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Manual Do IVA PDF
Manual Do IVA PDF
Documentação de Apoio
Docentes:
Liliana Pereira
Rui Bastos
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Impostos sobre a Despesa
CAPÍTULO 1: IVA - ORIGEM E CARACTERIZAÇÃO
CAPÍTULO 1
IVA – Origem e Caracterização
ÍNDICE
INTRODUÇÃO
1. ORIGEM E CARACTERIZAÇÃO DO IVA
1.1. Origem e Antecedentes
1.1.1. A Adopção do modelo IVA pela CEE
1.1.2. A Adopção do IVA por Portugal
1.2. Caracterização do IVA
1.3. Método do Crédito de Imposto
1.4. Comentário final
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Impostos sobre a Despesa
CAPÍTULO 1: IVA - ORIGEM E CARACTERIZAÇÃO
INTRODUÇÃO
A entrada em vigor do IVA em 1986, constituiu uma verdadeira reforma no nosso sistema
fiscal, tendo produzido um impacto muito significativo na vida das empresas, empresários,
consumidores e, particularmente, no exercício das funções dos TOC, ROC e funcionários da
Administração Tributária (AT) ( 1).
Em seguida, nos pontos 1.2. e 1.3., tentaremos dar a conhecer aquelas que são as principais
características do IVA, demonstrando o seu funcionamento e confrontando-o com as suas
eventuais alternativas em termos de tributação do consumo / despesa. No ponto 1.3. iremos
dar particular ênfase à Declaração Periódica (DP) do IVA e às respectivas regras de
contabilização (conta 243 do POC), designadamente, como forma de demonstrar em termos
práticos o Método do Crédito de Imposto.
Por fim, no ponto 1.4, ainda que sumariamente, daremos nota dos vários regimes de
tributação previstos para o IVA (regime geral, regimes especiais e particulares).
(1) O impacto de tal alteração na vida destes profissionais, nos últimos 30 anos, só é comparável ao impacto
gerado pela introdução do POC em 1977, à reforma da tributação do rendimento (IRS e IRC) em 1989 e, mais
recentemente, à introdução do Euro em 1999 - 2002. É contudo opinião generalizada, que a introdução do IVA,
contrariamente à introdução do IRS e do IRC, foi precedida de eficazes campanhas de informação / formação,
contribuindo assim positivamente para uma verdadeira ‘reciclagem’ dos técnicos.
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Impostos sobre a Despesa
CAPÍTULO 1: IVA - ORIGEM E CARACTERIZAÇÃO
Visando tributar a quase totalidade das transacções, e coberto por uma certa simplicidade,
torna-se um dos impostos mais apetecíveis para as finanças públicas contemporâneas,
espartilhadas pela diminuição das receitas fiscais, por défices orçamentais estruturais e pelas
consequências da integração da economia portuguesa na União Económica e Monetária.
Por outro lado, o facto de ser um imposto bastante reditício e de fácil administração,
atendendo ao controlo cruzado que é efectuado entre sujeitos passivos, torna-o bastante
apetecível para o Estado.
Por último salientemos ainda que uma das grandes vantagens do IVA relativamente a outros
impostos sobre as transacções, assenta na sua neutralidade, quer no plano interno, quer a
nível internacional.
(2) O embrião deste imposto encontra-se nos impostos sobre o volume de negócios bruto das empresas
adoptados no início do século XX em alguns países europeus, como a França e a Alemanha. O modelo do IVA
comunitário, tal como resultou das Directivas Comunitárias, deve-se a este inspector de finanças francês,
conhecido como o pai deste imposto. Maurice Lauré, através do aperfeiçoamento do imposto à produção,
mantendo os respectivos mecanismos essenciais, criou uma espécie tributária que incidia apenas no valor
acrescentado dos produtos.
(3) Países como o Vietname, a Zâmbia, o Uganda, o Uruguai, a Tunísia, a Tailândia, o Nepal, o Senegal, a Rússia,
a Palestina, as Filipinas, a Nigéria, o Quénia, a Coreia, a Indonésia, a Guatemala, inspiraram o seu sistema de
tributação das transacções no modelo IVA. Nos países de expressão portuguesa, podemos encontrar este tributo
em Moçambique e em Cabo Verde, estando a respectiva introdução a ser analisada em Angola e implementada
no Brasil. Por fim, refira-se ainda que apesar de não existir IVA nos EUA de forma generalizada (existe um
Imposto Estadual sobre as Vendas, a incidir apenas na fase do retalho), a verdade é que, curiosamente, o IVA foi
adoptado em dois Estados desse país (Louisiana e Michigan), tendo sido já objecto de vários estudos técnicos nas
últimas décadas com vista à sua implementação generalizada, embora sem sucesso.
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Impostos sobre a Despesa
CAPÍTULO 1: IVA - ORIGEM E CARACTERIZAÇÃO
Os impostos sobre o consumo são incorporados no preço das mercadorias. Ora, no que diz
respeito às mercadorias que se destinam ao comércio internacional, tal incorporação pode
conduzir a distorções nos fluxos de comércio entre os vários países, caso não sejam tomadas
medidas de coordenação ou harmonização que afastem tais distorções. Isto é, se não forem
desenvolvidos esforços conjuntos entre os Estados, com vista à aplicação de regras comuns,
o facto de existirem diferenças assinaláveis entre os seus sistemas fiscais (diferentes
impostos, com taxas e bases de incidência diferentes) poderá colocá-los em situações de
dupla tributação ou de não tributação das operações realizadas entre si.
93 ( 4), uma harmonização neste domínio, uma vez que os impostos indirectos podem criar
obstáculos à livre circulação de mercadorias e serviços no mercado interno e à concorrência
leal. Até ao momento foi já aprovado um número significativo de Directivas e Regulamentos,
neste sentido.
Muito do que tem sido feito, a nível comunitário, em matéria de impostos sobre o consumo,
resulta da aplicação concreta de medidas de carácter “supranacional” com vista à
harmonização fiscal. Tais medidas assentam no objectivo de eliminação das barreiras fiscais
e de criação de um verdadeiro mercado interno.
No que diz respeito ao IVA, o processo de harmonização fiscal consolidou-se mais em saltos
do que através de uma evolução linear.
A Comissão definiu claramente a sua estratégia no que diz respeito ao IVA, podendo dizer-se
que é o único imposto em que se verifica uma verdadeira harmonização fiscal na
Comunidade Europeia. A adesão de um Estado-membro à Comunidade Europeia, implica a
adopção do sistema comum de IVA, regulado por várias directivas do Conselho das
Comunidades Europeias, entre as quais assume especial relevo a chamada “Sexta Directiva”
(77/388/CEE de 17/05/77), que procede à uniformização da base tributável do imposto a
aplicar em todos os Estados-membros.
O sistema comum de IVA teve origem em 1962 em duas directivas comunitárias, as quais
definiam a substituição dos impostos sobre o consumo vigentes nos Estados-membros, por
este imposto de base comum.
Tal como existe hoje, o IVA resulta da Sexta Directiva de 1977 a qual se traduz numa espécie
de “bíblia” que tem servido de modelo para todos os Estados-membros e mesmo para outros
países não pertencentes à Comunidade Europeia mas que pretendem instituir no seu
domínio interno um imposto semelhante.
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( ) Actual artigo 113º do Tratado sobre o Funcionamento da União Europeia, na sequência da revisão introduzida
pelo Tratado de Lisboa.
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Impostos sobre a Despesa
CAPÍTULO 1: IVA - ORIGEM E CARACTERIZAÇÃO
O Tratado de Roma
(5) 67/227/CEE - Primeira Directiva do Conselho em matéria de harmonização das legislações dos Estados-
membros relativas aos impostos sobre o volume de negócios e 67/228/CEE – Segunda Directiva do Conselho em
matéria de harmonização das legislações dos Estados-membros relativas aos impostos sobre o volume de
negócios – estrutura e modalidades de aplicação do sistema comum e IVA, vulgarmente designadas como
Primeira e Segunda Directivas, respectivamente.
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Impostos sobre a Despesa
CAPÍTULO 1: IVA - ORIGEM E CARACTERIZAÇÃO
O IVA da Sexta Directiva ( 7), isto é, o sistema comum de IVA que dela resultou, recebe
as características de um imposto de base de incidência alargada.
(6) Sexta Directiva do Conselho, de 17 de Maio de 1977 (Directiva n.º 77/388/CEE), em matéria de harmonização
das legislações dos Estados-membros relativas aos impostos sobre o volume de negócios – Regime comum do
Imposto sobre o Valor Acrescentado: Base Tributável Uniforme (JOCE, n.º L 145, de 13 de Junho de 1977).
(7) A Sexta Directiva é a base do actual sistema de IVA, e tem vindo a ser completada por inúmeras outras
Directivas que contemplam aspectos acessórios àquela. Tentando facilitar o acesso a esta manta de retalhos, a
Comissão publica regularmente uma versão consolidada desta Directiva que consiste na integração num único
documento oficioso do acto de base da legislação comunitária e respectivas alterações e correcções.
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Impostos sobre a Despesa
CAPÍTULO 1: IVA - ORIGEM E CARACTERIZAÇÃO
Este regime transitório assenta na tributação dos bens no país de destino, supondo
ajustamentos fiscais nas importações e exportações, procurando, assim, dar resposta às
exigências do Mercado Interno, respeitando, ao mesmo tempo, a soberania fiscal dos
Estados-membros.
Tal regime deveria ter sido substituído, a partir de 1 de Janeiro de 1997, por um regime
definitivo no qual se aplicaria o princípio da tributação no país de origem. No entanto, a
falta de consenso entre os Estados-membros determinou a sua prorrogação, prevendo-se
que o mesmo se mantenha durante os próximos anos.
Assim, a TIB está isenta de IVA, sob reserva de o adquirente estar registado para efeitos
de IVA num outro Estado-membro e os bens deixarem o território nacional. Desta forma,
os bens abandonam o território nacional desprovidos de qualquer tributação. No país de
destino, a AIB é tributada (no país em que é consumida) e deve ser declarada pelo
adquirente na sua Declaração Periódica (DP).
Para evitar a abolição das formalidades e controlos aduaneiros, e vitar perdas de receitas
fiscais, as administrações nacionais criaram em 1992 um sistema informático de troca de
informação relativa ao valor das TIB – o sistema VIES ( 8) – com o objectivo de prevenir a
fraude fiscal, permitindo aos Estados-membros assegurar a tributação efectiva das
operações com destino a sujeitos passivos residentes no território do respectivo estado.
8
( ) VIES – Vat Information Exchange System ou, em português, sistema de troca de informações do IVA.
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Impostos sobre a Despesa
CAPÍTULO 1: IVA - ORIGEM E CARACTERIZAÇÃO
Por outro lado, como as receitas de IVA serão pagas pelos agentes económicos no país
de registo (já não no país de consumo), a proposta da Comissão prevê a necessidade de
reatribuir aos Estados-membros as receitas de IVA correspondentes ao seu consumo
nacional.
No entanto, considerando as várias dificuldades que vêm sendo sentidas e que dificultam
a passagem para este regime definitivo, a nova abordagem da Comissão dá prioridade à
introdução de melhorias ao actual regime transitório em vez de um regime definitivo
baseado no princípio da origem.
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Impostos sobre a Despesa
CAPÍTULO 1: IVA - ORIGEM E CARACTERIZAÇÃO
O Imposto sobre o Valor Acrescentado foi introduzido no nosso sistema fiscal pelo Decreto-
Lei n.º 394-B/84, de 26 de Dezembro, constituindo uma importante reforma do sistema da
tributação indirecta (9) e uma substancial alteração do modelo da tributação geral do
consumo. O IVA passou a vigorar a partir de 01/01/1986, em substituição do Imposto de
Transacções (IT), criado em 1966, o qual vigorou durante 20 anos, como tal, bastante
enraizado (e deturpado, desacreditado) junto dos seus principais destinatários (contribuintes
e técnicos).
(9) Existem vários critérios para distinguir impostos directos de impostos indirectos (classificação de acordo com o
Orçamento de Estado), de acordo com a interpretação dada pelos respectivos autores. Refira-se, no entanto, que
independentemente dos pressupostos utilizados, é opinião unânime que o IVA é de facto um imposto indirecto,
pois o mesmo não incide sobre manifestações directas ou imediatas da capacidade contributiva (património ou
rendimento), mas sim sobre manifestações indirectas (mediatas) dessa capacidade, como são o consumo ou a
despesa (definição clássica). Os impostos podem ser classificados de outras formas, designadamente, em
Impostos sobre o Rendimento (IRS e IRC), Impostos sobre o Património (IMI, IMT, IS) e Impostos sobre a
Despesa ou sobre o Consumo (IVA e IEC’s).
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( ) A livre circulação de mercadorias no espaço comunitário, prevista no Tratado de Roma (assinado em 1957,
por apenas 6 países), exigiu o impedimento da ocorrência de quaisquer distorções de concorrência entre os EM,
logo, impôs-se a introdução (gradual) de regras com vista à neutralização do factor fiscal, daí a designada
‘uniformização da base tributável’ nos EM. De facto, a falta de harmonização fiscal poderia constituir um
instrumento utilizado pelos Estados para discriminar negativamente os produtos estrangeiros face aos nacionais,
principalmente ao nível dos impostos indirectos, pois estes têm por norma uma influência directa nos preços dos
bens e serviços sobre o consumidor. Na falta de regras uniformes, os Estados seriam tentados a desencorajar as
importações e/ou fomentar as exportações, protegendo as produções nacionais, deturpando assim o
funcionamento do mercado comum. Assim, em contextos internacionais, a regra foi a adopção do princípio da
tributação no destino, segundo o qual, os bens e serviços são tributados no país de consumo (de destino), sendo
influenciados apenas pelas regras fiscais desse país. Tal pressupõe que os bens com destino ao estrangeiro
devam sair ‘despidos’ de qualquer carga fiscal implícita, o que implica a restituição aos exportadores do imposto
suportado nos inputs produtivos (para evitar IVA oculto), dando-se a tributação exclusivamente no país importador
(de destino) às taxas vigentes nesse país, colocando os produtos importados em pé de igualdade com os produtos
nacionais. Por fim, refira-se que a tributação segundo o princípio do destino, porque exige a necessidade de
fronteiras fiscais (físicas ou não), é algo incoerente com a ideia de um verdadeiro mercado comum
intracomunitário, no qual, em última instância, não deveriam existir quaisquer fronteiras, dando-se a tributação no
país de origem, como se de um único país se tratasse. Desta forma, transformar-se-iam as relações
intracomunitárias em relações de puro mercado interno, sendo para aí que deveremos caminhar no futuro, embora
para já existam alguns obstáculos que inviabilizam tal solução, tais como: diferenças nas taxas de IVA entre
países da CE, a necessidade de implementação de um mecanismo de compensação com as dificuldades
inerentes, a regra da unanimidade existente em matérias fiscais e desconfianças ao nível da eficácia na cobrança.
A ‘uniformização da base tributável’, teve também presente a resolução dos problemas inerentes às receitas
próprias da Comunidade, as quais contemplam, entre outras, uma taxa (actualmente 1,4%) a incidir sobre uma
base calculada de forma uniforme por todos os EM, de acordo com as regras comunitárias vigentes.
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( ) Atenda-se às sucessivas alterações posteriormente introduzidas na 6ª Directiva e, consequentemente, no
CIVA, destacando-se pela sua relevância as alterações introduzidas pelo D.L. n.º 290/92, de 28 de Dezembro
(transposição da Directiva n.º 91/680/CEE, de 16 de Janeiro), o qual deu origem ao Regime do IVA nas
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CAPÍTULO 1: IVA - ORIGEM E CARACTERIZAÇÃO
Por outro lado, a entrada em vigor do diploma antes de Portugal se encontrar vinculado à
Comunidade Europeia (CE) e às normas comunitárias, significou que a introdução do IVA se
deveu também aos seus méritos próprios, quando confrontado com o sistema monofásico do
IT ( 12). Porém haveria que, desde logo, no decurso dos trabalhos preparatórios, identificar as
soluções comunitárias de mais difícil absorção e apresentar nas negociações da adesão os
respectivos pedidos de derrogação às regras comuns.
Transacções Intracomunitárias (RITI), diploma autónomo em vigor desde 1993, ao mesmo tempo que procedeu a
alterações simultâneas às disposições do IVA, com vista à eliminação das fronteiras físicas entre EM. Com estas
alterações de fundo, os movimentos de bens dentro da CE deixaram de ser qualificados como Importações /
Exportações (termos usados somente nas relações com países terceiros), passando a designar-se tais fluxos,
dentro da CE, como Aquisições Intracomunitárias de Bens (AIB) / Transmissões Intracomunitárias de Bens (TIB),
pese embora o imposto continue a afluir ao país de destino, de acordo com as regras fiscais aí vigentes, podendo
por isso falar-se na manutenção de fronteiras fiscais, embora ‘virtuais’, não ostensivas, enquanto durar o actual
regime transitório (ver nota anterior). De facto, actualmente, no caso de aquisições a países terceiros o IVA é
devido no país de destino, sendo liquidado pela Alfândega e suportado pelo importador (podendo tal imposto ser
deduzido). No caso de aquisições a EM’s (AIB), na ausência de fronteiras e de controlo alfandegário, em geral o
IVA é liquidado no destino pelo próprio adquirente (SP de IVA), sendo imediatamente dedutível (liquidação e
dedução em simultâneo).
Em 2006 foi publicada a directiva n.º 2006/112/CE, de 28 de Novembro (nova directiva IVA) que veio actualizar as
disposições da 6ª directiva.
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( ) O sistema monofásico do IT, o qual incide apenas numa fase do circuito económico (na passagem para o
retalhista), contrasta em absoluto com o sistema do IVA, que se apresenta como um imposto plurifásico, a incidir
em todas as fases do circuito, sem gerar efeitos cumulativos, conferindo-lhe por isso um carácter de neutralidade.
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( ) Inicialmente (1957) o Tratado de Roma foi assinado apenas por 6 países – França, Alemanha, Itália, Bélgica,
Luxemburgo e Holanda. Entretanto ocorreram 4 alargamentos: o 1º com a entrada do Reino Unido, Irlanda e
Dinamarca (1973); o 2º referente à Grécia (1981); o 3º alargamento incluiu Portugal e Espanha (1986) e o 4º, e
último, alargamento culminou com a entrada da Áustria, Finlândia e Suécia (1995). Em 2004 ocorreu o 5º
alargamento, contemplando mais 10 países do leste europeu (Chipre, Eslovénia, Estónia, Hungria, Letónia,
Lituânia, Malta, Polónia, República Checa e República Eslovaca).
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Impostos sobre a Despesa
CAPÍTULO 1: IVA - ORIGEM E CARACTERIZAÇÃO
(14) Embora em países que dão os primeiros passos na tributação das transacções, com escassa experiência
nesta zona da fiscalidade e com carências de organização administrativa, não se mostre aconselhável a
introdução de um imposto deste tipo devido à sua complexidade administrativa. Porém, à medida que se forem
vencendo tais dificuldades e que as necessidades de crescimento das receitas fiscais se imponham, os defeitos
dos impostos alternativos ao IVA tornam-se mais claros, mostrando-se a introdução do IVA uma opção credível a
ter em conta, como é exemplo recente a introdução do IVA em Moçambique.
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( ) O IVA permite, por exemplo, uma aplicação mais satisfatória do princípio da tributação no destino, tratando-se
de uma questão muito relevante, na medida em que, ao tempo da assinatura do Tratado de Roma, todos os
países possuíam impostos sobre as transacções cumulativos ou em cascata, à excepção da França que já em
1954 dispunha de uma forma elementar de Imposto sobre o Valor Acrescentado. Na verdade, nos impostos
cumulativos não é possível determinar, em rigor, o imposto implícito no preço final dos bens, logo, os montantes
reais das restituições nas exportações e das compensações nas importações, deturpando assim o princípio acima
invocado e falseando, consequentemente, as relações comerciais na UE.
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( ) Impostos cumulativos são normalmente caracterizados por baixas taxas de imposto, porém, a sua liquidação,
sem possibilidade de dedução, em todas as fases do circuito económico, gera efeitos cumulativos de imposto
sobre imposto (efeito cascata), provocando inevitáveis distorções e motivando nos operadores uma tendência
natural para a concentração por motivos puramente fiscais.
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( ) Ao nível da política fiscal, para aumentar as receitas fiscais, basicamente, poderá actuar-se sobre 3
componentes: 1ª - alargando a BT (em sentido amplo, alargando a incidência, mais gente a pagar e mais bens e
serviços tributados); 2ª - aumentando as taxas (opção adoptada pelo XV Governo em sede de IVA); 3ª -
aumentando a eficiência / eficácia da AT (também em sentido amplo, eficiência ao nível das cobranças coercivas,
justiça tributária, serviços locais e, fundamentalmente, ao nível da inspecção tributária no combate à fraude e
evasão fiscais). No IT verificava-se que a BT era estreita por natureza, a eficiência dos serviços reduzida, não
restando outra forma de aumentar as receitas se não aumentando as taxas. Com o IVA alargou-se a BT (no
sentido acima referido) e melhorou-se a eficiência dos serviços, permitindo, teoricamente, aumentar a receita sem
que as taxas fossem muito pesadas, o que aconteceu de facto, no início da vigência do IVA. Contudo, esses
efeitos vão-se atenuando ao longo do tempo, gerando progressivamente a necessidade de, para aumentar ainda
mais as receitas, mexer também na 2ª componente, aumentando as taxas, o que aconteceu recentemente com o
aumento da taxa normal em 2%. Há quem considere ser este o principal defeito do IVA, uma vez que produz
receita facilmente e de forma rápida, constituindo uma tentação ao nível da política fiscal aumentar as taxas, em
vez de se actuar ao nível da 3ª componente, muito mais desejável, pois produz receita aumentando
simultaneamente a equidade fiscal, embora com resultados eventualmente não tão imediatos e quantificáveis.
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Impostos sobre a Despesa
CAPÍTULO 1: IVA - ORIGEM E CARACTERIZAÇÃO
O elevado nível das fugas ao imposto, tinha implícito, é certo, carências dos serviços (meios
de fiscalização e repressão de ilícitos); porém, a verdade é que os incentivos a esses
comportamentos começavam justamente nas tentações / limitações que o próprio sistema
oferecia:
a) O mecanismo da suspensão de imposto, linha mestra do IT, que garantia a tributação das
operações apenas no estádio do grossista, no momento da sua transacção para o
retalhista, era aproveitado por contribuintes fraudulentos através da emissão de
declarações de responsabilidade (m/5 e m/6) em nome de empresas fictícias ou com
sócios insolventes e/ou não localizáveis.
b) Outra forma de fuga era a criação pelas empresas retalhistas de sectores grossistas,
protelando o pagamento do imposto para o momento em que os bens eram
transaccionados para o consumidor final, uma vez que só nessa fase transferiam os bens
da secção de grosso para a de retalho através de documento interno, no qual só então
liquidavam imposto.
c) A determinação da base tributável assentava, em muitos casos, não no preço efectivo da
transacção, mas num preço construído (preço corrente de venda por grosso), o que não
evitava outro tipo de fraude, que consistia em reduzir o valor tributável no caso de
empresas integrando os sectores grossista e retalhista ou de vendas para empresas
associadas (18).
(18) Esta situação, descrita no preâmbulo do CIVA (redigido em 1984), de manipulação de preços, entre empresas
com relações especiais, por motivos fiscais, transcende largamente o IT, tratando-se efectivamente de um tema
muito actual que se coloca fundamentalmente ao nível do IRC e IRS, envolvendo vários países ou não. Ao nível
do IVA esta problemática não assume tanta importância face à técnica do imposto (liquidação e dedução), embora
na verdade se possa também equacionar em casos mais excepcionais, designadamente, no caso de SP’s mistos
em que seja utilizado o sistema da afectação real e também no caso de relações especiais entre SP’s do regime
normal e SP’s isentos pelo art. 9º (ver ponto 7.).
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Impostos sobre a Despesa
CAPÍTULO 1: IVA - ORIGEM E CARACTERIZAÇÃO
i) apresenta uma técnica mais perfeita, assegurando mais neutralidade na tributação, constituindo
paralelamente um sistema com maiores potencialidades de obtenção de receita;
ii) cobrado em todas as fases, o IVA não tem influência na junção ou separação dos negócios;
iii) se o valor tributável é o preço efectivo da transacção, e não um valor normal, evitam-se dúvidas e
dificulta-se a manipulação de valores;
iv) fazendo intervir na recolha do imposto todos os operadores, o peso do imposto dilui-se,
desincentivando a evasão e a fraude;
v) não existindo a técnica de suspensão de imposto, evitam-se as manobras fraudulentas atrás
referidas;
vi) não constituindo um custo para os operadores (dedutibilidade do IVA suportado), estimula a
declaração de valores reais;
vii) exige um fortalecimento de meios materiais e humanos da AT, contribuindo para uma evolução
positiva do sistema fiscal português;
viii) traduz o início de um processo (desejável) de harmonização fiscal na CE;
ix) assegura neutralidade nas transacções internacionais, minimizando distorções de concorrência
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provocadas por eventuais discriminações por parte dos Estados ( ).
O IVA visa tributar todo o consumo (bens e serviços), abrangendo todas as fases do circuito
económico (da produção ao retalho), sendo a base tributável limitada ao valor acrescentado
em cada fase e a dívida tributária de cada operador calculada pelo método do crédito de
imposto ( 20).
O IVA, aplicado desta forma, corresponde a uma tributação por taxa idêntica, efectuada de
uma só vez na fase do retalhista (21). Este método assegura que os bens e serviços utilizados
na produção, não sejam em definitivo tributados, pois as aquisições (inputs) são feitas com
imposto, o qual é, em princípio, dedutível.
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( ) Na terminologia do Tratado de Roma, existe discriminação quando o imposto é utilizado com o fim de falsear a
concorrência entre empresas nacionais e estrangeiras, isto é, quando tende a favorecer as empresas e produtos
nacionais em detrimento das empresas e produtos estrangeiros, existindo assim distorção, quando uma
disposição fiscal, independentemente do seu fim, tem como efeito perturbar a concorrência. Em teoria, ao nível
das transacções internacionais, o IT permite uma correcta aplicação do princípio do destino, pois a tributação dá-
se normalmente num momento posterior ao da Exportação, na passagem do grossista para o retalhista, não
havendo por isso dificuldades em apurar o imposto contido no preço dos bens. Contudo, a verdade é que eram
por vezes concedidos apoios à exportação de forma arbitrária e encapotada, motivando efectivas distorções.
(20) Ver adiante no ponto 1.3, a explicação e demonstração deste método, pedra basilar da mecânica do IVA.
(21) Sem a desvantagem de um imposto deste tipo (monofásico na fase do retalho), onde o vasto universo de
contribuintes e a sua natureza (retalhistas, grande parte deles de reduzida dimensão) gera inevitável fuga com o
consequente aumento das taxas. Com um imposto monofásico deste tipo, ainda assim, é possível praticar
menores taxas do que com impostos monofásicos cobrados a montante (no produtor ou no grossista), pois nestes
impostos, quanto mais a montante se der a tributação, menor será a base tributável, logo, maiores serão as taxas
necessárias para proporcionar um mesmo nível de receita fiscal, gerando também evasão e fraude fiscais.
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Impostos sobre a Despesa
CAPÍTULO 1: IVA - ORIGEM E CARACTERIZAÇÃO
b) Extensão da incidência objectiva, pois o IT, sendo formalmente um imposto geral, tinha
uma base de incidência estreita, não incluindo prestações de serviços e isentando um
conjunto amplo de bens essenciais, enquanto que o IVA tem uma base de incidência mais
uniforme;
22
( ) Nessa medida foram inevitáveis certas incompreensões e resistências por parte dos operadores e do público,
designadamente por parte de prestadores de serviços e retalhistas. Inevitáveis foram também as alterações dos
preços relativos e o agravamento dos custos de financiamento de alguns sectores produtivos, porém, tais
consequências foram o preço a pagar por se dotar o país de um imposto mais neutro e mais produtivo, sendo uma
consequência intrínseca do próprio sistema que se pretendeu adoptar, o qual é caracterizado pela generalidade e
pela neutralidade económica.
23
( ) Há autores que se referem, ainda hoje, a uma ‘tributação à taxa zero’ quando se referem às exportações e às
TIB, em virtude das respectivas isenções serem completas. De facto, tal acepção tinha plena justificação aquando
da introdução do IVA, designadamente na isenção concedida à agricultura (isenção com reembolso), entretanto
eliminada. Aplicar-se tal expressão às exportações e às TIB é como que dizer que, em tais operações, é liquidado
IVA à taxa zero, daí resultando a possibilidade de dedução – no fundo, dentro dos princípios gerais inerentes ao
IVA (art. 20º, n.º 1, al. a) e art. 23º, n.º 1), de que só pode deduzir-se o imposto suportado inerente a operações
sujeitas a imposto e não isentas, neste caso, sujeitas à taxa zero, daí a possibilidade de dedução.
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Impostos sobre a Despesa
CAPÍTULO 1: IVA - ORIGEM E CARACTERIZAÇÃO
Num imposto geral como o IVA, as isenções são restritas (art. 9º do CIVA) e significam que
as actividades abrangidas não estão sujeitas à obrigação de facturar (liquidar) imposto, não
beneficiando de crédito do imposto suportado nas aquisições de inputs produtivos (isenção
incompleta). As exportações e operações assimiladas, em homenagem ao princípio da
tributação no destino, estarão também isentas, mas, neste caso (isenção completa),
beneficiam da dedução do imposto suportado (25).
Em matéria de taxas, o ideal, no plano estritamente técnico, seria uma estrutura simples de
taxas, no limite uma taxa única. Porém, atendendo a um conjunto vasto de contingências,
designadamente para evitar mudanças abruptas e iniquidades várias ( 26), optou-se
inicialmente por, para além da taxa zero, criar uma taxa reduzida, uma taxa normal e outra
agravada. Actualmente, apenas existe a taxa reduzida de 5% (Lista I), a taxa intermédia de
12% (Lista II) e a taxa normal de 20%, aplicável aos restantes bens e serviços ( 27).
24
( ) Referimo-nos naturalmente ao Regime Especial de Isenção (REI), previsto no art. 53º e seguintes do CIVA e
ao Regime Especial dos Pequenos Retalhistas (REPR), constante do art. 60º e seguintes, também do CIVA – tais
regimes serão abordados mais adiante, sob a epígrafe ‘Regimes de tributação’.
25
( ) Tais conceitos, isenções completas e incompletas, embora já aflorados, serão explicitados com maior rigor,
mais adiante, a propósito das isenções.
26
( ) Várias taxas, independentemente da capacidade contributiva de cada consumidor, discriminando
positivamente os consumos essenciais, mas não os consumidores ‘especiais’ (taxas reduzidas, embora para todos
os consumidores em geral, ricos ou pobres). Atenda-se à ‘regressividade do IVA’ (por oposição à progressividade
do IRS), na medida em que o esforço efectuado pelos mais desfavorecidos com o imposto é superior ao dos mais
abastados. Na verdade, à medida que aumentam os rendimentos, aumenta menos do que proporcionalmente o
consumo, verificando-se que, embora os mais favorecidos suportem mais imposto em valor (porque consomem
mais), na realidade o seu esforço, face à sua capacidade contributiva, é menor. A eliminação da taxa agravada,
antes incidente sobre bens considerados de luxo, por imposição comunitária, conforme se refere na nota seguinte,
introduziu uma iniquidade adicional no IVA, tornando-se ainda mais evidente a suposta regressividade do IVA.
Segue-se um exemplo demonstrativo com 3 famílias que auferem diferentes níveis de rendimentos:
Famílias Rendimento Consumo Taxa IVA IVA Suportado Taxa Esforço
(1) (2) (3) (4) = (2 x 3) (5) = (4 / 1)
Silva 10.000 9.000 20% 1.800 18%
Meneses 50.000 35.000 20% 7.000 14%
Azevedo 150.000 75.000 20% 15.000 10%
27
( ) Relativamente à taxa intermédia (Lista II do CIVA), esta não é mais do que uma segunda taxa reduzida.
Quanto à taxa normal de 20%, a mesma encontra-se em vigor desde 01/07/2008, sendo que, anteriormente,
vigorou a taxa de 21%, desde 01/07/2005 e, desde 05/06/2002 era de 19%, sendo que, desde 1995, a taxa era de
17%. Finalmente, quanto à eliminação da taxa agravada, por imposição comunitária, a mesma revela-se contrária
ao disposto no artigo 103º, n.º 4, da CRP, que refere que «a tributação do consumo visa adaptar a estrutura do
17
Impostos sobre a Despesa
CAPÍTULO 1: IVA - ORIGEM E CARACTERIZAÇÃO
Sendo inviável a recolha de dados a partir de todos os serviços locais, cedo se constatou a
necessidade de criar e regulamentar uma estrutura centralizada de cobrança de imposto
(Direcção de Serviços de Cobrança do IVA - DSCIVA), à qual compete, entre outras
atribuições, receber e tratar as Declarações Periódicas (DP’s) e os meios de pagamento.
Actualmente, e desde 2000, é possível fazer a entrega das DP’s e pagamentos nas estações
dos CTT e nas Tesourarias de Finanças (TF), até ao último dia do prazo. Sendo a DP e o
meio de pagamento enviados por via postal, considera-se cumprido o prazo desde que a sua
remessa seja efectuada com, pelo menos, três dias úteis de antecedência.
Finalmente, e apesar das inegáveis vantagens do IVA, após quase 20 anos de aplicação, é
possível apontar-lhe as seguintes limitações:
i) as inerentes ao método da dedução de imposto, que gera abusos fraudulentos,
designadamente facturas falsas, sobrefacturação;
ii) relativamente ao IVA liquidado: vendas sem factura ou subfacturação;
iii) fraudes ao nível das transacções intracomunitárias, potenciadas pela ausência de
fronteiras ostensivas;
consumo à evolução das necessidades do desenvolvimento económico, devendo onerar os consumos de luxo»,
não se cumprindo por isso este objectivo constitucional, que visava atenuar as injustiças provocadas por um
imposto como o IVA, invocadas, designadamente, na nota anterior.
28
( ) Implicou designadamente a adopção de uma conta-corrente do contribuinte, debitada pelo montante a pagar
constante das DP’s e creditada pelos pagamentos Trata-se de uma contabilização inversa (reflexa) à
contabilização do IVA nas empresas, onde um saldo credor, ou movimentos a crédito na conta 243, representam
IVA a favor do Estado, e movimentos a débito correspondem a IVA a favor da empresa (IVA dedutível). Assim, a
conta 2436 - IVA a pagar, na contabilidade das empresas, é creditada pelo imposto a pagar (recebe o saldo credor
da conta 2435 – IVA Apuramento) e debitada pelos pagamentos efectuados, movimento inverso do efectuado
pelos serviços do IVA (no fundo, trata-se de uma situação análoga à contabilização pelos bancos e pelos clientes,
ou à contabilização de uma operação no fornecedor e no cliente).
18
Impostos sobre a Despesa
CAPÍTULO 1: IVA - ORIGEM E CARACTERIZAÇÃO
29
( ) Embora se reflicta directamente nos preços aos consumidores, ainda assim o IVA gera um ‘efeito anestesia’,
traduzindo-se no facto dos consumidores pagarem o IVA sem se darem conta, de alguma forma anestesiados,
uma vez que interiorizam os preços já com IVA. Ainda assim, não tem aplicação universal, pois muitas vezes é o
próprio vendedor (ou prestador de serviços) que ‘alerta’ para o ónus do IVA, no caso de lhe ser exigida factura,
configurando uma situação ilegal, infelizmente bastante generalizada, tratando-se, sobretudo, de uma questão de
moralidade, tal como outras situações de fraude e evasão fiscal, muito complexa, ao nível das mentalidades.
19
Impostos sobre a Despesa
CAPÍTULO 1: IVA - ORIGEM E CARACTERIZAÇÃO
(30) Tais ajustamentos ou adaptações ao contexto português, mostram-se cada vez menos evidentes ao longo da
vigência do IVA, atendendo à crescente harmonização, embora subsistam de alguma forma, ao nível,
designadamente, das taxas e dos limites dos regimes especiais (e outros limites previstos no CIVA). A tendência
será a existência de cada vez menos diferenças ao nível das legislações dos EM, em virtude da cada vez menor
flexibilidade da 6ª Directiva, ao nível da margem de manobra deixada ao livre arbítrio dos EM, no âmbito de um
processo crescente de harmonização fiscal comunitária.
31
( ) E ainda sobre as Importações e as AIB – a incidência real, ou objectiva, será abordada posteriormente,
constando dos artigos 1º, 3º, 4º e 5º do CIVA e do RITI, aplicável por remissão do art. 1º, n.º 1, al. c) do CIVA.
32
( ) A definição de sujeito passivo (SP) consta do art. 2º do CIVA, sendo consideradas SP’s para efeitos de IVA,
grosso modo, todas as pessoas singulares ou colectivas que exerçam de um modo independente, a título habitual
20
Impostos sobre a Despesa
CAPÍTULO 1: IVA - ORIGEM E CARACTERIZAÇÃO
Vamos verificar que, como operações tributáveis em sede de IVA temos as Transmissões
de Bens, as Prestações de Serviços, as Importações e as Aquisições Intracomunitárias de
Bens. Ora, como iremos observar, os conceitos das referidas operações encontram-se
definidos pela positiva, à excepção do conceito de Prestação de Serviços. Este, como
iremos verificar, terá um carácter residual, encontrando-se delimitado pela negativa.
Assim, através deste conceito, consegue-se tributar todo o acto de consumo ( 33).
ou ocasional, uma actividade económica (ver mais adiante o sub-capítulo da ‘incidência subjectiva’). De uma
forma geral, SP’s são então os operadores económicos que assumem a posição de devedores perante o Estado,
sendo este, portanto, o sujeito activo, uma vez que é o credor da prestação tributária. Tal não obsta a que, por
vezes, o credor seja o contribuinte; porém, tal situação, menos frequente (típica das empresas exportadoras), não
invalida que o Estado seja de facto o sujeito activo, embora nestas situações assumindo uma posição devedora.
(33) Esta máxima generalidade tem como consequência o facto de as situações de benefícios fiscais em
sede de IVA terem uma natureza excepcionalíssima.
(34) Este regime, como já tivemos oportunidade de analisar, no ponto 1.1.1, vigora transitoriamente, estando
previsto, embora pareça cada vez mais distante, a passagem para o regime definitivo de tributação no país de
origem.
35
( ) Isenção completa, tal com a anterior, ou seja, com possibilidade de dedução do IVA suportado a montante,
não sendo o IVA, por conseguinte, um custo (é antes um crédito sobre o Estado, reembolsável), permitindo-se,
assim, que os bens saiam do país de origem sem qualquer conteúdo fiscal, por forma a que a tributação se dê
efectivamente no destino, sem distorções. Tal princípio (do destino), está também presente nas regras de
localização das PS, dando-se a tributação grande parte das vezes também no destino, sendo o IVA liquidado pela
Alfândega (no caso de países terceiros) ou pelo próprio adquirente (no caso de países da CE e alguns casos
envolvendo países terceiros). O Estado é também SP de IVA em determinadas circunstâncias.
21
Impostos sobre a Despesa
CAPÍTULO 1: IVA - ORIGEM E CARACTERIZAÇÃO
h) É um imposto regressivo, uma vez que o esforço efectuado pelos consumidores diminui
à medida que aumenta a sua capacidade contributiva (rendimento), verificando-se que
consumidores mais abastados suportam efectivamente mais IVA em valor absoluto
36
( ) Xavier de Basto – “A tributação do consumo e a sua coordenação internacional”, in Ciência e Técnica Fiscal
n.º 164, Lisboa, 1991.
37
( ) Na verdade as 3 taxas distintas não lhe retiram o carácter de proporcionalidade, pois a colecta (o imposto)
varia exclusivamente de acordo com a base tributável (proporcionalmente), não dependendo das características
específicas do consumidor (rendimento, situação pessoal e familiar, etc.) sendo a taxa igual para todos: ricos e
pobres, logo, sem absoluta equidade nesta óptica. A taxa não varia de acordo com o tipo de consumidor, mas com
o tipo de consumo, consoante os bens e serviços a consumir. Em sentido amplo, pode afirmar-se que o IVA
suportado por uma família varia proporcionalmente ao seu consumo, embora com um efeito mitigado devido à
existência de várias taxas.
38
( ) A taxa de 20% foi introduzida pela Lei n.º 26-A/2008, de 27/06, com entrada em vigor em 1 de Julho de 2008.
Anteriormente a taxa era de 21% que vigorou desde 01/07/2005, tendo sido introduzida pela Lei n.º 39/2005, de
24 de Junho. As taxas em vigor nas Regiões Autónomas dos Açores e da Madeira são de 4%, 8% e 14%,
relativamente às operações que se considerem lá localizadas.
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Impostos sobre a Despesa
CAPÍTULO 1: IVA - ORIGEM E CARACTERIZAÇÃO
(39) Conforme se fará referência mais adiante a propósito dos ‘Regimes de tributação’.
23
Impostos sobre a Despesa
CAPÍTULO 1: IVA - ORIGEM E CARACTERIZAÇÃO
Porém, apenas são responsáveis pela entrega ao Estado, e agora ao contrário dos impostos
cumulativos, da diferença entre esse imposto liquidado nas vendas e o imposto suportado
que onerou as suas compras, devidamente facturado (liquidado) pelos fornecedores.
Com este mecanismo, cada operador económico apenas entrega ao Estado uma fracção
(regime de pagamentos fraccionados) do total do imposto, que irá ser efectivamente
suportado pelo consumidor final, conseguindo-se por esta via uma receita idêntica à
proporcionada por um imposto monofásico na fase do retalho, sem fazer recair no retalhista o
pagamento exclusivo do imposto ( 41).
O IVA rege-se então pelo ‘Método do Crédito de Imposto’ ( 42), em que o operador assume a
qualidade de devedor, perante o Estado, do imposto liquidado nas suas vendas num
determinado período (imposto a favor do Estado – IVA liquidado), ao mesmo tempo que é
credor (43) do Estado, quanto ao imposto suportado nas compras relativas a esse mesmo
período (imposto a favor da empresa – IVA dedutível).
(40) Também designado por ‘Método Subtractivo Indirecto’ ou de ‘Método de Dedução Imposto de Imposto’, por
oposição ao ‘Método Subtractivo Directo’ ou ‘Método Base de Base’, o qual também permite o fraccionamento do
imposto, na medida em que cada operador entrega ao Estado apenas o Imposto incluído na sua margem bruta,
sem possibilidade de dedução e sem uma verdadeira liquidação, porque não há repercussão, encontrando-se o
IVA normalmente implícito no preço de venda. Tal método é de aplicação marginal no IVA, embora seja utilizado
em alguns regimes particulares, concretamente, no ‘regime particular aplicável aos bens em 2ª mão, objectos de
arte de colecção e antiguidades’ e no ‘regime particular das agências de viagens e dos organizadores de circuitos
turísticos’.
41
( ) Tal como se referiu anteriormente, a natureza deste tipo de contribuintes torna contraproducente a adopção
deste tipo de imposto, uma vez que o retalho (em sentido amplo, vendas a consumidores finais) se apresenta, em
geral, como um sector de risco, não devendo por isso as receitas basear-se exclusivamente no desempenho
destes contribuintes. Um imposto monofásico cobrado mais a montante (por exemplo, no grossista), apresenta a
desvantagem de necessitar de taxas mais elevadas, com vista a obter a mesma receita fiscal, para além das
várias limitações já invocadas a propósito do IT, o qual tem esta natureza – monofásico no grossista.
42
( ) Tal método encontra-se expresso no CIVA, no art. 19º, quando se refere que para apurar o imposto devido, os
SP’s deduzirão, ao imposto incidente sobre as operações tributáveis que efectuaram, o imposto devido ou pago
pela aquisição de bens e serviços a outros sujeitos passivos, que conste de factura ou documento equivalente,
passado na forma legal, em nome e na posse do SP e que não resulte de operação simulada ou em que seja
simulado o preço. Em termos gerais, o imposto dedutível (art. 20º do CIVA) deverá estar relacionado com bens e
serviços adquiridos ou utilizados para a realização de transmissões de bens e prestações de serviços sujeitas e
não isentas, ou seja, grosso modo, no âmbito de uma actividade empresarial tributada.
43
( ) Esse crédito sobre o Estado, relativo ao IVA dedutível, é precisamente o crédito de imposto que dá nome ao
método por que opera o IVA. Trata-se, contudo, de um crédito que só será utilizado posteriormente, no momento
24
Impostos sobre a Despesa
CAPÍTULO 1: IVA - ORIGEM E CARACTERIZAÇÃO
Desde que o imposto suportado conste de factura legal passada pelo fornecedor, o mesmo é
imediatamente dedutível (nasce aí o crédito sobre o Estado), pelo que a dedução assume
uma natureza financeira e não física, na medida em que não se efectua produto a produto,
mas globalmente, sobre o conjunto da actividade do SP, num determinado período de
imposto (mês ou trimestre).
Deste modo, é irrelevante que um determinado bem adquirido para venda (existências), seja
vendido, ou não, no mesmo período de imposto, pois o direito à dedução (crédito sobre o
Estado) nasce no momento em que o fornecedor emite a factura, independentemente do
momento posterior da venda do bem.
Tenha-se presente que o crédito sobre o Estado, relativo ao IVA dedutível, não depende do
pagamento das facturas ao fornecedor, assim como o débito ao Estado pelo IVA liquidado,
também não depende do recebimento dos clientes. Deste modo, os SP’s terão que entregar
antecipadamente ao Estado o IVA que não receberam dos clientes, tendo o direito a deduzir,
também antecipadamente, o IVA que não pagaram aos seus fornecedores, configurando uma
situação de total reciprocidade ( 44).
do apuramento do IVA (‘encontro de contas’), ou melhor, no momento do envio da DP, altura em que esse crédito
efectivamente se materializa, reduzindo o valor a pagar ao Estado, ou até, originando um eventual reembolso.
44
( ) Assim, o IVA não perturba em termos financeiros, antes pelo contrário, aquelas empresas que recebem a
pronto e pagam a 60, 90 ou até 180 dias, como é o caso dos hipermercados. Porém, causa transtornos evidentes
aos fornecedores dessas mesmas grandes superfícies, sendo-lhes exigido o IVA muito antes de o terem recebido.
Repare-se que existe reciprocidade, porém os mais prejudicados são os operadores mais pequenos, sem poder
negocial para encurtar prazos médios de recebimento e alargar prazos médios de pagamento. Para minimizar tais
constrangimentos, vigoram em legislação especial, dois regimes excepcionais de exigibilidade, em que o IVA só é
entregue pelo fornecedor ao Estado (só é exigível), após o recebimento do cliente, tema que será abordado, numa
perspectiva crítica, aquando da ‘Incidência temporal / Exigibilidade’.
25
Impostos sobre a Despesa
CAPÍTULO 1: IVA - ORIGEM E CARACTERIZAÇÃO
tributáveis, ou seja, no âmbito da actividade da empresa, se esta for tributável, que é o caso,
em condições normais ( 45).
Na realidade, o funcionamento do IVA depende exactamente da possibilidade de dedução do
imposto suportado a montante (nos inputs), pois o imposto liquidado por um operador é
repercutido (na factura) imediata e totalmente para o agente que lhe segue na cadeia, que o
vai poder deduzir e posteriormente liquidar nos seus outputs, e assim sucessivamente até
atingir o consumidor final, que suportará, então, a totalidade do imposto, embora o
transmitente final apenas entregue uma parte desse imposto.
*Observação: O Importador entrega ao Estado 60, em resultado dos valores apurados na sua
contabilidade (IVA liquidado – IVA dedutível ⇒ 260 – 200), porém, no momento do desalfandegamento
dos bens havia pago à Direcção Geral das Alfândegas e dos Impostos Especiais de Consumo
(DGAIEC) o valor de 200, que foi desde logo arrecadado pelo Estado e deduzido pelo SP. Assim,
numa primeira fase o Importador entregará ao Estado (DGAIEC) o montante de 200 e posteriormente,
quando transmitir e facturar as MP, entregará ainda o montante de 60, juntamente com a DP.
(45) Na verdade, para a generalidade dos SP’s, não é possível deduzir o IVA relativo a bens e serviços excluídos
do direito à dedução, previstos no art. 21º do CIVA, os quais têm uma natureza excepcional, por serem facilmente
desviáveis para consumos particulares - viaturas de turismo e serviços conexos, combustíveis, transportes,
viagens, alojamento, refeições, despesas de divertimento e de luxo, etc. Também não é possível a dedução, agora
relativamente a todos os bens e serviços, quando a actividade do SP é uma actividade isenta pelo art. 9º do CIVA
(isenções incompletas), pois neste caso o IVA suportado não tem em vista a realização de operações tributáveis,
mas isentas, sem direito à dedução. Contrariamente, há ainda situações em que, embora a actividade seja isenta,
como é o caso das exportações, é possível, sem restrições, o exercício do direito à dedução (isenções completas).
Trata-se em todo o caso de situações excepcionais, que não obstam a que, regra geral, seja possível a dedução
do imposto suportado no âmbito da actividade empresarial desenvolvida pelos SP’s.
26
Impostos sobre a Despesa
CAPÍTULO 1: IVA - ORIGEM E CARACTERIZAÇÃO
Conclusões:
a) Cada operador liquida IVA nos outputs e deduz IVA nos inputs, através do mecanismo do
crédito de imposto;
b) O imposto a entregar ao Estado por cada um, corresponde à diferença entre o IVA
liquidado e o IVA dedutível;
c) O Estado recebe de uma forma faseada, um valor de imposto idêntico ao liquidado pelo
retalhista, correspondendo por isso, ao nível da receita gerada, a um imposto monofásico
no retalho a operar com a mesma taxa;
d) O imposto liquidado nas várias fases é suportado efectivamente pelo consumidor final,
uma vez que os operadores económicos deduzem o IVA suportado;
e) O IVA atinge apenas o valor acrescentado em cada fase, tendo os operadores que
entregar apenas essa parcela;
f) São irrelevantes as taxas praticadas nos estádios intermédios, pois o método da dedução
elimina tal factor, sendo então apenas relevante a taxa aplicável no último estádio;
g) Qualquer que seja o n.º de fases do circuito económico, a carga fiscal é sempre a mesma,
para um mesmo preço de venda final ( 46).
h) Embora relacionada com a anterior, outra conclusão é que é também indiferente a
distribuição do valor acrescentado em cada fase e as margens praticadas pelos vários
(mais ou menos) operadores (47).
i) É sempre possível em cada fase determinar com rigor a componente fiscal do valor dos
bens, conseguindo-se por esta via determinar os ajustamentos (48) a efectuar no caso de
transacções internacionais, evitando distorções no funcionamento dos mercados;
Todos estes atributos sustentam uma conclusão final que aponta para a efectiva neutralidade
económica do IVA e legitimam a convicção de que o mesmo proporciona uma propensão
menor à fraude e evasão fiscais, comparativamente com as soluções alternativas ao nível da
tributação das transacções, embora seja uma atenuação desse fenómeno e não uma
eliminação, pois, tal como se referiu anteriormente, trata-se sobretudo de uma questão de
46
( ) Contrariamente aos impostos cumulativos, em que é vantajosa a concentração por motivos exclusivamente
fiscais (desaconselhável pelas distorções que provoca na economia nacional), no IVA é indiferente o n.º de fases
por que passa a mercadoria até ao consumidor final, pois o IVA arrecadado pelo Estado é sempre o mesmo para
um mesmo preço de venda no consumidor, a forma como a repartição da entrega é feita pelos operadores é que
difere, em virtude da variação na repartição do valor acrescentado.
(47) Se o retalhista do nosso exemplo, para aumentar a sua margem, decidisse comprar directamente ao produtor
pelo mesmo preço cobrado por este ao grossista (3000), aumentaria a sua margem em 500. Neste caso deduziria
600 (-100) e liquidaria 900, entregando ao Estado o montante de 300, ou seja, + 100 do que no exemplo acima,
não produzindo efeitos ao nível da receita arrecadada pelo Estado, contrariamente aos impostos cumulativos em
que, neste cenário, a receita fiscal diminuiria.
(48) Referimo-nos às compensações a dar às exportações e TIB (reembolsos de IVA) e à tributação das
importações e AIB, no âmbito da tributação no país de destino.
27
Impostos sobre a Despesa
CAPÍTULO 1: IVA - ORIGEM E CARACTERIZAÇÃO
2431 – IVA Suportado ⇒ tem utilização facultativa, sendo debitada pela totalidade do IVA
suportado, mesmo que não dedutível. A parte do IVA suportado que for dedutível transfere-se
para a conta 2432, debitando-se esta conta. A parcela do IVA não dedutível é imputada às
contas inerentes às respectivas aquisições dos bens e serviços (31, 32, 43 ou 62), debitando-
se estas contas por contrapartida da conta 2431. No caso de dificuldades de imputação do
IVA não dedutível àquelas contas, a conta 2431 é creditada, por débito da conta 6812 –
Impostos Indirectos.
2432 – IVA Dedutível ⇒ é debitada pelos valores do IVA dedutível, relativos à aquisição de
bens e serviços (inputs), sendo creditada para transferência do saldo relativo ao período de
imposto, a débito da conta 2435 – IVA Apuramento. Para permitir o preenchimento da DP, esta
conta encontra-se desagregada da seguinte forma: 24321 – Existências, 24322 – Imobilizado e
24323 – Outros Bens e Serviços. Cada uma destas subcontas, é ainda desagregada pelas
várias taxas, pelo que, deste modo, a subconta 243211 representa IVA Dedutível – Existências
– Taxa 5% e a subconta 243223, IVA Dedutível – Imobilizado – Taxa 20%.
2433 – IVA Liquidado ⇒ é creditada pelos valores do IVA liquidado facturado pela empresa
(outputs), sendo debitada pela transferência do saldo respeitante ao período de imposto, a
crédito da conta 2435 – IVA Apuramento. O POC propõe a sua desagregação em duas
subcontas: 24331 – Operações Gerais e 24332 – Autoconsumos e operações gratuitas (49).
Para efeitos de IVA Intracomunitário, a subconta 24331 deve ser desagregada consoante o
IVA liquidado se refira a Mercado Nacional, Mercado Comunitário (Bens) e Mercado
Comunitário (Serviços), devendo ainda tal desagregação ser conjugada primariamente com
as várias taxas (50). Assim, por exemplo, a subconta 2433131, refere-se a IVA Liquidado –
(49) Esta conta (24332) é utilizada em situações mais excepcionais, movimentando-se pelo IVA liquidado, devido
pela afectação ou utilização de bens a fins estranhos à empresa (que não fazem parte da sua actividade normal),
à transmissão de bens ou prestações de serviços a título gratuito, ou à afectação de bens a sectores de actividade
isentos, de acordo com o disposto nas alíneas f) e g) do n.º 3 do art. 3º e alíneas a) e b) do n.º 2 do art. 4º, ambos
do CIVA, assunto que será retomado posteriormente aquando da ‘Incidência real’ (ponto 2.1.1.).
50
( ) Esta desagregação dará resposta às situações que se colocaram no âmbito da supressão das fronteiras
físicas entre EM em 01/01/1993. Nas compras no mercado intracomunitário, o IVA deixou de ser liquidado pela
DGAIEC, passando a sê-lo pelo próprio adquirente, pelo que apenas a subconta relativa ao mercado nacional
configura operações activas (outputs). As subcontas relativas ao mercado comunitário, têm implícitas operações
passivas (inputs), uma vez que nestes casos o IVA é liquidado pelo adquirente, de acordo com o princípio da
tributação no destino, e não pelos fornecedores, como normalmente acontece no mercado interno, tratando-se
efectivamente de imposto liquidado nas compras, por mais estranho que isso possa parecer à primeira vista.
28
Impostos sobre a Despesa
CAPÍTULO 1: IVA - ORIGEM E CARACTERIZAÇÃO
Operações Gerais – Taxa 20% - Mercado nacional, do mesmo modo que a subconta
2433112 se refere a IVA Liquidado – Operações Gerais – Taxa 5% - Mercado Comunitário
(Bens).
2434 – IVA regularizações ⇒ Esta conta regista as correcções de imposto apuradas nos
termos do CIVA, consoante sejam a favor da empresa – 24341, caso em que se debita esta
conta, ou a favor do Estado – 24342, caso em que esta conta é creditada ( 51). Esta conta tem
natureza mista, devendo o saldo devedor da subconta 24341, transitar para a conta 2435
(debitando-se esta conta) e o saldo credor da subconta 24342, transitar também para a conta
2435, creditando-se esta conta, com vista ao apuramento do IVA.
2435 – IVA Apuramento ⇒ Esta conta destina-se a centralizar as operações registadas nas
contas anteriores, para que o seu saldo corresponda ao imposto a pagar ou em crédito, com
referência a um determinado período de imposto (mensal ou trimestral). Será então debitada
pelos saldos devedores das contas 2432 e 24341 e creditada pelos saldos credores das
contas 2433 e 24342. É ainda debitada pelo saldo devedor da conta 2437, respeitante ao
montante do crédito reportado do período anterior, se não foi pedido o reembolso ao Estado.
Após estes lançamentos, o respectivo saldo transfere-se para a conta 2436 – IVA a Pagar, se
for credor e para a conta 2437 – IVA a Recuperar, se for devedor.
2436 – IVA a Pagar ⇒ Esta conta credita-se pelo montante do imposto a pagar, relativo a
cada período de imposto, por transferência do saldo credor de 2435 e debita-se pelos
pagamentos efectuados. Se apresentar um saldo credor, representa o valor em dívida ao
Estado.
2437 – IVA a Recuperar ⇒ Esta conta destina-se a receber o saldo devedor da conta 2435,
representando o seu saldo o montante do crédito existente sobre o Estado num determinado
período de imposto. Aquando do envio da DP, se for pedido o reembolso deverá ser
creditada, por contrapartida da conta 2438 – IVA Reembolsos Pedidos. Se não for pedido o
reembolso, o saldo devedor transitará para o período seguinte, sendo debitado na conta
Naturalmente que, nestes casos, o IVA liquidado é também, em princípio, dedutível, movimentando-se por isso
também a conta 2432 – IVA dedutível (logo, IVA liquidado e deduzido simultaneamente, movimentando-se as
contas 2433 e 2432, respectivamente). No caso de aquisições a países terceiros (importações), haverá lugar
apenas à movimentação da conta 2432, uma vez que o IVA é liquidado pela DGAIEC, não indo por isso à conta
2433, nem à DP, pois nesse caso haveria dupla tributação.
(51) Exemplos: 24341 - Regularizações a favor da empresa ⇒ descontos concedidos fora da factura (N/ nota de
crédito), ou débitos adicionais de fornecedores fora da factura (V/ nota de débito) ou ainda devoluções de vendas;
24342 - Regularizações a favor do Estado ⇒ neste caso, descontos obtidos fora da factura (V/ nota de crédito) ou
débitos adicionais aos clientes fora da factura (N/ nota de débito) ou devoluções de compras. Os movimentos
nesta conta poderão ter subjacentes muitas outras situações devidas a erros ou omissões no apuramento do
imposto, devoluções, descontos, reduções ou rescisões de contratos, roubos, sinistros e pelas regularizações de
IVA inerentes aos adiantamentos recebidos. Esta conta poderá ter ainda desagregações adicionais, no caso de
SP’s mistos, sujeitos ao regime do ‘prorata’, assunto que será desenvolvido posteriormente, tratando-se de
regularizações muito específicas, próprias deste ‘método do prorata’, também chamado de ‘método da
percentagem de dedução’.
29
Impostos sobre a Despesa
CAPÍTULO 1: IVA - ORIGEM E CARACTERIZAÇÃO
2438 – IVA Reembolsos Pedidos ⇒ Esta conta regista os créditos de imposto sobre o
Estado, relativamente aos quais foi efectuado um pedido de reembolso, sendo debitada
aquando do pedido por contrapartida da conta 2437 e creditada aquando da decisão
favorável ao pedido, por débito das contas 11 ou 12.
2439 – IVA Liquidações Oficiosas ⇒ Debitar-se-á pelas liquidações oficiosas (52), por
crédito de 2436. Se a liquidação ficar sem efeito, deverá proceder-se à anulação do
lançamento. Quando se efectuar o pagamento respeitante à liquidação oficiosa movimenta-se
a conta 2436 e após o apuramento do imposto a pagar, regulariza-se o saldo da 2439,
anulando-o por contrapartida da conta 2436.
Para tal, e com vista a responder às exigências fiscais, a contabilidade deverá ter subjacente
um plano de contas devidamente desagregado, de acordo com o POC e as DC’s, permitindo
o imediato preenchimento das DP’s, se possível até de forma automática, pelo próprio
programa informático de contabilidade, como geralmente é o caso, com vista a uma maior
eficiência (53).
(52) Trata-se de liquidações (LO’s) efectuadas pelos SAIVA, nos termos do art. 83º do CIVA, com base em valores
presumidos, por não ter sido enviada a DP dentro do prazo legal. Se o SP entregar a DP de substituição (modelo
C) até à data limite indicada na notificação, a LO será anulada automaticamente, ficando sem efeito. Se não o
fizer, torna-se definitiva tendo que ser paga na TFP, embora o imposto pago seja tido em conta em futuros
pagamentos, entrando na conta corrente dos serviços do IVA a crédito, logo, favoravelmente ao contribuinte.
53
( ) Existem, no entanto, situações, em que são as próprias regras do IVA que provocam a desconformidade entre
as DP’s e a contabilidade, como é o caso de devoluções de clientes comunitários (devoluções de vendas)
ocorridas num período de imposto posterior à venda subjacente. Exemplo: se a TIB (venda) ocorreu em Janeiro e
a devolução do cliente ocorreu em Março, deverá ser substituída a declaração de Janeiro (e respectivo anexo
recapitulativo), reduzindo os valores em conformidade (para efeitos de VIES – Vat Information Exchange System,
ou em português, sistema de troca de informações do IVA), enquanto que tal devolução, em termos
contabilísticos, consta do mês de Março, gerando as tais divergências indesejáveis entre contabilidade e DP’s,
obrigando a que se faça uma anotação na DP de Janeiro, de forma a poder aferir-se a todo o momento da
existência de movimentos contabilísticos referentes a Março, reflectidos fiscalmente em Janeiro.
30
Impostos sobre a Despesa
CAPÍTULO 1: IVA - ORIGEM E CARACTERIZAÇÃO
Apuramento do Imposto
"Método do Crédito de Imposto"
(-)
IVA suportado e dedutível pelas operações passivas efectuadas pelo
Sujeito Passivo
(2431/2432 - DP C20 a 24)
(aquisições de bens e serviços, importações, aquisições intracomunitárias de bens)
(+) (-)
Regularizações a favor do Estado Regularizações a favor do Sujeito Passivo
(descontos obtidos fora da factura (V/ nota de (descontos concedidos fora da factura (N/ nota de
crédito), débitos adicionais aos clientes fora da crédito), débitos adicionais de fornecedores fora da
factura (N/ nota de débito), devoluções de factura (V/ nota de débito), ainda devoluções de vendas,
compras, regularizações por utilização do pro-rata) regularizações por utilização do pro-rata)
(-)
Reporte de Crédito de Imposto de Período anterior
2435 - DP C61
(=)
IVA Apurado:
>0 Imposto a entregar ao Estado 2436 - DP C93
31
Fornecedor Consumidor
Importador Grossista Retalhista
Estrangeiro Final
Vende por
Vende por Vende por Vende por
30.000
40.000 55.000 75.000
+ + +
8.000 11.000 15.000
IVA pago na
Alfândega
6.000
4.000
32
CAPÍTULO 1: IVA - ORIGEM E CARACTERIZAÇÃO
Impostos sobre a Despesa
Impostos sobre a Despesa
CAPÍTULO 1: IVA - ORIGEM E CARACTERIZAÇÃO
Nas notas de rodapé ao longo do texto, procurou fazer-se uma abordagem ao nível dos
conceitos e da terminologia a utilizar, tecer alguns comentários considerados pertinentes,
bem como, dar a conhecer algumas particularidades ou curiosidades inerentes ao IVA.
Parte dos assuntos tratados sumariamente nessas notas, serão desenvolvidos nos capítulos
seguintes, embora outros, por motivos óbvios não venham nunca a ser aprofundados. Há
também assuntos que constituem matéria a tratar apenas numa fase posterior, no âmbito da
disciplina de ‘Tributação Internacional’. Outros ainda poderão considerar-se como ‘simples
cultura geral’.
33
Impostos sobre a Despesa
CAPÍTULO 1: IVA - ORIGEM E CARACTERIZAÇÃO
SIGLAS
AIB – Aquisição Intracomunitária de Bens
AT – Administração Tributária
AF – Administração Fiscal
BT – Base Tributável
CE – Comunidade Europeia
CEE – Comunidade Económica Europeia
CIVA – Código do Imposto sobre o Valor Acrescentado
CRP – Constituição da República Portuguesa
DC – Directrizes Contabilísticas
DGAIEC – Direcção Geral das Alfândegas e dos Impostos Especiais de Consumo
DGCI – Direcção Geral dos Impostos
DP – Declaração Periódica
DSCIVA – Direcção de Serviços de Cobrança do IVA
EM – Estados Membros
IRC – Imposto sobre o Rendimento das Pessoas Colectivas
IRS – Imposto sobre o Rendimento das Pessoas Singulares
IT – Imposto de Transacções
IVA – Imposto sobre o Valor Acrescentado
LO – Liquidação Oficiosa
OCDE – Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico
OE – Orçamento de Estado
POC – Plano Oficial de Contabilidade
PF – Pagamento em Falta
PS – Prestação de Serviços
REI – Regime Especial de Isenção
REPER – Regime Especial dos Pequenos Retalhistas
RITI – Regime do IVA nas Transacções Intracomunitárias
RNM – Regime Normal de periodicidade Mensal
RNT – Regime Normal de periodicidade Trimestral
ROC – Revisor Oficial de Contas
SAIVA – Serviço de Administração do IVA
SF – Serviço de Finanças
SP – Sujeito Passivo
TB - Transmissão de Bens
TF – Tesouraria de Finanças
TIB – Transmissão Intracomunitária de Bens
TOC – Técnico Oficial de Contas
VIES – Vat Information Exchange System
34
Impostos sobre a Despesa
CAPÍTULO 2: IVA - INCIDÊNCIA
CAPÍTULO 2
IVA - INCIDÊNCIA
ÍNDICE
2. INCIDÊNCIA
35
Impostos sobre a Despesa
CAPÍTULO 2: IVA - INCIDÊNCIA
2. INCIDÊNCIA
As normas de incidência, em geral, têm como objectivo determinar o universo dos factos
tributários sujeitos a tributação, estabelecendo os respectivos pressupostos de aplicação dos
impostos. Nesta medida, se sobre uma determinada situação da vida real se verificar não
existir incidência ou sujeição, tal significa que as normas respectivas (normas de incidência)
não contemplam tal situação ou expressamente a excluem, podendo concluir-se, então, que
o imposto não atinge tal realidade (54).
Por uma questão de clareza, refira-se desde já que ‘não sujeição’ é absolutamente diferente
de ‘isenção’, uma vez que para haver isenção terá forçosamente que existir sujeição ou
incidência, enquanto que se este último requisito não se verificar, não pode sequer falar-se
em isenção ( 55). A verificação da incidência é assim um requisito mínimo indispensável para
que se possam aplicar as restantes normas do CIVA, incluindo as relativas às isenções.
A forma simplista como a incidência se encontra descrita anteriormente, não significa que por
vezes não existam dúvidas na interpretação das normas de incidência, pois tais dúvidas
existem e prendem-se sobretudo com o facto da lei, em sentido amplo, ter um carácter geral
e abstracto, colocando por vezes sérios problemas de interpretação, os quais são, aliás,
comuns a outros ramos do Direito.
A incidência no IVA, constitui o 1º capítulo do respectivo código ( 56) ( 57) e inclui a incidência
objectiva (ou real) - arts. 1º, 3º, 4º e 5º, a incidência subjectiva (ou pessoal) - art. 2º, a
aplicação da lei no espaço (ou incidência territorial ou territorialidade) - art. 6º, e a aplicação
da lei no tempo (ou incidência temporal ou facto gerador / exigibilidade) - arts. 7º e 8º,
sendo também estes os aspectos a tratar, pela mesma ordem, no presente capítulo ( 58).
54
( ) No IVA, bem como noutros impostos, é frequente designarem-se tais situações, indiferentemente, por
situações de ‘não incidência’ ou ‘não sujeição’ ou ainda ‘fora do campo de imposto’, tudo expressões que vão no
mesmo sentido, que é a não aplicação do imposto a uma determinada situação. Nestas situações, encontra-se de
algum modo facilitada a tarefa ao intérprete, uma vez que não há necessidade de enquadramentos adicionais no
CIVA.
55
( ) A propósito da distinção entre não sujeição e isenção, há quem refira que a sujeição é como que uma prisão,
sendo a isenção tida como uma espécie de libertação da prisão. Deste modo, não faz sentido libertar da prisão
(isenção) quem está em liberdade (não sujeição); a libertação (isenção) pressupõe que se está privado da
liberdade (sujeição). Por outras palavras, para algo estar isento de IVA tem que previamente estar sujeito, como é
o caso dos serviços prestados por médicos, que estão sujeitos a IVA enquanto PS, de acordo com o art. 1º, n.º 1,
al. a) e art. 4º, n.º 1, porém, encontram-se isentos, nos termos do art. 9º, n.º 1, al. b). É também, por exemplo, o
caso das Exportações, as quais constituem TB sujeitas a IVA em Portugal, pelo art. 1º, n.º 1, al. a) e art. 6º, n.º 1,
contudo encontram-se isentas pelo art. 14º, n.º 1, al. a). Relativamente às prestações de serviços consideradas
não localizadas em Portugal, por aplicação das regras de territorialidade previstas no art. 6º, trata-se sempre de
situações de não sujeição a IVA e não de isenções, como muitas vezes erroneamente se refere.
(56) A incidência é também o 1º capítulo do CIRS e do CIRC, facto que só pode ser considerado como
perfeitamente natural, uma vez que se trata de normas cruciais em qualquer imposto, por determinarem, conforme
se referiu no texto, os pressupostos da sua aplicação.
57
( ) A referência a artigos sem indicação do diploma a que pertencem, devem entender-se reportadas ao CIVA.
58
( ) A designação ‘incidência territorial’, quando nos referimos à aplicação da lei no espaço (territorialidade), não é
adoptada pelos vários autores; porém, e uma vez que faz parte integrante do capítulo da incidência no CIVA, não
nos parece descabido utilizar tal expressão, até porque da aplicação do art. 6º resultam efectivamente situações
de não sujeição ou não incidência de IVA no território nacional. A expressão ‘incidência temporal’ também não é
normalmente utilizada, contudo, mais uma vez, tratando-se igualmente de normas inseridas no capítulo da
incidência no CIVA, não se nos afigura incorrecta tal acepção. Aliás, também neste caso, é evidente que se trata
36
Impostos sobre a Despesa
CAPÍTULO 2: IVA - INCIDÊNCIA
Embora se considere que a aplicação da lei no espaço, bem como a aplicação da lei no
tempo, constituem temas com suficiente autonomia para serem tratados em capítulos
distintos, optou-se por tratar todos estes aspectos dentro do mesmo capítulo, seguindo de
perto a estrutura do CIVA.
No presente capítulo iremos então procurar saber o que está sujeito a imposto, quem está
sujeito a imposto, quais os limites territoriais da sujeição e o momento em que a mesma se
concretiza.
de normas de incidência, pois os arts. 7º e 8º fixam o momento em que nasce a obrigação de imposto, logo, o
momento em que se materializa efectivamente a incidência.
37
Impostos sobre a Despesa
CAPÍTULO 2: IVA - INCIDÊNCIA
Quanto às operações tributáveis internas (TB e PS), estipula a al. a) do n.º 1 do art. 1º que as
mesmas deverão ser efectuadas no território nacional, a título oneroso e por um sujeito
passivo agindo enquanto tal, referindo-se desde já que se trata de um conceito genérico, por
vezes derrogado por outras normas. Assim, verifica-se por exemplo que:
ii) o requisito da onerosidade ( 61) também não é considerado essencial, uma vez que,
conforme se verá posteriormente, algumas TB e PS efectuadas a título gratuito, nos
termos do art. 3º, n.º 3, al. f) e do art. 4º, n.º 2, al. b), respectivamente, são também
passíveis de imposto;
iii) quanto ao facto de serem efectuadas por um SP agindo como tal, refira-se que nem só as
empresas, empresários e profissionais liberais, são SP’s de IVA, pois também o são,
designadamente, o Estado (em determinadas circunstâncias), os institutos públicos, as
associações e cooperativas, as pessoas que pratiquem actos isolados, aqueles que
59
( ) O art. 1º, para além de definir o que está sujeito a imposto no seu n.º 1, contém definições importantes em
matéria de IVA, relacionadas com termos específicos utilizados no CIVA (por exemplo, define o que se entende
por transporte intracomunitário de bens, lugar de partida e de chegada, serviços de telecomunicações, e ainda
expressões específicas próprias dos transportes intracomunitários de passageiros), bem como, estabelece regras
importantes atinentes à definição dos territórios, assunto desenvolvido mais adiante a propósito da territorialidade.
60
( ) Devendo aqui situar-se, no caso de PS, ou o local da sede do prestador de serviços, ou da sede do adquirente
ou ainda o local da execução material dos serviços, dependendo da qualificação do serviço em causa, conforme o
exposto em 2.3.
61
( ) Um negócio é oneroso quando implica esforços económicos para ambas as partes, em simultâneo e com
vantagens correlativas. Pressupõe por parte do destinatário uma contraprestação de valor equivalente em favor do
transmitente / prestador, verificando-se, como tal, uma certa bilateralidade. O requisito da onerosidade volta a ser
reiterado no art. 3º, n.º 1 e no art. 4º, n.º 1, a propósito das definições de TB e de PS, respectivamente.
38
Impostos sobre a Despesa
CAPÍTULO 2: IVA - INCIDÊNCIA
Tal como acontece em outros códigos fiscais, o CIVA estabelece, no âmbito da incidência,
conceitos próprios relativamente a cada uma das referidas operações sujeitas a imposto, o
que constituirá o objecto dos pontos seguintes.
ii. Uma TB para efeitos de IVA implica a existência de um bem corpóreo, móvel ou imóvel
(em geral, bens corpóreos são coisas materiais, palpáveis, com realidade física). Isto é, ficam fora deste
conceito as transferências onerosas de bens incorpóreos que serão tributáveis em sede
de IVA como prestações de serviços.
Refira-se, no entanto, desde já, que, para efeitos de IVA verifica-se que são também
considerados bens corpóreos, a energia eléctrica, o gás, o calor, o frio e similares, de
acordo com o n.º 2 do art. 3º.
Saliente-se, ainda, que devido a este facto é que a transmissão de bens on line, isto é,
em que a encomenda e a entrega dos bens são feitas electronicamente, é qualificada
para efeitos deste imposto como uma PS.
Por último, de referir que o conceito de TB enunciado abrange a transmissão de bens
imóveis. Contudo, a tributação destes bens beneficia de uma isenção de IVA (artigo 9º n.º
30) a que oportunamente faremos referência (no capítulo dedicado às Isenções).
39
Impostos sobre a Despesa
CAPÍTULO 2: IVA - INCIDÊNCIA
De notar que a utilização da expressão ‘por forma correspondente’, significa que não é
exigível que o transmitente seja o titular do direito de propriedade (proprietário), sendo
tributáveis as transmissões feitas por quem é mero detentor dos bens transmitidos
(possuidor, usufrutuário, etc.). Por outro lado, terão que ser tidas em conta as operações
assimiladas a TB, pois são também tributáveis alguns auto-consumos internos em que
não se dá qualquer transferência do direito de propriedade (al. g) do n.º 3 do art. 3º) e
ainda outras situações em que não se dá essa transferência em termos civis (als. a), b),
c) e d) do n.º 3 do art. 3º). Por fim, refira-se também que, embora normalmente as
transferências se dêem por meio de contratos, a verdade é que são também tributáveis
situações não contratuais relacionadas, designadamente, com expropriações e vendas
judiciais.
Assim, o legislador fez prevalecer a realidade económica sobre os conceitos jurídicos. Tal
nota Patrícia Noiret Cunha, citada por Clotilde Palma( 62) «todas as transmissões de bens,
dotadas de validade nos termos do direito civil constituem transmissões de bens sujeitas
a IVA, mas nem todas estas transmissões são actos jurídicos válidos para o direito civil.»
Deste modo, de acordo com as várias alíneas do n.º 3 do art. 3º, são também sujeitas a IVA
algumas operações assimiladas a TB, a saber:
(62) Palma, Clotilde Celorico (2005). Introdução ao Imposto sobre o Valor Acrescentado, Cadernos IDRFF n.º 1,
Almedina, Coimbra.
(63) A este respeito já nos referimos no ponto anterior: o fornecimento de energia eléctrica, gás, calor, frio e
similares são considerados bens corpóreos para efeitos de tributação em sede de IVA.
64
( ) Locação-venda é um contrato de tipo misto, que corresponde simultaneamente a locação (aluguer,
arrendamento) e a venda, onde existe uma cláusula obrigatória de transferência de propriedade. Com esta
assimilação ignora-se a componente do contrato inerente à locação (PS), relevando apenas a venda (TB).
40
Impostos sobre a Despesa
CAPÍTULO 2: IVA - INCIDÊNCIA
Diversamente, refira-se que não se integra neste conceito a locação financeira ou leasing,
nem os contratos de ALD, uma vez que a norma refere expressamente a existência de uma
‘cláusula vinculante’, situação que se verifica nos contratos de locação-venda, mas não nos
contratos de leasing e ALD. De facto, nestes contratos a transmissão efectiva do direito de
propriedade depende da vontade do locatário exercer (ou não) o direito de opção, no caso do
leasing, pagando o valor residual previamente acordado com a empresa locadora ( 65).
Assim, no caso da locação financeira deverá liquidar-se imposto nas rendas, a título de PS
(art. 4º n.º 1), devendo o IVA ser liquidado (art. 7º, n.º 3 – PS de carácter continuado) pelo
valor total da renda (capital + juros) ( 66) nos termos do art. 16º, n.º 2, al. h). Ou seja, os
pagamentos sucessivos (rendas) constituem consecutivos factos geradores de imposto a
título de PS.
Aquando da venda (no momento da opção de compra pelo locatário), deverá ser liquidado o
IVA sobre o valor atribuído (correntemente designado de ‘valor residual’), a título de TB (art.
3º n.º 1), sendo o IVA exigível apenas quando se derem os efeitos translativos do contrato
(art. 7º, n.º 7).
Este diferente tratamento para efeitos de tributação decorre do facto de, enquanto que no
contrato de locação-venda a transferência de propriedade é vinculativa, no caso da locação
financeira existe a opção de compra, daí o distinto tratamento destas operações em sede de
IVA. Note-se que no contrato de locação financeira, contrariamente ao que sucede no
contrato de locação-venda, o objectivo primordial é o financiamento de um bem e não a sua
transmissão. Em termos económicos, o contrato de locação-venda produz efeitos idênticos a
uma TB, pelo que se justifica inteiramente a sua tributação nos termos referidos,
assegurando-se uma adequada identidade de tratamento fiscal.
(65) Esta situação configura uma posição bastante favorável, ao nível da tributação em IVA, das empresas
locadoras, as quais deduzem o IVA pela totalidade aquando da aquisição, liquidando IVA, posteriormente, de
forma faseada à medida que forem facturando as rendas aos locatários.
66
( ) De referir que esta norma, que obriga à liquidação do IVA pelo valor total das rendas, incluindo sobre a
componente dos juros, foi aditada pela Lei do OE para 1995, verificando-se que até aí, as locadoras não
liquidavam IVA pela componente dos juros, com fundamento na al. a) do n.º 6 do art. 16º, situação que
configurava um cenário ainda mais favorável para as instituições financeiras locadoras.
41
Impostos sobre a Despesa
CAPÍTULO 2: IVA - INCIDÊNCIA
Assim, nos casos anteriores pode concluir-se que, pese embora a transferência do direito de
propriedade apenas ocorra no futuro, para efeitos de IVA antecipa-se a sua liquidação para o
momento da entrega dos bens (art. 7º, n.º 7, parte final). Note-se que, se estas situações não
estivessem expressamente previstas, não seriam tributadas pois não caberiam no conceito
previsto no n.º 1 do art. 3º. O mesmo se passa com as restantes situações previstas no n.º 3
do art. 3º que se analisam em seguida.
67
( ) Trata-se de uma modalidade de alienação onerosa, regulada nos artigos 409º e 934º do Código Civil.
68
( ) Neste caso, não haverá IVA sobre os juros, nos termos da al. a) do n.º 6 do art. 16º, até porque se o Estado
recebeu o IVA antecipadamente no momento da entrega dos bens, seria ilegítimo exigir o IVA dos juros, os quais
devem apenas compensar quem tem o ónus de receber a prazo. Nesta perspectiva, é legítimo o Estado exigir o
IVA nos juros inerentes aos contratos de leasing, porque neste caso também o Estado recebe o IVA
faseadamente devendo, como tal, ser devidamente compensado. Aliás, conforme se referiu, o CIVA possibilita a
dedução integral ‘antecipada’ às empresas locadoras e uma liquidação faseada, situação que também justifica, de
alguma forma, a solução preconizada no sentido da tributação dos juros nas rendas de locação financeira.
42
Impostos sobre a Despesa
CAPÍTULO 2: IVA - INCIDÊNCIA
mercadorias diminuído da comissão (art. 16º, n.º 2, al. e)), no âmbito de um contrato de
comissão, tal como se encontra definido no Código Comercial ( 69).
De facto, não se verifica uma transmissão jurídica dos bens do comitente para o comissário
(comissão de venda) (ou vice-versa na comissão de compra). Esta transmissão só se verifica
no momento da venda dos bens, realizada entre o comitente e o terceiro adquirente, na
comissão de venda, ou entre o terceiro alienante e o comitente, na comissão de compra.
Para efeitos de IVA, no entanto, tem-se em conta a interposição do comissário, pelo que se
consideram duas transmissões de bens distintas e autónomas: a transmissão do comitente
ao comissário e deste ao cliente, na comissão de venda; a transmissão do fornecedor ao
comissário e deste ao comitente, na comissão de compra. O imposto é devido e torna-se
exigível no momento em que o comissário coloca os bens à disposição do seu adquirente
(art. 7º n.º 5).
E porquê a assimilação?
Repare-se que, se não existisse esta assimilação, no caso de uma comissão de venda, o
comitente não faria uma operação tributável (transmissão de bens), porque não é ele a
vender directamente, pelo que nestas condições não poderia deduzir o IVA suportado a
montante com a aquisição / produção das mercadorias, quebrando-se assim a cadeia de
deduções, elemento essencial no funcionamento do IVA (70). Iria, pois, provocar-se efeitos
(69) Dá-se o contrato de comissão quando alguém (comissário) se encarrega de praticar um ou mais actos de
comércio por conta de outro (comitente), mas sem menção ou alusão alguma a este, contratando por si e em seu
nome, como principal e único contratante (arts. 231º e 266 do Código Comercial).
70
( ) Trata-se de adaptar o contrato de comissão às regras do IVA, visto que em direito comum a transferência dá-
se directamente do comitente para o terceiro (comissão de venda), ou do terceiro para o comitente (comissão de
compra). Assim, considera-se, em sede de IVA, que existe uma TB tributável do comitente para o comissário
(comissão de venda) e uma TB, também tributável, do comissário para o comitente (comissão de compra).
43
Impostos sobre a Despesa
CAPÍTULO 2: IVA - INCIDÊNCIA
Exemplo:
Deste modo a empresa X (comitente) entrega ao Estado o montante de 1.800 (71) liquidado à
empresa Z (comissário), e esta, por sua vez, entrega ao Estado o montante de 200 [2.000
(IVA liquidado) – 1.800 (IVA dedutível)], recebendo o Estado o montante global de 2.000.
Se neste negócio a empresa Z tivesse actuado em nome e por conta da empresa X, o que se
verificava é que seria esta (X - comitente) a facturar em seu nome, directamente à empresa
Y, o montante de 10.000 + IVA. Deste modo, a empresa Z emitiria uma factura à empresa X
pelo valor da comissão, acrescido de IVA, logo, 1000 + IVA. Nesta situação, o Estado iria
arrecadar também o montante de 2.000, porém, neste caso, a empresa X entregaria ao
Estado o montante de 1.800 [2.000 (IVA liquidado) – 200 (IVA dedutível)] e a empresa Z o
montante de 200.
A situação exposta no parágrafo anterior serviu apenas para ilustrar que é indiferente, ao
nível da receita arrecadada pelo Estado, o facto do comissário actuar em nome próprio, ou
não, perante o adquirente. Não se trata de uma situação subsumível na alínea c) do n.º 3 do
art. 3º, pois neste caso, em que o comissário age em nome e por conta do comitente, não há
necessidade de qualquer assimilação, porquanto a TB ocorre de forma explícita do comitente
para o cliente, sendo que, o comissário efectua uma mera PS de intermediação tributável
sem quaisquer restrições. A assimilação, como já foi referido, permite ter fiscalmente em
(71) Naturalmente que a empresa X teria IVA a deduzir pela aquisição / produção da máquina, porém, por uma
questão de simplicidade do exemplo, ignora-se tal facto.
44
Impostos sobre a Despesa
CAPÍTULO 2: IVA - INCIDÊNCIA
O CIVA considera que se aplica também tal ficção (assimilação), às transferências entre
consignante e consignatário no âmbito de um contrato de consignação, o qual configura uma
situação mais ou menos idêntica à comissão de venda. Neste caso, porém, há na realidade
um fluxo físico de bens do consignante para o consignatário, mas não se transmite
imediatamente o direito de propriedade (72), daí a assimilação.
Nos termos da anterior alínea c), ficcionava-se uma transmissão de bens entre consignante e
consignatário pela entrega das mercadorias a este último. Contudo, tal como se referiu na
nota de rodapé respectiva, o nascimento da obrigação de liquidação de imposto só se dava
para o consignante, quando o consignatário, posteriormente, vendesse as mercadorias, nos
termos do art. 7º, n.º 5.
O VT, neste caso, é o valor constante da factura provisória emitida a propósito do envio das
mercadorias à consignação – art.º 16º n.º 2 al. a) e art.º 38º n.º 1 a).
(72) O contrato de consignação, não expressamente regulado na lei civil, é um contrato misto de mandato e
depósito, em que o consignatário actua em seu nome próprio embora por conta do consignante, o qual lhe entrega
temporariamente existências destinadas a venda. Nos contratos de consignação, o consignante envia as
mercadorias para o armazém do consignatário, na expectativa que este as venda junto de clientes, mas não lhe
transmite o direito de propriedade, desde logo porque o consignatário apenas irá pagar a mercadoria depois de a
vender aos seus clientes (se não a vender, devolve-a ao consignante). Aliás, a liquidação de IVA, pela
transmissão fictícia do consignante para o consignatário, só irá ocorrer quando o consignatário vender as
mercadorias aos seus clientes, nos termos do art. 7º, n.º 5, devendo o IVA ser liquidado pelo consignante tendo
como referência o preço de venda final cobrado ao terceiro, diminuído da comissão a receber pelo consignatário,
conforme o art. 16º, n.º 2, al. e) (ver também os requisitos da facturação no art. 38º - emissão de duas facturas:
provisória + definitiva). Em termos contabilísticos, o consignante deverá contabilizar a saída das mercadorias do
seu armazém, debitando a conta 326 – Mercadorias em poder de terceiros. Tais contratos de consignação são
muito frequentes nos dias de hoje, sendo característicos nas vendas de jornais e revistas, electrodomésticos,
combustíveis, automóveis, etc. No caso dos quiosques (consignatários de jornais e revistas) o consignante emite
uma factura (‘provisória’) com os jornais deixados num determinado dia. Posteriormente, é feita uma contagem
diária pelo consignatário, confirmada pelo consignante, com vista à devolução dos exemplares não vendidos,
sendo cobrado apenas o valor relativo aos jornais vendidos, diminuído da comissão e acrescido de IVA, liquidado
numa factura ‘definitiva’ a emitir pelo consignante. No caso dos combustíveis, o consignante apenas factura os
litros de combustível vendidos pelo consignatário (documento definitivo), de acordo com uma contagem,
normalmente, diária ou semanal.
73
( ) Não nos parece que tal norma possa ter grande aplicação prática, na medida em que é facilmente contornável,
se a mercadoria, antes de decorrido um ano, ‘regressar’ ao consignante e depois voltar a ser entregue à
consignação.
45
Impostos sobre a Despesa
CAPÍTULO 2: IVA - INCIDÊNCIA
O disposto nesta alínea, relativa à entrega de bens móveis produzido ou montados sob
encomenda, deve ser articulado com a norma do art.º 4º n.º 2 al. c), dependendo a aplicação
destas normas de a totalidade dos materiais ser fornecida pelo SP que os produziu ou
montou. Refira-se que esta operação só é assimilada a TB se quem produz ou monta o bem
for um SP de IVA.
Trata-se de situações relacionadas com empreitadas (74) de bens móveis, as quais, se nada
fosse dito, seriam sempre tributadas como PS, uma vez que o art. 1210º do Código Civil não
dá relevância ao facto dos materiais serem fornecidos pelo empreiteiro, ou, no todo ou em
parte, pelo dono da obra, considerando sempre tais contratos como empreitadas (PS).
Assim, para efeitos de IVA, se o empreiteiro fornece a totalidade dos materiais, a posterior
entrega dos bens móveis ao dono da obra será sempre considerada uma TB, à qual se
aplicará a respectiva taxa (e não a taxa aplicável a uma PS).
De notar que a entrega de bens móveis produzidos ou montados sob encomenda, se o dono
da obra tiver fornecido os materiais para que seja concretizada a sua encomenda, mesmo
que o empreiteiro forneça parte dos materiais, será já considerada como uma PS, de acordo
com o art. 4º, n.º 2, al. c). Mesmo nesta situação, a taxa aplicável à PS, será sempre a taxa
aplicável aos bens obtidos após a execução da empreitada, ao abrigo do art. 18º, n.º 6; ou
seja, a taxa a aplicar será sempre a mesma, quer a operação seja considerada TB, quer seja
considerada PS.
Exemplo:
Se a Maria se dirige a uma florista para encomendar um ramo de flores para o dia do seu
casamento, considera-se que a florista irá efectuar uma transmissão de bens devendo
liquidar IVA à taxa correspondente ao bem transmitido (arranjo floral), ou seja, à taxa de 12%
prevista na verba 2.1 da Lista II anexa ao CIVA.
Se, ao invés, a Maria tivesse levado consigo as flores para que a florista, com elas,
concebesse um arranjo (adicionando os materiais necessários, fitas, folhagens, papel, etc.),
tal situação já configura uma PS, embora tributável à taxa aplicável ao arranjo floral, que é de
12% (se não existisse no CIVA uma disposição com o teor do n.º 6 do art. 18º, o serviço seria
tributado a 20%).
Quando existia a taxa agravada de IVA relativamente a determinados bens, esta situação era
desfavorável aos SP’s, pois a taxa aplicável, por exemplo, aos serviços de ourivesaria (feitio),
74
( ) Empreitada, segundo o art. 1207º do Código Civil, traduz-se num contrato pelo qual uma das partes se obriga
em relação à outra a realizar certa obra, mediante um preço, pelo que, nesta medida, se refere a um serviço e não
a uma transmissão do direito de propriedade de um bem.
46
Impostos sobre a Despesa
CAPÍTULO 2: IVA - INCIDÊNCIA
seria sempre a taxa aplicável aos bens, tributados, neste caso, à taxa agravada, quer o dono
da obra fornecesse, ou não, parte dos materiais.
f) A afectação de bens da empresa a fins alheios à mesma, bem como a sua transmissão
gratuita, quando tenha havido previamente dedução de imposto (art. 3º n.º 3 al. f).
Abrange-se aqui a afectação de bens da empresa, que tenham originado dedução de imposto
aquando da aquisição ou produção ( 75), a fins alheios à actividade, tais como, a afectação de
bens ao empresário (76) e ao pessoal, situações estas que vulgarmente se designam por
75
( ) Face ao disposto na al. f) do n.º 3 do art. 3º, se não houve prévia dedução de IVA, então, não haverá
obrigação de liquidar IVA, até porque no caso de existir dedução, a liquidação posterior, no momento da
afectação, será feita com base no preço de custo, logo, o IVA liquidado serve apenas para anular o IVA
indevidamente deduzido, liquidando-se, em princípio, exactamente o mesmo valor de IVA que previamente se
deduziu (daí que se não existir prévia dedução não haja a obrigação de liquidação).
(76) É frequente a Inspecção Tributária (IT) proceder a liquidações adicionais de IVA com fundamento nesta
norma, sobretudo nos casos em que as empresas se encontram inactivas sem terem cessado a actividade (para
efeitos de IVA e IRC), constando do respectivo Balanço, Existências e Imobilizado que muitas vezes já nem
sequer existem. Nestes casos, ao abrigo da al. a) do n.º 1 e n.º 2 do art. 34º, a IT procede à cessação oficiosa da
actividade para efeitos de IVA (para efeitos de IRC os requisitos da cessação são mais exigentes), liquidando IVA
pelas existências e imobilizado existentes no balanço com fundamento na al. f), n.º 3, art. 3º. O valor que servirá
de base à liquidação é o preço de custo reportado ao momento da realização das operações (al. b), n.º 2, art. 16º),
o que significa que, no caso de contribuintes ausentes ou incontactáveis e na falta de outros elementos, a IT
liquida IVA com base no preço de custo, pelo menos no caso das existências (sem prejuízo da possibilidade de se
considerar que as mercadorias foram comercializadas com lucro). No caso do imobilizado a IT deverá ter em
conta as amortizações acumuladas e os coeficientes de desvalorização da moeda fixados anualmente por Portaria
do Ministro das Finanças (preço de custo reportado ao momento da realização das operações).
Um exemplo típico de aplicação da al. f) do n.º 3 do art. 3º é, por exemplo, a cessação de actividade de um
empresário em nome individual sem que haja a venda dos bens (imobilizado e existências) que integram o
estabelecimento a terceiros. Neste caso, deverá ser liquidado IVA pela afectação dos bens à esfera particular do
empresário, devendo o imposto ser liquidado no momento definido no n.º 4 do art. 7º, pelo valor constante da al. b)
do n.º 2 do art. 16º, à taxa respectiva (art. 18º) e num documento com os requisitos previstos no n.º 7 do art. 36º.
47
Impostos sobre a Despesa
CAPÍTULO 2: IVA - INCIDÊNCIA
‘auto-consumos externos’ ( 77)( 78), bem como as transmissões gratuitas, incluindo-se aqui,
designadamente, as amostras, as ofertas e os prémios concedidos.
Verifica-se, nestes casos, o desvio dos bens do seu destino natural a uma outra finalidade.
Pretende-se, assim, evitar casos de evasão, nos quais os bens adquiridos para fins
produtivos em relação aos quais tenha havido dedução do imposto são desviados, por
exemplo, para consumo privado (como é sabido os particulares não têm direito à dedução do
IVA). Caso assim não se procedesse não se tributaria o acto de consumo, o que violaria o
princípio da neutralidade, dado que as mesmas operações realizadas por terceiros SP do
imposto são tributadas. Este dispositivo só se justifica caso tenha sido exercido o direito à
dedução do IVA. Caso o imposto não tenha sido deduzido, a operação não é tributável.
Exemplo:
É o caso de um SP que adquire um computador e o afecta à actividade que
desenvolve, deduzindo o IVA suportado. Posteriormente, afecta o equipamento ao
seu uso próprio/particular, o que constitui um auto-consumo externo, tributado nos
termos do art. 3º n.º 3 al. f).
Sendo certo que no caso de algumas transmissões gratuitas se pode alegar que se está a
actuar no âmbito da actividade, uma vez que o que se pretende é melhorar a imagem da
empresa, ter uma boa política comercial, promover os produtos junto de clientes, tendo
sempre em vista o aumento das vendas, a verdade é que o CIVA apenas exclui as amostras
e ofertas de pequeno valor, na linha do disposto no art. 5º da 6ª Directiva (actual art. 16º da
“nova” Directiva IVA – 2006/112/CE) (79).
O regime de exclusão previsto no CIVA para as amostras e ofertas foi recentemente alterado
pela Lei do OE para 2008 (Lei n.º 67-A/2007, de 31 de Dezembro) ( 80), tendo sido retirada a
(77) O auto-consumo corresponde a uma saída de bens da empresa que se caracteriza pela inexistência de
contraprestação. Esta operação é considerada TB com vista a evitar consumos privilegiados, sem pagamento de
IVA (auto-consumo externo) ou a evitar o exercício de deduções que não correspondem à utilização real dos bens
(auto-consumo interno). A neutralidade do imposto exige que estas operações sejam tributadas, uma vez que o
seriam se fossem realizadas por terceiros, sujeitos passivos do imposto. Caso contrário, o SP que auto-consome
estaria numa situação de concorrência desleal face aos restantes agentes económicos.
(78) Em geral, não é tributado o ‘auto-consumo interno’, ou seja, afectações dentro da empresa, por exemplo,
produção pela empresa de um equipamento necessário à sua actividade, afectação ao Imobilizado de bens que
integram as existências, etc. Tal seria um contra-senso pois a empresa estaria sempre a actuar no âmbito da sua
actividade, despoletando-se uma cadeia de liquidações e deduções absolutamente despropositada. Contudo, tal já
será admissível se a empresa desenvolver em simultâneo uma actividade tributada e uma actividade não tributada
que não confere o direito à dedução, conforme se refere na alínea seguinte (al. g), n.º 3, art. 3º). Relativamente à
tributação dos ‘auto-consumos externos’, repare-se da dificuldade em controlar tais situações, uma vez que se
verifica que o empresário, normalmente, confunde o seu património com o património da sua empresa, utilizando e
afectando, indiscriminadamente, bens da empresa à sua esfera individual.
79
( ) Ainda assim, afigura-se-nos existirem algumas injustiças derivadas da aplicação desta norma, sendo certo que
também é evidente o seu objectivo, pois pretende-se sobretudo limitar abusos derivados da realização
indiscriminada de ofertas de bens que conferiram o direito à dedução, situação muito lesiva para o Estado. Por
outro lado, estabelecendo-se limites, evita-se a subjectividade de eventuais avaliações casuísticas das operações
gratuitas.
80
( ) Ao nível das transmissões gratuitas, a 2ª parte da al. f) do n.º 3 do art. 3º excluía expressamente as amostras
e as ofertas de reduzido valor, em conformidade com os usos comerciais. Até então, deveria ter-se presente o teor
da Circular n.º 19/89, de 18 de Dezembro, que referia a não tributação das amostras de bens comercializados
48
Impostos sobre a Despesa
CAPÍTULO 2: IVA - INCIDÊNCIA
parte final da alínea f) do n.º 3 do art. 3º que excluía “as amostras e as ofertas de pequeno
valor em conformidade com os usos comerciais”.
Em consequência foi aditado ao art. 3º o n.º 7 que passou a conter o essencial da circular n.º
19/89, de 18/12, mantendo-se o conceito de amostra e, quanto às ofertas, o seu limite
máximo anual (5‰), actualizando-se o limite unitário de €14,96 para €50,00.
Este n.º 7 do art. 3.º remete para uma Portaria (já publicada – Portaria n.º 497/2008, de 24 de
Junho), que contém a regulamentação necessária (delimitação dos conceitos de amostra e
de oferta, incluindo ofertas constituídas por um conjunto de bens, contabilização, etc.).
Foi ainda aditado o n.º8 ao art. 3º que contém a parte final do ponto 3 da circular n.º 19/89:
em caso de início de actividade a permilagem referida (5‰) aplica-se a uma estimativa do
volume de negócios, sem prejuízo da posterior rectificação se os valores definitivos forem
inferiores aos esperados.
As amostras não estão limitadas em valor, mas deverão ter um formato ou tamanho
diferente do produto que se pretende divulgar, ou apresentadas em quantidade,
capacidade, peso ou medida, inferiores ao produto a comercializar, para que seja
inequívoca a sua não comercialização.
Consideram-se ainda amostras os livros e outras publicações transmitidas
gratuitamente pelos editores a operadores económicos que os possam promover, a
membros do corpo docente de estabelecimentos de ensino, a críticos literários, a
organizações culturais ou a entidades ligadas à imprensa. Consideram-se também
amostras os CD, DVD, discos, cassetes, filmes, vídeo e outros registos de som ou de
imagem transmitidos gratuitamente pelos editores ou produtores económicos, tais
como estações de rádio ou televisão, críticos da especialidade, revistas da
especialidade, etc.
e/ou produzidos pela empresa, nem as ofertas de valor unitário inferior a € 14,96 (3.000$00) e cujo valor anual não
exceda 0,5% do volume de negócios do ano anterior.
49
Impostos sobre a Despesa
CAPÍTULO 2: IVA - INCIDÊNCIA
As ofertas não têm que respeitar a bens comercializados pela empresa, podendo, por
isso, tratar-se de bens adquiridos a terceiros, porém, dentro dos limites antes
referidos, tendo-se presente que o actual limite de € 50 (81).
Não é obrigatória a repercussão do imposto nestes casos (art. 37º n.º 3), estando
previstas formalidades particulares para os documentos a emitir, que devem
mencionar apenas a data, a natureza da operação, o valor tributável, a taxa de
imposto aplicável e o montante do mesmo (art. 36º n.º 7).
Em todo o caso, deverá ter-se presente que também não haverá liquidação de IVA
nos bónus concedidos em espécie pelos fornecedores aos clientes (al. b), n.º 6, art.
16º), situação perfeitamente normal em alguns sectores de actividade. Segundo o
entendimento da AF, e com vista à distinção entre ofertas e bónus, os bónus deverão
respeitar a bens da mesma espécie dos adquiridos pelo cliente (exemplo: bónus de
10 kg. de café por cada 100 kg. adquiridos – o IVA será liquidado apenas pelo valor
correspondente aos 100 kg, embora os 10 kg. devam constar expressamente de
factura ou documento equivalente, com a indicação de ‘bónus concedido’ e menção
expressa da al. b), n.º 6, art. 16º) (82).
(81) No caso da oferta ser constituída por um conjunto de bens, a Portaria estabelece que o limite se aplica ao
conjunto da oferta e não a cada bem individualmente considerado.
82
( ) Se, porém, se tratar de uma oferta de um determinado produto quando for adquirido um certo n.º de unidades
de outro, estar-se-á perante uma oferta que será ou não tributada em IVA, consoante se considere ou não como
oferta de pequeno valor, conforme se referiu no texto.
50
Impostos sobre a Despesa
CAPÍTULO 2: IVA - INCIDÊNCIA
No âmbito desta norma estamos perante as situações de auto-consumo interno, em que não
se transcende a unidade económica produtiva, sendo os bens produzidos/adquiridos pela
empresa e por ela utilizados no exercício da sua actividade económica. Esta modalidade de
auto-consumo verifica-se quando determinados bens da empresa, sem dela serem ‘retirados’,
são afectos a um sector de actividade isento, ao passo que o sector de actividade a que
inicialmente se afectou o bem adquirido permitiu o direito à dedução do IVA suportado na sua
aquisição.
Nestas situações, não se dá qualquer transferência do direito de propriedade, logo, face ao
conceito de transmissão de bens não estaríamos perante operações tributáveis. Porém,
neste caso, tal tributação, por ficção legal, justifica-se plenamente atendendo ao princípio
geral de que apenas poderá ser deduzido IVA relativamente às operações tributáveis
realizadas que confiram o direito à dedução.
De facto, dentro da mesma empresa, poderemos ter sectores isentos, cuja actividade não
confere o direito à dedução, e simultaneamente sectores tributados, estes sem restrições
especiais ao nível do direito à dedução. Nessa medida, se adquirirmos um determinado
equipamento e o afectarmos ao sector tributado, em princípio, iremos deduzir o IVA na
totalidade (83), pelo que, se posteriormente, o afectarmos ao sector isento (cuja actividade
não confere o direito à dedução), teremos que liquidar imposto.
83
( ) Esta ideia tem subjacente um sistema de afectação real, no qual os SP’s mistos poderão deduzir
integralmente o IVA relacionado com o sector tributado, não deduzindo qualquer imposto quando os bens se
destinem ao sector isento (isenção incompleta). Deste modo, se há transferências (e até meras utilizações) de
bens do sector tributado para o sector isento, terá que haver liquidação de imposto, compensando-se a favor do
Estado o IVA deduzido indevidamente, pois a dedução foi feita com base no pressuposto de que o bem seria
afecto exclusivamente ao sector tributado (em todo o caso, trata-se também de situações dificilmente
controláveis). Nas situações em que o sistema adoptado é o ‘prorata’, já não se levantam estas situações, uma
vez que o IVA é deduzido com base numa percentagem inerente à globalidade da actividade (tributada e não
tributada) podendo assim os bens circular livremente dentro da empresa entre os vários sectores de actividade.
Na prática, no sector da construção civil, para evitar complicações de ordem prática inerentes à adopção do
método da afectação real, opta-se muitas vezes por constituir duas empresas distintas. Todos estes aspectos
serão desenvolvidos posteriormente.
51
Impostos sobre a Despesa
CAPÍTULO 2: IVA - INCIDÊNCIA
( 84), nos termos da 1ª parte da al. g) do n.º 3 do art. 3º, com base no valor referido no art. 16º,
n.º 2, al. b) – preço de aquisição ou de custo reportado ao momento da realização das
operações.
A alínea g) do n.º 3 do art. 3º, refere ainda que é também considerada uma TB tributável, a
afectação ao uso da empresa (auto-consumo interno) de bens excluídos do direito à dedução
(n.º 1 do art. 21º), quando houve prévia dedução de imposto, ou seja, quando esses bens
constituam o objecto da sua actividade, nos termos da al. a) do n.º 2 do art. 21º,
enquadrando-se aqui, por exemplo, as empresas que se dedicam à comercialização de
automóveis de turismo, barcos, aviões e motos. Neste caso, é a afectação ao uso da
empresa de bens para finalidades produtivas diferentes das que levaram à sua aquisição,
importação, fabrico que determina a assimilação da operação ao conceito de TB.
Na verdade, tais empresas deduzem o IVA desses bens no pressuposto que os mesmos se
destinam a comercialização, pelo que, se, por exemplo, afectarem tais bens (existências) ao
seu imobilizado para uso da própria empresa, passarão a ter tratamento idêntico à
generalidade das empresas, ou seja, terão que liquidar IVA a preço de aquisição, com vista à
anulação do IVA ‘indevidamente’ deduzido no momento da aquisição ( 85).
Sintetizando as várias alíneas anteriores verificámos que, para efeitos de IVA, há várias
situações que não cabem no conceito de TB previsto no n.º 1 do art. 3º do CIVA, sendo, no
entanto, consideradas assimiladas a TB, nos termos do n.º 3, como tal tributáveis, o que
configura de alguma forma um alargamento do conceito, garantindo o carácter de
generalidade que verificamos ao analisar as características do IVA.
Assim, não se consideram transmissões, não sendo devido IVA (não sujeição ou não
incidência), relativamente às:
84
( ) Repare-se que o mesmo efeito poderia ser conseguido regularizando IVA a favor do Estado, porém, entendeu-
se ser esta a forma mais adequada, isto é, liquidar de imposto, embora num documento com menos requisitos que
as facturas ditas ‘normais’ (art. 36º, n.º 7).
85
( ) Situação idêntica verifica-se também no caso de uma oficina de reparação automóvel que procede à
reparação, com peças do seu armazém cujo IVA foi deduzido, de uma viatura de turismo afecta ao seu
imobilizado, tendo que liquidar IVA pelas peças no momento da sua incorporação na viatura (o IVA das
reparações de viaturas de turismo não é dedutível para a generalidade dos SP’s). Poderia também dar-se como
exemplo os combustíveis, os quais constituem o objecto da actividade das gasolineiras (postos de abastecimento
de combustíveis). Porém, nesta situação existe um regime particular (já abordado), no qual o Estado arrecada
antecipadamente a totalidade do IVA, pelo que o problema da liquidação do IVA, no caso de auto-consumos
internos, não se coloca, uma vez que não há prévia dedução nos combustíveis destinados a revenda. Na verdade,
o que se verifica é uma situação contrária, uma vez que se abre a possibilidade de dedução do IVA inerente aos
combustíveis consumidos internamente (não destinados a revenda) nos termos da parte final da al. a) do n.º 2 do
art. 21º, dentro dos limites mencionados no art. 21º, n.º 1, al. b), como acontece, aliás, com a generalidade das
empresas (por exemplo, dedução de 50% do IVA do gasóleo).
52
Impostos sobre a Despesa
CAPÍTULO 2: IVA - INCIDÊNCIA
Este normativo está de acordo com a Directiva IVA (art. 19º da Directiva 2006/112/CE) e visa
essencialmente simplificar a mecânica do imposto, por forma a não onerar a tesouraria do
cessionário com o pagamento do IVA ao cedente, facilitando assim a reorganização
empresarial, a qual se considera fundamental para a economia nacional e comunitária.
Deste modo, o legislador não dá relevância às transmissões de bens, desde que exista uma
certa continuidade no exercício da actividade exercida, situação que não influencia a
economia de imposto atendendo à dedutibilidade do IVA suportado por parte do cessionário,
no caso da sua liquidação pelo cedente.
a) a norma poderá ser aplicável se apenas for transmitida uma parte de um património,
desde que essa parte seja susceptível de constituir uma actividade independente, como
tal, pode considerar-se abrangida por esta norma, a alienação (ou cessão) de uma
sucursal (no caso de empresas com várias sucursais), ou de uma parte de um mesmo
estabelecimento (se for perfeitamente independente), ou ainda de uma área do negócio,
etc. (86);
86
( ) A venda, efectuada por um SP, de máquinas que fazem parte do seu imobilizado e se destinem a ser
integradas no processo produtivo de outro SP, só beneficiará do regime de não sujeição se, pelas suas
características e funções, as referidas máquinas possam constituir um conjunto patrimonial objectivamente apto
ao exercício de uma actividade independente, pois caso isso não aconteça, a operação será tributável, sendo o
IVA liquidado, dedutível para o adquirente. Repare-se que a cessão de um espaço comercial ‘paredes nuas’ a
título temporário (arrendamento) ou definitivo (transmissão), não cabe na exclusão prevista nesta norma pois tal
transmissão não revela por si só aptidão para o exercício de uma actividade, beneficiando, isso sim, da isenção do
n.º 29 ou n.º 30 do art. 9º, respectivamente, com possibilidade de renúncia às isenções respectivas dentro de
determinadas condições, nos termos dos n.ºs 4 e 5 do art. 12º.
53
Impostos sobre a Despesa
CAPÍTULO 2: IVA - INCIDÊNCIA
c) o adquirente (cessionário) deverá ser, ou vir a ser, um SP de IVA, sem restrições ao nível
do direito à dedução (n.º 5, do art. 3º), pelo que, se o adquirente for um SP isento (art. 9º
ou art. 53º) tal norma já não se aplica, o mesmo sucedendo se estiver enquadrado no
REPER, porquanto tais SP’s, como se sabe, não liquidam IVA nas operações efectuadas
a jusante (88).
A este propósito destaca-se a Portaria n.º 521/89, de 8 de Julho, que estabelece os limites da
não sujeição, no caso das cedências de vinho das cooperativas vinícolas aos respectivos
sócios, em função do n.º de membros adultos do agregado familiar (+2), partindo-se de um
consumo de 0,75 litros diários por adulto.
(87) A cessão (cedência) de exploração de um espaço comercial devidamente apetrechado é de facto uma
operação sujeita a IVA e não isenta, uma vez que não se encontra abrangida pela isenção prevista no n.º 29 do
art. 9º, face à exclusão definida na al. c) desta norma.
88
( ) Tais condicionantes na aplicação deste normativo prendem-se, fundamentalmente, com as distorções de
concorrência que a sua aplicação sem restrições poderia provocar, pelo menos no caso dos adquirentes serem
SP’s isentos (art. 9º e art. 53º), enquadrados no REPR, ou ainda SP’s mistos. No caso do adquirente ser um SP
misto, que pratica em simultâneo actividades que conferem o direito à dedução e outras que não conferem esse
direito, a não sujeição prevista no n.º 4 do art. 3º também se aplica, mas depende do método de dedução
utilizado, assim: i) se for a afectação real, a liquidação, ou não, de imposto depende do estabelecimento
transmitido ser afecto, respectivamente, ao sector que não confere o direito à dedução (sector ‘isento’) ou ao
sector que confere esse direito (‘sector tributado’); ii) se for o prorata, deverá ser efectuada uma regularização de
IVA pelo cessionário, calculada aplicando-se a % de dedução desse ano ao IVA que, no caso de haver liquidação,
teria sido liquidado, regularizando-se a favor do Estado a diferença. No caso de uma cessão no valor global de
10.000 (sem IVA) a um cessionário que adopta o método do prorata com uma % de dedução de 80%, o cedente
não deverá liquidar IVA, devendo o cessionário regularizar a favor do Estado o montante de 400 a incluir no
campo 41 da DP (o IVA que seria liquidado no caso de não ser aplicável a não sujeição seria de 2.000, logo, 2.000
x 80% = 1.600, logo, 2.000 - 1.600 = 400; ou, de outra forma, 10.000 x 80% = 8.000 (parte não sujeita), logo,
2.000 (parte sujeita) x 20% = 400).
54
Impostos sobre a Despesa
CAPÍTULO 2: IVA - INCIDÊNCIA
Trata-se, no fundo, de uma norma de não incidência que visa equiparar ao consumo as
entregas feitas pelas cooperativas agrícolas aos seus sócios, ficando tal não sujeição limitada
ao consumo familiar, excluindo-se desde logo do âmbito da norma os produtos já
devidamente embalados prontos a serem comercializados.
55
Impostos sobre a Despesa
CAPÍTULO 2: IVA - INCIDÊNCIA
Do teor desta norma facilmente se depreende que o IVA é de facto um verdadeiro imposto
geral sobre o consumo (de bens e serviços), uma vez que o seu campo de incidência é de tal
modo abrangente, que apenas se excluirão algumas situações de não incidência ou não
sujeição resultantes do próprio conceito ou de outras normas constantes do CIVA. A
incidência do IVA ganha assim uma vocação de universalidade.
Assim, para efeitos deste imposto, são, designadamente, qualificadas como PS o exercício
independente de uma profissão, os serviços de hotelaria e restauração, a cedência de
direitos, de marcas, patentes, a cedência de pessoal, a assunção de obrigações de não
concorrência, o pagamento de determinadas subvenções e indemnizações e o débito de
despesas a título de repartição de despesas comuns.
Como já referimos anteriormente, a locação financeira, no que diz respeito às rendas pagas,
constitui uma PS, em que o VT é o valor da renda recebida ou a receber do locatário, ao
passo que, aquando do exercício da opção de compra, a operação é tributada como TB, com
o VT a corresponder ao valor residual.
⇒ A utilização de bens da empresa para uso próprio do seu titular, do pessoal, em sectores
isentos, ou em geral a fins alheios à mesma, quando tenha havido prévia dedução de imposto
relativamente a tais bens – al. a), n.º 2.
Trata-se aqui, mais uma vez, de um caso de auto-consumo. Todavia, não é um auto-
consumo externo, distintamente ao referido anteriormente nas TB, dado que não se verifica
uma utilização integral dos bens em fins externos à empresa, pois aqui as afectações são a
título pontual, transitório.
Temos aqui, por exemplo, a situação de uma empresa X adquirir um computador para o
exercício da sua actividade económica e deduzir o IVA suportado na sua aquisição. Caso ofereça
(89) Mais uma vez, tal como no conceito de TB, o requisito da onerosidade está presente. Porém, também aqui, tal
requisito será objecto de derrogações em virtude de, posteriormente, nas alíneas a) e b) do n.º 2 do art. 4º, se
proceder a um alargamento do âmbito de aplicação da norma, concluindo-se que existe também incidência nas
PS não efectuadas a título oneroso.
56
Impostos sobre a Despesa
CAPÍTULO 2: IVA - INCIDÊNCIA
De salientar que esta norma (al. b), n.º 2, art. 4º) não faz depender a obrigação de liquidação
de imposto da prévia dedução relativamente aos bens utilizados no âmbito do serviço
De referir que, nestas situações, o valor tributável será constituído pelo valor normal do
serviço, tal como se encontra definido no n.º 4 do art. 16º, por aplicação da al. c) do n.º 2 do
art. 16º, podendo falar-se de um ‘justo valor’, utilizando a linguagem da contabilidade (valor
que seria cobrado, em condições normais de concorrência, a um terceiro perfeitamente
independente da empresa, ou então, o valor que o destinatário dos serviços teria que pagar a
um fornecedor ou prestador independente) (91).
(90) A propósito de prestações de serviços a título gratuito em favor do pessoal, um exemplo considerado
pertinente é o caso das empresas que facultam aos seus trabalhadores o transporte de casa para o trabalho e do
trabalho para casa. Se tais empresas recorrerem a serviços prestados por terceiros não deverão deduzir o IVA
dos serviços, atendendo à exclusão do direito à dedução prevista no art. 21º, n.º 1, al. c), não tendo obrigação de
liquidar IVA, uma vez que não estão a praticar (elas próprias) serviços de transporte. Se utilizarem viaturas do
imobilizado da empresa para esse efeito, poderá considerar-se que estarão a actuar no âmbito de uma actividade
de prestação de serviços de transporte, devendo liquidar IVA pelo ‘valor normal do serviço’ (al. c), n.º 2 e n.º 4 do
art. 16º), mesmo que não cobrem nada aos seus trabalhadores (que é normalmente o caso) e mesmo que não
tenham deduzido o IVA das viaturas, pois, contrariamente às TB gratuitas (al. f), n.º 3, art. 3º), esta norma (al. b),
n.º 2, art. 4º) não faz depender a obrigação de liquidação de imposto da prévia dedução relativamente aos bens
utilizados no âmbito do serviço. Neste cenário, exigindo-se a liquidação de imposto pelas PS gratuitas, o IVA das
viaturas adquiridas e utilizadas para esse fim é dedutível sem restrições, nos termos do art. 21º n.º 2, al. a), uma
vez que se considera que a empresa actua no âmbito de uma actividade tributável consistente na prestação de
serviços de transporte. Refira-se que o disposto anteriormente poderá ser um pouco discutível e que é mais uma
situação dificilmente controlável, pelo menos se não se tratar de uma prática continuada. Obviamente que não
haverá lugar à liquidação de IVA sobre o transporte dos trabalhadores efectuado pela própria empresa, no caso de
se tratar de deslocações entre os vários locais de trabalho de uma mesma empresa, ou deslocações no âmbito da
actividade da empresa (junto de clientes e fornecedores).
(91) A propósito de autoconsumos externos/ internos e operações gratuitas (TB e PS), ver também o art. 7º, n.º 4
(facto gerador - no momento da sua realização), o art. 36º, n.º 7 (facturação – com menos requisitos), o art. 37º,
57
Impostos sobre a Despesa
CAPÍTULO 2: IVA - INCIDÊNCIA
Neste caso, tal norma tem plena justificação face ao que se disse anteriormente, a propósito
da alínea e) do n.º 3 do art. 3º, na qual se consideravam tais empreitadas como TB, quando o
empreiteiro fornecesse a totalidade dos materiais.
Para além do exemplo da florista mencionado anteriormente, podem dar-se outros exemplos.
A entrega de azeitonas a um lagar para fabrico de azeite, constitui uma PS tributável à taxa
dos bens que é de 5% ao abrigo da verba 1.5.1 da Lista I. O mesmo se passa com a
actividade de moagem (PS tributada a 5% - verba 1.1.3. da Lista I) e de produção de vinhos
comuns (PS tributada a 12% - verba 1.10 da Lista II). O fabrico de aguardente já será
tributado à taxa normal, pois é essa a taxa aplicável aos bens (a aguardente não consta das
Listas I e II, logo, aplica-se-lhe a taxa normal bem como aos respectivos serviços conexos,
nos termos da al. c) do n.º 1 do art. 18º).
Deverá também ter-se presente que, ao abrigo do n.º 6 do art. 4º, a DGCI poderá excluir do
conceito de PS, as operações em que o fornecimento de materiais pelo dono da obra seja
considerado insignificante (92).
n.º 3 (não repercussão de imposto) e o art. 44º, n.º 3, al. d) (contabilização: conta 24332 - IVA Liquidado –
Autoconsumos e operações gratuitas).
(92) Tal norma foi aditada pelo DL n.º 206/96, de 26 de Outubro, resultando da transposição da Directiva n.º
95/7/CE do Conselho, de 10 de Abril e terá especial acuidade no caso de operações intracomunitárias
(designadamente no trabalho a feitio), pois a qualificação das operações como TB ou PS, vai determinar, para
efeitos de enquadramento, a aplicação, respectivamente, do RITI ou do art. 6º do CIVA.
93
( ) Num contexto internacional, terão que ser tidas em conta as regras de localização previstas no art. 6º,
concluindo-se que tais serviços se irão localizar no país da sede do adquirente, ou seja, em princípio, no clube de
58
Impostos sobre a Despesa
CAPÍTULO 2: IVA - INCIDÊNCIA
Tal como nas TB se ficcionava uma transmissão do comitente para o comissário (no caso
deste actuar em nome próprio perante o cliente), também nas PS existe uma situação
análoga prevista no n.º 4 do art. 4º. Assim, se forem efectuadas por um mandatário agindo
em nome próprio (intermediário numa PS que factura em seu nome o valor total do serviço),
este será, sucessivamente, adquirente e prestador do serviço, mesmo que o serviço seja
prestado directamente pelo mandante ao cliente (94).
Ou seja, no caso de prestações de serviços por conta de terceiros, existem dois serviços: o
serviço prestado pelo mandante ao mandatário e o serviço prestado pelo mandatário ao
terceiro. No caso de aquisições de serviços por conta de terceiros, existem igualmente dois
serviços: o serviço prestado pelo terceiro ao mandatário e o prestado pelo mandatário ao
mandante.
Tal como vimos supra em relação ao caso de transferências de bens efectuadas entre
comitente e comissário, visa-se também, com esta norma, evitar a interrupção da cadeia de
deduções que ocorreria caso as PS efectuadas por mandatários agindo em nome próprio não
fossem assimiladas a PS.
Concluindo a análise ao art. 4º, uma nota a propósito do n.º 5, que refere que se aplica às PS
o disposto nos n.ºs 4 e 5 do art. 3º, ou seja, trata-se das situações de não sujeição, já
referidas anteriormente, relacionadas com a transmissão da totalidade de um património.
Neste caso, do património farão parte activos incorpóreos, cuja transmissão é considerada
uma PS, também não sujeita a IVA, tal como as TB (activos corpóreos), em virtude da
remissão feita nesta norma.
Tal como o já referido aquando da referência às normas dos n.ºs 4 e 5 do art. 3º:
destino. Trata-se de uma situação de ‘reverse charge’ (inversão do SP), sendo o imposto liquidado pelo adquirente
no país onde estiver sedeado, país comunitário ou país terceiro (neste caso, pode não existir IVA nesse país, logo,
poderão ser situações não tributadas dependendo das regras fiscais aí vigentes). Se, por exemplo, um atleta é
emprestado pelo Benfica ao Real de Madrid, será este clube (adquirente) a liquidar IVA em Espanha relativamente
ao valor facturado pelo Benfica (não sujeito a IVA em Portugal – art. 6º, n.º 6, al. a), a contrario. Se a situação for
inversa, já será o Benfica a liquidar IVA (sujeito a IVA em Portugal - art. 6º, n.º 6, al. a). Entre clubes nacionais, tal
já não acontece, devendo o clube de origem do atleta (prestador do serviço) emitir uma factura com liquidação de
IVA pelos montantes recebidos pelo empréstimo (n.º 3 do art. 4º, conjugado com art. 6º, n.º 6, al. a). O mesmo se
passaria, com as necessárias adaptações, no caso do exemplos se referirem a transferências definitivas de
atletas.
94
( ) No caso de um comissário a agir em nome próprio numa TB, será considerado adquirente face ao comitente
(ficção de TB) e transmitente face ao adquirente, mesmo que a transmissão de bens ocorra directamente do
comitente para o adquirente (cliente).
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Impostos sobre a Despesa
CAPÍTULO 2: IVA - INCIDÊNCIA
ii. Tais normas aplicam-se apenas a cessões a título definitivo, como tal, não englobam,
tal como se vincou anteriormente, as vulgares cedências de exploração, as quais estão
sujeitas a IVA, e não isentas, devendo este ser calculado tendo em atenção,
designadamente, o disposto no n.º 3 do art. 7º, no art. 8º, no n.º 1 do art. 16º, na al. b)
do n.º 1 do art. 29º e no art. 36º, ou seja, grosso modo, deverá ser liquidado IVA no final
de cada período (mensalmente), a mencionar obrigatoriamente numa factura e a incidir
sobre o valor da contraprestação (renda).
iii. As cedências de direitos só serão consideradas não sujeitas quando tais direitos sejam
cedidos como parte de um conjunto patrimonial, configurando-se como susceptíveis de
constituir um ramo de actividade independente.
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Impostos sobre a Despesa
CAPÍTULO 2: IVA - INCIDÊNCIA
É no art. 5º, n.º 1, que o CIVA estabelece o que se entende por importação (96),
considerando-se como tal, a entrada no território nacional de:
Relativamente aos bens em ‘livre prática’, trata-se de bens que já foram objecto de
desembaraço aduaneiro e do pagamento dos correspondentes direitos aduaneiros num outro
EM da CE, ou seja, em que foram cumpridas as formalidades alfandegárias, não havendo,
neste caso, importação para efeitos de IVA em Portugal, nos termos da 1ª parte da alínea a)
do n.º 1 do art. 5º.
De facto, a importação ocorre quando os bens entram no território da UE, dando-se desde
logo a importação com a consequente cobrança dos direitos alfandegários, daí a expressão
95
( ) A definição dos territórios será abordada no capítulo seguinte, a propósito da ‘incidência territorial’.
96
( ) Este conceito sofreu uma importante alteração a partir da entrada em vigor da Directiva que veio instituir o
Regime Transitório do IVA nas Transacções Intracomunitárias e que entre nós foi transposta pelo RITI. Assim, até
31/12/1992 não havia qualquer distinção no tratamento das operações internacionais, consoante se tratassem de
situações em que intervinham países terceiros ou apenas Estados-membros da UE. Todas as operações eram
tratadas de igual forma – importações e exportações. A partir de 01/01/1993, com a introdução do RITI, passa,
como é sabido, a existir um regime específico para as transacções intracomunitárias de bens, pelo que o conceito
de importação (e o de exportação) é limitado às operações com países terceiros (não Estados-membros da UE).
(97) A 2ª parte da alínea a) do n.º 1 do art. 5º refere ainda que existe importação no caso de bens que tenham sido
colocados em livre prática no âmbito de acordos da CE. Neste caso está aqui implícita a isenção prevista no art.
16º do RITI em que, nas condições aí estabelecidas, se verifica uma isenção na Importação em Portugal, dando-
se a importação e a competente tributação em IVA no país comunitário de destino, como se de uma AIB se
tratasse (fenómeno de desvio das importações). Se uma empresa holandesa faz uma importação no porto de
Leixões e os bens são expedidos imediatamente para a Holanda, a importação em Portugal beneficiará da
isenção consignada no art. 16º do RITI, dando-se a tributação na Holanda. Se for uma empresa nacional a fazer
uma importação via porto de Roterdão, a importação na Holanda estará isenta, seguindo os bens até Portugal em
livre prática (no âmbito de acordos da UE), dando-se aqui a tributação, embora sem intervenção da DGAIEC, ou
seja, IVA (auto)liquidado e deduzido pelo próprio adquirente português.
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Impostos sobre a Despesa
CAPÍTULO 2: IVA - INCIDÊNCIA
‘livre prática’, no sentido que os bens circulam livremente até ao EM de destino após a
importação se ter verificado noutro EM.
No n.º 2 do mesmo artigo, explicita-se ainda que se os bens forem colocados em algum dos
regimes aí previstos (98), a liquidação de imposto fica suspensa, sendo que a importação,
logo, a tributação em IVA, só se verificará quando os bens forem introduzidos no consumo.
Quando nos referimos às importações entramos numa área bastante específica do IVA,
relacionada com o Direito Aduaneiro, tratando-se de matéria da competência da DGAIEC,
com terminologia muito específica e que, obviamente, não constitui objecto desta disciplina
atendendo à sua marginalidade no contexto do IVA.
a) a sujeição a IVA das Importações traduz o princípio de tributação no destino, pois tributar
as mercadorias no momento da importação, não é mais do que tributar no país de destino
ou no país onde as mercadorias vão ser consumidas (tal princípio tem subjacente a
isenção (completa) das exportações, para evitar dupla tributação);
c) trata-se de uma sujeição sem condicionalismos, em que não se exige, ao contrário das
TB e das PS, a qualidade de SP (a actuar no âmbito de uma actividade empresarial), que
a operação seja realizada a título oneroso, que se dê a transmissão do direito de
propriedade, nem que seja efectuada no exercício de uma actividade com carácter de
independência. Seja qual for a qualidade do importador e o fim a que este destine os bens
importados, as importações são operações tributáveis em sede de IVA.
d) Nas importações, o facto gerador do imposto não é coincidente com o momento em que
os bens são colocados à disposição do adquirente. De acordo com o disposto no art. 7º
n.º 1 al. c), nas importações o IVA é devido e torna-se exigível no momento determinado
(98) Referimo-nos aos regimes previstos na alínea b) do n.º 1 do art. 15º (bens colocados em depósito provisório,
colocados em zona franca ou entreposto franco, colocados em entreposto aduaneiro ou aperfeiçoamento activo,
ou destinados a serem incorporados em plataformas aquáticas), bens colocados sob o regime de importação
temporária, sob o regime de trânsito externo ou sob o regime de trânsito comunitário interno – tais regimes não
são objecto de estudo nesta disciplina e no caso de interesse deverão ser analisados à luz do Código Aduaneiro
Comunitário.
62
Impostos sobre a Despesa
CAPÍTULO 2: IVA - INCIDÊNCIA
pelas disposições aplicáveis aos direitos aduaneiros, sejam ou não devidos estes direitos.
Caso os bens sejam colocados sob um dos regimes previstos no art. 5º n.º 2, o facto
gerador e a exigibilidade só se verificam o momento em que deixam de estar sujeitos a
esses regimes ou procedimentos (art. 7º n.º 8).
(99) De facto, uma questão que se coloca nas Importações quando o IVA é pago ‘à cabeça’, sendo que a
dedutibilidade apenas se materializa dois, ou mais, meses depois, no momento da apresentação da DP, coloca
problemas de tesouraria às empresas. Esse facto, associada à taxa geral do IVA vigente em Portugal (20%) , tem
motivado nos operadores, uma prática que consiste no desvio das Importações para outros países da CE, a fim de
‘transformar’ tais Importações em AIB (procede-se ao desalfandegamento noutro EM, dentro de determinadas
condições, verificando-se aí uma isenção ao abrigo de uma norma idêntica ao art. 16º do RITI), eliminando o ónus
financeiro do pagamento do IVA antecipadamente (liquidação e dedução em simultâneo). Tal situação é ainda
mais vantajosa quando se sabe que o IVA, no caso da importação ser feita nos nossos portos e aeroportos, terá
que ser pago pelo importador ao Despachante Oficial no momento em que este apresenta a ‘conta’, não podendo
o mesmo ser imediatamente deduzido, atrasando ainda mais a sua recuperação. Tal situação, vantajosa para as
empresas importadoras, acarreta prejuízos evidentes, designadamente, para os nossos portos e
consequentemente para o Estado português, sabendo-se que, por exemplo, o porto de Leixões investiu entre
2000 e 2002 cerca de 15.000.000 de contos na sua modernização, na expectativa de um aumento do tráfego com
países terceiros, situação que não se está a verificar atendendo a este fenómeno de desvio das importações para
outros portos comunitários, embora se possam apontar outros motivos para esse desvio, como os preços
praticados nos portos portugueses, a eficiência dentro dos portos e a jusante dos mesmos, entre outros. Para
obviar tais dificuldades, o art. 28º n.º 3 prevê agora possibilidades de diferimento do pagamento do IVA devido
pelas importações de bens, mediante prestação de garantia.
63
Impostos sobre a Despesa
CAPÍTULO 2: IVA - INCIDÊNCIA
CIVA no que diz respeito à possibilidade de diferimento do pagamento do IVA devido pelas
importações.
Assim, passou a prever-se a possibilidade de ser concedido o diferimento do pagamento do
IVA, mediante a prestação de uma garantia específica de montante correspondente a 20%
do imposto devido, nos termos da legislação aplicável (n.º 4 do art. 28º). As condições para
a prestação e utilização da garantia serão estabelecidas através de portaria (ainda não
aprovada).
De acordo com a DGAIEC (http://www.dgaiec.min-financas.pt/), os objectivos da nova
modalidade de garantia do IVA são:
Facilitar a aplicação do prazo de diferimento do pagamento do IVA por 60 dias, devido na
importação;
Aligeirar os custos decorrentes do desalfandegamento das mercadorias;
Permitir a constituição da garantia por um valor significativamente inferior, o que diminui, por
um lado, as despesas inerentes à sua prestação junto das entidades garantes e por outro, a
tributação em sede de Imposto do Selo cobrado aquando da renovação anual da mesma.
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Impostos sobre a Despesa
CAPÍTULO 2: IVA - INCIDÊNCIA
g) nos casos mais complexos, tais operações de importação deverão ser devidamente
acompanhadas por um Despachante Oficial (profissionais especializados nas questões
aduaneiras) devidamente credenciado, que acompanhará todo o processo de importação
(e exportação);
h) finalmente, refira-se também que há isenções específicas no CIVA (art. 13º), no RITI (art.
16º), em legislação avulsa e ainda situações de suspensão de imposto (art. 15º) que
importarão ser analisadas no âmbito de operações de importação, situações que serão
abordadas oportunamente, embora de forma sumária.
65
Impostos sobre a Despesa
CAPÍTULO 2: IVA - INCIDÊNCIA
Em todo o caso, refira-se que a sua entrada em vigor coincidiu com a abolição das fronteiras
fiscais ostensivas dentro do território da CE, transformando os movimentos de mercadorias,
antes apelidados de Importações e Exportações, em Aquisição Intracomunitária de Bens
(AIB) e Transmissão Intracomunitária de Bens (TIB), nas quais o imposto continua a afluir ao
país de destino, embora, nestes casos, não através de um controlo alfandegário mas sim
recorrendo a sistemas informáticos de troca de informações (VIES) e a outras formas de
cooperação entre as administrações fiscais dos vários EM’s.
De uma forma sumária, a regra é que as TIB se encontram isentas pelo art. 14º do RITI,
tratando-se de uma isenção completa (verdadeira isenção), tal como a das exportações, uma
vez que, embora não sendo liquidado IVA a jusante, é possível a dedução do IVA suportado
a montante (n.º 2 do art. 19º do RITI) ( 100).
As AIB, por seu turno, encontram-se sujeitas a IVA, nos termos do art. 1º do RITI, devendo o
IVA ser liquidado pelo próprio adquirente (al. a), n.º 1 do art. 23º do RITI), na própria factura
do fornecedor ou em documento interno (n.º 1 do art. 27º do RITI), o qual é imediatamente
dedutível nos termos do n.º 1 do art. 19º do RITI ( 101), dentro dos condicionalismos previstos
no art. 21º do CIVA e os inerentes ao próprio enquadramento do SP.
Assim, à transmissão de um bem efectuada a partir de um EM, e por isso isenta nesse país
(TIB), corresponde simetricamente, no EM de chegada, uma aquisição tributável (AIB), para
que a tributação se dê no país de destino, sendo o IVA liquidado pelo adquirente (inversão de
SP ou reverse charge). Trata-se assim de uma situação excepcional em que o facto gerador
é uma compra e não uma venda como é normalmente o caso.
(100) Deverá ser enviado juntamente com a DP a declaração recapitulativa das transmissões de bens isentas (al. c)
do n.º 1 do art. 23º e art. 30º do RITI), onde se identifica o prefixo do país de destino, o n.º fiscal (válido) do cliente
comunitário e o valor das transacções (ver impresso), para efeitos de troca de informações entre as
administrações tributárias. Esta troca de informações (no âmbito da cooperação administrativa) é sustentada por
uma base de dados gigantesca denominada VIES (VAT Information Exchange System), donde constam as
compras efectuadas a outros EM, as vendas com destino a outros EM (declaração recapitulativa) e o cadastro de
todos os operadores registados na CE. Deverá ainda ser preenchido o campo 7 da DP, valor esse que deverá
corresponder ao somatório dos valores inscritos por cliente na declaração recapitulativa.
101
( ) Tal como se referiu, a ausência de fronteiras não pode significar ausência de controlo, pois esse controlo
existe, se bem que em moldes inovadores, não ostensivos (embora existam casos de fraude, deixando
transparecer algum descontrolo). Daí a imposição aos SP’s de obrigações declarativas adicionais no âmbito das
operações intracomunitárias - TIB e AIB. Assim, relativamente às AIB, deverão ser preenchidos os campos 12 a
15, consoante o tipo de operação, sendo campos totalizadores de controlo os campos 10 e 11.Tal imposto é
dedutível nos termos gerais, devendo ser inscrito nos campos 20 (imobilizado), 21 a 23 (existências às várias
taxas) e 24 (outros bens). O novo modelo de declaração periódica (aprovado pela Portaria n.º 988/2009, de 7/9)
veio finalmente considerar campos específicos para a liquidação do IVA devido pelo adquirente nas aquisições de
serviços intracomunitários, devendo tais valores constar nos campos 16 e 17. No caso de prestação de serviços
intracomunitários efectuadas por sujeitos passivos residente, em que o IVA é devido pelo adquirente de outro
Estado-membro, também agora existe a possibilidade de controlo destas operações que passam a constar do
campo 7 da DP e da nova declaração recapitulativa (aprovada pela Portaria n.º 987/2009, de 7/9) como operações
tipo 5 (para as distinguir das TIBs e das operações triangulares).
66
Impostos sobre a Despesa
CAPÍTULO 2: IVA - INCIDÊNCIA
Por último, de referir que os particulares suportam IVA no país de origem, sem franquias,
desde 01/01/1993 e que a tributação no (país de) destino, no caso de empresas, foi instituída
a título transitório (inicialmente esteve para vigorar somente até 1996), pois entende-se que a
tributação na origem é a forma de tributação natural no seio de um verdadeiro mercado único,
onde a tributação deveria ocorrer como se de um único país se tratasse.
Basicamente, tributar na origem significaria que uma empresa portuguesa poderia adquirir
mercadorias junto de um fornecedor comunitário, o qual liquidaria IVA no seu país à taxa aí
vigente, que seria dedutível em Portugal como se de uma operação interna se tratasse.
Porém, não há uniformização nas taxas, nem se verificam outras condições mínimas para
que se avance para a tributação na origem a curto / médio prazo. De facto, vários têm sido os
obstáculos que têm inviabilizado essa solução, a tal ponto que a Comissão, adoptando uma
postura mais pragmática, pretende agora melhorar as regras aplicáveis ao regime transitório
(do destino), ao invés de as alterar radicalmente no sentido da tributação da origem.
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Impostos sobre a Despesa
CAPÍTULO 2: IVA - INCIDÊNCIA
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Impostos sobre a Despesa
CAPÍTULO 2: IVA - INCIDÊNCIA
Convém, no entanto, salientar, conforme nos apresenta Basto (1991) (103), que a expressão
“sujeito passivo” não deve confundir-se com a de “devedor do imposto” ( 104). Na verdade, na
doutrina fiscal, costuma entender-se por sujeito passivo a pessoa que, segundo a lei, tem o
encargo de pagar o imposto. Mas as duas expressões não são coincidentes: nem sempre a
pessoa que tem o encargo de pagar o imposto é “sujeito passivo”. O “sujeito passivo” engloba
aquelas pessoas que, por exercerem uma actividade económica, praticam, com carácter de
habitualidade, operações tributáveis. São, no fundo, aquelas pessoas a que estão também
atribuídas outras obrigações, nomeadamente as obrigações declarativas, contabilísticas e de
facturação. A noção de “devedor do imposto” é mais abrangente, mais ampla. São, em
princípio, devedores do imposto os próprios sujeitos passivos (a não ser que, da aplicação do
método do crédito de imposto, a dedução a que tenham direito, supere o imposto liquidado
resultante da sua facturação); mas nem todos os devedores de imposto são sujeitos passivos
ou devem o imposto em resultado das suas actividades como sujeitos passivos. Tomemos, por
exemplo, um importador: este será devedor do imposto por cada importação (que não seja
isenta) e não pela actividade de importação que eventualmente exerça.
Um outro caso de não coincidência entre as noções de devedor de imposto e de sujeito passivo
é o que se verifica nos casos em que se verifica o reverse charge, situação em que o
adquirente do serviço é devedor do imposto por uma operação passiva e não por uma
operação activa.
Vejamos, então, o que dispõe o artigo 2º do Código do IVA, o qual estabelece as normas de
incidência pessoal, ou seja, determina o citado artigo que são sujeitos passivos de IVA as
pessoas singulares ou colectivas que (de acordo com a versão actual do art. 2º do CIVA, alterado pelo
DL n.º 186/2009, de 12 de Agosto):
(102) A incidência subjectiva, ou incidência pessoal, encontra-se prevista no art. 2º, n.º 1 do CIVA, norma que
estabelece quem está sujeito a imposto.
103
( ) BASTO, José Guilherme Xavier (1991). A Tributação do Consumo e a sua Coordenação Internacional,
Cadernos de Ciência e Técnica Fiscal, n.º 164, Lisboa.
104
( ) A Directiva 2006/112/CE estabelece no art. 9º a 13º a incidência pessoal, decorrendo do art. 9º quem é sujeito
passivo do imposto. Por sua vez, nos artigos 193º e seguintes estabelece quem são os devedores do imposto
perante o Fisco. O sujeito passivo será aquele que exerce uma actividade económica. O conceito de devedor do
imposto é mais amplo, englobando os próprios sujeitos passivos mas também outras pessoas. Devedores do
imposto são, grosso modo, aqueles que estão adstritos ao cumprimento das obrigações tributárias. Ora, no CIVA não
se faz uma distinção entre sujeitos passivos e devedores do imposto.
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Impostos sobre a Despesa
CAPÍTULO 2: IVA - INCIDÊNCIA
Trata-se de uma noção formal, tendo em conta que o SP não é o destinatário do IVA,
limitando-se a ser um intermediário no processo de cobrança do imposto. Com efeito,
através do SP e mediante o mecanismo da repercussão do imposto, pretende-se
tributar o consumidor final ( 105).
Logo aqui nos são apresentados diversos elementos que convém analisar: desde logo,
a expressão “de um modo independente” (que o legislador nacional não explicita, mas
que nos é clarificada pelo art. 10º da Directiva 2006/112/CE) exclui da tributação os
assalariados e outras pessoas na medida em que se encontrem vinculadas a um
contrato de trabalho ou a qualquer outra relação jurídica que estabelece vínculos de
subordinação no que respeita às condições de trabalho, às modalidades de
remuneração ou à responsabilidade da entidade patronal (empregadas domésticas,
representantes, técnicos de vendas, aprendizes,…). Ao invés, aqueles que realizem
operações por conta de outrem mas de uma forma independente assumem a qualidade
de sujeitos passivos ( 106). Assim, são considerados como sujeitos passivos do imposto
as pessoas que de uma forma independente, a título habitual, seja qual for o seu
estatuto jurídico, exerçam actividades de produção, comércio ou prestação de serviços
(sem prejuízo de beneficiarem por vezes de isenções que os afastam das obrigações
decorrentes do imposto, nomeadamente devido ao facto de se tratar de pequenos
operadores, com volumes de negócios muito reduzidos, enquadrados no regime
especial de isenção, previsto no artigo 53º do Código do IVA).
(105) De salientar que, de um ponto de vista teórico, afirma-se que o imposto não incide sobre os SP, antes tributando
os consumidores finais. Estes situam-se fora da relação jurídica tributária, apesar de lhes ser imposta a carga
tributária que resulta do IVA. Os consumidores finais não são sujeitos passivos do imposto, apesar de serem os
destinatários últimos do tributo. De igual forma, não têm de cumprir quaisquer obrigações resultantes do imposto, tal
como não se podem opor ao mecanismo da repercussão.
106
( ) A independência jurídica é um elemento fundamental para determinar a existência de um SP. Duas entidades
juridicamente independentes são SP distintos, ainda que existam nexos de subordinação económica entre ambas.
As operações entre sociedade-mãe e sucursais, ainda que estabelecida fora de Portugal, não estão sujeitas a
imposto, uma vez que não existe independência jurídica entre ambas, considerando-se operações internas de um
mesmo SP. Pelo contrário, as operações entre sociedade-mãe e filial estão sujeitas a IVA, uma vez que a filial tem
personalidade jurídica, pelo que se trata de SP distintos. Sobre esta matéria tenha-se em consideração,
nomeadamente, o previsto no OFCD n.º 30114, de 25/11/2009, relativo a prestações de serviços entre uma
sociedade e o estabelecimento estável.
70
Impostos sobre a Despesa
CAPÍTULO 2: IVA - INCIDÊNCIA
Por fim, a actividade económica deve ser exercida com habitualidade, isto é, deve
constituir uma prática reiterada.
ii. Do mesmo modo independente pratiquem uma só operação tributável, desde que essa
operação seja conexa com o exercício das referidas actividades, onde quer que esta
ocorra (por exemplo, uma empresa que não possua sede nem estabelecimento estável em
Portugal mas que efectua uma operação tributável que se considera localizada/tributável
em território nacional) (artigo 2º n.º 1 alínea a) do CIVA).
iii. Independentemente daquela conexão, pratiquem uma operação isolada (acto isolado) ( 108)
que seja susceptível de tributação em sede dos impostos sobre o rendimento (IRS ou IRC)
(artigo 2º n.º 1 alínea a) do CIVA).
(107) Amplitude que o TJCE tem vindo sucessivamente a reiterar. Nomeadamente, incluem-se no conceito de
actividade económica, de acordo com a jurisprudência do TJCE e em nome da própria neutralidade do imposto, os
actos preparatórios de uma actividade económica, assim como os actos realizados no decurso de tal actividade, bem
como determinadas actividade ilícitas. (PALMA, Clotilde Celorico (2005). Introdução ao Imposto sobre o Valor
Acrescentado, Cadernos IDRFF n.º 1, Almedina, Coimbra).
108
( ) O CIVA refere-se aos actos isolados no sentido da prática por alguém de uma só operação tributável desde
que conexa com as referidas actividades, ou independentemente dessa conexão, que preencha os pressupostos
de incidência real de IRS ou IRC. Repare-se como, mesmo no caso de actos isolados é reforçada a expressão ‘de
um modo independente’, sendo este um requisito muito importante. De facto, no trabalho por conta de outrem não
há incidência de IVA exactamente porque não há independência (existem vínculos de subordinação), porque se
esta existir, mesmo por conta de outrem, já há incidência, como no caso dos comissários, consignatários,
mandatários, agentes comerciais e subempreiteiros. Relativamente aos actos isolados, por vezes não há
independência (estudantes que trabalham nas férias) e na prática é liquidado IVA pelos serviços prestados,
quando em rigor, tais situações seriam não sujeitas a IVA. Neste caso, tais rendimentos estariam sujeitos a IRS
pela categoria A (trabalho dependente) e a descontos para a Segurança Social, admitindo-se a tributação em IVA
como uma forma de contornar formalismos, flexibilizando este tipo de contratação eventual (alega-se que com
base numa interpretação restritiva da lei ninguém contrataria tais pessoas). Relativamente aos ‘falsos recibos
verdes’, verifica-se uma situação análoga, não havendo, em rigor, sujeição a IVA, pois não há independência, e
normalmente é emitido um recibo com IVA (salvo enquadramento no REI) – também neste caso, os mesmos
deveriam ser considerados trabalhadores dependentes, sendo tributados na categoria A de IRS e devendo em
simultâneo ser efectuados os correspondentes descontos para a Segurança Social, sem liquidação de IVA,
tratando-se de uma situação bem mais grave que a descrita anteriormente a propósito dos actos isolados, não só
a um nível fiscal, mas também social, ao nível da precariedade no emprego e suas implicações.
71
Impostos sobre a Despesa
CAPÍTULO 2: IVA - INCIDÊNCIA
vi. Efectuem aquisições intracomunitárias de bens, nos termos do Regime do IVA nas
Transacções Intracomunitárias (RITI) (destacando-se neste caso a alínea a) do n.º 1 do
art. 2º do RITI) ( 110), numa consagração do princípio da tributação no país de destino, que
como vimos, vigora nas relações entre os Estados-membros, enquanto não se verifica a
possibilidade de aplicação definitiva do princípio da tributação na origem (artigo 2º n.º 1
alínea d) do CIVA).
vii. As pessoas singulares ou colectivas referidas na alínea a), pela aquisição dos serviços
abrangidos pela alínea a) do n.º 6 do artigo 6.º, quando os respectivos prestadores não
tenham, no território nacional, sede, estabelecimento estável ou, na sua falta, o domicílio, a
partir do qual os serviços são prestados (111) (artigo 2º n.º 1 alínea e) do CIVA);
109
( ) Quem liquidar IVA, mesmo que indevidamente (particulares, SP’s enquadrados no art. 9º, no REI ou no
REPER), deve entregar o imposto nos cofres do Estado no prazo de 15 dias, nos termos do art. 27º, n.º 2. De
facto, tal imposto poderá ser deduzido posteriormente pelo adquirente daí a obrigatoriedade da sua entrega. Aliás,
mesmo que não haja posterior dedução de imposto, a sua exigência é também legítima, na medida em que o IVA
é receita do Estado, não podendo em quaisquer circunstâncias ser objecto de apropriação por parte do emitente
do documento, mesmo no caso de liquidação indevida.
110
( ) Basicamente, SP’s para efeitos de operações intracomunitárias são as pessoas mencionadas na alínea a) do
n.º 1 do art. 2º do CIVA que possam deduzir o IVA (que entreguem DP’s e que tenham n.º fiscal válido para efeitos
de VIES), salvo outras situações mais excepcionais previstas no art. 2º do RITI.
111
( ) Trata-se de situações de serviços prestados por não residentes que são tributados no país do adquirente por
auto-liquidação, sempre que este seja SP nos termos da al. a) do n.º 1 do art. 2º (operadores económicos e outras
instituições públicas ou privadas, mesmo que isentos), ficando o prestador de serviços estrangeiro desobrigado de
responsabilidades fiscais em Portugal – tal imposto deverá ser liquidado pelo adquirente português através dos
campos 16 e 17 da DP, quando se trate de SP’s comunitários (reverse charge ou inversão do SP).
72
Impostos sobre a Despesa
CAPÍTULO 2: IVA - INCIDÊNCIA
viii. Aquelas que, no âmbito do exercício de uma actividade económica sejam adquirentes em
transmissões de bens ou prestações de serviços efectuadas em território nacional por
sujeitos passivos não residentes, sem sede, estabelecimento estável ou domicílio em
território nacional e que não disponham de representante legal nos termos do artigo 30º do
Código do IVA ( 112) (artigo 2º n.º 1 alínea g) do CIVA).
ix. As pessoas singulares ou colectivas referidas na alínea a) do n.º 1 do art. 2º que sejam
adquirentes dos bens referidos no n.º 4 do art. 6º (gás, através do sistema de distribuição
de gás natural, e de electricidade), desde que os respectivos transmitentes não tenham no
território nacional sede, estabelecimento estável ou domicílio a partir do qual a transmissão
seja efectuada ( 113) (artigo 2º n.º 1 alínea h) do CIVA).
(112) Esta alínea foi aditada pelo DL n.º 179/2002 tratando-se de uma norma de alcance residual, pretendendo-se
com ela passar a abranger todas as situações em que os não residentes pratiquem operações tributáveis no
território nacional sem terem nomeado representante (art. 30º), nas quais o IVA é devido pelo adquirente, desde
que este se enquadre na alínea a) do n.º 1 do art. 2º (inclui-se aqui, por exemplo, o IPCA que é SP de IVA embora
exercendo uma actividade isenta pelo n. 10 do art. 9º). Porém, se o adquirente for um particular continua a não
haver solução uma vez que o PS estrangeiro continua a ter a obrigação de entregar, ele próprio, o imposto devido
em Portugal (serviços relacionados com imóveis localizam-se onde se situar o imóvel, mesmo que seja
propriedade de um particular, devendo o IVA ser entregue pelo prestador). Todas estas situações, e outras, de
‘reverse charge’ (inversão do SP), prendem-se com as dificuldades sentidas pelas AF’s dos vários países em
controlar os estrangeiros, daí que se considerem SP’s, expressamente, os adquirentes nacionais com vista à sua
responsabilização pelo imposto em Portugal. Também existe a ideia de que é mais seguro controlar as PS
internacionais no local onde são contabilizadas como custo, daí também a sua localização no destino e a
competente imposição de liquidação de IVA ao adquirente.
113
( ) A transposição para a ordem jurídica interna da Directiva n.º 2003/92/CE, de 7 de Outubro (através da Lei n.º
55-B/2004, de 30 de Dezembro (OE2005)), determinou, entre outras, a alteração do art. 6º do CIVA, pela inclusão
dos n.º 22 e 23, relativos às regras de transmissão de gás natural e electricidade, e a inclusão da alínea h) ao n.º 1
do art. 2º (actualmente trata-se dos números 4 e 5 do art. 6º, decorrente das alterações introduzidas pelo DL n.º
186/2009, de 12/8). De acordo com o disposto no n.º 4 do art. 6º, as transmissões destes bens (gás natural e
electricidade) são tributáveis em Portugal quando o adquirente seja um SP revendedor de gás ou de electricidade,
cuja sede, estabelecimento estável ao qual são fornecidos os bens ou domicílio, se situe em território nacional,
quando o adquirente seja um SP dos referidos na al. a) do n.º 1 do art. 2º, que não seja um SP revendedor de gás
ou de electricidade, que disponha de sede, estabelecimento estável ao qual são fornecidos os bens, ou domicílio
em território nacional, e que não os destine a utilização e consumo próprios e quando a utilização e consumo
efectivos desses bens, por parte do adquirente, ocorram no território nacional e este não seja SP revendedor de
gás ou de electricidade com sede, estabelecimento estável ao qual são fornecidos ou domicílio fora do território
nacional. Nas situações identificadas, desde que o transmitente não disponha no território nacional de sede,
estabelecimento estável ou domicílio a partir dos quais a transmissão seja efectuada, as pessoas singulares ou
colectivas referidas na al. a) do n.º 1 do art. 2º que sejam adquirentes dos bens em causa, passam igualmente a
ser SP do imposto pela respectiva aquisição (al. h) do n.º 1 do art. 2º), procedendo à liquidação do imposto e
respectiva dedução (al. c) do n.º 1 do art. 19º).
(114)A Lei n.º 33/2006, publicada no Diário da República, I.ª Série, n.º 145, em 28 de Julho de 2006, alterou o
CIVA, estabelecendo regras especiais em matéria de tributação de desperdícios, resíduos e sucatas recicláveis e
de certas prestações de serviços relacionadas. Estas novas regras consistem na aplicação da inversão do sujeito
passivo, passando a liquidação do IVA, que se mostre devido nessas operações, a ser efectuada pelo respectivo
adquirente, desde que este seja sujeito passivo do imposto com direito à dedução total ou parcial. Nessa
conformidade, foram alterados os artigos 2.º, 19.º, 29.º, 36.º, 48.º, 53.º e 60.º do CIVA e aditado um Anexo E que
contempla a lista dos bens e serviços abrangidos pelas novas regras de tributação. A par da implementação da
regra de inversão, os sujeitos passivos cuja actividade habitual consista na transmissão dos bens e na prestação
73
Impostos sobre a Despesa
CAPÍTULO 2: IVA - INCIDÊNCIA
Vejamos agora o que dispõe o artigo 2º do Código do IVA relativamente ao Estado. Refere-
nos tal artigo que o Estado e demais pessoas colectivas de direito público não são
sujeitos passivos do imposto quando realizem operações no exercício dos seus poderes de
autoridade (jus imperii) ou das suas funções públicas (n.º 2 do artigo 2º do Código do IVA)
ainda que pela actividade dos seus serviços administrativos, sociais, educativos, culturais,
desportivos, recebam quaisquer contraprestações/taxas. Contudo, devem ser considerados
sujeitos passivos relativamente a tais actividades ou operações na medida em que a sua
sujeição possa provocar distorções na concorrência.
dos serviços mencionados no referido anexo passaram a ser excluídos do regime especial de isenção, previsto no
artigo 53.º e do regime dos pequenos retalhistas, previsto no artigo 60.º, ambos do CIVA. Paralelamente
introduziu-se a obrigatoriedade de auto-facturação nos casos em que os sujeitos passivos adquiram aquele tipo de
bens e/ou serviços a particulares. A Lei n.º 33/2006, de 28 de Julho, entrou em vigor no dia 1 de Outubro de 2006.
(115) O referido DL procedeu à introdução na legislação do IVA de um conjunto de medidas destinadas a combater
algumas situações de fraude, evasão e abuso que se vêm verificando na realização das operações imobiliárias
sujeitas a tributação, seguindo, nesta matéria, a experiência anteriormente adquirida e as melhores práticas
adoptadas em outros Estados membros da União Europeia. Com esse propósito, foram revistas de forma
substancial as regras da renúncia à isenção do IVA na locação e transmissão de bens imóveis abrangidas pelos
n.ºs 29 e 30 do artigo 9.º do respectivo Código, sujeitando-se a renúncia à verificação cumulativa de algumas
condições referentes ao imóvel e aos sujeitos passivos que podem intervir nessas operações. Fora do âmbito das
operações previstas nos n.ºs 29 e 30 do artigo 9.º do Código do IVA, mas ainda no domínio de algumas
prestações de serviços relativas a bens imóveis, nomeadamente nos trabalhos de construção civil realizados por
empreiteiros e subempreiteiros, o presente decreto-lei vem adoptar, de igual modo, uma outra faculdade conferida
pela Directiva n.º 2006/69/CE, do Conselho, de 24 de Julho. Assim, por via da inversão do sujeito passivo, passa a
caber aos adquirentes ou destinatários daqueles serviços, quando se configurem como sujeitos passivos com
direito à dedução total ou parcial do imposto, proceder à liquidação do IVA devido, o qual poderá ser também
objecto de dedução nos termos gerais. Com esta medida, visam acautelar-se algumas situações que redundam
em prejuízo do erário público, actualmente decorrentes do nascimento do direito à dedução do IVA suportado,
sem que esse imposto chegue a ser entregue nos cofres do Estado.
74
Impostos sobre a Despesa
CAPÍTULO 2: IVA - INCIDÊNCIA
coincidência que existe nos vários Estados-membros das áreas em que o Estado actua como
autoridade pública.
ii. a actividade exercida por tais pessoas colectivas não provoca distorções de
concorrência (facto que se constata quando efectuam determinadas operações em
regime de exclusividade).
(116) LIMA, Emanuel Vidal (2003). Código do IVA Comentado e Anotado, Rei dos Livros, 9ª Edição, Lisboa.
117
( ) A Administração pública enquanto administração directa do Estado, as Autarquias Locais, e os Institutos
Públicos enquanto no exercício da administração indirecta do Estado, podem ser abrangidos pela não sujeição se
os seus actos corresponderem a actos de autoridade do Estado (no âmbito do seu poder soberano) com vista à
satisfação directa e imediata do interesse público. O IPCA é uma pessoa colectiva de direito público mas presta
serviços à comunidade daí ser SP de IVA, embora isento pelo n.º 10 do art. 9º, até porque a sua actividade
concorre com a dos privados. A não sujeição abrange, por exemplo, a reprodução de documentos e a emissão de
documentos (certidões, etc.), mas não abrange, por exemplo, a venda de processos em concursos públicos
(cadernos de encargos), embora a sua reprodução posterior já esteja abrangida pela não sujeição. Muitos
exemplos poderiam ser dados relativamente à actuação do Estado em operações sujeitas e não sujeitas. Destaca-
se o facto de que tal não sujeição poderá ser extensiva aos privados, como é o caso, por exemplo, das comissões
recebidas pelos quiosques pela venda de impressos oficiais de modelo exclusivo, ou recebidas pelos CTT pela
cobrança de impostos, as quais são consideradas como PS não sujeitas a IVA (art. 2º, n.º 2). Os transportes
escolares de alunos efectuado pelas Câmaras Municipais, na ausência de transportes públicos, serão também
considerados não sujeitos a IVA, porquanto se considera que as Autarquias estarão a actuar no âmbito das suas
atribuições de carácter público. Relativamente à actividade das Câmaras Municipais e seu enquadramento em IVA
ver o Ofício – Circulado n.º 174229, de 91.11.20 (entre outros).
75
Impostos sobre a Despesa
CAPÍTULO 2: IVA - INCIDÊNCIA
natureza jurídica do sujeito que as exercer. Saliente-se ainda que o legislador português
deixou a concretização das “cláusulas gerais” (“distorções de concorrência” ou “exercício de
actividade de forma significativa”) para despachos e regulamentos administrativos de
competência do Ministro das Finanças (n.º 4 do artigo 2º do Código do IVA).
76
Impostos sobre a Despesa
CAPÍTULO 2: IVA - INCIDÊNCIA
NOTA PRÉVIA:
O DL n.º 186/2009, de 12 de Agosto transpôs para a ordem jurídica interna o artigo 2.º da Directiva n.º 2008/8/CE, do
Conselho, e a Directiva n.º 2008/9/CE, do Conselho, ambas de 12 de Fevereiro, bem como a Directiva n.º
2008/117/CE, do Conselho, de 16 de Dezembro, alterando, a partir de 1 de Janeiro de 2010, o Código do IVA, o
Regime do IVA nas Transacções Intracomunitárias e alguma legislação complementar relativa a este imposto.
No que diz respeito à localização das operações para efeitos de IVA, o diploma alterou significativamente o artigo 6.º
do CIVA, em particular no tratamento das prestações de serviços de carácter transnacional, introduzindo, desde logo,
duas novas regras gerais de localização.
Da análise da nova redacção do artigo 6.º do CIVA, que, repete-se, entrou em vigor em 1 de Janeiro de 2010,
conclui-se que o mesmo se tornou muito mais simples. Na verdade, dos 23 números que o artigo continha, passou a
ter apenas 12.
No que toca à transposição das normas contidas no artigo 6.º do CIVA, as regras relativas à localização das
transmissões de bens passaram a estar concentradas nos primeiros cinco números do artigo (os anteriores números
1, 2 e 3, que se mantiveram com a mesma numeração e a mesma redacção, e os anteriores números 22 e 23,
relacionados com o fornecimento de gás, através do sistema de distribuição de gás natural, e de electricidade, que
passaram a constituir, respectivamente, os números 4 e 5). As disposições que estavam contidas nos números 4 a
21 passaram a constar dos números 6 a 12, que, assim, passam a contemplar apenas as regras de localização das
prestações de serviços.
O presente manual mantém, nas próximas páginas, a referência às regras de localização conforme decorrentes do
artigo 6º que vigorou até 31 de Dezembro de 2009, encontrando-se em anexo ao manual a actualização do mesmo
no que respeita à nova redacção do artigo 6º para as regras de localização das prestações de serviços (na sequência
das alterações efectuadas pelo DL n.º 186/2009, de 12 de Agosto). Essa actualização é efectuada através de um
texto elaborado pelo Dr. José Soares Roriz e por ele gentilmente autorizada a sua disponibilização em anexo a este
manual.
Quanto aos conceitos gerais e às regras de localização das transmissões de bens, deverá continuar a utilizar-se o
presente manual, sendo de considerar apenas que as regras previstas nos n.º 22 e 23 do artigo 6º passaram a estar
contempladas, respectivamente, nos actuais n.º 4 e 5 do mesmo artigo.
77
Impostos sobre a Despesa
CAPÍTULO 2: IVA - INCIDÊNCIA
2.3.1. Conceitos
Localizar uma operação para efeitos fiscais, significa determinar o território onde vai ser
tributável, ou seja, o ordenamento jurídico fiscal que lhe será aplicável. Através das regras de
localização das operações, o legislador estabelece determinados critérios de conexão,
permitindo identificar o Estado ao qual incumbe exigir o imposto devido por operações
efectuadas entre pessoas ou entidades estabelecidas ou residentes em Estados diferentes –
ou seja, estamos perante regras de ‘distribuição de competências do poder de tributar’. Tal
como já referimos, para a adequada localização das operações é, no entanto, necessário
proceder em primeiro lugar à sua correcta qualificação da qual dependerá a localização, que
se revela por vezes especialmente problemática.
O art. 6º é a disposição que no CIVA nos apresenta as regras para localizar as operações,
dedicando-se às regas de localização das TB e das PS. De salientar que, relativamente às
PS, este artigo contempla as regras de localização, quer se tratem de PS meramente
internas, isto é, em que o prestador e o adquirente se situam em território nacional, quer das
demais PS ‘Internacionais’, incluindo as ‘intracomunitárias’ (118); ou seja, grosso modo,
aquelas em que o prestador e o adquirente se localizam em Estados diferentes.
Saliente-se que para nós, a questão da localização das operações se reveste ainda de maior
acuidade, atendendo ao facto de vigorarem nas nossas Regiões Autónomas taxas de
imposto diferentes das que vigoram no Continente. Assim, para apurar a taxa a aplicar a cada
operação, será necessário determinar, antes de mais, onde a mesma se considera
localizada. Ora, para esse efeito, tal como veremos adiante, deverão aplicar-se as regras
previstas no art. 6º CIVA, com as necessárias adaptações (cfr. se prevê no art. 1º n.º 2 do DL
n.º 347/85, de 23 de Agosto).
a. “Território Nacional”: o território nacional, tal como é definido pelo artigo 5º da Constituição da
República Portuguesa;
c. “País Terceiro”: um país não pertencente à CEE, incluindo os seguintes territórios dos
Estados-membros da CEE: ilha de Helgoland e território de Busingen, da República Federal
da Alemanha, Ceuta e Melilha, do Reino de Espanha, Livigno, Campione d’Itália e águas
nacionais do Lago de Lugano, da República Italiana;
118
( ) O legislador nacional, aquando da transposição da Directiva que instituiu o regime transitório do IVA nas
transacções intracomunitárias optou, diversamente dos demais legisladores a nível comunitário, por contemplar no
CIVA as novas regras relativas à localização das PS, reservando o RITI para as transacções intracomunitárias de
bens. Com a introdução das novas regras, o art. 6º ganhou maior amplitude e complexidade, contemplando,
designadamente, um maior número de situações em que ocorre o fenómeno do reverse charge, passando o
adquirente dos serviços a qualificar-se como SP do imposto, com os efeitos daí decorrentes.
78
Impostos sobre a Despesa
CAPÍTULO 2: IVA - INCIDÊNCIA
Salientamos que, no caso dos dois últimos conceitos referidos, certos territórios dos Estados-
membros da Comunidade foram excluídos da aplicação territorial do IVA, pelo que são
equiparados, para efeitos do imposto, a países não pertencentes à Comunidade.
As operações que envolvem esses territórios são consideradas como “importações” e
“exportações”. Por outro lado, já o Mónaco e a Ilha de Man, assim como zonas de Soberania
do Reino Unido de Akrotiri e Dhekelia que, por força dos Tratados não fazem parte da
Comunidade nem integram o seu território, são tratados, em termos de IVA, como Estados-
membros, ou seja, França, Reino Unido da Grã-Bretanha e da Irlanda do Norte e Chipre,
respectivamente (art. 1º n.º 4 CIVA).
No n.º 1 do art. 6º estabelece-se a regra de localização inerente às TB, sendo tais operações
tributáveis em Portugal quando os bens aqui se situem no momento em que se inicia o
transporte ou a expedição para o adquirente, ou no caso de não existir transporte ou
expedição, no momento em que são postos à disposição do adquirente.
Esta regra aplica-se sem reservas se as operações forem praticadas no interior do território
nacional, uma vez que noutras circunstâncias tal já não se verifica, pois num contexto
internacional deverá atender-se também ao local de destino dos bens, à luz do princípio da
tributação no destino. Assim,
Nos n.ºs 2 e 3 do art. 6º são referidas duas situações muito específicas relacionadas com
eventuais transmissões de bens efectuadas antes da importação, as quais serão também
79
Impostos sobre a Despesa
CAPÍTULO 2: IVA - INCIDÊNCIA
tributáveis (119) (é por exemplo o caso de X, estabelecido num país terceiro, vender bens a Y,
que, antes de os importar em Portugal, os vende a W e a Z, localizados em território
nacional). De acordo com esta regra, as TB em cadeia efectuadas pelo importador e pelos
sucessivos adquirentes são localizadas em território nacional, permitindo-se desta forma aos
alienantes a dedução do IVA suportado aquando da respectiva aquisição.
Nos termos do n.º 3, as transmissões efectuadas a bordo de aeronaves, navios e comboios
no âmbito de transportes intracomunitários de passageiros (al. a), n.º 3, art. 1º), serão, neste
caso, tributáveis apenas se o local de partida for Portugal e o local de chegada for outro EM.
Para efeitos de aplicação desta última regra de localização importa esclarecer determinados
conceitos definidos no art. 1º do CIVA, designadamente:
d. “Transporte de ida e volta”: dois transportes distintos, um para o trajecto de ida, outro para o
trajecto de volta.
119
( ) Alarga-se o alcance do n.º 1, tributando-se vendas efectuadas pelos importadores antes da importação. Se
nada fosse dito tais vendas não seriam tributadas pois os bens oriundos de um país terceiro não se situam no TN
no momento em que são transmitidos ao adquirente.
80
Impostos sobre a Despesa
CAPÍTULO 2: IVA - INCIDÊNCIA
Em conformidade com as mesmas regras, a energia eléctrica e o gás são considerados bens
corpóreos. Por conseguinte, e uma vez que a entrega de energia eléctrica e de gás constitui
uma transmissão de bens, o lugar de entrega deveria ser determinado em conformidade com
as regras gerais de localização das transmissões de bens. No novo mercado liberalizado, as
operações transfronteiras são frequentes. Dadas as características da electricidade e do gás,
os seus fluxos são quase impossíveis de acompanhar fisicamente, tornando-se, por isso,
extremamente difícil determinar o lugar de fornecimento ao abrigo das regras que estavam
em vigor.
Importava, por isso, alterar as regras de localização das operações relacionadas com o
fornecimento de gás, através do sistema de distribuição de gás natural, e de electricidade.
De acordo com o disposto no n.º 22 (actual n.º 4), apesar do previsto nos n.º 1 e 2 do art. 6º,
as transmissões destes bens (gás natural e electricidade) são tributáveis em Portugal
quando:
b) O adquirente seja um SP dos referidos na al. a) do n.º 1 do art. 2º, que não seja um SP
revendedor de gás ou de electricidade, que disponha de sede, estabelecimento estável
ao qual são fornecidos os bens, ou domicílio em território nacional, e que não os destine a
utilização e consumo próprios;
Nas situações identificadas, desde que o transmitente não disponha no território nacional de
sede, estabelecimento estável ou domicílio a partir dos quais a transmissão seja efectuada,
as pessoas singulares ou colectivas referidas na al. a) do n.º 1 do art. 2º que sejam
adquirentes dos bens em causa, passam igualmente a ser SP do imposto pela respectiva
aquisição (al. h) do n.º 1 do art. 2º), procedendo à liquidação do imposto e respectiva
dedução (al. c) do n.º 1 do art. 19º).
O n.º 23 (actual n.º 5) do art. 6º estatui, por sua vez que, não obstante o disposto nos seus n.º
1 e 2, as transmissões de gás, através do sistema de distribuição de gás natural, e de
electricidade, não serão tributáveis no território nacional quando:
120
( ) De acordo com a al. i) do n.º 2 do art. 1º, um SP revendedor de gás ou de electricidade é a pessoa singular
ou colectiva cuja actividade consiste na aquisição de gás, através do sistema de distribuição de gás natural, ou de
electricidade para revenda, e cujo consumo próprio desses bens não seja significativo.
81
Impostos sobre a Despesa
CAPÍTULO 2: IVA - INCIDÊNCIA
b) A utilização e consumo efectivos desses bens, por parte do adquirente, ocorram fora
do território nacional e este não seja SP revendedor de gás ou de electricidade com
sede, estabelecimento estável ao qual são fornecidos ou domicílio no território
nacional.
Para além das regras indicadas, há que salientar ainda os seguintes aspectos:
- As importações de gás, através do sistema de distribuição do gás natural, e de
elecrtricidade são isentas de imposto, nos termos da alínea i) do nº 1 do art. 13º do
CIVA.
82
Impostos sobre a Despesa
CAPÍTULO 2: IVA - INCIDÊNCIA
83
Impostos sobre a Despesa
CAPÍTULO 2: IVA - INCIDÊNCIA
↓
Serviços prestados por um sujeito passivo com sede, estabelecimento estável ou
domicílio em território nacional, não excepcionados por qualquer regra especial
de localização
↓
Localização em Portugal
Fonte: Pinto, 2003
Na verdade, verifica-se que tal regra geral acaba por ter uma aplicação residual, pois a
maioria das vezes, no âmbito de actividades empresariais, a obrigação de liquidação de
IVA compete ao adquirente, o qual é expressamente SP conforme se referiu a propósito da
incidência subjectiva (art. 2º), daí que nos n.ºs seguintes do art. 6º se estabeleçam várias
excepções à regra geral de localização das PS.
Tais excepções derivam da imaterialidade que caracteriza a generalidade das PS, para
além da facilidade da sua deslocalização para efeitos fiscais, pelo que, em condições
normais, a obrigação de liquidação do IVA compete ao adquirente, o qual é expressamente
SP nos termos das várias alíneas do art. 2º, para que desta forma seja mais fácil o seu
controlo por parte das AF’s dos vários países.
(121) Neste caso verificou-se uma alteração em relação ao regime inicialmente traçado pela Segunda Directiva, a
qual definia, no caso das prestações de serviços, a aplicação do critério do local de utilização dos serviços para
definir o lugar da sua tributação. Vigorava, pois, neste caso, o princípio da tributação no destino. No entanto, tal
critério revelou-se de difícil aplicação: a materialidade e intangibilidade das prestações de serviços tornavam difícil
a clara definição do lugar da sua utilização, o que conduzia a diferentes interpretações e aplicações do disposto
naquela Directiva. A Sexta Directiva veio, pois, alterar este critério, consagrando, como já referimos, a tributação
das prestações de serviços atendendo ao local onde as mesmas têm a sua origem; isto é, atendendo ao local
onde o prestador tem a sua sede, estabelecimento estável ou domicílio.
84
Impostos sobre a Despesa
CAPÍTULO 2: IVA - INCIDÊNCIA
As relacionadas com:
- Bens móveis corpóreos;
- PS de carácter artístico, científico, desportivo, recreativo, de ensino e similares;
- PS acessórias do transporte que não seja transporte intracomunitário de bens;
(122)Se o prestador do serviço não dispuser de sede, estab. estável nem domicílio em TN, mas possuir sede,
estab. estável nem domicílio noutro EM da UE, poderá proceder à nomeação de um representante fiscal, SP do
IVA em TN. Se porém não dispuser de sede, estab. estável nem domicílio no território da UE, a nomeação de
representante fiscal em TN é obrigatória (art. 29º n.º 2).
(123) Consideram-se como tais os serviços de análise de terrenos, estudos prévios, projecto do imóvel, cálculos,
avaliações, vistorias, comissões dos agentes imobiliários, as empreitadas de construção, etc.,.
85
Impostos sobre a Despesa
CAPÍTULO 2: IVA - INCIDÊNCIA
Relativamente aos trabalhos executados sobre bens móveis corpóreos, atente-se ainda ao
disposto nos n.º 19 e 20 do art. 6º sobre a entrega de bens móveis corpóreos
produzidos ou montados por encomenda.
enquanto:
a entrega de bens móveis produzidos ou montados sob encomenda com materiais que o
dono da obra tenha fornecido para o efeito, quer o empreiteiro tenha fornecido, ou não,
uma parte dos produtos utilizados” passou a ser considerada uma prestação de
serviços;
se os materiais forem fornecidos pelo dono da obra, a regra geral conduz à sua
tributação no local onde os trabalhos sobre os bens móveis corpóreos e as peritagens a
eles referentes são materialmente executados
noutro Estado membro e que tenha utilizado o respectivo número de identificação fiscal
para efectuar a aquisição, desde que os bens sejam expedidos para fora do território
nacional. Observe-se, no entanto, que, para este efeito, e por força do que dispõe o nº 21
do art. 6º, se considera que os bens não são expedidos ou transportados para fora do
território nacional quando as prestações de serviços sejam efectuadas sobre meios de
transporte com registo, licença ou matrícula no território nacional.
Aplicando as regras expostas, vamos seguidamente analisar a problemática do trabalho a
feitio, debruçando-nos separadamente sobre as consequências do trabalho a feitio
executado noutro Estado membro e do executado no território nacional.
Antes de o fazer, não deixaremos de referir que nas operações com os países terceiros o
problema é inteiramente resolvido com recurso às figuras do aperfeiçoamento activo e
passivo, reguladas no Código Aduaneiro Comunitário.
Se a totalidade dos materiais for fornecida pelo empreiteiro, e se tanto ele como o dono
da obra forem sujeitos passivos abrangidos pelo regime geral do imposto sobre o valor
acrescentado, cada um no seu Estado membro, ocorrerá em Portugal, caso o adquirente
forneça o seu número de identificação fiscal, uma aquisição intracomunitária de bens,
sujeita a imposto nos termos gerais.
88
Impostos sobre a Despesa
CAPÍTULO 2: IVA - INCIDÊNCIA
Outra excepção à regra geral de localização das prestações de serviços, que, repete-se,
define que as mesmas são tributadas no local onde o prestador dos serviços tem a sua
sede, estabelecimento estável ou domicílio, verifica-se quando:
o prestador dos serviços não tenha no território nacional a sede da sua actividade, um
estabelecimento estável ou o domicílio a partir do qual os serviços sejam prestados; e
89
Impostos sobre a Despesa
CAPÍTULO 2: IVA - INCIDÊNCIA
residentes mas que não tenham a qualidade de sujeitos passivos, já que estas considerar-
se-ão localizadas no lugar onde se encontra estabelecido o prestador dos serviços, salvo
se, estando o prestador estabelecido fora do território da União Europeia, respeitarem a
serviços de telecomunicações, serviços de radiodifusão e televisão e serviços prestados
por via electrónica (nº 10 do art. 6º do CIVA). Neste último caso, o IVA é devido no território
nacional.
Para além dos problemas específicos relacionados com a localização das transmissões de
bens efectuadas entre sujeitos passivos da União Europeia, decorrentes da abolição das
fronteiras fiscais no mercado interno comunitário, os problemas mais relevantes
relacionados com a territorialidade do imposto dizem respeito às prestações de
serviços de telecomunicações, de radiodifusão e televisão e aos serviços prestados
por via electrónica e ainda, à locação de meios de transporte.
De acordo com a regra de localização aplicável às prestações de serviços, o lugar de
tributação situa-se no lugar onde se encontra a sede do prestador ou o estabelecimento
estável a partir do qual os serviços são prestados.
No entanto, o desenvolvimento tecnológico tem permitido, através da celebração de
contratos com empresas de telecomunicações, de radiodifusão e televisão, sedeadas em
países terceiros, que a facturação de tais serviços seja feita a partir desse país terceiro. O
sucesso da Internet, por outro lado, tem facilitado a aquisição de serviços prestados por via
electrónica por parte de não sujeitos passivos comunitários a sujeitos passivos
estabelecidos em países terceiros. Sendo assim, se o débito destas prestações de serviços
fosse efectuado a partir de um país em que as mesmas não sejam sujeitas a tributação,
verificar-se-ia uma situação de distorção de concorrência, se essa situação não estivesse
sujeita a IVA no território da União Europeia.
90
Impostos sobre a Despesa
CAPÍTULO 2: IVA - INCIDÊNCIA
Quanto à locação de meios de transporte, o que resulta da análise conjugada dos nos 4,
8 e 9 do art. 6º do CIVA é que o lugar de tributação se situa no lugar onde se encontra a
sede do locador, ou o estabelecimento estável a partir do qual os serviços são prestados.
Tal regra resolve inteiramente os problemas de tributação das locações de meios de
transporte efectuadas por sujeitos passivos estabelecidos na União Europeia. Com efeito,
estes, quando efectuarem a locação de meios de transporte a qualquer pessoa, singular ou
colectiva, sujeito passivo ou não (incluindo particulares), residente no respectivo Estado
membro ou não, terão de incluir o IVA à taxa vigente no Estado membro onde tiverem a sua
sede ou o estabelecimento estável a partir do qual os serviços sejam prestados.
Não resolve, porém, o problema das locações de meios de transporte efectuadas por
locadores que não tenham no território da União Europeia sede, estabelecimento estável ou
domicílio.
Esse problema, no entanto, vem resolvido na alínea a) do nº 10 do art. 6º do CIVA, que
considera tributáveis no território nacional as locações de meios de transporte cuja
utilização e exploração efectivas, por sujeitos passivos de entre os referidos na alínea a) do
nº 1 do art. 2º do mesmo Código, ocorram no território nacional, quando o locador não
tenha no território da União Europeia sede, estabelecimento estável ou domicílio a partir do
qual os serviços sejam prestados.
Nestes casos, a competência para a liquidação do IVA é atribuída, nos termos da alínea f)
do nº 1 do art. 2º do Código citado, ao locatário.
Em relação aos serviços de radiodifusão e televisão e aos serviços prestados por via
electrónica, os nos 8 e 9 do art. 6º do CIVA resolvem os problemas quando o respectivo
prestador se encontrar localizado num Estado membro, ou quando, localizando-se num
país terceiro, facturar os seus serviços a um sujeito passivo comunitário.
Não se encontra, contudo, nessas disposições a solução para as prestações de serviços de
radiodifusão e televisão e para os serviços prestados por via electrónica facturados por
91
Impostos sobre a Despesa
CAPÍTULO 2: IVA - INCIDÊNCIA
Em síntese:
d) Quando o prestador dos serviços de encontrar sediado ou estabelecido em qualquer país, que
não seja Portugal, e o adquirente dos serviços for um sujeito passivo do imposto que disponha
de sede, estabelecimento estável ou domicílio no território nacional, a operação é sujeita a IVA
no território nacional (nº 8 do art. 6º do CIVA), competindo ao adquirente dos serviços, por força
do disposto na parte final da alínea a) do nº 1 do art. 2º do CIVA, proceder à liquidação do
correspondente imposto, imposto esse que terá direito a deduzir nos termos da alínea c) do nº 1
do art. 19º do CIVA;
e) Nas locações de meios de transporte, quando o prestador não tenha no território da União
Europeia sede, estabelecimento estável ou domicílio e o locatário seja um sujeito passivo de
entre os referidos na alínea a) do nº 1 do art. 2º do CIVA, a operação é sujeita a IVA no território
nacional, quando a utilização e exploração efectivas ocorram no território nacional (alínea a) do
nº 10 do art. 6º do CIVA), competindo ao locatário (adquirente dos serviços), por força da alínea
f) do nº 1 do art. 2º do CIVA, proceder à liquidação do correspondente imposto, imposto esse
que terá direito a deduzir nos termos da alínea c) do nº 1 do art. 19º do CIVA;
92
Impostos sobre a Despesa
CAPÍTULO 2: IVA - INCIDÊNCIA
g) Nos serviços prestados por via electrónica, quando o prestador se encontrar sediado ou
estabelecido fora da União Europeia e o adquirente for uma pessoa singular ou colectiva com
sede, estabelecimento estável ou domicílio no território nacional, que aqui não seja um sujeito
passivo do imposto, a operação é sujeita a IVA no território nacional (alínea b) do nº 10 do art. 6º
do CIVA). As obrigações impostas aos prestadores que se encontrem nestas condições, estão
contidas no Regime Especial a que se refere o art. 5º do DL 130/2003, de 28 de Junho.
93
Impostos sobre a Despesa
CAPÍTULO 2: IVA - INCIDÊNCIA
1. O prestador dos serviços (transportador, transitário, etc.) está estabelecido no território nacional
1.1.2. O adquirente está estabelecido noutro Estado membro e fornece o seu número de
identificação fiscal
- A operação não é tributada no território nacional, mas sim no Estado membro do
adquirente (nº 12 do art. 6º do CIVA). O prestador terá de fazer constar da factura
o motivo da não liquidação do IVA.
1.2.3. O adquirente não fornece o seu número de identificação fiscal, por ser particular ou
residente em país terceiro
- A operação é tributada no Estado membro da partida, o que implica a obrigação
de nomeação de um representante nesse Estado membro.
2. O prestador dos serviços está estabelecido noutro Estado membro, sendo adquirente um sujeito
passivo estabelecido no território nacional, que fornece o seu número de identificação fiscal
94
Impostos sobre a Despesa
CAPÍTULO 2: IVA - INCIDÊNCIA
4. De referir que a comprovação da isenção da alínea q) do nº 1 do art. 14º do CIVA, exigida pelo nº 8
do art. 28º do mesmo Código, pode ser efectuada através dos seguintes documentos:
- CMR (declaração no transporte terrestre);
- B/L (conhecimento de embarque no transporte marítimo);
- MAWB (carta de porte no transporte aéreo);
95
Impostos sobre a Despesa
CAPÍTULO 2: IVA - INCIDÊNCIA
96
Impostos sobre a Despesa
CAPÍTULO 2: IVA - INCIDÊNCIA
Este regime refere-se apenas às prestações de serviços efectuadas por intermediários que
actuem em nome e por conta de outrem. Nas al. a) e b) do n.º 17 do art. 6º do CIVA
encontramos a referência às prestações de serviços de intermediários que intervenham em
operações que não sejam as referidas nos n.º 15 e 16 do art. 6º (às quais já nos referimos
aquando do tratamento das operações de transportes intracomunitários de bens) e nos n.º 8 e
9 do art. 6º, às quais também já oportunamente nos referimos.
Transmissões de bens;
Aquisições intracomunitárias de bens;
Locação de meios de transporte;
Prestações de serviços de transporte que não sejam relacionadas com transportes
intracomunitários;
Prestações de serviços designadas nos n.º 5 e 6 do art. 6º.
Assim, temos que o local de tributação de tais serviços segue, em princípio, a mesma regra de
localização das operações a que estão associados. Já assim não será se o adquirente do
serviço for um sujeito passivo de IVA, devidamente registado noutro Estado-membro.
Desta forma teremos que, quando as operações a que se refere a intermediação sejam elas
próprias localizadas/tributadas em território nacional, estas operações de intermediação
consideram-se também localizadas/tributáveis em Portugal (al. a) do n.º 17 do art. 6º).
Em derrogação a esta regra geral, as operações de intermediação desta natureza não são
tributáveis em Portugal, ainda que as operações a que as mesmas se referem sejam elas
próprias tributáveis em Portugal, quando o seu utilizador/adquirente seja um SP registado para
efeitos de IVA noutro Estado-membro da Comunidade e que tenha utilizado o respectivo
número de identificação fiscal para efectuar a aquisição. Nestes casos, as operações de
intermediação consideram-se localizadas/tributáveis no território desse Estado-membro (n.º 18
do art. 6º).
(124) Saliente-se, nesta matéria, que as regras de localização de tais prestações de serviços de intermediação foram
substancialmente alteradas pelo Decreto-Lei n.º 290/92 de 28 de Dezembro que transpôs para a ordem jurídica
interna a Directiva n.º 91/680/CE de 16 de Dezembro. Ainda sobre esta matéria importa salientar as instruções
emanadas do Ofício-Circulado n.º 488 de 04/01/1994 da Direcção de Serviços do IVA.
97
Impostos sobre a Despesa
CAPÍTULO 2: IVA - INCIDÊNCIA
Como é sabido, as taxas de IVA no Continente e nas Regiões Autónomas são diferentes,
devido, nomeadamente, ao reconhecimento das dificuldades inerentes à localização das
ilhas, que justificam o reconhecimento da existência de custos de insularidade.
Assim, refira-se que as regras de localização previstas no art. 6º são também importantes
para enquadrar operações relacionadas com as regiões autónomas, neste caso, não para
saber quem é responsável pela liquidação de imposto (que será sempre o fornecedor ou
prestador), mas para efeitos de aplicação das taxas (art. 18º, n.º 3), nos termos do n.º 2 do
art. 1º do DL n.º 347/85, de 23 de Agosto (em anexo).
De facto, as operações em causa não têm um carácter internacional uma vez que integram o
mesmo território fiscal para efeitos de aplicação do IVA. Têm, no entanto, tratamento
diferente no que respeita a taxas de tributação, pelo que se torna obrigatório definirem-se os
critérios da sua aplicação e daí a necessidade de preenchimento de anexos à DP (Anexo
Continente, Anexo Madeira e Anexo Açores), devendo ser correctamente assinalados os
Quadros 03 e 04 da DP.
Por exemplo, o serviço de construção de um imóvel sito na Madeira prestado por uma
empresa continental, localiza-se na Madeira face ao exposto na alínea a) dos n.ºs 7 e 8 do
art. 6º, pelo que a empresa continental deverá liquidar IVA à taxa de 14% em vigor na
Madeira (deverá preencher o campo 1 do quadro 3 e o campo 3 do quadro 4 na DP e enviar
o Anexo R Madeira).
Outro exemplo será um TOC de Braga que presta serviços de contabilidade a uma empresa
açoreana, o qual liquidará IVA à taxa dos Açores de 14%, pois a operação considera-se
localizada nessa região autónoma, nos termos do art. 6º, n.º 6 al. a) a contrario (deverá
assinalar na DP o campo 1 do quadro 3 e o campo 2 do quadro 4 e enviar conjuntamente
com a DP o Anexo R Açores).
125
( ) Neste caso, não será o transmitente a preencher os anexos à DP, pois, em geral, o vendedor liquidará IVA à
taxa do território onde está sedeado, ou seja, onde os bens se situam quando se inicia o transporte. De facto,
98
Impostos sobre a Despesa
CAPÍTULO 2: IVA - INCIDÊNCIA
Em princípio os dois momentos, facto gerador e exigibilidade, são coincidentes, pois o art. 7º,
n.º 1, refere expressamente que ‘o imposto é devido e torna-se exigível’ ao mesmo tempo,
dependendo esse momento da natureza das operações em causa ( 127).
a) nas TB, no momento em que os bens são postos à disposição do adquirente ( 128);
De notar, todavia, que apesar de em conformidade com o disposto no art. 7º o facto gerador
e a exigibilidade coincidirem, o art. 8º vem derrogar esta regra da exigibilidade, sempre que a
TB ou a PS derem lugar à obrigação de emitir uma factura ou documento equivalente nos
termos do art. 29º (obrigatoriedade essa que, como veremos, é a situação regra).
nestas situações será o adquirente a deduzir IVA a taxas diferentes, logo, será a este que compete o
preenchimento dos anexos à DP. Veja-se o exemplo de uma empresa com sede no continente que adquire
produtos a uma empresa sedeada no Madeira – neste caso o vendedor madeirense liquidará IVA à taxa da
Madeira (não entregando qualquer anexo), devendo o adquirente continental preencher o campo 1 do quadro 3 e
o campo 3 do quadro 4 da DP e enviar conjuntamente com a DP desse período o Anexo R Madeira donde
constará o IVA dedutível à taxa da Madeira. No caso de serviços só será o adquirente a preencher os anexos em
situações excepcionais, como por exemplo, o caso de um serviço de restauro prestado por uma empresa
continental relativo a um imóvel situado no continente que é propriedade de uma empresa madeirense – neste
caso o prestador continental liquidará IVA à taxa em vigor no continente (art. 6º, n.º 8, al. a)) não tendo que
apresentar quaisquer anexos; o adquirente do serviço (empresa madeirense) irá suportar IVA à taxa do
continente, devendo apresentar o Anexo Continente, nele relevando o IVA dedutível à taxa do continente.
126
( ) O legislador nacional não define o que entende por facto gerador e exigibilidade do imposto. A Directiva
2006/112/CE, no art. 62º ponto 1) determina que é «“Facto gerador do imposto”, o facto mediante o qual são
preenchidas as condições legais necessárias à exigibilidade do imposto» e no ponto 2) estabelece que é
«"Exigibilidade do imposto”, o direito que o fisco pode fazer valer nos termos da lei, a partir de um determinado
momento, face ao devedor, relativamente ao pagamento do imposto, ainda que o pagamento possa ser diferido».
(127) O momento em que ocorre a exigibilidade é importante não só para saber quando é que o IVA é exigível ao
fornecedor ou ao prestador, mas também porque outras situações são determinadas em função deste momento,
como é o caso do nascimento do direito à dedução (art. 22º, n.º 1) e também da contagem do prazo de
caducidade do direito à liquidação (em geral 4 anos, nos termos do n.º 1 e n.º 4 do art. 45º da LGT), o qual se
conta, no caso do IVA, a partir do início do ano seguinte àquele em que ocorrer a exigibilidade.
(128) De acordo com o n.º 7 do art. 7º, se os bens forem postos à disposição de um contratante antes de se darem
os efeitos translativos do contrato só é devido IVA no momento em que esses efeitos se produzirem, salvo nos
casos previstos nas alíneas a) e b) do n.º 3 do art. 3º (contratos de locação-venda e vendas a prestações), pois
nestes casos a obrigação de liquidação de IVA dá-se com a entrega dos bens, mesmo que nesse momento não
seja transferido o direito de propriedade (operações assimiladas a TB). Enquadra-se nesta norma o contrato de
leasing (locação financeira), no qual a TB só ocorre no momento em que o locatário exerce a opção de compra,
logo, quando se derem os efeitos translativos do contrato (as rendas serão consideradas PS de carácter
continuado).
99
Impostos sobre a Despesa
CAPÍTULO 2: IVA - INCIDÊNCIA
Nesta circunstância, que na prática acaba por ser a regra, o imposto torna-se exigível:
- Se o prazo previsto para a emissão não for respeitado, no momento em que termina
(art. 8º n.º 1 al. b))
De acordo com o previsto no n.º 2 do art. 8º, o disposto no n.º 1 aplica-se também aos casos
em que se verifique a emissão de factura ou documento equivalente, ou pagamento,
precedendo o momento da realização das operações tributáveis, tal como é definido no art.
7º. Isto é, consagra-se, desta forma, a regra de que nos adiantamentos deverá proceder-se à
liquidação do imposto (129). Dá-se, então, uma antecipação da exigibilidade face ao facto
gerador, o qual, nestes casos, só ocorre depois, quando os bens forem postos à disposição
do adquirente ou quando os serviços forem realizados.
De acordo com o art. 36º n.º 5, a factura ou documento equivalente devem ser emitidos o
mais tardar no quinto dia útil seguinte ao do momento em que o imposto é devido nos termos
do art. 7º.
Assim, poderemos ter as seguintes situações (nestas situações exemplificativas, por questão
de simplicidade, todos os dias estão a ser considerados úteis):
1ª SITUAÇÃO
Facto
Exigibilidade
Gerador
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
129
( ) Refira-se, neste domínio, que de acordo com a doutrina da Administração Fiscal, os adiantamentos devem ter
o mesmo tratamento, para efeitos de IVA, que a operação definitiva: serão isentos se a operação a que se referem
for isenta; serão tributados se a operação a que se referem for tributada (cfr. Informação n.º 15, de 13.2.89, da
DSCA do SIVA).
100
Impostos sobre a Despesa
CAPÍTULO 2: IVA - INCIDÊNCIA
2ª SITUAÇÃO
Facto
Exigibilidade
Gerador
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
3ª SITUAÇÃO
Facto Gerador e
Exigibilidade
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
4ª SITUAÇÃO
Facto
1ª Exigibilidade 2ª Exigibilidade
Gerador
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
101
Impostos sobre a Despesa
CAPÍTULO 2: IVA - INCIDÊNCIA
130
( ) Esta norma ajuda a perceber porque é que no art. 9º do RITI as vendas seguidas de instalação e montagem
têm um regime especial, que estabelece que a sua localização se dá no EM onde os bens são instalados ou
montados, não constituindo quaisquer TIB ou AIB. Na realidade, se o facto gerador só ocorre quando os bens
estiverem instalados ou montados é evidente que a obrigação de liquidação de imposto só ocorre no EM de
destino. A venda de uma máquina por uma empresa portuguesa a uma empresa espanhola, em que o fornecedor
português está obrigado à sua instalação e montagem em Espanha, não constitui uma TIB tratando-se de uma
operação interna integralmente realizada em Espanha pela empresa portuguesa, embora o IVA possa ser
liquidado pelo adquirente (reverse charge).
102
Impostos sobre a Despesa
CAPÍTULO 2: IVA - INCIDÊNCIA
Refira-se também que a exigibilidade, apesar de, regra geral, se dar no momento da emissão
da factura, apenas se materializa posteriormente no momento da apresentação da DP e do
pagamento do imposto, o qual pode ocorrer 2, 3 ou até 4 meses depois, neste último caso, se
se tratar de contribuintes enquadrados no regime normal trimestral.
Repare-se que, conforme se referiu anteriormente, existe reciprocidade ao nível das regras,
pois se é certo que o fornecedor terá que entregar o IVA que liquidou e não recebeu, também
é certo que o adquirente dos bens ou serviços, poderá deduzir o IVA que não pagou (132).
Porém, tal não invalida eventuais injustiças derivadas da aplicação destas regras,
principalmente no caso de operadores mais pequenos sem poder negocial para encurtar os
prazos de recebimento e alargar os prazos de pagamento, sendo estes os mais prejudicados.
A lei é assim ‘cega’ em matéria de cobranças em sede de IVA. Porém, ainda assim, há
excepções previstas nos chamados regimes especiais de exigibilidade, nos quais funciona o
‘regime de caixa’, ou seja, o IVA só é exigível ao fornecedor no momento da sua cobrança e
não quando é emitida a factura, o que constitui talvez uma incongruência do sistema,
atendendo precisamente ao facto de serem regimes excepcionais (133).
131
( ) Neste caso, o recurso aos tribunais é por vezes a única forma de recuperar o imposto entregue ao Estado,
mas não cobrado (recebido), colocando um sério problema aos contribuintes e também aos tribunais, inundados
de pequenas queixas que certamente não seriam movidas se não fosse a esperança de recuperar o IVA, como
acontece frequentemente na prestação de serviços massificados como as telecomunicações, certos serviços
financeiros, água, luz, etc. De facto, em Portugal as regras são muito restritivas (art. 78º), permitindo-se uma
regularização sem recurso à via judicial apenas no caso de valores inferiores a 750 euros devidos por particulares
ou SP’s que não deduzem o IVA, mas, mesmo neste caso, será necessário um relatório elaborado por um ROC. É
também possível a regularização a favor da empresa do IVA não recebido no caso de falência ou insolvência dos
devedores, mas tais situações terão que ser declaradas judicialmente, após a execução infrutífera do património
do devedor (sabendo-se dos custos que tal implica e da morosidade das decisões dos tribunais).
132
( ) O direito à dedução por parte do adquirente ocorre no momento em que o imposto é exigível ao fornecedor,
nos termos do art. 22º, n.º 1.
(133) Referimo-nos ao ‘regime especial de exigibilidade do IVA nas empreitadas e subempreitadas de obras
públicas’, previsto no DL n.º 204/97, de 9 de Agosto (fornecido aos alunos), nos termos do qual se o dono da obra
for o Estado (administração central e local) ou as regiões autónomas, o IVA só é exigível ao empreiteiro no
momento do recebimento dos valores facturados, ou seja, no momento da emissão dos recibos (tal regime não se
aplica às autarquias nem à generalidade dos institutos públicos, embora tais entidades também não sejam
propriamente os melhores pagadores). Referimo-nos ainda ao ‘regime especial de exigibilidade do IVA nas
entregas às cooperativas agrícolas, pelos seus associados, de bens provenientes das respectivas explorações
agrícolas’, previsto no DL n.º 418/99, de 21 de Outubro, ao qual se aplicam critérios idênticos aos mencionados
anteriormente a propósito das empreitadas de obras públicas. Tais regimes são de aplicação obrigatória, pelo que
se não se cumprir com o estipulado anteriormente poderemos ter problemas. De facto, se o fornecedor entregar o
103
Impostos sobre a Despesa
CAPÍTULO 2: IVA - INCIDÊNCIA
Há quem defenda que um funcionamento deste tipo, baseado num ‘regime de caixa’, numa
óptica de pagamentos e recebimentos, não deveria ser excepcional, mas antes pelo
contrário, deveria ser alargado de forma generalizada a todas as situações e não apenas nos
casos previstos nos DL’s n.ºs 204/97 e 418/99.
Tal solução, embora mais justa, iria porventura complicar o sistema existente, baseado nas
facturas e não nos recibos, dificultando eventualmente a fiscalização do imposto. Na verdade,
o legislador considera mais difícil o controlo do pagamento do que da emissão da factura, o
que revela de alguma forma a falta de tradição em Portugal no que concerne à relevância dos
movimentos financeiros.
Há países da Europa onde se caminhou para um regime desse tipo, porventura mais
equilibrado, em que a entrega do IVA ao Estado depende da cobrança efectiva das facturas.
Tal não é o caso português, onde nem a exigibilidade nem a dedutibilidade, conforme se
referiu, dependem dos pagamentos ou dos recebimentos, respectivamente.
imposto com referência à data da factura estará a antecipar a entrega do imposto ao Estado não havendo prejuízo
para este. Contudo poderá ser questionada a antecipação do direito à dedução por parte dos adquirentes, neste
caso, apenas relativamente às cooperativas uma vez que o Estado, em princípio, não deduz o IVA (não sujeição –
n.º 2, art. 2º).
Mais recentemente temos o regime especial de exigibilidade do IVA dos serviços de transporte rodoviário nacional
de mercadorias, aprovado pela Lei n.º 15/2009, de 1 de Abril, segundo o qual o imposto relativo às prestações de
serviços de transporte rodoviário nacional de mercadorias, tal como definidas no DL n.º 239/2003, de 4 de Outubro
é exigível no momento do recebimento total ou parcial do preço, pelo montante recebido.
104
Impostos sobre a Despesa
CAPÍTULO 3: IVA - ISENÇÕES
CAPÍTULO 3
IVA - ISENÇÕES
ÍNDICE
3. ISENÇÕES
105
Impostos sobre a Despesa
CAPÍTULO 3: IVA - ISENÇÕES
3. ISENÇÕES
Qualquer situação de isenção constitui uma excepção às regras de incidência. As isenções
em sede de IVA têm uma lógica diferente das isenções concedidas no âmbito dos impostos
sobre o rendimento. Ao passo que nestes impostos a isenção libera o beneficiário do
pagamento do imposto, no IVA as situações de isenção consubstanciam-se na não liquidação
e consequente não entrega de imposto por parte dos SP’s, nas operações activas que
realizam (o beneficiário paga imposto nas operações passivas, mas não liquida nas
operações activas). Isto é, nas suas operações passivas (aquisições de bens e serviços) os
SP de IVA não beneficiam de isenção.
Regra geral, as isenções acolhidas no CIVA (e no RITI) funcionam de forma automática; i.é.,
não é necessário que o SP solicite a respectiva aplicação.
Como qualquer benefício fiscal em sede deste imposto, as isenções consubstanciam
situações excepcionais, devendo ser objecto de interpretação restrita.
No âmbito do IVA existem dois grandes tipos de isenções com características e efeitos
substancialmente diferentes: isenções simples ou incompletas e isenções completas.
É ao nível das operações realizadas a montante, mais concretamente ao nível da
dedutibilidade do IVA suportado, que estes dois tipos de isenções se revelam
substancialmente distintos. Assim,
(134) Regra geral as isenções nas importações (art. 13º) referem-se a operações passivas (inputs, compras,
aquisições), as quais, em rigor, não são relevantes para efeitos de qualificação das isenções como completas ou
incompletas, pois a dedutibilidade do IVA suportado a montante depende apenas da realização a jusante (outputs)
de operações activas que confiram o direito à dedução (art. 20º, n.º 1 e art. 23º, n.º 1). Naturalmente que o facto
das importações (aquisições a países terceiros) estarem isentas não prejudica o direito à dedução do imposto
suportado a montante relativamente aos restantes inputs, pois eventuais limitações neste direito dependem
apenas do tipo de isenção a aplicar às operações activas. Em todo o caso, há pelo menos uma isenção
consignada no art. 13º, concretamente no seu n.º 1, alínea f), que se refere a operações activas isentas que
conferem o direito à dedução, sendo, como tal, verdadeiras isenções completas (subal. III), al. b), n.º 1, art. 20º).
Trata-se de PS cujo valor esteja incluído na base tributável das importações, tais como, transportes, comissões e
outras PS inerentes às importações (por exemplo, determinadas operações portuárias e aeroportuárias), uma vez
que, nestes casos, o IVA é liquidado pela DGAIEC (as PS fazem parte do valor tributável das importações – al. b),
n.º 2, art. 17º), pelo que o prestador (transportador, comissionista e outros) não liquidará IVA, pois, caso o fizesse,
haveria dupla tributação (IVA liquidado pelo prestador + IVA liquidado pela DGAIEC) – isenção técnica.
106
Impostos sobre a Despesa
CAPÍTULO 3: IVA - ISENÇÕES
A – Operação tributada
Compra ⇒ 1.000 + 200 (IVA) = 1.200
Venda ⇒ 1.000 + 300 = 1.300 + 260 (IVA) = 1.560
IVA a entregar ⇒ 260 – 200 = 60
C – Isenção completa
Compra ⇒ 1.000 + 200 (IVA) = 1.200
Venda ⇒ 1.000 + 300 = 1.300 + 0 (IVA) = 1.300
IVA a entregar ⇒ - 200 (crédito de imposto)
i) A isenção simples faculta a não liquidação do imposto na venda mas não permite a
dedução do imposto suportado na aquisição, pelo que este é totalmente incorporado no
custo do bem sendo a margem de lucro aplicada sobre um montante que inclui o imposto
( 135). É também evidente a existência de IVA oculto no preço no montante de 200, daí não
se tratar de uma verdadeira isenção. Atendendo aos seus efeitos indesejáveis em
determinadas situações é possível renunciar à isenção por opção dos SP’s (art. 12º).
ii) A isenção completa, além de permitir ao SP não liquidar imposto na venda, confere
também o direito à dedução do imposto suportado na aquisição, o que no exemplo, se
traduz num crédito de imposto de 200 a favor do contribuinte. Neste caso, o bem fica
totalmente desonerado da carga fiscal, pois o imposto suportado nas aquisições, sendo
dedutível, não agrava o custo do bem, contrariamente ao que acontece com a isenção
simples, o que se reflecte favoravelmente no preço final praticado.
135
( ) Na situação B o preço final cobrado ao cliente é de apenas 1.500, como tal mais reduzido do que na situação
A. Tenha-se presente que nas isenções simples não há IVA sobre a margem do prestador, conduzindo
teoricamente a um preço de venda final menor (IVA oculto < IVA liquidado). De facto, o IVA oculto é geralmente
inferior ao IVA liquidado, pelo menos se a taxa de IVA a aplicar às TB e PS for a de 20% - se a taxa a aplicar for
de 5% a conclusão já poderá ser diferente. Contudo, estas conclusões apenas são válidas se o adquirente dos
bens ou serviços for um particular ou alguém que não possa deduzir o IVA, pois caso contrário a isenção já não é
benéfica. No exemplo apresentado verifica-se que um operador económico sem restrições ao nível do direito à
dedução teria um custo de 1.500 na situação B (isenção simples) e de apenas 1.300 na situação A (+ 200 de IVA
dedutível), pelo que as isenções simples se tornam prejudiciais, afectando a neutralidade do imposto, nas
operações entre SP’s do regime normal dado que o IVA oculto, não mencionado nos documentos, não é dedutível
para o adquirente (art. 19º, n.º 2).
107
Impostos sobre a Despesa
CAPÍTULO 3: IVA - ISENÇÕES
Percebe-se, assim, porque é que a afirmação de que as isenções em sede de IVA podem ser
penalizadoras é verdadeira, embora possa ser paradoxal à primeira vista.
Imaginemos o caso de um médico, isento ao abrigo do art. 9º n.º 1, que, apesar de não ter
que liquidar IVA aos seus clientes, tem grandes despesas de investimento em equipamento,
que não pode deduzir, vendo-se obrigado, naturalmente, a repercutir esses custos no preço
das suas consultas.
108
Impostos sobre a Despesa
CAPÍTULO 3: IVA - ISENÇÕES
Assim, tais SP’s apenas terão que cumprir com as obrigações previstas nas als. a), e) e f) do
n.º 1 do art. 29º, conforme estipula o n.º 3 do art. 29º, pelo que deverão apenas entregar as
declarações de início, de alterações ou de cessação e os mapas recapitulativos de clientes e
fornecedores. De referir ainda que tais SP’s (totalmente isentos) não têm n.º de IVA válido
para efeitos de VIES, pelo que, em geral, suportarão IVA no EM de origem no caso de
adquirirem quaisquer bens em países pertencentes à CE - AIB (136).
Note-se que apenas estão isentos os serviços médicos e não outras actividades
desenvolvidas pelos médicos, designadamente a realização de conferências, formação,
ensino e outros serviços, daí que por vezes os médicos sejam SP’s mistos. Por exemplo,
136
( ) Tal como se encontra estipulado no art. 5º do RITI, o qual estabelece um regime particular em que as AIB
efectuadas pelos SP’s (totalmente) isentos pelo art. 9º não estão sujeitas a IVA em território nacional desde que o
valor das AIB não ultrapasse o montante de € 10.000 (derrogação ao regime geral de sujeição das AIB). Se o valor
das aquisições num determinado ano ultrapassar esse limite, tais SP’s deverão entregar uma declaração de
alterações, até ao final do mês seguinte em que ultrapassaram esse limite, com vista à sua passagem ao regime
geral das AIB (o seu n.º fiscal passa a ser válido no sistema VIES). Nesse caso, a partir dessa data passarão a
(auto)liquidar IVA nos mesmos termos que os SP’s do regime geral (IVA liquidado na DP), embora com a
particularidade desse imposto não ser dedutível (isenção incompleta). Por outro lado, apenas terão a obrigação de
entregar DP’s relativamente aos períodos em que haja operações tributáveis, sendo possível aos SP’s optar em
qualquer altura pelo regime geral das AIB, devendo nesse caso aí permanecer durante um período mínimo de dois
anos. De referir que se uma só aquisição ultrapassar aquele limite, deverá ser apresentada a declaração de
alterações previamente à sua realização, pelo que tal AIB estará já no âmbito no regime geral das AIB. As
conclusões anteriores têm subjacente o disposto nos arts. 5º, 22º, 25º e 30º, todos do RITI, sendo aplicáveis aos
SP’s que praticam exclusivamente operações isentas que não conferem qualquer direito à dedução (art. 9º e art. 53º)
e ao Estado e demais pessoas colectivas de direito público (n.º 2, art. 2º). Se os SP’s em causa praticarem, em
simultâneo com as operações isentas, operações que conferem o direito à dedução (SP’s mistos) o regime já não
será aplicável, aplicando-se o regime geral das AIB sem restrições, ou seja, IVA liquidado pelo valor das AIB e IVA
dedutível apenas na parte correspondente à percentagem de dedução. Esta matéria será tratada com maior
profundidade na unidade curricular de Tributação Internacional.
109
Impostos sobre a Despesa
CAPÍTULO 3: IVA - ISENÇÕES
os psicólogos desenvolvem uma actividade médica isenta, mas tal isenção não abrange a
elaboração de testes psicotécnicos, selecção e recrutamento de pessoal, etc.. Nas
empresas que se dedicam à higiene, saúde e segurança no trabalho, apenas os serviços
de saúde estão isentos e já não as componentes relativas à higiene e segurança. A
isenção refere-se a serviços de saúde em sentido amplo, atendendo ao seu carácter
social, incluindo o transporte de feridos por organismos devidamente autorizados. A
isenção do n.º 4 não se refere a serviços de saúde, mas a ‘bens’ relacionados com a
saúde, concretamente transmissões de órgãos, sangue e leite humanos.
137 ºs
( ) Para efeitos desta isenção (assim como também no caso das isenções previstas nos n. 12, 13, 14, 19 e 35
do art. 9º), é condição indispensável que as actividades aí abrangidas sejam efectuadas por organismos sem
finalidade lucrativa, tal como consta do art. 10º, considerando-se como tais os que preencham cumulativamente os
requisitos previstos nas als. a) a d) do referido artigo.
110
Impostos sobre a Despesa
CAPÍTULO 3: IVA - ISENÇÕES
d) Educação, ensino e outras actividades conexas (n.ºs 9, 11 e al. c) do n.º 35 do art. 9º);
Também no caso destas isenções não há possibilidade de renúncia (art. 12º a contrario).
De acordo com o n.º 10 do art. 9º, estão isentas de IVA as PS que tenham por objecto a
formação profissional, bem como as TB e PS conexas, como por exemplo, o fornecimento
de alojamento, alimentação e material didáctico, desde que sejam efectuadas por
organismos de direito público ou por entidades reconhecidas como tendo competência
nos domínios da formação e reabilitação profissionais pelos ministérios competentes ( 139).
A isenção não é aplicável aos formadores uma vez que não têm a sua actividade
reconhecida, pelo que tais profissionais liquidarão IVA pelos serviços que prestem, sem
prejuízo do seu eventual enquadramento no REI.
f) Cultura, ciência e arte (n.ºs 8, 12, 13, 14, 15, al. a), n.º 35 als. a) e b) do art. 9º);
Também no caso destas isenções não há possibilidade de renúncia (art. 12º a contrario).
138
( ) Ou seja, esta isenção apenas se aplica a pessoas colectivas, não se aplicando às PS de professores que
actuam de forma independente, que apenas não deverão liquidar IVA caso beneficiem do regime especial de
isenção do art. 53º.
139
( ) Nos termos do Despacho n.º 51/88, de 7/10/1988, do Secretário de Estado do Emprego e Formação
Profissional, compete ao IEFP o reconhecimento de que as entidades a que se refere a segunda parte do n.º 11
(actual n.º 10) desenvolvem PS de formação ou reabilitação profissionais. Nesta matéria regula também a doutrina
do Ofício-Circulado n.º 55 466 de 22/06/1987 da DSCA do SIVA, o qual reconhece tacitamente como entidades
competentes as que desenvolvem acções de formação profissional subsidiadas por fundos comunitários ou pelo
Estado.
111
Impostos sobre a Despesa
CAPÍTULO 3: IVA - ISENÇÕES
Isenção para a qual não está consagrada a possibilidade de renúncia (art. 12º a contrario).
Isenção para a qual não está consagrada a possibilidade de renúncia (art. 12º a contrario).
Relativamente a esta isenção, de referir que não é passível de renúncia (art. 12º a contrario).
(140) Com esta norma evita-se que estas entidades cuja actividade principal é isenta tenham que liquidar IVA em
relação a algumas manifestações ocasionais sujeitas a IVA, as quais, deste modo, se encontram também isentas.
A isenção abrange o conjunto das receitas obtidas (bilhetes de acesso, taxas de inscrição, bufete, bar, aluguer de
stands, receitas publicitárias, etc.). Se não existisse uma norma com este teor, as entidades por ela abrangidas
tornar-se-iam SP’s mistos com todas as dificuldades inerentes. Pelo Despacho Normativo n.º 118/85, de 31 de
Dezembro, foi fixado em 8 o número máximo anual de manifestações ocasionais (isentas) promovidas por estas
entidades, devendo tais eventos ocasionais ser previamente comunicados no Serviço de Finanças (SF),
exactamente para que se controle o n.º anual máximo permitido (8). Na prática geralmente não são feitas estas
comunicações embora o diploma citado assim o exija.
112
Impostos sobre a Despesa
CAPÍTULO 3: IVA - ISENÇÕES
k) PS fornecidas aos seus membros por grupos autónomos de pessoas que exerçam uma
actividade isenta e cujo objectivo seja o de lhes facilitar a utilização comum dos meios
necessários ao exercício dessa actividade desde que se limitem a exigir dos mesmos o
reembolso exacto da parte que lhes incumbe nas despesas comuns (n.ºs 21 e 22 do art.
9.º);
Relativamente a esta isenção, de referir que não é passível de renúncia (art. 12º a contrario).
Também para as três isenções referidas (k), l) e m)) não está consagrada a possibilidade de
renúncia (art. 12º a contrario).
Isenção para a qual não está consagrada a possibilidade de renúncia (art. 12º a contrario).
As várias alíneas deste n.º identificam situações típicas da actividade bancária. É esta
isenção que provoca uma % de dedução muito baixa no caso dos bancos, uma vez que a
generalidade da actividade se encontra isenta por esta norma. Há casos de bancos que
113
Impostos sobre a Despesa
CAPÍTULO 3: IVA - ISENÇÕES
por terem uma % de dedução tão baixa (por vezes 1% ou 2%), optam por não deduzir
IVA por uma questão de simplicidade administrativa. Exemplos de operações praticadas
pelos bancos que conferem o direito à dedução são os serviços relacionados com a
avaliação de imóveis em que há liquidação de IVA, operações mencionadas na subal. V,
al. b), n.º 1, art. 20º (neste caso isenção completa).
A actividade das empresas locadoras (leasing), embora seja considerada de natureza
financeira, não se encontra abrangida pela isenção aqui consagrada uma vez que se trata
de empresas que realizam maioritariamente operações tributáveis (141).
O que se pretende com esta disposição é isentar o arrendamento, desde logo atendendo
ao elevado número de contribuintes, muitos deles particulares. A isenção não abrange a
actividade hoteleira e dos parques de campismo, a locação de áreas para
estacionamento de veículos, a locação de máquinas e outros equipamentos de instalação
141
( ) Poderá acontecer que as locadoras exerçam actividades isentas pelo art. 9º, por exemplo, no caso de leasing
imobiliário em que é aplicável a isenção consignada no 29º do art. 9º em relação às rendas periódicas (PS) e a do n.º
30 do mesmo artigo relativamente à aquisição pelo valor residual do imóvel (TB) por parte do locatário, sem prejuízo
da hipótese de renúncia à isenção prevista nos n.ºs 4 e 5 do art. 12º.
142
( ) Sobre esta matéria vejam-se os Ofícios-Circulados n.º 13319, de 22/05/86, do SIVA (actividade seguradora); n.º
14389, de 26/02/87, da DSCA do SIVA (indemnizações de seguros; reparações de bens sinistrados); n.º 147533, de
20/12/89 (indemnizações de seguros e franquias); n.º 13736, de 27/01/92, da DSCA do SIVA (companhias de
seguros).
114
Impostos sobre a Despesa
CAPÍTULO 3: IVA - ISENÇÕES
Esta isenção traduz uma opção do legislador nacional que, face às possibilidades
concedidas pela “Directiva IVA” a este propósito, resolveu não tributar em IVA as
transmissões de bens imóveis.
fugas ao IRC, IRS e Segurança Social, por parte das empresas que operam no sector.
Sabendo-se que a actividade da construção civil é uma das principais actividades
económicas do nosso país, pode concluir-se que tal discussão assumia particular
interesse. Em todo o caso, refira-se que a recente reforma da tributação do património,
que entrou em vigor em 1 de Janeiro de 2004, não foi nesse sentido, mantendo-se a
isenção em IVA nas transmissões de imóveis e a sua tributação em sede de IMT.
t) Lotaria, apostas mútuas, bingo bem como outras actividades sujeitas a impostos
especiais sobre o jogo (n.º 31 do art. 9º);
u) Transmissões de bens afectos exclusivamente a uma actividade isenta que não tenham
sido objecto do direito à dedução, bem como a transmissão de bens cuja aquisição ou
afectação tenha sido feita com exclusão do direito à dedução nos termos do n.º 1 do art.
21º (n.º 32 do art. 9º);
Tem sido entendimento da AF que, no caso de bens mencionados no art. 21º, para que a
isenção se aplique é necessário que o SP demonstre que suportou IVA no momento da
aquisição, devendo o imposto constar de forma expressa na factura de aquisição, pelo
que, se a viatura de turismo, por exemplo, tiver sido adquirida a um particular, a outra
empresa que tenha utilizado esta isenção ou a um revendedor pelo regime de bens
usados, a posterior transmissão dessa viatura não beneficiará da isenção devendo
liquidar-se IVA, imposto esse que não é dedutível para o adquirente (art. 21º, n.º 1, al. a)).
Ora, se se trata de uma isenção técnica que pretende evitar liquidações cumulativas ou
tributação ‘em cascata’, não nos parece que tal entendimento tenha perfeito cabimento
em termos daquilo que é a lógica subjacente ao imposto. Imagine-se um exemplo em
que uma viatura de turismo é transaccionada sucessivamente entre SP’s do regime
normal que não sejam revendedores (IVA em cascata). Em todo o caso, a letra da lei
parece indiciar que a isenção se aplica exclusivamente nos casos em que no momento da
aquisição não foi deduzido IVA em virtude do disposto no art. 21º, dando força à
interpretação da AF. Na verdade, se a aquisição foi feita a um particular, a uma empresa
116
Impostos sobre a Despesa
CAPÍTULO 3: IVA - ISENÇÕES
Estas isenções são passíveis de renúncia (art. 12º n.º 1 al. c)).
O art. 11º refere que o Ministro das Finanças poderá determinar a sujeição a imposto
de determinadas actividades mencionadas nos n.ºs 33 e 34 do art. 9º, sempre que as
respectivas isenções originem distorções de concorrência, referindo-se a este propósito
o Despacho Normativo n.º 51/86, de 5 de Junho, que obrigou os produtores de flores e
de plantas (floricultura) ao enquadramento no regime normal do IVA, não se aplicando
portanto a tais operadores a isenção consignada no n.º 33 do art. 9º (143).
(143) Tal isenção poderia originar graves distorções de concorrência, motivando o encurtamento do circuito
económico (venda directa pelo produtor) em detrimento dos operadores não produtores (floristas), que não
beneficiam de tal isenção, tendo que liquidar IVA geralmente à taxa de 12%. Esta situação é intrínseca à
agricultura em geral, uma vez que as TB efectuadas pelos agricultores estão isentas enquanto que as efectuadas
pelos revendedores (frutarias e supermercados) estão sujeitas a IVA e não isentas. Finalmente, relativamente à
agricultura, destaca-se também a possibilidade de renúncia à isenção, conferida pelo art. 12º, n.º 1, al. c).
144
( ) Relativamente a esta isenção vejam-se os Ofícios-Circulados n.º 105643, de 17/11/88 da DSCA do SIVA e n.º
53598 de 11/05/89 da DSCA do SIVA. Note-se que, nos termos destes ofícios se determina, designadamente, que
no conceito de refeições se englobam não só as refeições entendidas no sentido tradicional do termo, a saber,
pequenos-almoços, almoços, merendas e jantares, mas igualmente outros fornecimentos de alimentação e
bebidas fora desse conceito tradicional, como p. ex. os fornecimentos ao longo do dia, normalmente nas
chamadas pausas diárias, de café e outras bebidas, acompanhadas ou não de alimentos. Por outro lado,
determina-se também que esta isenção abrange apenas as refeições fornecidas directamente pelas entidades
patronais aos seus empregados.
117
Impostos sobre a Despesa
CAPÍTULO 3: IVA - ISENÇÕES
renúncia à isenção conferida pelo art. 12º, n.º 1, al. a), devendo nesse caso liquidar-se
IVA pelos serviços prestados aos empregados à taxa de 12% (Lista II, verba 3.1).
x) Actividades das empresas públicas de rádio e televisão que não tenham carácter
comercial (n.º 37 do art. 9º).
Por último, importa salientar que as isenções do art. 9º (isenções simples) poderão originar
distorções, pelo que o próprio CIVA, através do seu art. 12º, admite a hipótese de alguns dos
operadores económicos que realizam operações isentas sem direito a dedução, possam
renunciar à isenção e optar pela aplicação do regime geral de tributação, conforme se verá
posteriormente – as normas em que existe hipótese de renúncia foram identificadas e
assinaladas a negrito e com um *.
Concluindo,
Os operadores económicos que realizem exclusivamente operações isentas nos termos do
art. 9º, não têm direito à dedução do imposto suportado nas aquisições e não poderão, como
vimos, liquidar IVA aos seus clientes pelos serviços prestados.
Deste modo, o valor do imposto não dedutível faz parte do custo de aquisição, sendo, como
tal, incluído no preço de venda dos bens ou serviços, situação esta que provoca aquilo que
vulgarmente se designa por ‘IVA oculto’.
Todavia, mesmo que o consumidor suporte sempre alguma carga fiscal (‘tributação oculta’),
ela será inferior àquela que resultaria na ausência da isenção, desde logo porque nem todos
os inputs têm IVA e também porque não há IVA sobre a margem neste estádio. Por isso, não
se trata de uma verdadeira isenção, mas apenas de uma redução da carga fiscal atendendo
à natureza das actividades (145).
(145) Tal como se referiu anteriormente, esta conclusão apenas é válida se o adquirente dos bens ou serviços não
puder deduzir o IVA suportado, como é o caso dos particulares ou até dos próprios SP’s isentos pelo art. 9º.
Mesmo nestes casos se a taxa de IVA a aplicar, no caso de tributação das operações, for a de 5% (agricultura e
serviços de saúde) poderá tal isenção não constituir um verdadeiro benefício atendendo ao IVA implícito (oculto)
no preço dos bens e serviços (IVA suportado e não deduzido). Se o adquirente puder deduzir o IVA estas
isenções são quase sempre prejudiciais, daí a hipótese de renúncia à isenção nos casos mais flagrantes.
118
Impostos sobre a Despesa
CAPÍTULO 3: IVA - ISENÇÕES
Exemplo ( 146):
Neste caso, teremos duas empresas: a empresa ALFA que se dedica à actividade imobiliária
e a empresa BETA que se dedica à construção. A empresa ALFA adquire o terreno e
contrata a empresa BETA para a construção do prédio. Neste caso a empresa ALFA
suportará IVA não dedutível do montante de 60.000 (300.000 x 20%), montante que acresce
ao custo total da obra, para efeitos de apuramento do resultado inerente à obra.
2ª Hipótese : Integração
Nesta situação teremos uma única empresa (ALFA) a actuar enquanto imobiliária e
construtora, sendo que, neste caso, a empresa possui pessoal e equipamentos para efectuar
ela própria as obras ( 147). Assim, a empresa ALFA apenas suportará IVA do montante de
(146) Exemplo retirado da obra ‘Fiscalidade’, do autor José Alberto Pinheiro Pinto, embora com inúmeras
alterações/adaptações.
147
( ) Terá que ser também equacionado o facto da empresa, nesta situação de integração, necessitar de uma
estrutura mais complexa, ao nível sobretudo de pessoal e equipamentos, o que poderá inviabilizar esta opção no
caso da actividade de construção não ser regular. Em todo o caso, refira-se que, optando-se pela subcontratação,
o preço a pagar pelos serviços incluirá todos os custos incorridos pelo subcontratado (materiais, mão de obra e
equipamentos), para além do seu lucro em todas estas componentes, daí que se deva equacionar a hipótese da
empresa recorrer a recursos próprios, sem prejuízo da subcontratação quanto a serviços mais especializados
119
Impostos sobre a Despesa
CAPÍTULO 3: IVA - ISENÇÕES
30.000 (150.000 x 20%), uma vez que não haverá IVA relativamente à mão-de-obra.
Conclusões:
Conforme se verifica, o resultado obtido com a obra aumenta 30.000 que corresponde
exactamente ao valor do IVA inerente à mão-de-obra, o que poderá permitir, por exemplo,
mantendo-se o ganho da empresa, uma redução do preço dos apartamentos em 3.000 cada
um (30.000 / 10), ou uma redução menor, neste caso repartindo o ganho entre vendedor e
comprador.
Em ambos os casos é notória a existência de IVA oculto no preço dos apartamentos que na
1º hipótese corresponde a 10,9% do preço (60.000 / 550.000) e na 2ª hipótese a 5,45%
(30.000 / 550.000) ( 148) ( 149).
120
Impostos sobre a Despesa
CAPÍTULO 3: IVA - ISENÇÕES
• Os SP’s que realizem prestações de serviços que tenham por objecto a formação
profissional (n.º 10 do art. 9º);
• Os SP’s que forneçam aos seus empregados serviços de alimentação e bebidas (n.º 36
do art. 9º);
Se, passados 5 anos, o SP desejar o seu regresso à situação inicial de isenção deverá (n.º 3
do art. 12º):
(150) Desde que tais estabelecimentos não pertençam a pessoas colectivas de direito público ou a instituições
privadas integradas no sistema nacional de saúde.
(151) Tais deduções foram feitas no pressuposto de que as existências e o imobilizado se destinavam a uma
actividade tributada, pelo que no caso de passagem a um regime de isenção simples é imposta a obrigação de se
regularizar a favor do Estado o IVA deduzido no momento da aquisição inerente a tais existências e imobilizado.
Não é possível regularizar o imposto a favor da empresa na situação inversa, isto é, passagem de uma isenção
incompleta (art. 9º e art. 53º) para o regime geral, uma vez que se considera que os SP’s poderiam desde sempre
ter optado pelo regime geral. Regularizações a favor do SP nestas situações de alteração do enquadramento da
actividade (passagem ao regime geral) apenas poderão ser efectuadas nos casos expressamente previstos no art.
25º, ou seja, apenas relativamente ao imobilizado e apenas ‘se, por motivo de alteração de actividade ou por
imposição legal, os SP’s passarem a praticar operações que conferem o direito à dedução’. Esta faculdade nunca
121
Impostos sobre a Despesa
CAPÍTULO 3: IVA - ISENÇÕES
O art. 12º, nos n.os 4, 5 e 6, estabelece ainda que poderão também renunciar à isenção
(operações imobiliárias):
• Os SP’s que arrendem bens imóveis ou partes autónomas destes a outros SP’s que os
utilizem, no todo ou em parte, em actividades tributadas e desde que não estejam sujeitos
ao REPER previsto no art. 60º (n.º 4 do art. 12º);
A renúncia à isenção nestas operações deverá ser efectuada nos termos e condições
previstos em legislação especial, tratando-se, neste caso, do DL n.º 21/2007, de 29 de
Janeiro (152).
se aplica no caso de SP’s isentos pelo REI que passem a estar enquadrados no regime normal, pois aí é sempre
possível optar pelo regime geral, para além de que a isenção não depende da actividade exercida, logo, não
poderá alegar-se qualquer ‘alteração de actividade’. Relativamente ao motivo ‘por imposição legal’, prende-se com
eventuais revogações futuras a efectuar no art. 9º, como já aconteceu no caso dos advogados, médicos-
veterinários, tradutores e intérpretes.
152
( ) O DL n.º 21/2007, de 29 de Janeiro, procedeu à introdução na legislação do IVA de um conjunto de medidas
destinado a combater algumas situações de fraude, evasão e abuso que se vêm verificando na realização das
operações imobiliárias sujeitas a tributação, seguindo, nesta matéria, a experiência anteriormente adquirida e as
melhores práticas adoptadas em outros Estados membros da União Europeia. Com esse propósito, foram revistas
de forma substancial as regras da renúncia à isenção do IVA na locação e transmissão de bens imóveis
abrangidas pelos n.ºs 29 e 30 do artigo 9.º do respectivo Código, sujeitando-se a renúncia à verificação cumulativa
de algumas condições referentes ao imóvel e aos sujeitos passivos que podem intervir nessas operações. Sem
pôr em causa a possibilidade de desoneração do imposto, por parte dos operadores económicos, quando os
imóveis sejam por si utilizados em actividades tributadas, impõe-se, no entanto, certas restrições quanto à
possibilidade de opção pela tributação, quando a actividade habitual dos intervenientes não confira um
significativo direito à dedução do IVA suportado, salvo se essa actividade consistir na construção ou aquisição de
imóveis para venda ou para locação. Nesse contexto, foi também reformulado o procedimento administrativo
relativo à renúncia à isenção, reduzindo-se as obrigações declarativas dos sujeitos passivos e consagrando-se,
nesta matéria, uma das medidas previstas no Programa SIMPLEX, de forma a estabelecer que a apresentação do
pedido de certificado de renúncia e a respectiva emissão passem a ser realizadas por via electrónica.
Para garantir uma clara definição e percepção do quadro legal aplicável às situações de renúncia à isenção do
IVA nas operações imobiliárias, as regras que definem as formalidades e as condições para o exercício da
renúncia, bem como os procedimentos a adoptar na sequência da mesma, continuaram, assim, a constar de um
regime jurídico autónomo. Para além de uma definição mais rigorosa das situações susceptíveis de renúncia à
isenção, o regime definiu, nos casos de transmissão de imóveis com opção pela tributação, que o IVA seja devido
ao Estado pelos respectivos adquirentes. Por sua vez, no sentido de prevenir eventuais práticas que resultem
numa fixação artificial do valor da transacção ou da locação com renúncia à isenção, passa a estabelecer-se que
o respectivo valor tributável corresponde ao valor normal de mercado dessas operações, sempre que existam
relações especiais entre os intervenientes e qualquer deles apresente limitações do direito à dedução. Estas duas
medidas inserem-se, aliás, no quadro das possibilidades dadas aos Estados membros na Directiva n.º
77/388/CEE, do Conselho, de 17 de Maio (Sexta Directiva do IVA), na sequência das alterações promovidas pela
Directiva n.º 2006/69/CE, do Conselho, de 24 de Julho, que veio consagrar algumas medidas destinadas a
simplificar a cobrança do imposto e a combater a fraude e a evasão fiscais.
122
Impostos sobre a Despesa
CAPÍTULO 3: IVA - ISENÇÕES
Note-se que:
i. Face à prática exclusiva de operações isentas que não conferem o direito à dedução, não pode
haver renúncia, nos casos em que o locador e/ou locatário ou o transmitente e/ou adquirente
estejam enquadrados no Regime Especial de Isenção (artigo 53.º) ou efectuem exclusivamente
operações isentas que não conferem o direito à dedução previstas no artigo 9.º (excepto na
situação referida em ii) da alínea e) do ponto A).
ii. Nos casos de compropriedade, todos os titulares dos direitos a transmitir ou a adquirir devem
preencher os requisitos exigidos para o exercício da renúncia.
iii. No conceito de locação, entende-se abrangido qualquer tipo de locação, designadamente a
locação financeira.
(153) Independentemente do critério que o sujeito passivo utilize para o exercício do direito à dedução (afectação
real ou prorata), a percentagem de 80% é determinada nos termos dos números 4, 5 e 8 do artigo 23.º do CIVA,
com base no montante das operações realizadas no ano anterior. Relativamente aos sujeitos passivos que iniciem
a sua actividade, será tida em consideração, no momento da renúncia, a percentagem provisória prevista para
esse ano, calculada nos termos do n.º 7 do artigo 23.º do CIVA.
123
Impostos sobre a Despesa
CAPÍTULO 3: IVA - ISENÇÕES
124
Impostos sobre a Despesa
CAPÍTULO 3: IVA - ISENÇÕES
OBRIGAÇÕES
Os sujeitos passivos que renunciem à isenção prevista nos n.ºs 30 e 31 do art. 9º e optem
pela tributação ficam, por esse facto, sujeitos ao cumprimento das obrigações previstas no
CIVA, nomeadamente, de natureza contabilística, declarativa, de liquidação e de entrega do
imposto. Os transmitentes e locadores devem contabilizar, para efeitos do artigo 44.º do
CIVA, os proveitos e os custos relativos aos imóveis a transmitir ou a locar e em que houve
liquidação de imposto. O adquirente deve contabilizar, separadamente, a aquisição do imóvel
em que houve renúncia à isenção, de forma a evidenciar o imposto por si autoliquidado nesta
operação. Os transmitentes ou locadores que se encontrem em condições de renunciar à
isenção, devem apresentar uma declaração de alterações antes de solicitarem o primeiro
certificado de renúncia.
No caso específico da transmissão de imóveis, cabe ao adquirente proceder à liquidação do
imposto devido por essas operações, inscrevendo, em termos de declaração periódica, o
valor tributável no campo 3 e o imposto liquidado no campo 4 do quadro 06. Por sua vez, o
125
Impostos sobre a Despesa
CAPÍTULO 3: IVA - ISENÇÕES
transmitente deve indicar, na declaração periódica e enquanto a mesma não for alterada, o
valor da transmissão no campo 8 do quadro 06.
As facturas ou documentos equivalentes emitidos pelos transmitentes ou locadores devem
conter todos os elementos referidos no artigo 36.º do Código do IVA, bem como, no caso da
transmissão de imóveis, a expressão “IVA devido pelo adquirente”, uma vez que neste caso
cabe ao adquirente a obrigação de liquidação do imposto.
Todavia, se o documento que titula a transmissão é a escritura e por que ela deve conter,
para além da expressão “IVA devido pelo adquirente” todos os requisitos previstos do n.º 5 do
artigo 36.º do CIVA, à excepção da numeração, a mesma substitui a factura exigida nos
termos da alínea b) do n.º 1 do artigo 29.º do CIVA.
VALOR TRIBUTÁVEL
O valor tributável na transmissão ou na locação de bens imóveis é apurado de acordo com as
regras estabelecidas no n.º 1 do artigo 16.º do CIVA. No caso da transmissão ou locação de
imóveis efectuadas com renúncia à isenção por sujeitos passivos que tenham entre si
relações especiais na acepção do n.º 4 do artigo 58.º do Código do IRC, o valor tributável é o
valor normal, determinado segundo o estabelecido no n.º 4 do artigo 16.º do CIVA, quando:
a contraprestação seja inferior ao valor normal e o destinatário da operação não tenha
direito à dedução integral do IVA;
ou
b) a contraprestação seja superior ao valor normal quando o transmitente ou o locador
do bem imóvel não tenha direito a deduzir o IVA integralmente.
Para este efeito, considera-se que o valor normal da transmissão do imóvel não pode ser
inferior (embora possa ser superior) ao valor patrimonial tributário definitivo considerado para
efeitos de IMT, independentemente de haver ou não lugar à liquidação deste imposto.
DIREITO À DEDUÇÃO
Os sujeitos passivos que renunciem à isenção nos termos do Regime da Renúncia têm
direito à dedução do imposto suportado com vista à realização das operações relativas a
cada imóvel, segundo as regras definidas no CIVA, sendo obrigatória (à semelhança do que
acontecia no regime anterior), que a dedução do imposto relativo a cada imóvel seja feita
pelo método da afectação real. Quando a DGCI considere inadequados os critérios de
imputação utilizados na afectação real, pode fixar critérios diferentes, disso notificando,
fundamentadamente, o sujeito passivo.
imóveis em que houver renúncia, o prazo anteriormente referido, é elevado para o dobro (8
anos). Em ambas as situações, a dedução pode ser efectuada, não obstante os documentos
que suportam o direito à dedução já terem sido objecto de registo contabilístico, não se lhes
aplicando a restrição prevista no n.º 6 do art. 78º.
No caso da transmissão de imóveis, em que cabe ao adquirente a obrigação de liquidação do
imposto, este pode, nos termos do n.º 4 do artigo 8.º do Regime da Renúncia, exercer o
direito à dedução do imposto liquidado pela respectiva aquisição.
127
Impostos sobre a Despesa
CAPÍTULO 3: IVA - ISENÇÕES
No caso de não haver renúncia à isenção, os subsídios obtidos com destino à formação
profissional não estarão sujeitos a IVA, daí que este facto deva também ser equacionado,
pois caso haja que liquidar IVA pelo subsídio (hipótese de renúncia, tendo em conta o
disposto na al. c) do n.º 5 do art. 16º), tal imposto deverá ser ‘retirado de dentro’ do valor do
subsídio, reduzindo-o nesse montante (154).
(154) A hipótese de renúncia à isenção na formação profissional também é possível no caso de empresas que não
se dediquem a título principal a esta actividade. Na verdade, é frequente as empresas beneficiarem de subsídios
atribuídos pela CE, considerando-se que, nesse caso, tais entidades passarão a praticar uma actividade acessória
isenta pelo n.º 10 do art. 9º (presume-se o reconhecimento da competência uma vez que os subsídios são
comunitários). Assim, para evitar situações de prorata, é também possível renunciar à isenção nessas situações,
contudo deverá ser liquidado IVA pelos subsídios recebidos. Outra alternativa para evitar o prorata sem ter que
haver liquidação de IVA pelos subsídios, é utilizar um sistema de afectação real, considerando o sector da
formação profissional como um sector perfeitamente distinto cujos inputs não conferem direito à dedução.
Finalmente, outra situação que se relaciona com os subsídios à formação profissional tem a ver com o facto de se
128
Impostos sobre a Despesa
CAPÍTULO 3: IVA - ISENÇÕES
A hipótese de renúncia deve ser seriamente ponderada porque geralmente toda a actividade
da empresa é tributada conferindo o direito à dedução, pelo que não havendo renúncia a
empresa será um SP misto com todas as dificuldades inerentes ( 155) - renunciando à isenção
todos os inputs da empresa conferem o direito à dedução, incluindo os inputs inerentes à
cantina ou bar, face ao disposto no n.º 2, al. b) do art. 21º (não se aplica a exclusão da al. d)
do n.º 1 do art. 21º).
considerar que não é elegível para efeitos de financiamento o IVA que for dedutível, sendo esse o caso se existir
renúncia à isenção. Porém, uma vez que a renúncia é uma faculdade que é dada aos contribuintes e não uma
imposição, tem sido entendimento que o IVA é elegível no caso de não existir renúncia à isenção.
155
( ) Não renunciando à isenção a empresa deverá utilizar um sistema de afectação real considerando a cantina
como um centro de custos independente, cujos inputs não conferem o direito à dedução, não havendo,
consequentemente, obrigação de liquidar IVA relativamente às refeições – relativamente à restante actividade
(tributada) será exercido o direito à dedução em condições normais. O sistema de afectação real foi imposto pelo
Ofício-Circulado n.º 53598, de 89.05.11, atendendo sobretudo ao facto do prorata poder gerar distorções, pois
SP’s com um prorata elevado iriam deduzir uma elevada percentagem de IVA inerente aos inputs da cantina,
enquanto que outros com baixo prorata iriam deduzir menos IVA, sem que tal se mostrasse ajustado, daí a
imposição da adopção de um sistema de afectação real, método que implica uma separação das actividades. A
imposição da afectação real tem também em conta o facto de no método do prorata os arredondamentos da % de
dedução serem sempre efectuados para cima, pelo que uma empresa em que a actividade isenta (cantina e bar)
representasse apenas 0,9% do volume de negócios (ou menos) a sua % de dedução seria de 100%, o que seria
manifestamente injusto para outras empresas em que essa actividade tivesse um peso ligeiramente superior.
129
Impostos sobre a Despesa
CAPÍTULO 3: IVA - ISENÇÕES
feita à taxa reduzida de 5% (verba 2.7 da Lista I) daí que a renúncia seja benéfica, dado que
o IVA oculto no preço, no caso de isenção, não andará longe dos 5%.
É frequente referir que esta isenção é duplamente penalizante, exactamente pelos motivos
anteriormente invocados (os preços podem incluir IVA sobre IVA), daí que a generalidade dos
agricultores de média/grande dimensão normalmente renunciem à isenção, especialmente
quando vendam os seus produtos a outros SP’s.
A título de exemplo, imaginem-se dois produtores de leite (A e B) que vendem o seu produto
à mesma cooperativa, a qual paga o mesmo preço a ambos € 0,20/litro. Neste caso o
(156) Relativamente aos equipamentos agrícolas a taxa de 12% foi introduzida pela Lei do OE para 2002
(anteriormente a taxa era a reduzida de 5%). A aquisição de outros bens e serviços prestados por terceiros estará
geralmente sujeita a 20%. No caso agricultura tem sido entendimento da AF que os subsídios atribuídos aos
agricultores são normalmente não sujeitos a IVA quer se trate de agricultores isentos ou não.
130
Impostos sobre a Despesa
CAPÍTULO 3: IVA - ISENÇÕES
agricultor que renunciou à isenção venderá o seu produto por 0,20 + IVA a 5% = 0,21,
enquanto que o agricultor isento venderá o seu produto por 0,20. Este terá um lucro menor
pois não terá a possibilidade de deduzir o IVA suportado, enquanto que para a cooperativa é
indiferente a diferença no preço pois o IVA liquidado pelo 1º produtor de leite é dedutível.
Veja-se o exemplo da construção de um pequeno armazém por 100.000 cujo IVA suportado
nas obras ascendeu a 20.000 e que irá ser arrendado a um SP de IVA do regime normal.
Neste caso a empresa poderá deduzir o IVA das obras (beneficiando em princípio do seu
reembolso), liquidando IVA nas rendas faseadamente (mensalmente), IVA esse que será
dedutível para o arrendatário. Em princípio, se não houvesse renúncia o valor das rendas
teria que ser superior (157).
Naturalmente que no caso de renúncia à isenção o imóvel deverá estar afecto a uma
actividade tributada durante um período de 20 anos. Assim, se no decurso desse prazo for
alienado sem que haja liquidação na venda (isenção do n.º 30 do art. 9º) deverão ser
efectuadas regularizações a favor do Estado relativamente ao IVA deduzido no momento da
aquisição proporcionalmente ao período restante até que se esgote o período de
regularização, nos termos do n.º 5 do art. 24º.
Se, por outro lado, no decurso desse período o imóvel for arrendado sem renúncia à isenção,
deverá ser regularizado o imposto deduzido na aquisição anualmente (1/20) enquanto o
imóvel estiver afecto a uma actividade não tributada.
(157) O exemplo poderia reportar-se a um armazém (ou uma loja) já construído mas a necessitar de obras de
restauro ou remodelação, pois o imposto suportado nestes serviços será também dedutível no caso do imóvel ser
utilizado em actividades tributadas, que é o caso se o imóvel se destinar a ser arrendado com renúncia à isenção.
131
Impostos sobre a Despesa
CAPÍTULO 3: IVA - ISENÇÕES
CUSTOS PROVEITOS
Terreno 100.000 Vendas:
Construção (s/ IVA) 5 apartamentos x 55.000 = 275.000
Materiais 150.000 5 lojas x 55.000 = 275.000
Mão-de-obra 150.000
Total dos custos 400.000 Total de proveitos 550.000
A) Não integração
B) Integração
A) Não integração
i) Resultado obtido com manutenção do preço de venda (sem IVA) = 550.000 – (100.000
+ 300.000 + 30.000) = 120.000 (↑ Resultado = 30.000)
ii) Resultado obtido reduzindo o preço de venda (sem IVA) das lojas em 2.500 cada
uma = 537.500 – (100.000 + 300.000 + 30.000) = 107.500 (↑ Resultado = 17.500)
iii) Resultado obtido reduzindo o preço de venda (sem IVA) das lojas em 5.000 cada
uma = 525.000 – (100.000 + 300.000 + 30.000) = 95.000 (↑ Resultado = 5.000)
132
Impostos sobre a Despesa
CAPÍTULO 3: IVA - ISENÇÕES
B) Integração
i) Resultado obtido com manutenção do preço de venda (sem IVA) = 550.000 – (100.000
+ 300.000 + 15.000) = 135.000 (↑ Resultado = 15.000)
ii) Resultado obtido reduzindo o preço de venda (sem IVA) das lojas em 2.500 cada
uma = 537.500 – (100.000 + 300.000 + 15.000) = 122.500 (↑ Resultado = 2.5000)
Se o prédio do nosso exemplo fosse um pequeno centro comercial com 10 lojas (ou um
armazém), o efeito da renúncia era mais notório, pois a totalidade do IVA suportado seria
dedutível no caso de haver renúncia em relação a todas as lojas. Neste caso, as hipóteses
integração/não integração não fariam qualquer sentido pois o resultado seria sempre o
mesmo (o IVA da mão-de-obra subcontratada é integralmente dedutível).
(158) Apenas é dedutível o IVA inerente às fracções a alienar com renúncia à isenção, daí a necessidade de
proceder ao rateio do IVA total suportado na obra às fracções. Conforme se refere no enunciado, por uma questão
2
de simplicidade, todas as fracções incorporam idêntico nível de custos por m , logo, a área afigura-se como um
indicador credível para a repartição do IVA às fracções. Repare-se que este rateio é importante não só para se
efectuar a repartição do IVA, como também dos custos inerentes à obra, o que se pode revelar útil em termos de
gestão para efeitos de fixação de preços. Neste caso, reparte-se o custo total da obra por fracções com base na
área e noutros indicadores objectivos (geralmente as lojas têm um nível de imputação de custos inferior aos
apartamentos daí a necessidade de outros indicadores), podendo chegar-se a um preço de custo por fracção ou
2
por m . Geralmente a IT recorre a testes deste tipo, confrontando o preço de custo das fracções com o respectivo
preço de venda (valor da escritura), chegando-se por vezes a situações dramáticas em que o valor de venda
escriturado de uma determinada fracção é inferior aos custos que lhe são imputados.
133
Impostos sobre a Despesa
CAPÍTULO 3: IVA - ISENÇÕES
Com este mecanismo permite-se, por exemplo, aos exportadores a recuperação do exacto
montante da carga tributária que foi efectivamente suportada pelos bens exportados, motivo
pelo qual tais operadores são normalmente credores de IVA perante o Estado, implicando os
consequentes reembolsos de IVA (159).
Trata-se de situações excepcionais pois, em princípio, só confere direito à dedução o imposto
suportado pelo SP nas aquisições de bens e serviços destinados à realização de operações
(TB e PS) sujeitas a imposto e dele não isentas, tal como consta do art. 20º, n.º 1, al. a).
Contudo, esse direito também é permitido quando os SP’s realizem determinadas operações
que, para este efeito, são assimiladas a operações tributáveis à taxa zero, i.e., as isenções
completas, designadamente as TB e PS que, nos termos da al. b) do n.º 1 do art. 20º,
consistam em:
(159) Uma nota relativamente aos reembolsos de IVA solicitados pelos operadores que praticam maioritariamente
operações isentas com direito à dedução, os quais podem beneficiar de reembolsos a 30 dias (a contar da
recepção da DP) no caso daquelas operações representarem mais de 75% do volume de negócios do respectivo
período (mensal ou trimestral), conforme o estipulado no n.º 5 do Despacho Normativo n.º 53/2005, de 15/12,
desde que cumpridos os formalismos aí estabelecidos. Na prática os campos 7 e 8 da DP deverão representar
mais de 75% do total da base tributável excepto o campo 10 (C07 + C08 / C90 – C10 – C16 ≥ 75%). Note-se que
em condições normais os reembolsos de IVA serão efectuados até ao fim do 3º mês seguinte ao da apresentação
do pedido (n.º 8, art. 22º), o qual deverá ser formulado assinalando o C95 da DP.
160
( ) Trata-se, por exemplo, daquelas operações que, de acordo com as regras de localização constantes do art. 6º,
não se consideram localizadas no território nacional e que, como tal, não estão sujeitas a IVA, facto que não impede
o exercício do direito à dedução por parte do operador a actuar nestas circunstâncias.
161
( ) Isenções de Imposto de Transacções (IT) e de Impostos sobre a Venda de Veículos Automóveis (IVVA) –
impostos já abolidos, previstas em acordos internacionais.
134
Impostos sobre a Despesa
CAPÍTULO 3: IVA - ISENÇÕES
135
Impostos sobre a Despesa
CAPÍTULO 3: IVA - ISENÇÕES
162
( ) Esta alínea isenta as TB expedidos ou transportados para fora da CE pelo vendedor ou por um terceiro por
conta deste. São sem dúvida as situações mais frequentes (as exportações propriamente ditas), aplicando-se a
isenção quer se trate de vendas directas efectuadas pelo exportador ou de vendas realizadas por sua conta – tais
isenções devem ser comprovadas (art. 29º, n.º 8), neste caso, através do Documento Administrativo Único,
conhecido pela sigla ‘DU’ emitido pela DGAIEC, o qual deverá ser arquivado junto à factura relativa à exportação.
(163) Esta alínea exclui expressamente os bens destinados ao equipamento ou abastecimento de meios de
transporte de uso privado e os bens transportados nas bagagens pessoais dos viajantes residentes na CE
(tributação na origem – B2C). Incluem-se nesta rubrica as chamadas ‘exportações turísticas’ que permitem a
concessão da isenção a certas vendas sem carácter comercial (para fins privados) efectuadas a residentes em
países terceiros, de bens que se destinem a ser transportados para fora do território nacional na sua bagagem
pessoal – ver DL n.º 295/87, de 31/07, ponto 3.5.
164
( ) Têm também aqui enquadramento certas operações entre SP’s, como por exemplo o caso duma exportação
de uma empresa portuguesa (A) para uma empresa americana (B) em que a mercadoria é entregue pelo A, por
ordem do B, junto de outro operador (C), para que este proceda a um complemento de fabrico. Neste caso,
embora A não exporte directamente, a factura que emite ao B será isenta de IVA ao abrigo da al. b), do n.º 1 do
art. 14º. Porém, o A terá que provar que a mercadoria vai ser exportada, que é o caso. Se fosse o A a proceder à
exportação não haveria problema pois este teria o ‘DU’ emitido em seu nome, aplicando-se a isenção prevista na
al. a) referida anteriormente. Uma vez que é o C a efectuar os procedimentos alfandegários inerentes à
exportação, será este que terá que facultar a prova ao A, pois este apenas terá a guia de remessa comprovativa
da entrega da mercadoria ao C. A empresa A deverá obter do C uma declaração de responsabilidade, na qual
este se compromete a enviar as mercadorias para os EUA após a execução dos serviços. Posteriormente o C
deve enviar ao A um certificado de exportação e/ou uma fotocópia do bilhete de exportação (n.º 8 do art. 29º -
comprovação do destino dos bens). Relativamente ao serviço prestado pelo C, estará isento pela al. c) do n.º 1 do
art. 14º.
165
( ) No âmbito das relações diplomáticas e consulares a que se refere a alínea l), o Decreto-Lei n.º 143/89, de 16
de Junho, prevê, em termos amplos, a restituição do IVA suportado pelas embaixadas e consulados e, em termos
mais restritos, do IVA suportado pelos seus funcionários não nacionais. Por outro lado, o art. 3º do Decreto-Lei n.º
185/86, de 14 de Julho, estabelece as condições para a concessão desta isenção, determinando que a isenção
opera por via do reembolso, o que significa a obrigatoriedade de liquidação do IVA pelos fornecedores de bens ou
serviços aquelas entidades, que posteriormente serão ressarcidos do imposto suportado mediante pedido de
reembolso especial a efectuar em impresso próprio. A al. m) isenta as TB e PS destinadas a organismos
internacionais reconhecidos por Portugal.
166
( ) Nestes casos é necessário o reconhecimento prévio da isenção.
167
( ) Trata-se de uma isenção que opera por via do reembolso nos moldes definidos pelo Decreto-Lei n.º 113/90,
de 5 de Abril.
136
Impostos sobre a Despesa
CAPÍTULO 3: IVA - ISENÇÕES
(168) Estes trabalhos, de aperfeiçoamento activo, que incluem reparações, manutenções, trabalhos a feitio, etc.,
são efectuados sobre bens móveis que tenham sido adquiridos ou importados com o objectivo de serem
submetidos a tais trabalhos no território nacional e, em seguida, após a execução dos mesmos, serem expedidos
ou transportados para fora da Comunidade pelo prestador, pelo seu destinatário estabelecido no estrangeiro ou,
ainda, por um terceiro em nome e por conta de qualquer deles. A tributação destes serviços irá ocorrer no país de
destino ao abrigo de uma norma com alcance idêntico ao n.º 5 do art. 17º (aperfeiçoamento passivo). Esta isenção
não é aplicável aos trabalhos efectuados sobre meios de transporte na sequência de uma avaria, acidente, etc..
No exemplo apresentado na nota 164, a empresa C prestou serviços isentos ao abrigo desta alínea do art. 14º.
169
( ) A estas isenções aplicam-se os mesmos princípios já referidos para as TB.
170
( ) Ou com o regime de trânsito comunitário externo, ou com o procedimento de trânsito comunitário interno, ou
ainda com a importação temporária de bens destinados a um dos regimes ou locais a que se refere o n.º 1 do art.
15º. Os serviços acessórios de transporte incluem, a título de exemplo: as cargas e descargas, as operações
portuárias e aeroportuárias, o aluguer de contentores e dos materiais necessários à protecção das mercadorias, a
armazenagem, o acondicionamento e embalagem das mercadorias exportadas, as operações efectuadas pelos
despachantes oficiais, etc.. Trata-se essencialmente das operações efectuadas pelos transitários, cujos serviços
efectuados neste âmbito (exportações, etc.), se encontram isentos ao abrigo desta alínea.
(171) Trata-se de serviços (transportes, operações acessórias do transporte, comissões) relacionados com TIB
isentas pelo art. 14º do RITI, sendo que a isenção se justifica porque face às regras de localização do art. 6º tais
serviços estão sujeitos a IVA em Portugal pois o adquirente dos serviços é SP de IVA cá registado. Se o
adquirente dos serviços for um SP de IVA noutro EM não haverá sujeição a IVA nos termos do art. 6º. Incluem-se
nesta alínea os serviços prestados por comissionistas (intermediários), no âmbito de TIB.
172
( ) A estas isenções aplicam-se os mesmos princípios já referidos a propósito das TB.
137
Impostos sobre a Despesa
CAPÍTULO 3: IVA - ISENÇÕES
Note-se que algumas destas isenções referidas no artigo 14º, devem ser comprovadas
através de documentos alfandegários apropriados ou de declarações emitidas pelos
adquirentes dos bens ou dos serviços, indicando o destino que a eles será dado (art. 29º, n.º
8). A falta daqueles documentos ou declarações implica que o transmitente ou prestador de
serviços seja obrigado a liquidar o imposto correspondente (art. 29º, n.º 9).
(173) Esta isenção bem como a consignada na alínea d) não se aplica às operações aí referidas quando se
destinem ou respeitem a barcos desportivos ou de recreio, nos termos do n.º 5 do art. 14º (aditado pelo OE para
2002). Esta isenção abrange as transmissões dos objectos, incluindo o equipamento de pesca, incorporados nos
barcos e aviões (neste caso, aplicar-se-á a al. g) do mesmo artigo).
174
( ) Segundo o n.º 3 do artigo 14º, consideram-se para este efeito bens de abastecimento aqueles que se
destinem ao consumo da tripulação e dos passageiros, os combustíveis e outros produtos destinados ao
funcionamento de máquinas e aparelhos instalados a bordo e os produtos acessórios destinados à preparação,
tratamento e conservação das mercadorias transportadas a bordo.
175
( ) Trata-se neste caso essencialmente de operações portuárias e aeroportuárias
138
Impostos sobre a Despesa
CAPÍTULO 3: IVA - ISENÇÕES
176
( ) Esta isenção traduz o princípio geral da não discriminação das importações. Objectivamente incluem-se aqui
os seguintes bens importados: órgãos, sangue e leite humanos (n.º 4, art. 9º), obras literárias (n.º 17, art. 9º) e as
divisas (n.º 27, art. 9º). As importações de embarcações, aeronaves e objectos nelas incorporados estariam aqui
incluídos não fosse a sua menção expressa nas duas alíneas seguintes do n.º 1 do art. 13º.
(177) Face ao conceito de importação previsto no art. 5º, na ausência desta isenção, estes bens seriam objecto de
tributação pelo simples facto de terem atravessado os limites territoriais de Portugal. De referir que esta disposição
não se aplica nos casos previstos no n.º 3 do art. 13º, designadamente, aos combustíveis encontrados fora dos
depósitos normais e às provisões de bordo de embarcações específicas (barcos que se destinem a ser
desmantelados ou utilizados fora dos seus fins específicos, hotéis, restaurantes e casinos flutuantes, barcos de
pesca costeira, etc.). O n.º 3 do art. 14º define o que se entende por bens de abastecimento para efeitos de IVA.
178
( ) Uma nota relativamente ao facto do IVA correspondente às vendas de peixe, crustáceos e moluscos
efectuadas pelas lotas, ser por estas entregue ao Estado em substituição dos pescadores ou armadores, por
conta de quem tais vendas são efectuadas, em conformidade com o regime particular previsto no DL n.º 122/88 de
20/04. De referir ainda que tal regime específico, aplicável às vendas de pescado nas lotas, não prejudica o direito
à dedução por parte dos pescadores ou armadores, uma vez que, embora não liquidem IVA directamente, o
Estado recebe o imposto das lotas, não ficando por isso prejudicada a economia de imposto.
179
( ) Tais isenções, porventura as mais importantes do art. 13º, são verdadeiras isenções completas, conforme se
referiu na nota 1, uma vez que os prestadores não liquidam IVA a jusante podendo deduzir o IVA suportado a
montante – art. 20º, n.º 1, al. b), subal. III). Nestes casos, o IVA destes serviços faz parte do valor tributável das
importações, sendo o IVA liquidado pela DGAIEC (art. 17º), pelo que o prestador irá facturar os seus serviços sem
IVA (C08 da DP).
139
Impostos sobre a Despesa
CAPÍTULO 3: IVA - ISENÇÕES
De acordo com as várias alíneas do n.º 2 do art. 13º estão ainda isentas de imposto as
importações de bens efectuadas no âmbito das relações internacionais, diplomáticas e
consulares. Assim, estão isentas de IVA:
140
Impostos sobre a Despesa
CAPÍTULO 3: IVA - ISENÇÕES
As isenções referidas anteriormente, previstas nas als. b), c), d) e e) do n.º 1, n.º 8 e n.º 10 do
art. 15º, são também isenções completas uma vez que os operadores que pratiquem as
operações aí mencionadas não liquidam IVA a jusante sem que isso afecte o seu direito à
dedução do imposto suportado a montante (subal. IV), al. b), n.º 1, art. 20º)
(182) As transmissões (e as importações) de bens colocados em regime de entreposto não aduaneiro (regime
aplicável a bens sujeitos a IEC’s e bens constantes do anexo C do CIVA – n.º 4 do art. 15º) são isentas de IVA
nos termos do art. 15º, verificando-se uma situação de suspensão de imposto enquanto os bens se encontrarem
nesse regime. Segundo o n.º 6 do art. 15º o imposto será devido e exigível à saída dos bens desse regime,
devendo o valor tributável incluir o valor das operações isentas eventualmente realizadas enquanto os bens se
mantiveram naquele regime.
183
( ) Note-se que em IVA tributam-se as TB gratuitas conforme refere expressamente a al. f), n.º 3 do art. 3º,
quando tenha havido prévia dedução de imposto. A redacção daquele articulado foi dada pela Lei 64-A/2008, de
31 de Dezembro (OE para 2009). A anterior redacção circunscrevia aquela isenção completa à transmissão de
bens alimentares.
141
Impostos sobre a Despesa
CAPÍTULO 3: IVA - ISENÇÕES
Para além das isenções referidas no CIVA, existem outras previstas em legislação avulsa que
resumidamente se passam a descrever:
• Importação definitiva de certos bens com franquia de direitos aduaneiros (Decreto-Lei n.º
31/89, de 25 de Janeiro) (185);
(184) Este DL veio regulamentar a isenção consignada no art. 14º, n.º 1, al. b), a qual, conforme se referiu
anteriormente, é aplicável às chamadas ‘exportações turísticas’ permitindo-se a concessão de isenção a certas
vendas sem carácter comercial (para fins privados) efectuadas a residentes em países terceiros, de bens que se
destinem a ser transportados para fora do território nacional na sua bagagem pessoal. Nestes casos, o vendedor
deve assegurar-se de que o adquirente é alguém residente num país terceiro (através do passaporte ou outro
documento de identificação), não devendo liquidar IVA por essa operação em virtude desta isenção – C08 da DP. O
valor das compras em cada estabelecimento deverá ser superior a 49,88 euros, líquido de IVA, sendo que o
vendedor poderá/deverá exigir o IVA do adquirente a título de caução, contabilizando-o numa conta de terceiros, uma
vez que para que a isenção seja válida é necessário que o vendedor posteriormente receba o original da factura que
previamente havia emitido com a devida confirmação da estância aduaneira de saída o território da CE. Se passados
150 dias após a transmissão o vendedor não tiver na sua posse o original da factura devidamente confirmado, deverá
liquidar o imposto (regularizações – C41 da DP). Recebido o documento referido anteriormente devidamente
validado, o vendedor deverá no prazo de 15 dias devolver o imposto cobrado a título de caução ao adquirente.
Embora a responsabilidade de devolução do imposto incumba ao vendedor, é frequente os intervenientes recorrerem
aos serviços da empresa ‘TAX-FREE’, especializada nestas situações, a qual tratará de todo o processo de
restituição de IVA cobrando um comissão por tais serviços. Relativamente às vendas efectuadas em balcões de
venda no interior de portos e aeroportos, refira-se que se o destino for o território nacional ou outro EM deverá ser
liquidado IVA, apenas não sendo liquidado imposto no caso dos adquirentes terem como destino um país terceiro,
desde que façam prova no acto da compra com os respectivos cartões de embarque. Finalmente, quanto às vendas
efectuadas a bordo de aviões e navios há uma isenção quando o transporte se destine a um país terceiro, devendo
aplicar-se o disposto no n.º 3 do art. 6º no caso de transporte intracomunitário de passageiros. Neste último caso, há
sujeição quando o transporte tenha tido o seu início no território nacional, devendo ser liquidado IVA por tais vendas,
e não sujeição no caso do transporte ter tido o seu início noutro EM, conforme estipula o n.º 3 do art. 6º.
185
( ) Trata-se da transposição da Directiva n.º 83/181/CEE. Nas condições e limites (actualizados pelo art.º 117.º
da Lei do OE 2009) previstos neste DL isentam-se os bens importados com franquia de direitos aduaneiros, tais
como bens pessoais por transferência de residência, casamento, heranças, enxovais, material escolar e outros de
estudantes, animais de estimação e de laboratório, bens de investimento (equipamentos) destinados a serem
utilizados em actividades no território nacional, produtos farmacêuticos para consumo, amostras de produtos e
publicidade utilizadas na promoção de produtos, documentação variada, presentes recebidos no âmbito das
relações diplomáticas, bens destinados ao uso de chefes de Estado, etc.. Está prevista também a isenção nas
importações de objectos de colecção e de obras de arte que não se destinem a venda, adquiridos a título gratuito,
desde que efectuadas por determinadas entidades públicas ou privadas sem fins lucrativos – de referir que as
importações de objectos de arte se encontram normalmente sujeitas a IVA à taxa de 5%, conforme o disposto no
n.º 2 do art. 18º.
142
Impostos sobre a Despesa
CAPÍTULO 3: IVA - ISENÇÕES
(186) Na sequência da Directiva n.º 2007/74/CE, do Conselho, de 20 Dezembro, o Orçamento do Estado para
2009, que a transpôs para a ordem jurídica interna, revogou o Decreto-Lei n.º 179/88, de 19 de Maio, que
regulamentava esta matéria.
(187) A isenção (completa) relativa a vendas de mercadorias efectuadas a exportadores nacionais (de valor
superior a 1000 €, conforme redacção dada pela Lei do OE/2009), traduz-se num sistema excepcional de
suspensão de liquidação de imposto relativamente a mercadorias que não são entregues directamente aos
exportadores, uma vez que para estarem abrangidas devem ser entregues directamente pelo vendedor no porto
ou aeroporto de embarque ou num armazém de exportação, ou ainda noutras circunstâncias sob fiscalização
aduaneira. Tais mercadorias devem ser remetidas no mesmo estado para exportação no prazo de 60 dias a contar
da data de aceitação da declaração aduaneira. O vendedor deve estar na posse de um certificado comprovativo
da exportação emitido pelo exportador e visado pelos serviços aduaneiros (DGAIEC) no prazo de 60 dias. Se findo
esse prazo o vendedor não tiver na sua posse o referido certificado deverá liquidar o respectivo IVA, debitando-o
ao exportador. O exportador (empresa de trading) apenas pode dar destino diferente da exportação às
mercadorias após estar na posse da factura do fornecedor com liquidação de IVA. Se não houver confiança entre
as partes, o vendedor poderá exigir do exportador o IVA a título de caução e depois devolve-lo se receber
atempadamente o certificado. Este regime é excepcional exactamente porque, em geral, nas vendas efectuadas
aos exportadores é liquidado IVA, o qual é por estes dedutível beneficiando dos respectivos reembolsos de IVA.
Estas operações são vulgares quando se pretende vender para mercados instáveis como é o caso de Angola, em
que normalmente há um intermediário conhecedor de tais mercados, no caso, as empresas de trading. Esta
isenção não é aplicável no âmbito de TIB pois tal não está previsto na lei, aliás, nestes casos, não existe
intervenção das autoridades alfandegárias.
143
Imposto sobre a Despesa
CAPÍTULO 4: IVA – VALOR TRIBUTÁVEL
CAPÍTULO 4
IVA – VALOR TRIBUTÁVEL
ÍNDICE
4.VALOR TRIBUTÁVEL
144
Imposto sobre a Despesa
CAPÍTULO 4: IVA – VALOR TRIBUTÁVEL
4. VALOR TRIBUTÁVEL
O Valor Tributável (VT) é o valor sobre o qual o SP deve aplicar a taxa, de forma a liquidar o
IVA devido em cada operação tributável que efectua ( 188), salvo no caso de operações isentas
ou não sujeitas a IVA em que sobre este valor não irá incidir qualquer taxa, o que não invalida
que o mesmo seja correctamente determinado e mencionado nas facturas ou documentos
equivalentes a emitir.
Note-se, no entanto, que o conceito de VT num sistema de IVA baseado no método do crédito
de imposto, não tem o significado que normalmente lhe é atribuído em sede de outros
impostos, uma vez que o imposto devido não resulta directamente da aplicação da taxa a este
valor (esta operação proporciona sim o valor do imposto a suportar pelo cliente em cada
transacção), mas da diferença entre o resultado dessa operação, relativamente à totalidade
das vendas de bens e serviços num determinado período, e o montante do imposto suportado
(dedutível) nas aquisições de bens e serviços nesse mesmo período.
188
( ) Tal liquidação de IVA (aplicação da taxa ao valor tributável) poderá ter subjacente não só operações activas
praticadas, tais como vendas e serviços prestados, como também operações tributáveis passivas como é o caso
do IVA liquidado nas AIB ou o caso de certas operações em que se verifica o ‘reverse charge’ – IVA liquidado pelo
adquirente. Poderá também ter subjacente algumas situações mais anormais (operações gratuitas e auto-
consumos), casos em que terá também que ser correctamente determinado o VT com vista à respectiva liquidação
do IVA. Uma nota relativamente às Importações em que a operação de liquidação de imposto é efectuada pelos
serviços alfandegários (DGAIEC), sendo o respectivo valor tributável determinado de acordo com o art. 17º,
conforme se refere mais adiante no ponto 4.2.
189
( ) Entende-se por contraprestação o valor total obtido ou a obter como contrapartida da entrega dos bens ou da
prestação de serviços. A prestação é constituída pela entrega do bem ou pela prestação de serviço; a
contraprestação é tudo o que se entrega como contrapartida da prestação recebida.
145
Imposto sobre a Despesa
CAPÍTULO 4: IVA – VALOR TRIBUTÁVEL
190
( ) Tal legislação especial a que alude a al. f) do n.º 2 e o n.º 8 do art. 16º será estudada mais adiante, tratando-
se do ‘regime particular da margem’ previsto no DL n.º 199/96, de 18 de Outubro, que abrange os bens em 2ª mão,
os objectos de arte e de colecção e as antiguidades.
191
( ) Tal como se referiu anteriormente (Cap. 2), esta alínea foi aditada pela Lei do OE para 1995, pois até aí as
locadoras não liquidavam IVA pela componente relativa aos juros, ao abrigo da 1ª parte da alínea a) do n.º 6 do art. 16º.
146
Imposto sobre a Despesa
CAPÍTULO 4: IVA – VALOR TRIBUTÁVEL
Para a correcta determinação do VT terão ainda que se ter em conta os casos em que a
contraprestação não seja constituída, no todo ou em parte, por dinheiro, situação em que ao
montante recebido acrescerá o valor normal dos bens ou serviços dados em troca, conforme
se refere no art. 16º, n.º 3 – Exemplo: No caso da transmissão de um automóvel novo (por
5.000) com retoma de um usado (avaliado em 1.000), o VT relativo à viatura nova é o valor
recebido do adquirente adicionado do valor atribuído à retoma (ou seja, 5.000 ( 192)).
No parágrafo anterior, bem como nas anteriores alíneas c) e g), o legislador utiliza a
expressão ‘valor normal’ de bens e serviços, daí que no n.º 4 do art. 16º se estabeleça esse
conceito, considerando-se, pela alínea a) do n.º 4 do art. 16º, valor normal de um bem ou
serviço, o preço acrescido dos elementos constantes no n.º 5 do art. 16º, quando nele não
estejam incluídos, que um adquirente ou destinatário teria de pagar a um fornecedor ou
prestador independente para obter o bem ou serviço similar, em condições normais de
concorrência, no tempo, lugar e circunstâncias em que a operação é efectuada.
De acordo com a alínea b) do mesmo número, na falta de um bem similar, o valor normal não
pode ser inferior ao preço de aquisição ou de custo; na falta de um serviço similar, o valor
normal não pode ser inferior ao custo suportado na execução do serviço, conforme decorre da
alínea c) do n.º 4 do art. 16º.
De acordo com o art. 16º, n.º 5, o VT das operações sujeitas a imposto deverá incluir:
• Impostos (Imposto sobre veículos ( 193) e IEC’s), direitos, taxas e outras imposições,
excluindo o próprio IVA (194);
(192) O VT de € 5.000,00 é, neste caso, constituído por uma parte em espécie (a viatura retomada, por € 1.000,00)
e outra parte que o adquirente pagará em dinheiro (€ 4.000,00).
193
( ) Recentemente a legislação portuguesa alterou-se substituindo o Imposto Automóvel (IA) por outro – o Imposto
sobre Veículos (ISV) (Lei n.º 22 - A/2007, de 29 de Junho). Tem sido por várias vezes discutida entre nós a
inclusão do IA/ISV no VT das operações para efeitos de liquidação do IVA.
Conforme esta disposição legal, o valor tributável que serve para determinar o IVA a liquidar não exclui o IA/ISV.
Donde, ilegal terá de ser qualquer posição que contraria a nossa lei, a qual assentou nas Directivas Comunitárias.
Na verdade, no artigo 78.º da Directiva IVA (2006/112/CE) impõe-se que o valor tributável inclua os impostos,
direitos aduaneiros, taxas e demais encargos, com excepção do próprio IVA. O disposto na lei fiscal portuguesa (o
citado art.º 16.º, n.º 5, al. a) e também o art.º 17.º, n.º 2, al. a) do Código do IVA) é reprodução do preceituado na
Directiva.
Sobre esta matéria ocorreu, entretanto, apreciação do TJCE (Tribunal de Justiça das Comunidades Europeias)
discordando de prática fiscal da Dinamarca a este respeito. E a Comissão Europeia, ponderando essa decisão,
instruiu no sentido de se rever o assunto em Portugal. As objecções à posição da administração fiscal em
comentário assentam especialmente no facto de o imposto automóvel respeitar ao registo ou matrícula da viatura
em nome do comprador, formalismo este revelador de que o IA/ISV é encargo do comprador e que a sua exigência
prévia ao vendedor é ilógica, obrigando a que o pague e o integre depois nos seus custos e, em seguida, nos seus
proveitos e preços de venda. Seria, pois, normal o IA/ISV aparecer logo em nome do comprador ou a ele
directamente debitado. Então, a tributação do IA/ISV em IVA não se colocaria. E até se admite que melhor seria
assim. Porém, não o sendo, há que atentar no brocado jurídico dura lex sed lex, que os juristas não podem deixar
de ter presente.
(194) A não inclusão do IVA na contraprestação deverá entender-se como referindo-se ao IVA liquidado na
correspondente prestação, mas não no que diz respeito ao IVA que tivesse incidido sobre os factores utilizadores
para realizar a prestação, cujo montante se transporta para o destinatário.
147
Imposto sobre a Despesa
CAPÍTULO 4: IVA – VALOR TRIBUTÁVEL
(195) O valor tributável das PS deverá incluir as despesas acessórias debitadas efectuadas por conta do cliente,
conforme dispõe a al. b) do n.º 5 do art. 16º. Contrariamente, deverão ser excluídos do valor tributável, nos termos
da al. c), do n.º 6 do art. 16º, as quantias pagas em nome e por conta do destinatário dos serviços (adquirente),
registadas pelo contribuinte em contas de terceiros apropriadas. Assim, relativamente ao 1º tipo de despesas e de
acordo com o prescrito nas als. b) e c) do n.º 5 do art. 36º, deverão os SP’s proceder à correcta discriminação dos
serviços prestados e dos bens transmitidos, pelo que na factura ou documento equivalente a emitir deverão ser
inscritas separadamente as quantias recebidas a título de despesas debitadas ao cliente (transportes, comissões,
publicidade, comunicações, etc.), as quais também se encontram sujeitas a imposto sendo consideradas PS face à
natureza residual do conceito, fazendo assim parte da contraprestação obtida ou a obter do adquirente – art. 16º,
n.º 5, al. b) (se se tratar de despesas não sujeitas, isentas ou sujeitas a taxa reduzida, o débito ao cliente poderá
ter idêntico tratamento desde que haja a necessária discriminação na factura; tratando-se de portes os mesmos
estarão sujeitos a IVA, o mesmo já não acontecendo se o débito se referir a selos de correio em virtude da isenção
prevista no n.º 24 do art. 9º). Hipoteticamente, no caso das despesas serem efectuadas em nome próprio mas por
conta do cliente, se o débito ao cliente corresponder de facto a despesas realizadas e for efectuado a preço de
custo/aquisição, teremos que o IVA liquidado será idêntico ao IVA dedutível, isto se, claro, o IVA for dedutível, o
que se verifica de facto, mesmo nos casos das despesas excluídas do direito à dedução, conforme dispõe o n.º 2,
al. c) do art. 21º (exemplo: débito relativo ao aluguer de uma viatura de turismo – deverá ser liquidado IVA ao
cliente pelo débito desta despesa, IVA esse que é dedutível; o cliente naturalmente que não poderá deduzir o
imposto dessa despesa que lhe é debitada face ao disposto na al. a) do n.º 1 do art. 21º). Apenas nos casos de
despesas em nome e por conta do cliente, não será exigível o respectivo IVA, uma vez que nestas situações o
documento comprovativo da despesa estará emitido em nome do cliente, não sendo contabilizado como custo,
nem podendo ser deduzido o respectivo IVA por parte do SP (n.º 2 do art. 20º do CIVA). Tais documentos deverão
ser contabilizados em contas de terceiros, que não influenciam os resultados, devendo ser entregues
posteriormente ao cliente para que proceda à sua contabilização e eventual dedução do IVA. A referência expressa
no recibo ou factura de que se trata de despesas em nome e por conta do cliente, é considerada condição
essencial para a não liquidação de IVA, pelo que a não indicação de uma referência deste tipo implicará a
exigência do imposto. Os originais dos documentos comprovativos das despesas devem ser entregues ao cliente,
devendo ser arquivada fotocópia dos mesmos para comprovar que se trata efectivamente de despesas desta
natureza. Finalmente, refira-se que no caso de adiantamentos para fazer face a despesas em nome e por conta do
cliente, estarão também fora do campo de incidência, não sendo objecto de tributação, devendo o documento a
emitir mencionar que se trata de adiantamentos deste tipo, adoptando-se procedimentos que permitam comprovar
isso mesmo, designadamente, o procedimento proposto anteriormente.
(196) Para que um subsídio fique abrangido pela incidência do IVA é necessário que integre o conceito de
contrapartida de um fornecimento de um bem ou de um serviço, ou seja, em princípio o subsídio deve ser pago à
entidade subsidiada (subvencionada) para que esta forneça determinados bens ou preste determinados serviços a
um preço mais reduzido, compensando-se essa redução nos preços. Encontram-se aqui incluídos os subsídios
comunitários à agricultura (leite, tomate, etc.), mas, neste caso, como a actividade é isenta não haverá tributação,
mesmo no caso de renúncia à isenção, por uma questão de eventuais distorções de concorrência que poderiam
ser provocadas em prejuízo dos agricultores não isentos (sabendo-se também que, por exemplo, a Espanha e a
França não tributam tais subsídios o que agravaria as distorções num contexto internacional) - o facto dos
subsídios não estarem sujeitos a IVA não influencia o direito à dedução. Um exemplo de subvenções agrícolas
tributadas, conforme o Despacho n.º 22621/01, de 08 de Novembro, são as ajudas à transformação de forragens
secas, as quais são atribuídas em função das quantidades transmitidas e são fixadas antes da realização das
vendas, tratando-se dos únicos subsídios agrícolas conhecidos tributados em IVA. Relativamente aos subsídios
atribuídos com vista à formação profissional, cuja actividade também se encontra isenta (desde que reconhecida,
presumindo-se esse reconhecimento, mesmo no caso de empresas que não se dediquem a esta actividade a título
principal, quando os subsídios são constituídos por fundos da CE), também não serão tributados, mas, neste caso,
se houver renúncia, terá que haver liquidação de IVA, situação que reduz o subsídio na parte correspondente ao
IVA. Encontram-se excluídos os subsídios à exploração os quais se consideram subvenções não tributadas, pois
não são atribuídos nas condições mencionadas na al. c) do n.º 5 do art. 16º. Relativamente aos subsídios de
equipamento não são tributáveis, pois não são enquadráveis no n.º 5 do art. 16º, nem têm quaisquer implicações
ao nível do direito à dedução conforme estipula o n.º 4 do art. 23º. Finalmente, relativamente aos subsídios para a
criação de postos de trabalho, também se trata de subsídios não tributados (não se relacionam com os preços,
nem com quantidades).
148
Imposto sobre a Despesa
CAPÍTULO 4: IVA – VALOR TRIBUTÁVEL
Por outro lado, não fazem parte do valor tributável (art. 16º, n.º 6):
• Os juros devidos pelo diferimento do pagamento da contraprestação (198);
• As quantias recebidas como indemnização declarada judicialmente por incumprimento
total ou parcial de obrigações ( 199);
197
( ) Refira-se que o n.º 7 do art. 16º (revogado com a Lei do OE para 2008, Lei n.º 67-A/2007, de 31/12) permitia,
por opção dos SP’s, a tributação dos subsídios não tributados, retirando o IVA de dentro dos montantes recebidos
– tal solução não se revelava uma boa opção pois o valor da subvenção era reduzido com a parcela de IVA a
entregar ao Estado, embora este procedimento permitisse evitar as limitações no direito à dedução, uma vez que,
nos termos do art. 23º n.º 4, no cálculo do pro rata, devem ser considerados no denominador da fracção as
subvenções não tributadas, excepto os subsídios ao equipamento.
No entanto, o entendimento da AF, conforme resulta do Relatório do Grupo de Trabalho “A dedução do IVA pelos
sujeitos passivos que exercem actividades que conferem direito à dedução e actividades que não conferem esse
direito”, é que «a possibilidade de limitar o direito à dedução dos sujeitos passivos que aufiram subvenções não
tributadas limita-se àqueles que pratiquem operações que não conferem direito à dedução a par de operações que
conferem esse direito [ou seja, os sujeitos passivos mistos], não podendo ser aplicada aos sujeitos passivos que
pratiquem exclusivamente operações que permitam deduzir o IVA». Ou seja, quanto aos “subsídios não
directamente ligados com o preço”, i.e., não tributados, a sua inclusão no pro rata respeita unicamente a SP
mistos, não se aplicando aos SP integrais, não podendo limitar o direito à dedução do IVA por estes.
Como tal, o n.º 7 do art. 16º justificava-se como forma de um SP integral evitar a aplicação do pro rata aos
restantes inputs da sua actividade, tributando o subsídio, o que, com a recente alteração do art. 23º, deixa de fazer
sentido. A opção poderia fazer sentido no caso de SP com direito a dedução integral, beneficiários de subsídios.
Feita a opção o IVA era retirado dos montantes recebidos, reduzindo por isso o valor do subsídio. Em
contrapartida, evitava-se entrar em situações de dedução parcial por força da inclusão dos subsídios no
denominador da fracção do pro rata. A revogação do n.º 7 está relacionada com a nova interpretação dada ao
artigo 23º, n.º 4, no sentido de que o mesmo (fórmula de cálculo do pro rata) apenas é aplicável aos SP mistos (e
apenas quando não for possível a afectação real, que passa a ser o método regra). Conclui-se que os SP que não
são mistos e que sejam beneficiários de subsídios não tributados, não terão que fazer o cálculo, logo, não verão
restringido o seu direito à dedução (excepto, no nosso entendimento, quanto ao IVA suportado directamente
conexo com o subsídio, nos casos em que tal suceda, o que não é geralmente o caso).
(198) Normalmente o estado exige o IVA ‘à cabeça’ no momento da emissão da factura, pelo que em sede deste
imposto não faz sentido tributar os juros pelo pagamento diferido do preço acordado (excepto no leasing e ALD).
199
( ) Resulta da letra da lei, que as indemnizações declaradas judicialmente não são tributadas. Relativamente às
restantes indemnizações a regra é que só estarão sujeitas se tiverem subjacente uma TB ou uma PS, não sendo
tributáveis nos restantes casos. Porém, esta regra é susceptível de diferentes interpretações, o que gera dúvidas e
alguma controvérsia relativamente a esta questão. Tem sido entendimento da AF que as indemnizações pagas
pelas seguradoras não serão tributáveis, uma vez que não têm subjacente qualquer TB ou PS, tratando-se de
situações decorrentes de responsabilidade civil extracontratual e que não se destinam a remunerar qualquer
operação, antes se destinando simplesmente a reparar um dano. Relativamente às restantes indemnizações
existem de facto muitas dúvidas, pelo que as conclusões seguintes são formuladas com algumas reservas. Assim,
relativamente às indemnizações pagas pelo cliente ao fornecedor ou prestador, as mesmas estão sujeitas a IVA
devendo fornecedor liquidar IVA pela totalidade do valor da contraprestação recebida do cliente, incluindo pela
indemnização recebida, a qual se considera ter subjacente uma TB ou uma PS fazendo parte da contraprestação
obtida do adquirente. Por exemplo, penalidades contratuais por incumprimentos diversos a debitar pelo fornecedor
ao cliente, tais como, indemnizações por atrasos em empreitadas por culpa imputável ao cliente, ou porque o
cliente não disponibilizou os meios a que estava obrigado no âmbito de um qualquer contrato, ou porque se
atrasou a recolher um contentor com a mercadoria, etc.. Na realidade, caso estas situações não estivessem
sujeitas correr-se-ia o risco de parte da contraprestação ser afastada da incidência utilizando este subterfúgio. Na
generalidade das situações em que é o fornecedor/prestador a indemnizar o cliente, afigura-se-nos, salvo melhor
opinião, que tais indemnizações não estarão sujeitas a IVA porque não remuneram qualquer operação, pelo que o
cliente, pelo recebimento da indemnização, deverá emitir um documento sem IVA, uma vez que o mesmo não
estaria a prestar qualquer serviço ou a transmitir quaisquer bens, antes pelo contrário. Neste caso, as
indemnizações sancionam apenas a lesão de um interesse pois apenas se destinam a reparar um dano sofrido
pelo cliente (não remuneram qualquer operação) – poderão dar-se como exemplos as indemnizações pagas pelo
fornecedor/prestador ao seu cliente por atrasos na entrega dos bens (trabalho a feitio), as pagas pelos
transportadores por atrasos na entrega de mercadorias ou porque a mercadoria se deteriorou no transporte, etc..
Aliás, conforme consta da Informação n.º 1010, de 2000.01.20, da DSIVA, considera-se que as penalidades
contratuais que sancionam o atraso na execução de uma obrigação contratual, ou, em geral, a lesão de qualquer
interesse, não são tributáveis em IVA na medida em que não têm subjacente uma TB ou uma PS. Por último dá-se
149
Imposto sobre a Despesa
CAPÍTULO 4: IVA – VALOR TRIBUTÁVEL
um exemplo de uma indemnização tributável paga pelo transportador (prestador) ao cliente, que seria o caso das
mercadorias transportadas se terem extraviado (desaparecerem) – neste caso, o adquirente do transporte liquidará
IVA pela indemnização recebida do transportador, uma vez que se presume, face ao desaparecimento das
mercadorias, ter havido uma TB (este exemplo não contraria as conclusões acima mencionadas uma vez que se
trata de uma situação diferente em que existem dúvidas sobre o destino dado às mercadorias).
200
( ) No caso de vendas efectuadas através de cartões de crédito, a AF entende, de acordo com o OFC 101 845 de
29 de Setembro de 1989, que o VT da TB ou da PS é o valor efectivamente pago pelo cliente na compra de bens.
O valor cobrado pela entidade emissora dos cartões não assume a natureza de desconto, a excluir do VT, mas sim
a de comissão, a qual é isenta de IVA nos termos do n.º 28 do art. 9º. Nesta situação estão em causa duas
operações tributáveis: a venda de um bem, cujo preço é pago integralmente pelo consumidor; e o serviço prestado
ao comerciante pela entidade emissora de cartões de crédito, cujo preço é a comissão. A comissão não configura
desconto, abatimento ou bónus susceptível de exclusão do VT, na medida em que a comissão não recai sobre o
comprador, que paga a totalidade do preço.
201
( ) Tais descontos e abatimentos deverão ser abatidos ao preço base da transacção para efeitos de cálculo do
IVA. Se os descontos e abatimentos constarem fora da factura (notas de crédito), poderá regularizar-se o IVA
inerente, dentro dos condicionalismos referidos no n.º 5 do art. 71º, ou seja, exige-se a prova de que o adquirente
teve conhecimento da rectificação - neste caso, obtida a prova, o SP fornecedor fará uma regularização de IVA a
favor da empresa (C40 da DP), enquanto que o cliente fará uma regularização a favor do Estado (C41 da DP).
202
( ) Ver o exposto na nota 195.
203
( ) Vide art. 36º, n.º 5, al. b), 2ª parte.
150
Imposto sobre a Despesa
CAPÍTULO 4: IVA – VALOR TRIBUTÁVEL
Por outro lado, serão excluídos os descontos por pagamento antecipado e os restantes
descontos que figurem separadamente na factura (art. 17º, n.º 4).
O imposto devido nas importações será apurado por aplicação das taxas previstas no art. 18º
ao VT determinado conforme o exposto anteriormente, sendo que a sua liquidação (cálculo e
repercussão) é da competência da DGAIEC – tal imposto constará de um documento
204
( ) O IVA dos serviços de transporte, cargas, descargas, comissões, etc., faz parte do valor tributável das
importações com que se relacionam, daí os prestadores de serviços não liquidarem IVA nessas operações –
isenção do art. 13º, n.º 1, al. f).
205
( ) Entende-se como lugar de destino, aquele que seja documentalmente comprovado juntos dos serviços
aduaneiros ou, na sua falta, o lugar em que se efectua a primeira ruptura de carga no interior do país ou, se tal não
se verificar, o lugar da importação (art. 17º, n.º 3).
(206) Trata-se das operações relacionadas com bens colocados num regime de entreposto não aduaneiro,
entreposto aduaneiro, aperfeiçoamento activo, depósito provisório, zona franca ou entreposto franco (als. a) a e) do
n.º 1 do art. 15º). Tais operações são isentas de IVA, o que faz com que os bens estejam numa situação de
suspensão de imposto, devendo este ser liquidado no momento em que se dá a importação.
207
( ) Está aqui implícita uma situação de aperfeiçoamento passivo, dando-se a tributação no país de destino
apenas pelo valor do serviço efectuado no estrangeiro (reparações, aperfeiçoamentos ou complementos de
fabrico), no caso, em Portugal. Se, ao invés, no nosso país se desse o aperfeiçoamento activo (serviços
executados em Portugal), tais serviços não seriam tributados em Portugal (isenção do art. 14º, n.º 1, al. c) –
isenção no país de origem), sendo tributados no país de destino ao abrigo de uma norma com alcance idêntico ao
art. 17º, n.º 5.
151
Imposto sobre a Despesa
CAPÍTULO 4: IVA – VALOR TRIBUTÁVEL
designado por ‘IL’ que suportará a dedução do IVA (art. 19º, n.º 1, al. b) e n.º 2), mas apenas
quando o imposto já se encontrar pago (art. 28º, n.º 3).
Finalmente, tal como se referiu a propósito da incidência nas importações (Cap. 2, ponto
2.1.3.), trata-se de uma matéria de alguma complexidade e com uma relativa marginalidade
no contexto do IVA, pelo menos na parte que é da competência da DGCI.
De facto, nestas matérias relacionadas com importações (arts. 5º, 13º e 17º), exportações (art.
14º) e regimes de suspensão de imposto (art. 15º), deverão ter-se presentes todo um conjunto
de técnicas, procedimentos e outras questões de natureza muito específica, reguladas por
inúmera legislação aduaneira paralela ao CIVA.
152
Impostos sobre a Despesa
CAPÍTULO 5: IVA – TAXAS
CAPÍTULO 5
IVA – TAXAS
ÍNDICE
5.TAXAS
153
Impostos sobre a Despesa
CAPÍTULO 5: IVA – TAXAS
5. TAXAS
De acordo com a usualmente designada Directiva IVA das Taxas (Directiva n.º 92/77/CEE, do
Conselho de 14 de Dezembro de 1992), os EM podem ter duas taxas reduzidas do imposto,
variáveis entre 5% e 12% ( 208) e uma taxa normal, variável entre 15% e 25%.
As nossas taxas de IVA estão previstas no art. 18º, sendo distintas no Continente e nas Regiões
Autónomas (209).
De acordo com o n.º 1 do art. 18º, as taxas de imposto a aplicar às TB, PS, Importações e às
AIB ( 210) são as seguintes:
⇒ Uma taxa (especial) reduzida de 5%, aplicável aos bens e serviços constantes da Lista I
anexa ao CIVA, nomeadamente, aos bens alimentares essenciais (cereais, carne, peixe e
moluscos, leite e lacticínios, azeite, frutas e produtos hortícolas), água, refrigerantes,
produtos dietéticos, produtos farmacêuticos, electricidade, alojamento em hotéis,
transporte de passageiros, espectáculos e divertimentos públicos, algumas empreitadas,
livros, jornais e revistas, bens de produção da agricultura, etc. (211).
⇒ Uma taxa (especial) intermédia de 12%, que se aplica aos bens e serviços previstos na
Lista II anexa ao CIVA, designadamente a gorduras e óleos comestíveis, conservas de
carne, de peixe e de moluscos, fruta e frutos secos, café (em grão ou em pó), vinhos
comuns, águas minerais, flores e plantas, equipamentos agrícolas e serviços de
alimentação e bebidas.
⇒ Por último, uma taxa normal de 20% ( 212), aplicável a todos os bens (TB) e serviços (PS)
não abrangidos pela taxa reduzida ou intermédia, ou seja, àqueles que não constam das
Listas I e II.
(208) Os EM apenas podem aplicar as taxas reduzidas do imposto aos bens e serviços Constantes do Anexo IV da
nova Directiva iva (Directiva 2006/112/CE do Conselho, de 28 de Novembro de 2006).
(209) A possibilidade de aplicar taxas do IVA mais reduzidas nas Regiões Autónomas foi objecto de negociação
aquando da adesão de Portugal à então CEE, atendendo nomeadamente aos custos de insularidade. Este direito
foi consagrado, com inequívoco carácter de generalidade, no Tratado de Adesão da República Portuguesa à CEE
e foi expressamente consagrada na Sexta Directiva do IVA, com carácter definitivo, através da introdução de um
número 6 ao art. 12º. Foi então determinado que as taxas de IVA aplicáveis nestas Regiões poderiam ser 30%
mais baixas do que as aplicáveis no Continente.
210
( ) Conforme o disposto no art. 18º, n.º 1 do RITI.
211
( ) A taxa reduzida será também aplicável às Importações, AIB e às transmissões de objectos de arte previstas
no DL n.º 199/96, de 18 de Outubro, (ver ‘regime particular da margem’) – art. 18º, n.º 2.
(212) A taxa de 20% foi introduzida pela Lei n.º 26-A/2008, de 27/06, com entrada em vigor em 1 de Julho de 2008,
que alterou também a taxa normal em vigor nas Regiões Autónomas dos Açores e da Madeira, de 15% para 14%.
154
Impostos sobre a Despesa
CAPÍTULO 5: IVA – TAXAS
As taxas do IVA a aplicar nas operações que se considerem efectuadas nas Regiões
Autónomas dos Açores e da Madeira ( 213), são, respectivamente, 4%, 8% e 14%, conforme
estipula o art.º 18.º n.º 3 (214).
Por outro lado, a taxa a aplicar é a que vigora no momento em que o imposto se torna exigível
(arts. 7º e 8º), nos termos do art. 18º, n.º 9, tratando-se de uma norma muito importante
quando há alterações nas taxas ( 215).
• A taxa que corresponder às mercadorias ou, no caso de várias taxas, a mais elevada, se
as mercadorias que compõem a unidade de venda não sofrerem alterações nem
perderem a sua individualidade (216);
213
( ) Conforme o disposto no DL n.º 347/85, de 23 de Agosto, que remete para as regras de localização das
operações previstas no art. 6º.
(214) Taxas mais reduzidas que têm em vista atenuar os efeitos da insularidade, designadamente, para atenuar o
efeito dos custos adicionais de transporte em que incorrem os operadores sedeados nas regiões autónomas.
Refira-se a propósito que as taxas de IRS, IRC e IMT aplicáveis às regiões autónomas são também mais
reduzidas, para além de que nessas regiões vigoram também regras específicas altamente favoráveis
relativamente a determinadas operações / actividades desenvolvidas nas respectivas zonas francas – Zona Franca
da Ilha da Madeira e Zona Franca da Ilha de Santa Maria.
(215) Como aconteceu com a alteração da taxa normal de 19% para 21%, ocorrida em 01 de Julho de 2005, em que
foi publicado o OFCD 030 078 da DSIVA, de 24 de Junho de 2005, no intuito de esclarecer eventuais dúvidas
relacionadas com a aplicação da Lei no tempo, particularmente no caso de operações tributáveis realizadas
imediatamente antes ou após a entrada em vigor da nova taxa. O mesmo sucedeu quando a taxa de 21% foi
alterada para 20%, tendo sido publicado o Ofício-Circulado n.º 30104/2008, de 27/06 – DSIVA.
216
( ) Se as mercadorias forem tributadas todas à mesma taxa, não haverá qualquer dúvida na aplicação da taxa ao
conjunto (produto comercial distinto – unidade de venda), pois a taxa aplicável será a que corresponder às
mercadorias. Se as mercadorias que compõem a unidade de venda forem tributadas a várias taxas, a taxa
aplicável ao conjunto será a mais elevada. O exemplo perfeito para demonstrar esta realidade é um ‘cabaz de
natal’, que normalmente é constituído por bens (alimentares e outros) sujeitos às diferentes taxas, que não sofrem
alterações nem perdem a sua individualidade, pelo que a taxa aplicável ao cabaz será a mais elevada (20%). Se
esse ‘cabaz de natal’ fosse constituído exclusivamente por produtos alimentares tributados à taxa reduzida de 5%,
seria essa a taxa aplicável ao conjunto (cabaz). Repare-se que não seria boa política comercial, por exemplo, um
vendedor de tractores agrícolas, no âmbito de uma campanha de promoção comercial, vender um tractor em
conjunto com um acessório não destinado à agricultura (por exemplo, uma grua destinada a outros fins), formando
um produto comercial distinto. Neste caso, a taxa aplicável ao conjunto seria a taxa normal de 20%, enquanto que
se os bens fossem transaccionados separadamente a taxa já seria a de 12 % para o tractor agrícola e 20% para a
grua não destinada à agricultura (silvicultura e pecuária). Este exemplo ilustra bem o prejuízo da aplicação desta
norma, o que justifica serem poucos os exemplos conhecidos de unidades de venda compostas por produtos que,
não perdendo a sua individualidade, se encontram sujeitos a várias taxas (tal problema não sucede se os bens
estiverem sujeitos à mesma taxa, pois a taxa aplicável ao conjunto é a taxa dos bens, não havendo prejuízo com a
adopção destas práticas comerciais).
(217) O exemplo perfeito é o café (bica) adquirido numa máquina automática de moedas – neste caso, a bica é
constituída por bens sujeitos a várias taxas (água – 5%, café em grão ou moído – 12% e açúcar – 20%), que se
misturam e perdem a sua individualidade formando um produto final que é a bica, sendo esta tributada a 20% uma
vez que as Listas I e II não contemplam tal produto (se for servida num café ou restaurante a taxa já seria a de
12% - serviço). Tal norma tem uma aplicação quase universal na indústria, pois os inputs produtivos (matérias
primas), sujeitos eventualmente a várias taxas, são transformados, perdendo a sua individualidade, constituindo o
produto acabado uma unidade comercial distinta tributada à taxa que lhe corresponder. Por exemplo, o fiambre é
155
Impostos sobre a Despesa
CAPÍTULO 5: IVA – TAXAS
No que se refere às PS referidas na alínea c) do n.º 2 do art. 4º, i.e., a entrega de bens
móveis produzidos ou montados sob encomenda com materiais que o dono da obra tenha
fornecido para o efeito, aplicar-se-á ao serviço a taxa que corresponderia à transmissão de
bens obtidos após a execução da empreitada (art. 18º, n.º 6), ou seja, como se os materiais
tivessem sido fornecidos na sua totalidade pelo empreiteiro ( 219).
Uma última referência ao disposto no n.º 7 do art. 18º (221), que refere que a taxa aplicável aos
serviços prestados por via electrónica, nomeadamente os previstos no Anexo D do CIVA, é a
taxa normal de 20%.
tributado à taxa de 12% porque tal produto se encaixa na lista II, sabendo-se que o mesmo é constituído por bens
sujeitos a várias taxas (carne de porco – 5%, outros aditivos e complementos – 20%). Foi este facto que justificou a
inclusão na Lista I (verba 1.4.7) do leite achocolatado que agora é tributado a 5%, sendo que antes era tributado à
taxa de 20%, pois era constituído por produtos tributados a várias taxas (leite – 5%, chocolate e outros – 20%),
sem que existisse uma taxa reduzida que contemplasse tal produto. Todos os produtos transformados que são
tributados a taxas especiais (5% ou 12%), são exemplos perfeitos da aplicação desta norma, aplicando-se tais
taxas a tais produtos apenas porque os mesmos constam expressamente das Listas I e II (por exemplo, produtos
alimentares: farinhas – 5%, queijos, iogurtes e manteiga – 5%, produtos dietéticos – 5%, refrigerantes – 5%,
conservas – 12%, fiambre – 12%, óleos alimentares – 12%, etc.). Por último, refira-se que a redacção do art. 18º,
n.º 4, al. b) deveria ser alterada, pois, na parte final, em vez do termo ‘lhes’, deveria constar ‘lhe’, pois a taxa
aplicável ao conjunto é a que lhe corresponder (ao conjunto) e não a que ‘lhes’ corresponder (às mercadorias), pois
isso seria uma incongruência no caso de lhes corresponderem diferentes taxas. Considera-se que este lapso na
redacção desta norma do CIVA deveria ser corrigido, pois a actual redacção dificulta muito a sua interpretação.
218
( ) Aqui dá-se como exemplo o leasing de um tractor agrícola, cujas rendas beneficiam da taxa de 12%, prevista
na verba 2.5 da Lista II (taxa do serviço = taxa dos bens). Note-se que se os bens beneficiarem de isenção o
leasing também beneficiará da mesma isenção – veja-se o caso do leasing imobiliário, cujas rendas periódicas
beneficiam da isenção consignada no n.º 29 do art. 9º e cujo valor residual beneficia da isenção do n.º 30 do
mesmo artigo.
219
( ) Ver comentários efectuados a propósito do art. 3º, n.º 3, al. e) e do art. 4º, n.º 2, al. c), quando nos referíamos
às empreitadas sobre bens móveis - Cap. 2 - ‘Incidência’.
(220) Mais concretamente sujeitas ao direito aduaneiro forfetário previsto nas disposições preliminares da Pauta
Aduaneira Comum.
(221) Este n.º foi aditado ao art. 18º pelo DL n.º 130/2003, de 28 de Junho, diploma que transpõe para a ordem
jurídica nacional a Directiva n.º 2002/38/CE, do Conselho, de 07 de Maio, introduzindo grandes alterações em sede
de IVA ao nível das regras aplicáveis aos serviços prestados por via electrónica (comércio electrónico ‘on line’),
tendo como principal objectivo eliminar as distorções de concorrência que existiam na comercialização destes
serviços (ver o Anexo D do CIVA e a al. n) do n.º 8 e n.ºs 9 e 10 do art. 6º; ver também o ‘Regime especial para
SP’s não estabelecidos na CE que prestem serviços por via electrónica a não SP’s nela residentes’, publicado em
anexo ao atrás mencionado DL. n.º 130/2003).
156
Impostos sobre a Despesa
CAPÍTULO 6: IVA – LIQUIDAÇÃO E DEDUÇÃO
CAPÍTULO 6
IVA – LIQUIDAÇÃO E DEDUÇÃO
ÍNDICE
6. LIQUIDAÇÃO E DEDUÇÃO
157
Impostos sobre a Despesa
CAPÍTULO 6: IVA – LIQUIDAÇÃO E DEDUÇÃO
6. LIQUIDAÇÃO E DEDUÇÃO
Quando tratámos da caracterização do IVA, referimo-nos ao facto de ser um imposto sem
efeitos cumulativos em que os SP’s são obrigados a proceder à liquidação do imposto
mediante a aplicação de uma taxa ao valor tributável das operações sujeitas e não isentas.
A esta faculdade que o contribuinte tem de deduzir o imposto que suportou nas aquisições,
cujo princípio se encontra consignado nos artigos 19º e seguintes do CIVA, denomina-se
direito à dedução, elemento nuclear à volta do qual gravita todo o funcionamento do IVA,
consubstanciando-se no direito atribuído a cada SP de, no momento em que apure o imposto
por si devido relativo às suas vendas e serviços prestados, poder deduzir o imposto que
suportou nas aquisições de bens e serviços necessários à sua actividade, entregando apenas
a diferença entre os dois montantes considerados.
Contudo, para que a dedução seja possível, é necessário que as aquisições de bens ou
serviços sejam feitas com vista à realização de operações tributáveis (al. a), n.º 1, art. 20º), com
excepção das que gozam de isenção completa tais como exportações, operações assimiladas
a exportações, algumas operações ligadas importações e a regimes aduaneiros suspensivos
(al. b), n.º 1, art. 20º) e ainda as TIB para outros EM’s da UE (n.º 2 do art. 19º do RITI).
Não dão pois lugar à dedução as aquisições feitas para actividades fora do âmbito do
imposto (não sujeitas) nem as que se destinem, como vimos, às operações isentas nos
222
( ) Sem prejuízo da dedução no período seguinte do crédito de imposto transitado do período anterior (n.º 4, art.
22º) ou da dedução de outros créditos comunicados pela DSCIVA, campo 81 da DP.
(223) Pode pois afirmar-se que, entre o credor – SP titular do direito à dedução, e o devedor - Estado, se
estabelece uma relação jurídica cujo objecto é precisamente o direito à compensação com outra dívida de sinal
contrário ou o reembolso de uma prestação pecuniária previamente suportada por aquele.
158
Impostos sobre a Despesa
CAPÍTULO 6: IVA – LIQUIDAÇÃO E DEDUÇÃO
• O imposto devido ou pago aos seus fornecedores pela aquisição de bens ou serviços -
art. 19º, n.º 1, al. a);
• O imposto devido pela importação de bens - art. 19º, n.º 1, al. b) (224);
• O imposto pago pela aquisição dos bens ou dos serviços indicados nas alíneas e), h), i)
e j) do n.º 1 do art. - art. 19º, n.º 1, al. c) ( 225);
• O imposto pago como destinatário de operações tributáveis efectuadas por SP’s
estabelecidos no estrangeiro, quando estes não tenham no território nacional um
representante legalmente acreditado (art. 30º) e não tenham facturado imposto - art.
19º, n.º 1, al. d) ( 226);
• O imposto pago pelo SP à saída dos bens de um regime de entreposto não aduaneiro
nos termos do n.º 6 do art.º 15.º - art. 19º, n.º 1, al. e) (227).
(224) O imposto devido pelas importações será liquidado pela DGAIEC, devendo ser pago junto destes serviços no
momento do desembaraço alfandegário (n.º 3 do art. 28º). Nos termos desta norma, tal imposto pode ser deduzido
na DP relativa ao período em que se verificou o pagamento, conforme o respectivo documento alfandegário. O
imposto (auto)liquidado pelas AIB também é dedutível nos termos do disposto no n.º 1 do art. 19º do RITI.
225
( ) Contempla aquelas TB e PS consideradas localizadas em território nacional em virtude do adquirente ser SP
de IVA registado em Portugal. Se o prestador estiver estabelecido em Portugal será o próprio a liquidar o IVA que
será dedutível para o adquirente nos termos desta norma. Se o prestador for um não residente, dar-se-á o
‘reverse-charge’, devendo ser o adquirente a liquidar o IVA, o qual é dedutível também ao abrigo desta norma.
A partir de Julho de 2006 passou a contemplar também o imposto suportado na aquisição de bens ou serviços
previstos no Anexo E ao CIVA, nos quais cabe também ao adquirente liquidar o imposto (‘reverse-charge’ interno)
e, a partir de Abril de 2007, passou a incluir também o IVA suportado na aquisição de serviços de construção civil,
nas situações em que, nos termos da al. j) do n.º 1 do art. 2º, caiba ao adquirente liquidar o imposto.
226
( ) De facto, conforme se referiu anteriormente, sempre que as operações se considerem localizadas em
Portugal e forem realizadas por um não residente sem representante, o adquirente é considerado SP nos termos
da al. g) do n.º 1 do art. 2º, cabendo-lhe a responsabilidade pela liquidação do IVA – tal imposto (auto)liquidado
pela aquisição dessas TB e PS é dedutível nos termos desta norma.
227
( ) Ver art. 15º, n.º 3 e seguintes. De facto, as TB e PS directamente conexas com os entrepostos não
aduaneiros são isentas de imposto, verificando-se uma situação de suspensão de imposto até que os bens saiam
desse regime. Na saída dos bens do entreposto não aduaneiro será devido IVA pelo depositário autorizado (titular
do entreposto fiscal), nos termos do n.º 6 do art. 15º. Tal imposto liquidado pelo depositário autorizado nos termos
do n.º 6 do art. 15º, será dedutível na respectiva DP nos termos desta norma.
159
Impostos sobre a Despesa
CAPÍTULO 6: IVA – LIQUIDAÇÃO E DEDUÇÃO
CONDIÇÕES OBJECTIVAS
Para que seja possível o exercício do direito à dedução é necessário, em consonância com o
que dispõe o art. 20º, que o imposto a deduzir tenha incidido sobre bens adquiridos,
importados ou utilizados pelo SP com vista à realização das operações referidas no n.º 1 do
mesmo preceito, ou seja, operações que conferem o direito à dedução. Estas operações (que
conferem direito à dedução) são:
Por sua vez, ainda que estejam em causa bens ou serviços necessários ou fundamentais
para o exercício da actividade, não será admitida a dedução do IVA se os mesmos forem
excluídos nos termos do art. 21º (exclusões do direito à dedução).
(228) Trata-se, por exemplo, daquelas operações que, de acordo com as regras de localização constantes do art.
6º, não se consideram localizadas no território nacional e que, como tal, não estão sujeitas a IVA, facto que não
impede o exercício do direito à dedução por parte do operador a actuar nestas circunstâncias.
229
( ) Isenções de Imposto de Transacções (IT) e de Impostos sobre a Venda de Veículos Automóveis (IVVA) –
impostos já abolidos, previstas em acordos internacionais.
(230) Nos termos do disposto na alínea a) do n.º 2 do art. 19º só confere direito à dedução: i) o imposto constante
de factura ou documento equivalente; ii) passada em forma legal; iii) em nome e na posse do SP.
160
Impostos sobre a Despesa
CAPÍTULO 6: IVA – LIQUIDAÇÃO E DEDUÇÃO
Por outro lado, a dedução do imposto só poderá ser efectuada se o SP tiver na sua posse os
documentos (originais) atrás referidos, nos quais seja designado como destinatário dos bens
ou serviços (232).
CONDIÇÕES TEMPORAIS
O direito à dedução nasce no momento em que o imposto dedutível se torna exigível tal como
é definido nos art. 7º e 8º (art. 22º, n.º 1, 1ª parte), ou seja, regra geral, tal como se referiu
anteriormente a propósito da ‘incidência temporal’, o imposto é dedutível para o adquirente no
momento em que é exigível ao fornecedor.
Em qualquer caso porém, o exercício do direito à dedução só pode ser efectuado até ao
decurso do prazo a que se refere o art. 98º, n.º 2 – prazo geral de 4 anos.
(231) Regime de bens em circulação – no caso das facturas ou documentos equivalentes servirem de documentos
de transporte deverão cumprir também com os requisitos mencionados nos arts. 4º e 5º deste diploma.
(232) No caso de extravio de facturas, com vista à dedução do IVA por parte do adquirente, deverão ser emitidas
novas facturas, com nova numeração e com nova data, as quais anulam e substituem as anteriormente
processadas, referindo expressamente o n.º do documento substituído, a data a que respeita e os motivos que
levaram à emissão de nova factura. O mesmo se passa no caso de facturas de substituição, devendo, neste caso,
o fornecedor guardar o original e duplicado do documento substituído, o qual deverá ser anulado. Tais
procedimentos têm subjacentes as exigências formais dos documentos em sede de IVA, embora o Supremo
Tribunal Administrativo já tenha admitido a dedução de IVA com base em fotocópias autenticadas cedidas pelo
fornecedor. De notar que os programas informáticos de facturação permitem, em geral, que os documentos
possam ser substituídos, alterados, etc., o que de alguma forma põe em causa o exposto anteriormente, porém a
verdade é que tal manipulação dos documentos após a sua emissão não deveria ser possível.
Relativamente à possibilidade de dedução do IVA que conste de 2ª via de facture, ver o OFCD 030 074-DSIVA de
24/03/2005, apresentado em anexo e analisado na aula.
A propósito das facturas terem que ser emitidas em nome do titular do direito à dedução, dá-se o exemplo das
compras em grupo (supermercados) em que cada um dos adquirentes deverá ter uma factura emitida em seu
nome ou ainda o caso dos consórcios em que todos os participantes deverão ter os respectivos custos facturados
em seu nome – nestes casos deverá ser a sociedade administradora das compras em grupo, ou o consórcio, a
debitar os respectivos custos e respectivo IVA a cada um dos membros (ou então ser um dos membros a fazer o
débito aos restantes). Por vezes há situações em que é o transitário (transportador) a tratar do processo de
importação tendo o documento do pagamento do IVA sido passado em seu nome, embora o verdadeiro
adquirente seja o importador – neste caso, deverá o transitário emitir um nota de débito em que faça referência ao
imposto para que o importador o possa deduzir.
161
Impostos sobre a Despesa
CAPÍTULO 6: IVA – LIQUIDAÇÃO E DEDUÇÃO
Exemplo: Considere-se que em 10 de Julho a empresa ALFA emitiu uma factura relativa a
uma venda efectuada à empresa BETA que foi por esta recepcionada no dia 27 desse mês.
Estando a empresa BETA enquadrada no regime normal mensal, deverá efectuar a dedução
do imposto constante da factura, na declaração periódica a enviar até ao dia 10 de Setembro
com referência ao mês de Julho - art. 41º, n.º 1 al. a).
Supondo agora que a factura, recepcionada pela empresa BETA em 27 de Julho, tinha sido
emitida pela empresa ALFA em 25 de Junho. Neste caso, a dedução desse imposto poderia
ainda ser efectuada na DP relativa ao mês de Junho a enviar ao SAIVA até ao dia 10 de
Agosto ( 233).
233
( ) Se a contabilização da factura ocorrer no mês de Julho (mês da recepção do documento), este procedimento
não será aconselhável, pois gera divergências entre a contabilidade e a DP. Assim, por razões de natureza
administrativa, tal factura deverá ser incluída na DP do mês Junho, apenas se o movimento do período não estiver
ainda encerrado, o que neste caso é perfeitamente admissível uma vez que a DP poderá ser enviada até ao dia
10 de Agosto.
162
Impostos sobre a Despesa
CAPÍTULO 6: IVA – LIQUIDAÇÃO E DEDUÇÃO
Contudo, esse direito também é permitido quando os SP’s realizem determinadas operações
que, para este efeito, são assimiladas a operações tributáveis à taxa zero, i.e., as isenções
completas, designadamente as operações previstas na al. b) do n.º 1 do art. 20º (por
exemplo, exportações e operações assimiladas) e no n.º 2 do art. 19º do RITI (TIB).
234
( ) Considera-se "viatura de turismo" para efeitos de IVA, qualquer veículo automóvel, com inclusão do reboque,
que, pelo seu tipo de construção e equipamento, não seja destinado unicamente ao transporte de mercadorias ou
a uma utilização com carácter agrícola, comercial ou industrial ou que, sendo misto ou de transporte de
passageiros, não tenha mais de nove lugares, com inclusão do condutor - art. 21º, n.º 1, al. a).
235
( ) Não se verifica a exclusão do direito a dedução relativamente a estas despesas, tal como nas despesas
mencionadas nas als. c) e d) do n.º 1 deste artigo, quando efectuadas por um SP de imposto agindo em nome
próprio mas por conta de um terceiro (despesas efectuadas em nome próprio mas por conta de clientes), desde
que a este sejam debitadas com vista a obter o respectivo reembolso - art. 21º, n.º 2, al. c) – tais despesas serão
incluídas no VT com liquidação de IVA conforme o art. 16º, n.º 5, al. b).
236
( ) Importa aqui relembrar que, nos termos da al. g) do n.º 3 do art. 3º, é considerada assimilada a uma TB ‘a
afectação ao uso da empresa de bens referidos no n.º 1 do art. 21º, quando relativamente a esses bens ou aos
elementos que os constituem, tenha havido dedução total ou parcial do imposto’ (Exemplo: Afectação ao
imobilizado de um bem excluído do direito à dedução adquirido para revenda). Importa também referir que a
transmissão posterior destes bens, excluídos do direito à dedução no momento da aquisição em virtude da al. a)
do n.º 1 do art. 21º beneficiará da isenção prevista no n.º 32 do art. 9º.
237
( ) A contabilidade deverá desagregar os combustíveis com dedução integral daqueles cuja dedução se verifica
apenas em 50%. Assim, na factura de aquisição de gasóleo deverá constar a matrícula do veículo para se poder
aferir da legitimidade da dedução do IVA. À partida o livrete do veículo permite aferir da sua categoria e tipo
(pesado de passageiros, pesado de mercadorias, tractor agrícola, etc.), embora se verifique que, no caso de
veículos licenciados para transportes públicos, tal informação não consta do livrete, podendo ser obtida junto da
Direcção-Geral de Transportes Terrestres (agências de viagens e outros transportadores).
163
Impostos sobre a Despesa
CAPÍTULO 6: IVA – LIQUIDAÇÃO E DEDUÇÃO
1. As referidas despesas (das alíneas c) e d) do n.º 1 o art. 21º), com excepção do tabaco:
- respeitarem à ORGANIZAÇÃO de feiras, congressos, exposições…
- resultarem de contratos celebrados directamente com o prestador de
serviços ou através de entidades legalmente habilitadas para o efeito;
- comprovadamente contribuírem para a realização de operações tributáveis;
Verificadas estas condições, o IVA suportado poderá ser deduzido em 50% (art. 21º n.º 2 al. d)).
(238) Relativamente às portagens, a exclusão não abrange todas as classes de veículos, designadamente os
veículos de transporte de passageiros e de mercadorias das empresas transportadoras (o talão da Brisa permitirá
identificar a classe do veículo). Quanto ao IVA das despesas de estacionamento não será dedutível se estiver
relacionado com viagens e deslocações enquadradas na al. c), pois caso contrário já será dedutível.
164
Impostos sobre a Despesa
CAPÍTULO 6: IVA – LIQUIDAÇÃO E DEDUÇÃO
• O IVA contido em despesas de divertimento e luxo sendo consideradas como tal as que,
pela sua natureza ou pelo seu montante, não constituam despesas normais de
exploração - art. 21º, n.º 1, al. e);
Repare-se que a exclusão do direito à dedução do IVA contido nas aquisições dos bens e
serviços atrás referidos se baseia na sua natureza, a qual possibilita o seu desvio para
consumos particulares que em geral nada têm a ver com a actividade empresarial ou
profissional do SP (239).
Por tal motivo, ainda que imprescindíveis ao exercício da actividade, verifica-se a exclusão do
direito a dedução (ex. viaturas de turismo utilizadas pelos gerentes e vendedores, barcos e
motos utilizados pelas empresas para efeitos de promoção dos seus produtos) (240).
239
( ) Note-se que as exclusões do direito à dedução não se encontram perfeitamente harmonizadas na CE,
diferindo muito entre EM’s. Por exemplo, em Espanha simplesmente não há exclusões deste tipo, pelo que,
respeitados os restantes condicionalismos do direito à dedução impostos pela legislação espanhola, se pode
concluir que nesse EM todo o IVA é dedutível para os operadores económicos.
240
( ) Por vezes é referido o exemplo do IVA suportado na aquisição de motocicletas utilizadas da distribuição de
pizzas ou de correio urgente, alegando-se que tal imposto não será dedutível nos termos da al. a) do n.º 1 do art.
21º. Salvo melhor opinião afigura-se que tal imposto é dedutível, pois as motocicletas são essenciais para a
referida actividade de distribuição, devendo considerar-se que o respectivo IVA é dedutível nos termos da al. a) do
n.º 2 do art. 21º, uma vez que se destinam a ser exploradas no âmbito da actividade do SP (distribuição de pizzas
e correio urgente). O exemplo típico de SP’s que podem deduzir o IVA de tais despesas mencionadas na al. a) do
n.º 1 do art. 21º, são os vendedores de tais bens (automóveis, motos, aviões e barcos desportivos), os taxistas,
agências de viagens, empresas que se dedicam ao seu aluguer, empresas locadoras, transportadores, etc..
241
( ) Norma anti-abuso introduzida pelo DL n.º 31/2001, de 8 de Fevereiro, que visa combater certo tipo de fraude
especializada – ver também a alteração introduzida ao n.º 2 do art. 33º (2ª parte), no sentido da possibilidade da
cessação oficiosa de tais empresas. Segundo o preâmbulo do referido DL tais medidas legislativas de combate à
fraude e evasão fiscal visam «criar mecanismos que permitam contrariar alguma tendência para a criação de
empresas que, sem desenvolverem qualquer actividade nem disporem de meios para a vir a desenvolver, se
integram no circuito económico como meros receptores ou emissores de facturas» (empresas ecrã).
242
( ) O IVA de tais despesas efectuadas em nome e por conta do cliente nunca seria dedutível, mesmo na
ausência desta norma, pois o documento da despesa estará emitido em nome do cliente e não em nome do SP
165
Impostos sobre a Despesa
CAPÍTULO 6: IVA – LIQUIDAÇÃO E DEDUÇÃO
(parte final do n.º 2 do art. 19º), tratando-se por isso de uma norma que pretende reforçar a exclusão do direito à
dedução do imposto contido nestas despesas, embora se considere supérflua.
166
Impostos sobre a Despesa
CAPÍTULO 6: IVA – LIQUIDAÇÃO E DEDUÇÃO
Situações em que o SP poderá solicitar o reembolso do IVA (art. 22º n.º 5 e 6):
243
( ) Antes desta alteração, introduzida ao n.º 6 do art. 22.º do CIVA pelo art. 9.º da Lei n.º 10/2009, de 10 de
Março, que procedeu à 1.ª alteração à Lei n.º 64-A/2008, de 31 de Dezembro, que aprovou o OE/2009, as
condições vigentes eram as seguintes: “Quando o crédito a favor do sujeito passivo seja superior a 25 vezes o
salário mínimo nacional mais elevado” ou “Quando o crédito a favor do sujeito passivo seja superior a metade de
25 vezes o salário mínimo nacional mais elevado nas situações a seguir indicadas: a) Nos seis primeiros meses
após o início da actividade; b) Em situações de investimento com recurso ao crédito devidamente comprovadas”.
167
Impostos sobre a Despesa
CAPÍTULO 6: IVA – LIQUIDAÇÃO E DEDUÇÃO
Os reembolsos, quando devidos, deverão ser efectuados pela DGCI até ao fim do terceiro
mês seguinte ao da apresentação do pedido. Havendo atraso no reembolso serão devidos
juros indemnizatórios a favor do SP a taxa igual à taxa dos juros compensatórios (247) - art.
22º, n.º 8.
Relativamente aos SP’s que efectuem predominantemente operações isentas com direito à
dedução (pelo menos 75% do valor total das TB e PS do respectivo período), e desde que
não seja o 1º pedido de reembolso, o n.º 5 do Despacho Normativo n.º 53/2005, de 15 de
Dezembro, na linha do disposto no n.º 9 do art. 22º, estabelece medidas administrativas que
(244) Ver al. b) do n.º 3 do art. 12º, n.º 4 do art. 54º e n.º 4 do art. 61º.
245
( ) Trata-se de juros pagos ao SP quando a AF não efectuar o reembolso até ao fim do 3º mês seguinte ao da
apresentação do pedido – n.º 8 do art. 22º. Relativamente à garantia deverá ser constituída a favor da DGCI e
poderá assumir a forma de fiança bancária, seguro caução ou depósito bancário. No caso de TIB será apenas
exigível uma declaração emitida pelo banco comprovando o recebimento por transferência bancária e no caso de
exportações exige-se o documento anterior ou a apresentação do DU (documento alfandegário comprovativo da
exportação), podendo ser apresentados provisoriamente outros comprovativos (documento de transporte ou de
seguro), sem prejuízo da posterior apresentação dos documentos referidos anteriormente.
(246) Quanto aos formalismos a cumprir remete-se para o citado Despacho Normativo que refere a obrigatoriedade
dos SP’s apresentarem, juntamente com a DP do período, os mapas 1, 2 e 3 anexos àquele Despacho Normativo,
os quais identificarão, respectivamente: os clientes a quem, com referência ao período declarativo, foram
efectuadas as transmissões de bens e as prestações de serviços referidas na alínea b) do n.º 1 do artigo 20.º do
CIVA, previstas em legislação especial, sem liquidação do IVA, com direito a dedução e indicação do respectivo
valor; os fornecedores de bens ou serviços e das importações em que, com referência ao período declarativo,
tenha havido liquidação de imposto, com indicação do respectivo valor de aquisição, do IVA dedutível e, se for
caso disso, das situações em que por força da lei o sujeito passivo adquirente dos bens ou destinatário dos
serviços se substitui ao fornecedor na liquidação do imposto; os sujeitos passivos a que respeitam as
regularizações mencionadas no campo 40 do quadro 06 da declaração periódica relativa ao período declarativo e
indicação do respectivo valor líquido de imposto e do IVA regularizado.
247
( ) Vide art. 43º da Lei Geral Tributária (LGT). Todos os reembolsos, antes de serem pagos, deverão ser
informados pela Inspecção Tributária (análise interna e/ou análise externa), a qual deverá validar o reembolso
solicitado pelo SP efectuando todas as diligências consideradas imprescindíveis, inclusivamente inspeccionando
outros SP's que se relacionem com o titular do direito ao reembolso, se tal se mostrar necessário.
168
Impostos sobre a Despesa
CAPÍTULO 6: IVA – LIQUIDAÇÃO E DEDUÇÃO
permitem o aceleramento dos reembolsos (248) desde que verificadas as condições ali
previstas.
A Lei do OE para 2008 alargou esta possibilidade de beneficiarem de reembolsos em
condições mais favoráveis (30 dias) àqueles SP cujo volume de negócios seja constituído
essencialmente ≥75%)
( por operações ab rangidas pela inversão do SP, tendo, em
consequência disso, sido alterado o Despacho Normativo n.º 53/2005, de 15 de Dezembro,
pelo Despacho Normativo n.º 31-A/2008, de 12 de Junho.
Refira-se ainda que a DGCI poderá suspender o prazo para a concessão dos reembolsos
quando não forem apresentados elementos que permitam aferir da sua legitimidade,
designadamente nos casos em que os elementos não são postos à disposição dos serviços
ou os mesmos se apresentem em condições tais que não permitam o correcto apuramento
do imposto.
248
( ) Pagamento do reembolso no prazo de 30 dias a contar da recepção da DP referida no art. 41º respeitante ao
período a que se refere o reembolso. Na prática os campos 7 e 8 da DP deverão representar mais de 75% do total
da base tributável, excepto o campo 10 (C07 + C08 / (C90 – C10 – C16) ≥ 75%).
169
Impostos sobre a Despesa
CAPÍTULO 7: IVA – DEDUÇÕES PARCIAIS E REGULARIZAÇÕES
CAPÍTULO 7
IVA – DEDUÇÕES PARCIAIS E REGULARIZAÇÕES
ÍNDICE
7.2. CONCEITOS
170
Impostos sobre a Despesa
CAPÍTULO 7: IVA – DEDUÇÕES PARCIAIS E REGULARIZAÇÕES
Os SP’s que, face ao disposto no art. 20º, no exercício da sua actividade efectuem
simultaneamente operações tributáveis que conferem o direito à dedução e operações isentas
(ou não sujeitas) que não conferem esse direito denominam-se SP’s mistos.
Tais contribuintes – SP’s mistos, apenas podem exercer o direito à dedução do imposto
suportado nas aquisições que se destinem às operações que conferem direito à dedução, isto é,
relativamente às operações referidas no art. 20º do CIVA. Sendo assim, torna-se necessário,
face ao conjunto de todas as operações, determinar o montante do imposto que é dedutível e o
que não é dedutível.
A matéria relacionada com a determinação da medida do direito à dedução por parte dos SP
que praticam operações que conferem direito a dedução e operações que não conferem esse
direito (“SP mistos”) constitui um dos aspectos do regime jurídico do IVA cuja interpretação e
aplicação prática suscita maior complexidade e relevo.
Basicamente, a legislação do IVA admite a utilização de dois tipos de métodos, bastante
diferentes entre si, para apuramento do imposto a deduzir pelos SP mistos: o método da
percentagem de dedução (pro rata), com base na relação entre os volumes de negócios
gerados pelas actividades que permitem a dedução do imposto suportado e pelas actividades
que não possibilitam tal dedução; e o método da afectação real, ligado à efectiva utilização
dos bens e serviços adquiridos pelo SP.
No caso da utilização do pro rata, a determinação da percentagem a deduzir, no que respeita
aos montantes de IVA suportados nas aquisições de bens e serviços, tem lugar de forma
indirecta. A medida da dedução não é apurada em função da medida da utilização pelo SP
desses bens e serviços na realização de operações de um tipo ou de outro mas, grosso
modo, com base no valor dos proveitos gerados por esses dois tipos de operações. Numa
palavra, recorrendo à terminologia frequentemente utilizada pelos especialistas na matéria, a
medida da dedução do IVA suportado a montante, isto é, nos inputs da actividade do SP,
está dependente do valor dos elementos que constituem o volume de negócios por ele obtido
a jusantes, ou seja, o valor dos outputs da sua actividade.
No caso da afectação real, a medida da dedução está dependente, não dos volumes de
negócios obtidos a jusante, mas da utilização de critérios que permitem mensurar a efectiva
171
Impostos sobre a Despesa
CAPÍTULO 7: IVA – DEDUÇÕES PARCIAIS E REGULARIZAÇÕES
utilização dos inputs da actividade na produção dos bens ou dos serviços transaccionados
pelo SP.
O recurso a qualquer dos dois métodos para determinação da medida das deduções a
efectuar pelos SP mistos apresenta dificuldades específicas.
O regime das deduções parciais foi recentemente alterado/clarificado pelo OE para 2007 (Lei
n.º 67-A/2007, de 31/12). Tais alterações resultaram essencialmente das conclusões do
relatório do grupo de trabalho criado por despacho do Ex.mo Sr. Director-Geral dos Impostos,
de 6 de Novembro de 2006, que teve como objectivo analisar as consequências na legislação
interna portuguesa da jurisprudência produzida pelo Tribunal de Justiça das Comunidades
Europeias (TJCE) no regime do direito à dedução do IVA por parte dos SP que pratiquem
operações que conferem direito à dedução a par de operações que o não conferem, em
especial nos casos de utilização do método do pro rata baseado no volume de negócios.
As conclusões do relatório do referido grupo de trabalho foram publicadas na Revista Ciência
e Técnica Fiscal n.º 418, Jul-Dez-2006, págs. 237-357.
As alterações ao art. 23º do CIVA introduzem elementos novos, essenciais para a determinação
do quantum do imposto a deduzir, dos quais se destaca a referência expressa de que as suas
regras (do art. 23º) se aplicam exclusivamente às situações em que os sujeitos passivos
pretendem exercer o direito à dedução do imposto suportado na aquisição de bens e serviços de
utilização mista.
Entende-se como bens e serviços de utilização mista os que são utilizados conjuntamente no
exercício de uma actividade económica, prevista na alínea a) do n.º 1 do art. 2º do CIVA, que
confere direito a dedução com actividades económicas que não conferem esse direito ou, ainda,
conjuntamente com operações fora do conceito de actividade económica.
172
Impostos sobre a Despesa
CAPÍTULO 7: IVA – DEDUÇÕES PARCIAIS E REGULARIZAÇÕES
7.2. CONCEITOS (De acordo com o OFCD n.º 030 103, de 23 de Abril)
Para uma aplicação correcta da disciplina relativa ao apuramento do imposto dedutível
suportado em bens ou serviços de utilização mista, contida no art. 23º há que clarificar o
enquadramento de algumas operações concretas face ao conceito de actividade económica.
Assim, deve ter-se em consideração, nomeadamente, o seguinte:
173
Impostos sobre a Despesa
CAPÍTULO 7: IVA – DEDUÇÕES PARCIAIS E REGULARIZAÇÕES
174
Impostos sobre a Despesa
CAPÍTULO 7: IVA – DEDUÇÕES PARCIAIS E REGULARIZAÇÕES
fora do âmbito de incidência do IVA, é, por regra, independente da natureza do SP que as aufere
ou da actividade prosseguida por este, sendo também irrelevante se esse SP tem ou não
interferência directa ou indirecta na gestão das sociedades participadas.
Importa, por último, reforçar que as operações não decorrentes de uma actividade económica
implicam a adopção do critério da afectação real para o apuramento do valor do IVA e expurgar
daquele que será considerado como IVA potencialmente dedutível para efeitos dos artigos 19º e
20º do CIVA, o que significa que, em caso algum, aquelas operações podem integrar o
denominador do pro rata.
Exemplificando:
175
Impostos sobre a Despesa
CAPÍTULO 7: IVA – DEDUÇÕES PARCIAIS E REGULARIZAÇÕES
pode ser dedutível, uma vez que estes bens se destinam exclusivamente a uma utilização na
actividade que não confere direito à dedução. Mas se a mesma empresa adquirir um
computador portátil que se destina a uma utilização exclusiva pelos consultores que prestam
serviços de consultadoria para os negócios aos seus clientes, então, o IVA que tenha sido
suportado na aquisição desse bem pode ser deduzido na totalidade na medida em que o bem
vai ser afecto exclusivamente a uma actividade que confere direito à dedução (actividade de
consultadoria, sujeita e não isenta de IVA).
ESQUEMA RESUMO:
Método de dedução
176
Impostos sobre a Despesa
CAPÍTULO 7: IVA – DEDUÇÕES PARCIAIS E REGULARIZAÇÕES
Segundo o previsto na al. a) do n.º 1 do art. 23º do CIVA, sempre que esteja em causa a
determinação do IVA dedutível respeitante a bens ou serviços parcialmente afectos à realização
de operações não decorrentes do exercício de uma actividade económica, é obrigatório o
recurso à afectação real dos bens e serviços utilizados, com base em critérios objectivos
que permitam determinar o grau de utilização desses bens ou serviços nessas e nas
restantes operações, conforme se prevê no n.º 2 do mesmo artigo.
Tratando-se de bens ou serviços afectos à realização de operações decorrentes do exercício de
uma actividade económica, parte das quais não conferem direito à dedução, a al. b) do n.º 1 do art.
23º estabelece que o imposto dedutível seja determinado mediante a utilização de uma
percentagem, apurada nos termos do n.º 4 do mesmo artigo, sem prejuízo de o SP poder optar
pela afectação real, nos termos do n.º 2.
No caso de utilização da afectação real, obrigatória ou facultativa, e ainda de acordo com o n.º 2
do art. 23º, os critérios a que o SP recorra para determinar o grau de afectação ou utilização dos
bens e serviços à realização de operações que conferem direito a dedução ou de operações que
não conferem esse direito, podem ser corrigidos ou alterados pela DGCI, com os devidos
fundamentos de facto e de direito, ou, se for caso disso, fazer cessar a utilização do método, se se
verificar a ocorrência de distorções significativas na tributação.
As correcções ou alterações a que se refere o parágrafo anterior devem ser promovidas pelos
competentes serviços de inspecção quando, no exercício das respectivas competências, detectem
vantagens injustificadas no exercício do direito à dedução.
No caso dos bens ou dos serviços de utilização mista parcialmente afectos à realização de
operações não decorrentes de uma actividade económica, a determinação do montante de IVA
não dedutível relativo a estas não pode ter por base o método de pro rata previsto no n.º 4 do art.
23º, devendo ser obrigatoriamente utilizada a afectação real em função da efectiva utilização.
Em consequência, deve determinar-se o grau, proporção ou intensidade da utilização de cada
bem ou serviço em operações que decorrem de actividade económica sujeita a IVA e de
operações que dela não decorrem, através de critérios objectivos, podendo ser referidos a título
meramente indicativo, os seguintes (de acordo com o OFCD n.º 030 103, de 23 de Abril):
A área ocupada;
O n.º de elementos do pessoal afecto;
A massa salarial;
As horas-máquina;
As horas-homem.
Em qualquer dos casos, a determinação desses critérios deve ser adaptada à situação e
organização concretas do SP, à natureza das suas operações no contexto da actividade global
177
Impostos sobre a Despesa
CAPÍTULO 7: IVA – DEDUÇÕES PARCIAIS E REGULARIZAÇÕES
Exemplificação:
178
Impostos sobre a Despesa
CAPÍTULO 7: IVA – DEDUÇÕES PARCIAIS E REGULARIZAÇÕES
Janeiro de 1990 ( 249) – Ofício-Circulado n.º 79713, de 89.07.18 – esta obrigação está
actualmente consagrada no art. 9º do DL n.º 21/2007 (Regime da Renúncia).
De referir, por último, que há várias situações em que, apesar de não ser obrigatória a utilização
do método da afectação real, essa utilização é, do nosso ponto de vista, recomendável. A título
meramente exemplificativo, indicamos as autarquias, onde há sectores de actividade que
poderão ser facilmente autonomizados, tais como a exploração de parques de estacionamento e
de campismo, o serviço de águas e saneamento, a exploração de pavilhões para exposições,
etc. E indicamos ainda os clubes de futebol, cujas quotas dos sócios estão isentas, onde
poderão/deverão autonomizar-se algumas actividades paralelas, tais como, lojas de desporto,
bombas de gasolina, restaurantes, etc.
249
( ) Sistema imposto desde 1990 que, refira-se, gera inúmeros problemas administrativos exigindo por isso um
sistema de controlo muito apertado com recurso a técnicas de contabilidade analítica, situação talvez incompatível
com a generalidade das empresas de construção civil. Imagine-se o cenário em que uma empresa mista de
construção civil que se dedica a prestar serviços de construção (empreitadas) e à construção de imóveis para venda e
que tem um único armazém donde saem todos os materiais destinados a ambos os sectores de actividade; neste
caso, a empresa poderá deduzir o respectivo IVA na aquisição dos materiais devendo liquidar IVA cada vez que os
mesmos são destinados ao sector isento - art. 3º, n.º 3, al. g). Se essa empresa apenas possuir uma grua (betoneira,
camião, etc.) afecta exclusivamente ao sector tributado e a mesma for esporadicamente utilizada no sector isento,
deverá ser liquidado IVA por essa PS (auto-consumo interno tributado) tendo subjacente o valor normal do serviço
(por exemplo, tendo em conta o n.º de horas de utilização) - art. 4º, n.º 2, al. a) e art. 16º, n.º 2, al. c) e n.º 4. Face aos
problemas suscitados pelo método da afectação real (embora ultrapassáveis), não admira que muitas vezes as
empresas se dediquem exclusivamente a um sector de actividade (o que poderá implicar a constituição de duas
empresas distintas). Ainda assim, mesmo dentro do sector isento (ou do sector sujeito) é exigível que as empresas
tenham um sistema que permita efectuar a imputação de custos às obras, condição fundamental para um correcto
apuramento dos custos inerentes a cada obra, elemento determinante em termos contabilísticos e fiscais (IRC).
179
Impostos sobre a Despesa
CAPÍTULO 7: IVA – DEDUÇÕES PARCIAIS E REGULARIZAÇÕES
(250) O Legislador entendeu que seria um bom critério, e administrativamente simples, efectuar-se a dedução do IVA
suportado nos inputs com base numa percentagem calculada em função dos outputs, que no fundo representa o peso
das operações activas (outputs) que conferem o direito à dedução, no total das operações efectuadas pelo SP.
Basicamente, tal método tem subjacente a ideia de que existe uma conexão directa entre inputs e outputs, logo, se
numa determinada empresa o peso das operações que conferem o direito à dedução (outputs) é elevado, a sua
percentagem de dedução nos inputs também será elevada; se por outro lado, o peso das operações isentas ou não
sujeitas for elevado, a percentagem de dedução será consequentemente diminuta.
180
Impostos sobre a Despesa
CAPÍTULO 7: IVA – DEDUÇÕES PARCIAIS E REGULARIZAÇÕES
Montante anual s/ IVA das operações que conferem direito à dedução (art. 20º CIVA)
Montante anual s/ IVA de todas as operações efectuadas pelo SP decorrentes do exercício de
uma actividade económica (incluindo as subvenções não tributadas que não sejam subsídios ao equipamento)
Este quociente será arredondado para a centésima imediatamente superior (art. 23º, n.º 8).
A salientar:
i. No que respeita às subvenções não tributadas, porque não conexas com o preço das
operações tributáveis, deve atender-se ao seguinte:
ii. Nos termos do art. 23º n.º 5, não farão parte do numerador nem do denominador as
operações financeiras e imobiliárias acessórias e as transmissões de bens do activo
imobilizado ( 251).
Para que se avalie se se está perante operações financeiras acessórias deve ter-se em
consideração:
251
( ) Se não existisse esta disposição no art. 23º, praticamente todas as empresas seriam SP’s mistos, uma vez que
quase todas obtêm proveitos financeiros e outros proveitos derivados de operações financeiras, grande parte das
vezes isentos pelo n.º 27 do art. 9º ou não sujeitos pelo art. 16º, n.º 6, al. a) e procedem à alienação de imobilizado,
situações estas em que se podem aplicar as isenções dos n.ºs 30 (bens imóveis) e 32º (bens móveis) do art. 9º.
Mesmo que tais operações não sejam isentas, parece-nos correcta a sua exclusão do cálculo do pro rata, uma vez
que se trata de operações meramente acessórias face à actividade principal, as quais muitas vezes são muito
significativas em termos de valores (operações imobiliárias e algumas operações financeiras), situações que poderiam
gerar oscilações muito grandes na percentagem de dedução.
181
Impostos sobre a Despesa
CAPÍTULO 7: IVA – DEDUÇÕES PARCIAIS E REGULARIZAÇÕES
As operações financeiras não poderão, por regra, ser consideradas acessórias caso a sua
realização integrar o objecto principal ou habitual da actividade do SP, ou constituir um
prolongamento dessa actividade.
De referir também que, segundo o n.º 9 do art. 23º, poderão ser consideradas inexistentes as
operações que não conferem o direito à dedução, ou as operações tributadas, quando as
mesmas representem uma parte insignificante do volume de negócios e não se mostre viável a
utilização do método da afectação real ( 252).
252
( ) Tem sido entendimento da AF que as actividades se consideram insignificantes se o seu peso não ultrapassar
5% do total do volume de negócios. Por exemplo, no caso dos quiosques, frequentemente têm receitas isentas pelo
n.º 31 do art. 9º (totobola e totoloto) que não representam mais de 5% do volume total de negócios, pelo que, nessas
circunstâncias, deduzirão integralmente o IVA suportado a montante, ignorando-se a actividade isenta. No caso das
empresas que dispõem de bares e cantinas (operações isentas pelo n.º 36 do art. 9º, com possibilidade de renúncia à
isenção), verifica-se que normalmente o peso destas operações é ínfimo, porém, é possível a utilização de um
sistema de afectação real, pelo que é imposta a utilização desse método pela AF, não se aplicando o disposto no n.º 9
do art. 23º.
182
Impostos sobre a Despesa
CAPÍTULO 7: IVA – DEDUÇÕES PARCIAIS E REGULARIZAÇÕES
Sabendo-se que o prorata definitivo do ano 2004 ascendeu a 80%, valor que foi aplicado
provisoriamente no ano 2005, conclui-se que o IVA deduzido durante este ano foi o seguinte:
Mercadorias à taxa de 5%: 1.500 x 80% = 1.200
Mercadorias à taxa de 21%: 8.400 x 80% = 6.720
183
Impostos sobre a Despesa
CAPÍTULO 7: IVA – DEDUÇÕES PARCIAIS E REGULARIZAÇÕES
Com base nos valores definitivos do ano 2005, a empresa deverá calcular o pro rata definitivo
desse ano com base no disposto no n.º 4 do art. 23º. Assim,
50.000 + 60.000 + 80.000 + 10.000 / 50.000 + 60.000 + 40.000 + 80.000 + 10.000= 0,833 → 84%
Nota: Foram excluídas as transmissões de bens de equipamento, conforme dispõe o art. 23º, n.º 5.
Regularização:
IVA suportado = 24.600
IVA deduzido (% provisória) = 24.600 x 80% = 19.680
IVA dedutível (% definitiva) = 24.600 x 84% = 20.664
Assim, a empresa terá a recuperar a importância de 984 (20.664 – 19.680), valor que deverá ser
incluído no campo 40 da DP (regularizações a favor da empresa).
À semelhança do que acontece com a utilização do pro rata, também a dedução com recurso à
afectação real segundo critérios objectivos é calculada provisoriamente, devendo ser corrigida
de acordo com os valores tornados definitivos no final de cada ano, na última declaração
periódica do ano a que respeita.
Exemplificando:
O SP A utiliza na sua empresa o método da afectação real, tendo adquirido em Outubro de 2008
uma máquina industrial por € 10.000 com € 2.000 de IVA suportado. A máquina é utilizada para
a realização de operações que conferem direito a dedução e para outras que não conferem
aquele direito.
Aquando da aquisição o SP admitiu que a referida máquina iria ser utilizada em igual proporção
para ambos os tipos de actividade, deduzindo 50% do imposto suportado (€ 1.000). Acontece
que no fim do ano, e de acordo com os elementos existentes e de base demonstrável, concluiu-
184
Impostos sobre a Despesa
CAPÍTULO 7: IVA – DEDUÇÕES PARCIAIS E REGULARIZAÇÕES
se que o grau de utilização efectiva da máquina em operações sujeitas ao imposto e dele não
isentas foi de apenas 27%.
Impõe-se assim uma correcção ao IVA previamente deduzido, correcção essa consubstanciada
numa regularização de imposto a favor do Estado de € 460 (€ 1.000 – 27% x € 2.000).
Contabilização:
Durante o ano deverá ser contabilizado a débito das contas respectivas (31, 43, 62) o valor de
aquisição dos bens e serviços, acrescido do IVA não dedutível, sendo que a parcela relativa ao
IVA dedutível é contabilizada a débito da conta 2432 – a contrapartida a crédito destes
lançamentos serão as respectivas contas 11/12/22/27.
No final do ano deveremos utilizar a conta 24343, onde irá ser debitada ou creditada a
regularização a favor da empresa ou do Estado, respectivamente, correspondente à diferença
entre a % definitiva e a provisória, por contrapartida das contas 78 ou 68, excepto relativamente
ao imobilizado em que o acerto do IVA no ano de aquisição é levado directamente a crédito ou a
débito da conta 43, efectuando-se as correspondentes amortizações do exercício com base no
valor corrigido.
Finalmente, salda-se a conta 24343, creditando-se ou debitando-se esta conta por contrapartida
da conta 2435 para efeitos do apuramento de IVA do último período de imposto do ano em
causa (253).
253
( ) Poderia/deveria ser utilizada a conta 2431 (de utilização facultativa), onde deveríamos contabilizar todo o IVA
suportado, o qual depois seria repartido pelas contas respectivas – 31, 43 ou 62 (IVA não dedutível) e 2432 (IVA
dedutível). O facto de não ser utilizada a conta 2431 não inviabiliza o cálculo da regularização, pois dispomos de
informação relativa ao IVA dedutível (conta 2432 e DP), podendo efectuar-se a regularização com base numa razão
de proporcionalidade utilizando uma ‘regra de 3 simples’, conduzindo a iguais resultados (no nosso exemplo da
página anterior, se 19.680 está para 80%, quanto é que está para 84% ⇒ 19.680 x 0,84 / 0,80 = 20.664)
185
Impostos sobre a Despesa
CAPÍTULO 7: IVA – DEDUÇÕES PARCIAIS E REGULARIZAÇÕES
Bens móveis
Para além da regularização geral a efectuar no 1º ano, tratando-se de bens móveis que façam
parte do activo imobilizado, haverá que proceder à regularização anual das deduções
efectuadas durante os 4 anos civis subsequentes, quando:
No caso de utilização do pro rata, haverá regularização sempre que a diferença entre o pro
rata definitivo do ano de aquisição e o pro rata definitivo dos 4 anos posteriores for igual ou
superior a 5% (art. 24º, n.º 1).
Nota: no ano de aquisição, a regularização geral (da % provisória para a definitiva) faz-se sempre
independentemente da diferença ser ou não maior que 5% / € 250, consoante o método utilizado.
A regularização consistirá em 1/5 da diferença entre o IVA deduzido no ano de aquisição (com
base na % definitiva desse ano) e o IVA a deduzir em função do pro rata / afectação real com
base em critérios objectivos definitivos apurado em cada um dos anos em que durar o período
de regularização (art. 24º, n.º 3).
Bens imóveis
No que se refere aos imóveis que façam parte do activo imobilizado, o período de regularização
é de 20 anos ( 254), sendo de aplicação genérica independentemente do período de vida útil de
tais bens.
⇒ No final do ano de ocupação do imóvel e em cada um dos 19 anos civis seguintes àquele,
calcular-se-á o montante da dedução que teria lugar na hipótese da aquisição se ter verificado
no ano em consideração, de acordo com o pro rata definitivo desse ano;
(254) Aplicável aos bens imóveis cuja aquisição ou conclusão das obras tenha ocorrido a partir da data da entrada em
vigor do DL n.º 31/2001, de 08 de Fevereiro, (ou seja, 13/02/2001) mantendo-se a aplicação do regime anterior, isto é,
de 10 anos, relativamente às situações ocorridas até àquela data. Tal alteração (que incidiu nos arts. 24º, 24º-A e 25º,
actuais artigos 24º, 25º e 26º) visa combater determinadas manifestações fraudulentas relacionadas com a aquisição
de imóveis (ou de obras em imóveis) que conferiram o direito à dedução (total ou parcialmente), pretendendo-se
acompanhar (controlar) tais imóveis, em sede de IVA, por um período mais compatível com a sua efectiva
durabilidade (utilidade).
186
Impostos sobre a Despesa
CAPÍTULO 7: IVA – DEDUÇÕES PARCIAIS E REGULARIZAÇÕES
⇒ O montante assim obtido será subtraído à dedução efectuada no ano em que teve lugar a
aquisição;
No caso de utilização do pro rata, haverá regularização sempre que a diferença entre o pro
rata definitivo do ano de aquisição e o pro rata definitivo dos 19 anos posteriores for igual
ou superior a 5% (art. 24º, n.º 2).
Nota: no ano de aquisição, a regularização geral (da % provisória para a definitiva) faz-se sempre
independentemente da diferença ser ou não maior que 5% / € 250, consoante o método utilizado.
Esquematizando, no caso de bens móveis (e imóveis) teremos (art. 24º n.º 3):
Se as regularizações assim apuradas forem positivas, o SP terá que efectuar uma entrega
suplementar de imposto correspondente à diferença apurada (deduzimos ‘a mais’ no 1º ano).
Em ambos os casos (bens móveis ou imóveis), a regularização não é aplicável aos bens do
activo imobilizado cujo valor unitário seja inferior a € 2.500 nem aos que, nos termos do DR n.º
2/90, de 12 de Janeiro, tenham um período de vida útil inferior a cinco anos (art.º 24.º n.º 7), ou
seja, os que têm uma taxa de reintegração > 20%.
187
Impostos sobre a Despesa
CAPÍTULO 7: IVA – DEDUÇÕES PARCIAIS E REGULARIZAÇÕES
Para contagem do período de regularização ter-se-á por base o ano da utilização do bem móvel
ou o ano de ocupação do imóvel. No entanto, para efeitos de comparação com o montante da
dedução que seria devida em cada um dos 4 ou 19 anos seguintes ao da utilização ou ocupação
do bem, utilizar-se-á o montante da dedução resultante da aplicação do prorata definitivo do ano
de aquisição ou o somatório dos montantes deduzidos até ao ano da conclusão da obra,
tratando-se de bens imóveis ( 255).
Obviamente que o ano da utilização/ocupação do bem poderá não coincidir com o ano de
aquisição/conclusão da obra. Nestes casos, na prática teremos:
Exemplo:
A empresa ALFA adquiriu em 1997 um bem de equipamento que começou desde logo a utilizar,
tendo suportado nessa aquisição IVA do montante de 1.700 (valor de aquisição - 10.000).
Durante esse ano a empresa efectuou a dedução do IVA suportado com base no pro rata
provisório de 75%.
Sendo o respectivo pro rata definitivo de 83%, no fim do ano a empresa procedeu à
regularização geral (a favor da empresa) devida por força do n.º 6 do art. 23º, na qual se incluiu
a regularização correspondente ao IVA suportado no bem de equipamento (entre outras
regularizações inerentes ao restante imobilizado, existências e outros bens e serviços).
Supondo que:
255
( ) No caso de bens imóveis cuja construção abrange vários exercícios teremos as regularizações a efectuar durante
os anos em que decorrer a obra (regularização geral), determinando-se no ano da sua conclusão uma percentagem
de dedução (definitiva) média, a qual servirá de referência para as regularizações a efectuar a partir do ano de
ocupação e durante mais 19 anos – tal % média de dedução será determinada pelo quociente: Total IVA deduzido na
obra / Total IVA suportado na obra. Claro que se a construção não abranger vários exercícios este problema não se
coloca, utilizando-se a % definitiva do ano da conclusão (e início) da obra.
188
Impostos sobre a Despesa
CAPÍTULO 7: IVA – DEDUÇÕES PARCIAIS E REGULARIZAÇÕES
1998: Como a diferença entre o pro rata definitivo deste ano (90%) e o pro rata definitivo do ano
de aquisição (83%) é superior a 5%, haverá que fazer a devida regularização de IVA:
Neste caso, a regularização será a favor do SP pois a % definitiva com base nos valores do
próprio ano é superior àquela que serviu de base à dedução inicial (campo 40 da DP).
1999: Não há lugar a regularização dado a diferença entre o pro rata definitivo de 1997 (83%) e
o pro rata definitivo de 1999 (85%) ser inferior a 5 pontos percentuais.
Aqui a regularização será a favor do Estado, pois se o bem tivesse sido adquirido neste ano
deduziríamos menos, logo, deveremos efectuar uma entrega de IVA suplementar ao Estado
correspondente a 27,20 (campo 41 da DP).
Aqui teremos direito a regularizar imposto a favor do SP, pois verifica-se que a dedução
efectuada no ano de aquisição/utilização foi inferior àquela que seria efectuada no caso da
aquisição se ter verificado neste ano (deduzimos a menos no ano de aquisição).
Quando haja recurso à afectação real na dedução do imposto relativo a bens de investimento,
sempre que ocorram alterações na proporção do montante deduzido em comparação com o ano
do início da sua utilização, é obrigatória a regularização anual do imposto deduzido, nos prazos
e condições do n.º 4 do art. 24º. Consideram-se, assim, alterações significativas as de valor igual
ou superior a € 250, sendo esta regularização aplicável nos anos seguintes ao de início de
utilização do bem de investimento.
189
Impostos sobre a Despesa
CAPÍTULO 7: IVA – DEDUÇÕES PARCIAIS E REGULARIZAÇÕES
Exemplificando:
Em Fevereiro de 2008 foi adquirida por um SP, e entrou em funcionamento nesse ano, uma
máquina industrial no valor de € 100.000, com IVA suportado de € 21.000, e cujos níveis de
utilização em operações que concedem direito a dedução são os seguintes:
Definitivos:
Em Dezembro de 2008 ---------------------------------------------- 80%
Em Dezembro de 2009 ---------------------------------------------- 85%
Em Dezembro de 2010 ---------------------------------------------- 90%
Em Dezembro de 2011 ---------------------------------------------- 79%
Em Dezembro de 2012 ---------------------------------------------- 76%
Em Fevereiro de 2008 deduz IVA no valor de € 16.590 (21.000 x 79%) e em Dezembro desse
ano deduz, complementarmente, € 210 (80% x € 21.000 - € 16.590).
Só em 2011 não haverá regularização uma vez que o valor da diferença (€ 210) do IVA dedutível
é inferior a € 250.
Contabilização:
No ano de aquisição deverá contabilizar-se na conta 43 o valor de aquisição dos bens do activo
imobilizado, acrescido do IVA não dedutível. No final do ano (regularização geral) a
regularização a contabilizar na conta 24343, será levada directamente à conta 43, creditando-se
ou debitando-se esta conta consoante a regularização seja a favor da empresa ou do Estado,
respectivamente.
Nos anos seguintes (regularizações específicas), será movimentada a conta 24344, debitando-
se ou creditando-se esta conta por contrapartida das contas 79 ou 69, consoante as
regularizações sejam a favor da empresa ou do Estado, respectivamente.
190
Impostos sobre a Despesa
CAPÍTULO 7: IVA – DEDUÇÕES PARCIAIS E REGULARIZAÇÕES
• Os bens estão afectos a uma actividade totalmente tributada no período a regularizar (caso
na venda haja liquidação de IVA, que é geralmente o caso), gerando uma regularização a
favor do SP;
• Os bens estão afectos a uma actividade totalmente não tributada nos casos dessas
transmissões estarem isentas nos termos dos n.º 30 (imóveis) ou
32 do art.º 9.º (bens afectos exclusivamente a uma actividade isenta ou bens cuja aquisição
ou afectação tenha sido feita com a exclusão desse direito nos termos do n.º 1 do art. 21º),
havendo que efectuar a competente regularização a favor do Estado.
Bens móveis
Tratando-se da alienação de bens móveis sujeitos a tributação, a regularização será efectuada
de uma só vez relativamente ao período ainda não decorrido.
Exemplo:
Uma empresa adquiriu um bem de equipamento em 1998 com IVA suportado no valor de 19.000
tendo deduzido imposto numa percentagem de 83% (% de dedução definitiva do ano de
aquisição – pro rata ou afectação real com base em critério objectivo). Posteriormente, em
meados de 2001, a empresa procedeu à alienação do bem por 50.000.
191
Impostos sobre a Despesa
CAPÍTULO 7: IVA – DEDUÇÕES PARCIAIS E REGULARIZAÇÕES
Bens imóveis
No que respeita à alienação de bens imóveis, a regularização deverá também ser efectuada de
uma só vez relativamente ao período de regularização ainda não decorrido, havendo, neste
caso, que considerar duas hipóteses:
1ª hipótese:
Se a alienação do imóvel beneficiar de isenção nos termos do n.º 30 do art. 9º, o direito à
dedução do IVA correspondente ao ano da alienação e seguintes até ao final do período de
regularização será nulo.
Exemplo:
Uma empresa adquiriu em 1995 um imóvel com IVA no montante de 15.000, o qual foi
posteriormente transmitido, em 2000, com isenção de imposto nos termos do n.º 31 do art. 9º
(actual n.º 30 do art. 9º).
Sabendo-se que o IVA deduzido no momento da aquisição ascendeu a 12.000 (80% do IVA
suportado, com base na % definitiva do ano de aquisição), a regularização a efectuar
aquando da transmissão no decurso do ano 2000 nos termos do n.º 5 do art. 24º, será
calculada da seguinte forma:
(nota: no cálculo utiliza-se o prazo de 10 anos dado tratar-se de um bem adquirido antes de
2001). Caso contrário, seria utilizado o prazo de 20 anos.
Considera-se que o bem está afecto a uma actividade totalmente não tributada e portanto
sem direito à dedução, logo, o SP deveria regularizar a favor do Estado o montante de €
6.000 (campo 41 da DP do último período do ano).
2ª hipótese:
Se a alienação do imóvel for tributada, pelo facto do SP ter renunciado à isenção nos termos
do n.º 5 do art. 12º, a regularização será efectuada tendo em conta que o bem está afecto a
uma actividade totalmente tributada, pelo que a regularização far-se-á de uma só vez em
relação ao período de regularização ainda não decorrido.
Exemplo:
Tendo em conta o imóvel referido no exemplo anterior, mas agora transmitido com sujeição a
IVA, teríamos: IVA suportado: 15.000; IVA deduzido 12.000 (80%)
192
Impostos sobre a Despesa
CAPÍTULO 7: IVA – DEDUÇÕES PARCIAIS E REGULARIZAÇÕES
(nota: no cálculo utiliza-se o prazo de 10 anos dado tratar-se de um bem adquirido antes de
2001). Caso contrário, seria utilizado o prazo de 20 anos.
Neste caso, considera-se que o bem está afecto a uma actividade totalmente tributada pelo
n.º de anos que faltam até ao final do período de regularização. A empresa deveria
regularizar a seu favor o montante de 1.500 (campo 40 da DP).
193
Impostos sobre a Despesa
CAPÍTULO 7: IVA – DEDUÇÕES PARCIAIS E REGULARIZAÇÕES
Relativamente ao primeiro caso, a regularização anual corresponderá a 1/20 (1/10 para os bens imóveis
adquiridos antes de 2001) do IVA deduzido por cada ano civil completo em que se verificar a afectação
Exemplo:
Em 1995 um SP adquiriu para o seu imobilizado um imóvel relativamente ao qual suportou e
deduziu IVA no valor de 19.000. Em 1997 destinou esse imóvel a fins habitacionais. Nesse ano
deverá efectuar a regularização no valor de:
Este procedimento deverá manter-se por cada ano completo em que se mantiver a afectação do
imóvel a fins habitacionais, até ao final dos 10 anos (bem adquirido antes de 2001) do período
de regularização.
NOTA: esta regularização só é obrigatória quando a afectação se verifique durante um ano civil completo,
conforme resulta da redacção do artigo (“durante 1 ou mais anos civis completos”) o que poderá originar
que, quando se verifiquem afectações temporárias, por menos de 1 ano, esta regularização não seja
efectuada.
• Se houver liquidação de IVA na venda (bens móveis e imóveis) – considera-se que os bens
foram afectos a uma actividade totalmente tributada, pelo período por decorrer até ao termo
do período de regularização;
• Se a venda for isenta (bens imóveis) – considera-se que o imóvel foi afecto a uma actividade
totalmente não tributada pelo período restante, até que se esgote o período de regularização.
No caso de SP’s do regime normal que cessem a actividade, o problema só se coloca no caso
de vendas isentas de imóveis que conferiram o direito à dedução no momento da aquisição –
actividade totalmente não tributada pelo período restante.
194
Impostos sobre a Despesa
CAPÍTULO 7: IVA – DEDUÇÕES PARCIAIS E REGULARIZAÇÕES
As regularizações do n.º 5 do art. 24º referidas anteriormente, são também aplicáveis aos bens
do activo imobilizado, no caso de passagens do regime normal a regimes de isenção incompleta,
nos termos do art. 12º, n.º 3, al. b) e art. 54º, n.º 4 - nestes casos, no momento da mudança de
regime, regulariza-se a favor do Estado o IVA proporcionalmente ao período restante ainda não
decorrido até que se esgote o período de regularização.
As regularizações do n.º 5 do art. 24º são também aplicáveis no caso de contribuintes que não
são SP’s mistos (generalidade dos SP’s sem restrições especiais ao nível do direito à dedução),
no caso de bens imóveis que conferiram o direito à dedução, alienados (transmitidos) sem
liquidação de IVA – regularização a favor do Estado. No caso de haver liquidação de IVA na
venda do imóvel não haverá regularizações a fazer. No caso de alienação por estes SP’s de
bens móveis também não haverá quaisquer regularizações a fazer (256).
Nos termos do art. 24º n.º 6, a regularização do n.º 5 do art. 24º tem ainda aplicação,
considerando-se que os bens estão afectos a uma actividade não tributada, no caso de bens
imóveis relativamente aos quais houve, aquando da compra/construção/realização de outras
despesas de investimento com eles relacionadas, dedução total ou parcial do IVA suportado,
quando ocorra uma das seguintes situações:
(256) Não há porque se a venda for isenta é porque não se deduziu imposto no momento da aquisição. Se for liquidado
IVA na venda também não haverá regularizações porque no momento da aquisição o IVA foi deduzido integralmente
(ou seja, a actividade já era totalmente tributada).
257
( ) Basicamente foram transpostas para o CIVA as regularizações que constavam anteriormente do DL n.º 241/86.
195
Impostos sobre a Despesa
CAPÍTULO 7: IVA – DEDUÇÕES PARCIAIS E REGULARIZAÇÕES
a) o SP, devido a alteração da actividade exercida ou por imposição legal, passe a realizar
exclusivamente operações isentas sem direito à dedução;
b) o SP passe a realizar exclusivamente operações isentas sem direito à dedução, em
virtude do disposto no n.º 3 do art. 12º ou nos n.º 3 e 4 do art. 54º;
c) O imóvel passe a ser objecto de uma locação isenta nos termos do n.º 29 do art. 9º (258).
Nestes casos, no momento em que aconteça algum dos factos previstos, regulariza-se a favor
do Estado o IVA proporcionalmente ao período restante ainda não decorrido até que se esgote
o período de regularização. Claro está que só haverá regularizações relativamente aos bens
que ainda estão dentro do período de regularização (5/20 anos).
Nos termos do art. 26º n.º 2, a regularização prevista no n.º 1 do mesmo artigo será também
de efectuar no caso de bens imóveis relativamente aos quais houve lugar à dedução total ou
parcial do IVA suportado na compra/construção/realização de outras despesas de investimento
com eles relacionadas, quando os mesmos sejam afectos a uma das utilizações previstas no
art. 21º n.º 1 al. d) (despesas relativas a imóveis ou parte de imóveis destinados
principalmente a alojamento, recepção, acolhimento de pessoas estranhas à empresa). A
regularização anual corresponderá a 1/20 (1/10 para os bens imóveis adquiridos antes de 2001) do IVA
deduzido por cada ano em que se verificar a afectação.
O previsto na al. b) não prejudica o dever de efectuar a regularização prevista no n.º 1 do art.
26º do CIVA até ao decurso do prazo de 2 anos.
(258) Se após a locação isenta o imóvel for objecto de utilização pelo SP exclusivamente no âmbito de operações que
conferem direito à dedução, então é aplicável, aquando dessa utilização, a regularização prevista no art. 25º n.º 1 al.
b) – art. 25º nº 4.
196
Impostos sobre a Despesa
CAPÍTULO 7: IVA – DEDUÇÕES PARCIAIS E REGULARIZAÇÕES
Na medida em que tais bens vão posteriormente ser utilizados em operações tributáveis, a
impossibilidade de regularização do IVA neles contido geraria duplicação de imposto (efeitos
cumulativos).
No sentido de evitar tais distorções, foi aditado ao CIVA pelo n.º 1 do art.º 44º da Lei n.º 3-
B/2000, de 4 de Abril, o art.º 24º-A (actual art. 25º), que mais não representa do que a
consagração legal da interpretação dos artigos 19º e 20º da Sexta Directiva (actuais artigos
173.º a 175.º da Directiva 2006/112/CE, do Conselho de 28 de Novembro de 2006) efectuada
pelo Grupo de Trabalho n.º 1 da Comissão, segundo o qual o direito à dedução do imposto
suportado em bens de investimento, mantém-se quando ocorra tributação de uma actividade até
então isenta, ou passagens de bens de um sector de actividade isento para um sector de
actividade tributado.
Por outro lado, com a utilização na redacção do preceito, da expressão ‘ou por imposição legal’
pretende-se igualmente afastar do âmbito de aplicação da norma, os SP’s que desenvolvendo
actividades isentas que não conferem direito a dedução, poderiam ter optado pela tributação e
não o fizeram.
Nestes casos a regularização a favor da empresa será proporcional ao número de anos que
faltem para completar o período de regularização (5 ou 20 anos), pelo que, por exemplo, os bens
móveis terão que ter sido adquiridos, no máximo, nos 4 anos anteriores.
Imagine-se o exemplo de uma empresa que utiliza um sistema de afectação real e que afectou
no ano de aquisição (2000) uma máquina (adquirida com IVA no montante de 1.000) ao seu
sector de actividade não tributado, não tendo deduzido qualquer imposto no momento da
aquisição. No decurso do ano 2002, afectou a máquina ao sector tributado podendo então ainda
197
Impostos sobre a Despesa
CAPÍTULO 7: IVA – DEDUÇÕES PARCIAIS E REGULARIZAÇÕES
deduzir 3/5 do IVA suportado, logo, deverá incluir a seu favor no campo 40 da DP o montante de
600 [(1000/5) x 3).
O mesmo exemplo poderia ser dado no caso de uma empresa que viu alterada a sua actividade
deixando de praticar operações isentas (passagem a uma actividade totalmente tributada). Tal
empresa poderá deduzir integralmente o imposto suportado no imobilizado, proporcionalmente
ao n.º de anos que faltem para terminar o período de regularização, regularizando imposto a seu
favor no campo 40 da DP relativa ao período em que se verificou a alteração.
Poderia também dar-se o exemplo de um contribuinte que por imposição legal passou a praticar
operações que conferem o direito à dedução (como aconteceu com os advogados, médicos-
veterinários e tradutores), o qual poderá ainda recuperar parte do imposto não deduzido no
momento da aquisição, proporcionalmente ao n.º de anos que restem até que se esgote o
período de regularização dos bens de equipamento (tal período poderá já estar esgotado no
caso de bens antigos).
Com as alterações introduzidas pelo DL n.º 21/2007, o n.º 4 do art. 24º-A (actual art. 25º) passa
a prever também a possibilidade de aplicação da regularização prevista na al. b) do n.º 1 do
mesmo artigo aos imóveis que, após uma locação isenta (art. 9º n.º 29) abrangida pela al. c) do
n.º 6 do art. 24º, passem a ser objecto de uma utilização pelo SP exclusivamente no âmbito de
operações que conferem direito à dedução.
198
Impostos sobre a Despesa
CAPÍTULO 8: IVA – OBRIGAÇÕES DOS SPs
CAPÍTULO 8
IVA – OBRIGAÇÕES DOS SPs
ÍNDICE
199
Impostos sobre a Despesa
CAPÍTULO 8: IVA – OBRIGAÇÕES DOS SPs
259
( ) Note-se que algumas destas obrigações já foram sendo abordadas ao longo dos capítulos anteriores deste
manual; faz-se aqui, no entanto, um resumo das principais obrigações dos SPs em sede de IVA.
260
( ) Na falta de representante, o sujeito passivo do imposto é, nos termos da al. g) do n.º 1 do art. 2º, o próprio
adquirente dos bens/serviços, desde que o faça no exercício de uma actividade sujeita a imposto, ainda que dele isenta.
200
Impostos sobre a Despesa
CAPÍTULO 8: IVA – OBRIGAÇÕES DOS SPs
Janeiro, e respeitante às operações deste mês, deve ser pago até ao dia 10 do mês
de Março) – art. 27º n.º 1 e art. 41º n.º 1 al. a);
Até ao dia 15 do segundo mês seguinte ao trimestre a que respeite, sendo
contribuintes do regime normal de periodicidade trimestral (ex: o imposto apurado e
respeitante ao 1º trimestre do ano, deve ser pago até ao dia 15 do mês de Maio) –
art. 26º n.º 1 e art. 41º n.º 1 al. b);
261
( ) Conforme dispõe o art. 88º n.º 1, a Direcção de Serviços de Cobrança do IVA (DSCIVA) procede à liquidação
oficiosa do imposto, com base nos elementos de que disponha, quando o SP não apresente a declaração periódica
nos termos e prazos referidos no art. 41º. A liquidação oficiosa ficará sem efeito se, dentro do prazo para o
pagamento do imposto oficiosamente liquidado, o SP apresentar a declaração periódica em falta (art. 88º n.º 4 al. a)).
201
Impostos sobre a Despesa
CAPÍTULO 8: IVA – OBRIGAÇÕES DOS SPs
202
Impostos sobre a Despesa
CAPÍTULO 8: IVA – OBRIGAÇÕES DOS SPs
Obrigações
Obrigações declarativas
declarativas não
não
periódicas
periódicas
(262) O Decreto-Lei n.º 111/2005, de 8 de Julho aprovou o Regime Especial de Constituição Imediata de Sociedades,
designado por "empresa na hora". Conjuntamente com a aprovação deste diploma, foram aprovadas diversas
alterações legislativas sendo que, em sede de IVA, foram alterados os art. 30.°, 31.º e 34.º-A do CIVA (actuais artigos
n.º 31º, 32º). A nova redacção dada a estas normas impõe que as declarações em papel sejam substituídas por
declarações verbais dos contribuintes, sendo os elementos declarados introduzidos de imediato no sistema informático
e impressos em documentos tipificados. Estes documentos tipificados serão autenticados com a assinatura do
funcionário receptor, após confirmação pelo declarante dos elementos deles constantes, e substituirão para todos
efeitos legais as declarações em papel. Após a impressão do Documento de Confirmação de Dados, deverá o mesmo
ser fornecido ao contribuinte para validação dos dados recolhidos, devendo alertar-se o sujeito passivo para os
enquadramentos a que ficou sujeito em sede de IVA e de IRC. Apenas se deverá proceder à confirmação das
declarações na base de dados após o Documento de Confirmação de Dados ter sido devidamente assinado pelo sujeito
passivo. Só é permitido o uso das declarações em papel quando o sistema informático estiver indisponível, ou quando
este não aceitar as declarações que se pretendem introduzir o que deverá ser justificado pelo senhor chefe do serviço
de finanças – art. 34º-A (o artigo 34º-A foi entretanto revogado).
203
Impostos sobre a Despesa
CAPÍTULO 8: IVA – OBRIGAÇÕES DOS SPs
De acordo com o n.º 3 do art. 32º, aditado pelo DL n.º 122/2009, de 21 de Maio (que
veio concretizar uma medida do Programa SIMPLEX relativa às comunicações das
empresas ao Estado), o contribuinte fica dispensado da entrega da declaração de
alterações sempre que as alterações em causa sejam de factos sujeitos a registo na
conservatória do registo comercial e a entidades inscritas no ficheiro central de
pessoas colectivas que não estejam sujeitas no registo comercial.
(263) Ainda que os comerciantes individuais e os estabelecimentos individuais de responsabilidade limitada estejam
sujeitos a registo, porque não são pessoas colectivas, não ficam abrangidos pelo disposto na nova redacção do n.º 2 do
artigo 31.º, aplicando-se-lhes o n.º 1 do mesmo artigo (OFCD 030 080 – DSIVA, de 08/07/2005).
204
Impostos sobre a Despesa
CAPÍTULO 8: IVA – OBRIGAÇÕES DOS SPs
E ainda:
- seja partilhada a herança indivisa de que façam parte o estabelecimento ou os
bens afectos ao exercício da actividade (alínea c) do n.º 1 do art. 34.º);
- se dê a transferência, a qualquer título, da propriedade do estabelecimento
(alínea d) do n.º 1 do art. 34.º);
- quando sendo manifesto que a actividade não está a ser exercida nem há
intenção de a continuar a exercer, a cessação seja declarada oficiosamente pela
administração fiscal (1.ª parte do n.º 2 do art. 34.º);
- sempre que o SP tenha declarado o exercício de uma actividade sem que
possua uma adequada estrutura empresarial susceptível de a exercer e a
cessação seja declarada oficiosamente pela administração fiscal (2.ª parte do n.º 2
do art. 34.º).
b) Periódicas
264
( ) O Artigo 42º do CIVA fixa os critérios de determinação do volume de negócios.
205
Impostos sobre a Despesa
CAPÍTULO 8: IVA – OBRIGAÇÕES DOS SPs
Declaração Recapitulativa (art. 29º, n.º 1, i) e art. 23º, n.º 1 al. c) do RITI)
A declaração recapitulativa deve ser enviada pelo sujeito passivo, sempre que este
efectue:
• Prestações de serviços:
206
Impostos sobre a Despesa
CAPÍTULO 8: IVA – OBRIGAÇÕES DOS SPs
Exemplo:
Quando ocorrer alguma das situações a seguir indicadas deve ser submetida uma
declaração recapitulativa de substituição:
Declaração Anual (IES – Informação Empresarial Simplificada) (art. 29º, n.º 1 al. d), e) e f))
Anexo L
Elementos contabilísticos e fiscais
Anexo M
Operações realizadas em espaços diferentes da sede (operações consideradas
localizadas em mais do que um dos seguintes espaços: Continente, Açores e
Madeira).
Anexo N
Regimes especiais
Operações sujeitas a regimes particulares ou legislação especial tais como:
- Regime Especial de Tributação dos Bens em Segunda mão, Objectos de Arte,
de Colecção e Antiguidades - DL 199/96, de 18 de Outubro;
- Regime das Agências de Viagens e Organizadores de Circuitos Turísticos - DL
221/85, de 3 de Julho;
- Regime Especial de Tributação dos Tabacos;
- Regime Especial de Tributação dos Combustíveis
Anexo O
Mapa recapitulativo de clientes, quando o volume anual de vendas (por cada um
deles) seja superior a € 25.000,00;
Anexo P
Mapa recapitulativo de fornecedores, quando o volume anual de compras (por
cada um deles) seja superior a € 25.000,00;
209
Impostos sobre a Despesa
CAPÍTULO 8: IVA – OBRIGAÇÕES DOS SPs
- Regra geral, o SP tem obrigação de emitir uma factura ou documento equivalente por cada
transmissão de bens ou prestação de serviços e pelos recebimentos antecipados, até ao 5º
dia útil seguinte ao do momento em que o imposto é devido (art. 29º n.º 1 al. b) e art. 36º n.º
1), salvaguardando-se as seguintes situações:
- Nos termos do art. 36º n.º 8, pode o Ministro das Finanças autorizar prazos mais alargados
quanto à emissão de facturas.
- Deverá ainda ser emitida factura ou documento equivalente sempre que o valor tributável da
operação ou o imposto correspondente sejam alterados por qualquer motivo, incluindo
inexactidão.
- É possível recorrer ao processamento de facturas globais respeitantes a cada mês ou a
períodos inferiores, desde que, por cada transacção seja emitida uma guia ou nota de
remessa que no seu conjunto (factura global e guia de remessa) contenham os elementos do
art. 36º n.º 5 (art. 29º n.º 6).
- As facturas ou documentos equivalentes devem ser processados em duplicado, sendo o
original para o cliente e o duplicado para o fornecedor (art. 36º n.º 4).
- As facturas ou documentos equivalentes deverão ser datados, numerados sequencialmente e
conter os seguintes elementos (art. 36º, n.º 5): ( 267)
Nomes, firmas ou denominações sociais e sede ou domicílio das partes e respectivos NIF;
Quantidade e denominação usual dos bens transmitidos ou dos serviços prestados, com
especificação dos elementos necessários à determinação da taxa aplicável. As embalagens não
transaccionadas deverão ser objecto de indicação separada e com menção expressa de que foi
acordada a sua devolução;
O preço líquido de IVA e outros elementos incluídos no valor tributável;
As taxas aplicáveis e o montante do imposto devido;
O motivo justificativo da não aplicação do imposto, se for caso disso (isenções ou outras
situações em que não haja lugar a imposto);
A data em que os bens foram colocados à disposição do adquirente, os serviços foram
realizados ou em que foram efectuados pagamentos anteriores à realização das operações, se
essa data não coincidir com a da emissão da factura.
(267) Note-se que, a partir de 1 de Janeiro de 2004, os requisitos que devem constar das facturas ou documentos
equivalentes encontram-se harmonizados nos diversos Estados-membros da UE. Entre nós, o art. 36º n.º 5 foi
alterado nesse sentido através do DL n.º 256/2003, de 21 de Outubro, que veio proceder à transposição para a ordem
jurídica interna da Directiva n.º 2001/115/CE, do Conselho, de 20 de Dezembro, que alterou a Sexta-Directiva, tendo
em vista simplificar, modernizar e harmonizar as condições aplicáveis à facturação em matéria de IVA.
211
Impostos sobre a Despesa
CAPÍTULO 8: IVA – OBRIGAÇÕES DOS SPs
A dispensa de facturação poderá ainda ser extensível, pelo Ministro das Finanças, a outros
SP sempre que estes forneçam ao público serviços que pela sua frequência e valor limitado
tornem onerosa a sua facturação (art. 40º n.º 5 e 6).
212
Impostos sobre a Despesa
CAPÍTULO 8: IVA – OBRIGAÇÕES DOS SPs
• A dedução do IVA contido nos documentos emitidos pelos próprios adquirente fica
condicionado à verificação das condições indicadas no ponto anterior.
A Lei n.º 33/2006, publicada no Diário da República, I.ª Série, n.º 145, em 28 de Julho de
2006, alterou o CIVA, estabelecendo regras especiais em matéria de tributação de
desperdícios, resíduos e sucatas recicláveis e de certas prestações de serviços
relacionadas. Estas novas regras consistem na aplicação da inversão do sujeito passivo,
passando a liquidação do IVA, que se mostre devido nessas operações, a ser efectuada
pelo respectivo adquirente, desde que este seja sujeito passivo do imposto com direito à
dedução total ou parcial. Para além de outras particularidades deste regime, introduziu-se a
obrigatoriedade de auto-facturação nos casos em que os sujeitos passivos referidos no art.
2º n.º 1 al. i) adquiram aquele tipo de bens e/ou serviços a um transmitente ou prestador
que não seja sujeito passivo (particulares) (art. 29º n.º 15), não se aplicando, neste casos,
os condicionalismos do art. 36º n.º 11.
213
Impostos sobre a Despesa
CAPÍTULO 8: IVA – OBRIGAÇÕES DOS SPs
Em sede de obrigações contabilísticas, o CIVA determina, basicamente, no art. 44º n.º 1, que
a contabilidade deve ser organizada de forma a possibilitar o conhecimento claro e
inequívoco dos elementos necessários ao cálculo do imposto, bem como a permitir o
controle, comportando todos os dados necessários ao preenchimento da DP do imposto.
Para além destes elementos deverão constar (art. 44º n.º 2, 3 e 4):
às operações previstas no art. 3º, n.º 3, al. f) e g), e art. 4º, n.º 2, al. a) e b) (auto-
consumos internos e externos, assimilados a TB ou PS), bem como nos casos em
que a respectiva liquidação compete, nos termos da lei, ao adquirente (situações de
reverse-charge interno);
o valor das aquisições de gasóleo, gases de petróleo liquefeitos (GPL), gás natural e
biocombustíveis
o valor do imposto dedutível, segundo a taxa aplicável;
- Operações a jusante
o registo deverá ser efectuado no prazo que decorre desde a data da emissão da factura ou
documento equivalente até à data da apresentação das declarações periódicas a que se
referem os art. 41º ou 43º, ou até ao termo desse prazo se findo o mesmo as declarações
não tiverem sido apresentadas (art. 45º n.º 1).
- Operações a montante
deverão ser registadas após a recepção das respectivas facturas ou equivalentes até à
apresentação das declarações previstas nos art. 41º ou 43º, ou até ao termo do prazo para a
sua apresentação se findo este as declarações não tiverem sido apresentadas (art. 48º, n.º 1).
214
Impostos sobre a Despesa
CAPÍTULO 8: IVA – OBRIGAÇÕES DOS SPs
Os contribuintes com contabilidade organizada têm ainda que proceder ao registo dos bens
de investimento nos termos do art. 51º, CIVA, para efeitos de controlo das deduções e das
regularizações efectuadas.
de matérias-primas e de consumo
de vendas de mercadorias
de produtos fabricados
de serviços prestados
de despesas e de operações ligadas a bens de investimento
de existências (Mercadorias, matérias-primas e de consumo e produtos fabricados)
à data de 31 de Dezembro de cada ano
Os sujeitos passivos abrangidos pelo art. 40º, sempre que não emitam factura ou
documento equivalente, deverão efectuar na contabilidade ou nos livros do art. 50º (art. 46º
n.º 1 e 3):
um registo global das operações tributáveis efectuadas diariamente, com imposto incluído;
um registo diário pelo valor global das operações não tributáveis ou isentas de imposto nos
termos dos art. 9º, 13º, 14º e 15º;
O registo das operações efectuadas por estes contribuintes (art. 46º n.º 2) deverá ser feito
no próprio dia ou, o mais tardar, no primeiro dia útil seguinte ao da realização das
operações, tendo por base os documentos adequados (fitas de máquinas registadoras,
talões de venda, talão recapitulativo diário ou folhas de caixa), os quais, se tiverem a
indicação clara de um único total diário, poderão substituir o respectivo registo.
215
Impostos sobre a Despesa
CAPÍTULO 8: IVA – OBRIGAÇÕES DOS SPs
Disposições comuns
216
Impostos sobre a Despesa
CAPÍTULO 9: IVA – REGULARIZAÇÕES (art. 78º)
CAPÍTULO 9
IVA – REGULARIZAÇÕES (art. 78º)
ÍNDICE
9. REGULARIZAÇÕES DO IMPOSTO
217
Impostos sobre a Despesa
CAPÍTULO 9: IVA – REGULARIZAÇÕES (art. 78º)
9. REGULARIZAÇÕES DO IMPOSTO
Apesar das deduções efectuadas pelos SP terem, em princípio, um carácter definitivo,
deverão ou poderão ser alteradas em determinadas situações referidas no art. 78º. São as
chamadas situações de rectificação do IVA previstas, essencialmente, nos seguintes casos:
Grosso modo, pode afirmar-se que a rectificação é obrigatória caso o imposto seja a favor da
Administração Fiscal (imposto liquidado a menos) e facultativa se o imposto for a favor do SP
(imposto liquidado a mais).
Os SP deverão proceder à regularização do IVA conforme disposto no art. 78º, nos seguintes
termos gerais:
- Sempre que o valor tributável de uma operação ou o respectivo imposto sofram uma
rectificação, deve observar-se o disposto nos art. 36º e seguintes (art. 78º n.º 1);
- Se depois de registada a operação, esta for anulada ou for reduzido o seu valor tributável,
em virtude de invalidade, resolução, rescisão ou redução do contrato, de devolução de
mercadorias ou da concessão de abatimentos ou descontos, o fornecedor do bem ou o
prestador do serviço poderá deduzir o IVA até ao final do período de imposto seguinte
àquele em que se verificarem as circunstâncias que determinaram a anulação da
liquidação ou a redução do seu valor tributável (art. 78º n.º 2);
- O adquirente do bem ou destinatário do serviço que seja SP, caso já tenha registado uma
operação relativamente à qual o fornecedor ou prestador do serviço procedeu a anulação,
redução do valor tributável ou rectificação para menos, deve corrigir, até ao fim do
período de imposto seguinte ao da recepção do documento rectificativo, a dedução
efectuada (art. 78º n.º 4);
- Caso o valor tributável de uma operação ou o respectivo imposto sofram uma rectificação
para menos, a regularização a favor do SP só pode ser efectuada quando tenha prova de
218
Impostos sobre a Despesa
CAPÍTULO 9: IVA – REGULARIZAÇÕES (art. 78º)
Caso não se cumpram os requisitos previstos no art. 78º, as rectificações são consideradas
nulas, com os efeitos legais daí subjacentes.
Para além das regularizações antes indicadas, o art. 78.º regula, ainda, no seu n.º 6, as
correcções de erros materiais ou de cálculo praticados nos registos ou nas
declarações periódicas.
Os erros do tipo descrito resultam, normalmente, de erros de transcrição das facturas para
os suportes contabilísticos ou destes para as declarações periódicas, e devem ser
corrigidos mediante a apresentação de declaração periódica de substituição.
Em relação aos erros de omissão, a Administração Fiscal entende que o direito à dedução
de documentos ainda não contabilizados prevalece durante o prazo de quatro anos
estabelecido no n.º 2 do art. 98.º do CIVA.
O art. 78º prevê ainda, nos n.os 8 e 9, outras situações em que os SP podem deduzir o IVA,
como por exemplo o caso de créditos considerados incobráveis em processo de
execução (após o registo da suspensão de instância) ou em processo de insolvência
(quando a mesma seja decretada).
Os créditos sejam superiores a € 750 e inferiores a € 8.000, IVA incluído, e o devedor, sendo um
particular ou sujeito passivo que realize exclusivamente operações isentas que não confiram
direito a dedução, conste no registo informático de execuções como executado contra quem foi
movido processo de execução anterior entretanto suspenso ou extinto por não terem sido
encontrados bens penhoráveis;
Os créditos sejam superiores a € 750 e inferiores a € 8.000, IVA incluído, tenha havido aposição
de fórmula executória em processo de injunção ou reconhecimento em acção de condenação e o
devedor seja particular ou sujeito passivo que realize exclusivamente operações isentas que não
confiram direito a dedução;
Os créditos sejam inferiores a € 6.000, IVA incluído, deles sendo devedor sujeito passivo com
direito à dedução e tenham sido reconhecidos em acção de condenação ou reclamados em
processo de execução e o devedor tenha sido citado editalmente.
Os créditos sejam superiores a € 750 e inferiores a € 8000, IVA incluído, quando o devedor,
sendo um particular ou um sujeito passivo que realize exclusivamente operações isentas que
não conferem direito a dedução, conste da lista de acesso público de execuções extintas com
pagamento parcial ou por não terem sido encontrados bens penhoráveis no momento da
dedução. [Aditada pela Lei n.º 64-A/2008, de 31 de Dezembro - OE]
De acordo com o n.º 17 do art. 78º, aditado pela Lei n.º 64-A/2008, de 31 de Dezembro –
OE, o disposto no n.º 8 do referido artigo não é aplicável quando estejam em causa
transmissões de bens ou prestações de serviços cujo adquirente ou destinatário constasse,
no momento da realização da operação, da lista de acesso público de execuções extintas
com pagamento parcial ou por não terem sido encontrados bens penhoráveis.
220
Impostos sobre a Despesa
CAPÍTULO 10: IVA – REGIMES ESPECIAIS E REGIMES PARTICULARES
CAPÍTULO 10
IVA – REGIMES ESPECIAIS E REGIMES PARTICULARES
ÍNDICE
10.2.4. Combustíveis
221
Impostos sobre a Despesa
CAPÍTULO 10: IVA – REGIMES ESPECIAIS E REGIMES PARTICULARES
Este regime, bastante simplificado, abrange os sujeitos passivos que, nos termos do n.º 1 do
art. 53º reúnam cumulativamente as seguintes condições:
• não possuam, nem sejam obrigados a possuir contabilidade organizada (269);
• não pratiquem actividades de importação, exportação ou actividades conexas (270);
(268) Considerando-se excessivo o n.º de contribuintes enquadrados neste regime, e existindo indícios fortes de
manipulação das vendas por parte destes contribuintes, o OE para 2002 previa autorizações legislativas, com especial
incidência no REI, que implicavam, designadamente, a não permanência neste regime especial por um período superior
a 3 anos, dentro de determinados condicionalismos, nomeadamente tratar-se da actividade principal do SP (excluíam-se
assim os rendimentos da categoria B de carácter acessório, que seria talvez a situação mais preocupante). Em todo o
caso, tais intenções, que se compreendem, atendendo ao elevado nível de fraude e evasão, não foram levadas em
diante pelos Governos seguintes. No nosso entendimento, tais medidas viriam porventura complicar o sistema do IVA,
atendendo ao aumento exponencial de SP’s no regime normal, situação contrária à preocupação manifestada pelo
legislador no preâmbulo do CIVA, em afastar das regras do imposto os pequenos contribuintes – embora, naturalmente,
o legislador se referisse aos verdadeiros pequenos contribuintes, no pressuposto, algo ingénuo, de que as fraudes no
IVA seriam mínimas. Em todo o caso, é evidente que a inclusão no regime normal do IVA dos ‘falsos pequenos
contribuintes’, com uma forte actividade paralela, não complica o sistema, antes pelo contrário, tais contribuintes são
bem-vindos, permitindo uma maior equidade em sede de IVA e, consequentemente, em sede doutros tributos (IRS, IRC
e Segurança Social).
(269) Tal pressuposto, implica que os contribuintes que tenham optado pelo regime da contabilidade para efeitos de IRS
(para evitar as regras de apuramento do regime simplificado), deixem de preencher os requisitos de inclusão no REI,
devendo apresentar a declaração de alterações, no prazo de 15 dias, nos termos da al. c) do n.º 2 do art. 58º do CIVA,
com vista à sua passagem para o regime normal.
270
( ) Contrariamente aos SP’s enquadrados no REPER, os SP’s deste regime podem praticar operações abrangidas
pelo RITI sem que isso modifique o seu enquadramento em IVA, inserindo-se, no entanto, num regime específico
previsto no art. 5º do RITI, que se aplica também ao Estado e aos SP’s isentos pelo art. 9º (entidades mencionadas nas
als. b) e c) do n.º 1 do art. 2º do RITI). Grosso modo, estes SP’s suportam imposto na origem pelas AIB efectuadas
(aquisições de bens a outros EM), se tais aquisições não excederem o montante de € 10.000, valor a partir do qual a
tributação passa a dar-se obrigatoriamente no destino, implicando a entrega de uma declaração de alterações (art. 25º
do RITI) e a (auto)liquidação de imposto no território nacional, sem que o mesmo possa ser deduzido atendendo à
natureza destes SP’s (podem optar, independentemente do limite, pela tributação no destino, manifestando tal vontade
na declaração de início de actividade ou de alterações). A liquidação de imposto será feita numa declaração periódica a
enviar somente relativamente aos períodos em que haja obrigações tributáveis, nos termos do art. 31º do RITI. Este
regime de tributação na origem até um determinado limite, pretende evitar que ocorram distorções provocadas pela
222
Impostos sobre a Despesa
CAPÍTULO 10: IVA – REGIMES ESPECIAIS E REGIMES PARTICULARES
Trata-se de uma isenção simples ou incompleta, caracterizada pela não liquidação de IVA a
jusante, mas também pela não dedução do imposto suportado a montante, conforme estipula
o n.º 3 do art. 54º, semelhante às isenções previstas no art. 9º do CIVA, podendo afirmar-se,
embora com algum exagero, que, para efeitos de IVA, são como consumidores finais.
Tal significa que o consumidor, ao adquirir bens e serviços a estes SP’s, terá que pagar
efectivamente IVA, porém, tal imposto encontra-se implícito (escondido, oculto) no preço, e
não de forma explícita como normalmente acontece ( 273).
É possível a renúncia a este tipo de isenção, nos termos do art. 55º do CIVA, manifestada na
declaração de início de actividade (art. 31º) ou em declaração de alterações (art. 32º),
produzindo efeitos a partir da data da sua apresentação e ficando o contribuinte obrigado a
permanecer no regime por que optou (RNT ou RNM) durante pelo menos 5 anos, findos os
diferença existente nas taxas no seio da CE, uma vez que os adquirentes seriam tentados a adquirir os bens e serviços
num EM com menor tributação.
271
( ) A Lei n.º 33/2006, publicada no Diário da República, I.ª Série, n.º 145, em 28 de Julho de 2006, alterou o CIVA,
estabelecendo regras especiais em matéria de tributação de desperdícios, resíduos e sucatas recicláveis e de certas
prestações de serviços relacionadas. Estas novas regras consistem na aplicação da inversão do sujeito passivo,
passando a liquidação do IVA, que se mostre devido nessas operações, a ser efectuada pelo respectivo adquirente,
desde que sujeito passivo do imposto com direito à dedução total ou parcial. Nessa conformidade foi aditado ao CIVA
um Anexo E que contempla a lista dos bens e serviços abrangidos pelas novas regras de tributação.
272
( ) Tal dispensa ou simplificação traduz um benefício efectivo para os contribuintes – menores custos administrativos.
Possibilita ainda, designadamente através da dispensa de apresentação de DP’s (as quais são objecto de controle por
parte da AF), um outro benefício, este de cariz mais ilegítimo, que é manterem-se mais ‘escondidos dos olhos do fisco’,
ajudando a dissimular a verdadeira dimensão da sua actividade.
273
( ) É evidente a existência de IVA oculto nos preços praticados por estes contribuintes, de montante equivalente ao
IVA suportado a montante e não deduzido - o IVA é um custo para estes operadores, que se reflecte naturalmente no
preço. Em todo o caso, o IVA oculto será, em teoria, de montante inferior ao que seria suportado por um consumidor
que adquirisse tal produto a um SP do regime normal, pois no REI, pelo menos, não há IVA sobre a margem no último
estádio. No caso de clientes SP’s de IVA, será sempre preferível adquirir bens e serviços a outros SP’s do regime
normal, pois, mesmo tendo que suportar IVA de montante superior, tal imposto é integralmente dedutível. Na verdade,
não é possível deduzir o IVA oculto implícito nas facturas emitidas pelos contribuintes enquadrados neste regime, até
porque tal IVA não vem discriminado, isto é, não é repercutido, não sendo possível apurar em rigor o seu montante.
223
Impostos sobre a Despesa
CAPÍTULO 10: IVA – REGIMES ESPECIAIS E REGIMES PARTICULARES
quais poderá voltar ao REI, entregando para o efeito em Janeiro (após o prazo dos 5 anos) a
competente declaração de alterações que produzirá efeitos a partir do dia 1 desse mês.
Por outro lado, nos termos do art. 54º é também possível aos contribuintes enquadrados no
regime normal do IVA a aplicação deste regime especial (se preencherem os respectivos
pressupostos de aplicação), através da apresentação da declaração de alterações no
decurso do mês de Janeiro, produzindo efeitos também a partir de 1 de Janeiro (274).
Nos documentos emitidos pelos SP’s isentos nos termos deste regime especial, deverá
constar a menção ‘IVA – regime de isenção’, de acordo com o preceituado no art. 57º do
CIVA, embora, como se referiu anteriormente, tal não signifique que não haja IVA no preço,
porque há de facto, embora ‘escondido’.
Quanto às obrigações inerentes ao regime, conforme dispõe o art. 59º, ‘sem prejuízo do
disposto no artigo anterior’, os sujeitos passivos isentos nos termos do art. 53º, estão
dispensados das demais obrigações previstas no CIVA.
Assim, são as seguintes as obrigações dos sujeitos passivos deste regime de isenção:
- Entrega da declaração de início de actividade;
- Entrega da declaração de cessação de actividade, quando tal cessação ocorrer;
- Entrega da declaração de alterações, sempre que se verifique qualquer alteração à
actividade, pois as alterações que se verificarem vão originar alterações no seu
enquadramento.
(274) Neste caso, terão que ser efectuadas algumas regularizações a favor do Estado, relativas ao IVA deduzido
em períodos anteriores, no âmbito do regime normal (relativo a Imobilizado e Existências remanescentes), a
efectuar na declaração referente ao último período de tributação, nos termos n.º 4 do art. 54º, conjugado com o n.º
5 do art. 24º, ambos do CIVA. Tais regularizações prendem-se com o facto de neste regime não ser possível a
dedução do IVA, imposto este que foi deduzido aquando da aquisição no âmbito do regime normal, daí a
regularização do IVA do imobilizado e existências remanescentes à data da passagem do RN para o REI.
224
Impostos sobre a Despesa
CAPÍTULO 10: IVA – REGIMES ESPECIAIS E REGIMES PARTICULARES
produzindo efeitos a partir do mês seguinte, ou seja, passando a ser exigível IVA nos
documentos emitidos a partir de 1 de Fevereiro (art. 58º, n.º 2, al. a) e n.º 5) ( 275).
10.1.2. Regime Especial dos Pequenos Retalhistas – REPER
O REPER surge com o objectivo de reduzir a pressão fiscal que os pequenos retalhistas
suportam no exercício da sua actividade económica.
O CIVA dedica os arts. 60º a 68º a este regime especial, destacando-se desde já o disposto
no art. 60º, que refere que ficarão aqui enquadrados, os contribuintes que reúnam
cumulativamente os seguintes requisitos:
(275) No passado a al. a) do n.º 1 do art. 58º apenas era aplicável aos empresários em nome individual (antigas
categorias C e D de IRS). No caso de profissionais liberais (antiga categoria B de IRS), a legislação aplicável até
31/12/2001 previa que a declaração de alterações fosse entregue até ao final do mês seguinte àquele em que
fosse ultrapassado o limite (10.000,00), produzindo efeitos (ou, sendo devido imposto) a partir do início do mês
seguinte àquele em que se tornou obrigatória a entrega da declaração de alterações (art. 58º, n.º 2, al. d), n.º 3 e
n.º 5). Com a entrada em vigor da Lei n.º 109-B/2001, de 27 de Dezembro (Orçamento de Estado para 2002), deu-
se a fusão das categorias B, C e D de IRS na nova Categoria B (Rendimentos Empresariais e Profissionais),
ocorrendo simultaneamente uma alteração na redacção do art. 58º do CIVA (foi eliminada a al. d) do n.º 1). Assim,
face à nova redacção, verifica-se que no caso de ser ultrapassado o limite dos 10.000,00 euros, a declaração de
alterações com a passagem ao regime normal só será apresentada em Janeiro do ano seguinte, produzindo
efeitos a partir de 1 de Fevereiro desse ano – princípio válido aplicável agora a todos os contribuintes
independentemente da actividade exercida (profissionais liberais e empresários em nome individual).
276
( ) Tal pressuposto consta do n.º 6 do art. 60, podendo concluir-se que os pequenos retalhistas não podem
transformar mais do que 10% das suas compras, pois caso isso se verifique, deixam de beneficiar deste regime
especial, por não preencherem os respectivos pressupostos de aplicação.
(277) Porém, para efeitos de IRS, o valor das compras constante da mod. 3 inclui o IVA, sendo nosso entendimento
que para este efeito (ao nível do enquadramento no REPER), o volume de compras se refere a valores sem IVA.
Este facto pode conduzir a equívocos, pois já foram feitas inspecções a alguns contribuintes pelo facto de terem
ultrapassado o limite de compras de acordo com a declaração de IRS, quando na verdade, se fosse expurgado o
IVA suportado nessas compras, se verificava que o limite não havia sido ultrapassado.
278
( ) Se o período de referência for inferior ao ano civil, o volume de compras previsto será convertido num valor
anual, proporcionalmente (art. 60º, n.º 5).
225
Impostos sobre a Despesa
CAPÍTULO 10: IVA – REGIMES ESPECIAIS E REGIMES PARTICULARES
Tal como acontece com os sujeitos passivos enquadrados no REI, também aos SP’s do
REPER é concedida a possibilidade de opção pelo regime normal de tributação a efectuar
numa declaração de alterações a apresentar em Janeiro produzindo efeitos a partir do dia 1
desse mês (art. 63º) ( 279).
É também possível aos SP’s do regime normal de tributação a passagem ao REPER desde
que preencham as condições estabelecidas no art. 60.º e manifestem essa vontade,
entregando para o efeito uma declaração de alterações, a qual deve ser apresentada durante
o mês de Janeiro do ano seguinte àquele em que se verificarem essas condições, produzindo
efeitos a partir de 1 de Janeiro do ano da apresentação (art. 61º) – esta opção implicará que
se façam as regularizações previstas no n.º 4 do art. 61º ( 280).
Os sujeitos passivos abrangidos por este regime não liquidam IVA nas suas vendas mas
terão de entregar imposto nos cofres do Estado.
279
( ) Exercido o direito de opção, deverá o sujeito passivo permanecer no novo regime durante pelo menos 5 anos
(art. 63º, n.º 3), salvo se, antes de findo esse período, se verificarem modificações essenciais no exercício da
actividade que levem o sujeito passivo a solicitar, mediante requerimento, a sua passagem ao regime inicial (art.
63º, n.º 5).
280
( ) Situação análoga à referida a propósito da passagem do RN ao REI (n.º 4 do art. 54º). No caso de passagens
do RN ao REPER apenas será necessário regularizar a favor do Estado o IVA relativo às existências, da seguinte
forma: inclusão, na declaração ou guia referente ao primeiro período de tributação no REPER, do valor que resulte
da aplicação do coeficiente de 1,25 ao valor do imposto deduzido e respeitante às existências remanescentes em
31 de Dezembro (25% do imposto deduzido + imposto deduzido). Relativamente ao imobilizado tudo se passa da
mesma forma, quer no RN, quer no REPER – dedução pela compra e liquidação pela venda em condições
perfeitamente normais.
(281) Em rigor, será 25% do imposto suportado nas aquisições de bens destinados a venda sem transformação (n.º
1, art. 60º), ao qual acresce mais 25% do imposto suportado nas aquisições de materiais destinados a
transformação (n.º 7, art. 60º), logo, na prática, 25% do imposto suportado no total das compras. De notar também
que esta percentagem (25%), pressupõe uma margem de 25% sobre o preço de custo, ou de 20% sobre o preço
de venda, incompatível com determinados negócios que produzem margens inferiores. Esta margem presumida
justifica também, de alguma forma, a exclusão deste regime daqueles que transformam mais do que 10% das
compras, pois a transformação proporciona margens, normalmente, superiores.
282
( ) Desde que não estejam excluídos do direito à dedução, por força do disposto no art. 21º do CIVA. De notar
que neste regime é possível deduzir o imposto suportado na aquisição de ‘outros bens’, incluindo-se aqui,
designadamente, a electricidade (que é um bem corpóreo para efeitos de IVA - art. 3º, n.º 2 do CIVA) e os
combustíveis, no caso, dedução de 50% do IVA suportado nas aquisições de gasóleo e GPL, atendendo aos
condicionalismos impostos pelo mencionado art. 21º, n.º 1. Naturalmente que não é dedutível o IVA suportado nos
serviços (por exemplo, telefone, avença do TOC, serviços prestado por um advogado, serviços de limpeza,
226
Impostos sobre a Despesa
CAPÍTULO 10: IVA – REGIMES ESPECIAIS E REGIMES PARTICULARES
Nas facturas que emitirem, e porque as mesmas não conferem o direito à dedução por parte
do adquirente, deverá constar a menção ‘IVA – não confere direito à dedução’, nos termos do
art. 62º, sem prejuízo da dispensa de facturação prevista no art. 40º (talões de venda).
Quanto às obrigações a que estão sujeitos os sujeitos passivos abrangidos pelo REPER,
salientamos:
1ª Situação
A alteração do volume de compras implica a passagem do REPER para o regime
normal. Neste caso, a entrega da declaração de alterações é obrigatória e deve ser
apresentada durante o mês de Janeiro do ano civil seguinte àquele a que respeita tal
volume de compras.
A entrega da declaração irá produzir efeitos no período de imposto seguinte àquele
em que se torna obrigatória a sua entrega.
2ª Situação
A alteração do volume de compras implica a passagem do regime normal de
tributação para o REPER.
Neste caso, a entrega da declaração de alterações é facultativa, devendo o sujeito
passivo, caso o pretenda, apresentar a declaração de alterações durante o mês de
Janeiro, produzindo efeitos a partir de 1 de Janeiro do ano da sua apresentação.
reparações de bens, etc.). A única excepção é o IVA suportado nas locações de bens (desde que não excluído do
direito à dedução pelo art. 21º).
227
Impostos sobre a Despesa
CAPÍTULO 10: IVA – REGIMES ESPECIAIS E REGIMES PARTICULARES
prazo de 15 dias, produzindo efeitos a partir do momento em que se verificar qualquer uma
das situações que determinaram a mudança de regime (n.º 5, art. 67º).
O prazo de conservação dos livros e documentos é de 10 anos (n.º 1 do art. 52º, aplicável
por força do 68º).
Mudança de regime
Os sujeitos passivos abrangidos por este regime podem a ele renunciar e optar pela
aplicação do regime normal às suas operações, isto é, liquidar IVA nas suas vendas e
passar a enviar a respectiva DP.
tiver completado o prazo do regime de opção. Esta declaração produzirá efeitos a partir de
1 de Janeiro do ano da sua apresentação.
229
Impostos sobre a Despesa
CAPÍTULO 10: IVA – REGIMES ESPECIAIS E REGIMES PARTICULARES
230
Impostos sobre a Despesa
CAPÍTULO 10: IVA – REGIMES ESPECIAIS E REGIMES PARTICULARES
Para o cálculo do custo do ‘pacote turístico’ deve a agência de viagens considerar, para além
das despesas relativas a transportes, alojamento, alimentação, transferes, entre outros,
também a comissão com o respectivo IVA que irá pagar ao revendedor.
No sentido de harmonizar o regime de tributação das agências de viagens com o disposto na
6ª Directiva, foi estabelecido o seguinte:
- Se as operações relativamente às quais a agência recorre a outros sujeitos passivos
forem efectuadas por estes fora da Comunidade, a prestação de serviços da agência é
equiparada a uma actividade de intermediário e isenta;
- Se as operações forem efectuadas tanto na Comunidade como fora dela, só deve ser
considerada isenta a parte da prestação de serviços da agência de viagens respeitantes
às operações efectuadas fora da Comunidade.
Assim, no âmbito de um pacote turístico, se os terceiros (hotéis) estiverem sedeados
simultaneamente em países terceiros e em EM, parte da margem inerente ao ‘pacote’ será
283
( ) Em nome próprio perante o cliente embora por conta de terceiros, ou seja, a agência factura o preço ao
cliente em nome próprio, sendo por sua vez a ela que os operadores (transportadoras, hotéis, etc.) facturam os
serviços por um valor menor. Diferente é a situação em que as agências de viagens actuam em nome e por conta
de terceiros (do cliente ou dos prestadores), uma vez que nestes casos, são os hotéis e transportadoras que
facturam o preço do serviço em nome do cliente final, pelo que a agência apenas factura a comissão recebida a
esses mesmos operadores, neste caso no âmbito do regime geral (as despesas em nome e por conta do cliente –
facturas dos hotéis em nome do cliente, deverão ser contabilizadas na agência em contas de terceiros
apropriadas, nos termos da al. c) do n.º 6 do art. 16º). Também se poderá dar o caso dos hotéis facturarem o
preço à agência, a qual emitirá uma factura ao cliente exactamente por esse valor e outra factura ao hotel
relativamente à comissão auferida, situação também abrangida pelo regime geral, desde que a agência possa
provar que cobrou do cliente exactamente o valor facturado pelo hotel. Outras formas de actuação poderiam ser
mencionadas, tratando-se de situações de alguma complexidade, embora marginais no contexto do IVA.
231
Impostos sobre a Despesa
CAPÍTULO 10: IVA – REGIMES ESPECIAIS E REGIMES PARTICULARES
isenta (serviços prestados por operadores sedeados em países terceiros - al. s), n.º 1 do art.
14º) e a outra parte será sujeita a IVA por este regime particular (quando os terceiros estiverem
sedeados na CE), pelo que deverá calcular-se o IVA da margem com base numa percentagem
em que no numerador constará o custo do pacote relativamente às PS efectuadas por terceiros
na Comunidade e no denominador a totalidade do custo do pacote relativamente às PS
efectuadas por terceiros dentro e fora da CE, sendo essa a % da margem a tributar segundo
este regime especial, uma vez que a margem restante está isenta de IVA.
O imposto a cobrar ao utente incide apenas sobre a margem bruta, ou seja, o valor tributável
das PS efectuadas pelas agências, é constituído pela diferença entre a contraprestação
devida pelo cliente (sem IVA) (284), e o custo suportado nas TB e PS efectuadas por terceiros
em benefício directo do cliente (com inclusão de IVA).
Ao montante do imposto assim obtido, deduz-se o imposto suportado ou devido pelo sujeito
passivo em relação a outros bens e serviços que não os fornecidos por terceiro para
benefício do cliente.
Esta forma de cálculo do IVA justifica-se pelo facto dos serviços que constituem o ‘pacote
turístico’ (circuitos turísticos) serem tributados, nos termos gerais, nos países onde são
efectuados (por vezes em vários países em simultâneo com diferentes tributações, sem
possibilidade de dedução em Portugal), em resultado da aplicação da regra geral de
localização das PS (localização no país da sede do prestador), daí a agência, no seu país,
liquidar IVA apenas pelo valor acrescentado (margem bruta).
Os sujeitos passivos abrangidos por este regime não têm direito à dedução do imposto que
onerou as transmissões de bens e prestações de serviços que concorrem para a realização
das suas operações sujeitas a este regime.
Estes SP’s deverão emitir as suas facturas, discriminando ou não o imposto, as quais não
conferem, em qualquer dos casos, o direito à dedução por parte do cliente.
Deverão ainda proceder à escrituração das operações num ‘registo especial’, o que de
alguma forma traduz a complexidade do cálculo do imposto liquidado ao abrigo deste regime
especial.
(284) Podemos trabalhar com o preço recebido do cliente (contraprestação) com ou sem IVA, ou seja, se
operarmos com o preço sem IVA, àquela diferença bastará aplicar-se a taxa para determinar o IVA a favor do
Estado. Se trabalharmos com o preço cobrado com IVA, a diferença proporciona a margem com IVA incluído,
tendo de ‘tirar-se o IVA de dentro’, de acordo com as regras previstas no art. 49º, para apurar o imposto a favor do
Estado, conforme se demonstrará em seguida a propósito do regime dos bens em 2ª mão.
232
Impostos sobre a Despesa
CAPÍTULO 10: IVA – REGIMES ESPECIAIS E REGIMES PARTICULARES
Daí que a al. f) do n.º 2 do art. 16º do CIVA preveja que, neste tipo de bens, a liquidação do
imposto se faça pela diferença, devidamente justificada, entre o preço de venda e o preço de
compra, em conformidade com o disposto em legislação especial.
Tal legislação especial a que se refere o CIVA é o DL n.º 199/96, de 18 de Outubro, que
institui o Regime Especial de Tributação dos Bens em Segunda Mão ( 285), Objectos de Arte,
de Colecção e Antiguidades, em resultado da transposição da Directiva n.º 94/5/CE, do
Conselho, de 14 de Fevereiro.
Estão sujeitas a IVA pelo Regime Especial da Margem, as transmissões de bens em 2ª mão
(objectos de arte, de colecção e antiguidades) efectuadas por revendedores, ou por
organizadores de vendas em leilão (actuando em nome próprio, embora por conta de um
terceiro, como tal uma situação idêntica à das agências de viagens).
Iremos apenas referir-nos à aplicação deste regime a revendedores de bens em 2ª mão, por
ser a situação mais frequente, designadamente ao nível do comércio de automóveis e de
outros bens – nestes operadores o regime especial coexiste com o regime geral.
Em primeiro lugar, diga-se que tal regime especial se aplica exclusivamente a revendedores
de bens usados (conforme art. 1º do Regime Particular) (apenas se aplica a Existências e não a
Imobilizado), o que afasta a sua aplicação à generalidade dos operadores, salvo enquanto
adquirentes de bens nessa situação.
Considera-se sujeito passivo revendedor aquele que, no âmbito da sua actividade, compra,
afecta às necessidades da sua empresa ou importa, para revenda, bens em segunda mão,
objectos de arte, de colecção ou antiguidades. O revendedor tanto pode actuar em nome
próprio como por conta de outrem nos termos de um contrato de comissão de compra e venda
(conforme art. 2º al. c) do Regime Particular).
(285) De acordo com o disposto no art. 2º al. a) do DL, bens em segunda mão são os bens móveis susceptíveis de
reutilização no estado em que se encontram ou após reparação, excluindo os restantes bens abrangidos pelo DL
(objectos de arte, de colecção e antiguidades) e as pedras e metais preciosos. Face à definição apresentada seria
legítima a inclusão neste regime da transmissão de bens do activo imobilizado, contudo, tal não é admissível
atendendo à sua aplicação apenas por revendedores, conforme se refere em seguida no texto.
233
Impostos sobre a Despesa
CAPÍTULO 10: IVA – REGIMES ESPECIAIS E REGIMES PARTICULARES
Por outro lado, mesmo no caso de revendedores, tal regime de tributação da margem só
poderá ser aplicado, se os mesmos adquiriram os bens nas seguintes condições (conforme art.
3º n.º 1 do Regime Particular):
O regime geral poderá sempre ser utilizado pelos revendedores de bens usados, mesmo nas
situações anteriores (opção efectuada bem a bem) ( 287); porém, este regime especial só pode
ser aplicado nas circunstâncias anteriores, as quais se aplicam também às viaturas
adquiridas noutros EM’s posteriormente vendidas no território nacional pelo regime (conforme
art.º 7º do Regime Particular).
O valor tributável das transmissões dos bens sujeitos a este regime especial será constituído,
nos termos do artigo 4º n.º 1 do Regime Particular, pela diferença, devidamente justificada,
entre a contraprestação obtida ou a obter do cliente (em princípio sem IVA ( 288), porém, é
indiferente conforme se demonstra no exemplo seguinte) e o preço de compra dos bens (c/
IVA se tiver sido liquidado, o que normalmente não é o caso), apontando como tal para a
‘margem bruta’.
No caso dos bens terem sido importados pelo próprio revendedor, o preço de compra será
igual ao valor tributável na importação, acrescido do imposto devido ou pago na importação.
O imposto liquidado neste regime especial, não é em caso algum dedutível pelo adquirente,
mesmo que o bem se destine a uma actividade tributada (por exemplo, se destine a outro
revendedor) (289) (cf. art. 5º n.º 3 do Regime Particular).
(286) Tal isenção aplica-se a transmissões de bens afectos exclusivamente a uma actividade isenta, que não
tenham sido objecto do direito à dedução e a transmissões de bens cuja aquisição tenha sido feita com exclusão
do direito à dedução nos termos do n.º 1 do art. 21º do CIVA. Em ambas as situações verifica-se não ter havido
dedução de imposto no momento da aquisição, daí a isenção na venda (isenção técnica com características
diferentes das restantes isenções previstas no art. 9º).
(287) Apenas é benéfica esta opção pelo regime geral, grosso modo, se a viatura não for excluída do direito à
dedução (nos termos do n.º 1 do art. 21º) e o adquirente puder deduzir o IVA, por ter uma actividade totalmente
tributada. Noutras circunstâncias, optando-se pelo regime geral, ou o preço de venda (c/ IVA) terá que ser superior
para manter o lucro do vendedor, ou será este que terá que ser reduzido para manter o preço de venda final. Esta
opção, caso a caso, contrasta com a aplicação do regime aos revendedores de objectos de arte, de colecção e
antiguidades, designadamente os leiloeiros, pois, nestes casos, a opção pelo regime da margem é efectuada em
relação à globalidade da actividade e por um período mínimo de dois anos (art.º 3º n.º 2, 3 e 4 do DL).
(288) A lei aponta para o valor da contraprestação sem IVA, porém, normalmente, os preços das viaturas são
fixados com IVA incluído, o que não inviabiliza o correcto apuramento do imposto, conforme se demonstrará.
(289) Não é dedutível, até porque neste caso o IVA não vem discriminado pelo vendedor. De facto, se o revendedor
discriminasse o IVA, porque este incide sobre a margem, daria a conhecer ao cliente o seu lucro, o que não é
comercialmente aconselhável. Na realidade, o problema não se coloca verdadeiramente pois o IVA não pode ser
discriminado, mesmo que se trate de transmissões entre revendedores. Neste caso, o IVA liquidado pela margem
234
Impostos sobre a Despesa
CAPÍTULO 10: IVA – REGIMES ESPECIAIS E REGIMES PARTICULARES
No entanto, o SP revendedor poderá deduzir, nos termos gerais, o imposto que tenha
onerado as reparações, a manutenção ou outras PS respeitantes aos bens sujeitos a este
regime especial, uma vez que o IVA é exigível com base na ‘margem bruta’, ignorando-se as
tais reparações (conforme art.º 5º n.º 2 do Regime Particular).
O revendedor poderá optar pela tributação no regime geral, em relação a cada transmissão
de bens sujeitos ao regime especial de tributação da margem. Esta opção será efectuada em
relação a cada transmissão sujeita ao regime especial.
Caso se verifique a opção pelo regime geral, o revendedor poderá deduzir o imposto que
tenha suportado na aquisição ou importação. O direito à dedução, neste caso, só se verifica
no momento em que o imposto devido pela transmissão se torne exigível, isto é, o
revendedor só pode deduzir o imposto suportado na aquisição ou importação no momento da
respectiva venda.
As facturas emitidas por estes SP’s, no âmbito deste regime especial, não podem discriminar
o imposto e devem conter a menção ‘IVA – Bens em segunda mão’, mesmo no caso de
transmissões entre revendedores (conforme art.º 6º do Regime Particular).
Deverá também ser efectuado um registo especial (art. 6º do DL), com vista ao controle das
operações efectuadas sujeitas a este regime especial, o qual não incluirá os bens
relativamente aos quais haja opção pelo regime geral.
Exemplo:
Imagine que um revendedor de automóveis usados adquiriu (ou retomou) uma viatura ligeira
de mercadorias a um particular pelo preço de 1.000, efectuou reparações no montante de
500 (+ IVA a 20%), pretendendo obter um ganho de 500 com a venda, donde resulta um
preço de venda (sem IVA) de 2.000.
2000 – 1000 = 1000 x 20% = 200 – 100 (IVA reparações) = 100 ( 290)
(não repercutido) por parte do revendedor transmitente, não será dedutível para o revendedor adquirente,
devendo este liquidar IVA na sua venda posterior apenas pela sua margem bruta.
290
( ) Tal como se referiu anteriormente podemos raciocinar em termos de preço de venda com IVA (preço de
mercado, preço anunciado no stand), sendo que, no exemplo, o preço de venda (c/ IVA da margem) seria de
2.200. Nesse caso, o IVA seria calculado da seguinte forma: 2200 – 1000 = 1200 / 1,20 = 1000 x 20% = 200 – 100
(IVA reparações) = 100 (IVA a entregar).
235
Impostos sobre a Despesa
CAPÍTULO 10: IVA – REGIMES ESPECIAIS E REGIMES PARTICULARES
Repare-se que se o adquirente da viatura for um particular ou um SP que não deduz o IVA,
suportará um custo de 2.200. Se o adquirente fosse um SP de IVA sem restrições ao nível do
direito à dedução, mantendo-se o ganho do vendedor de 500, teria um custo também no
montante de 2.200 pois o imposto calculado pela margem não é dedutível em caso algum,
mesmo tratando-se de uma viatura de mercadorias (aliás, o IVA nem sequer vem
mencionado na factura de compra).
É precisamente quando o adquirente (SP que deduz IVA) e a viatura (de mercadorias)
preenchem estes requisitos que compensa optar pelo regime geral, pois neste caso,
mantendo-se o lucro do vendedor de 500, o adquirente pagaria ao vendedor o montante de
global de 2.400 (2000 + IVA). Porém, o montante de 400 refere-se a IVA dedutível, logo, o
cliente teria apenas um custo de 2.000, poupando assim 200.
Utilizando-se o regime da margem, a DP deverá ser preenchida pelo vendedor por forma a
que o campo 3 (BT) evidencie apenas a margem bruta (tal como no regime das agências de
viagens) e o campo 4 o IVA correspondente a essa margem.
Assim, com base nos valores do exemplo, no campo 3 deveria constar o valor de 1000, no
campo 4 o montante de 200 e no campo 24 o montante de 100 (IVA das reparações).
236
Impostos sobre a Despesa
CAPÍTULO 10: IVA – REGIMES ESPECIAIS E REGIMES PARTICULARES
viatura tem um valor de mercado de 40.000, sendo esse o preço por que a viatura vai ser
transaccionada (preço final com IVA).
Se a viatura tiver sido adquirida em outros EM’s em circunstâncias que permitam a aplicação
do regime da margem, então a AIB não estará sujeita de IVA pelo art. 14º do DL n.º 199/96.
Pela venda, optando-se pelo regime da margem (é sempre mais favorável – viatura de
turismo), o valor do IVA a entregar será calculado da seguinte forma: 40.000 – 25.000 =
15.000 / 1.20 = 12.500 x 20% = 2.500. Neste caso, o ganho do vendedor seria de 2.000
[40.000 – (25.000 + 10.000 + 500 + 2.500)].
Imagine-se agora que a mesma viatura foi adquirida noutro EM a um revendedor que utilizou
o regime geral (isenção no país de origem), mantendo-se o preço de venda (com IVA) de
40.000 (valor de mercado). Neste caso, deverá ser liquidado e deduzido IVA pela AIB no
valor de 7.000 [(25.000 + 10.000) x 20%]. Pela venda o IVA deverá ser liquidado pelo regime
geral, devendo ser retirado de dentro do preço de venda e originando imposto a entregar no
valor de 6.667 (40.000 / 1.20 = 33.333 x 20% = 6.667).
Face ao cenário anterior, o vendedor obteria um prejuízo com a venda da viatura de 2.167
[40.000 – (25.000 + 10.000 + 500 + 6.667)], tratando-se de uma situação que deverá ser tida
em conta na comercialização de viaturas de turismo adquiridas a outros EM’s, uma vez que,
em princípio, apenas é fiscalmente favorável a sua venda em Portugal se puder ser utilizado
o regime da margem.
Note-se que para manter o ganho que era obtido com a aplicação do regime da margem
(2.000) o preço da viatura teria que passar a ser de 44.167 (25.000 + 10.000 + 500 + 6.667 +
2.000), o que poderia ser comercialmente inviável ( 291).
(291) Ao nível das aquisições de viaturas usadas a outros EM, verifica-se que os revendedores nacionais utilizam,
grande parte das vezes, este regime especial, sem terem legitimidade para tal. De facto, se o fornecedor
estrangeiro factura as viaturas sem IVA, tal significa que utilizou o regime geral (isenção nas TIB, ao abrigo de um
artigo análogo ao art. 14º do RITI), logo, não se verificam os pressupostos de aplicação deste regime particular
por parte do revendedor nacional. Assim, o IVA da venda dessas viaturas no mercado nacional deverá ser
calculado pelo regime normal, proporcionando valores de imposto a entregar ao Estado muito superiores aos
gerados pelo regime da margem, conforme se verifica no exemplo. Acresce o facto de, neste cenário em que o
vendedor comunitário utiliza o regime geral (isenção na origem), se verificar uma AIB tributada, com a
correspondente imposição de IVA pela compra, calculado tendo como Base Tributável (BT) o preço de compra
acrescido de IA (art. 17º, n.º 3 do RITI e art. 16º, n.º 5, al. a) do CIVA). Se o revendedor puder provar que adquiriu
as viaturas nas circunstâncias que lhe permitam aplicar o regime da margem, conforme os pressupostos
mencionados no texto, então não haverá IVA pela AIB (não sujeição do art. 14º do DL n.º 199/96), podendo
calcular o IVA da venda, retirando-o de dentro da margem bruta. No entanto, por vezes, o revendedor alega que
adquiriu as viaturas a particulares, porém, a verdade é que depois se verifica da consulta ao sistema VIES, que o
valor das viaturas consta da base de dados, declarado pelo fornecedor estrangeiro. Tal significa que o fornecedor
utilizou de facto o regime geral no seu país (isenção), inviabilizando a aplicação posterior do regime da margem na
venda, e ficando assim a AF com os elementos de que necessita para produzir correcções de valores por norma
muito elevados, reduzindo drasticamente as margens dos comerciantes ao ponto de terem inclusivamente
prejuízos na venda deste tipo de viaturas. Outra questão que se coloca com frequência à AF é a ‘importação’ de
viaturas usadas adquiridas em outros EM’s por parte de particulares não registados, por vezes em n.º significativo,
a qual suscita também problemas de vária ordem (a solução passa muitas vezes por iniciar oficiosamente a
actividade destes contribuintes, atendendo ao exercício efectivo da actividade de comércio de automóveis,
procedendo-se então às correcções fiscais inerentes – IVA e IRS).
237
Impostos sobre a Despesa
CAPÍTULO 10: IVA – REGIMES ESPECIAIS E REGIMES PARTICULARES
(292) Tanto o tabaco como os combustíveis (e as bebidas alcoólicas), para além do IVA, estão sujeitos a Impostos
Especiais de Consumo (IEC’s), no caso, respectivamente, o Imposto sobre o Tabaco e o Imposto sobre os
Produtos Petrolíferos, impostos estes cujo princípio orientador não é a capacidade contributiva, mas o princípio do
benefício ou da equivalência, no sentido de que a elevada carga fiscal se justifica atendendo ao ónus social,
financeiro e ecológico, causado pelo consumo destes bens, independentemente da capacidade contributiva dos
consumidores. A carga fiscal é na realidade muito elevada, sendo, no caso do IEC sobre o tabaco, determinada
por duas componentes (elemento específico: 52,31 por cada 1000 cigarros + elemento ad valorem: 23% do PVP +
IVA a 20%). A título de curiosidade refira-se que um maço de cigarros com um PVP de 2,00 tem implícito cerca de
80% de carga fiscal ⇒ 1,30 (IEC) + 0,30 (IVA). Os restantes 20%, ou 0,40, destinam-se a cobrir o custo total do
tabaco incluindo as margens dos intervenientes no circuito de comercialização destes bens. A carga fiscal, ainda
assim, é considerada diminuta face aos prejuízos causados ao Estado inerentes ao seu consumo (por exemplo,
no Reino unido o preço de um maço de tabaco ultrapassa os 5,00).
293
( ) O que não significa que não haja fraudes na comercialização destes bens, pois tal como referiu, em entrevista
ao Expresso de 21 de Setembro de 2002, Maria José Morgado, ex-directora da DCICCEF da Polícia Judiciária
(entidade que se dedica à investigação e combate da criminalidade económica e financeira): ‘’Há empresas
legalmente constituídas, cujos sócios-gerentes são toxicodependentes, ou estrangeiros, ou prostitutas, que não
têm sede e intervêm no contrabando de tabaco, álcool e combustíveis, lesando o Estado e a CE em milhões de
euros. Portugal é uma placa giratória deste tipo de negociatas, pois tudo se passa sem que as autoridades tenham
tempo de agir’’. Face à elevada carga fiscal existente facilmente se depreendem as ‘vantagens’ deste tipo de
actuação, tratando-se de um tipo de fraude cujos lucros ilícitos ultrapassam largamente, segundo Maria José
Morgado, os lucros gerados pelo tráfico de droga e sem que os intervenientes sejam socialmente discriminados
pela prática desses crimes (como é o caso dos traficantes de droga).
238
Impostos sobre a Despesa
CAPÍTULO 10: IVA – REGIMES ESPECIAIS E REGIMES PARTICULARES
10.2.4. Combustíveis
A partir de 01.01.2004 e em consequência da entrada em vigor dos artigos 68.º-A a 68.º-G
(actuais artigos 69.º a 75.º) do Código do IVA, aditados pela Lei nº 107-B/2003, de 31 de
Dezembro, que aprovou o Orçamento do Estado para 2004, passaram a coexistir um regime
especial para os combustíveis gasosos e um outro regime especial para os combustíveis
líquidos aplicável aos revendedores.
Bens abrangidos
O presente regime de tributação dos combustíveis líquidos entrou em vigor em 01/01/2004,
sendo aplicável a todos os sujeitos passivos que revendam os seguintes combustíveis
líquidos:
– gasolina
– gasóleo
– petróleo carburante
Não se encontram abrangidos por este regime os sujeitos passivos que sejam empresas
distribuidoras de combustíveis líquidos, que aplicarão às suas operações o regime geral do
IVA.
Em tais transmissões, o IVA, que outrora era liquidado exclusivamente pelas empresas
distribuidoras, passou a partir de 01/01/2004 a ser repartido pelos distribuidores e pelos
revendedores, liquidando os distribuidores o IVA correspondente ao preço de venda aos
revendedores e estes o IVA correspondente à sua margem efectiva de vendas.
Para os consumidores, o novo método não acarretou qualquer agravamento, já que o IVA
que têm direito a deduzir corresponde ao somatório do IVA liquidado pelos distribuidores
239
Impostos sobre a Despesa
CAPÍTULO 10: IVA – REGIMES ESPECIAIS E REGIMES PARTICULARES
Valor tributável
Incidindo o IVA devido pelos revendedores sobre a margem efectiva de vendas, importa
definir, com precisão, como se determina essa margem.
Nos termos do n.º 1 do actual artigo 70.º (anterior artigo 68.º-B) do CIVA, o valor tributável
das transmissões abrangidas pelo presente regime corresponde à diferença, verificada em
cada período de imposto (mês ou trimestre, consoante o enquadramento), entre o valor
das transmissões de combustíveis realizadas, IVA excluído, e o valor de aquisição dos
mesmos combustíveis, também com IVA excluído.
Para a determinação da margem efectiva de vendas, os revendedores deverão apurar, por
tipo de combustível:
A margem efectiva de vendas será, assim, obtida pela diferença entre o valor das vendas
dos combustíveis líquidos, realizadas no período de tributação, e o correspondente valor
de aquisição.
Sobre a margem assim apurada, deverão os revendedores fazer incidir a respectiva taxa
de imposto.
240
Impostos sobre a Despesa
CAPÍTULO 10: IVA – REGIMES ESPECIAIS E REGIMES PARTICULARES
Procedimentos contabilísticos
Em relação ao tratamento contabilístico das operações submetidas ao regime especial dos
combustíveis líquidos, a Comissão de Normalização Contabilística, instada a pronunciar-se
sobre o assunto pela ANAREC – Associação Nacional dos Revendedores de
Combustíveis, emitiu o seguinte parecer:
– o IVA suportado e não dedutível deve ser considerado como custo de compra e
deverá ser contabilizado na conta 312 – “Compras – Mercadorias”;
– o POC no Capítulo 12, já prevê esta situação, conforme nota explicativa à conta
2431 – IVA – Suportado, ao referir que “ …as parcelas de imposto não dedutível
devem ter por contrapartida as contas inerentes às respectivas aquisições …”
– poderão eventualmente criar-se sub contas de modo a evidenciar as aquisições,
pelo valor de compra, sem imposto e o IVA suportado em relação às mesmas.
241
Impostos sobre a Despesa
CAPÍTULO 10: IVA – REGIMES ESPECIAIS E REGIMES PARTICULARES
242
Impostos sobre a Despesa
CAPÍTULO 10: IVA – REGIMES ESPECIAIS E REGIMES PARTICULARES
Cedência de combustíveis
Um outro aspecto particular relacionado com os combustíveis líquidos tem a ver com a sua
eventual cedência a terceiros Quanto à cedência de combustíveis, o problema coloca-se
não a nível dos revendedores, mas dos consumidores que, tendo deduzido o IVA no acto
da compra, na totalidade ou em parte, se vêem agora confrontados com o problema de
terem de repor o IVA correspondente aos combustíveis cedidos. Essa regularização
encontra a sua justificação no facto de o IVA incluído no preço do combustível cedido
poder ser deduzido pelo cessionário, nas condições do artigo 21.º do CIVA.
Outra alternativa de solução será não deduzir o IVA respeitante ao combustível que vai ser
cedido, mas isso implicaria que fosse conhecida, à partida, a quantidade a ceder, o que
normalmente não acontece.
O que não poderá fazer-se em circunstância alguma é proceder à liquidação do IVA, por tal
não ser permitido pelo regime especial de tributação que estamos a analisar.
Autoconsumo de combustíveis
Possuindo os revendedores de combustíveis líquidos viaturas afectas à sua actividade, o
mais normal é que as abasteçam nas suas próprias bombas.
Como o IVA que lhes é liquidado pelos distribuidores não é dedutível quando os
combustíveis são adquiridos para revenda, coloca-se o problema de saber se terão de
liquidar o IVA correspondente aos combustíveis com que abastecem as suas próprias
viaturas e, complementarmente, se têm direito à dedução do IVA nelas utilizado.
Quanto ao primeiro aspecto, uma vez que os revendedores não obtêm qualquer margem
nos combustíveis com que abastecem as suas viaturas, não têm que liquidar qualquer
imposto em tais autoconsumos.
Quanto ao direito à dedução do IVA utilizado nas suas próprias viaturas, ele rege-se pelas
regras do n.º 1 do artigo 21.º do CIVA. E, assim, se o combustível utilizado conferir direito à
dedução – gasóleo, por exemplo – deverá ser emitido documento interno para servir de
base à dedução desse imposto.
243
Impostos sobre a Despesa
CAPÍTULO 10: IVA – REGIMES ESPECIAIS E REGIMES PARTICULARES
Em geral, constitui ouro para investimento, o ouro em barra ou placa de toque igual ou
superior a 995 milésimos e as moedas de ouro, aplicando-se a isenção como regime regra,
qualquer que seja o destino que lhe seja dado ou a natureza do adquirente. Estão ainda
isentas as PS de intermediários que actuem em nome e por conta de outrem, a intervir em
operações relacionadas com ouro para investimento.
Em todo o caso, os SP’s que produzam ou comercializem ouro para investimento podem
renunciar à isenção (caso a caso) se o adquirente for SP de IVA, devendo neste caso as
facturas ser emitidas com a menção ‘Regime Especial do Ouro – IVA devido pelo adquirente’,
caso em que os vendedores poderão deduzir o IVA que tenha onerado a aquisição do ouro
para investimento.
Neste caso o adquirente liquidará o IVA no momento da aquisição, o qual é dedutível (art. 8º,
al. a) do DL n.º 362/99), situação mais ou menos análoga às compras intracomunitárias (AIB)
em que também é o adquirente quem liquida (e deduz) o IVA; porém, neste caso do ouro
para investimento, aplica-se o regime quer no mercado interno quer no intracomunitário.
De referir que existe uma certa contradição entre o disposto no art. 5º e no art. 10º do DL n.º
362/99, pois enquanto que a primeira norma estipula que a renúncia pode ser efectuada
quando o adquirente for um SP de IVA nos termos da al. a) do n.º 1 do art. 2º, já o art. 10º
refere que o cumprimento da obrigação de liquidação de IVA só é da responsabilidade do
adquirente se este for um SP de IVA mencionado no art. 2º, n.º 1, al. a) e que tenha direito à
dedução total ou parcial de imposto. Assim, se o adquirente do ouro para investimento for um
SP enquadrado no art. 9º (ou no REI), parece existir a possibilidade do vendedor renunciar à
isenção nos termos do art. 5º, contudo o IVA não poderá ser liquidado pelo adquirente já que
este se encontra impossibilitado de deduzir o IVA nos termos do art. 10º - a solução será a
liquidação do IVA ser feita pelo vendedor o que contraria a menção obrigatória na factura
‘Regime especial do ouro – IVA devido pelo adquirente’.
No caso de não haver renúncia, os SP’s apenas poderão deduzir o IVA suportado nos termos
do art. 8º do citado DL, ou seja, poderão deduzir o IVA no caso de aquisições feitas a
revendedores que tenham renunciado à isenção, no caso de aquisições de ouro que não de
investimento, posteriormente transformado em ouro para investimento e o IVA que tenha
onerado essa transformação.
(294) A 6ª Directiva permitia a isenção do ouro não destinado a utilização industrial, verificando-se que alguns EM
aplicavam tal isenção e outros não, originando distorções de concorrência num mercado onde os valores
envolvidos são naturalmente muito elevados, daí a necessária harmonização.
244
Impostos sobre a Despesa
CAPÍTULO 10: IVA – REGIMES ESPECIAIS E REGIMES PARTICULARES
A liquidação efectuada pelas lotas, nos termos acabados de referir, não impedirá o exercício
do direito à dedução do imposto suportado a montante por parte dos pescadores e
armadores (295).
Face à autorização concedida à Tupperware, optou-se em 1988 por alargar tal regime às
restantes entidades que manifestem tal vontade, tendo resultado o disposto no art. 10º deste
DL, pese embora, na realidade, se desconheçam outras situações cuja entrega do IVA se
faça desta forma.
Nos termos deste regime as empresas que o requeiram ao Ministro das Finanças poderão
entregar todo o IVA correspondente ao preço de venda ao público dos seus produtos, em
substituição dos respectivos revendedores directos, desde que a totalidade das suas vendas
sejam efectuadas ao domicílio por revendedores agindo em nome e por conta própria e
desde que existam e sejam cumpridas tabelas de preços de todos os produtos.
295
( ) Situação de certa forma análoga à verificada com a Liga de Clubes e os clubes de futebol. Neste caso é a
Liga de Clubes que entrega ao Estado o IVA liquidado nos bilhetes de ingresso em substituição dos clubes.
245
LOCALIZAÇÃO DAS OPERAÇÕES TRIBUTÁVEIS
LOCALIZAÇÃO DAS PRESTAÇÕES DE SERVIÇOS
LOCALIZAÇÃO DAS
PRESTAÇÕES DE SERVIÇOS
1
LOCALIZAÇÃO DAS OPERAÇÕES TRIBUTÁVEIS
LOCALIZAÇÃO DAS PRESTAÇÕES DE SERVIÇOS
ÍNDICE
1. Enquadramento 3
1.1. Introdução 3
1.2. Directiva 2008/8/CE, do Conselho, de 12 de Fevereiro 4
1.3. Directiva 2008/9/CE, do Conselho, de 12 de Fevereiro 4
1.4. Regulamento (CE) n.º 143/2008, do Conselho, de 12 de Fevereiro 5
1.5. Directiva 2008/117/CE, do Conselho, de 16 de Dezembro 6
1.6. Decreto-Lei n.º 186/2009, de 12 de Agosto 6
2
LOCALIZAÇÃO DAS OPERAÇÕES TRIBUTÁVEIS
LOCALIZAÇÃO DAS PRESTAÇÕES DE SERVIÇOS
1. Enquadramento
1.1. Introdução
(1) As designadas operações B2B (business to business, ou seja, sujeito passivo para sujeito passivo)
2
( ) O conhecido “Pacote IVA 2”
3
( ) As designadas operações B2C (business to consumer, ou seja, sujeito passivo para consumidor final)
3
LOCALIZAÇÃO DAS OPERAÇÕES TRIBUTÁVEIS
LOCALIZAÇÃO DAS PRESTAÇÕES DE SERVIÇOS
No que respeita aos serviços prestados a pessoas que não sejam sujeitos
passivos, a regra geral deverá, segundo o dito preâmbulo, continuar a determinar que o
lugar das prestações de serviços é aquele onde o respectivo prestador tem a sede da sua
actividade económica.
Refere, por último, o aludido preâmbulo que, para fomentar a correcta aplicação da
directiva, todos os sujeitos passivos registados para efeitos de IVA deverão apresentar um
mapa recapitulativo (4) dos sujeitos passivos e das pessoas colectivas que não sejam
sujeitos passivos registadas para efeitos de IVA, a quem tenham prestado serviços
tributáveis abrangidos pelo mecanismo da autoliquidação.
4
( ) Mapa esse que, no caso português, corresponde à declaração recapitulativa aprovada pela Portaria n.º
987/2009, de 7 de Setembro.
5
( ) Directiva 70/1072/CEE do Conselho, de 6 de Dezembro de 1979, com a última redacção que lhe foi dada
pela Directiva 2006/98/CE.
4
LOCALIZAÇÃO DAS OPERAÇÕES TRIBUTÁVEIS
LOCALIZAÇÃO DAS PRESTAÇÕES DE SERVIÇOS
Do conteúdo deste Regulamento, cujas medidas previstas no seu artigo 1.º entram
em vigor em 1 de Janeiro de 2010, as alterações às regras de localização das prestações
de serviços introduzidas pela Directiva 2008/8/CE, do Conselho, de 12 de Fevereiro de
2008, que altera a Directiva 2006/112/CE no que diz respeito ao lugar das prestações de
serviços, implicam que as prestações de serviços entre sujeitos passivos sejam
principalmente tributáveis no lugar onde o seu destinatário está estabelecido. Se o
prestador dos serviços e o seu destinatário estiverem estabelecidos em diferentes Estados
membros, o mecanismo de autoliquidação passará a ser aplicável com mais frequência do
que até à data.
Para assegurar a correcta aplicação do IVA aos serviços sujeitos ao mecanismo de
autoliquidação, os dados recolhidos pelo Estado membro do prestador dos serviços
deverão ser comunicados ao Estado membro em que o destinatário está estabelecido.
Pelos motivos indicados, o Regulamento (CE) n.º 1798/2003, relativo à cooperação
administrativa intracomunitária no domínio do IVA, deverá ser alterado em conformidade.
Artigo 34.º-A
10. Para além das alterações introduzidas nas regras de localização das
prestações de serviços, o decreto-lei em epígrafe criou um novo regime
de reembolso a sujeitos passivos que suportam IVA em aquisições de
bens e serviços, ou em importações, realizadas em Estados membros
onde não disponham de sede, estabelecimento estável ou domicílio
fiscal.
7
LOCALIZAÇÃO DAS OPERAÇÕES TRIBUTÁVEIS
LOCALIZAÇÃO DAS PRESTAÇÕES DE SERVIÇOS
Da análise da nova redacção do artigo 6.º do CIVA, que, repete-se, entrou em vigor
em 1 de Janeiro de 2010, conclui-se que o mesmo se tornou muito mais simples. Na
verdade, dos 23 números que o artigo continha, passou a ter apenas 12.
Para além disso, dos três níveis que o artigo comportava, um 1.º constituído por
uma regra geral, um 2.º por excepções à regra geral e um 3.º por excepções às excepções,
passamos a ter apenas dois: um 1.º constituído por duas regras gerais (em vez de uma) e
um 2.º pelas excepções às regras gerais (umas genéricas e outras específicas), deixando
de existir excepções às excepções.
No que toca à transposição das normas contidas no artigo 6.º do CIVA, as regras
relativas à localização das transmissões de bens passaram a estar concentradas nos
primeiros cinco números do artigo (os anteriores números 1, 2 e 3, que se mantiveram com
a mesma numeração e a mesma redacção, e os anteriores números 22 e 23, relacionados
com o fornecimento de gás, através do sistema de distribuição de gás natural, e de
electricidade, que passaram a constituir, respectivamente, os números 4 e 5). As
disposições que estavam contidas nos números 4 a 21, passaram a constar dos números 6
a 12, que, assim, passam a contemplar apenas as regras de localização das prestações de
serviços.
De acordo com a nova redacção do artigo 6.º do CIVA, passam a ser duas as regras
gerais de localização das prestações de serviços, que se diferenciam em função da
natureza do adquirente.
Assim:
(10) O conceito de sujeito passivo inclui, de conformidade com o novo n.º 5 do artigo 2.º do CIVA, as pessoas
colectivas, não sujeitos passivos, que estejam, ou devam estar, registados para efeitos de IVA.
11
( ) Dizemos “em princípio”, em virtude de haver excepções à regra acabada de definir.
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LOCALIZAÇÃO DAS OPERAÇÕES TRIBUTÁVEIS
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Nos novos números 7 e 8 do artigo 6.º do CIVA temos excepções às duas regras
gerais e nos novos números 9 e 10 excepções à regra geral das prestações de serviços
efectuadas por sujeitos passivos a não sujeitos passivos (operações B2C). No n.º 11 temos
as excepções para as prestações de serviços efectuadas a pessoas estabelecidas ou
domiciliadas fora da Comunidade. No n.º 12 temos algumas situações especiais que, a não
terem sido previstas, ocasionariam ausência de tributação e nefastas distorções de
concorrência.
12
( ) Dizemos “em princípio”, em virtude de haver excepções à regra acabada de definir.
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Em Portugal o referido regime foi aprovado pelo art. 5.º do Decreto-Lei n.º
130/2003, de 28 de Junho, o qual, em conformidade com o art. 8.º do
mesmo decreto-lei produz efeitos a partir de 1 de Julho de 2003.
1.ª) Nas operações entre sujeitos passivos – operações B2B – o IVA é devido
no país do adquirente, tenha este a sua sede, um estabelecimento estável
ou, na sua falta, o domicílio para o qual os serviços são prestados, noutro
Estado membro da Comunidade ou fora dela, cabendo ao adquirente a
obrigação da liquidação do imposto, se for devido.
E, assim:
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3.ª) Nas operações entre sujeitos passivos há uma alteração profunda nas
operações relativas aos “trabalhos efectuados sobre bens móveis
corpóreos e as peritagens a eles referentes”, onde se incluem, por
exemplo, os trabalhos de reparação, beneficiação e transformação de bens
móveis corpóreos e o “trabalho a feitio”, que deixam de ser tributáveis no
país onde são materialmente executados, para serem tributáveis no país
onde o adquirente tem a sua sede, um estabelecimento estável ou, na sua
falta, o domicílio.
2.ª) Nas prestações de serviços a pessoas que não sejam sujeitos passivos,
devem, ainda, ter-se em atenção as situações previstas no n.º 12 do artigo
6.º do CIVA.
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Por esse motivo, as regras de localização previstas no art. 6.º são também
importantes para enquadrar operações relacionadas com as Regiões Autónomas, neste
caso, não para saber quem é responsável pela liquidação de imposto (que será sempre o
fornecedor ou prestador), mas para efeitos de aplicação das taxas (n.º 3 do art. 18.º do
CIVA), nos termos do n.º 2 do art. 1.º do DL n.º 347/85, de 23 de Agosto.
De facto, as operações em causa não têm um carácter internacional, uma vez que
integram o mesmo território fiscal para efeitos de aplicação do IVA, tendo, no entanto,
tratamento diferente no que respeita a taxas de tributação, pelo que se torna necessário
definir os critérios da sua aplicação e, por outro lado, estabelecer a obrigatoriedade de
preenchimento de anexos à declaração periódica do IVA (Anexo Continente, Anexo Madeira
e Anexo Açores), devendo ser correctamente assinalados os quadros 03 e 04 dessa
declaração.
Da conjugação da legislação mencionada, podemos concluir que nas prestações de
serviços efectuadas a sujeitos passivos, o prestador liquidará IVA à taxa vigente no território
onde estiver o adquirente, com as excepções previstas nos n.os 7 e 8 do art. 6.º. Nas
prestações de serviços efectuadas a particulares e não sujeitos passivos, o prestador
liquidará IVA à taxa vigente no território onde tiver a sede da sua actividade, um
estabelecimento estável ou, na sua falta, o domicílio, com as excepções previstas nos n.os 7,
8, 9 e 10 do art. 6.º.
Por exemplo, o serviço de construção de um imóvel sito na Madeira, prestado por
uma empresa com sede no continente, localiza-se, face ao exposto na alínea a) dos n.os 7 e
8 do art. 6.º, na Madeira, pelo que, não havendo lugar à inversão do sujeito passivo, a
empresa do continente deverá liquidar IVA à taxa de 14% em vigor na Madeira (deverá
preencher o campo 1 do quadro 03 e o campo 3 do quadro 04 da declaração periódica e
enviar o Anexo Madeira).
Outro exemplo será o de um TOC de Braga que presta serviços de contabilidade a
uma empresa com sede nos Açores, que terá, relativamente a esses serviços, de liquidar
IVA à taxa dos Açores de 14%, pois a operação considera-se localizada nessa Região
Autónoma, nos termos da alínea a) do n.º 6 do art. 6.º do CIVA (deverá assinalar na
declaração periódica o campo 1 do quadro 03 e o campo 2 do quadro 04 e enviar
conjuntamente com a declaração periódica o Anexo Açores).
Se fosse um TOC dos Açores a prestar serviços a empresas com sede no continente
e na Madeira, a localização ocorria nestas regiões (sede do adquirente – alínea a) do n.º 6
do art. 6.º), pelo que o TOC deveria liquidar IVA à taxa de 20% e de 14%, respectivamente
(deveria preencher a declaração periódica assinalando o campo 2 do quadro 03, os campos
1 e 3 do quadro 04 e enviar conjuntamente o Anexo Continente e o Anexo Madeira).
Relativamente às operações que envolvam transmissões de bens (mercadorias),
a aplicação das regras de territorialidade, no caso de operações com as Regiões
Autónomas, é bastante mais simples, uma vez que, por força do n.º 1 do art. 6.º, será de
aplicar a taxa em vigor no território onde os bens se localizam no momento em que se inicia
o transporte (tributação na origem, no local da sede do vendedor).
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LOCALIZAÇÃO DAS OPERAÇÕES TRIBUTÁVEIS
LOCALIZAÇÃO DAS PRESTAÇÕES DE SERVIÇOS
Por sua vez, no artigo 30.º do RITI passou-se a determinar que a declaração
recapitulativa deve ser enviada, por transmissão electrónica de dados, até ao dia 20 do mês
seguinte àquele a que respeitam as operações, no caso de sujeitos passivos abrangidos
pelo regime normal, de periodicidade mensal, ou até ao dia 20 do mês seguinte ao final do
trimestre civil a que respeitam as operações, no caso de sujeitos passivos abrangidos pelo
regime normal, de periodicidade trimestral.
Passando a regra geral a nível comunitário a ser o envio mensal das declarações
recapitulativas, a Directiva 2008/117/CE, do Conselho, de 16 de Dezembro, concede aos
Estados membros a possibilidade de manter a periodicidade trimestral, quando o montante
das transmissões intracomunitárias de bens a declarar não tenha ultrapassado o montante
de € 50 000,00 ou, durante um período transitório que termina em 31 de Dezembro de
2011, o montante de € 100 000,00.
(13) Neste caso, não será o vendedor a preencher os anexos à declaração periódica, pois, em geral, o vendedor
liquidará IVA à taxa do território onde está sedeado, ou seja, onde os bens se situam quando se inicia o transporte.
De facto, nestas situações será o adquirente a deduzir IVA a taxas diferentes, logo, será a este que compete o
preenchimento dos anexos à declaração periódica. Veja-se o exemplo de uma empresa com sede no continente
que adquire produtos a uma empresa sedeada na Madeira – neste caso o vendedor madeirense liquidará IVA à
taxa da Madeira (não entregando qualquer anexo), devendo o adquirente do continente preencher o campo 1 do
quadro 3 e o campo 3 do quadro 4 da declaração periódica e enviar conjuntamente com a declaração periódica
desse período o Anexo Madeira, onde constará o IVA dedutível à taxa da Madeira.
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A declaração recapitulativa deve ser enviada pelo sujeito passivo, sempre que este
efectue:
• Prestações de serviços:
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LOCALIZAÇÃO DAS OPERAÇÕES TRIBUTÁVEIS
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LOCALIZAÇÃO DAS OPERAÇÕES TRIBUTÁVEIS
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Exemplo:
Quando ocorrer alguma das situações a seguir indicadas, deve ser submetida uma
declaração recapitulativa de substituição:
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LOCALIZAÇÃO DAS OPERAÇÕES TRIBUTÁVEIS
LOCALIZAÇÃO DAS PRESTAÇÕES DE SERVIÇOS
1. O novo modelo inclui o quadro 04A, que não existia no anterior, no qual deve ser
assinalado o envio, relativamente ao período da declaração, de alguma declaração
recapitulativa nos termos do artigo 30.º do RITI.
Como se disse no anterior ponto 7, a declaração recapitulativa é, com referência às
operações realizadas a partir de 01.01.2010, enviada separadamente, e em prazos
diferentes, da declaração periódica. Daí que se solicite no quadro 04A a indicação
do envio, ou não, de declaração recapitulativa.
Caso a resposta a esta pergunta seja afirmativa, devem os valores das operações
em causa ser descritos no novo quadro 06A da declaração periódica.
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LOCALIZAÇÃO DAS OPERAÇÕES TRIBUTÁVEIS
LOCALIZAÇÃO DAS PRESTAÇÕES DE SERVIÇOS
Caso tenham sido inscritas nos campos 1, 3, 5 ou 9 operações deste tipo, deve
assinalar-se “SIM” no campo correspondente do quadro 06 e preencher-se o quadro
06A.
Se a resposta for negativa, assinalar “NÃO”.
O que se pretende com o quadro 06A é conhecer o montante das operações que
estão incluídas nos campos 1, 3, 5 ou 9 do quadro 06 e que não são consideradas
para cálculo do volume de negócios, em face do que dispõe o artigo 42.º do Código
do IVA. Pretende-se, ainda, obter elementos que permitam verificar quais os
pedidos de reembolso que terão de ser pagos no prazo de 30 dias (Despacho
Normativo n.º 53/2005, de 15 de Dezembro).
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LOCALIZAÇÃO DAS OPERAÇÕES TRIBUTÁVEIS
LOCALIZAÇÃO DAS PRESTAÇÕES DE SERVIÇOS
3. Além das alterações referidas no anterior ponto 2, foram definidas novas regras
quanto aos valores a inscrever no quadro 06, passando este quadro a incluir os
campos 12,13,14,15,16 e 17, que não existiam no modelo anterior.
7. No novo campo 12 do quadro 06 deve ser inscrito o montante total das aquisições
intracomunitárias de bens e operações assimiladas, cujo imposto foi liquidado pelo
adquirente e é mencionado no campo 13.
9. No novo campo 14 do quadro 06 deve ser inscrito o montante total das aquisições
intracomunitárias de bens referidas no n.º 7 do artigo 15.º do CIVA (16) e no artigo
15.º do RITI ( 17), que, por se encontrarem abrangidas pelas referidas normas, não
são objecto de liquidação de imposto.
10. No novo campo 15 do quadro 06 deve ser inscrito o montante total das aquisições
intracomunitárias de bens sujeitas aos impostos a que se referem os n.os 3, 4 e 5 do
artigo 22.º do RITI (imposto sobre veículos ou impostos especiais de consumo), cujo
IVA é pago junto das entidades competentes para a cobrança dos mesmos.
11. No novo campo 16 do quadro 06 deve ser inscrito o montante total das prestações
de serviços efectuadas por entidades residentes noutros Estados membros,
consideradas localizadas no território nacional, por força da regra geral contida na
alínea a) do n.º 6 do art. 6.º do CIVA, nas quais o declarante, na qualidade de
adquirente, liquidou imposto. O IVA liquidado desta forma é mencionado no campo
17.
(16) Aquisições intracomunitárias de bens quando os bens se destinem a ser apresentados na alfândega e
colocados eventualmente em depósito provisório, colocados numa zona franca ou entreposto franco, colocados
em regime de entreposto aduaneiro ou aperfeiçoamento activo, incorporados para efeitos de construção,
reparação, manutenção, transformação, equipamento ou abastecimento das plataformas de perfuração ou de
exploração situadas em áreas territoriais ou em trabalhos de ligação dessas plataformas ao continente ou
colocados em regime de entreposto não aduaneiro.
17
( ) Aquisições intracomunitárias de bens cuja transmissão no território nacional ou importação seja isenta de
imposto, aquisições intracomunitárias de bens efectuadas por um sujeito passivo que se encontre em condições
de beneficiar do reembolso de imposto previsto no Decreto-Lei n.º 408/87, de 31 de Dezembro (que vai ser
substituído, a partir de 01.01.2010, pelo novo regime aprovado pelo Decreto-Lei n.º 186/2009, de 12 de Agosto)
e aquisições intracomunitárias de bens destinadas a operações triangulares.
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LOCALIZAÇÃO DAS OPERAÇÕES TRIBUTÁVEIS
LOCALIZAÇÃO DAS PRESTAÇÕES DE SERVIÇOS
12. No novo campo 17 do quadro 06 deve ser inscrito o montante total do imposto
liquidado nas prestações de serviços efectuadas por entidades residentes noutros
Estados membros, consideradas localizadas no território nacional.
13. O novo modelo inclui o quadro 06A, que não existia no anterior e que se destina ao
apuramento das operações passivas em que o declarante, na qualidade de
adquirente, liquidou o imposto devido, bem como das que, nos termos do Código do
IVA, são afastadas do cálculo do volume de negócios.
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