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18 Ligações Atômicas

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O ÁTOMO E AS LIGAÇÕES ATÔMICAS

INTRODUÇÃO
O comportamento macroscópico de um material pode ser previsto a partir da
análise do mesmo junto aos níveis subatômico, atômico e microscópico. Esse fato
torna necessário examinar o material, inicialmente, no tocante a sua microestrutura,
que é determinada pelos tipos de átomos e de ligações atômicas presentes. A
natureza dessas ligações apenas é compreendida quando o átomo é examinado
dentro do nível subatômico.

O ÁTOMO
A teoria atômica moderna é razoavelmente complexa, pois envolve conceitos
distintos daqueles usualmente descritos pela física clássica. De forma simplificada,
pode-se descrever o átomo como uma entidade constituída por três partículas
subatômicas, a saber: prótons, elétrons e nêutrons. O átomo é formado por uma
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nuvem de elétrons que envolve o núcleo, onde residem prótons e nêutrons e que
concentra a quase totalidade da massa atômica. Enquanto a massa de um próton é
igual a 1,673x10-24g e sua carga elétrica é de +1,602x10-19 coulombs (C), o nêutron
tem massa igual a 1,675x10-24g e é eletricamente neutro. O elétron tem massa de
9,11x10-28g e carga igual a -1,602x10-19 coulombs. Assim, é possível concluir que a
quase totalidade do volume atômico concentra-se na nuvem de elétrons. Os
elétrons, particularmente os mais externos, determinam a maioria das
características elétricas, mecânicas, químicas e térmicas do átomos e assim, o
conhecimento básico do mesmo é necessário no estudo dos materiais. Os
elementos químicos conhecidos são caracterizados pelo número atômico (Z), que
está associado ao número de prótons em seu núcleo. A massa atômica (A) é
definida como a soma das massas dos prótons e nêutrons de um átomo. Enquanto
o número atômico é sempre o mesmo para um determinado átomo, o número de
prótons pode variar, o que leva à definição de isótopos, que está associado a um
átomo com diferentes valores de massa atômica. O peso atômico pode ser definido
como a média das massas atômicas dos isótopos de um átomo. A unidade de
massa atômica ou u.m.a. corresponde a 1/12 da massa atômica do isótopo mais
freqüente do elemento carbono.
Tentativas em se compreender a constituição da matéria remontam há
mais de 2.000 anos. Porém, apenas no século XIX, esforços foram envidados no
sentido de compreender a existência de uma unidade de formação de todos os
materiais denominada de “átomo”. Esse conceito foi idealizado na antiga Grécia,
por Leucippus e Democritus, e previa a existência de pequenas partículas que
não poderiam ser divididas, denominadas de “átomo”, palavra grega que significa
indivisível. A combinação de um átomo com outros poderia formar qualquer
“coisa” existente. Apesar de sua natureza rudimentar e pouco aprofundada, tal
conceito atômico sobreviveu por mais de 20 séculos e a constituição da matéria
apenas voltou a ser tratada após a era Newtoniana. No século passado, Dalton
introduziu os princípios da interação entre átomos, assumindo que a matéria
poderia ser formada por diferentes átomos, em proporções bem definidas, o que
originou a idéia de fórmula química.
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Pouco tempo depois, os experimentos de Faraday em eletroquímica


mostraram que a matéria consistia de partículas positivas e negativas. Entretanto,
Faraday não foi capaz de associar tais partículas a átomos. Em 1897, a partir de
experimentos com um tubo de raios catódicos, Thomson estudou as partículas
negativas e positivas, permitindo a concepção da idéia de elétrons e prótons, fato
considerado fundamental na elaboração de um modelo atômico convincente. Em
tal modelo atômico, os elétrons estariam agregados a um núcleo positivo, da
mesma maneira que passas estão encravadas em um bolo, como mostra a figura
2.1.
No início deste século, experimentos desenvolvidos por Rutherford levaram
à concepção de um novo modelo atômico, onde prótons estariam localizados na
parte central do átomo (núcleo) e os elétrons estariam em constante movimento
em torno do núcleo, como ocorre em um sistema planetário. De acordo com
Rutherford, o movimento dos elétrons em suas respectivas órbitas levaria à
emissão de energia. Uma avaliação desse modelo poderia levar à falsa idéia que
os elétrons, ao perderem energia, cairiam sobre o núcleo, como sugere a figura
2.2.

Figura 2.1. Modelo atômico de Thomson.


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Figura 2.2. Trajetória espiral do elétron causada pela emissão de energia no


modelo atômico de Rutherford

QUANTIZAÇÃO DA ENERGIA
A observação de alguns fenômenos físicos sugeriam que as leis da
mecânica clássica de Newton e a teoria eletromagnética elaborada por Maxwell
eram falhas na interpretação dos mesmos, o que indicava a necessidade da
elaboração de novos conceitos, aglutinados no que convencionou-se chamar de
mecânica quântica. A seguir, são descritos alguns desses fenômenos, dentre os
quais podem ser citados a radiação térmica de um corpo negro, o efeito
fotoelétrico, e o espectro de emissão de gases sob descarga elétrica.
Um corpo negro pode ser definido como um sistema capaz de absorver a
totalidade da radiação nele incidente. Uma forma de compreender tal sistema é a
concepção de uma cavidade esférica provida de um pequeno orifício, através do
qual a radiação incidente pode entrar. Quando essa radiação entra na cavidade,
parte dela é absorvida e parte é refletida. Após um número suficiente de
reflexões, a radiação é totalmente absorvida, como ilustra a figura 2.3. Quando o
corpo negro é aquecido, este emite radiação e o tipo de radiação emitida
dependerá da temperatura do corpo. Em baixas temperaturas, o comprimento de
onda da emissão abrangerá principalmente a região do infravermelho.
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Figura 2.3. Idealização de um corpo negro: cavidade esférica com pequena


abertura, onde um feixe de radiação incidente entra e é totalmente absorvido
pelas paredes da cavidade.

À medida que sua temperatura aproxima-se de 700oC, essa radiação torna-


se visível, com a emissão de luz com coloração vermelha. Quando a temperatura
é aumentada, a coloração passa de vermelho para amarelo, e em seguida para o
branco com tons de azul. O espectro de comprimentos de onda () da radiação de
um corpo negro é razoavelmente amplo, porém o pico de emissão ocorre em
valores de  bem específicos, que dependem da temperatura, como mostra a
figura 2.4. À medida que a temperatura aumenta, a emissão eletromagnética
concentra-se em valores decrescentes de .
Esse tipo de distribuição não podia ser completamente interpretado a partir
dos princípios da física clássica. Em 1900, Max Plank analisou esse fenômeno,
sugerindo que a emissão de energia ocorria de maneira discreta e não contínua.
De acordo com Plank, a energia emitida ou absorvida por um corpo negro
envolveria pacotes discretos de energia definidos por “quanta de energia” (ou
fótons) e proporcionais à freqüência da radiação eletromagnética, ou:
E = h 2.1
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onde  é a freqüência e h é a constante de Plank (6,623x10 -34 J.s). Essa proposta


continha um conceito totalmente novo em relação à física clássica, onde a
radiação emitida ou absorvida se dava de forma quantizada, na forma de
quantidades discretas.

2000 K
Potência Irradiada

1700 K

1300 K

1 2 3 4 5
λ (x 10 m)
-6

Figura 2.4. Potência irradiada por um corpo negro, em função do comprimento de


onda e da temperatura.

À quantização de energia, proposta por Plank, não foi dada a devida


importância até que Einstein interpretasse o efeito fotoelétrico. Em 1905, Einstein
reforçou a idéia de quantização de energia ao considerar que uma onda
eletromagnética seria constituída por um conjunto de fótons, onde cada fóton teria
energia associada a sua freqüência.
O efeito fotoelétrico está relacionado à emissão de elétrons por uma
superfície metálica quando a mesma é atingida por um feixe de luz, como mostra
a figura 2.5.a. Nesse experimento, o emissor e o coletor estão selados em vácuo,
a diferença de potencial entre ambos pode ser ajustada adequadamente, e
monitorada por um voltímetro. A corrente resultante da incidência de luz no
emissor é detectada por um amperimetro. O efeito fotoelétrico confirma que a
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energia da luz atinge a superfície irradiada na forma de pacotes de energia


(fótons), e não de maneira contínua. A energia cinética dos elétrons ejetados está
relacionada à freqüência da luz incidente, conforme sugere a equação 2.1. Esses
pacotes, ao atingirem a superfície metálica, em função de sua freqüência, podem
ou não remover elétrons. Se a energia entregue à superfície metálica é maior que
a necessária para a quebra da ligação do elétron, e conseqüentemente sua
ejeção, o excesso será convertido em energia cinética, como ilustra a figura 2.5.b.
Assim, denomina-se essa energia mínima necessária para a remoção do elétron
como “função trabalho” do metal (W), que é calculado por:
W = h O 2.2

A
E
+
Energia Cinética. EC

V
Luz
C -
i νo
Freqüência da Luz,ν

(a) (b)
Figura 2.5. (a) Diagrama esquemático do experimento para observação do efeito
fotoelétrico; (b) energia cinética em função da freqüência da luz incidente na
superfície metálica.

De acordo com Einstein, a energia cinética dos elétrons ejetados é


calculada por:
E C = h − W 2.3

Em metais como o cobre e a prata, a energia necessária para a emissão


de elétrons está relacionada a freqüências próximas a 1,13x10 15 Hz. Feixes de luz
com freqüências superiores permitem a ejeção, caso contrário, não ocorre a
emissão nesses metais. Tal fato mostra que a emissão de elétrons não está
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ligada à intensidade da luz, mas a sua freqüência, o que não está em


concordância com a teoria clássica. Quando a intensidade do feixe de luz é
aumentada, a energia cinética dos elétrons emitidos não se altera, porém, o
número de elétrons ejetados é incrementado.
Outro fenômeno intrigante que tem sua interpretação facilitada com a
formulação da teoria quântica refere-se à emissão de radiação por um gás
rarefeito sob descarga elétrica. Em contraste com um sólido, que emite radiação
dentro de um espectro contínuo, dependente fundamentalmente de sua
temperatura, a emissão desse gás caracteriza-se por exibir uma série de
comprimentos de onda muito bem definidos para um determinado tipo de átomo.
Tal distribuição discreta de comprimentos de onda é confirmada através da
utilização de um prisma.
Em 1885, J.J. Balmer, ao analisar a emissão de radiação do hidrogênio,
obteve sucesso em prever matematicamente os comprimentos de onda das raias
na região do espectro visível. Essa série de comprimentos de onda tornou-se
conhecida como a “série de Balmer”, que é mostrada de forma esquematizada na
figura 2.6.

λ (nm) 600 500 400

Figura 2.6. Série de Balmer para o hidrogênio mostrando as linhas na região do


espectro visível.

Exemplo 2.1
A emissão de raios-X em um microscópio eletrônico de varredura permite
identificar os elementos presentes em uma amostra. O exame de uma amostra
metálica revelou picos de energia eqüivalentes a 8063 eV e 8556 eV. Determine
os elementos dessa amostra.
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Solução
A partir das energias emitidas, é possível determinar os comprimento de
onda das mesmas, utilizando a relação de Plank.
hc
• =
E
• 1eV=1,6x10-19 J
• E1= 8063 eV ou 1,29x10-15 J
• E2= 8556 eV ou 1,38x10-15 J
• 1eV=1,6x10-19 J
• c=3,0x108 m/s
Logo:
hc 6,63x10 −34.3,0x108
1 = = = 0,1542 nm  Cobre
E1 1,29x10 −15

hc 6,63x10 −34.3,0 x108


2 = = = 0,1436 nm  Zinco
E2 1,38x10 −15
Uma liga bastante comum que contém cobre e zinco é o latão.

MODELO DE BOHR
A etapa seguinte na procura por um modelo atômico consistente
necessariamente deveria envolver conceitos de quantização de energia relatados
anteriormente. Em 1913, ao avaliar a natureza do espectro de luz resultante da
emissão de energia de átomos de hidrogênio excitados, Niels Bohr associou
estados quânticos ao átomo. Utilizando-se de átomos de hidrogênio, o modelo de
Bohr previa que seus elétrons descreveriam órbitas circulares e com distâncias
até o núcleo bem definidas. Tais órbitas descreveriam círculos concêntricos,
associados a diferentes distâncias crescentes a partir do núcleo. A energia de um
elétron em uma determinada órbita seria constante e alteraria-se em quantidades
discretas à medida que o elétron mudasse de órbita.
No modelo de Bohr, a energia dos elétrons seria quantizada. Cada elétron
teria um valor específico de energia, que estaria ligado a uma órbita atômica
específica, e a alteração desse valor ocorreria através de saltos quânticos. Ao
passar para um nível energético maior, o elétron absorveria energia. Ao retornar
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para outro de nível inferior, ocorreria a emissão de energia. Tais estados


energéticos não variariam de forma contínua, mas discreta, ou seja, entre um
nível e outro existiria uma diferença de energia de valor finito.
Assim, um elétron, ao deslocar-se de uma órbita de estado energético
inferior para outra superior, absorveria energia. Ao permanecer na mesma órbita,
esse elétron não alteraria seu estado energético. Porém, ao passar para um
estado energético inferior, energia seria emitida na forma de ondas
eletromagnéticas. A energia emitida ou absorvida nesses saltos quânticos seria
medida pelo “quantum”. De acordo com o modelo de Bohr, a energia envolvida
em uma mudança de estado energético também é dada pela equação 2.1. No
caso de emissão de radiação eletromagnética, a relação entre freqüência e
comprimento de onda é dada por:
c =  2.4
onde c é a velocidade da luz (3,0x108 m/s) e  o comprimento de onda da
radiação. Como as órbitas estão associadas a estados energéticos bem definidos
(quânticos), pode-se afirmar que elas apenas são estáveis quando um elétron,
com órbita circular de raio r, como mostra figura 2.7, exibe momento angular P,
igual a:
h
P = n. 2.5
2
onde n é um número inteiro (n=1, 2 , 3,...).
-
v

Figura 2.7. Modelo atômico de Bohr.


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De acordo com a mecânica clássica, o momento angular P desse elétron é


dado por:
P = I. 2.6
onde I é o momento de inércia e  a velocidade angular. O momento angular
pode ainda ser escrito como:
v
P = mr 2 = mvr 2.7
r
onde m é a massa e v a velocidade tangencial do elétron. Comparando o
momento angular com o estado energético de um elétron, tem-se:
h
mvr = n 2.8
2
A girar em torno núcleo, esse elétron apresenta o eqüilíbrio de duas forças.
A primeira, FA, de caráter coulombiano, atrai ambos os corpos e a segunda, F C,
que é resultado da velocidade angular do elétron, tende a afastá-lo do núcleo:
Ze 2
FA = 2.9
4 0 r 2

mv 2
FC = 2.10
r
onde 0 é a constante de permissividade do vácuo (8,85x10 -12 C2/Nm2), e é a
carga do elétron (1,6x10-19C), r é o raio da órbita circular do elétron e Z o número
atômico do átomo. Para um elétron com órbita estável, FA é igual a FC, ou:
Ze2 v2
= m 2.11
4 0 r 2 r
A energia potencial EP do elétron é obtida por meio da equação:
r r
Ze2 Ze2
 FA dr = 
  4 0 r
2
dr = −
4 0r
2.12

Por outro lado, a energia cinética, EC, desse elétron é dada por:
m.v 2
EC = 2.13
2
Rearranjando a equação 2.11 e utilizando-se 2.13, tem-se:
m.v 2 Ze2
EC = = 2.14
2 8 0 r
Ligações Atômicas 29

A energia total de um elétron é dada por:


Ze 2 Ze 2 Ze 2
ET = − =− 2.15
8 0 r 4 0 r 8 0 r
A velocidade na equação 2.8 é dada por:
h
v =n 2.16
2rm
Aplicando a equação 2.16 em 2.11, tem-se:
2
 h 
n 
Ze 2
 2rm 
=m 2.17
4 0 r 2 r
o que permite obter o raio da órbita:
n 2h 2  0
r= 2.18
Ze 2 m
Aplicando 2.18 em 2.15, tem-se:
Z 2 e 4m2 2 Z 2 e 4m
ET = − =− 2.19
n 2h 2 (4 0 ) 8n 2h 2 ( 0 )
2 2

Exemplo 2.2
Utilizando o modelo atômico de Bohr, determine e faça um diagrama dos
níveis energéticos de um átomo de hidrogênio.

Solução
Na solução desse problema são necessários as seguintes informações:
• Átomo de hidrogênio: Z=1;
• 0 = 8,85 x 10-12 C2/Nm2;
• e = 1,6 x 10-19C;
• 1 J = 6,242 eV
• m = 9,109x10-31 kg
• h = 6,623x10-34 J.s = 4,135x10-15 eV.s
Z 2 e 4m
ET = −
8n 2h 2 ( 0 )
2

substituindo os respectivos valores, pode-se obter:


30 Ligações Atômicas

13,6
ET = − eV para n=1, 2, 3, ...
n2

Valores de energia:
n 13,6
ET = − eV
n2
1 -13,60
2 -3,40
3 -1,51
4 -0,85
5 -0,54
6 -0,38
7 -0,28

Diagrama dos níveis de energia:


E=0,0 eV n=
E=-0,54 eV n=5
E=-0,85 eV n=4
E=-1,51 eV n=3

E=-3,4 eV n=2

E1

E51

E41

E31

E21

E=-13,6eV n=1
Ligações Atômicas 31

Apesar de constituir significativo avanço, a aplicação do modelo de Bohr no


estudo de outros átomos, além do hidrogênio, levou a resultados pouco
satisfatórios.

DUALIDADE ONDA-PARTÍCULA DO ELÉTRON


É rotineiro estabelecer que objetos macroscópicos, como uma pedra em
movimento, apresente um momento linear típico de partícula, da mesma forma
que é comum estabelecer que uma emissão sonora tenha propriedades
ondulatórias. Quando o tamanho do objeto é reduzido às dimensões de um
elétron, tais comportamentos confundem-se. Em 1924, De Broglie, ao avaliar a
natureza da luz, que podia ter comportamento ondulatório ou de partículas,
propôs que os elétrons poderiam também exibir características de ondas e de
partículas. Essa proposta de De Broglie era no mínimo audaciosa para aquela
época, pois admitia que a matéria tinha como característica um comprimento de
onda associado ao seu estado energético. Utilizando as relações de Plank,
sintetizadas na equação 2.1, e de Einstein, De Broglie obteve sucesso em
relacionar as características de onda e partícula do elétron, utilizando relações
válida para um fóton. Da teoria da relatividade de Einstein, sabe-se que:
E = mc 2 2.20
onde E é a energia de um fóton, m sua massa de repouso e c a velocidade da luz.
Por outro lado, o momento linear desse fóton, p, pode ser calculado pela
relação:
p = mc 2.21
Combinando as equações 2.1, 2.20 e 2.21, pode-se obter:
E h h
p = mc = = = 2.22
c c 
De acordo com De Broglie, a equação 2.21 sugere que uma partícula de
massa m e velocidade v exibe um momento linear p=mv e um comprimento de onda
. Tal comprimento de onda é dado por:
h h
= = 2.23
p mv
32 Ligações Atômicas

O comprimento de onda de De Broglie, dado pela equação 2.23, pode ser


calculado para qualquer partícula material, porém, uma partícula macroscópica,
como uma pedra em movimento, apresentará um comprimento de onda tão
pequeno que seria virtualmente impossível caracterizar seu comportamento
ondulatório.

Exemplo 2.3
Calcule o comprimento de onda de De Broglie de uma pedra com massa
de 100 g, em movimento retilíneo à velocidade de 5 m/s.

Solução
O comprimento de onda de De Broglie é dado por:
h
=
mv
Assim, utilizando os dados fornecidos:
• h = 6,623x10-34 J.s
• m = 100 g
• v = 5 m/s
pode-se obter :
6,623 x 10 -34 J.s
= = 1,32 x 10 -34 m
(0,1 kg) (5 m / s)

O comportamento corpuscular do elétron era aceito como resultado de


alguns experimentos, incluindo o de Einstein sobre o efeito fotoelétrico. Por outro
lado, a natureza ondulatória da matéria apenas pôde ser confirmada em 1927,
quando Davisson e Germer obtiveram sucesso na difração de um feixe de elétrons
por uma amostra de níquel. Nesse experimento, a rede cristalina do metal
desempenhou o papel de fendas que levaram à difração do feixe incidente. A
penetração do feixe de elétrons na rede cristalina do metal é pouco profunda, o que
leva à difração a ser resultado da interação do feixe com os planos atômicos
próximos à superfície. A figura 2.8 ilustra o padrão de interferência construtiva e
destrutiva de feixes difratados em função do valor do ângulo .
Ligações Atômicas 33

Figura 2.7. Difração de elétrons no experimento de Davisson e Germer.

MODELO QUÂNTICO E A EQUAÇÃO DE SCHRÖDINGER


Os conceitos de quantização da energia propostos por Bohr, quando
confrontados com os princípios sugeridos por De Broglie resultaram na idéia de que
o movimento de elétrons junto ao núcleo atômico está associado a ondas
estacionárias. Esse fato permite concluir que se um elétron exibe natureza
ondulatória, seu movimento deve ser governado pelas equação do movimento
ondulatório. Tais hipóteses levam a crer que no modelo de Bohr, o comprimento da
órbita do elétron (perímetro da circunferência) deve ser igual a um número inteiro de
comprimentos de onda, como mostra a figura 2.9, ou seja:
n = 2r 2.24
nh
n = 2.25
mv
ou ainda:
nh
mvr = 2.26
2
Em 1926, Schrödinger propôs que o elétron poderia ocupar qualquer lugar
no espaço e não apenas estar restrito a uma órbita, como havia sugerido Bohr. A
natureza ondulatória da matéria indica que o movimento de elétrons deve ser
governado por equações diferenciais similares a de uma corda vibrante ou de
fenômenos eletromagnéticos e acústicos, denominadas de equações de onda..
34 Ligações Atômicas

No caso de uma corda vibrante, a variável dependente em tal equação de onda é


o deslocamento transversal; no caso do som, tal variável é a pressão; e no caso
da radiação eletromagnética, a variável pode constituir-se no campo elétrico. No
caso do movimento de uma partícula (como um elétron), torna-se interessante
definir como variável dependente o que convencionou-se chamar de “função de
onda”, simbolizada por .

Figura 2.9. Representação de ondas estacionárias junto à órbita de um elétron no


modelo atômico de Bohr, correspondente ao nível quântico n=4.

Após definir a função de onda, surge a questão: “o que ela representa?” A


resposta a tal questão é obtida da análise de outros fenômenos físicos, incluindo
aquele ligado à propagação da luz. Analisando a propagação de uma onda
eletromagnética verifica-se que o número de fótons por unidade de volume é
proporcional ao quadrado do valor do campo elétrico envolvido. Seguindo o
mesmo raciocínio, pode-se concluir que a densidade de partículas em uma região
do espaço pode ser interpretada a partir de ||2, ou seja, o quadrado da função de
onda pode ser interpretado como a densidade de probabilidade de se encontrar
uma partícula material em uma região do espaço. Se tal região do espaço
corresponde ao elemento de volume dV, então, a probabilidade de se encontrar
tal partícula nesse elemento é igual ||2dV, o que sugere que a probabilidade total
é obtida da equação:
Ligações Atômicas 35


2
dv = 1 2.27

A equação 2.27 representa a condição de normalização de .


No caso de uma corda vibrante, sua amplitude, , é calculada pela
equação:
 2   2   2  4 2
+ + + 2 =0 2.28
x 2 y 2 z 2 

Utilizando o comprimento de onda de De Broglie (=h/mv) e o fato de que a


diferença entre a energia total do elétron e sua energia potencial é o valor de sua
energia cinética (½mv2), a equação 2.28 transforma-se na equação de
Schrödinger independente do tempo (utilizando  como função de onda). Tal
equação aplica-se ao caso estacionário, para a condição de sistemas atômicos
estáveis e é dada por:
 2   2   2  8 2 m
+ + 2 + (E T − E P ) = 0 2.29
x 2 y 2 z h2
Nesse problema, é bastante claro que a solução seria mais fácil de ser obtida
caso a distância entre o elétron e núcleo, a distância radial r, fosse uma das
variáveis independentes. Tal fato sugere que é adequado reescrever a equação
2.29 em termos de coordenadas polares, conforme ilustra a figura 2.10.
As relações entre coordenadas cartesianas e esféricas são dadas por:
x = r sen co  2.30
y = r sen sen 2.31
z = r co 2.32

r = x2 + y2 + z2 2.33

Sabendo-se que:
1  2  1 2 1    
 = 2 r
2
+ 2 + 2  sen   2.34
r r  r  r sen  
2 2
r sen     
a equação 2.29 torna-se igual a:
1   2   1 2 1    
r + 2 + 2  sen  
r r  r  r sen  
2 2 2
r sen     
2.35
8 2 m
+ (E T − EP ) = 0
h2
36 Ligações Atômicas


r

Figura 2.10. Relações entre os sistemas de coordenadas cartesianas e de


coordenadas esféricas.

A solução da equação de onda é facilitada com a utilização da técnica de


separação de variáveis. Assim, a função (r,,) pode ser reescrita como o produto
das funções R(r), () e (), ou
(r, , ) = R(r ) () () 2.36
É oportuno salientar que tais funções dependem apenas das variáveis
independentes r,  e , respectivamente, ou seja, a função R depende apenas da
distância radial r, a função angular  depende apenas do ângulo  e, finalmente, a
função angular  depende apenas do ângulo . Substituindo (r,,) na equação
2.35, pode-se obter:
   2 R  2R  2  R    
 r  + + 2  sen  
r r  r  r sen  
2 2 2 2
r sen     
2.37
8 2 m
+ (E T − E P )R = 0
h2
Rearranjando
 2 sen2    2 R  sen     
= − r −  sen  
 2
R r  r      
2.38
8 2mr 2 sen2 
− (E T − E P )
h2
Ligações Atômicas 37

A separação da equação 2.38 em três novas equações diferenciais não é


uma tarefa complexa. Como ambos os lados dessa equação dependem,
respectivamente de variáveis diferentes, pode-se reescrevê-la igualando seus
membros a uma constante. Na obtenção da primeira equação, a constante
escolhida, por motivos evidentes, é -ml. Assim, pode-se escrever:
 2
= −m l 2.39
 2
A solução da equação 2.39 é dada por:
() = eiml = cos(ml ) + i sen(ml ) 2.40
Como o ângulo  varia de 0 a 2, pode-se garantir que a função  tem
natureza cíclica, pois (0) deve ser igual a (2), o que leva ao resultado:
cos( m l ) + i sen( m l ) = 1 2.41
A equação 2.41 apenas é valida quando ml assume valores inteiros. A
segunda equação é obtida igualando-se o segundo membro da equação 2.38 à
constante -ml. Isso permite obter:
ml 1     1   2 R  8 2mr 2
−  sen  = r + (E T − E P ) 2.42
sen2  sen      R r  r  h2
Novamente, observa-se uma equação onde um dos membro depende de
uma única variável, enquanto o outro membro, depende de outra variável. Isso leva,
novamente, a igualar ambos os membros a uma nova constante, agora igual a l(l+1)
e que resulta em uma equação dependente apenas da variável :
ml 1    
−  sen   = l(l + 1) 2.43
sen  sen   
2
 
Finalmente, igualando-se o segundo membro da equação 2.42 a l(l+1), é
possível obter a terceira equação diferencial, que depende apenas de r.
1   2 R  8 2 mr 2
r + (E T − E P ) = l(l + 1) 2.44
R r  r  h2
A resolução da equação 2.39 mostrou que ml deve ser igual a 0,±1,±2,±3,... A
resolução das equações 2.43 e 2.44 não é tão simples e não será aqui apresentada.
Entretanto, utilizando suas soluções e os valores de ml é possível notar que l deve
assumir valores iguais a |ml|, |ml|+1, |ml|+2, |ml|+3, ..., enquanto que n deve ser igual
38 Ligações Atômicas

a l+1, l+2, l+3, ..... O valores de n, l e ml são denominados de números quânticos


principal, secundário e magnético. Como resultado direto da equação de onda de
Schrödinger, a teoria atômica moderna assume que o movimento dos elétrons em
torno do núcleo, bem como seus níveis energéticos, podem ser caracterizados
pelos três números quânticos descritos na solução da equação de onda e um
quarto número, descrito como número quântico spin, que está associado à direção
da rotação elétron em torno do seu próprio eixo. A tabela 2.1 apresenta valores
possíveis dos números quânticos principal, secundário, magnético e spin.
Como mencionado, R(r) pode ser considerada como uma função (fator)
radial, enquanto que as outras duas funções, () e (), tem caráter angular.
Definindo um novo fator angular como sendo dado por (,)=().(), tem-se
(r, , ) = R(r ) (, ) 2.45
O modelo de Schrödinger, quando aplicado ao átomo de hidrogênio (átomo
com apenas um elétron), produz resultados bastante próximos aos obtidos por
Bohr. Utilizando o valor da energia potencial como aquele resultante da equação
2.12, é possível obter os fatores radial e angular para diversas combinações de
números quânticos, como apresenta a tabela 2.2.

Tabela 2.1. Números quânticos principal, secundário, magnético e spin.

Número Quântico Descrição Possíveis Valores


n Principal n=1,2,3, ...

l Secundário l=0,1,2,3,...,n-1
l=s, p, d, f,...
ml Magnético Valores Inteiro
de –l,(-l+1),...,0,...,(l-1), l
ms Spin 1 1
+ e –
2 2
Ligações Atômicas 39

Tabela 2.2. Representações de (r,,) para diversos número quânticos. (O valor de


a0 eqüivale ao raio da menor órbita do hidrogênio, segundo o modelo de Bohr, dado
pela equação 2.18 e igual a 0,529 nm).

n,l,ml R  n,l,ml
3
− Zr 1 3
− Zr
 Z  2 a0 1  Z  2 a0
  e 4   e
  a 0
1,0,0
 a0  
3
− Zr 1 3
− Zr
 Z  2  Zr  1  Z  2  Zr  2a0
   2 − e 2a0
4    2 − e
4 2  a 0 a 0 
2,0,0
 2a 0   a0   
3 3
− Zr 3 − Zr
 Z 2 Zr cos  1  Z 2 Zr
  e 2a0
4   cos  e 2a0
4 2  a 0
2,1,0
 a0  3a 0  a0
3 − Zr 3
− Zr − Zr
 Z 2 3 2a0 1  Z  2 Zr 2a0
 
Zr
e 2a0 e sene i   e sen e i
8
8   a 0
2,1,1
 2a 0  3 a0  a0
3 − Zr 3
− Zr 3 2a0 − Zr
 Z 2 Zr e sen e −i 1  Z  2 Zr 2a0
  e 2a0
8   e sen e −i
8   a 0
2,1,-1
 2a 0  3 a0  0a

A probabilidade de se encontrar um elétron em um volume dv é igual a 2dv.


Para os subníveis 1s e 2s, a densidade de probabilidade é esfericamente simétrica,
pois 2 não depende do fator angular. A evolução do fator radial é mostrada na
figura 2.11. A probabilidade de encontrar o elétron a uma determinada distância
radial (r) é obtida através do produto da densidade de probabilidade 2 pelo volume
da casca esférica de raio r e de espessura dr. Como tal volume é dado pela área da
casca, 4r2, multiplicado pela espessura dr, tal probabilidade é igual a 4r22. A
figura 2.12 apresenta a probabilidade de encontrar um elétron em função da
distância radial para o átomo de hidrogênio.
A representação do fator angular  (tabela 2.2) é mostrada na figura 2.13. O
termo 2, dado na figura 2.14, é proporcional à probabilidade de encontrar o elétron.
40 Ligações Atômicas

1s
R(r)

2p

0 2s

0 2 4 6 8 10 12 14
r/a o

Figura 2.11. Evolução do fator radial da função de onda para o átomo de hidrogênio.

1s
4  r 2 R(r)

2p

2s

0
0 2 4 6 8 10 12 14
r/a o
Figura 2.12. Probabilidade de encontrar um elétron em função da distância radial,
para os orbitais 1s, 2s e 2p, para o átomo de hidrogênio.
Ligações Atômicas 41

Z Z

Y Y

X X

(a) (b)
Z
Z

Y
Y

X
X

(c) (d)
Figura 2.13. Fator angular  da função de onda para o hidrogênio: (a) 1s, 2s; (b) 2p
(ml=1); (c) 2p (ml=-1); (d) 2p (ml=0).
Z

(a) (b)

(c) (d)
Figura 2.14. Parte angular 2 da densidade de probabilidade de encontrar um
elétron para o hidrogênio: (a) 1s, 2s; (b) 2p (ml=1); (c) 2p (ml=-1); (d) 2p (ml=0).
42 Ligações Atômicas

Para o átomo de hidrogênio, com seu elétron no estado 1s, uma comparação
entre o modelo de Bohr e o da mecânica quântica dado pela equação de
Schrödinger pode ser visto na figura 2.15.
Probabilidade

Probabilidade

ao ao
Distância Radial Distância Radial

(a) (b)

Figura 2.15. Probabilidade de se encontrar o elétron em posições em torno do


núcleo para o hidrogênio: (a) modelo quântico e (b) modelo de Bohr.

DISTRIBUIÇÃO ELETRÔNICA
A distribuição dos elétrons em torno do núcleo segue alguns princípios
fundamentais associados aos estados quânticos, ao princípio da exclusão de
Pauli, onde apenas dois elétrons podem ocupar um mesmo nível de energia e
mesmo assim, tais elétrons devem ter números quânticos spins opostos. Além
disso, vale lembrar que não é possível estabelecer completamente o movimento
de um elétron, à medida que o princípio da incerteza de Heisenberg sugere que
Ligações Atômicas 43

não é possível determinar sua quantidade de movimento e sua posição com


precisão elevada.
Os números quânticos constituem ferramenta fundamental na interpretação
da distribuição dos elétrons em um átomo. O número quântico principal, n,
corresponde ao nível energético no modelo de Bohr e normalmente, é visto como
camadas no espaço com alta densidade de probabilidade de se encontrar
elétrons. À medida que o valor de n aumenta, aumenta também a energia do
elétron, como também sua distância em relação ao núcleo.
Da mesma forma que n está ligado a camadas em torno do núcleo, o
número quântico secundário representa subcamadas, denominadas pelos
números l=0,1,2,..., n-1 ou ainda pelas letras s, p, d, f. Esse número quântico é de
grande importância, pois o mesmo está diretamente relacionado a regiões em
torno do núcleo com alta densidade eletrônica e definidos como orbitais. Em
função do número quântico l, o orbital pode ser esférico (figura 2.13.a), ter
natureza geométrica semelhante a um duplo halter (figuras 2.13.b, c e d), ou
ainda formas mais complexas, caso l aumente.
O número quântico magnético ml está associado à orientação dos orbitais
no espaço, bem como está ligado ao comportamento dos elétrons quando os
mesmos são submetidos a um campo magnético externo. Finalmente, o número
quântico spin está associado a um movimento de rotação do elétron em torno de
seu eixo. Em função do seu momento angular, define-se que um elétron com
rotação no sentido horário tem valor de ms igual a +1/2. Caso contrário, ms é igual
a -1/2.
De acordo com o princípio da exclusão de Pauli, o conjunto de números
quânticos de um elétron de um dado átomo é único ou seja, apenas dois elétrons
podem ocupar o mesmo subnível, cada um com um número quântico spin
diferente (+1/2 e –1/2). A notação utilizada para apresentar a distribuição
eletrônica envolve o número quântico principal, seguido do número quântico
secundário (s, p, d ou f) e o número de elétrons na forma de um expoente do
número quântico secundário. Como exemplo, a distribuição de elétrons para um
átomo de magnésio é mostrada na tabela 2.3. A figura 2.15 apresenta a tabela
periódica dos elementos químicos, que é construída fundamentando-se na
44 Ligações Atômicas

distribuição eletrônica. A seqüência de preenchimento dos diversos níveis de


energia segue a regra de Hund. Tal regra sugere que a ocupação dos níveis deve
respeitar o fato que os elétrons tendem a afastar-se uns dos outros, pois suas
cargas elétricas têm o mesmo sinal. Por exemplo, no caso do elemento carbono,
a ocupação é do tipo 1s2 2s2 2p2. A ocupação do nível p envolve orbitais
separado, com números quânticos spins iguais. Um regra simples para se obter a
seqüência de preenchimento dos níveis é mostrada na figura 2.16.

Tabela 2.3. Distribuição eletrônica do átomo de magnésio.

Número Número Número Número


Nível Elétron Quântico Quântico Quântico Quântico
Principal Secundário Magnético Spin
1s2 elétron 1 1 0 0 -½
elétron 2 1 0 0 +½
2s2 elétron 3 2 0 0 -½
elétron 4 2 0 0 +½
2p6 elétron 5 2 1 -1 -½
elétron 6 2 1 -1 +½
elétron 7 2 1 0 -½
elétron 8 2 1 0 +½
elétron 9 2 1 1 -½
elétron 10 2 1 1 +½
3s2 elétron 11 3 0 0 -½
elétron 12 3 0 0 +½

Diversas características atômicas estão diretamente associadas à


distribuição de elétrons. Dessas características, destacam-se a eletronegatividade
e a valência. A eletronegatividade de um átomo caracteriza sua tendência em
atrair elétrons de outros átomos. Um elemento muito eletronegativo, como o fluor,
tende a receber elétrons em uma ligação, para que suas sub-camadas da última
Ligações Atômicas 45

camada tornem-se completas. Quando nessas subcamadas existe um número


pequeno de elétrons, é mais fácil ocorrer a perda dos mesmos, o que caracteriza
um átomo como eletropositivo. Um exemplo de átomo altamente eletropositivo é o
potássio. Quando um átomo apresenta caráter eletronegativo, o mesmo exibe
natureza não metálica. Caso o átomo seja eletropositivo, terá natureza metálica.
Alguns elementos têm característica ambígua, podendo apresentar natureza
eletronegativa ou eletropositiva, dependendo dos elementos presentes na reação,
ou seja, esses átomos podem perder ou ganhar elétrons.

1A 8A
1 Z 2
1 H Xx He
1,00 2A A 3A 4A 5A 6A 7A 4,00
3 4 5 6 7 8 9 10
2 Li Be B C N O F Ne
6,94 9,01 10,81 12,01 14,00 15,99 18,99 20,18
11 12 13 14 15 16 17 18
3 Na Mg Al Si P S Cl Ar
22,98 24,30 3B 4B 5B 6B 7B 8B 1B 2B 26,98 28,08 30,97 32,06 35,45 39,95
19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36
4 K Ca Sc Ti V Cr Mn Fe Co Ni Cu Zn Ga Ge As Se Br Kr
39,09 40,08 44,96 47,88 50,94 51,99 54,94 55,85 58,93 58,69 63,54 65,38 69,72 72,59 74,93 78,96 79,90 83,8
37 38 39 40 41 42 43 44 45 46 47 48 49 50 51 52 53 54
5 Rb Sr Y Zr Nb Mo Tc Ru Rh Pd Ag Cd In Sn Sb Te I Xe
85,47 87,62 88,90 91,22 92,90 95,94 98,91 101,07 102,91 106,40 107,87 112,40 114,82 118,69 121,75 127,60 126,90 131,30
55 56 71 72 73 74 75 76 77 78 79 80 81 82 83 84 85 86
6 Cs Ba Lu Hf Ta W Re Os Ir Pt Au Hg Tl Pb Bi Po At Rn
132,91 137,33 174,90 178,49 180,95 183,85 186,20 190,20 192,22 195,09 196,97 200,59 204,37 207,20 208,98 (209) (210) (222)
87 88 103 104 105
7 Fr Ra Lr Rf Ha
(223) 226,03 (260) (257) (260)

57 58 59 60 61 62 63 64 65 66 67 68 69 70
Série dos Lantanídeos La Ce Pr Nd Pm Sm Eu Gd Tb Dy Ho Er Tm Yb
138,91 140,12 140,91 144,24 (145) 150,36 151,96 157,25 158,92 162,50 164,93 167,26 168,93 173,04
89 90 91 92 93 94 95 96 97 98 99 100 101 102
Série dos Actinídios Ac Th Pa U Np Pu Am Cm Bl Cf Es Fm Md No
227,03 232,04 231,04 238,03 237,05 (244) (243) (247) (247) (251) (254) (257) (258) (259)

Figura 2.16. Tabela periódica dos elementos químicos (Z é o número atômico, Xx


é o símbolo do elemento e A é a massa atômica).

1s
2s 2p
3s 3p 3d
4s 4p 4d 4f
5s 5p 5d
6s 6p 6d
7s

Figura 2.17. Regra para o preenchimento dos níveis energéticos.


46 Ligações Atômicas

A valência de um átomo refere-se ao número de elétrons que o mesmo


cede ou recebe durante um reação química e também está relacionada com a
distribuição de elétrons da última camada. Na última camada, a forma como estão
preenchidos as subcamadas s e p determinam a valência. Dependendo dos
átomos envolvidos na reação, um elemento pode apresentar valências diferentes.
Quando essa valência é nula, o átomo apresenta-se estável, pois sua última
camada está completa, como é o caso dos gases nobres.

LIGAÇÕES QUÍMICAS
A estrutura interna dos materiais é resultado da agregação de átomos obtida
através de forças de ligação interatômicas. Esta agregação, em função das
características de tais ligações, pode resultar nos estados sólido, líquido e gasoso.
Basicamente, os átomos podem atingir uma configuração denominada de
estável a partir de três maneiras, quais sejam: ganho de elétrons, perda de elétrons
ou compartilhamento de elétrons. Tais características atômicas resultam na
existência de três tipos de ligações atômicas, denominadas como primárias ou
fortes, que são mostradas na tabela 2.4

Tabela 2.4. Relação entre características atômicas e ligações resultantes.

ELEMENTO ELETROPOSITIVO
+ LIGAÇÃO IÔNICA
ELEMENTO ELETRONEGATIVO
ELEMENTO ELETROPOSITIVO
+ LIGAÇÃO METÁLICA
ELEMENTO ELETROPOSITIVO
ELEMENTO ELETRONEGATIVO
+ LIGAÇÃO COVALENTE
ELEMENTO ELETRONEGATIVO

LIGAÇÕES IÔNICAS
É o resultado da interação entre íons positivos (cátions) e negativos (anions),
que perderam ou ganharam elétrons. Um exemplo que pode ser considerado
clássico de ligação iônica ocorre na formação do NaCl (sal de cozinha).
Ligações Atômicas 47

O sódio possui as duas primeiras camadas eletrônicas completas e a terceira


com apenas um elétron (3s1). Isto mostra que o Na tem facilidade em perder um
elétron (eletropositivo) para adquirir a configuração eletrônica estável. Por outro
lado, o cloro apresenta em sua camada mais externa sete átomos (3s2 3p5) ou seja,
ele tem facilidade em receber um elétron (eletronegativo) e tornar-se
eletronicamente estável. Quando o Na e Cl reagem, os elétrons externos dos
átomos de sódio transferem-se para os átomos de cloro, produzindo íons sódio Na+
e os íons cloretos Cl-, que são mantidos juntos pela atração eletrostática de suas
cargas opostas, formando o NaCl, como mostra a figura 2.15.
A distribuição eletrônica no íons Cl- e Na+ e o tipo de orbital presente fazem
com que a ligação iônica seja não direcional. Como um sólido iônico será formado
por cátions e ânions, cada um com raio iônico particular, pode-se prever que além
da garantia de neutralidade da rede, as relações entre os raios iônicos será decisiva
na distribuição dos íons no espaço. O caráter de uma ligação será mais iônico à
medida que a diferença de eletronegatividade entre os elementos aumenta. Quando
essa diferença de eletronegatividade não é muito acentuada, o composto apresenta
elevado caráter covalente.
Na Cl

Antes da
Reação

Após a
Reação Cl-
Na+

(a) (b)

Figura 2.15. Ligação iônica resultante da doação de um elétron do sódio para o


cloro. (a) Distribuição dos elétrons antes e após a reação; (b) Distribuição espacial
dos íons sódio e cloro.
48 Ligações Atômicas

LIGAÇÕES COVALENTES
Quando dois elementos eletronegativos, de caráter não metálico, reagem
entre si, não é formada uma ligação iônica, pois ambos os átomos têm facilidade em
receber elétrons. Neste caso, a configuração estável dos dois elementos ocorre por
compartilhamento de elétrons. Uma ligação covalente surge quando os átomos
apresentam orbitais semi-preenchidos. Quando existe o compartilhamento de
elétrons, tais orbitais completam-se mutuamente, gerando ligações bastante fortes.
As ligações covalentes podem ser altamente direcionais. Isto ocorre quando a
densidade de probabilidade (2) é mais elevada em algumas direções que outras
(vide figura 2.14.b, c e d). Caso a densidade de probabilidade seja esfericamente
simétrica, como mostra figura 2.14.a, a ligação é não direcional. Como exemplo de
ligação covalente, pode-se citar a formação da molécula de cloro Cl2. Cada átomo
de cloro compartilha um de seus elétrons com outro átomo, que é exemplificada na
figura 2.17.

Figura 2.17. Diagrama esquemático da ligação covalente entre átomos de cloro.


Ligações Atômicas 49

Dessa forma, um par eletrônico pode ser compartilhado igualmente por dois
átomos e cada átomo tem na sua camada mais externa, seis elétrons originalmente
dele e um par compartilhado. Isto torna cada átomo eletronicamente estável e o
mesmo atinge a configuração do gás nobre argônio. Da mesma forma, a formação
da molécula de oxigênio envolve o compartilhamento de quatro elétrons. Ligações
covalentes podem ser observadas entre átomos de oxigênio e silício, como mostra a
figura 2.18, ou nos hidrocarbonetos presentes nos materiais poliméricos.

Figura 2.18. Ligações covalentes encontradas em um cristal de SiO2.

LIGAÇÕES METÁLICAS
Esse tipo de ligação é normalmente encontrado em metais e envolve a
interação entre elementos de caráter metálico. Para haver a ligação metálica é
necessário um número elevado de átomos. A ligação metálica é resultado da ação
entre elétrons livres (nuvem eletrônica) e íons positivos. Estes elétrons livres são
originários da última camada de valência, fracamente presos ao átomo, e que estão
livres dentro da estrutura metálica. A figura 2.19 mostra ligações metálicas
observadas em metais. Através de tais elétrons pode-se explicar as altas
condutibilidades elétrica e térmica dos metais. Outro fato que resulta dessa nuvem
de elétrons é a opacidade dos metais, pois quando a luz atinge um metal, seus
elétrons livres absorvem a energia incidente, em seguida, refletindo-a. A estrutura
dos sólidos formados por elementos metálicos é razoavelmente simples, à medida
que as ligações metálicas não são direcionais como as covalentes, não dependem,
50 Ligações Atômicas

para um elemento puro, de relações geométricas entre os átomos e não necessitam


do estabelecimento da neutralidade elétrica da rede. Tais características resultam
em um empacotamento atômico altamente compacto.

Figura 2.19. Ligações metálicas (nuvem de elétrons) encontradas nos metais.

Os três tipos de ligações primárias mencionados raramente ocorrem


individualmente. Na verdade, um mesmo material pode exibir uma combinação
destes tipos, formando materiais com ligações mistas. Um exemplo é o NaNO3
(nitrato de sódio), que apresenta ligações covalente no radical nitrato NO3- e
ligações iônicas entre os íons Na+ e NO3-. Outro exemplo pode ser encontrado em
sólidos constituídos por metais de transição. Nesse caso, as ligações entre tais
elementos envolvem, além das ligações metálicas, ligações covalentes também. Tal
caráter covalente pode gerar ligações direcionais, que poderiam explicar, em alguns
casos, o arranjo cristalino pouco compacto de alguns metais.
Uma outra classe de ligações, denominadas de ligações fracas ou
secundárias, pode ser encontrada em algumas substâncias. Estas ligações levam à
atração eletrostática entre moléculas formadas a partir de ligações covalentes ou
iônicas. Essas forças de atração entre moléculas são classificadas como forças de
Van Der Walls. Tal classe de ligações permite explicar a condensação dos gases
nobres (He, Ne, Ar, Kr, Xe e Ra). Estes elementos apresentam orbitais
perfeitamente completos (8 e 2 elétrons na última camada) e dessa forma tais
Ligações Atômicas 51

átomos deveriam permanecer monoatômicos em qualquer temperatura. Entretanto,


em temperaturas extremamente baixas, a existência das forças de Van Der Waals
pode provocar a união dos elementos nobres.
As ligações secundárias podem ser de três tipos: ligação através do efeito de
dispersão, através de dipolos permanentes e através de pontes de hidrogênio. O
efeito de dispersão ocorre em moléculas simétricas. Nesse caso, os elétrons de um
átomo, em baixas temperaturas, podem concentrar-se em uma região específica,
causando a polarização do mesmo. Isso gera um dipolo elétrico, que seria
responsável pela ligação química. Tal mecanismo permite explicar transformações
de fase nos gases nobres. Por exemplo, a temperatura de vaporização e de fusão
do hélio é respectivamente, -269 e –272oC. Para outro gás nobre, o neônio, tais
temperaturas seriam –245 e –249oC. Como tais ligações são extremamente fracas,
é necessário que a energia cinética (e a temperatura) seja reduzida ao mínimo para
permitir a transformação de fases. A figura 2.20 mostra um diagrama do mecanismo
presente em ligações por efeito de dispersão.
- -
- - - -

- - - -

- - - -

- - - -
- -

(a)
- -
- -
- - - -
- -
- - - -
- -
- -

- + - +
(b)
Figura 2.20. Ilustração do fenômeno de efeito de dispersão de elétrons: (a) antes da
dispersão; (b) após a dispersão.
52 Ligações Atômicas

Os dipolos permanentes surgem quando moléculas assimétricas têm seus


elétrons compartilhados (que participam de ligações covalentes) atraídos em direção
ao átomo com maior número atômico (e com a maior quantidade de prótons). Um
exemplo desse fenômeno é observado na molécula do ácido clorídrico. O par
eletrônico (um do hidrogênio e outro do cloro) são deslocados em direção do Cl,
formando um dipolo elétrico. As ligações surgem quando vários dipolos interagem
entre si. A figura 2.21 mostra a formação de um dipolo permanente em uma
molécula de HCl.
O último tipo de ligação secundária é classificado como pontes de hidrogênio
e também forma dipolos elétricos. Nesse caso, o dipolo é formado por moléculas
contendo o elemento hidrogênio e elementos com alta eletronegatividade. O núcleo
dos átomos de hidrogênio de uma molécula são atraídos por elétrons não
compartilhados de um outra molécula dando origem à ligação. O exemplo clássico
de ligação por pontes de hidrogênio é o caso da água, onde moléculas formadas por
ligações covalentes (entre o oxigênio e o hidrogênio) são ligadas a partir da atração
entre os prótons (núcleo do hidrogênio) e o oxigênio, como ilustra a figura 2.22

Figura 2.21. Ilustração da ligação secundária do tipo dipolo permanente.


Ligações Atômicas 53

Figura 2.22. Pontes de hidrogênio entre moléculas de água.

DISTÂNCIAS INTERATÔMICAS
Em um material no estado sólido, os átomos exibem um constante
movimento vibratório, ao redor de suas posições de eqüilíbrio. A intensidade de tal
vibração depende da temperatura em que se encontra o material. Nos estudos das
estruturas dos materiais sólidos, tal movimento pode ser considerado desprezível ao
se considerar que tal material é um agregado estático de átomos interligados e
localizados nos pontos de eqüilíbrio. Independente do tipo de ligação existente entre
dois átomos do agregado atômico em questão, seja ela iônica, metálica ou ainda
covalente, os pontos de eqüilíbrio resultam da interação de dois tipos de força. O
primeiro tipo é a força de atração, que é resultante da ligação existente (iônica,
metálica ou covalente) e é responsável pela agregação atômica. O outro tipo de
força a ser considerado é o de repulsão, que resulta da proximidade acentuada de
camadas eletrônicas dos átomos. A distância interatômica é resultado da interação
entre forças de repulsão e de atração, dando origem a uma distância de eqüilíbrio
entre os átomos, que é o ponto onde ambas as forças são iguais. Em termos de
energia, a distância de equilíbrio entre os átomos é aquela em que a energia
potencial tem valor mínimo ou quando a força de repulsão apresenta valor igual a de
atração.
Para ilustrar a interação de forças pode-se tomar o caso de uma ligação
iônica, onde tais forças podem ser determinadas mais facilmente. A força de atração
54 Ligações Atômicas

(FA) neste caso é dada pela ação de duas cargas pontuais e de caráter
coulombiano:

F =−
(Z1e)(Z2e) 2.46
A
4  o a 2

onde z1 e z2 são números de elétrons removidos ou adicionados aos átomos na


formação do íon, e é a carga do elétron, 0 é a permissividade do espaço vazio
(8,85x10-12C2/Nm2) e a é a distância interatômica.
A força de repulsão (FR) em uma ligação iônica é encontrada
experimentalmente como sendo inversamente proporcional à distância de
separação entre os íons e é dada pela equação:

nb
F =- 2.47
R n+1
a
onde b e n são constante. Para a ligação iônica do NaCl, n assume valores entre 7 e
9. Assim, a força resultante (FT) é dada pela soma das forças de atração e repulsão:
( Z e)(Z e)
1 2 - nb 2.48
F =- n+1
T 4 a 2 a
o

A figura 2.23 apresenta um diagrama esquemático das variações da força


total com a distância de separação entre átomos. Diversas características de um
material relacionam-se à forma desse diagrama. Por exemplo, a resistência
mecânica de um material está relacionada com a maneira com que FT varia. A
variação de FT em função da distância interatômica permite obter o valor da energia
de ligação entre átomos ou íons. Essa força está associada à tensão necessária
para separar dois átomos ou íons. Como conseqüência deste fato, energias de
ligação elevadas correspondem a materiais geralmente duros, como o diamante ou
o silício. Da mesma forma, o módulo de elasticidade do material, que é a medida de
rigidez do mesmo, pode ser obtido pela derivação de FT em relação à distância, em
posições próximas ao ponto de equilíbrio.
A energia (ET) associada a uma ligação iônica, como a encontrada no NaCl,
é dada pela soma das energias envolvidas com a atração e repulsão dos íons. Esta
energia de ligação pode ser obtida pelo produto "força x distância", ou:
Ligações Atômicas 55

a  (Z e)(Z e) 

E =  - 1 2 -
nb 
da 2.49
T  2 n + 1
 4  a a 
o

que resulta em:

(Z Z e2) b
E =+ 1 2 + n 2.50
T 4 a a
o

A figura 2.24 exibe a variação de energia potencial com a distância de


separação entre átomos ou íons. Nesse diagrama, o termo relativo à energia de
atração corresponde à energia liberada quando os íons aproximam-se e é negativa
devido ao produto de uma carga positiva por uma negativa (+Z1.-Z2). O termo ligado
à energia de repulsão representa a energia absorvida quando os íons aproximam-se
e é positiva. A soma destas duas energias tem seu ponto mínimo quando os íons
apresentam distância de separação de equilíbrio.

FA
FA

FT

Distância entre
átomos ou íons, a

FR
ao=rcátion + rânion
FR

ao

Figura 2.23. Diagrama esquemático da interação entre forças de atração e repulsão


em ligações iônicas.
As ligações atômicas permitem que os átomos exibam o estado de
agregação sólido. Em função da natureza dessas ligações atômicas e da forma com
que os átomos são arranjados no espaço, é possível prever propriedades,
56 Ligações Atômicas

características e o comportamento do material. Basicamente, pode-se classificar os


arranjos atômicos dos materiais sólidos em três tipos de estruturas atômicas:
estrutura cristalina, estrutura amorfa e estrutura molecular.

Energia
Repulsão
Energia

Distância entre
átomos ou íons, a

ao=rcátion + rânion
Energia
Total

Energia
Repulsão
ao

Figura 2.24. Variação da energia potencial resultante da interação entre átomos ou


íons.

A estrutura cristalina caracteriza-se por arranjos atômicos ordenados no


espaço. É a estrutura típica dos metais. A estrutura amorfa caracteriza-se por
apresentar arranjos atômicos desordenados e aleatórios, semelhante à estrutura do
estado líquido. Entretanto, a estrutura amorfa pode exibir regiões isoladas de
ordenação atômica, sendo estas de curto alcance. A estrutura molecular se
caracteriza pela existência de moléculas como unidade estrutural. Tais moléculas
são formadas por átomos arranjados de forma ordenada e pré-determinada. É o tipo
de estrutura observada nos plásticos.

Problemas
2.1. Descreva sucintamente as ligações atômicas primárias iônica, covalente e
metálica.
Ligações Atômicas 57

2.2. Após a ionização, por que um íon de sódio torna-se menor que um átomo de
sódio?
2.3. Após a ionização, por que um íon de cloro se torna maior que um átomo de
cloro?
2.4. Por que o diamante tem dureza muito elevada?
2.5. Por que os metais são bons condutores de calor e de eletricidade?
2.6. Por que os metais são opacos?
2.7. É possível obter ligações metálicas entre um conjunto muito pequeno de
átomos? Por que?
2.8. O silício, no estado líquido, apresenta um volume específico menor que no
estado sólido. Qual é a razão desse fenômeno?
2.9. Calcule a força de atração entre o par iônico Na+ e F-, quando os mesmos estão
se tocando. Assuma que o raio iônico do Na+ é 0,095nm e do F- é 0,136nm.
2.10. Os aços com baixo teor de carbono apresentam módulo de elasticidade
independente da quantidade desse elemento. Qual é a origem desse fato?
2.11. O elétron de um átomo de hidrogênio sofre uma transição, passando do
estado n=1 para n=3. Determine: (a) a variação da energia do elétron; (b) ocorreu
absorção ou emissão de energia? (c) a freqüência e o comprimento de onda da
energia emitida ou absorvida.
2.12. Que tipo de ligação apresenta um número elevado de átomos de sódio?
2.13. Determine a força de atração entre os íons Cl- e Na+ quando os mesmos
estão se tocando. O raio iônico do sódio é igual a 0,095 nm e o do cloro é 0,181
nm.

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