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Fotografe Melhor Ed 279 Dezembro 2019 PDF
Fotografe Melhor Ed 279 Dezembro 2019 PDF
Fotografia
de natureza
Sensualidade
Fotógrafa
cadeirante
Autorretratos
Fotojornalismo
Fotografia
de rua
Confira as lições sobre
uma área apaixonante
que consagrou o mestre
Henri Cartier-Bresson
Grandes fotógrafos da edição: Alexandre Urch coletivo Cia. da Hebe David Gibson Fabio Hashimoto
Guillermo Franco Gustavo Minas Julius Dadalti Maria Paula Vieira Melvin Quaresma Susan Meiselas
Ano 24
20
Julius Dadalti
Edição 279
Dezembro/2019
Foto de capa:
Alex Linch
6 Grande Angular
Notícias e novidades
36
Guillermo Franco
12 Revele-se
Fotos dos leitores em destaque
16 Câmeras Clássicas
20
A pioneira Yashica Electro 35
Natureza
Um fotógrafo apaixonado pela África
62
28 Profissional cadeirante
A determinação de Maria Paula Vieira
36 FOTO DE RUA
Fabio Hashimoto
62 Sensualidade
O estilo oriental de Fabio Hashimoto
Susan Meiselas
70 Fotojornalismo
As lições de Susan Meiselas
78 Retrato
Cia. da Hebe e seus autorretratos
84 Equipamento
Câmeras para todo momento
S
Roberto Araújo – MTb.10.766 – araujo@europanet.com.br
Sérgio Branco
air à rua para fotografar é sempre
REDAÇÃO
Diretor de Redação: Sérgio Branco (branco@europanet.com.br) um prazer, em qualquer cidade de
Editora de arte e capa: Izabel Donaire qualquer lugar do mundo. Quando
Editor convidado: Érico Elias viajamos e caminhamos por ruas que nunca
Colaboradores especiais: Diego Meneghetti e Livia Capeli
Colaboraram nesta edição: José de Almeida e Juan Esteves vimos antes, os olhos ficam mais aguçados.
Revisão de texto: Denise Camargo Tudo é novidade. E cenas incríveis podem
PUBLICIDADE surgir diante dos olhos, mas nem sempre
publicidade@europanet.com.br
é possível enquadrá-las no momento
São Paulo
Equipe de Publicidade: Angela Taddeo, Alessandro Donadio, certo, do jeito que imaginamos. Já perdi
Elisangela Xavier, Ligia Caetano, Renato Perón e Roberta Barricelli muitos desses “momentos decisivos” –
Outras Regiões conceito atribuído ao mestre Cartier-
Head de Publicidade Regional: Mauricio Dias (11) 98536 -1555
-Bresson, mas que ele nega solenemente
Bahia e Sergipe: Aura Bahia – (71) 3345-5600/9965-8133
Brasília: New Business – (61) 3326-0205 (leia na edição 240 de Fotografe a
Rio Grande do Sul: Semente Associados – (51) 8146-1010 “entrevista póstuma” que fiz com ele).
Santa Catarina: MC Representações – (48) 9983-2515
Outros estados: Mauricio Dias – (11) 3038-5093 Bresson, aliás, é a própria encarnação
Publicidade – EUA e Canadá: Global Media, +1 (650) 306-0880
da fotografia de rua, o eterno flâneur
ASSINATURAS E ATENDIMENTO AO LEITOR
Gerente: Fabiana Lopes (fabiana@europanet.com.br)
quase invisível com sua Leica a espreitar
Coordenadora: Tamar Biffi (tamar@europanet.com.br) os distraídos pela cidade. Como ele, são muitos os fotógrafos que passaram
Equipe: Josi Montanari, Camila Brogio, Regiane Rocha,
Gabriela Silva e Bia Moreira
a vida com os olhos no dia a dia urbano, alguns no total anonimato até
ATENDIMENTO LIVRARIAS E BANCAS – (11) 3038-5100
que suas obras fossem descobertas, caso da babá americana Vivian Maier,
Equipe: Paula Hanne (paula@europanet.com.br) exploradora das vias de Chicago com uma Rolleiflex a tiracolo (leia a incrível
EUROPA DIGITAL (www.europanet.com.br) história dela na edição 216 de Fotografe).
Gerente: Marco Clivati (marco.clivati@europanet.com.br)
Equipe: Anderson Ribeiro, Anderson Cleiton, Adriano Severo,
Mesmo quando não saímos às ruas para fotografar, muitas vezes a imagem
Fábio Molliet e Karine Ferreira se apresenta diante do olhar pedindo para ser registrada. Em outros tempos,
PRODUÇÃO, EVENTOS E MARKETING só me restava lamentar: “caramba, se tivesse com a câmera agora...”. Hoje, basta
Gerente: Aida Lima (aida@europanet.com.br)
Arte: Jeff Silva
sacar o smartphone do bolso e ter agilidade para que nenhuma cena seja perdida.
Equipe: Beth Macedo (produção) e Laura Araújo (arte) Essa é, na minha visão, a maior vantagem do aparelho: estar sempre disponível
DISTRIBUIÇÃO E LOGÍSTICA
para que o momento não seja perdido.
Coordenação: Henrique Guerche Aconteceu não faz muito tempo comigo passando pelas ruas do Brás, bairro
de comércio forte na cidade de São Paulo. De repente, ao virar uma esquina,
(henrique.moreira@europanet.com.br)
Equipe: Gabriel Silva e Edvaldo Santos
ADMINISTRAÇÃO
deparei-me com um carregamento enorme de manequins de loja (foto acima).
Gerente: Renata Kurosaki Não fosse o smartphone, a cena estaria apenas na memória, pois justamente
naquele dia a minha mochila não estava no carro – nela carrego sempre a
Equipe: Paula Orlandini e Gabriel Tadeu
compacta Canon G1X, minha companheira de (quase) todos os dias desde 2013.
DESENVOLVIMENTO DE PESSOAL
Tânia Roriz e Elisangela Harumi
Rua Alvarenga, 1.416 – São Paulo/SP, CEP: 05509-003
A matéria de capa desta edição, escrita pelo
Telefone: 0800-8888-508 (ligação gratuita) e jornalista Érico Elias, reúne quatro especialistas no que
os gringos chamam de street photography. Confira os
(11) 3038-5050 (cidade de São Paulo)
Pela Internet: www.europanet.com.br
E-mail: atendimento@europanet.com.br que eles têm a dizer sobre esta que é uma das mais
A Revista Fotografe Melhor é uma publicação da Editora Europa Ltda deliciosas áreas da fotografia. Boa leitura.
(ISSN 1413-7232). A Editora Europa não se responsabiliza pelo
conteúdo dos anúncios de terceiros.
DISTRIBUIDOR EXCLUSIVO PARA O BRASIL
Total Publicações
Juan Esteves
Sarah Skinner
Comédia da vida selvagem
A imagem vencedora,
de Sarah Skinner,
mostra brincadeira
de um filhote com
um leão adulto em
A fotógrafa britânica Sarah
Skinner foi a grande
vencedora do Comedy Wildlife
Photography Awards 2019, concurso
voltado a fotografias engraçadas de vida
ganhou o prêmio Criaturas da Terra.
Já o prêmio do público foi para o
americano Harry Walker, por foto que
flagra uma lontra levemente confusa,
realizada no Alasca e intitulada “Oh My”.
Botsuana, África
selvagem. A imagem vencedora foi feita A imagem também ganhou o prêmio
em Botsuana e é intitulada “Agarre a vida Olympus Criaturas Aquáticas, provando ser
pelo ...!”. Mostra o momento em que um igualmente uma das favoritas do júri.
filhote e um leão adulto estão brincando, Entre as outras imagens vencedoras
deixando em suspense o que aconteceu está a do croata Vlado Pirsa, intitulada
depois – a imagem de Sarah também ‘Desacordo em Família’, feita na Croácia Harry Walker
Imagem de lontra
desajeitada que deu a
Harry Walker os prêmios
do público e Olympus
Criaturas Aquáticas
Relação amorosa
de esquilos na África
do Sul, em série
de Elaine Kruer,
Vlado Pirsa
vencedora do
prêmio Portfólio
Fotos: Elaine Kruer
e que retrata dois pássaros que Outros 11 fotógrafos tiveram Galitz e Txema Garcia Laseca.
parecem discutir, a melhor na imagens consideradas como O Comedy Wildlife Photography
categoria Criaturas do Ar. A fotógrafa altamente recomendadas: Tilakra Awards 2019 recebeu cerca de 4 mil
Elaine Kruer foi vencedora do prêmio Nagaraj, Corey Seeman, Geert inscrições de 68 países. O concurso
Portfólio, por conjunto de quatro Weggen, Tom Mangelsen, Mike é global, online e gratuito. Tem
imagens que retratam a relação Rowe, Alastair Marsh, Martina como principal meta fomentar a
amorosa de esquilos na África do Sul. Gebert, Eric Keller, Elmar Weiss, Roie conservação da vida selvagem.
Divulgação
os integrantes vestiam
suéteres pretos, o
fotógrafo optou por fazer
Retrato de Robert
O fotógrafo britânico Robert Freeman, a captura com filme P&B. A luz lateral Freeman, que
conhecido como fotógrafo dos Beatles, criou sombras nos rostos, gerando uma morreu aos 82 anos
morreu aos 82 anos de idade em 7 de sensação sombria. A imagem ganhou
novembro de 2019. A história de sua o mundo junto com os Beatles. Depois
relação com a banda remonta o ano disso, Freeman trabalhou intensamente
de 1963, quando o grupo começava com a banda até 1965, gerando novas
a despontar. Freeman fez às pressas capas marcantes para os álbuns A Hard
a imagem de capa para o LP With the Day’s Night, Beatles for Sale, Help! e
Beatles, lançado no mesmo ano. Feita Rubber Soul.
FUJI APRESENTA A
MIRRORLESS X-PRO3
A Fujifilm lançou a X-Pro3,
mirrorless com sensor CMOS de
26 megapixels dotada de um Modelo
visor híbrido, óptico e eletrônico, mantém o
visual retrô
projetado para funcionar como e tem corpo
um visor de telêmetro. O modelo vedado
tem corpo vedado contra contra
intempéries e está montado intempéries
sobre base de titânio.
Na parte traseira, a X-Pro3
conta com um monitor empresa, como Provia e Superia. valor de US$ 1.800 no mercado
basculante de 3 polegadas O modelo oferece também dos EUA, enquanto na versão
que, quando fechado, exibe as captura de vídeo em resolução DR, com acabamento resistente
regulagens e o tipo de “filme” 4k 30p, traz conexões Wi-Fi a arranhões, está disponível nas
selecionados – já que existem os e Bluetooth e está disponível cores preta e prata e custa US$
modos de captura baseados em em duas versões. Na versão 2.000. Não há previsão ainda de
filmes clássicos produzidos pela tradicional preta, chega com o venda no Brasil.
Fotos: Divulgação
podem substituir a óptica atual dos
módulo da câmera é montado em ultrafina
smartphones, permitindo que os desenvolvida
base com três eixos, permitindo
fabricantes tenham um conjunto de nos EUA
grande mobilidade. A DJI garante
câmera e lentes ainda menores.
que o Mavic Mini oferecerá até 30
Comparado com os elementos
minutos de tempo de voo para o
milimétricos no interior do a luz em um sensor de imagem no
modelo, que conta com Wi-Fi e GPS
novo sistema de câmera tripla mesmo grau das lentes tradicionais
com alcance máximo de 4 km em
do iPhone 11 Pro, o professor maiores e mais grossas. “Você pode
áreas abertas.
Rajesh Menon diz que a lente pensar na microestrutura como
O Mavic Mini chega ao mercado
desenvolvida na universidade é pixels muito pequenos de uma
dos EUA custando US$ 400, apenas
“20 vezes mais fina que o cabelo lente”, explica o professor. A equipe
o drone, e US$ 500, quando
humano, mas o desempenho teve que desenvolver um processo
acompanhado dos acessórios e
pode ser tão bom quanto o das de fabricação com um novo tipo
de duas baterias sobressalentes.
lentes convencionais”. Menon e de polímero e algoritmos que
o restante da equipe chegaram à pudessem calcular a geometria das
nova lente usando microestruturas. microestruturas para que focalizassem
Em vez de um grande a luz adequadamente. O resultado
elemento curvo, há milhares de é uma lente que pode ser feita de
microestruturas que, juntas, focam plástico para reduzir os custos.
10
REVELE-SE
Vermelho teatral
C
om a câmera no tripé, Théo Bortolin se posicionou
lateralmente ao Theatro Municipal de São Paulo,
um cartão-postal da cidade difícil de fotografar
devido ao grande movimento nos arredores da Praça Ramos √ Autor: Théo Bortolin
de Azevedo. Contudo, Théo conseguiu uma imagem criativa, √ Cidade: São Paulo (SP)
ajustando baixa velocidade para captar o rastro luminoso na √ Câmera: Canon EOS 5D Mark III
passagem de um ônibus. Depois, no Photoshop, converteu a √ Objetiva: Canon 50 mm
foto para P&B e deixou apenas os tons de vermelho. √ Exposição: f/6.3, 1,3s e ISO 125
Yashica Electro 35
Pioneira da era
eletrônica
A Electro 35 vinha
acompanhada da
E m 1966, época em que a
Yashica lançou a Electro 35, não
havia computadores pessoais,
muito menos chips. Mas os japoneses já
ensaiavam alguns passos em direção ao
obturador. Em pouco tempo, ela se tornou
a melhor opção entre as câmeras voltadas
para iniciantes em fotografia, superior a
modelos parecidos da Canon. Atraente
por fora e excelente por dentro, ela tem o
lente fixa Yashinon
45 mm f/1.7 sistema computadorizado mérito de ser aclamada como a “mãe” das
ao equipar a câmera com modernas câmeras eletrônicas.
um “cérebro eletrônico”, Na Electro 35, a Yashica usou um
como eram chamados circuito integrado com transistores
os circuitos inteligentes encapsulados com silicone, muito
que controlavam a avançado para a época. Tão moderno
exposição automática que a câmera vinha com uma plaqueta
e o funcionamento do ornamentada com o desenho
esquemático de um átomo, uma
referência à avançada tecnologia nuclear,
em voga naquele período. O obturador
eletrônico permitia o disparo prolongado
de até 30 segundos, recurso que não
existia nas câmeras mecânicas.
Ela oferecia apenas a exposição
automática com prioridade de abertura,
recurso semelhante ao das câmeras atuais.
Um kit atraente
Um grande apelo de
consumo da Yashica era um kit
Selecionando-se uma abertura e com correção de paralaxe; a de filtros e lentes conversoras
de diafragma (na objetiva), a regulagem de sensibilidade IS0 (ASA feitos especialmente para
Electro ajustava automaticamente na época) de 25 a 1.000 (no modelo a Electro 35 G. Apesar de
significar pouco em termos de
a velocidade (que não podia ser GT). Isso sem contar a excelente
desempenho, a aquisição do kit
ajustada manualmente). Para orientar objetiva Yashinon DX de 45 mm era quase obrigatória, pois dava
o fotógrafo, o anel do diafragma f/1.7, com qualidade e luminosidade à câmera um porte de câmera
contava com os indicadores sol (f/11), pouco usual em câmeras básicas. reflex. Vinha com um jogo de
nuvem (f/4) e janela (f/1.7). Para ligar A Electro 35 também inovou no lentes conversoras tele e grande
a câmera e o fotômetro bastava tamanho e no design: era grande, angular, filtros azul e amarelo,
avançar o filme. Para não complicar com porte de câmera SLR, e o para-sol de borracha com anel
a vida do fotógrafo, na Electro visual era muito refinado, previsto de metal, um pequeno tripé de
35 não tinha regulagem manual para oferecer uma boa ergonomia mesa, cabo propulsor e uma
de velocidade. Mas era possível e facilitar os ajustes. Havia duas maleta para guardar tudo e com
espaço para a câmera. As lentes
acessar o modo “B” para exposição grandes “janelas” retangulares
conversoras, rosqueadas sobre
prolongada e flash (1/30s). na parte dianteira: uma para o a lente normal, tinham eficiência
visor com o telêmetro conjugado limitada: a de “teleobjetiva”
A FOTOGRAFIA EM e a outra para a pequena célula aumentava a distância focal de
QUATRO PASSOS fotoelétrica. O acabamento era 45 mm para 58,4 mm e a “grande
A receita vigente no começo dos de primeira, a ponto de se notar angular” diminuía para 37,7 mm.
anos 1960 para as melhores câmeras
era ter visor óptico direto e foco por
telêmetro, na esteira do sucesso da Kit opcional que
alemã Leica. Porém, eram câmeras era vendido com a
manuais com muitas regulagens a Yashica Electro 35
serem feitas, o que complicava a vida
do fotógrafo iniciante. A chegada da
Electro 35 mudou o panorama: com a
exposição automática, eram somente
quatro passos para garantir a foto:
avançar o filme, regular a abertura,
focalizar e disparar.
Dentre as muitas novidades
que ela introduziu, destacam-se a
exposição automática a partir de 30
segundos até 1/500s (modelo G); a
Divulgação
io Bock
Fotos: Már
versões
A Yashica
Electro 35 foi
fabricada até 1975
O DESAFIO DO
e teve as versões
G, GS, GT, GSN
e GTN
TELÊMETRO
Apesar de ser uma câmera do contador de exposição, que
básica, a Electro 35 vinha com o acumulava também a função de
sistema de foco por telêmetro, usual indicador de carga da bateria.
nas rangefinder da época, visível no Após o lançamento, a Yashica
visor como uma “mancha” amarela. Electro 35 ganhou novas versões com
Quando a objetiva está desfocada, algumas mudanças em relação ao
enxerga-se uma imagem dupla. Deve- original, como os modelos G (1968),
-se então girar o anel de foco até que GS, GT (1970), GSN e GTN (1973).
as duas imagens coincidam, formando Ela durou até 1975, quando perdeu
uma só – o que indica foco perfeito. espaço e interesse no mercado com
Não é preciso dizer que os fotógrafos o surgimento das câmeras compactas
iniciantes tinham grande dificuldade eletrônicas com autofoco.
em regular o telêmetro, um sacrifício a
cada novo enquadramento.
Um pouco mais tarde, a Yashica Conheça a coleção
lançou o modelo Electro 35 MC
Até o final de 2019, a cada
(menor que a Electro 35) na qual edição de Fotografe, uma
o telêmetro foi substituído por um câmera que marcou época na
sistema por zona com três símbolos fotografia será destacada nesta
– busto, pessoas e montanha – seção com um breve histórico.
visíveis no visor. Bem mais prático, Ao mesmo tempo será lançada
mas nada que se pareça com a a caneca da Coleção Câmeras
eficiência do telêmetro, desde que Clássicas com o modelo do
corretamente usado. mês. Para adquirir esse produto
O foco por telêmetro era exclusivo, acesse: www.colecao
camerasclassicas.com.br.
operacional mesmo em situações
de baixas condições de luz e dava à
Electro 35 uma nitidez comparável a
das câmeras profissionais. Também
favorecia o uso com pouca luz a
excelente luminosidade da objetiva
f/1.7, os indicadores luminosos
de exposição, mais uma grande
novidade, a iluminação própria
Paixão pela
África
Conheça a história de Julius Dadalti,
ex-agente da Polícia Federal
que hoje se dedica totalmente a
registrar a vida selvagem
Fotos: Julius Dadalti
profissão
Julius Dadalti
agora se dedica
à fotografia de
natureza como
profissional
Duna altíssima
no Deserto de
Sossusvlei, na
Namíbia, costa
oeste da África
23
FOTOGRAFIA DE NATUREZA
O fotógrafo
tem muitas é preciso criar um estilo próprio e ter uma leopardos, zebras e rinocerontes estavam
referências, mas postura de muito respeito pela natureza, ao alcance de um disparo certeiro no
prezar a ética acima de tudo, pois só assim foco da teleobjetiva. A experiência no
uma das mais o trabalho é pleno”, comenta. Parque Nacional Kruger, região nordeste
marcantes é Ainda longe do profissionalismo, sul-africana, foi muito marcante. “Veio
seu conterrâneo ele partiu para o primeiro safári em uma vontade louca de ficar por lá,
2011. Levava uma câmera compacta conhecer mais países africanos, estudar
Luiz Claudio Nikon com superzoom, equipamento o comportamento animal e, claro,
Marigo, um dos prático, leve, mas que logo notaria não fotografar muito”, recorda.
pioneiros na ser tão adequado quanto imaginava. Com a aposentadoria compulsória na
Era a realização de um sonho viajar PF em 2014, começou a pensar em ser
fotografia de pela África do Sul, naquele clima de um profissional de fotografia. Passou a se
natureza no País filme da sessão da tarde: veículos 4 x 4 dedicar muito, a praticar mais, a estudar
cruzando a savana, onde leões, elefantes, e a pesquisar e, claro, a viajar tanto pelo
marinha
O fotógrafo é
também oficial da
marinha mercante
e mergulhador
certificado
Maria Paula
Vieira, profissional
cadeirante, supera
C adeirante desde os 13
anos, aos 18, Maria Paula
Vieira decidiu posar para
um ensaio fotográfico para elevar
a autoestima. A experiência mexeu
Hoje com 26 anos, há quatro ela
decidiu apostar na ideia de oferecer
ensaios para famílias, crianças e
mulheres com ou sem limitações
físicas, voltando seu olhar para a
as limitações com a cabeça da então caloura de diversidade e a inclusão, dedicando-
Jornalismo que praticava fotografia -se a um nicho ainda pouco explorado
físicas e encara na faculdade enquanto arquitetava no mercado. A força de vontade e a
a rotina de um olhar mais voltado à diversidade. perseverança foram fundamentais para
Entre os próprios medos e receios, que ela superasse barreiras na hora
registrar ensaios percebeu que poderia retratar pessoas de trabalhar profissionalmente com
de crianças e de que estavam em situação parecida fotografia, além de mostrar que pode
com a dela: cheias de insegurança, fora ser um incentivo para muita gente.
sensualidade com do padrão que a sociedade impõe e Maria Paula sai quase diariamente
viés inclusivo buscando o próprio espaço. dirigindo um carro adaptado pela
região do Grande ABC paulista rumo a tem a função de ajudá-la na locomoção, Acima, uma criança
locações na cidade de São Paulo para transferindo-a da cadeira de rodas para cadeirante, público
atender a clientela. Os locais escolhidos o chão ou até de colocá-la nos ombros que interessa a
Maria Paula; abaixo,
geralmente contam com acesso fácil para que ela tenha um ângulo superior. a fotógrafa em ação
para cadeirantes e oferecem cenário O trabalho também engloba arrastar nas ruas de São Paulo
e iluminação ideais para o estilo dela. coisas, ajudar com a cadeira de rodas e a
São locações selecionadas conforme transportar a produção.
o trabalho: quando o ensaio é sensual
feminino, ela prefere a sala, a cozinha ou
o quarto de uma casa ou apartamento
alugado – muitas vezes nas regiões
centrais da capital paulista.
O clima intimista das locações internas
é trocado pelo gramado e sombra das
árvores dos parques do Ibirapuera ou Villa
Lobos para as produções com famílias,
gestantes e crianças. Quase sempre Maria
Paula conta com a ajuda de assistentes,
que a acompanham para ajudá-la na
locomoção pela cidade, com acessibilidade
ainda pouco amigável. Ela prefere a
presença de assistente feminina nas sessões
de fotografia sensual para preservar a
Arquivo Pessoal
Ensaio sensual
criativo com uso
de sobreposição
Para tirar
proveito de
diversos
ângulos, Maria
LIMITES SÃO SUPERADOS
Paula se deita Diferentemente de um fotógrafo sem Ela também usa muito as mãos para
limitações físicas, que pode mostrar a indicar comandos. “Quando fotografo
no chão ou pose à modelo usando o próprio corpo, pessoas cadeirantes, também necessito
então sobe nos Maria Paula conta que precisa ser muito entender as limitações físicas delas para
objetiva para transmitir verbalmente suas criar as poses e saber a forma como vou
ombros de seu ideias à cliente. Muitas vezes, o assistente dirigi-las”, explica. Maria Paula gosta de
assistente para também ajuda nisso, pois estudou tirar proveito de diversos ângulos: desde
ver de cima antecipadamente com a fotógrafa o o mais baixo, quando costuma ficar
conceito do trabalho para colaborar. deitada no chão, passando pela visão no
nível da cadeira, até o ângulo superior,
sobre os ombros do assistente.
Como usa a DSLR Canon EOS 6D Mark
II, que tem monitor articulado, consegue
brincar com os enquadramentos mais
rasantes e superiores com facilidade.
Com a objetiva 50 mm de f/1.4, aposta
nos efeitos de desfoques e dá preferência
para imagens subexpostas, depois
trabalhadas no Lightroom com presets de
tons criados por ela, finalizando tom de
pele e nitidez no Photoshop.
Em geral, Maria Paula prefere a
iluminação natural suave da manhã
ou do entardecer, e quando necessário
usa um LED ou flash com softbox como
A fotógrafa conta com
luz de preenchimento. Nos ensaios
assistente quando precisa
sair da cadeira de rodas sensuais, explora bastante a luz lateral
vinda da janela.
A fotógrafa
também costuma
atender clientes
fora do padrão
físico estabelecido
pela sociedade
direção
Maria Paula
utiliza muito as
Making of de ensaios
realizados por Maria Paula
mostra sua forma de
dirigir as poses e sua busca
por um ângulo diferente
Fotos: Arquivo Pessoal
No olho
Descubra o dinâmico
universo da street
photography com
as dicas de quatro
da rua
feras: David Gibson,
Alexandre Urch,
Guillermo Franco e
Melvin Quaresma
POR ÉRICO ELIAS
C
om o desenvolvimento recente também que nem sempre as pessoas são
dos smartphones, criou-se uma o principal foco. Há fotógrafos de rua que
legião de potenciais fotógrafos de trabalham com texturas, grafites, cartazes,
rua. Milhões de imagens são feitas anúncios, vitrines, elementos arquitetônicos,
diariamente nas cidades ao redor do mundo placas e sinalizações de trânsito.
e compartilhadas via redes sociais. Mas não A paisagem urbana é densamente
basta sair disparando por aí para praticar o que povoada não apenas de pessoas, mas também
é internacionalmente conhecido como street de elementos visuais. Alguns trabalhos se
photography. Segundo o inglês David Gibson, concentram exatamente na interação entre
criador do Manual do Fotógrafo de Rua, a o elemento humano e a paisagem urbana,
especialidade não é um conceito ou um campo explica Gibson. E, na relação entre fotógrafo e
definido, mas uma atitude. ambiente urbano, o equipamento entra como
Diz respeito essencialmente à relação do um elemento fundamental. Não é preciso
fotógrafo com o ambiente urbano – e muitas o melhor, ao contrário, diz ele. Muitas vezes
iniciativas são possíveis nesse contexto. Gibson o mais simples, compacto e leve tem larga
afirma que o fotógrafo pode optar por passar vantagem. O importante é ter velocidade no
despercebido, “roubando” imagens de forma foco e no disparo. Já a intimidade com a câmera,
sorrateira, ou pode interagir com as pessoas e a ponto de usá-la com rapidez instintiva, só se
chamá-las a participar, criando ambiguidades conquista com a prática constante e sistemática,
entre o espontâneo e o encenado. Ensina complementa o especialista inglês.
Cena de rua
registrada por
Alexandre Urch
em São Paulo (SP)
Alexandre Urch
David Gibson
Flagrante nas
ruas de Londres
realizado por David
O ATO DE SABER ESPERAR
Gibson explora
relação entre as Não há outra forma de se desenvolver engraçados e até violentos. “Para mim, a
crianças e o aviso na fotografia de rua senão andar muito, fotografia de rua é qualquer tipo de imagem
escrito no muro bater muita perna em busca de imagens. É feita em um espaço público. Em geral,
preciso se perder pelas vias para encontrar envolve pessoas comuns em suas vidas
cenas únicas, instigantes, engraçadas ou cotidianas. A importância fundamentral é
inusitadas. Ao descobrir um cenário de que ela nunca é encenada, é real”, defende.
interesse, é o momento de parar e observar A fotografia de rua também envolve
o movimento ao redor, buscar se antecipar questões éticas. A princípio, não é
aos acontecimentos, saber esperar. necessário solicitar autorização para uso
As saídas a campo devem ser de imagem de pessoas fotografadas em
intercaladas com uma constante busca por espaços públicos. Porém, o fotógrafo estará
referências, tanto no universo da fotografia suscetível a ações judiciais caso haja algum
de rua como provenientes de outras áreas tipo de dano à imagem do cidadão, que
e mesmo de outras artes. É essencial não deve ser fotografado em uma situação
possuir uma cultura visual para conseguir constrangedora ou degradante.
Para obter boas encontrar um caminho próprio. As boas Gibson já sofreu críticas por fotos que
fotografias de rua imagens não surgem apenas do acaso e fez, como a de um velhinho que caminha
é preciso andar da sorte, mas principalmente de um olhar arquejado, escorado por uma bengala,
muito, perder-se treinado e educado para captar o “algo a diante de uma vitrine onde se lê “last few
mais” no cotidiano. days”, ou “últimos dias”,em português (veja a
pela cidade e, ao Para Gibson, a receita para um bom foto na página 44). “Não fiz o flagrante com
encontrar um fotógrafo de rua reúne ingredientes como intenção de ser engraçado, de me divertir à
cenário propício, técnica, faro, paciência e sorte. Lembra custa do personagem, mas de provocar um
ainda que a própria palavra “rua” inspira reflexão sobre a finitude da vida, pois todos
parar e saber malícia, astúcia e atitude, e que os espaço vamos envelhecer e morrer. Porém, algumas
esperar pelo públicos também podem ser repletos pessoas me criticaram, dizendo que fui cruel
momento ideal de momentos humanos comoventes, ou coisa parecida”, afirma ele.
O fotógrafo pode explorar as linhas e formas encontradas na paisagem urbana, como nesta imagem de Alexandre Urch
Augusto Malta
Paul Strand
Clássicos dos
primórdios da
street photography:
imagens do brasileiro
Augusto Malta
(acima, à esq.) e
do americano Paul
Strand (acima, à dir.)
Henri Cartier-Bresson
Ao lado, flagrante
do francês Henri
Cartier-Bresson, o
grande mestre da
fotografia de rua
O COTIDIANO NO VISOR
Consagrada pelo grande mestre Augusto Malta, grande cronista da vida
A fotografia francês Henri Cartier-Bresson (1908-2004), carioca na virada do século passado, e
começou a a fotografia de rua ganhou impulso a partir Vincenzo Pastore, que saiu do ambiente
ganhar as ruas do início do século 20, quando as câmeras controlado do estúdio e ganhou as ruas de
com a chegada passaram a ser menores e portáteis. O São Paulo na década de 1910, revelando
movimento Photo-Secession, nos Estados o rosto dos transeuntes com uma
das câmeras Unidos, foi um dos primeiros a voltar espontaneidade inédita.
compactas e dos a atenção para as cenas do cotidiano, Visto pelo viés histórico, a fotografia é
filmes em rolo. O transitando do pictorialismo para a filha da revolução industrial, assim como as
fotografia direta por meio das imagens grandes cidades. Mas foram necessárias
grande inspirador de Alfred Stieglitz e Paul Strand realizadas algumas décadas de desenvolvimento
foi o francês nas ruas de Nova York. tecnológico para que a fotografia chegasse
Cartier-Bresson No Brasil, destacaram-se nesse período realmente às ruas. Isso realmente ocorreu
Acima, imagens de
German Lorca (esq.)
e Vivian Maier (dir.)
captam a dinâmica
e o inusitado do
ambiente urbano
Ao lado, o olhar
bem-humorado de
Elliott Erwitt, que
Elliott Erwitt
com o lançamento da Leica I em 1925, primeira foi o primeiro grande nome a encarnar essa
câmera para rolos de filme de 35 mm. A transformação, assumindo-se como fotógrafo
câmera alemã trouxe duas características da espontaneidade, aquele que perambula na
fundamentais para a especialidade: leveza e busca de captar instantes únicos pelas ruas de
agilidade. Com ela em punho, Cartier-Bresson Paris ou de qualquer lugar do mundo.
Acima, cena captada por Helen Levitt feita em Nova York, em 1972: ela foi pioneira no uso da cor para registrar
cenas de rua; abaixo, foto feita em São Paulo por Carlos Moreira, um dos expoentes da fotografia de rua no Brasil
Carlos Moreira
perfeita. Essa, por exemplo, me faz perder estendido à arte em geral, ao cinema e até Quem é ele
algumas fotos por causa do sistema de foco à literatura. A mente e os olhos precisam
automático e do modo macro, que às vezes de estímulos. Por fim, não fique muito Com 62 anos, David Gibson é
são difíceis de usar”, explica. preocupado com regras e definições. britânico e vive em Kent, próximo
Como dica aos interessados na área, Somente se deixe inspirar pelo trabalho a Londres, onde realiza a maioria
Gibson recomenda tirar um pouco os dos outros”, indica. de suas fotografias de rua. Gibson
olhos do monitor e buscar por referências Gibson conta que já houve casos de começou a se interessar pela
impressas. Os livros de fotografia são pessoas que se identificaram com suas fotografia de rua nos anos 1990.
importantes por trazerem uma edição fotos. “Na maioria das vezes, a reação foi Além de fotógrafo e membro
coerente. “Você pode julgar um fotógrafo positiva. Gosto de pensar que a minha fundador do coletivo In-Public,
por seu trabalho, mas também pelos livros fotografia de rua nunca é cruel ou injusta atua como curador e já escreveu
que já publicou. Esse interesse pode ser de maneira alguma”, afirma. três livros paradidáticos sobre o
tema, dentre eles o Manual do
Fotógrafo de Rua, publicado no
Brasil pela editora Gustavo Gili.
Site: www.gibsonstreet.com /
@davidgibsonstreetphotography.
Arquivo pessoal
48
Cena de rua
explora jogo de
luz e sombras
e contrapõe os
humanos ao
manequim
Para Alexandre
Urch, o fotógrafo
tem que se
fazer invisível e
o equipamento
é apenas uma
extensão de seu
corpo, seja ele
um smartphone
ou uma DSLR
Aqui a moça da full frame
loja se confunde
com os manequins
Fotos: Alexandre Urch
de forma “nua e crua”, e os brasileiros FOTÓGRAFO INVISÍVEL uma ‘regra’ na fotografia de rua
German Lorca e Carlos Moreira, que Para Urch, a discrição é a principal que diz que o equipamento tem
se enveredaram na busca de mostrar característica de um fotógrafo de de ser pequeno e discreto, mas
“algo mais além da fotografia rua, e isso passa pela forma como o principal fator para o resultado
para turista ver”. Atualmente, as o equipamento é utilizado. “Se tem final é o fotógrafo, que tem de
referências que mais influenciam seu uma coisa que não define meu passar praticamente invisível. O
trabalho são provenientes de outras trabalho é equipamento. Utilizo equipamento é só uma extensão do
artes, como a colagem, a pintura, o desde um celular até uma DSLR fotógrafo”, esclarece.
grafite e a música. full frame de última geração. Existe Ele não concorda com a ideia
Quem é ele
Alexandre Urch, 42 anos,
nasceu e foi criado em São Paulo,
onde realiza a maior parte de
seu trabalho. Utiliza a rua como
matéria-prima criativa desde
que começou a levar a fotografia
mais a sério, em 1996. Ficou
em primeiro lugar na categoria
Ensaio do 9o Concurso Leica-
-Fotografe em 2012, com uma
série realizada no metrô da capital
paulista. www.alexandreurch.
com.br / @aurch.
de que a fotografia de rua teria menor Muitas fotos e séries que fiz também
viabilidade comercial do que outras foram comercializadas em galerias ou
áreas de atuação. “O grande magazine diretamente por mim”, informa.
de roupas, a marca de tênis famosa, a As dicas de Alexandre Urch para quem
modelo para o editorial da revista, o filme quer se aventurar nessa área passam
no cinema, a marca de carro, todos esses pela segurança e pela necessidade de
produtos geram suas imagens tendo o se deslocar. “Primeiro, coloque seu
ambiente urbano como pano de fundo. equipamento e celular no seguro, a rua
Quando um fotógrafo de rua cria uma não é um playground. Em segundo lugar,
identidade em seu trabalho, aquilo que ande, ande muito, respeite a rua e a rua
seria apenas uma documentação do respeitará você. Ande sempre no sentido
Arquivo pessoal
dia a dia urbano acaba sendo alvo de contrário dos turistas e da maioria das
marcas que o contratam para campanhas pessoas, pois é nesse sentido contrário que
publicitárias, como já aconteceu comigo. a fotografia de rua se encontra”, aposta.
seguro
Antes de se
aventurar pelas
ruas é indicado
fazer seguro do
equipamento
Guillermo Franco
só fotografa
GUILLERMO FRANCO:
com filme P&B O REAL COMO FICÇÃO
e sua Nikon No primeiro dia do ano de 2009, Nikon FM2, sem se importar muito com
FM2. Para ele, Guillermo Franco carregou sua Nikon a qualidade óptica da objetiva, sem uma
há uma espécie FM2 com um rolo de filme P&B ISO 400 distância focal predileta e utilizando, segundo
e saiu para fotografar algo que sempre o suas próprias palavras, “o rolo de filme mais
de mágica na maravilhou: a vida cotidiana de Córdoba, barato que encontrar”. Sua escolha tem a ver
imagem latente, região centro-oeste da Argentina. Foi assim com o suspense criado pela imagem latente.
no suspense que nasceu a série Allí mis Pequeños Ojos, “Gosto da fotografia analógica porque
formada por imagens capturadas nas ruas ela mantém a chama do segredo acesa.
entre o clique e e repletas de graça, ironia, sensibilidade e Faz perdurar o instante e a emoção da
o resultado final afeto. A série segue até hoje em aberto e já tomada, do clique. Centenas de instantes
gerou diversas exposições. inacreditáveis pululam pelo labirinto de
Franco é dono de um estilo poético minha memória. Talvez alguns jamais
e descontraído. Suas fotos de rua quase virão à luz. Quanto mais demoro a revelar
sempre contam a história de uma interação e a ampliar um negativo, mais duradouro
inesperada e ambígua. “O real se revela é meu prazer”, brinca.
ficção. O invisível pode ser apreciado graças Quando solicitado a dar dicas para
à imaginação. O trivial, o banal, o supérfluo quem quer seguir na fotografia de rua,
se tornam válidos quando há uma surpresa. Franco responde de maneira evasiva e
São tomadas diretas, espontâneas, vívidas. poética, com algumas citações, terminando
O agora se transforma em para sempre e o por uma frase de sua própria autoria:
Acima, a curiosidade do
menino flagrado por efêmero se torna eterno”, define ele acerca “O real é inapreensível tanto quanto
Franco quando olhava do seu trabalho. o essencial é invisível. E, no entanto, a
para dentro de um bueiro Até hoje, Franco só utiliza sua mesma fotografia é verdadeira, como a vida”.
ficção
Por seu caráter
inusitado, cenas
banais de rua se
transformam
em peças de
ficção
O real como
ficção expresso na
desproporção entre o
menino e a garagem
Arquivo pessoal
vem do trabalho como programador no de Alfredo Le Pera, o enquadramento nas
Cineclube Municipal de Córdoba, como pinturas de Edgar Degas, algum desfoque
crítico e professor de cinema. Assim, o de William Klein, recordar do meu pai, os
tempo está do seu lado. romances de John Fante, as mentiras de
“Vivo da fotografia no melhor sentido Federico Fellini...” A declinação termina com
O argentino Guillermo
da expressão ‘viver de’. É a fotografia que uma referência bastante pessoal: “também, Franco faz suas fotos
me anima, que funciona como uma pulsão é claro, o que façam e digam Julieta e principalmente em
de vida, e não os retornos monetários. Joaquim, meus filhos”. Córdoba, onde vive
Não busco me inserir no mercado
editorial, pois não me considero
documentarista, muito menos no
mercado de arte, pois tampouco me
vejo como artista. Sou feliz por ser um
simples fotógrafo, não profissional,
mas literalmente amador, pois pratico
por amor”, conta Franco, que esteve
no Brasil em 2017 para apresentar
seu trabalho no Festival de Fotografia
Paraty em Foco.
Quando se trata de referências,
Guillermo Franco é generoso e
menciona uma série de fotógrafos que
admira e estuda: Helen Levitt, Robert
Frank, Willy Ronis, Sabine Weiss, Ed
van der Elsken, Garry Winogrand,
André Kertész, Tony Ray-Jones, Jacques
Henri Lartigue, Ramón Masats, Sergio
Larrain, Shirley Baker, Tish Murtha,
Elliott Erwitt, Lisette Model, Izis, Martine
Franck, Édouard Boubat, Viktor Kolar
e Diane Arbus em sua primeira fase.
Dentre os argentinos, sua obra
Cena de estilo
bressoniano
captada por
Quaresma
MELVIN QUARESMA:
A IMPORTÂNCIA DOS COLETIVOS
A fotografia de rua surgiu como algo
natural na vida de Melvin Quaresma.
Na infância, ele morou em Florianópolis
(SC) e se divertia quando ia ao centro da
cidade olhar o movimento. Na época em
que começou a fotografar, já morando
em Curitiba (PR), o primeiro impulso foi
o de pegar a câmera e sair pelas ruas do
centro da cidade.
“Sou muito tímido. Para mim,
começar a fotografar na rua foi um
desafio, uma forma de superar a timidez.
Com o tempo, fui me sentido cada vez
mais à vontade para experimentar e
comecei a fazer algumas coisas mais
Meninos conversam no
interior de um ônibus: o
cotidiano é o combustível
da fotografia de rua
Ao lado, cena
captada no interior
de um comércio;
abaixo, senhora e seu
guarda-chuva em
composição dinâmica
Com jeitinho
oriental
O especialista
Fabio Hashimoto
mostra de maneira
descomplicada
como planeja, POR LIVIA CAPELI
H
ilumina e dirige ouve tempo em que a fotografia no início, não se sentia muito satisfeito
os ensaios com sensual era artigo exclusivo com os resultados obtidos. Foi então
suas clientes de revista masculina, coisa que ele percebeu a necessidade de fazer
apenas para modelo profissional ou uma “despoluição cultural”, abandonando
celebridade. Atualmente, o segmento vem alguns hábitos. “Parei de ver televisão
se popularizando e cada vez mais mulheres e de acompanhar grupos de fotógrafos
comuns desejam ser personagens de em redes sociais. Me isolei um pouco e
produções com poses mais calientes, explica passei a acompanhar o trabalho de alguns
o fotógrafo paulista Fabio Hashimoto, 38 estrangeiros. Percebi que precisava focar a
anos, que atende a esse público. Ele usa sensualidade das mulheres evidenciando
A pose e a atitude sua habilidade para encontrar a iluminação expressões e sentimentos, e não por meio
(acima) podem gerar
natural ideal que evidencie a beleza de de nudez explícita”, diz.
um efeito melhor em
fotos sensuais do que todos os tipos de mulher. As principais inspirações na fotografia
apenas mostrar o Hashimoto começou na fotografia de sensual vêm de fotógrafos como o alemão
corpo nu da mulher sensualidade em 2009 e confessa que, Stefan Beutler, o austríaco Ingo Kremmel,
A direção da
modelo deve ser
baseada na leveza e
na confiança para a
fluência do ensaio
o australiano Peter Coulson, o belga aspectos menos emocionais e mais então a se perguntar três coisas antes
Frank de Mulder e o teuto-australiano racionais. Apostou no que define de acionar o disparador: “por quê,
Helmut Newton (1920-2004). Além como uma “direção sentimental”, para quê e para quem”. Segundo ele,
disso, a fonte de estudos de Hashimoto ou seja, ajudar as clientes a se toda luz, todo gesto e toda expressão
é baseada em livros e obras do período enxergarem poderosas sob a luz que gerada por meio de uma direção
barroco e renascentista, como as dos ele escolhe para registrá-las. fotográfica correta deve ter um “por
pintores holandeses Rembrandt e Algo que ele aprendeu por meio quê”, um “para quê” e um “para quem”.
Johannes Vermeer. do veterano fotógrafo Haruo Oki, da Ele acredita que dessa maneira a
Depois da mudança radical de revista National Geographic, quando imagem terá um sentido, uma “alma”,
referências visuais, o especialista morou no Japão, é ser mais ponderado um significado implícito, e não será
começou a fotografar considerando na hora de clicar. Hashimoto passou apenas mais uma simples foto posada.
LUZ NATURAL
ACIMA DE TUDO
Luz indoor ou outdoor, de janela ou
porta, filtrada por cortinas, direcionada
por frestas, luz indireta e suavizada. Essas
são apenas algumas das maneiras como
Hashimoto usa os recursos da iluminação
natural nos ensaios sensuais que produz.
Ele confessa que se transformou em
um “escravo da luz” por se tornar muito
dependente de locais em que haja
somente iluminação natural: “por diversas
vezes, a composição da cena renderia
bons cliques, mas, devido à luz atender
à minha expectativa, acabo optando
Corredores (foto ao
lado) e banheiros são
alguns dos lugares
com luz natural usados
pelo fotógrafo
por locais não convencionais, como 70-200 mm f/2.8. A preferência por lentes
corredores, cantos ou banheiros”, diz ele. luminosas é pela vantagem de poder
Para obter bons resultados com a isolar as modelos com enquadramentos Com luz
iluminação natural, ele usa algumas mais fechados e conseguir um efeito de natural, uso sempre
ferramentas importantes, como o tripé desfoque mais acentuado em ambientes a câmera no tripé e
e o disparador por controle remoto sem “visualmente poluídos”, possibilitando
fio. Isso garante estabilidade na hora de assim que nada tire a atenção do assunto disparo via controle
fotografar em baixa velocidade – recurso principal em ambientes com muitos remoto sem fio. Isso
muito usado por ele, que costuma clicar elementos na composição. me garante poder
os ensaios com ajustes no obturador “Testei flashes e rebatedores muitas
variando entre 1/10s e 1/60s. vezes e percebi que esses recursos não
usar velocidade e
Além disso, o uso do tripé leva a atendem à minha expectativa quanto sensibilidade ISO
enquadramentos equilibrados e mais ao tipo e à qualidade de iluminação em mais baixos
bem pensados, além de assegurar mais comparação com a luz natural. São raros
nitidez, principalmente porque ele usa os casos em que uso um softbox caseiro
Fabio Hashimoto
sensibilidades de ISO baixas para não para simular uma luz de corredor quando
gerar ruído digital. O especialista explica não há luz disponível. Porém, procuro
que trabalha com basicamente três sempre prezar apenas a iluminação
lentes: a 50 mm f/1.4, a 85 mm f/1.4 e a natural”, comenta.
A antiga vila de
Paranapiacaba, na
Grande São Paulo,
é uma das locações
prediletas do fotógrafo
cores
O fotógrafo
se baseia na
psicologia das
cores para
escolher os
figurinos
Fotos: Fabio Hashimoto
direção
O gesto, a
expressão e o
olhar fazem
muita diferença
nesse tipo de
ensaio
PSICOLOGIA
NA DIREÇÃO
A parte mais importante na hora de fotografar
uma modelo em um estilo sensual sentimental,
segundo Hashimoto, é ser o principal protetor dos
interesses dela e sempre mostrar profissionalismo:
esse é o pilar fundamental para que a cliente se
desenvolva bem e se entregue ao trabalho. “É
essencial considerar sempre o ensaio sensual
como algo delicado e ao mesmo tempo muito
difícil para a modelo, pois é o momento em que
ela se encontra mais vulnerável. É de extrema
importância passar segurança e conforto para que
a modelo se sinta especial, consiga se entregar e
entrar no clima do estilo do ensaio”, ensina.
Para Hashimoto um dos aspectos mais
importantes na hora de fotografar uma mulher
é induzi-la indiretamente a ter expressões e
representar sentimentos com técnica de respiração,
tom de voz apropriado, gestos com as mãos e as
pernas para que isso transpareça nas imagens. Ele
acredita que o corpo, as curvas e a pele devem ser
apenas uma extensão da expressão da modelo,
e que a sensualidade deve partir do que ela está
sentindo no momento. Segundo o especialista, é
Fotos: Fabio Hashimoto
Fabio Hashimoto
trabalha na área
desde 2009 e dá
cursos sobre o tema
Soldados revistam
passageiros de ônibus
na Estrada Norte,
perto de Suchitoto,
El Salvador, em 1980
As lições de
Susan Meiselas POR JUAN ESTEVES
Exposição
retrospectiva da
grande fotógrafa
V er o trabalho de um grande
fotógrafo internacional
exposto no Brasil é sempre
uma oportunidade de aprender
anos de carreira resumidos na mostra
retrospectiva Susan Meiselas: mediações,
com cerca de 180 imagens.
Na noite de abertura da exposição,
da Magnum, que algo. Com o trabalho da americana em outubro de 2019, Susan Meiselas,
Susan Meiselas, a maior lição está na 71 anos, mostrou ao público o que é
vai até março de forma como ela documenta questões o envolvimento de um fotógrafo com
2020 em São humanitárias e trata de suas narrativas seus temas, principalmente quando
fotográficas, seja em regiões de conflito a questão humanitária está mais
Paulo, é uma aula ou acompanhando mulheres em shows próxima, caso do trabalho que ela fez
sobre como contar de striptease. Esse material pode ser no Curdistão, nome dado à região
visto no Instituto Moreira Salles (IMS) histórico-cultural habitada de forma
histórias por meio da Avenida Paulista, em São Paulo (SP), majoritária pelos curdos, com cerca de
de imagens até dia 1o de março de 2020. São 40 500 mil km², compreendendo territórios
na Turquia, no Irã, na Síria e no a fotógrafa da lendária agência history (Chicago Press, 2008).
Iraque. Na primeira fala, ela mal Magnum entrou no Iraque para Ela diz que o conteúdo de sua
conteve as lágrimas ao dizer que, registrar as aldeias destruídas pelo mostra certamente não tem um
no momento em que estava ali, os ditador Saddam Hussein na ofensiva impacto profundo na situação dos
americanos haviam retirado suas de Anfal, em 1988. Ao retornar ao curdos, mas com a disseminação
forças militares da fronteira entre Iraque em dezembro de 1997 com da informação sobre eles sendo
Síria e Turquia, abrindo caminho o antropólogo forense Clyde Snow, mais ampla, ajuda as pessoas a ter
para uma ofensiva dos turcos, que ela documentou a exumação dos uma compreensão geral sobre suas
querem dominar à força a região restos mortais de curdos enterrados reivindicações. “O povo do Curdistão
controlada pelos curdos. em massa (muitos, vítimas de armas hoje entende melhor as coisas, mas
Esse envolvimento com a causa químicas). É dessa viagem que surge não vai parar de cair bombas em
curda começou em 1991, quando o livro Kurdistan, in the shadow of cima deles”, comenta.
causas
A fotógrafa
tem como marca
o envolvimento
com as causas
Autorretrato de
Tika Tiritilli, que
atua como um dos
coordenadores do
coletivo paulista
Criação coletiva e
expressão pessoal
POR ÉRICO ELIAS
C
O coletivo Cia. om 42 mil habitantes, Espírito coletivo, cujo nome é uma homenagem
da Hebe vem Santo do Pinhal é uma pequena a Hebe Sucupira, mãe de Monica, ilustre
transformando cidade do interior paulista na cidade por sua produção artística nas
situada na Serra da Mantiqueira, a 200 áreas da poesia e da pintura. “Uma mulher
vidas numa km da capital. Desde 2015, a morna cena que viveu mais de noventa anos e que
pequena cidade artística local começou a se transformar sempre teve atitudes, pensamentos, ideias
graças à ação do coletivo Cia. da Hebe, ousadas e criativas que fugiam ao padrão
do interior uma associação cultural sem fins lucrativos da sua geração. Ela inspirava coragem em
paulista por que promove cursos de formação em uma sociedade carente de liberdade. Mais
fotografia e eventos culturais, como que uma homenagem, é uma inspiração”,
meio do estudo projeções, ocupações, encontros com explica Monica.
e da prática profissionais e lançamento de livros. Em 2016, o fotógrafo e publicitário
Essa história começou quando a João Barim se juntou às duas fundadoras
fotográfica. diretora teatral Monica Sucupira se juntou na coordenação do projeto. “Quando
Saiba mais à fotógrafa Tika Tiritilli para fundar o ingressei no Cia. da Hebe, em 2016, passei
arte
Os encontros
do coletivo
estimulam nos
participantes
a expressão
pessoal
Aline Inácio
Autorretrato de Aline
NA BASE DOS ENCONTROS
Inácio: gênero é um dos Anualmente, o Cia. da Hebe realiza aprofundar os trabalhos individuais. Ao
mais praticados pelos os Encontros de Criação Fotográfica, final, retornam com as produções para
integrantes do coletivo
que são 24 ao longo do ano. Durante debater e finalizar. João Barim ensina
o processo, os participantes partem a técnica enquanto Monica Sucupira
de reflexões coletivas para depois e Tika Tiritilli trabalham o processo
Transformação de vidas
O Cia. da Hebe vem outro, o ângulo, a iluminação. Não o grupo e os demais participantes estão
transformando vidas, conforme sabia nada disso. Outro dia fiquei interessados em ouvir e compartilhar,
é possível perceber pelo relato muito feliz quando pude realizar pensar, repensar, ver de novo… é
de alguns participantes. Rita um exercício de cor, prestando quando realmente acredito que a arte
Maia, de 57 anos, entrou para o atenção no ônibus circular que me transforma”, afirma.
coletivo em 2017 e sequer sabia levava para a casa”, conta Rita.
fotografar. Com o tempo, além Leticia Lunga, de 22 anos,
João Barim
criativo. Os três coordenadores visitas guiadas com estudantes e trata de um coletivo de fotógrafos
também orientam os participantes conversas com o público em geral já formados, mas em formação.
individualmente para ajudá- acerca das obras expostas e da “Nossa motivação está sempre
-los a desenvolver os projetos e a proposta estética. Além de envolver no ‘não artista’, o participante
transformar as ideias em imagens. a população local, as exposições que não sabe nada, o curioso ou
Depois de todos os encontros, o também atraem turistas, que se ainda o que sempre teve vontade
resultado é uma exposição coletiva, surpreendem com uma mostra de de ser fotógrafo. Ao passarem
realizada em um casarão centenário arte contemporânea em uma cidade pelos encontros, eles se motivam,
da família Sucupira, no centro da do interior voltada ao ecoturismo. adquirem formação e informação,
cidade. Já foram realizadas três A proposta dos encontros é não somente na área da fotografia,
edições do evento: 175 Ocupação despertar o impulso criativo nos mas nas artes de maneira geral.
Fotográfica, em 2017; Deslimites, participantes. Durante o processo, Acima de tudo, experimentam um
em 2018; e TRANSAções, em 2019, eles percebem que todos os pouco sobre o processo artístico
programada para ficar em cartaz seres humanos são dotados em fotografia por meio da imersão,
até o dia 10 de janeiro de 2020. Os da capacidade de se exprimir da convivência e do diálogo com os
integrantes do coletivo promovem artisticamente. Por isso, não se colegas”, relata Monica.
Autorretrato de Dani
Cavalheri representa o
movimento de descoberta
propiciado pelo coletivo
Dani Cavalheri
Roberta Sucupira
Mesmo os coordenadores do para despertar um outro olhar nos
coletivo Cia. da Hebe estão em participantes, tanto para consigo
constante aprendizado, como mesmo quanto para o mundo. O
testemunha Tika Tiritilli. “Aprendo coletivo é sempre um desafio e uma
diariamente a conviver, a falar a conquista, minúsculo e gigante,
mesma língua, a pensar no outro, não é trabalho, mas pensamento de
a pensar junto, a exercitar a criação vida”, avalia a fotógrafa.
Letícia Lunga
p
Câmeras para
todo momento POR SÉRGIO BRANCO
Conheça três
compactas
premium
A conversa começou de
forma banal, com um “estão
demorando para chamar para
o embarque, né?”. Minutos depois, eu
sabia que ele era um engenheiro civil
dia seguinte, ele respondeu, agradeceu
e disse que passaria as dicas para um
amigo, que tinha as mesmas dúvidas. Aí
me dei conta de que muita gente pode
ter esse tipo de questionamento, pois,
versáteis, com uruguaio, e ele, que eu era um jornalista. dias antes, uma colega de trabalho, de
muitos recursos, Mas, quando o companheiro de viagem outra revista da Editora Europa, havia
que podem foi informado de que eu editava uma perguntado a mesma coisa.
revista especializada em fotografia, Portanto, se você quer dicas de
ser excelentes não se conteve: “Puxa, você caiu do câmeras de alta qualidade e práticas
companheiras de céu. Gosto de fotografar quando viajo e para levar em viagens, para ter ao seu
preciso de uma câmera nova. O que me lado a todo momento ou como reserva
viagem e estar sugere?”. Quando eu ia começar a falar do equipamento principal em caso de
na bolsa para as sobre o assunto, nos chamaram para o emergência, saiba que os modelos que
embarque. Trocamos cartões de visita sugeri são os seguintes: Canon PowerShot
mais variadas e, depois, com calma, enviei dicas para G5 X Mark II, Sony Cyber-shot DSC-RX100
situações o engenheiro Alejandro por e-mail. No VII e Panasonic Lumix DC-FZ1000 II.
A Panasonic Lumix
FZ1000 II é uma
compacta com zoom
Leica de até 400 mm f/4
Ela é pequena,
robusta e tem
monitor móvel
sensível ao toque
CANON G5 X MARK II
O que pode ser destacado da G5 X segundo no disparo contínuo e faz vídeos
Mark II é a lente zoom equivalente a 24- em UHD 4K 30p. A luminosidade da lente
-120 mm f/1.8-2.8, o sensor CMOS de 1 permite fotografar em condições de baixa
Modelo mais polegada (13,2 x 8,3 mm) com resolução luz (além de controle sobre a profundidade
recente da série de 20,2 megapixels e o processador DIGIC de campo para trabalhar com foco seletivo)
G da Canon, a 8. É modelo recente da excelente linha e a amplitude do zoom serve para a maioria
G, que começou com a G1 em 2000 e das situações do cotidiano de fotografia.
câmera oferece passou a ter versões com uma pegada Ela tem um interessante visor eletrônico
uma ótima lente mais profissional a partir da G1 X, de 2012 pop-up com resolução de 2,36 milhões
zoom 24-120 mm (tenho uma, comprada no Japão em 2013, de pixels, embora o melhor para esse tipo
que me acompanha até hoje em viagens). de câmera seja enquadrar e fotografar
f/1.8-2.8 e tem A G5 X Mark II tem desempenho rápido via monitor, que tem 3 polegadas, é
conectividade de de autofoco, oferece gravação rápida em sensível ao toque e conta com ótima
última geração resolução total de até 20 imagens por mobilidade, podendo ser inclinado para
cima em ângulo de até 180°. Há botão de
compensação de exposição, anéis e botões
de controle manual, o que lhe dá um
aspecto mais profissional.
Em conectividade, oferece Bluetooth
e Wi-Fi integrados para transferência de
imagens sem fio para um dispositivo móvel
e também torna possível o controle remoto
da câmera por meio do aplicativo Canon
Camera Connect. Uma novidade são os
modos dedicados a imagens de estrelas,
algo que está na moda: Star Nightscape,
Fotos: Divulgação
Além de ser uma câmera sob chega com poucas mudanças e obter imagens estáticas de 8 MP
medida para viagens, muitos mantém a excelente lente Leica DC à velocidade de 30 ims de três
fotógrafos que gostam de fazer Vario-Elmarit equivalente a 25-400 maneiras: o 4K Burst, que grava
imagens de animais silvestres, mm f/2.8-4, o seu grande destaque. continuamente imagens por minutos,
observação de pássaros e de E, como nas duas câmeras anteriores, opção ideal para casos em que o
paisagens já haviam descoberto o o sensor é CMOS de 1 polegada com fotógrafo precisa de uma taxa de
primeiro modelo, a Lumix FZ1000, 20,1 megapixels de resolução. disparos ultrarrápida; o Pré-Burst
lançada em 2014, como alternativa A combinação de uma grande 4K, que grava imagens um segundo
relativamente barata para um angular ampla com uma supertele antes e um segundo depois para
zoom potente com alta qualidade de abertura máxima f/4 transforma quando não há certeza do momento
e luminosidade. A nova FZ1000 II a FZ1000 II em uma câmera única crítico do disparo (haverá 60 fotos
no quesito custo-benefício. Ela para escolher); e o 4K Burst (S/S),
trabalha em até 12 imagens por que segue mais de perto o processo
segundo em disparo contínuo na de gravação de vídeo 4K e permite
resolução máxima e chega a 30 ims reproduzir o vídeo, pausar no
na resolução de 8 MP (novidade em momento escolhido e usar o botão
relação ao modelo anterior). Conta disparador para marcar um quadro e
Fotos: Divulgação
Outra novidade para as imagens região específica da imagem que se Como tem porte de DSLR, a
dos modos 4K Photo é o Pós-foco, deseja focar e um arquivo JPEG de FZ1000 II incorpora um visor eletrônico
que trabalha em conjunto com o 8MP será gerado. Com isso, vários OLED, além do monitor articulado de
sistema de detecção por contraste arquivos individuais com diferentes 3 polegadas e com 1,24 milhão de
e o modo inteligente Profundidade pontos de foco podem ser criados pontos (resolução pouco maior que o
de Desfocagem. Assim, é possível a partir da sequência original. Essa anterior). Além disso, Wi-Fi e Bluetooth
mudar o ponto de foco específico tecnologia também permite produzir integrados permitem compartilhar
após o disparo em sequência para empilhamento de foco na própria imagens sem fio ou controlar
ter faixas distintas a escolher. Durante câmera para obter uma maior remotamente a câmera a partir de um
a reprodução no monitor, agora profundidade de campo na imagem, smartphone ou um tablet. O preço é
sensível ao toque, basta tocar na especialmente para temas em close. bem atraente: US$ 898.