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Caminhos da Escultura Moderna

Capítulo 3- Formas de Ready-made: Duchamp e Brancusi


O terceiro capítulo do livro “Caminhos da Escultura Moderna” aborda o desenvolvimento de
diferentes formas de ready-made e sua grande influência na obra de dois grandes artistas, Marcel
Duchamp e Constantin Brancusi.
Inspirado na peça teatral “Impressões da África”, de Raymond Roussel, Marcel Duchamp se
orientava artisticamente através de um desvio total do racionalismo alicerçado na necessidades de
nexos lógicos que era cultivado no campo da arte da época. A peça, que abordava uma série de
espetáculos sem nenhum vínculo narrativo entre eles e era interpretada por um grupo de pessoas
que mecanizavam a rotina da criação artística foi objeto de estudo para o artista. Dessa forma,
Duchamp desenvolveu seu trabalho transplantando objetos ordinários do seu espaço cotidiano para
o domínio da arte através de sua assinatura, levantando uma constante obsessão pelo
questionamento da obra de arte. Assim como as ações das máquinas de Roussel em “Impressões da
África”, ele elegia um objeto industrializado já existente, sem fabricar ou construir a escultura. Os
ready-mades eram parte estratégica do projeto de Duchamp para levantar questões sobre a natureza
exata do trabalho artístico e uma das respostas sugeridas é a de que um trabalho de arte poderia não
ser um objeto físico, mas uma questão. Uma vez que o significado da maior parte dos objetos de
arte está inserido em meio as ideias e sentimentos do criador do trabalho, que são transmitidos para
um observador ou leitor, há a produção de um novo olhar acerca da produção quando o ato artístico
é mecanizado. Dessa forma, não se trata de decifrar a construção formal do objeto, mas remeter o
espectador a uma perplexidade e confrontamento de uma série de questões estéticas que questionam
a expectativa que se projeta em uma obra de arte. Duchamp pretendia então negar um sentido
tradicional da narrativa e expor um objeto não para que fosse examinado, mas para que estimulasse
o próprio ato da transformação estética.
Já Constantin Brancusi, contemporâneo à careira de Duchamp, insistia na ideia de que em todas as
coisas havia um propósito e que era preciso transcender a si próprio para apreendê-lo. Brancusi
trabalhava no terreno da figuração construindo obras com formas humanas ou animais e polia
cuidadosamente os objetos até suas superfícies atingirem um acabamento lustroso que
proporcionase um reflexo perfeito e se assemelhasse a produtos industriais feitos por máquinas. O
artista era fascinado por formas geométricas em deformação e conseguia, por meio de suas
esculturas, expor o significado de uma escultura na situação particular que modificava os absolutos

de sua forma geométrica. A contemplação de sua obra é um convite para reconhecer o modo
específico pelo qual a matéria se insere no mundo.
Apesar de os ready-mades de Duchamp parecerem distantes das suas esculturas, Brancusi também
escolheu objetos preexistentes em que o ato estético girava em torno da colocação desse objeto,
transpondo-o para um contexto particular em que seria lido como arte. Sendo assim, ele adotou uma
concepção de estrutura como algo encontrado pela figura em contexto particular, a exemplo das
suas esculturas de cabeça, como a obra “O recém-nascido”, que não pareciam apenas um fragmento
separado do corpo, mas sim uma obra completa, autosuficiente devido a libertação dos objetos em
relação a a percepção escultural de que o significado do corpo equivale à sua estrutura anatômica.
Por fim, é possível estabelecer o ponto comum de que ambos artistas assumiram a mesma postura
diante da narrativa escultural ao rejeitarem a função da análise em bases tecnológicas da escultura,
criando obras que questionavam a própria função da estrutura narrativa do campo da arte no século
XX.

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