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Jumentinho Na Avenida PDF
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Agraphai!!!
UM
UM8NTINH0
NR RV8NI0A
DA I G R E J A E AS C I D A D E S ]
MARCOS MONTEIRO
0 jumentinho caminha pela avenida
sonhando em provocara mesma comoção
que um companheiro seu causou dois mil
anos atras, na cidade de Jerusalém tm
meio ao barulho, ele vai ruminando suas
limitações pessoais e arrastando uma
carroça (chamada igreja) cheia de objetos
velhos e móveis usados.
UM
JUM ENTINHO
NA A V EN ID A
[A MISSÃO DA IGREJA E AS CIDA DES ]
Editora Ultimato
Viçosa, MG
UM JUMENTINHO NA AVENIDA
Categoria'. Igreja / Liderança / Missões
Inclui bibliografia
IS B N 9 7 8 -8 5 -7 7 7 9 -0 1 4 -2
1. Missão da igreja. 2. Religião e cultura. I. Título.
C D D . 2 2.ed. 266
http://agraphai.blogspot.com.br/
Prefácio 7
1. Um jum entinho na avenida 11
2. A missão integral da Igreja e a cultura 29
3. A dúvida entre "o que fazer" e "como fazer" 57
4. A cidade de Deus na cidade do homem 75
5. De profetas e de cantadores 95
5. A Igreja Evangélica e o Nordeste brasileiro 137
Notas 173
Bibliografia 179
PREFÁCIO
Carlos Queiroz
Pastor na Igreja de Cristo em Fortaleza
Diretor Nacional da Visão Mundial Brasil
Capítulo 1
UM JUMENTINHO
NA AVENIDA
Uma das questões que tanto o pastor como a Igreja que servem à
cidade precisam considerar é quanto ao estilo de vida. Se adotar
mos como postura teologicamente verdadeira que o Deus que
pregamos é o Deus dos pobres e que Jesus é o Messias dos po
bres, então a Igreja e, por conseguinte, seus pastores, devem existir
em função dos pobres. Constitui um escândalo o fato de a Igreja
não ser a festa dos pobres na celebração da salvação em Jesus
Cristo e na superação da pobreza, fruto de injustiça e opressão.
A imagem do pastor é representada pelo uso de paletó e gra
vata, vestes que indicam uma série de identificações e uma alie
nação teológica. Ao vestir o paletó (numa cidade quente como
Maceió), o pastor está adotando um estilo de roupa estrangeira,
que o identifica com uma cultura estranha. Trata-se também de
uma roupa cara, o que o identifica com a classe dominante, e
uma roupa distintiva, o que o identifica com uma teologia
clerical.
Esse costume é tão arraigado em nossas igrejas que muitas
são duramente criticadas por seus pastores deixarem de usar
paletó e gravata. Porém a quebra desse símbolo constitui uma
UM JUMENTINHO NA AVENIDA
A MISSÃO INTEGRAL
DA IGREJA E A CULTURA
O que é cultura?
Costumes e costumes
A Igreja
Base bíblico-teológica
Jesus Cristo
O modelo de contexrualização da Igreja é a encarnação de Jesus
Cristo (Jo 1.1-14). “Ele habitou entre nós” (Jo 1.14; literalmen
te, ele “tabernaculou” ou “montou sua tenda”): essa expressão
bíblica aponta ao mesmo tempo para a transcendência de Jesus
Cristo e para a sua plena participação na história dos homens.
Esse “encontro cultural” é a plena revelação de Deus e a plena
revelação do homem em sua dimensão histórico-social.
Examinaremos a seguir rapidamente alguns aspectos do
comportamento de Jesus Cristo relevantes para a Igreja de
nosso tempo.
Teologia e cultura
Para compreender a revelação, a teologia precisa recorrer aos
elementos (símbolos e sinais) culturais carregados de significado
próprio, que entram num processo de interação com o dado
revelado. Como não há revelação fora da cultura, o que ocorre
de fato é o intercâmbio cultural no sentido de significado, que
contribui para o enriquecimento da própria revelação. Tendo em
vista que nenhuma cultura em particular esgota o conteúdo da
revelação, a teologia permanece sempre aberta a novas épocas e
culturas.
A MISSÃO INTEGRAL DA IGREJA E A CULTURA
A questão da linguagem
Cultura e contextualização
chão e “prová” do nosso pirão... Sei não, seu “pastô”, eu num sou
de dizer essas coisa, não... Mas com esse seu jeito “manero”, o
senhor “botava” muita gente lá da roça nas “lei”...
As outras sugestões seguiram o mesmo esquema: para enten
der o povo ele devia descobrir o que o povo assiste, o que o povo
faz, como se diverte, e participar (dentro do possível) de suas
atividades para perceber o seu mundo e multiplicar os contatos
pessoais, através de um diálogo franco e honesto.
Por fim, perguntei o que eles achavam que deveria mudar na
Igreja para que ela se tornasse mais significativa para o povo do
bairro. Hermenegildo foi o primeiro a responder:
— É, pastor, eu acho que a Igreja tem que mudar... Mas com
cuidado... Com muito cuidado! Tem igreja por aí que mudou
tanto que Jesus nem entra mais nela, e tem outras tão severas
que nem Jesus eles deixam entrar... Aliás, pastor, eu acho que
não é a igreja que muda, quem muda é o Espírito; se ele quiser.
A igreja só tem é de obedecer...
Teles, radical como sempre, falou em seguida:
— Tem que mudar tudo! Melhor ainda: acabar com tudo —
provocou mais uma vez — , se é pra continuar tem que mudar. A
começar pelo sermão (Teles vai à igreja de vez em quando). O
pastor fica lá, todo domingo, respondendo a perguntas que nin
guém faz e gritando coisas que não interessam a ninguém. M a
tando mosquito (perdoem a comparação) com tiro de canhão e
pescando piaba com arpão... Precisa mudar também a organiza
ção... Por que ninguém pode discordar de quem está falando lá
na frente, ou mesmo pedir algum esclarecimento? Pastor, com
todo o respeito, o senhor parece aquele sujeito que alugou a
verdade e agora tem medo de perder a concessão... Pra mim,
tem que mudar tudo!
— “Num” precisa “mudá” nada, não— falou diplomaticamente
Zé da Lua — , “tá” tudo muito “bão” do jeito que “tá”. Só tem umas
A MISSÃO INTEGRAL DA IGREJA E A CULTURA 51
A comunidade de Jerusalém
A comunidade que vemos surgir na cidade de Jerusalém, capital
da Judéia, situada na região da Palestina dominada pelo Império
Romano, é diferente de todas as outras. Surge a partir da
UM JUMENT1NH0 NA AVENIDA
O movimento franciscano
O movimento franciscano surgiu no início do século 13, marcado
pelo declínio do sistem a feudal, a partir da progressiva
radicalização do jovem Bernardone, filho de um rico comercian
te da cidade de Assis, na Itália. Esse jovem decidiu se tornar um
seguidor e imitador de Jesus Cristo, passando a viver na pobreza
e abrindo mão de seus bens em favor dos homens.
Logo outros começaram a imitá-lo, juntando-se a ele em um
casebre na Porciúncula. Francisco e seus seguidores renunciaram
a todo e qualquer bem; praticavam a humildade e o serviço em
solidariedade aos leprosos e aos mais pobres.
A opinião da cidade, no início, era unânime em apontá-los
como doidos, pois não entendia como seres humanos consegui
am viver em cabana tão pobre como era a deles na Porciúncula.
Aos poucos, porém, novas opiniões começaram a formar-se, es
pecialmente entre a gente mais humilde. Observaram com mui
ta atenção o trabalho daqueles estranhos homens, sempre ale
gres e pacíficos, desenvolvido em favor dos necessitados. Essa
atitude começou a ser encarada com simpatia pelo povo, direta
mente beneficiado por Francisco e seus companheiros nas mais
diversas tarefas, quer fosse cortar lenha, lavrar o campo, puxar
uma carroça ou podar uma árvore. N o momento preciso mãos
amigas e sinceras vinham em seu auxílio. E os frades nada faziam
por dinheiro. N o máximo aceitavam um pedaço de pão ou um
pouco de água.8
Em uma viagem a Roma, Francisco e seus companheiros con
seguiram obter o reconhecimento do papa para a sua ordem e
voltaram prestigiados. Logo surgiu uma segunda ordem, femi
nina, que recebeu o nome de Ordem das Irmãs Clarissas. Sua
fundadora foi Santa Clara que, impressionada com a atitude
de São Francisco, fez também votos de pobreza, castidade e
obediência.
70 UM JUMENTINHO NA AVENIDA
A CIDADE DE DEUS
/
NA CIDADE DO HOMEM
Os desafios de uma pastoral urbana
DE PROFETAS E
DE CANTADORES
Uma pastoral para o Nordeste
pós-moderno, urbano e globalizado
N a interpretação de Bonora,
o povo que se apinhava nos santuários procurava em Deus
a proteção para a nação, a prosperidade econômica, o bem-
estar material, a saúde. Deus tornava-se para eles um “meio”
para obter o que mais lhes aprazia. Mas Amós se insurge:
Deus não é um meio, mas o fim! O culto verdadeiro não é
instrumentalização de Deus.1
A IGREJA EVANGÉLICA E O
NORDESTE BRASILEIRO
Seja qual for o critério adotado pelas pesquisas — PIB, renda per
capita, número de famílias pobres ou indicadores sociais — o
Nordeste sempre aparece como a região mais pobre do Brasil.2
N a década de setenta, quando ainda se dividia o mundo em
três regiões econômicas, o economista Celso Furtado classificou
o Nordeste como pertencente ao Quarto Mundo, pela sua con
dição de extrema pobreza. Desde então, a situação só tem se
agravado. Mesmo na década de noventa, quando o Nordeste
manifestou um crescimento maior do que o Brasil considerado
em sua totalidade, a pobreza da região ainda assim aumentou,
resultado de um sistema de distribuição de renda perverso, ba
seado na exclusão.
Dez das cidades mais pobres do Brasil situam-se no Nordeste,
sendo sete delas no Estado de Alagoas. São José de Tapera, no
sertão das Alagoas, é considerado o município mais pobre do
país; sua mortalidade infantil é de 71,94 a cada mil nascimentos
e a taxa de analfabetismo de 36,28%. A título de comparação, a
taxa de mortalidade infantil do Brasil é de 35 por mil nascimen
tos (considerada alta) e a taxa de analfabetismo é de 15%.
De acordo com dados da Unicef (1999) 150 das cidades com
maior índice de desnutrição se encontram no Nordeste, sendo
que 33,66% das crianças com menos de cinco anos apresentam
sinais claros de desnutrição. Cerca de 30% da população de todo
o país se encontra no Nordeste, e ali se concentram 62% dos
pobres do país. Metade de sua população possui uma renda
familiar de meio salário mínimo.
Entretanto, ao lado desses altos índices de miséria social, o
Nordeste possui uma grande reserva de recursos minerais, como
jazidas de granito, pedras preciosas e semipreciosas. O Estado
A IGREJA EVANGÉLICA E 0 NORDESTE BRASILEIRO
Capítulo 1
1. BRANDÃO, Ignácio de Loyola. D e n te s a o so l. 2.ed. Rio de Janeiro:
CODECRI, 1980. p. 17.
2. CO X, Harvey. A c id a d e d o h o m e m . Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1968 p
12 .
3. LORENZ, Konrad. O s o ito p e c a d o s d o h o m e m civ iliza d o . São Paulo:
Brasiliense, 1988. p. 21.
4. Ibid. p. 22.
5. Ibid. p. 30.
6. SANTA ANA, Júlio d e. A Igreja e o d e sa fio d o s p o b re s. Petrópolis, RJ:
Vozes, 1980. p. 50.
7. CO X, Harvey, A c id a d e d o h o m e m . Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1968. p.
153.
Capítulo 2
1. Para o teólogo dissidente católico Hans Kung, a igreja perde a sua
identidade quando não se renova, mesmo quando muda
aparentemente: " A Igreja pode perder a alma, quando progressiva em
toda mudança permanece o que é, ou conservadora em toda a
imobilidade não se torna como deve ser. Pode-se pôr em risco a vida
mediante estafa, mediante movimentação sem descanso ou por meio de
supersaturação e repouso sem movimento" (KUNG, Hans. S e r cristão.
Rio de Janeiro: Imago, 1976. p. 23).
2. Citado em GRITTI, Jules. E xp re ssã o d e fé n a s c u ltu ra s h u m a n a s. Coleção
Crer e Compreender. São Paulo: Paulinas, 1978. p. 15.
3. Vide Anexo 2 - Definições de cultura.
4. Pacto de Lausanne, parágrafo 10, citado de O e v a n g e lh o e a cultura. Série
Lausanne 3, São Paulo/Belo Horizonte: ABU EditoraA/isão Mundial, 1983.
174 UM JU M E N TIN H O N A A V E N ID A
Capítulo 3
1. Este artigo foi extraído do Relatório da Consulta do Núcleo Nordeste da
FTL-B, realizada em Natal, RN nos dias 29 e 30 de maio de 1990. O tema
desta Consulta foi: "Teologia e Vida no Brasil - 0 Evangelho e a Questão
da Pobreza", sendo que esse artigo foi desenvolvido dentro do aspecto
missiológico-pastoral.
2. Um boletim informativo da entidade B re a d fo r th e W o rld (Pão para o
Mundo) relatava em agosto de 1982 que havia um bilhão de pessoas nos
países pobres com renda anual inferior a 50 dólares (SIDER, Ronald J.
C ristã o s rico s e m te m p o d e fo m e . São Leopoldo: Sinodal, 1984. p.20).
3. A primeira comunidade cristã em Jerusalém tentou resolver
concretamente a questão da pobreza dentro de suas estruturas. Por
isso, qualquer exegese que tente minimizar essa experiência, cheira a
defesa ideológica do capitalismo, além de ser flagrante desrespeito ao
tom de celebração de Lucas. No mínimo, a experiência de Jerusalém é
um convite para que cada comunidade cristã leve a sério o desafio da
pobreza e, dentro de sua realidade histórica, descubra formas de
superá-la (Cf. SIDER, Ronald J. C ristã o s ric o s e m te m p o d e fo m e . São
Leopoldo, RS: Sinodal, 1984. p. 102-103).
17 6 UM JU M E N TIN H O NA A V E N ID A
Capítulo 4
1. AGOSTINHO. A cid a d e d e D eus. São Paulo: Edameris, 1964. v. 2. p. 285.
2. MUMFORD, Lewis. A c id a d e na h istó ria : suas origens, transformações e
perspectivas. 4.ed. São Paulo: Martins Fontes, 1998. p. 16.
3. BARRO, Jorge H. A ç õ e s p a sto ra is da igreja c o m a cid a d e . Londrina:
Descoberta, 2000. p. 86.
NOTAS 177
Capítulo 5
1. BONORA, Antonio. A m ó s , o P ro fe ta da Ju stiça . São Paulo: Paulinas, 1983.
p. 41.
2. Ibid.
3. Ibid. p. 19.
4. Ibid. p. 8.
5. MUMFORD, Lewis. A c id a d e na histó ria: suas origens, transformações e
perspectivas. 4 ed. São Paulo: Martins Fontes, 1998.
6. Ibid. p. 63.
7. Ibid. p. 35.
8. Ibid. p. 43.
9. HOBSBAWM, EricJ. B a n d id o s. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1975.
p. 58.
10. CO X, Flarvey. A cid a d e d o h o m e m . Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1968.
p. 98.
11. Ibid. p. 99.
12. COMBLIN, José. V ive r na c id a d e : p ista s Para a p a sto ra l U rbana . São
Paulo: Paulus, 1996. p. 9.
13. LINTPIICUM, Robert C. C id a d e d e D e u s, C id a d e d e Sa ta n á s: Uma teologia
bíblica da igreja nos centros urbanos. Belo Horizonte, MG: Missão, 1993.
14. COMBLIN, José. Op cit. p. 11.
15. Ibid. p. 35.
16. AGOSTINHO. A c id a d e d e D e u s. V. II. São Paulo: Edameris, 1964. p. 285
17. ARISTÓTELES. A p o litica . São Paulo: Martins Fontes, 1998. p. 5.
18. CASTRO, Clóvis Pinto de. A c id a d e é m in h a p a ró q u ia . São Bernardo do
Campo, SP: Editeo, 1996. p. 81.
Capítulo 6
Visão Mundial
World Vision
Carlos Queiroz
D ire to r n a c io n a l d a V isã o M u n d ia l B ra sil
u Editora Ultimato