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O MOVIMENTO DOS OLHOS E A RELAÇÃO PERCEPÇÃO-AÇÃO

Sérgio Tosi Rodrigues

O comportamento dos olhos representa a busca ativa da informação visual relevante para o
controle das habilidades motoras. A relação percepção-ação é descrita com base nas
estratégias de busca visual empregadas nos esportes. Técnicas de medição do movimento
dos olhos são apresentadas e os comportamentos de fixação, perseguição, movimento
sacádico e reflexo vestibulo-ocular definidos. A pesquisa cognitiva sobre busca visual é
revisada, caracterizando estudos com slides, filmes, oclusão de eventos e de campo. Alguns
vínculos da perspectiva ecológica com o estudo do movimento dos olhos são estabelecidos
e, finalmente, sugestões são feitas para o aprimoramento das pesquisas na área.

O sincronismo das ações humanas com os eventos externos é o resultado da combinação da


informação visual e comandos musculares apropriados que desencadeiam os movimentos (Bootsma & Peper,
1992). Investigar este sincronismo requer identificar a associação entre características relevantes da
informação visual e parâmetros de controle motor compatíveis com esta informação (Turvey, 1977a, 1977b).
A disponibilidade simultânea de múltiplas fontes de informação visual (Cutting, 1996; Gibson, 1979/1986;
Marr, 1982) e a existência de inúmeras possibilidades de arranjo da configuração neuromuscular para cada
movimento (Bernstein, 1967; Kelso, 1996; Zatsiorsky, 1998) são indicações da complexa natureza das
ligações entre percepção e ação.
Muitas características da aquisição de informação visual em contextos esportivos continuam a
desafiar os estudiosos do controle visual de habilidades motoras. Aonde os atletas olham quando estão em
situação de jogo? Por quanto tempo permanecem olhando um determinado aspecto da cena? Qual a relação
entre o comportamento dos olhos e a execução dos movimentos? A obtenção de dados espaciais e temporais
sobre a movimentação dos olhos possibilita a investigação dos aspectos relevantes da informação visual,
mecanismos perceptivos e estratégias de controle visual das ações. Este capítulo objetiva apresentar e
descrever o estudo do movimento dos olhos como um aspecto crítico para o aprofundamento do
conhecimento sobre a relação percepção-ação. Ênfase é dada às situações esportivas, porque são ricas e
intrincadas em suas necessidades perceptivas e motoras, mas os conteúdos abordados são aplicáveis a todas
dimensões da relação percepção-ação em humanos. Inicialmente, uma breve descrição da estrutura e função
dos olhos e uma visão geral dos aspectos técnicos e metodológicos do estudo do movimento dos olhos são
apresentados. A seguir, os diversos tipos de movimento dos olhos são definidos. A pesquisa sobre as
estratégias de busca visual nos esportes é então colocada em foco, através da discussão de seus pressupostos
cognitivos e da revisão detalhada de vários estudos ilustrativos e seus achados mais importantes. Finalmente,
uma tentativa é feita no sentido de caracterizar os movimentos dos olhos de acordo com as premissas da
perspectiva ecológica e comentários finais são tecidos sobre as direções futuras do estudo do movimento dos
olhos.

Estrutura e Função dos Olhos


Os movimentos dos olhos são usados para direcionar informação para a fóvea. A fóvea cobre de 1 a
2• da área central da retina e proporciona a mais alta acuidade ou claridade. A fóvea é composta de
receptores chamados cones. Devido à relação de um-para-um com as células bipolares e gangliais
encontradas na camada nuclear subsequente da retina, os cones suportam uma discriminação visual mais fina.
Os cones transduzem luz do ambiente em impulsos elétricos, que são transmitidos para o cérebro para
interpretação (Kandel, Schwartz & Jessel, 1991). A claridade da imagem visual diminui conforme o estímulo
move-se no sentido da parafóvea, que cobre aproximadamente 10• do arco visual. A diminuição da clareza
visual é devida à redução na concentração de cones e aumento de receptores chamados bastonetes em direção
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à periferia da retina.
Os bastonetes são mais sensíveis à luz e movimento, mas devido ao mapeamento de muitos-para-
um, com as células gangliais subjacentes, não são capazes de proporcionar detalhe e cor (Bruce & Green,
1990; Coren, Ward & Enns, 1994; Kandel, Schwartz & Jessell, 1991). Dadas as características estruturais e
funcionais dos olhos, pessoas participando em esportes necessitam continuamente ajustar a posição dos olhos
para manter ótima claridade visual (Williams, Davids & Williams, 1999). Conhecimento sobre a natureza e
as características destes ajustes depende primeiramente da tecnologia de medição dos movimentos dos olhos,
que será apresentada brevemente a seguir.

Técnicas para Medir o Movimento dos Olhos


Uma variedade de técnicas para medir o movimento dos olhos está disponível na atualidade. O
procedimento mais popular e mais adequado para a área de comportamento motor tem sido o método de
reflexão da córnea (veja uma revisão detalhada da evolução desta e de outras técnicas em Carpenter, 1988).
Este método é baseado na reflexão de uma pequena fonte de luz na porção central da córnea, cuja imagem é
uma função da posição do globo ocular, e desta forma, do ponto onde o sujeito olha no ambiente, com
precisão de 1• de ângulo visual. Os equipamentos mais utilizados para situações esportivas atualmente são os
sistemas de movimento dos olhos das marcas NAC e ASL.
O sistema NAC obtém sua imagem visual primária através de uma câmera de vídeo instalada em um
aparato usado na cabeça do sujeito, que continuamente grava o seu campo de visão. Dois light emitting
diodes (LEDs) colocados na parte inferior deste aparato enviam uma luz para dentro dos olhos do sujeito
produzindo uma imagem direta na córnea. A luz refletida da córnea é capturada, por espelhos ajustáveis, em
duas pequenas câmeras posicionadas uma de cada lado dos óculos do aparato. O ajuste dos espelhos é feito
através de uma calibração, de modo que o ponto de reflexão corresponda ao ponto de fixação do sujeito
dentro do campo visual. Os sinais de vídeo, que são transmitidos para um controlador de câmera, geram
imagens separadas representando ambos os olhos, que são então sobrepostas por uma unidade de
processamento externo em uma única imagem de vídeo que é gravada para análise a posteriori. Durante a
coleta de dados, a imagem virtual gerada pelos LEDs na córnea é alterada pelo movimento do globo ocular, e
assim indica a porção da cena que está sendo fixada. O sistema produz dados das coordenadas horizontais e
verticais que são interpretadas em termos da localização, duração e ordem das fixações do sujeito
(Abernethy, 1990; Williams, Davids & Williams, 1999).
O sistema ASL, que é um sistema monocular, funciona detectando a posição da pupila e da reflexão
da córnea (uma pequena fonte de luz quase-infra-vermelha refletida na superfície da córnea) numa imagem
de vídeo do olho. De fato, há duas microcâmeras no sistema: uma que filma o olho do sujeito e outra que
filma a cena que o sujeito está vendo. Estas câmeras (câmera do olho e câmera da cena) gravam,
respectivamente, as imagens refletidas na parte interna e externa de um visor acoplado ao capacete do
sistema. Na imagem da câmera do olho, as posições relativas da pupila e da reflexão na córnea são
identificadas em tempo real por um programa de computador, com base nos seus distintos níveis de
contraste. A seguir os centróides da pupila e da reflexão na córnea são calculados e suas coordenadas
horizontais e verticais (em unidades de vídeo) são usadas para determinar a linha do olhar em relação ao
sistema óptico do aparato. Com base na posição da linha do olhar e em informações oriundas do
procedimento de calibração, o sistema gera um cursor que é adicionado a cada quadro de imagem da câmera
da cena, para indicar onde o sujeito está olhando naquele instante. A reflexão da córnea é medida de uma
maneira similar a do sistema NAC. A vantagem do sistema ASL é que também mede a posição da pupila, o
que possibilita uma precisa determinação da fixação visual com relação ao capacete do sistema, mesmo que o
capacete deslize um pouco na cabeça do sujeito. Isto representa uma vantagem importante porque o sistema é
suficientemente robusto para possibilitar coleta de dados em circunstâncias realísticas, como as esportivas,
sem necessidade de recalibração freqüente (Rodrigues & Vickers, 1998; Vickers, 1996a).
Uma variedade de problemas ocorreu ao longo da história do uso de equipamentos de registro de
movimento dos olhos nos esportes. Estes problemas incluíam dificuldades com a amplitude do campo de
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visão do sujeito, precisão das medidas, calibração e tempo necessário para preparar os sujeitos para o teste,
desconforto dos sujeitos durante a coleta de dados e tempo excessivo necessário para analisar quadro a
quadro os dados de vídeo (Vickers, 1998a, 1998b). Além destes problemas, uma das maiores dificuldades
vivenciadas por pesquisadores tem sido a necessidade de recalibração freqüente destes sistemas quando
ocorrem pequenos ajustes posturais dos sujeitos (Abernethy, 1985; Vickers, 1998a). Isto, em particular,
excluía seu uso em experimentos que envolviam movimentos realísticos dos sujeitos (e.g., movimentos
semelhantes aos realizados no contexto competitivo). No entanto, os recentes avanços tecnológicos têm
proporcionado melhoria considerável deste tipo de equipamento, tornando-os mais confortáveis, menos
invasivos, mais precisos, mais fáceis de calibrar e mais tolerantes aos movimentos da cabeça e do corpo
(Vickers, 1998b). Também os avanços na área de computação têm reduzido o tempo necessário para análise
dos dados, com várias funções automáticas e semi-automáticas para análise de movimentos dos olhos.
Apesar destes avanços, ainda há problemas com estes sistemas. O sistema NAC requer recalibração
quando ocorrem movimentos posturais e da cabeça. Ele também possui somente um ajuste manual para o
erro de paralaxia, o que inviabiliza sua utilização em situações reais nas quais um objeto está se aproximando
ou se distanciando do sujeito, como o agarrar e o rebater. O problema de paralaxia visual está bastante
reduzido no sistema ASL porque a câmera da cena filma a reflexão de um visor, o que é mais semelhante à
perspectiva real do sujeito do que a imagem da câmera NAC, voltada diretamente para cena (Williams,
Davids & Williams, 1999). A conseqüência disto é que a imagem gravada pelo sistema ASL é mais escura, o
que dificulta a análise subsequente. O sistema NAC tem um resolução temporal mais alta, com 600 Hz,
comparados com 60 Hz ou 120 Hz dependendo do modelo do sistema ASL. Além disto, nenhum dos dois
sistemas funciona perfeitamente bem quando usados diretamente na luz do sol. A exposição a uma luz forte
reduz o tamanho da pupila do sujeito e enfraquece relativamente a intensidade da luz quase-infra-vermelha,
complicando a calibração e o procedimento de coleta (Vickers, 1998a). O sistema NAC requer que o sujeito
carregue uma unidade de controle presa em suas costas, o que reduz a possibilidade de movimentação. O
sistema ASL também requer equipamentos em uma espécie de cinto preso ao quadril do sujeito, com um
cabo de até 25 m para conectá-lo à unidade de controle central. Apesar disto estas restrições parecem ter um
efeito mínimo, pois o sistema tem sido utilizado com sucesso, por exemplo, em situações de movimentos
precisos no golfe (Vickers, 1992) e movimentação rápida e ampla no hockey no gelo (Vickers, Canic, Abbott
& Livengston, 1988).
Vale lembrar a utilidade de um método de composição das imagens de vídeo do sistema ASL e de
uma câmera externa focalizada no executante, desenvolvido por Vickers (1996a, 1996b, 1998a, 1998b). Este
método, chamado VIA (“vision-in-action”), utiliza-se de um mixador de vídeo para combinar em uma única
imagem as entradas simultâneas da câmera da cena, câmera do olho e câmera externa. O resultado é a
informação visual sincronizada de três aspectos: 1) a cena que o sujeito vê enquanto executa, com um cursor
indicando a posição da linha do olhar naquela cena, 2) a imagem do olho do sujeito, com os eixos X e Y
cruzando os centróides da pupila e da reflexão da córnea, que é a fonte primária de informação do sistema
sobre a posição do olhar, e 3) o movimento corporal do sujeito caracterizando a cinemática da ação. O
sistema VIA é versátil porque pode ser usado para tarefas diversas, desde a checagem dos procedimentos de
calibração e coleta de dados até o fornecimento de feedback detalhado ao aprendiz.
O contexto atual da investigação sobre movimento dos olhos nos esportes, em termos da tecnologia
de suporte e métodos de pesquisa, mostra ao menos três temas emergentes com potencial de considerável
evolução da área:
(1) Criação e melhoria de descrições biomecânicas da linha do olhar em situações esportivas. O
sistema ASL da série 5000, por exemplo, possui um aparato magnético que mede o movimento da cabeça e
possibilita dados simultâneos do conjunto olhos-cabeça, além de emitir todos os dados também em formato
numérico. Estas duas características viabilizam análises cinemáticas da linha do olhar, para substituir a
análise quadro-a-quadro de vídeo lenta e subjetiva, como no método inédito desenvolvido por Rodrigues e
colaboradores (Rodrigues & Vickers, 1998; Rodrigues, Vickers & Williams, 1999) para quantificar a
distância angular tridimensional entre a linha do olhar e a bola de tênis de mesa.
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(2) Desenvolvimento de ferramentas para digitalização e análise automática de vídeo. Ao invés de
usar dados numéricos como nas análises biomecânicas, uma alternativa é a medição digital e automática de
aspectos específicos das imagens de vídeo que contêm o cursor representando a linha do olhar (imagens
oriundas da câmera da cena no sistema ASL). Esta técnica foi utilizada para medir a distância do olhar ao
centro do alvo nas tarefas de arremesso de dardo (Vickers, Rodrigues & Edworthy, 1999) e tiros de rifle de
biatletas de inverno (Vickers, Williams, Rodrigues, Hillis & Coyne, 1999).
(3) Medidas do movimento tridimensional dos olhos. Os sistemas descritos neste capítulo medem,
por simplificação, somente movimentos dos olhos no eixos horizontal e vertical. Mais avançado, o método de
bobinas de busca dual, empregado em trabalhos como o de Straumann, Zee, Solomon e Kramer (1996), mede
com maior sensibilidade e precisão a complexidade das rotações dos olhos sobre os três eixos. Esta técnica,
que parece estar se popularizando na área de neurociência, é atualmente utilizada apenas em testes
laboratoriais. Talvez o seu desenvolvimento possibilite a aplicação em situações mais naturais, como as
esportivas.

Comportamento dos Olhos: Fixação, Perseguição, Movimento Sacádico e


Reflexo Vestibulo-Ocular
Os comportamentos visuais possuem características bem definidas. Assim, esta seção apresenta o
conceito dos comportamentos de fixação, perseguição, sacádico e o reflexo vestibulo-ocular (RVO), para
especificar a terminologia da área. As fixações são comportamentos nos quais os olhos permanecem
estacionários em algum aspecto do ambiente. Fixações possibilitam aos percebedores estabilizar uma área
informativa do campo de visão na região foveal, permitindo um processamento de informação detalhado. Em
investigações de laboratório, as durações mínimas de uma fixação variam entre 80 e 150 ms (Carl &
Gellman, 1987; Optican, 1985). Em situações de esporte, durações de fixação relativamente mais altas têm
sido observadas em cenas complexas, como por exemplo entre 850 e 1500 ms no futebol (Williams &
Davids, 1998) e entre 320-380 ms no squash (Abernethy, 1990). Por outro lado, valores muito baixos como
100 ms podem ser observados em situações altamente praticadas ou com visão de estímulos familiares, como
no golfe (Vickers, 1992).
Os movimentos de perseguição são movimentos lentos e contínuos dos olhos, nos quais a velocidade
ocular é bastante semelhante à velocidade do objeto sendo seguido (Carpenter, 1988). As seguintes
afirmativas têm sido confirmadas na literatura sobre movimentos oculares de perseguição: a) os movimentos
de perseguição podem ocorrer em qualquer meridiano, mas são mais suaves e mais precisos na direção
horizontal (Rottach et al., 1996); b) velocidades máximas do movimento de perseguição encontradas em
humanos variam entre 80 e 160•/s dependendo do tipo de alvo (Meyer, Lasker & Robinson, 1985); c) a
velocidade retinal do movimento da imagem e os erros de posição possibilitam a manutenção da velocidade
de perseguição do olho (Seagraves & Goldberg, 1994); d) o sujeito não percebe mudança na velocidade do
alvo em condições nas quais o movimento relativo entre o alvo e o fundo é mantido (Brenner & van den
Berg, 1994); e e) a perseguição de alvos movidos pelo próprio executante apresenta um atraso menor e uma
velocidade máxima maior quando comparada com a perseguição somente com os olhos, com movimento pré-
definido dos alvos (Vercher, Quaccia & Gauthier, 1995).
Mudanças rápidas no arranjo visual tornam difícil seguir visualmente um objeto usando movimentos
oculares de perseguição (Haywood, 1984). Em velocidades excessivas, tem sido mostrado que os atletas de
elite não seguem a bola durante todo o seu vôo (e.g., Bahill & LaRitz, 1984; Hubbard & Seng, 1954; Ripoll,
1991; Ripoll & Fleurance, 1988; Vickers & Adolphe, 1997). Estes estudos demonstram a incapacidade do
executante em manter a perseguição visual durante o vôo rápido da bola, o que contradiz diretamente o
conselho dos técnicos para “manter os olhos na bola” (Williams, Davids & Williams, 1999). Este tipo de
recomendação pode estar mais relacionado com a manutenção da cabeça e corpo estáveis durante a execução
da habilidade do que propriamente a necessidade de extrair informação operacional da própria bola.
Os movimentos sacádicos são movimentos rápidos dos olhos, usados para trazer uma nova parte do
campo visual para a região da fóvea (Carpenter, 1988). Uma dramática redução na sensibilidade visual ocorre
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durante os movimentos sacádicos (Volkman, Schick & Riggs, 1968). O RVO é um mecanismo acoplado ao
movimento dos olhos que funciona para estabilizar o olhar e garantir claridade da visão durante os
movimentos da cabeça. Mais especificamente a função do RVO é combinar a velocidade do olho à
velocidade da cabeça, numa tentativa de manter a imagem do mundo exterior estacionária na retina
(Carpenter, 1988). O RVO utiliza várias estruturas localizadas no ouvido interno, que registram o movimento
da cabeça dentro de cada plano de movimento (Laurutis & Robinson, 1986; Rosenbaum, 1991). Movimentos
compensatórios dos olhos produzidos pelo RVO são muito mais rápidos (cerca de 16 ms) do que movimentos
associados somente com o uso do sistema visual (cerca de 70 ms) (Lee & Zeigh, 1991).
As definições apresentadas acima são derivadas de estudos que isolaram os comportamentos visuais
para descrever suas características mais primitivas. No entanto, a investigação do movimento dos olhos em
situações complexas requer a análise da combinação de vários comportamentos visuais e busca compreender
o significado deste conjunto para o sucesso da ação, aspectos que serão enfatizados na próxima seção.

Pesquisa sobre Estratégias de Busca Visual nos Esportes


Pressupostos de uma Perspectiva Cognitiva
Muitos ambientes de esporte requerem decisões rápidas dos participantes devido às suas mudanças
complexas e constantes de condições. Focar atenção nas fontes mais relevantes de informação e saber aonde
e quando olhar são importantes aspectos da execução habilidosa. Os padrões de busca visual dos experts não
são conduzidos de uma forma aleatória e sim organizados por estratégias perceptivas, que possibilitam o uso
mais eficiente do tempo disponível para análise da cena (Williams, Davids & Williams, 1999). Pressupostos
da investigação destas estratégias de busca visual e uma revisão de estudos, com métodos diversificados,
sobre experts e iniciantes são apresentados a seguir.
A perspectiva cognitiva possui importantes pressupostos para o processo de aprendizagem que
diferencia iniciantes de atletas experts. Tradicionalmente, acredita-se que as estratégias de busca visual são
determinadas por estruturas de conhecimento específicas à tarefa e armazenadas simbolicamente na memória
de longo prazo (Abernethy, 1991; Ripoll, 1991). O argumento é que através da aprendizagem o executante
constrói uma base de conhecimento imensa, oriunda de suas experiências, que pode ser utilizada para
interpretar os eventos que ocorrem em circunstâncias similares aquelas previamente experimentadas. Estas
estruturas de conhecimento dirigem a estratégia de busca visual dos executantes para as áreas mais
pertinentes ou informativas da cena, com base na experiência passada e informação contextual. No caso de
executantes experientes, a estratégia de busca visual é controlada por este conhecimento que foi desenvolvido
com o passar dos anos de treinamento, aprendizagem, jogo e observação. Esta base de conhecimento possui
então uma grande quantidade de redundância das pistas visuais. Os executantes experientes sabem quais são
as áreas mais informativas da cena e, consequentemente, podem ignorar as áreas de baixo conteúdo de
informação (Williams & Davids, 1997).
Uma explicação sobre como certas dicas visuais do ambiente são selecionadas é a teoria da
integração das características (Treisman, 1985, 1988). Esta teoria sugere que durante o processo de busca
visual nós inicialmente reconhecemos objetos com base nas suas diferentes características sensoriais, como
cor, orientação, tamanho ou movimento. Estas características são detectadas automaticamente ou
subconscientemente com nenhuma demanda de atenção. Neste nível de processamento, a cena visual é
organizada ou categorizada dentro de objetos potenciais para mais detalhada análise perceptiva. Ou seja, os
mapas cognitivos tornam-se a base para os processos de busca visual subsequentes quando a tarefa requer
que as dicas visuais específicas sejam identificadas.
Estudos sobre busca visual assumem que as características de localização e duração da fixação são
indicativos da estratégia perceptiva usada pelo executante. Acredita-se que a localização da fixação é um
indicativo da importância das pistas usadas na tomada de decisão, e que o número e a duração das fixações
refletem as demandas de processamento de informação apresentadas para o executante (e.g., Abernethy,
1985; Goulet, Bard & Fleury, 1989). Apesar destes pressupostos estarem, implícita ou explicitamente,
presentes na maioria dos trabalhos desta área, existem ambigüidades consideráveis em alguns destes
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princípios (Vickers, 1996a; Williams, Davids & Williams, 1999). A orientação visual, como indicada pelas
características da fixação, pode não estar diretamente relacionada à extração da informação. Sabe-se que é
possível fixar um objeto sem extrair informação específica a respeito dele, o que implica que olhar (fixação
na fóvea) e ver (processamento de informação ou extração da pista) são processos diferentes (Abernethy,
1988; Vickers, 1996b; 1996c).
Outro aspecto discutível diz respeito aos mecanismos atencionais. Sujeitos parecem ser capazes de
relocar atenção dentro do campo de visão sem fazer movimentos dos olhos distintivos para mudar o ponto de
fixação (Posner, 1980; Williams & Davids, 1997, 1998). Há várias situações esportivas nas quais o olhar do
executante pode estar direcionado para uma localização enquanto a atenção está alocada em outro lugar,
como por exemplo numa luta de karatê. Karatecas geralmente fixam o olhar num ponto central, como a
cabeça ou o tórax, mas podem estar obtendo informação visual da periferia a respeito dos membros do
oponente a fim de antecipar seus ataques (Williams & Elliott, 1997). Numa perspectiva prática, este tipo de
estratégia visual é encorajada por técnicos e instrutores como uma forma de enganar, iludir o oponente.
Manter o olhar fixo em um ponto pode dificultar bastante para o oponente antecipar um passe ou impedir um
ataque.
As mudanças na atenção visual podem ser categorizadas em dois tipos: guiadas pela meta ou
guiadas pelo estímulo (Wright & Ward, 1994). As mudanças na atenção guiadas pela meta (ou endógenas)
são iniciadas voluntariamente e são, em princípio, geradas pela necessidade do sujeito de obter dicas visuais
da periferia. Em contraste, as mudanças de atenção guiadas pelo estímulo (ou exógenas) são iniciadas
reflexivamente, em resposta a uma dica visual inesperada ou de início abrupto no ambiente. A pesquisa atual
indica que as mudanças guiadas pelo estímulo estão acopladas fortemente aos movimentos sacádicos,
enquanto que as guiadas pela meta podem ocorrer independentemente dos movimentos sacádicos (Egeth &
Yantis, 1997; Wright & Ward, 1994). Estas mudanças na atenção parecem ocorrem sem a perda ou
diminuição da entrada de informação normalmente associada aos movimentos sacádicos dos olhos
(Albernethy, 1985).
Outro pressuposto que merece discussão diz respeito à relação entre a duração da fixação e a
importância da área fixada. Acredita-se que a duração da fixação é um indicativo da importância relativa e da
complexidade da área da cena que está sendo fixada (Gould, 1973). Quanto maior a necessidade de
processamento de informação visual, mais longa é a duração da fixação (Carpenter, 1988; Just & Carpenter,
1976) e também, uma fixação de duração mais longa representa que o olhar localiza-se numa fonte de
informação crucial (Groner, McConkie & Menz, 1985). Consequentemente, a duração da fixação pode variar
consideravelmente dependendo da natureza, dificuldade e restrição de tempo da tarefa e da cena visual que
está disponível para o observador. No entanto, os dados obtidos via procedimentos de gravação do
movimento dos olhos são conflituosos. Os dados sobre a duração das fixações representam, de fato, não
somente o tempo de processamento cognitivo, mas também o tempo requerido para determinar a localização
da próxima fixação e iniciar o movimento sacádico, chamado de período oculomotor (Abernethy, 1985).
Assim, fixações de longa duração podem ser atribuídas tanto aos problemas de atraso cognitivo, como atrasos
oculomotores.
A apresentação e discussão destes pressupostos mostra as características gerais, dilemas e
fragilidades da pesquisa atual de movimento dos olhos no esporte, fundamentalmente baseada numa
perspectiva cognitiva e de processamento de informação. Apesar das dificuldades levantadas, a evolução das
técnicas e a busca do estabelecimento de novos conceitos, contidos nos estudos que serão apresentados a
seguir, demonstram a contribuição efetiva desta pesquisa na compreensão do fenômeno de acoplamento
percepção-ação.

Estudos com Slides e Filmes


O primeiro programa de pesquisa que investigou sistematicamente diferenças na estratégia de busca
visual no esporte foi iniciado por Bard e colaboradores (e.g., Bard & Fleury, 1976, 1981). Bard e Fleury
(1976) examinaram os padrões de busca visual de cinco jogadores experts e cinco iniciantes no basquetebol
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enquanto viam slides esquemáticos de situações típicas de ataque. A tarefa dos sujeitos, após a apresentação
do slide, era verbalizar, o mais rápida e precisamente possível, a resposta de arremessar, driblar ou passar
para um companheiro. Os resultados não mostraram nenhuma diferença significativa no tempo de decisão
entre os grupos, mas os dados de movimento dos olhos indicaram que os jogadores experts usaram
significativamente menor número de fixações antes de responder. Os iniciantes fixaram basicamente o
companheiro, quando decidiram passar a bola, enquanto os experts fixaram fontes adicionais de informação
como a posição do defensor mais próximo e o espaço disponível entre o defensor e a cesta. O número de
fixações necessárias antes da resposta coincidiu com o nível de complexidade apresentado na cena do slide.
Ou seja, quando o nível de complexidade aumentou, ambos os grupos aumentaram o número de fixações
antes de responder. Este resultado foi subseqüentemente confirmado em outros estudos, sugerindo que a
freqüência dos movimentos oculares de busca podem ser uma função da incerteza da cena (Bard & Fleury,
1981; Tyldesley, Bootsma & Bomhoff, 1982).
Tyldesley, Bootsma e Bomhoff (1982) apresentaram slides de um jogador de futebol de campo
batendo um pênalti. Grupos de jogadores experientes e inexperientes tinham a tarefa de antecipar a direção
do chute, pressionando o mais rápida e precisamente possível um de quatro botões que correspondiam às
combinações de direção da bola na trave (alto/baixo, direita/esquerda). Os jogadores experientes
responderam significativamente mais rápido do que os inexperientes. Quando vendo o chute de um jogador
destro, os jogadores experientes não fixaram nem a perna de suporte nem nenhuma parte do lado esquerdo do
corpo. No geral, o comportamento dos mais experientes foi mais estruturado e consistente do que o dos
inexperientes, com fixações sendo restritas ao lado direito do corpo e à perna de chute. Os jogadores
inexperientes tiveram uma duração da fixação mais longa do que os experientes, fato interpretado como
dificuldade em obter informação da cena. Ambos os grupos utilizaram maior número de fixações antes de
responder a tarefa com quatro cantos da trave (direito/alto, direito/baixo, esquerdo/alto ou esquerdo/baixo) do
que quando tiveram que selecionar apenas a altura (alto ou baixo) ou o lado (esquerdo ou direito). Quando os
sujeitos tiveram que decidir entre os quatro cantos da trave (a tarefa mais complicada) eles necessitaram ao
menos de duas fixações antes de responder. Sessenta por cento das primeiras fixações foram no quadril e
quase 30% foram nas pernas, pés e bola. As segundas fixações tenderam a ser dirigidas na região dos
ombros. Isto sugere que os goleiros habilidosos podem antecipar inicialmente a direção da bola com base na
informação que vem do quadril e região mais baixa da perna, e subseqüentemente determinar a altura do
chute com base na parte superior do corpo do cobrador ou na porção inicial do vôo da bola. Williams e
Burwitz (1993) confirmaram esta estratégia usando a técnica de reportagem verbal retrospectiva. Eles
sugerem, em termos práticos, que os goleiros podem obter informação da bola no chute de pênalti através da
informação do ângulo do quadril no momento do chute. Para um cobrador de pênalti destro, a “abertura” do
quadril (i.e., ângulo da coxa em relação a vertical, com visão frontal do cobrador) pode sugerir que a bola
está prestes a ser chutada à esquerda do goleiro, enquanto que um pênalti cobrado à direita do goleiro seria
caracterizado por uma orientação mais “fechada” ou central do quadril do cobrador em relação ao goleiro. Os
autores destacaram ainda que estas dicas de informação são mais pronunciadas quando os pênaltis são
cobrados com a parte interna do pé.
Estudos mais recente nesta área têm optado pela substituição da apresentação dos slides estáticos
por situações mais dinâmicas, apresentadas em vídeo. Helsen e Pauwels (1992, 1993) investigaram os
padrões de busca visual empregados durante decisões táticas em futebol de campo, enquanto jogadores
experts e iniciantes observavam uma projeção de situações ofensivas, como 3 contra 3, 4 contra 4, e situações
de falta. Num dado momento da apresentação de vídeo a bola parecia ser passada por um dos jogadores na
tela na direção do sujeito. O sujeito então, que tinha uma bola na sua frente, tinha de, o mais rápida e
precisamente possível, chutar ao gol, passar para um parceiro, ou conduzir a bola na direção do goleiro. Os
jogadores experts obtiveram tempo de início de movimento, tempo de contato da bola com o pé e tempo total
de resposta significantemente mais curtos e também foram mais precisos em suas respostas. Os autores
sugeriram que a execução superior do grupo de experts foi devida à maior habilidade em reconhecer a
estrutura e a redundância nas cenas, o que resultou em um uso mais eficiente do tempo de busca. Esta
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hipótese teve suporte dos dados sobre movimento dos olhos, que mostraram que os padrões de busca visual
dos experts foram mais econômicos, com menor número de fixações nas diferentes áreas da cena.
Williams, Davids, Burwitz e Williams (1994) investigaram uma situação aberta de 11 contra 11 no
futebol de campo, na qual os sujeitos tinham de antecipar a direção da bola quando viam seqüências de jogo
apresentadas numa grande tela de projeção. As seqüências foram filmadas de modo que a largura total da
jogada pudesse ser vista na tela, uma visão semelhante a de um jogador central defensivo. A performance
antecipatória dos jogadores experientes foi superior. Os jogadores inexperientes fixaram mais
freqüentemente a bola e o jogador passando a bola, enquanto os jogadores mais experientes fixaram mais as
posições e movimentos dos jogadores mais distantes da bola. Uma estratégia de busca mais extensiva dos
mais experientes foi observada através de um maior número de fixações de durações mais curtas e em mais
localizações por tentativa. A freqüência mais alta de busca por parte dos mais experientes neste estudo
contradiz resultados de pesquisas como as de Helsen e Pauwels (1992, 1993), mencionadas anteriormente.
Williams, Davids, Burwitz e Williams (1994) sugeriram que a estratégia de busca visual de inspecionar, indo
e voltando, da bola para as áreas informativas da cena foi mais vantajosa do que fixar jogadores passando ou
somente a bola. O grande número de fontes de informação perceptiva, distribuídas de modo irregular numa
grande área do campo restringiu os jogadores experientes, levando-os a utilizar mais fixações de mais curta
duração. Os benefícios potenciais da adoção deste tipo de estratégia em jogos coletivos pode superar as
desvantagens da supressão sacádica, envolvidas nas altas freqüências do padrão de busca visual.
Este tipo de contradição nos resultados da freqüência de movimentos de busca visual também tem
sido comum quando situações laboratoriais são comparadas com situações mais próximas das vividas pelos
atletas em jogo. Teoricamente, seria esperado de experts uma freqüência mais baixa de movimentos de busca
visual, devido à carga de processamento de informações reduzida que necessitam ou porque eles precisam de
uma menor entrada de informação sensorial para criar uma representação coerente da cena (Abernethy,
1990). Esta inconsistência entre resultados pode ser oriunda em parte da dificuldade de comparação direta
entre as pesquisas, dadas as diferenças nas definições operacionais de fixação e na sensibilidade dos sistemas
de medida dos movimentos dos olhos utilizados. Problemas deste tipo também podem ter origem na natureza
e dificuldade da tarefa, no tipo de cena visual apresentada aos sujeitos, e na descrição do experimento e
instruções dadas pelo pesquisador antes do teste (Abernethy, 1988; Abernethy & Russel, 1987b).

Estudos com Oclusão do Evento


Apesar da maioria dos estudos de busca visual mostrarem diferenças relativas ao nível de habilidade
dos sujeitos, existem alguns conflitos com resultados oriundos de estudos que utilizaram a técnica de oclusão
do evento. Esta técnica utiliza a apresentação de filmes, como descrito na seção anterior, mas com aspectos
selecionados da imagem ocluídos durante a tentativa (por exemplo, com faixas cobrindo as pernas, tronco, ou
cabeça dos sujeitos no filme). A idéia é que a retirada das dicas mais importantes resultaria nas maiores
deteriorações da execução, em relação a apresentação total da imagem. Os estudos de Abernethy e Russell
(1987a, b) não revelaram diferenças significativas na estratégia de busca entre jogadores de badminton
experts e iniciantes, usando medidas de movimento dos olhos. No entanto, diferenças na extração da
informação e no uso de dicas foram encontradas no mesmo contexto entre os grupos. A tarefa dos sujeitos
era, após assistirem a cada tentativa em filme, marcar a provável posição de aterrissagem do projétil numa
folha com a representação gráfica da quadra de badminton. Os resultados de movimento dos olhos mostraram
que ambos os grupos mantiveram o foco visual primeiramente na raquete e no braço do executante, com
fixações adicionais dirigidas à cabeça, tronco e membros inferiores. Também não houve diferença no número
e na duração das fixações entre os grupos. No entanto, foram observadas várias diferenças significantes entre
os grupos, como o fato dos experts serem capazes de fazer melhor uso das dicas visuais na antecipação da
direção do projétil. Os experts também usaram mais dicas visuais vindas da área do braço/raquete, ou seja, a
oclusão desta área produziu o maior decréscimo de desempenho. Esta discrepância de resultados sugere que,
apesar dos dois grupos terem fixado áreas semelhantes e por períodos de duração semelhantes, os experts
demonstraram maior habilidade de extrair informação relevante necessária para a execução da tarefa.
Movimento dos Olhos 9

Estudos de Campo
O avanço recente dos sistemas móveis para medidas de movimento dos olhos tem permitido a
investigação de atletas nos seus ambientes naturais, os chamados estudos de campo. Este método tem sido
aplicado ao estudo do acoplamento entre comportamento visual e motor em uma variedade de atividades
como, por exemplo, bilhar (Frehlich, 1997, Frehlich, Singer & Williams, 1999), locomoção (Patla & Vickers,
1997), tênis (Singer et al., 1998), tênis de mesa (Rodrigues & Vickers, 1998; Rodrigues, Vickers & Williams,
1999), golfe (Vickers, 1992), basquetebol (Vickers, 1996 a, b, c), voleibol (Adolphe, Vickers & La Plante,
1997; Vickers & Adolphe, 1997), dardos (Vickers, Edworthy, Rodrigues & Wagner, 1997; Vickers,
Rodrigues & Edworthy, 1999) e tiro de rifle (Vickers, Williams, Rodrigues, Hillis & Coyne, 1999). Uma
mostra destes estudos será revisada para caracterizar os estudos de campo e seus resultados.
Vickers (1992) estudou o comportamento visual e motor de jogadores de golfe de diferentes níveis
de habilidade. A tarefa dos sujeitos era uma batida a 3 m do alvo. A duração da tarefa foi dividida em três
fases, de acordo com o movimento dos braços do jogador: fase de preparação, fase de balanço para trás/para
frente e fase final (após o contato com a bola). Os jogadores de mais alta habilidade usaram
aproximadamente 16 movimentos dos olhos por tentativa, comparados aos 23 movimentos dos olhos dos
menos habilidosos, além de tenderem a fixar distintas partes da cena. Durante a fase de preparação, jogadores
mais habilidosos mostraram fixações mais longas na bola e no alvo, ao passo que os menos habilidosos
olharam a cabeça do taco. Durante a fase de balanço para trás/para frente, os menos habilidosos moveram
quase duas vezes mais os olhos, para locais variados. A duração das fixações dos menos habilidosos na bola
foi mais curta; eles também tenderam a fixar o taco no final do balanço para trás. Este comportamento
contrastou sobremaneira com os mais habilidosos que tenderam a fixar mais a bola. No momento do contato
do taco com a bola, os mais habilidosos fixaram um ponto logo abaixo da bola. No geral, os dados indicaram
que haveria probabilidade maior de sucesso na tacada se os sujeitos fixassem a bola na fase de balanço para
trás/para frente, o que concorda plenamente com as instruções dadas pelos técnicos de golfe.
Vickers (1996a) estudou arremessos de lance livre do basquetebol em experts (precisão acima de
75%) e quase-experts (precisão abaixo dos 60%). Os dados foram codificados para indicar a localização da
fixação, o número e a duração das fixações durante as quatro fases (preparação, pré-arremesso, arremesso e
vôo) de arremessos com e sem sucesso. Os jogadores experts exibiram movimentos da cabeça menos
freqüentes, menor número de fixações e uma duração da fixação mais longa no aro durante as fases de
preparação e pré-arremesso. Vickers criou neste estudo o conceito de “olho quieto” (OQ, do termo inglês
quiet eye). OQ foi definido como o período de tempo do início da fixação final em uma localização crítica da
cena até o primeiro movimento observável das mãos na ação do arremesso. O fato de OQ ser anterior ao
início do movimento é importante porque assume que a fixação é utilizada para processar aspectos críticos da
imagem e definir parâmetros da ação a ser executada; uma vez que o movimento é iniciado, tem pouca
chance de correção. Esta definição é compatível com a noção de programa motor (e.g., Schmidt & Lee,
1999) e conecta os aspectos perceptivo e motor da ação.
Os resultados indicaram que os experts mostraram um OQ mais longo do que os quase-experts.
Após o início do movimento do braço, os experts afastaram suas fixações do alvo mais cedo do que os quase-
experts, usando mais fixações, piscando mais e apresentando maior incidência de movimentos da cabeça
durante as fases de arremesso e vôo. Para explicar estes resultados, Vickers formulou a hipótese da
localização-supressão, que estabelece que uma duração de fixação longa numa localização alvo (como o aro
do basquetebol) é necessária inicialmente. Então o movimento dos braços deveria ser iniciado lentamente na
fase pre-arremesso para possibilitar a manutenção da fixação. OQ para os arremessadores experts foi em
média 972 ms nos acertos e 806 ms nos erros; para o grupo de quase-experts a média foi de 400 ms em
ambos acertos e erros. Finalmente, na fase de arremesso, a fixação deveria ser terminada para dar lugar à
supressão da visão, com piscadas e movimentos sacádicos, para evitar interferência visual na execução da
tarefa (Vickers, 1996a).
Vickers e Adolphe (1997) estudaram os atletas de voleibol do time nacional canadense na tarefa de
Movimento dos Olhos 10
recepção e passe. OQ foi operacionalmente definido como a duração da perseguição visual da bola antes do
primeiro passo do atleta em direção da bola. OQ para os recebedores experts (média de precisão da recepção
de 65%) foi de 432 ms enquanto que os quase-experts (precisão média de 50%) não apresentaram tal
característica. Os experts não iniciaram a passada até o término da perseguição visual da bola, o que durou
aproximadamente meio segundo. Os quase-experts iniciaram seus primeiros passos antes do início da
perseguição visual da bola e freqüentemente antes do saque ser executado. O início da perseguição visual foi
anterior e a duração mais longa para os experts do que para os quase-experts. Nenhum dos grupos perseguiu
a bola com o olhar até o contato com os braços, o que está em concordância com estudos prévios (e.g., Bahill
& LaRitz, 1984). Duas outras características motoras dos quase-experts foram também encontradas:
incidência mais alta de passos corretivos e recepção da bola em localizações que não eram consideradas
ótimas. Ambos comportamentos motores estiveram associados com as falhas na perseguição visual nos
estágios iniciais do vôo da bola e deste modo não puderam antecipar a localização e velocidade da bola no
contato apropriadamente.
Ripoll e Fleurance (1988) analisaram o comportamento visomotor de jogadores de tênis de mesa de
elite executando três batidas distintas (forehand, forehand com top spin, e backhand). Os resultados
confirmaram não ser necessário seguir a bola por toda sua trajetória. Os jogadores mantiveram a perseguição
da bola somente na parte inicial da trajetória. A natureza da perseguição variou de acordo com o tipo de
batida: a bola foi seguida mais freqüentemente e por um período de tempo mais longo quando moveu-se na
direção da linha central do corpo do jogador (batida backhand) do que quando a bola moveu-se lateralmente
em relação ao corpo (batidas forehand e forehand com top spin). O olhar foi também mantido na bola
durante o contato bola-raquete na condição em que a bola foi direcionada lateralmente. Os resultados
sugeriram que o comportamento do olhar foi determinado pelas restrições externas da batida, como a
excentricidade da trajetória da bola em relação à linha central do corpo do sujeito e a dinâmica do contato da
bola com a raquete, que afetaram a precisão da batida. Para explicar estes resultados, Ripoll e Fleurance
(1988) propuseram um mecanismo de estabilização dos olhos e da cabeça (EOC), que ocorreu durante a
porção final do vôo da bola. Antes do contato final, entre o segundo toque da bola na mesa e o contato com a
raquete, os olhos estiveram estáveis e alinhados com a orientação da cabeça. A cabeça e os olhos foram
posicionados antecipadamente e mantidos no local de contato da bola com a raquete. Esta estabilização
ocorreu mais freqüentemente quando a bola foi projetada lateralmente ao corpo do sujeito e, principalmente,
quando a própria batida exigia um grau mais elevado de precisão (forehand com top spin).
Rodrigues, Vickers e Williams (1999) analisaram os movimentos dos olhos de seis jogadores
experientes em tênis de mesa, sob níveis distintos de pressão temporal. A tarefa dos sujeitos era responder a
um saque, retornando a bola para um de dois alvos (65 x 40 cm) colocados nos cantos do outro lado da mesa.
O alvo correto (direito ou esquerdo) era indicado para o sujeito através de uma dica visual (luz vermelha,
localizada ao lado de cada área alvo), em momentos diferentes para cada condição de pressão temporal: 1)
Pré-dica – dica apresentada antes do saque; 2) Dica inicial – dica apresentada no início do vôo da bola
(aproximadamente 530 ms antes do sujeito tocar a bola com a raquete); e 3) Dica final – dica apresentada no
final do vôo da bola (aproximadamente 350 ms antes do sujeito tocar a bola com a raquete). Este estudo
combinou a noção de longa perseguição visual antes da ação (Vickers, 1996a; Vickers & Adolphe, 1997)
com a estabilização dos olhos-cabeça durante a ação (Ripoll & Fleurance, 1988). A duração do movimento
de perseguição visual da bola, antes do início do movimento do braço para frente (OQ) e a duração da
estabilização do olhar e da cabeça na fase final do vôo da bola (EOC) foram os comportamentos visuais
medidos. Os resultados indicaram que a duração de OQ diminuiu e a duração de EOC aumentou à medida
que a dica visual foi mais atrasada. O percentual de acertos foi significativamente reduzido somente na
condição de dica final. Estes resultados sugerem que, na condição de dica inicial, o sistema perceptivo-motor
foi capaz de compensar a pressão temporal, reduzindo OQ e aumentando EOC, e desta forma manter os
níveis de precisão da resposta. Na condição de dica final, a redução ainda maior de OQ e aumento de EOC
não foram suficientes para produzir os mesmos resultados, dados os níveis extremos de pressão. A
flexibilidade na aquisição da informação visual viabilizou o rearranjo na duração das variáveis medidas
Movimento dos Olhos 11
quando a pressão temporal foi suportável (condição de dica inicial). No entanto, o sistema perceptivo-motor
entrou em colapso quando a pressão temporal foi excessiva (condição de dica final), e uma espécie de
“congelamento” ocorreu, reduzindo drasticamente a movimentação dos olhos e da cabeça.
As funções dos comportamentos OQ e EOC foram comparadas, respectivamente, aos sistemas
visuais para percepção (ventral) e para ação (dorsal), propostos por Milner e Goodale (1995). A visão para
percepção, que gera representação cognitiva da cena, estaria ocorrendo durante OQ, o período de visão
central da bola. A visão para ação, que estabelece a posição tridimensional da bola em relação ao sujeito
quando o objetivo é agir, estaria ocorrendo durante o período de EOC, no qual a imagem da bola vai para a
periferia visual. Esta interpretação é reforçada por evidências que associam a visão central ao processamento
no sistema ventral e a visão periférica ao processamento no sistema dorsal em macacos e humanos (Goodale
& Haffenden, 1998).
A revisão destes estudos sobre estratégias de busca visual procurou mapear esta área de pesquisa,
descrevendo os protocolos e respectivos resultados de estudos com slides e filmes, estudos de oclusão do
evento e estudos de campo. As características da duração, freqüência e localização de comportamentos
visuais, como a fixação e a perseguição, de atletas experientes e iniciantes, foram descritas essencialmente
com ênfase na perspectiva cognitiva e no modelo de processamento de informações. A próxima seção busca
situar o dado sobre movimento dos olhos no contexto da Psicologia Ecológica.

A Perspectiva Ecológica e o Estudo do Movimento dos Olhos


O estudo da relação percepção-ação com base na perspectiva ecológica tem demonstrado
relativamente pouca preocupação com os dados sobre movimento dos olhos. A razão deste fato parece residir
nas premissas ecológicas da percepção visual, que tem o fluxo óptico como conceito central. Fluxo óptico
refere-se à mudança temporal na estrutura do arranjo óptico, definido como padrão de intensidades de luz em
diferentes direções visuais com relação a um ponto de observação, antes de considerar o olho propriamente
dito (Gibson, 1966, 1979/1986). A geração do fluxo óptico, que é composto apenas pelos componentes
translatórios das imagens retinais, ocorre através de um processo de decomposição do fluxo retinal, composto
pela quantidade total de movimento da imagem na retina, causada pelos componentes rotatórios e
translatórios. A decomposição, em princípio, ocorre para eliminar os efeitos rotacionais, uma vez que as
imagens são geradas naturalmente por movimentos simultâneos dos olhos e da cabeça, tronco e restante do
corpo (Kim, Growney & Turvey, 1996). Apesar de alguns estudos terem mostrado que a decomposição é
teoricamente viável com base no padrão de luz disponível para o olho em movimento (Longuet-Higgins &
Prazdny, 1980), e que os humanos são capazes de extrair o fluxo óptico (Warren Jr., & Hannon, 1988, 1990),
esta idéia permanece controversa. As evidências mais convincentes procedem de estudos com animais, como
aqueles empregando abelhas, mergulhões e gafanhotos (Miles, 1995).
Debate-se ainda a utilização dos componentes translatórios e rotatórios das imagens na retina para
guiar o comportamento motor, como por exemplo no controle visual da direção da locomoção. A perspectiva
gibsoniana defende que as invariantes do fluxo óptico controlam a direção da locomoção (Kim, Growney &
Turvey, 1996; Kim, Turvey & Growney, 1996). Contraposição é feita em favor das invariantes do fluxo
retinal. Ou seja, as invariantes do fluxo óptico somadas aos efeitos rotatórios do movimento dos olhos seriam
a informação relevante no controle da direção da locomoção (Cutting, 1996; Cutting, Springer, Braren &
Johson, 1992).
Ao menos dois aspectos importantes advêm deste debate e são pertinentes à relação percepção-ação.
Primeiro, mesmo que os vetores de velocidade do campo de fluxo translatório sejam considerados mais
valiosos porque contêm informação que especifica a distância aos objetos e superfícies ambientais, se
comparados aos vetores de velocidade do campo de fluxo rotatório, que especificam apenas a própria
velocidade da rotação (Owen & Lee, 1986), é importante estabelecer que eles atendem a distintos propósitos.
O campo de fluxo translatório fornece informações sobre a estrutura tridimensional do ambiente relativa
àquele que percebe, e as rotações são necessárias para proporcionar diferentes campos de visão e trazer novas
imagens para a fóvea (Kim, Growney & Turvey, 1996; Kim, Turvey & Growney, 1996; Land, 1995; Warren
Movimento dos Olhos 12
Jr., & Hannon, 1988, 1990). Segundo, um processo de minimização das conseqüências rotacionais ao campo
de fluxo, chamado de estabilização do olhar (Daniel & Lee, 1990), parece ser vantajoso para otimizar a
obtenção da informação oriunda do movimento translatório das imagens. A razão subjacente à noção de
estabilização do olhar é a geração de velocidades relativas à retina que fiquem numa faixa detectável (Owen
& Lee, 1986).
Land e colaboradores (Land, 1998; Land & Horwood, 1995; Land & Lee, 1994) investigaram de
onde motoristas obtêm sinais de controle para estimar a curvatura e a posição da estrada. Os movimentos dos
olhos de três motoristas foram gravados quando dirigiam nas curvas de uma estrada sinuosa, revelando que o
ponto preferencial de fixação era o canto da pista perto do ponto de tangente, onde o lado interno da curva
muda de direção (Land & Lee, 1994). Uma possível explicação para isto, argumenta Land (1998), seria que o
fluxo óptico força os motoristas a fixarem os pontos de tangente ao invés de outras características da pista
(por exemplo, o centro), porque estes pontos apresentam um fluxo óptico lateral equivalente a zero quando a
curvatura é constante. Assim, os olhos poderiam “refugiar-se” nesta área da cena sem serem “arrastados”
para outras partes. No entanto, o autor demonstra que a informação de direção do veículo em termos
absolutos, vinda do fluxo óptico, não é necessária para explicar os resultados desta série de estudos. O
modelo apresentado mostra que na maioria das circunstâncias, toda informação necessária pode ser obtida de
um modo muito mais simples, sem invocar o uso da noção de fluxo óptico. Se o motorista fixa a estrada a
frente, o ângulo tronco/cabeça mais o ângulo olho/cabeça forneceriam a informação necessária. Se o
motorista não está olhando a estrada, o ângulo estrada/fóvea deve ser também adicionado (Land, 1998).
A perspectiva ecológica ainda não definiu uma justificativa robusta para incluir o estudo do
movimento dos olhos no conjunto de suas prioridades teóricas e metodológicas. No entanto, um considerável
corpo de conhecimento básico para suportar tal desenvolvimento já existe. A tecnologia atual também
permite a coleta de dados em contextos naturais. Talvez a investigação do movimento dos olhos associado a
variáveis ópticas de conhecimento bem documentado, como a variável óptica tau que especifica o tempo para
contato (Lee, 1980), seja um ponto de partida recomendável.

Perspectivas para o Futuro


Este capítulo procurou traçar uma visão geral sobre o estudo do movimento dos olhos em situações
complexas nas quais a execução de habilidades motoras é necessária, como nos esportes. Aspectos
metodológicos e teóricos foram resgatados através da revisão de investigações características da área. Com
base no contexto atual, três aspectos a serem melhorados nas futuras investigações são indicados.
O primeiro aspecto é o da validade ecológica. Por exemplo, a maior eficiência das estratégias visuais
de experts, comparada a dos iniciantes, pode ser ocultada pela simplificação excessiva dos experimentos. A
continuidade no desenvolvimento de protocolos que consigam cada vez mais fortalecer a similaridade entre
as circunstâncias da coleta de dados e o ambiente natural da tarefa é fundamental para a obtenção de
resultados confiáveis sobre o padrão do comportamento visual e, consequentemente, para o futuro da
pesquisa sobre o movimento dos olhos (Abernethy, 1991; Vickers, 1998a; Williams & Davids, 1998).
Colocar os sujeitos em situações semelhantes àquelas que vivem nos esportes ou cotidiano e situar as tarefas
em estudo no ambiente no qual naturalmente ocorrem garantem realismo tanto na estimulação visual
vivenciada como no padrão de movimentos executado. O avanço tecnológico dos sistemas de aquisição de
dados vem facilitando cada vez mais esta tarefa.
O segundo aspecto diz respeito à visão periférica. Apesar dos equipamentos de medida do
movimento dos olhos identificarem espacialmente a região da visão central, a atenção dos sujeitos pode estar
alocada em outras porções da cena. Ou seja, o controle do movimento dos olhos pode, em princípio, ser
conduzido com base na maximização da aquisição de informação da periferia visual. Os processos involvidos
na busca visual parecem depender também das características da visão periférica, mas esta relação ainda não
está claramente estabelecida na literatura atual. Por exemplo, a manipulação experimental da oclusão de
aspectos da visão foveal e da visão periférica durante a execução das tarefas motoras pode caracterizar os
respectivos papéis da informação ocluída. Avanços tecnológicos recentes têm possibilitado o uso do
Movimento dos Olhos 13
princípio da reflexão da córnea para ocluir características específicas do campo visual durante a gravação de
movimento dos olhos no esporte (Williams, Davids & Williams, 1999), o que facilita a criação de protocolos
capazes de investigar o papel da visão periférica no controle do movimento dos olhos.
O terceiro e último aspecto de melhoria dos estudos do comportamento visual a ser abordado neste
capítulo é relativo às interações entre movimento dos olhos e da cabeça durante a execução de habilidades
motoras. Apesar das características do movimento reflexivo dos olhos resultantes da alteração da posição da
cabeça, como o RVO, serem bem descritas na literatura, o controle voluntário do sistema olhos-cabeça em
situações naturais necessita considerável investigação. Por exemplo, em situações de esporte, o papel da
estabilização da cabeça no momento da execução de movimentos do braço e sua relação com os períodos de
fixação e de perseguição visual não está totalmente compreendido. Modelos de estabilização do conjunto
olhar-cabeça, como o de Ripoll e Fleurance (1988) em tênis de mesa, são interessantes, mas usam uma
descrição espacial pouco precisa. O desenvolvimento de métodos de descrições biomecânicas dos
movimentos dos olhos e cabeça (e.g., Rodrigues, Vickers & Williams, 1999) dá suporte ideal neste sentido,
otimizando a investigação desta relação.

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