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A descaracterização de um papel existencial

O texto trata de um profissional que se vê, a partir da constatação de um diagnóstico de


uma enfermidade, ressignificar a sua existência. Esse profissional é, provavelmente, um
médico-pesquisador conceituado em seu meio e que tem como representação de mundo
o significado social da sua profissão.
Ele justifica, a partir de suas dores de cabeça, náuseas, e crises de epilepsia a sua nova
realidade que é o mundo dos doentes. O fato é que, até então, o papel existencial de
doutor o fortalecia, tornava-o inatingível à enfermidade. Razão pela qual, por um tempo,
ele tenta manter esse papel em sua representação de mundo em detrimento do doente
que vive no ‘‘mundo dos doentes’’. Assim, com o exercício da resignação que se
submetera, ele assume o seu novo papel existencial de paciente e é obrigado a mudar a
sua representação de mundo (‘’o mundo cinzento, o mundo das pessoas sem título, sem
qualidade, sem profissão’’). Isso se deve ao fato de que a sua própria equipe que o
cuidava, em sua representação/entendimento, lhe despia de seu papel existencial e o
excluía de seu mundo até então representado, ou seja, o fato de que os seus amigos
médicos estarem indecisos de como o tratarem (médico ou paciente) o excluía de seu
mundo social.
Somava-se a isso o fato de que: o comportamento manifestado por seus colegas não só o
despia de seu papel social como lhe trazia a uma nova realidade excludente que não
contribuía para a sua certeza de uma possível cura. A condição de que se submetia à
substituição de seu nome pela ''alcunha'' de paciente já fortalecia a existência da doença
que o deixava mais vulnerável às consequências dela.

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