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CENTRO UNIVERSITÁRIO RITTER DOS REIS – UNIRITTER

LAUREATE INTERNATIONAL UNIVERSITIES

FACULDADE DE ADMINISTRAÇÃO

METODOLOGIA CIENTÍFICA

A relação entre o uso das redes sociais na internet durante o expediente de


trabalho nos setores administrativos.

Gabriel Moraes Ernst


Porto Alegre, Dezembro de 2014.

1 INTRODUÇÃO

O homem é um animal social (Aristóteles, III a.C). Somos naturalmente carentes


e necessitamos de coisas e pessoas para alcançarmos nossa plenitude. Através dessa
necessidade de se conviver em sociedade surge a vontade de se expressar, de se
comunicar. Seja por gestos e grunhidos, pintura rupestre, escrita e fala a comunicação
evoluiu, mas sempre necessitou da pessoalidade. Apenas no ano de 1844, através do
advento do telégrafo, foi possível transmitir informação entre duas pessoas em
localidades diferentes. Deu-se início a maior das revoluções: a da comunicação. Do
telégrafo ao telefone e ao telex, do fax e do computador ao satélite, da internet à fibra
ótica, o desenvolvimento das telecomunicações participou vigorosamente do jogo entre
a separação física ou material das atividades.

A Internet, como ferramenta de comunicação central deste estudo, surgiu na


Guerra Fria através de uma rede militar idealizada com intuito de resistir a um conflito
nuclear mundial. De lá pra cá passou por inúmeras revoluções até ser disseminada ao
usuário comum, com acesso na sua residência e aberto às novas possibilidades que ali
surgiam, num ambiente ainda pouco explorado.

A partir de meados da década de 1990, com o avanço na infraestrutura dos


recursos de comunicação, maior facilidade de acesso e popularização deste meio surge
inúmeras novidades no conceito de comunicação interpessoal pela rede. E-mail, salas de
bate-papo, messengers por textos, por voz e vídeo são exemplos da gama de ferramentas
expoentes desta fase da Era Digital.

Apesar de já existirem menores anteriormente, foi apenas a partir da criação do


Facebook, em 2004, que as redes sociais passaram a cair no gosto popular e a dar início
a uma nova forma de apresentação online através de perfis pessoais, concomitantemente
com a revolução e uma nova abordagem da internet chamada Web 2.0, afirma
BARROS (2013).

Para RECUERO (2009), sites de redes sociais propriamente ditos são aqueles
que compreendem a categoria dos sistemas focados em expor e publicar as redes sociais
dos atores. São sites cujo foco principal está na exposição pública das redes conectadas
aos atores, ou seja, cuja finalidade está relacionada à publicação dessas redes.

De acordo com CAMPI (2014), estima-se que até o final do ano de 2014 o
mundo terá cerca de três bilhões de usuários da rede mundial de computadores, e,
segundo ROCHA (2013), 72% estarão ativos em mídias sociais. Só no Brasil são
140.000.000 de acessos à internet, com 78% acessando algum tipo de rede social.
Dentre as redes mais utilizadas no Brasil, podemos citar o Facebook (68,62%), Youtube

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(21,22%) e o Twitter (1,63%), afirma NOGUEIRA (2014). A consultoria comScore fez,
em 2013, uma pesquisa que revela que os brasileiros gastam mais tempo no Facebook
do que o período que mexicanos e argentinos passam navegando na internet por dia.

Com a crescente venda de aparelhos eletrônicos e banda larga no país, outros


dados também são relevantes: conforme ROCHA (2013), desde 2010 o acesso à internet
por smartphones e tablets cresceu 43%, além de que 25% dos usuários de internet usam
o smartphone como seu principal ponto de acesso. Recentemente, um aplicativo de
celular chamado WhatsApp vem ocupando espaço como um meio de comunicação
eficaz e com baixíssimo custo. Atualmente, há cerca de 430 milhões de usuários ativos e
a troca de mensagens através dele já ultrapassa a de SMS enviados diariamente no
mundo, afirma Jan Koum, CEO do aplicativo.

O uso destas ferramentas não se dá apenas em horários de lazer, mas se estende


durante a atividade laboral. Uma pesquisa realizada pela empresa ROBERT HALF
(2013) com 2100 CFOs constatou que mais de 30% afirmam que o principal motivo
para a distração de seus colaboradores é a utilização da internet para fins pessoais,
incluindo redes sociais. Já no Brasil, outro estudo feito por HIRSH (2014), aponta que
70% das pessoas afirmam conseguirem harmonizar o tempo de navegação nas redes
sociais e as atividades profissionais, mas 71% deles acreditam que, quando seus colegas
fazem o mesmo, eles perdem a concentração e o rendimento. Apesar disso, 45%
reconhecem que as novas tecnologias atrapalham a concentração. No entanto, de acordo
com a pesquisa, o acesso no trabalho às redes sociais ou e-mail pessoal ainda é restrito
para 39% dos entrevistados, que navegam apenas em horários estipulados pela empresa.
Apenas para 32% dos entrevistados o acesso é liberado durante todo o expediente e,
para 28%, essa condição existe para apenas uma parte dos funcionários da empresa ao
qual trabalham.

Com a infinidade de estímulos que nos cercam e a quantidade de informação


disponível facilmente o termo multitarefa vem sendo utilizado com frequência. Segundo
KIRSCHNER e KARPINSKI (2010) multitarefa seria a execução/processamento
simultâneo de duas ou mais atividades. Esclarecem aqueles professores que na verdade
o Ser Humano não tem a capacidade de ser multitarefa. Diante disso KIRSCHNER,
SWELLER E CLARK (2006) argumentam que o fenômeno que se verifica é na melhor
das hipóteses uma capacidade de mudar rapidamente de uma atividade para outra. Em
se tratando de habilidades em paralelo às atividades que os seres humanos estão aptos a
desenvolver estão apenas aquelas exercidas pelo sistema parassintético que controla, por
exemplo, a respiração, a digestão entre outras.

MACKNIK (2011) cita OPHIRA et al. (2009), que diz que “os adeptos crônicos
da multitarefa ‘são tarados pela irrelevância’, porque ‘tudo os distrai’. Sem muito
autocontrole, eles são incapazes de ignorar estímulos, mas, por outro lado, também não
conseguem se lembrar delas tão bem quanto os mais focados”.

Um estudo feito por FOERDE et al. (2006), da Universidade da Califórnia, com


100 estudantes universitários publicado na Proceedings of the National Academy of
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Sciences afirma que pessoas que fazem multitarefas têm problemas para focar sua
atenção e organizar informações, além de realizarem todas as tarefas intelectualmente
de maneira inferior. Ainda segundo Karin Foerde, quando o indivíduo está distraído ele
usa uma parte do cérebro chamada “corpo estriado”, área ligada ao aprendizado de
novas tarefas, porém quando este está concentrado em alguma coisa, a área usada é o
“hipocampo”, uma região ligada a “armazenagem e recuperação de informações”, por
isso, em muitos casos, embora tenha feito diversas coisas durante o dia o indivíduo
acaba percebendo que não lembra quase nada.

STRAYER, DREWS e CROUCH (2006) compararam o desempenho ao volante


daqueles que falam em seu telefone celular com o de motoristas embriagados. Em um
ambiente controlado de laboratório, os resultados mostraram que quando os motoristas
estavam se comunicando em um telefone celular, as reações de frenagem foram
retardadas, e isso acarretava mais acidentes de trânsito em comparação quando não
estavam conversando ao telefone celular. Motoristas bêbados se comportaram de forma
semelhante, embora demonstrem um estilo de condução mais agressiva.

As produções acadêmicas referentes aos benefícios ou malefícios do uso das


redes sociais durante o expediente de trabalho constantemente se contrapõe nas suas
conclusões. Um estudo publicado por COKER (2011), da Universidade de Melbourne
na Austrália, afirma que trabalhadores que acessam redes sociais no trabalho são mais
produtivos do que aqueles que não acessam esses sites. Segundo o estudo, trabalhadores
que passam até 20% do seu tempo no trabalho usando redes sociais são, em média, 9%
mais produtivos do que os que não acessam nenhuma delas. Ainda segundo o estudo,
isso seria explicado pela melhoria na capacidade de concentração dos trabalhadores
quando pausam suas atividades para “refrescar a cabeça” em atividades de lazer.

Em contrapartida, uma pesquisa desenvolvida em 2014 pela Deep


(Desenvolvimento e Envolvimento Estratégico de Pessoas e Clientes) apontou que os
trabalhadores gastam, em média até 1h16m diariamente com questões que envolvem o
acesso às redes sociais. Quando somado, isso significa que um profissional com carga
de trabalho de oito horas diárias gasta três dias ao mês utilizando os serviços.

Nos setores administrativos das empresas o uso do computador como ferramenta


de trabalho está intrinsicamente ligado às funções exercidas por estes profissionais,
dando abertura a indagações referentes ao uso das redes sociais por estes durante o
expediente de trabalho. Partindo deste pressuposto, proponho a seguinte problemática
para a pesquisa: Qual a influência do uso das redes sociais no exercício do trabalho, os
fatores e situações preponderantes que levam ao seu uso e sua relação com o
desempenho de sua atividade?

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2.1. OBJETIVO GERAL

Identificar os impactos no desempenho laboral dos trabalhadores que fazem uso


de ordem pessoal das redes sociais durante o expediente de trabalho em setores
administrativos.

2.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS

-Identificar a necessidade humana de interação pessoal por meio de redes


sociais.

- Investigar os fatores ambientais que levam o trabalhador a recorrer ao uso das


redes sociais durante seu expediente de trabalho.

- Comparar desempenhos de trabalhadores que fazem uso das redes sociais para
motivos particulares durante o trabalho com os que não fazem.

3. JUSTICATIVA

Redes sociais digitais criam tendências comportamentais, e o uso deliberado e


de fácil acesso a qualquer momento reflete também no ambiente organizacional,
demonstrando serem capazes de interferirem no desempenho do profissional que faz o
uso delas para motivos pessoais, motivos estes que fogem dos interesses da
organização.

Diante do exposto, torna-se necessário discutir como as organizações e todos


os envolvidos desempenham esse papel, analisando a influência das redes sociais no
comportamento das pessoas.

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4. REFERENCIAL TEÓRICO

4.1. Redes Sociais

Uma necessidade é a manifestação natural da sensibilidade interna que


desperta uma tendência a realizar um ato ou a procurar determinada categoria de
pessoas ou objetos (MASLOW,1954).

A busca da satisfação das necessidades é o que leva à produção dos meios


para satisfazê-las. Quando as necessidades básicas são satisfeitas, a ação de satisfazê-
las e o instrumento de satisfação já adquirido conduzem a novas necessidades, e para
a produção de novas necessidades geram-se redes sociais (MARX, 1979).

Uma rede social é uma estrutura social composta por pessoas ou


organizações, conectadas por um ou vários tipos de relações, que partilham valores e
objetivos comuns. Uma das características fundamentais na definição das redes é a
sua abertura e porosidade, possibilitando relacionamentos horizontais e não
hierárquicos entre os participantes. As redes “não são, portanto, apenas outra forma
de estrutura, mas quase uma não estrutura, no sentido de que parte de sua força está
na habilidade de se fazer e desfazer rapidamente”(DUARTE e FREI, 2008).

RIBAS E ZIVIANI (2008) mencionam que as redes sociais, tanto individuais


como organizacionais, surgem por meio de processos políticos e culturais que
denotam um valor conjunto de inovações originadas da necessidade de resolver
conflitos atuais correspondentes aos objetivos compartilhados.

Neste contexto os indivíduos têm em si a necessidade de


relacionamento e aceitação por um grupo ou sociedade, mas nem sempre conseguem
suprir totalmente esta necessidade em um ambiente real. Assim sendo, entra a
internet e sua famosa ferramenta denominada “rede social digital”.

A inserção das redes sociais no campo da tecnologia da informação gerou


mudanças importantes para a sociedade, disponibilizando um amplo centro de
conhecimento e informação com um alcance jamais visto anteriormente (GOOSEEN,
2009).

As redes sociais estão cada vez mais inseridas na vida das pessoas. O
ser humano possui a necessidade de interagir com outros indivíduos, compartilhar
preferências, informações, ideias, criar afinidades, apresentando assim interesses em
comuns. Contudo, ao se falar em redes sociais online, as chamadas redes sociais
digitais têm crescido constantemente, conquistando adeptos de todas as áreas
geográficas, idades, classes sociais.

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Com a evolução das redes sociais, o tempo necessário para transmitir
informações e comunicar-se reduziu consideravelmente. Atualmente é possível
se conectar através de diferentes plataformas: via computador, celular, tabletes, etc.
São tantas as possibilidades e meios de se manter conectado, que o número de
usuários destas ferramentas não para de crescer.

Muitas empresas necessitam utilizar redes sociais como ferramenta de


trabalho, para divulgar um produto ou simplesmente estar mais próximo de seus
clientes, porém, em algumas organizações esta ferramenta não se faz necessária, pois
não faz parte do processo produtivo do funcionário, que possui uma rede social
apenas como entretenimento (GOOSEEN, 2009).

Segundo ANDREASSEN (2014), o perfil de quem mais usa as redes sociais


para fins pessoais durante o expediente são homens, jovens e com Ensino Superior. A
personalidade deles é marcada pela extroversão e pelo baixo medo. Além disso, são
pessoas que não se sentem desafiadas ou exigidas no emprego.

Nestes casos é necessário que funcionários e empregadores usem de ética do


trabalho para solucionar tal questão, equilibrando a necessidade do funcionário com
produtividade e responsabilidade na organização.

Segundo VECCHIO (2008), a ética do trabalho engloba um conjunto de


crenças, incluindo a da dignidade de todo trabalho, do desprezo pela indolência e
pela autoindulgência e a de que a dedicação ao trabalho será recompensada.

Para tanto, se faz necessário conciliar necessidade de comunicação e


entretenimento com responsabilidade e compromisso com a organização.

5. METODOLOGIA

O método utilizado foi pesquisa descritiva, que tem por objetivo descrever as
características de grupos como consumidores, organizações, bem como estimar o
percentual de uma unidade em uma população específica que apresenta um
determinado comportamento (MALHOTRA, 2004).

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2.3. REFERÊNCIAS

ANDREASSEN, C. S. Predictors of Use of Social Network Sites at Work - A Specific


Type of Cyberloafing. Journal of Computer-Mediated Communication, 2014.

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