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QUÍMICA GERAL

AULA 2

Prof. Marcos Baroncini Proença


CONVERSA INICIAL

Na Aula 1, vimos a teoria sobre a estrutra dos átomos e também como


representar a estrutura atômica dos elementos químicos. Agora, valendo-nos
deste conhecimento, desenvolveremos nesta aula os conceitos das ligações
químicas que ocorrem entre os elementos, as caraterísticas destas ligações e a
influência que terão nas propriedades dos materiais de engenharia que formam.
Assim, o objetivo desta aula é levar o aluno a adquirir este conhecimento e
habilitá-lo a predizer algumas das propriedades dos materiais de engenharia em
função das ligações que os formam.

TEMA 1 – PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS

Para entender melhor como funcionam as ligações químicas, temos de


compreender a dinâmica envolvida entre a atração exercida do núcleo para os
elétrons localizados no último nível de energia, sendo esta localização chamada
de “camada de valência”. Assim, abordaremos alguns princípios fundamentais
de física e química considerados importantes para esta finalidade.

1.1 Lei da Gravitação Universal

Pouco se sabia sobre gravitação até o século XVII, quando Isaac Newton
publicou a famosa Lei da Gravitação Universal, emseu Livro Principia
Mathematica, no qual postulou que “uma partícula atrai qualquer outra partícula
no universo com uma força que é diretamente proporcional ao produto de suas
massas e inversamente proporcional ao quadrado da distância entre seus
centros". A equação desta lei é:

𝑚1 . 𝑚2
𝐹 = 𝐺.
𝑑2

Figura 1 – Isaac Newton

Crédito: Godfrey Kneller - CC/PD.


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Esta teoria, que governa a atração entre corpos celestiais, também pode
ser aplicada à estrutura atômica, considerando tanto o próton quanto o elétron e
o nêutron como partículas contendo massa.

1.2 Lei da Atração Eletrostática

No século XVIII, o cientista francês Charles Coulomb conseguiu


estabelecer experimentalmente uma expressão matemática que nos permite
calcular o valor da força entre dois pequenos corpos eletrizados. Coulomb
verificou que o valor dessa força (seja de atração ou de repulsão) é tanto maior
quanto maiores forem os valores das cargas nos corpos, e tanto menor quanto
maior for a distância entre eles.
Para medir as forças, Coulomb aperfeiçoou o método de detectar a força
elétrica entre duas cargas por meio da torção de um fio. A partir dessa ideia,
criou um medidor de força extremamente sensível, denominado “balança de
torção”.

Figura 2 – Charles Coulomb e sua balança de torção

Créditos: Hippolyte Lecomte - CC/PD; Charles-Augustin de Coulomb - CC/PD.

Esta teoria, que governa a atração entre corpos eletrizados, também pode
ser aplicada à estrutura atômica, considerando que o próton presente no núcleo
tem carga positiva e o elétron ao redor do núcleo tem carga negativa de igual
intensidade.

1.3 Segundo postulado da Teoria Atômica de Bohr

Bohr, no segundo postulado da sua Teoria Atômica, apresentou o


conceito de que “fornecendo um quantum de energia a um átomo, um ou mais

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elétrons a absorvem e saltam para níveis mais afastados do núcleo, tendendo
posteriormente a liberar esta energia para voltarem a seu estado de energia
inicial”. É importante salientar que este conceito vale para todos os níveis de
energia ao redor do núcleo, incluindo o da camada de valência.

1.4 Conceito de Eletronegatividade

Em seu livro The Nature of the Chemical Bond, publicado em 1939, Linus
Pauling apresentou o conceito de eletronegatividade como resultado de seus
estudos sobre energias das ligações químicas, definindo-a como “a medida
relativa da força de atração de átomos sobre elétrons, na formação da ligação
química com outro elemento”. Inclusive, Linus Pauling apresentou uma escala
desta eletronegatividade, partindo de valores qualitativos da ionicidade de
ligações químicas entre elementos que obteve em seus experimentos; esta
escala é até hoje usada. A eletronegatividade é uma das propriedades periódicas
que serão abordadas na aula 3, sobre Tabela Periódica.
A grande importância deste conceito reside no fato de a
eletronegatividade fornecer a tendência de um átomo ganhar ou perder elétrons
em uma ligação química. Segundo a escala, que vai de 0,7 a 4,0, elementos de
eletronegatividade entre 0,7 e 1,9 tendem a perder elétrons e elementos de
eletronegatividade entre 2,0 e 4,0 tendem a ganhar elétrons.

Figura 3 – Variação da eletronegatividade

Crédito: extender_01/Shutterstock.

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TEMA 2 – CÁTION, ÂNION E LIGAÇÃO IÔNICA

Uma vez apresentados os princípios fundamentais de física e química no


Tema 1, vamos aplicá-los para definir o que seja cátion, ânion e, em função
disso, apresentar a Ligação Iônica e caracterizá-la.

2.1 Cátion e ânion

Iniciaremos nossa definição partindo da premissa de que os orbitais


relacionados às ligações químicas são os s e p. Também partiremos da
observação de que, nas camadas de valência dos elementos, estão presentes
apenas estes dois orbitais. Como no orbital s podem existir no máximo dois
elétrons e no orbital p podem existir no máximo seis elétrons, é possível concluir
que na camada de valência haverá de um a oito elétrons envolvidos nas ligações
químicas. Vamos, então, assumir um ponto intermediário, com a camada
possuindo quatro elétrons.
Abaixo deste ponto intermediário haverá camadas de valência com um,
dois e três elétrons. Analisando esta camada em função da Lei da Gravitação
Universal e da Força de Atração Coulombiana, teremos aí uma baixa massa de
elétrons e uma baixa carga negativa. Assim, os elétrons desta camada estarão
fracamente ligados ao núcleo, ainda mais fracamente ligados à medida que o
raio atômico for aumentando. Esta observação deve ser complementada com a
eletronegatividade, que aumenta à medida que a camada de valência se
aproxima do núcleo de forma bastante acentuada. Assim, adicionando a estas
considerações o segundo postulado da Teoria Atômica de Bohr, elementos com
um a três elétrons na camada de valência terão estes elétrons fracamente
ligados ao núcleo e, consequentemente, quando receberem energia, vão perdê-
los, pois “pularão” para fora da estrutura atômica. Assim, passarão a ter um
número menor de elétrons do que o de prótons no núcleo, passando a serem
ionizados positivamente, ou seja, a se comportarem como íons de carga positiva.
Estes íons de carga positiva são denominados de “cátions”.
Acima do ponto intermediário haverá camadas de valência com cinco,
seis e sete elétrons. Analisando esta camada em função da Lei da Gravitação
Universal e da Força de Atração Coulombiana, teremos aí uma elevada massa
de elétrons e uma elevada carga negativa. Assim, os elétrons desta camada
estarão fortemente ligados ao núcleo, estando ainda mais fortemente ligados à

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medida que o raio atômico for diminuindo. Esta observação deve ser
complementada com a eletronegatividade, que aumenta à medida que a camada
de valência se aproxima do núcleo de forma bastante acentuada. Assim,
adicionando a estas considerações o segundo postulado da Teoria Atômica de
Bohr, elementos com cinco a sete elétrons na camada de valência terão estes
elétrons fortemente ligados ao núcleo e, consequentemente, quando receberem
energia, não irão perdê-los. Neste caso entra fortemente o conceito da
eletronegatividade, pois terão uma elevada força de atração para os elétrons na
ligação química. Podemos entender o que acontecerá nesta camada
visualizando que todos os elétrons, ao receberem energia, tendem a pular para
níveis de energia maiores. Como os elétrons desta camada de valência estão
fortemente atraídos ao núcleo, não conseguirão fazer isso, mas aumentarão o
raio desta camada de valência gerando uma expansão, a qual permitirá que
elétrons atraídos entrem nesta camada. Assim, passarão a ter um número maior
de elétrons do que o de prótons no núcleo, sendo ionizados negativamente, ou
seja, comportando-se como íons de carga negativa. Estes íons de carga negativa
são denominados de “ânions”.
Vamos salientar que, no ponto intermediário, ou seja, na camada de
valência com quatro elétrons, o comportamento de um elemento acompanhará
o comportamento do elemento com o qual estiver fazendo a ligação. Assim, se
o elemento com o qual fará ligação se tornar cátion, ele também se tornará. Se
o outro elemento virar ânion, ele também virará.
Precisamos reforçar também que elementos com oito elétrons na camada
de valência estão com os orbitais s e p completos, portanto, não se ligarão a
outros elementos; apenas farão ligações com átomos do mesmo elemento.

2.2 Ligação Iônica

É importante observar que cátions e ânions aparecem simultaneamente.


Então, os elétrons que “pularam” para fora do cátion são atraídos e,
consequentemente, transferidos para o ânion. Assim, sempre haverá cátions na
presença de ânions devido a esta transferência de elétrons. Por atração
coulombiana, os cátions e ânions sofrerão uma forte atração uns para os outros
e farão uma forte ligação química.
Esta ligação, por envolver íons positivos e negativos gerados pela
transferência de elétrons, é denominada de “Ligação Iônica”.
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Portanto, a Ligação Iônica é aquela na qual cátions e ânions gerados pela
transferência de elétrons ligam-se fortemente por atração coulombiana. De fato,
este tipo de ligação é o de maior energia.
Para exemplificar o que foi dito, vamos analisar os átomos de sódio (Na)
e cloro (Cl). O sódio (Na) tem Z = 11 e A = 23. Consequentemente, terá 11
prótons, 11 elétrons e 12 nêutrons em sua estrutura atômica. Por isso podemos
dizer que tem 11 elétrons distribuídos da seguinte forma: 1s2 2s2 2p6 3s1. A
representação de sua estrutura atômica seria:

Figura 4 – Representação do átomo de sódio (Na)

Como possui um elétron na camada de valência, o sódio tende a perdê-


lo, ficando assim:

Figura 5 – Representação do cátion sódio (Na1+)

Na+

Repare que, ao perder o elétron, o Na passou a ter uma carga positiva a


mais, pois manteve o número de prótons no núcleo e perdeu elétrons da camada
de valência. Assim, passou a ser um íon com carga positiva, ou seja, um cátion
Na1+. Este 1+ que aparece sobrescrito ao sódio representa uma carga positiva
excedente. Podemos representar o que aconteceu de seguinte forma:

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Figura 6 – Representação da transformação do átomo de sódio em cátion sódio

O cloro (Cl) tem Z = 17 e A = 35. Consequentemente, possui 17 prótons,


18 nêutrons e 17 elétrons em sua estrutura atômica. Por isso podemos dizer que
tem 17 elétrons distribuídos da seguinte forma: 1s2 2s2 2p6 3s2 3p5. A
representação de Bohr para ele seria:

Figura 7 – Representação do átomo de cloro

Como possui sete elétrons na camada de valência, o cloro tende a atrair


elétrons, os quais se alocarão na sua camada de valência. Mas quantos elétrons
ele pode ter inserido na camada de valência? Observe pela distribuição
eletrônica que ele possui cinco elétrons no orbital p desta camada. Como no
orbital p podem existir até seis elétrons, poderá completar o orbital p com o
elétron faltante, ficando assim:

Figura 8 – Representação do ânion cloro

Cl-

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Repare que, ao ganhar o elétron, o Cl passou a ter uma carga negativa a
mais, pois manteve o número de prótons no núcleo e aumentou o número de
elétrons. Assim, passou a ser um íon com carga negativa, ou seja, um ânion Cl1-
. Este 1- que aparece sobrescrito ao cloro representa uma carga negativa
excedente. Podemos representar o que aconteceu de seguinte forma:

Figura 9: Representação da transformação do átomo de cloro em ânion cloro

Neste caso, o elétron que o sódio perdeu foi transferido para o cloro.
Assim, temos o cátion Na1+ na presença de um ânion Cl1-. Por força de atração
coulombiana, estes íons se ligarão através da Ligação Iônica. A reação global
pode ser representada como:

Figura 10: Representação da Ligação Iônica entre sódio e cloro formando o


cloreto de sódio

Crédito: Jefferson Schnaider.

É importante ressaltar que a soma das cargas positiva e negativa deve se


anular. Como a carga do íon sódio é 1+ e a carga do íon cloro é 1-, basta um íon
sódio para anular a carga do íon cloro. Uma das representações mais usadas
para este conceito está abaixo. A reação será descrita da seguinte forma:

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Na1+ + Cl1- Na+Cl-

TEMA 3 – LIGAÇÃO COVALENTE

Para conceituar a Ligação Covalente, devemos trabalhar a situação na


qual um átomo de um elemento de eletronegatividade entre 2,0 e 4,0 se ligará a
outro elemento com eletronegatividade entre 2,0 e 4,0. Neste caso, ambos
exercerão atração para os elétrons e, ao receberem energia, terão aumentado o
raio de suas camadas de valência, gerando uma expansão que permitirá que
elétrons atraídos entrem nestas camadas. Porém, nenhum elétron irá “pular”
para fora de sua camada de valência. Como então entrariam nestas camadas?
Neste caso haverá um “compartilhamento” de elétrons de suas camadas
de valência, gerando um trecho de camada de valência comum, portanto, uma
ligação de covalência, ou seja, uma Ligação Covalente.

3.1 Ligação Covalente Polar e Ligação Covalente Apolar

Há que se distinguir, dentro da Ligação Covalente, quando esta ocorre


com átomos de elementos diferentes e quando ocorre com átomos do mesmo
elemento. Quando dois átomos de elementos diferentes fazem este tipo de
ligação, ocorrerá um deslocamento da nuvem eletrônica do átomo de menor
eletronegatividade para o átomo de maior eletronegatividade em função da força
de atração. Assim, para a molécula formada, teremos uma região de maior
concentração de elétrons e uma região de menor concentração de elétrons;
neste caso, será gerada uma polarização na molécula formada. Na região de
maior concentração de elétrons será gerado um polo negativo, e na região de
menor concentração de elétrons será gerado um polo positivo. Assim, a ligação
se denominará Ligação Covalente Polar. Quando átomos de um mesmo
elemento fazem este tipo de ligação, eles compartilharão pares de elétrons, mas
sem gerar deslocamento das nuvens eletrônicas. Neste caso, não será gerada
polarização na molécula e a ligação se denominará Ligação Covalente Apolar.
Podemos apresentar como exemplos a molécula de hidrogênio (H2) e a
molécula do ácido fluorídrico (HF). O hidrogênio tem eletronegatividade 2,0 e o
flúor tem eletronegatividade 4,0. A molécula de H2 não terá qualquer
deslocamento de nuvem eletrônica, uma vez que é gerada pela ligação entre
dois átomos do mesmo elemento, sendo então um exemplo de Ligação

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Covalente Apolar. A molécula de ácido fluorídrico terá deslocamento da nuvem
eletrônica no sentido do hidrogênio para o flúor, pois o flúor tem
eletronegatividade maior, gerando polo positivo no H e negativo no F.

Figura 11: Representação das Ligações Covalente Apolar e Covalente Polar

Esta ligação pode ser representada pelo Modelo de Bohr, como segue:

Figura 12: Representação pelo Modelo de Bohr do H2 e do HF.

A vantagem da representação do Modelo de Bohr é poder visualizar o


compartilhamento dos elétrons na camada de valência.

3.2 Representação de Lewis

A melhor representação da Ligação Covalente é a que adota a proposta


em 1916 pelo físico e químico Gilbert Newton Lewis. Lewis propôs uma
representação de elementos levando em conta a localização dos elétrons em um
átomo. Ele sugeriu que se representasse os elétrons como pontos ao redor do
símbolo do elemento. Geralmente os elétrons são alocados nos quatro lados de
um quadrado ao redor do símbolo do elemento. O número de elétrons
disponíveis para a ligação é indicado por pontos desemparelhados. Abaixo é
apresentada uma tabela com representações de Lewis para diversos elementos.

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Tabela 1: Representação de Lewis para diversos elementos

Fonte: elaborado com base em Química, a ciência central, 2005.

Assim, as ligações covalentes apolar e polar que geram a molécula de


hidrogênio e a molécula de ácido fluorídrico podem ser representadas da
seguinte forma:

Figura 13: Representação de Lewis do H2 e do HF

3.3 Ligação Dativa

Devemos ainda apresentar a Ligação Covalente Dativa, também


conhecida como Ligação Semipolar, Ligação Covalente Coordenada, ou
simplesmente Ligação Dativa. Esta ligação é descrita como uma ligação
covalente entre dois átomos, na qual um campo magnético entre os spins dos
elétrons envolvidos na ligação os atrai. Spin é o movimento angular do elétron,
ou seja, a rotação em torno de seu eixo central. Este spin produz um campo
magnético.
Uma vez que a ligação dativa seja formada, sua força e demais
características não têm diferença das de outras ligações covalentes polares.
Esta ligação é representada por um vetor que sai do spin do elétron da molécula

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para o spin de elemento que se ligará a ela. Podemos exemplificar com o quarto
hidrogênio presente no NH4, o qual se liga à molécula de NH3 pela Ligação
Dativa:

Figura 14: Representação da Ligação Dativa do H com o NH3 para formar o


NH4

3.4 Ligação Molecular

A Ligação Molecular tem origem em moléculas formadas pela Ligação


Covalente Polar. Quando uma molécula é formada por uma Ligação Covalente
Polar, serão gerados nela os polos positivo e negativo.
Vamos imaginar que temos inúmeras moléculas formadas pela Ligação
Covalente Polar. Nesta região, teremos uma quantidade grande de polos
positivos e negativos. Tendo em mente que polos opostos se atraem tal qual as
cargas opostas, porém, com menos força de atração, podemos concluir que os
polos positivo e negativo de uma molécula atrairão os polos negativo e positivo
de outra. Assim, ocorrerá uma atração envolvendo dois polos de cada molécula,
ou seja, haverá uma força de atração dipolo-dipolo entre elas. Porém, assim
como há esta força de atração entre polos opostos, haverá uma força de
repulsão entre polos iguais, diminuindo a força que mantém as moléculas unidas.
Se duas moléculas têm aproximadamente a mesma massa e o mesmo
tamanho, as forças dipolo-dipolo aumentam com o aumento da polaridade
presente nas moléculas.

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Figura 15: Representação das ligações dipolo-dipolo

Crédito: rktz/Shutterstock.

Na Ligação Covalente, a força que mantém os elementos de uma


molécula unida é uma força intramolecular. A força resultante das forças de
atração e repulsão dipolo-dipolo entre moléculas é uma força intermolecular.
Forças intermoleculares, portanto, são muito mais fracas do que forças
intramoleculares. Assim, a energia da Ligação Molecular será bem menor que a
energia de Ligação Covalente. Por exemplo, quando uma substância funde ou
entra em ebulição, as Ligações Moleculares é que são quebradas, e não as
Ligações Covalentes.

Figura 16: Representação das ligações covalente e molecular

Crédito: Inna Bigun/Shutterstock.

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Cabe ressaltar que há um caso especial de forças de atração dipolo-dipolo
gerando forças intermoleculares anomalamente fortes. Isso ocorre quando há
interação de um hidrogênio (H) com outro hidrogênio (H) ou de hidrogênio com
flúor (F), com oxigênio (O) ou com nitrogênio (N). Assim, os pontos de ebulição
de moléculas com ligações H-F, H-O e H-N são anomalamente altos.

TEMA 4 – LIGAÇÃO METÁLICA

Para conceituar a Ligação Metálica, devemos trabalhar a situação na qual


um átomo de um elemento de eletronegatividade entre 0,7 e 1,9 se ligará a outro
elemento com eletronegatividade entre 0,7 e 1,9. Neste caso, ambos terão
elétrons fracamente atraídos aos seus núcleos. Assim, quando receberem
energia, os elétrons de suas camadas de valência irão “pular” para fora de suas
estruturas atômicas. Consequentemente, passarão a existir cátions envolvidos
por elétrons. Estes elétrons, então, manteriam os cátions ligados em uma
estrutura molecular. Assim, a Ligação Metálica é aquela no qual cátions são
mantidos em uma estrutura molecular por elétrons presentes no meio.
A Ligação Metálica requer que os orbitais atômicos em um átomo
interajam com orbitais atômicos em átomos vizinhos. À medida que o número de
orbitais aumenta, seu espaçamento de energia diminui e eles se ligam. O número
de elétrons não preenche completamente a banda de orbitais, o que faz com que
se comportem como elétrons livres. Consequentemente, os elétrons podem ser
promovidos para bandas de energia desocupadas. Uma vez que as diferenças
de energia entre os orbitais são pequenas, a promoção de elétrons ocorre com
um pequeno gasto de energia.
A melhor forma de visualizar como ocorre a Ligação Metálica é através do
modelo de Mar de Elétrons. Neste modelo, conforme já visto, há uma fraca
energia de atração dos elétrons ao núcleo. Assim, com aplicação de energia,
estes elétrons se desprendem e ficam no meio, formando um “mar de elétrons”.
Os elementos que perderam os elétrons viram cátions, e este mar de elétrons
mantém os cátions gerados presos na estrutura.

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Figura 17: Representação da Ligação Metálica usando o modelo de Mar de
Elétrons

Crédito: anchalee thaweeboon/Shutterstock.

Cabe ressaltar que existe também a Ligação Mista, que é a união de mais
de um tipo de ligação atômica. Podemos, desse modo, ter uma molécula gerada
por Ligação Mista envolvendo as ligações iônica e covalente, iônica e metálica,
molecular e iônica, metálica e molecular, ou até iônica, covalente e metálica, por
exemplo. Neste caso, a molécula formada terá suas características resultantes
das ligações envolvidas.

TEMA 5 – TIPOS DE LIGAÇÃO QUE FORMAM OS MATERIAIS DE


ENGENHARIA E PROPRIEDADES QUE CONFEREM A ELES

Uma vez apresentados os tipos de ligações químicas que podem ocorrer


entre dois ou mais elementos, cabe apresentar os tipos de ligação que formam
os materiais de engenharia e as propriedades que estas ligações conferem a
eles.

5.1 Ligações que geram os materiais cerâmicos

As ligações que formam os materiais cerâmicos são a Ligação Iônica e a


Covalente. Assim, podemos afirmar que os cerâmicos são formados por Ligação
Mista envolvendo as ligações Iônica e Covalente.

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Vamos recordar que a Ligação Iônica é o tipo de ligação gerada pelo
deslocamento de elétrons do átomo de um elemento de baixa eletronegatividade
para o átomo de um elemento de elevada eletronegatividade, o que origina íons
positivos (cátions) e negativos (ânions) que se unem por força de atração
coulombiana. É o tipo de ligação de maior energia.

Figura 18: Representação da energia de Ligação Iônica

Crédito: ronits026/Shutterstock.

Vamos também recordar que a Ligação Covalente é o tipo de ligação


resultante do compartilhamento de elétrons entre átomos de elevada
eletronegatividade, através da atração de elétrons das nuvens eletrônicas para
os núcleos uns dos outros. Pode envolver átomos de um mesmo elemento ou
átomos de elementos diferentes.
É uma ligação de energia de rede também elevada, sendo um pouco
inferior à da Ligação Iônica. Pode gerar moléculas apolares (quando envolverem
átomos do mesmo elemento) ou moléculas polares (quando envolverem
elementos diferentes). As estruturas polares são resultantes da assimetria na
distribuição dos elétrons na nuvem eletrônica entre os átomos ligados.

Figura 19: Representação da energia de Ligação Covalente

Créditos: Nandalal Sarkar/Shutterstock.

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Como os materiais cerâmicos são formados por ligações iônicas e
covalentes, apresentarão estrutura de forte energia de rede.
Uma das consequências é a de que, como as energias de ligação são
muito altas, os átomos estarão mais próximos, resultando em estruturas
compactas, com baixo teor de vazios. Em função disso, serão materiais duros e
suscetíveis à fratura. Ainda como consequência de serem resultantes destas
ligações de elevada energia de rede, estes materiais demandarão uma energia
extremamente alta para romperem as ligações que os formaram. Assim,
apresentarão elevado ponto de fusão. Como todos os elétrons envolvidos nas
ligações ou foram deslocados de um elemento para outro ou foram
compartilhados, não possuirão elétrons livres. Como os elétrons são os
responsáveis pela condução do calor e da eletricidade, isto torna os materiais
cerâmicos isolantes térmicos e elétricos.

5.2 Ligação que gera os materiais poliméricos (plásticos de engenharia)

O tipo de ligação que forma os plásticos de engenharia é a Ligação


Molecular. Vamos lembrar que esse é o tipo de ligação que ocorre por força de
atração entre dois polos permanentes, gerados pela assimetria na distribuição
de elétrons nas nuvens eletrônicas de átomos ligados de forma covalente. A
força de atração entre moléculas ligadas desta forma é a de menor energia,
tendo sido estudada por Van der Waals e, portanto, também conhecida como
Força de Van der Waals.
Cabe aqui fazer um parêntese sobre as reações que geram os plásticos
de engenharia. Os plásticos de engenharia, ou polímeros, podem ser formados
por reações de adição e por reação de condensação. A reação de adição
normalmente envolve moléculas polares iguais, que são adicionadas umas às
outras sem a geração de subprodutos, conferindo estruturas lineares aos
polímeros formados. A reação de condensação envolve normalmente moléculas
polares diferentes que são condensadas, gerando subprodutos e conferindo
estruturas ramificadas aos polímeros formados.
Como nas estruturas ramificadas há um incremento na força de atração
dipolo-dipolo, que chega a ser exponencial em comparação à atração de
estruturas lineares, os polímeros formados por condensação são mais duros e
de maior ponto de fusão que os gerados por estruturas lineares. Mesmo assim
continuam sendo produtos do tipo de ligação de menor energia.
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Pela baixa energia de ligação, são materiais de baixo ponto de fusão, mais
moles que os outros materiais e mais flexíveis. Porém, em função do grau de
ramificação que os polímeros gerados por reação de condensação poderão
apresentar, chegarão à resistência mecânica equiparável à dos metais, podendo
substituí-los em algumas aplicações. Como a origem de suas ligações vem da
relação entre moléculas formadas por Ligação Covalente Polar, todos os
elétrons estarão compartilhados. Por não possuírem elétrons livres, são
isolantes térmicos e elétricos.

5.3 Ligação que gera os materiais metálicos

O tipo de ligação que forma os materiais metálicos é a Ligação Metálica.


Vamos lembrar que esse é o tipo de ligação caracterizada por forças
interatômicas relativamente intensas com origem na partilha, entre cátions, de
elétrons posicionados na nuvem eletrônica de forma deslocalizada. Vamos
lembrar também que este tipo de ligação requer que os orbitais atômicos em um
átomo interajam com orbitais atômicos em átomos vizinhos. Quando estes
orbitais interagem, os elétrons da camada de valência não conseguem
preenchê-los, o que faz com que se comportem como elétrons livres.
O modelo mais simples que explica esta ligação é o modelo de Mar de
Elétrons, pelo qual uma rede de cátions é envolta por um “mar de elétrons”. Os
elétrons estão confinados à estrutura por atração eletrostática aos cátions.
Entretanto, os elétrons são móveis, pois não estão nem compartilhados entre
dois elementos, nem transferidos de um elemento para outro, sequer estando
confinados a um cátion específico. É uma ligação de energia de rede que varia
de forma diretamente proporcional à quantidade de elétrons de valência
envolvidos na ligação.
Em função desta característica da Ligação Metálica, os metais formados
podem possuir durezas bastante altas, como os ferros fundidos dos trilhos de
trem, mas também podem possuir durezas baixas, como o alumínio ou o cobre.
Por outro lado, poderão possuir elevada plasticidade, como o cobre, ou nenhuma
plasticidade, como o ferro fundido. Poderão também apresentar elevados pontos
de fusão, como o ferro gusa produzido nos altos-fornos metalúrgicos, mas
também baixo ponto de fusão, como o mercúrio presente nos termômetros.
Assim, podemos afirmar que a Ligação Metálica confere aos metais dureza,
plasticidade e ponto de fusão variáveis, em função da densidade de elétrons
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deslocalizados presentes na ligação. Como possuem elétrons livres, são bons
condutores de calor e eletricidade.

5.4 Ligação que gera os compósitos e os novos materiais

Antes de tratarmos do tipo de ligação que forma os compósitos e os novos


materiais, devemos tratar da origem destes materiais de engenharia.
Estes materiais foram e estão sendo desenvolvidos até os dias atuais, em
função da necessidade da melhoria de propriedades que os materiais de
engenharia precisam para acompanhar as inovações tecnológicas. Por exemplo,
em alguns projetos, um material deverá ter dureza e plasticidade. Como alcançar
isso? Assim, os engenheiros começaram a produzir materiais formados por mais
de um tipo de ligação.
Portanto, o tipo de ligação que forma os compósitos e os novos materiais
é a Ligação Mista. Vamos lembrar que a Ligação Mista é a união de mais de um
tipo de ligação. Podemos, então, ter um material gerado por Ligação Mista
envolvendo as ligações iônica e covalente, iônica e metálica, molecular e iônica,
metálica e molecular, ou até iônica, covalente e metálica, por exemplo. Neste
caso, este material terá suas características resultantes das ligações envolvidas.

FINALIZANDO

Com os conhecimentos apresentados nesta aula, conferimos ao aluno o


entendimento dos tipos de ligação que podem ocorrer entre os elementos
químicos, bem como a compreensão da forma como ocorrem, suas
características e propriedades. Também apresentamos as maneiras de
representar estas ligações. Pudemos, enfim, predizer algumas propriedades que
os materiais de engenharia apresentarão em função dos tipos de ligação que os
geraram. Este conhecimento é de grande utilidade e será usado adiante nos
cursos de engenharia e na vida profissional.

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REFERÊNCIAS

CALLISTER, W. D. Ciência e engenharia de materiais: uma introdução. 5. ed.


São Paulo: LTC, 2002.

MAHAN, H.; BRUCE, M. & MYERS, R. J. Química: um curso universitário. 4. ed.


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1994.

SMITH, W. F. Princípios de ciência e engenharia dos materiais. 3. ed. São


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THEODORE, l. B.; LEMAY, E. H. Jr. & BURSTEN, E. B. Química, a ciência


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VAN VLACK, L. H. Princípios de ciência e tecnologia dos materiais. 5. ed.


Rio de Janeiro: Editora Campus, 1984.

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