem e D’us quanto aquelas Eles eram recebidos por vários cohanim (sacerdotes), leviyim
entre as pessoas – com a devida sensibilidade e respeito uns (levitas) e tesoureiros do Bet Hamicdash, que saíam para
pelos outros. cumprimentá-los. Ao entrar na cidade os viajantes proclamavam
(Salmos 122:2) "Nossos pés estavam em seus portões,
50 - Parashat Ki Tavô Deuteronômio 26:1-29:8 Yerushalayim."

A Mitsvá de Bicurim Os trabalhadores de Yerushalayim paravam seu trabalho,


levantavam-se e cumprimentavam os recém-chegados: "Nossos
Os primeiros frutos são trazidos das sete espécies pelas quais irmãos de tal cidade, sejam bem vindos!" (Eles assim honravam
Êrets Yisrael é abençoada: trigo, cevada, uva, figo, romã, azeitona os cumpridores da mitsvá. Para demonstrar nosso respeito
e tâmara. àqueles que estão cumprindo uma mitsvá, nós costumamos nos
levantar, como por exemplo quando um bebê é trazido para o
Quando o proprietário de um campo nota que o primeiro fruto (de Berit Milá.)
qualquer um dos tipos acima mencionados) começou a

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Os flautistas continuavam a tocar e os viajantes continuavam a Aquele que oferecia os bicurim deveria trazer oferendas e passar
recitar os versos dos Salmos até chegarem ao Monte do Templo. a noite em Yerushalayim antes de retornar a sua casa. Esta
Aí todos, inclusive o próprio rei, colocavam suas cestas sobre os mitsvá era chamada de liná, ou seja, pernoitar em Yerushalayim.
ombros e pessoalmente apresentavam-nas ao cohen. Quando a Uma das razões para pernoitar lá é que D’us queria que aquele
procissão entrava na Azará (o pátio do Bet Hamicdash) os leviyim que oferecia os bicurim, depois de ter comparecido ao Bet
cantavam: "Te louvarei, D’us, por ter me erguido e não ter deixado Hamicdash, absorvesse plenamente a santidade de Yerushalayim
meus inimigos regozijarem-se em mim."(Salmos 30:2). antes de retornar a seu lar, para que a mitsvá tivesse um efeito
duradouro sobre ele.
Os viajantes tinham anexado pombas aos lados de suas cestas e
davam-nas para os cohanim, como oferenda. Com as cestas A mitsvá de bicurim, as primícias, é um exemplo impressionante
ainda em seus ombros, cada judeu recitava o verso dos esforços que os judeus fazem para embelezar as mitsvot.
(Deuteronômio 26:3): "Eu declaro hoje a D’us, nosso D’us, que eu Somente um profundo amor para a mitsvá poderia converter o
vim à terra que D’us prometeu aos nossos antepassados que a mandamento de "trazer os primeiros frutos ao Bet Hamicdash" em
daria para nós." Ele assim reconhecia que D’us manteve a Sua um glorioso procedimento – uma festiva procissão até
promessa para com os nossos antepassados, e que ele trouxe Yerushalayim, o recital das escrituras acompanhado de música, e
para o Bet Hamicdhash um presente de bicurim da sua porção de a apresentação de cestas de frutos cuidadosamente arranjadas e
terra. Enquanto o proprietário segurava a alça da cesta, o cohen decoradas para os cohanim.
colocava suas mão sob esta, e juntos, eles erguiam a oferenda.
O midrash nos conta:
Lendo a Declaração de Bicurim
A Voz Celestial
A fruta era colocada em frente ao altar (os bicurim eram
colocados próximos do altar para simbolizar que eles não eram Depois de o judeu ter cumprido a mitsvá de bicurim, uma voz
trazidos para o cohen, mas sim para D’us, Que os dava de celestial podia ser ouvida no Bet Hamicdash: "Que você tenha o
presente aos cohanim). E o proprietário recitava em hebraico o mérito de trazer seus bicurim no próximo ano mais uma vez!"
capítulo referente aos bicurim (Deuteronômio 26: 5 -10).

Originalmente, aqueles que sabiam ler hebraico recitavam o texto


sozinhos, e aqueles que não sabiam, um leitor realizava a mitsvá. Similarmente, nossos sábios nos contam que dois anjos
Quando os sábios perceberam que os judeus não letrados acompanham o judeu da sinagoga para casa na noite de Shabat –
abstinham-se de trazer bicurim ao Bet Hamicdash, pois tinham um anjo misericordioso e um anjo negativo. Se as velas de
vergonha, eles instituíram que o texto fosse lido por um terceiro Shabat estão acesas, a mesa posta, e a casa preparada para
em qualquer caso. (Similarmente, em tempos passados a Torá honrar o Shabat, o anjo bom clama: "Que seja a vontade de D’us
era lida na sinagoga por aqueles que eram chamados para recitar que no próximo shabat seja a mesma coisa!" O anjo negativo vê-
a bênção. Já que algumas congregações não sabiam ler, foi se obrigado a responder "Amen". Se, D’us nos livre, a casa não
instituído que a Torá deve ser lida por um expert, comum a todos.) está preparada para o Shabat, o anjo negativo clama: "Espero
que no Shabat que vem seja a mesma coisa!" E o anjo bom vê-se
A Torá ordena ao proprietário dos bicurim para ler justamente esta obrigado e responder "Amen".
porção da Torá porque ela descreve a bondade de D’us para com
os judeus. O proprietário reconhece sua gratidão por tudo que Sempre que um indivíduo cumpre uma mitsvá, ele cria um anjo
D’us fez por ele. O texto relata os sofrimentos e as aflições do que o ajuda a cumprir mais mitsvot.
nosso povo, pois para apreciar as bênçãos deve ter em mente os
Separação do Maasser
infortúnios do passado. Isso é o que se lê, enquanto se segura os
bicurim (versículos encontrados na nossa parashá – Os membros da tribo de Levi recebem alguns presentes de Benê
Deuteronômio 26:5): Yisrael. Isso inclui terumá (doação) para o cohen e maasser
(dízimo) para o levi. Todo judeu também deve separar o maasser
"E ele (Yaacov) desceu ao Egito com pouca gente e lá tornou-se
sheni (o segundo dízimo), e comê-lo em Yerushalayim (Parashat
um povo poderoso e numeroso. E os egípcios nos maltrataram e
Reê). Em alguns anos, deve-se dar também o maasser ani, o
nos afligiram e colocaram sobre nós trabalho duro. Nós gritamos
dízimo para os pobres, no lugar do maasser sheni.
para D’us, D’us dos nossos pais, e D’us ouviu nossa voz, e viu
nossa miséria, nossa labuta e nossa aflição. E D’us nos tirou do Deve-se seguir algumas leis para cumprir a mitsvá
Egito com mão forte e braço estendido e com grande temor, com adequadamente. Não se deve separar menos do que um décimo
sinais e maravilhas. E Ele nos trouxe para este lugar, e nos deu da colheita da primavera, achando que poderá separar uma parte
esta terra, a terra onde jorram o leite e o mel." extra da colheita do outono. Não se pode também comer o
segundo dízimo quando se está enlutado por um parente morto
Já que eu reconheço que tudo o que possuo é graças à bondade
que ainda não tenha sido enterrado.
de D’us:
Quem é que verifica se o indivíduo separou a quantidade
"E agora, portanto, eu trouxe as primícias da terra que Tu, D’us,
adequada de cada tipo de maasser?
me deste."
Ninguém. A Torá ordena que a cada três anos, todo indivíduo
Completada a leitura, os bicurim são erguidos uma segunda vez,
deve verificar a si próprio, se ele separou as quantidades certas
o proprietário coloca-os ao lado do altar, prostra-se e deixa o Bet
de maasser do seu produto. Se perceber que não, ele deve
Hamicdash. Os bicurim eram distribuídos entre os cohanim que
separar o maasser naquela hora e dá-lo para um levi.
estavam em serviço no Templo Sagrado.

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Deve-se também separar terumá e chalá (uma parte da massa) em Êrets Yisrael do cumprimento da Torá. Somente ao preservar
para o cohen. Se não separou o segundo dízimo, ele deve fazê-lo a Torá eles preservariam a terra. D’us ordenou que mais dois
naquele momento e trazê-lo para Yerushalayim. Assim também, grupos de pedras fossem erguidos pelo próximo líder, Yehoshua.
se não tirou o dízimo dos pobres quando tinha de fazê-lo, deve
dá-lo agora para os necessitados. Yehoshua e Benê Yisrael atravessariam o rio Jordão para entrar
na Terra de Yisrael. Yehoshua deveria colocar doze pedras no
No último dia de Pêssach do quarto e do sétimo ano de cada ciclo local onde Benê Yisrael atravessaria o rio.
de shemitá (ano sabático), o judeu deve proferir o vidui maasser
(a confissão do dízimo), que atesta que ele cumpriu todas as leis Outras doze pedras deveriam ser removidas do rio Jordão e ser
de maasser. Isto o ajuda a ser cuidadoso ao separar os dízimos carregadas até o monte Eval. Esta é uma montanha no centro de
corretamente. Depois da confissão, pede-se a D’us que abençoe Êrets Yisrael. Yehoshua e Benê Yisrael deveriam construir um
Benê Yisrael com chuva e produtos deliciosos: altar com as pedras tiradas do rio Jordão para fazer oferendas
para D’us. Depois de escrever a Torá nas pedras do altar, Benê
"Eu cumpri meus deveres; agora Tu, D’us, cumpre a Tua parte: Yisrael deveria pegá-las e levá-las novamente até a fronteira da
observe da residência da Tua santidade, dos Céus, e abençoe o terra de Canaan. Elas eram deixadas lá como um memorial.
Teu povo, Israel, e a terra que Tu nos deste assim como
prometeste para os nossos pais, uma terra onde as frutas são Como as instruções de Moshê foram executadas na época de
gordas como o leite e doces como o mel." Yehoshua?

Enquanto os judeus separassem os dízimos, as frutas teriam Uma história do livro de Yehoshua
sabor e aroma deliciosos e seriam suculentas; quando eles
parassem, estas bênçãos cessariam. A Entrada Miraculosa de Benê Yisrael para Êrets Yisrael

Por que esta declaração é chamada de "confissão", apesar de Moshê faleceu no deserto. Seu aluno Yehoshua levou Benê
não mencionar nenhum pecado? Yisrael até o rio Jordão, na fronteira de Êrets Yisrael.

Se Benê Yisrael não tivessem idolatrado o bezerro de ouro, o No dia 9 de Nissan, 2488, Yehoshua anunciou: "Preparem-se!
serviço Divino permaneceria como privilégio dos primogênitos, e Amanhã vocês atravessarão o Jordão de forma milagrosa!"
todas as casas judias poderiam ser um templo sagrado. Somente
Era época da primavera. Após a estação chuvosa, o rio Jordão
por causa da recaída espiritual do povo tornou-se necessário
estava transbordante. No dia seguinte, Yehoshua comandou os
retirar dízimos de casa para dá-los aos cohanim e leviyim. Por
oficiais: "Percorram o acampamento e clamem: ‘O Aron (arca
isso, nós confessamos
sagrada que continha as tábuas da lei) irá na frente. Todos devem
Revisão da Torá segui-lo, porém mantenham distância dele, em sinal de respeito.’"

Moshê completou a revisão da Torá e o ensinamento das mitsvot. Yehoshua escolheu quatro cohanim. "Em vez dos leviyim, vocês
(O resto das parashiyot do livro de Devarim referem-se a fortificar carregarão o aron hoje" – ele instruiu. "Vocês são mais santos
a observância da Torá: escrever a Torá em pedras ao atravessar que os leviyim. Hoje um milagre se realizará por intermédio do
o rio Jordão; um novo pacto com Benê Yisrael; predições sobre o aron."
futuro; e admoestação para retornar a D’us em tempos de
D’us orientou Yehoshua: "Diga aos cohanim que carregam o aron
angústia.
para entrarem no Jordão e ficarem parados dentro da água, às
Agora Moshê exortou Benê Yisrael: "Vocês receberam a Torá há margens do rio."
quarenta anos no Monte Sinai, porém seus ensinamentos devem
Yehoshua reuniu Benê Yisrael e anunciou: "Um milagre
ser todo dia novos e frescos para vocês como se fosse o primeiro
acontecerá agora. Este irá confirmar que o D’us Vivo está entre
dia que vocês os ouviram. O objetivo do estudo da Torá é para
vocês. Ele expulsará os canaanitas, os chitim, os chivim, os
saber a vontade de D’us e para cumpri-la de todo o coração (e
perizim, os guirgashim, os emorim e os yevussim.
não mecanicamente).
"D’us secará o Jordão para vocês."
"Vocês proclamam diariamente a unicidade de D’us através do
versículo ‘Shemá Yisrael – ouça Yisrael.’ "Em retorno, D’us Os cohanim marcharam com o aron à frente do povo. Eles
declara que vocês também são únicos: ‘E quem é como o teu entraram no rio Jordão e ficaram parados nas suas margens.
povo, Israel, uma nação na Terra’ (Shemuel II 7:23)! Imediatamente, o rio parou de correr. Ele amontoou-se em uma
alta muralha de água. Agora havia uma região seca para Benê
"Ele lhes prometeu na outorga da Torá que vocês são Sua
Yisrael atravessar. Os cohanim permaneceram de lado, parados
preciosa nação. Já que vocês estudam Sua Torá e são uma
dentro da água, próximos à margem leste do rio, até que todo o
nação sagrada, vocês serão reconhecidos como supremos por
povo tivesse atravessado para a margem oeste do rio com
todas as nações e elas os louvarão."
segurança. Aí eles voltaram para a margem leste. A muralha de
D’us e o povo de Israel são inseparáveis. água começou a jorrar novamente para dentro do rio, que logo
ficou cheio como antes do milagre. Os cohanim ficaram parados
O Memorial de Pedras na margem leste do rio, enquanto todo o povo estava na margem
oeste, dentro da terra de Canaan.
D’us ordenou a Moshê: "Erga doze pedras enormes nas planícies
de Moav. Escreva a Torá sobre elas." Moshê fez como D’us Como os cohanim poderiam atravessar?
ordenou. As pedras serviam para lembrar a geração que entrou

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Um outro milagre ocorreu: o aron elevou-se para o ar e carregou a eternas que lembrariam os judeus de sua promessa de cuidar da
si mesmo e aos cohanim em direção do povo! Os milagres Torá em Êrets Yisrael.
encheram Benê Yisrael de um temor respeitoso. Eles
exclamaram: "Vejam quão grande é Yehoshua! Ele merecia ser o Os leviyim deveriam amaldiçoar aquele que cometesse um dos
líder depois de Moshê! Vamos obedecê-lo assim como onze pecados apontados (e abençoar aqueles que se
obedecemos ao seu mestre!" abstivessem deles). Estes pecados são geralmente cometidos em
segredo, portanto não podem ser punidos por uma corte de
Yehoshua fez como Moshê ordenou na Torá, colocando doze justiça.
pedras no rio Jordão, no local onde o povo judeu atravessou.
Estas pedras lembrariam às futuras gerações do milagre lá Eles são:
ocorrido.
* Abençoado seja o homem que não molda secretamente uma
Yehoshua continuou a cumprir os mandamentos de Moshê , imagem de idolatria! Amaldiçoado seja aquele que o faz!
dizendo para um homem de cada tribo pegar uma pedra do
Jordão. Eles carregaram estas pedras enormes até o monte Eval. * Abençoado seja o homem que não despreza seu pai e sua mãe!
Usando essas pedras, construíram lá um altar, fizeram oferendas Amaldiçoado seja aquele que despreza seu pai e sua mãe [um
e depois escreveram sobre aquelas pedras a Torá. No monte Eval pecado cometido freqüentemente em segredo]!
e na montanha próxima dele, leram as bênçãos e as maldições.
* Abençoado seja o homem que não move a demarcação de
Então desmontaram o altar e carregaram as pedras de volta para fronteira do seu vizinho [secretamente, para roubar sua terra]!
a fronteira de Êrets Yisrael, onde as colocaram como um Amaldiçoado seja aquele que o faz!
memorial para as gerações futuras. Todo judeu que entrasse em
* Abençoado seja o homem que não induz o cego a errar no seu
Êrets Yisrael veria estas doze pedras nas quais foi escrita a Torá.
caminho (que não dá conselhos errôneos para um indivíduo
Se perguntasse: "Para que servem estas pedras?" Lhe seria dito:
ignorante)! Amaldiçoado seja aquele que o faz!
"Elas mostram que D’us dá a terra aos judeus sob a condição de
preservarem a Torá e as mitsvot." * Abençoado seja o homem que não perverte o julgamento de um
guer (convertido), de um órfão e de uma viúva! Amaldiçoado seja
Bênçãos e Maldições
aquele que o faz!
Há duas montanhas em Êrets Yisrael na vizinhança de Shechem
* Abençoado seja o homem que não deita (secretamente) com a
– monte Guerizim e monte Eval. Moshe ordenou que no dia que
mulher do seu pai! Amaldiçoado seja aquele que o faz!
os judeus entrassem em Êrets Yisrael, sob liderança do seu
sucessor, eles deveriam viajar diretamente àquele lugar, para * Abençoado seja o homem que não deita (secretamente) com um
pronunciar as bênçãos e as maldições de D’us da seguinte animal! Amaldiçoado seja aquele que o faz!
maneira:
* Abençoado seja o homem que não deita (secretamente) com a
Seis tribos deveriam subir o monte Guerizim: Shim’on, Levi, sua irmã! Amaldiçoado seja aquele que o faz!
Yehuda, Yissachar, Yossef e Binyamin. Mais seis no monte Eval:
Reuven, Gad, Asher, Zevulun, Dan e Naftali. * Abençoado seja o homem que não deita (secretamente) com a
sua sogra! Amaldiçoado seja aquele que o faz!
O aron Hacodesh (Arca Sagrada), os cohanim e os mais velhos
dentre os leviyim deveriam ficar no vale entre as duas montanhas, * Abençoado seja o homem que não atinge seu próximo
os cohanim formando um círculo interno em volta do aron e os secretamente [falando mal dele]! Amaldiçoado seja aquele que o
leviyim formando um círculo externo em volta dos cohanim. faz!
Virando seus rostos em direção ao monte Guerizim, os mais
velhos entre os leviyim proclamavam a primeira bênção para que * Abençoado seja o homem que não pega suborno [ou qualquer
as tribos das duas montanhas pudessem ouvir: outro ganho financeiro] para matar um inocente! Amaldiçoado seja
aquele que o faz!
"Abençoado é o homem que não faz uma imagem esculpida ou
fundida." As tribos das duas montanhas deveriam responder: * Abençoado seja o homem que cumpre todas as palavras da
"Amen – que assim seja." Então os mais velhos dentre os leviyim Torá! Amaldiçoado seja aquele que não o faz!
viravam-se para o monte Eval e pronunciavam a primeira
maldição: "Amaldiçoado é o homem que faz uma imagem A última bênção e maldição é abrangente. Moshê abençoou o
esculpida ou fundida." As tribos das duas montanhas deveriam judeu que aceita a Torá sobre si e amaldiçoou aquele que não o
responder: "Amen – que assim seja." faz. O povo deveria responder "amen" depois de cada bênção ou
maldição.
Os leviyim deveriam continuar a pronunciar alternadamente uma
bênção e uma maldição. (Apesar de que a Torá escrita somente O livro de Yehoshua relata que no dia em que entraram em Êrets
declara as maldições, cada maldição era antes formulada Yisrael, os judeus viajaram até os montes Guerizim e Eval e
positivamente, como uma bênção). pronunciaram as bênçãos e as maldições assim como a Torá
ordenou.
Por que D’us ordenou que os judeus escutassem a bênçãos e
maldições no dia que entrassem na Terra Santa? Depois disso, Moshê continuou a pronunciar bênçãos pelo
cumprimento da Torá e reprovações pela sua transgressão.
Este seria um novo pacto, uma nova aceitação da Torá na própria
Terra Santa. As duas montanhas serviriam como testemunhas Bênçãos e Advertências

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Na Parashá de Bechucotai, no livro de Vayikrá, D’us prometeu O Rebe lhe respondeu que a bênção é como a chuva. A chuva só
bênçãos para Benê Yisrael por cumprirem a Torá e punições – tem valor quando o fazendeiro ara o campo, cultiva o solo e o
D’us nos livre – por deixá-la. semeia. Então, se D’us rega o solo com chuva, ele pode antecipar
uma boa colheita. Porém, o fazendeiro que negligencia sua terra e
Moshê estava muito preocupado. Ele temia que depois de sua somente reza pela chuva é ridículo pois nada crescerá lá sem o
morte o povo judia trangredisse a Torá! Por isso, pediu a D’us: esforço requisitado e merecido.
"Posso dar aos judeus mais bênçãos e advertências?" D’us
concordou com o pedido de Moshê. Quando Moshê expressou A palavra "itchá"– "para você", no versículo acima, pode ser
estas bênçãos e advertências adicionais, o Ruach Hakodesh traduzida como "junto com você". A Torá está nos ensinando que
(Espírito de Profecia) pairou sobre ele. A maioria das punições D’us ordenará Sua bênção "em seus armazéns e em todos os
que ele predisse ocorreram na época da destruição do segundo seus empreendimentos" sabendo que tem o "itchá"– a sua
Bet Hamicdash. participação e esforço sincero.

Assim como explicado anteriormente, as bênçãos não são a Nós Seremos o Povo Sagrado de D’us, Respeitados por Todas as
recompensa final pelo cumprimento da Torá, assim como as Nações
maldições não são a punição final pela violação desta. Um
pagamento completo pelas mitsvot será dado somente no Mundo "D’us os estabelecerá como Seu povo santo, e vocês deverão
Vindouro. Até certo ponto, se o povo judeu cumpre a Torá seguir os caminhos que são corretos perante Ele. Todas as
plenamente, D’us o livra de preocupações materiais e o abençoa nações deverão perceber que vocês são chamados pelo nome de
com abundância para lhes dar a oportunidade de cumprir mais D’us quando eles vêem vocês usando seus tefilin, e eles os
mitsvot. Por outro lado, se negligenciam a Torá e as mitsvot, D’us temerão."
os pune com sofrimentos, que limitam suas oportunidades de
cumprir mitsvot. Nossos sábios explicam:

As bênçãos e as maldições, então, indicam para o povo judeu se Os Tefilin São como Uma Coroa
eles estão ou não seguindo o caminho correto. Se forem afligidos
Os tefilin na cabeça são uma coroa especial de D’us. Quando um
por uma ou mais maldições, eles devem reconhecer que o seu
tsadic coloca os tefilin, os não judeus o temem pois ele está
comportamento possuí falhas e devem reparar seus caminhos.
carregando o nome de D’us.
Sucesso
Lemos na história de Purim que Mordechai tornou-se um ministro
D’us nos promete sucesso em nossos negócios na cidade (pelo do rei. Deram-lhe cinco peças de roupa reais para vestir, e uma
mérito das mitsvot que nós cumprimos como moradores urbanos coroa para colocar em sua cabeça. Sobre a coroa, Mordechai
– mitsvot como viver em uma sucá em sucot, afixar mezuzot em colocou os tefilin. Quando os gentios viram os tefilin, tsentiram um
nossas portas, e cercar nossos terraços e tetos). Igualmente, temor e respeito intensos por Mordechai, dizendo um para o
nossos campos serão abençoados (pelo mérito do cumprimento outro: "Ele está usando o símbolo de D’us!"
das mitsvot associadas à agricultura – dando parte da colheita
Nossos sábios nos contam sobre Rav Abin, que certa vez foi
para os levitas e necessitados).
convocado para comparecer perante o imperador. Ao final da
Ele abençoará nossas crianças, nossa produção e nossos audiência, Rav Abin deveria ter andado para trás, para não dar as
animais. suas costas para o imperador, como era o costume naquele país.
Em vez disso, Rav Abin virou-se e simplesmente foi andando. Ele
"Abençoado serás em sua chegada, abençoado serás em sua não percebeu ter cometido um crime imperdoável.
saída!" Serás abençoado ao entrar na casa de estudos e ao sair
para os teus negócios. (D’us promete abençoar o judeu que faz O imperador estava para ordenar a execução do Rav Abin,
da sua "chegada à casa de estudos" i.e., o estudo da Torá, como quando de repente, viu duas faixas de fogo saindo dos tefilin dele.
o principal objetivo de sua vida.) "D’us está com este homem!" – pensou o imperador, com um
tremor. Ele nem pensou em prendê-lo.
Fuga dos Inimigos, Safras Abundantes e Respeito das
Nações O seguinte versículo havia se realizado com o Rav Abin: "As
nações perceberão que vocês carregam o nome de D’us (nos
A Torá promete que os inimigos que vêm com a intenção de nos tefilin), e elas os temerão."
atacar fugirão em diferentes direções.
D’us outorgará bênçãos extraordinárias sobre as suas crianças,
Nossos armazéns estarão repletos com uma abundância de animais e produção. Ele abrirá os Portões Celestiais de
grãos, vinho e óleo, como diz o versículo: abundância e os regará com extraordinária bondade. Vocês serão
capazes de emprestar dinheiro para os gentios, e não precisarão
"D’us ordenará a bênção para você em seus armazéns e em tomar nada emprestado. Vocês serão altamente estimados pelas
todos os seus empreendimentos." nações e não desprezados.

Certa vez um indivíduo pediu uma bênção do sexto Rebe de As acima citadas são dadas sob condição de estrita aderência às
Lubavitch, Rabi Yossef Yitschac Schneerson, e recebeu-a. Alguns mitsvot de D’us, para que as estude e as cumpra. Alguns dos
anos depois, quando o seu genro, o Rabi Menachem Mendl versículos acima mencionados fazem parte da oração semanal
Schneerson, sucedeu-o na liderança de Chabad-Lubavitch, o "Veyiten Lechá" recitada todo sábado à noite após a Havdalá.
indivíduo lhe expressou seu desapontamento pela não-realização
da berachá dada pelo seu sogro. A Repreensão Divina

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Quando Moshê começou a citar as palavras de repreensão, a – Dispersão global, medo do futuro, retorno ao Egito.
Terra foi sacudida, os Céus tremeram, o Sol e a Lua
escureceram, as estrelas perderam o seu brilho, os patriarcas Mashiach e o Entendimento da Torá
choraram em seus túmulos, as criaturas silenciaram, e os galhos
das árvores não mais oscilavam. Quando os judeus ouviram a repreensão, eles ficaram
apavorados. Moshê então reuniu-os todos – homens, mulheres e
Os patriarcas protestaram: "Como nossos filhos serão capazes de crianças – e explicou-lhes que D’us destinou aquelas advertências
agüentar estas punições? Talvez eles perecerão, pois não terão para o seu benefício. Seu sofrimento preveniria sua assimilação
méritos suficientes para protegê-los e ninguém rezará por eles!" entre os povos e lhes garantiria uma porção no Mundo V indouro
com a vinda de Mashiach.
Uma voz Celestial soou das Alturas: "Não temam, patriarcas dos
judeus. O juramento que Eu fiz para vocês não será violado, e Eu Somente recentemente nossa fé na Providência ficou tão chocada
os protegerei". que o sofrimento nos faz questionar a justiça de D’us. Em parte,
isso é graças à sociedade hedonista não judaica que proclama a
Moshê explicou: "As maldições de D’us só terão efeito se vocês boa vida neste mundo como objetivo final.
não cumprirem Suas mitsvot (é sua escolha de evitar que elas se
tornem realidade)." Nossos ancestrais viveram, sofreram e morreram com o
ensinamento judaico enraizado profundamente de que a vida
– A maldição pairará sobre os negócios, sobre a produção, sobre neste mundo é passageira, somente um preparativo para a vida
os filhos e os animais. futura e eterna. O que pode ser considerado um "infortúnio" no
mundo presente pode provar ser uma fonte de felicidade no que
– Confusão e doença está por vir.

– Seca e derrota O Midrash nos Conta:

– Pavor de doenças de pele e confusão mental, falta de conselhos Quando Rabi Shim’on Bar Yochai e seu filho El’azar estavam
escondidos em uma caverna por medo do governo Romano, os
A Torá prediz que se os judeus deixarem a Torá, eles serão como sábios em Êrets Yisrael estavam estudando esta parashá.
"cegos no escuro". Além de se sentirem (espiritualmente)
perdidos e confusos, eles sentirão falta de alguém que poderia Certa vez R. Yosse bar R. Yehuda avistou um grupo de pombas.
ajudá-los e guiá-los. Uma pomba solitária estava perambulando entre elas.

– Fracasso e frustração "Pomba, pomba", ele suplicou, "você é um mensageiro fiel desde
os tempos de Noach e você simboliza o povo judeu. Voe para
– Exílio: Se as desgraças que ocorrerem na sua própria terra não Rabi Shim’on Bar Yochai".
os direcionarem de volta para D’us, vocês serão por fim exilados.
R. Yosse queria saber a explicação das radmoestações. Ele
– Desolação da terra e degradação daqueles que continuam em colocou a pergunta escrita no bico da pomba e ela a levou para
Êrets Yisrael. Rabi Shim’on. Ao ler a mensagem, este começou a chorar e
comentou: "Quão baixo nossa geração afundou, que nós não
Moshê então explicou que D’us pune medida por medida:
sabem nem explicar ou entender corretamente a mensagem da
"Já que vocês não serviram D’us, seu D’us, com alegria e com Torá."
júbilo do coração ao aproveitar o grande número das Suas
O profeta Eliyahu revelou-se para acalmar Rabi Shim’on e dar-lhe
bênçãos, vocês devem, portanto, servir seus inimigos, os quais
uma resposta.
D’us mandará contra vocês, com fome, sede, nus e com
incontáveis necessidades." "Esta parashá foi estudada na Yeshivá Celestial", Eliyahu revelou.
"Neste caso, D’us é mais como um pai que, preocupado com a
* Se vocês não quiserem servir a D’us, vocês terão que servir a
má conduta do seu filho, repreende-o profusamente por
não-judeus.
compaixão e piedade. Na verdade, cada faceta da repreensão
* Se vocês não quiserem contribuir para o Bet Hamicdash, terão vem do amor de D’us para o povo judeu; todas têm o intento de
que pagar tributos para o governo dos inimigos. ajudar a guiá-los em direção ao caminho apropriado.

* Se vocês não repararem as estradas para aqueles que viajam Muitas das admoestações são repetitivas porque D’us previu a
para o Bet Hamicdash, vocês terão que reparar as estradas para longa duração do nosso presente exílio e queria urgentemente
os reis. advertir os judeus para fazerem teshuvá. Mesmo a mais severa
das maldições, ‘Toda doença e praga que não estão escritas
* Se vocês não servirem a D’us com alegria em tempos de neste livro da Torá D’us trará sobre vocês’, é expressa
prosperidade, vocês terão que servi-Lo com fome e necessidades. ambiguamente.

– Um povo de um país distante sitiará Yerushalayim, e virão a ‘Ele trará sobre você’ (ya’lem alecha) pode significar também ‘Ele
fome e o sofrimento como resultado omitirá de você’ (do radical leha’alim – omitir) – em outras
palavras, Ele não as trará sobre vocês. A repreensão deve ser
– O destino dos exilados se eles não cumprirem a Torá. Que lida com uma apreciação do profundo desejo Divino de que os
aqueles que estiverem exilados não acreditem que com a judeus não abandonem a Torá, e que aqueles que o fizeram,
expulsão da terra, D’us os livrou da obrigação de cumprir a Torá! retornem a Ele."

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Eliyahu revelou mais um segredo para o Rabi Shim’on Bar Curiosamente, enquanto os frutos trazidos eram o que havia de
Yochai: "O versículo ‘E D’us os retornará para o Egito em navios’ melhor, e somente selecionados das sete variedades pelas quais
é uma bênção disfarçada. Isso é uma dica que no futuro D’us a terra de Israel é enaltecida, o cesto utilizado era feito de um
realizará milagres similares àqueles ocorridos após o Êxodo. As material comum. Esta aparente contradição no mandamento do
nações virão em navios e tentarão destruir os judeus, porém em bikurim contém uma alusão à descida da alma das altas esferas e
vez disso estes navios serão afundados. sua encarnação num corpo físico aqui embaixo.

Quando a pomba retornou à noite com a mensagem do Rabi Os frutos do bikurim são simbólicos da alma; o cesto é o corpo
Shim’on Bar Yochai para o Rabi Yosse, este último exclamou físico. Entregar o cesto ao sacerdote representa o propósito para
maravilhado: "Pomba, pomba, você é a mais fiel das criaturas!" o qual a alma fez esta drástica descida.

Ele mostrou a mensagem do Rabi Shim’on para os sábios e Em geral, os primeiros frutos são simbólicos do povo judeu; mais
declarou: "Mesmo que nós não sabemos o paradeiro de Rabi especificamente, da alma Divina que existe Acima, totalmente
Shim’on, onde quer que ele esteja, a Torá com certeza lá está. transcendente em relação ao mundo físico. O plano de D’us, no
Afortunada é a sua porção!" entanto, é para que esta alma purificada seja revestida num
corpo, um "recipiente" grosseiro e inferior que a contém, por
Uma História: assim dizer.

Quando o Rabi Shneur Zalman de Liadi (o primeiro Rebe de Este recipiente torna difícil para a alma expressar sua conexão
Chabad) vivia em Liozna, ele era o ba’al korê – leitor da porção com D’us, até o ponto de obscurecer sua verdadeira missão no
semanal – no shabat. Certa vez, ele estava fora na semana de mundo. Mais uma vez, assim como no mandamento de bikurim, o
parashát Ki Tavô, e outra pessoa a leu em seu lugar. Seu filho, "fruto" sagrado e superior está contido e até restrito nos confins
Rabi Dov Ber (que mais tarde o sucedeu como líder de Chabad), de um simples e despretensioso "cesto".
ainda não era Bar Mitsvá e desmaiou quando as maldições foram
lidas, e ficou muito doente. Tanto, que era questionável se ele A Chassidut fornece a razão para isso, explicando que a descida
poderia jejuar no Yom Kipur. Depois de ser reavivado, foi-lhe da alma para um corpo físico é "uma descida com o propósito de
perguntado por que ele foi mais afetado agora do que em anos ascender": É precisamente por meio de sua permanência no
anteriores? Ao que ele respondeu: plano físico, tendo de enfrentar as dificuldades deste mundo e
superá-las, que a essência da alma é revelada e um nível mais
"Quando meu pai lê a Torá, ninguém ouve nenhuma maldição." elevado de espiritualidade é atingido – muito mais elevado do que
jamais poderia ser atingido sem passar pela descida inicial.
Para o Rabi Sheneur Zalman, a maldições não eram o desejo final
de D’us. Ao contrário, D’us ama seu povo e quer regá-los com Em princípio, "frutos" somente não é o suficiente; o objetivo da
bênçãos. Estas maldições são somente superficiais, e ocultas descida da alma é "frutos dentro de um cesto".
dentro delas há bênçãos que o povo judeu eventualmente
merecerá. O crescimento da alma é conseguido através do cumprimento de
mandamentos práticos, que somente podem ser feitos com a
Um exemplo de bênçãos ocultas pode ser achado no seguinte ajuda do "recipiente" – o corpo físico. Pois na verdade, a alma já
passuk: "Shorechá tavuach le’enêcha velô tochal mimênu, estava repleta de amor e reverência por D’us antes de descer ao
chamorechá gazul milefanêcha velô yashuv lach, tsonechá mundo material; a única mudança que experimenta ao se
netunot leoyevêcha veên lechá moshía." – "Seus bois serão encontrar num corpo é que agora pode cumprir mandamentos
abatidos perante os seus olhos e não comerás dele, seu burro físicos, algo que anteriormente lhe era impossível. Assim, a alma
será roubado de ti e não retornará, seu rebanho será dado aos se torna capaz de elevar o mundo físico e transformá-lo em
seus inimigos e não terás nenhum salvador." (28:31). santidade – a intenção de toda a criação.

Quando este passuk é lido de trás para frente, ele está cheio de Planejando um Casamento
bênçãos:
Quem não adora um casamento? A música, as flores, as iguarias,
"Moshía lechá ve’ên leoyevêcha"– "Ele ajudará a vocês e não aos a linda noiva, o pai abençoando a filha, a chupá (canópia nupcial),
seus inimigos"– "yashuv lach tsonechá netunot" – "o seu rebanho a quebra da taça e o grito de "Mazal Tov!"
que foi dado para outros retornará para você"– "velô milefanêcha
gazul Chamorêcha" – "Teu burro não será roubado de ti" – Para a noiva, o noivo e a família imediata, há um constante
"mimênu tochal velô le’enêcha tavuach shorêcha"– "Você comerá crescendo de entusiasmo, antecipação e preparação. A noiva e o
dele e seu boi não será abatido perante os teus olhos". noivo, em especial, estão vivendo para o casamento e todos
aqueles planos: eles comem, respiram e até dormem pensando
Vivendo com o Rebe - Bikurim em cada detalhe do importante acontecimento. Para os outros, o
nível de envolvimento é bem menos intenso.
Adaptado de Likutei Sichot do Rebe vol. 29.
Um conhecido precisa apenas saber da aproximação da data do
A porção desta semana da Torá, Ki Tavô, começa com o casamento. Uma rápida consulta ao calendário assegura que não
mandamento de bikurim – primeiros frutos. "Tu os colocarás em há planos conflitantes. Poucos dias antes do casamento, a
um cesto… e o sacerdote tirará o cesto de tua mão." pessoa compra um presente, e algumas horas antes se apronta
para ir. Mas até que se chegue de fato ao casamento, os milhões
Um estudo mais acurado das leis de bikurim da Torá revela que a
de detalhes merecem pouca consideração. Você tem de vê-los,
apresentação do cesto (geralmente feito de vime) ao cohen
para ficar realmente empolgado.
(sacerdote) era parte integrante do mandamento em si.

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Um parente próximo ou um amigo ficam mais envolvidos nos exemplo [de um povo oprimido] porque não serviram a D'us
preparativos, talvez até falando sobre eles a colegas que não enquanto estavam num estado de felicidade e satisfação, e
conhecem o noivo ou a noiva. O entusiasmo é mais concreto. tinham tudo que necessitavam" (Devarim 28:46-47). A Torá está
Semanas antes, você pensa sobre o que vai vestir. Fica pensando falando sobre uma época em que seremos abençoados com
e repensando sobre qual será o presente perfeito, e talvez se muita riqueza material. Durante este tempo, diz a Torá, o povo
envolva no planejamento das comemorações, antes ou depois do pode decidir usar sua fortuna em maneiras contrárias às que D'us
evento. O casamento, com todos os seus detalhes, é muito mais pretendia.
real para você que para o conhecido que somente aparece na
hora exata. Muitos de nossos ancestrais vieram da Europa na esperança de
uma vida melhor, livre da pobreza e perseguição do shtetl. Muitos
E imagine se você fosse a noiva ou o noivo, ou os pais do casal? deles vieram também por uma razão diferente – queriam viver em
Meses antes da cerimônia tudo já seria bem real porque estaria um lugar onde pudessem praticar sua religião livremente, onde
ativamente mergulhado em cada detalhe do grande pudessem encontrar os meios econômicos para poderem
acontecimento. A empolgação, a antecipação e a ansiedade por perpetuar o estudo de Torá e o cumprimento das mitsvot.
aquele dia seriam palpáveis.
Existem incontáveis histórias de judeus que ouviram de seus
patrões: "Se não vier trabalhar no sábado, não precisa vir na
segunda," e mesmo assim recusaram-se teimosamente a
Não é difícil perceber que quanto maior o envolvimento nos trabalhar no Shabat. Estes imigrantes estavam repletos de uma
planos para o casamento, seja você da família, amigo ou um crença simples em seu Criador, uma fé nascida e alimentada por
profissional contratado, mais real ele se torna em sua vida. suas experiências nas belas sociedades judaicas da Europa.

Este cenário é semelhante à revelação de Mashiach e a Seu auto-sacrifício pode ser uma inspiração a todos nós. Se
Redenção Final. Pois, certamente, a Redenção foi comparada a conseguiram ter lugar para o Judaísmo em sua vida a um custo
um casamento, especificamente a consumação do casamento pessoal tão elevado, certamente podemos estudar e observar
entre D’us e o povo judeu que ocorreu no Monte Sinai. mais a Torá porque, graças a seus esforços, nossos sacrifícios
são muito menores. Aceitemos esta lição em nossos corações ao
Quanto mais nos envolvemos nesse casamento supremo, mais se aproximarem os Grandes Dias Festivos.
participamos nas ações práticas e atividades corretas
relacionadas à Redenção, mais empolgados automaticamente Tornemo-nos mais ativos em nossas sinagogas, assistindo aulas
ficaremos, e mais real este enlace será em nossa própria vida. de estudo de Torá, e dizendo ao mundo: "Sou um judeu religioso
e há um propósito e um significado em minha vida." Por este
O Rebe ensina que devemos estudar mais sobre Mashiach e a mérito, que D'us afaste as maldições de nossas vidas e nos
Redenção, como uma preparação para este evento único. Além conceda apenas bênçãos.
disso, devemos nos engajar em ações práticas e atividades
corretas que nos prepararão ainda mais para este casamento; 51 - Parashat Nitsavim Deuteronômio 29:9-30:20
mitsvot que ajudarão a apressar a Redenção e nos acostumar ao
que será viver na Era Messiânica. Moshê Consola o Povo de Israel

Pode ser algo simples como mais uma boa ação, outra gentileza, Na parashá passada, Moshê advertiu os judeus sobre os
para nos preparar para um mundo onde a bondade de D’us ficará diferentes castigos que receberiam se pecassem. A nação tremeu
claramente evidente e onde as qualidades positivas inatas da de medo. "Como sobreviveremos a tais sofrimentos?" Benê
pessoa brilharão para criar um mundo pacífico, sadio e Yisrael pensaram. "É tão difícil evitar pecar; temos medo de que
benevolente. todos nós pereçamos."

Terra da Oportunidade Moshê viu seus semblantes transtornados pelo pânico. Por isso,
tão logo terminou de falar sobre os castigos, começou a consolar
por Stuart Werbin os judeus: "Não temam! A nação judaica sobreviverá neste
mundo e no olam habá (mundo vindouro). As demais nações
"Vovô, pode me dar 20 pratas para ir ao Fliperama?" sofrerão menos neste mundo, mas serão destruídas por causa de
sua perversidade.
"Que é isso, Davey? Quer desperdiçar meu dinheiro duramente
ganho com alguma atividade frívola? No meu tempo, não se fazia "Às vezes, o dia começa escuro e nublado. Então, o sol surge
coisas divertidas. Trabalhávamos 18 horas por dia no sol quente, dentre as nuvens, aquecendo e iluminando. Similarmente, por
com pacotes de 10 quilos de livros atados às costas, e então vezes, sua vida pode parecer difícil. Porém, sempre pode almejar
tínhamos de andar 5 quilômetros para a escola pisando sobre à duradoura felicidade do olam habá."
meio metro de neve – ida e volta."
O Novo Pacto de Benê Yisrael
Muitos de nós temos pais, avós ou bisavós que vieram para a
América, com pouco ou nenhum dinheiro ou bens, em busca de Era o dia sete de adar de 2488, dia do falecimento de Moshê.
uma vida melhor. Muitos tiveram sucesso, graças a D-us, e
colhemos os frutos de seu trabalho. Moshê anunciou ao Povo de Israel: "Hoje, selarei um pacto entre
vocês e D’us.
Na porção desta semana, a Torá relaciona muitas maldições que
infelizmente se abaterão sobre o povo judeu se eles não seguirem Vocês devem jurar que serão Seu povo para sempre. Ao jurarem,
os caminhos de D'us. A Torá estipula: "Vocês serão um sinal e um isto incluirá todas as futuras gerações.

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"Todos vocês estão ingressando nesta aliança – seus líderes: "Talvez haja alguém entre vocês que tenha aceitado a Torá
Yehoshua, El’azar, os nessiím (líderes) das tribos, e os anciãos somente superficialmente, e no seu íntimo, pensa: ‘Na verdade,
do Sanhedrin; os juízes de milhares, de centenas, de acredito em outros deuses. Porém, não fiz nada de errado.
cinqüentenas e de dezenas; todos os homens e suas esposas, Pensamentos não contam.
que talvez não compreendam completamente minhas palavras,
mas serão recompensados por ouvi-las e aceitá-las; e as "Saiba que esta atitude igualmente desperta a ira de D’us, pois
crianças, que serão educadas na Torá e mitsvot. pensamentos de idolatria por si só já são transgressões. E daqui a
muitas gerações, estes pensamentos se transformarão em atos."
A aliança inclui os guerim (convertidos) dentre vocês que são
lenhadores e aguadeiros." [Moshê referia-se a um grupo de Então, quando Benê Yisrael servirem ídolos, D’us fará com que a
canaanitas que pediram para serem aceitos como guerim - terra de Erets Yisrael seja queimada, e nada crescerá nela.
convertidos]. Moshê designou-os lenhadores e aguadeiros
comunitários. "Vocês serão exilados e dispersados entre nações estrangeiras.
Estas perguntarão: ‘Por que D’us lida de maneira tão rigorosa
"A aliança abrange até mesmo judeus que nascerão no futuro. com a nação judaica? Nós também somos idólatras, e nossa terra
Apesar de não estarem aqui fisicamente, suas almas estão é fértil.’ E vocês terão de responder: ‘Porque os judeus quebraram
presentes nesta assembléia." (Também em Matan Torá - Outorga o pacto que D’us fez com eles, e serviram outros deuses.’"
da Torá –todas as almas judias estavam presentes.)
Após ouvirem este exórdio, Benê Yisrael ficaram com medo.
"D-us quer que vocês aceitem a Torá através de um juramento,
antes que eu encerre minha liderança. Ele Próprio jurou aos "Moshê," protestaram, "talvez haja alguém entre nós que esteja
nossos patriarcas que jamais trocaria o povo judeu por outra pensando em servir ídolos. Como podemos saber? Seremos
nação. Se só Ele estivesse atado ao juramento (e vocês não), o todos castigados se um entre nós, em seu íntimo, acreditar em
pacto seria unilateral." idolatria?"

Porque Moshê queria fazer um novo pacto com Benê Yisrael, "Não," garantiu-lhes Moshê. "Vocês não são responsáveis pelos
sendo que eles já aceitaram a Torá no Monte Sinai? pensamentos de outro judeu. D’us se encarregará desta pessoa.
Vocês só serão culpados se virem alguém pecando e puderem
Há diversas respostas: impedir, mas nada fizerem."

1. A maioria dos judeus que entrariam em Erets Yisrael não Ensinaram nossos sábios: "O mundo inteiro é mantido através
estavam presentes no Monte Sinai. Eles eram os filhos dos que dos méritos de um tsadic, como está escrito (Mishlê, 10:52:5) ‘O
receberam a Torá no Monte Sinai. tsadic é a fundação do mundo.’"

Moshê queria que esta nova geração também prometesse que A assembléia que estava prestes a entrar em Eretz Yisrael
cumpririam a Torá. aceitou este novo pacto, além do pacto selado no Sinai.

2. Benê Yisrael quebraram a promessa que fizeram no Monte D’us Congregará Benê Yisrael
Sinai ao fazerem o bezerro de ouro. Por isso, Moshê pediu uma
nova promessa. Moshê prometeu: "Se vocês pecarem, a maldição do exílio se
realizará. Não obstante, D’us não guardará Sua ira para sempre.
3. Moshê acrescentou uma nova cláusula a este pacto. Disse a Quando vocês estiverem entre nações estrangeiras, farão
Benê Yisrael: teshuvá, e ouvirão a voz de D’us."

"Até agora, D’us considerou cada indivíduo responsável apenas A Torá prevê que Benê Yisrael farão teshuvá definitivamente.
por seus próprios atos. De agora em diante, cada um também Talvez retornem a D’us por sua própria vontade.
será responsável pelos atos de todos os outros judeus."
"Quando vocês fizerem teshuvá com toda sinceridade, D’us
extinguirá seu cativeiro. Terá misericórdia de vocês, e os
congregará dentre as nações que Ele os dispersou. Se seu exílio
Os judeus concordaram imediatamente em aceitar a for nos confins dos céus, de lá D’us, teu D’us, reunirá vocês, e de
responsabilidade uns pelos outros. Aprendemos disto que um lá os tirará. Ele os reconduzirá a Erets Yisrael, a terra de seus
judeu não deve sentir-se satisfeito consigo mesmo por ser um antepassados, e vocês a herdarão.
tsadic e cumprir a Torá. Isto não é suficiente. Ele também tem de
prestar contas pelos atos de seus companheiros. De acordo com o Rambam (Maimônides), no futuro, o Rei
Mashiach reinstaurará a dinastia de David, reconstruirá o Bet
Um Judeu Não pode Acreditar em Ídolos Hamicdash e reunirá os dispersos de Klal Yisrael (todo o povo).
Aquele que não acredita em sua vinda, ou não anseia por ela, não
Todo Benê Yisrael concordaram com o novo pacto. Moshê nega apenas as últimas profecias, mas a própria Torá. Pois os
advertiu o povo: "Muitos de vocês, que viveram no Egito, ainda se versículos iniciais da Torá concernentes a este assunto são: "E
lembram de seus ídolos de madeira e pedra (que deixavam à D’us, teu D’us, te redimirá de teu cativeiro e terá misericórdia de
vista), e os de ouro e prata (que deixavam trancados em suas ti… Se teus exilados estiverem nos confins dos céus… D’us, teu
casas, por temer ladrões). Vocês viram sua idolatria, e podem ter D’us, te levará para a Terra que teus antepassados possuíam, e
ficado impressionados com sua riqueza, sucesso e prestígio. Há tu a possuirá." (Devarim, 30:3-5).
outros dentre vocês que viram a idolatria de Edom, Amon, Moav e
Midyian. Nossos sábios nos contam:

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D’us Retornará da Galut (Exílio) e ter servido a Lavan dia e noite, sem descanso, durante vinte
anos.
O Maimônides menciona este versículo em seu livro de Leis.
Quem pensaria que aquele bebezinho, flutuando numa cesta no
A Torá não diz: "D’us retornará seus cativos da galut." As palavras Rio Nilo, chorando de fome, um dia cresceria para tornar-se líder
empregadas no passuk são: "D’us também retornará com seus e tirar Benê Yisrael do Egito e dar-lhes a Torá? ! E tudo isto
cativos (Veshav). depois de ter crescido no cruel palácio do Faraó!

Daqui aprendemos que a Shechiná, por assim dizer, também será E você teria sonhado que o Faraó, que escravizou Benê Yisrael
redimida. de maneira tão atroz e que se considerava um deus, se curvaria
um dia perante Moshê e Aharon implorando-lhes que deixem sua
Após a destruição do primeiro Bêt Hamicdash, o general babilônio terra?!
Nevuzaradan conduziu Benê Yisrael acorrentados para a
Babilônia. O profeta Yirmiyahu acompanhou os cativos em sua
jornada.
A Torá nos mostra repetidamente que D’us é quem comanda. Ao
Com tristeza Yirmiyahu perambulava ao lado de seus irmãos. final, Ele enviará Mashiach e reunirá os judeus, conforme a Torá
D’us, porém, tinha planos diferentes para ele. D’us disse a promete, não importa por quanto tempo eles esperaram.
Yirmiyahu: "Se você for com os judeus para Bavel (Babilônia), Eu
ficarei com os poucos que ficaram em Erets Yisrael. Se você ficar A Torá está Perto de Cada Judeu
em Erets Yisrael, eu irei com os cativos!"
Como alguém faz teshuvá? Através do estudo e prática da Torá!
Yirmiyahu respondeu: "Que benefício traria minha presença a
esses pobres prisioneiros? Que o Criador os acompanhe; Moshê explicou: "Você pode argumentar: ‘A Torá é complexa para
certamente Ele poderá auxiliá-los." que possamos entendê-la. Não conseguimos cumprir tantas
mitsvot; não somos anjos."
Yirmiyahu voltou e juntou-se ao pequeno grupo que ficara em
Erets Yisrael. A Shechiná, por assim dizer, foi para o exílio com "Esta Torá que eu te ordeno não é algo oculto," exortou-os
Benê Yisrael. Moshê. "Não alegue que não pode compreendê-la, pois forneci-
lhe a Lei Oral com todas as explicações possíveis da Torá
A Shechiná está com os judeus em cada galut (exílio). Quando Escrita.:"
eles estão sofrendo, D’us, por assim dizer, também está. E
quando a Redenção chegarda mesma forma D’us será redimido Uma analogia:
com eles.
Certa vez um tolo entrou no Bet Hamidrash (casa de estudos).
"Quando você retornar a D’us com todo seu coração e toda a sua Observando os outros judeus que estudavam com fervor,
alma, você, Benê Yisrael, será abençoado com sucesso em tudo indagou: "Como alguém se torna um perito na Torá?" Elucidaram-
o que fizer. D’us se alegrará com você da mesma forma que Se lhe: "Após estudar o Alef-Bet, a pessoa progride para o Chumash
alegrou com seus antepassados". (os cinco livros da Torá), deles para os Profetas, e finalmente para
a Mishná e Guemará (Talmud)."
Ansiando pela Redenção
O tolo raciocinou: "Como poderia dominar tudo isto?" Ele desistiu
A Torá promete claramente que D’us nos redimirá dentre as antes de tentar.
nações.
A pessoa sábia, contudo, age como o mais arguto dos dois
Poderíamos perguntar: "Como podemos esperar por Mashiach homens que perceberam um pão numa corda suspensa presa ao
quando nos damos conta do longo tempo em que nosso povo já teto. Um deles comentou:
está no exílio?"
"Veja, está tão alto que jamais conseguiremos abaixá-lo." O outro
Ainda assim, não devemos nos desesperar. A Torá está repleta pensou:
de exemplos mostrando como D’us conduz o mundo de acordo
com Sua vontade. "Obviamente, alguém o pendurou lá! Deve haver um meio de
trazê-lo para baixo!"
Freqüentemente, Ele eleva alguém à grandeza no momento em
que todas as esperanças pareciam perdidas. Trouxe escadas e varas; "pescou" até que conseguiu puxá-lo para
baixo.
Quando Avraham teve Yitschac? Na idade de cem anos, quando,
de acordo com as leis da natureza, ele já era velho demais para Analogamente, a pessoa sábia diz: "Deixe-me estudar um pouco
ter um filho. de Torá hoje, um pouco amanhã, e uma nova porção a cada dia,
até que, ao final, eu a dominarei."
Quando Yossef tornou-se legislador? Após ter sido prisioneiro
durante vinte anos. Moshê ainda disse mais aos judeus: "A Torá não está mais no
Céu – eu a trouxe para baixo, para a terra, e a revelei a todos
Quando Yaakov tornou-se pai de doze filhos e ficou rico, mesmo vocês. Portanto, não digam: ‘Se nós tivéssemos outro Moshê que
tendo vencido a luta com o anjo? Apenas depois de ter fugido da nos trouxesse a Torá do Céu e a explicasse para nós,
casa de seu pai, sem um centavo (pois o filho de Essav o roubou), estudaríamos.’ (Mas mesmo se a Torá ainda estivesse no Céu,

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por assim dizer, e vocês tivessem de se esforçar ao máximo para Um pouco depois, passaram por uma casa num vinhedo. "Esta
trazê-la para baixo, vocês seriam obrigados a fazê-lo.). casa também era minha," comentou Rabi Yochanan, "mas tive de
vendê-la para conseguir continuar a estudar."
"A Torá tampouco está além-mar, para usarem como desculpa:
‘Se apenas tivéssemos alguém que viajasse e nos devolvesse a Ao passarem por uma construção num olival, Rabi Yochanan
explicação da Torá, a estudaríamos. (Contudo, se a Torá disse: "Esta propriedade também era minha."
estivesse do outro lado do oceano, você teria de viajar para lá a
fim de estudá-la.)" Rabi Chiya começou a chorar. "Porque você está chorando?"
perguntou Rabi Yochanan.
"Se você disser tudo isso, está equivocado. A Torá está perto de
cada e todo judeu. Tudo o que poderão alegar sobre o empenho "Sinto pesar pelo senhor ter vendido todos os seus bens,"
no estudo e na sua prática são falsas desculpas. Vocês todos respondeu Rabi Chiya.
podem estudar e guardar a Torá, se quiserem.
"De que o senhor vai viver em sua velhice?"
Porém, deverão fazê-lo de todo coração."
"Não se sinta assim," consolou-o Rabi Yochanan. "Valeu mais que
Os judeus perguntaram a Moshê: "Nosso mestre Moshê, você a pena. Vendi coisas que foram criadas por D’us em seis dias,
afirmou: ‘A Torá não está no Céu ou além-mar.’ Então, onde ela mas adquiri Torá, que foi dada a Moshê no Monte Sinai após
está?" quarenta dias. Ganhei bem mais do que perdi!"

Moshê replicou: "Está muito perto de vocês, quando vocês a Na verdade, a Torá está perto de cada judeu. Porém, a fim de
estudam; contanto que, enquanto vocês a estudam com a boca, estudar e cumpri-la adequadamente, um judeu tem que estar
preparem seus corações para cumpri-la." disposto a fazer um esforço para isto, e muitas vezes sacrifícios
para atingir sua meta.
Um dos sábios relata: "Certa vez, ao perambular de lugar em
lugar, encontrei um judeu que era iletrado em Torá e mitsvot, e Moshê Implora que Benê Yisrael Escolham a Vida
desdenhava o estudo da Torá.
Moshê terminou seu discurso enfatizando: "Depende de cada um
" ‘Meu filho,’ perguntei-lhe, ‘o que você responderá ao seu Pai de vocês se irão ou não cumprir a Torá. Ninguém os força a fazê-
Celestial no dia do julgamento?’ lo ou não. Vocês têm liberdade de escolha. Porém, como
expliquei anteriormente, se escolherem a Torá, estarão
" ‘Tenho uma desculpa válida,’ disse-me. ‘Direi que o Céu não me escolhendo a vida (neste mundo e no olam habá – mundo
supriu com inteligência suficiente para estudar Torá.’ vindouro).

" ‘Qual a sua profissão?’ perguntei-lhe. "Por favor, escutem meu conselho: escolham a vida! O caminho
para a vida é amar D’us e escutar Sua voz."
" ‘Sou pescador,’ esclareceu.
Vivendo Com o Rebe
" ‘Que tipo de trabalhos você realiza?’ indaguei.
União, a verdadeira preparação para Rosh Hashaná
" ‘Dão-me linho, do qual teço redes. Lanço minhas redes ao mar,
e apanho os peixes.’ por Mendel Starkman

"Disse ao pescador: ‘Se você é esperto o suficiente para tecer Esta semana lemos duas porções da Torá, Nitsavim e Vayêlech.
redes e pescar peixes, como você pode dizer que não A porção Nitsavim é sempre lida no Shabat anterior a Rosh
compreende a Torá, onde está escrito: Hashaná. Na verdade, seu primeiro versículo revela sua
adequação: "Vocês estão de pé neste dia, todos vocês, perante o
‘Pois que ela está muito perto de ti, em tua boca e em teu Eterno vosso D’us."
coração, para que a cumpras.’ (Devarim 30:14)?!’
"Este dia" refere-se ao Dia do Julgamento, Rosh Hashaná. Em
Ele explodiu num choro de sincero arrependimento, e consolei-o: Rosh Hashaná toda alma, seja grande ou pequena, fica diante de
‘Meu filho, há muitos como você que darão desculpas no dia do D’us, como está escrito: "Seus chefes, suas tribos, seus anciãos e
julgamento. Contudo, D’us refutará todas elas.’" seus funcionários… seus pequeninos, suas mulheres… do
lenhador ao apanhador de água."
Nossos chachamim (sábios) fizeram incontáveis sacrifícios a fim
de manterem e prosseguirem em seu estudo de Torá. Por que ficamos diante de D’us?

Uma história "Para que vocês possam entrar no pacto do Eterno, seu D’us."

O amor de Rabi Yochanan pela Torá: Quando todos os judeus ficarem perante Ele como uma entidade
completa e unificada, seremos merecedores de entrar no Seu
Certa vez, Rabi Yochanan estava andando com seu pupilo, Rabi pacto em Rosh Hashaná.
Chiya, em cujo braço estava se apoiando.
Um pacto é planejado para preservar o sentimento de amor que
"Você está vendo esta casa de fazenda?" perguntou Rabi existe entre duas pessoas. Elas estabelecem uma aliança numa
Yochanan, apontando com o dedo. "Ela me pertencia, mas eu a época em que seu amor é mais forte, para que nunca enfraqueça.
vendi, a fim de ter dinheiro suficiente para meus estudos da Torá." Este vínculo os conecta mutuamente, e assegura que seu amor

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perdurará para sempre. Assim também é com o amor de D’us de seguir os estatutos de D’us conseguiremos atingir uma vida
pelo povo judeu. Seu amor por nós é mais forte em Rosh significativa e repleta de alegria.
Hashaná, pois o mês anterior foi devotado a remoção de nossos
pecados. Rabi Moshe Feinstein enfatiza que a palavra chave no primeiro
versículo da seção: "Vejam que Eu coloquei perante vocês hoje a
Mas como despertamos o desejo de D’us estabelecer um pacto vida e a bondade" (ibid. 30:15). Nossa decisão quanto ao rumo
conosco? Ao nos unirmos uns com os outros. Como conseguimos que nossa vida está tomando nunca é fixa e imutável; é uma
isso, dadas as diferenças entre os indivíduos? Isso pode ser constante determinação do dia-a-dia. Jamais se desespere, a
entendido pela seguinte analogia: Torá nos recomenda, nunca é tarde demais para seguir o
caminho que leva à tranqüilidade eterna. A pessoa não deve de
O corpo humano é composto de diversos órgãos e membros. forma alguma tornar-se muito confiante em seu status espiritual. A
Alguns são mais importantes e complexos, como a cabeça; outros Torá nos adverte que a cada dia devemos novamente tomar a
mais simples, como o pé. Mas a cabeça, não importa o quanto decisão de caminhar na verdadeira trilha da vida e da suprema
seja essencial, precisa do pé para se mover. O corpo atinge a felicidade.
perfeição somente quando todos seus membros estão em
harmonia. Rashi explica a diretiva de D’us : "Escolha a vida" comparando
D’us a um pai amoroso que chama o filho querido de lado e lhe
Da mesma maneira, até os judeus mais importantes ("suas diz para escolher para si a melhor de suas propriedades como
cabeças") precisam dos mais simples ("o apanhador de água") herança. Não apenas isso, o pai até mesmo mostra ao filho o
para formar uma entidade completa. E é esta unidade que campo mais rendoso e lhe aconselha a escolher este.
desperta o desejo de D’us, de fazer um pacto com Seu povo.
Rabi Eliyáhu Dessler explica que D’us nos ama profundamente e
Nosso trabalho é atingir esta unidade entre "cabeça" e "pé". Todo deseja tanto que experimentemos os supremos prazeres da vida
judeu deve trabalhar em si mesmo, até que esteja apto a que Ele insinua quando fazemos algo de errado e assim nos leva
reconhecer as qualidades especiais de seu próximo. Está além de a abraçar Seus caminhos. D’us consegue isso dando-nos o senso
nossa capacidade julgar o real valor de uma pessoa. Mesmo se de culpa importuna e apreensão após tomarmos uma decisão
alguém se considera uma "cabeça" e o próximo como o "pé" (pois errada, que é como uma abençoada bússola dentro de nós, nos
é da natureza humana inflar seu próprio valor), a "cabeça" ainda guiando constantemente a servir fielmente a nosso Criador.
precisa do "pé para formar um ser completo.
Veja, a trilha se abre diante de nós. Um lado está repleto de
Devemos nos preocupar em corrigir nossas próprias falhas, e não espinhos, cardos e escuridão sem fim, e o outro é banhado pelo
considerar as falhas que notamos nos outros. Assim fazendo, não sol com frutos deliciosos, árvores e flores ao redor do caminho.
haverá tempo para olhar as imperfeições do próximo! Desta Escolha a vida, e com a ajuda de D’us seremos todos julgados
maneira, atingiremos tanto a auto-perfeição quanto a perfeição favoravelmente por nosso Pai amoroso.
como um povo, e D’us concederá a todos os judeus um ano bom
e doce. O caminho longo é mais curto

Escolha a vida O Talmud relata:

por Ranon Cortell Disse Rabi Yehoshua, filho de Chanania:

Com a chegada de Rosh Hashaná, muitos de nós sentimos uma "Certa vez uma criança levou a melhor sobre mim. Estava
pontinha de peso no ar, a desconfortável manifestação de uma viajando e encontrei um menino na encruzilhada. Perguntei-lhe:
tempestade que se aproxima. Pouco a pouco, os atos falhos de ‘Qual o caminho para a cidade?’ e ele respondeu: ‘Este caminho é
nosso passado parecem desenrolar-se nos recessos de nossa curto e longo, e este outro é longo e curto.’
mente, e sentimos temor pelo minucioso exame que passará
nossa alma diante do Criador. Porém, graças a D’us, há um modo "Peguei o caminho curto e longo, e logo cheguei à cidade, mas
de encontrar a reconciliação com nosso Rei. Podemos encontrei minha passagem obstruída por jardins e pomares. Voltei
simplesmente demonstrar arrependimento por nossas atrás então e disse ao menino: ‘Diga-me, meu filho, você não
imensuráveis transgressões pedindo perdão e decidindo não mais falou que este era o caminho curto?’ Respondeu-me ele: ‘Não
cometer os lamentáveis pecados. falei que este era o caminho longo?’"

Infelizmente, este procedimento não é tão simples quanto parece. Também na vida há um caminho curto mas longo, e um caminho
Isso requer uma vontade e habilidade ferrenhas de suprimir o longo mas curto. No livro Tanya, Rabi Schneur Zalman de Liadi
despertar das exigências despóticas de nossa má inclinação. estabelece os fundamentos da abordagem chassídica à vida. Na
Entretanto, a Parashat Nitzavim apresenta a necessária primeira página ele define sua obra da seguinte maneira:
perspectiva para conseguir esta reviravolta tão drástica. Com "Baseado no versículo: ‘Pois ela [a Torá e seus preceitos] é algo
impressionante dramatização, D’us nos exorta: "Estabeleci vida e muito próximo a você, em sua boca, em seu coração, de que você
morte perante vocês, bênção e maldição. Escolham a vida para pode fazê-lo’ – explicar, com a ajuda de D’us, como de fato está
que possam viver" (Devarim 30:19). É tão claro e aparente; afinal, muito próximo, em um caminho longo e curto."
ninguém deseja morrer. Se apenas pudéssemos mergulhar fundo
nos recessos de nosso coração e derrotar a má inclinação, então A Torá e suas mitsvot são o plano do Criador detalhando a
tudo se tornaria claro como água. Seguir de forma descuidada maneira exata pela qual deseja que a vida seja conduzida.
apenas nossos desejos físicos apenas serve para aumentá-los, e
Mas uma vida profundamente ordenada pela Torá é passível de
como resultado da conseqüente insatisfação somos removidos
ser vivida? O homem comum pode realisticamente esperar ser
das alegrias deste mundo. Apenas quando escolhemos o caminho
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capaz de conduzir cada ato, cada palavra e pensamento de enfrentar todos os desafios morais; mas a possibilidade de falha,
acordo com as diretivas mais exigentes da Torá? D’us não o permita, também existe. Não importa quantas vezes
triunfe, o amanhã trará sempre outro teste. Na estrada curta e
A própria Torá é bem clara a esse respeito: "Pois a mitsvá que te longa a pessoa pode vencer batalha após batalha, mas nunca há
ordeno neste dia não está além do teu alcance, nem é remota uma vitória decisiva.
para ti. Não é no céu…nem do outro lado do oceano… Ao
contrário, é algo muito próximo de ti, em tua boca, em teu Por outro lado, o caminho longo mas curto é cheio de curvas,
coração, de que podes cumpri-la." A existência verdadeiramente escarpado, tedioso e longo como a própria vida; está repleto de
da Torá não é um ideal abstrato, mas uma meta prática e tangível. altos e baixos, recuos e frustrações, exigindo cada partícula de
Mas como? energia espiritual e emocional. Porém é uma estrada que conduz,
firme e seguramente, ao tão sonhado destino, quando a pessoa
No Tanya, Rabi Schneur Zalman desenvolve a abordagem à vida finalmente adquire uma aptidão e gosto intelectual por D’us,
da pessoa integral, na qual a mente desempenha o papel principal desenvolvendo um desejo somente pelo bem e rejeitando o mal.
e centralizador. Primeiro, ela deve estudar, compreender e A guerra foi ganha: a pessoa transformou-se em alguém para
meditar sobre as verdades da existência: a realidade e essência quem cada pensamento, cada ação está naturalmente afinado
envolvente que é D’us; a raiz e composição da alma e sua ligação com seu verdadeiro propósito na vida.
íntima com o Criador, a missão do ser humano nesta vida, e seus
desafios – tanto externos como internos – que se ampliam até ele. Remoção de manchas
Como estes conceitos são extremamente sutis e abstratos, a
pessoa deve trabalhar sua alma e corpo a fim de harmonizá-los a Rosh Hashaná está quase chegando. Tempo de contabilizar
serviço de D’us e do equilíbrio necessário para desempenhar sua nossas ações passadas, retificar qualquer erro que tenhamos
verdadeira função. cometido, e descobrir como podemos melhorar no futuro. Na
terminologia judaica, isto é conhecido como "teshuvá",
Então, por causa da superioridade inata da mente sobre o literalmente, "retorno" – retorno ao estado anterior de pureza.
coração, o entendimento e a assimilação destes conceitos Divinos Com freqüência, é traduzido como "arrependimento".
forçarão unilateralmente o desenvolvimento das emoções
apropriadas no coração: o amor e reverência a D’us. O amor a Durante uma semana até Rosh Hashaná, as preces especiais de
D’us é o desejo voraz de apegar-se a Ele e unir-se à Sua "penitência" que recitamos diariamente nos ajudam a entrar em
essência. A reverência a D’us suscita uma profunda abominação forma para a pesada prova espiritual de Rosh Hashaná. Os dias
por tudo aquilo que violar Sua vontade e por isso levanta barreiras que vão de Rosh Hashaná a Yom Kipur – conhecidos como os
entre Ele e o homem. "dez Dias de Arrependimento" – são reservados para mais
introspecção, arrependimento e auto-aperfeiçoamento. Mesmo
Neste caso, quando a pessoa orientar a mente e coração na depois de Yom Kipur, até a véspera de Simchá Torá, ainda temos
observância dos preceitos da Torá, esta se tornará sua segunda tempo para teshuvá.
natureza. Anseia pelo cumprimento das mitsvot com cada fibra de
seu ser, sabendo que são a ponte entre ele e D’us; os únicos Por que a necessidade de teshuvá, afinal? Se ferimos os
meios pelos quais pode conectar-se a Ele. E qualquer sentimentos de alguém ou se roubamos alguma coisa, a maioria
transgressão da vontade de D’us, não importa quão atraente de nós sabe que precisa se desculpar, tentar retificar a situação, e
pareça a seus olhos, é literalmente revoltante para ele, pois decidir não repeti-lo no futuro.
destrói sua relação com D’us e corre em sentido contrário ao seu
próprio íntimo. Mas o que isso tem a ver com retorno? Para onde estamos
tentando retornar?
Mas a pessoa poderia perguntar: por que passar a vida inteira
perseguindo este regime exigente? O que devo entender e sentir? Imagine um artigo de vestuário, a camisa nova e limpa que você
Por que não buscar a abordagem direta – abrir os livros e seguir está usando, por exemplo. Se você derramasse café sobre ela, ou
as instruções? Sou um simples judeu, poderá ele dizer, e a encostasse numa lousa com pó de giz, ou sua caneta favorita
obtenção de estado tão elevado como a "compreensão do vazasse. O tipo de dano feito à camisa ditaria o método a ser
Divino", "amor a D’us", e "reverência a D’us" estão além do meu usado para limpá-la.
alcance. Conheço a verdade, sei o que D’us quer de mim – a Torá
Agora imagine que a camisa é sua neshamá, sua alma, a
proclama os "sims" e "nãos" da vida de modo bem claro. Tenho
centelha de energia Divina que lhe dá vida. Quando cumprimos
uma natureza material e egocêntrica? Tenho uma inclinação inata
uma mitsvá (mandamento), a alma permanece no estado limpo e
para desejos maus e auto-destrutivos? Irei controlá-los. Minha fé,
puro no qual a recebemos. Obviamente, a vida comum sempre
determinação e força de vontade farão este trabalho.
coloca um ou outro amassado aqui e ali. Mas, basicamente,
Este, entretanto, é o caminho curto, mas longo. Assim como a continua em ordem. No entanto, quando negligenciamos uma
linha reta que aproxima a distância entre dois pontos, o caminho mitsvá ou transgredimos – seja um mandamento entre uma
que parece o mais apropriado e curto para a cidade na verdade pessoa e outra ou um mandamento entre uma pessoa e D’us,
acaba por nos conduzir a uma rua sem saída. Esta é a analogia nossa alma se suja.
sobre a primeira rota escolhida por Rabi Yehoshua que
O tipo e a localização da sujeira ou da fuligem que se agarra à
aparentemente parece levar direto à cidade – só que de alguma
alma, dita como devemos proceder. O processo de limpeza é
maneira, não o faz.
bastante lógico. Assim como você remove a caneta do bolso tão
Esta é a trilha de um conflito sem fim, a cena do constante duelo logo percebe que está vazando, o primeiro passo da teshuvá é
entre a egocêntrica alma animalesca do homem e sua alma parar de transgredir ou começar a cumprir a mitsvá negligenciada.
Divinamente orientada ao mais elevado. Na verdade, o homem
recebeu o livre arbítrio e a fortaleza de caráter necessários para
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Em seguida, precisamos examinar a mancha e o dano, para nos D’us não os abandonará enquanto vocês O servirem e manterem-
certificar do método adequado. Determinadas transgressões se fiéis a Ele."
provocam manchas maiores ou mais difíceis de sair que as
outras. E certamente, a freqüência também é levada em Moshê Honra Yehoshua
consideração – como o colarinho da camisa, repetidamente
bombardeado com transpiração desenvolve um "anel ao redor da Moshê então chamou Yehoshua, e disse-lhe palavras de
gola". encorajamento: "Seja um baluarte da Torá e mitsvot. Você
sobreviverá até que a Terra seja conquistada e dividida entre as
A teshuvá, para algumas manchas espirituais, pode exigir um tribos. D’us estará com você, não tema nem fraqueje."
esforço mínimo, como uma ligeira espanada do pó de giz. Outra
sujeira espiritual poderia ser mais difícil de remover, como uma Moshê queria que Yehoshua começasse a ensinar o povo
mancha de café. Você poderia precisar de algum detergente e enquanto ainda vivia. Desta forma toda a nação o aceitaria.
água, e esfregar vigorosamente.
Ouviu-se uma proclamação pelo acampamento: "O novo líder
A tinta é um pouco mais traiçoeira, como a transgressão que se falará hoje!"
repete ou alguma má ação. Livrar-se de uma mancha semelhante
Benê Yisrael inteiro reuniu-se em honra a Yehoshua. Moshê
à de tinta na alma precisa de esforço, tempo, trabalho árduo.
providenciou um trono de ouro para seu sucessor, bem como uma
Provavelmente você procuraria um profissional para pedir
coroa incrustada com pérolas, um turbante real, e um manto
conselho, ou pelo menos algumas sugestões de produtos
púrpura. Ao redor do trono, Moshê arrumou assentos para o
químicos adequados. Finalmente, com tempo, esforço e
Sanhedrin e para os cohanim. Ele vestiu Yehoshua com essas
persistência, você pode livrar totalmente a alma de sua mancha.
vestimentas reais, e entronou-o. Yehoshua chorava de
Você pode devolvê-la a seu estado anterior, imaculado. Pois,
constrangimento, porém Moshê forçou-o a permanecer sentado.
afinal, não é um defeito tecido junto com a camisa, é algo externo,
que não é uma parte intrínseca da roupa original. Moshê instruiu Yehoshua: "Seja forte na Torá, e valoroso ao lidar
com o povo. Trate-os gentilmente. Se cometerem erros, não sinta
Sobre Teshuvá
ira contra eles."
A Torá nesta parshá descreve que o arrependimento não é algo
Ambos, Moshê e Yehoshua, ensinaram Torá naquele dia. Calev
distante, mas está ao alcance de cada pessoa. A palavra hebraica
foi designado para explicar as palavras de Yehoshua ao povo.
para arrependimento é teshuvá, e a raiz da palavra é "shuv" –
Yehoshua abriu com as seguintes palavras: "Bendito é D’us, Que
retornar. Para a maioria de nós, o elemento crucial é uma
nos deu a Torá através de Moshê."
mudança em nossa perspectiva.
Hakhel – O Rei e a Leitura da Torá
Um grande rabi perguntou certa vez aos alunos a diferença entre
leste e oeste, ou em outras palavras, a diferença entre certo e Moshê explicou aos judeus a mitsvá que deve ser cumprida pelo
errado. rei e pela nação inteira a cada sete anos:
O rabi respondeu posicionando o corpo de frente para o leste e Quando os judeus se congregarem em Yerushalayim para a festa
então voltando-se 180 graus para oeste, enfatizando que para de Sucot, no ano posterior ao ano de Shemitá, devem reunir-se
fazer a teshuvá da maneira certa a pessoa deve mudar de no início de Chol Hamoed (os dias intermediários da Festa) a fim
direção, voltando essencialmente para o caminho da direita. "Isso de escutar o rei ler e explicar a Torá. Todos devem comparecer –
nos traz de volta a Hashem, e retornaremos; renovaremos nossos homens, mulheres e crianças. A assembléia é anunciada com o
dias como antigamente" (Echá 5:21). soar de trombetas. Uma alta plataforma de madeira é erigida no
ezrat nashim (átrio feminino) do Bet Hamicdash, onde o rei se
52 - Parashat Vayêlech Deuteronômio 31:1-31:30
senta.
Moshê e Yehoshua
Ainda de pé, o rei recebe um Sêfer Torá e recita as bênçãos
No dia do falecimento de Moshê, uma Voz Celestial revelou-se: apropriadas. Ele pode então sentar-se para lê-la. Ele precisa ler
"Moshê, você só tem mais um dia de vida." Em seguida, Moshê determinadas passagens do livro Devarim, inclusive o Shemá (5:
saiu do acampamento dos leviim (onde ficava sua tenda) e dirigiu- 4-8), e as bênçãos e maldições da parashát Ki Tavô.
se ao acampamento onde ficavam outras tribos a fim de despedir-
Após proferir as bênçãos finais da leitura da Torá, ele recita sete
se dos judeus, e consolá-los, por causa de seu falecimento
bênçãos especiais, que são:
iminente.
1. Retsê: Aceita favoravelmente…
A humildade de Moshê era tão magnificente que ele considerava
seu dever pessoal despedir-se do povo naquele momento. Suas 2. Modim Anachnu: Curvamo-nos…
palavras de conforto e solidariedade foram: "Sou um ancião, com
exatamente cento e vinte anos de idade. Hoje é meu aniversário. 3. Ata Bechartanu: Tu nos escolheste dentre os povos…
Não tenho mais permissão de lhes ensinar Torá, pois D’us me
ordenou que não irei liderá-los. D’us não me permite cruzar o Rio 4. Uma bênção pela continuidade do Bet Hamicdash, que termina
Jordão, mas não se desesperem! Sua Shechiná passará à sua em : Shochen Be Tsion - Aquele que habita em Tsion
frente, e Yehoshua será seu líder. D’us destruirá as nações de
Erets Canaan, assim com destruiu os reinos de Sichon e Og. Eu 5. Uma bênção pela continuidade do reinado
os deixo, porquanto sou humano, e meus dias, finitos. Porém,

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6. Uma bênção para que D’us aceite o serviço dos cohanim elogiava outro por pensar constantemente em novas idéias no
favoravelmente estudo da Torá, como uma nascente da qual sempre brota água
fresca.
7. A tefilá do próprio rei, terminada em Baruch Shomea Tefilá –
Bendito o que ouve as orações. Um de seus pupilos era Rabi Yehoshua ben Chananya, sobre o
qual Rabi Yochanan costumava dizer: "Bem-aventurada é a mãe
Mesmo o maior dos sábios é obrigado a ouvir a leitura da Torá que lhe deu à luz!"
com atenção e reverência. O rei age como um representante de
D’us, portanto, cada judeu deve aspirar vivenciar a leitura como Graças a ela Rabi Yehoshua tornou-se tão grande. Mesmo antes
se ela emanasse do Monte Sinai. do bebê nascer, a mãe de Rabi Yehoshua comparecia diante de
todos os chachamim da cidade, pedindo-lhes: "Por favor, rezem
O objetivo da mitsvá é fortalecer o povo judeu na observância da para que a criança que terei cresça para ser um talmid chacham!"
Torá e temor a D’us. A mitsvá de Hakhel foi cumprida por todos os
reis justos e íntegros. Conta-se que o justo rei Agripa permanecia E quando a criança nasceu, ela levava seu berço à Casa de
de pé durante a leitura da Torá. Os sábios valorizavam-no muito Estudos. Ela queria que ele ouvisse os sons e a melodia do
por isso. estudo da Torá mesmo sendo um lactente.

Quem é obrigado a comparecer a assembléia de Hakhel? Quando Rabi Yehoshua cresceu, era querido por todos. Não era
apenas grande em sabedoria da Torá, mas possuía os mais
Cada homem, mulher e criança judeus. Mesmo quem sabe o livro tocantes traços de caráter.
Devarim de cor deve comparecer e ouvir a leitura do rei de
maneira respeitosa. O rei é o mensageiro de D’us. Ao ler para Moshê Pede a D’us a Anulação do Decreto de Morte
Benê Yisrael, é como se a Torá estivesse sendo dada novamente
ao povo judeu. Desde o primeiro dia de Adar, quando soube que seu falecimento
era iminente, até sete de Adar, Moshê implorou a D’us que
Por que as crianças pequenas devem comparecer? Algumas prolongasse sua vida.(Pois uma pessoa nunca deve perder a
delas nem mesmo compreendem uma palavra da leitura da Torá! esperança na misericórdia de D’us, mesmo depois que seu
A Torá ordena que as crianças sejam trazidas para que D’us decreto já estiver selado).
recompense os que as trouxeram.
Por que Moshê implorou por mais anos de vida? A resposta é que
Mais ainda, a assembléia as impressionará. Anos depois, se "vida", para ele, significava a aquisição de mais Torá e mitsvot, e
lembrarão. Esta lembrança as ajudará a crescer como judeus esta oportunidade se encerra com a morte. Ninguém poderia
tementes a D’us. apreciar o valor da "vida" melhor que Moshê, que utilizou cada
minuto para aperfeiçoar-se espiritualmente.Assim D’us anunciou o
As influências ambientais afetam o futuro desenvolvimento da falecimento de Moshê: "Eis que se aproximam os teus dias em
criança, bem antes que sua educação formal tenha se iniciada. A que você deve expirar."
assembléia nacional certamente causará uma profunda e positiva
impressão sobre uma criança. D’us gostaria de prolongar a vida de Moshê além dos cento e
vinte anos que lhe foram estipulados. Ele só toma a vida de um
Os comentaristas explicam: "Qual a recompensa dos pais por tzadik com relutância, como está escrito: "A morte de Seus justos
trazerem as crianças? As crianças serão educadas a temer a D’us é preciosa aos olhos de D’us" (Tehilim 116:15)
e cumprir as mitsvot. Por conseguinte, elas trilharão as sendas da
Torá, e esta é a maior recompensa para os pais. A fim de demonstrar sua relutância, D’us não disse diretamente a
Moshê: "Você deve morrer," mas falou a respeito dos "dias do
A mitsvá de Hakhel é a origem bíblica de porque levamos as falecimento que se aproximam."
crianças à sinagoga. (Somente sob a condição de que não
atrapalhem o serviço religioso.) Mais que isso, D’us aludiu: "Teus dias de expirar, e não você,"
pois um tzadik é considerado "vivo", mesmo após sua morte.
Lembrar-se de Hakhel as ajudará a crescerem como judeus
tementes a D’us. Seu fim é diferente do de qualquer outro homem. Você é tão
vigoroso hoje quanto era em sua juventude. Você não precisa
Todos lembramos de cenas de nossa infância que nos marcaram preparar mortalha ou caixão, pois o Céu lhe providenciará.
profundamente. Mesmo não conseguindo captar os fatos, a Tampouco será enterrado por sua família e amigos, mas por Mim
memória permanece. Podemos nos lembrar de um Yom Kipur no e minhas Hostes Celestiais."
qual todos oravam muito concentrados. Ou das alegres e
barulhentas danças em Simchat Torá. E até uma criança bem "Assim foi decretado. Até agora, você serviu como líder. Agora,
pequena possui lembranças da noite mais especial do ano – a seu termo findou e chegou a vez de Yehoshua. Juro! Como você
noite do Sêder de Pêssach. Essas impressões o ajudarão a liderou meus filhos neste mundo, assim os liderará novamente na
adquirir o amor pelos desígnios da Torá. era futura."

Nossos sábios nos contam: A Canção de Ha’azinu

O Som da Torá D’us disse a Moshê: "Sei que após sua morte os judeus
quebrarão o pacto que selaram Comigo, e adorarão outros
O famoso Rabi Yochanan ben Zacai tinha cinco alunos deuses. Então, ocultarei deles minha face. Serão atormentados
eminentes. Ele tinha diferentes palavras de louvor para cada um por muitos problemas. Esperarei que se voltem a Mim em
deles. Ele cumprimentava um pela sua fantástica memória, e teshuvá.
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"Escreva isto na canção de Ha’azinu. Isto lembrará Benê Yisrael O Maimônides escreve: "É uma mitsvá para cada judeu escrever
de que suas dificuldades não aconteceram por acaso. Não deixe para si um Sêfer Torá, como o versículo diz: ‘Então agora escreva
que atribuam sua fé à coincidência. " esta canção (Ha’azinu) para si,’ que na realidade significa: ‘Então
escreva um Sêfer Torá, que contém esta canção, para si.’ Mesmo
Moshê escreveu a canção que D’us lhe ditou. Ele e Yehoshua quem herda um Sêfer Torá é obrigado a escrever o seu próprio
ensinaram-na ao povo. O que D’us predisse tornou-se realidade. rolo.
Na galut, não sentimos a presença de D’us como sentíamos na
época do Bet Hamicdash, Ele, por assim dizer, oculta Sua face. Que lições podemos aprender da mitsvá de escrever o Sêfer
Torá?
"Se eles voltarem para Mim e orarem, lhes responderei.
Perceberão então que Eu sempre estive com eles em seu A halachá (lei judaica) exige que cada letra da Torá seja "mukafot
sofrimento." guevil" – "rodeada pelo pergaminho." Conseqüentemente, o
escriba deve observar que nenhuma letra toque na outra. Por
Uma analogia: outro lado, a halachá também exige que as letras que compõem
uma palavra devem posicionar-se perto o suficiente umas das
Uma mulher estava prestes a dar à luz, e começou a gritar de dor. outras, de maneira que não aparentem ser letras individuais,
Sua mãe, que morava no andar de cima, ouviu os sons tampouco parte de uma palavra. Dessas duas halachot,
desesperados, e também começou a gritar. depreendemos uma lição de suma importância no que se refere à
coletividade e individualidade do povo judeu.
"O que está acontecendo?" perguntou um vizinho. "Ambas estão
dando à luz?" Primeiramente, é imperativo que cada judeu seja independente e
cumpra a Torá e suas mitsvot. Nenhum judeu pode "encostar-se",
Informaram-lhe a resposta da "mãe: "Acaso a dor de minha filha
fiar-se no outro e apoiar-se sobre ele. A Torá é a herança de cada
não é minha dor também?"
judeu e todos são obrigados a observá-la e mantê-la.
Da mesma forma, quando o Bet Hamicdash foi destruído, D’us, no
Apesar de cada judeu ser independente no cumprimento da Torá,
Céu, também afligiu-se. Ele sofre conosco no exílio, como está
deve sempre ter em mente o princípio de arevut –
escrito: "Imo Anochí Betsará" - "Estou com ele na aflição" (Tehilim
responsabilidade pelo próximo. Um judeu deve estar
91:15)
imediatamente ao lado do outro, e ficar bem perto, na medida em
A Mitsvá de Escrever um Sêfer Torá que parecem um só corpo coletivo, e não indivíduos egoístas.

Moshê agora ensina a última mitsvá da Torá: "Veatá kitvú lachem Um Sêfer Torá é escrito com tinta, porém a única cor permitida é
et hashirá hazot velamda et Benê Yisrael", "E agora, escrevam a preta. Enquanto as demais cores podem facilmente serem
esta canção para si, e ensine aos filhos de Yisrael." (Devarim mescladas umas às outras, formando uma nova cor, é
31:19). extremamente difícil modificar o preto. Analogamente, um judeu
não deve permitir que as influências da sociedade ou as
Este passuk contém a sexcentésima décima terceira mitsvá da vicissitudes da vida solapem ou desbotem sua verdadeira "cor" e
Torá – a mitsvá de escrever um Sêfer Torá. expressa devoção à Torá.

Cada judeu recebeu a mitsvá de escrever um Sêfer Torá. Se ele A tinta deve aderir firmemente ao pergaminho, e se "ficar saltada",
não puder fazê-lo sozinho, pode contratar um sofêr (escriba) para ou seja, descascar, o Sêfer Torá é passul – não casher. A lição
fazê-lo para ele. Se um judeu ajudar a escrever um Sêfer Torá, ou implícita é que o judeu deve aderir tenazmente à Torá, e nunca
encomendar um é como se ele próprio tivesse cumprido a mitsvá. apartar-se dela.
Às vezes, uma sinagoga ou yeshivá escreve um Sêfer Torá novo.
As pessoas, então, tentam adquirir uma parte. É possível obter Outra lição a ser aprendida do Sêfer Torá é que a Torá é
uma ou mais letras, que o sofêr escreve para elas. composta de muitas letras. Apesar de cada uma ser
independente, sua cashrut depende do conjunto de todas elas. A
Escrever um Sêfer Torá é uma enorme empreitada. O sofêr o falta ou não integridade de uma única letra afeta a validade do
escreve inteiramente à mão. Ele utiliza uma pena, cujo bico rolo inteiro. Do mesmo modo, cada judeu é um componente
mergulha em tinta, e escreve sobre pergaminho. Cada letra essencial de Klal Yisrael, de quem depende a integridade do povo
precisa ser corretamente desenhada. Se estiver faltando ou inteiro.
sobrando uma única letra na Torá, todo o sêfer não é casher. Da
mesma forma, se duas letras se tocam, o Sefer Torá inteiro já não Em 5742, o Rebe de Lubavitch iniciou uma campanha para que
é mais casher. se escrevessem Sifrei Torot, de maneira que todos pudessem
adquirir uma letra num Sêfer Torá comunitário. O objetivo era
Atualmente, há programas de computadores capazes de verificar unificar Klal Yisrael através da Torá.
com perfeição se um Sêfer Torá possui letras faltando, após o
próprio sofêr ter verificado se elas estão casher. Este é um Moshê Escreve Trinta Rolos da Torá
exemplo de como a moderna tecnologia pode ajudar-nos a
Naquele sete de adar, 2488, dia de seu falecimento, Moshê
cumprir a Torá.
realizou um vasto número de tarefas.
A mitsvá também abrange a compra de sefarim (livros) utilizados
Selou um novo pacto entre D’us e Benê Yisrael (conforme
para os estudos. D’us deseja que cada judeu possua textos claros
explicado na parashat Nitsavim); ensinou-lhes a canção de
e novos da Torá, a fim de poderem estudá-los.
Ha’azinu; abençoou todas as tribos, e transcreveu a Torá inteira
trinta vezes, desde Bereshit até as últimas palavras. Em seu

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último dia de vida, Moshê escreveu toda a Torá, do começo ao O apego de um judeu a D’us existe em muitos níveis. O primeiro é
fim. Cada palavra que escreveu foi ditada por D’us. atingido por intermédio das mitsvot. Quando um judeu aceita o
jugo do céu, ele forja uma conexão com D’us.
Um sofêr pode levar um ano para completar o Sêfer Torá. Mas
quando Moshê escreveu, as palavras e cada letra parecia fluir Depois vem o nível mais profundo de conexão que se expressa
milagrosamente de sua mão. Quando terminou, Moshê entregou o no arrependimento. Se um judeu transgride a ordem de D’us, isso
Sêfer Torá à tribo de Levi, e disse: "Guardem-no com cuidado, enfraquece seu relacionamento com D’us. Isso o perturba muito e
pois todos os outros Sifrei Torá serão copiados deste!" o prontifica a se arrepender.

Benê Yisrael ficaram agitados: "Moshê," protestaram, "porque O impulso para a teshuvá emana de seu nível profundamente
apenas uma tribo deveria ser encarregada desta mitsvá? Todos enraizado de apego. Ao fazer teshuvá, toda a mancha do pecado
os judeus receberam a Torá de maneira igual no Monte Sinai. Não é removida, e o vínculo com D’us é fortalecido. Porém, mesmo
queremos que os membros da tribo de Levi reivindiquem que a assim este nível é limitado no sentido absoluto.
Torá foi dada apenas para eles."
O nível mais elevado é aquele da conexão intrínseca entre a alma
Ao escutar esses argumentos, Moshê ficou muito feliz, "Agora e a essência de D’us. Completamente acima de todas as
vejo o quanto todos vocês amam a Torá," disse. "Escreverei mais limitações, transcende até a expressão de arrependimento. Um
doze, e os darei a cada tribo." vínculo dessa natureza não pode ser criado através das ações do
homem, nem pode ser aperfeiçoado. Existe, pura e simplesmente,
Moshê sentou-se, de pena em punho, para começar sua em virtude da alma judia, uma "verdadeira parte do D’us acima".
formidável empreitada. De novo D’us realizou milagres, e as
palavras pareciam serem escritas por si mesmas. Cada tribo Como é tão essencial, este grau mais alto de conexão com D’us
recebeu um Sêfer Torá de Moshê, que disse à tribo de Levi: não pode ser enfraquecido por nada, nem mesmo pelo pecado. É
"Coloquem seu Sêfer Torá no aron (arca), junto às luchot (Tábuas intocado pelo arrependimento do judeu ou falta dele. Assim, no
da Lei). Ele somente será usado se houver dúvidas sobre alguma que tange ao supremo nível de nosso relacionamento com D’us, a
letra ou a ortografia de alguma palavra. Então vocês poderão "essência do dia" de Yom Kipur consegue a expiação.
verificar neste Sêfer Torá e saber como escrevê-la corretamente."
Os níveis inferiores de nossa conexão com D’us exigem que
Até hoje, o texto de nossos Sifrei é idêntico ao do que foi escrito realmente nos arrependamos, removendo todos os obstáculos a
por Moshê. nosso relacionamento. Mas no nível mais alto que é
completamente intocado pelo pecado, a expiação de Yom Kipur
Agora Moshê e Yehoshua ensinarão a canção de Ha’azinu, que em si é suficiente.
figura na próxima parashá.
Biologia ao Contrário
Vivendo com o Rebe
Adaptado por Yanki Tauber, de uma palestra do Rebe.
Adaptado do vol. 4 de Likutei Sichot
Uma pessoa consiste de um corpo e uma alma – um invólucro
Há uma diferença de opinião no Talmud sobre como se atinge a físico de carne, sangue, tendões e ossos, habitado e vitalizado
expiação em Yom Kipur. A maioria dos Sábios afirma que Yom por uma força espiritual descrita pelos mestres chassídicos como
Kipur expia os pecados da pessoa somente se esta faz teshuvá "literalmente uma parte do D’us acima".
(se arrepende). Rabi Yehuda Hanasi, no entanto, argumenta que
o arrependimento é desnecessário, e que a santidade do próprio A sabedoria comum acredita que o espírito é mais elevado que a
dia efetua a expiação. matéria, e a alma, mais sagrada (i.e., mais próxima do Divino) que
o corpo. Este conceito parece ter sua origem no fato de que em
O principal não é se a santidade de Yom Kipur expia os pecados Yom Kipur, o dia mais sagrado do ano – quando atingimos o auge
ou não; sobre isso todos estão de acordo. Segundo ambas as da intimidade com D’us, seja ordenado pela Torá como dia de
opiniões, uma pessoa que não se arrepende não pode atingir o jejum, no qual aparentemente abandonamos o corpo e suas
mesmo nível de expiação daquela que o faz. A controvérsia é necessidades para nos devotar exclusivamente às atividades
somente sobre como a expiação de Yom Kipur é efetuada. espirituais de arrependimento e prece.

Segundo Rabi Yehuda Hanasi, a revelação Divina da "essência Na verdade, no entanto, um dia de jejum faz aflorar um
do dia" automaticamente expia as transgressões. Os outros relacionamento mais profundo com o corpo. Quando uma pessoa
Sábios afirmam que para atingir o grau mais alto de expiação da se alimenta, é nutrido pela comida que ingere. Num dia de jejum,
"essência do dia", uma pessoa deve primeiro fazer teshuvá. a vitalidade vem do próprio corpo, da energia armazenada em
Tendo se arrependido, pode então atingir o nível mais elevado suas células. Em outras palavras, em dias menos sagrados, é
que somente Yom Kipur pode fazer aflorar. uma força externa (a energia do alimento) que mantém o corpo e
alma juntos; em Yom Kipur, a união do corpo e alma deriva do
Expiação significa que as falhas de uma pessoa foram perdoadas próprio corpo.
e que ela não será punida. No entanto, o verdadeiro significado de
expiação é que a alma da pessoa foi purificada. Quando alguém Yom Kipur, assim, oferece um sabor do supremo estado da
peca, sua alma torna-se manchada. A expiação remove todos os criação, conhecido como o "Mundo Vindouro". O Talmud nos diz
traços impressos pelo pecado. Quando um judeu faz teshuvá, até que "no Mundo Vindouro, não é preciso comer nem beber" – uma
seus erros deliberados são considerados méritos. declaração que às vezes é entendida como implicado que em seu
estado mais perfeito, a criação é totalmente espiritual, sem corpos
e todas as coisas físicas.

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O ensinamento cabalista e chassídico, no entanto, descreve o A canção de Ha’azinu descreve poeticamente o que acontecerá
Mundo Vindouro como um mundo no qual a dimensão física da ao povo judeu até o fim dos dias. Prevê seu castigo por
existência não é anulada, mas preservada e elevada. O fato de transgredir o pacto com D’us, e descreve como, por fim, D’us
não haver "comida e bebida" no Mundo Vindouro não se deve a punirá aqueles que erraram contra eles no exílio.
uma ausência de corpos e vida física, mas ao fato de que neste
mundo futuro, "a alma será nutrida pelo próprio corpo", e a Há dez shirot, ou canções proféticas, das quais Ha’azinu é a
simbiose de matéria e espírito que é o homem não exigirá quarta:
quaisquer fontes externas de nutrição para sustentá-lo.
Adam recitou a primeira shira no Gan Eden.
Tanto o físico como o espiritual são criações de D’us. Ambos
foram criados por Ele a partir do nada total, e cada qual tem a Ele compôs "mizmor shir leyom haShabat/ Uma canção, um
marca de seu Criador nas qualidades específicas que o definem. poema para o Shabat", na qual louvou a grandeza do Shabat.
O espiritual, com sua transcendência de tempo e espaço, reflete a
Nas praias do Mar Vermelho Moshê e Benê Yisrael entoaram uma
infinitude e sublimidade de D’us. O espiritual é também
shira pela sua miraculosa libertação do exército do faraó.
naturalmente submisso, prontamente reconhecendo sua
subserviência a uma verdade mais elevada. São estas as Benê Yisrael entoou uma canção em louvor ao Poço de Miriam
qualidades que fazem o "sagrado" espiritual e um veículo de (parashat Chucat).
relacionamento com D’us.
Moshê ensinou ao povo a canção de Ha’azinu no dia de seu
O físico, por outro lado, é tactual, egocêntrico e imanente – falecimento.
qualidades que o classificam de "mundano", que o marcam como
uma ofuscação, em vez de uma revelação, da verdade Divina. Quando Yehoshua lutou com os Emoritas em Givon e o sol
Pois o inequívoco "Eu sou" do físico desmente a verdade que milagrosamente deteve seu curso em benefício do exército
"não há ninguém mais além d'Ele" – de que D’us é a única fonte e judaico conquistador, Yehoshua cantou shira.
fim de toda a existência.
Devora e Barak compuseram uma shira quando D’us entregou os
Em última análise, porém, tudo vem de D’us; todo aspecto de Sua inimigos em suas mãos, incluindo o general canaanita Sisra
criação tem sua fonte n'Ele e serve para revelar Sua verdade. (Shofetim 5).
Portanto, num nível mais profundo, as qualidades que tornam o
físico "profano" são as qualidades que o fazem mais Divino. Pois Quando Chana deu à luz Shemuel, após ter sido estéril durante
o que é o "Eu sou" do físico, se não um eco do inequívoco ser de muitos anos, ela louvou D’us com uma canção profética (Shemuel
D’us? O que é a tactilidade do físico se não uma intimação do 2).
absolutismo de Sua realidade? O que é a "abnegação" do físico
se não uma demonstração da exclusividade de "Não há ninguém O Rei David, no final da vida, compôs uma shira de
mais além d'Ele"? agradecimento a D’us por tê-lo salvado de todos os seus inimigos
(II Shemuel 22).
Atualmente, o mundo físico nos mostra apenas sua face mais
superficial, na qual as características Divinas estampadas nela O Rei Shelomô escreveu Shir Hashirim.
são corrompidas como uma ocultação da Divindade. Atualmente,
quando o objeto físico nos transmite "Eu sou", não transmite a A décima e mais bela canção será entoada pelo povo judeu
realidade de D’us, mas uma existência independente que desafia quando D’us o redimir do atual exílio.
a Divina verdade. Porém no Mundo Vindouro, o produto do
Embora as primeiras nove canções sejam chamadas shira, no
trabalho de uma centena de gerações para santificar o mundo
gênero feminino, a décima é denominada shir (masculino), pois
material rumo a um fim Divino, a verdadeira face do físico, virá à
está escrito: "Naquele dia este shir será cantado na terra de
luz.
Yehuda" (Yeshayáhu 26:1).
No Mundo Vindouro, o físico, em muitos respeitos, superará o
A décima canção, porém, marcará o fim de todos os exílios; não
espiritual como transmissor da Divindade. Pois enquanto o
será seguida por qualquer sofrimento ou provação.
espiritual expressa várias características Divinas, o físico
expressa o ser de D’us.
Torá: Chuva e Orvalho
Hoje em dia, o corpo deve olhar para a alma como seu guia
Moshê declara que a Torá, como a chuva, traz a vida.
moral, como sua fonte de consciência e avaliação de tudo que é
Divino. Mas no Mundo Vindouro, "a alma será nutrida pelo corpo". Moshê continuou: ‘Céu e terra serão testemunhas de que eu
O corpo físico será uma fonte de identificação mais elevada que a agora estou proclamando que a Torá é como a chuva."
própria visão espiritual da alma.
Por que Moshê comparou a Torá com a chuva?
Yom Kipur é um sabor do mundo futuro de biologia ao contrário.
Assim, é um dia no qual somos "sustentados pela fome", Dentre os vários motivos, estão:
derivando nosso sustento do próprio corpo. No mais sagrado dos
dias, o corpo torna-se uma fonte de vida e nutrição, em vez de • Assim como a água é vital para a sobrevivência do universo,
seu recipiente. assim é a Torá.

53 - Parashat Haazínu Deuteronômio 32:1-32:52 • Assim como a chuva vem do alto, também recebemos a Torá do
Céu.
O Cântico de Haazínu
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• A água é um purificador muito importante. Da mesma forma, a Moshê, portanto, começou declarando a absoluta justiça dos
Torá purifica e eleva aqueles que a estudam e cumprem pelo caminhos de D’us.
mérito do Céu.
Porque Existe o Sofrimento
• Assim como a chuva não cria uma nova planta, mas apenas
desenvolve e amadurece uma semente ou planta já existente, Se um ser humano estivesse para morrer sem sofrimento, o
também a Torá desenvolve as sementes no coração da pessoa. Atributo da Justiça teria a mão superior contra ele no dia do
(Uma pessoa deve primeiro dedicar seu coração e mente ao julgamento. Seus sofrimentos no mundo atual expiariam seus
estudo de Torá, e então seus estudos serão frutíferos.) pecados.

• Um judeu jamais se cansa de estudar Torá. Assim como os A maior de todas as expiações é a morte.
peixes vivem num ambiente aquático, porém continuam sedentos
e procuram cada gota de chuva, assim a pessoa mergulhada em Portanto, no versículo "E D’us viu tudo que tinha feito, e viu que
Torá deseja ouvir ainda outra explicação de Torá. era muito bom" (Bereshit 1:31), nossos Sábios comentaram:
Mesmo a morte é muito boa (ou seja, até os maiores tsadikim
Moshê também disse: "Minhas palavras gotejarão como orvalho." cometem algum pecado, e a morte os expia).

Após comparar a Torá com a chuva, por que ele também a E. Abba perguntou a R. Shimon: "Por que sempre que o Atributo
comparou ao orvalho? da Justiça tem a mão superior somente os tsadikim são punidos,
embora haja pessoas perversas no mundo? É por que os tsadikim
A chuva às vezes aborrece as pessoas. Incomoda viajantes nas falharam em advertir sua geração? Ou por que seus méritos não
estradas e as pessoas com barris de vinho abertos, cujo vinho protegeram a geração?"
poderia se estragar.
R. Shimon respondeu: "O sofrimento dos tsadikim causam a
Para não pensarmos que a Torá, também, às vezes torna as expiação para o mundo, pois expia os pecados da geração. Veja
pessoas infelizes, Moshê explicou que não é este o caso. A Torá, o exemplo de um corpo doente. Para aliviar a dor, o sangue de
a esse respeito, é como orvalho. Todos, sem exceção, se alegram um membro deve ser posto para escorrer. Se o sangue é tirado
ao ver o orvalho cair. Portanto, a Torá provoca apenas felicidade. do braço, o corpo inteiro se recupera.

Moshê disse aos judeus: "Assim como arrisquei minha vida "Assim, o povo judeu metaforicamente abrange os membros de
quando permaneci quarenta dias no Monte Sinai entre os anjos, um corpo humano. Se D’us deseja curar o ‘corpo’ inteiro, o
vocês também devem estar preparados para se sacrificarem pela ‘sangue’ deve ser ‘extraído’ dos tsadikim.
Torá!"
"Embora as provações do tsadic sejam uma expiação para a
A declaração de Moshê também continha uma prece, que esta geração, elas elevam o próprio tsadic neste mundo e no vindouro.
mensagem não deveria ser ignorada, mas entrar nos corações de
Benê Yisrael: "Que meus ensinamentos sejam agradáveis a Benê R. Abba prosseguiu: "Mas por que alguns tsadikim sofrem, ao
Yisrael, como a chuva; que minhas palavras sejam bem aceitas passo que outros vivem pacificamente?"
por eles como o orvalho; como os ventos soprando nas campinas
no outono; e como a chuva de primavera que irriga os campos no "Às vezes o corpo está apenas levemente enfermo, portanto a
mês de Adar." maior parte dos membros pode ser poupada. Porém se o corpo
está muito doente, o sangue deve ser extraído de ambos os
Louvar o Nome de D’us braços. Da mesma forma, se há relativamente poucos pecados no
mundo, D’us poupa do sofrimento a maioria dos tsadikim, mas se
Moshê convoca o Povo a responder com Glória a D’us toda vez a geração é imensamente perversa, D’us aflige todos os tsadikim
que ele menciona o nome de D’us. Moshê prefaciou a canção de para curar a doença largamente difundida."
Ha’azinu com o ensinamento: "Sempre que eu mencionar o nome
de D’us, louvem-No respondendo ‘amén.’" Nossos Sábios Para aceitar o sofrimento, devemos entender que segundo a Torá,
aprenderam com este versículo que após cada bênção recitada até o maior deleite deste mundo nada é quando comparado às
no Bet Hamicdash, o povo deveria responder: "Bendito seja o bênçãos do Mundo Vindouro. Além disso, aquilo que é
Nome de Seu glorioso reino para todo o sempre." considerado infortúnio aqui pode na verdade não o ser, quando
visto sob a absoluta perspectiva do Mundo Vindouro. E ao
Nós também observamos a regra de "responder com uma contrário, aquilo que parece afortunado neste mundo pode na
bênção" – sempre que o chazan (cantor) no Bet Haknêsset verdade ser um impedimento ao crescimento espiritual da pessoa.
menciona o Nome de D’us numa bênção, e quando escutamos
um indivíduo recitar uma bênção. Portanto, um judeu não deve considerar seu bem-estar físico
como um benefício absoluto. Se for golpeado pelo infortúnio, ele
Aquele que responde Amén a uma bênção é ainda mais notável deve aceitá-lo com a fé que "tudo aquilo que D’us faz, é para o
que aquele que recitou a bênção. melhor." Assim como o bem-estar físico não é absoluto, o
infortúnio também é relativo. D’us com certeza planejou-o para
A obra de D’us é perfeita: todos Seus caminhos são terminar sendo um benefício, "pois todos os Seus caminhos são
absolutamente justos. justos".

No desenrolar da canção Moshê prenunciaria duros castigos se Justiça


os judeus abandonassem a Torá. A pessoa pode aceitar a
punição de boa vontade se estiver convencido de que a merece. No versículo "A Rocha, Seu fazer é perfeito", Moshê também
aludiu aos eventos que diziam respeito à sua pessoa. No dia de
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seu falecimento, Moshê reconheceu publicamente a justiça do adquiriu como servos (ao redimi-los do Egito). Portanto, vocês
veredicto de D’us. estão comprometidos ao Seu serviço.

Ele não queria que os judeus pensassem que D’us agia "D’us os escolheu entra todas as nações do mundo e os
injustamente com ele ao não permitir que entrasse em Erets estabeleceu firmemente. Ele os tornou uma nação com seus
Yisrael. Portanto, ele explicou que D’us é leal ao recompensar os próprios cohanim, profetas e reis."
tsadikim no Mundo Vindouro.
Uma enumeração das benesses de D’us ao povo judeu:
Moshê portanto descreveu D’us como "a Rocha", numa alusão ao
seu pecado de golpear a pedra nas Águas de Meriva, pelo qual "Lembrem-se dos dias de antanho, considerem os anos de muitas
ele estava então sendo punido. gerações passadas, e verão como D’us mesmo então preparou o
futuro papel do povo judeu.
Assim como o maior dos profetas (Moshê) reconheceu a justiça
de D’us no dia de sua morte, fazemos da mesma forma quando "Se não podem entender isso, peçam aos eruditos de Torá e aos
sabemos da morte de alguém. anciãos do Sanhedrin, e eles lhes dirão.

Pronunciamos a bênção: "Bendito sejas Tu, D’us , nosso D’us, "Depois do Dilúvio, quando a humanidade se rebelou contra D’us ,
Rei do mundo, o verdadeiro Juiz." Ele poderia ter aniquilado a todos, como fez com a geração do
Dilúvio. Em vez disso, Ele os dispersou, poupando-os da
Moshê explica aos judeus que todo pecado é auto-infligido; D’us destruição pelo mérito do povo judeu, que descenderia de Shaim.
não deve ser culpado por isso: "Se vocês se atolarem no pecado,
é por sua própria culpa. Vocês, os amados filhos de D’us , desse "Ele dividiu aquela geração em setenta nações, que são iguais em
modo se tornam uma geração corrupta e perversa. número aos membros da família de Yaacov, que desceria ao
Egito. (Isso simboliza o amor de D’us pelo povo judeu. Ele os tem
"Além disso, quando vocês pecam, estão se corrompendo. como queridos, assim como todas as setenta nações.
Prejudicam a si mesmos, não a D’us ."
Muito antes do surgimento do povo judeu, D’us designou a Terra
O Pecado do Bezerro de Ouro de Canaã como sua futura herança. Nesse ínterim, Ele deu a
Terra de Canaã e seus onze filhos, que mais tarde a entregariam
Moshê pretendia advertir todas as futuras gerações em geral, e aos descendentes das doze tribos. D’us então reorganizou a
reprovar especificamente sua própria geração pelo pecado do história pelo mérito de Yaacov, o escolhido dos antepassados.
bezerro de ouro.
"’Yaacov era como o terceiro fio de uma corda. Quando
Moshê os repreendeu: "Quando vocês construíram o bezerro de entremeado com os outros dois, assegurava que a corda jamais
ouro, corromperam a si mesmos; não prejudicaram a D’us. romperia. Assim, quando os méritos de Yaacov foram
Anteriormente, Ele os chamara de "Seus filhos", mas depois do acrescentado àqueles dos antepassados, Avraham e Yitschac, a
pecado Ele me disse: ‘Teu povo se tornou corrupto.’ Vocês não estava criado o alicerce inquebrantável do povo judeu.
agiram como filhos com um pai quando proclamaram: ‘estes são
teus deuses, Yisrael.’" "’D’us escolheu o povo judeu como Seu quinhão.’"

Do início da canção até o quinto verso, quando Moshê os Moshê continuou a relatar os atos de bondade de D’us para com
repreendeu pelo pecado do bezerro de ouro, há quarenta o povo judeu:
palavras. Isso sugere que quarenta dias após a Outorga da Torá
os judeus construíram o bezerro, e D’us então disse a Moshê: "Ele proveu suas necessidades no deserto; Ele lhes deu água do
‘Teu povo se tornou corrupto." Poço de Miriam, fez o maná descer do Céu, e providenciou para
que suas roupas não se gastassem.
Moshê continuou a admoestar o povo:
"Num local desolado, esquecido – onde perambulam criaturas
"Vocês acham que fazem mal a D’us quando pecam? Prejudicam destrutivas – Ele protegeu os judeus com sete Nuvens de Glória,
a si mesmos, pois se afastam do seu Pai Celestial. ensinou-lhes Torá, e considerou-os como a menina de Seus
olhos.
"Vocês são um povo baixo! Quando cruzaram o mar Vermelho,
D’us o partiu em doze partes para todas as tribos atravessarem. "Ele cuidou deles como a águia, rei das aves, cuida de seus
Depois Ele lhes deu o ouro e a prata dos egípcios afogados. Ele filhotes."
protegeu vocês dos seus inimigos, e das cobras e escorpiões
durante quarenta anos no deserto. Porém, ao cruzar o Mar Todos estes versículos relatando a bondade de D’us para com o
Vermelho vocês abrigaram um ídolo entre vocês: um de vocês, povo judeu estão escritos no singular: "D’us proveu por ele na
Micha, fez uma imagem que carregou consigo. terra do deserto; Ele o guardou; Ele abre Suas asas sobre ele."
Isso implica que D’us tratava cada judeu dessa maneira.
Esta imagem os acompanhou também através do deserto.
Além disso, a Torá emprega o tempo futuro ("Ele proverá por ele;
"Até os melhores de vocês pecaram após cruzar o Yam Suf; Ele o guardará") para indicar que no futuro D’us fará milagres
deixaram de se ocupar com a Torá em Refidim. Portanto, vocês semelhantes àqueles ocorridos após o Êxodo. Moshê profetizou
não são um povo sábio! os atos de bondade de D’us para com Erets Yisrael:

D’us não age como um Pai quando vocês O obedecem? E "Ele os deixará repousar nas cidades de Erets Yisrael. Ele os
mesmo quando são desobedientes, Ele ainda é seu Amo, que os alimentará com os deliciosos produtos da Terra (que têm sabor
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mais delicioso que os frutos de qualquer outro país) e Ele lhes perseguirem os judeus . "Depois que D’us sujeitar os judeus a
dará mel para sugar das frutas crescendo sobre as rochas, e todos estes sofrimentos, a ponto de os tsadikim dentre eles
azeite de suas azeitonas e plantas que crescem na rocha nua. ficarem oprimidos e abandonados, Ele terá pena deles.
(Os frutos que amadurecem nas encostas rochosas das
montanhas são mais doces que as frutas do vale, porque estão "Ele reprovará Seu povo: ‘Onde estão os deuses que vocês
expostos ao sol abundante.) serviram, a ‘rocha’ na qual vocês colocaram sua confiança?
Deixem que os ídolos a quem vocês ofereceram sacrifícios e
"Manteiga do rebanho e leite das ovelhas, com gordura dos oferendas de bebidas se ergam para ajudar e proteger vocês!
cordeiros cevados, e carneiros da raça de Bashan (que são muito
gordos) e com cabras D’us os alimentará." "’Vocês verão agora pela redenção que Eu estou trazendo que Eu
era, Eu sou e Eu serei, e não há deuses além de Mim. Com Minha
Estas previsões se concretizaram durante o reinado de Shelomô e palavra eu mato neste mundo, e reviverei os mortos no futuro. Eu
reis subseqüentes. Moshê continuou: "Prevejo profeticamente que puni o povo judeu, e Eu os curarei ao final dos dias.
se os judeus guardarem fielmente as mitsvot da Torá, suas
espigas de trigo crescerão até o tamanho do rim de um boi, e o Ninguém salvará o exército de Gog das Minhas mãos, quando
vinho tinto a fluir de uma única uva encherá um copo inteiro." eles vierem para fazer guerra.’"

De fato, quando Shlomtzion foi rainha e seu irmão Shimon ben O verso "Eu mato e faço vivos" (32:39), é uma promessa explícita
Shetach era o líder espiritual de Klal Yisrael, as espigas do trigo na Torá Escrita de que D’us ressuscitará os mortos.
cresceram até o tamanho de rins. Os Sábios as preservaram para
mostrar às futuras gerações como D’us abençoa a nação por Moshê continuou a profetizar em nome de D’us : "Pois Eu levanto
guardar a Torá. Minha mão ao céu e juro, tão certo quanto Eu vivo para sempre,
que afiarei a lâmina de Minha espada, julgarei com rigor e punirei
O Castigo Meus adversários que afligirem os judeus, e retribuirei àqueles
que Me odeiam por terem oprimido o povo judeu."
"Suas más ações foram reveladas perante Ele, e grande foi a ira
com a qual Seus filhos e filhas O enfureceram." D’us diz: "Eu vivo para sempre, e portanto tenho tempo suficiente
para me vingar."
Filhas são mencionadas especificamente aqui, pois antes da
destruição do Primeiro Bet Hamicdash, muitas mulheres incitavam "Farei Minhas flechas embebidas com o sangue dos inimigos e
os maridos à idolatria. Minha espada devorará sua carne pelo sangue judeu que eles
derramaram e pelos judeus que escravizaram. Eu os punirei por
"E Ele disse: ‘Removerei deles Minha shechiná e mostrarei a eles eles mesmos e pelos crimes de seus ancestrais.
o seu fim; quão inúteis os seus ídolos provarão ser!
"Quando D’us finalmente vingar o sangue de seus servos, o povo
"Pois eles são uma geração perversa; eles mudaram as palavras judeu, as nações gentias começarão a entoar louvores a Benê
do D’us vivo, e portanto eles converteram Minha boa vontade em Yisrael. ‘Veja esta nação que se apegou a D’us durante todas as
ira. provações do exílio, e não O abandonou! Eles sempre cofiaram
em Sua bondade e grandeza! Por fim, Ele vingou o mal cometido
"Eles são filhos nos quais não há fé. Eles estiveram no Har Sinai contra eles.’
e proclamaram:
D’us fará vingança não apenas por assassinato, mas também por
‘Faremos e ouviremos’, e quarenta dias depois fizeram um atos de roubo e violência cometidos contra Seu povo. Ele os
bezerro de ouro. Construíram um Bet Hamicdash, e Eu não aplacará e consolará por todo o seu sofrimento, e a partir daí a
pretendia exilá-los de sua Terra. Mas eles foram desleais; Terra será também aplacada."
portanto, Eu também mudei Meus planos e os exilei.
O acima constitui uma promessa inequívoca de futura Redenção,
Eles acenderam minha fúria com ídolos que não são deuses; eles pois na época da reconstrução do Segundo Bet Hamicdash as
Me provocaram com suas vaidades. Eu os enfurecerei, midá- nações gentias não louvaram os judeus, mas ao contrário,
keneged-midá, colocando contra eles nações que não são como zombaram deles. D’us também não vingou o sangue derramado
gente, mas são inferiores e desprezíveis como animais." dos judeus ou aplacou Seu povo.

A Destruição que D’us Pensou em Trazer Sobre o Povo Judeu e A primeira parte da shira – a respeito do pecado, dispersão e
Por Que Ele Desistiu castigo de Benê Yisrael – foi cumprida exatamente como a Torá
previu. Agora esperamos a futura Redenção, quando D’us
D’us proclamou: "Segundo o Atributo da Justiça, Eu deveria ter cumprirá as últimas promessas
abandonado o povo judeu a um eterno exílio, para desaparecer
completamente entre as nações gentias. Moshê e Yehoshua ensinam a canção de Ha’azinu a Benê
Yisrael. Moshê explica a Benê Yisrael que tudo na Torá é
Desisti de fazê-lo, para que o inimigo não se orgulhasse: ‘Nossa significativo
força castigou nossos adversários – não foi um decreto de D’us’"
Tanto Moshê quanto Yehoshua ensinaram a canção Ha’azinu ao
Os gentios atribuiriam a morte do povo judeu ao poder de seus povo. Yehoshua o fez no Shabat, o último dia de vida de Moshê,
deuses e assim o Grande Nome de D’us seria profanado. na presença de seu mestre, para que mais tarde o povo não
pudesse alegar: "Enquanto seu professor estava vivo, você não
Moshê previu que depois que o exílio expiasse os pecados do
ousava falar!"
povo judeu, o exílio terminaria e D’us punirá as nações por
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Embora Yehoshua agora tivesse sido oficialmente designado A Canção de Haazínu como um todo, mesmo aquelas partes que
como sucessor de Moshê, ele não ficou arrogante. Permaneceu contêm palavras de advertência, possui um tema central: todos os
humilde e justo como quando ascendeu àquela honra. Para eventos que sucederam ao povo judeu são, em última instância,
indicar isso, a Torá o chama pelo seu nome original, "Hoshaia" para seu próprio bem. Mesmo aqueles eventos que parecem ser a
(32:44). própria antítese da bondade, obedecem ao propósito de levar os
judeus para mais próximo da redenção suprema. Na verdade,
Moshê explicou aos judeus: "Para entender a Torá, vocês devem todas as ocorrências na vida do povo judeu são degraus e
aplicar a mente, olhos e ouvidos. Nada na Torá é vazio ou estágios que levam em direção à redenção.
insignificante. Se vocês deixarem de entender o significado, é
porque não se esforçaram o suficiente. Além disso, o estudo de A Porção de Haazínu é lida na maioria dos anos, e neste ano
Torá jamais deixa de produzir recompensa, pois garante a vocês também será, no Shabat Teshuvá, o "Shabat da Penitência",
vida longa na Terra aonde D’us os está levando (e vocês não assim chamado porque coincide com os "Dez Dias de
serão exilados). Arrependimento".

O Monte Nevo Também deve ser entendido que a passagem de Haazínu, está
não apenas conectada a estes dias de penitência porque contém
No dia da morte de Moshê, D’us lhe ordenou: "Suba ao Monte "palavras de advertência, para que o povo se arrependa," mas por
Nevo e dali verá Erets Yisrael. Pois você morrerá naquela causa deste notável tipo de serviço Divino e nível de
montanha e sua alma será reunida ao seu povo. Sua morte será arrependimento que caracteriza o Shabat Teshuvá.
causada por um "beijo Divino", assim como seu irmão Aharon,
como você desejou." A forma de arrependimento apropriado para os dias da semana é
teshuvá tataá, "arrependimento de baixo nível", enquanto que a
Moshê implorou mais uma vez: "Mestre do universo, não me forma de arrependimento apropriada ao Shabat é teshuvá ilaá,
deixe ser como o homem que preparou a celebração de "arrependimento de alto nível". Em geral, o anterior envolve
casamento do seu único filho, apenas para ser convocado à corte arrependimento por se cometer pecados reais, ao passo que o
do rei para ser informado de sua execução imediata. Eu criei este último é o retorno e apego do espírito do homem a D'us.
povo; eu os tirei do Egito; eu ensinei a eles s Sua Torá; construí
para eles um Mishcan em Seu mérito; e agora, quando estamos a Como durante a semana o homem está envolvido em elevar o
ponto de cruzar o Jordão e tomar posse da Terra, fico sabendo mundano até a santidade, seu arrependimento gira em torno da
que vou morrer! Por favor, deixe-me pelo menos cruzar o Jordão, retificação de pecados reais – teshuvá tataá. No Shabat,
e então morrerei de boa vontade." entretanto, o trabalho mundano é proibido, e o serviço espiritual
do homem envolve elevar-se de nível para nível dentro do reino
O Todo Poderoso respondeu: "Você fez com que os judeus se da santidade. Esta é a tarefa de teshuvá ilaá – esforçar-se para
rebelassem contra Mim, e Meu Nome foi profanado, quando você chegar ainda mais perto de D'us.
golpeou a pedra nas Águas de Meriva. (O pecado de chilul D’us ,
a profanação do Nome de D’us, é um dos mais difíceis de expiar.) Estes níveis de arrependimento também diferem na maneira pela
qual são realizados: teshuvá tataá procede de um coração sofrido
"Do Har Nevo você verá a Terra física abaixo, e verá a Terra e contrito, ao passo que teshuvá ilaá é feito com "grande alegria".
Celestial acima. Mas você não deve entrar. Nem mesmo os seus
ossos serão levados para lá, pois na Era de Mashiach você se Tudo isso é encontrado na Canção de Haazínu. Por um lado inclui
erguerá para levar a geração do deserto a Erets Yisrael." "[palavras de] advertência, para que o povo se arrependa", e por
outro é chamada "uma canção", uma expressão de alegria,
Embora Moshê tivesse acabado de ouvir de D’us que fora barrado cantada pelos levitas no Templo Sagrado.
de entrar em Erets Yisrael por causa de seu erro nas Águas de
Meriva, um erro provocado pela insistência de Benê Yisrael para A conexão da Canção de Haazínu com teshuvá ilaá também está
que ele tirasse água de uma rocha diferente daquela indicada por de acordo com o conteúdo simples da Porção da Torá. Moshê
D’us , ele não ficou irado com eles, pois era um homem de D’us, recebeu a ordem de escrever a Canção de Haazínu "para que
não propenso ao ressentimento. Em vez disso, ele decidiu esta canção sirva-Me de testemunha para os judeus" – ela serviu
conceder às tribos sua bênção de despedida, pois sabia que sua como testemunha da Torá e dos mandamentos, possibilitando aos
morte era iminente. judeus ficarem repletos de vitalidade e imutável lealdade.

Uma canção de arrependimento O arrependimento, também, especialmente teshuvá ilaá, vitaliza o


judeu e lhe permite cumprir a Torá e seus mandamentos nesta
A maioria dos versos de Haazínu – seis das sete seções – está maneira, para que suas ações desse modo tornem-se "atos bons
associada com a canção de Moshê, conhecida como a Canção de e luminosos".
Haazínu. Os levitas costumavam cantar esta canção no Shabat,
no Templo Sagrado. Eles a dividiam em seis partes, cada uma Vivendo Com o Rebe
cantada em outro Shabat, da mesma maneira que a canção é
dividida para a leitura da Torá. Adaptada do vol. 29 de Likutei Sichot.

Maimônides explica porque a canção de Haazínu foi dividida Segundo os ensinamentos místicos do Zohar, "ushpizin"
desta forma: "…Pois são elas [palavras de] advertência, para que (hóspedes) celestiais visitam a sucá na Festa de Sucot. São eles:
o povo se arrependesse." Agora "advertência" e "canção" são Avraham, Yitschac, Yaacov, Moshê, Aharon, Yossef e David
antiéticas. Como devemos entender esta canção que contém (Salomão). A cada dia, um desses tsadikim é o convidado
palavras de "advertência"? "principal", que traz consigo os outros. Na primeira noite de Sucot,
o ushpiz "principal" é Avraham.

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Nosso ancestral Avraham era famoso por sua perfeita "hachnasat "Lá se vão os anjos questionar o anjo Michael1. Este explica a
orchim" (hospitalidade). De fato, o Talmud deriva de Avraham que eles que isto foi feito por ele – aquelas solas e chinelos são o
"Ter hóspedes é melhor que saudar a Divina Presença". (A Torá resultado dos judeus dançando com a Torá. Amorosamente, o
relata que quando D’us visitou Avraham após seu brit milá, ele anjo começa a recolher as solas. ‘Estas são de Kaminka e
apressou-se em introduzir em sua tenda o que pensou serem aquelas de Mezeritch’ – e assim por diante, ele enumera.
convidados humanos, mas na que verdade eram anjos). Se foi
assim que Avraham agiu antes que a Torá fosse outorgada, "Então o anjo Michael orgulhosamente insiste que é superior ao
procurando até aqueles que tinham aparência de "Árabes que se anjo que tece coroas para o Criador com as preces do povo
curvam até para a poeira de seus pés" como convidados, muito judeu. ‘As solas gastas de Simchat Torá farão uma coroa mais
mais devemos nos esforçar para imitar sua hospitalidade depois bonita’ – declara ele.
da Outorga da Torá e no que diz respeito a nossos irmãos judeus.
Muitos de nós não possuímos uma "boa" cabeça. Nem todo
Na verdade, o conceito de hospitalidade é uma descrição muito mundo tem um coração gentil e bondoso. Mas quase todos têm
apropriada de nosso Divino serviço no exílio, quando todo o povo pés com os quais dançar, e mãos para bater palmas. E todos nós
judeu é comparado a um "convidado". Nossos Sábios temos vozes para cantar – embora alguns de nós sejamos mais
caracterizam o exílio como um período no qual os judeus são afinados que outros.
como "crianças que foram exiladas da mesa de seu Pai". O lugar
natural e de direito para um judeu é à "mesa" de D’us; durante o A Festa de Sucot é chamada de "A Época de Nosso Júbilo". Além
exílio ele não está em seu "habitat" natural, e portanto é um de participar das mitsvot de comer em uma sucá, e balançar o
hóspede em território estrangeiro. lulav e etrog, recebemos a mitsvá adicional de nos rejubilar e ser
felizes.
Por que D’us criaria uma situação tão fora do natural? Por causa
da qualidade e vantagem especiais do serviço Divino dos judeus Durante Sucot em si, em comemoração a um serviço especial que
durante o exílio. Este serviço é tão importante e amado por D’us costumava ocorrer no Templo Sagrado, as celebrações são feitas
que Ele desejou transformar Seus filhos em "hóspedes". em comunidades judaicas no mundo inteiro. Nestas celebrações,
conhecidas como Beit HaSho'eiva, os judeus celebram numa
Dizem Nossos Sábios: "D’us fez um favor a Israel ('tsedacá', do maneira em que todos os judeus são realmente iguais,
radical que significa justiça) que Ele o dispersou entre as nações." rejubilando-se!
A verdadeira razão para a Diáspora não foi punição, mas
"tsedacá" – preencher um propósito positivo e objetivo. D’us A dança e as festividades de Sucot e Simchat Beit HaSho'eiva
desejava que os judeus imbuíssem todo local com santidade culminam nos volteios e rodopios e na exuberância desinibida de
como preparação para a Era Messiânica, quando o mundo inteiro Simchat Torá, quando nos alegramos igualmente com a Torá, não
será Sua "morada". com cabeças e corações, não com nossas carteiras, mas com os
pés e sapatos, com as solas que mais tarde serão coletadas no
O Báal Shem Tov (que é também o "ushpiz chassídico" na Jardim do Éden e tecidas para formar a coroa mais luminosa e
primeira noite de Sucot) disse algo semelhante no versículo em bela para o Criador.
Tehilim: "Os passos do homem são ordenados por D’us",
explicando que onde quer que um judeu esteja, ele deveria saber Celebre com sua família, com amigos e com seus pés durante a
que isso não é "por coincidência", mas que D’us o levou ali próxima "Época de Nosso Júbilo". Vá até lá e exercite
deliberadamente, para um propósito Divino. simultaneamente suas solas e sua alma!

É exatamente por meio de nosso serviço no exílio que Nota:


mereceremos "saudar a Divina Presença" no sentido pleno com a
1- O anjo Michael é o anjo do amor e da bondade. Ele é
Redenção definitiva, quando "a glória de D’us será revelada", com
responsável por conceder ao povo judeu bênçãos de filhos, saúde
felicidade e alegria no coração.
e riqueza.
A Alma da Sola
A época da colheita
Certa vez, na Festa de Simchat Torá, o Báal Shem Tov (fundador
Rabi Shmuel M. Butman
do Chassidismo) contou aos seus discípulos o seguinte:
De todos os feriados no decorrer do ano, nossa alegria é maior
"Em Simchat Torá as pessoas geralmente dormem um pouco a
em Sucot, a "Época de Nosso Júbilo". O mandamento de alegrar-
mais por causa da refeição festiva tardia e da dança na noite
se em Sucot aparece três vezes na Torá. Em contraste, não há
anterior. Mas os anjos não têm este tipo de horário, portanto
ordem específica para rejubilar-se em Pêssach, e a ordem para
naturalmente eles 'acordam' em Simchat Torá na mesma hora de
alegrar-se em Shavuot aparece apenas uma vez. O Midrash
costume. Os anjos desejam começar a entoar suas canções de
explica que a alegria de uma festa está diretamente relacionada
louvor a D-us, mas não têm permissão de fazê-lo até que os
ao estágio específico da colheita quando ocorre a festa.
judeus comecem suas preces. Então, eles saem para arrumar o
Jardim do Éden – o Paraíso. Em Pêssach, que acontece na primavera, o cereal nos campos
acaba de crescer. Como ainda não estamos certos da colheita
"Ora, no Jardim do Éden os anjos encontram objetos que jamais
eventual, nosso júbilo é limitado. Assim, não há mandamento para
tinham encontrado antes. O que poderiam ser estas coisas? O
alegrar-se na Torá.
Jardim está coalhado de solas de sapatos! Os anjos ficam
estupefatos. Estão acostumados a encontrar livros de orações, À altura de Shavuot, o cereal amadureceu e está pronto para ser
velas de Shabat, moedas para caridade, tefilin e mezuzot no colhido. Porém nossa felicidade não está completa, por ainda não
Jardim, mas solas de sapatos?
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pode ser comido. O mandamento de rejubilar-se, portanto, cumpre a palavra de D'us, certamente nós que falamos e ouvimos
aparece apenas uma vez. e precisamos de sustento, deveríamos cumprir a Divina palavra.

Em Sucot, o grão é trazido do campo para nossos lares. Como o À primeira vista, Rashi parece dizer basicamente a mesma coisa
cereal pode agora ser plenamente utilizado, nossa felicidade é nos dois lugares, apesar da sutil mudança. Entretanto, após
maior. Expressando este alto grau de júbilo, o mandamento de estudar seu comentário no original, tem-se a forte impressão de
rejubilar-se aparece três vezes. que Rashi é muito preciso em sua escolha ddas palavras. De fato,
pode-se encontrar muitos exemplos ao longo do comentário de
Estes três períodos estão também refletidos no serviço espiritual Rashi, onde em dois lugares bem distantes ele interpreta um
de todo judeu. conceito em especial usando a frase idêntica. Dessa maneira, é
completamente incomum encontrar tal discrepância – que na
O primeiro estágio, "primavera", simboliza a fé pura do judeu em porção desta semana da Torá Rashi descreve a pedra como uma
D’us, a fundação da Torá e mitsvot. Somente a fé, no entanto, não entidade que não está sujeita à recompensa e punição, enquanto
leva necessariamente à observância prática, assim como em que na Parashat Chukat Rashi refere-se à rocha como um ser que
Pêssach ainda não temos certeza de que o trigo irá florir. Este é o nem fala nem ouve, e não precisa de sustento.
"Pêssach espiritual" do judeu.
A fim de resolver esta dificuldade, devemos analisar nosso próprio
A colheita do cereal vem em seguida, mas ainda não é o auge de relacionamento com D'us. Entendemos que há mais de uma
todo o processo. No sentido espiritual, isso é equivalente à maneira na qual nos relacionamos com o Todo Poderoso. Ele é
resolução do judeu de cumprir Torá e mitsvot antes que tenha nosso Criador e o Provedor de nossa existência. Acima e além
posto em ação suas boas intenções. A "colheita" ainda está no disso, Ele é nosso Juiz, que recompensa e castiga com base em
campo; este é o "Shavuot espiritual" do judeu. nossas ações.

Somente quando o grão é comido, quando as resoluções do judeu Agora podemos entender os dois comentários de rashi. Quando o
para o bem se expressam em ações reais, aquela perfeição é evento ocorreu a princípio, Rashi está se referindo a D'us como o
atingida. Esta é a "Sucot espiritual" do judeu. Criador e Provedor; dessa maneira ele enfatiza que nós, que
precisamos nos voltar para D'us até para as próprias habilidades
Assim, o grau mais elevado de felicidade do povo judeu é sentido
de falar, ouvir e receber o sustento, deveríamos seguir a palavra
e expresso em Sucot, que é realmente a "Época de Nosso Júbilo".
de D-us. Afinal, Ele nos deu tudo que temos e tudo que somos.
Batendo na base da rocha Na porção desta semana, entretanto, Rashi explica que a lição
pode ser entendida em nível diferente – percebendo que D'us é
por Rabi Elie Cohen nosso Juiz. Somos recompensados e punidos por Ele por nossas
ações, e sendo assim devemos dar ouvidos às Suas diretivas.
Ao final da Parashar Ha'azinu, D'us ordena a Moshê que suba ao
Monte Nebo para ver a Terra de Israel e então morrer. D'us O Talmud declara que o Homem foi criado e julgado em Rosh
relembra a Moshê que por causa de seu pecado de bater na Hashaná, o Dia do Julgamento. O Talmud declara também que
rocha, não terá permissão de entrar na Terra Prometida. Assim, durante os Dez Dias de Arrependimento entre Rosh Hashaná e
D'us declara: "Devido ao fato de que não Me santificaste na Yom Kipur, D'us está mais facilmente disponível para que nos
presença dos Filhos de Israel [não podes entrar na terra]" relacionemos com Ele. Que aproveitemos a oportunidade para
(Devarim 32:51). A implicação do versículo é que o pecado de nos aproximarmos de nosso Criador e Juiz, para sermos
Moshê com a rocha foi a oportunidade perdida de santificar D'us. inspirados em nossas ações e dessa maneira santificá-Lo.

Rashi explica o versículo da seguinte maneira: D'us havia Impedindo Moshê


ordenado a Moshê para falar com a pedra, para que ela desse
água. Em vez disso, Moshê bateu na pedra duas vezes. Se Adaptado das obras do Lubavitcher Rebe
Moshê tivesse falado com a rocha, como lhe fora ordenado, e a
No final da porção desta semana da Torá, Haazinu, D’us ordena a
água tivesse emergido, o povo judeu teria aprendido uma
Moshê: "Naquele mesmo dia… suba a Montanha Abarim, no
importante lição. Se uma pedra, que não está sujeita a nenhuma
Monte Nebo… e morra na montanha." D’us estava declarando
recompensa ou punição, obedece as ordens de D'us, certamente
Sua intenção de levar Moshê e que "aquele que tiver poder de
nós, que estamos sujeitos a recompensa e castigo, devemos
protestar – poderia vir e protestar."
obedecer a vontade de D'us. Se Moshê tivesse falado com a
pedra, D'us teria sido santificado e elevado aos olhos da De fato, os Filhos de Israel não receberam a notícia da morte
humanidade. iminente de Moshê com sangue frio, e decidiram tentar impedir
que isso acontecesse. Lamentaram-se: "Não abandonaremos
É interessante notar que este não é o primeiro lugar em que Rashi
aquele que nos tirou do Egito, abriu o mar, deu-nos carne e nos
interpreta esta oportunidade perdida para "santificação". Quando
deu a Torá!"
o incidente com a pedra realmente ocorre e é registrado na Torá
em Parashat Chukat, D'us diz a Moshê e Aharon: "Como vocês Poderia parecer que os judeus estavam em franca rebelião contra
não confiaram em Mim para santificar-Me perante os olhos dos D’us mas, se examinarmos melhor a situação, veremos que eles
Filhos de Israel, então não deverão trazer esta congregação à realmente pensaram que impedir a morte de Moshê fosse a
terra que Eu lhes concedi" (Bamidbar 20:12). Lá, também, Rashi vontade de D’us!
explica a "santificação" perdida, mas em termos ligeiramente
diferentes. Rashi declara que se Moshê tivesse falado com a A geração de judeus a ponto de entrar na Terra de Israel era
pedra, fazendo-a produzir água, o povo judeu teria dito que, se composta de indivíduos justos e bons, como está declarado:
esta rocha, que não fala nem ouve e não precisa de sustento, "Vocês são aqueles que se apegaram a D’us." Por que, então,
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eles pensaram que impedindo Moshê de subir a montanha, Torá aqui chama Moshê "um homem de D’us" (33:1). Este título
poderiam impedir sua morte, e além disso, que na verdade foi concedido a ele somente depois que abençoou os judeus,
estariam cumprindo uma mitsvá? pois alguém que defende e louva o povo judeu é elevado por
D’us.
O raciocínio deles era o seguinte: Segundo a própria Torá, não se
deve ser ingrato pelo bem que é feito. Moshê não fez todas A bênção de Moshê foi superior à de todos os tsadikim antes
aquelas coisas maravilhosas para nós, e não estamos obrigados dele, e até às bênçãos dos antepassados, porque ele era
a fazer todo o possível por ele? A ordem de subir a montanha foi superior a eles.
dada a ele – não a nós! Talvez dessa maneira D’us estivesse nos
dando uma oportunidade de intervir, não permitindo que ele nos "Muitas filhas se saíram brilhantemente, mas você superou elas
deixasse e subisse a montanha para morrer. Se impedíssemos todas" (Mishlê 31:29). A Escritura refere-se a Moshê, que foi
sua morte, então o decreto de que Moshê deveria morrer talvez superior até aos Patriarcas. O Midrash ilustra a superioridade de
fosse revertido e ele seguramente nos levaria até a Terra Moshê por meio de uma conversa fictícia entre ele e os grandes
Prometida! tsadikim anteriores.

Os judeus, portanto, não estavam se rebelando contra D’us, mas Antes de começar as bênçãos, Moshê recitou o salmo (Tehilim
tinham interpretado a ordem Divina como significando que eles 90). "Uma prece para Moshê, o homem de D’us." Nele, ele
deveriam intervir ativamente pelo bem de Moshê. Eles pensavam menciona o breve tempo de vida de um ser humano: "Os dias
ter recebido a chance de evitar o decreto, como acreditamos ser de nossos anos são setenta e, se houver força especial, oitenta
verdadeiro em muitos outros exemplos. anos." Porém, a alma do homem continua a viver, finalmente
retornando à sua fonte: "D’us, Tu tens sido uma morada para
Os judeus recebem, na verdade, o poder de desviar os maus nós (nossas almas) em todas as gerações" (Tehilim 90:1).
decretos e alterar seu julgamento para melhor, por meio de
teshuvá (arrependimento). Recitamos preces em Rosh Hashaná Moshê Descreve a Grandeza do Povo Judeu
dizendo que por meio de "arrependimento, prece e tsedacá
(caridade) decretos maus são anulados." Moshê começou com louvores a D’us, descrevendo como Ele
Se revelou no Har Sinai para outorgar a Torá. Moshê
No caso de Moshê, no entanto, isso não aconteceria, e na proclamou: "D’us foi ao povo judeu no Monte Sinai como um
verdade ele faleceu. Devemos portanto concluir que sua morte foi noivo que vai encontrar sua noiva. D’us ofereceu previamente a
de certa forma benéfica para o povo judeu, pois nem mesmo o Torá a todas as nações gentias, mas elas se recusaram a
auto-sacrifício e os esforços que fizeram lograram êxito. aceitar."

Nossos Sábios explicam que era absolutamente necessário que Moshê proclamou: "A grandeza de D’us desafia a descrição. No
Moshê não entrasse na Terra de Israel. D’us previu que os judeus Sinai, Ele levou com Ele apenas uma fração das hostes
seriam um dia exilados de sua Terra, e se Moshê tivesse entrado celestiais sob Seu comando, ao contrário de um ser humano
em Israel, o subseqüente exílio deles teria sido impossível. que exibe toda sua riqueza no dia das bodas.

Porém, este mesmo exílio também é interpretado como um "Ele deu aos judeus Sua lei de fogo, a Torá, que Ele tinha
evento positivo. Quando, em anos posteriores, os Filhos de Israel gravado sobre as Tábuas com Sua mão direita."
não respeitaram as palavras da Torá e incorreram na ira de D’us,
foi apenas "madeira e pedras" (O Templo Sagrado) que recebeu o Por que a Torá é chamada de ‘uma lei de fogo’?
impacto da fúria Divina. O povo judeu recebeu a oportunidade de
1 – A Torá existiu antes da criação do universo. Antes de ser
ir para o exílio, onde poderiam fazer teshuvá e por fim retornar
entregue à humanidade, foi escrita perante D’us em fogo negro
para sua Terra, brevemente em nossos dias.
sobre fogo branco. Moshê então a escreveu com tinta sobre
54 - Parashat Vezot Haberachá Deuteronômio 33:1-34:12 pergaminho.

Moshê Abençoa as Tribos Antes de sua Morte 2 – A Torá foi entregue em meio ao fogo: os anjos descendo
com D’us ao Har Sinai estavam em chamas: a montanha estava
Quando D’us ordenou a Moshê: "Suba ao Monte Nevo e ali em chamas; foi dado por D’us, que é chamado "um Fogo
morrerá" – o Anjo da Morte pensou que tivesse permissão de devorador"; e a face do agente de D’us (Moshê) reluziu por
levar a alma de Moshê. entre o fogo.

Ele voou para baixo e pairou sobre Moshê, mas quando Moshê Moshê agora abençoou os judeus para que merecessem a vida
o avistou, agarrou-o e atirou no chão. eterna no Mundo Vindouro por terem aceitado a Torá. "D’us
amava muito as tribos. Ele atou as almas dos tsadikim com Ele
"D’us garantiu-me que você não tem poder sobre mim" – Moshê para a vida eterna. Eles a merecem, pois se colocaram ao pé do
disse a ele. "Fique aí e escute enquanto eu abençoo as tribos." Monte Sinai e aceitaram o jugo da Torá."

Moshê obrigou o Anjo de Morte a escutar suas bênçãos. Moshê Moshê Abençoa as Tribos
desejava, como seu ato final, abençoar os judeus. Ele tinha
começado o Livro de Devarim com reprovação, e também os A Bênção de Reuven
tinha repreendido na canção de Ha’azinu. Agora desejava
concluir com uma bênção sobre eles. Com Moshê, os Moshê começou abençoando os descendentes do primogênito
posteriores aprenderam a concluir seus sermões de de Yaacov:
admoestação com palavras de consolo e bênção para o povo. A

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"Que Reuven viva e não morra, e que seus homens sejam fez seu irmão Reuven confessar abertamente seu pecado.
contados entre as tribos." Depois da corajosa admissão de culpa no incidente envolvendo
Tamar. Reuven também tomou coragem e admitiu em frente de
No sentido literal, Moshê estava se referindo aos soldados da seu pai Yaacov: "Eu desarrumei a cama de meu pai,"
tribo de Reuven, que marcharam na frente do exército judeu
durante a conquista da Terra. Ele os abençoou para que Nossos Sábios mencionam ainda outro motivo para Moshê
nenhum caísse em batalha, e que todos retornassem para casa. colocar a bênção de Yehuda em seguida à de Reuven, e por
que ele introduziu a bênção de Yehuda com as palavras: "E esta
Em outro nível, a bênção de Moshê se referiu ao fundador da é para Yehuda."
tribo:
Durante sua jornada de quarenta anos pelo deserto, Benê
"Que Reuven viva nos dias de Mashiach e que não morra no Yisrael carregou o caixão de todos os filhos de Yaacov, até
Mundo Vindouro, Que sua tribo seja contada entre Benê finalmente enterrar seus corpos em Erets Yisrael. Mas enquanto
Yisrael." os outros corpos permaneceram intactos, os ossos de Yehuda
se desconectaram e rolaram dentro do caixão.
Moshê abençoou Reuven para que seu pecado no incidente
envolvendo Bilá não fosse usado contra ele no futuro, pois Yehuda atraiu este castigo sobre si quando implorou ao seu pai
Reuven tinha se arrependido de seu erro. Yaacov: "Deixa-me levar Binyamin ao Egito. Se eu não devolvê-
lo a ti, que eu seja banido por todos os meus dias, mesmo
Na verdade, a bênção de Moshê ajudou Reuven a conquistar depois da morte." Embora Yehuda tenha devolvido Binyamin a
um quinhão no Mundo Vindouro. Yaacov, seu banimento – em referência às palavras de um
homem justo – por força teve efeito.
A Tribo de Shimon
Portanto, a alma de Yehuda não pôde entrar no Gan Eden, e ao
Moshê não concedeu sua própria bênção a Shimon. Ele estava
mesmo tempo seus ossos não encontraram repouso.
irado com esta tribo porque seu líder, Zimri, tinha pecado em
Shitim com uma princesa moabita, dessa forma inspirando Moshê suplicou a D’us: "O corpo de Reuven deve permanecer
muitos de seus amigos na tribo a erros similares. intacto, enquanto o de Yehuda está desmembrado? Não foi
Yehuda que fez Reuven confessar abertamente seu erro?
Nosso patriarca Yaacov, em suas bênçãos aos seus filhos, tinha
Portanto, ouve, D’us a voz de Yehuda!"
reprovado Shimon e Levi. Levi mais tarde melhorou, ao passo
que Shimon se deteriorou ainda mais, como é ilustrado na Assim que Moshê falou as palavras: "Ouve, D’us a voz de
seguinte parábola: Yehuda", os ossos de Yehuda se juntaram novamente. Quando
Moshê falou: "e leva-o ao seu povo", a alma de Yehuda foi
Dois homens pediram um empréstimo ao rei. Um pagou, e
admitida à academia Celestial, onde se reuniu às almas dos
depois chegou a emprestar ao rei uma quantia de seu próprio
judeus justos. As palavras finais de Moshê "e seja uma ajuda
dinheiro em retorno. O outro, no entanto, não somente deixou
para ele de seus adversários", fez com que a alma de Yehuda
de pagar o empréstimo original, como teve a audácia de pedir
atingisse o nível mais elevado de apego a D’us no Olam Habá.
outro empréstimo ao rei.
As palavras de Moshê "E esta bênção para Yehuda também
Da mesma forma, Yaacov inicialmente censurou tanto Shimon
alude à Torá. Moshê indicou: "Os reis, que descenderão de
quanto Levi pelo ódio que levou a ambos exterminarem a cidade
Yehuda, devem estudar Torá a vida toda."
de Sh’chem, e pelo episódio em que ambos tinham tentado tirar
a vida de Yossef. Em seguida, a tribo de Levi utilizou seu Moshê rezou: "Mestre do Universo, aceita as preces dos reis da
atributo do zelo e ira para o propósito de vingar a honra do Todo casa de David, sempre que forem ameaçados pelo inimigo!
Poderoso ao punirem os adoradores do bezerro de ouro e Retorna seus soldados em segurança! Que tenham sucesso na
quando Pinchas, da tribo de Levi, matou o líder pecador de batalha, e sejas uma ajuda para eles contra seus adversários!"
Shimon, Zimri.
Moshê anteviu profeticamente que David algumas vezes se
Os membros de Shimon, porém, continuaram a usar sua encontraria em grande perigo, e portanto convenceu D’us a
tendência para a violência e agitação: seu líder Zimri rebelou-se resgatar o futuro monarca. Ele também rezou pelo Rei
contra Moshê em Shitim. Portanto, esta tribo perdeu o privilégio Yoshiyáhu, vislumbrando que Yoshiyáhu retornaria a D’us e
de receber sua própria bênção. Apesar disso, Moshê aludiu a destruiria os ídolos em Erets Yisrael. Devido às preces de
Shimon na bênção de Yehuda, quando disse: "Escuta, D’us, a Moshê, D’us aceitou a teshuvá de Yoshiyáhu e prometeu não
voz de Yehuda." A palavra "Shemá" contém as letras do nome destruir o Bet Hamicdash em seu tempo. Moshê, além disso,
Shimon. Além disso, o quinhão de Shimon em Erets Yisrael rezou pelo Rei Menashe, para que D’us aceitasse sua prece,
consistia de várias faixas de terra na porção de Yehuda. pronunciada no cativeiro da Babilônia, e o libertasse.

Shimon foi abençoado junto com Yehuda, o "leão", e foi feito A Bênção de Levi
seu vizinho, na esperança de que a presença de Yehuda
refreasse Shimon de mais atos de violência injustificada. Moshê abençoou a Tribo de Levi: "Tu (D’us) vestiste Aharon,
que consideraste justo, com Teu urim vetumim (o peitoral do
A Bênção de Yehuda Sumo Sacerdote).

Moshê profeticamente abençoou Yehuda depois de Reuven, "Tu testaste Aharon nas águas de Meriva, onde decretaste que
porque Yehuda era a tribo liderante. Além disso, a tribo merecia ele morreria no deserto por apoiar quando Moshê golpeou a
ser abençoada depois de Reuven, porque o fundador da tribo
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pedra. Aharon poderia ter protestado: ‘Não cometi qualquer Moshê abençoou Binyamin antes de Yossef, porque o Bet
pecado; por que tenho de morrer?’ Mas seu coração era perfeito Hamicdash que estava para ser construído na porção de
Contigo; ele não teve queixas. Portanto, conquistou o direito de Binyamin seria mais caro a D’us que o Mishcan de Shilo,
usar o urim vetumim sobre o coração." localizado na porção de Yossef.

Em outro nível, Moshê estava louvando toda a tribo de Levi, que Moshê abençoou Binyamin:
fora escolhida para desempenhar o Serviço de D’us no Mishcan
e no Bet Hamicdash: "Toda vez que testaste os homens da tribo "Binyamin habitará em segurança por causa do amor de D’us
de Levi, eles foram perfeitos; quando Tu fizeste um teste com por ele. Ele sugeriu: "Os descendentes desta tribo habitarão em
eles nas Águas de Meriva, eles foram leais." segurança, sem temor do inimigo.

Os membros de Levi não tiveram (falsa) pena dos adoradores A tribo de Binyamin permaneceu parte do reino de Yehuda,
do bezerro de ouro, mas executaram a todos – até seus próprios após a separação do reino, Seus membros lutaram pelos reis de
parentes. Yehuda, participando nas vitórias dos reis justos Assa,
Yehoshafat a Chizkiyahu. A bênção de Moshê foi para que
"Eles cumpriram Teu mandamento: ‘Não terás outros deuses.’ Binyamin destruísse os inimigos e morasse em segurança.
Eles não contribuíram com ouro para o bezerro, nem o serviram. Moshê também estava se referindo ao fundador da tribo,
Binyamin, que "habitaria em segurança" até na sepultura, pois
"Eles guardaram corajosamente o Teu pacto do brit milá, os vermes não teriam permissão de tocar seu corpo.
circuncidando seus filhos até no deserto (enquanto o restante
das tribos desistiu, por causa dos perigos que se D’us irá sempre pairar sobre a porção de Binyamin, para que
apresentavam). Sua Shechiná ali resida.

"Eles são merecedores de ensinar tais leis a Yaacov e Tua Torá "A Shechiná ‘habita entre os ombros de Binyamin’". (O Bet
para Israel. Os cohanim da sua tribo Te oferecerão incenso Hamicdash será construído numa colina alta em seu território.)
diariamente, e sacrifícios sobre Teu altar.
O Rei David desejava ardentemente construir o Bet Hamicdash.
"Abençoa, D’us, as propriedades dos levi’im, e aceita a obra de Ele fez todos os preparativos que pôde.
suas mãos (o serviço dos sacrifícios) favoravelmente."
Quando David visitou o Profeta Shemuel, eles estudaram as
De fato, a tefilá de Moshê fez os membros da tribo de Levi halachot pertinentes ao futuro Bet Hamicdash. David sugeriu
serem tão abençoados materialmente que se diz: "A maioria dos que fosse construído sobre a montanha mais alta de Erets
cohanim é rica." Além disso, o versículo "Eu fui jovem, e agora Yisrael. No entanto, eles consideraram o versículo ‘E Ele habita
sou velho; mas não vi um homem justo abandonado, nem o vi entre seus ombros’ (33:12). Como o versículo não declara ‘Ele
esmolando pão (Tehilim 37:25), era entendido como referindo- habita sobre sua cabeça’, a parte mais alta do corpo humano,
se aos cohanim. eles decidiram que deveria ser construído numa colina no
território de Binyamin, mas não na parte mais alta.
Moshê Concluiu sua Bênção:
A Bênção de Yossef
"Golpeia as ancas daqueles que se levantam contra ele e os
seus inimigos, para que não se levantem outra vez." Moshê proclamou:

A quais inimigos dos levi’im ele se referia? "Abençoada por D’us seja sua terra, com doces iguarias
produzidas pelo orvalho e pela chuva do Céu, e pela água da
1 – Moshê rezou para que aqueles que usurpassem o ofício do profundeza da terra; com doces iguarias que crescem com o
sacerdócio fossem castigados. brilho abundante do sol e da lua. (Determinadas plantas, como o
pepino e melões, amadurecem à luz da lua).
2 – Moshê anteviu profeticamente que na era do Segundo
Templo os chashmonaim (hasmoneanos) descendentes de Levi, "Que estas montanhas sejam abençoadas com a maturação
lutariam contra um exército grego que era numericamente muito adiantada da produção e sua terra com colinas que produzam
superior. Então, ele rezou a D’us: "Golpeia as ancas dos que se constantemente.
erguerem contra eles."
"Que esta terra seja abençoada com as iguarias da terra e sua
Por que os chashmonaim eram tão bem-sucedidos, para que plenitude, e com a boa vontade Daquele que Se revelou a mim
D’us entregasse ‘muitos nas mãos de poucos?’ Tal milagre originalmente na sarça. Que esta bênção seja uma coroa na
transpirou pelo mérito da bênção de Moshê à tribo de Levi. cabeça de Yossef; sobre ele que foi separado de seus irmãos
(quando eles o venderam. Apesar disso, ele os perdoou e os
O milagre de Chanucá ocorreu através dos descendentes de sustentou nos anos de escassez.)"
Levi, cuja kedushá (santidade) podia superar as forças da tumá
(impureza). Moshê concluiu sua bênção profetizando sobre dois dos
famosos descendentes de Yossef, Yehoshua e Gidon: "Sobre o
A Bênção de Binyamin líder Yehoshua, que descenderá dele, será concedida a força de
um boi e os belos chifres dos Re’aim. Com eles ele rasgará os
Após abençoar Levi, cujos membros desempenhavam o Serviço
trinta e um reis de Erets Canaan.
no Bet Hamicdash, Moshê então dirigiu-se a Binyamin, pois o
altar e o Santo dos Santos do Bet Hamicdash estavam para ser "Dezenas de milhares (de Canaanim) serão assassinados por
construídos em seu território.
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Yehoshua, um descendente de Efrayim, e milhares (de "Eles reconhecerão a futilidade de seus cultos idólatras, e
Midyanim) pelo juiz Gidon, um descendente de Menashe." muitos se converterão ao Judaísmo, e oferecerão sacrifícios de
justiça sobre o Har Hamoria."
Segundo a bênção de Moshê a Yossef, o estandarte de Efrayim
estampa a pintura de um boi, e de Menache um Re’aim. A Bênção de Gad

Moshê Abençoa as Tribos de Zevulun e Yissachar Moshê disse sobre Gad:

Moshê abençoou Yissachar e Zevulun em conjunto, porque as ‘Bendito seja Ele que aumenta o território de Gad."
duas tribos eram parceiras. Zevulun engajou-se no comércio e
dividiu seus lucros com Yissachar, cujos membros devotavam- Gad recebeu como porção as terras de Sichon e Og a leste do
se ao estudo de Torá. Embora Yissachar fosse mais velho, Jordão. Embora menos produtivo que Erets Yisrael, este
Moshê abençoou Zevulun primeiro, porque se não fosse pelo território era maior, estendendo-se bastante a leste. "Gad mora
apoio de Zevulun, Yissachar não teria conseguido prosseguir como uma leoa, e quando vai para a guerra sua vítimas são
seus estudos. reconhecíveis, pois ele tira o braço e a cabeça com um só
golpe."
Moshê os abençoou: "Zevulun, que tenhas sucesso nos
negócios, e Yissachar em suas tendas de estudo de Torá." Gad precisava de uma bênção para ter força em batalha, pois
no lado leste do Jordão estava em constante perigo de ataque
Moshê assegurou a Zevulun que suas jornadas não teriam por parte de seus inimigos.
perigo ou possibilidade de fracasso. Como ele pretendia
sustentar Yissachar com seus ganhos, seu sucesso e "Os membros de Gad escolheram como sua porção as terras de
segurança foram assegurados. Além disso, Zevulun deveria Sichon e Og, a primeira parte da terra ainda a ser conquistada,
regozijar-se porque sua sociedade com Yissachar lhe granjearia porque eles sabiam que Moshê seria enterrado ali.
recompensa no Mundo Vindouro.
"Seus homens marcharam à frente de Benê Yisrael na
A bênção de Yissachar é formulada de maneira mais concisa conquista de Erets Yisrael. Eram justos e cumpriram a palavra
que a de qualquer outra tribo. Moshê a expressou em apenas dada a Moshê – de não voltar para casa, no lado leste do
duas palavras: "Yissachar (se rejubile) em suas tendas." Na Jordão, senão depois da divisão da Terra."
verdade, estas palavras abrangem todas as bênçãos possíveis.
Moshê estava dizendo a esta tribo: "Rejubilem-se quando Em sua bênção, Moshê na essência desculpou Gad por
estudarem Torá, pois não há felicidade maior neste mundo que escolher uma porção fora de Erets Yisrael. Os membros de Gad
o estudo de Torá, como está escrito: ‘Os estatutos de D’us são estavam parcialmente motivados pelo desejo de ter o túmulo de
eretos, fazem o coração se alegrar’" (Tehilim 19:9). Além disso, Moshê em sua porção; além disso, eles cumpriram seu dever
vocês se alegrarão na Tenda Celestial no Alto, onde sua para com as outras tribos sobre a conquista de Erets Yisrael.
felicidade será completa."
A Bênção de Dan
Moshê continuou: "Os eruditos de Torá de Yissachar irão
Moshê abençoou Dan:
estabelecer sabiamente o início dos novos meses, assim
fazendo com que as tribos sejam chamadas ao Monte do "Dan é forte como um leão jovem."
Templo para as festas, quando irão sacrificar as oferendas de
yom tov. Moshê referia-se ao fato de que Dan, cujo território formava a
fronteira norte de Erets Yisrael, ter protegido a terra de seus
"Yissachar e Zevulun ganharão com as riquezas do mar (em inimigos.
cuja costa estão localizadas suas porções). Eles apanharão e
venderão um caro atum, e também a criatura Chilazon (com "Sua porção da terra bebe do Rio Jordão, que desce da gruta de
cujo sangue um dos tsitsit é tingido de azul); com a areia branca Pamais na porção de Dan.
da sua praia um valioso vidro claro será feito; além disso, eles
descobrirão na areia tesouros levados à costa provenientes de "O rio forma a fronteira entre Erets Yisrael e Bashan, que é
navios naufragados. território de Og.

"Por causa de suas riquezas, Yissachar e Zevulun terão tempo "A terra ao longo do Jordão é bem irrigada e fértil."
livre para estudar Torá."
A bênção de Moshê também sugere que a porção de Dan na
Moshê também previu: terra consistiria de duas partes.

"Os negócios de Zevulun atrairão mercadores gentios à costa Inicialmente eles receberiam território no centro de Erets Yisrael,
do Mediterrâneo. Eles dirão: ‘Como viajamos tão longe, vamos mas considerariam aquilo insuficiente. Portanto, para ter mais
visitar a capital do país judaico, visitar seu templo, e ver quais espaço, seus guerreiros conquistaram o território de Leshem,
são suas divindades e seus costumes.’ que faz fronteira com Bashan na extremidade norte de Erets
Yisrael.
Quando eles chegarem a Yerushaláyim e virem como todos os
judeus se unem para adorar um único D’us, e como comem A Bênção de Naftali
apenas determinados alimentos (ou seja, comida casher), eles
ficarão impressionados e declararão: ‘Jamais vimos um país Moshê abençoou Naftali:
como este!’

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"A porção de Naftali na terra satisfaz quem vive ali. Inclui o vale abaixo. Ele controla as esferas superiores e os ajuda. Sua
de Ginasor, onde os frutos amadurecem primeiro. Quem avista majestade está no Céu.
os frutos suculentos e belos em seu território dá graças e louva
a D’us. "Apesar disso, Ele supervisiona todos os assuntos na terra.
Vocês, o povo judeu, são a morada de D’us desde os tempos
"Ele herdará o Mar de Kineret e uma faixa de terra ao sul, onde antigos: o mundo foi criado pelo seu mérito. Vocês são o esteio
poderá espalhar suas redes de pesca." do mundo; ele existe por causa de vocês.

As primeiras três letras da bênção de Naftali aludem à famosa "Ele afastou o inimigo da sua frente – Ele destruiu os egípcios,
ligeireza de Naftali: Sichon, e Og – e Ele disse:

Naftali era "veloz como uma águia" em cumprir as ordens de ‘Exterminem-nos!’ (D’us nos ordenou destruir Amalek e as sete
D’us." nações de Erets Canaan.)"

A Bênção de Asher Moshê proclamou que os judeus viveriam pacificamente e com


segurança em Erets Yisrael:
Moshê abençoou Asher:
"Cada indivíduo judeu habitará com segurança numa Terra de
"Que Asher seja abençoado com filhos." cereais e vinho, segundo as bênçãos de Yaacov: ‘E D’us estará
com vocês e os restaurará à Terra de seus antepassados.’ Os
Com a palavra "filhos" Moshê referiu-se aos descendentes de céus também farão cair o orvalho da bênção, segundo a bênção
Asher, que eram nobres e cohanim, pois muitas das belas filhas de Yitschac: ‘Que D’us lhes dê o orvalho dos Céus.’"
de Asher se casaram com judeus em altas posições.
Moshê concluiu:
"Que ele seja bem aceito por seus irmãos."
"Felizes são vocês, Yisrael! Quem é como vocês, um povo salvo
Como Asher tinha belas filhas para oferecer em casamento, era por D’us! Quão grande é a recompensa que Ele guardou para
bastante querido. vocês no Mundo Vindouro! Ele devolverá a vocês a espada de
sua majestade, as coroas (espirituais) que Ele removeu de
Além disso, as palavras de Moshê se referiam ao fundador da
vocês depois que pecaram no incidente do bezerro de ouro.
tribo, Asher, que era olhado com desprezo pelas outras tribos
por informá-las: "Reuven desarranjou a cama de Yaacov!" "Seus inimigos ficarão com tanto medo de vocês que negarão
qualquer identidade, e vocês andarão em seus locais elevados."
"Como você pode dizer coisas tão feias sobre seu irmão mais
velho!" eles o repreenderam. Somente depois que Reuven A última bênção de Moshê aludia à suprema recompensa de
confessou seu pecado Asher foi novamente aceito por seus K’lal Yisrael, o Mundo Vindouro. Como prova de que sua
irmãos. profecia sobre a futura recompensa espiritual seria cumprida,
Moshê deu sinais de que isso ocorreria no mundo atual; que os
"E que ele mergulhe seu pé em azeite."
inimigos de Benê Yisrael negariam sua identidade, e que os
A terra de Asher era tão abençoada por oliveiras que o azeite judeus pisariam nos pescoço de seus inimigos.
fluía delas como um poço, e os membros da tribo podiam se dar
As palavras de Moshê foram cumpridas, por exemplo, na época
ao luxo de se banharem em azeite.
de Yehoshua: os Gibeonitas disfarçaram sua identidade como
Moshê concluiu: uma das sete nações; e Yehoshua ordenou que seus generais
pisassem no pescoço de cinco reis inimigos (Yehoshua 19:24).
"Sua terra é rodeada por montanhas, onde o ferro e o cobre são
escavados; e como vocês são fortes em sua juventude, assim Moshê Morre em Har Nevo
serão na sua velhice."
Após Moshê concluir suas bênçãos, ele disse ao povo: "Estou
Como o trabalho de escavar o ferro e o cobre enfraquece as para morrer. Causei muitos sofrimentos a vocês ao admoestá-
pessoas prematuramente, Moshê abençoou os membros dessa los pelo mérito da Torá e mitsvot. Perdoem-me agora!"
tribo para que conservassem a força na velhice. A bênção de
Eles responderam: "Nosso Rebe e mestre, eles estão
Moshê foi cumprida. Dizia-se sobre as mulheres de Asher que
perdoados. Agora nos perdoe; muitas vezes o enfurecemos e
uma mulher idosa da tribo era tão forte e bela como uma jovem
lhe causamos problemas."
das outras tribos.
"Eu os perdôo" – respondeu Moshê.
Moshê Termina com os Louvores a D’us e ao Povo Judeu
D’us disse a Moshê: "Não espere mais. Suba ao Monte Nevo!"
Moshê concluiu suas bênçãos com louvores a D’us e K’lal
Yisrael. Moshê obedeceu imediatamente. Havia doze passos levando ao
topo do monte, mas Moshê galgou-os todos de um só salto (tão
Os louvores a D’us também serviram para encorajar os judeus
ansioso estava ele para cumprir a vontade de D’us). Sua força à
que D’us os ajudaria mesmo depois da morte de Moshê, que
idade de cento e vinte anos ainda era a mesma da juventude.
estava iminente.
De pé no topo da montanha, Moshê contemplou Erets Yisrael.
"Saiba, Yeshurun, que não há ninguém como o Todo Poderoso
D’us, assim, concedeu seu desejo de ver a Terra. Ali Moshê
entre as divindades das nações. Ele é o mais poderoso acima e
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daria suas bênçãos sobre ela, tornando a conquista mais fácil nasci circuncidado e portanto não precisei de milá. Pude andar e
para Benê Yisrael. falar desde o dia do meu nascimento (como Adam, antes de
pecar).
O Todo Poderoso deixou Moshê ver lugares onde seu sucessor,
Yehoshua, jamais pisaria. Em especial, D’us mostrou-lhe os "Quando eu tinha três meses de idade, profetizei que eu
pontos de futuro perigo ou infelicidade, fazendo Moshê chorar receberia a Torá. (Por este motivo Moshê recusou-se a beber o
pela segurança e bem-estar de seu povo. leite de uma mulher egípcia quando a filha do faraó o
encontrou.) Quando criança, no palácio do faraó, eu tirei a coroa
Moshê, além disso, viu a futura história de Benê Yisrael até a de sua cabeça (um prenúncio da futura queda do faraó).
era de Mashiach: viu Yehoshua lutando contra os trinta e um
reis de Erets Canaan; a era dos juízes; o reinado da Casa de Aos oito anos de idade, D’us usou-me para fazer muitos
David; e o Rei Shelomô preparando os vasos para o Bet milagres no Egito, e tirei 600.000 judeus em plena luz do dia sob
Hamicdash. Ele anteviu até a guerra pré-messiânica de Gog e os olhos dos egípcios. Abri o Mar em doze partes. Transformei
Magog, e a queda de Gog. Na hora de sua morte Moshê água amarga em água doce (no local Mara no deserto). Estive
recebeu também um pedido que antes lhe fora negado: Quando no céu, discuti com anjos que não queriam a Torá outorgada,
Moshê pediu a D’us: "Por favor, revela-me Tuas maneiras de recebi a Torá de fogo, e fiquei perto do Trono Celestial para
manipular os assuntos do mundo", o Todo Poderoso respondeu: conversar com o Todo Poderoso face a face.
"Nenhum homem pode Me ver e viver!"
Trouxe a Torá e os segredos dos anjos para a humanidade.
Antes de sua morte, porém, foi concedido aquele entendimento Lutei contra os poderosos gigantes Sichon e Og, que tinham
a Moshê. Assim, ele finalmente atingiu o quinto e último ‘estágio sobrevivido ao Dilúvio. Fiz o sol e a lua ficarem imóveis durante
de sabedoria’. Por ocasião da morte de Moshê, D’us queria a batalha, e eu mesmo matei Sichon e Og. Quem mais, na
demonstrar a grandeza de Moshê às hostes Celestiais. humanidade, pode fazer tudo isso? (Portanto, a lei natural que
Portanto, Ele chamou o anjo Gavriel e lhe ordenou: "Vai e traz permite a você tirar a lama de um homem não se aplica a mim.)"
para Mim a alma de Moshê!"
Samael voou de volta a D’us, reconhecendo a derrota.
"Mestre do universo, como posso causar a morte de um ser
humano que é igual a 600.000 judeus?" D’us então investiu-o de maior força, e ordenou que voltasse a
Moshê. (D’us desejava que Moshê atingisse uma vitória ainda
"Então vai você" – ordenou D’us a Michael. maior sobre o Satã). Samael pairou sobre a cabeça de Moshê e
tirou a espada da bainha. Moshê golpeou o anjo com toda sua
"Não suporto vê-lo morrer" – respondeu Michael. "Eu costumava força, com o bastão onde estava gravado o nome de D’us.
ser seu Rebe. (Michael é o Anjo da Misericórdia, que ensinou Samael fugiu. Moshê dominou-o e cegou-o com os Raios da
Moshê a defender os judeus.) Glória que brotavam de sua face.

O Todo Poderoso então voltou-se a Samael (que é Satã): "Vai e Uma Voz Celestial proclamou: "A hora de sua morte chegou!"
traga para Mim a alma de Moshê!"
"Por favor, não me entregue ao Anjo da Morte" – Moshê
Samael pegou sua espada (o espírito de tum’á com o qual ele suplicou a D’us. Lembre-Se de como eu O servi na minha
esperava derrotar a kedushá de Moshê) e voou até Moshê. juventude, quando Você Se revelou para mim na moita, e
quando fiquei em Har Sinai durante quarenta dias e noites e me
Encontrou Moshê escrevendo o Nome de Quatro Letras de D’us esforcei para aprender a Torá!"
num Sefer Torá ainda incompleto. O rosto de Moshê irradiava
como o sol, e ele se assemelhava a um dos anjos. Samael ficou "Não tenha medo" – declarou a Voz Celestial. "Eu mesmo
com medo de Moshê. "Nenhum anjo pode tirar a alma de cuidarei de você."
Moshê" – pensou ele. Começou a tremer e foi incapaz de
pronunciar uma só palavra a Moshê. Moshê, porém, percebera Moshê levantou-se e preparou-se para morrer, santificando-se
a presença de Samael antes mesmo que o anjo se revelasse. como um dos anjos.

"Seu perverso, o que está fazendo aqui?" Moshê perguntou D’us desceu com os anjos Michael, Gavriel e Zagzagael.
severamente.
Michael preparou o leito para Moshê; Gavriel estendeu uma
Samael então reuniu coragem e respondeu: "Vim para levar sua coberta de linho para sua cabeça; e Zagzagael outro pano para
alma!" seus pés.

"Quem o enviou?" O Todo Poderoso falou: "Moshê, feche os olhos."

"Aquele que criou tudo" – respondeu Samael. Moshê assim o fez.

"Ele certamente não queria que você levasse minha alma (mas "Coloque as mãos sobre o peito" – ordenou o Todo Poderoso.
ao contrário, Ele deseja que eu o derrote)" disse Moshê.
Moshê obedeceu.
"Eu levo as almas de todos os seres humanos" – insistiu
Samael. "esta é a lei natural do universo." "Junte seus pés" – ordenou Ele.

"Porém não estou sujeito às leis da natureza" – insistiu Moshê. Moshê obedeceu.
"Sou filho de Amram. Sou sagrado desde o nascimento, pois
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D’us chamou a alma de Moshê. judeus por Mim, e para defendê-los como ele sempre fez? (Não
é adequado exprimir sua dor privada; ao contrário, pranteie pela
"Minha filha" – dirigiu-se Ele à alma – "planejei que você perda do grande líder do povo judeu.)
permanecesse no corpo de Moshê por 120 anos. Agora deve
sair; não demore." Um rei era provocado diariamente pela má conduta do filho.
Estava sempre prestes a executar o rapaz pela sua falta de
A alma respondeu: "Mestre do Universo, existe um corpo mais respeito, mas a mãe do príncipe sempre intervinha e aplacava o
puro que o de Moshê? Portanto, eu o amo e não quero deixá- marido.
lo."
Quando a rainha morreu, o rei ficou excessivamente choroso.
"Eu a guardarei sob Meu Trono Celestial de Glória com os Ele explicou aos nobres: "Choro não somente por ela, mas pelo
anjos" – prometeu D’us. futuro do príncipe."

"É melhor para mim permanecer no corpo de Moshê que Assim D’us explicou aos anjos: "A perda de Moshê poderia ter
misturar-me com os anjos" – protestou a alma. "Ele é tão puro conseqüências trágicas para K’lal Yisrael. Muitas vezes Eu
quanto um anjo, embora viva na terra; por outro lado, Você certa fiquei irado com o povo judeu, mas Moshê sempre implorava por
vez permitiu que dois anjos, Uza e Azael, morassem entre os eles e assim acalmava Minha ira."
homens, e eles se corromperam. Moshê não vive com a mulher
desde o dia em que Você falou com ele da sarça ardente O Próprio D’us enterrou Moshê nas planícies de Moav, perto de
(segundo uma opinião. Segundo outras, desde matan Torá). Por Bait Peor.
favor, deixe-me no corpo de Moshê!"
Por que Moshê mereceu a grande honra de ser enterrado pelo
Após ouvir a alma atestar sobre a pureza do corpo de Moshê, Próprio Todo Poderoso?
D’us – por assim dizer – beijou Moshê. A alma sentiu o
inigualável prazer da Divina Presença (que era maior que o Antes de Benê Yisrael deixar o Egito, Moshê procurou o caixão
prazer que ela derivava do corpo de Moshê) e retornou para de Yossef durante três dias e três noites, para cumprir a antiga
D’us. promessa feita a Yossef, de enterrar seus ossos em Erets
Yisrael.
Moshê é pranteado no Céu e na terra, e é sepultado pelo
Próprio Todo Poderoso. Quando todos os judeus se reuniram para o Êxodo, cada qual
carregado com o ouro e prata egípcio, Moshê foi visto
Os céus choraram, dizendo: "O homem piedoso pereceu na carregando apenas o caixão sobre os ombros. Ele foi o homem
terra" (Michá 7:2). A terra chorou, pranteando "… e o justo entre sábio que aproveitou a oportunidade para cumprir uma mitsvá.
os homens não é mais" (ibid.).
D’us disse: "O que você fez pode parecer insignificante para
Os anjos o elogiaram: "Ele executou a justiça de D’us e Suas você, mas aos Meus olhos foi uma grande bondade. Yossef foi
leis com Yisrael" (Devarim 33:21). obrigado a enterrar seu pai em Erets Yisrael porque ele era um
filho. Mas você não é filho nem neto de Yossef, e não estava
Uma Voz Celestial proclamou: "Moshê, o grande escriba de obrigado a cuidar de seu corpo. Mesmo assim, você o fez. Eu,
Yisrael (que escreveu a Torá para eles) morreu." que não tenho qualquer obrigação com um ser humano, o
enterrarei."
A Voz ainda o elogiou:
Moshê faleceu em 7 de Adar, a data de seu nascimento, com
"Moshê trabalhou e adquiriu quatro coroas: cento e vinte anos. Mesmo depois de seu falecimento, seu
corpo não se decompôs (devido à sua grande santidade).
A coroa da Torá, que ele trouxe à terra;
A Nuvem de Glória não se afastou de cima do Mishcan durante
A coroa da kehuna (quando ele oficiou como Sumo Sacerdote
trinta dias depois da morte de Moshê. Assim, Benê Yisrael
durante a inauguração do Mishcan);
permaneceu nas planícies de Moav para pranteá-lo.
A coroa da realeza;
Com a Morte de Moshê, o Povo Perdeu Três Grandes
A coroa de um bom nome, que ele conquistou com suas boas Presentes
ações."
O maná – O pão Celestial que tinha sido fornecido pelo mérito
Moshê morreu sobre o Monte Nevo, na porção de Reuven, mas de Moshê. Embora ele parasse de cair no dia da morte de
os anjos o carregaram por quatro mil até a porção de Gad, onde Moshê, o restante durou milagrosamente por mais um mês, até
ele estava destinado a ser sepultado. 16 de Nissan. (No entanto, embora o maná durante a vida de
Moshê assumisse qualquer sabor que Benê Yisrael desejasse,
Quando o aluno de Moshê, Yehoshua, soube da morte de depois de sua morte tinha apenas um sabor. Os judeus tinham
Moshê, pranteou: "Meu pai, meu pai, meu mestre, meu mestre! merecido encontrar muitos sabores no maná, pois o fenômeno
Meu pai, porque você me criou; e meu mestre, que me ensinou refletia sua descoberta espiritual de "muitos sabores" no seu
Torá desde minha juventude." estudo de Torá.

Ele continuou a chorar até que D’us finalmente o reprovou: Como o nível de estudo de Torá declinou após a morte de
"Você é o único que perdeu Moshê? Eu, por assim dizer, Moshê, o sabor do maná não variava mais.) A 16 de Nissan os
também o perdi. Quem mais se erguerá para repreender os judeus cruzaram o Jordão para Erets Yisrael e levaram a

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oferenda do ômer, que lhes permitia comer o novo cereal R. Meir ensinou: "Moshê escreveu toda a Torá, do primeiro ao
colhido em Erets Canaã. último versículo. À medida que D’us ditava um versículo, Moshê
o repetia, e depois o anotava. Porém os últimos oito versículos
ele não repetiu, porque estava sofrendo tanto. Ele os escreveu
com lágrimas em vez de tinta, e Yehoshua mais tarde os
O Poço de Miriam – O Poço tinha deixado de fluir com o preencheu com tinta.
falecimento de Miriam, mas voltou pelo mérito de Moshê até que
ele morreu. A profecia de Moshê e seus milagres superaram os de qualquer
outro Profeta. Moshê atingiu mais que qualquer outro homem na
As Sete Nuvens da Glória que rodeavam Benê Yisrael como Torá em sabedoria e profecia.
muros protetores no deserto, e o pilar de fogo que iluminava o
caminho `åa noite. As Nuvens tinham desaparecido com a morte Nenhum outro profeta pôde conversar com D’us o tempo todo,
de Aharon, mas voltaram pelo mérito de Moshê e sem preparação, e vê-Lo com absoluta clareza.
acompanharam Benê Yisrael até que ele faleceu.
Como a profecia de Moshê foi superior a todas as outras
Cada um dos três presentes nos serão devolvidos por D’us no profecias, nenhum profeta ou tribunal judaico pôde mudar ou
mundo futuro. apagar qualquer palavra da Torá. Nenhum profeta posterior
realizou maravilhas tão abertamente quanto Moshê. Seus
D’us não permitiu que Moshê fosse enterrado em Erets Yisrael. milagres foram testemunhados por toda a nossa nação (mais de
Ele foi sepultado no deserto, num local chamado pela Torá de um milhão de almas).
"Bait Peor", pelo seguinte motivo:

Ao adorar o deus Peor em Shittim e cometer prostituição com as


filhas de Moav, Benê Yisrael criou um Anjo Acusador. (O Todo Israel viu como os primogênitos foram assassinados no
cometimento de um pecado cria um anjo, ou força espiritual, que Egito, uma demonstração da força da mão de D’us, e como
acusa o transgressor). Moshê abriu o Mar Vermelho. Eles vivenciaram a outorga da
Torá e testemunharam os milagres no deserto, aprendendo
O Todo Poderoso já tinha preparado o local de sepultamento de assim a temer a D’us.
Moshê, o qual expiaria o pecado com Peor, durante os Seis
Dias da Criação. D’us deixou Moshê fazer milagres em meio a grande
publicidade, para que a Torá fosse adotada por todas as futuras
Embora a Torá descreva a localização do túmulo de Moshê – na gerações.
terra de Moav, em frente a Bait Peor – ninguém conseguiu
encontrá-lo. No futuro, o Próprio D’us realizará milagres semelhantes, e
ainda maiores.
Por que D’us ocultou o túmulo de Moshê da humanidade?
A Torá termina com a palavra "Yisrael" e começa com Bereshit/
1 – D’us temia que antes da destruição do Bet Hamicdash e do "No princípio." Isso insinua que o mundo foi criado para K’lal
subseqüente exílio, os judeus fossem ao túmulo de Moshê para Yisrael, como está escrito: "Yisrael é sagrado para D’us, o
chorar e gritar: "Moshê, suplica a D’us para reverter a tragédia!" primeiro de Sua criação" (Yirmiyáhu 2:3). D’us concebeu a
O enorme poder das preces de Moshê após a morte teria criação do universo pelo bem de Benê Yisrael, um povo que
cancelado a destruição. (D’us não poderia permitir isso, pois estudaria e cumpriria Suas leis.
então em vez disso Ele teria de destruir o povo judeu).
Moshê e Aharon: dois pacificadores
2 – A localização do túmulo de Moshê é desconhecida para
impedir os judeus de oferecerem sacrifícios e incenso ali, em A Porção Vezot Haberachá, que conclui a Torá, descreve os
vez de no Bet Hamicdash; além disso, para que os gentios não eventos que cercaram a morte de Moshê (Moisés) e o fato de
o profanassem com estátuas idólatras. que foi pranteado pelos "Filhos de Israel" por trinta dias. Ao
descrever o falecimento de Aharon (Aarão), a Torá declara:
3 – A ocultação de seu túmulo é também um castigo para a "Toda a Casa de Israel pranteou Aharon por trinta dias."
falha de Moshê em agir em Shittim, onde Zimri levou a princesa
midianita Kozbi para sua tenda. Moshê deveria ter feito um Nossos sábios comentam: "Moshê foi pranteado pelos homens,
supremo esforço para lembrar-se da halachá adequada, mas ao passo que Aharon o foi tanto pelos homens como pelas
em vez disso ficou em desespero, deixando a aplicação da lei mulheres. Isto ocorreu porque Aharon buscou a paz, e tornou
para Pinchas, que assassinou Zimri. possível a paz entre o homem e seu próximo, e também entre
marido e mulher."
Uma passagem subterrânea vai do túmulo de Moshê até a
Gruta de Machpelá, onde estão sepultados os Patriarcas. A Porção da Torá que fala do falecimento de Moshê é a parte
lógica para relatar as qualidades de Moshê. De fato, o verso
Os Últimos Oito Versículos da Torá assim o faz ao declarar: "Seus olhos não eram toldados…
Jamais houve um profeta como Moshê…" Por que, então,
Os últimos oito versículos da Torá relatam a morte de Moshê e
refere-se a um fato que acentua a qualidade especial de Aharon
seu enterro: "E Moshê, o servo de D’us, morreu ali na terra de
– implica a falha de Moshê – em conexão com o falecimento de
Moav…"
Moshê?
Quem escreveu estes versículos?

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Por que, na verdade, Moshê não agiu como Aharon a respeito
da conciliação "entre o homem e seu próximo e entre marido e
mulher?" Certamente não foi por causa da falta de amor de
Moshê pelo seu próximo judeu, pois Moshê é considerado como
"um amante do povo judeu".

Na verdade, Moshê não apenas amou o povo judeu, como


também completou-lhes com todas as necessidades materiais e
espirituais. Moshê ensinou-lhes tudo, e não apenas as leis
básicas, como também outras facetas da Torá. Além disso, foi
por seu mérito que D'us forneceu maná ao povo durante sua
estadia de quarenta anos no deserto e realizou tantas outras
maravilhas e milagres.

A razão pela qual Moshê não agiu como Aharon é que seu
próprio ser, assim como sua missão na vida, necessitavam de
uma forma diferente de conduta no amor ao próximo judeu e ao
trazer-lhes paz.

Nossos sábios relatam que Aharon certas vezes "esticou" a


verdade para conseguir a paz entre pessoas que estavam em
desacordo. A Torá tolera este comportamento quando é a única
maneira possível de conciliar; como dizem nossos sábios: "A
pessoa pode modificar uma declaração pelo bem da paz."

A própria essência de Moshê, entretanto, era a personificação


da verdade. Foi portanto impossível a ele fazer as pazes entre
as pessoas se para isso precisasse dizer uma inverdade.
Embora tal conduta seja permitida na Torá, ia contra a essência
de Moshê – aquela da completa e total honestidade; tal conduta
tinha mais a ver com Aharon, que personificava o atributo da
bondade. Moshê, "o homem da verdade", trouxe a paz através
da verdade.

Como ambas estas formas de conduta estão de acordo com a


Torá, deve-se entender que cada uma possui uma qualidade
inexistente na outra. O mérito na conduta de Moshê foi que ele
não se desviou um milímetro da verdade. O mérito da conduta
de Aharon foi sua habilidade de afetar até mesmo um indivíduo
tão simples que podia ser atingido apenas pela verdade
esticada.

Durante sua existência, Moshê estava totalmente ocupado no


serviço a seu modo – serviço divino através do atributo da
verdade. Entretanto, no dia de seu falecimento, tendo já
completado sua missão neste mundo, estava apto a perceber a
especial qualidade do serviço de Aharon – trazer paz a todos os
judeus.

Moshê, em seu amor desprendido pelo povo judeu, desejava


que agissem em relação ao próximo da melhor maneira
possível. Por isso, fez menção à qualidade especial do serviço
de Aharon quando escreveu profeticamente na Torá que ele
próprio, Moshê, foi pranteado pelos "Filhos de Israel" e não por
todos de Israel, pois sua qualidade de pacificador não era tão
abrangente como a de Aharon.

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