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OBJETIVOS

Entender os fatores que influenciam no desempenho de corte.

Conhecer a classificação dos aços.

Aprender sobre componentes químicos e suas características.

Aprender a definição de tratamento térmico.

Compreender a aplicação de cada etapa.

Conhecer etapas suprimíveis e imprescindíveis.

Equívocos de aplicação e consequências práticas.

Aplicação prática em forja a gás, forno de cozinha, forno de


temperatura controlada e maçarico.

Aprender a aplicar o teste de lima.

Aprender a aplicar o teste de grão.

Conhecer o Fenômeno da “Pele de Sapo”.

Tabela de tratamentos térmicos dos principais aços utilizados


na cutelaria.

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ÍNDICE
1. Os Três Pilares do Desempenho de Corte06 3.4. Têmpera Seletiva29

2. Composição Química do Aço09 3.4.1. Têmpera Seletiva na Forja30

3.4.1.1. Têmpera Seletiva na ForjaAferida Magneticamente32


Classificação dos Aços09
3.4.1.2. Têmpera Seletiva na ForjaAferida Visualmente34
Outros Componentes10
3.4.2. Têmpera Seletiva no Fornode Temperatura Controlada36
3. Tratamento Térmico12
3.5. Têmpera Full Hard38
3.1. Recozimento15
3.5.1. Têmpera Full Hard na Forja40
3.1.1. Recozimento na Forja16
3.5.1.1. Têmpera Full Hard na ForjaAferida Magneticamente40
3.1.2. Recozimento no Fornode Temperatura Controlada17
Teste de Lima42
3.2. Normalização20
Teste de Grão44
3.2.1. Normalização na Forja22
Fenômeno da Pele de Sapo46
3.2.2. Normalização no Forno de Temperatura Controlada25
3.6. Revenimento47
3.3. Têmpera28
3.7. Destempera Seletiva50

Tabelas de Tratamento Térmico51

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1. OS TRÊS PILARES
DO DESEMPENHO DE CORTE
1. Composição química do aço: alguns componentes tem ligação direta com o desempenho que os
aços podem ter em relação ao poder de corte.

2. Geometria de fio: fator essencial onde o cuteleiro deve adequar as dimensões e robustez do fio

para que determinada faca esteja em conformidade aos objetivos para os quais foi projetada.

Tratamento térmico: é o fator que confere “alma” ao aço, pois sem o tratamento
térmico criterioso o aço não apresentará nenhuma de suas virtudes como força,
resistência ao desgaste e tenacidade.

Tratamento Térmico 07
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2. COMPOSIÇÃO QUÍMICA DO AÇO
A indústria metalúrgica moderna desenvolveu milhares de tipos diferentes de
aços, sendo cada um deles com as características essenciais para o qual foi
criado. Podemos dizer de maneira simplista que aço é a liga de ferro e carbono,
sendo esse último o elemento mais importante da liga.

Classificação dos Aços


Baixo Carbono: aços que tem seu percentual de carbono variando entre 0% e
0,35%. São chamados de aços não temperáveis, pois não apresentam dureza
significativa após receberem têmpera.

Em virtude disso, nenhum aço dessa categoria é utilizado na confecção de lâminas,


mas podem ser usados em fornituras como guardas, espaçadores, pomos etc.
Médio Carbono: aços que variam entre 0,36% e 0,60% de carbono. Muitos aços
desta categoria são utilizados na cutelaria custom.

Dentre eles destacamos o SAE5160, provavelmente o aço mais utilizado na


cutelaria, o qual eu recomendo aos iniciantes em meu curso pela facilidade de
forjamento e tratamento térmico.

Alto Carbono: aços que possuem percentuais de carbono iguais ou superiores a


0,61%.

Carbono é o 15º elemento mais presente na crosta terrestre e o 4º mais comum


no universo. Está presente em todas as formas de vida. No corpo humano é o
segundo maior em massa, com 18,5%, depois do oxigênio. É o elemento básico de
todas as formas de vida conhecidas.

Tratamento Térmico 09
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Cromo: Aumenta a temperabilidade dos aços e contribui para a
24 resistência ao desgaste e dureza. É o elemento essencial dos
Outros Componentes
Cr
51.9961
aços inoxidáveis pois em altos percentuais tem a capacidade
de evitar a oxidação, entretanto reduz a soldabilidade. Nos aços
Entretanto, existem diversos outros componentes químicos que alteram as Cromo inoxidáveis geralmente se apresenta em percentuais entre 12% e
características dos aços, tanto positiva quanto negativamente. Para um cuteleiro 18%.
profissional é importante conhecer alguns destes componentes e em quais pontos eles
influenciam na performance final dos aços. 42
Molibdênio: Aumenta a temperabilidade, portanto aumenta a

Mo 95.95
dureza e resistência e reduz a temperatura de têmpera. Também
ajuda a aumentar a dureza a quente e a resistência ao desgaste.
Molibdênio
25 Manganês: Tem a capacidade de aumentar a temperabilidade

Mn (capacidade de endurecimento após a têmpera), o que resulta


em um acréscimo de dureza e resistência dos aços, colaborando
28
Níquel: Aumenta a resistência mecânica, a tenacidade e a

Ni
54.938044
Manganês também para a melhora da resistência à oxidação. resistência à corrosão, porém reduz a sua soldabilidade
58.6934 (capacidade de ser soldado).
Níquel
Vanádio: Tem ação benéfica nas propriedades mecânicas dos
23 aços tratados termicamente, especialmente na presença de

V
Silício: Favorece a resistência mecânica, e a resistência à
outros elementos. O vanádio em pequenas quantidades aumenta 14
corrosão, porém reduz a soldabilidade.vEnxofre: É extremamente

Si
a tenacidade (resistência mecânica) pela redução do tamanho
50.9415
prejudicial ao aço, diminuindo a ductibilidade (capacidade de
Vanádio do grão do aço. Acima de 1% confere alta resistência ao desgaste
28.085 escoamento quando forjado), a soldabilidade e a resistência
especialmente para aços rápidos.
Silício
mecânica.

15 Fósforo: Aumenta o seu limite de resistência, favorece a corrosão


41
P
30.973761998
e a dureza, prejudica a ductibilidade e a soldabilidade. Quando
ultrapassado em certos percentuais o fósforo torna o aço
Nb Nióbio: Aumenta significativamente a resistência mecânica, a
soldabilidade e a usinabilidade (facilidade de ser usinado).
Fósforo quebradiço. 92.90637
Nióbi o

Metal de transição Semimetal Não Metal

Tratamento Térmico 11
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OBSERVAÇÃO: Na metalurgia existem outras etapas e variáveis, entretanto vamos
abordar somente as que interessam a um Cuteleiro Profissional.

3. TRATAMENTO TÉRMICO
1. Objetivos do Tratamento Térmico 2. Etapas do Tratamento Térmico

Eliminação de tensões internas (decorrentes do Recozimento


esfriamento desigual ou trabalho mecânico: forjamento)
Normalização
Aumento ou diminuição da dureza
Tratamento térmico é o conjunto de operações de aquecimento Têmpera
Aumento da resistência mecânica
Têmpera seletiva
e resfriamento a que são submetidos os aços, sob condições
Melhora da ductilidade (capacidade de escoamento)
Têmpera full hard
controladas de temperatura, tempo, atmosfera e velocidade de
Melhora da usinabilidade
Revenimento
resfriamento, com o objetivo de alterar as suas propriedades ou Melhora da resistência ao desgaste
Destempera seletiva
conferir-lhes características determinadas. Podem agir de forma Melhora das propriedades de corte
total (em toda a peça) ou de forma localizada (apenas em uma Melhora da resistência à corrosão

parte da peça). Melhora da resistência ao calor

Modificação das propriedades elétricas e magnéticas

Tratamento Térmico 13
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3.1. Recozimento
É o tratamento térmico realizado com o fim de alcançar um ou vários dos
seguintes objetivos: remover tensões devidas ao forjamento a frio ou a
quente, diminuir a dureza para melhorar a usinabilidade do aço, alterar as
propriedades mecânicas como resistência, ductilidade etc., eliminar, enfim, os
efeitos de quaisquer tratamentos térmicos ou mecânicos a que o aço tiver sido
anteriormente submetido.

Existem 4 formas diferentes de se aplicar o recozimento na indústria metalúrgica.


Para a cutelaria custom, a mais interessante é Recozimento para Alívio de Tensões
e Diminuição de Dureza. Consiste no aquecimento do aço a temperaturas abaixo ou
muito próximo da zona crítica e um subsequente resfriamento lento, geralmente
no ambiente do forno.

Etapa indicada para aços passíveis de dureza residual e encruamento, como


por exemplo o SAE1095. Encruamento é um fenômeno modificativo da estrutura
molecular que causará o aumento da dureza do metal.

O recozimento, por trabalhar abaixo ou muito próximo da temperatura crítica,


e especialmente em virtude do resfriamento lento, não proporciona a redução
do grão do aço, sendo obrigatória a aplicação da normalização para ajuste do
tamanho do grão, antes da têmpera.

Quanto maior o tempo de permanência do aço à temperatura de aquecimento,


maior será o tamanho de grão resultante. Assim sendo, o recozimento reduz
sensivelmente a dureza, mas produz grão crescido, o que reduz a retenção de fio
e a tenacidade final da faca. Por isso torna-se obrigatória a normalização antes da
têmpera.

Tratamento Térmico 15
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3.1.2. Recozimento no Forno
de Temperatura Controlada

Deve-se aquecer a lâmina, preferencialmente pendurada (forno vertical) até a faixa de


temperatura indicada para o aço.

Quando o display do forno indicar a temperatura adequada, deve-se esperar um minuto


por cada milímetro da espessura máxima da lâmina (por exemplo: uma lâmina com 6
milímetros de espessura máxima de dorso, deve-se esperar 6 minutos de estabilização do

3.1.1. Recozimento na Forja forno). Após a estabilização da temperatura, basta desligar o forno, mantendo-o fechado e
aguardar o resfriamento lento da lâmina.

Deve-se aquecer a lâmina uniformemente, com a parte mais espessa (dorso)


voltada para a parte mais quente da forja (que sempre será a parede contrária
Display do forno de temperatura controlada.
à entrada de ar e gás – o objetivo é distribuir calor uniformemente pela lâmina),
aferindo-se o magnetismo com o imã.

Quando se perceber que o magnetismo está cessando (imediatamente antes


que cesse), levar a faca entre duas camadas de manta cerâmica, de modo que o
resfriamento aconteça lentamente.

Apenas um ciclo de recozimento é suficiente.

IMPORTANTE: Em hipótese alguma faça tratamento térmico sem EPI: luvas,


óculos, boné, avental, etc.

OBSERVAÇÃO: Todo e qualquer tratamento térmico realizado na forja deve


ser feito no escuro, sem a interferência de luz natural ou artificial, assim o
cuteleiro tem precisão visual para determinar tanto a temperatura que a
peça se encontra como a sua respectiva distribuição de calor.

Tratamento Térmico 17
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Remoção das facas após estabilização da temperatura.

OBSERVAÇÃO: Eu, particularmente, prefiro o resfriamento entre duas camadas de


manta cerâmica, pois reduz a dureza, é mais rápido e previne empenamentos,
que são comuns no resfriamento interno no forno.

EXPLICAÇÃO: o momento em que o forno indicar a temperatura alvo no display,


não significa que a temperatura da lâmina seja a mesma, apenas que o termopar
(sensor em forma de fio metálico no interior do forno) está na temperatura
desejada. Pelo fato de a lâmina ter um volume muito maior de aço, esta levará
mais tempo para absorver o calor interno do forno e atingir a temperatura correta.

A experiência nos demonstrou que a regra de se esperar um minuto por cada


milímetro da espessura, é o ideal para ter um tratamento térmico preciso.

IMPORTANTE: Em hipótese alguma faça tratamento térmico sem EPI: luvas,


óculos, boné, avental, etc.

Resfriamento lento entre mantas.

Tratamento Térmico 19
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3.2. Normalização
Consiste em aquecer o aço acima da temperatura crítica, com resfriamento em ar
tranquilo, à temperatura ambiente. Visa ajustar a estrutura molecular do aço, que
se organizará de modo que a granulação fique bem fina. Esses grãos finos irão
proporcionar à faca finalizada, uma alta retenção de fio e alta resistência mecânica.

Tratamento Térmico 21
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3.2.1. Normalização na Forja

Deve-se aquecer a lâmina uniformemente, com a parte mais espessa (dorso)


voltada para a parte mais quente da forja (com o objetivo de se aquecer a peça
uniformemente), aferindo-se o magnetismo com o imã.

Quando se perceber que o magnetismo parou (a lâmina não é mais atraída pelo
imã), deve-se retornar a faca para a mesma posição no interior da forja, contando-
se mentalmente, mil e um, mil e dois, mil e três, mil e quatro, mil e cinco. Após isso
deve-se retirar a faca da forja e esperar que ela resfrie em ar tranquilo (sem vento).

EXPLICAÇÃO: Em temperatura ambiente, os elétrons contidos no interior dos


átomos do aço, giram num sentido específico em volta do núcleo. Conforme se
aquece o aço e este atinge a temperatura crítica (727º Célsius) esses giros cessam
no sentido original e passam ocorrer no sentido contrário, fazendo com que o aço,
enquanto esteja acima deste ponto de aquecimento, permaneça temporariamente
amagnético, ou seja, não é atraído pelo imã.

IMPORTANTE: Em hipótese alguma faça tratamento térmico sem EPI: luvas,


óculos, boné, avental, etc.

À medida que se resfria e atinge o limiar inferior à 727ºC, volta imediatamente a ser
atraído pelo imã. Esse é um artifício tem sido usado por ferreiros há séculos, para se
aferir com precisão as faixas de tratamento térmico. Após o aquecimento a lâmina
deve resfriar em ar tranquilo, ou seja, sem que haja vento.

Recomenda-se prender a lâmina numa morsa, pela espiga ou chassi, de modo


que nenhuma parte da lâmina toque nenhuma superfície, o que provocaria um
resfriamento irregular, o que poderia acarretar empenamento. Caso não haja morsa
disponível, pode-se colocar a lâmina sobre a bigorna, equilibrada sobre o dorso, o
que não provocaria problemas futuros.

Tratamento Térmico 23
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A lâmina aquecida deve ser resfriada até que perca a cor, ou seja, que desapareça a
emissão de cor pelo aço incandescente, sendo que a última cor visível é vinho escuro.

Após a perca da cor, pode-se retornar à forja para novo ciclo de normalização, não
sendo necessário o resfriamento até a temperatura ambiente para que se inicie outro
3.2.2. Normalização no
ciclo. Recomenda-se a realização de três ciclos de normalização na forja.
Forno de Temperatura
OBSERVAÇÃO: Todo e qualquer tratamento térmico realizado na forja deve ser feito
no escuro, sem a interferência de luz natural ou artificial, assim o cuteleiro tem
Controlada
precisão visual para determinar tanto a temperatura que a peça se encontra como
a sua respectiva distribuição de calor.
Deve-se aquecer a lâmina, preferencialmente
pendurada (forno vertical) até a faixa de
temperatura indicada para o aço.

O forno vertical é superior ao horizontal, pois a


lâmina aquecida estando pendurada, está menos
suscetível a empenamentos, o que ocorre com
frequência nos fornos horizontais, em razão das
lâminas necessitarem de ficar apoiadas durante
o Tratamento Térmico.

Quando o display do forno indicar a temperatura


adequada, deve-se esperar um minuto por cada
milímetro da espessura máxima da lâmina
(por exemplo: uma lâmina com 6 milímetros de
espessura máxima de dorso, deve-se esperar 6
minutos de estabilização do forno).

Tratamento Térmico 25
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Após a estabilização da temperatura, basta remover a lâmina do forno,
mantendo-a preferencialmente pendurada pela espiga (com um ganchinho
atravessado por um furo no final desta) resfriando em ar tranquilo.

Facas penduradas no forno de temperatura controlada.

Caso a normalização esteja sendo feita com a lâmina já usinada, imediatamente


antes da têmpera, basta esperar que esta perca a cor, reajustar o display do forno
para a temperatura de têmpera, que será menor que a de normalização, e retornar
a faca para o aquecimento que proporcionará a têmpera.

Pelo fato de o forno de temperatura controlada ser extremamente preciso, não se


faz necessário mais de um ciclo de normalização para que se consiga a liberação
total das tensões internas advindas do forjamento, bem como a correção dos
grãos do aço, que proporcionarão excelente tenacidade e capacidade de corte.

IMPORTANTE: Em hipótese alguma faça tratamento térmico sem EPI: luvas,


óculos, boné, avental, etc.
Facas resfriando em ar tranquilo.

Tratamento Térmico 27
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3.3. Têmpera
Consiste no resfriamento brusco do aço, que deve estar a uma temperatura
superior à sua temperatura crítica, em um meio de resfriamento como óleo, água,
salmoura ou mesmo ar. A velocidade de resfriamento, dependerá do tipo de aço, da
forma e das dimensões das peças, bem como do meio de resfriamento escolhido.

O resultante desejado deste processo é a martensita, que é uma formação


sólida de ferro e carbono. O objetivo dessa operação, sob o ponto de vista de
propriedades mecânicas, é o aumento da dureza. Resultam também da têmpera, a
redução da tenacidade e o aparecimento de tensões internas. Tais inconvenientes
são atenuados ou eliminados pelo revenimento. Região onde será aplicada a têmpera seletiva.

Utilize sempre um recipiente com o fundo mais largo para não ocorrerem acidentes. 3.4. Têmpera Seletiva
É o processo de têmpera aplicado somente ao fio de uma lâmina. Ele visa prover
somente o endurecimento do fio, mantendo o dorso da lâmina mais macio, de
modo que a mesma tenha grande resistência mecânica.

Explicação: Quando uma lâmina sofre impacto, ainda que não consigamos
perceber, a mesma sofre torções. Caso o dorso da lâmina seja macio, este
proporcionará que a lâmina se torça temporariamente sem se romper, retornando
em seguida à sua forma original, o que na Metalurgia é chamado de Tenacidade. Ou
seja, a capacidade de sofrer deformação e voltar à forma original.

Caso a dureza do dorso seja idêntica à do fio, a possibilidade de uma fratura da


lâmina sob impacto será considerável.

Tratamento Térmico 29
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3.4.1. Têmpera Seletiva na Forja

Há no mercado atual algumas forjas desenvolvidas especialmente para têmpera,


onde se aquece somente o fio da faca no interior da forja.

OBSERVAÇÃO: A forja que a me refiro neste tópico, é a forja convencional,


desenvolvida para forjamento.

Forja convencional.

Aprenda como fazer sua própria


forja à gás

Deve-se aquecer a lâmina, com a parte


mais fina (fio) voltada para a parte mais
Forja para têmpera.
quente da forja (que sempre será a
parede contrária à entrada de ar e gás).
Muito embora eu não seja totalmente contra esse recurso, prefiro treinar meus Pode-se aferir a temperatura adequada
alunos para que aprendam o processo realizado na forja convencional, assim sua do fio através de dois métodos distintos:
versatilidade de técnicas de têmpera seletiva será infinitamente maior, realizando
têmperas com precisão em quaisquer estilos de facas, o que seria limitante com o
uso da forja para têmpera.

Magneticamente Visualmente

Tratamento Térmico 31
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3.4.1.1. Têmpera Seletiva na Forja Em se tratando de facas de aço damasco:

Aferida Magneticamente Uma lâmina de aço damasco, quando temperada seletivamente, apresentará dois
aspectos muito diferentes em termos estéticos: O fio (temperado) ficará muito
Deve-se aquecer a lâmina, com aparte mais fina (fio) voltada para a parte mais contrastante entre o preto e o prata e apresentará alto brilho após polimento. O
quente da forja (que sempre será a parede contrária à entrada de ar e gás) usando dorso (sem têmpera) apresentará muito menos contraste e pouco brilho após
um imã para se aferir a atração do fio da lâmina pelo mesmo. polimento.

Quando se perceber que o magnetismo parou (o fio


EXPLICAÇÃO: O aço damasco temperado, ou seja, que ao ser
não é mais atraído pelo imã), deve-se retornar a faca
aquecido passou pelo processo de austenitização e resfriado
para a mesma posição no interior da forja, contando-se
produziu a martensita (ferro + carbono) responde melhor
mentalmente, mil e um, mil e dois, mil e três. Após esta
à revelação através do percloreto de ferro, justamente por
contagem, deve-se imediatamente colocar a lâmina no meio
causa da maior presença de carbono. Também resultam
de resfriamento, sendo que na cutelaria, o mais comum e
em melhor resposta ao fosfato de manganês, pois as
recomendado é o óleo diesel (comum e sem misturas com
linhas cobertas (de aço carbono), apresentam um tom
qualquer outro tipo de óleo).
profundamente negro. Bem como o polimento posterior,
resulta em brilho muito superior.
A imersão da lâmina deve acontecer o mais
perpendicularmente à superfície do óleo, com a ponta virada
Áreas não temperadas, ficam foscas, menos contrastantes e
para baixo, evitando-se qualquer inclinação e agitando-a no
com as linhas menos nítidas após a revelação.
sentido dorso/fio para acelerar o resfriamento.

Para um melhor resultado, o óleo diesel deve ser pré-aquecido a 60ºC. Desta forma não recomendo a aplicação de têmpera seletiva em facas de
damasco. Para estas prefiro a têmpera full hard e a subsequente destempera
Em se tratando de facas de aço carbono, temos duas variáveis: seletiva, que proporcionará boa resistência mecânica sem comprometer o aspecto
estético.
1. Lâminas com ricasso: devem ser mergulhadas até o choil, deixando-se o ricasso
de fora, para que não seja temperado, o que proporcionará melhor resistência
mecânica da faca. IMPORTANTE: Para facas de teste de performance nos moldes da American
Bladesmith Society, a destempera seletiva não proporciona a dobra da faca.
Embora ela aumente significativamente a resistência mecânica, suficiente para
2. Lâminas integrais com bolster (bombinha): devem ser mergulhadas até o choil qualquer uso convencional de faca, não resiste à dobra, pois a austenitização do
dorso reduz drasticamente a tenacidade, rompendo-se caso seja dobrada.
(ou gavião), deixando-se o bolster de fora, para que não seja temperado, o que
proporcionará melhor resistência mecânica da faca.

Tratamento Térmico 33
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3.4.1.2. Têmpera Seletiva na Forja
Aferida Visualmente
Deve-se aquecer a lâmina, com aparte mais fina (fio) voltada para a parte mais
quente da forja (que sempre será a parede contrária à entrada de ar e gás)
observando-se visualmente a distribuição de calor.

Pelo fato de o fio ser mais fino, ou seja, com menos aço, ele aquecerá muito Para um melhor resultado, o óleo diesel deve ser pré-aquecido a 60ºC.
antes do dorso, o que pode ser verificado pela presença de cor no fio. O objetivo é
uniformizar a cor laranja por todo o fio. A cor laranja indica exatamente a faixa de
Após este aquecimento, deve-se imediatamente mergulhar a faca no óleo diesel
temperatura de têmpera.
(comum e sem misturas com qualquer outro tipo de óleo).

IMPORTANTE: Já aconteceram alguns incêndios durante o processo de têmpera,


na oficina de cuteleiros conhecidos. Isso se dá por um simples fator: recipiente IMPORTANTE: Caso haja diesel inflamado esparramado, jamais jogue água. Isso
estreito, portanto contendo pouco óleo e com base pouco estável. provocaria um fenômeno conhecido como “boil over”, o que aumentaria muito as
Durante a têmpera, não é incomum que a superfície do óleo se incendeie. Isso não chamas.
é um problema, pois estas chamas são pequenas, e se apagam com facilidade Para conhecer o fenômeno boil over assista ao vídeo clicando aqui!
com um forte assopro, ou após a finalização da têmpera, tampando o recipiente e
cortando o suprimento de ar.

A imersão da lâmina deve acontecer o mais perpendicularmente à superfície do


óleo, com a ponta virada para baixo, evitando-se qualquer inclinação e agitando-a
no sentido dorso/fio para acelerar o resfriamento.

IMPORTANTE: O pouco volume de óleo pode provocar a ebulição e o derramamento


de combustível inflamado no ambiente. Em paralelo, um recipiente estreito, pode
facilmente tombar durante o processo de têmpera, derramando óleo, que por vezes
estará inflamado, provocando um incêndio.
Para evitar, basta escolher um recipiente de base e boca largas, onde caibam pelo
menos 15 litros de óleo, como por exemplo um balde metálico, uma lata de tinta ou
similares.

O ideal para sua segurança é ter na oficina um extintor de incêndio de pó químico, capaz de apagar
qualquer tipo de incêndio possível em uma oficina de cutelaria. Assista ao vídeo de Aprenda sobre meio de Aprenda a fazer têmpera
têmpera seletiva em faca resfriamento para têmpera seletiva em faca de
de carbono na forja damasco na forja

Tratamento Térmico 35
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3.4.2. Têmpera Seletiva no Forno
Outra possibilidade é o aquecimento completo da peça no forno de temperatura
de Temperatura Controlada controlada, seguida da imersão parcial no óleo, mergulhando-se somente o fio.

É possível de se proceder a têmpera seletiva em forno de temperatura controlada, Ainda que o dorso esteja aquecido uniformemente ao fio, este (dorso) também não
mesmo que obviamente o ambiente interno do forno aqueça uniformemente toda a acompanhará a mesma velocidade de resfriamento do fio, o que da mesma forma,
lâmina. promoverá uma retração brusca e desigual do fio.

Pode-se fazer isso através da aplicação de uma pasta composta pela mistura de A tendência é o fio apresentar um empenamento côncavo, que pode ser observado
argila, carvão moído e bicarbonato de sódio e água (os percentuais variam, não quando visto linearmente. Além disso, há grande possibilidade de empenamento
há números exatos definidos) aplicada ao dorso da lâmina. Esta pasta quando se lateral. Isso exigirá uma nova usinagem para ajustar o perfil da faca e também
seca, adere ao dorso da faca. o desempenamento lateral, ou seja, um retrabalho dispensável. Também não é
incomum que este método provoque fraturas no fio, condenando a faca.
Quando o forno é aquecido, a lâmina é aquecida também, entretanto a parte
coberta pela pasta se aquecerá menos, por vezes não atingindo a temperatura de Já o processo de têmpera seletiva na forja convencional (de forjamento),
austenitização, por estar abrigada do calor. promove um resfriamento similar entre dorso e fio, ainda que o dorso não tenha
sido aquecido a ponto de austenitização e, portanto, não seja temperado. Esse
Quando o fio estiver na temperatura de têmpera e for mergulhado no óleo, este resfriamento mais uniforme previne muito as eventuais trincas no fio, bem como
será temperado, mas o dorso sofrerá um resfriamento muito mais lento, o que o empenamento, que é bem menos presente neste método (têmpera seletiva na
não proporcionará a formação de martensita (ferro mais carbono) portanto forja convencional).
não se endurecerá (não temperará). Ocorre que este processo de resfriamento
muito desigual das partes da lâmina, provoca uma retração extremamente forte Desta forma, contraindico totalmente qualquer processo de têmpera seletiva
do fio, não acompanhado do dorso (que está coberto tanto do calor como do no forno de temperatura controlada, seja através do uso da pasta refratária,
resfriamento). Esta retração desigual tende a produzir por vezes empenamentos ou através da imersão parcial da lâmina no óleo, pela frequência, ao meu ver
severos e muito frequentemente fraturas do fio, condenando a peça. Desta forma indesejada, com que os mencionados problemas se apresentam.
contraindico totalmente a têmpera seletiva no forno através do uso da pasta.

Tratamento Térmico 37
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3.5. Têmpera Full Hard
Trata-se do processo de têmpera que visa o endurecimento completo da lâmina,
buscando uniformidade de dureza por toda a sua extensão.

A têmpera full hard é muito indicada para lâminas de aço damasco. O aço
damasco temperado, responde melhor à revelação através do percloreto de ferro,
justamente por causa da maior presença de carbono resultante da têmpera. Display na temperatura de têmpera. Tirando as facas do forno de temperatura
controlada.
Também resultam em melhor resposta ao fosfato de manganês, pois as linhas
cobertas (de aço carbono), apresentam um tom profundamente negro. Bem como
o polimento posterior, resulta em brilho muito superior. Áreas não temperadas,
ficam foscas, menos contrastantes e com as linhas menos nítidas após a
revelação.

Sob o ponto de vista da performance, a têmpera full hard não possui nenhuma
vantagem com relação a têmpera seletiva. A principal vantagem é a estética, nas
lâminas de damasco.

Mergulhando verticalmente no óleo. Finalizando o resfriamento.


Para facas projetadas para cortar sem impacto, como uma faca de caça ou de
cozinha por exemplo, a têmpera full hard não traz qualquer risco estrutural. Para
facas que trabalhem essencialmente por impacto, como uma faca de campo
ou um cutelo por exemplo, a têmpera full hard pode ser aplicada, desde que
sequencialmente seja feita a destempera seletiva, que aumentará a resistência
mecânica pela diminuição da dureza do dorso.

Aprenda sobre têmpera full hard em


IMPORTANTE: Para facas de teste de performance nos moldes da American fornituras de damasco com maçarico
Bladesmith Society, a destempera seletiva não proporciona a dobra da faca.
Embora ela aumente significativamente a resistência mecânica, suficiente para
qualquer uso convencional de faca, não resiste à dobra, pois a austenitização do
dorso reduz drasticamente a tenacidade, rompendo-se caso seja dobrada.

Para exaurir a fumaça do ambiente


posicione um ventilador virado para fora em
uma porta ou janela.

Tratamento Térmico 39
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3.5.1. Têmpera Full Hard na Forja

Deve-se aquecer a lâmina, com a parte mais grossa (dorso) voltada para a parte A imersão da lâmina deve acontecer o mais perpendicularmente à superfície do
mais quente da forja (que sempre será a parede contrária à entrada de ar e gás). óleo, com a ponta virada para baixo, evitando-se qualquer inclinação e agitando-a
Isso proporcionará uma distribuição uniforme da temperatura por toda a lâmina. no sentido dorso/fio para acelerar o resfriamento. Para um melhor resultado, o
Pode-se aferir a temperatura adequada através de dois métodos distintos: óleo diesel deve ser pré-aquecido a 60ºC.

Magneticamente Visualmente
3.5.1.2. Têmpera Full Hard na Forja
Aferida Visualmente
3.5.1.1. Têmpera Full Hard na Forja
Aferida Magneticamente Deve-se aquecer a lâmina, com aparte mais grossa (dorso) voltada para a parte
mais quente da forja (que sempre será a parede contrária à entrada de ar e gás).

Deve-se aquecer a lâmina, com aparte mais grossa (dorso) voltada para a parte
Quando se conseguir que a lâmina esteja uniformemente na cor laranja, deve-se
mais quente da forja (que sempre será a parede contrária à entrada de ar e gás) o
levar a lâmina ao resfriamento no óleo diesel.
que proporcionará uma distribuição uniforme da temperatura.

A imersão da lâmina deve acontecer o mais perpendicularmente à superfície do


Deve-se usar um imã para se aferir a atração da lâmina pelo mesmo.
óleo, com a ponta virada para baixo, evitando-se qualquer inclinação e agitando-a
Quando se perceber que o magnetismo parou (a lâmina não é mais atraída pelo
no sentido dorso/fio para acelerar o resfriamento.
imã), deve-se retornar a faca para a mesma posição no interior da forja, contando-
se mentalmente, mil e um, mil e dois, mil e três. Após esta contagem, deve-se
Para um melhor resultado, o óleo diesel deve ser pré-aquecido a 60ºC.
imediatamente colocar a lâmina no meio de resfriamento, sendo que na cutelaria,
o mais comum e recomendado é o óleo diesel (comum e sem misturas com
qualquer outro tipo de óleo).

Tratamento Térmico 41
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Teste de Lima
Quando fazemos uma têmpera, por qualquer um dos processos anteriormente
descritos, por alguns fatores, especialmente temperatura abaixo da ideal, pode
acontecer de o resfriamento não prover o endurecimento que desejamos para o
aço, ou como dizemos vulgarmente, a têmpera “não pegou”.

Para aferirmos isso com tranquilidade, basta pegar uma lima (devendo reservá-la
apenas para essa checagem), podendo ser uma lima chata bastarda, de 8 ou 10
polegadas e com ela passarmos por toda a extensão do fio da lâmina, logo após
retirada do óleo (antes do revenimento).

Caso o aço esteja adequadamente duro, a lima escorregará pelo fio, não
removendo material como acontece com o aço sem têmpera. Neste caso a
têmpera deu certo e o cuteleiro deve partir para o revenimento.

Caso a lima remova material igual ao que acontece antes de temperarmos o


aço, sinal que não ocorreu o endurecimento que buscávamos. Nessa hipótese o
cuteleiro deve tentar mais uma vez a têmpera.

Pode-se tentar temperar por três vezes sem necessidade de


normalização. Se após a terceira tentativa a têmpera não der
certo, o cuteleiro deverá fazer três ciclos de normalização na
forja, ou apenas um no forno de temperatura controlada, podendo,
após isso tentar novamente a têmpera por mais três vezes.

Esta nova normalização após três tentativas de têmpera, tem


por objetivo corrigir os grãos internos do aço, para que após
temperada, a faca tenha o máximo de resistência mecânica e
retenção de fio.

Tratamento Térmico 43
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Se os grãos estiverem com aspecto de ferro fundido quebrado (muito grossos), o cuteleiro

Teste de Grão
deverá fazer novamente a normalização e tentar em seguida nova têmpera.

Conforme aquecemos um aço, ocorrem alterações em sua estrutura molecular, ou seja,


seus átomos se organizam de várias formas diferentes. Para que tenhamos o melhor
desempenho em termos de resistência mecânica e retenção de fio de uma lâmina,
buscamos uma organização molecular onde os grãos internos do aço fiquem bem finos.
Basicamente quatro situações podem comprometer essa estrutura molecular fina:

1. Excesso de temperatura na normalização (aquecimento acima da temperatura ideal)

2. Excesso de tempo permanência na temperatura ideal (muito tempo de aquecimento)

3. Excesso de temperatura na têmpera (aquecimento acima da temperatura ideal) Teste de grão: grãos crescidos (aspecto de ferro fundido) que necessitam novamente de normalização e têmpera.

4. Excesso de tempo de permanência na temperatura ideal (muito tempo de aquecimento)

O problema do cuteleiro reside justamente em aferir o tamanho dos grãos internos de suas
Caso o aspecto seja de aço rápido quebrado (muito fino, como uma broca quebrada) esta
lâminas que receberam tratamento térmico.
lâmina poderá ir para o revenimento, onde na usinagem de acabamento, o cuteleiro poderá
rápida e facilmente remodelar a ponta quebrada e prosseguir com a confecção da faca.
Mas a solução é simples, basta pegar a lâmina, imediatamente após a têmpera e antes
mesmo do revenimento e prendê-la numa morsa, cujos mordentes estejam protegidos por
couro, deixando cerca de 3 ou 4 milímetros da ponta acima da linha dos mordentes.

Com um martelo, bater lateralmente na ponta, que por estar extremamente dura, se
quebrará facilmente. Após isto basta analisar visualmente o aspecto interno da área
fraturada.

Este teste é absolutamente indispensável para que se tenha o máximo de performance em


termos de resistência mecânica e retenção de fio.

Teste de grão: grãos pequenos (aspecto de aço rápido). Aspecto do aço rápido quebrado (brocas) Grãos finos.
Tratamento Térmico correto.

Obs.: O cuteleiro quebrou uma ponta muito grande desnecessariamente.

Tratamento Térmico 45
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Aparência de "pele de sapo" em lâmina de aço "queimado".

3.6. Revenimento

OBSERVAÇÃO: em inglês, “tempering” é o que chamamos de revenimento.

Fenômeno da Pele de Sapo


O protocolo (temperatura/tempo/ciclos) de aplicação do revenimento em uma
Todos os tipos de aços possuem uma faixa de temperatura máxima que pode ser trabalhado
lâmina, irá variar de acordo com o aço da qual a mesma foi construída, sendo que
nas mais variadas manobras de produção. Para os aços carbono que utilizamos na cutelaria,
cada aço terá sua faixa de temperatura, seu tempo de aquecimento e o número de
geralmente trabalhamos até 1100ºC, que na prática é a maior temperatura de trabalho,
ciclos específicos a ele aplicáveis.
utilizada na confecção do Aço Damasco no processo chamado Caldeamento, quando
fundimos as chapas de aço umas às outras mediante temperatura e pressão.
Cada aço, dentro de sua faixa de revenimento, apresentará coloração específica.
Por exemplo, o SAE5160 após revenido ficará da cor palha e o SAE52100
Acima dessa faixa de temperatura, especificamente dos 1200ºC acima, ocorre uma completa
apresentará a cor azul. A faixa de temperatura poderá variar sutilmente para o
destruição da estrutura molecular do aço, onde dizemos vulgarmente que o aço “queimou”.
mesmo aço, na hipótese de projetos diferentes de facas.
Esse fenômeno impede que o aço se reorganize molecularmente e que apresente suas
virtudes essenciais à uma excelente faca, como resistência mecânica e retenção de fio. Ou
seja, na prática, uma faca que teve seu aço queimado ficará quebradiça e necessitará muito
frequentemente de afiação para ser usada, o que obviamente a inviabiliza como uma faca
custom. Essa destruição da estrutura molecular pode ser vista externamente, através de
grandes círculos que se formam na lateral da lâmina.

Isso por vezes gera dúvidas nos cuteleiros menos experientes, sobre a procedência ou não
de determinadas formações após o tratamento térmico. Para se ter certeza de que uma
lâmina teve seu aço queimado, basta lixá-la na lixadeira de cinta ou manualmente. Caso
haja a presença do pele de sapo, os círculos permanecerão visíveis nas laterais da lâmina,
mesmo após terem sido exaustivamente lixadas. Nesse caso, infelizmente não há nenhuma
manobra que nos permita resgatar esse aço e a lâmina deverá ser descartada, sem Resposta visual do aço ao revenimento.

qualquer possibilidade de reaproveitamento na cutelaria.


EXPLICAÇÃO: O revenimento do aço SAE 5160 é de apenas um ciclo com uma hora

Esse fenômeno pode ocorrer em qualquer etapa de tratamento térmico ou forjamento onde de duração, entre temperaturas de 180ºC e 210ºC.

houve um superaquecimento.

Tratamento Térmico 47
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Importante destacar que a maioria dos aços tem um parâmetro de revenimento,
entre uma temperatura mínima e uma máxima e que à critério do cuteleiro,
podem ser aplicadas de acordo com o objetivo final de cada projeto de faca. Como
explicado anteriormente as diferenças resultantes de dureza, serão sutis, mas
aferíveis.

Nas hipóteses de aços cujos revenimentos sejam aplicados em mais de um ciclo,


no intervalo destes, pode-se fazer o resfriamento das lâminas em temperatura
ambiente, ou resfriando-se em água, para depois retorná-las para o próximo ciclo.
Os ciclos visam evitar a formação de carbonetos, que comprometem a resistência
Revenimento em forno elétrico de cozinha.
mecânica do aço.

Por critério do Cuteleiro, para facas de trabalho mediante impacto, como por Resfriamento em água entre ciclos de revenimento.

exemplo, facas de campo e cutelos, pode-se fazer o revenimento na temperatura


de 210ºC, que por ser mais quente, resultará numa dureza final sutilmente menor
do fio da faca, o que proporcionará maior resistência mecânica, ideal para suportar
melhor os choques.

Em sentido contrário, uma faca de trabalho sem impacto, ou seja, que realizará
cortes deslizantes, como por exemplo uma faca de caça ou de cozinha, construída
com o mesmo aço SAE 5160, pode ser aplicado o revenimento de um ciclo, com
uma hora de duração na temperatura de 180ºC, que por ser menos quente,
resultará numa dureza final sutilmente maior, o que proporcionará maior retenção
de fio, sem prejuízo à integridade estrutural, pois estas não receberão choques nos
usos práticos a que se destinam.

Tratamento Térmico 49
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3.7. Destempera Seletiva
É o processo reverso à têmpera, baixando-se significativamente a dureza do
dorso de uma lâmina, afim de prover-lhe aumento de tenacidade. É feito após uma
têmpera full hard, onde a lâmina recebeu endurecimento completo e, de acordo
com o uso convencional dessa peça específica, se faça necessário um alto grau
de resistência mecânica, como por exemplo uma chopper (faca especialmente
desenhada para se cortar madeira), uma camp knife (faca de campo, destinada
Tabelas de Tratamento Térmico
aos mais variados trabalhos pesados), um cutelo (faca desenvolvida para cortar
ossos).

OBSERVAÇÃO: Nem todos os aços e ligas de aço damasco aqui mencionados, foram
É uma alternativa estratégica, epecialmente para facas de aço damasco, dos tipos utilizados por mim durante a minha carreira. Aqueles com os quais eu nunca
trabalhei, tiveram seus dados de tratamento térmico fornecidos gentilmente por
mencionados anteriormente, visto que apresentam uma resposta visual muito cuteleiros amigos, que querem colaborar com o crescimento e desenvolvimento
da Cutelaria Brasileira.
melhor quando tem seu damasco revelado após têmpera full hard.
Conforme pode-se notar, os dados das tabelas de composição química dos aços,
variam dentro de um parâmetro mínimo/máximo de cada componente químico, de
acordo com o fabricante.
Deve-se mergulhar cerca de um centímetro de fio na água (de uma bandeja, por
exemplo) e aquecer o dorso com um maçarico, que pode ser de qualquer tipo. Também é importante se considerar a aferição da temperatura dos fornos a serem
usados nos tratamentos térmicos, bem como a habilidade técnica dos cuteleiros
O aquecimento do dorso fará baixar significativamente a dureza, aumentando a que façam seus tratamentos térmicos nas forjas, de atingirem com precisão as
faixas corretas de temperatura.
tenacidade.
Todos esses fatores podem gerar sutis diferenças de resultado nas diversas
etapas de tratamento térmico e obviamente de desempenho final da faca. Desta
forma, os valores aqui expostos devem servir como referência, não devendo-se
dispensar testes de desempenho de corte e de quebra de ponta das lâminas para
aferição do tamanho dos grãos do aço.

Aprenda a fazer a Aprenda mais sobre têmpera


destempera seletiva e desempenamento

IMPORTANTE: Para facas de teste de performance nos moldes da American


Bladesmith Society, a destempera seletiva não proporciona a dobra da faca.
Embora ela aumente significativamente a resistência mecânica, suficiente para
qualquer uso convencional de faca, não resiste à dobra, pois a austenitização do
dorso reduz drasticamente a tenacidade, rompendo-se caso seja dobrada.

Tratamento Térmico 51
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Tratamento Térmico dos Aços Carbono

Tratamento Térmico 53
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Tratamento Térmico dos Aços Ferramenta

Tratamento Térmico 55
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Tratamento Térmico dos Aços Inoxidáveis

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Tratamento Térmico dos Aços Damasco

Tratamento Térmico

OBSERVAÇÃO: As tabelas de composição química das ligas de damasco irão variar de acordo com a
composição de cada aço utilizado e suas respectivas percentagens utilizadas.
57
Eu já tive o prazer de formar milhares de
nobres cuteleiros, e agora eu quero ter o
prazer de formar você um Nobre Cuteleiro TRATAMENTO TÉRMICO
PARA CUTELARIA
pelo Instituto Berardo de Cutelaria!

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