Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
1
Arte na escola?
salvo profissões que dela necessitam. Todo o conhecimento matemático que não -
que temos e utilizamos em nosso cotidiano provém da escola e sobre isso suas ativic
o meio de convívio social é bastante consciente, a ponto de, se alguém errar Arte come
uma conta simples, provavelmente receberá como chacota: "opa, fugiu da teve "Arte
escola?". E essa chacota traduz exatamente o que todos sabem e pensam alguma p
- é papel da escola ensinar matemática básica e a escola cumpre satisfa- exposiçõE
toriamente esse papel. Afinal, se alguém erra contas elementares, conforme É intc
reza o senso comum, é porque "fugiu da escola". Já com a arte, a mesma Brasil tive
relação não acontece. Por que será? semana d
Ninguém diz que o outro "fugiu da escola" quando escuta barbaridades mais um
sobre artes visuais, ignomínias sobre dança, estultices sobre poesia, bobagens taram: sã
sobre música e ignorâncias sobre teatro. A escola, acredita o senso comum, pelo mer
"não tem nada a ver com isso!". Será? nas letiv;
De fato, a Arte da/na escola e a arte frequentada ou não frequentada complete
pelo cidadão adulto após sua escolarização pouco se comunicam. Ou pelo Arte na
menos, a maioria das pessoas não as relaciona. Não importa a idade que que reah
tenham ou a escola que frequentaram. Para a maioria das pessoas, o vácuo Clar
que existe entre o ensino de Arte na escola e a frequentação da arte na vida ofereci d;
adulta permanece real e muitas vezes intocado. respeito
Aqueles que frequentam arte, que encontram prazer na fruição de arte, cidadani
normalmente construíram esse hábito por outras vias - das familiares às arte pele
conjugais - que não as escolares. Aqueles que não frequentam arte e não etc. Me!
encontram prazer na fruição de arte também não relacionam isso com as papel de
escolas onde estudaram. Sab
Mais interessante ainda é notar que, para a maioria, frequentadores/ se desd~
fruidores ou não, sequer o nome "arte" faz parte de seu repertório. Gostam trados e
de canções, divertem-se com filmes, acompanham novelas, mas se lhes mas pe1
perguntássemos se gostam de arte, recuariam e possivelmente responderiam mento!
22 23
Isabel Marques. Fábio Brazil Arte em Questões Arte na
24
perguntar, tentar dialogar, afirmar, propor, perguntar novamente, construir Arte que
respostas, dialogar. passou er
Queremos aqui estabelecer um diálogo que envolva a comunidade vamosexi
escolar em amplo espectro - professores, pais, estudantes, gestores - a proponde
respeito da Arte nas diferentes instituições de ensino e o papel de ambas Entenderr
(escola e sua comunidade) na arte produzida em sociedade. de Arte p
Queremos neste livro também estabelecer diálogos com os atores sociais: Não
gestões governamentais, patrocinadores, institutos, fundações, projetos sem do d
sociais, classe política e artística que, direta ou indiretamente, dialogam com relação e
o ensino de Arte promovido pelas escolas formais e informais. Tendo em filho, no
conta que todos são corresponsáveis pela Educação (não necessariamente eia livre"
pelo ensino), qual seria o papel da sociedade civil e da classe política em pensarar
relação ao ensino de Arte nas instituições de ensino? complet;
Acreditamos que a qualidade e o significado da Arte nas diversas com a SE
formas de "escola" perpassam por esse necessário diálogo. Em geral, res- Nos
ponsáveis pela direção e avaliação das "escolas" - a sociedade civil e as do trinô
gestões governamentais ou institucionais - também pouco foram afeta- por meic
dos pelo ensino de Arte que eles próprios tiveram em seus anos de esco- amplo e
larização. Gestores públicos, gestores de ONGs, de institutos, de organi- formais 1
zações sociais que ensinam arte, também tiveram, muitas vezes, ensino com ess;
precário de Arte nas escolas formais que frequentaram. Faltam vivências
significativas, faltam olhares críticos, faltam leituras consistentes, faltam
critérios claros para que o ensino de Arte possa ser monitorado e avaliado
pela gestão e população em geral. Ning1
Estabelece-se aí uma triste circularidade responsável não só pelo ques- sobre
tionável nível de ensino de Arte que encontramos hoje na grande maioria gens
das instituições escolares no Brasil, mas também responsável pela imobili- coml
dade, pela rarefeita possibilidade de transformação. Ou seja, se o ensino de
24 25
-~
26 Isabel Marques • Fábio Brazil Arte em Questões
A relação que se estabelece com a arte diz também respeito a nossas vi-
vências culturais cotidianas e a como exercemos nossa cidadania cultural,
e isso diz respeito a políticas públicas, à valorização da arte pela sociedade
civil, a um mercado da arte regido pelo neoliberalismo etc. Mesmo assim,
vale perguntar: qual o papel da Arte na escola? Qual o papel da escola
nas relações do cidadão com a arte?
2
Ar·
5:
tem p
poucc
locut<
mant~
f\
Não e
e Cívi
s
Um ti
/-
26 fessot
-~ 27
2
Arte para quê?
28 29
Isabel Marques • Fábio Brazil Arte em Questões Arte
30
30 31
Isabel Marques. Fábio Brazil Arte em Questões (i~
32
"l
últimos
tura de
de quali
tanto vii
perfil dE
Ac
tado ex1
nível mi
bulares,
cisões s
Esc
quanto
32 33
O que
Isabel Marques. Fábio Brazil Arte em Questões
34
lnici
Superior privados, as "Unis" - técnicas, rápidas, 100% práticas, voltadas
te não p
exclusivamente para o mercado-, muitas delas de qualidade duvidosa. As
o mercm
exceções individuais e as cotas sociais pouco interferem nessa realidade; as
"útil ao 1
primeiras apenas confirmam a tendência, as segundas as perpetuam. O
Um
sistema de cotas responde com um silêncio ingênuo - senão, hipócrita
importa
- sobre a condição precária das escolas públicas.
tico? Vol
Em meio a essa realidade do Ensino Superior, não raramente, encontra- "inútil"?
mos quem defenda - muitas vezes movidos por verdadeiro espírito cívico e veloz<
e certeza de estarem contribuindo - que a escola pública dirija o Ensino Será qw
Médio para o ingresso dos jovens no mercado de trabalho. Essa pressão sume-sE
existe e ressoa harmoniosamente nos ouvidos de boa parte dos políticos e mercani
dos gestores públicos brasileiros. É inevitável que essa pressão e essa conta- Ou
minação atinjam também o Ensino Fundamental e até mesmo as escolas de tico, o 1
Não queremos com isso dizer que o ensino de Arte tenha a função de
"domar os corruptos': colocar "panos quentes': de "dourar a pílula': de "evi- "
clássi<
tar derramamento de sangue" ou de "acalmar os insatisfeitos': não. Estamos fessor
apenas dizendo que o ensino de Arte pode - e deve - estar presente na danei
reconstrução e reforço de outros valores, valores presentes no ato da criação do o
desinteressada, da apreciação prazerosa, do conhecimento que amplia os escol;
horizontes e multiplica leituras de mundo. rame
Fazer, não para vender. Realizar, não para possuir. Dedicar-se, não por
um pagamento. Construir, não pela utilidade. Esforçar-se, não para vencer. realrr
Conhecer, não para competir. Unir-se a outros, não pelo retorno individual, fora 1
mas pela construção de algo maior que as individualidades e de posse so- outr<
cialmente coletiva. Esses são alguns valores presentes no fazer/fruir/pensar e COI
da arte e que podem e devem estar presentes no ensino de Arte. Ensinar irres1
arte não pode se desvincular do fazer/pensar arte.
Fazer arte, fruir/ler arte, contextualizar arte. Trinômio tão conhecido lei tu
elaborado por Ana Mae Barbosa desde a década de 1980 - ao mesmo poss
tempo tantas vezes ausente dos planejamentos e práticas do ensino de lenté
Arte nas escolas, ONGs, institutos e fundações. Perdemos as relações com prirr
o potencial transformador da arte e com o trinômio proposto por Ana do e
Mae Barbosa quando, em vez de criar, levamos os alunos a reproduzir;
quando, em vez de compartilhar arte produzida socialmente, oferecemos tudé
os clichês banais da indústria do entretenimento; quando, em vez de obser- vive
vações, experimentações, análises e interpretações, oferecemos aos alunos apn
um amontoado de dados e leituras prontas e fechadas sobre os trabalhos plu1
de arte. ciai~
Criar arte consequente. Se esse for o centro das preocupações do pro-
fessor de Arte, muitos dos desvios cometidos serão evitados e a aproxima- dife
ção com o fazer/ler/contextualizar estará preser:1te na sala de aula. per
36 37
38
Isabel Marques. Fábio Brazil Arte em Questões o qu1
forma mais consciente das construções sociais. Ampliar o conhecimento e a genuín
consciência sobre as diversas linguagens artísticas é possibilitar aos estudantes promi5
que atuem na construção, e não na reprodução ingênua, dos valores sociais. portas
Se a dança foi trabalhada como linguagem e construção de arte, o signific
corpo e o movimento serão vividos de outras formas pelos estudantes; se a dadão
música foi trabalhada como linguagem e construção de arte, os sons e as mais j1
músicas ofertadas no meio social serão compreendidos de outras formas;
se as artes visuais foram apresentadas como linguagem e construção de arte,
a profusão de imagens que nos rodeiam será assimilada e lida de outras
formas; se o teatro foi trabalhado como linguagem e construção de arte, as Se
personagens e as cenas cotidianas serão vivenciadas de outras formas; se a cac
poesia foi trabalhada como linguagem e construção de arte, as palavras
terão novos sentidos e valores.
O acesso à arte permite o acesso a camadas humanas diferentes daque-
las visadas e estimuladas pelo mercado das utilidades venais. O conheci- Fa;
mento das diferentes linguagens artísticas permite ampliar o universo da pa
comunicação humana, das relações interpessoais, das relações entre o Co
pessoal e o coletivo. O conhecimento da arte que foge ao consumismo mé
imediato e descartável da indústria do entretenimento permite criar redes S01
38 39
40
@ffi\m O qu
viu?". i
dessas
1t1
revela
4 se esp
na atu
cação
dentn
O que se espera da Arte? que el
meter
L
qualq
noçõ4
P
rêmio, castigo, cura, lazer, obrigação... os trabalhos de arte nas escolas
prest;
muitas vezes passam por uma dessas instâncias antes de chegar aos
quer
estudantes. Mesmo ONGs e outras instituições que colocam a arte
escol;
como centro de suas propostas de atuação nas comunidades, na maioria )
dos casos, apenas hipertrofiam uma dessas instâncias que nascem nas salas
form;
de aula pelas mãos dos professores de Arte ou por pedagogos trabalhando
lar: o
os conteúdos de Arte.
parai
Prêmio por bom comportamento: "podem colorir o desenho': "fulano
com
pode participar da Quadrilha': "vocês vão ter música nos intervalos". Casti-
obrig
go por mau comportamento: "todos vão ter que decorar um poema de
é urr
Casemiro de Abreu para a próxima aula" ou "vão ter que se apresentar de
prazE
qualquer jeito, na frente de todo mundo". Cura: "O teatro liberta os tímidos,
o qw
a dança conserta a postura, a música acalma os impossíveis, colorir faz todos
ficarem tranquilos". Lazer: "Quem já terminou a lição de Matemática pode
com
colorir um desenho do livro". Obrigação: "Ir ao museu é lição, vale nota,
Om
40 41
Isabel Marques • Fábio Brazil Arte em Questões O que sj
42
que ali o corpo e o prazer não geram conhecimento e parece não serem A cria
bem-vindos. Ou seja, a arte como percepção e construção de linguagem, ça, da poe
trabalhando diretamente o corpo, o prazer e o conhecimento, muitas vezes culo a fim
apenas tangencia os programas escolares e os projetos sociais cujos objetivos estudante:
não vislumbram a questão do ensino específico nessa área. possibilidê
Sabemos que a Arte tem de fato grande possibilidade de contribuir para mentar, se
a formação daquilo que costuma ser chamado de "bom comportamento". abertas cc
traz a pm
Disciplina, concentração, dedicação, envolvimento, participação coletiva,
ensina há
aproximação e respeito com o outro, elevação da autoestima, corresponsa-
Adis1
bilidade pelos resultados são atitudes e valores passíveis de estar presentes
ção coleti
no fazer/pensar da arte, são de fato vitais no fazer/pensar da arte, mas não
tima e a ci
podem, contudo, ser tomados como fim último do ensino de Arte.
somente:
Como "finalidade" possível e desejável, os ditos "bons comportamentos"
conhecer,
podem e devem estar presentes em todas as áreas, da Física à Geografia, da
volvimen1
Biologia à História. No entanto, o que vai determinar se serão alcançáveis ou
"efeitos p<
não, não é absolutamente a área do conhecimento em si, mas a metodologia presentes
com que o professor dessas áreas trabalha. O ensino de Arte, ou seu uso Oen
dentro de sala de aula em qualquer instância de ensino, não pode ser tomado diço. O q
com um substitutivo contemporâneo da extinta Educação Moral e Cívica. verso da é
A presença da arte na escola diz respeito, primordialmente, ao conhe- nho ao n
cimento, à percepção e à experimentação das diversas linguagens e suas transforn
possibilidades de produzir sentidos e leituras de mundo. A presença da arte conviver
na escola como área de conhecimento, se trabalhada com metodologias Trad
próprias, pode, de fato, estabelecer relações diferenciadas entre os alunos e descobri1
o meio social em que estão inseridos, mas não é somente esse o seu obje- sonhar; n
tivo. Dança, poesia, teatro, artes visuais e música são visões de mundo, ça proce!
formas de pensar, produzir e discutir ideias, sentidos e sensações no/do escolha r
mundo e é isso que torna a arte área do conhecimento nas escolas. resultadc
42 43
O que~
44
Isabel Marques. Fábio Brazil Arte em Questões
tes em n
Por que, para o senso comum, o artista é o "legal" e o professor, o "cha-
atitude d
to"? Por que o artista é o "descolado" e o professor, o "sistemático"? Por que
gestores1
o artista é o "transado" e o professor, o "careta"? Por que em nossas atuações
e ao pod
continuamos a confirmar o senso comum se o que define o artista e o pro-
SabE
fessor é justamente a oposição ao senso comum? Por que artistas continuam
transforr
"romantizando" o ensino de Arte e os professores, "escolarizando" a arte?
No entar
Para que o ensino de Arte encontre seus sentidos e seja realmente sig-
se realize
nificativo para os estudantes, não será preciso transformar essa visão ro-
Se e
mântica sobre o artista e arcaica sobre o professor?
produzi•
Também tradicionalmente, do "aluno': espera-se que ouça, execute,
ela, se e!
faça o certo e determinado, memorize, siga as normas estabelecidas, que
desde 1,
aprenda e não retorne. Ao contrário disso, do "apreciador de arte" espera-se
já envol·
que assista, escute, veja, dialogue com os sentidos, emocione-se, envolva-se,
coletiva
exercite sua sensibilidade, desenvolva múltiplas formas de compreensão e,
ponsabi
principalmente, que retorne.
finitivo
Por que, como professores, temos optado por trabalhar com estudan-
mente,
tes tradicionais, cansativos, desgastantes, em vez de buscarmos neles reais
apreciadores/leitores de arte? Seria porque optamos por "escolarizar" a arte
em vez de vivenciá-la com os estudantes? Ao mesmo tempo, por que, como
artistas, temos optado por atingir superficialmente os apreciadores/leitores,
oferecendo-lhes exercícios vazios de linguagem, sem comprometê-los com Sabi
ideias e percepções que apontem para além da própria oferta? Seria porque afo
optamos por "romantizar" a arte em vez de compartilhá-la? Disc
Entendemos que o grande desafio que está posto aos responsáveis pelo apre
bili<
ensino de Arte é como somar ao trabalho do professor responsável e cons-
no
ciente de sua função pedagógica o sonho, a criação, a transformação e a
nãc
inovação que a profissão de artista sugere e permite. Do mesmo modo,
priorizar a escuta, a pesquisa, o diálogo, a emoçãô, a reflexão dos estudan-
44 45
46
Isabel Marques. Fábio Brazil Arte em Questões -~
Dança, poesia, teatro, artes visuais e música são visões de mundo, formas
de pensar, produzir e discutir ideias, sentidos e sensações no/do mundo e
é isso que torna a arte área do conhecimento nas escolas.
~
Entendemos que o grande desafio que está posto aos responsáveis pelo
ensino de Arte é como somar ao trabalho do professor responsável e cons-
Ou
ciente de sua função pedagógica o sonho, a criação, a transformação e a
inovação que a profissão de artista sugere e permite. Do mesmo modo,
priorizar a escuta, a pesquisa, o diálogo, a emoção, a reflexão dos estu-
dantes em relação à arte é somar a seu papel de estudante convencional
a atitude de apreciador/leitor de arte.
E: A
de Ofl
e, mui
e apre
táriosj
colas;
pelas
É
ativid
víncu
para~
Não e
46
)uestões Ci~
47
formas
1undo e
1is pelo
~
e cons- Quem ensina Arte?
;ão e a
modo,
s estu-
1cional
E
aí, professor, quem ensina Arte na escola? Esta é mais uma pergunta
aparentemente óbvia, mas não é. A arte não chega à escola somente
pelas mãos dos professores de Arte.
Ao contrário, cada vez mais temos assistido a programas de governo,
de ONGs, de fundações e instituições levando arte para dentro das escolas
e, muitas vezes, alijando o professor de Arte dos seus processos de ensino
e aprendizagem. A arte tem chegado às escolas pelas mãos e pés de volun-
tários, de "amigos da escola': de artistas profissionais ou amadores nas "es-
colas abertas': nos "recreios nas férias': nos festivais e programas promovidos
pelas próprias Secretarias de Educação e Cultura.
É louvável que a comunidade esteja cada vez mais participando das
atividades das escolas. Aliás, esta abertura dos portões escolares estabelece
vínculos e diálogos de extrema importância para o trabalho pedagógico e
para construção de redes significativas de relações sociopolítico-culturais.
Não estamos, portanto, excluindo da escola a participação i::elevante e mui-
47 48
uestões Quem ensina Arte? 49
51 52
UEZ Arte, quem não sabe ensina?
roRA 53
a Arte em atividades não sejam importantíssimas, muito pelo contrário, elas são
1ma apre- fundamentais para o ensino de Arte, mas trataremos deste tema em
m pincel, outra oportunidade. Queremos enfatizar aqui a necessidade, a proprie-
e, em sala dade, a maravilha de o professor ser ele mesmo um pedaço do mundo
ntes? da arte, uma fonte de fruição e produção artísticas que adentra os muros
! incomo- da escola.
1partilhar, Por que não montar uma coreografia para dançar e discutir com os
estudantes? Por que não trazer suas pinturas para a sala de aula e relê-las
~u corpo': com eles? Por que não tocar uma peça ou cantar uma canção para que os
li •
~ sujar as estudantes também entrem em cena? Por que não recitar um poema ou
com cer- fazer uma leitura de um texto teatral para/com os estudantes? Claro, a sala
essorque de aula não pode virar palco de exibicionismo por parte do professor, menos
ctos mais ainda um lugar de depósito de suas frustrações. Acima de tudo, a sala de
::wo artis- aula deve ser um lugar significativo de conhecimento, de articulação da arte.
ta de seu Nesse sentido, o fazer/ler/fruir do professor é mais que uma possibilidade,
o de tra- é uma necessidade.
logar e a Muitas vezes, no entanto, são justamente os ditos "menos artistas': os
tivo com "artistas frustrados': os "artistas medrosos" ou ainda os estudantes que foram
taxados nos cursos superiores de "não talentosos" que resolvem abraçar a
sem sus- função do ensino. Por que raramente são reconhecidos e incentivados, nos
.dor e de cursos superiores, os estudantes que têm seu "talento artístico" voltado para
TI vividas o ensino? Será que isso não ajuda a perpetuar o papel secundário do pro-
ne-se um fessor de Arte? Será verdade: quem não sabe, ensina?
, técnicas Precisamos, ao contrário do que tem sido feito, valorizar os professores
que não se afastaram do mundo da arte, valorizar os profissionais que têm
tistas ou esse "talento híbrido": artístico e pedagógico. É justamente dessa interface
TIOS com que podem nascer os mais significativos trabalhos no ensino de Arte. No
1ue estas entanto, esses profissionais muitas vezes não encontram espaços de trabalho:
55 56
;tões Arte, quem não sabe ensina? 57
.m, na
lundo A sistematização do saber - e não a chateação do saber! - é um dos
grandes trunfos da escola para que as relações entre a arte produzida em
ifesso- sociedade e os estudantes não se configurem como relações ingênuas, pas-
o que sivas ou reprodutoras, mas sim participativas e criativas-transformadoras!
Jmen-
zação,
~cidas,
com-
pen-
· para
rque
57 58
O que o artista ensina?
59
Será que a arte continua sendo uma grande caixa preta no universo
escolar que precisa ser aberta, desvelada e, principalmente, conhecida a
fundo em suas intersecções com a sociedade? Se as respostas forem igno-
rância e desconexão com a arte, cabe aos professores de Arte e aos artistas
comprometidos com a educação abrir esta caixa preta e fazer dela um
grande espetáculo na escola.
63 160
Arte só na arte? 161
.
1;;
;~
musiquetas "pedagógicas': usadas para fins diversos, não são música? O
"capricho': sempre pedido nas lições, não é uma componente estética? A
avaliação desse "capricho" não será regulada por valores estéticos? Ou é
somente a aula específica de Arte que educa esteticamente as crianças pe-
163 164
,
Arte só na arte?
165
j
;~
se repertório?
Não seria justamente a falta de conhecimento, de consciência e de
compromisso com a arte dos outros professores que não se percebem en-
f
N
sinando arte, e às vezes até do próprio professor de Arte, que gera ações
displicentes e até mesmo comprometedoras em relação à educação das
crianças? Ao proporem atividades e repertórios "pobres", ao solicitarem
trabalhos escolares que envolvem arte sem significação, ao não avaliarem
(darem qualquer retorno) os trabalhos que incluem a arte, não estarão
impedindo e distorcendo a construção de múltiplos sentidos a que a esco-
la deveria se propor com as crianças no campo da arte?
Coloca-se aí outra questão: a formação do pedagogo e dos professores
especialistas. Em muitos casos esses professores não se apropriam dos co-
nhecimentos e possibilidades da arte em situação de ensino e aprendizagem
e se apequenam dentro do sistema escolar. Nos anos iniciais, a arte é comu-
mente banalizada nas outras aulas que envolvem arte - muitas vezes, até
mesmo nas aulas de Arte. Nas séries seguintes, esses mesmos professores
reclamam da falta de interesse e das escolhas de repertório (músicas, danças,
grafismos, leituras) que os estudantes apresentam. Será que se a arte fosse
trabalhada como arte desde o início da escolarização, os estudantes talvez
não conquistariam maior interesse e amplitude de repertórios? Eos próprios
professores não conheceriam melhor o repertório com que tem que dialo-
gar, pois teriam contribuído decisivamente com ele?
A situação é cíclica, repetitiva e parece não encontrar saída: banalizam-se
a arte e o conhecimento das linguagens artísticas, trabalha-se com repertó-
rios paupérrimos - muitas vezes, mera reprodução de ícones da indústria
167 168
Arte só na arte? 169
... por que a professora acredita que somente no horário designado para
Arte é que os estudantes vão aprender arte, e não em todas as situações
em que ela se utiliza dos trabalhos e das linguagens artísticas?
169