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UNIVERSIDADE DA REGIÃO DE JOINVILLE - UNIVILLE

II UNIDADE ACADÊMICA DE GRADUAÇÃO


4° SEMESTRE - CURSO DE PSICOLOGIA

FILME WIT: UMA LIÇÃO DE VIDA (2001)


- RESUMO E ANÁLISE CRÍTICA

SABRINA P. DA FONSECA
PROFESSORA: JADE GROSSKOPF
PSICOLOGIA DA SAÚDE

SÃO BENTO DO SUL - SC


2023
RESUMO
"Wit: Uma Lição de Vida" é um filme de drama lançado em 2001, dirigido por
Mike Nichols e baseado na peça teatral homônima de Margaret Edson. A história
gira em torno de Vivian Bearing, uma renomada professora de literatura inglesa
especializada em poesia do século XVII, diagnosticada com câncer de ovário
avançado, estágio quatro. O filme explora temas como a vida, a morte, a compaixão
e a importância da empatia no contexto do sistema de saúde.
Vivian Bearing, interpretada por Emma Thompson, recebe o diagnóstico da
doença por um especialista de oncologia famoso, Dr. Kelekian, que desde o início
detalha que as chances para a superação do câncer são mínimas. Vivian enfrenta o
desafio de lidar com o tratamento agressivo e experimental para combater a doença,
sendo submetida a diversos tratamentos, exames dolorosos e invasivos durante oito
meses, ao ser hospitalizada e começar a sentir os efeitos colaterais do tratamento,
reflete sobre sua própria vida e os significados mais profundos da existência. Ao
longo do filme, ela experimenta o isolamento emocional, enfrenta questões éticas
relacionadas à pesquisa médica e confronta a própria mortalidade.
No decorrer do filme, Vivian analisa suas reações à doença e ao tratamento,
bem como as reações dos médicos em relação a sua doença. Dr. Kelekian, seu
médico, parece se interessar apenas pelos resultados do tratamento sem levar em
consideração o sofrimento psíquico que a doença e o tratamento causam, reduzindo
Vivian a um objeto de estudos e pesquisa. Mesmo após os oitos ciclos da dose
completa do tratamento, Vivian não resiste à doença que já se espalhou para outros
lugares do corpo. Em conversa com a enfermeira Susie, a paciente decide assinar o
termo de NR (Não reanimar) em caso de parada cardíaca, e é desta maneira que
Vivian encerra sua trajetória na terra.
O título, "Wit", faz referência tanto à erudição de Vivian em relação à poesia
quanto à "sagacidade" necessária para enfrentar as complexidades da vida e da
morte. O filme oferece uma reflexão profunda sobre a condição humana, a medicina
moderna e a importância de se conectar com outros de maneira significativa durante
momentos difíceis.
ANÁLISE CRÍTICA
CENA VIVIAN E SUSIE - 1:00:33 À 1:08:53

Susie é enfermeira-chefe e a única pessoa que estabelece um cuidado


humanizado com relação a Vivian, enxergando-a para além de sua enfermidade,
tratamento e pesquisas, dando voz a sua subjetividade.

Susie: Temos que falar sobre uma coisa. Tem de pensar nisto.
Vivian: O meu câncer não está sendo curado, não é?
Susie: Não.
Vivian: Nunca esperaram que eu ficasse curada, não é?
Susie: Os medicamentos iriam reduzir as proporções do tumor. E reduziram, está
muito menor. Mas o problema é que surgiu em outros lugares também. Descobriram
muitos dados para investigação e fizeram o que podiam. Esses foram os
medicamentos mais fortes, mas ainda não há uma boa cura para o seu problema.
Para o câncer avançado nos ovários. Desculpe, eles deveriam ter explicado isso
para você.
Vivian: Eu sabia.
Susie: Sabia?
Vivian: Eu li nas entrelinhas.
Susie: Tem que pensar no código que prefere, corresponde às ações tomadas, caso
o seu coração pare de bater.
Vivian: E então?
Susie: Pode ser código total, que implica que, caso o seu coração pare,
transmitimos código azul, e a equipe de código vem reanimá-la para levar para UTI
até estabilizar. Ou pode ser: não reanimar. O que significa que, se o seu coração
parar... Bem, não fazemos nada. Passa a ser “N.R.”. Pode pensar no assunto, mas
eu acho... Queria apresentar-lhe as duas hipóteses, antes do Kelekian e do Jason
falarem com você.
Vivian: Eles não concordam com isso?
Susie: Eles gostam de salvar vidas. Por isso tudo vale, desde que a pessoa
continue viva. Não importa que esteja ligada a um milhão de máquinas.
Susie: Kelekian é um grande pesquisador, e os bolsistas como Jason são muito
inteligentes. É uma honra para eles trabalhar com Kelekian. Mas querem sempre
saber mais.
Vivian: Eu também quero sempre saber mais. Sou uma acadêmica. Aliás, era.
Quando usava sapatos. Quando tinhas sobrancelhas.
Susie: Ok, tudo bem, então será código total.
Vivian: Não, não complique a questão.
Susie: Não, a decisão é sua.
Vivian: Não quero ser reanimada.
Susie: Sério?
Vivian: Sim. Se meu coração parar, que pare.

É possível perceber ao longo do filme a construção de um vínculo de


confiança que se estabelece entre Susie e Vivian, motivado sobretudo pela relação
humanizada que apenas Susie consegue ter com Vivian, ao colocá-la no lugar de
sujeito desejante e não mero objeto de estudo e manipulação, fato recorrente no
hospital. Tratamento do qual os outros médicos não conseguem ter diante da
paciente que está em grande sofrimento devido a doença, remédios e efeitos
colaterais.

Em qualquer atendimento à saúde, é necessário agregar à eficiência


técnica e científica uma ética que considere e respeite a
singularidade das necessidades do usuário e do profissional, que
acolha o desconhecido e imprevisível, que aceite os limites de cada
situação. Trata-se de um ser e fazer inspirado numa disposição de
abertura e de respeito pelo outro como um ser autônomo e digno
(PINHEIRO 2005).

O paciente hospitalizado estabelece relações fundamentais com o médico, a


instituição hospitalar, a enfermagem, bem como os outros técnicos. Essas relações
são denominadas “relações transferenciais”, que se acentuam em decorrência do
processo de adoecimento em que o paciente se encontra assujeitado e cria vínculos
segundo modelos já vivenciados anteriormente em sua história de vida pessoal.
Sendo assim, a transferência é não somente a repetição de um sentimento, como
também a repetição de um lugar, de uma posição nos relacionamentos
(VASCONCELOS, 2019).
Outro aspecto relevante a ser considerado com relação ao filme, diz respeito
a narrativa de Vivian sobre sua vida antes do adoecimento, a forma com que
lecionava e tratava seus alunos, e ao se deparar com uma situação de extrema
vulnerabilidade e dependência devido ao prognóstico, ela reflete a maneira com que
as pessoas agem no hospital relacionando com a própria maneira de agir, chegando
a conclusão de que as vezes as pessoas precisam apenas ser mais amáveis.
Quando Susie fornece a possibilidade de escolha, colocando-a como protagonista
do seu processo de adoecimento e finitude, gera autonomia ao paciente para refletir
sobre a escolha de seu fim, autonomia esta que por muitas vezes no decorrer do
seu processo de adoecimento e hospitalização lhe foi tirada. Tentando trazer ao
paciente uma melhor qualidade de tratamento, inclusive, a própria morte.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

PINHEIRO, Leida Mirian Hercolano. A importância da psicologia para a


humanização hospitalar. Psicópio: Revista Virtual de Psicologia Hospitalar e da
Saúde, v. 1, n. 1, p. 25-35, 2005. Disponível em:
<https://cliqueapostilas.com/Content/apostilas/f0692ecc58ef7b59ad787ef852187ee3.
pdf#page=26>. Acessos em 16 nov. 2023.

VASCONCELOS, Ana Carolina Peck; LEVY, Elizabeth Samuel. Uma perspectiva


psicanalítica sobre a transitoriedade: análise da personagem Vivian do filme “Uma
lição de vida”. Estud. psicanal., Belo Horizonte , n. 51, p. 17-24, jun. 2019 .
Disponível em
<http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-3437201900010
0002&lng=pt&nrm=iso>. Acessos em 16 nov. 2023.

Link do filme: https://youtu.be/DAzgl93V7Ls?si=vcNioCl0OYGxxFZb

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