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Imagem dialética

Pablo Picasso, “My beautiful Woman with Guitar”, 1912 - O sono dogmático da arte
renascentista foi acreditar que forma e conteúdo formassem uma unidade sólida em cuja base
o realismo se consagraria definitivamente. Porém, essa união foi se tornando cada vez mais
problemática, à medida que a forma foi se emancipando do conteúdo, a ponto de se
radicalizar no formalismo e no minimalismo estético. Talvez a expressão mais radical desse
movimento tenha sido o famoso “Black square”, de Kazimir Malevich, que chega a pintar a
pura desaparição do objeto a partir da diferença mínima entre dois quadrados sobrepostos.
Com efeito, a forma emancipou-se completamente do conteúdo, tornando-se, desde então, o
objeto por excelência da arte de vanguarda do século XX. Constatou-se que a forma não é
propriamente a base de sustentação do conteúdo, mas sua própria negação. Se a pura forma é
a ausência de conteúdo, logo, forma e conteúdo não podem estar em perfeita harmonia,
conforme o dogma do realismo clássico. A imagem é, segundo Benjamin, sempre dialética, já
que, enquanto cristalização do tempo no espaço, ela é a tensão permanente entre sua forma e
seu conteúdo. É nesse sentido que Carl Einstein (um historiador da arte injustamente
negligenciado), vai pôr em questão a objetividade do espaço. O espaço, segundo ele, é uma
estrutura formal propriamente dialética. Não se trata somente da destituição do objeto –
como pensavam os formalistas da “vanguarda de salão” (como ele dizia) – mas também a sua
condição de sua criação. Isto é, a forma não é só o que destitui o objeto, mas também aquilo
que o cria. Einstein concebe, então, o espaço como campo de criação. Por isso, para ele, o
cubismo logrou mais que outras tendências (como o formalismo russo, ou o De Stijl) em
capturar o elemento dialético da forma. A arte cubista promove uma inversão do classicismo:
enquanto para este o espaço era um todo homogêneo e contínuo, e os objetos entes
diferenciados e descontínuos alojados no interior desse espaço, para o cubismo, é o espaço
que se torna heterogêneo e descontínuo, e os objetos, contínuos. O cubismo promove, então,
o Einstein chama de deformação do objeto a partir da recriação do espaço. O espaço é,
portanto, espacialidade psíquica, pois não insere mais o observador numa perspectiva
geométrica e objetiva da realidade, e sim o próprio espaço no campo da inventividade
subjetiva. Não que, com isso, Einstein subjetiviza a obra de arte, mas constrói um outro
realismo, não como imitação, mas como criação.

É nítida a tendência do modernismo em direção ao formalismo estético. Com ele, a forma vai
se tornando, com o tempo, cada vez mais independente do conteúdo, a ponto da obra de arte,
no auge do modernismo, exprimir a pura desaparição do objeto. A separação entre forma e
conteúdo é tipicamente moderna. O dogma do classicismo renascentista foi acreditar ser
possível sustentar o objeto através da forma. Ou seja, os artistas do renascimento tomaram o
realismo como a comunhão indissociável do conteúdo e da forma. No entanto, essa união foi
se tornando cada vez mais complicada, e a forma foi se emancipando do conteúdo a ponto de
se radicalizar no formalismo e no minimalismo artístico. Talvez a expressão mais radical desse
movimento tenha sido o Black square de Kazimir Malevitch, chegando a pintar a pura
desaparição do objeto a partir da diferença mínima entre dois quadrados sobrepostos. Desse
modo, a forma se emancipou completamente do conteúdo, tornando-se, desde então, o
objeto por excelência da arte de vanguarda do século XX. Com isso, podemos constatar que a
forma não é propriamente a base de sustentação do conteúdo, mas sua própria negação. Se a
pura forma é a ausência de conteúdo, logo forma e conteúdo não pode estar em perfeita
harmonia, conforme acreditava a perspectiva realista. Por isso que a imagem é, conforme
Benjamin, sempre dialética, já que, enquanto cristalização do tempo no espaço, uma dialética
em repouso, ela é a tensão permanente entre a forma e seu conteúdo. Uma imagem nunca é,
como acreditavam os clássicos, a relação harmoniosa entre forma e conteúdo, mas a tensão
permanente entre eles. É nesse sentido que Carl Einstein, um historiador da arte injustamente
negligenciado, vai por em questão a objetividade do espaço. O espaço, segundo ele, é a
estrutural formal na sua condição radicalmente dialética. Não é somente a destituição do
objeto, com pensavam os formalistas e minimalistas (a vanguarda de salão, como dizia ele),
mas também a sua condição de sua criação. A forma não é só o que destitui o objeto, mas
também aquilo que o cria. O espaço, segundo Einstein, é, pois, campo de criação. Por isso que
o cubismo, para ele, logrou mais que outras tendências (como o formalismo russo, ou o De
Stijl) em capturar esse elemento dialético da forma. A arte cubista promove uma inversão do
classicismo: para este o espaço era um todo homogêneo e contínuo, enquanto os objetos
diferenciados e descontínuos alojados no interior desse espaço. Para o cubismo, é o espaço
que se torna heterogêneo e descontínuo, enquanto os objetos são contínuos. O cubismo
promove, então, o Einstein chama de deformação do objeto a partir da recriação do espaço. O
espaço é, portanto, espacialidade psíquica, pois insere o observador não na perspectiva
geométrica e objetiva do espaço, mas o próprio espaço no campo da inventividade da
imaginação. Com isso, Einstein não procura subjetivar a obra de arte, mas construir um outro
realismo, não mais como imitação, mas como criação.

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