Você está na página 1de 45

e nphlexyon

ea

e.m.tronconi
uberlândia
MMX
enphlexyon e.m.tronconi

prefácio

e stá obra surgiu de um arroubo.

i maginada como um pseudo-manual-técnico que servisse de inspiração e apoio para uma

poética livre, na inspiração cut-up de b urroughs & g ysin, nas elocrubações surrealistas de

b reton, etc., emanei tais páginas à esmo, nutrindo-a de poemas surgidos a partir de um

processo de escrita automática inspirada no desdobramentos-colagens aleatórias de imagens

fotografadas por mim.

o resultado é apenas um projeto experimental que com certeza irá se desdobrar em

apoio artístico para outras obras minhas no futuro, assim como a temática tractada no

inicio irá se desdobrar e ganhar acréscimos, em um desenvolvimento das reflexões ali apenas

iniciadas.

verão de 2010

1
enphlexyon e.m.tronconi

projeto-experimento I

ex tractatus

-uma breve & inusitada proposta de sinestésia surge...


-quando do dobrar, desdobrar e redobrar uma quina de imagem, dela emerge o
desdobramento mandálico, dela surgem figuras antropomorficas, dela flui significâncias
interpretativas muitas vezes arrancada do fundo de nossa memória, assumindo sentido
sentimental, nomeação de expressões do entendimento obscuro, soma visual...

t
- ais concepções reflexivas aleátorias podem ser entendidas de diversos formas e
caráter, pode-se ver nelas a emanação de uma relação, pode se ver nelas o gaiateiro
zombar do acaso, pode-se ver emanar da colagem um mal-estar revelativo, que de
repente exala e impregna a mente do artista, pode-se contemplar ali uma alucinação
sintetizada à frio, ou à seco...

n
- isso surge uma visão distonante, não quero chamar de ‘nova visão’, surge uma visão
do fantástico da estática do olhar, visões especulativas do ruido do enxergar...

- a imagem pode ganhar um acréscimo de palavras e idéias que são novas, ou não...
m
- etáforas para a visão, e diversão para a visão, e alucinações para a visão, e
revelações para a visão, novos mitos breves para a visão, inspirações também, para
ampliar a mente, expandir os sentidos...

e
- as texturas surgem, elas estão lá, à disposição; assim como surgem e saltam de
dentro da imagem novos e estranhos enchimentos de entranhas do olhar...

a
- ssim alcançar novas fronteiras, destilar dessas imagens um livro de noções
destoantes, um livro de transfigurações visionais, um livro de um rol inusitado para
memórias visuais incomuns, que pode ser usado para o torpor iminente de uma pseudo-
nova visão sempre, um livro como index contemplativo para uma visionária autêntica
auto-inflingida...

2
enphlexyon e.m.tronconi

r
- ecorrentes imagens exaltam então no desdobramento a atividade mental, permissão
para expansão...

e
- m algumas imagens parece se indicar que a face humana é algo de um
desdobramento inconsiso, dobradura de uma imagem de carne que desconhecemos a
matriz, mas estão lá a prova desse preceito...

p
- or que duas metades espelhadas insistem em nos remeter ao homem? ou melhor,
insistem em emanar rostos, máscaras, faces?...

p
- arece-me que há no fundo de toda morfologia, de toda imagem de nosso mundo
absolutamente visual uma reminiscência que nossa face, que os rostos de uma forma em
geral, é o simbolo de algo maior; talvez do nada, talvez da divindade, talvez do
universo...

e
- ntão seria certo dizer que na quarta parte ou na metade de cada imagem observada,
refletida e gravada em nosso aparato cerebral há parte de uma mesagem que viemos
constantemente interpretando, ignorando ou esquecendo, pela sua importancia e
banalidade, talvez um soma zero da forma, talvez um código de volta ou de entrada,
estadia ou não, do mundo...

p
- oeticamente dizendo disso acima: amalgamas do cérebro, ou desdobramento do um,
ou da metade, ou saudades do duplo, ou ecos do andros no antros e vice e versa, busca
da entropia da agonia da solidão, desfacelamento incorporante reflexiva, tao da forma
revelada...

q
- ue o espelho seja expansor e não mais ditador, espelha nossa ilimitada beleza
convergente, de um ponto onde o meio seja o princípio dessa visão; não mais ecos, mas
reverberações...

e
- o poeta extravasa, imagina e sintetiza um pensamento, uma visão assim, um
poema...

3
enphlexyon e.m.tronconi

enphlexyon
“Um princípio de mutação perpétua
se apoderou dos objetos, como das
idéias, tendendo a sua libertação
total, que implica aquela do homem.”
A. Breton

4
enphlexyon e.m.tronconi

dedicatória

precave-se aqui o poeta, Ouardo, em dedicar


estas estranhezas-reflexivas e as palavras
nelas acrescidas à mulher de singular beleza
que o fascina em sonhos lúcidos e que a sina
insistiu em fazer cruzar sua cena duas vezes
depois de meses de uma ausência presente...
a qual no entanto, nada sabe destas coisas;

para

Leniana

des-miste-rosa mulher,
paixão estranha,
com sua inconfundível
e incomum beleza,
porque diferente,
em imensa veneralidade
e profundo mistério ainda repousa
seu ser...

recebe este anthinarciso!

5
enphlexyon e.m.tronconi

antesala dos espelhos

ReInVentar Nós

(Atrelados)
Brincamos a noite inteira
só para nos derretermos sem trelas
e misturados sermos um
como imagens opostas na frente de um espelho duounificador
(Na velocidade do odor)
É esse seu cheiro, é o meu cheiro
que juntos no impacto exalamos
e o modificamos a noite inteira
o odor do ardor retrorefletido na permuta de nossos corpos
(A festa da natureza)
Sagração para a Lua em um lago
com hinos & marchas para todas as demais estrelas
na sinfonia dissonante de nossos próprios sons
ecos em frestas sonorizados a partir do espelho d’água estéreo
(Fornalha alquímica)
Noite inteira
Preparamos porções
Apelamos para esquecer
Destilando o elixir de uma eternidade
Quem sou eu quem é você
Fogo das estrelas ardem em nós
nós, espelhos, assim em cima como embaixo, tanto faz, tu ou eu, nós
(Estrelas canibais)
É sua carne que quero assar
É minha carne que queres cozer
Nós 2: Entrada, Prato principal, Sobremesa
reflexões sobre o si mesmo ensimesmado na mesa servida da flexão
(Tempestades)
Inteira noite
estrondo... gemido... choro... trovão... lágrimas...
espasmos... tremor... cansaço... gozo... paz...
complementação, a tormenta é vento sobre terra sobre água sobre calor
(Reinfância)
Redefinindo assim à noite
comemos com tudo os medos
e depois no sono reconquistar o amor
Liberdade edificada na libação
desamordaçando Ela & Eu
no laço ser o dês&nlace: Vir & Ver,
chegar
flertar
refletir
Viver!

6
enphlexyon e.m.tronconi

.: I :.
autos do autor

aldbigenesez

ouardo, o aedo, poeta dessas imagens, entre-observa a fresta,


conluio de sua própria mão, quarto-vulva portal dessas visões;
olha-o pois ele olha-o.

‘hei de implacavelmente frustrar de todas as formas


os ditos do afogado,
que o desprezo dos belos
seja então o desprezo pela beleza,
por esses des-presos que o poeta representa aqui...’

7
enphlexyon e.m.tronconi

convergente obdservar

do ponto central, do umbigo do mundo, do centro do disco,


do cerne, a profundeza, surge o nexo, o x, onde se cruza,
d’onde emana, pr’onde converge, é de lá a flexão.
Ouardo obdserva...

8
enphlexyon e.m.tronconi

qpuabdrante emisteron

um quarto, meio, inteiro, oitavas, hexagramas, quadrantes,


quarteiron, quadrado, quatruplo triângulo, geometricamente a
forma quer se esconder em mistérios matemáticos tão verbais
que reverdbera na língua uma morfologia de concatenação tão
recorrente que o poeta não quer dar vazão, para doutrinas não
impregnar a cria dessas sincronias de graças do acaso, longe vá
o ocaso do dogmagma, que só erupte aqui possibilidades de
dizer e redizer lidberalidades desdobradas e desatadas dos nós.

‘e que dos desdobramentos deste espelho-inflexo,


expelha o reflexo do viés onde uma estética de alteridade
e digressão visual aparece...’

9
enphlexyon e.m.tronconi

.: II :.
manbdalanaturais

espelho-portal orto-espectral

de dentro teus anjos lhe guarnecem,


de fora o guardião xamânico vê e invoca
‘aqui aberto reflete a permissão’
...reflexão...

10
enphlexyon e.m.tronconi

ardboredba

portal natural que permite passagem pelo centro fio, o espelho,


que revela procissão que do reino vegetal invade a interface do
nosso quieto mundo inquetando-o agora, que revelado tal trânsito,
em uma leve disparidade, o olho vê, a mente sonha, a mão manifesta...

veja,
na fresta,
ou ou,
nem nem,
ei-os aí
:

11
enphlexyon e.m.tronconi

um maroto garoto lê litânias


compenetrado confrade ouve de olhos fechados
dois entes corniferos menores mansos vêm também
e um ser esquelético carrega uma bandeja
sob quase indefinivel gruta que abriga uma rameira oferecida
donde escapa uma fera bicéfala
todos eles e muito mais passeiam pela passagem
.

12
enphlexyon e.m.tronconi

cogummelaria

vegetal carne
(aqui um espelho de reflexão de inversões)
carne vegetal

explode exploração
compenetre no centro
ali entra-se no oco
do pau
do moto
onde um céu
e um chão
sobrepõem-se
em vigas de fungos
magnéticos

tu vês onde brotas


a
concatenação?

esporoespelho
à lembrar que
‘o que está em cima ainda é igual ao que está em baixo’
.

13
enphlexyon e.m.tronconi

refolhamagnificante

ver
em
verde

rever

totens guardiões
invocam elementais
das confluências

um traço de fotons
reexiste como linha de luz

em um afã
um anfíbio
de vida ampla
reúne em folha
a síntese de
terra água ar fogo

ranídea ramificações
mergulham e emergem
do verde superficial
ao profundo verde
.

14
enphlexyon e.m.tronconi

refolhamagnificante em quatro reconvexas estádias


(IVoração)

iv
fluxos e refluxos
dança e contradança
paragens deslocantes
estado de dispersão encabulatória

aí ciranda
refino e transubstanciações
voragens
ivorações

‘oitx’
.

15
enphlexyon e.m.tronconi

arabescus cipópiantes

enlaçante
lança teus tentáculos
ao apêndice no ar

enlaçador
laça a espiral do vazio
e envaza tal espírito
dentro de teu fio
.

(mais tarde te ferverei,


depois da noite,
aqui ouardo irá lhes dar tal
entrelaçoluzeio)

16
enphlexyon e.m.tronconi

.: III :.
NocturnaliaN

seamus

coitado de tais olhos poeta


que hão de olhar dentro da noute

roga aos gatos ouardo


visão arguta
amante da noite
do coito da noite
da moita anoite
do mote que há de amenizar

anoutecer o azougue
e clareá-lo para verter em teus olhos
as terríveis visões que se projetam de tua alma doente
na tela do céu sem sol
siameses olhos
considerando a projeção sideral
que velam e revelam
tal terror
.

17
enphlexyon e.m.tronconi

dbevouruus

arregala teus olhos histriônicos


acorda
surge
e demonstra tua demência
de devorador
do fundo da frente da noite
devorador de luz
afogador de fulgor
em teu glúteo riso demente
na bocara sem contorno
abocanha o horizonte
tua anhangá sanha
vomita mito de dentro do escuro...

18
enphlexyon e.m.tronconi

regurgugion

sopro de breu condensado


emana vômico
do ponto dentro
do nexo de um corte
da noute
essência dos céus
que se estendem em profundidade
desde dos indimencionáveis
fundões
do qual o demiurgo menor
aqui aparece
e regugita
como incisão
de um cravo negro
que arranca nódia
da derme aérea-opáce
.

19
enphlexyon e.m.tronconi

proleoleose

e de tal parição
aparição regurgitante
demiurgo coprofilico venal
seu veneno vive
gerando prole
um breu mais breu que a noite
embreia da abóboda
exigindo adoração

teu medo
é o enredo
que nem um
aedo
queira dar
tão cedo
a tal
pretenso
deus
tão falido

sei como vidente de tais reflexões

20
enphlexyon e.m.tronconi

o
eu, uardo,
que o dia também
sempre vêm
trazer reflexão
da luz que foi dormir
...

21
enphlexyon e.m.tronconi

.: IV :.
arrebois

aurouraus

ah! vêm
queima
ouro,
vêm
queima
estrela,
queima
luz

magma sideral
errupção prismática no horizonte
ali luz e lumeio
falam do lume de auroras recorrentes
.

(fulgura o poeta
pactuou com a noute e com o ouro
-sentiu cintilou-
‘Ouardo’)

22
enphlexyon e.m.tronconi

ciclopumbio

dos céus
vêm ver
ciclope nu vem
cometer
sua observação

seu obdservar
conforma uma
anuviação:
orodboro

há que
um olho só
devorar a si mesmo,

23
enphlexyon e.m.tronconi

diante do espelho
.

24
enphlexyon e.m.tronconi

.: V :.
epiphanias

adesventus

se ensaia no céu
uma teophanya

abre-se o abismo atmosférico


do istmo férrico rico em significâncias
nulizantes

espaços e tempos
jorram
no encontro encanto
da coisa e do olho
de baixo pra cima
e
de cima pra baixo

(que nessas reflexões


possa o poeta
desconstruir
o que lhe destrói)
.

25
enphlexyon e.m.tronconi

adventus

olhas dentro do abismo


e o olho do abismo te enxergará também,
cuidado que não te cegues
pela impia revelação de seres tu um deus,
o impeto enteal à beira do abismo
da revelação...

o que cega é a vista


a visão
loucura
pois pode o seu deus ser demente
doente
como sua adicção de ver...

26
enphlexyon e.m.tronconi

iris
imagética reflexiva sinestésica...

mergulha tua visão


nessas apreciações,
detalhes de um todo
que há de te consumir
enlouquecendo

até dizer
‘adeus
querer saber’
.

27
enphlexyon e.m.tronconi

retroventus

em desdesventura...
céus
adeus

camurça das escaramurças

adeus
zeus

camaleões sem alcovas

adeuses
deus

imagens espelham venturas da imaginação divina

a deus
eu

palavras desnudam covas

eufórica
eufonia
.

28
enphlexyon e.m.tronconi

venues

vênus
olha-nos nus
à flor da pele
do olho
que também te vê nua

ao longe
no horizonte estonteante
abundante venustidade
que remete ouardo
à uma deusa ontológica
do confins inicial de sua pré-historia

ela abunda
abre teu ventre
derrama
e expande
gratigrandefica

e em último apelo
à uma sanidade humana
masculina e decadente
ensina:

‘para um homem

só a mulher pode ser deus’


formusura!

29
enphlexyon e.m.tronconi

.: VI :.
reflexões ayahuaskys

ephluvios alkimikos

ferve a verve
no caldeirão

o suco do lótus
a soma dos sonos
o sumo do ônus

a e i o uasca
aya uhu asa aca
ayahuasca

no caldo
vemos teu guia
anjo guardião

a liana laça com força


e a folha radia com a luz...

30
enphlexyon e.m.tronconi

radiância xakruna

d
( os mistérios desta serena luz
eu
ouardo
e outro
muito temos a dizer
dela se lerá
quando a expansão chegar,
por hora
conpenetrem-se na lumeio
luzeio leitor
leia está luz
essa tonalidade
e saberás quando
o mistério se
desvelar)
.

31
enphlexyon e.m.tronconi

ephervessências

brota dali
um ser,
antropos,

rebisiber,
duo
e
uno,

32
enphlexyon e.m.tronconi

e de tal líquida textura


expandirá
todo amor e toda paz
da luz que vêm
junto à essa
efervescência também
.

33
enphlexyon e.m.tronconi

.: VII :.
rudimentos restuais

abhismusgenais

limites da vida
raias baias da limitação

ilimites da vida
borda horda da mitificação

visão ao fundo
onde mitóicas mitocondrias repousam

o limbo
do abismo
genético
.

34
enphlexyon e.m.tronconi

conceptuação

engendrar
uma frieza para o gozo
engenhar
uma desculpa para a perpetuação
entoar
um esporro para o encontro

quão distante do arrogo


o arrombo
interpenetrante
quão longe da natureza
o prazer e a procriação

crear ou gemer?
a diferença se mede
em métrica
pélvica
.

35
enphlexyon e.m.tronconi

soponifelinus

dorme o gato
e sonha com a distante mandala
da erva-dos-gatos
que se abre em emanações
do torpor felino
...

36
enphlexyon e.m.tronconi

anjelus

remiscências celestes...
do mensageiro
a mensagem

todo anjo
é
santo e demôniaco,

pois em suas frontes


habitam a plena certeza
e a dúvida infinita...

que argumentem ao contrário


mas eles também
em anseios de icaro
amaram as mulheres
e trairam o marido
.

37
enphlexyon e.m.tronconi

corredor

corredor indifuso
agrega só em si
toda uma significação,
corredor fechado
em sua própria proporção,
não te tornas labirinto
não te tornas locação,
és um vies
de sonho,
inacado
e auto reflexixo,
vereda vedada
existe apenas aqui
no livro das reflexões imaginadas...

38
enphlexyon e.m.tronconi

olho

abpertura da visão
aberto
aperto
vista
...

és o olho de ouardo a ver eferverser do olhar reflexivo uma nova visão jogo de criar
.

39
enphlexyon e.m.tronconi

.: final :.

olholhar verever

carbonexpectropelho

40
enphlexyon e.m.tronconi

então doadas tais aberrações,


estas reflexões quadripartites multigonais,
ecos simples de imagens e pensamentos...

ouardo encerra suas profusões de revitalizações;


os desdobramentos falam por si,
então o leitor corresponda à visão,
à busca,
ao brusco sentir e erigir,

estão aqui um apelo à expansão também...

...toda estranheza é também jóia na flor-de-lótus...


...toda estranheza é também beleza no olho que sabe olhar...

41
enphlexyon e.m.tronconi

aqui se encerra esta imagética reflexão,

&

42
enphlexyon e.m.tronconi

43
enphlexyon e.m.tronconi

.
44

Você também pode gostar