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Índice
1 – Introdução 2
2 – Temperabilidade 2
2.1 – Utilização dos diagramas TTT e de arrefecimento contínuo 2
2.2 – Ensaios de temperabilidade 4
2.3 – Efeito do tamanho de grão e da composição química na temperabilidade 8
2.4 – Temperabilidade e tratamento térmico 9
3 – Tratamento térmico de têmpera 10
3.1 – Aquecimento 10
3.2 – Estágio de têmpera 11
3.3 – Arrefecimento 13
3.4 – Factores que influenciam os resultados de têmpera 14
3.5 – Erros cometidos na têmpera 15
4 – Tratamento térmico de martêmpera 18
4.1 – Meios de arrefecimento na martêmpera 19
4.1.1 – Banho de sais para martêmpera 19
4.1.2 – Óleos para martêmpera 20
4.2 – Aços para martêmpera 21
4.2.1 – Aços de baixo e médio teor de carbono 23
4.2.2 – Graus incertos 23
4.2.3 – Efeito da massa 23
5 – Tratamento térmico de austêmpera 24
5.1 – Meios de arrefecimento na austêmpera 25
5.1.1 – Banhos de sais para austêmpera 25
5.1.2 – Óleos para austêmpera 26
5.2 – Aços para austemperização 26
5.2.1 – Temperatura de austemperização 27
5.3 – Limitação das secções das peças para austêmpera 27
5.4 – Aplicações 27
5.5 – Controlo das variáveis de processo 28
5.6 – Controlo dimensional 28
6 – Glossário 29
7 – Bibliografia 30
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2 – Temperabilidade
2.1 - Utilização dos diagramas TTT e de arrefecimento contínuo
Os diagramas TTT constituem um bom ponto de partida para avaliar a temperabilidade;
no entanto, estes diagramas descrevem, de facto, a cinética da transformação da austenite em
condições isotérmicas, e, por isso, dão apenas uma indicação grosseira sobre o que acontece na
prática. Considere-se, por exemplo, o efeito do aumento do teor de molibdénio: a figura 1 e 2
mostra os diagramas TTT para dois aços, respectivamente, 0,4 % C 0,2 % Mo e 0,3 % C 2 %
Mo. O aço com 0,2 % Mo começa a transformar-se após cerca de um segundo a 550 ºC; quando
o teor de molibdénio aumenta para 2 %, a curva em C desloca-se para cima e, simultaneamente,
a velocidade de reacção diminui bastante, de modo que o nariz da curva fica acima de 700 ºC e a
reacção inicia-se após quatro minutos. O segundo aço tem, portanto, uma temperabilidade muito
mais elevada do que o aço com 0,2 % Mo.
As naturais limitações de aplicabilidade dos diagramas isotérmicos a situações que
envolvam uma gama de velocidades de arrefecimento, no intervalo de temperatura de
transformação, levaram ao desenvolvimento de diagramas mais realistas os diagramas de
arrefecimento contínuo (CCT). Nestes diagramas está representada a evolução da transformação
com a temperatura, para uma série
3
de velocidades de arrefecimento. Para construir o diagrama usam-se provetes cilíndricos, que são
submetidos a diferentes velocidades de arrefecimento. O início da transformação é detectado por
medidas de dilatometria, permeabilidade magnética ou outra propriedade física. Os produtos de
transformação - ferrite, perlite ou bainite - podem ser previstos a partir dos diagramas
isotérmicos e confirmados por exame metalográfico. Os resultados são depois representados num
diagrama temperatura/tempo de arrefecimento, revistando, por exemplo, o tempo para alcançar o
início da transformação perlítica a várias velocidades de arrefecimento. Esta série de resultados
permite traçar, no diagrama, a fronteira austenite - perlite; da mesma forma, é possível traçar as
curvas relativas ao início da transformação bainítica.
temperado em óleo. É de notar, neste exemplo, que a curva de arrefecimento relativa ao centro
intersecta a região bainítica, o que significa que é de esperar o aparecimento de alguma bainite
no centro do varão, após têmpera em óleo [7].
Figura 4 – Durezas obtidas em secções transversais de varões de diâmetro crescente temperados em água
5
Na figura 4 , que representa estes valores da dureza para um aço SAE 3140 (1,1-1,4 Ni
0,55-0,75 Cr 0,40 C), temperado em óleo a partir de 815 ºC, verifica-se que a dureza
correspondente a 100 % de martensite só é obtida nas secções mais pequenas, e que, para
provetes de maiores diâmetros, a dureza decai marcadamente na região central do provete. As
regiões mais macias e mais duras da secção podem também ser claramente distinguias por
contrastação química. No ensaio de Grossman, as secções transversais são examinadas
metalograficamente para determinar o provete particular que tem 50 % de martensite no seu
centro. O diâmetro desse provete é designado por diâmetro crítico D0. Contudo, esta dimensão
não é um valor absoluto representativo da temperabilidade, uma vez que depende obviamente do
meio de têmpera (por exemplo, água ou óleo). É portanto necessário estabelecer
quantitativamente a eficiência dos diferentes meios de têmpera. Para isso determinam-se
coeficientes que medem a severidade de têmpera, geralmente referidos por coeficientes-H. Na
figura 5 indicam-se os valores típicos de H para três meios de têmpera comuns e várias
condições de agitação. O valor atribuído à severidade de têmpera em água em repouso é um 1,
padrão com o qual se comparam os outros
Figura 6 – Determinação do diâmetro ideal a partir do diâmetro critico e da severidade de têmpera (para aços ao carbono e
mediamente ligados)
figura 6 pode ser utilizado para determinar Di Este valor é, portanto, uma medida da
temperabilidade de um aço, independente do meio de têmpera usado.
6
O ensaio de Jominy.
Embora o ensaio de temperabilidade de Grossman permita obter bons resultados, foram
desenvolvidos outros ensaios, menos elaborados, para determinar a temperabilidade. Entre estes,
o mais importante é o ensaio de Jominy, no qual um provete cilíndrico de dimensões padrão
(25,4mm de diâmetro, 102mm de comprimento) é aquecido à temperatura de austenitização,
sendo depois colocado num dispositivo onde uma das extremidades é temperada por um jacto de
água com características normalizadas (figura 7). Nestas condições, a velocidade de
arrefecimento diminui ao longo do provete, a partir da extremidade temperada a correspondente
variação de dureza é determinada por medidas desta propriedade, efectuadas em regiões planas,
rectificadas, paralelas ao eixo do provete, e a 4 mm de profundidade (figura 8).
Figura 8 – Curvas Jominy de dureza - distância para aços de baixa e elevada temperabilidade
A figura 9 mostra uma curva de dureza típica para um aço contendo 1 %Cr 0,25 %Mo
0,4 %C, a curva de cima representa a dureza obtida para o limite superior do intervalo de
composição do aço, enquanto a curva de baixo corresponde ao limite inferior da composição.
7
Di = Dic 3 2,21 (%Mn) 3 1,40 (%Si) 3 2,13 (%Cr) 3 3,275 (%Mo) 3 1,47 (%Ni) (percentagens em
peso)
Esta relação, devida a Moser e Legat é, na prática, mais exacta do que uma outra proposta
anteriormente por Grossman. No caso dos aços de alto carbono é necessário proceder a mais
correcções, que têm em conta a temperatura de austenitização, mas, em regra, a relação é
bastante boa na previsão da temperabilidade. É igualmente possível, usando análise regressiva,
calcular as curvas de dureza Jominy em função da distância, a partir da composição química. No
entanto, o ensaio de Jominy é relativamente fácil de realizar, sendo bastante utilizado como
técnica de controlo da qualidade e, portanto, não é certamente muito necessária uma relação
empírica para determinar a temperabilidade, ainda que todas as variáveis efectivas pudessem ser
convenientemente tomadas em conta [7].
Figura 13- Factores multiplicativos de temperabilidade dos elementos de liga mais comuns
Figura 14 – Curvas de temperabilidade de aços (0,5 Cr 0,5 Ni 0,25 Mo), para teores de carbono no intervalo 0,20-0,60 %.
Uma alta temperabilidade nem sempre é desejável; por exemplo, em muitas ferramentas e
componentes de máquinas é conveniente uma superfície dura e resistente ao desgaste, mas com
uma boa tenacidade no interior. O endurecimento pouco profundo, ou superficial, tem a
vantagem adicional de originar, na têmpera, tensões internas de tracção no interior, enquanto a
região superficial fica num estado de compressão. Esta distribuição de tensões é muito
conveniente, porque uma fenda de fadiga, nucleada na superfície por concentração de tensões,
terá uma propagação mais difícil devido à existência de tensões de compressão [7] [2].
3.1 - Aquecimento
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Ao proceder-se ao aquecimento das peças em aço não pode deixar de ser tomada em
consideração a sua condutibilidade térmica. Na verdade os aços com muita liga têm uma
condutibilidade térmica baixa pelo que necessitam ser aquecidos lentamente para que as tensões
devidas às diferenças de temperatura sejam evitadas. Estas tensões podem causar distorções e até
fracturas.
Atendendo ao facto destes aços terem normalmente temperaturas de têmpera elevadas
deve proceder-se a um preaquecimento para se tentar minimizar o efeito da fraca condutibilidade
térmica dos aços ligados.
Os aços com temperatura de têmpera superior a 900ºC devem ser aquecidos e mantidos a
uma temperatura intermédia antes de serem aquecidos à temperatura de têmpera.
Os aços com temperaturas de têmpera superiores a 1000ºC devem ser aquecidos em dois
e três degraus.
O ideal seria fazer-se sempre um aquecimento em degraus: 1 degrau para temperaturas de
têmpera até 900ºC, 2 degraus para temperaturas de têmpera de 1000ºC e 3 para temperaturas
superiores a 1000ºC. O numero de degraus depende ainda da forma geométrica da peça a
temperar.
O aquecimento em degraus assegura um aquecimento uniforme em toda a secção da peça
e evita o sobreaquecimento das arestas e da superfície. Para um aquecimento uniforme deve-se
ainda considerar a relação de dimensões entre o forno e a peça que deve ser na ordem de 1/3 do
volume do forno.
Um outro problema de têmpera é a descarburização ou oxidação das peças em virtude da
atmosfera oxidante existente no forno às temperaturas de têmpera. Uma solução simples para
este problema é o empacotamento das peças em papel de jornal e as meter em caixas fechadas ou
então empacotar em coque queimado e moído. Ambos os processos apresentam bons resultados,
embora o mais adequado será a utilização de fornos onde se pode controlar a atmosfera ou em
banhos de sais.
Como regra geral, deverá dizer-se que as peças de forma complicada ou pouco espessas
deverão ser elevadas ao limite inferior da zona de temperaturas prescrita para têmpera enquanto
que as de grandes dimensões ou de forma simples devem ser aquecidas até ao limite superior
indicado pelo produtor.
Poderá definir-se a temperatura de têmpera mais apropriada como aquela que permite
obter do aço a sua dureza própria assim como um grão tão fino quanto possível.
Os valores das temperaturas indicados devem ser observados com rigor pois se a
temperatura de têmpera for ultrapassada corre-se o risco de aumentar desnecessariamente o
tamanho do grão e, para as peças não empacotadas, de provocar uma descarborização exagerada
da superfície. Se tal acontecer diz-se que o aço foi sobreaquecido. Se a elevação da temperatura
for muito exagerada, obter-se-á uma estrutura grosseira e frágil devida à fusão das impurezas que
cercam os grãos e que ao solidificarem se apresentam em forma de finas películas de vidro sem
coesão com os grãos. Diz-se então que o aço está queimado não sendo possível qualquer
tratamento para a sua recuperação [1].
O estágio à temperatura de têmpera tem por fim a obtenção duma estrutura totalmente
austenítica própria para a operação de arrefecimento. No entanto esta condição só é obtida nos
aços hipoeutectoides nos quais a temperatura de têmpera superior cerca de 50ºC à temperatura
crítica A3. Para os aços hipereutectoides deveria pretender-se que a temperatura fosse tal que
toda a massa do aço fosse austenite. No entanto, verifica-se que se obtêm pelo menos tão boas
características como se procedesse à austenitização completa aquecendo a uma temperatura cerca
de 50ºC superior à temperatura crítica dada pela linha A1 , isto é, à mesma temperatura do aço
eutectóide.
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Portanto, para os aços hipoeutectoides, constituídos por perlite e ferrite, que são
constituintes macios, procede-se à austenitização acima de Ac3 para se obter a martensite por
arrefecimento suficientemente rápido.
Para os aços hipereutectoides, formados por perlite e cementite, só interessa transformar
em austenite a perlite pois que a cementite é mais dura que a martensite, podendo ficar como
constituinte final juntamente com a martensite. Por isso é suficiente aquecer o aço acima da linha
SK, que é o limite da estabilidade da perlite. Por esta razão a martensite dos aços
hipereutectoides possui aproximadamente 0,86%C seja qual for o teor total em carbono do aço.
Consequentemente a dureza obtida por têmpera é, para estes aços, sensivelmente a mesma que
para o aço eutectóide conforme mostra a figura 15. Com efeito, este diagrama mostra a
influência do teor em carbono na dureza do aço obtida por têmpera brusca. Este diagrama é
valido para os aços com ou sem liga uma vez que a influência dos outros elementos de liga na
dureza é desprezável. Verifica-se que o máximo de dureza é de 66-68 HRC.
3.3 - Arrefecimento
Dos factores que têm influência nos resultados da têmpera, são os seguintes aqueles que
têm maior influencia:
- Meio de arrefecimento
O arrefecimento das peças num líquido se processa em três fases.
Com efeito, teremos uma primeira fase que começa no momento em que a peça é
mergulhada e que se caracteriza pela formação duma capa de vapor envolvendo a peça o que
dificulta o arrefecimento. Consequentemente, o arrefecimento é bastante lento nesta fase.
Os factores que exercem influência nesta fase são os seguintes: a temperatura inicial do
banho, a sua temperatura de ebulição, a condutibilidade térmica do seu vapor e o grau de
agitação do banho.
A Segunda fase caracteriza-se pelo desaparecimento da camada de vapor se bem que no
líquido, que continua a ferver em contacto com a peça cuja temperatura é ainda elevada, se
formam bolhas. Nesta fase o arrefecimento é bastante mais rápido que na primeira sendo
influenciado pela viscosidade do líquido e pelo seu calor de vaporização.
Finalmente aparece a terceira fase em que a velocidade de arrefecimento é pequena uma
vez que a diferença entre a temperatura da peça e a do banho é relativamente baixa. Nesta fase o
arrefecimento faz-se por convecção e condução, sendo função da condutibilidade térmica do
líquido e do grau de agitação do banho.
Naturalmente que o volume de líquido do banho tem também influência no
arrefecimento. Com efeito, quanto maior for o volume do banho menor será o seu aquecimento à
medida que a peça liberta calor e, consequentemente, mais enérgico será o arrefecimento [1] [7].
- Composição química do aço
O teor em carbono do aço tem influência sobre a temperatura de têmpera, a velocidade
crítica e a dureza obtida. Na verdade a temperatura de têmpera baixa à medida que o teor em
carbono vai crescendo até 0,86%. Além disso, a velocidade crítica baixa com o aumento do teor
em carbono.
A adição de elementos de liga vai exercer também a sua influência, deslocando o ponto
eutectóide, isto é, modifica o teor em carbono correspondente ao ponto eutectóide do aço de liga
assim como modifica a temperatura de transformação.
A influência dos elementos de liga sobre as curvas TTT é, traduzida por um
deslocamento das curvas para a direita. Consequentemente os elementos de liga provocam uma
diminuição da velocidade crítica de têmpera, aumentando a profundidade de têmpera [1] [7].
- Tamanho do grão
A influência do tamanho do grão faz-se sentir especialmente sobre a velocidade crítica de
têmpera. Assim, para um dado aço a velocidade crítica de têmpera diminui com o aumento do
tamanho do grão do aço uma vez que provoca um deslocamento das curvas TTT para a direita
[1] [7].
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- Dimensões da peça
As dimensões da peça tem uma grande influência nos resultados finais da têmpera dessa
peça. Com efeito, no arrefecimento das peças pouco espessas a diferença de temperatura entre o
núcleo e a periferia da peça é muito pequena. No entanto, tratando-se de peças de grande
diâmetro ou espessura verifica-se que no arrefecimento existe uma diferença apreciável entre a
temperatura do núcleo e a da periferia, naturalmente a temperatura é superior no núcleo, sendo a
diferença tanto maior quanto maior for a espessura.
Dado que a temperatura no início do arrefecimento é a mesma em toda a peça verifica-se
a existência dum gradiente de velocidade de arrefecimento, maiores na periferia e mais baixas no
núcleo.
Temos, assim, para a periferia e para o núcleo duas curvas de arrefecimento diferentes. A
partir de certa espessura a velocidade de arrefecimento é inferior à crítica, deixando de se formar
martensite. A fractura duma peça mostra-nos distintamente as duas zonas; uma com grão fino a
partir da periferia que é a zona temperada e outra com grão grosseiro, no núcleo, que é a zona
não temperada em que a velocidade de arrefecimento foi inferior à velocidade crítica.
Para uma dada qualidade de aço e para as mesmas condições de arrefecimento a
profundidade da zona temperada diminui com o aumento do diâmetro ou espessura da peça
embora esta variação não seja muito sensível. Se o raio da peça é igual à penetração da têmpera
toda a massa da peça se apresenta temperada [1] [7].
- Temperatura da têmpera
A profundidade de têmpera aumenta com a elevação da temperatura de têmpera, o que
alias é justificado pelo deslocamento para a direita das curvas TTT que aquela elevação de
temperatura origina e pela consequente diminuição da velocidade crítica de têmpera [1] [7].
A pratica dos tratamentos térmicos exige que seja tomada uma série de medidas e que
seja observada uma série de regras para que se possa diminuir os riscos de insucesso. Na
verdade, mesmo tomando os maiores cuidados acontecem por vezes fracassos que nunca chegam
a Ter explicação. Acontece, com certa frequência, especialmente em instalações onde raramente
são praticados tais tratamentos, não se tomarem as precauções necessárias pelo que achamos de
interesse indicar uma lista com as causas e as consequências de tratamentos térmicos
defeituosos. Verifica-se também com certa frequência serem imputadas às más qualidades do aço
tratado as culpas dum insucesso. No entanto, as causas mais frequentes residem em aspectos
defeituosos da execução do tratamento. Embora não possa ser excluída a hipótese dum defeito do
material os cuidadosos mios de controle actualmente usados pela grande maioria dos fabricantes
restringe bastante esta hipótese. De qualquer modo, em presença dum insucesso deve a peça ser
cuidadosamente analisada por métodos convenientes para se concluir da sua origem. É corrente
guardar-se peças defeituosas pois delas se pode sempre tirar ensinamentos úteis para a melhoria
dos resultados a obter.
Como as causas e as consequências dum tratamento térmico defeituoso podem ser muito
diversas daremos em seguida uma relação das mais frequentes:
Fracturas na têmpera
Causas:
- aquecimento irregular ou sobreaquecimento;
- posição errada da peça no banho de arrefecimento;
- inexistência ou insuficiência de protecção em certas partes da peça;
- arrefecimento demasiado enérgico;
- introdução brusca da peça fria no forno ou no banho a alta temperatura.
Deformação
Causas:
- grandes variações de secções da peça;
- aquecimento demasiado rápido e irregular;
- sobreaquecimento
- inexistência ou insuficiência de protecção no aquecimento;
- posição errada ou movimento desfavorável da peça no banho de arrefecimento;
- ausência dum recozido de distinção antes da têmpera.
[1]
Tensões de têmpera e fissuração de têmpera
A têmpera desde a região austenítica até à temperatura ambiente é um tratamento drástico
que conduz, muitas vezes, à distorção do componente temperado e inclusivamente a uma séria
fissuração (fissuração de têmpera). Estes defeitos resultam de tensões internas que se
desenvolvem durante a têmpera por duas razões :
1 - tensões térmicas que resultam directamente das diferentes velocidades de
arrefecimento verificadas à superfície e no interior do aço;
2 - tensões de transformação devidas às variações de volume que ocorrem quando a
austenite se transforma noutras fases.
Na figura 16 dá-se um exemplo do efeito das tensões térmicas num varão de aço de 100
mm de diâmetro, temperado em água a partir de 850 ºC. A relação temperatura-tempo para a
superfície e para o interior está indicada na figura 16a. Pode ver-se que a diferença máxima de
temperatura ocorre ao fim de um certo tempo t1 sendo cerca de 500 ºC, o que daria origem a
tensões superiores a 1000 MNm-2 se não ocorresse qualquer relaxação. Nestas condições, a
relação tensão-tempo para a região superficial seria a correspondente à curva A (figura 16b).
Contudo, o nível máximo de tensão não é mantido, porque ocorre deformação plástica, e a
relação tensão-tempo é, na realidade, a indicada pela curva B. A tensão de tracção à superfície é
contrabalançada pela tensão de compressão no interior, como se mostra na curva C. Ao fim de
um certo tempo t2 superior, as tensões de tracção e compressão tendem para zero, mas, à medida
que a temperatura diminui até à temperatura ambiente, o estado de tensão inverte-se: o interior
passa a ficar em tracção e a superfície em compressão. A figura 16c mostra a distribuição de
tensão ao longo do varão, à temperatura ambiente.
17
Figura 16
Quanto mais rápida a têmpera, maior será a diferença de temperatura entre o interior e a
superfície durante a têmpera, e portanto maiores serão as tensões resultantes à temperatura
ambiente. Em termos práticos, isto significa que, para evitar distorções, convém usar meios de
têmpera menos drásticos, por exemplo, óleo em vez de água, e que, consequentemente, se têm de
fazer ajustamentos da temperabilidade para conseguir um endurecimento completo ao longo da
secção. As tensões de transformação resultam da variação de volume associada à formação de
uma nova fase. Por exemplo, quando a austenite se transforma em martensite num aço com 1 %
de carbono, há um aumento de volume de 4 %, enquanto a transformação em perlite provoca um
aumento de 2,4 %. O efeito destas alterações de volume na distribuição de tensões depende de
as reacções na superfície e no interior se iniciarem ou não simultaneamente e de a
temperabilidade ser ou não suficiente para permitir um endurecimento completo. Se a reacção
martensítica só ocorrer à superfície, esta ficará solicitada à tracção ao passo que no interior
aparecerão tensões de compressão. Esta situação é mais pronunciada quando a transformação
martensítica ocorre em todo o diâmetro, isto é, no caso de pequenas secções, ou em aços de alta
temperabilidade. A presença de tensões de tracção na superfície não é aconselhável pelas razões
já indicadas, sendo portanto evidente que, nalguns casos, uma alta temperabilidade pode criar
problemas. Estes podem ser evitados utilizando aços em que se forme apenas uma camada
endurecida relativamente fina, à superfície, a qual pode ser mantida num estado de compressão.
Os métodos de tratamento superficial, como a cementação e a nitretação, nos quais a
concentração do elemento intersticial aumenta consideravelmente através de um processo de
difusão, conduzem não só a superfícies duras resistentes ao desgaste, mas também a superfícies
que resistem à propagação de fissuras, já que estão sujeitas a tensões de compressão.
A martensite é uma fase muito frágil e tanto mais quanto maior for o teor de carbono.
Nas martensites de alto teor de carbono ocorre o fenómeno em cascata, no qual novas lamelas de
martensite são sucessivamente nucleadas por lamelas já formadas, e, por isso, observam-se
frequentemente fissuras nos pontos de contacto entre uma lamela em crescimento e lamelas já
existentes. Estas microfissuras constituem, como é evidente, núcleos para a propagação de
fissuras maiores. Em termos gerais, a fissuração de têmpera tende a ocorrer quando as tensões de
têmpera não foram suficientemente relaxadas por deformação plástica a temperaturas elevadas, e
atingem, portanto, a tensão de fractura do aço. Tal como na fissuração por fadiga, a solução mais
eficaz consiste em criar tensões de compressão na região mais vulnerável do aço.
Convém tomar certas precauções, bastante óbvias, para impedir esta fissuração, incluindo
o recurso a uma têmpera mais lenta, compatível com a obtenção da dureza adequada. Deve
também evitar-se, sempre que possível, a concentração de tensões devida a entalhes, sulcos
18
profundos de maquinagem e variações bruscas de secção, já que todas elas encorajam a
nucleação de fissuras de têmpera.
A composição do aço é importante, porque as características da transformação da
austenite influenciam a incidência da fissuração. O efeito do carbono já foi referido, mas
verifica-se também que a temperatura MS, diminui quando aumenta o teor de carbono. Assim,
nos aços com teor de carbono mais elevado, a relaxação das tensões de têmpera é mais difícil do
que no caso da martensite começar a formar-se a temperaturas mais elevadas, para as quais a
relaxação de tensões no aço ocorre predominantemente por deformação e não por fractura. Além
disso, quanto mais baixa for a temperatura MS, maior é a variação de volume durante a
transformação e, por conseguinte, maiores serão as tensões de deformação resultantes. Os
elementos de liga metálicos também diminuem MS mas, como aumentam bastante a
temperabilidade, permitem uma têmpera em condições menos drásticas, o que reduz muito a
probabilidade de distorção e fissuração.
[1]
4 – Tratamento térmico de Martêmpera
Uma forma muito eficaz de reduzir as tensões de têmpera consiste em interromper a
têmpera imediatamente acima de MS na região austenítica metaestável do diagrama TTT isto
consegue-se fazendo a têmpera num banho de sais, à temperatura apropriada. Quando todo o
componente tiver atingido a temperatura do banho, e antes que ocorra qualquer transformação
isotérmica, o aço é arrefecido ao ar, através do domínio martensítico, até à temperatura ambiente.
Este processo de têmpera interrompida é designado por martêmpera ou por mar-revenido,
embora não haja qualquer revenido, a martensite tem de ser revenida da forma habitual. Este
processo é muito útil porque minimiza as distorções, mas, para que tenha êxito, é preciso que o
aço tenha uma temperabilidade adequada que impeça as reacções perlítica e bainítica. Aplica-se
normalmente a aços ligados, que poderiam igualmente ser endurecidos por têmpera em óleo.
Para obter bons resultados com a martêmpera é necessário conhecer com exactidão o intervalo
de temperatura de formação, da martensite e o efeito do tamanho de grão da austenite sobre os
limites desse intervalo.
Existe ainda outro tipo de martempera designada por martempera modificada. Este
processo só difere da martempera convencional na temperatura a que se encontra o banho de
sais, que é desta forma mais baixa – estando esta temperatura assim abaixo do ponto MS cerca de
95ºC – desta forma são obtidas taxas de arrefecimento mais elevadas do que com martempera
convencional.
Figura 17
Este processo é importante para o tratamento térmico dos aços de baixa dureza, que
requerem um arrefecimento rápido para se obter uma dureza suficientemente elevada. Assim a
martempera modificada é aplicável a uma vasta gama de aços. Uma outra vantagem em relação à
martempera convencional reside no facto de, pela necessidade de temperaturas mais baixas nos
19
banhos de sais, os equipamentos associados a esta parte do processo sejam mais baratos e de
mais fácil manutenção. De um modo geral, na prática são obtidos resultados uniformes e
produtivos pelos dois processo:martempera convencional e martempera modificada. Contudo no
processo de martempera modificada poderão ocorrer maiores distorções nas peças ou outros
defeitos devido a uma maior severidade do arrefecimento em peças sensíveis ao tratamento de
têmpera.
Vantagens do sal fundido , comparado com o óleo para martêmpera são as seguintes:
1 – A viscosidade do sal fundido só se altera a uma temperatura bastante elevada.
2 – O sal fundido retém a estabilidade química, de forma que a única necessidade é manter um
nível eficiente para deste modo compensar aquele que sai envolvido nas peças.
3 – O sal fundido tem uma vasta gama de temperaturas funcionais.
4 – O sal fundido é facilmente lavado com água corrente.
5 – Por norma menos tempo é requerido para a massa das peças adquirir uma temperatura
constante em toda ela, que no interior quer no exterior:
Desvantagens do sal fundido, comparado com o óleo para martempera são as seguintes:
1 – A temperatura de funcionamento mínima de 165ºC.
2 – Perigo de explosão, deve ser dada especial atenção ao tipo de sal usado para austenitização,
quando estes dois trabalhos austenitização e martempera são feitos em banhos de sais.
Figura 20 – Propriedades físicas de dois óleos usados normalmente para tratamentos térmicos de martempera
O óleo quente requer especial manipulação quando é usado numa gama de temperaturas
perto da temperatura máxima de funcionamento. Para prolongar a sua vida o óleo deve ser
mantido debaixo de um atmosfera protectora (neutra), a sua deterioração é acelerada quando é
exposto ao ar a temperaturas elevadas. Desta forma a deterioração do óleo é causada pela
formação de partículas ácidas e oxidas que afectam os resultados obtidos, quer na dureza quer na
própria cor das peças. Portanto, uma vez que o óleo está sujeito e exposto ao ar, deverá ter-se em
atenção ao percurso deste óleo e desta forma deverá ser mantido sobre vigilância para deste
modo se efectuarem as manutenções no período certo. Para este fim as máquinas que se
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encarregam desta operação são equipadas com filtros e sensores que indicam o estado do óleo,
quer o seu estado físico como químico.
Figura 20 - Gamas limite de temperatura da formação da martensite para aços ao carbono e aços fracamente ligados
O aço escolhido para martempera deverá conter elementos de liga ou carbono suficiente
para mover o nariz da curva TTT para a direita, para deste modo permitir um tempo suficiente de
arrefecimento, para que as curvas de arrefecimento da peças não passem para além do nariz da
curva TTT e desta forma não se formarem outros constituintes que não martensite.
Os diagramas TTT para um aço hipoeutectoide (1034) e para um aço hipereutectoide
(1090) são mostrados na figura 21. As curvas do diagrama de transformação para o aço 1090 são
de forma mais simples, porque nenhum constituinte proeutectoide (ferrite livre ou carbonetos
livres) é envolvido na transformação a temperaturas sobre o nariz da curva. A velocidade de
transformação no nariz da curva reflete a dureza do aço : quando o nariz da curva TTT está mais
à esquerda, os aços tem mais baixa dureza; quando o nariz da curva esta afastado para a direita,
os aços tem dureza mais elevada. Para se alcançar uma máxima dureza, a curva de arrefecimento
do aço tem que passar à esquerda do nariz para não intersectar os domínios perlítico e/ou
bainitico. No entanto quanto mais à esquerda passar a curva de arrefecimento maior será a
dureza obtida. Em produção corrente alguma perda de dureza é aceitável para se produzir baixas
distorções na massa das peças.
Um diagrama TTT para um aço fracamente ligado hipoeutectoide (5140) satisfatório para
martempera é mostrado na figura 22. A presença do crómio neste aço causa a forma
característica da curva do diagrama TTT perto dos 540ºC. A curva TTT de um aço com elevada
dureza (4340) são também mostradas na figura 22
Nestas curvas é ilustrado o efeito combinado do níquel, crómio e molibdénio na dureza.
Estes elementos originam um duplo nariz na curvas do diagrama TTT. O nariz que aparece a
aproximadamente 485ºC é mais significativo na martempera do que o nariz que aparece a
aproximadamente 650ºC . Aços com a dureza característica destes aços, bastante elevada, são
facilmente martemperados, onde se conseguem estruturas completamente martensiticas [3] [6].
A maioria dos aços ligados que são apresentados em cima são satisfatórios para martêmperar em
secções até 5/8 ou 3/4 in. No entanto a martempera abaixo de 210ºC melhorará a dureza, embora
as distensões nas peças possa ser maior do que quando martemperados a temperaturas mais
elevadas
Figura 23 - Comparação dos diâmetros máximos de vários tipos de aços, para que possam ser martêmperadas, peças com sucesso
Para algumas aplicações uma estrutura completamente martensítica é desnecessária e uma dureza
na massa do centro de 10 Rockwell C unidades a menos que um determinado máximo alcançável
para um aços com um determinado teor em carbono é aceitável. O máximo diâmetro da peça por
este critério é de 25% a 300% maior que o diâmetro máximo a partir do qual pode ser feita
martempera com total transformação da massa em martensite. O produto de transformação não
martensiticos (perlite, ferrite e bainite) foram observados na massa da peça ao fim de arrefecidos,
o que corresponde a uma redução do valor da dureza como se segue:
Aço Transformação
Figura 24
O aço de baixa liga 5140 é apropriado para a austemperização, como podemos observar
através da sua curva TTT apresentada na figura 22. Cerca de 2 segundos são permitidos após a
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passagem do nariz da curva e a transformação completa de bainite realiza-se num tempo
compreendido entre 1 e 10 min. a cerca de 400ºC. Aços com características semelhantes a este
são apropriados para austemperização em secções superiores à do aço anterior, isto deve-se ao
maior intervalo de tempo disponível depois de ultrapassado o nariz da curva TTT.
Aços apropriados para a austemperização devem conter teores de carbono compreendidos
entre 0,5 e 1%, ainda um mínimo de 0,6% de manganês (Mn) Aços com teor de carbono
superiores a este devem conter teores em manganês (Mn) ligeiramente inferiores a 0,6%. Certos
aços ao carbono contendo menos de 0,5% de carbono mas com teores de manganês (Mn)
compreendidos entre 1,0 e 1,65%. Ainda aços considerados de baixa liga contendo menos de
0,3% de carbono.
Muito embora alguns aços tenham teores em carbono ou elementos de liga suficientes
para serem endurecidos após serem submetidos à acção de tratamentos térmicos, não se podem
austemperizar, porque:
1 - a transformação no nariz da curva depois de 1 segundo torna-se virtualmente
impossível de arrefecer algo que não uma secção particularmente pequena no banho de
sais sem a formação de perlite.
2 - Requerem excessivos períodos de tempo para a transformação.
5.2.1 - Temperatura de austemperização
A temperatura de austemperização (temperatura Ms.) dos aços, decresce com o aumento
do teor em carbono, isto fica a dever-se a uma maior solução de carbono. O efeito directo dos
elementos de liga na definição do ponto Ms., é menor do que o efeito do teor do carbono.
Contudo elementos carburígenos, como o molibdénio e o vanádio, podem ligar o carbono na
forma de carbonetos e assim prevenir a completa solução do carbono.
A temperatura aproximada do ponto Ms. pode ser calculada através desta fórmula:
5.4 - Aplicações
A temperatura do banho determina a dureza e outras propriedades obtidas nas peças que
foram submetidas ao tratamento térmico. Um arrefecimento incompreendido do banho de sais
resulta num custo inassegurado.
Usualmente uma variação da temperatura na ordem dos 10ºC é admissível,, no entanto
variações superiores podem traduzir-se em resultados inaceitáveis na dureza pretendida.
O tempo no banho, deve ser suficiente para permitir uma transformação completa da
austenite em bainite. É permitido que as peças continuem no banho por períodos superiores ao
permitido, torna-se apenas mais dispendioso para os mesmos resultados.
A agitação no banho modifica significativamente a velocidade de arrefecimento, logo
torna-se uma variável a ter em conta neste processo. Conforme o tipo de agitação é definida a
especificidade de cada aplicação.
6 – Glossário
A1 – temperatura de equilíbrio da transformação austenite↔ferrite+cementite. No aquecimento,
inicia-se a transformação em austenite; no arrefecimento, termina a transformação da austenite
em ferrite ou na mistura ferrite mais cementite de composição eutectóide (perlite).
D0 – diâmetro crítico
Di – diâmetro ideal
AÇOS:
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7 – Bibliografia
[1] – Soares Pinto – “Aços: caracteristicas, Tratamentos”, 2ª edição, Ambar, Porto, 1975
[2] – Seabra, Antera Valariana da –“Metalurgia Geral”, volume II, 2ª edição, Laboratório
nacional de engenharia civil, Lisboa, 1995
[4] – ASM Handbook Committee – “Metals handbook – heat treating, cleaning and finiching”,
volume II, 8ª edição
[5] – Carillos L.A. – “Máquinas Calculo de Taller”, 28ª edição, Edicion hispanoamericana,
Madrid, Espanha, 1975
[6] – “Heat Treater’s Guide – Pratctics and procedures for irons and steels”, 2ª edição, ASM
international, United States of America, 1995